Neves - Marcelo Neves - (NÃO) SOLUCIONANDO PROBLEMAS CONSTITUCIONAIS - TRANSCONSTITUCiONALISMO ALÉM DE COLISÕES PDF
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O presente artigo baseia-se no meu livro Transconstitucionalismo (Neves, 2009; 2
tiragem, 2012). Para o aprofundamento no tema, sugere-se a consulta dessa obra
monogrfica.
1
Entre muitos, Weiler (1999).
2
Cf., p. ex., Fassbender (1998) e Tomuschat (1995, p. 7).
3
Hespanha (2004, pp. 67 e ss.) aponta para o carter plurvoco da palavra cons-
tituio, que, alm de implicar variaes histricas no seu significado poltico-
-jurdico, ultrapassa a dimenso do mundo cultural, denotando disposies bio-
lgicas ou fsicas. Mas cabe advertir que um excessivo apego ao significante pode
afastar-nos da compreenso do respectivo significado (semntico) e sua funo
(pragmtica) em determinado contexto social ou histrico.
4
Parece-me que Koselleck tambm cai em anacronismo ao ampliar o conceito de
Constituio para abarcar instituies e experincias muito diversas historicamente.
5
Diferentemente do que sugere Thornhill, entendo que essa discusso no deve
ser confundida com a questo referente existncia ou no de constituies for-
malmente escritas (Thornhill, 2011, pp. 9-10).
6
Trad. ingl., 2012, p. 35 a referncia a Grotius s aparece na traduo.
7
Cf. Engels (1988 [1844], espec. pp. 572 e ss.); Lassalle (1987 [1862], p. 130);
Weber (1985 [1922], p. 27 [trad. bras., 2004, vol. I, p. 35]).
8
Cf. Hart (1994, pp. 91-123 e ss., espec. p. 107 [trad. port., 2001, pp. 101-35,
espec. pp. 118 e ss.]). Hart (1994, p. 60 [trad. bras., 2001, p. 69]) fala tambm de
questes constitucionais em relao s regras secundrias de alterao.
9
Cf. Luhmann (1990a, p. 212). Ao contrrio do que afirma Thornhill (2011, p.
9), Luhmann no aceitou latitude na definio de Constituio, antes props um
conceito muito estrito de Constituio: Minha tese ser que o conceito de Consti-
tuio, ao contrrio da primeira impresso, reage a uma diferenciao entre direito
e poltica e, de fato, dito fortemente, diferenciao plena desses dois sistemas fun-
cionais e necessidade de conexo que da resulta (Luhmann, 1990a, pp. 179-80).
Cf. Berman (1983, figura 2, pp. 522-26 [trad. bras., 2006, pp. 646-50]).
10
11
Cf. Neves (2009, pp. 8-10 e 16, nota 63 [trad. ingl., 2013, pp. 9-11 e 14, nota 63]).
12
Cf. Neves (2009, pp. 38 e ss. [trad. ingl., 2013, pp. 28 e ss.]).
13
Cf., p. ex., Scheppele (2006), Roach (2006) e Gross (2006).
Cf. Teubner (2012 [trad. ingl., 2012]; 2006, pp. 185 e ss.); Fischer-Lescano e
14
15
Cf. Teubner (1989, espec. pp. 66 e ss. [trad. ingl., 1993, espec. pp. 51 e ss.]).
16
Traduo do autor.
17
A respeito, ver a exposio abrangente de Riddley (2003). Com algumas restri-
es, ver Neiman e Koskella (2009).
18
Cf. Hamilton (1980, espec. p. 283) e Hamilton, Henderson e Moran (1981,
espec. p. 66), que enfatizaram, porm, que pretendiam ir alm da questo do po-
limofismo, para concentrarem o seu foco no problema do sexo (p. 65). A questo
da importncia do polimorfismo remonta a Haldane (1990 [1949]), que tambm
advertia para o perigo da homogeneidade (329 [6]).
19
Na linguagem metafrica de Ridley, as espcies sexuais podem recorrer a um
tipo de biblioteca de fechaduras que no est disponvel s espcies assexuais
(Sexual species can call on a sort of library of locks that is unavailable to asexual
species [Riddley, 2003, p. 72]). De acordo com Hamilton, Axelrod e Tanese
(1990, p. 3568), o sucesso do sexo aumenta como nmero de loci envolvidos na
defesa contra parasitas. Eles afirmam: A essncia do sexo em nossa teoria que
ele armazena genes que esto ruins, mas oferecem promessa para reutilizao. Ele
os prova continuamente em combinao, espera do momento em que o foco de
desvantagem mudou para outro lugar. Quando isso acontece, os gentipos que
comportem esses genes espalham-se mediante exitosa reproduo, tornando-se,
simultaneamente, reservas para outros genes ruins e, assim, progressivamente, em
sucesso contnua (Hamilton, Axelrod e Tanese,1990, p. 3569).
20
Nem por isso Luhmann e Teubner deixaram de recorrer a conceitos da teoria
biolgica de Maturana e Varela (1980, pp. 107-11; 1987, pp. 196 e ss.), que partem
da emergncia de baixo, considerando os seres vivos como componentes dos
sistemas sociais.
21
Uso aqui a metfora de Atlan (1979, p. 281), ao distinguir, no limite, entre a
Cf. Teubner e Fischer-Lescano (2008) e Teubner (2012, pp. 242 e ss. [trad. ingl.,
23
Ver tambm, em sua primeira formulao desse modelo, Teubner (1982, pp. 24-29).
24
uma diferente escola, assim como demonstrar que a natureza quimrica do que
cremos so as partes mais slidas de nossa vida (Feyerabend, 1991, pp. 164-65).
29
Convocada pela Comisso de Direitos Humanos da Cmara dos Deputados em
agosto de 2007 e realizada em 5 de setembro de 2007 (cf. Segato, 2011, pp. 357 e
369). Posteriormente, esse projeto de lei foi profundamente alterado, reduzindo-
-se a declaraes genricas e a previsode apoios respectivas comunidades, nos
seguintes termos:
Art.54-A. Reafirma-se o respeito e o fomento s prticas tradicionais indgenas, sempre que
as mesmas estejam em conformidade com os direitos fundamentais estabelecidos na Consti-
tuio Federal e com os tratados e convenes internacionais sobre direitos humanos de que
a Repblica Federativa do Brasil seja parte.
Pargrafo nico. Cabe aos rgos responsveis pela poltica indigenista oferecerem oportu-
nidades adequadas aos povos indgenas de adquirir conhecimentos sobre a sociedade em seu
conjunto quando forem verificadas, mediante estudos antropolgicos, as seguintes prticas:
I infanticdio;
II atentado violento ao pudor ou estupro;
III maus tratos;
IV agresses integridade fsica e psquica de crianas e seus genitores.
31
Klaus Gnther (1988, p. 196 [trad. ingl., 1993, p. 153]), embora sustente que
a aplicao adequada de normas jurdicas no pode, sem fundamento, ofender for-
mas de vida (grifo meu), mostra-se antes favorvel a uma tal orientao, quando
sustenta que as colises entre princpios de justia e orientaes da vida boa, no
nvel ps-convencional, s podem ser resolvidas universalistamente, portanto, em
favor da justia. Cabe advertir, porm, que nos termos da teoria habermasiana da
ao comunicativa e do discurso, segundo a qual Gnther se orienta, haveria, no
caso, a coliso entre uma moral ps-convencional e uma pr-convencional. Sobre
os nveis do desenvolvimento da conscincia moral na teoria da evoluo social de
Habermas, ver Neves (2006, pp. 25 e ss.).
32
A respeito, afirmou Segato na referida audincia pblica, referindo-se ao signi-
ficado da expresso direito vida nesse contexto: Essa expresso pode indicar
dois tipos diferentes de direito vida: o direito individual vida, quer dizer, a
proteo do sujeito individual de direitos, e o direito vida dos sujeitos coletivos,
isto , o direito proteo da vida dos povos em sua condio de povos (Segato,
2011, p. 372).
33
E especificamente por fora do disposto no art. 231, caput, da Constituio Fede-
ral: So reconhecidos aos ndios sua organizao social, costumes, lnguas, crenas
e tradies, e os direitos originrios sobre as terras que tradicionalmente ocupam,
competindo Unio demarc-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.
34
A esse respeito, acrescenta Segato (2011, pp. 375-76): Tampouco se trata de so-
licitar a retirada do Estado, porque, como atestam as mltiplas demandas por pol-
ticas pblicas colocadas perante o mesmo pelos povos indgenas a partir da Consti-
tuio de 1988, depois da intensa e perniciosa desordem instalada pelo contato, o
Estado j no pode, simplesmente, ausentar-se. Deve permanecer disponvel para
oferecer garantias e proteo quando convocado por membros das comunidades,
sempre que essa interveno ocorra em dilogo entre os representantes do Estado
e os representantes da comunidade em questo. Seu papel, nesse caso, no poder
ser outro, a no ser o de promover e facilitar o dilogo entre os poderes da aldeia
e seus membros mais frgeis.
35
Cf. Segato (2011, pp. 375-77); ver, de maneira mais abrangente, Segato (2006,
pp. 207-36). A respeito da relao intrnseca entre universalismo e diferena, ver
Neves (2001).
36
Ver supra nota 25.
bras., 2008]).
***
Marcelo Neves
professor de Direito Pblico da Faculdade de Direito da 227
Universidade de Braslia (UnB).
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