Livro Métodos Qualitativos de Pesquisa 15 Julho 2007 PDF
Livro Métodos Qualitativos de Pesquisa 15 Julho 2007 PDF
Livro Métodos Qualitativos de Pesquisa 15 Julho 2007 PDF
METODOLOGIAS QUALITATIVAS EM
PESQUISA
Organizador
Carlos Alberto Gonalves
Palavras-chave:
(a) Histria Oral, Historia de vida; Etnografia; Pesquisa-ao; Pesquisa-participante;
Estudo de caso; Grounded Theory; Laddering; Incidental Critical Method; Anlise de
Protocolo; Kelly Method; Roda Viva; Jri Verdadeiro ou Simulado; Simbolismo Anlises
quali quanti Comparativas
Apresentao
SUMRIO
1- Introduo
Inicialmente o pesquisador profissional deve formular uma questo semente para instig-
lo ao processo de averiguaes. A questo passa pela sua crtica de relevncia, valor,
fatores motivacionais, recursos tangveis e intangveis. Suponhamos que ao identificar
essa tal questo que o motiva para investigao, nesse momento, pense na necessidade de
viabilizar um mtodo que a possa verificar, explicar, descrever ou resolver. Nos mtodos
ou processos combinados repousam a responsabilidade de soluo da questo. Se h
brilhantismo na formulao da questo, no mtodo de soluo recai a segunda
responsabilidade, a de comprovao e demonstrao e explicao.
As questes de pesquisa, nas suas diferentes naturezas podem ser de natureza estruturada
e no estruturada. A estruturada, pode-se dizer que, possuem um enunciado claro por
meio de variveis e que se conhecem os processos de mensurao e anlise. As no
estruturadas no se manifestam claramente e tambm no se conhece claramente e
sequencialmente os mtodos de anlise. No tocante a sua apresentao as questes podem
ser expressas por: (a) variveis de difcil mensurao ou ainda no conhecidas e definidas;
(b) variveis manifestas ou construtos, bem conceituadas que podem ser apropriadas em
base emprica na forma de mensurao direta ou indireta; (c) variveis para um processo
dedutivo. s vezes a questo no est clara no seu enunciado, nas relaes entre as
variveis e o pesquisador necessita tentar vrios enunciados, passar por fases de
explorao e novas reflexes.
H os que pensam que cada objeto, relao ou fenmeno deve ser visto e interpretado de
maneira diferente por cada pessoa com elevada carga subjetiva. Nessa categoria dissemos
que se figuram, predominantemente, os interpretativistas que vm a natureza subjetivista
das relaes sociais que compem os fenmenos. As formas de ver, descrever, explicar e
interpretar o fenmeno se pauta pela relaes e viso individualizada, particular, dos
atores ou de suas relaes no coletivo. Assim a realidade objetiva inexiste absolutamente,
cada qual v o mundo e suas manifestaes sua maneira subjetiva. Acreditam que essa
a forma de fazer cincia no campo de cincias sociais aplicadas.
H outra categoria de pensadores que advogam que as coisas e fenmenos para ser cincia
devem ser percebidos e avaliados da mesma maneira e, todos esto "vendo" e
interpretando os objetos e fenmenos da mesma forma. Pensam que h mensuraes
objetivas que, naturalmente, so interpretadas da mesma maneira. Nessa categoria esto
os positivistas. Essas duas formas de pensar e adotar mtodos cientficos ocupa regies
opostas de um mundo dialtico da soluo dos problemas.
De outro lado apesar desse campo dialtico criado entre esse plos de pensar e agir em
nome da cincia, entendemos que pesquisador, a sua convenincia, pode se deixar
contaminar por um paradigma epistemolgico, qual seja, pode se tentado a se auto
chavear para o lado interpretativista ou para o lado positivista. Diz-se que isso uma
escolha pois, nada impede, o pesquisador pode, diante certo fenmeno, v-lo segunda uma
ou outra abordagem para fazer sua escolha.
Assim no mundo dos positivistas o seu cientista ao medir e apresentar resultados est
convencido que todos acreditam em sua forma nica de ver o fenmeno. Que consegue
explic-lo de forma no ambgua e que todos que o medirem da mesma forma e em outras
ocasies (Ceteris Paribus) constataro as mesmas coisas. Acreditam que os fenmenos
sociais podem ser abordados da mesma forma como so tratados os das cincias naturais.
Que o cientista consegue se independente do fenmeno e v-lo de forma completamente
isento.
Filognese (filogenia):
Ontognese (ontologias):
4. Processos operacionais
FASE DESCRITIVA
PESQUISA CAUSAL
A pesquisa causal, como o prprio nome diz, aplicada em estudos onde a relao de
causa e efeito evidente ou pelo menos quando o que se procura descobri-la. A opo
por pesquisa causal adequada nas situaes em que o objetivo identificar a causa do
efeito estudado e tambm em situaes nas quais necessrio saber que tipo de relao
existe entre o efeito e a causa que o gerou, isto , qual a natureza desta relao.
Obviamente, tal opo ser real somente aps a definio do problema de pesquisa, pois
ele que conduzir a escolha do mtodo. Por exemplo, se o assunto que se deseja pesquisar
algo sobre o qual se tem pouco ou nenhum conhecimento, a pesquisa indicada a do
tipo exploratrio.
A proposta deste trabalho discutir os aspectos da pesquisa causal e o mtodo do qual ela
se utiliza.
1. Conceito de Causalidade
Para facilitar a tarefa de inferir uma relao causal, h alguns critrios que devem ser
satisfeitos e que auxiliam o pesquisador na eliminao de variveis que no tm relao
de causa e efeito entre si. So eles: (1) variao concomitante; (2) ordem cronolgica de
ocorrncia das variveis; (3) ausncia de outros fatores causais possveis. (Malhotra,
2001; Mattar, 1994).
Variao Concomitante: diz-se que h uma variao concomitante quando a causa (x) e
o efeito (y) ocorrerem em conjunto - de maneira simultnea -, como pressupe a hiptese
do estudo. Por exemplo, na hiptese de que a quantidade de rugas na face das pessoas
aumenta conforme a idade, isto , quanto mais velha for a pessoa, maior ser a quantidade
de rugas no rosto, est-se supondo que o aumento da causa x a idade gera o aumento
do efeito y as rugas.
Ausncia de Outros Fatores Causais Possveis: esse o terceiro critrio que deve ser
satisfeito para que seja possvel induzir uma relao causal entre duas variveis. A
ausncia pressupe a eliminao de outros fatores que possam ser causadores do efeito
estudado, ou seja, h a necessidade de isolar as outras variveis com potencial de interferir
no efeito (Mattar, 1994). De maneira simples, significa eliminar todas as causas possveis,
menos uma, a qual ser inferida como a causa do efeito. Para isso, utiliza-se a
experimentao.
Como afirmado anteriormente, impossvel provar com total certeza que os resultados
obtidos na pesquisa causal so totalmente confiveis. O que se pode fazer aproxim-los
ao mximo disso.
Assim, a adoo desses trs critrios servir como uma base aceitvel para garantir maior
confiabilidade dos resultados. o que Malhotra (2001) chama de papel da evidncia, isto
, busca-se uma evidncia forte e consistente da causalidade, que a funo dos
experimentos, realizados pela tcnica da experimentao.
2. Termos-Chave da Experimentao
Grupo de Controle: o grupo que no ser submetido ao tratamento e que servir como
parmetro de comparao para as medies.
Projeto Experimental: o estudo em si, que envolve a definio de uma hiptese que
estabelea relao de causa e efeito entre duas ou mais variveis; a determinao da(s)
varivel(eis) independente(s) e dependente(s); a determinao da unidade de teste; a
determinao dos procedimentos para tratar as variveis estranhas.
De acordo com Mattar (1994) e Malhotra (2001), o ideal seria que ambas as validades
fossem satisfeitas pelo mesmo experimento, mas isto praticamente impossvel, pois o
refinamento do experimento teria que ser total.
Maturao: refere-se s mudanas que ocorrem nas unidades de teste durante o tempo
do experimento. (Mattar, 1994). Aspectos como posio social, estado civil, idade, etc,
podem influenciar os resultados, pois podem mudar ao longo do tempo, como no exemplo
do teste de alimentos lights na diminuio de peso dos obesos.
A outra situao do Efeito-Teste que pode ocorrer quando uma medio anterior ao teste
afeta a varivel independente. Nesse caso, as unidades de teste ficam mais interessadas e
curiosas a respeito do objeto da pesquisa e podem apresentar reaes que comprometam
os resultados. Por exemplo, elas passam a se interessar pela marca que est sendo testada,
a buscar mais informaes, etc, e podero modificar sua opinio a respeito dela. Esses
efeitos so chamados Efeitos Interativos de Teste (Malhotra, 2001) e influenciam a
validade externa do experimento, pois as generalizaes podem se tornar errneas em
funo das interferncias.
Malhotra (2001) separa as formas de controle das variveis estranhas em: aleatorizao;
emparelhamento; controle estatstico; controle de planejamento.
Smbolo Significado
Representa que um grupo experimental recebeu algum tratamento, cujo
X
efeito pretende-se determinar atravs do estudo.
Representa a observao realizada na unidade de teste, atravs de n
On
medidas da varivel dependente.
Significa que os indivduos foram distribudos nos grupos atravs de
processos aleatrios (randmicos) ou probabilsticos e que a casualizao
R
tambm foi utilizada para determinar os grupos experimental e de
controle.
Adaptado de Mattar (1994).
Para Malhotra (2001), os estudos experimentais podem ser de quatro tipos, conforme
evidencia a figura abaixo:
Estudos experimentais
Mattar (1996) e Selltiz et al. (1987) preferem classificar os experimentos em dois grupos:
projetos ou delineamentos experimentais e quase-experimentais. Selltiz et al. (1987) faz
meno aos pr-experimentos, mas os trata como formas equvocas de fazer cincia.
a) Estudo de caso one-shot (Apenas depois sem grupo de controle): Neste estudo,
apenas um grupo de unidades de teste exposto a um tratamento (X) e, em seguida, feita
uma medio (O). Pode ser representado simbolicamente por:
22
X O1
Este tipo de estudo possui muitos pontos fracos, pois no permite que sejam feitas
comparaes entre os comportamentos observados ps-tratamento e pr-tratamento. Alm
disso, a ausncia de processo aleatrio na constituio da unidade de teste potencializa a
ocorrncia de variveis estranhas como histria, maturao, vis de seleo e mortalidade.
O 1 X O2
Neste estudo, feita uma medida inicial (O1) e uma segunda medida (O2), aps a
aplicao do tratamento (X). Em princpio, O2 - O1 evidencia o efeito observado com a
exposio do grupo ao tratamento. No entanto, o efeito observado pode ser resultante da
presena de variveis estranhas que no foram controladas o que compromete
seriamente a validade interna do experimento.
Grupo experimental: X O1
Grupo de controle: O2
Neste estudo, h a presena de um grupo de controle, cuja medio (O2) serve como
parmetro de comparao entre ambos grupos. A ausncia de aleatorizao leva
presena de variveis estranhas (seleo e mortalidade), tornando frgeis as concluses
obtidas.
Para Malhotra (2001) estes estudos distinguem-se dos demais pelo fato de o pesquisador
utilizar-se de processos aleatrios na seleo de unidades de teste e tratamentos aplicados.
Podem ser de trs tipos:
Grupo experimental: R X O1
Grupo de controle: R O2
Neste estudo, apenas uma das unidades de teste exposta ao tratamento. A constituio
dos grupos e a escolha de qual ser o grupo experimental e o grupo de controle so feitas
atravs de processos aleatrios (R), eliminando o vis de seleo. Aps o tratamento (X),
so feitas medies em ambos os grupos.
Grupo experimental: R O 1 X O2
Grupo de controle: R O3 O4
Pressupem-se neste estudo que todas as variveis estranhas agem igualmente sobre os
dois grupos, e a nica diferena entre eles que o grupo experimental exposto ao
tratamento. Por haver uma medio pr-teste, pode ocorrer a sensibilizao dos sujeitos
para os objetivos do experimento e enviesar sua medio no ps-teste.
Se o pr-teste afetar os grupos de forma diferenciada, isto causar diferenas nos escores
ps-teste, no permitindo identificar, separadamente, o efeito do tratamento aplicado. Se o
pr-teste afet-los de modo semelhante, pode-se considerar mais exatos os resultados
observados.
Apesar de demorado e caro, este tipo de experimento oferece importantes vantagens: no-
interferncia de efeitos de pr-teste, maior preciso advinda das mensuraes de pr-teste,
permite ao pesquisador observar se a combinao do pr-teste e do tratamento produz um
efeito diferente do que seria esperado se fossem mensurados, isoladamente, os efeitos do
pr-teste e do tratamento.
O1 O2 O3 O4 O5 X O6 O7 O8 O9 O10
Grupo O1 O2 O3 O4 O5 X O6 O7 O8 O9 O10
experimental:
Grupo de controle: O11 O12 O13 O14 O15 O16 O17 O18 O19 O20
Neste tipo, o pesquisador pode ter maior certeza nos resultados do efeito ps-tratamento,
caso seja conseguido um grupo de controle equivalente ao grupo experimental. Como
fraqueza principal, tem-se a possibilidade de ocorrer o efeito-teste interativo.
Estudo em Blocos Aleatorizados: Estes estudos so teis quando h apenas uma varivel
externa principal que pode influenciar a varivel dependente. Como exemplo, pode-se
supor que o grau de instruo dos sujeitos influencia a avaliao a respeito de
determinado programa de televiso. Na montagem dos grupos experimental e de controle,
o pesquisador pode formar blocos aleatorizados, cada um composto por sujeitos com
equivalente grau de instruo (como alto, mdio e baixo, por exemplo). Estes blocos
podem ser mais teis ao experimento do que a utilizao de grupos totalmente
aleatorizados, constitudos por sorteio e que desconsiderem as diferenas de instruo
existentes no grupo estudado.
Nos blocos aleatorizados, o pesquisador tem a limitao de controlar apenas uma varivel
externa, como renda ou classe scio-econmica, por exemplo.
Dessa forma, o pesquisador tenta garantir que a varivel dependente (inteno de compra)
seja estudada sem sofrer as interferncias de duas variveis externas, cujos efeitos so
considerados crticos na avaliao e, portanto, devem ser controlados.
R X Y O1
R X O2
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R Y O3
R O4
Exemplo: a avaliao de um caf frio ocorreria pela interao entre o gosto pelo caf e o
gosto pela temperatura fria. No entanto, o fato de gostar de caf e gostar de temperatura
fria, no significa gostar de caf frio. Nesse caso, o estudo fatorial ir analisar se h
relao entre gostar de caf, gostar de temperatura fria e gostar de caf frio.
Ambos experimentos apresentam pontos fortes e fracos - os quais devem ser avaliados
pelo pesquisador -, a fim de que possa optar pelo tipo que seja mais adequado aos seus
objetivos.
Tipo de
Experimento Laboratrio Campo
Fatores
Ambiente Artificial Real
Controle Alto Baixo
Erro de Reao Alto Baixo
Artefatos de Demanda * Alto Baixo
Validade Interna Alta Baixa
Validade Externa Baixa Alta
Tempo de durao Curto Longo
Facilidade de implementao Alta Baixa
Custo Baixo Alto
Artefatos de demanda podem ser entendidos como a possibilidade de os sujeitos tentarem
adivinhar qual o propsito do experimento e passarem a agir de acordo com o
comportamento que julgam ser o mais adequado ao objetivo do estudo.
7. Limitaes da Experimentao
Para Selltiz et al. (1987), a principal crtica aos experimentos que eles so
representaes pobres de processos naturais, o que menos provvel que ocorra em
experimentos de campo.
Bibliografia
A ABORDAGEM QUALITATIVA
Maria Nivalda de Carvalho Freitas
Simone Costa Nunes
Antes de mais nada, porm, faz-se necessrio distinguir mtodo de tcnica de pesquisa. O
mtodo pode ser entendido como o caminho a ser percorrido quando possumos
determinado objetivo. Segundo Gil (1999) os mtodos que proporcionam as bases lgicas
de investigao so: o dedutivo, o indutivo, o hipottico-dedutivo, o dialtico e o
fenomenolgico. Cada um deles vinculado a correntes filosficas especficas que se
propem a explicar como o conhecimento da realidade se processa. As tcnicas so os
meios ou instrumentos utilizados para obter, processar e garantir a validade dos dados
referentes investigao.
No obstante o ponto de vista de Goode & Hatt, Oliveira (2002) afirma que se torna
necessrio verificar de que maneira se pretende analisar um determinado fenmeno, ou
seja, o enfoque que dever ser adotado que na realidade exigir do pesquisador uma
metodologia quantitativa ou qualitativa. Para Yin (2001, p.33) o contraste entre
evidncias quantitativas e qualitativas no diferencia as vrias estratgias de pesquisa e
cada uma delas experimento, levantamento, pesquisa histrica etc representa uma
maneira diferente de se coletar e analisar provas empricas, seguindo uma lgica prpria.
Yin (2001) afirma ainda que cada estratgia tem suas vantagens e desvantagens e cada
uma delas pode ser utilizada por trs propsitos exploratrio, descritivo ou explanatrio.
De acordo com Oliveira (2002), alguns pesquisadores transformam dados qualitativos em
quantitativos empregando como parmetro critrios, categorias, escalas de atitudes ou
ainda, identificando com que intensidade, ou grau, um determinado conceito, uma
opinio, um comportamento se manifesta.
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Na opinio de diversos cientistas sociais, conforme citado por Oliveira (2002), existem
situaes que envolvem conotaes qualitativas em pelo menos trs aspectos: aquelas em
que fica evidente a necessidade de substituio de uma simples informao estatstica por
dados qualitativos como, por exemplo, na investigao sobre fatos do passado ou em
estudos sobre grupos cuja informao disponvel escassa; casos em que observaes
qualitativas so usadas como indicativos do funcionamento de estruturas sociais; aquelas
situaes em que importante o uso de uma abordagem qualitativa para a compreenso de
aspectos psicolgicos, cujos dados no podem ser coletados de modo completo por meio
de outros mtodos tendo em vista a complexidade que a pesquisa envolve estudos
dirigidos anlise de atitudes, motivaes, expectativas, valores, opinio etc.
A pesquisa qualitativa privilegia determinadas tcnicas que coadjuvam a descoberta de
fenmenos latentes, a exemplo da observao participante, pesquisa-ao, estudo de caso,
histria de vida, anlise de contedo, entrevista no-diretiva, dentre outras.
O MTODO DIALTICO
O termo dialtica de origem grega e significa por de lado, escolher, joeirar e conversar.
Exprime tambm a idia de discorrer, a arte de discutir. Segundo Pires (1997), a dialtica
inicia-se com Scrates ao introduzir o dilogo (maiutica) como tcnica de aquisio da
verdade. Para Plato, a dialtica a arte de pensar retamente (disciplina suprema na
conquista da verdade) e fundamenta a retrica, a arte de falar para que esta no se reduza
tcnica sofstica para ludibriar o antagonista (p. 1.392). Nesta perspectiva a dialtica
compreendida como uma estratgia do raciocnio, da argumentao dialogada.
Em seu livro A Fenomenologia1 do Esprito, Hegel (1974, p.56) define a cincia como
cincia da experincia da conscincia. Para ele, o saber absoluto mediatizado pelas
formas do seu aparecer que se encadeiam dialeticamente na experincia da conscincia
(em-si; ser-para-ela desse em si).
1
Segundo Morujo (1997), Fenomenologia, etimologicamente, significa cincia ou teo-
ria dos fenmenos e, com essa significao, podemos dizer que a Fenomenologia uma
disciplina praticamente ilimitada. Toda filosofia poder considerar-se fenomenologia des-
de que o seu desenvolvimento se processe conforme a etimologia, isto , seja doutrina das
aparncias ou fenmenos (p. 488). Contudo, as primeiras manifestaes da Fenomenolo-
gia como um novo mtodo de investigao da conscincia ocorreram entre psiclogos e
psiquiatras, tendo como seus expoentes Husserl, Heidegger e Jaspers, entre outros. Esse
mtodo parte do pressuposto da intencionalidade da conscincia. Tudo o que est intenci-
onalmente presente na conscincia denominado como fenmeno e uma significao
para a conscincia. O conjunto das significaes o que a fenomenologia denomina
mundo. As principais caractersticas do mtodo fenomenolgico so: ser absolutamen-
te sem pressupostos; fundar-se na essncia dos fenmenos e na subjetividade transcenden-
30
Marx critica o idealismo de Hegel, pois afirma que este no levou em conta as bases
materiais da sociedade em que o saber e a cultura so produzidos e nas quais a
conscincia individual formada. Marx rejeita o sistema de Hegel, mas conserva o
mtodo (dialtico).
Tendo o mtodo dialtico como base lgica de seu pensamento, Marx concebe o homem
como produto e produtor da histria. Alm disso, define histria como ruptura e no como
evoluo; como o processo em que as contradies esto sempre presentes e impondo
novas snteses.
Alm disso, inclui a anlise dos aspectos ideolgicos como pressupostos necessrios para
compreender a produo do conhecimento, negando a neutralidade do conhecimento
cientfico. Essa matriz de compreenso da realidade tem desdobramentos no delineamento
da pesquisa que utiliza o mtodo dialtico. As pesquisas tm o compromisso de ser um
instrumento de autoconhecimento para os sujeitos (objetos da pesquisa) e tambm tm um
compromisso poltico com os problemas concretos enfrentados pelos amplos setores da
sociedade: enfrentamento radical e crtico das prticas de dominao e alienao do
sujeito; debate poltico, histrico e epistemolgico relativo s diferentes condies de
insero social; busca de subverso do sujeito e da transformao social, dentre outros.
A utilizao dessa perspectiva para a compreenso do discurso dos sujeitos impe
algumas orientaes, tais como: a necessidade de atentar para as manifestaes do
discurso que deixam escapar os contedos inconscientes e que nos informam sobre
os contedos conflituosos vividos pelo sujeito: lapsos de linguagem, metforas,
atos falhos, mecanismos de defesa (negao, idealizao, racionalizao etc.),
contradies entre o contedo da fala e o comportamento do sujeito etc.
PESQUISA PARTICIPANTE
2
Nesse trabalho, os pesquisadores utilizam-se dos pressupostos da psicanlise para trabalhar a dimenso
psicolgica e do um exemplo do tipo de anlise que fazem do discurso do sujeito atravs da entrevista de
Odete.
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No h um modelo nico de pesquisa participante, pois, para cada caso o processo deve
ser adaptado s condies particulares de cada situao concreta. Contudo, Brando
(1987), apresenta um modelo ou uma seqncia metodolgica da pesquisa participante
que pode ser resumida no seguinte: primeira fase montagem institucional e
metodolgica da pesquisa participante; segunda fase estudo preliminar e provisrio da
zona e da populao em estudo; terceira fase anlise crtica dos problemas considerados
prioritrios e que os pesquisados desejam estudar; quarta fase programao e execuo
de um plano de ao para contribuir para enfrentar os problemas colocados.
Alguns exemplos de pesquisa participante so dados por Serva & Jaime Jnior (1995).
Um primeiro exemplo refere-se pesquisa realizada pelo antroplogo Serge Bouchard,
que estudou a profisso de caminhoneiro em rotas de grande distncia, no Canad. Para
tanto, o pesquisador viajou, durante dois anos, junto com os caminhoneiros visando captar
sua representao sobre si prprios, seu trabalho e seu mundo. Outro exemplo
relacionado ao estudo efetuado pelo professor da faculdade de administrao da
Manchester University, Tom Lupton, que se engajou em grupos de trabalho numa fbrica
a fim de estudar a influncia do grupo sobre a elaborao das normas de produo.
A PESQUISA-AO
A pesquisa-ao, de acordo com Vergara (1997), pode ser definida como um tipo
particular de pesquisa participante que supe a interveno participativa na realidade
social, tendo carter de intervencionista3.
Uma pesquisa pode ser ento qualificada de pesquisa-ao quando realmente houver uma
ao por parte das pessoas ou dos grupos implicados no problema sob observao.
tambm necessrio, alm disso, que a ao seja no-trivial, o que significa uma ao
problemtica que merea investigao para ser elaborada e conduzida.
3
A investigao intervencionista aquela que tem como objetivo principal a interferncia na realidade
estudada, visando modific-la. Esse tipo de investigao no se satisfaz em apenas explicar. No somente
prope a resoluo de problemas, mas tambm tem o compromisso de resolv-los efetiva e participativa-
mente (Vergara, 1997).
34
Esse tipo de pesquisa supe um papel ativo dos pesquisadores no equacionamento dos
problemas encontrados, no acompanhamento e na avaliao das aes desencadeadas em
funo dos problemas.
Vrios casos de pesquisa-ao podem ser distinguidos. Pode ser organizada para realizar
os objetivos prticos de um ator social homogneo dispondo de suficiente autonomia para
encomendar e controlar a pesquisa. O ator freqentemente uma associao ou um
agrupamento ativo.
Outro caso seria aquele em que a pesquisa-ao realizada dentro de uma organizao,
como por exemplo, uma empresa ou escola, onde existe hierarquia ou grupos cujos
relacionamentos so problemticos. Assim, num contexto organizacional, a ao
considerada visa, em geral, a soluo de problemas de ordem mais tcnica. Por trs de
problemas dessa natureza h sempre uma srie de condicionantes sociais a serem
evidenciados pela investigao.
Um terceiro caso refere-se pesquisa-ao organizada em meio aberto, como por
exemplo, um bairro, uma comunidade rural etc.
Outra comparao feita por Roesch (2001) no que diz respeito s consultorias versus
pesquisa-ao. Ao consultor, interessa transferir ferramentas, modelos, tcnicas e mtodos
de uma situao especfica para outra. Por sua vez, o pesquisador busca levantar questes
mais amplas, que so de interesse de uma comunidade maior e que se aplicam a contextos
variados. (p.121) Isso no significa, no entanto, que o desenvolvimento de tcnicas,
ferramentas, modelos ou mtodos, baseados numa experincia especfica, no constituam
resultado de pesquisa. Porm, necessrio que seja incorporada uma explicao terica
que expresse as bases de tais propostas.
Por fim, Thiollent (1986) discute sobre a questo da generalizao dos dados obtidos na
pesquisa social, que se mostra sempre metodologicamente problemtica quanto
passagem entre o nvel local e o global. Em pesquisas locais, como o caso da pesquisa-
ao, possvel renunciar a generalizaes superiores situao efetivamente investigada,
porm, uma generalizao pode ser feita de forma progressiva a partir da discusso de
resultados de diversas pesquisas organizadas em locais ou situaes diferentes.
HISTRIA ORAL
Nascida no campo da histria, a histria oral tambm tem sido bastante utilizada nas
Cincias Sociais. Segundo Moraes (1994), a histria oral tem se definido como um
contradiscurso. Teve seu surgimento datado em perodos diversos nos diferentes pases
em que foi adotada, por exemplo, nos Estados Unidos, Frana, Alemanha e Brasil. Nos
EUA, seu surgimento datado a partir da dcada de 40. Tem seu desenvolvimento
favorecido na dcada de 60, principalmente na Frana e na Alemanha. No Brasil as
primeiras experincias sistemticas no campo da histria oral datada de 1975 na
Fundao Getlio Vargas.
4
Foram levantados dados nos seguintes peridicos: RAUSP (1992 a 1999), RAE (1995 a 1999), RAC
(1998 a 1999), Perspectiva Econmica (Unisinos/RS 1990 a 1999), Anlise (PUC/RS 1995 a 1999).
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Nos anos 80, recebe sua consagrao sendo legitimada entre as cincias histricas. Na
dcada de 90, as preocupaes militantes vo aos poucos recuando para dar lugar s
preocupaes metodolgicas, enquanto se afirma a reflexo central sobre fenmenos de
memria e recalques coletivos (Moraes, 1994, p. 38).
Algumas questes tm sido objeto de estudo por parte de pesquisadores que adotam a
histria oral como perspectiva de investigao, por exemplo, a discusso sobre a memria
seu carter seletivo, a alterao dos significados conferidos aos fatos passados em
funo de mudana de valores, da prpria experincia ou devido alterao da percepo
dos fatos, o efeito da idade sobre a memria etc. e a questo da entrevista, seus limites e
possibilidades, seus desdobramentos ticos e sua concepo como relao social.
HISTRIA DE VIDA
Segundo Moreira (2002), a histria de vida uma tcnica que busca contemplar a viso da
pessoa sobre a sua prpria histria, sobre situaes, contextos determinados, eventos etc.
uma tcnica que parte da suposio de que o comportamento do sujeito deve ser
compreendido a partir de sua prpria perspectiva.
Para Moreira (2002), a tcnica da histria de vida pode ser dividida em trs tipos:
Histria de vida abrangente (toma a vida do sujeito como um todo);
Histria de vida tpica (toma um fragmento da vida do sujeito);
Histria de vida editada (pode ser abrangente ou tpica, o que a caracteriza so
as explicaes sociolgicas, os comentrios e as questes sobre o material
colhido que o pesquisador faz).
O problema normalmente colocado para essa forma de pesquisa quanto sua validade
externa, isto , sua limitao para efeito de generalizao. Bourdieu (1996) critica essa
perspectiva dizendo que ela mais se aproxima do modelo oficial da apresentao oficial
de si (p. 80). Afirma, ainda, que a histria de vida s poderia ser considerada uma
descrio da superfcie social se considerssemos o conjunto de posies
simultaneamente ocupadas (pelo sujeito), em um momento dado do tempo, por uma
individualidade biolgica socialmente instituda... (p. 82), dentro de determinado campo.
38
ESTUDO DE CASO
Para Trivios (1987) o estudo de caso representa um dos tipos caractersticos de pesquisa
qualitativa. Segundo Yin (2001), contudo, no deve ser confundido com pesquisa
qualitativa. Bruyne & Herman & Schoutheete ([s.d.], p.225) afirmam que, apesar de ser
freqentemente de natureza qualitativa, na coleta e tratamento dos dados, o estudo de caso
pode tambm centralizar-se no exame de certas propriedades especficas, de suas
relaes e de suas variaes, e recorrer a mtodos quantitativos. Desta forma, no que se
refere pesquisa quantitativa, o estudo de caso caracteriza-se fundamentalmente, do
ponto de vista da medida dos dados, pelo emprego, de modo geral, de uma estatstica
simples, elementar. (Trivios, 1987, p.133).
O estudo de caso no foi assim, uma classe de pesquisa tpica do modelo positivista, que
inclina-se para a quantificao de informaes. Por esse motivo o estudo de caso, que
encontrava-se em situao de transio entre ambos os tipos de investigao quantitativa
e qualitativa com o desenvolvimento da pesquisa qualitativa constituiu-se numa
importante expresso desta tendncia.
Gil (1996) afirma que a sua origem remota e est presa ao mtodo introduzido no ensino
jurdico nos EUA, por C.C. Laugdell. Contudo, sua difuso est relacionada prtica
psicoteraputica caracterizada pela reconstruo da histria do indivduo, assim como ao
trabalho de assistentes sociais junto a indivduos, grupos e comunidades.
O estudo de caso, enquanto estratgia de pesquisa, pode ser utilizado em muitas situaes
tais como poltica, cincia poltica, pesquisa em administrao pblica, sociologia,
psicologia comunitria, estudos organizacionais e gerenciais, pesquisa de planejamento
regional e municipal, superviso de dissertaes e teses nas cincias sociais, dentre outras,
podendo caracterizar-se como estudo exploratrio, descritivo ou explanatrio (Yin, 2001).
O estudo de caso pode ser caracterizado pelo estudo aprofundado e exaustivo de uma ou
poucas unidades5, de forma a permitir o seu amplo e detalhado conhecimento (Gil, 1996;
Vergara, 1997). A finalidade organizar um relatrio ordenado e crtico de determinada
experincia, ou ainda, avali-la analiticamente, com o objetivo de se tomar decises a seu
respeito ou propor aes transformadoras (Chizzotti, 1991).
Na conceituao dada por Trivios (1987, p.133), o estudo de caso pode ser considerado
uma categoria de pesquisa cujo objeto uma unidade que se analisa aprofundadamente.
(Trivios, 1987, p.133). H vrios tipos de estudos de casos, a saber: histricos-
organizacionais, observacionais, histria de vida, estudo de caso de uma comunidade,
anlise situacional, estudos de casos microetnogrficos, estudos comparativos de casos e
estudos multicasos.
5
Essas unidades podem ser entendidas como uma pessoa, famlia, empresa, comunidade, um produto, rgo
pblico ou mesmo um pas (Vergara, 1997).
39
Nos Estudos de Casos denominados histrias de vida geralmente se usa a entrevista semi-
estruturada para realizar a investigao. A entrevista aprofunda-se cada vez mais na
Histria de Vida do sujeito. Deste tipo de pesquisa surgiu a idia de denominar a
pesquisa qualitativa de Entrevista Aprofundada. (Trivios, 1987, p.135). til porm,
que outras tcnicas tambm sejam usadas para que se tenha uma concepo fiel da
histria de vida tais como reviso de documentos, obras, entrevistas com pessoas
vinculadas ao sujeito da investigao etc.
No estudo de caso de uma comunidade, geralmente, o enfoque realizado por equipe de
investigadores multidisciplinar que setorizam a unidade em exame, ressaltando os pontos
de culminncia dela, sem perder a viso integral do foco de anlise. (Trivios, 1987,
p.136).
Para Gil (1996) a maior utilidade dos Estudos de Casos encontra-se nas pesquisas
exploratrias, sendo recomendvel nas fases iniciais de uma investigao para a
construo de hipteses ou para a reformulao do problema. Entretanto, aplicam-se
tambm com pertinncia em situaes em que o objeto de estudo j conhecido a ponto
de ser enquadrado em determinado tipo ideal.
O estudo de caso tem como vantagens o estmulo a novas descobertas costumam surgir
aspectos que inicialmente no estavam previstos e tentam descobrir problemticas novas,
renovar perspectivas existentes ou sugerir hipteses, tendo assim, um intento de
explorao; a nfase na totalidade pois, o pesquisador volta-se para mltiplas dimenses
de um problema, focalizando-o em seu todo; a simplicidade dos procedimentos de coleta e
anlise de dados adotados quando comparados com aqueles exigidos por outros tipos de
delineamento (Bruyne & Herman & Schoutheete, [s.d.]; Gil, 1996).
Quanto s limitaes do estudo de caso, a mais grave, de acordo com Gil (1996) refere-se
dificuldade de generalizao dos resultados uma vez que a unidade escolhida pode ser
bastante anormal em relao s muitas de sua espcie.
No que se refere ao uso do estudo de caso, Roesch (2001) afirma que o mtodo
qualitativo mais popular, sendo amplamente utilizado na pesquisa acadmica.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
1. Introduo
A maioria das pesquisas desenvolvidas a partir da teoria proposta por Kelly tem utilizado
uma flexvel ferramenta conhecida como RGT Repertory Grid Technique, ou Repertory
Grid Method. Considerado um mtodo ideogrfico, o RGP proposto por Kelly explora
como as pessoas vivenciam seu mundo, ou seja, como constroem os significados
utilizando-se de mapas visuais e semnticos. Tamanha flexibilidade tem possibilitado, nas
ltimas dcadas, a aplicao do mtodo RGT em vrios campos do conhecimento. Sua
aplicao em organizaes tem aambarcado tanto o campo da pesquisa quanto da gesto
empresarial nas mais diversas reas de utilizao: treinamento e desenvolvimento,
relacionamento interpessoal, desenvolvimento de equipes, comportamento do
consumidor, pesquisas de clima, controle de qualidade, estrutura organizacional,
processos funcionais (BROPHY, 2004).
Scheer (2004) chama ateno para a ampla utilizao, tambm, de pacotes estatsticos na
anlise do Repertory Grids, como o caso do Statistic Package for Social Science
SPSS; bem como para a gama de programas computadorizados que tm sido
desenvolvidos especialmente para a anlise do Repertory Grid, muitos disponveis para
acesso on-line na Web. Dentre eles encontram-se INGRID, Flexigrid, Omnigrid, Idiogrid,
EnquireWithin, RepGrid, WebGrid, GridWtat, GridCor, GridSuite.
44
Outro mtodo que tem sua origem no PCP o Mdoto Laddering descrito por Denis
Kinkle em 1965, PhD da Ohio State University, na sua dissertao The Change of
Personal constructs from the Viewpoint of a Theory of Implications, mais tarde batizado
por Bannister e Mair como Laddering. Utilizado para estabelecer os construtos individuais
considerados super ordinrios, centrais, este mtodo envolve, basicamente, questionar o
porqu o indivduo prefere ser descrito por um plo de um construto pessoal, ao invs do
plo oposto. Esse construto denominado ladder normalmente se encerra com uma
declarao de valor que fundamenta o construto do indivduo sobre o seu mundo pessoal,
valor este mais resistente a ser mudado (FRANSELLA, 2004). Um melhor entendimento
do mtodo Laddering ser possvel no captulo que trata do assunto nesse livro.
Se por um lado a aplicao do PCP tem sido to amplamente utilizada de forma flexvel,
seja em pesquisas qualitativas ou quantitativas, estudiosos como Martsden & Littler
(2000), que reforam sua consonncia com o paradigma interpretativo, chamam ateno
para a necessidade fundamental do entendimento das bases da teoria Kelly PCP, para
uma melhor e mais adequada utilizao do Repertory Grid Method. Uma viso dos
principais aspectos da Personal Construct Psychology PCP propiciar melhor
compreenso do mtodo Repertory Grid Method.
A seguir, a sntese dos principais aspectos propostos por George Kelly baseia-se nas
contribuies de Boeree (1997); Marsden & Littler (2000); Neimeyer & Bridge (2000);
Stewart & Mayes (2002); Atherton (2005); Stewart (2005).
Kelly organiza sua teoria com base na filosofia que chamou de construtivismo alternativo.
A idia subjacente que enquanto existe uma realidade verdadeira a realidade sempre
vivenciada de forma diferente, de diferentes perspectivas ou alternativas de construo.
Todos realizam esse tipo de construo, desde as pessoas mais simples, at os cientistas
modernos, mesmo as crianas. Nenhuma construo totalmente completa. Existe um
nmero infinito de alternativas de construes e cada construo considerada vlida pela
pessoa que a construiu.
Essa filosofia retratada por Kelly na forma de uma metfora em que compara a
construo utilizada pelos cientistas e pelas pessoas mais simples, concluindo que as
ltimas tambm so cientistas na medida que constroem a realidade, assim como os
cientistas. Essas pessoas possuem antecipaes e expectativas como os cientistas, bem
como formulam suas hipteses. So engajadas em comportamentos que testam suas
expectativas, assim como os cientistas, fazem seus experimentos. Ampliam seu
entendimento da realidade na base de suas experincias, assim como os cientistas ajustam
suas teorias aos fatos. A partir dessa metfora, George Kelly constri o ncleo de sua
teoria representado no Quadro 1.
45
Quadro 1
Sistema
de
Teoria Construo
} O Corolrio da Construo
Hipteses Antecipao
} O Postulado Fundamental
Observao Experincia
e e
Experimento Comportamento
} O Corolrio da Experincia
Teoria Sistema
de Construo
Fonte: Personality Theories: George Kelly 1905-1967 (Boeree, 1997).
Kelly organiza seu corpo terico com base em um postulado fundamental e 11 corolrios,
descritos a seguir:
Isto significa que construmos nossas antecipaes usando nossa experincia passada.
Somos fundamentalmente criaturas conservadoras, esperamos que as coisas ocorram tal e
como tenham ocorrido antes. Buscamos os padres, as consistncias em nossas
experincias. Exemplifica: se preparo o alarme de meu relgio, espero que dispare na hora
marcada, j que isto ocorre desde que o tenho. Se me comporto de forma amigvel com
algum, espero que me responda da mesma forma. Este seria o passo que vai da teoria
hiptese, que representa o mesmo do sistema de construo conhecimento e
compreenso antecipao.
46
Quando as coisas no ocorrem conforme o esperado temos que nos adaptar, que
reconstruir. Essa nova experincia altera nossas futuras antecipaes e assim aprendemos.
Esse seria o passo desde a experimentao e observao validao ou reconstruo.
Com base nos resultados de nosso experimento comportamentos que levamos a cabo
ou nossas observaes experincias podemos manter nossa f na teoria da realidade
que criamos ou, ento, a trocamos por outra.
Alguns construtos so independentes enquanto outros possuem conexo entre si. Alguns
esto subordinados a outros. Uma espcie de taxonomia de subordinao.
Exemplificando: existem as coisas vivas vs as coisas mortas; subordinando-se s coisas
vivas temos plantas vs animais; abaixo das plantas podemos ter rvores vs flores; e assim
por diante. Alguns outros construtos possuem conexo muito estreita, sendo que um
construto leva a outro, como o caso dos preconceitos. Cientistas necessitam usar
construes estreitas pensamento rigoroso nas suas anlises. As pessoas que se
consideram realistas tambm preferem, com freqncia, as construes estreitas.
47
Outros construtos possuem uma relao mais frouxa entre eles, existe somente alguma
conexo. Essa a forma mais flexvel de usar os construtos, possibilitando, por exemplo,
que as idias pr-concebidas no se cristalizem. Usamos essas construes quando
fantasiamos e sonhamos, sendo possvel realizar conexes bizarras. O ciclo criativo utiliza
dessas idias. Na criatividade primeiramente afrouxamos nossas construes, fantasiamos,
para somente depois estreitar as conexes de forma mais rigorosa.
Qualquer construto no vlido para tudo. Gnero por exemplo importante para
categorizar pessoas, animais superiores, mas no importante para outros tantos animais
como, por exemplo, a mosca, nem se aplica aos partidos polticos, formaes geolgicas.
Alguns construtos so muito amplos enquanto outros mais especficos. Entretanto, um
construto especfico para uma pessoa pode no o ser para outra.
Alguns construtos so elsticos, permeveis, o que significa que esto abertos a ampliar a
categoria onde se situam. Outros, por sua vez, so impermeveis. Bom e mau um
exemplo de construto permevel enquanto fluorescente e incandescente exemplo de um
construto impermevel, que se aplica quase somente iluminao. Ser permevel no o
mesmo que ser amplo. Podemos ter construtos amplos e impermeveis. A honestidade
um exemplo. Outros construtos especficos podem ser usados de forma permevel como o
exemplo incandescente quando dizemos voc parece incandescente hoje.
A pergunta que se faz : com todos esses construtos e seus opostos, como escolhemos
nossos comportamentos. Para Kelly selecionamos aquilo que antecipamos como o mais
elaborado dentro de nosso sistema de construo, o que melhor mostra nossa compreenso
e habilidade para anteciparmos. Embora a realidade oferea seus limites, escolhemos
como interpret-la. Normalmente nossas selees variam entre alternativas mais
aventureiras e mais seguras. A escolha a que melhor se adeqe s nossas necessidades.
Para Kelly a liberdade um conceito relativo. Somos mais livres em algumas situaes
que em outras, mas livres para algumas coisas que para outras, mais livres sob algumas
construes que em outras.
48
Mesmo que uma pessoa no seja similar outra, pode relacionar-se com ela. Pode
construir como a outra o faz, colocar-se no seu lugar, perceber de onde vem e saber o que
quer dizer. Em outras palavras, possvel colocar de lado uma poro de si prprio,
mediante o corolrio da fragmentao, para ser outra pessoa. Essa uma importante parte
da atuao de um papel, uma vez que desempenhado para ou com outra pessoa,
possvel entend-la, para assim com ela se relacionar.
Podemos destacar como os principais aspectos da teoria dos construtos pessoais de Kelly,
em relao aos nossos sistemas de construo: tornam o mundo de cada pessoa mais
previsvel; podem crescer e mudar, influenciam as expectativas e percepes; so
realidades nicas para quem os compreendem e vivenciam; influenciam as expectativas e
percepes; nem sempre so inteiramente consistentes; alguns construtos e alguns
aspectos do sistema de construo de cada pessoa so mais importantes que outros; o
quanto uma pessoa pode entender o sistema de construo de outra pessoa denota seu grau
de empatia.
Repertory Grid Technique, tambm conhecido como Repertory Grid Methods, Role
Construct Repertory Test e Repgrids, uma tcnica que permite descobrir a forma pela
qual a pessoa interpreta sua realidade. Em funo de sua flexibilidade esse mtodo pode
ser considerado tanto fonte de diagnstico, de autoconhecimento, quanto ferramenta de
pesquisa.
Essas respostas, colocadas duas a uma, produzem uma escala bipolar. Por exemplo, a
resposta primeira pergunta (quanto s qualidades dessas pessoas, em que duas delas se
diferem da terceira) poderia ser: porque as duas so cuidadosas enquanto a terceira
impetuosa.
Quadro 2
Matriz Grid
ELEMENTOS
CONSTRUES
Plo da Plo do
Semelhana Contraste
Em funo do seu protocolo padronizado, o Grid pode ser usado em pesquisas de larga
escala, com vrios nmeros de entrevistadores, em que cada entrevistador pode capturar o
trabalho do outro e entender o que est ocorrendo com a sua entrevista, em particular. O
Manual for Repertory Grid Technique escrito por Fransella, lanado em 1977 e agora em
sua segunda edio, permite uma viso atualizada das enormes alteraes e avanos
sofridos no mtodo, incluindo os principais mtodos de anlise computadorizados.
No fornea o contraste do plo. Se, por exemplo, o entrevistando diz essas duas
pessoas revelam senso de humor , o entrevistador no deve se manifestar
dizendo: e a outra no? Sugere o autor que diga: como voc descreveria o outro
pelo contraste?
No reforce a sntese dos construtos do entrevistado. Se o entrevistado ao formular
um construto utiliza uma frase, muitas palavras, como por exemplo: ela pode
encontrar duas ou trs novas formas de olhar o problema, no cabe ao
entrevistador depreender da o construto-criativo solucionador de problemas. O
que o autor recomenda ao descrever o plo contrastante manter a mesma
forma, descrevendo-o em uma frase, sem preocupao em sintetiz-lo.
No se coloque na posio de julgar os construtos do entrevistado ou de interferir
em seus construtos. Extraia os construtos durante a entrevista e pea ao
entrevistado que os classifique conforme sua prioridade.
52
Stewart & Mayes (2005) acreditam que sua primeira utilizao, nesse campo, foi em
pesquisas de marketing, possibilitando esclarecer como o consumidor v o produto da
empresa, como v o produto do concorrente, sem a distoro causada pela familiaridade
com o produto. Segue-se o interesse pela utilizao da tcnica em diagnstico de
necessidades de treinamento e avaliao de atividades de treinamento. A especial atrao
pela utilizao do Grid nesse sentido reside na oportunidade de revelar, em detalhe, o
mapa do sistema de construto da pessoa e, posteriormente, medir as mudanas ocorridas.
Outra utilizao do Grid, no campo das organizaes tem sido a identificao do potencial
dos gestores. A partir da utilizao do Grid em entrevistas com gestores sobre suas
percepes da efetividade ou no efetividade dos comportamentos no trabalho, possvel
formar um retrato da viso da organizao sobre efetividade. Esse entendimento serve
como base para planejamento estratgico. Em controle de qualidade o Grid ajuda
descobrir se as falhas vistas pelas pessoas so as mesmas, e como so vistas.
Todas essas aplicaes so explicadas pelo sistema de construo que carrega consigo o
fato de ter sido desenvolvido pela experincia e o senso de ser o que permite construir
ver e interpretar o mundo. Nesse sentido, Kelly acredita que, mediante o conhecimento
do sistema de construo das pessoas possvel entender sua histria, ao mesmo tempo
em que permite fazer predies sobre como ela reagiria em determinadas situaes, se
souber o que a dita situao significa para ela.
Concluindo, o mtodo criado por Kelly Repertory Grid uma forma de levar as
pessoas a exibirem, para elas prprias, seu sistema de construo. , alm de uma forma
de autoconhecimento, um meio de possibilitar ao pesquisador que penetre no mundo do
entrevistado, do pesquisado. Assim, sejam quais forem as aplicaes do Repertory Grid,
recomendvel no descuidar e nem negligenciar o entendimento das bases que o
sustentam, contidas na teoria proposta por Kelly PCP. Alguns aspectos-chave da teoria
devem ser sempre relembrados: percepes influenciam expectativas e estas influenciam
percepes; o meio pelo qual isto ocorre conhecimento como sistema de construtos; os
sistemas de construtos so nicos para cada indivduo e so desenvolvidos no decorrer da
vida.
53
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agosto de 2005.
54
RESUMO
INTRODUO
Low et al (2004) prope que se inclua como uma quinta vertente a teoria psicolgica-
social, onde os valores so estabelecidos com relao a fins e ao modo de se alcana-los.1
1
Essa proposio, que tem Rokeach(1973) como fundador, tem estreita similaridade com a proposio de
Meios-Fins de Gutman (1982)
56
Assim, tem-se que h uma interconexo entre os atributos do produto/servio, que levam a
conseqncias comportamentais do consumidor e que terminam por interferir na formao
de valores do mesmo. Atributos seriam ento considerados meios para as conseqncias
que seriam, por sua vez, meios para os valores. Tambm denominados como nveis,
atributos seriam os nveis mais baixos pelos quais, os nveis mais altos seriam alcanados,
aqui entendendo a denominao de nveis como uma categorizao dentro do processo de
construo de valores proposto, propiciando assim, uma melhor compreenso dos
processos cognitivos e de escolha dos consumidores a partir da percepao dos atributos de
produtos/servios experienciados em qualquer nvel (REYNOLDS e GUTMAN, 1984;
ZEITHAML, 1988).
57
Dessa maneira, a seqncia ACV seria uma cadeia Meios-Fins em que a forma que o
conhecimento experienciado de atributos especficos de um produto/servio produziria
conseqncias atitudinais ou comportamentais no consumidor, tendo como resultado
influncia em sua formao de valores prprios, j que a percepo do consumidor dos
produtos/servios de que os mesmos so meios de se atingir fins desejados
(REYNOLDS e GUTMAN, 1988).
A crtica tem respaldo no trabalho de Grunert e Grunert (1995), que denotam o aspecto de
a prpria tcnica de entrevista, que busca alcanar nveis mais abstratos de cognio, pode
provocar processos cognitivos de associao que so inconsistentes com as associaes
que definem o comportamento do consumidor na prtica. Os autores ainda recomendam
que, em funo de o envolvimento quando muito alto ou muito baixo, poderem gerar
processos cognitivos que distorcem a interpretao do mesmo, s se faa a tcnica de
Laddering quando o envolvimento for moderado.2
Conceito de Laddering
2
Temos aqui um problema de abordagem extremamente subjetivo: o que seria moderado?
59
O mtodo Laddering tem sua origem na teoria de construto pessoal de Kelly (1955),
marco nas abordagens cognitivas. No incio do desenvolvimento da teoria, a ferramenta
utilizada era o repertory grid, ou grid de repertrio, um instrumento com a finalidade de
captura dos significados pessoais ao dar significado para as experincias vivenciadas por
meio de entrevistas estruturadas. Dessa maneira, o Grid de Repertrio seria um mtodo
desenvolvido com a finalidade de investigar os significados pessoais que guiam nossas
percepes e aes em nossa existncia diria (TAN e HUNTER, 2002).
3
A traduo do termo escada e a metfora est na evoluo crescente da compreenso de significados
pessoais
60
Uma vez identificada essa conexo na cadeia ACV, as relaes so ento representadas
dentro de uma estrutura hierrquica, denominada Mapa Hierrquico de Valores, MHV,
onde os atributos dos produtos so situados no nvel mais inferior da hierarquia, as
conseqncias no nvel intermedirio, acima dos atributos e imediatamente abaixo dos
valores, que situam assim, no nvel mais alto do MHV. Essa estrutura hierrquica
interpretada por Orsingher e Marzocchi (2203) como uma funo de aprendizagem que
faz com que os consumidores desenvolvam conhecimento e capacidade de identificar
aqueles produtos ou servios que seriam os mais apropriados, em funo de seus atributos,
para desencadear conseqncias desejadas de acordo com seus valores pessoais.
Entrevistador: Voc assinalou que prefere botes de apertar ao invs de botes que tem
de girar para operar o som do seu carro. Pode me explicar porqu essa
escolha importante para voc? (botes de apertar e botes de girar
atributos do carro produto)
Entrevistado: porqu esse tipo de boto me permite controlar o som de maneira mais
simples e confortvel (conforto e simplicidade conseqncias)
Entrevistador: Porqu o conforto e a simplicidade so importantes para voc?
Entrevistado: Bem, o conforto e a simplicidade fazem com que eu possa prestar mais
ateno direo e, com isso, dirija de maneira mais segura e evite
acidentes ao manusear os controles do som (segurana na direo
conseqncia).
Entrevistador: Por qu importante dirigir de maneira mais segura e evitar acidentes?
Entrevistado: Bem, ao dirigir com segurana, eu me protejo e minha famlia, no fico
irritado em pensar que o uso de um som poderia provocar algum tipo de
mal minha famlia, que meu bem mais precioso (importncia da sade
prpria e da famlia valor)
VALOR
SEGURANA DA FAMLIA
A ordenao tridica (Kelly, 1955) feita com a utilizao de trs produtos que so
colocados disposio do consumidor5 e que competem pela escolha do mesmo,em
termos de preferncia de compra, podendo ser produtos de mesma espcie ou produtos
substitutos ou at mesmo, produtos de classe distinta, mas que podem influenciar em um
processo de deciso de escolha. Dessa forma, pode-se pensar em selecionar alguns tipos
de chocolates, por exemplo, agrup-los de trs em trs para poder-se extrair critrios de
diferenciao iniciais realizados dentro da estrutura cognitiva do consumidor. Uma das
formas adotadas de provocar o consumidor a construir uma classificao onde, dentre os
trs produtos apresentados, ele pensaria em que dois seriam comuns entre si e diferentes
do terceiro, sendo que, ao se repetir a classificao em dois grupos diferentes, se
provocaria o consumidor a criar um critrio diferente (cor de embalagem, formato, toque,
gosto, cheiro, etc).
4
ordenao tridica um processo de seleo e classificao a partir de trs elementos ou atributos extrao
livre, um processo de livre escolha e ordenao justificada, busca-se uma classificao com explicao de
motivos (Bech-Larsen e Nielsen, 1999)
5
essse processo tambm adotado no Grid de Repertrio
62
Outra forma de classificao dos mtodos de coleta de dados, adotada por Grunert e
Grunert (1995) cria uma tipologia Laddering soft e Laddering hard6. Na tcnica soft,
busca-se uma entrevista em profundidade, principalmente quando a estrutura da cadeia
Meios-Fins no est to aparente para o entrevistado e sua extrao demanda um esforo e
ateno maior do entrevistador. J a tcnica de Laddering hard, os entrevistados so
submetidos estrutura de Laddering ACV, podendo a aplicao, inclusive, prescindir da
entrevista oral, substituindo-a por papel e caneta. Ou pelo uso do computador, para
formulrios eletrnicos e pesquisa online, como no trabalho de Walker e Olson (1991).
Os dados coletados no mtodo Laddering, tanto hard como soft, apresentam uma enorme
singularidade, j que cada respondente constri a sua estrutura ACV baseado em uma
forma individual de ver, interpretar e descrever o mundo, seus atributos e como eles so
percebidos e valorizados. O resultado das coletas deve ento ser submetido a alguma
metodologia de anlise para que as terminologias especficas de cada entrevistado sejam
codificadas de maneira sumarizada, com ao finalidade especfica de se poder categoriz-
las e se identificar comunalidades conceituais. A construo dessa categorizao se d por
meio da anlise de contedo que auxiliar na categorizao dos eixos temticos comuns
nas construes das estruturas de Atributos, conseqncias e valores feitas por cada
respondente, a qual, por sua vez, resultar na construo de uma matriz, essencial para se
montar o Mapa Hierrquico de Valores, MHV, de uma forma que passa ento a
quantificar as incidncias de atributos, conseqncias e valores e como esses elementos se
relacionam entre si, de maneira direta, quando a relao entre elementos adjacentes da
estrutura ACV ou indireta, quando ocorre a intermediao, caso tpico da relao entre
atributos e valores, normalmente mediados pelas conseqncias. O resultado desse
processo de anlise que apresentar a estrutura cognitiva que explica o processo de
escolha do consumidor(BOTSCHEN e THELEN, 1998).
A construo dos MHV feita pela recuperao das diferentes relaes existentes entre os
elementos da estrutura ACV podendo obter-se Mapas mais complexos quando se
maximiza o nmero de relaes existentes ou mapas mais simples quando se prioriza
elementos estruturais e relaes com maior poder de sntese. Deve-se levar em conta que,
quanto maior a sintetizao obtida, maior a simplificao e menor o nvel de recuperao
de aspectos no evidentes na coleta de dados, enquanto que, em caso contrrio, maior o
nvel de complexidade e dificuldade de compreenso do MHV obtido7. Para facilitar a
extrao das matrizes e a conseqente construo do Mapa Hierrquico de Valores,
Reynolds e Gengler (1987) desenvolveram o software LadderMap8.
6
No original, hard Laddering e soft Laddering (Grunert e Grunert, 1995)
7
BASSI,1988, apud RUGG,2002 relata um caso de Laddering onde se buscava valores que influenciavam a
escolha de equipamentos de Tecnologia da Informao e se chegou busca de um marido como valor
determinante da escolha.
8
Disponvel como software livre no endereo:
http://ken.peffers.net/Peffers.com/Consulting/LadderMapSoftware/
63
Pode-se citar tambm a ferramenta AQUINAS, proposta por Boose e Bradshaw (1988),
desenhada para ser um sistema completo de apoio deciso. uma ferramenta fruto de
desenvolvimento de outra ferramenta, a Expertise Transfer System, ETS. Categorizada
como um sistema de aquisio de conhecimento, cujas principais possibilidades
operatrias, ao combinar potencialidades de um sistema de gesto de conhecimento com
abordagens psicolgicas, a ferramenta AQUINAS possibilita tarefas como a
decomposio de problemas, extrao de fatores de estruturas ACV, dentre outras.
9
Disponvel em http://ksi.cpsc.ucalgary.ca/IJHCS/VH/VH4.html, acessado em 15/11/2005
64
Consideraes Finais
O mtodo Laddering, desde seu desenvolvimento inicial por Hinkle (1965)10, tem tido
larga aplicao tanto no mercado das organizaes, como no acadmico, em substituio
ao Grid de Repertrio, considerado no apropriado para representar cognies
hierrquicas em geral. Assim, podemos citar aplicaes do mtodo para propaganda e
publicidade (REYNOLDS e GUTMAN, 1988), como tambm na rea de arquitetura
(HONIKMAN, 1977, citado por RUGG,2002). Mas, dentre todas, a que prevalece como
principal a busca da construo de mapas cognitivos hierrquicos de valor que
estabelea as conexes entre os atributos, as conseqncias e os valores pessoais para
produtos e servios.
Percebe-se ainda que o mtodo Laddering tem se mantido como uma tcnica vivel e de
grandes possibilidades para estudos qualitativos e triangulares na rea de Marketing e
Comportamento do Consumidor. Apesar de depender muito de aspectos subjetivos do
entrevistado, o que implica em uma grande capacidade perceptual e investigativa do
entrevistador, ela tem recebido aportes substanciais e desenvolvimentos significativos,
incluindo-se aqui as contribuies da rea de Tecnologia da Informao.
Referecial Bibliogrfico
339, 1998.
DRUCKER, P.F. A prtica da Administrao de Empresas. So Paulo: Pioneira, 1981.
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OVERBY, J.W., GARDIAL, S.F., WOODRUFF, R. French Versus American
66
FOCUS GROUP
Annor da Silva Junior
Jos Marcos Carvalho de Mesquita
1 Introduo
Os mtodos de pesquisa qualitativa focus group e o mtodo delphi esto sendo bastante
difundidos entre os pesquisadores em Cincias Sociais, principalmente quando utilizados
interagindo com outros mtodos de pesquisa. A principal utilizao desses mtodos se d
na fase exploratria do trabalho, quando se faz necessria uma melhor compreenso do
problema de pesquisa, a fim de que se possam levantar as hipteses para o estudo.
Nesse sentido, a utilizao dos mtodos tem sido de suma importncia para as Cincias
Sociais, fazendo-se necessrio a melhor compreenso desses. O presente artigo, que
consiste em uma reviso de bibliografia, tem como finalidade discutir e entender a que
servem e as formas de implementao desses mtodos, para que os mesmos possam ser
melhor utilizados em pesquisa em Cincias Sociais.
2 Aspectos Conceituais
O focus group consiste em um mtodo qualitativo realizado por meio de entrevista, tendo
como participantes de 08 a 12 pessoas que discutem e interagem entre si sob a superviso
e conduo de um moderador, sendo objeto de estudo uma temtica central de interesse
(Stewart & Shamdasani, 1990).
Uma outra definio a de Krueger & Casey (2000), considerando o focus group como
um tipo especial de grupo em termos de proposta, tamanho, composio e procedimentos.
A proposta do focus group listar e coletar informaes. o caminho para o melhor
entendimento de como as pessoas pensam e sentem a respeito de produtos e servios. Os
participantes so selecionados por possurem determinadas caractersticas em comum
(homogeneidade), capaz de contribuir para o tema de interesse abordado no focus group.
J Morgan (1997) defende que, como mtodo de pesquisa qualitativa, o focus group ,
basicamente, um procedimento de entrevista em grupo, porm, no no sentido da relao
de perguntas e respostas, em que o pesquisador pergunta e os participantes respondem.
Em vez disso, a relao entre moderador/pesquisador e participantes de interao,
baseada em tpicos (temtica de interesse) que so alimentados pelo moderador ao longo
da sesso. A caracterstica do focus group seu uso explcito da interao do grupo para
produzir dados, informaes e introspeces que certamente no seriam to acessveis
sem o fundamento da interao dos membros do grupo.
69
Em outra abordagem conceitual Templeton (1994) define focus group como sendo, em
sua essncia, uma pequena comunidade temporria formada para uma proposta
colaborativa e empreendida para a descoberta. Sua constituio baseada na discusso
conjunta de algum tema de interesse pelos membros do painel, cuja atuao no grupo
compensada por alguma forma de recompensa que pode ser remunerao direta,
vantagens e benefcios.
3 Perspectiva Histrica
Mesmo no havendo entre os principais autores um entendimento a respeito do
surgimento desse mtodo de pesquisa, encontrou-se na literatura que as primeiras prticas
do mtodo ocorreram em 1941, no Office of Radio Research, da Columbia University,
quando Paul Lazarsfeld foi convidado por Robert Merton para auxili-lo na avaliao das
respostas de ouvintes de um programa de rdio, como parte de um estudo realizado com
um grupo de pessoas sob determinado tema de interesse.
Naquela poca o focus group era conhecido por focussed interviews. A partir dos ouvintes
dos programas de rdio, eram selecionados os participantes para discutir o tema central de
interesse definido pela Columbia University. O moderador que conduzia o grupo
estimulava os participantes com questes e esses respondiam por meio de sinais ao
pressionarem botes verdes e vermelhos. Os botes verdes representavam concordncia e
os vermelhos representavam discordncia. As respostas eram cronometradas e ao final da
sesso os participantes comentavam e discutiam as razes para suas respostas (Stewart &
Shamdasani, 1990).
Esse mtodo foi utilizado por Merton logo aps a Segunda Guerra Mundial na United
States Army Information and Education Division, na avaliao dos treinamentos das
tropas americanas, principalmente para identificar se esses treinamentos eram eficientes
para levantar o moral das tropas em combate de guerra. Esse trabalho foi comandado por
Sammuel Stouffer. Essa experincia resultou na publicao de artigo sobre a utilizao da
metodologia (Merton & Kendall, 1946) e, posteriormente, no lanamento de livro
(Merton, Fiske, & Kemdall, 1956). Os resultados de pesquisas realizadas tendo como
fundamento a utilizao da metodologia focussed group, principalmente no final da
Segunda Grande Guerra, e depois na Columbia University, formaram a base de um dos
livros clssicos sobre persuaso e influncia da mdia de massa (Merton, Fiske & Curtis,
1946).
Mais tarde, Merton adaptou o mtodo para utilizao em entrevistas individuais, sendo
utilizada em ambas as modalidades: individual e coletiva. A opo pela utilizao de uma
modalidade ou outra dependia das necessidades do pesquisador, que alterava
procedimentos segundo o objetivo do focussed group.
70
Segundo Stewart & Shamdasani (1990), o mtodo de pesquisa qualitativa focus group tem
as seguintes aplicaes:
Obteno de informaes sobre tpicos de interesse;
Gerao de hipteses de pesquisa;
Simulao de conceitos e idias;
Diagnsticos de problemas potenciais;
Pesquisa de interesse de clientes;
Obteno de opinies sobre produtos e servios;
Interpretao prvia de resultados quantitativos;
Construo de comprometimento;
Tomada de deciso;
Satisfao do cliente;
Processo poltico e diplomtico;
e outras.
71
Como todo mtodo de pesquisa, o focus group apresenta aspectos positivos e negativos.
Segundo Stewart & Shamdasani (1990), Casey & Krueger (2000) e Morgan (1997), a
utilizao do focus group apresenta os seguintes aspectos positivos:
Rapidez e baixo custo na obteno de dados e informaes, tomando-se em comparao
outros mtodos de pesquisa. Vale ressaltar que, dependendo do nvel de investimento em
estrutura na implementao do mtodo, pode-se encarecer consideravelmente seus custos;
Interao direta com os participantes, possibilitando clareza nas repostas e observaes
no-verbais;
Flexibilidade na obteno de dados, seleo de participantes e temas abordados;
e facilidade na interpretao e anlise dos resultados.
Os membros que integram o focus group desempenham algumas funes importantes para
a conduo do mtodo (Templeton, 1994; Stewart & Shamdasani, 1990; Casey &
Krueger, 2000; e Morgan, 1997).
7 Moderador
O moderador que pode ser interno ou externo, ou seja, fazer parte ou no da organizao
que est patrocinando o focus group tem algumas caractersticas que so fundamentais e
decisivas para o sucesso da utilizao do mtodo de pesquisa:
Ser tendencioso;
Criticar manifestaes;
Ser prolixo;
Ignorar participantes e suas manifestaes;
Perder o controle das discusses;
Assumir interpretaes parciais.
8 Participantes
Assim, considera-se, para efeito de seleo de participantes de grupo de foco, que o grupo
possua as seguintes caractersticas (Templeton, 1994; Stewart & Shamdasani, 1990;
Casey & Krueger, 2000; e Morgan, 1997):
O grupo pode ser estruturado quando possui uma relao anterior realizao das
sesses de entrevistas. Exemplo: um grupo formado por pessoas que fazem parte
de um mesmo departamento de uma organizao um grupo estruturado;
O grupo pode no ser estruturado quando no h relao anterior realizao das
sesses de entrevistas. Exemplo: um grupo formado por profissionais de reas
distintas que no se conheciam at o momento das sesses de entrevistas;
Todos os participantes devem estar envolvidos de alguma forma com o tema
central da discusso;
O nmero de participantes deve ser definido entre 06 a 12 participantes. Um grupo
inferior a 06 participantes muito pequeno e maior que 12 considerado muito
grande para a conduo de uma sesso de entrevista de focus group;
A amostra para a seleo de participantes pode ser aleatria ou no, dependendo
dos objetivos e da temtica central do focus group. Vale ressaltar que essa amostra
deve ser representativa e;
o principal meio de contato para a seleo de participante a correspondncia.
Mesmo com o advento da internet e dos contatos via correio eletrnico, a
correspondncia tradicional ainda a mais utilizada.
74
Definio do Problema
Identificao da Amostra
Escolha do Moderador
Gerao do Pr-Teste
Seleo da Amostra
Conduo do Grupo
Redao do Relatrio
Figura 1 Implementao do Focus Group.
Fonte Adaptado de Stewart & Shamdasani, (1990), p. 20. Pelos autores.
Com base na Figura 1, o autor define as nove fases de implementao do focus group.
Aconselha-se que o problema principal de pesquisa tenha em mdia apenas trs subtemas
especficos, ou seja, um tema central e trs temas perifricos, porm complementares ao
tema central.
Por exemplo, para um problema de pesquisa de marketing que tenha como tema central
estratgia de vendas de artigos esportivos para jogadores de tnis, a identificao do
participante deve, necessariamente, envolver um pblico masculino e feminino que
tenham como hbito a prtica esportiva do jogo de tnis.
76
A gerao do pr-teste uma fase inicial na elaborao do roteiro de entrevista que, antes
de assumir seu formato ideal, passa por uma srie de testes para, enfim, ser utilizado na
sesso do focus group.
No h uma regra inicial formal para se estimar o nmero de grupos. O pesquisador parte
de um nmero que pode ser estratificado segundo algum critrio, por exemplo, regies,
faixa etria. A partir desses grupos iniciais, a medida que se procede as reunies focais o
pesquisador verifica se h saturao de informaes. Significa que novos grupos no
acrescentaram novas informaes e, portanto est na hora de parar. Cabe ao moderador e
coordenador geral do projeto a seleo dos participantes para as sesses.
Mesmo no havendo consenso entre os autores (Templeton, 1994; Stewart & Shamdasani,
1990; Casey & Krueger, 2000; e Morgan, 1997), o nmero de participantes envolve no
mnimo 06 e no mximo 12. Considera-se um grupo com menos de 06 participantes
insuficiente para a realizao do mtodo de pesquisa, e acima de 12 participantes muito
grande e invivel para a coleta de dados, informaes e opinies no decorrer das sesses.
77
Essa a fase conclusiva do mtodo de pesquisa focus group. Nessa fase, o moderador,
juntamente com o coordenador geral do projeto, fica responsvel pela elaborao do
relatrio final do estudo. As principais atribuies nessa fase so:
Por telefone;
Por meios de comunicao diversos;
Pela internet;
Dois moderadores;
Periodicamente repetitivo.
ANLISE DE PROTOCOLO
Carlos Alberto Gonalves
Karina Andrea Pereira Garcia Coleta
Referncias Bibliogrficas:
ERICSSON, K. A.; SIMON, H. A. Protocol analysis: verbal reports as data. Cambridge:
MIT Press, 1993.
MALHOTRA, Naresh K. Pesquisa de marketing: uma orientao aplicada. Porto Alegre:
Bookman, 2001.
82
MTODO DELPHI
Carlos Alberto Gonalves
1 Aspectos Conceituais
Mtodo Delphi pode ser conceituado como mtodo de comunicao de grupo utilizado
para desenvolver previses acerca de eventos, e tambm para obteno de opinies de
especialistas sobre assuntos especficos. Ainda uma tcnica nova, portanto carente de
embasamento terico, mas sua crescente utilizao em Cincias Sociais indica que tem
um longo e promissor caminho a percorrer. Como apresenta deficincias tericas e dada
sua pequena utilizao em termos prticos, interessante que estudos sejam
desenvolvidos com rigor cientfico como forma de desenvolver o mtodo, ampliando seu
campo de aplicao e dando-lhe maior consistncia terica.
2 Perspectiva Histrica
Pode-se afirmar, segundo Linstone e Turoff (1975), que o mtodo deve ser utilizado
quando:
5 Integrantes
Com relao aos participantes envolvidos estima-se em torno de 100 o nmero ideal.
Podem ser externos ou internos, isto , podem pertencer organizao ou a algum
departamento da mesma, ou no, mas todos devem, a princpio, possuir amplo domnio do
tema abordado. Alm disso, devem dispor de tempo suficiente para participar e,
principalmente, ter desejo de participar, o que se traduz em respostas realmente
elaboradas e consistentes. Quanto a esse ltimo aspecto, o problema que, s vezes,
alguns participantes podem responder de acordo com a maioria do grupo, somente por
comodidade ou porque no querem explicar sua opinio contrria, atitude indesejvel e
que mascara o resultado como um todo.
O monitor, por sua vez, desempenha papel de fundamental importncia. Recai sobre ele a
concepo do modelo a ser aplicado em termos de objetivos, seleo dos participantes,
elenco de perguntas, a elaborao do questionrio, a coleta dos questionrios respondidos,
tabulao das respostas, preparao de novos questionrios, e assim sucessivamente, at o
processo terminar.
Como exemplo, pode-se imaginar uma pesquisa em que se procura avaliar a opinio dos
participantes sobre o comportamento de algum setor da economia nos prximos anos. As
respostas podero ser abertas, ocasio em que os respondentes iro apresentar suas
prprias opinies (vai crescer, vai estagnar, vai haver entrada de novos concorrentes, as
exportaes sero incentivadas etc.), ou fechadas, quando seriam apresentadas diversas
opes, com respostas em escala mltipla, grau de concordncia por exemplo, 1,
nenhum; 2, pouco; 3, indiferente; 4, algum; 5, muito , ou escala simples importante,
no importante. Alm disso, as respostas podem vir em forma de cenrio ou narrativa.
Aps o recebimento dos questionrios respondidos o monitor deve proceder anlise dos
dados. Nesse processo, sero utilizados instrumentos estatsticos para avaliar as respostas,
como mdia e freqncia. Deve-se pegar as observaes mais citadas, em caso de
respostas abertas, ou as respostas com resultados convergentes, em questes fechadas,
para elaborar o segundo questionrio. Alm disso, o sumrio de respostas do primeiro
questionrio tambm deve ser encaminhado aos participantes. No exemplo anterior,
seriam tomadas as opinies mais freqentes (por exemplo, crescimento, as exportaes
sero incentivadas) e elaborado um novo questionrio, com questes fechadas, com escala
simples (concorda, no concorda) ou mltipla, grau de concordncia, por exemplo (1,
nenhum; 2, pouco; 3, indiferente; 4, algum; 5, muito).
Deve-se ressaltar que, a partir dessa rodada, as opinies dos participantes em casos de
respostas divergentes da maioria, de acordo com o sumrio de respostas do primeiro
questionrio, devero ser justificadas. Alm disso, caso o participante entenda que sua
opinio inicial era errnea, tem a oportunidade de rever sua posio e apresentar novas
respostas. Em situaes em que as respostas so dadas de acordo com a maioria somente
por comodidade ou por no haver desejo de explicar a discordncia, fica caracterizada o
desinteresse do membro em participar efetivamente, violando um dos pressupostos
referentes s atitudes desejveis dos participantes. Neste momento, a importncia do papel
do monitor torna-se mais clara. Se o monitor no concordar com as respostas dos
participantes e quiser direcionar o questionrio segundo suas prprias convices, ele ter
plenas condies de faz-lo, porm o resultado estar sendo comprometido de forma
irrecupervel.
86
Outro ponto que merece destaque refere-se existncia de itens polmicos. Como o
processo procura alcanar consenso entre os participantes, h uma tendncia natural de
no incluir questes divergentes nos questionrios subseqentes, o que estaria deixando
um vazio, na medida em que temas polmicos no estariam sendo analisados com a
devida profundidade.
Aps o recebimento das respostas do segundo questionrio, o processo deve ser repetido,
com a tabulao dos dados, elaborao e envio de outro questionrio, e assim por diante.
Normalmente, segundo Linstone e Turoff (1975) e Martino (1975), de trs a quatro
rodadas so suficientes para se atingir o consenso inicialmente almejado, conforme
demonstrado na Figura 2.
Definio do Problema de
Pesquisa
Escolha do
Monitor
Elaborao e Distri-
buio
Elaborao do 2
Questionrio
Processo se Repete
Elaborao do
Relatrio Final
O mtodo aplicado com o envio de questionrios impressos por via postal, conhecido
com Delphi convencional. Este mtodo tem a desvantagem de consumir um perodo longo
de tempo, j que entre a elaborao de um questionrio, postagem, tempo para resposta,
postagem de volta e compilao dos dados, leva-se algum tempo, fato agravado pela
necessidade de rodadas sucessivas.
Devido ao avano recente na tecnologia da informao, existe uma nova forma, conhecida
como Delphi em tempo real, em que os participantes respondem atravs de questionrios
apresentados em computadores com auxlio da internet, o que garante rapidez no s no
envio e recebimento dos questionrios, mas, principalmente, na anlise e compilao dos
dados.
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TEMPLETON, J. F. The focus group. New York: McGraw-Hill, 1994.
88
1 Introduo
Este texto estabelece linhas gerais que identificam o mtodo Estudo de Caso como uma
estratgia de pesquisa que apresenta caractersticas particulares em relao a outros
mtodos utilizados em Cincias Sociais. Para alcanar este fim, discutir-se-,
inicialmente, elementos conceituais e tipolgicos sobre estudo de caso para, em seguida,
desenvolver elementos metodolgicos referentes ao planejamento e conduo deste
mtodo para fins de pesquisa. Em linhas gerais, o paper objetiva responder questes
relacionadas a maneira como: (a) um caso deve ser definido; (b) os dados de um caso
devem ser coletados; e (c) os dados devem ser tratados aps a coleta.
Boa parte da literatura sobre mtodos e tcnicas de pesquisa tem mostrado, de forma
incorreta, que o estudo de caso um mtodo qualitativo. Yin (2001) esclarece que esta
posio errnea porque um estudo de caso pode tratar de evidncias tanto quantitativas
quanto qualitativas. comum encontrar em compndios sobre pesquisa social hierarquias
classificatrias de pesquisa que tentam convencer os pesquisadores de que estudos de caso
so adequados a pesquisas exploratrias, surveys e pesquisas histricas adequados a
pesquisas descritivas e experimentos, adequados a investigaes explanatrias ou causais.
Na verdade, segundo argumenta o autor, equivocado estabelecer uma hierarquia para
dispor as diversas estratgias de pesquisas encontradas na literatura.
Segundo Yin (2001), esta viso hierrquica incorreta, pois desconsidera ou desconhece
que alguns dos melhores e mais famosos estudos de caso foram descritivos e
explanatrios (cf. Yin 2001). Segundo tipologia elaborada pelo autor, um estudo de caso
exploratrio procura levantar questes e hipteses para futuros estudos, um estudo de caso
descritivo pretende estabelecer associaes entre variveis, normalmente com evidncias
de carter quantitativo, e um estudo de caso explanatrio busca desenvolver explicaes
alternativas a respeito de um fenmeno e uma concluso baseada na explicao que
parece ser a mais congruente com os fatos a ele relacionados.
Em termos conceituais, o estudo de caso um mtodo de pesquisa emprica que tem por
objetivo investigar um fenmeno que deve apresentar certas caractersticas
idiossincrticas iniciais e cujas unidades de anlise e de observao, bem como o
problema de pesquisa, limitam-se a um contexto especfico. Entende-se por unidade de
anlise a entidade ou o evento envolvido na investigao, por exemplo, o estudo pode ser
sobre o indivduo, sobre decises organizacionais, sobre uma mudana organizacional ou
sobre processos de implantao de determinados programas nas empresas.
89
Para caracterizar os tipos de projetos de estudo de caso, Yin (2001) desenvolveu uma
matriz 2 x 2 que correlaciona estudos de caso nico ou de casos mltiplos com unidades
unitrias ou mltiplas de anlise. Assim, quatro tipos de projetos so previstos: projetos de
caso nico holsticos com uma nica unidade ou problema de anlise; projetos de caso
nico incorporados com mltiplas unidades ou problemas de anlise; projetos de casos
mltiplos holsticos com uma nica unidade ou problema de anlise; e projetos de casos
mltiplos incorporados com mltiplas unidades ou problemas de anlise. A figura a
seguir ilustra esta tipologia.
90
projetos de projetos de
caso nico casos mltiplos
nica unidade
HOLSTICOS HOLSTICOS
de anlise
Que distines deveriam ser feitas entre estes quatro tipos de projetos de estudo de caso?
Yin (2001) sugere que, antes da coleta de dados, o pesquisador, ao formular as questes
da pesquisa, precisa decidir se utilizar um estudo de caso nico ou de casos mltiplos.
Projetos de caso nico incorporados envolvem, alm de uma unidade maior de anlise,
subunidades onde cada nvel de anlise pode ser selecionado atravs de amostragens ou
tcnicas de grupo. O pesquisador deve ter o cuidado de no dedicar ateno exagerada s
subunidades de anlise, devendo retornar sua investigao unidade maior de anlise.
Exemplo de projeto de caso nico incorporado: estudo de pequenos projetos que
envolvem a implantao de um programa geral de sade pblica.
Projetos de casos mltiplos envolvem mais de um caso nico sendo que cada caso deve
atender a um propsito especfico dentro do escopo geral da investigao. Quando cada
caso nico apresentar uma nica unidade de anlise o projeto apropriado ser de casos
mltiplos holsticos. Por exemplo, em um estudo que pretende avaliar inovaes
pedaggicas realizadas em uma escola (computador nas classes, grupos focais de
discentes para analisar o desempenho de docentes ou aulas de campo), cada inovao
implantada poderia ser tratada como um caso nico e a escola em questo como uma
nica unidade de anlise. A implantao de cada inovao pedaggica seria considerada
como um caso individual dentro do escopo maior de investigao e os resultados seriam
reunidos para a escola investigada.
91
Quando cada caso nico em projetos de mltiplos casos envolver mais de uma unidade de
anlise o projeto em questo seria de casos mltiplos incorporados. Por exemplo, em um
estudo que pretende analisar a prestao de servios de lojas credenciadas a uma
determinada empresa cada loja deveria ser tratada como um caso nico no que se refere
prestao de servios ao cliente e como uma unidade de anlise especfica. Nesta situao,
portanto, vrias unidades de anlise estariam envolvidas e os resultados de cada
levantamento no poderiam ser reunidos para todas as lojas credenciadas investigadas,
mas, sim, tratados separadamente para cada uma das lojas participantes do estudo.
Cada mtodo de pesquisa emprica possui um projeto de pesquisa particular, comenta Yin.
Em termos operacionais, este autor argumenta que um projeto de pesquisa a seqncia
lgica que conecta os dados empricos s questes iniciais do estudo e, em ltima anlise,
s suas concluses (2001: 41).
Para o autor, pelo menos quatro componentes necessitam ser considerados ao se projetar
um estudo de caso, quais sejam: (1) a definio precisa a respeito da natureza das questes
de pesquisa; (2) a definio das proposies tericas que nortearo a explorao das
questes de pesquisa; (3) a definio da unidade de anlise; (4) a anlise dos dados em
termos da maneira como sero associados aos propsitos do estudo, bem como em termos
dos critrios que sero adotados para a interpretao dos resultados da pesquisa.
As diferenas entre generalizao estatstica versus analtica podem ser visualizadas mais
adequadamente na figura a seguir:
teoria
teoria
concorrente
objetos de
amostragem
estudo
Eckstein (1975) estabelece uma tipologia de estudos de caso que, segundo o autor, pode
contribuir para a construo de teoria. Estes tipos so classificados como ideogrfico-
configurativo, configurativo-disciplinado, heurstico, sondagem de plausibilidade e
crtico. Nos dois primeiros tipos uma teoria aplicada de modo passivo, ou seja, ao
estudar um caso o pesquisador pretende interpretar e no criar postulados tericos gerais.
Nos trs tipos restantes o pesquisador assume uma postura mais ativa uma vez que
procura explorar, testar ou gerar teorias.
Para finalizar esta seo importante destacar uma ressalva que Yin (2001) faz a respeito
dos projetos de estudo de caso. A literatura tem mostrado que uma das caractersticas mais
marcantes do mtodo de estudos de caso relaciona-se sua flexibilidade no tocante ao
fato de ele poder ser alterado e revisado aps as fases iniciais do estudo. Para Yin de fato
isto pode acontecer, mas sob um rigor metodolgico. A flexibilidade reside apenas na
seleo de novos casos para compensar as falhas encontradas naqueles inicialmente
escolhidos, mas no na modificao dos propsitos ou dos objetivos tericos do estudo.
Se estes propsitos forem modificados, adverte o autor, o pesquisador pode ser acusado de
vis em suas descobertas. O autor conclui que qualquer modificao realizada pelo
pesquisador deve ser devidamente documentada e apresentada no relatrio da pesquisa.
De acordo com Yin (2001), os seguintes tpicos fazem parte da fase de preparao para a
coleta de dados, a saber: habilidades desejadas ao pesquisador; treinamento para o estudo
de caso; desenvolvimento de um protocolo para a investigao e realizao de um estudo
de caso piloto.
Caso o estudo de caso seja conduzido por uma equipe de pesquisadores e de assistentes
sugere-se a realizao de um seminrio com toda a equipe para nivelar e uniformizar os
procedimentos que sero adotados no decorrer do processo de pesquisa. O seminrio deve
se iniciar com um treinamento para que os participantes discutam e assimilem quais so
os propsitos da pesquisa, os problemas de pesquisa a serem solucionados, as tarefas
administrativas a serem distribudas (escolha do campo, apontamentos no campo, viagens,
material de coleta de dados etc), os provveis problemas que porventura possam aparecer
no decorrer da pesquisa e como poderiam ser administrados.
O pesquisador, ao fazer os contatos iniciais com a(s) empresa(s) que lhe(s) interessa(m)
que participem da pesquisa, deve, inicialmente, estar seguro dos propsitos de estudo e, de
preferncia, conhecer um pouco sobre a realidade organizacional da(s) empresa(s) de
interesse e, acima de tudo, apresentar o projeto s pessoas-chave escolhidas para que o
conheam. importante que neste momento o pesquisador apresente uma carta
declarando suas qualificaes, os objetivos da pesquisa e quais instituies ou
patrocinadores estaro envolvidos no processo.
95
Quanto coleta de dados o pesquisador no pode se esquecer que ele quem est
precisando de dados para realizar o seu estudo. Deve trabalhar em conformidade com o
horrio e a disponibilidade das pessoas que estaro envolvidas diretamente com a
pesquisa. Os procedimentos adotados pelo pesquisador nesta fase devem ser explcitos e
bem planejados porque o trabalho de campo pode envolver a utilizao de tcnicas
diferenciadas como anlise de documentos, aplicao de questionrio, entrevistas,
observao direta ou observao participante.
Diversos relatrios contendo os resultados da pesquisa devem ser elaborados para serem
apresentados aos pblicos de interesse do estudo, por exemplo, empresa(s) pesquisada(s);
instituies de ensino envolvidas ou patrocinadoras da pesquisa; e revistas ou peridicos
especializados que publicam textos sobre o assunto investigado. Cada uma destas
instncias implica a confeco de um relatrio especfico e de naturezas diferenciadas
quanto ao grau de profundidade que o pesquisador necessita imprimir na discusso dos
resultados. Na seo que trata da apresentao dos dados vrias estruturas ilustrativas so
apresentadas para a composio de um relatrio final de pesquisa.
Todos os tpicos tratados nesta seo devem ser observados pelo pesquisador, no entanto,
a familiaridade e desenvoltura no trato das atividades mencionadas acima viro
normalmente com a prtica constante desta metodologia.
Entre as diversas tcnicas utilizadas em estudos de caso a literatura tem mostrado que as
mais utilizadas so entrevistas, documentos, observao direta, observao participante,
tcnicas projetivas e grupo focal. O QUADRO 3 mostra os principais propsitos, tipos e
usos a respeito destas tcnicas.
96
Fonte Yin (2001), Roesch (1999), Lindlof (1995), Godoy (1995) e Bryman (1992).
Yin (2001) enfatiza que os resultados de um estudo de caso podem ser maximizados se
trs princpios forem considerados: (1) utilizao de vrias tcnicas de coleta de dados; (2)
manuteno de um encadeamento entre os dados coletados com os propsitos do estudo; e
(3) criao de um banco de dados para a documentao do estudo de caso.
associou os dados obtidos junto aos empregados e os dados obtidos da alta direo
para verificar a existncia de opinies convergentes e/ou divergentes;
por fim, definiu uma amostra significativa de empregados para participar de
entrevistas semi-estruturadas, visando ao aprofundamento dos dados mais
significativos levantados pelo questionrio.
O ltimo princpio, criao de um banco de dados para o estudo de caso, alm de permitir
que se perceba a capacidade de organizao e de documentao do pesquisador, revela-se
uma fonte poderosa para a gesto do conhecimento a respeito da metodologia de estudos
de caso. Ou seja, por um lado este procedimento demonstra como os dados foram obtidos,
e, por outro, disponibiliza-os a outros pesquisadores a fim de que estes possam fazer
anlises independentes daquelas feitas pelo pesquisador original. O banco de dados pode
ser composto por notas resultantes das tcnicas de coleta de dados utilizadas pelo
pesquisador, por tabelas ou grficos que facilitem a interpretao ou visualizao dos
dados obtidos e tambm por narrativas prprias do pesquisador a respeito de suas
respostas espontneas s questes formuladas no estudo.
11
Minayo (2000), Lindlof (1995), Miles e Huberman (1994), Marshall (1994) e Bardin (1977).
98
A fim de produzirem uma anlise mais completa e confivel do estudo de caso, outras
tcnicas so sugeridas por Yin (2001) para serem combinadas s tcnicas descritas acima.
Estas envolvem a anlise individual de unidades incorporadas de caso nico ou mltiplo
sem, no entanto, deixar de incorpor-las no foco principal do estudo ou ento envolvendo
a realizao de observaes repetidas ao longo do tempo ou baseadas em um corte
transversal dentro do mesmo caso.
Para garantir qualidade na anlise dos dados Yin sugere que a anlise deve transparecer
que todas as evidncias possveis foram consideradas, interpretaes concorrentes para as
descobertas foram examinadas, todos os esforos foram dedicados para alcanar os
propsitos ou objetivos do estudo e, finalmente, que o conhecimento prvio de
especialistas sobre o tema foram consultados.
Estes pblicos podem incluir: (a) especialistas sobre o tema do estudo; (b) instituies
patrocinadoras ou financiadoras da pesquisa; (c) instituies acadmicas, como banca de
tese de doutorado ou de dissertao de mestrado; (d) revistas especializadas ou peridicos
responsveis pela publicao de pesquisas; (e) pessoas-chave das organizaes que
estiveram envolvidas diretamente no processo de pesquisa. Para pblicos no-
especializados em pesquisa por exemplo, as empresas participantes do estudo
elementos descritivos do caso estudado e propostas de ao so mais apropriados. Em
contrapartida, para pblicos especializados em pesquisa por exemplo, uma banca de
teses o pesquisador deve apresentar adequadamente os elementos tericos,
metodolgicos e conclusivos que nortearam as fases do processo de investigao.
Para estudos de caso nico, sejam de natureza exploratria, descritiva ou exploratria, Yin
(2001) sugere a utilizao de uma narrativa simples para descrever e analisar o caso,
sendo que as informaes podem ser complementadas por tabelas, grficos ou imagens.
Para casos mltiplos o pesquisador pode descrev-los e analis-los em captulos ou sees
separadas, e tambm elaborar um captulo ou seo para apresentar a anlise e os
resultados do cruzamento dos casos. Ainda para casos mltiplos outra maneira de
descrev-los e analis-los consiste em no apresentar captulos ou sees separadas para
os casos individuais mas, sim, apresentar captulos ou sees com questes especficas do
cruzamento dos casos. Nesta ltima modalidade, as informaes dos casos individuais
podem ser distribudas no decorrer de cada captulo ou seo.
9 Consideraes finais
Estabelecer linhas gerais metodolgicas para descrever o mtodo do estudo de caso foi o
primeiro objetivo aqui, e o segundo foi demonstrar que se trata de uma estratgia de
pesquisa que apresenta um valor didtico inquestionvel, bem como uma ferramenta
vivel para a realizao de pesquisas sociais.
Estudos de caso apresentam caractersticas intrnsecas que permitem que sejam realizados
atravs de procedimentos tanto qualitativos quanto quantitativos, e com a utilizao e
integrao de uma variedade de tcnicas de levantamento e tratamento de dados. Estes
fatos estabelecem condies ideais para que o pesquisador utilize maior criatividade em
seus estudos, ao mesmo tempo em que potencializa o mtodo do estudo de caso em
termos de sua eficincia no tratamento de problemas considerados mais difceis de serem
investigados nas reas sociais.
Referncias Bibliogrficas
Introduo
O presente texto foi elaborado com o objetivo de proporcionar uma melhor compreenso
acerca do que constitui a anlise de contedo e a anlise de discurso, a fim de fornecer a
pesquisadores alguns subsdios para sua adequada utilizao. Para tanto, procurou-se abordar
esses dois campos do conhecimento, primeiramente, fornecendo sua definio,
contextualizando-os e relatando suas origens histricas. Em seguida, procurou-se tratar da
utilizao, operacionalizao e organizao de cada um, bem como de suas especificidades.
Posteriormente, elaboraram-se algumas comparaes entre a anlise de contedo e a anlise
do discurso, visando a facilitar a compreenso do leitor. Por ltimo, teceram-se algumas
consideraes finais que tratam das limitaes deste trabalho no sentido de tentar abordar em
um curto ensaio duas reas do conhecimento sobre as quais existe uma vasta amplitude de
estudos, publicaes e pesquisas.
A anlise de contedo tem sido muito utilizada na anlise de comunicaes nas Cincias
Humanas e Sociais. Minayo (2000) afirma ser um mtodo mais comumente adotado no
tratamento de dados de pesquisas qualitativas. Contudo, no somente em investigaes
qualitativas que a anlise de contedo pode ser utilizada. Harris (2001) aponta que alguns
autores, como Silverman (1993) e Neuman (1994), a consideram um conjunto de tcnicas
quantitativas, enquanto outros (BERG, 1998; INSCH et al., 1997; SARANTAKOS, 1993)
acreditam que ela possui elementos tanto da abordagem quantitativa como da qualitativa,
porque, nesse caso, a contagem da manifestao dos elementos textuais que emerge do
primeiro estgio da anlise de contedo servir apenas para a organizao e sistematizao
dos dados, enquanto as fases analticas posteriores permitiro que o pesquisador apreenda a
viso social de mundo por parte dos sujeitos, autores do material textual em anlise. Antes de
tratar das etapas por meio das quais se desenvolve a anlise de contedo, torna-se necessrio
apresentar uma definio do que ela venha a ser, bem como elaborar um breve relato de como
ela surgiu.
Como se pode perceber pela definio apresentada, a autora defende que a anlise de contedo
oscila entre os dois plos que envolvem a investigao cientfica: o rigor da objetividade e a
fecundidade da subjetividade, resultando na elaborao de indicadores quantitativos e/ou
qualitativos que devem levar o pesquisador a uma segunda leitura da comunicao, baseada na
deduo, na inferncia. Essa nova compreenso do material textual, que vem substituir a
leitura dita normal por parte do leigo, visa a revelar o que est escondido, latente ou
subentendido na mensagem. Logo, a anlise de contedo pode ser utilizada tanto em pesquisas
de cunho quantitativo, quanto qualitativo, nas Cincias Sociais. Minayo (2000) acredita que a
grande importncia da anlise de contedo consiste, justamente, em sua tentativa de impor um
corte entre as intuies e as hipteses que encaminham para interpretaes mais definitivas,
sem, contudo, se afastar das exigncias atribudas a um trabalho cientfico.
BARDIN (1979) afirma que no perodo seguinte II Guerra Mundial, a anlise de contedo
caiu no descrdito e no desinteresse dos investigadores, cujos trabalhos no obtiveram o
alcance, nem o mrito esperados. Contudo, nos anos 50, houve uma revitalizao da mesma,
que passou a ser novamente discutida em vrios congressos sobre Psicolingstica de forma
mais aberta e diversificada. Para os problemas ainda no abrangidos pela anlise de contedo,
foram desenvolvidas novas perspectivas metodolgicas, e surgem, dessa vez, por outras reas
das Cincias Sociais alm do Jornalismo, novos questionamentos, reas como a Etnologia, a
Histria, a Psiquiatria, a Psicanlise, a Lingstica, a Sociologia, a Psicologia e a Cincia
Poltica, cada uma propondo sua contribuio.
105
Com a acentuao do debate entre a pesquisa quantitativa e qualitativa nas Cincias Sociais,
passa-se a discutir tambm a utilizao da anlise de contedo tanto por uma, quanto por outra
abordagem. Nesse caso, as anlises quantitativas preocupam-se com a freqncia com que
surgem determinados elementos nas comunicaes, preocupando-se mais com o
desenvolvimento de novas formas de procedimento para mensurar as significaes
identificadas. Por outro lado, os enfoques qualitativos voltam sua ateno para a presena ou
para a ausncia de uma caracterstica, ou conjunto de caractersticas, nas mensagens
analisadas, na busca de ultrapassar o alcance meramente descritivo das tcnicas quantitativas
para atingir interpretaes mais profundas com base na inferncia (BARDIN, 1979;
MINAYO, 2000). Apesar das polmicas criadas em torno das duas abordagens, esses debates
contriburam para a ampliao do uso da anlise de contedo, auxiliada pela reduo da
rigidez requerida para a objetividade nas Cincias Sociais, e pela maior aceitao da
combinao entre compreenso clnica e compreenso estatstica nas anlises. Minayo
acredita tambm que o desenvolvimento da informtica e da semitica fatores outros que
tm favorecido o incremento nas modalidades de tratamento dos dados da comunicao; a
primeira tem potencializado o rigor tcnico nas anlises de contedo, enquanto a segunda tem
permitido a dinamizao na compreenso das significaes.
A anlise de contedo, desde seu surgimento at os dias atuais, teve sua evoluo perpassada
por perodos de aceitao e de negao, despertando, ainda hoje, contradio e
questionamento. Entretanto, assim como toda tcnica de investigao, procura proporcionar
aos investigadores um meio de apreender as relaes sociais em determinados espaos, de
uma forma apropriada ao tipo de problema de pesquisa proposto. A anlise de contedo visa,
portanto, a ultrapassar o nvel do senso comum e do subjetivismo na interpretao e
alcanar uma vigilncia crtica em relao comunicao de documentos, textos literrios,
biografias, entrevistas ou observao (MINAYO, 2000).
Para Bardin (1979), a anlise de contedo possui duas funes que podem coexistir de
maneira complementar:
uma funo heurstica, que visa a enriquecer a pesquisa exploratria, aumentando a propenso
descoberta e proporcionando o surgimento de hipteses quando se examinam mensagens
pouco exploradas anteriormente;
e uma funo de administrao da prova, ou seja, servir de prova para a verificao de
hipteses apresentadas sob a forma de questes ou de afirmaes provisrias.
Atendendo a essas funes, a anlise de contedo se aplica a diversos domnios, como
demonstrado na figura 1.
Figura 1 Domnios possveis da aplicao da anlise de contedo
Nmero de pessoas implicadas na comunicao
Cdigo e suporte Uma pessoa Comunicao Grupo restrito Comunicao de mass
(monlogo) dual (dilogo)
Agendas, maus Cartas, respostas Ordens de servio Jornais, livros,
Lingstico escrito pensamentos, a questionrios e numa empresa, todas anncios publicitrios,
congeminaes, a testes projetivos, as comunicaes cartazes, literatura,
dirios ntimos. trabalhos escolares. escritas trocadas textos jurdicos,
dentro de um grupo. panfletos.
Delrio do doente Entrevistas e Discusses, entrevistas, Exposies, discursos,
106
Bardin (1979) caracteriza a anlise de contedo como sendo emprica, que, por esse motivo,
no pode ser desenvolvida com base em um modelo exato. Contudo, para sua
operacionalizao, devem ser seguidas algumas regras de base, por meio das quais se parte de
uma literatura de primeiro plano para atingir um nvel mais aprofundado. Nesse sentido, a
anlise de contedo relaciona as estruturas semnticas (significantes) com estruturas
sociolgicas (significados) dos enunciados, e articula a superfcie dos textos com os fatores
que determinam suas caractersticas (variveis psicossociais, contexto cultural, contexto e
processo de produo da mensagem) (MINAYO, 2000). Para BARDIN (1979), no se trata de
atravessar os significantes para atingir significados, como se faz na leitura normal, mas de, por
meio dos significantes e dos significados (manipulados), buscar-se diferentes significados de
natureza psicolgica, sociolgica, poltica, histrica, dentre outros.
(Se) (So)
(Se) (So)
Leitura normal
Variveis inferidas
Anlise de contedo
PR-ANLISE
Leitura Flutuante
Constituio do Corpus
Dimenses e direes Regras de recorte, de catego-
de anlise rizao, de codificao
Preparao do material
Operaes estatsticas
Provas de validao
Sntese e seleo dos
resultados
Inferncias
Interpretao
Apesar de ser orientada nas trs fases descritas anteriormente, a anlise de contedo,
propriamente dita, vai depender especificamente do tipo de investigao a ser realizado, do
problema de pesquisa que ela envolve e do corpo terico adotado pelo pesquisador, bem como
do tipo de comunicaes a ser analisado. Cabe ao pesquisador fazer o jogo entre as hipteses,
ou entre as tcnicas e a interpretao (BARDIN, 1979). O exemplo 1 um estudo emprico
fornecido por essa autora (a qual acredita que a formao em anlise de contedo se faz pela
prtica), que pode facilitar a compreenso do leitor ao ilustrar a realizao de um processo de
anlise de contedo. Deve-se atentar, contudo, para o fato de que o exemplo constitui apenas
uma proposta de anlise de contedo, a qual pode ser alterada de acordo com as opes do
pesquisador.
Propostas de anlise: a partir da leitura flutuante, surgem intuies que levam formao de
hipteses, como: as relaes que um indivduo mantm com o seu automvel no so
estritamente funcionais, mas esto coloridas de afetividade, simbolicamente carregadas. So
relaes que remetem a esteretipos relativos ao automvel e variam segundo determinadas
caractersticas, como o sexo, entre outras. Logo, possvel classific-las segundo o critrio do
objeto de referncia citado (mulher, animal etc) e inferir, a partir dos resultados, a respeito da
imagem scio-afetiva do automvel numa dada populao.
110
A classificao tambm pode se dar segundo outra dimenso de anlise: o tipo de relao
psicolgica mantida em relao ao objeto automvel (dominao, dependncia, cumplicidade,
cuidados quase maternais, rivalidade, agressividade, relao puramente funcional etc). Essas
duas dimenses de categorias podem, posteriormente, ser cruzadas, possibilitando o
surgimento de um sentido suplementar para o pesquisador que torna visveis certos tipos ou
modelos de comportamento emocionais (mais ou menos inconscientes) em relao ao objeto
automvel na populao estudada. Esse cruzamento pode ser realizado sob a forma de um
quadro de dupla entrada:
TIPO DE RELAO
De dominao
De rivalidade
dependncia
De cuidados
Funcional
OBJETO DE COMPARAO
Amorosa
De
Mulher
Animais dinmicos (tigre, puro-sangue, etc)
Transportes coletivos
Ausncia de objeto de comparao
Percentagens absolutas e relativas
Fonte Adaptado pelo autor de BARDIN, L. Anlise de Contedo. Lisboa: Edies 70, 1979.
p. 59-63.
Cabe ressaltar que o procedimento de classificao adotado pode partir do geral para o
particular, pela determinao das categorias de classificao para depois arrumar o todo; ou do
particular para o geral, partindo-se do agrupamento progressivo dos elementos particulares por
aproximao at chegar s categorias finais.
Esse procedimento de anlise do discurso indica a maneira como o simbolismo vivido pelos
indivduos diante do objeto de consumo automvel, mas tambm pode remeter s imagens
de cada um em relao atitude positiva ou negativa perante a vida urbana e tecnolgica.
Outra possibilidade de anlise, entre muitas, se refere ao comportamento masculino e
feminino para com os automveis, visto que, por um lado, a relao am se mostra unvoca,
marcada pela assimilao do automvel mulher, enquanto que, por outro lado, a relao
simblica da mulher com o carro parece ambgua, instvel e dicotomizada, j que o smbolo
dominante na sociedade do carro como imagem feminina faz com que as mulheres criem
novas conotaes e novas relaes simblicas com esse objeto de consumo.
c) Anlise da expresso
um conjunto de tcnicas que trabalha indicadores (estrutura da narrativa) para atingir a
inferncia formal. A anlise da expresso parte do princpio de que h uma
correspondncia entre o tipo de discurso e as caractersticas do locutor e de seu meio.
Logo, existe a necessidade de se conhecer o autor da fala, sua situao social e dados
culturais que o moldam para se partir para a anlise (MINAYO, 2000). Essas tcnicas
so mais propcias de aplicao na investigao da autenticidade de documentos
(literatura, histria), na psicologia clnica (psicoterapia, psiquiatria), em discursos
polticos ou outros susceptveis de veicularem ideologias (retrica) (BARDIN, 1979).
A anlise das relaes busca extrair do texto as relaes entre elementos da mensagem,
completando a anlise freqencial simples, ou seja, procura a apario associada de dois ou
mais elementos no texto, atendo-se s relaes que eles mantm entre si. Pode ser subdivida
entre dois subtipos. O primeiro a anlise de co-ocorrncias, que visa a identificar a presena
simultnea de elementos. Os procedimentos adotados para esse subtipo de anlise so: a
escolha das unidades de registro e sua categorizao, a escolha das unidades de contexto e o
recorte do texto em fragmentos, a codificao, o clculo das co-ocorrncias (mediante matriz
de contingncia) e comparao com o acaso, e a representao/interpretao dos resultados. O
segundo subtipo de anlise consiste na anlise estrutural, que procura a manifestao de uma
mesma estrutura em fenmenos diversos. Os procedimentos adotados na anlise estrutural
partem da desestruturao do texto a fim de explic-lo, para, posteriormente, reconstru-lo
(BARDIN, 1979).
Anlise da enunciao
3. A anlise do discurso
(...) existe uma tentativa totalitria (no sentido em que se procura integrar no mesmo
procedimento conhecimentos adquiridos ou avanos at a dispersos ou de natureza
disciplinar estranha: teoria e prtica lingstica, teoria do discurso como enunciao,
teoria da ideologia e automatizao do procedimento) cuja ambio sedutora, mas
em que as realizaes so anedticas. O que deplorvel! (1979:222).
113
Minayo (2000), por sua vez, afirma que h pouco acmulo de produo terica e prtica no
campo da anlise do discurso, mas a considera uma proposta de trabalhar a linguagem
diferente da anlise de contedo. Para a autora, a anlise de contedo est situada entre a
lingstica tradicional e a anlise de contedo, diferenciando-se por constituir uma prtica
terica historicamente definida.
A anlise do discurso envolve a reflexo acerca das condies de produo dos textos
analisados, as quais, de acordo com Orlandi (2001), o situam em um contexto histrico-
ideolgico mais amplo. Essa autora defende que a anlise de discurso busca desvendar os
mecanismos de dominao que se escondem sob a linguagem, no se tratando nem de uma
teoria descritiva, nem explicativa, mas com o intuito de constituir uma proposta crtica que
problematiza as formas de reflexo anteriormente estabelecidas.
Apesar de existirem muitas explanaes acerca dos objetivos da anlise do discurso, menos
freqentemente se encontra uma definio exata sobre o que ela . Isso pode ser explicado
pelo fato de que quando se trata de pensar os sentidos implcitos na linguagem, h mais espao
para incertezas do que para afirmaes ou definies categricas (ORLANDI, 2001).
Contudo, os trabalhos que tratam do tema (SITYA, 1995; ORLANDI, 1994; 1996; 2001;
FIORIN 2000; MINAYO, 2000) possibilitam a elaborao de definies que devem ser
compreendidas no como um conceito limitante, mas como uma demarcao sutil desse
campo de conhecimento que abrange a anlise de discurso.
Assim, a anlise de discurso consiste em uma teoria que busca conhecer uma gramtica que
preside construo do texto e fornece subsdios para se lidar com o acaso e com os processos
de constituio do fenmeno lingstico, e no meramente do seu produto, em anlises de
comunicaes em geral. Ela problematiza as evidncias e explicita seu carter ideolgico, e
denuncia o encobrimento das formas de dominao poltica nos discursos. Nesse contexto, a
linguagem est marcada pelo conceito de social e histrico e deve ser considerada como uma
interao inserida na relao necessria entre homem e realidade natural e social (ORLANDI,
1996). SITYA (1995) acrescenta que no se deve apreender o sentido de um texto com base
apenas nas palavras que o compem. Estas devem servir apenas como pistas que ativam
conhecimentos contextuais e histricos constantes na formao discursiva em que esto
inseridos.
Nesse contexto, a anlise do discurso parte dos pressupostos de que o sentido de uma palavra
expressa posies ideolgicas em jogo no processo scio-histrico em que so produzidas, e
de que toda formao discursiva dissimula sua dependncia das formaes ideolgicas
(MINAYO, 2000). Em adio, Orlandi (2001) indica outros trs pressupostos: de que no h
sentido sem interpretao; de que a interpretao est presente nos nveis de quem fala e de
quem analisa; e de que a finalidade do analista de discurso no interpretar, mas compreender
como um texto produz sentidos.
Mas como surgiu a anlise de discurso? Sem considerar as origens histricas longas e
complexas, comuns anlise de contedo (a Hermenutica, a Retrica e a Lgica), Maldidier
(1994) descreve o incio da disciplina como anlise de discurso propriamente dita, fundada
por Jean Dubois e Michel Pcheux, na dcada de 60, na Frana. No quadro da intensificao
das atividades ligadas Lingstica naquela poca, a anlise de discurso emerge como
possibilidade de um campo novo dentro da conjuntura terico-poltica. Sua dupla fundao
resultou em seu desenvolvimento paralelo em torno de dois plos: Dubois era lingista e
Pcheux, filsofo, mas ambos compartilhavam os horizontes do marxismo e da poltica.
Assim, o Marxismo e a Lingstica presidem o nascimento da anlise de discurso, uma arma
cientfica que oferece meios novos para abordagem da poltica pela lingstica. Aps a virada
da conjuntura terico-poltica francesa, iniciada em torno de 1975, e o crescimento da
lingstica como cincia-piloto, ocorre uma recomposio do campo da anlise de discurso
que dissemina seus pressupostos por toda a parte.
Do lado de Dubois, a anlise do discurso pensada como a passagem natural do estudo das
palavras ao estudo do enunciado, permitida pela lingstica. J para Pcheux, a anlise do
discurso considerada uma ruptura epistemolgica com a ideologia que domina nas Cincias
Humanas. Sendo assim, a anlise do discurso de Dubois d lugar teoria da enunciao,
fundamentada em princpios similares aos da tcnica de enunciao da anlise de contedo. A
corrente de Pcheux, apesar de tambm envolver a anlise da enunciao entre seus
fundamentos, anunciava um programa terico e prtico, baseado na anlise automtica do
discurso, a qual fornecia teoria um objeto novo, ao mesmo tempo em que os procedimentos
informatizados permitiam alcan-lo. Toda a histria da anlise do discurso desse ponto em
diante constitui, at hoje, a histria das desconstrues-reconfiguraes a partir de sua
construo inicial, bem como a influncia das crticas manifestas no interior e no exterior do
campo da Lingstica (MALDIDIER, 1994). Orlandi (2001) acrescenta que a anlise do
discurso preocupa-se, de um lado, com a produo terica e sua distino da lingstica
formal, das teorias da enunciao, da anlise de contedo, da psicanlise, da sociolingstica
etc, e com a prpria anlise e seus resultados.
Fiorin (2000) afirma que h dois tipos de texto: os figurativos, que constrem um simulacro
da realidade para representar o mundo e possuem uma funo descritiva (representativa); e os
temticos, que procuram explicar a realidade, classificando-a, ordenando-a e estabelecendo
relaes e dependncias para ela, com uma funo interpretativa. Quando se analisa um texto
figurativo, deve-se descobrir o tema subjacente s figuras adotadas para que elas tenham
sentido. O tema, por sua vez, reveste o esquema narrativo. Para o autor, o nvel dos temas e
das figuras constitui um local privilegiado de manifestao da ideologia que pode ser
percebida em sua completude mediante a anlise de vrios discursos que tratam de um mesmo
tema de maneiras distintas. Esse tema ampliado e apreendido sob diversos espectros consiste
em uma configurao discursiva.
Minayo (2000) tambm apresenta outros conceitos necessrios anlise de discurso, como a
leitura e o silncio, em que a anlise do discurso, inclusive a anlise do silncio, envolve
mltiplas possibilidades de leitura e expressa relaes; os tipos de discurso (ldico, polmico
e autoritrio), que resultam de determinado funcionamento especfico e tipificam a atividade
de dizer; e o carter recalcado da matriz do sentido, zona inconsciente e zona pr-
consciente/consciente do sentido da fala que transcendem o sujeito na produo do discurso.
Cada etapa da anlise de contedo deve seguir uma ordem que possibilite ao pesquisador
atingir os seus objetivos. Em relao a sua operacionalizao, Pcheux (1975),1 apud Orlandi
(2001), subdivide a anlise de contedo em trs etapas: a primeira parte da superfcie
lingstica, passa, em seguida, ao objeto discursivo, e deste para o processo discursivo.
Orlandi (1987)2, apud Minayo (2000), apresenta sua proposta de ordenao da
operacionalizao da anlise de contedo mais detalhadamente, dividida entre as seguintes
etapas: a) anlise das palavras do texto na qual se separam os termos constituintes do texto,
analisando-se os adjetivos, substantivos, verbos e advrbios; b) anlise das construes de
frases; c) construo de uma rede semntica que intermedeia o social e a gramtica; e d)
considerao da produo social do texto como constitutivo de seu sentido.
1
PCHEUX, M. Ls vrits de la palice. In: Semntica e Discurso. Traduo Brs. Editora Unicamp, 1998.
2
ORLANDI, E.P. A linguagem e seu funcionamento: as formas do discurso. Campinas: Editora Pontes, 1987.
116
Na concepo de Fiorin (2000), a anlise deve caminhar do nvel mais concreto ao mais
abstrato, j a produo do discurso percorre o caminho inverso. Esses nveis so o profundo
(ou fundamental), que abriga as categorias semnticas que esto na base de construo de um
texto e que procuram explicar os nveis mais abstratos da produo, funcionamento e da
interpretao do discurso; o narrativo, que envolve a transformao situada entre dois estados
sucessivos e diferentes, ou seja, a passagem de um estado a outro; e o discursivo, no qual as
formas abstratas do nvel narrativo so revestidas de termos que lhe do concretude,
produzindo variaes de contedos narrativos invariantes. O exemplo 2, fornecido pelo autor
com base no texto Aplogo dos dois escudos, de Jos Jlio da Silva Ramos,3 auxilia a
compreenso desses trs nveis de anlise.
3
In: LAGES, A. Florilgio nacional. So Paulo: LES, 1957, 2. tomo, p. 29-30.
117
Adaptado de FIORIN, J.L. Elementos de anlise do discurso. 9 ed. So Paulo: Contexto, 2000.
Alm dos trs nveis de anlise, Fiorin (2000) afirma que a anlise do discurso deve observar
os esquemas narrativos assumidos pelo sujeito da enunciao que os converte em discurso. A
enunciao caracterizada como o ato de produo do discurso que deixa marcas no discurso
que constri, e sua anlise um dos componentes da anlise do discurso. Ao se estudar as
marcas da enunciao no enunciado, deve-se analisar trs procedimentos de discursivizao: a
actorializao, a espacializao e a temporalizao, que consistem na constituio das pessoas,
do espao e do tempo do discurso. Nesse processo, utilizam-se dois mecanismos bsicos: a
debreagem, que o mecanismo em que se projetam no enunciado a pessoa, o tempo e o
espao do enunciado ou da enunciao; e a embreagem, na qual ocorre uma suspenso das
oposies de pessoa, de tempo ou de espao. Os exemplos 3 e 4, a seguir, ilustram,
respectivamente, os procedimentos de debreagem e de embreagem.
Estou sozinho agora, aqui em meu escritrio. Comeo a pensar no que est acontecendo em
minha vida.
Andr estava sozinho naquele momento em seu escritrio. Comeou a pensar no que estava
acontecendo em sua vida.
No primeiro enunciado, esto projetados uma pessoa (eu), um tempo (agora) e um espao
(aqui). No segundo, uma pessoa (ele), um tempo (no agora = ento) e um espao (l). Esses
trs elementos definem-se em relao instncia da enunciao: ele aquele que no fala e
aquele a quem no se fala; ento (no agora) o tempo no concomitante em relao ao
momento da enunciao; l o espao distinto do aqui, no qual se produz o enunciado. Nos
dois casos, operou-se uma debreagem, que o mecanismo em que se projeta no enunciado,
quer a pessoa (eu/tu), o tempo (agora) e o espao (aqui) da enunciao, quer a pessoa (ele), o
tempo (ento) e o espao (l) do enunciado. A partir desse esquema bsico, pode-se fazer
inmeras combinaes de pessoa, tempo e espao que evidenciam o ato de produo do
discurso.
Adaptado de FIORIN, J.L. Elementos de anlise do discurso. 9 ed. So Paulo: Contexto, 2000.
Adaptado de FIORIN, J.L. Elementos de anlise do discurso. 9 ed. So Paulo: Contexto, 2000.
Fiorin (2000) explica que, na anlise do discurso, deve-se considerar tambm as relaes entre
enunciador e enunciatrio, em que o primeiro procura persuadir o segundo, o qual busca
interpretar o primeiro. Esse fato implica conceber o ato de comunicao como um complexo
jogo de manipulao que visa a fazer o enunciatrio crer naquilo que se transmite. A fim de
exercer a persuaso sobre o enunciatrio, o enunciador lana mo de um conjunto de
procedimentos argumentativos que constituem as relaes entre esses dois atores. Entre os
procedimentos argumentativos mais freqentes, destacam-se a ilustrao, em que o narrador
enuncia uma afirmao geral e d exemplos com a finalidade de comprov-la, e as figuras de
pensamento (retricas), ou elementos do texto que remetem instncia da enunciao (o eu
inscrito no discurso) e elementos que se referem instncia do enunciado (o no eu). Em
funo de suas estratgias de persuaso, o enunciador constri discursos nos quais h um
acordo entre enunciado e enunciao, ou discursos que apresentam conflitos entre essas duas
instncias. No caso de haver acordo, o discurso x deve ser lido como x; no caso contrrio, o
discurso x deve ser entendido como no-x.
As figuras de pensamento mais utilizadas no domnio das oposies graduais utilizadas para
modificar o sentido exato do texto so:
a) eufemismo quando se atenua no enunciado e se intensifica na enunciao; e
b) hiprbole quando se intensifica (exagera) no enunciado e se atenua na enunciao.
Essas figuras de pensamento constituem recursos de persuaso de que o enunciador dispe e,
ao instaurarem no discurso o segredo e a mentira, produzem novos significados, encobrindo-
os (FIORIN, 2000).
119
Destacam-se, por fim, alguns pontos que devem ser observados na execuo de uma anlise
do discurso, apontados por diversos autores. Em relao anlise de entrevistas, Martin
(1990),4 apud Peterson e Albrecht (1999) afirma que se deve atentar para rupturas,
contradies ou momentos em que o discurso do entrevistado perde o sentido; interpretar as
metforas identificadas como uma fonte rica de mltiplos significados; e examinar os
silncios e pausas, ou o que ficou subentendido. Em adio, Sitya (1995) defende que
importante considerar, alm do que foi externalizado, tambm os significados implcitos
naquilo que no foi falado, bem como os elementos intertextuais do discurso. Quanto aos
procedimentos a serem adotados, Orlandi (1996) ressalta que a linguagem deve ser apreendida
como uma atividade de interao social, servindo apenas para ativar os conhecimentos
contextuais e histricos dados pela formao discursiva em que esto inseridos.
De uma forma mais geral, percebe-se que a anlise de contedo toma o texto como documento
restrito a ser compreendido e como ilustrao de uma situao, limitada a seu prprio
contexto. Nesse caso, ela parte da estrutura do texto para inferir sobre suas condies de
produo e interpret-las. Por outro lado, a anlise do discurso considera que a situao est
atestada no texto e busca mais a compreenso do processo produtivo do discurso do que sua
interpretao. Dessa forma, a anlise do discurso parte da condio de produo do texto para
interrogar sua interpretao, que, para Orlandi (2001), est relacionada aos diversos tipos de
linguagem e, por isso, pode tomar formas variadas. Nesse caso, percebe-se que os dois
campos tericos assumem sentidos distintos porque tomam direes inversas: a anlise do
discurso parte da enunciao para o discurso e a anlise de contedo, do discurso para a
enunciao.
Para a autora, um outro elemento que promove a distino entre a anlise de contedo e a
anlise do discurso justamente esse carter de historicidade que a segunda possui, ou seja, a
maneira como ela d significado e delimita a natureza, resultando numa diferena conceitual
expressa tambm nos resultados das anlises. Assim, o acontecimento, entendido na anlise do
discurso em sua relao com a estrutura, tem um sentido terico especfico, com
conseqncias metodolgicas que estabelecem o corte com a anlise de contedo.
4
MARTIN, J. Deconstructing organizational taboos: the suppression of gender conflict in organizations. Organ-
izational Science, v.1, 1990. p. 339-359.
120
(...) a relao do sujeito com a linguagem e a histria que a base terica da anlise de
discurso se coloca pela maneira particular com que ela explicita o fato de que sujeito e
sentido se constituem ao mesmo tempo por um processo que tem como fundamento a
ideologia e, eu acrescentaria, tendo como unidade o texto. (...) tomar o texto como
venho tomando, e no o enunciado ou a frase ou a palavra, como unidade de anlise,
sair da relao referencial (linguagem/mundo) para a da textualizao do discurso
(efeitos de sentido) e para a anlise da significncia do/para o homem (sujeito) na (sua)
histria (ORLANDI, 2001:47).
5. Consideraes finais
A elaborao deste ensaio objetivou proporcionar uma melhor compreenso acerca do que
constitui a anlise de contedo e a anlise do discurso, fornecendo um caminho que possa
nortear sua utilizao adequada em pesquisas no mbito das Cincias Sociais. Deve-se
considerar, entretanto, que o desenvolvimento tanto da anlise de contedo como da anlise
do discurso em uma investigao envolve conhecimentos mais especficos e exige do
pesquisador uma capacidade para sugerir e elaborar suas prprias propostas de anlise, dentro
das possibilidades que esses dois campos do conhecimento oferecem. A aquisio e
sistematizao desse conhecimento so possibilitadas pelo estudo mais abrangente de autores
que trabalham os referidos temas, os quais no so abarcados com tal profundidade pela
proposta deste trabalho.
Contudo, acredita-se que se este ensaio no conduz os leitores a um fim, pode, ao menos, abrir
possibilidades para um comeo, ao despertar interesse sobre a anlise de contedo e a anlise
do discurso, e ao introduzi-los em seus princpios e fundamentos, mesmo de uma forma mais
geral.
Referncias Bibliogrficas
Segundo Malhotra (2001) e Mattar (1996), as pesquisas acadmicas podem ser divididas em
pesquisa exploratria e pesquisa conclusiva. Nas primeiras, o objetivo do pesquisador
conhecer melhor o problema em estudo. Normalmente um tipo de pesquisa onde existem
poucos estudos j realizados na rea que podem subsidiar as decises do pesquisador acerca
de sua pesquisa. J as pesquisas conclusivas, ocorrem num ambiente onde j existem estudos
prvios sobre o assunto. A pesquisa conclusiva, por sua vez, pode ser descritiva ou causal. Na
descritiva, a proposta do pesquisador descrever os fatos e relaes entre variveis
encontradas. J na conclusiva causal, o objetivo do pesquisador compreender e elucidar as
relaes de causalidade entre as variveis abordadas. Esta mesma classificao do propsito
de uma pesquisa apresentada por Zikmund (2000).
Para Zikmund (2000), a pesquisa exploratria uma pesquisa inicial conduzida com o
objetivo de clarificar e definir a natureza de um problema, sendo os principais motivos para se
conduzir este tipo de pesquisa: (1) diagnosticar uma situao na qual sero, posteriormente,
conduzidos outros projetos de pesquisa; (2) ajudar a escolher dentre diversas alternativas; e (3)
gerar novas idias.
Segundo Malhotra (2001), os dados de toda e qualquer pesquisa podem ser classificados como
dados primrios ou como secundrios, dependendo da forma e dos objetivos de tal coleta.
Dados primrios so aqueles que so coletados pelo prprio pesquisador junto ao objeto de
observao com a finalidade de solucionar o problema em pauta. J os dados secundrios so
coletados pelo pesquisador em outras fontes de dados, com fins diferentes dos especificados
pela sua questo de pesquisa.
Quando o prprio pesquisador tem que coletar/gerar dados para seu problema especfico de
pesquisa, diz-se que se tratam de dados primrios. J quando se aproveitam os dados de algum
outro estudo, diz-se que se tratam de dados secundrios.
Acuracidade No
Existe possibilidade de vises? Pare
dos dados
Sim
Em relao aos Dados Secundrios Internos, existem aqueles que j se encontram prontos para
uso pelo pesquisador, e os que exigem processamento. Isto ocorre devido ao fato que as
organizaes possuem, atualmente, grandes bancos de dados com informaes de seus clientes
e de suas vendas, m as muitas vezes estes dados no esto dispostos de modo a mostrar
claramente as tendncias que o pesquisador pode estar procurando.
Em relao aos Dados Secundrios Externos, as fontes so diversas, indo de rgos pblicos
(sejam federais, estaduais ou municipais) a entidades de classe, associaes comerciais,
empresas de pesquisa, organizaes profissionais, publicaes especializadas, dentre outros.
No Brasil, temos a publicao anual das 500 Mais da Revista Exame, do Balano Anual da
Gazeta Mercantil, e do Valor 1000 do Jornal Valor como importantes fontes sobre as maiores
empresas do pas.
Para o pesquisador que procura informaes sobre determinado ramo especfico de negcio,
temos as diversas associaes brasileiras, como a ABRINQ, para brinquedos, a ANFAVEA
para veculos automotores, o IBS, para a siderurgia, dentre vrios outros.
Os dados provenientes do governo, por sua vez, esto disponveis em rgo setoriais ou
geogrficos, e nas agncias reguladoras, como a ANEEL (www.aneel.gov.br), para energia
eltrica, a ANATEL (www.anatel.gov.br), para empresas de telefonia fixa e celular, dentre
outras. Uma outra importante fonte de dados do governo o IBGE (www.ibge.gov.br).
Sobre essa classificao, convm ressaltar que, em seu livro Pesquisa em Marketing,
Malhotra (2001) percebe que a pesquisa qualitativa visa subsidiar a quantitativa, na qual ele se
detm at o final. Percebe-se que confiabilidade e validade (internas e externas) em ambas as
abordagens so alvos de reflexo de variados autores como o prprio Malhotra (2001), Cozby
(2003) e Richardson et al (1999). A complementaridade entre elas perceptvel e sugerida,
ratificando a importncia da triangulao.
No que diz respeito a dicotomizao entre pesquisa qualitativa e pesquisa quantitativa, Goode
& Hatt (1973:398) afirmam que a pesquisa moderna deve rejeit-la, percebendo-se como falsa
a separao entre estudos qualitativos e quantitativos, ou entre ponto de vista estatstico e
no estatstico. Para eles, no importam quo precisas sejam as medidas, o que medido
continua a ser uma qualidade. Richardson et al (1999: 79) acrescenta, sublinhando que se
pode reconhecer que a forma como se pretende analisar um problema, ou, por assim dizer, o
enfoque adotado que, de fato, exige uma metodologia qualitativa ou quantitativa. O autor
afirma, ainda, a existncia de trs instncias de integrao entre mtodos qualitativos e
quantitativos. So elas: o planejamento de pesquisa, a coleta de dados e a anlise da
informao.
Retornando pesquisa qualitativa, os dados primrios podem ser obtidos de duas formas.
Quando os objetivos do projeto ou so revelados ao respondente, ou so bvios pela prpria
natureza da entrevista chama-se direta ou no-simulada, a qual normalmente utiliza como
tcnica de coleta de dados os grupos de foco as entrevistas em profundidade. Porm, quando
os objetivos do projeto so disfarados dos respondentes, diz-se que foi de forma indireta ou
simulada, geralmente utilizando-se de tcnicas projetivas. A seguir, sero conceituadas e
caracterizadas as tcnicas anteriormente mencionadas.
Grupo de Foco GF
Para Vergara (1998), o grupo de foco um grupo reduzido de pessoas com as quais o
pesquisador discute sobre o problema a ser investigado. De modo a obter mais informaes
sobre ele, dar-lhe um foco, um afunilamento, bem como uma direo ao contedo dos
instrumentos de coleta de dados (Vergara, 1998:53).
Segundo Malhotra (2001), o moderador de um grupo de foco tem um papel decisivo nessa
tcnica de coleta de dados. Ele deve, portanto, ser delicado sem perder a firmeza com o grupo,
ser permissivo para que as colaboraes fluam, se envolver com os indivduos e com a
discusso, adotar uma postura de compreenso incompleta com vistas ao aprofundamento,
incentivar a participao de todos, ser sensvel e flexvel s demandas do grupo.
O planejamento realizado pelo pesquisador e a conduo do grupo de foco pelo moderador,
que podem ou no ser a mesma pessoa, deve seguir alguns passos cuidadosos, a saber:
Alm do modelo tradicional, pode-se trabalhar com algumas variaes de grupos de foco,
como o de duas vias, o com moderador dual, o com duelador-moderador, o com respondente-
moderador, o com cliente-participante, os mini-grupos e a tele-sesso.
Dentre as vantagens de se trabalhar com grupo de foco, Malhotra (2001) e Zikmund (2000)
ressaltam vrias delas. As mais evidentes esto explicitadas no Quadro 2.
127
5
Um comportamento serendpico a capacidade de fazer descobertas por puro acaso (do ingls serendipity).
128
Entrevista em profundidade EP
Nessa perspectiva, Malhotra (2001) afirma que o papel do entrevistador evitar parecer
superior, deixando o entrevistado vontade; ser imparcial e objetivo, mas sempre simptico;
formular perguntas de maneira informativa; no aceitar respostas lacnicas do tipo sim ou
no; e, sondar o entrevistado.
6
Malhotra (2001:160) cita 18 requisitos que compem o perfil do moderador ideal.
129
Por fim, Malhotra (2001) percebe vrias aplicaes metodolgicas para as entrevistas em
profundidade, como, por exemplo, a sondagem detalhada do entrevistado; a discusso de
tpicos confidenciais, delicados ou embaraosos; a abertura de possibilidades em situaes em
que existem slidas normas sociais e o entrevistado pode ser facilmente influenciado pela
resposta do grupo; a compreenso detalhada de um comportamento complicado; a realizao
de entrevistas com profissionais; as entrevistas com concorrentes que no desejem revelar a
informao em um contexto de grupo; as situaes em que a experincia de consumo de um
produto sensorial por natureza, afetando estados de esprito e emoes.
Tcnicas Projetivas
As tcnicas projetivas TP , constituem uma forma no estruturada e indireta de coleta de
dados primrios de carter qualitativo, atravs de um questionrio que incentiva os
entrevistados a projetarem suas motivaes, crenas, atitudes ou sensaes subjacentes sobre
os problemas em estudo.
Em tal questionrio pedido aos entrevistados que interpretem o comportamento de outros, e
no (diretamente) o deles. As tcnicas projetivas podem ser realizadas em grupo ou
individualmente e Malhotra (2001) sugere que quanto mais ambgua a situao, maior o
nmero de entrevistados. Dependendo dos objetivos da pesquisa exploratria, o grupo de
abordados deve ter uma composio homognea ou heterognea, buscando, mais uma vez,
uma atmosfera relaxada e informal, onde dados e informaes fluam com naturalidade. A
durao de realizao de uma tcnica projetiva varivel e seu registro deve ser realizado pelo
prprio entrevistado.
Dentre as tcnicas projetivas mais comumente aplicadas, Malhotra (2001) lista quatro:
As tcnicas projetivas apresentam uma importante vantagem, pois, ao contrrio dos grupos de
foco e das entrevistas em profundidade, as tcnicas projetivas podem provocar respostas que
os participantes no dariam ou no poderiam dar se soubessem o objetivo do estudo. Deste
modo, as tcnicas projetivas permitem uma profundidade de coleta de dados que no
possvel nas outras tcnicas diretas no-estruturadas de coleta de dados primrios.
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EASTERBY-SMITH, Mark, THORPE, Richard & LOWE, Andy. Pesquisa gerencial em
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ZIKMUND, William G. Business research methods. 6 ed. EUA: The Dryden Press, 2000.
131
GROUNDED THEORY
Carlos Denner dos Santos Jnior
Ainda segundo Strauss e Corbin [Strauss e Corbin (1998, p. 128)], quando se trabalha com
dados reais (actual data), as relaes entre acontecimentos e conseqncias nem sempre so
explicitamente evidentes. Porque as relaes entre categorias podem ser muito sutis e
implcitas, a utilizao de um esquema que possa ser usado para separar e organizar as
conexes emergentes ser uma boa ajuda. A esse esquema chamamos paradigma.
O interesse quanto adoo da Grounded Theory que a construo de uma Teoria7 deve
ser descoberta a partir dos dados, sendo o ponto principal evitar idias preconcebidas.
Por recurso Grounded Theory (Strauss, 1980; Strauss & Corbin, 1998) constitui-se uma
metodologia qualitativa e interpretativa flexvel s prticas de trabalho em colaborao, para
inmeros documentos escritos, atividades e contextos. Ela surgiu na dcada de 50-60, devido
h uma urgncia por rigorismo nas pesquisas qualitativas. E, tambm, reconhecida como
crtica s Grand Theories da Sociologia (Durkheim, Weber e Marx)Seus autores pioneiros
foram: Anselm Strauss (1916 1996), Formado na University of Chicago em metodologias
qualitativas e que defendia como fonte de dados as entrevistas em profundidade, indo a campo
e ento atribuindo significados e; Barney Glaser, Formando na Columbia University, com
forte tradio quantitativa e que dava importncia de fazer comparaes no desenvolvimento
de conceitos e relacionamentos e forte caracterstica indutiva.
A grounded theory uma metodologia de pesquisa que objetiva gerar uma teoria substantiva,
por meio de uma anlise sistemtica dos dados sobre a realidade especfica de um fenmeno
social. Normalmente vislumbrada quando h dificuldade de explicar o comportamento
estratgico em um contexto especfico. Objetiva construir uma teoria substantiva da ao
organizacional, com base na perspectiva dos pesquisados, de modo menos geral, porm mais
relevante.
um mtodo interpretativista e indutivo de pesquisa que busca explicar a realidade a partir
dos significados atribudos pelos envolvidos s suas experincias.
Para Glaser e Strauss, a Grounded Theory deve ser realizada, primeiramente, com a ida ao
campo sem pr-concepes (Emergncia) e, tambm, deve ir alm da descrio e formular
explicaes relevantes, no-triviais para os envolvidos.
Assim, Dey [Dey (1999, p. 3)], sugere-nos que a partir da anlise dos dados (materiais
empricos) recolhidos em cada situao que se deve fundamentar uma teoria, evitando-se tirar
concluses pseudo suportadas em idias preconcebidas, sendo por isso aconselhvel arrancar
para o estudo a partir da perspectiva geral de uma disciplina. Isto pode ser um ponto de partida
suficiente para decidir o qu e onde comear o estudo. Tendo identificado o problema ou o
assunto em termos muito gerais e selecionado o local onde os mesmos podem ser estudados, o
investigador pode ento assumir a evidncia acumulada para prescrever o programa de
trabalhos da teoria emergente.
Neste processo, o investigador tem de ter em ateno a sua sensibilidade terica para gerar
categorias relevantes a partir dos materiais empricos, devendo ser capaz de pensar
teoricamente retirar critrios das evidncias, conceptualizar os seus dados, e depois analisar
as relaes entre os conceitos. Este autor comenta ainda que, provavelmente, o ponto mais
importante no ser doutrinrio; o investigador tem que explorar evidncias em termos
pessoais, mais do que os enquadrar em alguma estrutura preconcebida.
Preocupao que dever estar sempre presente, em especial em quem tem uma experincia
profissional anterior nas reas onde vai fazer investigao cientfica.
As tcnicas sugeridas, para a realizao de uma anlise aberta, podem ser enunciadas da
seguinte maneira: (1) questionamento; (2) anlise de palavras, frases, pargrafos; (3)
tcnicas para o estabelecimento de comparaes.
Em uma pesquisa sobre o comportamento de alunos das sries primrias (Zamith-Cruz, 2000),
na investigao optou-se pelo questionamento dos dados, o que implicou no levantamento
de questes gerais de investigao, acerca dos contextos de brincadeiras, dos jogos e
brinquedos utilizados, h cerca de 40 anos, por crianas de meios e socioeconmicos
favorecidos e urbanos, ou h 20 anos, no Nordeste Transmontano.
Segundo Anselm Strauss & Juliet Corbin (ob. cit., p. 96-115), para a Codificao Axial,
criam-se conexes entre categorias e descortina-se um paradigma, o qual estabelece
relaes entre os elementos dum fenmeno/episdio. Paralelamente Codificao Axial,
poder-se-ia desenrolar o ltimo procedimento a Codificao Seletiva, caso se realizasse um
estudo mais abstrato e estrutural, integrado e complexo. Para Strauss (1987, p. 33), essa
codificao ocorre quando a anlise delimita a codificao, somente para aqueles
cdigos/categorias que se relacionam com os cdigos centrais, por formas suficientemente
excepcionais, como as usadas numa teoria parcimoniosa. Na fase final, retomou-se uma
linha-da-histria (Strauss & Corbin, 1990, p. 116) sempre consciencializada o fenmeno
central em estudo sabendo-nos mais capazes de esclarecer conceitos (ob. cit., p. 119): Que
brincadeiras de infncia?.
PESQUISADORES LATTES
Predomnio na Enfermagem e Psicologia Social e da Sade.
Originrios do PPGEP/UFSC: Prof. Dr. Cristiano Cunha
[...] lgico que quem entra no negcio no para fazer caridade, para ganhar dinheiro
[mas] com a confuso toda dos planos, que afetaram a empresa, eu tinha que agir pensando no
futuro, ou seja, em manter o padro de vida das famlias que dependiam da empresa
(Entrevistado B, 12:2).
RISCO PERCEBIDO
Referncias Bibliogrficas
136
A cincia pode ser encarada sob dois aspectos diferentes. Ou se olha para ela tal como vem
exposta nos livros de ensino, como coisa criada, e o aspecto de um todo harmonioso, onde
os captulos se encadeiam em ordem, sem contradies. Ou se procura acompanh-la no seu
desenvolvimento progressivo, assistir maneira como foi sendo elaborada, e o aspecto
totalmente diferente descobrem-se hesitaes, dvidas, contradies, que s um longo
trabalho de reflexo e apuramento consegue eliminar, para que logo surjam outras hesitaes,
outras dvidas e contradies. Descobre-se ainda qualquer coisa mais importantes e mais
interessante: no primeiro aspecto, a cincia parece bastar-se a si prpria, a formao dos
conceitos e das teorias parece obedecer s a necessidades interiores; no segundo, pelo
contrrio, v-se toda a influncia que o ambiente da vida social exerce sobre a criao da
Cincia. A cincia, encarada assim, aparece-nos como um organismo vivo, impregnado de
condio humana, com as suas foras e suas fraquezas e subordinada s grandes necessidades
do homem na sua luta pelo entendimento e pela libertao; aparece-nos enfim, como um
grande captulo da vida humana social.
Introduo
Segundo Popper (1975), toda discusso cientfica deve surgir com base em um problema ao
qual se deve oferecer uma soluo provisria, a qual se deve criticar, de modo a eliminar o
erro. A soluo deve ser submetida ao teste de falseamento, geralmente utilizando a
observao e a experimentao. Se a hiptese resistir aos testes, fica confirmada at que
aparea um novo teste que a derrube. Caso contrrio, refutada, exigindo nova formulao de
hiptese.
O mtodo fenomenolgico ope-se corrente positivista. Afirma que alguma coisa s pode
ser entendida a partir do ponto de vista das pessoas. So elas que experimentam e vivenciam
as situaes, sendo prprio do mtodo, como sustenta Husserl, o abandono pelo pesquisador
de idias preconcebidas. Este mtodo pratica a hermenutica por excelncia, lanando um
olhar de carter transcendental e subjetivo sobre o fenmeno estudado, buscando entend-lo,
interpret-lo e desvendando o seu significado.
Consideraes Histricas
138
Antecedente ao mtodo dialtico, a metafsica, palavra grega que significa para alm da
fsica, pretendia captar o ser que se encontra alm da natureza. O fundamental era a crena no
absoluto ou ser sobrenatural, imutvel e eterno.
A metafsica nasceu sob condies histricas nas quais a compreenso do movimento era
bastante limitada. De fato, a concepo de um princpio eterno e imutvel que pretendia estar
para alm da natureza em movimento foi, em grande parte, decorrente do desconhecimento
das leis do movimento.
Conforme Caraa (1963) fcil entender que os antigos tenham iniciado o estudo das coisas
em repouso de forma isolada, no captando, assim, os problemas de interao. Esta
necessidade de estudar a coisa em si impedia o entendimento das leis que regiam os
movimentos e as modificaes que se operavam nas coisas.
No que se refere ao mundo ocidental, pode-se dizer que foi nas colnias jnicas da sia
Menor que foram desencadeadas importantes tentativas de respostas aos questionamentos
sobre os princpios que regem o universo. Com Thales, Anaximandro e Anaxmens de Mileto,
defendia-se a idia de um princpio nico a que tudo se reduzia. Tratava-se da crena na
existncia de uma substncia primordial e permanente.
Uma abordagem significativamente distinta dos filsofos jnicos veio de Herclito de feso
(colnia greco-jnica) nascido por volta de 530 A.C. Para ele, o aspecto essencial da realidade
era a transformao. Seu mundo era dinmico, de transformao incessante e do devir em
contraposio ao mundo de permanncia dos filsofos de Mileto.
Para ele, o aspecto fundamental da realidade era a transformao constante das coisas umas
nas outras. Morte e vida unindo-se e formando um processo nico de evoluo. O estudo do
ser num estado determinado no se bastava a si prprio e, segundo Herclito, devia ser
completado pelo do devir; a considerao do devir indispensvel compreenso do ser.
Considera ainda a interao permanente de tudo que existe implicando na relatividade das
separaes para efeitos de apreenso do mundo. Os plos de uma contradio so opostos mas
inseparveis pois se interpenetram constantemente o que leva a concluso de que, no caso
mais geral, causa e efeito esto em perptua interao.
Pode-se certamente considerar que os primeiros esboos da dialtica nasceram com Herclito
500 A.C. com sua idia de fluxo perptuo da mistura dos opostos. Acreditava ele que, na
luta, os contrrios se combinam produzindo um movimento que a harmonia. H unidade no
mundo mas resulta da diversidade. Seu mais famoso princpio o do fluxo permanente: no
podeis banhar-vos duas vezes no mesmo rio, porque o rio no mais o mesmo. O sol novo
a cada dia.
Apesar dos rudimentos da dialtica terem aparecido antes de Cristo, foi somente com o
filsofo alemo Hegel (1770-1891) que se efetuou a formulao sistemtica do mtodo
dialtico. Entretanto, Hegel considerava a dialtica dos conceitos como o fator primordial do
desenvolvimento histrico e via o mundo real como simples reflexo das idias ou conceitos
que se desenvolvem dialeticamente.
Hegel destronou o mtodo metafsico com suas verdades eternas, no aceitando a verdade
como um conjunto de princpios definitivos chamando a ateno para o processo histrico de
graus inferiores a graus superiores do conhecimento. Admitiu a luta dos contrrios como
motor de toda a transformao.
Entretanto, Hegel era um idealista quando considerava que a natureza e a histria humana
como a manifestao da Idia.
Foi Marx (1976), discpulo de Hegel, que repudiou a concepo idealista do mundo,
afirmando que as leis da dialtica eram as prprias leis do mundo material. Passou a
considerar a dialtica como cincia das leis gerais do movimento (tanto do mundo exterior
como do prprio pensamento humano). O movimento do pensamento foi por ele entendido
como um reflexo do movimento real transposto para o crebro humano. Conforme seus
termos:
Em oposio concepo idealista do mundo, que entendia a realidade sob a forma de objeto
de contemplao, o materialismo buscava aprender a realidade como atividade humana
sensorial.
Caractersticas da Dialtica
140
Esta lei pode ser perfeitamente sintetizada na expresso de Caraa (1963) todas as coisas
devem ser estudadas em relao ao seu contexto. neste tribunal que devem ser julgados os
resultados que os instrumentos analticos, na sua forma mais geral, permitem adquirir.
Essa lei assevera que nada isolado. Um isolado uma seo da realidade, nela recortada
arbitrariamente. O simples fato de se analisar uma realidade por meio de um isolado
introduz um erro inicial na anlise pelo afastamento do resto da realidade o que,
necessariamente, refletir nos resultados da anlise.
Esta lei induz a concluso de que no se deve isolar um fenmeno e mant-lo nesse
isolamento para no priv-lo do sentido, de explicao e de contedo. A anlise dos
fenmenos que no leva em conta suas interdependncias e condicionamentos recprocos
conduz a aprender a natureza como um amontoado acidental de eventos.
Esta lei traduzida pelo fato de que toda operao quantitativa tem um limite a partir do qual
uma mudana quantitativa engendra uma transformao na qualidade. Colocado de outro
modo, o desenvolvimento, do ponto de vista da dialtica, progressivo mas, em certos
momentos, progride por saltos.
Isto no significa, evidentemente, que as alteraes possam surgir do nada. O que ocorre, na
realidade, um desenvolvimento progressivo at, dialeticamente, ocorrer o salto. Pode-se,
neste sentido, dizer que as transformaes, tanto na natureza em si como na sociedade, se d
pela seqncia evoluo-revoluo.
141
V-se assim como a intensificao duma quantidade que contraria uma qualidade estrutural
pode conduzir ao surgimento de uma qualidade nova. neste sentido que se fala da
transformao da quantidade em qualidade. O ponto indicativo dum conjunto de condies em
que essas transformaes acontecem, o ponto crtico da evoluo. O que aqui chamamos de
ponto crtico da evoluo nada mais que aquilo a que Hegel denominou de pontos nodais
cujo conjunto formava para ele uma linha nodal.
Resumindo tudo o que foi visto at agora, pode-se dizer que o salto dialtico exige
simultaneamente a continuidade, movimento profundo e incessante, e a descontinuidade,.o
aparecimento do novo com o fim do velho.
Cabem ainda aqui as observaes feitas pelo fsico qumico Barthelmess (1971):
Aps aceitar que toda realidade movimento faz-se importante questionar como surge o
movimento, ou seja, como ocorrem as mudanas incluindo a transformao da quantidade em
qualidade ou de uma determinada qualidade para outra.
142
Assim cada coisa simultaneamente ela mesma e a condio de ser outra coisa. tambm
importante salientar que apesar do fato de que cada coisa , num momento dado, a luta de
foras contrrias internas, esta coisa est em constante interao com as condies que lhe so
externas conforme a lei da interao universal e isto tem que ser levado em conta quando se
quiser conhecer as possibilidades das mudanas.
Embora, de um lado, o que superado seja suprimido e abolido, de outro, o que foi superado
no se esvai no puro e simples nada. Trata-se, portanto, de uma mudana de nvel. Houve
ento um processo de evoluo onde o que foi superado funcionou como fase para que a
contradio se fecundasse e desse origem a um novo nvel.
Evidentemente que a fase superada no existe mais em si mesma isoladamente, como antes da
mudana de nvel, mas o novo nvel a traz em seu seio. Foi exatamente quando se deu sua
negao que a fase antiga deixou de existir em si mesma.
Cumpre observar que no se explicitou aqui, como fazem alguns autores, Lefebvre, por
exemplo, a lei do desenvolvimento em espiral (da superao) j que o seu significado est
contido no que se discutiu anteriormente. Deve-se talvez acrescentar a prpria expresso do
autor sobre o assunto que retrata de forma diferente,(embora o contedo seja o mesmo, o que
foi anteriormente analisado: no devir do pensamento e da sociedade, revela-se ainda mais o
movimento em espiral: o retorno acima do superado para domin-lo e aprofund-lo, para
elev-lo de nvel libertando-o de seus limites, de sua unilateralidade.
A anlise anterior das caractersticas da dialtica bem sintetizada por Lefebvre que chama a
ateno para o fato de que as leis da dialtica so fundamentalmente uma anlise do
movimento real que exige as determinaes de continuidade e descontinuidade, aparecimento
e choque de contradio; saltos qualitativos e superao.
Como visto, a dialtica materialista de Marx surgiu em oposio dialtica idealista de Hegel
que foi o primeiro a sistematizar os conceitos dialticos j esboados antes de Cristo atravs
de Herclito. Hegel considerava a dialtica dos conceitos como fator principal do
desenvolvimento histrico e via o mundo real como reflexos das idias ou conceitos que,
segundo ele, se desenvolvem dialeticamente.
Marx inverteu, num sentido materialista, esta concepo do mundo assumindo o fenmeno
material como o fator primordial do qual decorrem as idias. Assim, para Marx, a dialtica
existente na matria, independentemente do pensamento, no se restringe apenas a uma forma
de pensamento. O movimento da matria por ele visto como objetivamente dialtico. Assim,
a dialtica est na prpria realidade no sendo a introduzida por nenhum esprito. A despeito
da grande controvrsia em torno do termo materialismo o que importa entender o mesmo
como uma concepo do mundo em contraposio ao chamado idealismo.
Em resumo, o materialismo marxista pode ser visto por meio as seguintes caractersticas
fundamentais.
No difcil tirar daqui duas concluses interessantes: primeiramente, que esta doutrina da
finalidade uma conseqncia direta da concepo do mundo, encarnao da Idia e, em
segundo lugar, a necessidade imediata de buscar-se uma inteligncia suprema e absoluta que
dever conceber o objetivo a ser atingido.
na e pela pesquisa da essncia que nossa reflexo torna-se interior coisa. V-se ento que a
manifestao faz, neste sentido, parte da essncia, o que totalmente diferente de negar a
essncia e considerar apenas a existncia daquilo que se manifesta em nossa conscincia. A
essncia, intrnseca ao fenmeno, reflete-se em ns e para ns o fundamental continua sendo a
captao da essncia.
Concluses
Assim, a dialtica Hegeliana, com a sua nfase no movimento se contraps idia do absoluto
da metafsica. A abordagem materialista de Marx, por sua vez, se contraps percepo
idealista de Hegel que sustentava uma dialtica dos conceitos como fator primordial do
desenvolvimento histrico e considerava o mundo real como simples reflexo das idias.
A importncia da anlise comparativa destas diferentes vises do mundo reside no fato de que
cada uma delas determina, de algum modo, a maneira pela qual o mundo social investigado.
Neste sentido, a anlise anterior pode contribuir para o contnuo debate acerca da escolha
adequada de uma metodologia de pesquisa social. No caso especfico do mtodo dialtico que,
opondo-se corrente positivista e sua linearidade, v as coisas em constante fluxo e
transformao.
146
Vale a pena ressaltar que a extenso da dialtica s cincias humanas atribuda a Marx e aos
marxistas. Nas cincias humanas, a dialtica passou por profundas transformaes, tendo em
vista a sua aplicao no mundo real emprico. Comeou ento a operar na escala dos
fenmenos, bem mais do que na esfera das idias (lgica) e das essncias (metafsica) e a
operar tambm na esfera do entendimento, em vez da razo.
Para tanto, deveria contar com uma base emprica, associar-se a um outro mtodo, o mtodo
hipottico-dedutivo e se instalar a um tempo como dialtica do particular e dialtica emprica
ou positiva. Foi o que fez Marx, com uma maestria e sagacidade, jamais vistas, despontando-
se como o ltimo dos grandes dialticos a conquistar dois novos domnios do conhecimento: a
economia e a histria.
Referncia Bibliogrfica
O MTODO DIALTICO
Wanderley Ramalho
Carlos Alberto Gonalves
O termo dialtica de origem grega e significa por de lado, escolher, joeirar e conversar.
Exprime tambm a idia de discorrer, a arte de discutir. Segundo Pires (1997), a dialtica
inicia-se com Scrates ao introduzir o dilogo (maiutica) como tcnica de aquisio da
verdade. Para Plato, a dialtica a arte de pensar retamente (disciplina suprema na
conquista da verdade) e fundamenta a retrica, a arte de falar para que esta no se reduza
tcnica sofstica para ludibriar o antagonista (p. 1.392). Nesta perspectiva a dialtica
compreendida como uma estratgia do raciocnio, da argumentao dialogada.
Em seu livro A Fenomenologia1 do Esprito, Hegel (1974, p. 56) define a cincia como
cincia da experincia da conscincia. Para ele, o saber absoluto mediatizado pelas formas
do seu aparecer que se encadeiam dialeticamente na experincia da conscincia (em-si; ser-
para-ela desse em si).
Marx critica o idealismo de Hegel, pois afirma que este no levou em conta as bases materiais
da sociedade em que o saber e a cultura so produzidos e nas quais a conscincia individual
formada. Marx rejeita o sistema de Hegel, mas conserva o mtodo (dialtico).
Tendo o mtodo dialtico como base lgica de seu pensamento, Marx concebe o homem como
produto e produtor da histria. Alm disso, define histria como ruptura e no como evoluo;
como o processo em que as contradies esto sempre presentes e impondo novas snteses.
1
Segundo Morujo (1997), Fenomenologia, etimologicamente, significa cincia ou teoria dos fenmenos e,
com essa significao, podemos dizer que a Fenomenologia uma disciplina praticamente ilimitada. Toda filoso-
fia poder considerar-se fenomenologia desde que o seu desenvolvimento se processe conforme a etimologia,
isto , seja doutrina das aparncias ou fenmenos (p. 488). Contudo, as primeiras manifestaes da Fenomeno-
logia como um novo mtodo de investigao da conscincia ocorreram entre psiclogos e psiquiatras, tendo
como seus expoentes Husserl, Heidegger e Jaspers, entre outros. Esse mtodo parte do pressuposto da intenciona-
lidade da conscincia. Tudo o que est intencionalmente presente na conscincia denominado como fenmeno
e uma significao para a conscincia. O conjunto das significaes o que a fenomenologia denomina mun-
do. As principais caractersticas do mtodo fenomenolgico so: ser absolutamente sem pressupostos; fundar-
se na essncia dos fenmenos e na subjetividade transcendental, pois as essncias s existem na conscincia;
descritivo; um saber absolutamente necessrio; conduz certeza; e uma atividade cientfica (Moreira, 2002,
p. 94).
148
Alm disso, inclui a anlise dos aspectos ideolgicos como pressupostos necessrios para
compreender a produo do conhecimento, negando a neutralidade do conhecimento
cientfico. Essa matriz de compreenso da realidade tem desdobramentos no delineamento da
pesquisa que utiliza o mtodo dialtico. As pesquisas tm o compromisso de ser um
instrumento de autoconhecimento para os sujeitos (objetos da pesquisa) e tambm tm um
compromisso poltico com os problemas concretos enfrentados pelos amplos setores da
sociedade: enfrentamento radical e crtico das prticas de dominao e alienao do sujeito;
debate poltico, histrico e epistemolgico relativo s diferentes condies de insero social;
busca de subverso do sujeito e da transformao social, dentre outros.
g) Negao da negao: a mudana nega o que mudado e o resultado, por sua vez,
negado, mas esta segunda negao conduz a um desenvolvimento e no a um retorno ao
que era antes (Gil, 1999, p. 32).
Alm disso, a anlise dialtica considera os significados como parte integrante da totalidade,
que deve ser estudada tanto em nvel das representaes ou dos sentidos conferidos pelo
sujeito como em nvel das determinaes sociais.
Geralmente, nas pesquisas em que se utiliza a psicanlise como uma referncia para se
compreender uma determinada realidade, os pesquisadores partem de alguns pressupostos
(Dor, 1992):
a existncia do inconsciente cuja estrutura similar da linguagem, isto , ele se
manifesta sob a forma de metforas e metonmias, no existindo uma relao unvoca
e direta entre o significante e o significado, e caracterizando-se pelo deslocamento
contnuo dos significados para outros significantes; da a importncia de
compreendermos a cadeia de significados atribudos pelo prprio sujeito.
O sujeito se constitui enquanto um ser de desejo (desejo do desejo do outro), isto ,
necessitando do reconhecimento do outro. Nessa perspectiva, o desejo estruturado
como falta (falta a ser) que jamais completamente satisfeita.
150
Contudo, importante reafirmar que os psicossocilogos que trabalham com essa perspectiva
no negam que o campo social comporta suas prprias regras e sempre levam em
considerao as dimenses especficas das situaes concretas em que a anlise (pesquisa)
est sendo realizada.
2
Nesse trabalho, os pesquisadores utilizam-se dos pressupostos da psicanlise para trabalhar a dimenso psico-
lgica e do um exemplo do tipo de anlise que fazem do discurso do sujeito atravs da entrevista de Odete.
151
TCNICAS PROJETIVAS
Marcelo de Rezende Pinto
1 INTRODUO
Uma premissa bsica no que concerne pesquisas a de que as pessoas muitas vezes no
conseguem verbalizar suas verdadeiras motivaes e atitudes. Elas podem se sentir
embaraadas em dizer que no gostam de determinado produto ou de executar determinada
tarefa. Podem tambm ter sublimado essa averso e nem terem conscincia dela (AAKER,
KUMAR e DAY, 2001).
Sobretudo na rea de marketing, para tentar entender a natureza dos desejos dos
consumidores, os mtodos tradicionais de pesquisa podem ser, no raramente, bastante
limitados. Eles no so adequados para extrair fantasias do consumidor (BELK, GER e
ASKEGAARD, 1997). Complementarmente, Zober (1955) ressalta a dificuldade em
pesquisas na rea mercadolgica em obter uma resposta adequada para questes do tipo por
qu.
Nesse contexto, para Aaker, Kumar e Day (2001), surgem as tcnicas projetivas, cuja a
caracterstica principal a apresentao de um objeto, atividade ou indivduo que seja
ambguo e no estruturado, o qual deve ser interpretado ou explicado pelo respondente. Essas
tcnicas podem ser utilizadas tanto em uma grande variedade de situaes de pesquisa de
marketing quanto em pesquisa social e educacional (BODDY, 2005).
Dessa forma, o artigo tem como objetivo discutir o conceito de tcnicas projetivas, suas
modalidades e suas potencialidades na pesquisa em administrao, sobretudo na rea de
marketing. Para isso, o artigo foi estruturado da seguinte forma: de incio, so explanados o
conceito e os aspectos importantes acerca do tema; em seguida, so discutidas os vrios tipos
de tcnicas de projeo, segundo os autores pesquisados. Ao final, so apresentados outros
tipos de tcnicas projetivas.
Uma tcnica projetiva pode ser entendida como uma forma no estruturada, indireta de
perguntar com o objetivo de incentivar os entrevistados a projetarem suas motivaes,
crenas, atitudes ou sensaes subjacentes sobre problemas em estudo (MALHOTRA, 2001).
Complementarmente, Boddy (2005), fazendo uma referncia ao website da Association of
Qualitative Practioners (AQR 2004), define tcnica projetiva como o conjunto de tarefas e
jogos nos quais os respondentes podem ser solicitados a participar durante uma entrevista,
elaborados para facilitar, estender ou realar a natureza da discusso. Alm do mais, ressalta
que as tcnicas projetivas podem ser utilizadas tanto em estudos quantitativos como
qualitativos, sendo teis em ambos.
Para Aaker, Kumar e Day (2001), as tcnicas projetivas podem ser utilizadas mais
eficientemente quando se acredita que os respondentes no podem responder satisfatoriamente
a questes dos seguintes tipos:
152
Na viso desses autores, as pessoas podem no ter conscincia de seus prprios sentimentos
ou opinies, ou no estar disposta a admitir certas posies que possam ferir sua auto-imagem,
ou ainda serem demasiado polidas para serem crticas em relao ao entrevistador.
Sendo assim, Malhotra (2001) e Malhotra et al (2005) ressaltam que as tcnicas projetivas so
mais teis quando se observam as seguintes diretrizes:
Quando a informao desejada no pode ser obtida com preciso por mtodos
diretos;
Quando a sensibilidade do assunto tamanha que os entrevistados podem no
estar dispostos ou no conseguir responder s questes diretas honestamente;
Devem ser utilizadas para pesquisas exploratrias, para proporcionar
entendimento e compreenso iniciais;
No devem ser usadas ingenuamente.
De forma geral, pode-se assinalar algumas vantagens das tcnicas projetivas sobre as tcnicas
diretas (grupos de foco ou entrevistas em profundidade). Segundo Malhotra (2001), a
principal vantagem reside no fato de que elas, como j enfatizado anteriormente, podem
provocar respostas que os indivduos no dariam ou no poderiam dar se soubessem o
objetivo do estudo. Isto importante quando os problemas a serem abordados so pessoais,
delicados, ou sujeitos a normas sociais. Outra grande vantagem remete questo de que essas
tcnicas so vlidas quando motivaes, crenas e atitudes esto agindo num nvel
subconsciente.
Contudo, Malhotra (2001) tambm aponta desvantagens ou limitaes das tcnicas projetivas.
Na viso desse autor, essas tcnicas tendem a ser dispendiosas, uma vez que exigem
entrevistadores com grande experincia e altamente treinados. Ao mesmo tempo, so
necessrios intrpretes qualificados para analisar as respostas. Em segundo lugar, h um srio
risco de tendenciosidade na interpretao. Ademais, algumas tcnicas projetivas exigem que
os entrevistados se empenhem em um comportamento no usual. Nessas situaes, o
pesquisador pode supor que os entrevistados que concordam em participar so, eles prprios,
de alguma forma, incomuns, no sendo, assim, representativos da populao de interesse.
153
Percebe-se que no existe um consenso entre os autores no que concerne a uma classificao
perfeita dos vrios tipos de tcnicas projetivas. A despeito dessa dificuldade, por meio de
Vergara (2005) e Malhotra (2001), prope-se a seguinte subdiviso: tcnicas de associao,
tcnicas de complemento, tcnicas de construo, tcnicas expressivas e tcnicas de
ordenamento. A prxima seo discutir detalhadamente cada uma dessas tcnicas.
Vergara (2005) define tcnicas de complemento como instrumentos para coleta de dados por
meio dos quais o pesquisador apresenta ao entrevistado um estmulo para ser preenchido com
palavras. Tal estmulo, ao ser completado, pode revelar motivaes, crenas e sentimentos que
dificilmente seriam captados por meios convencionais. Malhotra (2001) identifica as tcnicas
de complemento de uma sentena e complemento de um relato ou de uma histria como as
principais variantes dessa categoria de tcnicas projetivas.
154
Para Vergara (2005) tcnicas de construo seriam um grupo de instrumentos capazes de obter
dados dos sujeitos da pesquisa, os quais so estimulados a criar uma ou mais respostas para o
tema sob investigao, na forma de histrias, relatos ou imagens. As tcnicas de construo
envolvem, em geral, a utilizao de fotografias para provocar a imaginao dos participantes.
Assim, a partir dessa interpretao, desencadeia-se uma narrativa relacionada ao tema da
pesquisa.
Tcnicas expressivas so aquelas nas quais se apresenta ao entrevistado uma situao verbal
ou visual, pedindo-lhe que relate as sensaes e atitudes de outras pessoas em relao
situao (MALHOTRA, 2001, p. 169). Dessa forma, os respondentes expressam no suas
prprias sensaes ou atitudes, mas as de outros. Malhotra (2001) cita dois tipos de tcnicas
expressivas: o desempenho de um papel e a tcnica da terceira pessoa.
155
J para se utilizar a tcnica da terceira pessoa, deve-se apresentar ao entrevistado uma situao
verbal ou visual, pedindo que ele relate as crenas e atitudes de uma terceira pessoa, em vez
de expressar diretamente crenas e atitudes pessoais (MALHOTRA, 2001). Vale ressaltar que
essa terceira pessoa pode ser um amigo, um vizinho, um colega, ou uma pessoa comum.
Tambm digno de nota o fato de que pedir ao indivduo que responda na terceira pessoa
reduz a presso social para dar uma resposta aceitvel.
Uma outra tcnica projetiva descrita por McDaniel e Gates (2003) a denominada Photo sorts
ou associao de fotografias. Em photo sorts, os respondentes expressam seus sentimentos em
relao s marcas por meio de um conjunto de fotos especialmente desenvolvido, que mostra
fotos de vrios tipos de pessoas, de executivos a universitrios. Os respondentes associam
essas pessoas com as marcas que eles acham que elas usam.
Para McDaniel e Gates (2003), outra tcnica de photo sort foi a intitulada PAT (Pictured
Aspirations Technique tcnicas de aspiraes retratadas). Essa tcnica tem o objetivo de
descobrir como um produto se encaixa nas aspiraes do consumidor. Assim, os
consumidores associam um conjunto de fotos com as suas aspiraes.
Vergara (2005) tambm discorre sobre a utilizao de construo de desenhos como tcnica
de coleta de dados. Segundo a autora, a construo de desenhos uma tcnica que tem como
objetivo estimular a manifestao de dimenses emocionais, psicolgicas e polticas, pouco
privilegiadas por tcnicas de cunho puramente racional. Para a autora, a construo de
desenhos pode ser combinada com outros procedimentos de coleta de dados. Sua utilizao
envolve diferentes modalidades de interao com os participantes da pesquisa e a
interpretao e a explicao podem ser feitas pelo participantes ou pelo pesquisador.
156
Uma outra tcnicas que pode ser enquadrada como projetiva a Zaltman Metaphor Elicitation
Technique (ZMET). Para Kraft e Nique (2002), a ZMET uma ferramenta de pesquisa
multidisciplinar criada pelo professor Gerald Zaltman, tendo como principal objetivo a
evocao das metforas dos consumidores. Para isso, Zaltman (1997) estabelece nove
premissas tericas que so responsveis pela arquitetura metodolgica da tcnica. Segundo o
autor, seriam as seguintes: (1) o pensamento baseado em imagens, no em palavras; (2)
grande parte das comunicaes no-verbal; (3) as metforas so centrais para o pensamento:
(4) modelos mentais guiam a seleo e processamento de estmulos; (5) metforas so
importantes para extrair conhecimento oculto; (6) razo e emoo agem em conjunto; (7) a
cognio est embasada na experincia sensorial; (8) o pensamento no domnio de um s
indivduo e (9) diferentes modelos mentais podem interagir.
Para trazer tona essas metforas, a metodologia da ZMET percorre um processo singular,
tanto na sua entrevista quanto na sua anlise. A entrevista estruturada a partir das seguintes
etapas: relato de histrias, outras imagens, trades, photo probe, imagens sensoriais, vinheta e
imagem digital. Na etapa da anlise, so englobadas as metforas em suas vrias dimenses:
construtos, imagens sensoriais, persona e as metforas (superficiais, temticas e profundas)
(KRAFT e NIQUE, 2002).
4 - Concluses
Dessa forma, pode-se mencionar que o entendimento e a utilizao dessas tcnicas podem ser
de grande utilidade para pesquisadores. Cabe ao investigador cuidadoso e consciente saber
escolher as tcnicas mais adequadas ao tipo de pesquisa que pretende implementar.
5 Referncias bibliogrficas
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BODDY, Clive. Projective Techniques in Market Research: Valueless subjectivity or
insightful reality ? International Journal of Market Research, v. 47, n. 3, p. 239-254, 2005.
HEISLEY, Deborah D.; LEVY, Sidney J. Autodriving: a photoelicitation technique. Journal
of Consumer Research, v. 18, p. 257-272, Dec. 1991.
KRAFT, Sibila; NIQUE, Walter M. Desvendando o Consumidor Atravs das Metforas:
Uma Aplicao da Zaltman Metaphor Elicitation Technique (ZMET). In: ENCONTRO
ANUAL DA ASSOCIAO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PS-GRADUAO
EM ADMINISTRAO, 26, 2002, Salvador. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2002. 1 CD-
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MALHOTRA, Naresh et al. Introduo Pesquisa de Marketing. So Paulo: Prentice-Hall,
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McDANIEL, Carl; GATES, Roger. Pesquisa de Marketing. So Paulo: Pioneira Thomson
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VERGARA, Sylvia C. A Utilizao da Construo de Desenhos como Tcnica de Coleta de
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Administrao. 2 ed. Rio de Janeiro: Fundao Getlio Vargas, 2006.
VERGARA, Sylvia C. Mtodos de Pesquisa em Administrao. So Paulo: Atlas, 2005.
ZALTMAN, Gerald. Rethinking Market Research: putting people back in. Journal of
Marketing Research, v. 34, n. 4, p. 424-437, nov. 1997.
ZOBER, Martin. Some Projective Techniques Applied to Marketing Research. Journal of
Marketing, v. 20, p. 262-268, 1955.
158
1 INTRODUO
Atualmente, diversos autores descrevem que a utilizao de recursos visuais como tcnicas de
pesquisa vem aumentando consideravelmente. Rocha-Trindade (1998), por exemplo, destaca
que as imagens desempenham um papel fundamental muitas vezes relacionados com os
objetos de estudo ou de investigao na arqueologia, histria, antropologia, sociologia,
medicina, entre outras. Para Leite, (1998):
As imagens podem ser grficas, ticas, perceptivas, mentais ou verbais, sendo que
cada uma delas passou a ser estudada independentemente por uma cincia ou por uma
das artes. Assim como a histria da arte e a crtica literria procuram estudar as
imagens grficas e verbais, a fsica, a fisiologia, a neurologia, a psicologia e a
epistemologia continuam buscando maneiras de estudar as imagens ticas, perceptivas
e mentais. (LEITE, 1998:41-42)
De acordo com Alegre (1998), foram nas cincias naturais que o emprego da imagem como
tcnica de pesquisa iniciou-se atravs de desenhos e ilustraes minuciosos e com a maior
preciso e fidedignidade possveis como parte fundamental do processo de observao.
Corroborando com essa afirmao, Turato (2003) descreve que a sculos passados, os
cientistas olhando para o cu, comearam a utilizar as imagens como tcnica de pesquisa e
coleta de dados para a para responder s suas inquietaes. Hoje, as imagens so uma fonte
importante de informaes sobre o passado, onde a reconstituio do ambiente familiar e da
vida cotidiana das geraes passadas so possveis de serem conhecidos (MARCONI &
LAKATOS, 2006).
At os dias atuais, as fotografias so utilizadas pelos cientistas em suas pesquisas para gerar
conhecimento. Na Astronomia, como as distncias so muito grandes, os pesquisadores
muitas vezes conseguem observar os objetos no mas toc-los. Assim, recentemente alguns
cientistas descobriram que existe gua em Marte, no em tempos remotos como acreditavam
anteriormente, mas atualmente. Essa descoberta foi possvel atravs de fotografias tiradas a
partir da rbita de Marte pela sonda Mars Global Surveyor. Os cientistas compararam imagens
fotogrficas tiradas em 2001 e 2005, e pelas diferenas observadas nas mesmas, constataram
que nesse perodo de tempo surgiram quedas dgua em dois pontos diferentes do planeta, ou
seja, fluxos de gua em Marte. (AGNCIA EFE e AGNCIA FAPESP, 2006).
Algumas das primeiras utilizaes no Brasil das imagens como tcnica de pesquisa foram com
os pintores-etngrafos (ALEGRE, 1998). Apesar das suas ilustraes estarem permeadas de
subjetividade, em virtude da viso de mundo de cada artista, eles so importante pois, se
tratam de documentos que retratam a realidade a partir da fidedignidade das suas criaes em
comparao com a realidade.
Entre as razes para a utilizao de imagens em pesquisas, Loizos (2002) destaca que a
imagem representa um registro importante acerca dos acontecimentos ou objetos reais, em um
nico momento ou como uma srie temporal. Alm do mais, as imagens podem servir tambm
como dados primrios acerca de mudanas nas caractersticas de objetos ao longo do tempo. E
por ltimo, mas no menos importante, com o crescente desenvolvimento das tecnologias das
informaes e comunicao, os mesmos esto cada dia que passa mais presentes na sociedade,
ou fatos sociais no sentido Durkheiniano (LOIZOS, 2002).
Complementando, as afirmaes acima, Bittencourt (1998), descreve que um dos auxlios das
imagens para os estudos sociais, que as mesmas representam a histria visual de uma
determinada sociedade. Assim, as imagens so capazes de registrar as principais
caractersticas da mesma ao longo do tempo e, portanto, so capazes de reconstruir a trajetria
histrica em relao aos grupos sociais e as suas inter-relaes, e at mesmo dentro de toda
uma determinada sociedade. Outro fato interessante, que a imagem capaz de congelar a
passagem do tempo, retratando em princpio de maneira fiel, um determinado objeto,
independentemente da poca em que foi criada a referida imagem.
As informaes encontradas em vdeos, fotografias e afins constituem uma base de dados que
a cincia no pode ignorar. (Peixoto, 1998). Alm disso, esse autor afirma que:
Nas abordagens mais clssicas, a imagem pensada somente depois da pesquisa, mais
como um complemento que traduz e divulga o que foi inicialmente percebido e
analisado de modo independente. (PEIXOTO, 1998:217).
Por outro lado, diversos pesquisadores, entre eles Leite (1998) questionam a primazia dada ao
sistema escrito dentro da produo e representao do conhecimento. Nesse caso, Bittencourt
(1998), Koury (1998) & Alegre (1998), afirmam que a imagem possui um papel secundrio,
muitas vezes sendo utilizada para a comprovao de que determinado objeto realmente possui
aquela forma descrita pelo pesquisador, ou seja, restringe-se ao aspecto documental da
realidade. Alm disso, a imagem muitas vezes ficou confinada s artes e cincias sociais,
simplesmente como um meio de ilustrao dispensvel (LEITE, 1998).
Por outro lado, uma das limitaes da imagem que o mundo real, tal como o percebemos
atravs da viso, possui 3 dimenses. A imagem, capaz de retratar somente 2 dimenses
(LOIZOS, 2002).
Para finalizar, Samain (1998) coloca que existem formas diferentes de conhecer a realidade,
em funo do fato de que o ser humano capaz de se comunicar por vrios meios. Portanto, a
imagem uma tcnica factvel dentro do contexto da pesquisa cientfica.
O realismo atribudo imagem ou fotografia decorre do fato de que a nossa cultura somente
percebe os aspectos visuais, em detrimento a outras dimenses que a compem. Alm disso, o
realismo da fotografia fortemente questionvel devido ao fato de que a mesma possui um
forte carter de ambigidade em relao sua interpretao, ou convenes para a construo
da realidade, onde para a qual, o contexto cultural inerente, tanto para aquele que o criador
da imagem, quanto para os expectadores da mesma. (BITTENCOURT, 1998)
A imagem no um objeto neutro. Ela acolhe muitos significados, alguns escolhidos de forma
deliberada pelo seu criador e outras tambm deliberadas, coerentes com as crenas e
conseqentemente, com a viso de mundo daquele de decodifica a mensagem transmitida
(LEITE, 1998). Para Loizos (2002), a manipulao da imagem pode ser discreta, mas possui
uma intencionalidade ideolgica. So artefatos culturais, e como tais, remetem viso de
mundo compartilhada pelos indivduos e seus grupos sociais - so construes coletivas da
sociedade e, portanto, possuem a influncia de todas as normas, crenas, situaes
normais e afins, que esto presentes e so difundidas ao longo do tempo dentro de uma
sociedade (ALEGRE, 1998).
161
A semitica permite que o pesquisador conhea melhor as dimenses simblicas presentes nos
signos que formam a comunicao. Assim, possvel compreender de forma mais clara as
possveis interpretaes presentes na anlise de imagens. Esse fato ajuda a lidar melhor com a
subjetividade presente nesses processos de anlise, pois, as imagens no possuem a
capacidade de autenticar o real, como alguns ainda acreditam (ALEGRE, 1998).
Segundo Hall (1997), a Semitica se refere ao estudo ou cincia dos sinais. Como j foi visto,
so os sinais que permitem que o significado das coisas possa ser entendido pelos membros de
uma determinada cultura e que compartilham desses sinais, ou seja, no somente a
linguagem e as imagens que so capazes de gerar significado; as coisas tambm possuem
significado. Uma roupa no somente uma roupa, ela pode significar status, estilo ou outro
atributo qualquer para um determinado grupo de pessoas. Evidentemente, esse processo de
extremo interesse para os profissionais de marketing. Dessa forma, Hall (1997) prossegue
argumentando que pode-se considerar que a Semitica um veculo de comunicao e,
portanto, de sentido para a cultura. A sua grande preocupao concentra-se em como uma
linguagem relacionada s coisas pode criar sentido e consequentemente uma representao.
Mais recentemente, um outro tpico importante para os pesquisadores diz respeito
abordagem do discurso, o qual se atm mais especificamente s conseqncias das
representaes criadas pelos discursos e obviamente, em relao inteno daqueles que
criam as comunicaes e como j foi descrito das suas conseqncias em relao ao grupo
de uma determinada comunidade e que partilha uma determinada cultura.
De acordo com Penn (2002) a semiologia oferece um conjunto de ferramentas para que se
possa analisar de forma sistemtica um conjunto de signos e smbolos, com o intuito de
conhecer como os sentidos so gerados.
Para a aplicao da semiologia, necessrio conhecer algumas das diferenas entre imagens e
linguagens. Uma das principais que a primeira muito mais ambgua do que a segunda. Por
isso, observa-se que grande parte das imagens sempre possui algum tipo de texto que as
acompanha para diminuir essa ambigidade. Outro ponto importante em relao diferena
entre imagem e linguagem tanto na escrita, quanto na falada - que nesta ltima a ordem
dos signos j est pr-definida, pois, em geral, ocorrem de forma seqencial. Nas imagens, tal
pr-definio no ocorre, ou seja, suas relaes dependem da sua localizao espacial e no da
sua ordem temporal. (PENN, 2002).
Para Leite (1998), em relao s limitaes e potencialidade da utilizao das imagens como
tcnica de pesquisa, foi verificado que:
Segundo Alegre (1998), a imagem possui dois componentes. O primeiro deles conceituado
como denotativo e se refere capacidade da imagem em retratar a realidade em seus termos
visuais detalhes. Por outro lado, tem-se o componente conativo, o qual se atm aos aspectos
simblicos presentes na imagem. Assim, o componente denotativo lida com o aspecto literal
da realidade, enquanto que o componente conativo lida com o aspecto simblico da realidade
representada.
Segundo Loizos (2002), uma das crenas a respeito da fotografia que no verdadeira, e de
que a mesma universalmente percebida da mesma forma, independentemente dos contextos
sociais nos quais ela est sendo exibida, em outras palavras, o contedo de uma fotografia
sempre ser visto e entendido da mesma forma pelas pessoas. O que ocorre que a fotografia
ambgua, e por isso, diversas interpretaes so possveis e aceitas pelos indivduos.
Complementando o raciocnio acima, podemos considerar que a anlise de imagens possui
uma abordagem fortemente interpretacionista, e dessa forma, ela nunca produz uma verdade
nica ao final da sua anlise. As interpretaes sempre seguem-se umas s outras, em uma
cadeia sem fim (HALL, 1997).
4 - ETAPAS CONCEITUAIS
Como toda tcnica de pesquisa, os recursos visuais possuem cuidados com os quais o
pesquisador deve se ater. Primeiramente, antes de usar esses recursos, o pesquisador deve de
antemo, elaborar e planejar a sua pesquisa, isto , criar as hipteses, definir o que ser
observado e porque ser observado, refletindo sobre a importncia do que est sendo feito,
pois sem isso, a nica coisa que ir conseguir colher dados aleatoriamente e que
provavelmente sero inteis, alm disso, fundamental que exista uma teoria que guie o
projeto de pesquisa (PEIXOTO, 1998).
Alm disso, as observaes de fatos e fenmenos sem uma teoria a balizar as descobertas,
observaes e dados empricos no so justificveis, pois sem a teoria no se pode saber ao
certo o que procurar nos dados e nem se o que se achou era o que realmente se procurava
(DOMINGUES, 2004).
O referencial terico, os modelos e teorias que do apoio s aes dessa pesquisa, tambm so
fundamentais para o recorte que o pesquisador necessita fazer em seu trabalho, pois,
diminuem a arbitrariedade do mesmo ao considerar o que deve estar presente ou no em
relao pesquisa. Em relao a este aspecto, Kaplan (1975) argumenta que a delimitao da
pesquisa somente pode ser definida em relao ao contexto da pesquisa e que no existe uma
regra filosfica existente que estabelea regras para essa questo. Assim o pesquisador pode
utilizar quaisquer conceitos que julgue teis, desde que os seus argumentos tragam orientao
de como agir ou ento que possa ser verificado empiricamente.
O principal desafio para a utilizao de imagens como tcnica de pesquisa criar significado
em relao ao objeto que est sendo analisado. (ALEGRE, 1998). Assim, a compreenso
acerca do contexto em que foi colhido o dado, bem como o conhecimento acerca daquilo que
est sendo estudado, so fundamentais para que o pesquisador consiga efetivamente descobrir
algo que corresponde realidade.
Por outro lado, como destaca Alegre (1998), como uma imagem representa uma seleo por
parte do observador, em muitas situaes possvel conhecer mais sobre esse ltimo do que
sobre o objeto que est sendo retratado. Por exemplo, a viso ou expectativa do europeu sobre
os povos primitivos da Amrica nos sculos passados podem ser identificadas a partir das
verses elaboradas pelos primeiros.
Para se analisar as imagens, imprescindvel que o responsvel por esse processo, tenha um
conhecimento profundo do contexto no qual a imagem foi gerada. Se a anlise da imagem no
considerar o contexto pertinente sua elaborao, essa anlise, infelizmente, ficar incompleta
e no contemplar aspectos importantes a serem determinados na anlise (BITTENCOURT,
1998). Esse autor considera ainda que:
Corroborando com as observaes acima, Alegre (1998) destaca que para a adequada anlise
de imagens necessrio que o pesquisador conhea as diversas tcnicas de criao das
mesmas. Isso decorre do fato de que as tcnicas, escolas e estilos artsticos esto fortemente
relacionados com o contexto social predominante da poca em que os mesmos foram
elaborados (ALEGRE, 1998).
De acordo com Leite (1998), uma das regras para a anlise sistemtica de imagens a
ordenao temporal das mesmas em conjunto com uma ordenao em relao a alguma
caracterstica importante para o objeto da pesquisa. Assim, temos a classificao de acordo
com temas, signos ou smbolos que esto presentes na imagem. Alm disso, verifica-se que
no s a literalidade, ou seja, as caractersticas tcnicas ou visuais das imagens so utilizadas
no processo de pesquisa, como tambm aspectos relacionados conotao que as mesmas
possuem (ALEGRE, 1998). Corroborando com a explicao acima, Leite (1998), considera
que:
Uma das grandes questes que o pesquisador tem de ter em mente a capacidade de registro e
de representao do conhecimento que a imagem pode oferecer.
Assim, Koury (1998), descreve que a fotografia muitas vezes diferente do objeto
fotografado, pois dependendo do perodo de tempo entre a coleta da imagem e a sua anlise, o
objeto fotografado no mais similar quele da fotografia. Isso traz desafios e tambm
benficos, pois, a fotografia se torna a corporificao do passado atravs da imagem que ela
apresenta.
5 ETAPAS OPERACIONAIS
Em relao anlise semiolgica, Penn (2002), descreve os seguintes passos para que a
mesma possa ser feita:
1. A primeira coisa a ser feita escolher as imagens que faro parte do estudo.
Obviamente, esse processo depende do objetivo da pesquisa, do problema da pesquisa
e da disponibilidade de imagens. Alm disso, o processo de amostragem deve
contemplar, se possvel, uma amostragem representativa do universo de pesquisa. Caso
contrrio, descreva as implicaes disso para os resultados da pesquisa.
3. Nessa etapa, realizada a anlise dos nveis de significao mais altos (conotao,
mito e sistemas referentes), ou seja, so analisados aspectos conotativos, alm dos
denotativos que foram identificados na fase anterior. O conhecimento acerca dos
contextos culturais aos quais as imagens se referem.
165
4. Em tese, o processo de anlise nunca estar completo e, portanto, ele nunca terminar.
Sempre existiro alternativas diferentes ou novas interpretaes possveis para as
imagens analisadas. Para tomar a deciso de encerrar a pesquisa, o responsvel dever
verificar se os objetivos elaborados anteriormente foram alcanados. Alm disso, o
pesquisador dever verificar se todos os elementos denotativos foram identificados e
suas relaes recprocas foram analisadas e de que forma so estruturadas e descritas
nas anlises realizadas.
Em relao s imagens, Peixoto (1998), explica que um dos primeiros passos do pesquisador
a classificao das imagens, de acordo com as questes propostas pela pesquisa, dito de outra
maneira, que seja coerente com aquilo que o pesquisador deseja descobrir. Rose (2002),
descreve os seguintes passos para que a anlise visual possa ser realizada de forma adequada:
2. Elaborar uma amostra e definir o material a ser gravado. O que ser gravado depende
da abordagem e do contedo selecionados na fase anterior.
5. Elaborar regras para aplic-las nos dados transcritos. Essas regras permitiro confirmar
ou no uma teoria, anlise do material visual e verbal, bem como estudo da estrutura
narrativa, contexto e das categorias semnticas. No processo de transcrio de vdeo, o
pesquisador dever decidir como descrever os aspectos visuais, a luz, as musicas e at
mesmo as pausas. Isso depende da abordagem terica utilizada e por isso, nunca
haver uma anlise que capte uma verdade nica do texto. (ROSE, 2002:344)
8. Aplicar tcnicas estatsticas pertinentes com as caractersticas dos dados obtidos aps
tabulao e construo de tabelas.
166
9. Identificar outros dados ou citaes que ainda ofeream dados para a pesquisa e que
no foram tabulados e codificados, e que possam complementar a anlise quantitativa
a ser executada.
Por ltimo, mas no menos importante, Loizos (2002), apresenta um checklist de itens que
devem ser verificados no processo de anlise de informaes e objetos visuais:
1. O uso de uma gravao visual ir trazer uma melhora significativa para o resultado da
minha pesquisa?
2. Possuo as habilidades para registrar (som e imagem) de tal modo que consiga fazer em
mesmo a gravao?
3. Calculei o tempo necessrio para processar o corpo de dados visuais que resultara
dessa pesquisa?
6 - BIBLIOGRAFIA
Introduo
Entre as inmeras abordagens metodolgicas que podem ser usadas na pesquisa qualitativa,
este captulo concentrar-se- nos mtodos narrativos, em particular a histria de vida e a
histria oral, com o objetivo de apresent-los e discuti-los mostrando suas possibilidades para
a pesquisa na rea de Administrao.. Especificamente, este texto pretende Sero objetivos
deste texto: a) discutir apresentar a compatibilidade entre narrativa e realidade; b) introduzir
os mtodos de pesquisa baseados em narrativas; b) discutir a compatibilidade entre narrativa e
realidade; c) discutir a questo da memria social coletiva versus a memria individual; d)
apresentar discutir detalhadamente os mtodos narrativos, suas modalidade e possibilidade de
aplicao; e e) apresentar a forma pela qual pode ser operacionalizada uma pesquisa baseada
em mtodos narrativose diferenciar a histria oral e a histria de vida; e) detalhar o processo
metodolgico de cada um dos mtodos apresentados. Alm desta breve introduo, este
captulo contar com mais cinco sees, que discorrero sobre cada um dos objetivos
especficos mencionados, e com uma seo de consideraes finais, com a concluso dos
argumentos apresentados.
vontade dos sujeitos. Caberia aos cientistas, assim, encontrar mecanismos elos quais
pudessem se aproximar desta realidade, mensurando-a em sua concretude, e, na medida
possvel, desvendando as leis sob as quais esta realidade funciona. Os no positivistas, embora
com diferenas considerveis de foco, no acreditam em uma ordem to estabelecida e
perfeita assim, e perseguem diferentes concepes desta realidade, que vo desde o papel das
relaes sociais (estruturalismo), passando pelas leituras que os indivduos fazem dela
(interpretacionismo), importncia do homem no processo (humanismo)
Em comum entre estas trs abordagens est uma negao noo positivista, no sentido de
no considerar a realidade como dada por circunstncias exteriores ao homem, mas uma
construo, basicamente, humana (BURRELL; MORGAN, 1979). Para estas correntes, se a
realidade fosse objetiva em relao ao homem, o nico mtodo legtimo para alcan-la
possivelmente seria o que se baseasse na mensurao dos elementos do real, j que a tarefa do
pesquisador se converteria na aproximao do objeto no papel de observador, que procura, de
forma neutra, estabelecer, objetivamente, relaes entre as variveis por ele observadas. Seu
foco estaria, portanto, menos no que se apresenta, em si, como real, do que na lgica que
regeria as interconexes da realidade. Haveria, essencialmente, fatos a serem observados,
descritos, mensurados e explicados, com um potencial mnimo de interferncia do homem no
processo, j que sua metodologia basear-se-ia na objetividade como recurso bsico para no
interferir no objeto, apenas observ-lo cientificamente.
Quadro 1 : Possibilidade de uso Uso dos mtodos Mtodos narrativos Narrativos nas
correntes Correntes epistemolgicas Nno positivistasPositivistas
170
Assim, embora as trs correntes apresentem divergncias, como o quadro 1 demonstra, nelas
os mtodos narrativos podem ser usados na investigao sem maiores problemas. No caso do
estruturalismo, identificando, por exemplo, de que forma as histrias individuais refletem a
fora das estruturas sociais sobre as condies dos homens. No caso do interpretacionismo,
como os indivduos percebem e constrem interpretaes da realidade; por fim, da perspectiva
humanista, como o homem, por meio de sua histria, pode, ele mesmo, encontrar meios de
emancipao das condies de dominao vigentes.
Embora mtodos como a histria de vida estejam presentes na metodologia de cincias sociais
desde a publicao do estudo The Polish Peasant8, na dcada de vinte, somente h cerca de
vinte anos conceitos como narrativa e histria de vida vm ganhando visibilidade no campo
metodolgico (LIEBLICH et al., 1998). Um dos motivos para este aumento de importncia
sua utilizao na teoria, pesquisa e aplicao de vrias reas de conhecimento, como a
Psicologia, a Educao, a Sociologia, e a Administrao, principalmente nos estudos
organizacionais.
O que vem a ser a pesquisa narrativa? Conforme Lieblich et al. (1998, p.2), refere-se a
qualquer estudo que use ou analise material narrativo. O foco na narrao, portanto, mais do
que em uma tcnica particular de coleta ou de tratamento de dados, confere a este mtodo um
carter intrinsecamente baseado na perspectiva temporal (GORDON; LAHELMA, 2003). Isso
se deve ao fato de que, para narrar suas histrias, os indivduos se valem de uma srie de
referncias presentes durante o seu percurso, com particularidades percebidas luz de eventos
especficos que se desenrolaram ao longo do processo. A processualidade, assim, central nos
mtodos narrativos. As informaes s fazem sentido para o pesquisador se analisadas
levando em considerao todo um quadro de referncia subjetivo.
Metodologicamente muito da adeso aos mtodos de pesquisa narrativos se deve a uma ampla
fragmentao terica (REED, 1998) prpria dos tempos atuais. Nos dias de hoje, a
centralidade do discurso textualidade a linguagem enfatizada como constitutiva da
realidade, e os objetos naturais so denunciados como produes discursivas (ALVESSON;
DEETZ, 1998). Com isso ganham fora as narrativas de grupos dentro da sociedade, e, por
isso, metodologias que considerem as especificidades das fragmentadas identidades se
mostram mais interessantes. Considerando as contribuies para o campo, h trs domnios
principais para a pesquisa narrativa, conforme o quadro 2:
8
THOMAS, W. I.; ZNANIECKI, F. The Polish Peasant in Europe and America. 2.ed. New York: Alfred A.
Knopf, 1927.
171
O que um significado hoje, nesse sentido, remonta a algum momento da narrativa, em que
um dado passou a ser interpretado, e, portanto, a fazer sentido para aquele indivduo a partir
de um referencial cognitivo especfico. No se instala, entretanto, uma viso relativista dos
fatos, j que estes s existem sob a forma de interpretao individual, como uma espcie de
mosaico (BECKER, 1999), que forma o real a partir de vrias perspectivas distintas. No
existem, nessa perspectiva, fatos que antecedem e independem dos indivduos, mas, que,
somente existem porque eles so percebidos e interpretados simbolicamente pelos sujeitos
sociais. A memria, nessa linha de raciocnio, no pode ser simplesmente tomada como um
dado, j que se apresenta mais propriamente como uma espcie de amlgama de experincias
acumuladas durante o perodo de existncia (LYON, 2004).
A memria, assim, no deixa de ser uma espcie de filtro, um olhar presente sobre o
passado, buscando nele alguma coisa que integra um tempo relativo prpria anterioridade.
172
Assim, histrias subjetivas, como as narrativas individuais, que descrevem o cotidiano dos
indivduos em seu espao scio-temporal se redefinem por meio da memria (BOSI, 1994).
A memria coletiva, nesse sentido, pode ser encarada como elemento estruturador que
se apresenta como recordaes compartilhadas socialmente por um agrupamento social
aludindo sua prpria trajetria do tempo (LE GOFF, 1984). O papel das narrativas central
nesse processo porque transmite, via oralidade dos sujeitos, os sentidos aprendidos,
apreendidos e as interpretaes deles decorrentes, que conferem legitimidade a uma dada
tradio. Nesse sentido, como afirma Cardoso (1997, p.9), a sociedade constri uma espcie
de patrimnio comum que, seletivamente, acaba residindo em depsitos sociais (arquivos,
monumentos, museus).
No mbito das pretenses deste captulo, embora tratar da questo dos museus e da
histria por eles fisicamente preservada seja muito instigante, conforme atestam Machado e
Saraiva (2006), interessa o foco na tradio no material da histria, na memria que os
indivduos so capazes de reconstruir a partir das suas prprias referncias que no so
objetivas e nem pretendem s-lo.
A viso da histria sendo mais do que uma mera lista de fatos, mas tambm um
percurso por meio do passado, presente e futuro do narrador, tem se tornado relevante.
Conforme Kainan et al. (, 2006, p.2), recentemente o uso deste conceito de histria como rea
legtima de pesquisa tem sido aceito por um nmero crescente de pesquisadores, que aceitam
a idia de que a histria representa um tipo de conhecimento, com riqueza e nuances que s
podem ser conferidos por quem participou dos eventos. Isso no quer dizer, contudo, como
destaca Costa (1997, p.5), que se trate de algo relativista, pelo contrrio: para ela, a histria
deve se ater tanto ao entendimento dos sujeitos sociais, seus fazeres e representaes, quanto
sociedade, espao que muito contribui para dar forma e sentido s aes individuais. nesse
sentido que os estudos de histrias de vida e de biografias em geral deixam de ser entendidos
como individualistas e tm obtido nova significao.
De acordo com Thomson (2002), a partir do final da dcada de 70, os partidrios deste
mtodo j declaravam que as peculiaridades da histria oral, por exemplo, entre elas os
problemas apontados pelos crticos (equvocos, tempo entre a experincia e a evocao da
memria, confiabilidade e validade das lembranas etc.) podem ser mais uma fonte do que um
problema em si.
Os mtodos narrativos partem de narrativas para explicar motivaes, atitudes e valores que
moldam o comportamento e o fluxo das aes humanas (STANFIELD, 1987). Isso implica,
necessariamente, compromisso com a subjetividade dos narradores, que, ao se disporem a
contar suas histrias, desmistificam interpretaes naturalistas ou racionalistas a respeito de
173
Na pesquisa narrativa, a opo por determinados objetos de pesquisa pode levar ao uso de
mtodos especficos. Ao tratar da qualidade da retrospectiva das histrias de migrantes, por
exemplo, Smith e Thomas (2003) fizeram uso de entrevistas survey como mtodo. Com
enfoque na mesma temtica de migrao, contudo, Thomson (2002) se valeu de histria oral.
No que se refere qualidade dos fatos relembrados, tema abordado por Smith e Thomas
(2003), Abdi (2001) optou pela sociologia histrica, uma escola sociolgica que tem
interfaces com a histria e uso de mtodos narrativos de investigao.
Sobre a temtica tnica, Chaitin (2004) associa histrias de vida e entrevistas biogrficas em
profundidade para tratar da questo da identidade social de israelenses judeus. Para verificar
as razes pelas quais estudantes bedunos prosseguem nos estudos na faculdade, Kainan et al.
(2006) se basearam em suas histrias de vida, o que tambm faz Stanfield (1987) para tratar
especificamente da questo da estratificao racial. Associando etnografia e histria de vida,
Gordon e Lahelma (2003) estudaram as transies pelas quais passam estudantes de nvel
mdio.
Estudos voltados para o ativismo poltico, como o de Roberts (2004), e para a histria
intelectual (LYON, 2004), bem como os que se voltam para a descrio da metodologia em
uma regio especfica a Ibero-Amrica, no caso de Bolvar e Domingo (2006) se baseiam
mais na perspectiva da contribuio biogrfica, sendo tanto a autobiografia quanto os mtodos
biogrfico-narrativos os mais utilizados nesse sentido.
Entre os mtodos narrativos, a histria de vida , sem dvida, o mais popular. usado em
estudos que tratam da violncia do ponto de vista histrico (GODFREY; RICHARDSON,
2004) e do ponto de vista das teorias de comportamento criminoso (FRAZIER, 1978); no
campo da sade, no que diz respeito a decises relacionadas ao fim da vida (CALLAHAN et
al., 2003), e medicina alternativa e complementar (TOVEY; MANSON, 2004); nos
negcios, indo desde a aprendizagem da identidade profissional (OLESEN, 2001), passando
pelo carter pedaggico da histria de vida em cursos de MBA (PETERSON; McQUITTY,
2001), e em cursos de venda pessoal (PETERSON; STAPLETON, 1995), chegando ao
comportamento profissional feminino ps-maternidade (ELLIOTT, 2002), e mesmo a uma
perspectiva feminista de metodologia qualitativa (KASPER, 1994).
H ainda estudos, baseados em histrias de vida, que tratam da relao entre narrativas,
literatura e imaginrio, como Costa (1997) e Misoczky e Vecchio (2006), bem como inmeros
trabalhos que tratam de experincias sociais e suas narrativas em espaos especficos, como
o caso de Cardoso (2004), que lida com a histria de vida de um candango em Braslia, e
Guimares (1993), que aborda a mobilidade social por meio da trajetria de um operrio na
Bahia.
Nesse quadro amplo sobre as histrias de vida como mtodos narrativos, no se pode
ignorarmtodos narrativos, no se podem ignorar, por fim, as expectativas com relao
prpria histria de vida, tema explorado por Seltzer e Troll (1986), que discutem o papel que
possui a percepo do tempo sobre o que os indivduos projetam para si prprios em termos
de histrias pessoais.
Destas possibilidades, o que se percebe que os mtodos narrativos podem ser combinados a
outros mtodos, como no caso de Gordon e Lahelma (2003), para que o pesquisador consiga
apreender o contexto, na percepo dos indivduos, da forma mais ampla possvel. Uma outra
possibilidade, apontada por Curado (2001), a possibilidade de complementao e de
175
cruzamento das narrativas com dados historiogrficos, de maneira a que se consigam os nveis
qualitativos de credibilidade a que se refere Godoy (2005).
Antes de qualquer coisa, preciso deixar claro que os mtodos narrativos podem auxiliar um
movimento analtico que mova as temticas do reducionismo psicolgico em direo a temas
focos macrossociolgicos (STANFIELD, 1987). Isso vai depender, em essncia, da
capacidade dos pesquisadores em utilizar a estratgia metodolgica mais adequada aos seus
objetos de pesquisa, e no o contrrio, como tem sido feito (STANFIELD, 1987).
A esse respeito Eisenhardt (1989), sustenta a metodologia qualitativa pode dar origem a
teorias sustentveis desde que adote algumas precaues que, se no a aproximam do
funcionalismo metodolgico, lanam as bases para uma metodologia que se distancia do
solipsismo terico. E complementada por Weick (1989, p.520), ao afirmar que o ponto
chave que este processo guiado por representaes, o que faz da histria percebida uma
fonte vlida de dados para a gerao de conhecimento cientfico.
Para que se alcance esta realidade percebida, do ponto de vista cientfico, preciso adotar
mtodos que possibilitem o acesso s narrativas, sejam elas na forma escrita, sejam elas na
forma oral. Nesse sentido, apresenta-se agora uma forma de operacionalizao que no
pretende e nem deve ser entendida como uma receita que pode ser usada na confeco de
pesquisas baseadas em mtodos narrativos.
A problemtica da pesquisa central em uma pesquisa narrativa. Mas, a forma como ser
abordada depender, em essncia, do que e de como sero as narrativa com as quais o
pesquisador lidar. necessrio um foco inicial para o qual sero dirigidos esforos no
sentido de que as narrativas circundem este tema, de forma a que se consiga ampliar o nvel de
compreenso daquele fenmeno. Este foco, contudo, no flutua no vcuo, desvinculado de
outros fatores. Por isso, na pesquisa narrativa, a compreenso do contexto fundamental para
o pesquisador. Ainda que basicamente se esteja interessado na perspectiva do narrador,
reconhecem-se algumas limitaes nos dados por ele narrados, razo pela qual a
176
Pesquisas narrativas, at mesmo por uma questo da quantidade das informaes levantadas,
precisam ser levadas a cabo com um contingente restrito de fontes de narrao. Por isso,
fundamental aos pesquisadores se certificarem com antecedncia se os sujeitos de quem se
pretende ouvir as narrativas so detentores, de fato, das experincias necessrias a serem
narradas. Esta preocupao importante medida que, embora biografias fictcias sejam um
dos mtodos narrativos, trabalhar em cima de narrativas deliberadamente inventadas, quando
se pretende que elas reflitam a experincia verdadeira dos indivduos (ROBERTS, 2004)
prejudicial para a validade cientfica da pesquisa.
Toda vida de uma pessoa pode ser escrita em um livro. Eu gostaria que voc
pensasse sobre a sua vida agora como se voc estivesse escrevendo um livro.
Primeiro, pense sobre os captulos desse livro. Eu tenho aqui uma pgina para
ajudar voc nessa tarefa. Escreva os anos da primeira coluna de zero, do dia
em que voc nasceu. Quando a primeira fase termina? Escreva aqui. Ento v
aos prximos captulos, e escreva a idade que cada um comea e termina para
voc. Continue at voc alcana a presente idade. Voc pode usar qualquer
nmero de etapas que voc achar necessrio para sua prpria vida.
Em seguida, o entrevistador pode direcionar o narrador a construir cada fase do seu captulo
com questes especficas, como: a) descreva um episdio significativo ou uma memria que
voc lembre dessa fase; b) que tipo de pessoa voc era durante essa fase?; c) quem foram
pessoas importantes para voc durante essa fase e por qu?; d) qual a sua razo para escolher
terminar esta etapa quando voc o fez? Este direcionamento, contudo, no pode ser uma
camisa de fora para o processo. Deve-se ter em mente, como aponta Thomson (2002, p.357),
que as formas pelas quais as histrias de vida so narradas as nfases, os silncios, os
padres lingsticos, as metforas podem ser altamente reveladoras da natureza e do
significado da experincia dos entrevistados.
Alm disso, Kasper (1994) destaca a importncia de o pesquisador ser bem informado sobre a
temtica da narrativa que pretende coletar, sob pena de no se conseguir aceitao mnima dos
narradores, e com isso prejudicar o processo de coleta de informaes. Contudo, estar bem
informado no o suficiente para uma coleta de narrativas bem sucedida. De acordo com essa
autora, ainda necessrio que o pesquisador apresente uma postura colaborativa, inspire
confiana no narrador, seja um bom ouvinte, pouco interferindo na narrativa. Com relao
177
coleta de narrativas, por fim, Chaitin (2004) destaca que essencial a gravao (em udio ou
vdeo) dos depoimentos e sua posterior transcrio palavra a palavra, para que, em termos de
qualidade, uma anlise adequada seja possvel.
Leva em considerao a histria inteira e foca seu contedo. De certa forma o que
especificamente contado pelo narrador colocado em um segundo plano, fazendo com que a
narrativa adquira uma conotao mais universal, categorizada em temas mais amplos
abordados pela narrativa. Para exemplificar, o trabalho de Cardoso (2004), que trata da
trajetria de um imigrante nordestino na capital federal, permite uma leitura alm dos limites
estritos da narrativa, permitindo anlises mais amplas sobre expresses de prticas sociais
comuns ao novo espao, o aprendizado em um contexto distinto do de origem, a questo da
migrao e a discriminao sofrida por migrantes etc.
Tambm enfoca a histria de vida como um todo, mas trata dos seus aspectos formais mais do
que propriamente de seu contedo. Baseia-se na perspectiva de que toda histria, oral ou
escrita, pode ser formalmente caracterizada por uma progresso do seu esquema (no sentido
de espao). Trs possibilidades bsicas dos esquemas so progresso, regresso e uma linha
regular, enquanto que histrias individuais so uma combinao dos trs. Trabalhos como o de
Seltzer e Troll (1986), por exemplo, mostram que, uma vez que os indivduos buscam
coerncia na histria de vida que esperam ter, isso se presta a uma anlise mais voltada para a
forma do que ao contedo desta histria de vida propriamente dito.
Este tipo de leitura, normalmente chamado de anlise de contedo, trata do contedo das
narrativas, como manifestado, em partes separadas da histria, sem considerar o contexto
completo da narrativa. Isso pode se dar na forma de quantificao da freqncia de certas
palavras ao longo da narrativa, o que origina unidades de categoria mais amplas que
explicam os eventos. Tais unidades de explicao de eventos esto presentes em trabalhos
como os de Elliott (2002), Peterson e Stapleton (1995), Peterson e McQuitty (2001) e Smith e
Thomas (2003).
Contudo, no se pode ter iluses de que uma coleta de dados baseada em qualquer outra
abordagem metodolgica seja, por si s, mais objetiva; a articulao entre ontologia,
epistemologia, teoria e mtodo no casual, e tampouco neutra: obedece a lgicas no
explicveis pelo raciocnio cientfico. Por isso, a validade das narrativas coletadas se liga, por
um lado, capacidade do pesquisador em definir adequadamente o objeto de pesquisa e os
narradores que a ele fornecero o objeto, e, por outro, da capacidade de no se deixar envolver
pelo tema, fazendo dele um cavalo de batalha, a ser defendido a todo custo, quase que
religiosamente.
A maior parte dos mtodos narrativos criticada por se basear mais em descries e
interpretaes do que em anlises tericas (STANFIELD, 1987). Alm disso, explicitar as
opes metodolgicas tem sido particularmente raro nesse campo, principalmente porque
mtodos como a histria de vida so usados isoladamente, perdendo a fora da triangulao
metodolgica. A qualidade da pesquisa, nesse sentido, diz respeito a quanto se explicitam as
limitaes prpria do mtodo e da pesquisa, e quais as opes metodolgicas acertadas ou
no feitas para consecuo do estudo. Acreditar que um trabalho tem mais qualidade do que
outro apenas por no apresentar falhas negar o carter evolutivo da cincia como forma de
conhecimento humano (DEMO, 1987), alm de gerar desconfiana sobre a perfeio
operacional da pesquisa. Reconhecer, com honestidade, a limitaes de um trabalho, sejam
elas tericas, metodolgicas, ou do estudo em si avanar, no sentido da construo de uma
base mais madura e slida de conhecimento cientfico.
A representatividade dos dados outro critrio que merece ateno em uma pesquisa
narrativa. Esta modalidade metodolgica, como j discutido, partilha das vantagens e das
179
h.v.
um tipo de histria nico que descreve uma seqncia de eventos que o narrador v como
histria da sua vida (KAINAN et al., 2006, p.1).
Indicaes e Posologia
Reaes Adversas
A maior parte dos mtodos narrativos criticada por se basear mais em descries e
interpretaes do que em anlises tericas (STANFIELD, 1987). Alm disso, explicitar as
opes metodolgicas tem sido particularmente raro nesse campo, principalmente
porque mtodos como a histria de vida so usados isoladamente, perdendo a fora da
triangulao metodolgica.
Contra-Indicaes
as histrias que nos contam nas entrevistas so muitas vezes verses de relatos que
foram criados logo aps eventos e que foram usados e reelaborados pelos indivduos ou
no interior das famlias e das comunidades(...) em cada estgio, as histrias de vida
articulam os significados da experincia e sugerem maneiras de enfrentar a vida.
Quando registramos estas histrias, no captamos apenas evidncias inestimveis sobre
experincia anterior e as histrias vividas. (THOMSON, 2002, p.359)
Consideraes Finais
O objetivo deste captulo foi apresentar e discutir os mtodos narrativos de pesquisa, com a
finalidade de mostrar suas possibilidades para a pesquisa na rea de Administrao. Os
argumentos apresentados destacaram que a narrativa tambm uma possvel fonte da
realidade, j que esta no algo exterior aos homens, mas algo intrinsecamente a eles
relacionado.
Por fim, ao lanar mais cores sob o prisma qualitativo, os mtodos narrativos propiciam o
surgimento de abordagens terico-metodolgicas mais criativas, intuitivas e diferentes para as
pesquisas, que no sub-categorizem formas de conhecimento alternativas, distintas o que o
mainstream pratica, apenas por no saber como com elas lidar.
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184
Neste livro, o autor revela sua preocupao com o desafio da problematizao no processo
investigatrio, presenteando seus leitores com ricas discusses acerca da questo da pesquisa e
da dificuldade de se manter uma postura dialtica ao longo do processo de conhecimento, j
que os dados encontrados tendem, como o prprio autor ressalta, a calar o pesquisador, pois o
mesmo passa a ter o sentimento que encontrou o que queria. Segundo Kosik (1976, p. 41) a
postura problematizante :
Quando se perde o carter problematizante, passa-se a tratar os dados colhidos como real e
absoluto. A concreticidade do real, que fruto da perspectiva histrico-materialista,
engessada em fatos objetivos. A capacidade dos dados refletirem o real em sua totalidade fica
rendida iluso de que a realidade a soma de fatos que se apresentam em uma lgica linear.
Essa diferena de perspectiva existe por causa das duas concepes distintas da realidade.
Para o conhecimento sistemtico-aditivo a realidade congrie de fatos acumulao de
fatos como se fossem uma massa informe (SALOMON, 2000, p. 102). Assim, para tal tipo
de concepo s possvel conhecer determinados aspectos da realidade que dela so
abstrados, sendo o mtodo indicado o analtico somatrio de racionalismo e empirismo, pois
se trata de um conhecimento que se move de pontos de partida demonstrados atravs de um
sistemtico acrescentamento de fatos ulteriores (SALOMON, 2000, p. 102).
Por outro lado, o pensamento dialtico constri-se na crena de que o conhecimento concreto
da realidade no h de consistir em acrescentamento sistemtico de fatos a outros fatos e de
noes a outras noes. Essa concepo de realidade parte do pressuposto de que o
conhecimento humano se processa num movimento em espiral, do qual cada incio abstrato
e relativo. um processo em espiral de mtua compenetrao e elucidao dos conceitos, no
qual a abstratividade (unilateralidade e isolamento) dos aspectos superada em uma
correlao dialtica quantitativo-qualitativa regressivo-progressiva (KOSIK, 1976, p. 41).
Para explicar como funciona o SuRS, necessrio apresentar duas discusses anteriores
desenvolvidas pelo autor que estabelecem a base epistemolgica desta ferramenta: Homem
ser problematizador e Do fato e do problemtico.
A primeira discusso trata em traduzir a velha preocupao que sempre o acompanhou durante
o tempo da docncia para uma ocupao metodolgica, que o desenvolvimento do
pensamento crtico no alunado. Nesta maravilhosa aventura de encruzilhadas ao qual ele
chama a docncia, Salomon (2000) acredita que o pensamento crtico marcado pelas
posturas dialticas e reflexivas e, mais tarde, com o surgimento do SuRS, ele aprendeu que
ambos processos derivam de outro processo interno ao pensar: a problematizao. Este
muito mais amplo e profundo que simplesmente a formulao de um problema de pesquisa.
Analisando, portanto, o processo de pesquisa, percebe-se que ele deriva de dois outros
processos: o de conhecer e o de agir. Conhecer o que? A si mesmo, os outros, o mundo que o
rodeia e em que vive. Essa compreenso importante, porque o ser humano cedo percebe que
186
Aqui tem-se a primeira ponte para o SuRS. Quando Salomon afirma que necessrio que o
ser humano saiba qual a origem do processo de problematizao e como o ser humano o
enfrenta, ele est falando de referencial. Qual o referencial que o sujeito utiliza ao enfrentar
determinado problema? Pro que ele o escolheu? O que este referencial ilumina e o que ele
apaga? Este referencial, conhecido tambm como princpios da filosofia da cincia, so mais
que somente epistemolgicos. Eles esto colados ao sujeito, definindo a forma como este v o
mundo e revelando sua ideologia sobre a realidade: do que ela composta, qual a hierarquia
de seus elementos e qual a finalidade de se encarar os fatos como tais. Se o pesquisador
desafia a realidade de uma perspectiva dialtica, isto significa dizer que ele encara a realidade
como uma totalidade e no como abstrata, ou melhor, nas palavras de Kosik (1976, p. 41):
Se o conhecer um processo, h de ser conduzido, pois tem uma direo. Processo no ato
isolado. Quando muito, sucesso de atos que se ligam um ao outro, um aps o outro.
movimento e implica momentos, fases, etapas e contextos que se sucedem, em perseguio a
um objetivo ou meta a alcanar (SALOMON, 2000, p. 9). Assim, para atingi-lo, o ser
humano impulsionado a economizar tempo e energia, a evitar o erro. O homem levado a
no viver constantemente em dvida (ainda que a dvida seja o ponto de partida) e a pensar
corretamente. Para consegu-lo deve-se passar pelo processo de ao (lembre-se que o
problematizar fruto do processo de conhecer e agir).
Do Fato e do Problemtico
proposto pelo autor. O entendimento do referencial utilizado pelo pesquisador para se tratar
dos fatos ir diferenciar o saber filosfico do saber cientfico e como o processo de pesquisa
visa atingir o conhecimento cientfico, seus fatos sero tratados dentro de uma unidade
racional e objetiva sobre a realidade total. Neste contexto, o problema de pesquisa surge
tambm j contaminado de racionalidade, pois o fato existe fora do sujeito? O fato coisa real
ou a apreenso das coisas e dos acontecimentos? Destas questes cruciais que se derivaram
os empiristas, racionalistas, idealistas, materialistas, positivistas...
Se esta questo central para a filosofia e para a cincia, imagine para a metodologia
particularmente o discurso mais contaminado de racionalidade; mas que est tomando a si,
no campo das cincias humanas e sociais, a tarefa de descontaminar-se, ou seja de des-
racionalizar-se e des-racionalizar o saber (como saber total e totalizante) (SALOMON, 2000,
p. 101). Junto questo do fato surge a questo do mtodo: qual o mtodo indicado para
estudar adequadamente os fatos? O mesmo para qualquer tipo de fato? A questo do mtodo
surge diante da questo do fato. E ambas as questes se prendem a uma questo de fundo: a da
concreticidade e da totalidade do fato (SALOMON, 2000, p. 102). Isso equivale a dizer que,
ao problematizar, em busca do conhecimento e da ao, atravs de uma escolha metodolgica,
o pesquisador est partindo (e construindo) de uma concepo de realidade que vai gui-lo por
determinados caminhos e restringi-lo a outros. Segundo Kosik (1976, p. 48) so trs as
alternativas de concepo da realidade:
A importncia desta definio clara de referencial de concepo de realidade est expressa nas
palavras de Konder, citado por Salomon (2000, p. 105): para o positivismo, o que pode ser
conhecido o que cabe no exame rigoroso dos fatos e dos dados precisa ser submetido a
uma exposio sucinta, a uma sntese cristalina, capaz de esgotar a rea (ilimitada) cuja
elucidao lhe atribuda. E mais que isso, Salomon (2000) afirma que a qualidade da
construo de uma teoria cientfica se mede pela qualidade de concepo do fato que tenha
seu autor. Afinal, o pensar referencialmente pensar o fato j caracterizado pelo referencial,
por exemplo, pensar sociologicamente o mesmo que pensar o fato social da mesma forma
que pensar psicologicamente pensar sob o referencial da psicologia. J se determina o que e
como pensar.
Outra questo: o homem pensa atravs dos dados? Para Salomon (2000), o dado s h de ser
pensado em termos do contexto ou sob determinado referencial, como algo que se acha
imediatamente presente no sujeito. Se o dado fruto da experincia do sujeito, ento ele
concreto (histrico, poltico, econmico e social). Se concreto, plural. Logo, no h
concretamente o dado, h dados (SALOMON, 2000, p. 107). Desta forma, no se pode falar
em dados brutos, dados desorganizados ou dados elaborados. Ele algo conforme a
concepo dada por algum, que o estruturou com base no referencial que adotou consciente
ou inconscientemente. Os dados s so problemticos quando o pesquisador no toma
conscincia do suporte referencial que est por trs deles.
188
Resumindo, tem-se que: (1) dado no , rigorosamente falando, uma entidade concreta. uma
entidade abstrata, ou melhor, abstrada do concreto e transformada em idia universal; (2)
dados que so concretos; (3) a pluralidade dos dados implica na aceitao de que quando se
fala de dados, estes sempre indicam um referencial, por isso todos so experimentados ou
experimentveis, percebidos ou perceptveis. E o referencial que leva o pesquisador a
adjetivar e precisar os dados.
comum identificar-se dados com coisas, acontecimentos, fenmenos, fatos, etc, passando a
consider-los fora de ns (devido ao referencial), como entidades concretas em ns
(devido referncia do suporte referencial) e como formas e abstraes dos dados em ns.
Assim, a abstrao, enquanto operao lgica, no se enderea generalizao e
universalizao da proposio diretamente. S atravs da anlise e da dialtica que se
consegue isso (SALOMON, 2000). A abstrao tem como funo despluralizar (o que
corresponde a singularizar) os dados, inclusive quando os dados so assumidos como
enunciados ou proposies. O resultado desta despluralizao o dado (= o dado em si) -
abstrao ltima que j nos lana alm da lgica: para a ontologia (SALOMON, 2000, p.
108). Salomon (2000) recorre a Kant, atravs do pensamento problematizador e problemtico
do mundo contemporneo e a Popper atravs da teoria da falseao para criticar a lgica
indutiva como nico mtodo de se construir cincia. Para ele, o indutivismo radical cria
problemas de pesquisa problemticos justamente por causa da adoo de um referencial no
obedecido: o da sistematizao matemtica-indutiva da realidade. Nesta concepo no h
lugar para a dialtica. O autor se filia concepo de que nem o dado nem o posto so
propriamente a realidade, mas modos de enfrentar a realidade (SALOMON, 2000, p. 110).
A crtica a que Salomon (2000) faz ao no-lugar da descoberta, chega ao extremo do que ele
caracteriza de falta de tica degradante da razo silogstica: a converso da tcnica em razo
suprema (SALOMON, 2000, p. 112). Devido ao sucesso do emprego de tcnicas no mbito
da justificao, houve o endeusamento de duas grandes expresses: a tecnologia e a
tecnocracia. E o autor se questiona: a que levar esta direo do programa, se tambm ela j
se mostra hipostasiada pela primazia da operao sobre o operante?
Esta preocupao compartilhada por outros autores como Althusser (citado por SALOMON,
2000, p. 112):
A soluo a esta inverso entre objeto e sujeito na pesquisa s pode ser alcanada atravs do
uso co SuRS adequado, que restabelecer o a ordem entre os fatos e as coisas, sendo o
primeiro a representao do segundo. Salomon ressalta o brilhantismo de Foucault ao
perceber, no livro As palavras e as coisas, que toda reflexo que se prope um problema
real enfrenta desde o incio o conflito entre o fato concreto (as coisas) e sua representao
atravs de idias e palavras.
No havendo uma lgica suprema a qual se deva prestar contas acerca do pensamento e do
discurso, a no ser coerncia interna ao prprio discurso, no h por que temer o libelo do
falso ou verdadeiro, correto ou incorreto fora dos limites adotados pelo SuRS. A crtica da
razo h de exercer-se pela prpria razo situada no interior do processo e no pela lgica
reconstruda fora do processo.
Assim, o discurso do mtodo s pode ser considerado legtima resposta questo do fato se
for adotado o mesmo SuRS da teoria a que serve. Por exemplo: para uma concepo marxista
de materialismo, o SuRS deve seguir a teoria do materialismo histrico de Marx, para uma
concepo positivista do fato social, deve-se utilizar o SuRS de Sociologia de Durkheim, e
assim por diante. No adianta querer contrapor SuRS antagnicos, mesmo quando os lexemas
so os mesmos, porque eles carregaro um suporte referencial diferente entre si.
Salomon (2000) estabelece os critrios que devem ser seguidos para se proceder corretamente
na soluo da questo da pesquisa atravs do SuRS: (1) usar os recursos lingsticos da
prpria teoria adotada; (2) somente recorrer a contribuies s teorias afins; (3) nunca
desligar-se dos fatos que geraram a teoria em questo: historicidade, pluralidade, concreo,
totalidade e socialidade; e (4) vigiar o discurso, desde o incio, contra trs tipos de ameaas
constantes: o psicologismo, o historicismo e o logicismo.
Esta questo foi muito atacada pelos positivistas e neopositivistas que reforam que sua
postura epistemolgica no fruto de ideologia e sim da exigncia da postura cientfica
adequada ao campo da descoberta. Os dialticos, conforme Salomon (2000) nunca se
preocuparam com esta questo pela prpria concepo de movimento desta vertente, em que
se mistura o subjetivo com o objetivo, em uma construo contnua de si mesmo.
Salomon (2000) faz algumas consideraes acerca do uso do SuRS: seu objetivo no aceitar
como ponto de partida a chamada racionalidade humana. Seu propsito encontrar, no
demonstrar. ir ao fundo do poo. enfrentar o cogito sem medo e se descobrir no meio do
cogito (SALOMON, 2000, p. 35).
O que caracteriza a descrio dialtica do conhecimento e a distingue das demais que ela
firma trs propriedades do conhecimento enquanto fato: (1) praticidade: todo conhecimento
prtico, pois emerge da experincia, da prtica, pois somente esta pe o sujeito em contato
com realidades objetivas; (2) socialidade: o conhecimento humano social e na vida social
que descobrimos outros seres semelhantes sob os quais agimos e vice-versa estabelecendo
relaes mais ricas e complexas; e (3) a historicidade: o conhecimento humano tem um carter
histrico, pois todo conhecimento adquirido e conquistado. Ele no imediato nem
revelado, supe um suporte referencial como ponto de partida e mtodo para se conseguir
realizar o processo de conhecer e atingir o resultado.
Nesta perspectiva, tanto o pensar reflexivo como a pesquisa so processos, iniciam-se com
perguntas, com problemas e no com premissas. Ao formular tais perguntas, h necessidade
de se estabelecer um suporte referencial para, no mnimo, aclarar a natureza do problema e
contextualizar a questo. Assim, o SuRS deriva de um processo em contnua-descontnua
transformao (SALOMON, 2000, p. 43).
Para explicar de forma didtica o que SuRS, Salomon (2000) divide-o em seus trs
elementos: suporte, referencial e superao.
Suporte significa que ele uma estratgia e ao mesmo tempo uma ferramenta e exige a
conscincia do problema e deciso para adot-lo. Pode-se inferir que por trs de todo
191
pensamento, de todo discurso, de todo processo de conhecer haver sempre um topos, que no
SuRS se identifica com o suporte. ele que d a direo do processo de pensar e agir, do
prprio discurso e at da problematizao. Como o termo suporte indica, ele a escora e a
segurana de ponto de partida do processo. Na prtica identifica-se por um momento com o
conjunto de conhecimento tido e a nosso dispor, bem como com o cabedal de perceptos que
guardamos em nossa mente e que diante de uma situao nova brotam no nvel da conscincia
britam estimulados pela situao nova que se enfrenta, no ato da contrastao. Donde se
conclui: o suporte faz parte e a garantia da prpria problematizao (SALOMON, 2000, p.
56).
Referencial, porque o suporte de refere a, faz referncia, toma um contexto, um aspecto, uma
perspectiva, um momento no tempo, um lugar fsico, um topos lgico etc como referentes. O
referencial surge da necessidade de se estabelecer um processo claro e definido, atravs de trs
processos: (1) a dependncia de nosso pensamento de algo alm do compromisso de ser
pensamento; (2) a riqueza operacional do pensamento que pensa, formaliza, dirige, manifesta,
analisa, conclui etc; e (3) a falta de algo que fosse ao mesmo tempo situador do pensamento,
orientador do pensamento, legislador do pensamento, promotor do pensamento, controlador
do pensamento e julgador do pensamento (SALOMON, 2000, p. 57).
H de se observar que o SuRS no apenas o aspecto sob o qual se pensa, se enuncia etc.
algo muito diferente e muito mais rico, porque como toda realidade que se descobre,
descobre-se o concreto. Sendo concreto, plural. Ele no aspecto, so aspectos. No
forma, porque contedo e forma contedos e formas. Sempre em interao (SALOMON,
2000, p. 58).
A superao, por mais que tenha o significado de abolio de um termo ou um ser superado,
no utilizada neste sentido pelo autor. Ele a utiliza na concepo de dialtica de Hegel,
significando elevao a um nvel superior, o confronto mais intenso mais agudo, mais real das
teorias ou dos seres. Esta palavra preferida comum concepo de sntese na dialtica
hegeliana, por esta significar o mecanicismo, a sntese obtida pela mistura dos ingredientes,
por uma construo ideal, a partir deles, de uma unidade.
Assim, superao significa tomar de cada doutrina o que ela tem de com e super-la. No
significa sair do dogmatismo e ir para o ecletismo (o que seria um grande erro). Na superao,
o que superado abolido, suprimido em um certo sentido. No obstante, em outro sentido, o
superado no deixa de existir, no recai no puro e simples nada; ao contrrio, o superado
elevado a nvel superior, justamente porque serviu de etapa, de mediao do resultado
superior.
O relgio SuRS
QUAIS?
COMO?
QUANDO?
PARA QU?
ONDE?
Assim, o fluir de nosso pensamento que estamos tentando aprisionar numa imagem, para
poder compreend-lo e dele tirar o mximo proveito (SALOMON, 2000, p. 64). No relgio
SuRS pode-se fixar cada ponteiro (minuto e hora) em um dos pontos e estabelecer entre
eles uma relao espao-tempo. Enquanto o ponteiro menor detm-se fixo (mas s
aparentemente), o ponteiro maior est constantemente girando e avanando: imagem do
processo ou do movimento que a realidade.
O ponteiro menor indicar o suporte inicial; fixa-se assim o primeiro interrogativo e, fazendo
sucessivamente girar o ponteiro maior, os demais interrogativos vo fornecendo os
referenciais de superao. Nesta sucesso, os dois ponteiros ou os dois eixos vo construindo
o suporte referencial de superao do pesquisador para enfrentar a realidade ou, mais
precisamente, a problemtica apresentada ao pensamento e ao do pesquisador. Salomon
(2000) afirma estar convencido de que a tcnica do relgio pode ser usada com grande
proveito na anlise de contedo e at mesmo na anlise de discurso.
O QUE ?
Conceito de
QUAIS? Sociologia COMO?
Sociedade Ideologia
Indivduo
Famlia
QUANDO? Preconceito
PARA QU?
ONDE?
Utilizando o exemplo de Horkheimer e Adorno (1973), citado por Salomon (2000), digamos
que o pesquisador est na fase de situar o termo ideologia e na fase inicial de problematiz-lo.
Para formular o problema, objetivando pensar e esboar o discurso que utilizar, o
pesquisador faz girar o ponteiro maior a partir do primeiro interrogativo, enquanto mantm o
ponteiro menor firme no item ideologia. medida que avana o ponteiro maior, o pesquisador
vai detendo-se em cada interrogativo e desde o primeiro procura esgotar tudo o que sabe sobre
aquele ponto e ao mesmo tempo registrar o que no sabe e se interessa em saber. Comeando
a operao, teria provavelmente:
1)O que ? Ideologia? o mesmo que concepo filosfica? atitude intelectual de apego
rgido s idias? etc
2) Como? surgem as ideologias? Como se apresentam? Um discurso?etc
3) Por qu? surgem as ideologias? Tm alguma relao com a problemtica social? Com o
pensamento de um lder carismtico?
E assim o ponteiro maior iria percorrendo os diversos e inmeros interrogativos. Uma reviso
posterior avaliaria os problemas formulado e sob o crivo da crtica seriam selecionados os
pontos que mereceriam ser desenvolvidos.
Para finalizar, cabe ressaltar que Salomon (2000) acredita que o SuRS pode ser aplicado para
a formulao de problemas de uma pesquisa de dissertao ou tese, bem como ao processo de
conhecimento.
Referncias
Resumo
Como o marketing tem sido pesquisado por seus estudiosos? Ser que h algum outro
paradigma presente, alm do funcionalista nos estudos desta rea? Como seus pesquisadores
tm tratados as questes simblicas do marketing? Com o objetivo de responder a estas
questes, este estudo apresenta uma anlise qualitativa sobre as pesquisas simblicas
desenvolvidas na rea de marketing, extrados dos anais do EMA 2004 e 2006 e ENANPAD
1997 a 2006. A analisa dos trabalhos nos mostra que existe um grupo de pesquisadores de
marketing que atuam fora do paradigma funcionalista, levando nosso olhares para os
fenmenos da rea. Porm, ainda persiste o paradigma funcionalista, percebido atravs da
objetificao de elementos simblicos no paradigma reinante.
Introduo
Apesar dos grandes avanos tericos e prticos promovidos por esta abordagem para o
desenvolvimento do marketing, os pesquisadores sabem das limitaes e refraes pertinentes
abordagem funcionalista: objetificao extrema, crena na reprodutibilidade dos fenmenos,
anlise totalizante das variveis e busca da padronizao nos construtos.
A fim de analisar a realidade mercadolgica sob outras lentes, tem surgido um novo perfil de
pesquisador, advindo de reas de fronteira, como antropologia, sociologia, psicologia e
comunicao, ou mesmo pessoas da rea de administrao que beberam nas guas de
disciplinas de simbolismo, cultura e sociedade. Estes novos pesquisadores trazem novos
olhares para os fenmenos mercadolgicos, atravs do uso de abordagens interpretacionistas,
buscando romper com o paradigma funcionalista. Isso pode ser percebido nas publicaes
nacionais da rea pelo aumento deste tipo de trabalho nos ltimos 5 anos.
Esta outra forma de se analisar os fenmenos de marketing agregam pontos positivos tais
como: nova forma de avaliar as questes sociais; crtica sociedade de consumo; melhor
compreenso da cultura local; adequao do marketing realidade nacional. Porm, para que
os estudos sejam realmente interpretativistas, necessrio que seus pesquisadores abandonem
os princpios funcionalistas. Essa no uma tarefa fcil, pois, na origem, estes preceitos so
ideolgicos (SALOMON, 2001). Um dos grandes riscos que podem existir o pesquisador
utilizar-se dos conceitos da abordagem interpretativista e objetific-la atravs de um olhar
funcionalista, que pode estar presente no mtodo de pesquisa ou mesmo nos seus objetivos.
196
Anlise Terica
Existem vrias definies para smbolos, mas basicamente vamos considerar que um smbolo
algo que substitui outra coisa (pessoas, eventos ou objetos), ou seja, representa outra coisa.
Assim, existe uma relao, a relao simblica pela qual o homem apreende o mundo e que
forma o que se chama de universo simblico. O simbolismo permite que o homem se adapte
realidade atravs de relaes irreais. Alis, essa uma caracterstica inerente ao ser humano,
pois capaz de se guiar e se adequar ao meio ambiente atravs das relaes simblicas. Dessa
forma, o homem capaz de criar o mundo e para tal, utiliza uma outra funo particular dos
seres humanos que a linguagem. (AUGRAS, 1967).
Acerca dos contextos, esse autor considera que os mesmos so maneiras de se compreender
uma situao. So formas de se interpretar e esquemas cognitivos ou heursticas desenvolvidas
por meio da experincia ou da observao que faz com que cada pessoa seja capaz de
compreender determinados acontecimentos. Para facilitar a criao desses contextos, o
homem, por exemplo, verifica o local, os bens materiais envolvidos, se possuem periodicidade
e quem participa de terminada situao.
Para Girin (1996), as organizaes concretas possuem duas caractersticas. A primeira refere-
se ao fato de coordenar entre elas atividades orientadas para objetivos especficos. Alm disso,
a partir da conceituada Escola Humanista, verificou-se que nestas organizaes tambm
existiam espaos sociais entre os diversos atores que ali interagiam e que a Escola Clssica
sozinha era incapaz no s de explicar porque algumas empresas tinham melhor produtividade
que do outras, como tambm sozinha no era capaz de transformar e aumentar a produtividade
dessas empresas. Portanto, identificou-se que as relaes entre os membros da organizao era
um fator que influenciava o trabalho desempenhado pelos mesmos e que a ordem social e
obviamente, os simbolismos eram fundamentais para manter o equilbrio entre os participantes
dessas organizaes. Por conseguinte, as organizaes possuam uma dupla face: uma
voltada para os objetivos empresariais e a outra voltada para o espao social dentro das
mesmas.
CULTURA
De acordo com Hall (1997), uma das maiores dificuldades existentes atualmente dentro das
cincias sociais relacionada ao termo cultura e sua definio. De forma mais ampla como
descreve esse autor, o termo cultura pode ser definido como aquilo que melhor j foi escrito,
pensado e falado dentro de uma determinada sociedade e se relaciona com as artes (pintura,
literatura, msica e afins) ou atividades de lazer de forma em geral. Atualmente refere-se ao
modo de vida das pessoas. A cultura oferece um sentido para as pessoas que participam de um
determinado grupo social atravs de significados das prticas dessas ou de outras pessoas,
bem como significados de eventos e objetos.
Segundo Barbosa (1996), a cultura utilizada para administrar diferentes sociedades, atravs
de valores contextualizados constantemente, sempre que necessrios e o compartilhamento de
valores similares.
Ocorre, do meu ponto de vista, uma grande confuso entre identidade e cultura. O fato
de as empresas, no Brasil ou em qualquer outro lugar, perceberem-se diferentes no
implica a existncia de uma cultura diferente. A identidade o conjunto de elementos
que, numa determinada circunstncia e momento histrico, um determinado grupo
escolhe para se autodefinir ou representar. , digamos, a conscincia do meu estilo, da
minha tradio versus a dos demais e no pode ser confundida com um sistema cultura
198
De acordo com Martin (2002), existem trs perspectivas tericas a respeito da cultura dentro
das organizaes. A primeira delas a perspectiva de integrao, a qual se atm ao consenso e
s consistentes interpretaes que existem sobre a cultura de uma determinada organizao, o
que gera uma harmonia e homogeneidade no interior da mesma. Esta perspectiva exclui
qualquer indcio de ambigidade.
Por ltimo, mas no menos importante Martin (2002) definiu ainda a perspectiva de
fragmentao, a qual reconhece a ambigidade e a falta de consenso que podem existir entre
as diversas manifestaes que ocorrem dentro das organizaes. Nesse caso, o consenso
temporrio e especfico, sendo que a multiplicidade de comportamento entre os membros
dessas organizaes aceitvel e compreensvel. Segundo essa autora, alguns estudiosos
consideram que a perspectiva de fragmentao normal e inevitvel em funo das diferentes
interpretaes que existem entre os membros que pertencem a empresas.
Apesar de aparentemente serem contraditrias, Martin (2002) descreve que todas essas
perspectivas so complementares entre si, e podem existir de certa forma
concomitantemente no interior das empresas. Outro ponto que merece destaque que essas
mesmas perspectivas so teis e valiosas no processo de entendimento e estudo das culturais
organizacionais de forma simultnea no seqencial.
Alm dessa classificao, Ppin (1998) analisou tambm a ordem metodolgica para o estudo
da cultura. Assim identificou dois grupos. O primeiro aquele em que seus membros
acreditam que a cultura uma varivel dependente e dessa forma, a mesma pode ser
controlada, manipulada ou alterada quando for necessrio. Esse autor considera que esse
grupo tem uma orientao funcionalista. Assim, as empresa alm de criarem produtos e
servios para o mercado, elas tambm criam a sua prpria cultura atravs de lendas, ritos,
mitos, smbolos e afins, os quais so transmitidos s novas geraes de empregados.
(BARBOSA, 1996).
Por outro lado, existe o grupo que acredita que as prprias empresas so a cultura. Nesse caso,
a orientao desse grupo foi conceituada como interpretativa, onde a mesma quase
autnomo exterior empresa e exterior empresa o de compreender a cultura e no
simplesmente agir sobre a mesma. (PPIN, 1998) Para essa abordagem, Barbosa (1996),
considera que a cultura trazida por seus membros para dentro das organizaes onde atuam.
Contudo, segundo Ppin (1998), ambas abordagens trabalham a cultura de forma a minimizar
as contradies e os conflitos dentro das organizaes. Por isso, esse autor sugere ainda uma
terceira abordagem que ele denominou de crtica, a qual utiliza alguns conceitos
funcionalistas e interpretativistas, mas que procura escapar das caractersticas de
homogeneizao dentro das organizaes que permeia as organizaes.
Por outro lado, a importncia de ser conhecer a cultura da empresa j foi identificada pelos
profissionais organizacionais inclusive a mesma afeta o desempenho econmico das
empresas. Essa importncia torna-se ainda mais visvel a partir do ambiente globalizado que
tomou conta do mercado nas ltimas dcadas. A negociao entre empresas e governos
diferentes, bem como acesso a novos mercados por parte das organizaes, aliado ao fato do
nmero cada vez maior de fuses entre empresas do mesmo pas e de pases e continentes
distintos que agora tero de conviver sobre o mesmo teto. Assim, as empresas deixam de
ser simplesmente multinacionais, para serem transnacionais. (BARBOSA, 1996).
IDENTIDADE
De acordo com Berger & Luckmann (1985) a identidade a forma de grupos sociais se
reconhecerem entre si e dos indivduos se reconhecerem pertencentes a determinados grupos
atravs da percepo de tipos caractersticos. So importantssimos, pois, influenciam
diretamente o comportamento dos indivduos, seja nas organizaes, seja na sua vida
cotidiana.
A Teoria da Identidade Social (TIS) uma teoria cognitiva que assume que os
indivduos tendem a classificar a si prprios e aos outros em categorias sociais, e que
estas classificaes tm efeito significativo sobre as interaes humanas. (...)
Acreditamos que as localizaes categricas atribudas a uma pessoa por outras so
cruciais para o entendimento das implicaes plenas da identidade social. (...)
Acreditamos que a maneira pela qual algum definido por outros influencia sua auto-
identidade em algum grau, e tem efeitos em seus prprios mritos para afiliao ao
grupo. (NKOMO & COX JR.,2001:337-8)
Existem conseqncias da identificao de grupos por parte dos indivduos dentro do contexto
organizacional. A primeira delas que as pessoas em princpio escolhem as atividades e
empresas com as quais os mesmos mais se identificam. Alm disso, o processo de
identificao afeta o relacionamento entre os diversos grupos que existem nas organizaes.
Por ltimo, tem-se que a percepo da diferena entre os membros dos grupos aumenta a
competio entre os mesmos. Por isso, as duas ltimas conseqncias relacionadas
200
identidade grupal no contexto organizacional podem gerar conflitos e tenses entre esses
grupos diferentes. (NKOMO & COX JR., 2001)
No Brasil, ao contrrio do que ocorre em outros pases como o Japo ou os EUA, os alicerces
da identidade social no esto relacionados to fortemente com o trabalho e a ocupao das
pessoas. Nesses pases, a empresa onde voc trabalha ajuda a se posicionar dentro da estrutura
social local. Contudo, o que realmente importa no Brasil so as suas redes de relacionamentos
pessoais, bem como a famlia e os amigos (BARBOSA, 1996).
Para que esse processo de criao de identidades ocorra preciso que os membros de
diferentes grupos tipifiquem uns aos outros, ou seja, que a realidade seja apreendida atravs de
padres que determinados grupos iro apresentar de forma similar ou diferente em relao a
outros grupos. Por conseguinte, tem-se a estrutura social que a soma das tipificaes e dos
padres de interao estabelecidos por meio delas (BERGER & LUCKMANN, 1985).
IMAGEM
Para Alvesson (1990) o conceito de imagem no fcil de ser definido. Em algumas ocasies
refere-se ao modo que uma pessoa consegue perceber um objeto particular e outras vezes, diz
respeito aos atributos que se referem ao objeto. A imagem criada por aquele que percebe o
objeto e depende da sua vontade. A imagem existe, na verdade, entre aquele que recebe a
comunicao e aquele que comunica algo. A imagem construda a partir da emisso de um
determinado contedo, o qual interpretado pelo receptor e a partir desse processo de
interpretao que funciona como uma decodificao da mensagem tem-se uma verso
acerca da realidade de um determinado objeto, a qual a mensagem se refere. Obviamente,
nesse caso, a imagem se refere a uma verso do objeto real, e esse fenmeno repetidamente
pode ser constituir naquilo que se conceitua como universo simblico. Pode ser a imagem de
uma empresa, produtos, marcas e afins ou a reproduo de uma realidade, a qual interessa um
determinado grupo dominante (BOURDIEU, 1989).
A imagem corporativa representa uma impresso que um determinado grupo possui a respeito
de uma organizao. A criao dessa imagem depende do processamento de informaes
tcnicas, bem como de informaes elaboradas para adaptar a sua imagem perante o seu
pblico-alvo e da divulgao das mesmas. A imagem, desse modo, pode ser conceituada como
o resultado das intenes de determinados grupos em influenciar a percepo de outros grupos
atravs de tcnicas de gesto. Ela faz parte da realidade, mas incapaz de afetar o objeto o
qual se refere. (ALVESSON, 1990).
constante com o objeto. Assim, o relacionamento entre a imagem e o objeto a que se refere
ambguo. Em relao formao da imagem, quatro tendncias atualmente so importantes
para se compreender as mudanas na formao das imagens: a mudana cultural, aumento da
complexidade e da turbulncia do ambiente, expanso do setor de servios e o papel da mdia
de massa. (ALVESSON, 1990).
REPRESENTAES SOCIAIS
Corroborando com o que as idias de Minayo, Spink (1995), descreve que os estudiosos desse
assunto tm por obrigao que conhecer e situar as condies sociais que esto presentes no
ambiente das representaes sociais que se deseja estudar, ou seja, conhecer o contexto de
produo da mesma. Alm disso, Minayo (1995), explica que as representaes sociais devem
ser consideradas como a matria-prima para a anlise dos contextos sociais, pois, so capazes
de refletir a realidade de acordo com os segmentos da sociedade que esto representados na
mesma.
Minayo (1995) procurou estudar o conceito de representaes sociais a partir das definies e
caracterizaes de trs autores fundamentais dentro das Cincias Sociais: Durkheim, Weber e
Marx. Em relao ao primeiro, Minayo (1995) explica que as representaes sociais so
utilizadas para que a sociedade possa conhecer e expressar a realidade atravs de categorias de
202
pensamento, as quais surgem a partir de fatos sociais, ou seja, elas no so naturais ou dadas,
pelo contrrio, so construdas pelo homem na verdade a sociedade - e influenciam e so
influenciadas por essas representaes sociais. Algumas so mais importantes dentro do
contexto social e possuem certa autonomia como a religio e a moral. Contudo, muitos
crticos contestam a abordagem utilizada por Durkheim principalmente no que se refere ao
poder de coero que a sociedade impe aos indivduos.
Em relao a Max Weber, Minayo (1995) descreve que esse autor trabalha com o que ele
chama de viso do mundo, a qual definida tanto pelos bens materiais quanto pelas idias
que so juzos de valor que as pessoas possuem -, onde esses elementos influenciam uns aos
outros. Nesse caso, os indivduos tm uma influncia muito maior acerca da realidade que
eles mesmos percebem. Apesar disso, Weber descreve que os fatores econmicos so
importantes e que em determinadas condies econmicas, possuem grande influncia sobre a
formao das idias dos indivduos. Por isso, a importncia dada por esse autor sobre a
compreenso dos fatores econmicos, polticos, culturais e sociais em determinados contextos
histricos para a formao das idias. Nesse sentido, o estudo emprico dos fatos histricos
ganha importncia na obra e pensamento desse autor.
Alm disso, Weber trabalha fortemente para tentar identificar quais os fatores que influenciam
mais fortemente as representaes sociais. Nesse meio tempo, acredita que os grupos
dominantes so os maiores responsveis pela criao, aceitao e disseminao da viso de
mundo que uma determinada sociedade possui.
Por ltimo, mas no menos importante, - segundo Minayo (1995) - Marx considera que as
classes sociais, as quais dependem da posse dos meios de produo e dos bens produzidos so
os fatores mais importantes para o desenvolvimento do modo de vida dos indivduos, bem
como a formao das suas idias e conscincia. Esta ltima, que determinada pela base
material dos indivduos, fundamental pois, define a percepo dos indivduos atravs da
formao das idias e pensamentos dos mesmos. Novamente, a linguagem ganha um papel
fundamental em relao ao simbolismo - e mais especificamente em relao s representaes
sociais no sentido de que para Marx, a manifestao da conscincia ocorre por meio da
linguagem.
Resumidamente, Minayo (1995) coloca que para Durkheim, os fatos sociais influenciam as
idias, enquanto que Marx considera que as bases materiais que definem as idias. Para
Weber, segundo esse autor, tanto as idias quanto a base material influenciam na concepo
das representaes sociais e que dependendo do contexto, elas podem ter maior ou menor
influncia nesse processo. O que une esses trs autores a importncia dada pelos mesmos em
relao ao estudo e conhecimento acerca das representaes sociais, as quais afinal constituem
o mundo percebido pela sociedade e obviamente, afeta a conduta coletiva das pessoas durante
a sua existncia.
Por outro lado, Minayo (1995) salienta a divergncia existente entre os trs autores:
A representao atua junto cultura, fazendo uma ligao entre o sentido e a linguagem
utilizada, ou seja, esta ltima utilizada para gerar um sentido a respeito de alguma coisa ou
algum para as pessoas. Isso significa que a representao pode ser entendida como o
processo de trocas e gerao de significados entre os membros de uma determinada cultura a
partir da utilizao da linguagem. Essa troca de significados pode ser relacionada ao mundo
real (pessoas, coisas, eventos, etc.) ou a um mundo imaginrio. (HALL, 1997)
Para que isso seja possvel, necessrio que as pessoas sejam capazes de organizar e
correlacionar as pessoas, objetos e eventos com uma representao mental dos mesmos que
existem na mente das pessoas e que dessa forma capaz de gerar significado para esse mundo
exterior que percebido, ou seja, gerar complexas relaes entre o que se percebe e o que se
entende do que se percebe. Assim, so criados os cdigos que auxiliam no entendimento do
mundo exterior por aqueles que compartilham a mesma cultura. Esse entendimento gera os
conceitos, e os cdigos, ento, so os responsveis pela associao entre conceitos e sinais,
atravs da linguagem que considerado o sistema de representao. A maneira de se entender
como tudo isso ocorre, como esses cdigos e significados so compartilhados, uma das
formas de se pensar sobre cultura. (HALL, 1997)
Segundo HALL (1997), existem trs abordagens que so capazes de explicar como o processo
de construo de representaes ocorre. A primeira delas a abordagem reflexiva ou
mimtica, na qual a linguagem funciona como um espelho do mundo real e desta forma o
pensamento se refere aos objetos, eventos e pessoas do mundo real como um reflexo dos
mesmos no mundo real, ou seja, existe um relacionamento direto entre os sinais ou palavras e
as coisas.
A outra abordagem descrita por esse autor a abordagem intencional. Nesse caso, o
significado da representao funciona de forma inversa da abordagem anterior, na qual uma
determinada pessoa deseja que a sua viso de mundo seja reconhecida e aceita pelas outras
pessoas. As palavras devem ter o significado compartilhado de acordo com interpretao
pessoal. Assim, utilizam-se discursos ou comunicaes com o intuito de atingir os seus
objetivos.
Por ltimo, mas no menos importante, tem-se a abordagem construcionista que advoga que o
sentido da linguagem no pode ser definido pela vontade de uma pessoa e nem por aquilo que
ela parece refletir ou significar. Na verdade, o significado das coisas deve ser elaborado como
uma construo social ou coletiva dos membros que pertencem a uma determinada sociedade
e que partilham essa cultura, ou seja, o conjunto de cdigos e sinais so organizados em
linguagens e estas so transmitidas para os outros em conjunto com significados das coisas,
204
pessoas e eventos e simbolizam tudo isso em relao ao mundo real. O mais importante o
carter simblico dos relacionamentos e das prticas que ocorrem, ou seja, os sistemas de
representaes so utilizados para criar sentido e a partir da, o significado do mundo
comunicado para outros.
Outro ponto a ser destacado abordagem de Foucault com respeito ao poder e sua relao
com o conhecimento, o qual pode ser utilizado para regular a conduta social das pessoas, ou
seja, o conhecimento capaz de fazer algo se tornar verdadeiro. Isso ocorre a partir do
momento em que algo aceito pelos membros da sociedade como sendo verdadeiro e a sua
justificativa para tal o conhecimento da pessoa que est por trs do discurso que contm a
verdade. Como o discurso permeia todos os nveis sociais, as relaes de poder tambm
permeiam e segundo esse estudioso, caracterizado como circular. (Hall, 1997)
SEMITICA
Segundo Hall (1997), a Semitica se refere ao estudo ou cincia dos sinais. Como j foi visto,
so os sinais que permitem que o significado das coisas possa ser entendido pelos membros de
uma determinada cultura e que compartilham desses sinais, ou seja, no somente a
linguagem e as imagens que so capazes de gerar significado; as coisas tambm possuem
significado. Uma roupa no somente uma roupa, ela pode significar status, estilo ou outro
atributo qualquer para um determinado grupo de pessoas. Evidentemente, esse processo de
extremo interesse para os profissionais de marketing. Dessa forma, Hall (1997) prossegue
argumentando que se pode considerar que a Semitica um veculo de comunicao e,
portanto, de sentido para a cultura. A sua grande preocupao concentra-se em como uma
linguagem relacionada s coisas pode criar sentido e conseqentemente uma representao.
Mais recentemente, um outro tpico importante para os pesquisadores diz respeito
abordagem do discurso, o qual se atm mais especificamente s conseqncias das
representaes criadas pelos discursos e obviamente, em relao inteno daqueles que
criam as comunicaes e como j foi descrito das suas conseqncias em relao ao grupo
de uma determinada comunidade e que partilha uma determinada cultura.
205
De acordo com Milani (2005), no existe consenso sobre a definio de capital social, apesar
de haver concordncia em relao sua importncia, o qual afeta o comportamento humanos e
as atividades sociais. Assim, o mesmo pode ser entendido como um conjunto de valores e
normas que organizam a existncia e a institucionalizao das organizaes. Est fortemente
ligado s relaes sociais. Capital seria algo que se tem como estoque ou disposio, ou seja,
um bem. Portanto, o capital social pode ser entendido como a disponibilidade de valores e
relaes, os quais so compartilhados pelo conjunto da sociedade.
Assim, tem-se as redes sociais, onde pelas quais, membros de diversos grupos so capazes de
compartilhar recursos fsicos e informao, tais como conhecimento, estatutos, capacidade de
comunicao, entre outros. As redes de relaes possuem a importncia papel de poderem
aumentar e intensificar o capital social entre os diversos membros da sociedade a partir do
compartilhamento, ou seja, elas possuem a capacidade de aumentar a acumulao de capital
social. (MILANI, 2005)
Metodologia
Em um total de 685 artigos (185 EMA e 500 ENANPAD) 45 apresentaram uma abordagem
simblica sobre o marketing, distribudos nas temticas abaixo:
TABELA 1
TEMTICAS DOS ESTUDOS SIMBLICOS EM MARKETING
Temtica Total
Cultura 9
Metodologia de pesquisa 9
Subjetividade 8
Representaes sociais 5
Interacionismo Simblico 4
Semitica 3
Imagem e identidade 2
Redes 2
Construo Social da Realidade 1
Tempo e Espao 1
FONTE: Dados Primrios / 2006
alguns casos, propor a adequao de mtodos de pesquisa oriundos de outras reas, como a
antropologia para o marketing. Este tipo de trabalho fundamental para a consolidao desta
abordagem no campo de marketing, pois auxilia os interessados a como se pode proceder nas
pesquisas de empricas desta abordagem.
Foi curioso perceber a consolidao de alguns autores neste tipo de abordagem, pela
persistncia de publicaes desta natureza. Os nomes mais presentes foram:
Este grupo de pesquisadores forma o que se pode chamar de uma nova gerao de estudiosos
de marketing, que buscam arejar a disciplina com outros olhares sobre seus fenmenos.
TABELA 2
Total
FONTE 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 geral
EMA - - - - - 6 - 15 21
ENANPAD 2 3 1 1 1 6 2 8 24
Total geral 2 3 1 1 1 12 2 23 45
FONTE: Dados Primrios/ 2006
Uma outra anlise muito relevante sobre a forma como os autores deste estudo se
propuseram analisar as questes simblicas sob a perspectiva interpretativista, presentes nos
objetivos, metodologia e resultados e/ou sugestes de propostas. Estes contedos sero
analisados por temtica.
Os estudos sobre cultura apresentam os dois tipos de estudo que motivaram esta pesquisa: os
que conseguem romper com o funcionalismo e analisar a realidade mercadolgica como
socialmente construda e os que utilizam elementos simblicos com objetivos funcionalistas,
como a criao de modelos e frmulas para ao gerencial.
207
Os estudos que focaram a subjetividade h os que tratam da questo sob um ponto de vista
interpretativista e outros que analisam sob a perspectiva funcionalista. Dentre os
interpretativistas, existem estudos sobre o consumo de luxo atravs das percepes dos
respondentes, as concepes antropolgicas acerca do consumo de perfumes, aplicao de um
estudo estrangeiro (o que muito comum na rea), mas no busca valid-lo ou torn-lo
padro, cumprindo o proposto de uma pesquisa interpretativista.
Aqueles que tratam do tema de forma funcionalista, percebeu-se que reificam a subjetividade
do sujeito medida que trata a experincia de consumo como uma varivel de pesquisa e no
mais como algo construdo pelo sujeito; tratam o consumo como experincia de forma
objetiva para a criao de modelo de marketing. Isso fica evidente no conceito de experincia
escolhido pelos autores, que exatamente o que j possui um esquema conceitual; usam
survey e anlise estatstica para validao de construtos.
208
Os trabalhos sobre interacionismo simblico tratam das questes pesquisadas com um olhar
genuinamente interpretacionista, sendo quase todos os trabalhos classificados como dentro
deste paradigma.
Mesmo tendo sido percebido o aumento do nmeros de trabalhos dedicados ao estudo das
questes simblicas, estas so tratadas de uma forma que as objetifica e as categoriza, em
busca de padres de comportamento e modelos capazes de explicar e prever os
comportamentos analisados.
sabido a importncia deste tipo de pesquisa para o avano da disciplina, porm, o que no
valorizado ainda na academia brasileira a diversificao de olhares sobre um mesmo
fenmeno, buscando compreend-lo em suas diversas facetas. Acreditamos que isto tambm
ocorra nos centros internacionais de pesquisa em marketing, havendo o domnio da
perspectiva funcionalista sob as demais.
Porm, vale lembrar que h sada e que elas so construdas por ns mesmo. No mbito do
marketing, h um pequeno grupo dedicado ao olhar interpretacionista sobre os fenmenos
desta disciplina. Talvez seja somente uma questo de tempo para que esse outro paradigma
seja incorporado agenda dos pesquisadores da rea.
Referncias
1 INTRODUO
Atualmente, diversos autores descrevem que a utilizao de recursos visuais como tcnicas de
pesquisa vem aumentando consideravelmente. Rocha-Trindade (1998), por exemplo, destaca
que as imagens desempenham um papel fundamental muitas vezes relacionados com os
objetos de estudo ou de investigao na arqueologia, histria, antropologia, sociologia,
medicina, entre outras. Para Leite, (1998):
As imagens podem ser grficas, ticas, perceptivas, mentais ou verbais, sendo que
cada uma delas passou a ser estudada independentemente por uma cincia ou por uma
das artes. Assim como a histria da arte e a crtica literria procuram estudar as
imagens grficas e verbais, a fsica, a fisiologia, a neurologia, a psicologia e a
epistemologia continuam buscando maneiras de estudar as imagens ticas, perceptivas
e mentais. (LEITE, 1998:41-42)
De acordo com Alegre (1998), foram nas cincias naturais que o emprego da imagem como
tcnica de pesquisa iniciou-se atravs de desenhos e ilustraes minuciosos e com a maior
preciso e fidedignidade possveis como parte fundamental do processo de observao.
Corroborando com essa afirmao, Turato (2003) descreve que a sculos passados, os
cientistas olhando para o cu, comearam a utilizar as imagens como tcnica de pesquisa e
coleta de dados para a para responder s suas inquietaes. Hoje, as imagens so uma fonte
importante de informaes sobre o passado, onde a reconstituio do ambiente familiar e da
vida cotidiana das geraes passadas so possveis de serem conhecidos (MARCONI &
LAKATOS, 2006).
At os dias atuais, as fotografias so utilizadas pelos cientistas em suas pesquisas para gerar
conhecimento. Na Astronomia, como as distncias so muito grandes, os pesquisadores
muitas vezes conseguem observar os objetos no mas toc-los. Assim, recentemente alguns
cientistas descobriram que existe gua em Marte, no em tempos remotos como acreditavam
anteriormente, mas atualmente. Essa descoberta foi possvel atravs de fotografias tiradas a
partir da rbita de Marte pela sonda Mars Global Surveyor. Os cientistas compararam imagens
fotogrficas tiradas em 2001 e 2005, e pelas diferenas observadas nas mesmas, constataram
que nesse perodo de tempo surgiram quedas dgua em dois pontos diferentes do planeta, ou
seja, fluxos de gua em Marte. (AGNCIA EFE e AGNCIA FAPESP, 2006).
Algumas das primeiras utilizaes no Brasil das imagens como tcnica de pesquisa foram com
os pintores-etngrafos (ALEGRE, 1998). Apesar das suas ilustraes estarem permeadas de
subjetividade, em virtude da viso de mundo de cada artista, eles so importante pois, se
tratam de documentos que retratam a realidade a partir da fidedignidade das suas criaes em
comparao com a realidade.
Entre as razes para a utilizao de imagens em pesquisas, Loizos (2002) destaca que a
imagem representa um registro importante acerca dos acontecimentos ou objetos reais, em um
nico momento ou como uma srie temporal. Alm do mais, as imagens podem servir tambm
como dados primrios acerca de mudanas nas caractersticas de objetos ao longo do tempo. E
por ltimo, mas no menos importante, com o crescente desenvolvimento das tecnologias das
informaes e comunicao, os mesmos esto cada dia que passa mais presentes na sociedade,
ou fatos sociais no sentido Durkheiniano (LOIZOS, 2002).
Complementando, as afirmaes acima, Bittencourt (1998), descreve que um dos auxlios das
imagens para os estudos sociais, que as mesmas representam a histria visual de uma
determinada sociedade. Assim, as imagens so capazes de registrar as principais
caractersticas da mesma ao longo do tempo e, portanto, so capazes de reconstruir a trajetria
histrica em relao aos grupos sociais e as suas inter-relaes, e at mesmo dentro de toda
uma determinada sociedade. Outro fato interessante, que a imagem capaz de congelar a
passagem do tempo, retratando em princpio de maneira fiel, um determinado objeto,
independentemente da poca em que foi criada a referida imagem.
As informaes encontradas em vdeos, fotografias e afins constituem uma base de dados que
a cincia no pode ignorar. (Peixoto, 1998). Alm disso, esse autor afirma que:
imagem traz de novo e qual a importncia do seu registro, para que no se faa do
audiovisual somente uma tcnica de ilustrao.
Nas abordagens mais clssicas, a imagem pensada somente depois da pesquisa, mais
como um complemento que traduz e divulga o que foi inicialmente percebido e
analisado de modo independente. (PEIXOTO, 1998:217)
Por outro lado, diversos pesquisadores, entre eles Leite (1998) questionam a primazia dada ao
sistema escrito dentro da produo e representao do conhecimento. Nesse caso, Bittencourt
(1998), Koury (1998) & Alegre (1998), afirmam que a imagem possui um papel secundrio,
muitas vezes sendo utilizada para a comprovao de que determinado objeto realmente possui
aquela forma descrita pelo pesquisador, ou seja, restringe-se ao aspecto documental da
realidade. Alm disso, a imagem muitas vezes ficou confinada s artes e cincias sociais,
simplesmente como um meio de ilustrao dispensvel (LEITE, 1998).
Por outro lado, uma das limitaes da imagem que o mundo real, tal como o percebemos
atravs da viso, possui 3 dimenses. A imagem, capaz de retratar somente 2 dimenses
(LOIZOS, 2002).
Para finalizar, Samain (1998) coloca que existem formas diferentes de conhecer a realidade,
em funo do fato de que o ser humano capaz de se comunicar por vrios meios. Portanto, a
imagem uma tcnica factvel dentro do contexto da pesquisa cientfica.
O realismo atribudo imagem ou fotografia decorre do fato de que a nossa cultura somente
percebe os aspectos visuais, em detrimento a outras dimenses que a compem. Alm disso, o
realismo da fotografia fortemente questionvel devido ao fato de que a mesma possui um
forte carter de ambigidade em relao sua interpretao, ou convenes para a construo
da realidade, onde para a qual, o contexto cultural inerente, tanto para aquele que o criador
da imagem, quanto para os expectadores da mesma. (BITTENCOURT, 1998)
A semitica permite que o pesquisador conhea melhor as dimenses simblicas presentes nos
signos que formam a comunicao. Assim, possvel compreender de forma mais clara as
possveis interpretaes presentes na anlise de imagens. Esse fato ajuda a lidar melhor com a
subjetividade presente nesses processos de anlise, pois, as imagens no possuem a
capacidade de autenticar o real, como alguns ainda acreditam (ALEGRE, 1998).
Segundo Hall (1997), a Semitica se refere ao estudo ou cincia dos sinais. Como j foi visto,
so os sinais que permitem que o significado das coisas possa ser entendido pelos membros de
uma determinada cultura e que compartilham desses sinais, ou seja, no somente a
linguagem e as imagens que so capazes de gerar significado; as coisas tambm possuem
significado. Uma roupa no somente uma roupa, ela pode significar status, estilo ou outro
atributo qualquer para um determinado grupo de pessoas. Evidentemente, esse processo de
extremo interesse para os profissionais de marketing. Dessa forma, Hall (1997) prossegue
argumentando que pode-se considerar que a Semitica um veculo de comunicao e,
portanto, de sentido para a cultura. A sua grande preocupao concentra-se em como uma
linguagem relacionada s coisas pode criar sentido e consequentemente uma representao.
Mais recentemente, um outro tpico importante para os pesquisadores diz respeito
abordagem do discurso, o qual se atm mais especificamente s conseqncias das
representaes criadas pelos discursos e obviamente, em relao inteno daqueles que
criam as comunicaes e como j foi descrito das suas conseqncias em relao ao grupo
de uma determinada comunidade e que partilha uma determinada cultura.
De acordo com Penn (2002) a semiologia oferece um conjunto de ferramentas para que se
possa analisar de forma sistemtica um conjunto de signos e smbolos, com o intuito de
conhecer como os sentidos so gerados.
Para a aplicao da semiologia, necessrio conhecer algumas das diferenas entre imagens e
linguagens. Uma das principais que a primeira muito mais ambgua do que a segunda. Por
isso, observa-se que grande parte das imagens sempre possui algum tipo de texto que as
acompanha para diminuir essa ambigidade. Outro ponto importante em relao diferena
entre imagem e linguagem tanto na escrita, quanto na falada - que nesta ltima a ordem
dos signos j est pr-definida, pois, em geral, ocorrem de forma seqencial. Nas imagens, tal
pr-definio no ocorre, ou seja, suas relaes dependem da sua localizao espacial e no da
sua ordem temporal. (PENN, 2002).
Para Leite (1998), em relao s limitaes e potencialidade da utilizao das imagens como
tcnica de pesquisa, foi verificado que:
Segundo Alegre (1998), a imagem possui dois componentes. O primeiro deles conceituado
como denotativo e se refere capacidade da imagem em retratar a realidade em seus termos
visuais detalhes. Por outro lado, tem-se o componente conativo, o qual se atm aos aspectos
simblicos presentes na imagem. Assim, o componente denotativo lida com o aspecto literal
da realidade, enquanto que o componente conativo lida com o aspecto simblico da realidade
representada.
Segundo Loizos (2002), uma das crenas a respeito da fotografia que no verdadeira, e de
que a mesma universalmente percebida da mesma forma, independentemente dos contextos
sociais nos quais ela est sendo exibida, em outras palavras, o contedo de uma fotografia
sempre ser visto e entendido da mesma forma pelas pessoas. O que ocorre que a fotografia
ambgua, e por isso, diversas interpretaes so possveis e aceitas pelos indivduos.
Complementando o raciocnio acima, podemos considerar que a anlise de imagens possui
uma abordagem fortemente interpretacionista, e dessa forma, ela nunca produz uma verdade
nica ao final da sua anlise. As interpretaes sempre seguem-se umas s outras, em uma
cadeia sem fim (HALL, 1997).
4 - ETAPAS CONCEITUAIS
Como toda tcnica de pesquisa, os recursos visuais possuem cuidados com os quais o
pesquisador deve se ater. Primeiramente, antes de usar esses recursos, o pesquisador deve de
antemo, elaborar e planejar a sua pesquisa, isto , criar as hipteses, definir o que ser
observado e porque ser observado, refletindo sobre a importncia do que est sendo feito,
pois sem isso, a nica coisa que ir conseguir colher dados aleatoriamente e que
provavelmente sero inteis, alm disso, fundamental que exista uma teoria que guie o
projeto de pesquisa (PEIXOTO, 1998).
Alm disso, as observaes de fatos e fenmenos sem uma teoria a balizar as descobertas,
observaes e dados empricos no so justificveis, pois sem a teoria no se pode saber ao
certo o que procurar nos dados e nem se o que se achou era o que realmente se procurava
(DOMINGUES, 2004).
O referencial terico, os modelos e teorias que do apoio s aes dessa pesquisa, tambm so
fundamentais para o recorte que o pesquisador necessita fazer em seu trabalho, pois,
diminuem a arbitrariedade do mesmo ao considerar o que deve estar presente ou no em
relao pesquisa. Em relao a este aspecto, Kaplan (1975) argumenta que a delimitao da
pesquisa somente pode ser definida em relao ao contexto da pesquisa e que no existe uma
regra filosfica existente que estabelea regras para essa questo. Assim o pesquisador pode
utilizar quaisquer conceitos que julgue teis, desde que os seus argumentos tragam orientao
de como agir ou ento que possa ser verificado empiricamente.
O principal desafio para a utilizao de imagens como tcnica de pesquisa criar significado
em relao ao objeto que est sendo analisado. (ALEGRE, 1998). Assim, a compreenso
acerca do contexto em que foi colhido o dado, bem como o conhecimento acerca daquilo que
est sendo estudado, so fundamentais para que o pesquisador consiga efetivamente descobrir
algo que corresponde realidade.
Por outro lado, como destaca Alegre (1998), como uma imagem representa uma seleo por
parte do observador, em muitas situaes possvel conhecer mais sobre esse ltimo do que
sobre o objeto que est sendo retratado. Por exemplo, a viso ou expectativa do europeu sobre
os povos primitivos da Amrica nos sculos passados podem ser identificadas a partir das
verses elaboradas pelos primeiros.
Para se analisar as imagens, imprescindvel que o responsvel por esse processo, tenha um
conhecimento profundo do contexto no qual a imagem foi gerada. Se a anlise da imagem no
considerar o contexto pertinente sua elaborao, essa anlise, infelizmente, ficar incompleta
e no contemplar aspectos importantes a serem determinados na anlise (BITTENCOURT,
1998). Esse autor considera ainda que:
Corroborando com as observaes acima, Alegre (1998) destaca que para a adequada anlise
de imagens necessrio que o pesquisador conhea as diversas tcnicas de criao das
mesmas. Isso decorre do fato de que as tcnicas, escolas e estilos artsticos esto fortemente
relacionados com o contexto social predominante da poca em que os mesmos foram
elaborados (ALEGRE, 1998).
De acordo com Leite (1998), uma das regras para a anlise sistemtica de imagens a
ordenao temporal das mesmas em conjunto com uma ordenao em relao a alguma
caracterstica importante para o objeto da pesquisa. Assim, temos a classificao de acordo
com temas, signos ou smbolos que esto presentes na imagem. Alm disso, verifica-se que
no s a literalidade, ou seja, as caractersticas tcnicas ou visuais das imagens so utilizadas
no processo de pesquisa, como tambm aspectos relacionados conotao que as mesmas
possuem (ALEGRE, 1998). Corroborando com a explicao acima, Leite (1998), considera
que:
Uma das grandes questes que o pesquisador tem de ter em mente a capacidade de registro e
de representao do conhecimento que a imagem pode oferecer.
Assim, Koury (1998), descreve que a fotografia muitas vezes diferente do objeto
fotografado, pois dependendo do perodo de tempo entre a coleta da imagem e a sua anlise, o
objeto fotografado no mais similar quele da fotografia. Isso traz desafios e tambm
benficos, pois, a fotografia se torna a corporificao do passado atravs da imagem que ela
apresenta.
5 ETAPAS OPERACIONAIS
Em relao anlise semiolgica, Penn (2002), descreve os seguintes passos para que a
mesma possa ser feita:
6. A primeira coisa a ser feita escolher as imagens que faro parte do estudo.
Obviamente, esse processo depende do objetivo da pesquisa, do problema da pesquisa
e da disponibilidade de imagens. Alm disso, o processo de amostragem deve
contemplar, se possvel, uma amostragem representativa do universo de pesquisa. Caso
contrrio, descreva as implicaes disso para os resultados da pesquisa.
8. Nessa etapa, realizada a anlise dos nveis de significao mais altos (conotao,
mito e sistemas referentes), ou seja, so analisados aspectos conotativos, alm dos
denotativos que foram identificados na fase anterior. O conhecimento acerca dos
contextos culturais aos quais as imagens se referem.
217
9. Em tese, o processo de anlise nunca estar completo e, portanto, ele nunca terminar.
Sempre existiro alternativas diferentes ou novas interpretaes possveis para as
imagens analisadas. Para tomar a deciso de encerrar a pesquisa, o responsvel dever
verificar se os objetivos elaborados anteriormente foram alcanados. Alm disso, o
pesquisador dever verificar se todos os elementos denotativos foram identificados e
suas relaes recprocas foram analisadas e de que forma so estruturadas e descritas
nas anlises realizadas.
10. O ltimo passo se atm ao relatrio de pesquisa, o qual dever exibir os resultados
alcanados pela realizao da pesquisa. Assim, aspectos como formato da
apresentao, tabelas, estruturao, textos e as relaes entre esses elementos, so
importantes para que o conhecimento gerado possa ser efetivamente disponibilizado
para a sociedade.
Em relao s imagens, Peixoto (1998), explica que um dos primeiros passos do pesquisador
a classificao das imagens, de acordo com as questes propostas pela pesquisa, dito de outra
maneira, que seja coerente com aquilo que o pesquisador deseja descobrir. Rose (2002),
descreve os seguintes passos para que a anlise visual possa ser realizada de forma adequada:
11. Elaborar uma amostra e definir o material a ser gravado. O que ser gravado depende
da abordagem e do contedo selecionados na fase anterior.
12. Elaborar um critrio de identificao para aplic-lo junto aos componentes da amostra.
13. Criar uma codificao com o intuito de transcrever o conjunto de informaes, tanto
visuais quanto verbais e que ser utilizada na anlise de dados.
14. Elaborar regras para aplic-las aos dados transcritos. Essas regras permitiro confirmar
ou no uma teoria, anlise do material visual e verbal, bem como estudo da estrutura
narrativa, contexto e das categorias semnticas. No processo de transcrio de vdeo, o
pesquisador dever decidir como descrever os aspectos visuais, a luz, as musicas e at
mesmo as pausas. Isso depende da abordagem terica utilizada e por isso, nunca
haver uma anlise que capte uma verdade nica do texto. (ROSE, 2002:344).
17. Aplicar tcnicas estatsticas pertinentes com as caractersticas dos dados obtidos aps
tabulao e construo de tabelas.
218
18. Identificar outros dados ou citaes que ainda ofeream dados para a pesquisa e que
no foram tabulados e codificados, e que possam complementar a anlise quantitativa
a ser executada.
Por ltimo, mas no menos importante, Loizos (2002), apresenta um checklist de itens que
devem ser verificados no processo de anlise de informaes e objetos visuais:
9. O uso de uma gravao visual ir trazer uma melhora significativa para o resultado da
minha pesquisa?
10. Possuo as habilidades para registrar (som e imagem) de tal modo que consiga fazer em
mesmo a gravao?
11. Calculei o tempo necessrio para processar o corpo de dados visuais que resultara
dessa pesquisa?
13. Como tornar explcitas todas as decises de classificao feitas, quando estiver
analisando reas cinzentas de meus dados? Meus critrios so transparentes?
14. Expliquei adequadamente minhas intenes para as pessoas que sero filmadas e
obtive o consentimento por escrito? H algum sindicato, ou associao profissional
implicada, que deva ser consultada?
15. Conseguirei a liberao dos direitos autorais para publicar o material resultante? J
obtive a permisso escrita dos donos das fotografias pessoais ou dos vdeos?
6 - BIBLIOGRAFIA
Uma aplicao interessante do mtodo foi desenvolvida por Rockart (1979) no artigo The
executives defines their on data needs para definir necessidade de informaes de executivos.
Nesse trabalho Rockart mostra o fora e simplicidade do mtodo para elicitar necessidade de
informaes em que os prprios executivos definem como suas necessidades. Rockart aponta
como vantagem do mtodo: (a) simplicidade de aplicao duas entrevistas com poucas
perguntas; (b) capacidade de elicitao dos fatores determinantes de sucesso para alguma ao
do decisor; (c) que pode obter elementos essenciais do pensar do decisor em apenas duas
reunies.
O mtodo pode ser estendido a vrios domnios pois sua lgica compreende a explicitao de
fatores crticos de sucesso de X, onde X pode ser alguma abordagem sobre um fenmeno,
execuo de processo, forma de observar ou interagir com o mundo real.
Algumas formulaes podem ser feitas com o seguinte enunciado Quais (ou enunciar) so os
Fatores Crticos de Sucesso para: Dirigir de forma segura; obter um bom desempenho
organizacional; elabora um bom desempenho estratgico; expandir de forma segura para
novos mercados; dentre outros. Observar que, como se trata de Fatores de Sucesso a pergunta
deve ter algum adjetivo relativo a excelncia para conduzir ou induzir a abstrao do
enunciante.
mgico nmero sete mais ou menos 2 (apontado por Miller em seu artigo seminal sobre
limitaes cognitivas) se verifica sistematicamente.
Crticas que so feitas ao mtodo: (a) pressupor de que as pessoas conseguem enunciar fatores
de sucesso com rapidez e sua racionalidade seja a correta; (b) a limitao dos fatores
enunciados.
2- Fases do mtodo
A aplicao do mtodo pode consistir de uma ou mais fases, sendo aconselhvel no mximo
trs reunies.
Os fatores, ordenados, constituem uma lista categorias para anlise, ordenadas na seqncia de
maior para de menor importncia.
Opcionalmente sugere-se uma segunda reunio decorrida uma semana. Nesse tempo espera-se
que o decisor tenha esquecido do enunciou. Assim o roteiro se repete com a mesma seqncia
anterior.
Quando se adota duas fases podem surgir diferenas entre uma e outra lista. O pesquisador de
posse das duas seqncias de entrevistas deve agora compar-las tomando algumas decises.
Ao comparar as duas relaes, priorizando a igualdade e fatores, temos as seguintes situaes
e procedimentos
(a) As duas listas tem os mesmos fatores e mesa ordenaes ou com pequenas
diferenas. Essa a melhor situao e o resultado foi consistente;
223
(b) As duas listas tem fatores idnticos ou prximos, mas ordenados de forma
diferente. Nesse caso sugere-se uma terceira reunio para ajustes e desempate;
(c) Os fatores so muito diferentes. Nesse caso o entrevistado no conseguiu
enunciar os fatores de forma consistente e necessrio uma terceira entrevista
para ajustes seguindo os passos anteriores e escolhendo nessa tentativa a duas
listas que mais se aproximam.
Como extenso o mtodo pode ser aplicado a grupo de pessoas com a mesma seqncia de
operaes.
O exemplo a seguir foi apresentado por Rockart para elicitar necessidades de informaes
entrevistando executivos em clnicas diferentes. Nesse exemplo mostra-se tambm que
diferentes executivos, certamente, apresentam necessidades diferenciadas de informaes para
diferentes clnicas no mesmo grupo estratgico (Quadro 1).
Como modificao do mtodo observou-se que colocar uma coluna com explicao do fator
importante para identificar os conceitos operacionalizadores do fator.
ROCKART, John F. Chief Executives Define Their Own Data Needs. Harvard Business
Review. n 2, vol. 54. 1979
225
1. INTRODUO
Na concepo tradicional da cincia, um experimento uma investigao cientfica onde se
faz observaes e coleta dados de acordo com critrios explcitos. Como foi mencionado no
captulo anterior, um experimento verdadeiro possui as seguintes propriedades de
identificao: aleatorizao ou randomizao; emparelhamento; controle estatstico; e controle
de planejamento (MALHOTRA, 2001). Essas propriedades fortalecem o desenho do
experimento para testar relaes de causa e efeito.
Entretanto, nas cincias sociais, em alguns casos, o experimento verdadeiro resulta de difcil
aplicao porque existem muitas variveis envolvidas que no podem ser verdadeiramente
controladas. Por exemplo, difcil garantir a aleatoriedade para a aplicao dos tratamentos,
os sujeitos de pesquisa abandonam o tratamento. E finalmente, tratando-se de pessoas
possvel que apenas o ato de ser escolhido para ser para participar do estudo ou estudado,
influencie os resultados. Um exemplo clssico disto, bem conhecido na Administrao e na
Psicologia, o Efeito Hawthorne, significa que simplesmente porque os indivduos sabem que
so sujeitos de estudo, talvez eles respondam s questes ou se comportem de um modo
diferente.
A pesquisa utilizando o desenho quase-experimental assemelha-se ao experimento verdadeiro
porque os quase-experimentos tambm envolvem a manipulao de uma varivel, i.e. a
instituio de um tratamento. No entanto o controle experimental completo no possvel
porque alguma caracterstica do experimento verdadeiro est faltando. Talvez o controle no
seja possvel em virtude da natureza da varivel independente ou da natureza dos sujeitos do
estudo disponveis, ou a randomizao no est presente. Esta caracterstica enfraquece as
possibilidades de estabelecer inferncias causais ou de testar relaes de causa e efeito,
especialmente quando se realiza uma anlise quantitativa.
Nesse sentido, o presente captulo tem como finalidade introduzir uma possibilidade
escassamente explorada na literatura de metodologia de pesquisa nas cincias sociais. A de
realizar uma anlise qualitativa em situaes experimentais e quase-experimentais que
poderiam subsidiar no estudo exploratrio ou at explicativo dos fenmenos. A estrutura de
anlise a seguinte. Aps esta breve introduo, na segunda parte analisam-se os fundamentos
e da anlise qualitativa explicativo-causal que justificaria a anlise qualitativa de experimentos
e quase-experimentos como forma vlida de pesquisa. Na terceira parte, so apontados alguns
exemplos nas cincias sociais. Finalmente, so indicadas as possibilidades e limitaes desta
abordagem.
2. OS FUNDAMENTOS
Para alguns autores pode-se chamar como experimento qualitativo, na abordagem positivista,
aqueles desenhos ou situaes de pesquisa onde o que se busca, em geral, produzir uma
descrio, tipicamente sem o uso de nmeros, mas procurando estabelecer ou verificar a
causalidade. Nesse, sentido tambm se reconhece que essa anlise pode ser subjetiva
considerando que os resultados esto baseados no ponto de vista do experimentador-
pesquisador. Assim, so vrios os mtodos usados nos quase-experimentos ou experimentos
qualitativos dessa abordagem, como a observao direta, questionrios, entrevista em
profundidade, introspeco, etc. (WILSON, 1952; PATTON, 2002).
226
De acordo com Miles e Huberman (1994: 147) a viso tradicional de que os estudos
qualitativos so bons somente para estudos exploratrios e de desenvolvimento de hipteses, e
que explicaes consistentes, incluindo atribuies causais somente podem ser derivadas com
a utilizao de estudos quantitativos, particularmente com o clssico desenho de controle
experimental, est errada. Para estes autores a anlise qualitativa tambm pode ser um mtodo
poderoso de alcanar a causalidade. Esta idia est fundamentada em que a pesquisa
qualitativa:
a) pode identificar os mecanismos por trs da mudana de uma associao entre variveis;
b) intrinsecamente local, pode lidar bem com cadeias complexas de eventos e processos em
determinada situao;
c) pode esclarecer a dimenso temporal, mostrando claramente a precedncia ou ordem dos
fatos, seja por meio da observao direta ou pela retrospeco;
d) est bem equipada para ciclos para trs e para frente na relao de variveis e processos
mostrando que as histrias no so caprichosas, mas incluem variveis subjacentes, e que
tais variveis no so incoerentes, mas tem conexes com o passar do tempo.
Neste sentido, pela proposta de Miles e Huberman (1994) a causalidade nas cincias sociais
em ltima instncia local, ligada com eventos especficos prximos no tempo. As causas de
um evento particular so sempre mltiplas ou complexas, e no so somente mltiplas, mas
tambm conjunturais, se combinam e afetam umas com outras tanto como os efeitos. Alm
disso, efeitos de mltiplas causas no so os mesmos em todos os contextos, e diferentes
combinaes de causas podem originar efeitos similares. Assim, tem-se que pensar em causa e
efeito como um arranjo na forma de uma cadeia ou um sistema que muda no tempo, e no
simplesmente o estudo do impacto de A (ou C) sobre B, que poderia ser mais bem
caracterizado como uma relao de associao, e no realmente uma relao causal. A
temporalidade resulta uma questo crucial na determinao da causalidade, isto , rearranjar
os eventos em uma ordem causal razovel. Quando estamos interessados em saber como
determinado evento aconteceu em determinado caso particular, a identificao da causalidade
essencialmente um assunto retrospectivo. E finalmente o entendimento da causalidade pode
ser possvel pela identificao de conceitos abstratos e pela percepo de sua interao,
realizando uma anlise das variveis ou categorizao. Isto pode ser concretizado pela criao
e ligao de histrias, ou fluxo de eventos conexos no contexto, ou anlise dos processos.
Igualmente, para Patton (2002) na pesquisa qualitativa tambm necessrio ir alm da
organizao e descrio de temas, padres, atividades e contedos de um estudo. Isto ,
necessrio cruzar a lnea da anlise descritiva para a anlise explicativa ou de interpretao
causal, elucidando assim as relaes causais entre os processos e os resultados. E interessante,
por exemplo, saber quais eventos parecem conduzir aos outros, como quais aspectos de um
programa de treinamento produzem certos efeitos, e como estes processos conduzem aos
resultados, caracterizando reas para a interpretao e formao de hipteses.
A interpretao significa atribuir significado ao que foi encontrado, encontrar sentido aos
achados, oferecer explicaes, levantar concluses, extrapolar significados, fazer inferncias,
considerar significados e impor uma ordem sobre um mundo no disciplinado mas
seguramente padronizado (PATTON, 2002: 480). Nessa tarefa, tem que se lidar com
explicaes rivais, considerar casos extremos e irregularidades como parte da cerificao da
viabilidade de uma interpretao.
Logo, uma limitao particular, quando se ingressa no campo da interpretao das causas,
conseqncias e relaes, diz respeito nossa capacidade de sair da modelagem linear
227
Estr
a
Pesquisa Desenho
a esq stica Pur
atg Caminho
Naturalstica Experimental
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Coleta Coleta Coleta Coleta
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qualitativos quantitativos qualitativos quantitativos
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Realiza Realiza Realiza Realiza
anlise de anlise anlise de anlise
t
tal P
Contedo Estatstica Contedo Estatstica
Estra
ura
Estratgias Mistas
(caminhos do meio)
Ou seja, uma ampla variedade de combinaes metodolgicas poderiam ser usadas para
esclarecer o tema em questo. Por exemplo, misturando as entrevistas, observao e anlise
documental, com maior nfase em uma ou outra. De acordo com Patton (2002) essa
triangulao pode se dar dentro do prprio paradigma ou entre paradigmas diferentes, como se
apresenta na QUADRO 1.
controle
Qualitativa Naturalstica: Qualitativos: entrevista em De contedo: identificar padres nas
pura participantes profundidade, ou os participantes experincias dos participantes antes de
so so convidados a se autodescrever entrar no programa e aps a finalizao
selecionados e descrever seu mundo social;
pelo observao do pesquisador; em
pesquisador ambos momentos, ao incio e ao
final do programa
Forma Experimental: Qualitativos: entrevista em De contedo e temtico: identificar padres
Mista aleatorizao profundidade com os participantes nos participantes do grupo de tratamento e
da seleo e do grupo de tratamento e de de controle, antes de entrar no programa e
aplicao do controle; observao do aps a finalizao
tratamento e pesquisador; em ambos momentos,
grupo de ao incio e ao final do programa
controle
Forma Experimental: Qualitativos: entrevista em Estatstica: As entrevistas pr e ps-evento
Mista aleatorizao profundidade com os participantes so analisadas por um painel de expertos
da seleo e do grupo de tratamento e de que do um escore a cada entrevista em
aplicao do controle; observao do funo de vrias dimenses
tratamento e pesquisador; em ambos os operacionalizadas como escalas de 10
grupo de momentos, ao incio e ao final do pontos, sem conhecer a qual grupo
controle programa pertencem; comparao dos escores dos
grupos experimental e de controle
utilizando a inferncia estatstica; relacionar
as caractersticas pr com os resultados
Forma Naturalstica: Qualitativos: entrevista em Estatstica: As entrevistas pr e ps-evento
Mista participantes profundidade; observao do so analisadas por um painel de expertos
so pesquisador; em ambos momentos, que do um escore a cada entrevista em
selecionados ao incio e ao final do programa funo de vrias dimenses
pelo operacionalizadas como escalas de 10
pesquisador pontos, sem conhecer a qual grupo
pertencem; as mudanas no escore de cada
indivduo so utilizadas para predizer o
sucesso no programa em funo das
caractersticas pr; outras observaes
qualitativas so categorizadas e agrupadas
para ver o efeito da participao no
programa
Forma Naturalstica: Quantitativos: o avaliador inicia Estatstica: as freqncias da manifestao
Mista participantes sem nenhuma pressuposio das de comportamentos e interaes so
so variveis importantes nem de suas estatisticamente relacionadas com as
selecionados relaes entre elas; as variveis e caractersticas do grupo, como tamanho,
pelo categorias vo sendo criadas em durao das atividades, ndice instrutor por
pesquisador funo da observao de participante, densidade social, e fsica.
caractersticas, comportamentos,
interaes
Fonte: Fonte: Adaptado de Patton (2002: 249-251)
Contudo, como nas pesquisas sociais geralmente no so possveis de obter uma perfeita
aleatoriedade dos participantes, nem o controle total das caractersticas comportamentais, as
estratgias do QUADRO 1 podem ser combinadas com a utilizao de desenhos quase-
experimentais ao invs de experimentos.
Tratando-se de experimentos, estes tambm podem ser utilizados em conjunto ou como um
tipo dos estudos de caso. Yin (2001) concorda com Patton (2002) ao afirmar que os
experimentos no so a nica maneira de se fazer investigaes explanatrias ou causais. Os
229
estudos de caso podem ser utilizados com fins exploratrios, descritivos e explanatrios,
assim como h experimentos com as mesmas trs finalidades. Esta similitude deve-se a que
ambos o experimento e os estudos de caso respondem a questes do tipo como e por que
focalizando acontecimentos contemporneos, a diferena que o experimento exige controle
sobre os eventos comportamentais e o estudo de caso no. Evidentemente em se tratando de
pesquisa social o termo mais apropriado seria quase-experimento porque nessas situaes
usualmente no possvel obter controle sobre eventos comportamentais.
Segundo Scapens (2004), apesar de no existir uma distino clara entre os estudos de caso,
um estudo de caso experimental pode ser utilizado na aplicao de novos procedimentos e
tcnicas, o qual pode permitir examinar os problemas na implementao e avaliar os
benefcios potenciais. Um estudo de caso explanatrio procurar explicar as razes para as
prticas observadas em uma situao especfica. A teoria pode ser usada para compreender e
explicar a especificidade, ao invs de produzir generalizaes. Ou seja a teoria til desde que
permite ao pesquisador proporcionar uma explicao convincente das prticas observadas. Se
as teorias existentes no proporcionam explicaes consistentes, ser necessrio modific-las
ou desenvolver novas teorias, que podem ser usadas em outros estudos de caso. O objetivo da
pesquisa gerar teorias que proporcionem boas explicaes do caso. Em ambas situaes, a
anlise pode ser realizada utilizando tanto tcnicas qualitativas, quantitativas ou ambas.
Na seguinte seo apresenta-se a descrio uma aplicao das tcnicas auxiliando na anlise
das relaes causais qualitativas, utilizando as consideraes precedentes.
3. ALGUMAS APLICAES
H muitas circunstncias onde desejamos ganhar conhecimento sobre o impacto de uma
determinada estratgia de administrao ou de gesto. Por exemplo, avaliar os efeitos que
causam determinadas aes sobre o comportamento de clientes de uma empresa.
A aproximao qualitativa quase-experimental longamente patrocinada por Yin (2001) aplica
a lgica do experimento a esta situao. Um grupo experimental e outro de controle so
alocados de forma aleatria ou sistemtica, mas a mensurao ps-teste realizada
qualitativamente, tipicamente por meio de entrevistas ou discusses de grupo focais, e no
quantitativamente. Wilson (2004), por exemplo, comenta a avaliao de um sistema de apoio
tomada de deciso por meio de entrevistas com ambos os que tinham usado o sistema e
aqueles que no tiveram essa experincia, como forma de prover um teste para problemas
como o erro de historia - quaisquer variveis ou eventos, diferentes das manipuladas pelo
pesquisador, que acontecem entre a pr e ps mensurao e afetam o comportamento da
varivel dependente (O'HERLIHY, 1980). Outro exemplo avaliao etnogrfica de
Kennedy, Goolsby e Arnould (2003) de uma iniciativa para introduzir uma maior orientao
aos clientes em escolas.
Nesta seo apresenta-se um exemplo de aplicao de um desenho qualitativo quase-
experimental. Ryals e Wilson (2005) proporcionam um exemplo de uma mudana em uma
prtica de gesto.
Local: Uma companhia seguradora em Londres
Questo: que impacto tem a abordagem da gesto de contas chave (GCC), incluindo a anlise da rentabilidade
das contas, nas estratgias de administrao de clientes?
Desenho: Quase-experimental qualitativo (designao sistemtica de grupos)
Interveno: Proviso de dados de rentabilidade das contas para o grupo experimental de gerentes de conta
230
Mensurao (varivel dependente): Entrevistas de entrada e de sada (a equipe GCC e o grupo de controle):
explorao do impacto sobre a administrao de clientes
O desenho quase-experimental foi usado para investigar que mudanas na prtica da Gesto
de Contas Chave (GCC) aconteceram quando um grupo experimental de gerentes de conta
chave teve acesso a dados sobre a rentabilidade dos clientes. Esta companhia teve um nmero
relativamente pequeno de contas chave e tinha estabelecido um time de GCC para controlar as
relaes com seus maiores clientes. Foram realizadas entrevistas com o grupo experimental e
um grupo de controle para aumentar a confiana sobre as mudanas observadas no grupo
experimental, como resultado do projeto e no pela influencia de outros fatores de companhia
ou devidos ao acaso. Havia trs razes particulares para o controle das variveis estranhas.
Primeiro, porque estavam sendo discutidos ativamente dentro da companhia a gesto do
relacionamento e o desenvolvimento de estratgias especficas relacionadas aos clientes, o
estabelecimento do time de GCC era o efeito mais visvel de uma mudana cultural contnua.
Segundo, a passagem das contas muito maiores ao time de GCC poderia ter tido um impacto
nos recursos disponvel para as outras contas principais. Terceiro, outros fatores externos,
como mudanas no mercado ou das exigncias dos clientes, poderiam ter conduzido a
mudanas em estratgias de gesto dos clientes que teriam ocorrido independente da iniciativa
da mensurao da rentabilidade dos clientes.
Alocao dos grupos e administrao
O grupo experimental incluiu oito gerentes de conta que administram 18 contas. O grupo de
controle incluiu contas que eram principais mas no contas chave, administradas por trs
gerentes de conta no envolvidos no trabalho de rentabilidade dos clientes. Foram
entrevistados ambos os grupos de gerentes individualmente, com algumas modificaes no
questionrio de entrada no projeto e o questionrio de sada de projeto para o grupo de
controle. Salvo isso, o contato com gerentes de conta do grupo de controle foi evitado. Os
gerentes de conta do grupo controle no foram alertados sobre os resultados do projeto de
rentabilidade dos clientes at depois de ter sido completado.
O grupo de controle foi emparelhado com o grupo experimental em trs critrios: setor de
indstria; a portflio de produtos possuda pelas contas; e o grau de internacionalizao das
contas. Porm, eles diferiram no tamanho da conta, porque a companhia desejava que todas as
contas maiores tivessem acesso aos novos dados de rentabilidade. Este um exemplo da
impureza na alocao de grupos sistemtica que pode acontecer devido a critrios prticos de
administrao.
Resultados
Como o time de GCC aprendeu mais sobre a rentabilidade de seus clientes, eles fizeram vrias
modificaes estratgia de gesto de seus clientes, sendo as trs mais significativas as
seguintes.
1. servio diferenciado: Os gerentes de conta chave ficaram mais cientes dos nveis de servio
para clientes que eram marginalmente lucrativos ou no lucrativos, e s vezes recusaram a
gratuidade dos servios adicionais a estes clientes, ao invs comearam a negociar.
2. esforo de vendas seletivo: A profundidade de cobertura de vendas foi aumentada nessas
contas que ou eram mais lucrativas ou acreditava-se que tinham o potencial para se tornar,
para aumentar a participao no bolso deste negcio lucrativo por meio de novos produtos e
venda de servios.
3. despojamento seletivo de clientes: Em alguns casos, as contas eram afastadas da lista de
contas chave por no merecerem a abordagem intensiva dos recursos de GCC. Enquanto
231
mantidas como clientes da companhia, foi aceito que esta reduo do foco poderia resultar em
uma participao reduzida no bolso ou realmente uma perda total dos negcios destas contas.
Este uso qualitativo simples de um grupo de controle deu confiana a companhia seguradora
de que as mudanas na estratgia de gesto de clientes que tinham sido observadas durante o
projeto foram o resultado de melhor conhecimento por parte do time de GCC sobre a
rentabilidade de seus clientes.
4. POSSIBILIDADES E LIMITES
Os desenhos experimentais e quase-experimentais sob uma anlise qualitativa, podem trazer o
rigor de uma pesquisa quantitativa para a pesquisa social, subsidiando dessa forma a anlise
de fenmenos complexos, como a avaliao do efeito de novos projetos, introduo de novas
estratgias nas empresas, etc.
As limitaes da anlise quantitativa convencional so bem conhecidas. O teste de hipteses,
sendo sem dvida a tcnica estatstica mais comum para a gerao de concluses a partir dos
dados, no entanto no muito informativa. Enfatiza uma pergunta banal so duas estatsticas
derivadas dos dados idnticas?' cuja resposta , em sentido matemtico, quase inevitavelmente
No. O teste de hipteses ignora dois assuntos que so geralmente muito mais interessantes,
importantes e pertinentes: Qual o padro das estatsticas, e quais suas magnitudes de
variabilidade (erros padres, desvios padres). Assim, grficos das estatsticas pertinentes com
suas barras de variabilidade seria um modo substancialmente melhor de expressar os
resultados de um experimento.
De acordo com Miles e Huberman (1994) a representao grfica dos dados (data display)
um elemento fundamental na metodologia qualitativa. As melhores representaes grficas
so uma avenida fundamental para uma anlise qualitativa vlida, e, claro tambm (deveriam
ser) para toda anlise quantitativa sria. Todas as representaes grficas so projetadas para
juntar e organizar informao em uma maneira imediatamente acessvel e compacta, de forma
que o analista consiga ver o que est acontecendo e puxar concluses justificadas ou passar
para o prximo passo da anlise, que a representao sugere pode ser til. Voc conhece
aquilo que voc representa graficamente (MILES e HUBERMAN, 1994, p. 21).
O desafio principal na pesquisa qualitativa prtica a reduo dos dados. Na hora de coletar
informaes tudo parece importante, especialmente ao incio, e o analista-pesquisador quer
adquirir tudo. Porm, no final das contas, milhares de pginas de entrevistas e observaes
devem ser reduzidos a um relatrio curto. As tcnicas vlidas de reduo so essenciais. Caso
contrrio os dados interessantes, vvidos ou preferidos do observador podem distorcer as
anlises e concluses.
Algumas limitaes principais do desenho quase-experimental segundo Ryals e Wilson (2005)
so: o perigo de erro de seleo, devido a diferenas nos grupos de controle e tratamento
relevantes para a varivel dependente. O perigo de contaminao ou 'spillover' do grupo de
controle devido a sua proximidade com o grupo experimental.
Outros limites da anlise referem-se ao prprio desenho da metodologia qualitativa. Tais
como, a escolha do escopo terico como marco orientador, o que necessariamente conduz s
anlises que valorizam determinados aspectos da realidade em detrimento de outros. No se
pode desligar da relevncia que o pesquisador atribui aos processos interpretativos na relao
pesquisador-objeto pesquisado, exigindo uma contnua vigilncia epistemolgica (PATTON,
2002).
232
5. BIBLIOGRAFIA
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233
INTRODUO
O ttulo do presente captulo pode parecer um pouco contraditrio quando se pensa na tradio
dos experimentos na pesquisa positivista ou poder-se-ia pensar que se trata de uma abordagem
no quantitativa de um experimento positivista. No se trata de nenhuma das duas coisas, mas
de uma abordagem completamente diferente.
O objetivo resgatar a idia que os experimentos tambm podem ser abordados dentro de uma
perspectiva no positivista na sua concepo e na anlise, mas com a mesma idia
fundamental, a busca da explicao e interpretao dos fenmenos objeto de estudo da
cincia. Wilson (1952; 134) reconhecia que o sucesso no trabalho cientfico no garantido
por nenhum sistema mecnico de regras, mas em grande medida o resultado de fatores
incisivamente humanos. Nesse caso, tem se que reconhecer as limitaes do esquema causal
positivista, para serem complementados com outras abordagens como o esquema
hermenutico, dialtico ou heurstico. Os experimentos qualitativos oferecem esta
possibilidade quando utilizados isoladamente ou integrados com outras estratgias heursticas
na anlise dos fenmenos, especialmente nas cincias sociais onde estes so sempre mais
complexos.
O captulo foi estruturado da seguinte forma. Aps a breve introduo, na segunda parte
analisam-se os fundamentos e o suporte terico que permitem justificar a existncia de
experimentos qualitativos como uma forma vlida de pesquisa. Na terceira parte, se
esquematiza o processo de pesquisa com experimentos qualitativos e sua inter-relao com
outras abordagens no positivistas. A seguir so assinalados alguns exemplos realizados nas
cincias sociais. Finalmente, so indicadas algumas reas onde os experimentos qualitativos
seriam mais apropriados, as limitaes e complementaridades com outras abordagens e
tcnicas.
OS FUNDAMENTOS E OS CONCEITOS
Os experimentos qualitativos esto inseridos na abordagem heurstica qualitativa de pesquisa,
que surgiu como uma crtica abordagem hermenutica, mas sem mudar o seu objetivo de ir
alm da descrio, que quase sempre insuficiente, e dos esquemas causais da tradio
positivista. No esquema hermenutico, trata-se de compreender os fenmenos sociais tentando
capturar as intenes, motivos, fins e valores que os acompanham e os deflagram ou os
provocam (DOMINGUES, 2004; 91). Isto significa uma alterao, no somente observar as
mudanas por fora mas tambm para dentro. Mas a tradio interpretativa hermenutica
tambm apresenta problemas. Nesse sentido, segundo Kleining e Witt (2001) as metodologias
de pesquisa qualitativa nas cincias sociais deveriam ser heursticas, ou seja, dirigidas para
descobertas em lugar de interpretaes reflexivas.
Segundo Patton (2002: 107) a pesquisa heurstica uma forma de pesquisa fenomenolgica
que no busca o conhecimento na experincia causal. A procura heurstica de conhecimentos
focaliza-se em experincias humanas intensas, do ponto de vista dos pesquisadores. A
combinao de experincia pessoal e intensidade levam ao entendimento ou compreenso da
essncia do fenmeno. Porm, para Patton (2002) a proposta dos pesquisadores alemes,
como Kleining e Witt (2000, 2001), de uma heurstica qualitativa uma nomenclatura rival
da pesquisa heurstica de Moustakas (1990), previamente definida. A abordagem alem
234
enfatiza a introspeco como uma parte crtica do processo analtico, tambm presente na
tradio da psicologia humanista. A pesar disso nenhuma das duas pode ser derivada
diretamente da definio do dicionrio, onde segundo Patton, definida como tcnicas para
assistir a aprendizagem ou tcnicas para soluo exploratria de problemas, mas tambm no
a contradizem. Assim, a heurstica qualitativa tem suas prprias caractersticas.
Como afirma Cox (1995) o argumento central da proposta de Gerhard Kleining (1982) que a
descoberta direta (e no simplesmente a interpretao) da realidade social pode ser possvel
por uma estratgia de abertura (em lugar de fechamento) na pesquisa, nesse sentido est seria
um caminho alternativo.
Kleining e Witt (2001) apontam trs crticas ou limitaes principais da tradio hermenutica
ou paradigma interpretativo: a subjetividade inerente das interpretaes; a restrio da
Geisteswissenschaft (compreenso) ou a forma qualitativa de dados; e uma recente tendncia
de dissoluo de regras que dita uma crise na pesquisa qualitativa (DENZIN e LINCOLN,
1994, p. 577).
Segundo Kleining e Witt (2001) vrios estudos clssicos em psicologia e sociologia mostram
que estes problemas associados com a hermenutica podem ser superados usando estratgias
de pesquisa guiadas pela descoberta ou explorao. Assim, a metodologia heurstica
qualitativa est em linha com vrios estudos clssicos mas faz explcita sua deciso
metodolgica. Tambm reivindicado que no h nenhuma relao inerente entre a forma dos
dados -qualitativos ou quantitativos- e uma certa metodologia de pesquisa heurstica,
dedutiva, hermenutica - entretanto a pesquisa heurstica em psicologia e nas cincias sociais
pode ser realizada mais facilmente com dados qualitativos porque eles carregam significados.
Logo, depois de um olhar sobre os mtodos de descoberta nas cincias naturais Kleining e
Witt (2001) concluem que a descoberta deveria ser uma diretriz bsica para a pesquisa em
cincias sociais em geral. Poderia contribuir para reduzir as diferenas entre metodologias de
pesquisa qualitativas e quantitativas e possibilitaria estabelecer uma relao nova com as
cincias naturais que devem seu sucesso principalmente ao desenvolvimento de suas
capacidades exploratrias. O processo de pesquisa heurstico e de verificao de seus
resultados ser abordado resumidamente mais na frente.
Kleining e Witt (2001) do trs sugestes para lidar com os problemas ou limitaes da
hermenutica:
Segundo Kleining (1982) na relao mais bsica na pesquisa heurstica qualitativa, a relao
de sujeito objeto, o pesquisador aplica duas estratgias para descobrir o desconhecido, as
quais podem ser separadas analiticamente (FIG. 1): Ao - o investigador faz algo; ele leva
uma mo ou intervm na ocorrncia de tempo-espao e provoca mudanas, agindo assim gera
uma reao. Ele tambm julga ou avalia estas reaes para dar direo nova s aes dele. O
sujeito - que permanece como parte do ambiente sociocultural aproxima-se do objeto por
ao e avaliao de informaes.
Ao
Sujeito Objeto
Avaliao
Figura 1 Esquema da estratgia de pesquisa heurstica qualitativa, segundo Kleining (1982)
O pesquisador deveria estar aberto a conceitos novos e mudar seus preconceitos se os dados
no estiverem de acordo com eles.
O pesquisador deveria estar atento a que suas idias sobre o tpico poderiam ter que ser
mudadas durante o processo de pesquisa. Segundo Kleining e Witt (2001) isto no to fcil
quanto parece, como ns normalmente temos interesses adquiridos psquicos se no
emocionais tentamos sempre aderir ao que ns acreditamos e consideramos como dado. A
regra pede para os pesquisadores que mantenham uma posio flexvel. Se os dados so
constantemente diferentes deveramos pensar em mudar nossa posio, at mesmo se ns
temos que deixar de lado uma idia que parecia promissria.
Ns tentamos ento juntar aspectos que so to diferentes quanto seja possvel. Como fazer
isto? Kleining e Witt (2001) indicam que isso possvel com a experimentao baseada em
nosso julgamento. Se h suspeita de que um fator particular pode ter uma influncia nos
resultados, aquele fator deveria ser modificado. Considerar a observao como um exemplo.
Est claro que o resultado da observao influenciado pela pessoa que observa, ento os
observadores diferentes podem ser teis.
Se o gnero, idade, raa, nacionalidade, religio, atitudes, etc. dos observadores pode jogar um
papel na observao, estes atributos deveriam ser variados entre os observadores. Se as
categorias de observao puderem mostrar uma influncia, deveriam ser variados os modos de
observao, por exemplo, o local, tempo, condies sazonais, etc. Claramente as amostras
podem influenciar os resultados. Estas deveriam ser feitas ou preenchidas por respondentes
que diferem na sua relao com o tpico - se possvel devem representar agrupamentos
extremos. Isto no insinua a utilizao de amostras randmicas. Elas repetem a distribuio de
caractersticas da populao, da qual, essas unidades, so selecionadas e podem no refletir
posies suficientemente extremas em relao ao tpico sendo estudado. Os mtodos tambm
influenciam os dados em certo grau e segue que eles deveriam ser variados sob a terceira regra
que tenta alcanar diferenas mximas nos dados.
Kleining e Witt (2001) preferem a utilizao do termo variao que um conceito comum na
cincia e no vem necessidade para inventar um termo especial como triangulao. Se uma
aproximao de duas frentes substituda por uma multi-frente o termo variao oferece
uma melhor descrio. Em sntese: deveria ser aumentada a heterogeneidade dos dados o
quanto for possvel, mas sempre guardando relao com o tpico em estudo e as condies de
pesquisa particulares.
Esta atividade tambm pode no ser fcil para os cientistas sociais dado que o treinamento
cientfico enfatiza a observao de diferenas e no de semelhanas ou padres. Mas nas
semelhanas da vida cotidiana pode ser facilmente compreendida. Ns no reconheceramos
as pessoas, coisas ou situaes, se ns no tivssemos a habilidade para ver as semelhanas
dentro de nossa experincia diferenciada e apressadamente varivel e no poderamos
compreender a estabilidade e a constncia. Novamente h um processo. Ao comearmos as
anlises ns poderamos achar algumas partes dos dados homogneas ou coerentes, outras
heterogneas ou incoerentes.
Ns fazemos uma pergunta dirigida aos dados por exemplo, quais pessoas interagem e em
qual modo? Ns podemos agrupar as respostas ou partes coerentes e tentamos identificar
238
o que que os faz semelhantes. Uma maior quantidade de dados pode mostrar semelhanas
variadas.
Deste modo, vrios grupos de dados podem ficar visveis. O prximo passo ser achar as
semelhanas comuns em grupos diferentes de dados. Pode ser necessrio re-organizar os
clusters preliminares i.e. permitir que os dados apresentados por uma aproximao particular
se tornarem parte de outro agrupamento ou pertencer para vrios deles. Finalmente um padro
global emergir, enquanto integrando todos os detalhes no total.
Por exemplo, plantas, arbustos, rvores e animais diferentes debaixo de e sobre o cho, etc.
pode ser vista como partes de um particular ambiente ecolgico. Os ambientes diferentes
tambm podem ser relacionados uns aos outros de um modo especfico e em total formaro o
que experimentado como uma floresta. Para Kleining e Witt (2001) tem que ser estudada
uma floresta particular e real, no uma ideal, no a floresta per se. Assim, esta ter certas
caractersticas e estar em uma certa fase de seu desenvolvimento e tambm ser
relacionada a certos fatores externos, etc.
Consequentemente, a quarta regra demanda o cem por cento: todos os dados de fases
diferentes da pesquisa e vises diferentes do tpico tm que ter um lugar na coerncia
estrutural do total. No deveria haver nenhuma observao ou resultado de teste relacionado
ao tpico que no se ajusta como parte de um todo. A regra no debilitada quando os dados
esto incompletos ou fragmentados, ou quando no todas as perguntas so respondidas, ento
a ausncia de informaes no conjunto de dados deveria contradizer a anlise.
texto (quarta regra). A forma mais simples de duas unidades relacionadas. Elas se
confirmaro uma outra, assim como dois observadores diferentes ou observaes de um
evento que produz descries comparveis se confirmaro um ao outro. Este o padro
qualitativo de validao.
Segundo Kleining (apud COX, 1995) a experimento qualitativo est definido como a
interveno com relao a um assunto (social) que levada seguindo regras cientficas para a
explorao de sua estrutura (Kleining, 1986: 724). Deve-se notar que em contraste com o
experimento quantitativo, o experimento qualitativo aponta a descobrir quais relaes so
pertinentes, em lugar de testar variveis predeterminadas. Sua metodologia difere da prova
dedutiva de uma hiptese particular e bem definida.
Operaes deste tipo, se variadas, so usadas em combinao com outras tcnicas de coleta de
dados e podem ser ferramentas exploratrias muito efetivas. Na psicologia experimental
qualitativa foi um mtodo bsico. Por exemplo, Piaget fez uso extenso e altamente criativo
deles. O mtodo caiu fora de moda por influncia do deductivismo com poucas excees
(como discutido por Kleining, 1986). Os experimentos qualitativos principalmente na forma
de experimentos de pensamento (thought experiments) tem sido altamente importantes para a
pesquisa nas cincias.
Segundo Kleining (1986; apud COX, 1995) existem trs estratgias dentro do experimento
qualitativo:
Casos
classe estruturantes que esto por trs. A pesquisa qualitativa comparativa focaliza culturas ou
ambientes especficos aceitando s um grau limitado de variao cultural.
Dado o amplo objeto de pesquisa, anlise no nvel micro, meso e macro, comparao de
pases e estudo comparativo de diferentes grupos, o desenho de pesquisa utilizado gerou o
mximo de variao desejada. Isto permitiu utilizar a grounded theory, concebida em termos
de experimento qualitativo e de descoberta. A anlise emprica focalizada na importncia da
qualificao educacional e status de residncia durante entrada no mercado de trabalho.
Quatro grupos diferentes de casos empricos, que diferem com respeito ao nvel de educao,
o lugar de sua educao (no prprio pas-antes ou no estrangeiro-aps, a migrao) como
tambm o status de residncia-participao no mercado deles, sero comparados uns aos
outros. Para estudar as contingncias dos contextos meso e macro-sociais, a integrao do
mercado de trabalho foi examinado no contexto de Alemanha, Canad, Gr Bretanha e
Turquia.
Para Kleining e Witt (2000) as tcnicas exploratrias podem ser executadas com dados
qualitativos e quantitativos ainda que os dados qualitativos so mais facilmente acessveis e
mais significativos no seu contedo. O seu potencial exploratrio pode ser melhorado
estendendo a gama de mtodos - experimentos qualitativos, reais e cognitivos, tcnicas
introspectivas, amostras qualitativas maiores, mtodos novos para analisar textos como o uso
de experimentos qualitativos e observao qualitativa alm dos mtodos mais comuns como
observao, entrevistas, anlise de objetos, artefatos e documentos.
243
Kleining (1986) discute que os experimentos qualitativos podem ser considerados a forma
mais ativa de pesquisa qualitativa, logo o objetivo exploratrio dos experimentos qualitativos
deveria prevenir a destruio do assunto de pesquisa. Sua metodologia envolve uma utilizao
cuidadosa: a adaptao de mtodos para o objeto, a prova de limites, a maximizao gradual
ou minimizao de aspectos no objeto de pesquisa, o esquema de pergunta-resposta no
princpio geral de dilogo, se possvel com a participao direta desses sendo afetados.
O que Kleining diz pode talvez ser generalizada. O experimento qualitativo tem um tipo de
moralidade imanente, se por isto ns podemos entender a legitimidade da iluminao de
estruturas e condies das relaes sociais. Em outras palavras, segundo Cox (1995) ns
podemos agir como seres humanos, como participantes e como investigadores sem precisar
ser falsos nossas relaes com outros, sem destruir o contexto que estamos pesquisando, e
sem negar o valor de sociologia: em lugar de refazer simplesmente as prprias imagens do
grupo e confirmando seus quadros do mundo ns podemos oferecer uma autocompreenso
mais clara e um entendimento mais claro da sociedade mais ampla - que so condies
necessrias, se no suficientes, de mudana consciente.
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