Perséfone
Perséfone
Perséfone
Faculdade de Psicologia
So Paulo
2008
Pontifcia Universidade Catlica
Faculdade de Psicologia
So Paulo
2008
Dedico este trabalho quele que feliz ou
infelizmente me mobilizou a realiz-lo. Ao queridssimo
Ale...
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais e meus irmos pelo amor, carinho e confiana que me
motivaram a sempre continuar; e mesmo nos momentos difceis quando achei
que no conseguiria mais prosseguir amaram-me incondicionalmente.
Obrigada!
"No deixe que a saudade sufoque, que a rotina
acomode, que o medo impea de tentar. Desconfie do
destino e acredite em voc. Gaste mais horas realizando
que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que
esperando porque, embora quem quase morre esteja
vivo, quem quase vive j morreu." (Luiz Fernando
Verssimo).
Maria Carolina de Azevedo Antunes: Persfone: a morte como transformao,
2008
RESUMO
Introduo......................................................................................................... 1
Parte I Principais Pressupostos Tericos da Psicologia Analtica........... 6
1 Principais Pressupostos Terico Junguianos............................................... 6
1.1 Ego ........................................................................................................ 6
1.2 Self ........................................................................................................ 7
1.3 Inconsciente Pessoal............................................................................. 7
1.4 Inconsciente Coletivo............................................................................. 8
1.5 Arqutipo ............................................................................................... 8
1.6 Anima e Animus..................................................................................... 8
1.7 Persona ................................................................................................. 9
1.8 Sombra .................................................................................................. 9
1.9 Smbolo ............................................................................................... 10
1.10 Individuao....................................................................................... 10
2 Mitos .......................................................................................................... 11
Parte II Morte, Renascimento e Transformao ....................................... 13
Parte III Mtodo............................................................................................ 20
Parte IV O mito: O Rapto de Persfone.................................................. 22
Parte V Anlise e Discusso ...................................................................... 26
Parte VI Consideraes Finais ................................................................... 35
Referncias ..................................................................................................... 38
INTRODUO
1
so obrigatrias em qualquer mudana e sua intensidade e a durao
dependero da pessoa e da situao.
2
vida, e seu carter divino implcito na
perfeio do crculo. serpente devorando
a prpria cauda, os alquimistas chamaram
Oroboro. Este termo, visto no ter sido
nunca to oportuno em nossa lngua
nomearmos um smbolo cuja singularidade
a de no ter comeo nem fim, por meio de
palavra to especial, que permite ser lida de
trs para a frente sem prejuzo sequer de sua pronncia, transmitindo
ela prpria a idia de algo que se expressa ciclicamente.
Dialeticamente, a cobra que morde sua cauda e no pra de girar
sobre si mesma, evoca a roda da vida qual estamos presos.
(URBAN, em
http://www.terra.com.br/planetanaweb/341/reconectando/civilizacoese
tribos/a_simbologia_da_serpente_01.htm)
3
experincias de morte e renascimento que podem promover o
autoconhecimento e a autotransfomao.
4
http://refletindo.weblog.com.pt/arquivo/2006/12/o_ciclo_da_mort.html)
.
5
PARTE I - PRESSUPOSTOS TERICOS DA PSICOLOGIA ANALTICA
1.1 Ego
6
ou a ferramenta, como nomeia o autor, para entendermos o interior do ser
humano que chamamos de psique.
1.2 Self
7
1.4 Inconsciente Coletivo:
1.5 Arqutipo:
8
eles apresentam tambm uma anima que lhes permite ser mais sentimentais,
espontneos, sensveis e intuitivos, caractersticas tpicas femininas. O mesmo
ocorre com o animus. Apesar de as mulheres apresentarem um lado bastante
dcil, emocional e, de certa forma, at impulsivo, este arqutipos as ajuda a
terem uma capacidade maior de julgamento, discriminao, iniciativa e ao.
1.7 Persona
1.8 Sombra
9
a sombra refere-se parte inferior da personalidade, aos aspectos
primitivos no diferenciados; embora no sejam necessariamente
negativos, so elementos classificados como inferiores porque no
encontraram condies suficientes para se desenvolver (p. 41).
1.9 Smbolo
1.10 Individuao
10
leva a experimentar o si mesmo como o centro regulador da psique
(p.140).
2. Mitos
11
questo (p. 9). Desta forma, os mitos podem aliviar os conflitos internos e
ajudar-nos a descobrir melhor a vida.
12
PARTE II - MORTE, RENASCIMENTO E TRANSFORMAO
Acredito que por este motivo que em sua obra Ests (1994) defende a
idia de deixarmos morrer o que precisa morrer. E para a autora isso significa
deixar morrer os valores e atitudes de dentro da psique que no mais
sustentamos (p. 109). Mantemos dogmas h muito aceitos e ouvimos vozes
interiores que nos estimulam a recuar para manter a vida segura, mas esta
superproteo no necessariamente nos ajuda a crescer, desenvolver e nos
transformar. Assim, preciso tomar cuidado para no deixar que talentos
expressivos recuem para a sombra definhando o ser ao invs de ajud-lo a se
fortalecer e progredir.
Mas por que ento ter a dificuldade de deixar ir embora uma situao,
uma vida ou parte de ns mesmos que j chegou ao final de seu ciclo?
Ceccon (2007) acredita que insistir em uma situao pode ser mais
confortvel, talvez mais seguro do que encarar o novo. E este o motivo do
sofrimento. preciso ter coragem para aceitar um fim, um adeus; assumir
que aquela etapa j se esgotou e, por isso, deve ser finalizada. A autora ainda
13
reala que no basta dizer um at breve, mas assumir um adeus verdadeiro,
do fundo da alma.
Para que tal processo possa ser menos dolorido, a mesma autora
sugere que no imaginemos a situao como algo negativo, como um
abandono, uma desistncia ou um fracasso. Uma porta que se fecha d
espao para novas possibilidades, sendo ento um fim para o comeo de algo
novo. Este ciclo ocorre inclusive internamente em cada ser humano.
Ceccon (2007) ento explica porque acredita que o ser humano sofre ao
deixar para trs certas situaes. Para ela o sofrimento gerado por nada
menos que o to conhecido apego. O ser humano, principalmente no Ocidente,
14
no se contenta em apenas vivenciar uma situao. Ele precisa possu-la e
para sempre. Mas, no momento de deix-la passar ocorre o sofrimento devido
perda de algo que, para este ser, deveria ser eterno. Assim, segundo a
autora, o segredo, ento, conservar o que se tem com desapego ou, ento,
soltar de vez o que no tem mais valor (p.30).
A autora afirma que no se deve ter medo da falta do que se foi, j que
em toda perda h um ganho. Este processo de transformao acaba tambm
por ser dolorido por entrarmos em contato com contedos interiores delicados.
E, como defende Whitmont (1991), tambm ter a coragem de olhar e ouvir a
prpria profundidade um desafio, j que aquilo que reprimimos e rejeitamos
nos outros tambm pode fazer parte do nosso prprio ser. por este motivo
que atualmente algumas abordagens da Psicologia tais como o psicodrama e a
gestalt-terapia utilizam a dramatizao deliberada da situao dolorosa ao
invs de evit-la.
O autor acredita tambm que a nossa sombra, que por muitos ainda
vista como uma fraqueza, pode agora, quando encarada verdadeiramente, ser
reconhecida e valorizada como elemento de equilbrio e, portanto, aspecto
indispensvel da vida. Todo ser passa por altos e baixos. Assim, o indivduo
deve procurar reintegrar tais momentos de baixa ou de descida, como coloca
Perera (1985), mas transformando-os em uma parte de sua personalidade
sem, necessariamente, modificar seus princpios ticos e morais.
15
Este processo de sofrimento que nos faz encarar a ns mesmos causa
tamanha dor que podemos dizer que ocorre semelhantemente ao processo de
superao do luto. algo desagradvel, causador de medo, insegurana,
desconforto, revolta, negao, mas que pode ser tambm um canal de cura.
16
transcendental. Embora a depresso e o sacrifcio de nossas iluses
e ideais incompletos sejam maneiras de levar a cabo uma troca de
libido anloga do ritual mtico, o processo se manifesta de maneira
angustiosa e piora quando nos culpamos pela depresso. Somos
foradas a oferecer aquilo a que nos agarramos, aquilo que pagamos
caro para obter. E nada nos pode dar a certeza de que a perda ser
recompensada da maneira que desejamos. No sistema abrangente
da psique, o sacrifcio pode alterar o equilbrio de energia em algum
ponto que no desejaramos mudar. S podemos saber que iremos
encontrar renovao e relacionamento com as foras poderosas do
mundo subterrneo, e que isso envolver a quebra dos velhos
modelos, a morte de uma gestalt em que, de certo modo, nos
sentamos bem, a morte de uma identidade aparentemente completa.
Raramente nos aproximaramos desse desmembramento se nossa
dor j no fosse muito intensa (p. 85).
17
momentos de dor. Dessa forma escutaramos mais nossa alma, nosso corao
e ficaramos menos apegados ao externo, tendo ento menos dificuldade de
dizer adeus.
um fim que tambm pode ser um comeo para uma nova vida; e neste
novo caminho a percorrer o indivduo estar agora mais maduro e com maiores
possibilidades para encarar seus novos desafios.
19
PARTE III - MTODO
20
Ainda de acordo com Penna (2003), a pesquisa em Psicologia Analtica
considera tambm que, necessariamente, a dimenso inconsciente est
presente tanto no mbito coletivo quanto pessoal, o que exige ateno e
reflexo constantes sobre aspectos inconscientes do pesquisador para que a
pesquisa seja realizada de maneira apropriada.
21
PARTE IV - O MITO: O RAPTO DE PERSFONE
22
para Hades, seu reino. Persfone grita pedindo a Zeus que a salve,
sem suspeitar que o rapto tinha sido tramado pelo filho de Cronos,
Zeus, com seu irmo, o senhor de Hades.
23
saudade da filha. A dor cresce em seu peito; seu luto e desespero
comeam a transbordar trazendo destruio sobre a terra. Naquele
ano terrvel nenhuma semente brotou; a humanidade teria perecido
pela fome e os deuses estariam para sempre privados das oferendas
e sacrifcios dos homens se Zeus "no tivesse percebido isso e
ponderado em sua mente". A deusa ris a primeira mensageira que
vem implorar a Demter que aceite o convite para vir ao Olimpo
receber grandes honras e que devolva a fertilidade aos campos dos
homens. Demter, inabalvel em sua vingana, recusa-se a atender a
ris e a todos os deuses que vm, um por um, suplicar que retire seu
castigo. Declara que nenhuma semente brotar enquanto no lhe for
devolvida Persfone. Finalmente, Zeus envia Hermes ao Hades para
pedir ao senhor dos mortos que concorde em ceder a esposa sua
me.
24
Depois de um dia de muitos abraos e de contarem uma a outra tudo
o que lhes tinha acontecido, na alegria de estarem novamente juntas,
Demter chamou os governantes da cidade e os instruiu na
celebrao de um ritual. Os Mistrios de Elusis foram fundados para
que a cada ano se repetisse aquele encontro entre Demter e
Persfone. Ento, as duas deusas partiram para o Olimpo e a esto
juntas, na companhia dos deuses (Seabra, p. 3).
25
PARTE V - ANLISE E DISCUSSO
26
Podemos ser atrados ao domnio tenebroso de Persfone aps um
divrcio, uma mudana no desejada para algum lugar distante, um
aborto, a perda de um emprego, algum trauma severo quando somos
a nica pessoa a sobreviver de um acidente de automvel. Em tudo
isso h sempre alguma espcie de morte psquica, ainda que no
fsica. A perda , afinal, exatamente isso: o sentir arrancada de si a
energia da imagem de alguma pessoa, lugar ou modo de vida amado,
que substituda por um enorme ermo, vazio emocional. (...) O
desaparecimento de um objeto amado num grande, ermo e oco vazio
descrito em uma linguagem simblica expressiva como descida ao
mundo avernal. O que reconfortante sobre o mito de Persfone
haver uma figura guardi que rege esses perodos terrveis de perda
de energia e que nos protege, por assim dizer, at estarmos prontos
para voltar vida normal cotidiana. Metaforicamente falando, toda
energia vital que perdemos durante a depresso, a dor ou o desgosto
de qualquer espcie, foi para o mundo avernal. (...) Temos que
respeitar esse processo em vez de tentar nos alegrar artificialmente
(Woolger e Woolger, 1997, p. 183).
27
cauda formando um crculo. como se o bicho se sacrificasse para obter a
percepo de seu prprio eu. A serpente guarda em si tambm outro paradoxo:
por um lado ela exprime ameaa de morte com seu veneno, mas por outro
suas escamas exprimem o aspecto de renovao na troca de pele. Assim, tal
smbolo ilustra para a autora o processo de individuao. Acredito que
atravs das mortes e mudanas que enfrentamos constantemente que
atingimos o autoconhecimento.
28
com seus cavalos imortais, o Senhor de tantos hspedes, o Cronos,
invocado sob tantos nomes. Ele a raptou e, apesar de sua
resistncia, arrastou-a aos prantos para o seu carro de ouro (HYMH:
Hino a Demter apud Chevalier, 2007, p. 630).
Desta passagem percebemos que tal flor era uma armadilha para que
Hades raptasse Core por quem havia se apaixonado. De acordo com os
autores, o narciso compreende tambm uma ligao com os cultos infernais e
por este motivo que em alguns locais se plantam narcisos sobre tmulos. No
entanto, eles simbolizam o entorpecimento da morte, mas uma morte que no
talvez seno um sono (p.629). Surgindo tambm na primavera, o narciso
encontrado apenas em locais midos. Isso o liga aos smbolos das guas e
dos ritmos sazonais e, por conseguinte, da fecundidade. Isso significa sua
ambivalncia: morte-sono-renascimento (p.629).
29
relao to bela entre me e filha. No entanto, poucos so aqueles que
percebem Hades como o agente de transformao de Persfone.
Foi Hades que permitiu que Core se tornasse uma mulher forte e
independente e, inclusive, possibilitou que ela assumisse a posio de Rainha
do Mundo Subterrneo, governando os espritos dos mortos ao lado dele.
Hades representa o trmino do ciclo da vida e, portanto, o incio de uma nova
etapa.
30
incessantemente procura de Persfone j que, de acordo com Chevalier e
Gheerbrant (2007), o nmero nove simboliza nos escritos homricos um valor
ritual coroando os esforos, o trmino de uma criao e sendo a
medida das gestaes. Outra interpretao ligada ao nove que
cada mundo simbolizado por um tringulo, um nmero ternrio: o
cu, a terra, os infernos. Nove a totalidade dos trs mundos
(p.642). como se Demter tivesse procurado sua filha por toda a
parte, utilizando todos os esforos para achar a cria.
31
Assim, se Persfone no tivesse sido raptada por Hades, talvez nunca
pudesse passar pelo processo de transformao e fosse eternamente
infantilizada pela me e dependente da mesma.
32
Woolger, p.197). Por este motivo seu mito serve como auxlio aos seres
humanos para realizarem tal integrao em suas prprias vidas, desvelando e
compondo contedos da sombra na psique consciente.
33
vitrias, como retrata o mito. Nos ciclos de descidas aos infernos nos
conectamos inicialmente com medos, a depresso, os aspectos infantis ou
sombrios, os contedos instintivos. Subindo conscincia, vamos aprendendo
a integrar tais aspectos personalidade total. As descidas seguintes j vo
perdendo seu carter traumtico, permitindo assim o vislumbrar da sabedoria
resultante do mergulho nas prprias feridas, favorecendo ento a percepo
dos componentes do psiquismo.
34
PARTE VI CONSIDERAES FINAIS
Aps analisar o tema, percebi como o assunto pode ser visto e discutido
de formas to diversificadas. Fui atrada a escrever a respeito exatamente por
passar momentos de perdas na vida, mas no conseguir lidar com a dor.
Queria entender como superar as mortes tanto as fsicas como as simblicas
de uma maneira mais branda e talvez at mais racional.
35
Como vimos anteriormente, os mitos podem ser muito importantes para
todas as geraes como uma tentativa de explicar os mistrios da vida e torn-
los suportveis, de maneira a podermos vivenci-los, transp-los e integr-los.
O rapto de Persfone no deixa de ter a sua importncia tambm, j que nos
mostra que possvel aprendermos a deixar algo ir embora para ento nos
abrirmos para o novo.
36
profissionais de Psicologia podem promover sade evitando que possveis
dificuldades ocorram com pacientes que passam por tal processo de morte e
transformao.
37
REFERNCIAS
CECCON, Fernanda. Deixe ir. Revista Vida Simples, So Paulo, Edio 53, p.
26-33, maio 2007
FAGUNDES, Eda. No fim do tnel... Quando parece que tudo est perdido,
sempre surge um novo caminho Disponvel em:
www.bolsademulher.com/amor/materia/no_fim_do_tunel/11649/1
38
JUNG, Carl Gustav. O homem e seus smbolos. Rio de Janeiro: Editora Nova
Fronteira, 1964
39
(Trabalho de Concluso de Curso) Faculdade de Psicologia, Pontifcia
Universidade Catlica de So Paulo
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