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ARS NOVA

ARS ANTIQUA / ARS NOVA

A definio da poca de Ars Antiqua no


unnime entre os musiclogos.
Para muitos, esta classificao abrangeria todo o
perodo anterior Ars Nova, sobretudo desde o
aparecimento da Polifonia, isto , desde o sc. IX.
Para outros, a Ars Antiqua teria uma poca muito
mais limitada: corresponderia apenas ao sc. XIII,
e mais concretamente ao perodo que medeia
entre a Escola de Ntre Dame e o aparecimento
do tratado Ars nova musicae (c. 1323) de Philippe
de Vitry.
ARS ANTIQUA / ARS NOVA

O sc. XIII caracterizado pelo aparecimento da


notao mensural, e pela prtica das formas polifnicas
originadas na poca anterior, com especial nfase para
o motetos.
Exemplo:
Franconiano (Franco de Colnia (1250 1280) 3 vozes (2
nveis)
(2 vozes superiores mais rpidas mas semelhantes entre si; o
baixo em valores mais longos)

Petroniano (Petrus de Cruce (1270 1300) 4 vozes (3


nveis)
(uma voz superior que se subdivide mais; 2 vozes
intermdias semelhantes; o baixo em valores mais longos).
ARS ANTIQUA / ARS NOVA

Quanto notao tornou-se urgente estabelecer um


cdigo de durao dos sons, para ir ao encontro da
indefinio interpretativa das novas composies
polifnicas, tornadas a pouco e pouco mais complexas.
Pois at a escrevia-se em notao quadrada, que
sendo exata quanto aos intervalos meldicos no
apresentava qualquer indicao rtmica; s utilizando
os modos rtmicos (6) os msicos de Ntre Dame.
Quem estabelece esse cdigo so os tericos da altura:
Johannes de Garlandia (c. 1190-1272), com a sua obra De
mensurabile musica
Franco de Colnia, com a sua obra Ars Cantus mensurabilis
ARS ANTIQUA / ARS NOVA

A partir daqui fica estabelecido um cdigo de figuras de


durao que tornaram possvel a escrita de ritmos
variada. No entanto depressa ficar ultrapassado pela
prtica de uma msica cada vez mais complexa,
nomeadamente a de Petrus de Cruce, cujos motetos
ficaram clebres pela variedade de figuraes rtmicas,
de execuo complicada.

A Ars Nova seria basicamente um novo sistema de


notao mensural, que resolveria aqueles problemas,
possibilitando uma variedade maior no sistema de
notao, ficando j muito prxima da notao atual.
ARS NOVA

Enquadramento Histrico
Coincide, em termos gerais, com um momento de
transio entre a Idade Mdia e o Renascimento (entre
sc. XIV-XV).
A designao estritamente musical, pois refere-se ao
tratado Ars Nova Musicae de Philippe de Vitry, bispo
de Meaux.
Designa especificamente a msica escrita entre c. 1320
a 1410, sobretudo em Frana, embora com fenmenos
paralelos em Itlia e em Inglaterra.
Por oposio a msica anterior (sc. XIII) ficou
designada por Msica Antiqua.
ARS NOVA

Situao Poltica, Social e Cultural


Momento conturbado em termos polticos e sociais:
Declnio do Feudalismo: com uma tendncia para a
centralizao do poder dos soberanos europeus (estados
nacionais, ascenso da burguesia).
Declnio da autoridade da Igreja, com os conflitos entre o
poder temporal e o poder espiritual, que conduziro ao
Grande Cisma (1378) e que dividiro o papado em dois
grandes centros: Roma e Avinho. Isto devido
decadncia do clero e crtica pblica da sua corrupo.
Guerra dos cem anos (1337-1453)
Grande peste (1347-49)
ARS NOVA

Situao Poltica, Social e Cultural


Secularizao da vida cultural, a qual se
expressou no desenvolvimento:
Da Literatura profana (A divina comdia de Dante; o
Decameron de Boccacio; Petrarca);
Das Universidades: Bolonha (Itlia), Sorbone (Frana),
Coimbra (Portugal) e Basileia (Suia);
Na pintura surge a noo de perspectiva;
Na arquitectura evolui-se para o estilo Gtico (Ntre
Dame)
Na msica d-se o florescimento da msica profana.
ARS NOVA

Moteto
(isoperiodicidade;
isorritmia)

Cano polifnica
Inovaes da Ars Nova
Sistema mensural

Notao mensural
ARS NOVA

Os gneros mais primitivos da polifonia como o


organum e o conductus desaparecem, dando lugar ao
amadurecimento de gneros como o moteto.
A msica profana comea a ter importncia, tornando-
se tambm polifnica.
A msica torna-se cada vez mais complexa,
ornamentada e com bastantes componentes
instrumentais.
A msica continua a ser modal, mas vinha-se
verificando uma crescente utilizao de intervalos de
terceira e sexta, assim como de msica ficta, o que ia
provocando uma progressiva tendncia para as escalas
maior e menor.
ARS NOVA FRANCESA
PHILIPPE DE VITRY (1291-1361)

Poeta e msico amigo de Petrarca


Bispo de Meaux a partir de 1351
14 motetos (atribudos; 4 de certeza)

Elaborou um tratado, Ars Nova Musicae


(1322), acerca da nova msica que se ia
fazendo, compilando os conhecimentos
da poca e fixando as regras da nova
escrita polifnica e do novo estilo que se
estava a gerar.
(Anteriormente j Johannes de Muris no
seu tratado Notitia Artis Musicae (1321)
tinha apresentado o sistema mensural
caracterstico deste perodo.)
ARS NOVA FRANCESA
O NOVO SISTEMA DE NOTAO

Franco de Colnia no tratado estabelecera uma notao


propriamente mensural, na medida em que as figuras de
notao passaram a ter um valor temporal designado
Mxima, Longa, Brevis , cada uma delas
divisvel quer no Modus perfectum (diviso ternria) quer no
Imperfectum (diviso binria).

A notao da Ars Nova, teorizada por Vitry, vai ampliar o


sistema de Franco de Colnia introduzindo novos valores.

So introduzidas a semibreve, mnima e


semnima.

Passa a verificar-se tambm a utilizao indiscriminada quer


do tempus perfectum, quer do tempus imperfectum.
ARS NOVA FRANCESA
A EMANCIPAO DO RITMO

A ampliao das figuras de notao permitiriam uma


grande diversidade e complexidade rtmica, explorando-
se ritmos cada vez mais flexveis e ousados, assim cimo
novas tcnicas de composio:
Hoquetus (cano cortada)
Aqui a linha meldica est traada de tal maneira que as
notas ausentes aparecem na outra voz, de modo que
melodia divide-se entre as vozes.
Isto estabelecido por um ritmo a contratempo por meio
de pausas o qual fazem um efeito de soluo.
Isoperiodicidade (Missa e Moteto) Isorritmia tcnica de
repetio de um padro rtmico estabelecido no tenor que
abrange toda uma seco da obra.
ARS NOVA FRANCESA
A AFIRMAO DO SENTIDO HARMNICO

Introduo progressiva de maior nmero de


musica ficta delineando lentamente um
afastamento progressivo dos modos
eclesisticos.
Aparecimento de uma nova voz, o
contratenor, que se movimenta muito
prximo do tenor, providenciando assim uma
fundamentao harmnica mais firme.
Utilizao dos intervalos de 3 e 6 cada vez
mais frequente.
ARS NOVA FRANCESA - AS PRINCIPAIS FORMAS SACRAS:
MOTETO

O Moteto que se iniciou como forma sacra adquiriu


caractersticas profanas.
O primeiro documento musical de sc. XIV que se conhece
o Roman de Fauvel (c. 1315), que contm 150
composies, dos quais 33 so motetos (os outros so
monofnicos)
Muitos deles aludem a acontecimentos polticos
contemporneos, o que aponta para a funo de muitos
motetos terem sido compostos para a celebrao de
acontecimentos e cerimnias importantes. Eram os preferidos
para as grandes festividades religiosas pblicas.
Muitos textos eram crticas aos abusos da sociedade medieval.
Este manuscrito inclui motetos a 3 vozes de Philippe Vitry.
ARS NOVA FRANCESA - AS PRINCIPAIS FORMAS SACRAS:
MOTETO

Caractersticas:

Os ritmos so mais complexos.

A linha inteira move-se com tanta lentido e


pesadez por baixo das notas mais rpidas das
vozes superiores que j no possvel
reconhece-la como uma melodia, se no que
funciona mais como uma base sobre a qual se
contrai a pea.
ARS NOVA FRANCESA - AS PRINCIPAIS FORMAS SACRAS:
MOTETO

Moteto Isorrtmico:
O elemento estrutural mais importante nos
motetos do Roman de Fauvel a isorritmia:
O tenor (normalmente um cantus firmus litrgico)
escrito sobre uma srie de repeties de um dado
padro rtmico, a que se d o nome de talea. Quando
essa repetio era simultaneamente rtmica e
meldica designava-se color.
frequente a isorritmia estender-se s outras vozes.
O que se fazia eram apoios regulares tanto meldicos
como rtmicos (tratamento separado do fenmeno
rtmico e meldico).
ARS NOVA FRANCESA - AS PRINCIPAIS FORMAS SACRAS:
MOTETO

.
ARS NOVA FRANCESA - AS PRINCIPAIS FORMAS SACRAS:
MOTETO
ARS NOVA FRANCESA - AS PRINCIPAIS FORMAS SACRAS:
MOTETO

O princpio isorrtmico constitui um processo de conferir


unidade estrutural a uma composio longa (o ideal era o
equilbrio).
Estas obras no so feitas para se ouvir isorritmicamente,
mas para se reconhecer visualmente a isorritmia. Esta d
uma sensao auditiva de equilbrio.
O moteto aumentou para 4 vozes e aumentou tambm a
sua componente instrumental:
Triplum ritmo rpido
Motetus ritmo moderado
Contratenor relacionada com o tenor, ritmo lento
Tenor voz de apoio, que apresenta o c.f. ritmo lento

O moteto quer seja litrgico, para litrgico ou profano


uma das grandes formas deste perodo.
ARS NOVA FRANCESA - AS PRINCIPAIS FORMAS SACRAS:
MISSA

Outra grande forma deste perodo a Missa (o


moteto tambm se transladou para a missa).
A vontade de equilbrio fez com que os msicos
fossem procura de coisas que no mudem de
festa para festa.
No sc. XIV, a composio do prprio v-se
substituda, em medida crescente, pela
composio polifnica de partes do ordinrio,
agora organizada em ciclos: Kyrie, Glria, Credo,
Sanctus e Agnus Dei (Ite missa est).
O coro agora canta a pouco e pouco coralmente a
polifonia e no s os solistas.
ARS NOVA FRANCESA - AS PRINCIPAIS FORMAS SACRAS:
MISSA

A composio destes movimentos era muito


variada:
1. Sobre o gregoriano: naquelas partes onde
abunda o texto silbico: Glria e Credo.

2. Moteto: CF no tenor e outras vozes com


movimentos diferentes (Ite missa est com
pluralidade de textos).

3. Cantilena (cano de discante): abundncia de


textos, sem CF, com uma voz condutora
livremente inventada.
ARS NOVA FRANCESA - AS PRINCIPAIS FORMAS SACRAS:
MISSA

Os primeiros ciclos do ordinrio so


integraes livres de movimentos.
Primeiras experincias de unificao da missa:
Missa Tournai (a 3 vozes)

Missa Barcelona

Missa Soborne

Missa Toulose
MISSA DE NTRE DAME DE GUILLAUME DE MACHAUT

Talvez feita para a coroao de Carlos V (Rei francs em


1364)
Primeiro exemplo de Missa cclica (organizada com as
rubricas cantadas do ordinrio) completamente
polifnico.
Motivo musical ao longo de toda a obra (motivo de
Machaut).
4 vozes
As vozes de baixo podem ser suportadas por
instrumentos.
As vozes de cima so mais rpidas.
Utilizao da tcnica de Hoquetus.
MISSA DE NTRE DAME DE GUILLAUME DE MACHAUT

Kyrie
Sanctus Baseados em tenores
Agnus Dei gregorianos, em forma de
moteto (isorrtmico)
Ite

Glria e Credo: apresentam forma do tipo


cano de discante (cantilena), tcnica
polifnica no baseada em CF, e, em que a voz
condutora a superior, a qual poder ser todavia,
uma parfrase de um CF, sendo as outras vozes
instrumentais.
GUILLAUME DE MACHAUT - (c. 1300-1377)

Natural provavelmente de Reims torna-se


em 1340 cnego da sua catedral.
considerado o compositor mais
importante da Ars Nova desenvolvendo
na sua obra quase todas as novas
tcnicas deste perodo.
Foi o primeiro compositor a escrever uma
missa completa de sua total autoria, mas
a sua produo orienta-se mais para a
msica profana apesar de ter exercido
funes eclesisticas.
OBRA: Missa de Ntre Dame, 23 motetos,
18 lais, 33 virelais, 21 rondeaux, 42
ballades e mais de 100 canes.
MISSA CCLICA

(em todas as seces utilizado material idntico)

Tenor Motto

Utilizao de uma Chave meldica em


melodia fixa do tenor todas as seces da
em todo o ordinrio. missa (motivos de
abertura; expanso do
motivo de Machaut).
Ingleses (final do sc. XIV)
Franceses

(por vezes s se trata algumas rubricas do ordinrio)


ARS NOVA FRANCESA

A excessiva intelectualizao em que caiu a msica litrgica


da Ars Nova (complexidade rtmica, meldica e harmnica),
tornou necessria alguma atitude das autoridades
religiosas no sentido de refrear alguns exageros.
Na bula Docta Sanctorum (1324-25) do Papa Joo XXII
(Avinho) criticavam-se as tcnicas desaconselhveis
utilizadas pelos compositores modernos na msica sacra.
Neste sentido verificou-se uma menor produo de msica
religiosa visto a Igreja considerar pernicioso a polifonia
exagerada que distraa os crentes.
ARS NOVA AS PRINCIPAIS FORMAS PROFANAS

Frana
Cano de Discante (cantilena) Letras Maisculas Texto
Voz superior cantada igual
Letras minsculas texto
1 a 3 vozes instrumentais acompanhantes diferente

Estrutura a 2 vozes de discante e tenor, o qual podia somar-se


um contratenor, com voz de recheio na tessitura do tenor.
Virelai AbbaA 1. 5- 2-
Os versos so de extenso desigual 4- 3-
De 34 Virelai de Machaut 26 so uma voz, 7 a duas e 1 a trs

Rondeaux AB a A a b AB 1.4.7- 2.8-


Cano rotativa 3 6
Com estrofes mondicas e refro normalmente polifnico, a 2, 5
3 e 4 vozes.
Ballade a a b (c)
Apresenta geralmente uma introduo e 3 estrofes com refro. S uma voz
cantada sendo as outras executadas por instrumentos.
ARS NOVA AS PRINCIPAIS FORMAS PROFANAS
ITLIA

Importa-se mais com a msica profana e no tanto com a


religiosa.
Durante o sc. XIV desenvolveu-se em Itlia uma polifonia
secular. Trata-se de uma arte de cano profana para vozes
masculinas agudas com acompanhamento instrumental.
Inicia-se um pouco mais tarde que a Ars Nova francesa, mas
supera-a em voo meldico e claridade harmnica. Em
cmbio inferior a ela em matria de estrutura
refinadamente racionalista e complexidade rtmica.
A arte da cano polifnica est a cargo da aristocracia em
cidades do norte, principalmente Florena (Milo, Verona,
Mantua, Modena).
Autores preferidos: Dante, Petrarca e Bocaccio.
ARS NOVA AS PRINCIPAIS FORMAS PROFANAS

ITLIA
Madrigal
Binria ternria
basicamente um poema estrfico, com refro.
aa b
Tem alguma conexo histrica com o conductus
aa B
polifnico francs.
Textos idlicos, Pastoris, ama trios ou satricos.
Forma potica a 2 ou 3 estrofes e um ritornelo (no
tem a ver com o madrigal do sc. XVI)

Caccia
Cnone a 3 vozes em unssono (ou 5 e 8), uma das quais normalmente
instrumental, cujo contedo descreve uma cena primaveril ou de caada (a
sucesso das vozes em cnone tenta sugerir a perseguio dos animais).

Ballata A b b a A
Corresponde ao Virelai francs, mas o seu estilo mais meldico.
Frana Itlia
Virelai Ballata
Rondeaux Caccia
Ballade Madrigal
Compositor: Machaut Compositor: Landini (c. 1334-1412)
Compositor, poeta e organista na
catedral de Florena. Era cego e
dedicou-se msica sacra e
profana.
Obra: 140 ballatas, 12 madrigais, 4
motetos.
Fontes: Roman de Fauvel, Fontes Cdex Rossi (biblioteca
colectneas de Machaut vaticana), Cdex Squarcialupi
(biblioteca de Florena)
ARS NOVA AS PRINCIPAIS FORMAS PROFANAS

Carcter mais melodicamente vocal nas obras


italianas

Em Frana h mais um jogo de propores de


formas (a melodia acaba por ser a construo
de estruturas rtmicas e meldicas isoladas e
depois o resultado o que calhar).

Em Itlia h a tentativa de expressar o texto.


A MSICA FICTA E A NOTAO

O tratado Ars Nova (1323) de Philipe de Vitry veio


tornar a notao mais perfeita papel
determinante no perfeccionismo da composio
musical.
Novos smbolos de notao.
Admisso pela primeira vez da diviso binria na
conceo da notao.
Admisso pela primeira vez da diviso binria na
conceo da obra musical.
Diviso perfeita (ternria) e imperfeita (binria).
A MSICA FICTA E A NOTAO

SIGNO DE MEDIDA

T p / p p 9/8 Compasso ternrio com diviso ternria

T p / p imp 3/4 Compasso ternrio com diviso binria

T imp / pp 6/8 Compasso binrio com diviso ternria

T imp / p imp 2/4 Compasso binrio com diviso binria

Crculo: tempo perfeito


Semicrculo: tempo imperfeito
Ponto: prolao perfeita ou Maior
Sem ponto: prolao imperfeita ou menor
A MSICA FICTA E A NOTAO

A relao conjunta do tempo e da prolao


possibilitou a definio de 4 tipos de definio
mensural que viriam a corresponder aos quatro
compassos fundamentais da escrita convencional
europeia.
Na poca do Renascimento, graas sobretudo
escola flamenga, a notao alarga os seus valores
rtmicos para a colcheia, semicolcheia, fusa e
semifusa. Por sua vez, as figuras simplificam-se,
transformando-se em notao branca.
Tambm foi no sc. XIV que a pauta aumentou
para 5 linhas.
A MSICA FICTA (Ars subtilior)

Um problema central na execuo da msica do


sc. XIV e toda a renascena a questo da
msica ficta (significando msica falsa).
Isto deriva do facto de nesta msica certas notas
serem sujeitas a alteraes cromticas, sem que
estas sejam indicadas nos manuscritos.
A alterao mais frequente a do 7 grau, nas
cadncias, transformando-o em sensvel, que
resolve ascendentemente para a tnica.
Por vezes na cadncia, o 4 grau, ao resolver para
o 5, tambm ascendente, de modo a desfazer
o trtono; surge assim a chamada dupla sensvel.
A MSICA FICTA (Ars subtilior)

a) b) c) d)

Cadncia a Mi
Forma Modal Com Sensvel Com Dupla Sensvel (Frigia)

Fora das cadncias tambm se fazem alteraes, para evitar o


trtono meldico, o diabolus in musica dos tratadistas.
A alterao cromtica pode tambm ser introduzida por
motivos estticos (causa pulchritudinis).
A MSICA FICTA (Ars subtilior)

Outras regras h de msica ficta mas difcil generalizar. O


problema est em que as alteraes acidentais raramente
aparecem escritas nos manuscritos. Tudo indica que os
executantes sabiam alterar automaticamente as notas que
fossem necessrias por prtica e tradio, sem
necessidade de um sinal escrito mas a transcrio
moderna da msica da Idade Mdia e da Renascena pe
ao editor o problema de saber onde colocar os acidentes.
Solues adotadas: nenhum acidente ou muitos acidentes.
Hoje h uma certa moderao. Em qualquer caso, o editor
dever colocar os acidentes que so da sua
responsabilidade por cima (e nunca antes) das notas a que
se referem.
At pelo menos 1700 cada acidente s afeta a nota a que
aparece associado, no tendo qualquer efeito sobre as
restantes notas da mesma altura.
O USO DOS INSTRUMENTOS

As representaes iconogrficas
indicam-nos que era habitual
combinar instrumentos de
famlias diferentes e timbres
contrastantes, por exemplo:
Viela, alade, saltrio, harpa e
pfaro, ou ento,
Viela, alade, rgo porttil e
sacabuxa (seria adequado para
sustentar as longas notas da
parte do tenor).
O USO DOS INSTRUMENTOS

Remonta ao sc. XIV a distino entre msica alta e msica baixa:


Msica Alta: executada com instrumentos mais sonoros, prprios
para utilizar ao ar livre: trombetas, trompas, atabales, charamelas.
Era usada em cerimnias militares e religiosas, ou para acompanhar
certas danas, as chamadas danas altas, que eram saltadas, j que a
sonoridade dos instrumentos altos se podia sobrepor ao som dos
saltos, no havendo o risco de estes abafarem a msica.

Msica Baixa: usa instrumentos mais suaves, de cmara: vielas,


alades, saltrios, rgos portteis, pfaros.
uma msica de interior. Ao contrrio das danas altas, nas danas
baixas os danarinos praticamente no levantam os ps do cho.

Os primeiros instrumentos do tipo cravo e do clavicrdio surgem


em finais do sc. XIV.
Mais ou menos por esta altura aparecem na Alemanha os primeiros
rgos com pedaleira.
PROBLEMAS DE EXECUO

Tudo indica que a msica polifnica do sc. XIV fosse


normalmente executada por uma voz ou instrumentos para
cada parte.
No entanto a ausncia de texto numa das partes de uma
composio no a torna necessariamente instrumental; do
mesmo modo que a sua presena a no torna
necessariamente vocal. Em certos casos, uma das partes de
uma composio polifnica que num manuscrito aparece
sem texto, vai aparecer com texto num outro manuscrito.
H por vezes outros indicadores mais seguros quanto ao
meio a que se destina uma parte: grandes saltos meldicos,
notas longas, ou ainda o uso de muitas ligaturae na
notao original, so geralmente indcios de uma escrita
destinada mais a instrumentos do que a voz.
PROBLEMAS DE EXECUO

Como alternativa, as partes claramente vocais poderiam


ainda ser dobradas por um instrumento ou mesmo ora
cantada, ora tocada, alternadamente, pela mesma pessoa.
Uma outra possibilidade a execuo totalmente
instrumental de peas vocais, com ornamentao
improvisada.
Tal alternativa est representada nos primeiros livros de
msica para rgo que se conhece, que se encontram
recheados de verses instrumentais de motetos e de
polifonia profana.
Para alm destes princpios de ordem geral, no possvel
estabelecer regras exatas. O mesmo acontece para os sc.
XV e XVI; em que execuo dependia mais em grande parte
dos meios disponveis em cada local e momento.
O TEXTO

Outro problema que se pe


aos editores e executantes
de msica antiga o da
aplicao do texto.
O hbito de alinhar
verticalmente o texto e
msica relativamente
recente;
Punham todo o texto de uma
voz no incio, deixando a
distribuio das slabas ao
cuidado do executante, ou
mesmo, quando o texto era
conhecido indicavam apenas
as primeiras palavras.
A MSICA INGLESA

No final do sc. XIV princpio do sc. XV a Inglaterra ir


Ter uma importncia considervel na evoluo da
msica europeia, nomeadamente atravs de um grupo
de compositores (John Dunstable, Leonel Power)
largamente representados em manuscritos
continentais, em particular nos:
Sete cdigos de trento (1420-80): em Itlia, sendo a fonte
mais extensa deste perodo.
Old Hall (1360-1440): em St. Edmunds College; mais ou
menos 150 peas Inglesas (Dunstable, Power, etc.).

Vamos encontrar uma tradio antiga a que se chama


Gymmel: polifonia improvisada 3 (este intervalo era
proibido).
A MSICA INGLESA

Leonel Power
John Dunstable

Vai aparecer o Discante Ingls (tambm chamado


fabordo ou faburden):

Quando transitamos para o sc. XV esta sonoridade


dos Ingleses vai Ter muita influncia. Inclusivamente
em autores j consagrados como o caso de Dufay.
A MSICA INGLESA

Homorrtmico

Improvisatrio

Canto dobrado 3 e 6 consonncias estruturais 8


5
3 (excepto na 1 e ltima nota)

Um cantor l uma oitava acima uma melodia pr-existente.


Outro uma Quinta acima, e
Outro uma terceira acima, mas comeando e terminando na nota que est
escrita.
Nenhuma voz canta a melodia na tessitura original.
S temos este tipo de escrita em obras tericas (porque era uma prtica
improvisatria).
Este tipo de sonoridade torna-se caracterstica para o ouvido Ingls, e vai
transportar-se para a polifonia. Passamos ento a ter 3, e 6 como
consonncias estruturais.
A MSICA INGLESA
JONH DUNSTABLE (CA. 1380-1453)

um compositor de transio pois pertence poca da Ars Nova,


compondo maneira desta poca, mas penetra na poca
renascentista, tendo grande influncia no desenvolvimento da
msica continental.
Trabalha na corte do Duque de Bedford, com o qual viaja muito
(Frana, Borgonha e Itlia) e conhece as tcnicas de composio
continentais. No entanto ele prefere escrever na tcnica de
Discante Ingls e assim ele que vai influenciar os compositores
continentais.
normalmente citado como exemplo do novo estilo, alm da
utilizao do discante Ingls, devido ao seu carcter totalmente
vocal, sua estrutura independente de um cantus firmus, sua
predominante homorritmia, ao seu estilo silbico ou declamatrio e
sua subordinao ao texto.
Comps missas, motetos e chansons em italiano. Nas missas o
primeiro a utilizar um s CF como elemento unificador das partes
da missa, de que resulta a missa cclica.

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