Um Breve Panorama Das Heresias Cristológicas Sobre As Naturezas de Cristo

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Um breve panorama das heresias cristolgicas

sobre as naturezas de Cristo


Postado por Ruy Marinho - no dia 28.10.14

Por Francisco Alison Silva Aquino

A histria do cristianismo tem como uma de suas principais marcas o surgimento


de doutrinas que vo de encontro ao ensinamento bblico. J na igreja apostlica
do Novo Testamento, ns percebemos facilmente a existncia de heresias
destruidoras. Em I Jo 4.1-3 ns lemos:

Amados, no creiais a todo esprito, mas provai se os espritos vm de Deus;


porque muitos falsos profetas tm sado pelo mundo. Nisto conheceis o Esprito de
Deus: todo esprito que confessa que Jesus Cristo veio em carne de Deus; e todo
esprito que no confessa a Jesus no de Deus; mas o esprito do anticristo, a
respeito do qual tendes ouvido que havia de vir; e agora j est no mundo.

Outra passagem do Novo Testamento afirma: Porque j muitos enganadores


saram pelo mundo, os quais no confessam que Jesus Cristo veio em carne. Tal o
enganador e o anticristo. (II Jo 7)

Estas passagens demonstram claramente que j no perodo neotestamentrio


havia conceitos equivocados a respeito de Cristo. Os textos dizem que alguns
afirmavam que Cristo no vira em carne. E foi justamente esse um dos objetivos
de Joo ao escrever essa epstola: enfrentar a heresia gnstica do primeiro sculo.
Talvez essa tenha sido a heresia mais perigosa que ameaava a igreja dos trs
primeiros sculos.

O gnosticismo (do grego gnosis, sabedoria) defende um forte dualismo


esprito/matria. A ideia gnstica que enquanto o esprito bom, a matria
essencialmente m. Essa percepo trouxe vrias consequncias desastrosas
para o cristianismo. Uma delas , que, pela lgica, se a matria essencialmente
m, logo, Cristo no poderia ter vindo em carne (I Jo 4.2), negando assim a
doutrina bblica da encarnao como o cristianismo ortodoxo cr. Alm disso,
consequentemente, a humanidade de Cristo tambm era negada.

Franklin Ferreira (2007, p.487) agrupa as heresias antigas sobre as


naturezas de Cristo em duas classes: primeira, as negaes da
humanidade de Jesus Cristo, que seriam o docetismo, o
apolinarismo e o eutiquianismo. Segunda, as negaes da divindade
de Cristo, que seriam o ebionismo, o adocionismo e o arianismo.

O docetismo tem uma forte ligao com o gnosticismo tratado h pouco. O nome
docetismo vem do grego dkesis cujo significado aparncia. Isto , os docetas
criam que, pelo fato de a matria ser intrinsecamente m, Cristo no foi
plenamente encarnado na carne, pois uma vez que a matria tem essa
caracterstica, o esprito, que bom, no poderia se envolver com ela. O corpo de
Jesus, ento, era uma mera iluso e somente parecia que Cristo tinha sido
crucificado.

Um outro ensinamento difundido no sculo IV por Apolinrio, bispo de Laodicia


(310-390), pregava que Cristo era divino mas no humano (apolinarismo). Ele
entendia que Jesus Cristo no possua uma alma racional humana, a alma divina
(ou logos) teria tomado o lugar da alma humana. As ideias de Apolinrio foram
condenadas no conclio de Constantinopla no ano 381.

A ltima heresia que negava a humanidade de Cristo foi o eutiquianismo. Essa


heresia era defendida por um monge de Constantinopla chamado Eutiques. Ele
defendia que a natureza divina de Cristo absorveu a natureza humana. Nesse
sentido, Cristo teria apenas uma natureza aps a unio, a divina, revestida de
Carne humana. O eutiquianismo, conhecido posteriormente como monofisismo,
foi condenado em Calcednia e continuou exercendo influncia sobre Cristos do
Egito, Etipia, Sria, Armnia e outras regies. Em oposio ao monofisismo, o
conclio de Calcednia reconhecia o diofisismo (duas naturezas).
A segunda classe de heresias cristolgicas aquela referente aos ensinamentos
que negam a divindade de Cristo. So Elas: ebionismo, o adocionismo e o
arianismo.

Os ebionistas defendiam uma heresia surgida em Israel no final do primeiro


sculo. O ebionismo parece ter desaparecido conforme a igreja foi se tornando
cada vez mais gentlica e menos judaica. O nome derivado do hebraico
ebyn, que significa pobre, necessitado, etc. O ensino ebionista era que
Jesus Cristo no era Deus, mas somente um profeta extraordinrio, o qual se
identificava com os pobres (da o nome), sendo filho natural de Jos e Maria.
Segundo Berkhof (1992, p.43), os ebionistas negavam tanto a divindade de
Cristo como o seu nascimento virginal.

Outra heresia que negava a divindade de Cristo foi o adocionismo. O


ensinamento por trs dessa heresia era que Jesus era simplesmente um homem
virtuoso, to submisso ao Pai que este o adotou como o salvador dos homens. Tal
doutrina foi ensinada por Paulo de Samosata, bispo de Antioquia. Segundo ele,
Jesus teria sido iluminado por Deus de maneira extraordinria, sendo
progressivamente aperfeioado at que ele tornou-se Cristo, o filho de Deus com
uma posio divina. Porm, filho por adoo, no por natureza. Logo, a
existncia eterna de Cristo com o pai foi negada pelos adocionistas tambm.

Por ltimo, o arianismo foi a principal heresia dos primeiros sculos da histria
do cristianismo. rio foi um presbtero de Alexandria que ensinava que Cristo
era apenas uma criatura, no o Deus eterno. Uma expresso tpica desse
movimento era que houve um tempo quando Cristo no era. Os debates em
torno dessa doutrina resultaram na formulao de uma das mais importantes
confisses de f crists: o credo de Nicia, elaborado no primeiro grande conclio
da igreja em 325 na cidade de Nicia (atual znik, Turquia).

O surgimento de heresias na histria da igreja tem conduzido servos de Deus a


debates com o objetivo de definir o ensinamento correto das Escrituras. No
entanto, mesmo em meio a tantas controvrsias, o Senhor cuidou de preservar a
sua verdade atravs dos sculos.

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Referncias:
FERREIRA, Franklin & Alan Myatt. Teologia sistemtica: uma anlise histrica, bblica e apologtica para o contexto
atual. So Paulo: Vida Nova, 2007.
BERKHOF, Louis. A histria das doutrinas crists. So Paulo: Pes, 1992.

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Fonte: Bereianos

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