A Relao entre Musicoterapia e Teorias de Psicoterapia*

Barbara Wheeler.

Em sua maior parte, o trabalho dos musicoterapeutas tem se baseado na adaptao

de atividades musicais s necessidades dos clientes e na interao com eles da forma
mais sensvel e proveitosa possvel. Psiquiatras e psiclogos, por outro lado,
fundamentam geralmente seu trabalho em teorias de, no mnimo, uma escola de
psicoterapia. O propsito deste artigo demonstrar aos musicoterapeutas os benefcios
do uso de uma ou mais teorias psicoterpicas como fundamentao terica para seu
trabalho e, ainda, rever algumas das teorias mais representativas e suas possveis
aplicaes em musicoterapia.

Visando este objetivo, faremos breves consideraes sobre essas teorias e suas
possveis relaes com musicoterapia, esperando que este trabalho possa vir a estimular
uma investigao mais profunda dessas relaes.

Musicoterapia como Psicoterapia

De acordo com Wolberg (1954) a Psicoterapia uma forma de tratamento para

problemas de natureza emocional na qual uma pessoa treinada estabelece
deliberadamente uma relao profissional, tendo como objetivos remover, modificar ou
prevenir sintomas, interferir em padres patolgicos de comportamento, e promover o
crescimento e o desenvolvimento positivos da personalidade.

A musicoterapia parece, certamente, se adaptar a todos os aspectos desta definio

o musicoterapeuta treinado, estabelece uma relao com o seu cliente, e procura
afetar o comportamento , como foi acima descrito. Frank (1974), entretanto, identifica
quatro aspectos caractersticos de toda psicoterapia:

Uma relao especial entre o paciente e a pessoa que o ajuda, algumas vezes
no contexto de grupo:
Um espao, designado pela sociedade para ser o lugar de cura.
Uma teoria de doena, sade, desvio e normalidade;
Um procedimento, estabelecido pela teoria, que leve ao alvio do sofrimento.

Aplicando estes critrios musicoterapia, a nica diferena importante parece ser

a ausncia de fundamentao terica. Poucos musicoterapeutas, com exceo daqueles
que se utilizam dos princpios behavioristas, baseiam seu trabalho, de forma
sistemtica, em alguma teoria psicoterpica ou combinao de teorias.

importante notar que alguns autores (Harper, 1959; Ford, 1963) mencionam
uma outra caracterstica bsica da psicoterapia o fato de ela ser primordialmente
verbal.

*
Do Original: The Relationship between Music Therapy and Theories of Psychotherapy. In: Music
Theraapy. The Journal of the American Association for Music Therapy. Volume I. Number I Summer,
1981. New York. Traduo: Lia Rejane Mendes Barcellos
 2

Embora este aspecto no se aplique, de modo global, musicoterapia, esta

especialidade apresenta tantas outras caractersticas comuns psicoterapia que o fato de
no ser verbal no parece ser razo para no se consider-la como um tipo de
psicoterapia. Debates sobre as diferenas entre psicoterapia e aconselhamento vm
sendo realizados pelos tcnicos dessas reas, centrados em torno de vrios pontos
semelhantes. Wolberg (1954) e Steffire (1972), encontraram diversas diferenas entre
aconselhamento e psicoterapia com respeito a objetivos, clientes, profissionais, estrutura
e mtodos, mas eles concordam no sentido de que os limites no so claros.
Outros, (como Patterson, 1973) acreditam que todas essas diferenas so
artificiais e que aconselhamento e psicoterapia so indiferenciveis um do outro. Alm
da utilizao da msica, pelo musicoterapeuta, a principal diferena entre as duas reas
(psicoterapia e musicoterapia) a existncia de uma determinada teoria musicoterpica
como sistema referencial, dentro da qual se realizaria o trabalho prtico, bem como o
treinamento do profissional, visando utilizao do modelo estabelecido.

A aceitao de uma teoria psicoterpica implica em vrias exigncias no que se

refere ao terapeuta. A primeira que o terapeuta tenha estudado a fundo o trabalho de
um determinado terico e tenha concludo que as idias dessa pessoa sobre natureza da
sade mental e os caminhos para ating-la sejam compatveis com as suas. Em segundo
lugar, isto implica em que o terapeuta tenha integrado as hipteses e os procedimentos
dessa teoria e que possa encontrar nela respostas relativas ao porqu da ocorrncia de
certos processos em terapia e como manej-los.

Vantagens da Utilizao de uma Teoria Psicoterpica

A integrao de uma teoria psicoterpica oferece dois benefcios para o

musicoterapeuta. Primeiro, uma teoria ajuda a explicar o que acontece na terapia, a fazer
prognsticos e a avaliar e aperfeioar resultados. Como um bom mapa, uma teoria nos
indica o que procurar, o que esperar, e aonde ir. (Steffire, 1972).

Em uma sesso, quando o cliente fala ou age, o terapeuta reage e responde da

forma que ele creia que seja a melhor para o cliente. Grande parte daquilo que o
terapeuta percebe ser o melhor para o seu cliente, reflete na verdade uma teoria pessoal
no importa se o terapeuta tem ou no consciente essa teoria.

Escolhendo entre todas as respostas possveis, o terapeuta est pondo a teoria em

prtica, ao decidir o que o cliente est querendo expressar, o que as afirmaes do
cliente significam em sua vida, quais os objetivos adequados para essa terapia, qual a
funo do terapeuta e, finalmente, qual a melhor tcnica a ser utilizada para atingir seus
objetivos.
A aceitao de uma fundamentao terica tambm poder ajudar a elevar o
status e a credibilidade profissional do musicoterapeuta, especialmente em instituies
psiquitricas, onde esse status particularmente baixo.

As teorias e suas Aplicaes em Musicoterapia

Os modelos teraputicos discutidos abaixo so os mais amplamente utilizados

atualmente e representam vrias escolas de psicoterapia a psicodinmica, o
humanismo, e o behaviorismo. Duas formas de terapia que no se adaptam em
 3

nenhuma dessas escolas, Terapia da Realidade e Anlise Transacional so tambm

aqui apresentadas.

Em cada caso sero analisados os principais pontos da teoria e, em seguida, ser

feita uma reviso da literatura musicoterpica, uma exposio de razes da sua
aplicao em musicoterapia e, finalmente, exemplos de possveis utilizaes da
musicoterapia em combinao com essa teoria.

Terapias do Comportamento

Os enfoques behavioristas de psicoterapia foram desenvolvidos a partir do estudo

do comportamento em laboratrio. Os terapeutas do comportamento acreditam que a
terapia um processo emprico que deve ser avaliado atravs dos mesmos
procedimentos utilizados na investigao de qualquer proposta cientfica. Sua suposio
bsica que todo comportamento inclusive o que mal adaptativo aprendido; por
essa razo a terapia preocupa-se com a aprendizagem de comportamentos adaptativos.

A terapia comportamental inclui duas formas de tratamento: terapia do

comportamento e modificao do comportamento.

A terapia do comportamento baseada no trabalho de condicionamento,

enquanto a modificao de comportamento, baseada no trabalho de B. F. Skinner,
derivada do condicionamento operante. Ambos os tipos exigem que depois do
estabelecimento da relao seja feita uma anlise funcional da queixa principal, com
nfase especial tanto na situao geral, na qual o comportamento mal adaptativo ocorre,
quanto na situao especfica que est mantendo o comportamento naquele momento.
Aplicada mais freqentemente em sesses individuais, a tcnica original de Wolpe
envolve uma dessensibilizao sistemtica, na qual a ansiedade reduzida atravs do
relaxamento e gradual encontro seja na imaginao, seja na realidade da ansiedade
original, produtora da situao. Estas sesses comeam com uma verso aplacada da
situao de medo original (que produz medo leve) e progridem em intensidades cada
vez maiores at a situao produtora de ansiedade mxima. Outras tcnicas que utilizam
o modelo clssico de condicionamento tm sido desenvolvidas.

A utilizao principal da tcnica de modificao de comportamento tem sido

feita em situaes de grupo tais como salas de aula ou enfermarias de hospitais
psiquitricos. Utilizando um sistema de premiao, os modificadores de comportamento
buscam reforar o comportamento desejado. Neste caso verifica-se que tal
comportamento intensificado. Quando se trata de comportamento mal adaptativo, o
terapeuta o ignora, verificando-se sua diminuio gradual, chegando at ao completo
desaparecimento.

A utilizao da musicoterapia e, mais particularmente, de msica contingente

intercalada com pessoas, como elementos de reforo na modificao de comportamento,
tem sido muito investigada. Entre os vrios casos referidos na literatura, encontramos
observaes a respeito da utilizao eficaz desse tipo de msica na reduo dos
maneirismos patolgicos de uma mulher esquizofrnica (Hauck, 1970) e na diminuio
de um comportamento inadequado de um grupo de rapazes com distrbios emocionais
(Hansen, 1974). Verificou-se tambm que a msica contigente constitui um fator de
diminuio de comportamentos no cooperativos de uma criana deficiente mental
 4

(Steele, 1978), e que contribuiu para aumentar as habilidades sociais de um rapaz

hiperativo (Reid, 1975), e para aumentar a eficincia de estudantes normais do 6 grau
(6 ano do 1 grau) em matemtica (Madsen, 1973).

Com freqncia, os terapeutas utilizam a modificao de comportamento de forma

no musical, isto , quando eles elogiam um cliente ou servem como modelo, visando
mudar gradual e sistematicamente o comportamento de um cliente. A relao da msica
com a terapia do comportamento, entretanto, no tem sido investigada. A msica pode
ter um papel importante no processo de relaxamento, possivelmente porque ajuda a
manter a pessoa relaxada medida que vo sendo introduzidos estmulos produtores de
ansiedade.

Terapias Humanistas

Vamos nos referir aqui a um conjunto de Terapias Humanistas, da Terceira

Fora, Fenomenolgicas, ou Terapias Existenciais. Embora apresentem diferenas
entre si, elas tm em comum a crena de que a experincia de cada pessoa nica para
essa pessoa, e que todo ser humano tem, em si, uma fora que o impele ao crescimento.
O terapeuta vai facilitar o crescimento ao penetrar no mundo perceptivo do cliente e
compartilhar com ele de seus sentimentos e percepes. Entre os maiores tericos desta
escola incluem-se Carl Rogers, Abraham Maslow e Frederick Perls.

Rogers d maior nfase relao teraputica. Em sua abordagem, que tornou-se

conhecida como terapia centrada na pessoa, o potencial individual para o crescimento
tender a ser liberado numa relao na qual a pessoa que ajuda percebida pelo cliente
como autntica, dotada de calor humano e jamais se colocando como juiz dos atos
alheios. Esta viso de Rogers acentua o homem como ser que continuamente se
desenvolve no sentido de seu crescimento e aperfeioamento. O crescimento do cliente
leva-o a uma maior conscincia de suas experincias internas e a um comportamento
determinado por tais experincias. No existe literatura sobre musicoterapia realizada
com base nesta abordagem, mas um musicoterapeuta com uma linha filosfica
Rogeriana teria por objetivo a interao teraputica descrita acima uma relao na
qual o cliente livre para crescer, com o terapeuta ajudando a clarificar e conscientizar
suas experincias internas.

Esta filosofia pode ser aplicada numa variedade de situaes musicoterpicas.

Antes de mais nada, o terapeuta aceitar qualquer desempenho musical ou no
musical que o cliente escolha e ento ajudar o cliente a expressar, musical ou
verbalmente, suas experincias internas. Por exemplo, se for feita uma improvisao
como instrumento de comunicao no verbal, o terapeuta no poder guiar o cliente em
determinada direo, mas poder sustentar e refletir a improvisao do cliente das duas
formas: musical e verbal.

Abraham Maslow se concentra na motivao da pessoa para o crescimento. Ele

desenvolveu a Terapia da Terceira Fora segundo a qual o homem luta continuamente
em busca de sua auto-realizao. Mas antes de atingir esse objetivo h toda uma
hierarquia de necessidades que precisa ser satisfeita. Maslow estudou pessoas que ele
sentiu j estarem auto-realizadas e desenvolveu o conceito de meta-necessidades.
Ele cr que a par de suas necessidades concretas o homem tem outras necessidades que
so reais, embora abstratas, tais como verdade, beleza e totalidade. Maslow acredita que
 5

a busca destas necessidades motiva as pessoas que esto mais auto-realizadas, isto ,
num nvel superior de desenvolvimento. Ele conclui que a falta de satisfao destas
meta-necessidades leva meta-patologia, a incluindo o tdio, a desesperana e a
alienao.

Outro aspecto relevante da teoria de Maslow o conceito de conhecimento

intrnseco e extrnseco. Para ele, o conhecimento intrnseco vem de dentro da pessoa e
consiste basicamente em aprender a ser um ser humano, enquanto que o conhecimento
extrnseco imposto de fora para dentro e no tem pertinncia ou relevncia pessoal.

Utilizada em conjunto com a teoria de Maslow a musicoterapia um meio pelo

qual o cliente pode explorar e desenvolver o seu prprio potencial. Clive Robbins(1979)
explorou recentemente a relao do seu trabalho, realizado com Paul Nordoff, com a
teoria de Maslow e concluiu que a msica pode ter um papel auxiliar na satisfao da
necessidade humana de auto- realizao, bem como na satisfao de algumas das
meta-necessidades.

Os terapeutas que se propem a ajudar seus clientes a satisfazerem suas meta-

necessidades estariam trabalhando basicamente com pessoas saudveis que busquem
alcanar ou manter sua auto-realizao. A tarefa do terapeuta , pois, a de possibilitar
s pessoas compreender o modo pelo qual a msica pode ser utilizada para atingir a
maior satisfao pessoal. O trabalho de Helen Bonny com Imagens Guiadas e Msica -
GIM (Bonny, 1975), pode ser considerado como uma aplicao das Teorias de Maslow,
especialmente quando ela ajuda a atingir a experincia culminante e altos nveis de
conscincia. A msica pode tambm ser utilizada para promover o conhecimento
interno, em contraste com outros mtodos que leva somente ao conhecimento externo.

A Gestalt Terapia, desenvolvida por Frederick Perls, vem ultimamente ganhando

ampla popularidade. A Gestalt Terapia baseada na crena de que o organismo humano
tende e busca a auto-regulao e que existe um impulso inerente que o impele ao
crescimento e satisfao das necessidades. Quando uma necessidade emerge e
inteiramente experienciada e satisfeita, forma-se uma Gestalt e a situao satisfeita
pode, ento, misturar-se ou inserir-se no fundo, deixando a figura livre para o
emergir de uma outra necessidade. Para que estas necessidades possam ser reconhecidas
e experienciadas, os terapeutas da Gestalt enfatizam o conceito essencial de
conscincia.

Quando a auto-regulao sofre interferncias, surgem polaridades e busca-se

integr-las ao nvel de conscincia do cliente. Os terapeutas da Gestalt utilizam um
certo nmero de tcnicas especficas para ajudar o cliente a se tornar consciente do
aqui e agora. importante compreender, entretanto, que estas tcnicas, no
constituem a Gestalt terapia em si, mas sim, so instrumentos que esta utiliza.

Como nas outras linhas teraputicas, o musicoterapeuta da Gestalt enfoca o

aspecto alterado do comportamento no contexto dessa teoria. O objetivo da terapia ser
aumentar a conscincia da experincia no aqui e agora. A msica facilitar essa
conscincia e ajudar a resolver as polaridades ou outros problemas influenciando a
capacidade do cliente para experienciar o self.
 6

A msica pode ser experienciada sem que a pessoa precise falar ou pensar
conscientemente sobre ela e torna-se, por isso, um instrumento natural para a Gestalt
terapia.

A literatura no contm referncias de musicoterapia com Gestalt, mas como o

processo similar, os musicoterapeutas podem tirar proveito das experincias de arte-
terapeutas criativos (Zinker, 1977). A msica tem o poder de envolver a pessoa tanto
psicolgica como fisicamente e pode, por isso, ser utilizada para ensinar o cliente a se
deixar envolver inteiramente em outras situaes. A msica vocal pode ser utilizada de
duas formas: pela respirao profunda como um meio de vivenciar o corpo mais
intensamente e pela voz como meio de expressar as experincias internas. A
improvisao instrumental pode tambm ajudar o cliente a entrar em contato com as
partes polarizadas do self no sentido de recuper-las e integr-las.

Teorias Psicodinmicas

A linha psicodinmica tem sido desenvolvida por numerosos tericos. Sigmund

Freud deu origem Psicanlise; outros criaram sua prprias teorias com graus variados
de relao com o trabalho de Freud, incluindo-se Alfred Adler, Carl Jung, Karen
Horney, Otto Rank, Harry Stack, Sullivan, Anna Freud, Erik Erickson, Erick Fromm e
muitos outros. Estas teorias podem ser aplicadas individualmente ou combinadas.

Aquilo que estes autores tm em comum e o porqu de seus trabalhos serem

considerados como pertencendo a uma linha psicodinmica o fato de que eles
acreditam que o comportamento da pessoa primariamente devido interao de vrios
elementos da personalidade. Entre estes elementos incluem-se a interao entre o
passado e os acontecimentos presentes; motivaes; e os vrios segmentos da
personalidade, tais como o id, ego e superego.

A terapia consiste principalmente em trazer o material inconsciente para a

conscincia, estando os terapeutas baseados na crena de que uma vez cnscia dos
motivos de seu comportamento, a pessoa pode escolher se continuar ou no a ter esse
comportamento. A relao com o terapeuta um dos meios pelos quais o material
inconsciente pode ser trazido conscincia. Alguns dos sentimentos que o cliente
alimenta em relao ao terapeuta, refletem, na verdade, seus sentimentos reais por
figuras importantes de seu passado que so projetadas no terapeuta, atravs de um
processo chamado transferncia. A resoluo da transferncia , especificamente, o
processo de aprender a reconhecer e a compreender os sentimentos projetados,
constituindo o aspecto principal do processo na terapia psicodinmica.

A terapia psicanaltica tem sido aplicada a vrios aspectos da msica e tem sido
intensamente reformulada (Noy, 1966; Noy, 1967). Os modelos psicodinmicos
constituem a base para a maior parte do trabalho dos primeiros musicoterapeutas, bem
como para a musicoterapia praticada atualmente na Europa e, at certo ponto, nos
U.S.A.. A principal utilizao da musicoterapia numa estrutura psicodinmica parece
basear-se no fato de que a msica capaz de contornar e ultrapassar a censura verbal
consciente e alcanar e penetrar nas partes mais profundas da psique, facilitando a
expresso no verbal e a comunicao, e desenvolvendo a fora do ego.
 7

Mary Priestly (1975) descreveu um trabalho que realizou utilizando improvisao

dentro de uma estrutura psicodinmica. A autora utilizou um certo nmero de tcnicas
que levam o cliente a improvisar uma situao seja sozinho, seja com o terapeuta. Os
sons musicais so utilizados para objetivar, desenvolver e ampliar a situao de modo
que as reaes e insights possam ser examinados verbalmente. Heimlich (Heimlich,
1972; Heimlich, 1973) utiliza a msica e meios de comunicao com ela relacionados,
tais como: o movimento e as artes plsticas, visando facilitar a comunicao e, ao lidar
com elas, direta ou metaforicamente, as crianas tornam-se capazes de explorar e
expressar sentimentos que, at ento, haviam permanecido escondidos.

A aula de msica tem sido utilizada como um modelo de musicoterapia individual

dentro de uma estrutura psicodinmica (Tyson, 1965; Tyson,1966; Tyson, 1979). Ela
explica que o terapeuta estabelece uma relao segura e de apoio, atravs da qual o
cliente pode encontrar e dar alvio a seus sentimentos, expressando-os, podendo, ento,
trabalh-los musical ou verbalmente. Ela enfatiza que a esta altura, a musicoterapia se
agrega psicoterapia verbal.

Terapia da Realidade

Desenvolvida por William Glasser, a Terapia da Realidade, baseada na

premissa de que a necessidade psicolgica bsica do homem a de uma identidade
nica. Para ele, trata-se de uma identidade de sucesso ou de fracasso, dependendo da
relao da pessoa com os outros.

Um dos conceitos bsicos da Terapia da Realidade seria que a formao de uma

identidade de sucesso , em parte, facilitada por um envolvimento com outra pessoa,
neste caso, com o terapeuta. Depois de estabelecer uma relao teraputica, na qual
exista envolvimento, o terapeuta poder ajudar o cliente a trabalhar, visando ao
principal objetivo do tratamento, isto , a responsabilidade individual . O distrbio de
comportamento considerado como resultado de irresponsabilidade. O terapeuta
confronta o cliente com a irresponsabilidade de seu comportamento e o ajuda a planejar
seu comportamento futuro.

Muitos daqueles que praticam a musicoterapia tradicional, esto utilizando, sem

saber, alguns dos princpios da Terapia da Realidade. Alguns musicoterapeutas
procuram muitas vezes, por exemplo, ajudar seus clientes estabelecendo uma identidade
de sucesso atravs do desenvolvimento de habilidades musicais especficas ou
designando-lhe uma certa parte de uma pea a ser tocada, dando-lhe assim uma
oportunidade de fortalecer seu self e senti-lo como valioso e competente. O
envolvimento, chave da Terapia da Realidade, tambm um elemento caracterstico de
muitas das relaes musicoterpicas. Alis, alguns terapeutas atribuem o sucesso da
musicoterapia a este envolvimento. Os musicoterapeutas tambm ajudam seus clientes a
aceitar a responsabilidade por seu comportamento, lidando principalmente com
elementos do presente a fim de ajud-los a elaborar planos mais viveis para o futuro.
Embora muitos musicoterapeutas utilizem desta forma intuitivamente os princpios da
Terapia da Realidade, aqueles que so especificamente treinados na aplicao desta
teoria podem utiliz-la de forma mais efetiva do que aqueles que se baseiam somente na
intuio.
 8

Anlise Transacional

A Anlise Transacional, desenvolvida por Eric Berne, vem se tornando muito

popular. A estrutura psicolgica do homem constituda de trs estados observveis do
ego: o Pai, o Adulto e a Criana. Todas as pessoas possuem estes trs estados, cada um
deles associados a comportamentos, sentimentos e pensamentos especficos. Assim,
uma pessoa que esteja operando no estado da Criana, pode ser espontnea, criativa,
submissa ou rebelde. No estado do Adulto ela tende ser racional e coleta e processa
informaes, visando a tomada de decises adequadas. O estado de Pai contm e
expressa contedos e mensagens prprias de figuras parentais, isto , valores, crenas,
regras, proibies, limites, etc..

Os analistas transacionais postulam que as pessoas tm uma necessidade inata de

reconhecimento. Quando essa necessidade no foi ou no est sendo satisfeita de forma
saudvel e natural, as pessoas tendem a recorrer a um tipo de transao indireta,
(comunicao em AT), na qual ao invs da comunicao se fazer de forma aberta, h um
duplo sentido oculto na mensagem. O processo teraputico inclui, entre vrias tcnicas,
a anlise das transaes e a modificao dos padres existentes, quando eles se
mostram insatisfatrios

Existe um artigo (Arnold, 1975) que relata a utilizao da musicoterapia junto

com os princpios da AT. O autor utilizou a msica para estruturar um grupo de clientes
com um problema especfico comum todos eles haviam recebido injunes
(mensagens) parentais que bloqueavam a espontaneidade e haviam, conseqentemente,
inibido sua capacidade de pensar, falar, agir, sentir, rir, tocar, etc.. Este tipo de grupo foi
chamado de grupo de permisso. A fundamentao terica do trabalho baseou-se no
poder que a msica possui de ativar o estado de Ego Criana que, neste caso, era o que
estas pessoas precisavam reativar para atuar sadiamente. Ele estabeleceu objetivos e
estruturou, com excelentes resultados, atividades musicais de modo a levar os membros
do grupo a participar de experincias que resultaram na ativao do seu estado de Ego
Criana. Dessa forma eles se tornaram mais vulnerveis terapia, atravs do trabalho de
facilitao pela musicoterapia. Outros musicoterapeutas adeptos dos princpios de AT
tm tambm explorado a espontaneidade, a criatividade do fazer msica para ativar o
estado Criana (Mayercak Polling,1979). O estado Adulto pode ser ativado, atravs do
desenvolvimento da disciplina necessria para aprender um instrumento; o estado Pai
tambm pode eventualmente ser fortalecido na medida em que um dos membros do
grupo pode ser levado a liberar as atividades, a dar ordens e orientaes aos outros. A
imporvisao musical livre pode tambm fornecer material para anlise, (adulta);
crtica, (parental); e motivo de prazer (criana) proporcionando, pois, oportunidades
de mudana.

Concluso

Esperamos ter clarificado para os leitores, o fato de que a musicoterapia poder

progredir de maneira slida, caso os musicoterapeutas fundamentem seus trabalhos em
teorias psicoterpicas. Cada teoria tem idias e hipteses prprias sobre a natureza da
sade mental e as formas de atingi-la. Cada uma delas tem diferentes implicaes para a
musicoterapia, e cada uma ir requerer novas pesquisas no sentido de clarificar sua
utilizao em musicoterapia. bvio que a mesma atividade musical pode ser utilizada
dentro de vrias linhas psicoterpicas. O que feito na atividade musical e porque
 9

feito o que distingue uma linha de outra. a forma como o terapeuta interage com o
cliente, independentemente da atividade musical que est sendo utilizada. E, de fato,
este pode ser o fator mais importante da terapia.

Referncias bibliogrficas

ARNOLD, M. Music Therapy in a Transactional Analysis Setting. Journal of

Music Therapy, 1975.

BONNY, H. Music and Conciousness. Journal of MusicTherapy, 1975, 12, 104

120.

BRASWELL, C., MARANTO, C.D., & DECUIR, A. A Survey of Clinical

Practice in Music Therapy, Part II: Clinical Practice, Educational and Clinical
Training. Jornal of Music Therapy, 1975, 16, 50-69.

FORD, D. H., & URBAN, H. B. Systems of Psychotherapy . New York: John

Wiley and Sons, 1963.

FRANK, J. D. Persuasion and Healing. (Ver. Ed.). New York: Schocken, 1974.

HANSER, S. B. Group Contingent Music Listening with Emotionally Disturbed

Boys. Journal of Music Therapy, 1970, 7, 43 53.

HARPER, R. A. Psychoanalysis and Psychotherapy. Englewood Clifs, N.J.:

Prentice-Hall, 1959.

HAUCK, L. P., & MARTIN, P. L. Music as Reinforcer in Patient-controlled

Duration of Time-out. Journal of Music therapy, 1970, 7, 43- 53.

HEIMLICH, E. P. Paraverbal Techniques in the Therapy of Childhood

Communication Disorders. International Journal of Child Psychotherapy, 1972,
1, 65-83.

HEIMLICH, E. P. Using a Patient as Assistant therapist in Paraverbal Therapy.

International Journal of Child Psychotherapy, 1973, 2, 13-52.

MADSEN, C.K., & FORSYTHE, J. L. Effect of Contingent Music Listening on

Increases of Mathematical Responses. Journal of Research in Music Education,
1973, 21, 176-181.

NOY, P. The Psychodynamic Meaning of Music, Parts I-IV. Journal of Music

Therapy, 1966, 3, 126-135; 1967, 4, 7-23, 45-51, 81-94, 128-131.

PATTERSON, C. H. Theories of Counseling and Psychotherapy . (2nd Ed. ) New

York: Harper and Row, 1973.

PRIESTLY, M. Music Therapy in Action. London: Constable, 1975.

 10

REID, D. H., HILL, B. K., RAWERS, R. J. & MONTEGAR, C. The Use of

Contingent Music in Teaching Social Skills to a non Verbal, Hyperactive Boy.
Journal of MusicTtherapy, 1975, 12, 2-18.

STEELE, A. L., Programmed Use of Music to Alter Uncooperative Problem

Behavior. Journal of Music Therapy. 1968, 5, 103-107.

STEFFIRE, B., & GRANT, W. H. Theories of Counseling. (2nd Ed.). New York:
McGraw-hill, 1972.

TYSON, F. Therapeutic Elements in Out-Patient Music Therapy. The Psychiatric

Quarterly, April 1965, 315-327.

TYSON, F. Music Therapy in Private Practices Three case Histories. Journal of

Music Therapy, 1966, 3, 8-18.

TYSON, F., Child at the Gate: Individual Music Therapy with a Schizophrenic
Woman. Art Psychotherapy, 1979, 6, 77-83.

WOLBERG, L. R. The Technique of Psychotherapy. New York: Grune and

Stratton, 1954.

ZINKER, J. Creative Process in Gestalt Therapy. New York: Brunner/Mazel.

1977.

References Notes.

1. ROBBINS, C. Personal Communication. September, 1979.

2. MAYERCAK-POLLING, S. Personal Communication, September, 1979.