33 - Artigo - Psicologia Perinatal Definição de Um Campo
33 - Artigo - Psicologia Perinatal Definição de Um Campo
33 - Artigo - Psicologia Perinatal Definição de Um Campo
estudo e atuao, rea de Estudos do Instituto Brasileiro de Psicologia Perinatal, 2012, disponvel em
http://www.institutogerar.com.br/
Vera Iaconelli
questo pela rea hospitalar seja louvvel, por outro, revela o vis a que
como casual uma vez que ele revela a prpria condio de medicalizao e controle a
que est submetido este evento na atualidade. Assim como a morte migra para o
parto2 se revela cena non grata3. Se o parto vem sendo feito em maternidades e da
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Trabalho desenvolvido junto rea de Estudos do Instituto Brasileiro de Psicologia Perinatal.
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IACONELLI, V. , Maternidade e erotismo: assepsia da cena do parto,
forma intervencionista como vem sendo feito, no podemos tomar tal recorte cultural
Alm disso, de todo o perodo que envolve a concepo, a gestao, o parto e o ps-
parto supe-se que apenas trs dias digam respeito internao hospitalar, salvo as
intervenes. Com isso queremos alertar para o fato de que o prprio mbito na qual
se insere a disciplina, a nosso ver, traduz um recorte histrico cultural que no pode
psicoterpicos de gestantes, mes e bebs. Este casos por vezes incorrem no mesma
no volta a se estabelecer. Embora possa fazer crticas e alertar para armadilhas que
levam a cesarianas desnecessrias, por exemplo, sua ausncia na parturio acaba por
limitar fortemente seu campo de ao. Isso se supomos que este profissional encontra-
se ele mesmo informado sobre estas questes, o que, infelizmente, nem sempre
ocorre. Grupos de gestantes e de preparao para o parto que no levem as questes
Na ponta do ciclo temos toda a rea de pesquisa e atuao junto s mes de bebs que
surge na terceira fase, o ps-parto, o que nos faz pensar o quo questionvel pode ser,
em muitos casos, denomin-la profiltica, uma vez que as mes e bebs que nos
atuao junto a parturiente e ao beb, por outro. Nos encontramos talvez, desde esta
tempo em que cerram fileiras na luta anti-manicomial. Com a diferena talvez de que
em instituies e fora delas, pois o anseio por melhores condies na rea no parte s
dos psiclogos mas de profissionais de vrias reas da sade que passam a trabalhar
juntos.
pela sua conciso, ou ainda no lugar de (psicologia) obsttrica, por esta confundir-se
parto, mas o inclui, assim como as etapas que o antecedem e o ultrapassam relativas
Perinatalidade e Parentalidade
americano, em fins dos anos 50 e retomado por parentalit pelo tambm psicanalista
relaes entre bebs e mes, como a psicose puerperal e os distrbios de vnculo, vai
subjetiva. Trata-se de um papel social que tem por prerrogativa a relao que se
envolve, acima de tudo, sua formao psquica, seu lugar de pertencimento social,
possam e costumem coincidir. E o que nos interessa saber aqui, justamente, de que
forma se relacionam e como abord-las evitando nos apoiar em algum pressuposto de
casal coagido pela misria, falta de recursos, inviabilidade do feto ou de apoio social
crianas geradas por outrem4. Aqui a ausncia da perinatalidade que est em jogo e,
vezes, somatizaes e regresses dos adultos que se incubem de exercer este papel,
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Adoes podem ser realizadas em qualquer etapa do desenvolvimento da criana, o que no se aplica,
obviamente, construo parental dentro da perinatalidade, a qual se trata sempre de lidar com os
primrdios da existncia. Portanto, nos referimos aqui sempre as adoes precoces, nas quais se espera
que a me adotiva estabelea as condies para constituio de sujeito no beb ou sua consolidao.
fantasia inconsciente, quando escancarada, reconhecida como algo estranho
e provocador de angstia. Fenomenologicamente, pode-se dizer que a angstia
tambm a sensao do estranho que habita em ns o Outro. Esse filho
outro no gerado no corpo aponta justamente para o mito ainda no
simbolizado. preciso desvendar o mito da origem, da origem do homem o
dipo na sua dupla filiao. (QUEIROZ, 2004, p. 108-109, grifo nosso)
teremos que levar em conta somatizaes que buscam dar contorno a um corpo
a me que adota no se beneficia, pois, embora possa, por um lado, encerrar uma
validao que ser reconhecida publicamente como futura mame costuma ter sobre o
psiquismo da mulher.
subentender que atrs de cada gestao haveria ou, pior, que deveria haver, uma me.
evidncia corporal no nos garantindo nada. O que no quer dizer que no valha nada,
longe disso. O corpo aqui emerge diante do sujeito como poucas vezes se v.
haver.
O que nos deixa eternamente desamparados por nos defrontarmos com a queda da
Lacan:
Se este outro que nos engendra no sabe de ns, o que nos resta saber?
Optamos, ento, por definir psicologia perinatal como campo de estudo dos
acepo mais ampla, que no se restringe ao evento imediato do parto, mas inclui as
sobre a relao entre os pais e sua prole. Desta forma, buscamos contemplar a
e antecipar um processo que eventualmente poderia ocorrer por outras vias, como nas
gravidez no pode ser considerada patolgica em si. Desta forma temos que a
perinatalidade uma experincia corporal que, uma vez investida eroticamente pela
mulher, pode vir a se tornar suporte da construo parental. Dito de outra forma, a
gestao, que faz de uma gestante uma me, ou melhor dizendo, uma me potencial
que faz de uma gestao a gestao de um filho e no uma gestao que faz de uma
mulher me.
Encontramos uma correlao com a suposio que a me faz de sujeito em seu beb:
supondo sujeito onde ainda no h de fato, que a me vem a fazer com que o beb se
perda do beb (seja por aborto espontneo, anomalias ou bito), a mulher corre risco
que a mulher sustente esta iluso antecipatria, caso contrrio, ela ter que se haver
suficientes para a construo parental, cabe ainda estabelecer estas condies. Para
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Podemos pensar em alguns quadros de anorexia nos quais o jovem busca pela privao de alimento,
justamente, interromper as transformaes hormonais decorrentes da puberdade.
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Sobre as peculiaridades do luto perinatal ver: IACONELLI, V. Luto inslito, desmentido e trauma
clnica psicanaltica com mes de bebs, In Revista Latino Americana de Psicopatologia
Fundamental, So Paulo, v. 10, n 4, p. 614-623, dez/2007.