Serviço Social - Brasil em Contra Reforma - Desestruturao Do Estado e Perda de Direitos
Serviço Social - Brasil em Contra Reforma - Desestruturao Do Estado e Perda de Direitos
Serviço Social - Brasil em Contra Reforma - Desestruturao Do Estado e Perda de Direitos
Captulo 3
1.
Com os juros flutuantes, a dvida no pde (e no pode...) ser redimida, sendo alm de
mecanismo de extrao de renda, tambm de dominao poltica. A opacidade de regimes
militares, financiados e estimulados pelos EUA na Amrica Latina, permitiu a condio
institucional para tais acordos, que favoreciam a aliana entre as oligarquias exportadoras e o
capital financeiro internacional.
Segundo Toussaint (1998) houve uma inverso explosiva da transferncia de divisas em
prazos muito curtos, mas que foi acompanhada tambm da queda das exportaes de
matrias primas; ocorreu um verdadeiro estrangulamento da economia latino americana, com
um crescimento mdio do PIB de cerca de 2,3% entre 1981 e 1985.
Houve pases (Bolvia e Costa Rica), em que a dvida passou a ser maior que o PIB.
O constrangimento do endividamento gerou uma queda na taxa de inverso, em especial
do investimento do setor pblico, ao longo de 16 anos (de 26% em 1974, para 15/16% em
1989), dificultando o que designa como ao de um Estado estruturante e, ainda, o ingresso do
pas na 3 Revoluo Industrial (Cano, 1994: 26 e 42).
A maior parte da dvida externa foi contrada pelo setor privado, por presses do FMI o
feitor da dvida , houve na seqncia uma crescente e impressionante socializao da
mesma. No Brasil, 70% da dvida tornou-se estatal. O fenmeno da estatizao de 2/3 da
dvida muito importante para compreender a crise do Estado no Brasil e o quanto ideolgica
sua satanizao (Cano, 1994). Para Cano, desde ento, o gasto pblico passa a ser
estruturalmente desequilibrado.
Dessa feita, Behring assinala que as caractersticas regionais preexistentes crise da
dvida foram exacerbadas no contexto dos anos 80, saber:
rico, o Brasil;
o desemprego;
a informalizao da economia;
internas.
A maior dvida da Amrica Latina, a brasileira, cresce vertiginosamente a partir de uma
articulao exemplar entre a burguesia nacional, o Estado e o capital estrangeiro, que fundou o
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milagre brasileiro (quando a economia, sob a ditadura militar cresceu entre 1968/1973, a
mdia de 11,2%).
Esse milagre foi sustentado a partir de alguns processos:
espao urbano, que foi absorvida pela construo civil e pela indstria manufatureira de bens
durveis;
elites no Brasil sempre tiveram uma profunda unidade poltica: conter a emancipao dos
trabalhadores.
O estudo de Velasco e Cruz importante porque mostra, a partir de um ngulo especfico,
como se operou a mudana de mentalidades, bem como as dificuldades do processo de
democratizao. A partir de 1987, o discurso governamental sobre poltica industrial volta-se
para advogar a adoo de medidas conseqentes para atrair o capital estrangeiro,
desregulamentar a atividade econmica e facilitar a adoo de tecnologias novas (1997:79).
Na constituio de 1988 havia claramente a nfase na priorizao de uma poltica
industrial. Essa poltica sugerida em 88 previa fortes subsdios do Estado e instrumentos
indutores e estruturantes. A poltica proposta em 1988 foi recebida com cautela pelo
empresariado e foi duramente criticada pelos economistas liberais, porque, segundo eles,
mantinha ainda ultrapassadas iluses dirigidas.
O movimento operrio e popular era, naquele contexto um ingrediente poltico decisivo da
histria recente do pas, que ultrapassou o controle das elites. Sua presena e ao
interferiram na agenda poltica ao longo dos anos 1980 e pautaram alguns eixos na
Constituinte, a exemplo de:
ingerncias do FMI;
direitos trabalhistas;
reforma agrria.
A orientao neoliberal encontrou solo frtil, ainda que sua introduo mais intensa tenha
sido retardada pelos processos delineados, e consolida-se como doutrina dos anos 1990. Tal
ambiente poltico, econmico e cultural foi reforado tambm pelo que se passou a conhecer
como Consenso de Washington, com seu receiturio de medidas de ajuste.
O Consenso de Washington estabelece-se a partir de um Seminrio realizado naquela
cidade, entre 14 e 16 de janeiro de 1993, para discusso de um texto do economista John
Willianson, e que reuniu executivos de governo, dos bancos multilaterais, empresrios e
acadmicos de onze pases. Ali foram discutidos os passos polticos necessrios para
implementao de programas de estabilizao que, de acordo com a tima sntese de Fiori
(1994:2) passaria por 3 fases:
A primeira consagrada estabilizao macroeconmica, tendo como prioridade absoluta
um supervit fiscal primrio envolvendo invariavelmente a reviso das relaes fiscais
intergovernamentais e a reestruturao dos sistemas de previdncia pblica; a segunda,
dedicada ao que o Banco Mundial vem chamando de reformas estruturais: liberao
financeira e comercial, desregulamentao dos mercados, e privatizao das empresas
estatais; e a terceira etapa, definido como a da retomada dos investimentos e do crescimento
econmico.
permanncia ao programa de estabilizao do FMI, e a viabilidade poltica ao que falta ser feito
das reformas preconizadas pelo Banco Mundial.
A sobrevalorizao do cmbio, alm de destruir a autoridade monetria nacional, exigiu a
captao permanente de recursos no exterior para equilibrar a balana de pagamentos. Os
impactos dessa engenharia de curto prazo do Plano Real tm sido:
- o bloqueio de qualquer possibilidade de desconcentrao de renda;
- uma desproporo entre a acumulao especulativa e a base produtiva real, cujo custo
recai sobre o Estado na forma de crise fiscal e compresso dos gastos pblicos em servios
essenciais;
- alienao e desnacionalizao (Gonalves, 1999; Paulani, 1998; Teixeira, 2000) do
patrimnio pblico constitudo nos ltimos 50 anos, um remanejamento patrimonial de grandes
propores e com fortes conseqncias polticas;
- inibio do crdito e inadimplncia dos devedores;
- mudana do perfil do investimento das indstrias, que tende a ser em reduo de custos
e manuteno, mas no em ampliao da base, em virtude dos riscos. Para Tavares (1999), a
indiscriminada abertura comercial e a sobrevalorizao do
Conforme Teixeira: o
Pereira
Para Bresser Pereira, o Brasil e a Amrica Latina foram atingidos por uma dura crise fiscal
nos anos 1980, acirrada pela crise da dvida externa e pelas prticas de populismo econmico 1.
Esse contexto vai exigir, de forma imperiosa, a disciplina fiscal, a privatizao e a liberalizao
comercial.
Bresser nota tambm o carter cclico e mutvel da interveno do Estado, ou seja, aps
o Estado Mnimo, o Estado social-burocrtico e o revival neoliberal, caminhar-se-ia para uma
experincia social liberal, pragmtica e social democrata. Este modelo, segundo Bresser, no
Populismo econmico, numa definio sumria, caracterizar-se-ia por polticas macroeconmicas na Amrica
Latina que mantm o ativismo do Estado no desenvolvimento, bem como acenam para a redistribuio de renda
no curto prazo, mas sem sustentao no longo prazo, a exemplo do Plano Cruzado.
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pretende atingir o Estado que mantm suas responsabilidades na rea social, acreditando no
mercado, da qual contrata a realizao de servios, inclusive na prpria rea social (1996:14).
As causas da crise esto localizadas no Estado desenvolvimentista, no Estado comunista
e no Welfare State, cujas experincias a meu ver to dspares para serem inseridas numa
mesma lgica subavaliaram a capacidade alocativa do mercado, um mecanismo
maravilhoso, que deve ter um papel positivo na coordenao da economia (1996).
Ao Estado cabe um papel coordenador suplementar. Se a crise se localiza na insolvncia
fiscal do Estado, no excesso de regulao e na rigidez e ineficincia do servio pblico, h que
reformar o Estado, tendo em vista recuperar a governabilidade (legitimidade) e a capacidade
financeira e administrativa de governar.
O lugar da poltica social no Estado social liberal deslocado: os servios de sade e
educao, dentre outros, sero contratados e executados por organizaes pblicas no
estatais competitivas.
Bresser
critica
esquerda
tradicional
por
se
manter
presa
ao
nacional-
desenvolvimento
tecnolgico
como
elemento
complementar
da
substituio de importaes;
- justificar o dficit pblico, quando h capacidade ociosa e desemprego, rejeitando
qualquer ajuste fiscal;
- interpretar as taxas de juros como conspirao dos bancos e da especulao;
- dizer que aumento de salrio no aumenta a inflao e que o aumento do salrio real
redistributivo numa economia com alta concentrao de renda;
- afirmar que as empresas estatais so eficientes mas no so rentveis, porque seus
preos so artificialmente deprimidos;
- e, por fim, o equvoco maior defender que a coordenao econmica pelo Estado
tende a ser mais eficiente do que pelo mercado.
2.
(PDRE/MARE
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A autora passa a sistematizar os elementos que considera para uma reflexo crtica sobre
o projeto hegemnico nos ltimos 8 anos.
1) A explicao da crise contempornea como crise do ou localizada no Estado.
A esto indicadas suas causas e suas sadas, o que expressa uma viso unilateral e
monocausal da crise contempornea, metodologicamente incorreta e que empobrece o debate.
A perspectiva crtica de anlise sustentada pelo marxismo considera que as mudanas
em curso passam por uma reao do capital ao ciclo depressivo aberto no incio dos anos 70
(Mandel, 1982 e Harvey, 1993), que pressiona por uma refuncionalizao do Estado, a qual
corresponde a transformao no mundo do trabalho e da produo, da circulao e da
regulao.
As tentativas de retomada de taxas de lucro nos nveis dos anos de ouro do capital (psguerra) ocorrem hoje por trs eixos que se articulam visceralmente:
orientadas para o mercado (Behring, 1998). O que combina a uma forte ofensiva
intelectual e moral, com o objetivo de criar o ambiente propcio implementao
dessas proposies, diluindo as possveis resistncias.
A reforma do Estado, tal como est sendo conduzida, a verso brasileira de uma
estratgia de insero passiva (Fiori, 2000:37) e a qualquer custo na dinmica internacional
e representa uma escolha poltico-econmica, no caminho natural diante dos imperativos
econmicos. Uma escolha, bem ao estilo de conduo das classes dominantes brasileiras ao
longo da histria.
Em relao a questo da privatizao brasileira, tem-se a entrega do patrimnio pblico
ao capital estrangeiro, bem como a no obrigatoriedade de as empresas privatizadas
comprarem insumos no Brasil, o que levou ao desmonte de parcela do parque industrial
nacional e a uma enorme remessa de dinheiro para o exterior, ao desemprego e ao
desequilbrio da balana comercial.
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Para Oliveira, esse movimento mostra o quanto preciso muito Estado para criar um
mercado livre: a exigncia de um Estado forte para a conduo do ajuste direcionado
expanso do mercado.
Andreas e Korezmin (1998) apontam o discurso da reforma como um conservadorismo
disfarado. Em 1990 o Brasil recorreu ao FMI, e o acordo no garantiu o ajuste nas contas
pblicas, estando voltado sobretudo para a regularidade do pagamento dos credores.
Estudos do INESC (Instituto de Estudos Scio-Econmicos) apontam:
que a busca da meta do supervit primrio previsto no acordo de 1999 levou a uma
brutal conteno de gastos em todas as reas, com exceo do pagamento do servio da
dvida e de pessoal. Os gastos em investimentos e atividades-fins foram extremamente
limitados; e programas sociais e ambientais de relevncia foram paralisados. O estudo alerta
para a baixssima execuo oramentria nos programas voltados para crianas e
adolescentes em situao de risco e a no implementao do Estatuto da Criana e do
Adolescente, pela falta de aplicao de recursos pblicos. O governo brasileiro alcanou um
supervit primrio de 3,13% do PIB, maior que a meta do FMI, que era de 2,5% do PIB, mas ao
custo de investimento pouco e penalizar gravemente a rea social: aquela que deveria ser
priorizada a partir do ajuste e do enxugamento do Estado.
Outro aspecto de destaque na reforma do Estado o Programa de Publicizao, que
se expressa na criao das agncias executivas e das organizaes sociais, e mais
recentemente na regulamentao do terceiro setor. Esta ltima estabelece um termo de
parceria com ONGs e instituies filantrpicas para a implementao das polticas. A essa
nova arquitetura institucional na rea social se combina ainda o servio voluntrio, o qual
desprofissionaliza a interveno nessas reas, remetendo-as ao mundo da solidariedade
(Gusmo, 1998), da realizao do bem comum pelos indivduos, por intermdio de um trabalho
voluntrio no remunerado. O fortalecimento desse setor pblico no estatal como via de
implementao de poltica social, no contexto de uma crise fiscal que aprofundada pela crise
econmica em curso, encerra alguns problemas e contradies.
A autora sublinha que as transformaes no Estado brasileiro so fundamentais numa
agenda que se prope superar um Estado privatizado, volt-lo para a coisa pblica, e
especialmente imprimir maior eficincia a suas aes. O resgate da dvida social como parte
das preocupaes est obviamente associado capacidade do Estado brasileiro de
implementar polticas pblicas.
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Diante dessa questo, a resposta para a reduo de custos, por meio da flexibilizao das
relaes contratuais de trabalho, retirando-se o Estado da regulao destas relaes, inclusive
no que se refere questo de proteo social, com a reduo dos encargos sociais.
Um pressuposto para a implementao de medidas de natureza claramente regressiva
para os trabalhadores seria imprimir derrotas polticas ao seu movimento organizado (como
Margareth Thatcher fez na Inglaterra). Dessa feita, tambm operam estratgias de
passivizao dos trabalhadores, com o objetivo de destruir sua identidade de classe. Como
exemplo, a situao de desemprego explicada pela ausncia de qualificao dos
trabalhadores e at por m vontade, inaptido ou preguia (Mattoso, 1999), fenmeno da
responsabilizao dos trabalhadores pela crise e no por uma condio estrutural do
capitalismo no qual no h emprego para todos.
Para Mattoso, setores dos trabalhadores, pressionados por essa forma predatria de
reestruturao, pelo crescente desemprego, pela precarizao das condies de trabalho,
tambm desfocaram sua ao e colocaram-se na defensiva.
Mattoso conclui que o projeto de flexibilizao do governo que viria a entrar em vigor a
partir de 1988, como resposta ao mais duro perodo de destruio de postos de trabalho no
aponta para a formalizao do emprego, mas para reduo dos custos de demisso, j baixos
no pas.
Mattoso denuncia uma elite domstica antinacional, cujas opes paralisaram e
desarticularam as possibilidades da economia brasileira, o que resultou no aprofundamento do
desemprego.
A Folha de So Paulo de 27/10/2001 trouxe uma reportagem no calor dos custos sobre o
projeto 5483/01, que altera o artigo 618 da CLT (Consolidao das Leis Trabalhistas), prevendo
que o negociado entre patres e trabalhadores passe a prevalecer sobre o legislado, ou seja, a
base mnima de direitos consolidada na CLT pode ser negociada e, portanto, no assegurada.
Este projeto, proposto no final do governo FHC um golpe fatal sobre os trabalhadores.
Est a, portanto, uma defesa contundente da flexibilizao como elemento da reforma
do Estado, no sentido de retirar entraves para a modernizao e a competitividade da
industria brasileira a partir do custo trabalho, bem como contribuir para atrair investimentos
estrangeiros produtivos para o pas, j que tal retirada implica a diminuio dos encargos sobre
as empresas.
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O presidente da CUT, Joo Antnio Felcio, veio pblico manifestar-se a respeito das
propostas mais recentes de mudanas na CLT. Felcio sublinha que desde a adoo do real
foram introduzidas modificaes amplas na legislao trabalhista, a exemplo de:
- trabalho por tempo determinado;
- suspenso temporria do contrato de trabalho;
- flexibilizao do trabalho a tempo parcial;
- banco de horas, dentre outras.
Ele conclui que houve uma queda da participao dos salrios em comparao com os
lucros, na renda nacional. Pelo exposto, Felcio conclui que fica evidente que a
desregulamentao do trabalho no o caminho para preservar o emprego e criar condies
de retomada do crescimento (Folha de So Paulo, 27/10/2001).
A carta de conjuntura da Fundao de Economia e Estatstica do Rio Grande do Sul
destacou o problema do desemprego em novembro de 1999.
A frao dos empregos com carteira no total da ocupao caiu de 53,8% no segundo
trimestre de 1991 para 44,6% em setembro de 1999. Essa situao caracteriza tambm
desproteo do trabalho no pas, j que a informalidade significa o no acesso previdncia, a
no ser na condio da autonomia, o que significa uma contribuio alta para os baixos
salrios, de 20%.
Contudo, se o Estado se retira de determinadas funes com a flexibilizao, o mesmo
no parece ocorrer com a qualificao, via pela qual aposta-se no combate ao desemprego,
mas cuja eficcia os nmeros contestam com veemncia. No entanto, o Fundo de Amparo ao
Trabalhador (FAT) possui um patrimnio acumulado de 30 bilhes de reais (Amaral, 2001:41),
maior que o da poltica de sade. Por esta via so financiados os programas de qualificao e
requalificao profissional, a exemplo do Plano Nacional de Qualificao do Trabalhador
(PLANFOR), que atingiu cerca de 12 milhes de trabalhadores desde que foi implantado em
1995, segundo informaes de Ministrio do Trabalho, alm do seguro desemprego, ao qual os
trabalhadores tm recorrido menos, o que revela o acirramento da precariedade.
Amaral (2001) relaciona o investimento na qualificao como uma estratgia de
passivizao por meio do patrocnio do consenso, para assegurar a colaborao de classes.
No toa que a reao sindical s mudanas da CLT esteve aqum da radicalidade
requerida pela situao.
Segundo Mendona, diretor tcnico do DIEESE desde 19890, ningum contra investir
em requalificao profissional, mas isso no uma panacia (...) a requalificao profissional
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tem que ser colocada em seu devido lugar. Ela modifica, na margem, a oferta de trabalho, mas
no expande a demanda. No uma poltica ativa (In: Benjamim e Elias, 2000).
Os aspectos arrolados acima revelam um elemento cultural de fundo na sociedade
brasileira desde os tempos da escravido, apesar de tantos anos de assalariamento: o
desprezo pelos que vivem do trabalho.
Entre 1995 e 1998, houve cerca de 1500 processos de aquisio e fuso, com a
participao majoritria do capital estrangeiro em 59% deles, atingindo mais profundamente os
seguintes setores: minerao, material eletrnico, eltrico e de comunicaes, autopeas e
produtos alimentcios diversos, mas com destaque para os laticnios, bancos, seguros, energia
eltrica, supermercados e meios de comunicao.
Sobre as privatizaes, o governo brasileiro empreendeu um dos programas mais
ambiciosos do mundo; o mais destrutivo do mundo, considerando qualquer parmetro de
projeto nacional, poder-se-ia dizer tambm. Um programa que fez crescer a participao do
capital estrangeiro no conjunto das maiores empresas de 36% em 1997 para 42% em 1998.
Ateno: num perodo de um ano!
Tal processo combinou-se fragilizao e at extino de segmentos da industria
nacional, e tambm a uma forte concentrao de capital no que se beneficiaram do processo.
Paulani refere-se aos processos de privatizao como a dana dos capitais em sua
fecunda caracterizao da privatizao brasileira como uma reestruturao patrimonial de
grandes propores, na qual tem-se o fortalecimento de determinados grupos, a
desnacionalizao e o aumento do grau de concentrao e, portanto, do poder de monoplio
em quase todos os setores (1998:45).
Braga e Prates alertam que a privatizao e internacionalizao do sistema bancrio
foram uma escolha e no uma inexorabilidade. Os autores lembram que
os pases
relaes de trabalho;
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e, especialmente, pelo desprezo burgus para com o pacto social dos anos
propor o credenciamento
daquelas entidades privadas com fins pblicos (terceiro setor) no Ministrio da Justia, o que
facilitaria e desburocratizaria o processo.
A previdncia social Uma nova dinmica institucional/tecnocrtica extinguiu projetos
encaminhados anteriormente, a exemplo dos que eram conduzidos pelo Servio Social, e criou
novos, como o Programa de Estabilidade Social, mais uma vez de cunho fiscal, ou seja, com o
objetivo de atrair os trabalhadores autnomos, no sentido de ampliar a base contributiva da
previdncia.
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de estmulo aos planos de sade e aos convnios, tende a torn-la um problema de direito de
consumidor e no um problema de direito social para parcela significativa dos brasileiros.
A partir dos elementos levantados acerca da relao entre financiamento da seguridade
social e ajuste fiscal, possvel concluir que existe uma forte capacidade extrativa do Estado
Brasileiro, porm que no est voltada para uma interveno estruturante e para os
investimentos sociais, mas para alimentar a elite rentista financeira.
Numa direo, os investimentos sociais no so, evidentemente, as causas da crise,
como insistiam em afirmar os discursos neoliberais mais dogmtico. O dficit pblico no est
localizado neles, embora, como se viu, tenham sido construdas uma cortina de fumaa
ideolgica e algumas artimanhas para forjar e justificar este argumento.
O que existiu ao longo desses ltimos anos, na verdade, foi um crescimento vegetativo e
insuficiente do investimento do Estado em polticas pblicas fundamentais com o que o
governo procurou assentar seu compromisso com o social enquanto a crise fiscal
aprofundada por custos com um setor parasitrio.
A sociedade tem dado recursos para alm da sua capacidade, sobretudo os
trabalhadores, j que o sistema tributrio brasileiro est especialmente fundado no consumo.
Enquanto isso, a direo de sua aplicao pelo governo foi geradora do mais profundo
dficit pblico vivido pelo Brasil em toda a sua histria.
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