Antígona, Análise Filosófica
Antígona, Análise Filosófica
Antígona, Análise Filosófica
a Argos, uma cidade vizinha que era inimiga de Tebas, ali se casa com a filha
do rei. Isso visto com fria pelos tebanos, sendo interpretado como uma
grande traio, porm a coisa fica pior quando o suposto irmo traidor,
influenciado por sua esposa desafia o Trono de Tebas com o exrcito de seus
inimigos. justamente nesta batalha que os irmos morrem um pela mo do
outro. Com dipo morto e no tendo mais nenhum descendente de sexo
masculino, Creonte irmo de Jocasta se torna rei de Tebas e sua sobrinha
Antgona, a princesa, prometida ao filho de Creonte chamado Hmon. Toda
essa tragdia poderia ter acabado a, no entanto o novo rei tebano emiti um
decreto proibindo as honras fnebres a Polinices, tido como traidor. Qualquer
pessoa que transgredisse essa lei acabaria por ser morta. No entanto, Antgona
antes da Batalha em que seus dois irmos so dizimados, teria prometido a
Polinices que caso este fosse morto iria sepult-lo conforme as tradies de
seu povo. Neste ponto cabe ressaltar que os gregos tinham uma concepo
muito forte quanto relao entre os homens e os deuses, deuses estes,
intrinsecamente vinculados com a natureza, fazendo parte daquilo que
podemos chamar de religio pblica grega. Segundo essa mentalidade,
conforme demonstrado na obra: Cidade Antiga, do Historiador francs Fustel
de Coulanges, em concordncia a duas religies distintas, o culto dos
ancestrais e o culto dos deuses olmpicos, um homem morto que no fosse
sepultado inevitavelmente no chegaria ao Hades, porquanto sem o rito do
velrio no ficaria em paz no post-mortem. Isso poderia na verdade gerar uma
espcie de desestruturao do regime correto da relao recproca entre os
humanos para com os deuses, incitando at mesmo um problema de ordem
cosmolgica. interessante notarmos uma passagem onde Tirsias que era
um tipo de mstico ou profeta, representante da esfera divina, por assim dizer,
fala ao rei Creonte a respeito de sua dificuldade em interpretar os significados
das fumaas dos sacrifcios de animais, porquanto estes se alimentavam de
cadveres expostos que no tinham recebido o devido cumprimento de seu
velrio.
aqui que se instala a grande polmica dessa histria: A disputa entre a
Lei Natural versus Lei Positiva. Quando falamos de lei natural tendo em vista a
mentalidade dos antigos gregos, fundamental que entendamos que ela se
baseava nas tradies de cunho religioso e cultural. Na especificidade do
drama de Antgona, isso vincula-se ao direito de velar seus mortos, e de lhes
prestar homenagem. Como foi dito acima, esta noo da passagem da vida ao
tmulo estava impregnado na perspectiva grega, e transgredi-la traria severas
consequncias de ordem objetiva. Ver Alceste de Eurpedes, 1004 (1016):
Cremos que se no tivermos nenhuma ateno com esses mortos e
desdenharmos o seu culto, eles nos faro mal e, ao contrrio, nos faro bem
se os tornarmos propcios com nossas oferendas. Dito isto, podemos entender
a lei natural como normas de conduta impostas tambm pelos deuses e manes
(ancestrais), em aspecto de f tradicional. No que se refere a lei positiva, esta
se vincularia a um efetivo decreto, uma lei escrita e imposta a cidade. Em um
exerccio de empatia, podemos avaliar com certas ressalvas, que na
perspectiva de Creonte toda e qualquer lei de um soberano se vinculava
intrinsecamente a uma questo emergencial de sobrevivncia da Polis, onde
sentimentos religiosos e de parentescos eram secundrios. Porm sem querer
cair em um anacronismo exacerbado, essa postura do rei de Tebas indica certa
similaridade para com os revolucionrios da Frana do sculo 18, digo isso
porque Creonte fazia uma diferena Clara entre Direito e Moral. Essa tenso,
que Hegel posteriormente chamar de interesse familial se opondo a
percepo da prosperidade comunitria, embora alguns exegetas contestem,
de certo modo o grande tema da obra de Sfocles principalmente se aplicado
contemporaneidade. No decorrer da narrativa da Pea do dramaturgo grego,
observa-se duas posturas antagnicas diante deste conflito, que em sntese se
resume na atitude das duas irms, Antgona e Ismnia. Antgona logo de
incio, decide obedecer sua conscincia contra o decreto do Rei, ela
nitidamente no demonstra temer a morte se dispondo a enfrentar qualquer
tipo de tirania que retirasse seu direito de fazer o bem aos seus parentes. E por
conta de sua desobedincia acaba sendo trancafiada na Sepultura de sua
famlia. Ismnia, no entanto, prefere obedecer a lei decretada por Creonte
embora posteriormente demonstrasse certo arrependimento, ela inclusive tenta
participar da pena de sua irm, porm Antgona parece no dar total crdito a
sua sinceridade. Creonte por sua vez, persuadido pelo coro (o coro
representava a conscincia cidad que hora censurava e hora aconselhava o
rei), decidiu no condena-la.
Hmon filho de Creonte tenta convencer seu pai a no incriminar sua
noiva Antgona que j havia procedido com a tentativa de funeral, no entanto o
Rei inflexvel. Essa rigidez minada gradativamente por inmeras
circunstncias dentre as quais destacam-se as contnuas intervenes de
Tirsias, que por vrias ocasies Alerta o rei para que este no se tornasse
vtima de si mesmo e dos deuses. Repensando com mais clareza sem os
excessos determinados pelo poder poltico, Creonte decidi enfim sepultar
Polinices e ir ao sepulcro libertar Antgona que estava presa, condenada a
morrer de maneira lenta e dolorosa. Quando chega l o que encontra resumese em mais uma tragdia. Hmon, seu filho, estava aos ps de Antgona que
jazia morta enforcada em seu prprio leno. Quando o jovem v seu pai tenta
golpe-lo mortalmente, porm Creonte se desvia do ataque, e em Total
desespero Hmon comete suicdio com sua espada. Eurdice, esposa de
Creonte, ao descobrir que seu filho morrera, tambm comete suicdio. A
tragdia est instalada, Creonte enfim se torna su prprio algoz, vtima de sua
inflexvel lei. Totalmente abalado aps tais eventos pede para que seus servos
o abandone para sempre.
Diante desta sntese, considerando a grandiosa obra de Sfocles,
pensaremos o mundo do texto, refletindo sobre o que pode ser interpretado e
aplicado em nossa prpria vida atravs da fenomenologia hermenutica de
Paul Ricoeur, como se diz: e nele projetar um dos meus possveis mais
prprios. Significando interpretar e explicitar o tipo de ser no mundo
manifestado diante do texto. Comecemos ento fazendo uma pequena
diferenciao entre a obra do historiador e de outros tipos de gnero literrio
como o romance e a fico por exemplo. Todos esses estilos, se pensarmos
bem, nos falam de um mundo que no existe, no existir, que existe, que
existir, que nunca existiu, ou no existe mais. Porm no caso do historiador,
devem-se preencher as lacunas, pela lgica dos dados mais evidentes
recolhidos pelo seu mtodo objetivado. No entanto, tratando-se de Antgona,
com seus elementos mitolgicos, temos um campo mais aberto de
interpretao que envolve tambm o descobrir daquilo que ainda est velado. A
prpria condio humana, segundo Paul Ricoeur, uma possibilidade aberta
no campo de possibilidades se estendendo a todos os modos de existncia. Na
Referncias: dessa
SFOCLES. Atgona. Braslia: Ed. Universidade de Braslia, 1997.
S.G. FRANCO: Hermenutica e psicanlise na obra de Paul Ricoeur. Ed Loyola 1995
ARISTTELES. Potica. In: Os Pensadores. So Paulo: Nova Cultural, 1999, p.33.
EURPEDES, Alceste, 1004 (1016).
P. RICOEUR. Teoria da Interpretao: Ed 70.
F. COULANGES. A Cidade Antiga: Ed. Martin Claret 1990, p23 33.
G. REALE. Histria da filosofia Tomo 6: Ed. Paulus 1997, p268 273.
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