Aracas Do Genero Psidium Principais Especies, Ocorrencia, Descricao e Usos PDF

ISSN 1517 - 5111
ISSN online 2176-5081

Julho, 2009
266
Cerrados
CGPE 8345
Aras do Gnero Psidium:

principais espcies,
ocorrncia, descrio e usos
ISSN 1517-5111
ISSN online 2176-5081
Julho, 2009
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria
Embrapa Cerrados
Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento
Documentos 266
principais espcies,
ocorrncia, descrio e
usos
Rodrigo Cezar Franzon
Letcia Zenbia de Oliveira Campos
Carolyn Elinore Barnes Proena
Jos Carlos Sousa-Silva
Embrapa Cerrados
Planaltina, DF
2009
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Jussara Flores de Oliveira Arbus
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Impresso e acabamento: Divino Batista de Sousa
Alexandre Moreira Veloso
1a edio
1a impresso (2009): tiragem 100 exemplares
Edio online (2009)
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constitui violao dos direitos autorais (Lei no 9.610).
Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)
Embrapa Cerrados
A65
Aras do gnero Psidium: principais espcies, ocorrncias, descrio

e usos/ Rodrigo Cezar Franzon... [et al.]. Planaltina, DF : Embrapa
Cerrados, 2009.
48 p. (Documentos / Embrapa Cerrados, ISSN 1517-5111, ISSN
online 2176-5081 ; 266).
1. Fruta tropical. 2. Ara. I. Franzon, Rodrigo Cezar.
II. Srie.
634.6 - CDD 21
Embrapa 2009
Autores

Engenheiro Agrnomo, D.Sc.
Pesquisador da Embrapa Cerrados
[email protected]
Biloga
Aluna do Curso de Ps-graduao em Botnica
[email protected]
Engenheira Agrnoma, Ph.D.
Professora do Departamento de Botnica
[email protected]
Bilogo, Ph.D.
Pesquisador da Embrapa Cerrados
[email protected]
Apresentao
O Cerrado o segundo bioma brasileiro em extenso, faz fronteiras

com praticamente todos os outros biomas, com exceo dos Campos
do Sul, e a savana de maior diversidade vegetal do mundo.
A construo de Braslia impulsionou o desenvolvimento no bioma,
trazendo progresso em todos os sentidos, porm, devido ao pouco
critrio em termos de planejamento, cerca de 40 % da rea foi
devastada em razo do uso tanto para fins agropecurios quanto
urbanos. A realidade da ocupao, portanto, alterou drasticamente
a biodiversidade, tendo, como consequncia negativa, a diminuio
dos recursos genticos nativos. Dentro dessa biodiversidade, muitas
espcies com potenciais econmicos eram e ainda so parcamente
exploradas, onde prevalece o extrativismo, muitas vezes sem um plano
de manejo adequado.
A reverso desse cenrio depende de atitudes que colaborem para a
preservao e conservao da biodiversidade restante do Cerrado.
Dentro desse quadro, o conhecimento sobre a caracterizao e a
dinmica de funcionamento do bioma deve ser estimulado, em termos
de pesquisa e ensino, para funcionar como suporte existncia do
mesmo.
A flora do Cerrado apresenta uma grande riqueza de espcies com
potencialidades madeireira, forrageira, ornamental, medicinal e
alimentar. Dentro dessa ltima, a variabilidade de recursos grande no

que concerne s opes de espcies e seus usos, na maioria das vezes,
baseados no conhecimento popular.
O aproveitamento alimentar de espcies do Cerrado tem, no grupo
das mirtceas, um grande nmero de plantas que so e que podem
ser aproveitadas de maneira mais eficiente, tanto pela populao local
assim como de outros biomas brasileiros. Nessa situao, encontramse os araazeiros do gnero Psidium, que so bastante consumidos
in natura ou na forma de produtos processados artesanalmente, mas
que ainda carecem de grande ateno no que tange domesticao e
cultivo dos mesmos.
Os objetivos maiores deste documento esto relacionados divulgao
das informaes relacionadas aos araazeiros at o momento, bem
como salientar aspectos relativos ao potencial de aproveitamento mais
eficiente de espcies do gnero Psidium, principalmente aquelas nativas
do Bioma Cerrado.
Jos Robson Bezerra Sereno

Chefe-Geral da Embrapa Cerrados
Sumrio
Introduo.................................................................................... 9
A Famlia Myrtaceae: gneros e espcies de importncia econmica.. 11
O gnero Psidium.................................................................... 13
Descrio das principais espcies de Psidium (L.) que ocorrem no
Cerrado...................................................................................... 20
Informaes sobre a biologia reprodutiva, polinizao e disperso de
sementes................................................................................... 24
Etnobotnica, Usos e Importncia do Gnero Psidium...................... 26
Formas e Alternativas de Aproveitamento....................................... 30
Recursos Genticos e Melhoramento............................................. 31
Caracterizao de germoplasma.................................................... 34
Propagao e Manejo . ................................................................ 38
Consideraes Finais................................................................... 40
Referncias ............................................................................... 41
Abstract..................................................................................... 48

principais espcies,
ocorrncia, descrio e
usos
Introduo
O Brasil um dos principais centros de diversidade gentica do
mundo, onde se destacam os biomas Floresta Amaznica, Caatinga,
Pantanal, Mata Atlntica, Campos do Sul e Cerrado. O Bioma Cerrado
considerado a savana de maior diversidade vegetal do mundo, ocorre
entre 3 e 22 de latitude Sul e 39 e 65 de longitude Oeste. A maior
parte de seus quase 2 milhes de quilmetros quadrados est localizada
no Planalto Central do Brasil, abrangendo os estados do Mato Grosso,
Mato Grosso do Sul, Rondnia, Gois, Tocantins, Maranho, Piau,
Bahia, Minas Gerais, So Paulo e o Distrito Federal (SILVA et al., 2008).
O avano da fronteira agrcola no Cerrado coloca-o na condio de
bioma mais vulnervel do Pas. Do total desse bioma, que ocupa
aproximadamente 22 % do territrio nacional, cerca de 40 % j foi
devastado em funo do desenvolvimento agrcola, principalmente para
o estabelecimento de pastagens artificiais e monocultivo de gros. Esse
desmatamento desenfreado de grandes reas de Cerrado trouxe grande
ameaa para os recursos genticos existentes na regio (GOEDERT,
2007). Cabe ressaltar que, alm da expanso agropecuria, o crescimento
urbano, principalmente das grandes cidades, acentuou a transformao
da regio do Cerrado, bem como nas outras regies do Pas.
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Aras do Gnero Psidium: principais espcies, ocorrncia, descrio e usos
No Bioma Cerrado, j foram registradas mais de 12 mil espcies de

plantas vasculares, das quais vrias possuem utilizao regional e
muitas se enquadram em mais de um tipo. De maneira geral, as plantas
nativas do Cerrado possuem utilidades importantes para a propriedade
rural, e vrias espcies destacam-se pela importncia alimentar,
medicinal, madeireira, tintorial, ornamental, corticeira, melfera, alm de
outros usos (ALMEIDA, 1998; AQUINO; OLIVEIRA, 2006).
No caso das fruteiras nativas do Cerrado, alm de constituirem
importante fonte de alimentos para os animais, frutos como pequi,
cagaita, araticum, baru, jatob, mangaba, caju, jenipapo e buriti podem
ser consumidos e (ou) comercializados in natura ou sob diferentes
formas, como doces, geleias, bolos, pes, farinhas, biscoitos, sorvetes,
pudins, sucos, licores e tortas (AQUINO; OLIVEIRA, 2006). Atualmente,
so mais de 58 espcies de frutas nativas conhecidas e utilizadas pela
populao tradicional que vive no Cerrado, com as quais possvel
garantir a diversificao e o enriquecimento da alimentao humana
(AQUINO; OLIVEIRA, 2006). Entretanto, o seu uso restringe-se, ainda,
ao usurio local, e de forma essencialmente extrativista (ALMEIDA et al.,
1998). Muitos frutos nativos, embora conhecidos, no so explorados e
devem merecer maior ateno por parte da pesquisa, principalmente em
razo da presso antrpica na regio (GOEDERT, 2007).
Entre a grande diversidade de fruteiras nativas, destacam-se muitas
da famlia Myrtaceae, com ampla variabilidade. Nessa famlia,
est includo o gnero Psidium, ao qual pertencem os araazeiros,
tambm chamados de aras, que apresentam ampla distribuio no
territrio brasileiro, bem como em outras partes do mundo. Como
araazeiros so conhecidas as espcies de Psidium produtoras de
frutos comestveis, com variaes regionais no que se refere ao nome
popular. Das espcies de Psidium produtoras de frutos comestveis,
as que merecem maior destaque, atualmente, so P. cattleyanum e
P. guineense (MANICA, 2000; BEZERRA et al., 2006), principalmente
pelas caractersticas de seus frutos, como o sabor extico, alto teor
de vitamina C e boa aceitao pelos consumidores. Entretanto, vrias

outras espcies desse gnero merecem ateno por parte da pesquisa,
com potencial para explorao.
Alm do potencial para serem utilizadas para a produo de frutas,
tanto para consumo in natura quanto para a agroindstria, algumas
espcies nativas tambm vm despertando a ateno da indstria
farmacutica. Muitas espcies produzem frutas que so ricas em
vitaminas e substncias antioxidantes, entre outras, assim como
leos essenciais podem ser extrados das folhas e de outras partes da
planta. Assim, essas espcies, hoje desconhecidas por grande parte do
mercado consumidor, podem, no mdio e longo prazo, constiturem-se
em espcies de importncia comercial, principalmente para o pequeno
produtor rural. Ao mesmo tempo, podero trazer benefcios para os
consumidores, atravs da diversificao da dieta com base em frutas.
Desse modo, h um grande campo com potencial a ser explorado para
a insero de novas espcies em sistemas produtivos. Alm disso, o
uso de espcies nativas pode ser uma alternativa para a explorao
sustentada nas diversas regies do Pas.
A Famlia Myrtaceae: gneros e

espcies de importncia econmica
A famlia das mirtceas uma das maiores famlias botnicas,
agrupando mais de 3 mil espcies em aproximadamente 140 gneros
(BEARDSELL et al., 1993; LANDRUM; KAWASAKI, 1997; WILSON
et al., 2001), e est distribuda por todo o mundo, principalmente em
pases de clima tropical e subtropical (MANICA, 2002). Mesmo com
a ocorrncia do maior nmero de espcies de grande valor comercial
nessas regies, algumas espcies dessa famlia tambm ocorrem em
regies de clima temperado. Muitas mirtceas apresentam um elevado
valor econmico, como o eucalipto (Eucalyptus spp.), utilizado na
produo de madeira e na produo de aromatizantes, e a goiabeira
(Psidium guajava), fruteira nacionalmente apreciada pelas caractersticas
de seus frutos, que so consumidos in natura ou industrializados.
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Existem muitas outras mirtceas nativas da flora brasileira que, assim

como a goiabeira, tambm produzem frutos comestveis. Porm, poucas
espcies so exploradas em escala comercial e, quando exploradas,
a produo pequena e limitada a determinadas regies, como o
caso da pitangueira (Eugenia uniflora L.) (BEZERRA et al., 2000), das
jabuticabeiras (Plinia spp.) e do camu-camu (Myrciaria dubia) (DONADIO
et al., 2002), da feijoa (Acca sellowiana) (DUCROQUET et al., 2000) e
do araazeiro (Psidium cattleyanum Sabine) (RASEIRA; RASEIRA, 1996).
Entre todos os gneros da famlia Myrtaceae que englobam fruteiras,
atualmente apenas quatro gneros (Eugenia, Acca, Myrciaria e Psidium)
tm importncia econmica (MANICA, 2002). O gnero Eugenia, com
cerca de mil espcies, um dos maiores da famlia e est distribudo,
principalmente, nas Amricas Central e do Sul (MERWE et al., 2005),
ocorrendo desde o Mxico e Caribe at o Norte da Argentina, com
aproximadamente 350 espcies no Brasil (LANDRUM; KAWASAKI,
1997). Nesse gnero, destaca-se como principal espcie a E. uniflora
L., conhecida popularmente como pitangueira. Outras espcies que
so conhecidas e (ou) cultivadas no mundo so: E. brasiliensis Lam.,
E. pyriformis Cambess, E. jambolana Lam. e E. involucrata DC.
conhecidas, respectivamente, como grumixama, uvalheira, jambolo e
cerejeira-do-rio-grande (MANICA, 2002). Alm dessas, outras espcies
que merecem destaque nesse gnero so E. stipitata Mc Vaugh.,
conhecida popularmente como ara-boi, e a E. dysenterica Mart. ex
DC., conhecida como cagaita ou cagaiteira. O ara-boi originrio
da regio Amaznica, enquanto a cagaiteira est distribuda de forma
nativa em uma regio bastante ampla, ocorrendo principalmente nas
regies de Cerrado do Centro Oeste, Sudeste, Norte e Nordeste, nos
estados da Bahia, Gois, Maranho, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul,
Minas Gerais, Par, Piau, So Paulo, Tocantins e no Distrito Federal
(ALMEIDA et al., 1998; DONADIO et al., 2002).
No gnero Myrciaria, esto as jabuticabeiras, com mais de uma dezena
de espcies nativas do Centro-sul/Sudeste brasileiro, e o camu-camu
(M. dubia HBK Mc Vaugh), nativo na regio Noroeste da Amaznia

brasileira, no Peru, na Venezuela e na Colmbia (DONADIO et al.,
2002). Porm, embora muitos autores ainda incluam as jabuticabeiras
nesse gnero, Sobral (1985) descreve-as no gnero Plinia.
No gnero Acca, destaca-se como principal espcie a A. sellowiana
(Berg) Burret, anteriormente identificada como Feijoa sellowiana Berg,
conhecida como feijoa ou goiabeira-serrana, nativa da Amrica do Sul,
mais precisamente do Planalto Meridional brasileiro (DUCROQUET
et al., 2000; DONADIO et al., 2002; MANICA, 2002).
No gnero Psidium, esto agrupadas cerca de 100 espcies (LANDRUM;
KAWASAKI, 1997). A goiabeira (P. guajava L.) destaca-se por ser a
espcie de maior interesse econmico. Atualmente, outras espcies de
interesse dentro desse gnero so P. cattleyanum Sabine e P. guineense
Swartz (MANICA, 2000; BEZERRA et al., 2006), ambas conhecidas
popularmente como ara ou araazeiro. O nome ara vem do tupi
arasa, ou do guarani ara (cu), e aza (olho), que significa fruta com
olhos ou olhos do cu (DONADIO et al., 2002; SILVA JNIOR, 2005).
O gnero Psidium
Em sua distribuio nativa, o gnero Psidium Neotropical, ocorrendo
do Sul do Mxico at a provncia de Buenos Aires, na Argentina,
incluindo ainda o Oeste das ndias (Ilhas do Caribe) e dois arquiplagos
no Pacfico, o de Galpagos e as Ilhas Revillagigedo (LANDRUM;
KAWASAKI, 1997; SOARES-SILVA; PROENA, 2008). Existem trs
centros aparentes de diversidade para o gnero Psidium: Oeste das
ndias, particularmente nas ilhas de Cuba e Hispaniola; Sul do Brasil e
Paraguai; e norte da Amrica do Sul, incluindo o Peru, Venezuela e as
Guianas. Essas trs reas apresentam uma ampla classe de habitats,
e esse grande nmero de espcies presentes parece ser resultado do
sucesso adaptativo (SOARES-SILVA; PROENA, 2008).
Esse gnero se caracteriza por apresentar: folhas simples e opostas,
com tpica venao broquiddroma, e flores solitrias, axilares ou em
pequenos racemos, dicsio ou botriides; alm disso, as flores so
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pentmeras e os botes maduros variam de 4 mm a 15 mm; o clice

possui morfologia varivel, oscilando de cupuliforme at caliptrato
e, raramente, apendiculado; as ptalas so livres e alternadas, de
cor branca ou creme; h muitos estames, variando de 60 at 320,
arranjados em 3 a 12 verticilos; ovrio nfero, com 2 a 5 lculos e
alguns a muitos vulos por lculos, com placentao intrusiva; frutos
com muitas sementes; sementes com testa ssea e embrio coclear
com cotildones apicais (SOARES-SILVA; PROENA, 2008).
No gnero Psidium, encontram-se cerca de 100 espcies (LANDRUM;
KAWASAKI, 1997), entre as quais a mais importante a goiabeira
(P. guajava). Existem, ainda, vrias outras espcies desse gnero que
so produtoras de frutos comestveis, madeireiras e ornamentais, as
quais apresentam potencial para explorao comercial (BEZERRA et
al., 2006). Entre essas espcies, merecem destaque os araazeiros,
principalmente pelas caractersticas de seus frutos, com sabor extico,
elevado teor de vitamina C (RASEIRA; RASEIRA, 1996) e boa aceitao
pelos consumidores (MANICA et al., 2000), tanto in natura quanto na
forma processada, como doces, geleias e sucos.
Atualmente, as espcies de araazeiro que despertam maior interesse
para explorao comercial so P. cattleyanum Sabine e P. guineense
Swartz (BEZERRA et al., 2006), principalmente pelas caractersticas
de seus frutos, muito apreciados pelas populaes locais onde essas
espcies ocorrem na forma nativa, sendo que ambas esto presentes
nos diferentes ecossistemas.
P. cattleyanum originrio do Sul do Brasil e est distribuda desde o
Rio Grande do Sul at a Bahia, bem como em outros pases da Amrica
do Sul. Ocorre na floresta latifoliada semidecdua, matas ciliares, matas
de altitude e tambm nas restingas do Sul do Brasil (BRANDO et al.,
2002). Seus frutos so considerados os melhores entre as espcies de
araazeiro conhecidas (BEZERRA et al., 2006). Essa espcie tambm
foi introduzida em outras partes do mundo, como, por exemplo, no
Hawaii, onde se tornou um problema (HUENNEKE; VITOESEK, 1990;

WIKLER et al., 2000; WIKLER, 2000). Nessa regio, foi introduzida
por volta de 1825 em pequenos cultivos e rapidamente se disseminou
por todo o territrio, sendo considerada uma planta daninha de grande
importncia nas Ilhas do Hawaii (WIKLER et al., 2000).
P. guineense originrio da Amrica do Sul e apresenta uma ampla
rea de distribuio, que vai desde o Sul do Mxico at ao Norte da
Argentina, ocorrendo nas restingas, tabuleiros, cerrades e capoeiras
(BRANDO et al., 2002). Na regio do Brasil Central, ocorre nos
Estados de Gois, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Tocantins, bem
como no Distrito Federal (BEZERRA et al., 2006).
Na Regio Sul do Brasil, encontram-se vrias espcies nativas, entre
elas P. cattleyanum Sabine; P. incanescens Martins; P. grandifolium
Martins; P. arboreum Vell; e P. humile Vell., com as variedades
grandifolium e longipes (PIO CORREA, 1926). Outras espcies so
encontradas mais ao norte, principalmente em So Paulo e Minas
Gerais (RASEIRA; RASEIRA, 1996). De acordo com Mattos (1978),
so tambm encontradas no Sul do pas as espcies: P. cattleyanum
Sabine, popularmente chamado de araazeiro comum ou ara-decoroa; P. lucidum var. pauciflora Cambess, conhecido como ara-dapedra; P. lucidum Spreng; P. pubifolium Burr.; P. australe Cambess,
todas conhecidas como araazeiro-do-campo; e P. incanum Berg, o
ara-cinzento. No entanto, sempre existiram divergncias em relao a
algumas espcies, principalmente quanto aos aspectos de colorao de
frutos. Pio Correa (1926) cita P. cattleyanum como produtora de frutos
de epiderme amarela ou vermelha. Mattos (1978) cita essa mesma
espcie como produtora de frutos de epiderme amarela. Popenoe
(1920) refere-se a essa espcie como produtora de frutos vermelhos,
sendo a variedade botnica P. cattleyanum var. lucidum produtora
de frutos amarelos, a qual, segundo o mesmo autor, j foi citada por
outros como P. lucidum, P. chinense e P. sinense.
15
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Recentemente, uma nova espcie, P. araucanum Soares-Silva &

Proena, foi descrita como sendo endmica aos estados do Paran e
Sudoeste de So Paulo (SOARES-SILVA; PROENA, 2008). Trata-se de
uma rvore de at 15 m de altura, que ocorre prxima a pequenos rios
em altitudes de 700 m a 800 m nas florestas de araucria da Bacia do
Rio Tibagi, de forma isolada ou em grupos de poucos indivduos. At o
momento, essa espcie somente foi encontrada em uma rea de
4.400 m2, e altamente desmatada, o que a coloca em risco de
extino.
Na Regio Norte, entre as espcies de Psidium, destaca-se
P. acutangulum DC., uma espcie nativa da Bacia Amaznica, sendo
tambm encontrada nas Guianas e na Bacia do Rio Orinoco, bem como
em outros pases sul-americanos, como a Colmbia e Peru.
Essa espcie popularmente conhecida por vrios nomes comuns,
como ara-pra, goiaba-do-par, ara-pitanga, araandiva e
araanduba (DONADIO et al., 2002). Outras espcies de Psidium que
ocorrem no Norte do Brasil so relacionadas por Arago e Conceio
(2008), em estudo detalhado sobre florstica da famlia Myrtaceae
realizado no Maranho. Sabe-se que, por questes convencionais e
polticas, o estado do Maranho pertence regio Nordeste do Brasil,
mas, possui algumas caractersticas peculiares a regio Norte (RIOS,
2001). Nesse levantamento, destacam-se, no gnero Psidium, alm de
P. acutangulum D.C., a ocorrncia de P. guajava L; P. guianense Sw;
P. megalianum Camb; P. mutans O. Berg; P. myrsinites D.C;
P. myrsinoides O. Berg; P. ovatifolium Berg; e P. pohlianum O. Berg.
(ARAGO; CONCEIO, 2008).
Na Regio Centro-Oeste do Brasil (Fig. 1), alm de P. guineense,
destacam-se outras espcies, tais como: P. laruotteanum Cambess,
P. firmum O. Berg., P. myrsinites DC. e P. sartorianum, sendo que as
duas primeiras so muito apreciadas para consumo in natura (BEZERRA
et al., 2006). Outras espcies de Psidium tambm tm seus frutos
utilizados para consumo in natura, como P. acutangulum DC.,
P. australe Cambess., P. cinereum Mart. e P. longipetiolatum Legrand

(DEMATT, 1997; MANICA et al., 2000). Na Tabela 1, encontram-se
listadas as principais espcies que ocorrem na Regio Centro-Oeste do
Brasil, seu nome popular e reas de ocorrncia.
A
P. guineense
P. firmum
D
P. australe
P. laruotteanum
F
P. laruotteanum
G
P. riparium
C
P. rufum
P. riparium
I
P. myrsinites
Fig. 1. Fotos de espcies de aras nativos da regio Centro-oeste do Brasil.

(A) P. guineense; (B) P. firmum; (C) P. rufum; (D) P. australe; (E e F) P. laruottenaum;
(G e H) P. riparium; (I) P. myrsinites.
Fotos: Carolyn Elinore Barnes Proena (A, C, D, E e F); Marcelo P. Kuhlmann (B); Maria
Rosa Zanata (G e H); Manoel Cludio da Silva Jnior (I).
17
18
Nome cientfico
Nome popular
Distribuio geogrfica
P. guineense Swartz
Ara, ara-comum, ara-verdadeiro, araazedo, ara-mirim
Sul do Mxico ao Norte da Argentina e Brasil
P. sartorianum (O. Berg) Nied.
Ara, pelada, pichiche, guayabillo
Mxico, Amrica Central, Cuba, Norte da Amrica do Sul, Brasil (MG, DF,
GO, SP)
P. bergianum (Nied.) Burret
Goiaba-do-campo
Brasil (Cerrado de MG, DF e GO, e CE)
P. cinereum Mart. ex DC.
Ara-fumaa, ara-cinzento, ara-do-campo,

ara-felpudo
Brasil (MG, SP, SC, RS, GO, DF e MS)
P. firmum O. Berg
Ara, ara-rasteiro
Brasil (MG, GO, DF)
P. rufum DC.
Ara-cago, ara-perinha
Brasil (litoral da BA ao RJ, MG e DF)
P. australe Cambess
Ara-do-campo, ara-azedo
Bacias do Rio Uruguai e Paran (PR, SC, RS, DF, GO, MG, Norte da
Argentina e Paraguai)
P. luridum (Spreng) Burret
Ara, ara-da-pedra, ara-do-campo
Brasil (MG, PR, SC, RS), Paraguai, Uruguai e Argentina
P. salutare (Kunth) O. Berg
Ara, guayabo arrayan, managu

(Republica Dominicana), guayabita (Cuba)
Mxico a Venezuela, Brasil (GO, DF). Ampla distribuio na Amrica do

Sul
P. basanthum O. Berg
Brasil (SP, MG, DF)
P. hians (Mart.)
Ara-da-caatinga
Brasil (TO, GO)
P. nigrum Mattos e Legrand
--
Brasil (MT)
Continua...
Tabela 1. Principais espcies do gnero Psidium na Regio Centro-Oeste do Brasil, seus nomes populares e reas de
ocorrncia.
Tabela 1. Continuao.
Nome popular
Distribuio geogrfica
P. laruotteanum Cambess
Ara-cascudo
Brasil (MG, DF, SP, MS, RS, BA)
P. kennedyanum Morong
Goiabinha
Brasil (MS, PR), Argentina e Paraguai
P. myrsinites DC.
Ara-bravo, ara-de-veado, ara-liso
Brasil (CE, BA, TO, GO, DF, MG, MA, PI)
P. striatulum DC.
--
Brasil (Amaznia e MT), Guyana
P. maranhense O. Berg
--
Brasil (GO)
P. riparium Mart. ex DC.
Goiaba-da-praia, ara-da-mata
Brasil (PA, TO, GO)
P. canum Mattos
Ara-da-mata
Brasil (DF, GO)
P. lourteigii D. Legrand
--
Brasil (GO)
P. macedoi E. Kausel
--
Brasil (GO endmico de Niquelndia)
P. turbinatum Mattos
--
Brasil (GO)
P. myrsinoides
Ara
Brasil (DF, BA, TO, GO, MG, MS e MT)
P. pohlianum
Ara
Brasil (DF, BA, TO, GO, MG, MS e MT)
Fonte: adaptada de Bezerra et al., 2006.
Nome cientfico
19
20
Descrio das principais espcies de Psidium (L.) que

ocorrem no Cerrado1
P. firmum: arbusto hermafrodita medindo at 1 m, glabra, cujo
nome popular ara ou goiabinha. Folhas opostas, simples, curtopecioladas, s vezes com diminutas pontuaes translcidas; limbo
com 3 cm a 12 cm x 1,3 cm a 6,4 cm, oval a elptico, pergaminoso
a coriceo; pice abrupto-acuminado, mucronado, ou mais raramente
agudo a obtuso; de base arredondada a obtusa; nervura mediana
plana ana face ventral; nervuras de secundrias a tercirias igualmente
elevadas nas duas faces, um tanto ascendentes e formando duas
nervuras marginais paralelas margem, levemente sinuosas,
distando cerca de 2 mm uma da outra; pecolo com 1mm a 7 mm
de comprimento. Inflorescncia racemo ou dicsio com at 5 flores
ou flores axilares isoladas. Flores com aproximadamente 1,2 cm de
comprimento, bracteoladas, curto a longo-pediceladas; clice com
cinco spalas triangulares; cinco ptalas livres, alvas, obovais; estames
em torno de 200 a 300; filetes filiformes; anteras rimosas, ovais;
ovrio nfero, infundibuliforme, 3 a 5 lculos; cerca de 50 a 75 vulos
por lculo em placentas extrusivas; um estilete filiforme; um estigma
capitado. O fruto uma baga com cerca de 1 cm a 3 cm de dimetro,
verde-amarelado quando madura, globosa, coroada pelo clice
persistente; epicarpo membranceo, brilhante; mesocarpo e endocarpo
carnoso e tecido placental suculento; sementes 5 a 50, de
2 mm a 3 mm, cremes, irregulares a reniformes; testa ssea.
Habitat e distribuio: ocorre no Cerrado e em Campo sujo, no Distrito
Federal e nos estados da Bahia, Gois e Minas Gerais, sendo que a
densidade dessa espcie muito baixa.
Fenologia: a florao ocorre entre agosto e setembro e a frutificao
entre outubro e dezembro.
Usos: um planta melfera e fornece fruto comestvel e saboroso. As
folhas so adstringentes e na medicina popular so utilizadas sob a
forma de ch para combater a diarria.
1
Descrio de acordo com Almeida et al. (1998).
P. myrsinoides2: seu nome popular ara. Apresenta-se na forma

de rvore, sem exudao ao se destacar a folha. Copa com ramos e
gemas terminais glabros. Troncos com at 21 cm de dimetro; ritidoma
acinzentado ou castanho, liso, com depresses de placas irregulares
que se desprendem do tronco; folhas simples, opostas, cruzadas,
elpticas, de 6 cm a 16 cm de comprimento e 3 cm a 8 cm de
largura; pices agudos e bases agudas, margens inteiras e levemente
onduladas; nervao broquiddroma, nervura central saliente em
ambas as faces, atenua-se em direo ao pice; e nervuras secundrias
planas ou levemente salientes na face superior; pecolos de at 1 cm
de comprimento, sem estpulas; folhas coriceas; discolores, mais
claras na face inferior, glabras; glndulas laminares visveis em alguns
indivduos exalam odor agradvel ao se amassarem as folhas. Flores de
at 2 cm de dimetro, com cinco ptalas livres, de cor branca. Frutos
de at 2 cm de comprimento, piriformes, coroados com as spalas
remanescentes, como nas goiabas. Sementes esferoides, com testa
ssea de cor creme, muitas por fruto.
Habitat e distribuio: ocorre no cerrado sentido restrito, comum no
cerrado rupestrre e em reas de encostas, no Distrito Federal e nos
estados da Bahia, Gois, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas
Gerais, e Tocantins.
Fenologia e reproduo: espcie decdua; folhao entre agosto e
setembro; florao entre novembro e dezembro; polinizao por
abelhas; frutificao entre novembro e fevereiro.
Usos: os frutos servem de alimentao para a fauna e tambm
so utilizados pelo homem, para consumo in natura e na forma de
iguarias regionais como doces e geleias. A espcie tem potencial
para o paisagismo, principalmente pela linda folhagem, e til para
a recuperao de reas degradadas, por atrair aves dispersoras de
sementes de outras espcies e da prpria espcie.
Descrio de acordo com Silva Jnior (2005).
21
22
Etimologia: Psidium originrio da palavra psdion, que significa

morder, em referncia ao sabor agradvel dos frutos, ou nome grego da
planta. Myrsinoides: com folhas que se assemelham s de Myrsine.
P. pohlianum3: seu nome popular ara. Apresenta-se na forma
de rvore, sem exudao ao se destacar a folha. Copa com ramos
terminais castanhos e gemas com plos ferrugneos. Troncos com
at 23 cm de dimetro; ritidoma com fissuras e cristas sinuosas e
descontnuas e veios castanhos. Folhas simples, opostas, cruzadas ou
verticiladas nos ramos jovens, com trs folhas por verticilo, ovadas,
oblongas ou elpticas, 6 cm a 16 cm de comprimento e de 3 cm a
8 cm de largura; pices agudos e bases obtusas; margens inteiras
e onduladas; nervao broquiddroma, nervura central saliente em
ambas as faces atenuas-se em direo ao pice, nervuras secundrias
levemente sulcadas na face superior; pecolos de at 0,5 cm de
comprimento, com pilosidade ferrugnea, sem estpulas; folhas
coriceas, discolores, brilhantes na face superior e mais claras e opacas
na face inferior; pilosas em ambas as faces quando jovens, com pelos
ferrugneos na face inferior quando adultas, com glndulas laminares
que exalam odor agradvel ao se amassarem as folhas; normalmente
apresentam galhas globosas avermelhadas. Flores de at 2 cm de
dimetro, com cinco ptalas livres, de cor branca. Frutos de at
3 cm de dimetro, globosos, carnosos, amarelados quando maduros.
Sementes esferoides, com testa ssea, de cor creme, muitas por fruto.
Habitat e distribuio: ocorre no Cerrado sentido restrito, do Distrito
Federal e nos estados da Bahia, Gois, Mato Grosso, Mato Grosso
do Sul, Minas Gerais e Tocantins. Populaes mdias de uma a trs
rvoresha-1 em 10 ha de Cerrado sentido restrito amostrados no
Distrito Federal.
Fenologia e reproduo: rvore decdua; folhao entre agosto e
setembro; florao entre novembro e dezembro; polinizao por
abelhas; frutificao entre novembro e fevereiro; disperso por animais.
Descrio de acordo com Silva Jnior (2005).
Usos: potencial para o paisagismo e recuperao de reas degradadas.

Serve de alimento para muitas espcies de animais, e para o homem na
forma de doces e geleias.
Etimologia: Psidium originrio da palavra psdion, que significa
morder, em referncia ao sabor agradvel dos frutos, ou nome grego da
planta. Pohlianum em homenagem ao botnico austraco Pohl.
Outras espcies de Psidium que merecem destaque so:
P. bergianum: arbusto de Cerrado, formando touceirinha de ramos
que nascem da base. Apresenta flores brancas e produz frutos
carnosos e redondos, de aor amarelo-claro, com vrias sementes
duras. Est distribudo no Distrito Federal e nos estados de Gois,
Minas Gerais e Cear (PROENA et al., 2006).
P. laruotteanum: arvoreta de Cerrado, cujo nome popular ara ou
ara-do-campo. Apresenta flores brancas e produz frutos carnosos,
redondos, amarelo-canrio, com vrias sementes duras, que so
usados na alimentao humana. Sua distribuio ocorre no Distrito
Federal e nos estados da Bahia, Gois, Mato grosso e So Paulo
(PROENA et al., 2006).
P. cinereum: nome popular goiabinha, goiaba-do-campo, ara
fumaa ou ara-do-campo. Apresenta-se na forma de subarbusto de
50 cm a 60 cm de altura, com muitos ramos. As folhas, utilizadas
como antidiarreicas, so ovaladas, de pice pontudo e base em
forma de cunha, com haste curta; rgidas, com a face superior
verde-brilhante e a inferior recoberta por pelos esbranquiados. As
flores so brancas, ocorrendo em grupos de 2 a 6 no ngulo das
folhas. O fruto, comestvel, carnoso, alongado, provido de muitas
sementes, no se abrindo quando maduro, e utilizado na confeco
de geleias, refrescos e sorvetes. A florao se d entre agosto e
setembro; e a frutificao, entre setembro e outubro. A espcie
ameaada pela destruio macia dos Cerrados para implantao de
reas agropastoris (VILA, 2003).
23
24
Informaes sobre a biologia reprodutiva, polinizao e

disperso de sementes
So raros os estudos tratando sobre biologia reprodutiva de espcies
nativas da famlia Myrtaceae, especialmente as do gnero Psidium.
Existem alguns trabalhos sobre o mecanismo reprodutivo de espcies
dessa famlia em diferentes regies, destacando-se o de Proena e
Gibbs (1994), que estudaram oito espcies de mirtceas na regio
Central do Brasil, incluindo P. firmum; e o de Maus e Couturier (2002),
que estudaram o camu-camu (M. dubia), na Amaznia paraense.
Em P. firmum, Proena e Gibbs (1994) estudaram sobre a biologia
reprodutiva e avaliaram a fenologia do florescimento, a biologia floral
e polinizao, e o sistema reprodutivo. Essa espcie floresce entre
agosto e setembro, e a frutificao ocorre entre outubro e dezembro.
P. firmum completamente autocompatvel, e apresenta estratgia de
florescimento denominada steady-state, ou seja, com produo de
poucas flores a cada dia durante um longo perodo de tempo. A flor
apresenta em torno de 20 mm de dimetro, entre 200 a 300 estames,
entre 150 a 300 vulos, e a antese ocorre por volta das 6h e 6h30,
sendo a polinizao realizada por abelhas.
A espcie P. cattleyanum, em condies naturais no Sul do pas,
floresce de outubro a novembro. Porm, quando em cultivo, foram
observadas duas pocas principais de florescimento e, por vezes, uma
terceira (RASEIRA; RASEIRA, 1996). A primeira ocorre entre o final de
setembro e outubro; a segunda, em dezembro; e a terceira florao, em
maro. No entanto, com a chegada do inverno nessa regio, no ocorre
amadurecimento dos frutos nessa terceira florao. P. cattleyanum
apresenta flores brancas, hermafroditas, com numerosos estames,
e com ovrio nfero, em geral com trs a quatro lculos, geralmente
com mais de 100 vulos (SANCHOTENE, 1989), embora tenham
sido contados entre 76 e 200 vulos por flor em diferentes tipos de
araazeiros (P. cattleyanum) mantidos em coleo na Embrapa Clima
Temperado, Pelotas, RS (RASEIRA; RASEIRA, 1996). Os gros de
plen podem apresentar distintas formas: triangular, arredondada, oval

ou disforme, sendo que esses ltimos provavelmente no so viveis
(RASEIRA; RASEIRA, 1996). Nos frutos, foram encontradas entre
16 e 100 sementes (SANCHOTENE, 1989). Em testes de polinizao
realizados em quatro tipos de araazeiro (P. cattleyanum) na Embrapa
Clima Temperado (RASEIRA; RASEIRA, 1996), a percentagem de
frutificao obtida por autopolinizao sempre foi menor do que aquela
obtida por polinizao livre. No entanto, tambm ocorreu frutificao
quando as flores foram emasculadas e no foram polinizadas, o que
indica que ocorre formao de frutos sem fertilizao. Isso pode ser
explicado pela ocorrncia de partenocarpia ou apomixia, e, como
so formadas sementes nos frutos, a apomixia a explicao mais
provvel.
De modo geral, nas mirtceas brasileiras, a polinizao por abelhas,
com o plen como principal recurso, parece ser o sistema de
cruzamento predominante (LUGHADA; PROENA, 1996). De acordo
com esses autores, as ptalas e (ou) estames so os atrativos visuais
aos polinizadores em geral, porm os estames geralmente so as
estruturas mais notveis na flor aberta, envolvidos na atrao visual e
olfativa dos polinizadores (GRESSLER et al., 2006). Outro atrativo que
tambm tem papel importante na atrao de polinizadores o odor,
geralmente descrito como doce (LUGHADA; PROENA, 1996). Em P.
cinereum Mart. ex DC., espcie que ocorre no Cerrado, no Estado de
So Paulo, o forte odor adocicado exalado com o incio da liberao
do plen nas anteras (GRESLER et al., 2006). Entre as espcies do
gnero Psidium polinizadas por abelhas (Hymenoptera), so citadas
P. acutangulum, P. cattleyanum, P. cinereum, P. firmum e P. guajava
(GRESSLER et al., 2006).
O gnero Psidium est inserido no grupo Myrtoideae, o qual inclui
todos os gneros de espcies da famlia Myrtaceae que apresentam
frutos carnosos (LUGHADHA; PROENA, 1996), ou seja, frutos com
25
26
sementes envolvidos por polpa carnosa, rica em gua e carboidratos,

e pobre em protenas e lipdeos (LANDRUM; KAWASAKI, 1997).
Todas as espcies de mirtceas que ocorrem no Brasil produzem
frutos carnosos. O gnero Psidium produz muitas sementes por fruto,
e apresenta uma ampla variedade de dispersores (GRESSLER et al.,
2006). Nesse gnero, algumas espcies produzem frutos grandes, os
quais possuem vrias sementes pequenas, normalmente at 250. Para
essas espcies, os dispersores so as aves que, ao ingerirem parte da
polpa do fruto, ingerem tambm as sementes (GRESSLER et al., 2006).
Entre as espcies de Psidium com dispersores registrados na literatura
(GRESLER et al., 2006), so citados: P. acutangulum, disperso por
peixes; P. cattleyanum, disperso por aves, formigas, morcegos,
macacos e ungulados; P. fluviatile, por macacos; P. guajava, por aves,
mamferos carnvoros, morcegos, lagartos, macacos, marsupiais e
ungulados; P. guineense, P. laruotteanum e P. cinereum, dispersos
por mamferos carnvoros; e P. longipetiolatum, por macacos. Entre os
mamferos carnvoros dispersores de sementes de Psidium, os autores
citam o coati, duas espcies de cachorro-do-mato e o lobo-guar. Em
relao aos ungulados, so citados a anta e os veados.
Etnobotnica, Usos e Importncia

do Gnero Psidium
A etnobotnica uma disciplina-chave, uma vez que constitui uma
ponte entre o saber popular e o cientfico, estimulando o resgate do
conhecimento tradicional, a conservao dos recursos vegetais e o
desenvolvimento sustentvel, especialmente nos pases tropicais e
subtropicais, onde as populaes rurais dependem em parte das plantas
e seus produtos para sua subsistncia (HAMILTON et al., 2003).
Conforme j mencionado, o Bioma Cerrado possui inmeras espcies
de interesse econmico, como as plantas utilizadas como medicinais
e as frutferas, que geralmente so utilizadas pela populao como
fonte de alimento e no tratamento de muitas enfermidades (ALVES

et al., 2000). No entanto, com o crescimento populacional e a
demanda por mais alimentos, associados s condies edafoclimticas
favorveis, o Cerrado se tornou uma importante rea para atividades
agropecurias. O ritmo acelerado dessa ao antrpica, nas ltimas
dcadas, tem ocasionado a perda de material gentico vegetal nativo,
praticamente desconhecido cientificamente (VIEIRA; MARTINS, 2000).
Concomitante com a perda desse material gentico, ocorre tambm
uma perda excessiva do conhecimento popular. Diante disso, estudos
etnobotnicos so importantes por envolver um conjunto interdisciplinar
de aes que permitem a captao das diferentes relaes entre o
homem e as plantas, auxiliando no maior conhecimento da vegetao
e, consequentemente, aprimorando o seu uso sustentvel.
No Bioma Cerrado, a famlia Myrtaceae est representada por 211
espcies (MENDONA et al., 1998), constituindo-se na stima famlia
mais representativa desse bioma em nmero de espcies. O gnero
Psidium tem representantes em todos os biomas brasileiros, e 43 %
dos tipos so do Brasil (PROENA, 2009)4.
Entre as vrias utilizaes dos araazeiros, destacam-se o
aproveitamento dos frutos e da madeira, sendo tambm utilizadas a
casca, entrecasca e folhas na medicina popular. O aproveitamento dos
frutos pode trazer, num futuro no muito distante, a subsistncia de
comunidades tradicionais.
No entanto, catalogar os conhecimentos, usos e prticas das
sociedades tradicionais fundamental, pois elas so depositrias de
parte considervel do saber sobre a diversidade biolgica (DIEGUES;
ARRUDA, 2001). O registro dos usos que os vrios povos fazem dos
recursos vegetais contribui para o conhecimento da diversidade das
florestas tropicais (LIMA, 1996), podendo subsidiar trabalhos sobre uso
sustentvel dos recursos naturais (FONSECA-KRUEL; PEIXOTO, 2004).
Comunicao pesssoal.
27
28
Estudos recentes destacam a importncia de algumas espcies

conhecidas como araazeiros, sendo importante ressaltar que, em
tempos remotos, era possvel encontrar um nmero maior de indivduos
no bioma e, por conseguinte, uma maior quantidade de frutos. Essas
informaes so obtidas quando se entrevistam pessoas que moram em
regies em que a vegetao predominantemente de Cerrado e que, de
forma direta ou indireta, utilizam as plantas presentes nesse bioma.
Existem aproximadamente 13 espcies conhecidas como araazeiros
que ocorrem no Cerrado, sejam elas nativas ou introduzidas. O sabor
dos frutos dessas espcies pode variar de adocicado at amargo e,
quanto ao hbito, podem ser arbustos ou rvores que alcanam at
5 m de altura, ocupando tambm diferentes formaes vegetacionais
(Cerrado, Cerrado, Mata Seca, Mata de Galeria e tambm reas de
transio).
Em um breve estudo feito com pessoas que trabalham com plantas,
todas citaram o uso de P. guajava. Mesmo que essa espcie no seja
nativa do territrio brasileiro, bastante apreciada e tem um alto
valor comercial, seja para o aproveitamento dos frutos na fabricao
de doces, geleias, sucos e consumo in natura ou para a utilizao
das folhas no combate a problemas de natureza gastrintestinal. Das
espcies de araazeiros citadas frequentemente, destacam-se o
P. firmum, que uma nativa do Cerrado, e P. guineense, que de
ampla distribuio no territrio nacional, ambas utilizadas para o
consumo in natura dos frutos e aproveitamento da madeira para lenha.
Alm dessas, outras espcies so citadas na literatura (Tabela 2).
Um levantamento etnobotnico sobre o uso das espcies do gnero
Psidium em diferentes regies do pas tem sido realizado pela equipe da
Professora Dr. Carolyn E. B. Proena, do Departamento de Botnica
da Universidade de Braslia UnB. Resultados preliminares desse
levantamento entre pessoas do Distrito Federal revelam o grande
nmero de espcies e seu potencial de utilizao para as comunidades
detentoras do saber tradicional.
Tabela 2. Lista de espcies do gnero Psidium citadas em trabalhos de etnobotnica no Brasil.

Uso
Potencial e indicao de Uso
rea de
ocorrncia
(14)
Frutos
Alimentcio, medicinal
Fonte de vitamina C
PR, SC, RS, DF,

GO e MG
P. firmum
O. Berg.
Goiabinha-do-cerrado (1, 2)
Folhas
Medicinal
Cicatrizante (adstringente)
MG, GO e DF
P. grandifolium
Mart.
Ara-felpudo (15);
ara-do-campo (15, 16);
ara-fumaa (15)
Razes, casca, folhas

e frutos
Medicinal e
alimentcio; plantas
medicinais
Diarrias, cicatrizao de feridas, fabricao de doces

e sucos
P. guajava L.
Goiabeira (2, 3, 4, 5, 6, 7, 10, 11, 12, 14)
Folhas, broto e casca
Medicinal
Todo territrio
Diarreia, inflamao de garganta, leucorreia, ferimentos,
brasileiro
fgado, hemorridas e desordens menstruais, doces,
gelias e sucos
Folhas e Frutos
Medicinal e alimentcio Antiinflamatrio, fabricao de sorvetes, geleias
Todo territrio
brasileiro
Nome popular
P. australe
Cambess
Ara (14); ara-de-folha-marrom
P. guineense Sw.
Ara verdadeiro (10, 16); ara

azedo (10, 16)
MG, SP, SC, RS,

GO, DF e MS
P. laruotteanum
Cambess
Ara-cascudo (16)
Frutos
Econmico
Fabricao de doces
MG, DF, SP, MS,

RS e BA
P. myrsinites DC.
Ara-veado (14); ara-bravo (14);

ara-liso (14)
Frutos
Medicinal e alimentcio
Cicatrizao (adstringente), fabricao de geleias e

sucos
CE, BA, TO, GO,

MG, MA, PI e DF
P. rufum Mart.
Ara-roxo, (1)ara-cago (1)
Caule e frutos
Econmico e medicinal Utilizado em curtumes e tambm como laxante
BA, RJ e MG
P. sartorianum
(O. Berg.)
Araazinho (12, 13); goiabinha (12, 13);

Cambu (13); pelada (16)
Tronco
Econmico
Todo territrio
brasileiro
Artesanato feito a mo
Corra (1926); 2Rotman, (1976); 3Ribeiro (1996); 4Mors et al. (2000); 5Marodin e Batista (2001); 6Dorigoni et al. (2001); 7Brando et al. (2002);
Lorenzi e Matos (2002); 9Piva (2002); 10 Boscolo (2003); 11Guarin Neto e Morais (2003); 12 Rodrigues e Carvalho (2003); 13Pott e Pott (2003);
14
Coelho et al. (2004); 15Wille et al. (2004); 16Bezerra et al. (2006).
1
Parte da planta
utilizada
Espcie
29
30
Formas e Alternativas de
Aproveitamento
Alm da possibilidade de explorao para consumo dos frutos in natura,
essas espcies podem ser exploradas pela agroindstria para sucos
e para uso no fabrico de sorvetes, geleias, doces, licores e outros
produtos. De acordo com Bezerra et al. (2006), a fabricao de doces
e geleias, produzidos em pequenas unidades de base familiar, so a
principal forma de aproveitamento dos araazeiros nativos.
Alguns estudos vm testando o uso de espcies de Psidium nativos
para o processamento, como os estudos de Santos et al. (2007), que
caracterizaram o suco de ara vermelho (P. cattleyanum), extrado
mecanicamente ou tratado com enzimas. O suco de ara apresenta
valor nutricional considervel devido ao seu baixo teor de acar,
elevado teor de compostos fenlicos, vitaminas e sais minerais
(superior ao da ma), alm da preservao de 45 % do teor de
vitamina C. O suco tratado enzimaticamente apresentou rendimento
de 73 % e reduo da viscosidade, alm de preservar a composio
qumica e promover maior extrao de compostos fenlicos, resultando
em um produto final com aspectos sensoriais pronunciados. No foram
observadas mudanas visuais na colorao do suco de ara vermelho
durante o perodo de armazenamento em temperatura de refrigerao,
indicando que os sucos de ara apresentaram boa estabilidade frente
s condies de processamento e armazenamento estudados, o que
confirma o potencial tecnolgico dos frutos dessa espcie.
Algumas espcies nativas tambm vm despertando a ateno da
indstria farmacutica, pois as frutas so ricas em vitaminas e em
substncias antioxidantes, entre outras, como leos essenciais
que podem ser extrados das folhas e de outras partes da planta.
Recentemente, em pesquisa realizada na Universidade de Braslia
UnB, foi encontrada em uma espcie de araazeiro do Cerrado (Psidium
myrsinites), uma substncia usada na composio de perfumes, o
linalol (AMBIENTE BRASIL, 2009). Segundo os pesquisadores, essa
substncia est presente no leo essencial da planta e usada em
cosmticos e perfumes, para fixar a fragrncia na pele. O linalol

tambm pode ser extrado de outras plantas, como o manjerico e
o pau-rosa da Amaznia. Porm, a extrao do linalol do araazeiro
poderia ser uma alternativa, visando a uma explorao de forma
sustentvel, pois o mesmo extrado somente da folha, enquanto, no
pau-rosa, por exemplo, extrado do tronco da rvore, que demora 30
anos para crescer.
Alm desses, outras possibilidades de uso para espcies de Psidium
so conhecidas, como na recuperao de reas degradadas (BRANDO
et al., 2002), e como alternativa para superar os problemas causados
por nematoides em cultivos de goiabeira, onde espcies de Psidium
podem ser utilizadas como porta-enxertos. Danos severos em cultivos
comerciais de goiabeira (P. guajava L.) vm sendo causados pelo
nematoide Meloidogyne mayaguensis em alguns estados do Brasil.
Nesse sentido, estudos testando acessos de Psidium spp., selecionados
a partir de uma coleo mantida na Embrapa Clima Temperado,
em Pelotas RS, foram realizados (CARNEIRO et al., 2007).
Entre as espcies testadas, P. friedrichsthalianium foi considerado
moderadamente resistente, e trs acessos de P. cattleyanum foram
imunes a M. mayaguensis. Essas duas espcies de Psidium tambm
foram compatveis com a goiabeira cv. Paluma quando usados como
porta-enxertos, o que de fundamental importncia para viabilizar o
seu uso como alternativa no controle do nematide.
Recursos Genticos e Melhoramento

Com exceo da goiabeira (P. guajava), at o momento no existe
um programa de melhoramento gentico de espcies de Psidium
nativas. Alguns acessos de Psidium so encontrados em Bancos de
Germoplasma em diferentes regies brasileiras (SANTOS et al., 2008),
e duas colees de Psidium tambm so conhecidas: a da Embrapa
Clima Temperado, em Pelotas RS (RASEIRA; RASEIRA, 1996); e a
da Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuria (IPA), implantada
na Estao Experimental de Itapirema, em Goiana, PE (BEZERRA et al.,
2006).
31
A coleo da Embrapa Clima Temperado foi iniciada em 1986, e os

trabalhos de seleo de gentipos resultaram no lanamento das
nicas duas cultivares de araazeiro nativo, da espcie P. cattleyanum,
conhecidas at o momento, a Ya-cy e a Irapu. A primeira
produtora de frutos de pelcula amarela, enquanto a segunda produz
frutos de pelcula vermelha. Ambas foram selecionadas de plntulas
originados de coletas feitas em diferentes regies do estado. Essas
cultivares so plantadas em pomares comerciais no Rio Grande do Sul,
porm, em pequena escala (Fig. 2).
Fotos: Maria do Carmo B. Raseira
32
Fig. 2. Fotos de aras da espcie

P. cattleyanum, nativas da Regio
Sul do Brasil, mantidas no Banco
de Germoplasma da Embrapa Clima
Temperado, em Pelotas, RS.
A cultivar Ya-cy (RASEIRA; RASEIRA, 2000a), cujo nome significa

lua, em tupi-guarani, a me de todos os frutos, apresenta como
principais caractersticas: frutos de pelcula amarela, sabor doce e com
baixa acidez, e peso mdio dos frutos entre 15 e 20 g; pode atingir
produo de 4 kgplantaano-1, e at trs colheitas por ano (dezembro,
fevereiro a maro, abril a maio). J a cultivar Irapu (RASEIRA;
RASEIRA, 2000b) produtora de frutos de pelcula roxo-avermelhada,
de tamanho mdio a grande, e apresenta maior acidez no fruto e leve
adstringncia; a produtividade ao longo dos anos crescente, variando

de 3,4 a 14 kgplantaano-1 quando atinge a idade adulta; incio de
produo ocorre em fevereiro; mais indicada para o processamento,
especialmente doce em pasta.
Entre as espcies mantidas no Banco de Germoplasma de fruteiras
nativas do Sul do Brasil, na Embrapa Clima Temperado, o araazeiro
(P. cattleyanum) aquela que apresenta maior potencial para
aproveitamento imediato por parte dos produtores. Em avaliaes
realizadas na coleo de selees, observaram-se grandes diferenas
em relao produtividade, tamanho de fruto e teor de slidos solveis
totais (SST). Algumas selees iniciaram a produo aps um ano do
plantio, atingindo at 1,02 kg.planta-1 (FRANZON, 2004). No segundo
ano, a produtividade mdia por planta aumentou consideravelmente,
atingindo valores de at 2,9 kg.planta-1. Considerando-se uma
produtividade mdia de 2 kg.planta-1, e que as mesmas esto plantadas
em espaamento de 0,5 m entre plantas e 4 m entre filas, essa
espcie apresenta potencial para produzir, pelo menos, 10 ton.ha-1
j no segundo ano aps a implantao do pomar, nas condies em
que mantida a coleo. Como a espcie P. cattleyanum de fcil
adaptao, as selees tm grande potencial para serem testadas em
plantio comerciais nas diversas regies brasileiras, e novas cultivares
dessa espcie poderiam ser disponibilizadas aos produtores.
Em relao ao tamanho dos frutos, houve variaes entre 2,2 cm e
5 cm no dimetro mdio no primeiro ano de avaliao e, no segundo
ano, variou de 2,4 cm e 3,8 cm. O teor de SST variou entre 7,8 e
14,6 Brix no primeiro ano de avaliao, com vrias selees com
teores acima de 12,0 Brix, e entre 6,3 e 12,0 Brix no segundo ano,
com vrias selees com teores acima de 11,0 Brix.
A coleo do IPA foi implantada a partir de 1989, e conta com 108
acessos propagados por semente e mantidos a campo, sendo a grande
maioria (104) desse acessos proveniente da Ilha de Itamarac, PE, e os
33
34
outros quatro acessos so provenientes da Unesp-FCAV de Jaboticabal,

SP (BEZERRA et al., 2006). Os trabalhos de seleo massal realizados
no IPA resultaram na seleo de cinco gentipos promissores (IPA-6.4,
IPA-9.1, IPA-6.3. IPA-9.4 e IPA-16.2) (LEDERMAN et al., 1997), os
quais, segundo os autores, deveriam ser melhor estudados e testados
quanto possibilidade de cultivo.
Caracterizao de germoplasma
Associado aos trabalhos de seleo de clones e incio de melhoramento
gentico, faz-se necessria a caracterizao de germoplasma. Para
tanto, so necessrios descritores da espcie. Recentemente, a
caracterizao de germoplasma de Psidium foi realizada (SANTOS et
al., 2008) com base nos descritores utilizados para a caracterizao
da goiabeira (P. guajava) propostos pela Union for the Protection of
News Varieties of Plants (UPOV). Conforme utilizado pelos autores,
esses descritores (Tabela 3) podem ser utilizados ou adaptados para a
caracterizao de germoplasma de Psidium selvagens, especialmente
quando se pensa na coleta e introduo de gentipos em colees ou
bancos de germoplasma.
Tabela 3. Descritores para a caracterizao de germoplasma de Psidium,
baseados nos descritores utilizados para P. guajava propostos pela Union for
the Protection of New Varieties of Plants (UPOV).
Descritor
Descritor de brotaes
- Cor do caule
Classe
Verde
Verde-amarelado
Avermelhado
Descritores da folha jovem

- Colorao por antocianinas
- Intensidade da colorao por antocianinas
Ausente
Presente
Fraca
Mdia
Forte
Continua...
Descritor
- Pilosidade na parte inferior
Classe
Esparsa
Densa
Muito densa
Descritores da folha completamente desenvolvida

- Comprimento da lmina
- Largura da lmina
- Relao comprimento/largura da lmina
- Forma da folha
- Curvatura na seo transversal

- Toro da folha
- Curvatura do da nervura principal
- Grau de curvatura da nervura principal
- Variegao nas folhas
- Intensidade da cor verde nas folhas
- Espaamento das nervuras secundrias
- Relevo da superfcie da face superior da folha
Curta
Mdia
Longa
Estreita
Mdia
Larga
Baixa
Mdia
Alta
Redonda
Oval
Obovada
Esptulas
Esptula invertida
Oblonga
Fraca
Mdia
Alta
Ausente
Presente
Ausente
Presente
Fraco
Mdio
Forte
Ausente
Presente
Verde
Verde escuro
Prximas
Mdias
Distantes
Suave
Mdio
Continua...
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36
Descritor
- Pilosidade na parte inferior
- Ondulao da borda das folhas

- Grau de ondulao da borda das folhas
- Forma da base das folhas
- Forma da ponta da folha
Classe
Ausente
Esparsa
Mdia
Densa
Ausente
Presente
Fraco
Mdio
Forte
Obtusa
Arredondado
Cordiforme (forma de corao)
Pontiaguda
Aguda
Obtusa
Arredondada
Descritores do fruto
- Comprimento
- Largura
- Relao comprimento/largura do fruto
- Formato da regio do pednculo no fruto
- Largura do pednculo em relao ao do fruto
- Cor da pelcula (casca)
Curto
Mdio
Longo
Estreito
Mdio
Largo
Pequena
Mdia
Grande
Muito arredondado
Arredondado
Truncado
Pontiagudo
Alongado
Estreito
Mdio
Largo
Amarelo-claro
Amarelo-escuro
Verde- alaranjado
Continua...
Descritor
- Rugosidade da pelcula
- Estrias longitudinais
- Salincia das estrias longitudinais
- Ranhuras longitudinais
- Tamanho das spalas
- Dimetro do clice em relao ao do fruto

- Estrias ao redor da cavidade do clice
- Cor da polpa
- Uniformidade da cor da polpa

- Granulosidade na parte comestvel
- Espessura da polpa em relao a parte central
Classe
Liso
Enrugado
Irregular (com depresses)
Ausentes
Presentes
Fraca
Mdia
Ausentes
Presentes
Pequenas
Mdias
Grandes
Pequeno
Mdio
Grande
Inconspcuo
Conspcuo
Branca
Creme
Rosa-clara
Rosa
Rosa-escura
Rosa alaranjada
Alaranjada
Uniforme
Desuniforme (com pintas de outra cor)
Ausente
Presente
Fina
Mdia
Grossa
Descritores da semente
- Nmero
- Tamanho
Fonte: Adaptado de Santos et al. (2008).
Poucas
Mdias
Muitas
Pequenas
Mdias
Grandes
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38
Propagao e Manejo
Muito poucas informaes sobre propagao e manejo esto
disponveis para espcies do gnero Psidium, com exceo da goiabeira
(P. guajava). Para P. cattleyanum, so encontradas algumas referncias
sobre propagao vegetativa. Uma alternativa seria o enraizamento de
estacas. Porm, os resultados obtidos at o momento no so muito
promissores e, por vezes, divergentes.
Alguns trabalhos (COUTINHO et al., 1992; FACHINELLO et al.,
1993) demonstraram que P. cattleyanum de difcil enraizamento,
com percentuais de estacas enraizadas abaixo dos 3 %, ou ainda
a no formao de calos e razes (RASEIRA; RASEIRA, 1996). No
entanto, outros trabalhos demonstraram resultados mais promissores.
Nachtigal et al. (1994) obtiveram percentuais de enraizamento de
estacas semilenhosas superiores a 50 %, utilizando estacas com
aproximadamente 12 cm de comprimento e com 1 par de folhas, e
aplicao de cido indolbutrico (AIB) na base da estaca, na forma de
p, na concentrao de 4.000 ppm. O experimento foi conduzido em
estufa com nebulizao intermitente, e o melhor substrato foi uma
mistura de areia e cinza de casca de arroz (1:1, v/v). Da mesma forma,
melhores percentuais de enraizamento nessa mistura de substrato
foram obtidos por Hoffmann et al. (1994). Resultados semelhantes
foram obtidos por Nachtigal et al. (1994), com percentuais de
enraizamento de 69,6 %, porm utilizando AIB na forma de soluo
aquosa e na concentrao de 200 ppm.
O sombreamento das plantas matrizes tambm apontado como
alternativa para diminuir os problemas de enraizamento de estacas
em P. cattleyanum, por diminuir o acmulo de compostos fenlicos
nos tecidos. Um dos problemas na propagao vegetativa de espcies
da famlia Myrtaceae a presena de compostos fenlicos que, em
contato com o ar, ocasionam oxidao dos tecidos. O sombreamento
da matriz, combinado com a aplicao de AIB na base das estacas
semilenhosas, na concentrao de 200 ppm, proporcionou melhores
percentuais de enraizamento (34,37 %), quando comparado com

estacas provenientes de plantas mantidas a pleno sol (5,67 %) (DUTRA
et al., 2000). Da mesma forma, o uso sombreamento (70 %) da planta
matriz aumentou o percentual de enraizamento de estacas em trabalho
realizado por Voltoline e Fachinello (1997).
Outra alternativa de propagao vegetativa o uso da enxertia.
Porm, em testes realizados em Pelotas, RS, com P. cattleyanum, em
diferentes pocas do ano, e usando diferentes mtodos de enxertia
(borbulhia, estaquia, garfagem), os resultados no foram promissores,
com percentuais de pegamento abaixo dos 5 %.
Por outro lado, a propagao por sementes no problema em
P. cattleyanum. Raseira e Raseira (1996) obtiveram taxas de
germinao acima de 95 %, e as sementes mantm a viabilidade por
at um ano de armazenamento. Por se tratar de uma espcie da qual
relativamente se tem poucos estudos, a propagao por sementes
preferida (FACHINELLO et al., 1994). Alm disso, P. cattleyanum
apresenta pouca variabilidade quando propagada por sementes,
provavelmente pelo fato de que boa parte das sementes produzida
por apomixia. Na verdade, referncia propagao por sementes com
baixa variabilidade entre plntulas citada na literatura desde 1920
(POPENOE, 1920).
Informaes sobre manejo de espcies nativas de Psidium so ainda
mais escassas do que aquelas de propagao vegetativa. Com exceo
de pequenas reas de plantio no RS, das cultivares Ya-cy e Irapu,
realizados logo aps o lanamento destas cultivares, e que no se
conhece a situao atual, no se tem notcias de cultivos comerciais.
Informaes sobre necessidades nutricionais, adubao, poda e
conduo de plantas e controle fitosanitrio no so disponveis para
essas espcies.
A mosca-das-frutas aparece como a principal praga em araazeiros
nativos. No Sul do Brasil, Anastrepha fraterculus ocasiona perda na
qualidade de frutos de P. cattleyanum (RASEIRA; RASEIRA, 1996). Na
regio do Cerrado no Brasil Central, tem-se registro de moscas-das-
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40
frutas do gnero Anastrepha atacando os frutos de P. guineense e

P. australe (PIRES et al., 2002), sendo P. guineense mais atacado do
que P. australe.
P. cattleyanum tambm atacado por uma espcie de mosca da
famlia Ceccidomidae que causa um sintoma conhecido como galhada-folha (RASEIRA; RASEIRA, 1996), e tambm por uma cochonilha,
Tectococcus ovatus, igualmente causadora de galhas (FRANZON,
2004).
Tambm observada nessa espcie a ocorrncia de antracnose,
principalmente nos frutos no incio do amadurecimento. Segundo
Raseira e Raseira (1996), a doena causada pelo fungo Glomerella
cingulata (Ston.) Spauld e Schrenk, que, na fase assexual, corresponde
ao fungo Colletotrichum gloesporioides Penz. Essa doena mais
comum em frutos de pelcula amarela. Os frutos atacados por ela
normalmente caem, mas podem permanecer mumificados na planta,
e, em anos com primaveras chuvosas e temperaturas altas, ela pode
ocasionar grandes prejuzos (RASEIRA; RASEIRA, 1996).
Consideraes Finais
Atualmente, entre as espcies de Psidium conhecidas, a de maior
expresso P. guajava, a goiabeira. Com menor expresso, porm
sem explorao econmica em plantios comerciais, podemos citar P.
cattleyanum e P. guineense, conhecidos como ara e ara-pra,
respectivamente. Porm, muitas outras espcies autctones tm
potencial para explorao, seja para o aproveitamento alimentar ou
ainda para outros usos, como na indstria nutracutica. Prova disso o
conhecimento etnobotnico que se tem de muitas dessas espcies.
Entretanto, a presso antrpica, nas diferentes regies brasileiras, vem
causando perda de variabilidade (eroso gentica) de muitas espcies.
Diante disso, torna-se necessrio destinar esforos no sentido de
preservar e conservar germoplasma, seja in situ ou ex situ, na forma de
colees de trabalho ou bancos de germoplasma.
Porm, conhecimentos bsicos sobre o modo de reproduo,

disperso do plen e sementes, distribuio da variabilidade, agentes
polinizadores, entre outros, essenciais para auxiliar nos trabalhos de
preservao e conservao, so poucos encontrados para espcies
autctones. Contudo, quando a finalidade a explorao econmica,
outros fatores tambm so importantes. Entretanto, na maioria dos
casos, cultivos comerciais no podem ser realizados em decorrncia
do pouco conhecimento sobre a variabilidade gentica, informaes
agronmicas, tais como tcnicas de cultivo e propagao, nutrio
mineral, fitosanidade e processamento industrial, entre outros aspectos.
Assim, essas informaes so fundamentais para que espcies hoje
desconhecidas do mercado consumidor possam ser inseridas na cadeia
produtiva de frutas, nas diferentes regies em que estas ocorrem
naturalmente.
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47
48
Psidium spp. (aras):

geographical distribution,
description and uses
Abstract
The Brazilian Cerrado is the richest savanna of the world and the
second largest Biome of Brazil. The Cerrado native genetic resources
have been menaced by the huge devastation which has consumed
more than 40 % of the original vegetation. Among the native plants,
Myrtaceae species have great potential mainly the Psidium spp. which
common names are araazeiros or araas. P. cattleyanum and
P. guineense are the most known throughout the country. P. firmum,
P. laruotteanum, P. myrsinoides, and P. pohlianum are native from
Cerrado Biome and they have potential for a large explotation. Besides
Psidium spp. can be consumed in natura, they also can be used for
industrial purposes and recuperation of degraded areas. The best
utilization of the Myrtaceae plants will occur when more studies related
to genetic conservation and characterization, selection of plants,
propagation and ma nagement, mineral nutrition, phytopathology and
industrialization will be conducted. It is rather important that enormous
efforts must be effective in relation to genetic conservation in situ and
ex situ. Araazeiros uses will not have success in the future if the
mentioned actions would not be implemented utterly.
Index terms: Cerrado, Biodiversity, Germplasm, Genetic resources,
Psidium, Native fruits.

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Aras do gnero Psidium: principais espcies, ocorrncias, descrio

Rodrigo Cezar Franzon

O Cerrado o segundo bioma brasileiro em extenso, faz fronteiras

alimentar. Dentro dessa ltima, a variabilidade de recursos grande no

Jos Robson Bezerra Sereno

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No Bioma Cerrado, j foram registradas mais de 12 mil espcies de

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de vitamina C e boa aceitao pelos consumidores. Entretanto, vrias

A Famlia Myrtaceae: gneros e

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Existem muitas outras mirtceas nativas da flora brasileira que, assim

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(M. dubia HBK Mc Vaugh), nativo na regio Noroeste da Amaznia

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pentmeras e os botes maduros variam de 4 mm a 15 mm; o clice

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Hawaii, onde se tornou um problema (HUENNEKE; VITOESEK, 1990;

Aras do Gnero Psidium: principais espcies, ocorrncia, descrio e usos

Recentemente, uma nova espcie, P. araucanum Soares-Silva &

Aras do Gnero Psidium: principais espcies, ocorrncia, descrio e usos

P. australe Cambess., P. cinereum Mart. e P. longipetiolatum Legrand

Fig. 1. Fotos de espcies de aras nativos da regio Centro-oeste do Brasil.

Ara, ara-comum, ara-verdadeiro, araazedo, ara-mirim

Sul do Mxico ao Norte da Argentina e Brasil

P. sartorianum (O. Berg) Nied.

Ara, pelada, pichiche, guayabillo

P. bergianum (Nied.) Burret

Brasil (Cerrado de MG, DF e GO, e CE)

P. cinereum Mart. ex DC.

Ara-fumaa, ara-cinzento, ara-do-campo,

Brasil (MG, SP, SC, RS, GO, DF e MS)

Brasil (MG, GO, DF)

Brasil (litoral da BA ao RJ, MG e DF)

P. luridum (Spreng) Burret

Ara, ara-da-pedra, ara-do-campo

Brasil (MG, PR, SC, RS), Paraguai, Uruguai e Argentina

P. salutare (Kunth) O. Berg

Ara, guayabo arrayan, managu

Mxico a Venezuela, Brasil (GO, DF). Ampla distribuio na Amrica do

Brasil (SP, MG, DF)

Brasil (TO, GO)

P. nigrum Mattos e Legrand

Aras do Gnero Psidium: principais espcies, ocorrncia, descrio e usos

Brasil (MG, DF, SP, MS, RS, BA)

Brasil (MS, PR), Argentina e Paraguai

Ara-bravo, ara-de-veado, ara-liso

Brasil (CE, BA, TO, GO, DF, MG, MA, PI)

Brasil (Amaznia e MT), Guyana

P. riparium Mart. ex DC.

Brasil (PA, TO, GO)

Brasil (DF, GO)

Brasil (GO endmico de Niquelndia)