Livro Sobre Derivadas
Livro Sobre Derivadas
Livro Sobre Derivadas
EDUFPI
2012
Teresina
iv
FICHA CATALOGRFICA
Universidade Federal do Piau
Biblioteca Comunitria Jornalista Carlos Castello Branco
Servio de Processamento Tcnico
ISBN
1. Derivada. I. Ttulo.
CDD 515
Prefcio
E STE presente texto destina-se a pessoas com pouca experincia e manejo nas ferra-
mentas de clculo. Entretanto, pode ainda vir a ser utilizado como auxlio queles
professores de cculo mais dedicados, que busquem aplicaes do clculo diferencial com
o intuito de fomentar o interesse de seus alunos por sua disciplina. Principalmente em
disciplinas ministrados em cursos de Engenharia, onde, pela minha experincia, o professor
constantemente indagado pelos estudantes sobre as aplicaes prticas dos contedos
explanados em sala de aula.
Este livro foi preparado com o objetivo mais breve de servir como livro-texto para
um minicurso de mesmo ttulo, a ser ministrado pela minha humilde pessoa durante o II
Colquio de Matemtica do Nordeste, que acontecer em novembro de 2012 e ser sedi-
ado na cidade de Teresina. Tal minicurso tem como pblico alvo, os estudantes do curso
de mestrado profissional PROFMat e ainda alunos de incio de graduao em cursos de
Matemtica, Fsica, Engenharias, etc. Baseado no pblico alvo citado optei por uma abor-
dagem bastante didtica, em algumas vezes at muito detalhista, com bastante ilustraes
tanto para enriquecer o texto quanto para satisfazer as minhas necessidades como gemetra
devoto. No texto, a teoria apresentada sem muito formalismo, mas com o rigor que julguei
necessrio, tanto nas definies quanto nos Teoremas e proposies bsicas para o entendi-
mento e resoluo dos problemas apresentados. Ao final de cada captulo existe uma lista
de exerccios propostos com o intuito de fazer com que o leitor exercite os conhecimentos
aprendidos at ento.
No Captulo 1 fiz um apanhando histrico sobre os primrdios do Clculo, enfatizando
a vida e contribuio de seus dois maiores precussores: Isaac Newton e Gottfried Leibniz.
apresentada um pouco da histria pessoal de cada um deles, de suas interaes com
alguns matemticos de sua poca e ainda um pouco sobre a polmica briga sobre quem
seria o verdadeiro pioneiro do Clculo Diferencial.
Os Captulos 2 e 3 introduzimos o conceito de taxa de variao instantnea e portanto
de derivada como limite do quociente de Newton. So apresentados tambm exemplos de
clculo de derivadas, regras operacionais e teoremas fundamentais como: a regra da cadeia,
o teorema da funo inversa, aproximaes lineares e quadrticas e o Teorema do Valor
Mdio. So ainda abordados conceitos de primitivas de funes, equaes diferenciais
lineares de primeira ordem com coeficientes constantes e equaes de Bernoulli, pontos
crticos e valores de mximo/mnimo de uma funo duas vezes derivvel. Tivemos uma pre-
ocupao, que ser notado neste captulo, de utilizar e provar resultados sobre primitivas
e solues de equaes diferenciais sem envolver o conceito de integral. So apresenta-
dos diversos problemas relacionados modelagem (elementar) de problemas interessantes
utilizando equaes diferencias lineares e ainda problemas relacionados com dinmica de
corpos, como: queda livre com resistncia do ar e velocidade de escape. Nestes captulos
ainda contm uma seleo de exerccios ao final do mesmo, onde alguns destes so de
1
comentao e fixao dos conceitos e resultados apresentados ao decorrer dos mesmos,
quanto problemas aplicados envolvendo situaes prticas e cotidianas.
O Captulo 4 destinado exclusivamente aplicao da derivada em problemas rela-
cionados com valores extremos de funes, em outras palavras, uma espcie de clculo das
variaes no nvel elementar e sobre R. So abordados neste captulo problemas bastante
interessantes como: a Lei de Snell-Descartes como consequncia do princpio de Fermat
e o Problema de Marqus de LHospital, assim como alguns outros. Os exerccios deste
captulo, muito deles poderiam vir como exemplo propostos resolvidos, pois os mesmos so
interessantes e motivantes, por isso sugiro, veementemente, que o leitor tente resolver
todos.
Por ltimo, mas no menos importante, gostaria de agradecer ao Prof. Joo Xavier da
Cruz Neto pelo incentivo em escrever o presente texto e submet-lo a ser utilizado no II
Colquio de Matemtica do Nordeste. A meu irmo Jos Vicente da Silva Filho (Junior
Nanonet, para os mais chegados) pela figuras presentes neste texto, pois o mesmo se
mostrou um verdadeiro artista grfico com sua criatividade em bolar e criar ilustraes.
Ao Professor Carlos Humberto Soares Jr pela considervel ajuda na formatao final do
texto. E a minha querida esposa Allana Kellen Lima Santos, pela leitura minunciosa final
do texto, vasculhando e corrigindo os erros cometidos por mim durante a digitao.
2
Contedo
Prefcio 1
3 Aplicaes da Derivada 37
3.1 Equaes Diferenciais Lineares de Primeira Ordem . . . . . . . . . . . . 37
3.1.1 Primitivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
3.1.2 Equaes Diferenciais Lineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
3.1.3 Equao de Bernoulli . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
3.2 Problemas de Modelagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.2.1 Uma prola no xampu . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.2.2 Mistura de Solues . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
3.2.3 Crescimento de Peixes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
3.2.4 Espelho Parablico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
3.2.5 Dinmica Populacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
3.3 Problemas de Dinmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
3.3.1 Corpos em queda livre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
3.3.2 Velocidade de escape . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
3.3.3 Quando o avio deve comear a descer? . . . . . . . . . . . . . 49
3.4 Problemas Propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
3
CONTEDO
Referncias Bibliogrficas 75
4
Captulo 1
Os Primrdios do Clculo: Newton e Leibniz
Ipouca
SAAC Newton (1642-1727) nasceu no ano da morte de Galileu Galilei em Woolsthorpe,
Inglaterra. Ele veio de uma famlia abastada, embora seu pai fosse um homem com
educao formal. Newton teve uma infncia infeliz, no tendo conhecido seu pai
que morreu antes que ele completasse um ano de idade. Sua me, Hannah Ayscough,
casou-se com o ministro da igreja de um vilarejo prximo e o jovem Isaac foi deixado com
seus avs. H indcios de que Newton sofreu de forte ressentimento pelo casamento da
me, ao mesmo tempo em que no desenvolveu vnculos fortes com os avs.
Com a morte do padrasto em 1653, Newton passou a viver com a me, av, um meio-
irmo e duas meia-irms. Como estudante ele demonstrava poucas habilidades e interesse
e, por isto, foi tirado da escola para cuidar dos interesses financeiros de sua me. Newton
tambm no mostrou interesse em realizar esta tarefa. Em 1960, por influncia de William
Ayscough, tio de Newton, a famlia decidiu prepar-lo para a educao superior. Nesta
poca ele se alojava com a famlia de Stokes, o chefe da escola, que percebendo os talentos
de Newton, foi um dos responsveis por convencer a famlia de que ele possua habilidades
para o trabalho acadmico.
Pouco se conhece sobre o que Isaac teria aprendido antes de ingressar na universidade,
particularmente em matemtica. Com certeza ele recebeu de Stokes um bom impulso e
orientao e possvel que tenha tido o primeiro contato com Os Elementos de Euclides
5
CAPTULO 1. OS PRIMRDIOS DO CLCULO: NEWTON E LEIBNIZ
nesta poca. H um nmero de pequenas histrias, sem maior comprovao, de que Newton
era hbil com as mquinas e gostava de construir modelos de relgios e moinhos.
Finalmente, em 1661, quando j era mais velho que a maioria dos colegas, Newton
ingressou no Trinity College de Cambridge. Apesar de sua posio financeira confortvel
ele entrou como um sizar, uma espcie de posio de servial em relao aos outros colegas.
Newton pretendia inicialmente se formar em Direito.
O currculo em Cambridge naquela poca era dominado pelos estudos da filosofia aris-
totlica at o terceiro ano. A partir da Newton se dedicou a estudar os textos de Descartes,
Gassendi, Hobbes e, em particular, de Boyle. Ele tambm mostrou interesse pelas teorias
revolucionrias de Coprnico, Kepler e Galileu em astronomia e tica. Gradualmente ele se
envolveu com o estudo da matemtica e da fsica. Existe um relato, por parte de de Moivre,
de que seu interesse pela matemtica foi incrementado em 1663 quando comprou um livro
de astronomia e no pode entender a matemtica envolvida. Ento ele passou a fazer um
esforo para aprimorar seu conhecimento desta disciplina, principalmente atravs do estudo
de uma verso de Barrow de Os Elementos de Euclides. Em seguida ele passou a estudar
a recm desenvolvida geometria analtica atravs dos textos de Vite e Ren Descartes.
Neste perodo ele aprendeu sobre o mtodo de Wallis para encontrar um quadrado com
rea sob segmentos da parbola e da hiprbole, usando os indivisveis.
Ao receber sua graduao em abril de 1665 Newton no havia ainda mostrado toda a
sua genialidade. Em 1665 a universidade foi fechada por causa da epidemia da peste negra
(peste bubnica) que se espalhava por toda a Europa e Inglaterra. Newton se recolheu
na casa de sua me onde aprofundou, por conta prpria, seus estudos e investigaes.
Com menos de 25 anos de idade ele iniciou sua carreira fazendo contribuies importantes
para a matemtica, mecnica, tica e astronomia. Neste perodo, como ele prprio relatou
depois, ele fez quatro de suas grandes descobertas: o teorema binomial, o clculo, a lei
da gravitao universal e a natureza das cores. O mtodo dos fluxos, como ele denomi-
nava o clculo, estava baseado no reconhecimento fundamental de que as operaes de
derivao e integrao estavam associadas, sendo simplesmente uma a operao inversa da
outra. Partindo da derivao com operao bsica ele desenvolveu tcnicas analticas que
unificavam diversas abordagens anteriores para solucionar questes que antes se julgava
serem no correlacionadas, tais como o clculo de reas, tangentes a curvas, comprimento
de segmentos de curvas e a localizao de mximos e mnimos de funes.
Quando a Universidade de Cambridge reabriu, ao trmino da peste negra em 1667,
Newton foi aceito como professor no Trinity College. Nesta poca se iniciaram os esforos
de Barrow para divulgar os resultados obtidos por Newton que mantinha um contato
bastante restrito com a comunidade cientfica de sua poca. Aparentemente por receio s
crticas e ao plgio, ele tendia a no expor de pronto os seus mtodos e, quando o fazia,
no os relatava com clareza.
Em outubro de 1666 Newton escreveu um tratado sobre os fluxos. Seu trabalho no
foi imediatamente publicado mas muitos matemticos da poca o conheciam de forma que o
tratado exerceu grande influncia sobre o desenvolvimento do clculo naquele perodo. Ele
iniciou suas consideraes tratando uma curva como sendo a trajetria de uma partcula,
dada por suas coordenadas em funo do tempo. Em linguagem moderna ele representava
a curva de uma funo sob a sua forma paramtrica, usando o tempo como parmetro -
uma forma bastante apropriada para quem deseja estudar o movimento de uma partcula.
6
1.1. ISAAC NEWTON
f(x) = a0 + a1 x + a2 x 2 + + an x n + (1.1)
x = x(t) x x + xo
. (1.3)
y = y(t) y y + y o
7
CAPTULO 1. OS PRIMRDIOS DO CLCULO: NEWTON E LEIBNIZ
implicando que
y o = 2xx o + x2 o2 , (1.5)
e portanto que
y = 2xx + x2 o, (1.6)
Tomando o como zero, no que deveria ser um limite, obtm-se y = 2xx . A taxa de variao
de y com x, que a inclinao da reta tangente y /x = 2x.
Como professor Lucasiano, o primeiro trabalho de Newton foi um curso dedicado
tica, iniciado em janeiro de 1670. Neste curso ele ensinava que a luz branca no uma
entidade simples mas sim composta por luz de diversas cores, como se pode observar no
espectro obtido por meio de um prisma. Vale ressaltar que, desde Aristteles, sempre se
acreditou no contrrio. A observao do efeito de aberrao cromtica em telescpios levou
Newton a esta concluso, bem como sugesto da construo de telescpios refletores,
que se utilizam de espelhos parablicos no lugar de lentes para a obteno de uma imagem
ampliada dos objetos celestes.
Em 1672 Newton foi aceito membro da Royal Society e publicou seu primeiro artigo
sobre a luz e a cor no peridico Philosophical Transactions of the Royal Society. Este
artigo foi bem aceito pela comunidade cientfica, mas tambm deu origem a crticas e
oposies. Hooke e Huygens argumentaram contra a tentativa de Newton de provar que a
luz possua natureza corpuscular e no ondulatria. Devido ao peso da opinio de Newton
este foi um erro que persistiu por muito tempo no estudo da luz at que experincias com
o fenmeno da refrao, no sculo XIX, indicaram uma preferncia pelo modelo ondulatrio.
Vale dizer que hoje existe um modelo corpuscular da luz, e da radiao eletromagntica
em geral, como parte integrante da moderna teoria quntica. No entanto, nenhum dos
fenmenos de que fato evidenciam a natureza corpuscular da luz era conhecido na poca
de Newton. As crticas recebidas levaram Newton a adotar uma posio ainda mais retrada
e ser mais reticente com relao a suas descobertas. Embora apreciasse a notoriedade ele
ressentia enormemente as crticas recebidas e julgava que uma forma de evit-las seria
evitar a publicao de suas idias.
As relaes de Newton com Hooke se deterioraram em 1675, quando Hooke o acusou
de plgio em algumas de suas concluses em tica. Isto fez com que Newton adiasse a
publicao de suas concluses em tica at a morte do adversrio, em 1703. O livro Opticks
s apareceu em 1704, tratando da teoria da luz e da cor.
Por volta de 1678, em parte devido a uma nova discusso com os jesutas sobre sua teoria
da luz e devido morte de sua me, Newton sofreu seu primeiro colapso nervoso. Muitos
historiadores sustentam a tese de que seu envolvimento com as experimentaes alqumicas
e subsequente exposies a vapores de mercrio e outros metais teria contribudo para
fragilizar seu sistema nervoso. certo que ele passou grande parte de sua vida estudando
alquimia, religio cronologia do Apocalipse e outros temas esotricos, tendo escrito diversos
tratados sobre estes assuntos.
8
1.1. ISAAC NEWTON
9
CAPTULO 1. OS PRIMRDIOS DO CLCULO: NEWTON E LEIBNIZ
10
1.2. GOTTFRIED WILHELM VON LEIBNIZ
Ao completar 16 anos, algo no muito incomum na poca, Leibniz entrou para a Univer-
sidade de Leipzig onde estudou filosofia e matemtica. Nenhuma destas disciplinas era, na
poca, ensinada com grande nvel de aprofundamento. Aps sua graduao, obtida em 1663,
ele passou um perodo em Jena estudando com Erhard Weigel, um filsofo e matemtico
com quem aprendeu a importncia do mtodo de provas matemticas em assuntos tais
como lgica e filosofia. Em 1663 Leibniz retornou a Leipzig para o programa de doutorado
em Direito. L ele obteve primeiro o grau de Mestre em filosofia, tendo sido mais tarde
recusado para o grau de doutor em Direito. Aparentemente isto ocorreu porque ele era
muito jovem e havia na poca poucos orientadores disponveis. Se esperava ento que ele
aguardasse um ano at sua aceitao. Ao invs de esperar Leibniz foi para a Universidade
de Altdorf, recebendo o grau de doutor em Direito em 1667.
Uma vez formado Leibniz iniciou uma carreira voltada para a diplomacia enquanto par-
ticipava em diversos projetos cientficos, literrios e polticos. Ele se relacionava igualmente
bem com catlicos e luteranos e manteve durante toda a sua vida um interesse em trabalhar
para a reunificao das igrejas. Outro de seus projetos permanentes era a inteno de
reunir de forma organizada todo o conhecimento acumulado at a sua poca. Simultanea-
mente Leibniz comeou a estudar o movimento buscando explicar os resultados obtidos por
Wren e Huygens sobre colises elsticas. Em 1671 ele publicou Hypothesis Physica Nova
onde afirmava, em acordo com Kepler, que o movimento decorrente da ao do esprito
sobre a matria. Neste perodo, passou a se comunicar com Oldenburg, o secretrio da
Royal Society de Londres, um dos responsveis por seu contato com Isaac Newton.
Diferente de Newton, Leibniz apreciava viajar pela Europa fazendo contatos com outros
matemticos e filsofos, aproveitando-se para isto de sua posio como diplomata. Junta-
mente com sua atuao na diplomacia ele iniciou suas primeiras tentativas para construir
uma mquina calculadora. Em Paris, no anos de 1672, Leibniz estudou matemtica e fsica
com Christian Huygens de quem recebeu a sugesto de trabalhar com sries. Em 1673
Leibniz visita a Royal Society em Londres onde apresentou sua tentativa incompleta de
construir sua calculadora. Nesta ocasio, em contatos com Hooke, Boyle e Pell ele se
11
CAPTULO 1. OS PRIMRDIOS DO CLCULO: NEWTON E LEIBNIZ
atualizou sobre os resultados mais recentes obtidos em sries. Mais tarde, embora ausente
de Londres, Leibniz recebeu crticas na Royal Society, especialmente no que se referia
mquina de calcular. Estas crticas tiveram um efeito interessante sobre Leibniz. Ele
percebeu que seus conhecimentos em matemtica eram, de fato, incompletos e que neces-
sitavam de aprimoramento. Sem se abater ele redobrou seus esforos em se aprofundar
nesta disciplina.
Leibniz foi aceito membro da Royal Society de Londres em 1673 e iniciou um estudo
sobre a geometria dos infinitesimais, trocando correspondncia sobre estes esforos com
Oldenburg que, por sua vez, o informou sobre os avanos de Newton nesta rea. Deve-
se notar que, neste perodo, Leibniz no gozava de grande reputao com os membros
Royal Society devido sua incapacidade de concluir sua mquina calculadora. Simul-
taneamente Oldenburg desconhecia que ele havia, devido a seus esforos para se superar,
transformando-se em um gnio criativo da matemtica.
Em Paris, na mesma poca, Leibniz comeou a desenvolver os princpios de sua verso
do clculo. Consciente de que, para o pleno desenvolvimento de uma ferramenta matemtica,
era necessria a adoo de uma notao consistente e de fcil manipulao ele dedicou um
bom tempo para o estabelecimento de sua notao que basicamente a mesma que usamos
at hoje. sabido que suas primeiras anotaes eram confusas e de difcil leitura. J em
1675 ele escreveu um artigo manuscrito onde usava pela primeira vez a notao f(x)dx. No
mesmo artigo ele apresentou a regra para a diferenciao de um produto. Em 1676 Leibniz
apresentou a diferenciao de
dx n = nx n1 dx, (1.8)
para n inteiro ou fracionrio.
Em 1696 Leibniz aceitou um cargo na biblioteca de Hanover, onde ficou at o fim de sua
vida. Ele continuou mantendo contato com outros matemticos da poca e viajando pela
Europa. Outros projetos foram iniciados neste perodo, tais como moinhos bombeadores de
gua para serem empregados em minas nas montanhas de Harz. Seus projetos tecnolgicos
no foram bem sucedidos mas suas observaes sobre a geologia das montanhas o levaram
a propor a hiptese de que a terra foi formada no passado por lava derretida.
Alm de seus trabalhos em clculo, Leibniz obteve outros resultados importantes em
matemtica. Ele trabalhou com sistemas aritmticos binrios e com o conceito de de-
terminantes, usado na soluo de sistemas de equaes lineares. Sobre a mecnica ele
questionou o sistema de Descartes e examinou os conceitos de energia potencial e cintica
e de momento.
Leibniz era um homem atuante, que buscava difundir as idias mais modernas e interagir
com os demais pensadores de seu tempo. Ele esteve envolvido na formao de academias
e sociedades cientficas e no seria exagero dizer que ele esteve em contato com a maioria
dos matemticos da poca. Um exemplo foi sua correspondncia com Grandi, iniciada em
1703, onde se discutiu o paradoxo obtido ao se atribuir o valor x = 1 na expanso em
srie para
1
= 1 x + x 2 x 3 + + (1)n x n + . (1.9)
1+x
Na filosofia ele buscou aperfeioar seu sistema de reduo do raciocnio a uma lgebra
do pensamento. Ele publicou seu Meditationes de Cognitione, Veritate et Ideis (Reflexes
12
1.3. NEWTON VERSUS LEIBNIZ
13
CAPTULO 1. OS PRIMRDIOS DO CLCULO: NEWTON E LEIBNIZ
Durante as viagens que fez pela Europa Leibniz estabeleceu contato com diversos mate-
mticos importantes da poca. Ele estudou matemtica e fsica com Christian Huygens em
Paris, em 1672 e esteve com Hooke e Boyle em Londres no ano de 1673. Na mesma ocasio
ele adquiriu diversos livros sobre matemtica, inclusive os trabalhos de Barrow, com quem
manteve extensa correspondncia. Retornando para Paris, Leibniz realizou importantes
contribuies na rea do clculo, julgando que seu trabalho fosse muito diferente do de
Newton. Newton tratava as variveis como funes do tempo enquanto Leibniz considerava
suas variveis x e y como valores assumidos sobre sequncias de valores infinitamente
prximos. Ele introduziu a noo de dx e dy como diferenas entre valores prximos
dentro destas sequncias. Leibniz sabia que podia calcular a inclinao da tangente como
dy/dx mas no usou este fato como definio da reta tangente.
Para Newton a integrao consistia de se encontrar fluentes para um dado fluxo e, desta
forma, a complementariedade da diferenciao e da integrao como operaes inversas
estava implcita. Leibniz usava a integrao como uma soma, de forma muito similar quela
usada por Cavalieri e, mais recentemente, por Riemann. Ele tambm se sentia vontade
com o uso dos infinitesimais dx e dy, enquanto Newton usava a notao x e y que
representavam velocidades finitas. Nem Leibniz, nem Newton pensavam em termos de
funes e sim em termos dos grficos envolvidos. Para Newton o clculo era formado por
operaes geomtricas enquanto Leibniz fez maior progresso na direo da anlise.
Leibniz tinha conscincia de que a definio e adoo de uma boa notao era de
fundamental importncia e se dedicou com esforo esta questo. Por outro lado, seu
rival Newton, parecia escrever mais para si mesmo do que para um pblico geral e, como
consequncia, tendia a usar uma notao que variava a cada momento. A notao de Leibniz,
dx , enfatizava o aspecto de operador da derivao, o que se revelou muito importante para
d
14
1.3. NEWTON VERSUS LEIBNIZ
foram publicados em 1684 e 1686 sob o nome de Calculus Summatorius. O nome moderno,
clculo integral, s apareceu como sugesto de Jacob Bernoulli, em 1690.
Nesta poca 1676 Newton escreveu uma carta para Leibniz, enviada por meio de
Oldenburg. Nesta carta, que demorou para chegar ao destino, Newton apresentava uma
lista de suas concluses sem dar, no entanto, uma descrio de seus mtodos. Leibniz
respondeu imediatamente sem perceber que houvera demora to grande no recebimento
daquela carta. Por sua vez, Newton acreditou que Leibniz tivera seis semanas para elaborar
sua resposta, aperfeioando suas consideraes sobre o clculo com base em sua prpria
carta. Percebendo o descontentamento do colega Leibniz compreendeu que deveria publicar
sem atraso uma descrio completa de seus prprios mtodos. Uma segunda carta foi
enviada a Leibniz em outubro de 1676 onde Newton, ainda que mantendo o tom corts,
sugeria que seus mtodos e operaes haviam sido plagiados. Leibniz respondeu dando
mais detalhes sobre os fundamentos de seu clculo diferencial e integral, incluindo a regra
para a derivao de uma funo composta.
Embora Newton reclamasse que Leibniz no havia resolvido nenhum novo problema
inegvel que seus mtodos e formalismo foram vitais para o desenvolvimento posterior do
clculo. Cabe lembrar que Leibniz nunca considerou a derivada como um limite, um conceito
s desenvolvido mais tarde com o trabalho de dAlembert.
Em 1684 Leibniz publicou em detalhes seu mtodo sobre o clculo diferencial em um
jornal denominado Nova Methodus pro Maximis et Minimis, itemque Tangentibus... in Acta
Eruditorum. Neste artigo ele usa a notao hoje familiar de df para a diferencial de uma
funo, as regras para a derivao de potncias, produtos e quocientes de funes. No
entanto nem todas as demonstraes estavam presentes. Em 1686 Leibniz publicou um novo
artigo sobre o clculo integral.
O livro de Newton, Principia, apareceu no ano seguinte. O mtodo dos fluxos foi
desenvolvido em 1671, mas permaneceu no publicado at 1736, com a traduo para o
ingls de John Colson. Este atraso na publicao, em grande parte motivado pela relutncia
de Newton em aceitar a exposio e crticas dos colegas matemticos foi o responsvel
pelo conflito e disputas com Leibniz.
Grande parte das atividades cientficas de Leibniz em seus ltimos anos de vida estava
relacionada com esta disputa sobre a inveno do clculo. Em 1711 um artigo na Transac-
tions of the Royal Society of London o acusava de plgio. Este artigo, bem como os demais
ataques, partiam de partidrios de Newton e no dele prprio, diretamente. Em sua defesa
Leibniz argumentou que no tivera contato com o clculo dos fluxos at o conhecimento
da obra de Wallis. Em resposta Keill afirmou que a carta enviada por Newton atravs
de Oldenburg continha indicaes claras de seu mtodo. Em carta para a Royal Society
Leibniz pediu uma retratao, o que motivou a formao de um comit para julgar a questo.
O comit, formado pelo prprio Newton, julgou a questo sem dar a Leibniz o direito de
defesa emitindo parecer favorvel a Newton. O relatrio final, escrito por Newton, atribua
a ele a autoria do clculo. Leibniz publicou um panfleto annimo, intitulado Charta Volans,
onde narrava sua verso dos fatos e se utilizava, em sua defesa, de um erro de Newton
sobre derivadas de segunda ordem e ordens superiores. Mais uma vez os partidrios de
Newton vieram a pblico em sua defesa, mas Leibniz se recusou a levar adiante o debate.
Ao receber correspondncia de Newton, Leibniz respondeu com uma descrio detalhada
de sua descoberta do clculo diferencial.
15
CAPTULO 1. OS PRIMRDIOS DO CLCULO: NEWTON E LEIBNIZ
Entre seus correspondentes Leibniz manteve com Samuel Clarke, um defensor de New-
ton, um debate sobre os conceitos newtonianos sobre espao e tempo, ao distncia e
atrao gravitacional atravs do vcuo. Parte desta discusso afetou, mais tarde, o pen-
samento de Ernst Mach e, por sua vez, Albert Einstein, levando construo da nova
teoria mecnica e da atrao gravitacional exposta pela Teoria da Relatividade. A defesa
apaixonada da posio de Newton e a recusa em adotar a terminologia e notao de Leib-
niz fizeram com que os progressos do clculo fossem retardados na Inglaterra, enquanto na
Europa continental os seguidores de Leibniz promoviam um rpido avano da cincia.
16
Captulo 2
A Derivada: Conceitos e Resultados Bsicos
N ESTE captulo construiremos todo o alicerce deste texto, pois aqui sero introduzidos
os conceitos bsicos sobre taxas de variao e derivadas e ainda, regras operacionais
e Teoremas fundamentais para o manuseio de forma prtica da derivada.
17
CAPTULO 2. A DERIVADA: CONCEITOS E RESULTADOS BSICOS
e denominador nulo, coisa tal que no est definida matematicamente, isto , no faz o
menor sentido! Para evitarmos esta anomalia, introduzimos o conceito de limite. Imagine
que voc, tendo pacincia em demasia e instrumentos apropriados, aferisse dados relativos
ao quociente 2.3 para uma quantidade grande de nmeros h cada vez menores . Por
exemplo:
1 1
1s, s, s, . . . (2.4)
10 100
e notasse que a sequncia de nmeros gerada tem uma tendncia a ir pra um determinado
nmero real L. Tal procedimento, embora informal, revelaria que o limite do quociente de
Newton dado em 2.3 quando h tende a zero L. Baseado na motivao acima segue
a definio abaixo, que sem sombra de dvida, um dos conceitos matemticos mais
importantes do mundo moderno.
Observao 2.1.2. Durante todo este texto, salvo meno contrria, ao nos referirmos a
uma funo f sem demais detalhes estaremos nos referindo a f como definida em 2.1.1.
Observao 2.1.4. Note que a definio dada em 2.1.3 equivalente ao seguinte limite
existir
f(x) f(p)
lim . (2.6)
xp xp
Observao 2.1.5. As seguintes notaes tambm so amplamente utilizadas na literatura
existe
df(p)
f 0 (p), f(p), , Df(p). (2.7)
dx
Observao 2.1.6. Sem querer adentrar muito no assunto de limites, mas deveras im-
portante perceber que s calcular derivadas para pontos p interiores ao domnio da funo
f descrita em 2.1.1. Pois, para aqueles mais familiarizados com o conceito de limite,
sabido que os limites laterais, isto , a esquerda e direita de p existirem condio
necessria de suficiente para o limite existir. Mas, por motivos bvios, os limites nas
extremidades a e b no podem ser calculados. Para mais informaes sobre limites veja
[3], [4] e [7].
Podemos ento considerar a funo derivada de f, que associa a cada ponto x o valor
de f 0 (x). Vejamos o exemplo descrito na proposio abaixo.
18
2.1. TEORIA E CONCEITOS ELEMENTARES
Proposio 2.1.7. Seja n um nmero natural e considere a funo f(x) = x n . Ento vale
que f 0 (x) = nx n1 .
Demonstrao. Utilizando a expresso do binmio de Newton temos que
X n
n ni i
(x + h) =
n
x h, (2.8)
i
i=0
e portanto
n
X
(x + h)n x n n ni i1
= x h , (2.9)
h i
i=1
da calculando o limite quando h vai pra zero do lado direito da igualdade acima vai restar
apenas o termo independente de h, ou seja,
n n1
x = nx n1 , (2.10)
1
assim sendo vale que
(x n )0 = nx n1 . (2.11)
19
CAPTULO 2. A DERIVADA: CONCEITOS E RESULTADOS BSICOS
Observao 2.1.10. O processo de derivao pode ser aplicado mais de uma vez para
uma mesma funo, ou seja, podemos calcular a derivada da derivada, entendendo que
f 00 = (f 0 )0 , isto ,
f 0 (p + h) f 0 (p)
f 00 (p) = lim , (2.19)
h0 h
caso o limite exista. f 00 (p) chamada de derivada segunda de f em p.
Dentro do contexto de outras cincias a derivada assume um nome especfico de acordo
com o ente que esteja sendo estudado. Por exemplo;
Existem diversas interpretaes da derivada, onde diversas delas sero abordadas neste
texto. Mas vejamos uma muito importante: A derivada f 0 (p) o coeficiente angular da reta
tangente ao grfico da funo y = f(x) no ponto (p, f(p)). Veja 2.1.
Note que na figura 2.1 a quantidade
f(p + h) f(p)
tg = (2.20)
h
a inclinao da reta secante ao grfico de f nos pontos (p, f(p)) e (p + h, f(p + h)). Note
que ao fazermos h 0 a reta secante tende a se tornar tangente pois (p, f(p + h)
(p, f(p)) e portanto
f(p + h) f(p)
tg = lim . (2.21)
h0 h
Vejamos agora algumas propriedades operatrias da derivada.
Proposio 2.1.11. Sejam f e g funes derivveis em p e R. Ento vale:
1. (f g)0 (p) = f 0 (p) g0 (p);
2. (f)0 (p) = f 0 (p);
20
2.1. TEORIA E CONCEITOS ELEMENTARES
[g(p)]2
, desde que g(p) 6= 0.
Teorema 2.1.12 (Aproximao Linear). A funo derivvel em p se, e somente se, existem
L R e uma funo r(h) tal que
r(h)
f(p + h) = f(p) + L h + r(h), onde lim =0 (2.22)
h0 h
como limh0 = L, uma vez que o mesmo uma constante e no depende de h, utilizando
21
CAPTULO 2. A DERIVADA: CONCEITOS E RESULTADOS BSICOS
Da note que r(h) = f(p + h) f(p) f 0 (p)h a diferena entre os valores das ordenadas
do grfico de f e da reta que tangente ao grfico de f no ponto (p, f(p)). Da, como foi
provado acima que
r(h)
lim = 0,
h0 h
isto indica que r(h) tende a 0 muito mais rpido que o prprio h, logo, para valores
pequenos de h temos que f(x + h) y(x + h), ou seja, os valores de f para valores de x
na vizinhana de p podem ser aproximados pelos valores de y pertencentes a reta tangente.
Em outras palavras estamos aproximando os valores do grfico de f pelos valores da reta
tangente. Por isso o nome aproximao linear. Note que, de fato, limh0 r(h) = 0, pois
r(h) r(h)
lim r(h) = lim h = lim lim h = 0. (2.31)
h0 h0 h h0 h h0
r(h)
g(p + h) = g(p) + g0 (p)h + r(h), onde lim = 0. (2.33)
h0 h
22
2.1. TEORIA E CONCEITOS ELEMENTARES
23
CAPTULO 2. A DERIVADA: CONCEITOS E RESULTADOS BSICOS
Note que, como f injetiva, no corremos perigo de f(p + h) f(p) = 0. Note que faz
sentido tomarmos o limite quando h 0 na expresso 2.48, uma vez que tal limite do lado
esquerdo da igualdade existe e igual a 1. Assim sendo
g(f(p + h)) g(f(p)) f(p + h) f(p)
1 = lim , (2.49)
h0 f(p + h) f(p) h
da, multiplicando ambos os lados da igualdade acima por
1
f(p + h) f(p) 1
lim = 0 , (2.50)
h0 h f (a)
temos que
1
1 f(p + h) f(p) g(f(p + h)) g(f(p)) f(p + h) f(p)
= lim lim
f 0 (a) h0 h h0 f(p + h) f(p) h
g(f(p + h)) g(f(p))
= lim
h0 f(p + h) f(p)
= g (f(p)),
0
24
2.2. PONTOS CRTICOS E VALORES EXTREMOS
25
CAPTULO 2. A DERIVADA: CONCEITOS E RESULTADOS BSICOS
26
2.2. PONTOS CRTICOS E VALORES EXTREMOS
Teorema 2.2.8 (Mximo Local). Se p crtico para f e f 00 (p) < 0 ento p um ponto de
mximo local para f.
Demonstrao. Como f duas vezes derivvel e p crtico pra f vale, pelo Teorema 2.2.7
que
f 00 (p) 2 (h)
f(p + h) = f(p) + h + (h), onde lim 2 = 0. (2.62)
2 h0 h
Assim sendo, dado > 0 existe > 0 tal que,
(h)
h2 < , h tal que |h| < . (2.63)
Assim sendo, tomando = f 00 (p)/4 > 0, temos que, para |h| <
(h) (h) f 00 (p) f 00 (p) 2
2
2 < (h) < h. (2.64)
h h 4 4
Da utilizando as expresses 2.62 e 2.64, temos que
f 00 (p) 2 f 00 (p) 2 f 00 (p) 2
f(p + h) < f(p) + h h = f(p) + h < f(p), |h| < . (2.65)
2 4 4
Provando assim que p um mximo local.
Teorema 2.2.9 (Mnimo Local). Se p crtico para f e f 00 (p) > 0 ento p um ponto de
mnimo local para f.
Teorema 2.2.10 (Weierstrass). Se f : [a, b] R contnua ento f assume mximo e
mnimo em [a, b], isto , existem x1 e x2 em [a, b] tais que f(x1 ) f(x) e f(x2 ) f(x), x
[a, b].
Para ver uma demonstrao do Teorema 2.2.10 veja [7].
Observao 2.2.11. No se iluda em achar que o fato de f(x) para todo x em seu
domnio garante que f admite um mnimo! Por exemplo, tome f(x) = x 1 , x > 0, claro
que f(x) > 0, x > 0, no entanto no existe p > 0 tal que f(p) = 0. Note que isto no
contradiz o Teorema 2.2.10, pois o domnio de f(x) = x 1 no da forma [a, b]!
A procura de valores extremos, isto , de mximo ou mnimo de uma dada funo ,
de modo geral, um problemas deveras complicado. A utilizao da derivada de grande
importncia, mesmo nem sempre elucidando todos os problemas. Vejamos um roteiro de
como buscar valores extremos para funes do tipo f : [a, b] R contnuas e derivveis
em (a.b)
i . Pelo Teorema 2.2.10 os pontos de mximo e mnimo existem. Isto ocorre devido a
compacidade do intervalo [a, b];
ii . Na tentativa de encontrar os mximos/mnimos buscamos os pontos crticos em
(a, b) via a equao dos pontos crticos dada portanto
f 0 (p) = 0. (2.66)
Tal procedimento devido a proposio 2.2.3;
27
CAPTULO 2. A DERIVADA: CONCEITOS E RESULTADOS BSICOS
iv . Por ltimo comparamos os valores de f(p) para p crtico com os valores de f(a) e
f(b) para identificarmos os valores extremos.
Teorema 2.3.1 (Teorema de Rolle). Seja f : [a, b] R uma funo contnua e derivvel
em (a, b). Se f(a) = f(b) ento existe c (a, b) tal que
f 0 (c) = 0. (2.67)
Em outras palavras existe ponto crtico em (a, b). Veja a figura 2.3.
Demonstrao. Segue do Teorema 2.2.10 que f admite mximo e mnimo em [a, b]. Se
ambos acontecem nos extremos, digamos, f(a) f(x) e f(x) f(b) para todo x [a, b],
teramos que
f(a) f(x) f(b) = f(a), x [a, b], (2.68)
assim sendo f seria constante igual a f(a) e da qualquer c (a, b) satisfaz que f 0 (c) = 0.
Veja o exerccio 2. Caso contrrio, pelo menos um dos valores extremos acontece em (a, b)
e devido a proposio 2.2.3 tal ponto crtico.
28
2.3. O TEOREMA DO VALOR MDIO
Teorema 2.3.2 (Teorema do Valor Mdio). Seja f : [a, b] R uma funo contnua e
derivvel em (a, b). Ento existe c (a, b) tal que
f(b) f(a)
f 0 (c) = . (2.69)
ba
Demonstrao. Temos que, a equao da reta secante ao grfico de f nos pontos (a, f(a))
e (b, f(b)) tem equao dada por
f(b) f(a)
y f(a) = (x a). (2.70)
ba
Agora considere a funo : [a, b] R definida por (x) = f(x) y(x), isto, a diferena
entre os valores da ordenada do grfico de f e a ordenada do grfico de y. Note que
contnua e derivvel em (a, b) e ainda, satisfaz que (a) = (b) = 0. Da pelo Teorema
2.3.1, existe c (a, b) tal que 0 (c) = 0. Por ltimo veja que
f(b) f(a)
0 (x) = f 0 (x) y0 (x) = f 0 (x) . (2.71)
ba
Observao 2.3.3. A interpretao geomtrica do Teorema do Valor Mdio diz que existe,
pelo menos um ponto c, entre a e b tal que a reta tangente a grfico de f no ponto (c, f(c))
paralela reta secante ao grfico de f que passa nos pontos (a, f(a)) e (b, f(b)). Veja
figura
Corolrio 2.3.4. Seja f : [a, b] R. Ento f constante se, e somente se, f 0 (x) =
0, x (a, b).
29
CAPTULO 2. A DERIVADA: CONCEITOS E RESULTADOS BSICOS
Demonstrao. Para provar a ida veja exerccio 2. Suponha agora que a derivada de f
seja nula em todos os ponto x (a, b), da, pelo Teorema 2.3.2, dado x (a, b] existe
cx (a, x) tal que
f(x) f(a)
= f 0 (cx ) = 0, (2.72)
xa
e portanto f(x) = f(a). Como x escolhido arbitrrio segue que f constante igual a
f(a).
Corolrio 2.3.5. Sejam f, g : [a, b] R contnuas em [a, b] e derivveis em (a, b). Se
f 0 (x) = g0 (x), x (a, b) ento existe uma constante tal que
X
n
p(i) (0)
p(x) = xi, (2.74)
n!
i=0
30
2.4. PROBLEMAS PROPOSTOS
9. Mostre que
ln x x 1, x > 1. (2.75)
10. Tome x [0, /2]. Faa um esboo no ciclo trigonomtrica e perceba que
sen x x tg x, (2.76)
da mostre que
sen x
cos x 1. (2.77)
x
Mostre ainda que a expresso acima tambm vlida para x [/2, 0]. Da
utilize o Teorema do Confronto dos limites para dar uma demonstrao de que
sen x
lim = 1. (2.78)
h0 x
14. Use o Teorema do Valor Mdio para mostrar que se dois velocistas em uma deter-
minada corrida chegam na linha de chegada empatados ento existe, pelo menos um
segundo t, tal que em t, ambos possuem a mesma velocidade.
15. Prove um resultado um pouco mais geral que o 2.1.15. Seja f : [a, b] R injetiva,
derivvel e f 0 (p) 6= 0, p (a, b). Se existe g : [c, d] [a, b] tal que h(x) = gf(x)
derivvel em x = p mostre que g derivvel em f(p) e vale que
h0 (p)
g0 (f(p)) = . (2.79)
f 0 (p)
31
CAPTULO 2. A DERIVADA: CONCEITOS E RESULTADOS BSICOS
21. Uma funo duas vezes derivvel f : R R dita convexa se f 00 (x) > 0, x R.
Mostre que se f admite um ponto crtico ento tal ponto de mnimo global.
y00 + y0 2y = sen x.
Encontre os valores de A e B tais que y(x) = Asen x + B cos x seja soluo de tal
equao diferencial.
24. A figura 2.5 mostra uma roda de raio 40 cm que gira e uma barra de conexo AP
com comprimento 1,2 m. O pino P pode escorregar para a frente a para trs ao
longo do eixo x medida que a roda gira no sentido anti-horrio a uma taxa de 360
revolues por minuto.
32
2.4. PROBLEMAS PROPOSTOS
25. Uma massa atada a uma mola vertical tem funo posio dada por y(t) = Asen (t),
onde A a amplitude de sua oscilao e uma constante.
26. Um carro viaja noite em Juazeiro do Norte-CE na estrada rumo ao horto para
fazer uma visita ao museu do Padre Ccero Romo Batista. Em certo momento da
estrada a mesma assume o formato de parbola com seu vrtice na origem. O carro
encontra-se em um ponto a 100 m a oeste e 100 m ao norte da origem e viaja na
direo leste. A 100 m a leste e a 50 m ao norte da origem est situada esttua do
Padre Ccero. Em que ponto da estrada os faris do carro vo iluminar a esttua
do Padim? Veja a figura 2.6.
2
27. Uma parede vertical faz um ngulo de medida com o solo. Veja a figura 2.7 Uma
3
escada de 6m est encostada na parede e sua ponta escorrega pela parede a uma
taxa de 1m/s. Quo rpido est variando a rea do tringulo formado pela escada,
a parede e o cho quando a escada faz com o cho um ngulo de rad?.
6
28. A reta tangente curva xy x 2 = 1 no ponto (x0 , y0 ), x0 > 0, intercepta o eixo
y no ponto B. Mostre que a rea do tringulo de vrtices (0, 0), (x0 , y0 ) e B no
depende de (x0 , y0 ).
29. Considere a funo f(x) = 1/x, x > 0. Seja P um ponto sobre o grfico de f e
considere o tringulo formado pela reta tangente ao grfico de f em P e os eixos
coordenados. Mostre que a rea deste tringulo no depende de P.
30. Enche-se um reservatrio, cuja forma a de um cone circular reto (veja figura 2.8),
de gua a uma taxa de 4m3 /min. O vrtice est a 12m do topo e o raio do topo
33
CAPTULO 2. A DERIVADA: CONCEITOS E RESULTADOS BSICOS
31. Dois carrinhos, A e B com rm de altura, esto conectados por uma corda de `m que
passa por uma polia P (veja figura 2.9). O ponto P encontra-se a hm de altura
do cho e o carrinho A est puxando o carrinho B a uma velocidade constante .
Denote por sA e sB as posies dos carrinhos A e B respectivamente. Demonstre
que a velocidade vB do carrinho B dada por
sA `
vB = q 1 . (2.81)
sB 2
sA + (h r) 2
32. Duas pessoas comeam a andar a partir de um mesmo ponto. Uma vai para o leste a
5km/h e a outra vai para o nordeste a 3km/h. Quo rpido est variando a distncia
entre as pessoas aps meia hora.
34
2.4. PROBLEMAS PROPOSTOS
35
Captulo 3
Aplicaes da Derivada
3.1.1 Primitivas
Definio 3.1.1. Seja f : [a, b] R. Uma funo F : [a, b] R uma primitiva de f se
F 0 (x) = f(x), x (a, b).
Note que, em virtude do Corolrio 2.3.4, se f possui uma primitiva F ento a mesma
possui infinitas, uma vez que (F + )0 = F 0 = f para toda constante R. E mais
ainda, em virtude do 2.3.5 qualquer outra primitiva de f da forma F + . Assim sendo
comum, em alguns casos, nos referirmos a famlia das primitivas de uma dada funo ao
invs de apenas uma nica primitiva. Entretanto, se alm de exigirmos que F 0 (x) = f(x)
solicitemos ainda que F (x0 ) = F0 ento a constante que a parece na famlia de primitivas
determinada e portanto a primitiva ser univocamente determinada.
Teorema 3.1.2 (Existncia de Primitiva). Se f : [a, b] R contnua ento f admite
primitiva.
A demonstrao deste resultado, embora seja relativamente simples, foge das nossas
intenes neste texto. Assim sendo um leitor interessado em tal Teorema pode encontrar
uma demonstrao em [7].
Proposio 3.1.3. Seja 1 6= R. A famlia de primitivas de f(x) = x dada por
x +1
F 0 (x) = + , (3.1)
+1
onde R.
37
CAPTULO 3. APLICAES DA DERIVADA
1
ln0 (x) = , ln(1) = 0. (3.2)
x
Mas como no desejamos aqui adentrar no contedo de integral optamos pela definio
3.1.4, que para os nossos propsitos presentes suficiente.
1 1
ln0 (x) = (1) = . (3.4)
x x
Assim sendo, note que x 1 possui duas famlias de primitivas distintas e primitivas de
famlias diferentes no diferem por uma constante. Mas note que tal fato no contradiz
o Corolrio 2.3.5, pois neste caso o domnio de x 1 da forma (, 0) (0, +) e
ento sua primitiva seria ln(x) se x > 0 e ln(x) se x < 0. Assim sendo, quando no
explicitamos o sinal de x o correto afirmar que a primitiva de x 1 ln |x|.
Teorema 3.1.7. Existe uma funo exp : R (0, +) inversa da funo ln x. Vale ainda
que
exp0 (x) = exp x. (3.5)
Demonstrao. Como ln0 x = x 1 > 0, x > 0 temos, devido ao corolrio 2.3.6 que f
admite inversa. Da temos que
y = exp x x = ln y, (3.6)
38
3.1. EQUAES DIFERENCIAIS LINEARES DE PRIMEIRA ORDEM
Um problema de valor inicial uma equao do tipo 3.8 acompanhada de um valor inicial
y(x0 ) = y0 .
Observao 3.1.10. Note que a funo constante y = b/a soluo da equao 3.8.
Teorema 3.1.11 (Existncia e Unicidade). O Problema de Valor Inicial
0
y (x) = a(x)y(x) + b(x),
(3.9)
y(x0 ) = y0
y0 (x)
= a. (3.11)
y(x) + b
a
implicando que
b
y + = exp(ax + ) = exp() exp(ax) = C exp(ax) (3.13)
a
39
CAPTULO 3. APLICAES DA DERIVADA
onde C = exp . Note que na penltima igualdade fizemos uso de 3.1.12. Para a retirada
do mdulo, dependeremos do valor do dado inicial, pois, se y0 > b/a teremos como
soluo
b
y = + C exp(ax) (3.14)
a
e caso y0 < b/a teremos a soluo
b
y = C exp(ax). (3.15)
a
Perceba que estamos sempre considerando a 6= 0, pois caso contrrio a soluo seria muito
bvia e dada por y = bx + C , C R.
40
3.2. PROBLEMAS DE MODELAGEM
Fr = mg + y0 + Pg , < 0. (3.22)
|{z} |{z} |{z}
gravidade fora de atrito empuxo
Perceba que de fato < 0, uma vez que a fora de atrito aponta para cima (pois contra
o movimento) e y0 < 0 uma vez que a prola est caindo. Utilizando a segunda Lei de
Newton (Fora=massaacelerao) temos que
Fr = my00 , (3.23)
41
CAPTULO 3. APLICAES DA DERIVADA
Da temos
42
3.2. PROBLEMAS DE MODELAGEM
Note que a taxa de sada de sal no constante, pois depende da quantidade de sal no
instante t representada por q. Assim sendo a equao diferencial que modela tal fenmeno
r
q0 = `r q, (3.34)
M
cuja soluo
r
q = M` + C exp t . (3.35)
M
Utilizando que q(0) = , temos que C = M`. E portanto a soluo
r
q = M` + ( M`) exp t . (3.36)
M
Novamente, como r/M < 0, temos que a quantidade limite de sal no tanque q =
M`.
43
CAPTULO 3. APLICAES DA DERIVADA
Demonstrao. Veja que a equao de Von Bertalanffy uma equao de Bernoulli 3.16
com m = 2/3 da sua soluo
3
p= + C exp t . (3.38)
3
Como > 0, temos que o peso limite do peixe p = 3 / 3 , uma vez que
lim exp t = 0.
t 3
Como o peixe ao nascer tem um peso muito pequeno, podemos considerar p(0) 0 e
portanto a soluo 3.38 assume a forma
3
p = p 1 exp t . (3.39)
3
44
3.2. PROBLEMAS DE MODELAGEM
45
CAPTULO 3. APLICAES DA DERIVADA
46
3.3. PROBLEMAS DE DINMICA
47
CAPTULO 3. APLICAES DA DERIVADA
Demonstrao. De acordo com a figura 3.7, temos que x a distncia do centro da terra
ao satlite e r o raio da terra. Da, considerando h como a altura em relao ao solo
do satlite, podemos escrever x = r + h. Pela lei da gravitao universal de Newton,
a fora de interao F entre os dois corpos proporcional ao produto de suas massas e
inversamente proporcional ao quadrado das distncias entre os mesmos, isto ,
GmM
F (h) = , (3.57)
(r + h)2
gr 2
v0 = . (3.60)
(r + h)2
48
3.3. PROBLEMAS DE DINMICA
dv 0 dv
v0 = h = v, (3.61)
dh dh
assim sendo, a equao 3.60, assume a forma
dv gr 2
v = , (3.62)
dh (r + h)2
Portanto temos
v2 gr 2
= + C. (3.64)
2 r+h
Quando t = 0 temos que h(0), da
v02
C= gr, (3.65)
2
implicando que
2gr 2
v 2 = v02 2gr + . (3.66)
r+h
Da teramos duas expresso possveis para v,
r r
2 2gr 2 2gr 2
v = v0 2gr + ou v = v02 2gr + . (3.67)
r+h r+h
O entendimento dos sinais na velocidade deve ser o seguinte: Se a velocidade v que
comea positiva com v0 continuar sempre positiva ento temos a primeira expresso para v
e o corpo continua a distanciar-se da terra. Caso a velocidade venha a ser zero em algum
momento, isto , o corpo atingindo altura mxima, comea a cair e sua velocidade deve ser
considerada com o sinal negativo. Veja que v 2 descresce em funo do crescimento de h,
da
v 2 lim v 2 = v02 2gr, (3.68)
h
v02
assim sendo, se 2gr 0 tem-se que v nunca se anula pe portanto o satlite continua
seu movimento afastando-se da terra. A velocidade ve = 2gr chamada de velocidade
escape e o seu valor numrico de ve 11, 1 km/s.
49
CAPTULO 3. APLICAES DA DERIVADA
6hv 2
k. (3.69)
l2
dy d2 y
y0 = v y00 = 2 v 2 . (3.72)
dx dx
50
3.4. PROBLEMAS PROPOSTOS
A desigualdade acima deve ser satisfeita para todos os valores de x [0, `], assim sendo,
como a expresso dentro do mdulo descrescente como funo de x e portanto assume
seu valor mximo em x = 0, a desigualdade 3.73 implica em
r
6kv 2 6h
2
k`v . (3.74)
` k
Adotando os dados numricos declarados no item 3 obtemos que ` 104, 78 km.
2. (Queda livre sem resistncia do ar) Mostre que a equao de um corpo arremessado
para baixo com velocidade inicial v0 de uma altura x0 , desconsiderando a resistncia
do ar, dada por
1
x(t) = gt 2 + v0 t + x0 , (3.76)
2
51
CAPTULO 3. APLICAES DA DERIVADA
A + B C , (3.77)
PV = nRT , (3.80)
52
3.4. PROBLEMAS PROPOSTOS
(b) Se um peru assado tirado de um forno quando sua temperatura atinge 85o C
e ele coloca sobre uma mesa em um cmodo em que a temperatura 22o C .
i. Se a temperatura do peru for 65o C depois de meia hora, qual ser a
temperatura depois de 45 minutos?
ii. Quando peru ter esfriado para 40o C ?
8. (Resfriamento de corpos) Um corpo a 100o C posto em uma sala com temperatura
desconhecida, mas que mantida constante. Sabendo-se que aps 10 minutos o
corpo est a 90o C e aps 20 minutos a 82o C. Calcule a temperatura na sala.
9. (Presso atmosfrica) A taxa de variao da presso atmosfrica em relao a altura
h proporcional a P, desde que a temperatura seja constante. A 15o C a presso
de 101,3 kPa no nvel do mar e 87,14 kPa em h = 1000 m.
(a) Qual a presso a uma altitude de 3.000 m?
(b) Qual a presso no topo do Monte McKinley, a uma altitude de 6.187 m?
10. (Decaimento radioativo) As substncias radioativas decaem pela emisso espontnea
de radiao. Foi determinado experimentalmente que, se m(t) for a massa remanes-
cente de uma massa inicial m0 da susbtncia aps um tempo t, ento a taxa de
decaimento relativamente m0 /m ser constante.
(a) Explique por que a equao que determina a massa m(t) remanescente
m0 = m, < 0.
(b) A meia-vida de uma dada substncia o tempo que ela leva at perder metade
de sua quantidade de massa inicial. O bismuto-210 tem uma meia vida de 5
dias.
i. Uma amostra tem originalmente uma massa de 800 mg. Encontre uma
frmula para a massa remanescente depois de t dias.
ii. Encontre a massa remanescente depois de 30 dias.
iii. Quando a massa de reduzir a 1 mg?
53
Captulo 4
Pontos Crticos e Valores Extremos
Problema 4.1.1. Um avio de 100 lugares foi fretado para uma excurso. A companhia
area exigiu de cada passageiro R$ 800, 00 mais R$ 10, 00 por cada lugar vago. Mostre
que 90 pessoas a quantidade tima de pessoas, isto , tal quantidade maximiza a receita
obtida pela empresa.
Adotando R(p), a receita obtida pela empresa, chegamos expresso da mesma em funo
do nmero de passageiros, que obtida pela multiplicao do nmero de passageiros pelo
valor pago por eles.
R(p) = p v(p) = 1800p 10p2 . (4.2)
55
CAPTULO 4. PONTOS CRTICOS E VALORES EXTREMOS
Da segue que para encontrar a quantidade de passageiros para a qual a receita mxima,
equivalente a encontrar o valor p que maximiza a funo receita R : [0, 100] R
definida por
R(p) = 1800p 10p2 .
Calculando a derivada de R e igualando-a a zero para determinar o ponto crtico, assim
sendo temos
R0 (p) = 1800 20p = 0 (4.3)
implicando que p = 90. Caso desejssemos calcular o valor que mximo da receita teramos
de calcular R(90) = R$ 81.000, 00. Por ltimo, note que R00 (p) = 20 < 0, p, e assim
sendo confirmando que o ponto crtico encontrado , de fato, um ponto de mnimo absoluto,
uma vez que R(0) = 0 e R(100)=R$ 80.000,00.
Problema 4.1.2. Uma calha de chuva deve ser construda com uma folha de metal de
largura ` metros, dobrando-se para cima 1/3 da folha de cada lado, fazendo-se um ngulo
com a horizontal, veja figura 4.1. Demonstre que tomando = /6 obtemos a calha com
maior capacidade de carregar a gua.
x2
AAC DF = A() = (1 + cos ) sen . (4.6)
9
56
4.1. PROBLEMAS DE OTIMIZAO
x2
A0 () = (cos + cos 2) (4.8)
9
e fazendo A0 = 0, no intuito de encontrar os pontos crticos temos
57
CAPTULO 4. PONTOS CRTICOS E VALORES EXTREMOS
cuja derivada
C 0 () = 16 cosec cotg + 2 sec tg (4.15)
e ainda
que equivalente a
tg 3 = 8 tg = 2, (4.18)
E da teremos que sec = 5 e cosec = 5/2. E portanto, como C 00 () > 0, , o
comprimento mximo do cano ser
Cmax = C(arctg 2) = 10 5 m 22, 4 m. (4.19)
58
4.1. PROBLEMAS DE OTIMIZAO
e usando que x (4, 8) e que cos 2 = 12sen 2 temos, depois de algumas simplificaes,
a funo y : (4, 8) R dada por
3
x2
y(x) = 1 . (4.21)
(x 4) 2
Calculando a derivada de y, obtemos
1 1 3 1
3x 2 (x 4) 2 x 2 (x 4) 2
y (x) =
0
(4.22)
2(x 4)
e fazendo y (x) = 0, obtemos a equao
1 1 3 1
3x 2 (x 4) 2 x 2 (x 4) 2 = 0. (4.23)
x = 6 m.
59
CAPTULO 4. PONTOS CRTICOS E VALORES EXTREMOS
Demonstrao. Analisando a figura 4.1.5 e usando que a funo tempo TAB gasto pela luz
para ir de A a B igual a soma do tempo (TAP ) gasto para ir de A a P com o tempo (TPB )
gasto para ir de P a B, temos
dAP dPB
TAB = TAP + TPB = + ,
var vagua
onde dAP e dPB so as devidas distncias entre tais pontos. Assim sendo, temos a funo
tempo T = TAB : [0, b] R dada por
p
x 2 + a2 (x b)2 + c2
T (x) = + , (4.26)
var vagua
cuja derivada
x 1 xb 1
T 0 (x) = +p , (4.27)
x2 + a2 var 2
(b x) + c 2 vagua
60
4.1. PROBLEMAS DE OTIMIZAO
e derivada segunda
a2 1 c2 1
T 00 (x) = 2 2 3/2
+ 3/2 . (4.28)
(x + a ) var (b x)2 + c2 vagua
Note que T 00 > 0, x [0, b] e portanto o valor de x tal que T 0 (x) = 0 ser um mnimo
absoluto. Analisando novamente a figura 4.1.5, temos
x bx
sen 1 = e sen 2 = p ,
x 2 + a2 (x b)2 + c2
sen 1 var
= ,
sen 2 vagua
x2 (y b)2
+ = 1. (4.29)
a2 b2
Demonstre que, dentre todos os tringulos, com base sobre o eixo dos x, que circunscrevem
a elipse acima o que possui menor rea aquele que possui altura igual a 3b. Veja a
figura 4.7.
61
CAPTULO 4. PONTOS CRTICOS E VALORES EXTREMOS
Assim sendo, os pontos de interseco da reta acima com os eixos coordenados so dados
por
y(x) y(x)
R = 0, y (x)
0
x e T = x 0 ,0 , (4.32)
y0 (x) y (x)
e portanto a rea A(x) do tringulo RST dada por
2
y(x)
A(x) = y0 (x) x 0 , (4.33)
y (x)
cuja derivada
y(x) y(x)
A0 (x) = y00 (x) x 0 x+ 0 . (4.34)
y (x) y (x)
Como os dois primeiros termos de A0 (x) so diferentes de zero3 teremos que A0 (x) = 0 se,
e somente se,
y(x)
x+ 0 = 0, (4.35)
y (x)
o que equivalente a termos xy0 = y. Derivando a equao 4.29 obtemos
x (y b)y0 x2 (y b)y0 x
2
+ 2
=0 2 + =0 (4.36)
a b a b2
3 Reflita sobre esta afirmao! Convena-se de que y00 (x) < 0 e x y(x)
> 0, x no domnio de A.
y0 (x)
62
4.1. PROBLEMAS DE OTIMIZAO
implicando que
x2 (y b)y
2
= , (4.37)
a b2
e utilizando mais uma vez a equao 4.29 juntamente com a equao 4.37 obtemos que
2y = 3b. Por ltimo, note que a altura h(x) do tringulo4 em questo exatamente
Por ltimo note que, nos pontos da elipse tais que a equao 4.35 satisfeita, temos que
0
2y (x) y(x)y00 (x)
A (x) = 2y (x)x
00 00
> 0, (4.39)
(y0 (x))2
63
CAPTULO 4. PONTOS CRTICOS E VALORES EXTREMOS
que, claro, cresce quando o tamanho do lote x decresce. Alm do mais supomos que o
custo anual de transporte e manuteno de uma nica unidade uma constante W que
pode ser determinada pelo setor de contabilidade. Como o estoque mdio x/2, quando o
tamanho do lote x, o custo total anual de manuteno
x
W , (4.42)
2
que cresce quando x cresce. O custo total , portanto
Wx FN
C (x) = + + SN. (4.43)
2 x
Assim sendo temos que
W FN
C 0 (x) = 2 (4.44)
2 x
e ainda que
2F N
C 00 (x) = > 0, x > 0. (4.45)
x3
Da, fazendo C 0 (x) = 0 obtemos como ponto minimizante o valor x = 2F N/W .
64
4.1. PROBLEMAS DE OTIMIZAO
e ainda
120x 60(50 x)
00 (x) = < 0, x [0, 50]. (4.50)
3600 + x 2 900 + (50 x)2
Analisando a equao dos pontos crticos 0 (x) = 0, obtemos, depois de algumas simplifi-
caes, a equao quadrtica
65
CAPTULO 4. PONTOS CRTICOS E VALORES EXTREMOS
1. Use a Lei de Poiseuille para mostrar que a resistncia total do sangue ao longo do
caminho ABC
a bcotg bcosec
R =C + (4.54)
r14 r24
onde a e b so as distncias mostradas na figura 4.9.
2. Demonstre que a resistncia minimizada quando
r24
cos = . (4.55)
r14
66
4.1. PROBLEMAS DE OTIMIZAO
r14 cosec 1
R0 = 0 = = . (4.60)
r24 cotg cos
e portanto
cosec
R 00 |equao 4.60 = > 0,
r24
implicando que o ponto crtico soluo da equao 4.60 de fato de mnimo. Da o item
(2) est feito. Para o item 3 temos que
r2 2 16
= cos = (4.62)
r1 3 81
e portanto 1, 3719 rad ou 78, 60o .
1. Escreva T1 , T2 e T3 em termos de D, h, c1 , c2 e ;
67
CAPTULO 4. PONTOS CRTICOS E VALORES EXTREMOS
Demonstrao. Vejamos inicialmente que, como a velocidade do som, em cada uma das
pores constante ento vale que
D D
c1 = T1 = . (4.63)
T1 C1
De modo anlogo, temos que
|PR| |RS| |QS|
T2 = + + . (4.64)
c1 c2 c1
Note agora que |PR| = |QS| = h sec e ainda |RS| = D 2htg e portanto
2h sec D 2htg
T2 = + . (4.65)
c1 c2
Por ltimo q
2 h2 + ( D2 )2 4h2 + D 2
T3 = = , (4.66)
c1 c1
e portanto conclumos o item 1. Para resolvermos o item 2 calculemos
2h sec tg 2h sec2
T20 = , (4.67)
c1 c2
e resolvendo a equao T20 = 0 obtemos
2h sec tg 2h sec2 c1
= 0 sen = . (4.68)
c1 c2 c2
Um clculo ainda importante! Ao calcularmos T200 e a restringirmos aos valores de tais
que sen = c1 /c2 , obtemos que
2h(c2 + c1 )(c2 c1 )sen 3
T200 |sen =c1 /c2 = , (4.69)
c1 c22
da, como c2 > c1 segue que os pontos crticos encontrados so de fato de mnimo, pois
T200 |sen =c1 /c2 > 0.
68
4.1. PROBLEMAS DE OTIMIZAO
Demonstrao. Dado o sistema em equilbrio, temos, de acordo com a figura 4.11, que
|ED| = |EF | + |F D|. (4.71)
Utilizando o teorema de Pitgoras, conclumos que
p
|EF | = r 2 x 2 .
Note ainda que
q q
|F D| = ` |BF | = ` |EF |2 + (d x)2 = ` r 2 x 2 + (d x)2 , (4.72)
que, depois de algumas simplificaes chegamos a expresso abaixo para |ED| em funo
de x p p
|ED|(x) = r 2 x 2 + ` r 2 + d2 2dx. (4.73)
69
CAPTULO 4. PONTOS CRTICOS E VALORES EXTREMOS
x d r2 d2
f 0 (x) = + e f 00 (x) = 3 3 , (4.74)
r2 x2 r 2 + d2 2dx (x 2 + y2 ) 2 (r 2 + d2 2x) 2
note, da expresso cima, que f cncava, uma vez que f 00 (x) 0, x. Fazendo f 0 (x) = 0
temos
d2 x2
= , (4.75)
r 2 + d2 2xd r2 x2
implicando que
r 2 (d2 x 2 ) + 2x 2 d(x d) = 0. (4.76)
Como x d 6= 0, podemos6 simplificar a equao acima obtemos a equao do segundo
grau
2dx 2 r 2 x r 2 d = 0, (4.77)
cuja soluo
r 2 + r 2 r 2 + 8d2 r p
x= = (r + r 2 + 8d2 ), (4.78)
4d 4d
que exatamente a expresso que desejvamos. Note que a outra soluo da equao
negativa, pois = r 4 + 8r 2 d2 > r 4 e portanto < r 2 , implicando que r 2 <
0.
2
b (b2 4ac)
f(x) = a x + . (4.79)
a 4a2
Conclua da que
(b2 4ac)
.
4a2
(b2 4ac)
.
4a2
6 Analise a figura 4.11
70
4.2. PROBLEMAS PROPOSTOS
2. (A venda de sorvetes) Joo tem uma fbrica de sorvetes. Ele vende, em mdia, 330
caixas de picols por R$ 20, 00. Entretanto, percebeu que, cada vez que diminua
R$ 1, 00 no preo da caixa, vendia 40 caixas a mais. Quanto ele deveria cobrar pela
caixa para que sua receita fosse mxima?
4. Mostre que, de todos os tringulos issceles com um dado permetro, aquele que
tem a maior rea equiltero.
6. (A venda do gado de corte) Um fazendeiro que cria gado de corte tem um rebanho
de 200 animais em seus currais, cada um deles pesando 270 kg. O custo dirio
de manuteno de um animal R$ 8, 00. Os animais esto ganhando peso a uma
taxa de 3, 6 kg/dia. O preo de mercado hoje R$ 28, 00 por kilo, mas est caindo
10 centavos por dia. Quantos dias deve o fazendeiro esperar a fim de vender seus
animais com lucro mximo?
10. (O cabo atravs do rio) Do ponto A, situado numa das margens do rio, de 100 m de
largura, deve-se levar energia eltrica ao ponto C situado na margem do rio. O fio a
71
CAPTULO 4. PONTOS CRTICOS E VALORES EXTREMOS
ser utilizado na gua custa R$ 5, 00 o metro, e o que ser utilizado fora, R$ 3, 00.
Como dever ser feita a ligao para que o gasto com fios seja o menor possvel?
Veja figura 4.13
13. (A pintura na galeria) Uma pintura em uma galeria de arte tem altura h e est
pendurada de forma que o lado de baixo est a uma distncia d acima do olho de
um observador (veja figura 4.16). A que distncia da parede deve ficar o observador
para obter a melhor viso? Em outras palavras, onde deve ficar o observador de
forma a maximizar o ngulo subentendido em seu olho pela pintura?
72
4.2. PROBLEMAS PROPOSTOS
contagiosa - e em certo sentido era, pois o p cinza catalisa sua prpria formao.
Um catalisador para uma reao qumica uma substncia que aumenta a velocidade
da reao sem sofrer nenhuma mudana permanente. Uma reao auto cataltica
aquela que o produto um catalisador de sua prpria formao. Em alguns casos,
razovel admitir que a velocidade de reao v = dx/dt proporcional tanto
quantidade de substncia original quanto quantidade de produto. Sejam ` a
quantidade de produto inicial e a constante de proporcionalidade determine a
quantidade de produto que maximiza a velocidade da reao. Qual o valor mximo
desta velocidade?
15. (Projetando uma janela) Uma janela possui a forma de um retngulo sob um semicr-
culo. O retngulo ser de vidro transparente, enquanto o semicrculo ser de vidro
colorido, que transmite apenas metade da luz incidente, por unidade de rea, em
relao ao vidro transparente. O permetro total fixo. Determine as propores da
janela que permitiro a maior passagem de luz. Ignore a espessura do caixilho. Veja
figura 4.17
73
CAPTULO 4. PONTOS CRTICOS E VALORES EXTREMOS
74
4.2. PROBLEMAS PROPOSTOS
tempo possvel, veja figura 4.18. Ela pode andar a uma taxa de 6 km/h e remar um
bote a 3 km/h. Como ela deve proceder?
75
Bibliografia
[1] http://phylos.net/matematica/hist-calculo/hc-cap2/#newt
[5] GUIDORIZZI, H. L. Um Curso de Clculo, Volume 1. 5 ed. Rio de Janeiro: LTC, 2003.
[6] SIMMONS, G. F. Clculo com Geometria Analtica, Volume 1. So Paulo: Pearson
Makron Books, 2003.
[7] LIMA, E. L. Anlise Real, Volume I. 10 ed. Coleo Matemtica Universitria. Rio de
Janeiro, Instituto Nacional de Matemtica Pura e Aplicada, 2008.
[8] LIMA, E. L.Curso de Anlise, Volume 1. 10 ed. Projeto Euclides. Rio de Janeiro,
Instituto Nacional de Matemtica Pura e Aplicada, 2008.
[9] NEWTON: Pai da Fsica Moderna, Scientific American Brasil: Gnios da Cincia no
01.
77
Publicaes do 2 Colquio de Matemtica da Regio
Nordeste
3. Dinmica e geometria
4. Identificao de parmetros em equaes diferenciais: teoria e aplicaes
5. Introduo anlise de Fourier e Wavelets