Mitologia e Identidade Artística: Uma Análise Da Presença de Mitemas - Vargas
Mitologia e Identidade Artística: Uma Análise Da Presença de Mitemas - Vargas
Mitologia e Identidade Artística: Uma Análise Da Presença de Mitemas - Vargas
A mitocrítica formulada por DURAND (1993) pode ser grosso modo apresentada
como uma metodologia para análise ou crítica literária. Trata-se de fato de uma
metodologia de apoio (pois fornece substratos) para a realização da análise ou da crítica.
Isto porque sua aplicação revela a presença de mitos, ou estruturas míticas que atuam
inconscientemente na construção do sentido, influenciando portanto na aceitação ou na
rejeição da obra. O mito atua como um fio condutor que guia o leitor durante aquele
processo hermenêutico no qual o sentido passa do intuído ao percebido ou significado.
Dentre as diferentes etapas metodológicas a primeira trata da identificação dos
mitemas. Sendo o mito uma narrativa, podemos entender o mitologema como uma parte da
narrativa de um acontecimento importante do mito. Segundo DURAND (1983) é um resumo
abstrato de uma situação mitológica; um esqueleto da obra. O mitema por sua vez, é a
menor unidade com sentido que compõe o mito. E é este sentido que pela repetição, pela
redundância, cria o sentido mítico. Além disso, um mitema pode estar presente em mais de
um mitologema. Mas é importante destacar que é o mitema - muito mais que o mitologema
-que dá a significação mítica exatamente porque é a repetição afirmativa de uma mesma
ação que coloca em destaque a sua qualidade mítica.
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Projeto de pesquisa/ Centro de Artes da UDESC
Bolsistas Ana Luiza Fortes carvalho
Renata Amabilis patrão
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Prof. Dr. Do departamento de Artes Plásticas CEART-UDESC.
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Uma vez realizada a identificação dos mitemas, os mitos passam a ser identificados
e sua presença e relação na trama recebem as demais etapas de contextualização,
vinculando-os com o autor e com o contexto social.
Mas as aplicações da mitocrítica não se esgotam em suas possibilidades de análise e
crítica literária. A identificaçao contextualizada de mitemas e mitos podem contribuir para
os estudos sobre os processos de construção da identidade artística e também para análises
pontuais sobre os processos de aceitação ou rejeição de determinadas práticas artísticas.
Para tais situações propus ( VARGAS, 1997) um cruzamento dos pressupostos
epistemológicos e metodológicos apresentados por Durand com outros oriundos dos
estudos sobre a mitologia artística.
Esta proposição metodológica permite o uso de uma ferramenta para estudos
pontuais. Mas uma análise conjunta dos mitemas presentes no discurso da crítica X
discurso do artista somada a análise das obras correspondente ao período das críticas
aporta dados interessantes para um estudo que busque compreender a aceitação ou rejeição
da obra em cada momento histórico.
Porém, a simples identificação dos mitemas heróicos presentes nos discursos da
crítica e dos artistas já é suficiente para que tenhamos uma dimensão da influência exercida
pela mitologia no processo de reconhecimento artístico, que leva a transformação da
imagem social do artista e serve como balizador na construção da identidade artística.
Para visualizar algumas das características heróico-artísticas presente nas
declarações de críticos especializados, de artistas e de jornalistas é preciso fragmentar os
discursos para identificar os mitemas assim como os indicativos dos mitologemas heróicos.
E saberemos que são mitologias, não apenas porque coincidem com as características
míticas do heroísmo, mas porque muitas destas declarações quando isoladas carecem de
significado maior para a compreensão da obra, sendo algumas até mesmo irrelevantes. Mas
em seu conjunto, as diversas referências atuam como um recurso psico-linguístico que por
variações sobre um mesmo tema mítico – o da criação – reafirmam o caráter de
excepcionalidade da obra ou do artista, imprimindo um significado de diferença que
singulariza aquele objeto ou indivíduo de outros considerados comuns. Só assim, as
particularidades de cada obra ou indivíduo adquirem um significado artístico, uma vez que
enquanto particularidades são históricas e culturais, portanto temporais. Mas a obra de arte
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é atemporal. Por isso se diz que o mito não fala da história e da cultura e sim que dá
sentido a história e a cultura.
Mas apesar disso é importante ter presente que fragmentar os discursos não é a
forma correta de se relacionar com o mito. O mito exige vivência. É a narrativa em seu
conjunto, com sua beleza estrutural e imagens que nos permite “sentir” o mito. Pois só
assim o mito é vivo. Realizar uma análise da mitologia presente nos discursos serve apenas
para exemplificar pedagogicamente o que se disse acima: que a redundância é a forma de
atuação mítica e, portanto, é em conjunto nos textos que cumprem sua função ao adquirem
seu verdadeiro sentido. Ao contrário das tautologias que apenas repetem variações de uma
mesma situação, as redundâncias míticas são variações que em sue conjunto possuem uma
função de aperfeiçoamento do sentido, ou seja, expressam as tentativas do narrador de
“cercar” um fenômeno que em sua totalidade lhe escapa. São esforços de definir a
singularidade que, por sua natureza, resiste a definições totalizadoras.
Por fim cabe lembrar que, embora o mito heróico seja uma narrativa que conta
uma história e portanto possui uma linearidade ( o herói encontra o protetor depois de ser
abandonado, etc) os diferentes mitemas que o constituem não aparecem obrigatoriamente
todos em conjuntos em cada narrativa e quando o fazem em maior número não aparecem
obrigatoriamente em sentido diacrônico, isto é, um após o outro construindo um sentido
literal. O sentido que auxiliam a construir não é literal, mas metafórico, simbólico, poético.
Mas é claro que, quanto mais longo o texto que descreve o artístico, maior o número de
mitemas encontrados e mais a fácil à sua aceitação como um argumento que de fato
descreve o artístico. Por este motivo, um texto deve ser analisado sistematicamente várias
vezes para que os diferentes mitemas possam ser evidenciados.
Os resultados das análises foram apresentados em artigos e em congressos. São os
seguintes durante a vigência do projeto:
Artigos :
SANT'ANNA, A. C. V. . Apontamentos para o estudo da identidade artística. Urdimento
(UDESC), v. 7, p. 75-82, 20 . 2006
Duzzo,F. ; SANT'ANNA, A. C. V. . Fatura e Figuração na obra de Fábio Miguez Casa 7 -
(1982 a 1985). DAPesquisa, v. 2, p. http://www.ceart, 2006.
SANT'ANNA, A. C. V. . A pesquisa em artes. Artigo publicado em 2005 no web-site do
Ministério de Ciência e tecnologia http://ctjovem.mct.gov.br/index.php?
SANT'ANNA, A. C. V. . Do valor da prática a Prática de valor Artigo Revista Ponto
de vista. Revista de Educação e processos inclusivos. Ed. UFSC 2005
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Bibliografia
BRANDÃO, Junito. Mitologia Grega. Vol.III. Ed. Vozes, RJ. 1990
CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. São Paulo: Cultrix, 1993
DESVAUX, A.P. in VERJAT, Alain (Org) El retorno de Hermes: hermenéutica y ciencias
humanas. Barcelona:Anthropos,1989.
DURAND, Gilbert.
As estruturas antropológicas do imaginário. Lisboa: Presença, 1989
Mito, símbolo e mitodologia. Lisboa: Presença,s/d
A imaginação simbólica. São Paulo: Cultrix,1988
De la mitocrítica al mitoanálisis – Figuras míticas y aspectos de la obra.
Barcelona:Anthropos,1993
O imaginário.Ed. Difel, 1998, RJ
Mito e sociedade: a mitanálise e a sociologia das profundezas. Ed. A regra do Jogo, Lisboa,
1983
ELIADE, Mircea. Imagens e símbolos. São Paulo: Martins Fontes,1991
O sagrado e o Profano. São Paulo: Martins Fontes,1995
GARAGALZA, Luis. Filosofia e historia en la Escuela de Eranos. Anthropos Revista
Científica, Barcelona, N.º153,1994
Hermenéutica simbólica: la Escuela de Eranos. Anthropos Revista Científica, N.º57,1986
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Revistas e Jornais