Geografia Intima Do Deserto - Micheliny Verunschk
Geografia Intima Do Deserto - Micheliny Verunschk
Geografia Intima Do Deserto - Micheliny Verunschk
O Livro
Havia de encontrar
Alguma antiga ferida
E nela, supurando ainda
Teu rosto:
Outonos e infernos
Esquecidos
Entre pginas amareladas
E a dor, essa intil traa.
Domingo
Os cavalos
do carrossel
giram
ruas apressadas,
multido ereta.
Os doces cavalinhos
do carrossel giram,
tm olhos assimtricos
e giram.
Falos de madeira.
A Borboleta
Faminta mancha
na parede branca
a negra borboleta
abre as asas.
Devora toda
a parede branca
a lepra
da faminta
que se alastra.
Somente mancha,
somente mancha,
mancha que se alarga.
Somente mancha,
faminta mancha,
estrela negra
abrindo grandes asas.
Duo
O Violino
Entregue sutil carcia
da curva do queixo
mal finge
que freme mesmo
ao bal febril
das pontas dos dedos.
(Talhado em nobre madeira,
o filho de Eros,
dado ao gozo animal
ao humano sexo...)
Violoncello
Trago
pardos
os olhos de cobia
que atiro sobre ti,
teu verbo/teu sexo:
tua presa de marfim.
10
O Rio:
O dia e a cidade
conspiram
contra mim
como um gatilho armado
de um revlver orgnico:
disparam
signos
concreto
e a pele quente dos nibus.
Mas noite
copulo com luzes e prdios.
Sou tero.
Cntaro.
11
O Drago
12
Desenho
A axila nua
e o cheiro quase doce de suor.
Os gatos no sabem do medo,
s do desenho e simetria
dos seus pares.
lacre,
o salto resina
e o gato.....................um risco.
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14
Subverso
A sala no percebe
o navio que se agita
numa dana de touro furioso.
Da cerca em que est,
cega sua luz de solvente e leo.
Sua raiva desarruma mveis,
pessoas, pequenos objetos
dos altares domsticos.
Foge da moldura
rompendo paredes
sua quilha afiada.
Traz na lngua
o mar desgarrado e trpego
ruminando algas corais cemitrios marinhos e outros afetos ocultos.
Os mais velhos atribuem ao vento
o poder de tirar as coisas de lugar,
mas o navio arma-se,
ogiva em direo quietude
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Noite
O mar
fareja e fareja
restos de sol sobre a areia.
O mar,
sextina negra,
sextina eterna e negra:
Galatia.
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Seca
(ou O Boi e a Quaresma)
A Folia de Reis
chovendo fitas
passou ao largo de mim
que pastava calmo
no magro campo.
Ah! E o Sol,
imenso carrapato
agarrado no azul.
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Memria
O meu pai
possua uma das asas
muito negra.
E dele herdei
estas estrelas na testa
e esta noite excessiva.
De minha me
lembro apenas
clarins e gua
e que cantava canes de janeiro.
As pedras brancas
deslizam suaves
sobre a asa muito negra
que foi de meu pai.
E eis toda a lembrana
que tenho da ptria.
18
19
20
Evangelho
Os seus dedos
tocam a ctara das chuvas
e traam
a virgem magra
arquitetura do estio:
sua poesia de extremos.
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Face
Saber o deserto
como a cidade
sabe os seus ferrolhos,
a infeco, suas abelhas.
Saber o deserto
e mais ainda: t-lo.
Conquistar seus ferres de areia
sua gula seca e oca tempestade.
(Penetr-lo com suas ntimas chaves).
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A Bicicleta
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Tero
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Suicdio
A mulher cega
lapida lembranas:
uma raiva incontida
das cores que no acontecem
e o sentimento de areia e cuspe:
Deus se perdeu de mim.
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Nightmare
O impondervel
alimenta
os animais da noite
mas eles permanecem inquietos.
Rondam
farejam
salivam
sobre o meu sono.
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Rubaiat
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Infibulao
Lbios finos
recortados cuidadosamente a tesoura,
sem fugir da linha do contorno
sem preencher falha alguma
com lpis ou batom.
Ter cuidado, mo firme.
Ser terno pare que no sangre em demasia
e cantar quase ninando.
Ver seu vermelho
em plido esmaecer
(como as meninas mortas
que em suas fotografias
parecem que sempre foram mortas).
Sentir os frgeis ligamentos,
os nervos,
romperem as costuras
ante o dente rombo da tesoura.
Perceber a carne
ora cremosa, ora seca,
como uma folha seca,
se diluindo e se partindo
e antes do fim
colar tudo num lbum amarelo e vinho
e ir dormir em paz.
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Darkness
A solido,
essa tempestade,
esse gozo s avessas,
esse jeito de eternidade
que as coisas adquirem
mesmo sendo apenas vidro.
Essas cartas ardendo
no estmago das gavetas,
essas plumas
que surgem quando se apagam
as ltimas luzes do dia.
Tudo faz a noite mais longa,
viso de uma sombra
sobre um bero.
No h resposta
e o labirinto o falso,
os lbios so falsos,
somente abismo,
absinto verdadeiro.
O sono,
grande placa de cermica
e o tempo,
demnio a ranger sobre o infinito.
29
Salom
Lances:
dados:
serpente, os dedos danam:
Uma noite
me habita
a cada abismo
que piso.
Joo Batista me olha:
precipcio:
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O Tigre
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Eles vestiram
suas roupas sujas
e saram de casa
e suas mos
se desmanchando
em linhas de sangue
borraram a l dos cordeiros
e as amendoeiras.
Nossas tias lamentavam a lua,
o tapete que teciam,
a voz de esmeralda
da menina cada no poo.
Eles no sabiam,
mas estvamos l.
Bebemos em silncio
o smen ainda quente do morto.
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Hierglifo
Na pedra da alma
gravo a cifra
do que sinto:
sou a um s tempo
o alvo
o caador
e o arco tenso,
estendido.
34
O bestirio do Imperador
possua apenas seres monossilbicos,
mnimos e peonhentos
como um ponto final,
ruminantes como reticncias
e sentimentos ruins,
crispados em plos e palavras:
Uma luxria!
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Deus
O pssaro,
essa pgina branca,
voa.
O deserto,
uma lngua de areia.
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Conto
Existem minas
ao norte de uma grande cidade
onde os mineiros
no vem a luz
h pelo menos 25 anos.
Dizem que tm
olhos fosforescentes
como peixes de regies abissais.
Dizem que nascem da terra
e se proliferam por bipartio.
Dizem que tm pulmes modificados
e que nunca choram
porque di muito.
Mas so homens,
ainda homens,
os mineiros do Norte.
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Ditirambo
Argolas de cristal,
a fina borda das taas,
brincos.
O vinho que vidro
vibra tanto pelos ouvidos,
divindade vermelha
que dana e transborda e se quebra.
ria.
Alegria contnua de bacantes
possudas como uvas que se pisam,
como guas
no ritmo alarde dos rebanhos.
Seus cascos trincando
um continente inteiro.
Diapaso do mais rubro beijo,
um caco de espelho
pintando/partindo
gengivas, himnos, a lngua
e ergamos vivas!
Evo, Aurora, Rom, Amara!
Evo, Baco!
Evo, irm ()vida breve,
breve como um copo
que se cai da mesa
se perde.
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Seda
Costurados
sobre mim
as mos e os ps
dos poetas mortos.
Como mas inchadas,
coaguladas
logo aps o caf.
Destroos laminados
de algum submarino
tocam de leve
os olhos feridos
e abrem fora
as bocas
(embora saibamos
que no podemos
naufragar na sala
que ela arde de dezembro).
Sutil seria, pois,
um outro beijo
como uma serpente
num cesto de fina palha,
mas ainda prefervel este:
um verme
um fuso
uma flor:
aberta em chaga
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Lenda
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Aniversrio
O ceifeiro assobia
uma cano:
o tempo que dura a ceifa.
Eu assobio julhos e pianos
e trago na lngua
espigas maduras
ou um lrio.
Sega-me, o ceifeiro.
Cego o meu senhor.
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Da Rotina
Varrer o dia de ontem
que ainda resta pela sala,
o dia que persiste,
quase invisvel
pelo cho,
nos objetos
sobre os mveis da sala.
Varrer amanh
o p de hoje.
Varrer,
varrer hoje.
( E domingo quebrar nos dentes
o copo
e sua gua de vidro.
Segunda, no esquecer:
varrer todos os vestgios.)
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Cena Suburbana
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Le Cirque
No varal do manicmio,
camisolas agitam aplausos,
suportam o exlio de tudo
e nas tardes de tempestade,
piruetam, pipas pelo cu negro.
Os risos falhos dos mambembes
urinam uma luz trapzio,
sustentam os saltos suicidas, mas doem.
noite, depois que o dono faz a contabilidade,
as pulgas exibem o cerol.
Amanh tem espetculo, sim senhor!
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O Espelho de Borges
Em uma jaula de vidro
repousa um homem
que no v,
mas visto.
O observam
as coisas inanimadas,
as trevas
a os mbiles
de onde pendem
transluminosas
palavras.
O trem
envolto na bruma azul
do calendrio
confunde-se com o homem,
seu sono de mrmore,
seu hlito.
Confunde-se com o homem
at a palavra em negro
Fevereiro
o musgo dos nmeros
a pedra dos domingos
em vermelho.
Confunde-se com o homem
tudo o que no v,
mas o cerca,
o que de fora da moldura
respira e observa.
50
Fotografia de Menino
O menino morto
nem fazia conta
do caixozinho de brinquedo,
do diadema de flores,
nem da roupa de festa
com que a me o vestira
num dia ordinrio.
Curioso, mirava a mquina,
o olho fixo e estranho da mquina
que o olhava tambm.
Estava to limpo e to lindo
e o verniz dos sapatos
brilhava tanto,
mas o que incomodava de verdade
eram as mos presas
numa prece que ele no sabia como soltar
e nem deveria, decerto,
pois a me poderia vir a ralhar
e seria um aborrecimento enorme.
51
Tankas
O Relgio
52
Natureza-Morta
53
Inverno
54
Vincent
... E ento
um girassol frentico
e mais campos
ruivos de trigo
brotaram-lhe
do profundo fosso
do ouvido.
55
Hades
Ouviram-se os gritos tenazes das lanas
e das entranhas da terra surgiu uma dana.
Lminas bailarinas na dana do ventre.
Elmos de brilho cadente.
Sabres, punhais, saliva metlica
mastigando os frutos mais verdes das rvores.
A msica dura de todas as armas
a dura sinfonia
sem sangue e sem gua.
Vinagre e sal
no campo sombrio
espadas que afinam
o pio seguinte.
A batalha suspende seu giro no espao.
A cortina se fecha.
Prximo ato.
56
Xadrez
57
Lego
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Meninas
Na prateleira mais alta:
bonecas dentro das caixas,
olhos vidrados,
anjos sem asas.
Na prateleira mais baixa:
bonecas em potes de vidro,
olhos fechados,
anjos dormindo.
59
O Soldado Verde
A luz do sol
lava o soldado morto.
Um talho abre-lhe as costas
e vo se destacando ombros e pescoo.
Sangue tinge o uniforme o fuzil e minha mo
que o re-colhe na calada.
o seu sangue que se agarra a tudo,
musgo.
Di no meu bolso o soldado morto
atento em sua morte de plstico.
Doem minhas as suas pernas mastigadas.
A luz do sol,
lava verde,
meu soldado verde
doendo dentro do bolso,
sem mais guerra ou dono
sem nada mais.
60
Flor
Inaugura outro mar
este pesadelo inicitico
de pintor ensandecido.
Saco de trevas
envolvendo trevas
lousa semovente,
mesa.
As frutas biam entre caixotes
e vo arremeter contra os arrecifes
o doce pus.
O vaso
o vitral
ondabalaptala arrebentada,
herldica irregular,
de feras diversas,
de faca cega pelo sol,
esta jaula.
61
O menino desenha
a bola ausente
e o muro cresce
perante o menino.
O muro prossegue
o menino no.
Clarssima cal
banha seu peito.
O vo extinto
no cimento duro.
(Decerto ela brincar
com meninos outros
que prosseguiro.
Provvel que baile
noutros braos e pernas.
Provvel que deles
tambm se perca
e se perca sempre
girando at o infinito).
O menino desenha com os olhos
a Ausente
e os seus olhos permanecem abertos.
62
II
Essa bola amarela
no pr-do-cu
nua devagar
e se espraia
no horizonte.
E rosa e amarelo
se quebra
e se espuma.
Essa fruta malva
brilha
breve lbio
fibra de barbante
quase de acar
e rosa e amarelo
mascava a noite
e se quebra
e se espuma
e se quebra
e se espuma.
Essa bria-novelo
teia tramas
raia linhas
essa bria
essa uma
esse puma
e se quebra.
63
Um Canto Obsessivo
O que habita este envelope fechado?
Um animal ou uma mquina
que engendra surpresas mal-queridas?
O que se escuta so risadas,
o trabalho de uma usina,
ou sero garras que rasgam papis,
mapas,
festas gregas em que se quebram pratos?
Que mecanismos trabalham nesta carta?
Seu tic-tac de bomba,
de conta atrasada,
de contagem regressiva?
Talvez intimao da justia
ou uma ao de despejo da prpria vida.
Talvez nada,
s um convite para a liquidao
da loja mais prxima
ou o corao de um indigente
pingando ainda,
material didtico para a aula de anatomia.
Talvez nada,
s uma carta,
papel contra papel,
uma rosa desfolhada
e um amontoado de letras desconexas.
Notcias,
um pedido que morre,
a graa que fica,
a guerra que arde no ntimo amigo.
Talvez tudo,
um bicho traioeiro e pardo e mudo
ataviado de selos e outros enfeites,
mas muito gil em cravar os dentes,
ele todo um rctus de espinhos
que desfibra a vtima.
Que palavras guardam este cofre?
Que susto de presente?
Que bote?
64
Inventrio
O armrio
esconde coisas insuspeitadas
sol
nudez
tintas
esta coleo de peas ntimas
o armrio esconde ideogramas
e sedas chinesas
e, num canto escuro,
uma letra.
65
Dor
Subindo pelas narinas
a dor, este verme de arame,
rasteja e pinga ovos
foscos
latejantes.
Seqestra-me, a dor.
Sabe-me, a vadia.
66
67
Fbula
A lngua do pintor
sabe o efmero seio que beija.
O seio que no cabe
na cela das mos,
que pouca:
espelho onda geometria
quebrando-se dentro da boca.
68
Nudez
O pintor
estuda
a flor
matemtica.
A flor
nua
de ptalas.
A flor:
nua,
exata.
69
Leonor
tinha dentes brancos
e fazia anotaes
numa caderneta xadrez.
Leonor era uma pea de xadrez.
Leonor
tinha dentes mrmore.
Leonor mar lpide
Leonor, no.
Letra.
Valquria
70
71
Tempo
Moscas minsculas
e fruteiras brancas.
O rio escorrega
dia.
A porteira colhe gemas
gemidos
um rquiem de velhas lavadeiras.
72
O Farol
Toda noite
o seu olho me vem
da Baa de Laia
e os arpes
empalam sereias.
Toda noite
essa rede
essa malha
esse ferro
esse gancho de peixes.
Esse Deus tem o olho de Laia
e me acha acha
e me fode
bem antes que a espuma.
Toda noite Laia me olha
toda noite esse Deus
me devora.
Toda noite me vem
e me perde.
Toda noite
o farol me repete.
73
Decalque
74
Toys
Somos de uma tristeza serena
quando montamos
quebra-cabeas,
principalmente aqueles
de paisagens grandiosas
de pases distantes
(talvez porque saibamos
que h sempre uma pea perdida
no meio das outras
e que ser a do instante final).
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Ofcio
Como um rei
que sonhasse
um crculo
um mrmore
um castelo
e dormindo
seus olhos declarassem
o Belo:
uma lgrima
a perfeio
a luz
o verbo.
Como um Deus
que criasse a Beleza
muito embora fosse cego.
76
A Tecel
A fome fia a teia,
Av Aranha.
A fome tece e trana.
Espalha suas cinzas
e espera o peso,
o efeito da armadilha.
Atalaia,
a fome aguarda,
Av Aranha.
77
78
79
Frida
Dentro do pssaro,
um pssaro mais livre
rompe o vo da carne
e parte no prprio canto,
invertebrado,
sem a ossatura da gaiola.
Fora do pssaro,
cristalino nada.