Acórdão - STJ - Racismo

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Superior Tribunal de Justia

HABEAS CORPUS N 143.147 - BA (2009/0144511-9)


RELATOR : MINISTRO ERICSON MARANHO (DESEMBARGADOR
CONVOCADO DO TJ/SP)
IMPETRANTE : BELISRIO DOS SANTOS JNIOR
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DA BAHIA
PACIENTE : JONAS ABIB

RELATRIO

O EXMO. SR. MINISTRO ERICSON MARANHO (DESEMBARGADOR


CONVOCADO DO TJ/SP):
Trata-se de habeas corpus impetrado em favor de JONAS ABIB contra
acrdo do Tribunal de Justia da Bahia que denegou o writ l formulado.
Pretende-se, no mrito, obter o trancamento da ao que atribui ao
paciente a prtica da infrao penal descrita no artigo 20, 2, da Lei n. 7.716/1989.
Segundo a pea acusatria, o paciente, por meio do livro de sua
autoria, "Sim, Sim! No, No!, Reflexes de cura e libertao" , publicado pela
Editora Cano Nova, teria feito "afirmaes discriminatrias religio esprita e s
de matriz africana, como a umbanda e o candombl" (fl. 104).
Sustenta a impetrao a inpcia da denncia, afirmando que "se o
rgo da acusao considerasse o livro todo, sem meramente reproduzir os
destaques do Centro Esprita representante, bem entenderia estar diante de uma
obra de apologtica religiosa, de proselitismo, prprio de quem tem a misso
reconhecida pela prpria denncia. E, assim, a conduta do paciente no poderia ser
dada como criminosa, por estar ao abrigo da liberdade de religio e da liberdade de
expresso" (fl. 12).
Enfatiza, ainda, faltar justa causa para a ao por falta de tipicidade
subjetiva, pois "no livro o paciente dirigiu-se prioritariamente ao pblico catlico, na
inteno de manter os fiis Igreja Catlica e de trazer de volta os indecisos,
aqueles que podem estar na mesma situao que o paciente afirma ter vivido" (fl.
19).
Destaca o impetrante que "a democracia vive desse entrechoque de
idias, da circulao livre de pensamentos. Da a proteo dada pela Constituio.
que as idias se combatem com outras idias. A refutao de argumentos deve
ser feita por meio de raciocnios que sejam consistentemente opostos" (fl. 29).
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A liminar foi deferida pelo antigo Relator, Ministro Og Fernandes, para
suspender, at o julgamento definitivo do presente writ, o andamento da ao
penal (fls. 576/577).
Prestadas as informaes, o Ministrio Pblico Federal opinou pela
concesso da ordem, conforme parecer de fls. 603/610.
Com as peties de fls. 667/669 e 673/674, o impetrante requer o
reconhecimento da prescrio da pretenso punitiva estatal.
Na deciso de fls. 679/681, proferi deciso "para reconhecer a
prescrio da pretenso punitiva estatal na Ao Penal n. 1957502-1/2008, da 12
Vara Criminal de Salvador, na Bahia" .
Aps a interposio de agravo regimental pelo Ministrio Pblico Federal,
exerci o juzo de retratao para reconsiderar a deciso atacada, tendo em vista que
a conduta tpica imputada ao paciente - art. 20 da Lei n. 7.716/1989 - sofre a
incidncia da clusula de imprescritibilidade prevista no art. 5, XLII, da
Constituio Federal.
o relatrio.

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Superior Tribunal de Justia
HABEAS CORPUS N 143.147 - BA (2009/0144511-9)

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO ERICSON MARANHO (DESEMBARGADOR


CONVOCADO DO TJ/SP):
O presente habeas corpus no merece conhecimento, pois impetrado
em substituio a recurso prprio (HC 109956, Relator Ministro MARCO AURLIO,
Primeira Turma, DJe 11/9/2012). Contudo, considerando que foi interposto antes da
mudana de entendimento acima mencionada, passo anlise sobre a existncia
de manifesta ilegalidade que implique em ofensa liberdade de locomoo do
paciente e justifique a concesso da ordem de ofcio.
De incio, cabe destacar que o trancamento de inqurito policial ou
ao penal por meio de habeas corpus medida excepcional, somente autorizada
em casos em que fique patente, sem a necessidade de anlise ftico-probatria, a
atipicidade da conduta, a absoluta falta de provas da materialidade e indcios da
autoria ou a ocorrncia de alguma causa extintiva da punibilidade, o que no ocorre
no presente caso.
Este o entendimento de ambas as Turmas que julgam a mateira
nesta Corte Superior:

PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINRIO EM


HABEAS CORPUS. ESTELIONATO. PLEITO DE TRANCAMENTO DA
AO PENAL EM VIRTUDE DE AUSNCIA DE JUSTA CAUSA.
ALEGADA ATIPICIDADE DA CONDUTA. IMPROPRIEDADE DA VIA
ELEITA. QUITAO DO DBITO. SMULA 554/STF. PRESCRIO
RETROATIVA DA PRETENSO PUNITIVA. PRAZO DE 12 ANOS.
NO ULTRAPASSADO LAPSO TEMPORAL ENTRE OS MARCOS
INTERRUPTIVOS. RECURSO DESPROVIDO.
I - A jurisprudncia do excelso Supremo Tribunal
Federal, bem como desta eg. Corte, h muito j se firmou no
sentido de que o trancamento da ao penal por meio do habeas
corpus medida excepcional, que somente deve ser adotada
quando houver inequvoca comprovao da atipicidade da
conduta, da incidncia de causa de extino da punibilidade ou da
ausncia de indcios de autoria ou de prova sobre a materialidade
do delito, o que no ocorre no caso.
(...)
Recurso desprovido . (RHC 58.993/RJ, Rel. Ministro
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FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, DJe 30/9/2015)

PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINRIO EM


HABEAS CORPUS. FURTO DE ENERGIA ELTRICA.
TRANCAMENTO DA AO PENAL. DENNCIA. FATOS
ADEQUADAMENTE NARRADOS. OCORRNCIA. EXERCCIO DA
AMPLA DEFESA. POSSIBILIDADE. FALTA DE JUSTA CAUSA.
AUSNCIA DE RELGIO LEITOR NA UNIDADE HABITACIONAL.
CONTAS DO APARTAMENTO. OBRIGAO DA INCORPORADORA.
EXAME APROFUNDADO DO CONTEXTO FTICO-PROBATRIO.
NECESSIDADE. MATRIA INCABVEL NA VIA ELEITA.
RECEBIMENTO DA INCOATIVA. FUNDAMENTAO. MATRIA
NO EXAMINADA PELA CORTE DE ORIGEM. SUPRESSO DE
INSTNCIA. RECURSO DESPROVIDO.
1. O trancamento da ao penal em sede de recurso
ordinrio em habeas corpus medida excepcional, somente se
justificando se demonstrada, inequivocamente, a ausncia de
autoria ou materialidade, a atipicidade da conduta, a absoluta falta
de provas, a ocorrncia de causa extintiva da punibilidade ou a
violao dos requisitos legais exigidos para a exordial acusatria,
o que no se verificou na espcie.
2. De se notar que a descrio da pretensa conduta
delituosa foi feita de forma suficiente ao exerccio do direito de defesa,
com a narrativa de todas as circunstncias relevantes, permitindo a
leitura da pea acusatria a compreenso da acusao, com base no
artigo 41 do Cdigo de Processo Penal.
3. Demais digresses sobre a justa causa para a ao
penal, imiscuindo-se no exame das teses de ausncia de relgio leitor
na unidade habitacional e de incumbncia da incorporadora em arcar
com os gastos do apartamento, demandam inexoravelmente
revolvimento de matria ftico-probatria, no condizente com a via
angusta do writ, devendo, pois, ser avaliada a quaestio pelo Juzo a
quo por ocasio da prolao da sentena, aps a devida e regular
instruo criminal, sob o crivo do contraditrio.
4. A alegao de fundamentao inidnea para o
recebimento da exordial acusatria no foi examinada pelo Tribunal de
origem, vez que sequer fora ventilada na inicial do prvio remdio
heroico, no podendo, assim, ser apreciada a matria por este
Superior Tribunal, sob pena de indevida supresso de instncia.
5. Recurso a que se nega provimento. (RHC 62.555/SP,
Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA,
DJe 22/09/2015)

No tocante preliminar de prescrio da pretenso punitiva, suscitada


pelo impetrante na petio de fls. 667/669, no vejo como acolher o pedido.
Como dito na deciso de fls. 721/725, o paciente foi denunciado como
incurso no art. 20 da Lei n. 7.716/1989. Tratando-se de crime de racismo, incide
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sobre o tipo penal a clusula de imprescritibilidade prevista no art. 5, XLII, da
Constituio Federal.
Tambm no prospera a alegao da defesa de que o acusado foi
denunciado "pela prtica e incitao de discriminao ou preconceito religioso" , o
que no se enquadraria dentro da definio do crime de racismo, no sendo
aplicvel a clusula de imprescritibilidade da Carta Magna, vedada a analogia in
malam partem.
Ocorre que a jurisprudncia do Supremo Tribunal Federal e do
Superior Tribunal de Justia firme no sentido de que o crime de racismo no se
restringe aos atos preconceituosos em funo de cor ou etnia, mas abrangem todo
ato discriminatrio praticado em funo de raa, cor, etnia, religio ou procedncia,
conforme previso literal do art. 20 da Lei n. 7.716/1989.
A propsito:
HABEAS-CORPUS. PUBLICAO DE LIVROS:
ANTI-SEMITISMO. RACISMO. CRIME IMPRESCRITVEL.
CONCEITUAO. ABRANGNCIA CONSTITUCIONAL. LIBERDADE
DE EXPRESSO. LIMITES. ORDEM DENEGADA. 1. Escrever,
editar, divulgar e comerciar livros "fazendo apologia de idias
preconceituosas e discriminatrias" contra a comunidade judaica
(Lei 7716/89, artigo 20, na redao dada pela Lei 8081/90) constitui
crime de racismo sujeito s clusulas de inafianabilidade e
imprescritibilidade (CF, artigo 5, XLII). (...) 6. Adeso do Brasil a
tratados e acordos multilaterais, que energicamente repudiam
quaisquer discriminaes raciais, a compreendidas as distines entre
os homens por restries ou preferncias oriundas de raa, cor, credo,
descendncia ou origem nacional ou tnica, inspiradas na pretensa
superioridade de um povo sobre outro, de que so exemplos a
xenofobia, "negrofobia", "islamafobia" e o anti-semitismo. 7. A
Constituio Federal de 1988 imps aos agentes de delitos dessa
natureza, pela gravidade e repulsividade da ofensa, a clusula de
imprescritibilidade, para que fique, ad perpetuam rei memoriam,
verberado o repdio e a abjeo da sociedade nacional sua prtica.
8. Racismo. Abrangncia. Compatibilizao dos conceitos
etimolgicos, etnolgicos, sociolgicos, antropolgicos ou
biolgicos, de modo a construir a definio jurdico-constitucional
do termo. Interpretao teleolgica e sistmica da Constituio
Federal, conjugando fatores e circunstncias histricas, polticas
e sociais que regeram sua formao e aplicao, a fim de obter-se
o real sentido e alcance da norma. (...) 16. A ausncia de prescrio
nos crimes de racismo justifica-se como alerta grave para as geraes
de hoje e de amanh, para que se impea a reinstaurao de velhos e
ultrapassados conceitos que a conscincia jurdica e histrica no mais
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admitem. Ordem denegada. (HC 82424, Relator(a): Min. MOREIRA
ALVES, Relator(a) p/ Acrdo: Min. MAURCIO CORRA, Tribunal
Pleno, DJ 19-03-2004 PP-00017 EMENT VOL-02144-03 PP-00524)

CRIMINAL. HABEAS CORPUS. PRTICA DE RACISMO.


EDIO E VENDA DE LIVROS FAZENDO APOLOGIA DE IDIAS
PRECONCEITUOSAS E DISCRIMINATRIAS. PEDIDO DE
AFASTAMENTO DA IMPRESCRITIBILIDADE DO DELITO.
CONSIDERAES ACERCA DE SE TRATAR DE PRTICA DE
RACISMO, OU NO. ARGUMENTO DE QUE OS JUDEUS NO
SERIAM RAA. SENTIDO DO TERMO E DAS AFIRMAES FEITAS
NO ACRDO. IMPROPRIEDADE DO WRIT. LEGALIDADE DA
CONDENAO POR CRIME CONTRA A COMUNIDADE JUDAICA.
RACISMO QUE NO PODE SER ABSTRADO. PRTICA,
INCITAO E INDUZIMENTO QUE NO DEVEM SER
DIFERENCIADOS PARA FINS DE CARACTERIZAO DO DELITO
DE RACISMO. CRIME FORMAL. IMPRESCRITIBILIDADE QUE NO
PODE SER AFASTADA. ORDEM DENEGADA.
I.O habeas corpus meio imprprio para o reexame dos
termos da condenao do paciente, atravs da anlise do delito se o
mesmo configuraria prtica de racismo ou caracterizaria outro tipo de
prtica discriminatria, com base em argumentos levantados a respeito
do judeus se os mesmos seriam raa, ou no tudo visando a
alterar a pecha de imprescritibilidade ressaltada pelo acrdo
condenatrio, pois seria necessria controvertida e imprpria anlise
dos significados do vocbulo, alm de amplas consideraes acerca
da eventual inteno do legislador e inconcebvel avaliao do que o
Julgador da instncia ordinria efetivamente "quis dizer" nesta ou
naquela afirmao feita no decisum.
II. No h ilegalidade na deciso que ressalta a
condenao do paciente por delito contra a comunidade judaica, no
se podendo abstrair o racismo de tal comportamento, pois no h que
se fazer diferenciao entre as figuras da prtica, da incitao ou
do induzimento, para fins de configurao do racismo, eis que
todo aquele que pratica uma destas condutas discriminatrias ou
preconceituosas, autor do delito de racismo, inserindo-se, em
princpio, no mbito da tipicidade direta.
III. Tais condutas caracterizam crime formal, de mera
conduta, no se exigindo a realizao do resultado material para a sua
configurao.
IV. Inexistindo ilegalidade na individualizao da conduta
imputada ao paciente, no h porque ser afastada a imprescritibilidade
do crime pelo qual foi condenado.
V. Ordem denegada. (HC 15.155/RS, Rel. Ministro
GILSON DIPP, QUINTA TURMA, DJ 18/03/2002, p. 277)

No que diz respeito alegao de inpcia da exordial, constata-se que


a denncia narrou os seguintes fatos (fls. 585/588):
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Consta dos autos, anexos, do Procedimento


Administrativo supra referido, que o denunciado, fundador da
Comunidade Cano Nova, que tem a misso de evangelizar pelos
meios de comunicao social, no livro de sua autoria "Sim, Sim! No,
No! Reflexes de cura e libertao ", publicado pela Editora Cano
Nova, faz afirmaes discriminatrias religio esprita e s religies
de matriz africana, como a umbanda e o candombl. o que se
observa das seguintes passagens da obra:

"O demnio, dizem muitos, "no nada criativo".


Ele continua usando o mesmo disfarce. Ele, que no
passado se escondia por trs dos dolos, hoje se
esconde nos rituais e nas prticas do espiritismo, da
umbanda, do candombl e de outras formas de
espiritismo. Todas essas formas de espiritismo tm em
comum a consulta aos espritos e a reencarnao."
(pgs. 29/30)

"Os prprios pais e mes-de-santo e todos os que


trabalham em centros e terreiros so as primeiras
vtimas: so instrumentalizados por Satans. (...) A
doutrina esprita maligna, vem do maligno. (...)" (pg
16)

Em outro trecho, numa clara ofensa e desrespeito


doutrina esprita e sua liturgia, o autor acrescenta:

"O espiritismo no uma coisa qualquer como


alguns pensam. Em vez de viver no Esprito santo, de
depender dele e ser conduzida por Ele, a pessoa acaba
sendo conduzida por espritos malignos. (...) O
espiritismo como uma epidemia e como tal deve ser
combatido: um foco de morte. O espiritismo precisa ser
desterrado da nossa vida. No preciso ser cristo e ser
esprita, (...) Limpe-se
totalmente!" (pgs. 17/18)

"H pessoas que j leram muitos livros do


chamado "espiritismo de mesa branca", de um kardecista
muito
intelectual que realmente fascina - as coisas do inimigo
fascinam. Desfaa-se de tudo. Queime tudo. No fique
com
nenhum desses livros. (...)" (pg.43)

Do mesmo modo, informaes inverdicas e


preconceituosas so dirigidas s religies de matriz africana, alm de
se verificar flagrante incitao destruio e desrespeito aos seus
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objetos de culto:

"Acabe com tudo: tire as imagens de lemanj (que


na verdade so um disfarce, uma imitao de Nossa
Senhora). Acabe com tudo! Mesmo que seja uma esttua
preciosa, mesmo que seja objeto de ouro, no conserve
nada. Isso maldio para voc; maldio para sua casa
e sua famlia. (...)" (pg. 16)
"Esses "trabalhos" so verdadeiros sacrifcios.
s olhar o que se manda fazer: so "trabalhos" com
plvora, punhal, sangue, pinga... Tudo indicando vcio,
morte e destruio. Degolam galinha preta, bode, ovelha,
amarram boca de sapo, pegam a roupa de fulano de tal,
a s peas ntimas do rapaz ou da moa... (...) Esses
"trabalhos so feitos para os demnios: para agrad-los."
(pg. 37)

Por tudo quanto exposto, insta destacar que a


Constituio da Repblica Federativa do Brasil em seu Captulo I,
quando cita os direitos e deveres individuais e coletivos, dispe no art.
5o, VI, que a liberdade de conscincia e de crena inviolvel e
garante proteo aos locais de culto e s suas liturgias Mais adiante, o
inciso VIII acrescenta que ningum ser privado de direitos por motivo
de f ou de ideologia filosfica ou poltica. No caso da Bahia, a venda
da referida obra constitui violao ainda mais grave, pois a
Constituio Estadual, em seu Art. 275, diz que dever do Estado
preservar e garantir a integridade, respeitabilidade e a permanncia
dos valores da religio afro-brasileira.
Por fim, como amostra da expanso e amplitude do
contedo da referida obra, cumpre salientar que o indigitado livro,
"Sim, Sim! No, No! Reflexes de cura e libertao", acompanhado
de um CD de oraes, j alcanou a venda de 400.000 (quatrocentos
mil) exemplares, estando na 85 a edio no ano de 2007, conforme
informaes contidas na prpria capa e na folha de rosto da referida
obra. Alm do que, o mesmo amplamente divulgado pelas livrarias e
pode ser facilmente adquirido em Salvador pelo preo de R$14,90
(catorze reais e noventa centavos) (fl. 02).
Destarte, estando o PADRE JONAS ABIB incurso, nas
penas do art. 20, pargrafos 2o e 3o da Lei n 7.716/89. pela prtica e
incitao de discriminao ou preconceito religioso, requer, aps o
recebimento e a autuao desta denncia, seja o denunciado citado
mediante precatria, com fulcro no art. 353 do Cdigo de Processo
Penal, para interrogatrio e para se ver processar e condenar,
notificando-se a testemunha do rol abaixo para comparecer perante
este juzo em dia e hora a serem designados sob as cominaes
legais.

Como visto, a denncia preenche os requisitos do artigo 41 do Cdigo

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de Processo Penal, descrevendo fatos que, em tese, configuram o crime previsto no
art. 20, pargrafos 2o e 3o da Lei n. 7.716/89. Constata-se que a inicial acusatria
apontou de forma clara qual teria sido a conduta tpica, quem a praticou, de que
modo o fez, delimitando o perodo em que foi perpetrada, esclarecendo, ainda, o
nmero de exemplares da obra que j haviam sido vendidos e os locais onde
podiam ser adquiridos, tudo de forma a permitir o pleno exerccio do direito de
defesa por parte do acusado. Dessa forma, no h que se falar em inpcia da
denncia.
So precedentes nossos:

RECURSO ORDINRIO EM HABEAS CORPUS. PENAL


E PROCESSUAL PENAL. CRIME DE APROPRIAO INDBITA
PREVIDENCIRIA. ALEGAES DE FALTA DE JUSTA CAUSA E
DE INPCIA FORMAL DA DENNCIA. IMPROCEDNCIA.
RECURSO NO PROVIDO.
(...)
4. No h falar em inpcia formal da denncia quando
a inicial acusatria preenche os requisitos do art. 41 do CPP e
explicita, de forma satisfatria, a conduta atribuda ao(s)
acusado(s) e as circunstncias da apropriao indbita
previdenciria, de forma a possibilitar a compreenso sobre a
acusao e o exerccio da ampla defesa.
5. A imputao ftica est suficientemente delineada,
sendo possvel identificar a responsabilidade dos recorrentes no fato,
porquanto foram acusados, na condio de gerentes da empresa, de
deixar de repassar ao INSS os valores recolhidos de seus empregados
a ttulo de contribuio previdenciria, conforme lanamento de dbito
confessado. O acrdo federal, a seu turno, registrou que "a prova
coligida demonstra constar o nome dos referidos pacientes nos
documentos de constituio da empresa, bem como nas alteraes
contratuais subsequentes, como scios responsveis pela pessoa
jurdica".
6. Recurso ordinrio no provido. (RHC 25.024/SP, Rel.
Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, DJe
02/03/2016)

PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINRIO EM


HABEAS CORPUS. CRIMES DE PREVARICAO E QUADRILHA.
TRANCAMENTO. AUSNCIA DE JUSTA CAUSA. REVOLVIMENTO
FTICO-PROBATRIO. VIA INADEQUADA. INPCIA DA
DENNCIA. NO OCORRNCIA. RECEBIMENTO DA INICIAL
ACUSATRIA. FUNDAMENTAO SUFICIENTE.
(...)
4. No inepta a denncia que apresenta uma
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narrativa congruente dos fatos, de modo a permitir o pleno
exerccio da ampla defesa, descreve conduta que, ao menos em
tese, configura o crime previsto no art. 317, c/c os arts. 29 e 288,
na forma do art. 69 do Cdigo Penal, e, atentando aos ditames do
art. 41 do CPP, qualifica o acusado e descreve o fato criminoso e
suas circunstncias.
5. Firmada nesta Corte a orientao de que, "em regra, a
deciso que recebe a denncia prescinde de fundamentao
complexa, justamente em razo da sua natureza interlocutria" (HC
173.212/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em
22/11/2011, DJe 01/12/2011).
6. Recurso ordinrio em habeas corpus desprovido. (RHC
45.251/SP, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, QUINTA TURMA, DJe
04/03/2016)

HABEAS CORPUS. DISCRIMINAO RACIAL E


INCITAO DISCRIMINAO RACIAL (ARTIGO 20, CAPUT, DA
LEI 7.716/1989). FALTA DE JUSTA CAUSA PARA A PERSECUO
CRIMINAL. NECESSIDADE DE REVOLVIMENTO APROFUNDADO
DE MATRIA FTICO-PROBATRIA. IMPOSSIBILIDADE NA VIA
ESTREITA DO MANDAMUS. DENEGAO DA ORDEM.
1. O trancamento de ao penal na via do habeas
corpus medida excepcional, s admitida quando restar provada,
inequivocamente, sem a necessidade de exame valorativo do
conjunto ftico ou probatrio, a atipicidade da conduta, a
ocorrncia de causa extintiva da punibilidade, ou, ainda, a
ausncia de indcios de autoria ou de prova da materialidade do
delito. Precedentes.
2. Na hiptese vertente, para se constatar se o paciente
agiu ou no com dolo de discriminar e de incentivar a discriminao
racial, bem como para se verificar se teria agido no estrito cumprimento
das normas estabelecidas no regimento interno do condomnio onde o
delito teria ocorrido, seria necessria anlise aprofundada de matria
ftico-probatria, o que vedado na via estreita do remdio
constitucional.
3. A reforar a impossibilidade de trancamento do
processo em apreo, bem como a existncia de justa causa para a
persecuo criminal, em contato telefnico mantido com o Tribunal de
Justia do Estado do Cear constatou-se a supervenincia de
sentena condenatria, na qual a magistrada de origem, em acurado
exame do material colhido ao longo da instruo, considerou
comprovada a prtica dos delitos narrados na denncia pelo paciente.
4. Ordem denegada. (HC 118.382/CE, Rel. Ministro
JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, DJe 24/06/2011)

Em relao alegao de falta de fundamentao na deciso que


recebeu a denncia, a jurisprudncia desta Corte firme no sentido de no ser nula
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a deciso que recebe a denncia com fundamentao sucinta, notadamente quando
se trata de deciso anterior edio da Lei n. 11.719/2008 .
Nesse sentido:

PENAL. PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS


SUBSTITUTIVO DE RECURSO ESPECIAL, ORDINRIO OU DE
REVISO CRIMINAL. NO CABIMENTO. QUADRILHA.
CORRUPO PASSIVA. LICITAO. FRAUDE. TRANCAMENTO DA
AO PENAL. INPCIA DA DENNCIA. REQUISITOS DO ART. 41
DO CPP. DECISO QUE RECEBE A DENNCIA.
FUNDAMENTAO. PRESCINDIBILIDADE. AUSNCIA DE
CONSTRANGIMENTO ILEGAL.
1. Ressalvada pessoal compreenso diversa, uniformizou
o Superior Tribunal de Justia ser inadequado o writ em substituio a
recursos especial e ordinrio, ou de reviso criminal, admitindo-se, de
ofcio, a concesso da ordem ante a constatao de ilegalidade
flagrante, abuso de poder ou teratologia.
2. O trancamento da ao penal por meio do habeas
corpus s cabvel quando houver comprovao, de plano, da
ausncia de justa causa, seja em razo da atipicidade da conduta
supostamente praticada pelo acusado, seja da ausncia de indcios de
autoria e materialidade delitivas, ou ainda da incidncia de causa de
extino da punibilidade.
3. afastada a inpcia quando a denncia preencher os
requisitos do art. 41 do CPP, com a individualizao da conduta do
ru, descrio dos fatos e classificao dos crimes, de forma suficiente
para dar incio persecuo penal na via judicial, bem como para o
pleno exerccio da defesa.
4. Este Superior Tribunal consolidou o entendimento
de que prescinde de fundamentao o decisum que recebe a
denncia, especialmente antes da Lei n. 11.719/2008.
5. Habeas corpus no conhecido. (HC 94.163/RJ, Rel.
Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, DJe 05/11/2015)

PENAL. RECURSO ESPECIAL. CORRUPO ATIVA E


PASSIVA. INTERCEPTAO TELEFNICA. TRANSCRIO
INTEGRAL. AUSNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SMULAS 282
E 356, AMBAS DO STF. DESNECESSIDADE. SMULA N. 83 DO
STJ. AUSNCIA DE PREJUZO. JUZO ESTADUAL. COMPETNCIA
INICIAL. NULIDADE. NO OCORRNCIA. ART. 157 DO CPP.
AUSNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. RECEBIMENTO DA
DENNCIA. AUSNCIA DE FUNDAMENTAO. NULIDADE.
INEXISTNCIA. DIVERGNCIA JURISPRUDENCIAL. NO
COMPROVAO. RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE
CONHECIDO E NO PROVIDO.
(...)
7. Conforme j decidiu esta Corte Superior, "No h
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ilegalidade na falta de fundamentao do despacho que recebe a
denncia, oferecida antes da edio da Lei n. 11.719/2008" (HC n.
181.532/SP, Rel. Ministra Laurita Vaz, 5 T., DJe 13/12/2012). No
caso, a deciso que recebeu a denncia datada de 11/2/2004, em
momento anterior, portanto, aludida reforma.
8. Conforme disposio do art. 541, pargrafo nico, do
Cdigo de Processo Civil e, tambm, do art. 255, 1 e 2, do
Regimento Interno do Superior Tribunal de Justia, o recurso especial
interposto pelo art. 105, III, "c", da Constituio Federal deve ser
instrudo com cpia do acrdo em que se fundamenta a divergncia,
bem como deve ser realizado o cotejo analtico, demonstrando a
similitude ftica entre os julgados e a incompatibilidade de
entendimentos, formalidade no atendida satisfatoriamente pelo
recorrente.
9. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa
parte, no provido. (REsp 1381695/RS, Rel. Ministro ROGERIO
SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, DJe 26/08/2015)

PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINRIO EM


HABEAS CORPUS. CRIMES DE PREVARICAO E QUADRILHA.
TRANCAMENTO. AUSNCIA DE JUSTA CAUSA. REVOLVIMENTO
FTICO-PROBATRIO. VIA INADEQUADA. INPCIA DA
DENNCIA. NO OCORRNCIA. RECEBIMENTO DA INICIAL
ACUSATRIA. FUNDAMENTAO SUFICIENTE.
1. O trancamento de ao penal constitui "medida
excepcional, s admitida quando restar provada, inequivocamente,
sem a necessidade de exame valorativo do conjunto ftico-probatrio,
a atipicidade da conduta, a ocorrncia de causa extintiva da
punibilidade, ou, ainda, a ausncia de indcios de autoria ou de prova
da materialidade do delito" (HC 281.588/MG, Rel. Ministro Jorge Mussi,
Quinta Turma, DJe 05/02/2014) e que "s deve ser adotada quando se
apresenta indiscutvel a ausncia de justa causa e em face de
inequvoca ilegalidade da prova pr-constituda". (STF, HC 107948
AgR/MG, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, DJe 14.05.2012).
2. Hiptese em que o recorrente, inspetor de polcia,
juntamente com outros corrus, supostamente omitia-se no dever legal
de reprimir condutas ilcitas, deixando de praticar atos de ofcio de
combater diversos contraventores que exploravam jogos de azar.
3. Seria prematuro, neste ponto do processo, concluir que
a parte no participou de alguma forma no evento criminoso, devendo
privilegiar-se, nesta fase processual, o princpio do in dubio pro
societate. Ademais, para refutar tal concluso seria necessrio o
revolvimento de matria ftico-probatria, medida invivel na via
estreita do remdio heroico.
4. No inepta a denncia que apresenta uma narrativa
congruente dos fatos, de modo a permitir o pleno exerccio da ampla
defesa, descreve conduta que, ao menos em tese, configura o crime
previsto no art. 317, c/c os arts. 29 e 288, na forma do art. 69 do
Cdigo Penal, e, atentando aos ditames do art. 41 do CPP, qualifica o
Documento: 57873203 - RELATRIO E VOTO - Site certificado Pgina 1 2 de 15
Superior Tribunal de Justia
acusado e descreve o fato criminoso e suas circunstncias.
5. Firmada nesta Corte a orientao de que, "em
regra, a deciso que recebe a denncia prescinde de
fundamentao complexa, justamente em razo da sua natureza
interlocutria" (HC 173.212/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ,
QUINTA TURMA, julgado em 22/11/2011, DJe 01/12/2011) .
6. Recurso ordinrio em habeas corpus desprovido. (RHC
45.251/SP, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, QUINTA TURMA, DJe
04/03/2016)

Sobre a alegao de falta de justa causa por atipicidade objetiva e


subjetiva da conduta, no h como acolher o pleito, pois como afirmado pelo prprio
impetrante na inicial, a investigao dessa tese implica "necessria incurso, ainda
que perfunctria, pela prova que acompanha a denncia" (fl. 17), procedimento que,
sabidamente, incompatvel com os estreitos limites da via eleita, que no admite
dilao probatria.
Com efeito, mostra-se extremamente prematuro chegar-se a qualquer
concluso sobre a tipicidade ou no da conduta imputada ao paciente antes de
concluda a instruo criminal do feito, que deve ser reservada para as instncias
ordinrias. Deferir o pedido da defesa implica em impedir antecipadamente o
Ministrio Pblico de provar os fatos que imputou ao acusado na denncia,
providncia que somente pode ser concretizada quando de forma evidente e
inequvoca constatar-se a atipicidade da conduta, o que, como j dito, no ocorre no
presente caso.
da nossa jurisprudncia:

PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINRIO EM


HABEAS CORPUS. CRIMES TRIBUTRIOS, FORMAO DE
QUADRILHA, FALSIDADE IDEOLGICA. ATIPICIDADE DO CRIME
DO ARTIGO 1., INCISO VII, DA LEI N. 9.613/98. BIS IN IDEM COM
RELAO AO CRIME DE FALSIDADE IDEOLGICA. TESES
SUPERADAS. ALEGAO DE PECHA DAS PRORROGAES DA
INTERCEPTAO TELEFNICA. RECONHECIMENTO PELO
TRIBUNAL A QUO DA NULIDADE DA MEDIDA CONSTRITIVA.
AUSNCIA DO INTERESSE DE AGIR. TRANCAMENTO DA AO
PENAL. CRIMES TRIBUTRIOS. DENNCIA. FATOS
ADEQUADAMENTE NARRADOS. OCORRNCIA. EXERCCIO DA
AMPLA DEFESA. POSSIBILIDADE. INPCIA DA INCOATIVA.
INEXISTNCIA. FALTA DE JUSTA CAUSA. IMPUTAO DE
PERODO POSTERIOR SADA DO INCREPADO DA EMPRESA.
EXAME APROFUNDADO DO CONTEXTO FTICO-PROBATRIO.
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Superior Tribunal de Justia
NECESSIDADE. MATRIA INCABVEL NA VIA ELEITA. RECURSO
DESPROVIDO.
1. Os pleitos de atipicidade do crime de lavagem de
dinheiro e de averiguao de bis in idem entre o citado delito e a
falsidade ideolgica encontram-se superados, ante o reconhecimento
anterior de conduta atpica.
2. Reconhecida a nulidade das interceptaes telefnicas
pelo Tribunal de origem, a alegao de pecha nas prorrogaes da
medida constritiva carece do indispensvel interesse de agir.
3. O trancamento da ao penal em sede de recurso
ordinrio em habeas corpus medida excepcional, somente se
justificando se demonstrada, inequivocamente, a ausncia de autoria
ou materialidade, a atipicidade da conduta, a absoluta falta de provas,
a ocorrncia de causa extintiva da punibilidade ou a violao dos
requisitos legais exigidos para a exordial acusatria, o que no se
verificou na espcie.
4. De se notar que a descrio da pretensa conduta
delituosa foi feita de forma suficiente ao exerccio do direito de defesa,
com a narrativa de todas as circunstncias relevantes, permitindo a
leitura da pea acusatria a compreenso da acusao, com base no
artigo 41 do Cdigo de Processo Penal.
5. Demais digresses sobre a justa causa para a ao
penal, imiscuindo-se no exame da tese de que foram imputados
fatos delitivos ocorridos em perodo posterior sada do
recorrente da empresa, demanda inexoravelmente revolvimento
de matria ftico-probatria, no condizente com a via angusta do
writ, devendo, pois, ser avaliada a quaestio pelo Juzo a quo por
ocasio da prolao da sentena, aps a devida e regular
instruo criminal, sob o crivo do contraditrio.
6. Recurso a que se nega provimento. (RHC 53.156/SP,
Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA,
DJe 03/11/2015)

PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINRIO EM


HABEAS CORPUS. ARTIGOS 121, 2, INCISO IV, DO CDIGO
PENAL. DENNCIA. INPCIA. INOCORRNCIA. PRESENTES OS
REQUISITOS DO ART. 41, DO CPP. FALTA DE JUSTA CAUSA.
IMPOSSIBILIDADE. ALEGAES DEFENSIVAS FUNDADAS NA
DINMICA DELITIVA. REVOLVIMENTO DA MATRIA
FTICO-PROBATRIA. ALEGADA AUSNCIA DE
FUNDAMENTAO DO DECRETO PRISIONAL. SEGREGAO
CAUTELAR DEVIDAMENTE FUNDAMENTADA NA GARANTIA DA
ORDEM PBLICA. REITERAO DELITIVA. RECURSO ORDINRIO
DESPROVIDO.
(...)
V - No se pode discutir a ausncia de justa causa
para a propositura da ao penal, em sede de habeas corpus, se
necessrio um minucioso exame do conjunto ftico-probatrio em
que sucedeu a infrao (precedentes). Na hiptese, h, com os
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Superior Tribunal de Justia
dados existentes at aqui, o mnimo de elementos que autorizam
o prosseguimento da ao penal, sendo por demais prematura a
pretenso de seu trancamento (precedentes do STF e do STJ).
VI - Para a decretao da custdia cautelar, ou para a
negativa de liberdade provisria, exigem-se indcios suficientes de
autoria e no a prova cabal desta, o que somente poder ser verificado
em eventual decisum condenatrio, aps a devida instruo dos autos
(precedentes do STJ).
VII - No caso, o decreto prisional encontra-se
devidamente fundamentado em dados extrados dos autos, que
evidenciam que a liberdade do recorrente acarretaria risco ordem
pblica, diante de sua periculosidade revelada no plano concreto, uma
vez que reiterou na prtica delitiva, circunstncia apta a justificar a
imposio da segregao cautelar com vistas garantia da ordem
pblica (precedentes do STF e STJ).
Recurso ordinrio desprovido. (RHC 57.390/BA, Rel.
Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, DJe 05/11/2015)

Ante todo o exposto, no conheo do habeas corpus , cassada a


liminar anteriormente concedida.
como voto.

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