Cantares de São Tomé e Príncipe Poesia Política de Manuela Margarido e Alda Espírito Santo
Cantares de São Tomé e Príncipe Poesia Política de Manuela Margarido e Alda Espírito Santo
Cantares de São Tomé e Príncipe Poesia Política de Manuela Margarido e Alda Espírito Santo
Introduo
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numa
militncia
poltica
cidad.
Alguns
elementos
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Convertida em matria potica por Alda Esprito Santo, a memria dessa lida
angolar com a canoa, num movimento de hoje, amanh e todos os dias,
remete-nos tanto resistncia cultural e poltica dos segmentos sociais
margem no seio da sociedade colonial como ao prprio contexto social
contemporneo do arquiplago.
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capinas o mato
com um machim de raiva;
abres o coco
com um machim de esperana;
cortas o cacho de andim
corn um machim de certeza.
E tarde regressas
a senzala;
a noite esculpe
os seus lbios frios
na tua pele
E sonhas na distncia
uma vida mais livre,
que o teu gesto h-de realizar (MARGARIDO, 2007, p.38).
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Tambm conhecida como Alda Graa, a escritora Alda Esprito Santo realizou
seus estudos secundrios em Portugal, onde teve que interromper uma
carreira universitria por motivos econmicos e polticos. Embora no tenha
participado diretamente da luta armada, tornou-se uma das raras mulheres
das lideranas da resistncia, prestando ativa colaborao nas frentes
culturais e polticas. Desempenhou um papel fundamental como educadora e
militante tambm na luta pela independncia de seu pas, o que lhe custaria
uma temporada na priso em Portugal e a consequente clandestinidade, tendo
continuado na dianteira destas atividades durante e, como dissemos, depois
de proclamada a Repblica de So Tom e Prncipe. Participou de vrias
antologias poticas, colaborou em diversos jornais e revistas e publicou livros
individuais de poesia e de prosa.
Conforme observa a jornalista Cremilda de Arajo Medina (1987, p. 200), no
se encontra o eu da poeta e lder africana Alda Esprito Santo, pois sua
poesia se firma com um discurso que veste sempre o plural do ns, do povo
santomense. A disposio de sua poesia como forma de protesto e luta
ecoa, pois, coletivamente, porque a voz pessoal se funde na saga coletiva
de sua gente.
Em palavras de Laura Cavalcanti Padilha, a voz potica de Alda Esprito Santo
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Socop
Os verdes longos da minha ilha
so agora a sombra do oc,
nvoa da vida,
nos dorsos dobrados sob a carga
(copra, caf ou cacau - tanto faz).
Ouo os passos no ritmo
calculado do socop,
os ps-razes-da-terra
enquanto a voz do coro
insiste na sua queixa
(queixa ou protesto - tanto faz).
Montona se arrasta
at explodir
na alta nsia de liberdade(MARGARIDO, 2007, p.36),
L no gua Grande
L no gua Grande a caminho da roa
negritas batem que batem coa roupa na pedra
Batem e cantam modinhas da terra.
Cantam e riem em riso de mofa
Histrias contadas, arrastadas pelo vento. [...]
E os gemidos cantados das negritas l do rio
Ficam mudos l na hora do regresso...
Jazem quedos no regresso para a roa (ESPRITO SANTO, 1978,
p.35).
A militante poesia
Desaparecida em 10 de maro de 2007, Maria Manuela Margarido insere-se,
atravs do conjunto representado pela sua obra, numa dimenso maior que
ultrapassa as particularidades e urgncias dos partidarismos e da prpria
afirmao da santomensidade. Tal como aconteceu com Alda Esprito Santo,
desaparecida poucos anos depois de Manuela, em 9 de maro de 2010, sua
militante poesia antecipou em algumas dcadas, no ambiente literrio
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Paisagem
Alto sonho, alto
como o coqueiro na borda do mar
com os seus frutos dourados e duros
como pedras oclusas
oscilando no ventre do tornado,
sulcando o cu com o seu penacho
doido.
No cu perpassa a angstia austera
da revolta
com suas garras suas nsias suas certezas.
E uma figura de linhas agrestes
se apodera do tempo e da palavra (MARGARIDO, 2007, p.37).
Referncias
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