Gênero e Sexualidade: Pedagogias Contemporâneas
Gênero e Sexualidade: Pedagogias Contemporâneas
Gênero e Sexualidade: Pedagogias Contemporâneas
2008
multiplicaram-se e seus ditames so, muitas vezes, distintos. Nesse embate cultural, torna-se
Abstract: Gender and sexuality are made up of several practices and learning methods, through
countless social and cultural instances, in an endless process. These instances have been
multiplied and their principles are often different. In this cultural battle, we must observe how
normality is constructed and re-constructed, and how differences are considered and treated.
militantes e estudiosas passaram a repeti-la para indicar que seu modo de ser e
dos gestos, dos comportamentos, das preferncias e dos desgostos que lhes
Muita coisa mudou desde o final dos anos 1940 (quando Beauvoir publi-
* Professora Titular aposentada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Brasil.
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um modo tal que talvez nem mesmo a filsofa ousasse imaginar. Mas a frase
ficou. De certa forma, pode ser tomada como uma espcie de gatilho provoca-
der e atribuir sentido a esses processos, elas e eles costumam concordar que no
infindavelmente.
devem ser seguidas? Qualquer resposta cabal e definitiva a tais questes ser
certo, como instncias importantes nesse processo constitutivo. Por muito tem-
inmeras mquinas que nos vigiam e nos atendem nos bancos, nos super-
lhados por toda a parte e acabam por constituir-se como potentes pedagogias
culturais.
Especialistas das mais diversas reas dizem-nos o que vestir, como andar,
o que comer (como e quando e quanto comer), o que fazer para conquistar (e
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seguir um emprego (ou para ir a uma festa), como ficar de bem com a vida,
pos, elas parecem ter se tornado mais visveis ou ter se acelerado. Proliferaram
ram evidente uma diversidade cultural que no parecia existir. Cada vez mais
1. Algumas dessas orientaes foram extradas das edies de dezembro de 2007 das revistas Nova
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modo direto.
Como parte de tudo isso, vem se afirmando uma nova poltica cultural, a
ram a falar mais alto, denunciando sua inconformidade e seu desencanto, ques-
construindo novas prticas sociais. Uma srie de lutas ou uma luta plural,
privilegiar a cultura como palco do embate. Seu propsito consistia, pelo me-
modos: suas estticas, suas ticas, suas histrias, suas experincias e suas ques-
tes. Desencadeava-se uma luta que, mesmo com distintas caras e expresses,
poderia ser sintetizada como a luta pelo direito de falar por si e de falar de si.
representar.
deve nos surpreender que as lutas pelo poder sejam, crescentemente, simbli-
Esse tipo de luta requer armas peculiares. Supe estratgias mais sutis e
engenhosas. Talvez por isso a alguns escape a fora dos embates culturais. Mas
das escolas e universidades, eram fundamentais. A voz que ali se fizera ouvir,
ciais que tiveram importantes efeitos de verdade sobre todos os demais. Passa-
2. A expresso minoria no pretende se referir a quantidade numrica, mas sim a uma atribuio
revista La Gandhi Argentina (1998), as minorias nunca poderiam se traduzir como uma inferioridade
numrica, mas sim como maiorias silenciosas que, ao se politizar, convertem o gueto em territrio
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desviantes. Por tudo isso, colocava-se, como uma meta urgente para os gru-
lidade, o grande desafio, hoje, parece no ser apenas aceitar que as posies se
tenham multiplicado, ento, que impossvel lidar com elas a partir de esque-
A visibilidade que todos esses novos grupos adquiriram pode ser, eventu-
do, nem mesmo a exuberncia das paradas da diversidade sexual, das feiras
zam a ditar-lhe normas. Foucault certamente diria que proliferam cada vez
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um princpio de comparao. Sabemos que tem relao com o poder, mas sua
relao no se d pelo uso da fora, e sim por meio de uma espcie de lgica
que se poderia quase dizer que invisvel, insidiosa (Ewald, 1993). A norma
Quanto diferena, possvel dizer que ela seja um atributo que s faz
corpos dos indivduos para ser simplesmente reconhecida; em vez disso, ela
quando relacionamos esse sujeito (ou esse corpo ou essa prtica) a um outro
lticas e pelos saberes legitimados, reiteradas por variadas prticas sociais e pe-
de poder, por onde passam tais relaes? Como se manifestam? No, a diferen-
mente, atravs dos discursos dos movimentos sociais e dos mltiplos dispositi-
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para outra. E hoje, mais do que nunca, essas formas so mltiplas. As possibi-
ram. Tudo isso pode ser fascinante, rico e tambm desestabilizador. Mas no
Referncias bibliogrficas
1988.
HALL, Stuart. A centralidade da cultura: notas sobre as revolues de nosso tempo. Educao
LOURO, Guacira Lopes. Um corpo estranho: Ensaios sobre sexualidade e teoria queer. Belo
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