Livro Sobre Derivadas

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SOCIEDADE BRASILEIRA DE MATEMTICA

A DERIVADA E ALGUMAS APLICAES

JUSCELINO PEREIRA SILVA

Universidade Federal do Piau


Juscelino Pereira Silva

A DERIVADA E ALGUMAS APLICAES

EDUFPI
2012
Teresina
iv

COPYRIGHT BY JUSCELINO PEREIRA SILVA


Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida, por qualquer processo, sem a permisso do(a) autor(a).
Organizao do Livro: Carlos Humberto Soares Jnior
Comit Organizador do Evento:
Newton Lus Santos - UFPI (Coordenador Geral)
Ccero Pedro de Aquino - UFPI
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Jefferson Cruz dos Santos Leite - UFPI
Juscelino Pereira Silva - UFPI
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Paulo Alexandre Arajo Sousa - UFPI
Paulo Srgio Marques dos Santos - UFPI
Roger Peres de Moura - UFPI
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Comit Cientfico do Evento:
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Hilrio Alencar da Silva - SBM - UFAL
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Mrio Jorge Dias Carneiro - UFMG
Paolo Piccione - USP
Fernando Cod Marques - IMPA
Vilton Jeovan Viana Pinheiro - UFBA

FICHA CATALOGRFICA
Universidade Federal do Piau
Biblioteca Comunitria Jornalista Carlos Castello Branco
Servio de Processamento Tcnico

S586d Silva, Juscelino Pereira


A derivada e algumas aplicaes / Juscelino Pereira Silva. Teresina:
EDUFPI, 2012.
77p.:i.l.

ISBN

Apresentado no 2 Colquio de Matemtica da Regio


Nordeste

1. Derivada. I. Ttulo.

CDD 515
Prefcio

E STE presente texto destina-se a pessoas com pouca experincia e manejo nas ferra-
mentas de clculo. Entretanto, pode ainda vir a ser utilizado como auxlio queles
professores de cculo mais dedicados, que busquem aplicaes do clculo diferencial com
o intuito de fomentar o interesse de seus alunos por sua disciplina. Principalmente em
disciplinas ministrados em cursos de Engenharia, onde, pela minha experincia, o professor
constantemente indagado pelos estudantes sobre as aplicaes prticas dos contedos
explanados em sala de aula.
Este livro foi preparado com o objetivo mais breve de servir como livro-texto para
um minicurso de mesmo ttulo, a ser ministrado pela minha humilde pessoa durante o II
Colquio de Matemtica do Nordeste, que acontecer em novembro de 2012 e ser sedi-
ado na cidade de Teresina. Tal minicurso tem como pblico alvo, os estudantes do curso
de mestrado profissional PROFMat e ainda alunos de incio de graduao em cursos de
Matemtica, Fsica, Engenharias, etc. Baseado no pblico alvo citado optei por uma abor-
dagem bastante didtica, em algumas vezes at muito detalhista, com bastante ilustraes
tanto para enriquecer o texto quanto para satisfazer as minhas necessidades como gemetra
devoto. No texto, a teoria apresentada sem muito formalismo, mas com o rigor que julguei
necessrio, tanto nas definies quanto nos Teoremas e proposies bsicas para o entendi-
mento e resoluo dos problemas apresentados. Ao final de cada captulo existe uma lista
de exerccios propostos com o intuito de fazer com que o leitor exercite os conhecimentos
aprendidos at ento.
No Captulo 1 fiz um apanhando histrico sobre os primrdios do Clculo, enfatizando
a vida e contribuio de seus dois maiores precussores: Isaac Newton e Gottfried Leibniz.
apresentada um pouco da histria pessoal de cada um deles, de suas interaes com
alguns matemticos de sua poca e ainda um pouco sobre a polmica briga sobre quem
seria o verdadeiro pioneiro do Clculo Diferencial.
Os Captulos 2 e 3 introduzimos o conceito de taxa de variao instantnea e portanto
de derivada como limite do quociente de Newton. So apresentados tambm exemplos de
clculo de derivadas, regras operacionais e teoremas fundamentais como: a regra da cadeia,
o teorema da funo inversa, aproximaes lineares e quadrticas e o Teorema do Valor
Mdio. So ainda abordados conceitos de primitivas de funes, equaes diferenciais
lineares de primeira ordem com coeficientes constantes e equaes de Bernoulli, pontos
crticos e valores de mximo/mnimo de uma funo duas vezes derivvel. Tivemos uma pre-
ocupao, que ser notado neste captulo, de utilizar e provar resultados sobre primitivas
e solues de equaes diferenciais sem envolver o conceito de integral. So apresenta-
dos diversos problemas relacionados modelagem (elementar) de problemas interessantes
utilizando equaes diferencias lineares e ainda problemas relacionados com dinmica de
corpos, como: queda livre com resistncia do ar e velocidade de escape. Nestes captulos
ainda contm uma seleo de exerccios ao final do mesmo, onde alguns destes so de

1
comentao e fixao dos conceitos e resultados apresentados ao decorrer dos mesmos,
quanto problemas aplicados envolvendo situaes prticas e cotidianas.
O Captulo 4 destinado exclusivamente aplicao da derivada em problemas rela-
cionados com valores extremos de funes, em outras palavras, uma espcie de clculo das
variaes no nvel elementar e sobre R. So abordados neste captulo problemas bastante
interessantes como: a Lei de Snell-Descartes como consequncia do princpio de Fermat
e o Problema de Marqus de LHospital, assim como alguns outros. Os exerccios deste
captulo, muito deles poderiam vir como exemplo propostos resolvidos, pois os mesmos so
interessantes e motivantes, por isso sugiro, veementemente, que o leitor tente resolver
todos.
Por ltimo, mas no menos importante, gostaria de agradecer ao Prof. Joo Xavier da
Cruz Neto pelo incentivo em escrever o presente texto e submet-lo a ser utilizado no II
Colquio de Matemtica do Nordeste. A meu irmo Jos Vicente da Silva Filho (Junior
Nanonet, para os mais chegados) pela figuras presentes neste texto, pois o mesmo se
mostrou um verdadeiro artista grfico com sua criatividade em bolar e criar ilustraes.
Ao Professor Carlos Humberto Soares Jr pela considervel ajuda na formatao final do
texto. E a minha querida esposa Allana Kellen Lima Santos, pela leitura minunciosa final
do texto, vasculhando e corrigindo os erros cometidos por mim durante a digitao.

Teresina, 17 de Outubro de 2012


Juscelino P. Silva.

2
Contedo

Prefcio 1

1 Os Primrdios do Clculo: Newton e Leibniz 5


1.1 Isaac Newton . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.2 Gottfried Wilhelm von Leibniz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1.3 Newton versus Leibniz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

2 A Derivada: Conceitos e Resultados Bsicos 17


2.1 Teoria e Conceitos Elementares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.2 Pontos Crticos e Valores Extremos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
2.2.1 Pontos crticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.3 O Teorema do Valor Mdio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
2.4 Problemas Propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

3 Aplicaes da Derivada 37
3.1 Equaes Diferenciais Lineares de Primeira Ordem . . . . . . . . . . . . 37
3.1.1 Primitivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
3.1.2 Equaes Diferenciais Lineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
3.1.3 Equao de Bernoulli . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
3.2 Problemas de Modelagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.2.1 Uma prola no xampu . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.2.2 Mistura de Solues . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
3.2.3 Crescimento de Peixes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
3.2.4 Espelho Parablico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
3.2.5 Dinmica Populacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
3.3 Problemas de Dinmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
3.3.1 Corpos em queda livre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
3.3.2 Velocidade de escape . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
3.3.3 Quando o avio deve comear a descer? . . . . . . . . . . . . . 49
3.4 Problemas Propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51

4 Pontos Crticos e Valores Extremos 55


4.1 Problemas de Otimizao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
4.1.1 A Receita Otimizada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
4.1.2 A Calha de Chuva Ideal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
4.1.3 O Cano no corredor em L . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
4.1.4 A Folha Dobrada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
4.1.5 A Lei de Snell-Descartes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60

3
CONTEDO

4.1.6 Circunscrevendo uma Elipse . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61


4.1.7 O Lote de Wilson . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
4.1.8 Instalando um painel solar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
4.1.9 Implantes em vasos sanguneos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
4.1.10 Explorao Ssmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
4.1.11 O Problema do marqus de LHospital . . . . . . . . . . . . . . . 69
4.2 Problemas Propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70

Referncias Bibliogrficas 75

4
Captulo 1
Os Primrdios do Clculo: Newton e Leibniz

1.1 Isaac Newton


Plato meu amigo, Aristteles meu amigo, mas a Verdade a minha melhor
amiga."

Isaac Newton (1643 - 1727)

Ipouca
SAAC Newton (1642-1727) nasceu no ano da morte de Galileu Galilei em Woolsthorpe,
Inglaterra. Ele veio de uma famlia abastada, embora seu pai fosse um homem com
educao formal. Newton teve uma infncia infeliz, no tendo conhecido seu pai
que morreu antes que ele completasse um ano de idade. Sua me, Hannah Ayscough,
casou-se com o ministro da igreja de um vilarejo prximo e o jovem Isaac foi deixado com
seus avs. H indcios de que Newton sofreu de forte ressentimento pelo casamento da
me, ao mesmo tempo em que no desenvolveu vnculos fortes com os avs.
Com a morte do padrasto em 1653, Newton passou a viver com a me, av, um meio-
irmo e duas meia-irms. Como estudante ele demonstrava poucas habilidades e interesse
e, por isto, foi tirado da escola para cuidar dos interesses financeiros de sua me. Newton
tambm no mostrou interesse em realizar esta tarefa. Em 1960, por influncia de William
Ayscough, tio de Newton, a famlia decidiu prepar-lo para a educao superior. Nesta
poca ele se alojava com a famlia de Stokes, o chefe da escola, que percebendo os talentos
de Newton, foi um dos responsveis por convencer a famlia de que ele possua habilidades
para o trabalho acadmico.

(a) Isaac Newton (b) Anotaes de Newton

Figura 1.1: Newton e seu manuscrito.

Pouco se conhece sobre o que Isaac teria aprendido antes de ingressar na universidade,
particularmente em matemtica. Com certeza ele recebeu de Stokes um bom impulso e
orientao e possvel que tenha tido o primeiro contato com Os Elementos de Euclides

5
CAPTULO 1. OS PRIMRDIOS DO CLCULO: NEWTON E LEIBNIZ

nesta poca. H um nmero de pequenas histrias, sem maior comprovao, de que Newton
era hbil com as mquinas e gostava de construir modelos de relgios e moinhos.
Finalmente, em 1661, quando j era mais velho que a maioria dos colegas, Newton
ingressou no Trinity College de Cambridge. Apesar de sua posio financeira confortvel
ele entrou como um sizar, uma espcie de posio de servial em relao aos outros colegas.
Newton pretendia inicialmente se formar em Direito.
O currculo em Cambridge naquela poca era dominado pelos estudos da filosofia aris-
totlica at o terceiro ano. A partir da Newton se dedicou a estudar os textos de Descartes,
Gassendi, Hobbes e, em particular, de Boyle. Ele tambm mostrou interesse pelas teorias
revolucionrias de Coprnico, Kepler e Galileu em astronomia e tica. Gradualmente ele se
envolveu com o estudo da matemtica e da fsica. Existe um relato, por parte de de Moivre,
de que seu interesse pela matemtica foi incrementado em 1663 quando comprou um livro
de astronomia e no pode entender a matemtica envolvida. Ento ele passou a fazer um
esforo para aprimorar seu conhecimento desta disciplina, principalmente atravs do estudo
de uma verso de Barrow de Os Elementos de Euclides. Em seguida ele passou a estudar
a recm desenvolvida geometria analtica atravs dos textos de Vite e Ren Descartes.
Neste perodo ele aprendeu sobre o mtodo de Wallis para encontrar um quadrado com
rea sob segmentos da parbola e da hiprbole, usando os indivisveis.
Ao receber sua graduao em abril de 1665 Newton no havia ainda mostrado toda a
sua genialidade. Em 1665 a universidade foi fechada por causa da epidemia da peste negra
(peste bubnica) que se espalhava por toda a Europa e Inglaterra. Newton se recolheu
na casa de sua me onde aprofundou, por conta prpria, seus estudos e investigaes.
Com menos de 25 anos de idade ele iniciou sua carreira fazendo contribuies importantes
para a matemtica, mecnica, tica e astronomia. Neste perodo, como ele prprio relatou
depois, ele fez quatro de suas grandes descobertas: o teorema binomial, o clculo, a lei
da gravitao universal e a natureza das cores. O mtodo dos fluxos, como ele denomi-
nava o clculo, estava baseado no reconhecimento fundamental de que as operaes de
derivao e integrao estavam associadas, sendo simplesmente uma a operao inversa da
outra. Partindo da derivao com operao bsica ele desenvolveu tcnicas analticas que
unificavam diversas abordagens anteriores para solucionar questes que antes se julgava
serem no correlacionadas, tais como o clculo de reas, tangentes a curvas, comprimento
de segmentos de curvas e a localizao de mximos e mnimos de funes.
Quando a Universidade de Cambridge reabriu, ao trmino da peste negra em 1667,
Newton foi aceito como professor no Trinity College. Nesta poca se iniciaram os esforos
de Barrow para divulgar os resultados obtidos por Newton que mantinha um contato
bastante restrito com a comunidade cientfica de sua poca. Aparentemente por receio s
crticas e ao plgio, ele tendia a no expor de pronto os seus mtodos e, quando o fazia,
no os relatava com clareza.
Em outubro de 1666 Newton escreveu um tratado sobre os fluxos. Seu trabalho no
foi imediatamente publicado mas muitos matemticos da poca o conheciam de forma que o
tratado exerceu grande influncia sobre o desenvolvimento do clculo naquele perodo. Ele
iniciou suas consideraes tratando uma curva como sendo a trajetria de uma partcula,
dada por suas coordenadas em funo do tempo. Em linguagem moderna ele representava
a curva de uma funo sob a sua forma paramtrica, usando o tempo como parmetro -
uma forma bastante apropriada para quem deseja estudar o movimento de uma partcula.

6
1.1. ISAAC NEWTON

A velocidade no sentido horizontal x e a velocidade vertical y eram os fluxos de x e y


associados passagem do tempo. Com esta notao y /x ele representava a tangente
curva f(x, y) = 0.
Em seu tratado de 1666 Newton discute o problema inverso. Dada a relao entre x e
y /x procurava-se encontrar y. Desta forma a inclinao da tangente era dada para cada
x. Considerando conhecida a inclinao a cada instante, Newton resolvia o problema por
antidiferenciao (integrao). Ele tambm usou o mesmo processo para calcular reas e,
pela primeira vez na histria, ele afirma claramente o Teorema Fundamental do Clculo,
que estabelece a conexo entre os processos de derivao e de integrao.
Em 1671 Newton escreveu De Methodis Serierum et Fluxionum mas no o conseguiu
publicar at que John Colson preparou uma traduo para o ingls em 1736. Newton
encontrou diversas dificuldades para publicar seu textos em matemtica e, de certa forma,
Barrow tinha parte da responsabilidade por isto. Em tempos recentes os editores de
Barrow tinham ido falncia e os demais editores se encontravam receosos em continuar
a publicao de textos sobre matemtica. O livro de Newton sobre Anlise contendo um
tratamento das sries infinitas foi escrito em 1669 e circulou pelos meios acadmicos em
forma manuscrita, s sendo publicado em 1711. Da mesma forma seu Method of fluxions
and infinite series foi escrito em 1671 e somente traduzido para o ingls e publicado no
ano de 1736. O original em latim s foi publicado muitos anos mais tarde.
Nestas duas obras Newton encontrou as expanses em sries de potncias para as
funes sen x e cos x, assim como a expanso para a funo que hoje conhecemos como
funo exponencial. Naquele tempo no havia uma definio clara desta funo, o que foi
estabelecido bem mais tarde por Euler, tambm o responsvel pela atual notao, ex . As
expanses em sries de potncias para funes analticas so hoje conhecidas como sries
de Taylor ou de Maclaurin, dependendo do ponto em torno dos quais so consideradas.
Atravs das expanses em sries de potncia para cada funo

f(x) = a0 + a1 x + a2 x 2 + + an x n + (1.1)

Newton resolveu o problema da quadratura, ou seja, o de encontrar reas subentendidas


pelas curvas destas funes, fazendo a integrao termo e termo,
Z
x2 x3 x n+1
f(x) dx = a0 + a1 + a2 + + an + , (1.2)
2 3 n+1

o que, como hoje se sabe, somente est correto se a srie convergente.


A obra seguinte de Newton, Tractatus de Quadratura Curvarum, foi escrito em 1693 e
s publicado em 1704 sob a forma de um apndice em seu livro Optiks. O Tractatus contm
uma outra abordagem que envolve uma operao primitiva de tomar limites. Para ilustrar o
mtodo de Newton suponha, por exemplo, que queremos derivar a funo y = x 2 . Lembrando
que ele tratava as variveis sob a forma x(t) e y(t), nas palavras de Newton devido ao
fluxo de x com a passagem do tempo, quando o tempo progride de uma quantidade o, as
variveis mudam da seguinte forma

x = x(t) x x + xo
. (1.3)
y = y(t) y y + y o

7
CAPTULO 1. OS PRIMRDIOS DO CLCULO: NEWTON E LEIBNIZ

Dada a relao entre x e y (y = x 2 , no caso), teramos

y y + y o = (x + xo)2 = x 2 + 2xx o + xo2 (1.4)

implicando que
y o = 2xx o + x2 o2 , (1.5)

e portanto que
y = 2xx + x2 o, (1.6)

Tomando o como zero, no que deveria ser um limite, obtm-se y = 2xx . A taxa de variao
de y com x, que a inclinao da reta tangente y /x = 2x.
Como professor Lucasiano, o primeiro trabalho de Newton foi um curso dedicado
tica, iniciado em janeiro de 1670. Neste curso ele ensinava que a luz branca no uma
entidade simples mas sim composta por luz de diversas cores, como se pode observar no
espectro obtido por meio de um prisma. Vale ressaltar que, desde Aristteles, sempre se
acreditou no contrrio. A observao do efeito de aberrao cromtica em telescpios levou
Newton a esta concluso, bem como sugesto da construo de telescpios refletores,
que se utilizam de espelhos parablicos no lugar de lentes para a obteno de uma imagem
ampliada dos objetos celestes.
Em 1672 Newton foi aceito membro da Royal Society e publicou seu primeiro artigo
sobre a luz e a cor no peridico Philosophical Transactions of the Royal Society. Este
artigo foi bem aceito pela comunidade cientfica, mas tambm deu origem a crticas e
oposies. Hooke e Huygens argumentaram contra a tentativa de Newton de provar que a
luz possua natureza corpuscular e no ondulatria. Devido ao peso da opinio de Newton
este foi um erro que persistiu por muito tempo no estudo da luz at que experincias com
o fenmeno da refrao, no sculo XIX, indicaram uma preferncia pelo modelo ondulatrio.
Vale dizer que hoje existe um modelo corpuscular da luz, e da radiao eletromagntica
em geral, como parte integrante da moderna teoria quntica. No entanto, nenhum dos
fenmenos de que fato evidenciam a natureza corpuscular da luz era conhecido na poca
de Newton. As crticas recebidas levaram Newton a adotar uma posio ainda mais retrada
e ser mais reticente com relao a suas descobertas. Embora apreciasse a notoriedade ele
ressentia enormemente as crticas recebidas e julgava que uma forma de evit-las seria
evitar a publicao de suas idias.
As relaes de Newton com Hooke se deterioraram em 1675, quando Hooke o acusou
de plgio em algumas de suas concluses em tica. Isto fez com que Newton adiasse a
publicao de suas concluses em tica at a morte do adversrio, em 1703. O livro Opticks
s apareceu em 1704, tratando da teoria da luz e da cor.
Por volta de 1678, em parte devido a uma nova discusso com os jesutas sobre sua teoria
da luz e devido morte de sua me, Newton sofreu seu primeiro colapso nervoso. Muitos
historiadores sustentam a tese de que seu envolvimento com as experimentaes alqumicas
e subsequente exposies a vapores de mercrio e outros metais teria contribudo para
fragilizar seu sistema nervoso. certo que ele passou grande parte de sua vida estudando
alquimia, religio cronologia do Apocalipse e outros temas esotricos, tendo escrito diversos
tratados sobre estes assuntos.

8
1.1. ISAAC NEWTON

(a) Opticks (b) Anotaes de Newton

Figura 1.2: Publicaes de Isaac Newton.

As maiores contribuies de Newton para a fsica foram suas descobertas sobre a


mecnica e a gravitao universal. Partindo de sua prpria compreenso de foras cen-
trfugas e da terceira lei de Kepler para o movimento planetrio, ele deduziu que duas
partculas de massa m1 e m2 respectivamente se atraem com intensidade diretamente pro-
porcional as suas massas e inversamente proporcional ao quadrado da distncia entre
elas,
m1 m2
F =G 2 . (1.7)
r
Ele foi o responsvel pelo entendimento de que a fora que age sobre a Lua, por
exemplo, a mesma fora que atrai uma ma para o cho, nas proximidades da superfcie.
Este entendimento, simples para a mente moderna, representou um grande passo dentro
de um contexto cultural que predominantemente acreditava que os objetos celestes eram
de natureza divina, em oposio aos de natureza terrena, e que no deveriam obedecer
s mesmas leis. Ele representa uma grande unificao de princpios, assim como aquela
obtida mais tarde por Maxwell e outros fsicos na unificao das teorias da eletricidade e
do magnetismo.
Em 1686 Halley, astrnomo e amigo de Newton, o convenceu a publicar uma descrio
completa de suas descobertas sobre fsica e astronomia. Um ano mais tarde ele publicou o
Philosophiae Naturalis Principia Mathematica, ou simplesmente Principia, como se tornou
conhecido o livro. Este considerado por muitos historiadores da cincia como o maior livro
cientfico j escrito. Nele, Newton trata do movimento dos corpos em meios resistentes e no
resistentes e sob a ao de foras centrpetas. Os resultados podem ser aplicados a rbitas
celestes, projteis, pndulos e corpos em queda livre nas proximidades da superfcie da
Terra. Em seguida Newton forneceu explicaes sobre as rbitas excntricas dos cometas,
as mars e suas variaes, a precesso do eixo da Terra e a perturbao do movimento da
Lua pela atrao gravitacional do Sol. Este trabalho o transformou no principal cientista
de sua poca embora diversos pensadores da Europa continental e da prpria Inglaterra
relutassem em aceitar suas vises sobre a gravitao como ao distncia, sua teoria
corpuscular da luz, sua verso do clculo em contraposio verso de Leibniz e outros
tpicos localizados.

9
CAPTULO 1. OS PRIMRDIOS DO CLCULO: NEWTON E LEIBNIZ

Em 1685 James II se tornou rei da Gr-Bretanha, se convertendo ao catolicismo em


1669. Em seguida ele passou a nomear apenas catlicos para cargos nas foras armadas e
outros postos oficiais de estado. Posteriormente o rei passou a preencher postos vagos na
Universidade de Cambrigde com catedrticos fiis Igreja Catlica. Quando ele insistiu
para que um monge beneditino recebesse os graus acadmicos sem a necessidade de prestar
exames ou proferir os juramentos de praxe na poca, Newton assumiu a posio de opositor
declarado do rei, uma disputa que durou at a fuga de James II e a tomada do poder por
William de Orange. Newton, j visto como o maior matemtico de sua poca, agora famoso
pela firme defesa da Universidade, foi eleito para um cargo poltico no Parlamento. Isto
resultou em sua mudana para Londres, com o consequente afastamento de Cambridge e
das atividades acadmicas.
Em 1693 Newton sofre um segundo colapso nervoso e abandona suas atividades de
pesquisa. Desta vez, alm do envenenamento por metais, podem ter contribudo o descuido
com os hbitos alimentares, uma frustrao com o impacto de suas pesquisas no meio
acadmico e a dificuldade em se relacionar com os colegas, muitas vezes advindas de
diferenas em suas convices religiosas. Alm disto houve o rompimento de uma amizade
pessoal com Fatio de Duillier, um matemtico suio que residia em Londres. provvel
que ele tenha sofrido de depresso durante grande parte de sua vida.
Em 1696 Newton foi designado para o cargo de Guardio da Casa da Moeda, mais
tarde Mestre da Casa da Moeda. Ele coordenou com grande eficincia um perodo difcil de
recunhagem da moeda, necessrio devido ao grande volume de moeda falsa em circulao
na poca. Alm de eficiente, Newton foi rgido na perseguio e punio dos falsificadores.
Em 1703 Newton foi eleito presidente da Royal Society, mantendo este cargo at o
final de sua vida. Em 1705 ele foi feito cavalheiro pela rainha Anne, sendo o primeiro
cientista a receber esta distino como reconhecimento por seu trabalho. Contudo, toda
a ltima fase de sua vida foi dominada pelo ressentimento causado pela controvrsia com
Leibniz sobre a autoria da Clculo.

1.2 Gottfried Wilhelm von Leibniz


H dois labirintos do esprito humano: um respeita composio do contnuo, o outro
natureza da liberdade; e ambos tm origem no mesmo infinito."

Wilhelm Leibniz (1646 - 1716)

Leibniz (1646-1716) nasceu em Leipzig, Alemanha, filho de Friedrich Leibniz, um pro-


fessor de filosofia moral e cristo fervoroso e Catharina Schmuck. Leibniz perdeu o pai
com apenas seis anos e aprendeu da me os valores religiosos e ticos que nortearam
sua vida e filosofia. Na escola ele aprendeu a lgica de Aristteles. Insatisfeito com a
filosofia aristotlica dominante na poca ele iniciou o desenvolvimento de suas prprias
idias sobre como aperfeio-la. Ainda criana ele apreciava ler os livros de seu pai sobre
metafsica e teologia nas vises de escritores catlicos e protestantes. O prprio Leibniz
reconheceu mais tarde como uma constante em sua vida a preocupao em estabelecer um
ordenamento por trs do pensamento lgico e da deduo matemtica, assim como uma

10
1.2. GOTTFRIED WILHELM VON LEIBNIZ

tentativa sempre presente de estabelecer contatos entre pontos de vista conflitantes e o de


unificar os diversos sistemas de pensamento.

(a) Wilhelm Leibniz (b) Anotaes de Leibniz

Figura 1.3: Leibniz e seu manuscrito.

Ao completar 16 anos, algo no muito incomum na poca, Leibniz entrou para a Univer-
sidade de Leipzig onde estudou filosofia e matemtica. Nenhuma destas disciplinas era, na
poca, ensinada com grande nvel de aprofundamento. Aps sua graduao, obtida em 1663,
ele passou um perodo em Jena estudando com Erhard Weigel, um filsofo e matemtico
com quem aprendeu a importncia do mtodo de provas matemticas em assuntos tais
como lgica e filosofia. Em 1663 Leibniz retornou a Leipzig para o programa de doutorado
em Direito. L ele obteve primeiro o grau de Mestre em filosofia, tendo sido mais tarde
recusado para o grau de doutor em Direito. Aparentemente isto ocorreu porque ele era
muito jovem e havia na poca poucos orientadores disponveis. Se esperava ento que ele
aguardasse um ano at sua aceitao. Ao invs de esperar Leibniz foi para a Universidade
de Altdorf, recebendo o grau de doutor em Direito em 1667.
Uma vez formado Leibniz iniciou uma carreira voltada para a diplomacia enquanto par-
ticipava em diversos projetos cientficos, literrios e polticos. Ele se relacionava igualmente
bem com catlicos e luteranos e manteve durante toda a sua vida um interesse em trabalhar
para a reunificao das igrejas. Outro de seus projetos permanentes era a inteno de
reunir de forma organizada todo o conhecimento acumulado at a sua poca. Simultanea-
mente Leibniz comeou a estudar o movimento buscando explicar os resultados obtidos por
Wren e Huygens sobre colises elsticas. Em 1671 ele publicou Hypothesis Physica Nova
onde afirmava, em acordo com Kepler, que o movimento decorrente da ao do esprito
sobre a matria. Neste perodo, passou a se comunicar com Oldenburg, o secretrio da
Royal Society de Londres, um dos responsveis por seu contato com Isaac Newton.
Diferente de Newton, Leibniz apreciava viajar pela Europa fazendo contatos com outros
matemticos e filsofos, aproveitando-se para isto de sua posio como diplomata. Junta-
mente com sua atuao na diplomacia ele iniciou suas primeiras tentativas para construir
uma mquina calculadora. Em Paris, no anos de 1672, Leibniz estudou matemtica e fsica
com Christian Huygens de quem recebeu a sugesto de trabalhar com sries. Em 1673
Leibniz visita a Royal Society em Londres onde apresentou sua tentativa incompleta de
construir sua calculadora. Nesta ocasio, em contatos com Hooke, Boyle e Pell ele se

11
CAPTULO 1. OS PRIMRDIOS DO CLCULO: NEWTON E LEIBNIZ

atualizou sobre os resultados mais recentes obtidos em sries. Mais tarde, embora ausente
de Londres, Leibniz recebeu crticas na Royal Society, especialmente no que se referia
mquina de calcular. Estas crticas tiveram um efeito interessante sobre Leibniz. Ele
percebeu que seus conhecimentos em matemtica eram, de fato, incompletos e que neces-
sitavam de aprimoramento. Sem se abater ele redobrou seus esforos em se aprofundar
nesta disciplina.
Leibniz foi aceito membro da Royal Society de Londres em 1673 e iniciou um estudo
sobre a geometria dos infinitesimais, trocando correspondncia sobre estes esforos com
Oldenburg que, por sua vez, o informou sobre os avanos de Newton nesta rea. Deve-
se notar que, neste perodo, Leibniz no gozava de grande reputao com os membros
Royal Society devido sua incapacidade de concluir sua mquina calculadora. Simul-
taneamente Oldenburg desconhecia que ele havia, devido a seus esforos para se superar,
transformando-se em um gnio criativo da matemtica.
Em Paris, na mesma poca, Leibniz comeou a desenvolver os princpios de sua verso
do clculo. Consciente de que, para o pleno desenvolvimento de uma ferramenta matemtica,
era necessria a adoo de uma notao consistente e de fcil manipulao ele dedicou um
bom tempo para o estabelecimento de sua notao que basicamente a mesma que usamos
at hoje. sabido que suas primeiras anotaes eram confusas e de difcil leitura. J em
1675 ele escreveu um artigo manuscrito onde usava pela primeira vez a notao f(x)dx. No
mesmo artigo ele apresentou a regra para a diferenciao de um produto. Em 1676 Leibniz
apresentou a diferenciao de
dx n = nx n1 dx, (1.8)
para n inteiro ou fracionrio.
Em 1696 Leibniz aceitou um cargo na biblioteca de Hanover, onde ficou at o fim de sua
vida. Ele continuou mantendo contato com outros matemticos da poca e viajando pela
Europa. Outros projetos foram iniciados neste perodo, tais como moinhos bombeadores de
gua para serem empregados em minas nas montanhas de Harz. Seus projetos tecnolgicos
no foram bem sucedidos mas suas observaes sobre a geologia das montanhas o levaram
a propor a hiptese de que a terra foi formada no passado por lava derretida.
Alm de seus trabalhos em clculo, Leibniz obteve outros resultados importantes em
matemtica. Ele trabalhou com sistemas aritmticos binrios e com o conceito de de-
terminantes, usado na soluo de sistemas de equaes lineares. Sobre a mecnica ele
questionou o sistema de Descartes e examinou os conceitos de energia potencial e cintica
e de momento.
Leibniz era um homem atuante, que buscava difundir as idias mais modernas e interagir
com os demais pensadores de seu tempo. Ele esteve envolvido na formao de academias
e sociedades cientficas e no seria exagero dizer que ele esteve em contato com a maioria
dos matemticos da poca. Um exemplo foi sua correspondncia com Grandi, iniciada em
1703, onde se discutiu o paradoxo obtido ao se atribuir o valor x = 1 na expanso em
srie para
1
= 1 x + x 2 x 3 + + (1)n x n + . (1.9)
1+x
Na filosofia ele buscou aperfeioar seu sistema de reduo do raciocnio a uma lgebra
do pensamento. Ele publicou seu Meditationes de Cognitione, Veritate et Ideis (Reflexes

12
1.3. NEWTON VERSUS LEIBNIZ

(a) Discours de Mtaphysique (b) Thodice

Figura 1.4: Publicaes de Leibniz

sobre o Conhecimento, Verdade e Idias) visando aperfeioar sua teoria do conhecimento.


Em 1686 Leibniz escreveu Discours de Mtaphysique e, em 1710, Thodice onde tratava
da questo da existncia do mal em um mundo criado por Deus. Neste tratado ele afirmava
que o mundo necessariamente teria que ser imperfeito, caso contrrio no seria distinto de
Deus. No entanto, deveria ser o mais perfeito possvel sem, no entanto, violar a lei natural.
A eliminao dos desastres naturais, segundo ele, envolveria alteraes to dramticas na
lei natural que resultariam em um mundo ainda pior. Em 1714 Leibniz escreveu Monadologia
sintetizando sua obra filosfica.
Leibniz era um homem de interesse e atuao universais, um livre-pensador incansvel.
Profundamente dedicado ao entendimento mtuo entre pessoas, escolas e correntes de
pensamento, ele deliberadamente optou por ignorar a fragmentao entre as disciplinas
que, j naquela poca, se instalava no ambiente das universidades. Ele julgava que
uma eventual deficincia em sua formao em determinada disciplina no deveria ser um
empecilho para que contrbuisse naquela rea. De certa forma ele se mostrava hostil
para com a instituio universitria porque julgava que sua estrutura rgida dificultava a
interao entre disciplinas, essencial para o avano do conhecimento.
interessante notar como um homem de interesse universalista, dedicado ao processo
de compreenso mtua entre escolas de pensamento diversas, tenha se envolvido em uma
disputa to spera e duradoura com outro grande gnio, como ocorreu com Newton sobre
a autoria do clculo.

1.3 Newton versus Leibniz


Nas questes matemticas no se compreende a incerteza nem a dvida, assim como
tampouco se podem estabelecer distines entre verdades mdias e verdades de grau
superior."

David Hilbert (1862 - 1943)

13
CAPTULO 1. OS PRIMRDIOS DO CLCULO: NEWTON E LEIBNIZ

Durante as viagens que fez pela Europa Leibniz estabeleceu contato com diversos mate-
mticos importantes da poca. Ele estudou matemtica e fsica com Christian Huygens em
Paris, em 1672 e esteve com Hooke e Boyle em Londres no ano de 1673. Na mesma ocasio
ele adquiriu diversos livros sobre matemtica, inclusive os trabalhos de Barrow, com quem
manteve extensa correspondncia. Retornando para Paris, Leibniz realizou importantes
contribuies na rea do clculo, julgando que seu trabalho fosse muito diferente do de
Newton. Newton tratava as variveis como funes do tempo enquanto Leibniz considerava
suas variveis x e y como valores assumidos sobre sequncias de valores infinitamente
prximos. Ele introduziu a noo de dx e dy como diferenas entre valores prximos
dentro destas sequncias. Leibniz sabia que podia calcular a inclinao da tangente como
dy/dx mas no usou este fato como definio da reta tangente.

Figura 1.5: Isaac Newton e Wilhelm Leibniz

Para Newton a integrao consistia de se encontrar fluentes para um dado fluxo e, desta
forma, a complementariedade da diferenciao e da integrao como operaes inversas
estava implcita. Leibniz usava a integrao como uma soma, de forma muito similar quela
usada por Cavalieri e, mais recentemente, por Riemann. Ele tambm se sentia vontade
com o uso dos infinitesimais dx e dy, enquanto Newton usava a notao x e y que
representavam velocidades finitas. Nem Leibniz, nem Newton pensavam em termos de
funes e sim em termos dos grficos envolvidos. Para Newton o clculo era formado por
operaes geomtricas enquanto Leibniz fez maior progresso na direo da anlise.
Leibniz tinha conscincia de que a definio e adoo de uma boa notao era de
fundamental importncia e se dedicou com esforo esta questo. Por outro lado, seu
rival Newton, parecia escrever mais para si mesmo do que para um pblico geral e, como
consequncia, tendia a usar uma notao que variava a cada momento. A notao de Leibniz,
dx , enfatizava o aspecto de operador da derivao, o que se revelou muito importante para
d

o progresso posterior da disciplina. At o ano de 1675 Leibniz j tinha estabelecido a


notao
Z
x2
xdx = , (1.10)
2
que exatamente a notao usada nos dias de hoje. Seus resultados em clculo integral

14
1.3. NEWTON VERSUS LEIBNIZ

foram publicados em 1684 e 1686 sob o nome de Calculus Summatorius. O nome moderno,
clculo integral, s apareceu como sugesto de Jacob Bernoulli, em 1690.
Nesta poca 1676 Newton escreveu uma carta para Leibniz, enviada por meio de
Oldenburg. Nesta carta, que demorou para chegar ao destino, Newton apresentava uma
lista de suas concluses sem dar, no entanto, uma descrio de seus mtodos. Leibniz
respondeu imediatamente sem perceber que houvera demora to grande no recebimento
daquela carta. Por sua vez, Newton acreditou que Leibniz tivera seis semanas para elaborar
sua resposta, aperfeioando suas consideraes sobre o clculo com base em sua prpria
carta. Percebendo o descontentamento do colega Leibniz compreendeu que deveria publicar
sem atraso uma descrio completa de seus prprios mtodos. Uma segunda carta foi
enviada a Leibniz em outubro de 1676 onde Newton, ainda que mantendo o tom corts,
sugeria que seus mtodos e operaes haviam sido plagiados. Leibniz respondeu dando
mais detalhes sobre os fundamentos de seu clculo diferencial e integral, incluindo a regra
para a derivao de uma funo composta.
Embora Newton reclamasse que Leibniz no havia resolvido nenhum novo problema
inegvel que seus mtodos e formalismo foram vitais para o desenvolvimento posterior do
clculo. Cabe lembrar que Leibniz nunca considerou a derivada como um limite, um conceito
s desenvolvido mais tarde com o trabalho de dAlembert.
Em 1684 Leibniz publicou em detalhes seu mtodo sobre o clculo diferencial em um
jornal denominado Nova Methodus pro Maximis et Minimis, itemque Tangentibus... in Acta
Eruditorum. Neste artigo ele usa a notao hoje familiar de df para a diferencial de uma
funo, as regras para a derivao de potncias, produtos e quocientes de funes. No
entanto nem todas as demonstraes estavam presentes. Em 1686 Leibniz publicou um novo
artigo sobre o clculo integral.
O livro de Newton, Principia, apareceu no ano seguinte. O mtodo dos fluxos foi
desenvolvido em 1671, mas permaneceu no publicado at 1736, com a traduo para o
ingls de John Colson. Este atraso na publicao, em grande parte motivado pela relutncia
de Newton em aceitar a exposio e crticas dos colegas matemticos foi o responsvel
pelo conflito e disputas com Leibniz.
Grande parte das atividades cientficas de Leibniz em seus ltimos anos de vida estava
relacionada com esta disputa sobre a inveno do clculo. Em 1711 um artigo na Transac-
tions of the Royal Society of London o acusava de plgio. Este artigo, bem como os demais
ataques, partiam de partidrios de Newton e no dele prprio, diretamente. Em sua defesa
Leibniz argumentou que no tivera contato com o clculo dos fluxos at o conhecimento
da obra de Wallis. Em resposta Keill afirmou que a carta enviada por Newton atravs
de Oldenburg continha indicaes claras de seu mtodo. Em carta para a Royal Society
Leibniz pediu uma retratao, o que motivou a formao de um comit para julgar a questo.
O comit, formado pelo prprio Newton, julgou a questo sem dar a Leibniz o direito de
defesa emitindo parecer favorvel a Newton. O relatrio final, escrito por Newton, atribua
a ele a autoria do clculo. Leibniz publicou um panfleto annimo, intitulado Charta Volans,
onde narrava sua verso dos fatos e se utilizava, em sua defesa, de um erro de Newton
sobre derivadas de segunda ordem e ordens superiores. Mais uma vez os partidrios de
Newton vieram a pblico em sua defesa, mas Leibniz se recusou a levar adiante o debate.
Ao receber correspondncia de Newton, Leibniz respondeu com uma descrio detalhada
de sua descoberta do clculo diferencial.

15
CAPTULO 1. OS PRIMRDIOS DO CLCULO: NEWTON E LEIBNIZ

Entre seus correspondentes Leibniz manteve com Samuel Clarke, um defensor de New-
ton, um debate sobre os conceitos newtonianos sobre espao e tempo, ao distncia e
atrao gravitacional atravs do vcuo. Parte desta discusso afetou, mais tarde, o pen-
samento de Ernst Mach e, por sua vez, Albert Einstein, levando construo da nova
teoria mecnica e da atrao gravitacional exposta pela Teoria da Relatividade. A defesa
apaixonada da posio de Newton e a recusa em adotar a terminologia e notao de Leib-
niz fizeram com que os progressos do clculo fossem retardados na Inglaterra, enquanto na
Europa continental os seguidores de Leibniz promoviam um rpido avano da cincia.

16
Captulo 2
A Derivada: Conceitos e Resultados Bsicos

Porque eu fazia do amor um clculo matemtico errado: pensava que, somando as


compreenses, eu amava. No sabia que, somando as incompreenses que se ama
verdadeiramente. Porque eu, s por ter tido carinho, pensei que amar fcil."

Clarice Lispector (1920 - 1977)

N ESTE captulo construiremos todo o alicerce deste texto, pois aqui sero introduzidos
os conceitos bsicos sobre taxas de variao e derivadas e ainda, regras operacionais
e Teoremas fundamentais para o manuseio de forma prtica da derivada.

2.1 Teoria e Conceitos Elementares


Definio 2.1.1 (Quociente de Newton). Seja f : [a, b] R uma funo real, p (a, b)
e h R tal que p + h [a, b]. O quociente de Newton de f em p, relativo a h definido
por
f(p + h) f(p)
. (2.1)
h
Alguns autores apresentam o quociente de Newton acima na forma
f
. (2.2)
x
O quociente mede acima uma taxa de variao (mdia) relativa da quantidade y = f(x)
em relao a quantidade x. Em outras palavras, tal quociente mede a taxa mdia com
que y varia quando x varia uma quantidade h. Um exemplo bem simples considerar
s = s(t) uma funo deslocamento em funo do tempo t. No instante t0 estamos na
posio s(t0 ) = s0 e depois de h segundos estamos na posio s(t0 + h). Ao calcularmos
o quociente de Newton deste valores teremos
s(t0 + h) s0 Deslocamento durante o tempo de h segundos
= , (2.3)
h h segundos
que uma taxa conhecida por todos ns, chamada de velocidade mdia.
Tal taxa corriqueiramente utilizada por ns no nosso dia a dia, mas de fato a mesma
de muito pouca preciso, uma vez que tal quociente uma mdia. Uma taxa mais atraente
e til seria a de calcular a velocidade instantnea de um determinado objeto, que de fato
o que importante no nosso dia a dia, por exemplo quando estamos dirigindo numa avenida
e nos aproximamos de um sensor de velocidade. Queremos olhar no velocmentro e saber
qual a nossa velocidade naquele momento e no uma mdia depois de um determinado
tempo decorrido!
Mas como assim uma velocidade instantnea no instante t0 ? Fazemos h = 0 e
substitumos na expresso 2.3? No, pois teramos uma espcie de razo com numerador

17
CAPTULO 2. A DERIVADA: CONCEITOS E RESULTADOS BSICOS

e denominador nulo, coisa tal que no est definida matematicamente, isto , no faz o
menor sentido! Para evitarmos esta anomalia, introduzimos o conceito de limite. Imagine
que voc, tendo pacincia em demasia e instrumentos apropriados, aferisse dados relativos
ao quociente 2.3 para uma quantidade grande de nmeros h cada vez menores . Por
exemplo:
1 1
1s, s, s, . . . (2.4)
10 100
e notasse que a sequncia de nmeros gerada tem uma tendncia a ir pra um determinado
nmero real L. Tal procedimento, embora informal, revelaria que o limite do quociente de
Newton dado em 2.3 quando h tende a zero L. Baseado na motivao acima segue
a definio abaixo, que sem sombra de dvida, um dos conceitos matemticos mais
importantes do mundo moderno.

Observao 2.1.2. Durante todo este texto, salvo meno contrria, ao nos referirmos a
uma funo f sem demais detalhes estaremos nos referindo a f como definida em 2.1.1.

Definio 2.1.3. Nas hipteses da definio 2.1.1, a derivada de f no ponto definida


como sendo
f(p + h) f(p)
f 0 (p) = lim , (2.5)
h0 h
quando tal limite existe.

Em outras palavras, a derivada de f no ponto p o limite do quociente de Newton


quanto a variao h da varivel x no domnio tende a zero.
Quando f 0 (p) existe dizemos que f derivvel em p. Quando derivvel em todos os
pontos de seu domnio dizemos apenas que f derivvel.

Observao 2.1.4. Note que a definio dada em 2.1.3 equivalente ao seguinte limite
existir
f(x) f(p)
lim . (2.6)
xp xp
Observao 2.1.5. As seguintes notaes tambm so amplamente utilizadas na literatura
existe
df(p)
f 0 (p), f(p), , Df(p). (2.7)
dx
Observao 2.1.6. Sem querer adentrar muito no assunto de limites, mas deveras im-
portante perceber que s calcular derivadas para pontos p interiores ao domnio da funo
f descrita em 2.1.1. Pois, para aqueles mais familiarizados com o conceito de limite,
sabido que os limites laterais, isto , a esquerda e direita de p existirem condio
necessria de suficiente para o limite existir. Mas, por motivos bvios, os limites nas
extremidades a e b no podem ser calculados. Para mais informaes sobre limites veja
[3], [4] e [7].

Podemos ento considerar a funo derivada de f, que associa a cada ponto x o valor
de f 0 (x). Vejamos o exemplo descrito na proposio abaixo.

18
2.1. TEORIA E CONCEITOS ELEMENTARES

Proposio 2.1.7. Seja n um nmero natural e considere a funo f(x) = x n . Ento vale
que f 0 (x) = nx n1 .
Demonstrao. Utilizando a expresso do binmio de Newton temos que
X n  
n ni i
(x + h) =
n
x h, (2.8)
i
i=0

e portanto
n  
X
(x + h)n x n n ni i1
= x h , (2.9)
h i
i=1
da calculando o limite quando h vai pra zero do lado direito da igualdade acima vai restar
apenas o termo independente de h, ou seja,
 
n n1
x = nx n1 , (2.10)
1
assim sendo vale que
(x n )0 = nx n1 . (2.11)

Observao 2.1.8. O resultado acima vlido de forma mais geral.


(x )0 = x 1 , 0 6= R. (2.12)
Vejamos mais um exemplo simples, mas importante.
Proposio 2.1.9. Para todo x R vale que
sen 0 (x) = cos x. (2.13)
Demonstrao. Utilizando as frmulas trigonomtrica para transformaes de soma em pro-
duto temos que
   
sen (x + h) sen x 2sen h2 cos 2x+h2 sen h2 cos 2x+h2
= = h
. (2.14)
h h 2

Da tomando o limite quando h 0 temos


 2x+h

sen (x + h) sen x sen h
2 cos 2
lim = lim h
(2.15)
h0 h h0
2
  
sen h
2 2x + h
= lim lim cos (2.16)
h0 h
2
h0 2
= cos x. (2.17)
Note que ltima igualdade utilizamos que a funo cos x contnua e ainda que
sen h
lim = 1. (2.18)
h0 h

19
CAPTULO 2. A DERIVADA: CONCEITOS E RESULTADOS BSICOS

Observao 2.1.10. O processo de derivao pode ser aplicado mais de uma vez para
uma mesma funo, ou seja, podemos calcular a derivada da derivada, entendendo que
f 00 = (f 0 )0 , isto ,
f 0 (p + h) f 0 (p)
f 00 (p) = lim , (2.19)
h0 h
caso o limite exista. f 00 (p) chamada de derivada segunda de f em p.
Dentro do contexto de outras cincias a derivada assume um nome especfico de acordo
com o ente que esteja sendo estudado. Por exemplo;

1. Se a funo f for um deslocamento, como o estudado em 2.3, e a varivel for o tempo


t ento f 0 (t) ser a taxa (instantnea) de variao do espao em relao ao tempo.
Tal taxa conhecida como velocidade;
2. Se f for uma velocidade em funo do tempo t, ento f 0 (t) a taxa de variao da
velocidade em relao ao tempo. Tal taxa conhecida como acelerao. Note aqui
que a acelerao a derivada segunda do deslocamento em relao ao tempo;
3. Se f for um certo capital e possa ser considerado variando continuamente com o
tempo t, a taxa de variao do capital em funo do tempo chamada de juros;
4. Se f for um volume variando em relao ao tempo ento f 0 (t) chamada de vazo;
5. Se f for uma quantidade de carga variando em relao tempo ento f 0 (t) chamada
de corrente eltrica;
6. Se f for um custo variando em relao a uma quantidade x de material ento f 0 (x)
chamada de custo marginal;

Existem diversas interpretaes da derivada, onde diversas delas sero abordadas neste
texto. Mas vejamos uma muito importante: A derivada f 0 (p) o coeficiente angular da reta
tangente ao grfico da funo y = f(x) no ponto (p, f(p)). Veja 2.1.
Note que na figura 2.1 a quantidade

f(p + h) f(p)
tg = (2.20)
h
a inclinao da reta secante ao grfico de f nos pontos (p, f(p)) e (p + h, f(p + h)). Note
que ao fazermos h 0 a reta secante tende a se tornar tangente pois (p, f(p + h)
(p, f(p)) e portanto
f(p + h) f(p)
tg = lim . (2.21)
h0 h
Vejamos agora algumas propriedades operatrias da derivada.
Proposio 2.1.11. Sejam f e g funes derivveis em p e R. Ento vale:
1. (f g)0 (p) = f 0 (p) g0 (p);
2. (f)0 (p) = f 0 (p);

20
2.1. TEORIA E CONCEITOS ELEMENTARES

Figura 2.1: Inclinao da reta tangente

3. (f g)0 (p) = f 0 (p)g(p) + f(p)g0 (p);


 0
4. gf (p) = f (p)g(p)f(p)g (p)
0 0

[g(p)]2
, desde que g(p) 6= 0.

Uma outra utilidade importante de f a aproximao linear da funo f na vizinhana


do ponto p.

Teorema 2.1.12 (Aproximao Linear). A funo derivvel em p se, e somente se, existem
L R e uma funo r(h) tal que

r(h)
f(p + h) = f(p) + L h + r(h), onde lim =0 (2.22)
h0 h

Demonstrao. Se f derivvel em p ento existe f 0 (p). Da, para h suficientemente


pequeno, defina a funo

r(h) = f(p + h) f(p) f 0 (p)h. (2.23)

bvio que vale


r(h)
lim = 0. (2.24)
h0 h
Reciprocamente, se existe r(h) satisfazendo 2.22 ento vale que
 
f(p + h) f(p)
lim L = 0, (2.25)
h0 h

como limh0 = L, uma vez que o mesmo uma constante e no depende de h, utilizando

21
CAPTULO 2. A DERIVADA: CONCEITOS E RESULTADOS BSICOS

o item 1 da proposio 2.1.11 temos que


 
f(p + h) f(p)
L=L+0 = lim L + lim L (2.26)
h0 h0 h
 
f(p + h) f(p)
= lim L + L (2.27)
h0 h
 
f(p + h) f(p)
= lim (2.28)
h0 h

implicando que f derivvel em p e que L = f 0 (p).

A funo r(h) do Teorema acima chamada de funo resto.

Observao 2.1.13 (Interpretao geomtrica do resto r(h)). Temos, em virtude de 2.21,


que a equao da reta tangente ao grfico de f no ponto (p, f(p)) possui a seguinte
equao
y = f(p) + f 0 (p)(x p), (2.29)
da calculando o valor da ordenada y na abcissa p + h, temos que

y(p + h) = f(p) + f 0 (p)h. (2.30)

Da note que r(h) = f(p + h) f(p) f 0 (p)h a diferena entre os valores das ordenadas
do grfico de f e da reta que tangente ao grfico de f no ponto (p, f(p)). Da, como foi
provado acima que
r(h)
lim = 0,
h0 h

isto indica que r(h) tende a 0 muito mais rpido que o prprio h, logo, para valores
pequenos de h temos que f(x + h) y(x + h), ou seja, os valores de f para valores de x
na vizinhana de p podem ser aproximados pelos valores de y pertencentes a reta tangente.
Em outras palavras estamos aproximando os valores do grfico de f pelos valores da reta
tangente. Por isso o nome aproximao linear. Note que, de fato, limh0 r(h) = 0, pois

r(h) r(h)
lim r(h) = lim h = lim lim h = 0. (2.31)
h0 h0 h h0 h h0

O Teorema a seguir de fundamental importncia nesta teoria.

Teorema 2.1.14 (Regra da Cadeia). Sejam f : [a, b] R e g[c, d] [a, b]. Se g


derivvel em p e f derivvel em g(p) ento vale que

(f g)0 (p) = f 0 (g(p)) g0 (p). (2.32)

Demonstrao. Como g derivvel em p, para h suficientemente pequeno, temos

r(h)
g(p + h) = g(p) + g0 (p)h + r(h), onde lim = 0. (2.33)
h0 h

22
2.1. TEORIA E CONCEITOS ELEMENTARES

De forma anloga, devido existir f 0 (g(p)) temos que


f(g(p + h)) = f(g(p) + g0 (p)h + r(h)) (2.34)
| {z }
(h)

= f(g(p)) + f (g(p)) (h) + ((h))


0
(2.35)
onde ((h)) satisfaz que
((h))
lim = 0. (2.36)
(h)
(h)0

Note, entretanto, que (h) 0 quando h 0. Da temos que


f(g(p + h)) = f(g(p)) + f 0 (g(p)) g0 (p)h + f 0 (g(p))r(h) + ((h)) (2.37)
= f(g(p)) + f (g(p)) g (p)h + R(h),
0 0
(2.38)
onde R(h) = f 0 (g(p))r(h) + ((h)). Se formos capazes de mostrar que
R(h)
lim =0 (2.39)
h0 h
ento, utilizando o Teorema 2.22, provaremos que a funo composta f g derivvel em
p e ainda que vale a igualdade 2.32. Assim sendo temos
R(h) f 0 (g(p))r(h) + ((h))
lim = lim (2.40)
h0 h h0 h
r(h) ((h))
= f 0 (g(p)) lim + lim (2.41)
h0 h h0 h
r(h) ((h)) (h)
= f 0 (g(p)) lim + lim (2.42)
h0 h h0 (h) h
r(h) ((h)) (h)
= f 0 (g(p)) lim + lim lim (2.43)
h0 h (h)0 (h) h0 h

= f 0 (g(p)) 0 + 0 g0 (p) (2.44)


= 0. (2.45)
Assim sendo o Teorema est provado.
Provaremos agora o Teorema da Funo Inversa.
Teorema 2.1.15 (Teorema da Funo Inversa). Seja f : [a, b] [c, d] e g : [c, d] [a, b]
sua funo inversa. Se f derivvel em p (a, b) e f 0 (p) 6= 0 ento g derivvel em
f(p) e vale que
1
g0 (f(p)) = 0 . (2.46)
f (p)
Demonstrao. Usando que g(f(x)) = x, x [a, b], temos que
g(f(p + h)) g(f(p))
1 = (2.47)
h
g(f(p + h)) g(f(p)) f(p + h) f(p)
= . (2.48)
f(p + h) f(p) h

23
CAPTULO 2. A DERIVADA: CONCEITOS E RESULTADOS BSICOS

Note que, como f injetiva, no corremos perigo de f(p + h) f(p) = 0. Note que faz
sentido tomarmos o limite quando h 0 na expresso 2.48, uma vez que tal limite do lado
esquerdo da igualdade existe e igual a 1. Assim sendo
 
g(f(p + h)) g(f(p)) f(p + h) f(p)
1 = lim , (2.49)
h0 f(p + h) f(p) h
da, multiplicando ambos os lados da igualdade acima por
 1
f(p + h) f(p) 1
lim = 0 , (2.50)
h0 h f (a)
temos que
 1  
1 f(p + h) f(p) g(f(p + h)) g(f(p)) f(p + h) f(p)
= lim lim
f 0 (a) h0 h h0 f(p + h) f(p) h
g(f(p + h)) g(f(p))
= lim
h0 f(p + h) f(p)
= g (f(p)),
0

pois note que h 0 implica em f(p + h) f(p). Veja o exerccio 1.


Vejamos agora uma aplicao do Teorema 2.1.15 para calcular a derivada da funo
inversa da tg x.
Proposio 2.1.16. Para todo x R, vale que
1
arc tg 0 x = . (2.51)
1 + x2
Demonstrao. Como tg 0 t = sec2 t 6= 0, t R, denotando y = arc tg x, segue, pelo
Teorema 2.1.15 que y = arc tg x derivvel e ainda que
1 1
y0 (x) = = . (2.52)
tg 0 y sec2 y
Como y = arc tg x ento bvio que
tg y(x) = x, (2.53)
da utilizando a identidade trigonomtrica
tg 2 y + 1 = sec2 y, (2.54)
conclumos que sec2 y = 1 + x 2 e portanto o resultado est provado.

2.2 Pontos Crticos e Valores Extremos


Faremos aqui uma aplicao da derivada na busca de encontrar pontos de mximo/mnimo
de funes suaves atravs do conceito de ponto crtico.

24
2.2. PONTOS CRTICOS E VALORES EXTREMOS

2.2.1 Pontos crticos


Definio 2.2.1. Seja f : [a, b] R e p (a, b). O ponto p dito crtico para f se
f 0 (p) = 0.
Definio 2.2.2. Uma funo f : X R R possui um mximo (respectivamente mnimo)
no ponto p X se f(p) f(x), x X (respectivamente f(p) f(x), x X .)
Vejamos agora um resultado muito importante e que ser utilizando muitas vezes neste
texto.
Proposio 2.2.3. Considere a funo f : [a, b] R contnua em [a, b] e derivvel em
(a, b). Se p (a, b) um ponto de mximo (mnimo) para f ento p crtico.
Demonstrao. Seja p um ponto de mximo para f e h R tal que p + h [a, b]. Da
teremos que f(p + h) f(p) 0 e portanto
f(p + h) f(p) f(p + h) f(p)
0, se h > 0 e 0 se h < 0. (2.55)
h h
Da teremos, para os limites laterais do quociente de Newton, que
f(p + h) f(p) f(p + h) f(p)
lim+ 0 e lim 0, (2.56)
h0 h h0 h
da, como os limites laterais existem e coincidem, segue que f 0 (p) = 0.
Observao 2.2.4. No se engane! Nem todo ponto crtico um ponto de mximo (mnimo)!
E nem todo ponto de mximo (mnimo) crtico!
1. A funo f(x) = x 3 , x R possui x = 0 como crtico e o mesmo no de mximo
nem de mnimo. Tal ponto tal que a concavidade do grfico muda de sinal e o
mesmo chamado de ponto de inflexo.
2. A funo f : [0, 1] R, f(x) = x tem mximo em x = 1 no entanto tal ponto no
crtico. Isto acontece devido o ponto de mximo ser uma extremidade do intervalo.
O mesmo ocorre com o mnimo em x = 0.
3. A funo f(x) = |x|, x R possui mnimo em x = 0, e ainda assim tal ponto no
crtico pois no existe f 0 (0).
4. A funo f(x) = x 3 3x, x R possui x = 1 e x = 1 como pontos crticos e ambos
no so nem de mximo nem de mnimo, pois fcil ver que tal funo no assume
mximo nem mnimo uma vez que limx f(x) = e limx+ f(x) = +. No
entanto existe algo de interessante nestes pontos em questo x = 1 um ponto de
mnimo local e x = 1 um ponto de mximo local. Vejamos as definies de tais
conceitos abaixo.
Definio 2.2.5. Seja f : [a, b] R uma funo contnua. Um ponto p um ponto de
mximo local para f se para alguma vizinhana1 Vp [a, b] vale que f(p) f(x), x Vp .
A definio de mnimo local anloga.
1 As vizinhanas V podem ser, por exemplo, da forma (p , p + ), ou seja, o conjunto dos nmeros da forma
p
p + h, onde |h| < .

25
CAPTULO 2. A DERIVADA: CONCEITOS E RESULTADOS BSICOS

Proposio 2.2.6. Considere a funo f : [a, b] R contnua em [a, b] e derivvel em


(a, b). Se p (a, b) um ponto de mximo (mnimo) local para f ento p crtico.

Figura 2.2: Pontos Crticos

Teorema 2.2.7 (Aproximao Quadrtica). A funo duas vezes derivvel em p se, e


somente se, existem L1 , L2 R e uma funo (h) tal que
(h)
f(p + h) = f(p) + L1 h + L2 h2 + (h), onde lim = 0. (2.57)
h0 h2
Demonstrao. Seja f duas vezes derivvel em x = p, da, para h suficientemente pequeno
defina
1
(h) = f(p + h) f(p) f 0 (p)h f 00 (p)h2 . (2.58)
2
Note que duas vezes derivvel em h = 0 e vale que 0 (0) = 0. Da, pelo Teorema de
LHospital, temos que
 
(h) 0 (h) 1 f 0 (p + h) f 0 (p)
lim = lim = lim f (p) = 0.
00
(2.59)
h0 h2 h0 2h 2 h0 h
Reciprocamente, suponha que existam L1 , L2 e (h) satisfazendo a expresso 2.57. Note
que  
L2 h2 + (h) (h)
lim = lim L2 h + 2 h = 0, (2.60)
h0 h h0 h
da segue do Teorema 2.22 que f derivvel em p e vale que L1 = f 0 (a). Da, como f
derivvel em p ento derivvel em 0 e vale que 0 (0) = 0. E portanto
 
(h) 0 (h) 1 f 0 (p + h) f 0 (p)
0 = lim 2 = lim = lim 2L2 , (2.61)
h0 h h0 2h 2 h0 h

implicando que f 00 (p) existe e que f 00 (p) = 2L2 .

26
2.2. PONTOS CRTICOS E VALORES EXTREMOS

Teorema 2.2.8 (Mximo Local). Se p crtico para f e f 00 (p) < 0 ento p um ponto de
mximo local para f.
Demonstrao. Como f duas vezes derivvel e p crtico pra f vale, pelo Teorema 2.2.7
que
f 00 (p) 2 (h)
f(p + h) = f(p) + h + (h), onde lim 2 = 0. (2.62)
2 h0 h
Assim sendo, dado > 0 existe > 0 tal que,

(h)

h2 < , h tal que |h| < . (2.63)

Assim sendo, tomando = f 00 (p)/4 > 0, temos que, para |h| <

(h) (h) f 00 (p) f 00 (p) 2
2
2 < (h) < h. (2.64)
h h 4 4
Da utilizando as expresses 2.62 e 2.64, temos que
f 00 (p) 2 f 00 (p) 2 f 00 (p) 2
f(p + h) < f(p) + h h = f(p) + h < f(p), |h| < . (2.65)
2 4 4
Provando assim que p um mximo local.
Teorema 2.2.9 (Mnimo Local). Se p crtico para f e f 00 (p) > 0 ento p um ponto de
mnimo local para f.
Teorema 2.2.10 (Weierstrass). Se f : [a, b] R contnua ento f assume mximo e
mnimo em [a, b], isto , existem x1 e x2 em [a, b] tais que f(x1 ) f(x) e f(x2 ) f(x), x
[a, b].
Para ver uma demonstrao do Teorema 2.2.10 veja [7].
Observao 2.2.11. No se iluda em achar que o fato de f(x) para todo x em seu
domnio garante que f admite um mnimo! Por exemplo, tome f(x) = x 1 , x > 0, claro
que f(x) > 0, x > 0, no entanto no existe p > 0 tal que f(p) = 0. Note que isto no
contradiz o Teorema 2.2.10, pois o domnio de f(x) = x 1 no da forma [a, b]!
A procura de valores extremos, isto , de mximo ou mnimo de uma dada funo ,
de modo geral, um problemas deveras complicado. A utilizao da derivada de grande
importncia, mesmo nem sempre elucidando todos os problemas. Vejamos um roteiro de
como buscar valores extremos para funes do tipo f : [a, b] R contnuas e derivveis
em (a.b)
i . Pelo Teorema 2.2.10 os pontos de mximo e mnimo existem. Isto ocorre devido a
compacidade do intervalo [a, b];
ii . Na tentativa de encontrar os mximos/mnimos buscamos os pontos crticos em
(a, b) via a equao dos pontos crticos dada portanto
f 0 (p) = 0. (2.66)
Tal procedimento devido a proposio 2.2.3;

27
CAPTULO 2. A DERIVADA: CONCEITOS E RESULTADOS BSICOS

iii . Da calcularmos o sinal de f 00 (p) para determinarmos se tal ponto de mximo ou


de mnimo local;

iv . Por ltimo comparamos os valores de f(p) para p crtico com os valores de f(a) e
f(b) para identificarmos os valores extremos.

2.3 O Teorema do Valor Mdio


Nesta seo apresentaremos um dos Teoremas mais importantes, ao lado do Teorema Fun-
damental do Clculo, do Clculo Diferencial e Intergral: O Teorema do Valor de Lagrange.
Abordaremos ainda as suas consequncias diretas mais importantes.

Teorema 2.3.1 (Teorema de Rolle). Seja f : [a, b] R uma funo contnua e derivvel
em (a, b). Se f(a) = f(b) ento existe c (a, b) tal que

f 0 (c) = 0. (2.67)

Em outras palavras existe ponto crtico em (a, b). Veja a figura 2.3.

Figura 2.3: Teorema de Rolle

Demonstrao. Segue do Teorema 2.2.10 que f admite mximo e mnimo em [a, b]. Se
ambos acontecem nos extremos, digamos, f(a) f(x) e f(x) f(b) para todo x [a, b],
teramos que
f(a) f(x) f(b) = f(a), x [a, b], (2.68)
assim sendo f seria constante igual a f(a) e da qualquer c (a, b) satisfaz que f 0 (c) = 0.
Veja o exerccio 2. Caso contrrio, pelo menos um dos valores extremos acontece em (a, b)
e devido a proposio 2.2.3 tal ponto crtico.

28
2.3. O TEOREMA DO VALOR MDIO

Teorema 2.3.2 (Teorema do Valor Mdio). Seja f : [a, b] R uma funo contnua e
derivvel em (a, b). Ento existe c (a, b) tal que

f(b) f(a)
f 0 (c) = . (2.69)
ba

Demonstrao. Temos que, a equao da reta secante ao grfico de f nos pontos (a, f(a))
e (b, f(b)) tem equao dada por
 
f(b) f(a)
y f(a) = (x a). (2.70)
ba

Agora considere a funo : [a, b] R definida por (x) = f(x) y(x), isto, a diferena
entre os valores da ordenada do grfico de f e a ordenada do grfico de y. Note que
contnua e derivvel em (a, b) e ainda, satisfaz que (a) = (b) = 0. Da pelo Teorema
2.3.1, existe c (a, b) tal que 0 (c) = 0. Por ltimo veja que

f(b) f(a)
0 (x) = f 0 (x) y0 (x) = f 0 (x) . (2.71)
ba

E portanto o Teorema est demonstrado.

Observao 2.3.3. A interpretao geomtrica do Teorema do Valor Mdio diz que existe,
pelo menos um ponto c, entre a e b tal que a reta tangente a grfico de f no ponto (c, f(c))
paralela reta secante ao grfico de f que passa nos pontos (a, f(a)) e (b, f(b)). Veja
figura

Figura 2.4: Teorema do Valor Mdio

Corolrio 2.3.4. Seja f : [a, b] R. Ento f constante se, e somente se, f 0 (x) =
0, x (a, b).

29
CAPTULO 2. A DERIVADA: CONCEITOS E RESULTADOS BSICOS

Demonstrao. Para provar a ida veja exerccio 2. Suponha agora que a derivada de f
seja nula em todos os ponto x (a, b), da, pelo Teorema 2.3.2, dado x (a, b] existe
cx (a, x) tal que
f(x) f(a)
= f 0 (cx ) = 0, (2.72)
xa
e portanto f(x) = f(a). Como x escolhido arbitrrio segue que f constante igual a
f(a).
Corolrio 2.3.5. Sejam f, g : [a, b] R contnuas em [a, b] e derivveis em (a, b). Se
f 0 (x) = g0 (x), x (a, b) ento existe uma constante tal que

f(x) = g(x) + . (2.73)

Demonstrao. Defina h = f g, verifique que h0 (x) = 0, x (a, b) e aplique2 o


Corolrio 2.3.4.
Corolrio 2.3.6. Se f uma funo tal que f 0 (x) > 0 para todo x em seu domnio ento
f crescente. Em particular f injetiva e restringindo, se necessrio, o contradomnio de
f sua imagem temos que f admite uma funo inversa.

2.4 Problemas Propostos


1. Uma funo f dita contnua em p se limxp f(x) = f(p). Mostre que se f 0 (p)
existe ento f contnua no ponto p. Isto , se f derivvel ento f contnua.
2. Mostre que, se f(x) = constante, ento f 0 (x) 0.
3. Defina a funo (h) = f(p + h) com p fixado. Mostre que f derivvel em x = p
se, e somente se, derivvel em h = 0.
4. Demonstre a Proposio 2.1.11.
5. Demonstre que todo polinmio de grau n da forma

X
n
p(i) (0)
p(x) = xi, (2.74)
n!
i=0

onde p(i) a i-sima derivada de p.


6. Calcule
sen (3 + x)2 sen (9)
lim .
x0 x
7. Calcule
esen x 1
lim .
x x
2 Se o domnio das funes no forem da forma [a, b], por exemplo, (1, 0) (1, 2) ento o corolrio 2.3.5 no
vlido. Para exemplo desta forma veja [10] e a Observao 3.1.6.

30
2.4. PROBLEMAS PROPOSTOS

8. Seja f uma funo tal que |f(x)| x 2 , x R. Encontre f 0 (0).

9. Mostre que
ln x x 1, x > 1. (2.75)

10. Tome x [0, /2]. Faa um esboo no ciclo trigonomtrica e perceba que

sen x x tg x, (2.76)

da mostre que
sen x
cos x 1. (2.77)
x
Mostre ainda que a expresso acima tambm vlida para x [/2, 0]. Da
utilize o Teorema do Confronto dos limites para dar uma demonstrao de que
sen x
lim = 1. (2.78)
h0 x

11. Calcule as derivadas funes trigonomtricas abaixo:

(a) cos x; (e) cotg x;


(b) tg x; (f) arc sen x;
(c) sec x; (g) arccos x;
(d) cosec x; (h) arc cotg x.

12. Demonstre a Proposio 2.2.3 para o caso de quando p um ponto de mnimo.

13. Demonstre que o Teorema de Rolle equivalente ao Teorema do Valor Mdio.

14. Use o Teorema do Valor Mdio para mostrar que se dois velocistas em uma deter-
minada corrida chegam na linha de chegada empatados ento existe, pelo menos um
segundo t, tal que em t, ambos possuem a mesma velocidade.

15. Prove um resultado um pouco mais geral que o 2.1.15. Seja f : [a, b] R injetiva,
derivvel e f 0 (p) 6= 0, p (a, b). Se existe g : [c, d] [a, b] tal que h(x) = gf(x)
derivvel em x = p mostre que g derivvel em f(p) e vale que

h0 (p)
g0 (f(p)) = . (2.79)
f 0 (p)

16. Demonstre a proposio 2.2.6.

17. Determine a para que as circunferncias x 2 + y2 = 1 e (x a)2 + y2 = 1 se


interceptem ortogonalmente, ou seja, suas retas tangentes num dado ponto sejam
perpendidulares.

31
CAPTULO 2. A DERIVADA: CONCEITOS E RESULTADOS BSICOS

18. Prove o Teorema de LHospital. Se f e g so funes derivveis em p e f(p) =


g(p) = 0 demonstre que
f(x) f 0 (x)
lim = lim 0 . (2.80)
xp g(x) xp g (x)

19. Demonstre ao Teorema 2.2.9.

20. Demonstre o Corolrio 2.3.6.

21. Uma funo duas vezes derivvel f : R R dita convexa se f 00 (x) > 0, x R.
Mostre que se f admite um ponto crtico ento tal ponto de mnimo global.

22. Um ponto move-se sobre a semicircunferncia x 2 + y2 = 5, y 0. Suponha que


dx
> 0. Determine o ponto da curva em que a velocidade de y seja o dobro da de
dt
x.

23. Considere a seguinte Equao Diferencial Ordinria:

y00 + y0 2y = sen x.

Encontre os valores de A e B tais que y(x) = Asen x + B cos x seja soluo de tal
equao diferencial.

24. A figura 2.5 mostra uma roda de raio 40 cm que gira e uma barra de conexo AP
com comprimento 1,2 m. O pino P pode escorregar para a frente a para trs ao
longo do eixo x medida que a roda gira no sentido anti-horrio a uma taxa de 360
revolues por minuto.

(a) Encontre a velocidade angular da barra de conexo, 0 (t), em radianos por


segundo, quando = /3;
(b) Expresse a distncia x = |OP| em termos de ;
(c) Encontre uma expresso para a velocidade do pino P em termos de .

Figura 2.5: Roda com barra de conexo AP.

32
2.4. PROBLEMAS PROPOSTOS

25. Uma massa atada a uma mola vertical tem funo posio dada por y(t) = Asen (t),
onde A a amplitude de sua oscilao e uma constante.

(a) Encontre a velocidade e a acelerao da massa como funo do tempo.


(b) Mostre que a acelerao proporcional ao deslocamento y.
(c) Mostre que a velocidade mxima quando a acelerao zero.

26. Um carro viaja noite em Juazeiro do Norte-CE na estrada rumo ao horto para
fazer uma visita ao museu do Padre Ccero Romo Batista. Em certo momento da
estrada a mesma assume o formato de parbola com seu vrtice na origem. O carro
encontra-se em um ponto a 100 m a oeste e 100 m ao norte da origem e viaja na
direo leste. A 100 m a leste e a 50 m ao norte da origem est situada esttua do
Padre Ccero. Em que ponto da estrada os faris do carro vo iluminar a esttua
do Padim? Veja a figura 2.6.

Figura 2.6: Estrada do Horto

2
27. Uma parede vertical faz um ngulo de medida com o solo. Veja a figura 2.7 Uma
3
escada de 6m est encostada na parede e sua ponta escorrega pela parede a uma
taxa de 1m/s. Quo rpido est variando a rea do tringulo formado pela escada,

a parede e o cho quando a escada faz com o cho um ngulo de rad?.
6
28. A reta tangente curva xy x 2 = 1 no ponto (x0 , y0 ), x0 > 0, intercepta o eixo
y no ponto B. Mostre que a rea do tringulo de vrtices (0, 0), (x0 , y0 ) e B no
depende de (x0 , y0 ).

29. Considere a funo f(x) = 1/x, x > 0. Seja P um ponto sobre o grfico de f e
considere o tringulo formado pela reta tangente ao grfico de f em P e os eixos
coordenados. Mostre que a rea deste tringulo no depende de P.

30. Enche-se um reservatrio, cuja forma a de um cone circular reto (veja figura 2.8),
de gua a uma taxa de 4m3 /min. O vrtice est a 12m do topo e o raio do topo

33
CAPTULO 2. A DERIVADA: CONCEITOS E RESULTADOS BSICOS

Figura 2.7: Escada inclinada

de 6m. Sendo x = x(t) a altura da gua dentro do cone no instante t. Determine


com que velocidade a gua est subindo no instante em que x = 5m.

Figura 2.8: Tanque em formato de cone

31. Dois carrinhos, A e B com rm de altura, esto conectados por uma corda de `m que
passa por uma polia P (veja figura 2.9). O ponto P encontra-se a hm de altura
do cho e o carrinho A est puxando o carrinho B a uma velocidade constante .
Denote por sA e sB as posies dos carrinhos A e B respectivamente. Demonstre
que a velocidade vB do carrinho B dada por


sA `
vB = q 1 . (2.81)
sB 2
sA + (h r) 2

32. Duas pessoas comeam a andar a partir de um mesmo ponto. Uma vai para o leste a
5km/h e a outra vai para o nordeste a 3km/h. Quo rpido est variando a distncia
entre as pessoas aps meia hora.

33. Encontre os pontos P e Q sobre a parbola y = 1 x 2 de forma que o tringulo


ABC formado pelo eixo x e pelas retas tangentes em P e Q seja equiltero. Veja a
figura 2.10.

34
2.4. PROBLEMAS PROPOSTOS

Figura 2.9: Carrinhos ligados pela corda

Figura 2.10: Tringulo ABC

34. Use o corolrio 2.3.5 para mostrar que

sen 1 (tgh x) = tg 1 (senh x), (2.82)

onde senh x = (exp x exp(x))/2, cosh x = (exp x + exp(x))/2 e tgh x =


senh x/ cosh x.

35
Captulo 3
Aplicaes da Derivada

A Matemtica apresenta invenes to sutis que podero servir no s para satisfazer


os curiosos como, tambm para auxiliar as artes e poupar trabalho aos homens."

Ren Descartes (1596 - 1650)

A PRESENTAREMOS aqui aplicaes da derivada relacionadas com modelagem de problemas


de diversos ramos cientficos, utilizando equaes diferenciais lineares de primeira
ordem com coeficientes constantes.

3.1 Equaes Diferenciais Lineares de Primeira Ordem


Existem diversos problemas interessantes em Matemtica onde as equaes envolvem in-
formaes e propriedades da derivada de uma determinada funo e a tarefa em questo
encontrar a tal funo. Em outras palavras, devemos fazer uma busca por uma funo cuja
derivada conhecemos. Tal funo chamada de primitiva e abaixo segue uma definio na
forma conceitual.

3.1.1 Primitivas
Definio 3.1.1. Seja f : [a, b] R. Uma funo F : [a, b] R uma primitiva de f se
F 0 (x) = f(x), x (a, b).
Note que, em virtude do Corolrio 2.3.4, se f possui uma primitiva F ento a mesma
possui infinitas, uma vez que (F + )0 = F 0 = f para toda constante R. E mais
ainda, em virtude do 2.3.5 qualquer outra primitiva de f da forma F + . Assim sendo
comum, em alguns casos, nos referirmos a famlia das primitivas de uma dada funo ao
invs de apenas uma nica primitiva. Entretanto, se alm de exigirmos que F 0 (x) = f(x)
solicitemos ainda que F (x0 ) = F0 ento a constante que a parece na famlia de primitivas
determinada e portanto a primitiva ser univocamente determinada.
Teorema 3.1.2 (Existncia de Primitiva). Se f : [a, b] R contnua ento f admite
primitiva.
A demonstrao deste resultado, embora seja relativamente simples, foge das nossas
intenes neste texto. Assim sendo um leitor interessado em tal Teorema pode encontrar
uma demonstrao em [7].
Proposio 3.1.3. Seja 1 6= R. A famlia de primitivas de f(x) = x dada por

x +1
F 0 (x) = + , (3.1)
+1
onde R.

37
CAPTULO 3. APLICAES DA DERIVADA

Demonstrao. Decorre diretamente da Observao 2.1.8.

Definio 3.1.4. A funo logaritmo a funo ln : (0, +) R definida como sendo a


primitiva da funo x 1 tal que ln(1) = 0, isto ,

1
ln0 (x) = , ln(1) = 0. (3.2)
x

Observao 3.1.5. A funo logaritmo ln x de fato definida utilizando integral definida


na forma Z x
1
ln x = dt. (3.3)
1 t

Mas como no desejamos aqui adentrar no contedo de integral optamos pela definio
3.1.4, que para os nossos propsitos presentes suficiente.

Observao 3.1.6 (Importante!). E para x < 0 quem seria a primitiva de x 1 ? Bem, se


x < 0 ento x > 0 e da, pela regra da cadeia,

1 1
ln0 (x) = (1) = . (3.4)
x x

Assim sendo, note que x 1 possui duas famlias de primitivas distintas e primitivas de
famlias diferentes no diferem por uma constante. Mas note que tal fato no contradiz
o Corolrio 2.3.5, pois neste caso o domnio de x 1 da forma (, 0) (0, +) e
ento sua primitiva seria ln(x) se x > 0 e ln(x) se x < 0. Assim sendo, quando no
explicitamos o sinal de x o correto afirmar que a primitiva de x 1 ln |x|.

Teorema 3.1.7. Existe uma funo exp : R (0, +) inversa da funo ln x. Vale ainda
que
exp0 (x) = exp x. (3.5)

Demonstrao. Como ln0 x = x 1 > 0, x > 0 temos, devido ao corolrio 2.3.6 que f
admite inversa. Da temos que

y = exp x x = ln y, (3.6)

da derivando em relao a x a expresso do lado direito acima utilizando a regra da


cadeia, obtemos
1
1 = y0 , (3.7)
y

e portanto y0 = y, como queramos demonstrar.

Observao 3.1.8. obvio que exp(0) = 1 pois ln(1) = 0.

38
3.1. EQUAES DIFERENCIAIS LINEARES DE PRIMEIRA ORDEM

3.1.2 Equaes Diferenciais Lineares


Existem diversos problemas interessantes em Matemtica que so modelados e elucidados
por via do conceito a seguir.
Definio 3.1.9. Uma equao diferencial linear de primeira ordem com coeficientes con-
stantes uma equao da forma

y0 (x) = a y(x) + b, a, b R. (3.8)

Um problema de valor inicial uma equao do tipo 3.8 acompanhada de um valor inicial
y(x0 ) = y0 .
Observao 3.1.10. Note que a funo constante y = b/a soluo da equao 3.8.
Teorema 3.1.11 (Existncia e Unicidade). O Problema de Valor Inicial
 0
y (x) = a(x)y(x) + b(x),
(3.9)
y(x0 ) = y0

onde a, b : R R so funes contnuas, possui nica soluo. E tal soluo definida


pra todo x R.
Para uma demonstrao do Teorema 3.1.11 veja [10].
Corolrio 3.1.12. Para todo x, y R vale que

exp(x + y) = exp x exp y. (3.10)

Demonstrao. Fixando y, considere f(x) = exp(x + y) e g(x) = exp x exp y. Temos


ento que f 0 (x) = f(x), f(0) = exp y e g0 (x) = g(x), g(0) = exp y, logo tanto f quanto
g so solues do mesmo problema de valor inicial e portanto, luz do Teorema 3.1.11,
f = g.
Faamos aqui uma continha simples. Considerando a equao 3.8, temos que

y0 (x)
= a. (3.11)
y(x) + b
a

A expresso do lado esquerdo a derivada de f(x) = ln |y(x) + b/a| e a do lado direito


a derivada de g(x) = ax. Assim sendo, a equao acima afirma que f e g possuem as
mesmas derivadas, da, pelo Corolrio 2.3.5, segue que,

b

ln y + = ax + , (3.12)
a

implicando que

b
y + = exp(ax + ) = exp() exp(ax) = C exp(ax) (3.13)
a

39
CAPTULO 3. APLICAES DA DERIVADA

onde C = exp . Note que na penltima igualdade fizemos uso de 3.1.12. Para a retirada
do mdulo, dependeremos do valor do dado inicial, pois, se y0 > b/a teremos como
soluo
b
y = + C exp(ax) (3.14)
a
e caso y0 < b/a teremos a soluo
b
y = C exp(ax). (3.15)
a
Perceba que estamos sempre considerando a 6= 0, pois caso contrrio a soluo seria muito
bvia e dada por y = bx + C , C R.

3.1.3 Equao de Bernoulli


Existem ainda problemas interessantes em Matemtica que so modelados por equaes
no lineares, mas que, com uma devida modificao as mesmas transformam-se em equaes
lineares. Como o caso das equaes de Bernoulli.
Definio 3.1.13 (Equao de Bernoulli). Uma equao diferencial dita ser de Bernoulli
se a mesma possui a forma
y0 (x) = a(x)y(x) + b(x)ym (x), (3.16)
onde a, b : R R so funes contnuas1 e 1 6= m R.
Consideremos a seguinte mudana de variveis:
y = zk (3.17)
onde k R tal que ser escolhido posteriori de forma conveniente. Assim sendo,
temos que y0 = kz k1 z 0 e aplicando na equao 3.16 temos
a b
z0 = z + z mkk+1 , (3.18)
k k
da, escolhendo k de tal forma que mk k + 1 = 0, isto , k = 1/(1 m), a equao 3.16
transforma-se na equao linear
z 0 = a(1 m)z + b(1 m), (3.19)
que tem como soluo
b
z = + C exp(a(1 m)x), (3.20)
a
e portanto a soluo da equao 3.16
  1m
1
b
y = + C exp(a(1 m)x) , (3.21)
a
onde C encontrada a partir do dado inicial y(x0 ) = y0 .
1 Neste texto consideraremos apenas o caso a, b constantes.

40
3.2. PROBLEMAS DE MODELAGEM

3.2 Problemas de Modelagem


3.2.1 Uma prola no xampu
Problema 3.2.1. Imagine que uma prola est afundando em um recipiente com xampu
viscoso, sujeita a uma fora de atrito proporcional sua velocidade e que se ope sua
queda. Suponha tambm que haja um empuxo exercido pelo xampu. De acordo com o
Princpio de Arquimedes, a fora do empuxo igual ao peso do lquido deslocado pela
prola. Se m for a massa da prola e P a massa do xampu deslocada pela prola (
medida que ela desce), descreva o movimento da prola. Veja a figura 3.1

Figura 3.1: Prola no xampu

Demonstrao. Consideraremos como y(t) a altura da prola dentro do recipiente com


xampu, g a acelerao da gravidade e o eixo y ser orientado para cima. A fora (resultante)
Fr atuando sobre a perla a soma algbrica das foras atuando sobre a mesma, isto ,

Fr = mg + y0 + Pg , < 0. (3.22)
|{z} |{z} |{z}
gravidade fora de atrito empuxo

Perceba que de fato < 0, uma vez que a fora de atrito aponta para cima (pois contra
o movimento) e y0 < 0 uma vez que a prola est caindo. Utilizando a segunda Lei de
Newton (Fora=massaacelerao) temos que

Fr = my00 , (3.23)

implicando na seguinte equao diferencial de segunda ordem


 
0 P
y00 = y + 1 g. (3.24)
m m

41
CAPTULO 3. APLICAES DA DERIVADA

Faamos v = y0 , temos que


 
P
v = v+
0
1 g, (3.25)
m m
que uma equao do tipo 3.1.9, cuja soluo
(m P)g  
v= + C exp t , (3.26)
m
onde C uma constante. Considerando que a prola foi abandonada, e portanto v(0) = 0,
conclumos que a equao acima assume a forma
(m P)g h  i
v= 1 exp t . (3.27)
m
Voltando a varivel original y, chegamos a equao
(m P)g h  i
y0 = 1 exp t , (3.28)
m
e sua soluo
(m P)g h m  i
y= t exp t + M, (3.29)
m
onde M uma constante que determinada utizando que y(0) altura do xampu dentro do
recipiente. Uma informao simples mas interessante e importante que, como /m < 0
ento  
lim exp t = 0, (3.30)
t+ m
implicando que a velocidade limite (v = limt v(t)) da prola (m P)g/.

3.2.2 Mistura de Solues


Problema 3.2.2. No instante t0 , um tanque contm kg de sal dissolvidos em M l de gua.
Veja a figura 3.2. Suponha que gua com ` kg de sal por litro esto sendo bombeados para
o tanque a uma taxa de r litros por minuto e que o lquido, bem misturado, est saindo do
tanque mesma taxa. Escreva a equao diferencial que descreve este fluxo e encontre a
quantidade de sal q(t) no instante t.
Demonstrao. Sendo q(t) a quantidade de sal dentro do tanque no instante t, a taxa de
variao da quantidade de sal q0 (t). Assim sendo temos que

q0 = Taxa de entrada de sal em kg/min Taxa de sada de sal em kg/min. (3.31)

Da temos

Taxa de entrada de sal em kg/min = `(kg/l) r(l/min) = ` r(kg/min), (3.32)

e para a taxa de sada


q q
Taxa de sada de sal em kg/min = (kg/l) r(l/min) = r(kg/min). (3.33)
M M

42
3.2. PROBLEMAS DE MODELAGEM

Figura 3.2: Mistura de Solues

Note que a taxa de sada de sal no constante, pois depende da quantidade de sal no
instante t representada por q. Assim sendo a equao diferencial que modela tal fenmeno

r
q0 = `r q, (3.34)
M
cuja soluo
 r 
q = M` + C exp t . (3.35)
M
Utilizando que q(0) = , temos que C = M`. E portanto a soluo
 r 
q = M` + ( M`) exp t . (3.36)
M
Novamente, como r/M < 0, temos que a quantidade limite de sal no tanque q =
M`.

3.2.3 Crescimento de Peixes


Problema 3.2.3. A pesca sempre foi um elemento importante para a sobrevivncia de
muitas raas. Com o desenvolvimento de materiais sofisticados muitas vezes predatrios,
o estoque de peixes diminuiu muito, at mesmo causando o perigo de extino de algums
espcies. Atualmente existem leis internacionais que definem a maneira como a pesca deve
ser efetuada, impondo controle sobre o tamanho das redes, tamanho das malhas e perodos
de aprisionamento. Os modelos matemticos podem ser utilizados para se medir o efeito
de tais controles e estabelecer em que condies o peixe pode ser capturado. O peso p(t)
de cada espcie dado pela equao de Von Bertalanffy (obtida experimentalmente):
2
p0 = p 3 p, (3.37)

onde a constante de anabolismo, representando a taxa de sntese de massa por


unidade de superfcie animal e uma constante de catabolismo, representando a taxa
de diminuio de massa por unidade de massa. Descreva o peso p do peixe no instante t
e estude a soluo do problema.

43
CAPTULO 3. APLICAES DA DERIVADA

Demonstrao. Veja que a equao de Von Bertalanffy uma equao de Bernoulli 3.16
com m = 2/3 da sua soluo
  3

p= + C exp t . (3.38)
3

Como > 0, temos que o peso limite do peixe p = 3 / 3 , uma vez que
 

lim exp t = 0.
t 3

Como o peixe ao nascer tem um peso muito pequeno, podemos considerar p(0) 0 e
portanto a soluo 3.38 assume a forma
  3

p = p 1 exp t . (3.39)
3

Analisemos agora a soluo acima. Calculando os pontos crticos de p, isto , p0 = 0,


temos
2
p 3 p = 0, (3.40)
implicando que p = 0 ou p = p . Analisemos agora os pontos crticos para p0 , em outras
palavras analisaremos a equao p00 = 0. Com isto determinaremos o valor mximo atingido
por p0 , o que geometricamente reflete o ponto onde o grfico de p muda de sinal. Assim
sendo  
2 1/3
p =
00
p p0 , (3.41)
3
como p0 > 0 (exceto em t = 0 e quando t ) temos que p00 = 0 se, e somente se,
r
3 2
p= p .
3
Logo o grfico de p muda de concavidade quando assume o valor acima. Veja um esboo
do grfico na figura 3.3.

3.2.4 Espelho Parablico


Problema 3.2.4. Os raios luminosos provenientes de uma fonte luminosa pontual incide
em um refletor espelhado, de modo que todos os raios refletidos saem paralelos. Descreva
a forma do refletor que tenha esta propriedade. Veja a figura 3.4

Demonstrao. Considerando a equao do refletor, nas proximidades do ponto de contato


da luz, na forma y = f(x) e P = (x, y) na figura 3.4, temos que
y
y0 = tg = . (3.42)
x + |OQ|

44
3.2. PROBLEMAS DE MODELAGEM

Figura 3.3: Peso do peixe

Figura 3.4: Refletor

O ngulo de incidncia em P igual ao ngulo de reflexo,


p logo ]OPQ = e da, pelo
Teorema de Pitgoras, vale que |OQ| = |OPQ = x 2 + y2 e portanto a equao em
questo toma a forma
y
y0 = p . (3.43)
x + x 2 + y2
Racionalizando a parte do lado direito da equao acima, temos, supondo y 6= 0, que
p
x 2 + y2 x
y =
0
, (3.44)
y
que ainda pode ser escrita na seguinte forma conveniente
q
x + yy0 = x 2 + y2 . (3.45)

Note que (x 2 + y2 )0 = 2(x + yy0 ), da chamando u = x 2 + y2 a equao acima torna-se


1 1/2 0
u u = 1, (3.46)
2

implicando que u = x + C . Da, voltando a varivel original, temos
x 2 + y2 = (x 2 + C )2 y2 = 2C x + C 2 , (3.47)
isto , uma parbola.

45
CAPTULO 3. APLICAES DA DERIVADA

3.2.5 Dinmica Populacional


Problema 3.2.5. Um dos modelos mais simples para o crescimento de uma populao
o de propor que a taxa de variao temporal da populao p proporcional a prpria
populao, onde a taxa de crescimento populacional cujo valor a diferena entre a taxa
de natalidade e a taxa de mortalidade. Nos modelos mais simples tal taxa de crescimento
constante, mas diversos estudos focalizam para o fato de tal hiptese no ser razovel, pois
por exemplo, ela no leva em conta que o crescimento da populao gera automaticamente
mecanismos de controle visando reduzir a taxa de crescimento. Verhulst propos um modelo
em a taxa de crescimento decresce linearmente com a populao. Descreva o modelo de
Verhulst e determine o valor da populao p no instante t.
Demonstrao. Pelo modelo de Verhulst, a equao que descreve a dinmica populacional
da forma
p0 = (a bp)p (3.48)
com b e a constantes positivas. Assim sendo, a equao acima uma equao de Bernoulli
do tipo 3.16 com m = 2, cuja soluo dada por
1
p= . (3.49)
b
a + C exp(ax)

Para analisar o grfico de p, faamos


a
p0 = 0 p = 0 ou p = (3.50)
b
e ainda
a
p00 = 0 p0 = 0 ou p = . (3.51)
2b
Assim sendo, se a populao inicial for maior que p = a/b ento p decrescente e
tende a p . Caso a populao incial seja menor que p ento a populao p crescente,
tendo sua taxa mxima de crescimento quando p = a/2b , e tende para a/b. Veja a figura
3.5

3.3 Problemas de Dinmica


3.3.1 Corpos em queda livre
Vejamos aqui uma aplicao da derivada problema de dinmica de corpos..
Problema 3.3.1. Se um corpo de massa m, partindo do repouso e sob a ao da gravidade,
encontra uma resistncia do ar proporcional velocidade. Descreva a velocidade v = v(t)
e a velocidade limite do corpo.
Demonstrao. Exemplos semelhantes j foram discutidos antes, da, a equao que rege
o movimento (devido a segunda Lei de Newton)

my00 = mg y0 , > 0. (3.52)

46
3.3. PROBLEMAS DE DINMICA

Figura 3.5: Modelo de Verhulst.

Figura 3.6: Queda livre

Denotando v = y0 , temos que a equao acima assume a forma



v 0 = g v, (3.53)
m
cuja soluo  
gm
v = + C exp t . (3.54)
m
Como o corpo parte do repouso tem-se que v(0) = 0, da C = gm/, implicando que
gm h  i
v= 1 + exp t . (3.55)
m
Calculando a velocidade limite quando t , temos que
gm
v = . (3.56)

47
CAPTULO 3. APLICAES DA DERIVADA

3.3.2 Velocidade de escape


Problema 3.3.2. Um satlite de massa m deve ser lanado ao espao de uma certa base
area (veja figura 3.7). Determine a velocidade de escape para o lanamento, isto ,
determine a menor velocidade inicial v0 necessria para que o satlite no retorne a terra.

Figura 3.7: Lanamento de satlite

Demonstrao. De acordo com a figura 3.7, temos que x a distncia do centro da terra
ao satlite e r o raio da terra. Da, considerando h como a altura em relao ao solo
do satlite, podemos escrever x = r + h. Pela lei da gravitao universal de Newton,
a fora de interao F entre os dois corpos proporcional ao produto de suas massas e
inversamente proporcional ao quadrado das distncias entre os mesmos, isto ,

GmM
F (h) = , (3.57)
(r + h)2

onde G a constante gravitacional, m a massa do satlite e M a massa da terra. O


sinal de menos devido a fora ter seu sentido na direo da terra, ou seja, na direo
contrria a orientao positiva do eixo x. Note ainda, que para h = 0 (e valores de h
pequenos), a fora da gravidade atuando no satlite bem conhecida nossa e vale mg.
Da
GmM
mg = F (0) = 2 GM = gr 2 , (3.58)
r
e portanto
mgr 2
F = . (3.59)
(r + h)2
Pela segunda lei de Newton, considerando h = h(t), a fora atuando no satlite F =
mh00 , e como a velocidade do satlite v = h0 , temos que F = mv 0 . Assim sendo, temos
a seguinte equao diferencial de primeira ordem

gr 2
v0 = . (3.60)
(r + h)2

48
3.3. PROBLEMAS DE DINMICA

Considerando v(t) = v(h(t)), temos pela regra da cadeia, que

dv 0 dv
v0 = h = v, (3.61)
dh dh
assim sendo, a equao 3.60, assume a forma

dv gr 2
v = , (3.62)
dh (r + h)2

que pode ser reescrita da forma


   
d v2 d gr 2
= . (3.63)
dh 2 dh r+h

Portanto temos
v2 gr 2
= + C. (3.64)
2 r+h
Quando t = 0 temos que h(0), da

v02
C= gr, (3.65)
2
implicando que
2gr 2
v 2 = v02 2gr + . (3.66)
r+h
Da teramos duas expresso possveis para v,
r r
2 2gr 2 2gr 2
v = v0 2gr + ou v = v02 2gr + . (3.67)
r+h r+h
O entendimento dos sinais na velocidade deve ser o seguinte: Se a velocidade v que
comea positiva com v0 continuar sempre positiva ento temos a primeira expresso para v
e o corpo continua a distanciar-se da terra. Caso a velocidade venha a ser zero em algum
momento, isto , o corpo atingindo altura mxima, comea a cair e sua velocidade deve ser
considerada com o sinal negativo. Veja que v 2 descresce em funo do crescimento de h,
da
v 2 lim v 2 = v02 2gr, (3.68)
h

v02
assim sendo, se 2gr 0 tem-se que v nunca se anula pe portanto o satlite continua
seu movimento afastando-se da terra. A velocidade ve = 2gr chamada de velocidade
escape e o seu valor numrico de ve 11, 1 km/s.

3.3.3 Quando o avio deve comear a descer?


Problema 3.3.3. O modelo de caminho de pouso percorrido por um avio (veja figura 3.8)
satisfaz as seguintes condies:

49
CAPTULO 3. APLICAES DA DERIVADA

i. A altitude de cruzeiro h quando a descida comea a uma distncia horizontal l do


ponto de contato na origem (aeroporto);
ii. O piloto deve manter uma velocidade constante v em toda a descida;
iii. O valor absoluto da acelerao vertical no deve exceder uma constante k (que
muito menor que a acelerao da gravidade).

Figura 3.8: Modelo de descida

1. Encontre um polinmio cbico P(x) = ax 3 +bx 2 + cx +d que satisfaa as condies


(i) impondo condies razoveis para P e P 0 no incio da descida e no ponto de
contato.
2. Use as condies (i) e (ii) para mostrar que

6hv 2
k. (3.69)
l2

3. Suponha que a companhia area decida no permitir que a acelero vertical do


avio exceda 1.385 km/h2 . Se a altitude de cruzeiro do avio for 11.000 m e a
velocidade for 480 km/h, a que distncia do aeroporto o avio deve comear a
descer?

Demonstrao. Analisando a figura 3.8, as condies impostas sobre P e sua derivada P 0


devem ser:
P(0) = P 0 (0) = P 0 (`) = 0 e P(`) = h. (3.70)
Com base nas condies 3.70, depois de poucos clculos obtemos que a expresso de
y(x) = P(x) dada por
2h 3h
y = P(x) = 3 x 3 + 2 x 2 . (3.71)
` `
Levando em considerao que x = x(t) e y = y(t), a condio (ii) implica que x 0 = v e
|y00 | = k. Da, como y(t) = y(x(t)), temos

dy d2 y
y0 = v y00 = 2 v 2 . (3.72)
dx dx

50
3.4. PROBLEMAS PROPOSTOS

Derivando a expresso 3.71 duas vezes e utilizando a informao 3.72, obtemos



12hx 6h 2

` 3 + ` 2 v k. (3.73)

A desigualdade acima deve ser satisfeita para todos os valores de x [0, `], assim sendo,
como a expresso dentro do mdulo descrescente como funo de x e portanto assume
seu valor mximo em x = 0, a desigualdade 3.73 implica em
r
6kv 2 6h
2
k`v . (3.74)
` k
Adotando os dados numricos declarados no item 3 obtemos que ` 104, 78 km.

3.4 Problemas Propostos


1. (Corrente em um circuito eltrico) A figura 3.9 respresenta um circuito eltrico cuja
resistncia total constante (R oms) e um indutor, representado pela espiral e cuja
indutncia (L henries) tambm constante. H uma chave nos terminais a e b que
pode ser fechada, permitindo a incluso de um gerador de tenso (V volts) constante
no circuito.
A lei de Ohm, V = Ri, deve ser modificada para esse circuito. A nova modificao,
devida a segunda lei de Kirchhoff,
Li0 (t) + Ri(t) = V , (3.75)
onde i a intensidade de corrente (em ampres) e t o tempo (em segundos).
Determine a expresso da corrente i no instante t. O que acontece com i quando
t .

Figura 3.9: Circuito

2. (Queda livre sem resistncia do ar) Mostre que a equao de um corpo arremessado
para baixo com velocidade inicial v0 de uma altura x0 , desconsiderando a resistncia
do ar, dada por
1
x(t) = gt 2 + v0 t + x0 , (3.76)
2

51
CAPTULO 3. APLICAES DA DERIVADA

onde x a posio do objeto no instante t.


3. (Saltando de paraquedas) Um paraquedista pula de paraquedas do topo de um ed-
ifcil. mais razovel nestes exemplos supor que a fora de resistncia do ar sofrida
pelo paraquedas aberto proporcional ao quadrado de sua velocidade. Modele o
problema e calcule a velocidade limite do paraquedista, isto , limt v(t).
4. (Reaes Qumicas) Consideremos a reao

A + B C , (3.77)

onde A e B so reagentes e C o produto. A concentrao de um reagente A o


nmero de mols (1 mol=6, 0221023 molculas) por litro e denotada por [A]. A taxa
de variao temporal chamada de taxa de reao instantnea. Se uma molcula
do produto C produzida de uma molcula de reagente A e de uma molcula de
reagente B, e as concentraes iniciais de A e B tm o mesmo valor [A] = [B] = a
mols/L, ento
a2 kt
[C ] = , (3.78)
akt + 1
onde k uma constante.
(a) Encontre a taxa de reao no instante t;
(b) Mostre que se x = [C ], ento

x 0 = k(a x)2 ; (3.79)

(c) O que acontece com a concentrao quando t +?;


(d) O que acontece com a taxa de reao quando t +?
5. (Gases) A lei dos gases para um gs ideal temperatura absoluta T (em kelvins),
presso P (em atmosferas) e volume V (em litros)

PV = nRT , (3.80)

onde n o nmero de mols do gs e R=0,0821 uma constante do gs. Suponha


que, em um certo instante, P = 8, 0 atm, e est crescendo a uma taxa de 0, 1
atm/min, V =10 l, e est decrescendo a uma taxa de 0,15 l/min. Encontre a taxa de
variao temporal de T naquele instante, se n = 10 mols.
6. (Reaes Qumicas) As experincias mostram que se a reao qumica
1
N2 O5 2N2 O2 + O2 (3.81)
2
ocorre a 45 o C , a taxa de reao do pentxido de dinitrignio proporcional sua
concentrao da seguinte forma

[N2 O5 ]0 (t) = 0, 0005 [N2 O5 .] (3.82)

52
3.4. PROBLEMAS PROPOSTOS

(a) Encontre uma expresso para a concentrao [N2 O5 ] depois de t segundos se


a concentrao inicial for C .
(b) Quanto tempo levar para que a reao reduza a concentrao de N2 O5 para
90% de seu valor original?
7. (Resfriamento de corpos) A Lei do Resfriamento dos Corpos de Newton afirma que
a taxa de variao temporal da temperatura T (t) proporcional diferena entre a
prpria temperatura e a temperatura do ambiente (Ta ).
(a) Explique por que a equao que rege a mudana de temperatura T (t) de um
corpo, de acordo com a Lei do Resfriamento de Newton,

T 0 = (Ta T ), > 0. (3.83)

(b) Se um peru assado tirado de um forno quando sua temperatura atinge 85o C
e ele coloca sobre uma mesa em um cmodo em que a temperatura 22o C .
i. Se a temperatura do peru for 65o C depois de meia hora, qual ser a
temperatura depois de 45 minutos?
ii. Quando peru ter esfriado para 40o C ?
8. (Resfriamento de corpos) Um corpo a 100o C posto em uma sala com temperatura
desconhecida, mas que mantida constante. Sabendo-se que aps 10 minutos o
corpo est a 90o C e aps 20 minutos a 82o C. Calcule a temperatura na sala.
9. (Presso atmosfrica) A taxa de variao da presso atmosfrica em relao a altura
h proporcional a P, desde que a temperatura seja constante. A 15o C a presso
de 101,3 kPa no nvel do mar e 87,14 kPa em h = 1000 m.
(a) Qual a presso a uma altitude de 3.000 m?
(b) Qual a presso no topo do Monte McKinley, a uma altitude de 6.187 m?
10. (Decaimento radioativo) As substncias radioativas decaem pela emisso espontnea
de radiao. Foi determinado experimentalmente que, se m(t) for a massa remanes-
cente de uma massa inicial m0 da susbtncia aps um tempo t, ento a taxa de
decaimento relativamente m0 /m ser constante.
(a) Explique por que a equao que determina a massa m(t) remanescente
m0 = m, < 0.
(b) A meia-vida de uma dada substncia o tempo que ela leva at perder metade
de sua quantidade de massa inicial. O bismuto-210 tem uma meia vida de 5
dias.
i. Uma amostra tem originalmente uma massa de 800 mg. Encontre uma
frmula para a massa remanescente depois de t dias.
ii. Encontre a massa remanescente depois de 30 dias.
iii. Quando a massa de reduzir a 1 mg?

53
Captulo 4
Pontos Crticos e Valores Extremos

No basta ensinar ao homem uma especialidade. Porque se tornar assim uma


mquina utilizvel, mas no uma personalidade. necessrio que se adquira um
senso prtico daquilo que vale a pena ser empreendido, daquilo que belo, do que
moralmente correto. A no ser assim, ele se assemelhar, com seus conhecimentos
profissionais, mais a um co ensinado do que uma criatura harmoniosamente desen-
volvida. Deve aprender a compreender as motivaes dos homens, suas quimeras e
suas angstias para determinar com exatido seu lugar exato em relao a seus prx-
imos e comunidade. Os excessos do sistema de competio e de especializao
prematura, sob o falacioso pretexto da eficcia, assassinam o esprito, impossibilitam
qualquer vida cultural e chegam a suprimir os progressos nas cincias do futuro.
preciso, enfim, tendo em vista a realizao de uma educao perfeita, desenvolver o
esprito crtico na inteligncia do jovem."

Albert Einstein (1879 - 1955)

A BORDAREMOS neste captulo problemas voltados a encontrar pontos extremos (mxi-


mo/mnimo) de funes duas vezes derivveis, utilizando a teoria de pontos crticos e
de mximos e mnimos locais trabalhada nos captulos anteriores.

4.1 Problemas de Otimizao


4.1.1 A Receita Otimizada
Vejamos um problema bem simples, que na realidade, no necessria a utilizao do
Clculo, mas assim faz-la torna a soluo mais elegante.

Problema 4.1.1. Um avio de 100 lugares foi fretado para uma excurso. A companhia
area exigiu de cada passageiro R$ 800, 00 mais R$ 10, 00 por cada lugar vago. Mostre
que 90 pessoas a quantidade tima de pessoas, isto , tal quantidade maximiza a receita
obtida pela empresa.

Vejamos ento a soluo deste problema.

Demonstrao. Denotando-se por p o no de passageiros e por v(p) o valor pago em dinheiro


em funo do nmero de passageiros, temos que

v(p) = 800 + 10 (100 p) . (4.1)

Adotando R(p), a receita obtida pela empresa, chegamos expresso da mesma em funo
do nmero de passageiros, que obtida pela multiplicao do nmero de passageiros pelo
valor pago por eles.
R(p) = p v(p) = 1800p 10p2 . (4.2)

55
CAPTULO 4. PONTOS CRTICOS E VALORES EXTREMOS

Da segue que para encontrar a quantidade de passageiros para a qual a receita mxima,
equivalente a encontrar o valor p que maximiza a funo receita R : [0, 100] R
definida por
R(p) = 1800p 10p2 .
Calculando a derivada de R e igualando-a a zero para determinar o ponto crtico, assim
sendo temos
R0 (p) = 1800 20p = 0 (4.3)
implicando que p = 90. Caso desejssemos calcular o valor que mximo da receita teramos
de calcular R(90) = R$ 81.000, 00. Por ltimo, note que R00 (p) = 20 < 0, p, e assim
sendo confirmando que o ponto crtico encontrado , de fato, um ponto de mnimo absoluto,
uma vez que R(0) = 0 e R(100)=R$ 80.000,00.

4.1.2 A Calha de Chuva Ideal


Apresentaremos agora um problema simples, mas bastante interessante.

Problema 4.1.2. Uma calha de chuva deve ser construda com uma folha de metal de
largura ` metros, dobrando-se para cima 1/3 da folha de cada lado, fazendo-se um ngulo
com a horizontal, veja figura 4.1. Demonstre que tomando = /6 obtemos a calha com
maior capacidade de carregar a gua.

(a) Viso espacial (b) Seco plana

Figura 4.1: Calha de chuva

Demonstrao. Temos que a rea AAC DF , da seo transversal AC DF dada por



C D + AF AB
AAC DF = (4.4)
2
e notando que AF = C D + 2 BC tem-se, substituindo em (4.4)

AAC DF = C D + BC AB (4.5)

agora substituindo C D = x/3, BC = (x/3) cos e AB = (x/3) sen em (4.5), temos

x2
AAC DF = A() = (1 + cos ) sen . (4.6)
9

56
4.1. PROBLEMAS DE OTIMIZAO

E ainda podemos escrever A : [0, /2] R, da forma1


 
x2 sen 2
A() = sen + . (4.7)
9 2
Derivando (4.7) chegamos a expresso

x2
A0 () = (cos + cos 2) (4.8)
9
e fazendo A0 = 0, no intuito de encontrar os pontos crticos temos

cos + cos 2 = 0. (4.9)

e chegamos a equao quadrtica, na varivel cos dada por

2 cos2 + cos 1 = 0, (4.10)

que possui as solues


1
cos =
e cos = 1. (4.11)
2
Da, em virtude de [0, /2], segue que
1
cos = , (4.12)
2

e portanto tem-se que = /3 implicando que A(/3) = x 2 /9 (3 3/4). Usando o fato
de que A00 () = A() 0, [0, /2] e que A(0) = 0 e A(/2) = x 2 /9 conclumos
que tal ponto de mnimo absoluto.

4.1.3 O Cano no corredor em L


Apresentaremos aqui um problema envolvendo um pouco de geometria plana.
Problema 4.1.3. Um cano de metal est sendo carregado atravs de uma passagem com
16 metros de largura. No fim da parede h uma curva em ngulo reto, passando-se para
uma passagem de 2 metros de largura. Mostre que comprimento do cano mais longo que
pode ser carregado horizontalmente em torno do canto de 10 5m.
Demonstrao. O cano mais longo dever fazer a seguinte configurao com as paredes
(veja a figura 4.2). O comprimento AB = AC + AB e vendo-se que

AC = 16 cosec e C B = 2 sec (4.13)

e portanto, o comprimento AB em funo do tringulo C : (0, /2) R dada2 por

C() = 16 cosec + 2 sec , (4.14)


1 Reflita sobre o fato de no considerarmos > /2.
2 Reflita sobre o domnio da funo C.

57
CAPTULO 4. PONTOS CRTICOS E VALORES EXTREMOS

Figura 4.2: Viso superior

cuja derivada
C 0 () = 16 cosec cotg + 2 sec tg (4.15)
e ainda

C 00 () = 16cosec 3 + 16cosec cotg 2 + 2 sec3 + 2 sec tg 2 . (4.16)

Fazendo C 0 () = 0, temos a equao

sec tg = 8cosec cotg , (4.17)

que equivalente a
tg 3 = 8 tg = 2, (4.18)

E da teremos que sec = 5 e cosec = 5/2. E portanto, como C 00 () > 0, , o
comprimento mximo do cano ser

Cmax = C(arctg 2) = 10 5 m 22, 4 m. (4.19)

4.1.4 A Folha Dobrada


Aqui mais um problema interessante.

Problema 4.1.4. Uma folha de metal de 12 metros de comprimento e 8 metros de largura


deve ser dobrada de forma que uma de suas pontas do lado de 8 metros toque o lado de 12
metros. Mostre que 6 metros a quantidade do lado de 8 metros que deve ser diminuida
de forma que a dobra seja minimizada. Veja a figura 4.3.

Demonstrao. Usando um pouco de geometria plana chegamos a configurao na figura


4.1.4. Da temos que
x 8x
sen = e cos 2 = (4.20)
y x

58
4.1. PROBLEMAS DE OTIMIZAO

Figura 4.3: Folha dobrada

Figura 4.4: Folha de metal dobrada

e usando que x (4, 8) e que cos 2 = 12sen 2 temos, depois de algumas simplificaes,
a funo y : (4, 8) R dada por
3
x2
y(x) = 1 . (4.21)
(x 4) 2
Calculando a derivada de y, obtemos
1 1 3 1
3x 2 (x 4) 2 x 2 (x 4) 2
y (x) =
0
(4.22)
2(x 4)
e fazendo y (x) = 0, obtemos a equao
1 1 3 1
3x 2 (x 4) 2 x 2 (x 4) 2 = 0. (4.23)

Resolvendo a equao (4.23), obtemos que o valor de x procurado

x = 6 m.

Um clculo meio que enfadonho mostra que


1 3
3x 2 + x 2
y00 (x) = 3 > 0, x 4, (4.24)
4(x 4) 2
logo o ponto encontrado realmente de mnimo absoluto.

59
CAPTULO 4. PONTOS CRTICOS E VALORES EXTREMOS

4.1.5 A Lei de Snell-Descartes


Vejamos aqui uma aplicao na ptica geomtrica da teoria estudada at aqui, mais es-
pecificamente, daremos uma demonstrao da conhecida Lei de Snell.
Problema 4.1.5 (A Lei de Snell-Descartes). Um raio de luz deve sair de um ponto A acima
da gua para um ponto B abaixo da gua tocando na superfcie da gua no ponto P, como
mostra a figura 4.5. Sabe-se pelo Princpio de Fermat que o caminho percorrido pela luz
tal que o tempo gasto pelo raio para ir de A a B seja minimizado. Sendo 1 o ngulo
que o raio faz com a normal superfcie da gua no ar, 2 o ngulo que o raio faz com a
normal superfcie da gua na gua, var e vagua as velocidades da luz no ar e na gua.
Mostre que o ponto P tal que
sen 1 var
= . (4.25)
sen 2 vagua

Figura 4.5: A Lei de Snell-Descartes

Demonstrao. Analisando a figura 4.1.5 e usando que a funo tempo TAB gasto pela luz
para ir de A a B igual a soma do tempo (TAP ) gasto para ir de A a P com o tempo (TPB )
gasto para ir de P a B, temos
dAP dPB
TAB = TAP + TPB = + ,
var vagua
onde dAP e dPB so as devidas distncias entre tais pontos. Assim sendo, temos a funo
tempo T = TAB : [0, b] R dada por
p
x 2 + a2 (x b)2 + c2
T (x) = + , (4.26)
var vagua
cuja derivada
x 1 xb 1
T 0 (x) = +p , (4.27)
x2 + a2 var 2
(b x) + c 2 vagua

60
4.1. PROBLEMAS DE OTIMIZAO

Figura 4.6: Sistema de Coordenadas

e derivada segunda

a2 1 c2 1
T 00 (x) = 2 2 3/2
+ 3/2 . (4.28)
(x + a ) var (b x)2 + c2 vagua

Note que T 00 > 0, x [0, b] e portanto o valor de x tal que T 0 (x) = 0 ser um mnimo
absoluto. Analisando novamente a figura 4.1.5, temos

x bx
sen 1 = e sen 2 = p ,
x 2 + a2 (x b)2 + c2

desta forma, se x for crtico, ento

sen 1 var
= ,
sen 2 vagua

como queramos demonstrar.

4.1.6 Circunscrevendo uma Elipse


Vejamos aqui uma bela aplicao da teoria de pontos crticas geometria euclidiana.

Problema 4.1.6. Considere a elipse

x2 (y b)2
+ = 1. (4.29)
a2 b2
Demonstre que, dentre todos os tringulos, com base sobre o eixo dos x, que circunscrevem
a elipse acima o que possui menor rea aquele que possui altura igual a 3b. Veja a
figura 4.7.

61
CAPTULO 4. PONTOS CRTICOS E VALORES EXTREMOS

Figura 4.7: Elipse Circunscrita

Demonstrao. Temos inicialmente, que para y b, podemos considerar a funo


bp 2
y = y(x) = b + a x 2 , x [a, a]. (4.30)
a
Considerando a parte superior da elipse, isto , aquela a qual y b, tem-se que a equao
da reta tangente que passa no ponto (x, y(x)) dada por

y(x) = y0 (x)( x), (, ) R2 . (4.31)

Assim sendo, os pontos de interseco da reta acima com os eixos coordenados so dados
por     
y(x) y(x)
R = 0, y (x)
0
x e T = x 0 ,0 , (4.32)
y0 (x) y (x)
e portanto a rea A(x) do tringulo RST dada por
 2
y(x)
A(x) = y0 (x) x 0 , (4.33)
y (x)
cuja derivada    
y(x) y(x)
A0 (x) = y00 (x) x 0 x+ 0 . (4.34)
y (x) y (x)
Como os dois primeiros termos de A0 (x) so diferentes de zero3 teremos que A0 (x) = 0 se,
e somente se,  
y(x)
x+ 0 = 0, (4.35)
y (x)
o que equivalente a termos xy0 = y. Derivando a equao 4.29 obtemos

x (y b)y0 x2 (y b)y0 x
2
+ 2
=0 2 + =0 (4.36)
a b a b2
3 Reflita sobre esta afirmao! Convena-se de que y00 (x) < 0 e x y(x)
> 0, x no domnio de A.
y0 (x)

62
4.1. PROBLEMAS DE OTIMIZAO

implicando que
x2 (y b)y
2
= , (4.37)
a b2
e utilizando mais uma vez a equao 4.29 juntamente com a equao 4.37 obtemos que
2y = 3b. Por ltimo, note que a altura h(x) do tringulo4 em questo exatamente

h(x) = y(x) y0 (x)x = 2y(x) = 3b. (4.38)

Por ltimo note que, nos pontos da elipse tais que a equao 4.35 satisfeita, temos que
 0 
2y (x) y(x)y00 (x)
A (x) = 2y (x)x
00 00
> 0, (4.39)
(y0 (x))2

implicando que o ponto crtico encontrado de mnimo, como queramos demonstrar.

4.1.7 O Lote de Wilson


Abaixo segue uma excelente aplicao da teoria estudada at aqui, em quantidade econmica
de encomendas que uma rea de estudos vinculada a rea de Administro de empresas.
Problema 4.1.7. Uma grande loja de departamentos vende um total anual de N unidades
de consoles ps3 a uma taxa constante durante o ano. Os consoles adquiridos da Sonny num
nico pedido so entregues em um nico lote. Se a loja encomenda todas as N unidades,
que so entregues no incio do ano, ela evita os custos de novas encomendas, como o tempo
de servios de escritrio e despesas de transporte. No entanto, fica sujeita a custos de
manuteno mais altos com ocupao de espaos nos depsitos, seguro, etc. Note-se que
o estoque mdio durante o ano N/2, um nmero relativamente grande5 . Por outro lado,
faz-se uma encomenda por dia, o estoque mdio se mantm baixo, mas os custos de novas
encomendas tornam-se substanciais. Considerando ambos os tipo de custo, demonstre que
o valor do lote de Wilson, isto , o tamanho do lote que minimiza o custo total dado por
r
2F N
x= , (4.40)
W
onde F a parte fixa do custo de encomenda e W o custo anual total de transporte e
manuteno de uma unidade do console.
Demonstrao. Com x unidades por lote, haver N/x encomendas por ano. Supomos
de encomenda consiste em uma parte fixa F (tempo de servio de escritrio, artigos de
escritrio, correio, despesas de recepo, etc...) acrescido do custo de encomenda em si,
Sx, que proporcional ao tamanho da encomenda. O custo total de cada encomenda ,
ento
N FN
(F + Sx) = + SN, (4.41)
x x
4 Vejao ponto R no tringulo!
5 Analiseque no incio do ano tem-se N objetos para estocar e ao final do tem-se 0 objetos, da a mdia de
ser (N + 0)/2.

63
CAPTULO 4. PONTOS CRTICOS E VALORES EXTREMOS

que, claro, cresce quando o tamanho do lote x decresce. Alm do mais supomos que o
custo anual de transporte e manuteno de uma nica unidade uma constante W que
pode ser determinada pelo setor de contabilidade. Como o estoque mdio x/2, quando o
tamanho do lote x, o custo total anual de manuteno
x
W , (4.42)
2
que cresce quando x cresce. O custo total , portanto
Wx FN
C (x) = + + SN. (4.43)
2 x
Assim sendo temos que
W FN
C 0 (x) = 2 (4.44)
2 x
e ainda que
2F N
C 00 (x) = > 0, x > 0. (4.45)
x3

Da, fazendo C 0 (x) = 0 obtemos como ponto minimizante o valor x = 2F N/W .

4.1.8 Instalando um painel solar


Apresentaremos agora um problema simples, mas interessante, vinculada teoria estudada
at aqui.
Problema 4.1.8. Voc foi contratado para construir um painel solar no nvel do solo no eixo
leste-oeste entre dois prdios, conforme a figura 4.8. A que distncia do prdio mais alto
voc deve colocar o painel para maximizar o nmero de horas que o painel ficar exposto
luz quando o sol passar perpendicularmente sobre o painel? Demonstre que
x 50 x
= arc cotg arc cotg (4.46)
60 30
e utilize tal expresso para determinar o valor de x que a maximiza.

Demonstrao. Sendo o ngulo de vrtice em x que se ope ao prdio maior e , de


forma anloga, o ngulo que se ope ao menor prdio, temos que
60 30
tg = e tg = , (4.47)
x 50 x
e como + + = , conclumos que
x 50 x
= arc cotg arc cotg . (4.48)
60 30
luz de que arc cotg 0 = 0 /(1 + 2 ), obtemos o resultado abaixo para a derivada
60 30
0 (x) = (4.49)
3600 + x 2 900 + (50 x)2

64
4.1. PROBLEMAS DE OTIMIZAO

Figura 4.8: Painel solar

e ainda
120x 60(50 x)
00 (x) = < 0, x [0, 50]. (4.50)
3600 + x 2 900 + (50 x)2
Analisando a equao dos pontos crticos 0 (x) = 0, obtemos, depois de algumas simplifi-
caes, a equao quadrtica

x 2 200x + 3200 = 0, (4.51)

cujas solues so dadas por

x1 182, 46 m e x2 17, 54 m, (4.52)

e como x [0, 50] segue que o valor de x que maximiza x 17, 54 m.

4.1.9 Implantes em vasos sanguneos


Vejamos aqui um problema aplicado Medicina.

Problema 4.1.9. O sistema vascular sanguneo consiste em vasos sanguneos (artrias,


arterolas, capilares e veias) que transportam o sangue do corao para outros rgos e
de volta para o corao. Esse sistema deve trabalhar de forma a minimizar a energia
despendida pelo corao no bombeamento do sangue. Em particular, essa energia
reduzida quando a resistncia do sangue diminui. Uma das Leis de Poiseuille d a
resistncia do sangue como
L
R = C 4, (4.53)
r
onde L o comprimento do vaso sanguneo; r, o raio; e C uma constante positiva
determinada pela viscosidade do sangue. (Poiseuille estabeleceu experimentalmente essa
lei.) A figura 4.9 mostra o vaso sanguneo principal com raio r1 ramificando a um ngulo
em um vaso menor com raio r2 .

65
CAPTULO 4. PONTOS CRTICOS E VALORES EXTREMOS

1. Use a Lei de Poiseuille para mostrar que a resistncia total do sangue ao longo do
caminho ABC  
a bcotg bcosec
R =C + (4.54)
r14 r24
onde a e b so as distncias mostradas na figura 4.9.
2. Demonstre que a resistncia minimizada quando
r24
cos = . (4.55)
r14

3. Encontre o ngulo timo de ramificao quando o raio do vaso sanguneo menor


2/3 do raio do vaso maior.

Figura 4.9: Vaso sanguneo

Demonstrao. A resistncia R no caminho ABC , ser dada por


RAB + RBC , (4.56)
onde RAB e RBC so, respectivamente as resistncias nos caminhos AB e BC . Note que
b = |BC |sen , portanto |BC | = bcosec e portanto, utilizado a equao 4.53 temos que
bcosec
RBC = C . (4.57)
r24
Denotando por C 0 a projeo ortogonal de C sobre o vaso de comprimento a, temos que
|BC 0 | = bcotg e ainda |AB| = a |BC 0 |. Utilizando novamente a equao de Poiseuille
4.53, conclumos que
a bcotg
RAB = C , (4.58)
r14

66
4.1. PROBLEMAS DE OTIMIZAO

e portanto o item 1 est concludo. Calculando a derivada de R obtemos


 
bcosec 2 bcosec cotg
R0 = C . (4.59)
r14 r24

Resolvendo a equao dos pontos crticos conclumos que

r14 cosec 1
R0 = 0 = = . (4.60)
r24 cotg cos

Calculando a derivada segunda de R obtemos


 
R 00 cotg cosec cosec
= 2 cosec cotg 4
4
+ , (4.61)
bC r1 r1 r24

e portanto
cosec
R 00 |equao 4.60 = > 0,
r24
implicando que o ponto crtico soluo da equao 4.60 de fato de mnimo. Da o item
(2) est feito. Para o item 3 temos que

r2 2 16
= cos = (4.62)
r1 3 81
e portanto 1, 3719 rad ou 78, 60o .

4.1.10 Explorao Ssmica


Com base na teoria estudada at o momento, vejamos uma aplicao Geofsica. Os
geofsicos estudam a tcnica abaixo para estudar a estrutura da crosta terrestre, quando
fazem prospeces de petrleo ou examinam falhas na estrutura do terreno.

Problema 4.1.10. As velocidades do som c1 em uma camada superior e c2 em uma camada


inferior de rocha e a espessura h da camada superior podem ser determinadas pela ex-
plorao ssmica se a velocidade do som na camada inferior for maior que a velocidade do
som na camada superior. Uma carga de dinamite detonada em um ponto P e os sinais
transmitidos so registrados em um ponto Q, o qual est a uma distncia D de P. O
primeiro sinal leva T1 segundos pra chegar ao ponto Q pela superfcie. O prximo sinal
viaja do ponto P ao ponto R, do ponto R para um ponto S na camada inferior e da para
o ponto Q e leva T2 segundos para fazer este percurso todo. O terceiro sinal refletido
na camada inferior no ponto mdio de RS e leva T3 segundos para chegar em Q. Veja
figura 4.10

1. Escreva T1 , T2 e T3 em termos de D, h, c1 , c2 e ;

2. Mostre que T2 assume o seu valor mnimo em sen = c1 /c2 ;

67
CAPTULO 4. PONTOS CRTICOS E VALORES EXTREMOS

Figura 4.10: Explorao Ssmica

Demonstrao. Vejamos inicialmente que, como a velocidade do som, em cada uma das
pores constante ento vale que
D D
c1 = T1 = . (4.63)
T1 C1
De modo anlogo, temos que
|PR| |RS| |QS|
T2 = + + . (4.64)
c1 c2 c1
Note agora que |PR| = |QS| = h sec e ainda |RS| = D 2htg e portanto
2h sec D 2htg
T2 = + . (4.65)
c1 c2
Por ltimo q

2 h2 + ( D2 )2 4h2 + D 2
T3 = = , (4.66)
c1 c1
e portanto conclumos o item 1. Para resolvermos o item 2 calculemos
2h sec tg 2h sec2
T20 = , (4.67)
c1 c2
e resolvendo a equao T20 = 0 obtemos
2h sec tg 2h sec2 c1
= 0 sen = . (4.68)
c1 c2 c2
Um clculo ainda importante! Ao calcularmos T200 e a restringirmos aos valores de tais
que sen = c1 /c2 , obtemos que
2h(c2 + c1 )(c2 c1 )sen 3
T200 |sen =c1 /c2 = , (4.69)
c1 c22
da, como c2 > c1 segue que os pontos crticos encontrados so de fato de mnimo, pois
T200 |sen =c1 /c2 > 0.

68
4.1. PROBLEMAS DE OTIMIZAO

4.1.11 O Problema do marqus de LHospital


Vejamos aqui um problema proposto pelo marqus de LHospital.
Problema 4.1.11. Um dos problemas propostos pelo marqus de LHospital em seu livro
Analyse des Infiniment Petits diz respeito a uma polia que est presa ao teto de um cmodo
em um ponto C por uma corda de comprimento r. Em outro ponto B do teto, a uma distncia
d de C (onde d > r), uma corda de comprimento ` amarrada e essa corda passa pela
polia em um ponto F e temos presa a ela um peso W . O peso liberado e chega ao ponto
de equilbrio na posio D. LHospital argumentou que esse equilbrio ocorre quando |ED|
maximizado. Veja figura 4.11. Mostre que quando o sistema alcana o equilbrio, o valor
de x
r p
(r + r 2 + 8d2 ). (4.70)
4d
Observe que essa expresso independe de W e `.

Figura 4.11: Problema de LHospital

Demonstrao. Dado o sistema em equilbrio, temos, de acordo com a figura 4.11, que
|ED| = |EF | + |F D|. (4.71)
Utilizando o teorema de Pitgoras, conclumos que
p
|EF | = r 2 x 2 .
Note ainda que
q q
|F D| = ` |BF | = ` |EF |2 + (d x)2 = ` r 2 x 2 + (d x)2 , (4.72)

que, depois de algumas simplificaes chegamos a expresso abaixo para |ED| em funo
de x p p
|ED|(x) = r 2 x 2 + ` r 2 + d2 2dx. (4.73)

69
CAPTULO 4. PONTOS CRTICOS E VALORES EXTREMOS

Denotando por f(x) = |ED|(x), obtemos as seguintes expresses para as derivadas de f:

x d r2 d2
f 0 (x) = + e f 00 (x) = 3 3 , (4.74)
r2 x2 r 2 + d2 2dx (x 2 + y2 ) 2 (r 2 + d2 2x) 2

note, da expresso cima, que f cncava, uma vez que f 00 (x) 0, x. Fazendo f 0 (x) = 0
temos
d2 x2
= , (4.75)
r 2 + d2 2xd r2 x2
implicando que
r 2 (d2 x 2 ) + 2x 2 d(x d) = 0. (4.76)
Como x d 6= 0, podemos6 simplificar a equao acima obtemos a equao do segundo
grau
2dx 2 r 2 x r 2 d = 0, (4.77)
cuja soluo

r 2 + r 2 r 2 + 8d2 r p
x= = (r + r 2 + 8d2 ), (4.78)
4d 4d
que exatamente a expresso que desejvamos. Note que a outra soluo da equao
negativa, pois = r 4 + 8r 2 d2 > r 4 e portanto < r 2 , implicando que r 2 <
0.

4.2 Problemas Propostos


1. (Funes Quadrticas). Seja f : R R uma funo quadrtica dada por f(x) =
ax 2 + bx + c, a 6= 0. Mostre que

 2
b (b2 4ac)
f(x) = a x + . (4.79)
a 4a2
Conclua da que

(a) Se a > 0 f possui um mnimo global em x = b/2a e tal valor de mnimo

(b2 4ac)
.
4a2

(b) Se a < 0 f possui um mximo global em x = b/2a e tal valor de mximo

(b2 4ac)
.
4a2
6 Analise a figura 4.11

70
4.2. PROBLEMAS PROPOSTOS

2. (A venda de sorvetes) Joo tem uma fbrica de sorvetes. Ele vende, em mdia, 330
caixas de picols por R$ 20, 00. Entretanto, percebeu que, cada vez que diminua
R$ 1, 00 no preo da caixa, vendia 40 caixas a mais. Quanto ele deveria cobrar pela
caixa para que sua receita fosse mxima?

3. Determine o retngulo de rea mxima e lados paralelos aos eixos coordenados,


inscrito na elipse 4x 2 + y2 = 1.

4. Mostre que, de todos os tringulos issceles com um dado permetro, aquele que
tem a maior rea equiltero.

5. (O preo do ingresso) O diretor de uma orquestra percebeu que, com o ingresso a


R$ 9, 00, em mdia 300 pessoas assistem aos concertos e que, para cada reduo
de R$ 1, 00 no preo dos ingressos, o pblico aumenta de 100 espectadores. Qual
deve ser o preo do ingresso para que a receita seja mxima?

6. (A venda do gado de corte) Um fazendeiro que cria gado de corte tem um rebanho
de 200 animais em seus currais, cada um deles pesando 270 kg. O custo dirio
de manuteno de um animal R$ 8, 00. Os animais esto ganhando peso a uma
taxa de 3, 6 kg/dia. O preo de mercado hoje R$ 28, 00 por kilo, mas est caindo
10 centavos por dia. Quantos dias deve o fazendeiro esperar a fim de vender seus
animais com lucro mximo?

7. Considere a curva y = 1 x 2 , 0 x 1. Traar uma reta tangente curva, tal


que a rea do tringulo que ela forma com os eixos coordenados seja mnima.

8. (O cabo entre os postes) Dois postes PQ e ST so amarrados por uma corda


PRS que vai do topo do primeiro poste para um ponto R no cho entre os dois
postes e ento at o topo do segundo poste. Veja a figura 4.12. Seja 1 = PRQ e
2 = SRT . Mostre que o menor comprimento de tal corda ocorre quando 1 = 2 .

Figura 4.12: Cabo entre os postes.

9. Encontre o ponto sobre a parbola y = 1 x 2 no qual a reta tangente corta do


primeiro quadrante o tringulo com menor rea.

10. (O cabo atravs do rio) Do ponto A, situado numa das margens do rio, de 100 m de
largura, deve-se levar energia eltrica ao ponto C situado na margem do rio. O fio a

71
CAPTULO 4. PONTOS CRTICOS E VALORES EXTREMOS

ser utilizado na gua custa R$ 5, 00 o metro, e o que ser utilizado fora, R$ 3, 00.
Como dever ser feita a ligao para que o gasto com fios seja o menor possvel?
Veja figura 4.13

Figura 4.13: Cabo com energia eltrica

11. Considere duas retas paralelas r e s. Sejam A e C dois pontos distintos de r e B


um ponto de s, veja figura 4.14. Determine Q na reta s de modo que a soma das
reas dos tringulos APC e QPB seja mnima.

Figura 4.14: Tringulos

12. A reta y = mx + b intercepta a parbola y = x 2 nos pontos A e B (veja figura


4.15). Encontre o ponto P sobre o arco AOB da parbola que maximiza a rea do
tringulo PAB.

13. (A pintura na galeria) Uma pintura em uma galeria de arte tem altura h e est
pendurada de forma que o lado de baixo est a uma distncia d acima do olho de
um observador (veja figura 4.16). A que distncia da parede deve ficar o observador
para obter a melhor viso? Em outras palavras, onde deve ficar o observador de
forma a maximizar o ngulo subentendido em seu olho pela pintura?

14. (A peste do estanho) Quando o estanho metlico mantido abaixo de 13, 2o C ,


lentamente se torna quebradio e acaba por se esfarelar tornando-se um p cinza. Os
europeus que observaram os tubos de estanho dos rgos das igrejas se desistegrarem
no passado, chamavam essa transformao de peste do estanho, pois parecia ser

72
4.2. PROBLEMAS PROPOSTOS

Figura 4.15: tringulo dentro da parbola

Figura 4.16: Pintura exposta

contagiosa - e em certo sentido era, pois o p cinza catalisa sua prpria formao.
Um catalisador para uma reao qumica uma substncia que aumenta a velocidade
da reao sem sofrer nenhuma mudana permanente. Uma reao auto cataltica
aquela que o produto um catalisador de sua prpria formao. Em alguns casos,
razovel admitir que a velocidade de reao v = dx/dt proporcional tanto
quantidade de substncia original quanto quantidade de produto. Sejam ` a
quantidade de produto inicial e a constante de proporcionalidade determine a
quantidade de produto que maximiza a velocidade da reao. Qual o valor mximo
desta velocidade?

15. (Projetando uma janela) Uma janela possui a forma de um retngulo sob um semicr-
culo. O retngulo ser de vidro transparente, enquanto o semicrculo ser de vidro
colorido, que transmite apenas metade da luz incidente, por unidade de rea, em
relao ao vidro transparente. O permetro total fixo. Determine as propores da
janela que permitiro a maior passagem de luz. Ignore a espessura do caixilho. Veja
figura 4.17

73
CAPTULO 4. PONTOS CRTICOS E VALORES EXTREMOS

Figura 4.17: Janela

16. (Sensibilidade e medicamentos) A resposta do corpo a uma dose de medicamento s


vezes representada por uma equao na forma
 
2 C M
R =M , (4.80)
2 3

onde C uma constante positiva e M a quantidade de medicamento absorvido no


sangue. Se a resposta esperada for uma variao na presso sangunea, ento
R deve ser medido em milmetros de mercrio; se a resposta for uma variao de
temperatura, R ser medido em graus centgrados e assim por diante. A derivada
dR/dM chamada de sensibilidade do corpo ao medicamento. Calcule a quantidade
de medicamento qual o organismo mais sensvel determinando o valor de M que
maximiza a derivada dR/dM.
17. (Contrao da traquia ao tossir) Quando tossimos, a traquia se contrai e aumenta
a velocidade do ar que passa. Isso levanta questes sobre o quanto deveria se
contrair para maximizar a velocidade e se ela realmente se contrai tanto assim
quando tossimos. Considerando algumas hipteses razoveis sobre a elasticidade
da parede da traquia e de como a velocidade do ar prximo s paredes reduzida
pelo atrito, a velocidade mdia v do fluxo de ar pode ser modelada pela equao
r0
v = c(r0 r)r 2 cm/s, r r0 , (4.81)
2
onde r0 o raio, em centmetros da traquia em repouso e c uma constante
positiva cujo valor depende, em parte, do comprimento da traquia. Demonstre que
v maior quando r = 2r0 /3, ou seja, quando a traquia est cerca de 33% contrada.
O impressionante que imagens sobtidas com raio X confirmam que a traquia se
contrai assim durante a tosse.
18. Uma mulher em um ponto A na praia de um lago circular com raio de 3 km quer
chegar a um ponto C diametralmente oposto a A do outro lado do lago no menor

74
4.2. PROBLEMAS PROPOSTOS

tempo possvel, veja figura 4.18. Ela pode andar a uma taxa de 6 km/h e remar um
bote a 3 km/h. Como ela deve proceder?

Figura 4.18: Lago circular

19. Um observador permanece em um ponto P, a uma altura de uma unidade de uma


pista. Dois corredores iniciam no ponto S exatamente abaixo do ponto P e correm
ao longo da pista. Um corredor corre trs vezes mais rpido que o outro. Encontre
o valor mximo do ngulo de viso do observador entre os corredores.
20. Um cilindro circular reto inscrito em uma esfera de raio r. Encontre o maior volume
possvel de tal cilindro.

75
Bibliografia

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[2] CARL B. BOYER: Histria da Matemtica, 2 Edio, Edgard Blucher, 2001.


[3] STEWART, J. Clculo, Volume I. 5 ed. So Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2006.
[4] THOMAS, G. B. Clculo, Volume 1. 10 ed. So Paulo: Pearson Addison Wesley,
2003.

[5] GUIDORIZZI, H. L. Um Curso de Clculo, Volume 1. 5 ed. Rio de Janeiro: LTC, 2003.
[6] SIMMONS, G. F. Clculo com Geometria Analtica, Volume 1. So Paulo: Pearson
Makron Books, 2003.
[7] LIMA, E. L. Anlise Real, Volume I. 10 ed. Coleo Matemtica Universitria. Rio de
Janeiro, Instituto Nacional de Matemtica Pura e Aplicada, 2008.

[8] LIMA, E. L.Curso de Anlise, Volume 1. 10 ed. Projeto Euclides. Rio de Janeiro,
Instituto Nacional de Matemtica Pura e Aplicada, 2008.
[9] NEWTON: Pai da Fsica Moderna, Scientific American Brasil: Gnios da Cincia no
01.

[10] de FIGUEIREDO, D. G., NEVES, A. F, Equaes Diferenciais Aplicadas. 2 ed.


Coleo Matemtica Universitria. Rio de Janeiro, Instituto Nacional de Matemtica
Pura e Aplicada, 2001.
[11] LEITHOLD, L. O Clculo com Geometria Analtica. 3 ed. So Paulo: Habra, 1994.

[12] BOYCE, W., DIPRIMA. Equaes Diferenciais Elementares e Problemas de Valores


de Contorno. 7 ed. Rio de Janeiro: LTC, 2002.

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Publicaes do 2 Colquio de Matemtica da Regio
Nordeste

1. A derivada e algumas aplicaes


2. Curvas de subdiviso

3. Dinmica e geometria
4. Identificao de parmetros em equaes diferenciais: teoria e aplicaes
5. Introduo anlise de Fourier e Wavelets

6. Introduo s probabilidades s com moedinhas


7. Modelos probabilsticos para dados extremos
8. Noes bsicas de geometria hiperblica
9. O permetro e a rea de um crculo

10. Singularidades de aplicaes estveis e contagem de invariantes via ideais de


fitting

Sociedade Brasileira de Matemtica

UFPI - Departamento de Matemtica

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