Novo Conceito Idade Média PDF
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Miriam Coser1
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Pesquisa intitulada Idade Mdia Hoje anlise e perspectivas do ensino do perodo medieval nas escolas
pblicas de Nova Iguau, por mim coordenada, e realizada de 2007 a 2008, com a colaborao do
bolsista de PROIC da UFRRJ Marcelo Incio de Oliveira Alves.
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IOGNA-PRAT, Dominique. Ordem. In: LE GOFF & SCHMITT (orgs.) Dicionrio Temtico do Ocidente
Medieval. Vol. II. So Paulo: Edusc, 2006, pp. 305-319.
sobre a sociedade e, como tal, tm uma relao com a realidade social (de outra forma,
no seria verossmel), mas no so, de forma alguma, uma reproduo da sociedade.
Uma prova disso justamente a omisso de um componente social que no pra
de crescer a partir do sc. XI: o habitante da cidade, aquele que realiza os ofcios e o
comrcio. Uma explicao da sociedade medieval pautada apenas nos padres, guerreiros
e camponeses exclui o fenmeno das cidades na Idade Mdia. Isso acaba corroborando
com a ideia errnea de que a cidade um elemento externo ao mundo medieval e seu
surgimento coincide com o incio do capitalismo.
A anlise do fenmeno urbano, ao longo dos sculos XI ao XIII, sucita alguns
questionamentos: primeiro, qual seria a sua origem? Segundo, quais as suas principais
caractersticas e instituies? Terceiro, quais suas relaes com a Igreja? E, finalmente,
quarto, qual o significado disso na dinmica do feudalismo?
A primeira indagao abordada por Guy Fourquin6 que afirma que o
dinamismo demogrfico e a ocupao dos campos teriam impulsionado o
desenvolvimento das atividades urbanas. Fourquin critica a tese clssica de Henri
Pirenne7, segundo a qual o reaparecimento do comrcio por motivaes externas teria
feito ressurgir as cidades. Segundo Fourquin, tal tese s teria validade para algumas
regies e seria falha ao ignorar a evoluo das populaes rurais e da economia dos
campos no sc. X.
Jacques Le Goff8, por sua vez, enfatiza a importncia da formao de um
excedente agrcola e de matrias primas para o artesanato na formao de um novo
quadro econmico que inclui a criao de feiras e mercados para trocas prximas e
distantes, o progresso da economia monetria com a cunhagem de moedas e a
multiplicao de cambistas que se transformam aos poucos em banqueiros, etc.
Com relao a minha segunda indagao, Le Goff e Fourquin concordam no que
diz respeito principal caracterstica da cidade medieval: sua funo econmica.
Diferente da cidade da Roma antiga que se caracterizava por ser fundamentalmente um
O progresso da produo e dos negcios, nos sculos XII e XIII, ter sua
influncia tambm no plano do imaginrio e das sensibilidades. Georges Duby12 afirma
que esse progresso acentuava as tenses nas almas entre o gosto pelo prazer e pela
riqueza, por um lado, e, por outro, a salvao pela pobreza. Diante desse conflito, quem
deveria tomar a direo do mundo? O maior combate da Igreja foi contra os herticos e,
nesse sentido, a importncia da ordem franciscana que faz a opo pela pobreza sem
questionar o Papado. Foi justamente contra os herticos que a Igreja construiu um
edifcio doutrinal mais firmemente ordenado, expresso pela arte gtica.
A maior expresso dessa nova arte a catedral. Concebida atravs da concepo
de que Deus luz, a arquitetura gtica procura transmitir essa irradiao progressiva
como smbolo da hierarquia divina e terrestre. As esculturas no prtico, os vitrais, o
ouro, as pedras preciosas, as torres erguendo-se ao cu fazem parte dessa concepo
teolgica. As construes das catedrais propagam-se com o avano urbano, em parte
com o dinheiro dos comerciantes, mas eram uma celebrao ao bispo e tambm ao rei,
demonstrando a complexidade nas relaes no espao urbano.
Era tambm nas catedrais que funcionavam as escolas. O movimento que
transfere a atividade escolar do mosteiro para a catedral o que instala no centro das
cidades os focos principais de criao artstica. determinado pelas mesmas mudanas
estruturais, o aumento das permutas, da circulao, da mobilidade de bens e dos
homens. Se Deus luz, nas Universidades medievais a luz est no verbo.
A universidade filha da cidade, como afirma Jacques Le Goff13, e, como tal,
organiza-se como uma corporao de ofcio e luta por seus monoplios. Desenvolve um
mtodo, a escolstica, que partindo da gramtica, da dialtica e das autoridades
prope-se a produzir um pensamento original.
Assim, como afirma Georges Duby14, em texto que relaciona a catedral, a cidade
e a escola, a cidade medieval, dos sculos XI ao XIII, o plo difusor da arte gtica e
da escolstica. A Igreja junta-se tambm cidade no exerccio da caridade. Como
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