3 FASES DA TAL-A Teoria Da Argumentação Na Língua e Sua
3 FASES DA TAL-A Teoria Da Argumentação Na Língua e Sua
3 FASES DA TAL-A Teoria Da Argumentação Na Língua e Sua
2014
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2176-9419.v16i2p331-364
Cristiane DallCortivo-Lebler *
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Vitria da Conquista, Bahia, Brasil
* Doutora em Lingustica e Letras pela Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul
PUCRS. Professora Adjunta do Departamento de Estudos Lingusticos e Literrios da Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia UESB, Vitria da Conquista, Bahia, Brasil. Professora colaboradora
do Programa de Ps-Graduao em Lingustica na mesma instituio; [email protected]
ISSN 1517-4530
332 Filol. Lingust. Port., So Paulo, v. 16, n. 2, p. 331-364, jul./dez. 2014
1 INTRODUO1
1 Este trabalho parte da tese de doutorado defendida pela autora no ano de 2013. Agradecimen-
tos especiais s professoras doutoras Leci Borges Barbisan (PUCRS), orientadora, e Marion Carel
(EHESS), orientadora no perodo de doutorado-sanduche realizado na cole des Hautes tudes
en Sciences Sociales.
2 Ducrot (1980a) apresenta um trabalho inicial sobre sua Teoria da Polifonia, que viria a desen-
volver de maneira mais consistente em Ducrot (1987b). No esboo apresentado em Les mots du
discours, o autor coloca os enunciadores como as origens dos atos ilocutrios, estes, por sua vez,
dirigidos a destinatrios. Tanto o conceito de enunciador como o de destinatrio foram abolidos do
modelo atual de concepo da Teoria da Argumentao Polifnica.
O que veremos nas prximas pginas que, embora a ANL tenha assu-
mido diferentes formas ao longo de seu desenvolvimento, os aspectos relativos s
hipteses externas, cruciais para a criao do modelo terico, no mudaram. Esses
aspectos so os responsveis pela delimitao do objeto pelo qual se interessa a
teoria, e pelo modo atravs do qual esse objeto ser estudado.
Tendo em vista o caminho assim percorrido pela ANL, desde seu funda-
mento at os dias atuais, nosso objetivo, neste artigo, trazer conceitos criados
por alguns dos autores, inspiradores do trabalho de Ducrot e seus colaboradores,
especificamente Plato, Saussure e Benveniste, e discutir o modo como, entre-
laados, transfigurados ou ressignificados, esses conceitos constituem as bases
sobre as quais se assenta a ANL ao longo de seu desenvolvimento.
2 O MECANISMO DA ANL
Para Ducrot (1980a, 1987a), uma pesquisa que se pretende cientfica deve obe-
decer a duas etapas sucessivas: a primeira delas, a etapa emprica, consiste em
observar os fenmenos que pretende explicar e que se produzem na natureza
de modo independente do seu observador. Um segundo momento caracteriza-se
pela construo de uma mquina capaz de reproduzir ou simular tais fenme-
nos, outrora observados. Partindo da observao de fatos F, produzidos de modo
natural por um mecanismo tambm natural M, esses devem ser reproduzidos
pelo mecanismo artificial M (que apresenta propriedades comuns a M), resul-
tando, dessa forma, em fatos produzidos artificialmente, denominados F.
No caso particular das cincias da linguagem, a representao lingustica F
construda a partir de F por meio de M se caracteriza por um conjunto de frmulas
de uma linguagem artificial, ou seja, de abstraes. Ducrot (1980a, p. 19) define
o modelo terico M como um corpo de hipteses expressas por uma linguagem
artificial. Sua concluso que se pode considerar M eficaz caso tenha sido capaz
de simular F de maneira anloga qual o mecanismo natural M produz F; M
deve ser capaz, da mesma forma, de reproduzir artificialmente outros fenmenos
de mesma natureza de F, como G, H e I, resultando nas descries G, H, I. Tais
fatos F, G, H, I, no caso da ANL, so discursos dotados de sentido, criados ou reais,
estabelecidos a partir de/em determinada situao discursiva, e que recebem do
linguista certa interpretao. Explicar esses fatos procurar qual o mecanismo
M responsvel por essa interpretao, considerada, do ponto de vista lingustico,
como parte do dado (Ducrot, 1980a, p. 20)3 (traduo nossa).
3 Expliquer ces faits, cest chercher quel est le mcanisme M responsable de cette interprtation,
interprtation considre, du point de vue linguistique, comme partie du donn. (Ducrot, 1980, p. 20).
4 A lngua um sistema que s conhece sua prpria ordem. (Benveniste, 1962/2005b, p. 98).
5 A mi juicio una investigacin no puede pretender tener carcter cientfico, o aun simplemente
serio, si no precisa primero cul es su observable, cules son sus datos, y si no distingue claramente
sus construcciones tericas de sus observaciones empricas. (Ducrot, 1990, p. 182-3)
6 Bien loin que lobjet prcde un point de vue, on dirait que cest le point de vue qui cre lob-
jet, et dailleurs rien ne nous dit davance que lune de ces manires de considrer le fait en question
soit antrieure ou suprieure aux autres. (CLG, 1916/2005, p. 23).
Se, por um lado, rios de tinta correram em direo a uma crtica postura
adotada por Saussure na escolha do objeto das pesquisas em Lingustica (opo
mal interpretada, seja pelos organizadores do Cours ou at mesmo pelos seus
leitores), por outro lado, com a descoberta de seus Escritos, tornou-se claro que
tal afirmao no deveria ser levada a seus extremos, e que a lingustica da lngua
nunca dispensou a lingustica da fala.
7 La langue nest cre quen vue du discours (...). Le discours consiste (...) affirmer un lien
entre deux des concepts qui se prsentent revtus de la forme linguistique, pendant que la langue
ne fait pralablement que ralizer des concepts isols, qui attendent dtre mise en rapport entre eux
pour quil y ait signification de pense. (Saussure, 2002, p. 277).
8 La linguistique qui peut servir lanalyse des textes, cest seulement une linguistique
qui se sert de lanalyse de textes. (Ducrot, 1980a, p. 7)
Para Saussure, a lngua constitui-se num sistema de signos onde todos os seus
termos so solidrios, no qual o valor de um signo resultante da presena con-
comitante dos demais. Desse modo, define o autor, o valor de qualquer termo
determinado por aquilo que o rodeia (Saussure, 2005, p. 162).
Sendo o valor algo que emana do sistema, aps serem analisadas as asso-
ciaes possveis em um sistema de valores que podemos chegar aos seus ter-
mos componentes e definir a associao entre significante e significado, no caso
do sistema lingustico. O valor, portanto, constitutivo do signo, o resultado do
cruzamento dos dois eixos, sintagmtico e paradigmtico, bem como da relao
arbitrria entre seus constituintes, o significante e o significado. O valor de um
signo, para Saussure definido como um elemento da significao que com ele se
confunde apesar de dele depender, aproximado do seu significado por alguns
autores como Ptroff (2004). Tambm Benveniste aborda o assunto em um de seus
artigos, afirmando que quanto mais penetrarmos no mecanismo da significao,
melhor veremos que as coisas no significam em razo do seu serem-isso substancial,
mas em virtude de traos formais que as distinguem (1963/2005c, p. 45).
A noo de valor, portanto, mostra a prevalncia do sistema sobre o sig-
no, e que a unio entre o significante e o significado no nada que se possa
determinar antes de analisar suas relaes com os demais signos, que so seus
limitadores no horizonte do sentido. Tomar a unio do significante e significado
como primeira em relao ao todo ao qual pertence implicaria duas contradies:
a primeira seria declarar o signo como anterior ao sistema e, com isso, atribuir-lhe
um carter independente e uma existncia prpria; seria admitir que o sistema
resulta do signo em lugar de cri-lo. A segunda contradio que a prpria noo
de sistema seria desfeita, pois o sistema caracterizado como aquilo que regula,
organiza, define e engendra seus elementos constitutivos por meio das relaes
entre os dois eixos paradigmtico e sintagmtico. Para Benveniste (1963/2005e,
p. 23), as entidades lingusticas no se deixam determinar seno no interior do
sistema que as organiza e as domina, umas em relao s outras. No tm valor a
no ser como elementos de uma estrutura.
A noo de valor o que existe de mais instigante na obra de Saussure.
possvel encontrar inmeros trabalhos que se dedicam especialmente a esse
Incorporando esse trao saussuriano, Ducrot traz para sua teoria o encerra-
mento da lngua em si mesma, do mesmo modo que Saussure, por acreditar que ela
no refere o universo que lhe exterior; bem como se ope ao cognitivismo lgico
ou psicolgico, pois as palavras no isolam ideias, conceitos ou pensamentos que
lhes so associados, elas apenas evocam representaes que lhe so constitutivas.
Ducrot (2006) retoma aquilo que denomina como o paradoxo saussuriano
do signo, segundo o qual o signo, entidade puramente relacional, tem seu valor
definido de duas maneiras: por um lado, fruto do lao arbitrrio que une sig-
nificante e significado e decorrente da relao com os demais signos do sistema;
por outro lado, o significado a contraparte da imagem auditiva, e tambm
a contraparte dos outros signos da lngua9. Na ANL, tais aspectos do valor lin-
gustico aparecem nos conceitos de interdependncia semntica e argumentao
interna e argumentao externa ao lxico. A interdependncia semntica enten-
dida como o valor decorrente da relao entre uma entidade lingustica e outra,
ambas colocadas em relao em um enunciado, como no exemplos Pedro feliz,
casou-se com Maria e Pedro feliz, arrumou um bom emprego, nos quais o valor
semntico de felicidade decorrente da interdependncia semntica ente os seg-
mentos ser feliz e ser casado com Maria, bem como ser feliz e ter um bom emprego.
J as argumentaes internas e externas ao lxico dizem respeito ao modo como
relacionamos a determinado termo discursos que possam lhe ser constitutivos
enquanto continuaes ou enquanto internamente determinados. O autor usa
amplamente, como exemplo, a argumentao externa do termo prudente, que
prev continuaes a ele do tipo Pedro foi prudente, logo no sofreu acidente, e
como argumentao interna do mesmo termo sentidos como Havia perigo por-
tanto Pedro tomou precaues.
(Cordero, 1993; Chambry, 1969, Paviani, 2001) que o mote da obra no pro-
priamente a definio do que seriam o Sofista, o Poltico e o Filsofo, mas sim
apresentar sua tese sobre o no-ser, em oposio tese de Parmnides sobre o ser.
A comparao entre esses trs personagens frutfera na medida em que, ao se
caracterizar um, definem-se as caractersticas dos demais. sob as dualidades ser/
parecer, original/cpia, verdadeiro/falso que os trs emergem e imergem na super-
fcie da sua conceituao.
No nos deteremos profundamente na questo implicada entre o ser10
parmenidiano e o ser/no-ser platoniano, pois nosso objetivo aqui apenas um:
mostrar como a noo de alteridade est presente nas teorias lingusticas que
abordamos neste trabalho, por meio do conceito de valor. A questo, no entanto,
complexa, e no temos a pretenso de esgot-la.
Para Parmnides, o ser e no pode no ser, ou seja, ele nega a existncia
do no-ser (fazemos referncia aqui ao segundo significado consagrado ao ser por
Abbagnano (2000), o da existncia). No entanto, esta definio do ser parmenidia-
no entra em contradio consigo mesma, pois afirmar o que quer que seja sobre o
no-ser, mesmo que essa afirmao seja dizer que ele no existe, admitir, parado-
xalmente, sua existncia. O ser, desse modo, caracterizado como positivo, cuja
negao inconcebvel, contrariamente definio de Plato, que afirma que o ser
no , e lhe caracteriza pelo aspecto negativo. esse segundo conceito de ser que
encontraremos nas teorias lingusticas que abordamos neste trabalho, pelo qual as
palavras se definem pelas suas oposies, e por aquilo que elas no so.
Para Plato, (Cordero, 1993, p. 39) o ser e o no-ser formam os dois lados
de uma medalha, um no existe sem o outro, eles so reciprocamente constitu-
dos. Noo semelhante encontrada no CLG, quando da sua definio de signo
como uma folha de papel, segundo a qual o verso e o anverso so formados pelo
significante e pelo significado (CLG, 1916/2006, p. 131): tanto na dualidade ser/
no-ser platoniana quanto na dualidade do signo significante/significado impos-
svel produzir um corte em que essas duas faces possam ser dissociadas, ao mes-
mo tempo que cortamos um, automaticamente o outro recortado.
A dualidade dos lados pode ser tambm outra, a interior versus exterior,
segundo a qual o lado interno o que olha para dentro das coisas e o limitador
10 A noo de Ser aqui entendida de duas formas, segundo as definies de Abbagnano (2000)
do verbete Ser: Segundo o significado predicativo, ser entendido grosso modo como quando se diz
alguma coisa de algo, como por exemplo O homem bom, segundo o qual predica-se a noo de
bondade ao homem. O segundo significado o significado existencial, pelo qual quando dizemos
que algo , estamos afirmando sua existncia. Por exemplo, o enunciado O homem afirma a
existncia do homem.
o seu exterior, que contata com as demais coisas. Segundo Cordero (1993), o
lado externo denominado por Plato como a regio do outro, fazendo apa-
recer a dualidade ser/no-ser na relao interno versus externo, sendo o interior
aquilo que cada coisa por oposio ao seu exterior, que, por sua vez representa
tudo aquilo que cada coisa no . Essas afirmaes nos remetem para a noo
de sistema saussuriano, segundo o qual o signo s em relao aos demais, o
seu interior limitado pelo seu exterior, pelos demais elementos da lngua, seu
valor decorre da relao interno/externo. isso que faz com que cada coisa seja
algo idntica a ela mesma, mas diferente das demais, que no seja somente o
que ela , mas que seja diferente das demais que evoca. Cordero (1993) expressa
tais noes com preciso:
11 La rgion extrieure, autre, diffrent, est constitu, par rapport chaque chose, par tout ce
quelle nest pas. Il ne sagit pas dune classe vide, ni dun pur nant. Chaque chose est celle quelle
est (...) mais nest pas toutes les autres choses, dont le nombre est trs certainement infini. Ce do-
maine, par rapport chaque chose, est le non-tre. (Cordero, 1993, p. 54)
12 Ltre, qui chappe aussi la chosification, devient une vritable puissance qui amne les ra-
lits se mlanger, et cest grce ce mlange que les choses sont. Cest dans cette possibilit de
communication avec dautres ralits que chaque chose arrive constituer son essence: toute chose
est, en effet, la Mme quelle mme, et diffrente des autres; voil ses limites, cest dire, son essen-
ce. (Cordero, 1993, p. 25)
13 Dire quune chose nest pas, cest dire quelle nest que diffrente dune autre. (Cordero,
1993, p. 26)
14 O conceito de escalas argumentativas, elaborado por Ducrot (1980b), situa-se na primeira
fase da ANL, a Forma Standard. A Forma Standard (FS) foi substituda, mais tarde, pela Forma
Standard Ampliada, composta pela Teoria dos Topoi e pela Teoria Polifnica da Enunciao. Tanto
a Forma Standard quanto a Teoria dos Topoi foram contestadas por ferirem princpios que orientam
os estudos desenvolvidos pela a Argumentao na Lngua: a primeira feria o princpio da relao, ao
tomar separadamente argumento e concluso; e a segunda feria o princpio saussuriano da imann-
cia da lngua, ao inserir em seus pressupostos tericos o conceito de topoi, ou princpio argumenta-
tivo, considerado como exterior linguagem.
15 Ver tambm Ducrot O. Los efectos semnticos de las operaciones sintcticas. In.: Carel M,
Ducrot O. La Semntica Argumentativa: una introduccin a la teora de los bloques semnticos.
Buenos Aires: Colihue; 2005, no qual Ducrot aborda a gradualidade expressa pela adio de dema-
siado, muito e um pouco a expresses da lngua e as explica segundo a TBS.
demais. Digo que o que possui naturalmente uma potencialidade qualquer, seja
de agir sobre qualquer outra coisa, seja de sofrer uma ao, por menor que seja e
do agente mais insignificante, e ainda que uma s vez, tudo isso um ser real
(Sofista, 247e)16 (traduo nossa)17. Para Plato, a potencialidade de se comunicar
com as demais formas d-se de dois modos, portanto, seja pela capacidade de
sofrer uma ao, ou de agir sobre algo. Na linguagem, essa potencialidade no se
expressa pela capacidade de agir ou sofrer ao, mas pela potencialidade de uma
entidade combinar-se com outra ou de a ela se opor, seja na cadeia sintagmtica,
seja na cadeia paradigmtica, e dessa potencialidade nasce seu valor.
Ao introduzir o no-ser, representado pelo Outro, bem como o Mesmo,
entre as Formas j determinadas, quais sejam, o Movimento, o Repouso, e o Ser,
Plato demonstra, finalmente, como identidade e diferena participam da natu-
reza das coisas, fazendo-as ser e no ser ao mesmo tempo. Clebre a citao que
trazemos do Sofista: E ns diremos que ela [a forma Outro] penetrou em todas
as formas, especialmente porque cada uma diferente das outras, no por sua
prpria natureza, mas porque ela participa da ideia do outro. (O Sofista, 255e)
(traduo nossa)18. Para Paviani (2001), a diferena, ou o que Plato chama Outro
aproximada alteridade, e a identidade aproximada ao Mesmo. Para ele, o ser
mltiplo, repouso e movimento, enquanto o no-ser infinito: identidade e
diferena, dois princpios supremos que diferenciam as coisas umas das outras.
Com a participao do Outro nas Formas, encontramos no uma oposi-
o, mas uma diferena: a oposio da natureza de uma parte do outro e da na-
tureza do ser, dada a contraposio das duas, no tem menos existncia, se assim
posso expressar-me, do que o prprio ser, pois ela no indica absolutamente o
contrrio do ser, porm algo diferente dele (O Sofista, 258b) (traduo nossa)19,
e ainda quando enunciamos o no-ser, no dizemos, ao que parece, qualquer
coisa contrria ao ser, mas apenas outra coisa qualquer que no o ser. (O Sofista,
16 Usamos neste trabalho a edio francesa do Sofista: Platon. Sophiste Politique Philbe
Time Critias. dition tablie par mile Chambry. Paris: Flammarion, 1969.
17 Je dis que ce qui possde naturellement une puissance quelconque soit dagir sur nimporte
quelle autre chose, soit de subir laction, si petite quelle soit, de lagent le plus insignifiant, et ne
ft-ce quune seule fois, tout ce qui la possde est un tre rel. (Sofista, 247e).
18 Et nous dirons quelle a pntr dans toutes les formes car chacune en particulier est autre
que les autres, non point par sa propre nature, mais parce queelle participe lide de lautre (Le
Sophiste, 255e).
19 Lopposition de la nature dune partie de lautre et de la nature de ltre, quand ils sont opposs
lun lautre, na pas, sil est permis de le dire, moins dexistence que ltre lui-mme; car cest nest
pas le contraire de ltre quelle exprime, cest seulement autre chose que lui. (Le Sophiste, 258b)
20 Quand nous enonons le non-tre, nous nnonons point, ce me semble, quelque chose de
contraire ltre, mais seulement quelque chose dautre. (Le Sophiste, 257b)
21 Une valeur dsigne quelque chose quelle dfinit apparemment, mais elle est toujours le
rsultat dun jeu de combinaisons lintrieur de son propre systme. (...) Tout est relatif sans
quon puisse jamais trouver quelque chose de donn, de positif , tout est ngatif et diffrentiel
(Ptroff, 2004, p. 192).
22 La valeur ne sajoute pas en quelque sort au signe en tant quunit, cest elle qui est lunit. Il
nexiste pas de valeur en soi, absolue. Ce qui caractrise donc tout systme des valeurs, cest que les
valeurs sont dfinies par leurs coexistence mme. (Ptroff, 2004, p. 216/168)
No podemos, portanto, dizer nada sobre o que uma coisa parece ser, mas
apenas em que ela difere das demais, e isso o que caracteriza a alteridade. Tal
ideia est associada caracterizao do valor no signo de Saussure. Vejamos algu-
mas passagens do CLG nas quais a definio pela diferena aparece.
23 Aqui fazemos referncia especialmente a Charles Bally, que na sua teoria sobre a Estilstica
introduz a distino retirada da filosofia medieval entre dictum e modus, aquele fazendo referncia
estrutura de sentido frasal e este atitude do sujeito diante do dito. Esses conceitos so abordados
por Ducrot no captulo chamado nonciation et polyphonie chez Charles Bally em seu livro Logique,
Structure et nonciation (1989).
24 Nous parlons dautres qui parlent, telle est la ralit humaine (Benveniste apud Dessons,
2006:107)
25 Benveniste a rencontr Saussure dans ce quil a pu connatre de ses crits. (Normand, 2006, p. 72)
26 Retomamos o artigo de Benveniste apenas para mostrar em que medida a ANL toma os con-
ceitos da Teoria Enunciativa de Benveniste, o que, portanto, no faz dele nosso objeto de estudo
propriamente.
1970/1989b). Tu, assim como o outro, exterior ao eu, e como diria Plato, per-
tence regio do outro, que Benveniste chama de eco: aquele a quem se diz tu
e que, pela polaridade e reversibilidade dos papis, torna-se o eco daquele que
enuncia, e tambm lhe dirige a palavra denominando-o tu. Dufour (2000)
muito preciso ao falar sobre as correlaes propostas por Benveniste:
27 Le sens de lnonc, cest, por moi, une description, une reprsentation quil apporte de
son nonciation, une image de lvnement historique constitu par lapparition de lnonc.
(Ducrot, 1980, p. 34)
28 Ao longo da obra de Ducrot, alguns conceitos passaram por mudanas, especialmente em rela-
o sua denominao. Um deles o conceito de frase, que na data em que o artigo do qual tiramos
essa citao foi escrito, Ducrot, em muitas passagens, a tomava por sinnimo de enunciado. No
entanto, fazemos a correo entre colchetes para nos mantermos fiis ao texto original sem que haja
prejuzo conceitual para nosso trabalho.
29 Ds quon parle, on parle de sa parole. (Ducrot, 1980a, p. 40)
30 Para maiores detalhes sobre a Teoria da Polifonia, consultar Ducrot (1987b), Carel e Ducrot
(2008); Carel e Ducrot (2010); Carel (2011).
6 PARA FINALIZAR...
31 Pour devenir, au moins um peu, consciente delle-mme, une recherche linguistique doit tou-
jours, me semble-t-il, sacompagner une rflexion sur la tradition linguistique. Autrement, on ne
sait plus tu tout de quoi on parle. (Ducrot, 1989, p. 5)
REFERNCIAS
Benveniste E. Saussure aps meio sculo (1963). In: Benveniste E. Problemas de lingus-
tica geral I. Campinas: Pontes Editores; 2005c.
Chambry E. Notice sur le Sophiste. In: Platon. Sophiste Politique Philbe Time
Critias. Paris: Flammarion; 1969.
Dosse F. Histria do Estruturalismo: o campo do signo. v.1. Bauru, SP: EDUSC; 2007a.
Ducrot O. Los efectos semnticos de las operaciones sintcticas. In: Carel M, Ducrot
O. La Semntica Argumentativa: una introduccin a la teora de los bloques semnticos.
Buenos Aires: Colihue; 2005.
Platon. Sophiste Politique Philbe Time Critias. dition tablie par mile
Chambry. Paris: Flammarion; 1969.
Saussure F. Note sur le discours. In: Saussure F. crits de linguistique gnral. Teste
tabli et dit par Simon Bouquet et Rudolf Engler. Paris: Gallimard; 2002.