Revista Sapientia - Edição27
Revista Sapientia - Edição27
Revista Sapientia - Edição27
ANTONIO PATRIOTA
O BRASIL NAS
NAES UNIDAS
AMAZNIA: A NOVA FRONTEIRA
ELTRICA NO BRASIL
DIPLOMACIA NA ORGANIZAO
MUNDIAL DO COMRCIO
Regina Araujo e
Carolina V. Figueiredo
Victor do Prado
1
EDITORIAL
A 27 edio da Revista Sapientia desdobra temas fundamentais para
as relaes exteriores do Brasil. Para comear, trazemos uma entrevista
exclusiva com o chefe da Misso do Brasil junto ONU e Ministro das
Relaes Exteriores entre 2011 e 2013, Antonio Patriota. Na entrevista, ele
fala sobre temas como a atuao do Brasil em misses de paz, o futuro
da Minustah, os desafios do trabalho na Comisso para a Consolidao
da Paz na sua Configurao Especfica para a Guin-Bissau e a Agenda
de Desenvolvimento para o ano de 2030.
A abertura do Ir ao mercado internacional, aps o levantamento
das sanes financeiras e econmicas internacionais impostas ao pas,
traz oportunidades no comrcio internacional. O histrico dos embates
envolvendo o programa nuclear iraniano, as posies da comunidade
internacional e do Brasil na ONU, assim como os interesses brasileiros ao
longo desse processo so sintetizados pela professora Cristine Koehler
Zanella na seo Bate-Bola.
Entre os artigos escolhidos, temos uma discusso sobre o estatuto
da Economia Poltica Internacional e as influncias de Adam Smith, David
Ricardo, Georg Friederich List e Keynes sobre essa disciplina, alm de
uma anlise do processo de integrao da Amrica do Sul, de Geisel ao
primeiro mandato de Dilma Rousseff.
No Crivo do Casares, o professor e especialista na poltica externa
brasileira Guilherme Casares fala das tenses nas relaes entre Brasil
e Israel. J em Professor Sapientia Comenta, a professora e doutora em
Geografia Regina Araujo e a gegrafa Carolina Figueiredo discutem os
impactos da nova fronteira de energia hidreltrica no Brasil: a Amaznia.
Temos ainda uma entrevista com o Diretor do Conselho Geral da
Organizao Mundial do Comrcio, Victor do Prado, sobre o trabalho na
OMC. Leitura obrigatria para o postulante carreira de diplomata que
pensa em trabalhar com questes internacionais do comrcio.
Boa leitura!
Equipe Revista Sapientia
Sapientia Aedificat
ADVERTNCIA
A Revista Sapientia uma publicao do Curso Sapientia, preparatrio para o
Concurso de Admisso Carreira de Diplomata. Seu contedo tem cunho estritamente
acadmico e no guarda nenhuma relao oficial com o Ministrio das Relaes
Exteriores ou quaisquer outros rgos do governo. Tampouco as opinies dos
entrevistados e autores dos artigos publicados expressam ou espelham as opinies
da instituio Sapientia. Esta revista imparcial poltica e ideologicamente e procurar
sempre democratizar as discusses, ouvindo diferentes opinies sobre um mesmo
tema. Nosso maior objetivo fomentar o debate, salutar democracia e construo
do conhecimento e da sabedoria dos candidatos Carreira de Diplomata.
A marca Sapientia patenteada. permitida a reproduo das matrias e
dos artigos, desde que previamente autorizada por escrito pela Direo da Revista
Sapientia,com crdito da fonte.
Direo Geral
Priscila Canto Dantas do Amaral Zillo
Coordenadora e Editora-Chefe
Ana Paula S. Lima
Reviso
Claudia Simionato
Colaboradores
Fabola Ortiz
JP Lima
Edio de Arte
FMattei Propaganda
Agradecimentos
Allan Martins Rosa
lvaro Alves de Moura Jnior
Ana Elisa Pupo-Netto
Antonio de Aguiar Patriota
Bruno Falsarella
Carolina Figueiredo
Cristine Koehler Zanella
Diogo Ives
Guilherme Casares
Ivo Yonamine
Joaquim Carlos Racy
Laura Gonalves
Leonardo Rocha Bento
Mait Marchandt Rabelo
Moniky Toscano
Poliana Souto
Rogrio Eisinger
Thiago Flix de Lima
Victor do Prado
www.revistasapientia.com.br
3
CAPA
MARO, ABRIL E MAIO
DE 2016
35 CRIVO DO CASARES
39 ESPAO ABERTO
47 BATE-BOLA
06 ENTREVISTA DE CAPA
14 PROFESSOR SAPIENTIA
51 SOBRE DIPLOMACIA
DIPLOMACIA NA OMC
55 INICIATIVAS SAPIENTIA
56 SAPIENTIA INDICA
AGENDA DE EVENTOS
57 CHARGE
ENTREVISTA
ANTONIO
DE AGUIAR
PATRIOTA
POR FABOLA ORTIZ
O Brasil no
uma potncia em
emergncia,
uma potncia j
estabelecida. E isso
se nota nas Naes
Unidas
1
Em 26 de janeiro de 2016, o Conselho de Segurana da ONU estendeu por mais um ano o mandato do Gabinete Integrado da ONU para a Consolidao da
Paz na Guin-Bissau (UNIOGBIS). O escritrio vai apoiar os esforos de reconciliao e dilogos nacionais no pas. Fonte: Rdio ONU, disponvel no link http://
goo.gl/BBEQQg (ltima visualizao em 28/02/16)
2
Antes disso, em 1947, o Brasil enviou observadores para um comit precursor de misses de paz, criado pela AGNU para monitorar a situao de tenso
na fronteira entre Grcia e Albnia. O comit foi composto por representantes dos onze pases que poca eram membros do CSNU, incluindo o Brasil. Em
operaes de paz, a primeira participao brasileira se deu com o envio do Batalho de Suez UNEF.
3
O Secretrio-Geral da ONU, Ban Ki-Moon, trabalha com os pilares desenvolvimento, direitos humanos e paz e segurana. Mais informaes: http://www.un.org/
sg/speeches/reports/67/report-introduction.shtml
4
O Captulo 7 da Carta das Naes Unidas autoriza sanes e, inclusive, o uso da fora e se refere a: Aes relativas aos tratados de paz, rupturas da paz e
atos de agresso. O Captulo 7 estabelece que, antes de iniciar alguma ao, o Conselho de Segurana deve pedir s partes envolvidas para que adotem as
medidas necessrias. Muitas resolues contra o Iraque foram adotadas com base no Captulo 7 antes da invaso liderada pelos Estados Unidos, em 2003.
Ele tambm serviu de base para a ao armada dos Estados Unidos na Guerra da Coreia (1950-53) e para a primeira invaso das foras da coalizo ao Iraque,
em 1991.
10
7
Em 26 de agosto de 2014, aps quase dois meses de confrontos, Hamas e Israel aceitaram um acordo de trgua, pondo fim a 50 dias de guerra. Cerca de 2.230
pessoas morreram, 75% das vtimas fatais eram palestinas mais de 500 crianas, 250 mulheres e 95 idosos.
A nova espiral de violncia foi desencadeada, em julho daquele ano, aps o sequestro e homicdio de trs jovens judeus na Cisjordnia (um ataque que Israel
atribuiu ao Hamas, grupo islmico que controla a Faixa de Gaza), seguido da morte de um jovem palestino queimado em Jerusalm por extremistas judeus. A
partir da, tiveram incio os lanamentos de foguetes do Hamas e os bombardeios de Israel.
11
alguma.
No combate ao terrorismo, que tem essas
duas dimenses, no justificamos nenhum ato
terrorista como aceitvel, mas defendemos a
anlise da causa e a identificao das queixas
mais e menos legtimas. O combate a esse
fenmeno envolveu estratgias que foram
contraproducentes, pois, em vez de conter o
fenmeno, alastram-no. A interveno na Lbia,
em vez de ajudar a resolver o problema, criou
um mais grave no entorno.
Precisamos hoje em dia de uma anlise
que no fuja autocrtica desses equvocos
para que haja um maior consenso internacional
sobre o que fazer. Esse extremismo do Estado
Islmico brutal, sanguinrio, desumano e
contrrio civilizao pode ser um elemento
unificador da comunidade internacional.
Ningum pode, em s conscincia, defender
uma coisa dessas.
Se olharmos para a histria de alguns
movimentos que recorreram a tticas de
guerrilha ou assemelhados de terrorismo,
notamos que eles queriam o reconhecimento
da legitimidade da sua causa. E uma vez
atendidas as suas reivindicaes, passaram a
cooperar com a ordem estabelecida. O CNA
(Congresso Nacional Africano), na frica do
Sul durante o apartheid, teve um perodo que
recorreu luta armada e depois se tornou uma
fora poltica.
Revista Sapientia: O mundo adotou a nova
Agenda de Desenvolvimento ps-2015 em
evoluo s Metas do Milnio. Quais so as
perspectivas do Brasil para o xito da nova
agenda chamada 2030?
Antonio Patriota: O Brasil est na origem de
todo o processo que levou adoo da Agenda
2030, com a Conferncia do Rio em 2012 8. Na
poca, no foi considerada pela imprensa como
um grande xito. Mas agora, mais de trs anos
transcorridos, a Rio+20 deve ser considerada
uma mudana de paradigma histrico.
O Brasil liderou a Rio+20. O pas exerceu
um papel de liderana naquele momento para
finalizar a sesso e introduzir um consenso.
O rascunho do documento final tinha 40% do
texto que no estava acordado quando iniciou a
Conferncia. Em cinco dias de trabalho, fechamos
8
A Conferncia das Naes Unidas sobre Desenvolvimento Sustentvel, a Rio+20, marcou os vinte anos de realizao da Conferncia da ONU sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92) e contribuiu para definir a Agenda do Desenvolvimento Sustentvel para as prximas dcadas. Entre os temas principais
da Rio+20, a economia verde no contexto do desenvolvimento sustentvel e da erradicao da pobreza foi um dos destaques.
12
9
Em setembro de 2015, os ODS foram criados por ocasio da Cpula das Naes Unidas para o Desenvolvimento Sustentvel, em Nova York. Tendo-se iniciado,
em 2013, a elaborao dos ODS, os novos objetivos devero orientar as polticas nacionais e as atividades de cooperao internacional nos prximos quinze
anos, atualizando os Objetivos de Desenvolvimento do Milnio (ODM).
O Brasil participou de todas as sesses da negociao intergovernamental. Chegou-se a um acordo que contempla 17 Objetivos e 169 metas, envolvendo
temticas diversificadas como: erradicao da pobreza, segurana alimentar e agricultura, sade, educao, igualdade de gnero, reduo das desigualdades,
energia, gua e saneamento, padres sustentveis de produo e de consumo, mudana do clima, cidades sustentveis, proteo e uso sustentvel dos oceanos
e dos ecossistemas terrestres, crescimento econmico inclusivo, infraestrutura e industrializao, governana, e meios de implementao.
10
A campanha Eles Por Elas um movimento mundial a favor da igualdade de gnero.
11
O Conselho de Direitos Humanos foi o rgo criado em 2006 pelos Estados-membros para substituir a Comisso de Direitos Humanos da ONU e reforar a
promoo e a proteo dos direitos humanos no mundo inteiro. parte do corpo de apoio Assembleia Geral da ONU e est baseado em Genebra,
13
1. INTRODUO
O bioma amaznico, internacionalmente
reconhecido pelos seus recursos naturais,
dispe de mais de 60% do potencial hidreltrico
ainda remanescente no Brasil. Como resultado,
essa nova fronteira eltrica do pas tem sido o
cenrio de um intenso ciclo de obras de mega
usinas hidreltricas nos ltimos anos. So
aproximadamente 40 grandes hidroeltricas
(UHEs) planejadas na regio, das quais 23 j
foram mapeadas e aprovadas. Dentre essas,
destaca-se o maior projeto de energia eltrica
do Brasil, a Usina Hidreltrica de Belo Monte, no
Par, que entra em operao em maro deste ano,
alm das Usinas de Jirau, Santo Antnio e So Lus
do Tapajs, esta ltima em fase de licenciamento.
A regio Amaznica, tomada como nova
fronteira energtica do Brasil, considerada como
uma fonte promissora para o desenvolvimento
de uma matriz energtica mais competitiva e
sustentvel. O desafio, contudo, repousa em como
expandir essa fronteira de maneira harmoniosa
com o meio ambiente, evitando e mitigando
os impactos socioambientais e, sobretudo,
conciliando o crescimento econmico, a incluso
social e o desenvolvimento sustentvel retrica
da diplomacia brasileira.
Diante de metas nacionais ambiciosas com
as quais o Brasil recentemente se comprometeu
perante a comunidade internacional como o
14
1
Bermann, C.; Fearnside. P. M.; Rey, O.; Baitelo, R.; Kishinami, R.; Millikan, B.; Moreira, P. F. O Setor Eltrico Brasileiro e a Sustentabilidade no Sculo 21:
Oportunidades e Desa!os / Ed. Paula Franco Moreira - Braslia: Rios Internacionais- Brasil, 2012
15
OS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS
O centro do debate acerca dos planos de
expanso e construo de usinas hidreltricas
na Amaznia, no entanto, alm de colocar em
questo a necessidade da diminuio da demanda
em detrimento do aumento da oferta energtica,
indica profundas contradies na retrica proferida
sobre o alcance do chamado desenvolvimento
sustentvel. Os inmeros impactos sociais e
ambientais associados s mega obras revelam
as incongruncias na busca para se atingir uma
matriz sustentvel a qualquer custo, ainda que
tais medidas impliquem a deteriorao do meio
ambiente e conflitos sociais.
A listagem dos diversos impactos sociais
incidentes direta ou indiretamente sobre as
comunidades e a populao local no exaustiva,
e muitos so os efeitos cumulativos e sinrgicos
decorrentes de tais impactos. Dessa forma, este
artigo apresenta apenas um breve panorama
daqueles mais recorrentemente avaliados e
apontados por diversos estudos, a saber: o
intenso fluxo migratrio em direo s cidades
prximas aos canteiros de obras e s chamadas
company towns cidades empresas planejadas
para acomodar funcionrios durante o processo
de implantao dos projetos , o agravamento da
violncia urbana, a intensificao do crescimento
urbano desordenado e irregular e o deslocamento
forado de comunidades tradicionais.
A construo das Usinas Hidreltricas de
Belo Monte (PA) e Jirau (PA), por exemplo, tem
desencadeado o maior xodo migratrio dos
ltimos anos at o presente momento. A previso
do contingente de mo de obra utilizada na fase de
obras de Belo Monte de quase 28 mil operrios,
sendo a maioria alocada na cidade de Altamira,
localizada a 800 quilmetros ao Sul de Belm,
enquanto para Jirau, foram alojados 25 mil operrios
em meio Floresta Amaznica. Indiretamente,
tamanha onda migratria ocasiona significativa
presso sobre os equipamentos de infraestrutura
pblica bsica dos municpios amaznicos
anfitries j carentes da estrutura bsica, como:
sade, educao, saneamento bsico, lazer, entre
outros.
Ademais, o processo de implantao de
grandes obras no Brasil tem replicado um modelo
de urbanizao irregular e desigual, por meio da
instalao das company towns ou, como dito,
cidades empresas. Esses novos espaos artificias
urbanos so erguidos pelo capital privado,
contando com toda a infraestrutura necessria
(gua, esgotamento sanitrio, energia eltrica) para
3
Como no longa-metragem, Jaci Sete Pecados de Uma Obra Amaznica, (Reprter Brasil, 2015), que ilustra o drama vivido por comunidades pesqueiras
afetadas pelo fluxo migratrio de trabalhadores para construo da Usina Jirau, como a prostituio, a precarizao do trabalho e a violncia generalizada.
17
Bruno Falsarella
Colaborador do Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento Econmico e Poltica Econmica da PUC-SP
Laura Gonalves
Analista de Comrcio Exterior da Federao das Indstrias do Estado de So Paulo (FIESP). Colaboradora do Grupo
de Pesquisa em Desenvolvimento Econmico e Poltica Econmica da PUC-SP
INTRODUO
O artigo parte de uma discusso introdutria
sobre o estatuto da Economia Poltica Internacional.
Em seguida so apresentados os posicionamentos
de autores clssicos da economia Smith,
Ricardo, List e Keynes , de forma a ressaltar suas
influncias sobre essa disciplina e a importncia
a ela atribuda. So examinados tambm possveis
encaminhamentos.
A ECONOMIA POLTICA INTERNACIONAL:
UM MTODO DE ANLISE OU A EXPRESSO
DE IDEOLOGIAS?
A Economia Poltica Internacional (EPI),
enquanto mtodo de sistematizao dos problemas
internacionais, tem origem no incio da dcada
de 1970. Os responsveis por isso so Charles
Kindleberger, em primeiro lugar, seguido de Robert
Gilpin e Susan Strange. H, ainda, uma interessante
contribuio dos cientistas polticos Joseph Nye e
Robert Keohane.
Tendo como base a crise que resultou no fim do
Sistema Bretton Woods, Kindleberger (1970) observa
que a realidade internacional, pautada por relaes
entre naes deixadas deriva em funo da
retomada das teorias de livre-comrcio, empurrava o
mundo para uma situao de completa instabilidade,
gerando condies muito semelhantes quelas
vividas na Grande Depresso. A estabilidade do
sistema exigia a figura de um hegmona.
Keohane e Nye chamaram essa concepo de
1
O artigo foi publicado originalmente em Nova Economia vol.25 no.1 Belo Horizonte jan./abr. 2015, disponvel on-line no link http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0103-63512015000100035, e editado para a Revista Sapientia.
19
24
DAVID
RICARDO
E
O
COMRCIO
INTERNACIONAL COMO REPRESENTAO
DO MUNDO
A importncia de David Ricardo (1772-1823)
para a Economia Poltica grande. Alm de
solucionar algumas incongruncias tericas de
Smith no que tange teoria do valor, ele contribuiu
para a elaborao de uma teoria mais consistente
de comrcio internacional, que passou a ser
amplamente difundida pelos defensores do processo
de liberalizao econmica, bem como rebatida por
seus crticos.
A poca em que Ricardo viveu foi marcada
pelos avanos tecnolgicos e pelas mudanas
sociais que culminaram na Primeira Revoluo
Industrial, inaugurando uma nova fase do capitalismo
ingls, marcado no apenas pelo desenvolvimento
da economia local, como pela ampliao da misria
e da mortalidade entre classes trabalhadoras.
Ideologicamente, Ricardo foi fortemente
influenciado pela Revoluo Francesa, cujos ideais
eram tidos como essenciais para a nova disposio
da vida social que passou a vigorar na Europa.
Tais princpios, calcados no liberalismo poltico,
compunham um dos pilares das perspectivas tericas
que formam os princpios da livre-concorrncia.
Baseando-se nessas proposies, Ricardo
tornou-se um dos principais defensores do
liberalismo econmico.
Uma das principais contribuies tericas de
Ricardo, que particularmente guarda relao com
o presente artigo, est associada ao debate sobre a
Lei dos Cereais, de 1815, que serviu de base para
a elaborao de sua principal obra Princpios de
Economia Poltica e Tributao, publicada em 1817.
Contrrio Lei dos Cereais, que visava
proteger os produtores domsticos de cereais da
concorrncia externa, Ricardo argumentou que tal
prtica contribua para que os lucros dos capitalistas
fossem deprimidos, o que levaria diminuio do
nvel de acumulao de capital e, por conseguinte,
afetaria negativamente o crescimento da economia.
Nesse sentido, o autor defendia enfaticamente
25
26
A traduo literal de Volsfreund aus Schwaben Amigo do povo da Subia, o que demonstra explicitamente o carter protecionista do pensamento de List.
Unio aduaneira criada por iniciativa da Prssia em 1834, com o objetivo de implantar uma zona de livre-comrcio entre os Estados membros, favorecendo a
unio poltica alem em 1871.
4
Nome abreviado do Report on the Subject of Manufactures, apresentado ao Congresso Americano em 5 de dezembro de 1791 pelo ento secretrio do
Tesouro americano Alexander Hamilton, que recomendava polticas econmicas para estimular a economia da nova repblica e assegurar a independncia
americana.
5
Srie de doze cartas em que List busca esclarecer aos leitores seu ponto de vista sobre a teoria econmica.
2
3
27
30
31
Pode-se atribuir ao conflito secular entre a glria da Alemanha e a da Frana, mencionado pelo autor, a Guerra Franco-Germnica no final do sculo XIX.
32
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
DENIS, H. Histria do Pensamento Econmico. Lisboa: Livros Horizonte, 2000.
FUSFELD, D. R. A era do economista. So Paulo: Saraiva, 2001.
GILPIN, Robert. A Economia Poltica das Relaes Internacionais. Braslia: Editora Universidade de Braslia, 2002.
GILPIN, Robert. Global Political Economy: understanting the international economic order. New Jersey: Princeton
University Press, 2001.
GONALVES, R. Economia Poltica Internacional. Rio de Janeiro: Campus, 2005.
HUME, David. Da origem e progresso das artes e cincias. Hume: vida e obra. So Paulo: Nova Cultural, 1999.
KEOHANE, Robert O; NYE, Joseph S. Power and Interdependence. 2nd edition, Cambridge, Mass: Harper Collins
Publishers, 1989.
KEYNES, John M. As consequncias econmicas da paz. So Paulo: Imprensa Oficial do Estado de So Paulo;
Editora Universidade de Braslia, 2002.
KEYNES, John M. Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora Fundo de Cultura,
1970.
KINDLEBERGER, Charles P. Power and money. The Economics of International Politics and the Politics of International
Economics. New York/London: Basic Books Inc. Publishers, 1970.
LIST, Georg. Sistema Nacional de Economia Poltica. So Paulo: Abril Cultural, 1983 (Os Economistas).
LOCKE, John. Ensaio acerca do entendimento humano. So Paulo: Abril Cultural, 1978 (Os Pensadores).
MOGGRIDGE, Donald Edward. Maynard Keynes: an economists biography. London/New York: Routledge, 1992.
MORGENTHAU, Hans J. A poltica entre as naes. Braslia: Editora Universidade de Braslia; Imprensa Oficial do
Estado de So Paulo; Instituto de Pesquisa de Relaes Internacionais, 2003.
NAPOLEONI, C. Smith, Ricardo, Marx. Rio de Janeiro: Edies Graal, 1991.
NYE, Joseph. Understanding International Conflicts: an introduction to theory and history. New York: Longman, 1997.
RACY, J. C.; KABARDZINSKY, J. S.; LAUNAY, M. M. Breve introduo Teoria de Relaes Internacionais para
estudantes da. Economia Poltica Internacional 3 Semana Nacional da Cincia e Tecnologia da Universidade
Presbiteriana Mackenzie, v. 1, n 1, 2011, So Paulo.
RICARDO, David. Princpios de Economia Poltica e Tributao. So Paulo: Nova Cultura, 1996.
SMITH, Adam. Investigao sobre a riqueza das naes. So Paulo: Nova Cultural, 1996.
SMITH, Adam. Investigao sobre a natureza e as causas da riqueza das naes. So Paulo: Abril Cultural, 1978
(Os Pensadores).
STRANGE, Susan. Paths to International Political Economy. New York: Routledge, 1984.
STRANGE, Susan. States, firms and diplomacy. In: FRIEDEN, JEFFRY A.; LAKE, DAVID, A., 3th. edition. International
Political Economy: perspectives on global power and wealth New York: St. Martins Press, pp. 183-199, 1997.
34
CRIVO DO CASAROES
1
Uma verso anterior deste texto foi publicada, em 3 de janeiro de 2016, no site do Ncleo de Estudos e Anlises Internacionais (NEAI): http://neai-unesp.org/
brasil-israel-a-fabricacao-de-uma-crise-por-guilherme-casaroes/
35
Imagem: Reproduo/Twitter
O primeiro ministro Benjamin Netanyahu anunciou a nomeaco de
Dani Dayan em seu twitter
36
Ver, na edio 20 da Revista Sapientia, meu artigo Quem tem medo do ano diplomtico?.
Reda Mansour (de gravata vermelha) serviu como embaixador israelense no Brasil at dezembro de 2015.
3
Brasil reconhece Estado Palestino em O Estado de S. Paulo, 03/12/10 http://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,brasil-reconhece-estadopalestino,649028
4
Peaceful Nonreconciliantion now em The New York Times, 08/06/14 http://www.nytimes.com/2014/06/09/opinion/peaceful-nonreconciliation-now.html?_r=0
5
Veto a embaixador expe dependncia da Defesa com Israel, diz Amorim em Folha de S. Paulo, 25/12/15 http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2015/12/1722979veto-a-embaixador-expoe-dependencia-da-defesa-com-israel-diz-amorim.shtml
37
38
ESPACO ABERTO:
39
NEOLIBERALISMO E INTERDEPENDNCIA
ASSIMTRICA
Nos anos 1990, a poltica externa brasileira
passou por uma nova mudana estrutural em
relao ao que vinha sendo implantado desde Geisel
(SENNES, 2003). A matriz inaugurada pelo governo
Collor (1990-1992) assumiu a adoo de medidas
neoliberais como paradigma de desenvolvimento
e a insero na globalizao como o objetivo
externo principal. Apostava-se que o receiturio
do Consenso de Washington seria capaz de tirar o
Brasil da crise econmica que persistia e que um
vnculo maior com a potncia vencedora da Guerra
Fria traria benefcios polticos ao Brasil. Diminuir os
atritos com os Estados Unidos aparecia agora como
uma postura mais atraente.
Governados por George Bush, os Estados
Unidos mantiveram presses sobre a Amrica
Latina para a liberalizao dos seus mercados
internos. Embora consolidado como a maior
potncia militar no ps-Guerra Fria, o pas
enfrentava uma concorrncia econmica maior por
parte de europeus e japoneses. Recuperar e abrir
as economias latino-americanas s suas empresas
foi identificado como um caminho para se ganhar
vantagem nesse contexto. O Plano Brady, a Iniciativa
para as Amricas e o NAFTA foram aes polticas
propostas por Bush nesse sentido.
Essa presso alterou a forma como o Brasil
encarava a aproximao com a sua vizinhana.
O eixo regional continuou tendo uma grande
importncia, porm no mais com vistas formao
de um espao autnomo. A integrao era agora
tratada como um meio para o Brasil colocar-se como
42
CONSIDERAES FINAIS
O movimento de aproximao entre o Brasil
e a sua vizinhana lanado no governo Geisel foi
mantido ao longo dos quarenta anos seguintes,
porm a motivao para a integrao passou por
uma breve reinterpretao durante os governos
Collor e FHC I. Nestes dois momentos, um
entusiasmo em relao ao modelo liberal de
desenvolvimento e ao protagonismo dos Estados
Unidos no sistema internacional gerou uma
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. O Brasil e a Amrica do Sul. In: OLIVEIRA, Henrique Altamani & LESSA, Antnio
Carlos. Relaes Internacionais do Brasil: temas e agenda. Volume 1. Editora Saraiva, 2006.
BARRETO, Fernando. Os sucessores do Baro: relaes exteriores do Brasil. Paz e Terra, 2001.
CANANI, Ney. Poltica externa no governo Itamar Franco (1992-1994): continuidade e renovao de paradigma nos
anos 90. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004.
CERVO, Amado & BUENO, Clodoaldo. Histria da poltica exterior do Brasil. Braslia: UnB, 2011.
CERVO, Amado & LESSA, Carlos. O declnio: insero internacional do Brasil (20112014). Rev. Bras. Polt. Int. 57
(2): pp. 133-151, 2014.
CORREA, Luis Felipe Seixas. A poltica externa de Jos Sarney. In: ALBUQUERQUE, Jos Augusto Guilhon (org.).
Sessenta Anos de Poltica Externa Brasileira (1930-1990). 1996.
COUTO, Leandro. Relaes Brasil-Amrica do Sul: a construo inacabada de parceria com o entorno estratgico.
In: LESSA, Antnio Carlos & OLIVEIRA, Henrique Altamani. Parcerias estratgicas do Brasil. Belo Horizonte: Fino
Trao, 2013.
ELIBIO JR., Antnio Manoel. De Vargas e Geisel: as estratgias da poltica externa brasileira para a criao do
Tratado de Cooperao Amaznica TCA (1940-1978). Cadernos do Tempo Presente, edio n 10, dezembro de
2012.
GONALVES, Williams; MIYAMOTO, Shiguenoli. Os militares na poltica externa brasileira. Estudos Histricos, Rio
de Janeiro, vol. 6, n 12, 1993.
HERMAN, Charles. Changing course: when governments choose to redirect foreign policy. International Studies
Quarterly, vol. 34, n 1, 1990.
PEREIRA, Analcia Danilevicz. Relaes exteriores do Brasil III (1964-1990): do regime militar nova repblica.
Petrpolis: Vozes, 2010.
SARAIVA, Miriam Gomes. Balano da poltica externa de Dilma Rousseff: perspectivas futuras? Lisboa: Relaes
Internacionais, n 44, 2014.
SENNES, Ricardo. As mudanas da poltica externa brasileira nos anos 80: uma potncia mdia recm industrializada.
Porto Alegre: Ed. da UFRGS, 2003
SILVA, Andr Luiz Reis da. As relaes entre o Brasil e os Estados Unidos durante o regime militar (1964-1985). Porto
Alegre: Cincias e Letras, n 37, 2005.
_________. Do otimismo liberal globalizao assimtrica: a poltica externa do governo Fernando Henrique
Cardoso (1995-2002). Curitiba: Juru, 2009.
_________. Geometria varivel e parcerias estratgicas: a diplomacia multidimensional do governo Lula (20032010). Contexto Internacional, Rio de Janeiro, vol. 37, n 1, janeiro/abril 2015, p. 143-184.
SOUTO MAIOR, Luiz Augusto. O Pragmatismo Responsvel. In: ALBUQUERQUE, Jos Augusto Guilhon (org.).
Sessenta Anos de Poltica Externa Brasileira (1930-1990). 1996.
VIGEVANI, Tullo; CEPALUNI, Gabriel. A poltica externa de Lula da Silva: a estratgia da autonomia pela
diversificao. Contexto internacional, 2007.
VIZENTINI, Paulo Fagundes. A poltica externa do regime militar brasileiro: multilateralizao, desenvolvimento e
construo de uma potncia mdia, 1964- 1985. Porto Alegre: UFRGS, 1998.
________. Relaes internacionais do Brasil: de Vargas a Lula. So Paulo: Editora Perseu Abramo, 2008.
46
BATE-BOLA:
Foto: Divulgao
Cristine Koehler Zanella
50
SOBRE DIPLOMACIA:
DIPLOMACIA NA OMC
Por Ana Paula S. Lima
O Conselheiro Victor do Prado faz parte dos
10% dos diplomatas brasileiros que no fazem
carreira dentro do Itamaraty. Aprovado em um
concurso na Organizao Mundial do Comrcio
(OMC) em 2002, Prado exerce atualmente o
cargo de Diretor do Conselho Geral.
Composto pelos representantes dos 162
Estados-membros da OMC, o Conselho Geral se
rene mensalmente, ora como rgo de Soluo
de Controvrsias (OSC), ora como rgo de
Reviso de Poltica Comercial ou como rgo
executivo da OMC. No contexto da Organizao
das Naes Unidas, seria equivalente
Assembleia Geral. Ao Conselho cabe a tomada
de decises relativas organizao.
Como Diretor do Conselho, o diplomata
responsvel tambm pela organizao das
Conferncias Ministeriais da OMC, que so
realizadas a cada dois anos.
A trajetria de Victor do Prado em Genebra
vem de longa data. So 18 anos de OMC em dois
momentos distintos: um no incio dos anos 1990 e
outro a partir do comeo dos anos 2000.
Antes do cargo atual, o diplomata foi chefe de
gabinete do ex-Diretor Geral Pascal Lamy (20052012), consultor da Diviso de Regras e secretrio
do Comit de Subsdios. Nesta entrevista, o
Diretor do Conselho fala sobre o trabalho na
Organizao e sobre os desafios impostos
diplomacia pelas rpidas transformaes no
regime internacional do comrcio.
Revista Sapientia: Diplomatas normalmente ficam
lotados em um posto no exterior at quatro anos, e
o senhor est na OMC h 14 anos. Poderia contar
Revista sobre a sua experincia profissional antes do
ingresso na OMC?
Victor do Prado: Entrei no Instituto Rio Branco
(IRBr) em 1988, na turma de 1988-1989, e comecei
a trabalhar na rea econmica desde o comeo da
carreira, em 1990. No final de 1993, fui removido
para a delegao do Brasil em Genebra, onde
permaneci at 1997, perodo que coincide com
o final da Rodada Uruguai. Em 1997, voltei para
Braslia, o que, em si, algo inabitual. Pelo menos
Victor do Prado
Foto: WTO
X Conferncia Ministerial da OMC em Nairbi: a concluso de um acordo demanda intenso trabalho de negociao dos representantes dos
Estados membros da Organizao.
54
INICIATIVAS SAPIENTIA:
01
03
02
Papo Sapiente especial, ao vivo, on-line e
gratuito, com Claudia Simionato:
Desvendando a segunda fase do CACD
No dia 29 de maro, s 20h, a Professora
Claudia Simionato conversa com os candidatos
em um Papo Sapiente especial Desvendando
a segunda fase do CACD.
Nessa oportunidade, a professora de
Portugus comenta os erros mais corriqueiros
dos alunos, as mudanas realizadas pela
banca nos ltimos anos e d dicas de
preparao para essa fase do concurso.
O bate-papo ser on-line, ao vivo e gratuito,
mas as vagas sero limitadas. Inscries
sero abertas no dia 21 de maro, no site do
Sapientia.
04
Programa Trs Perguntas
Toda semana, a TV Sapientia publica um
vdeo de cerca de trs minutos sobre um tema
relacionado ao CACD. Vale a pena conferir,
curtir, comentar e compartilhar.
PriscilaZillo.com
Vem novidade por a, aguarde!
Chamada de Artigos:
A seo Espao Aberto uma rea destinada colaborao de mestrandos, doutorandos e postulantes
carreira de diplomata. Se voc estuda ou se interessa por algum dos temas que costumam ser
cobrados pelo CACD, envie a sua sugesto de artigo para [email protected].
55
SAPIENTIA INDICA:
AGENDA DE EVENTOS
MARO E ABRIL DE 2016
Braslia
Varnhagen (1816-2016): diplomacia e pensamento
estratgicoa
O CACD adora efemrides. E a gente tambm. Por conta
do bicentenrio do nascimento do diplomata Francisco
Adolfo de Varnhagen, a Fundao Alexandre de Gusmo
(FUNAG), o Instituto Rio Branco (IRBr) e o Instituto
Histrico e Geogrfico Brasileiro (IHGB) realizam um
seminrio sobre este que considerado um dos patronos
da historiografia brasileira.
Quando: 31 de maro de 2016, s 15h
Onde: Na sede do IRBr - Setor de Administrao
Federal Sul, Quadra 5 - Lotes 2/3
Mais informaes: http://www.funag.gov.br/
A diplomacia presidencial no Brasil
O tema embasa seminrio de abertura do ano letivo de 2016
no Instituto de Relaes Internacionais da Universidade
de Braslia (IREL/UnB) e aborda questes como as
perspectivas histrias e atuais das relaes internacionais
do presidencialismo brasileiro. Ao final do seminrio, os
professores da UnB Joo Paulo M. Peixoto e Eiiti Sato, e
o diplomata e professor da UNICEUB Paulo Roberto de
Almeida lanam o livro Presidencialismo no Brasil: histria,
organizao e funcionamento
Quando: 15 de maro de 2016, s 14h
Onde: Auditrio do Edifcio IREL/UnB
Mais informaes: http://irel.unb.br/2016/02/04/adiplomacia-presidencial-no-brasil/
CHARGE:
JP LIMA
57