Irineu de Lião e A Doutrina de Deus
Irineu de Lião e A Doutrina de Deus
Irineu de Lião e A Doutrina de Deus
I. A Vida de Irineu
Muito pouco se conhece sobre a vida de Irineu. Ele aparece pela primeira vez
nos documentos antigos como o portador de uma carta dos confessores de Lio
para a igreja de Roma (bispo Eleutrio, c.174-189), na poca da perseguio do
ano 177. Esta carta pedia tolerncia para os montanistas da sia Menor. Em uma
carta pessoal preservada por Eusbio de Cesaria (Hist. eccl. 5,20,4-8), Irineu
conta que tinha vvidas lembranas de Policarpo, o bispo de Esmirna, que fora
discpulo do apstolo Joo.8 Isto era altamente significativo para Irineu, uma vez
que Policarpo o colocava em contato com a era apostlica. Irineu nasceu entre os
anos 120 e 140 na sia Menor, provavelmente em Esmirna, onde ainda menino
conheceu Policarpo, que foi martirizado aos 86 anos de idade, no ano 155.
Possivelmente por volta do ano 170, motivos familiares, pessoais ou
missionrios o levaram a Roma e depois para Lio (Lugdunum), no sul da Glia,
atual Frana, onde ele se tornou um presbtero. Hardy comenta que a Lio do
segundo sculo era uma pequena Roma.9 Uma cidade comercial s margens do
Rdano e o centro do sistema romano de estradas da Glia, Leoa era a sede de
uma guarnio romana e a capital das trs provncias gaulesas, sendo tambm o
centro do culto imperial naquelas provncias. Como Roma, Lioa tinha uma grande
populao de lngua grega, entre a qual o cristianismo estava firmemente
estabelecido. A igreja de Lioa tinha outros imigrantes de lngua grega procedentes
da sia Menor, como Irineu.
Aps a sua misso em Roma no ano 177, Irineu retornou para Lioa e
descobriu que o bispo Potino havia sido martirizado, sendo ento escolhido para
ser o seu sucessor. Como bispo de Lioa, Irineu liderou a igreja daquela cidade,
defendeu o seu rebanho contra as heresias e lutou pela paz e unidade da igreja
crist como um todo. Esta ltima preocupao o levou a intervir na controvrsia
pascal (c.190), quando Vtor, o bispo de Roma (189-198), ameaou excomungar
as igrejas da sia Menor por causa de um desentendimento referente data da
celebrao da Pscoa. Por esta razo, Eusbio declara que Irineu portou-se
altura do seu nome, porque provou ser um verdadeiro pacificador ou eurenopoios
(Hist. eccl. 5,24,18). Aps este incidente Irineu desapareceu completamente dos
registros histricos e at mesmo o ano da sua morte desconhecido. 10
II - Escritos
Irineu escreveu uma longa srie de obras, das quais somente duas
sobrevivem: seu grande tratado A Deteco e Refutao da Falsamente Chamada
Gnose (c. 185), geralmente conhecido como Contra as Heresias (Adversus
Haereses), e uma obra de menor tamanho, Epideixis ou Demonstrao da
Pregao Apostlica, um tratado apologtico descoberto em uma verso armnia
em 1904 e publicado pela primeira vez em 1907. Dos outros escritos de Irineu
vrios tratados e cartastemos apenas uns poucos fragmentos ou somente os
ttulos, os quais foram preservados por Eusbio de Cesaria.
A gigantesca Contra as Heresias consiste de cinco livros que, no seu
conjunto, so maiores do que todo o corpo de literatura crist existente naquela
poca. O original grego perdeu-se quase inteiramente, mas existe uma traduo
latina muito literal que foi publicada pela primeira vez por Erasmo de Roterd em
1526, e tambm uma verso armnia dos dois ltimos livros publicada em 1913. 11
Como indica o ttulo original, a obra composta de duas partes. A primeira
parte (Livro I) trata da deteco ou descrio das doutrinas dos gnsticos,
especialmente dos discpulos de Ptolomeu, que era discpulo de Valentino. O autor
conclui triunfantemente: "Meramente descrever tais doutrinas o mesmo que
refut-las" (Adv. haer. 1,31,3-4).12 A segunda parte, a "refutao," compreende os
quatro livros restantes. No Livro II Irineu refuta a gnose dos valentinianos e dos
marcionitas com base na razo. Ele ataca as doutrinas do pleroma e dos eons
com uma lgica implacvel, mas no procura elaborar uma alternativa
especulativa. Na realidade, o Livro II desenvolve o que havia ficado incompleto no
primeiro livro.
Os ltimos trs livros so devotados refutao do gnosticismo com base nas
Escrituras. Aqui Irineu trata de muitos temas mais amplos e elabora os princpios
basilares da teologia crist.13 O Livro III coloca o fundamento da doutrina crist
nas Escrituras e na tradio e elabora com detalhes os seus pontos essenciaisa
unidade de Deus e a redeno por meio de Cristo. O Livro IV defende contra
Marcio a unidade das duas alianas, e o Livro V continua a discusso acerca da
redeno e da passa para as ltimas coisas e a esperana do mundo por vir.
Neste livro Irineu discorre longamente sobre a ressurreio do corpo, que era
negada por todos os gnsticos.
Contra as Heresias a primeira grande obra crist no segundo nvel da
teologia, a primeira tentativa abrangente de declarar o que realmente o
cristianismo. Embora muito menor, a Epideixis ou Demonstrao tambm
significativa, uma vez que parece representar o ensino de Irineu aos
catecmenos.14 Ela segue a ordem da frmula batismal, aduzindo provas
escritursticas para a crena no Pai, Filho e Esprito Santo.
III. O Gnosticismo
Bengt Hgglund observa com propriedade que "foi o idealismo gnstico, com
a sua negao da criao, que compeliu os pais da igreja a abordarem com tantos
detalhes as doutrinas de Deus e da criao, juntamente com o problema do
homem, a encarnao e a ressurreio do corpo." 15 bem sabido que aquilo que
chamamos de gnosticismo era um fenmeno muito complexo, que assumiu uma
grande variedade de configuraes. De um lado do espectro havia manifestaes
de uma gnose crist, das quais a mais destacada foi o marcionismo. 16 Por outro
lado, os gnsticos do tipo valentiniano dificilmente poderiam ser considerados
como cristos. Eles eram perigosamente enganosos, uma vez que utilizavam as
mesmas Escrituras e a mesma linguagem que os cristos, mas com um sentido
radicalmente diferente. Irineu chama ateno para este fato atravs da
interessante analogia da imagem de um rei e de sua transformao na imagem de
um animal (Adv. haer. 1,8,1).
Todos os sistemas gnsticos tinham em comum a opinio de que o
cristianismo ortodoxo, com o seu "credo" claro e objetivo, era demasiado simples.
Eles professavam ter no mnimo uma resposta mais complexa para o enigma do
universo.17 Filosoficamente, as diferentes correntes do gnosticismo tambm
tinham em comum a negao da unidade de Deus conforme apresentada nas
Escrituras e ensinada pela igreja primitiva. Na sua forma mais simples, eles
negavam a identificao do Deus do Velho Testamento, Iav, com o Deus de
Jesus Cristo.
Norris pondera que o contexto da "gnose" ou "verdade mais profunda" do
gnosticismo "tinha a ver com a questo religiosa fundamental da origem, natureza
e destino da alma."18 Esta preocupao levava a um entendimento do Ser Divino e
da sua relao com o mundo que distorcia por completo o ensino cristo
tradicional acerca de Deus. Deste erro fundamental decorriam todas as outras
idias gnsticas errneas nas diferentes reas da teologia crist.
Na concepo de Irineu, a gnose era pura e simplesmente uma contradio
do cristianismo, uma negao das suas doutrinas capitais. Como sabemos, Irineu
no estava interessado no gnosticismo como um fenmeno geral mas em um tipo
particular de ensino que ele havia encontrado em Leoaa doutrina de Ptolomeu,
"um rebento da doutrina de Valentino" (Adv. haer. 1, prefcio, 2). Como tal, a
gnose ptolomaica era "um sistema de complexidade fantasmagrica, cujo
propsito era expor a verdade acerca da identidade do gnstico em sua natureza
mais ntima."19
Conforme a descrio de Irineu, o trao essencial da gnose ptolomaica era um
dualismo consistente. Os gnsticos no reconheciam um, e sim dois mundos.
Havia o Pleroma ou Plenitude, uma sociedade de seres divinos ou Eons, em cujo
pice ficava a realidade ltima desconhecida e incognoscvel, o Abismo. Fora e
abaixo do Pleroma estava o corrupto mundo material, o produto indesejado de
uma desordem temporria na vida do Pleroma. O mundo foi produzido atravs de
um processo complexo que gerou os seus trs elementos constitutivos: matria
corprea, alma e esprito. Os espritos dos gnsticos estavam destinados a
retornar finalmente para o seu lar no Pleroma.
O artfice do mundo visvel uma entidade anglica, o Demiurgo, uma simples
alma que ignora qualquer vida superior sua prpria. Este o Deus dos judeus, e
o Jesus humano e terreno o seu Messias. No entanto, existe uma dimenso
oculta da verdade nos ensinos de Jesus que revela o prprio Pleroma. Isto
acontece porque um eon divino, o Salvador, veio sobre Jesus no seu batismo e
permaneceu com ele at o momento do seu sofrimento e morte. Todo aquele que
l as palavras de Cristo em sintonia com o seu significado interior e no com o seu
sentido literal encontra nas mesmas no as palavras do Messias judeu, mas o
ensino do prprio Salvador, que traz o conhecimento da vida divina do Pleroma.
Obviamente, a conseqncia deste sistema era o abandono completo do
entendimento cristo tradicional acerca do Ser Divino e do seu relacionamento
com o mundo. Conforme Norris observa: "Na sua ansiedade de segregar a
matria do esprito, o mal do bem, os gnsticos dissolveram ao mesmo tempo a
unidade do mundo e a unidade de Deus." 20 Por sua vez, este dualismo gnstico
destrua a integridade da teologia da histria que estava no mago da pregao
crist. A oposio entre o Velho e o Novo Testamento, entre Iav e o Salvador
manifestado em Jesus, levava a uma dissoluo da unidade da histria da
salvao, a histria da relao de Deus com a humanidade apresentada nos
escritos sagrados da igreja.
V. A Doutrina de Deus
A. A Regra da Verdade
Como foi visto acima, para Irineu a "regra da verdade" era o sistema de f
derivado dos apstolos e dos seus discpulos e compartilhado pela igreja
universal. Com isto ele no estava se referindo a um nico credo universalmente
aceito ou a qualquer tipo de frmula como tal, mas ao contedo doutrinrio da f
crist transmitida na igreja "catlica."26 Em vrias passagens Irineu faz aluses a
esta regra da verdade e at mesmo reproduz snteses da mesma, quase
invariavelmente em termos tridicos e em conexo com o batismo.
Existem vrios exemplos na Epideixis, como este encontrado no captulo 3:
"Antes de tudo, precisamos ter em mente que recebemos o batismo para a
remisso dos pecados em nome de Deus o Pai, e em nome de Jesus Cristo o
Filho de Deus, que se encarnou, morreu e ressuscitou, e em nome do Esprito
Santo de Deus." Existem outras referncias nos captulos 7 e 100. A partir desta
linguagem, Kelly conclui que Irineu conhecia uma srie de perguntas batismais
que seriam mais ou menos assim: "Voc cr em Deus Pai? Voc cr em Jesus
Cristo, o Filho de Deus, que se encarnou, morreu e ressurgiu? Voc cr no
Esprito Santo de Deus?"27 A Epideixis tem no seu captulo 6 uma exposio
detalhada dos trs pontos, novamente em um contexto relacionado com o
batismo, o que d uma boa idia da instruo catequtica pr-batismal fornecida
naquela poca.
Os sumrios "credais" mais importantes encontrados em Contra as Heresias
so tambm confisses com trs clusulas. A passagem mais notvel aquela
encontrada em 1,10,1:
A Igreja, embora dispersa por todo o mundo, at aos confins da terra, recebeu
dos apstolos e dos seus discpulos esta f: [Ela cr] em um Deus, o Pai Todo-
Poderoso, Criador dos cus, da terra, do mar e de todas as coisas que neles
esto; e em um Cristo Jesus, o Filho de Deus, que se encarnou para a nossa
salvao; e no Esprito Santo, que proclamou atravs dos profetas as
dispensaes de Deus...
Outra referncia importante aquela encontrada em 4,33,7, que parece ter
sido deliberadamente baseada em 1 Corntios 8.6:
Ele [o verdadeiro discpulo espiritual] tem plena f em um Deus Todo-
Poderoso, de quem so todas as coisas; e no Filho de Deus, Jesus Cristo nosso
Senhor, por quem so todas as coisas, e nas dispensaes referentes a Ele, por
meio das quais o Filho de Deus se fez homem; e uma f firme no Esprito de
Deus, que nos proporciona o conhecimento da verdade, e tem apresentado as
dispensaes do Pai e do Filho, em virtude das quais Ele habita com cada
gerao dos homens, de acordo com a vontade do Pai.
Tambm existem vrios exemplos de frmulas com dois artigos (Adv. haer.
3,1,2; 3,42; 3,16,6; etc.).
Kelly pondera que, surpreendentemente, tnue a influncia de motivos anti-
herticos nestas vrias declaraes.28 Talvez isto seja verdade quanto s
declaraes em si mesmas, mas certamente os seus contextos no deixam dvida
quanto sua inteno polmica. precisamente a partir dessas afirmaes da
regra da verdade que Irineu deriva os seus principais argumentos contra as
noes gnsticas acerca de Deus e do seu relacionamento com a ordem criada.
C. A Divina Trade
Da mesma maneira que os ensinos gnsticos levam Irineu a enfatizar a
unidade de Deus, a regra da verdade ligada ao batismo o faz refletir sobre as
distines do Ser Divino: Pai, Filho e Esprito Santo. Irineu mostra a dificuldade de
se reconciliar uma s realidade divina com tais distines, isto , como afirmar a
unidade de Deus e ao mesmo tempo preservar a Trade.32 No seu pensamento, as
prprias relaes das "pessoas" da Trade permanecem obscuras. Ele trata das
implicaes da frmula mas se recusa a ir alm disso; esta tarefa seria deixada
para telogos posteriores.
Como foi visto anteriormente, Irineu comea a sua exposio do Ser Divino a
partir dos trs artigos fundamentais do smbolo batismal. Uma passagem
essencial Demonstrao 6. Lebreton observa apropriadamente que "a fim de
julgar as heresias [Irineu] leva-as a esta regra fundamental e demonstra a
oposio das mesmas aos trs artigos do smbolo." 33 Por sua vez, Kelly
argumenta que Irineu vai alm dos apologistas em dois aspectos, a saber, na sua
compreenso mais firme e afirmao mais explcita da noo de "economia" e no
seu reconhecimento muito mais pleno do lugar do Esprito no esquema tridico. 34
A divina Trade invocada para mostrar com mais detalhes como Deus se
relaciona com o mundo no somente na criao mas na redeno. Irineu se
acerca de Deus a partir de duas direes, vendo-o tanto como ele existe no seu
ser intrnseco e tambm como ele se manifesta na economia, o processo
ordenado da sua auto-manifestao. Do primeiro ponto de vista, Deus o Pai de
todas as coisas, inefavelmente um, e todavia contendo em si mesmo desde toda a
eternidade a sua Palavra e a sua Sabedoria. Porm, ao dar-se a conhecer ou por-
se em atividade na criao e na redeno, Deus manifesta esta Palavra e esta
Sabedoria; como o Filho e o Esprito, elas so as suas "mos," os veculos ou
formas da sua auto-revelao.35
Norris pondera que a nota caracterstica do ensino de Irineu acerca de Deus
pode ser vista na sua luta com a doutrina do Logos herdada dos apologistas.36 Ele
a utiliza, mas um tanto a contragosto e com cuidadosas qualificaes. A Palavra
ou o Verbo visto como o Mediador. O Pai est "acima de tudo," enquanto que a
Palavra "atravs de todas as coisas." O Pai est de algum modo "fora" do
mundo e a Palavra parece um poder intermedirio atravs de quem Deus se
relaciona com o mundo e atua nele. A Palavra o Mediador da revelao: o Deus
invisvel e incompreensvel no dado a conhecer diretamente, mas atravs da
sua Palavra.
Irineu no fica inteiramente satisfeito com esta linguagem. A sua oposio ao
gnosticismo o torna avesso a qualquer sugesto de que existe mais de uma
substncia divina ou de que Deus est de algum modo separado do seu mundo.
Assim, ele repudia todas as tentativas de se explorar o processo pelo qual o
Logos/Verbo foi gerado (2,28,4-6; 2,13,8). Tal linguagem parece sugerir que o
Logos um estado intermedirio entre Deus e a criao e parece implicar em
distines de grau dentro da Divindade. Ao mesmo tempo o Verbo ou Filho
corretamente chamado "Deus" (Dem. 47); ele distinto de tudo o que gerado e
coexiste com o Pai desde toda a eternidade (2,30,9; 3,18,1; 4,20,1).
Com o Filho Irineu associou intimamente o Esprito, argumentando que, se
Deus era racional e portanto tinha o seu Logos, ele tambm era espiritual e assim
tinha o seu Esprito (Dem. 5). Nisto Irineu demonstrou ser um seguidor de Tefilo
de Antioquia e no de Justino, identificando o Esprito, no o Verbo, com a
Sabedoria divina, e assim fortalecendo a sua doutrina do Esprito Santo com uma
base bblica segura (Sl 33.6; Pv 3.19; 8.22-36; etc.). O Esprito plenamente
divino, ainda que em nenhum lugar Irineu o designe expressamente como Deus,
pois ele o Esprito de Deus, continuamente brotando do seu ser (5,12,2).
Irineu tambm bastante peculiar e criativo no seu ensino acerca do Verbo e
da Sabedoria, o Filho e o Esprito, como "as duas mos de Deus" (4,20,1), uma
imagem que faz lembrar J 10.8a e o Salmo 119.73. Esta outra maneira pela
qual ele acentua a doutrina de um Deus imediatamente presente e ativo. o
prprio Deus Supremo que est empenhado numa atividade criadora neste
mundo. Lawson observa que este ensino denota uma "ao direta," em contraste
com os anjos intermedirios dos sistemas gnsticos (Adv. haer. 4,7,4).37 Irineu
tambm fala do "Pai que planeja tudo bem e d as suas ordens, o Filho que as
executa e realiza a obra de criao, e o Esprito que nutre e faz crescer..." (4,38,3).
V-se aqui um esforo de preservar a igualdade do status divino entre o Filho e o
Esprito exigida pela frmula tridica. 38 Assim, "as duas mos de Deus" uma
expresso do carter imediato da criao, no do seu carter mediato.
O Verbo e o Esprito colaboram na obra de criao e direo (4,20,2; Dem. 5)
e tambm nas atividades de inspirao e revelao. O Verbo revela o Pai (4,6,3;
4,6,6). Na encarnao o Verbo, at ento invisvel aos olhos humanos, tornou-se
visvel e manifestou pela primeira vez aquela imagem de Deus a cuja semelhana
o ser humano foi originalmente criado (5,16,2). O Esprito atuou nos profetas e nos
crentes da antigidade; somente ele capacita as pessoas a conhecerem o Filho
(Dem. 6,7). A santificao inteiramente obra do Esprito.
Lawson acredita que o tratamento mais profundo e consistente da natureza de
Deus feito por Irineu est em Adv. haer. 4,20,1-12, um captulo que inicia com a
celebrao do amor de Deus.39 No centro da religio de Irineu est o conceito do
amor auto-comunicativo de Deus. Porque ele ama, Deus livremente d de si
mesmo na criao, nos profetas e no Filho do seu amor.
VI. Concluso