STJ REsp 1546165-SP Multipropriedade
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ACRDO
Presidente e Relator
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Superior Tribunal de Justia
RECURSO ESPECIAL N 1.546.165 - SP (2014/0308206-1)
RELATRIO
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Superior Tribunal de Justia
Alega, inicialmente, que houve "revelia e confisso quanto matria de fato" (fl.
185 e-STJ) em virtude da ausncia de contestao.
No mrito, aduz que "firmou o contrato preliminar formalizado atravs de
'Instrumento Particular de Promessa de Cesso de Direitos' pelo qual o promitente se obrigou a
outorga-lhe escritura da frao ideal, correspondente a 1/52 avos da casa n 34, do
empreendimento 'Praia das Caravelas '" (fl. 186 e-STJ), portanto, "contrariamente ao afirmado no
acrdo recorrido, a relao jurdica est lastreada no direito real e no no direito obrigacional " (fl.
187 e-STJ).
Por fim, assinala que "sempre teve o direito de usar, gozar, dispor e reaver o bem
de quem injustamente o possua e de exercer todos os direitos compatveis com o domnio,
podendo ser considerada multiproprietria, uma vez que os contratos preliminares atestam a
multipropriedade como direito real e no obrigacional " (fl. 189 e-STJ).
Sem contrarrazes (fl. 198 e-STJ), o especial foi inadmitido na origem (fls. 199-200
e-STJ), mas, por ter sido provido recurso de agravo, houve a converso do feito e a devida
reautuao.
o relatrio.
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RECURSO ESPECIAL N 1.546.165 - SP (2014/0308206-1)
VOTO-VENCIDO
1. Da alegao de revelia
"(...)
certo que os efeitos que a revelia provoca so de presuno de
veracidade somente quanto matria de fato e no de direito. Ainda assim, a
presuno relativa, podendo ceder a outras circunstncias constantes dos autos,
de acordo com o princpio do livre convencimento do juiz.
No entanto, os efeitos da revelia no acarretam necessariamente a
procedncia total da pretenso da autora, sendo cabvel a apreciao de todos os
elementos constantes dos autos.
Neste caso, objetivando a embargante a desconstituio da
penhora que recaiu sobre o imvel descrito na petio inicial, objeto de
compartilhamento entre multiusurios, verifica-se tratar unicamente de
matria de direito , o que afasta a aplicao dos efeitos da revelia " (fls. 174-175
e-STJ - grifou-se).
"(...)
As despesas com a conservao do condomnio so rateadas,
proporcionalmente, ao valor das fraes. As despesas relacionadas
exclusivamente com a unidade habitacional, como luz, telefone, bar e lavanderia,
tm cobrana diferenciada, cabendo ao multiproprietrio pag-las ao final de cada
temporada, prevendo-se, ainda, fundo de reserva e fundo de manuteno e
reposio.
Os poderes dos multiproprietrios so rigorosamente disciplinados
pela conveno, no intuito de assegurar o aproveitamento dos apartamentos por
todos os titulares, sem invaso de esfera alheia ou deteriorao da estrutura fsica
do imvel.
Destacam-se, pelo interesse tcnico que suscitam, algumas dessas
clusulas limitativas. O multiproprietrio deve entregar o apartamento at s doze
horas do ltimo dia que lhe aproveita, impreterivelmente, de modo a garantir a
entrada do titular sucessivo, s dezoito horas do mesmo dia (clusula 3.5 da
conveno).
Sujeita-se o multiproprietrio realizao de um inventrio dos bens
mveis de sua unidade, atravs de formulrio preenchido no incio e conferido ao
final de cada temporada, devendo ressarcir (mediante pagamento vista) os danos
eventualmente causados a equipamentos ou utenslios. Somente aps este
controle e eventual ressarcimento, recebe o multiproprietrio um 'termo de
liberao', sem o qual, segundo a conveno, tem a administrao 'o direito de
reter a bagagem do infrator, sem prejuzo das demais medidas cabveis' (clusula
3.4 da conveno). Tal pacto, prprio da disciplina hoteleira, no deixa de ser
destoante no mbito da ordinria convivncia entre condminos, embora
admissvel como expresso da autonomia privada na relao entre condmino e
administrador.
Mais: qualquer iniciativa de manuteno ou reparao do
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apartamento e objetos de decorao da exclusiva competncia do administrador,
fugindo dos poderes do multiproprietrio (clusula 4.7 da conveno).
Enfim, o nmero de moradores rigidamente limitado pela
conveno, de acordo com a capacidade atribuda s unidades, chegando-se a
pormenorizar a quantidade de adultos e crianas permitidas". (TEPEDINO,
Gustavo. Multipropriedade imobiliria. So Paulo: Saraiva, 1993, pgs. 45-46)
Estados Unidos Sem distino sobre a natureza jurdica, mas com ampla proteo dos
adquirentes, prevalecendo a forma condominial
"(...)
A ratio de numerus clausus de direitos reais no se trata de uma
regra isolada, sem justificao. Ao contrrio, se integra em um sistema coerente,
participando da organizao dos direitos, para possibilitar as seguintes funes:
a) a contribuio da publicidade dos direitos reais. Sendo um
instrumento de conhecimento de um direito real sobre o objeto ;
b) a clareza da existncia dos mesmos, para um terceiro. Sendo
dotado de uma previsibilidade, de forma que os interessados possuem seu
conhecimento e o conhecem . a previsibilidade que favorece aos terceiros. A
oponibilidade que estabelece que os terceiros devero respeitar as relaes
das pessoas com suas coisas;
c) de proteo da liberdade da propriedade, especialmente em
matria imobiliria, afasta a existncia de direitos abandonados da propriedade em
sua substncia. O titular do direito pode dar a sua propriedade os contornos
que melhor lhe convier. O legislador, somente na forma da propriedade
imobiliria pode definir estes contornos e, na mobiliria, tais contornos so mais
amplos, dada a maior autonomia das partes;
d) uma regra de ordem tica e moral, que retira (bane) dos
direitos das coisas certos direitos que ainda no possuem uma definio
clara, uma vez que so diversos os tipos de relaes que podem existir entre
uma pessoa e uma coisa. A regra moral tem a finalidade de limitar o nmero
de direitos reais como forma de proteger o proprietrio contra nus reais
extremamente excessivos. Esta funo essencial para a realizao de
solues dos domnios e controvrsias do direito das coisas" (VIEGAS DE
LIMA, Frederico Henrique. A multipropriedade imobiliria. Revista trimestral de
direito civil. Vol.32. out.-dez./2007. Rio de Janeiro: Padma, pgs. 98-99 - grifou-se)
Vale ressaltar que a adoo da forma livre de criao dos direitos reais seria capaz
de promover um ambiente de insegurana jurdica aos negcios imobilirios devido
impossibilidade de se prever as formas variadas e criativas de novos direitos reais que surgiriam e
os efeitos jurdicos que poderiam irradiar.
Soma-se a isso o fato de que a Lei de Registros Pblicos (Lei n 6.015/1973), em
harmonia com o princpio numerus clausus dos direitos reais perfilhado pelo ordenamento jurdico
ptrio, categrica ao estabelecer que:
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(...)
1 No registro de imveis sero feitas, em geral, a
'transcrio', a 'inscrio' e a 'averbao' dos ttulos ou atos constitutivos,
declaratrios, translativos e extintivos de direitos reais sobre imveis,
reconhecidos em lei inter vivos e causa mortis, quer para sua constituio,
transferncia e extino, quer para sua validade em relao a terceiros, quer para
sua disponibilidade". (grifou-se)
4. Do dispositivo
Ante o exposto, nego provimento ao recurso.
o voto.
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CERTIDO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA
Relator
Exmo. Sr. Ministro RICARDO VILLAS BAS CUEVA
Presidente da Sesso
Exmo. Sr. Ministro RICARDO VILLAS BAS CUEVA
Subprocurador-Geral da Repblica
Exmo. Sr. Dr. MRIO PIMENTEL ALBUQUERQUE
Secretria
Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA
AUTUAO
RECORRENTE : MAGNUS LANDMANN CONSULTORIA EMPRESARIAL LTDA. - ME
ADVOGADA : LVIA PAULA DA SILVA ANDRADE VILLARROEL E OUTRO(S)
RECORRIDO : CONDOMNIO WEEK INN
ADVOGADO : SEM REPRESENTAO NOS AUTOS
INTERES. : JORGE KARAM INCORPORAES E NEGCIOS S/C LTDA
ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Coisas - Propriedade - Condomnio em Edifcio - Despesas Condominiais
CERTIDO
Certifico que a egrgia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epgrafe na sesso
realizada nesta data, proferiu a seguinte deciso:
Aps o voto do Sr. Ministro Ricardo Villas Boas Cueva, negando provimento ao recurso
especial, pediu vista, antecipadamente, o Sr. Ministro Joo Otvio de Noronha. Aguardam os Srs.
Ministros Marco Aurlio Bellizze, Moura Ribeiro e Paulo de Tarso Sanseverino.
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RECURSO ESPECIAL N 1.546.165 - SP (2014/0308206-1)
RELATOR : MINISTRO RICARDO VILLAS BAS CUEVA
RECORRENTE : MAGNUS LANDMANN CONSULTORIA EMPRESARIAL LTDA. -
ME
ADVOGADA : LVIA PAULA DA SILVA ANDRADE VILLARROEL E OUTRO(S)
RECORRIDO : CONDOMNIO WEEK INN
ADVOGADO : SEM REPRESENTAO NOS AUTOS
INTERES. : JORGE KARAM INCORPORAES E NEGCIOS S/C LTDA
VOTO-VISTA
Srs. Ministros, nada obstante o prudente voto proferido pelo relator, Ministro
Ricardo Villas Bas Cueva, entendi por bem pedir vista dos autos para ater-me um pouco mais
ao exame da matria multipropriedade imobiliria (time-sharing ) , notadamente por
revestir-se de pontos controversos a mpar questo jurdica submetida ao julgamento do Superior
Tribunal de Justia.
[...]
[...]
[...]
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que dificulta o seu enquadramento em uma das referidas categorias.
[...]
Registro a importncia do judicioso voto proferido pelo Ministro relator, que bem
contextualizou o instituto da multipropriedade imobiliria, considerando lies doutrinrias em
especial, expostas por GUSTAVO TEPEDINO e pontuando, inclusive, o tratamento dado
matria em diversos pases.
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"Sabe-se que os direitos reais se diferenciam dos direitos pessoais por dois
aspectos essenciais. Os direitos reais tm por objeto imediato uma coisa, com a qual
se estabelece seu titular um liame estreito, direto, sem intermedirio. A situao
jurdica assim constituda tem carter absoluto, criando um dever jurdico negativo,
prevalecente contra todos erga omnes , que devero respeitar o exerccio do
direito, abstendo-se de qualquer ingerncia. O vnculo jurdico, portanto, adere coisa
sobre a qual incide e tem eficcia generalizada, j que todas as pessoas devem
respeito s situaes jurdicas de direito real (por isso mesmo chamadas de direito
absoluto).
[...]
Isso porque, extremamente acobertada por princpios que encerram os direitos reais,
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a multipropriedade imobiliria, nada obstante ter feio obrigacional aferida por muitos, detm
forte liame com o instituto da propriedade, se no for a sua prpria expresso, como j vem
proclamando a doutrina contempornea, inclusive num contexto de no se reprimir a autonomia
da vontade nem a liberdade contratual diante da preponderncia da tipicidade dos direitos reais e
do sistema de numerus clausus .
Vale referir quanto ao ponto que, se, sob a gide do Cdigo Civil de 1916, j se
propugnava pelo carter limitado, fechado, dos direitos reais leia-se, a propsito,
PONTES DE MIRANDA , divergentes lies doutrinrias de igual magnitude firmavam-se no
sentido de admitir a criao de outros direitos reais por no haver expressa vedao na lei de tal
faculdade, consoante se extrai das lies de J. M. CARVALHO DOS SANTOS, de seguinte
teor:
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circunscrito a um vnculo jurdico de aproveitamento econmico e de imediata aderncia ao
imvel, detm as faculdades de uso, gozo e disposio sobre frao ideal do bem, ainda que
objeto de compartilhamento pelos multiproprietrios de espao e turnos fixos de tempo.
o voto.
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RECURSO ESPECIAL N 1.546.165 - SP (2014/0308206-1)
RELATOR : MINISTRO RICARDO VILLAS BAS CUEVA
RECORRENTE : MAGNUS LANDMANN CONSULTORIA EMPRESARIAL
LTDA. - ME
ADVOGADA : LVIA PAULA DA SILVA ANDRADE VILLARROEL E
OUTRO(S)
RECORRIDO : CONDOMNIO WEEK INN
ADVOGADO : SEM REPRESENTAO NOS AUTOS
INTERES. : JORGE KARAM INCORPORAES E NEGCIOS S/C
LTDA
VOTO
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CERTIDO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA
Relator
Exmo. Sr. Ministro RICARDO VILLAS BAS CUEVA
Relator para Acrdo
Exmo. Sr. Ministro JOO OTVIO DE NORONHA
Presidente da Sesso
Exmo. Sr. Ministro JOO OTVIO DE NORONHA
Subprocurador-Geral da Repblica
Exmo. Sr. Dr. NVIO DE FREITAS SILVA FILHO
Secretria
Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA
AUTUAO
RECORRENTE : MAGNUS LANDMANN CONSULTORIA EMPRESARIAL LTDA. - ME
ADVOGADA : LVIA PAULA DA SILVA ANDRADE VILLARROEL E OUTRO(S)
RECORRIDO : CONDOMNIO WEEK INN
ADVOGADO : SEM REPRESENTAO NOS AUTOS
INTERES. : JORGE KARAM INCORPORAES E NEGCIOS S/C LTDA
ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Coisas - Propriedade - Condomnio em Edifcio - Despesas Condominiais
CERTIDO
Certifico que a egrgia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epgrafe na sesso
realizada nesta data, proferiu a seguinte deciso:
Prosseguindo no julgamento, aps o voto-vista do Sr. Ministro Joo Otvio de Noronha,
divergindo do voto do Sr. Ministro Relator, a Terceira Turma, por maioria, deu provimento ao
recurso especial, nos termos do voto do Sr. Ministro Joo Otvio de Noronha, que lavrar o
acrdo. Vencido o Sr. Ministro Ricardo Villas Bas Cueva. Votaram com o Sr. Ministro Joo
Otvio de Noronha (Presidente) os Srs. Ministros Marco Aurlio Bellizze, Moura Ribeiro e Paulo
de Tarso Sanseverino.
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