Anais Anpae Uems 2015
Anais Anpae Uems 2015
Anais Anpae Uems 2015
Apresentao
H vrios anos, o Encontro de Polticas e Prticas de Formao de Professores vem
sendo promovido e organizado pelos Programas de Ps-Graduao em Educao das
Universidades do estado de Mato Grosso do Sul: Universidade Federal de Mato Grosso
do Sul/Campo Grande, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul/Campus Pantanal,
Universidade Catlica Dom Bosco, Universidade Federal da Grande Dourados. Em
2013, foram inseridos os Programas da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
Unidades Universitrias de Paranaba e Campo Grande. No mesmo ano, o evento foi
realizado em conjunto com a Associao Nacional de Poltica e Administrao da
Educao de MS (Anpae/MS), com a edio do I Seminrio da Anpae/ MS.
Considerando a natureza itinerante, o VI Encontro de Polticas e Prticas de
Formao de Professores e o II Seminrio da Associao Nacional de Poltica e
Administrao da Educao de MS foi realizado nos dias 09,10 e 11 de novembro de
2015 e coordenado pelo Programa de Ps-Graduao, Mestrado Acadmico e Mestrado
Profissional em Educao da Uems na Unidade Universitria de Campo Grande. Com o
tema central Plano Nacional de Educao em Debate: formao de professores,
diversidade, gesto e financiamento, o evento contou com a participao de todos os
Programas de Ps Graduao em Educao de Mato Grosso do Sul.
A realizao do VI Encontro de Polticas e Prticas de Formao de Professores e o
II Seminrio da Associao Nacional de Poltica e Administrao da Educao de
MS constituiu-se como importante frum de pesquisadores em educao do estado que,
por meio da conferncia de abertura, das 4 mesas redondas e dos 7 grupos de trabalho,
puderam socializar, discutir pesquisas, aprofundar temticas e questes relevantes no
mbito das pesquisas em educao.
TRABALHOS COMPLETOS
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1
RESUMO
Este trabalho um relato de pesquisa que se prestou a investigar a compreenso do conceito
de tica dos alunos do 3 ano mdio de uma escola pblica estadual de Campo Grande, MS.
Buscando um olhar analtico para a forma como est dado o sentido de tica para aqueles que
j respondem como sujeitos de direito com suas vivncias e responsabilidades na organizao
da sociedade, os alunos. Este trabalho se inscreve no interior das discusses que acontecem no
campo da Educao, como tambm nos trabalhos que possuem como ponto central a pratica
da cidadania e as instituies sociais formadoras como a famlia e a escola. A temtica desta
pesquisa a tica compreendida como relao de responsabilidade entre sujeitos de sentido e
que, na prtica cotidiana, reelaboram seus conceitos. A motivao para esta tarefa analtica
originou da vivncia como professor do Ensino Mdio da disciplina de Filosofia que observa
a dificuldade de se ensinar os contedos especficos desta disciplina to importante quanto
complexa na prtica pedaggica na escola. As questes a serem respondidas so: qual o
significado de tica para os alunos da turma de 3 ano mdio? E qual o propsito deste
contedo? O objetivo compreender qual o significado da tica para os alunos do terceiro
ano mdio de uma escola pblica estadual de Campo Grande, MS. A metodologia adotada
pesquisa foi com base na pesquisa qualitativa, no que tange aos procedimentos de
levantamento e anlise de dados. O trabalho aconteceu em dois momentos: o primeiro
consistiu no levantamento bibliogrfico e estudo das obras que tratam da tica como cincia
das Morais e da Pesquisa Qualitativa como ferramenta metodolgica. No segundo momento
foram comparados os dados obtidos das entrevistas com os alunos a partir de questionrio
construdo para este trabalho. Todo o trabalho foi realizado a partir do estudo de obras que
serviram de aportes tericos dessa investigao como Lvinas (1987), Dussel (2000),
Merleau-Ponty (2011), Bardin (2009), Minayo (2008). Os resultados alcanados indicam que
o significado percebido diferencia-se muito do sentido dado pelos tericos que tratam do
tema. Esta distancia entre o que se pensa no senso comum e o que realmente o conceito de
tica pode explicar diversos problemas no interior da famlia e da escola, como a falta de
sentido prprio dos alunos, bem como a falta de significado na relao interpessoal entre estes
alunos e seus pares na escola ou com seus familiares.
Palavras Chave: tica, Pesquisa qualitativa, Ensino Mdio.
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2
INTRODUO
Este trabalho se faz necessrio como produto final e Relato de pesquisa realizada
a partir da vivncia do pesquisador enquanto professor da rede pblica estadual de ensino em
Campo Grande, MS. Deste modo, as reflexes aqui enunciadas so de importncia impar para
o pesquisador que se dispe a essa experincia de pesquisa, neste caso, a partir de dentro de
sua vivncia como professor.
O objetivo da pesquisa foi compreender qual o significado da tica para os alunos
do terceiro ano mdio de uma escola pblica estadual de Campo Grande, MS. Desta forma, as
concepes dos alunos sobre o tema tica, e de tudo o que est incluso nesta singularidade
terica abarcada como campo de analise, proporciona um quadro de percepes que indica de
que valores e conceitos estes jovens esto repletos e, a partir deste horizonte, possvel intuir
a participao destes como agentes de transformao, ou no, da sociedade. Assim se buscou
analisar as concepes dos alunos a respeito desse contedo, concebidas atravs das vivncias
de cada aluno no mbito familiar e das aulas de filosofia ministradas pelo professor
pesquisador.
A metodologia de pesquisa utilizada neste trabalho levou em conta as
consideraes feitas por grandes tericos que tratam da pesquisa como o uso de questionrio e
com a prpria prtica cotidiana, dentre as tantas teorias e ferramentas tericas, foram
pesquisados alguns conceitos e textos bsicos da Pesquisa qualitativa e da Anlise de
Contedo. Neste trabalho, o contedo utilizado para dar sentido aos dados obtidos na pesquisa
e aos os conceitos tericos foi buscado a partir de leituras de Maurice Merleau-Ponty (2011),
Minayo (2008), Bardin (2009).
A escola pesquisada est situada na regio perifrica de Campo Grande, MS. Com
um grupo discente constitudo de alunos provenientes de diversas regies da cidade. Assim
formando um grupo muito diversificado de alunos que compem este grupo. Na medida em
que se compreende o lcus onde se praticou a pesquisa surgem vrias questes, em relao
aos relatos coletados. A turma participante desta pesquisa foi composta pelos alunos do 3 ano
mdio, contando com 26 alunos regulares com idade mdia de 16 anos.
Nas consideraes finais o trabalho aborda o trato dos dados a partir da viso
terica aqui posta, ou seja, nesta parte do texto se reflete sobre as consideraes dos alunos
frente ao conceito de tica entendido pelo Pesquisador. Desta forma, todo o trabalho reflexivo
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3
1.
DA
METODOLOGIA
DA
PESQUISA:
CONCEITOS
DA
PESQUISA
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8
5
que os resultados obtidos nesta pesquisa devem ser considerados a partir do local especfico,
como aponta Merleau-Ponty (2011) a respeito do Espao:
A reflexo no refaz em sentido inverso um caminho j
percorrido pela constituio, e a referncia natural da matria ao
mundo nos conduz a uma nova concepo da intencionalidade,
j que a concepo clssica, que trata a experincia do mundo
como um ato puro da conscincia constituinte, s consegue
faz-lo na exata medida em que define a conscincia como noser absoluto e, correlativamente, recalca os contedos em uma
camada hiltica que o ser opaco. (MERLEAU-PONTY,
2011, p. 327)
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6
escolas sofressem reformas para prolongar a vida til da estrutura, o que no aconteceu com
maior parte das escolas participante deste projeto poltico, e tambm com a escola aqui
referida, posto que at hoje a estrutura persiste ao tempo com apenas modificaes mnimas
como a pintura que j no a original feita para a inaugurao.
Esta escola conta com dez salas de aula, uma biblioteca, uma sala de vdeo, uma
sala de informtica, sala de professores, sala de coordenao, diretoria, secretaria, cozinha,
almoxarifado, e uma quadra poliesportiva que est em reforma a quase um ano. A escola
funciona apenas no perodo matutino e noturno, onde existem respectivamente duas turmas de
ensino fundamental (8 e 9) e quatro turmas do ensino mdio (1 A e B, 2 e 3) de manh e
oito turmas do Ensino Mdio na modalidade EJA noite. A turma de 3 ano do Ensino Mdio
formada por 26 alunos, cuja a faixa etria, em mdia de 16 anos.
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7
Alteridade aqui entendida como o o outro como aponta Lvinas, onde o mesmo afirma: Pasar a lo otro que
El ser, de otro modo que ser. No ser de otro modo, sino de otro modo que ser. Tampoco y menos an no
ser. Assim, o autor formaliza na Alteridade uma categoria de analise e ao da tica.
2
Lvinas (1987) e Dussel (2000) compreendem o mesmo como o Ego cartesiano, ou seja, o eu solipsista que
reduz toda a realidade a uma percepo do Eu.
11
8
ser, de otro modo que ser. No ser de otro modo, sino de otro
modo que ser. (LEVINAS,1987,p.45).
Com esta afirmao Lvinas (1987) inaugura uma nova perspectiva da tica
voltada ao fenmeno da Alteridade que se apresenta a percepo do sujeito que se relaciona
pela intencionalidade e que transcende as percepes do Eu expectador. A Alteridade est
para alm as percepes do Eu (sujeito nesta relao) e transcende toda a percepo e
linguagem do sujeito. A partir destas consideraes acerca da tica como cincia e prtica do
cuidado e ao em sociedade se pretende medir, ou ao menos refletir sobre as consideraes
dos 26 alunos da turma de 3 ano mdio que participaram da Pesquisa.
3. DA PESQUISA
A Pesquisa se deu a partir de questionrio construdo para este fim especfico,
levando em considerao o ambiente da escola, as caractersticas da turma e, tambm a faixa
etria e o nvel de escolaridade dos alunos. Como supracitado, no sero apresentados aqui os
nomes dos alunos e to pouco da escola a pedido da gesto da escola a fim de protegem a
integridade moral dos participantes deste trabalho.
O questionrio apresentado aos alunos consta de quatro questes objetivas e
previamente elaboradas a fim de permitir uma viso tanto homognea do grupo de estudantes
quanto possibilitar a captao de peculiaridades particulares dos alunos envolvidos na
Pesquisa. Aqui sero apontadas tanto as questes efetuadas, quanto as respostas mais
utilizadas pelos alunos caracterizando peculiaridades do grupo quanto ao significado da tica.
Esta medida foi necessria posto que s a quantia de material coletado nesta pesquisa supera
ou as anlises detalhadas realizadas a partir do material coletado superam o nmero mximo
de pginas permitidas neste trabalho.
Na primeira questo, o que voc entende por tica?, 20 dos 26 alunos
questionados no souberam definir o que a tica. Os outros 6 lembraram de definies
estruturadas em aulas anteriores realizadas em outros anos do ensino e tambm em outras
escolas. Estas respostas demonstram, de pronto, a distncia das opinies contidas nos relatos,
do conceito apresentado pelos autores e trabalhadas na escola. A tica, entendida aqui como
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9
cuidado com a alteridade e dever, como apontam Lvinas (19871) e Dussel (2000), no est
integrada ao conceito dos jovens alunos.
A segunda questo, qual a importncia da tica para voc, como aluno e
integrante da sociedade?, as resposta foram to difusas quanto divergentes no que trata do
sentido da participao tica e poltica na sociedade, porem possvel notar que na maioria
das respostas, cerca de 21 das 26 analisadas existe um tom de romantismo nas afirmaes
como no caso de uma resposta de uma aluno da turma:
Entendo que a tica importante para tornar o mundo mais
feliz, mais bonito para ns vivermos. Viver em um mundo mais
bonito. (aluna da turma de 3 ano Mdio entrevistada na
Pesquisa).
Como esta resposta, tantas outras tambm apresenta caractersticas que no esto
no contedo da tica, e que no tem relevncia quanto a questo social desta Cincia dos
valores morais. Como aponta Dussel (2000, p. 93) no principio Liberacion que trata do
poder natural e tico do outro para ser ele mesmo em seu prprio modo de ser, no se
questiona conceitos estticos, mas antes, se observa as condies de possibilidade para a
existncia de todos os indivduos.
Na terceira questo, o que voc entende por agir eticamente com relao a outra
pessoa, ao prximo?, as respostas vieram repletas de sugestes e exemplos cotidianos como
no relato de um aluno:
agir eticamente , por exemplo, ajudar um cego a atravessar a
rua. (aluno da turma de 3 ano Mdio entrevistada na
Pesquisa)
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materialistas3, a anlise que possui objeto, mtodo e fim bem definidos. Desta forma
colocado, na maioria das aulas e nos manuais didticos hoje utilizados nas escolas. Assim
dentre algumas respostas temos:
A tica cincia por que estuda o Homem e suas relaes.
(aluno da turma de 3 ano Mdio entrevistada na Pesquisa)
Ou
A tica cincia pois compreende as caractersticas da
personalidade das pessoas. (aluno da turma de 3 ano Mdio
entrevistada na Pesquisa)
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CONSIDERAES FINAIS
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12
REFERNCIAS
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de toda criana desde a promulgao da Constituio de 1988. Mas at que esse direito
tivesse sido de fato garantido, foram necessrias vrias lutas e conquistas ao longo do
tempo, sendo por esta razo que este atendimento passou por vrias fases para que
tivesse a configurao atual.
Rocha e Silva Filho (2007) esclarecem que as origens da creche da pr-escola no
Brasil percorreram caminhos distintos, que marcaram fortemente os entendimentos
acerca de suas funes. Nas palavras dos autores:
[...] a creche, mais aproximadamente vinculada a guarda; a pr-escola,
com objetivos mais marcados para a preparao para a escolarizao
posterior. No obstante ambas estabelecessem funes educativas
desde suas origens, tiveram seu desenvolvimento associado de forma
diferente s aes de assistncia social (creche) e s aes de educao
(pr-escola). Dessas origens resultaram efeitos para a definio das
instituies de educao infantil, at hoje ainda marcadas pela
dicotomia entre educao e cuidado (ROCHA; SILVA FILHO, 2007,
p. 59).
19
20
Nessa direo, podemos afirmar que a educao das crianas pequenas envolve
simultaneamente dois processos complementares e indissociveis: educar e cuidar, pois,
nessa faixa etria, elas tm uma necessidade maior de ateno, carinho, cuidado e
segurana. Nesta etapa elas tomam contato com o mundo que as cerca, na realizao de
experincias diretas com as pessoas e as coisas, provocando formas peculiares de
expresso (no s nas crianas, mas tambm nos adultos). Esta insero das crianas no
mundo, no pode se dar de forma aleatria e involuntria. Pelo contrrio em espaos de
educao coletiva (creches e pr-escolas) o cotidiano, para que se seja de fato educativo,
precisa estar carregado de intencionalidade pedaggica.
De acordo com Didonet (2003, p. 9),
[...] o ato de dar banho, trocar a fralda, vestir e pentear o cabelo so
gestos de comunicao humana entre o adulto e o beb nos quais h
uma troca profunda de sentimentos e, portanto, de organizao mental,
de estruturao interior, de formao da autoimagem, do
desenvolvimento do eu da criana: o modo como se encara as
manifestaes de birra, de desagrado, de curiosidade das crianas,
como se busca a superao de comportamentos de agresso e como
se promove a interao social determina o tipo de educao que se
est dando a elas: a fala do adulto inicia a criana na linguagem, pois
vai dizendo o que ela faz, o que as outras esto fazendo, o que sentem
e, assim, vai mediando os atos por meio da linguagem. No h um
contedo educativo na creche desvinculado dos gestos de cuidar. No
h um ensino, seja um conhecimento ou um hbito, que utilize uma
5
BRASIL. Ministrio da Educao. Secretaria da Educao Bsica. Parmetros bsicos de infraestrutura para instituies de educao infantil. Braslia: MEC: SEB, 2006. 2 v.
21
Assim, necessrio superar a viso estreita que se tem das atividades de cuidado
primrio: higiene, sono, alimentao, e a ampliarmos, entendendo o cuidado como
preocupao pedaggica, que envolve desde a recepo das crianas, a organizao da
rotina, materiais a serem utilizados, at a organizao dos espaos. Cuidado, no sentido
amplo, que tenha como foco principal a criana, seu tempo e maneiras especficas de
pensar e agir sobre o entorno.
No entanto, apesar de alguns avanos e muitos esforos, conforme j
denunciavam Rocha e Silva Filho (2007, p. 60):
A percepo de que a creche e a pr-escola, alm de desempenharem
papel social especfico na sociedade contempornea, definem-se como
um local onde deve prevalecer a intencionalidade e a sistematizao
do trabalho realizado junto criana, bem como o reconhecimento de
que educar e cuidar so complementares famlia ainda est longe de
configura-se como um consenso e uma obviedade.
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Maia (2012, p. 55) afirma que a Educao Infantil tem o papel de inserir a
criana no mundo escolar [...] de modo ldico, estimulando a autonomia e promovendo
o desenvolvimento em um contexto integral, no qual o cuidar e o educar esto inseridos
entre os objetivos principais. Dessa maneira importante reafirmar o importante papel
dos profissionais que atuam neste nvel de ensino no sentido de no promover a
escolarizao precoce das crianas, tampouco a infantilizao e empobrecimento das
prticas pedaggicas da Educao Infantil.
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25
26
Importante destacar, que neste grupo uma das respostas, a do Suj. SE_10: Sim.
Existem conhecimentos especficos que cada um destes profissionais deve possuir, que
faz referncia direita a formao diferenciada, a necessidade de saberes especficos para
atuao profissional.
Assim como no grupo anterior, conclumos que os estudantes percebem a
necessidade de o profissional docente que atua na Educao Infantil ter assumido para si
uma identidade prpria, definindo desta forma os rumos considerados adequados para
sua prtica pedaggica cotidiana.
Nesse sentido est a afirmao de Ramos e Rosa (2012, p. 133-134) de que o
perfil do profissional para atuar na educao de crianas pequenas o do [...] sujeito
que reconhece a dimenso poltica e educativa de seu fazer e parceiro crtico-reflexivo
na implementao da qualidade da educao criana [...] que precisa ainda [...] ter
conhecimentos peculiares do desenvolvimento da criana nessa faixa etria, haja vista a
finalidade da Educao Infantil [...].
Ainda dentre as justificativas afirmativas, cabe o apontamento de que uma
resposta foi considerada vaga/inconclusiva.
Sobre os 25% dos estudantes que consideram que no h diferena entre os
perfis profissionais, as justificativas so as mesmas do grupo anterior: de que as
responsabilidades e compromissos a serem assumidos no ambiente de trabalho sero as
mesmas.
ltimas consideraes
Os saberes docentes construdos ao longo da formao inicial adquirem especial
importncia quando se trata da Educao Infantil; isto porque este nvel de ensino
esteve (e continua, em alguns contextos) atrelado ao equivocado entendimento de que
27
suas prticas so similares as que ocorrem no contexto familiar, logo o papel a ser
desempenhado por seus profissionais tambm. Superar a lgica de que para trabalhar
com crianas pequenas, basta ser mulher, me ou ter jeito para lidar com crianas (ser
tia), e, ainda que no preciso grande preparo para trabalhar com crianas pequenas,
so tarefas dos cursos de formao.
Nascimento (1999, p. 101) j indicava que, [...] por lei, a Educao Infantil
um nvel de ensino e isto traz conseqncias para o perfil do profissional que atua neste
campo; cabe aos cursos de formao criar meios e formas para que este perfil
necessrio seja construdo e reafirmado. Cremos que um dos caminhos para esta
construo provocar o entendimento de que cada nvel de ensino exige um perfil
especfico de profissional; a clara compreenso de que apesar da docncia, ou ofcio de
mestre como se refere Arroyo (2004, p. 18), se caracterizar por um saber-fazer
peculiar, um fazer qualificado, profissional, [...] que s eles sabem fazer, que lhes
pertencem, porque aprenderam seus segredos, seus saberes e suas artes, cada nvel de
ensino (espao especfico de atuao) implica saberes, segredos e arte diferenciados.
No caso da Educao Infantil a necessidade formativa est em provocar a
compreenso de que atuao profissional nesse nvel de ensino tem uma especificidade
que precisa levar em conta [...] caractersticas prprias das crianas nessa faixa etria,
quais sejam: a globalidade de suas aes, sua condio de vulnerabilidade e sua
potencialidade de conhecimentos. [...] uma ao multifacetada, pautada na
indissociabilidade cuidado-educao (AMORIM; DIAS, 2013, p. 41).
A tarefa de formar professores tem se tornado cada vez mais complexa devido a
diferentes fatores da atualidade (mudanas legais, sociais e econmicas de forma geral);
no entanto, os dados que coletamos junto a estudantes no seu ltimo ano do processo de
formao inicial nos permite afirmar que os cursos de formao inicial investigados tm
de certa forma conseguido atingir alguns objetivos importantes.
Com base nas informaes obtidas nas duas universidades (Centro-Oeste e
Sudeste) que fizeram parte da nossa pesquisa, na mdia, tivemos cerca de 80% dos
estudantes que reconhecem a diferena necessria entre os perfis dos docentes para
atuao na Educao Infantil e no Ensino Fundamental. Ainda que no se possa fazer
grandes inferncias acerca do sucesso do processo formativo, este um dado bastante
positivo. Acreditamos ainda, que mesmo o percentual de acadmicos que responderam
que no entendem que os perfis so diferentes nos do bons indicativos sobre a
28
Referncias
AMORIM, A. L. N.; DIAS, A. A. Formao do professor de educao infantil: polticas
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ago. 2014.
ARROYO, M. G. Ofcio de mestre: imagens e auto-imagens. 7. ed. Petrpolis: Vozes,
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BUJES, M. E. Escola infantil: pra que te quero? In: CRAIDY, C. M.; KAERCHER, G.
E. P. S. (Org.). Educao Infantil: pra que te quero? Porto Alegre: Artmed, 2001. p.
13-22.
CAMPOS, M. M. A formao de professores para crianas de 0 a 10 anos: modelos em
debate. Educao e Sociedade, ano XX, n. 68, p. 126-142, dez. 1999.
29
30
31
Resumo
O presente artigo tem por finalidade analisar a importncia da implantao dos
Polos presenciais da UaB e a contribuio da educao distncia na formao
de professores, especificamente dos docentes que atuam na educao bsica e
EJA no estado de Mato Grosso do Sul. O artigo aborda discusses sobre a
Modalidade de Educao a Distncia no Brasil e a importncia dos polos no
apoio aos acadmicos atendidos na modalidade em educao a distncia, com
base em pesquisa realizada com os egressos do curso de Pedagogia. Os
resultados apontaram que a educao a distncia uma alternativa vivel na
formao de educadores na sociedade ps moderna.
Palavras Chave: Formao, Professores, EaD
Abstract
This article aims to analyze the importance of the implementation of the Poles
face the UAB and the contribution of distance education in teacher training,
especially for teachers who work in primary education and adult education in
the state of Mato Grosso do Sul. The article discusses discussions on the mode
of Distance Education in Brazil and the importance of hubs in supporting
academics attended the modality in distance education, based on research
conducted with the graduates of the course pedagogy. The results showed that
distance education is a viable alternative in training educators in postmodern
society.
Key words: Training, teachers, distance education
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2
Introduo
H quase uma dcada atuando na rea de educao seja na rede municipal e estadual
de ensino, deparou-se com o dficit de pedagogos que atuam no ensino bsico no Estado
de Mato Grosso do Sul; seja nas primeiras fases da EJA (Educao de Jovens e Adultos),
no Programa Brasil Alfabetizado ou nas sries inicias do Ensino Fundamental e Educao
Infantil.
Vrios so os motivos apontados, para a dificuldade de encontrar estes profissionais,
desde falta de incentivo na carreira do magistrio at a dificuldade no acesso ao curso de
pedagogia,
33
3
Nome do Polo
1 MS gua Clara
2 MS Bataguassu
3 MS Bela Vista
4 MS Camapu
5 MS Costa Rica
6 MS Miranda
MIRANDA - COAHB
7 MS Porto Murtinho
8 MS Rio Brilhante
9 MS So Gabriel do Oeste
34
4
2005,
iniciou
organizar o setor.
Ao se analisar a Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (LDB
N9.394, de 20 de dezembro de 1996) percebese que
informtica, que
pode
sociais, sempre
35
5
andaram
inclui
necessria
lgica
preparao
tcnicos disponveis na sociedade (Belloni, 2002, p. 118). Esclarece ainda que do ponto
de vista da sociologia, no h mais como contestar as novas tecnologias, pois elas tm um
papel cada vez mais importante no processo de socializao.
Dessa maneira, entende-se tambm,
relevncia
dos
recursos
da
EaD
que no
formao
como
negar
Nesse sentido importante salientar que o tema abordado nessa pesquisa est inserido na
realidade do pesquisador, com mais de trs anos de experincia na rea, em tutoria, na
modalidade a distncia despertando o interesse para a realizao desse trabalho. Nessa
pesquisa fez-se um recorte espacial, e entrevistou-se os acadmicos do polo do municpio
36
6
de Bataguassu (tabela 2). Este polo atende seis cursos de graduao, sendo seis
licenciaturas e dois cursos de pedagogia, os acadmicos matriculados nesse polo, alm
dos municpios vizinhos, so oriundos do leste do estado de So Paulo.
Tabela 2: Cursos ofertados no Polo de Bataguassu. Fonte: Copyright 2010 (R) CAPES. Todos
os direitos reservados.
Instituio
Curso
Chamada UAB
UFGD
COMPUTACAO
PAR
UFGD
PEDAGOGIA
PAR
UFMS
ADMINISTRACAO PUBLICA
PNAP I
UFMS
EDUCACAO AMBIENTAL
SECAD III
UFMS
UFMS
GESTAO EM SAUDE
PNAP I
UFMS
GESTAO PUBLICA
PNAP I
UFMS
PNAP I
UFMS
UAB I
UFMS
MATEMATICA
UAB I
UFMS
MIDIAS NA EDUCACAO
MDIAS
UFMS
PEDAGOGIA
UAB II
Metodologia da pesquisa
Durante a pesquisa entrevistou-se e aplicou-se questionrio para 10 egressos do
curso de Pedagogia do Polo de Bataguassu, alm de contatos via email. Com este
trabalho, foi possvel fazer um panorama da realidade atual das pedagogas formadas na
modalidade a distncia. O questionrio aplicado durante a pesquisa foi enviado por email e postado pelas alunas, isso mostra que o contato com a plataforma de atividades,
webs-aula e chat possibilitou maior facilidade de interagir atravs das ferramentas
disponveis e o acesso internet. Os dados foram coletados por um questionrio
constitudo por 12 questes objetivas. As questes abordaram aspectos sobre a
formao acadmica, experincia docente e comportamento dos egressos do curso de
pedagogia.
Optou-se pela pesquisa quantitativa, pois nesse tipo de pesquisa, a base
cientfica vem do Positivismo, que durante muito tempo foi sinnimo de Cincia
37
7
Segundo a Emenda Constitucional n 65, promulgada em 13 de julho de 2010, incluiu o termo jovem
na Constituio Federal, assegurando aos jovens de 15 a 29 anos prioridade no acesso a direitos
constitucionais como sade, alimentao, educao, lazer, profissionalizao e cultura.
38
8
social (Idem, p. 33). Para os acadmicos que so atendidos no polo esse distanciamento
da sociedade e a universidade passam a ser desmistificado.
A comunicao passa, assim, a ser considerada um fenmeno com implicaes
claramente polticas. Os atores que compem o tecido social no podem ficar
impassveis; pelo contrrio, exige-se deles uma postura legtima no sentido de contribuir
para desmistificar os sistemas impostos de representao, colocar abaixo o fetichismo da
tecnologia, pensar a democratizao das mdias como algo que deve ir bem alm de
simples medidas de descentralizao geogrfica e tcnica (TRAMONTE et al, 2005, p.
21); ou seja, que estejam tambm a servio da educao do sujeito para o exerccio pleno
da cidadania, pensando na difcil tarefa de conquistar o bem-estar da coletividade.
Com todo aparato e suporto tcnico e profissional oferecido pelos Polos da UaB
aos acadmicos matriculados alguns viam a modalidade de Educao a Distncia com um
olhar de desconfiana. Entretanto os egressos da primeira turma de Pedagogia formados
nesses polos passam a ser referncia para os demais alunos.
Em relao s egressas pesquisadas quatro so da primeira turma, e relatam a
dificuldade e insegurana que enfrentaram no incio do curso, mas ressaltam que valeu a
pena acreditar nos sonhos e romper os desafios. Durante a pesquisa observou-se que 60%
dos egressos do curso de pedagogia esto atuando em sala de aula, como aponta a figura
02.
39
9
Etapa de Ensino
2 Fase EJA
Ensino Fundamental
Escola Ativa
Ensino Fundamental
4 Ano
Ensino Fundamental
Substituies/ Licenas
Ensino Fundamental
Somente o caso da professora B, que recebe uma bolsa do MEC, para atuar na
alfabetizao de jovens e adultos. J em relao as demais entrevistadas que responderam
o questionrio, nenhuma esta desempregada, duas delas trabalham no comrcio, outras
trs so funcionrias concursadas de nvel mdio de escolas do municpio rede municipal
de ensino.
Nesse aspecto iremos apresentar dados somente daquelas que esto atuando em
sala de aula, pois o objetivo dessa pesquisa apontar o papel do polo na formao
desses profissionais e qual trajetria esto tomando aps a formao.
Dentro das instncias comunicativas, a Internet surgiu como baluarte da
mundializao das culturas, nas perspectivas local e global, sendo o local a gnese da
produo cultural que se expande, em um segundo momento, para o panorama global
(MATTELART, 2005). A Internet tornou-se canal difusor do conhecimento e
socializador dos saberes, porm, com alcance limitado porque, como j foi citado,
Em relao a identificao dos profissionais entrevistados durante a pesquisa seus nomes foram
preservados, sendo utilizado letras A,B,C,D e E para diferenci-los durante o texto.
4
O Projeto Escola Ativa um programa do Ministrio da Educao que pretende melhorar a qualidade
do ensino fundamental, reduzir a distoro idade/srie, aperfeioar o nvel de aprendizagem e combater a
reprovao e o abandono.
40
10
41
11
sala de tecnologia, auxiliar os alunos nas pesquisa, enquanto alguns professores ( que se
formaram na modalidade presencial) no sabem nem acessar a internet.
Mesmo com toda evoluo na tecnologia e avanos na Educao a Distncia, h
certa desconfiana em relao a essa modalidade principalmente entre os profissionais
que j esto atuando h mais de duas dcadas na educao. Segundo a professora E,
quando levou seu currculo em uma determinada escola da cidade, perguntaram se o
diploma era reconhecido pelo MEC.
J no outro caso, a professora foi questionada por colegas de trabalho se a
faculdade a distncia ofereceu suporte em relao ao estgio, j que um dos pontos
mais importante da licenciatura. A professora indagou que realizou seu estgio de
maneira tranquila conforme a legislao e a carga horria estabelecida.
No terceiro caso a professora no sentiu dificuldades, pois j atuava na educao
bsica e foi bem aceita no ambiente de trabalho. J as demais professoras no sentiram
nenhuma diferena em relao ao preconceito de terem sua formao na modalidade a
distncia. A pesquisa buscou saber qual a principal dificuldade enfrentada por elas ao
deparar com a realidade de uma sala de aula? Entre as dificuldades mais apontadas
foram, nmero excessivo de alunos e dificuldades no aprendizado, o resultado se
apresenta na figura 04.
Um fato chamou ateno, para a professora que trabalha no Projeto Escola Ativa Na
verdade no fomos capacitados para trabalhar com esse tipo de projeto, onde tem duas
42
12
turmas na mesma sala, 4 e 5 ano, por isso passei por uma capacitao, finaliza a
professora. O programa atende as escolas rurais atravs de classes multisseriadas (1 a 4
sries). A experincia rene autoaprendizagem, trabalho em grupo, ensino por meio de
guias, livros didticos especiais, participao da comunidade, capacitao continuada
dos professores e acompanhamento de alunos e de docentes.
A Sociedade ps-moderna5 passa pelo momento de apropriao, utilizao e
reinveno permanente das Tecnologias de Informao e Comunicao (TICs). Um dos
grandes desafios polticos para a sociedade brasileira neste incio de sculo 21 o de
democratizar essa transformao. Milhares de jovens esto excludos da era digital, um
dos grandes desafios do poder pblico tornar estes instrumentos acessveis a toda a
populao, como condio determinante para um desenvolvimento integral e construo
de uma sociedade inclusiva.
No entanto, apesar das contradies sociais e econmicas existentes na
sociedade, os gestores das Instituies de Ensino Superior passaram a ver a rede
mundial de computadores como uma nova ambincia para as prticas pedaggicas.
Nesse sentido os alunos que ainda no possuem os computadores ou no tem acesso a
internet na sua casa, podem acessar e utilizar o laboratrio de informtica do polo com
o auxlio dos tutores.
Nesse sentido a modalidade da EAD online est em processo de expanso. A
ambincia proporcionada pelas TIC aponta para uma possvel democratizao do acesso
ao saber. Porm, as TIC no podem contribuir para os avanos sociais e para a
democracia a no ser que sejam mobilizadas para isso (TRAMONTE et al, 2005, p.
30). O nmero de acadmicos atendidos pelos polos da UaB no Mato Grosso do Sul
aumenta a cada ano, apesar de alguns casos de evaso a cada processo seletivo, cresce a
procura pelos cursos oferecidos.
Essa mobilizao ocorrer caso as novas geraes sejam educadas na
perspectiva de valorizar a humanizao das relaes sociais. Segundo Savater (2003) a
educao humanista ir desentranhar criticamente a mediao professor-aluno
(SAVATER apud MARTIN-BARBERO, 2003a, p. 16). A educao voltada para a
43
13
Para Marilena Chau (1980), na obra intitulada Convite filosofia, a autora defende
uma
educao
crtica,
ao
afirmar
que,
com
privilgio
dado
ao
plo
Consideraes Finais
Esse artigo teve como objetivo analisar a importncia dos polos presenciais da
UaB no estado de Mato Grosso do Sul e a contribuio da educao distncia na
formao de professores, especificamente dos docentes que atuam na educao bsica e
EJA. Atravs da pesquisa realizada com os egressos do curso de pedagogia, foi possvel
fazer uma caracterizao do perfil desses educadores; alm de apontar dados
significativos em relao s dificuldades encontradas por esses profissionais, diante da
realidade da sala de aula.
Outro aspecto analisado nesse trabalho foi a importncia do papel do tutor no polo
presencial, permitindo que se afirme que a figura do tutor presencial age no somente
no mbito do presencial fsico, mas que tambm atua no presencial virtual. O
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14
45
15
REFERNCIAS
AZEVEDO, Israel Belo de. Manual Sucinto de redao de Textos Cientficos.In: __________.
O prazer da produo cientfica. 5. ed. Piracicaba: Ed. UNIMEP, 1997. p. 101-134.
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______. Portaria 301/1998, de 07 de abril de 1998. Dispe sobre a regulamentao dos
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de autorizao,
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BELLONI, Maria Luisa. Educao a distncia. Campinas, SP: Autores Associados, 1999.
HARVEY, David. A Condio Ps-Moderna, So Paulo, Loyola, 1993.
CHAU, Marilena. Convite filosofia. So Paulo: tica, 2005.
46
INTRODUO
O objetivo desse trabalho identificar os desafios do professor de msica na
educao bsica, demonstrando a necessidade de se estabelecer uma relao entre as prticas
pedaggicas de licenciados em msica e a formao recebida. Esta temtica encontra-se
relacionada ao projeto de pesquisa, em andamento, desenvolvido no programa de Mestrado
em Educao da Universidade Catlica Dom Bosco, intitulado O trabalho e o bem-estar do
professor de msica: os desafios em escolas de educao bsica de Campo Grande-MS.
O trabalho apresentado foi realizado por meio de uma reviso bibliogrfica, onde se
utilizou a contribuio de Tardif, Gauthier, Lessard, Gatti, Imbernn e outros para explicar o
trabalho docente, os saberes necessrios profisso e formao docente. Tambm foram
47
48
Ainda segundo Penna (2004), essas escolas especializadas so vistas como atraentes
e protetoras por muitos professores e isso se deve ao fato de que no tiveram uma formao
que os envolvesse com a democratizao da arte e da cultura.
A escola de educao bsica um espao propcio para se ensinar msica e neste
ensino, de acordo com Fonterrada (2008), no podemos priorizar a expresso verbal em
detrimento da no verbal. Segundo essa autora h de se ter o cuidado de no se negligenciar o
fazer musical.
A escola um espao ideal para o fazer musical. Os alunos esto juntos e
disponveis, e no difcil motiv-los a participar de atividades musicais, se
o professor tiver competncia para isso. No se descarta, claro, a discusso,
a anlise, ou a comparao, mas essas atividades devem permear a prtica,
reforando-a e de modo algum substituindo-a ou impedindo que ocorra.
(FONTERRADA, 2008, p.272)
49
50
atividade de interaes humanas, relao entre um trabalhador e outro ser humano. Nessa
perspectiva, Tardif e Lessard (2012) desenvolvem a ideia do trabalho docente como uma
atividade social, onde o saber integra saberes cognitivos, de experincias curriculares e
disciplinares que so assimilados dentro do seu contexto profissional.
Esses autores criticam a viso prescritiva e normativa do trabalho docente, na qual o
professor submetido a regras e normas impostas por quem est no poder, por meio de
controle burocrtico, do controle do tempo, de tarefas e contedos prescritivos e etc. Essa
viso enfatiza mais o que o professor deve ou no fazer e no o que ele e faz. Segundo os
Tardif e Lessard (2012), h um grande perigo que ameaa as pesquisas sobre a docncia pois,
para eles, ...elas se fundamentam as mais das vezes sobre abstraes a pedagogia, a
didtica, a tecnologia do ensino, o conhecimento....
No fundo, o que frequentemente se esquece ou negligencia na educao,
que a escola, da mesma forma que a indstria ou o sistema hospitalar,
repousa em ltima instncia, sobre o trabalho realizado por diversos grupos
de agentes. Para que essa organizao exista e perdure preciso que esses
agentes, servindo-se de diversos conhecimentos profissionais e apoiando-se
em alguns recursos materiais e simblicos, cumpram tarefas especficas,
realizadas em funo de obrigaes e objetivos especficos. , portanto,
imperativo que o estudo da docncia se situe no contexto mais amplo da
anlise do trabalho dos professores e, mais amplamente, do trabalho
escolar. (TARDIF e LESSARD, 2012, p.24)
51
Nos tempos atuais, o papel da escola no est restrito a transmisso do que est
estabelecido e legitimado pela cincia e pela cultura. Segundo Cunha (1999), hoje cabe
escola resolver questes que antes eram obrigao da famlia, como hbitos e valores morais.
Como se isso no bastasse, a lgica capitalista da organizao da sociedade
comeou a exigir, com maior nfase, que a escola passasse a realizar a
preparao para o trabalho, isto , fizesse o conhecimento cientfico se tornar
aplicvel s necessidades do mercado. (CUNHA, 1999, p.129).
Assim, torna-se importante tambm olhar para formao do professor e pensar como
esta se d. Esse professor est sendo preparado de fato para lidar com toda diversidade que faz
parte da sociedade atual e que se mostra to presente dentro da escola? Os futuros
profissionais, especificamente aqueles do curso de licenciatura em msica, esto sendo
preparados para desenvolver habilidades tcnicas e performance instrumental ou, enquanto
educadores que sero, esto sendo estimulados a assumir uma posio mais crtica e
participativa dentro da escola?
No h consistncia em uma profissionalizao sem a constituio de uma
base slida de conhecimentos e formas de ao. Com essas conceituaes,
estamos saindo do improviso, da ideia do professor missionrio, do professor
quebra-galho, do professor arteso, ou tutor, do professor meramente
tcnico, para adentrar a concepo de um profissional que tem condies de
confrontar-se com problemas complexos e variados, estando capacitado para
construir solues em sua ao, mobilizando seus recursos cognitivos e
afetivos. (GATTI, 2010. p. 1360)
52
53
54
profissionais importante, uma vez que eles podem contribuir para a formao de novos
professores e para o reconhecimento e qualificao da profisso docente.
Para Queiroz (2005) a formao do professor de msica um dos grandes desafios
das licenciaturas, sabe-se que diante da complexidade que envolve o projeto poltico
pedaggico desses cursos e dos mltiplos espaos de atuao do professor de msica, no
cabe a total responsabilidade dessa formao somente licenciatura. Segundo Queiroz:
No entanto, mesmo tendo conscincia das dificuldades para determinar um
perfil especfico para professores que lidam com o ensino da msica de
diferentes formas, em diferentes contextos e situaes, e com diferentes
sujeitos, entendemos que h competncias que, de maneira geral, so
imprescindveis a todo profissional da rea de educao musical.
(QUEIROZ, 2005, p.2)
CONSIDERAES FINAIS
Diante das transformaes da sociedade, da complexidade do comportamento
humano, do surgimento de novos paradigmas, novas formas de se relacionar, pensar, agir,
sentir, so necessrios novos comportamentos, novas atitudes e novos pensamentos tambm.
Discutir o trabalho docente, especificamente do professor de msica, colabora para a
formao da sua identidade profissional, para a reflexo desse professor sobre o seu trabalho e
o que este representa para a comunidade escolar e para a sociedade em geral.
importante buscar compreender como o professor se relaciona com o seu trabalho,
que meios ele se utiliza para enfrentar os desafios impostos pelos novos paradigmas da
sociedade e que esto presentes no meio escolar, no dia a dia da escola, nas relaes com os
alunos, entre os professores, com a gesto e em todas as esferas da educao. A autonomia to
desejada pelos professores mais um dos desafios que se impe profisso, pois esta sempre
estar merc de normas polticas e culturais que atravessam o cotidiano do professor.
55
Cabe tambm refletir sobre a formao desse profissional, que precisa romper com o
modelo de professor transmissor de contedo que nega ou fecha os olhos para o contexto
social, a diversidade presente em sua sala de aula, o conhecimento dos alunos e tantos outros
aspectos importantes.
A formao deve preparar os futuros professores para lidar com toda a diversidade,
deve lev-los reflexo e crtica sobre suas aes articuladas com a prtica pedaggica. Aos
professores cabe buscar sempre por atualizao e valorizao desses saberes.
Nessa jornada no h caminhos seguros e trajetos definitivos, mas sim possibilidades
e enfrentamentos, as possibilidades sempre surgem quando alguma situao nova aparece
(muitas vezes para desestabilizar) e o professor precisa ressignificar, refletir, criar e enfrentar.
Nesse caminhar ele vai construindo e consolidando saberes e experincias significativas que o
auxiliaro na sua formao.
No tem como apontar uma nica causa para os problemas e desafios enfrentados no
dia a dia da escola, como tambm no h um nico caminho a ser seguido pelos professores.
preciso que se coloque o conhecimento em dilogo e em cooperao, no s entre os
professores, mas tambm com o mundo e com as experincias de vida de cada um.
56
REFERNCIAS
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57
Resumo
O presente trabalho traz um recorte da dissertao A Prtica Docente e a Organizao
Tempo/Espao na Pr-escola e tem por objetivo discorrer sobre o conceito de infncia e seus
reflexos na organizao tempo/espao da pr-escola. Inicialmente o texto apresenta uma viso
panormica do processo histrico da concepo de infncia e utilizou-se como referncia o
pressuposto terico-metodolgico que concebe a infncia como uma construo social, de
maneira que a criana entendida como um ser integral e como um sujeito de direitos,
compreendendo o desenvolvimento infantil como um processo no qual deve ser considerada a
multiplicidade de dimenses e aspectos a ele inerentes. Em seguida descreve as caractersticas
da pesquisa que se definiu do ponto de vista metodolgico como uma investigao com
abordagem qualitativa em que os dados foram coletados por meio de entrevistas
semiestruturadas com duas professoras de educao infantil. Por fim apresenta algumas
anlises referentes realidade observada em que a concepo de infncia oscilante em
diversas perspectivas e o contexto adultocntrico so evidenciados. Ao descrever a
organizao do tempo/espao pr-escolar, os registros e as anlises aqui apresentados trazem
elementos que explicitam aspectos de uma realidade especfica, em um tempo determinado,
portanto, fazem parte de uma dinmica que, em seus limites e potencialidades, busca apontar
caminhos para redimensionamentos da prtica docente na Educao Infantil, bem como
demandas de estudos subsequentes, no sentido de contribuir com o desenvolvimento de aes
educativas em que a relao do dia-a-dia na educao infantil desenvolva uma prtica menos
escolarizante e mais voltada para a construo de seres sociais, histricos e culturais,
valorizando o brincar e a interao como eixos articuladores da organizao tempo/espao.
Palavras-chave: Concepo de infncia. Organizao tempo/espao na pr-escola. Prtica
docente. Brincar.
1
Pedagoga, acadmica do Programa de Mestrado em Educao da Universidade Catlica Dom Bosco (UCDBMS) e bolsista PROSUP/CAPES. E-mail: [email protected].
2
Pedagoga, mestrado em educao/UCDB e doutorado em rea interdisciplinar/Desenvolvimento Local/UCM
Universidade Complutense de Madri/Espanha. Atua como docente do Programa de ps-graduao, Mestrado e
Doutorado em Educao /UCDB Universidade Catlica Dom Bosco. Lder do Grupo de Estudos e Pesquisa da
Docncia na Infncia/GEPDI e membro do Conselho Gestor do Frum de Educao Infantil de MS. E-mail:
[email protected].
3
Pedagoga, acadmica do Programa de Mestrado em Educao da Universidade Catlica Dom Bosco (UCDB MS) e bolsista CAPES. E-mail: [email protected]
58
Introduo
A Concepo de Infncia
59
Em Infncia e educao infantil : uma abordagem histrica. 2. ed. Porto Alegre: Mediao, 1998.
Posteriormente publicado In: VAZ, A.F; MOMM, C.M; Educao infantil e sociedade: questes
contemporneas. Nova Petrpolis: Nova Harmonia, 2012.
60
61
O objetivo, ento da famlia de posses, era a instruo dos filhos para que ocupassem seu
lugar na herana do patrimnio familiar (OLIVEIRA, 2005).
Isso configurou a manifestao de outro tipo de sentimento para com a infncia: a
moralizao. Neste quadro, a criana passou a ser entendida como um ser incompleto,
carecendo assim ser moralizada atravs da educao feita pelo adulto (KRAMER, 1995).
Frente ao exposto, percebe-se que a partir do sculo XVII a educao da infncia
passou ento a constituir preocupao. O pensamento pedaggico iluminista inaugurou um
novo momento na educao da infncia, em que se destacam as contribuies de Rousseau e,
posteriormente, de Pestalozzi e Froebel. Rousseau impactou as perspectivas pedaggicas no
sculo XVIII quando colocou no centro de sua teorizao a criana, elaborando uma nova
imagem desta no contexto de sua educao natural (OLIVEIRA, 2005).
Historicamente, as crianas sempre estiveram presentes junto s sociedades humanas. No
entanto, a concepo de infncia algo em continua construo e para compreender a
instaurao do processo de ressignificao da infncia, sua condio histrica e cultural,
torna-se importante descrever como este conceito foi se constituindo no decorrer do tempo. O
modo de pensar como a criana deve ser tratada e como deve ser sua educao, expressa
concepes subjacentes de infncia, educao e sociedade (CORSARO, 2011).
A respeito da ideia de infncia, Kramer (1982, p.18) afirma:
62
Seria possvel ainda citar diversos pesquisadores que pensaram a educao e a infncia
durante esse sculo e que contriburam para as concepes que hoje temos, como: John
Dewey, Jean Piaget, Lev S. Vygotsky, e outros.
No Brasil, as discusses a respeito da educao infantil adquiriram maior destaque
a partir da dcada de 1990, acompanhando as mudanas polticas e legais trazidas com a
redemocratizao do pas. Diversas mobilizaes da sociedade civil marcaram o final da
dcada de 1970 e de 1980 por que demandavam a extenso do direito educao para as
crianas pequenas (CAMPOS et al, 2006).
Recentemente, h pouco mais de duas dcadas, iniciaram-se estudos sobre as
crianas na sociologia impulsionados por interesse pelos grupos marginalizados, como as
mulheres. Entende-se que a feminilidade estivera intimamente ligada a maternidade e assim,
mulheres e crianas se mantinham subordinadas e com pouco destaque social. Tambm se
considera relevante a ascenso de perspectivas tericas interpretativas e construtivistas na
sociologia, isso significa dizer que a infncia e todos os objetos sociais so vistos como sendo
interpretados, debatidos e definidos nos processos de ao social, portanto, so vistos como
produtos ou construo social (CORSARO, 2011).
Atualmente, a sociologia da infncia considera que as crianas so agentes
sociais, ativos e criativos que produzem suas prprias e exclusivas culturas infantis, enquanto,
simultaneamente, contribuem para a produo das sociedades adultas (CORSARO, 2011,
p.15). O autor explica que a infncia entendida como uma categoria estrutural permanente
da sociedade. Embora seus membros mudem continuamente, e sua natureza e concepo
variem historicamente. Como forma estrutural, a infncia est inter-relacionada com outras
categorias, assim, as alteraes nas demais categorias influenciaro a infncia, evidenciando
que as crianas afetam e so afetadas pela sociedade.
A Pesquisa
Esta pesquisa definiu-se do ponto de vista metodolgico como uma investigao com
abordagem qualitativa onde se tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o
pesquisador como seu principal instrumento. Os dados coletados mostram-se descritivos e a
preocupao com o processo foi muito maior do que com o produto. O significado que as
63
pessoas do s coisas e sua vida so focos de ateno especial e a anlise dos dados tende a
seguir um processo indutivo (BOGDAN e BIKLEN, 1994).
A pesquisa possui delineamento descritivo e carter exploratrio em que a pesquisa de
campo foi realizada em uma instituio pblica de ensino, de porte mdio, localizada no
municpio de Campo Grande MS.
Nas pginas seguintes deste trabalho, apresenta-se a anlise das informaes oriundas
da pesquisa que investigou a prtica docente e a organizao tempo/espao na pr-escola. Tais
informaes foram construdas a partir das observaes vivenciadas em diversos momentos
no ambiente escolar investigado e das entrevistas e conversaes realizadas com as
professoras regentes das duas turmas investigadas.
Para a anlise das observaes recorremos ao dirio de campo, instrumento
importante, que possibilitou a verificao e a identificao dos aspectos vivenciados
diariamente pelos participantes da pesquisa. Analisaram-se tambm os planos de aula das
professoras para conhecer como se dava a periodicidade, a alternncia, a sequncia de
atividades planejadas e desenvolvidas nas duas turmas de pr-escola.
A pesquisa teve incio na 3 semana de aula do ano letivo. Foi desenvolvida ao longo
de um ms e durante o seu percurso foi possvel observar inmeros momentos e situaes
vivenciadas pelos sujeitos envolvidos desde o momento inicial das aulas, ou seja, desde a
chegada das crianas na escola at o momento da sada, o que tornou vivel acompanhar o
trabalho pedaggico realizado em sala, na biblioteca, no ptio, na sala de informtica, com
jogos e brincadeiras.
Para anlise dos dados, foi utilizada a tcnica conhecida por anlise de contedo, onde
qualquer comunicao que veicule um conjunto de significaes de um emissor para um
receptor pode, em princpio, ser decifrada por esta tcnica. A anlise de contedo parte do
pressuposto de que, por trs do discurso aparente, simblico e polissmico, esconde-se um
sentido que convm desvendar. Nesta anlise, o pesquisador busca compreender as
caractersticas, estruturas e temticas a serem examinadas. O esforo do analista , ento,
duplo: entender o sentido da comunicao, como se fosse o receptor normal, e,
principalmente, desviar o olhar, buscando outra significao, outra mensagem, passvel de se
enxergar por meio ou ao lado da primeira (LDKE, 1986).
64
uma criatura bastante agitada, um ser muito curioso. Acho que o foco
maior deles a curiosidade e a inquietao. No a inquietao s de
movimentos, mas uma inquietao de conhecimento, de busca de
conhecimento. Vejo assim o tempo todo: o que isso? O que aquilo? Est
assim... sempre em busca. Ento uma inquietao do saber, um ser inquieto
(Professora da Turma B).
Percebe-se nesta declarao que a criana foi narrada como um ser que aprende,
cria, pergunta, ou seja, a professora reconhece o tempo da infncia como um tempo de muitas
descobertas, muitas aprendizagens.
65
66
deixou marcas na educao. Evidenciando esta realidade, ao falar a respeito do que a criana
da pr-escola precisa aprender, a professora da turma A disse que preciso aprender:
Redin (2007, p. 91), nos confirma essa posio ao afirmar que acreditamos que a
escola infantil contempornea tem acima de tudo o compromisso com a criana, com a sua
cidadania, com a sua cultura. possvel notar que as professoras tm uma preocupao
ldica em relao criana expressa pelo discurso, ao mesmo tempo em que centram suas
atenes no ensino.
Os depoimentos abaixo reforam essa preocupao:
67
68
naturalmente produzidas pela singularidade de suas experincias. Tal fato aponta mais uma
vez que cada indivduo afetado distintamente pelo universo formativo que o envolve, ou
seja, pela trajetria de vida pessoal, acadmica e profissional das docentes, visto que estes so
historicamente/contextualmente afetados tanto pela academia como pela sociedade de modo
geral.
Entende-se assim que a docncia uma profisso que se constri na dinamicidade
das relaes, envolvendo elaboraes tericas, experincias vividas em atuao no magistrio,
ou seja, por toda a gama de informaes que possvel ter acesso enquanto desenvolve-se
como profissional. nessa perspectiva que se reconhece o papel importante da concepo de
infncia das docentes, pois impacta a prtica docente e, consequentemente, a organizao do
tempo/espao pr-escolar.
Algumas Consideraes
69
REFERNCIAS
70
TONUCCI, F. Quando as crianas dizem: agora chega! Porto Alegre: Artmed, 2005.
71
INTRODUO
72
73
74
o destaque a elementos internos que vo para alm dos professores e alunos, como a
Associao de Pais e Mestres(APM) de personalidade jurdica prpria, de direito privado e
interno, sem fins lucrativos que visa a promoo de um melhor entrosamento entre os
participantes do processo educativo. (MATO GROSSO DO SUL, 2012, p. 22)
O Grmio Estudantil/Agentes Jovens-ProEMI/PJF atua como uma instituio civil
congregada por estudantes da escola, visando organizar, representar e defender os interesses
individuais e coletivos dos mesmos. (Id., ibid.). Os Agentes Jovens-ProEMI/PJF 1 atuam como
protagonistas na interlocuo com toda a comunidade escolar, buscando a conquista dos
objetivos pactuados como melhoria da qualidade de ensino e diminuio dos altos ndices de
evaso e faltas no Ensino Mdio. Considerado essencial para o xito das aes do Jovem de
Futuro, o Agente Jovem 2 atua como protagonista do processo de mobilizao da comunidade
escolar. Contribui para a conquista de objetivos pactuados, como a melhoria da qualidade do
ensino, dos ndices de frequncia e do clima coletivo, compartilhando desafios e as metas
estabelecidas no planejamento estratgico da instituio. Os estudantes promovem e divulgam
aes relacionadas ao projeto, alm de atividades culturais, esportivas e vinculadas
preservao do meio ambiente.
Ao desempenharem essas tarefas, tornam-se agentes de mudana, sendo vistos
como exemplos a serem seguidos pelos colegas. Por isso, essa formao de Agentes Jovens
visa fortalecer o papel mobilizador e articulador dos alunos nas escolas, alm de ampliar a sua
atuao participativa e cidad na comunidade escolar. Os Agentes Jovens so,
preferencialmente, representantes e lderes de turma do Ensino Mdio ou eleitos pelos alunos
para represent-los. Os candidatos devem ser comunicativos, ter esprito de equipe,
capacidade de liderana junto ao grupo e um bom relacionamento com gestores e professores.
Para desempenhar esse papel, participam de encontros de capacitao, recebendo uma
O Projeto ProEMI/PJF( Projeto Jovem de Futuro) centraliza-se na gesto e na avaliao de resultados, com
nfase no planejamento e monitoramento, utiliza-se de metas e indicadores ao prestar apoio s polticas pblicas
do Estado. Tem por objetivo promover apoio tcnico e financeiro s escolas de Ensino Mdio com vistas ao
fortalecimento e desenvolvimento de propostas curriculares inovadoras. Ainda, o de expandir o atendimento e
melhorar a qualidade do ensino mdio, bem como desenvolver e reestruturar o ensino mdio no profissional, de
forma a combinar formao geral, cientfica, tecnolgica, cultural e conhecimentos tcnico-experimentais.
2
Considerado essencial para o xito das aes do Jovem de Futuro, o Agente Jovem atua como protagonista do
processo de mobilizao da comunidade escolar. Contribui para a conquista de objetivos pactuados, como a
melhoria da qualidade do ensino, dos ndices de frequncia e do clima coletivo, compartilhando desafios e as
metas estabelecidas no planejamento estratgico da instituio.
75
Objetivo geral: Contribuir para que os jovens concluam o ensino mdio com
qualidade. Objetivos especficos: Desempenho dos jovens do ensino Mdio
melhorado. Permanncia dos jovens na escola. Metas: Aumentar em 25 pontos a
proficincia mdia da escola em Lngua Portuguesa e Matemtica, em trs anos.
Diminuir em 50%o percentual de estudantes no padro de desempenho baixo, na
escala SAEB de Ensino Mdio, em trs anos. Resultados esperados: Estudantes com
competncias e habilidades em Lngua Portuguesa e Matemtica, desenvolvidas.
Estudantes com alto ndice de frequncia. Professores com alto ndice de frequncia.
Prticas pedaggicas melhoradas. (MATO GROSSO DO SUL, 2012. pp15-16)
Alves (2005) afirma que ao se produzir uma forma histrica de educador e uma
forma histrica de estudante, produz-se tambm os recursos didticos, ou a mediao de tais
recursos que envolve os procedimentos tcnico-pedaggicos do educador, as tecnologias
educacionais que esto relacionadas prticas pedaggicas, como tambm os contedos
programados que servem formao dos educandos.
76
Como
facilitadores
do
processo
de
ensino-aprendizagem
para
Livro Didtico O livro didtico constitui em patrimnio pblico que deve ser
entregue aos responsveis pelo estudante (menor de idade), quando maior ao prprio
estudante. Por se tratar de patrimnio pblico, os livros, no consumveis, entregues
e/ou aos pais e estudante devem ser devolvidos ao final de cada ano letivo, em bom
estado de conservao. A no devoluo implica em prejuzos para si e para os
demais estudantes, uma vez que os livros didticos entregues sero repassados a
outros estudantes, conforme legislao vigente. (MATO GROSSO DO SUL, 2012.
P. 27).
77
show), mouse (sem fio) Hubs USB, caixas de som, fones de ouvido sem fio, microscpio
com interfaces para televiso, vdeo e computador, tela de projeo, lousa interativa,
telescpio e outros (MATO GROSSO DO SUL, 2012, p. 41), cabendo ao professor gerente
da sala de tecnologias e recursos miditicos o gerenciamento de tais recursos.
Como articuladora de todos os elementos do processo educativo est a
metodologia do currculo, que permite conhecer os limites de cada aluno e possibilita
estabelecer aes que visem melhoria a qualidade de ensino, o que requer do professor a
capacidade de ressignificar saberes antigos, como ler, escrever, falar, contar, calcular e valerse de tais recursos para analisar e compreender o mundo.
O currculo escolar pode ser compreendido como o planejamento das aes
escolares que possibilitaro ao educando uma real compreenso das necessidades sociais e das
diversas possibilidades de conhecimentos e aos professores e gestores a organizao do
trabalho pedaggico. O currculo direciona o trabalho escolar de maneira que as atividades
desenvolvidas possam caminhar para o desenvolvimento da pesquisa e do trabalho cientfico,
valorizar a importncia do trabalho escolar como elemento necessrio ao desenvolvimento
cultural, que ocorre para o desenvolvimento humano em geral. (SAVIANI,1991, p.105).
A LDB/1996 define em seus princpios e finalidades no Art. 2 que o ato de
educar : preparar o indivduo para o seu desenvolvimento, para a cidadania e para o
trabalho. O currculo no se elabora no vazio, pressupe a representao do universo do
conhecimento armazenado e da escola que atenda perspectiva de uma cultura.
O currculo no pode ser concebido como algo inaltervel, como a cultura no
pode ser compreendida como esttica, porque pressupe ser a prtica das relaes sociais de
qualquer natureza, centradas nas relaes de poder. Assim, tambm, o currculo.
O currculo o conjunto das atividades desenvolvidas pela escola e, portanto tudo
o que ela faz para promover o acesso ao saber elaborado. a partir desta compreenso de
currculo que a especificidade da educao ganha uma importncia ainda maior, porque o
papel da escola fica definido mais claramente quanto formao do cidado e sua
participao na sociedade. Compreender a posio que a escola ocupa no papel de mediadora
da construo do saber elaborado compreender, de fato, o significado de educar.
A LDB/1996 em seus artigos 22 ao 36 determina sobre a organicidade da
educao bsica e estabelece quais so os contedos curriculares obrigatrios. A
complexidade do currculo, aliada s tecnologias, possibilitam o deslocamento do eixo da
pedagogia do ensino enciclopdico para os processos de aprendizagem real/virtual, processos
78
Ingls;
Sala
9:
Histria/Filosofia/Sociologia;
Sala
10:
Sociologia/Filosofia/Histria; Sala 11: Geografia. A unidade escolar contm doze (12) salas
de aula ambiente com a mdia de trinta (30) conjuntos escolares, em cada sala h ventiladores
de teto e janelas vitrs, em cinco (5) salas h ar condicionado. Cada sala equipada com um
(01) armrio de ao com duas portas, seis (06) prateleiras de madeira,. Para a sala em que
ministrada a disciplina de Biologia h uma (01) dessecadora de folhas e um liquidificador
industrial, trs (03) bancadas com lavatrio. Na escola h uma Sala de Leitura (onde tambm
so ministra algumas aulas de Lngua Portuguesa e Literatura) com uma bancada e vinte (20)
cadeiras de madeira, um rack, uma estante para livros, quarenta (40) poltronas de
polipropileno, cento e cinquenta (150) livros de literatura, uma (01) TV 32 com suporte fixo,
um aparelho data show, tela para projeo, um aparelho home theater, um note book 3gb, um
ar condicionado, trs (03) calhas com duas lmpadas fluorescentes e quatro (04) janelas vitr,
trs (3) prateleiras coloridas de ao.
79
80
Tal questo vem tona, uma vez que a pedagogia de resultados implantada pelo
Instituto Unibanco em parceria com o Ministrio da Educao/MEC e a instncia estadual
(Secretaria de Estado de Educao/SED), apresentam aos gestores escolares, representantes
dos professores e da coordenao pedaggica o quadro abaixo:
81
Fonte: Mato Grosso do Sul, Secretaria de Estado de Educao. Proposta Pedaggica. Disponvel no endereo
eletrnico: <ppp.sistemas.sed.ms.gov.br/ProjetoPoliticoPedagogico/Visualizar.aspx?PP PID=345>. Consultado
em; 03 de out. de 2014.
CONCLUSO
Diante do exposto, o estudo sobre a organizao do espao escolar por meio das
salas laboratrios ou salas temticas como organizao do trabalho educativo relevante, haja
vista que o Ensino Mdio vem ganhando destaque no cenrio nacional.
82
REFERNCIAS
ALVES, G.L. O trabalho didtico na escola moderna. Campinas: Autores Associados,
2005.
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BRASIL. Lei
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em:
83
84
2
Objetivos
85
3
Metodologia
Pesquisa aprovada pelo comit de tica, constante na Plataforma Brasil sob o nmero 387373149.0000.0021.
86
4
essas escolas. Os artigos de Dvila (1998), Nogueira (2004), Brando, Canedo e Xavier
(2012), Quaresma e Lopes (2012), merecem ser citados.
Em relao aos procedimentos metodolgicos de coleta dos dados empricos,
informamos que este foi realizado em duas etapas.
1) Aplicao de questionrios a estudantes do 3 ano do Ensino Mdio integrado aos
cursos tcnicos mais procurados e que foram indicados pelo IFMS em fevereiro de 2015, em
data escolhida pelo Instituto e recolhidos no mesmo dia.
2) Realizao de entrevistas com 11 professores, 2 coordenadores e 1 diretor do
IFMS, na sede do campus de Campo Grande, em data e horrio previamente agendados pelo
citado Instituto e em conformidade com a disponibilidade dos profissionais.
Aps encerrarmos as entrevistas com os profissionais da educao, comeamos a
coleta junto s famlias dos estudantes. Houve a participao de 10 famlias que foram
entrevistadas em sua maioria, em suas prprias residncias, em data e horrio agendados
conforme a disponibilidade e interesse delas.
A anlise a ser desenvolvida com esse segmento compreender 4 pais e 4 estudantes
do curso tcnico em informtica e 6 pais e 6 estudantes do curso tcnico em eletrnica do
IFMS. Para esse estudo apresentamos apenas os resultados parciais das famlias, na qual
efetuamos a anlise de apenas uma delas, ficando o resultado e a anlise completa para o
relatrio final da dissertao de mestrado.
`
Discusso e Resultados
Curso tcnico
Composio da famlia
Nvel de escolaridade
Renda familiar
Tcnico em
Mecnica
Apenas a me e irmos do
estudante (Famlia 3)
Me-Ps-Graduao
completa
Pai- Superior completo
De 10 a 20 salrios
mnimos
Tcnico em
Pai, me e irmos do
Me- Superior
completo
De 3 a 5 salrios
87
5
Mecnica
estudante (Famlia 7)
mnimos
Tcnico em
Mecnica
Pai, me e irmos do
estudante
De 3 a 5 salrios
mnimos
(Famlia 10)
Pai, me e irmos do
estudante (Famlia 9)
Me- Ps-Graduao
completa
Tcnico em
Mecnica
De 10 a 20 salrios
mnimos
Pai- Ps-Graduao
Incompleta
Tcnico em
Mecnica
Pai, me e irmos do
estudante (Famlia 8)
Me- Ps-Graduao
completa
De 5 a 10 salrios
mnimos
Tcnico em
Mecnica
Apenas a me e o
estudante (Famlia 1)
At 2 salrios mnimos
Apenas a me e o
estudante (Famlia 2)
Me- 5 a 8 srie do
fundamental
At 2 salrios mnimos
Pai- no sabe
Tcnico em
Informtica
Pai, me e irmos do
estudante (Famlia 4)
De 3 a 5 salrios
mnimos
Pai-- 5 a 8 srie do
fundamental
Tcnico em
Informtica
Pai, me e irmos do
estudante
Me- Superior
completo
De 5 a 10 salrios
mnimos
Pai, me e irmos do
estudante (Famlia 6)
De 3 a 5 salrios
mnimos
Pai-5 a 8 srie do
fundamental (Famlia 5)
Fonte: Entrevistas realizadas com as famlias do IFMS- campus de Campo Grande (2015)
Organizao: Pereira (2015)
Sobre as dez famlias entrevistadas, percebemos que seis delas so compostas pelos
estudantes, o pai, a me e os irmos. Segundo Segalen (1999), trata-se aqui da chamada famlia
nuclear, termo utilizado por Talcott Parsons, composta por um grupo de pessoas associadas pelos
laos do casamento e da filiao e que, alm disso, ocupam um mesmo espao residencial.
88
6
Apenas uma famlia composta pelo estudante, seu pai e sua me, sem a presena de
irmos. Duas famlias so compostas apenas pelo estudante e sua me e uma famlia
composta pelo estudante, seus irmos e apenas a me.
Essas famlias, conforme Segalen (1999) so conhecidas como famlias
monoparentais, termo referenciado por Nadine Lefaucheur, que designa atualmente, lares
que so chefiados por apenas uma pessoa e que tem os filhos a seu cargo, em contraposio
aos lares comandados por duas pessoas de sexo oposto.
Assim, nesse grupo pesquisado, a maioria das famlias segue a composio familiar
tradicional, da chamada famlia nuclear, composta pelo pai, me e filhos.
Sobre a renda das famlias, observa-se que quatro delas esto na faixa salarial entre 3 a
5 salrios mnimos. Duas famlias possuem renda entre 10 a 20 salrios mnimos, duas
possuem renda entre 5 a 10 salrios mnimos e duas possuem at 2 salrios mnimos. As duas
famlias que possuem a menor renda so justamente aquelas compostas apenas pelas mes e
seus nicos filhos.
Com relao ao nvel de escolaridade das famlias, podemos inferir que elas possuem,
de maneira geral, um bom capital cultural. Destaca-se a presena de trs mes com Psgraduao completa, duas com ensino superior completo, quatro com ensino mdio completo
e apenas uma com ensino fundamental, de 5 a 8 srie.
Os pais, por sua vez apresentaram cinco com ensino superior completo, um com Psgraduao incompleta, um com ensino fundamental de 5 a 8 srie, um com ensino mdio e
apenas um pai, no se soube informar nada sobre seu grau de escolarizao.
Duas das mes que apresentaram renda de at dois salrios mnimos tambm possuam
menor nvel de escolarizao: uma delas cursou apenas o ensino fundamental, de 1 a 5 srie
e a outra, o ensino mdio completo.
Segundo Bourdieu (2007) estudos como os realizados por Paul Clerc (1964) na Frana
demonstraram que h uma relao entre o nvel cultural global da famlia e o sucesso escolar
da criana. Comparando-se uma mostra de famlias com a mesma renda, cujos filhos
estudavam na 5 srie percebia-se que a proporo dos bons alunos maior entre os pais
diplomados. Isso indica que a influncia da famlia sobre o xito escolar dos filhos quase
que exclusivamente atribudo ao volume de capital cultural possudo pelo grupo familiar. O
grupo de famlias pesquisado possuidor de certo volume de capital cultural, com vrios pais
detentores de diplomas, o que nos leva a considerar relevante o papel desse patrimnio
cultural, na permanncia e xito escolar dos filhos at om presente momento.
89
7
Porm, o prprio Bourdieu (2007) chama a ateno para o fato de que os aspectos
culturais so apenas indicadores que nos auxiliam a situar o nvel cultural de cada famlia,
mas no traz elucidaes sobre o contedo dessa herana cultural que transmitida aos filhos
e nem sobre as formas como essa transmisso ocorre. Esses questionamentos necessitam de
maiores investigaes, principalmente nas fraes que compem a classe mdia, que
apresentam muita diferenciao e especificidades entre si, tornando as pesquisas nessa rea,
um trabalho mais complexo e desafiador.
Analisando a famlia 1 (ver quadro 1), composta pela me e seu nico filho,
constatamos a presena de algumas categorias de anlise associadas teoria de Bourdieu,
como: estratgia e mobilizao de capitais (econmico, cultural, social) em busca da
aquisio de novos patrimnios, que contribuam para a alterao na posio ocupada na
estrutura social.
Segundo Bourdieu (2007; 2010) as classes sociais para conseguirem manter ou
melhorar sua posio na estrutura social (ou em um campo) necessitam realizar reconverses
dos vrios capitais que possuem, em outras espcies mais rentveis e/ou mais legtimas (por
exemplo, do capital econmico em capital cultural). Mas, para isso, dependem das condies
objetivas de lucro que so oportunizadas aos seus investimentos e tambm da quantidade e
volume de capital que eles tm para reproduzir.
A relao entre a posse de diplomas e certificados escolares e a posio social
conquistada na estrutura social das sociedades modernas, levou as diversas classes sociais a
investirem mais intensamente no mercado escolar. Essa estratgia tem sido maciamente
utilizada pela classe mdia que vem aumentando cada vez mais seus esforos, na busca pela
posse do capital cultural institucionalizado (BOURDIEU, 2007).
Observamos que a renda da famlia 1, que de at 2 salrios mnimos, uma das
menores, comparada s das famlias do grupo que foram entrevistadas. Isso sinaliza que esse
ncleo familiar possui pouco volume de capital econmico, mas, apesar disso, a me no
mede esforos no apoio dado para o xito escolar do filho, adotando, por exemplo, a
estratgia de no deixar o filho trabalhar, mantendo-o apenas estudando, investindo, assim, a
maior parte dos recursos financeiros nos estudos do filho.
Para Bourdieu (2010) e Lahire (2004) embora no neguem a importncia do capital
econmico para o sucesso das estratgias de reproduo das famlias, apontam tambm outros
elementos essenciais para a incorporao por parte dos filhos, do capital cultural e escolar.
Destacam as trocas afetivas e a relao de amor estabelecida entre pais e filhos. A me, nesse
90
8
caso, alm de empregar grande parte de seus poucos recursos econmicos para a formao
escolar do filho, transmite-lhe ainda afeto e capital cultural.
Para Lahire (2004), o apoio moral e emocional assume um papel essencial nas famlias
que possuem poucos investimentos econmicos, pois revestem os filhos de um poder
simblico, que os fazem se sentirem importantes e valorizados no grupo familiar.
Outra estratgia adotada pela me, que possui ensino mdio completo, para compensar
o pouco patrimnio econmico e mobilizar outro capital, o cultural, para auxiliar no processo
de escolarizao do filho, orientando-o e incentivando-o sobre a importncia do estudo para
seu crescimento pessoal e profissional.
A famlia 1 analisada, conforme Segalen (1999) amolda-se ao tipo de famlia
monoparental em referncia a lares que so comandados por apenas uma pessoa e que tem
os filhos a seu cargo. Nesse caso, a me a principal incentivadora da escolarizao e da
transmisso cultural do filho.
Desse modo, o capital cultural transmitido pela me constitui elemento significativo
no processo de reproduo social da famlia que tem, na escolarizao superior dos
filhos, um recurso importante para promover relativa mobilidade social deles e,
indiretamente, da prpria unidade domstica. (ROMANELLI, 2011, p. 120).
91
9
forma, aumentam as chances de xito nesse projeto. [...] a vontade de limitar o nmero de
nascimentos e a vontade de dar uma educao secundaria as crianas exprime, nos sujeitos
que as renem, uma mesma disposio asctica. (BOURDIEU, 2007, p. 48).
Outro habitus relacionado classe mdia, e que est presente no discurso da famlia 1,
a forte crena e a expectativa em ascender socialmente por via da escolarizao formal,
resultante, talvez, em grande parte, devido ao sucesso conseguido pelas geraes familiares
anteriores, que conquistaram uma melhor posio social, por meio dos certificados escolares.
Essa busca da ascenso social por meio da escolarizao ficou exposta de forma clara,
na fala da me, quando em vrias oportunidades exps a possibilidade do filho fazer uma
faculdade. Ela espera que ele faa um curso superior e de preferncia, numa universidade
federal. Enfatizou que o filho j est vendo uma faculdade na mesma rea em que est
fazendo o curso tcnico.
Nesse mesmo sentido, o estudante tambm corroborou sua confiana na escola e no
desejo de ascender socialmente pela escolarizao. No questionrio que lhe foi aplicado, no
qual respondeu sobre a importncia da escola, assinalou que ela decisiva para o seu futuro.
As aspiraes das famlias quanto escolarizao dos filhos so limitadas pelas
oportunidades reais e objetivas que elas possam alcanar, ou seja, elas no almejam o
impossvel. O desejo razovel de ascenso atravs da escola no pode existir enquanto as
chances objetivas de xito forem nfimas. (BOURDIEU, 2007, p. 48).
Dessa forma, as mesmas condies objetivas que conduzem as atitudes e escolhas dos
pais com relao trajetria escolar dos filhos, definem tambm as atitudes e escolhas deles,
com relao escola.
Nota-se, ainda, que o curso tcnico mais uma estratgia dessa me, para assegurar a
continuidade dos estudos do filho. Ao terminar o ensino mdio, o filho ter tambm uma
profisso, e com isso, j poder trabalhar na rea que deseja fazer carreira profissional. Isso
um diferencial em relao a outros estudantes, que no optaram em fazer o ensino mdio
integrado a um curso tcnico e que tero que esperar o trmino da faculdade, para s ento,
comear a se inserir no mercado de trabalho.
Analisando a situao da famlia 1, percebemos que, dada a pouca renda, 2
em
comparao com as demais famlias participantes, a condio social pode ser uma grande
92
10
ameaa para o itinerrio formativo desse filho. Dessa forma, ele poder fazer jus a profisso
tcnica adquirida e assegurar, alm da sobrevivncia, a continuidade dos estudos.
Essa hiptese tambm confirmada pelo prprio estudante, que assinalou no
questionrio aplicado, que quando terminar o ensino mdio e o curso tcnico, pretende
trabalhar e continuar estudando para entrar na universidade. O mesmo tambm se confirma
com relao expectativa que o estudante tem em relao ao curso tcnico, respondida no
questionrio como o de possibilitar uma formao profissional para futuro emprego.
Assim, podemos inferir que a escolha em estudar no IFMS foi decidida, pela famlia,
principalmente, pela oportunidade de o filho poder cursar o ensino mdio junto com um curso
profissionalizante.
No entanto, tanto a expectativa da me, quanto a do filho, que o exerccio dessa
profisso de nvel mdio seja temporria e venha a ser substituda definitivamente, com a
concluso de um curso superior, que nesse caso, poder ser na mesma rea.
Outra estratgia defendida pela me, que a escola exija empenho dos alunos nos
estudos, condio considerada essencial para o sucesso escolar deles. Ela acredita no
somente que a escola tem que cumprir com seu papel, mas que o filho tambm tem que fazer
a parte dele e demonstrar interesse pelos estudos.
Nesse sentido, a proposta pedaggica da escola bem aceita pela me, expressa por
suas palavras: Para t l, tem que gostar de estudar e tem que se empenhar (Famlia 1).
Isso demonstra que a me quer que a escola cobre e exija resultados do filho, como estratgia
para se atingir o xito escolar. Essa atitude entendida por Bourdieu (2007; 2008) como a
boa vontade cultural, traduzida pelo esforo, dedicao e perseverana com que os
membros da classe mdia se empenham em adquirir a cultura considerada legtima.
As crianas das classes medias devem a sua famlia no s os encorajamentos e
exortaes ao esforo escolar, mas tambm, um ethos de ascenso social e de
aspirao ao xito na escola e pela escola que lhes permite compensar a privao
cultural com aspirao fervorosa a aquisio cultural. (BOURDIEU, 2007, p. 48).
93
11
Uma avaliao precisa das vantagens e desvantagens transmitida pelo meio familiar
deveria levar em conta no somente o nvel cultural do pai ou da me, mas tambm
o dos ascendentes de um e outro ramo da famlia (e tambm sem dvida, o do
conjunto dos membros da famlia extensa). (BOURDIEU, 2007, p. 42).
Consideraes Finais
94
12
Nesse sentido, a famlia ajuda a custear o filho no curso tcnico, tanto que ele no
trabalha, dedica-se apenas aos estudos, pelo menos at o seu trmino. Dessa forma, a crena
na escolarizao oferecida pela educao profissional modifica-se conforme as vrias fraes
que compem essa classe social. Quanto menor a renda da famlia, mais importncia ela
atribui aos cursos tcnicos e ao papel que eles podem desempenhar na escolarizao dos
filhos.
H uma forte crena na ascenso social por meio da escolarizao, inclusive, o prprio
curso tcnico visto, ele prprio, como importante estratgia para se atingir o objetivo de se
adquirir um certificado escolar, principalmente um diploma de nvel superior.
Nessa perspectiva, caso as dificuldades financeiras se intensifiquem, o diploma do
curso tcnico pode contribuir para que o filho pertencente a essa famlia, garanta sua
sobrevivncia e ainda continue seus estudos na universidade.
Assim, embora tenhamos conseguido alcanar alguns resultados quanto aos objetivos
que nos propusemos investigar, encerramos esse estudo, com a certeza de que ainda h muito
a ser feito, como conceitos e anlises que ainda necessitam de maior aprofundamento
emprico e terico.
REFERNCIAS
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02&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 27 mar. 2014.
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15
98
RESUMO:
O presente artigo traz um recorte da dissertao intitulada Programa um Computador por Aluno (PROUCA):
Formao e Prtica Docente desenvolvida na linha de pesquisa Prticas Pedaggicas e Suas Relaes com a
Formao Docente do curso de Mestrado do Programa de Ps-Graduao em Educao da Universidade
Catlica Dom Bosco em Campo Grande-MS. O PROUCA prev a distribuio de computadores portteis aos
alunos da rede pblica com foco na incluso digital e integrao das aes na escola para o uso das tecnologias
da informao e da comunicao (TIC). Neste recorte ao objetivo discutir a prtica docente no PROUCA, em
uma escola pblica estadual de Terenos-MS. A pesquisa define-se do ponto de vista metodolgico como uma
investigao com abordagem qualitativa e como instrumento de coleta de dados foi utilizada a entrevista
semiestruturada. Os sujeitos da pesquisa so 8 professoras do ensino fundamental e mdio que concluram o
curso oferecido pelo PROUCA em 2011. Os resultados apontam que a presena dos computadores portteis na
escola trouxe consigo dvidas, insegurana e o medo de trabalhar com algo desconhecido. As professoras
perceberam mudanas de cunho organizacional, tcnico e pedaggico nas aulas mediadas pelo laptop. Por essa
razo, as professoras argumentaram que necessitam de mais tempo para o planejamento e sugerem a
reorganizao do currculo no tempo e espao. Elas tambm sentem que poderiam aperfeioar as suas prticas
pedaggicas se a escola disponibilizasse de uma boa conectividade para o desenvolvimento das atividades no
laptop.
Palavras-chave:PROUCA. Laptop.Prtica Docente.Tecnologias da Informao e Comunicao.
1 INTRODUO
O presente artigo traz um recorte da dissertao intitulada Programa um Computador
por Aluno (PROUCA): Formao e Prtica Docente desenvolvida na linha de pesquisa
Prticas Pedaggicas e Suas Relaes com a Formao Docente do curso de Mestrado do
Programa de Ps-Graduao em Educao da Universidade Catlica Dom Bosco em Campo
Grande-MS. Neste recorte a finalidade discutir a prtica docente no PROUCA, em uma
escola pblica estadual de Terenos-MS.
Esta instituio escolar1com 343 alunos matriculados, em 2010, foi contemplada com o
Programa Um computador por aluno PROUCA do Ministrio da Educao - MEC em
parceria com a Secretaria Estadual de Educao de Mato Grosso do Sul. Este programa prev
a distribuio de computadores portteis aos alunos da rede pblica com foco na incluso
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2
digital e integrao das aes na escola para o uso das tecnologias da informao e da
comunicao (TIC). A escola foi beneficiada com 400 computadores portteis/laptops modelo
ClassMatePC com memria RAM de 512 MB, tela de LCD com sete polegadas, software
livre com cdigo aberto, editor de textos, planilhas, apresentao de slides e todos conectados
rede mundial de computadores por meio do dispositivo wireless para toda comunidade
escolar.
Diante disso, surgem desafios marcados por mudanas relacionadas prtica
pedaggica dos professores, os quais esto sendo provocados a romper com suas prticas de
utilizao de um nico laboratrio padro com 20 mquinas e lidar com alunos tendo em
mos um computador porttil/laptop conectado internet na sala de aula (Figura 1).
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3
Os sujeitos da pesquisa so professoras do ensino fundamental e mdio que concluram
o curso oferecido pelo PROUCA em 2011. Sendo 3 (trs) professoras dos anos iniciais do
ensino fundamental; 3 (trs) professoras dos anos finais do ensino fundamental e 2 (duas)
professoras do ensino mdio. Os sujeitos concordaram em participar da pesquisa mediante os
esclarecimentos dos objetivos, fundamentados nas normas do Comit de tica da
Universidade, bem como, assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido.
Os dados coletados para essa pesquisa se deram por meio de entrevista semiestruturada
durante o segundo semestre de 2012 e foram tratadas questes com foco na prtica docente
mediadas pelo laptop do PROUCA.
No sentido de manter o anonimato identificamos os sujeitos com nomes dos softwares
existentes no laptop. Ressaltamos que a escolha dos nomes no visa criar um esteretipo das
professoras e sim dar visibilidade e voz aos dilogos produzidos nesta pesquisa. Os excertos
das entrevistas foram transcritos sem qualquer alterao.
Outro compromisso assumido a no divulgao do ano e/ou turma em que as
professoras atuam, bem como, o nome das disciplinas ministradas, poispelo fato da escola ser
pequena e ter apenas um professor de cada rea do currculo, logo, se citarmos provavelmente
seria identificado.
Para atender ao objetivo desta pesquisa, este artigo foi organizado da seguinte forma:
primeiro realizamos uma discusso partindo do principio de que a formao continuada pode
influenciar a prtica docente para o uso das tecnologias na educao. Em seguida, debatemos
a prtica docente no PROUCA. Por fim, tecemos algumas consideraes sobre a prtica
docente,em uma escola pblica estadual, em que todos os alunos e professores tem a
disposio um computador porttil.
FORMAO
DOCENTE
TECNOLOGIAS
DA
INFORMAO
COMUNICAO
Para Bruno e Teixeira (2010, p.154) podemos qualificar o cenrio atual como:
miditico, informacional, tecnolgico, ps-moderno, globalizado, cibercultural. Assim, a
sociedade marcada pelo excesso e velocidade da informao e mudanas nas relaes de
tempo e de espao. Estes avanos das tecnologias da informao e comunicao
101
4
(TIC)2suscitam mudanas em todas as esferas da sociedade, a escola no est imune a este
processo de transformao. Por esse prisma, Cunha (1998) afirma que o professor possui
muitos desafios, dentre eles, as novas tecnologias.
Nesse contexto Kenski (2003, 2010), defende a ideia da necessidade dos professores
aproveitarem este momento para adoo de postura de enfrentamento a estes desafios e
transformarem essa infinidade de ferramentas proporcionadas pelo advento das tecnologias
em possibilidades significativas no ensino. Kenski (2003,2010) discute ainda, que as TIC no
ambiente escolar provocam novas formas de ensinar e aprender. Isso significa que o ensino
no ocorre somente na sala de aula centrado na figura do professor. As TIC presente no
processo educacional podem aproximar pessoas, aprender e ensinar de forma colaborativa,
interativa e coletiva.
Tendo em vista este constante cenrio de transformaes, a formao de professores
revela-se um papel fundamental para atendimento s novas demandas das geraes
acostumadas com o uso constante das tecnologias. O grande desafio da formao no est
centrado apenas na disponibilizao de tecnologias para utilizao no espao escolar e sim na
compreenso pedaggica destes recursos tecnolgicos nas prticas docentes.
Portanto, defendemos uma formao permanente que no visualiza a tecnologia como
salvadora para os problemas educacionais. Isto , no acreditamos, assim como Barrreto
(2009), em uma formao que enxerga as TIC como um fetiche, com poderes e soluo para
realizar os sonhos, desejos e fantasias da/ na educao. Barreto (2006, p. 2), conclui que [...]
como se a sua simples presena, em uma espcie de passe de mgica, resultasse em
diferenas substantivas nos mais variados processos de ensinar-aprender. Contribui para esta
discusso Sancho e Hernandez (2006), que criticam a postura do professor tcnfilo,o qual
acredita na possibilidade das tecnologias sanar imediatamente as angstias, perplexidades e
todos os problemas existentes no cotidiano escolar.
Tambm no concordamos em apoiar, a postura de um professor tecnfobo, que repudia
as possibilidades pedaggicas das TIC, enxergando-a como algo prejudicial na educao, a
todo o momento temem serem substitudos por ela, negando o seu prprio valor profissional
na educao.
O reconhecimento da insero das TIC ao processo educacional pode ser uma forma de
descentralizao de poder do professor, uma forma de pensar a educao em uma relao
dialgica, sem incorrer em prticas mecanicistas e ditadoras. Em outras palavras, necessrio,
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5
fundamentar teoricamente ideias para debate e construo de um trabalho pedaggico com as
TIC voltado para os problemas educacionais.
Para Sampaio e Leite (2008, p. 10) a escola, como parte importante desse mundo, cujas
referncias de poder e conhecimento tm se alterado fortemente, no pode ignorar esse
processo, ou seja, um processo que orienta uma educao de acordo com as necessidades da
sociedade em que est inserida, primando por uma base, crtica e reflexiva da realidade. No
entendimento de Sampaio e Leite (2008, p. 102), somente possvel se a formao [...] for
baseada em um conhecimento que permita ao professor interpretar, refletir e dominar
criticamente a tecnologia. Pautada ainda, nesta perspectiva crtica para o domnio das
tecnologias Barreto (2009), critica os programas de formao que tem como referncia a
formao de professores como usurios consumidores, ou seja,formaes que no atendem as
necessidades reais da escola e ainda, impem modelos homogneos que se preocupam apenas
em atingir nmeros quantitativos.
A partir da anlise de Sampaio e Leite (2008)e Barreto (2009), podemos elencar alguns
elementos na formao de professores para a insero das TIC. Uma formao que privilegia
apenas o domnio tecnolgico das ferramentas, fundamentada na racionalidade tcnica no
suficiente para entender as constantes transformaes da sociedade. Portanto, primordial
uma formao que no seja amarrada em teorias e prticas tradicionais de ensino, que
combata as ideologias dominantes, que apoie os professores na construo de uma viso
crtica e emancipatria das TIC no mbito escolar.
Acreditamos que um dos possveis pontos de discusso sobre a formao de
professores, quanto insero das tecnologias da informao e comunicao em suas prticas
pedaggicas, so os movimentos numa perspectiva crtica e reflexiva, que podem garantir o
desenvolvimento de prticas voltadas para o protagonismo, que considera os envolvidos como
sujeitos passveis de (re) escrever, (re) construir suas histrias e no como fantoches da
sociedade vigente.
Almeida e Valente (2011, p. 10) enfatizam: necessrio repensar o papel da escola
neste mundo digital o qual vem atribuindo aos educadores mltiplos dilemas de natureza
epistemolgica e terico-metodolgica, considerando-se a prtica desses profissionais.
Nas palavras de Almeida e Valente (2011) podemos inferir que inegvel o destaque do
computador, neste mundo digital, como um processo que envolve diversas competncias na
vida dos professores e alunos.
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7
prtica pedaggica quando considera a sala de aula, a sala de tecnologia e as aulas com laptop
como ambientes fragmentados, conforme relato a seguir.
Quando eu vou fazer o meu planejamento eu tenho que pensar nele muito bem,
porque na verdade eu tenho trs possibilidades. Eu tenho a sala de Tecnologias,
tenho o LAPTOP e tenho a minha prtica de sala de aula sem os recursos
tecnolgicos. Ento eu tenho que pensar na dinmica, na didtica, como eu vou
transferir aquele contedo para que saia uma aula bem preparada. [...] eu fico
pensando no fcil, voc tem que ter criatividade [...] (Professora KLogo).
105
8
que necessita de mais tempo para o planejamento, sente que poderia aperfeioar a sua prtica
pedaggica se a escola disponibilizasse de uma boa internet para o desenvolvimento das
atividades com o laptop.
Na minha prtica perco mais tempo para elaborar coisas que poderiam ser aplicados
em determinados contedos. Se a internet funcionasse com a rapidez que deveria,
seria uma ferramenta magnfica em sala de aula. Na hora poderamos fazer o
planejamento, j pegava o endereo, poderamos pesquisar em sites rapidinhos. Mas
e a..., no possvel. Acho que mudaria mais a minha prtica se correspondesse s
nossas expectativas, rapidez na internet (Professora KWord).
Ento, mudou e no mudou. Mudou porque agora eu preciso de mais tempo para
pesquisar, planejar minha aula e tambm porque temos mais uma ferramenta e no
mudou mais porque no temos internet. Para falar a verdade, sem o laptop minha
prtica seria a mesma. Minha principal dificuldade com o laptop a internet mesmo
(Professora Kpresenter).
106
9
sala de tecnologia, o laboratrio tem mais recursos por causa da internet (Professora
TuxMath).
Devido a falta de conectividade nos laptops, a professora KWord considera uma aula de
informtica significativa somente as aulas realizadas no laboratrio. A subutilizao do laptop
apontada pela professora ao comparar os recursos do laptop a um livro para as suas aulas
comuns. A professora conceitua como aulas comuns, as aulas ministradas somente com o
quadro, livro e giz. Em sua prtica pedaggica, os computadores portteis so usados para a
reproduo de atividades que poderiam ser realizadas com o lpis e o papel.
A questo do laptop, como eu falei, uso como auxlio a sala de tecnologia ou as
aulas comuns. Eu passo os contedos, depois utilizo o laptop como se fosse uma
tarefa para recordar determinado na minha rea. Eu, por exemplo, passo a teoria no
quadro e depois eu utilizo o laptop para formar frases, coisas assim, que reforcem o
meu contedo. Sempre voltado ao contedo, pra mim o laptop est no currculo,
como se fosse um livro ali, mas a internet faz muita falta com certeza. Aula de
informtica, mesmo no laboratrio (Professora KWord).
107
10
vivenciados pela falta da internet, entretanto, declara que com a internet poderia desenvolver
melhor o trabalho com os alunos.
Se eu no tenho internet, no deixo de utilizar o laptop. Normalmente eu no conto
com ela mesmo. Nos meus planejamentos, procuro integrar com os recursos que eu
tenho na sala de aula, como o livro, um DVD, um filme relacionado ao assunto.
Posso pedir para eles um texto informativo sobre o contedo, uma apresentao, sei
l..tem tantas coisas. No uma estratgia ? Sempre falo isso para minha
coordenadora. O melhor, claro, seria se tivssemos uma internet boa e rpida, mas
o que temos para hoje.(Professora KPresenter).
Os depoimentos das professoras TuxPaint e TuxMath sem dvidas nos chamam ateno
para problemas tcnicos, mas tambm evidenciam a necessidade de mudanas no ambiente
escolar a partir da utilizao das tecnologias. Os aspectos apontados pelas professoras nos
remetem as ideias de Kenski (2006, p. 41), [...] abrir-se para novas educaes, resultantes de
mudanas estruturais nas formas de ensinar e aprender possibilitadas pela atualidade
tecnolgica o desafio a ser assumido por toda a sociedade, nesse sentido, contribui os
estudos de Mendes e Almeida (2011, p.57), a flexibilidade para lidar com esse novo
movimento que se instala na sala de aula quando se utiliza o laptop indica uma nova forma de
trabalhar o currculo, pois muda o espao e as relaes entre alunos, influindo no
desenvolvimento do currculo [...].
A professora KWord tece consideraes sobre os problemas tcnicos apresentados no
laptop relacionados durao da bateria. Este fato resulta na diminuio dos espaos de
108
11
aprendizagem e na dependncia de reservas de horrio, tendo a mesma metodologia do
laboratrio de informtica.
Devido ao problema da bateria, se um professor utiliza nos primeiros tempos e a
minha aula no terceiro impossvel us-lo neste dia. Ento, sempre esbarro com o
problema da bateria. Por esta razo, todas tem que agendar, a nica forma para dar
certo, por isso eu concordo (Professora KWord).
109
12
Fiz uma pesquisa, foi o pessoal do oitavo ano, era uma sala numerosa, ento se eles
vem para o laboratrio, nem sempre tem computador para todos , nem todos vo
fazer a atividade realmente , sempre um vai fazer e outro s observar, porque sentam
em dupla. Com o laptop temos a possibilidade de que cada um vai fazer sua
atividade, personalizar sua atividade [...] ento o laptop, me d esta possibilidade
tambm de sair da sala. Fomos para aqueles banquinhos ali , para depois
pesquisarmos na internet, que no estava to rpida, mas deu para ser feito. A gente
no pode ficar preso apenas aos problemas da internet, quando acabaram, cada um
queria olhar o do outro olha que legal e a um descobre um recurso como que
faz isso? eu no sabia, no me lembro muito bem, mas eu lembro assim (Professora
Planilha Eletrnica).
Almeida e Prado (2011), defendem que outro cenrio se abre com a insero do laptop
na educao, pois prope um ensino pautado na conectividade, interatividade, mobilidade e
imerso, essas caractersticas rompem com a aprendizagem isolada do laboratrio de
informtica abrindo novos espaos de aprendizagem no ambiente escolar. Em contribuio s
reflexes apresentadas, para Zucker e Hug (2008), os laptops podem modificar a prtica dos
professores, alterando a forma como so organizadas as atividades em sala de aula.
No entrelaamento das vrias vozes que foram constituindo este estudo, indagamos s
professoras O que aconteceria se a escola no tivesse mais acesso ao laptop. As professoras
defendem a permanncia do programa na escola, reconhecem a importncia dos laptops para
os alunos e para a sua prtica pedaggica, conforme mostram os depoimentos a seguir.
Se tirarem o PROUCA da escola, os alunos ficariam tristes com certeza, bem
chateados, o computador j faz parte da rotina deles. (Professora Planilha
Eletrnica).
Acho que iriam ficar tristes. At a gente porque ns sabemos que o armrio est ali,
cada um com o laptop do aluno, por mais que tenhamos dificuldade, ele faz parte i
da escola, do nosso meio (Professora KolourPaint).
O laptop j faz parte das aulas, o PROUCA j faz parte com certeza e para os
professores tambm faria falta, mais um recurso. um projeto muito bom, mas o
que peca a formao do professor, a ideia excelente, se o professor souber
utilizar (Professora TuxPaint).
110
13
Acreditamos que a formao continuada pode ser um importante passo para a
explorao das possibilidades pedaggicas do laptop. Nos depoimentos, podemos inferir que
paraas professoras a insero dos laptops no significa o aperfeioamento das suas prticas
pedaggicas. As professoras protestam em alta voz e/ou com veemncia por mudanas na
formao docente.
De forma anloga Kenski (2013, p.96), defende necessrio operar mudanas radicais
na formao docente. Utilizar uma tecnologia em sala de aula no sinnimo de inovao
nem de mudana significativa nas prticas tradicionais de ensino [...].No a tecnologia que
transforma a educao e sim os principais autores que fazemuso desses recursos tecnolgicos,
portanto, professores e alunos.
4 CONSIDERAES FINAIS
111
14
reflexivas que no visam apenas atualizao cientfica, pedaggica e didtica, mas na
possibilidade da criao de espaos participativos e reflexivos nas escolas.
Por fim, sugerimos a possibilidade de novos estudos sobre esse campo vasto e rico de
pesquisa, tais como, compreender a cultura digital instalada na escola, investigar as
implicaes do laptop na aprendizagem dos alunos, analisar a prtica de avaliao dos
professores com o PROUCA, bem como, pesquisas relacionadas ao letramento das
informaes no contexto educacional.
REFERNCIAS
112
15
KENSKI, V. M. Novas tecnologias na educao presencial e a distncia. In: BARBOSA, R.
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113
Resumo
Este trabalho o relato de uma pesquisa qualitativa desenvolvida em uma escola municipal de
Campo Grande, MS, envolvendo um professor que ensina matemtica no nvel fundamental
de ensino, quinto ano. A discusso se deu com base nos modelos docentes propostos por
Gascn especialmente o teoricista e o tecnicista com suas respectivas interaes que resultam
no modelo: clssico, de uso relativamente amplo nos meios educacionais. O instrumento de
coleta de dados foi uma entrevista aberta, no qual o professor falou e esboou procedimentos
de ensino. A anlise dos dados revelou que o ensino das fraes pauta-se na explicitao de
exemplos e repetio de exerccios, a existncia de uma prtica centrada na figura do
professor, a resoluo situaes problemas so utilizados apenas para justificar a aplicao da
teoria, constatar uma interao constante entre dos modelos docentes teoricista e tecnicista,
caracterstico do modelo docente clssico.
Palavras-chave: Prticas Docentes, Teoricismo, Tecnicismo, Ensino de Fraes
INTRODUO
O interesse sobre os conhecimentos didticos dos professores da educao bsica tem
se intensificado nos ltimos anos no mbito de pesquisas em educao. Estudos sobre os
conhecimentos bsicos para o ensino apontam que no basta dominar o contedo para ensinar,
preciso conhecer os processos de cognio, teorias da aprendizagem, pesquisas sobre o tema
a ser ensinado, conhecimento sobre didtica, currculo, entre outros. (SHULMAN, 2005).
Numa escola pblica em Campo Grande-MS, tambm se compartilha essa ideia.
A preocupao em estudar a ao docente, bem como os conhecimentos em torno
dessa prtica, teve incio quando coordenao da unidade escolar elaborou um projeto de
1
Mestranda do Programa de Mestrado Profissional em Educao pala Universidade Estadual de Mato Grosso do
Sul/UEMS
2
Docente Snior da UEMS. Professor do Programa de Mestrado Profissional em Educao da UEMS, Campo
Grande, MS.
114
no conseguem
compreender o conceito de frao. Considerando que esse conceito trabalhado desde os nos
iniciais dessa etapa de ensino pergunta-se: at que ponto as prticas didticas elegidas pelos
professores pode contribuir para a no apropriao desse conceito?
sabido, que a abordagem da problemtica demandaria um estudo de vrios fatores
que envolvem o ensino e aprendizagem desse conceito, porm num primeiro momento, nos
restringiremos em analisar a prtica docente de um professor dessa unidade escolar, para o
ensino de fraes, a partir dos modelos docentes proposto por Gascn (2001).
METODOLOGIA
segundo Esteban (2010) so estas que constituiro uma descrio do alcance da pesquisa,
115
bem como estabelecero uma rea preconcebida da atuao que representa o projeto inicial
da investigao ( p. 162)
Assim, as questes que nortearo esse estudo so: como um professor do 5 ano de
uma escola pblica, ensina o conceito de frao? Como ele administra o processo de ensino?
Quais so os recursos didticos mobilizados nessa prtica?
Tendo delineado o problema de pesquisa as questes se transformaram em objetivos,
sendo que ficou definido como objetivo mais amplo analisar as prticas didticas de um
professor que ensina matemtica no 5 ano, na perspectiva dos modelos docentes de Gascn e
como mais delimitantes do que se buscou investigar:
CONSIDERAES TERICAS
116
117
Momento do primeiro encontro faz parte da Teoria dos Momentos Didticos que compreende seis momentos
da atividade de estudo, sendo estes: o momento do primeiro encontro com um tipo de problema, o momento
exploratrio de um tipo de problema, o momento do entorno tecnolgico-terico, o momento do trabalhado da
tcnica, o momento de institucionalizao e o momento de evoluo. (DELGADO; QUINTANA, 2012).
Deixando claro, que estes no se apresentam na atividade de estudo na forma linear em que foram apresentados.
118
CAMINHOS DA PESQUISA
Esse estudo faz parte de uma pesquisa realizada numa escola municipal de Campo
Grande-MS, com objetivo de analisar as prticas dos professores que ensinam matemtica, no
contexto do ensino das fraes.
sabido que a dificuldade de ensino e aprendizagem do conceito de fraes no
particular dessa unidade escolar. Estudiosos como Orozco (2013); Di Pego (2012); Yapo
(2011); Merlini (2005), sinalizam para importncia de pesquisas relacionadas apropriao
do conceito de fraes e seus diferentes significados, por conceberem ser um dos temas mais
difceis no ensino fundamental.
119
Depois que eu analiso isso, eu passo a mexer com o conceito de frao, eu trabalho o
conceito. O que o conceito? O que frao e para que a gente utiliza. Primeiro trabalho a
s[fraes] prprias e depois as [fraes] improprias. (P1)
Gesticula com a mo dando ideia de idas e vindas das fraes prprias s improprias, e
faz a seguinte afirmativa.
Sempre escalono. Depois que eu fiz esse conceito, eu comeo a trabalhar a frao de um
nmero. O que isso? saber se eles conseguem trabalhar o nmero, ou seja, se eles
120
conseguem trabalhar a ideia. Ideia do qu? Se eles conseguem tirar o nmero natural de
lado e pensar na ideia de nmeros fracionrio e decimal. (P1)
Segundo o professor, depois de trabalhar o conceito de frao, precisa trabalhar a
converso de nmeros fracionrios para decimal, enfatizando a diviso e depois a converso
do nmero decimal para frao. Essa necessidade de mostrar para os alunos como se faz, de
exemplificar, fornecer modelos matemticos procedimento caracterstico do modelo docente
teoricista.
Eu comeo a trabalhar o qu? a frao realmente nula. Comeo a trabalhar a situao
problema. Tenho uma pizza comi 6 pedaos ou falo de fraes, num total de 8 pedaos comi
2/3 dessa pizza. Quanto comi dessa pizza? E tambm trabalho na prtica, pego uma pizza
coloco l, aonde eu pego e mostro para eles o conceito mnimo, do que uma frao, para
que eu utilizo [...] (P1).
Nesse trecho da entrevista destacamos a crena desse professor em acreditar que o
trabalho com objetos ou coisas do contexto dos alunos, para o ensino de fraes, contribui
significativamente para deixa-los menos apreensivos. Pois, segundo ele, os alunos no 5 ano
reclamam que no compreendem o que numerador e denominador porque no sabem sua
funo, demonstram receio em trabalhar com nmeros fracionrios, por ser algo muito difcil.
Consideramos que a utilizao do termo situao problema, nas condies relatadas
pelo professor, no caracteriza um problema a ser resolvido, mas sim, uma tentativa de dar
sentido teoria apresentada. Isto , um problema de aplicao tpico no modelo teoricista.
Outro fato que merece ser ressaltado preocupao desse docente em cumprir uma
sequncia de contedos, como se fosse algo fundamental. Destacamos a seguir alguns trechos
em que evidenciamos em sua fala, a necessidade de sequenciar os contedos como fator
facilitador para que os alunos compreendam a operao de adio de fraes com
denominadores diferentes. Ademais, percebesse que o processo de ensino centrado em
estratgias de exemplificao, uma ao tpica de aplicao da teoria.
Trabalhei a frao de um nmero, eu vou pra mais um tpico, que a simplificao desse
nmero, mostrando que a simplificao um mtodo que ns devemos utilizar [...]. Comeo a
trabalhar a comparao, entre fraes. Trabalhei a comparao, ai sim! Eu vou l, comeo
a trabalhar as operaes com fraes. De certa forma, quando eu comeo a trabalhar a
frao de um nmero eu j comeo a introduzir a multiplicao entre fraes, entre fraes e
nmero natural. Mas aqui onde eu entro no grau de operao.(P1)
121
Pessoal quando voc se deparar com fraes que tem denominadores diferentes, o que que
a gente tem que fazer? Primeira coisa, observar quem so esses denominadores. Sempre
achar os mltiplos desses denominadores, porque nesse caso eles ainda no trabalham com
aquela regrinha de fatorao. Achou-se os mltiplos, nos vamos verificar os que so
menores comuns. Como assim menores? Entre dois e trs Se tiver mais de um, voc sempre
se guia pelo menor, no caso aqui o 6. Achou o 6, voc coloca o 6 como denominador [...].
Pega o trs e multiplica pelo numerador mais o prximo nmero, pega o 6 e divide por trs
que d dois, vezes um, igual a dois [...]. (P1) (Destaques da pesquisadora).
Ao concluir a explanao perguntamos ao professor, por que utiliza esse mtodo do
mnimo mltiplo comum para ensinar a somar 1/2 + 1/3? Ele nos responde que utiliza essa
tcnica, porque, na verdade, o meio mais prtico na cabea do aluno, para ele entender!
(P1)
Para finalizar a entrevista relatamos ao professor, que nos dois ltimos anos, a
coordenao tem realizado avaliaes bimestrais, do 6 ao 9 ano, e que por meio desse
instrumento avaliativo, constatou-se que mais de 90% dos alunos dos anos finais dessa etapa
de ensino, no sabem somar fraes com denominadores diferentes. Na sua opinio, a que se
deve esse fato?
Segundo o professor, isso se justifica pela maneira errada que ensinado as fraes
nos anos anteriores. Relatando que esse contedo comea a ser trabalhado no tercceiro ano,
dos anos inciais do ensino fundamental. Os alunos tem o primeiro contato com os nmeros
racionais, por meio de apresentao de metades, teros, quartos, ..., fraes simples, segundo
122
ele. Porm, atribuido uma extrema valorizao no ensino da representao das partes de um
inteiro. Os professores esquecem de trabalhar outras ideias que envolve esses nmeros, como
adio, subtrao, resoluo de problemas.
aprendizagem das fraes depende de como o professor ensina, no sentido de mostrar teorias,
caracteristico do modelo docente teoricista. No trecho da transcrio a seguir, possvel
perceber a ideia implicita de que o professor um transmissor informaes.
Acho que, comea desde o incio, l terceiro ano quando eles comeam a ver isso [...].Se voc
pegar l o referencial do terceiro ano, eles vo comear a introduzir, ahh...em fatias,
comeam a trabalhar frao bem simplificada. S que o professor se preocupa em trabalhar
representao, esquece dessa parte de adio, de subtrao. E enfiar na cabea deles que o
numero fracionrio tambm tem situao-probelma, tem o cotidiano, traduzir isso em fala
para os alunos.[...]. So vrios fatores que contribuiem para o aluno chegar l no 6 ano e
no conseguir, porque ele no se adaptou, no se eternizou com aquela didtica da frao
[...]. ( P1) (Destaques da pesquisadora).
Ressaltamos que para esse professor, o problema de aprendizagem dos alunos est na
maneira como o contedo ensinado. Numa reflexo terica, fica implcito que para ele,
ensinar matemtica nada mais que ensinar teorias e tcnicas, pois concebe o aluno como
uma caixa vazia, onde o contedo tem que ser depositado na cabea do aluno. Essa concepo
apercebida por meio da frase, enfiar na cabea deles (P1). Alm disso, parte do
pressuposto de que a autonomia alunos vem decorrncia da repetio de tcnicas (GASCN,
2001).
De maneira geral, a anlise da prtica exposta pelo professor, nos permitiu identificar
caractersticas dos modelos teoricista e tecnicista, que a todo momento, se entrelaam no
processo de ensino. Diante disso, consideramos que a prtica docente desse professor
corresponde ao modelo docente bidimensional clssico proposto por Gascn (2001).
CONSIDERAES FINAIS
123
recorrendo a situaes que envolvem objetos do cotidiano como pizza, bolo e chocolate;
considera o recurso (desenho) necessrio para aprendizagem; em relao a resoluo de
problemas constatamos ser uma atividade mobilizada no processo de ensino, apenas para dar
sentido teoria.
Assim, consideramos que o ensino das fraes desse professor pauta-se na ideia de que
a atividade matemtica algo trivial e que depende unicamente do seu esforo em mostrar,
exemplificar, tornar fcil a compreenso de seus alunos em relao ao que se prope a
ensinar. Ademais centraliza em sua condio docente, a deteno de todo conhecimento
necessrio para o desencadeamento das atividades matemticas, no processo de ensino das
fraes.
Salientamos ainda, que todo o aparato didtico suscitado por intermdio desse estudo,
nos permitiu detectar vrias similaridades
teoricismo e tecnicismo. Sendo que estes modelos imbricam-se a todo instante no processo
de ensino. Diante disso, consideramos que na prtica docente desse professor predomina o
modelo clssico, emergente da interao entre de ambos os modelos.
Porm entendemos necessrio, em estudos futuros, coletar outros dados por intermdio
da observao da prtica e do planejamento de aula desse professor que, a nosso ver,
permitiro verificar com mais propriedade se as estratgias didticas elegidas por ele pode
contribuir para a no aprendizagem do conceito de fraes, nessa unidade escolar.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
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125
INTRODUO
126
termo no costumava ser usado, por acreditar-se que tratava apenas da ideia de transmisso de
conhecimento sob um vis negativo, que no privilegiava o desenvolvimento das capacidades
(BASSEDAS et al., 1999).
No entanto, com as recentes reformas educativas e alteraes no contexto social, o
cenrio educacional evidencia a necessidade de investir esforos no estudo do currculo da e
para a Educao Infantil.
Como objetivo do presente artigo, pretende-se explorar a concepo de currculo, suas
caractersticas e especificidades sob a tica da Educao Infantil, utilizando como aporte
terico a Sociologia da Infncia.
Com efeito, a concepo de currculo variada e diversa. Muitos pesquisadores
(SACRISTN, 2000; WINGGERS, 2000; KRAMER, 1997) definem o conceito de currculo
de forma diferente. A saber, Sacristn (2000b) aponta que currculo provm da palavra latina
currere, que significa carreira e referese ao percurso, sendo a escolaridade esse percurso e o
currculo, o recheio. O autor afirma, ainda, que alm de estabelecer os contedos, o currculo
tambm determina a sua distribuio. Em outro estudo, Sacristn (2000b) sintetiza suas ideias
comparando currculo como uma ponte entre a teoria e a prtica.
Diferentemente, Wiggers (2000) discute a etimologia do termo currculo apresentando
uma definio a partir das discusses de Kishimoto (1996), que caracteriza o termo como
derivao da palavra currus, com significado de carro ou carruagem, que determinaria uma
definio equivalente a um lugar no qual se corre, ou metaforicamente, a busca de um
caminho, uma orientao. Seguindo o mesmo critrio, Kramer (1997) destaca que currculo
um caminho a ser percorrido.
Nas palavras de Sacristn (2000, p. 101) currculo
127
128
A MULTIPLICIDADE DO CURRCULO
S uma sociedade que teve escravos expresso mxima da desigualdade, que teve
seu espao social dividido entre a casa-grande e a senzala, poderia separar essas
duas instncias da educao e entender que cuidar se refere apenas higiene, e no
ao processo integrado, envolvendo a sade, os afetos e valores morais [...] j no
ser hora de assumir o educar, entendendo que abrange as duas dimenses?
129
A pergunta sobre o que deve ser a Educao Infantil no pode ser objeto de uma
nica resposta, completa e definitiva. As finalidades que lhe so atribudas
130
dependero daquilo que se pensa sobre o mundo, o ser humano, a vida, a natureza, a
criana, a aprendizagem e o seu desenvolvimento, mas dependem tambm do
momento histrico e do contexto social e cultural no qual se prope a pergunta.
O CURRCULO E O BRINCAR
131
Por isto, nas prticas educativas para a primeira infncia, dos direitos garantidos,
dentre eles esto o do brincar e a mediao que ocorre regida pelo docente, que traz grandes
possibilidades de estmulos s crianas, contemplando o exerccio de uma postura crtica,
investigativa e criativa.
Razo esta que, no se nega na atualidade o importante papel que o jogo desempenha
no desenvolvimento e na aprendizagem humana. No jogo e na brincadeira, os pequeninos
evidenciam comportamentos que vo alm dos que so tpicos de suas idades e que
transcendem as condutas cotidianas (SANTOM, 2001).
Em suas aplicaes para o trabalho curricular nas instituies escolares, o jogo e a
brincadeira permitem criar situaes que possvel incluir normas de comportamentos que as
crianas precisam seguir para obter xito, pois h sempre regras, mais ou menos complicadas
que precisam ser respeitas (SANTOM, 2001).
A respeito do brincar, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educao Infantil
(BRASIL, 2009) expressam, que as experincias vividas na Educao Infantil precisam
favorecer criana o encontro de respostas sobre os eventos ao seu entorno e consigo mesma,
enquanto desenvolve maneiras de sentir, pensar e solucionar problemas.
nesse sentido que Nono (2010, p.1) contribui dizendo que to importantes no
desenvolvimento das crianas, as brincadeiras devem ter tempo e espao garantidos nas
creches e pr-escolas.
Assim sendo, consideramos o brincar fundamental na vida das crianas, sendo um
elemento cultural que possibilita diversas interaes e uma atividade que permeia o fazer
pedaggico da Educao Infantil.
Completando o debate, o ltimo ponto a ser discutido referese incluso das famlias
nas questes curriculares, pois sabido que em todos os nveis essa participao
fundamental.
132
133
Assim, a qualidade na Educao Infantil tambm diz respeito relao famlia-escolacomunidade que se caracteriza, sobretudo, pela corresponsabilidade na tarefa de educar a
criana, ajudando-a a crescer e a se desenvolver de forma saudvel e feliz. Dado que, na
comunidade e, principalmente na famlia, esto as razes individuais, culturais e sociais da
criana, elementos fundamentais para a formao da sua identidade pessoal e social
(BASSEDAS et al., 1999).
Pelo exposto, a gesto democrtica entendida como elemento imprescindvel, em
virtude de que, por meio dela que a instituio se abre comunidade e possibilita sua
participao na elaborao e acompanhamento da proposta pedaggica.
CONSIDERAES FINAIS
134
REFERNCIAS
135
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136
Resumo: O presente trabalho uma reflexo sobre a EA Educao Ambiental no Brasil, sua
operacionalizao na escola e sobre o domnio dos manuais didticos no cotidiano escolar.
Objetiva analisar e propor alternativas didticas suplementares, com ferramentas culturais e
artsticas, a serem empregadas para o ensino. Ser observada a descrio histrica da Educao
Ambiental, da sua concepo no mundo e sua aplicabilidade no processo educacional brasileiro,
que atualmente se mostra fragmentada e isolada no interior das disciplinas curriculares,
contrariando o que encontra-se disposto na Lei N. 9.795, de 27 de abril de 1999, que a prev
para todos os nveis de ensino de forma articulada, tanto para o ensino formal como para o noformal. Assim, utilizando como categoria analtica a OTD Organizao do Trabalho Didtico
e o Projeto guas que Educam, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, sob a
organizao de Gilberto Luiz Alves e publicado sob o ttulo O Pantanal e sua histria na
pintura sul-mato-grossense, a partir do que se busca exemplificar a viabilidade de propostas
para o ensino de Artes, Cincias, Histria, Geografia e Lngua Portuguesa, num fazer
educacional transdisciplinar, universal e singular, contemplando melhor os objetivos da Lei
acima citada.
Palavras-chave: Educao Ambiental , Manual Didtico, Prticas Docentes.
Introduo
137
2
e ambiental favoreceram a epidemia conhecida como Peste Bubnica que dizimou uma parcela
significativa da populao europeia poca (Op. cit). Essa epidemia catastrfica decorrente de
ingerncia ambiental na Idade Mdia foi de tal dimenso que fez emergir uma produo
expressiva de literatos e artistas, associando a Geografia - posto que retratavam o cotidiano dos
lugares afetados a literatura e as artes como forma de registrar e fazer saber das mazelas
ambientais da humanidade, como aponta o fragmento textual abaixo:
No perodo que marca a Baixa Idade Mdia, as expresses artsticas e
literrias foram inundadas por temas relacionados ao macabro. Alm do
texto escrito, propriamente dito, o tema da morte pode ser encontrado
em esculturas, pinturas, gravuras ou em pequenos textos para o teatro,
a msica e a dana, entre outros (GIMENEZ, 2011, p. 01).
138
3
139
4
No ano de 1983, tambm por iniciativa da ONU, foi criada a Comisso Mundial Sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento com o objetivo de avaliar as polticas ambientais
empreendidas em prol do planeta e destacou que as destruies ambientais j provocadas, at
aquele momento, era algo que os cientistas, pela velocidade das agresses, j no tinham a
capacidade de avaliar e propor solues a curto prazo.
Na sequncia destes eventos, podemos destacar ainda, a Cpula da Terra, ocorrida no
Rio de Janeiro em 1992, que reuniu em um s evento a Rio 92 Eco92, a Conferncia das
Partes (COP) em 1997 em Kyoto (Japo), que resultou no Protocolo de Kyoto, definindo
compromissos mais rgidos para a reduo da emisso de gases poluentes, principais
responsveis pelo efeito estufa que provoca o aquecimento global. E ainda, a Conferncia
Mundial Sobre o Desenvolvimento Sustentvel (RIO+10), realizada em Johanesburgo, frica
do Sul, em 2002. A Conferncia de Bali (COP 13), na Indonsia em 2007. A Conferncia de
Copenhague, na Dinamarca em 2009. E, mais recentemente, a Conferncia do Clima da
ONU em Durban, no ano de 2011, na frica do Sul.
140
5
O Protocolo de Kyoto, que entrou em vigor em 2005, foi um dos mais importantes marcos para a preservao
do meio ambiente por definir compromissos mais rgidos para a emisso dos gases de efeito estufa, principal
causador do aquecimento global. Consiste em um calendrio para os pases industrializados reduzirem a emisso
combinadas de gases de efeito estufa. Foi ratificado por 55 (cinquenta e cinco) pases, porm, no contou com a
assinatura dos Estudos Unidos. (AYRES, 2013, p. 26)
141
6
Porm, a iniciativa desta publicao se deu aps 5 (cinco) anos da publicao da Lei N.
9.7952, de 27 de abril de 1999, que j regulamentava a Educao Ambiental no interior das
instituies de ensino, em todos os nveis de educao e suas diferentes modalidades de ensino.
Em 14 de dezembro de 2010, quando da publicao da Resoluo N. 073, do Conselho
Nacional de Educao, pela Cmara de Educao Bsica, atravs do Ministrio da Educao
MEC, que fixava as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 (nove)
anos que se definiu como seria organizada a Educao Ambiental nos currculos do Ensino
Fundamental, particularmente, a partir do 6 Ano, fase que se inicia a alfabetizao ecolgica.
Com isso, podemos inferir que houve uma demora significativa, de quase 2 (duas)
dcadas, para o poder pblico brasileiro e seus rgos competentes, neste caso o Ministrio da
Educao, formatar a proposta curricular para tratar de um tema to atual e contemporneo
como a conservao do Meio Ambiente. Pode-se afirmar, ainda, que o processo de formao
dos educadores, bem como, dos educandos ficou comprometido, dada a superficialidade e o
isolamento do tratamento deste assunto.
A EA apresenta-se como uma dimenso do processo educativo voltada para a
participao de seus atores, educandos e educadores, na construo de um
novo paradigma que contemple as aspiraes populares de melhor qualidade
de vida socioeconmica e um mundo ambientalmente sadio. Aspectos estes
que so intrinsicamente complementares; integrando assim Educao
Ambiental e educao popular como consequncia da busca de interao em
equilbrio dos aspectos socioeconmicos com o meio ambiente.
(GUIMARES, 2011, p.12)
Artigo 1 Entendem-se por educao ambiental os processos por meio dos quais o indivduo e a coletividade
constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competncias voltadas para a conservao do
meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL,
Lei N. 9.795, de 27 de abril de 1999, 1999).
Artigo 2 A educao ambiental um componente essencial e permanente da educao nacional, devendo estar
presente, de forma articulada, em todos os nveis e modalidades do processo educativo, em carter formal e
no-formal (BRASIL, Lei N. 9.795, de 27 de abril de 1999, 1999).
3
142
7
Palestra proferida a alunos de Ps-Graduao da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, no dia 29 de
setembro de 2014 para o PROFEDUC Programa de Mestrado em Educao.
5
O preservacionismo e o conservacionismo so correntes ideolgicas que surgiram nos Estados Unidos. O
primeiro, o preservacionismo, aborda a proteo da natureza independentemente de seu valor econmico e/ou
utilitrio, apontando o homem como o causador da quebra desse equilbrio. J a segunda corrente, a
conservacionista, contempla o uso racional da natureza e a forma criteriosa de seu manejo pela nossa espcie.
Podendo ser identificada como o meio-termo entre o preservacionismo e o desenvolvimentismo. O pensamento
conservacionista caracteriza a maioria dos movimentos ambientalistas, e alicerce de polticas de
desenvolvimento sustentvel, que so aquelas que buscam um modelo de desenvolvimento que garanta a
qualidade de vida hoje, mas que no destrua os recursos necessrios s geraes futuras. Disponvel em:
www.mundodaeducaao.com/biologia/preservaao-ambiental; Acesso em: 08/05/2015, s 14h56min
143
8
um conhecimento interdisciplinar que poderemos assimilar plenamente o
equilbrio dinmico do ambiente. (GUIMARES, 2011, p.12)
Para Alves (2003, p. 19), na obra Mato Grosso do Sul: o universal e o singular, vai
alm do que propem Guimares, ressaltando que a educao e a cultura so debatidas dentro
dos propsitos que singularizam a realidade circundante, ou seja, delimita o espao a ser
investigado, e propem uma atitude mais universal face a realidade totalizando-a, conforme
apresenta Destituda de unidade, tal concepo sugere a possibilidade de coexistncia de
diversas realidades em contraposio ao que tem existncia concreta: a realidade humana..
Exemplificando, tudo que pertinente ao homem, contempla por si s todos os direitos
a ele institudos, independente da raa a que se diga pertencer, pois tudo que divide as
humanidades e as especifica, provoca o afastamento da totalidade.
Nesta perspectiva, observamos a universalidade da questo ambiental posta na
singularidade da educao formal ou no. A EA se manifesta, ento, como prtica de relevncia
para a humanidade e na perspectiva da categoria analtica da Organizao do Trabalho Didtico,
contemplando a sua instrumentalizao na escola, como trabalh-la de forma ampla, abarcando
a totalidade das reas de saberes, como sugere Alves, e/ou multidisciplinar como postula a
legislao brasileira?
Importante ressaltar os trs elementos que constituem a categoria Organizao do
Trabalho Didtico na concepo de Gilberto Luiz Alves. O primeiro diz respeito a relao
educador e educando por intermdio de instrumentos didticos. O segundo, trata do material
didtico aplicado na escola, que na escola moderna e contempornea continua a prevalecer os
livros didticos ou os sistemas apostilados. E, por fim, o ltimo elemento que coloca o espao
fsico da escola, os prdios escolares, que subsiste no modo de produo capitalista porque
representativo dos empregos gerados pela educao.
Assim, neste contexto, dado todo o embasamento terico da histria da EA e sua
aplicabilidade legal na educao, principalmente, nesta anlise, problematizando a forma
apresentada pelo panorama brasileiro, que centraliza sua discusso em torno do livro didtico,
apontaremos para outra possibilidade de atividade didtica, na forma de produo de materiais
alternativos a realidade que se apresenta.
Haja visto, segundo Alves (2010, p. 41), [...]o empreendimento terico de Comenius,
levado a cabo em meados do sculo XVII, continua sendo referncia obrigatria em nosso
tempo.. Ou seja, a centralidade do instrumento pedaggico continua a ser o livro didtico, cada
144
9
vez mais esvaziado de significados culturais, afastado dos clssicos e mais especializado em
contedos pedaggicos resumidos e superficiais.
Objetivo
Metodologia
Como mtodo de anlise crtica ser utilizado nesta proposta a OTD Organizao
do Trabalho Didtico, nos escritos de Gilberto Luiz Alves elencados nos referenciais
bibliogrficos.
Na perspectiva de duas categorias importantes ressaltadas pelo autor encontram-se o
Universal e o Singular, onde o primeiro corresponde a historicidade, ou seja, a histria em
movimento, e o modos de produo no mundo do capital. E o segundo, o Singular, que versa
sobre a relao dialtica indissocivel entre o objeto e/ou problema de pesquisa e a
universalidade dos fatos sociais e econmicos que permeiam seu entorno.
Da, se entende a sociedade capitalista que vai produzindo as formas e os contedos
da vida humana, principalmente da escola. O conhecimento fragmentado, como na forma de
produo em srie das indstrias. Por isso, ele se torna especializado e no o idealizado.
Portanto, nesta formatao do ensino escolar no h formao de um pensamento crtico, mas
mecnico, barrado pelas condies materiais.
145
10
146
11
147
12
Para tanto, a cultura e as manifestaes artsticas, quaisquer que forem, seja pela
linguagem plstica, pela msica, ou ainda, pelas obras literrias, bem como no conjunto de
todas elas, representam um veculo de sustentao para a prtica desta proposta. Como uma
forma de atrao para o aprendizado dado o olhar voltado para o ldico mediado pelas
relaes entre disciplinas e pelo processo de criao dos artistas, no desenvolvimento de suas
tcnicas e materiais apropriados para as produes, no retrato da poca por eles vivenciadas.
Porm, finalizando, vale ressaltar que as propostas que caminharem neste sentido
devem extrapolar os muros da Academia, na disseminao dos conhecimentos produzidos pelas
pesquisas, cumprindo um dos objetivos das Instituies de Ensino Superior, o benefcio de seus
feitos as comunidades que atendem.
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(Coleo Magistrio: Formao e Trabalho Pedaggico)
148
13
149
Introduo
Este trabalho um recorte da pesquisa denominada Colgio Militar de Campo
Grande-MS: tecendo os fios do habitus professoral , cujo objetivo foi compreender como se
constitui o habitus professoral de professores militares pertencentes ao Quadro Complementar
de Oficiais (QCO)3 do Exrcito Brasileiro, lotados no Colgio Militar de Campo Grande
(CMCG).
Por meio das narrativas (auto) biogrficas buscamos a (re) construo das trajetrias
pessoais e profissionais desses agentes da educao, para compreendermos o ser e o estar na
1
Doutora em Educao (USP). Atualmente professora associada da UFMS. Tem experincia na rea de
Educao, com nfase em Sociologia da Educao. E-mail: [email protected].
3
O Quadro Complementar de Oficiais (QCO) composto por oficiais com curso superior, o qual realizado em
universidades civis, em diferentes reas do conhecimento e especializaes tcnicas necessrias ao Exrcito. O
oficial do QCO formado na Escola de Formao Complementar do Exrcito (EsFCEx), em Salvador/BA por
um perodo de oito meses, aps concurso pblico para as reas de interesse do Exrcito Brasileiro. Disponvel
em:<http://www.exercito.gov.br/web/guest/qco>. Acesso em: 16 maio 2011.
150
2
profisso docente, traduzidos aqui pelas noes de habitus professoral (SILVA, 2003; 2005;
2009; 2010).
Pensar a (re) construo das trajetrias dos agentes professores militares por meio de
suas narrativas (auto) biogrficas buscar uma compreenso das implicaes dos
deslocamentos laborais deslocamentos por motivo de trabalho vivenciados na prxis
docente. Utilizar a abordagem biogrfica por meio das narrativas buscar um conhecimento
desse sujeito em movimento, em transformao.
Compreendemos que as narrativas (auto) biogrficas dos professores militares esto
circunscritas na possibilidade de histria de vida temtica. Em Souza (2004, p. 13),
percebemos que: A escrita da narrativa remete o sujeito a uma dimenso de auto-escuta,
como se estivesse contando para si prprio suas experincias e as aprendizagens que construiu
ao longo da vida atravs do conhecimento de si.
Discutir memria de professor convid-lo a lanar um olhar sobre si em diferentes
espaos e tempos, trazendo as lembranas que constituem sua histria. voltar a um passado
cheio de smbolos e significados, para Bosi (1994, p. 408): Uma memria coletiva se
desenvolve a partir de laos de convivncia familiares, escolares e profissionais.
Obviamente que dar voz a esse agente o professor pode se constituir num marco de
referncia para se pensar sua ao docente. Isto pode lev-lo compreenso de que a sua vida
e a sua prtica docente so tecidas no coletivo, no havendo como separar o individual do
social, uma vez que o professor um sujeito histrico.
O lcus da pesquisa foi o Colgio Militar de Campo Grande/MS, pertencente ao
Sistema Colgio Militar do Brasil do qual fazem parte os 12 (doze) Colgios Militares do
Brasil e a Fundao Osrio, localizada no Rio de Janeiro/RJ.
Este sistema um dos subsistemas de ensino do Exrcito, tendo sob sua
responsabilidade a educao bsica, nos nveis: fundamental, do 6 ao 9 ano, e Mdio. O
aspecto assistencial, constituiu-se num dos objetivos mais fortes quando da criao dos
colgios militares, por abrigar rfos da Guerra do Paraguai.
Ainda hoje recebe filhos de militares das mais diversas regies de nosso pas, com
destaque para as reas de fronteiras internacionais e os rfos de pais militares, alm daqueles
oriundos de outros pases onde seus pais possam ter prestado servio. Esse direito vaga, sem
que sejam submetidos a concurso pblico, possui amparo legal estabelecido pela DEPA,
qual todos os colgios militares esto subordinados. Diferentemente dos filhos de militares, os
filhos de civis, para ingressarem no sistema precisam prestar um concurso pblico.
151
3
Em 2011, o SCMB contava com: 14.330 estudantes, sendo 46% meninas e 54%
meninos. No que se refere ao nmero de professores, contava com 1.370 docentes,
distribudos da seguinte forma: 756 civis, na grande maioria, concursados e alguns
contratados, conforme necessidade de servio, e 618 militares.
Os agentes que fazem parte desta pesquisa so militares da rea do magistrio
pertencentes ao QCO lotados no CMCG, exercendo a funo de professoras do Ensino
Fundamental e Mdio, e, concomitantemente, outras funes concernentes carreira militar.
O professor militar diferencia dos demais professores do sistema educacional brasileiro, uma
vez que regido por normas e regulamentos especficos.
Quanto aos procedimentos metodolgicos trabalhamos com entrevistas, roteiros com
perguntas semi-estruturadas/no-diretivas, em dois momentos distintos: o histrico de vida
pessoal e profissional de cada um dos sujeitos da pesquisa e a histria de vida sobre a carreira
de professor militar QCO. Posteriormente, os participantes produziram um relato (auto)
biogrfico, assemelhado a um memorial com o tema: Lembranas e vivncias de Colgio
Militar na minha prtica docente, e por ltimo, realizamos um encontro para leitura do texto
produzido, neste focalizamos as semelhanas e diferenas nas prticas docentes no Colgio
Militar de Campo Grande (CMCG).
Na gnese desta pesquisa, trabalhamos com seis professores militares QCO.
Posteriormente, fizemos um recorte e delimitamos o grupo em duas professoras, adotamos
nomes fictcios para design-las. A justificativa consiste na questo de se tratar de uma
pesquisa qualitativa, em que os seus participantes so escolhidos no por referncias
quantitativas, mas sim, pela sua representatividade.
Como auxlio tecnolgico, durante o processo de organizao da empiria, utilizamos o
software NVivo8, visto que este tipo de recursos se faz cada vez mais presente na pesquisa
educacional. A vantagem quanto utilizao desse software que ele propicia a anlise mais
objetiva, uma vez que permite uma melhor organizao e quantificao dos dados coletados e
remete para o pesquisador eleger as categorias luz do referencial adotado.
Nossa fundamentao terica pautou-se na teoria da prtica de Pierre Bourdieu e seus
interlocutores. Ao optarmos pela base terica do socilogo Pierre Bourdieu e aps intensas
leituras de seus textos, compreendemos que valiosas orientaes metodolgicas nos seriam
fornecidas, uma vez que o referido autor teve a capacidade de ir ver o que estava
acontecendo (BOURDIEU, 2005, p. 85). O autor, em sua obra Coisas Ditas, foi capaz de
aplicar a si prprio seu mtodo de anlise (BOURDIEU, 2004).
152
4
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5
que ocupam lugares privilegiados, logo possvel afirmar que o habitus compreendido
como um sistema de disposies duradouras adquiridas pelo sujeito ao longo desse processo
de socializao, ou seja, o produto desse percurso, embora no seja inflexvel e esttico.
Este pode ser contnuo, reconfigurado, dependendo das relaes sociais estabelecidas pelos
agentes nos diferentes campos de atuao, uma vez que possui uma dimenso dialtica.
Quando pensamos a prxis do professor, entendemos que esta a exteriorizao dos
sistemas das disposies incorporadas e o habitus responsvel por interiorizar as estruturas
exteriores. Isto nos leva a pensar que cada experincia vivida pelo agente pode forjar um novo
habitus, como produto das relaes dialticas entre o que se denomina de exterioridade e
interioridade.
Essas relaes levam o indivduo a desenvolver gostos, sentimentos, valores, vontades,
capacidade de escolhas que no podem ser calculadas de maneira mecnica. O modo de
perceber e fazer suas escolhas passa a ser a exteriorizao da incorporao desse novo habitus
adquirido.
Partindo dessa premissa, pode-se afirmar que o professor um agente social, fruto das
vrias interaes estabelecidas entre vrios outros campos sociais e, portanto, traz consigo
estruturas incorporadas que influenciaro a sua prxis no mbito escolar. Esse agente capaz
de internalizar em suas prticas os ideais e valores de um determinado grupo social.
No entanto, Setton (2011) entende que o conceito de habitus construdo por
disposies hbridas mais adequado por admitir mais explicitamente a ideia de criao,
amlgama, mistura realizada pela vivncia e pela capacidade de cada docente montar uma
experincia identitria.
Ao apresentar sua concepo de habitus docente, Setton (2011) alerta que preciso
lembrar que o processo de socializao nas sociedades atuais um espao plural de mltiplas
referncias identitrias. A modernidade brasileira caracteriza-se por oferecer um ambiente
social no qual o professor encontra condies de forjar um sistema hbrido de referncias
disposicionais, mesclando influncias advindas de muitas matrizes de cultura.
A formao social brasileira nos impe pensar os habitus mais que plurais, talvez
habitus com disposies sincrticas. Sua criao admite a perda de alguns aspectos, mas a
admisso de outros em um processo de difcil previso. produto criativo de docentes em
situaes prticas peculiares e singulares, pois depende de um conjunto de circunstncias
sociais, polticas, religiosas, econmicas, escolares, miditicas, globalizadas, que no se
apresentam iguais para todos.
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8
disciplina [...]. O Colgio Tiradentes bom, muito bom. To bom que eu
consegui passar no primeiro vestibular [...]. (ANA, 2011).
Concordamos com Nvoa (2007, p. 09) quando afirma que a profisso docente [...]
muito exigente do ponto de vista do empenhamento e da relao humana. No basta ao
professor o conhecimento terico, necessrio um empenho, uma disposio para e nas
relaes sociais que envolvem tanto superiores quanto os pares de profisso e, principalmente,
estudantes.
Observamos que o habitus de uma das professoras passa por uma reestruturao ao ser
esta inserida num novo espao social totalmente diferenciado, uma vez que casa com um de
seus professores. Os agentes das novas relaes so outros. Os gostos, as preferncias so
outras, pois o capital econmico e cultural constituem em distino desse grupo. Outro
aspecto a ser pensado a ampliao do capital social da professora.
Quando eu me envolvi com meu professor, primeiro, ele era professor, ele
achava que eu tinha que estudar. Ento, ele sempre foi uma fora que me
impulsionou, tem que estudar daqui pra frente aquela coisa toda; segundo,
tirou-me do meu universo; deixei a comunidade, eu sa da comunidade
157
9
quando me casei com ele e fui morar num bairro classe mdia alta [...] Passei
a conviver com outras pessoas, todos os amigos dele eram professores, todos
eram professores... por exemplo, ele me ensinou a ouvir Chico Buarque,
Caetano Veloso... tudo o que sei da Msica Popular Brasileira, Elis Regina,
eu aprendi com ele... a despeito disso tudo, na minha vida pessoal foi a
melhor coisa, foi o que me fez estudar, foi o que me fez ir a faculdade, me
fez conviver com outras pessoas, foi o que diferenciou minha vida das
minhas amigas de infncia [...]. Ento, isso teve uma influncia muito
grande, a admirao que eu tinha por ele, a vivncia que ele me
proporcionou... (ANA, 2011).
Para uma das professoras o estar familiarizada com a questo da disciplina por ter
um pai militar e por estudar em um colgio da polcia militar a levou a estabelecer
estratgias rgidas de preparo para o concurso pblico.
Meu pai era militar, s que da Policia Militar (PM) [...] Foi soldado, a
passou a Sargento, chegando a Tenente, que aqui no Exrcito a gente chama
de Quadro Auxiliar de Oficiais (QAO) [...] no Ensino Mdio, eu fui para o
colgio da Polcia Militar [...] eu estudei num colgio em que voc entrava
em forma, cantava o Hino Nacional, em que se cobrava o uso do uniforme
ferrenhamente, nos corredores havia militares porque cobrava-se a
disciplina. A gente no usava farda militar, era civil, a camiseta do colgio,
mas havia militares por todos os lados ali, era um prdio acoplado ao lado do
quartel. Ento a gente passava pelo quartel todos os dias. O Colgio
Tiradentes bom, muito bom. (ANA, 2011).
158
10
nos possvel apontar que existem vestgios de influncia dos deslocamentos vividos
por esses professores e que novos habitus so incorporados pelos professores militares
lotados no CMCG.
Depreende-se, com isso, que os efeitos da estrutura da instituio Exrcito Brasileiro,
que produzem o modo de ser e estar do professor militar na profisso docente, traduzindo-se
assim como um campo simblico. nesse campo que ocorre a efetivao do habitus
professoral do professor militar.
Da, ser professor e estar professor... ser professor requer um engajamento,
quem professor vive e respira aquilo, quando eu me sentia s professora eu
dava aula de teatro. Eu sou professora de teatro, tenho formao de Teatro,
eu vivia em funo do colgio. Final de semana, pensava... eu planejava
daqui a trs meses s. Eu estou com os meus alunos hoje e vou desenvolver
um trabalho que daqui a trs meses dar um resultado X, que vai me
possibilitar fazer uma anlise e projees futuras. Exemplo: estar militar,
que o que me ocorre atualmente desde que eu cheguei aqui (CMCG) mas em outros colgios - Eu vou dizer o seguinte: que em [nome da cidade]
eu era professora e em [nome da cidade] eu era professora. Aqui (CMCG)
eu estou professora. diferente. O colgio me colocou nesta situao.
No fui eu que pedi pra estar. (ANA, 2011).
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12
cada colgio militar embora tenha regras e normas semelhantes aos demais do territrio
nacional possui uma cultura escolar que produzida no seu cotidiano de forma muito
singular.
Em suma, aps o percurso transcorrido possvel consubstanciar a ideia de que o
processo migratrio laboral influencia na constituio do habitus professoral do agente
professor militar. Isto se deve a um fator inerente condio humana, qual seja, a agente
professora militar possuidora de sentimentos, vontades, sente falta de familiares distantes,
saudades dos vnculos com a terra natal e no lhe possvel desvincular o profissional do
pessoal. Sobretudo, profissionais sentem os percalos no deslocamento/migrao de ter de
mobilizar seus capitais social, cultural, escolar e econmico, para ser e estar professora militar
num novo Colgio Militar do territrio nacional.
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161
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162
RESUMO
Este artigo tem como objetivo discutir sobre a formao e as prticas dos profissionais de
educao fsica que trabalham nos centros de educao infantil/ceinfs da Rede Municipal de
Ensino de Campo Grande MS, de modo que a partir das discusses e reflexes construa-se
uma nova imagem desse profissional na escola e na comunidade. Entende-se que, pelo
desconhecimento em relao formao e importncia de seu fazer pedaggico para o
desenvolvimento fsico e intelectual das crianas da educao infantil, construiu-se uma
imagem negativa de que as prticas desses professores na educao infantil restrinjam-se
apenas ao brincar. A pesquisa foi realizada por meio de levantamento bibliogrfico e de reviso
de literatura sobre o tema. Com este estudo pode-se esclarecer que a formao inicial nem
sempre subsidia conhecimentos e habilidades necessrias para o exerccio profissional e que
grande parte dos professores de educao fsica que atuam nos ceinfs so formados em servio.
INTRODUO
O artigo analisa o contexto histrico de discusses sobre a formao do professor de
educao fsica, com o objetivo de refletir sobre a sua prtica pedaggica e atuao no contexto
institucional dos Ceinfs, visando entender principalmente, como esse profissional interage com
os alunos e comunidade intra e extraescolar, de modo a compreender como essas relaes
interferem em seu fazer ou produzem bem estar e/ou mal estar docente.
1
Gisele Aparecida Ferreira Martins, Bolsista PROSUP CAPES, aluna do programa de Ps Graduao em
Educao Mestrado da Universidade Catlica Dom Bosco. [email protected]
163
164
requer formao profissional para seu exerccio: conhecimentos especficos para exerc-lo
adequadamente ou, no mnimo, a aquisio das habilidades e dos conhecimentos vinculados
atividade docente para melhorar sua qualidade.
imprescindvel a desconstruo diria dos saberes, para que haja uma nova
construo da figura docente, a partir das experincias vivenciadas. Para Veiga (2008, p. 19)
importante conhecer mais profundamente como a imagem do professor tem sido percebida e,
consequentemente, quais tm sido os pressupostos que fundamentam os projetos pedaggicos
para sua formao.
Sabe-se que a graduao proporciona ao acadmico apenas uma base de saberes
referente s disciplinas contidas na matriz curricular. De acordo com Tedesco (1998, apud,
Ghedin, Almeida e Leite, 2008, p. 29) a formao inicial do professor se apresenta de forma
insuficiente e aligeirada, no sendo capaz de suprir os desafios da formao docente diante do
novo contexto que exige dos profissionais.
Os mesmos autores propem novas discusses no mbito da formao de professores
no cenrio contemporneo e mencionam que os cursos de licenciatura vm trabalhando as
teorias desarticuladas da realidade vivenciada pelas escolas. Tambm destacam a superao da
racionalidade tcnica e questionam a eficincia da diviso da carga horria dos cursos de
licenciatura.
165
na escola (Penin, 2009, p. 29). Essa busca de conhecimento deve ser diria e em comunho
com os outros membros da comunidade escolar.
166
A presena deste profissional em uma instituio em que antes era ocupada apenas pelo
pedagogo, serviu para ampliar o contexto educacional de modo que todos os objetivos da
educao infantil sejam alcanados. Quando falamos de professor estamos nos referindo a um
profissional que apresenta caractersticas e qualidades prprias para exercer a sua profisso
(Bello, 2000, p. 45).
O conjunto de caractersticas de uma profisso que enfeixam a racionalizao dos
conhecimentos e habilidades necessrias ao exerccio profissional chamado de
profisionalidade (Ramalho, Nuez e Gauthier, 2003 apud Gatti, 2010 p. 1360). Este termo
surgiu da fuso dos termos profisso e personalidade originou-se o termo
profissionalidade (Penin, 2009, p.25).
Ao falar de personalidade do profissional no exerccio da sua profisso e considerando
que o professor o ator principal de seu trabalho, surgiu o seguinte questionamento: como o
docente de educao fsica desenvolve seu trabalho nos ceinfs? A graduao em educao
5
167
fsica subsidia conhecimentos especficos para esse professor atuar nesse nvel de ensino ou
esse profissional est se formando em servio? Nesse sentido, Lacerda e Costa (2012, p. 328)
afirmam que a maioria dos professores que atuam na Educao Infantil, inclusive os de EF,
so formados em servio, aprendem a fazer fazendo, sem capacitao que d conta de uma
ampla formao terica e poltica, especifica para atuar na educao infantil com crianas de
0 a 5 anos.
O trabalho docente desenvolvido nos ceinfs de extrema relevncia, e a qualidade da
educao ofertada nesses estabelecimentos compete essencialmente ao do educador, na
qual que esto envolvidos os atos de educar e cuidar, com a finalidade de possibilitar
desenvolvimento integral da criana, nos aspectos fsicos, psicolgicos, intelectuais e sociais,
complementando a ao da famlia e da comunidade.
O trabalho docente segundo Rebolo (2012, p.123) pode ser entendido como:
Nem sempre o trabalho desenvolvido pelo professor traz-lhe satisfao, pois a realidade
como docente bem diferente do que se almejava quando estava na graduao, existindo um
hiato entre o que se pensa com o que se concretiza em relao ao cenrio educacional.
Os fatores de satisfao e insatisfao no trabalho do professor est relacionado sua
felicidade ou infelicidade. Penin (2009) afirma que as condies objetivas e subjetivas do
trabalho podem gerar satisfao e insatisfao. As condies objetivas so aqueles aspectos
exteriores da profisso como salrio e carreira. J as condies subjetivas dizem respeito
vivncia diria de um profissional no desempenho do seu trabalho, incluindo as relaes
sociais que estabelece.
A disciplina de educao fsica tem sido apontada como aulas de brincar, crtica feita ao
professor em relao ao seu trabalho realizado com as crianas, sendo que este trabalho nem
sempre realizado com materiais pedaggicos necessrios e suficientes e at mesmo em
ambientes inadequados. Assim, esses entraves lhe geram uma insatisfao por parte destes
professores.
168
Essa insatisfao no trabalho pode gerar o que alguns autores como Esteve (1999) e
Jesus (1998) chamam de mal estar docente. O conceito de mal-estar docente relatado por Saul
N. Jesus (1998, p. 21) traduz uma realidade composta por diversos indicadores, dentre esses, o
baixo rendimento, o desejo de abandono da profisso e, em casos mais graves, estados de
exausto e de depresso.
As condies inadequadas de trabalho a que os educadores so expostas e a falta das
mnimas condies necessrias para a execuo de seu trabalho, tambm a falta de
remunerao digna so fatores que geram o mal estar docente.
o que se percebe tambm nos estudos de Esteve (1999), quando o autor refere-se ao
mal-estar ao qual esto submetidos os docentes no atual sistema de economia capitalista, em
que se constata o aumento das exigncias em relao ao professor, frente falta de
responsabilidade educativa de outras instituies, principalmente a familiar.
O que se pretende saber quais os fatores que propiciam a satisfao desses
professores de educao fsica e a condio para se construir o bem- estar no trabalho docente
realizado nos ceinfs.
Alguns aspectos atribudos como agentes causadores da satisfao do trabalho
docente, tambm conhecida como bem estar docente so a existncia de condies adequadas
para a realizao do trabalho do professor no ambiente escolar, a sua formao inicial e
continuada, o reconhecimento de suas aes por parte dos gestores e da comunidade, alm da
satisfatria recompensa salarial.
Sobre o bem-estar docente, Rebolo afirma que:
169
CONSIDERAES FINAIS
REFERNCIAS
170
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VEIGA, I.P.A. AMARAL, Ana Lcia (Orgs). Formao de professores: polticas e debates.
Campinas, SP: Papirus, 2002.
10
172
INTRODUO
O presente artigo apresenta o resultado da pesquisa1 em andamento, que na sua fase
inicial, teve como foco a realizao do estado da arte que objetivou identificar a produo
acadmica, no Brasil, a respeito da implementao do Programa Institucional de Bolsa de
Iniciao Docncia (PIBID). Pretendeu-se, tambm, de forma mais especfica, obter acesso
aos trabalhos que discutissem a implementao do programa associada s polticas de
formao no estado de Mato Grosso do Sul, lcus de estudo dessa pesquisa.
Tendo em vista que a pesquisa em andamento est apoiada no referencial
metodolgico materialista histrico-dialtico, foi estabelecida uma interlocuo entre os
autores citados ao longo do trabalho, com o intuito de identificar os que abordavam a temtica
na mesma perspectiva.
Almejou-se, nessa trajetria de compndios, que o objeto estudado, nesse caso, a
implementao do PIBID, fosse despido de preconceitos e pudesse ser reconhecido sob um
1A
implementao do PIBID nas Universidade Federais do Mato Grosso do Sul diante das polticas de formao
docente do governo PT.
173
METODOLOGIA
174
O primeiro caminho utilizado para buscas foi a WebQualis da pgina da CAPES, com
o propsito de identificar os peridicos que trataram a respeito do tema. Em relao ao
critrio de qualificao, ficou decidido a preferncia por artigos publicados nos peridicos
classificados pela CAPES como A1 e A2.
Nessa primeira etapa, a maioria dos trabalhos esteve configurada a discusses
relacionadas contribuio do PIBID no processo de ensino-aprendizagem das diversas
disciplinas, e no especificamente a debates que viabilizassem o contexto do Programa
referente s polticas de formao. Outro ponto importante que apesar de 3 trabalhos, de 72
encontrados a partir da palavra chave PIBID, apresentarem aproximao aos parmetros
citados anteriormente,2 foram encontrados em peridicos de classificao B e C, o que
impediu selecion-los.
O artigo selecionado nessa primeira busca foi referente a um peridico qualis A1.
Elaborado pela Carvalho (2013), com o ttulo O Programa de Bolsa de Inicio DocnciaPIBID: Contribuies e Limites no mbito dos cursos de formao inicial, apresentou como
objetivo central contribuir para a avaliao do PIBID do Curso de licenciatura em cincias
biolgicas da Universidade do Estado da Bahia, Campus II. Utilizou os dados dos
175
176
permitiu que os estudos e as aes vivenciadas pelos professores iniciantes contribussem para
suas formaes.
Diante das falas dos alunos (professores iniciantes), foi verificado uma preocupao a
necessidade de regras e limites para a melhora do trabalho docente nas escolas. Ainda, sobre
os limites e contradies, declararam o baixo valor das bolsas dos alunos que ainda os
obrigaram a trabalhar em outras ocupaes, as dificuldades de organizao referente aos
encontros dos coordenadores, e os recursos nas escolas.
Foi possvel identificar relevncias sob o mtodo utilizado na pesquisa, relativo
escolha da instrumentalizao da coleta de dados. A observao dos depoimentos em reunio
demonstrou-se um importante mecanismo, por permitir obter informaes de forma aberta,
sem estabelecer limites nas falas dos envolvidos no Programa. No entanto, o desenvolvimento
do texto, principalmente em suas discusses e consideraes finais, indicou alguns
pertencentes ausncia de debates que proporcionassem contextualizaes polticoeconmicas sobre o tema.
Antagonicamente ao desenvolvimento do estudo da Carvalho (2013), que fez suas
explanaes sobre o PIBID e traou interlocues sobre os interesses das polticas neoliberais,
Souza (2014) apreendeu-se em apenas indicar os limites e contribuies do Programa na
Universidade de So Paulo. Mesmo assim, cumpriu com o objetivo indicado. Nesse caso, os
artigos trouxeram importantes contribuies, seja por suas aproximaes ou distanciamentos
da perspectiva da pesquisa.
Em decorrncia ao andamento da seleo dos artigos, ainda no mesmo site, agora de
forma mais especfica, foi descrito como assunto PIBID Mato Grosso do Sul. Essa etapa
apresentou apenas 1 artigo, o qual retratava a Educao a Distncia como poltica essencial a
educao brasileira. Desse modo, no foi identificado no ttulo e no resumo palavras ou
direcionamentos ao tema ou ao objeto em questo. Sendo assim, foi caracterizada a ausncia
de estudos publicados referente ao PIBID no MS.
Esse primeiro momento, representado pelas buscas no site da CAPES, deixou claro o
baixo ndice de publicaes que retratou o cenrio da implementao do PIBID imbricada s
polticas pblicas de formao. Alm disso, observou-se uma situao de ausncia de estudos
que pesquisaram essa temtica no estado do Mato Grosso do Sul. Dessa maneira, foi possvel
identificar apenas dois trabalhos cientficos que cumprissem com os critrios determinados
inicialmente.
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178
objetivados em muitas das instituies de ensino envolvidas e, por essa razo, com potencial
regulador.
O segundo artigo, em contrapartida, teve como objetivo identificar os programas de
apoio formao de professores no Brasil. Nessa circunstncia, no indicou conflitos sociais
referente a temtica, mas pretendeu realizar um mapeamento desses programas, inclusive do
PIBID, considerando-os incentivo a valorizao do magistrio. Assim como o primeiro artigo,
argumentou sobre o Programa como uma parceria entre Universidade e Escola, porm, se
limitou a esta definio, pois, juntamente a outros programas, como o de incentivo ao
professor iniciante, desenvolvido em Campo Grande, e executado pela Secretaria Municipal
de Educao; o Bolsa Alfabetizao desenvolvido pelo Governo do Estado de So Paulo; e
outro destinado aos estagirios de Pedagogia, concebido pelo governo de Jundia, aspiraram
apenas identific-los como fomento a formao de professores.
Como j mencionado, os dois artigos so relevantes no que tange a um possvel
dilogo na organizao do estado do conhecimento. Se por um lado, apontam os programas de
apoio formao de professores, apresentando-os e explicando-os, inseridos no processo de
reformulaes das polticas de incentivo formao docente, por outro lado, possvel
identificar um ponto de vista crtico-reflexivo sobre a implementao das polticas do PIBID
como parte de uma poltica de um sistema regulador.
Como resultado deste primeiro momento de busca no site Scielo, verificou-se um
baixo nmero de artigos que tem o PIBID como objeto de estudo. A partir de uma nica
palavra-chave PIBID, que acaba por enquadrar a busca num cenrio ampliado, poucos
artigos so encontrados. Porm, o primeiro artigo configurou-se de extrema importncia por
abordar o Programa por uma tica mais estendida sob a esfera das polticas neoliberais.
Principalmente, por estar pautado pelo referencial materialista histrico, que aparentemente,
pelos trabalhos encontrados, pouco utilizado.
Posteriormente, mesmo sendo identificada a carncia de artigos sobre a temtica neste
site, ainda houve a insistncia em especificar o assunto, norteando a busca ao lcusde estudo
da pesquisa em andamento. Com intuito de encontrar estudos que discutissem o Programa e
as polticas de formao no MS, utilizou-se como palavras-chaves: PIBID Mato Grosso do
Sul. Entretanto, esse processo no disponibilizou nenhum trabalho cientfico, sendo assim,
acabou por corroborar com a identificao de um cenrio cientfico de poucas pesquisas
voltadas para estudos a respeito do PIBID, essencialmente, quando se refere ao estado do
Mato Grosso do Sul.
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incentivos do governo Federal sobre as polticas de formao. Diante disso, apontou o PIBID,
assim como os outros programas que pretendiam incitar a valorizao da formao docente
nesse perodo, como mecanismos institucionais que pouco apresentavam as reais necessidades
do professorado.
Desse modo, indicou tais polticas como suporte para os interesses socioeconmicos
vigentes. Sendo assim, a plena satisfao em seu andamento foi mencionada como construo
de programas com fins de qualificao para o trabalho e desprezo ao contexto dos interesses
do professor.
Canan e Corsetti (2009), no XXIV Simpsio Brasileiro, apresentaram um estudo, o
qual abordou a importncia do PIBID para a valorizao da formao docente. Com o ttulo
O professor em formao: o PIBID no contexto da Poltica Nacional de Formao de
Professores objetivou compreender o Programa a partir da Poltica Nacional de Educao, e
realizou algumas consideraes sobre sua relevncia no processo de qualificao do professor
no Ensino Bsico.
Foram utilizados, como procedimentos metodolgicos a anlise documental, os
estudos bibliogrficos, e a dinmica de um grupo focal de acadmicos participantes do PIBID,
com a inteno de identificar as contribuies do Programa para a formao dos professores.
As autoras evidenciaram, a partir das anlises dos depoimentos dos acadmicos bolsistas, as
oportunidades de reflexo pedaggica e a adequao da prtica dos saberes docentes a partir
da realidade do contexto escolar. Os licenciandos destacaram que, mesmo que o Programa
tenha necessidade de obter alguns ajustes em sua implementao, apresentou-se como um
importante recurso para suas formaes.
Esse trabalho indicou aproximaes ao estudo de Aranda (2011), referente ao mtodo
e ao ponto de vista manifestado no desenvolvimento dos textos. Ambas as pesquisas
explicitaram implementao do PIBID como um mecanismo favorvel qualificao do
professor, e como consequncia, a melhora do desempenho do aluno. Apesar de exibirem tais
consideraes, diante do referencial metodolgico da presente pesquisa, observou-se a
ausncia de discusses que oferecessem um olhar ampliado sobre as polticas, as quais, o
PIBID foi criado e implantado.
Pela mesma concepo de anlise Canan e Corsetti (2009) e Aranda (2011), Barbosa
e Batista (2012), participantes do VII Seminrio Regional de Poltica e Administrao da
Educao do Nordeste e II Simpsio Gesto da Educao, Currculo e Inovao Pedaggica,
apresentaramum trabalho em formato de pster com o ttulo O Programa Institucional de
183
CONIDERAES FINAIS
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REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
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Porto Alegre, artigo, Porto Algre: UFRS, 2007. Acesso em: 16/07/2015.
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Este trabalho traz os resultados da pesquisa de mestrado intitulada Os saberes ambientais dos
alunos sobre o ambiente natural e suas implicaes no currculo escolar: um estudo na escola
das Escolas das guas Extenso So Loureno, no Pantanal de Mato Grosso do Sul.
Trata-se de um estudo exploratrio, descritivo e explicativo, com abordagem qualitativa. A
pesquisa foi realizada na Escola Municipal Rural Polo Porto Esperana Extenso So
Loureno, na regio do Pantanal de Mato Grosso do Sul. Os dados a respeito dos saberes dos
alunos dessa Escola foram obtidos por meio da metodologia geradora de dados (descrita por
Posey, 1986), tendo como sujeitos 12 estudantes, do 2 ao 5 ano que expressaram seus
saberes durante a realizao de entrevistas abertas (individuais e grupais). Para a obteno de
dados sobre a presena dos saberes no currculo escolar, foram realizadas entrevistas
semiestruturadas com as duas professoras, a coordenadora pedaggica e a diretora da Escola,
alm de anlise de documentos da escola (Proposta Poltico Pedaggica), do professor (dirio
de classe) e dos alunos (cadernos), alm do livro didtico utilizado. O referencial terico que
auxiliou a reflexo sobre os dados obtidos se pautou nos estudos de autores como Manuela
Carneiro da Cunha, que conceitua e caracteriza o saber local ou tradicional, de Michael Apple
e Tomaz Tadeu da Silva que discutem o currculo como uma construo social, e de Kenneth
Zeichner, Paulo Freire, Peter McLaren e Vera Candau, que discutem a multiculturalidade e o
dilogo intercultural no currculo. A anlise dos dados indica que os alunos detm saberes
diversos sobre a fauna, flora, o rio e as lendas relacionadas ao ambiente local. De modo geral,
esses saberes so desconhecidos e pouco valorizados pela escola. Entre as razes desse fato
est a lacuna na formao dos professores para o dilogo com os saberes dos alunos, bem
como a precarizao das condies de trabalho docente. Por outro lado, os dados tambm
apontam para um potencial a ser explorado na construo de um currculo multicultural
crtico, como por exemplo, a abertura e disposio das professoras, coordenadora e direo da
escola para o dilogo com a comunidade local e os espaos nas formaes continuadas
oferecidas pelos rgos gestores.
Palavras-chave: Saber local. Formao de professores. Currculo Multicultural.
1. Introduo
As aes humanas esto situadas em um tempo e um espao que conferem sentido
e significado s questes que as movem. Por conseguinte, a pesquisa, como uma ao
humana, tambm est situada num contexto histrico, social, geogrfico, cultural,
econmico, epistemolgico, etc. e as questes que as movem, assim como as respostas e as
interpretaes que fazemos delas, s podem ser compreendidas a partir do lugar da
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2
pesquisa. Lugar, como concebe Hall (1997)2, citado por Perrelli (2007, p.55), tem a ver com
os processos, marcados pela fluidez, pelo fluxo e o movimento que tm impacto sobre os
modos como nos posicionamos no mundo.
Nessa compreenso, a inteno nesta introduo situar alguns dos lugares que
conferiram as marcas deste trabalho: o lugar geogrfico (no Pantanal sul-mato-grossense), o
lugar social (a comunidade da Barra do So Loureno e a Escola das guas) como espaos e
tempos em movimento nos quais os sujeitos (professores, alunos, comunidade) constroem
crenas, costumes, valores, artefatos, comportamentos e cosmovises com os quais
interpretam, participam e transformam o mundo em que vivem.
1.1 A regio do Pantanal de Mato Grosso do Sul
A Extenso Escolar So Loureno, uma Escola das guas, lcus desta pesquisa,
est localizada no Pantanal sul-mato-grossense, um bioma conhecido internacionalmente por
ter um elevado grau de conservao ambiental e grande diversidade biolgica. Devido a sua
importncia foi declarado como Patrimnio Nacional pela Constituio Federal do Pas e
Reserva da Biosfera pela UNESCO.
O Pantanal est localizado na Bacia do Alto Paraguai (BAP), sendo o rio Paraguai
seu principal tributrio. Seu regime hidrolgico o processo responsvel pela manuteno e
pelo equilbrio ecolgico de todo o bioma. No perodo de enchente, quando as guas
comeam a subir formando banhados, lagoas (baas) e corixos temporrios, os peixes migram
para esses locais em busca de frutos que caem das rvores. Quando inicia a vazante, momento
em que os rios retornam aos seus leitos, milhares de peixes ficam aprisionados nas lagoas e
corixos servindo de alimento para jacars e aves. As baas repletas de peixes e iscas tambm
favorecem a vida dos pescadores artesanais que dependem desse recurso para sobreviver.
HALL, Stuart. The centrality of culture: notes on the cultural revolutions of our time. In:
THOMPSON, K. (Ed.). Media and cultural regulation. London, Tousand Oaks, New Delhi: The Open
University, SAGE Publications, 1997, cap. 5.
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3
Dessas seis escolas, cinco so mais prximas do permetro urbano. Uma delas,
com dez extenses, est localizada dentro do Pantanal, sendo esta a Escola Municipal Rural
Polo Porto Esperana e Extenses. Por estarem situadas em regies de difcil acesso e
sofrerem a influncia do ciclo das guas do Pantanal, so denominadas, informalmente, pela
Secretaria e pelas comunidades, de Escolas das guas.
As Escolas das guas so compostas, portanto, por uma Unidade Polo (sediada no
Distrito de Porto Esperana, situada a 95 km de Corumb) e dez Extenses Escolares que
esto distribudas nas sub-regies do Pantanal do Paraguai e do Paiagus.
A Escola So Loureno, uma das Extenses das Escolas das guas, foi criada em
2005 para atender a reivindicao da comunidade local, que entendia a necessidade de suas
crianas estudarem sem que para isso tivessem de deixar o convvio com seus familiares.
Antes da criao da Extenso, as crianas em idade escolar tinham duas opes, estudar em
Corumb, cidade mais prxima da comunidade, ou na Extenso Paraguai-Mirim, que na
poca j ultrapassava o limite mximo de alunos.
A princpio uma escola muito simples, com uma estrutura bsica, apenas uma sala
de aula, cozinha, banheiro e dormitrio. Em 10 anos a escola ampliou suas instalaes
trazendo mais conforto e segurana para professores e alunos, melhorando a infraestrutura
pedaggica, incluindo a aquisio de livros e recursos tecnolgicos.
A escola est localizada margem esquerda do rio Paraguai, em uma ilha, na foz
do rio Cuiab/So Loureno, a 224 quilmetros do municpio de Corumb, Mato Grosso do
Sul. Oferece ensino do primeiro ao nono ano em salas multisseriadas. A idade dos alunos
varia de seis a dezoito anos. So filhos de pescadores e ribeirinhos residentes na comunidade
denominada Barra do So Loureno.
Trata-se de uma comunidade recente, constituda por 19 famlias que esto nessa
rea h aproximadamente 18 anos, apesar de viverem s margens dos rios pantaneiros h
muito mais tempo. Antes de ocuparem este local, as famlias viviam, h mais de quarenta
anos, do outro lado da margem do rio Paraguai, na fazenda Acurizal. Todas as famlias da
comunidade da Barra do So Loureno sobrevivem da pesca.
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5
teve como objetivos especficos: descrever o histrico das Escolas das guas, a sua estrutura
e a Proposta Pedaggica, com especial interesse nas informaes relacionadas aos saberes
locais; caracterizar a comunidade atendida pela Escola Municipal Rural Porto Esperana Extenso Barra do So Loureno; identificar os saberes dos alunos das Escolas das guas
sobre o ambiente natural (fauna, flora, rio e, lendas,) e analisar a incorporao dos saberes no
currculo a partir das perspectivas tericas que defendem o dilogo cultural. Porm neste
trabalho as informaes esto limitadas ao objetivo geral.
3. Metodologia
A escolha da Extenso Escolar Barra do So Loureno para a realizao da
pesquisa deveu-se ao fato de a escola estar localizada margem do rio Paraguai e atender a
uma comunidade isolada que reside h muito tempo na regio. Essas caractersticas
favorecem a produo e transmisso dos saberes locais.
Foram definidos como sujeitos da pesquisa os 12 alunos do segundo ao quinto
ano, as duas professoras3 que lecionaram em 2012, a coordenadora pedaggica e a diretora
escolar.
Assim delineada, foi encaminhada a pesquisa tendo abordagem qualitativa e se
configurando como um estudo exploratrio, descritivo e explicativo.
Os dados a respeito dos saberes dos alunos dessa Escola foram obtidos por meio
da metodologia geradora de dados (descrita por Posey, 1986), que expressaram seus saberes
durante a realizao de entrevistas abertas (individuais e grupais), conversas informais,
anlises imagticas, produo de desenhos, observaes da regio, entre outros
procedimentos.
Para a obteno de dados sobre a presena dos saberes no currculo escolar, foram
realizadas entrevistas semiestruturadas com as duas professoras, a coordenadora pedaggica e
a diretora da Escola, alm de anlise de documentos da escola (Proposta Poltico Pedaggica),
do professor (dirio de classe) e dos alunos (cadernos), alm do livro didtico utilizado.
Tambm foram analisados relatrios das formaes continuadas oferecidas pela Secretaria
Municipal de Educao de Corumb.
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6
Uma temtica que tem merecido a ateno dos estudiosos do campo educacional
a questo da cultura como elemento central nas discusses acerca do currculo escolar.
Coloca-se em relevo, na atualidade, a problemtica da hegemonia, no currculo escolar, dos
conhecimentos cientficos ditos universais, os quais, na verdade, representam apenas um
tipo de saber produzido em uma determinada cultura, na lgica ocidental eurocntrica,
herdeira da racionalidade da cincia moderna.
Entendendo o currculo como um campo de disputas no qual as relaes de poder
determinam quais saberes so considerados legtimos ou no, pode-se pensar na possibilidade
de a escola abrir espaos a outros saberes, produzidos por outras culturas, cuja validade tem
sido colocada prova ao longo dos anos, mas que foram historicamente silenciados e
subalternizados pelo colonizador.
Nesse sentido, sem negar a importncia desses conhecimentos e nem o
conhecimento cientfico ocidental, prope-se a ideia de um currculo que contemple a
diversidade dos saberes produzidos por diferentes culturas e se promova o dilogo entre eles.
Assim, a sala de aula se constituiria um local de dilogo entre pessoas diferentes que trazem
consigo saberes diversos que poderiam ser valorizados e partilhados entre todos. Essa no
uma tarefa fcil. Ao contrrio, complexa e conflituosa.
Para empreendermos esforos nesse sentido, preciso aprofundarmos estudos
acerca das especificidades dos saberes produzidos por outras culturas. Alm disso, preciso
nos fundamentarmos acerca das teorizaes que discutem a correlao entre currculo, cultura
e relaes de poder e defendem a insero de outros saberes na escola, em especial os
produzidos por grupos culturais subalternizados.
A diversidade cultural, cada vez mais presente nas diferentes sociedades, tem se
cruzado, como apresenta Candau (2005), com problemticas de carter poltico, social,
econmico, artstico, tecnolgico, religioso e educativo.
A escola no est isenta desse processo e o professor est desafiado a desenvolver
suas prticas pedaggicas em uma sala de aula multicultural, com a presena de alunos de
diferentes vises de mundo.
Abordaremos neste texto um desenho de multiculturalidade, que tambm est
presente nas escolas brasileiras, no qual os alunos se reconhecem e fazem parte do mesmo
grupo cultural e o professor o diferente, um sujeito construdo em outra cultura, juntamente
com a instituio escolar, cujo modelo no foi delineado para atender aqueles alunos. Nesse
contexto, o professor tem o desafio de construir prticas pedaggicas culturalmente
193
7
orientadas, numa concepo de currculo que reconhece e valoriza a diferena cultural. Isso
porque:
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8
completo o contexto histrico e cultural e trata a diferena como uma essncia, retirando
todo o significado poltico e cultural (MCLAREN, 2000, p. 120).
O autor entende que a essncia do multiculturalismo crtico ver a cultura de
maneira conflituosa, desarmnica e sem consenso, mas que todos devem ter uma vida digna
independente das diferenas e sempre buscar a transformao social. As diferenas so
entendidas como diferenas polticas, alm de enfatizar a tarefa central de transformar as
relaes sociais, culturais e institucionais nas quais os significados so gerados (MCLAREN,
2000, p. 123).
Em relao ao conceito de interculturalidade, Candau (2005, p.32) utiliza-o para
destacar o reconhecimento do direito a diferena e luta contra todas as formas de
discriminao e desigualdade social. A interculturalidade orienta processos que buscam
promover relaes dialgicas e igualitrias entre pessoas e grupos que pertencem a universos
culturais diferentes, trabalhando os conflitos inerentes a essa realidade. Ressalta que, nessa
perspectiva, as relaes de poder no so ignoradas e que os conflitos devem ser enfrentados
com diferentes estratgias. Assim, a educao intercultural confronta todas as vises
diferencialistas que favorecem processos radicais de afirmao de identidades culturais
especficas. Trata-se de uma educao para a negociao cultural (CANDAU, 2005, p.35).
Canen e Xavier (2011) enfatizam a importncia da formao de professores para
refletirem e atuarem com a diversidade cultural no contexto escolar. uma oportunidade para
abrir espaos que permitam a transformao da escola em um local em que as diferentes
identidades so respeitadas e valorizadas, consideradas fatores enriquecedores da cidadania".
No primeiro ano, eu cheguei l e parecia que tudo era igual como na cidade. Mas
depois eu vi o difcil acesso, como eles vivem. Descobri outra maneira deles viverem (Maria).
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9
De incio fiquei bem chocada, mas depois eu fui vendo que a cultura deles e no
adianta a gente ir l e querer mudar, porque eles no vo mudar. O que eles precisavam mesmo
uma escola, aprender, pelo menos, escrever o nome. Porque hoje em dia vai ter at o ensino
mdio (Maria).
Esta fala denota a aceitao, pela professora, de uma cultura diferente. Contudo,
essa diferena est associada a inferioridade, o que reflete na construo de um currculo
numa perspectiva do multiculturalismo conservador, que subalterniza a cultura do outro por
consider-lo menos capaz. Para eles, o papel da escola, seria, apenas, de ensinar a ler e
escrever e no de oferecer outros conhecimentos e valorizar o saber do aluno, tendo em vista a
instrumentaliz-los para desenvolverem um olhar crtico sobre a realidade, como sugere
Freire (1996).
Entretanto, durante as entrevistas com as professoras pode-se notar, em suas falas,
a preocupao com a realidade dos alunos, ao ensinarem um determinado contedo:
Para voc trabalhar o semforo, difcil! Porque eles nunca vo cidade. Primeiro voc trabalha o rio, porque
l no rio tambm tem sinalizao e depois voc traz as informaes da cidade. [...] difcil, mas preciso
comear pela realidade deles para voc chegar outra.
Ns temos muita atividade assim: Como a sua comunidade? O que tem em volta da sua comunidade? Como
a sua casa? Que meios de comunicao vocs usam? dessa maneira que trabalhado.
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alunos consultaram seus familiares e os moradores mais idosos. Esse material foi registrado
em um caderno de receita caseira que foi exposto na Sala Pedaggica.
Pode-se observar que as atividades desenvolvidas em sala de aula pode ser uma
tentativa de dilogo entre os saberes escolar e local. Entretanto, possvel perceber, que as
professoras no tm uma formao coerente com essa proposta. Logo, pode-se dizer que no
tem condies de desenvolverem uma educao que vai alm da prtica da educao bancria
criticada por Freire (1996). Mesmo pesquisando em diferentes materiais de apoio s
professoras, no conseguem superar a concepo equivocada de ensinar que aprenderam
durante sua histria de vida, magistrio e trajetria profissional, como pontuado por Tardiff
(2002). Essa educao baseada na transmisso de conhecimentos cientficos, realizada de
modo vertical, onde o professor o detentor do conhecimento, ainda prevalece mesmo que se
inicie com o saber do aluno.
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11
percebido pelos alunos quando a gua vem subindo e o barranco vai ficando pequeno e
porque se v um monte de camalote. A cheia tambm tem outros indicadores como o rio
enche, os mosquitos vo embora.
Os alunos, assim como os demais moradores da comunidade, usam diferentes
pontos do rio como referncia. Esses pontos, na maioria das vezes, so nomeados pelas
pessoas do local. Assim, por exemplo, cada barranco localizado na frente das casas
nomeado porto (o Porto Nossa Senhora Aparecida o barranco na frente da casa da Dona
Maria) e cada local por onde navegam (os braos menores, os corixos, as baas) tambm so
nomeados. As crianas no conhecem todos esses lugares, mas sabem que existem, que tem
um monte de nome que as pessoas do e ele fica como, por exemplo, baa boca do burro,
baa arranca rabo.
A dequada, um fenmeno natural do rio Paraguai, tambm conhecida dos
alunos em alguns de seus aspectos. Indagados sobre o que sabiam a respeito, eles fizeram
diversas correlaes entre a dequada e outros fenmenos, como a queimada, a poluio, a
mudana de comportamento das aves aquticas, entre outros. Os alunos falam da dequada,
suas causas e consequncias:
A dequada vem porque tem a queimada, a vem a enchente e os peixes comeam a morrer porque
d falta de ar nele.
os passarinhos que do o alerta que vem gua ruim. Quando no tem passarinho [nas margens
do rio] no tem dequada.
Em tempo de dequada tem bastante urubu no rio, por causa dos peixes que morrem. Eles sobem
em cima do baceiro e at brigam por causa do peixe.
A piracema est presente na vida dos alunos e eles a veem como um perodo em
que t fechada a pesca, o rio pra, ai passa o fim de ano abre de novo, os peixes ficam
livres e depois desse perodo aparece bastante peixe. Tambm sabem da repercusso do
fenmeno na rotina das famlias e na economia local. Os pais no saem com a mesma
frequncia para pescar (s o fazem para a prpria subsistncia) e o turismo no local diminui.
Sendo assim, tem que economizar o que a gente tem, porque no pode pescar.
5. Consideraes finais
A anlise dos dados indica que os alunos detm diversos saberes sobre a fauna, a
flora, o rio, as lendas e os modos como a comunidade usa, maneja e conserva o ambiente
natural local. So saberes locais, pois caracterizam-se pela transmisso oral de gerao em
198
12
gerao, pela construo no contato direto com o ambiente e por meio da observao, so
saberes dinmicos que se modificam e se renovam nos desafios do cotidiano. Assim, sua
riqueza, como assinala Cunha (1999), no est apenas no produto, mas no processo de sua
produo. As garantias de sua produo devem, portanto, ser preservadas se quisermos
preservar esses saberes.
Entretanto, essa riqueza de saberes dos alunos , em grande parte, ainda
desconhecida da escola e pouco valorizada no currculo. Isso foi possvel constatar
percorrendo outra via na trajetria desta pesquisa. Foi possvel identificar que os saberes dos
alunos eram contemplados em apenas algumas atividades pontuais e que no estavam
representados nos livros didticos utilizados. As professoras, por no terem formao para
atuar na perspectiva de valorizao dessa diferena, conservam, em suas prticas, uma viso
de currculo de abordagem monocultural.
preciso ressaltar, de um lado, os fatores limitantes construo, na escola de um
currculo multicultural na perspectiva crtica (como defende Michael Apple e Peter
McLaren, entre outros). De outro, os fatores que se apresentam como possibilidades de a
escola investigada caminhar na construo de um currculo que promova o dilogo dos
diferentes saberes e favorea a preservao da cultura local.
Entre os fatores limitantes, isto , aqueles que vm dificultando a construo de
um currculo multicultural na escola investigada, destaco dois deles para reflexo: (1) a
formao e (2) as condies de trabalho do professor.
No que diz respeito formao, tanto inicial como continuada, ficaram evidentes
certas lacunas que dificultam a construo de um currculo que valorize a cultura dos alunos.
Uma delas a ausncia, nos cursos de formao dos professores, de contedos
especficos relacionados regio em que esto localizadas as Escolas das guas, isto , o
Pantanal em seus aspectos naturais (fauna, flora, hidrografia, geologia, etc.), polticos, sociais,
econmicos e culturais. Os professores que atuam nesses contextos precisam dispor de
conhecimentos socioculturais especficos acerca das lnguas, culturas e particularidades dos
alunos da sua sala de aula e tambm serem capazes de utilizar esses conhecimentos na
organizao curricular e da instruo, como assinala Zeichner (1993, p. 88-89).
Outra lacuna na formao do professor, e que dificulta a construo do dilogo
entre distintas culturas, diz respeito sua preparao para a pesquisa sobre e com as culturas
diferentes (sua histria, seus saberes, suas formas de organizao, etc.). Citando Cazden e
199
13
Menhan (1990)4, Zeichner (1993) assinala que s ser possvel dispor desses conhecimentos
socioculturais se o professor for formado para investigar esses e nesses contextos, ou seja,
para ser capaz de obter informaes dos seus alunos e da comunidade local e aprender a usar
essas informaes em prol da pedagogia (ZEICHNER, 1993, p. 90). A formao do
professor para a diversidade cultural na escola inclui, portanto, o aprender a utilizar
metodologias de pesquisa apropriadas a dar voz aos moradores da comunidade, fazendo
emergir suas linguagens, seus valores, seus smbolos, enfim, seus saberes historicamente
silenciados e inferiorizados. Orientados pelos professores, os alunos tambm devero fazer
parte desse processo, investigando a sua prpria cultura. Assim, a formao do professor deve
proporcionar a construo de competncias tanto para a pesquisa como para orientao de
seus alunos na tarefa de pesquisar.
Evidenciadas essas lacunas na formao inicial, destaca-se a importncia das
formaes continuadas como alternativa para dotar o professor de conhecimentos acerca da
realidade de seus alunos, bem como de saberes relacionados pesquisa em contextos culturais
distintos, construo de pontes de interao entre a comunidade e a escola, utilizao
dessas informaes na construo de um currculo que promova o dilogo entre as diferentes
culturas.
Outro fator limitante que trago para reflexo so as condies que o professor tem
para o desenvolvimento do seu trabalho. Isso pode ser evidenciado em diferentes aspectos:
As professoras permanecem na escola por dois meses consecutivos, residindo no
mesmo alojamento dos alunos, convivendo com eles em tempo integral, inclusive na hora de
dormir, sem terem momentos de privacidade para lazer, descanso, preparo das aulas e
aprofundamento nos estudos. A comunicao com a cidade (Corumb) precria, o que
dificulta o contanto com seus familiares e a prpria direo escolar. H intensificao do
trabalho das professoras, uma vez que elas eram responsveis, tambm, por organizar as
divises de tarefas entre os alojados (limpeza e cozinha), verificar as condies dos
equipamentos existentes (computadores, gerador, bomba dgua) e comunicar os problemas
direo central, controlar o estoque de alimentos, entre outros5. Some-se a isso a
responsabilidade quanto integridade fsica dos alunos, bem como de evitar as possibilidades
CAZDEN, C.; MEHAN, H. Principles from sociology and anthropology: Contex, code, classroom,
and culture. In: REYNOLDS, M.(Ed.). Knowledge base for the beginning teacher. Washington, DC:
American Association of Colleges for Teacher Education, 1990. p.47-57.
5
Em 2013 essa situao melhorou com a contratao de um zelador para cuidar da bomba dgua, do
gerador e da limpeza da escola.
200
14
Referncias
201
15
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ZEICHNER, Kenneth. A formao reflexiva de professores: ideias e prticas. Lisboa:
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202
RESUMO
Este texto resultado da reunio de ideias que motivaram a elaborao de dois projetos de
pesquisa a serem desenvolvidos no mbito do Programa de Mestrado em Educao da
Universidade Catlica Dom Bosco (2015-2016). Deste modo, inicialmente o presente estudo
aborda a presena da infncia e das crianas nas investigaes sob a perspectiva da Sociologia
da Infncia, em seguida destaca o crescente processo de pesquisas com crianas
pesquisadoras, com o intuito de ouvi-las nas pesquisas, a partir do ponto de vista delas e por
fim aponta alguns aspectos das pesquisas que sero realizadas com as crianas e seus
universos. Dentre os aportes tericos que subsidiam todo este processo, so destacados
Corsaro (2011), Sarmento (2007), Belloni (2009) e outros.
Palavras- Chave: Pesquisas com crianas. Criana. Infncia. Sociologia da Infncia.
INTRODUO
Esse trabalho fruto de dois projetos de pesquisas que esto sendo desenvolvidos no
Programa de Mestrado em Educao da Universidade Catlica Dom Bosco. Tais projetos
deram incio no ano de 2015 e esto previstos para serem concludos no ano de 2016. No
desenvolvimento dos mesmos, objetivamos estabelecer uma discusso sobre a criana
pequena, bem como a sua relao com a instituio educativa, de modo que as crianas sejam
sujeitas protagonistas das pesquisas.
Sendo assim, esses projetos se amparam no aporte terico da Sociologia da Infncia, a
qual vem apresentando um novo olhar sobre a criana, proporcionando-lhe o seu
reconhecimento no apenas como reprodutora, mas tambm como construtora de cultura e de
1
Pedagoga, Mestranda em Educao pela Universidade Catlica Dom Bosco (UCDB /MS). Contato:
[email protected]
2
Pedagoga, Mestranda em Educao pela Universidade Catlica Dom Bosco (UCDB /MS) e bolsista UCDB.
Contato: [email protected]
203
saberes que precisam ser ouvidos e respeitados. Ainda, a Sociologia da Infncia vem
oportunizar que a criana seja ouvida em pesquisas e includa como protagonista desse
processo, apresentando seu ponto de vista, suas concepes, indagaes, construindo sua
identidade e sendo reconhecida enquanto sujeito de direitos.
Nesse contexto, esse artigo se configura como uma oportunidade de discutirmos sobre
a infncia e sobre as possibilidades das pesquisas serem desenvolvidas com as crianas.
Uma vez que, no cenrio da Educao, especificamente da Educao Infantil, torna-se
relevante analisar a presena da infncia e das crianas nas pesquisas a partir da perspectiva
da Sociologia da Infncia, verificando o crescente processo de pesquisas com crianas
pesquisadoras, pois esse movimento propicia aos educadores e toda a comunidade escolar
reflexes acerca da criana pequena, de seu desenvolvimento, de suas necessidades e
potencialidades, oportunizando a oferta de um processo educativo e pedaggico mais voltado
para as suas especificidades.
204
Todavia, sabemos que esse olhar para a criana nem sempre foi garantido desta
maneira, sendo que a histria da infncia teve sua origem na modernidade capitalista, a partir
da redefinio do papel da famlia diante adaptao da sociedade industrial.
E assim, por muito tempo a criana teve suas caractersticas ignoradas e seus modos de
viver, de vestir-se e de agir comparados e cobrados em igualdade aos adultos. Nesse aspecto,
a Sociologia da Infncia entende que a criana parte de um processo histrico que deixou
fortes marcas na forma de concebermos a criana.
vista disso, Abramowicz e Oliveira (2010) definem que a infncia formada a partir
de uma rede de aes e dessa forma no pode ser vista como algo uniforme, mas sim
heterogneo em que se delineiam nesse processo as questes histricas, sociais e culturais da
infncia.
Sob esta tica da heterogeneidade dos pontos de vistas das crianas Cruz (2008)
pontua que
alm de expressarem as peculiaridades da histria de cada uma delas, tambm so
marcados pelas experincias concretamente vividas em determinado contexto e
momento histrico profundamente influenciadas pelos lugares que as crianas e sua
famlia ocupam na sociedade,assim como pelo pertencimento a determinado gnero,
etnia e cultura. Afinal, em todos os tempos, so muito diversas as infncias possveis
aos seres humanos, mesmo queles que convivem na mesma sociedade (CRUZ, 2008,
p.13).
Trazendo maiores contribuies, Belloni (2009) ressalta que a infncia ainda pouco
conhecida, mesmo diante a uma quantidade significativa de informaes e estudos a seu
respeito. E a autora acrescenta que
205
Nesse sentido, Corsaro (2011) nos diz que grande parte do pensamento sobre crianas
e infncia resultado do trabalho terico sobre socializao, que corresponde ao processo em
que as crianas se adaptam e internalizam na sociedade. Contudo, esclarece que o termo
socializao, propriamente dito, implica em uma conotao individualista e progressista e,
para tanto, prope o emprego da noo de reproduo interpretativa, que abrange aspectos
inovadores e criativos da participao infantil na sociedade.
O mesmo autor observa que
E para ampliar o entendimento, Jens Qvortrup (1991, apud Corsaro, 2011) apresenta o
delineamento da infncia sob uma perspectiva estrutural, tendo como pressupostos centrais:
(1) a infncia constitui uma determinada forma estrutural; (2) a infncia exposta s mesmas
foras sociais que a idade adulta; e (3) as crianas so coconstrutoras da infncia e da
sociedade (CORSARO, 2011, p.41).
Nessa perspectiva, Corsaro (2011) reafirma que a infncia vista como integrada
sociedade e as crianas so agentes sociais, ativos e criativos e sendo por isto, afetam e so
afetadas pela sociedade.
Alm de produzirem suas prprias e exclusivas culturas infantis e contriburem para a
produo das sociedades adultas e enquanto categoria terica, a infncia complexa, podendo
ser considerada como um componente da cultura e da sociedade, como tambm um grupo
social, com caractersticas especficas.
Nesse sentido, h que refletirmos que, devido as transformaes ocorridas na
sociedade e da nova configurao familiar existente, uma nova realidade sobre a infncia se
faz presente, podendo essa ser chamada de infncia institucionalizada. Pois, muitas crianas
entram na instituio educativa com meses de vida e permanecem nesses espaos a maior
206
parte de seus dias, descobrindo o mundo sua volta, interagindo com os pares e nesses
ambientes vo se constituindo enquanto sujeitos.
Diante desse novo cenrio, merece destaque a Lei de Diretrizes e Bases da Educao
Nacional (Lei n 9.394 / 96), como algo que veio reconhecer o trabalho desenvolvido com as
crianas, regulamentar o direito delas em frequentar a educao infantil e afirmar o papel da
educao nessa primeira etapa de ensino, sendo:
Dessa forma, percebemos que a criana passa a ser reconhecida legalmente enquanto
sujeito em pleno desenvolvimento, que merece ateno, cuidado, estimulao e
oportunidades. Consoante a isso, o ambiente em que a criana se insere precisa ser coerente
com tais aspectos, oferecendo essas possibilidades de desenvolvimento, visto que a criana
tece seu conhecimento diariamente/constantemente.
Portanto, buscar formas de ouvir as crianas, explorando as suas mltiplas
linguagens, tem como pressupostos a crena de que elas tm o que dizer e o desejo de
conhecer o ponto de vista delas, conforme nos apresenta Cruz (2008, p.13).
E nessa tica, justifica-se a importncia de ouvirmos as crianas, e por meio desse
ouvir, termos condies de entender suas especificidades, seus anseios e atravs desses gestos
valoriz-las enquanto sujeitos que tem vozes e opinies, as quais podem ser aproveitadas no
processo educativo. A partir dessa escuta, torna-se possvel pensar num ambiente que venha
ao encontro s reais necessidades das crianas, melhorando a relao entre professor-criana e
consequentemente oferecendo uma melhor aprendizagem.
207
enquanto objeto de estudo, que segundo Campos (2008, p.35) seria observado, medido,
descrito, analisado e interpretado.
Nesse contexto, o ouvir as crianas era pouco considerado, sendo predominante as
vozes dos adultos pesquisadores que realizavam pesquisas sobre as crianas e no com as
crianas.
Com efeito, a captao do ponto de vista da criana e a condio de sua participao
na investigao cientfica so consideradas tendncias relativamente recentes em que,
enquanto sujeitos de direitos, so co-participantes dos estudos, com vez e voz respeitados.
Ainda a esse respeito, Campos (2008, p.35) destaca uma mudana radical na
abordagem do pesquisador adulto junto s crianas: o objetivo de dar voz criana e de
moldar a pesquisa s possibilidades de captar essa voz.
Segundo Belloni (2009) o interesse cientfico pelas crianas surge no contexto de
mudanas do sculo XIX ocidental, marcado pela industrializao e pela urbanizao, pelo
positivismo e pelo cientificismo.
Assim sendo, a autora nos diz que
208
uma cincia outra, atenta complexidade das condies de existncia das crianas,
capaz de combinar os vetores da socializao (horizontal e vertical, realizada entre
pares e com os adultos) com os da subjetivao, o grupo geracional de sua existncia
histrica concreta com a criana ator de sua histria singular de vida, o que comum
infncia com a diversidade das possibilidades sociais de existncia, uma cincia, em
suma, que resgate a voz das crianas no pode deixar de ser desconstrucionista das
imagens estabelecidas e suficientemente atenta para impedir a cristalizao em novas
imagens redutoras (SARMENTO, 2007, p.45).
Dessa maneira, as metodologias investigativas com crianas, na qual busca-se dar voz
estas, implica a utilizao de mtodos compatveis com esta participao, a partir de
desenhos, textos livres, dirios e imagens. Essa variedade de instrumentos justifica-se por a
criana apresentar vrias formas de expressar-se, cabendo ao pesquisador esse cuidado, no
intuito de respeitar as formas de expresso da criana e a precauo para no perder as
informaes repassadas por elas. Nesse sentido, Leite (1996, p. 80) aponta que [...] quanto
maior o leque de opes para a expresso, mais portas abrimos para nossa escuta.
Com relao ao adulto, este coloca-se a nvel da criana, com metodologias que
possibilitem encontrar vrios modos de expresso, no somente as suas interpretaes
enquanto adulto, tentando amenizar a autoridade que a figura do adulto representa criana,
at mesmo pelo tamanho.
Por esta razo, Soares (2003) ressalta
o que nos interessa que a investigao participativa defende uma relao bilateral
entre o investigador e o investigado, onde o investigado tambm um investigador,
estabelecendo-se, entre os dois, uma relao interativa e aberta a mudana. Os
significados e valores presentes tero sempre uma dupla interao: a dos adultos e a
das crianas. A investigao participativa confronta-se com dificuldades
epistemolgicas decorrentes quer da alteridade, quer da diversidade que compem as
suas condies de existncia (SOARES, 2003, p. 4 - 5).
209
ESCUTA
DAS
CRIANAS
NAS
PESQUISAS:
PROJETOS
EM
DESENVOLVIMENTO
210
211
Para tanto, essa pesquisa ser efetuada nas situaes cotidianas do berrio; de modo a
observar as condutas espontneas das crianas e compreender como estas respondem s
exigncias de tal ambiente.
Desse modo, sero levados em considerao, os gestos, as aes, o choro, o riso, o
silncio, o movimento, os olhares e balbucios e as diversas formas de manifestao de
expresso dos bebs.
importante destacar que as gravaes no obedecero a um roteiro rgido
estabelecido; uma vez que o intuito o de captar as interaes das crianas diante aos
estmulos recebidos pelo ambiente inserido.
O segundo projeto que se refere a faixa etria de 4 a 5 anos, intitula-se A educao
infantil e seu cotidiano: ouvindo o que dizem as crianas da pr-escola sobre a instituio
educativa. Esse projeto trata-se de uma pesquisa qualitativa, a qual ser desenvolvida em
uma turma de pr-escola e ter como principais instrumentos de coleta de dados a observao
direta do cotidiano da instituio educativa, mais especificamente da turma pesquisada,
realizao de entrevistas coletivas em forma de rodas de conversa com as crianas nas quais
ser envolvida a problemtica da pesquisa e garantida a fala das crianas.
Para oportunizar tal ao sero realizados miniteatros de fantoches sobre o tema, com
o intuito de incentivar a participao das crianas; posteriormente sero realizados, pelas
crianas, registros por meio de desenhos sobre o espao educativo e tambm registro de
imagens fotogrficas, as quais sero realizadas pelas crianas durante passeios pela unidade, a
fim das crianas mostrarem os lugares que mais gostam da instituio para a pesquisadora.
Essa pesquisa tem como principal objetivo analisar o que dizem as crianas da prescola sobre a instituio educativa que frequentam e esperamos com esse trabalho entender a
criana, suas necessidades, seus anseios sobre a instituio educativa, para que a partir disso
possamos refletir e pensar nas possibilidades de atendimento que tem sido e que podem ser
oferecidas nos espaos institucionais de educao infantil para melhor recebermos nossas
crianas, oferecendo elas situaes de bem-estar e de desenvolvimento.
Vale aqui ressaltar que os dois projetos de pesquisa aqui apresentados j passaram pela
aprovao do Comit de tica em Pesquisa da Universidade em que as pesquisadoras esto
vinculadas e que em ambas as pesquisas, os direitos de proteo das crianas sero
salvaguardados, sendo que a atuao tica da pesquisa ocorrer pela obteno do
consentimento informado, junto dos adultos responsveis, visando privacidade, anonimato e
confidencialidade de todos os sujeitos.
212
Nesse sentido, acreditamos que esses projetos assim que desenvolvidos contribuiro
para um maior entendimento sobre a criana, sobre a infncia, oportunizando novos olhares e
novos conhecimentos acerca das temticas levantadas, tendo em vista que a criana merece
todo o cuidado, respeito e condies para bem se desenvolver e tais aspectos sero
oportunizados a partir do momento que adquirimos mais conhecimentos e demonstramos
interesse sobre a causa.
CONSIDERAES FINAIS
Como vimos, ainda necessrio avanar no debate sobre as metodologias cujos focos
sejam as vozes e as aes das crianas, em razo de ser um caminho longo a ser percorrido e
que vem sendo crescentemente trilhado.
Sendo outrora considerada como infante, ou seja, aquele (a) que no fala, atualmente a
criana vem conquistando espao nas pesquisas e seu ponto de vista tem sido captado.Nessa
nova perspectiva, as pesquisas deixam de ser apenas para as crianas e passam a ser definidas
a partir delas e com elas.
Por isso, mediados a partir da Sociologia da Infncia, a pesquisa com crianas um
processo criativo, como bem argumenta Pontes et al. (2005). E por assim ser, Graue e Walsh
(2003, p.120) sugerem que sejam continuamente construdas maneiras novas e diferentes de
ouvir e observar as crianas e de recolher traos fsicos de suas vidas.
Por fim, trazemos uma considerao de Abramowicz (2011, p.21) em que nos diz que
no fcil ser contemporneo, e ns queremos s-lo quando pesquisamos as crianas [...] a
partir de sua prpria voz.
REFERNCIAS
213
214
215
216
Mestranda em Educao: UEMS - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul. Professora de Lngua
Portuguesa da Rede Municipal de Educao de Aquidauana - MS. Integrante do GEPENAF Grupo de
Estudos e Pesquisas em Narrativas Formativas Campo Grande - MS. E-mail:
[email protected].
217
Introduo
A memria um elemento essencial do
que se costuma chamar identidade
individual e coletiva
(Jacques Le Goff, 1994)
218
219
Com essas informaes, foi realizado o primeiro contato com amigos prximos
famlia do patrono da escola, bem como de seu amigo e compadre Pedro Ubirajara de
Oliveira. Em seguida, na companhia da diretora adjunta da escola Professora Luiza
Aparecida Velasquez, na impossibilidade de que um grupo maior tomasse parte dessa
parte do trabalho de pesquisa, fui Campo Grande, onde entrevistei a advogada Ftima
Gomes, filha do Seo Erso Gomes que nos relatou toda sua histria de vida. Uma
histria que justifica o nome para um espao escolar, visto que seu pai foi amigo de
Jorge Amado, apaixonado por leitura, livros, mesmo no tendo frequentado bancos
escolares. Ftima nos relatou que seu pai sempre lhe presenteou com livros, sendo o
primeiro deles Reinaes de Narizinho, de Monteiro Lobato. Dentre outros registros,
esse foi o que mais nos encantou enquanto professoras, pois nos chancelava junto aos
demais pares no fomento ao ensino da leitura e da escrita de nossos alunos.
A prosa com Ftima foi to doce e encantadora, que, sem que nos
apercebssemos, a tarde daquele dia j havia chegado e a manh, partido de mansinho.
Ftima, assim como ns, emocionada, permitiu que seus olhos chovessem, aceitando o
convite de ir pessoalmente escola para narrar a histria de seu pai para todos, o que
nos deixou muito felizes.
Como o dia j ia alto, desmarcamos o encontro com o ex-prefeito Pedro
Ubirajara de Oliveira, que ficou em aberto para outra data.
Com os registros da fala de Ftima em mos, foi elaborado um texto narrativo
descritivo, que se tornou o primeiro documento oficial da histria do patrono da escola.
Esse documento foi utilizado pelos professores para organizar, junto com os alunos de
todas as turmas, momentos de reflexo, interpretao e criao para o dia da
culminncia do projeto a ser apresentado para toda comunidade interna e externa da
escola.
Mas, ainda faltava o relato do ex-prefeito e, na semana seguinte, ocorreu
finalmente o encontro com ele, em Campo Grande-MS. Pedro Ubirajara, homem culto,
de fala mansa, mas intensa em detalhes, nos fez viajar pelos guetos de Aquidauana,
numa lio sobre poltica, cidadania, humildade e honestidade. Ele corroborou a fala de
Ftima sobre a prtica do amigo Erso Gomes de, como grande incentivador da leitura,
presentear com livros todos que conviviam com ele. Narrou que naempresa de Erso, a
Serraria So Benedito, havia livros por toda parte, com os quais presenteava amigos e
funcionrios.
220
cima para baixo, jamais saiu de sua memria e foi da a ideia de homenagear o amigo,
dando escola o nome de Erso Gomes.
Novamente o tempo nos surpreendeu e, dessa vez a tarde saiu de fininho e a
noite nos brindou com seu frescor, no final daquele dia de outono pantaneiro fazendonos retomar realidade e nossa cidade. Porm no sa sozinha, trouxe comigo, alm
da complementao dessa histria a agradvel certeza de que Pedro Ubirajara estaria
conosco na culminncia do projeto. Ah, como no encantar-se com os relatos obtidos?
De volta escola, de imediato me reuni com os professores e juntos traamos
alguns objetivos para a continuidade do projeto, agora mais fortalecido com a narrativa
do ex-prefeito Pedro Ubirajara de Oliveira. Na diviso das tarefas, cada professor
incumbiu-se de realizar uma atividade contando a histria do nosso patrono.
E assim aconteceu. Dentre os trabalhos apresentados um destacou-se pelo
envolvimento dos professores, famlia, alunos e funcionrios. O trabalho foi idealizado
pela professora Edilene de Jesus Vieiras, regente do 2 Ano D. E desse trabalho, sua
organizao e resultado que iremos aqui tratar no prximo subttulo desse artigo.
Aps ler o relato da filha de Erso Gomes, Edilene de Jesus Vieiras, que uma
professora muito serena, ouve muito mais do que fala, sempre demonstrou uma paixo
intensa por leitura, procurou a diretora adjunta e disse-lhe que no queria fazer mais
aquelas apresentaes tradicionais: coral, jogral, declamar poesia, etc.. Gostaria de
trabalhar algo diferente, ouvir os alunos, uma atividade que retratasse na ntegra a
participao, construo e aprendizado das crianas. Para isso ela apresentou a tcnica
de animao Stop Motion, impressa numa folha de papel com a seguinte informao:
Stop motion uma tcnica de animao com recursos da mquina de
filmar, de uma mquina fotogrfica ou do computador. Utilizam-se
modelos reais em diversos materiais, sendo os mais comuns a madeira
e a massa de modelar. No cinema o material utilizado tem de ser mais
resistente e malevel visto que os modelos precisam durar meses, pois
para cada segundo de filme so necessrias aproximadamente 24
quadros. Os modelos so movimentados e fotografados quadro a
221
222
223
224
Assim, buscamos investigar um pouco mais sobre a sua prtica pedaggica, por
meio de uma entrevista.
225
Durante a entrevista com a professora, perguntamos sobre qual era a base terica
para o desenvolvimento de sua pratica pedaggica e a mesma relatou que:
Sinceramente no tenho uma base no; no sigo teorias. Acho que
no. O que sei aprendi na escola e na faculdade de pedagogia, mas
mais na escola, na prtica; mas sigo o que meus alunos me dizem com
seus sinais. Sei que tenho que seguir um programa e meu objetivo
que eles no aprendam s ler e escrever textos no papel, e para isso
tenho que buscar coisas que eles gostem e que eu tambm sei ou
aprendo com eles, fazendo junto. Ns conversamos muito. Estou no
Pacto e ele tem me clareado algumas coisas, com os exemplos de
experincias de colegas, mas nada de to novo pra mim, pois tambm
leio bastante, adoro ler e eles vm isso em mim. Acho que tem
ajudado bastante tambm. (Professora Edilene)
p.117)
Todas essas categorias esto presentes no relato da professora, o que evidencia
um processo de formao e de construo de identidade profissional, percebido em seu
relato ao ser mencionado que inicia seu trabalho didtico a partir do que o aluno j sabe,
do seu conhecimento de mundo, do seu letramento.
Ao apresentar a ideia para o grupo de alunos, a professora exemplificou o que
pretendia que fizessem com os filmes j conhecidos por eles, o que os alunos
imediatamente identificaram do que se tratava, mas no imaginavam como se registrava
226
os quadros e, a partir da, brincando de tirar fotos, eles criaram os bonecos, cenrios,
escolheram o fundo musical e narraram a histria. Portanto, se apropriaram
autonomamente da atividade, visto que tirar fotos algo muito comum fora da escola e
as crianas dominam a tcnica.
Para investigar a percepo dos alunos acerca da atividade, foi realizada uma
entrevista com dois dos alunos participantes, um de cada turma. A fim de preservar sua
identidade, sero identificados no texto como A1 e A2:
Eu me lembro de tudo. A professora trouxe a mquina dela e ns
que tiramos as fotos com aquela mquina. Era uma depois outra
depois outra at formar um quadro... primeiro era devagar a a
professora mudava um pouquinho o boneco de massinha que ns fez e
a gente tirava outra foto, mudava e tirava....a gente via se dava pra
entender se o boneco do Erso Gomes andava bem ou no; a gente
discutia...muito massa! Eu era muito ruim, no sabia nada, nem jogar
bola...chutava tudo errado, a a professora me ensinou a fazer os
bonequinhos, os cenrios, melhorou minha coordenao at. Eu
aprendi a ler com essa histria. (A1)
Ressalte-se que A1, um dos alunos que no ms de abril estava entre os prsilbicos e apresentava problemas na fala, foi o que mais se envolveu na organizao
das fotos, atuou como o diretor do vdeo.
A2, muito empolgada, relata:
Foi muito legal, ns fizemos vrios bonequinhos de massa de
modelar, depois ns fomos na sala da professora Edilene e ela deu um
papel com a fala que eu ia falar da histria do Senhor Erso Gomes,
depois a professora Edilene pegou os bonequinhos e a gente tirou
muitas fotos e fez stop mothiom e contamos a histria foi muito legal.
Ajudou muito na coordenao motora, a ler muita gente aprendeu a
ler no Projeto 25 anos da Escola Erso Gomes, conhecendo o Patrono.
A professora ajudou agente a fazer os bonecos. Foi demais, isso pode
virar livro! Antes do projeto eu pensava que era s mais um nome
numa escola esse, mas era o Senhor Erso Gomes, nosso patrono,
agora sei falar dele. (A2)
227
228
229
Resumo: O artigo ora apresentado traz e discute dados sobre o perfil dos profissionais
atuantes nas creches pblicas do municpio de Corumb-MS. A discusso um recorte da
investigao de carter qualitativo, em andamento, desenvolvida no mbito do Grupo de
Estudos e Pesquisas sobre Infncia e Educao Infantil da Universidade Federal do Mato
Grosso do Sul/Campus do Pantanal - GEPIEI/CPAN, que adotou como objetivo geral
compreender alguns aspectos do trabalho pedaggico desenvolvido com as crianas de 0 a 3
anos nas creches do municpio de Corumb; entre outros objetivos especficos est o
levantamento acerca do perfil dos profissionais. A anlise dos resultados obtidos nos permite
afirmar que o municpio investigado apresenta um cenrio da Educao Infantil (creche)
positivo, com bons indicativos acerca da formao especializada considerada necessria, bem
como do nvel de experincia das profissionais que atuam neste nvel de ensino.
Introduo
A partir da promulgao da Constituio Federal de 1988, a educao das crianas em
idade pr-escolar passa a ser reconhecida como um direito das crianas, opo da famlia e
uma responsabilidade a ser assumida pelo estado; sendo este um dos grandes passos para a
passagem da educao infantil de prtica livre a um direito e o reconhecimento das crianas
como sujeito titular de direitos (LUZ, 2006).
Tem-se ainda um novo avano com a aprovao da Lei de Diretrizes e Bases da
Educao Nacional LDB no. 9.394/96, que incorporou a Educao Infantil como o primeiro
nvel da educao bsica e definiu que sero os docentes os profissionais responsveis para
conduzir o processo educativo em creches e pr-escolas, bem como a necessidade de
formao profissional especfica (BRASIL, 1996). A partir de ento, muitos passos tm sido
dados para a garantia dos direitos da criana pequena para uma educao de qualidade,
criando a necessidade de constantes avaliaes sobre a qualidade da educao oferecida.
Acadmica do Curso de Pedagogia UFMS Campus do Pantanal; Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas
sobre Infncias e Educao Infantil GEPIEI.
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Professora do Curso de Pedagogia UFMS Campus do Pantanal; Lder do Grupo de Estudos e Pesquisas
sobre Infncias e Educao Infantil GEPIEI - UFMS/CPAN
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Nesse contexto, o presente artigo trar um recorte de uma pesquisa mais ampla, em
andamento, desenvolvida pelo Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Infncia e Educao
Infantil (GEPIEI) da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul/Campus do Pantanal
(UFMS/CPAN), que tem como objetivo geral compreender alguns aspectos do trabalho
pedaggico desenvolvido com as crianas de 0 a 3 anos de idade nas creches do municpio de
Corumb. Dentro dos limites deste texto apresentaremos os dados acerca do perfil dos
profissionais atuantes nas creches pblicas do municpio em questo coletados no final do ano
de 2014.
231
232
organizador de encontros e publicaes destinados a essa rea e pelos seus princpios ficou
conhecido como assistncia cientfica, tendo como concepo a ideologia de um progresso
permanente. Mesmo o instituto no ser totalmente desprovido de um carter educacional seu
principal objetivo era o controle e a submisso das crianas pobres; dessa forma priorizava a
formao moral em detrimento da intelectual, com papel de simples fiscalizao das
atividades realizadas nesses espaos e a regulamentao das instituies (MERISSE, 1997).
Ainda no ano de 1899 inaugura-se a primeira creche brasileira, conveniada Companhia
de Fiao e Tecidos Corcovado (RJ), para atender os filhos dos operrios (KUHLMANN JR.,
1998; KRAMER, 1987).
Apesar de a primeira creche brasileira que se tem registro histrico ter sua criao
vinculada a uma fbrica, Kuhlmann Jr (1998, p. 83) salienta que as creches populares foram
institudas [...] mais para atender as mes trabalhadoras domsticas, do que s operrias.
Por iniciativa da equipe fundadora do Instituto de Proteo e Assistncia a Infncia
criado, em 1919, o Departamento da Criana no Brasil, mantido por doaes, que tinha como
tarefas: [...] fomentar iniciativas de amparo criana e mulher grvida pobre; publicar
boletins, divulgar conhecimentos; promover congressos; concorrer para a aplicao das leis de
amparo criana; uniformizar as estatsticas brasileiras sobre mortalidade infantil
(KRAMER, 1987, p. 55).
A partir dos anos de 1930, com a tentativa de implantao do estado de bem-estar
social e acelerao dos processos de industrializao e urbanizao, manifestam-se elevados
graus de nacionalizao das polticas sociais assim como a centralizao do poder. Neste
contexto, a criana passa a ser valorizada como um adulto em potencial, matriz do homem;
uma concepo que desencadeia a criao de vrios rgos de amparo assistencial e jurdico
para a infncia, como o Departamento Nacional da Criana (DNCr); Servio de Assistncia a
Menores (SAM); Legio Brasileira de Assistncia (LBA) e Projeto Casulo entre outros .
Segundo Kramer (1987), a LBA no ano de 1974 cumprindo suas atribuies
estatutrias se prope a executar o Projeto Casulo, que tinha por objetivo atender o maior
nmeros de crianas tendo poucos gastos, essas unidades visavam atender crianas de zero a
seis anos de idade, a fim de prevenir a marginalidade dos mesmos, tambm ao atender essas
crianas o projeto pretendia proporcionar as mes maior tempo livre para que pudessem
ingressar no mercado de trabalho e aumentar a renda familiar.
Em 1977 o projeto Creche Casulo criado e implantado em todo o Brasil, que pode
ser considerado como o principal programa de creches no pas, tendo uma maior abrangncia
a partir de 1981, quando se tornou o principal programa da LBA, sendo tambm o nico em
233
mbito nacional; o programa funcionava atravs de convnios que repassavam verbas para a
prefeitura e instituies (KRAMER, 1987).
Ainda nesse contexto o governo institui a Consolidao das Leis do Trabalho (CLT),
em 1943, o que torna por sua vez obrigatrio para as empresas com mais de 30 mulheres
empregadas o oferecimento [...] local apropriado onde seja permitido as empregadas guardar
sob vigilncia e assistncia os seus filhos no perodo de amamentao. A partir da CLT surge
o aparecimento da concepo de creche enquanto direito da me trabalhadora, a partir de
ento as dcadas de 40 e 50, ser marcada pelo grande aumento das creches em nosso pas
(MERISSE, 1997, p. 42-43).
Cabe o destaque para o fato de que a primeira legislao que preconiza a
obrigatoriedade das creches no pas a CLT, e foi a nica durante muitos anos; mais
especificamente at 1988, ano da promulgao da Constituio Cidad.
Os movimentos populares comeam por sua vez surgirem por volta da dcada de 70 e
inicio de 80, so movimentos contra carestia, sade, habitao e creches que comeam a
pressionar o setor pblico reivindicando do estado o mnimo para a sobrevivncia.
No entanto, a maior reviravolta na histria das creches se dar na cidade de So Paulo
com o Movimento de Luta por Creches, movimento feminista, que com a insero cada vez
maior da mulher no mercado de trabalho, lutava frente aos poderes pblicos por direitos e
cidadania. Merisse (1997, p. 48) afirma que [...] foi uma ao das mulheres das camadas
populares que cada vez mais precisam sair de casa para trabalhar fora e das mulheres de
classe mdia sob orientao dos princpios feministas.
A ideia da creche como direito das mulheres trabalhadoras se altera com a
Constituio de 1988, que traz mudanas significativas sobre concepo do atendimento
educacional que deve ser oferecido criana pequena; a lei estabelece como direito da criana
de zero a seis anos educao em creches e pr-escolas, alm de apontar que dever do
Estado oferec-la, embora a matrcula no seja obrigatria (BRASIL, 1988).
Uma nova e importante conquista alcanada com a Lei de Diretrizes e Bases da
Educao Nacional LDB no. 9.394/96, que inclui a Educao Infantil (creche e pr-escola)
como parte da educao bsica, e ainda define que sero os professores os profissionais que
devero atuar nesse nvel de ensino (BRASIL, 1996).
Neste breve histrico possvel visualizar o caminho das creches no Brasil e as razes
de ainda hoje ela ser alvo de preconceitos e julgamentos equivocados. Hoje, o atendimento
em creches no deveria ter carter assistencial, compensatrio, tampouco estar somente
vinculado ao direito da me trabalhadora e sim ter carter educacional e estar ligado,
234
Tratava-se de uma proposta pedaggica baseada no mtodo montessoriano de ensino, que foi implantada com
intuito de garantir atendimento qualificado e especfico para as crianas pequenas (SILVA, 2007).
235
236
atuantes nas creches, dos quais 85 ocupavam o cargo de professores, 20 professores auxiliares
e 50 eram atendentes; deste total tivemos 80 profissionais que se dispuseram a colaborar
conosco e que so os sujeitos da investigao ora apresentada.
Metodologia e dados
Tendo em vista a natureza do objeto de investigao escolhido, quer seja aspectos que
interferem na qualidade da Educao Infantil no municpio de Corumb-MS, cabe dizer que a
abordagem da investigao de carter quanti-qualitativo. No que diz respeito aos objetivos
propostos, a investigao se caracteriza como explicativa e descritiva; tratando-se ainda de um
estudo de caso (LUDKE; ANDR, 1986).
Para obteno dos dados ora discutidos foi utilizado questionrio misto, composto por
21 questes, que visavam identificar o perfil dos profissionais, sua motivao para atuao na
Educao Infantil creches -, bem como qual a concepo trazida por esses acerca de
criana/bebs e do trabalho pedaggico realizado no espao da creche.
No entanto, na elaborao da presente discusso utilizaremos apenas as questes que
permitem caracterizar o perfil das profissionais atuantes na Educao Infantil rede pblica do
municpio de Corumb/MS. Sobre os dados do perfil das profissionais coletados, foram
levantados idade, sexo, formao, tempo de trabalho na Educao Infantil, cargo ocupado, em
que nvel da instituio creche atuam e situao funcional.
Conforme explicitado anteriormente os dados aqui discutidos referem-se as respostas
oferecidas por 80 profissionais que atuam nas creches do municpio, num percentual de 52%
dessa populao; dentre eles temos 50 professores (59% do total de profissionais atuantes);
nove professores auxiliares (45% dos atuantes) e 21 atendentes (42% do total).
Estes dados nos levam a reflexo sobre a possibilidade de fragmentao do trabalho
pedaggico realizado com as crianas; por que nomenclaturas diferentes para profissionais
que atuaro no mesmo espao, com os mesmos sujeitos? Tendo em vista que em se tratando
especialmente da instituio creche todas as profissionais atuantes nesses espaos devem
cuidar e educar de forma indissociada, por que dois cargos diferentes? Em nossa opinio tal
quadro, quer seja dois cargos, acirra a dicotomia entre cuidar e educar tendo em vista que
colabora para que na prtica haja uma hierarquizao de valores entre as duas aes, sendo o
educar, mais importante realizado pelas professoras, enquanto que o cuidar, tido como
subalterno, realizado pelas atendentes (MARANHO, 2003).
Acreditamos que de fundamental importncia para que se haja um bom trabalho com
as crianas, que os profissionais envolvidos no separem o cuidar e educar em suas prticas,
237
mas preciso tambm que o poder pblico se ocupe da unificao dos planos de cargos para
desempenho da funo.
Sobre a situao funcional dos profissionais, conforme dados apresentados no grfico
1, tem-se a maioria dos profissionais (64%) numa situao estvel, o que consequentemente
colabora de forma positiva para a qualidade do atendimento oferecido nas creches, tendo em
vista a possibilidade de investimento na formao continuada e em servio, bem como nos
reflexos diretos desta formao na prtica pedaggica cotidiana.
Grfico 1 - Situao funcional
Situao funcional
Efetivo
Contratado
No responderam
3%
33%
64%
Sobre a faixa etria das profissionais, de acordo com os dados obtidos, observamos
que os participantes da pesquisa apresentaram idade variada entre 20 e 60 anos; porm, a
maioria (65%) dos profissionais tem em mdia entre 30 a 50 anos de idade. Conclumos ento
que se trata de profissionais relativamente experientes, por estarem numa faixa etria onde
supostamente se tem certa maturidade. Os demais sujeitos esto distribudos na seguinte
forma: 18,8% possui entre 51 a 60 anos e apenas 11,2% dos profissionais tem entre 20 e 30
anos de idade, o que podemos considerar como jovens.
Um dado interessante a ser discutido a questo da feminizao da classe docente,
uma tendncia nesta profisso e tambm observada na populao pesquisada; dentre os
sujeitos tivemos o predomnio massivo do sexo feminino com 99% deles, sendo que apenas
1% dos respondentes no identificou o gnero.
Os dados apresentados vm ao encontro do que Gatti e Barreto (2009) apontam sobre
a feminizao do trabalho docente.
Forte determinante da entrada da mulher no mercado de trabalho, a carreira
do magistrio expandiu-se por meio de um padro altamente segmentado do
ponto de vista do gnero, seja em relao a outras carreiras, seja com
238
Esse dado no novidade, tendo em vista o contexto social e a posio que a mulher
ocupa na sociedade; histrica e culturalmente sempre esteve a cargo das mulheres a
responsabilidade de cuidar e educar os filhos; por terem o chamado dom, a vocao para
os trabalhos relacionados ao cuidado do outro, estariam mais propensas carreira docente,
especialmente na Educao Infantil (CERISARA, 2002).
No incio da histria da escola e processos de educao formal extra familiar, cabia
aos homens incumbncia da docncia, mas com o processo de urbanizao e
industrializao da sociedade, aos poucos esses homens foram abandonando as salas de aula,
buscando novas oportunidades de trabalho com melhores remuneraes, uma vez que caberia
ao homem ser o provedor do lar (LOURO 1997).
Segundo a mesma autora, esse movimento daria origem a uma feminizao do
magistrio, um processo que no foi tranquilo, livre de questionamentos, pois alguns viam a
mulher como sendo menos capaz para lhes conferir a educao de crianas e jovens por serem
elas despreparadas, portadoras de crebros pouco desenvolvidos; outros, no entanto,
encaravam como salutar visto que as mulheres tinham por natureza, uma inclinao para o
trato com as crianas, que elas eram as primeiras e naturais educadoras, nesse sentido o
magistrio era e por muitos ainda tem sido encarado uma atividade que se requer amor e
doao, uma extenso do trabalho domestico e da maternidade (LOURO, 1997).
Ratificando tal entendimento podemos tambm citar a influncia do discurso
pedaggico-cientfico de Friedrich Froebel; este pensador entendia a mulher como sendo nata
para a docncia. De acordo com Arce (2002, p. 56) para Froebel so [...] as mulheres que
possuem capacidade biolgica da maternidade possuiriam o amor na forma mais pura sendo
as nicas aptas, naturalmente, para educar com liberdade e amor. Ainda segundo a autora,
para ele a mulher deveria assumir seu papel frente a sociedade, uma vez que por serem
guiadas pelo amor e sentimento, deveriam pertencer ao ambiente domstico, tornando-se
assim rainha deste espao, sendo por estas razes considerada como educadora nata da
primeira infncia.
Podemos ainda mencionar a arraigada (e atual) concepo social do senso comum de
que para ser professora basta ser paciente e carinhosa, um entendimento bastante simplista
que acaba por desvalorizar o trabalho e a formao das mulheres profissionais em relao ao
sexo masculino.
239
Dessa maneira podemos constatar que essa profisso, especialmente para atuao
junto a crianas menores foi ao longo dos anos se constituindo em meio s relaes de
submisso e poder, em que para as mulheres a profisso tem sido vista como algo natural e
prprio do seu gnero feminino, sem levar em conta sua formao para a profisso.
Valorizando a questo da formao, buscamos tambm averiguar entre os
profissionais atuantes qual era sua formao inicial, se especfica ou no. Segundo os dados
obtidos, a maioria dos sujeitos (58,8%) teve a formao em nvel mdio genrica, ou seja, no
especfica para atuao docente, num total de 47 profissionais; o percentual de cerca de 31%
que declarou ter cursado o magistrio corresponde ao nmero de outros 25 profissionais.
Tivemos ainda seis desses profissionais (7,5%) que assinalaram terem feito duas vezes o
Ensino Mdio, regular e magistrio; e, ainda dois sujeitos que no responderam pergunta.
No que diz respeito ao ensino superior 80% dos sujeitos (64 profissionais) declararam
ter nvel superior completo, ainda 3,8% afirmaram estar cursando, o que nos leva supor uma
preocupao dos profissionais com o preparo profissional, por estarem buscando um nvel de
formao mais elevado. Tivemos ainda 15% que declarou no ter curso superior, e apenas um
sujeito no respondeu a questo.
Tendo em vista as especificidades prprias desse nvel de ensino entendemos ser de
fundamental importncia uma formao adequada das profissionais que atuam diretamente
com as crianas pequenas, pois as formas adequadas de cuidar e educar so indispensveis
para o desenvolvimento integral da criana enquanto sujeito autnomo e critico.
Dessa forma podemos constatar que a grande maioria dos profissionais atuantes nas
creches municipais de Corumb, no que diz respeito a formao especfica, est de acordo
com as determinaes legais, tendo em vista que a Lei de Diretrizes e Bases da Educao
Nacional ( LDB) em seu Art. 62, determina que:
A formao de docentes para atuar na educao bsica far-se- em nvel
superior, em curso de licenciatura, de graduao plena, em universidades e
institutos superiores de educao, admitida, como formao mnima para o
exerccio do magistrio na educao infantil e nas quatro primeiras sries do
ensino fundamental, a oferecida em nvel mdio, na modalidade Normal
(BRASIL, 1996).
Ainda sobre a formao em nvel superior, questionamos sobre qual era a graduao
cursada; os cursos citados foram: Pedagogia (95%), Histria e Psicologia. Cabe ento afirmar
que estes nmeros so bastante positivos, mesmo que haja profissionais atuando sem ter a
formao especfica; no entanto entre os trs profissionais que declararam no ter cursado
licenciatura em Pedagogia, dois afirmaram ter concludo ps-graduao (em nvel de
240
241
Nvel II
8,7%
Nvel III
Mais de um nvel
18,8%
30%
42,5%
Pelos dados percebe-se que a demanda para atendimento nas creches do municpio
para crianas maiores, o percentual de atuantes no nvel I (berrio) pequeno; dessa forma
podemos afirmar que a maioria das profissionais trabalha com crianas na faixa etria entre
18 e 40 meses de idade. Cabe o destaque que a poltica de distribuio de encargos no
permite a profissional escolher o nvel de atuao dentro das instituies; a atribuio feita
pelo diretor e/ou coordenador pedaggico em sistema de rodzio anual.
Consideraes finais
A Educao Infantil brasileira assume um novo perfil, onde alm das preocupaes
com o cuidado, alimentao e higiene foca tambm o carter pedaggico do atendimento,
entendendo a criana como um sujeito de direitos em processo de formao e em constante
aprendizagem. Segundo Angotti (2006) em nosso pas as ltimas dcadas tem revelado
significativos avanos no que se refere a infncia ou a forma de entender a criana, ela deixa
de ser vista como um adulto em miniatura e passa ser entendida em sua individualidade e
242
243
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244
Resumo
O presente artigo objetivou analisar as polticas de formao de professores para a escola
de tempo integral contidas no Programa Mais Educao, considerando se preciso uma
formao especfica para o professor que trabalha, ou trabalhar, em escola de tempo integral.
Para identificao e anlise das referidas polticas, foi realizada pesquisa documental e
bibliogrfica em documentos norteadores do Programa Mais Educao, artigos e livros de
diversos autores que tm estudado o tema da educao integral brasileira e da formao docente.
Partiu-se do entendimento de que nos ltimos anos, a educao brasileira vem sendo desafiada
a ampliar seus compromissos com a educao integral, buscando um novo formato para a
escola, que prope que todos os que compem o espao escolar so educadores. Considerou-se
que a teoria histrico-cultural, Vygotsky e seus interlocutores, concebe o ser humano em sua
totalidade, configurado em sua relao social, por isso analisa como o professor participante
deste Programa reputado em sua total dimenso. Concluiu-se, por meio da anlise das polticas
de formao docente contidas no Programa Mais Educao, que este parece frgil, indefinido e
contraditrio, porque a educao integral remete concepo de integrado, no sentido da
superao da fragmentao, logo a premissa para se pensar e/ou consolidar a formao do
professor para a educao integral na escola de tempo ampliado deve apontar para o fato de que
necessria uma formao especfica: a formao integral do professor.
Palavras-chave: Professor. Formao. Educao Integral. Polticas.
______________________________________________________________________
Mestranda em Psicologia: Psicologia e Processos Educativos pela Fundao Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul (UFMS). Membro do GEPPE Grupo de Estudos e Pesquisas em Psicologia e Educao da
Fundao Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). E-mail: [email protected].
Doutora em Educao: Psicologia e Educao pela UNICAMP. Professora Titular do Programa de PsGraduao em Educao e do Programa de Ps-Graduao em Psicologia na Fundao Universidade Federal de
Mato Grosso do Sul. Coordenadora do GEPPE - Grupo de Estudos e Pesquisas em Psicologia e Educao da
Fundao Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). E-mail: [email protected].
245
Introduo
A concepo de educao integral tem sua origem no sculo XIX, fomentada pela ideia
de emancipao humana, proporcionada pelo processo contraditrio da sociedade capitalista.
Marcada pelo movimento operrio que surgiu com a Revoluo Francesa, propunha a
integrao do trabalho manual e do trabalho intelectual para a superao da dicotomia e a
ampliao do significado da luta contra a alienao do trabalhador (SILVA, 2014).
No Brasil, a partir da primeira metade do sculo XX so encontradas investidas
significativas a favor da educao integral, tanto no pensamento quanto nas aes. Nomes,
como Plnio Salgado, Ansio Teixeira e Darcy Ribeiro so expoentes deste modelo educacional
brasileiro, que propunha uma escola que desse s crianas um programa completo de leitura,
aritmtica e escrita, cincias fsicas e sociais, e mais artes industriais, desenho, msica, dana e
educao fsica, sade e alimento criana, visto no ser possvel educ-la no grau de
desnutrio e abandono em que vivia (TEIXEIRA, 1959, p. 78).
Essa multiplicidade de funes atribuiu instituio escolar um desafio que amplia as
possibilidades de atendimento, cabendo escola assumir uma abrangncia que, para uns, a
desfigura e, para outros, a consolida como espao realmente democrtico.
No contexto desta abrangncia, a relao tempo, espao e educao integral talvez seja
uma das mais polmicas quando se discute essa concepo de educao, porque h que se
considerar as variveis tempo, com referncia ampliao da jornada escolar; espao, com
referncia aos territrios em que cada escola est situada, e os diversos profissionais e agentes
sociais que podem interagir com o espao escolar nas relaes cotidianas de trabalho e nas
representaes que se produzem nessa relao.
De acordo com Kerstenetzky (2006) h estudos que consideram que a qualidade do
ensino est alicerada nessa relao de tempos e espaos educativos, e que a ampliao da
jornada escolar pode alavancar essa qualidade. Para outros, a extenso do horrio escolar, por
si s, no garante o incremento qualitativo do ensino, mas carrega essa possibilidade em
potencial (Cavalieri, 2002). Ou seja, se a essa extenso no aderir o conceito de intensidade,
capaz de se traduzir em uma conjuno qualitativa de trabalhos educativos, de nada adiantar
esticar a corda do tempo: ela no redimensionar, obrigatoriamente, esse espao (COELHO,
1997, p. 196).
Dentre os diversos modos de conceber e/ou definir a educao integral, o CENPEC
Centro de Estudos em Educao, Cultura e Ao Comunitria (2006 apud Ernica, 2006), afirma
246
que seu conceito flutuante e no consensual, o que permite afirmar que h muitas maneiras
de se pensar a educao integral.
Godoy (2015) compreende que a educao por definio integral na medida em que
deve atender a todas as dimenses do desenvolvimento humano e se d como processo ao longo
de toda a vida. Afirma que educao integral no uma modalidade de educao, mas sua
prpria definio.
A respeito das perspectivas terico-conceituais, histricas e pedaggicas acerca da
educao integral, o Texto Referncia para o Debate Nacional Srie Mais Educao (Brasil,
2009), considera que faz-se necessrio um quadro conceitual mais amplo, pautado na anlise
das desigualdades sociais, nos problemas de distribuio de renda, no valor das diferenas
segundo o pertencimento tnico, a conscincia de gnero, a orientao sexual, as idades e as
origens geogrficas, destacando a influncia dos processos de globalizao, as mudanas no
mundo do trabalho, as transformaes tcnico-cientficas e as mudanas socioambientais
globais, dentre outras, que impem novos desafios s polticas pblicas em geral e, em
particular, s polticas educacionais, principalmente em pases emergentes como o Brasil.
Silva (2014) reafirma que ao tratarmos a educao, entendida como uma atividade
essencialmente humana, sempre houve associao entre educao e tempo, principalmente
quando esse tempo utilizado e institucionalizado para a formao escolar. O tempo escolar
vem sendo discutido como elemento que possibilita uma educao de qualidade, a educao
integral, e mesmo como alternativa para a classe trabalhadora como forma de ocupao de
crianas e adolescentes.
Nesse sentido, o presente artigo objetiva analisar as polticas de formao de professores
para a escola de tempo integral contidas no Programa Mais Educao, considerando se preciso
uma formao especfica para o professor que trabalha, ou trabalhar, em escola de tempo
integral.
Concluiu-se, por meio da anlise das polticas de formao docente contidas no
Programa Mais Educao, que este parece frgil, indefinido e contraditrio, porque a educao
integral remete concepo de integrado, no sentido da superao da fragmentao, logo a
premissa para se pensar e/ou consolidar a formao do professor para a educao integral na
escola de tempo ampliado, aponta para o fato de que necessria uma formao especfica: a
formao integral do professor.
247
Metodologia
A metodologia de anlise consistiu em apreender as polticas acerca da formao de
professores da escola de educao integral, explicitadas no Programa Mais Educao, institudo
por meio da Portaria Interministerial n. 17, em 24 de abril de 2007, envolvendo os Ministrios
da Educao e do Desenvolvimento Social.
O artigo 1 da referida Portaria, afirma que o Programa Mais Educao visa contribuir
para a formao integral de crianas, adolescentes e jovens, por meio da articulao de aes,
de projetos e de programas do Governo Federal e suas contribuies s propostas, vises e
prticas curriculares das redes pblicas de ensino e das escolas, alterando o ambiente escolar e
ampliando a oferta de saberes, mtodos, processos e contedos educativos (BRASIL, 2007).
Tal proposta de educao integral tem como finalidade ampliar o tempo e o espao
educativo do aluno, com inteno de melhorar o rendimento e o aproveitamento escolar,
combater o trabalho infantil, retirar a criana que vive em lugares vulnerveis, incentivar o
esporte e propiciar a interao entre escola, famlia e comunidade (BRASIL, 2009).
Mesmo tratando-se de um Programa especfico, o processo de apreenso das propostas
acerca da formao de professores e a sua respectiva anlise foram norteadas por um olhar
escola de tempo integral sob uma perspectiva da educao integral.
A fim de respaldar teoricamente este estudo, optou-se por realizar pesquisa documental
e bibliogrfica em documentos norteadores do Programa Mais Educao, artigos e livros de
diversos autores que tm estudado o tema da educao integral brasileira e da formao docente.
Considerando que a teoria histrico-cultural, Vygotsky e seus interlocutores, concebe o ser
humano em sua totalidade, configurado em sua relao social, analisa como o professor
participante deste Programa reputado em sua total dimenso, tendo em vista que as polticas
aqui apreendidas fundamentam o entendimento de que nos ltimos anos a educao brasileira
vem sendo desafiada a ampliar seus compromissos com a educao integral.
248
modalidade de ensino, uma vez que o Programa Mais Educao composto por critrios que
visam ampliar o tempo de permanncia na escola e, consequentemente, a jornada de trabalho.
Criado em 2007, por meio de uma Portaria Interministerial, embasada no Plano de
Desenvolvimento da Educao PDE1, o Programa Mais Educao PME um dos programas
criados como poltica de ao contra a pobreza, a excluso social e a marginalizao cultural.
Prev aes socioeducativas no contraturno escolar, defendendo a ideia de que a ampliao do
tempo e dos espaos educativos seja soluo para a problemtica da qualidade de ensino.
A rea de atuao do Programa, demarcada inicialmente para atender em carter
prioritrio as escolas situadas em capitais e regies metropolitanas que apresentam baixo ndice
de Desenvolvimento da Educao Bsica IDEB, e onde os estudantes encontram-se em
situao de vulnerabilidade social segundo o Decreto n. 7.083/2010 (BRASIL, 2010). Iniciou
em 2008 com a participao de 1.380 escolas e ao longo dos anos tem sido ampliada.
Com apoio de quatro ministrios (Ministrios da Educao, do Desenvolvimento Social
e Combate Fome, do Esporte e da Cultura) e fomentado pelo Programa Dinheiro Direto da
Escola PDDE2 e Programa Nacional de Alimentao Escolar PNAE3, o Programa Mais
Educao um dos componentes do Plano de Aes Articuladas PAR4 e chega s escolas
com o objetivo de formular uma poltica nacional de educao bsica em tempo integral
(BRASIL, 2009).
A Portaria Normativa Interministerial n. 17, de 24 de abril de 2007, demonstra as
consideraes, as finalidades, os objetivos e caracterstica do Programa Mais Educao. Em
Pargrafo nico do Artigo 1 afirma:
O programa ser implementado por meio do apoio realizao em escolas e outros
espaos scio-culturais, de aes scio-educativas no contraturno escolar, incluindo
os campos da educao, artes, cultura, esporte, lazer, mobilizando-os para a melhoria
do desempenho educacional, ao cultivo de relaes entre professores, alunos e suas
comunidades, garantia de proteo social da assistncia social e formao para a
cidadania, incluindo perspectivas temticas dos direitos humanos, conscincia
ambiental, novas tecnologias, comunicao social, sade e conscincia corporal,
segurana alimentar e nutricional, convivncia e democracia, compartilhamento
comunitrio e dinmica de redes. (BRASIL, 2007, p. 2).
_______________________________________
O Plano de Desenvolvimento da Educao PDE, foi aprovado pelo Presidente da Repblica Lus Incio Lula da Silva e pelo Ministro da
Educao Fernando Haddad em 24 de abril de 2007, com o objetivo de melhorar a educao no Pas, em todas as suas etapas, em um prazo de
quinze anos. Prev vrias aes que visam identificar e solucionar os problemas que afetam diretamente a educao brasileira. Inclui aes de
combate a problemas sociais que inibem o ensino e o aprendizado com qualidade, que devero ser desenvolvidas conjuntamente pela Unio,
estados e municpios
O Programa Dinheiro Direto na Escola PDDE, institudo em 1995, consiste na assistncia financeira s escolas pblicas da educao bsica
das redes estaduais, municipais e do Distrito Federal e s escolas privadas de educao especial mantidas por entidades sem fins lucrativos.
O Programa Nacional de Alimentao Escolar PNAE, implantado em 1955, garante, por meio da transferncia de recursos financeiros, a
alimentao escolar dos alunos de toda a educao bsica (educao infantil, ensino fundamental, ensino mdio e educao de jovens e adultos)
matriculados em escolas pblicas e filantrpicas.
4
O Plano de Aes Articuladas PAR, deve ser elaborado por estados, municpios e Distrito Federal, a partir da adeso ao Plano de Metas
Compromisso Todos pela Educao, institudo pelo Decreto 6.094, de 24 de abril de 2007, um programa estratgico do PDE. Inicialmente, os
estados e municpios devem realizar um diagnstico minucioso da realidade educacional local. A partir desse diagnstico, desenvolvero um
conjunto coerente de aes que resulta no PAR.
249
Segundo Paro (et al, 1988), a escola pblica de tempo integral surge como uma das
solues novas para os problemas gerados pela crise econmica no mbito educacional.
Alves (2014) diz que de acordo com a legislao existe uma relao entre educao integral e
melhoria da aprendizagem com a escola de tempo integral. Essa relao muitas vezes aparece
como sendo o meio para se assegurar a educao integral. Nesse sentido, o tempo de estudo
o diferencial, ou seja, a ampliao da jornada escolar aparece como a possibilidade de promover
a educao integral.
O Programa Mais Educao apresentado como uma poltica educacional-social como
um caminho formao integral para jovens e crianas destitudos de melhores oportunidades
de escolarizao. Com essa medida, espera-se reduzir as discrepncias educacionais e, por
conseguinte, as desigualdades sociais por meio de uma rede de atendimento ao estudante que
vai alm do espao escolar (ALVES, 2014).
No que diz respeito ao professor inserido no contexto da educao integral, o Programa
Mais Educao afirma que
[...] educador aquele que reinventa a relao com o mundo, que reinventa sua relao
com o contedo, com o espao da sala de aula e com seus alunos. aquele que permite
ver nos alunos possibilidade e processos em realizao. Por isso pode ser comparado
a um artista na arte de mediar aprendizagens e buscar sempre o (re)encantamento com
sua profisso. (BRASIL, 2009, p. 36).
250
Com relao formao, este artigo se ater s questes pertinentes ao professor de fato,
denominado pelo PME como profissional da educao, que tambm pode exercer o papel de
professor comunitrio.
O documento afirma:
251
252
em torno dos limites e possibilidades dessa nova forma de pensar a educao, levando em
conta as condies estruturais, econmicas e profissionais do cenrio educacional.
No que tange formao do professor que deve atuar nesta modalidade de ensino, Silva
e Silva (2012) questionam se temos uma estrutura educativa capaz de dar suporte e englobar
esta transio de paradigma que o debate acerca da educao integral pressupe. Os autores
acreditam que um dos primeiros aspectos que devem ser considerados e analisados refere-se
formao dos profissionais responsveis pelo desenvolvimento deste projeto educativo to
amplo e complexo.
Um dos principais impasses a falta de formao e valorizao profissional, causando
um impacto negativo na educao. No basta oferecer uma formao alheia ao contexto social,
por exemplo, esta deve estar articulada a um projeto educativo bem definido, que possibilite
aos professores o entendimento de suas tarefas (SILVA e SILVA, 2012).
Outro aspecto a ser considerado, que o trabalho do professor e a sua formao esto
intimamente relacionados escola, portanto a primeira premissa para pensar e elaborar um
projeto de formao de professores discutir a funo da escola na sociedade. A escola uma
instncia e instituio social, dentre outras, que tem um papel mediador em um projeto de
sociedade, que tanto pode ser conservador quanto transformador, por isso tambm contraditrio
entre formar para o mercado de trabalho ou numa perspectiva omnilateral (SILVA, 2014).
A respeito dos desafios para a formao do professor de escola de educao integral,
Silva e Silva (2012, p. 179) afirmam que para o governo e suas polticas de implantao e
atendimento a esta modalidade de ensino, nas quais inclui-se o Programa Mais Educao, a
formao do professor apresenta trs razes de ser: estimular a prtica profissional; melhorla e implementar a poltica social, tendo em vista que a escola e os professores precisam
desenvolver a sua capacidade de renovao, no sentido de melhorar a qualidade dos servios
atuais e fazer face s novas exigncias que emergem dos diversos setores sociais e recaem sobre
as escolas. Estas demandas, alm de amplas e complexas, esto surgindo com muito mais
frequncia e intensidade, o que imprime, por exemplo, a necessidade de cursos que deem conta
de preencher as necessidades profissionais, enquadrando-se nos limites de tempo e espao dos
professores e da urgncia da demanda (SILVA e SILVA, 2012).
Nesse contexto, Belloni (2006) chama a ateno para a educao a distncia, que
denomina como uma forma industrializada de ensino. Considera como uma dinmica educativa
que est disseminada e que objetiva atender esta crescente demanda de professores que buscam
a formao, inicial ou continuada, como garantia das condies de empregabilidade. Porm,
segundo a autora, um dos impasses consiste na qualidade desta modalidade de formao.
253
254
por isso mesmo, dirige a escolha dos modos de ensinar, pois sabe o professor que os mtodos
so eficazes somente quando esto, de alguma forma, coordenados com os modos de pensar do
aluno.
Nesse processo, integram-se histrias de vida com inmeras experincias e vivncias,
tornando-se presentes e se atualizando sentidos subjetivos. Isso no quer dizer, contudo, que os
que ensinam e os que aprendem percebam, a cada instante, o impacto que sofrem e causam um
no outro. H que se ter em conta, entretanto, que o professor planeja aes cujos objetivos
realizam-se no aluno. Na esfera de aes do professor, existe um impacto no aluno que
intencional e esperado como realizao, fato que no se pode afirmar que exista da parte do
aluno.
O processo de apropriao dos conhecimentos no acontece de forma passiva e
individualizada, mas no contexto das interaes. Ainda que seja possvel admitir o professor
como mediador do conhecimento para o aluno, isso no esgota a sua funo, nem d conta do
que lhe primordial. O professor uma pessoa vulnervel alteridade do aluno. Assim,
trabalho pedaggico e zona de desenvolvimento proximal no significam outra coisa que no
ao conjunta. O desenvolvimento psicolgico resultado de algo que acontece no espao da
relao professor e aluno, como possibilidade de realizao futura. O que caracteriza o
desenvolvimento proximal a capacidade que emerge e cresce de modo partilhado (Ges,
1991, p.20). Portanto so necessrias parcerias nos espaos pedaggicos para que haja a
possibilidade de empreendimento de novas situaes sociais de desenvolvimento.
Os pressupostos da Psicologia Histrico-Cultural tambm apontam para uma escola
diferente das que as tendncias atuais esto tentando construir. Uma escola, como coloca Rego
(1994), em que as pessoas possam dialogar, discutir, questionar e compartilhar saberes. Onde
h espao para as transformaes, para as diferenas, para o erro, para as contradies, para a
colaborao mtua e para a criatividade. Uma escola em que professores e alunos tenham
autonomia, possam refletir sobre o seu processo de construo de conhecimento e ter acesso a
novas informaes.
Pode-se dizer que a compreenso que o professor tem do aluno, e do que deve realizar
com ele, tem muitas implicaes para o seu trabalho. Cabe-lhe permitir que o aluno revele-se
por si, mostre-se naquilo que pede como ajuda. Seu papel desdobra-se em muitas funes que
devem ser descobertas e assumidas conforme o fluxo do desenvolvimento do aluno. O professor
o organizador do ambiente social (Vygotsky, 2003), que o fator educativo por excelncia.
Finalmente, pensar a formao de professores para a educao integral, sob a
perspectiva Histrico-Cutural, implica, portanto, pensar na educao integral do professor,
255
Consideraes Finais
256
do Programa Mais Educao, com a ajuda de princpios apontados pela ANFOP Associao
Nacional pela Formao dos Profissionais da Educao (1990-2002). So eles: Slida formao
terica sobre o fenmeno educacional e seus fundamentos histricos, polticos e sociais, bem
como o domnio dos contedos a serem ensinados pela escola, que permita a apropriao do
processo de trabalho pedaggico, criando condies de exercer a anlise crtica da sociedade
brasileira e da realidade educacional; unidade entre teoria e prtica, que implica assumir uma
postura em relao produo de conhecimento que impregna a organizao curricular dos
cursos e no se reduz mera justaposio da teoria e prtica em uma grade curricular; gesto
democrtica como instrumento de luta contra a gesto autoritria na escola; compromisso social
do profissional da educao; trabalho coletivo entre professores; incorporar a concepo de
formao continuada; avaliao permanente dos cursos de formao dos profissionais da
educao.
certo que a educao integral, com suas diversas concepes, polticas e desafios,
um processo em andamento, que no permite juzos definitivos. Mas de suma importncia
debruar-se sobre as diretrizes do Programa que constitui-se como estratgia do Ministrio da
Educao para induzir a ampliao da jornada escolar e a organizao curricular na perspectiva
da educao integral.
No que especfico formao do professor, algumas questes abordadas neste estudo
requerem aprofundamento, contudo espera-se que os elementos aqui apresentados tenham
contribudo um pouco mais para a compreenso da temtica e instigue novos questionamentos,
debates e pesquisas.
Referncias
257
258
259
RESUMO:
O presente trabalho se apresenta com uma metodologia de reviso bibliogrfica, e resultado de uma
investigao em processo de maturao que intenta apreender elementos quanto a essncia do ensino da
arte na educao bsica. Dessa maneira, partindo da questo: como se deve ensinar arte para que o
aluno aprenda de forma sensvel e significativa? O objetivo deste trabalho, contribuir para um melhor
entendimento de como se apresentam as polticas de formao docente aplicadas atualmente educao
bsica do Brasil, apontar algumas reformas j realizadas nesse cenrio, e analisar a formao dos
professores de arte, como semeadores de saberes atuantes nas Escolas Estaduais do Mato Grosso do Sul,
apreender aspectos sobre essa formao e, alm do mais, pensar nos fatores que englobam as
contribuies que o professor enquanto semeador pode fornecer construo do saber de seus alunos.
Palavras chave: Arte-educao; formao de professores de arte; relao professor-aluno.
Abstract:
This paper presents a methodology with a literature review, and is the result of an investigation in the
maturation process that tries to apprehend elements as the essence of art education in basic education.
In this way , starting from the question : how to teach art to the student to learn in a sensitive and
meaningful way? The objective of this work is to contribute to a better understanding of how you present
teacher education policies applied today to basic education of Brazil , pointing out some reforms already
undertaken in this scenario, thereby analyzing the training of art teachers , today sow active knowledge
in the State of Mato Grosso do Sul schools , learn aspects of this training and , besides, think of factors
that include the contributions that the teacher while sower can provide the construction of knowledge of
their students.
Keywords: Art education ; training art teachers ; teacher-student relationship .
Arte educadora Graduada pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul em Artes Visuais Licenciatura, Psgraduada em Psicopedagogia, pelo Centro Universitrio da Grande Dourados e atualmente mestranda pela Universidade
Estadual de Mato Grosso do Sul, sob orientao da Professora Doutora Gabriela Di Donato Salvador Santinho. e-mail:
[email protected].
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4435987T1
1
Doutora em Artes da Cena pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e Mestre em Artes Cnicas pela
mesma instituio, onde tambm obteve os ttulos de bacharel e licenciada em Dana(2001). Professora do curso de
Licenciatura em Artes Cnicas e do mestrado Profissional em educao da UEMS - Universidade Estadual do Mato
Grosso do Sul . E-mail [email protected]
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4205617H7
260
2
PREPARANDO O TERRENO
Este ensaio objetiva refletir sobre a arte de semear saberes, no sentido de compreender
como se deve ensinar arte, quais so as implicaes para que um semeador esteja pronto
semear e fazer tudo florescer? O olhar central ser no semeador, aqui entendido como educador,
no intuito de explorar quais so as polticas de formao docente aplicadas hoje educao
bsica do brasil, apontar algumas reformas j realizadas nesse cenrio, analisar a formao dos
professores de arte, hoje semeadores de saberes atuantes nas Escolas Estaduais do Mato Grosso
do Sul, apreender aspectos sobre essa formao e pensar nos fatores que englobam as
contribuies que o professor, enquanto semeador, pode fornecer construo do saber de seus
alunos. Aqui utilizamos a expresso saber em lugar de conhecer, por pactuar com as ideias
de Duarte Junior (2000) que diz acreditar que o verbo saber possui uma denotao mais ampla
que seu congnere conhecer, o autor aprofunda sua posio, dizendo:
Enquanto o conhecimento parece dizer respeito posse de certas habilidades
especficas, bem como limitar-se esfera mental da abstrao, a sabedoria implica
numa gama maior de habilidades, as quais se evidenciam articuladas entre si e ao viver
cotidiano de seu detentor esto, em suma, incorporadas a ele. E bem este o termo,
na medida em que incorporar significa precisamente trazer ao corpo, fundir-se nele:
o saber constitui parte integrante do corpo de quem a possui, torna-se uma qualidade
sua. Sendo ainda importante relembrar as acepes mais antigas do saber enquanto
ver, que indicam ter o sabor de ou agradar ao paladar (como em o doce sabe a
chocolate ou sabe-me bem esta comida); isto : o saber carrega um sabor, fala aos
sentidos, agrada ao corpo, integrando-se, feito um alimento, nossa experincia.
(DUARTE JUNIOR, 2000, p. 16)
Nesse sentido, compreendendo que esse saber ser diretamente destinado ao aluno, aqui
definido como a semente que deve ser regada e cuidada para que sua apreenso acontea de
forma significativa e sensvel, j que a preocupao que temos na educao com o sujeito,
aquele que conhece, que tem experincias e que percebe o mundo. Husserl(1989) j dizia que
o conhecimento , em todas as suas configuraes uma vivncia psquica: conhecimento do
sujeito que conhece, e de acordo com Duarte Junior (2000, p. 14), h um saber sensvel,
inelutvel, primitivo, fundador de todos os demais conhecimentos; um saber direto, anterior s
representaes simblicas que permitem os nossos processos de raciocnio, este saber sensvel
no prescinde a arte - pelo contrrio - atua num nvel anterior ao da simbolizao, deste modo,
afirmamos a importncia do ensino da arte no sentido que:
A arte pode consistir num precioso instrumento para a educao do sensvel, levandonos no apenas a descobrir formas at ento inusitadas de sentir e perceber o mundo,
como tambm desenvolvendo e acurando os nossos sentimentos e percepes acerca
da realidade vivida. (DUARTE JUNIOR, 2000, p. 25)
261
3
Acreditamos que conduzir o aluno a descobrir e a ter uma experincia com o saber
sensvel s ser possvel se o prprio docente se permitir primeiro ter a experincia, ser tocado
sensivelmente, fazer parte de um jardim para ento aprender o ofcio de semear. Deste modo,
acreditamos que a formao do professor de arte e suas experincias com as diversas
manifestaes artsticas ao longo de sua vida far toda a diferena em sua prtica docente.
FORMANDO UM SEMEADOR
O PARFOR integra o Plano de Aes Articuladas (PAR) do governo federal, que, por sua vez, faz parte do
Plano de Desenvolvimento da Educao ao qual aderiram todas as unidades da federao (Brasil, 2009; portaria
normativa n. 9).
262
4
Nesse contexto, uma pesquisa realizada por Barreto (2015) nos mostra que as
caractersticas predominantes da expanso dos cursos de pedagogia so: pela iniciativa privada
e pela educao a distncia, e elas so especialmente preocupantes. Na mesma pesquisa, a
autora aponta que existe maior quantidade de alunos matriculados nas instituies privadas,
representando 56,9% do total de todas as licenciaturas, enquanto nas pblicas temos o
percentual de 43,1%, essa quantidade aumenta quando se trata especificamente da modalidade
EAD. Os nmeros mostram que as instituies privadas aumentaram significativamente, a
autora continua apontando que esse crescimento:
(...) no foi acompanhado do desenvolvimento efetivo da capacidade de produo de
conhecimentos novos por meio da pesquisa, funo inerente ao ensino superior e
tampouco se caracterizaram por um zelo especial em relao s atividades de ensino.
[...] porque a rpida expanso dos cursos de educao a distncia e a grande
improvisao do seu projeto pedaggico, da infraestrutura de apoio e do
acompanhamento dos estudantes, bem como a elevada evaso registrada nesses
cursos, so indcios de que eles deixam muito a desejar. (BARRETO, 2015, p. 684)
Parece-nos que estamos perante uma grande contradio, enquanto as polticas pblicas
discutem e buscam a melhoria da qualidade do ensino no Brasil, alguns profissionais se
mostram despreparados, apesar de licenciados exercer a funo de educador. So grandes os
desafios e as demandas que delimitam a funo da escola na atualidade, principalmente quanto
s atribuies do professor, no reconhecimento da complexidade que existe no ato de ensinar.
Portanto cabe ao governo e s instituies no apenas ampliar a oferta, mas formar docentes
263
5
preparados para atuar como futuros profissionais formadores, o que de acordo com Brzezinski
(2008), equivale dizer que as universidades devem preparar estes profissionais visando: um
saber especfico (cientfico), um saber pedaggico, um saber cultural e um saber transversal
que estimule a transdisciplinaridade.
Apesar de serem mltiplas as acepes de formao, Ferry (1987) destaca que a
formao de professores possui uma natureza especfica e apresenta particularmente
trs traos distintivos de qualquer outra formao: a) uma dupla formao, pois,
simultaneamente, acadmico cientfica e pedaggica; b) uma formao
profissional, porquanto tem por finalidade formar pessoas que iro se dedicar
profisso-professor; c) constitui formao de formadores, porque se desenvolve em
um espao em que se realiza a formao de quem se forma ao mesmo tempo em que
ocorre a prtica profissional do formador. (BRZEZINSKI, 2008, p. 1144)
Uma boa opo seria oferecer aos acadmicos de licenciatura uma ligao entre a
universidade e a escola, proposto por Zeichner (2010) a partir de suas experincias como
formador de professores e administrador de universidade, na busca por refletir a prtica
pedaggica ao mesmo tempo em que se aprende e, alm do mais, diminuir as lacunas entre a
formao que acontece na universidade e aquela que se d na escola. Argumentou-se que essa
264
6
De acordo com o autor Antnio Nvoa (2012), faz-se necessrio devolver a formao
de professores, aos professores. Ento ele nos apresenta quatro propostas que podem nos levar
a olhar de outro modo para os problemas da formao de professores: 1. Por uma formao de
professores a partir de dentro, onde o autor aponta que os colegas de profisso podem ajudar a
construir dentro da profisso e que as propostas tericas s fazem sentido dentro da profisso;
2. Pela valorizao do conhecimento docente, aqui o ensino aparece como uma atividade
criativa, que tem o conhecimento pr-existente como matria-prima, mas que elabora um
conhecimento novo na prpria funo pedaggica, nesse sentido o autor cita Lee Shuman e sua
eminente frase: Quem sabe, faz. Quem compreende, ensina; 3. Pela criao de uma nova
realidade organizacional, o professor deve ser um ser coletivo, porm intil reivindicar uma
formao mtua e colaborativa se a definio no for coerente a essa proposta, intil propor
uma qualificao baseada na investigao e parcerias entre escolas e instituies universitrias
se os normativos legais dificultam este processo; 4. Pelo reforo do espao pblico de educao,
a escola hoje cresceu, as funes que a escola deve exercer tambm, porm o espao
educacional muito maior que os portes da escola a dentro, os espaos sociais, a famlia
tambm devem colaborar.
Diante de tal abrangncia educacional, Duarte Junior (2000) apresenta que mesmo dado
a maior parte de cada currculo ser direcionada a um conhecimento especfico, uma educao
mais abrangente (isto , que considere as experincias, o saber sensvel e esttico) at mesmo
no ensino superior perfeitamente vivel, afinal o fundamental que se aprenda a aprender.
Aplicvel principalmente aos cursos formadores de professores de arte, mas no
exclusivamente, tendo em vista que:
Um lastro de filosofia, artes e sensibilidade, comum a todos os cursos de uma
universidade, certamente redundaria em ganhos para todos, em especial para o
profissional em formao, que entenderia ser o seu conhecimento especfico to-s
um dos componentes que constituem uma sabedoria de vida abrangente. (DUARTE
JUNIOR, 2000, p.210)
265
7
Diante da extrema necessidade apontada nas pginas anteriores, de que para se exercer
o ofcio de semeador, exige-se cada vez mais que se tenha construdo uma experincia concreta
pelo menos na formao inicial do professor de arte, (aqui nem levaremos em conta, a formao
continuada em nveis mais avanados), foi que realizamos uma pesquisa para analisar em que
panorama encontra-se a formao dos professores que aparecem lotados na disciplina de arte
na rede estadual de ensino, atuantes nas escolas no ano de 2015.
A partir de uma anlise do quadro quantitativo de professores que esto ministrando arte
na rede estadual de ensino em 2015 formulada pela prpria Secretaria Estadual de Educao na
Tabela 1, podemos conferir que dos 79 municpios, compondo um total de 348 escolas e 1091
professores de arte, 59,30% possuem formao mnima na rea de atuao e 40,70% possuem
outras licenciaturas e atuam como professores de arte.
79
Total de escolas
348
346
267
34
81
350
13
266
8
muitas vezes no possui uma experincia esttica qualificada, concordando com o que diz
Fonseca da Silva (2010, p. 11) quando expressa suas ideias sobre a formao artstica dos
professores em seus estudos os professores tem a oportunidade de construir outra forma de
conceber a atividade artstica e os produtos dela derivados., a autora continua apontando que:
Valorizar essa formao cultural tambm e necessrio porque, no exerccio da funo
de professor, ser porta-voz dessas concepes para seus alunos. Seus ensinamentos
estaro sustentados sobre a base de suas consideraes pessoais e convices a
respeito das Artes Plsticas como matria necessria a formao do indivduo e pelas
atitudes que poder adotar em relao a elas. (FONSECA DA SILVA, 2010, p. 12)
A partir de sua experincia sensvel, o professor poder transmitir, atravs de seu corpo,
com suas expresses a alegria, o desejo e o prazer de aprender, assim de acordo com Duarte
Junior (2000) uma educao sensvel s pode ser levada a efeito por meio de educadores cujas
sensibilidades tenham sido desenvolvidas e cuidadas, tenham sido trabalhadas como fonte
primeira dos saberes e conhecimentos que se pode obter acerca do mundo. O autor aponta que
esta experincia prioritariamente deve acontecer nos cursos de formao de professores:
Neste sentido, a tarefa de sensibilizar e desenvolver os sentidos, fazendo-se
acompanhar de uma viso criticamente filosfica de seu papel na obteno do saber,
compete prioritariamente aos nossos cursos de formao de professores, s
licenciaturas levadas a efeito no mbito do ensino superior. (DUARTE JUNIOR,
2000, p. 213)
Diante deste cenrio, semear arte uma funo que envolve no apenas conhecimento
mas a alegria de ensinar algo que foi significativo ao professor durante seus dias de formao
na universidade, Rubem Alves (2003), ao conversar sobre universidade, afirma que ela existe
s para ajudar os homens a transformarem os desertos em jardins. O autor ainda sugere que
deve ser a partir do jardim que devemos pensar no tipo de educao que temos de ter, para
produzir coisa to bela. Espalhar no ar as nossas sementes.
267
9
Sementes depositadas em campos vazios podem ser germinadas e delas surgir um belo
jardim, isso depender do semeador e do sentimento transmitido no ato de ensinar, ensinar com
alegria, com amor, prazer o tornar especialista em ferramentas do saber sensvel. Sua formao
como educador far toda a diferena em sua prtica pedaggica, para ensinar arte preciso,
antes de tudo, saber viver, como nos escreveu Duarte Junior:
Saber viver: o saber mais fundamental de que necessitamos agora, o qual, sem dvida,
precisa ter a sua origem na sensibilidade, esteio de todos os conhecimentos
construdos por ns. Assim, dar ateno aos sentidos e auxiliar o seu refinamento, seja
com base da mirade de estmulos e maravilhas dispostas pelo mundo ao nosso redor,
seja atravs dos signos estticos que a arte nos prov, tocando a nossa sensibilidade,
constitui uma misso fundamental para o educador, desde que este no tome o seu
trabalho como estando exclusivamente voltado para a mente e os processos abstrativos
de seus aprendizes. (DUARTE JUNIOR, 2000, p. 227)
No existe uma receita pronta para semear, para que o aluno aprenda no preciso nem
mesmo pensar, basta gostar e o objeto vai para a memria. Esta regra, de acordo com Rubem
Alves (2000) a regra fundamental desse computador que vive no corpo humano: s vai para
a memria aquilo que objeto de desejo e a principal tarefa do professor seduzir o aluno para
que ele deseje e, desejando, aprenda.
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269
INTRODUO
MOURA, Rosimeire da Silva Rosa, mestranda da Ps-Graduao Stricto Sensu Mestrado Profissional da
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, linha de pesquisa Organizao do Trabalho Didtico. E-mail:
[email protected]
2
SALES, Antonio. Professor Doutor da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul; Orientador do Projeto de
pesquisa. Linha de pesquisa: Organizao do Trabalho Didtico. E-mail [email protected]
270
2
formao, pois, so habilitadas em Magistrio e Pedagogia, formao exigida para atuar com
crianas na creche. A pesquisa se enquadra no perfil qualitativo, utilizando como instrumento
para coleta de dados questionrio com o intuito de identificar quais os contedos que os(as)
professores(as) trabalham para desenvolver a linguagem matemtica e como trabalham
determinado contedo.
O estudo est pautado na teoria de Shulman (2005) que trata das categorias de
conhecimento do professor. O autor considera que existem categorias de conhecimento,
sendo: conhecimento pedaggico geral, conhecimento dos estudantes e suas caractersticas,
conhecimentos de contexto educacionais, conhecimentos de fins educacionais, conhecimento
do contedo, conhecimento curricular, conhecimento pedaggico do contedo.
Neste artigo d-se especial ateno ao conhecimento pedaggico que seria o domnio
do conhecimento do professor sobre determinado contedo que tem relao com a prtica de
ensino.
METODOLOGIA E CONTEXTO DA PESQUISA
271
3
Iniciando a discusso
O trabalho pedaggico com as crianas de zero a 3 anos recente no sistema
educacional brasileiro. A partir da constituio Federal de 1988 o atendimento das crianas de
zero a 6 anos foi garantido no setor educacional e posteriormente referendado em 1996 com a
promulgao da LDB a educao infantil como primeira etapa
da educao bsica,
272
4
contedos e
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5
274
6
preciso esclarecer o que os professores conhecem sobre o contedo que precisam ensinar na
instituio educativa e como devem saber faz-lo.
Analisando o conhecimento do professor, na perspectiva Shulman (2005) dividimos
esse conhecimento em dois ramos: a) Conhecimento Matemtico para o Ensino e b)
Conhecimento Profissional Docente.
O primeiro diz respeito ao domnio das ideias matemticas que se quer ensinar. Quem
trabalha com educao infantil, objeto desse estudo, corre o risco de confundir contagem com
o enunciado de alguns nmeros por parte da criana. O professor dessa etapa da educao
necessita, como qualquer outro professor, distinguir entre as ideias de grandezas qualitativas
de grandezas quantitativas, isto , que saber que algum maior (ou mais alto) do que outro
no implica em saber quantas vezes uma unidade de medida est includa na outra.
fundamental tambm distinguir cardinalidade de ordinalidade em um conjunto finito de
nmeros presentes em uma brincadeira, o que significa dizer que o professor, ao propor uma
brincadeira de bater palminhas, por exemplo, deve saber que ordem e quantidade so ideias
distintas, embora um profissional pouco atento pode no se dar conta da diferena e da
importncia de distingui-las. De igual modo, contagem e quantificao qualitativa, no so a
mesma coisa muito embora estejam fortemente imbricadas. Qualificar uma quantidade e
quantificar essa mesma quantidade so coisas distintas, pois, saber onde tem mais no a
mesma coisa que saber quantos esto presentes ou quantos elementos um conjunto tem a mais
do que o outro. Shulman (1987) denominou esta habilidade de conhecimento do contedo.
Com relao ao conhecimento profissional docente pode-se dizer que tem relao
direta com a capacidade de elaborao de uma sequncia didtica para familiarizar as crianas
com as primeiras ideias matemticas: grandeza, quantidade e forma. Na perspectiva de
Shulman esse o conhecimento pedaggico do contedo ou habilidades didticas gerais que
consiste em saber formas de abordagens e para que ensinar.
Outros conhecimentos necessrios ao professor so elencados por Shulman, mas, em
virtude de termos escolhido trabalhar especificamente com o contedo matemtico nos
detivemos nesses dois, mesmo que o autor possa considerar isso com trivializao do
trabalho docente, onde se ignora a complexidade e so reduzidas as suas demandas, onde os
prprios professores tm dificuldades para articular o que conhecem e como conhecem
(SHULMAN, 2005, p.8, traduzido e adaptado por ns).
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7
276
8
Continuando as discusses...
Tomamos como referncia alguns autores que podem corroborar as ideias de
Shulman sobre conhecimento do profissional docente voltado para a educao infantil e
colaborar com as discusses elencadas, entre eles Bassedas, Huguet e Sol (1999), Mequ
Edo i Bast (2012), Craidy e Kaercher (2001), entre outros.
Algumas questes so pertinentes discutir nessas respostas, entre elas noes de
tempo e espao que a professora Wendy destaca como algo a ser ensinado s crianas de 3
anos. Para Bassedas, Huguet & Sol (1999, p. 81) As naes so adquiridas no decorrer de
toda a vida, ampliam-se, diversificam-se, e tornam-se complexas. Essa uma capacidade que
se desenvolve atravs das experincias as quais as crianas so expostas cotidianamente com
o objetivo de desenvolver as diferentes linguagens, entre elas a linguagem matemtica.
Em todas as respostas das professoras destacada a msica como metodologia para o
ensino da matemtica considerando como algo a ser ensinado para as crianas de 2 e 3 anos
msicas que expressam quantidades, expressam conceitos de subir/descer, subtrao. As
autoras Craidy e Kaercher (2001, p. 123-125) no livro Educao Infantil: pra que te quero?
fazem uma anlise sobre as prticas musicais na educao infantil e destacam entre os
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9
278
10
279
11
CONSIDERAES FINAIS
O trabalho dos(as) professores(as) da educao infantil pautado nas brincadeiras. O
brincar figura como principal eixo norteador do desenvolvimento das atividades com as
crianas. A partir do brincar so desenvolvidos diferentes conhecimentos expressos como
componente curricular: linguagem oral e escrita, linguagem matemtica, conhecimento do
mundo fsico, natural e social, arte, entre outros.
Das prticas pedaggicas na educao infantil observadas no trabalho das
professoras ressalta-se que o desenvolvimento de atividades voltadas para o conhecimento
matemtico relegado a segundo plano, pois poucas atividades foram observadas no decorrer
do curso com as professoras direcionadas matemtica.
O questionrio aplicado s professoras revelou que estas sabem o que ensinar sobre a
matemtica e como ensinar tais contedos. Mas o conhecimento que elas tm sobre o que e
280
12
como ensinar nem sempre so suficientes para que planejem uma proposta de atividades com
foco no desenvolvimento da linguagem matemtica das crianas.
Corroborando essa afirmao temos o fato de que as professoras consideram que
ensinam s crianas de 2 e 3 anos noes de espao e tempo, que ensinam formas de
contagem utilizando-se das msicas que tem sequncia numrica. A atividade ldica est
presente nas propostas das professoras contribuindo com o aprendizado espontneo das
crianas. Mas constata-se que o conhecimento matemtico para o ensino no est claro para as
professoras, pois elas consideram que o fato de cantar msicas com as crianas ou ensinar
noes contribuiria para a aprendizagem matemtica, ento, nem sempre elas dominam as
ideias matemticas sobre contagem e quantificao qualitativa presentes em determinadas
atividades. Para alm desse conhecimento, o conhecimento pedaggico do contedo vai
determinar as atividades adequadas e as formas de interveno para alcanar o
desenvolvimento da linguagem matemtica das crianas.
Temos que o conhecimento matemtico para o ensino e o conhecimento pedaggico
do contedo se imbricam numa dialtica fundamental para que o ensino para as crianas da
educao infantil seja significativo e possa contribuir com o desenvolvimento das atividades
pedaggicas que as professoras propem com a inteno de ensinar as crianas os
conhecimentos necessrios ao desenvolvimento da linguagem matemtica.
REFERNCIAS
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282
0
Campo Grande/MS
2015
283
1
284
2
Formao de Professores
285
3
estrutura de ensino das licenciaturas, tendo regulamentado apenas o
funcionamento e controle [...]. (SCHEIBE, 2008, p. 48)
A Reforma Universitria foi preconizada contudo, somente sete anos depois atravs da
Lei n 5.540, de 1968, diferenciando as licenciaturas: a) para classes de 5 a 8 sries do Ensino
Fundamental, por meio de habilitaes por rea de conhecimento, b) habilitaes especficas
para o ensino do segundo grau.
Outro movimento de reformulao dos cursos de licenciatura aconteceu no final da
dcada de 1970, o curso de Pedagogia, que pretendia formar os especialista em educao,
promoveria discusses para uma unidade na formao da rea da Educao. Scheibe (2008, p.
48) traz as contribuies deste movimento, esta discusso nacional contribuiu para a realizao
de algumas mudanas curriculares, metodolgicas e pedaggicas no interior das instituies
formativas. Contudo, temos ainda nos dias atuais formaes nos cursos de licenciaturas nos
moldes 3+1, que distancia conhecimentos especficos e pedaggicos. Essa organizao
educacional superior influencia a formao dos professores dos cursos de Letras e Pedagogia e
podem significar prticas descontextualizadas referentes Literatura Infantil.
Tivemos, contudo, polticas nacionais e legislaes que direcionaram a formaes de
professores no Brasil, Helena Costa Lopes Freitas em seu texto Federalismo e Formao
Profissional: por um sistema unitrio e plural, apresenta o documento final da Conferncia
Nacional de Educao destacando a formao de professores:
286
4
A autora nota que atualmente a qualidade dos cursos de licenciatura est vinculada ao
acesso dos acadmicos oriundos das classe populares promovendo a democratizao do ensino
superior no pas, por vezes financiada por polticas nacionais que asseguram o acesso. Para
medir a qualidade dos cursos de licenciatura temos dois sistemas de avalio: Sistema Nacional
de Avaliao da Educao Superior (Sinaes) e o Exame Nacional de Desempenho de Estudante
(Enade), que tem a difcil tarefa de traar o perfil dos cursos superiores no Brasil e revisar as
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formao de Profissionais do Magistrio para a
Educao Bsica.
Um possvel caminho para superar os desafios da formao com qualidade dos
professores que no findada apenas nos cursos de formao inicial, passa pela reflexo que o
prprio professor deve conceber sobre sua prxis, Isabel Alarco (2011, p. 44) em seu livro:
Professores reflexivos em uma escola reflexiva, fala da formao reflexiva do professor como
um ato consciente: a noo de professor reflexivo baseia-se na conscincia da capacidade de
pensamento e reflexo que caracteriza o ser humano como criativo e no como mero reprodutor
de ideias e prticas que lhe so existentes. O professor na escola pode se constituir
profissionalmente de maneira coletiva e colaborativa, e a escola pode ser o lcus para reflexes,
se a prpria escola se constituir como reflexiva.
Algumas polticas pblicas se apresentam como aes promotoras de reflexo da prxis
do professor, o Pacto Nacional pela Alfabetizao na Idade Certa (2012) um programa do
governo federal que busca equipara a relao idade/srie nas classes de alfabetizao do 1 ao
3 anos desta etapa da educao bsica, por meio da formao continuada, busca atravs dos
encontro refletir as prticas pedaggicas realizadas na escola e promover direitos de
aprendizagem das crianas das classes participantes, propondo contedos para alfabetizao e
promovendo a qualidade de livros e jogos direcionados s escolas, dentre os quais fazem parte
obras literrias.
Apresentamos a seguir, algumas reflexes sobre a Literatura Infantil brasileira e a
formao de professores, dialogando com Vera Maria Tieztmann Silva em seu livro Literatura
287
5
Infantil Brasileira: um guia para professores promotores de leitura. Para tanto faz-se
necessrio apresentar um panorama sucinto da literatura destinada a crianas e jovens no Brasil.
288
6
nos cursos de Magistrio que forma professores para atuar nos anos iniciais do Ensino
Fundamental do Ensino Mdio.
A prpria Lei de Diretrizes e Bases de 1996, em seu Art. 62 considera a formao na
modalidade Normal para professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental:
289
7
A relao estreita deve-se pelo objetivo dos cursos de formao de professores, cada
qual atendendo classes distintas, os pedagogos 1 ao 5 anos do Ensino Fundamental I e os
professores de letras alunos do 6 ao 9 anos e Ensino Mdio.
Segundo Silva (2009, p. 13), a funo do professor preponderante para formao
leitora dos alunos: cabe ao professor dos primeiros anos o papel mais importante, o de
despertar o gosto pela leitura, de seduzir o leitor desde os seus contatos iniciais com os livros,
antes mesmo que ele seja capaz de decifrar o cdigo escrito.
H uma crtica da autora quanto viso nos cursos de Pedagogia da disciplina de
Literatura Infantil, que deveria enfatizar mais a leitura:
290
8
Tabela 1
PROFESSORA A
1.
PROFESSORA B
Vivncia
Literria.
revistas em quadrinhos.
- Suas escolhas se modificando a medida
-Os
conhecimentos
sobre
universidade
foi
precria
universidade.
ticos e morais.
- Ideia fragmentada e escolarizada sobre
Literatura.
3. Prtica literria na
Escola.
Realizada
atividade
de
as
Caixas
do
PACTO,
registro mais especficos sobre este item tambm aponta ter contado, porm no a
da pesquisa.
descreve.
291
9
primeiro momento que experincias literrias iniciadas na escolas, com obras significativas,
podem favorecer a leitura deleite.
Coelho (2000, p. 27) nos ajuda a refletir sobre o valor literrio e a formao leitora:
Por fim a ltima categoria: Prtica literria na Escola, revela que o trabalho com
Literatura Infantil tem o propsito em atender o currculo das classes nas quais atuam e
exigncias da Secretaria de Educao. As prticas pedaggicas so fragmentadas e
descontextualizadas e apontam a utilizao/conhecimento breve sobre o acervo do programa
em que esto inseridas.
As evidncias nos levam a supor que o conhecimento literrio dos sujeitos da pesquisa
foram constitudos na infncia, a formao inicial no foi suficiente para explorar o
conhecimento sobre Literatura Infantil, no consideram a formao oferecida pelas polticas
pblicas vigentes, e indicam no haver reflexo continua sobre a prxis.
292
10
Um caminho possvel para o trabalho com obras literrias considerar o papel da leitura
no processo de letramento como mediadora tanto para o aluno, como para o professor medida
que o aluno constri conexes com o texto, que o aproxima de suas prprias experincias de
vida, estabelecendo intertextualidades e relacionando o texto a acontecimentos globais.
Ressaltamos a comunicao por meio da leitura literria como processo que demanda
respostas do leitor, no qual este se aproxima do texto de vrias maneiras, explorando os
diferentes aspectos, por exemplo, cognitivos, afetivos, estticos e sociais. Aprendemos a gostar
de ler pelas experincias que vivenciamos muitas vezes apenas na escola, como lembra Cosson,
ao atribuir sentido ao ato de ler:
Ler implica troca de sentidos no s entre o escritor e leitor, mas tambm com
a sociedade onde ambos esto localizados, pois os sentidos so resultado de
compartilhamentos de vises do mundo entre os homens no tempo e no
espao. (2009, p. 27).
Por fim, cabe ao professor garantir a formao dos alunos para a leitura, especialmente,
nas classes de alfabetizao, superando a formao inicial historicamente fragmentada e
conhecimento empricos sobre o leitura na escola. A tarefa rdua e requer reflexo sobre a
teoria e prtica, e programas efetivos que proporcionam discusses voltadas aos trabalho
realizado no interior da escola podem apontar avanos no trabalho com Literatura Infantil.
293
11
Referncias
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12
295
RESUMO
A amplitude do debate sobre a formao do professor no contexto atual brasileiro vem
ganhando relevncia no Programa Institucional de Bolsa e Iniciao a Docncia-PIBID.
Nesse contexto, o processo de alfabetizao tem representado um grande desafio nas aes
desenvolvidas na Escola Estadual Prof. Antnio Salstio Areias pelo PIBID/Pedagogia da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul/ Campus de Aquidauana. Questes que tem nos
instigado a ler mais, saber mais para contribuir com a realidade escolar na qual estamos
inseridas. Para tal discusso, apresentamos reflexes que foram alimentadas em sala de aula
na pedagogia e nas orientaes do trabalho de concluso de curso. Da termos como objetivo,
relatar experincias enquanto pibidiana nas aes desenvolvidas em salas de alfabetizao
com um olhar mais cuidadoso sobre como se ensina e como se aprende. Os encaminhamentos
pautaram primeiramente pelo levantamento bibliogrfico a respeito das indicaes
metodolgicas que envolvem as prticas de alfabetizao, bem como dos mtodos utilizados
pelos professores em sala de aula. E, as percepes nas observaes mostram que os
professores optaram por trabalhar com o mtodo fnico e silbico, porm considerado os
conhecimentos prvios dos sujeitos envolvidos. Os resultados dos estudos ainda apontam que
h muito para se descobrir no percurso da formao do professor alfabetizador, mas j
vislumbramos possibilidades de discernimento quando se trata de despertar na criana a
vontade de aprender.
Palavras chave:Alfabetizao;PIBID; Formao docente.
296
Nvoa coloca em destaque o perodo em que todos os olhares estavam voltados para a
concretizao da instituio escolar e, ainda, o fato de que a escola contempornea guarda
resqucios da educao sistematizada que foi pensada no final do sculo XIX. Desde ento, o
Estado no concebe a formao do cidado desassociada da educao escolar, sendo que para
explicitar essa ideia o autor empresta de David Tyack a expresso: The onebest system. O
modelo escolar imps-se como o nico melhor sistema, isto , como a nica forma
concebvel e imaginvel de assegurar a educao das crianas.(NOVOA, 2009, p.72).
Ainda sobre a consolidao da educao escolarizada, segundo Mortatti (2006):
297
Nesse sentido, aps a Proclamao da Repblica, o ensino das primeiras letras, antes
restrito ao lar e s poucas escolas onde precariamente aconteciam as aulas rgias, agora passa
a ser obrigatrio nas escolas pblicas, sendo necessrio para tal a formao de professores.
298
O que se viu nas dcadas seguintes foram as constantes disputas dos educadores
defensores dos mtodos sintticos e analticos, sendo essa rivalidade diminuda quando da
inclinao dos professores pelo mtodo global (de contos), que era amplamente utilizado em
diversos estados brasileiros. Entretanto, mais uma vez o mtodo no foi suficiente para
solucionar os problemas decorrentes da alfabetizao, o que fez com que se buscassem outras
solues para esses problemas.
Vale lembrar que, No grupo dos mtodos analticos, temos trs tipos principais: a
palavrao, a sentenciao e o mtodo global (ou dos contos ou das historietas)
(MORAIS, 2012, p.29). E que,
299
Agora seria necessrio comprovar que o aluno teria maturidade para aprender a ler e
escrever. Segue-se, ento, um perodo em que os professores passam a fazer uso de cartilhas,
que disponibilizavam mtodos mistos e tiveram forte influncia sobre a produo de materiais
didticos pelos professores, que pudessem auxiliar o processo de preparao dos educandos
estabelecer uma homogeneidade, a qual, segundo os conceitos vigentes poca, levaria a
obteno de xito no processo de alfabetizao.
Ainda segundo Mortatti:
A escola pblica, embora gratuita, no era para todos, ento surge a primeira seleo
de alunos para o ingresso nessas poucas escolas: os testes ABC. Adotados com a justificativa
300
Era preciso reverter a condio de despreparo das crianas das classes operrias e
caberia ao professor tal misso, uma vez que ele era o principal agente do processo de
alfabetizao. A concepo dos educadores era que toda criana aprendia da mesma forma, e
de maneira passiva.
Entretanto, o fracasso escolar em mbito nacional, apesar da metodologia utilizada,
exige medidas por parte dos educadores. Surge, na dcada de 1970, com o intuito de reverter
esse quadro, uma nova maneira de ensinar, [...] a alfabetizao sob medida, de que resulta o
como ensinar subordinado maturidade da criana a quem se ensina; as questes de ordem
didtica, portanto, encontram-se subordinadas s de ordem psicolgica. (MORTATTI, 2006,
p.10, grifos da autora). Em consequncia dessas mudanas necessrias no cenrio
educacional, em 1980 ficou conhecido no Brasil o pensamento construtivista, levando as
discusses a girar em torno do processo de aprendizagem e no mais dos mtodos de ensino.
301
O construtivismo entende como ser cognoscente todo indivduo que busca adquirir
conhecimento levando em considerao o meio em que vive, portanto cada criana aprende de
forma diferente e, sendo assim, seria necessrio desconsiderar a prontido.
Esse momento marcado pela apresentao dos estudos realizados por Emilia Ferreiro
e Ana Teberosky (1979), baseados na teoria de Piaget, que ficaram conhecidos como
psicognese da escrita e foram bastante difundidos no Brasil.
Pode se dizer que no Brasil o principal objetivo ao longo da histria da alfabetizao
foi uma busca pela homogeneidade dos educandos e pela definio de que [...], o conceito de
alfabetizao [...] em linhas gerais, significa, na leitura, a capacidade de decodificar os sinais
grficos [...] e, na escrita, a capacidade de codificar os sons da fala, transformando-os em
sinais grficos. (BRASIL, 2008, p. 10).
Os estudos de Ferreiro e Teberosky foram realizados nos anos de 1975 e 1976, na
Argentina, com crianas entre 4 a 6 anos de classes sociais distintas e visava compreender
como essas crianas aprendiam a ler e escrever, considerando suas experincias sociais e os
procedimentos metodolgicos utilizados, evitando o uso dos termos decodificar e
codificar. Nessa perspectiva, a Aprendizagem um processo de apropriao do
conhecimento que s possvel com o pensar e o agir do sujeito sobre o objeto que ele quer
conhecer. (RUSSO, 2012, p.31.).
Essa apropriao no surge simplesmente do exterior por interferncia do meio, ela se
d a partir do desenvolvimento do raciocnio lgico, e, cada criana constri seu
conhecimento de forma gradual ou em nveis, que, conforme Russo (2012), as pesquisadoras
definiram em cinco: Nvel 1- Hiptese pr silbica; Nvel 2- Intermedirio I; Nvel 3Hiptese silbica; Nvel 4- Hiptese silbico alfabtico ou Intermedirio II e Nvel 5Hiptese alfabtica. (RUSSO, 2012, p.32).
No nvel 1, ou hiptese prsilbica, a criana percebe a escrita como forma de
representar os objetos, seja em relao ao tamanho ou forma, pode usar indistintamente
letras e nmeros para escrever uma palavra e consegue interpretar sua prpria escrita.
comum nesse perodo a criana utilizar o desenho ou a garatuja como forma de fugir da
escrita propriamente dita.
O nvel 2, ou Intermedirio I, o perodo onde a criana j consegue desvincular a
imagem e os nmeros da escrita, se mostra bastante hbil na escrita de palavras previamente
trabalhadas como o nome
prprio
provenientes de contato com a escrita que lhe foram disponibilizados pelo contexto social.
302
Para o autor, a maioria dos mtodos concebe a aprendizagem de forma mecnica, onde
o professor transmite o conhecimento para o aluno que, por sua vez, recebe as informaes de
forma passiva, sem que haja a necessidade de desenvolvimento de processos mentais para que
a aprendizagem ocorra.
303
Ainda, quanto ao mtodo fnico, ainda bastante utilizado no Brasil, o mesmo autor
afirma:
Por trs dos mtodos fnicos est a crena de que os fonemas existiriam
como unidades na mente do aprendiz (que poderia no s apenas pensar
neles, mas, sem muito esforo, pronunciar /s/ /a/ /v/ /i/ /a/ para a palavrachave). Reivindicando que os nomes das letras (usados pelos defensores do
mtodo alfabtico) no traduzem os sons que as letras assumem, propem
que o aprendiz seja treinado a pronunciar fonemas isolados e a decorar as
letras que a eles equivalem, para, juntando mais e mais correspondncias
fonemas-grafemas, possa ler palavras e, um dia, ler textos. (MORAIS, 2012,
p.29).
304
Pode-se dizer que esses mtodos percebem o educando ainda em fase inicial de
alfabetizao como mero acumulador de informaes, sendo necessrio que fossem
desenvolvidas nestes as habilidades necessrias compreenso do sistema fonema-grafema,
habilidades estas idnticas as perceptveis em adultos j alfabetizados.
305
realidade do educando, cabendo ento a esses educadores a tarefa de produzir textos que
fossem significativos para o aluno.
No mtodo global ou dos contos, a criana seria exposta a narrativas
artificiais (sem qualidade literria, escritas especialmente para alfabetizar). O
grande todo, o texto seguiria, ento os passos do mtodo anterior : suas
frases seriam trabalhadas isoladamente e, do interior das mesmas, seriam
selecionadas algumas palavras, cujas slabas ou relaes fonemas,-grafemas
seriam enfocadas. (MORAIS, 2012, P.30).
Assim, pelo fato de que as inmeras tentativas dos defensores dos mtodos sintticos e
os dos mtodos analticos, considerados mtodos tradicionais, no obterem xito na
alfabetizao, continuou-se ainda a busca por variaes e combinaes entre os dois
segmentos, ficando essas junes dos mtodos conhecidas como mtodos eclticos ou mistos.
306
Com base nas fontes de pesquisas, tecemos consideraes sobre utilizao dos
mtodos fnico e silbico, por constatarmos que faz parte da prtica de um grande nmero de
professores alfabetizadores na escola. Nota-se o uso do livro didtico, entre os quais h os que
acrescentam materiais complementares tais como alfabeto mvel, literatura infantil,
desenvolvimento de projetos, todos esses recursos so com um nico propsito a
alfabetizao.
Um ponto considerado por Russo (2012, p.41) que ao planejar as atividades o
professor conhea o nvel de aprendizagem em que o aluno se encontra, sem essa verificao
o mtodo escolhido pelo educador pode tornar-se ineficaz. Em nossas observaes foi
possvel constatar tentativas com o objetivo de se atingir a homogeneidade dos alunos de
uma mesma turma,o que ainda segundo a autora pode causar danos ao processo de
aprendizagem, pois a alfabetizao s seria possvel diante de desafios colocados
pelo
educador, e que esses desafios ganhariam uma maior dimenso em uma sala heterogenia.
Dessa maneira a professora que ministra aula 40h na escola faz a seguinte seleo de alunos
nos perodos matutino e vespertino pelo nvel de conhecimento, sugerindo aos pais que
mudem as crianas de turno.
No 1 ano do Ensino Fundamental foi possvel verificar que a professora utiliza-se de
um cartaz com os nomes dos alunos, incentivando-os a observarem seus prprios nomes e
tambm os nomes dos colegas de sala que comeam com a mesma letra,destacando tambm a
posio das letras nos nomes e fazendo a relao grafema fonema, favorecendo dessa forma a
oralidade, essas metodologias que de acordo com as ideias de Russo (2012,p.42) seriam
pontos positivos para o processo de alfabetizao um vez que o educador deve instigar o
aluno a compreender o uso social da leitura e da escrita.
307
Consideraes finais
e tambm em conversas
informais entre os pais dos alunos, resultando assim em uma maior procura por vagas nas
turmas de alfabetizao da escola, sendo necessrio a abertura de mais duas salas de aula,
uma de 1 ano e outra de 2 ano.
Embora o subprojeto ainda encontra-se em andamento, podemos afirmar que o carter
inovador quanto as metodologias aplicadas tendo como norteadores a Arte e a ludicidade, tm
proporcionado a criana segurana ao expressar-se, dando-lhe tambm oportunidade de
evidenciar sua cultura,possibilitando assim uma maior interao entre o professor e o aluno
das salas de alfabetizao.
REFERNCIAS
BRASIL. Ministrio da Educao. Secretaria de Educao Bsica. Pr-Letramento:
Programa de Formao Continuada de Professores dos Anos/Sries Iniciais do Ensino
Fundamental. Alfabetizao e linguagem. Braslia, DF, 2008. Disponvel em:
http://portal.mec.gov.br/index.Acesso em 20 de Abr. de 2015.
FERREIRO, Emilia. Alfabetizao em Processo. So Paulo: Cortez, 1996.
308
309
1
Resumo
Introduo
Para se pensar em uma investigao cientfica h que se estabelecer o caminho que nos
levar ao que definimos como ponto de chegada. A pesquisa de carter fenomenolgico,
descritiva tem como referncia os trabalhos de Edmund Husserl.
[...] as cincias dos corpos nada tem a dizer, pois abstraem suas afirmaes
das percepes subjetivas. Para as humanidades, o carter rigoroso e
cientfico das mesmas requer que o pesquisador exclua todas as questes
1
310
2
do racional ou do irracional dos assuntos humanos e suas configuraes
culturais. De acordo com essa viso, a verdade objetiva e cientfica uma
questo exclusiva de estabelecer-se o que o mundo , tanto o fsico, como o
espiritual (HUSSERL apud BICUDO, 1970, p. 63).
Para esse autor a experincia humana tal como percebida pela pessoa
subjetivamente, pode ser considerada tanto cientfica como servir de objeto de pesquisa.
311
3
completa, que se baste, que se feche de alguma maneira sobre si mesma, de tal forma que no
tenhamos mais nenhuma questo vlida a colocar alm dela (2004, p. 6).
Para esse autor, a questo saber se a cincia ou o mtodo positivista tem condies
de negar e de considerar ilusrias as pesquisas que estejam embasadas por outras abordagens
metodolgicas que no a do positivismo. Nesse sentido pergunta-se: a cincia positivista daria
conta da subjetividade de cada um dos seus sujeitos? Como quantificar e determinar verdades
na complexidade do fenmeno humano no qual repousa diferentes olhares e percepes?
Com a ajuda do pensamento de Merleau-Ponty de que, associando nossa percepo
sensvel pesquisa cientfica possvel perceber o mundo como ele se apresenta, este
trabalho pretende captar nos discursos de dois licenciados em Msica que atuam na rede
estadual de ensino de Mato Grosso do Sul, as suas percepes sobre os seus fazeres dentro da
disciplina Arte, para a qual legalmente so habilitados, mas no so competentes, na medida
em que lhes cobrado que, alm da msica, demonstrem domnio dos contedos de artes
visuais, dana e teatro, implicando isso, em um fazer polivalente3.
Esse processo de polivalncia no ensino de arte d-se desde que a Arte foi includa no
currculo escolar de Educao Artstica pela Lei n 5.692/71 de Diretrizes e Bases da
Educao Nacional como atividade educativa e no disciplina. Dessa forma, o ensino
especfico das diversas formas de arte sofreu um processo de perda de qualidade na medida
em que professores licenciados em cursos como Educao Artstica, Artes Plsticas e outras
assumiram o papel de lecionar os contedos pertinentes ao saber musical. Desde ento, o
movimento arte-educao foi constitudo e professores passam a se organizar em entidades,
buscando nova orientao para o ensino da arte (PARECER CNB/MEC n 22/2005).
Com a Lei n 9.394/96, das Diretrizes e Bases da Educao Nacional, a
obrigatoriedade do ensino de Arte na Educao Bsica pe fim nas antigas discusses sobre
o eventual carter de no obrigatoriedade da disciplina. No art. 26, 2 da nova lei, o
ensino de Arte constitui-se deste ento em componente curricular obrigatrio nos diversos
nveis da Educao Bsica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos.
Com o intuito de ajudar o professor na elaborao de planos e projetos pedaggicos nas
3
O termo polivalente, segundo Houaiss (2001), significa assumir mltiplos valores ou oferecer vrias
possibilidades de emprego e de funo, a saber: ser multifuncional; que executa diferentes tarefas; ser verstil,
que envolve vrios campos de atividade; plurivalente; multivalente. Professor polivalente, no caso do ensino de
Arte, o professor que ensina as quatro linguagens artsticas na educao bsica dentro de uma nica disciplina.
312
4
313
5
Discusso e resultados
Segundo os trs passos da fenomenologia existencial de Merleau-Ponty a primeira
preocupao a descoberta da intencionalidade, ou a descoberta do sentido do objeto da
experincia para a conscincia (GOMES, 1997). Nesse sentido, os entrevistados foram
arguidos sobre qual o sentido ou motivao que tinham ao optarem pelo curso Superior de
Licenciatura em Msica. Os professores, aos quais chamaremos de P1 e P2, apresentaram
similaridades e diferenas na forma como fizeram tal escolha. As semelhanas residem na
forma como P1 tal qual P2 experenciaram a msica desde pequenos nos seus espaos de
convivncia como famlia e igreja. Percebeu-se que as diferenas se devem notadamente,
motivao. P1 relata de forma subjetiva e quase visceral sua predileo pela msica:
[...] Porque a msica sempre esteve presente em minha vida, assim, n? Eu j tinha
uma vida musical anterior faculdade de msica. [...] mas a faculdade foi porque, vamos
dizer que minha alma sempre pediu isso, n?
Sendo assim, P1 percebe que a opo pelo curso de graduao em Msica (o nico no
nosso Estado) seria o que melhor corresponderia aos seus anseios interiores de prosseguir
com os estudos de msica j inicializados em cursos livres, ficando implcito que a sua
escolha no se pautou em uma observncia a respeito da pertinncia e finalidade de uma
licenciatura nessa rea. Nessa perspectiva, pode-se inferir que P1, ao decidir por esta
graduao, ouviu ao sentido que gritava mais alto sem dar-se conta de outros prjulgamentos mais racionais.
J P2 demonstra uma intencionalidade objetiva e pragmtica partindo do ser-nomundo da sua experincia perceptvel anterior e, face escolha pela licenciatura em Msica,
permite afirmar que a realidade vivenciada por este, baseou-se em uma demanda que adere
mais razo que s de iluso de P1. P2 ento, fala:
[...] como minha famlia de msicos, eu j gostava de msica, achei que foi um
caminho assim, que estava mais prximo de mim.
Diante da perspectiva da obrigatoriedade em assistir disciplinas de carter pedaggico
durante percurso na licenciatura em Msica, P1 revela a sua insatisfao diante dessa
exigncia. P1 admite:
314
6
315
7
comunicao
(REFERENCIAL
CURRICULAR,
2012/ENSINO
316
8
317
9
[...] Acho que a gente tava sentindo na pele um pouco do que seria porque a gente
estava fazendo o estgio e tinha a possibilidade da regncia, depois da primeira etapa que
a observao [...] a gente tinha uma noo a partir daquele momento do estgio, de como
seria a nossa vida depois do estgio. A coordenao no falava em planejamento [...] E voc
tem que fazer o seu planejamento em cima do referencial.
Perguntados se existe liberdade para planejar o ensino de msica, as percepes se
diferenciam mais uma vez na fala dos entrevistados.
P1 se queixa da pouca representatividade da msica no referencial e a diversidade do
currculo na Arte para ele inconcebvel.
[...] No poderia dizer que eu tenho liberdade porque no referencial, por exemplo,
fala vagamente de msica e fala mais de artes visuais mesmo, minha formao msica e
ponto final. Como vou direcionar algo que eu no sei?
J P2 percebe a amplitude do referencial da Arte como uma grande liberdade, porm,
reclama da falta de sequncia no currculo de msica.
[...] Olha, o referencial amplo... ento voc tem uma liberdade muito grande...mas
no existe uma sequncia principalmente na rea da msica.
Percebe-se nas falas dos entrevistados as percepes conscientes ditadas pelas
experincias que vivenciam na escola. A linguagem , pois, este aparelho singular que, como
nosso corpo, nos d mais do que pusemos nela, seja porque apreendemos nossos prprios
pensamentos quando falamos, seja porque os apreendemos quando escutamos os outros
(MERLEAU-PONTY, 1984, P.XII)
Na hiptese de se poder lecionar msica como disciplina exclusiva no ensino regular,
qual a nfase que seria dada pelos entrevistados, pergunta o pesquisador: instrumento em si
ou msica como linguagem? Nas respostas a essa questo as percepes convergem, ou seja,
os dois, entendem que o ensino especfico da msica deve ser dado individualmente e P2
sugere tal ensino num momento diferente do perodo da aula.
P1 refora sua inteno e sua verdade sobre o ensino de msica:
318
10
[...] Eu acho que deveria ser dado o ensino da linguagem musical... propriedades
sonoras e harmonia, melodia , ritmo; a histria da msica ...porque o ensino do instrumento
deve ser individual.
P2 parece ter apreendido que a Arte ampla e que o ensino da msica parte desse
todo. Mas como P1 v o ensino de msica como disciplina especfica somente fora da escola:
[...] eu acredito que as crianas tem uma necessidade de se expressar nas artes alm
de msica, n?
[...] Agora, trabalhar com instrumentos uma coisa que eu no vejo possibilidade
dentro do contexto da escola pblica do ensino regular. O ensino de instrumento, canto
coral, para mim deve funcionar como projeto parte que se pode fazer parte do currculo
tambm, mas, no contraturno.
Consideraes finais
que
promovem
capacidade
adaptativa
flexibilidade,
P1
demonstra
319
11
A descrio das falas mostra a realidade vivida por esses professores, desvenda as
posturas destes revelando em cada um, modos de sentir, de perceber e definir o sentido de
suas experincias. P1 revelou maior dificuldade em relacionar-se com a realidade imposta
pelo Referencial Curricular, que exige do professor uma atuao polivalente. Alm disso, v a
prtica docente de forma frustrante. Segundo Merleau-Ponty afirma que cada ser s, e
ningum pode dispensar os outros, no por sua utilidade... mas para sua felicidade (2004, p.
50).
J P2 parece entender melhor a sua experincia, faz o que o currculo pede, e embora
frustrado, acha que o ensino de Arte, na escola importante para formao dos alunos. No v
possibilidade de um ensino de msica mais especfico como o de algum instrumento em si ou
o prprio canto coral, disciplinas abordadas na Licenciatura em Msica, porm ausentes nos
currculos de Arte da escola bsica.
A pesquisa tem o propsito de conhecer, em nosso caso, o mundo vivido comum aos
dois entrevistados e no s apropriar-se das subjetividades, mas num ato reflexivo, contribuir
para futuras pesquisas.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
320
12
321
Resumo
O presente estudo teve a perspectiva de buscar algum entendimento no que tange utilizao
das tecnologias digitais da informao e comunicao (TDICs) para a prtica docente. Este
trabalho teve como ponto de partida o levantamento bibliogrfico de pesquisas concernentes
temtica da associao entre as TDICs e o cotidiano de trabalho docente. O objeto analisado
teve como local de investigao uma escola estadual de Campo Grande, localizada na Regio
Norte da Cidade. Foram selecionados 4 sujeitos colaboradores do presente estudo. So
professores lotados na escola onde o estudo foi desenvolvido. Os mesmos ministram
diferentes componentes curriculares, sendo Fsica, Biologia, Sociologia e Literatura. Os
referidos sujeitos foram entrevistados e o produto das entrevistas serviu de base para a anlise
dos dados. A presente pesquisa utilizou a Fenomenologia como mtodo de investigao. Essa
abordagem, baseada nos pressupostos de Husserl (1983) faz uso de redues fenomenolgicas
sucessivas no intuito de elencar invariantes. Essas invariantes resultam na essncia do
fenmeno estudado. O processo de reduo fenomenolgica, mediado pela exposio das
unidades de significado, anlise eidtica e busca por elementos invariantes teve como produto
a expresso de 8 invariantes. Essas invariantes permitiram apontar que, no que tange
formao de professores, h uma branda evoluo pedaggica que inclui o reconhecimento
docente da necessidade de formao e a presena e uso de organizao didtica. Entretanto,
evidenciou-se a carncia de formao que possa contemplar as questes dialgicas,
construtivas e colaborativas, ou seja, que explore os potenciais das TDICs de forma reflexiva.
Palavras-chave: Formao de Professores, TDICs, Prticas Docentes.
Introduo
322
[...] professores e alunos tm contato durante todo o dia com as mais diversas
mdias. Guardam em suas memrias informaes e vivncias que foram
incorporadas das interaes com filmes, programas de rdio e televiso, atividades
em computadores e na internet. Informaes que se tornam referncias, ideias que
so capturadas e servem de ncora para novas descobertas e aprendizagens, que vo
acontecer de modo mais sistemtico nas escolas, nas salas de aula. Um programa de
TV, a notcia no telejornal [...] (KENSKI, 2011, p.85).
As pesquisas indicam que existe uma relao entre aprendizagem e quantidade de conexes neuronais. Assim,
se o indivduo estimulado a aprender determinado assunto, o crebro responde com aumento de conexes
cerebrais. O contrrio tambm ocorre: menos estmulo, menos conexes (FEINSTEIN, 2011).
323
Objetivos
Metodologia
O objeto analisado teve como local de investigao uma escola estadual de Campo
Grande, localizada na Regio Norte da Cidade. A unidade escolar funciona nos turnos
matutino, vespertino e noturno e oferece Ensino Mdio em todos os turnos.
O presente estudo teve como ponto de partida o levantamento bibliogrfico de
pesquisas concernentes temtica da associao entre as TDICs e o cotidiano de trabalho
docente. Essa tarefa teve como sequncia a observao in loco do ambiente escolar. Aps esse
procedimento, foram selecionados 4 sujeitos colaboradores do presente estudo. So
professores lotados na escola onde o estudo foi desenvolvido. Os mesmos ministram
diferentes componentes curriculares, sendo Fsica, Biologia, Sociologia e Literatura. Os
referidos sujeitos foram entrevistados e o produto das entrevistas serviu de base para a anlise
dos dados. A presente pesquisa utilizou a Fenomenologia como mtodo de investigao. Essa
abordagem, baseada nos pressupostos de Husserl (1983) faz uso de redues fenomenolgicas
sucessivas no intuito de elencar invariantes. Essas invariantes resultam na essncia do
fenmeno estudado.
324
Para desenvolver este trabalho, de cunho qualitativo, que teve a entrevista como
elemento fundamental de anlise, recorreu-se s ideias de Lcke e Andr (1986) para busca de
elementos que possam dar margens a interpretaes junto ao estudo de questes da rea da
Educao. Esses estudiosos tecem apontamentos acerca de procedimentos de entrevistas
voltados para pesquisas como as da educao e apontam que o instrumento entrevista, de
carter no estruturado, possibilita maior liberdade para os sujeitos, alm de permitir o
fortalecimento da interao entre entrevistado e pesquisador.
Assim, a captao imediata dos registros, junto tentativa de promover liberdade de
expresso aos sujeitos, foram estratgias que ampliaram a opo pela escolha da entrevista
como ferramenta elementar da presente investigao. Aps a captao dos discursos, realizouse manuseios com o referido material. Esses manuseios compreenderam a observao atenta
junto aos entrevistados, buscando colher elementos verbais e no verbais, como movimentos
corpreos, expresses faciais e gestos. Aps esses manuseios iniciais, foram realizadas
transcries, bem como leituras diversas do material no intuito de captar elementos que
pudessem ser inclusos s anlises.
Para fortalecer a tarefa de busca, as transcries foram comparadas aos materiais de
udio, visando auxiliar o processo de seleo das unidades de significado. Nessa etapa,
considerou-se a busca por entonaes, nfases durante as falas, pausas e retomadas de
expresses. Essas revisitaes so fundamentadas pela estudiosa Bicudo (2000), que pondera:
O texto todo da descrio importante, uma vez que fornece indicadores do solo
perceptual onde ocorre a experincia perceptiva. por isso que, nas pesquisas
fenomenolgicas, trabalhamos com a totalidade das descries. Estas so lidas e
relidas, tantas vezes quanto o pesquisador e seu grupo de pesquisa, composto por
seus interlocutores, acharem necessrio para que o descrito comece a fazer sentido,
para eles, luz da interrogao formulada (BICUDO, 2000, p.81).
325
Entendemos que o termo capacitao no contempla as aes pretendidas por uma formao reflexiva e
contnua. Mas optamos pela utilizao do referido termo em funo de sua popularidade. Assim, buscou-se
evitar a necessidade de esclarecimentos adicionais durante a entrevista. Acreditamos, entretanto, que uma
maneira mais contemplativa de abordar especificamente o assunto seria a utilizao do termo formao.
326
Discusso e resultados
Snteses eidticas
S1 expectativa docente pela aprendizagem do aluno
S2 facilita o trabalho
S2 poder de persuaso
S3 chamar ateno, despertar, motivar
S4 Fator de motivao, de conquista
S4 Perspectivas da professora, projetos
Invariantes
I 1 A tecnologia aliada
327
S1 uso de vdeo
S1 uso de AVA (Moodle)
S2 uso de blog
S3 uso de blog
S4 uso de vdeo
I 2 Uso de tecnologia
especfica
I 3 Melhor possibilidade de
realizao de metodologia
alternativa
1,2,3,4
I 4 Ao didtico e
pedaggica/ organizao
didtica
1,2,3,4
1,3,4
S1 desinteresse
S2 os alunos no aprendem o que esperado
S2- Dificuldade de adequao frente aos diferentes
contextos
S2 Alguns contedos no so contemplados pelas
possibilidades ofertadas pelas tecnologias
S3 a insero digital dos alunos no atende s demandas
escolares
S3 no envolvimento do aluno por falta de interesse
S3 uns se envolvem, outros no; uns tm domnio, outros
no
S4 adeso da maioria
S1 resistncia discente a padres
S1 produo discente fora do padro
S3 melhor aceitao de propostas que permitem fuga do
tradicional
S3 utilizam ferramentas que no auxiliam a
aprendizagem
S4 O comportamento do aluno na atualidade diferente
no que se refere concentrao
S4 Est inserido em uma atmosfera permeada por
recursos tecnolgicos da comunicao
S4 demonstra interesse pelo desenvolvimento de
habilidades associadas s TDICs na construo da
aprendizagem
1,2,3,4
I 7 Obstculos didtico-
1,2,3,4
2,3,4
I 6 Adoo do discente ao
ambiente virtual
328
2,3,4
pedaggicos
I 8 H necessidade de
formao docente adequada (s
demandas)
329
expositiva, outros atribuem tarefa aos alunos, como, por exemplo, buscar vdeos prontos ou
produzir stop motions3. Outro instrumento utilizado constantemente se refere ao blog. Essa
ferramenta tem se mostrado um elemento efetivo de intermediao entre professor e aluno, no
que se refere atualizao de cronogramas e aes a serem desenvolvidas pelos discentes.
Tambm serve como canal de interao para links direcionados a outros sites ou a atividades
propostas pelo professor. Para Kenski (2011), os blogs podem servir como espaos
organizados colaborativamente. Nele, os estudantes podem colocar resumos, anotaes,
exerccios e tudo o que for de seu interesse. Em interao com os outros alunos e demais
pessoas que visitem as pginas, podem receber informaes e oferecer colaborao para a
realizao das atividades escolares (KENSKI, 2011, p.122).
Com relao terceira invariante (Melhor Possibilidade de Realizao de Metodologia
Alternativa), chamou a ateno o destaque dado pelo discurso docente questo da
praticidade. Para os educadores entrevistados, as TDICs facilitam o trabalho do professor, no
sentido de objetivar as tarefas. Outro ponto registrado diz respeito a diversificadas maneiras
de se apropriar das TDICs, ou seja, as ferramentas oriundas das TDICs oferecem meios
alternativos para abordar as atividades propostas. Sandholtz e outros (1997) lembram que
desenvolver as aulas em ambiente que permite a apropriao das TDICs pode favorecer novas
modalidades de construo, pautadas em aes dialgicas e colaborativas.
O vis colaborativo apontado acima converge com as ideias de Lvy (1999), que
aposta no potencial da Internet, mediada pela interao, interatividade, ambiente wiki e outros,
como poderosa ferramenta de fortalecimento de aes dialgicas coletivas e construtivas de
saberes.
Outra invariante revelada na pesquisa diz respeito Ao Didtico-pedaggica /
Organizao Didtica. Os apontamentos do presente estudo indicam que os professores fazem
uso de aes planejadas. Os referidos reconhecem que o planejamento das prticas didticas
de suma importncia. Esses sujeitos utilizam de estratgias que tem por objetivo minimizar os
problemas no ambiente de aula, como falta de estrutura fsica, por exemplo. Os docentes
demonstraram se apropriar do uso de padro estabelecido, bem como de abordagem passo a
passo. Estes profissionais executam a sequncia didtica para nortear os processos didticos.
Foi percebido que os referidos realizam preparao do ambiente para colocar em prtica o que
j est criado. Outro ponto a ser evidenciado, diz respeito ao reconhecimento da
Stop motion uma tcnica de animao a partir de imagens estticas, como fotografias por exemplo, que so
exibidas sequencialmente, quadro a quadro, produzindo efeito de imagem em movimento.
330
corresponsabilidade, uma vez que o professor afirma que o aluno tambm responsvel pelo
processo de aprendizagem.
Outra invariante encontrada na presente pesquisa trata da Expectativa Docente por um
Contexto Invariante e Sempre Favorvel e aponta que os professores, ao desenvolverem o
projeto das aulas, o fazem em meio a expectativas de que o fazer pedaggico planejado
acontecer conforme a situao idealizada. Assim, discursos relatam o desinteresse do aluno
como ponto negativo no que se refere abordagem dos recursos tecnolgicos. O contexto
esperado frustrado quando no h adeso de todos os alunos quanto ao envolvimento nos
trabalhos. Um dos motivos que intensifica a frustrao docente est no fato de que uns tm
domnio dos instrumentos da tecnologia digital e outros no. Outro ponto diz respeito ao
desencontro existente entre os recursos tecnolgicos ofertados pela escola e a insero virtual
dos alunos, que geralmente est alm das possibilidades da unidade de ensino.
A necessidade de um contexto facilitador vai ao encontro da sexta invariante revelada
no presente estudo: trata-se, pois, da Adeso do Discente Ambiente Virtual. Registramos que
o professor cria uma expectativa referente ao aprendizado do aluno. A resposta discente, em
alguns casos, se apresenta fora do padro adotado pelo professor. Tem-se, dessa forma, uma
resistncia dos alunos s sistematizaes esperadas pelo professor. Uma das explicaes para
o discorrido pode estar no perfil desse aluno, que demonstra ter melhor aceitao s propostas
que permitem fuga de instrumentos e prticas tradicionais de ensino.
Assim, as queixas dos professores relacionadas ao desinteresse dos alunos, ao fato de
que estes utilizam as ferramentas de forma inadequada, apontam para a convergncia
existente entre o perfil da escola tradicional e o comportamento do estudante na atualidade.
Esse
comportamento
abrange
elementos
que
esto
intrinsicamente
ligados
ao
331
diversos caminhos propiciados pela teia, auxiliada pelas convergncias miditicas. Assim, a
utilizao das TDICS pode servir como um facilitador para a busca da autonomia discente.
A importncia da escola para o aluno da era digital tem diminudo. Essa afirmao
corroborada por Serres (2013) que registra, ainda, que o excesso e intensidade de exposio
da mdia, em forma de propaganda, aliado ao ambiente permeado pelo intenso uso de
imagens, tm influenciado sobremaneira o funcionamento cerebral dos estudantes. Essas
crianas podem manipular vrias informaes ao mesmo tempo. No conhecem, no
integralizam nem sintetizam da mesma forma que ns, seus antepassados (SERRES, 2013,
p.19).
Esses apontamentos podem ser complementados pelos estudos de Feinstein (2011), ao
afirmar que o uso do computador tem influenciado transformaes no crebro dos
adolescentes. Tais estudos revelaram que o uso da informtica atua em aspectos como
motivao, auxlio e modalidade de busca de informaes. H efeitos positivos da utilizao
da Internet, segundo a estudiosa. Feinstein (2011) afirma que os internautas tm as atividades
do lobo frontal duplicadas, quando comparados aos que fazem uso espordico da Rede
Mundial. A supracitada estudiosa lembra, entretanto, que medidas adequadas devem ser
consideradas para que o aproveitamento das TDICs seja de fato um aliado para o processo
educativo (Feinstein, 2011).
Diante do exposto, cabe tecer uma observao acerca da relao estabelecida entre
escola e docentes inseridos no mundo virtual. Parece existir uma interao conflituosa junto
ao dilogo dessas categorias, uma vez que enquanto a escola fala em ler o livro, copiar e
discar, o estudante fala em fotografar, baixar, digitar, curtir e compartilhar. Pode-se afirmar
que a escola no tem sido capaz de estimular o aluno da gerao digital e fazer com que este
entenda que a entidade escola faz parte do seu contexto. Veen e Vrakking complementam que
Alm da questo do contedo, as salas de aula feitas com giz e voz no so
interessantes para o Homo zappiens. So aulas que contrastam muito com o seu
modo de ser. O contraste muito grande para com sua vida fora da escola, em que
ele tem controle sobre as coisas, h conectividade, mdia, ao, imerso e redes.
Como aprendiz na escola ele se sente forado a ser passivo e a ouvir o que o
professor explica (VEEN; VRAKKING, 2009, p.47, grifos dos autores).
332
currculo tambm pode ser entendido como um empecilho para o processo de aprendizagem.
Professores afirmaram que para alguns contedos, as TDICs podem atuar de forma mais
efetiva, para outros nem tanto. Tambm ouve direcionamentos quanto ao comportamento dos
alunos. Os discursos afirmaram que grande parte dos alunos se envolve nas aes propostas,
entretanto, h um reduzido nmero de alunos que causam problemas, no que se refere ao
envolvimento e participao junto s atividades.
Ainda sobre formao, alguns discursos apontaram que a falta de incentivo financeiro
um agravante para o envolvimento dos professores nas formaes propostas. E mais, a
formao ofertada pelo Estado no tem sido motivadora tambm por conta do horrio das
ofertas, segundo os sujeitos.
Quando invariante 8, derradeira invariante elencada no presente ensaio, H
Necessidade de Formao Docente Adequada (s Demandas), o discurso dos professores
apontou que capacitao pontual no eficiente. Os docentes demonstraram necessidade em
ter mais conhecimento acerca da aplicao das TDICs no processo de aprendizagem.
O ambiente de ensino atual herdeiro de propostas educacionais oriundas de polticas
pblicas que visavam universalizar a educao. Assim, houve um aumento expressivo na
quantidade de pessoas que passaram a ter acesso escola. Entretanto, o avano quantitativo
no veio acompanhado de melhoras qualitativas capazes de oferecer uma estrutura mnima
que pudesse ser considerada adequada. Canrio (1999) denuncia que houve, inclusive
frustrao por parte de otimistas inseridos no campo educacional, apesar de promessas
constantes de melhoras que at ento no aconteceram. Segundo Canrio (Id.), a frustrao
intensificada quando a escola adere perspectiva predominantemente utilitria, o que tende
a relegar para um plano secundrio o valor de uso dos saberes escolares (CANRIO, 1999,
p.272, grifos do autor).
A perspectiva de formao exposta no valoriza o contexto docente da Educao
Bsica, ignora suas vivencias e se desvincula, assim, do aporte reflexivo defendido, entre
outros por Perrenoud (2002) que afirma a necessidade de criao de vnculos e partir daquilo
que o aprendiz domina. O estudioso aponta, ainda, que o papel do formador no deve ser o de
fornecedor de informaes e apresentador de modelos ideais. Pode-se invocar as
resistncias irracionais mudana, mas ser que isso no muito limitado?
(PERRENOUD, 2002, p.23, aspas do autor).
Para Belloni (1999) a formao ofertada aos professores desvinculada da realidade
escolar e esse fato reconhecido pelos professores. De acordo com a estudiosa, esse
reconhecimento docente positivo, uma vez que tal condio pode facilitar a busca reflexiva
333
por uma mentalidade de procura por formao e essa procura tende a gerar uma demanda que
dever ser atendida pelos mantenedores da Educao.
A formao inicial um ambiente permeado por aspectos que demonstram a falta de
eficcia das universidades no que se refere a atendimento das demandas. Essa afirmao est
relacionada disponibilidade de um servio capaz de atender a comunidade escolar
considerando suas particularidades, bem como um servio que esteja prximo do contexto da
referida comunidade. Este um espao a ser preenchido. Trata-se, pois do intervalo existente
entre o saber da academia ofertado ao formando e a realidade desse formando quando inserido
na docncia (ZEICHNER, 2010).
Para Zeichner (Id.), apesar do aumento da quantidade de programas universitrios, h
ainda a falta de ligao entre os cursos de formao de professores e o cho da escola. O
referido estudioso aponta que h tambm uma falta de domnio, por parte do professor, das
questes metodolgicas. Para complementar o exposto, os professores universitrios no
conhecem, de fato, o contexto ou a metodologia aplicados pelos professores regentes. Assim,
existe um distanciamento entre a academia e a prtica dos estgios.
Canrio (1998) entende que a experincia um aspecto relevante para a formao. O
autor defende que com base no que o professor tem como bagagem que se deve partir em
direo a novas descobertas. Desse modo, qualquer ao de formao que ignore o
conhecimento prvio do professor caminha para um processo de formao que no se pauta
em aspectos reflexivos.
Desse modo, fazer uso das TDICs para fortalecer a formao dos professores uma
ao promissora e deve ser entendida como uma forma de contemplar os potenciais
pedaggicos promovidos pelas referidas tecnologias. Para tanto, necessrio que tal processo
de formao faa uso de uma abordagem crtica, reflexiva e contnua. Promover esse perfil de
formao requer aes dialgicas de construo coletiva, ao contrrio de imposies ou
receitas prontas unilaterais. Outro ponto, levantado por Kenski (2011), diz respeito a
condies de trabalho. Para a autora, promover reflexo junto ao professor e deixar que o
mesmo desenvolva suas atividades no mesmo ambiente desprovido de estruturas fsicas, e
outras, torna difcil a mudana almejada por essa modalidade de formao. Kenski (Id.)
afirma, ainda que:
No possvel impor aos professores a continuidade da autoformao, sem lhes dar
a remunerao, o tempo e as tecnologias necessrias para a sua realizao. As
imposies de mudana na ao docente precisam ser acompanhadas da plena
reformulao do processo educacional (KENSKI, 2011, p.206).
334
Nesse sentido pode ser pertinente a atitude de defesa do professor que adota a postura
de no compartilhar a responsabilidade pelo processo de aprendizagem. Entretanto, Perrenoud
(2010) afirma que a insatisfao do professor diante de seus afazeres no deve ser alimentada
pelo ataque postura e atitude do aluno, somente. Cabe a uma atitude reflexiva no sentido de
que esse docente pode dar um passo importante e admitir que seus alunos so o que so e
que mais oportuno trabalhar com variveis que podem mudar [...] (PERRENOUD, 2002,
p.136, aspas do autor). O referido estudioso complementa alegando que tal atitude difcil de
ser concebida pelo educador, uma vez que no fcil assumir-se e apontar-se tambm como
parte do problema.
Diante do exposto, cabe a afirmao de que a ao reflexiva entende a importncia da
formao promovida pela universidade e busca justamente fortalecer o papel desta instituio
atravs da integrao dialgica entre escola e universidade, valorizao profissional daquele
que se encontra na base do sistema educacional e mediao de aes que minimizem a
distncia entre academia e escola.
Resultados
335
pela promoo de momentos colaborativos entre os pares, na busca por melhorias das
situaes didticas contextualizadas em cada realidade escolar.
Referncias bibliogrficas.
BELLONI, Maria Luiza. Educao a distncia. Campinas: Autores Associados, 1999.
CANRIO, Rui. A escola: o lugar onde os professores aprendem. Revista Psicologia da
Educao. v.6, n.10,p.2-27, 1998.
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organizao da escola e do trabalho pedaggico. So Paulo: Editora Unesp, 1999.
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v.5, n.1, p.71-84, out de 2011. Disponvel em:< www.learnquebec.ca>, acesso em 10 de ago/
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HUSSERL, Edmund. Ideas Pertaining to a Pure Phenomenology and to a
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KENSKI, Vani Moreira. Educao e tecnologias: O novo ritmo da informao. 8.ed. So
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LDKE, Hermengarda Alves; ANDR, Marli E.D.A. Pesquisa em Educao: abordagens
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PERRENOUD, Philippe. A prtica reflexiva no ofcio de professor: profissionalizao e
razo pedaggica. Porto Alegre: Artmed, 2002.
SERRES, Michael. Polegarzinha. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2013.
VEEN, Wim. e VRAKKING, Ben. Homo Zappiens: educando na era digital. Porto Alegre:
Artmed, 2009.
ZEICHNER, Ken. Repensando as conexes entre a formao na universidade e as
experincias de campo na formao de professores em faculdades e universidades.
Educao, Santa Maria, v. 35, n. 3, p. 479-504, set./dez. 2010.
336
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo apresentar os resultados de forma descritiva das atividades
desenvolvidas durante a disciplina de Estgio I do Curso de Sociologia, habilitao Licenciatura, do
Centro Universitrio Leonardo da Vinci UNIASSELVI. Nossa pesquisa foi de cunho qualitativo,
sendo realizada na Escola Estadual Amando de Oliveira situada no municpio de Campo Grande
MS, onde foram realizadas observaes e entrevistas semiestruturadas com dois professores,
contendo 10 questes, cuja as anlises apresentamos neste paper de estgio I, tendo como objetivo
analisar em uma perspectiva educativa e sociolgica as perspectivas dos professores que lecionam a
disciplina de sociologia a respeito do ensino e aprendizagem dos conhecimentos sociolgicos no
ambiente escolar.
Palavras-chave: Sociologia, Professores/as, Ensino, Aprendizagem.
1 INTRODUO
O presente trabalho de estgio objetiva uma melhor compreenso sobre o ensino e a
aprendizagem da Sociologia na Escola Estadual Amando de Oliveira. Nesse sentido, os
participantes dessa pesquisa sero dois professores que lecionam a disciplina de Sociologia da
escola acima citada, localizada no municpio de Campo Grande- MS. Nosso interesse observar e
identificar de que maneira a Sociologia vem se desenhando, no estado de Mato Grosso do Sul,
desde de sua obrigatoriedade firmada pela Lei Federal 11.684/08.
Para tanto, desenvolveremos uma coleta de dados baseada em um roteiro de entrevistas
semiestruturado, pois guiam o entrevistado para respostas em torno de um tpico ou pergunta sugerido
pelas pesquisadoras, conforme suas necessidades de pesquisa, mas que aproveitam, ao mesmo tempo,
Graduada em Cincias Sociais - UNESP - Campus de Marlia. Discente do Mestrado acadmico em Letras da
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul - UEMS. Unidade de Campo Grande. Docente do Curso de Licenciatura
em Sociologia
do Centro Universitrio Leonardo da Vinci - Uniasselvi. E-mail Eletrnico:
[email protected].
2
Graduada em Cincias Sociais pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS. Discente do Curso de
Sociologia do Centro Universitrio Leonardo da Vinci - UNIASSELVI. Discente do Curso de Pedagogia da
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul - UEMS. E-mail Eletrnico: [email protected].
337
2
consideraes que o entrevistado achar pertinentes, capazes de explicar e justificar suas opinies,
posicionamentos e prticas.
338
3
seu entendimento sobre educao, a importncia dessa disciplina no currculo e o seu papel na
formao humana integral do estudante.
Sendo assim, as vivencias e experincias do estgio curricular obrigatrio I, possibilita ao
acadmico, entre outras coisas, conhecer o ambiente escolar, sua organizao, estrutura, corpo
docente e as limitaes encontradas no contexto do cotidiano escolar, aqui entendido como aquilo
que nos dado a cada dia (ou que nos cabe em partilha), nos pressiona dia aps dia, nos oprime,
pois existe uma opresso do presente (CERTEAU, 1988, p. 31).
Para iniciar as reflexes sobre a Sociologia como disciplina escolar no Ensino Mdio
necessrio buscar o sentido da escola na qual segundo Arroyo no se define basicamente como um
lugar de falas, mas de prticas, de afazeres. (ARROYO, 2000, p. 152). Nesse sentido, preciso
refletir as prticas utilizadas em sala de aula e as possibilidades de mudana para uma Sociologia
que faa o aluno refletir sobre sua sociedade.
O Socilogo Paulo Meksenas (1995) ao discutir em seu artigo sobre o ensino de Sociologia
na escola secundria, discute a respeito dos mtodos e afirma que preciso encontrar formas
diversas de transmitir os contedos de Sociologia sem que os mesmos fiquem limitados apenas ao
conceito terico, mas tambm que no os deixe de usar. de grande importncia sensibilizar e
estabelecer no estudante uma compreenso da sociedade em que vive atravs das teorias
sociolgicas.
[...] cursos excessivamente conceituais e tericos, onde o aluno est diante de uma
Sociologia que parece no ter significado algum. o aprendizado da teoria pela
teoria. Outros professores, na busca de evitar esse tipo de curso, se dirigem ao
oposto: descartam o aprendizado dos autores clssicos e abordam apenas as
questes conjunturais presentes na sociedade brasileira. O limite desta outra
concepo de contedos no leva em considerao de que impossvel a anlise da
sociedade brasileira contempornea, sem associar essa anlise ao arcabouo terico
da Sociologia. So cursos que, ao se prenderem na simples descrio dos
acontecimentos sociais, tornam - se puramente jornalsticos. (MEKSENAS, 1995,
p.70).
Para chegar a tal objetivo necessrio que o professor no trabalhe com as teorias
sociolgicas de forma engessada, mas que possa abordar os conceitos tericos, seja atravs de
filmes, teatros, msicas, deste modo, aproximando a compreenso da sociologia realidade do
estudante.
3 VIVNCIA DO ESTGIO: Descrio da unidade escolar
A Escola Estadual Amando de Oliveira na qual foi realizada a entrevista semiestruturada
com dois professores, de natureza pblica e tem suas instalaes na periferia de Campo Grande
MS. A mesma funciona nos perodos diurnos e noturno, ofertando cursos da educao bsica nas
etapas do ensino fundamental, mdio e tcnico.
339
4
340
5
financeiros disponveis hoje so para comprar a merenda escolar, para realizao de pequenos
reparos e servios de manuteno; recursos do programa dinheiro direto na escola PDDE,
Proeni/JF, tambm. A direo escolar presta contas da aplicao de todos os recursos, conforme a
legislao vigente por meio de processos instrudos. Os livros de ponto do corpo docente so
impressos na prpria unidade escolar. (PROJETO POLITICO PEDAGOGICO DA ESCOLA,
2013).
Segundo o PPP (2013) a escola apoia-se na concepo scio interacionista, em que o homem
precisa construir o seu conhecimento, preocupar-se com uma sociedade livre, justa, solidria e
inclusiva. Para a elaborao do Projeto Poltico Pedaggica da instituio contou com a colaborao
e participao da direo escolar, coordenadores, professores, funcionrios administrativos, pais e
alunos. (PROJETO POLITICO PEDAGGICO DA ESCOLA, 2013).
A instituio tem como misso garantir um ensino de qualidade resgatando valores, levando
o aluno a uma aprendizagem significativa, com respeito, justia e solidariedade, visando o pleno
desenvolvimento do educando e o seu preparo para o exerccio da cidadania.
Sua viso educacional tendo em vista o PPP da escola (2013) marcada pela preocupao
com uma educao de qualidade mediante sua tradio, seriedade, responsabilidade e oportunidade
de cursar toda educao bsica na mesma instituio, desenvolvendo atividades com a participao
efetiva da comunidade, respeitando valores individuais elevando a autoestima, contribuindo para a
formao na sociedade atual. (PROJETO POLITICO PEDAGOGICO DA ESCOLA, 2013).
Os valores que norteiam a escola se baseia nos princpios ticos, polticos e estticos e
enfatizam a transparncia, a comunicao sincera e aberta com a comunidade escolar interna e
externa, respeitando a opinio, o direito de cada um dentro e fora da escola.
Durante as observaes de estagio I pode-se evidenciar que a escola atende uma clientela
bastante diversificada de diversas camadas sociais. A populao apresenta uma formao tnica
variada, caracterizada por trabalhadores de diversos setores e pequenos comerciantes. A regio
totalmente asfaltada com predominncia de intenso trafego automotivo.
De acordo com o projeto poltico pedaggico da escola, a disciplina de sociologia tem
como objetivo fazer com que o aluno tenha capacidade crtica e reflexiva sobre as questes da
sociedade. Olhar de forma mais questionadora as formas de organizao social e seus problemas,
bem como, o poder, as culturas, valores sociais dentre outros. E essa reflexo o aluno far com base
em suas experincias no contexto social e familiar em que est inserido, sendo capaz assim de
interagir com o meio social de forma tica e solidria.
Fazendo uma anlise do plano de aula de alguns dos professores de sociologia
entrevistados, constata-se que existe compatibilidade com o plano de ensino que a escola dispe. De
certa forma constata-se tambm, uma aproximao com os parmetros curriculares nacionais
341
6
(PCN), no que tange aos conceitos estruturadores da sociologia (trabalho, cultura e cidadania) e
eixos temticos apresentados.
Porm, a disciplina de sociologia dispe de apenas trinta e trs horas semanais, uma aula
semanal com durao de 50 minutos, o que torna invivel, segundo os professores, desenvolver os
contedos de forma integral, discuti-los em sala de aula com os alunos, realizar avaliaes e criar
meios para que o aluno expanda seu senso crtico. Ou seja, os professores sentem-se limitados para
desenvolver de forma plena suas prticas didtico-pedaggicas.
Regime
Formao
20
hrs/semanais
13
hrs/semanais
Pedagogia
Cincias
sociais
A escola conta com dois professores na disciplina de sociologia, mas como se pode ver na
tabela, apenas um destes professores tem sua formao no curso de cincias sociais Bacharel.
342
7
Em princpio as falas evidenciam aquilo que se espera da educao como um todo, aquela
que transmite o conhecimento para o homem sem distino social, econmica, cultural e alerta
sobre a prpria funo educativa da instituio escolar. Esse o sentido que d Paulo Freire (1986)
educao enquanto instrumento de transformao da sociedade [...] atravs da educao, podemos
de sada compreender o que o poder na sociedade, iluminando as relaes de poder que a classe
dominante torna obscuras. Tambm podemos preparar e participar de programas para mudar a
sociedade. (Freire, 1986, p. 44).
Quando perguntado sobre qual o referencial terico de formao e de trabalho utilizado pelo
docente ambos disseram:
Utilizo o referencial terico enviado pelo MEC, como por exemplo: Tomazi,
Nelson Dcio. Tambm utilizo a linha histrico critico, busco trabalhar com uma
prtica de maneira contextualizada. (MJR, Entrevista na escola, 27/04/2015).
Utilizo um pouco de Paulo Freire e dos tericos do livro didtico como Tomazi.
(PRA, 27 anos, Entrevista na escola, 30/05/2015).
A Sociologia est associada conforme as perspectivas dos professores como uma cincia que
permite que o aluno possa vir a refletir e levar a criticidade, sendo assim, tem seu posicionamento
frente realidade social, tendo como objetivo a transformao social, a mudana da ordem
instituda. Essa persistncia de ver uma relao positiva entre a Sociologia e a viso crtica, se
343
8
mantm pela influncia histrica das dcadas de 70 e 80 no Brasil tambm, parece ser estimulada
pelos textos legais que hoje regem o ensino no Pas.
Quando perguntamos aos docentes com que frequncia realizado o planejamento das aulas
de sociologia (diariamente, semanalmente, anualmente)? Voc define os objetivos para cada aula?
Os objetivos so centrados nos alunos e apresentados turma? Quais alternativas que o professor
busca para lidar com limitaes (espao fsico, falta de material pedaggico e nmero excessivo de
alunos):
A forma como os professores conduzem suas aulas buscando diferentes maneiras dos alunos
compreenderem e entenderem o contedo. So pequenas mudanas como essa no cotidiano escolar
que auxiliam na construo de prticas e concepes de ensino e aprendizagem que ajudam no
exerccio de torn-los cidados crticos. Conforme Freire (2001) aponta que a experincia dialgica
fundamental para a construo da curiosidade epistemolgica. So constitutivos desta: a postura
344
9
crtica que o dilogo implica; a sua preocupao em apreender a razo de ser do objeto que medeia
os sujeitos dialgicos. (FREIRE, 2001, p. 81).
Sobre suas formas de avaliao da aprendizagem dos estudantes no que diz respeito
cidadania, reflexo e crtica os professores comentaram que:
Analise e reflexo sobre a sociedade a atravs de situaes problemas, estudos de
caso e charges. (MJR, 50 anos, Entrevista na escola, 27/04/2015)
Minhas avaliaes normalmente so realizadas por meio de seminrios e provas
escritas s que dissertativa com o intuito de verificar o que o aluno assimilou do
contedo estudado. (PRA, 27 anos, Entrevista na escola, 30/04/2015).
345
10
elevado de alunos, fazendo com que os alunos no alcancem a aprendizagem com tanta qualidade.
Um agravante para isto est no fato de que a disciplina de sociologia possui uma carga horria
muito baixa se comparada com outras disciplinas, ela ocorre apenas uma vez na semana com
durao de 50 minutos.
Diante dos aspectos apresentados sobre a Sociologia do Ensino Mdio na referida escola,
conclui-se em relao escola que esta dispe de boa estrutura fsica, porm apresenta carncia de
recursos humanos e didticos para o atendimento integral de certos departamentos, como por
exemplo, o laboratrio de informtica e biblioteca.
O sistema de ensino visa formar alunos e cidados mais crticos capazes de reconhecer os
problemas sociais e suas possveis solues, capazes tambm de compreender o seu lugar e papel no
mundo. Sendo a sociologia um elemento fundamental e propiciador desta capacidade, cabe ao
sistema valorizar esta disciplina para que esta possa ser ministrada com maior qualidade e alcanar
seus objetivos to necessrios para a sociedade.
REFERNCIAS
CERTEAU, Michel. GIARD, Luce. MAYOL, Pierre. A inveno do Cotidiano: 2. Morar e Cozinhar.
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Desenvolver a perspectiva sociolgica: objetivo fundamental da disciplina no Ensino Mdio.
Revista Espao Acadmico. Ano I, n5. Out. 2001.
346
11
ANEXOS
ROTEIRO DE ENTREVISTA Estgio I
I - Dados de Identificao:
Iniciais do Nome:
Idade:
Etnia:
Sexo:
Formao acadmica:
Experincia profissional (tempo de atuao com a Educao):
Regime de trabalho:
Tempo de atuao na escola atual:
Tempo de docncia na disciplina de Sociologia:
Mora no bairro e ou municpio no qual a escola encontra-se edificada:
Local de realizao da pesquisa:
Data de realizao da pesquisa:
347
12
FOTOS DA ESCOLA
348
349
14
350
15
351
RESUMO
Neste trabalho apresentamos um recorte de uma pesquisa, que trata do professor particular e suas
formas de atuao. Nesse momento nos propomos a focalizar a forma como esse profissional se faz
presente e os benefcios dessa ao na formao dos estudantes agentes da Educao Bsica. O
referencial terico que orienta nossas investigaes, deriva da obra de Pierre Bourdieu e seus
interlocutores. A teoria bourdieusiana nos ajuda a compreender a atuao e o trabalho do professor
particular, quando nos apresenta as discusses sobre o acmulo dos capitais dos agentes. A partir
desse acmulo de capitais os agentes idealizam estratgias e fazem investimentos na escolarizao
de seus filhos, buscando o que denominamos de sucesso escolar. Para desenvolver nossa pesquisa,
realizamos um levantamento bibliogrfico seguido da anlise de sites que oferecem o servio do
professor particular, realizamos entrevistas com professores e gestores de uma franquia que
trabalha com reforo e acompanhamento escolar. Os resultados sinalizam que a questo do trabalho
individual realizado com os alunos valorizado pelos professores, que buscam adequar-se ao
mercado oferecendo novas formas de atendimento aos alunos.
Palavras-chave: Professor Particular; Parentocracia; Escola
INTRODUO
Este trabalho faz parte de uma dissertao em desenvolvimento sobre a ao dos pais na
escolarizao dos filhos, um movimento denominado de parentocracia. A partir das investigaes
sobre a parentocracia nota-se a presena muito forte dos professores que atuam atendendo alunos
de forma individual e objetivando o enfrentamento de dificuldades especficas de aprendizagem, o
professor particular.
A anlise sobre a parentocracia, a chamada ao dos pais em relao a escolaridade de seus
filhos, justificada pelo referencial terico bourdieusiano escolhido para orientar nossas
investigaes.
[] Bourdieu nega, da forma mais radical possvel o carter autnomo do sujeito
individual. Cada indivduo caracterizado, pelo autor, em termos de uma bagagem
socialmente herdada. Essa bagagem inclui, por um lado, certos componentes
objetivos, externos ao indivduo, e que podem ser postos a servio do sucesso
escolar. (NOGUEIRA; NOGUEIRA, 2014, p. 51).
352
2
A noo de parentocracia coloca os pais como organizadores da vida escolar dos filhos. Sao
eles que criam as estratgias e escolhem os investimentos a serem realizados (compra de materiais
didticos, visitas a museus, livrarias, cinemas, teatros, palestras, etc.). No entanto, importante
deixar claro que a ideia de parentocracia coloca os pais como agentes importantes na escolarizao
dos filhos, mas no anula a participao dos estudantes nessa trajetria.
O investimento estudado em nossa investigao, a contratao do professor particular. A
atuao como professor particular uma possibilidade de atuao antiga para os professores, que
ainda se faz presente na vida dos estudantes, como uma alternativa de superar dificuldades e at
mesmo como uma forma encontrada pelos pais para garantir que seus filhos tero um
acompanhamento escolar quando eles mesmos no podem realiz-lo.
Para contextualizar o surgimento das aulas particulares no Brasil, apresento as ideias de
Castro (2013). Segundo a autora
[...] a origem das aulas particulares, no Brasil, data dos oitocentos e surge como
uma prtica das elites, vinda diretamente a partir da influncia europeia. Ela era
uma forma de demarcao de posies sociais. As elites introduziam a educao
em casa como uma forma de prestgio social. Os filhos das famlias mais abastadas
tinham os seus tutores em casa, para que os seus descendentes tivessem uma
formao mais ampla, que contemplasse diferentes reas como: msica, literatura,
artes e oratria. (CASTRO, 2013, p. 29).
Percebe-se que desde o incio dessa prtica a contratao de um professor particular, uma
possibilidade que se apresenta de forma mais concreta para aqueles com maiores condies
353
3
econmicas, que podem realizar esse investimento na educao dos filhos. importante
destacarmos que as condies econmicas no so determinantes para garantir que esse
investimento ir se concretizar.
A partir da teoria de Pierre Bourdieu, possvel entendermos as aes dos agentes sem
enxergar as condies financeiras um fator determinante. O capital econmico de uma famlia
amplia a capacidade de investimentos, mas a partir do acmulo de capital cultural e social que
essa famlia ser capaz de conhecer e entender os benefcios de determinados investimentos. Assim,
temos que [] a classe social a qual pertence a famlia em si s no explica maior ou menor
envolvimento com a escola, mas sim o capital cultural e as aspiraes e expectativas familiares
transmitidas aos herdeiros. (FERRAZ, 2008, p. 69).
Apesar de no serem to frequentes, estudos desenvolvidos sobre professores particulares
ainda apontam que atualmente, ainda nas classes mais altas da populao que a contratao do
professor particular se faz de forma mais frequente.
Quando se trata de uma dificuldade de aprendizagem, ou seja, daquilo que se refere
especificamente ao mbito dos contedos pedaggicos, a estrutura escolar ajuda
(ao menos em tese) a dar conta de alguma forma; comum que as escolas
contem com sistemas de recuperao paralela, reforos ou aulas em pequenos
grupos no contra-turno [...]. No caso de crianas de nvel econmico mais alto,
frequentemente lana-se mo tambm de aulas particulares. (TATIT, 2013, p.
30, grifo nosso).
354
4
determinada qualidade de vida, acabam complementando o horrio regular de aula,
com as aulas particulares. Ainda, muitos alunos universitrios, que no possuem
estabilidade financeira, optam pela tutoria como maneira de adquirir alguma renda.
Ou, muitos estudantes recentemente licenciados, encontram nas aulas particulares
um espao de aquisio de experincia, enquanto ainda no esto inseridos no
mercado de trabalho. (CASTRO, 2013, p. 38).
OBJETIVOS
Compreendermos que o professor particular, apesar de ser uma prtica antiga, ainda se faz
muito presente nas trajetrias escolares. Assim, temos como objetivo investigar de que forma ele se
faz presente e quais so os benefcios que esse profissional pode oferecer aos estudantes. Buscamos
ainda identificar quais so as intenes de pais e estudantes ao contratarem o professor particular.
METODOLOGIA
Para o desenvolvimento da pesquisa, inicialmente realizamos um levantamento bibliogrfico
para encontrar produes acadmicas que tivessem como objeto de investigao o professor
particular. Em nossas buscas, encontramos poucas produes que envolvessem esse termo. As
buscas foram realizadas nos sites da Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertaes BDTD1
e da Scientific Electronic Library Online SciELO2.
Nos dois sites utilizamos o descritor professor particular para desenvolver as buscas.
Definimos que os trabalhos selecionados deveriam atender a dois critrios iniciais, o primeiro era
1Disponvel em: <http://bdtd.ibict.br/>.
2Disponvel em: <http://www.scielo.br/>.
355
5
que eles deveriam ter o mesmo objeto de investigao, e segundo era de que eles tivessem o mesmo
referencial terico. Para identificarmos esses elementos, foi realizada a leitura dos resumos dos
trabalhos.
Muitos trabalhos foram descartados pois apesar de estarem relacionados com o descritor
professor particular eles faziam referncia aos professores que trabalham em escolas particulares,
e no aqueles que atendem os alunos de forma individual, como o caso de nossa pesquisa.
No site da SciELO o descritor professor particular apresentou o resultado de 64
publicaes. Aps a leitura dos resumos, identificamos que nenhum deles atendiam aos critrios de
nossa pesquisa, apesar disso, um trabalho apresentou um dado que consideramos importante que
os motivos que levam os professores a optarem pela atuao como professor particular. Segundo
Santos (2012) essa opo para os professores uma forma de [] acrescentar outras fontes de
renda s baixas remuneraes, a partir de consultorias, de aulas particulares e da venda de
servios acadmicos. (SANTOS, 2012, p. 237, grifo nosso).
No site da BDTD o descritor professor particular apresentou o resultado de 1.683
produes. O site da BDTD s permite o acesso aos primeiros 500 trabalhos. Dos trabalhos
encontrados, somente 2 se encaixavam nos critrios definidos.
Quadro 1: Professor Particular - BDTD
Tipo/Instituio
Ano
Ttulo
Autor
Palavras-chave do
trabalho
Dissertao/
Pontifcia
Universidade
Catlica de So
Paulo
2007
Dissertao/
Faculdade de
Educao da
Universidade de
So Paulo
2013
Fonte: BDTD
Organizao: OLIVEIRA; ASSIS, 2014.
356
6
chamou ateno foi a presena de uma franquia que oferece o servio do professor particular e sites
que possibilitam que aos professores ofeream seus servios de forma online.
A franquia encontrada inicialmente foi definida como nosso lcus de pesquisa 3. Entramos
em contato com a instituio e foi nos dado a possibilidade de desenvolver nosso projeto com
professores e famlias que ocupam esse espao.
A segunda etapa de desenvolvimento da pesquisa, foi a anlise dos sites encontrados.
Selecionamos 4 portais, sendo dois de franquias e dois de sites que oferecem o servio do professor
particular de forma online. Nosso objetivo era de identificar como esses sites ofereciam o servio,
quais eram os pontos destacados ao oferecer o servio do professor particular, e a partir do espao
de comentrios, identificar as impresses de pais e estudantes diante do servio oferecido. Aps a
etapa de anlise do site, desenvolvemos entrevistas com gestores e professores da instituio lcus.
DISCUSSO E RESULTADOS
A anlise dos sites possibilitou compreendermos a forma como os professores particulares se
colocam como alternativa no mercado escolar atualmente. Os sites analisados apresentam diferentes
formas do oferecimento desse servio, que chamam ateno e nos fazem perceber a inteno que o
mercado escolar tem em manter esse profissional presente nas prticas escolares.
Os sites das franquias analisadas foram da franquia Smartz School4 e da Tutores5. Os
sites que oferecem o servio de professor de forma online foram da empresa Professores de
Planto6 e do marketplace7 Profes8. As duas franquias possuem unidades na cidade de Campo
Grande/MS, j os sites que oferecem o servio de professor particular online, no possuem sede
fsica, mas seus servios podem atender aos estudantes da cidade em que a pesquisa esta sendo
realizada.
A partir da anlise desses quatro sites, foi possvel constatar que a questo do atendimento
individual bastante enfatizada, tornando-se o principal atrativo para quem busca o servio. No site
da franquia Tutores, no espao destinado a apresentao da misso da instituio, temos que a
instituio buscar [] realizar uma educao multidisciplinar de excelncia, valorizando a
3Por opo da franquia, a identidade dela no ser revelada.
4Disponvel em: <http://www.smartz.com.br/>. Acesso em: 2 abr. 2015.
5Disponvel em: <http://www.tutores.com.br/campogrande-santafe/index.asp>. Acesso em: 3 abr. 2015.
6Disponvel em: <http://www.professoresdeplantao.com.br/>. Acesso em: 25 abr. 2015.
7Marketplace uma nova modalidade de comrcio online na qual, dentro de um nico site, vrias empresas podem
vender seus produtos sem arcar com custos de um e-commerce, tambm chamado de shopping online ou e-shopping.
Disponvel em: <http://www.ronaldodiniz.com.br/web/o-que-e-marketplace-a-nova-opcao-deshopping-online.html>.
Acesso em: 25 abr. 2015.
8Disponvel em: <https://br.portalprofes.com/info/sobre/>. Acesso em: 25 abr. 2015.
357
7
individualidade e as potencialidades dos educandos. (TUTORES 9, 2015). A franquia Smartz no
deixa claro em seu site se o atendimento dos alunos realizado de forma individual, porm na
apresentao de seus programas de ensino a questo da individualidade ganha destaque
Levar em considerao as necessidades de cada pessoa na hora de ensinar e
incluir as lies de forma natural no cotidiano so alguns dos pontos que fazem do
curso de Matemtica da Smartz a metodologia certa de aprender com qualidade.
Crianas a partir dos 6 anos de idade, adolescentes e adultos so selecionados para
o estgio correspondente ao seu conhecimento por meio de um teste diagnstico. A
partir da, feito um estudo minucioso para adequar o aluno ao estgio inicial do
mesmo e o contedo que baseado no currculo programtico das escolas do
Brasil, vai se transformando em lies, que evoluem segundo o ritmo de cada
aluno. (SMARTZ10, 2015, grifo nosso).
358
8
objetivos. No site da Tutores encontramos 45 comentrios, sendo 4 de estudantes.
Os pais relatam que a franquia possibilitou que seus filhos tivessem um acompanhamento
escolar com profissionais capacitados, e que esse um fato positivo j que os pais no possuem
tempo para realizar esse tipo de acompanhamento, mas no deixam de se preocupar com a trajetria
escolar de seus filhos.
Durante 17 anos atuei como executiva de vendas de uma multinacional, e meu
cargo exigia disponibilidade de horrio e viagens. Como consequncia disso, eu
realmente no tinha tempo para me dedicar s atividades educacionais das minhas
filhas, e isso inclua, inclusive, ir s reunies escolares. Eu me sentia muito culpada
por isso, mas era bem-sucedida no trabalho e ganhava bem, o que me
proporcionava oferecer um certo conforto minha famlia. Quando eu conheci a
proposta/conceito da Tutores, me identifiquei imediatamente. Enxerguei como uma
soluo, pois acredito que a tutores pode ajudar muito as mes que tm uma
carreira profissional, pouca disponibilidade de tempo e so muito cobradas pela
famlia, quanto ao desempenho escolar dos filhos (TUTORES 11, 2015).
359
9
jovens que esto com dificuldades em alguma matria no colgio, sugiro que procure tutoria.
Muitas vezes, em sala de aula estamos em um ambiente cheio de amigos e colegas, e acabamos
ficando com vergonha de fazer perguntas. (TUTORES12, 2015).
A partir das anlises dos sites, foi possvel perceber que a questo do atendimento individual
um ponto enfatizado pelos sites, e pelos usurios do servio. Tanto no depoimento dos pais quanto
dos alunos, visvel que esse atendimento individual visto como uma vantagem ao adquirir o
servio do professor particular.
Nas entrevistas realizadas com gestores e professores, a questo da individualidade tambm
foi destacada. Um ponto que chamou a ateno durante a entrevista, que foi apontado pela
proprietria da instituio, foi de que 100% dos estudantes que procuram pelos servios dos
professores da franquia, so estudantes de escolas privadas.
Segundo o proprietrio13 da franquia, o diferencial oferecido o trabalho desenvolvido pelos
professores junto com a coordenao pedaggica, que faz uma avaliao diagnstica quando os
alunos buscam pela franquia.
[...] o que eu sempre gosto de lembrar, porque eu acho que o diferencial mesmo,
atender de modo tanto o tutor como o aluno de modo personalizado [] a primeira
coisa que a gente faz uma avaliao diagnstica, a gente tem uma coordenadora
pedaggica que psicopedagoga tambm, ento na conversa com o responsvel ou
com o aluno quando de maior ela identifica quais so as necessidades desse
aluno, e a partir dessa necessidade que designado o tutor, ento o tutor vai ser
designado pra ele de acordo com essa necessidade que ele tem. (PEDRO, 2015).
A partir do depoimento dado pelo proprietrio, percebemos que enfatizado que o professor
trabalhar com o contedo que o aluno tem mais dificuldade, alm disso, a franquia faz uma
avaliao dos alunos para definir qual professor melhor se encaixa para resolver o problema. A
franquia trabalha com os alunos de duas formas, realizando o reforo escolar e o acompanhamento
escolar
[] o reforo por uma determinada dificuldade especfica e tambm
acompanhamento, o que a gente chama de acompanhamento, o acompanhamento
de tarefas. O acompanhamento aquele que no de apagar incndio, ele vai
360
10
fazendo a tarefa com o acompanhamento do tutor. E o reforo aquele que vai ter a
prova na segunda-feira e a ele vai estudar na quinta e na sexta com o tutor pra
fazer a prova na segunda. (PEDRO, 2015).
A diferena entre esses servios est no tempo em que o aluno pode contar com o professor
particular em sua trajetria escolar. No caso do reforo, os professores da franquia atuam para
resolver problemas imediatos, enquanto que no acompanhamento escolar, o trabalho desenvolvido
por mais tempo, e o professor particular acompanha todo o desenvolvimento do estudante.
No caso dos alunos que buscam a franquia para realizar o acompanhamento escolar, a
coordenadora pedaggica da instituio, informou que
[...] tem alunos que no nos procuram por ter dificuldade. [...] ns temos alunos
aqui que no tm dificuldade alguma, ns temos pais que no tm tempo de
auxiliar essas crianas, de olhar a tarefa, de ver o trabalho e essa criana no tem
dificuldade, ela no tem problema de autonomia, ela tem autonomia, ela tem tudo
isso, s que o pai quer ter a garantia de que algum ajudou, ou que algum
acompanhou, ou que algum viu que essa criana tava fazendo. Ento eles
contam conosco, com nosso trabalho, pra que a gente seja esses olhos enquanto
eles esto trabalhando. (TAS, 2015).
361
11
relao professor-aluno. Um deles afirma que nas aulas particulares a relao entre esses dois
agentes mais prxima se comparada com a relao que os professores que do aulas em escolas
tem com seus alunos. O outro professor afirma que essa relao prejudicada, pois o que ocorre
uma relao de mercado, em que o que importa se o servio contratado correspondeu ao que era
esperado por quem o contratou.
importante deixarmos claro, nas consideraes finais deste trabalho, que ele se configura
como um recorte de nossa pesquisa. Ainda no so as anlises finais, o que temos no momento so
nossas primeiras impresses diante do objeto investigado.
At o momento, possvel compreender que o servio do professor particular busca se
adequar ao mercado quando passa a oferecer seus servios de forma online, ou em franquias, o que
pode representar mais comodidade aos pais, j que uma equipe responsvel por selecionar os
professores que iro atender melhor as dificuldades que seus filhos encontram.
O maior benefcio apontado a questo do atendimento individual dos alunos. Tanto nos
sites, quanto nas entrevistas, e at na percepo de pais e estudantes, esse o ponto mais relevante
ao se falar desse tipo de servio. A possibilidade de ser atendido individualmente, faz com que o
estudante se sinta mais seguro para fazer perguntas ao professor e tirar suas dvidas. Os pais, por
sua vez, buscam esse servio como uma forma de garantir que seus filhos tenham um
acompanhamento escolar e sejam capazes de superar as dificuldades encontradas durante sua
trajetria escolar.
REFERNCIAS
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362
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contempornea a partir da relao professor-aluno. 2013. 106 f. Dissertao (Mestrado). Faculdade
de Educao da Universidade de So Paulo, So Paulo. 2013.
363
RESUMO
Neste trabalho so analisados dados coletados por um survey aplicado no Colgio Militar de
Campo Grande, 3 lugar no ranking do Exame Nacional do Ensino Mdio (ENEM). Alm do
survey, foram realizadas quatro entrevistas semiestruturadas/no-diretivas com professores.
Buscou-se compreender como se constitui o perfil docente dessa escola de prestgio e que
estratgias so adotadas na sua formao continuada. Como aporte terico operou-se com os
estudos de Pierre Bourdieu e seus interlocutores. O estudo sinaliza que o corpo docente de
uma escola de prestgio desempenha papel importante para que seus alunos construam uma
trajetria escolar de sucesso, como tambm, as caractersticas familiares dos discentes, a
infraestrutura dessas instituies de ensino e o seu corpo de gestores so decisivos para
obteno desse sucesso.
Palavras-Chave: Colgio Militar; Perfil docente; Formao continuada.
Neste trabalho so analisados dados coletados por um survey disponibilizado online
para o Colgio Militar de Campo Grande/MS2 (CMCG), 3 lugar no ranking do Exame
Nacional do Ensino Mdio (ENEM). Busca-se compreender como se constitui o perfil
docente dessa instituio de prestgio e que estratgias so adotadas na formao continuada
de seus professores.
O CMCG, 49 colocado no ranking nacional do ENEM3, uma instituio pblica que
cobra uma quota mensal das famlias e seleciona os alunos civis por meio de um concurso
pblico que se constitui de uma prova escrita de Lngua Portuguesa e Matemtica. Caso haja
vagas, estas so abertas para o 6 ano do ensino fundamental e 1 ano do ensino mdio a cada
ano. Trata-se de um colgio que tem em suas razes o ensino preparatrio e assistencial. Esse
aspecto assistencial constituiu-se num dos objetivos mais fortes quando da criao dos
colgios militares, por abrigar rfos da Guerra do Paraguai. Esse direito vaga, sem que
sejam submetidos a concurso pblico, possui amparo legal estabelecido pela Diretoria de
1
A prxima escola pblica de Campo Grande, abaixo dessa posio, estadual e est no 2004 lugar.
364
2
possvel afirmar que o CMCG encaixa-se nessa lacuna considerando dois aspectos:
primeiro, uma escola pblica e, ao mesmo tempo, considerada pela sociedade campograndense uma escola de prestgio com base nas avaliaes do ENEM, IDEB e outros
resultados, como: vestibulares (em universidades e cursos de prestgio) e Academias
Militares.
Este texto constitui-se de um breve histrico do CMCG e da composio de seu corpo
docente, como tambm de uma anlise dos dados coletados mediante o survey e entrevistas
dos docentes. Para finalizar apresentam-se as consideraes finais.
365
3
A cultura escolar composta por todo esse conjunto de saberes, de conhecimentos, que uma vez organizados
passam a ser a base de ao tanto do professor, quanto do aluno. a que se encontram as caractersticas prprias
de cada instituio de ensino evidenciadas na sua forma prpria de linguagem, nos rituais, nos regulamentos e no
que Forquin (1993, p. 167) chama de [...] seu regime prprio de produo e de gesto de smbolos..
366
4
367
5
368
6
Para esse professor, a empatia algo que deve fazer parte da prtica de todo
educador, por isso traz para sua prtica exemplos que foram referncia para ele durante o
curso universitrio.
369
7
370
8
Concorda-se com Nvoa (2007, p. 09) quando afirma que a profisso docente [...]
muito exigente do ponto de vista do empenhamento e da relao humana. No basta ao
professor o conhecimento terico. necessrio um empenhamento, uma disposio para
e nas relaes sociais que envolvem tanto superiores quanto os pares de profisso e,
principalmente, alunos.
Bourdieu (2004, p. 95) esclarece que [...] o pertencimento a uma classe se constri, se
negocia, se regateia, se joga. Ento, o agente, para manter-se em um determinado campo,
grupo ou classe cria e participa de um sistema de estratgias para alcanar o que se deseja.
Quanto famlia dos alunos do CMCG, os professores consideram a sua participao
fundamental para o bom desempenho dos alunos e que estas no devem delegar a
responsabilidade da educao para a escola.
Ah, a famlia tem que participar [...] A escola no pode assumir sozinha a
responsabilidade da educao formal, da educao bancria do aluno. A famlia
no pode delegar escola o papel da educao de seu tutelado, de seu filho. E a
escola no pode aceitar essa determinao da famlia. um trabalho
compartilhado. Eu considero boa a participao da famlia no CMCG. (Professora
B).
Outro aspecto : por que as famlias escolhem o CMCG na viso desses profissionais?
O que essas famlias esperam da instituio e dos seus profissionais? Percebe-se, com base na
experincia desses profissionais e no convvio social fora da instituio, que as razes dessa
escolha passam por vrias questes, quais sejam: qualidade no ensino, bom trabalho dos
profissionais e os bons resultados, prestgio social da escola, disciplina, financeiro (custo
benefcio), segurana, dentre outros. O professor C considera que um conjunto de fatores.
371
9
Outro aspecto importante a ser observado como esses profissionais veem o corpo
docente dessa instituio, seus colegas de trabalho. Consideram que um grupo diferenciado,
comprometido com a sala de aula e com os discentes.
Concorda-se com Nvoa (2007) quando defende que o professor se constitui e exerce
suas prticas profissionais com base naquilo que como pessoa, ou seja, inseparvel o
pessoal do profissional. O habitus um elemento fundamental na constituio da histria de
vida do agente social professor. o que estabelece as mediaes entre o mundo da estrutura e
da prtica desse agente. Ele um conhecimento adquirido, tambm um haver, um capital.
O habitus, a hexis indica a disposio incorporada. a superao do objetivismo e do
subjetivismo. (BOURDIEU, 2000, p. 61).
Quando se pensa sobre a prxis do professor, entende-se que esta a exteriorizao
dos sistemas das disposies incorporadas e o habitus responsvel por interiorizar as
estruturas exteriores. Isto leva a pensar que cada experincia vivida pelo agente pode forjar
um novo habitus, como produto das relaes dialticas entre o que se denomina de
exterioridade e interioridade. Assim sendo, compreende-se como um modo de ser vai se
compondo, se constituindo nas diversas experincias vividas e adquiridas no campo social.
Esse campo tambm no esttico, pois as relaes se efetivam de forma dialtica nos mais
diferenciados campos.
No conceito de habitus h uma proposio de mediao entre o indivduo e sociedade,
isto porque depende das relaes dialticas do agente com o meio no qual est inserido. Essas
relaes levam o indivduo a desenvolver gostos, sentimentos, valores, vontades, capacidade
de escolhas que no podem ser calculadas de maneira mecnica. O modo de perceber e fazer
suas escolhas passa a ser a exteriorizao da incorporao desse novo habitus adquirido.
Consequentemente, o habitus professoral exterioriza nas prticas pedaggicas desse
agente professor aquilo que foi incorporado de valores sociais no decorrer dos espaos/tempos
vividos e acumulados por esses agentes, fazendo interfaces com a histria do seu grupo de
pertencimento, que aqui denominamos de CMCG.
Consideraes finais
Este trabalho props-se a compreender como se constitui o perfil dos docentes do
CMCG, o qual considerado pela sociedade campo-grandense com base nos seus resultados
uma escola de prestgio. Essa proposio teve como finalidade contribuir para uma anlise
372
10
mais apurada sobre a questo da qualidade de ensino, do como funciona esse processo de
produo.
Ao lanar um olhar de forma mais analtica para esses profissionais, compreende-se
que no somente as caractersticas familiares dos discentes so decisivas para a obteno do
sucesso durante a trajetria escolar como tambm a infraestrutura dessas instituies de
ensino e o seu corpo de gestores. O que se percebe que o corpo docente de uma instituio
de prestgio desempenha papel importante para que seus alunos construam uma trajetria
escolar de sucesso.
Compreende-se que a soma de fatores positivos que possibilita tais resultados.
quando se tem um conjunto onde cada pea funciona em sintonia com a outra que se obtm
resultados favorveis. Nesse conjunto so imprescindveis alguns elementos fundamentais:
primeiro, uma escola que oferea os meios materiais, organizacionais e relacionais
necessrios ao desenvolvimento de um bom trabalho por parte de seus docentes e outros
agentes educacionais, que invista na formao continuada e na qualificao do corpo docente
e dos outros agentes educacionais, que tenha uma infraestrutura que funcione, que as questes
educacionais sejam tratadas com seriedade por seus gestores e equipe tcnica; segundo, uma
famlia participativa, que no delegue as suas funes escola, mas que seja um suporte para
o seu dependente; e terceiro, um aluno comprometido com a escola, com o seu aprendizado,
que responda s exigncias de seus educadores, um aluno disciplinado, que tenha por objetivo
no perder o foco: o sucesso escolar.
No que diz respeito trajetria escolar desses profissionais. nota-se que a grande
maioria estudou e se formou em instituies pblicas de ensino e continuou participando de
cursos e eventos buscando assim uma melhor qualificao e consequentemente
aprimoramento de suas prticas no dia a dia escolar. Cerdeira (2008, p.103) afirma que [...] a
qualificao e as boas condies que dispem lhes do subsdios e incentivos para pensar e
planejar estratgias que aprimorem sua prtica profissional, afastando os sintomas de
insatisfao profissional., tanto que a maioria pretende continuar a lecionar at a
aposentadoria, como tambm continuar a lecionar aps se aposentar.
perceptvel que esse grupo de docentes dispe de condies de trabalho, salrios e
infraestrutura bem diferenciadas da mdia nacional. O capital econmico, cultural, social e
simblico desse grupo outro diferencial. So profissionais que leem, estudam, pesquisam,
vo a teatro, cinema e se envolvem com grupos de suas comunidades, sejam eles religiosos ou
apenas grupos de amigos. So pessoas que priorizam viajar em poca de frias para descansar
373
11
374
12
Apontaram-se algumas prticas que podem contribuir para o sucesso escolar, mas que
no se constituem como receitas determinantes, visto que cada campo educativo tem uma
cultura e uma forma especfica de ser gerido. Foram apresentadas pistas que podem contribuir
para o aperfeioamento de um processo to complexo que o de educar.
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375
13
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376
TRABALHOS COMPLETOS
377
Introduo
A educao um direito fundamental de todos, homens e mulheres de todas as idades,
no mundo inteiro, como versa a Declarao Mundial de Educao para Todos (UNESCO,
1990). Ao assumir o todos, caracterstico de uma educao inclusiva, ressalta que esto
contemplados nesta totalidade grupos anteriormente discriminados da educao, para quem o
esforo atual se direciona na tentativa de englob-los.
Pacheco (2007) acrescenta que as necessidades dos alunos so muito diversificadas e
que
As escolas que querem ajudar todos os alunos a atingir seus objetivos acadmicos
em um nvel mais alto de maturidade tm caractersticas especiais. Essas escolas
adotam a incluso, estabelecendo, assim, um compromisso com cada aluno em
particular. Enfatiza-se o ajuste do processo acadmico s vrias necessidades dos
alunos, de modo que cada um deles possa estudar com seus colegas em uma sala de
aula geral. Deve-se enfatizar que as solues especiais que podem ser necessrias
para um nico aluno ou para um pequeno grupo de alunos geralmente so teis para
muitos ou at mesmo para a turma toda. (p. 97-98).
Torna-se urgente, portanto, trabalhar para que a escola consiga efetivamente cumprir o
seu papel diante de seu alunado, que tem direito educao e escolarizao. Nestes termos,
para a construo de sistemas educacionais inclusivos exige-se uma transformao da escola e
de suas prticas pedaggicas (OLIVEIRA, 2008), mas este no um processo fcil ou
simples. Pelo contrrio, diverso e exige competncia e esforos de todas as partes
envolvidas: tanto a instituio se adqua como o aluno participa de sua escolarizao.
Sanfelice (1989) aborda que uma escola igual para todos, em uma sociedade cuja
clientela escolar social e culturalmente distinta ou fsica e mentalmente diferenciada [...]
ser teoricamente democrtica e na prtica discriminadora. preciso atentar, portanto, nas
378
necessidades dos alunos, que podem ser atendidas tanto por professores da educao regular
como de professores da educao especial.
O que est em questo no ensino inclusivo no se os alunos devem ou no receber,
de pessoal especializado e de pedagogos qualificados, experincias educacionais
apropriadas e ferramentas e tcnicas especializadas das quais necessitam. A questo
est em oferecer a esses alunos os servios de que necessitam, mas em ambientes
integrados, e em proporcionar aos professores atualizao de suas habilidades. As
feies da escola, em tempos de grandes transformaes sociais, esto mudando, e
os professores precisam adquirir novas habilidades para trabalhar com alunos
acadmica e socialmente diferentes. (KARAGIANNIS, et. al, 2007, p.25)
Abordando essas novas habilidades, Caiado (et.al, 2009) aponta que, na viso dos
professores das salas regulares, preciso pensar em sua formao e nas propostas
pedaggicas que se faz para os alunos que frequentam a escola. A autora ainda aponta que os
professores revelam que as propostas pedaggicas pouco se aliam construo de um
trabalho educacional que considere a diversidade e que utilize o potencial tanto do professor
da sala regular como do professor de educao especial.
Para atender estas e outras dificuldades vivenciadas no processo de incluso, alm da
formao do professor, Caiado (et. al) ressalta ser pertinente e necessrio a presena de um
outro adulto em sala de aula professor assistente, professor ajudante, professor
especializado, monitor ou estagirio (CAIADO et.al., 2009, p. 630), alm de reformas para
melhor mobilidade e acessibilidade arquitetnicas bem como e essencialmente a necessria
relao com profissionais da sade para atendimento ao aluno, aos pais e aos professores
(p.631).
Tais elementos apontam que, para que a incluso ocorra, mais do que um trabalho
pedaggico adequado e sistematizado, preciso um rigoroso e efetivo trabalho de colaborao
para alcanar tal objetivo. Sem que as vrias esferas que envolvem a educao e a educao
especial estejam unidas, no h como a escola regular chegar sozinha a esse modelo e prtica
de trabalho pedaggico adequado aos estudantes pblico alvo da educao especial (EPAEE).
Assim, incluso pressupe colaborao.
Mendes (et.al, 2011, p. 84) ressalta que estudos sobre a incluso escolar apontam para o
princpio de que os professores no devem trabalhar sozinhos, mas em equipes compostas
por um grupo de pessoas cujas respostas e funes sejam derivadas de filosofia e objetivos
mtuos. Logo, vem se tornando necessrio estabelecer sistemas de colaborao e/ou
cooperao, criando e/ou fortalecendo uma rede de apoio (Idem, p. 84) que pode contar com
diversos profissionais.
2
379
380
de incluso escolar de alunos com deficincia de alguns pases, mas que ainda pouco
conhecido e realizado no Brasil, apesar de ser apontado como uma das prticas inclusivas
mais relevantes.
De acordo com os dispositivos normativos brasileiros, a escolarizao de pessoas com
deficincia, altas habilidades ou superdotao e transtornos globais do desenvolvimento,
classificadas e englobadas no grupo de estudantes pblico alvo da educao especial
(EPAEE), deve ocorrer na classe comum de ensino regular. A estes estudantes, tambm
garantido o direito de frequentar o servio de Atendimento Educacional Especializado (AEE)
nas salas de recurso multifuncionais (SRM) que o campo de trabalho exclusivo do professor
de educao especial, portanto, um especialista na rea.
Este atendimento deve ocorrer prioritariamente nas SRM no perodo inverso
escolarizao do aluno e no pode ser substitutivo das salas comuns. Este deve trabalhar de
forma diversificada o currculo dos alunos NEE2, organizado institucionalmente para apoiar,
complementar e suplementar os servios educacionais comuns. No que se refere s
atribuies elencadas ao professor de educao especial, uma delas ressalta a necessidade de
estabelecimento de articulao com os professores da sala de aula comum, visando a
disponibilizao dos servios e recursos e o desenvolvimento de atividades para a
participao e aprendizagem dos alunos nas atividades escolares (BRASIL, 2010, p.4). Essa
ideia vai ao encontro do trabalho do co-ensino, que quando o professor da sala comum e o
professor de educao especial definem juntos o planejamento, as avaliaes e as estratgias
pedaggicas que favoream o acesso ao currculo e aprendizado a todos os alunos, tenham
eles deficincias, transtornos globais do desenvolvimento, superdotao ou no (ZERBATO,
2012).
Olhando para exemplos estrangeiros, Stainback e Stainback (1999) citam inmeras
escolas da Amrica do Norte que conseguem realizar um trabalho colaborativo entre famlias,
educadores e comunidade. De acordo com os autores, as escolas citadas tentam desenvolver
ambientes educacionais para garantir que todos os alunos, independente de quaisquer
diferenas individuais que possam ter, sejam includos em escolas regulares. Professores,
pais e alunos nas escolas inclusivas tm consistentemente declarado [...] que uma razo
importante para o sucesso dessas escolas o envolvimento de alunos, professores,
especialistas e pais trabalhando em colaborao (STAINBACK e STAINBACK, 1999,
p.223, grifo nosso).
A nomenclatura se mantm, conforme original publicao das autoras. A nomenclatura tambm se manter fiel
ao original em relao coleta de dados, mantendo a forma como os sujeitos se expressaram.
2
381
382
Para este trabalho de pesquisa optamos por coletar os dados de modo que os
participantes no se sentissem expostos, ou que seu trabalho estava sendo avaliado. Assim,
visando coletar dados que respondessem aos objetivos propostos, sem que os sujeitos se
sentissem constrangidos de falar sobre suas prticas, fizemos a opo metodolgica de
trabalhar com casos de ensino.
De acordo com as pesquisas de Nono (2005), casos de ensino so narrativas que
documentam eventos escolares e que trazem detalhes suficientes para que tais eventos sejam
analisados e interpretados a partir de diferentes perspectivas. Nono (2005) ainda ressalta que
so narrativas que permitem o acesso aos conhecimentos sobre ensino envolvidos nos
eventos descritos (p. 6), que ocorrem em um tempo e local especficos. As narrativas dos
casos de ensino apresentam comeo, meio e fim (NONO e MIZUKAMI, 2001) e se
aproximam das tenses, concepes, erros e acertos comuns em prticas educativas.
Por apresentarem situaes cotidianas, sobre como um professor ensinou uma
determinada lio ou como um professor conseguiu controlar uma turma com mau
comportamento, constituem um retrato de uma situao-problema enfrentada por um
professor, uma variedade de abordagens possveis que poderiam ter sido adotadas e algumas
informaes sobre como o problema foi resolvido (MIZUKAMI, 2000, p.152).
Diante do caso de ensino, os professores e profissionais da educao (como gestores)
podem expor suas ideias sem enfrentar a situao de estar sendo avaliado ou julgado a
acerca da validade de seu trabalho. De todas as formas, ao se posicionar diante do caso,
dizendo se concorda, discorda ou quais prticas deveriam ser adotadas, o professor e demais
profissionais expressam suas concepes, o que faz os casos se ensino serem considerados
como importantes instrumentos para investigao dos processos formativos vividos pelos
professores. (NONO, 2005).
Era a partir de uma perspectiva assim que queramos que os sujeitos analisassem os
eventos do caso de ensino, com o intuito de descobrirmos elementos sobre a incluso e o
trabalho colaborativo. Assim, utilizamos o caso de ensino Um garoto especial3
(MASUYAMA; RINALDI, 2011), que apresenta uma narrativa sobre Vagner, um garoto com
srias defasagens na aprendizagem e que passa a chamar a ateno da docente Nia, que d
aula para este garoto no 4 Ano. Diante do comportamento do aluno e de um diagnstico
tardio, a professora enfrenta situaes dilemticas em relao incluso e forma de abordar
Caso de ensino produzido no mbito do projeto Programa Desenvolvimento Profissional de Formadores e
Professores dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental no Local De Trabalho: uma Parceria entre UniversidadeEscola (Proc. 400819/2010-4 - CNPQ), sob responsabilidade das autoras e com circulao restrita ao grupo de
estudo e pesquisa no perodo de 2010-2012.
3
383
o ensino para Vagner. Dessa forma, o cenrio do caso de ensino montado era relevante para
os sujeitos, pois relatava sobre situaes de incluso difceis, mas corriqueiras e comuns,
sobre as quais eles puderam refletir e se posicionar a partir de alguns questionamentos
levantados (feitos aps os sujeitos efetuarem a leitura do caso de ensino), como mostra o
quadro 1.
Quadro 1- Os objetivos de cada questo da coleta
Questo
1. Diante da situao apresentada e usando o exemplo de
Vagner e Nia, exponha o que voc pensa sobre a incluso
escolar.
2. Suponha que voc a professora de Vagner e somente
agora, assim como a professora Nia, tomou cincia da
situao do menino. Como voc acha que as informaes
apresentadas lhe ajudariam a compreender o aluno Vagner
e outras crianas da classe?
3. A partir da observao da professora Nia em relao
ao repertrio que Vagner apresenta [...] um aluno do 4
ano e gosta da merenda escolar. Est no nvel silbicoalfabtico; apresenta dificuldade na leitura e compreenso
do que l; desinteressado e desestimulado com as
atividades de sala de aula possvel dizer que esse aluno
tem capacidade para aprender? Quais os fatores
desencadeantes e agravantes no caso de Vagner?
Justifique sua resposta.
4. A partir das reflexes sobre o caso de Vagner, vamos
pensar em como ensinar uma criana com tais
caractersticas. Qual voc pensa que deve ser o papel da
famlia, da gesto escolar, do professor de educao
especial (itinerante) e do professor da sala de aula? Como
esse grupo precisa atuar para comear o trabalho com o
aluno includo?
5. Voc j teve em sua escola um aluno como Vagner?
Como voc procedeu com ele? Quais tipos de aes foram
realizadas?
Objetivo de coleta
- Entender qual a concepo de incluso
apresentada pelo profissional.
- Compreender qual a opinio dos
profissionais sobre informaes prvias do
aluno ou sobre o seu diagnstico.
- Investigar qual o posicionamento dos
profissionais em relao s expectativas
pedaggicas para um aluno com defasagem de
contedo em relao a sua idade e srie bem
como analisar se identificam a necessidade ou
a ausncia de parcerias com outras instncias,
como a famlia, por exemplo.
- Identificar elementos sobre a colaborao:
Se h trabalho colaborativo entre os
profissionais da escola e se as funes a serem
desenvolvidas so vistas de forma benfica ou
negativa.
- Analisar se h exemplos de incluso a que os
profissionais se referem, sejam eles positivos
ou no.
Diante dos dados coletados por meio do caso de ensino, percebemos algumas temtica
latentes em relao dificuldade da incluso, em especial aquelas relacionadas falta de
formao para que os professores possam realizar bem o processo de incluso. Entre as
dificuldades apresentadas, percebemos que a falta de um trabalho de fato colaborativo, as
mudanas estruturais e a necessidade de formao especfica, esto entre os aspectos mais
citados. Neste artigo, priorizaremos abordar os dados relativos colaborao e formao, os
que mais se destacaram durante a coleta.
A fim de facilitar a leitura dos dados para nos referirmos aos trs sujeitos da pesquisa
usaremos a seguinte identificao: Gestora Diretora (Dir); Professora da sala regular (PSR);
Professora de educao especial (PSRM).
384
Para a Dir. preciso que o professor do AEE, da sala, gesto e famlia estejam em
constante dilogo. O trabalho colaborativo deve visar a autonomia e a aprendizagem do
EPAEE para reduzir a distncia da aprendizagem de um aluno com NEE e outro,
considerado sem nenhuma necessidade. No entanto, percebemos que as respostas da Dir.
nem sempre so concretas, sem ressaltar o real papel que a gesto pode ter para a incluso.
Trouxe elementos sobre a possibilidade de trabalhar com diferentes estratgias a partir do
conhecimento sobre esse aluno e sobre a importncia de uma colaborao para auxili-lo, mas
sempre do ponto de vista do professor, do que ele pode fazer. Percebe-se a relao com esse
fato nas prprias respostas da professora da sala regular (PSR). preciso identificar, portanto,
que a colaborao necessita ser aprendida na escola. Rabelo e Mendes (2012) relembram que
no ensino colaborativo os professores de ensino geral e ensino especial
precisam compartilhar um trabalho educativo, sem hierarquias, no qual todas as
responsabilidades em relao a todos os estudantes de uma sala pertencem equipe,
desde o planejamento, as intervenes, monitorias, avaliaes e replanejamento,
tudo compartilhado por professores com habilidades diferentes. (p.5609).
385
(porque na verdade tudo jogado para o professor, tudo culpa do professor) (Questo 4).
Cita ento, elementos do trabalho colaborativo: possvel esse aluno aprender, desde que o
professor tenha uma equipe a seu lado: pais, mdicos, outros profissionais adequados ao caso
dele, direo, secretaria da educao e o querer do prprio aluno. (Questo 3)
A PSRM reconhece a necessidade de pensar em trabalho colaborativo para o sucesso da
incluso e concorda com a PSR ao ressaltar que no se deve responsabilizar apenas uma parte
quando essa no age como deveria. importante no ficar apenas no faz de conta, e apenas
muitas vezes na presena do profissional responsvel, ou seja, no se pode fazer a incluso
apenas para o professor de educao especial (aqui representado pela PSRM) ver. Tambm
ressalta a dificuldade dos profissionais em trabalharem em parceria: Muitas vezes no h
comunicao entre os professores de uma mesma unidade escolar, e o trabalho de outro
profissional ainda visto como interferncia e ameaa ao seu trabalho em sala. (Questo
3)
Rabelo e Mendes (2012, p. 5609) mencionam que grande parte dos documentos
oficiais do Ministrio da Educao faz meno em algum momento necessidade de trabalho
em equipe, colaborao, coletividade, unio para enfrentar os desafios da educao inclusiva.
Como funes do professor especialista expe que necessrio [...] trabalhar em equipe,
assistindo o professor de classe comum nas prticas que so necessrias para promover a
incluso dos alunos (BRASIL, 2010, p.5). Para o professor do ensino comum o mesmo
documento ressalta que preciso IV atuar em equipe, inclusive com professores
especializados em educao especial (BRASIL, 2010, p. 5). Diante disso, Rabelo e Mendes
(2012, p.5610) concluem que existe o amparo legal para esta proposta colaborativa de ensino,
apenas parece no ter sido dada a importncia merecida a esta filosofia de trabalho.
A ausncia da prtica de trabalho colaborativo pode ser sentida nos exemplos cotidianos
de situaes de incluso. A PSR cita exemplos prticos de situaes similares a de Vagner
que por variados motivos progrediram ou regrediram. Interessante perceber que no caso
citado como sucesso: J tive alunos assim [...] conseguiram evoluir; dentro de seus limites;
tal sucesso atribudo colaborao: alguns com apoio de uma equipe, famlia, conseguiram
evoluir; (com uma sala de aula, com menos alunos). Os casos de insucesso so justamente
citados por causa da ausncia de colaborao: Alguns no evoluram porque as famlias no
se comprometeram. Outros, fiz encaminhamentos para o CAA (Centro de Avaliao e
Acompanhamento, que faz diagnsticos das crianas); receberam o diagnstico somente no
ano seguinte. A mudana de um ano letivo para o outro, no caso do professor da sala regular,
rompe o processo ao meio porque o docente deixa de acompanhar de perto a realidade e o
9
386
desenrolar desse aluno, que passa a ter outra professora, mas aluno de todos, por estar na
escola. Ressalta mais uma vez que, numa situao hipottica de incluso, para haver sucesso,
preciso ter condies.
Para PSRM, acontecem vrios casos como o de Vagner, que vo chegando ao final das
sries iniciais sem terem sido olhados e diagnosticados mais cedo. Tal anlise leva a
profissional a responsabilizar os professores da sala regular, onde percebe falhas pela falta de
trabalho colaborativo. Ressalta tambm a dificuldade de o aluno no ser encaminhado mais
cedo para diagnstico e AEE, uma vez que ao chegar no 6 ano do ensino fundamental, o
aluno muda de escola e de ciclo, sendo esta etapa de responsabilidade de outras instncias
administrativas. (No municpio onde foi feita a pesquisa, os anos iniciais 1 ao 5 ano
ficam sob responsabilidade municipal e os anos finais 6 ao 9 ano e posteriormente ensino
mdio ficam sob a responsabilidade estadual). Tal mudana afeta diretamente os servios de
AEE na cidade, que nas duas instncias, apesar de objetivarem seguir as diretrizes nacionais,
esto organizados para o trabalho de forma diferente. A PSRM ainda cita: alguns casos
atuais (de o aluno no ser encaminhado mais cedo), ocorreram por que estes alunos no
apresentaram comportamento que incomodava professora, colegas e escola. O que jamais ser
justificativa para seu no atendimento. Vejo como negligncia. Como proceder? (PSRM, em
resposta questo 5).
necessrio identificar a causa no no encaminhamento: negligncia ou falta de vagas?
As vagas para encaminhar alunos para diagnstico por meio dos servios pblicos municipais
correspondem a apenas 1% do total de alunos da escola, podendo atingir o nmero de apenas
cem crianas, conforme exposto no captulo de metodologia.
A fala de gestora (Dir.) demonstra uma dificuldade em saber como proceder e o que
fazer com alunos includos: ainda faltam diversos recursos e formao para que todos os
alunos sejam atendidos com uma educao especial adequada. J a professora da sala regular
(PSR) acredita que a grande questo , alm de contar com um profissional comprometido,
ter possibilidade de dar alguma ateno individualizada aos alunos, sob o risco de no
avanarem em seu desenvolvimento.
Para a PSRM, h uma maior preocupao com a viso da docncia e de sua prpria
imagem como professor e no com uma ao efetiva para o aluno. Ainda h muito o pensar
individual do professor regular. O interesse parece no ser real pelo aluno, e sim pelo
resultado que este aluno apresentar no final, o como serei julgada como professora. Vejo
que h professores que se preocupam apenas com seu desempenho pessoal. neste sentido
que pensam no aluno. (Questo 5)
10
387
As pesquisas de Wood (1998 apud Zerbato, 2012) relataram sobre a tenso existente no
trabalho em conjunto entre professores da educao especial e do ensino regular. Muitas
vezes estes no se sentiam preparados para tomar decises sobre a escolarizao das crianas
includas. Eram admirados pelo fato de abrir suas portas para os alunos com deficincias, mas
no era esperado que eles cumprissem seus deveres relacionados com a incluso dessas
crianas. Concluiu-se que os professores acreditavam haver diferentes papeis a serem
assumidos na incluso de crianas com deficincias severas e certamente, no conseguiam
identificar o que fazer diante de uma situao com a qual no esto acostumados.
Cada novo papel exigido pelos programas de incluso pode provocar estresse e
tenso entre os professores, tanto de educao especial como de ensino comum.
Preparar salas de aula e encorajar a aceitao por parte dos dois professores de seus
novos papeis requer a conscincia das dificuldades inerentes s mudanas de papeis,
sensibilidade para as demandas dos professores, clareza das funes e comunicao
dos professores. (ZERBATO, 2012, p. 3448)
Consideraes
Ao trmino deste trabalho de investigao percebemos nos trs sujeitos analisados e na
estrutura oferecida para a educao inclusiva no sistema municipal de ensino que, apesar de
verem a relevncia, em termos de direitos humanos, das ideias da incluso, a falta de
efetivao de tais princpios na prtica tem deixado os profissionais de educao
desacreditados; estes chegam a duvidar da validade das prticas inclusivas no processo de
educao dos EPAEE.
No entanto, os grandes entraves relatados pelos sujeitos, como falta de formao dos
docentes para trabalhar com a incluso, ausncia de comunicao entre professor
especializado e professor da sala regular, falta de atuao da gesto (seja da escola ou da
secretaria municipal) e at mesmo a ausncia de recursos, podem ser revistos no mbito de
um trabalho colaborativo a ser realizado na escola, com vistas a um ensino colaborativo.
Vimos que o ensino colaborativo pode acontecer atravs de duas abordagens principais,
o co-ensino e as consultorias. O co-ensino o que almejamos e que sabemos que poderia
trazer esclarecimentos sobre vrias questes referentes ao cotidiano de sala de aula e ao aluno
includo, sob o trabalho pedaggico simultneo de dois profissionais capacitados para tal, o
professor regular e o professor de educao especial. No discurso dos sujeitos participantes
referente rede municipal de ensino que analisamos, percebemos que o trabalho colaborativo
que se realiza nela est planejado para ocorrer mais no plano da consultoria, atravs da
11
388
itinerncia, realizada pelo professor especializado, nas escolas regulares onde seus alunos do
AEE esto matriculados. No entanto, a anlise que podemos fazer sobre esse trabalho de
consultoria que os professores no se sentem em colaborao dessa forma, j que esse
modelo est proposto, mas os profissionais continuam se sentindo sobrecarregados.
Foi interessante notar que sem inferncias nossas, os sujeitos chegaram concluso
sobre a necessidade de colaborao, ou seja, comearam a entender que a educao inclusiva
no se faz sozinho, com apenas um membro. No entanto, as ideias sobre colaborao, sem
serem sistematizadas, podem trazer aos sujeitos a sensao de que so metas que nunca sero
alcanadas e que a educao nunca ir mudar.
Zerbato (2012, p.3454) aponta que esse trabalho conjunto entre professores do ensino
comum e professor de educao especial pode enfrentar dificuldades porque historicamente
fazem parte de um sistema que separou os professores da mesma maneira que isolou e
categorizou os alunos. No entanto, para a incluso ocorrer de forma mais efetiva, atendendo
as necessidades de todos os alunos, preciso alcanar um trabalho o mais colaborativo
possvel.
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MASUYAMA, P. M. K.; RINALDI, R. P. Caso de ensino Um garoto especial. Faculdade
de Cincias e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista. 2011. Mimeo.
12
389
13
390
RESUMO:
Este artigo tem o objetivo de relatar um pouco a histria da educao especial no estado
de Mato Grosso do Sul, bem como a formao do profissional de apoio para trabalhar na
educao especial na escola regular observando essa incluso no municpio de IguatemiMS, analisando ainda o perfil desse novo profissional da educao, a qual est inserido
num contexto histrico que se depara ao novo desafio de aliar as velhas prticas
pedaggicas com novos conhecimentos tecnolgicos para atender essa nova clientela de
alunos, onde muitas vezes se deparam com entraves e barreiras impostos por uma escola
que deveria ser inclusiva mas na verdade no possui um acervo tecnologia que auxilia a
alavancar o desenvolvimento profissional desse educador. Ser analisado como ocorre
essa formao, e qual a sua metodologia de trabalho para o aluno avanar em sua
aprendizagem, os pontos positivos e negativos das conquistas desse novo paradigma
profissional.
PALAVRA - CHAVE: Professores, Formao, Prticas pedaggica e Tecnologia.
INTRODUO
A incluso escolar tem sido mal compreendida, principalmente no seu apelo a
mudanas nas escolas comuns. Sabendo, contudo, que sem essas mudanas no
garantiremos a condio de nossas escolas receberem, indistintamente, a todos os alunos
oferecendo-lhes condies de prosseguir em seus estudos, segundo a capacidade de cada
um, sem discriminao nem espaos segregados de educao.
___________________
391
OBJETIVOS
Analisa se neste artigo a formao dos professores inclusivos na escola da rede
pblica estadual de ensino em Iguatemi MS:
METODOLOGIA
A pesquisa ser realizada com a abordagem qualitativa por se mostrar a mais
adequada para abordar e analisar os objetivos desta pesquisa. Segundo Minayo (1994, p.
21-22), este tipo de estudo busca compreender questes de um nvel de realidade que
no pode ser quantificado. Aprofunda-se no mundo dos significados das aes e relaes
humanas, um lado no perceptvel e no captvel, em equaes, mdias e estatsticas".
2
392
A pesquisa ser iniciada com uma reviso de literatura, onde ser pesquisado os
trabalhos com temticas que se relacionam a esta pesquisa.
393
descentralizao dos servios. As unidades de Incluso, criadas por esse Decreto, ficaram
vinculadas
administrativamente
escolas
da
rede
estadual
de
ensino,
394
395
Percebam que o estado de MS, sugere alm de ter o nvel superior exige
ps graduao na rea e cursos de formao continuada para atuar como professor de
apoio nas redes regulares de ensino de acordo com orientaes do CEESPI. Ao destacar
formao necessria para atuar com esses alunos em classe comum, podemos ser
levados a pensar que todos os professores esto aptos a lidar com as dificuldades e
desafios que a proposta da educao inclusiva traz consigo, o que parece no ser verdade.
De acordo com esses pressupostos, Mantoan (2003, p.21) afirma que:
Os professores de ensino regular consideram-se incompetentes para lidar com as
diferenas nas salas de aula, especialmente atender os alunos com deficincia,
pois seus colegas especializados sempre se distinguiram por realizar unicamente
esse atendimento e exageram essa capacidade de faz-lo aos olhos de todos.
O CORPO DOCENTE
Muitos professores vo achar a ideia de incluir alunos com deficincia em salas de
aula regular preocupante, e vo ficar apreensivo no comeo, porm pesquisas
demonstram que a maioria dos professores tem ferramentas necessrias para atender as
necessidades especificas dessas crianas e so capazes de ensin-las efetivamente com
sensibilidades. Em contrapartida, Mittler (2003, p.184), defende a ideia de que:
Essa tarefa no e to fcil quanto pode parecer, pois a maioria dos professores j
tem muito do conhecimento e das habilidades que eles precisam para ensinar de
forma inclusiva. O que lhes falta confiana em sua prpria competncia.
396
preciso acreditar que a educao algo que deve ser renovado a cada dia. Assim
como o mundo vem se evoluindo, os educadores precisam fazer com que seus
conhecimentos sejam passados de maneira criativa e prazerosa, no ter medo de novos
desafios e nesse caso estar pronto para receber crianas com deficincia, saber lidar com
situaes adversas, o que promover no somente um crescimento pessoal mais tambm
profissional .Werneck diz que: [...] Evoluir perceber que incluir no e tratar igual, pois
pessoas so diferentes! Alunos diferentes tero oportunidades diferentes, para que o
ensino alcance os mesmos objetivos. Incluir e abandonar esteretipos (1993, p.56).
A incluso pode ser confundida com interao, mais existem diferenas entre elas.
Na interao, a criana precisa se adequar a realidade da escola, j na incluso a escola
que tem que se adequar a criana, aceita l da maneira que ela seja ela deficiente ou no.
Na incluso o vocabulrio integrao abandonado uma vez que o objetivo incluir um
aluno ou um grupo de alunos que j foram anteriormente excludos. A meta primordial
da incluso no deixar ningum no exterior do ensino regular, desde o comeo
(WERNECK, 1997, p.52).
Um dos desejos mais comuns de educadores de lecionar em uma classe
homogenia, mais isso algo bem difcil de acontecer tendo em vista que todos
ns possumos diferenas. Aceitar um aluno com deficincia pode parecer muito
complicado, mas na realidade ter um aluno portador de deficincia em sua sala
de aula, aceitar que todos de alguma forma so diferente uns dos outros e devese ter direitos e oportunidades iguais.
397
398
Dessa forma a incluso poder ser bem sucedida, pois essa equipe iria refletir em
sua nova aprendizagem no contexto escolar levando-se em conta a comunidade escolar,
9
399
o apoio familiar e a vontade enorme desses alunos, em aprender. Vigotski afirma que:
[...]A escola torna-se um novo lugar, um espao que deve privilegiar o contato social
entre seus membros e torn-los mediadores da cultura. Alunos e professores devem ser
considerados parceiros nesta tarefa social
O trabalho de incluso abre novos caminhos para envolver todos numa proposta
pedagogica inovadora, oportunizando o resgate de cada potencial. A partir da, cada um
pode desencadear estratgias para dinamizar seu trabalho que, certamente, ser mais
produtivo, prazeroso e significativo. Atravs deste estudo reconheo o valor atribudo ao
ato dado a formao de um professor inclusivo pois o espao que ambos- professor e
aluno- deve ter o processo de aprendizagem.
No h a menor dvida de que trabalhar com crianas com ANE exige do
professor cada vez mais, uma ampliao ilimitada do conhecimento do mundo didticopedaggico e tecnolgico. Estabelece-se, assim, um paralelo entre a acessibilidade e as
estratgias que promovem a aprendizagem. O professor deve fazer do aluno um ser
participativo. A conscincia construda e conquistada far de qualquer aluno um ser capaz
de desenvolver todas as suas mltiplas habilidades.
CONSIDERAES FINAIS
Com o trmino deste artigo reflete-se que quando se pensa que tipo de benefcios
incluso pode gerar, surge sempre aquele pensamento de que as pessoas com
deficincias tm mais chances de se desenvolver por ter um professor s para si, mas na
10
400
verdade todos ganham com a incluso pois aprendemos todos os dias a exercitar a
tolerncia o respeito ao prximo seja ele quem for. Cada vez mais pesquisa tem sido
publicada e o conhecimento sobre a capacidade dessas crianas, o potencial de serem
includas com sucesso tem aumentado. Alm disso a incluso traz benefcios tanto
acadmicos quanto sociais pois a incluso bem sucedida no acontece automaticamente,
a atitude da escola como um todo um fator significativo neste processo.
A incluso est passando por um processo de conscientizao, e isso leva tempo,
mudar a ordem natural das coisas exige comprometimento e esse comprometimento deve
ser de toda a sociedade a fim de que todos se beneficiem por igual. A incluso de crianas
na rede regular de ensino, trar benefcios a esse pequeno cidado que aprender desde
cedo a ser autnomo, independente, saber viver em sociedade e esse direito no deve ser
de maneira alguma negado a ele.
Em relao aos educadores a maior conquista na incluso est em conseguir
garantir a todos o direito a educao. Se a escola prepara seus alunos para o futuro ela
no pode ficar parada no tempo tem que evoluir junto com eles e dar a todos o mesmo
preparo, aceitar a diversidade, evita a excluso e contribui para o sucesso de todos. A
filosofia da incluso, por sua vez, precisa ser interpretada, divulgada e planejada
corretamente, afim de produzir resultados adequados.
Neste sentido, a campanha de esclarecimento sobre a educao inclusiva, levada
a efeito pelos setores pblico e privados junto sociedade, muito contribuir para tornla realidade. (SCHWARTZMAN, 1999, p.262). [...] Fazer com que crianas sejam
includas no uma tarefa fcil, levando-se em conta que se vive em uma sociedade onde
os estereotipo falam mais alto do que os direitos humanos.
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Educao
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,
.
13
403
RESUMO
O presente trabalho resulta das investigaes iniciais de uma dissertao de mestrado em processo
de construo. Tenho como objetivo apresentar a partir do relato de um caso, como o trabalho do
professor particular pode ser um diferencial na trajetria escolar de estudantes com o diagnstico
de Transtorno de Dficit de Ateno. No relato apresentado, a presena do professor particular, se
concretizou na trajetria escolar do estudante, a partir de uma ao de sua famlia, na busca por
alternativas para enfrentar os problemas de aprendizagem encontrados pelo estudante. O referencial
terico adotado o de Pierre Bourdieu e seus interlocutores. A partir desse referencial busco
compreender as estratgias familiares que tenham a inteno de garantir que seus filhos tracem uma
trajetria escolar de sucesso. O professor particular entendedido como uma dessas estratgias.
Assim, a metodologia do trabalho consistiu em uma busca por espaos que oferecem o trabalho do
professor particular e a realizao de uma entrevista com a me de um aluno com diagnostico de
Dficit de Ateno. A partir dessa entrevista, foi possvel concluir que o trabalho desenvolvido pelo
professor particular com esse aluno, entendido como uma forma de garantir que o estudante
aprenda os contedos escolares. Alm disso, o professor particular visto como uma possibilidade
de fazer com que esse estudante crie hbitos favorveis aos momentos de dedicao ao estudo.
Palavras-chave: Professor Particular; Famlia; Escola; Dficit de Ateno; Parentocracia
INTRODUO
O trabalho aqui apresentado um recorte de uma pesquisa de mestrado em educao que
est sendo desenvolvida. Essa pesquisa tem como objeto de estudos as estratgias desenvolvidas a
partir da ao dos pais que visam para seus filhos uma trajetria escolar de sucesso. A estratgia
1Mestranda do Programa de Ps-Graduao em Educao da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
(PPGEdu/UFMS), vinculado Linha de Pesquisa Escola, Cultura e Disciplinas Escolares.
E-mail: [email protected]
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2
focada nessa pesquisa a contratao de um professor particular para realizar acompanhamento
escolar e combater as dificuldades de aprendizagem apresentadas pelos estudantes. Essas aes
familiares diante da escolarizao de seus filhos, denominada de parentocracia.
Estudos desenvolvidos na rea de educao, apontam uma forte presena da famlia no
processo de escolarizao de seus filhos, nota-se que [] escola e famlia intensificam suas
relaes de modo nunca antes conhecido. A presena dos pais no recinto escolar e sua participao
nas atividades de ensino tornam-se cada vez mais comuns. (NOGUEIRA, 2005, p. 575). Essa
aproximao possibilita que os pais identifiquem e compreendam as dificuldades de aprendizagem
encontradas pelos filhos.
O termo parentocracia surge a partir da observao da proximidade que as famlias
desenvolvem com a trajetria escolar dos estudantes. Com a noo da parentocracia possvel
identificar e compreender as estratgias desenvolvidas pelos pais em busca do sucesso escolar.
[...] a parentocracia pode ser entendida como um meio de facilitar a diferenciao
da escolarizao em funo do grupo social e, deste modo, permitir a criao [ou
manuteno] da elite escolar. Neste panorama, a parentocracia surgir como um
meio de seleco legtimo, em que os pais surgem como os responsveis pelo
percurso escolar dos seus filhos. (ANTNIO; TEODORO, 2011, p. 174).
O conceito de parentocracia evidencia que as aes desenvolvidas pelos pais, podem ser
entendidas como fatores que contribuiro para uma trajetria escolar de sucesso, j que os pais
possuem capacidades para escolher e desenvolver determinados tipos de investimentos, que
sozinhos, os filhos no dariam conta de fazer.
Os pais organizam o cotidiano escolar dos filhos, desenvolvendo diversos tipos de
estratgias para garantir que as atividades em que os filhos se envolvem possam contribuir para que
os estudantes tenham um bom desempenho escolar. As estratgias so desenvolvidas e pensadas no
decorrer da trajetria escolar.
Para cada momento da trajetria escolar do estudante, os pais desenvolvem determinados
tipos de estratgias que vo depender das condies de investimentos e possibilidades oferecidas
pelo mercado. Assim, temos [...] a ideia de estratgia como orientao da prtica, que no nem
consciente e calculada, nem mecanicamente determinada. (BOURDIEU, 2014, p. 36).
Os pais desenvolvem essas aes pensando no bem-estar futuro de seus filhos. uma
tentativa de garantir que seus filhos permaneam ou alcancem uma posio na estrutura social
405
3
melhor do que aquela que se encontram. Uma das primeiras estratgias desenvolvidas pela famlia,
a escolha da escola em que os filhos estudaro. Identifica-se que [] a escolha da escola
significa um primeiro movimento familiar na construo da trajetria escolar dos filhos.
(BRANDO, 2010, p. 2).
A escola escolhida pelos pais um reflexo das expectativas criadas por eles sobre a
trajetria escolar de seus filhos. As escolas so escolhidas pelos pais quando o mtodo de ensino
que desenvolvem, correspondem a essas expectativas. A escola deve ser um espao em que os
filhos continuem seguindo o caminho idealizado pelos pais.
A famlia e a escola funcionam, inseparavelmente, como espaos em que se
constituem, pelo prprio uso, as competncias julgadas necessrias em
determinado momento, assim como espaos em que se forma o valor de tais
competncias, ou seja, como mercados que, por suas sanes positivas ou
negativas, controlam o desempenho, fortalecendo o que "aceitvel",
desincentivando o que no o , votando ao desfalecimento gradual as disposies
desprovidas de valor. (BOURDIEU, 2007, p. 82).
Os pais podem buscar por escolas confessionais para garantir que seus filhos continuem
seguindo os princpios religiosos familiares. Se os pais planejam uma viagem de intercmbio para
os filhos, buscam por escolas bilngues, e assim por diante. Nota-se que [] famlias de alta renda
utilizam-se da escola privada, delegando a essas instituies a incumbncia de reforar a educao
recebida no seio familiar, resultando em uma experincia homognea. (KULNIG, 2010, p. 37).
As possibilidades de escolha se ampliam conforme o acmulo de capitais que a famlia
possui. importante destacar que no se trata somente do acmulo do capital financeiro. Essas
estratgias possuem maiores chances de se concretizar a partir do capital financeiro, porm, em
alguns casos, para idealizar e desenvolver determinados tipos de estratgias, necessrio um maior
acmulo de capital cultural e social.
a unio do acmulo dos diferentes tipos de capitais que define as possibilidades que as
famlias tero para realizar investimentos, assim [] desiguais posses de capitais implicam em
desiguais possibilidades de efetivao das escolhas. (SOUZA, 2012, p. 15). Quando a famlia
investe no capital cultural e escolar de seus filhos, h a inteno de que no futuro, ocorra uma
converso do capital cultural e escolar em capital financeiro.
O capital econmico refere-se aos [...] recursos materiais disponveis, a renda e a
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4
riqueza material das famlias, que podem ser revertidos em acesso a outros bens e
servios, traduzidos em: moradia, alimentao adequada; servios de sade,
educao de qualidade, bens de consumo durveis, e outros bens que tendem a
proporcionar condies mais favorveis ao desenvolvimento, a manuteno ou
ascenso social dos indivduos no futuro. (MENDES, 2012, p. 55).
O capital econmico permite que os pais faa investimentos que daro aos filhos melhores
oportunidades no mercado de trabalho a partir da formao escolar que tiveram. Cada vez mais os
pais buscam por alternativas que proporcionem que seus filhos tenham um diferencial para
apresentar ao mercado de trabalho.
Alm dos certificados oferecidos pelas instituies de prestgio em que os filhos so
matriculados, h uma busca no mercado escolar, por cursos, palestras, workshops, viagens de
intercmbio, entre outros elementos, que podem significar uma distino entre os estudantes na
disputa por uma vaga no mercado de trabalho.
A organizao da vida escolar dos filhos, realizada pelos pais, denominada de cultivo
orquestrado. O cultivo orquestrado est ligado a ideia de parentocracia.
[...] aes visando estimular o desenvolvimento cognitivo e social dos filhos,
levando-os constituio de habilidades julgadas necessrias a sua vida futura,
mas tambm a seu bem-estar presente. Para isso, organizam uma programao
intensa e contnua que estrutura o tempo extraescolar (aulas de artes, idioma,
esportes, etc.) e que parte integrante de uma lgica de criao dos filhos que
Lareau denomina de cultivo orquestrado. (NOGUEIRA, 2012, p. 118).
A partir da ao dos pais o cotidiano dos filhos organizado visando atingir os objetivos
traados para a trajetria escolar daqueles estudantes. Alm da escola, os filhos frequentam cursos,
visitam museus, livraria, faam viagens de turismo para conhecer pontos histricos, e etc. O cultivo
orquestrado desenvolvido seguindo uma lgica, para que uma ao complemente a outra.
A partir da parentocracia, e do cultivo orquestrado, os estudantes possuem a possibilidade
de diferentes elementos que podem contribuir para sua escolarizao.
[] nos ltimos 25 anos, vem se desenvolvendo uma escola fora da
escola, expresso que usa para designar a expanso atual de um conjunto
de dispositivos de suporte ao escolar (soutien scolaire) que tm por
407
5
finalidade equipar o aluno para a corrida de obstculos escolar. Trata-se de
um arsenal constitudo de materiais para-escolares e de dispositivos de
terceirizao da ajuda domstica: aulas particulares, servios a domiclio,
consultrios
de
psico-pedagogia,
empresas
especializadas
no
OBJETIVOS
O objetivo deste trabalho demonstrar a partir do relato de um caso como o trabalho do
professor particular pode ser um diferencial na trajetria escolar de estudantes com diagnstico de
Dficit de Ateno.
METODOLOGIA
A partir da identificao do professor particular como uma estratgia para alcanar
trajetrias escolares de sucesso2, foi realizada uma busca na internet para encontrar profissionais
2 Essa identificao foi possvel a partir de uma pesquisa de ini ciao cientfica realizada nos anos de 2102 e 2013,
financiada pelo CNPq. O plano de trabalho da iniciao cientfica desenvolvida faz parte do projeto de pesquisa
intitulado Estratgias familiares na escolha de estabelecimentos escolares: as relaes entre famlias e escolas na
produo do sucesso escolar em Campo Grande/MS (CNPq 2011-2013) coordenado pela Prof Dr Jacira Helena do
Valle Pereira Assis. Os resultados encontrados na pesquisa de iniciao cientfica foram apresentados num artigo e
como Trabalho de Concluso de Curso intitulado Estratgias de famlias e escolas de prestgio em busca da ampliao
de capitais em Campo Grande/MS.
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6
que oferecem esse servio na cidade de Campo Grande/MS. Essa busca apresentou como resultado
diversos nmeros de telefones e uma franquia que oferece os servios de professores particulares.
Essa franquia tornou-se lcus da pesquisa de mestrado em desenvolvimento3.
Durante as pesquisas realizadas para o desenvolvimento da dissertao de mestrado, realizei
uma entrevista com a me de um aluno dessa franquia que possui o diagnstico de Dficit de
Ateno. A partir do que foi relatado nessa pesquisa, foi possvel fazer esse recorte que permite que
tenhamos uma noo, ainda que primria, dos benefcios que a presena do professor particular
pode trazer para a trajetria escolar para alunos com esse diagnstico.
RESULTADOS E DISCUSSES
A franquia em que realizamos a pesquisa, oferece os servios de professores particulares, e
tem cedes espalhadas por todo o Brasil. Est em Campo Grande/MS desde 2011 e oferece aulas
particulares para todos os nveis de ensino. Os servios oferecidos pela franquia 4 dividem-se em
acompanhamento escolar e reforo escolar.
No decorrer da pesquisa com a instituio encontrei o caso de um aluno com diagnstico de
Dficit de Ateno. Conversando com a me desse aluno, perguntei a ela se havia o interesse de
participar da pesquisa. Desenvolvi uma entrevista 5 para identificar quais so os benefcios que o
professor particular pode trazer para a trajetria escolar desse estudante. Essa entrevista permitiu o
recorte da pesquisa para a apresentao desse trabalho.
Durante a entrevista, a me relatou que o filho sempre teve muita dificuldade de
aprendizagem, mas que ela sempre tentou desenvolver estratgias para ajudar o estudante a superar
as dificuldades encontradas. Desde que o filho recebeu o diagnstico de Dficit de Ateno, a me
desenvolveu um acompanhamento e organizou a vida familiar de forma que todos pudessem
contribuir para a aprendizagem do estudante.
Sua formao em pedagogia possibilitou que no incio da trajetria escolar de seu filho, ela
mesma dava aulas de reforo e desenvolvia atividades que pudessem auxili-lo. Alm disso, o
estudante ainda contou com o auxlio da av, formada em Histria e da irm que est terminando o
curso de graduao em direito e possui curso de ingls.
3 Por opo da franquia, os dados da mesma no sero revelados.
4 A franquia optou por no revelar seus dados. Em nossa pesquisa, ela ser identificada pelo nome fictcio de Escola de
Aulas Particulares.
5 A entrevistada optou por no revelar seus dados. Em nossa pesquisa, ela ser identificada pelo nome fictcio de
Isabel.
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7
Nota-se que h um envolvimento familiar muito grande na busca da superao das
dificuldades do aluno em questo. Alm disso, o capital cultural e escolar que os membros dessa
famlia possui entendido como um diferencial, assim
[] a participao da famlia e o seu efeito nos estudos do filho esto intimamente
relacionados ao background familiar, ou seja, ao seu capital econmico, cultural e
social. Isso significa que quanto mais elevado o nvel socioeconmico e cultural
da famlia, maior a chance de ela acompanhar a vida acadmica dos filhos e,
consequentemente, destes alcanarem sucesso na escola e na vida. (ALVES, 2011,
p. 57).
No caso dessa famlia, o acmulo de capitais dos diversos membros permite que eles
possam contribuir de alguma forma para que o estudante com o diagnstico, mesmo diante das
dificuldades de aprendizagem possa alcanar uma trajetria escolar de sucesso, [] percebe-se,
dessa forma, que a famlia tem o compromisso com a educao integral dos filhos, por isso atua
tanto na educao informal como na formal. (ALVES, 2011, p. 55).
O relato da me do estudante revela que houve uma dificuldade muito grande para
encontrar escolas que fossem capazes de corresponder as expectativas familiares. O estudante teve
que trocar de escola diversas vezes em sua trajetria escolar. Alm da busca por escolas que
atendessem as necessidades educativas do estudante, a opinio do mesmo sobre a permanncia ou
mudana de instituio tambm era levada em conta.
Durante a trajetria escolar de seu filho, a me j havia feito a opo de contratar
professores particulares para auxili-lo. Porm ela notava que o atendimento realizado pelos
professores na casa do estudante no trazia resultados satisfatrios. O aluno, por estar em casa, no
conseguia se concentrar.
[] A eu tentei junto com a minha me conversando, n? Falei: Me, vamos ver
se a gente consegue em casa, puxar esse profissional pra dentro de casa!. Mas no
consegue, porque toca o telefone, ele v ali que est o computador, ele v ali uma
coisa dele, ele fica l focado l. Tanto que l na Escola de Aulas Particulares uma
escrivaninha, duas cadeiras, a lousa e nada mais no ambiente a no ser um quadro
com as crianas, querendo dizer que a sala pra estudo, s. (ISABEL, 2015).
Atualmente ele est no 2 ano do Ensino Mdio e foi nesse momento que a me optou pela
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8
franquia. Segundo ela, o ambiente em que as aulas acontecem favorvel para o estudante. Quando
ele tem as aulas na cede da franquia, h um entendimento de que aquele espao destinado aos
estudos, o que o ajuda a se concentrar.
O trabalho desenvolvido por Castro (2013) identifica algumas vantagens nas aulas
ministradas por professores particulares fora da residncia dos estudantes. Segundo a autora
Um impacto interessante da frequncia em centros de tutoria, [] o fato
confirmado das outras possibilidades encontradas nessa estrutura fora do espao
escolar. Esse pode ser visto como um lugar intermedirio, que no tem a presena
direta da famlia (com altas expectativas, tenses...), nem da escola (avaliadora,
punitiva...). Um local onde os alunos podem expor as dificuldades sem medo,
onde podem tentar vrias vezes at acertar, sem medo de falhar, pois esse o
espao onde pouco a pouco tm a possibilidade de aprender sem ser avaliado.
(CASTRO, 2013, p. 39).
O aluno identificou que o reforo dado pela escola no capaz de atender suas dificuldades
individuais da mesma forma que o professor particular capaz. Pois no reforo dado pela escola,
os professores desenvolvem as mesmas prticas das aulas regulares, e no h um atendimento
individual dos alunos.
Outro fator de diferena entre aulas particulares e em grupos est na relao
professor/aluno, que necessariamente mais estreita, no sentido de que o professor
direciona suas aulas aos interesses deste aluno, pois no precisa trabalhar com a
heterogeneidade existente em grupos. Em aulas particulares, as adaptaes da fala
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9
do professor em relao ao aluno so mais evidentes. (ORTALE, 1995, p. 6).
Segundo ela, o prprio estudante pede para que as aulas particulares na tutoria sejam
providenciadas. Para a me, essas aulas tornam-se um investimento no futuro do filho. A partir
dessas aulas ela consegue ampliar as expectativas que tem sobre a trajetria escolar do estudante.
[] os membros de cada grupo social tendero a investir uma parcela maior ou
menor dos seus esforos medidos em termos de tempo, dedicao e recursos
financeiros na carreira escolar dos seus filhos, confo\rme percebam serem
maiores ou menores as probabilidades de xito. [] o grau de investimento na
carreira escolar est relacionado ao retorno provvel, intuitivamente estimado, que
se pode obter com o ttulo escolar, no apenas no mercado de trabalho, mas,
tambm, nos diferentes mercados simblicos. (NOGUEIRA; NOGUEIRA, 2002,
p. 23).
No caso do aluno com Dficit de Ateno, a aula com o professor particular, a partir do
relato da me do estudante, apresenta os seguintes benefcios: o primeiro na capacidade de
concentrao que o aluno desenvolveu durante essas aulas. Por estar em um ambiente direcionado
para prticas educativas, o estudante conseguiu desenvolver uma melhor capacidade de ficar atento
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10
ao professor e a aula.
Alm disso, as aulas particulares so [...] uma possibilidade de superao das dificuldades
de aprendizagem ou, at mesmo, buscam um atendimento mais personalizado. (CASTRO, 2013,
p. 166). O atendimento individual do aluno e de suas dificuldades entendido como um benefcio
pelo prprio estudante, j que o professor pode se dedicar somente ao que aquele ele precisa.
REFERNCIAS
413
11
NOGUEIRA, Maria Alice. Classes mdias e escolas: novas perspectivas de anlise. Currculo sem
Fronteiras, v.10, n.1, p. 213-231, Jan/Jun 2010.
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1995.
SOUZA, Fernanda de Lima. A escolha de um estabelecimento de ensino catlico por algumas
famlias moradoras do Mier: a pluralidade do ato de escolher. 2012. 140f. Dissertao
(Mestrado). Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Educao, Rio de Janeiro, 2012.
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1- Introduo
O desenho da pesquisa
O presente texto parte do projeto de dissertao em andamento titulada como:
Prticas escolares e a escolarizao do estudante com deficincia intelectual: os recursos
didticos em foco, que tem por objetivo analisar os cadernos escolares dos estudantes com
deficincia intelectual em sala comum tendo como ponto de partida o que postula a Poltica
Nacional da Educao Especial na Perspectiva da Educao Inclusiva (Brasil, 2008).
A poltica educacional no Brasil tem preconizado que os alunos pblico alvo da
educao especial sejam matriculados na escola da rede regular de ensino. Para tanto, define
que a educao especial seja uma modalidade transversal e que faa parte da proposta
pedaggica da escola.
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deficincia intelectual escassa a abordagem. Por esta razo o recorte da investigao ficou
mais limitado e foi preciso selecionar as pesquisas que apresentassem o descritor caderno
escolar no ttulo, nas palavras chaves ou no resumo e ainda que abordassem o caderno
escolar propriamente dito, e no o estudo atravs deste para outros assuntos. Do material
coletado na investigao foram encontrados 17 trabalhos, sendo: um relatrio de psdoutorado, duas teses, seis dissertaes, uma monografia e sete artigos (alguns artigos frutos
de teses ou dissertaes).
Alm dos 17 trabalhos encontrados nas bases de dados citadas anteriormente, foi
encontrado um livro que aborda diretamente os cadernos escolares, com o ttulo: Cadernos a
vista: Escola, Memria e Cultura escrita, de Ana Chrystina Venncio Mignot (2008), que
rene 15 estudos sobre a temtica dos cadernos escolares. A obra traz estudos internacionais,
como pesquisas da Frana, Argentina, Espanha e Itlia.
Do ponto de vista de Santos (2002) e Grendel (2009), o caderno pode ser assim
considerado ... como meio para uma produo especfica, no caso escolar, mas sempre
apreendido na e a partir da sociedade (GRENDEL, 2009).
3
417
O caderno escolar est presente no cotidiano do aluno, ele faz parte da histria da
educao, pois retrata os fatos acontecidos no decorrer da histria da humanidade. Em sua
obra: Um objeto quase invisvel Mignot (2008), estabelece uma relao entre o ensino e os
cadernos escolares:
[...] de objetos escassos entre os alunos, os cadernos passaram a serem
materiais corriqueiros na sala de aula. Inicialmente protagonistas,
passaram a ser coadjuvantes do ensino. Modificam-se e diversificamse os tamanhos, formatos e valores, so vendidos na papelaria e at
nos mesmo em postos de gasolina. Tornaram-se objetos de consumo e
no mais de desejo. (MIGNOT, 2008)
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ideais modernos refletiram diretamente nas prticas pedaggicas. Segundo Cambi (1999,
p.204), a famlia e a escola consolidam-se como duas instituies educativas que passaram
por redefinies e reorganizaes na sociedade moderna, pois estas ganham centralidade na
formao dos sujeitos. O autor afirma que as duas instituies chegam a cobrir todo o arco
da infncia-adolescncia como locais destinados formao. (CAMBI, 1999 apud
NEUBERT e SCHLINDWEIN, 2014)
3- Os cadernos em estudo
De acordo com Porto e Peres (2009),
[...] a necessidade de refletir e investigar os cadernos escolares
explicitada em diferentes pesquisas como Grendel (2009); Lopes
(2006); Santos (2002,2008); Mignot (2008), Viao (2008) entre
outros, uma vez que estes materiais apresentam-se como objetos
naturalizados no contexto escolar, so ricos como fonte documental
para a pesquisa em histria da educao, histria da infncia e da
cultura escrita e ainda um tema pouco pesquisado, segundo afirma
Grendel e Santos.
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o conhecimento de toda a dinmica existente dentro da sala de aula, dos atores que encenam
este processo.
Pesquisa realizada por Neres (2014) demonstra a real possibilidade de analisar
como vem se materializando a educao dos alunos com deficincia que esto matriculados
na escola, tomando com elemento de anlise os cadernos escolares e o registro das prticas
pedaggicas. Os cadernos desses estudantes apontam elementos importantes para a
investigao dos seus processos de escolarizao, o caderno concretiza o trabalho
desenvolvido pelo professor e aluno durante o ano escolar.
Mediante a Poltica Nacional da Educao Especial na Perspectiva da Educao
Inclusiva possvel realizar uma anlise especfica do caderno escolar, enquanto recurso
didtico utilizado por estudantes com deficincia intelectual em sala comum. Sendo assim,
favorecer um estudo deste objeto pertencente a estudantes que muitas vezes no tem voz e
expressividade em local de aprendizagem possibilita conhecer o cotidiano da escola as suas
prticas pedaggicas.
De modo geral, os cadernos escolares dos alunos com deficincia intelectual
evidenciam de que forma cada professor e a escola compreendem a presena destes estudantes
em sala de aula e nos diversos espaos de aprendizagem oferecidos. Nos cadernos os
estudantes realizam o registro a partir de suas experincias como est ocorrendo a sua
aprendizagem, bem como expressam atravs de seus registros a importncia que cada
componente curricular tem em sua aprendizagem.
Cada estudante evidencia marcas de um processo de aprendizagem, assim como os
outros estudantes os com deficincia intelectual tambm demonstram este processo. No
entanto de uma forma diferenciada, pois requerem tempo e situaes peculiares que envolvem
fatores biolgicos, sociais, culturais e psicolgicos que influenciam neste processo. Sendo
assim, pode-se afirmar que cada caderno escolar do estudante com deficincia trs em si um
contexto individualizado que em sua maioria das vezes no compreendido ou valorizado.
Em sua pesquisa Neres (2014), constatou que o caderno escolar se constitui como
fonte primria rica em informaes relativas ao ensino e a aprendizagem, considerando que
nele possvel ver os registros e resultados do trabalho do aluno no decorrer das aulas e
outras situaes didticas. Vale destacar ainda, conforme a autora, a respeito das inscries
7
421
realizadas nos cadernos, que estas buscam evidenciar a veracidade do objeto analisado, pois
possibilita o registro, o acompanhamento histrico, o conhecimento sobre o professor e sobre as
relaes que se do no contexto escolar. Conforme Santos (2012), o caderno escolar,
So instrumentos didticos que tornam possvel a observao do
resultado do trabalho do aluno ao longo de um dia de trabalho escolar,
ou at mesmo ao longo de toda a sua escolarizao. Seus registros so
provas materiais de atividades cumpridas ou no cumpridas; podem
revelar aprendizados, incorrees, momentos de incompreenso a
respeito do contedo escolar. Suas aparncias podem revelar, por meio
de pequenos rasgos ou amassados, momentos de descuido, marcados
para sempre no caderno. (SANTOS, 2012)
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5- Consideraes finais
O levantamento realizado evidenciou que o caderno escolar cumpre com diversas
funes no mbito escolar com sendo fator de: carter disciplinador; controlador, verificao
do aprendizado e avaliao do desempenho. considerado no processo avaliativo inclusive o
seu valor esttico. O processo de naturalizao sofrido por este material; o seu potencial para
a pesquisa; o predomnio das atividades de cpia; a necessidade de orientao para o uso por
parte dos estudantes com deficincia intelectual e a escassa produo sobre o tema entre
outras mostram a importncia desse instrumento para a anlise da escolarizao dessa
populao.
A escola precisa revelar-se como o local apropriado para o ensino e aprendizagem e
que existem inmeras formas de ensinar e de se aprender e que o caderno escolar um dos
instrumentos deste processo. Analisar o caderno escolar dos alunos com deficincia
fundamental considerando a proposta de incluso escolar em curo, pois o registro escolar do
sujeito com deficincia se coloca na condio de estudante como os demais. O uso do caderno
traz indcios, informaes e pistas de sua apropriao do conhecimento e de que forma ele
com suas capacidades apropriou-se dos conhecimentos.
Verifica-se que o caderno escolar enquanto objeto de anlise da escolarizao dos
estudantes com deficincia intelectual pode revelar como est se materializando esse processo
em um determinado ano escolar, tendo em vista a orientao da poltica educacional em
relao incluso escolar. Para alm de registrar situaes e dados j apontados nesse
trabalho, o caderno escolar uma importante fonte primria que possibilita visualizar os
bastidores dos cadernos (Santos, 2002), a organizao do trabalho didtico que se manifesta
na escola.
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Educao Inclusiva. Braslia: MEC/SEESP,2008
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Resumo
Esse trabalho tem como objetivo, a partir da anlise de aspectos histricos, discutir como se configurou
o trabalho dos professores que se dedicaram inicialmente ao atendimento das pessoas com deficincia.
Percebeu-se, por meio da histria que o trabalho com as pessoas com deficincia iniciou-se com modelos
que priorizava enfoques mdicos pedaggicos com vis assistencial, perpassando pelas instituies
especializadas, at se constituir como modalidade de educao por meio da Lei de Diretrizes e Bases da
Educao Nacional (LDB) N 9394/96, se conformando sob responsabilidade da escola comum, por
meio de propostas de integrao e incluso. Para tanto, recorreu-se ao estudo bibliogrficos de Jannuzzi
(2004), Neres (2006), (2010), dentre outros autores, alm de Legislaes relacionadas Educao
Especial. Contudo, para uma compreenso mais expressiva do trabalho desses profissionais pertinente
considerar as condies postas para a constituio da modalidade de Educao Especial dentro do
sistema geral de ensino comum e incluso escolar, no mbito organizacional da sociedade. Para um
entendimento mais substancial do assunto em questo, foi realizado um estudo com enfoque na anlise
do trabalho dos professores comuns e especializados diante da escolarizao de estudantes com
deficincia numa escola municipal na cidade de Campo Grande-MS, no qual foi possvel refletir acerca
dos papis desempenhados por estes profissionais e sua articulao no contexto de sala de aula comum.
Concluiu-se com as anlises que os trabalhos destes profissionais embora, em certos momentos
apresentar-se de forma colaborativa, prevalece a dualidade e isolamento no atendimento, revelando que
o carter segregacionista ainda persiste nos espaos escolares.
Palavras-chave: Papel dos Professores Comuns e Especializados, Escolarizao dos Estudantes com
Deficincia, Sala de Aula Comum, Articulao.
1. Introduo
427
processo de excluso sob o modo de produo capitalista ontem e hoje. E que a incluso, vai
alm dos discursos para a Educao Especial, sendo uma resposta excluso dos
marginalizados socialmente, no entanto, a modalidade se apropria do conceito incluso social
como equiparao de direito de todos educao. Contudo, surgem aes e polticas pblicas
na tentativa de atenuar as tenses sociais implicadas pelo capitalismo, de forma a promover
estabilidade na sociedade.
Diante dos reclames da sociedade em equipar direitos, a escola como poltica social,
toma para si o discurso de incluso escolar, na tentativa de garantir a escolarizao das pessoas
com deficincia no ensino comum, o que se confirma em Lancillotti (2006, pag.35) ao afirmar
que: A escola, como todas as instituies sociais, tem sido palco de aes dessa natureza.
Neste sentido, o estudo discutir os aspectos histricos da Educao Especial na
perspectiva da incluso escolar e seu processo pedaggico com enfoque no papel desenvolvidos
pelos professores comum e especializado diante da escolarizao e atendimento dos estudantes
com deficincia. Um processo que perpassou pelo, assistencialismo, insero destas pessoas na
sociedade, via trabalho, tendo as primeiras iniciativas de atendimento em instituies
especializadas, justificando a concepo atual de segregao. As discusses, perpassam a
constituio desta modalidade de educao nas propostas educacionais e suas designaes, ora
integrao, ora incluso, esta ltima recorrente nos discursos atuais, que por meio de polticas
pblicas tem intuito de contemplar a escolarizao os estudantes com deficincias.
Para tanto, o presente trabalho tem como objetivo discutir a constituio do trabalho
dos profissionais que se dedicaram ao atendimento e a educao das pessoas com deficincia.
Essas iniciativas permitiram a ampliao deste atendimento e preocupaes com a
escolarizao dessas pessoas, que perpassou pelas instituies especializadas, at se
configurarem sob responsabilidade da escola comum.
428
429
apresentado, pelos casos mais graves, resistentes ao tratamento [...]. A autora ressalta: que os
mdicos perceberam a importncia da pedagogia, criando instituies escolares ligadas a
hospitais psiquitricos. Mas esse atendimento mantinha o enfoque na deficincia e nas
limitaes, na tentativa de conceder-lhes tratamento.
Quanto s influncias da psicologia, Jannuzzi (2004) destaca os Laboratrios de
Psicologia Experimental, anexos s escolas, com testes de inteligncia por meio de observaes
e questionrios realizados por professores, e posteriormente encaminhamento mdico. Apesar
de tentar amenizar o enfoque mdico, as observaes partiam de pressupostos na deficincia.
Essas inciativas, embora segregadoras, com enfoques mdicos, assistencialistas,
reafirmando as dificuldades dos indivduos e com o intuito de integr-los na sociedade,
possibilitaram a preocupao com a educao dessas pessoas, sistematizada nas instituies
especializadas e posteriormente permitiram a insero destas na escola comum. Atualmente, as
polticas pblicas visam a superao das pedagogias paralelas que persistem no interior dos
espaos escolares comuns.
430
431
432
A anlise revela a forma improvisada pela qual esses profissionais passam a oferecer
escolarizao aos estudantes com deficincia, formao estruturadas em experincias dirias e
improvisadas, com fortes influncias nas concepes de atendimento das instituies
especializadas.
A lei LDB n 9394/96 orientou no seu art. 59, que os sistemas de ensino asseguraro
aos educandos com necessidades especiais: [...] III. Professores com especializao adequada
em nvel mdio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino
regular capacitados para a integrao desses educandos nas classes comuns [...]. Neste
documento h mais propriedade no tocante especializao e capacitao dos professores
especializados e comuns que atuaro na escolarizao destes estudantes.
E a Resoluo Conselho Nacional de Educao (CNE) n 2/ 2001, art. 8 orientou que
as escolas regulares devem prever e prover na organizao comum:
I - [...] professores das classes comuns e da educao especial capacitados e
especializados, respectivamente, para o atendimento s necessidades
educacionais dos alunos[...] e IV servios de apoio pedaggico
especializado, realizado, nas classes comuns, mediante: a) atuao colaborativa
de professor especializado em educao especial [...]
433
Diante das orientaes das polticas pblicas vigentes pertinente refletir acerca do
trabalho dos profissionais frente ao atendimento e escolarizao dos estudantes com deficincia
e de que maneira isso reflete nas suas prticas. Para tanto, pertinente abordar as anlises da
pesquisa com foco no Papel do Professor Comum e Especializado diante da Escolarizao do
Estudante com Deficincia numa escola da rede municipal na cidade de Campo Grande-MS,
no sentido de analisar e refletir as prticas destes profissionais na sala de aula comum.
O estudo consiste em observaes das salas de aula do 5 ano do ensino fundamental I
e 9 ano do fundamental II, coexistindo o estudante A com epilepsia de difcil controle; dficit
cognitivo; transtornos psicticos; transtornos do desenvolvimento motor e esquizofrenia e o
estudante B com deficincia intelectual; paralisia cerebral; comprometimento fsico
neuromotor; baixa viso, cadeirante e com limitaes na fala e escrita, na qual atuam
professores comuns e especializados, este ltimo denominado Auxiliar Pedaggico
Especializado (APE) de acordo com a Resoluo da Secretaria Municipal de Campo Grande
(SEMED) N 154 de 21 de fevereiro de 2014, a referida lei, no cap. III: art. 20 afirma que o
professor na funo de APE: [...] um profissional da educao que atua no contexto da sala
434
de aula do ensino comum, em todas as etapas e modalidades, [...]. E conforme o art. 23 desta
Resoluo, dentre as atribuies deste profissional esto:
I - atuar na sala de aula para viabilizar o acesso dos alunos aos conhecimentos
e contedos curriculares por meio da adequao das atividades didticopedaggicas, [...]; II - Planejar, juntamente com o professor regente, as
situaes de interveno com responsabilidade compartilhada em sala de aula;
435
436
O professor comum, de disciplina especfica deve ter clareza, que nem sempre uma
formao especfica na rea da educao especial o preparar para sistematizar sua aula ou
abordar um determinado contedo. Neste sentido Baptista (2013, pag. 56) orienta que: nossas
dificuldades iniciais, [...] encontram-se no plano cotidiano, de nossa capacidade de agir em
modo sintnico com os atuais desafios que caracterizam a vida de cada professor. No entanto,
as atitudes so condicionadas pelos acontecimentos, imprevisveis e no planejados de acordo
com os momentos de aprendizagem e das limitaes dos estudantes.
Na aula de raciocnio lgico percebeu-se disparidade dos trabalhos de professor regente
e APE. O professor realiza simulados, sendo necessrio o silncio na aula, e alm do estudante
B no possui conhecimentos que a disciplina exige, apresenta limitaes na fala, sendo
necessrio falar alto e vrias vezes. Portanto, o APE e estudante se retiram da sala para
realizarem atividades de matemtica simples num ambiente diferente.
Baumel (2004, pag. 156) destaca acerca destas barreiras percebidas na sala de aula
diante da incluso dos estudantes com deficincias, afirmando que: Pode-se situar nessa
perspectiva diversas naturezas de barreiras: as atitudinais, fsicas e pedaggicas [...].
Na anlise do contexto explicitado percebe-se barreiras de ordem pedaggicas e
atitudinais, diante dos atendimentos paralelos, com atividades diferentes e de ordem fsica, ao
serem propostas em ambiente diferentes. Permitindo a reflexo acerca do que afirma Mendes
(2010, pag. 106): Tradicionalmente, a histria da educao especial no Brasil tem se
processado de forma paralela ou independente dos movimentos da educao regular.
O conhecimento a acerca dos limites e possibilidades dos estudantes com deficincia
permitir que o professor comum repense suas prticas. Vale ressaltar que de acordo com o
grau de dificuldades que determinadas disciplinas apresentam, maior nvel de
comprometimento do professor, no sentido de pensar estratgias que viabilizem a aprendizagem
do estudante.
Nas disciplinas qumica e fsica, o trabalho do professor comum e APE se articulam
significativamente. O professor solicita a opinio do APE acerca do que pode ser relevante nas
suas disciplinas na aprendizagem do estudante B, e aplica nas aulas de forma concreta.
Mendes, Almeida e Toyoda (2011, pag. 85) afirmam que o ensino colaborativo ou
coensino: [...] um modelo de prestao de servio de educao especial no qual um educador
comum e um educador especial dividem a responsabilidade de planejar, instruir e avaliar a
instruo de um grupo heterogneo de estudantes.
437
4. Consideraes Finais
438
Referncias
439
440
1
A terminologia deficincia intelectual tem sido usada recentemente em substituio ao termo deficincia
mental e passou a ser divulgada oficialmente em 1 de janeiro de 2007 com o surgimento da sigla
AAIDD- Associao Americana de Deficincias Intelectual e de Desenvolvimento. Esta sigla passou a
ser utilizada no lugar da AAMR- Associao Americana de Deficincia Mental. O novo termo,
deficincia intelectual, entendido no mais como trao da personalidade, mas, com limitaes
especficas associadas a duas ou mais reas das habilidades adaptativas: comunicao, autocuidado,
habilidades sociais, vida familiar, uso comunitrio, autonomia, sade e segurana, funcionalidade
acadmica, lazer e trabalho.
2
Professor Doutor em Educao pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Professor no
curso de Mestrado Profissional em Educao da Unidade Universitria de Campo Grande. Orientador
desta pesquisa.
441
2
Introduo
O termo comum foi utilizado para se referir ao ensino desenvolvido na escola. Tal termo justifica-se
por considerar a escola um espao de todos, lembrando que h tambm as escolas especializadas.
Optamos utilizar comum ao invs de regular, pois, este ltimo, remete que pode haver irregularidades no
ensino desenvolvido nas escolas especializadas.
5
Quando falamos de alunos que tm o diagnstico mdico atestando a deficincia intelectual porque
so estes os considerados oficialmente pblico alvo da educao especial de acordo com a Poltica
Nacional de Educao Especial na Perspectiva Inclusiva (2008).
442
3
Esses ncleos tm como objetivo dar apoio pedaggico aos alunos com
deficincia, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotao,
matriculados no ensino comum na Rede Municipal de Ensino (REME) em Campo
Grande/MS, oferecendo tambm aos professores, apoio tcnico buscando estratgias
para promover o acesso, a participao e a escolarizao destes alunos. Esta assessoria
ocorre por meio do acompanhamento sistemtico da equipe do NUMAPS s escolas.
Os profissionais especialistas em educao especial que atuam nas escolas
comuns do Municpio de Campo Grande/MS so: o Coordenador de Mediao
Pedaggica do Atendimento Educacional Especializado (AEE) e o Auxiliar Pedaggico
Especializado (APE). Estes dois profissionais so selecionados por meio de processo
seletivo organizado pela Diviso de Educao Especial-DEE/SUGEPE/SEMED.
O Auxiliar Pedaggico Especializado (APE) exerce suas funes no contexto da
sala de aula do ensino comum e o Coordenador de Mediao Pedaggica atua no
443
4
No Artigo 23, fica explcito que este profissional deve trabalhar em parceria com
o professor da sala de aula do ensino comum propondo estratgias metodolgicas
diferenciadas para melhorar a escolarizao dos alunos com deficincia.
O artigo 12 da Resoluo Semed 154/2014 esclarece os critrios para atuar no
Atendimento
Educacional
Especializado
realizado
nas
Salas
de
Recursos
Multifuncionais:
Art. 12 Para integrar o banco de dados referentes s vagas oferecidas para
funo de professor especializado do AEE ser realizado processo seletivo,
organizado pela DEE/SUGEPE/SEMED, podendo concorrer somente
professores com pelo menos um vnculo estvel e disponibilidade para
lotao de 40h semanais.
444
5
Esse
445
6
Assim torna-se necessrio inserir nos planos de aulas tarefas que tenham sentido
para as crianas, pautadas em suas vivncias e experincias no contexto social. Para
tanto essencial que haja inteno pedaggica na proposio das mesmas, levando em
considerao as necessidades educacionais dos alunos com deficincia intelectual.
A abordagem de uma questo muito relevante como: o ensino da Matemtica e
deficincia intelectual ocasiona muitas vezes um grande impasse aos educadores, uma
vez que a prpria palavra deficincia por si retrata a falta de algo, relacionando-a com
a patologia (PADILHA, 2001).
Canguilhem (1995 apud PADILHA, 2001, p.3), afirma: O importante seria que
ns no limitssemos a vida humana a essa relao normal/patolgico, pois preciso
olhar para alm do corpo, alm da doena, alm da diferena, para alm da deficincia.
Assim pressupomos ser tambm necessrio ver a Matemtica como um fator de
insero do sujeito na vida social, uma vez que a sua aprendizagem possibilita as
crianas
com
deficincia
intelectual
utilizarem
significativamente
os
seus
446
7
Smbolos so de acordo com Piaget (1945/1951), marcas ou figuras de contagens produzidas pelas
prprias crianas. Os smbolos como figuras expressam o pensamento da criana podendo ser criados por
cada uma delas (KAMII ; HOUSMAN, 2002).
447
8
448
9
teoria consolidada. Esses discursos podem ser a prpria vivncia, isto , o fazer
repetitivo por longo tempo, como por exemplo: eu sempre fiz assim (CASAB,
2001).
A resoluo das tarefas pelo aluno com DI tambm obedeceu aos parmetros
avaliativos da TAD, considerando a tecnologia que justifica a tcnica utilizada e a teoria
que a embasa. A descrio da didtica utilizadas pelos professores no ensino da
Matemtica foi fundamentada nos modelos didticos e prticas docentes elaborados por
Gascn (2003), que concebe as organizaes didticas (OM) em um plano
tridimensional constitudo por trs eixos: OD Teoricista, OD Tecnicista e OD
Modernista.
Do mesmo modo baseamos nas tendncias pedaggicas apresentadas por
Libneo (1999) a fim de melhor elucidar a tecnologia que justifica o uso ou a escolha
das tcnicas docentes. Entendemos que Libneo e Gascn, analisam o mesmo objeto
com enfoques diferentes que se complementam.
A coleta de dados foi realizada por meio de observaes no campo emprico no
perodo de 30/10/2014 a 13/11/2014, nas teras e quintas-feiras das 9:00 s 11:00 hs e
foram registradas em um dirio de bordo onde um roteiro de anotaes e descries
conduziram os registros sobre as seguintes questes: a metodologia, o mtodo e a
didtica utilizada pelos professores para o ensino da Matemtica, as tarefas Matemticas
apresentadas para o aluno com DI tendo em vista a sua contribuio para o letramento
Matemtico, as tcnicas usadas pelo aluno na resoluo das tarefas propostas, relatos
pertinentes da fala e da ao docente bem como da do discente. Vale lembrar que para
melhor ilustrar as tcnicas Matemticas adotadas pelo aluno em alguns momentos
fizemos o uso de videogravaes e de registros fotogrficos.
A sala era composta por 32 alunos, sendo dois alunos com deficincia, um com
deficincia intelectual (DI) e outro com deficincias mltiplas (DMu). O aluno com DI
participante dessa pesquisa8 assistido por um APE que atende a sala de aula comum
fazendo adequaes das tarefas propostas pelos professores e sua atuao se justifica em
virtude da presena de um aluno com deficincias mltiplas, conforme preconiza a
resoluo SEMED 154/2014. A referida resoluo prev que a atuao do APE em sala
comum condicionada presena de alunos com Deficincia Fsica/Neuromotora
8
449
10
Tecnologia
Modelo clssico de docncia que consiste em
expor o contedo sem a preocupao com a
participao do aluno, tendo em vista que nesse
modelo a figura do professor central.
450
11
Tecnologia
Modelo clssico de docncia: tendncia
tecnicista, onde a ao diretiva do professor
priorizada.
Tecnologia
Contar implica atribuir um lugar a cada elemento
visualizado no campo linear.
451
12
pudessem desafiar o aluno com DI, como exemplo: por que alguns tringulos foram
pintados com cores diferentes?
A organizao didtica do PRA demonstrou certa preocupao em cumprir o
currculo da disciplina, isto ficou evidente quando ele disse a esta pesquisadora, assim
que voltamos da sala de informtica: Tem muita tarefa de multiplicao do livro
didtico sem fazer, vou aproveitar para fazer, porque estes alunos no sabem a tabuada.
Durante a aplicao desta tarefa em momento algum houve a interveno do
PRA, a aprendizagem do aluno com deficincia intelectual ficou exclusivamente sob a
responsabilidade do APE, que tambm no apresentou uma tarefa que consistisse em
um desafio para o aluno e nem propiciou reflexes sobre a relao do estudo com o seu
contexto social.
Todo o trabalho foi diretivo, o APE realizava as contagens das formas
geomtricas junto com o aluno e falava a quantidade que ele tinha que pintar para
representar cada uma delas. Nos espaos que indicavam a quantidade do crculo, o
aluno se distraiu e pintou todos eles, o APE, nesse momento disse ao aluno: Ns j
452
13
contamos, voc tem que pintar s seis quadradinhos. O APE realizou novamente as
contagens com o aluno em voz alta, indicou at onde ele deveria ter pintado e pediu ao
mesmo que apagasse os outros quadradinhos que foram pintados a mais.
Assim, a tarefa desenvolvida com o aluno com DI restringiu-se apenas na
repetio da correspondncia do nmero referente a cada figura geomtrica
representao da sua quantidade. Finalizada a tarefa esta pesquisadora questionou o
aluno perguntando a ele por que havia pintado seis quadradinhos na tabela que indicava
a representao da quantidade do crculo, o aluno disse: porque sim. No entanto, foi
percebido que o aluno no conseguiu estabelecer sozinho a relao entre o nmero (6) e
a sua quantidade, representado pelos quadradinhos pintados. Percebemos aqui, o que
Chevallard; Bosch; Gascn (2001, p.81-82) apontam em relao existncia da
onipotncia do professor na cultura escolar, visto que a todo o momento a instruo se
fazia presente de modo excessivo na aplicao da tarefa intensificando o ensino formal
da Matemtica na amplitude de todo o processo didtico.
Entendendo o letramento como uma prtica social e como aponta Soares (2014,
p.20): [...] no basta apenas saber ler e escrever, preciso saber fazer o uso do ler e
escrever, saber responder s exigncias de leitura e escrita que a sociedade faz
continuamente [...]. Assim, tambm em relao a Matemtica, uma tarefa que
envolve apenas a quantificao no colabora para a compreenso do sistema de
numerao decimal de forma a promover o uso social desse conhecimento nos diversos
e diferentes contextos sociais. Dessa forma, a tarefa proposta para aluno com DI no
visavam o letramento matemtico.
Tendo em vista o papel da pesquisadora frente ao acompanhamento pedaggico
desenvolvido com estes alunos na sala comum, foi retratado ao APE sobre a relevncia
da utilizao de estratgias diferenciadas para o ensino da Matemtica a partir das
tarefas e dos contedos trabalhados em sala de aula pelo PRA. Neste momento, o APE
relatou suas dificuldades, pois, segundo ele, o PRA no trabalhava com um roteiro
sistematizado de contedos a serem seguidos e o aluno com DI ainda encontrava no
estgio inicial da alfabetizao Matemtica. Sendo assim ressaltou: impossvel
adequarmos os contedos de Matemtica do 5 ano para o aluno A, ele no consegue
acompanhar, precisamos trabalhar primeiro o reconhecimento dos nmeros, a
aprendizagem da sequncia numrica e a relao entre o numeral e a sua quantidade.
Segundo o documento Pacto Nacional pela Alfabetizao na Idade Certa:
Educao Inclusiva (2014), isso ocorre na maioria das vezes porque h certa
453
14
454
15
LIBNEO, Jos Carlos. Democratizao da escola pblica: A pedagogia crticosocial dos contedos. Coleo Educar, 16 ed. So Paulo: Loyola,1999 (Col. Educar).
455
GT 15
FORMAO DE PROFESSORES NA PERSPECTIVA DA
EDUCAO INCLUSIVA
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo fazer um levantamento das propostas apresentadas na LDB Lei
de Diretrizes e Bases da Educao Nacional de 1996 e das Polticas Nacional de Educao Inclusiva
no que se refere formao de professores e educao inclusiva. O trabalho tambm aborda estudos
com propostas para a melhoria na formao docente seja ela, inicial, ou continuada frente ao
atendimento da diversidade existente hoje nas salas de aula do ensino regular. O estudo tambm trar
parte da entrevista feita com trs professoras da educao infantil e que tem em seu agrupamento
crianas com deficincia. O atual contexto do sistema educacional necessita de reestruturao
especificamente quanto s diretrizes para a formao de professores e as demandas decorrentes da
perspectivas da educao inclusiva. A construo de uma escola inclusiva desde a educao infantil
implica em pensar no seu espao fsico, tempo, profissionais, recursos pedaggicos dentre outros itens,
voltados para a possibilidade de acesso, permanncia e desenvolvimento pleno tambm dos alunos
com deficincia.
Palavras-chave: Formao de professores, incluso, prticas pedaggicas.
INTRODUO
Pensar a educao especial no contexto atual refletir sobre a formao dos
professores e a incluso dos grupos sociais nas instituies formativas e os impactos desta
formao na construo de suas identidades.
Nas ultimas dcadas, com o movimento da escola para todas colocou o incluso na
pauta do dia. As polticas de educao inclusiva, fundamentada na concepo de direitos
humanos tem buscado garantir o acesso de todas as crianas escola, independente de suas
diferenas sociais, culturais, tnicas, raciais, sexuais, fsicas, intelectuais, emocionais,
lingusticas e outras. Tais polticas visam igualdade de oportunidades. A incluso focaliza a
valorizao das diferenas educacionais dos seus alunos, e promovem mudanas nas prticas
e ambientes escolares, de modo a eliminar as barreiras que impedem o acesso ao currculo e o
exerccio da cidadania.
456
2
As polticas inclusivas no Brasil trouxeram avanos no que concerne aos direitos das
pessoas com deficincia, no s ao convvio com os demais membros da sociedade, mas ao
acesso escola, para que possam nela permanecer e desenvolver-se.
A Declarao mundial de Educao para Todos em comunho com a Declarao de
Salamanca trouxe importantes modificaes nos seus objetivos e formas de atendimento da
educao especial. A meta incluir todas as crianas, inclusive as que tm deficincias
graves ou dificuldades de aprendizagem no ensino regular. (BRASIL, 1994). Em 2008
lanado a Poltica Nacional de educao especial na Perspectiva da Educao Inclusiva. Que
tem como objetivo: [...] o acesso, a participao e a aprendizagem dos alunos com
deficincia, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotao nas
escolas regulares, orientando os sistemas de ensino para promoverem respostas s
necessidades educacionais especiais. (BRASIL, 2008), deixando explcito que a educao
especial deve ser entendida como uma modalidade de ensino que perpassa todos os outros
nveis, modalidades e etapas do processo educacional, alm de orientar sobre as propostas de
atendimento educacional especializado, da disponibilizao de recursos e contribuies
metodolgicas e de implementao.
Tal pensamento prope mudanas significativas no mbito organizacional, estrutural e
pedaggico das escolas. Isso nos remete pessoa do professor, maior responsvel pelo
agenciamento das polticas educacionais em sala de aula. Espera-se que ele seja capaz de
redimensionar a sua ao, desenvolvendo um projeto de ensino-aprendizagem que possibilite,
ao aluno, apropriar se ativamente do conhecimento dentro da escola regular.
A Lei de diretrizes e Bases da Educao Nacional (LDBEN n. 9394/96) assegura
professores capacitados para o atendimento de alunos com deficincia na escola regular.
Entretanto, a despeito de prerrogativas legais, ainda se observa um grande nmero de alunos
com deficincia excludos da e na escola, e de professores que se dizem despreparados para
atender s especificidades desses alunos na escola regular. Em seu artigo III, recomenda que
sejam: Professores com especializao adequada em nvel mdio ou superior, para
atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a
integrao desses educando nas salas comuns. (BRASIL, 1996, p. 24)
Nas Diretrizes Nacionais para a Educao Especial na Educao Bsica (Resoluo
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3
458
4
459
5
Dessa forma, o professor ter uma formao mais completa e assim estar preparado
para trabalhar com todos os alunos, promovendo o processo de incluso como ele realmente
deve ser pautado em seu conhecimento, em seu preparo, os alunos deficientes no podem
simplesmente serem colocados em sala, sem que o professor esteja preparado para receb-lo.
A trajetria de formao das professoras que participaram desse trabalho recente.
Todas concluram o curso de pedagogia a menos de quatro anos, respectivamente, em seu
curso de formao inicial todas relataram que no tiveram a oportunidade de acesso a saberes
relacionados educao especial. As professoras salientaram que na graduao em pedagogia,
a educao especial no se constitua em objeto de problematizao, no havendo tambm
disciplinas que contemplasse diretamente esta modalidade de ensino. Com relao formao
continuada as professoras destacaram que no tem sido oferecido curso para que possam
melhorar seu desempenho frente grande diversidade presentes nas salas comuns.
460
6
A fala das professoras levantou outra questo que permeia o fazer docente, a falta de
investimento na carreira profissional. Mendes enfatiza a importncia de se criar uma nova
concepo de formao continuada, preciso investir na carreira profissional, tendo como
referencia fundamental o reconhecimento e a valorizao do saber docente e o fato de que o
processo de formao continuada tem que considerar as diferentes etapas do desenvolvimento
profissional.
Eu penso em fazer uma especializao, pois com esse curso poderei
trabalhar melhor, ter mais base para lidar com as dificuldades que enfrento
no dia-a-dia. O que me impede de fazer essa especializao a falta de
recursos financeiros e tambm o tempo. As coisas so muito corridas, mal
dou conta de planejar aulas decentes para nossos alunos. (PROFESSORA A)
461
7
Freire aponta que: Por isso que, na formao permanente dos professores, o
momento fundamental o da reflexo crtica sobre a prtica. pensando criticamente a
prtica de hoje ou de ontem que se pode melhorar a prxima prtica (FREIRE, 2003, p. 39)
Em um trabalho realizado por Mendes (2002) sobre a formao continuada de
professores, a autora identificou a importncia da interlocuo entre os docentes e o rgo
responsvel pela formao e elaborao de cursos, a fim de que estes possam contribuir
efetivamente para a prtica docente.
Os professores, em sua qualificao, devem trocar ideias com outros professores para
que possam melhorar sua prtica no momento da insero do aluno com deficincia, em que,
segundo Marques (2000, p. 207) [...] possibilitar a articulao entre a atuao do professor
na sala de aula e o espao para a reflexo coletiva e o aperfeioamento constante das prticas
pedaggicas.
Nessa fala da autora, os professores podem refletir, juntamente com outros
professores, sobre a sua prtica, um esclarecimento sobre a sua postura face s exigncias da
educao nos dias de hoje, refletindo sobre a sua postura profissional, poltica e
epistemolgica da docncia.
Uma das coisas que eu acho importante, e que aqui acontece muito a troca
de idias, sempre que possvel nos reunimos e conversamos e buscamos
alternativas para trabalhar com nossos alunos com deficincia. Quando
estamos com dificuldades recorremos as nossas colegas. (PROFESSORA C)
Eis que h uma intensa demanda de que estes saberes sejam registrados e
socializados (NVOA, 2003).
Portanto, necessrio reorganizar as escolas em espaos de aprendizagem coletiva,
representando a possibilidade de colaborao entre seus profissionais, bem como, de
explicitao e discusso dos conhecimentos que cada um possui e mobiliza em situaes
especificas de ensino.
As entrevistadas alegam no ter recebido nenhuma orientao pedaggica para iniciar
462
8
o trabalho com os alunos com deficincia, resultando em dificuldades em saber como ensinar
alunos com deficincia. Estudos tm mostrado que muitos professores atuam na perspectiva
de uma incluso excludente recebe os alunos, mas ignora suas diferenas e necessidades o
que colabora para que sejam cada vez mais excludos do acesso ao conhecimento veiculado
pela instituio escolar.
Devido ausncia de aes formativas que envolvem a temtica da incluso voltada
para os professores observa-se que os mesmos sentem-se inseguros quanto ao qu e,
principalmente, ao como ensinar, levando em conta as caractersticas de uma sala de aula
regular que abriga alunos com deficincia. Assim, a incluso representa um grande desafio
para professores e gestores que tem dificuldades em trabalhar questes referentes s
diferenas dos alunos. Outra prerrogativa que temos que levar em conta a falta de recursos e
apoio de profissionais especializados. Carvalho aponta que:
Esta fala nos leva a pensar que a educao est na contra mo do que a incluso exige.
A incluso exige da escola e dos gestores novos posicionamentos que implicam num esforo
de atualizao e reestruturao das condies atuais, para que o ensino se modernize e para
que os professores se aperfeioem, adequando as aes pedaggicas diversidade dos
aprendizes.
Quando questionadas se tiveram vontade de no aceitar os alunos com deficincia em
seu agrupamento, todas as entrevistadas disseram que sim, mas o argumento que uma delas
me disse me chamou muito a ateno.
463
9
A fala desta nos faz refletir que a ao docente no se desvincula da trajetria pessoal,
individual.
Ento, considerando que o processo de formao pode se constituir por meio
de uma reflexividade critica sobre as prticas e de (re) construo
permanente de uma identidade pessoal, que se torna relevante investir na
pessoa e atribuir valor aos saberes constitudos no campo de atuao
docente. (NVOA, 1992, p. 25)
CONSIDERAES FINAIS
Para que a incluso escolar dos alunos com deficincia seja bem sucedida faz-se
necessrio uma reestruturao do sistema regular de ensino, a qual passa necessariamente pela
formao dos professores, seja ela inicial ou continuada.
A valorizao da diversidade nos processos educativos um projeto que deve
perpassar todas as instituies formadoras. Sendo assim, a escola por ser um espao legtimo
de socializao e propagao de valores e atitudes. Devem estar instrumentalizada com
recursos, materiais, pedaggicos e humanos que auxiliem a efetivao dessa premissa.
Podemos observar que h um consenso sobre a necessidade de se repensar a formao
inicial e continuada. Autores tm levantado questo da educao inclusiva em suas
pesquisas. A legislao tambm estabelece mudanas, para que a educao inclusiva acontea
de fato, entretanto observa-se em nosso pas um descompasso entre e a legislao e prtica
nas escolas.
A educao inclusiva em nosso pas depende de um esforo coletivo, que obriga uma
reviso na postura de toda a sociedade, a fim de trabalhar uma meta comum: [...] a de
garantir uma educao de melhor qualidade a todos. (MENDES, 2004, p. 228).
A formao de professores voltada para uma perspectiva de educao inclusiva, no
pode se pautar apenas em inserir algumas disciplinas, mas sim em uma educao que vise os
464
10
A formao de professores para a incluso escolar precisa, o mais breve possvel, ser
reestruturada a fim de garantir uma educao de qualidade. E uma escola de qualidade,
necessariamente precisa atender a todos os alunos ali inseridos.
REFERNCIAS
BRASIL. Poltica Nacional da Educao Especial na Perspectiva da Educao Inclusiva.
Disponvel em www.mec.gov.br.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional - Lei n 9394/96. Disponvel em:
<http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf>.
BRASIL,
Ministrio
da
Educao.
Secretaria
de
Educao
Especial.
Poltica
465
11
466
Resumo: Este artigo, embasado na abordagem qualitativa do tipo bibliogrfica, versa sobre alguns
aspectos da educao dos surdos sobre o conhecimento docente de Lngua Brasileira de Sinais (Libras)
como fundamental nesse processo. O foco da anlise teve por finalidade investigar a importncia do
conhecimento da Lngua de Sinais pelos professores e, ainda, compreender a proposta bilngue para
a educao dos surdos, a fim de contribuir para a discusso da incluso efetiva dos mesmos, bem
como para sua constituio enquanto sujeitos. Com isso, almeja-se que o professor regente saiba
construir um conhecimento slido acerca do seu aluno e tenha informaes precisas sobre Libras,
ferramenta fundamental e indispensvel para o desenvolvimento da linguagem. Concluiu-se que ainda
h um desconhecimento da lngua pelo docente, entretanto, essa no a nica causa do insucesso
escolar do surdo e da m qualidade de seu ensino.
Palavras-chave: Surdez. Lngua de Sinais. Docente. Incluso.
Introduo
Este texto, um estudo realizado por meio de reviso bibliogrfica, aborda os temas:
surdez, Lngua Brasileira de Sinais (Libras) e constituio do sujeito, perspectiva da educao
inclusiva do surdo e o papel do professor no aprendizado desse alunado. Com ele, buscou-se
constatar a importncia da Libras para o surdo no concernente construo de si enquanto
sujeito, e a necessidade premente de que a Libras seja conhecida por todos os membros da
escola (alunos, professores, coordenadores, diretores, demais funcionrios), ainda que
superficialmente, principalmente por parte do professor regente2.
Para tanto, primeiramente constam os objetivos, a metodologia utilizada e um breve
histrico sobre a educao dos surdos no Brasil, cujo carter clnico inicial resultou em uma
herana atrelada a uma concepo de sujeitos incapazes, deficientes e excludos. Com o
avano de estudos sobre o tema e o advento da Libras, considerada lngua natural desses
sujeitos (bem como com o seu reconhecimento como lngua oficial), existe agora a
obrigao, garantida por lei, de que o surdo seja visto em sua diversidade e a Libras como
sua principal identidade.
Fonoaudiloga. Mestranda em Educao pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Ps-graduada em
Educao Especial pela Universidade Catlica Dom Bosco. Ps-graduada em Traduo, Interpretao e
Docncia de Lngua Brasileira de Sinais pela Universidade Tuiuti do Paran. Fonoaudiloga da Prefeitura
Municipal de Corumb, compondo atualmente equipe tcnica do Centro de Ateno Psicossocial Infanto Juvenil
(Caps i). Graduanda em Letras pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. E-mail:
[email protected]
2
Trata-se do profissional responsvel por planejar e ministrar as aulas e que em uma perspectiva de educao
inclusiva para surdos, so acompanhados pelo intrprete de Libras, responsveis por transmitir o contedo.
467
Objetivos
A meta principal era investigar o conhecimento (ou o desconhecimento) da Libras
pelos professores regentes, bem como compreender a proposta bilngue para a educao dos
surdos, no intuito de contribuir para a discusso da incluso efetiva em sala de aula no
apenas do alunado surdo, mas tambm de seus professores.
Metodologia
A pesquisa teve carter descritivo, como define Gil (2002, p. 42), que prioriza o estudo
das caractersticas de um grupo, bem como levantar as opinies, crenas e atitudes de
determinada populao e, tambm, de carter qualitativo.
Godoy (1995 apud Neves, 1996) ressalta a diversidade existente entre os trabalhos
qualitativos e cita um conjunto de caractersticas capazes de identificar uma pesquisa desse
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tipo, tais como: o ambiente natural como fonte direta de dados e o pesquisador como
instrumento fundamental; carter descritivo; o significado que as pessoas do s coisas e
vida como preocupao do investigador e enfoque indutivo.
A reviso bibliogrfica abrangeu assuntos como a educao inclusiva, surdez e lngua
brasileira de sinais. Para Gil (2002, p.64), entre as fontes bibliogrficas esto os livros de
leitura corrente, obras de referncia, teses e dissertaes, peridicos cientficos, anais de
encontros cientficos e peridicos de indexao e de resumo.
Mesmo nas primeiras escolas especiais para surdos, o que se via por parte dos
profissionais era a tentativa de cur-los mediante uma interveno clnica, de forma a tornlos falantes, ainda que no conseguissem entender o contexto de qualquer conversa.
469
A discusso mantm-se atual, uma vez que ainda se verificam prticas de educao
que visam a uma produo de fala que faz pouco ou nenhum sentido para os surdos e que os
faz dispender horas importantes em treinos que no levam aprendizagem de uma linguagem,
parecendo que a fala, a linguagem (oral) que de fato deva ser ensinada.
Almeida (2012) afirma que durante muito tempo, e at recentemente, houve quem
reduzisse a surdez ou tentasse definir a pessoa surda a partir da sua disfuno auditiva,
supondo-a uma limitao permanente e irreversvel que impedia seu desenvolvimento
intelectual e sua capacidade de atuao social.
Essa disfuno auditiva atrelada, muitas vezes, ausncia de fala, contribuiu para a
formao de um conceito, por parte da sociedade, de que o sujeito surdo fosse incapaz de
perceber o mundo a sua volta, sendo necessrio ensinar a palavra falada, o que configurou
num ensino quase clnico, sob exerccios fonoarticulatrios3 infindveis e uma tentativa de
torn-los leitores de lbios [grifo nosso].
Entretanto, um nmero cada vez maior de pesquisadores e professores tem procurado
refletir sobre as prticas desenvolvidas nos diversos espaos educacionais, buscando conhecer
diferentes formas de interagir, modos de construo de conhecimentos e constituio da
intersubjetividade, de forma a compreender a riqueza do funcionamento humano e as
dinmicas que ocorrem nesse contexto, contribuindo, dessa forma, para uma ideia de
diferena destituda de uma ideia de incapacidade do sujeito surdo.
Sabe-se agora, conforme aponta Vigotsky (1979), que a criana possuidora de
algum dficit sensorial no se desenvolve menos que outras crianas, apenas o faz de maneira
diferente, apropriando-se do sentido de maneira prpria e inerente sua dificuldade [grifo
nosso].
Isso implica na necessidade de enxergar o surdo nas suas capacidades e no apenas
naquela que ele no possui: a audio. Deve-se sob o enfoque das habilidades intactas e,
nesse caso, mais precisamente, por um novo canal de comunicao espao-visual, que a
Libras acreditar que o surdo tambm capaz de aprender, bem como de obter linguagem
efetiva e desenvolvimento intelectual.
Almeida (2012) relatou que uma das condies que favorece o desenvolvimento e a
aprendizagem do aluno surdo a utilizao da Lngua de Sinais, de forma que possa usufruir
o direito de se expressar em sua lngua natural e para que se sinta includo na escola. Seria
importante, afirma a autora, que tambm seus colegas e professores pudessem partilhar dessa
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472
Para Sacks (1998), ser deficiente na linguagem, para um ser humano, uma das
calamidades mais terrveis, porque apenas atravs da lngua que entramos plenamente em
nosso estado e cultura humanos, que h de fato uma comunicao livre com nossos
semelhantes e adquirimos e compartilhamos informaes.
Segundo Russo e Santos (1994), a linguagem existe ainda que na ausncia da lngua e
deve ser entendida como uma faculdade humana e abstrata de representao de contedos e
por meio da qual o homem estabelece contatos com seus semelhantes, desenvolvendo a
habilidade de compartilhar suas experincias, pensamentos, ideias e desejos. Sendo entendida
como algo interior, pode ser tanto verbal quanto no-verbal.
A linguagem inerente ao ser humano, ainda que na ausncia da lngua, entretanto, s
se desenvolver por meio da troca de informaes entre o sujeito (pensante) e o meio. A
linguagem j est presente no choro dos bebs (ouvintes ou surdos) e na troca de olhares com
as mes (e/ou cuidadores). Ainda que o beb no verbalize qualquer desejo, ser entendido
pelos sinais emitidos pelo corpo, seja pela mudana da intensidade do choro ou da cor da pele,
por exemplo.
Para Vigotski (2007), uma vez que as crianas aprendem a usar de maneira efetiva a
funo planejadora de sua linguagem, o seu campo psicolgico muda radicalmente, tornandose a viso do futuro parte integrante de suas abordagens ao ambiente imediato.
[...] a motivao para aquisio de linguagem essencial para o
desenvolvimento geral da criana, portanto a troca da comunicao tem que
ocorrer de forma dialtica. A construo lingustica da criana estruturada pelo
seu conhecimento, pelo seu conhecimento, sua histria. [...]. O conhecimento e
hipteses se aprimoram a cada fase de desenvolvimento da criana que est
inserida em um mundo onde se respeite e que contribua para o aprimoramento
de sua comunicao. atravs da lngua que se transmitem conceitos internos
para a construo da linguagem (LEVY; SIMONETTI, 1999, p. 19).
473
entendimento sobre si mesmo se torne efetivo. Alm disso, por meio dessas relaes que
cooperamos mutuamente e que dividimos sentimentos e emoes.
Dessa forma, de acordo com Lacerda (2013), na medida em que a condio lingustica
do surdo respeitada, aumentam as chances de ele se desenvolver e construir novos
conhecimentos de maneira adequada, em contraponto a uma incluso escolar sem cuidado.
Para Pino (1991), a relao do sujeito com o mundo sempre mediada, sendo seu
desenvolvimento e aprendizado produtos de uma interao com o outro por meio da
apropriao possibilitada por instrumentos e signos. por meio dessa relao que o sujeito se
apropriar das significaes socialmente construdas, reconstruindo as formas culturais de
ao e pensamento, num processo denominado de internalizao. Desse modo, as funes
psicolgicas se desenvolvem na relao entre indivduos e no prprio indivduo, inferindo que
suas maneiras de pensar e agir so resultantes da apropriao de formas culturais de ao e de
pensamento.
A linguagem, inicialmente centrada na ao, assume gradativamente carter mais
complexo, culminando por permitir abstraes e, mesmo, reconstrues de aes passadas.
Antes vista como sinnimo nico de comunicao, a linguagem passa a representar para o
prprio sujeito a organizao do seu pensamento.
Zorzi (2002) alerta que, no concernente apropriao da linguagem pela criana,
[...], a linguagem est carregada de significados que correspondem a um
conhecimento social, geral, mas que no compreendido pela criana somente
por meio de exposio informaes lingusticas. Se bem que desde muito cedo
comece a dominar a gramtica e a usar os mesmos termos da linguagem dos
adultos, isso no quer dizer que a criana possua os mesmos significados que
eles. Os significados da linguagem da criana esto restritos compreenso
ainda limitada de mundo que ela tem (ZORZI, 2002, p. 52).
Para Bakhtin (1987 apud Zampieri, 2006), a linguagem se constitui por diferentes
maneiras, pois cada sujeito que participa do dilogo tem suas experincias, embutidas de
outras experincias e de outros dilogos que utilizam o mesmo territrio lingustico. A
linguagem, para este autor, o tema central que definiu todo seu pensamento e anlise, j que
para ele, a linguagem uma unidade viva e um instrumento essencial constituio da
conscincia.
Em relao criana, Limongi (2002) afirma que preciso lembrar que o
desenvolvimento lingustico, cognitivo, emocional e social da criana, sendo ela ouvinte ou
surda, dar-se- pelo processo de interao dela com o meio que a cerca. Os gestos associados
s ideias, a forma que encontra para expressar seus primeiros desejos, ocorrem muito antes de
usar as palavras. So as respostas a esses gestos, a verdadeira troca com o meio, que se
garantir um processo comunicativo a esse ser.
474
Apesar dos estudos recentes que destacam a importncia da linguagem para o alunado
surdo, tanto os contedos acadmicos quanto a educao inclusiva baseiam-se ainda em uma
transmisso de recados descontextualizada e pouco frutfera para o surdo e para sua
construo como sujeito.
Tartuci (2005) afirma que nas discusses acerca da educao do surdo, pouco se
observa uma efetiva ateno com relao ao papel do professor, pois embora tenha sido
bastante apontado o equivocado carter teraputico, que revestia a ao docente na educao
de surdos, no se tem explorado a ao do professor em termos dos papis que vem
desempenhando ao longo das mudanas na rea, em especial nas ltimas dcadas.
O papel de transmitir o contedo ao aluno, antes exclusivo do professor em sala de
aula, agora mediado pelo intrprete, que na maioria das vezes acaba por assumir um papel
que no o seu, tornando o docente a figura desprovida de sentido para esse aluno, pois, uma
vez que no compartilha do mesmo cdigo lingustico, no v nele instrumento importante
para o seu aprendizado.
475
Muitas vezes, a lngua, ou a falta de conhecimento sobre ela, cria entre o professor
regente e o aluno barreira intransponvel, diante da qual ambos no se veem viventes de uma
aprendizagem. As dvidas sobre o contedo, que deveriam ser de domnio do professor
regente, so passadas ao intrprete pelo sujeito surdo e, muitas vezes, pelo prprio docente,
como se existissem na mesma sala dois professores e contedos diversos.
Sem citar apenas o desconhecimento da Libras, so muitos os fatores que tm
demonstrado o despreparo docente para a incluso do aluno surdo, que vo desde a falta de
conhecimentos prticos e recursos pedaggicos, dificuldade de planejar a aula, em uma
proposta concreta e realista, de forma que contemple as necessidades de todos os alunos,
incluindo o surdo.
O no ouvir do aluno muitas vezes desconsiderado e o que se v so prticas
equivocadas e adaptadas, sem que de fato tenha por objetivo ou concluso o aprendizado
desse alunado.
J para Nozi (2013), ainda que se conhea a importncia da formao de professores
para prticas pedaggicas inclusivas, no se pode admitir que a falta de preparo dos docentes
seja apontada como a nica causa do insucesso escolar e da m qualidade do ensino, pois
existem fatores determinantes que influenciam no trabalho do professor em sala de aula, tais
como: o nmero excessivo de alunos por sala, jornada de trabalho exaustivo, remunerao
indigna e no condizentes com as exigncias formativas e sociais que perfazem o trabalho, e
ausncia de recursos humanos, fsicos e materiais nas escolas para atender s necessidades
educacionais especiais apresentadas pelos alunos.
Como proposta para a mudana desse quadro, a mesma autora aponta que o professor
que tenha em sua sala de aula algum aluno que necessite utilizar a Libras, dever conhecer a
lngua e seus fundamentos, ainda que de maneira no aprofundada, a fim de realizar um
trabalho didtico eficiente. O que tambm vale para outros cdigos de linguagem oral e
escrita, como por exemplo, o sistema Braille e as Comunicaes Alternativas (CA).
importante que os educadores que atuam com alunos surdos reconheam a
importncia da Lngua de Sinais no desenvolvimento das crianas surdas, pois
esta lngua pode ser adquirida espontaneamente por elas, o que ocorre nas suas
relaes sociais, no dilogo e no requer tcnicas especficas para ser aprendida,
como acontece na aquisio da lngua oral (NOZI, 2013, p.117).
Alm do conhecimento da LIBRAS, necessrio tambm que o professor
ouvinte tenha conhecimento das peculiaridades da surdez e uma compreenso de
lngua diferenciada, compreendendo que a linguagem no somente um meio de
comunicao, mas fundamental para o estabelecimento e manuteno das
relaes sociais, portanto para a apropriao e produo de conhecimento e o
desenvolvimento das funes psicolgicas superiores [...] (ZAMPIERI, 2006, p.
102).
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Lacerda (2006), afirma que a incluso escolar um processo dinmico e gradual, que
pode adquirir formas diversas a partir das necessidades dos alunos, uma vez que se pressupe
que essa integrao/incluso possibilite, por exemplo, a construo de processos lingusticos
adequados, de aprendizado de contedos acadmicos e de uso social da leitura e da escrita,
sendo o professor responsvel por mediar e incentivar a construo do conhecimento atravs
da interao com ele e com os colegas.
De acordo com Ges (2002), para que o aluno surdo desenvolva seu potencial,
imprescindvel que se discuta sobre a importncia da circulao da Lngua de Sinais na sala
de aula e nos demais espaos da escola, j que ela que possibilita a aquisio e o
desenvolvimento da linguagem, que o elemento fundamental para a construo dos
processos cognitivos e para que sejam estabelecidas as relaes sociais.
O que est em risco, como apontam os especialistas, no apenas a constituio da
identidade do sujeito surdo, mas tambm dos professores, que em meio a novos cdigos
lingusticos, desprovidos da Libras, ainda no se identificam como mediadores nesse processo
de aprendizado e muitas vezes se veem como meros coadjuvantes. Seu papel agora dividido
por um terceiro elemento, o intrprete, que para o surdo , muitas vezes, a nica figura
docente na sala de aula.
Lacerda (2000) lembra que, mesmo com o intrprete em sala de aula, a criana surda
no ir, necessariamente, aprender facilmente os contedos, uma vez que no de
competncia do intrprete exercer as mediaes pedaggicas necessrias aprendizagem.
importante, ainda, considerar a defasagem de desenvolvimento e aprendizagem que o surdo
no conhecedor da Lngua de Sinais tem, resultado das condies sociais e educacionais no
proporcionadas quanto aquisio e desenvolvimento da linguagem.
Discusso e Resultados
A prtica fonoaudiolgica e o convvio com surdos e seus familiares provocaram,
muitas vezes, questionamentos sobre os mtodos adotados para estudo: oralismo, bilinguismo,
comunicao total, Lngua de Sinais? O que seria melhor para que esse indivduo se sentisse
de fato inserido na sociedade? Assim, surgiu essa pesquisa bibliogrfica, reunindo
importantes contribuies de profissionais de vrias reas, com o objetivo elementar de
evidenciar a necessidade da introduo, manuteno e permanncia da Libras na vida do
indivduo surdo, para que o mesmo adquira sua linguagem de maneira efetiva e consistente.
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Caber ao professor regente conhecer a Libras, ainda que de forma rudimentar, e que
faa dela instrumento de interao com seu aluno surdo, de maneira que no s contribua para
sua efetiva incluso, mas para que o auxilie na construo de sua identidade.
A introduo de um terceiro elemento em sala de aula, que o intrprete de Lngua de
Sinais, no deve significar a substituio do professor regente como principal mediador no
processo de aprendizagem do aluno surdo, entretanto, pode e deve representar papel de
fundamental importncia para uma educao inclusiva efetiva, na qual ganhem todos os
envolvidos: surdos, familiares, professores, ouvintes e toda comunidade escolar.
Consideraes Finais
Este estudo levou a algumas inquietaes, pois h vrios questionamentos que podem
e devem ser explorados. Entretanto, por meio das leituras dos mais diferentes textos,
possvel afirmar que h ainda um despreparo do professor regente para lidar com seu alunado
surdo, pois ele, para muito alm do desconhecimento da Libras, ainda no se reconhece como
principal mediador de seu ensino.
Por meio dos textos pesquisados observa-se que apesar de a educao brasileira
possuir uma legislao que assegura direitos aos alunos com necessidades educacionais
especiais, como os surdos, ao l-la pela primeira vez, reconhece-se que falta ainda um longo
processo a ser realizado.
Faltam melhores condies de trabalho docente, conhecimento sobre a Libras, um
maior envolvimento da comunidade escolar, mais recursos fsicos e materiais e, sobretudo, h
a necessidade de descaracterizar o surdo como incapaz e deficiente, deixando-o fazer parte,
efetivamente, desse mundo repleto de sons, por meio da sua lngua natural, a Libras.
Referncias
ALMEIDA, J. J. F. Libras na formao de professores: percepes de alunos e da
professora. Londrina, 2012. Disponvel em
<http://www.uel.br/pos/mestredu/images/stories/downloads/dissertacoes/2012/2012__ALMEIDA_Josiane_Junia_Facundo.pdf>. Acesso em: 10 jun. 2014.
CARVALHO, R. E. Educao inclusiva: com os pingos nos is. Porto Alegre: Mediao,
2004.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4 edio. So Paulo: Atlas, 2002.
GES, M. C. R. de. Relaes entre Desenvolvimento Humano, Deficincia e Educao:
Contribuies da Abordagem Histrico-Cultural. In: OLIVEIRA, M. K. de; REGO, T. C.;
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GT 2
RESUMO:
Nas pesquisas sobre a educao de alunos com deficincia intelectual, a coleta de dados
geralmente realizada a partir do olhar professores ou da anlise de documentos. Este trabalho
prope-se analisar e discutir a trajetria escolar de um aluno com deficincia intelectual diante da
atual proposta de incluso escolar, ouvindo o prprio sujeito. Este, um jovem de 27 anos, com
diagnstico de deficincia intelectual sempre estudou na escola comum e conseguiu concluir o
Ensino Mdio, ou seja, a ltima etapa da Educao Bsica. A pesquisa foi realizada no municpio
de Inocncia-MS. Partiu-se de uma entrevista semiestruturada com o sujeito da pesquisa e, para
confirmar e complementar os dados coletados, buscou-se por documentos e relatrios escolares
na escola que o mesmo estudou. Fez-se, tambm, um levantamento e anlise de textos que tratam
da incluso de alunos com deficincia intelectual no sentido de analisar, por meio do caso
estudado, o processo de escolarizao desses sujeitos, considerando a poltica de incluso escolar
em curso. O estudo revelou as contradies e as dificuldades do processo de incluso desse aluno
na escola comum. A incluso de alunos com deficincia intelectual ainda um desafio para a
escola comum e, como tal, sujeita a reflexes, construes e reconstrues constantes durante o
processo.
Palavras-Chave: Incluso Escolar. Deficincia Intelectual. Trajetria Escolar.
INTRODUO
A histria da educao especial revela que alunos com deficincia intelectual foram
excludos e impedidos de frequentar o mesmo ambiente de escolarizao que os demais, sob a
justificativa de que necessitavam de um atendimento especializado e que a escola comum no
poderia atender satisfatoriamente a esse alunado.
A incluso escolar de alunos com deficincia intelectual na escola comum, segundo
Mestre em Educao da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), Unidade Universitria de
Paranaba. Professora da Rede Pblica Estadual de Ensino de Mato Grosso do Sul. E-mail: [email protected]
2
Doutora em Educao pela Universidade de So Paulo. Docente do Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em
Educao da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), Unidades Universitrias de Campo Grande e
Paranaba. E-mail: [email protected]
482
GT 2
Jannuzzi (2012), um dos temas mais estudado nas pesquisas neste incio de sculo, constitui um
impasse para o ensino na escola comum e para a definio do Atendimento Educacional
Especializado, pela complexidade do seu conceito e pela grande quantidade e variedades de
abordagens do mesmo.
No estudo cientfico da deficincia intelectual, as definies propostas pela American
Association on Intellectual and Developmental Disabilities (AAIDD) so consideradas
importantes e suas publicaes tm sempre influenciado a publicao dos documentos oficiais
brasileiros que, por sua vez, tm adotado a terminologia, a definio, bem como suas respectivas
recomendaes para a identificao de pessoas com deficincia intelectual.
Segundo a prpria AAIDD (2010), deficincia intelectual definida como sendo:
"Incapacidade caracterizada por limitaes significativas tanto no funcionamento intelectual
quanto no comportamento adaptativo expresso em habilidades conceituais, sociais e prticas. Esta
inabilidade se origina antes da idade dos 18 anos. Na rea da educao, isso significa que a
pessoa com deficincia intelectual tem dificuldade para aprender, perceber e realizar tarefas
comuns s outras pessoas. comum que pessoas com deficincia intelectual se comportem como
se tivessem menos idade do que realmente tm.
Nos dias atuais, com o movimento da incluso escolar instalado a partir dos anos de 1990,
a poltica educacional brasileira tem orientado a matrcula dos alunos com deficincia no ensino
comum. Pesquisadores da rea da educao especial tm mostrado a necessidade de se
desenvolver pesquisas que analisem como tem se materializado o processo de escolarizao das
pessoas com deficincia na escola comum, j que os estudos desenvolvidos, tais como os de
Neres (2010), Veltrone (2008) e Tins (2010), tm mostrado que as escolas no tm conseguido
promover, de fato, a pretendida incluso escolar.
Nesse intento, pretendemos neste trabalho, por meio de depoimento oral, apresentar e
discutir a trajetria escolar de um aluno com deficincia intelectual como forma de elucidar o seu
processo de escolarizao e suas matizes de in(excluso).
483
GT 2
trabalhar com depoimento oral que, segundo Caiado (2003), significa estudar um homem real.
Segundo a autora, devemos considerar que o ser humano mais que um produto da evoluo
biolgica das espcies, pois ele um produto histrico, moldado nas diversas etapas da evoluo
da sociedade, conforme pertena a uma ou outra das classes e camadas da mesma sociedade.
Optamos, com o objetivo de completar os dados coletados na entrevista, por buscar informaes
em documentos disponibilizados pela escola estadual do municpio de Inocncia-MS, contexto no
qual o sujeito-alvo cumpriu toda sua trajetria de escolarizao, ou seja, do pr-escolar ao ltimo
ano do Ensino Mdio.
A entrevista no deve buscar algumas informaes apenas, deve sim, permitir que o
entrevistado construa um discurso, uma narrativa que fale da vida emaranhada, contraditria e
catica que a vida cotidiana (CAIADO, 2003, p. 47).
Para selecionar o entrevistado para esta pesquisa, contatamos pessoas com deficincia
intelectual com idade mnima de 15 anos e que tivessem passado por experincia de incluso na
escola comum a partir de 1990. Selecionamos seis pessoas, dos quais cinco fazem parte de uma
pesquisa de mestrado em andamento cujo objetivo investigar a trajetria de incluso de alunos
com deficincia intelectual atravs da fala dos sujeitos, pois apresentam caractersticas de
escolarizao parecidas, ou seja, estavam includos na escola comum, mas devido ao problema de
distoro idade-srie foram encaminhados para a instituio APAE de Inocncia. E para o
presente trabalho selecionamos a pessoa mais velha do grupo, Alex, com 27 anos, que sempre
estudou na escola comum e, ao contrrio dos demais, conseguiu concluir o Ensino Mdio e,
portanto, apresenta caractersticas de escolarizao diferenciadas dos demais alunos selecionados.
Alex3 possui uma histria de vida e de escolarizao bem singular, pois ele, apesar de apresentar
um dficit cognitivo, dificuldade motora das mos e uma sade bastante comprometida,
conseguiu chegar s etapas mais avanadas da educao bsica, fato incomum em alunos com
deficincia intelectual.
Aps o primeiro contato com Alex e concordncia para a realizao da presente pesquisa,
solicitamos que o sujeito da pesquisa, por ser considerado incapaz, assinasse o termo de
assentimento e sua me, responsvel legal por Alex, assinou o termo de consentimento livre e
esclarecido. Explicamos para ambos os objetivos da pesquisa e que Alex no era obrigado a
O sujeito dessa pesquisa, Alex, autorizou, por escrito, o uso do seu nome para fins de apresentao de dados e
publicao.
484
GT 2
participar da pesquisa e que poderia se recusar a responder qualquer pergunta.
O depoimento foi colhido na casa de Alex, local em que o mesmo vive com a me, que
uma funcionria pblica aposentada. No dia e horrio previsto, Alex esperava ansioso para relatar
sua trajetria escolar. Estava bem vestido como se fosse um evento muito importante em sua
vida. Mostrou-se entusiasmado, procurando lapidar cada palavra que pronunciava. Percebemos
que Alex estava se sentindo muito importante em participar do trabalho.
Sobre este tipo de pesquisa, onde se d voz ao sujeito que comumente excludo, Caiado
(2003, p. 44) aponta que:
Dar voz aos excludos da escola porque as pessoas deficientes esto, historicamente, fora
da escola e na condio de excludos eles pouco, ou nunca, falam. Algum,
geralmente, fala e decide por eles. Em nome deles, muitas vezes, definem-se polticas,
abrem-se servios, organizam-se cursos e congressos. Nesse sentido, aqui se busca
conhecer o que eles tm a contar sobre suas vidas, suas experincias, seus anseios; quais
as lembranas que carregam da escola que frequentaram, do relacionamento com os
professores, com os colegas; e sobre essas marcas busca-se conhecer o que pensam da
escola inclusiva.
O fato de ouvirmos, em nossa pesquisa, um aluno com deficincia intelectual o fez sentir
importante, valorizado e a condio de entrevistado elevou sua autoestima. Pois isso lembra que
ele mais que um aparato biolgico, um ser humano que faz parte de uma sociedade, marcado
por um tempo e um lugar social.
Alex nasceu em 19854 no municpio de Inocncia-MS, cidade na qual cresceu e vive
atualmente. Sua me relatou que faltou oxigenao no crebro de Alex durante o nascimento, o
que acarretou vrias sequelas, entre elas a deficincia intelectual e coordenao motora nas mos.
Ele fala fluentemente, tem timo vocabulrio, educado e prestativo. Ele tem conscincia de suas
dificuldades, disse que aprende devagar e que tem alguns contedos que so muito difceis de
aprender.
Ele possui apenas uma irm, que seis anos mais velha e ajudou a cuidar de Alex quando
criana enquanto sua me trabalhava fora. Hoje a irm casada, constituiu uma famlia e
professora na escola na qual Alex estudou e a me dele trabalhou. A me hoje aposentada, mas
durante o perodo da escolarizao de Alex era Auxiliar de Servios Gerais na escola estadual do
municpio de Inocncia-MS cenrio que ele iniciou, em 1992, o pr-escolar e terminou, em
2006, sua trajetria escolar pela Educao Bsica. Desde ento, Alex luta para ingressar no
4
Ao longo desse trabalho, mantivemos como referncia a idade que Alex tinha quando a entrevista foi realizada em 2013, 27 anos.
485
GT 2
ensino superior mas no consegue.
Em relatrio fornecido pela escola estadual de Inocncia-MS, instituio de ensino que
Alex estudou toda a educao bsica, consta que ele tinha dificuldades para acompanhar a turma
e que frequentava a sala de recursos. A escola relatou que ele possua uma caligrafia confusa que,
por vezes, nem ele mesmo entendia o que escrevia. Ao analisar os relatrios elaborados pela
equipe pedaggica da escola no perodo que a frequentou, notamos um grande empenho dos
professores e da famlia, principalmente da me de Alex que, apesar de ser uma pessoa carente
financeiramente e com pouco estudo, estava sempre preocupada com sua aprendizagem e
acompanhando o seu processo de escolarizao. Nos relatrios observamos que, apesar do
empenho de toda a equipe pedaggica, h uma angstia presente, pois pontuam que os recursos
disponibilizados pela escola no eram suficientes para a complementao do atendimento
educacional ofertado ao aluno Alex. Mas notamos que a escola oferecia apenas atendimento na
sala de recursos multifuncionais em perodo contrrio ao das aulas na sala comum e nessa sala, de
acordo com o relatrio da tcnica da Unidade Interdisciplinar de Apoio aos Portadores de
Necessidades Especiais (UIAPNE), eram desenvolvidas atividades extraclasse. E consta em um
documento redigido pela professora que atendia na sala de recursos multifuncionais que a
frequncia de Alex na sala de reforo foi mnima (RELATRIO DE DESEMPENHO DE
SALA DE RECURSOS, 2001).
Observamos que a professora da sala de recursos confunde atendimento educacional
especializado e atividades de reforo escolar. A Poltica Nacional de Educao Especial, na
perspectiva da Educao Inclusiva, define o AEE como:
O atendimento educacional especializado tem como funo identificar, elaborar e
organizar recursos pedaggicos e de acessibilidade que eliminem barreiras para a plena
participao dos alunos, considerando suas necessidades especficas. As atividades
desenvolvidas no atendimento educacional especializado diferenciam-se daquelas
realizadas na sala de aula comum, no sendo substitutivas escolarizao. Esse
atendimento complementa e/ou suplementa a formao dos alunos com vistas
autonomia e independncia na escola e fora dela (BRASIL, 2008, p. 10).
486
GT 2
adequao e produo de materiais didticos e pedaggicos, da utilizao de recursos
pticos e no pticos, da tecnologia assistiva e outros (BRASIL, 2008, p. 10).
Nos relatrios disponibilizados pela escola que Alex estudou consta a preocupao de
fazer uma avaliao de maneira diferenciada, principalmente no que se refere escrita que deve
estar sempre aliada leitura para que o professor no cometa equvocos ao avali-lo. Sobre essa
preocupao do professor em avaliar o aluno com deficincia intelectual, Anache (2010, p. 80)
afirma que eles encontraram dificuldades para atuar em classes denominadas de incluso em
consequncia do insuficiente preparo profissional no que se refere ao conjunto de saberes,
estratgias didticas e metodologias especficas para trabalhar com os alunos com deficincia.
Nos documentos fornecidos pela escola consta que Alex frequentou a Educao de Jovens
e Adultos (EJA) na ltima etapa do Ensino Fundamental e todo o Ensino Mdio. A EJA, de
acordo com a LDB (Lei n 9.394/1996), oferece a oportunidade a alunos com idade superior aos
quinze anos de ingressarem no Ensino Fundamental e aos alunos maiores de dezoito anos de
entrarem no Ensino Mdio para regularizarem seus processos de escolarizao.
Segundo Tomaino (2009), comum alunos com essa deficincia, que apresentam
defasagem idade-srie, serem encaminhados para segmentos da EJA, ou seja, essa modalidade de
ensino tornou-se um artifcio utilizado pelas escolas para corrigir um processo de excluso. Os
trabalhos de Ferreira (2009), Tins (2010) e Haas (2013) apresentam a EJA como etapa final na
trajetria escolar de alunos com deficincia intelectual.
Quanto ao atendimento pedaggico recebido na EJA, Tins (2010) afirma que os alunos
com deficincia intelectual apresentam vrias dificuldades e os avanos na aprendizagem destes
alunos nesta modalidade de ensino so mais devido ao compromisso de alguns professores do
que, propriamente, por uma proposta pedaggica da EJA.
Sobre esta falta de proposta pedaggica vivenciada nas trajetrias de alunos com
deficincia intelectual, Gadotti e Romo (2007, p. 123) pontuam:
[...] a maioria das iniciativas no campo da EJA no tem configurado um atendimento
qualitativo satisfatrio. A falta de uma poltica clara tem provocado a implantao destes
servios de maneira precria e pedagogicamente inconsistente. As prticas pedaggicas
no se conformam ao especfico da educao de jovens e adultos, reproduzindo, muitas
vezes o ensino regular de maneira inadequada e facilitadora.
Desta forma, a EJA, como uma modalidade de ensino, deveria ser pensada e organizada
para antender a diversidade de alunos que a procuram, proporcionando aos mesmos a
possibilidade de continuidade de seu percurso escolar.
487
GT 2
Observamos que ele possui boas lembranas da escola e que sente prazer em lembr-las.
Notamos, no entanto, que Alex aponta suas dificuldades e situaes de reprova, situao
recorrente na trajetria escolar dos alunos com deficincia intelectual. Sobre esse aspecto,
Veltrone (2008, p. 98) pontua:
Com relao s prticas excludentes, o fenmeno do fracasso escolar historicamente
esteve presente nas escolas para determinar os alunos que fugiam dos padres impostos
como ideais. Foi, inclusive, a condio determinante para caracterizar o aluno com
deficincia mental e legitimar sua matrcula nos servios especializados segregados.
No caso de Alex, observamos que as reprovaes ocorreram nas sries iniciais, ou seja,
enquanto no havia legitimada a condio de aluno com deficincia intelectual e sua matrcula
nos servios especializados. De acordo com dados coletados nos documentos disponibilizados
pela escola que Alex estudou, o primeiro relatrio encaminhando-o para receber atendimento
educacional especializado na sala de recursos data de 1999, perodo que Alex estava cursando
pela primeira vez a 4 Srie do Ensino Fundamental, ou seja, se o mesmo iniciou sua
escolarizao em 1992, ento somente aps sete anos que o mesmo teve sua condio legitimada
e passou a receber atendimento educacional especializado no perodo contrrio ao da
escolarizao.
Moretti e Corra (2009, p. 487) valorizaram esse servio, afirmando que na perspectiva
488
GT 2
inclusiva o atendimento educacional especializado na sala de recursos tornou-se muito
importante, "pois visa oferecer o apoio educacional complementar necessrio para que o aluno se
desempenhe e permanea na classe comum, com sucesso escolar".
Veltrone (2008) diz que o fracasso escolar atinge todos os alunos e no exclusivamente os
alunos com deficincia intelectual, mas que o aluno com tal deficincia atribui mais a condio
do fracasso para si, o que sugere que ainda so tratados de maneira diferenciada pela escola.
A interao com os colegas da escola so muito importantes, pois por meio dela as
pessoas desenvolvem sentimentos de solidariedade e tolerncia essenciais para que possam se
desenvolver socialmente e individualmente. A interao social pontuada na Lei de Diretrizes e
Bases da Educao Nacional (Lei n 9.394/96), em seu artigo 32 inciso IV, que estabelece que o
ensino fundamental deve proporcionar, dentre outros objetivos: o fortalecimento dos vnculos de
famlia, laos de solidariedade humana e tolerncia que se assenta na vida social (BRASIL,
1996).
Sobre a interao com os colegas, Alex diz:
Eu tinha amizade com quase todo mundo na escola e s me zoavam quando o
Corinthians perdia um jogo. Todo mundo tirava sarro. E a eu tinha que aguentar. Mas
quando eu tinha dificuldade na sala de aula, em alguma matria, a ningum me tirava
sarro, os colegas me ajudavam (ALEX, 2013).
Observamos que ele tinha um timo relacionamento com os colegas de classe e demais
personagens da escola. Em sua fala no se percebe sentimento de rejeio, preconceito ou
isolamento. E vivenciar boas interaes sociais , entre outros fatores, importante para que a
proposta de incluso seja bem sucedida.
Em relao interao com os professores e professoras, Alex afirma: os professores me
ajudavam tambm. Alguns eram bravos outros no. Notamos um bom relacionamento com os
professores e que eles o ajudavam, talvez no sentido de proteg-lo devido deficincia, mas
no o discriminavam negativamente. Segundo Veltrone (2008, p. 63):
A vantagem da escolarizao na classe comum neste contexto que os alunos tm
oportunidade de conviver com vrios professores, principalmente nas sries mais
avanadas, o que pode maximizar ainda mais a oportunidade dessas interaes positivas
quando seus professores estiverem prontificados para ensin-los.
489
GT 2
Quando questionado sobre seu relacionamento com a escola, os contedos e
aprendizagem, Alex disse que gostava de estudar, mas salientou: eu no conseguia muito era
Matemtica, Ingls e Portugus e sempre ficava de exame nessas matrias a. Essas trs me
reprovavam sempre. Ao identificar as matrias que possua mais dificuldade notamos que
diante das exigncias e da complexidade dos contedos nas estapas mais avanadas do ensino, ele
no conseguia assimilar tudo que era necessrio e considerado pr-requisito para prosseguir seus
estudos, passar no exame vestibular e ingressar no Ensino Superior.
A dificuldade de assimilar os contedos caracterstica comum em alunos com
deficincia intelectual. E, no caso de Alex, em nenhum momento atribuda escola ou ao
professor a culpa pelo seu fracasso. Percebemos que ele se sente o nico responsvel pelo seu
desempenho ruim em algumas disciplinas. A escola formou nele essa concepo, debatida por
muitas pesquisas, entre elas a de Patto (1996) e Padillha (2001), que dizem sobre a culpabilizao
do aluno em relao ao seu fracasso.
Alex afirmou que concluiu o Ensino Mdio com vinte anos e queria continuar estudando,
fazer Medicina Veterinria, porque gosta de animais. Ele relatou que fez dois anos de cursinho
pr-vestibular na cidade vizinha, Paranaba-MS, cuja distncia de Inocncia de 85km. Alex
viajava de nibus todos os dias. Segundo ele, o cursinho no acrescentou mais conhecimento e o
que aprendeu neste at o confundiu no momento de fazer a prova de vestibular: o professor
falava que era para a gente estudar uma coisa que iria cair no vestibular. A gente estudava, mas
na hora no caa nada. Caam outras questes (ALEX, 2013).
Como qualquer aluno que conclui o Ensino Mdio, Alex quer dar continuidade aos
estudos, quer fazer um curso superior, ter uma profisso e trabalhar. Ele participou do Exame
Nacional do Ensino Mdio (ENEM) uma vez. Sobre essas provas e exames ele pontuou que no
teve muito sucesso:
[...] pssimo, errei quase tudo. A redao era muito difcil. Prestei vestibular duas vezes
para fazer o curso de Pedagogia na UEMS e no consegui passar, pois eram muitas
questes. Todas difceis demais e confundi tudo na Redao. Coloquei dois temas. Eu
comecei a falar sobre um tema e emendei com outro assunto. Comecei a falar de um
assunto e mudei para outro assunto que no tinha nada a ver com a minha redao. Eu
emendei um tema com outro tema. A tirei nota zero (ALEX, 2013).
Notamos que o aluno, apesar de ter concludo o Ensino Mdio, no est preparado para
ingressar no Ensino Superior. Por sua vez, a Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (Lei
n 9.394/1996) estabelece em seu Art. 22: A Educao Bsica tem por finalidade desenvolver o
490
GT 2
educando, assegurar-lhe a formao comum indispensvel para o exerccio da cidadania e
fornecer meios para progredir no trabalho e estudos posteriores.
Alex possui sonhos de prosseguir nos estudos e trabalhar, mas quando questionado sobre
as barreiras encontradas para que esses seus sonhos se realizem, ele disse:
Muitas barreiras... (olhos se enchem de lgrimas) se a gente quiser arrumar um
emprego fica difcil, n. Eu sou aposentado, a senhora sabe n? Se eu for trabalhar
registrado, eles cortam a aposentadoria, e depois... (ALEX,2013).
Caiado (2003, p. 104) esclarece esta passagem quando aponta que a escola reproduz a
formao de um homem que deve estar adaptado s condies histricas de trabalho do seu
tempo e lugar social. O depoimento de Alex revela seu conhecimento sobre sua condio de
descrdito no mercado de trabalho e sobre a renda familiar baixa implicar em continuar em uma
situao estvel, recebendo o benefcio de aposentadoria por invalidez. Tal condio mais
seguro do que se aventurar no mundo do trabalho cada vez mais competitivo e restrito, com
elevados ndices de desemprego e excluso.
Registramos aqui que a terminalidade especfica fator importante quando se trata de,
principalmente, deficincia intelectual. A Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional, em
seu artigo 59, inciso II, preconiza que os sistemas de ensino devero assegurar a [...]
terminalidade especfica para aqueles que no puderem atingir o nvel exigido para a concluso
do ensino fundamental, em virtude de suas deficincias, e acelerao para concluir em menor
tempo o programa escolar para os superdotados (BRASIL, 1996, p. 37).
Lima e Mendes (2011) pontuam que os critrios para a construo do instrumento de
certificao ficam sob responsabilidade dos prprios sistemas escolares, que devero descrever
de forma clara os avanos individuais alcanados pelos alunos, apontando suas habilidades e
competncias. Essa recomendao est de acordo com a descentralizao das polticas, que
transfere para as esferas locais a responsabilidade pela oferta e manuteno dos servios. Nesse
sentido, o artigo 24, pargrafo VII, da LDB determina que: cabe a cada instituio de ensino
expedir histricos escolares, declaraes de concluso de srie e diplomas ou certificados de
concluso de curso, com as especificaes cabveis (BRASIL, 1996, p. 25). Isso, se por um lado,
libera a cada regio a possibilidade para construo da proposta em torno da implementao da
terminalidade especfica, por outro pode levar a caminhos que contrariam os direitos e vontade
491
GT 2
das pessoas com deficincia intelectual e de suas famlias em relao a essa escolarizao
(LIMA; MENDES, 2011, p. 197).
Em relao terminalidade especfica, Lima e Mendes (2011, p. 205) afirmam que so
mecanismos criados com a finalidade de corrigir os atrasos e desvios, e pode-se afirmar que, o
mesmo sistema que advoga promover a incluso escolar do aluno com deficincia intelectual cria
mecanismos para exclu-lo.
Com relao ao sujeito deste estudo, observamos que ele foi inserido na EJA para receber
certificao de terminalidade. Por se tratar de uma modalidade de estudo, o seu ingresso na
mesma se deu por uma portaria especfica expedida pela escola em que estudava, classificando-o
e aproveitando estudos anteriores para estudar nas fases da EJA. Portanto, percebemos que a
escola criou critrios especficos para resolver problemas de defasagem idade-srie e garantir a
certificao e terminalidade do aluno sujeito desta pesquisa. De certa forma essa atitude da escola
no excludente?
CONSIDERAES FINAIS
492
GT 2
gnero e nmero, um aluno com deficincia intelectual precisa abrir mo de suas formas prprias
de pensar o aprender?
Podemos afirmar que a escola homogeneizadora, nos seus modos prprios de pensar e
transmitir conhecimento, constitui uma preocupao para implementar e garantir uma educao
de qualidade para todos no ensino comum. Logo, a desconsiderao das diferenas entre os
alunos, obrigando-os por meio de um currculo inflexvel ou hegemnico a se comportar e a
aprender de acordo com a maioria gera, naquele que se diferencia, a sensao de que no
consegue aprender, que incapaz.
Nesse contexto, o ensino pensado e ministrado tendo como foco os contedos das
disciplinas curriculares, imaginando os alunos como ideais que se amoldam a procedimentos
didticos universais, entra em desacordo com o que preconiza a incluso e com o que hoje se
conhece sobre as possibilidades de aprendizagem do aluno com deficincia intelectual.
Na presente estrutura escolar, assegurar a incluso torna-se bastante complicado e at
mesmo pode parecer utopia. Todos os alunos, tanto os sem deficincia quanto os com deficincia,
colocados na mesma classe e ao mesmo tempo, da mesma forma e no mesmo ritmo, recebem os
contedos sem levar em conta suas especificidades, necessidades e possibilidades no podemos
considerar isso como incluso escolar. E como afirma Ferraro (1999), as relaes de excluso
na e da escola no esto claras. Segundo ela, essas relaes colocam sobre os sujeitos a
responsabilidade pelo seu sucesso ou fracasso, na medida que difundem uma ideia de escola
democrtica e politicamente correta.
Deste modo, frente exigncia escolar de aprendizagem dos contedos disciplinares que
requer dos indivduos esquemas desenvolvidos de recepo, Alex, por no apresentar tais
esquemas, ficava parte do processo, o que explica a sensao de fracasso, de que no conseguia
aprender o que a escola elegia como aprendizagem.
REFERNCIAS
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Educao e Cincias Humanas da Universidade Federal de So Carlos, So Carlos, 2008.
495
0
INTRODUO
Quando nos propomos a fazer uma reflexo sobre o Atendimento Educacional
Especializado, que ora est posto na Educao Brasileira, a partir da categoria da Organizao
496
1
do Trabalho Didtico (OTD), torna-se relevante, antes de mais nada, conceituar essa
categoria, que foi formulada por Alves (2005, p. 10-11) nos seguintes termos:
No plano mais genrico e abstrato, qualquer forma histrica de organizao do
trabalho didtico envolve, sistematicamente, trs aspectos: a) ela , sempre, uma
relao educativa que coloca, frente a frente, uma forma histrica de educador, de
um lado, e uma forma histrica de educando (s), de outro; b) realiza-se com a
mediao de recursos didticos, envolvendo os procedimentos tcnico-pedaggicos
do educador, as tecnologias educacionais pertinentes e os contedos programados
para servir ao processo de transmisso do conhecimento; c) e implica um espao
fsico com caractersticas peculiares, onde ocorre.
497
2
498
3
preenchido de aes propositalmente sistematizadas para o fim a que se propem.
(id., Ibid., p.7).
Cabe destacar que, essa proposta se aplica ao alunado de forma geral, ou seja, serve
tanto ao aluno dito normal, quanto quele aluno que apresenta algum tipo de deficincia,
inclusive a deficincia intelectual, superando a viso de que estes necessitariam de um
atendimento especial. Neste sentido, tratando especificamente da deficincia intelectual as
autoras ressaltam:
[...] houve um tempo em que se entendia que esses alunos no eram capazes de arcar
com o compromisso primordial da escola comum de serem introduzidos no mundo
social, cultural e cientfico, a no ser em condies muito especficas e fora dessa
escola. Entendia-se que esses alunos necessitavam de condies escolares especiais
o que inclua currculos e ensino adaptados, nmero menor de alunos por turma,
professores especializados e outras condies particulares de organizao
pedaggica do processo educacional. (BATISTA, MANTOAN , 2006, p.9).
Segundo a nova concepo os alunos com deficincia intelectual (DI) devem ser
capazes de, no interior da relao educativa, apropriar-se dos mais variados conhecimentos,
sem a necessidade inclusive, de currculos adaptados ou de condies educacionais especiais
para a promoo da aprendizagem. A contribuio que a escola inclusiva prope para estes
alunos o Atendimento Educacional Especializado que, de acordo com o documento
referendado pelo MEC (2006, p. 18), se prope a oportunizar [...] condies de passar de um
tipo de ao automtica e mecnica diante de uma situao de aprendizado/experincia para
um outro tipo, que lhe possibilite selecionar e optar por meios mais convenientes de atuar
intelectualmente.
Ampliando essas atribuies, tanto da escola, como do AEE, o documento em anlise
acrescenta:
[...] o atendimento educacional especializado para o aluno com deficincia mental
deve permitir que esse aluno saia de uma posio de 'no-saber', ou de 'recusa de
saber' para se apropriar de um saber que lhe prprio, ou melhor, que ele tem
conscincia de que o construiu. (id., ibid., p. 20).
499
4
500
5
nveis e sries e, tambm, "pela complexidade do seu conceito e pela grande quantidade e
variedades de abordagens do mesmo." (id., ibid., p.10).
A contradio, se configura com mais clareza na realidade dos alunos com este tipo de
deficincia, uma vez que: A deficincia mental coloca em xeque a funo primordial da
escola comum que a produo do conhecimento, pois o aluno com essa deficincia tem uma
maneira prpria de lidar com o saber que, invariavelmente, no corresponde ao ideal da
escola ( BATISTA; MANTOAN, 2006, p. 12).
Nesse contexto natural indagar: qual seria ento a proposta do Ministrio da
Educao para promover a aprendizagem do aluno com deficincia intelectual? Na tentativa
de responder a essa questo as autoras explicam:
Na concepo inclusiva, a adaptao ao contedo escolar realizada pelo prprio
aluno e testemunha a sua emancipao intelectual. Essa emancipao
consequncia do processo de auto-regulao da aprendizagem, em que o aluno
assimila o novo conhecimento, de acordo com suas possibilidades de incorpor-lo ao
que j conhece. Ensinar um ato coletivo, no qual o professor disponibiliza a todos
alunos sem exceo um mesmo conhecimento. Ao invs de adaptar e
individualizar/diferenciar o ensino para alguns, a escola comum precisa recriar suas
prticas, mudar suas concepes, rever seu papel, sempre reconhecendo e
valorizando as diferenas. (id., ibid., p. 13).
Sendo assim, conclui-se que a relao educativa mantm-se tal como prevista por
Comenius, ou seja, o professor atende o coletivo de alunos,
Para tanto, esperado que o espao fsico utilizado pelo AEE seja
501
6
Logo, o espao reservado para o AEE deve possuir algumas caractersticas peculiares,
deve ser um espao que contemple a interao, portanto, deve apresentar alternativas
relevantes que transcendam o ambiente da sala de aula. Outro fator importante, que esse
espao deve ser utilizado apenas para esse fim, por conseguinte, no se devem fazer
adaptaes com outros espaos do ambiente escolar, visando o AEE.
502
7
Elementos de mediao
Conforme Alves (2005), a relao educativa realizada pela mediao de
instrumentos didticos, contedos e procedimentos tecnico-pedaggicos. Sobre as aes que
devem ser adotadas no cenrio do AEE, o documento "Educao inclusiva: atendimento
educacional especializado para a deficincia mental" (BATISTA; MANTOAN, 2006, p. 9),
tomando a Constituio de 1988 por base, assim as descreve:
[...] as aes do atendimento educacional so definidas conforme o tipo de
deficincia que se prope a atender. Como exemplo, para os alunos com deficincia
auditiva o ensino da Lngua Brasileira de Sinais - LIBRAS, de Portugus, como
segunda lngua, ou para os alunos cegos, o ensino do cdigo Braille, de
mobilidade e locomoo, ou o uso de recursos de informtica, e outros (id., ibid., p.
9).
Curiosamente, o texto que objetiva abordar o atendimento dos alunos com Deficincia
intelectual (DI) no aborda as aes que caracterizam o AEE voltado para estes alunos,
fazendo supor que no h aes especficas para seu atendimento, sendo estas aes definidas
a partir de um levantamento prvio da demanda dos alunos a serem atendidos no espao do
AEE, uma vez que o espao e as aes a serem desenvolvidas devem ser pensados a partir das
deficincias.
Sobre o currculo e sobre os contedos que devem ser ministrados nesse espao, o
documento esclarece quais seriam os objetivos que essa modalidade de atendimento se prope
a realizar, nesse contexto assegura:
[...] Esse atendimento existe para que os alunos possam aprender o que diferente
do currculo do ensino comum e que necessrio para que possam ultrapassar as
barreiras impostas pela deficincia. [...] a educao especializada, realizada nos
moldes do treinamento e da adaptao, refora a condio de deficiente desse aluno.
(id., ibid., p.9).
503
8
Nesse contexto, a proposta que o MEC referenda como alternativa para a prtica
mediadora dos instrumentos didticos deveria atender as especificidades descritas abaixo:
[...] implica em trabalhar a abstrao por meio da projeo das aes prticas em
pensamento. A passagem das aes prticas e a coordenao dessas aes em
pensamento so partes de um processo cognitivo que natural para aqueles que no
tm deficincia mental. E para aqueles que tm uma deficincia mental, essa
passagem deve ser estimulada e provocada, de modo que o conhecimento possa se
tornar consciente e interiorizado (id., ibid., 2006, p. 18 - 19).
atendimentos
504
9
[...] ao desenvolver o atendimento educacional especializado deve oferecer todas as
oportunidades possveis para que nos espaos educacionais em que ele acontece, o
aluno seja incentivado a se expressar, pesquisar, inventar hipteses e reinventar o
conhecimento livremente. Assim, ele pode trazer para os atendimentos os contedos
advindos da sua prpria experincia, segundo seus desejos, necessidades e
capacidades. O exerccio da atividade cognitiva ocorrer a partir desses contedos
(BATISTA; MANTOAN, 2006, p. 19).
CONSIDERAES FINAIS
quantitativas e qualitativas de excelncia, mas o faz por meio de aes descontnuas. Ocorre
que, devido complexidade das demandas que esto postas a esse modelo de escola, a
promoo da aprendizagem desses estudantes fica comprometida.
A proposta do AEE, tal como aparece no documento analisado, nega a necessidade da
promoo de adaptaes e individualizaes para que estes alunos alcancem o domnio do
saber sistematizado, pondera-se, contrariamente, a necessidade de que a ao educativa seja
planejada e que se estabelea efetiva articulao entre as atividades desenvolvidas no AEE,
pelo professor especialista, e aquelas estabelecidas na sala de aula comum, sob a
responsabilidade do professor generalista. Considera-se que a falta de aes especificas e
505
10
REFERNCIAS:
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MACHADO, A. M., SOUZA, M. P. R.; SAYO, Y. As Classes Especiais e Uma Proposta
de Avaliao Psicolgica. In Conselho Regional de Psicologia de So Paulo (Ed.).. Educao
Especial em Debate. So Paulo: Casa do Psiclogo, 2007.
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1
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2
INTRODUO
O presente artigo tem como titulo A Construo de uma Escola Inclusiva para a
Pessoa com Deficincia e apresenta como objetivo geral, analisar os Marcos
Internacionais e Nacionais que contriburam para pensar a Educao Inclusiva na escola
regular.
A pessoa com deficincia ao longo da histria foi marcada por extermnio,
abandono e segregao. No sculo XX, inicia-se um novo olhar para estas pessoas,
inicia-se o movimento de integrao da pessoas com deficincia na escola regular, mas
integrar no basta preciso incluir.Com a viso de incluso que o sculo XXI comeou
a compreender a pessoa com deficincia. Incluir, no pode segregar em instituies e
nem simplesmente integrar.
Mas para a pessoa com deficincia ter direito a frequentar a escola regular, seja,
por meio da integrao ou por meio da incluso, houve muitas lutas e mudanas de
paradigmas, para que estas pessoas tivessem o direito de frequentar o ensino regular.
Na Grcia e na Roma antiga onde valorizava o corpo fsico, a beleza, as pessoas
com deficincia eram descartadas, a pessoa que nascesse com algum defeito era
exterminada para a no procriao da espcie.
Na idade mdia as pessoas com deficincias eram abandonadas a prpria sorte e
consideradas um castigo divino. Foi neste perodo que surgiu os primeiros hospitais
psiquiatras, asilos e convento para segregar as pessoas com deficincia, conforme
Aranha ( 2001, p.06) tais instituies eram um pouco mais do que prises
Os paradigmas, surgem para pensar a pessoa com deficincia, so eles que
movem a incluso, mesmo que o primeiro paradigma, segregava, segundo paradigma ,
integra,
Sendo que sem os dois paradigmas anteriores so seria possvel chegar no paradigma
atual.
Vou escrever brevemente, tambm, da Declarao Mundial sobre Educao
para Todos (1990), Declarao de Salamanca (1994), Conveno de Guatemala (1999),
Constituio Federal de 1988 e LDB 9394/96 ( Lei de Diretrizes e Bases). Sendo os
trs primeiros
internacional e
que h outros
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3
paradigmas, dos
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4
por objetivo ajudar as pessoa com deficincia a obter uma existncia to prxima ao
normal possvel[...] . Na atualidade o grande desafio romper com o paradigma de
servio, sendo que no paradigma de servio o aluno deve se adaptar a escola.
Este paradigma traz a ideia de integrar, e, integrar no incluir, integrar
somente permitir que a pessoa circule por aquele espao, o paradigma do servio, em
muito momento tambm segrega as pessoas com deficincia. Mas conforme afirma
Montoan (1997, p.145) a noo de incluso no incompatvel com a integrao.
Analiso que necessrios cada um dos paradigmas para incluso de hoje. Pois como
afirma a mesma autora na mesma pgina o vocabulrio integrao abandonado, uma
vez que o objetivo incluir um aluno ou um grupo de alunos que j foram
anteriormente excludos.
Hoje o maior objetivo da escolarizao da pessoa com deficincia incluir essas
pessoa de fato na escola regular, e no somente integrar, aqui muda-se o paradigma que
em vez da criana se adaptar a escola, a escola deve se adaptar ao aluno, passa do
paradigma do servio para o paradigma do suporte.
O paradigma do suporte, para Aranha (2001, p.19), tem se caracterizado pelo
pressuposto de que a pessoa com deficincia tem direito a convivncia no segregada e
aos acessos aos recursos disponveis aos demais cidados. Pensar na pessoa com
deficincia como um ser humano que capaz de aprender, e que deve estar incluso na
sociedade como os demais cidados, no foi, e no , uma tarefa fcil, para a melhor
compreenso das lutas no processo de incluso apresento os Marcos Internacionais e
Nacionais que trazem referncias as pessoas com deficincias.
3 UM OLHAR PARA OS MARCOS INTERNACIONAIS E NACIONAIS: breves
apontamentos.
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5
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6
paradigma
paradigmas que entra em cena o do servio2, que conforme Aranha (2001, p.17),
desde o inicio comeou a enfrentar crticas, desta vez provenientes da academia
cientifica e das prprias pessoas com deficincias, organizadas em associaes e outros
rgos de representao. Esse processo mal sucedido da desinstitucionalizao tem
reflexo atualmente, sendo que muitos pais das crianas com deficincias, preferem
colocar os seus filhos nas instituies especiais do que nas escolas regulares.
Mas a referida declarao abriu portas para discutir o acesso da pessoa com
deficincia na escola regular, sei que aqui no se refere incluso que buscamos hoje,
mas possibilitou a escola regular abrir suas portas para os que sempre ficaram as
margens da sociedade.
Declarao de Salamanca de
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7
signatrios, inclusive o Brasil. Esse documento escreve que a pessoa com deficincia,
no deve receber tratamento, que exclui ou segrega.
A conveno de Guatemala ( 1999, p.1 ), reafirma que,
as pessoas portadoras de deficincia tm os mesmos direitos humanos
e liberdades fundamentais que outras pessoas e que estes direitos,
inclusive o direito de no ser submetidas a discriminao com base na
deficincia, emanam da dignidade e da igualdade que so inerentes a
todo ser humano;
A Constituio Federal de 1988 anterior aos Marcos Internacionais, apresentados, mas os seus artigos
vo sendo adaptando conforme as necessidades, Lei de Diretrizes e Bases de 1996, tambm tem artigos
adaptados conforme as necessidades.
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Constituio Federal
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Art. 58. Entende-se por educao especial, para os efeitos desta Lei, a
modalidade de educao escolar oferecida preferencialmente na rede
regular de ensino, para educandos com deficincia, transtornos globais
do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotao. (Redao
dada pela Lei n 12.796, de 2013)
1 Haver, quando necessrio, servios de apoio especializado, na
escola regular, para atender s peculiaridades da clientela de educao
especial.
2 O atendimento educacional ser feito em classes, escolas ou
servios especializados, sempre que, em funo das condies
especficas dos alunos, no for possvel a sua integrao nas classes
comuns de ensino regular.
3 A oferta de educao especial, dever constitucional do Estado,
tem inicio na faixa etria de zero a seis anos, durante a educao
infantil. (LEI DE DIRETRIZES E BASES, 1996, p.22)
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10
As salas de recursos so as salas que recebem os alunos com deficincia no contra turno, sendo que
essas salas devem contarar com profissionais especializados e ressalto no substitui a sala de aula comum.
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11
Montoan
movimentos sociais mais amplos, que exigem maior igualdade e mecanismo mais
equitativos no acesso a bens e servios A escola inclusiva precisa organizar-se para
receber a todos os alunos com ou sem deficincia, necessrio uma cultura inclusiva,
que pensa como articular ao para a criana se sentir parte daquele espao escolar, no
tendo lugar para preconceitos, pois o preconceito trava a incluso.
A escola precisa adaptar-se aos seus alunos e no os seus alunos adaptar-se a
ela. necessrio que a escola regular assegure a todos uma aprendizagem de qualidade,
e faa movimentos para que todas as crianas que esto neste espao se sintam parte
daquele ambiente.
Os alunos da escola regular precisam ter a oportunidade de convvio com
todos sem preconceitos desde cedo, como afirma na LDBN 9394/96, desde a Educao
Infantil esta assegurado o direito de todos educao na escola regular, como j foi
escrito no tpico anterior. Mas ai me pergunto; qual a importncia de tantas politicas se
no cho da escola nada muda? Qual a importncia da pessoa com deficincia para a
atual sociedade? Quem so os profissionais que esto dispostos a ensinarem e
apreenderem, com as pessoas com deficincias e no usar o velho discurso no tenho
6
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12
formao para trabalhar com esse tipo de aluno, at quando isso vai ser desculpa para
no efetuarmos a incluso de fato? Que escola que queremos no sculo XXI? Que
professores que queremos na escola do sculo XXI?
Talvez as respostas ainda estejam dentro de um casulo que precisam ser
desvendadas, com desculpas que a escola e professores no esto preparados para a
incluso, a escola oferece uma incluso mal sucedida, mesmo diversos autores
escrevendo que incluso de fato oferecer alternativas diferentes para crianas
diferentes. Mantoan (2006, p.22) afirma que [...]combinar igualdade e diferenas no
processo escolar andar no fio da navalha. Acredito que as palavras de Mantoan
contribuem para entender o que a escola regular no esta entendendo que dar igualdade
de oportunidade no tratar todo mundo igual como se numa sala de aula todos
apreendessem da mesma forma.
Proporcionar a incluso possibilitar que todos vivam em um ambiente
inclusivo, que todos tero
sem
atitudes
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13
diferenas. Numa escola inclusiva necessrio que todos aprendam, sem distino em
qualquer aspecto onde no seleciona aluno, a escola inclusiva voltada para todos.
A educao inclusiva, um grande desafio que tem que combinar,
sensibilidade e conhecimento e compreender que todo o ser humano nico. Conforme
Arantes (2006, p. 45 ) a, educao inclusiva est localizada como compromisso ticopoltico, que implica garantir a educao como direito de todos. Porm com qualidade
para que cada pessoa aprenda com deficincia ou no. A escola s inclusiva quando
oferece condies de aprendizagem independente de qualquer condio de seus alunos.
Eu como professora compreendo que qualquer aluno que vai para a escola vai
para aprender, no somente para socializar e o educador precisa possibilitar estimulo
voltados para a necessidade de cada aluno. necessrio escolas
voltadas para o
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14
Disponvel
em:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=17009&
Itemid=913. Acesso em: 20-09-2015.
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CARVALHO, Rosita Edler. A nova LDB e a Educao Especial. 2 ed. - Rio de
Janeiro: WVA, 1997
CONVENO
DA
GUATEMALA.
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em:
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07-08-
520
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em:
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MANTOAN, Maria Teresa Eglr. PRIETO, Rosngela Gaviola. ARANTES, Valria
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MAZZOTTA, Marcos J.S. Educao Especial no Brasil: Histria e Polticas Pblicas.
6 ed. So Paulo: Cortez, 2011.
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para atender suas necessidades, j que elas pressupem apoio tcnico e financeiro, entre
outros.
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Depois que passou a ser atendido por ela, a professora narra sua mudana:
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Hoje ele fala, ele ri, ele grita, ele berra, ele se diverte. bacana ver
isso, apesar de que o que eu queria mesmo dele era a parte da
alfabetizao, mas toda criana tem o seu tempo. Toda criana
precisa do tempo. Eu acho que esse tempo que ele est aqui, se
relacionando com o outro, que eu estou colocando ele para se
relacionar com as outras crianas, e com os professores tambm, eu
acho que isso a que vai alavancar a alfabetizao. (Professora
Fernia)
At mesmo o fato de ele se divertir quando sabe que est quebrando as regras,
demonstra que esse [...] princpio que gera e estrutura as prticas e as representaes
que podem ser objetivamente regulamentadas e reguladas (BOURDIEU, 1972, in
ORTIZ, 1983, p. 15), o habitus, est presente em suas aes.
Pensando em alunos como Eros, Apolo e Hera, e em tantos outros em condies
semelhantes, mesmo sem algum CID ou laudo, nos questionamos se ao serem pensadas
polticas pblicas de formao de professores, como o PNAIC Pacto Nacional pela
Alfabetizao na Idade Certa, esses so levados em considerao. Ou o tempo certo
se refere somente aos outros alunos, no a todos, a toda a diversidade de sujeitos
inseridos nas classes de alfabetizao ou no inteiro sistema pblico de ensino?
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A aluna que atende atualmente Tmis, 7 anos de idade, aluna do 1 ano dessa
mesma escola estadual, CID G80(Paralisia cerebral ), F71 (Retardo mental moderado),
F60 (Transtornos especficos de personalidade) e G40 (Epilepsia), auxiliada pela
professora Caria. Tambm demonstrou, em seu comportamento, que no estava muito
satisfeita com essa quebra em sua rotina, e do fato de estar sendo entrevistada. Com
algum esforo, conseguimos que nos relatasse que o que mais gostava na escola era
desenhar e pintar com tinta, jogar bola na educao fsica e fazer suas atividades,
escrever. A professora Caria quis que ela nos mostrasse que sabia escrever a primeira
letra do seu nome, mas ela se recusou, fez um risco em uma folha e voltou a se entreter
com uma cadeira giratria e com os objetos (mais interessantes) na mesa da diretora.
Mas as regras de conduta prprias do habitus estudantil estavam bem
internalizadas. Ao perguntarmos como uma criana devia se comportar na escola,
respondeu prontamente: Ateno e, com essa simples palavra, resumiu todas as
normativas implcitas na relao estudante/escola.
Consideraes finais.
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Percebemos, ainda, que a presena dos professores de apoio nas salas de aula do
ensino regular, ou a sua ausncia, no caso aqui tratado da aluna Hera, tem a ver com a
instituio de um novo campo profissional, com habitus e expectativas prprias,
caracterizados por uma relao que no permite um trabalho autnomo aos professores
de apoio, visto que precisam sempre levar em considerao o planejamento feito pelos
titulares, embora no tenhamos percebido nas entrevistas que haja o firmamento de
uma parceria pedaggica, com vistas ao desenvolvimento de todo o potencial criativo e
de aprendizagem desses sujeitos.
Referncias
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MUYLAERT, Camila Junqueira et al. Entrevistas narrativas: um importante recurso em
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http://revistaleph.uff.br/index.php/REVISTALEPH/article/view/50/45. Acesso em
30/09/15
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TRABALHOS COMPLETOS
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1
RESUMO: A presente pesquisa tem como principal meta expor a forma como se apresentam
a Histria dos ndios do Estado de Mato Grosso do Sul nos livros didticos de Histria. Por
meio de anlise sistemtica, a pesquisa buscou avaliar materiais utilizados nas escolas
pblicas estaduais de Mato Grosso do Sul. Visto a importncia dos livros didticos nas salas
de aula, o trabalho se desenrolou a partir da anlise histrica de livros datados de 2000 2015
do ensino fundamental. O estado de Mato Grosso do Sul possui uma diversidade de povos
indgenas com caractersticas culturais e sociais to nicas como qualquer outro povo
indgena do Brasil. A escola continua sendo a principal fonte de conhecimento de milhares de
crianas, jovens e adultos, por este motivo a pesquisa partiu do livro didtico, de como este
material to importante vem contando a histria indgena do estado nos ltimos 15 anos. No
se trata de uma crtica ao livro didtico, ou uma anlise sistemtica dos livros utilizados em
salas de aula, a anlise feita refere-se exclusivamente a temtica histrica dos ndios do estado
de Mato Grosso do Sul. Abordaremos neste trabalho alguns autores de livros didticos
comparando os contedos e destacando a fragilidade de cada abordagem. Resultados
preliminares apontam que a Histria regional do ndio sul-mato-grossense necessita de uma
melhor elaborao, deixando de ser tratado de forma genrica.
Palavras-chave: Livro Didtico; Histria Regional; ndio.
INTRODUO
Ai de mim, ai das crianas abandonadas na escurido.2
(Graciliano Ramos)
Buscamos nesse trabalho analisar alguns materiais didticos de Histria utilizado
nas Escolas Estaduais de Mato Grosso do Sul com a inteno de encontrar nos livros de
Histria, material que aborde a temtica indgena do Estado de Mato Grosso do Sul durante os
anos de 2000 a 2015.
Ao iniciar a pesquisa bibliogrfica referente ao livro didtico foi possvel
encontrar uma considervel produo de artigos e livros referentes ao assunto. Todas as obras
inspiram cuidados ao analis-las, visto o perigoso hbito de se criticar a educao brasileira.
Sendo que o livro didtico desempenha um papel importantssimo no ensino, ocupando uma
posio de norteador por muitos professores nas salas de aulas.
O Brasil possui uma alta produo de material didtico, disponibilizando as
escolas pblicas livros em todas as sries. Os investimentos na educao tm aumentado a
1
RAMOS, Graciliano. Infncia. 10 ed. Rio de Janeiro: Jos Olympio, 1974. p. 228.
539
2
Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao - rgo ligado ao Ministrio da Educao, criado durante o
Estado Novo, governo de Getlio Vargas.
4
O Ministrio da Educao (MEC) um rgo do governo federal do Brasil fundado no decreto n. 19.402, em
14 de novembro de 1930, com o nome de "Ministrio dos Negcios da Educao e Sade Pblica", pelo ento
presidente Getlio Vargas e era encarregado pelo estudo e despacho de todos os assuntos relativos ao ensino,
sade pblica e assistncia hospitalar.
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3
541
4
Fonte: BERUTI, Flvio. Tempo e espao: 5 srie. Belo Horizonte: Formato Editorial, 2002. p.20.
A referncia escrita para descrever essa imagem segundo o autor d-se; Durante a
sua existncia, a humanidade construiu diferentes maneiras de viver, de pensar e de se
relacionar. Costuma-se dizer que cada povo, tem seu prprio ritmo. Na ilustrao, podemos
observar uma cena indgena.
O autor no referencia a imagem devidamente, no identifica o autor da imagem e
no explica qual a atividade que esse grupo est executando. A imagem de Rugendas,
Viagens pitoresca atravs do Brasil.
A 5 srie faz parte de um perodo importantssimo para os aspectos cognitivos
dos alunos, em sua maioria os alunos passaro a fazer parte da adolescncia, grupo que
necessita de afirmaes e construes comportamentais. Ser nessa fase que a identidade
estar sendo afirmada, que os mitos estaro sendo desconstrudos, construdos e reconstrudos
em alguns casos. A imagem utilizada refora o pensamento de que os povos indgenas so
542
5
povos primitivos, que possuem um modo de vida sedimentar, sem roupas, sujos, sentados no
cho, no meio da mata, entre animais, pensamento que refora esteretipo indgena que temos
em nossa sociedade.
Livro 2 Encontros com a Histria (RIBEIRO, ANASTASIA, 2008).
Os autores dessa obra didtica so Vanise Ribeiro e Carla Anastasia. Segundo as
informaes sobre as autoras encontradas no livro, temos que, Carla possui Doutorado em
Cincia Poltica. Vanise possui Ps graduao em histria do Brasil. Em nenhum momento,
na coleo ENCONTROS COM A HISTRIA, que possui obras de 5 a 8 srie,
referenciaram a histria do ndio sul-mato-grossense. A escolha dessas autoras deu-se pelas
ilustraes e forma de contar as histrias, entre todos os materiais analisados essas autoras
foram as que mais referenciaram a questo indgena, seus materiais possuem coerncia, todas
as citaes foram referenciadas, as imagens identificadas claramente e o formato dos livros
agradam a leitura.
Figura 2 - Conflito entre nativos e colonizadores. Fonte: ANASTCIA, Carla; RIBEIRO, Vanise.
Encontros com a Histria: 6 srie. Curitiba: Positivo, 2006. p. 120.
A imagem acima est no Capitulo 3 do livro, com o titulo: Viagens que mudaram
o Mundo, em nome de Deus e do Lucro. As autoras afirmam que os processos de colonizao
utilizavam como respaldo a igreja catlica, os colonizadores traziam a f crist em troca dos
recursos naturais da Amrica. Na imagem de Rugendas podemos observar o conflito entre
nativos e colonizadores. As autoras prosseguem com as ilustraes, vejamos.
543
6
Figura 3 - Chegada de Pedro Alvares Cabral em Porto Seguro.Fonte: ANASTCIA, Carla; RIBEIRO,
Vanise. Encontros com a Histria: 6 srie. Curitiba: Positivo, 2006. p. 133.
Essa imagem ilustra a chegada de Pedro Alvares Cabral em Porto Seguro, o ttulo
do assunto : A conquista da Terra Brasilis. Essa imagem pode ser considerada um clssico
entre as que tratam da chegada ao Brasil. Pode ser encontrada em obras de todas as sries,
com diferentes focos explicativos. Apesar de as autoras construrem explicaes relevantes
sobre a relao entre os portugueses e os indgenas no processo de colonizao, no
explicitam os valores culturais, sociais e polticos indgenas.
Outra imagem muito utilizada por autores de livros didticos de Histria a que
segue:
Figura 4 Terra Brasillis. Fonte: ANASTCIA, Carla; RIBEIRO, Vanise. Encontros com a Histria: 6 srie.
Curitiba: Positivo, 2006. p. 135.
544
7
Figura 5 Anchieta e Nbrega na cabana de Pindabuu . Fonte: ANASTCIA, Carla; RIBEIRO, Vanise.
Encontros com a Histria: 6 srie. Curitiba: Positivo, 2006. p. 187.
.
Figura 6 Aldeia de Tapuias. Fonte: ANASTCIA, Carla; RIBEIRO, Vanise. Encontros com a Histria: 6
srie. Curitiba: Positivo, 2006. p. 188.
545
8
Essa imagem representa o interesse da construo imaginria a respeito desses povos. Nessa
obra as autoras no referenciam em mais nenhum momento os povos indgenas do Brasil ou
do Mato Grosso do Sul.
Livro 3 Das cavernas ao Terceiro Milnio (BRAICK, MOTA, 2011).
A obra analisada foi direcionada ao 7 ano do ensino fundamental, o ano de
2011, PNLD 2011, 2012 e 2013. A escolha dessa obra deu-se por tratar em diversos pontos
sobre os povos indgenas do Brasil.
As obras dessa coleo contemplam do 5 ao 9 ano. Foi possvel observar nessas
obras uma elaborao mais voltada s normas da lei 9.394 de 20 de dezembro de 1996, assim
como uma elaborao estrutural adequada as necessidades de alunos e professores.
As autoras so Patrcia Ranis Braick e Myriam Becho Mota. Patrcia possui
mestrado em Histria (rea de concentrao: Histria das Sociedades Ibricas e Americanas)
e Myriam licenciada em Histria, possui mestrado em Relaes Internacionais.
No capitulo 9 A Amrica dos povos pr-colombianos, as autoras intitulam um
tpico como: Os povos indgenas do Brasil, onde descrevem algumas etnias encontradas no
Brasil, algumas lnguas faladas, a situao desses povos, a distribuio dos principais povos
indgenas em 1.500, as terras tradicionais e a localizao atravs de mapas. Conseguem
mostrar claramente a evidencia desses povos no Brasil e sua histria, o problema que em
nenhum momento citam os povos indgenas do Mato Grosso do Sul.
Ilustram o mesmo captulo com um texto de Eduardo Galeno, intitulado O mito da
origem da mandioca.
Figura 7 - ndias do povo Waur descascando e lavando mandioca para preparar o beiju. Fonte:
BRAICK, Patrcia Ramos. Histria: das cavernas ao terceiro milnio. 2. Ed. So Paulo: Moderna, 2006. p. 158.
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9
Figura 08:- A vida Cotidiana Fonte: Dana ritual com pajs (ao centro) agitando maracs e fumando tabaco,
gravura de Jean de Lry, 1578. BRAICK, Patrcia Ramos. Histria: das cavernas ao terceiro milnio. 2. Ed.
So Paulo: Moderna, 2006. p. 159.:
547
10
Figura 9 - Descrio da imagem: Cena de batalha entre grupos indgenas retratada por Jean de Lry, no sculo
XVI. . Fonte: BRAICK, Patrcia Ramos. Histria: das cavernas ao terceiro milnio. 2. Ed. So Paulo: Moderna,
2006. p. 161.
i
Figura 10 O ndio na poltica. Fonte: BRAICK, Patrcia Ramos. Histria: das cavernas ao terceiro milnio. 2.
Ed. So Paulo: Moderna, 2006. p. 164.
548
11
Figura 11 - Descrio da imagem: O padre jesuta Antnio Vieira evangelizando ndios no Brasil, gravura de
Charles Legrand, c. 1840. Fonte: BRAICK, Patrcia Ramos. Histria: das cavernas ao terceiro milnio. 2. Ed.
So Paulo: Moderna, 2006. p. 194.
Figura 12 - Descrio da imagem: Fundao de So Vicente, segundo a interpretao do artista Benedito Calixto
1900. So Vicente foi a primeira povoao da Amrica portuguesa. Fonte: BRAICK, Patrcia Ramos. Histria:
das cavernas ao terceiro milnio. 2. Ed. So Paulo: Moderna, 2006. p. 201.
A ltima referncia aos povos indgenas nessa obra trata de uma referncia a
Sociedade e religio na colnia capitulo 15. Trata-se de uma explicao a construo social
549
12
Figura 13. Descrio da imagem: ndia Kamayur com adornos tradicionais. Os Kamayurs vivem no parque
Indgena do Xingu, no Mato Grosso. Foto de 2002. Fonte: BRAICK, Patrcia Ramos. Histria: das cavernas ao
terceiro milnio. 2. Ed. So Paulo: Moderna, 2006. p. 243.
Durante a anlise dessa obra, no foi possvel identificar nenhuma referncia aos
povos indgenas do estado de Mato Grosso do Sul. Apesar de podermos considerar essa obra
uma das mais explicativas e ilustradas entre todas as outras 80 obras, no abordaram em
momento algum a realidade dos ndios sul-mato-grossense.
CONSIDERAES FINAIS
H escolas que so gaiolas e h escolas que so asas. Escolas que so gaiolas existem para
que os pssaros desaprendam a arte do voo. Pssaros engaiolados so pssaros sob controle.
Engaiolados, o seu dono pode lev-los para onde quiser. Pssaros engaiolados sempre tm um
dono. Deixaram de ser pssaros. Porque a essncia dos pssaros o voo. Escolas que so asas
no amam pssaros engaiolados. O que elas amam so pssaros em voo. Existem para dar aos
pssaros coragem para voar. Ensinar o voo, isso elas no podem fazer, porque o voo j nasce
dentro dos pssaros. O voo no pode ser ensinado. S pode ser encorajado.
Rubem Alves
As questes envolvendo a utilizao ou no do livro didtico como fonte
primordial de ensino continua em plena discusso e ascenso, e assim Mortatti (2006) afirma,
para que possamos mudar o presente e o futuro do ensino, temos que reavaliar os mtodos do
passado sem desconsider-los. A histria do ensino brasileiro nos revela questes importantes
na compreenso deste processo. Compreender estes fatores, os parmetros em que se
enquadram, as ideologias que os guiam e outras caractersticas podem servir como passo a
direo certa de novas diretrizes na educao brasileira.
550
13
551
14
desrespeitar os direitos coletivos dos povos indgenas, como o direito a terra, a escola e sade
diferenciada.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
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MINISTRIO DA EDUCAO. Projeto de avaliao de livros didticos de 1 a 8 srie.
Disponvel em http://www.mec.gov.br/sef/fundamental/avalidid.shtm . Acesso em 29 maro
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MORTATTI, Maria do Rosrio Longo. Histria dos mtodos de alfabetizao no Brasil.
Conferncia proferida durante o Seminrio "Alfabetizao e letramento em debate",
promovido pelo Departamento de Polticas de Educao Infantil e Ensino Fundamental da
Secretaria de Educao Bsica do Ministrio da Educao, realizado em Braslia, em
27/04/2006. Disponvel em: . Acesso em: 10 junho de 2015.
552
GT3
Mestre em Educao pela Universidade Catlica Dom Bosco. Professora da Universidade Federal de
Mato Grosso do Sul-CPAQ, Pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Formao Interdisciplinar
de Professores GEPFIP/UFMS/CPAQ e integrante do Grupo que Coordena o LIFE (Laboratrio
Interdisciplinar de Formao de Educadores CPAQ/UFMS). [email protected]
2
Acadmica do 5 semestre de Pedagogia/UFMS-CPAQ e membro do Projeto de Extenso: Os
despropsitos da poesia: criana e infncia com Manoel de Barros. [email protected]
3
Acadmica do 5 semestre de Pedagogia/UFMS-CPAQ e membro do Projeto de Extenso: Os
despropsitos da poesia: criana e infncia com Manoel de Barros. [email protected]
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meio da infncia. Neste caso, as poesias permitiro no abandonar a infncia mas, estar
na infncia por meio dessa experincia com crianas dos anos iniciais do Ensino
Fundamental.
Palavras-chave: Manoel de Barros. Infncia. Poesia.
1 INTRODUO
No dizer de Marita Redin (2007), a criana aprende no e com o mundo, mas
este mundo feito de pessoas com diferentes idades, culturas, crenas e valores [...] E
nas relaes e nas trocas que se ressignificam os saberes/fazeres (p. 84). Partindo dessa
afirmao da autora, no podemos mais acreditar numa concepo de infncia
determinista e adultocntrica em que, atravs do planejamento, o/a professor/a detm o
conhecimento e o controle de tudo o que ocorre no espao escolar. A Proposta do
Projeto 'Os despropsitos da poesia: criana e infncia com Manoel de Barros nos
achadouros dos 1, 2 e 3 anos do Ensino Fundamental' resgatar uma infncia do
interior, onde as poesias de Manoel de Barros retratam o ser criana, e por meio do
encantamento viajar ao mundo da imaginao. Essa proposta busca desenvolver um
espao onde a poesia se torne compreensvel criana e para que, assim, a infncia
possa ser vivenciada. Sendo essa uma proposta alm de cultural, pedaggica,
concordamos com Marita Redin (2007) ao dizer que nossa ao pedaggica, por mais
subjetiva que seja, sempre uma opo (p. 83) e neste caso uma opo pela infncia,
pela poesia e tambm pela criana.
No vis da autora, nossa ao pedaggica precisa ser pensada e desenvolvida
desconstruindo paradigmas, rompendo barreiras para poder experienciar novas
alternativas, principalmente pelo fato de ainda existirem profissionais da educao que
no acreditam que a poesia possa tambm enriquecer o conhecimento e auxiliar a
aprendizagem das crianas. Apresentada a proposta desse Projeto de Extenso aos
acadmicos/as de Pedagogia, percebemos uma transformao em suas atitudes,
comportamentos, pensamentos e aes, o que nos proporcionou uma agradvel sensao
de que a poesia poderia sim fazer (e far) a diferena no olhar adulto para a criana.
Para a concretizao do Projeto, montamos um Grupo de Estudos para conhecer
Manoel de Barros (vida e obra) e; ao ler e analisar as poesias, buscamos, na perspectiva
da cultura e da histria, desvelar primeiramente com os/as acadmicos/as uma volta
infncia, em que; mesmo adulto, a imaginao poderia estar enaltecendo um saber, ou
554
seja, a leitura sendo a educadora de uma existncia para sermos felizes no momento
atual que nos encontramos. Dessa forma, as poesias do poeta, escolhidas para as aes
com as crianas, proporcionam uma volta s lembranas do passado para viver o
presente e pensar o futuro de forma mais prazerosa.
Manoel de Barros escreve com temporalidades no cronolgicas e defende que
no h possibilidade de abandonar a infncia, mesmo sendo adulto, por isso, marca-a
como condio humana permanente e investe em uma escrita viva para seus leitores.
Por meio dos estudos, os/as acadmicos/as de Pedagogia CPAQ/UFMS4 primeiramente
retornaram infncia, se encantaram e se entusiasmaram pelo projeto para depois
desenvolverem um trabalho com as crianas no espao escolar onde elas passam parte
de suas vidas.
Pretendemos, no entanto, identificar de que forma as poesias de Manoel de
Barros podem se configurar como uma possibilidade de ser transformadora das crianas
envolvidas no projeto e tambm dos/as acadmicos/as, que passaro a ter uma nova
concepo de infncia (histrica e cultural), constituda pela apropriao dos processos
educativos.
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compreendeu que sua obra pode fazer a diferena quando se busca ensinar por meio da
poesia (letramento)5 e, ao mesmo tempo, vivenciar a infncia.
Mostramos que Manoel Wenceslau Leite de Barros nasceu no Beco da Marinha,
beira do Rio Cuiab, no Estado de Mato Grosso, em 1916 e faleceu em Campo
Grande/MS, em 2014. Publicou seu primeiro livro, Poemas concebidos sem pecado, em
1937, mas sua revelao potica ocorreu aos 13 anos de idade, quando ainda estudava
no Colgio So Jos dos Irmos Maristas, no Rio de Janeiro, cidade onde residiu at
terminar seu curso de Direito, em 1949. Mais tarde, tornou-se fazendeiro e assumiu de
vez o Pantanal.
Contamos aos acadmicos/as que Manoel elegeu para matria de poesia os
objetos e as coisas que no tm valor de troca (como latas e parafusos velhos, cisco,
rvores, pssaros, lua, cho, lagartixas e formigas), os homens loucos e andarilhos, os
homens humildes que, embora empobrecidos e iletrados, possuem grande sabedoria.
Para entender a criana em Manoel, estudamos o trecho Com certeza, a
liberdade e a poesia a gente aprende com as crianas (Barros, 1999, s/p.),
interpretando, assim, a criana e Manoel, criana poeta e um adulto retratando a infncia
em dias corriqueiros. Propomos aos acadmicos/as Manoelar e causar peraltices em
suas poesias, como neste poema...
Eu tenho um ermo enorme dentro do olho. Por motivo do ermo no fui um
menino peralta. Agora tenho saudade do que no fui. Acho que o que fao
agora o que no pude fazer na infncia. Fao outro tipo de peraltagem.
Quando era criana eu deveria pular muro de vizinho pra catar goiaba. Mas
no havia vizinho. Em vez de peraltagem eu fazia solido. Brincava de fingir
que pedra era lagarto. Que lata era navio. Que sabugo era um serzinho mal
resolvido e igual a um filhote de gafanhoto. Cresci brincando no cho entre
formigas. De uma infncia livre e sem comparamentos. Eu tinha mais
comunho com as coisas do que comparao. Porque se a gente fala a partir
de ser criana, a gente faz comunho de um orvalho e sua aranha, de uma
tarde e suas garas, de um pssaro e sua rvore. Eu tenho que essa viso
oblqua vem de eu ter sido criana em algum lugar perdido onde havia
transfuso da natureza e comunho com ela. Era o menino e os bichinhos. O
menino e o rio. Era o menino e as rvores. (BARROS, 2003, s.p)
De acordo com a estudiosa Magda Soares (1998), letramento a imerso das crianas na cultura escrita,
a sua participao em experincias variadas com a leitura e escrita, o conhecimento e a interao com
diferentes tipos de gneros de material escrito, e neste caso, a poesia.
558
era simples e no usava computador. Escrevia sozinho em seu lugar predileto, rodeado
de livros, em sua casa, seu cho, seu espao.
Um dos momentos marcantes aos acadmicos/as e um momento bastante
nostlgico, foi de entender que as imagens no destroem a imaginao da criana. Os
cheiros, as cores, os lugares, as coisas, os momentos de infncia representam elementos
das palavras do poeta. Desta forma, Manoel de Barros escreve a criana que vai se
projetando no adulto:
Remexo com um pedacinho de arame nas minhas/ memrias fsseis./ Tem
por l um menino a brincar no terreiro/ entre conchas, osso de arara, sabugos,
asas de caarolas, etc./(...) / O menino tambm puxava, nos becos de sua
aldeia, por um barbante sujo, umas latas tristes./ (...) O menino hoje um
homem douto que trata com/ fsica quntica./ Mas tem nostalgia das latas./
Tem saudades de puxar por um barbante sujo/ umas latas tristes.(...) Aos
parentes que ficaram na aldeia esse homem/ encomendou uma rvore torta.../
Para caber nos seus passarinhos./ De tarde os passarinhos fazem rvore nele.
(Barros, 2001d, p. 47)
559
fato natural que sempre existiu; so na verdade, para a autora, produto de evoluo da
histria das sociedades, e o olhar sobre a criana e sua valorizao na sociedade no
ocorreram sempre da mesma maneira, mas, sim, de acordo com a organizao de cada
sociedade e as estruturas econmicas e sociais em vigor (p. 244).
Corroborando com Kramer (1999) e pelas discusses no Grupo de Estudo,
pensamos ser esse projeto um reencontro com a infncia perdida por nossa atual
sociedade, que transforma a criana em um adulto em miniatura.
Trata-se de um projeto de relevncia social, pois quando a criana brinca,
imagina e se desenvolve com harmonia, poder crescer saudvel e, consequentemente,
um adulto mais feliz. Utilizando as obras de Manoel de Barros, ficamos ainda mais
seguros em articular a importncia que tem a poesia na vida de uma criana. Por meio
dela, as crianas vivem suas peraltices, criam e recriam situaes inusitadas para
poderem ser, fazer e desenvolver.
Segundo Aris, (1981), a infncia foi uma inveno da modernidade. O autor
registra o sentimento de infncia como uma conscincia da criana decorrente de um
processo histrico e no uma herana tradicional. Essa concepo descrita por Aris
marcou grandes mudanas no que se considera infncia, que, segundo ele, reserva outra
vertente deste sentimento de infncia, marcada por uma busca da moralidade na base da
educao das crianas e por um interesse psicolgico, juntando a razo das aes a uma
certa docilidade.
Esse processo histrico resulta no que temos hoje em nossa sociedade, uma
infncia obscura, sem sabor, sem cor, sem cheiro e sem brincadeiras. Marca dessa
proposta, de certa forma, buscar a nostalgia de um p de lata, de um pio, de uma
peteca, de uma boneca de pano, de um carrinho de lata, passarinhos, formigas,
tartarugas, rio, bichinhos, descritos nas obras de Manoel de Barros; que podero ser
vivenciadas pelas crianas da escola Municipal Erso Gomes de Aquidauana-MS.
Dessa forma, escolhemos as poesias e as msicas, bem como brinquedos,
bichinhos e outros elementos que contemplem o letramento de se ensinar por meio do
ldico e, neste caso, a poesia. Em nossos encontros e planejamentos fizemos um ensaio
de nossas aes:
3.1 Quem Manoel de Barros?
560
Aps conhecermos quem Manoel e o que ele significa para ns, pensamos na
forma como vamos contar isso s crianas... E, existe uma poesia em que o prprio
Manoel conta para seus leitores quem ele ...
Autorretrato Falado
Venho de um Cuiab garimpo e de ruelas entortadas. Meu pai teve uma
venda de bananas no Beco da Marinha, onde nasci. Me criei no Pantanal de
Corumb, entre bichos do cho, pessoas humildes, aves, rvores e rios.
Aprecio viver em lugares decadentes por gosto de estar entre pedras e
lagartos. Fazer o desprezvel ser prezado coisa que me apraz. J publiquei
10 livros de poesia; ao public-los me sinto como que desonrado e fujo para o
Pantanal onde sou abenoado a garas. No fui para a sarjeta porque herdei
uma fazenda de gado. Os bois me recriam. Agora eu sou to ocaso! Estou na
categoria de sofrer do moral, porque s fao coisas inteis. No meu morrer
tem uma dor de rvore. Barros (Antologia, 2015, p.89)
Aqui, temos parte de sua vida em poesia, pensamos ser importante esse dilogo,
pois nosso objetivo fazer Manoel de Barros conhecido das crianas.
3.2 Como trabalhar as poesias de Manoel de Barros?
Esse o momento mais encantador em nossas aes, pois alm das poesias,
temos que pensar na construo do material que queremos para a ilustrao da mesma.
Em grupo, analisamos e escolhemos com organizao e empenho o que vamos
apresentar. Por exemplo:
O menino que carregava gua na peneira
Tenho um livro sobre guas e meninos. Gostei mais de um menino que
carregava gua na peneira. A me disse que carregar gua na peneira era o
mesmo que roubar um vento e sair correndo com ele para mostrar aos irmos.
A me disse que era o mesmo que catar espinhos na gua. O mesmo que criar
peixes no bolso. O menino era ligado em despropsitos. Quis montar os
alicerces de uma casa sobre orvalhos. A me reparou que o menino gostava
mais do vazio, do que do cheio. Com o tempo descobriu que escrever seria o
mesmo que carregar gua na peneira. No escrever o menino viu que era capaz
de ser novia, monge ou mendigo ao mesmo tempo. O menino aprendeu a
usar as palavras. Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E comeou a fazer peraltagens. Foi capaz de modificar a tarde botando uma
chuva nela. O menino fazia prodgios. At fez uma pedra dar flor. A me
reparava o menino com ternura. A me falou: Meu filho voc vai ser poeta!
Voc vai carregar gua na peneira a vida toda. Voc vai encher os vazios com
as suas peraltagens, e algumas pessoas vo te amar por seus despropsitos!
BARROS (Meu quintal maior do que o mundo, 2015, p.89)
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Um passarinho pediu a meu irmo para ser sua rvore. Meu irmo aceitou de
ser a rvore daquele passarinho. No estgio de ser essa rvore, meu irmo
aprendeu de sol, de cu e de lua mais do que na escola. No estgio de ser
rvore meu irmo aprendeu para santo mais do que os padres lhes ensinavam
no internato. Aprendeu com a natureza o perfume de Deus. Seu olho no
estgio de ser rvore aprendeu melhor o azul. E descobriu que uma casca
vazia de cigarra esquecida no tronco das rvores s serve pra poesia. No
estgio de ser rvore meu irmo descobriu que as rvores so vaidosas.. Meu
irmo agradecia a Deus aquela permanncia em rvore porque fez amizade
com muitas borboletas.
BARROS (Exerccio de ser criana, 1999, s/p)
Esta poesia nos traz a alegria de sermos rvore junto a Manoel, dessa forma,
um momento de conversarmos com as crianas e perguntar se todas sobem em rvores e
como brincam em seus quintais (caso tenham); falar sobre o cu, o sol, a lua, Deus,
enfim, falar da poesia; realizar um passeio pelo quintal da escola e observar suas
rvores; confeccionar pssaros, flores e borboletas.
O Fingidor
O ermo que tinha dentro do olho do menino era um defeito de nascena,
como ter uma perna mais curta. Por motivo dessa perna mais curta a infncia
do menino mancava. Ele nunca realizava nada. Fazia tudo de conta.
Fingia que lata era um navio e viajava de lata. Fingia que vento era cavalo e
corria ventena. Quando chegou a quadra de fugir de casa, o menino montava
num lagarto e ia pro mato. Mas logo o lagarto virava pedra. Acho que o ermo
que o menino herdara atrapalhava as suas viagens. O menino s atingia o que
seu pai chamava de iluso. BARROS (Livro sobre nada, 1998, s/p)
Essa poesia representa tudo o que Manoel gostava de fazer, pensar e brincar em
sua infncia, assim, cabe a ns transformar esses elementos em ao! Ele foi aparelhado
a gostar de passarinhos, e ns, temos aqui a misso de fazer muitos passarinhos, sapos,
avies, entre outros elementos que a poesia nos traz.
O menino e o rio
562
Para trabalhar esta poesia ser ideal music-la e, no embalo da msica, deixar
que ideias surjam e, assim, ver muitas formigas sendo construdas, mais passarinhos e
outros bichinhos que as crianas conhecem. Uma boa oportunidade tambm para
estabelecer a relao com o nosso Rio Aquidauana, exaltar sua importncia populao.
Sombra boa
Sombra Boa no tinha e-mail. Escreveu um bilhete: Maria me espera debaixo
do ingazeiro quando a lua tiver arta. Amarrou o bilhete no pescoo do
cachorro e atiou: Vai, Ramela, passa! Ramela alcanou a cozinha num
timo. Maria leu e sorriu. Quando a lua ficou arta Maria estava. E o amor se
fez Sob um luar sem defeito de abril. BARROS (Poema adaptado em cano
para o Crianceiras, Mrcio de Camillo, 2012, s/p)
Concebido pelo msico Mrcio de Camillo a partir das obras de Manoel de Barros e inspirado nas
iluminuras da artista plstica Martha Barros. O espetculo CRIANCEIRAS, amlgama teatro e cinema de
animao, msica, tecnologia e literatura, fazendo-se ponte da obra potica para a infncia.
http://www.crianceiras.com.br/espetaculo - acesso dia 25/07/2015.
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atividade ser confeccionar com as crianas elementos para a dramatizao das msicas
escolhidas para o encerramento do projeto na escola.
4 A CRIANA, A INFNCIA, O/AS ACADMICOS/AS DE PEDAGOGIA E
SUAS HISTRIAS COM O POETA MANOEL DE BARROS
Ao iniciarmos nosso dilogo com os/as acadmicos/as de Pedagogia para o
desenvolvimento do Projeto, discorremos que a construo histrica do sentimento de
infncia foi assumindo diferentes significados ao longo do tempo, a partir das relaes
sociais e no apenas em funo das especificidades da criana. A infncia existiu desde
os primrdios da humanidade, mas a sua percepo como uma categoria e construo
social, deu-se a partir dos sculos XVII e XVIII.
Aris (1981) registra o sentimento de infncia como uma conscincia da criana
decorrente de um processo histrico, e no uma herana tradicional. Manoel de Barros
pensava igual: Eu s tive infncia porque me abasteo na infncia e minha palavra
Bem-de raiz e bebe na fonte do ser (BARROS, 2008). Ningum se ops a essa maneira
de o poeta enxergar a sua vida e, assim, suas memrias foram contadas tendo como
tema recorrente a sua infncia.
Segundo as anlises de Kuhlmann (1998), as experincias vividas pelas crianas
em diferentes contextos histricos, geogrficos e sociais so mais do que representaes
dos adultos. O autor prope a ideia de que preciso saber como ocorreram ou ocorrem
as representaes de infncia, pensar nas crianas, localiz-las na sociedade e
reconhec-las como produtoras da histria:
[...] infncia tem um significado genrico e, como qualquer outra fase da
vida, esse significado funo das transformaes sociais: toda sociedade
tem seus sistemas de classes de idade e a cada uma delas associado um
sistema de status e de papel (KUHLMANN, 1998, p.16).
564
Acadmica de Pedagogia (membro do Projeto), 30 anos, sexo feminino e est cursando o 5 semestre.
Acadmica de Pedagogia (membro do Projeto), 26 anos, sexo feminino e est no 5 semestre.
9
Acadmica de Pedagogia (membro do Projeto), 33 anos, sexo feminino e est no 5 semestre.
8
565
hoje, a partir das leituras de Manoel de Barros, apresentar uma nova concepo de
infncia, criana e da prpria vida adulta.
Outra pergunta marcante da entrevista foi: o que voc espera acontecer com as
crianas da escola Erso Gomes atendidas pelo projeto? Prontamente, Flor10 diz com
certeza sero crianas, vo brincar, inventar, imaginar, como j est acontecendo nas
aes, estamos ouvindo e vendo o brincar saudvel delas, com novas descobertas e
encantamento. Aqui, percebemos o que Kuhlmann (1998) registrou em seus estudos
sobre a criana e a infncia e Manoel de Barros consegue, por meio da poesia, atingir de
forma prazerosa tanto a criana, quanto o adulto que o l, neste caso, os/as
acadmicos/as de Pedagogia.
Portanto, escolhemos Manoel de Barros para conversar com o adulto e assim
este levado a enxergar a criana como criana. O poeta revela ento o quo
incompreensivo o adulto que no ouve a criana, que a considera como ser
incompetente e incompleto, que ainda no e que precisa vir a ser, que ignora a
capacidade da criana de estabelecer semelhanas:
O rio que fazia uma volta atrs de nossa casa era a imagem de um vidro mole
que fazia uma volta atrs de casa./ Passou um homem depois e disse: Essa
volta que o rio faz por trs de sua casa se chama enseada./ No era mais a
imagem de uma cobra de vidro que fazia uma volta atrs da casa. / Era uma
enseada./ Acho que o nome empobreceu a imagem. (Barros, 2001b, p.25)
Diante das respostas das acadmicas, percebemos que essa viso de um adulto
que no enxerga a criana como criana, mudou, transformou e conseguem entender
que uma enseada na verdade um vidro mole que fazia uma volta atrs de casa
(Barros, 2001).
5 CONSIDERAES FINAIS
Ao iniciar a escrita desse Projeto de Extenso: Os despropsitos da Poesia:
criana e infncia com Manoel de Barros, no imaginvamos a dimenso da emoo
causada nos/as acadmicos/as membros do Projeto. No decorrer dos estudos e pesquisas
com o grupo, pudemos observar o quanto prazeroso ver a transformao de hbitos,
atitudes e o mais importante, o quanto a poesia pode causar essa transformao.
10
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568
2
Somente aps o final da dcada de 1980 e decorrer da dcada de 1990 houve sinais de
mudanas que ocorreram principalmente por meio dos movimentos sociais voltados
educao do campo. A partir da, o poder pblico passa ento a reconhecer que a educao do
campo necessita de uma legislao especfica que contemple a sua totalidade.
A Constituio de 1988 foi o marco para as discusses da Educao no Campo, depois
em 1996 foi sancionada a LDB, Lei de Diretrizes e Bases para a Educao, onde se torna mais
claro o direito a educao de qualidade para os povos do campo, assentados, ribeirinhos,
quilombolas, povos das florestas, indgenas e outros.
Pode-se dizer que a organizao e presso dos povos do campo foram fundamentais
para o desenvolvimento das polticas para o campo e para desencadear o processo de
reconhecimento do campo e da Educao no/do Campo. Falar da educao do campo falar
de luta, de determinao e tambm de muito sofrimento e persistncia dos movimentos sociais
que, ao longo da histria, na certeza de conquistar e garantir uma qualidade de vida melhor
para os povos do campo enfrentaram muitos desafios.
Estudar a efetividade das prticas educativas na educao bsica do campo pressupe
a compreenso das polticas pblicas, os movimentos sociais dos trabalhadores do campo e a
educao do campo.
Nesse sentido, tomamos como referncia Hfling (2001, p. 31) que assegura ser
poltica pblica [...] o Estado implantando um projeto de governo, atravs de programas, de
aes voltadas para setores especficos da sociedade. Ainda, a autora entende a educao,
como de responsabilidade do Estado, porm, no somente pensada por seus organismos,
tambm a entende, como poltica pblica social, uma poltica pblica de corte social.
A esse respeito, Silva (1997, p. 25) coloca que, [...] a definio das prioridades nas
polticas pblicas e consequentemente nas polticas sociais resultado da ao poltica de
grupos com valores, interesses e objetivos diversos e muitas vezes, conflitantes.
Dessa forma, podemos ter como pressuposto que as polticas pblicas educacionais
tratam das aes relativas educao no mbito das relaes sociedade e Estado, nas quais se
inserem as polticas para a educao nas escolas do campo do municpio de Corumb/MS.
A educao do campo trata da conquista dos movimentos sociais dos trabalhadores do
campo, onde o processo emergiu da mobilizao [...] pelo direito escola e pela
possibilidade de uma escola que fizesse diferena ou tivesse realmente sentido em sua vida
presente e futura (preocupao com os filhos) [...] (CALDART, 2003, p. 62, grifo da autora).
Neste contexto, os movimentos sociais dos trabalhadores do campo tensionam o
Estado a criar e organizar polticas (pblicas) sociais educao, escolas que realmente
569
3
tenham lugar para os sujeitos do campo, que respeite e valorize sua identidade (como a
determinao e perseverana da luta pela terra, as aes coletivas que aglutinam pensamentos
socioeducativos no interior dos assentamentos/acampamentos em prol da coletividade, entre
outros) e seus saberes (agricultura familiar: manuseio da terra de trabalho, cultivo de frutas,
verduras e legumes, ciclo de plantio, conhecimento a respeito de ervas medicinais, entre
outros), e no na perspectiva de Santos (2011), quando se transfere para as escolas do campo
um currculo urbano desvinculado das necessidades reais dos trabalhadores do campo.
Diante do exposto, o presente texto tem o objetivo de apresentar as prticas educativas
observadas numa Escola do Campo/Corumb-MS e discutir a efetividade das mesmas em
relao aos parmetros legais e as ideias propostas por estudiosos da educao do campo. A
coleta dos dados foi realizada no perodo de abril a maio do ano de 2014, alicerou-se na
observao das aulas ministrada pelo professor regente.
A prtica educativa compreendida como prtica social nas dimenses cultural,
econmica, poltica tem como objetivo oportunizar para que o sujeito como agente
participante direto da transformao do contexto em que se assenta a vida social transcenda as
dificuldades, favorecendo o processo de desenvolvimento da humanidade.
Entendemos que a relevncia deste estudo se caracteriza pela necessidade de conhecer
como esto sendo efetivadas as aulas na educao bsica do campo, pois conforme o
referencial terico,
A identidade da escola do campo definida pela sua vinculao s questes
inerentes sua realidade, ancorando-se na temporalidade e saberes prprios dos
estudantes, na memria coletiva que sinaliza futuros, na rede de cincia e tecnologia
disponvel na sociedade e nos movimentos sociais em defesa de projetos que
associem as solues exigidas por essas questes qualidade social da vida coletiva
no pas (BRASIL, 2002).
Para melhor compreenso deste texto, sua estrutura est organizada da seguinte
maneira: na primeira parte encontra-se uma breve contextualizao do campo em movimento:
a luta por escola, educao do campo: desenhando as prticas educativas; na segunda parte, os
dados oriundos das observaes e por fim, algumas consideraes a respeito do
questionamento que delineou a pesquisa.
O CAMPO EM MOVIMENTO: A LUTA POR ESCOLA
Observa-se que a educao do campo conquista dos movimentos sociais dos
trabalhadores do campo, que se mobilizaram e desencadearam tomadas de decises que
tensionou o Estado a implantar polticas (pblicas) sociais. Vendramini (2007, p. 123) explica
570
4
que ela [...] no emerge no vazio e nem iniciativa das polticas pblicas, mas emerge de um
movimento social, da mobilizao dos trabalhadores do campo, da luta social.
Portanto, no queremos recair no reducionismo, de [...] ignorar a diversidade da luta e
das organizaes em luta pela terra no Brasil [...] (ALMEIDA, 2013, p. 61), mas o ponto de
partida dessa discusso a segunda metade do sculo XX, momento em que [...] a nossa
questo agrria emerge [...] do confronto entre o latifndio, centrado na lgica do negcio, e a
organizao do movimento campons movido pela lgica da terra de trabalho (ALMEIDA,
2013, p. 55), onde, a luta pela terra um fenmeno presente em todo o campo brasileiro, de
norte a sul, leste a oeste (OLIVEIRA, 2003, p. 118).
Entretanto, decorrente de todo o processo de luta pela terra, que os movimentos
sociais dos trabalhadores do campo, comearam a identificar a necessidade de instalao de
escolas nos assentamentos e acampamentos. Neste contexto, compartilhamos das palavras de
Caldart (2003),
Quase ao mesmo tempo em que comearam a lutar pela terra, os sem-terra do MST
tambm comearam a lutar por escolas e, sobretudo, para cultivar em si mesmos o
valor do estudo e do prprio direito de lutar pelo seu acesso a ele. No comeo no
havia muita relao de uma luta com a outra, mas aos poucos a luta pelo direito
escola passou a fazer parte [...] (p. 62).
Foram descobrindo, aos poucos, que as escolas tradicionais no tm lugar para
sujeitos como os sem-terra, assim como no costumam ter lugar para outros sujeitos
do campo, ou porque sua estrutura formal no permite o seu ingresso, ou porque sua
pedagogia desrespeita ou desconhece sua realidade, seus saberes, sua forma de
aprender e de ensinar (p. 63).
No Estado de Mato Grosso do Sul, com o avano da luta pela terra, os acampados e
assentados percebem a importncia de saber ler e escrever, para qualificar a luta acelerando
suas conquistas e reivindicaes, e para entender o que estiver escrito em qualquer papel que
haja necessidade de assinar, evitando assim, transtornos (KUDLAVICZ e ALMEIDA, 2008).
No mesmo sentido, desfrutamos das palavras de Caldart (2003, p. 65, grifos da autora)
que endossa, especialmente quando comearam a se multiplicar os desafios dos
assentamentos, ficou mais fcil de perceber que a escola poderia ajudar nisso, [...] uma escola
no move um assentamento, mas um assentamento tambm no se move sem a escola [...].
Entendemos ainda, que a luta pela escola no e do campo marco que imprime novos
caminhos no contexto das prticas educativas, porque a base pode emergir a partir do
conhecimento construdo historicamente, do resgate da identidade dos movimentos sociais
dos trabalhadores do campo, do respeito, da agricultura familiar, da luta pela igualdade social.
Caldart (2003, p. 66) ressalta que a escola pode ajudar a fortalecer a populao do
campo como sujeitos sociais, que por sua vez, [...] podem ajudar no processo de
571
5
humanizao do conjunto da sociedade, com suas lutas, sua histria, seu trabalho, seus
saberes, sua cultura, seu jeito. [...].
Mas, para que a populao do campo possa contribuir com o processo de humanizao
da sociedade, antes preciso que as cercas impostas pela escola tradicional sejam derrubadas.
Assim, o pensamento de Santos (2011) nos explica:
[...] a luta por uma educao do campo, passa pelo enfrentamento das vrias cercas
impostas pela escola tradicional, com seus projetos autoritrios e deslocados da
realidade do campo. Essas cercas quando derrubadas simbolizam respeito,
organizao e valorizao dos movimentos sociais. Faz a sociedade refletir acerca
das dificuldades encontradas em nosso pas, dentre elas, a misria, o latifndio e o
analfabetismo. Esses so espaos de aprendizagem coletiva, construo poltica e
luta pelo reconhecimento identitrio (p. 103-104).
572
6
Para a autora, a luta do povo do campo que vem desenhando a identidade do
movimento por uma educao do campo, e que seja uma educao no e do campo. No: o
povo tem direito a ser educado no lugar onde vive. Do: o povo tem direito a uma educao
pensada desde o seu lugar e com a sua participao, vinculada sua cultura e s suas
necessidades humanas e sociais (CALDART, 2002, p. 18, grifos da autora).
A partir da mobilizao da luta dos trabalhadores do campo por educao fica
demonstrado que tais trabalhadores so capazes de se organizar e, neste sentido, utilizar
mecanismos internos para tomar em suas prprias mos a educao no e do campo. Essa
autonomia s pode ser conquistada por meio das diversas aes socioeducativas
desenvolvidas internamente.
Conforme as palavras de Lucas (2008, p. 92), [...] o grande marco dos movimentos
sociais do campo atravs da sua organizao foi desencadear na poltica pblica brasileira um
novo olhar pedaggico para o campo.
Contudo, os movimentos sociais dos trabalhadores do campo tm o direito educao
alicerada em termos legais. Sendo assim, ressaltamos alguns momentos:
A Lei 9.394/96 trata das Diretrizes e Bases da Educao Nacional, no art. 1, a
educao abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na
convivncia humana, no trabalho, nas instituies de ensino e pesquisa, nos movimentos
sociais e organizaes da sociedade civil e nas manifestaes culturais; no art. 28, a
adequao do sistema de ensino s peculiaridades da vida rural e de cada regio: quanto ao
calendrio escolar, os contedos curriculares e metodologias adequadas aos alunos,
organizao escolar prpria, e adequao ao trabalho na zona rural (BRASIL, 1996).
Nas Diretrizes Operacionais para a Educao Bsica nas Escolas do Campo (2002),
consta no art. 2, pargrafo nico, a identidade da escola define-se ancorando no contexto,
como: na memria coletiva, na temporalidade e saberes prprios dos estudantes, e no art. 5,
as propostas pedaggicas das escolas do campo, respeitadas as diferenas e o direito
igualdade [...], contemplaro a diversidade do campo em todos os seus aspectos: sociais,
culturais, polticos, econmicos, de gnero, gerao e etnia (BRASIL, 2002).
As Diretrizes Complementares, Normas e Princpios para o Desenvolvimento de
Polticas Pblicas de Atendimento da Educao Bsica do Campo (2008), na redao do art.
1, evidencia que a Educao do Campo compreende a Educao Bsica em suas etapas [...]
destina-se ao atendimento s populaes rurais [...] agricultores familiares, extrativistas,
pescadores artesanais, ribeirinhos, assentados e acampados da Reforma Agrria, quilombolas,
caiaras, indgenas e outros; no art.7,
573
7
A Educao do Campo dever oferecer sempre o indispensvel apoio pedaggico
aos alunos, incluindo condies infra-estruturais adequadas, bem como materiais e
livros didticos, equipamentos, laboratrios, biblioteca e reas de lazer e desporto,
em conformidade com a realidade local e as diversidades dos povos do campo [...]
(BRASIL, 2008).
574
8
permanente de reflexo sobre a prtica do coletivo, de cada pessoa (p. 70-71, grifos
da autora).
575
9
Feldmann no texto publicado em 2005 tece as seguintes informaes a este respeito:
formar professores, [...] tem se mostrado como um grande desafio a todos que acreditam na
educao como um bem universal, espao pblico, espao democrtico, um direito humano e
social na construo da identidade e no exerccio da cidadania (p. 1). Escreve ainda, que,
[...] tambm uma auto formao, uma vez que os professores reelaboram seus saberes
cotidianamente vivenciadas em situaes contextualizadas (p. 2).
A prtica educativa na educao do campo uma prtica social, portanto, o docente da
escola do campo deve ter conhecimento das especificidades do campo, intrinsicamente a
histria e os valores da comunidade local, deve pensar a prtica educativa na diversidade do
contexto socioeducativo, refletir sobre a mesma, transformar seus saberes-fazeres
continuamente, para contribuir com o processo de humanizao da sociedade e reduo da
disparidade social, entre populao do campo e populao urbana.
ESCOLA DO CAMPO: CONHECENDO AS PRTICAS EDUCATIVAS
A Escola do Campo em que se realizou a pesquisa est localizada h uma distncia
aproximada de 20 quilmetros da zona urbana. Iniciou o ano letivo com aproximadamente
450 alunos, oferece a educao nas seguintes etapas: educao infantil, ensino fundamental
(anos iniciais e finais), ensino mdio (regime de colaborao com uma Escola Estadual),
educao de jovens e adultos, e o Programa Mais Educao. Os alunos que a escola atende
so das seguintes regies: Comunidade do Carmo, Jacadigo, Tamarineiro I e II, Tamarineiro
Norte e Paiolzinho. A escola, alm da direo escolar e duas professoras (coordenadoras
pedaggica), possui vinte e seis professores e onze funcionrios administrativos. A estrutura
fsica composta por 10 salas de aula, 01 sala de leitura, 01 sala de tecnologia, 01 sala de
professores, 01 sala da direo escolar, 01 sala da coordenao pedaggica, 01 quadra
poliesportiva coberta, 01 sala de almoxarifado, 01 sala de dispensa, 01 cozinha, 01 refeitrio,
04 banheiros, sendo 02 para professores e 02 para alunos; 01 sala que funciona a secretaria e
espao para horta.
A prtica educativa na educao do campo, entendida com uma prtica que h de se
efetivar por meio das particularidades do contexto educacional, tomamos como ponto de
partida, uma breve descrio do esquema terico, adaptado de Zabala (2007), para
entendermos as dimenses de um modelo terico que implica a prtica educativa.
Zabala (2007) observa que no primeiro nvel surgem mtodos tericos padronizados, e
o modelo terico, no primeiro momento, no considera o contexto educacional em que se
desenvolve a prtica. No modelo terico encontramos as seguintes dimenses da interveno
576
10
na aula: sequncia de atividades (aula expositiva, projetos, por descobrimento, ...),
organizao social (grande grupo, equipes fixas, ...), relaes interativas: envolve os papis de
professores e alunos (diretivos, participativos, cooperativos, ...), espao e tempo (cantos,
oficinas, aulas por rea, ...), organizao dos contedos (interdisciplinar, disciplinar,
globalizador,
...),
materiais
curriculares
(livro-texto,
ensino
dirigido,
fichas
de
577
11
demais, a sala de aula estava organizada conforme o modelo tradicional (carteiras
enfileiradas).
Quanto utilizao do espao e do tempo, todas as aulas iniciaram com cantigas,
conversa sobre os dias da semana e ms, contagem da quantidade de meninos e meninas que
havia em sala de aula e o total de alunos. Alm disso, o docente solicitava aos os alunos que
localizassem as vogais e consoantes das palavras: meninos e meninas. Transparece, neste
momento, a integrao, organizao dos contedos da disciplina de matemtica e portugus
no processo de ensino e aprendizagem. Percebeu-se que o docente buscou a troca de
informaes entre as disciplinas, aproximando os contedos no processo de alfabetizao.
Ao longo das observaes, identificamos que as aulas poderiam ter os contedos
explorados no contexto da educao do campo, que de acordo com a autora Caldart (2003) a
escola deve ser um componente natural da vida no campo, e segundo as Diretrizes
Operacionais para a Educao Bsica nas Escolas do Campo (2002), art. 5, as propostas
pedaggicas contemplaro a diversidade do campo. Para isso, podemos citar um exemplo do
que foi observado em sala: quando o docente estava trabalhando a letra G citou girafa,
como exemplo de palavra que comea com a letra. No momento, ela poderia ter
contextualizado os animais da regio, ou as plantas, as frutas. Numa outra situao, o docente
estava realizando uma atividade da Semana da Pscoa e poderia ter contextualizado o coelho
como animal que vive no campo. Poderia explorar o ambiente escolar, por meio de uma aula
de campo, organizada como uma forma de contribuir para o trabalho coletivo e pessoal.
Em relao aos materiais curriculares utilizados durante as aulas observadas foram:
cartazes ilustrados, ensino dirigido (atividades impressas), quadro negro e caderno individual
para realizao das atividades propostas. Neste caso, percebeu-se que o ambiente onde se
situa a escola e os materiais que o meio ambiente pode proporcionar no foram utilizados
durante as aulas observadas.
ALGUMAS CONSIDERAES
O referencial terico estudado nos mostra que a escola passa a ser vista como uma
forma de emancipao por parte da populao do campo, podendo assim, ampliar o horizonte
por meio da apropriao da educao, quanto s argumentaes na trilha que busca a
conquista da terra de trabalho. No entanto, Noal (2014) explicita que h necessidade de aes
e vontade poltica para se efetivar a Educao Bsica do Campo; no mbito do Estado de MS
so poucas as escolas que se constituem como escola do campo, pois esto em processo de
adequao.
578
12
A presente pesquisa demonstrou que os pensamentos dos estudiosos da educao do
campo ainda esto afastados da dinmica da sala de aula; o docente enfrenta dificuldades para
organizar os contedos curriculares com o contexto do campo diante das exigncias do
sistema educacional. Alm disso, percebeu-se que o ambiente onde se situa a escola e os
materiais que o meio ambiente pode proporcionar no foram utilizados durante as aulas
observadas.
Segundo Souza (2008), as reflexes sobre educao do campo que se constroem nos
movimentos sociais no chegam queles que de fato esto no ambiente escolar. Contudo,
entendemos, para que se possa efetivar a educao do campo espera-se que a formao inicial
e contnua de professores esteja voltada para suas particularidades e que haja um currculo
especfico, com contedos condizentes com as reais necessidades do povo do campo,
vinculados com as redes de cincia e tecnologia disponvel na sociedade.
Com isso, supe-se que a formao continuada de professores um ponto que deva ser
articulado no mbito municipal de acordo com as orientaes tericas para a educao do
campo e por parte do docente a busca para ressignificar sua atuao profissional,
conscientizando-se da importncia do conhecimento que emana da articulao por uma
educao do campo, que faz referncia a uma escola pautada no respeito, na valorizao das
aes socioeducativas dos sujeitos do campo.
No entanto, percebemos a dedicao do docente com o processo de ensino e
aprendizagem. Pimenta (1999) e Feldmann (2005) afirmam que a partir de uma prtica
reflexiva, espera-se que os docentes construam diante das situaes vivenciadas, seus saberes
que o ensino enquanto prtica social lhes coloca cotidianamente, que realizem mudanas para
adequao realidade.
Afinal, o povo do campo digno de obter conhecimento, alm do que faz parte do
cotidiano, que se possibilite o desenvolvimento sustentvel da vida que se assenta no campo.
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581
Grupo de Trabalho 3
APARECIDO DE SOUZA1
RESUMO
O texto tem como objetivo apresentar a descrio e anlise de um projeto educativo de
inovao intitulado, Relaes tnico-raciais nos anos finais do Ensino Fundamental: o
cinema como estratgia de desconstruo do racismo sobre as relaes tnico-raciais que
est sendo desenvolvido em uma escola pblica estadual no municpio de Ribas do Rio Pardo
MS, e est vinculado ao Observatrio de Educao, financiado pela CAPES/INEP. Parte do
pressuposto que a veiculao do preconceito racial dentro do espao escolar resulta em srios
prejuzos para os estudantes e nem sempre as prticas pedaggicas se atentam para sua
desconstruo. O artigo analisa os resultados das atividades desenvolvidas a partir da mostra
de filmes que tiveram como objetivo propiciar o reconhecimento da diversidade cultural e
uma postura crtica e de rejeio a processos discriminatrios. Como resultados podemos
afirmar que os alunos desenvolvem crticas a atitudes racistas, seja na escola ou notcias e
programas veiculados nos meios de comunicao. Com isso podemos concluir que a
implementao de um projeto de inovao na escola pode contribuir para que seja
reconhecida a articulao existente entre os denominados contedos escolares e a construo
de uma sociedade que rompa com os processos discriminatrios e preconceituosos.
Palavras-chave: relaes tnico-raciais, ensino fundamental, inovao.
INTRODUO
582
Refiro-me ao Projeto implantado pela Secretaria Estadual de Educao nas escolas da Rede Estadual de Ensino,
para atender jovens de 15 a 17 anos que ainda no concluram o ensino fundamental. Disponvel em:
583
<http://www.noticias.ms.gov.br/index.php?templat=vis&site=136&id_comp=1068&id_reg=225935&voltar=ho
me&site_reg=136&id_comp_orig=1068>. Acesso em: 30 de ago. de 2015.
584
como quaisquer outros espaos, abriga, em seu interior, relaes entre crianas, que tanto
podem reforar como questionar as prticas discriminatrias vigentes nela (CRUZ, 2014, p.
160).
Ressaltamos que todas as atividades do projeto esto sendo fotografadas, gravadas e
transcritas. Decidimos pelas gravaes apenas com o recurso de udio, para preservar o
anonimato dos alunos e por entender que a ausncia de suas imagens nas filmagens no
comprometeria a anlise dos resultados do trabalho pretendido.
PROJETO, CMERA, AO
Iniciamos o projeto com a turma do 9 ano composta por vinte e seis estudantes,
dezessete meninas e nove meninos, com idade entre quatorze e vinte anos. Os alunos
relataram que a maioria estuda junto desde o 6 ano, alguns desde o 1 ano e apenas quatro
alunos no faziam parte da turma quando da confeco do cartaz em novembro de 2014.
A proposta da primeira aula foi a de apresentar o projeto e fazer uma releitura do
cartaz confeccionado pela turma, ou seja, compreender o contexto em que foi construdo e
iniciar as atividades programadas. Comentei sobre os filmes que assistiriam e utilizei
notebook e projetor para mostrar o cartaz em questo. No demorou muito para um dos alunos
que no fazia parte da turma no ano anterior, falar alto e com deboche que massa o cabelo
desse macaco, provocando risos de trs colegas da turma.
Aproveitei os termos utilizados pelo aluno e a reao dos colegas para iniciar as
discusses sobre discriminao e preconceito. Concordamos com Valentim e Backes (2013, p.
159) que necessrio que haja centralidade dessas discusses um trabalho em sala que vise
conscientizao dessas questes e que as coloque permanentemente no foco dos debates da
escola.
Solicitei que a turma se organizasse em grupos para analisar a imagem, atribuir um
ttulo e falar se compartilhariam ou no, caso fosse postada nas redes sociais. O primeiro
grupo leu a frase: Sou negro com muito orgulho e adoro a minha cor! A gente colocou esse
ttulo porque eles se amam, porque se eles no se amarem, quem vai amar eles? Porque eles
tm que se amar, tem que gostar da sua cor. O segundo grupo escreveu a frase
#sounegromesmocomorgulho e explicou que independentemente da cor todos tm que ter
585
carter e respeitar o outro. O terceiro grupo apresentou a frase Racismo no! E disseram que
Independentemente da cor somos todos iguais.
Os alunos foram unnimes em se posicionar contra o compartilhamento da imagem,
entretanto, observei que alguns estudantes no se sentiram confortveis durante os discursos
contrrios discriminao e ao preconceito. A fala do primeiro grupo chamou muita ateno.
Ao afirmarem que se eles no se amarem, quem vai amar eles? Porque eles tm que se amar,
tem que gostar da sua cor, pressupe a ideia de segregao, ou seja, eles so eles, ns somos
ns, eles para l e ns para c. Ela lembra a falsa ideia de superioridade do branco, imposta
pelo colonizador europeu desde o perodo escravista em relao ao [...] padro de beleza e
fealdade que nos persegue at os dias atuais (GOMES, 2002, p. 40).
importante destacar que quando perguntados sobre a existncia ou no do racismo,
todos concordaram que h preconceito racial, inclusive na escola.
Depois das apresentaes, perguntei se acreditavam que todas as pessoas viram o
cartaz da mesma forma como relataram. Aps um breve silncio e algumas reflexes sobre os
diferentes olhares, a maioria da turma concordou que no se tratava de uma homenagem, mas
de representao negativa do negro e possivelmente muitos se sentiram humilhados e
inferiorizados.
As quatro alunas que mais se empenharam na confeco e que fizeram parte dos que
no concordaram em um primeiro momento com a maioria, disseram que no viam nada
demais e s utilizaram as esponjas de ao como cabelo, porque foi sugesto de uma
professora. Disseram que pretendiam fazer o cabelo a partir das sementes de uma rvore3
plantada na calada na parte externa da escola e como no encontraram a quantidade que
desejavam e na cor que gostariam, acataram a ideia da professora.
A ideia de colar as esponjas para simular o cabelo crespo, bem como exagerar nos
contornos dos lbios, olhos e nariz, contribui para a manuteno de discursos e prticas
racistas e mostra que [...] muitas vezes os educadores acabam por incorrer em dificuldades e
equvocos ao tratar das questes referentes ao preconceito discriminao e ao racismo
antinegro na sala de aula (VALENTIM; BACKES, 2013, p. 159).
Essas dificuldades e equvocos tambm podem ser estendidos aos coordenadores
pedaggicos e gestores escolares. Uma vez informada por mim do racismo expresso no
3
Refiro-me rvore cientificamente registrada como Bauhinia forficata (ou B. longifolia) e popularmente
conhecida como Pata de vaca, Moror ou Unha de Vaca, de pequeno a mdio porte, entre 2 e 8 metros de altura.
Fruto vagem chata com 20 cm, contendo 12 sementes redondas, achatadas, marrom esverdeado. Disponvel em:
<http://www.arvores.brasil.nom.br/new/patavaca/index.htm>. Acesso em: 11 de set. de 2015.
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cartaz, a diretora adjunta e me de uma das alunas da turma, respondeu que tinha visto-o e que
no tinha nada de mais e com certeza os alunos e a professora no tinham a pretenso em
fazer nenhuma maldade.
O discurso das quatro alunas, o posicionamento da diretora adjunta e o longo perodo
de exposio do cartaz, trinta e cinco dias, sem nenhum posicionamento crtico de nenhum
outro professor, coordenador pedaggico ou diretora contra o racismo, mostra que preciso
ter sensibilidade para detect-lo e ainda, uma deciso poltica pedaggica para elimin-lo.
A escola no pode ignorar a produo e exposio de trabalhos escolares que
contribuem para disseminao do preconceito racial e incitaes discriminatrias, pelo
contrrio, precisa assumir-se como importante instituio para a desconstruo dessas
prticas. Silva (2009, p. 70) explica que a omisso em relao ao problema, por sua vez,
outra forma silenciosa de manifestar o racismo, forando sua invisibilidade.
importante destacar que trs estudantes negros da turma que costumam se destacar
pelas participaes nas discusses e nos seminrios durante as aulas de Histria, decidiram
no se manifestar nesse primeiro encontro. Quando instigados pelo professor para expor suas
ideias, abaixavam a cabea e optavam pelo silncio. Essa postura lembra Gomes (2003, p.
171) quando escreve que: Construir uma identidade negra positiva em uma sociedade [e uma
escola] que, historicamente, ensina ao negro, desde muito cedo, que para ser aceito preciso
negar-se a si mesmo, um desafio enfrentado pelos negros brasileiros (GOMES, 2003,
p.171). O silncio dos alunos negros mostra o quanto estamos distantes de uma relao
democrtica entre os diferentes grupos tnico-raciais. Gomes (2003) aponta que pessoas
negras lembram da instituio escolar como um lugar que refora os esteretipos e
representaes negativas sobre o negro e o seu padro esttico (p.173). Neste sentido,
entendemos que o dilogo com os alunos negros algo que deve ser construdo, pois as
pesquisas mostram que de modo geral a escola no esteve/est preocupada em reconhecer este
grupo identitrio e colocar em xeque a hegemonia da identidade eurocntrica, mesmo sendo
um pas de maioria negra.
Exibimos o filme Cores e Botas (2010) para discutir os padres estticos estabelecidos
pela mdia, sua influncia na formao das crianas, padres incoerentes com o povo
brasileiro e destacar alguns fatores que promovem a excluso social do negro.
O curta metragem tem a durao de 16 minutos, foi produzido na capital paulista,
tem o elenco formado por Bruno Loureno, Dani Ornellas, Luciano Quirino e Jhenyfer
Lauren. dirigido por Juliana Vicente, se passa no final dos anos 1980 e mostra as
dificuldades para a realizao do sonho da protagonista Joana em querer ser Paquita, ou seja,
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588
Trata-se de uma organizao no-governamental que produz conhecimento, desenvolve e executa projetos para
a promoo da igualdade de raa e de gnero. Disponvel em:< http://www.ceert.org.br/institucional/>. Acesso
em: 24 de set. de 2015.
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quadros da Xuxa e das Paquitas, bem como uma coleo de botas, maquiagens e chapus
iguais aos usados pelas artistas no programa de televiso.
O cabelo rastafri de Maria tambm chamou ateno e quando um aluno falou que
aquele cabelo era massa, uma das alunas disse que ela fez isso para ficar com cabelo igual da
Sueli e era para ganhar a miss. No tem nenhum problema de a menina branca fazer
rastafri, j que muitas meninas negras usam chapinha para esticar o cabelo crespo para
ficar liso (Aluna do 9 ano).
Estudos realizados por Gomes (2002) mostram que desde a infncia as meninas negras
so submetidas a diversos rituais de manipulao do cabelo, as tranas feitas nessa poca nem
sempre resultam nos penteados favoritos quando adultas e talvez esse seja um dos motivos
pelos quais algumas dessas mulheres prefiram adotar alisamentos e alongamentos na
atualidade (GOMES, 2002, p. 43).
Outra cena destacada pelos alunos, o momento em que Maria est assistindo
televiso e observa que a maioria das pessoas que se destacam so negros, como os gals das
novelas e as crianas que fazem comerciais, o que a leva temer perder o concurso para sua
concorrente, Sueli, j que no tinha o cabelo crespo, a pele de chocolate, to pouco o jeitinho
que s as negras tm (Personagem Maria).
Uma aluna disse que a gente v na televiso as pessoas brancas aparecendo mais
que os negros. Quando aparece pessoas negras nas novelas, a pessoa pobre, trabalha
muito, as vezes bandido e mulheres que danam funk com roupa bem curtinha, quase
mostrando a b.... A fala da aluna e demais apontamentos da turma, mostram que
conseguiram detectar que o filme uma inverso do que acontece na realidade com as pessoas
negras.
Pouco lembrada, mas no menos importante, uma cena em que Maria est indo
padaria e se encontra com o colega Jos, que estava trabalhando como entregador de botijo
de gs. Quando perguntado por Maria por que no estava frequentando a escola, Jos disse
que achava que iria repetir novamente de ano por que s a professora da disciplina de
Religies gostava dele naquela escola e futuramente faria um curso supletivo de 45 dias para
terminar os estudos.
Os motivos alegados por Jos para desistncia da escola nos remetem as observaes
de Valentim e Backes (2013, p. 151), de que [...] as sistemticas manifestaes de racismo,
preconceito e discriminao raciais causam graves prejuzos populao negra, inclusive no
campo da educao, em que sua cultura no valorizada e, em geral, os sujeitos tm menor
tempo de escolarizao.
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ALGUMAS CONSIDERAES
REFERENCIAS
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2
sociais
mais
consoantes
com
suas
reivindicaes/aspiraes
histricas,
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3
do
governo
quanto
pelos
diversos
(e,
por
vezes,
antagnicos)
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4
bens sociais, a compreendida a educao escolar (CURY, 2005, p. 12). Considera-se que os
conceitos de direitos humanos e de cidadania so a base sobre a qual se desenvolvem
perspectivas de incluso e de educao para a diversidade no espao escolar brasileiro. Ao
tratar da incluso, h que se atentar ao sentido do termo que anseia dar acesso aos excludos.
Portanto, ao abordar a temtica da incluso faz-se necessrio discutir o conceito de
igualdade e de direitos. Para Marshall (1967), a igualdade pode ser entendida em trs
dimenses que historicamente se sucedem: a igualdade civil, a igualdade poltica e a
igualdade social, que juridicamente se materializam como direitos consolidados nas leis.
Para Cury (2005, p. 14-15), as polticas inclusivas podem:
[...] ser entendidas como estratgias voltadas para a universalizao de
direitos civis, polticos e sociais. Elas buscam, pela presena interventora do
Estado, aproximar os valores formais proclamados no ordenamento jurdico
dos valores reais existentes em situaes de desigualdade.
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5
passado, momento em que a Declarao Universal dos Direitos dos Homens desencadeou
uma srie de debates e acordos internacionais dos quais o Brasil foi signatrio.
Dentro de um amplo espectro de grupos excludos pode-se destacar alguns segmentos
que passaram a ser priorizados pelo Estado na formulao de polticas pblicas, tais como os
que visavam eliminar o preconceito tnico-racial. Theodoro (2014) afirma que o racismo
naturaliza a desigualdade, alm de contribuir para a manuteno e engessamento da hierarquia
social, aliado falta de mobilidade racial que ainda caracteriza o pas.
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relaes sociais e de poder (BRASIL, 2013, p. 28). Nesse sentido, o debate sobre o direito a
igualdade se colocou diante do reconhecimento de uma sociedade desigual.
A preocupao em nomear a diversidade e especificar quais so esses grupos esteve
presente no DR da CONAE/2014, conferindo visibilidade aos grupos obliterados por uma
lgica hegemnica de dominao histrica.
O trato das questes da diversidade se coloca para alm do trato tico e democrtico
das diferenas, da superao de prticas pedaggicas discriminatrias e excludentes se
constituindo em articulao para a construo da justia social, a incluso e os direitos
humanos (BRASIL, 2013, p.28). Segundo o DR da CONAE/2014, essa construo se
articula com a luta dos movimentos sociais organizados politicamente para a afirmao do
direito diferena, como afirmao da igualdade de direitos.
importante destacar a emergncia de alguns segmentos sociais no contemplados no
documento anterior, tais como os povos das florestas, povos das guas, comunidades
tradicionais e ciganos. H que se destacar ainda que o DR da CONAE/2014 amplia algumas
concepes do documento anterior. Como exemplo, podem-se mencionar as propostas que
contemplam a categoria gnero e diversidade sexual, que ao serem ampliadas e ao estarem
amparadas no Manual de Comunicao da Associao Brasileira de Lsbicas, Gays,
Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) traz tona a necessidade em se construir uma
sociedade democrtica, que supere situaes de sexismo, homofobia, lesbofobia e
transfobia, at mesmo porque nenhuma pessoa dever ser submetida a qualquer forma de
coero, discriminao e violncia, tendo em vista sua orientao sexual e identidade de
gnero.
Outro exemplo refere-se ao conceito de incluso que no Documento Final de 2010, foi
apresentado de maneira mecnica e incipiente, como se a educao inclusiva perpassasse
apenas pelo acesso, permanncia e sucesso na educao bsica e superior dos estudantes com
deficincia, transtornos globais do desenvolvimento, altas habilidades e superdotao. Com
uma viso mais qualitativa, o DR da CONAE/2014 trouxe tona a concepo de que uma
sociedade/escola inclusiva deve agregar todos os segmentos sociais.
Para Mantoan (2006), a sociedade precisa alavancar sua concepo de incluso e
entender que ela no se restringe somente insero das pessoas com deficincias sociedade
ou ao espao escolar. Todavia, preciso ter cautela com esse tipo de discurso, at mesmo
porque em uma sociedade excludente como a capitalista, a desigualdade social e as diferentes
formas de apropriao dos bens materiais e saberes produzidos culturalmente e socialmente
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No que tange aos vrios movimentos e/ou segmentos sociais que ganharam
visibilidade no DR da CONAE/2014, destacam-se o feminista, o indgena, o LGBTT, o negro,
o quilombola, o ambientalista, das populaes do campo, dos povos das florestas, dos povos
das guas, das comunidades tradicionais e ciganos.
Vale apontar que os povos das guas, povos das florestas e ciganos aparecem
nominados como populaes itinerantes em trs estratgias, ao lado das populaes
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13
tradicionais, que em linhas gerais visam alfabetizao dessas populaes com materiais
especficos se necessrios e respeitando todas as especificidades que houver, alm da oferta
da Educao de Jovens e Adultos com a educao profissional, em cursos presencias e a
distncia. Embora seja pontual a nfase a esses povos, compreende-se como um avano,
diante de sua invisibilidade recente nas diferentes polticas pblicas educacionais do Brasil.
Por fim, constata-se que apenas o movimento feminista e o LGBTT no foram
mencionados no PNE (2014-2024). Como destacado acima, a busca pela promoo da
igualdade de gnero e de orientao sexual, foi mitigada diante do enfrentamento de grupos
religiosos, aliado aos deputados que compem a bancada evanglica no Congresso. Salientase que todo este retrocesso culmina num problema maior, pari passu, refora e naturaliza
formas de discriminao e de preconceito instaurados ao longo da histria humana.
CONSIDERAES FINAIS
O presente trabalho teve como objetivo analisar os avanos e retrocessos presentes
desde o processo de realizao das Conferncias Nacionais de Educao em 2010 e 2014, at
aprovao do Plano Nacional de Educao com vigncia de uma dcada (2014-2024) frente
temtica da diversidade. No h como negar os ganhos que o pas teve ao aprovar o presente
PNE. Contudo, diante das disputas polticas e de grupos organizados socialmente, algumas
temticas que o eixo diversidade contempla avanaram, enquanto outras perderam fora e/ou
visibilidade no PNE.
A temtica da diversidade de maneira geral foi secundarizada, sendo alocada num
mesmo inciso com o tema da sustentabilidade ambiental. E, quando o documento menciona
diversidade cultural, abrange apenas as comunidades indgenas e quilombolas, alm da
educao especial neste processo, o que se entende como um retrocesso, se comparado ao que
vinha sendo anunciado, inclusive no DR da CONAE (2014). Anteriormente havia propostas e
interlocues a partir de vrios movimentos e/ou segmentos sociais, tais como o feminista,
indgena, LGBTT, negro, quilombola, ambientalista, do campo, povos das florestas, povos
das guas, comunidades tradicionais e ciganos.
O maior retrocesso ficou por conta do debate sobre as temticas de gnero e
sexualidade, que mesmo aps serem proclamadas como fundamentais durante os documentos
das CONAEs, no que tange promoo da igualdade de gnero e de orientao sexual, foram
retiradas da lei que aprovou o atual PNE (2014-2024). Este processo, decorrente da presso de
grupos religiosos, em consonncia com o posicionamento dos deputados que compem a
606
14
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
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15
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Acadmica do curso de Geografia, Licenciatura, da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Unidade
Universitria de Campo Grande; bolsista PIBID, Membro do GEFRONTTER. E-mail:
[email protected]
RESUMO
Considera-se que as fronteiras so subespaos que merecem uma melhor compreenso,
sobretudo nos tempos de globalizao e suas implicaes geogrficas. Este tema ganha uma
dimenso especial apontando um melhor enfrentamento desta temtica por variadas reas do
conhecimento, mas, principalmente pela Geografia. Ante este quadro fronteirio do Mato
Grosso do Sul, essa proposta tem como objetivo analisar como a temtica fronteira perpassa a
Geografia Escolar no ensino fundamental na Rede Municipal de Ensino de Campo
Grande/MS. Nesse sentido, para atingir este objetivo o presente trabalho abordar o livro
didtico e as prticas docentes na rede municipal de ensino, com nfase no papel do professor
enquanto mediador na construo do conhecimento e na formao de conceitos. A pesquisa
encontra-se em fase inicial, sendo que aps a fundamentao sobre fronteira e educao, sero
aplicados questionrios quali-quantitativos direcionados aproximadamente 20 docentes de
Geografia atuantes em diferentes Escolas da Rede Municipal de Ensino de Campo
Grande/MS.
Palavras-chave: Geografia. Fronteira. Ensino Fundamental. Livro Didtico. Prtica Docente.
INTRODUO
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entre as naes, com diferenas territoriais no espao-tempo, o que, segundo alguns autores
(OLIVEIRA et al, 2011, p. 81), sob o aspecto das organizaes polticas, em certo modo, as
fronteiras apresentam contrapontos econmicos, mas tambm podem evidenciar modus
vivendi diferenciados.
Sobre essa temtica, no que concerne ao aspecto conceitual, uma das contribuies a
ser considerada como um rumo para este trabalho a que segue:
Nos dias atuais, tal subespao de implicaes geogrficas, compreendido como [...]
um espao no plenamente estruturado e, por isso mesmo, potencialmente gerador de
realidades novas [...] (BECKER, 2007, p. 41). Sobre as fronteiras brasileiras, em termos
territoriais, Oliveira (2011) aponta que,
O Brasil faz fronteira com dez pases, que somam uma populao
aproximada de 150 milhes de habitantes. [...] cerca de 15,7 mil quilmetros
de extenso e cobrindo 27% do territrio nacional, em 11 Unidades da
Federao (UF), [...]. Ao longo desta faixa, encontram-se 588 municpios
marcados por grande diversidade em termos histricos, polticos,
socioeconmicos e culturais. Deste total, 29 cidades apresentam-se como
aglomerao internacional ou com tendncia iminente a aglomerar-se, e so
por vezes cortadas por cursos dgua, atravessados por pontes, por vezes
cruzadas por uma rua ou avenida, formando fronteiras secas. (OLIVEIRA et
al, 2011, pp. 82 83).
Quanto importncia de trabalhos cientficos, Gil (2002, p. 17), pondera que existem
diversos motivos para a execuo de uma pesquisa cientfica, tendo em vista que est exige
um alto nvel de complexidade. De um modo geral, conforme expe Gil (Op. Cit.) s razoes
para se executar uma pesquisa, so classificadas em dois grupos: razes de ordem intelectual e
razes de ordem prtica.
A presente pesquisa faz uso das duas razes, sendo a primeira de ordem intelectual,
pois so poucos os escritos que se referem diretamente ao livro didtico em Geografia. A
segunda, de ordem prtica, ou seja, a partir do embasamento terico, com anlise do
Referencial Curricular do ensino bsico e das fronteiras como contedo nos sistemas
municipais de geografias em Estados fronteios.
610
Isso significa dizer que vrios aspectos evidenciam a necessidade dessa pesquisa,
desde os mais evidentes na cincia geogrfica, ou mesmo outros de ordem mais geral.
Nessa perspectiva, h que se inferir que a pesquisa surge de uma indagao acadmica
a partir de estudos preliminares sobre o tema, na busca algumas respostas e contribuio
geogrfica ao tema. Em tal cenrio, as fronteiras e a Geografia so duas temticas que exigem
um olhar atencioso (leia-se crtico) no atual processo de globalizao, na qual a intensificao
das relaes socioespaciais, acirram debates polticos e econmicos.
Ainda mais considerando-se que o Ensino de Geografia, de uma maneira mais
especfica, [...] pode levar os alunos a compreenderem de forma mais ampla a realidade,
possibilitando que nela interfiram de maneira mais consciente e propositiva. [...]
(TADIOTTO, BOGADO e SPANCESKI; 2010, p. 04). E qual a realidade do Mato Grosso do
Sul seno a de um territrio fronteirio! Faz-se necessrio, em certo modo, romper com a
reproduo geral dos contedos gerais e trabalhar uma Geografia escolar a partir da realidade
de nosso territrio (aluno), ao que contribui Paulo Freire, como aponta o fragmento de texto a
seguir:
611
de vivncia local e/ou estadual do aluno e futuro cidado de um dado territrio numa escala
mais regionalizada e proximal. Assim, o trabalho do professor sobremaneira os da
Geografia - no deve perder o seu sentido de levar o educando a se perceber num mundo a
partir de sua realidade.
Nesse contexto, este trabalho surgiu da curiosidade acadmica em compreender como
a postura do Estado por meio do seu rgo de governo da educao, no trato dessa questo,
no ensino fundamental a partir do material utilizado e das prticas docentes na Geografia
Escolar do ensino fundamental na escala do Municpio. Trata-se de uma proposta de
ampliao sobre a aboradagem dessa temtica, j iniciada anteriormente sob outro angulo
(foco), denominado A fronteira como contedo de Geografia na srie final do Ensino Mdio:
um estudo de caso na Escola Estadual Hrcules Maymone em Campo Grande/MS, realizado
no decorrer do ano de 2014 e j concluda e apresentada no V SEF Seminrio de Estudos
Fronteirios, em maio de 2015, na cidade de Corumb/MS.
Entende-se que esse estudo se justifica no somente pela atualidade da temtica
fronteiria, mas principalmente pela geografia sul-mato-grossense que lhe confere uma
territorialidade de vizinhana internacional com dois pases Bolvia e Paraguai - com os
quais h uma relao muito estreita em vrios aspectos, sejam positivos ou negativos,
cabendo ao ensino formal uma parcela significativa de responsabilidade na compreenso
destas geografias de vizinhana e multiplicidades, no que corrobora o texto abaixo:
[...] , tambm, uma porta que est aberta aos circuitos ilegais que integram
lugares e economias e desintegram estruturas sociais. O Estado , na
verdade, um laboratrio onde acontecem processos fronteirios e dinmicos
de integrao de toda natureza, sejam eles aparentes, dissimulados, legais,
funcionais, ilcitos, construtivos, histricos, estruturais ou conjunturais,
espao privilegiado para a discusso dos temas da diversidade e, dentre eles,
especialmente o que diz respeito trajetria histrica e cultural dos povos
indgenas (URQUIZA, 2013, p. 07).
Sabe-se que este tema ganha uma dimenso de enfrentamento em outras reas do
conhecimento, mas, principalmente pela Geografia, em cujo contexto pressupe-se
Geografia Escolar uma ateno mais detida sobre essa questo, dada a conformao territorial
j mencionada deste Estado para com suas vizinhanas internacionais.
O recorte de pesquisa ser as fronteiras do Mato Grosso do Sul. Para tanto,
necessrio considerar que o referido estado possui uma individualidade/particularidade
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OBJETIVO GERAL
Analisar como o tema fronteira est sendo trabalhado na disciplina Geografia, no
ensino fundamental, da Rede Municipal de Ensino, do municpio de Campo Grande-MS.
Objetivos Especficos
Explicar a faixa de fronteira do Mato Grosso do Sul, atravs de embasamentos em
tericos de mbito estadual.
Verificar como so trabalhadas as fronteiras no livro didtico e prticas docentes do
ensino fundamental;
Entender a contribuio da Geografia Escolar desenvolvida no ensino fundamental da
Rede Municipal de Ensino para a compreenso dos espaos fronteirios.
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METODOLOGIA
Ante este quadro, reitera-se que essa proposta tem como objetivo analisar como a
temtica fronteira perpassa a Geografia Escolar no Ensino Fundamental na Rede Municipal de
Ensino de Campo Grande/MS. Como objetivos especficos elenca-se a necessidade em
entender a faixa de fronteira do Mato Grosso do Sul, partindo de fontes secundrias gerais
sobre a temtica especifica, bem como sobre o livro didtico e prticas docentes do ensino
fundamental, chegando a uma anlise e contribuio da Geografia Escolar desenvolvida para
a melhor compreenso desse objeto da Geografia (fronteira) no ensino fundamental da rede de
ensino deste municpio sul-mato-grossense.
A pesquisa encontra-se em fase inicial. Para atingir os objetivos deste trabalho, dar-se em um primeiro momento a reviso bibliogrfica e levantamento de dados pertinentes ao
estudado. Aps isso, ser elaborado um questionrio com base quali-quantitativa e aplicadoao
grupo amostral que consistir em aproximadamente 20 docentes de Geografia atuantes em
diferentes Escolas da Rede Municipal de Ensino de Campo Grande/MS. A anlise e tabulao
dos dados tericos, do questionrio e do livro didtico adotado na REME auxiliaro na
elaborao escrita do produto final desta propositura.
Os resultados dos procedimentos mencionados sero utilizados na elaborao de
textos e artigos cientficos que subsidiem trabalhos de maior amplitude, com destaque para a
Educao Formal.
615
616
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
BECKER, B. K. Amaznia: geopoltica na virada do III milnio. Rio de Janeiro: Garamond,
2007.
617
618
1
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2
1 - INTRODUO
O artigo parte da inquietao relacionada necessidade da incluso da Diversidade
Sexual no campo escolar, utilizando as linguagens cnicas do teatro e da dana como forma
expressiva de arte. Tem como pr-embrio o projeto A luta pelo direito, inserido na
educao, atravs da arte, que foi pesquisado na graduao em Direito, ano de 2006, com o
objetivo em introduzir na educao, nas escolas de Campo Grande - MS, o conceito de
cidadania, buscando a luta pelo direito, atravs do teatro, dando sensibilidade, vida, arte ao
direito, interagindo com os estudantes. Posteriormente teve como embrio o TCC em
Direito (2010), com o ttulo A busca pelo direito de igualdade na filiao homoparental
brasileira, onde o objetivo foi tratar das relaes homoafetivas na sociedade frente
Constituio Federal de 1988, assegurando aos filhos oriundos destas relaes igualdade na
filiao, seja de ambos os pais/mes, o direito penso por morte, o direito penso
alimentcia, o direito de herana, bem como todos e quaisquer direitos assegurados por casais
heterossexuais, sejam casados civilmente ou em unies estveis. Naquele momento no
havamos o entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF), reconhecendo a unio estvel
para casais do mesmo sexo e por consequncia o reconhecimento do casamento civil para as
relaes homoafetivas. O entendimento do STF foi pacificado no ano de 2011 e at o presente
momento, por diversas questes histricas e de ignorncia3, o preconceito ainda continua
sendo disseminado, inclusive criminalmente.
Na graduao em Artes Cnicas e Dana pela UEMS, participei do PIBIC, onde foi
desenvolvido o projeto A Diversidade Sexual na Educao atravs das Artes Cnicas, com
a finalizao de uma cena teatral, envolvendo poesia, dana, tecnologia, em escola pblica
municipal de Campo Grande, com duas turmas do 9 ano do ensino fundamental. Todo esse
material caminha para o TCC, logo, entendemos que o campo da diversidade sexual assunto
inesgotvel, sendo assim, ainda h muito a discutir.
A diversidade sexual ainda assunto para se discutir na contemporaneidade. Embora o
acesso s diversas reas de conhecimento tenha aumentado, ainda h preconceito e
discriminao no que tange ao tema. Esta pesquisa trata do assunto como incluso em sala de
aula, utilizando-se das linguagens do teatro e da dana como uma das possibilidades de
L-se como ignorncia: a condio da pessoa que no tem conhecimento da existncia ou da funcionalidade de
algo: ignorncia dos acontecimentos contemporneos. Estado da pessoa desprovida de conhecimentos. (A falta
de conhecimento em relao homossexualidade). Disponvel em: <http://www.dicio.com.br/ignorancia/>.
Acesso em 08 out. 2015 s 22:16 h.
620
3
621
4
622
5
A nossa Lei Maior no artigo 1, inciso III, trata da dignidade da pessoa humana, onde
fica implcito que para ter dignidade necessrio que haja educao, cultura e outros pontos
de grande relevncia aos seres humanos. H outros artigos explicitando o dever do Estado
frente aos seres humanos, estabelecendo uma sociedade livre e justa, garantindo o
desenvolvimento nacional, reduzindo as desigualdades, promovendo o bem de todos.
A Lei n 9.394/1996 situa o comprometimento com a Constituio Federal, ratificando
assim o dever que o Estado tem na formao dos seres humanos, propagando a educao e a
cultura. H um artigo especifico que trata das artes na educao, conforme segue:
Art. 26. 2 O ensino da arte, especialmente em suas expresses regionais,
constituir componente curricular obrigatrio nos diversos nveis da educao
bsica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos. (LEI N
9.394/1996).
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6
sociais, entre outros. A estrutura dos parmetros curriculares nacionais para o ensino
fundamental deixa claro quais so os objetivos gerais: tica, sade, meio ambiente, orientao
sexual, pluralidade cultural, estes so os chamados temas transversais.
A arte - artes cnicas o teatro e a dana, so linguagens de conhecimento, pode e
deve contribuir para o tratamento dos temas transversais propostos nos Parmetros
Curriculares Nacionais, onde as questes ligadas diversidade sexual assunto para ser
tratado na educao. Os temas transversais permeiam a dignidade da pessoa humana e isso
implica no respeito aos direitos humanos, a no aceitao discriminao, vida digna,
respeito mtuo entre os seres humanos, inclusive a igualdade de direitos, (tnicas, culturais,
regionais, de gnero, etrias, religiosas, etc.) e desigualdades (socioeconmicas).
Os temas transversais requerem que as questes sociais sejam apresentadas para a
aprendizagem e a reflexo dos alunos. A incluso necessria com flexibilidade e abertura,
uma vez que os temas podem ser priorizados e contextualizados de acordo com as diferentes
realidades locais e regionais e outros temas podem ser includos. O prprio PCN - temas
transversais preconiza a orientao sexual:
A Orientao Sexual na escola deve ser entendida como um processo de interveno
pedaggica que tem como objetivo transmitir informaes e problematizar questes
relacionadas sexualidade, incluindo posturas, crenas, tabus e valores a ela
associados. Tal interveno ocorre em mbito coletivo, diferenciando-se de um
trabalho individual, de cunho psicoteraputico e enfocando as dimenses
sociolgica, psicolgica e fisiolgica da sexualidade. Diferencia-se tambm da
educao realizada pela famlia, pois possibilita a discusso de diferentes pontos de
vista associados sexualidade, sem a imposio de determinados valores sobre
outros. (PCN/TEMAS TRANSVERSAIS, 1997, p. 28).
importante ratificar que as diretrizes do PNE (Plano Nacional de Educao) que foi
aprovado pela Lei n 13.005 de 2014, com vigncia por 10 (dez) anos, que corresponde ao
cumprimento do art. 214 da CF/88, serve de base para concretizarmos o princpio da
igualdade e a incluso social na educao. Segue o que consta no art. 2:
[...]
III - superao das desigualdades educacionais, com nfase na promoo da
cidadania e na erradicao de todas as formas de discriminao;
X - promoo dos princpios do respeito aos direitos humanos, diversidade e
sustentabilidade socioambiental. (LEI N 13.005/2014). (grifo acadmico).
624
7
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8
O Teatro e a Dana podem de fato tratar das diferenas na educao, pois so formas
expressivas artsticas, de arte e de conhecimento agregado, tem condies de acessar todas as
possibilidades infinitas de se tocar o ser humano por meio do sensvel. Diversos autores
tratam do tema arte-educao e entendem a importncia da arte no processo educativo escolar.
Duarte Jnior (2010) entende que os professores de arte se baseiam em suas
explicaes, na historia da arte e na interpretao de obras e esquecem as experincias vividas
pelos alunos. So essas experincias que contribuiro para que haja uma relao de sentidos
com a nossa realidade, ganhando assim maior significao no contedo de arte. A troca das
experincias entre alunos e professores faz com o que haja uma comunicao. As experincias
dos alunos traduzem o meio em que vivem, a cultura que cada um carrega.
Partindo da ideia que a arte um caminho valioso e de conhecimento na educao
escolar, Olga Reverbel foi pioneira, nos estudos e prticas das relaes entre teatro e educao
no Brasil. A autora que considerada nacionalmente uma das precursoras do movimento
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9
conhecido como Teatro e Educao, colocou lado a lado os assuntos da cena e da educao
contemporneas, presentes nos debates sobre ensino de teatro. Trabalha a pedagogia de
expresso, teatro como expresso, somado com a pedagogia.
Arte nos mostra caminhos diversos, sendo assim a dana como linguagem em sala de
aula que utiliza o movimento, que inerente ao ser humano, pode apresentar possibilidades
expressivas e de reflexo, deste modo entende Gabriela Salvador:
[...] os estudos do movimento em dana passam, no s por suas relaes com o
social, com o cultural ou com o fsico, mas instigam, tambm, a pensar em signos,
em narrativas e em possibilidades de comunicao e expresso atravs desse corpo
que soma. (SALVADOR, 2013, p. 39 e 40).
Para que o aluno se expresse preciso, antes de tudo, que seja respeitada a sua
liberdade. (REVERBEL, 1995, p. 11). Ainda neste sentindo, Reverbel (1995, p. 11) nos
confirma: o estmulo constante criao permite ao aluno liberar sua personalidade pela
espontaneidade e form-la pela cultura.
A arte-educao no Brasil est relacionada com a ideia de reforar a herana artstica e
esttica dos alunos, levando em considerao seu meio ambiente (BARBOSA, 2013).
atravs deste meio ambiente, do meio em que vivem que os alunos trazem para a prtica suas
experincias, reforando e parafraseando o que Ana Mae j diz a herana de cada aluno.
(grifo acadmico).
A arte fala de diferentes formas de cognio, atravs dos saberes do corpo, da
sensibilidade, da intuio, da emoo, que englobam o fazer, o fruir, a reflexo. Propicia a
liberdade, seja de pensamentos, de criaes, de aes e de atitudes. A prtica em teatro e
dana propicia experincias novas, caminhando para uma percepo sensvel. O professor ao
conduzir o conhecimento das diferenas, da diversidade sexual em sala de aula, a diversidade
pode ser discutida o tempo todo, pois o professor tem liberdade para exercer isso com base na
LDBEN, tendo como alicerce as artes cnicas, trabalha o corpo e a mente, movimentos e
improvisaes, igualdade e as diferenas. Um olhar para si e para o prximo. A diversidade
sexual faz parte de qualquer discusso em escola, diz respeito a pessoas, e o que mais tem na
escola gente.
2 - OBJETIVOS
2.1 Objetivo Geral:
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10
da arte-educao, utilizando a
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11
relacionadas diversidade sexual, com objetivo da incluso no mbito escolar; por fim, uma
possvel reflexo sobre o assunto da incluso, diretamente ligada com a homossexualidade na
educao, em forma de artigo.
4 - DISCUSSO
A discusso toma como ator principal alunos do ensino fundamental, no que os do
mdio estejam isentos deste debate, mas neste primeiro momento o foco o ensino
fundamental, tendo em vista toda a nossa base legal j mencionada no decorrer do artigo.
Todo o referencial terico de livros, artigos, filmes, espetculos de teatro e de dana,
leis, congressos de direito, apenas confirma que estou no caminho certo para tratar do assunto
diversidade sexual na educao. A graduao em Direito concedeu-me a base legal, e os
caminhos para chegar juridicamente na incluso social. O curso de licenciatura em Artes
Cnicas, agregado ao fazer artstico anterior, me proporciona o acesso na educao de forma
sensvel.
As apresentaes relacionadas ao PIBIC-UEMS serviram, tambm, como uma fonte
de reflexo dos alunos em relao sua prpria sexualidade. Isso ficou claro, pois dentre os
alunos, tinha um consciente e seguro da sua sexualidade homossexual. Embora as piadinhas
e mmicas com conotaes afetadas em relao ao aluno ser gay, o mesmo demonstrou-se
corajoso ao dizer: a pergunta nmero 06 vocs respondem sim, onde a mesma dizia Voc
conhece pessoas homossexuais?.
Acreditando no dialgo e na troca, inevitvel discutirmos a homossexualidade no
contexto escolar, pois urge na contemporaneidade. A arte sempre esteve de alguma forma,
ligada educao. Em sentido transversal a todas as disciplinas, ela pode nos apresentar
possibilidades de solues para muitos acontecimentos, eventos que, lamentavelmente,
continuam no nosso cotidiano escolar, dentro da sala de aula.
Fica clara a necessidade da incluso da diversidade sexual na educao escolar.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
ANTEPROJETO.
Estatuto
da
Diversidade
Sexual.
Disponvel
em:
<http://www.direitohomoafetivo.com.br/uploads/5.%20ESTATUTO%20DA%20DIVERSIDADE%20
SEXUAL%20-%20texto.pdf>. Acesso em 22 abr. 2013 s 01:08 h.
629
12
BARBOSA,
Ana
Mae.
Arte-educao.
Disponvel
em:
<http://www.arteducacao.pro.br/downloads/arte-educacao_no_brasil.pdf>. Acesso em 21 abr. 2013 s
18:10 h.
BRASIL, Lei de diretrizes e bases da educao nacional. Disponvel
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em 22 abr. 2013 s 01:02 h.
em:
<
<
630
Consideraes iniciais
1
Discente do Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Educao da Universidade Estadual de Mato Grosso
do Sul (UEMS), Unidade Universitria de Paranaba. E-mail: [email protected]
2
Doutora em Educao pela Universidade de So Paulo. Docente do Curso de Pedagogia e dos Programas de
Ps-Graduao Stricto Sensu em Educao da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), das
Unidades Universitrias de Campo Grande e Paranaba. E-mail: [email protected]
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2
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3
por meio de histria oral e analisar as histrias de vida dos estudantes, por meio dos estudos
da sociologia e da histria oral.
Os estudantes esto matriculados em um projeto piloto criado em 2011, no
municpio de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, para atender jovens na faixa etria
exclusiva de 15 a 17 anos, com o propsito de trabalhar pela sua qualidade e pelo xito
desses estudantes que foram excludos da escola por vrios motivos e, entre eles, o mais forte
a no adaptao ao currculo inflexvel e ultrapassado da escola, Secretaria Municipal de
Educao - SEMED (2011, p. 12). Vale ressaltar que esses estudantes no tiveram acesso ao
sistema formal de ensino, perdendo a oportunidade de escolarizao, no finalizaram seus
estudos na idade correta, dentre outros fatores que os levaram a estar na estatstica da
distoro de idade/ano do pas.
O Fundo das Naes Unidas para a Infncia - UNICEF (2014) aponta que de todas
as taxas de atraso escolar, a mais sria a de adolescentes entre 15 e 17 anos. A incidncia de
atraso escolar chega a 56% nessa faixa etria, o correspondente a 4.830.512 estudantes. E a
cada dia que passa aumenta o quantitativo de estudantes em atraso e fora da escola.
No Mato Grosso do Sul, so 15 mil estudantes nesta faixa etria fora da escola,
conforme dados da Secretaria Estadual de Educao (SED), em 2015. Para reforar esse
panorama, a defensora da 4 Defensoria Pblica da Infncia e Juventude, Dbora Maria de
Souza Paulino, da Defensoria Pblica Geral de Mato Grosso do Sul aponta que 90% dos
adolescentes que cometem atos infracionais esto fora da escola. (SED, 2015).
No municpio de Campo Grande existem 7.152 estudantes fora da escola, segundo
dados do censo do Instituto Brasileiro de Geografia Estatstica (IBGE), em 2010. Muitos
desses estudantes nunca estudaram e outros iniciaram seus estudos, mas evadiram no meio do
caminho, ou retornaram s escolas, mas no permaneceram.
Essa situao apresentada na escola pesquisada e se evidencia com os dados de
100% dos estudantes em distoro idade/ano, apresentados pelo Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira (INEP), no ano de 2014. preciso que
seja lanado um olhar mais atento para os adolescentes jovens que frequentam o sistema
educacional, visto que seus direitos a uma educao de qualidade ficam a desejar devido
situao de vulnerabilidade social que aumenta o risco de abandono e evaso. E com este
abandono e evaso eles acabam aps dois anos fora da escola, sendo includos na faixa etria
da distoro. (Fundo das Naes Unidas para a Infncia- UNICEF, 2012, p. 10).
Diante de vrias inquietaes em relao s consequncias dos problemas de
sociabilidade que vem acontecendo tanto dentro da escola como fora dela e as situaes de
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4
vulnerabilidade social que eles vivenciam, resolvi investigar os 26 (vinte seis) estudantes de
uma escola da rede pblica do municpio de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, os quais
esto matriculados no projeto que foi criado em 2011, e oferece uma Proposta diferenciada
para o ensino fundamental. (SEMED, 2011, p. 9).
Esta pesquisa fundamentada no mtodo histria oral, que tem como instrumento de
coleta de dados um roteiro de histrias de vida completa e tpica, que ir nortear a
problemtica em questo. Esta pesquisa ainda encontra-se em andamento.
A partir desse contexto, a pesquisa pode contribuir no campo acadmico e social ao
evidenciar um quadro das possveis causas que levaram os estudantes a vivenciar a
vulnerabilidade social, bem como a sua no permanncia na escola. Acredita-se que com os
dados levantados nesta pesquisa, podem ser abertos novos caminhos para a esfera do poder
pblico, bem como parceria com a sociedade civil na implantao e implementao de
polticas com o propsito de atender o desafio da educao dos adolescentes, por meio do
ensino pblico e de formao de sujeitos autnomos.
Caminhos metodolgicos percorridos
O local da pesquisa foi uma escola da rede pblica municipal, em Campo Grande,
Mato Grasso do Sul, situada no centro da cidade, que apresenta uma proposta diferenciada,
desde 2011, para estudantes, em exclusividade, para a faixa etria de 15 a 17 anos, do Ensino
Fundamental, estruturada em blocos: inicial, intermedirio e final. A escola funciona em trs
turnos, sendo matutino e noturno, com aulas regulares e no vespertino com projetos. As
atividades so organizadas em salas ambientes; os estudantes mudam de sala na hora do
intervalo.
Como percurso metodolgico da pesquisa, adotamos a abordagem descritivoqualitativa, com mtodo de histria oral que possibilita uma viso ampla para os registros das
expectativas de vida dos estudantes.
descritiva porque [...] responde a questes muito particulares. [...], ou seja, ela
trabalha com um universo de significados, motivaes, aspiraes, crenas, valores e atitudes,
o que corresponde a um espao mais profundo das relaes, dos processos e dos fenmenos
[...]. (MINAYO, 1994, p. 21).
A anlise dos relatos e a compreenso da realidade vivida so de abordagem
qualitativa. Essa abordagem envolve aspectos qualitativos, e tem como foco o processo e no
o produto, uma vez que Bogdan e Bliken (1994, p. 50) afirmam que para um investigador
qualitativo que planeie elaborar uma teoria sobre o seu objeto de estudo, a direo desta s se
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5
comea a estabelecer aps a recolha dos dados e o passar de tempo com os sujeitos, as quais
podem proporcionar conhecer as memrias dos estudantes, recolhidas por meio da histria
oral.
A memria e a histria por meio da recolha da histria oral permite obter e
desenvolver conhecimentos novos e fundamentar anlises histricas com base na criao de
fontes inditas ou novas. (FERREIRA; AMADO, 2006, p. 16). Para recolher esses dados
sistematizamos est sendo utilizado um roteiro de histrias de vida completa.
Ao iniciar o trabalho na escola, criamos uma rotina para frequentar a semanalmente,
fazendo o acompanhamento por meio de registros, em um caderno de campo e fotos. E com
isso, no ambiente escolar, fomos criando vnculo com toda a equipe da escola, principalmente
do noturno. O critrio de escolha dos participantes na pesquisa foi convite para participar das
sesses de jogo na escola; os que ficaram puderam participar todas as quartas-feiras. E assim,
foi estabelecida a escolha dos sujeitos.
A pesquisa foi iniciada adotando um dilogo com o gestor da escola no ms de
outubro de 2014, data em que foi feita a explanao do que seria a pesquisa Depois de
dialogar com gestor iniciou-se a conversa com os professores e coordenadores pedaggicos da
escola sobre os procedimentos que seriam adotados para a realizao da referida pesquisa. Foi
criado, ento, um vnculo com a equipe pedaggica da escola e com isso organizou-se o
trabalho para a coleta de dados.
Concomitante ao processo de interao com a equipe da escola, o projeto foi
sistematizado para que pudesse ser encaminhado ao Comit de tica da Plataforma Brasil
para autorizao da referida pesquisa em razo de os participantes tratarem-se de seres
humanos, conforme prev a Resoluo n 466, de 12 de dezembro de 2012. Foi entregue o
termo de Consentimento Livre e Esclarecido para os 26 (vinte seis) estudantes. Os termos
ainda esto retornando. As gravaes e transcries esto sendo feitas, e por isso no
possvel afirmar a devolutiva dos termos de Consentimento Livre e Esclarecido.
No momento em que foi iniciada a pesquisa de histria de vida, as pesquisadoras
abordaram informalmente com os estudantes os temas que estariam presentes nos dilogos
para que jovens os fossem falando tranquilamente. Antes do incio dos encontros, foi
mostrado o roteiro para cada um dos adolescentes, com o intuito de que eles se sentissem
vontade para relatar suas memrias.
As histrias de vida foram estruturadas em roteiro de construo de histrias de
vida (GONZAGA, 2006, p. 82). Ento buscamos a ideia de Minayo (1999,, p 53) para
estruturar em histria de vida completa , com adaptao do roteiro de Gonzaga.
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6
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7
histrias de vida. Esta faixa etria a que mais oportuniza atividades para os jovens se
envolverem em pontos negativos de sua vida.
Abramovay (2002) ressalta que a vulnerabilidade social um dos problemas que a
traz a dificuldade ao acesso das oportunidades de polticas pblicas que atendem estudantes
na faixa etria da adolescncia. A vulnerabilidade social o resultado negativo [...] entre
disponibilidade dos recursos materiais ou simblicos [...], sejam eles indivduos ou grupos, e
o acesso estrutura de oportunidades sociais, econmicas, culturais que provm do Estado, do
mercado e da sociedade. (ABRAMOVAY, 2002, p. 9).
Como possvel perceber nas histrias de vida dos estudantes, no h o relato de
oportunidades de participao em atividades que envolvam aspectos para o crescimento
humano, principalmente aqueles que a esfera pblica oferece, por isso so organizados
diferentes grupos de indivduos, podendo gerar, assim, outra extenso da categoria dos jovens:
a sociabilidade (DAYRELL, 2007, p 1110). Nesse sentido Dayrell (2007) chama ateno
para a importncia da sociabilidade, que deve ser desenvolvida por meio de seus pares,
presentes nos espaos escolares, espaos de socializao, podendo ser desenvolvida por meio
do lazer, do trabalho, da famlia, as quais dinamizam as relaes sociais e no meio delas pode
ser gerado um movimento constante de diferentes grupos.
Sendo assim, esses movimentos podem expressar por meio da sociabilidade [...]
uma dinmica de relaes, com as diferentes gradaes que definem aqueles que so os mais
prximos [...] mais distantes [...] bem como o movimento constante de aproximaes e
afastamentos [...]. (DAYRELL, 2007, p 1111).
Por isso importante refletir sobre a sociabilidade na escola, entre os estudantes, e
entre outros espaos em que ela acontece. Alm disso, os educadores podem proporcionar
atividades que sejam significativas para eles, que venham propiciar a aproximao desses
jovens por meio das sesses do jogo pedaggico, bem como do trabalho com as memrias e
histrias dos estudantes que esto envolvidos neste estudo.
De acordo Ferreira (2008), a memria envolve reproduzir, ativar e revisar as
lembranas, isto quer dizer que rememorar os fatos acontecidos no recordar todas as
imagens do passado, ou como foi seu acontecimento, mas sim refletir diante das foras sociais
do presente que esto agindo sobre si.
Os estudantes tiveram a oportunidade de apresentar as lembranas de alguns
acontecimentos do passado e do presente, mas do presente que opera no seu entorno. Nos
relatos de alguns jovens ficou evidenciado que o seu passado, ainda foi marcado por
problemas, principalmente dos seus familiares. A relao que os estudantes esto fazendo
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8
com o passado e o presente deve ser muito valorizada, pois a mesma pode dar nfase
qualidade da pesquisa.
Portanto, a valorizao de uma histria no mundo social, do passado para presente,
pode gerar uma relao entre histria e memria, com vistas a permitir aos historiadores
repensar no passado e no presente, isto , nas suas relaes que podem se tornar uma riqueza
de fontes para definir a histria do tempo presente, por meio de estudos a cerca do seu
passado. importante evidenciar que A memria tambm uma construo do passado, mas
pautada em emoes e vivncias; ela flexvel, e os eventos so lembrados luz da
experincia subsequente e das necessidades do presente. (FERREIRA, 2008, p 321).
Com essas lembranas trazidas pelos estudantes no momento do registro das
lembranas, percebeu-se que em alguns momentos os adolescentes preferiam o silncio. Essa
escolha foi respeitada. Em outros momentos ficaram emocionados ao falar de algo que
marcou sua vida, principalmente, no perodo de sua infncia, como, por exemplo, a me de
um estudante que faleceu com a idade precoce, mas ele no relatou a justificativa da sua
morte, ressaltou que morava no bairro mais violento da cidade, e este fato levou o jovem a
morar na casa de abrigo.
Dentro desse contexto, Ferreira (2008) evidencia que a memria e a histria podem
ser valorizadas por meio de suas lembranas vivas, da subjetividade, relatos em distoro, a
verdade no dita. Isso tudo pode ser observado na hora da pesquisa, no como ponto negativo,
mas como uma maneira de enriquecer mais a pesquisa, com uma viso qualitativa. de suma
importncia que o pesquisador mantenha um dilogo franco e aberto (Alberti, 2005, p. 44)
com o participante da pesquisa, respeitando a opinio e o tempo de cada um, para que possa
construir com qualidade o seu depoimento, principalmente aqueles estudantes que foram
excludos na sociedade.
No decorrer da pesquisa, ao serem ouvidos os professores e nas prprias histrias de
vida relatadas pelos jovens, observamos que os adolescentes foram excludos em vrios
aspectos, como: intelectuais, histricos, afetivos, culturais e principalmente no social.
Tambm interessante ressaltar que os jovens gostam de dar depoimento, demonstraram
sentirem-se valorizados, uma vez que foi dada voz a eles.
A histria oral se fortaleceu porque foi ostentada por [...] quem procurava dar voz
aos excludos, recuperar as trajetrias dos grupos dominados. (FERREIRA, 2008, p. 322).
Nos estudos de Ferreira (2008), pode-se destacar que as fontes histricas, no sculo XX,
provocaram um novo debate quanto as dados histricos, admitindo que histria oral se
apropriasse de um lugar nas contestaes da histria contempornea, a qual foi abordada por
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9
Isso tudo pode ser considerado como situaes de vulnerabilidade, na qual se deve
em decorrncia [...] a escassa disponibilidade de recursos materiais ou simblicos a
indivduos ou grupos excludos da sociedade Abramovay et al (2005, p. 33), os quais
participam muito pouco de atividades quando no esto na escola, como lazer em seus
bairros, que so considerados de fundamental importncia esta fase dos jovens.
E com esses problemas nessa faixa etria, podem ser considerados que diferentes
fatores levaram a parar de estudar, como relatam no item, adolescncia. Podemos perceber,
tambm, que os problemas familiares esto muito presentes nas situaes apresentadas por
eles, mesmo indiretamente.
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10
Todavia, ficaram evidenciados nos relatos dos estudantes que seus familiares esto
marcados por vrias situaes de relacionamento com seus parceiros, os quais atualmente
compem suas famlias, bem como alguns no tiveram contato nem com seu pai e nem com
sua me. Abramovay (2009) aponta que segundo alguns autores, como o educador Eric
Debarbieux, um dos fundadores do Observatrio Europeu de Violncia Escolar, na
Universidade de Bordeaux, a vulnerabilidade est mais presente na escola devido a conflitos
externos como: a precariedade das famlias, dos bairros em que faltam estruturas de polticas
pblicas para atender a desigualdade social. Dessa maneira, consideramos que as polticas da
esfera pblica devem estar presentes em todos os locais, para que a sociedade possa usufruir
desse benefcio, desde o incio de sua vida. E diante disso, a famlia poder iniciar um
trabalho na vida dos jovens estudantes, e posteriormente a escola dar continuidade a esse
processo de educao.
Abramovay (2009, p. 53) ressalta ainda que as instncias da escola e da famlia
correspondem a duas agncias socializadoras e interdependentes: ambas assumem funes
educativas que algumas vezes se confundem e outras, se sobrepem. Esses interesses talvez
no sejam bem compreendidos, e por essa razo ficam dizendo que a escola ensina e a famlia
educa, j ouvimos muito isso. Acreditamos que cada um tem o seu papel, mas juntos os
estudantes ganham com a educao de qualidade, seja ela por meio da famlia ou da
comunidade escolar.
Na trajetria escolar os estudantes relataram que pararam de estudar, a maioria na
faixa etria dos 13 aos 15 anos, devido os seguintes motivos:
E-1:Devido h alguns problemas familiares, me atrasei um pouco nos estudos.
[...].
E-2:Eu viajava muito, ora ficava com minha me no interior de So Paulo, ora
ficava em Campo Grande com o meu pai, e isso me atrapalhou nos estudos. [...].
E-3:Eu fiquei muito em jogo no computador, trancado no meu quarto durante 3
(trs) anos, saa somente para comer, e engordei muito, eu era um viciado em jogos
eletrnicos, e por isso fiquei sem estudar por um bom tempo e este ano retornei.
[...].
Esses estudantes foram marcados por uma trajetria escolar conturbada, para a
maioria, a escola se constitui como um campo aberto (DAYRELL, 2007, p. 1120). Mas para
esses jovens a trajetria de vida foram marcadas por problemas familiares e de relaes
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11
sociais, os quais levaram a interromper seus estudos. Sendo que a escola um espao
acessvel para se estabelecer relaes de amizades, entre os grupos.
No item referente os amigos da escola, eles relataram que:
E-1:Eu tenho poucos amigos, somente 3 (trs) na escola. [...].
E-2:Fico com meus amigos que tocam violo na hora do recreio, mas sou muito
tmido. [...].
E-3:Eu me considero um lder aqui na escola, tenho um grupo com 10 (dez)
pessoas e todos fumam. Eu consegui tirar o meu amigo do vcio do jogo de
computador, a agora ele retornou aos estudos. Muitos deles so influenciados pelos
amigos para fumar. [...].
Nesse sentido, preciso destacar que os relatos desses estudantes evidenciaram que
tm poucos amigos, devido ser tmidos, outros tm melhor relacionamento pessoais e se
propem a ajudar os outros seus amigos, o qual pode-se observar que um jovem conseguiu
trazer seu amigo para o retorno escolar, conforme foram trocando ideias entre a turma.
Dayrell (2007, p. 1111) afirma que [...] turma de amigos uma referncia na
trajetria da juventude, pois com quem fazem os programas, trocam idias, buscam
formas de se afirmar diante [...], criando um eu e um ns distintivos. Sendo assim,
podemos ressaltar que uma turma de amigos como vivem os estudantes da escola levam
vantagem em conhecer pessoas diferentes, partilhar ideias novas com os colegas e a
comunidade escolar.
Na comunidade escolar os estudantes mencionaram que:
E-1; E-2; E-3:Eu me relaciono muito bem com a comunidade escolar, com o
diretor, a coordenadora, os professores, a merendeira e o vigia. [...].
Portanto, diante dos relatos dos estudantes percebesse que os adolescentes gostam da
comunidade escolar, mas ser que esto aprendendo ou somente gostam de estar l e no tem
interesse em aprender? Esse um desafio que a escola enfrenta junto a esses jovens que esto
em processo de retorno escolar.
Na viso de Abramovay (2009, p. 118) As falas dos estudantes apontam que a
afeio, a confiana, a amizade e o respeito entre jovens e adultos da escola desempenham
papis essenciais para a criao de um clima escolar interpretado como bom.
E h tambm alguns jovens que vo escola porque fazem parte de grupos fora da
escola, que podem trazer conflitos para dentro da escola.
Quando nos referimos sobre os amigos fora da escola, os jovens relataram que:
E-1:Tenho vrios amigos fora da escola, principalmente nos nossos bairros e nos
finais de semana nos organizamos para sair, porque gosto de beber um pouco, bebo
caipirinha. [...].
E-2:Sou uma pessoa que tenho poucos amigos no bairro, de vez enquanto vou
para casa um. [...].
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12
E-3:Eu tenho amigos no meu bairro, mas so poucos e gosto de tocar violo na
casa deles. No tenho nada para fazer. [...].
Os estudantes jovens em seu dia a dia, a maioria deles fica sem participar de polticas
pblicas no perodo em que esto sem estudar, j que os mesmos vo para a escola no turno
noturno e o restante do seu tempo ficam trabalhando em casa, com os afazeres domsticos.
Para construir uma poltica para esses jovens estudantes, Abramovay (2002) discute que o
lazer, por meio da arte, das atividades esportivas e culturais podem promover as relaes
sociais entre estes estudantes jovens, podendo atingir seus valores. J que os eles esto numa
faixa etria de transformao e muita energia para gastar, ento necessitam de algo para fazer
no seu dia a dia, evitando assim, somente ficar em casa.
Abramovay (2002, p. 78) aponta que as polticas pblicas em relao aos jovens tm
como desafio combinar polticas universais, compreendendo que os jovens no esto isolados
em um mundo parte, [...] eles compem uma gerao com linguagens, necessidades e
formas de ser especficas.
Diante disso, esses jovens tm suas particularidades, com ideias diferenciadas,
podendo levar a uma democracia em forma de participao, por meio de polticas em que a
esfera pblica e sociedade civil possam atender estes estudantes que se encontram em seu dia
a dia sem estruturas e mobilizao de aes para atender seus bairro. Com isso, estes jovens
642
13
podem ter um aprendizado informal por meio das polticas pblicas e na escola o seu espao
deve ser agradvel, na medida em que sinta o prazer de frenquentar a escola e aprender.
Quanto frequncia s aulas na escola, eles disseram que:
E-1; E-2; E-3:Todos eles frequentam as aulas diariamente, somente faltamos se
for necessrio. [...].
Os estudantes desta escola, hoje esto em uma unidade de nova, e acreditamos que
devido a isso eles esto frenquentando mais a escola. Dayrell (1996, p. 143) Os alunos,
porm, se apropriam dos espaos, que a rigor no lhes pertencem, recriando neles novos sentidos
e suas prprias formas de sociabilidade. Com sua frequncia nas aulas todos os dias eles podem
construir um espao onde vo realizar trabalhos especficos no ambiente escolar e com isso pode
se tornar a escola atrativa e ficar marcada para sua vida toda.
Os estudantes relataram que tm um projeto de vida para seu futuro, mas para se
tornar estudante o jovem deve [...] estabelecer cada vez mais relaes entre sua condio
juvenil e o estatuto de aluno, tendo de definir a utilidade social dos seus estudos, o sentido das
aprendizagens e, principalmente, seu projeto de futuro. (DAYRELL, 2007, p. 1120). Assim,
os estudantes devem arquitetar sua relao nas etapas escolares de sua vida, localizando no
seu interior, encontrando seu prprio estmulo a que poder estar vinculado ao experimento
que esteja no meio das vivencias escolares entres os amigos e professores.
643
14
644
15
645
Resumo
O artigo est alicerado na concepo que os tericos classificam de estado da arte ou
estado do conhecimento. O balano ou mapeamento, aqui, encetado, diz respeito ao
desenvolvimento da produo cientfica brasileira, sobretudo no formato de artigos
cientficos, dissertaes e teses e que tenham como tema ou objeto educao e
homossexualidade. Para tanto, foram levantados, por meio eletrnico, nas plataformas da
BDTD (Biblioteca Digital de Teses e Dissertaes) do IBICT, do SCIELO e de outros, os
trabalhos produzidos em Programas de Ps-Graduao nas reas do Direito, da Sociologia, de
Letras e de Educao. Em termos gerais, apurou-se a quantidade de duzentos e cinquenta e
cinco (255) pesquisas, dentre as quais somente quarenta e duas (42) foram desenvolvidas na
rea de Educao. Os temas contemplados giram em torno de prtica docente, formao de
professores, manuais para abordagem da temtica homossexualidade em sala de aula, entre
outros. Muito frteis na rea e com relativo desenvolvimento no campo da educao, percebese que os estudos situam-se ainda de forma panormica, e os sujeitos - gays/homossexuais pouco aparecem enquanto objetos nas pesquisas desenvolvidas. Instigante seria poder
responder ao questionamento oriundo das buscas realizadas: as pesquisas nas diversas reas
aqui elencadas teriam sido desenvolvidas por pesquisadores homossexuais ou heterossexuais?
H um dado curioso que poderia dizer um pouco mais sobre, por exemplo, os aportes tericos
escolhidos e at sobre as possveis concluses a que chegaram seus autores. Por fim, uma
ausncia: nenhum trabalho localizado em Programas de Ps-Graduao em Histria. Nesse
sentido, acredita-se que os aportes terico-metodolgicos da Nova Histria Cultural (NHC) e
da Histria Oral (HO) podem, e, muito, contribuir para o desvelamento da infncia, da
escolarizao e da profissionalizao daqueles que em muitos cantos e recantos foram
singulares.
Introduo
A temtica acerca da diversidade, sobretudo aquela que diz respeito sexualidade,
vem sendo debatida, abordada, contemplada, muito recentemente, com maior nfase nas duas
ltimas dcadas. Na busca por torn-la mais visvel, tm sido desenvolvidas, na sociedade
brasileira, frentes de atuao e ao, tanto na esfera pblica como no mbito de movimentos
da sociedade civil; aes e projetos por parte do Estado brasileiro na realizao de eventos,
1
Docente do curso de Pedagogia (UEMS - Unidade Universitria de Paranaba). Vice-lder do Grupo de Estudos
e Pesquisas em Educao, Memria e Diversidade (GEPEDIR).
2
Docente dos cursos de Pedagogia e Geografia (UEMS). Lder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Histria e
Historiografia da Educao Brasileira (GEPHEB) e do GEPEDIR.
646
647
de
ps-graduao
entre
outros
fatores,
constantemente
levantamos
648
649
line, fato gerador de certa frustrao por no poder acess-lo e nem desvel-lo com mais
proficuidade.
Para o presente artigo, no sero efetuadas anlises mais acuradas do contedo
apurado, dadas as dimenses limitadoras do prprio texto. Os autores tiveram como foco to
somente indicar a quantidade de investigaes sobre o tema para que outros possam encetar
novas buscas ou realizar novas pesquisas.
Trabalhos
36
26
24
16
16
14
10
10
10
08
07
07
07
06
06
06
05
05
04
04
04
04
03
03
03
650
UINCAP
UCB
UFAM
UFS
UNISINOS
03
02
02
02
02
Fonte: BDTD - IBICT
Como delimitao para o presente texto, a busca selecionou apenas aqueles vinculados
a Programas de Ps-Graduao em Educao, e assim foi localizados um total de quarenta e
dois (42) trabalhos, a saber:
Quadro 02 Teses e dissertaes Educao
Instituio
Ttulo
UNICAMP
UFRGS
USP
UFPE
UFMT
FURG
UNIMEP
UFPel
UFC
UFPR
USP
UFPE
UNINOVE
UNISO
FUFSE
UNICAMP
UFPE
UFC
UFU
USP
UFRJ
Ano de
defesa
2005
2006
2006
2006
2006
2007
2007
2008
2008
2008
2009
2009
2009
2009
2009
2009
2009
2009
2009
2010
2010
651
2010
UNESP
(Marlia SP)
2012
UERJ
2012
USP
UFSC3
UFSCar
UNITIRADENTES
METODISTA (SP)
USP
UFRGS
UFRGS
UnB
UFBA
UNESP
(Presidente
Prudente)
UERJ
UNESP
(presidente
prudente)
UNICAMP
2011
2011
2012
2012
2012
2013
2013
2014
2014
2014
2014
2014
2014
2015
2015
2015
2015
2015
652
Ensaio: Avaliao
de Polticas
Pblicas
Educacionais
Cadernos de
Pesquisa
Educar
Sexualidad, Salud y
Sociedad - Revista
Latinoamericana
Sexualidad, Salud y
Sociedad - Revista
Latinoamericana
Educao e
Pesquisa
Educar em Revista
Educar em Revista
Educar em Revista
Educar em Revista
Educar em Revista
Revista Brasileira
de Educao
Educao e
Pesquisa
Revista Brasileira
de Educao
Ttulo
Educao, Relaes de Gnero e
Diversidade Sexual
O Estatuto da Diversidade Sexual nas
Polticas de Educao no Brasil e na
Frana: a comparao como ferramenta de
desnaturalizao do cotidiano de pesquisa
Limites e Possibilidades de uma Ao
Educativa na Reduo da Vulnerabilidade
Violncia e Homofobia
Ano
2008
2008
V. 16, N. 51,
p. 59-75,
jan/mar
2009
v. 39, n. 136,
jan/abr
2009
N. 35, p. 3751
N. 11,
agosto 2012,
p. 59-87
2011
2011
2008
2012
2011
Edio
Vol. 29, n.
103
N. 20, p. 1223 (Edio
Especial)
N. 13. Abril
2013, p. 6982
V. 37, n. 04,
p. 725-742,
Dez.
N. 39, p. 87102, jan/abr
2011
2011
2011
2011
2012
Vol. 17, n.
49
2013
Vol. 39, N.
01, p. 145159, jan/mar
n. 25
2014
653
Educar em Revista
Educao e
Pesquisa
educativo
Experincia Homossexual no Contexto
Escolar
O movimento LGBT e as polticas de
educao de gnero e diversidade sexual:
perdas, ganhos e desafios
Fonte: Scielo
2014
2015
Edio
Especial n.
01
Maro
Ano
Local
Itaja SC
So
Paulo SP
Maring
- PR
ANPED-Sul
2008
2009
X Congresso Nacional de
Psicologia Escolar e
Educacional
Revista Eletrnica de Educao
2011
2013
Curitiba PR
2014
Caxias
do Sul RS
2014
Macei
AL
2015
Ponta
Grossa
PR
2012
2013
Ano V,
N. 10,
jan/jul
Catalo GO
Embora os dados apurados sejam considerveis, preciso admitir que pode ter
ocorrido de as buscas realizadas no terem localizado fidedignamente , todas as produes em
formato de artigos, dissertaes e teses, uma vez que os sistemas de buscas ainda revelam
impreciso no cruzamento de palavras-chave ou de seus descritores.
654
Consideraes Finais
Mediante o mapeamento quantitativo realizado, podemos ento elencar algumas
consideraes acerca do tema educao e homossexualidade. Um primeiro ponto desvelado
o de que a produo cientfica com esse foco recentssima. Na sua totalidade os trabalhos
iniciais ocorreram a partir de 2005, no formato de artigos, dissertaes ou teses. Outro aspecto
considervel o de que outras reas como Psicologia, Direito e Sociologia tm contemplado a
temtica gay, homossexuais, homofobias com mais fertilidade em seus Programas vinculados s instituies pblicas - e com nfase para a regio Sudeste.
Quanto educao, as pesquisas contemplam relaes de gnero, representaes de
professores, preconceito, materiais oficiais para trabalho pedaggico de professores,
formao, mas uma grande ausncia ou silncio se faz notar: poucos trabalhos do voz a
sujeitos homossexuais ou gays no que se refere ao desvelamento de suas trajetrias na
infncia, na escolarizao e na vida adulta. Ou seja, pesquisas classificadas no campo da
histria e que utilizam os aportes tericos da Nova Histria Cultural (NHC) ou metodolgicos
da Histria Oral (HO) so praticamente inexistentes. , portanto, nesse sentido e para tanto
que o Grupo de Estudos e Pesquisas em Educao, Memria e Diversidade (GEPEDIR) foi
institudo por ns e vem sendo fomentado nos ltimos dois anos.
Referncias
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MACHADO, Paula Sandrine. Nardi, Henrique Caetano. SILVEIRA, Raquel Silva.
Diversidade sexual, relaes de gnero e polticas pblicas. Porto Alegre: Sulina, 2013.
655
656
INTRODUO
Atualmente os problemas ambientais esto se tornando cada vez mais graves e
irreversveis, com isso comearam a surgir movimentos em prol da sustentabilidade, para
diminuir de forma efetiva a degradao ambiental e ocorreu tambm uma intensificao nas
prticas de Educao Ambiental, que tanto promovem sensibilizao quanto informam os
cidados sobre a situao do ambiente em que vivem (RODRIGUES & COLESANTI, 2008).
657
658
659
indgena para suas comunidades: Queremos uma escola prpria do ndio [...] dirigida por ns
mesmos, [...] com professores do nosso prprio povo, que falam a nossa lngua [...]. A
comunidade deve decidir o que vai ser ensinado na escola, como vai funcionar a escola e
quem vo ser os professores.
A nossa escola deve ensinar o ande Reko (nosso jeito de viver, nossos costumes,
crenas, tradio), de acordo com nosso jeito de trabalhar e com nossas organizaes. Os currculos
devem respeitar os costumes e tradies das comunidades Kaiow e Guarani e devem ser elaborados
pelos prprios professores junto com as lideranas e comunidades. Os professores Kaiow e Guarani
devem ter uma capacitao especfica. As escolas devem ter seus prprios regimentos... Que as
iniciativas escolares prprias das comunidades Kaiow e Guarani sejam reconhecidas e apoiadas pelos
municpios, estado e unio (Apud ROSSATO, 1991, S./P.).
660
A Educao Ambiental.
No foco da Educao ambiental proposto neste estudo a Lei 9.795/99 informa que
a Educao Ambiental caracteriza-se pelos processos por meio dos quais os indivduos e a
coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competncias
voltados para a conservao do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial sadia
qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL, 1999). Entretanto, nossa sociedade
marcada pela desigualdade social e esses direitos estabelecidos pela Constituio no esto
disponveis para a populao integralmente (BARROS & REIS, 2009). De acordo com AB
Saber (1991), a Educao Ambiental um instrumento que capacita os indivduos aos quais
so negados esses direitos, para que os mesmos possam reivindic-los e assim buscar solues
para os problemas vivenciados por eles.
Segundo Layrargues (2004), a educao que abrange os aspectos ambientais se
diferencia da tradicional, a qual no se tem mostrado ambiental. A Educao Ambiental, em
uma instituio de ensino, apresenta-se como uma prtica social voltada proposio de
solues para problemas socioambientais (GUIMARES et. al., 2009), uma vez que mostra
aos indivduos que os seres humanos so parte do meio em que vivem.
Barros e Reis (2009) que ressaltam que para alm de um tratamento simplista,
fragmentado e meramente conceitual dos elementos bsicos da natureza (ar, solo, gua, fogo,
661
662
Para Kenski (2003), a soluo para o impasse entre docentes e tecnologias est nos
cursos de formao que devem proporcionar condies para que os docentes sejam ao mesmo
tempo produtores e crticos dessa nova forma de ensinar, mediada pela tecnologia. Os
professores precisam transformar-se em agentes ativos do processo participativo de sua
prpria formao.
Neste estudo, a produo de vdeos documentrios pode ser disparadora de um
processo de desenvolvimento profissional do professor, auxiliando-o a ressignificar aspectos
de sua prtica pedaggica e facilitador de uma percepo ambiental interdisciplinar.
As Tecnologias de Informao e Comunicao no podem ser institudas no espao
escolar apenas com fins instrumentais ou instrucionais.
METODOLOGIA
A pesquisa foi realizada na Escola Estadual Indgena de Ensino Mdio Pascoal Leite
Dias, na aldeia indgena Terena Limo Verde, h 23 km da sede do municpio de Aquidauana,
MS. A escolha dessa aldeia se deu pelos seguintes fatos: a) a comunidade est inserida em
663
uma regio de mananciais do Crrego Joo Dias, que sofre processos de assoreamento,
poluio e voorocas ao longo do trajeto at a cidade. b) Os professores que trabalham ali so
em sua grande maioria indgenas e moradores da prpria comunidade, o que lhes configura
um processo de identificao cultural mais profundo; c) a aldeia conta com uma escola
pblica da rede estadual de ensino para atender os estudantes que ingressam no Ensino
Mdio; d) os estudantes possuem acesso s Tecnologias de Informao e Comunicao
essenciais para a efetivao do projeto.
documentrio
partir
da
execuo
da
sequncia
didtica
664
665
Figura 1: primeira etapa da pesquisa- reunio com as lideranas indgenas da aldeia Limo Verde e com a comunidade.
Fonte: Acervo EEI de EM Pascoal Leite Dias
Foto 2: Visita a rea de estudo das nascentes do crrego Joo dias, acima da aldeia.
Fonte: Acervo EEI de EM Pascoal Leite Dias
666
Figura 3: Terceira fase do estudo: filmagem do documentrio sobre a nascente com a presena dos estudantes
Fonte: Acervo EEI de EM Pascoal Leite Dias
667
diminuio da gua no leito do crrego da aldeia foi realizado pelos estudantes sob a
mediao do professor ocorreu tanto em campo, quanto com o uso das TICs para a pesquisa e
planejamento das aes.
atividades externas, eles utilizaram a internet para pesquisar as rvores nativas e o plantio de
mudas, usaram o editor de texto para produo dos textos e a internet para postar o que
aprenderam e filmaram nas redes sociais.
No que tange a questo da participao crtica e ativa a comunidade estudantil os
indgenas tm seu prprio tempo e forma de lidar com o que chamamos de respeito a
autoridade constituda dos professores, por isso, uma comparao com o que se esperaria de
estudantes no indgenas no seria adequado. Os estudantes participaram de seu prprio jeito,
observando, plantando e participando das atividades.
Pode-se
dizer
que
os
alunos
668
Assim, foi proposta aos professores indgenas uma formao para manuseio e
integrao das tecnologias na prtica pedaggica partindo-se das necessidades da comunidade
local.
Os professores da Aldeia Limo Verde deslocaram-se no perodo vespertino at ao
Ncleo de Tecnologia Educacional para participarem das formaes:
669
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
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PELICIONI, M. C. F. Educao ambiental, qualidade de vida e sustentabilidade. Sade e
Sociedade, v.7, n.2, p.19-31, dez. 1998.
670
671
Resumo:
O presente artigo tem por objetivo relatar o andamento de um projeto de pesquisa
que tem o intuito de sistematizar uma construo metodolgica de trabalho com a
dana na educao bsica a partir das danas afro-brasileiras. A proposta consiste
em investigar as experincias realizadas com os alunos da disciplina do 4 ano do
curso de Artes Cnicas e Dana da UEMS, ministrada por uma das coordenadoras
do projeto, a partir do olhar para o chamado corpo soma, para o par
experincia/sentido, apresentado por Jorge Larrosa Bondia e para a educao
sensvel defendida por Joo Francisco Duarte Junior. Acredita-se que o trabalho a
partir das danas afro- brasileiras no ensino bsico possa apresentar ao educando
um caminho para o aprendizado corporal-sensvel, transformando seu olhar tanto
no que se refere dana enquanto rea de conhecimento, quanto no que se refere
cultura afro- brasileira como parte da educao tnico-racial. A experincia
adotada para o ensino bsico estar balizada na organizao da prtica
pedaggica a partir dos Projetos de Trabalho de Fernando Hernndez e Montserrat
Ventura, envolvendo especificamente temas das danas brasileiras na formao de
licenciados em dana.
Palavras-Chave: Dana- educao, Danas afro-brasileiras, educao tnicoracial
672
673
674
675
676
chama de crise dos sentidos, e prope o resgate aos nossos sentidos corporais em
todas as reas de conhecimento:
Sem dvida, h um saber sensvel, inelutvel, primitivo, fundador de todos
os demais conhecimentos, por mais abstratos que estes sejam; um saber
direto, corporal, anterior s representaes simblicas que permitem os
nossos processos de raciocnio e reflexo. E ser para essa sabedoria
primordial que deveremos voltar a ateno se quisermos refletir acerca das
bases sobre as quais repousam todo e qualquer processo educacional, por
mais especializado que ele se mostre. (DUARTE JUNIOR, 2006, p. 12)
677
envolvimento. Ele acaba por ser o responsvel pela organizao de uma narrativa
conjunta, em que o caminho percorrido que mais importa, e no os resultados.
678
679
abordagem
do
tema
transversal
da
educao
tnico-racial,
Matrizes corporais so aqui entendidas como movimentos caractersticos das danas populares
brasileiras que constituem a base do aprendizado dos gestuais e movimentos dessas danas e que
esto presentes na maioria das danas brasileiras, independente da regio onde elas se manifestam.
680
681
BIBLIOGRAFIA
BONDIA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experincia e o saber de experincia.
Traduo de Joo Wanderley Geraldi. UNICAMP, Departamento de Linguistica,
2002.
DUARTE JUNIOR, Joo Francisco. O sentido dos sentidos: a educao (do)
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Curriculares Nacionais para a Educao das Relaes tnico-Raciais e para o
Ensino de Histria e Cultura Afro-Brasileira e Africana.
BRASIL. Projeto de Lei n. 7032-2010, que altera os pargrafos 2 e 6 de 20 de
dezembro de 1996, que fixa as diretrizes e bases de 20 de dezembro de 1996, que
fixa as diretrizes e bases da educao nacional para instituir como contedo
obrigatrio no ensino de Artes, a msica, as artes plsticas e as artes cnicas.
682
Introduo
A analtica do poder tem a pretenso de mostrar os efeitos de saber produzidos em
nossa sociedade pelas lutas, pelos choques e pelos combates que nela se desenrolam, e
tambm as tticas de poder como elementos dessa luta. Como prtica social, as relaes de
poder so mveis, reversveis, heterogneas, constitudas historicamente e, portanto, em
constante transformao.
1
Doutor em Educao pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Professor da
Faculdade de Educao da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). E-mail:
[email protected] e [email protected]
683
684
29
36
46
24
36
47
34
28
26
36
M
M
F
M
M
F
M
F
M
M
Direito
Letras
Artes Visuais
Direto
Filosofia
Pedagogia
Letras
Artes
Matemtica
Letras
Tempo de magistrio em
anos (a) e meses (m)
2a6m
13a
29a
2a
10a
28a
10a
11a
7a
15a
685
Discusso e Resultados
Os dilogos em torno das convenes de gnero e sexualidade na educao
evidenciaram como o sistema de dominao masculina e a homofobia se entrecruzam,
produzindo as relaes de poder e as desigualdades de tipo binrio, entre homens e mulheres,
heterossexuais e homossexuais etc.
cotidianamente, locus onde convergem os legados dos discursos e prticas sexistas enraizadas
na histria, cultura e vida social. No se limitando apenas a transmitir uma experincia prtica
e objetiva do universo externo, a educao tambm forma a percepo de si, dos outros,
sedimenta a moral e a cultura de uma sociedade, fazendo dela um dispositivo pedaggico de
suma importncia em nossas sociedades. (ALTMANN, 2001).
O processo de construo do gnero acontece desde o incio da vida da criana,
contudo, sofre variaes de acordo a cultura e com as normas que pautam o comportamento
de homens e mulheres, como, por exemplo, os atributos e expectativas que so designados a
meninos e meninas: [...] impondo cores, como rosa para o feminino, azul para o masculino,
estabelecendo brinquedos e brincadeiras, exigindo-se seus devidos rituais. (OSRIO, 2013,
p. 83).
Ao observar o carter relacional do conceito de gnero, Louro (1997) chama a
ateno para a necessidade de se compreenderem os mecanismos de socializao e das
diversas formas de relaes estabelecidas entre homens e mulheres, em temporalidades e
espacialidades especficas, no como um dado, uma essncia, constituda a priori pela
natureza. O entendimento do gnero como artefato da cultura e do sexo vinculado biologia
ficou conhecido por sistema sexo/gnero. No entanto, essa maneira de pensar tem sido
criticamente revista e questionada, sobretudo pelas pensadoras feministas ps-estruturalistas
como Butler (2003):
[...] o gnero no est para a cultura como o sexo para a natureza; ele
tambm o meio discursivo/cultural pelo que a natureza sexuada ou ainda
um sexo natural produzido e estabelecido como pr-discursivo, anterior
cultura, uma superfcie politicamente neutra sobre a qual age a cultura [...]
colocar a dualidade do sexo num domnio pr-discursivo uma das maneiras
pelas quais a estabilidade interna e a estrutura binria do sexo so
eficazmente asseguradas (p. 25).
686
uma cincia que atribui uma natureza como efeito de uma prtica discursiva. A liberdade a
condio de possibilidade do exerccio do governo das condutas, que traz, em si, um campo
aberto de possibilidades. Foucault, ao recusar a tese repressiva do poder, afirma que relaes
de poder constituem
[...] um conjunto de aes sobre aes possveis; ele opera sobre o campo de
possibilidade onde se inscreve o comportamento dos sujeitos ativos; ele
incita, induz, desvia, facilita ou torna mais difcil, amplia ou limita, torna
mais ou menos provvel; no limite, ele coage ou impede absolutamente, mas
sempre uma maneira de agir sobre um ou vrios sujeitos ativos
(FOUCAULT, 1995, p. 243).
Em Vigiar e Punir (1975), Foucault analisa a complexa rede de saberes e poderes na constituio
da delinquncia como categoria autnoma na transio para a economia moderna do poder de punir,
instaurando a penalidade da privao de liberdade pelo aprisionamento dos corpos.
3
Em O Nascimento da clnica (1963), Foucault se ocupa da virada para o sculo XIX, perodo
posterior ecloso da Revoluo Francesa, para avaliar em que medida as modificaes estruturais
no plano do saber acerca da doena e da morte correlacionaram-se com a transformao do espao
em que os corpos doentes e os cadveres se dispunham ao olhar mdico.
4
Em Os anormais (2001), Foucault analisa a transio do monstro da Idade Clssica figura do
domnio jurdico-biolgico no saber da histria natural como prottipo do anormal que emergir no
sculo XIX, aps a transio para uma nova economia de poder de punir.
687
nesse contexto que emerge a homossexualidade como categoria mdicopsiquitrica, designando uma sexualidade desviante, uma anormalidade ou mesmo uma
doena, bem como as tcnicas de normalizao possvel, materializadas nas diversas
instituies modernas.
No interior dessa reorganizao dos saberes e dos poderes, a psiquiatria se tornou
uma tecnologia da anomalia que, desde bem cedo, viu-se atravessada pelo problema da
sexualidade, em razo dos fenmenos da herana e da degenerao, ou seja, das funes de
reproduo da espcie humana. Assim, do saber da medicina moderna, a descoberta da
doena no corpo individual, a masturbao aparecia como conduta e como etiologia de uma
srie de perturbaes somticas. Tal conduta incorreta por parte do sujeito implicava uma
srie de consequncias somticas ligando-o ao mecanismo religioso da culpa pelo pecado:
A sexualidade vai permitir explicar tudo o que, de outro modo, no
explicvel. tambm uma causalidade adicional, j que superpe s causas
visveis, identificveis no corpo, uma espcie de etiologia histrica, com
responsabilidade do prprio doente por sua doena [...] (FOUCAULT,
2002c, p. 306).
688
Assim, o discurso cientfico do sculo XIX acabou por corroborar uma percepo
social e moral sobre a sexualidade, conferindo-lhe uma natureza e um valor de verdade. Nesse
689
sentido, uma scientia sexuallis foi constituda como discurso cientfico sobre o que se deveria
fazer para no ter uma sexualidade patolgica, e, tal como qualquer objeto, o sexo poderia, no
interior dela, ser mensurado, calculado, quantificado, classificado, policiado e analisado:
Inicialmente, uma grande quantidade de estudos mdicos naquele perodo
buscava elucidar a natureza da homossexualidade. [...] O Tratado de KrafftEbing constitui, nesse momento histrico, um texto unificador dos
conhecimentos at ento elaborados de maneira esparsa e assistemtica no
campo mdico-psiquitrico. Para definir a normalidade em relao qual
determinados comportamentos sexuais sero considerados desviantes,
Krafft-Ebing buscar recurso noo biolgica, portanto natural, de
preservao da espcie. O prazer obtido da relao sexual ser natural na
medida em que contribua para a reproduo. Todo erotismo praticado fora
desse contexto dever ser considerado como desviante (PEREIRA, 2009, p.
382).
A esse respeito, nos relatos de alguns dos sujeitos participantes deste estudo,
percebeu-se a fora dos discursos cientficos, fortemente normativos, que se impem como
regra de conduta:
[...] percebia desde criana que era diferente, passei por todas as fases: achei
que no era normal, que passaria, que era bi sexual, at que me aceitei como
sou [...] (S1).
Desde muito novo j percebia que algo no estava direito (S2).
Apreender a lhe dar com uma orientao sexual diferente da grande maioria
dos que dizem ser normais, no uma tarefa nada fcil [...] (S4).
690
Para mim a aceitao da minha famlia foi algo crucial, no incio foi difcil,
mas hoje em dia me respeitam como sou. Hoje em dia minha famlia me
aceita como sou, percebo s vezes que no conseguem entender o porqu
disso, mas me respeitam (S1).
Acredito que em nenhum momento minha verdadeira sexualidade foi notada.
(S4) (grifo nosso).
Um dia me peguei sentido atrao sexual por um homem (vizinho). At
ento no havia sentido nada, nem pelo sexo feminino e nem pelo
masculino. A partir deste dia tudo mudou em minha cabea. Foi muito
confuso para eu administrar sentimentos to novos dos quais eu queria me
livrar, e que eram mais fortes que eu. Eu no tinha domnio sobre estes
desejos. (S5).
Aos 30 anos assumi para mim mesmo minha orientao, mas ao refletir
acerca, descobri que desde h muito tempo j me sentia diferente dos outros
meninos que me rodeavam; era extremamente angustiante na poca ter que
mentir para mim mesmo, inventar desculpas para escamotear sentimentos,
desejos, etc. (S7).
Sobre sua sexualidade, o sujeito S9 relata o seguinte: [...] s vim aceitar minha
condio homossexual j quando adulto e independente.
Assim, a sexualidade, ao lado do trabalho fazendo referncia aqui a Max Weber
sobre a tica protestante , , na sociedade moderna, um dos eixos fundamentais da
constituio da identidade e do reconhecimento de si como sujeito racional. Os saberes que os
sujeitos acessam traduzem-se em modos de vida, guiando seu comportamento e moldando sua
forma de ser.
A reflexo foucaultiana sobre a noo de governo parte da relao entre verdade e
subjetividade, estabelecida no Ocidente desde a antiguidade clssica, um poderoso dispositivo
produtor dos distintos modos de subjetivao que se estabeleceram na histria em seus
inmeros deslocamentos. Os discursos verdadeiros, em suas diversas formas e contextos,
constituem tcnicas segundo as quais os indivduos conduzem a si mesmos. Na antiguidade
clssica, o cuidado de si consubstancia o ideal grego de liberdade e beleza, o espao tico na
forma de uma escolha pessoal de existncia, e no uma sujeio a um cdigo legal ou
prescrio religiosa.
Do sculo XVI at o final do sculo XVIII assistiu-se ao desenvolvimento de
inmeros tratados sobre a arte de governar. A intensidade dessa problematizao est no
ponto de cruzamento de dois movimentos. De um lado, o esfacelamento das estruturas feudais
e um movimento de concentrao estatal; de outro, o movimento de disperso e dissidncia
religiosa com a Reforma e a Contra-Reforma: o governo de si, reatualizado pelo
691
neoestoicismo; o governo das almas, pela pastoral crist; o governo das crianas, pela
pedagogia; o governo do Estado, pelo prncipe. Entre os nveis micro e macro Foucault
(2004a) destaca haver uma continuidade ascendente e descendente essencial, que ele
designa pelo neologismo governamentalidade, que constitui,
[...] o conjunto constitudo pelas instituies, os procedimentos, anlises e
reflexes, os clculos e as tticas que permitem exercer essa forma bem
especfica, embora muito complexa, de poder que tem por alvo principal a
populao, por principal forma de saber a economia poltica e por
instrumento tcnico essencial os dispositivos de segurana; a tendncia [...]
que em todo o Ocidente no parou de conduzir [...] para a preeminncia
desse tipo de poder que podemos chamar de governo sobre todos os outros
[...] e que trouxe, por um lado, o desenvolvimento de toda uma srie de
aparelhos especficos de governo [e, por outro lado] o desenvolvimento de
toda uma srie de saberes (FOUCAULT, 2008c, p. 143-144).
No se trata de negar a importncia das instituies na organizao das relaes de poder. Mas de
sugerir que necessrio, antes, analisar as instituies a partir das relaes de poder, e no o
inverso; e que o ponto de apoio fundamental destas, mesmo que elas se incorporem e se cristalizem
numa instituio, deve ser buscado aqum (RABINOW; DREYFUS, 1995, p. 245).
6
O que se pretendia era se insurgir contra a ideia de que o Estado seria o rgo central e nico de
poder, ou de que a inegvel rede de poderes das sociedades modernas seria uma extenso dos
efeitos do Estado, um simples prolongamento ou uma simples difuso de seu modo de ao, o que
seria destruir a especificidade dos poderes que a anlise pretendia focalizar (MACHADO, 2004a, p.
XIII).
692
693
Na cultura ocidental crist, o governo dos homens exige, da parte dos que so
governados, obedincia, submisso, que o sujeito diga a verdade a respeito de si mesmo, de
seus erros, de seus desejos, e do estado mais secreto de sua alma. A confisso dos pecados
como atos de verdade, por meio da qual o sujeito expressa a verdade sobre si prprio, , no
cristianismo, uma condio sine qua non de redeno dos pecados, sendo o sujeito ator da
manifestao da verdade, sua testemunha e seu objeto. O deslocamento da confisso e de
todos os mecanismos de extrao da verdade sobre o sexo induziu a uma srie de efeitos
tericos e prticos que, nos sculos posteriores, foi laicizada e medicalizada:
Temos, diante da anatomia poltica do corpo, uma fisiologia moral da carne.
[...] essa fisiologia moral da carne, ou do corpo encarnado, ou da carne
incorporada, veio se somar aos problemas da disciplina do corpo til no fim
do sculo XVIII; [...] se constituiu o que poderamos chamar de uma
medicina pedaggica da masturbao e como essa medicina pedaggica da
masturbao levou esse problema do desejo de volta ao problema do
instinto, esse problema do instinto que precisamente a pea central da
organizao da anomalia. Portanto essa masturbao; assim recortada na
revelao penitencial no sculo XVII, essa masturbao que se torna
problema pedaggico e mdico, que vai trazer a sexualidade para o campo
da anomalia. (FOUCAULT, 2002c, p. 245).
694
(FOUCAULT, 2006, p. 17). Se hoje, aos nosso olhos, o cuidado de si obscurecido pelo
conhece-te a ti mesmo, na antiguidade clssica grega at a cultura helenista-romana dos dois
primeiros sculos da nossa era, eram, ao contrrio, conectados: [...] este princpio de precisar
ocupar-se consigo mesmo tornou-se de modo geral, o princpio de toda conduta racional [...]
(FOUCAULT, 2006, p. 12). No entanto, enquanto na antiguidade clssica o cuidado de si
objetivava uma relao de domnio de si mesmo, ser senhor de si, no cristianismo acabou
tomando a forma de renncia de si.
Foucault (2007b, p. 14) afirma que [...] a interdio uma coisa, a
problematizao moral outra [...]; nesse sentido, todo o conjunto do regime dos aphrodsia,
com suas regras morais, com suas estratgias, seus exerccios, e todo o exerccio em
pensamento que efetuam fazem parte do grande tema do cuidado de si, cuja finalidade a
constituio do governo de si. Da a unidade entre o conhecimento de si e o cuidado de si, ou
entre conhecimento da verdade e prtica da verdade, tomando a forma de uma esttica da
existncia.
Quanto a uma suposta homossexualidade entre os gregos, Foucault ressalta que
eles no opunham o amor ao sexo posto e o amor ao mesmo sexo. Da mesma forma,
distintamente do que se pensa hoje, [...] ter costumes frouxos consistia em no saber resistir
nem s mulheres nem aos rapazes, sem que este ltimo caso fosse mais grave do que o outro
[...] (FOUCAULT, 2007b, p. 167), antes, mostra como havia uma diversidade de escolha e
como estas representavam maneiras diferentes de obter prazer. Mas apesar de o amor entre os
rapazes ser uma prtica perfeitamente admitida, ela no era indiferente, ressalta Foucault,
sobretudo porque, distintamente da relao com as mulheres, o amor entre os rapazes se
desenvolve em um espao comum e entre homens livres. No sculo XVII, o momento
cartesiano atuou sobre a unidade ontolgica caracterstica da tecnologia grega clssica,
desfazendo-a, e dando primazia ao conhecimento de si. E, como afirma Foucault (2006, p. 2324), adentramos em uma nova era das relaes entre o sujeito e com a verdade, [...] a idade
moderna das relaes entre sujeito e verdade comea no dia em que postulamos que o sujeito,
tal como ele , capaz de verdade, mas que a verdade, tal como ela , no capaz de salvar o
sujeito.
Da disjuno da unidade harmoniosa da antiguidade clssica grega, a
modernidade constituiu um saber de conhecimento, em detrimento do saber de
espiritualidade antigo. Era nessas anlises das filosofias antigas que o sujeito, para ter acesso
verdade, precisava operar uma srie de transformaes em seu prprio ser, o que muda
radicalmente com Descartes, quando, enfim, pela primeira vez, o sujeito, tal como , capaz
695
de verdade: Portanto, no o sujeito que deve transformar-se. Basta que o sujeito seja o que
ele para ter, pelo conhecimento, um acesso verdade [...] (FOUCAULT, 2006, p. 234). O
conhecimento cartesiano um conhecimento de objetos.
Das prticas do cuidado de si que, como vimos, objetivava a constituio de si,
temos como que uma inverso que se opera, depois de diversos deslocamentos no interior das
prticas crists (monasticismo), para uma tecnologia que se encaminha para a renncia de si e
que vai marcar profundamente a cultura Ocidental: para os antigos, a constituio do sujeito
como objetivo ltimo, por meio e pelo exerccio da verdade; para ns, modernos, um duplo
assujeitamento: sujeio poltica na forma da lei, e sujeio subjetiva aos discursos
verdadeiros na forma da cincia.
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696
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da
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697
TRABALHOS COMPLETOS
698
RESUMO
A temtica droga atravs dos temas transversais ganham maior reconhecimento e espao dentro do
ambiente escolar com os Parmetros Curriculares Nacionais elaborado em 1997. O fenmeno de consumo de
drogas nas ultimas dcadas tornou-se um dos temas sociais de grande preocupao tanto no mbito familiar
quanto na educao. O objetivo deste estudo foi realizar um levantamento bibliogrfico a fim de identificar
trabalhos que apontem como professores do ensino fundamental vm trabalhando com a temtica drogas
dentro do ambiente escolar, a partir do que preconiza os Parmetros Curriculares Nacionais. Foram utilizados
para obteno das informaes, artigos em portugus, teses e dissertaes disponveis on-line que tratam desse
tema. Alguns autores foram especialmente considerados: Moreira (2005), Arald et al (2012) , Ribeiro (2001), e
Pinsky e Bessa (2004). Foi possivel constatar que os professores e coordenadores pesquisados no trabalham
com essa temtica principalmente, entre outras coisas, por se sentirem despreparados para passar informao e
falar sobre este tema.
INTRODUO
699
Entre as drogas depressoras do sistema nervoso central so: lcool, solventes inalantes,
barbitricos, benzodiazepnicos, analgsicos opiides, solventes inalantes. E as drogas que
so estimulantes do sistema nervoso central so: tabaco, anfetaminas e cocana. (PINSKY e
BESSA, 2004)
Carlini et al (2010) apontam o lcool como a droga mais consumida entre os
estudantes em todas as faixas etrias pesquisadas. Esse evento do uso e abuso de drogas por
estudantes est fortemente ligada a etiologia e manuteno de vrios problemas sociais,
econmicos e de sade enfrentados em nosso pas.
Esses dados apresentam um desafio para todos os que esto de alguma forma,
intervindo sobre este problema. Entender as diferentes faces da questo e intervir no ambiente
de maior convvio social dos adolescentes, ou seja, intervir nas escolas pode ser de extrema
importncia no sentido de formulao de polticas para combater o uso indevido de drogas.
possvel hoje observar um forte consenso de que na atualidade a melhor alternativa
para dar conta da complexidade do fenmeno, se respaldar na preveno. (BRASIL, 2010)
Diante da promoo e preveno de sade o entendimento do conceito sade se faz
necessrio para que o indivduo no seu contexto possa realizar suas atividades dirias
promovendo sua autonomia e satisfazendo suas necessidades. Para que isso seja possvel a
sade deve ser compreendida como total e dinmica, no sentido de ser anatmica, fisiolgica,
psicolgica e social.. Vive-se uma constante busca pelo equilbrio entre o individuo e o seu
meio ambiente. (REY, 2003)
A promoo de sade inclui-se no contexto escolar atravs dos Temas Transversais
que esto regulamentados nos Parmetros Curriculares Nacionais e que tem como objetivo
integrar vrias reas do conhecimento dentro da educao brasileira. De acordo com esse
documento a relao entre o professor e o aluno no deve estar centrada apenas na simples
transmissao do conhecimento mas tambm no processo de construo da cidadania desse
aluno. Faz-se necessrio que esta dinmica de interao disciplinar possa proporcionar aos
atores desse contexto, um novo olhar sobre o papel que a educao brasileira desenvolve na
formao do indivduo. (BRASIL, 1997)
Os Temas Transversais foram elaborados com a finalidade de integrar o ensino
educacional a formao da cidadania, incluindo temas sociais como parte do plano curricular
que dever ser desenvolvido na escola.
Brasil (1997) entende a incluso de temas transversais na educao como forma de
promover a compreenso de diferentes conhecimentos, assim como a participao do sujeito
em um protagonismo social. Diante disso a transversalidade proporciona o espao para a
700
OBJETIVO
METODOLOGIA
701
Optou-se por realizar uma pesquisa bibliogrfica, que segundo Oliveira (2007),
compreende o estudo direto de documentos de domnio cientfico. Sua finalidade levar o
pesquisador (a) a entrar em contato direto com obras, artigos ou documentos que tratem do
tema em estudo (OLIVEIRA, 2007, p. 69).
Segundo Gil (2008) a pesquisa bibliogrfica desenvolvida a partir de material j
elaborado, constitudo principalmente de livros e artigos cientficos. Para este autor a
vantagem dessa pesquisa reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama
de fenmenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente .
Pode-se perceber que este tipo de investigao permite um aprofundamento que
proporciona mais riqueza de detalhes e aes para a mesma. Conforme Lima e Mioto (2007) a
pesquisa bibliogrfica implica em um conjunto ordenado de procedimentos de busca por
solues, atento ao objeto de estudo.
Como mtodo de coleta de dados, a reviso bibliogrfica possibilitou a anlise de
produes acadmicas sobre a incluso da tematica Drogas como tema tranversal, por
professores do ensino fundamental. Para tanto, foram selecionados, uma tese, um artigo, uma
dissertao e um livro que contemplam o tema.
DISCUSSO e RESULTADOS
Moreira (2005) que em sua tese, analisa as atitudes dos coordenadores pedaggicos
sobre uso indevido de substncias psicoativas entre alunos de escolas municipais do ensino
fundamental na cidade de So Paulo, concluiu que estes tem um conhecimento mediano sobre
o tema e apresenta um melhor conhecimento sobre drogas ilcitas, e menor conhecimento e
desempenho nas questes sobre o lcool. Observou ainda uma dualidade intrnseca no
discurso dos coordenadores, de um lado julgam importante trabalhar o tema de forma
inclusiva e compreensiva com os alunos para estes terem um maior conhecimento sobre o
tema drogas, proporcionando assim a preveno na escola. Por outro, justificam que a
sobrecarga de trabalho e a concepo estigmatizada do uso e do usurio de drogas presentes
nas suas representaes sociais, dificultam o trabalho desta temtica na escola.
Arald et al (2012) em seu artigo sobre a representao dos professores sobre o tema
em questo, identificaram que quando se fala sobre drogas e do uso pelos alunos, estes
tendem a culpabilizao da mdia e da famlia, a primeira por estimular o adolescente a
702
consumir bebida por meio da propaganda e a famlia por promover e consentir o uso de
drogas licitas.
Alm disso foi identificado pela fala dos professores que o consumo de drogas como o
lcool tem aumentado entre os estudantes, principalmente nas meninas, estando ligado este
consumo a diverso dos jovens. (ARALD et al, 2012)
Quanto a possibilidade de fazer um trabalho preventivo sobre lcool e drogas dentro
da escola , os professores demonstraram sentimento de descrena quanto a essa atividade,
muitos professores dessa pesquisa relatam no se sentirem capacitados e apresentam falta de
preparo para abordar esse tema. (ARALD et al, 2012)
Ribeiro (2001) em sua dissertao, teve como objetivo identificar quais as prticas
pedaggicas usadas para preveno do uso indevido de drogas por adolescentes nas escolas, e
compreender quais as aes dos professores e coordenadores da escola para proporcionar a
preveno na escola.
Entre os resultados encontrados pode-se destacar que ainda que os professores
afirmaram a importncia de se trabalhar este tema, no sabem como e onde encaixar esta
atividade dentro do currculo escolar que julgam ser muito extenso e no apresenta espao
para se trabalhar temas transversais como o da drogas. Os professores apontaram que em
alguns momentos este tema era abordado a partir do programa curricular, mas o tempo era
insuficiente para estender o assunto. (RIBEIRO, 2001)
Para o autor, o principal objetivo entender como esse tema quando abordado
transmitido aos alunos, preciso escutar o educando quanto ao seu conceito referente ao tema
drogas, suas significaes, a compreenso desses significados dentro de um contexto real e
particular. Diante disso a escuta ao educando fundamental para a elaborao e reelaborao
de uma nova concepo do tema e para que estes construam um novo posicionamento
referente a essas questes. Ao impor conceitos pr-estabelecidos aos alunos, que so seres em
formao e esto na busca de uma conscincia crtica, parece ser uma ao que no contribui
para o amadurecimento pessoal desses alunos. (RIBEIRO, 2001)
Pinsky e Bessa (2004) apontam pesquisas que comprovam que o mau desempenho
escolar tem sido um indicativo de risco para o desenvolvimento da dependncia a substncias
psicoativas. Estes autores ressaltam a influencia da mdia na divulgao e estimulo as drogas
lcitas, e propem que na educao brasileira deveria se incluir nos currculos escolares uma
educao para a mdia que segundo eles seriam programas de ensino que levassem crianas
e adolescentes a criticarem as atraes da tev em funo da qualidade.
703
704
705
Brasil (2013) ressalta que a melhoria da qualidade dos professores em relao ao seu
nvel de formao esta diretamente condicionada a qualidade da oferta dos cursos de
capacitao e as condies dadas de ensino aos alunos que frequentam a escola.
Diante desta pesquisa bibliogrfica realizada e dos resultados encontrados pode-se
perceber que o tema transversal drogas no tem sido utilizado pelos professores na sala de
aula como parte da didtica escolar e do contedo lecionado.
As pesquisas revelam que os professores usam como justificativas de no lecionarem
este tema: ser de responsabilidade dos pais orientar os alunos sobre a questo, o currculo
escolar ser muito extenso e no ter tempo para trabalhar esse tema, e ser um assunto difcil de
ser trabalhado por ser estigmatizado; apesar dessas justificativas a concluso a ser apontada
que existe uma falta de preparao dos professores para falar e lecionar sobre este tema.
Diante disso cabe destacar que cada vez mais a formao do profissional necessria
para garantir aos alunos o que os Parmetros Curriculares preconiza, que uma formao para
a cidadania, ou seja, integrar vrias reas do conhecimento dentro da educao brasileira.
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706
707
708
Resumo
O artigo traz os resultados do estudo sobre o Plano Nacional de Formao de Professores da
Educao Bsica (PARFOR) e sua implantao na Universidade Estadual de Mato Grosso do
Sul. Criado com o objetivo de preencher a demanda dos docentes da rede pblica que no tem
formao superior ou para aqueles que esto h mais de trs anos na educao bsica e atuam
na rea diferente de sua formao. Para a anlise dos achados utilizamos: Souza (2014), Gatti
(2008), Garcia (2009), Silva Jnior (2003), o Plano Nacional de Educao (2001 e 2014),
Decretos n. 6.094/2007 e n. 6.755/2009, Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional n.
9.394/1996 e as Atas do Frum Estadual Permanente de Apoio a Formao Docente. Os
estudos sobre a implantao do PARFOR na UEMS apontam que ainda faltam incentivos do
governo para promover a formao continuada, pois, por serem cursos presenciais, os
professores tem que faltar nas escolas em que trabalham o que acarreta em desistncia.
Palavras-chave: 1) PARFOR; 2) UEMS; 3) formao continuada; 4) Professores.
Introduo
O presente artigo objetiva discutir a implantao do Plano Nacional de Formao de
Professores da Educao Bsica (PARFOR) na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
(UEMS) e os debates travados em relao modalidade de cursos que privilegiem a formao
presencial ou distncia na instituio.
O Plano uma ao do governo federal para suprir a demanda por formao
continuada dos professores que atuam na Educao Bsica, ou seja, professores em servio.
Primeiramente conceitualiza-se a formao continuada e os antecedentes polticos que
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ser obtida por meio de uma poltica global de magistrio, a qual implica simultaneamente, a
formao profissional inicial; as condies de trabalho, salrio e carreira e a formao
continuada. Para tal,
[...] preciso polticas permanentes de estmulo profissionalizao,
jornada nica, progresso na carreira, formao continuada, dedicao
exclusiva ao magistrio, melhoria das condies de remunerao e
garantia de condies dignas de trabalho[...]. (BRASIL, 2009).
712
inicial, ela busca, portanto complementar, aperfeioar, atualizar o professor. Sendo assim, tal
formao visa ou deveria visar atingir fins educacionais para harmonizar com os objetivos
dos usurios da escola.
Com efeito, o momento de formao/qualificao/educao desses professores deve
ser contabilizado como horas trabalhadas, substituindo assim, perodo de trabalho docente,
por perodo de formao/qualificao/educao docente, no nterim de tempo, em que tal
ocorresse. A justificativa para tal afirmao se firma na base de que, por um lado, o
responsvel da oferta do ensino pblico o Estado, e incumbido por implantar polticas que
valorizem o magistrio. Veremos a seguir os impasses que se apresentam para os professores
cursistas que coadunam com a sua duplicao da jornada de trabalho, carregando sobre si todo
o nus de sua formao, bem como o Estado se abstm de responsabilizar-se de instituir
condies materiais para garantir a formao dos docentes.
2. Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul e o Plano Nacional de Formao de
Professores
Em Mato Grosso do Sul, os cursos oferecidos pela Universidade Estadual de MS
historicamente, se caracterizam principalmente pela rotatividade dos mesmos, promovidos de
acordo com as demandas regionais do estado, ou seja, so permanentes apenas na oferta e
temporrios na localizao. Isto se deve, principalmente, devido ao objetivo da Instituio,
que o de democratizar o acesso educao superior pblica, atendendo s necessidades
regionais, principalmente de formao de professores, com a finalidade maior de equalizar a
oferta da educao superior no Estado em oportunidades e qualidade (UEMS, 2011, p. 8).
Partindo desse conciso objetivo da UEMS, podemos comparar tal posicionamento da
instituio, com sua implantao do PARFOR de forma sria e sistemtica. Dvilla (2014),
Nucci (2013) Catanante e Brito (2014) Rodrguez e Brito (2013) apontam para a implantao
criteriosa dessa universidade para com a execuo do PARFOR, foi a primeira no estado a
abrir turmas mediante este programa.
A seguir traremos transcries das Atas do Frum Estadual Permanente de Apoio
Formao Docente, instituio responsvel por cumprir os objetivos do PARFOR em regime
de colaborao entre a Unio, os Estados, o Distrito Federal e os Municpios. Alm desse
material de pesquisa, transversalizaremos com entrevista com o coordenador geral do
PARFOR na UEMS.
713
Dos dados coletados como resultado da entrevista e da anlise das atas das reunies do
Frum, ressalta-se um ponto importante dos cursos de formao continuada de professores: a
tendncia investir em cursos distncia:
A profa. Carla, representante do CEE, disse da importncia de se investir
mais na primeira licenciatura por ser a distncia. Quanto segunda
licenciatura, resolveu-se que o Frum formalizar uma consulta
CAPES/MEC quanto possibilidade de ser oferecida a distncia, uma vez
que, presencial, no tem apresentado muito interesse. (MATO GROSSO DO
SUL, ata 5, p. 3, 2011).
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com uma abordagem sistmica, mas o segundo termo ainda pior, pois uma tcnica fcil
de ser aprendida mecanicamente, mas uma competncia algo que o indivduo no alcanar,
ele incompetente e isso torna um desafio, pois ningum quer ser incompetente, portador
de alguma incompetncia.
O termo competncia muito utilizado para definir pessoas que no realizam o
trabalho como deveriam. Ento para a formao de professores, bem como para o resto dos
trabalhadores, esse conceito voltado para atender s necessidades da produtividade
capitalista, com o qual se produz um efeito muito mais devastador em termos de formao
que a concepo de domnio de uma tcnica, dado que se afasta completamente da formao
integral a qual implica ter conhecimentos vinculados s disciplinas de fundamentos scio
histricos, para apenas adquirir habilidades de uso estritamente tcnicos. Sob esta perspectiva,
a lgica voltada para a aferio de resultados, com intuito de avaliador, no mais nfase no
processo.
Sendo assim, formaes rpidas e no tempo em que seus cursistas disponham
sinnimo de eficincia e tem sido regulamentado por legislaes desde a LDBEN/1996, em
seu artigo 80, fixa que o Poder Pblico incentivar o desenvolvimento e a veiculao de
Bahia (2014) suscita questes relativas aos questionamentos quanto qualidade da educao na modalidade
distncia, sendo que o foco deve ser a qualidade da formao de professores, para alm da modalidade que ela
for oferecida. Ser que a modalidade formativa importa? Ser que no hora da modalidade a distncia ser
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CONSIDERAES FINAIS
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formao gratuita, visto que o Estado apenas garante o acesso formao, mas no oferece o
mnimo de recurso possvel para que o professor permanea em um curso presencial.
A valorizao do magistrio mediante formao continuada velada por discurso de
confirmao de demanda existente, e a nica ao tomada o oferecimento de cursos aos
professores. E o resultado eficiente para melhorar a valorizao do magistrio, assim como a
melhoria da educao pblica e os resultados numricos por formao alcanada sinnimo
de que o professor deixou de lado seu tempo livre para estudar e qualificar-se. Caindo sobre
ele todo o dispndio fsico e material de sua formao.
REFERNCIAS
721
722
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723
Resumo
Este artigo tem como objetivo discutir se a formao inicial de professores de educao fsica,
tal qual se apresenta neste momento histrico, contribui para que o futuro docente tenha
condies para selecionar e distribuir os conhecimentos da rea no currculo, levando em
considerao as contribuies da teoria crtica do currculo, uma vez que esta se atenta ao tipo
de conhecimento que ser ensinado nas escolas. Para esta anlise, trabalhou-se com pesquisa
bibliogrfica e documental. Recorreu-se ao aporte terico de Silva (2013), Young (2007),
Soares et al.(1992), entre outros. Concluiu-se que a formao inicial tal qual se apresenta, no
oportuniza aos futuros professores, a apropriao do conhecimento cientfico, pois, destaca o
desenvolvimento de competncias necessrias para atuar na atual sociedade, em constante
processo de mudanas. A formao inicial por competncias em detrimento dos
conhecimentos acumulados ao longo da histria da humanidade dificulta ao docente de
educao fsica na educao bsica, selecionar e distribuir no currculo, conhecimentos que de
fato permita ao aluno compreender a realidade social da qual faz parte, bem como as
diferentes manifestaes corporais, analisando-as de forma crtica e como manifestaes que
fazem parte da histria do homem.
Palavras-Chave: Formao Inicial de professores. Conhecimento. Educao Fsica.
Teoria crtica do currculo
1 Introduo
Este artigo tem como objetivo discutir se a formao inicial de professores de
educao fsica, tal qual se apresenta neste momento histrico, contribui para que o futuro
docente tenha condies para selecionar e distribuir os conhecimentos da rea no currculo,
levando em considerao as contribuies da teoria crtica do currculo, uma vez que esta se
atenta ao tipo de conhecimento que ser ensinado nas escolas.
Para esta anlise, trabalhou-se com pesquisa bibliogrfica e documental. Recorreu-se
ao aporte terico de Silva (2013), Young (2007), Soares et al.(1992), entre outros.
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Castellani Filho (1995), Soares et al. (1992) e Darido (2001). De acordo com Darido (2001),
essa anlise necessria, pois ainda prevalece, entre os professores, a concepo de Educao
Fsica voltada para o ensino do esporte, sem uma sistematizao em sua distribuio, o que
acarreta em uma desordem na sua organizao no currculo, isto , no h critrios definidos.
Tal fato, na viso da autora, na mesma obra, causa a ausncia de aprofundamento dos
conhecimentos propostos para a Educao Fsica na escola.
A educao fsica ao longo de sua trajetria histrica atendeu a diferentes interesses
sociais, polticos e econmicos de diferentes grupos que se encontravam no poder. Face ao
exposto, os conhecimentos selecionados e distribudos da referida rea em cada momento
histrico pretendeu formar um determinado tipo de aluno para um determinado tipo de
sociedade: atletas, indivduos fortes, saudveis, entre outros.
Vale dizer que o currculo abrange toda organizao da escola, e com isso, alm de
questes tcnicas e metodolgicas, ele traz tambm outras que o caracteriza como um
instrumento ideolgico que reflete interesse de diferentes grupos ou classes sociais. Isso
implica dizer que o currculo um campo de disputas, de relaes de poder, onde os
conhecimentos selecionados e distribudos oportunizam ao aluno uma formao que o
possibilite, por meio do que aprendeu ao longo do seu processo de escolarizao, a
transformao ou manuteno da sociedade vigente.
A partir desta introduo, este artigo encontra-se estruturado em trs partes sendo as
duas primeiras relacionadas discusso e a anlise do tema proposto, e, a ltima traz uma
sntese do estudo, destacando os principais pontos abordados.
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mundo de uma determinada classe social, que legitima seu conhecimento em detrimento do de
outra.
Sendo assim, quando identificamos a concepo de educao, assim como quais
conhecimentos foram selecionados para fazer parte de um currculo, alm de analisar a forma
como foram distribudos, em textos curriculares, possvel identificar que tipo de formao
oferecido aos alunos.
Os currculos de Educao Fsica, tambm como resultado de um processo histrico5,
sofreram importantes reformulaes ao longo dos sculos XX e XXI, de forma a atender aos
interesses polticos e/ou econmicos de determinados grupos que se encontravam no poder.
Sendo assim, a Educao Fsica, ao trazer diferentes ideologias em determinados momentos
histricos, no pode ser considerada uma prtica politicamente neutra.
A educao fsica tem assumido diferentes objetivos, desde treinamento militar,
higienista, eugenista, nacionalismo, preparao de atletas, entre outros.
No pretendemos desenvolver um estudo histrico, apenas realizar um breve panorama da histria da Educao
Fsica, com o nico objetivo de contextualiz-la, mostrando que ela sempre atendeu a diferentes interesses, em
cada momento histrico.
6
Os anos de 1980 aparecem como o nascimento de concepes e prticas libertadoras, transformadoras na
perspectiva de desenvolver uma Educao Fsica voltada para o humano e no mais para as necessidades do
capital. (CAPARROZ, 2007, p. 9).
731
A concepo Crtico-Superadora, de base marxista, ancorada na pedagogia histricocrtica (SAVIANI, 2011), prope um ensino que atenda aos interesses da classe trabalhadora.
Foi amplamente divulgada pela obra Metodologia do ensino da educao fsica (SOARES, et
al., 1992), conhecida tambm como coletivo de autores.
A obra em questo discute a necessidade de superao da sociedade capitalista,
entendendo que o currculo, ao invs de se voltar para a prtica na Educao Fsica escolar,
7
De acordo com Bracht (1999), a crise de identidade da educao fsica originou-se devido falta da definio
do seu objeto de ensino, da ausncia de definio clara da sua especificidade.
8
Toda a discusso realizada no campo da pedagogia sobre o carter reprodutor da escola e sobre as
possibilidades de sua contribuio para uma transformao radical da sociedade capitalista foi absorvida pela EF.
A dcada de 1980 foi fortemente marcada por essa influncia, constituindo-se aos poucos uma corrente que
inicialmente foi chamada de revolucionria, mas que tambm foi denominada de crtica e progressista.
(BRACHT, 1999, p. 78).
732
deve proporcionar aos alunos, como objeto de ensino da rea, os temas da cultura corporal 9:
jogos, esporte, ginstica, lutas e danas, com vistas a uma anlise crtica dessas prticas
corporais. Nessa linha de pensamento, a educao fsica deve propiciar um [...] tratamento
pedaggico aos temas da cultura corporal, reconhecendo-os como dotados de significado e
sentido, porquanto construdos historicamente. (CASTELLANI FILHO, 1997, p. 12).
Para Soares et al.(1992, p. 39), essencial que o aluno perceba que [...] o homem no
nasceu pulando, jogando etc. Todas essas atividades corporais foram construdas em
determinadas pocas histricas, como respostas a determinados estmulos, desafios ou
necessidades humanas. Ainda conforme os autores, na mesma obra, [...] se afirma que a
materialidade corprea foi historicamente construda e, portanto, existe uma cultura corporal,
resultado de conhecimentos socialmente produzidos e historicamente acumulados pela
humanidade que precisam ser retraados e transmitidos para os alunos da escola. (p. 39).
Portanto, sob a tica Crtico-Superadora, a Educao Fsica tem como objetivo fazer o
educando experimentar diferentes manifestaes corporais, com a finalidade de entender
como esto presentes na sociedade, bem como analisar os motivos pelos quais determinadas
manifestaes so privilegiadas socialmente, em detrimento de outras.
Por outro lado, a concepo Crtico-Emancipatria10, com base na sociologia e na
filosofia, tem como principal expoente Elenor Kunz. Seu foco o ensino do esporte por meio
da transformao didtico-pedaggica. Seu objetivo contribuir para a reflexo crtica e
emancipatria dos alunos.
De acordo com Kunz (1994),
O aluno enquanto sujeito do processo de ensino deve ser capacitado para sua
vida social, cultural e esportiva, o que significa no somente a aquisio de
uma capacidade de ao funcional, mas a capacidade de conhecer,
reconhecer e problematizar sentidos e significados nesta vida atravs da
reflexo crtica (KUNZ, 1994, p.31).
A cultura corporal uma parte do homem. configurada por um acervo de conhecimento, socialmente
construdo e historicamente determinado, a partir de atividades que materializam as relaes mltiplas entre
experincias ideolgicas, polticas, filosficas e sociais e os sentidos ldicos, estticos, artsticos, agonistas,
competitivos ou outros, relacionados realidade, s necessidades e as motivaes do homem. A Educao Fsica
estuda o contedo da cultura corporal com o objetivo fundamental de explicar criticamente a especificidade
histrica e cultural dessas prticas e participar de forma criativa, individual e coletiva, na construo de uma
cultura popular progressiva, superadora da cultura de classes dominantes.(SOARES et al., 2009, p. 127-128,
grifo dos autores).
10
Segundo Bracht (1999), a concepo Crtico-Emancipatria tem influncia da pedagogia de Paulo Freire, da
fenomenologia de Merleau-Ponty e contribuies da Escola de Frankfurt. Tal concepo, mesmo caracterizada
como crtica, que valoriza a emancipao e a autonomia do indivduo, difere da proposta Crtico-Superadora,
uma vez que analisa as questes referentes a educao alm da anlise marxista, isto , no leva em considerao
apenas a estrutura econmica capitalista.
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Alguns apontamentos
Iniciamos uma discusso sobre a formao inicial de professores de educao fsica
para analisar se tal formao contribui para que o futuro docente possa pensar na seleo e na
distribuio dos conhecimentos no currculo para a educao bsica, levando em considerao
as contribuies da teoria crtica do currculo.
13
Exceo para os cursos no perodo noturno, em que a Educao Fsica facultativa (BRASIL, 1996).
O entendimento de contedo em Educao Fsica foi marcado (meados da dcada de 1980) pela ideia de
atividade, no caso, de uma atividade fsica. Enquanto em outras disciplinas escolares o contedo sempre foi
entendido como um conhecimento de carter conceitual, na Educao Fsica, ele era visto como uma atividade.
Essa atividade, qual os alunos deveriam ser submetidos, tinha como principal objetivo melhorar a aptido fsica
(com suas implicaes para a sade), alm de influir no comportamento, moldando o carter dos alunos. A
atividade fsica mobilizada para atingir esses objetivos (os chamados meios da Educao Fsica) assumiu
diferentes formas, como a ginstica, as lutas, os jogos e os esportes. (BRACHT, 2010, p.1).
14
735
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738
1
2
Mestre em Educao; professora da graduao de Artes Cnicas e Dana da UEMS; coordenadora artstica.
Doutora em Educao; professora do PPGE da Universidade Catlica Dom Bosco.
739
constituio docente liga-se ideia de inacabamento; tem incio e nunca tem fim. inconcluso.
Podemos, tambm, compreender a formao inicial como aquela que diz respeito aquisio
de conhecimentos e que oferece a titulao necessria para que se comprove sua
profissionalidade. a [...]formao primeira, aquela que habilita profissionalmente, que
permite a insero no campo profissional da docncia na educao bsica, assegurada pela
respectiva titulao legal. (BORGES, 2010, p. 53).
J a formao continuada pode ser compreendida como quela relacionada s atividades
formativas desenvolvidas pelo profissional que j possui titulao, que lhe foi conferida na
formao inicial, esteja este no exerccio da profisso ou no, como afirma Lagar (2011). Para
essa autora, so exemplos de formao continuada a participao em eventos, tais como:
congressos, colquios, seminrios; cursos promovidos pelas secretarias de Educao e outras
atividades ou cursos que os professores realizam visando ao aperfeioamento profissional.
Nesse sentido, a Licenciatura em Artes Cnicas e Dana (Ac e D) da Universidade Estadual do
Mato Grosso do Sul (UEMS) pode ser considerada, para alguns dos seus alunos que j possuam
uma graduao anterior, como formao continuada.
Maurice Tardif (2002), na obra intitulada Saberes Docentes e Formao Profissional,
discorre a respeito dos saberes docentes e a sua relao com a formao profissional dos
professores e, ainda, com o prprio exerccio da docncia. Esse autor destaca, a partir de
pesquisas realizadas com o propsito de compreender qual a natureza desses saberes, [...] que
o saber docente um saber plural, formado de diversos saberes provenientes das instituies de
formao, da formao profissional, dos currculos e da prtica cotidiana. (TARDIF, 2002,
p.54). Assim, possvel afirmar que a aprendizagem da profisso docente no se esgota nos
cursos de formao para o magistrio, sejam eles em nvel mdio ou superior. Os saberes
disciplinares, curriculares e da formao profissional so transmitidos durante a formao
inicial e tambm na continuada. Mas, o professor no aprende a docncia apenas em espaos
formalmente organizados para esse fim. A experincia docente, os desafios do cotidiano da
escola so, igualmente, um importante lugar de formao do professor. Existe, pois, um saber
especfico da docncia que o resultado da juno de todos esses outros e que se fundamenta e
se legitima no fazer cotidiano da profisso.
Alm desses momentos de formao do professor, existe outro, extremamente marcante
na vida profissional, onde ele constri seus saberes docentes por meio da observao e vivncia
no ambiente escolar quando aluno da educao bsica. Ao longo desse tempo, observando o
dia a dia da escola, os alunos vo construindo suas concepes sobre como ensinar, sobre o que
ser professor e ser aluno, a rotina da escola, as matrias importantes, entre outras concepes
740
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que
esse
profissional
seja
formado
para
inquietar-se,
questionar
742
comum, na ajuda a cruzar fronteiras do bvio, nos auxilia a deixar de pertencer massa amorfa
de pessoas identicamente alijadas dos processos de construo do mundo.
E para formar um professor nessa perspectiva, entendemos, com Nvoa (2009, p.228),
que [...] os programas de formao devem desenvolver trs famlias de competncias: saber
relacionar e saber relacionar-se, saber organizar e saber organizar-se, saber analisar e saber
analisar-se.
743
744
745
Grfico 1: Faixa Etria dos acadmicos do curso de Artes Cnicas e Dana da UEMS, no ano
de 2013
Faixa Etria
12
19
11
12
17-21 anos
22-26 anos
27-31 anos
32-36 anos
Mais de 37 anos
Interessava-nos saber, tambm, de onde vieram esses alunos. O interesse por essa
questo veio de nossa experincia no dia-a-dia quando percebemos que havia uma diversidade
de alunos quanto regio de origem e residncia, o que, a princpio, julgvamos ter interferncia
no seu bem-estar com relao os estudos e, consequentemente, no trabalho. Para isso,
perguntamos onde atualmente moravam, e encontramos trs alunos, dos 61 entrevistados, que
moravam no interior do estado, e que viajavam semanalmente ou diariamente at a capital para
fazer a Graduao. Vimos que 31 alunos eram naturais de Campo Grande, 12 do interior do
estado e 18 de outros estados brasileiros que chegaram a UEMS via ENEM.
Em outro momento do questionrio, nosso interesse foi investigar sobre as experincias
artstica e docente desses alunos antes de entrarem no Curso. Essa questo nos interessava
porque percebamos, em nossa experincia cotidiana, que havia alunos com essa experincia.
Os resultados mostraram que 32 participantes j ministravam ou ministram aulas no ensino noformal e informal, 16 no haviam vivenciado a docncia em nenhuma modalidade de ensino e
13 no responderam a essa questo.
Quando a pergunta foi sobre suas experincias como ator e/ou bailarino, antes de
chegarem ao Curso, 22 responderam que atuavam com as linguagens de Teatro e/ou Dana por
at cinco anos; 20 alunos disseram j ter experincia na rea h mais de cinco anos; e 19 no
responderam.
746
12
12
30
22
Ator profissional
Ator amador
Bailarino profissional
Bailarino amador
Tambm nos interessava investigar se j praticavam algum tipo de arte e por quanto
tempo. O resultado pode ser visto no grfico 3.
Grfico 3: Tempo de prtica artstica em Dana e Teatro dos acadmicos do Curso de Artes
cnicas e Dana da UEMS (2013).
747
Acima de 11 anos
17
6 a 10 anos
15
2 a 5 anos
15
1 ano
6
0
10
12
14
16
18
Consideraes finais
748
Referncias
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749
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n. 2, 27-40, jul./dez. 2011
750
Resumo
A proposta deste texto fomentar a reflexo sobre a importncia da fundamentao histrica
na formao de professores, com o intuito de consubstanciar a discusso sobre aes do
Projeto de Pesquisa Dilogos e Acompanhamento: itinerrios para a formao de professores
iniciantes do Estado de Mato Grosso do Sul, a partir da categoria organizao do trabalho
didtico. A anlise tem como categoria central o trabalho, j que a categoria organizao do
trabalho didtico subordinada a esta. Avalia-se que, ao se negligenciar o processo histrico
corre-se o risco de cair no anacronismo e produzir uma percepo parcial do entendimento do
trabalho na educao no seu sentido ontolgico. Em decorrncia disto resulta, entre outras
necessidades, a de se investigar as lacunas entre a formao acadmica e a iniciao do
docente em sala de aula, dos professores iniciantes em licenciatura e em Pedagogia, seus
dilemas iniciais e suas dvidas relacionadas prtica docente.
Abstract:
The purpose of this text is to foster reflection on the importance of the historical foundation in
teacher training, in order to substantiate the discussion on actions of the Research Project
"Dialogues and Monitoring: itineraries for the formation of beginning teachers the state of
Mato Grosso do south "from the category" organization of educational work." The analysis is
central category work since the organization of the teaching work category is subordinate to
this. It is estimated that by neglecting the historical process runs the risk of falling into
anachronism and produce a partial perception of the work in understanding education in its
ontological sense. As a result resulting, among other needs, to investigate the gaps between
academic training and the initiation of teaching in the classroom, the beginning teachers in
degree and in pedagogy, their dilemmas and their initial questions related to the teaching
practice.
751
Introduo:
Este trabalho visa discutir a importncia da histrica da/na formao de professores,
tendo como referncia as necessidades sociais do nosso tempo, que demandam por uma nova
discusso categrica entre o trabalho e a educao. Para tanto faz-se necessrio compreender
aspectos importantes na produo terica em torno da temtica formao de professores.
importante destacar que a categoria terica a organizao do trabalho didtico
(ALVES, 2012) tem um papel central na percepo sobre as lacunas entre a formao
acadmica e a iniciao do docente em sala de aula, seus dilemas iniciais e suas dvidas
relacionadas prtica docente.
Com este entendimento, desencadeamos no decorrer do desenvolvimento da pesquisa
Dilogos e acompanhamento: itinerrios para a formao de professores iniciantes no Estado
de Mato Grosso do Sul, a nossa proposta de trabalho com os alunos iniciantes em
licenciatura e em Pedagogia, coordenado pela Prof. Dra. Eliane Greice DAvano Nogueira,
da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul/UEMS. A pesquisa foi dividida em trs
eixos temticos, que foram desenvolvidos em 09 (nove) meses, sendo o primeiro deles,
Identidade profissional (02 encontros), o segundo, Trabalho Docente (02 encontros) e o
terceiro, Prtica Pedaggica (04 encontros).
De acordo com os proponentes j anunciados, tais eixos tinham como proposta
metodolgica, estimular os professores iniciantes a compor narrativas autobiogrficas sobre
os seus processos formativos e prticas docentes, como forma de capacit-los para a produo
de novos conhecimentos, criando circunstancias reflexivas sobre o cotidiano escolar, tanto na
prtica pedaggica quanto no processo formativo. Na compreenso dos pesquisadores:
"Os desafios que so postos diante desse propsito insistem em estimular os
professores a tomarem conscincia dos saberes de que so portadores e que,
por vezes, no conseguem reconhec-los, e apontar para a necessidade de se
considerar e reconsiderar alguns conceitos, bem como o uso social que deles
se faz no universo profissional dos professores. Dentro desse universo amplo
da formao de professores, inaugura-se aquele voltado aos professores
iniciantes, j que o comeo de qualquer atividade profissional tem suas
particularidades, desafios, incertezas e angstias ligadas sensao de temor
e insegurana iniciais." (NOGUEIRA; ALMEIDA; MELIN, 2011, p. 36-37)
752
sujeito, que pode se apropriar dos conhecimentos cientficos como forma de transformar a sua
condio de trabalho, no movimento da organizao do trabalho didtico.
nesse contexto acreditamos na nossa contribuio para a construo do dilogo
terico-metodolgico, propondo uma articulao entre teoria e prtica na formao inicial e
no exerccio profissional da docncia, conhecer os elementos da herana formadora que nos
permitem continuar construindo e oferecer alternativas de inovao e mudana s politicas e
praticas de formao (IMBERNN, 2010, p. 13).
Nessa perspectiva, que ns compreendemos a importncia de criar as condies
para o professor iniciante entender o que a escola moderna. Esta foi pensada na organizao
manufatureira do trabalho, e concebida por Joo Ams Comenius (1592- 1670) Bispo da
regio da Morvia no sculo XVII. Esta compreenso refora o carter histrico e filosfico
das contradies reais existente entre o trabalho e a educao, contribuindo para que o
professor iniciante entenda o seu papel nesse contexto, no reduzindo a sua prtica docente a
uma mera reproduo de conhecimentos.
Como ponto de partida desse esforo reflexivo, tomamos fundamentos os escritos
dos seguintes textos: A produo da escola pblica contempornea e O trabalho didtico na
escola moderna: formas histricas, ambos produzidos pelo professor Gilberto Luiz Alves, e,
os pressupostos ontolgicos e histricos contidos nas obras de Karl Marx e Friedrich Engels
na prospeco da sociedade capitalista, no entendimento do homem, enquanto ser social.
Portanto, pretendemos contribuir para o debate que envolva a formao do professor iniciante
na perspectiva de entend-la em sua totalidade.
753
nova relao educativa: um preceptor que tinha sob a sua responsabilidade um discpulo ou
um pequeno grupo de discpulos, nesse momento, passaria necessariamente para um professor
que deveria se dirigir a um coletivo numeroso de estudantes.
Comenius est na origem da escola moderna. A ele, mais do que nenhum
outro, coube o mrito de conceb-la. Nessa empreitada, foi impregnado pela
clareza de que o estabelecimento escolar deveria ser pensado como uma
oficina de homens; foi tomado pela convico de que a escola deveria fundar
a sua organizao tendo como parmetro as artes (ALVES, 2004, p. 81).
Nesse sentido, tendo como base o trao distintivo da manufatura, que foi a diviso do
trabalho, postula uma forma de organizao do trabalho didtico em que aposta no
instrumento, pois dados os limites impostos pela sociedade, poca, era impossvel pensar a
expanso dos servios educacionais sem romper com a base herdada do artesanato. Nessa
perspectiva, faz-se mister reconhecer que a organizao pensada por Comenius respondeu a
uma necessidade imperativa do seu tempo: um mtodo pedaggico econmico, rpido e sem
fadiga, e frise-se, na proposta comeniana no instrumento que se deposita a responsabilidade
maior pela transmisso do conhecimento.
Surgia um novo instrumento de trabalho do professor: o manual didtico.
Quanto sua forma e sua funo, essa nova tecnologia educacional
distinguia-se tanto dos livros clssicos, at ento muito caros e pouco
universalizados como decorrncia dos limites prprios da produo
manufatureira, como das antologias, subprodutos escolares dos livros
clssicos, pois nestes selecionavam os estratos que as compunham. O
manual didtico surgiu com a pretenso de consubstanciar uma sntese dos
conhecimentos humanos sob uma forma mais adequada ao desenvolvimento
e assimilao da criana e do jovem. Especializou-se, tambm, em funo
dos nveis de escolarizao e das reas de conhecimento, multiplicando-se da
mesma forma que os instrumentos de trabalho, dentro a oficina, que, por
fora da diviso do trabalho, ganharam as configuraes mais adequadas s
754
Tal instrumento, alm de trazer os contedos a serem ensinados aos alunos, portanto,
representando uma dimenso da transposio didtica, denotaria tambm, o papel da figura a
ele atrelada - o professor. Nessa perspectiva, pode-se inferir duas qualidades do instrumento
pensado por Comenius: seu carter prescritivo, j que traz as orientaes tcnicas para o seu
uso com os alunos e, seu carter excludente, j que a formao do professor no lhe permitiria
avanar para alm do contemplado por esta tecnologia.
Para tanto debruou-se sobre os textos de Gilberto Luiz Alves relativos
organizao do trabalho didtico e como este se realiza no interior da universidade nos nossos
dias. Contemplou-se tambm alguns aspectos necessrios compreenso da categoria
trabalho e educao, tendo como referncia o texto, Trabalho e Educao: fundamentos
ontolgicos e histricos (SAVIANI, 2007).
O fato que a forma de organizao do trabalho didtico fundada por Comenius no
sculo XVII, sob a inspirao da organizao manufatureira, se cristalizou e ainda submete o
dia a dia das escolas e das universidades pblicas e privadas. Perguntamo-nos, ento: como
ela concebida pelo professor iniciante?
755
fundamental para a manuteno das necessidades humanas que repousam agora na mais
refinada ciso da unidade entre trabalho e educao.
Estamos, a partir desse momento, diante do processo de institucionalizao
da educao, correlato do processo de surgimento da sociedade de classes
que, por sua vez, tem a ver com o processo de aprofundamento da diviso do
trabalho. Assim, se nas sociedades primitivas, caracterizadas pelo modo
coletivo de produo da existncia humana, a educao consistia numa ao
desenvolvida pelo homem, coincidindo inteiramente com o processo de
trabalho que era comum a todos os membros da comunidade, com a diviso
dos homens em classes a educao tambm resulta dividida; diferencia-se,
em consequncia, a educao destinada classe dominante daquela a que
tem acesso a classe dominada. E a que se localiza a origem da escola. A
educao dos membros da classe que dispe de cio, de lazer, de tempo livre
passa a organizar-se na forma escolar, contrapondo-se educao da
maioria, que continua a coincidir com o processo de trabalho (SAVIANI,
207, p. 155-156).
756
Nesse sentido, perseguir uma proposta de escola pblica que almeja ensinar tudo a
todos, de forma crtica, passa prioritariamente pela compreenso da matriz terica ensejada,
no entendimento dos desafios da relao entre educador e o educando, captando o movimento
do processo de produo material e intelectual para compreendermos a objetivao e a
simplificao do trabalho didtico no interior das instituies educacionais, na relao entre
trabalho e a educao.
Portanto, se faz necessria a superao da organizao manufatureira do trabalho
didtico, passando pela agregao das novas funes que so incorporadas no dia a dia ao
binmio trabalho-educao. Caso contrrio, padeceremos dos discursos alvissareiros
determinados por novas necessidades sociais ao seu fazer pedaggico.
757
758
759
Referncias:
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SHIROMA, E. O. Poltica Educacional. 4. Ed. Rio de Janeiro. Lamparina, 2007.
760
Resumo: Este artigo apresenta a concepo de infncia e de criana de professores da Educao Infantil e
acadmicos de Pedagogia, tendo em vista a concepo entre pensadores e pesquisadores do assunto. O
trabalho se justifica porque acreditamos que papel das Instituies de Ensino Superior no Curso de
Pedagogia desenvolver uma ampla discusso que fundamente a noo do que venha a ser infncia e criana e
as implicaes desta conceituao para o trabalho pedaggico. Pensamos ainda ser de responsabilidade, tanto
da escola, quanto das universidades desenvolverem um trabalho que conduza professores e futuros
professores a transformao de certas representaes mentais em concepes tericas, o que supe uma
abordagem epistemolgica de um determinado assunto. Para tanto preciso conhecer e entender o que
infncia e o que a criana, e recorremos a estudos que norteiam esse artigo sobre a histria e produo da
infncia bem como a apropriao de conceitos que nos ajudaram a compreender como esse acontecimento
marca uma importante etapa em nossas vidas. Dessa forma, o objetivo deste estudo ento foi investigar e
analisar a concepo de infncia e de criana de professores de Educao Infantil e futuros professores
Curso de Pedagogia/Universidade Federal em Aquidauana/Mato Grosso do Sul. Para isso, nos propusemos a
investigar e entender os critrios utilizados pelos mesmos para conceituarem infncia e criana. O resultado,
por meio dos dados obtidos, aponta que as concepes de infncia e de criana dos professores de Educao
Infantil e dos acadmicos de Pedagogia se pautam, sobretudo, em suas experincias cotidianas e se afastam
das reflexes de tericos e pesquisadores da rea em questo.
Mestre em Educao pela Universidade Catlica Dom Bosco. Professora da Universidade Federal de Mato Grosso do
Sul-CPAQ, Pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Formao Interdisciplinar de Professores
GEPFIP/UFMS/CPAQ e integrante do Grupo que Coordena o LIFE (Laboratrio Interdisciplinar de Formao de
Educadores CPAQ/UFMS). [email protected]
761
out that the results are based, mostly, on the involved teachers and scholars daily experiences and is far from
the thinkers and researchers considerations about this issue.
KEYWORDS: Conception, Childhood, Child
INTRODUO
O intuito deste estudo apresentar a concepo de infncia e de criana de professores da
Educao Infantil e acadmicos de Pedagogia, comparando com a concepo sobre este conceito de
pensadores e pesquisadores do assunto.
Acreditamos, dessa forma, que papel das Instituies de Ensino Superior no Curso de
Pedagogia desenvolver um trabalho que fundamente a noo do que venha a ser infncia e criana e
suas implicaes para a prtica pedaggica. Pensamos ser de responsabilidade das universidades
desenvolverem um debate que conduza professores e acadmicos transformao de certas
representaes mentais em conceitos apoiados teoricamente, o que supe a abordagem
epistemolgica de um determinado assunto. Para tanto, preciso conhecer como esses professores
de educao Infantil e acadmicos pensam a respeito desses conceitos.
Percebemos, no entanto, que professores e acadmicos encontram obstculos em
construrem suas concepes para explicarem realidades com argumentos que vo alm do senso
comum, sobretudo nos casos em que os mesmos so de natureza social, como caso do conceito de
infncia e de criana, principalmente marcado pela cultura.
Os conceitos e, mais tarde, as concepes so formados por processos contnuos de
abstrao de elementos comuns a determinados objetos, fatos ou situaes, constituindo
representaes mentais em que se identificam aspectos partilhados por atributos dos mesmos.
Lomnaco (2001), no entanto, salienta que os conceitos no se desenvolvem isoladamente, mas
dentro de uma estrutura relacional com outros conceitos.
Para Lomnaco (2001), o conhecimento que as pessoas j tm do mundo que as cerca,
adquirido na famlia ou em outros grupos sociais, constitui uma teoria do sujeito a respeito de
aspectos de mundo. Assim, na medida em que aquilo que ele j sabe se defronta com o
conhecimento sistematizado pela cincia, possvel uma compreenso mais abrangente e mais
consistente, levando construo de concepes no sentido estrito. Em seus estudos e pesquisas,
Lomnaco (2001), reproduz o trabalho de Keil (1989) registrando que os domnios conceituais so
unificados por uma teoria de crenas em relao a vrios outros conceitos.
762
763
destes perodos existenciais. Quando, ento, se trata deste assunto na psicologia da educao
moderna necessrio considerar quatro pontos fundamentais: a significao da infncia, a estrutura
do pensamento da criana, as leis de desenvolvimento e o mecanismo da vida social infantil.
A viso antropolgica destaca a existncia de uma infncia heterognea, analisando as
diferenas encontradas e a influncia de contextos especficos na edificao da diversidade. Isso
demonstra as diferentes infncias vividas num mesmo espao e tempo, refletindo os paradoxos
experimentados pelas crianas (CARVALHO, 2003, p. 41).
Pesquisando a sociologia da infncia, podemos apontar que as crianas so atores sociais
porque interagem com as outras pessoas, com as instituies, reagem frente aos adultos e
desenvolvem estratgias de luta para participar no mundo social.
Postman (1999) aponta que a ideia de infncia passou por muitas vertentes. Ele registra
tambm no histrico da infncia, que as melhores histrias produzidas, sobre qualquer coisa, so
feitas quando seus conceitos esto em declnio e uma nova fase est se desenvolvendo. Como
acontece com a noo de infncia, no pelo seu desaparecimento, mas sim, pela mudana das
referncias pautadas para conceitu-la. O autor acentua ainda uma crise no conceito de infncia e
destaca que a "cultura" infantil ganhou uma nova roupagem na sociedade contempornea, alterando,
dessa forma, as caractersticas prprias como a vestimenta, a alimentao, a linguagem e
principalmente as brincadeiras.
Assim, ao buscarmos uma definio para a questo da infncia e da criana, preciso uma
contextualizao sobre a poca em que vamos nos embasar, e quais referncias vo ser usadas para
pensar e escrever tal conceito, incluindo a classe social e a raa. Podemos dizer, ento, que ser
criana na sociedade contempornea muito diferente de ser criana nos perodos histricos
anteriores.
Para tanto, o conceito de infncia e de criana se definem por uma base terica e
essencialmente histrica e social, de acordo com elementos ambientais, temporais, polticos,
econmicos, dentre outros. Assim, procuramos compreender a forma pelas quais os professores de
Educao Infantil e os acadmicos de Pedagogia no ltimo semestre, lidam, pensam e convivem
com o conceito em questo, com todos os componentes que os mesmos carregam ao longo de suas
histrias.
764
765
maior de equilibrao supe construir um novo conceito ou ampli-lo. Dessa forma, na teoria de
Piaget, segundo Chiarottino (1988, p.23) no h lugar para uma oposio ou contradio entre o
conhecimento (necessrio e universal) e o saber contingente, ou a sabedoria popular ou de povos
que no construram cincia, ou seja, o aparecimento da capacidade de distinguir o significado do
significante condio necessria para que se aprenda; para Piaget, inserir algo numa estrutura,
poder encaixar alguma coisa num todo organizado. Neste sentido, Piaget aponta que ao estruturar o
mundo o fazemos por meio de relaes que estabelecemos com objetos, fatos e ou situaes. Tais
relaes podem ser de duas ordens: as contingentes e as necessrias. Vale ressaltar que elas se
assemelham ao que Lomnaco (1996) retrata, respectivamente, como aspecto caracterstico e
definidor dos conceitos.
Outra abordagem que nos ajuda a compreender o processo de construo de conceitos a
histrico-cultural. Vygotsky (1987) protagonizou esta abordagem afirmando que a internalizao de
significados vai depender da interao social, o que nos leva a concluir o fundamental papel das
relaes dialgicas. Para ele a compreenso de formulaes tericas acerca do processo de
desenvolvimento dos conceitos (por ele denominado cientfico ou verdadeiro) implica o
conhecimento dos modos como postula a relao entre pensamento e linguagem. Vygotsky (1987,
p.109) procura demonstrar e descrever as razes genticas do pensamento e da fala, no plano
filogentico quanto no ontogentico. Seguindo as ideias de Vygotsky, Prado Jr (1979, p.98) acentua
que o conceito ou o significado , por assim dizer, uma relao, ou seja, uma representao
abstrada encarnada na palavra. Para Vygotsky, o significado da palavra uma espcie de
molcula do pensamento verbal, pois sendo este o elemento interno da palavra, ele , ao mesmo
tempo, pensamento e palavra, que antes de tudo uma generalizao, sendo assim, um ato verbal de
pensamento.
Podemos ento dizer que, para Vygotsky, os conceitos se formam na medida em que, por
um processo de mediao, as generalizaes e abstraes expressas na linguagem vo sendo
internalizadas pelo sujeito. Esse processo ocorre no nvel dos conceitos espontneos e se transforma
na medida em que a criana entra em contato com o conhecimento sistematizado, ou seja, cientfico.
nesta fuso que os conceitos vo se constituindo pelo sujeito. Ao longo desse processo, a
construo das generalizaes e abstraes lenta e passa por vrias etapas, em que predominam o
sincretismo e agrupamentos com base em relaes fortuitas, o que poderia ser comparado aos
aspectos caractersticos propostos por Keil (1989).
Tunes registrou que para Vygotsky,
6
766
767
modo, torna-se difcil afirmar que uma criana teve ou no infncia. Para Kuhlmann (1998), seria
melhor perguntar como , ou como foi, sua infncia, pois geralmente se associa o no ter infncia
a uma caracterstica das crianas pobres e, por isso, para o autor, o significado de infncia se torna
imediatamente abstrato.
Os sujeitos da pesquisa foram ao todo 04 acadmicas de Pedagogia (ltimo semestre) e 02
professoras da Educao Infantil (Pr - escola), agrupados da seguinte forma:
Grupo 1 - Acadmicas do Curso de Pedagogia 7 semestre (CPAQ/UFMS
Aquidauana/MS)
Grupo 2 - Professoras que atuam como regente na Educao Infantil na Rede Municipal de
Ensino (com no mnimo um ano de experincia).
Os sujeitos foram entrevistados individualmente, conforme o roteiro descrito a seguir.
Para a anlise do conceito de criana e de infncia procuramos apresentar figuras
combinando aspectos definidores e caractersticos das concepes pesquisadas. No primeiro
momento, foram apresentadas imagens de diferentes crianas em vrios momentos de infncia,
sendo as imagens acompanhadas com os seguintes questionamentos:
1)
O que voc consegue ver nestas imagens? Figuras 1 e 2 depois figuras 3 e 4 e, por
fim, as figuras 5 e 6.
2)
Das imagens apresentadas, quais delas representam para voc uma infncia?
3)
768
5)
Histrias:
I-
Em um bairro de classe mdia de uma capital brasileira reside uma famlia composta por um
casal de pais e por dois filhos. Os pais trabalham no comrcio local e fazem uma jornada de oito
horas; as crianas, um menino de nove anos e outro de seis, durante a manh ficam com uma tia
materna, brincando o tempo todo; tarde vo para a escola. Quando os pais retornam do trabalho,
preparam o jantar enquanto as crianas fazem suas tarefas escolares e brincam mais um pouco; aps
o jantar, a famlia se rene para assistirem televiso e depois dormirem.
II-
Na periferia desta mesma capital mora uma famlia tambm composta por quatro pessoas, os
pais e um casal de filhos, sendo um garoto de oito anos e uma garota de sete. O pai sai todos os dias
de casa s 5 horas da manh para catar material reciclvel, levando consigo o menino, s vezes
retornam s tarde e preciso faltar s aulas. A me empregada domstica e tambm sai de
madrugada para pegar dois nibus at chegar ao trabalho, fica o dia todo no emprego. A garota,
durante a manh, ajuda a cuidar o beb de sua tia, almoa por l e tarde vai escola. noite,
quando todos retornam a casa, preparam algo para comer e depois deitam para descansar e dormir.
DESCRIO E ANLISE DOS RESULTADOS:
A interpretao das figuras
Ao apresentarmos as Figuras 1 e 2 e perguntarmos sobre o que conseguiam observar, duas
acadmicas do Grupo 1 afirmaram que as crianas esto trabalhando nas duas figuras, divergindo da
opinio das outras duas acadmicas, que viram, na figura 1, lazer, diverso e tambm uma famlia
estruturada e, na figura 2, trabalho, apenas trabalho.
J o Grupo 2, das professoras de Educao Infantil, as respostas so praticamente idnticas,
narram que nas duas figuras o que conseguem visualizar informao de trabalho infantil.
Notamos que algumas respostas trazem a imagem de trabalho infantil e as concepes
estavam ligadas ao fator econmico, ou seja, classe social, apontando que a criana pobre trabalha
e pouco tempo tem para brincar.
9
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770
perspectiva, Machado nos aponta que criana um ser social, o que significa dizer que seu
desenvolvimento se d entre outros seres humanos, em um espao e tempos determinados (2004,
p.27).
Notamos que os sujeitos pesquisados marcam a criana e a infncia em relao classe
social, sendo que para elas (Professoras e Acadmicas) a criana pobre trabalha e no tem uma
infncia feliz e a rica brinca e consegue a to sonhada felicidade.
11
771
CONCLUSO
Diante do que dissemos anteriormente, os conceitos no so isolados, esto articulados em
redes, um aspecto vai dependendo de outro, dimenses do cotidiano vo sendo mediadas por
dimenses tericas e assim vo se constituindo os conceitos. Neste sentido inegvel que, embora a
construo do conceito seja feita pelo sujeito, a sua constituio depende de quanto o social
possibilita desafios que faam o mesmo avanar nesta construo. A escola e a Universidade so
espaos privilegiados para o desenvolvimento dos conceitos, na medida em que possibilitam a
interlocuo entre os aspectos particulares, trazidos pela experincia pessoal e os aspectos tericos
trazidos pelos aportes tericos.
Nesta pesquisa, as respostas apresentadas pelos sujeitos trazem experincia do cotidiano
aprendidas ao longo do tempo, pouco se viu uma fala terica sobre a infncia e a criana, pois em
nenhum momento apareceu uma referncia a um autor para situar a criana e a sua infncia.
Percebemos que esses conceitos esto ainda por definir qual real entendimento dessas categorias,
sendo visvel a necessidade do curso de formao (Pedagogia) (re)-pensar suas ementas.
Conclumos tambm que, a partir da Constituio Federal de 1988, do Estatuto da Criana e
do Adolescente de 1990 e da Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional de 1996, a criana no
Brasil passa a ser objeto de legislao sob outro enfoque que o das legislaes anteriores. Dessa
forma, os direitos sociais e fundamentais das crianas so reconhecidos como inerentes a elas,
evidenciando que, no atual contexto social brasileiro, as legislaes proclamam que a criana
reconhecida como sujeito social de direitos e que creches e pr-escolas devem ser garantidas a
todos, como dever do Estado e opo da famlia. Porm, isso tambm no apareceu nas respostas
dos sujeitos da pesquisa.
O conceito de infncia no corresponde a uma categoria universal natural, como algo sempre
igual, homognea e de significado bvio. Assim, a infncia emerge como realidade social, mediada
pela prpria sociedade.
conceitos de infncia.
Souza (2007) afirma que brincar uma maneira das crianas serem no mundo e o modo
pelo qual constroem sua cultura e suas histrias, contudo, nem todas as crianas tm tempo e espao
para o ldico. Entre essas esto tanto as crianas que ficam na rua quanto as crianas que ficam
na frente da televiso, bem como aquelas que, desde muito cedo, comeam a trabalhar.
Dessa forma, nosso estudo sugere que uma mudana qualitativa realmente acontea na
representao de conceitos pelos nveis de ensino dos sujeitos da pesquisa, de aspectos
12
772
REFERNCIAS
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14
774
TRABALHOS COMPLETOS
775
Resumo: Este texto apresenta parte da pesquisa que buscou investigar como professoras
alfabetizadoras dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental das escolas da rede municipal de
Corumb-MS se apropriam das Tecnologias de Informao e Comunicao (TICs) em sua
prtica pedaggica a partir da participao dos cursos de formao continuada. Nessa
comunicao so abordados os estudos sobre a temtica, bem como discute-se acerca dos
cursos de formao continuada oferecidos pelo Ncleo de Tecnologia (NTEC) de CorumbMS aos professores. Verificou-se que os cursos de formao continuada para a apropriao
das TICs propiciam novas formas de ensinar e aprender. Houve a ampliao de programas de
polticas pblicas que incentivam novas formas de aprendizagem dentro das escolas. No
entanto, h algumas questes a se pensar: o papel fundamental dos programas de formao
continuada do muncipio de Corumb para a insero das TICs na prtica docente, bem como
a necessidade desses programas abordarem no s de maneira geral o uso das TICs, mas de
forma diferenciada tambm para o professor alfabetizador.
Palavras-chave: TICs. Alfabetizao. Professoras.
Introduo
Atualmente a temtica acerca das Tecnologias de Informao e Comunicao (TICs)
na educao vem sendo discutida em vrias esferas da sociedade. O debate versa sobre
diferentes sujeitos, em diversas situaes, mas estas sempre apontam para todos aqueles que
vivenciam o processo da incluso das novas tecnologias e suas contribuies para o processo
de ensino-aprendizagem. Assim, faz-se necessrio analisar o posicionamento do professor
com relao apropriao das TICs dentro da escola e suas contribuies no processo de
ensino e aprendizagem do aluno.
Nesse artigo apresentamos primeiramente os estudos produzidos sobre formao
continuada, alfabetizao e as TICs. Em seguida abordamos os programas de formao
continuada oferecidos pelo Ncleo de Tecnologia (NTEC) de Corumb-MS na relao com os
programas de formao continuada nacional.
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Precisamos de inspiradores, e no de repetidores. Pessoas que tenham vida,
coisas para dizer, exemplos para dar. Educar contar uma histria, e
inscrever cada criana, cada jovem, nessa histria. fazer uma viagem pela
cultura, pelo conhecimento, pela criao (NVOA, 2010, s/p.).
importante, portanto, que seja propiciada aos professores uma formao continuada
que o leve a refletir e a interagir com as informaes, as inovaes, tendo autonomia para
pensar e repensar a sua prtica.
No levantamento de dados obtidos na Scielo no perodo de 2010 a 2014 foi localizado
um artigo que aborda a formao continuada e a insero das TICs como artefato no processo
de produo de conhecimento, no qual o professor considerado o agente mais importante
nesse processo. O artigo de Menezes (2014) derivado de uma pesquisa realizada por ele em
2008 que analisou os processos de produo de conhecimentos efetuados por professores da
educao bsica da rede estadual de Educao Bsica do Estado do Paran, que, a partir de
um sistema desenvolvido para este fim especfico, denominado de Ambiente Pedaggico
Colaborativo, sistematizaram e publicaram na Internet contedos pedaggicos relativos s
suas disciplinas de atuao. O autor discute o papel das TICs no processo de formao
continuada de professores da educao bsica - com vistas produo do conhecimento e a
sua influncia na criao e manuteno de comunidades de prtica (CoP)2.
Conforme o autor, essas comunidades levam os indivduos a construrem e a
descobrirem por meio das interaes novas aprendizagens. Com a leitura desse artigo
percebemos nessas comunidades um avano significativo na utilizao das TICs no contexto
educacional, pois permitiu que alguns professores da rede estadual de Educao Bsica do
Estado do Paran pudessem utilizar a Internet para registrarem e socializarem suas prticas
pedaggicas, e tambm suas experincias e conhecimentos relacionados s disciplinas que
lecionam.
Para Menezes (2014), os saberes docentes so difundidos e reconstrudos em variadas
situaes e interaes e a melhor maneira de outros professores apropriarem-se desses saberes
a partir do contato direto com suas experincias. No entanto, ressaltamos que a natureza
dessas interaes precisa ser problematizada, uma vez que no se trata de defender a atividade
dos professores apenas em trocas de experincias e de reflexes sobre suas prprias prticas,
ainda que se considere a importncia desse tipo de atividade formativa. Trata-se, sim, de
CoP, conceito de Comunidade de Prtica foi cunhado pelo terico organizacional Etienne Wenger como
comunidades que reuniam pessoas com responsabilidades e interesses comuns no aprendizado e principalmente
na aplicao do mesmo (MENEZES, 2014).
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4
buscar refletir sobre possibilidades que se abrem, a partir desse debate, de compreender se, e
de que forma, os professores podem ser entendidos como produtores de conhecimento.
O contato com esse artigo nos remeteu discusso de como a formao continuada de
professores importante, e que os ambientes de colaborao e interao entre professores
podem se constituir como um suporte importante nessa formao. Faz-se necessrio
considerar que os professores aprendem ao mesmo tempo em que os seus alunos e que
tambm atualizam tanto seus saberes disciplinares, quanto as suas competncias pedaggicas.
Ao realizarmos o levantamento no portal de Peridicos localizamos 24 artigos
utilizando os descritores TICs e a Formao Continuada, porm, ao acrescentamos os termos
alfabetizao e letramento combinados com o descritor TICs, identificamos duas pesquisas
que discutem essa temtica.
A pesquisa desenvolvida por Souza (2011) investigou a vivncia da cultura digital
entre professores em formao, uma vez que, no entendimento da autora, a cultura digital
alarga as formas de comunicao e o acesso informao e, principalmente, a possibilidade
de produo de conhecimento e de novas formas de ver e estar no mundo, precisando, assim
ser inserida no contexto da formao dos professores. O estudo analisa o programa Tabuleiro
digital3 e um programa de formao continuada de professores realizado no municpio de
Irec-BA. O contato com essa pesquisa trouxe reflexes quanto aos programas de formao
continuada e a insero das TICs dentro desses espaos. Pensar em formao de professores
nesse cenrio de cultura digital urgente. A autora afirma que [...] para o professor atender
s novas solicitaes que este cenrio demanda para o cumprimento de seu papel social,
carece de processo de formao mais prximo a esta nova realidade (SOUZA, 2011, p. 75).
Esse estudo contribuiu para pensar a nossa pesquisa, pois compartilhamos da mesma
compreenso de que so necessrias significativas mudanas no antigo modo de ensinar e
aprender com a chegada das novas tecnologias no mbito educacional. A autora apresenta
tambm resultados que preocupam no processo de formao tanto inicial quanto continuada,
tais como: a falta de vinculao das tecnologias com a prtica docente, oferecimento de cursos
de formao com nfase tcnica e de forma isolada, sem articulao com a prtica do
professor.
Conforme afirma Freitas (2009, p. 70) no basta oferecer aos professores cursos de
informtica instrumental, uma vez que, somente capacitar professores com esse objetivo [...]
Projeto Tabuleiro Digital desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa Educao, Comunicao e Tecnologias (GEC)
ver: http://br.groups.yahoo.com/group/gec_ufba
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6
Nesse entendimento, concordamos com Silva (2010, p. 49) ao afirmar que [...] o
processo formativo deve envolver aspectos do saber, saber-fazer e saber-ser, para desenvolver
profissionais reflexivos ou investigadores. Mudar as formas de ensinar e de aprender no
tarefa fcil, haja vista as inmeras discusses sobre essas mudanas, e mudar para a insero
das TICs na prtica pedaggica e vida pessoal de cada professor ainda um desafio maior,
principalmente para aqueles acostumados com a sua maneira de saber-fazer e de fazer sem
tecnologias, pois entendem que elas no do conta do seu fazer cotidiano.
Apropriando-se da pesquisa de Silva (2010) inferimos que, ao discutimos acerca dos
cursos de formao continuada de professores para o uso das TICs, percebemos a
necessidade, cada vez mais, de problematizar os modelos formativos voltados ao
desenvolvimento da reflexividade. Alm disso, tambm necessrio atentar para as crticas,
bem como para as novas tendncias que surgem a partir delas, focalizando a formao
continuada como espao e trabalho de coletividade docente.
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7
Por fim trazemos os trabalhos publicados nos anais das reunies nacionais da Anped
nas quais pesquisamos os GTs 08- Formao de Professores; 10- Alfabetizao, Leitura e
Escrita e 16- Educao e Comunicao. Foram localizados dois artigos que contriburam para
se pensar o presente estudo, sendo um deles, publicado em 2013 no GT 08 discute o
computador na educao e a formao docente na perspectiva de professores dos Anos
Iniciais do Ensino Fundamental. O estudo de Silva (2013) revelou necessidades, ausncia ou
insuficincia de formao docente, evidenciando que a formao para o uso do computador
no processo de ensino e aprendizagem foi considerada fundamental para os professores
participantes da pesquisa. Ao longo desse estudo necessidades formativas docentes sobre o
ensinar e o aprender com as tecnologias foram expressas com frequncia, alm de relatos
acerca da carncia ou insuficincia de formao.
O outro artigo, publicado em 2010 no GT 16, decorrente de uma pesquisa de mestrado
de autoria de Quiles (2010), investigou as Salas de Tecnologias Educacionais (STE) em todos
os seus mbitos, em seus ordenamentos espaciais e temporais, bem como a organizao das
prticas e dinmicas como tradues de alterao/produo da cultura escolar. A pesquisa
consistiu em investigar como os professores constroem alternativas para a implementao do
processo de ensino e aprendizagem frente a essas tecnologias, como se relacionam com seus
alunos e com as novas formas de construo do conhecimento.
Discusses como essas trazidas pela autora acerca das mudanas ocorridas com a
insero dos computadores na escola, e que essas alteram no s a relao de aprendizagem,
como tambm a relao entre os grupos envolvidos no processo educacional, contribuem para
a nossa pesquisa. A autora afirma que no se podem negar as mudanas nas maneiras de
ensinar e aprender desde que as TICs se fizeram presentes na sociedade atual. Nesse sentido
enfatiza-se que o acesso s tecnologias da informao e da comunicao no acontece
simplesmente com a instalao dos computadores na escola, nesse espao diferenciado, mas
pela necessidade de mediao de professores para trabalhar, acessar e interagir com essas
tecnologias no cotidiano da escola.
No artigo apresentado que o ambiente da STE proporciona ao professor novas
formas de ensinar, porm a formao para lidar com essas inovaes de extrema
necessidade. Quiles (2010, p. 12) afirma que [...] a base do desenvolvimento do trabalho do
professor na STE passa primordialmente pela sua formao, pois suas prticas dependem
diretamente da capacitao para trabalhar com os recursos disponveis nesse espao. Para
Sampaio e Leite (1999, p. 66-67), [...] realizar este empreendimento pedaggico, ou seja,
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8
vivenciar novas formas de ensinar e aprender incorporando as tecnologias requer cuidado com
a formao inicial e continuada do professor.
Reafirmando o que j apresentamos, e, tambm neste artigo, percebemos a
importncia de se discutir formao para a utilizao das TICs no processo de ensinoaprendizagem dentro da Sociedade da Informao.
Ao levantarmos os estudos que relacionam alfabetizao/letramento com TICs
percebemos que o foco centra-se em questes relacionadas com a qualidade educacional,
principalmente na fase inicial da aprendizagem da leitura e da escrita, e a insero das
tecnologias em ambientes escolares vem sendo discutida com bastante frequncia em nosso
pas.
A pesquisa de Vilas Boas (2014) teve como objetivo principal identificar se o uso do
computador com atividades voltadas para o ensino inicial da leitura e da escrita,
especificamente das correspondncias entre fonemas e grafemas, poderia colaborar, de
alguma forma, com um grupo especfico de alunos que ainda no havia atingido o nvel
alfabtico da escrita.
As crianas em fase de alfabetizao esto imersas num mundo bem distinto daquelas
que foram alfabetizadas h alguns anos atrs. As prticas de leitura e escrita esto hoje, cada
vez mais permeadas pelas tecnologias e por recursos cada vez mais inovadores e digitais.
Apropriando-se da autora, tambm acreditamos que a relao das crianas com a tecnologia, e
em especial nessa pesquisa, com as mdias digitais, contribuem com a aprendizagem e
produzem conhecimento.
As concluses da pesquisa realizada pela autora corroboram com o nosso pensamento
no qual acreditamos que possvel ensinar e alcanar uma qualidade melhor na educao
quando inclumos as tecnologias no processo de ensino e de aprendizagem dos alunos.
Conforme afirma Vilas Boas (2014, p. 9):
[...] Sabemos que no existem elementos, no delineamento da pesquisa, que
permitam estabelecer relao de causa e efeito entre o uso do software
associado s demais atividades realizadas em aula e o desempenho das
crianas. Por outro lado, natural que faamos comparaes com prticas
realizadas no primeiro semestre com o mesmo grupo de alunos em que no
foram realizadas as intervenes com as tecnologias. Dessas observaes,
constatamos que no 1 semestre, por mais que dssemos atividades
diferenciadas pautadas em recursos tipogrficos para esses alunos, eles no
conseguiam uma evoluo significativa. Os avanos visveis s ocorreram a
partir do momento em que foram submetidos s atividades no computador.
Mesmo participando de aulas de reforo extraturno no semestre anterior, o
retorno obtido com o uso do computador foi claramente mais efetivo.
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9
Analisando esta pesquisa, foi possvel perceber que mesmo no abordando questes da
formao do professor para a utilizao das TDIC, foi possvel identificar na escola em que a
pesquisa foi realizada que a competncia do professor mudou, passando a ser um incentivador
da aprendizagem e do pensamento. A autora ressalta que j est na hora de oferecermos aos
nossos alunos essas possibilidades provenientes da interao com os recursos tecnolgicos,
cotidianamente, promovendo, assim, uma maneira mais ldica e significativa de
aprendizagem, propiciando uma alfabetizao mais condizente com a realidade do sculo
XXI.
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Nesse contexto, essa palavra tem sido utilizada para designar a reunio das tecnologias de informtica e
telecomunicaes, que tambm referido, frequentemente, como Tecnologias de Informao, Educao e
Comunicao (ou IECTs Information, Education and Communication Technologies) (RELATRIO
PRELIMINAR DE AVALIAO/MEC/SEED, 2002, p. 8).
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se que vem aumentado dentro das escolas programas de polticas pblicas que incentivam
novas formas de aprendizagem; os alunos necessitam de incentivos e tambm de uma escola
mais prxima da sua realidade. Acreditamos que utilizao das TICs na sala de aula poder
auxiliar o desenvolvimento de uma educao transformadora se mediada pelo professor.
Com relao aos cursos oferecidos pelo NTEC de Corumb-MS constatamos que a
formao continuada nesse contexto fundamental, considerando-a como espao para trocas
das situaes problemticas dos professores, pois como afirma Imbernn (2010) [...] a
formao sobre situaes problemticas no contexto em que se produzem permite
compartilhar evidncias e informao e buscar solues. (IMBERNN, 2010, p. 57). No
entanto, h algumas questes a se pensar: o papel fundamental dos programas de formao
continuada do muncipio de Corumb para a insero das TICs na prtica docente; a
necessidade desses programas abordarem no s de maneira geral o uso das TICs, mas de
forma diferenciada tambm para o professor alfabetizador.
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790
GT5 Formao continuada de professores
RESUMO
Devido aos diversos idiomas falados na fronteira seca do Brasil com o Paraguai,
mais precisamente das cidades gmeas: Ponta Por e Pedro Juan Caballero e as dificuldades
que os professores da educao infantil do lado brasileiro, encontram em se comunicarem
com as crianas ditas brasileiras, mas que a lngua materna o guarani, o espanhol ou at
mesmo outro dialto encontrado na cidade vizinha, este trabalho tem como objetivo fomentar
a necessidade de cursos de capacitao para professores da educao infantil, voltados para
essa problemtica e que realmente promovam um auxlio, uma boa formao, novos
conhecimentos e que ajudem os professores a lidarem com essa situao to corriqueira e que
se torna a cada dia mais necessrio um estudo especifico sobre este assunto para que no haja
ruptura na formao da identidade da criana e respeito as diversas culturas existentes e que
esto se perdendo.
Palavras-chave:
Formao
continuada.
Professores.
Educao
Infantil.
Fronteira.
Multiculturalismo.
INTRODUO
A pesquisa realizada para a construo deste artigo, a cerca do multicuralismo na
regio de fronteira e principalmente a formao continuada para professores de Educao
Infantil (EI) do municpio de Ponta Por, se faz necessria devido ao fato de crianas que
possuem nacionalidade brasileira, mas residem no lado paraguaio e atravessam a fronteira
para estudar no Brasil, acontecer diariamente na educao bsica, ou seja, na educao
infantil, no ensino fundamental e mdio.
791
GT5 Formao continuada de professores
792
GT5 Formao continuada de professores
OBJETIVOS
O objetivo desta pesquisa compreender o processo de intercuturalidade e suas
consequncias no sistema educacional, principalmente na educao infantil, mesmo sendo um
assunto ainda pouco explorado em pesquisas cientficas. A UFMS/CPPP recebeu neste ano de
2015 o Curso de Extenso em Educao Infantil (CEEI) no qual esto aptos a participar
professores de educao infantil da rede pblica de ensino, os quais atuam na rea a pelo
menos trs anos. Como acadmicas e bolsistas da UFMS/CPPP, participamos do (CEEI),
como responsveis pela assessoria Coordenao do curso e tambm como cursistas, j
793
GT5 Formao continuada de professores
estamos na segunda turma do curso que tem por finalidade ministrar disciplinas relacionadas
a realidade vivenciada nas escolas/Centros de Educao Infantil (CEINFs), que potencializam
as prticas educativas dos professores de EI, sendo que s permitido a participao de
professores que atuam na EI no mnimo 3 anos.
A partir da convivncia com esses professores que participam e j participaram do
curso, bem como a observao dos relatos contados por eles sobre a presena de crianas que
possuem como lngua materna o guarani ou espanhol e que estudam nos CEINFs e escolas e
da dificuldade que possuem de lidar com essas situaes principalmente na educao infantil,
considerada uma das etapas mais importante na vida escolar do ser humano, constatamos a
indagao desses professores sobre o assunto e a preocupao com o ensino e aprendizagem e
da interao dessas crianas no contato com uma cultura diferente da sua, e tambm o que nos
ajudou a buscar cada vez mais novos conhecimentos sobre assuntos que envolvem a fronteira
de Ponta Por e Pedro Juan Caballero e a nossa participao no GEPEF que acontece na
UFMS/CPPP que nos fez realizar esta pesquisa para contemplar este assunto pouco explorado
pela academia.
METODOLOGIA
Para elaborao desta pesquisa utilizamos de pesquisa bibliogrfica e de campo, que
segundo Severino, 2007, p. 122-123:
A pesquisa bibliogrfica aquela que se realiza a partir do registro
disponvel, decorrente de pesquisas anteriores, em documentos impressos,
como livros, artigos, teses etc.Utiliza-se de dados ou de categorias tericas j
trabalhados por outros pesquisadores e devidamente registrados. Na pesquisa
de campo, o objetivo/fonte abordado em seu meio ambiente prprio. A
coleta dos dados feita nas condies naturais em que os fenmenos
ocorrem, sendo assim diretamente observados, sem interveno e manuseio
por parte do pesquisador.
A pesquisa bibliogrfica foi feita atravs da leitura de livros e artigos que ajudou a
fundamentar o desenvolvimento escrito da pesquisa, j a pesquisa de campo se fez atravs de
um questionrio com sete (07) questes objetivas e dissertativas, este foi aplicado cinco (05)
professores que participantes do CEEI, os professores foram selecionados aleatoriamente,
levando em considerao apenas a localizao do CEINF ou escolas onde atuam, ou seja, por
estes estarem mais prximos e outros por estarem mais distantes da faixa de fronteira. As
questes foram formuladas com objetivo de tentar entender o contexto da interculturalidade e
bilinguismo presentes nos CEINFs e escolas, observar como a questo tratada na Instituio
794
GT5 Formao continuada de professores
e analisar do interesse dos professores em relao a uma formao continuada com essa
temtica para subsidiar suas prticas educativas.
DISCUSSO E RESULTADOS
A obrigatoriedade de uma formao em nvel superior ou de uma modalidade que
qualificava o profissional de educao infantil, aconteceu aps o surgimento de algumas leis
que inseriam crianas na faixa etria de 0 a 6 anos, no sistema escolar e obrigava o Estado
oferecer instituies que atendessem essas crianas, as leis so: Constituio de 1988, o
Estatudo da Criana e do Adolescente, a Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional e a
Lei Orgnica de Assistncia Social. Antes das especificaes vigentes na Lei n. 9394/96, era
permitido que pessoas que possuam apenas o ensino fundamental trabalhassem nas
instituies de educao infantil. Historicamente essa formao vinha sendo ofertada pelos
cursos de pedagogia e o exerccio profissional, estendido aos egressos dos cursos de
magistrio, de nvel mdio e a leigos. (KISHIMOTO, 1999, p.62). Atualmente so aceitos
para atuar na educao infantil profissional que possuam o Normal Superior e o Curso
Superior de Pedagogia.
Retomando ao contexto da fronteira, a cidade de Ponta Por possui trs instituies
particulares e uma pblica que oferecem o curso de Pedagogia. Ao observar nos veculos de
comunicao presentes na internet, podemos analisar a matriz curricular de cada instituio, e
em apenas duas delas encontra-se disciplinas relacionadas intercuturalidade presente no
municpio, estas visam a formao inicial de professores e incentivar os futuros professores a
respeitar as situaes comuns no cotidiano escolar fronteirio.
De acordo com Mello (2000, p.01):
Para que a aprendizagem escolar seja uma experincia intelectualmente
estimulante e socialmente relevante, indispensvel a mediao de
professores com boa cultura geral e domnio dos conhecimentos que devem
ensinar e dos meios para faz-lo com eficcia.
795
GT5 Formao continuada de professores
preciso que alm de sua graduao o profissional de EI, que vai atuar com as
especificidades da regio de fronteira continue sempre em busca de novos conhecimentos
para entender o multiculturalismo e tudo que envolve as relaes entre Brasil e Paraguai. A
partir destes conceitos entende-se que a presena de disciplinas que caracterizam e enfocam a
formao de profissionais para atuar na EI da fronteira seca de Ponta Por e Pedro Juan
Caballero, com matrias que embasam todo o contexto de bilinguismo e interculturalidade
para que haja a naturalizao do cidado brasiguaio como so chamados os brasileiros
oriundos do Paraguai.
Quanto a busca por informaes para novos conhecimentos, nem sempre so atitudes
dos prprios profissionais de educao e sim uma imposio das instituies onde trabalham.
No entanto, a formao continuada no se faz menos importante por essa fatalidade, conforme
afirma GASQUE e COSTA, 2003, p. 55:
A formao continuada importante para que o professor se atualize
constantemente e desenvolva as competncias necessrias para atuar na
profisso. A ideia de competncia parece, ento, transbordar os limites dos
saberes, ou seja, o professor deve possuir tanto conhecimentos quanto
competncias profissionais que no se reduzem somente ao domnio dos
contedos ensinados.
Ou seja, as necessidades de formao ainda pouco explorada na rea que lide com a
forma de como os profissionais articulam e adaptam o Currculo e o Projeto Poltico
796
GT5 Formao continuada de professores
Pedaggico (PPP) das instituies de E.I com a realidade da regio de fronteira algo que
pode ajudar no processo de ensino-aprendizagem e na atuao de qualidade do professor,
sendo que a partir do momento em que ele est em constante busca de informao e
capacitao entende-se que ele tenha mais conhecimentos sobre determinados assuntos.
Conforme o que diz Nascimento, 2014, p.5:
Acreditamos que a metodologia atribuda a formao continuada em servio
no contexto potencializa o trabalho coletivo e a sistematizao de
conhecimentos didticos, d forma e orienta o trabalho colaborativo,
contribui no compartilhamento dos desafios e problemas, facilita as aes
coletivas e o comprometimento com o processo de ensino e aprendizagem,
favorece as relaes e o trabalho com a famlia, desdobrando-se para uma
educao de qualidade sentida e vivida por professores, coordenadores,
diretores, famlias, pais e gestores pblicos.
A adaptao do ambiente escolar a essas novas culturas que chegam com os alunos
brasiguaios, fazem parte de um trabalho em conjunto de toda equipe escolar, dos familiares,
da comunidade e dos rgos pblicos responsveis pela educao. importante que exista o
comprometimento de todas as partes para que o trabalho e o processo inicial de estudo sobre
as individualidades e especificidades da fronteira sejam feitos com eficincia.
DISCUSSO E RESULTADOS
Os projetos interculturais na regio de fronteira tiveram o primeiro impulso em 2008
com o Projeto Escola Intercultural Bilngue de Fronteira (PEIBF) que tinha como proposta
adequar a educao a realidade regional e logo depois o municpio de Ponta Por aderiu o
Programa Escolas Interculturais de Fronteira (PEIF), que um programa do Ministrio da
Educao (MEC) em parceria com Secretaria de Estado da Educao (SED) e as Secretarias
Municipais de Educao (SEMEDs), que tem como objetivo desenvolver um programa para a
educao fronteiria promovendo a formao integral de crianas e jovens que residem no
contexto intercultural das cidades de fronteira.
Segundo Torchi e Silva, p. 38, 2014:
no cenrio complexo das fronteiras que encontramos milhares de crianas
e adolescentes convivendo, dentro das escolas, com a diversidade de lnguas
e culturas. Diante disso faz-se necessrio pensar num currculo escolar que
contemple essa realidade possibilitando a integrao de todos os processos
educativos da escola de forma a construir um projeto poltico-pedaggico
que tenha como ponto de partida a interculturalidade.
797
GT5 Formao continuada de professores
sequncia a este ensino diferenciado cada modalidade da educao bsica trabalhe essa
questo da interculturalidade, porm importante lembrar que para este processo se
desenvolver com qualidade e bons resultados necessrio cursos para capacitao e formao
continuada desses professores que atuaro diretamente com essas crianas nos
CEINFs/escolas.
Portando como j foi mencionado anteriormente, para a realizao desta pesquisa e
fundamentao de alguns questionamentos levantados durante os estudos, elaboramos um
questionrio e aplicamos professores da rede pblica de ensino. Aps o levantamento de
dados, foi feita a observao e comparao das respostas obtidas com o questionrio.
Para a pergunta referente existncia do amparo por parte da coordenao ou direo
aos professores sobre a questo multicultural a resposta foi praticamente a mesma, pois os
professores relataram que no existe este amparo ou se existe na medida do possvel, porque
a coordenao/direo no possuem preparo pedaggico para subsidiar o trabalho docente,
muitas vezes por falta de recursos didticos, pelo municpio no oferecer preparo e at mesmo
pela falta de recursos financeiros.
Na questo que trata da interao das crianas bilngues ou que s fala guarani ou
espanhol as resposta foram bastante parecidas, porque todos os professores disseram que a
comunicao por parte do professor e tambm da criana, a interao destas crianas e a
socializao delas no ambiente escolar, so as principais dificuldades encontradas no incio do
trabalho com elas, mas que com o passar dos dias a criana j se adapta com o ambiente e
com a lngua portuguesa, principalmente na educao infantil, que onde as crianas esto
em uma idade que facilita essa adaptao. Conforme est previsto no RCNEI, v.1, p.77:
Acolher as diferentes culturas no pode se limitar s comemoraes festivas,
a eventuais apresentaes de danas tpicas ou experimentao de pratos
regionais. Estas iniciativas so interessantes e desejveis, mas no so
sufuciente para lidar com a diversidade de valores e crenas.
Para a questo que procura informaes para saber como a escola/CEINF lida com o
multiculturalismo e bilinguismo, as respostas j se divergiram, pelo fato dos professores no
trabalharem na mesma escola/CEINF, alguns disseram que integram a criana ao grupo
acreditando que a relao com o outro e a aprendizagem ir acontecer gradativamente, uns
dizem que estimulam as crianas atravs da convivncia, dos estudos e atravs da realidade do
dia-a-dia da criana, porm outros relataram que tentam receber estas crianas da melhor
forma possvel, tentando inseri-los em todas as atividades, mas sempre respeitando seus
798
GT5 Formao continuada de professores
interesses, mesmo com essas iniciativas os professores e o ambiente escolar deve se adaptar
para receber crianas com diferentes necessidades, segundo (Gasque e Costa, 2003, p.56):
Tais inovaes, consequncias da transformaes pelas quais a educao tem passado, tm
sido agregadas pela escola gradualmente e compreendem o repensar do processo de ensino e
aprendizagem.
Quanto a questo que traz a pergunta sobre o municpio ja ter oferecido ou no
alguma formao para apoio aos professores de EI que lidam com crianas bilngues, a
resposta foi respectivamente a mesma, todos afirmaram que nunca receberem nenhum
incentivo por parte do municpio. Alguns incentivos foram implantados na educao bsica de
uma forma geral, mas estes ainda no chegaram na EI. Conforme diz Teixeira e Bezerra,
2007, p. 59:
Muitas propostas tm sido feitas para oferecer s escolas a introduo de um
currculo multicultural. Entretanto, na prtica em sala de aula, a questo do
multiculturalismo pouco trabalhada por causa da falta de preparo do
professor diante da complexidade que envolve esta abordagem.
799
GT5 Formao continuada de professores
aprender novas lnguas e ento acreditam que com o passar dos dias j se adaptar. Foram trs
professores que optaram pela opo sim e dois por no.
7Na ultima questo perguntou-se qual temtica os professores acham de extrema
importncia tratar em cursos de formao continuada/especializao para professores de EI,
levando em considerao a realidade da nossa regio de fronteira. No entanto, as respostas
foram na maioria para a existncia de disciplinas que ensinem a falar o guarani e o espanhol
(pelo menos o bsico), como fazer a abordagem em relao a lngua com essas crianas, como
trabalhar com as crianas com necessidades especiais ou com outra dificuldade na educao e
o multiculturalismo, apresentar as culturas diversas dessas crianas e de como introduzir no
cotidiano das crianas brasileiras. Conforme diz Teixeira e Bezerra, 2007, p.60:
Para que a multiculturalidade seja uma prtica presente no dia-a-dia das
escolas, essa abordagem no pode transformar-se num discurso vazio, mas
deve traduzir-se em comportamentos e discusses que questionem as
concepes curriculares, sugerindo adequao s caractersticas da escola e
dos alunos. Deve-se para tanto, disponibilizar materiais variados sobre as
diferenas culturais, desenvolver aes que valorizem as diferentes etnias e
culturas, levando os alunos a repudiar todo tipo de discriminao,
desenvolver projetos pedaggicos que tenham como propostas questes
presentes no cotidiano e proporcionar cursos de formao inicial e
continuada para que os professores possam adequar suas competncias s
necessidades atuais.
Diante da anlise das respostas obtidas com o questionrio aplicado aos professores
na pesquisa, podemos entender que muitos so os aspectos que impedem a integrao e o
trabalho de ensino e aprendizagem com as crianas que so oriundas do Pedro Juan Caballero,
800
GT5 Formao continuada de professores
mas atravessam a fronteira para estudar em Ponta Por e por mais que algumas novas prticas
estejam sendo realizadas na educao bsica, como o prprio PEIF, acredita-se que a
conscientizao e erradicao destas problemticas quanto a comunicao e a culturalizao
das crianas brasiguaias na sociedade brasileira sem desrespeitar a cultura e a lngua materna
s acontecem a partir do momento que os rgos responsveis passarem a oferecer cursos de
formao/especializao para professores de educao infantil com eixos temticos que
tratem da multiculturalidade, interculturalidade e bilinguismo ou at trilinguismo das
respectivas regies.
REFERNCIAS
ALBUQUERQUE, J. L. C. SOUSA, F. A. de. Escolas de Fronteira: percebendo
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NASCIMENTO, E. R. Educao Infantil num contexto intercultural de fronteira:
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801
GT5 Formao continuada de professores
802
RESUMO
O presente artigo tem como objetivo analisar a atuao de professores dos Anos Iniciais do
Ensino Fundamental no municpio de Rio VerdeGO, participantes do Programa PrLetramento em Matemtica. O Programa oferecido pelo Ministrio da Educao (MEC) em
parceria com Universidades que integram a Rede Nacional de Formao Continuada. Parte-se
de uma reflexo terica e dos dados do estudo de campo a fim de analisar a atuao dos
professores nas sries iniciais do Ensino Fundamental. O acompanhamento aos professores
que j terminaram o curso tem evidenciado que a formao continuada insere inovaes ao
processo de ensino aprendizagem, revertendo-se em resultados positivos em sala de aula.
1. INTRODUO
803
2
No excerto acima, o autor nos deixa claro que trabalhando a formao continuada de
forma em que se contextualize uma situao dada e que faa a transposio didtica da
mesma, a fim de buscar significados concretos da prtica em sala de aula.
nesse contexto que as pesquisas, sobre a prtica, esto anunciando novas
perspectivas para o processo de formao de professores. Ao estabelecer um paralelo entre
um quebra-cabea e a formao do educador, cria-se, pois, uma metfora. Isso porque
enquanto o primeiro se completa com o encaixe de todas as peas, o segundo jamais se
completar, pois a formao profissional no se acaba com o trmino de um curso, sempre
faltar uma pea seguinte.
804
3
805
4
[...] o saber dos professores deve ser compreendido em ntima relao com o
trabalho deles na escola e na sala de aula. Noutras palavras, embora os
professores utilizem diferentes saberes, essa utilizao se d em funo do seu
trabalho e das situaes, condicionamentos e recursos ligados a esse trabalho.
Em suma, o saber est a servio do trabalho. Isso significa que as relaes dos
professores com os saberes nunca so estritamente cognitivas: so relaes
mediadas pelo trabalho que lhes fornece princpios para enfrentar e solucionas
situaes cotidianas (TARDIF, 2002, p. 17).
806
5
resultantes deste curso so revertidas em benefcio das aprendizagens dos alunos destes
docentes.
A formao do educador no um quebra-cabea com recortes definidos, depende da
concepo que cada profissional tem sobre a criana, homem, sociedade, educao, escola,
contedo e currculo. Neste contexto, as peas do quebra-cabea se diferenciam,
possibilitando diversos encaixes.
Nessa compreenso, a formao do educador pressupe uma inter-relao entre teoria e
prtica, na qual, a teoria vincula-se aos problemas reais que emergem da prtica e a prtica
orienta-se pela teoria. Logo, a didtica representa a mediao entre teoria e a prtica. A
formao continuada um momento de reflexo da prtica pedaggica dos professores.
Portanto, de grande importncia acompanhar se as prticas docentes, resultantes do curso
Pr-Letramento em Matemtica, so revertidas em benefcio das aprendizagens dos alunos
destes docentes.
Em face disso, no campo das polticas pblicas educacionais, temos o Programa PrLetramento que foi criado em 2005, devido os dados insatisfatrios pelo Sistema de
Avaliao da Educao Bsica (SAEB) e Prova Brasil. A respeito disso, o Pr-Letramento
torna-se um curso de formao continuada que favorece os professores da educao bsica
que atuam nas sries iniciais do ensino fundamental, com o objetivo da melhoria da
qualidade de aprendizagem da leitura/escrita e da matemtica nos anos iniciais do ensino
fundamental. O programa realizado pelo Ministrio da Educao MEC, pela Secretaria
da Educao Bsica SEB, Secretaria da Educao Distncia SEED, com parcerias das
universidades que fazem parte da Rede de Formao Continuada de Professores, adeso das
Secretarias Municipais de Educao de acordo com o PAR Plano de Aes Articuladas1.
O Guia Geral do programa Pr-Letramento (2007-2010) composto por alguma
etapas: apresentao do programa, seleo de tutores, adeso, formao dos tutores,
formao dos cursistas e revezamento. As referidas etapas so descritas da seguinte forma:
1. Apresentao do programa: momento em que os Secretrios de Educao e
Coordenadores de Programa entram em contato com a dinmica do Pr-Letramento.
O Plano de Aes Articuladas PAR foi proposto na segunda gesto do governo de Lus Incio Lula da Silva
(2007-2011), derivado do Plano de Desenvolvimento da Educao (PDE) lanado pelo Ministrio da Educao
(MEC), em 2007, como instrumento de apoio tcnico e financeiro para promover a melhoria da qualidade da
educao bsica.(BRASIL, 2007a).
1
807
6
2. Seleo dos tutores: devem ser escolhidos mediante seleo pblica que considere o
currculo, experincia e habilidade didtica dos candidatos.
3. Adeso: perodo em que o Secretrio de Educao adere ao programa e assume os
compromissos indicados na resoluo do programa.
4. Formao dos tutores: formao inicial- seminrio do programa na qual os tutores tem
a participao obrigatria. O tutor poder trabalhar com at 25 cursistas, ou seja, uma
turma de at 25 professores. Seminrio de acompanhamento- sero realizados dois
seminrios de acompanhamento Universidade formadora. Seminrio de avaliao
final- destinados s apresentaes de trabalhos, realizados e entrega dos relatrios
finais.
5. Formao dos cursistas: dividida em 84h presenciais e 36 h distncia, totalizando
120 horas. Os cursistas participaro de uma rea de formao por vez, frequentando a
outra rea na etapa do revezamento. O cursista dever ter 75% de frequncia nos
encontros presenciais.
6. Revezamento: aps a realizao da etapa anterior haver um revezamento de reas
entre os professores cursistas. Sendo assim, a partir da estrutura montada, os
professores cursistas que fizeram o curso de matemtica participaro tambm do curso
de alfabetizao e linguagem e vice-versa.
Contudo, no que se refere aos participantes do Programa Pr-Letramento, so
basicamente: o coordenador geral, o formador do professor tutor, o professor tutor e o
professor cursista (MEC, 2007).
3. Contribuies do Programa Pr-Letramento no municpio de Rio Verde-GO
Considerando que o Pr-Letramento de matemtica pressupe a socializao das
experincias e conhecimentos do professor, visando a reflexo de sua prtica docente,
questiona-se: Quais os impactos tericos e metodolgicos que o programa de formao
continuada, Pr-Letramento de Matemtica, trouxe para os professores cursistas na prtica
pedaggica em sala de aula, no municpio de Rio Verde-GO?
A partir das prticas observadas e das narrativas elaboradas pelos professores que
participaram do curso de Pr-Letramento de matemtica no perodo de seis meses no ano de
2009, destaca-se como o curso influenciou na aprendizagem da sala de aula.
Quanto formao dos professores cursistas, em Rio Verde, foram realizados 21
encontros presenciais que aconteceram durante a semana de aproximadamente 4h e sbado
com carga horria de 8h. Assim sendo, a turma de 2009, foi a primeira em sentir a mudana
808
7
da prtica pedaggica. Nesse sentido, estas professoras no decorrer do curso tiveram uma
outra viso do ensino da matemtica, pois o conhecimento terico e as prticas fizeram com
que os contedos ministrados em sala de aula fossem exploradas de maneira contextualizada.
Nesta perspectiva, Mandarino (2007) menciona que durante o processo de formao, o
trabalho em grupo incentiva a troca de experincias e faz a interlocuo entre professores a
fim de que a formao continuada tenha um carter permanente.
Dessa forma, vale ressaltar que das 15 professoras cursistas, 04 foram analisadas
pelas narrativas descritas do programa. Ao analisar a narrativa em relao dos impactos que o
programa trouxe para sua formao, a professora 1 destaca que este programa oportunizou a
reflexo, socializao de ideias, viso de um ensino matemtico diferenciado aplicado em
sala de aula.
Analisando a escrita da professora 1, fica claro que os objetivos quanto ao programa,
tornam a formao docente slida. Nesse sentido Libneo (2001) pondera que,
De modo especial para os professores, a formao continuada condio para a
aprendizagem permanente e o desenvolvimento pessoal, cultural e profissional. na
escola, no contexto de trabalho, que os professores enfrentam e resolvem
problemas, elaboram e modificam procedimentos, criam e recriam estratgias de
trabalho e, com
isso,
vo
e pessoais
Assim sendo, o docente precisa refletir a prpria prtica, percebendo que a formao
inicial configura apenas o alicerce de sua prtica. Ou seja, a formao acontece no s por trs
dos muros da universidade, mas tambm no ambiente sala de aula. Dessa forma, a formao
continuada possibilita mudanas pessoal, cultural e profissional. A sala de aula lugar em que
a pesquisa, realmente, acontece. O professor deve ser pesquisador de sua prpria prtica.
Quanto as contribuies que o curso trouxe no mbito geral, a professora 2 aponta que
contribuiu para mudana na escola e em sala de aula, pois integrou teoria e prtica. Isto
deixa claro que o programa faz a reconstruo dentro do grupo, enfim, aliando teoria da
prtica, percebe-se que a reflexo neste momento imprescindvel.
Ainda nesta anlise, a professora 2 ressalta que o pr-letramento no props novas
tcnicas, mas sim a busca de novos horizontes para aprendizagem em sala de aula. Nisto
fica evidenciado que a busca de novos horizontes fazem com que a aprendizagem se torne
eficaz.
Quanto ao trabalho em grupo, a professora 3 relatou que [...] preciso que haja a
troca de experincia no decorrer das aulas, alm do mais, estas experincias vo se
809
8
firmando na medida que a cada encontro descobrem algo que podem desenvolver com os
alunos na prtica.
Nessa direo, no campo das polticas educacionais, h um enfoque tambm na
questo da Prova Brasil no livro (Pr-Letramento de Matemtica-2008), que aparece como
fascculo complementar para anlise das habilidades. Destarte, quanto ao trabalho de forma
diversificada, os encontros ajudaram a trabalhar prticas diferenciadas para a prova Brasil,
pensando no levantamento do IDEB. Assim sendo, a professora 4 nos coloca esta questo da
seguinte forma:
na minha escola faz prova Brasil e provinha Brasil e realmente a gente trabalha
de forma significativa usando os conhecimentos adquiridos no curso. Mas nem
todos professores fizeram a formao continuada, e nisto agua a vontade dos
outros a quererem faz-lo para adquirir novas bagagens de conhecimento e
descobrir estratgias variadas para isso.
4. CONSIDERAES FINAIS
810
9
5. REFERNCIAS
ARROYO, Miguel. Ofcio de Mestre Imagens e Auto Imagens. So Paulo: Editora Vozes,
1999.
______. Ministrio da Educao. Plano de Metas compromisso todos pela educao: Guia
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v.
6,
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15-20.
Disponvel
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http://www.uninove.br/PDFs/Publicacoes/dialogia/dialogia_v6/dialogia_v6_2a_entrevista.pdf
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Minas
Gerais).
Disponvel
em:
LIBNEO, Jos Carlos. Adeus professor, adeus professora? Novas exigncias educacionais
e profisso docente.9.ed. So Paulo: Cortez, 2006.(Coleo Questes da Nossa poca; v. 67).
811
10
MANDARINO, M. C. F.; Morais, A. G. (2007) Formao continuada na perspectiva do prletramento: o pr-letramento e suas estratgias de formao continuada de professores.
IN: TV ESCOLA/SALTO PARA O FUTURO, Formao continuada na perspectiva do PrLetramento, Boletim 21, Nov 2007.
812
Resumo
O presente artigo tem o objetivo de analisar o impacto que o Programa de Formao Pacto
Nacional pela Alfabetizao na Idade Certa/PNAIC/UFMS/MEC trouxe nas salas de
alfabetizao, bem como a utilizao das obras complementares que foram distribudas
pelo referido Programa e e verificar como se deu o trabalho, com tais instrumentos, no
interior das salas no municpio de Corumb, MS, especificamente do 1 ano do Ensino
Fundamental. Em nossa pesquisa dialogamos com os estudos Vigotski (1995); Mello
(2005 e 2012); Imbernn (2010); Tardif (2002); Feldmann (2009) e Brasil (2006-2013). A
metodologia de pesquisa bibliogrfica e de campo, primeiro buscamos embasamento nos
autores, bem como nos livros do PNAIC para discutir a temtica alvo e em seguida
colhemos dados atravs de questionrio aplicados a professores/as participantes do PNAIC
para contextualizar nosso estudo que tem a inteno de discutir a formao da atitude
leitora e produtora de textos como uma das tarefas colocadas para a educao das crianas
pequenas. Ao finalizar este artigo, um desafio foi lanado e procuramos perceber que
inserir as crianas pequenas no universo da cultura escrita, por meio da leitura
desenvolver nelas atitude leitora e produtora de texto.
Palavras-chave: Formao Continuada de Professor. Formao de leitores. Produtores de
texto. PNAIC.
813
2
INTRODUO
O primeiro ano do Ensino Fundamental (EF) desde o momento que passou a receber
as crianas com seis anos, oriundas da Educao Infantil, com a alterao da Lei de
Diretrizes e Bases da Educao Nacional N. 9.394/1996 em seus artigos 30, 32 e 87 com a
Lei N. 11.114/2005 e em seus artigos 29, 30, 32 e 87 com a Lei N. 11.274/2006, iniciamos
uma mudana nas prticas dos/as professores/as responsveis por esse ano que comeam a
receber crianas menores de 7 anos em seus espaos e contextos escolares.
Buscando compreender as mudanas nas prticas desenvolvidas com as crianas
pequenas, este artigo tem o objetivo de analisar o impacto que o Programa de Formao
Continuada Pacto Nacional pela Alfabetizao na Idade Certa (PNAIC) trouxe nas salas de
alfabetizao, evidenciando as possveis mudanas nas prticas pedaggicas de
professores/as alfabetizadores/as, especificamente do 1 ano, com a utilizao das obras
complementares distribudas nas referidas salas do municpio de Corumb, MS.
Para tanto, dividimos o texto em quatro momentos, no primeiro apresentamos uma
breve discusso sobre a importncia da Formao Continuada de Professores/as para a
qualidade do processo ensino-aprendizagem, refletindo sobre a formao necessria para
ser um/a professor/a alfabetizador/a comprometido/a com o direito de aprendizagem da
criana pequena.
O segundo momento descrevemos sobre o Programa de Formao Continuada Pacto
Nacional pela Alfabetizao na Idade Certa (PNAIC) enquanto proposta governamental,
constitudo por um conjunto integrado de aes, materiais, referncias curriculares e
pedaggicas disponibilizadas pelo Ministrio da Educao/MEC, tendo como eixo
principal a formao continuada de professores/as alfabetizadores/as dos primeiros anos do
ensino fundamental (1 ao 3), expondo em rpidas palavras a implantao do PNAIC
nacionalmente, no estado de Mato Grosso do Sul e no municpio de Corumb, alvo do
estudo.
No terceiro momento toruxemos os acervos das obras complementares do PNAIC
enviados para as salas de aula, destinados aos alunos do 1 ao 3 ano do Ensino
Fundamental, analisando como os/as professores/as utilizam os acervos e como tem sido o
acesso ao material. Finalizamos com uma discusso sobre a formao de atitude leitora e
produtora de textos nas crianas pequenas, articulada com os resultados parciais da
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3
pesquisa que estamos realizando com um grupo de professores/as alfabetizadores/as do
municpio de Corumb (em andamento).
Destacamos que o presente artigo est em construo e usando a magia das palavras
do poeta pantaneiro Manoel de Barros(2006) [...] que a importncia de uma coisa h de
ser medida pelo encantamento que a coisa produza em ns]. isso que acreditamos e
defendemos que os/as professores/as alfabetizadores/as sejam encantados pela magia da
alfabetizao possibilitando s crianas pequenas o acesso cultura escrita.
A educao bsica, em nosso pas, enfrenta desafios que precisam ser superados e a
formao continuada de professor/a atua como uma das ferramentas necessrias para a
qualidade da educao pblica brasileira. evidente que ela representa uma parte de um
todo, porque a formao continuada sozinha no consegue dar conta e superar o passado
histrico da educao brasileira, que desde a sua origem, vem enfrentando o cenrio do
analfabetismo, caracterstica marcante em nosso pas, no entanto, acreditamos que um dos
caminhos para superar tal cenrio seja a formao de professores/as.
Visando atender as necessidades do processo ensino e aprendizagem, faz-se
necessrio atuao de docentes comprometidos com a formao da atitude leitora e
produtora de textos na criana pequena, objeto desse estudo, que se inicia bem antes do
aprendizado tcnico da lngua, contribuindo para a qualidade de ensino que
necessariamente exige a formao docente.
Para assegurar esta proposta, a Lei n 11.494, de 20 de junho de 2007, que
regulamenta o Fundo de Manuteno e Desenvolvimento da Educao Bsica de
Valorizao da Educao (FUNDEB), no Artigo 40, estabelece que os municpios devam
implantar Planos de Cargos e Carreira que contemplem a formao do professor,
especialmente voltada formao continuada visando melhoria e a qualidade de ensino.
Frente a essa exigncia, necessrio abrir espaos para discusso, debates e oferecer novas
possibilidades de formao continuada.
Portanto, a legislao do nosso Pas, j contempla os requistos bsicos para a
formao docente, embora cientes, que a nvel nacional, a referida lei no conseguiu atingir
o objetivo esperado para essa formao, pois temos no vasto territrio brasileiro muitos/as
professores/as sem a formao exigida em lei, fato que o Brasil precisa rever e reverter.
815
4
Formar o/a professor/a condio necessria para a qualidade que queremos, a
educao exige novas demandas e os/as professores/as precisam estar em constante processo
de formao, que exige o comprometimento dos sistemas de ensino, das escolas e dos/as
professores/as, todos unidos pela melhoria do processo ensino-aprendizagem.
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5
Refletindo sobre o processo de formao de professores/as, Tardif (2002) salienta
que se deve levar em conta o conhecimento do trabalho dos professores/as, seus saberes,
cotidianos, e essa postura desconstri a ideia tradicional de que os professores/as so
meros transmissores de saberes produzido por outros grupos.
Sendo assim, o/a professor/a frente s novas mudanas no que se refere sua
formao passa a ser desafiado a assumir um novo olhar para metodologias de ensino
voltadas ao saber da leitura, escrita e conhecimentos matemticos, respondendo s novas
dimenses da sociedade contempornea.
Portanto, diante desse quadro, buscando novas alternativas de mudana na
formao continuada e no desenvolvimento de uma prtica pedaggica de qualidade, o
municpio de Corumb, por meio da Secretaria de Educao aderiu o Programa de
Formao Continuada Pacto Nacional pela Alfabetizao na Idade Certa( PNAIC), que
tem como proposta alfabetizar todas as crianas at os oito anos de idade, ao final do 3
ano do Ensino Fundamental. Formao essa que merece um estudo especial por parte
dos/as professores/as, acadmicos/as e pesquisadores/as, porque focaliza o impacto desse
programa na prtica pedaggica do docente que merece destaque nas polticas pblicas do
municpio.
Pacto Nacional pela Alfabetizao na Idade Certa na busca pela cidadania: entre o
olhar macro e micro as especificidades do Pantanal.
817
6
Um dos princpios centrais do PNAIC o desenvolvimento das capacidades de
leitura e de produo de textos que devero ocorrer durante o processo de escolarizao no
incio na Educao Bsica, garantindo acesso a gneros discursivos de circulao social e
situaes de interaes onde as crianas sejam protagonistas de suas prprias histrias.
Portanto, o PNAIC nasce com uma proposta inovadora de formao continuada de
professores/as, a partir de experincias com outros programas na rea da alfabetizao, tais
como PROFA (Programa de Formao de Professores Alfabetizadores) e Pr-Letramento
(Programa de Formao Continuada de Professores), no entanto com caractersticas
prprias e especficas. Uma que podemos destacar a participao das universidades
pblicas federais e estaduais como instituies responsveis pela formao de
professores/as em cada um dos estados e distrito federal participantes do programa. Tal
participao trouxe respaldo para o programa, pois a formao, o acompanhamento e a
avaliao sistemtica dos/as profissionais envolvidos das referidas universidades fazem o
diferencial se compraramos com outros programas j lanados nacionalmente.
No Estado do Mato Grosso do Sul a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
como instituio responsvel pela formao, acompanhamento e avaliao do programa
PNAIC vem desenvolvendo uma parceria com as demais instituies pblicas do estado,
tais como: Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul e Universidade Federal da
Grande Dourados, tendo no quadro de formadores/as professores/as das referidas
instituies.
Assim, podemos destacar que no estado de Mato Grosso do Sul, nos anos de 2013 e
2014 todos os municpios aderiram ao PNAIC, tendo em 2013 78 municpios e em 2014
79, considerando que Paraiso das guas teve sua emancipao em dezembro de 2012 e no
conseguiu sua adeso em 2013 e 2014 j participou ativamente de toda formao. A rede
estadual foi parceira nos dois anos: 2013 e 2014.
Em 2013 a UFMS contou com uma equipe que foi coordenada pelas professoras
Regina Aparecida Marques de Souza, Ana Lucia Espindola e Ordlia Alves Almeida1, seis
supervisores/as, nove professores/as formadores/as (PF) que foram responsveis pela
formao de duzentos e vinte e seis Orientadores/as de Estudo (OE), sendo cento e setenta
e dois das redes municipais e cinquenta e quatro da rede estadual. Foram formados/as
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7
quatro mil e quinhentos e cinco professores/as alfabetizadores/as (PA) cadastrados no
Sistema Integrado/SISPACTO.
A formao no ano de 2013 foi dedicada rea da linguagem oral e escrita contando
com 08 cadernos de formao que contemplavam temas referentes a alfabetizao e
letramento: concepes de alfabetizao; currculo; planejamento do ensino na
alfabetizao, o funcionamento do Sistema de Escrita; a sala de aula como ambiente
alfabetizador; diferentes textos; projetos didticos e sequencias didticas; avaliao e
incluso.
Em 2014 a nfase de formao passa para a Educao Matemtica, mas por uma
solicitao das universidades parceiras do MEC, foi dada continuidade nos trabalhos da
linguagem oral e escrita em conjunto com a Educao Matemtica. Para tanto, a equipe da
UFMS teve um aumento, recebendo um coordenador adjunto para a nova rea (Educao
Matemtica), novas supervisoras e mais nove professores/as formadores/as foram
selecionados/as atravs de um edital para a rea da Educao Matemtica, totalizando
dezoito PF. Cadastrados no SISPACTO tivemos 218 Orientadores/as de Estudo e quatro
mil e seiscentos e dezenove professores/as Alfabetizadores/as.
Em 2013, o Municpio de Corumb foi o ltimo a aderir s aes de Formao do
PNAIC, tendo uma equipe de tcnicos/as especficos/as da rea da alfabetizao,
fortalecendo assim, o trabalho realizado. Com apoio da coordenao geral do
PNAIC/UFMS junto secretaria de educao municipal de Corumb foi repassado todo
investimento e a importncia do programa para a rede, o que trouxe a adeso do municpio
nos anos de 2013 e 2014.
Em 2013 foram quatro Orientadores/as de Estudo (OE) responsveis pela formao
de aproximadamente 180 professores/as alfabetizadores/as. Esse nmero dobrou o trabalho
dos OE, onde tinham em suas turmas um quantitativo de 25 a 34 professores/as
alfabetizadores/as, que por opo da Secretaria de Educao do Municpio assumiram duas
turmas cada. A Formao teve uma carga horria de 08 a 12 horas mensal, realizada na
Escola Municipal Cyraco Flix de Toledo, nos perodos matutino (sbado) e noturno,
onde os/as Orientadores/as de Estudos juntamente com os professores/as alfabetizadores/as
discutiam temas referentes alfabetizao e letramento, currculo na alfabetizao,
ludicidade em sala de aula, planejamento e alfabetizao, aprendizagem do sistema de
escrita alfabtica, diferentes textos em sala de alfabetizao, alfabetizao para todos e
organizao do trabalho docente para a promoo da aprendizagem.
819
8
Ainda, em 2013, os/as Professores/as Alfabetizadores/as do municpio de
Corumb/MS receberam os acervos complementares do PNAIC contendo obras literrias
que deram suporte a prtica pedaggica e viabilizaram o acesso aos contedos curriculares.
Em 2014, a carga horria do PNAIC teve um aumento com a entrada da Educao
Matemtica e, consequentemente, houve aumento de OE no municpio de Corumb-MS,
com nmero suficiente ao atendimento. O nmero de professores/as alfabetizadores/as
aumentou para um quantitativo de aproximadamente 220 e a carga horria passou a ser de
12 a 16 horas mensal. Os oito Orientadores/as de Estudo realizavam as formaes com 20
a 30 professores/as alfabetizadores/as. Nesse ano, as formaes foram realizadas na Escola
Municipal Fernando de Barros, no perodo noturno, discutindo temas referentes
organizao do trabalho pedaggico na alfabetizao matemtica, construo do nmero,
sistema de numerao decimal, operaes e resolues de problemas, geometria, grandezas
e medidas, educao estatstica, saberes matemticos, jogos na alfabetizao matemtica.
Ainda em 2014, os Orientadores/as de Estudos do Municpio de Corumb, alm de
realizarem as formaes com os/as Professores/as Alfabetizadores/as acompanhavam a
prtica pedaggica dos mesmos nas salas de alfabetizao, participando assim, da gesto
do(a) professor(a) na sala de aula, no que diz respeito a orientao, planejamento e
desenvolvimento das atividades sugeridas pelo PNAIC como: jogos pedaggicos de
alfabetizao e alfabetizao/alfabetizao matemtica; diversidades de gneros textuais e
utilizao dos acervos do PNAIC(jogos e livros de literatura).
importante destacar que os/as Professores/as Alfabetizadores/as durante esses dois
anos se empenharam em preparar um ambiente alfabetizador propcio aprendizagem das
crianas, utilizando vrias estratgias de leitura e produo de texto incentivando-as a
serem leitoras e produtoras de textos, principalmente por meio das obras complementares
do PNAIC que utilizavam nos Cantinhos de Leitura. Cantinho de leitura sugerido pelo
programa onde os/as professores/as alfabetizadores/as foram construindo no decorrer das
formaes.
Neste ano, os/as Professores/as Alfabetizadores/as ainda continuam desenvolvendo
estratgias sugeridas pelo PNAIC nas salas de aula, em prol da aprendizagem das crianas,
com o objetivo de formar leitoras e produtoras de textos para a conquista da cidadania.
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9
Desenvolvimento da Educao (FNDE) ofereceu a esse programa livros didtico e obras
complementares aprovados pelo Plano Nacional do Livro Didtico e livros do Programa
Nacional Biblioteca na Escola, que propiciam condies para que possam ter a
oportunidade de, a partir das suas experincias, refletirem sobre suas prticas de forma
articulada com os estudos tericos sobre o tema.
Os cadernos de formao de professores/as alfabetizadores/as dividiam-se em oito
volumes que incluam leitura, anlise de recursos didticos e sugestes de atividades que
podem ser utilizadas em sala de alfabetizao para que os alunos aprendam a ler e a
escrever dentro de uma perspectiva social de incluso e participao.
Alm desses volumes, o PNAIC oferece os acervos de obras complementares para
as salas de aula, destinados aos alunos do 1 ao 3 ano do ensino fundamental, que
envolvem diferentes alternativas para a organizao do trabalho docente, nos anos iniciais
do Ensino Fundamental, oferecendo ao uma ampla margem de escolha. Cada sala de
alfabetizao foi contemplada com 80 obras Literrias, com o objetivo de complementar os
recursos pedaggicos utilizados pelos professores no ciclo de alfabetizao, que viabilizam
o acesso a contedos curriculares que as colees didticas nem sempre trazem.
Os/As Professores/as Alfabetizadores/as do Municpio de Corumb/MS utilizavam
as obras literrias do PNAIC nos cantinhos de leitura; desenvolviam vrias estratgias de
leitura e escrita com o objetivo de garantir o direito de aprendizagem dos alunos,
elaboravam atividades de sequncia didtica, jogos relacionados alfabetizao e
letramento. importante destacar, que nos cadernos de formao continham sugestes de
como trabalhar com as obras literrias, em cada rea de conhecimento, facilitando assim, a
prtica pedaggica dos alfabetizadores/as.
Formao de atitude leitora e produtora de textos nas crianas pequenas: o olhar das
professoras no Municpio de Corumb/MS
A formao da atitude leitora e produtora de textos na criana pequena representa a
insero da mesma no universo da cultura escrita, se quisermos que nossas crianas gostem
de ler, entendam e adquiram conhecimentos necessrios para o uso da leitura e da escrita
nos seus mais variados usos sociais necessrio que esse trabalho seja fortalecido desde a
educao infantil.
Mas, o que seria essa formao da atitude leitora e produtora de textos na
criana pequena?
821
10
Considerando que as atitudes, assim como as capacidades, gostos e habilidades so
produtos da experincia dos indivduos e que formar uma atitude leitora, poderamos dizer
que seria educar a criana para que ela desenvolva uma atitude favorvel para a construo
desse conhecimento de forma realmente comprometida, em que todas as aes do processo
ensino-aprendizagem possam, prioritariamente, atender a esse fim, dando sentido e
significado para esse aprendizado, caso contrrio correremos o risco de construir nos
nossos educandos abismos que dificultam sua compreenso da escrita.
De acordo com Mello (2012), ao se trabalhar com a criana escrita, esse
conhecimento deve partir de uma significao.
O sentido que as crianas atribuiro escrita ser adequado se ele for
coerente com a funo social, coerente com o significado social da
escrita. Podemos mostrar s crianas por meio das vivncias que
proporcionamos envolvendo a linguagem escrita que a escrita serve
para escrever histrias e poemas, escrever cartas e bilhetes, registrar
planos, intenes e acontecimentos, por exemplo. Por outro lado,
podemos inserir as crianas em tarefas que envolvam a memorizao de
letras sem funo social concreta...de fato, a escrita envolve a expresso
de uma vontade de comunicao. Hoje possvel perceber que quando
retiramos da escrita sua funo social, dificultamos sua apropriao plena
pelas crianas. Pois o contato com a linguagem escrita deve deflagrar a
compreenso da mensagem escrita e no a associao de sons e letras (
MELLO, 2012, p.78).
822
11
(...) esse movimento que resulta na formao de leitores e produtores de
texto comea na educao infantil, quando lemos histrias, notcias de
jornal, gibis, revistas, assuntos de interesse do grupo em enciclopdias e
mesmo quando procuramos palavras desconhecidas do grupo de crianas
em dicionrios, quando as crianas em diferentes idades manipulam esses
objetos portadores de textos. Acontece tambm quando usamos a escrita
para registrar experincias vividas,comunicar aos outros essas
experincias, para planejar e organizar a vida do grupo na sala, enfim,
quando a escrita utilizada pelo grupo em sua funo social, o que quer
dizer, cumprindo uma funo verdadeira para a qual ela existe(MELLO,
2012. p, 83).
823
12
Alguns resultados
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13
considerao o processo de construo dessa linguagem e seu papel na sociedade atual.
Vigotski (1995) alertava em seus estudos a necessidade de ensinar a criana linguagem
escrita, e no fixar o olhar e as prticas na decifrao de letras e palavras porque para a
criana pequena, no contm significados. fato que aprender a ler e escrever
demasiadamente complexo e se torna mais complexo ainda para a criana se
apresentarmos vazios de significados, por isso defendemos a ideia da formao da atitude
leitora e produtora de texto a partir do momento em que a criana apresentada educao
bsica.
de fundamental importncia salientar, que quando analisamos o relato das
professoras, constatamos que a conscientizao sobre a formao da atitude leitora e
produtora de textos na criana pequena est presente nas salas de alfabetizao no
Municpio de Corumb/MS, a partir da utilizao de recursos diversificados, como os
acervos com as obras complementares riquissimas do PNAIC que contribuiram muito com
a prtica pedaggica de cada uma por meio de metodologias diferenciadas, que nos levam
a acreditar na possibilidade de uma alfabetizao mais contextualizada e significativa para
a criana colocando em prtica tudo o que aprenderam na formao do PNAIC.
Ao finalizar este artigo gostaramos de destacar alguns aspectos positivos durante a
formao do PNAIC em nosso Municpio que contriburam com a aprendizagem dos
alunos, o comprometimento de todos os envolvidos no processo, como: Prefeitura
Municipal de Corumb por meio da Secretaria de Educao do municipio, coordenadores
das escolas e do PNAIC, orientadores de estudo, principalmente a parceria com a
Universidade Federal, que fez o diferencial e trouxe respaldo para o programa,
participao assdua e engajamento dos/as Professores/as Alfabetizadores/as durante as
formaes do PNAIC e a prtica pedaggica dos mesmos na gesto da sala de aula. Todos
no compromisso de pensar nas estratgias para a melhoria da Educao Brasileira.
Portanto, as mudanas, fazem parte de um processo, que necessariamente precisam
estar atreladas e discutidas luz das questes polticas, econmicas, sociais, com uma
formao continuada de professores assumida pelas esferas administrativas, como uma
questo prioritria.
A situao da educao pblica brasileira, na sua histria sempre se delineou a
partir de um descompasso, os avanos e retrocessos servem de inspirao para muitas
pesquisas. Esperamos que as propostas do PNAIC concretizem em aes que realmente
formem o/a educador/a e no simplesmente informem, e que a ptria educadora, sirva
825
14
para esse fim. O de formar cidados, capazes de ler o mundo, interpret-lo e recri-lo a sua
maneira, a partir das boas experincias que tiveram nos bancos das nossas escolas pblicas.
REFERNCIAS
826
anos
iniciais
do
Ensino
Introduo
O objetivo desse texto descrever a atividade de formao continuada de professores
de Cincias do 1 ao 5 ano, por meio do estudo, elaborao e desenvolvimento de Sequncias
1
Pedagoga (UFMS), professora da Rede Municipal de Ensino de Campo Grande, especialista em Mtodos e
Tcnicas do Ensino (UNIDERP), formadora da Secretaria Municipal de Educao, membro do Grupo de Estudo
e Pesquisa em Formao de Professores e Ensino de Cincias GEPFOPEC/UFMS/FUNDECT e mestranda
pela UFMS/INFI/PPEC.
827
Didticas (SD) em turmas dos anos iniciais do Ensino Fundamental que ocorreu ao longo de
2013. Visto que esse ano marca um trabalho importante para os professores que lecionam
Cincias na Rede Municipal de Ensino REME no municpio de Campo Grande MS que
a retomada das Cincias como uma rea de conhecimento especfica com contedos prprios,
com uma linguagem que deve ser apropriada pelos estudantes e que por isso deve, tambm,
ter uma metodologia diferenciada.
A Secretaria Municipal de Educao - SEMED por meio da Coordenadoria do Ensino
Fundamental de 1 ao 5 ano tem um histrico de promover formao continuada aos
profissionais da educao que fazem parte do seu quadro de servidores.
Para cumprir a lei do piso as unidades escolares da Rede Municipal de Ensino
REME, trabalharam em 2013 com a especificao de 14/6 (14 h/a em sala de aula e 6 h/a de
hora atividade/planejamento) proposta pela SEMED na tentativa de cumprir o que est
previsto na lei federal n 11.738 de 16 de julho de 2008. A partir de ento, a rea de Cincias
passa a ser ministrada por um pedagogo que no mais o alfabetizador.
Isso exigiu que as professoras formadoras dos anos iniciais buscassem parcerias com
as professoras formadoras da Coordenadoria do Ensino Fundamental do 6 ao 9 ano da
SEMED. O que acabou levando o grupo a procurar uma parceria no Grupo de Estudo e
Pesquisa em Formao de Professores e Ensino de Cincias GEPFOPEC/UFMS/FUNDECT
onde foram de pronto acolhidas e iniciaram os estudos a respeito de situaes didticas e
sequncia didtica.
Em decorrncia disso, em 2013 a SEMED promoveu formaes de Cincias
atendendo a perspectiva do Ensino de Cincias por Investigao, incluindo duas aulas a
campo (Laboratrio de Botnica/UFMS e Parque Estadual do Prosa) e um Workshop
totalizando seis atividades formativas.
No Brasil muitos so os estudiosos que discutem os fundamentos e a importncia
dessa disciplina no currculo escolar bsico como, por exemplo: Delizoicov, Angotti e
Pernambuco (2002), Chassot (2003), Carvalho e Gil-Prez (1995, 2006), Krasilchik e
Marandino (2007), dentre outros. E foram nesses autores que se buscou o aporte terico.
Face ao exposto, acredita-se que a formao de professores o caminho para a
emancipao docente com resultados que podem e devem se refletir na aprendizagem, na
tentativa de contribuir com a formao desses profissionais, fortalecer a prtica da sequncia
didtica como proposta metodolgica para fazer Cincia por meio de um ensino investigativo
e incentivar os professores a elaborarem e utilizarem a Sequncia Didtica como forma de
organizao do trabalho pedaggico, possvel de se realizar no ensino de Cincias com os
828
estudantes dos anos iniciais do Ensino Fundamental que se justifica a participao nesse
evento.
De acordo com Delizoicov, Angotti, Pernambuco (2002):
.
Nas formaes oferecidas pela SEMED foram estudados tericos como, Antoni
Zabala (1998), e Guy Brousseau (2008), que discutem o trabalho pedaggico por meio de
Sequncias Didticas e situaes didticas. Parafraseando Zabala (1998), a SD uma
estratgia metodolgica que se d por meio de atividades que tem uma ordem crescente de
desafios e formando unidades maiores.
Nesse sentido, os contedos abordados nessa formao para a elaborao e
desenvolvimento das sequncias didticas foram os conhecimentos previstos para os anos
iniciais do Ensino Fundamental que esto descritos em documentos oficiais2 tais como o
Referencial Curricular da Rede Municipal de Ensino e as Orientaes Curriculares 2015.
OBJETIVO
O objetivo do presente texto descrever a atividade de formao continuada de
professores de Cincias do 1 ao 5 ano, por meio do estudo, elaborao e desenvolvimento de
Sequncias Didticas em turmas dos anos iniciais do Ensino Fundamental que ocorreu ao
longo de 2013. E os objetivos anuais da formao desse referido ano de trabalho foram
discutir sobre a importncia do ensino de Cincias nos anos iniciais do Ensino Fundamental e
apresentar algumas metodologias que pudessem ser utilizadas no ensino de Cincias.
METODOLOGIA
2
Campo Grande. Referencial Curricular da Rede Municipal de Ensino. Secretaria Municipal de Educao
(SEMED), Campo Grande, MS, v.1, 2008. p 328.
Campo Grande. Orientaes Curriculares 2015. Secretaria Municipal de Educao (SEMED), Coordenadoria
do Ensino Fundamental (COEF) de 1 ao 5 ano. Campo Grande, MS, 2015. Esse documento estabelece os
objetivos dos contedos divididos por bimestre.
829
Tudo isso foi necessrio para garantir o espao de Cincias como rea de
conhecimento, pois durante muitos anos o pedagogo era o regente que aproveitava as aulas de
Cincias para alfabetizar e se isso no fosse contextualizado nesse momento, corria-se o risco
de perpetuar essa forma de trabalho docente. Outra atividade foi adequar uma SD como se os
830
professores fossem utiliz-la em suas salas de aulas com seus estudantes. Eles deveriam
pontuar o que mudaria na SD de forma que conseguisse utilizar em sua turma.
No terceiro encontro de formao exibiu-se um vdeo que apresentava uma sequncia
de atividades como atividade disparadora (Ler para estudar aves em extino no Brasil
durao de 3 minutos), retomou-se como se elabora uma SD que j havia sido discutida na
formao anterior. As SD que foram elaboradas durante o estudo das professoras formadoras
no grupo de estudo e que passaram pelas consideraes dos demais participantes do grupo de
estudo foram apresentadas aos professores. E foi pedido a eles que fizessem as adequaes
necessrias para que pudessem desenvolver com suas crianas.
Nessa formao o trabalho em grupo foi ler e analisar a Sequncia Didtica em grupo
para as devidas adaptaes para a sua turma. Os grupos poderiam trazer seus notebooks e
realizar as alteraes em tempo real nos grupos, de forma que pudessem sair do encontro com
o material pronto para aplicar as sequncias didticas com uma de suas turmas, que seria
escolhida por ele. Durante o perodo de socializao dos grupos de professores as formadoras
iam anotando as alteraes sugeridas pelos diferentes grupos que analisaram as mesmas
Sequncias Didticas.
Esse momento foi muito rico porque as formadoras puderam acompanhar bem de
perto as adequaes que os professores fizeram. E ento, nesse momento que as formadoras
percebem dvidas, dificuldades nesse ou naquele contedo, equvocos conceituais do
contedo de Cincias e as concepes de educao subjacentes s crenas que verbalizaram.
Nesse momento, percebem-se quem so os professores que continuam alfabetizando nas aulas
de Cincias porque no sabem fazer diferente, ou porque no conseguem perceber a
importncia do trabalho com essa rea de conhecimento, os que tem um perfil diferenciado
acabam se destacando, os que no tem fluncia tecnolgica... No possvel nomin-los
porque so muitos os profissionais atendidos, no entanto fica evidente que h dificuldades nos
aspectos conceituais e metodolgicos e que a nica resposta continuar as discusses com o
grupo de professores investindo em mais formaes, anlises e discusses, pois o grupo
sempre aberto para essas proposies.
Na quarta formao foi a aula a campo no Parque Estadual do Prosa, em que os
professores vivenciaram uma ao da sequncia didtica Animais do cerrado e suas
relaes com o meio ambiente, tema estudado em formao. Foi feita uma trilha com o
auxlio de um guia do parque explicando todo o percurso. O ponto positivo observado pelos
professores que eles no conheciam e por isso no tinham informaes a respeito das
possibilidades de trabalho que o parque oferece para desenvolver os contedos de Cincias.
831
GARCIA, Joelma dos Santos. OLIVEIRA, Ctia Fabiane Reis Castro de. A formao de professores de
Cincias por meio da aplicao de uma sequncia didtica. ENDIPE/2014.
832
Aps o estudo desse texto surgiu a ideia de fazer as SD partindo da ideia proposta no
artigo.
Ento, nos 1 e 2 anos o tema da SD foi Alimentao, O ciclo de vida das borboletas
para o 3 ano, o 4 ano Queimadas urbanas e suas consequncias para a sade humana e
Animais do cerrado e suas relaes com o meio ambiente para o 5 ano do Ensino
Fundamental.
Para esse trabalho ser abordado apenas a SD do 4 ano sobre queimadas uma vez que
esse tema se torna relevante pela observncia de um inverno bastante seco que atrelado a
prtica de colocar fogo como forma de limpar terrenos, contribui para altos ndices de
queimadas nos bairros da capital.
Essa Sequncia Didtica tem a sua relevncia na aplicabilidade social, pois em Campo
Grande/MS, temos a queimada urbana como um srio problema a enfrentar. Elaborada para
cinco semanas a sua atividade inicial a obra Quem me dera, de Ana Maria Machado, da
Editora tica. Valoriza a roda de conversa dirigida como desenvolvimento da oralidade, traz a
leitura de reportagem para coletar informaes importantes que uma habilidade
imprescindvel em Cincias e a produo de texto coletivo do gnero Voc Sabia? para
aprender selecionar e organizar informaes.
Na aula a campo sugerida uma entrevista aos moradores do bairro que sejam
vizinhos de um terreno baldio e o encerramento da sequncia didtica ocorre com a
elaborao de uma carta de solicitao ao presidente do bairro pedindo providncias sobre os
proprietrios dos terrenos baldios encontrados no bairro para que limpem seus imveis sem a
utilizao das queimadas.
833
DISCUSSO E RESULTADOS
Contedos
-Poluio do ambiente: solo e ar;
Durao
10 aulas (5 semanas)
Fazer a leitura do livro Quem me dera, Ana Maria Machado, Editora tica,
Aps a leitura: Quando a Vera fala para o seu amigo que no pode brincar no
1997.
quintal baldio. O que ela quis dizer? Vocs sabem o que um quintal baldio? No bairro tem
quintal baldio?
a escrita o grupo vai apresentar para os demais e colar em um cartaz. O cartaz ficar na sala e
ser retomado conforme o conhecimento que forem adquirindo.
834
Conversar com os alunos sobre as resposta que eles registraram no cartaz sobre
limpeza dos terrenos baldios. Aps a leitura e discusses no grupo retomar o cartaz inicial
para comparar as respostas.
registraram no caderno. Aps a leitura e discusses no grupo retomar o cartaz inicial para
comparar as respostas.
tempo seco.
escola.
835
836
Exposio do texto.
Pontos positivos e negativos feitos junto com os alunos, avaliando essa
sequncia didtica.
De maneira informal conversou-se com alguns estudantes e percebeu-se certa
motivao pelo fato de eles sempre estarem fazendo coisas diferentes. Vale comentar que
essa professora desenvolveu uma SD com todas as turmas em que lecionava. Ela adaptou a
SD a sua realidade. E a inteno essa mesma, que os professores possam decidir com
autonomia, as atividades que faro parte de sua prtica.
A professora gravou depoimentos espontneos de alguns estudantes de seu grupo.
claro que se deve considerar o perfil de cada profissional, mas possvel perceber que as
formaes tiveram um efeito positivo nas prticas de alguns professores, embora no tenha
sido possvel quantificar esse dado. Isso evidencia a importncia da formao continuada em
servio, pois para culminar na apresentao da professora foi necessrio o investimento em
vrios encontros de formao.
E ratificando toda a prtica de formao continuada de professores expressa nesse
texto, Delizoicov, Angotti, Pernambuco (2002) afirmam:
Assim, as transformaes das prticas docentes s se efetivaro se o professor
ampliar sua conscincia sobre a prpria prtica, a de sala de aula e a da escola como
um todo, o que pressupe os conhecimentos tericos e crticos sobre a realidade (p.
13).
837
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
BROUSSEAU, Guy. Introduo ao estudo das situaes didticas: contedos e mtodos
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MS, 2015.
DELIZOICOV, Demtrio. ANGOTTI, Jos Andr. PERNAMBUCO, Marta Maria. Ensino de
Cincias: fundamentos e mtodos. SP: Cortez, 2002.
838
INTRODUO
O primeiro ano do Ensino Fundamental (EF) desde o momento que passou a
receber as crianas com seis anos, oriundas da Educao Infantil, com a alterao da Lei
de Diretrizes e Bases da Educao Nacional N. 9.394/1996 em seus artigos 30, 32 e 87
com a Lei N. 11.114/2005 e em seus artigos 29, 30, 32 e 87 com a Lei N. 11.274/2006,
iniciamos uma mudana nas prticas dos/as professores/as responsveis por esse ano
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ano,
os/as
Professores/as
Alfabetizadores/as
ainda
continuam
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850
porque para a criana pequena, no contm significados. fato que aprender a ler e
escrever demasiadamente complexo e se torna mais complexo ainda para a criana se
apresentarmos vazios de significados, por isso defendemos a ideia da formao da
atitude leitora e produtora de texto a partir do momento em que a criana apresentada
educao bsica.
de fundamental importncia salientar, que quando analisamos o relato das
professoras, constatamos que a conscientizao sobre a formao da atitude leitora e
produtora de textos na criana pequena est presente nas salas de alfabetizao no
Municpio de Corumb/MS, a partir da utilizao de recursos diversificados, como os
acervos com as obras complementares riquissimas do PNAIC que contribuiram muito
com a prtica pedaggica de cada uma por meio de metodologias diferenciadas, que nos
levam a acreditar na possibilidade de uma alfabetizao mais contextualizada e
significativa para a criana colocando em prtica tudo o que aprenderam na formao
do PNAIC.
Ao finalizar este artigo gostaramos de destacar alguns aspectos positivos
durante a formao do PNAIC em nosso Municpio que contriburam com a
aprendizagem dos alunos, o comprometimento de todos os envolvidos no processo,
como: Prefeitura Municipal de Corumb por meio da Secretaria de Educao do
municipio, coordenadores das escolas e do PNAIC, orientadores de estudo,
principalmente a parceria com a Universidade Federal, que fez o diferencial e trouxe
respaldo para o programa, participao assdua e engajamento dos/as Professores/as
Alfabetizadores/as durante as formaes do PNAIC e a prtica pedaggica dos mesmos
na gesto da sala de aula. Todos no compromisso de pensar nas estratgias para a
melhoria da Educao Brasileira.
Portanto, as mudanas, fazem parte de um processo, que necessariamente
precisam estar atreladas e discutidas luz das questes polticas, econmicas, sociais,
com uma formao continuada de professores assumida pelas esferas administrativas,
como uma questo prioritria.
A situao da educao pblica brasileira, na sua histria sempre se delineou a
partir de um descompasso, os avanos e retrocessos servem de inspirao para muitas
pesquisas. Esperamos que as propostas do PNAIC concretizem em aes que realmente
formem o/a educador/a e no simplesmente informem, e que a ptria educadora, sirva
para esse fim. O de formar cidados, capazes de ler o mundo, interpret-lo e recri-lo a
851
sua maneira, a partir das boas experincias que tiveram nos bancos das nossas escolas
pblicas.
REFERNCIAS
BRASIL.Secretaria de Educao Bsica. Diretoria de Apoio Gesto Educacional.
Pacto Nacional pela Alfabetizao na Idade Certa. Apresentao / Ministrio da
Educao, Secretaria de Educao Bsica, Diretoria de Apoio Gesto Educacional.
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BRASIL.Secretaria de Educao Bsica. Pr-Letramento: Programa de Formao
Continuada de Professores dos Anos/Sries Iniciais do Ensino Fundamental:
matemtica. ed. rev. e ampl. incluindo SAEB/Prova Brasil matriz de referncia
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Artmed, 2010.
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TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formao profissional. Petrpolis, RJ: Vozes,
2002.
VIGOTSKI, L. S. Obras escogidas. v. III Madrid: Visor, 1995.
852
INTRODUO
853
854
princpio de que
[...] os professores constituem o maior triunfo da escola. Esto na interface entre a
transmisso do conhecimento, das destrezas e dos valores. Todavia, os professores
s podero realizar os objetivos educativos se tiverem uma formao adequada, e ao
mesmo tempo, se forem capazes de garantir e melhorar o seu contributo profissional
atravs do empenhamento numa aprendizagem ao longo de toda a carreira (DAY,
2001, p.16).
855
requer retomar, a princpio, o termo grego paidia (educao). No estamos nos referindo a tal termo
buscando uma definio centrada unicamente na formao de homem ou cidado, mas na
formao que alarga os horizontes e perpassa ao longo de toda a carreira docente. O olhar do
professor, no contexto formativo, volta-se para si visando tanto o desenvolvimento pessoal, assim
como, o profissional. A paidia nos leva a reflexo da questo da inconcluso do ser humano
(FREIRE, 1996, p.14) enquanto aquilo que somos em vista do que queremos ser. O desejo de saber
quem realmente somos traz em si a dicotomia entre assombros e alegrias. Assombros, porque temos
medo do encontro com o eu. Saber quem sou no apenas uma curiosidade, uma necessidade vital.
E, encontrar com o meu eu interagir com o indivduo que agora eu conheo. Para explicar a funo
da educao como instrumento de formao, servimo-nos da alegoria do oleiro que deixa fluir formas
e ajuda o barro a formar-se em diferentes aspectos sem perder sua essncia primeira. O objeto
formado do barro ser sempre barro, mas o que vemos so as diferentes formas que este barro nos
apresentado. Nesse sentido, formar muito mais do que treinar (FREIRE, 1996, p.14), possibilitar
uma prtica formadora que ative a vocao ontolgica para o ser mais (FREIRE, 1996, p.18) do
professor (em especial o iniciante na carreira) em sua prtica docente e em sua busca constante por
felicidade.
Enfatizamos tambm que, o desenvolvimento profissional docente est contido na poltica de
educao, nos artigos 61 a 67 da LDB9394/96, cabendo-nos, ressaltar, sobretudo, o inciso II do Artigo
67, em sua primeira parte, sustentando a valorizao dos profissionais da educao, o
aperfeioamento profissional continuado. Portanto, a formao continuada se faz por meio dos
saberes demandados pela prtica educativa em si mesma (FREIRE, 1996, p.21), o que significa que
a formao toma forma na medida em que a mesma se transforma na possibilidade de criar espaos
de participao, reflexo e formao para que as pessoas aprendam e se adaptem para poder conviver
com a mudana e a incerteza (IMBERNN, 2010, p. 15). A incerteza remete-nos, novamente, a
concepo de inconcluso do ser humano. No somos seres prontos e acabados.
856
Me ajuda a olhar! remete-nos aos anseios e aos medos que nos cercam quando estamos
em busca de ns mesmos. Ao mesmo tempo, pedir ajuda sinal de abertura, de prontido, de
aprendizado. Aprende-se primeiro para ensinar depois. Portanto, o professor deve ser um eterno
aprendiz de si, do mundo, da cincia e da vida que o cerca (o professor deve estar convicto dessa
proposio). Olhar no simplesmente ver, mas deixar-se penetrar naquilo que se v. Aqui, o olhar
torna-se chave-mestra para a autopoisis (autoformao).
A autopoisis (autoformao) defendida por Pineau corresponde a uma dupla apropriao do
poder de formao: tomar em mos este poder tornar-se sujeito-, mas tambm aplic-la a si
mesmo (1988, p. 67). Nessa linha de pensamento, afirma-se que tornar-se sujeito da formao e
aplicar esse conceito a si mesmo vivenciar a autopoisis, ser objeto de formao em si e para si.
Nesse contexto, as narrativas efetivam a formao em si e para si, potencializando, segundo Prado
(2013) que as narrativas pedaggicas so:
[...] os dizeres e escritos dos professores e profissionais da escola (tais como
memoriais, cartas, depoimentos, relatos, dirios, relatrios, crnicas pedaggicas,
dentre outros) produzidos com o propsito de compartilhar saberes e conhecimentos
a partir da reflexo sobre a prpria experincia, da observao da prtica dos pares,
da discusso coletiva, da leitura, do estudo e tambm da pesquisa (PRADO, 2013,
p.150).
Isso significa que a formao dos profissionais da educao da Rede Municipal de Ensino de
Campo Grande passa pela experincia-vida desses profissionais, uma vez que esses so formadores
857
de novas mentalidades e mediadores do conhecimento, para que a escola seja palco de ensino de
qualidade. A histria de vida dos professores passa a ser valorizada na interlocuo das narrativas por
acreditar que
[...] possvel considerar a narrativa pedaggica como um meio para compreender
os conhecimentos e saberes profissionais de que portadora, ainda que em marcas
indicirias e no em palavras explcitas. O estudo das narrativas pedaggicas pode
ento contribuir para o aprofundamento das teorias sobre a epistemologia da prtica,
acrescentando outro olhar problematizao dos conhecimentos e saberes
produzidos pelos professores e demais profissionais da escola no contexto do
trabalho pedaggico. Poder, ainda, revelar ou referendar a necessidade de
reviso dos programas curriculares de formao inicial de professores no que se
refere, pelo menos, urgncia em reconhecer como vlidos, teis e relevantes os
conhecimentos e saberes da experincia (PRADO, 2013, p.152).
858
Formao Inicial
Formao Continuada
Continuada
A atividade profissional Continuada
um processo que
envolve mltiplas etapas e que, em ltima anlise,
est sempre incompleta (PONTE, 1998, p. 28).
- [...] tem que dar ouvidos e promover a voz dos professores; estabelecer
oportunidades para que os professores confrontem as suas concepes e
crenas subjacentes s prticas... (FULLAN e HARGREAVES, 1992, p. 5).
- [...] o processo em que atribui ao prprio professor o papel de sujeito
fundamental (PONTE, 1994, p.10).
- [...] define-o como a evoluo e aperfeioamento da prtica dos
professores (GARCIA, 1999, p. 139).
- [...] desenvolver competncias e a crescer profissionalmente na sala de
aula e nas escolas (DAY, 2001, p. 18).
- [...] agir como profissional ao longo de toda a carreira (FRIED apud DAY,
2001, p. 43).
- [...] dimenso do desenvolvimento do professor como pessoa (PONTE,
1994, p. 14).
Dilogos
hermenuticos e
narrativas
Formao Continuada e
Bem-estar docente
Desenvolvimento
Profissional Docente e
polticas de formao
Pedagogia da
cognio e do
afeto.
As atividades formativas
de HTPA e HTPC
proporcionam o bem estar profissional.
Poltica de formao
profissional por meio
da perspectiva
dialgica.
Professores
Iniciantes
Professores da
Escola de Tempo
Integral
Professores do grupo
de formao da REME
859
O esquema apresentado contempla as pesquisas e a formao docente num todo, visando que
a Rede Municipal de Ensino de Campo Grande/MS tem priorizado desenvolver atividades formativas
que, por sua vez, levam ao desenvolvimento profissional (valorizao pelo salrio, incentivo ao
estudo e condies de trabalho...), pois:
- [...] o desenvolvimento do docente contnuo, realizando-se ao longo de toda a
vida; deve ser auto-gerido, sendo contudo da responsabilidade conjunta do professor
e da escola; deve ser apoiado e dispor dos recursos materiais e humanos necessrios
sua concretizao; deve responder aos interesses do professor e da escola, embora
nem sempre em simultneo; deve configurar-se como um processo credvel; e deve
ser diferenciado, de acordo com as necessidades dos professores, designadamente as
especficas da sua etapa de desenvolvimento profissional (DAY apud
GONALVES, 2009, p. 24);
- [...] no momento atual, nossa sociedade tende a estabelecer o status social com base
no nvel de renda salarial [...]. Certamente o salrio dos professores constitui um
forte elemento da crise de identidade que os afeta. [...] Os profissionais do ensino,
em todos os graus, tm nveis de retribuio sensivelmente inferiores aos de outros
profissionais com a mesma titulao. Esse fator, que em si mesmo no teria grande
importncia, contribui como um elemento a mais a constituir-se em prol do mal-estar
docente, sobretudo quando o professor o associa com o aumento das exigncias e
responsabilidades que se lhe pedem em seu trabalho (ESTEVE, 1999, p. 34-35);
- [...] a formao profissional, nomeadamente de professores, no pode ser entendida
como circunscrevendo-se a uma primeira e curta etapa, prvia ao exerccio do
trabalho, mas, pelo contrrio, como um processo que inerente globalidade do
percurso profissional (CANRIO, 2001, p. 4);
- [...] a revalorizao da experincia na formao profissional dos professores no
pode ser confundida com a defesa da aprendizagem como um mero processo de
continuidade, em relao experincia anterior. Valorizar a experincia significa,
sobretudo, aprender a aprender com a experincia o que, frequentemente s
possvel a partir da crtica e da ruptura com essa experincia. A prender com a
experincia no pode ento ser sinnimo de imitao, mas sim de uma aco em que
o prtico se torna um investigador no contexto da prtica (CANRIO, 2001, p. 14)
e;
- [...] a formao deve estimular uma perspectiva crtico-reflexivo, que fornea aos
professores os meios de um pensamento autnomo e que facilite as dinmicas de
autoformao participada. Estar em formao implica um investimento pessoal, um
trabalho livre e criativo sobre os percursos e os projetos prprios, com vista
construo de uma identidade, que tambm uma identidade profissional (NVOA,
1995, p. 25).
CONCLUSO:
Acreditamos que a nossa identidade docente resultado de todo um processo de
desenvolvimento profissional. Embarcamos em nossos sonhos, navegamos em mares nunca antes
navegados, descobrimos tesouros escondidos em ns mesmos... Protagonizamos nossas histrias... E,
860
olha que, nossas histrias no podem ser resumidas em poucas pginas, seriam narradas em muitos
volumes. Somos seres inconclusos, mas com uma grande vontade de aprender, compartilhar o
aprendido, transformadores no das mentes, mas das condies humanas que nos fazem olhar para
frente. Tornamo-nos desbravadores do mundo chamado eu-tu-ns, pois,
[...] tornamo-nos conscientes de que o pertencimento e a identidade no tem a
solidez de uma rocha, no so garantidos para toda a vida, so bastante negociveis
e revogveis, e de que as decises que o prprio indivduo toma, os caminhos que
percorre, a maneira como age e a determinao de se manter firme a tudo isso
so fatores cruciais tanto para o pertencimento quanto para a identidade. Em
outras palavras, a ideia de ter uma identidade no vai ocorrer s pessoas enquanto
o pertencimento continuar sendo o seu destino, uma condio sem alternativa
(BAUMAN, 2005, p. 17-18).
E, conclumos assim:
Adentrar o Programa de Mestrado Profissional fora para os trs a realizao de um sonho
hoje, possvel, depois de muito esforo (suor) e desejo de fazer a diferena no espao de trabalho e
a concretizao de pesquisas que estreitaram os laos entre a escola e a universidade. Somos
transeuntes das buscas do pensar e do pensado, derrubando as barreiras do no posso, no consigo,
no sei. Estamos escrevendo nossas vidas sobre uma nova tica, a dos novos paradigmas que nos
elevam a eternos aprendizes.
Conclumos, inconclusamente, com as seguintes palavras, que futuramente sero uma pipoca
uma histria da vida dos aprendentes desse mundo em pleno desenvolvimento profissional:
Somos o todo de uma parte. Somos partes que se somam. Somos as somas de muitas histrias.
Histrias que no se esvaziam. Histrias que se somam. Somando-se, formam o todo. O todo que se
esvazia na busca daquilo que realmente somos. Somos o processo da investigao, do comeo da
parceria entre UEMS e UNICAMP, resultados do eu-tu-ns, todos narradores e protagonistas das
narrativas formativas no processo de uma educao de qualidade.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
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CANRIO, Rui. A prtica profissional na formao de professores. INAFOP, Aveiro, 2000.
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DELORY-MOMBERGER, C. Abordagens metodolgicas na pesquisa biogrfica. Revista
Brasileira de Educao, v.17. n.51 set-dez, 2012.
861
862
863
864
865
Lei n
10.172/2001
Parecer CNE/CP
n 9/2001
Resoluo
CNE/CP n
1/2002
Resoluo
CNE/CP n
2/2002
Parecer
Ementas
Estabelece as Diretrizes e Bases da Educao Nacional.
Institui o Fundo de Manuteno e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de
Valorizao do Magistrio (FUNDEF) que vincula recursos que devem ser
empregados exclusivamente na manuteno e desenvolvimento do ensino
fundamental pblico, particularmente, na valorizao do seu magistrio.
Aprova o Plano Nacional de Educao e d outras providncias.
Proposta de diretrizes para a formao inicial de professores da educao bsica em
cursos de nvel superior.
Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para Formao de Professores da
Educao Bsica, em nvel superior.
Institui a durao e a carga horria dos cursos de licenciatura, de graduao plena,
de formao de professores da educao bsica em nvel superior.
Referencial para as Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos de graduao.
866
CNE/CES n
67/2003
Lei n
10.861/2004
867
poltica educacional voltada para profissionalizar o professor que nos acompanha desde o
final do sculo passado. Essas novas exigncias tm relao com a universalizao do ensino
fundamental; com as avaliaes em larga escala; com as exigncias legais, como o caso da
construo do projeto pedaggico; e a nova organizao da educao bsica com o ensino
fundamental de nove anos; a relao com a comunidade, entre outros.
Nesse contexto, emergem algumas questes levantadas por Freitas (2007, p.1215):
868
formao inicial e continuada, e d outras providncias (BRASIL, 2009). O artigo 2 que trata
dos princpios do referido Decreto aponta nos incisos: XI a formao continuada entendida
como componente essencial da profissionalizao docente, devendo integrar-se ao cotidiano
da escola e considerar os diferentes saberes e a experincia docente; e XII - a compreenso
dos profissionais do magistrio como agentes formativos de cultura e, como tal, da
necessidade de seu acesso permanente a informaes, vivncia e atualizao culturais. J no
artigo 3 que trata dos objetivos traz no inciso VII - ampliar as oportunidades de formao
para o atendimento das polticas de educao especial, alfabetizao e educao de jovens e
adultos, educao indgena, educao do campo e de populaes em situao de risco e
vulnerabilidade social.
Gatti e Barretto (2009, p.52), ao analisarem essa poltica, consideram que as propostas
contidas nesse documento [...] procuram responder a alguns dos problemas de fundo
apontados por dcadas pelas anlises realizadas no pas sobre o processo de formao
docente. So propostas que avanam timidamente, pelas questes burocrticas, financeiras e
pelas representaes vigentes entre os membros das Instituies de Ensino Superior (IES).
Explicam as autoras [...] ser preciso aguardar algum tempo para avaliar a efetividade do que
proposto (Ibid., p.53).
Em 2010 foi institudo o Exame Nacional de Ingresso na Carreira Docente pela
Portaria n 14 de 2010, que em seu artigo 1 definiu que esse exame deveria ocorrer no mbito
do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira (INEP). A Unio
tinha como pretenso estabelecer uma padronizao de ingresso na carreira docente, ao definir
no artigo 1 constitui-se de uma avaliao de conhecimentos, competncias e habilidades
para subsidiar a contratao de docentes para educao bsica no mbito dos Estados, Distrito
Federal e Municpios. Alm da inteno de verificar se o candidato profisso docente tem
condies para ingressar no magistrio, conforme apontado no artigo 3 - O exame avaliar
conhecimentos, competncias e habilidades imprescindveis vida docente, ao mundo do
trabalho e ao exerccio da cidadania, tendo como base a matriz de competncias
especialmente definida para o exame, a ser divulgada anualmente pelo INEP.
A Portaria tambm trouxe no artigo 2 outra utilidade para o exame no seu inciso III
oferecer um diagnstico dos conhecimentos, competncias e habilidades dos futuros
professores para subsidiar as polticas pblicas de formao continuada. Assim, teve como
proposta fornecer dados e informaes para o desenvolvimento de programas de formao
continuada conforme as necessidades a serem assinaladas pelo exame.
869
870
871
Consideraes finais
872
formao continuada, bem como dos sistemas de ensino que procuram por meio destas
responder aos desafios do sistema socioeconmico.
Referncias
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Haddad em Audincia com as Entidades. Braslia, 7 de junho de 2010.
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de Profissionais do Magistrio da Educao Bsica, disciplina a atuao da CAPES no
fomento a programas de formao inicial e continuada, e d outras providncias. Dirio
Oficial da Unio, Braslia, DF, 2009.
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Braslia: MEC, 2007.
______. Portaria n 1.087, de 10 de agosto de 2011. Institui o Comit Gestor da Poltica
Nacional de Formao Inicial e Continuada de Profissionais da educao Bsica e define suas
diretrizes gerais. Dirio Oficial da Unio, Braslia, DF, 2011.
______. Portaria n 1.328, 23 de setembro de 2011, que institui a Rede Nacional de
Formao Continuada dos Profissionais do magistrio da Educao Bsica Pblica. Braslia:
MEC, 2011.
______. Portaria Normativa n 14, de 21 de maio de 2010. Institui o Exame Nacional de
Ingresso na Carreira Docente. Dirio Oficial da Unio, Braslia, DF, n.24, 24 de maio 2010.
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GATTI, B. A.; BARRETTO, E. S. de S. (Coord.). Professores do Brasil: impasses e
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873
874
Resumo
O presente artigo tem como finalidade tratar das questes que envolvem os ciclos de vida
profissional dos professores, ou seja, as fases ou estdios que perpassam a carreira profissional
docente, com o objetivo de compreender como os profissionais docentes esto constituindo sua
identidade profissional, em que medida percebem a si mesmos dentro dessas fases e, ainda, quais
janelas tm sido abertas para a reflexo destes sobre prticas docentes que tm contribudo para
avanos (ou inrcias) em sua constituio como docente. A produo de dados foi realizada por
meio da escrita de narrativas autobiogrficas pelos mestrandos da terceira turma do Mestrado
Profissional em Educao da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul- UEMS
(PROFEDUC), participantes da disciplina Formao de professores da Educao Bsica e que
atuam em diferentes reas do cenrio educacional. Para alcanar os objetivos, empreendeu-se uma
pesquisa de abordagem qualitativa, analisando-se, nas narrativas dos mestrandos, com o aporte
terico dos estudos de Huberman (2007) sobre as fases do ciclo de vida profissional docente,
indcios presentes nas histrias de vida narradas que apontem em que fase cada
profissional/graduando se encontra e como estes percebem sua carreira e constituio docente.
Como resultados, percebemos que os mestrandos se perceberam em algumas das fases
caracterizadas por Huberman e que o processo de formao no Mestrado tem influenciado a forma
como encaram a profisso e suas escolhas profissionais.
Introduo
875
876
Desta forma, o autor levanta e organiza o ciclo de vida profissional docente em sete
fases distintas que so: a entrada na carreira; fase de estabilizao; fase de diversificao
877
878
Momento de
879
Para a reflexo inicial e como inspirao para a elaborao da escrita, foi solicitado
que cada mestrando escolhesse, dentre um conjunto de imagens que representavam
diferentes janelas em diversas paisagens (urbanas, buclicas, futuristas, campestres,
realistas ou que mostrassem uma realidade socialmente perturbadora). O convite foi que
os sujeitos narradores escolhessem uma daquelas janelas que melhor representassem, para
eles, o momento atual que vivenciavam em sua vida profissional, considerando os aspectos
do Ciclo de vida profissional dos professores de Michael Huberman.
Quando se pede para que o sujeito retome ou busque algo l no fundo da memria,
relatando mesmo que seja parcialmente este momento, segundo Varani (2005, p.136), esse
traz [...] muitos sentidos e significados sobre a experincia que esto sendo mobilizados
ao relatar o que viveu. Portanto, quando o docente retoma o seu passado e se embrenha no
seu presente, acaba refletindo sobre as suas aes, encontrando e desvelando sentidos ao
que est fazendo.
Implica saber e refletir para agir significa assumir na prtica, o
raciocnio e o esprito do projeto; Significa organizar e
comprometer o presente em nome do futuro ou de uma meta que se
pretende alcanar; significa pr- corrigir erros, antecipar aes;
significa imaginar os obstculos a ser enfrentados e os modos de
supera-los. (MACEDO, 2002, p.2).
Mantive, na transcrio dos excertos, a escrita dos textos conforme o autor as produziu.
880
881
Esta fase foi a mais elencada, sendo que oito mestrandos reconheceram estar
passando por esta fase. A escolha das janelas, tambm foi bem diversa.
Em relao ao texto do Huberman acredito estar na fase
da diversificao, pois atualmente por estar em contato
com diferentes pesquisas e vises diversificada, vivo diante
de uma inquietao quanto a minha prtica. (M5).
Minha contemplao no passiva, pois minha cabea se
enche de toda a beleza e prazeres que o conhecimento
pode trazer. Me aproprio de conhecimentos para sair da
contemplao e agir com mais propriedade. (M6).
Acredito que estou vivendo um momento em que penso em
diversas possibilidades para o futuro, mesmo que
atualmente algumas coisas na docncia me paream
agradveis outras me deixam insatisfeito, ento penso em
possibilidades de mudanas. (M7)
Observo muitas janelas a minha frente e ainda no sei em
qual mirar meu olhar. (M8).
A fase de diversificao faz pensar e refletir a prtica, mesmo que seja luz de
teorias de pesquisa, mas esta, por outro lado, leva a uma inquietao que interfere
diretamente no ser/estar docentes, tanto no desejo de galgar novos postos administrativos
quanto por estar diante destes e necessitar saber agir com propriedade, tambm refletindo a
suas aes que j vem sendo elucidadas.
2.4 Pr-se em Questo
Apenas dois mestrandos indicaram se encontrar nessa fase, sendo que cada um
escolheu uma janela diferenciada: uma tela em que pode ser vista uma imensido,
separada do observador por uma vidraa e outra que apresenta uma janela em que aparece,
apoiado no umbral, um globo terrestre.
[...] para mim representa as varias possibilidades de mudar de
rumo. O mestrado esse caminho escolhido, a incerteza. A
incerteza tem possibilitado enxergar o outro lado do globo de
estudos e reflexes. (M9)
Sinto a necessidade de mudar alguns hbitos e quebrar com
atitudes que j esto cristalizadas em minha prtica pedaggica,
882
Apenas duas pessoas indicaram se encontrar nessa fase, sendo que a primeira
escolheu para represent-la a imagem de duas rvores, uma com uma janela aberta em seu
tronco e outra com uma janela fechada e a segunda pessoa uma tela em que pode ser vista
uma construo antiga e um pr do sol.
Seria uma espcie de interiorizao na qual me volto para eu
mesma e realizada como pessoa e dar continuidade a minha vida
acadmica apenas. (M11).
[...] me vejo num momento de interiorizao, de busca pela
seiva, pelo contedo da alma, que elabora tanto a situao
fsica como a emocional (M12).
883
Como podemos verificar nos excertos narrativos dos mestrandos da UEMS, ficam
evidentes as questes centradas nas vrias fases que os profissionais da educao passam
durante sua caminhada docente. Apesar de no serem consideradas como fases estanques
ou de certa forma evolutivas, pelo fato de, segundo o autor, muitos pularem etapas ou
permanecerem por mais tempo em algumas fases, importante salientar e refletir sobre
essa transformao que ocorre na vida profissional.
As anlises possibilitaram tambm compreender a influncia que o mestrado exerce
na vida tanto pessoal quanto profissional docente de cada acadmico, desde os que esto
na fase inicial at os que j esto na fase final de desinvestimento, levando a rever
conceitos, se despir de amarras tradicionais e desconsiderar prticas que no cabem mais,
quanto a ganhar propriedade para tratar os assuntos referentes educao, ao ambiente
escolar e s polticas pblicas.
Referncias
FREITAS, M. T. M.; FIORENTINI, D. As possibilidades formativas e investigativas da
narrativa em educao matemtica. Horizontes, Itatiba, v. 25, n. 1, p. 63-71, jan./jun. 2007
NOGUEIRA, Eliane Greice Davano; ALMEIDA, Ordlia Alves. H luz no incio do
tnel? A formao de professores iniciantes e acadmicos residentes em foco. In:
REBOLO, F.; TEIXEIRA, L.R.M.; PERRELI, M.A.S. Docncia em questo: Discutindo
trabalho e formao. Campinas: Mercado de Letras, 2012. Cap.8, p.205-228.
NOGUEIRA, Eliane Greice Davano; PRADO, Guilherme do Val Toledo. Narrativas e
imaginrios: perspectivas outras na formao de professores. In: ALVES, Fbio Lopes;
SCHROEDER, Tnia Maria Rechia; BARROS, Ana Tas Martins Portanova (Orgs.).
Dilogos com o Imaginrio. Ed. CRV, Curitiba, 2014.
NVOA, Antnio. Os professores e suas histrias de vida. In: NVOA, Antnio. (Org.).
Vidas de professores. Porto: Porto Editora, 1992. (Coleo Cincias da Educao, v.4).
______ Professores: imagens do futuro presente. Lisboa: Educa, 2009.
_______; FINGER, Mathias. (Orgs.). O mtodo (auto)biogrfico e a formao. Natal:
Paulus, 2010.
SMOLKA, A.L.B. A memria em questo: uma perspectiva histrico cultural. Educao e
Sociedade, n. 71. Campinas: Centro de Estudos Educao e Sociedade CEDES,
Unicamp, 2000.
HUBERMAN, Michael. O ciclo de vida profissional dos professores. In: NVOA, A.
(Org.). Vida de professores. Porto: Porto Editora, 2007.
10
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885
Resumo
Este artigo tem como objetivo observar e investigar a contribuio do Pacto Nacional Pela
Alfabetizao na Idade Certa sob o olhar dos professores que trabalham com duas turmas dos 3
anos do Ensino Fundamental, em uma escola pblica municipal de Campo Grande/MS. O
trabalho apresenta resultados alcanados por meio de pesquisa de campo, de forma qualitativa.
A coleta de dados ocorreu por meio de questionrios aplicados e narrativas construdas pelos
professores que esto diretamente envolvidos com o processo de ensino e aprendizagem
relacionados s atividades de alfabetizao, que participaram da formao continuada do
PNAIC e utilizam como instrumento terico-metodolgico os materiais didticos do programa.
A pesquisa est fundamentada em tericos como Morais (2012), Soares (2003) e Nvoa (2014),
dentre outros. Sob esse olhar esto reunidos aspectos que buscam delinear as prticas
pedaggicas do professor alfabetizador. A anlise dos dados dessa pesquisa possibilita
compreender o fazer pedaggico do professor e a necessidade de promover formao
continuada, considerando o fazer no cotidiano dos professores alfabetizadores no sentido de
contribuir com a sua prtica, considerando a reflexo e auto-reflexo de sua prtica.
Introduo
A alfabetizao escolar apresenta-se como um desafio para a educao,
compreendendo que um processo multifacetado que envolve aes humanas e
polticas, caracteriza-se como dever do estado e direito constitucional do cidado.
No mbito da histria da alfabetizao no Brasil, muitas estratgias aparecem em
discusso para a melhoria da educao, sendo que as polticas pblicas surgem com
intuito de sanar essa dura realidade que se tem vivenciado. A discusso estar
fundamentada em trs momentos, que envolve diretamente a educao, quais sejam: a)
Consideraes sobre a alfabetizao, o Pacto Nacional pela Alfabetizao na Idade
Certa a formao de professores e a utilizao de narrativas num processo investigativo;
1
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1. Alfabetizao
Na busca por um processo de alfabetizao consistente, durante muito tempo
tem-se buscado teorias slidas que tragam resultados positivos para a educao. No
entanto, os vrios pontos de vista sob os quais o termo alfabetizao tratado ao longo
dos anos tm concorrido para uma fragmentao do conceito. No entanto, a
alfabetizao algo que deveria ser ensinado de forma sistemtica, no devendo ser
diluda no processo de letramento. Para Soares (2003)
No preciso aprender a tcnica para depois aprender a us-l. E isso
se fez muito tempo na escola: primeiro voc aprende a ler e escrever,
depois voc vai ler aqueles l. Esse um engano srio, por que as
duas aprendizagens se fazem ao mesmo tempo, uma no pr
requisito da outra. (SOARES, 2003, p.16).
887
Constata-se que ainda hoje, em meio aos docentes, existe a preferncia por
autores dos velhos mtodos tradicionais que tentam inserir suas concepes ou fazer
com que esta ou aquela metodologia permanea, levando muitos professores a
mesclar seus conceitos na prtica pedaggica no dia a dia com seus alunos, se
autoproclamando eclticos.
A alfabetizao no um estado pronto e acabado, mas um processo cujo inicio
, na maioria dos casos, anterior escola e que no termina ao finalizar os anos iniciais.
Assim, a alfabetizao um processo que se inicia antes da entrada da criana na
escola, e no se esgota na sala de aula.
Para tanto, nota-se que a criana traz para escola conhecimentos prvios e que
preciso ser claro para o professor a importncia de partir desse princpio no processo de
ensino e aprendizagem do aluno, considerando a alfabetizao como um processo
contnuo. Para Piaget:
Uma aprendizagem no parte jamais do zero, quer dizer que a
formao de um novo hbito consiste sempre numa diferenciao a
partir de esquemas anteriores; mas ainda, se essa diferenciao
funo de todo o passado desses esquemas, isso significa que o
conhecimento adquirido por aprendizagem no jamais nem puro
registro, nem cpia, mas o resultado de uma organizao na qual
intervm em graus diversos o sistema total dos esquemas de que o
sujeito dispe (PIAGET, 1974, p. 69).
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qualitativa
como
procedimento
metodolgico,
utilizando
pesquisa
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foi o seu olhar e reflexo, o que permaneceu e o que foi transformado a partir da sua
experincia?
A pesquisa envolveu duas professoras que atendem turmas do terceiro ano do
Ensino Fundamental, com 31 e 40 anos de idades, identificadas como P1 e P.2. Um
dado bastante importante o tempo de atuao na docncia e a jornada de trabalho das
professoras. A professora P1 formada em Pedagogia, exerce a profisso h quatro
anos, sempre atuou como professora alfabetizadora e participou da formao do Pacto
por um ano. A professora P2 exerce a profisso h dez anos, atua como professora
alfabetizadora h dois anos, o mesmo tempo que participou da formao continuada do
Pacto.
5. Discusses e resultados:
Foram extrados fragmentos das narrativas construdas pelos professores, os
mesmos esto conforme a escrita do docente.
Acreditava que eu ia receber bastante informaes, modelos,
sugestes para serem trabalhados em sala de aula. Ao fazer o PACTO,
vi havia muita teoria a qual no condiz em grande parte. O que
permaneceu, foi o meu contnuo estudo em busca de melhoria, sendo
que aps o PACTO, tenho alguns modelos e informaes que
acrescentei na minha prtica em sala de aula. Acredito que a formao
deveria ser menos teoria (esta j aprendemos na faculdade) e mais
prtica, construo e elaborao de materiais. (P. 1).
Quando comeou o programa eu pensava que seria algo inovador que
nos ajudaria em nossas prticas, na verdade nos mostraram algo que j
conhecamos e que j praticvamos, em minha opinio o que foi
vlido foram os jogos pois eu tinha uma certa resistncia em trabalhar
com jogos, mas no demais no nos auxiliou em muitas outras coisas
no. E quem ficou com o problema maior foram os professores dos
terceiros anos, que esto pegando cada vez mais alunos
despreparados, sem saber ler e escrever, pois os professores alegam
que eles tem at o terceiro ano para consolidar a alfabetizao. (P.2)
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6. Consideraes Finais
A pesquisa realizada aponta para a necessidade de o professor estar em constante
formao, e que as polticas pblicas precisam ser apresentadas com mais foco no
educador, levando em conta que a educao est em constante mudana e a formao
docente precisa estar ligada s necessidades do professor no seu fazer pedaggico.
A coleta de dados revelou a grande dificuldade que o professor encontra em
trabalhar o processo de alfabetizao com os alunos, no que se refere consolidao da
alfabetizao no terceiro ano, como preconiza o PNAIC. Por meio desse contexto, foi
possvel verificar a falta de auxilio revelada pelas educadoras e insatisfao com o
programa oferecido pelo Governo Federal.
Entendemos, portanto, que pesquisas como essa podem contribuir de forma
significativa para desvelar os embates que cercam o dia a dia dos professores
alfabetizadores.
Foi desvelado outro fator importante, centrado nas expectativas dos professores
antes dos mesmos participarem da formao. Para eles, o programa viria como algo
inovador na sua carreira profissional, que apresentaria de forma abrangente o processo
da alfabetizao. Ao concluir a formao do Pacto, foram expostas algumas frustraes
pelos professores, como a apresentao de metodologias que j eram utilizadas em sala
de aula, algo que j conheciam, e muita teoria.
894
Referncias
BRASIL. Secretaria de educao Bsica. Diretoria de Apoio Gesto Educacional.
Pacto nacional pela Alfabetizao na idade certa: formao do professor alfabetizador:
caderno de apresentao- Braslia: MEC, SEB, 2012
ESTEBAN, Maria Teresa; Afonso, Almerindo (Orgs). Olhares e interfaces: reflexo
crticas sobre a avaliao. So Paulo: Cortez, 2010
FERRAROTTI, Franco Histria e Histria de vida. Traduo Carlos Eduardo Galvo
e Maria da Conceio Passeggi. Natal: EDUFRN, 2014
MORAIS, Artur Gomes de. Sistema de escrita alfabtica. So Paulo: Melhoramentos,
2012 (Como eu ensino)
NOGUEIRA, Eliane Greice Davano. Dilogos com o imaginrio/Organizao Fbio
Lopes Alves, Tnia Maria Rechia Schroeder, Ana Tas Martins Portanova Barros.[1,Ed.] Curitiba, PR:CRV, 2014. 184p.
895
Anexo 1.
Narrativas e Questionrios
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1
1. Introduo
considervel importante e necessrio que as crianas sejam preparadas no espao
formal da escola, para refletir e utilizar de forma consciente as informaes disponveis e
consequentemente formando-as para analisar, interpretar e utilizar diferentes dados
apresentados em diversas modalidades da mdia.
Para a formao de crianas preparadas para entender e refletir a respeito das
imagens e dos dados disponveis necessrio que o professor tenha curiosidade e interesse
conceitual e pedaggico e clareza sobre os conceitos bsicos acerca da Educao Estatstica e,
sobretudo saiba como apresentar e ensinar tais conceitos.
Lopes (2008, p. 65-66) relacionando toda a dinmica da escola, ressalta a
importncia da formao do professor para o conhecimento profissional que combine o
conhecimento sobre o contedo matemtico a ser ensinado e o conhecimento pedaggico e
didtico de como ensin-lo.
(...) os professores precisam possuir conhecimentos sobre a matria que ensinam,
conheam o contedo em profundidade, sendo capazes de organiz-lo mentalmente,
de forma a estabelecer inmeras inter- relaes, relacionem esse contedo ao ensino
e aprendizagem, em um processo de interao com os alunos, considerando o
desenvolvimento cognitivo dos mesmos e, tambm, dominem o contexto, tendo
clareza do local em que ensinam e a quem ensinam.
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2. Objetivo
Nesta investigao pretende-se apresentar a percepo de professoras alfabetizadoras
da Rede Municipal de Ensino de Campo Grande/MS, participantes do processo de formao
do PNAIC, sobre o ensino de contedos do eixo Tratamento da Informao/Educao
Estatstica.
3. Metodologia
Buscou-se verificar como o problema se manifesta nas atividades, nos procedimentos
e nas interaes cotidianas. Desta forma, a tentativa perceber a perspectiva dos
participantes, portanto essencial cuidado e sensibilidade com as percepes dos
participantes. Ao considerar os diferentes pontos de vista dos participantes, os estudos
qualitativos permitem iluminar o dinamismo interno das situaes, geralmente inacessvel ao
observador externo (LDKE e ANDR, 1986, p. 12).
Procura-se discutir a importncia do trabalho pedaggico com o eixo da matemtica
Tratamento da Informao, com crianas de 1 ano do Ensino Fundamental. O pblico alvo da
investigao foi um grupo de 56 professoras alfabetizadoras da Rede Municipal de Campo,
Mato Grosso do Sul, de 21 (vinte e uma) escolas da Rede, cursistas do Programa Pacto
Nacional pela Alfabetizao na Idade Certa, de Matemtica no ano de 2014. As professoras
participantes gentilmente aceitaram o convite das trs orientadoras de estudo responsveis
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caractersticas pessoais fsicas, pontuao em jogos, lpis de cor dos alunos, idade dos alunos,
aniversariantes e ttulos de histrias lidas.
Duas atividades apresentadas no descreviam uma investigao e apresentao de
dados com a participao e construo dos alunos, mas com a proposta de leitura e
interpretao de um grfico pronto. Apenas trs descries de encaminhamentos no
apresentavam proposta de trabalho com grfico e tabela. Uma atividade descrevia um
exerccio de estimativa de quantidade. Outra atividade apresentava proposta com trabalho de
classificao de objeto pelos atributos cor e tamanho. Apenas uma professora relatou no ter
trabalhado at aquele momento com a Educao Estatstica.
Nos encaminhamentos pedaggicos apresentados pela maioria das professoras,
observa-se que constante o envolvimento das crianas em situaes cotidianas no processo
de construo da atividade e aprendizagem. A prtica de envolver os alunos no processo de
investigao faz parte das orientaes do PNAIC, que recomenda que se insira a criana no
universo da investigao, considerando as situaes de interesse prprio, promovendo
situaes para a coleta de dados e apresentao em grficos e tabelas. No entanto, em algumas
imagens, cpias de atividades e fotos, de encaminhamentos realizados, identificaram-se
algumas descontextualizadas e aparentemente sem o envolvimento das crianas, no
representando os depoimentos.
Acreditamos que no faz sentido trabalharmos atividades envolvendo
conceitos estatsticos e probabilsticos que no estejam vinculados a uma
problemtica. Propor coleta de dados desvinculada de uma situaoproblema no levar possibilidade de uma anlise real. Construir grficos e
tabelas desvinculados de um contexto ou relacionados a situaes muito
distantes do aluno pode estimular a elaborao de um pensamento, mas no
garante o desenvolvimento de sua criticidade (LOPES, 2008, p. 62).
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tipos de grficos, suas caractersticas e relevncia de cada um no trabalho pedaggico. Podese verificar que comum os equvocos quando se prope proposta de grficos e at mesmo
quando se apresenta tabela. No entanto, a partir das discusses ficou o entendimento de que
com as crianas pequenas no necessrio aprofundar esta discusso, mas que o professor
precisa ter maior comprrenso quando prope certas atividades, para tanto necessrio
estudar para fazer as melhores escolhas.
Neste momento foram apresentadas algumas cpias de atividades de grficos e
tabelas, facilmente encontradas nas colees pedaggicas e na internet, estas algumas vezes
esto incompletas em relao aos atributos cientficos e podem levar os professores s
propostas equivocadas aos alunos. Nesta reflexo as professoras perceberam que muitas vezes
suas atividades no so propostas adequadas para leitura, interpretao e elaborao de um
grfico ou tabela, reconhecendo a necessidade de rever suas escolhas e propostas. Para
reforar a discusso aconteceu a apreciao dos vdeos Tratamento da Informao Ensino
Fundamental I 4:50 e D20: Tratamento da Informao: Grficos e Estatsticas 13:45,
quando foi possvel observar situao relevante de trabalho com a educao estatstica no 1
ano do ensino fundamental, intesificando abordagem sobre a valorizao dos intereses e do
cotidiano das crianas.
Pensando em demonstrar como exemplo um processo de investigao e apresentao
de dados, as orientadoras de estudos apresentaram s professoras alfabetizadoras, resultados
inicias da investigao, que aconteceu por meio do questionrio inicial que estava, naquele
momento em processo de anlise. A inteno foi fortalecer que o importante para a Estatstica
decidir as questes que devem ser feitas, os dados a coletar, as estratgias de classificao
das respostas (BRASIL, PNAIC 7, EDUCAO ESTATSTICA, 2014, p. 8). Considerouse importante que neste momento as professoras compreendessem para suas prticas
pedaggicas que:
Aprender a fazer pesquisa favorece, no somente a formao estatstica do
cidado, como, tambm, a formao cientfica. A Estatstica tem importncia
numa perspectiva interdisciplinar, para a formao do cidado em outras
reas do conhecimento, pois as questes a serem investigadas so geradas
nos diversos campos de conhecimento (BRASIL, PNAIC 7, EDUCAO
ESTATSTICA, 2014, p. 8).
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12
recomenda o trabalho com as definies, no entanto o professor precisa ter tal conhecimento.
Para concluir, salienta-se que:
O desenvolvimento do raciocnio combinatrio um processo longo.
necessrio, portanto, que durante a escolarizao os diferentes tipos de
problemas sejam trabalhados e que haja um aprofundamento contnuo para
que estratgias prprias das crianas, mais informais, sejam gradativamente
transformadas em procedimentos e sistematizados (BRASIL, PNAIC 7,
EDUCAO ESTATSTICA, 2014, p. 50).
Foram
PNAIC/Matemtica: Pintando o Sete, Travessia do Rio, Corrida dos Pees e Cara ou Coroa.
Considerando a importncia do envolvimento dos professores em experincias de
aprendizagem dos contedos e atividades a serem desenvolvidas em suas salas de
alfabetizao, ao final de cada texto do Caderno foi feita a proposio de experimentar
situaes da Seo Compartilhando do Caderno 7 Educao Estatstica: Atividade 2
Realizando uma pesquisa, Iniciando uma pesquisa, Elaborando o instrumento de Coleta
de Dados, Construindo Grficos socializando resultados. Atividade 5 Realizando
problemas de Combinatria e Atividade 7 Jogo das fichas ou tampinhas. Em reflexo
sobre as abordagens tericas e pedaggicas discutidas, o grupo percebeu que tais contedos
so importantes, relevantes e possveis para o trabalho com as turmas de alfabetizao.
4.3. Percepes de novas possibilidades
Na investigao final o instrumento questionrio foi proposto para ser respondido
pelos grupos escola, o mesmo foi enviado s professoras por email e da mesma forma
retornou s pesquisadoras orientadoras de estudo. Das 21 (vinte e uma) escolas participantes,
apenas 8 (oito) delas responderam ao questionrio e o devolveram s pesquisadoras. Nas
respostas das professoras alfabetizadoras, as mesmas pontuaram que a partir dos estudos e
reflexes propostos pelas orientaes do Caderno Educao Estatstica PNAIC/2014,
perceberam que h falhas no trabalho proposto para as turmas de alfabetizao e destacaram
alguns pontos que precisam ser ajustados em suas prticas pedaggicas.
Quanto ao trabalho desenvolvido com grficos e tabelas, identificaram os seguintes
aspectos que apresentam falhas: a pouca valorizao da importncia da funo do ttulo no
grfico e na tabela, o pouco uso e valorizao da funo das linhas e colunas nas tabelas,
pouco uso e falta de discusso da funo e indicao dos nomes dos eixos no grfico, falta de
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13
propostas de trabalho com diferentes tipos de grficos, utilizao apenas do grfico de barras,
pouco envolvimento das crianas no processo de investigao, coleta e apresentao dos
dados.
Percebemos algumas falhas na forma de organizao e construo dos grficos e
tabelas.
(...) mas com o estudo do PNAIC, percebemos a falha em no colocar a fonte (do
grfico e da tabela) e principalmente que podemos trabalhar com diferentes tipos de
grficos, no s o de barras.
(...) depois de ter estudado o Caderno 7 percebemos a importncia de deixar eles (as
crianas) representarem a coleta de dados sem a interveno da professora e a partir
deste, fazer as intervenes. Trabalhar outros tipos de grficos como os de setores e
outros. Explicitar sempre a finalidade e objetivos das pesquisas.
Sim (quanto as falhas), em relao a grficos de setores (...). O estudo nos trouxe
relatos com exemplos prticos de como trabalhar esse contedo em sala de aula, pois
no tnhamos uma compreenso adequada assim nos limitava apenas aos grficos de
barras e resolues aditivas simples.
O trabalho est centrado em grficos e tabelas. Falha ao coletar informaes, pois as
questes geralmente so formuladas de forma superficial (...). Os grficos elaborados
esto com informaes incompletas, no aparecendo o ttulo e as setas com os dados
horizontais e verticais para o cruzamento das informaes.
A principal falha diz respeito ao conceito de tabela (...) ns fazamos o que na verdade
um quadro ou planilha (Reflexo das professoras sobre as falhas no trabalho
pedaggico com as propostas de atividades com Educao Estatstica/Tratamento da
Informao).
Bittar e Freitas (2004, p. 211) destacam como essencial para o primeiro ciclo do EF o
desenvolvimento das habilidades: leitura e interpretao de informaes; coleta e
organizao de dados e interpretao e elaborao de tabelas simples, de dupla entrada e de
grficos de barras. No entanto, os estudos do Caderno 7 ressaltam que existem diferentes
tipos de grficos que podem ser trabalhados nos anos iniciais, como o pictograma, barras,
linha e setor, pois considera-se a importncia de as crianas conhecerem as diferentes
representaes. E, principalmente que no ciclo de alfabetizao o trabalho com grfico se
inicie com a representao utilizando materiais manipilveis para posterir registro.
E quanto aos demais contedos abordados pelo PNAIC na Educao Estatstica,
apesar da pouca nfase, as professoras reconheceram a necessidade e as possibilidades do
trabalho com situaes-problema relacionadas combinatria e probabilidade com as
crianas no incio do processo de alfabetizao.
(...) tambm percebemos a falha em no promover problemas relacionados
combinatria e a probabilidade.
(...) e resolues de problemas em combinatria, pois no tnhamos um esclarecimento
de como trabalhar com esse tipo de atividade com o 1 ano (Reflexo das professoras
sobre as falhas no trabalho pedaggico com as propostas de atividades com Educao
Estatstica/Tratamento da Informao).
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Desta forma, pode-se afirmar que o encontro de estudo sobre a educao estatstica,
segundo os conceitos abordados pelo PNAIC, favoreceu a refelexo sobre as prticas atuais e
norteou a viso de novos potenciais, que podem favorecer a alfabetizao matemtica, pois
para esta prtica necessrio o dilogo entre as reas do conhecimento e prticas sociais,
sejam elas do mundo da crianaa, como os jogos e brincadeiras, sejam elas do mundo adulto
e de perspectivas diferenciadas (...) (BRASIL, PNAIC 1, APRESENTAO, 2014, p. 15).
Assim, possvel destacar que os objetivos do processo de formao de professores do
PNAIC est sendo atingido e, suas concepes esto atingindo os professores para
os
5. Consideraes finais
Conclui-se a partir das anlises realizadas, que o trabalho das professoras
alfabetizadoras focado em grfico e tabela de acordo com o Referencial Curricular da
REME e item 8 da Planilha de Acompanhamento da Aprendizagem do 1 ano. Combinatria e
Probabilidade no constam na listagem de contedos do Eixo Tratamento da Informao no
PCN e Referencial da REME e por isso a maioria das professoras no relacionam os mesmos
em suas aes pedaggicas.
No entanto, o Referencial da REME, pontua que os contedos do 1 ano so noes
de grficos e tabelas simples, confirmando o que foi respondido pelas professoras
alfabetizadoras em relao s aes pedaggicas. Desta forma, reconhece-se a necessidade de
retomada aos documentos da REME, Referencial Curricular e Planilha de Acompanhamento
da Aprendizagem, para estudos mais aprofundados e reformulaes.
Enfim, acredita-se que possvel e necessrio o trabalho com a educao estatstica
no 1 ano do EF, porm, deve-se aprofundar os conhecimentos sobre a educao estatstica
911
15
6. Referncias
BRASIL. Secretaria de Educao Fundamental. Parmetros Curriculares Nacionais:
Matemtica. Braslia: MEC/SEF, 1997.
BRASIL, Secretaria de Educao Bsica. Diretoria de Apoio Gesto Educacional. Pacto
Nacional pela Alfabetizao na Idade Certa: Apresentao. Braslia: MEC, SEB, 2014.
BRASIL, Secretaria de Educao Bsica. Diretoria de Apoio Gesto Educacional. Pacto
Nacional pela Alfabetizao na Idade Certa: Educao Estatstica. Braslia: MEC, SEB,
2014.
BITTAR, Marilena; FREITAS, Jos Luiz Magalhes de. Fundamentos e metodologia de
matemtica para os ciclos iniciais do ensino fundamental. Campo Grande, MS: Ed.
UFMS, 2004.
MARCONI. M. A.; LAKATOS, E. M. Tcnicas de pesquisa. So Paulo: Atlas, 1999.
LOPES, Celi E. . O ensino da estatstica e da probabilidade na educao bsica e a formao
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http://www.cedes.unicamp.br
LDKE, M; ANDRE, M. E. D. A. Pesquisa em educao: abordagens qualitativas. So
Paulo: EPU, 1986.
912
INTRODUO
O presente artigo integra uma pesquisa de mestrado em andamento, e tem como
objetivo discutir possveis contribuies do processo de formao continuada de professores
para a implementao e ressignificao do currculo na Educao Infantil. Para tanto,
1
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OBJETIVO
- Analisar as possveis contribuies do processo de formao continuada de professores de
Educao Infantil, para a implementao e ressignificao do currculo no contexto em que
ele se desenvolve, Centro Educacional de Educao Infantil.
METODOLOGIA
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DISCUSSO
Diante essas disposies legais, abriu-se o terreno para a discusso sobre o currculo
das instituies de Educao Infantil, visando atender as necessidades e especificidades da
criana de 0 a 53anos, no sentido de garantir tanto o cuidado quanto a educao dessas,
visando seu desenvolvimento integral. Nesse sentido, a equipe do Ministrio da Educao
(MEC) elaborou o Referencial Curricular Nacional para a Educao Infantil RCNEI 3
Em 2006, a da Lei 11. 274 modifica a redao do artigo 32 da LDB 9394/96 e passa a estipular o ensino
fundamental, obrigatrio, com durao de 9 (nove) anos, tendo incio a partir dos 6 (seis) anos de idade. Em
decorrncia dessa mudana, no ano de 2013, a redao do artigo 29 revista e especifica o atendimento da
criana de at 5 anos de idade em instituies de Educao Infantil.
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Contudo,
salientamos
que
essas
experincias
propostas
devem
ser
RESULTADOS
12
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Acreditamos que a reflexo permite aos docentes rever suas aes cotidianas e
redimensionar prxis, bem como propostas curriculares. Salientamos ainda que a formao
atrelada ao processo de pesquisa, na interlocuo com os profissionais que tm sua vivncia
compartilhada, de acordo com Mello (2012, p. 28) pode contribuir para formular outras
compreenses para o cotidiano escolar. No caso da pesquisa realizada, constatou-se que
nessa primeira etapa a leitura e estudo dos RCNEI e de autores conhecidos e ainda no
familiarizados pelos docentes e sujeitos envolvidos, possibilitou a ampliao de seus
conhecimentos alm de acrescentar novas vises pedaggicas e pessoais, o que os conduziu
para a ousadia da construo da proposta pedaggica a ser implementada pelo CEINF.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
BRASIL. Senado Federal. Constituio da repblica federativa do Brasil. 1988.
BRASIL. Lei n 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de diretrizes e bases da educao
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Educao. Parecer CEB 022/98; Resoluo CEB 1/1999. Diretrizes curriculares nacionais
para a educao infantil. Braslia: MEC/SEF, 1999.
13
925
14
926
KRAMER, Sonia. A infncia e sua singularidade. In: Ensino fundamental de nove anos:
orientaes para a incluso da criana de seis anos de idade. Braslia: FNDE, Estao Grfica,
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KRAMER, Sonia. As crianas de 0 a 6 anos nas polticas educacionais no Brasil: Educao
Infantil e/ fundamental. In: Revista Educao e Sociedade. Campinas: vol. 27, n. 96, out.
2006.
p.
797-818.
Disponvel
em:
15
927
Aluna do Curso de Pedagogia da UFMS, bolsista de Iniciao Cientfica CNPq PIBIC 2014/2015
Professora doutora do Curso de Pedagogia da UFMS, Centro de Cincias Humanas e Sociais.
Introduo
Intencionamos com a pesquisa Constituio da identidade profissional docente na
Educao Infantil: da formao ao conhecer e analisar as prticas de formao inicial, os
928
A formao docente, nas ltimas dcadas, tem chamado ateno da sociedade, etem
estado em destaque no cenrio da educao mundial. Essa evidncia deve-se ao fato de que a
formao inicial no garante adequado alicerce para uma ao profissional docente eficaz no
cotidiano das instituies educacionais. Pelo exposto, podemos inferir que as formaes
continuadas, que antes tinham a funo primordial de apurar, revigorar e inovar as prticas
929
docentes, tendo por base as [...] novas produes cientficas, culturais e tecnolgicas [...]
(GATTI, 2008), atualmente, tem como funo principalprover asdeficincias que acometem
aformao inicialdocente em nosso pas e grande parte do mundo. Observamos que:
Muitas das iniciativas pblicas de formao continuada no setor educacional
adquiriram, ento, a feio de programas compensatrios e no propriamente
de atualizao e aprofundamento em avanos do conhecimento, sendo
realizados com a finalidade de suprir aspectos da m-formao anterior,
alterando
o
propsito
inicial
dessa
educao
930
continuada tenham tido, nas ltimas dcadas, algumas mudanas importantes, possvel
concluir que: [...] realizar a formao, de cursos padronizados ministrados por especialistas
nos quais o professor um ignorante que assiste a sesses que o culturalizam e iluminam
profissionalmente [...] (IMBERNN, 2010, p.8-9), no suficiente, pois preciso
considerar de que lugar vieram esses sujeitos e onde pretendem chegar.. Outo aspecto que
deve ser ressaltado as dessemelhanas dos cotidianos das prticas dos/as professores/as nas
diferentesformas de organizao das instituies educacionais em nosso pas, isso porque:
No podemos separar a formao do contexto de trabalho, porque nos
enganaramos em nosso discurso. Ou seja, tudo o que se explica no serve
para todos nem se aplica a todos os lugares. O contexto condicionar as
prticas formadoras, bem como sua repercusso nos professores, e, sem
dvida, na inovao e na mudana. (IMBERNN, 2010, p.9).
Assim, preciso refletir sobre a formao inicial e continuada de docente que esto
sendo ofertadas nos ltimos anos e pensar em novos caminhos a serem trilhados na busca de
uma formao docente mais sensvel para os sujeitos, em formao, e dessa forma, contribuir
para que aconteam as mudanas necessrias, que viabilizem a construo de dilogos entre
teoria e prtica no exerccio da profisso docente. A formao dos professores influi e recebe
a influncia do contexto em que se produz e, por sua vez, condiciona os resultados
(IMBERNN, 2010, p.34).
As provocaes so inmeras, e no que se refere formao humana no existe
resultadoconcludo, mas possvel buscar nas formaes do passado, os desacertos para
tentar, no presente, novas alternativas e propostas no que se refere s relaes pessoais entre
docentes, os anseios e as maneiras diversas de aes pedaggicas,as dificuldades docentes na
gesto da sala e no pensar e adaptar seus fazeres e seus saberes com o cotidiano profissional.
Analisar e refletir, ainda durante a graduao e nos anos iniciais do trabalho docente nas
instituies educativas, sobreas ocorrncias mais comuns do dia a dia da profisso docente.
Isso tem sido um dos servios mais promissores que a formao continuada e os grupos de
pesquisa podem proporcionaraosprofessores/as iniciantes e aos acadmicos/as dos cursos de
formao inicial das licenciaturas, por meio da metodologia de pesquisa intitulada pela
pesquisadora sua Josso (2010) sobre pesquisa-formao.
A mudana oferecida no quadro de uma pesquisa-formao uma
transformao do sujeito aprendente pela tomada de conscincia de que ele
sujeito de suas transformaes; em outras palavras, a pesquisa-formao
uma metodologia de abordagem do sujeito consciencial, de suas dinmicas
de ser no mundo, de suas aprendizagens, das objetivaes e valorizaes que
931
Para os/asprofessores/as iniciantes fazer parte de uma pesquisa com essa magnitude
um exerccio de construo de identidade profissional, pois constituir essa identidade perpassa
todas as relaes e as concepes de mundo que trazemos do meio em que nascemos e
crescemos. A formao inicial e continuada so apenas parte de um processo longo. Diversos
estudos comprovam que a carreira docente marcada por fases distintas, a saber:
[...] incio na carreira, etapa em que j possui certa estabilidade profissional,
perodo em que questiona sua opo profissional, perodo em que se
aproxima de sua aposentadoria o professor enfrenta diferentes
necessidades, problemas, expectativas, desafios, dilemas e vai construindo
seu conhecimento profissional. (NONO, 2011, p. 15).
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preciso que os/as professores/as iniciantes tenham equilbrio para aproveitar esses
elementos e juntos com as crianas e na partilha com outros/as professores/as encontrarem a
melhor soluo. As situaes que ocorrem na sala de atividades no devem ser ignoradas por
menores que paream, elas devem ser objeto de reflexo constante do/a professor/a, na
perspectiva de se buscar novas alternativas de trabalho. Mudana de planejamento dirio e
jogo de cintura para trabalhar com situaes adversas como as interrupes bruscas da na sala
so necessrias por se tratar de uma prtica dinmica.
936
As pautas dos encontros de formao continuada contribuem para que acontea essa
dinmica constante: refletir, no cotidiano, a prticapedaggica dos/asprofessores/asda
Educao Infantil e os elementos surpresas que surgem no dia a dia. Eessa prtica torna-se
indispensvel para a constituio da identidade profissional docente para a Educao Infantil,
visto que identidade : [...] resultado da capacidade de reflexo [...] (IMBERNON, 2009, p.
72). Ponderar as prticas e os episdios do dia a dia fundamental para que
professores/asconstituam de forma crtica e reflexiva a identidade profissional docente para a
Educao Infantil, e dessa forma possam, no seu fazer pedaggico, articular teoria e prtica,
sem desconsiderar os sujeitos com quem se relaciona e as diversas situaes que ocorrem nas
instituies educativas para a Educao Infantil.
Da Formao Ao: em pauta as observaes da prtica educativa da professora da
Educao Infantil
As instituies educativas para a Educao Infantil tm, nas ltimas dcadas, em
consequncia das diversas mudanas sociais e econmicas e a entrada e permanncia das
mulheres no mercado de trabalho, assumido um papel importante na vida das famlias ao
compartilhar com elas a responsabilidade dos cuidados e educao de seus filhos pequenos. O
trabalho docente com crianas bem pequenas ou bebs exige, cada vez mais, um refletir
constante em relao s aes pedaggicas e, a partir dessa reflexo, buscar articular seus
saberes e seus fazeres, as inmeras necessidades imediatas desses bebs e considerandoas
reais condies das instituies de Educao Infantil. Dos profissionais que trabalham com
crianas pequenas imprescindvel capacidade terico-metodolgica e relacional. Ao
observarmos as prticas educativas de uma professora iniciante em uma instituio de
Educao Infantil quatro horas por semana durante nove meses,foi possvel compreendermos
que esse trabalho demanda disposio, empenho corporal, emocional e afetivo para com as
crianas que durante cinco dias da semana por, aproximadamente, nove horas por dia so
cuidadas e educadas pelas professoras e auxiliar que ali esto.
No incio do trabalho docente as professoras do Berrio A reuniram-se com as
famlias dascrianas da sala. Os objetivos da reunio foram: conhecer os pais, apresentao
das professoras e auxiliar para os pais para que conhecessem por quem seus filhos e filhas
seriam cuidados e educados, e tambm conhecer as crianas para possveis intervenes
especficas, se fossemnecessrias.
conhecem as crianas e que entendem muito sobre como cuid-las pode facilitar o
relacionamento. Antes de tudo, preciso estabelecer uma relao de confiana com as
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famlias, deixando claro que o objetivo a parceria de cuidados e educao visando ao bemestar da criana(Brasil, 1998, p. 80). Para alguns pais esse tambm um momento difcil.
Deixar seus filhos e filhas com quem no conhece e com quem suas crianas ainda no
tmvnculoafetivo algo que causa instabilidade.
Comrotina bem definida pelas professoras e pela coordenao pedaggica, as crianas
iniciaram o ano com a dolorosa adaptao. Muitos bebs alimentam-se, exclusivamente, do
leite materno, dificultando a separao com a me e tornando-a mais dolorida. As professoras
e auxiliar prepararam tticas, diversificadas, para dar apoio emocional aos bebs neste perodo
inicial em que elas chegam instituio educativa pela primeira vez. Msicas, colo, carinho,
ateno, banhos mornos, histrias diversas e sadas em horrios flexveis [...]. (OLIVEIRA;
CUSINATO, 2015, p. 01), foram estratgias adotadas pelas professoras e auxiliar do Berrio
A para minimizar a ansiedade dos bebs por ficarem longe de seus cuidadores habituais.
Mesmo com os preparativos e estratgias diversificadas, os bebs evidenciaram, no incio,
desconforto com choros intensos e recusa para alimentao.
um momento difcil para os bebs,pais e professoras. O ingresso das crianas nas
instituies pode criar ansiedade tanto para elas e para seus pais como para os/as professores.
As reaes podem variar muito, tanto em relao s manifestaes emocionais quanto ao
tempo necessrio para se efetivar o processo (Brasil, 1998, p. 79-80). Outra estratgia
utilizada pelas professoras e auxiliar da sala de atividades foi solicitar aos pais que
trouxessem de casa alguns objetos pessoais das crianas para fazer parte da nova rotina e
tornar o espao mais familiar para as crianas. A permanncia na instituio de alguns
objetos de transio, como a chupeta, a fralda que ele usa para cheirar, um mordedor, ou
mesmo o bico da mamadeira a que ele est acostumado, ajudar neste processo(Brasil, 1998,
p. 80).A adaptao das crianas acontece de forma subjetiva. Algumas demoram mais tempo
para cessar o choro intenso e a recusa em receber aalimentao e exigem novas estratgias,
outras menos tempo. Essa diferena pode estar ligada a forma como a famlia encara a entrada
das crianas nas instituies educativas.
A maneira como a famlia v a entrada da criana na instituio de educao
infantil tem uma influncia marcante nas reaes e emoes da criana
durante o processo inicial. Acolher os pais com suas dvidas, angstias e
ansiedades, oferecendo apoio tranquilidade, contribui para que a criana
tambm se sinta menos insegura nos primeiro dias na instituio. (Brasil,
1998, p. 80).
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Consideraes finais
Com a concluso da pesquisa Constituio da identidade profissional docente na
Educao Infantil: da formao aofoi possvel identificar por meio das observaes na
instituio de Educao Infantil e nos encontros mensais por meio das narrativas
autobiogrficas
das/os
professoras/es
que
alm
das
tcnicas
metodologia
941
Referncias
ARAJO, R. M. B. A formao dos professores para a Educao Infantil: novos olhares.
Revista do COGEIME, v. n 27, p. 55-66, 2005.
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Desporto, Secretaria de Educao Fundamental. Braslia: MEC/SEF, 1998.
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VEENMAN, S. Problemas percebidos de professores iniciantes. Reviewof Educational
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2013, Goinia-GO.
OLIVEIRA, N. M; Cusinato, M. C. Relatrio de sala. Campo Grande /MS. 2015.
942
INTRODUO
O trabalho de pesquisa uma atividade inerente as aes pedaggicas dos
professores, sejam para ministrar aulas ou para a produo de saberes enquanto pesquisador.
Ensina Demo (2011, p. 15) que, quem ensina carece pesquisar; quem pesquisa carece
ensinar. O autor explicita a relao da pesquisa com o ensino e vice-e-versa, sendo a
pesquisa mola propulsora para a reflexo do ensino e este ltimo como base de reflexo para a
promoo de pesquisas com o intuito de promover a prxis profissional, no entrelaamento da
teoria e a prtica e suas reflexes.
Ainda que a produo de pesquisa esteja no bojo das atribuies docentes, na
prtica, em especial no ensino superior, onde este trabalho torna-se obrigatrio para a
finalizao do curso de graduao, percebe-se que h um grande distanciamento entre o
Doutora em Educao, Professora do Curso de Pedagogia da Faculdade Salesiana de Santa Teresa - Corumb,
MS - Brasil. Email: [email protected].
2
Mestre em Educao, Coordenadora e Professora do curso de Pedagogia da Faculdade Salesiana de Santa
Teresa - Corumb/MS. Email: [email protected]
943
falar/ensinar teoricamente e, o fazer pesquisa. Nesta linha de pensamento afirma Luna (2007,
p. 11) que "uma coisa promover, entre os alunos, a discusso terico-metodolgica sobre a
realidade que eles precisam aprender e representar para poder analisar; outra coisa substituir
o fazer pesquisa pelo falar pesquisa." (grifo do autor).
A promoo da discusso ou ainda a apresentao da estrutura de pesquisa [em
todos os seus aspectos] deveria perpassar pela experincia concreta da pesquisa, no intuito de
viabilizar ao estudante a compreenso do processo e suas fases, e facilitar a aprendizagem
necessria a construo da pesquisa. Porm, para que essa facilitao ocorra necessrio que
o professor tenha vivenciado esta experincia, no apenas como estudante [durante a
graduao], mas sim, que tenha experimentado o fazer pesquisa em cursos de ps-graduao,
sejam eles lato sensu ou stricto sensu.
Assim este artigo trata da construo de uma nova postura diante do conhecimento,
uma vez que o conhecimento tem a condio de ser inacabado e destaca em suas reflexes, a
importncia da formao continuada de professores enquanto uma poltica educacional
visando um ensino de qualidade e a reelaborao dos saberes docentes, principalmente no
momento da construo da pesquisa de interveno culminada no trabalho de concluso de
curso, com base nas experincias vivenciadas pelas autoras desse artigo, no Programa
Nacional Escola de Gestores da Educao Bsica Pblica, na modalidade distncia, tanto
como professoras pesquisadora e/ou orientadora do trabalho final de curso.
OBJETIVOS
O objetivo geral deste artigo fomentar uma anlise dos saberes necessrios no
processo de ensino-aprendizagem da pesquisa. E tem como objetivos especficos explicitar a
necessidade de formao continuada para os professores e promover uma reflexo sobre a
promoo de pesquisas enquanto princpio educativo, vinculada ao fazer docente.
METODOLOGIA
A metodologia utilizada para esse artigo foi pautada no mtodo dedutivo, que para
Gil (1999, p. 27) de acordo com a acepo clssica, o mtodo que parte do geral e, a seguir
desce ao particular. Parte de princpios reconhecidos como verdadeiros [...] e possibilita
chegar a concluses de maneira puramente formal.
944
Para o trabalho auxiliar ao mtodo dedutivo, foi trabalhado com o mtodo analtico:
que vai-se do todo s partes, ou seja, decompe-se o todo em suas partes constituintes, e
busca-se compreender como essas partes articulam entre si. (MARQUES; et al, 2008, p. 42).
E tambm o mtodo funcionalista que, mais um mtodo de interpretao do que
investigao. Enfatiza as relaes e o ajustamento entre os diversos componentes de uma
cultura ou sociedade, parte do ponto de vista da funo das unidades [...]. (MARQUES, et al,
2008, p. 49).
Quanto finalidade possvel dizer que apresenta carter explicativo, que: tem
como objetivo principal tornar algo inteligvel, justificar lhes o motivo. Visa esclarecer quais
fatores contribuem para a ocorrncia de determinado fenmeno. Pressupe pesquisa descritiva
como base para suas explicaes. (VERGARA, 2010).
DISCUSSO
945
Destaca-se aqui que, a proposta do programa, ainda que vinculado diretamente aos
professores da educao bsica e aos gestores, atende transversalmente os docentes que atuam
no ensino superior da rede particular, que invariavelmente esto vinculados ao ensino bsico
como principal atividade financeira.
Os principais objetivos do Programa visam formar, em nvel de especializao [lato
sensu], gestores educacionais efetivos das escolas pblicas da educao bsica, coordenadores
pedaggicos, includos aqueles de educao de jovens e adultos, de educao especial e de
educao profissional e contribuir com a qualificao e formao dos professores na
perspectiva da gesto democrtica e da efetivao do direito educao escolar com
qualidade social.
Historicamente sabe-se que a necessidade de formao de professores no Brasil e no
mundo teve como impulso o desenvolvimento tecnolgico, acrescida pela formalizao
imposta pela legislao e polticas pblicas para a formao continuada. No Brasil, os
pesquisadores Oliveira (2004) e Pacheco (2001), destacam que a valorizao dos programas
de formao continuada dos professores teve influncia direta das reformas educacionais que
ocorreram desde os anos de 1960, e refletidas de forma mais intensa na educao pblica nos
anos de 1990.
Para Scheibe (2008, p. 41), a formao dos professores no Brasil por vrios anos foi
interpretada de forma empirista, ou seja, se bastava que o professor observasse os mestres
mais experientes para se tornar aptos na profisso. Com isso, foi gerando uma desvalorizao
dos saberes docentes.
No governo do presidente Luiz Incio Lula da Silva ocorreu constituio de
programas implementados por meio de parcerias com as Instituies Federais de Ensino
Superior e Secretarias de Educao dos Estados e Municpios, com o intuito a atender as
demandas de formao. Segundo Scheibe (2008, p. 49):
A demanda de formao inicial e continuada de profissionais do magistrio
da educao bsica no pas requer hoje novas interfaces na formao e
estratgias de integrao entre os estados, os municpios e o Distrito Federal
e as instituies de ensino superior. So requeridas iniciativas de carter
tanto conjuntural como emergencial. Este e o desafio que cabe a recente
reestruturao do Ministrio da Educao e da CAPES (Coordenao de
Aperfeioamento de pessoal de Nvel Superior), que passa a ser a agencia
reguladora dos cursos de formao de professores para a Educao Bsica; e
ao Programa de Apoio a Planos de Reestruturao e Expanso das
Universidades Federais - REUNI.
946
947
Com base nesse pressuposto corrobora Vergara (2010, p. 1-2) que "a cincia uma
das formas de se ter acesso ao conhecimento [...] a cincia busca oferecer explicaes acerca
de um fenmeno, mas no dogma [...] a efervescncia de reflexes, discusses, [...]
sistematizaes e ressistematizaes."
Clareia-se ento a ideia de que cincia no algo finito e linear, contrariamente est
ligada ao movimento constante de indagar, refutar, organizar e reorganizar dados e
informaes com o objetivo de confirmar ou contestar seus resultados, que por sua vez,
produzem novos conhecimentos, novas possibilidades de pesquisa e estudo.
Por isso, a cincia entendida como um constante processo racional de ordenao
lgica de erros e acertos na investigao de respostas a um determinado problema. Numa
(re)construo do mundo em que vivemos. (VERGARA, 2010).
Tal processo possui uma atividade bsica: pesquisa. A sistematizao da busca de
respostas ou esclarecimentos norteada pelo fazer pesquisa. Assevera Gil (2008, p.17) que:
A pesquisa requerida quando no se dispe de informao suficiente para responder ao
problema, ou ento, quando a informao disponvel se encontra em tal estado de desordem
que no possa ser adequadamente relacionada ao problema.
A pesquisa ento deve responder aos questionamentos sobre a realidade vivenciada
ou no pelos sujeitos que a propem, e seu resultado precisa ter significado e ser fidedigno ao
universo estudado. Esse carter de autenticidade em especial, deve sobrepor-se s ideologias e
crenas, para que prevalea a atitude cientfica dos pesquisadores e seu esprito crtico. Para
948
Demo (2011, p. 10) a pesquisa pode significar condio de conscincia crtica e cabe como
componente necessrio de toda proposta emancipatria.
A Pesquisa e a Prtica Docente
Assim, quando se sugere discutir o trabalho docente para a realizao de pesquisa,
direciona-se a identificao da prtica pedaggica dos docentes e os saberes necessrios para
a transformao e/ou formao dessa prtica.
A partir da prtica pedaggica possvel reconhecer o processo de ensinoaprendizagem desenvolvido pelo professor e destacar quais so os seus procedimentos, a qual
tendncia ele est vinculado e que didtica utilizada em suas aulas.
Se a prtica pedaggica,
uma prtica social orientada por objetivos, finalidade e conhecimentos, e
inserida no contexto da prtica social. A prtica pedaggica uma dimenso
da prtica social que pressupe a relao teoria-prtica, e essencialmente
nosso dever, como educadores, a busca de condies necessrias a sua
realizao (VEIGA, 1988, p. 8).
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GT- 5
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INTRODUO
Esta pesquisa pauta-se em uma ao de investigao para discutir a realidade do/a
professor/a iniciante, por meio do contexto de sua formao e do evidenciamento dos desafios
encontrados no exerccio da docncia, apresentando ento uma proposta inovadora no que
tange a investigao/formao em torno de professores egressos do curso de pedagogia.Assim
sendo, observamos que as aes e prticas vividas por professores que se iniciam na docncia,
devem levar em considerao os desafios e dilemas vividos tais como: aprender e refletir
sobre sua pratica, adaptar seus saberes a realidade e ao cotidiano da sala de Educao Infantil
municipal, isso por que:
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PROFESSORES INICIANTES
PROCESSO DE PESQUISA
DESENVOLVIMENTO
PROFISSIONAL:
A presente pesquisa estar em continuidade com o projeto de pesquisa por essa razo
operacionalmente, o grupo de professores iniciantes na educao bsica, da secretaria
municipal de educao e os acadmicos dos cursos de Pedagogia das UEMS/UFMS/UCDB
continuaro a ter encontros mensais com os professores-pesquisadores com 3 horas de
durao. Os encontros so desenvolvidos por meio de pautas que tratam de temas abordando a
adaptao dos conhecimentos disciplinares dos professores iniciantes na construo de
estratgias para que as crianas desenvolvam suas capacidades cognitiva, criativa e social.
possvel observar a dificuldade encontrada pelos professores/as recm formados que
chegam a escola com diversos conceitos adquiridos em sua formao docente bsica, porem
com muitas duvidassem relao a sua pratica docente. Para tanto a pesquisa vem contribuindo
com professores/as iniciantes e acadmicos/as residentes buscando assim constituir uma
identidade profissional em meio a dilemas e desafios encontrados na pratica docente. Em
outras palavras:
Em relao aos professores que se iniciam na profisso docentedificuldades, preocupao, sentimentos, aprendizagens parece ficar
evidente a necessidade de que, especialmente nos primeiros anos da
profisso, os docentes tenham oportunidade para conversar com outros
colegas a respeito do ensino que esto desenvolvendo, para analisar o
trabalho de seus alunos, para examinar problemas e para considerar
alternativas de atuao. (FEIMAN-NEMSER, 2001 apud NONO, 2011, p.
36).
959
so ento convidados a refletir sobre a pratica docente, revendo hbitos e lidando com os
desafios e dilemas encontrados no dia a dia.
Para tal, Oliveira contribui afirmando que:
O desenvolvimento pessoal e profissional de um professor um processo
complexo e tecido conforme ele se posiciona em relao a mltiplas e por
vezes, contraditrias situaes. Para tanto, contribuem tambm mltiplos e,
por vezes, contraditrios significados, pontos de vista, valores morais,
crenas expressos pelos discursos elaborados por vrios interlocutores que se
situam nos diferentes contextos criados nas instituies sociais, nos vrios
campos cientficos, nas legislaes, nas experincias sindicais etc.
(OLIVEIRA et al. 2006, p.548)
960
A professora escolhida para esta pesquisa foi uma professora formada em 2011 na
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), que atua em uma Escola Municipal
em Campo Grande MS, numa turma de pr II, com 27 crianas frequentes, sendo este o seu
segundo ano de docncia.Apesar das dificuldades a professora reconhece que as situaes
vividas no cotidiano da turma tem sido fundamentais para transformar sua prtica docente e
ajudar na construo de sua identidade profissional. Brostolin que produz trabalhos
relacionados aos desafios da docncia para professores iniciantes destaca que:
As aceleradas transformaes pelas quais o mundo vem passando a partir das
ltimas dcadas do sculo XX afetaram substancialmente a Educao,
tornando-a mais complexa. Consequentemente, se a educao est mais
complexa, o mesmo dever ocorrer com a profisso docente, pois a
sociedade, de uma forma geral, deposita inmeras expectativas em relao
docncia como profisso. (2012, p. 134).
Para a professora, a infncia deve ser considerada como uma construo social sendo
necessrio um processo de desenvolvimento integral da criana, neste sentido o educador
exerce papel fundamental como mediador entre a criana e as relaes sociais.
961
962
- desenvolver uma imagem positiva de si, atuando de forma cada vez mais
independente, confiante em sua capacidade e percepo de suas limitaes;
- descobrir e conhecer progressivamente seu prprio corpo, suas
potencialidades e seus limites, desenvolvendo e valorizando hbitos de
cuidados com a prpria sade e bem-estar; - estabelecer vnculos afetivos e
de troca com adultos e crianas, fortalecendo sua auto-estima e ampliando
gradativamente suas possibilidades de comunicao e interao social;
- estabelecer e ampliar cada vez mais as relaes sociais, aprendendo aos
poucos a articular seus interesses e pontos de vista com os demais,
respeitando a diversidade e desenvolvendo atitudes de ajuda e colaborao;
- observar e explorar o ambiente com atitude de curiosidade, percebendo-se
cada vez mais como integrante, dependente e agente transformador do meio
ambiente e valorizando atitudes que contribuam para sua conservao;
- brincar expressando emoes, sentimentos, pensamentos, desejos e
necessidades;
- utilizar as diferentes linguagem (corporal, musical, plstica, oral e escrita)
ajustadas s diferentes intenes e situaes de comunicao, de forma a
compreender e ser compreendido, expressar suas idias, sentimentos,
necessidades e desejos e avanar no seu processo de construo de
significados, enriquecendo cada vez mais sua capacidade expressiva;
- conhecer algumas manifestaes culturais, demonstrando atitudes de
interesse, respeito e participao frente a elas e valorizando a diversidade
(BRASIL, 1998 a, p.63).
963
Referente a base terica a professora explica que busca se orientar nas teorias
estudadas na graduao, documentos indicados pela Secretaria Municipal de Educao
(SEMED) e troca de experincia entre os outros professores da escola, entretanto, ela leva em
considerao o cotidiano das crianas e suas especificidades.
Um ponto importante a se considerar no acompanhamento ao professor iniciante
notadamente a preocupao com a preparao das crianas para o ingresso no ensino
fundamental. Nesse sentido, destacamos a importncia no exerccio profissional deevidenciar
aos professores a necessidade do reconhecimento profissional da professora de Educao
Infantil para o atendimento aos pequenos, reconhecendo a especificidade da Educao
Infantile dos Anos Iniciais. O que se observa que:
A vontade de acertar, de ser reconhecido, aliada ao compromisso com os
alunos os leva a resistir s dificuldades, tentar de tudo, porque desistir para o
professor iniciante mais do que abandonar uma profisso, mais do que
perder um emprego, tambm sucumbir s angstias e s dificuldades
encontradas, abdicar-se de seus projetos e ter que se confrontar coma
impotncia, e isto no acontece sem um alto custo emocional, pois a
prpria identidade profissional que est em jogo. [...] (FREITAS, 2000, p. 91
apud NONO, 2011, p. 30-31).
964
965
CONCLUSES
A analise dos resultados realizada pela acadmica residente concluiu que a pesquisaformao foi bem sucedida, pois foram promovidos mudanas positivas em relao
perspectiva
de
prtica
docente,
considerando
que
estas
mudanas
podem
ser
REFERNCIAS
SOBRE
PROFESORADO
PRINCIPIANTE
INSERCIN
966
BRITO, Mrcia de Sousa Terra; COSTA,Marcio da. Prticas e percepes docentes e suas
relaes com o prestgio e clima escolar das escolas pblicas do municpio do Rio de
Janeiro. Disponvel em: <http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v15n45/08.pdf>. Acesso em: 25
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NVOA, Antnio. Os professores e as histrias da sua vida. In: NVOA, Antnio et al.
Vidas de professores. Porto Editora. p.11-30.
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educadores de educao infantil. Cadernos de Pesquisa, v. 36, n. 129, p. 547-571, set./dez.
2006
PIAGET, Jean. Para onde vai educao. Rio de Janeiro. Jos Olmpio, 2007.
967
Resumo:
O presente artigo tem por objetivo, abordar as contribuies e implicaes da formao
continuada em servio dos profissionais que atuam na educao infantil, entre eles o professor
de educao fisica. A realizao
pesquisadores que abordam a questo como Nvoa, A. (1992); Kishimoto. (1999); Kramer
(2005); Imbernn (2010). Este artigo apresenta uma reviso bibliogrfica, onde no primeiro
momento faz uma reflexo sobre a infncia, educao infantil, formao inicial no Brasil e
formao continuada do professor de educao fsica que trabalha na educao infantil,
compondo um percurso histrico da formao dos docente durante todo o perodo at os dias
atuais. O estudo espera promover uma discusso sobre o processo de formao inicial e
continuada dos professores que atuam na educao infantil.
Palavras Chave: Formao Continuada, Educao Infantil; Educao Fsica.
968
Introduo
969
de educar. Aquele que exerce a ao de cuidar, geralmente leigo, com baixos salrios, carga
horria de seis a oito horas por dia em tempo integral e trabalhando onze meses por ano. O
segundo responsvel pela educao, tem formao superior, com melhores salrios, carga
horria de quatro horas dirias, trabalhando apenas no perodo letivo que segue o calendrio
escolar.
Segundo Machado (2008) um dos maiores desafios para educao infantil integrar o
cuidar e o educar, dando nfase para uma pedagogia baseada nas interaes da criana com o
adulto.
Outro problema que ocorre na educao infantil se relaciona aos projetos de formao
para a infncia, os quais no contemplam atendimentos especficos para crianas de zero a
seis anos. preciso que fique claro que apesar de ser a primeira etapa da educao bsica ela
se distingue das outras fases que a sucedem.
Para que possamos pensar como atender s crianas de zero a seis anos necessrio
refletir e responder a seguinte questo: o que proposta pedaggica e currculo em educao
infantil? Ao mesmo tempo preciso pensar que para construir uma proposta de educao
infantil em que as crianas se desenvolvam, construam e adquiram conhecimentos e se tornem
autnomas e cooperativas fundamental pensar na formao permanente dos profissionais
que nela atuam.
A formao de professores um grande desafio para constituir um projeto de educao
infantil. Segundo Kramer, como os professores e educadores favorecero a construo de
conhecimentos se no foram desafiados a construrem os seus? Como podem os professores e
educadores se tornarem construtores de conhecimentos quando so reduzidos a executores de
propostas e projetos de cuja elaborao no participaram e que so chamados apenas a
implantar? Qual o requisito para tornar uma proposta um fato presente? Alm das condies
materiais concretas que assegurem processos de mudana, preciso que os profissionais de
educao infantil tenham acesso ao conhecimento produzido tanto na rea, quanto da cultura
em geral, para repensarem sua pratica, se reconstrurem enquanto cidados e atuarem
enquanto sujeitos da produo de conhecimento. Tudo isso condio para que possam, mais
do que implantar currculos ou aplicar propostas realidade da creche e da pr-escola em que
atuam, participar efetivamente da sua concepo, construo e consolidao. (Kramer apud
MEC/SEF/COEDI, 1996)
Como fica evidente na fala desta autora, de grande importncia o papel do professor
ou educador que atua com a educao infantil, sendo assim se faz necessrio que os mesmos
970
tenham uma formao inicial slida para que possam atuar significativamente com as
crianas.
971
972
posicionamento
marcado
pela
intencionalidade.
necessrio
considerar
as
973
A Educao Fsica uma rea de conhecimento que pesquisa e age sobre um conjunto
de exerccios relacionados ao corpo e ao movimento como os jogos, as ginsticas, as lutas, as
danas e as diferentes modalidades de esportes. Para Darido e Rangel (2005), a rea de
Educao Fsica, em especial a Educao Fsica Escolar, teve grande desenvolvimento nos
ltimos 20 anos graas ao surgimento de diversos estudos em oposio aos modelos
tecnicista, esportivista e biologista advindo do incio da dcada de 80 na rea escolar, visto
que inicialmente essa rea era considerada uma rea de atuao essencialmente prtica e sem
fundamentao terica.
A histria da formao de professores de Educao Fsica no Brasil, conforme Andrade
Filho (2001 apud Lacerda e Costa, 2012, p. 331) pode ser organizada em quatro fases: a
primeira, marcada pela criao da ENEFD (Escola Nacional de Educao Fsica e Desportos),
atual UFRJ, que funcionou com um currculo padro, responsvel pela formao dos
primeiros profissionais civis em substituio ao modelo mdico-militar; a segunda surgiu com
a implantao do Currculo Mnimo em 1969, marcado pelo conflito entre uma viso
esportivizante e outra pedaggico-educacional; a terceira referiu-se ao momento em que
vigorou o currculo por reas de Conhecimento; e a quarta e atual fase do estabelecimento de
Cursos de Graduao, de acordo com as novas Diretrizes Curriculares, determinadas pelo
CNE/MEC sob presso do mercado capitalista.
O 3 pargrafo do Artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educao nacional
(LDB) assegura que A educao fsica, integrada proposta pedaggica da escola,
componente curricular da Educao Bsica, ajustando-se s faixas etrias e s condies da
populao escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos. Ela uma rea da educao que se
preocupa com a prtica de exerccios fsicos nas diferentes etapas do desenvolvimento
humano e na escola que ela ganha maior importncia quando o professor trabalha com
crianas e adolescentes que se encontram em desenvolvimento.
As atividades de educao fsica foram inseridas na educao infantil como forma de
ampliar as possibilidades de trabalho com a motricidade e acontecem de acordo com o
cronograma e com a rotina de cada instituio, sempre respeitando os horrios do sono,
alimentao e banho. Mesmo que a educao fsica no esteja referenciada de forma explcita
no Referencial Curricular Nacional da Educao Infantil (RCNEI), fica clara a importncia de
se trabalhar com o corpo, j que o documento enfatiza:
974
975
CONCLUSES
976
Sendo assim, se faz necessrio a colaborao de todos, uma formao onde exista
troca entre os docentes um espao que favorea o crescimento e desenvolvimento dos
envolvidos com a educao, visando um nico objetivo que a de atender com qualidade, as
crianas, sendo ela de classes sociais ricas ou pobres, deve se visar uma educao de verdade
para todos.
O professor de educao fisica ao realizar as atividades na educao infantil devem
levar em considerao a dimenso ldica como elemento essencial para a ao educativa na
infncia. Cavalaro e Muller (2009, pg. 246) ressaltam que:
O professor de Educao Fsica deve ser mais um adulto com quem as crianas
estabelecem interaes na escola. No entanto, s se justica a necessidade de
um prossional dessa rea na Educao Infantil se as propostas educativas que
dizem respeito ao corpo e ao movimento estiverem plenamente integradas ao
projeto da instituio, de forma que o trabalho dos adultos envolvidos se
complete e se amplie visando possibilitar cada vez mais experincias
inovadoras que desaem as crianas.
REFERNCIAS
977
2009.
MEC, 1996.
CHIMENTO, Lilian Kemmer. O Significado da Formao Continuada Docente. Artigo
apresentado no 4 CONFEP. Revista UEL: 2009.
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IMBERNM, Francisco. Formao permanente do professorado novas tendncias:
traduo de Sandra Trabuco Valenzuela. So Paulo, n. 11, 14, Cortez, 2009.
IMBERNM, Francisco. Formao Continuada de Professores: traduo Juliana dos
Santos Padilha. Porto Alegre, n 39, 40, Artmed,2010.
978
979
980
1 INTRODUO
981
2
2 OBJETIVO
982
3
3 METODOGOLIA
4 A FORMAO CONTINUADA
A mudana no mundo do trabalho, segundo Ferreira (2003, p. 21), com a transio do
fordismo ao toyotismo e a dinamizao do mercado mundial, amplamente favorecidas pelas
tecnologias eletrnicas, trouxe mudanas tambm no mundo da educao, que teve de buscar
por novos meios para atender as necessidades e as competncias exigidas com o avano da
cincia e da tecnologia, pois, o mercado passa a exigir um novo profissional, que tenha
condies de realizar diversas tarefas mediadas pelo conhecimento e domnio de capacidades
superiores:
983
4
Para atender todas estas peculiaridades a formao continuada deve ter como objetivo
rever e refletir sobre as metodologias utilizadas e propor novas, assim como, fazer discusses
tericas atuais, relacionando-as com seu cotidiano escolar, com a inteno de trazer mudanas
prtica pedaggica dos profissionais.
Porm, segundo Barreto (2015, p. 695), a maior parte desta formao ainda feita em
moldes tradicionais: palestras, seminrios, cursos de curta durao, ou seja, representa uma
oferta fragmentada que no traz evidncias sobre sua capacidade de mudar as prticas
docentes. Estas aes no cumprem a meta de transformao da prtica pedaggica, pois no
h tempo suficiente para se consolidar ou refletir sobre determinado tema. Para uma mudana
na prtica dos profissionais da educao deve-se investir em cursos de formao continuada
de longa durao, nos quais se possa ter tempo para consolidar tais mudanas.
De acordo com Moreira (2002, p.54), a formao continuada uma necessidade
intrnseca atuao do professor e, por isso, um direito que precisa ser respeitado (re)
conquistado e ampliado diariamente. Aqui, estendemos esta necessidade a formao
continuada do coordenador pedaggico tambm, pois segundo Placco, Souza e Almeida
(2012, p. 758), para a melhoria da qualidade da educao bsica, ser necessrio voltar a
ateno para profissionais especficos dentro da escola que no tm recebido investimentos,
principalmente no mbito da formao, como o caso do coordenador pedaggico.
984
5
985
6
importante que ele tenha clareza de sua funo dentro da escola, no se prendendo a
questes que no so de sua inteira responsabilidade e principalmente as questes
burocrticas, que pouco ou nada contribuem para o processo de ensino e aprendizagem, pois,
muitos se prendem a estas questes por no terem clareza de suas funes na escola e isto
acontece muitas vezes por falta de formao adequada:
Assim, necessrio pensar uma formao continuada que leve em considerao suas
prticas desenvolvidas no dia a dia dentro da escola e as dificuldades por ele enfrentadas,
porm, as tome como ponto de partida para as reflexes e discusses, buscando meios de
contribuir e de melhorar a realizao de seu trabalho.
A formao continuada do coordenador deve prever e favorecer a discusso
constante de sua prtica, tendo como referncia o seu local de trabalho, que permita a troca de
experincia entre os colegas, pois esta formao muito valorizada por ele, porm deve-se
buscar por teorias que sustentem estas prticas, assim como afirmam Placco, Souza e Almeida
(2012, p. 770):
986
7
Que esta formao permita que o coordenador pedaggico possa tambm contribuir
para a formao dos professores, no apenas no acompanhamento em curso ou sugestes de
leitura, mas como articulador e executor de momentos de pesquisa, discusses e busca por
novos caminhos diante dos desafios encontrados no dia a dia, uma formao contnua e
sistematizada.
nesta perspectiva que se coloca a importncia da formao continuada destes
profissionais, o qual dominando o seu trabalho poder atuar como mediadores do processo de
ensino e aprendizagem, escolhendo junto com seus professores o melhor caminho para
desenvolver com os alunos as melhores situaes para a aquisio do conhecimento.
O local mais propcio para a realizao da formao continuada a escola a qual
pertence, pois de acordo com Kuenzer (2002, p. 71);
987
8
988
9
Outra estratgia so os plos de formao destacado por ela como sendo os momentos
que mais funcionam, pois como afirma:
989
10
Este segundo momento foi realizado no horrio de trabalho, tendo como carga horria
de 8 horas, segundo a entrevistada o ncleo faz questo que se reserve um dia para a
realizao do estudo, mesmo sabendo que para isto ter que reorganizar a dinmica da escola,
pois de acordo com ela:
Este tempo maior para o estudo deve ser oferecido ao coordenador, pois ele deve
conhecer e entender de temas que no eram necessrios enquanto professor, assim como nos
afirma Pinto (2011, p. 20), para ser pedagogo tem que ter uma formao para alm da que
tem o docente. Trata-se de uma formao que ultrapasse o campo da docncia, envolvendo e
aprofundando outras reas de conhecimento que como professor, no se exige dele o
domnio.
Segundo Pinto (2011) a imprevisibilidade no trabalho do coordenador pedaggico
outro motivo que o leva h ter a necessidade de uma formao alm da que se tem o docente,
pois, o cotidiano escolar traz questes e situaes que no so previstas ou planejadas por ele,
e para que se possa solucion-las necessria formao continuada de qualidade, que inclua
saberes de diversas ordens.
Na realizao da formao do ms de agosto foram realizadas parcerias com a editora
SM e com o DITEC, diviso de tecnologia educacional, este parceiro na organizao e
gerenciamento da plataforma moodle. Segundo a entrevistada, o ncleo sempre que
necessrio busca estabelecer estas parcerias, alm das citadas, j foram realizadas parcerias
com a associao dos supervisores de Campo Grande e com a superintendncia pedaggica da
Semed.
Ao final de cada encontro existe um processo de avaliao realizado pelo grupo de
formadores, que muitas vezes acontece at mesmo durante a elaborao da formao, segundo
a tcnica, logo aps a formao o grupo senta, at durante o processo mesmo, alguma coisa
que no deu certo d tempo de replanejar.
Ao ser questionada sobre, quais so os critrios que costumam utilizar para medir a
eficcia da formao continuada com o coordenador pedaggico, e como ocorreu a avaliao
desta formao pelos participantes, a tcnica nos descreve que percebe isto:
990
11
Se ele utilizou, se serviu para alguma coisa na prtica dele, a ideia que isto
sempre faa diferena na prtica dele, conseguimos estas informaes
usando o moodle, se ele participou do frum, a ficha de avaliao, e as
nossas idas as escolas tambm so instrumentos. Ns ficamos muito
contentes com a participao do frum, algumas pessoas fizeram depois, isso
demonstra que conseguimos nosso objetivo, no deu para fazer ali na hora,
mas fizeram em casa, fizeram no trabalho, isto para gente muito positivo o
resultado, no igual ficha de avaliao que ele preenche correndo e vai
embora, pronto resolvi, mas quando ele senta na casa, no trabalho dele e fala
agora vou responder ao frum do NUGEPE maravilhoso, por que ns
conseguimos nosso objetivo, que ele participasse.
De acordo com o relatrio da fundao Carlos Chagas (2001, p. 26), s faz sentido
propor programas de Formao Continuada se eles forem capazes de desencadear mudanas
pertinentes e necessrias nas escolas, capazes de auxili-las a atender mais e melhor sua
clientela, neste sentido que a Secretaria de Educao vem buscando desenvolver suas
atividades de formao continuada, porm a entrevistada nos relata que nas escolas que
visitaram aps a formao, ainda no foi possvel verificar grandes mudanas.
Segundo a entrevistada as participaes nas avaliaes realizada por meio do moodle
so significativas, esta plataforma oferece relatrios das participaes, assim possvel fazer
o acompanhamento de quem est participando ou no, dar e receber sugestes, estas
avaliaes servem de diagnsticos para reelaborar as formaes e pensar em novos temas para
serem trabalhados com a equipe pedaggica.
A tcnica relata a inteno de estar pensando em outras formas de realizar estas
formaes, de maneira que se tenha um cronograma de atividades que possibilite o
acompanhamento mais sistematizado, pois de acordo com ela o ncleo:
991
12
A questo do tempo para a formao uma das dificuldades apresentada pela tcnica,
esta uma questo importante, pois necessrio um acompanhamento sistematizado desta
formao, para que o coordenador possa sedimentar novas atitudes. Pois, de acordo com
Barreto (2015, p. 695):
6 CONCLUSO
992
13
REFERNCIAS
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bsica no Brasil: um panorama nacional. RBPAE v.27, n.1, p. 39-52, jan./abr. 2011
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educacional? 7. ed. Campinas: Papirus, 2002. p. 47-78.
993
14
994
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL
PR-REITORIA DE PESQUISA E PS-GRADUAO - PROPP
UNIDADE UNIVERSITRIA DE CAMPO GRANDE
PROGRAMA DE PS-GRADUAO, MESTRADO PROFISSIONAL
EM EDUCAO
1.
Introduo
Artigo escrito como um dos requisitos para a concluso da disciplina Formao de professores, do Mestrado
Profissional em Educao UEMS.
2
Mestrando do Programa de Mestrado Profissional em Educao pela Universidade Estadual de Mato Grosso do
Sul (UEMS).
3
Professora doutora em Educao pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), professora titular
da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) nos cursos de Pedagogia e Programa de Mestrado
Profissional em Educao na Unidade de Campo Grande. E-mail: [email protected]
995
2
como a sociedade est organizada. Assim, surge a necessidade de planejar e promover aes
que visem responder a essas demandas sociais.
No que se refere educao, uma dessas problemticas a alfabetizao das crianas,
que apesar de inmeras propostas e da diminuio nos nmeros, ainda uma situao
preocupante, pois h um nmero considervel de crianas no alfabetizadas e com idade
acima do previsto, e o que mais alarmante o fato de que a maioria delas frequenta
regularmente a escola.
Nesse sentido, este trabalho visa analisar a proposta de formao ofertada pelo Pacto
Nacional pela Alfabetizao na Idade Certa, um programa do MEC, institudo pela portaria n
867 de 4 de julho de 2012, que se configura como uma ao mais recente e consiste em um
compromisso assumido entre o governo federal, estadual e municipal com objetivo de
alfabetizar todas as crianas at os oito anos de idade, ou seja, ao final do 3 ano do ensino
fundamental.
A metodologia utilizada no desenvolvimento do presente artigo parte de uma anlise
documental e bibliogrfica e passa pela anlise de alguns relatos coletados junto aos docentes
alfabetizadores de escolas da rede pblica estadual de ensino, no municpio de Campo
Grande-MS, com objetivo de apresentar o programa e evidenciar algumas contribuies e
tambm dificuldades relatadas pelos docentes.
996
3
principalmente na formao superior, pois deixa de ser objetivada para um pblico especfico,
com caractersticas e dificuldades particulares para atender o todo, o que significa contemplar
uma demanda maior e resulta em barateamento da mo de obra.
Nesse sentido Barreto (2011) destaca que
[...] o lcus de formao de professores no Brasil, se deslocou por inteiro
para o nvel superior nesse intervalo de tempo relativamente curto. No
surpreende, portanto, que tenha havido uma exploso de matrculas,
registrada pelos Censos da Educao Superior realizados pelo Instituto
Nacional de Pesquisas Educacionais do Ministrio da Educao - Inep/MEC,
e em especial, nos cursos de Pedagogia. Estes se tornaram gradativamente os
nicos responsveis pela formao dos professores dos anos iniciais do
ensino fundamental (que passaram a incluir as crianas de 6 anos) e dos
professores da educao infantil (creches e pr-escolas), assim como pelo
preparo concomitante dos especialistas e gestores educacionais.
(BARRETO, 2011, p.41).
997
4
essa necessidade tambm aos setores profissionais da educao, o que exigiu
o desenvolvimento de polticas nacionais ou regionais em resposta a
problemas caractersticos de nosso sistema educacional. (GATTI, 2008, p.
58).
Ainda nessa perspectiva, destaca-se que de acordo com Bakhtin (1981), uma das
contribuies de Marx para a educao est relacionada a esta questo, pois sua teoria
considera fundamental compreender a sociedade na forma que ela est organizada e a
necessidade de transform-la. Desse modo, as formaes e demais aes que envolvem a
educao no podem ser propostas de forma generalizada, relevante que se investigue e
mensure a problemticas que comprometem o desenvolvimento do trabalho docente. Uma vez
que somente a partir desse mapeamento que ser possvel propor cursos de formao que
vo ao encontro das reais necessidades.
Diante disso, importante mencionar que nas ultimas dcadas o Ministrio da
Educao MEC vem implantando, por meio das polticas pblicas, programas que trazem
em seu bojo a formao continuada para professor alfabetizador como prioridade, porm esto
estruturados a nvel de Brasil, ou seja, de forma generalizada. Verifica-se que esses programas
possibilitam um avano na melhoria dos resultados de desempenho dos estudantes. Contudo,
so resultados muito tmidos, diante do alto investimento em formao e aquisio de
materiais.
998
5
No que se refere a esses programas, outro ponto que no h como deixar de mencionar
e que contribui para o comprometimento dos objetivos esperados, so as constantes rupturas
que ocorrem, ou seja, a substituio de um programa para outro, pois a descontinuidade
interfere no alcance de uma formao de qualidade. Inicia-se todo um trabalho sistemtico,
com aporte terico, mas em curto tempo rompe-se com essa proposta e inicia-se outra
totalmente diferente, o que dificulta o professor seguir uma linha sistemtica de trabalho e
como resultado no se alcana resultados satisfatrios na alfabetizao das crianas.
Portanto considera-se salutar as aes propostas e implementadas pelo MEC, em
relao formao continuada de professores alfabetizadores. Entretanto verifica-se que a
melhoria da qualidade da alfabetizao no Brasil, por ser complexa e pelo seu conjunto de
fatores contextuais, implica em formaes continuadas que considerem as peculiaridades da
vida de cada docente, o que significa planejar e sistematiz-las como polticas pblicas e no
como programa de governo. Isso implica em descentralizar do MEC para serem planejadas a
partir de cada grupo especfico, considerando o contexto ao qual esto inseridos e com essa
aproximao do cotidiano escolar, espera-se conseguir superar o modelo de descontinuidade e
de recomeo constante que caracteriza os programas de formao continuada de professores
da rede pblica de ensino.
No entanto legtimo ressaltar que os programas de formao institudos, via MEC ou
via secretarias, apresentam contribuies relevantes para a melhoria da alfabetizao, pois
promovem a reflexo docente quanto a sua prtica e possibilitam o (re)planejamento de novas
possibilidades para que seus alunos aprendam. Contudo, as aes mais pontuais ao encontro
da realidade de um grupo menor tornam-se mais expressivas.
Nesse sentido, a formao precisa confrontar o professor quanto sua prtica,
conduzindo-o a reflexo e a partir dela o repensar de sua prtica pedaggica. Kramer (2006),
destaca que:
Fundamentalmente, importante perceber que a efetiva formao do
professor em servio se d por meio do confronto entre a reflexo sobre os
conhecimentos advindos da sua prtica e as teorias que explicam,
questionam, polemizam, indagam e permitem melhor compreender essa
prtica. A sntese vivida estudada substitui, assim, os grandiosos, porm
incuos, eventos, treinamentos, capacitaes, reciclagens e estratgias afins,
por um processo aparentemente lento e silencioso, porm mais mobilizador,
crtico e ativo. (KRAMER: 2006, p. 90 apud MARTINS, 2010, p. 114):
Diante dessa afirmao, entende-se que a formao dos professores precisa acontecer
numa perspectiva de integrao entre conhecimentos tericos e prticos, por meio de uma
metodologia articulada, que valorize os saberes dos professores e os insiram num conjunto de
999
6
conhecimentos terico-metodolgicos. Portanto, verifica-se que a formao continuada deve
ultrapassar as ofertas pontuais, as exigncias imediatas da sociedade ou mesmo a finalidade
de atingir determinados ndices em avaliaes institucionais.
Em relao teoria e prtica no trabalho do professor inquestionvel a sua
importncia, pois uma prtica eficaz fundamenta-se em uma teoria slida, porm, no
suficiente e eficaz o docente utilizar-se de uma teoria que justifique sua prtica pedaggica.
Para que essa teoria seja relevante ao trabalho do professor fundamental que o mesmo a
conhea profundamente e estabelea a relao dessa teoria com sua prtica, pois assim
possvel sair da superficialidade e repensar, continuamente, as metodologias utilizadas nas
aulas. Saviani (2011) corrobora com essa reflexo ao afirmar que:
[...] a prtica ser tanto mais coerente e consistente, ser tanto mais
qualitativa, ser tanto mais desenvolvida quanto mais consistente e
desenvolvida for a teoria que a embasa, e [...] uma prtica ser transformada
a medida que exista uma elaborao terica que justifique a necessidade de
sua transformao, estamos pensando a prtica a partir da teoria. Mas
preciso tambm fazer o movimento inverso, ou seja, pensar a teoria a partir
da prtica, porque se a prtica o fundamento da teoria, seu critrio de
verdade e sua finalidade, isso significa que o desenvolvimento da teoria
depende da prtica. (SAVIANI, 2011b, p. 107).
1000
7
com objetivo de alfabetizar todas as crianas at os oito anos de idade, ao final do 3 ano do
ensino fundamental. Tem origem em decorrncia da situao ao qual se encontra a sociedade
na atualidade, pois apesar dos inmeros esforos e aes que visam alfabetizar todas as
crianas e na idade adequada, o que se tem ainda hoje so crianas que frequentam
regularmente a escola, porm avanam de srie sem estarem efetivamente alfabetizadas.
O PNAIC surge como uma proposta, do governo federal, e de acordo com o MEC visa
contribuir para mudar essa realidade, conforme consta no caderno de apresentao:
Na histria do Brasil, temos vivenciado a dura realidade de identificar que
muitas crianas tm concludo sua escolarizao sem estarem plenamente
alfabetizadas. Assim, este Pacto surge como uma luta para garantir o direito
de alfabetizao plena a meninas e meninos, at o 3 ano do ciclo de
alfabetizao. (BRASIL, 2012 p. 5).
1001
8
Nota-se assim que h toda uma estrutura pr-estabelecida com critrios a serem
seguidos, com intuito de promover uma ao de formao continuada efetiva, pois o
engajamento de cada segmento, mencionado acima, corrobora para o sucesso objetivado pelo
programa. Para uma melhor clareza quanto realizao dessas formaes torna-se relevante
descrever, de forma sinttica, como se d a organizao e a realizao da formao em cada
uma dessas instncias.
Primeiramente, para a realizao das formaes, o pacto prev a parceria com as IES,
sendo que no caso de Mato Grosso do Sul essa parceria com a Universidade Federal
UFMS. Nessa parceria a IES oferece formao continuada aos Orientadores de Estudos, por
meio dos Professores Formadores. Entretanto necessrio a da seleo desses formadores
conforme prev a portaria n 1.458, de 14 de dezembro de 2012:
Art. 8. Os formadores sero selecionados pelo coordenador geral da IES,
em processo de seleo pblico e transparente, respeitando-se os prrequisitos estabelecidos para a funo quanto formao e experincia
exigidas, dentre candidatos que renam, no mnimo, as seguintes
caractersticas cumulativas:
I - ter experincia na rea de formao de professores alfabetizadores;
II - ter atuado como professor alfabetizador ou formador de professores
alfabetizadores durante, pelo menos, dois anos;
III - ser formado em pedagogia ou reas afins ou ter licenciatura; e
IV - possuir titulao de especializao, mestrado ou doutorado ou estar
cursando ps-graduao na rea de educao. (BRASIL, 2012).
1002
9
devidamente justificadas no momento do cadastramento, na seleo dos
orientadores de estudo a secretaria de educao dever considerar o
currculo, a experincia e a habilidade didtica do candidato, sendo que o
selecionado deve preencher os seguintes requisitos cumulativos:
I - ser profissional do magistrio efetivo da rede;
II - ser formado em pedagogia ou ter licenciatura; e
III - atuar h, no mnimo, trs anos nos anos iniciais do ensino fundamental,
como professor ou coordenador pedaggico ou possuir experincia
comprovada na formao de professores alfabetizadores. (BRASIL, 2012).
Em relao a essa seleo, importante mencionar que a Rede Estadual seguiu cada
um desses critrios e destacar que a organizao das turmas foi feita de forma diferenciada em
relao s redes municipais, pois h municpios com apenas uma unidade escolar estadual, ou
seja, no h como constituir uma turma para o OE. Nesse sentido, foi necessrio criar alguns
polos de formao e assim os professores alfabetizadores dirigem-se a esses polos, tendo
deslocamento, hospedagem e alimentao custeados pelo estado.
Os orientadores selecionados participam do curso presencial com 200 (duzentas) horas
de durao, oferecido pela IES, com objetivo de aprofundar os estudos das temticas de cada
caderno e oferecer subsdio para o orientador realizar a formao junto aos professores
alfabetizadores.
Aps a formao com a IES, os orientadores planejam e organizam a formao para os
professores alfabetizadores, com uma carga horria total de 120 (cento e vinte) horas anuais
no primeiro ano e de 160 (cento e sessenta) horas no segundo ano. Nas formaes so
realizados leitura e estudos dos cadernos e tambm atividades prticas, onde so realizados
discusses, reflexes e debates acerca das temticas propostas.
Quanto aos temas estudados, no primeiro ano dedicou-se a rea de linguagens
contemplando os seguintes temas: currculo no ciclo de alfabetizao; planejamento do ensino
na alfabetizao; o funcionamento do sistema de escrita alfabtica; a sala de aula como
ambiente alfabetizador; os diferentes textos em sala de alfabetizao; projetos didticos e
sequncias didticas na alfabetizao; avaliao e atendimento a criana que no esteja
progredindo; avaliao final registro das aprendizagens, direitos de aprendizagem das
crianas do ciclo de alfabetizao; educao especial e questes sobre o campo.
Em matemtica os temas abordados foram: organizao do trabalho pedaggico;
quantificao, registros e agrupamentos; construo do sistema de numerao decimal;
operaes na resoluo de problemas; geometria; grandezas e medidas; educao estatstica e
saberes matemticos e outros campos do saber. Alm desses cadernos mencionados h o
1003
10
caderno de apresentao e dois cadernos de referncia cujos temas so a educao inclusiva e
a educao matemtica do campo e um caderno de Jogos (com encartes).
Cabe ressaltar que o Ministrio da Educao forneceu o material de apoio para a
formao, cadernos impressos, distribudos a todos os orientadores e professores
alfabetizadores. Ressalta-se, porm que esse material impresso chegou somente a partir do
segundo semestre, sendo necessria a utilizao, para as primeiras formaes, dos cadernos
em verso online, disponibilizada no site do MEC. Tal fato dificultou, nos primeiros
encontros, pois a falta do caderno impresso contribuiu para que os cursistas chegassem sem
terem feito a leitura prvia. Diante disso, dedicou-se um maior tempo ao estudo dos textos dos
cadernos, comprometendo, em partes, um maior aprofundamento do tema por meio de outras
leituras e outros materiais.
Por ltimo, o acompanhamento das aes realizadas feito por meio de relatrios e
atividades propostas a cada encontro. Assim os professores alfabetizadores realizam suas
atividades e fazem o relato ao OE que por sua vez deve encaminhar para o formador um
relatrio completo do ms de formao ocorrido com os alfabetizadores em seus municpios,
detalhando os aspectos positivos e negativos do trabalho proposto e desenvolvido durante o
ms de formao. Em algumas situaes tambm so acompanhados pelos formadores com
visitas aos municpios, o que demonstra que h toda uma proposta de acompanhamento das
aes de formao propostas no pacto.
1004
11
nos anos de 2013 e 2014. Para uma melhor organizao a cada questo apresentada far-se- a
insero das respostas e em seguida uma breve anlise, por isso os professores sero nomeados de
P1, P2 e P3, respectivamente.
A primeira questo consistia em saber quais eram as expectativas do professor ao se
inscrever para o primeiro ano de curso do PNAIC. Diante disso, apresenta-se abaixo as respostas
coletadas:
Ao me inscrever, o fiz com o propsito de: 1.atualizao, 2.buscar
instrumentos que possam me qualificar, aprimorar os meus conhecimentos
no processo de aquisio de leitura e escrita, 3.trocar experincias com os
colegas que atuam nos anos iniciais do ensino fundamental. (P1).
Sabemos que a aprendizagem um processo fundamental e contnuo da vida
do ser humano nesta perspectiva o sucesso do ensino depende de vrios
fatores, como a interao entre as crianas e a relao delas com voc e com
o objeto de conhecimento. Busquei estar aberta para o aprendizado, pois era
evidente que precisava fundamentar minha prtica pedaggica com a teoria,
j que no h prtica sem teoria e nem teoria sem prtica, ou seja, uma
depende da outra. (P2).
Quando houve a proposta da formao pelo pacto, no estava muito
empolgada, pois seria mais um curso de formao como vrios outros que j
foram propostas e que na maioria das vezes no contemplam a nossa prtica
em sala de aula. Mas acreditava haver novos caminhos a serem mostrados
para o meu fazer em sala de aula. (P3).
Na anlise das repostas possvel observar que apesar de certa descredibilidade, esses
professores ingressaram na formao com a perspectiva de novos conhecimentos. Nessa
perspectiva salutar destacar que h sempre uma disposio por parte do educador, para
adquirir novos conhecimentos e refletir quanto sua prtica pedaggica. Mas que muitas
vezes essas expectativas acabam frustradas com formaes generalizadas, que se distanciam
do cotidiano e dos desafios do professor alfabetizador.
Em relao a segunda questo, visava investigar o docente se em relao sua prtica
pedaggica, o PNAIC contribuiu para a sua mudana. Verifica-se que todos responderam
positivamente, conforme descreve as respostas a seguir:
Sim, pois com discusses sobre o currculo, direitos de aprendizagem e
leituras pertinentes foi possvel uma interferncia positiva em minha prtica
ao aplicar os conhecimentos apreendidos, bem como a troca com os colegas,
pois possibilitou fazer uma reflexo sobre nossa prtica. Os livros recebidos
nos possibilitaram elaborar ambientes de leitura muito mais pertinentes.
(P1).
Sim. Durante o decorrer dos dois anos foi possvel observar e compartilhar
relatos das mais diversas experincias trabalhadas por colegas pedagogas,
com a troca dessas experincias, houve avano bastante significativo no meu
1005
12
modo de ver como o conhecimento se d. Aprendi muito escrevendo,
refletindo, escutando, interagindo com os colegas. (P2).
Sim, porque obtenho mais informaes e outras possibilidades quanto ao
meu trabalho em sala de aula. A interao entre os colegas, mediante a troca
de experincias ajuda muito, pois nos d um novo olhar. (P3).
Diante dessas respostas, fica evidente que as contribuies que sobressaem aos olhos
do professor, em relao aos momentos de formao do PNAIC, so as que se referem a
interao entre os colegas, as trocas de experincias. Apesar de mencionarem a relevncia dos
estudos propostos, bem como dos materiais ofertados, constata-se que todas as respostas so
unnimes em destacar como ponto forte a contribuio para a melhoria da sua prtica e a troca
de experincia.
Essa situao leva ao seguinte questionamento: era de fato necessrio um programa
com tamanha proporo e amplitude, uma vez que na prpria escola poderiam ocorrer as
trocas de experincias? No entanto, isso no diminui a relevncia que o referido programa
tem, pois possibilita aos alfabetizadores refletirem quanto as suas prticas, assim como
oferece suporte, por meio de materiais na escola, alm de ser um chamamento a toda
sociedade frente a essa realidade, ou seja, para o fato de grande nmero de crianas sarem do
ciclo de alfabetizao sem estarem alfabetizadas.
De acordo com Guskey e Huberman (1995) apud Civicta (2011):
A Formao Continuada deve tentar modificar a situao de ensinoaprendizagem nas escolas e, por isso, deve emanar das necessidades sentidas
pelos prprios professores e focar as situaes cotidianas que eles vivem
junto aos alunos. Por outro lado, alguns estudos indicam que centrar tanta
ateno na figura do professor pode impedir e/ou levar ao fracasso a
implementao de propostas mais sistmicas, que focam a organizao da
escola como um todo, as quais so percebidas como mais importantes do que
as questes pessoais dos docentes. (GUSKEY E HUBERMAN, 1995 apud
CIVICTA, 2011 p. 14).
1006
13
letras, mas em outros aspectos lingusticos da libras (lngua portuguesa =
som/ letra, libras = configurao de Mao+ expresso facial e outros aspectos
fonolgicos). O PNAIC possibilitou-me momentos reflexivos e de mudanas
em minha prtica. (P1).
Sim. Porque colaboram com a aprendizagem em sala de aula, possibilitam
novos caminhos, como a utilizao de materiais concretos, mas encontramos
dificuldades, pois temos salas numerosas e alunos em diferentes nveis de
alfabetizao. (P3).
1007
14
que as formaes continuadas, propostas aos docentes precisam ampliar e aprofundar os
estudos tericos. No entanto, importa destacar que preciso assegurar que haja uma
flexibilizao frente s especificidades do professor e da escola, de modo a contribuir para
avanos nos processos de ensino e aprendizagem no ciclo de alfabetizao.
CONSIDERAES FINAIS
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e 04 de maio de 2015.
1009
RESUMO
Este artigo resultante da percepo de que diante das exigncias da sociedade
contempornea, a formao continuada docente consiste em possibilidade de ressignificao
da prtica profissional. Apresenta como objetivo analisar como se deu o processo de
formao continuada de professores participantes do Curso de Aperfeioamento Docncia
na Escola de Tempo Integral (DETI) em nvel de aperfeioamento em conformidade com a
Poltica Nacional de Formao de Profissionais do Magistrio da Educao Bsica, realizado
em Mato Grosso do Sul. Nesse sentido, considerando o cho da escola como lcus das
polticas pblicas educacionais, contextualiza a efetivao da educao integral em jornada
ampliada em nvel nacional e local propondo a anlise da formao continuada docente. Por
fim, compreendendo a formao docente como sendo uma das principais estratgias de
qualificao do sistema educacional, reitera a relao estabelecida entre o processo de
formao continuada e a prtica reflexiva do professor.
1. INTRODUO
A educao integral no Brasil teve como marco o ano de 1932, quando um grupo de
intelectuais dentre eles Ceclia Meirelles, Ansio Teixeira, Loureno Filho, Fernando
1010
1011
1012
1013
1014
1015
5. Consideraes Finais
1016
1017
6. REFERNCIAS
outras
providncias.
Braslia.
Disponvel
em:
em:
<http://www.abmes.org.br/abmes/public/arquivos/legislacoes/Port_Norm_Inter_017_2007_
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________. Lei 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educao PNE
outras
providncias.
Disponvel
em:
1018
1019
RESUMO
O artigo foi desenvolvido a partir de uma pesquisa qualitativa realizada em uma escola da
Rede Municipal de Ensino de Campo Grande MS. Foram entrevistadas sete professoras que
atuam no 1 a 3 anos do Ensino Fundamental e uma supervisora escolar que acompanha o
trabalho das referidas turmas. A escolha dos anos de atuao se deve ao objeto da pesquisa
desenvolvida pela mestranda, que trata da literatura infantil no Pacto pela Alfabetizao na
Idade Certa PNAIC e suas contribuies para o letramento, a partir do estudo dos Acervos
Complementares. Os Acervos Complementares so caixas contendo 25 a 30 livros
destinados s turmas de 1 a 3 anos do Ensino Fundamental. So livros escolhidos por um
grupo de pesquisadores alfabetizadores da Universidade Federal de Pernambuco e sua funo
subsidiar o professor no processo de alfabetizao e formao do leitor, em todas as reas do
conhecimento. O objetivo do trabalho foi levantar aspectos relacionados ao impacto da
referida formao para a vida profissional e prtica docente dos entrevistados e, alm disso,
verificar em que medida os contedos relacionados leitura e literatura infantil foram
abordados na referida formao. Os instrumentos utilizados foram questionrios semiestruturados e entrevistas.
Palavras-chave: Professores alfabetizadores. Literatura infantil. Acervos Complementares.
Formao continuada.
1 INTRODUO
A pesquisa foi desenvolvida em uma escola pblica da periferia do municpio de
Campo Grande MS. Atualmente essa escola atende a um nmero aproximado de novecentos
alunos e no tem problemas relacionados lotao, pois, devido sua proximidade com
outras escolas, no possui sala com excedentes de alunos. A unidade conta com um diretor
escolar, uma diretora-adjunta, duas supervisoras e uma coordenadora, que atua cumprindo a
funo de orientadora escolar e que, juntos compem a equipe tcnica da escola.
O universo pesquisado foi das professoras do 1 ao 3 ano do Ensino Fundamental,
visto que o objetivo foi verificar os conhecimentos, acerca da leitura e literatura infantil,
1020
1021
Lelis (2001, p. 43) partindo de um balano dos discursos que marcaram a dcada de 80
e 90, no que se refere formao de professores, discursos esses que a autora denomina
idioma pedaggico, reconstitui aspectos que estabelecem o que, em sua viso, representaria
a curvatura da vara na concepo de formao docente.
A discusso estabelecida pela autora gira em torno dos conhecimentos de que os
professores devem ser portadores. [...], o papel da teoria e da prtica nos processos de
formao de professores, os modos como os professores se relacionam com os saberes.
(LELIS, 2001, p. 44)
A referida autora aponta um trabalho de Guiomar Namo de Mello que, publicado em
1982, causaria impacto no meio pedaggico no sentido de evidenciar as representaes e
expectativas do professor face escola, ao aluno e aos papis que desempenha (LELIS,
2001, p. 45) em oposio ao tecnicismo da dcada anterior.
A tese central de Mello passa, nesse momento, pela defesa da competncia tcnica
do professor vista como mediao atravs da qual se realizaria o sentido poltico da
educao escolar. Nestes termos, a competncia tcnica envolveria tanto o domnio
dos contedos de ensino pelo professor como o seu entendimento a respeito das
relaes entre os vrios aspectos da escola, incluindo-se o peso da formao sobre o
modo como percebe a organizao da escola e os resultados de sua ao. (LELIS,
2001, p. 45)
1022
Lelis (2001, p. 47) registra como pensamento pedaggico marcante da dcada de 80, o
de Dermeval Saviani e a Pedagogia Crtico Social dos Contedos que superdimensionava a
teoria em detrimento da empiria. Saviani trabalhava na distino entre o professor e o
cientista, em sua relao com o saber.
Enquanto o cientista est interessado em fazer avanar a sua rea de conhecimento,
em fazer progredir a cincia, o professor est mais interessado em fazer progredir o
aluno. O professor v o conhecimento como um meio para o crescimento do aluno;
enquanto para o cientista o conhecimento um fim, trata-se de descobrir novos
conhecimentos na sua rea de atuao. (SAVIANI, 1985, p.19 apud LELIS, 2001,
p.46)
1023
Encerra seu texto dizendo que ele, Guiomar e Paolo esto de acordo no sentido de
acumular foras, unificar as lutas visando a consolidar os avanos e tornar irreversveis as
conquistas feitas trilhando um caminho sem retorno no processo de reapropriao, por parte
das camadas trabalhadoras, do conhecimento elaborado e acumulado historicamente.
(SAVIANI, 1995, p. 74)
Lelis (2001, p. 47) afirma que a influncia do pensamento de Saviani sobre os
professores causou uma srie de discusses tericas sobre os problemas educacionais e sua
relao com os processos scio-econmicos e que as prticas pedaggicas ficaram esquecidas.
Com relao formao de professores, o perodo vai fomentar a busca por formaes
continuadas que tentem suprir a deficincia da formao inicial. A autora aponta ainda que
Candau, em meados da dcada de 90, vai defender o domnio do contedo especfico como
forma de construo da competncia pedaggica.
a partir do contedo especfico, em ntima articulao com ele, que o tratamento
pedaggico deve ser trabalhado. Enquanto as unidades especficas no assumirem
como responsabilidade prpria a formao de professores, muito pouco podero
fazer as unidades de educao. O que se prope uma nova concepo e uma
reestruturao das relaes de poder presentes nas licenciaturas. Do ponto de vista
conceitual, parte-se do contedo especfico para trabalhar a dimenso pedaggica
em ntima relao com ele. Assume-se que a liderana deve ser da rea especfica
com a colaborao ntima das unidades de educao. A responsabilidade dever ser
partilhada intimamente, mas o primado da rea de contedo especfico. Somente a
partir desta mudana de eixo, que suscitar certamente muitas resistncias, ser
possvel construir uma nova perspectiva para os cursos de licenciatura. (CANDAU,
1997, p. 46 apud LELIS, 2001, p. 51)
1024
Lelis (2001, p. 54) afirma ainda que, os autores acima citados, contribuem para que se
pense a constituio dos saberes docentes no sentido de que enfatizam a centralidade da
instituio escolar enquanto locus de formao do magistrio, a fora da experincia escolar
enquanto alunos e o carter de improvisao da prtica docente. Finalizando seu texto, a
autora nos apresenta questes, ainda hoje, importantes a serem consideradas quando do estudo
das prticas sociais e profissionais dos professores como espao de constituio de seus
saberes.
Mas h ainda outras questes trazidas por este idioma pedaggico. Que cuidados
precisamos tomar para no resvalarmos para um praticismo em migalhas, na
relativizao quanto ao lugar ocupado pela teoria? Sob que critrios operaremos
com a prtica profissional, de modo a torna-la um espao de construo de saberes
rigorosos sem serem rgidos? Como o saber do mundo da experincia sensvel pode
ser transposto para uma razo que se quer dialgica e processual? (LELIS, 2001, p.
54)
1025
Uma delas chegou a dizer que props para a orientadora da formao que fosse analisada a
prtica da sala de aula, o que no foi aceito.
Com relao a como deveria ser, na opinio delas, a formao continuada dos
professores alfabetizadores para que se verifiquem resultados efetivos na aprendizagem dos
alunos, as respostas foram: que as formaes no fossem ministradas aps a jornada de
trabalho, que fossem realizadas em forma de oficinas, que sejam revistas as atividades para se
fazer em casa, pois sobrecarregam o professor, que o formador tenha amplo conhecimento da
teoria, mas tambm, da sua aplicao prtica, e que as formaes estejam relacionadas aos
problemas que enfrentam na sala de aula.
Os aspectos negativos levantados, relacionados especificamente formao do PNAIC
foram: muita teoria e pouca prtica, atividades para fazer em casa que aumentam em demasia
as atribuies do professor, a formao deveria ocupar os perodos destinados aos
planejamentos. A formao realizada no perodo noturno foi muito criticada, pois, segundo as
professoras, neste perodo j esto cansadas alm de ser um perodo dedicado s atividades
particulares e famlia. Os recursos materiais deveriam ser mais explorados na formao e a
avaliao dos alunos (ANA) deveria ser aplicada nos trs anos dedicados alfabetizao.
Para Gauthier et al (2006, p. 29-34) vrios saberes so necessrios prtica docente. O
professor deve contar com um reservatrio de saberes para que possa responder,
adequadamente, s situaes concretas que se apresentam no seu fazer pedaggico. O
professor deve ter um vasto conhecimento da disciplina, do contedo a ser ensinado e,
tambm dos conhecimentos que extrapolam esses contedos. So os que se referem ao
pedaggica necessria para que os alunos aprendam o que o professor ensina.
Ainda segundo o autor, o saber curricular, o programa da disciplina, so
conhecimentos fundamentais, no sentido de que servem de guia para o planejamento e a
avaliao que sero desenvolvidos pelo professor. Outro conhecimento que deve compor o
reservatrio do professor o saber das Cincias da Educao, que seriam conhecimentos
inerentes ao contexto escolar, de maneira geral, como por exemplo, a organizao da
instituio escolar, legislao, conhecimentos a respeito do desenvolvimento da criana,
incluso, diversidade, enfim, conhecimentos que vo auxiliar o professor a entender melhor o
seu contexto e o desenvolvimento do seu trabalho.
1026
QUESTO
DA
LITERATURA
INFANTIL
ACERVOS
COMPLEMENTARES
1027
No que diz respeito aos Acervos Complementares disseram que houve um momento
de apresentao do referido material, no qual cada participante ia at frente, escolhia um
livro e falava sobre ele. De acordo com as professoras, os livros que compem os Acervos so
excelentes e muito utilizados na sala de aula, tanto para leitura compartilhada quanto para
leitura individual.
A preocupao com a alfabetizao que perpassa o Pacto Nacional pela Alfabetizao
na Idade Certa (PNAIC) tem seu incio em 2007 com o Plano de Desenvolvimento da
Educao (PDE). Este plano foi lanado pelo Governo Federal oficialmente em 24 de abril,
simultaneamente ao Decreto n. 6.094, intitulado Plano de Metas Compromisso Todos pela
Educao, composto de vrias propostas para a melhoria da qualidade na educao.
Para o cumprimento do Plano de Metas Compromisso Todos pela Educao, o
Governo Federal condicionou o apoio tcnico e financeiro do Ministrio da Educao (MEC)
adeso e assinatura, pelos estados, Distrito Federal e municpios, do referido plano. Depois
da adeso os entes federativos ficariam encarregados de elaborar o Plano de Aes
Articuladas (PAR) que seria, em linhas gerais, um planejamento da poltica de educao que
os referidos entes estabeleceriam para um perodo de quatro anos.
Com o avano das discusses acerca de alfabetizao, letramento e implantao do
Ensino Fundamental em nove anos, institudo pela Portaria n. 867 do Ministrio da
Educao, de 4 de julho de 2012, o Pacto Nacional pela Alfabetizao na Idade Certa
(PNAIC), que amplia o entendimento de como deve acontecer o trabalho pedaggico nas
escolas pblicas para que se atinjam os resultados almejados.
Desde a implantao, em 2010, do Ensino Fundamental em nove anos, o MEC
estabeleceu algumas mudanas com relao ao material pedaggico destinado s turmas de
alfabetizao, inicialmente, turmas de 1 e 2 anos. Antes De a escola receber os alunos aos
seis anos de idade no 1 ano, o PNLD distribua, para essas turmas, livros de Portugus
(alfabetizao), Matemtica, Histria, Geografia e Cincias, da mesma forma que para as
demais turmas dos anos iniciais do Ensino Fundamental.
Para atender especificidade dos alunos mais jovens na escola, o Programa Nacional
do Livro Didtico (PNLD), a partir de 2010 distribuiu, aos alunos de 1 e 2 anos, um livro de
Letramento e Alfabetizao Lingustica e um de Alfabetizao Matemtica. Alm disso, aos
alunos de 2 ano foram enviadas, como complementao, obras Didticas de Cincias,
1028
Histria e Geografia, para uso do professor, que definiria os critrios de como trabalhar esses
contedos com seus alunos.
Para dar suporte ao trabalho pedaggico desenvolvido nas turmas de 1 e 2 anos e,
para contribuir com o processo de alfabetizao e letramento de maneira ldica e prazerosa, o
MEC enviou para cada um desses anos j citados uma caixa contendo um conjunto de livros
infantis denominados Acervos Complementares.
Idealizados pelo Centro de Estudos em Educao e Linguagem CEEL, da
Universidade Federal de Pernambuco, responsvel tambm pela avaliao e seleo das obras,
cada acervo acompanhado por um manual, que trata, entre outras coisas, da especificidade
da alfabetizao e letramento das crianas mais jovens, do papel do PNLD, da importncia do
uso de diversos livros nesse processo, da escolha das obras e resenha de cada uma delas.
Em 2013, aps o lanamento do PNAIC, o MEC reenvia os Acervos Complementares,
dando continuidade a uma ao iniciada em 2010. Desta vez os Acervos so destinados s
turmas de 1 a 3 anos. So caixas que contm de 25 a 30 livros e nem todos so de literatura
infantil. Denominam-se complementares segundo a sua funo primordial, que seria de
oferecer suporte ao professor, no s nas aulas de Lngua Portuguesa como das demais reas
do conhecimento, sempre que o professor julgar conveniente.
Aparentemente, trata-se de um material muito bom e vale ressaltar a importncia que
reside no fato de que so encaminhados diretamente s turmas, ficando sob a responsabilidade
do professor regente.
1029
Segundo a autora, com exceo de leituras muito objetivas, como de uma bula de
remdios ou de uma conta de luz, a maioria delas requer uma interpretao por parte do leitor,
que estabelece vrias relaes entre o que l e experincias anteriores, utilizando-se de
habilidades de decodificao, previses e inferncias que podem ser confirmadas ou no pela
leitura do texto.
Lerner (2002, p. 17) afirma que ler e escrever um desafio que transcende
amplamente a alfabetizao em sentido estrito
Participar na cultura escrita supe apropriar-se de uma tradio de leitura e escrita,
supe assumir uma herana cultural que envolve o exerccio de diversas operaes
com os textos e a colocao em ao de diversos conhecimentos sobre as relaes
entre os textos; entre eles e seus autores; entre os prprios autores; entre os autores,
os textos e seu contexto...
A autora defende que para que a escola consiga formar praticantes de leitura e escrita,
deve funcionar como uma micro comunidade de leitores e escritores, levando em conta as
prticas sociais de leitura e escrita e reproduzindo-as no ambiente escolar o mais fielmente
possvel. Aponta, ainda, algumas dificuldades neste trajeto que, segundo ela, no so de fcil
superao como, por exemplo, a diferena de propsitos que envolvem a leitura e a escrita
dentro e fora da escola, a distribuio de contedos no tempo escolar, a necessidade de se
avaliar o processo e a prpria organizao do trabalho escolar para que sejam atendidos os
direitos e obrigaes entre professor e estudantes.
Segundo Lerner, o grande desafio que se coloca escola formar praticantes da
leitura e da escrita e no apenas sujeitos que possam decifrar o sistema de escrita. Leitores
que sejam crticos e tenham condies de assumir uma posio prpria frente s ideias
veiculadas pelo autor, que tenham prazer no contato com textos e saibam comunicar-se por
escrito.
O desafio , em, combater a discriminao que a escola opera atualmente, no s
quando cria o fracasso explcito daqueles que no consegue alfabetizar, como
tambm quando impede aos outros os que aparentemente no fracassam chegar a
ser leitores e produtores de textos competentes e autnomos. O desafio que devemos
enfrentar, ns que estamos comprometidos com a instituio escolar, combater a
discriminao desde o interior da escola; unir nossos esforos para alfabetizar
todos os alunos, para assegurar que todos tenham oportunidades de se apropriar da
leitura e da escrita como ferramentas essenciais de progresso cognoscitivo e de
crescimento pessoal. (LERNER, 2002, p. 29)
1030
Autores como Zilberman (2003), Magnani (2001), Aguiar (2011), Colomer (2007),
entre outros, enfatizam o surgimento da literatura infantil para atender a uma demanda que
tem incio j na idade moderna, devido s novas relaes familiares estabelecidas pela
burguesia. At ento, no se fazia distino entre crianas e adultos, que frequentavam os
mesmos espaos sociais.
A relao entre literatura e educao remonta antiguidade. Mesmo sociedades
grafas se valiam de contos orais para passar ensinamentos considerados importantes s novas
geraes. Colomer (2007, p. 15) ressalta ainda que
Durante sculos a literatura exerceu um papel preponderante como eixo verbal do
ensino lingustico, a formao moral, a conscincia de uma cultura com razes
clssicas grego-latinas e, desde o sculo XIX, de aglutinadora de cada
nacionalidade.
De acordo com Zilberman (2003, p. 20) o conceito de infncia surge entre final do
sculo XVII e incio do sculo XVIII. Desenvolvida pelo adulto, a ideia de infncia comporta
uma srie de carncias, como por exemplo, a fragilidade fsica e moral e imaturidade
intelectual e afetiva. Nesse sentido, instituies so chamadas a formar o futuro cidado, de
acordo com os valores da classe emergente.
Com a necessidade de se disseminar os valores da Classe dominante, a literatura
infantil desponta como parceira ideal da escola.
E aqui se localiza o pecado original da literatura infantil: ter nascido comprometida
com a educao, em detrimento da arte. Nesse sentido, todo o percurso dos estudos
da rea defronta-se com tal impasse e procura respostas que redimensionem o
estatuto literrio do livro infantil. (AGUIAR, 2011, p. 243)
Para esta autora, o literrio se converteu em livro de leitura de uso escolar, desviandose de sua funo esttica e assumindo propsitos educacionais restritos.
Praticamente todos os estudiosos da literatura infantil se referem a um impasse, antigo
e ao mesmo tempo presente, quanto necessidade de se adjetivar a literatura com o termo
infantil. O adjetivo carrega consigo consequncias histricas que contribuem para que a
literatura para crianas seja vista como uma literatura menor e o seu elemento artstico com
desconfiana.
1031
6 CONSIDERAES FINAIS
H muito que fazer com relao aos reservatrios de saberes proposto por Gauthier et
al (2006). A profisso docente ainda se desenvolve em um universo muito particular em que
as prticas, a jurisprudncia do professor, ainda so pouco difundidas.
O professor demonstra certa dificuldade em abrir sua prtica para os colegas e mesmo
para os pesquisadores. Segundo o autor, para que ocorra a profissionalizao, esses saberes
pedaggicos necessitam ser validados atravs das pesquisas.
O texto literrio tem muito a contribuir para o letramento e aspectos relacionados
aquisio da leitura e escolarizao da literatura infantil devem ser discutidos e apropriados
pelos professores para tambm comporem esses saberes.
1032
REFERNCIAS
AGUIAR, Vera Teixeira de. Leitura literria e escola. In: EVANGELISTA, Aracy Alves
Martins. BRANDO, Heliana Maria Brina. MACHADO, Maria Zlia Versiani. (Orgs).
Escolarizao da leitura literria: o jogo do livro infantil e juvenil. 2 Ed. 3 reimp. Belo
Horizonte: Autntica, 2011. Coleo Literatura e Educao.
CANDAU, V. M. F. Universidade e formao de professores: que rumos tomar? In:
CANDAU, V. M. F. (Org.) Magistrio, construo cotidiana. Petrpolis: Vozes, 1997.
COLOMER, Teresa. Andar entre livros: A leitura literria na escola.Trad. Laura Sandroni.
So Paulo: Global, 2007.
GAUTHIER, C. et al. Por uma teoria da pedagogia: pesquisas contemporneas sobre o
saber docente. 2 ed. Iju: Editora Uniju, 2006.
LELIS, I. A. Do ensino de contedos aos saberes do professor: mudana de idioma
pedaggico? Educao & Sociedade. v. 22, n. 74, p. 43-58, 2001.
LERNER, Dlia. Ler e escrever na escola: o real, o possvel e o necessrio. Trad. Ernani
Rosa. Porto Alegre: Artmed, 2002.
MAGNANI, Maria do Rosrio Mortatti. Leitura, literatura e escola: sobre a formao do
gosto. So Paulo: Martins Fontes, 2001.
SAVIANI, D. A. Pedagogia histrico-crtica no quadro das tendncias da Educao
Brasileira. ANDE Revista da Associao Nacional de Educao. n. 11, So Paulo: Cortez,
1985, p. 15-23.
_______. Competncia poltica e compromisso tcnico (o pomo da discrdia e o fruto
proibido). In: SAVIANI, D. A. Pedagogia histrico-crtica: primeiras aproximaes. 5 ed.
Campinas, SP: Autores Associados, 1995. Coleo polmicas do nosso tempo. v. 40
SOL, Isabel. Estratgias de Leitura. 6 Ed. Porto Alegre: Artmed, 1998.
ZILBERMAN, Regina. A literatura infantil na escola. 11 Ed. So Paulo: Global, 2012.
1033
Introduo
A inteno desse artigo apresentar reflexes produzidas a partir de uma pauta
desenvolvida no projeto de pesquisa intitulado Eu t voltando pr casa: narrativas sobre a
formao e desenvolvimento profissional de alunos egressos do curso de Pedagogia,
iniciantes na docncia.1 O objetivo desta pauta foi constituir um dilogo acerca das
narrativas de formao com as quais estamos envolvidos na vida e na profisso e o uso das
tecnologias nos espaos educativos. Do ponto de vista formativo e investigativo, narrar os
acontecimentos de formao sob a perspectiva de lugares e tempos diversos so potentes, para
os modos como acreditamos numa educao e numa escola outra, podendo revelar saberes e
Projeto com financiamento do MCTI/CNPq n. 014/2013 sob a coordenao das professoras doutoras Eliane
Greice Davano Nogueira (UEMS) e Marta Regina Brostolin (UCDB).
1034
fazeres que construdos nas relaes com o cotidiano da escola, tencionam questes
contraditrias do/no processo de desenvolvimento profissional.
Entendemos que atualmente, a educao, mas especialmente a formao de
professores e seu desenvolvimento profissional precisam de um olhar, este pautado no
professor como agente de sua prpria formao.
Nessa direo, concordantes com autores como Nvoa (1992), Josso (2006),
defendemos que a pesquisa autobiogrfica, envolvendo narrativas docentes constituem um
campo de possibilidades interpretativas para a investigao e formao docente.
O projeto interinstitucional que pesquisa os egressos do curso de Pedagogia, em incio
de carreira, sendo participantes dessa pesquisa professores que atuam nas escolas das Redes
Estadual, Municipal e Privada de Campo Grande MS, com menos de 5 (cinco) anos de
efetiva carreira no magistrio. O ttulo do projeto anuncia um movimento de retorno, isso
porque envolve os acadmicosdo curso de Pedagogia das Universidades: Estadual de Mato
Grosso do Sul/UEMS, Catlica Dom Bosco/UCDB e Federal de Mato Grosso do Sul/UFMS,
com o intuito de compreender os processos de aprendizagem da profisso, ou seja, a
articulao que realiza entre a formao inicial e o desenvolvimento profissional na
construo de dilogos que articulem teoria e prtica na formao inicial e no exerccio da
docncia visando o desenvolvimento profissional.
Mensalmente, participam dos encontros os pesquisadores das universidades, os
professores iniciantes (egressos dos cursos de Pedagogia) e os acadmicos residentes
(acadmicos dos cursos de Pedagogia). A cada encontro, um pesquisador das universidades
ou convidados pelos mesmos, a depender da temtica proposta conduz a pauta e, ao final de
cada encontro (de estudo e discusso) todos so convidados a produzirem uma narrativa de
acordo com a temtica abordada durante o desenvolvimento da pauta.
O acompanhamento dos egressos da Pedagogia, em incio de carreira, visa promover a
socializao das experincias de forma a contribuir com a formao do professor iniciante e
as pesquisas cientficas que promovem o crescimento e o desenvolvimento profissional
(GARCIA, 2009, p. 7), possibilitando aos iniciantes na docncia o aperfeioamento de seus
conhecimentos, habilidades, disposies para exercer sua atividade docente, de modo a
melhorar a qualidade da educao que seus alunos recebem (GARCIA, 1999, p. 26).
Assim as pautas produzem elementos para refletir sobre os processos formativos
pautados na ampliao dos dilogos entre a universidade e o professor iniciante na sala de
aula, que apesar de ser notadamente uma parceria importante, no supre a ausncia por parte
1035
1036
autores que trabalham com este conceito, destacamos os estudos de Day (2001) que concebe o
desenvolvimento profissional docente partindo do princpio que,
[...] envolve todas as experincias espontneas de aprendizagem e as
atividades conscientemente planificadas, realizadas para benefcio, directo
ou indirecto, do indivduo, do grupo ou da escola e que contribuem, atravs
destes, para a qualidade da educao na sala de aula. o processo atravs do
qual os professores, enquanto agentes de mudana, revem, renovam e
ampliam, individual ou colectivamente, o seu compromisso com os
propsitos morais do ensino, adquirem e desenvolvem, de forma crtica,
juntamente com as crianas, jovens e colegas, o conhecimento, as destrezas e
a inteligncia emocional, essenciais para uma reflexo, planificao e prtica
profissionais eficazes, em cada uma das fases das suas vidas profissionais
(DAY, 2001, p. 20-21).
1037
1038
1039
1040
Dra. Maria Cristina Lima Paniago, professora do Programa de Mestrado e Doutorado em Educao UCDB,
Coordenadora do GETED.
1041
1042
Os dilogos...nossas trocas
Apresentar os dilogos estabelecidos no projeto Eu t voltando pr casa potencializa
a forma de olhar para o desenvolvimento profissional docente, medida que pontua as
discusses sobre as instituies educativas em momentos de formao que reconhece o
sentimento de pertencimento e a valorizao desses profissionais. As narrativas explicitam os
dilogos e as trocas permitindo aos participantes e em especial aos professores egressos e
iniciantes na docencia dizer sobre sua constituio docente e compartilharem suas
experincias.
Compreendemos assim que o projeto, ao fomentar o desenvolvimento profissional
docente considera que, os coraes dos professores (as suas paixes, os seus entusiasmos, as
suas identidades pessoais, o seu comprometimento, as suas emoes) so to importantes
quanto as suas cabeas e as suas mos (Day, 2004, p. 184-185), permitindo-os vivenciar
situaes formativas-investigativas, que se revertem na qualificao de suas prticas
educativas.
1043
Referncias
1044
1 Introduo
O presente trabalho um recorte de uma pesquisa de TCC (Trabalho de Concluso de
Curso) em desenvolvimento, que est sendo realizada em uma escola municipal da cidade de
Corumb. A pesquisa busca conhecer a viso dos professores sobre a insero e integrao das
tecnologias da informao e da comunicao (TICs) no ambiente educacional, assim como,
perceber como as tecnologias vm sendo utilizadas por eles.
O interesse por esta temtica surgiu ao percebemos a ausncia de disciplinas no curso de
Pedagogia que possibilitasse a prtica e reflexo dos acadmicos acerca da relao do uso das
TICs na prtica pedaggica do professor. Com o aprofundamento das leituras sobre a temtica, os
questionamentos consequentemente foram surgindo nos possibilitando refletir como os
professores tem se adaptado com a insero das tecnologias nas escolas sem nenhuma base na sua
formao inicial. E partindo deste questionamento, decidimos ir a campo buscar respostas para
1
1045
2
2 Objetivos
Esse estudo tem como objetivo geral identificar e analisar como as tecnologias vm sendo
utilizadas na prtica pedaggica do professor. E como objetivos especficos: conhecer a
percepo dos professores sobre a insero das novas tecnologias na sala de aula; identificar e
analisar as aes da escola e dos professores na incorporao das tecnologias em sala de aula;
identificar quais as dificuldades e os desafios do uso das tecnologias nos processos pedaggicos,
bem como identificar e analisar que tipo de conhecimento sobre tecnologias os professores
tiveram na sua formao inicial, bem como o impacto dessa formao na sua atuao docente.
3 Metodologia
Pensando nestes objetivos, esta pesquisa est sendo realizada em uma escola pblica
Municipal com professores de sries iniciais do Ensino fundamental, tendo como principais
instrumentos de coleta de dados a entrevista semiestruturada, com o objetivo de conhecer a viso
dos educadores sobre o uso das mdias e tecnologias e a observao, no intuito de perceber como
as tecnologias so utilizadas no cotidiano escolar, a fim de perceber se h aproximao entre a
fala dos professores entrevistados e as atividades que so realizadas nessa perspectiva.
Com a observao finalizada, percebemos que os recursos tecnolgicos no so utilizados
por todos os educadores da escola. E aqueles que utilizam, usam esporadicamente o recurso na
sala de informtica com o objetivo de distrao das crianas com jogos educativos online,
enquanto o professor corrige as tarefas de casa ou toma leitura individual das crianas em
pequenos textos do caderno. Tambm ficou evidente que o planejamento da aula era inexistente,
j que o professor de informtica que selecionava o contedo dos jogos.
Nesse momento, estamos na fase de entrevistas com os professores e gestores da escola. O
roteiro foi organizado com objetivo identificar e investigar os seguintes tpicos: se/como os
professores utilizam as tecnologias fora das atividades pedaggicas; quais so suas dificuldades
de adaptao com essas ferramentas dentro da escola; se possui uma preparao/formao para a
1046
3
utilizao das tecnologias; quais so suas expectativas com relao ao uso de tecnologia; bem
como a sua concepo acerca da insero desses recursos na escola.
4 Discusso
4.1 Situando o objeto de pesquisa
Atualmente, a tecnologia se constituiu como uma ferramenta indispensvel pelos
inmeros benefcios que vem trazendo para melhoria de vida da populao. A ampliao,
expanso e a popularizao da internet vm possibilitando mudanas nas grandes esferas da
sociedade, na poltica, econmica, social e cultural. Consequentemente, com todo esse
dinamismo cultural que afeta a sociedade tambm, repercute na escola.
A educao tambm sente alguns efeitos e impactos desses mecanismos quem vm se
desenvolvendo cada vez mais rpido no mundo. Rdio, computadores, smartphones, tabletes,
jornais e revistas, todas essas mdias esto cada vez mais acessveis e podem ser importantes
ferramentas didticas. Mas como incorporar as Tecnologias de informao e comunicao com
uma abordagem educativa? Como criar condies para os estudantes exercitarem a capacidade de
selecionarem as informaes e transformar informao em conhecimento?
Em meio a tantas mudanas, dificuldades e desafios, proporcionar experincias
significativas e mais atrativas com as tecnologias no espao escolar, tem sido um processo rduo
para muitos professores. Acompanhar a velocidade do desenvolvimento tecnolgico e a nova
gerao de crianas e adolescentes tem sido difcil e gerado muita polmica no campo
educacional. Para Coutinho (2009) so poucas as escolas que tem conseguido superar modelos
tradicionais e vivenciar experincias inovadoras que ampliem o espao de aprendizagem e
ultrapassem as barreiras da sala de aula, eliminando limitaes de tempo espao, capaz de criar e
desenvolver verdadeiras comunidades de aprendizagem.
Nesse sentido, Barreto e Maia (2012, p. 48) salienta que,
Computadores como suporte ao ensino e aprendizagem, em qualquer rea do
conhecimento, s promover uma mudana positiva quando professores estiverem
qualificados para fazer uso pedaggico efetivo dessas ferramentas. Portanto, faz se
necessrio que administradores e professores deixem para trs a ideia de que o
computador simplesmente mais um instrumento para ser usado de forma pontual na
prtica docente e passem a perceb-lo como ferramenta que pode promover
desenvolvimento cognitivo e social dos educandos.
1047
4
Diante desta afirmativa, percebemos que ainda existe uma deficincia nos cursos de
formao de professores que necessitam de mudanas capazes de modificar essa situao que tem
sido alvo de muitas pesquisas. Porm, o objetivo deste trabalho no indicar [...] as tecnologias
como uma soluo para todos os problemas educacionais, e nem garantir um maior desempenho
dos alunos. (KENSKI, 2003 apud BARRETO; MAIA, 2012, p. 48). Temos clareza de que para
conquistar a qualidade desejvel na educao no basta [...] ter um melhor ensino, preciso que
se faam reformas estruturais na poltica, na organizao da escola e no trabalho docente.
(KENSKI, 2003 apud BARRETO; MAIA, 2012, p. 48).
Com as primeiras visitas e observao na escola, percebemos que o processo de
incorporao de instrumentos tecnolgicos ainda lento e tem encontrado uma srie de
dificuldades na sua implantao, logo se faz necessrio refletimos sobre quais so essas
dificuldades e o que se tem feito para super-las, compreendendo a relevncia desse instrumento
na prtica do professor.
A grande maioria das escolas do nosso pas j est equipada com tecnologias e acesso
internet superando as metas estabelecidas. De acordo com os dados do MEC (BRASIL, 2008), no
perodo de 1996 a 2002 foram capacitados 137.911 professores, foram atendidos 6 milhes de
alunos e instalados 53.895 computadores. Todavia, ainda enfrentamos algumas dificuldades na
sua implementao o no seu resultado na aprendizagem dos alunos devido concepo e
utilizao equivocada dos educadores e governantes ao instrumentalizar as tecnologias na
educao sem oferecer condies para alcanar o principal objetivo que potencializar o
desenvolvimento e aprendizagem das crianas e jovens.
preciso considerar que no basta apenas equipar as escolas com equipamentos, sem que
os professores sejam capacitados para o uso das novas mdias. J no mais concebvel repetir o
1048
5
velho modelo dos laboratrios de informtica onde os professores levam seus alunos
esporadicamente, para passar um tempo fora da sala de aula.
Porto (2006, p. 49) afirma que:
Ensinar com e atravs das tecnologias um binmio imprescindvel na educao. E no
se trata de apenas incorporar o conhecimento das modernas tecnologias e suas
linguagens. preciso avanar. preciso ultrapassar as relaes com os suportes
tecnolgicos, possibilitando comunicaes entre os sujeitos e a eliminao dos suportes
tradicionais.
E de fato, aps a implantao das novas tecnologias no ambiente educacional, veio tona
uma discusso que no desconhecida na educao, que a necessidade de mudanas nas
metodologias dos professores, na forma de construo de conhecimento e principalmente,
transformao (da verticalidade para a horizontalidade), na relao entre professores e alunos,
entre outros. Nesse sentido, Wink (2015, p. 131) indica que necessrio que os professores,
sejam capacitados para compreenderem o manuseio das TIC e a aplicao das mesmas em suas
aulas.
Kenski (2007, p. 11) vai alm quando indica que:
Nesta escola, todos os envolvidos (gestores, educadores, alunos) necessitam ser
construtores do conhecimento, pois com esta nova perspectiva de convergncia digital,
propiciada pelos meios advindos da Web 2.0 todos os sujeitos envolvidos no processo
educativo devem entender a escola, como um espao que tambm gera e no s consome
conhecimento.
1049
6
Para incorporar a TIC na escola, preciso ousar, vencer desafios, articular saberes, tecer
continuamente a rede, criando e desatando novos ns conceituais que se inter-relacionam
com a integrao de diferentes tecnologias, com a linguagem hipermdia, as teorias
educacionais, a aprendizagem do aluno, a prtica do educador e a construo da
mudana em sua prtica, na escola e na sociedade. Essa mudana torna-se possvel ao
propiciar ao educador o domnio da TIC e o uso desta para inserir-se no contexto e no
mundo, representar, interagir, refletir, compreender e atuar na melhoria de processos e
produes, transformando-se e transformando-os.
Sem dvida, percebemos que as tecnologias podem ser consideradas uma nova
possibilidade no ambiente educacional, pois alm de serem teis para construir e difundir
conhecimentos podem servir de apoio prxis do educador. Mas como j foi ressaltado, tudo vai
depender do modo como elas so utilizadas. Se vamos nos apropriar de seu potencial pedaggico
e comunicacional e as colocamos a servio do homem ou se, ao contrrio, nos deixamos dominar
por elas, transformando-nos em meros consumidores no mercado (BELLONI, 1998).
Assim percebemos o papel fundamental do professor, pois ele que vai dar sentido e
fazer a gesto do uso das tecnologias. Como ressalta Mendona (2013, p. 15) as tecnologias
oferecerem informao e conhecimento, porm o professor ainda fundamental para mediar e
orientar o educando na busca, seleo, produo, criao e aplicao das informaes na soluo
de situaes problemas.
Contudo, apesar de os educadores reconhecerem a importncia e os benefcios das TIC na
educao, ainda existe a necessidade de pesquisas que tenham como foco a prtica em si da
incorporao das tecnologias nas escolas, j que sabemos que existe ainda uma grande limitao
nos cursos de licenciatura se tratando do uso dessas ferramentas e podem acarretar em
dificuldades e consequncias na prtica pedaggica do professor.
O quadro abaixo mostra a realidade dos cursos de formao de professores da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul com relao oferta de disciplinas obrigatrias que
fazem meno ao uso pedaggico das mdias e tecnologias. Demos destaque aos cursos de
Pedagogia, em que dos dez Campos, apenas quatro curso de Pedagogia tm disciplinas com essa
perspectiva, sendo um deles o curso de Pedagogia da EAD/UFMS.
CURSO
Pedagogia
MODALIDADE
Ead
NOME DA DISCIPLINA
Educao, mdias e tecnologias
CH
60
1050
7
Aquidauana
Pedagogia
Presencial
Tecnologias educacionais
51
Navira
Pedagogia
Presencial
Tecnologias e educao
68
Ponta Por
Pedagogia
Presencial
Introduo informtica
68
Ponta Por
Pedagogia
Presencial
Informtica na educao
68
Ponta Por
Pedagogia
Presencial
68
Ponta Por
Pedagogia
Presencial
Softwares educacionais
68
Trs Lagoas
Pedagogia
Presencial
68
Padilha e Oliveira (2013 apud Biagiotti; Reis; Duart, 2014, p. 3) ainda firmam que [...] o
no acesso a saberes historicamente construdos caracteriza-se como uma forma de excluso por
negar aos alunos a possibilidade de apreend-los numa relao pedaggica. Assim, assumir as
tecnologias no contexto escolar com o objetivo de potencializar o desenvolvimento do educando,
alm de inclu-lo numa realidade contempornea marcadamente tecnolgica, tambm a torna uma
ferramenta acessvel a todos, possibilitando o contato com uma quantidade vasta de
conhecimentos.
Segundo Krammer e Moreira (2007, p. 1054) muitas reformas curriculares se referem
escola por meio de modelos, desenhos e polticas centralmente definidos, supondo que possvel
mudar fora o real, com decretos, projetos, referenciais ou parmetros, sem mudar condies e
prticas e sem envolver os atores do processo. Portanto, no basta somente criar medidas
1051
8
paliativas a fim de manter a situao nem somente visar uma melhoria na educao do pas, mas
preciso tambm planejar, pesquisar e buscar aes capazes de motivar os responsveis pelo
processo de aprendizagem a realizar um bom trabalho pedaggico na escola.
Diante disso, percebemos que com as tecnologias inseridas no ambiente escolar faz-se
necessrio tambm uma reflexo acerca da formao de professores e sua importncia nestas
constantes modificaes, levando em considerao a cultura digital3 que acompanha o
movimento de transformao da sociedade. Segundo Almeida e Silva (2011, p. 4)
A disseminao e uso de tecnologias digitais, marcadamente dos computadores e da
internet, favoreceu o desenvolvimento de uma cultura de uso das mdias e, por
conseguinte, de uma configurao social pautada num modelo digital de pensar, criar,
produzir, comunicar, aprender viver. E as tecnologias mveis e a web 2.0,
principalmente, so responsveis por grande parte dessa nova configurao social do
mundo que se entrelaa com o espao digital.
Essa cultura do uso das mdias e as novas tecnologias digitais influenciam todos os
processos na atualidade. Surgiram novos modos de produzir, transmitir, receber e conservar a
informao, e a cultura influenciada por esse mundo dinmico, virtual, em rpida mutao.
(VELOSO; BONILLA, 2015, p. 5).
3
No objeto de discusso nesse trabalho, mas estamos entendendo a cultura digital como uma cultura multimdia,
como estratgia de comunicao. uma cultura da portabilidade, da possibilidade de carregar no bolso (em um
smartphone, por exemplo) um arcabouo de ferramentas que permitem conexo, comunicao e acesso a
informaes e conhecimentos. (FANTIN; RIVOLTELLA, 2012).
1052
9
1053
10
e reais e fundamentada em um educador ideal que no existe. (IMBERNN, 2010, p.
39)
1054
11
Cursos/programas de formao
continuada de professores
Beneficiados/metas
MEC
Dados indisponveis
MEC
Domnio Pblico
MEC
DVD escola
MEC
e- Proinfo
Dados indisponveis
MEC
Elaborao de Projetos
Dados indisponveis
MEC
E-Tec Brasil
MEC
1055
12
MEC
Portal do professor
MEC
MEC
MEC
MEC
Projetor Proinfo
Dados indisponveis
MEC
Redes de Aprendizagem
Dados indisponveis
MEC
Tecnologias na Educao
MEC
TV escola
PREFEITURA
PREFEITURA
90 Professores / 17 Escolas
PREFEITURA
73 Professores / 13 Escolas
PREFEITURA
Ncleos de Estudos
(Por rea de conhecimento )
PREFEITURA
67 Professores / 04 Escolas
Esse quadro mostra que as iniciativas existem em nvel nacional e local, mas resta saber
quais os impactos pedaggicos que a estruturao das escolas e a implantao dos programas tm
causado nas realidades locais.
Embora reconheamos que a sociedade est cada vez mais tecnolgica, ainda no
assumimos a necessidade de uma nova pedagogia para lidar com esse avano tecnolgico. Ao
salientar a importncia da reestruturao curricular nas universidades necessrio pensar para
alm da criao de disciplinas no currculo. Na perspectiva de Belloni (1998, p. 1)
As disciplinas de formao pedaggica (licenciaturas e pedagogia) poderiam ser
desenvolvidas de modo integrado e interdisciplinar, ligadas aos laboratrios de
ensino, equipados para a utilizao e a produo de materiais pedaggicos. Os
cursos de ps-graduao deveriam estar integrados com a graduao, tanto na
realizao de pesquisas quanto na prtica docente [...].
A integrao entre a universidade e a escola parece ser uma condio necessria para o
sucesso da formao continuada. A universidade, como promotora dos espaos de formao
1056
13
inicial e continuada, precisa estar atenta s reais necessidades de formao dos professores para o
uso crtico e criativo das novas tecnologias digitais, evitando a reproduo de pacotes prontos
que no levam em considerao as especificidades locais das escolas, professores, gestores e
estudantes.
5 Consideraes Finais
Como a pesquisa est em andamento, temos clareza que no dispomos de dados empricos
para aprofundar as discusses aqui iniciadas, no entanto, perceptvel que o grande desafio para
os professores que esto em sala de aula integrar as novas tecnologias no processo de ensino e
aprendizagem. Alm disso, h uma necessidade que as possibilidades pedaggicas mediadas
pelas tecnologias se tornem objetos de pesquisa e discusso nos cursos de formao inicial. A
formao inicial o momento oportuno para que as discusses, reflexes e prticas sejam
iniciadas e problematizadas, especialmente quando se trata de uma formao inicial mediada pela
EaD.
[...] o ideal que o professor aprenda a lidar com as TI [Tecnologias da Informao]
durante sua formao regular, em disciplinas mais ou menos com os nomes de
Tecnologia Educacional ou Tecnologias da Informao na Educao e de modo
mais detalhado nas didticas de contedos especficos. (CYSNEIROS, 2000, p. 12).
Est claro que essa realidade exige uma nova postura, novos conceitos e orientaes,
novas maneiras de ensinar, que sejam adequadas s novas maneiras pelas quais os jovens esto
aprendendo, devido ao contato que tm desde muito cedo com as novas tecnologias da
informao e comunicao.
H uma urgncia em adequar os cursos de formao de professores para o uso das mdias
na escola, para que os espaos de utilizao sejam ampliados. A formao adequada precisa
possibilitar que os professores reflitam sobre a sua prtica e encontrem alternativas para integrar
as mdias ao conhecimento.
A mdia-educao tambm importante na construo da cidadania, na medida em que
desenvolve nos estudantes o senso crtico e criativo, para que no sejam somente consumidores
de mdia, mas sim produtores de conhecimento por meio das diferentes mdias. importante que
os estudantes reconheam
1057
14
[...] a cultura do uso das mdias e das possibilidades oferecidas pelas TIC, pelas mdias
digitais e pela Web 2.0, tanto como fonte de informao quanto para a construo,
socializao do conhecimento e ampliao das relaes entre sujeitos e instituies.
(CAUDURO, 2013, p. 18).
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1059
1
GT: 5
A TRANSIO DA MERITOCRACIA PARA A
PARENTOCRACIA: UMA DISCUSSO ATUAL
Ewngela Pereira
Aluna do curso de Mestrado em Educao PPGEdu UFMS
Janaina Soares Cecilio dos Santos
Acadmica do curso de Pedagogia - UFMS
1060
2
O presente texto se propem a contribuir com a Sociologia da Educao acerca
da atual discusso da transio da ideologia da meritocracia para a parentocracia.
Apresentando alguns resultados obtidos de uma pesquisa realizada pelo Grupo de
Estudos e Pesquisas em Antropologia e Sociologia da Educao-GEPASE sobre a
referida temtica.
O texto est organizado em 4 tpicos, nos quais, no primeiro, iniciamos com a
ideologia da meritocracia na legitimao das desigualdades; o segundo, a crescente
intensificao da parentocracia a partir do sculo XX; o terceiro, apresenta resultados da
pesquisa realizada pelo GEPASE, nos quais possvel identificar a parentocracia e as
estratgias educativas das famlias para o xito escolar; no quarto apresentamos o
cultivo orquestrado, uma das mais importantes estratgias educativas e ao final as
consideraes finais.
1061
3
Assim, dentro da escola, os indivduos competiriam em condies iguais e se
destacariam por meio de seus dons, aptides e esforos individuais e, assim, os mais
capazes alcanariam os melhores resultados. Nessa perspectiva, seria uma questo de
justia que os melhores continuassem a evoluir em suas trajetrias escolares e
assumissem naturalmente as posies mais elevadas na hierarquia social, ocupando, os
melhores e mais altos cargos na estrutura social.
Esse conjunto de ideias deram sustentao a construo de sociedades
hierarquizadas por critrios de avaliao e seleo fundamentadas principalmente em
dons, talentos, intelecto e cultura inatas, inerentes aos indivduos e que se legitimam
pela escola e seu sistema de certificao, com destaque para os diplomas universitrios.
Nesta perspectiva, segundo Bourdieu (1996, p. 41),
provavelmente por um efeito de inrcia cultural que continuamos
tomando o sistema escolar como um fator de mobilidade social,
segundo a ideologia da escola libertadora, quando, ao contrrio,
tudo tende a mostrar ele um dos fatores mais eficazes de
conservao social, pois fornece a aparncia de legitimidade s
desigualdades sociais, e sanciona a herana cultural e o dom social
tratado como dom natural.
Ao tratar os alunos das vrias classes sociais de forma igual, sem levar em
considerao as diferentes condies materiais, culturais e sociais, a escola contribui
ainda mais para aprofundar essas desigualdades e privilegiar os que j so privilegiados,
uma vez que a cultura escolar, segundo Nogueira e Nogueira (2006) intrinsecamente
1062
4
relacionada cultura dominante, tornando os contedos, valores e habilidades por ela
selecionados, mais prximos dos interesses das elites1.
Nesse contexto os estudantes originrios das classes mais favorecidas teriam
uma relao familiarizada com a cultura escolar, pois, desde o seio familiar estariam
habituados com sua forma de comunicao, valores e princpios. O contrrio ocorreria
com aqueles provenientes das classes populares, que manteriam uma relao distante e
desconhecida da cultura escolar, despendendo um maior esforo para o xito em suas
trajetrias escolares.
Embora tenha sido utilizada como justificativa no fracasso e sucesso escolar das
trajetrias escolares, outra ideologia tem nas ltimas dcadas estado presente nas
pesquisas no campo da sociologia da educao, uma ideologia que enfatiza a
participao das famlias na adoo de estratgias educativas para o sucesso escolar,
denominada parentocracia educacional.
Por elites estamos entendendo, portanto, aqueles grupos que se situam no pice da estratificao social;
posio social garantida ou por tradio familiar (os herdeiros) ou por capitalizao em suas trajetrias
de uma estrutura e volume de capital que permitem o trnsito por campos valorizados socialmente, com a
respectiva possibilidade de ampliar a estrutura e volume de capitais que j possuem. No h como escapar
de uma perspectiva pluralista das elites, nem ao recurso s teorias de estratificao e mobilidade social.
(BRANDO, 2003, p. 41-42).
1063
5
das classes mdias (artesos e comerciantes), mais ricas em capital econmico, tiveram
de intensificar fortemente a utilizao que faziam do sistema de ensino. (BOURDIEU,
2007, p. 123-124).
Cunhado por Brown (1999), o termo parentocracia refere-se interferncia dos
pais na trajetria escolar dos filhos, estando esta agora, no mais dependente de seus
esforos pessoais, mas sim dos investimentos e das capacidades estratgicas das
famlias.
A principal caracterstica que defini a parentocracia educacional como tal, a
busca por uma educao em uma instituio escolar seletiva que possibilite a aquisio
de capital simblico. Segundo Robertson e Verger (2012, p. 1138),
A caracterstica definidora da parentocracia educacional no a
quantidade de educao recebida, mas a base social sobre a qual a
seleo educacional est organizada. Em outras palavras, uma
educao adquirida em uma escola particular de alto status, ou em
uma escola altamente seletiva com financiamento pblico (embora
legitimada por polticas como a escolha da escola ou de escolarizao
com baixa mensalidade), ou em uma universidade altamente seletiva,
apresenta um valor social significativamente maior do que aquela
adquirida em uma escola que no capaz de ser seletiva, ou cuja
seleo no gera status.
O sistema de estratgias de reproduo pode ser definido como sequncias ordenadas e orientadas de
prticas que todo grupo produz para reproduzir-se enquanto grupo. (NOGUEIRA; CATANI, 1998,
p.11). Dentre estas estratgias, destacam-se as estratgias de fecundidade, patrimnio, sucessrias,
matrimoniais, ideolgicas e as educativas, esta ltima, foco de nosso estudo.
2
1064
6
No se pode conceber as estratgias utilizadas apenas como fruto de um
planejamento previamente deliberado e orquestrado, nestas esto presentes tambm o
aspecto no intencional e no racional, que vai sendo construdo inconscientemente, ao
longo do jogo social. necessrio ressaltar, assim como a firma Nogueira e Catani
(1998, p. 11) que As estratgias educativas, conscientes e inconscientes, so
investimentos de longo prazo que, em geral, no so percebidos como tais pelos
agentes.
Intensificaram-se especificamente as estratgias utilizadas pelas famlias da
classe mdia a fim de que sua posio social seja assegurada ou haja a possibilidade de
ascenso. Dentre as estratgias educativas utilizadas, destacam-se: o acompanhamento
da vida escolar dos filhos e profissionais da instituio educativa; escolha do
estabelecimento de ensino; internacionalizao atravs de intercmbios; organizao
sistematizada da vida diria da criana (cultivo orquestrado); aulas particulares, etc.
Em suma, h uma concorrncia entre as instituies de ensino e as estratgias
mobilizadas pelos familiares, que segundo Nogueira (2010, p. 224) se utilizam cada vez
mais de [...] um mercado paraescolar, voltado para uma clientela de pais
consumidores que demandam ajuda na gesto da escolaridade da prole.
Em sntese, para essa linha de pensamento, os resultados escolares de
um aluno estariam se tornando cada vez mais dependentes dos
recursos financeiros e da capacidade estratgica de seus pais, e cada
vez menos de seu valor escolar que, num regime mais assentado na
meritocracia, recebia forte influncia dos recursos culturais dos pais.
(NOGUEIRA, 2010, p. 223).
1065
7
Exame Nacional do Ensino Mdio (ENEM). Trata-se de uma escola pblica, embora
seletiva, Escola Militar de Campo Grande (CMCG) e outra privada, Colgio Bionatus.
Os dados foram obtidos no perodo de 01.11.2012 a 19.11.2012, por meio de um
questionrio online, envolvendo pais/responsveis, estudantes, professores e gestores.
Nos limitamos a apresentar somente os resultados obtidos atravs dos dados dos
estudantes e responsveis.
O nmero total de responsveis participantes totalizou 35: 25 pais/responsveis
do Colgio Militar de Campo Grande (13 so pais e 12 mes) e 10 do Colgio Bionatus
(04 so pais e 06 mes). Com relao aos estudantes, estes totalizaram 45: 22 do
Colgio Bionatus e 23 do CMCG. Todos estavam no Ensino Mdio, entre o 1 e o 3
anos; e na faixa estaria de 14 a 17 anos. No Bionatus, grande parte dos alunos cursava
em 2012 o 3 ano e no CMCG o 2 ano.
A partir das anlises dos dados coletados, infere-se que as famlias incluem-se
em grupos da classe mdia, uma vez que, no se encontra no pice da estratificao
social, nem podem ser considerados pertencentes classe popular.
Vrias foram as questes presentes no Survey, porm selecionamos as que mais
contribuem na identificao da ideologia da parentocracia educacional nas estratgias
dos pais e responsveis.
1066
8
necessrios para tal; aulas de reforo e alto grau de exigncia do processo de
aprendizagem dos alunos.
Dentre os pais do Colgio Militar, 18 trabalham em perodo integral, assim,
possvel que estes vejam na escola a possibilidade dos filhos de terem o
acompanhamento necessrio nos estudos, no vivel em casa, por conta da jornada de
trabalho.
Na escolha da escola, de acordo com os dados, a opo pelo Colgio Militar se
deu em um consenso entre os responsveis e os estudantes, com a porcentagem de
78,26%. Enquanto que, no Bionatus a porcentagem de 59,09% foi verificada em duas
opes: em que a deciso foi tomada pelo prprio estudante e a segunda opo,
apresenta um consenso entre responsveis e estudantes.
Com relao origem das fontes de informaes obtidas para a escolha da
escola, um grande nmero de pais do Bionatus visitou a escola e tiveram informaes a
partir de amigos; j no Colgio Militar poucos foram os responsveis que visitaram a
instituio.
Os pais do Colgio Militar explicitam ainda, suas preocupaes com relao ao
capital social que poder vir a ser desenvolvido dentro da instituio educativa, quando
a opo Meu filho ter boas companhias um fator decisivo na escolha da instituio, com
uma porcentagem de 100%. A preocupao dos pais est mais em escolher para os filhos
1067
9
pais do Colgio Militar. Estes focalizam a ampliao do capital social e cultural dos
filhos.
Conforme Bourdieu, as classes mais favorecidas necessitariam menos da
instituio escolar, em comparao com as classes menos privilegiadas, uma vez que
teriam um volume expressivo de capitais, especialmente o econmico, que permitiria
facilmente a reconverso em outros capitais.
Na questo Onde voc conseguiu informaes para escolher a escola de seu
filho? observa-se que pais/responsveis ao escolherem a instituio levaram em
considerao a boa representao da escola a partir de pessoas de seu convvio social.
Lembrando que na primeira pergunta: Qual a importncia de cada um dos aspectos
abaixo para a escolha desta escola?, 88% dos pais do Colgio Militar e 70% do
Bionatus afirmaram ser muito importante o fator da escola ser bem falada. Poucos pais,
em ambas as instituies de ensino, escolheram a escola a partir de divulgao da
imprensa e mdias.
1068
10
crianas com prticas que as possibilitaro adquirir competncias e habilidades
essenciais para o xito escolar, tal prtica denomina por Annette Lareau de cultivo
orquestrado.
Os pais de classe mdia, tanto brancos como negros, tendem a se
ajustar na lgica de criao a qual denomino cultivo orquestrado.
Eles matriculam seus filhos em diversas atividades organizadas,
especficas para cada idade, as quais dominam a vida familiar e geram
um grande esforo, especialmente para as mes. Os pais vem essas
atividades como uma forma de transmitir s crianas habilidades
importantes para a vida. (LAREAU, 2007, p. 17).
Bionatus escolheram a escola por esta oferecer atividades extras, enquanto que 92% dos
responsveis dos alunos do Colgio Militar optaram pela escola por esta razo.
Os estudantes que participam frequentemente de projetos ou atividades
extraclasses do Colgio Militar, somam um total de 56,52%. Com relao s atividades
1069
11
extracurriculares relacionadas Lngua Estrangeira, 54,55% dos estudantes do Colgio
Bionatus responderam que fazem algum curso extracurricular, contra 60,87% do
Colgio Militar.
Nas duas instituies h pouca participao extracurricular dos estudantes em
atividades culturais, o que pode ser decorrente da preparao para o Enem e
vestibulares.
Com relao frequncia com que o filho estuda em casa, 70% dos pais do
Bionatus afirmaram que seus filhos estudam todos os dias, enquanto que no Colgio
Militar corresponde a 80%. Comparando com os dados dos estudantes, embora a
porcentagem dos alunos do Colgio Militar seja maior, o perodo de estudo menor em
relao ao perodo de estudo dos estudantes do Bionatus.
A anlise da tabela sugere que estes estudantes dedicam grande parte de seu
tempo livre aos estudos. Embora, os estudantes do CMCG passem um longo perodo
navegando na internet, estes tm acesso a todo tipo de conhecimento, no descartando a
1070
12
possibilidade destes, de buscarem outros conhecimentos e materiais alm daqueles
previstos nas aulas.
A representao dos pais quanto ao papel da instituio educativa um dos
fatores mais importantes analisado, pois refere-se ao que eles esperam da instituio de
ensino. Em ambas as escolas, os pais esperam que os filhos possam: aprender os
contedos escolares; estar preparados para o mercado de trabalho; desenvolver o valor
do esforo; e o esprito crtico.
1071
13
autonomia; para o respeito ao prximo; para o respeito s regras; e desenvolvimento da
cidadania.
Assim como anteriormente, estes pais buscam uma escola que exija o mximo
de seus filhos, tanto na disciplina, quanto no bom comportamento ou esforo nos
estudos, pois, na maioria das vezes, a disciplina associada ao bom desempenho
escolar.
Para os pais entrevistados, os filhos podero ascender socialmente
devido boa formao e disciplina pessoal. Para tanto, a
escolarizao essencial nessa escalada. com a seriedade nos
estudos que alcanaro condies de vida estveis no espao social.
(MEZZOMO, 2008, p. 68).
Consideraes Finais
A partir da pesquisa acima apresentada, possvel identificar a crescente
presena da parentocracia nas trajetrias escolares dos alunos. Especificamente, na
escolha do estabelecimento de ensino, nos quais so avaliados elementos como: o
profissional da instituio, disciplinamento, reforo escolar, possveis relaes sociais e
principalmente o rankeamento das instituies em avaliaes como o Enem. Alm
disso, a escolha do estabelecimento de ensino revela as expectativas dos pais em relao
escola, e ainda suas concepes de educao ideal.
Em se tratando das prticas de cultivo orquestrado, poucos foram os dados
coletados que nos forneceram maiores informaes sobre a organizao do cotidiano e
das atividades desenvolvidos pelos estudantes. Supe-se que esta prtica seja melhor
visualizada com crianas, uma vez que a faixa etria pesquisada, predominantemente de
adolescentes, j possui um grau de autonomia maior e possvel que, por estarem
cursando o Ensino Mdio e se preparando para vestibulares e Enem, o foco das
atividades estejam predominantemente voltadas aprovao em futuras Universidades.
Muitas outras discusses podem surgir ao retomar os resultados da pesquisa,
dentre elas: A parentocracia, de fato, substitui ou substituir a meritocracia?; A
parentocracia est presente somente nas classes mdias ou tambm nas classes
1072
14
populares? A parentocracia no seria uma forma de mascarar e fortalecer a manuteno
da ideologia da meritocracia, uma vez que, embora as estratgias sejam mobilizadas
pelas famlias, no imaginrio social ainda perdura o pensamento de que o xito escolar
resultado do esforo exclusivo do estudante?; A parentocracia identificada nas famlias
provenientes da elite e da classe mdia no estaria aumentando ainda mais a
desigualdade entre os grupos sociais, distanciando de forma abismal o resultado das
trajetrias escolares das classes mais privilegiadas, em relao s classes populares?
Todas essas questes esto a suscitar novos estudos e reflexes que necessitam
ser respondidas posteriormente, em futuros trabalhos e pesquisas que apontam a
tendncia atual da intensificao dos investimentos na escolarizao em todos os grupos
sociais em especial na classe mdia.
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1074
Resumo: Este estudo tem por objetivo analisar o cenrio poltico educacional da formao
continuada de professores. Para tanto foram realizados estudos bibliogrficos e documentais;
como tambm a pesquisa de campo junto a Secretaria Municipal de Educao de Dourados
com recorte temporal de 2006 a 2012. Desse modo, trataremos num primeiro momento, de
oferecer um esboo sobre as questes que influenciam e que permeiam a formao de
professores e, num segundo momento, trazemos a perspectiva das polticas educacionais no
contexto brasileiro e como estas sinalizam as propostas referentes formao continuada na
rea da alfabetizao dos anos iniciais do ensino fundamental e, por fim, apresentamos a
materializao destas formaes no mbito municipal. Constatamos que as aes de formao
continuada constituem um conjunto de eventos desenvolvidos, de modo geral, como
atividades isoladas, sem continuidade, desarticulados de uma proposta que conceba e
implemente um projeto formativo permanente de aprendizagem dos professores no mbito
municipal. Diante disso, entendemos que a busca de alternativas para o aprimoramento da
poltica de formao docente envolve a efetivao de aes planejadas numa parceria entre
escolas e Secretaria de Educao, com espao para a participao dos atores envolvidos na
tomada de decises acerca da sua prpria formao. Com isso, e para alm de sua
contribuio especfica para os estudos sobre o formao continuada docente na rea de
alfabetizao, este trabalho busca contribuir para os estudos sobre formao de professores e
polticas educacionais no Brasil em andamento.
Palavras-chave: Formao Continuada; Alfabetizao; Poltica Educacional.
Introduo
1075
quadro, a demanda por formao geral se apresentou como uma das exigncias bsicas do
processo de reestruturao das empresas e instituies sociais.
Nessa direo, compreendemos que, refletir sobre as polticas educacionais e as
implicaes para formao de professores, e consequentemente, para a formao continuada
na rea da alfabetizao e seus elementos constituintes na atualidade requer abordar, mesmo
que de forma breve, as transformaes decorrentes da reforma econmica e poltica que
influenciaram o cenrio educacional brasileiro a partir da dcada de 1990.
1076
1077
1078
pedagogia das competncias, considera-se que esta permite uma formao flexvel e
polivalente, que atende as demandas requeridas.
No que concerne formao continuada, foco deste estudo, constitui-se parte
integrante de todas as propostas que esto em pauta, o intuito maior a busca de um
nivelamento dos professores que se encontram em atividade, no que diz respeito as ltimas
orientaes poltico-educacionais. Para a autora, inicialmente, esta questo no traz nenhum
prejuzo para os rumos da educao em si, porm quando observada de forma
contextualizada, podemos perceber que, como os demais elementos que compem a agenda
educacional, esta tem como particularidade um carter de ajustamento dos professores as
exigncias do mercado (MAUS, 2003).
Evidenciam-se assim, a questo da aceitao implcita das polticas governamentais,
isto , a finalidade maior da formao continuada a adaptao as demandas postas pelos
governos, que apresentam a necessidade de adequao a esse novo mundo globalizado.
Desse cenrio podemos apreender alguns indicativos dessa situao a partir de
imperativos legais como a Lei de Diretrizes e Bases da Educao (LDB Lei n 9.394/1996);
da elaborao de Parmetros Curriculares Nacionais (PCNs) em 1998; a formao de
professores atravs dos PCNs em Ao 1999; os Referenciais para a Formao de Professores
1998 e 2002; o Pr-Formao 1997 a 2004, direcionado formao em nvel mdio dos
professores das sries iniciais do ensino fundamental; Programa de Formao de Professores
Alfabetizadores (PROFA) 2001; Programa de Apoio a Leitura e Escrita (PRALER) 2006;
Pr-Letramento 2005 a 2013; Pacto Nacional pela Alfabetizao na Idade Certa (PNAIC) a
partir 2012, entre outros programas direcionados as outras etapas da educao bsica, bem
como a realizao de exames nacionais em larga escala de verificao do desempenho de
alunos e instituies. Essas medidas refletem propostas polticas, que pretendem envolver
toda esfera nacional.
Nesse contexto, Freitas (2007, p.1215) considera que o trabalho do professor acaba
por [...] ser reduzido prtica individual, s suas dimenses tcnicas, de modo a poder ser
avaliado, mensurado e certificado, visando adaptar os professores, a escola e seus processos
formativos s transformaes necessrias no mbito das reformas propostas.
Essas exigncias precisam ser analisadas considerando o projeto educacional em curso
no pas, bem como das condies de trabalho docente, para que, como j alertava Guimares
(2001, p.24), [...] no nos enveredemos pela tendncia de acentuar as expectativas quanto ao
papel do professor, sobrecarregando-o de deveres, para depois culp-lo pela m qualidade da
educao escolar.
1079
1080
Dourados o segundo municpio com maior populao do estado de Mato Grosso do Sul, com populao de
aproximadamente 200 mil habitantes. Situado a 120 Km da fronteira com o Paraguai e a 220 km da capital do
estado (Campo Grande), possui uma rea total de 4.096,90 km e a rea urbana totaliza 40,68 km (IBGE, 2010).
O municpio tem o segundo maior PIB entre os municpios do estado, representando cerca de 8% do total das
riquezas produzidas no estado e o 158 maior PIB entre os municpios do Brasil e o 69 lugar entre os municpios
interioranos brasileiros.
1081
As informaes sobre tema, ano, carga horria, tipo e parcerias foram obtidas, por meio da pesquisa
documental desenvolvida nos arquivos e livros de registro de certificados da SEMED de fevereiro a agosto de
2013.
1082
que pertence a equipe formativa da SEMED estava concluindo o curso de mestrado e este
projeto fazia parte da pesquisa.
Outra formao acordada se deu novamente com a UFGD em 2012, agora com a
Faculdade de Educao (FAED) na oferta de formao continuada, tambm efetivado por um
projeto de extenso, carga horria de 40 horas.
Para Marques (2000) todas as instituies responsveis pela educao - entre estas a
universidade - devem ser envolvidas no processo de formao continuada de professores. A
universidade no deve cumprir apenas a responsabilidade com o processo de formao inicial,
mas dar continuidade e propiciar rupturas exigidas pelo exerccio da profisso, atravs da
concretizao dessas exigncias que devem ser permanentemente renovadas. O autor
considera a necessidade de que, as universidades no se questionem e debatam situaes
imaginrias da educao pblica, mas busquem o dilogo com desafios concretos da prtica
profissional docente.
Com caractersticas de oficina foram ofertadas nos anos de 2006 uma ao formativa
de 4 horas e, em 2011 trs momentos de formao que totalizou uma carga horria de 48
horas. J em 2007 foi informado apenas um momento de formao continuada, que totalizou
uma carga horria de 4 horas que foi destinada a certificao dos professores alfabetizadores
que atuavam no Programa de Acompanhamento Escolar (PAE). As formaes continuadas
direcionadas aos professores alfabetizadores que atuavam nas salas do PAE seguiram nos
anos seguintes 2008 a 2012.
Em 2009, houve a formao continuada PCN e Ensino Fundamental, com uma carga
horria de 30 horas, o que demonstra a utilizao dos Parmetros Curriculares com primeira
edio em 1998, como recurso de pedaggico de formao docente.
No tocante as parcerias, no ano de 2008 as aes de formaes continuada registraram,
dentro do perodo de anlise, a maior incidncia de parcerias firmadas pela SEMED, a carga
horria somada foi de 288 horas de formao, entrando em cena a oferta em dois momentos
de formao do tipo semipresencial. Registra-se pela primeira vez uma formao contnua na
modalidade (em parte) de educao a distncia na rea de alfabetizao no municpio de
Dourados. Embora as aes de formao de professores por meio de recurso interativos
(tecnolgico) j tivessem sido percebidas desde a dcada de 1990, com a TV Escola e o
Programa Nacional de Tecnologia Educacional (PROINFO).
A partir de 2008 foi implementado o programa denominado Pr-Letramento Mobilizao pela Qualidade da Educao, realizado pelo MEC em parceria com
universidades que integram a Rede Nacional de Formao Continuada e com adeso dos
1083
estados e municpios. A SEMED ofertou o Pr-Letramento nos anos seguintes 2008 a 2012,
com carga horria por formao/ano de 120 horas.
No tocante as parcerias privadas, houve dois momentos de formao continuada, o
primeiro em 2008 pelo Projeto Prazer da Leitura efetivado atravs do programa Alm das
Letras em parceria com o Instituto Avisa L3, a carga horria da formao continuada
totalizou 168 horas, configurou-se como uma formao totalmente a distncia.
O segundo momento de parceria com instituies privadas foi em 2012, com o
Projeto Trilhas4 desenvolvido, juntamente com o Instituto Natura5 e o MEC, a carga horria
somou 50 horas, a formao foi do tipo semipresencial.
Nas duas situaes de parcerias com instituies privadas, podemos observar que no
existiu uma discusso com relao ao modelo empresarial no mbito educacional, pelo
contrrio as concepes privadas de gesto surgem naturalmente como uma alternativa de se
alcanar padres estabelecidos pelas diretrizes e avaliaes externas como suposio de se
induzir melhorias.
Pacto Nacional pela Alfabetizao na Idade Certa (PNAIC), institudo pela Portaria
n 867 de 4 de julho de 2012, configura-se como um acordo assumido entre os governos
federal, estadual e municipal, por meio do regime de colaborao, que tem como meta
alfabetizar todas as crianas at os oito anos de idade, ao final do terceiro ano do ensino
fundamental pblico.
O PNAIC foi direcionado a formao continuada de alfabetizadores, que atuam nas
turmas de 1, 2 e 3 anos do ensino fundamental. Esta formao consiste em encontros de
estudo e atividades prticas conduzidas pelos professores tutores/orientadores, para
professores da rede pblica de ensino. O referido programa governamental tem durao
prevista de dois anos (2013-2014) e tem como principal referncia o programa PrLetramento.
No que se refere s aes previstas para o Pacto, elas compreendem os seguintes eixos
apresentados no artigo 6 da Portaria n 867/2012: I- formao continuada de professores
alfabetizadores; II- materiais didticos, literatura e tecnologias educacionais; III- avaliao e;
uma organizao no governamental (ONG) que trabalha com a qualificao de professores das redes
pblicas. Disponvel em: <http://www.avisala.org.br/index.php/quem-somos/>. Acesso em: 15 de set. de 2014.
4
O projeto prope um conjunto estratgias no processo de alfabetizao. Disponvel em:
<http://www.institutonatura.org.br/projetos/trilhas/>. Acesso em: nov. de 2014.
5
uma
organizao
sem
fins
lucrativos.
Disponvel
em:
<http://www.institutonatura.org.br/institucional/perfil/>. Acesso em: nov. de 2014.
1084
IV- gesto, controle e mobilizao social. Como podemos observar, a questo da formao
continuada de professores e a avaliao aparecem como pontos estratgicos do referido
programa.
relevante destacar que a formao e a atuao docente so consideradas pelo
governo federal aspectos estratgicos no alcance da qualidade do ensino, o que tem
contribudo para a responsabilizao do professor pelos resultados nas avaliaes nacionais,
sendo ampliadas as propostas de polticas/programas de formao, tanto inicial quanto
continuada de professores, apontada por Freitas (2007). Essa autora analisa que a centralidade
da categoria docente nos programas governamentais tem sido marcante, pois estes tm sido
considerados os principais responsveis pelo desempenho dos alunos.
Consideraes Finais
A formao de professores situa-se como aspecto central nas formulaes das polticas
de alfabetizao para educao brasileira, sobretudo a partir da dcada de 1990. As discusses
acerca da melhoria dos ndices da educao bsica, em especial o ensino fundamental, em
termos de acesso, permanncia e resultados das escolas, tm sido associadas preocupaes
sobre a formao docente, principalmente a formao continuada do professor alfabetizador.
Nesse sentido, a formao de professores se encontra no centro dos acontecimentos
relativos a educao, suscitando aprovaes e divergncias que direcionam polticas
educacionais atreladas aos resultados do desempenho escolar (MAUS, 2003; FREITAS,
2007). Assim direcionados, os contornos de regulao e do desenvolvimento das polticas
educacionais enfatizam [...] o carter meritocrtico, hierrquico e subordinado do trabalho
docente (FREITAS, 2007, p.1223) reforando aes verticalizadas e centralizadas dos
sistemas sobre os professores, visando atingir os ndices de qualidade pr-determinados.
Percebe-se assim, a tendncia regulao dos processos de formao e atuao dos
professores, de forma que possam atuar na concretizao das polticas e programas
estabelecidos para educao bsica (FREITAS 2007). Nessa direo, questionamentos que
envolvem a formao docente enfatizam a fragilidade na constituio de sua formao,
decorrente da complexificao de sua profisso.
Consoante com o projeto delineado nacionalmente, o cenrio educacional pblico
douradense segue na mesma direo. No perodo pesquisado, a rede de ensino ofereceu,
regularmente, atividades de formao continuada para os professores alfabetizadores, de
acordo com as orientaes expressas na legislao nacional que atribui aos sistemas de ensino
1085
a responsabilidade da oferta destas aes. Do mesmo modo que concebida na maior parte
dos documentos legais, a formao continuada caracterizada nos registros da Secretaria
Municipal de Educao pela promoo de atividades pontuais.
Estas aes de formao constituem um conjunto de eventos desenvolvidos, de modo
geral, como atividades isoladas, sem continuidade, desarticulados de uma proposta que
conceba e implemente a formao continuada como um projeto permanente de aprendizagem
dos professores no mbito municipal.
Nessa proposta, os pacotes pr-estabelecidos em mbito nacional no permitem a
constituio da autonomia e das discusses coletivas (BALL, 2002), direcionamento este que
traz profundas consequncias para natureza do ensinar e do aprender.
Sendo assim, a busca de alternativas para o aprimoramento da poltica de formao
continuada de professores envolve a efetivao de aes planejadas numa parceria entre
escolas e Secretaria de Educao, com espao para a participao dos atores envolvidos na
tomada de decises acerca da sua prpria formao.
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1086
1087
RESUMO
Este artigo resultante da percepo de que diante das exigncias da sociedade
contempornea, a formao continuada docente consiste em possibilidade de ressignificao
da prtica profissional. Apresenta como objetivo analisar como se deu o processo de
formao continuada de professores participantes do Curso de Aperfeioamento Docncia
na Escola de Tempo Integral (DETI) em nvel de aperfeioamento em conformidade com a
Poltica Nacional de Formao de Profissionais do Magistrio da Educao Bsica, realizado
em Mato Grosso do Sul. Nesse sentido, considerando o cho da escola como lcus das
polticas pblicas educacionais, contextualiza a efetivao da educao integral em jornada
ampliada em nvel nacional e local propondo a anlise da formao continuada docente. Por
fim, compreendendo a formao docente como sendo uma das principais estratgias de
qualificao do sistema educacional, reitera a relao estabelecida entre o processo de
formao continuada e a prtica reflexiva do professor.
1. INTRODUO
A educao integral no Brasil teve como marco o ano de 1932, quando um grupo de
intelectuais dentre eles Ceclia Meirelles, Ansio Teixeira, Loureno Filho, Fernando
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1092
1093
5. Consideraes Finais
1094
1095
6. REFERNCIAS
outras
providncias.
Braslia.
Disponvel
em:
em:
<http://www.abmes.org.br/abmes/public/arquivos/legislacoes/Port_Norm_Inter_017_2007_
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________. Lei 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educao PNE
outras
providncias.
Disponvel
em:
1096
1097
RESUMO
O presente artigo tem por objetivo descrever as formaes continuadas oferecidas aos
professores lotados no laboratrio de Cincias da Rede Municipal de Ensino de Campo
Grande/MS durante o ano letivo de 2014. As reflexes acerca de cada formao continuada
emprestam os referenciais tericos fornecidos durante a disciplina obrigatria Formao
docente para a Educao Bsica do Mestrado Profissional em Educao oferecido pela
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul campus Campo Grande. A descrio das
formaes, bem como os instrumentos de validao da existncia destas e depoimentos foram
fornecidos por um professor lotado no laboratrio de Cincias em uma escola municipal de
Campo Grande/MS. As formaes descritas por este esto em ordem cronolgica e so: 1)
Formao Continuada para professores de Cincias; 2) Terrrio; 3) FECINTEC; 4)
Hansenase, Geo-Helmintase e Tracoma nas Escolas; 5) Insetrio; 6) Teoria Fsica sobre a
Luz e a Cor; 7) Intercincias; e 8) O ensino de Cincias: entre imagens, palavras e sons.
Constata-se que as abordagens das formaes continuadas visam suprir os dficits da
formao inicial dos professores. Alm disso, no levaram em considerao as necessidades
locais, por consequncia, no fomentou a escola como lcus de reflexo-ao.
Palavras-chaves: Ensino de Cincias; Formao Continuada; Laboratrio.
INTRODUO
Este texto apresenta as oito formaes continuadas, ocorridas durante o ano letivo de
2014, destinadas aos professores lotados nos laboratrios de Cincias da Rede Municipal de
Ensino de Campo Grande/MS. A partir da apresentao ser discutido de que maneira estas
formaes continuadas proporcionaram aes pedaggicas diferentes em um professor lotado
no perodo matutino no laboratrio de Cincias de uma das escolas da rede supramencionada.
Para a descrio das formaes foi utilizado o caderno de planejamento do professor
que contm as anotaes, os textos e as atividades desenvolvidas em cada encontro. Quanto
anlise das formaes ser tomado como referencial terico os textos de CANRIO (1998),
GAUTHIER (2006), NVOA (2012), e SAVIANI (2009).
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em seguida foi a Instruo Normativa n 7, de julho de 1997, que estabelece normas para o
trabalho em conteno com organismos geneticamente modificados. Nesta, h um anexo com
a classificao de agentes etiolgicos humanos e animais com base no risco apresentado. Esta
instruo agrupa os microrganismos em classes de 1 a 4, sendo a classe 1 a de menor risco e a
classe 4 a de maior risco. Diante desta normativa, o laboratrio didtico classificado como
Risco 1, pois o risco individual e para a comunidade ausente ou muito baixo porque so
utilizados microrganismos com baixa probabilidade de infeces em humanos ou em animais.
O ltimo tpico da palestra que abordou o Uso de Seres Vivos em laboratrio trouxe
diversas normativas, tais como o Decreto n. 24.645, de 10 de julho de 1934; a Lei n. 6.638, de
8 de maio de 1979; o artigo 225 da Constituio Federal de 5 de outubro de 1988; a Lei n.
9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e a Lei n. 11.794, de 8 de outubro de 2008.
A palestra finalizada com o direcionamento de que antes de qualquer atividade com
animais, que todas as normativas elencadas sejam lidas e estudadas.
Entende-se este encontro como uma estratgia da Secretaria Municipal de Educao
de Campo Grande/MS em aperfeioar o que Gauthier (2006) denomina como saber curricular.
No saber curricular, de acordo com Gauthier (2006):
Uma disciplina nunca ensinada tal qual, ela sofre inmeras transformaes para se
tornar um programa de ensino. De fato, enquanto instituio, a escola seleciona e
organiza certos saberes produzidos pelas cincias e os transforma num corpus que
ser ensinado nos programas escolares. Esses programas no so produzidos pelos
1100
professores, mas por outros agentes, na maioria das vezes funcionrios do Estado ou
especialistas das diversas disciplinas (GAUTHIER, 2006, p.30-31).
1101
outros grupos pudessem contribuir para aquela sequncia. Ao final das apresentaes ficou
acordado que todos os professores receberiam as sequncias, e isso ocorreu um ms aps a
formao continuada.
As tcnicas pedaggicas finalizaram a formao reforando que um dos objetivos
daquele encontro era a elaborao de atividades para o laboratrio e da utilizao de recursos
disponveis no ambiente e/ou com reciclveis.
Saviani (2009) classifica a formao de professores em dois modelos:
a) modelo dos contedos culturais-cognitivos: para este modelo, a formao do
professor se esgota na cultura geral e no domnio especfico dos contedos da rea
de conhecimento correspondente disciplina que ir lecionar.
b) modelo pedaggico-didtico: contrapondo-se ao anterior, este modelo considera
que a formao do professor propriamente dita s se completa com o efetivo preparo
pedaggico-didtico (SAVIANI, 2009, p. 148-149).
Sendo assim, fica evidente que a proposta da formao descrita, encaixa-se no modelo
pedaggico-didtico, pois visa oferecer aos professores-cursistas uma possibilidade de
atividade interdisciplinar que supostamente desconhecem. No se pode entender como
modelo dos contedos culturais-cognitivos, pois foi fornecido uma estratgia didtica para
utilizao no laboratrio de Cincias, ou seja, os professores-cursistas demonstraram
conhecimento na rea disciplinar, porm, alguns desconheciam a possibilidade didtica.
3- Formao Continuada: FECINTEC
Esta formao aconteceu no Centro de Educao Ambiental Leonor Reginato Santini,
comumente chamado de CEA Polons, no dia 13 de maio, no perodo matutino, e reuniu
todos os professores de laboratrio lotados no perodo matutino.
A proposta deste encontro, nas palavras do Coordenador do Ensino Fundamental Luis
Cleber, era que os profissionais presentes entendessem o laboratrio como um espao de
fomento a pesquisa. Por isso, os palestrantes eram os professores Gilberto Astolfi, Marilyn
Aparecida Errobidarte de Matos e Joo Cesar Okumoto do Instituto Federal de Mato Grosso
do Sul.
A professora Marilyn iniciou a explanao demonstrando a importncia das Feiras de
Cincias para a aprendizagem dos estudantes dos anos finais do ensino fundamental. Em
seguida, apresentou a FECINTEC Feira de Cincias e Tecnologia de Campo Grande/MS
organizada pelo IFMS e sob sua coordenao.
Nesse sentido, toda a argumentao da palestrante esteve pautada no edital de
participao da Feira, isto quer dizer que detalhou como as escolas municipais poderiam
desenvolver projetos de pesquisa e apresent-los nesta feira.
5
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1104
para a medicao e uma falsa proposta de sade preventiva, visto que o que importou foi o
cumprimento da tarefa demandada da Secretaria Municipal de Sade Pblica.
5- Formao Continuada: Insetrio
O laboratrio de Zoologia de Invertebrados da Universidade Catlica Dom Bosco foi o
local para esta formao que aconteceu, no dia 19 de maio, no perodo matutino. A proposta
das tcnicas pedaggicas da SEMED em parceria com a professora responsvel pelo
laboratrio que os professores-cursistas realizassem uma atividade onde o conceito de
animal fosse construdo. Para tanto, o insetrio foi escolhido para auxiliar os estudantes na
compreenso do conceito, e por isso, os professores-cursistas realizaram a atividade, tal qual
um estudante a realizaria.
A atividade foi iniciada em uma parte de campo, ainda dentro da Universidade
Catlica Dom Bosco, onde os professores-cursistas manipularam pus para aprisionarem
insetos, ou seja, a primeira etapa da formao destinava-se coleta de insetos. De posse dos
insetos, os profissionais retornaram ao laboratrio de Zoologia de Invertebrados, pois neste
local a professora explicou detalhadamente as tcnicas para montagem do insetrio.
A ttulo de informao, um insetrio uma coleo de insetos classificados para
observao e/ou estudo. Dentre as tcnicas apresentadas, vale ressaltar que a professora indica
o melhor local para perfurar e prender o inseto no suporte, pois assim se evita danificar as
patas, antenas e asas dos insetos coletados. Para exemplificar, ela demonstra a diferena entre
fixar um besouro e uma borboleta. O suporte mencionado foi composto por uma caixa de
papelo (de camisa masculina) e uma base, dentro desta caixa, de isopor.
Cada professor-cursista, aps a fixao dos insetos coletados, precisou manter a caixa
aberta para que o material secasse, desta maneira, evita-se a proliferao de fungos. Enquanto
ocorre esse procedimento, os professores socializaram as possibilidades de utilizao do
insetrio, o exemplo mais citado foi o 7 ano, onde os estudantes aprendem sobre as
caractersticas dos animais invertebrados.
O professor da escola pesquisada no utilizou esta prtica, pois o laboratrio j
continha uma coleo considervel de insetos classificados no ano anterior pelos estudantes
do 7 ano do ensino fundamental.
Nesta formao constata-se o que Nvoa (2012) pontua a respeito do conceito de
transposio didtica trazido por Yves Chevallard:
Um contedo do conhecimento tendo sido designado como saber a ensinar sofre
ento um conjunto de transformaes adaptativas que vo torn-lo apto a tomar
lugar entre os objetos de ensino. O trabalho que, de um objeto de saber a ensinar
1105
1106
10
1107
1108
A partir da apresentao da formao, com auxlio deste texto, foram formados grupos
de acordo com o material a ser utilizado, sendo eles: 1) Jornal; 2) Letra de msica; 3) Vdeo;
4) Poesia; e 5) Histria de Quadrinhos.
Cada grupo articulou uma proposta de atividade de acordo com os componentes
colocados pelas tcnicas pedaggicas. Os itens a serem preenchidos foram: componentes do
12
1109
13
1110
CONSIDERAES FINAIS
Diante dos referenciais tericos entende-se que a Secretaria Municipal de Educao de
Campo Grande procurou auxiliar o professor lotado no Laboratrio de Cincias oferecendo
durante o ano de 2014 diversas formaes continuadas. Ressalta-se que a ideia implcita
destas formaes a abordagem de formao continuada como meio de suprir os dficits da
formao inicial.
Sobre isso, o relatrio da Fundao Carlos Chagas sentencia:
De fato, a proposta do dficit pressupe que os professores nada tm a dizer em
termos do que necessrio para aprimorar sua formao e, por esse motivo, no h
razo de consulta-los acerca do que precisam ou no que esperam ser capacitados.
Consequentemente, tudo que diz respeito formao continuada definido em
outras instncias e/ou por nveis hierrquicos superiores dos sistemas de ensino [...]
(FUNDAO CARLOS CHAGAS, 2011, p.18)
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
BELTRO, Terezinha Monica Sincio. Uma anlise da transposio didtica externa com
base no que propem documentos oficiais para o ensino de grficos estatsticos. Revista
Paranaense de Educao Matemtica. Campo Mouro, PR, v.1, n.1, jul-dez. 2012.
14
1111
15
1112
Resumo
Abstract
This study focuses on the ability to highlight the real need for fixing literacy for the subsequent series the 3rd year of teaching fundamental, highlighting the many contributions of the various theoretical, and the arrangements of
methods involving the child to the act of reading and write after literacy. Literacy and their relations contributions relationed to differente theoretical frameworks surveyed, which emphasize the interaction and socil interaction concatenated to affectivity, necessary to develop educational development of the
child in the other series of basic education. The interventions of childrens literature and comics, with subsidies for devel to reading and writing in the
later series of literacy and the praplasticity of the convenant as achievable
goal.
Campo Grande
2015
1113
Introduo
1114
Urge lembrar que ler e escrever sempre sero pr-requisitos para o desenvolvimento
intelectual do discente ao longo da Educao Bsica. Conforme Martins (2008, p. 137):
Partimos do princpio de que ao se efetivar a prtica da leitura de diversos gneros textuais em sala de aula, o professor estar propiciando
condies para que os leitores acionem outras vozes, outros textos, mobilizem diferentes posies ideolgicas, conheam outros gneros textuais na sociedade.
Uma teoria social do ensino-aprendizagem que enfoca as influncias sociais a que os alunos esto submetidos, ao mesmo tempo em que leva em
conta as caractersticas do lugar social no qual as aprendizagens se realizam: a escola. Ela analisa as interaes intencionais dos professores em
funo de um projeto da esfera cotidiana de experincia do aluno, e estuda, no s os ajustes retrospectivos para assegurar a continuidade das
aprendizagens, mas, sobretudo, o efetivo dos ajustes prospectivos em
funo do modelo buscado. As interaes so regulamentadas pelos professores, que so responsveis por ajudar o aluno a assimilar as novidades. (SCHNEUWLY e DOLZ: 2004, p. 47).
1115
4
importante salientar que a dificuldade do professor em sala de aula, no que se
refere ao letramento, vai de encontro, muitas vezes, aos inmeros processos
pedaggicos existentes, que visam a alavancar o desenvolvimento dos alunos no ato
do domnio da leitura e escrita. Diante dessa premissa, o professor se depara com o
obstculo que promover o desenvolvimento da aprendizagem de seus alunos em
relao ao contexto da oralidade: ler e escrever como pr-requisito para o
desenvolvimento intelectual do educando ao longo da Educao Bsica.
crucial, tambm, no tergiversarmos em relao s prticas dialgicas
que vo favorecer o aluno no ato da captao de determinado mtodo, pois o que parece
bom para um pode no ser bom para o outro. Em sala de aula, nunca o sucesso ser
amplo. Como bem explicita Leite (1988, p. 165): [...] a construo do processo de
alfabetizao escolar, numa perspectiva crtica, implica no s a existncia de relaes
dialgicas [...] mas, principalmente, a escolha de contedos que possibilitem a
problematizao da realidade.
Ento, mesmo que a imensa quantidade de textos sejam oferecidos pela literatura
infantil, o professor no deve tergiversar-se da crucial importncia do envolvimento de
toda comunidade educativa na prtica de ler e escrever de seus alunos. necessrio,
igualmente, que se perceba a importncia da relao entre o que se quer transmitir e o
que o nosso objetivo pretende alcanar. No se pode atingir um progresso esperado, sem
traarmos limites claros em relao capacidade de nossos educandos, pois dessa
maneira estaremos menosprezando ou superestimando a capacidade de aprender de
nossas crianas.
Soares enfatiza: (2003, p. 43): [...] Interagindo com a escrita, a criana vai
construindo o seu conhecimento, vai construindo hipteses a respeito da escrita e, com
isso, vai aprendendo a ler e escrever numa descoberta progressiva. A autora opina de
forma clara e objetiva em relao ao trabalho do professor no que se refere leitura (no
nos esqueamos da comunicao oral da criana, no nas leituras impostas e
constrangedoras, mas sim no livre e delicioso prazer em ler) e a escrita. Os compndios
tericos que facilitam o trabalho do professor devem ser utilizados a fim de que a
1116
5
fixao da aprendizagem esteja sempre presente no desenvolvimento intelectual da
criana.
No nos devemos esquecer de que cabe ao professor despertar no aluno o
interesse pelo seu desenvolvimento gradual. Quando falamos em gradualidade,
partimos do pensamento de que o educando vai acrescentando por etapas a
compreenso de sua aprendizagem, no por adquirir inmeros contedos, mas
tambm
pelas
influncias
socioculturais
interativas
percebidas
1117
6
Segundo Frade (2007, p. 55): A discusso sobre mtodos recorrente na
Pedagogia da Alfabetizao e retom-los significa pensar a prpria escolarizao dos
contedos da lngua. Ento, cabe ao professor evidenciar os fundamentos pertinentes a
cada mtodo e, focaliz-los como algo a ser comparado com a prtica pedaggica. No
que se tenha que verificar o certo ou o errado, mas tudo que favorea a apreenso
dos educandos e que resulte em algo significativo como aprendizagem.
crucial, tambm, no tergiversarmos em relao s prticas dialgicas que vo
favorecer o aluno no ato da captao de determinado mtodo, pois o que parece bom
para um pode no ser bom para o outro. Em sala de aula, nunca o sucesso ser amplo.
Como bem explicita Leite (1988, p.166): [...] a construo do processo de
alfabetizao escolar, numa perspectiva crtica, implica no s a existncia de relaes
dialgicas [...] mas, principalmente, a escolha de contedos que possibilitem a
problematizao da realidade.
Quando se relaciona a Alfabetizao com o Letramento se oportuniza outra forma
de se entender a funo da escrita, pois se alfabetizar adquirir o domnio escolarizado
da leitura e escrita, letramento, segundo Soares (1998, p. 179): [...] apropriar-se
socialmente da escrita, atravs de seus usos sociais, diferente de aprender a ler e
escrever, no sentido do domnio do cdigo, ou do domnio da tecnologia da escrita.
Assim, uma pessoa pode ser letrada e no necessariamente alfabetizada. No se deve
esquecer de que a Alfabetizao um processo inicial de apreenso do domnio de ler e
escrever sempre relacionado lngua materna. imprescindvel a percepo por parte
dos professores, que esse processo se estender por toda a Educao Bsica.
7
1. A Alfabetizao e sua continuidade nas outras sries do Ensino
Fundamental: aprendizagem ou retrocesso educacional.
1118
7
Alfabetizao j plenamente adquirida pelo educando vai se estabelecer, com seus
traumas e sucessos, durante todo o Ensino Bsico. Os professores das sries posteriores,
a partir do 3 ano do Ensino Fundamental, vo se tornar os responsveis por essa
complementao do desenvolvimento intelectual do educando.
Partindo de um raciocnio lgico, por que no se estabelecer um mtodo que faa
com que o aluno, continuamente exercite o processo de ler e escrever. No se pode
prevaricar do pensamento de que a aprendizagem um processo de aquisio de
experincias socioculturais duradouras e, alm disso, todos vo angariar novos
conhecimentos a partir das inmeras experincias oferecidas pela escolarizao.
comum encontrarmos situaes que faro com que, de uma forma bem
generalizada, voltemos a refletir sobre os percalos na educao das crianas logo aps
serem alfabetizadas. O maior problema a constatao de que os alunos no continuam
a aprender, mesmo com o domnio parcial da lngua materna. No por se tratar de
incompetncia do educador, mas sim se notam desvios de um processo observado por
todos: a falta de investimento da Formao Continuada do professor, que vai refletir na
quebra da continuidade do desenvolvimento da oralidade no educando.
Esse retrocesso pedaggico ocorre no pela falta de investimentos educacionais, e
muito menos por falta de metas a serem cumpridas, mas o que se observa,
principalmente a falta de interesse de muitos professores em desafiar a sua prpria
criatividade em prol da evoluo intelectual de seus alunos. Conforme Smith (1999, p.
11): [...] Mesmo as abordagens mais bizarras encontraro sempre alguma pesquisa
afirmando que houve sucesso em ensinar algo, a at mesmo de
forma mais
significativa do que alguns outros mtodos. Segundo o autor, basta que o professor
esteja imbudo em uma prtica significativa de aprendizagem, para que isso reflita no
desenvolvimento intelectual de seus alunos.
Outra referncia j mencionada anteriormente a formao continuada dos
professores, pois afirma Marcelo Garcia (1999, p. 26 apud Andr (2010): [...] os
processos de formao inicial ou continuada, que possibilitam aos professores adquirir
ou aperfeioar seus conhecimentos, habilidades, disposies para exercer sua atividade
docente [...]. O enunciado reflete de forma objetiva a necessidade crucial de o
1119
8
professor esteja se reciclando para sua prtica pedaggica, resultando para o aluno
experincias sociais, pedaggicas e interativas que o far muito mais preparado ao
longo do Ensino Fundamental.
Segundo o autor, importante que o educador se localize dentro de suas pretenses
metodolgicas para especificar a linha de ao investigativa, pois quando menciona que
a pesquisa-ao educacional faz surgir variedades distintas, leva-nos a crer que a
direo a ser seguida vai depender dos processos que localizem o objeto da
investigao.
Tripp (2005, p. 445), especifica tambm, [...] a pesquisa-ao principalmente
uma estratgia para o desenvolvimento de professores e pesquisadores de modo que eles
possam utilizar suas pesquisas para aprimorar seu ensino. Uma relao importante
entre a pesquisa e o objeto em referncia pesquisa-ao ocorre: Ao: planejar uma
melhora da prtica agir para implantar a melhora planejada monitorar e descrever
os efeitos da ao e avaliar os resultados da ao, tudo relacionado investigao.
O texto como ponto de referncia vai nos favorecer nas intervenes desejadas
dentro da pesquisa-ao, pois o agir torna-se o ponto de partida para que se estabelea
todo um rol de aes que favorecero todo o processo investigativo, pois tanto a leitura,
a msica e a dinmica em geral estaro sempre interligadas e, ainda em relao ao
mtodo proposto por Tripp, no planejamento constaro as aes a serem desenvolvidas,
enquanto o monitoramento constante trar mais objetividade investigao.
Um ponto interessante de se estabelecer a pesquisa-ao, demonstrada pelo terico
David Tripp o uso do treino texto msica produo textual, que pode
perfeitamente ser representado pelo indicativo conceitual abaixo, onde podemos ao
mesmo tempo: planejar, agir, monitorar, descrever e avaliar os caminhos percorridos
por nossos educandos dentro da presente investigao. O professor deve, a partir da
seleo dos textos, efetivar essa prtica, buscando a interao dos educandos, bem como
nunca se esquecer da afetividade, subsdios imprescindveis a fixao de qualquer
prtica pedaggica.
1120
9
Observando o esquema abaixo, vamos perceber uma relao clara entre o que a
metodologia indica e o que o professor pode utilizar para desenvolver sua prtica
pedaggica relacionada ao que j foi evidenciado:
1121
10
processo pedaggico pede intervenes, seja ele voltado alfabetizao ou a um processo
de
ensino que
englobe
as
demais
sries
[...] construtivismos, interacionismos lingusticos e letramentos. Apesar de seu carter plural e das diferenas entre esses
modelos, em outras apropriaes e concretizaes eles vm
sendo conciliados de maneira ecltica e apresentados como
se fossem homogneos e complementares entre si e como se
todos pudessem ser entendidos, de forma redutora, como
correspondentes a trs mtodos de ensino.
1122
11
mltiplos usos, no perdendo suas particularidades. O carter hegemnico de cada
mtodo faz parte de suas particularidades, no o isentando do objetivo de sua
apresentao e usos em prol da educao da qual faro parte.
Esta premissa citada anteriormente, vai trazer aos alfabetizadores (as) um
compromisso maior em relao s metas a serem alcanadas, no que esse trabalho
despender esforos considerados impossveis, mas que faro com que o professor
reflita de maneira mais objetiva sobre sua prtica. Um importante desafio enfrentado
pelo professor a j conhecida Provinha Brasil, que segundo Esteban (2012, p. 574):
[...] exame nacional aplicado no 2 ano do ensino fundamental que visa monitorar a
alfabetizao [...] por meio de uma avaliao diagnstica do nvel de desempenho das
crianas, a fim de garantir que todos os estudantes se alfabetizem at os 8 anos de
idade.
Esta etapa regulatria vai obrigar todos os envolvidos na prtica pedaggica a
uma posio objetiva, para que os gargalos embutidos nos diversos mtodos de
alfabetizao no se tornem obstculos que dificultem o alcance de um bom
desempenho. Mesmo que se considere o valor global da Provinha como um instrumento
de ajuda prtica pedaggica, o fantasma da meta pode prejudicar a liberdade da
alfabetizadora(or) em trilhar novas experincias mesmo estas estando relacionadas a
mtodos sintticos ou analticos de alfabetizao.
No podemos desconsiderar a importncia desse tipo de interveno avaliativa,
mesmo que a impresso seja de fiscalizao e viglia, mas crucial que o professor tire
dessa experincia pontos que favoream o seu desempenho em promover a
aprendizagem de seus alunos. Segundo Morais (2012, p. 555): [...] Assumindo uma
perspectiva de avaliao formativa, e sem confundir avaliao com exame, temos
defendido urgncia de monitorarmos o que nossos aprendizes vo reconstruindo seus
conhecimentos [...]. O autor refora a estratgia do acompanhamento do educando em
relao a sua aprendizagem, pois tudo que ensinado deve ser diagnosticado e formado
por um conjunto compreensvel.
Em se tratando de letramento, muito se discute sobre os espaos que privilegiem
essa prtica. Muitos afirmam que uma pessoa pode ser socialmente letrada, pois
1123
12
consegue pr-estabelecer um entendimento aceitvel sobre as interaes sociais
pertinentes sua maneira de vida. Os espaos de letramento so conhecidos por se
tratarem de meios qualificadores para a aprendizagem.
espao de letramento
formal.
A escola considerada um
este ou
1124
13
aquele
que se desperte na criana toda a ludicidade normalmente despertada por todas elas.
Segundo Rodrigues (2009, p. 3): Por meio da literatura infantil, a criana descobre o
mundo atravs da fantasia, ldico, mgico e sonho, enriquecendo sua imaginao e
despertando-lhe a liberdade de pensamento e a criatividade. Ora, se procuramos
despertar na criana o imaginrio, para que ela estabelea uma construo de sentidos,
3. Consideraes finais.
treino da leitura
e escrita
aps a alfabetizao so
1125
14
se trata de um caminho a ser percorrido, visando ao desenvolvimento intelectual de
nossas crianas.
importante, tambm, ressaltar que o referencial terico vai favorecer ao
professor o encontro com novas propostas de enriquecimento pedaggico que pode ser
usado por ele em sua prtica em sala de aula. No como um mtodo imprescindvel,
contudo como um instrumento de aperfeioamento e descoberta de novos paradigmas
que o conduzam prtica de uma aprendizagem realmente significativa.
H uma afirmao que no se deve deixar de frisar, no que se refere
participao de todos os envolvidos no processo de ensino e aprendizagem das crianas,
direta ou indiretamente,
sua
propiciando
ao professor
instrumentos
que
valorem
s ocorre, se for capaz de agregar professores, escola, pais e alunos como mediadores de
um trabalho que interaja socialmente em um objetivo nico: aprendizagem
significativa. Em relao ao autor, mesmo que a prtica seja uma experincia
inovadora, a conjuno de todos imprescindvel ao sucesso da tentativa de ensinar,
neste caso especfico: a ascenso em relao leitura e a escrita.
1126
REFERNCIAS:
1127
1128
TRABALHOS COMPLETOS
1129
I. INTRODUO
O Plano Nacional de Educao (PNE) (2014-2024) foi elaborado aps extenso e
intenso debate envolvendo a participao de segmentos expressivos da sociedade civil
organizada em diferentes arenas de disputa, tais como as Conferncias Nacionais de Educao
(CONAE, 2010, 2014) e o parlamento. Abrange todos os nveis e modalidades de ensino
prevendo metas e estratgias para a poltica educacional para os prximos dez anos. Em
relao educao bsica, ofertada predominantemente por estados e municpios, a efetivao
dessas metas depende da aprovao e regulamentao de dispositivos legais em mbito
federal e tambm da aprovao de medidas equivalentes nos municpios, estados e Distrito
Federal.
O presente texto analisa esse processo a partir de pesquisa documental, detendo-se
particularmente na anlise da temtica da carreira e salrio constantes nos planos de educao
nas esferas municipal (Dourados/MS), estadual (Mato Grosso do Sul) e federal, identificada
nas metas 16, 17 e 18 dos respectivos planos.
1130
1131
nvel de ensino. Sobre essa questo, Vieira (2009, p. 04) alerta que o legislador resolveu o
problema da descentralizao remetendo as responsabilidades aos sistemas de ensino.
Esse arcabouo institucional faz com que os trabalhadores da educao tenham
diferentes formas de contratao para realizar o mesmo trabalho, a depender de qual esfera
governamental esteja vinculado. So, assim, regidos por regime jurdico nico (na esfera
federal) ou prprios na forma de estatutos ou planos de cargos e carreiras e salrios (em
esferas estaduais ou municipais) ou ainda esto vinculados ao regime da CLT1 (seja nas
redes privadas ou mesmo em boa parte de redes pblicas) (CAMARGO, 2010).
Diante dessa diversidade torna necessrio conceituar salrio, vencimento e
remunerao que, segundo Camargo (2010) tm sido utilizados de forma polissmica e
imprecisa quando se refere ao docente, j que engendram diferentes responsabilidades
profissionais e, a depender do carter de cada um, apresentam bases de clculo distintas.
Pereira (2010) enfatiza que no mbito do servio pblico, o termo remunerao
tambm utilizado para designar todas as verbas recebidas pelo servidor, inclusos o
vencimento bsico, as vantagens, os adicionais, as gratificaes, dentre outros.
No caso do magistrio pblico, a remunerao composta pelos vencimentos do
cargo acrescida de vantagens pecunirias permanentes estabelecidas em lei, em outras
palavras, o vencimento bsico mais as vantagens temporais, as gratificaes, o auxlio
transporte, etc. (CAMARGO, 2010).
Ao observamos os critrios de definio das carreiras, salrios e remunerao dos
profissionais da educao, depreende-se que historicamente figuraram processos que ora
conferiam certa autonomia, ora responsabilizavam os estados e municpios pelas
modificaes. Profundas alteraes foram introduzidas, especialmente a partir dos anos 1990
com a aprovao da Constituio Federal de 1988 (CF/88), da Lei de Diretrizes e Bases da
Educao de 1996 (LDB/1996), da Emenda Constitucional n 14/1996 (EC/14/96), da Lei n
9.424/1996 que regulamentou o Fundo de Manuteno e Desenvolvimento do Ensino
Fundamental e de Valorizao do Magistrio (FUNDEF) e, mais recentemente, o Fundo de
Manuteno e Desenvolvimento da Educao Bsica e de Valorizao dos Profissionais da
Educao (FUNDEB), criado pela Emenda Constitucional n 53/2006 e regulamentado pela
Lei n 11.494/2007 e pelo Decreto n 6.253/2007, em substituio ao FUNDEF e da
A Consolidao das Leis do Trabalho (CLT) foi criada por meio do Decreto-Lei n 5.452, de 1 de maio de 1943
e normatiza as relaes de trabalho para os trabalhadores da iniciativa privada e pode ser adotada para parte dos
trabalhadores do setor pblicos.
1132
1133
Diante do exposto, assumimos nesse trabalho que a carreira docente para alm de ser
objeto de luta e pauta do movimento sindical, numa perspectiva corporativista, tambm se
constitui em item central para se alcanar uma educao de qualidade, uma vez que os
elementos da carreira so fundamentais para se consolidar a atratividade em torno da
profisso docente, garantindo qualificao adequada, condies de trabalho e remunerao
compatvel com os demais profissionais que portam titulao em nvel superior. Nessa tica,
defendemos que as polticas pblicas educacionais devem incidir em aspectos como salrio e
remunerao. Na prxima seo abordaremos como esse tema comparece na legislao
brasileira.
1134
1135
1136
1137
1138
nesses as novas
1139
1140
temticas das metas estaduais no acompanha integralmente suas metas e estratgias, que se
aproximam mais do plano nacional, embora de forma mais reduzida.
Em relao Meta 17 o PME repete a mesma redao do PNE, acompanhada de cinco
estratgias, uma a mais que os outros planos. Estas estratgias apontam para a questo da
valorizao salarial atrelada ao PSPN, porm o mesmo foi regulamentado por lei especfica
no municpio. Se o piso nacional determina um valor remuneratrio por 40hs de trabalho, o
PME cita a lei de transio do mesmo valor para uma jornada de 20 horas, implantar, no
mnimo, piso nacional do magistrio para uma jornada semanal de 20 (vinte) horas, por meio
de uma poltica salarial que inicie em 2016 e finalize em 2020, conforme Lei Complementar
n 267, de 17 de dezembro de 2014; respeitando a lei de responsabilidade fiscal e o limite
prudencial da folha.
A estratgia acrescida a esta meta no trata diretamente da questo da valorizao
salarial e sim das condies de trabalho, indicando a criao do programa de escola
confortvel, que tem por objetivo valorizar o conforto, a segurana e o bem-estar nos
espaos escolares, com arborizao, iluminao, climatizao, manuteno dos prdios e
mobilirios suficientes e adequados (DOURADOS, 2015).
A Meta 18 versa sobre os planos de carreira no PME, repetindo a mesma redao
nacional e seguindo tambm as mesmas temticas do PEE/MS. Sendo acompanhada de 15
estratgias, com algumas especficas aos profissionais do ensino municipal tais como as
estratgias 13, 14 e 15 que tratam dos professores readaptados, do plano de carreira j
existente propondo ampliar para 12 (doze) as classes na carreira do grupo do magistrio,
permitindo a cedncia de profissionais que devem observar os requisitos dos artigos 70 e 71
da Lei n 9.394/96, que disciplinam as despesas consideradas gastos com manuteno e
desenvolvimento do ensino (DOURADOS, 2015).
O objeito da meta 18 se concentra na elaborao dos planos de carreira que
contemplem alguns elementos, j assinalados. Esses esto contemplados nos planos locais,
embora sua efetivao dependa de ao do executivo que dentro do previsto tem prazos para
serem efetivadas. Um exemplo so os percentuais de contratados efetivos de 90% para
docentes e 50% para no docentes com prazo de trs anos (2017) para se concretizar e que
depende apenas da realizao de concursos pblicos e convocao dos aprovados para ser
atingida.
1141
Discutir carreira docente implica pensar em diversos elementos que esto imbrincados
naquilo que convencionalmente denominamos valorizao profissional docente. Dentre os
diversos elementos, elegemos para este texto: carreira docente e salrio. Embora tenhamos
concordncia com Morgado (2007, p. 57), que a carreira docente envolve o percurso
profissional do professor, a carreira docente desenvolve-se desde o incio da sua actividade
como docente e prolonga-se at ao momento da aposentao, consideramos que abarca
tambm as diferentes formas de normatizao da carreira que, no caso do Brasil mais
complexa, pois no temos a proposio de uma carreira nica, mas a coexistncia de carreiras
no plural.
Vrios aspectos referentes profisso docente relacionam-se a questes da carreira
docente, tais como a constatao do recebimento de baixos salrios, jornadas extensivas ou
duplas jornadas, falta de condies de trabalho, ausncia de programas de formao
continuada, dentre outros aspectos, permeiam as pesquisas da rea.
Conclumos, portanto, que os planos embora tenham muitas semelhanas na estrutura
e nos textos que apontam para as mesmas temticas eles no dialogam de forma a atingir as
metas propostas, por exemplo, no caso do PEE/MS que prope objetivos que no esto
contidos no plano municipal, o que dificulta sua consecuo, uma vez que os planos no se
referem rede de professores do sistema estadual de ensino, mas a todos os docentes do
estado.
Um exemplo se refere questo salarial contida na Meta 17, que em mbito nacional
prev a equiparao do rendimento mdio docente ao rendimento de outros profissionais com
mesmo nvel de formao, em mbito estadual prev um acrscimo de 20% do rendimento
docente e, por fim, o plano municipal trata de lei j aprovada que prev o recebimento do
valor piso salarial nacional por jornada de 20 horas, condicionada a questes oramentrias.
Observa-se, portanto, que os planos estadual e municipal parecem tratar de suas redes
prprias de ensino, sem previso de articulao com as demais, aspecto que dificulta atingir
seus objetivos uma vez que as metas so elaboradas para todos os docentes do Brasil ou todos
os docentes do estado. Assim, para cumprir a meta no estado no basta ao governo estadual
cuidar de sua rede prpria, pois depende das aes dos 79 municpios do estado de Mato
Grosso do Sul adotarem o mesmo caminho.
Os planos apresentam elementos de aproximao, mas em pontos essenciais se
mostram desarticulados assim numa primeira anlise, identificamos que a estrutura do PNE
balizou a elaborao dos planos em outras esferas, entretanto a nfase diferenciada em
1142
determinados aspectos, marcaram o PME e o PEE que, em princpio deveriam estar mais
articulados para atingir as metas propostas nacional e estadualmente.
preciso ressaltar ainda que profuso de sistemas de ensino, caractersticos da
realidade brasileira, somados a inexistncia de um sistema nacional de educao,
acompanhados igualmente por variados planos de carreiras, por diferentes padres de
remunerao e salrio constituem um problema para a educao nacional, especialmente,
porque no garantem a valorizao profissional docente. O PNE e suas verses subnacionais,
na formulao proposta para a prxima dcada (2014-2024) no do conta de equacionar
essas desigualdades.
V. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
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Disponvel
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Plano Estadual de Educao de Mato Grosso do Sul, e d outras providncias. Dirio Oficial
de Mato Grosso do Sul - ANO XXXVI n. 8.828 Campo Grande-MS, 26 de dezembro de
2014.
1144
1
RESUMO
O presente artigo realiza uma breve anlise do documento Ptria Educadora, que foi
gestado na Secretaria de Assuntos Estratgicos (SAE) da Presidncia da Repblica em 2015.
O texto elenca alguns direcionamentos para a poltica educacional do pas, tendo como
principal foco a qualificao do ensino bsico como objetivo primordial da poltica nacional
do governo federal para a educao. Ao longo do texto discutimos divergncias entre esta
poltica de governo e a poltica de Estado, materializadas pelo Plano Nacional de Educao
(PNE 2014-2024) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (Lei 9.394/96). O
documento apresenta pontos que demandam uma anlise mais detida, cabendo pontuar, entre
outras questes: (1) no fica claro quem formulou ou conduzir o projeto; (2) contradiz as
principais leis da educao nacional; (3) sem apoio de estados e municpios e, principalmente
da comunidade acadmica, no se efetivar; (4) pode soar como uma interveno federal s
escolas distritais, estaduais e municipais; (5) inconstitucional em vrios aspectos; (6)
currculo deve conter contedos, no apenas competncias; (7) no totalmente democrtico
e emancipatrio; (8) desconsidera o valor real da tecnologia. Dentre esses pontos de destaque,
o presente trabalho se pautou em analisar os pontos 2 e 7, que so divergncias entre a
proposio do documento e uma perspectiva voltada a uma educao transformadora,
merecida pela populao brasileira, como forma de contribuir para eliminar as desigualdades
socioeconmicas que so histricas e no tratadas com o devido merecimento.
PALAVRAS-CHAVE: Educao, Poltica, Estado, Governo.
INTRODUO 1
Dilma Vana Roussef, do Partido dos Trabalhadores, tomou posse em 1 de janeiro
de 2015 do segundo mandato como presidente do Brasil e elegeu o slogan Ptria Educadora
como marca de seu governo:
1145
2
1146
3
A lei estabelecer o plano nacional de educao, de durao decenal, com o objetivo
de articular o sistema nacional de educao em regime de colaborao e definir
diretrizes, objetivos, metas e estratgias de implementao para assegurar a
manuteno e desenvolvimento do ensino em seus diversos nveis, etapas e
modalidades por meio de aes integradas dos poderes pblicos das diferentes
esferas federativas que conduzam a:
[...]
VI - estabelecimento de meta de aplicao de recursos pblicos em educao como
proporo do produto interno bruto (BRASIL, 2012, p. 57).
1147
4
Tem vigncia prevista at 2020 e considera o total de alunos matriculados na rede pblica e o percentual de
contribuio dos entes para a distribuio dos recursos.
3
Dados disponveis em http://www.fnde.gov.br/programas/livro-didatico/livro-didatico-dados-estatisticos,
acessado em 13 out. 2015, 8 h.
1148
5
coletivamente o uso dos recursos financeiros, a elaborao do calendrio escolar, a
criao de novos cursos, a capacitao dos recursos humanos estamos, na verdade,
sinalizando os mecanismos de participao que devam ser implantados para que a
gesto seja o mais transparente possvel (CATANANTE, 2010, p. 70).
1149
6
Embolando ainda mais a questo do pblico e privado na educao, desde 2013, instituies
privadas tambm passaram a ser ofertantes. Segundo dados do Governo Federal
(http://pronatec.mec.gov.br), de 2011 a 2014, foram realizadas mais de 8 milhes de
matrculas, entre cursos tcnicos e de formao inicial e continuada. A articulao do
programa junto ao ensino mdio pode ocorrer de forma integrada, concomitante ou
subsequente.
O projeto preliminar passou por debates no Conselho Nacional de Educao, na
Comisso de Educao da Cmara dos Deputados e na Comisso de Educao do Senado,
alm de sindicatos, como a Confederao Nacional de Trabalhadores em Educao e o
Conselho Nacional de Secretrios em Educao. Foram ouvidos especialistas em educao e
antigos gestores, e tambm foram consultadas as entidades privadas, como a Fundao
Lemann, Fundao Senna e a Fundao Unibanco, entre outras. Para conhecer de perto o
ensino, foram feitas visitas aos estados brasileiros, em escolas com experimentos
educacionais, como a Escola Chico Ansio no Rio de Janeiro e a rede de ensino de Sobral, no
Cear. Mas a ANPED, Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em Educao, no
foi ouvida e se manifestou a respeito em nota:
1150
7
Apresenta problemas srios em sua formulao: (1) no fica claro quem formulou
ou conduzir o projeto; (2) contradiz as principais leis da educao nacional; (3) sem apoio de
estados e municpios e, principalmente da comunidade acadmica, no se efetivar; (4) pode
soar como uma interveno federal s escolas distritais, estaduais e municipais; (5)
inconstitucional em vrios aspectos; (6) currculo deve conter contedos, no apenas
competncias; (7) no totalmente democrtico e emancipatrio; (8) desconsidera o valor real
da tecnologia. Destes estes pontos de destaque, o presente trabalho se pautou em esmiuar os
pontos 2 e 7, que so divergncias entre a proposio do documento e educao
transformadora, merecida pela populao brasileira, como forma de eliminar as desigualdades
socioeconmicas que so histricas e no tratadas com o devido merecimento.
3. DIVERGNCIA 1 O PTRIA EDUCADORA CONTRADIZ AS PRINCIPAIS
LEIS DA EDUCAO NACIONAL
A sociedade brasileira custa a trazer para si a responsabilidade pela melhora da
oferta e qualidade do ensino pblico. Historicamente temos relegado ao outro essa demanda.
Seja ao Estado, ao sistema poltico-econmico, ao diretor, a escola, ao professor, enfim, a
qualquer um que possa me isentar. Essa transferncia tem custado uma mudana de
paradigma e pensamento coletiva, to quanto a construo de valores sociais que forje uma
sociedade efetivamente empenhada em educar os seus garantindo a eles o domnio de
contedos mnimos que lhe permitam exercer sua cidadania com plenitude.
Dessa maneira, Freitas (1999) destaca
[...] crise educacional brasileira, que por sua vez constitui uma das facetas de uma
problemtica mais ampla, expresso das condies econmicas, polticas e sociais
que configuram uma sociedade profundamente desigual e injusta que vem
esmagando a grande maioria da populao e relegando-a a uma situao de
explorao e misria (Freitas, 1999, p. 29).
Entre outras implicaes essa realidade social furta aos governos uma ausncia de
poltica de estado efetivamente factvel e implementada com seriedade alm de uma
descontinuidade de polcias que relegam a educao formal e suas necessidades ao segundo
plano das no prioridades governamentais.
A educao no Brasil uma garantia constitucional, descrita com muitos
pormenores em seu artigo 208 (BRASIL, 2012, p. 56-57), determinando como esse dever
estatal deve se dar, inclusive determinado as etapas e atendimentos que devem ser ofertados.
1151
8
1152
9
1153
10
a poltica de governo do atual mandado para a educao brasileira. Nada absurdo levando em
conta o procedimental adotado pelos governos no Brasil h sculos: criar sua poltica
particular a fim de imprimir uma marca por meio da implementao das suas aes. O que
preocupa e assusta a sua divergncia do que foi construdo at ento tanto poltica, quanto
legalmente.
A distncia do documento do Plano Nacional de Educao clara, se quer a
meno do plano. A ideia de criao de escolas experimentais e interveno federal nas
unidades escolares faz frente a tudo que foi combatido pela sociedade civil organizada nos
debates e na construo democrticas das polticas educacionais e de Estado nos ltimos anos.
O PNE possui outra concepo sobre ensino, conforme explicitado em nota
4
Duas sries de iniciativas podem aproveitar, em grande escala, este potencial dos
diretores para promover mudanas: as que premiam escolas por alcanar metas de
desempenho e as que intervm na formao dos diretores [...] (SAE, 2015, p. 16).
Escolas (mais do que diretores individualmente) podem ser premiadas por alcanar
metas de desempenho, cujo cumprimento seria avaliado por comisses
independentes.A avaliao ter de levar em conta as 17circunstncias de cada escola
e o avano alcanado sobre o ponto de partida.Para no aprofundar desigualdades, o
estmulo ao xito ter de ter como contrapartida medidas destinadas a corrigir os
malogros (SAE, 2015, p. 16).
1154
11
premiao por desempenho como soluo para um dos grandes gargalos da educao
nacional: o problema da aprendizagem, exaustivamente debatido pela sociedade atual em
busca de uma soluo consistente e duradoura. Tal problema dessa envergadura e
complexidade no pode ser reduzido a mera culpabilidade do profissional da educao,
oferecendo-lhe apenas prmio de desempenho desconsiderando todo e qualquer outro fator
que interfira diretamente no complexo processo de ensino-aprendizagem.
To pouco leva em conta a meta 15 do PNE:
1155
12
[...] uso da Prova Brasil para estabelecer Cadastro Nacional de Alunos. O Cadastro
facilitar a individualizao de oportunidades de ensino: medidas de apoio a alunos
com baixo desempenho e admisso de alunos a programas e escolas de referncia
(SAE, 2015, p. 7).
[...]
H duas maneiras de criar oportunidades especiais para os alunos com maior
potencial. No se contradizem; complementam-se. Uma criar programas especiais
dentro das escolas comuns. Outra fundar rede federal de escolas mdias de
referncia chamadas Escolas Ansio Teixeira. Alunos concorrero para serem
admitidos a estas escolas (SAE, 2015, p. 11).
1156
13
mais, pode soar como intervencionista desprezar o municpio, pois, segundo Saviani (2010, p.
383) o municpio a instncia mais importante, pois a que, concretamente, vivem as
pessoas. Na tentativa de localizar a causa, numa jornada do macro ao micro, samos da
nao, chegamos ao municpio e nos penetramos no particular de cada um, sua residncia,
pois, para o documento, quando o individuo no adapta ao meio, a culpa recai sobre a famlia,
que desestruturada, numerosa e pobre:
A culpa do professor, que cumpre 20, 40, 60 horas semanais de aula para muitas
vezes no receber nem mesmo o piso, previsto na CF-88 e regulamentado em lei desde 2008?
O problema seria sua origem, pobre e despreparada? Para o documento da SAE (2015, p. 16):
1157
14
REFERNCIAS
ANPED. Dialogando com o documento Ptria Educadora. Rio de Janeiro: ANPED,
2015.
Disponvel
em
http://www.anped.org.br/forum/uploads/Uploader/6d/66f59769ab5e740eec09c05d5d0ea8.pdf,
acesso em 13 out. 2015, 8 h.
BRASIL. Lei n 11.738, de 16 de julho de 2008: Regulamenta a alnea e do inciso III do
caput do art. 60 do Ato das Disposies Constitucionais Transitrias, para instituir o piso
salarial profissional nacional para os profissionais do magistrio pblico da educao bsica.
Braslia:
Presidncia
da
Repblica,
2008.
Disponvel
em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11738.htm, acesso em 13
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Disponvel em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12513.htm,
acesso em 13 out 2015, 8 h.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional: lei n 9.394, de 20 de dezembro
de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educao nacional. Braslia: Cmara dos
Deputados, 2011b.
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que aprova o Plano Nacional de Educao (PNE) e d outras providncias. Braslia: Cmara
dos Deputados, Edies Cmara, 2014.
BRASIL. Constituio da Repblica Federativa do Brasil: texto constitucional
promulgado em 5 de outubro de 1988. Braslia: Cmara dos Deputados, 2012.
BRASIL. Ptria Educadora: a qualificao do ensino bsico como obra de construo
nacional.
Braslia:
SAE,
2015.
Disponvel
em
http://www.anped.org.br/forum/uploads/Uploader/52/fc205e950677cf6ca43a4ec94085da.pdf,
acesso em 13 out. 2015, 8 h.
CATANANTE, B. R. A poltica educacional em Mato Grosso do Sul (1999 - 2002): os
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Universitria de Paranaba. Sciencult, v. 2, n. 1, 2010.
1158
15
1159
RESUMO
A escola de tempo integral recebe destaque cada vez maior nas polticas nacionais e nas
iniciativas das redes e unidades escolares pblicas como viabilizadora do aumento da
qualidade educacional, colocando novos problemas de pesquisa. Em face disso, buscamos
responder a seguinte questo: o que foi pensado e implementado, a partir do projeto da Escola
de Tempo Integral, para a ampliao do tempo de permanncia da criana na escola? Nesse
contexto, o objetivo geral dessa pesquisa foi o de analisar o processo de formulao e
implementao do Projeto da Escola de Tempo Integral de Campo Grande, com vistas a
apreender sua concepo de educao integral e escola de tempo integral e identificar os
elementos que podem contribuir para o incremento da qualidade educacional. Estruturamos a
tessitura da pesquisa com uma abordagem qualitativa. Para o equacionamento desse
problema, realizamos estudos bibliogrficos, anlise dos documentos norteadores da
implementao do Projeto e anlise de dados de campo, por meio de solicitao de impressos
das Escolas de Tempo Integral e de realizao de entrevistas com seus dirigentes escolares e
com tcnico da Secretaria Municipal de Educao responsvel pelo acompanhamento de sua
implementao. Pela anlise dessas informaes, foi possvel analisar que, ao longo dos anos
em que se desenvolveu o processo de implementao, a escola caminha para assumir um
papel predominantemente assistencialista em detrimento do democrtico na medida em que os
incrementos propostos no seu Projeto em relao estruturao curricular interdisciplinar, ao
desenvolvimento da fluncia tecnolgica, ao uso intensivo de tecnologias, formao
continuada de professores, operacionalizao do sistema IntegraEduca e ao
acompanhamento realizado pela secretaria, no esto sendo plenamente desenvolvidos.
1
2
1160
INTRODUO
O CENPEC uma organizao da sociedade civil, sem fins lucrativos, criada em 1987. Tem como objetivo o
desenvolvimento de aes voltadas melhoria da qualidade da educao pblica e participao no
aprimoramento da poltica social; e suas aes tm como foco a escola pblica, os espaos educativos de carter
1161
1162
escola de tempo integral comeam a tomar vulto nacional, sendo defendidas por grupos
poltico-partidrios diversos, sob diferentes perspectivas, o que resultou em uma realidade
atual de presena de projetos de implementao da educao em tempo integral com objetivos
distintos e at antagnicos (CAVALIERE, 2007).
A concepo de escola de tempo integral na Rede Municipal de Ensino de Campo
Grande foi construda a partir da busca pela melhoria da qualidade educacional, em especial
tendo em vista os anos iniciais do ensino fundamental. Assim, nos ltimos anos, somaram-se
s escolas rurais, de tradio no funcionamento com jornada escolar ampliada, escolas
urbanas que mantm os estudantes nos dois turnos em suas dependncias de dois tipos: s que
aderiram ao Programa Mais Educao, emanado pelo ministrio da Educao, e a experincia
prpria da REME de Escola de Tempo Integral, que possuem caractersticas de estrutura
organizacional e pedaggica distintas.
A construo histrica dessa proposta tem incio, em 2007, com a elaborao do
projeto terico-metodolgico pela equipe tcnica da Coordenadoria Geral de Gesto e
Polticas Educacionais da Secretaria Municipal de Educao (SEMED), e a constituio do
projeto arquitetnico, desenvolvido pela Secretaria Municipal de Obras e Servios Pblicos
(SESOP) da Prefeitura de Campo Grande.
O projeto terico-metodolgico buscou explicitar os fundamentos poltico-sociais,
epistemolgicos e pedaggicos que sustentariam as decises e aes docentes na escola. O
projeto de engenharia arquitetnico buscou a garantia de espaos e ambientes de
aprendizagem, necessrios efetivao do projeto pedaggico, o que culminou na construo
de dois prdios escolares.
Visando a efetivao de um modelo educacional diferenciado, no segundo semestre do
ano de 2008, foi oportunizada, pela SEMED, uma formao pedaggica aos sessenta
professores selecionados4 para atuar nas Escolas Municipais de Tempo Integral (ETI), com
uma carga horria de 360 horas, durante os quatro meses que antecederam o incio das aulas
em 2009. Nesse perodo, os professores, coordenadores e diretores designados para essas
instituies de ensino participaram de encontros presencias de oito horas dirias baseados em
estudos e produes relativas ao contedo presente no material de apoio.
A formao continuada desses professores nas escolas, aps o incio das aulas
(fevereiro de 2009), tambm foi garantida na carga horria semanal de servio, sendo que sua
4
Os professores interessados em participar do projeto das Escolas de Tempo Integral inscreveram-se e passaram
por um processo de seleo conforme o edital n 2/2008.
1163
OBJETIVOS
A problemtica que pretendemos responder, nesta pesquisa, aps mais de cinco anos
de incio de funcionamento desse projeto, a seguinte: o que foi pensado e implementado, a
partir do projeto da Escola de Tempo Integral, para a ampliao do tempo de permanncia da
criana na escola de Campo Grande?
Dessa forma, a pesquisa objetivou, em termos gerais, analisar o processo de
formulao e implementao do Projeto da Escola de Tempo Integral de Campo Grande,
com vistas a apreender sua concepo de educao integral e escola de tempo integral. Para
alcanarmos a consecuo desse objetivo maior, formulamos quatro objetivos especficos:
1164
METODOLOGIA
Orientada pelo olhar do quadro de anlise j citado, a pesquisa desdobrou-se por meio
de uma reviso de literatura especializada sobre a temtica, estudo documental, bem como de
coleta de dados analisados luz da abordagem qualitativa. Minayo (2000) salienta que a
pesquisa qualitativa preocupa-se no em quantificar os fenmenos, mas em compreend-los
inseridos nas relaes sociais, numa postura que investiga o universo dos significados, uma
vez que a ao humana decorre dos significados que lhe atribudo.
A metodologia empregada pauta-se na anlise de contedo dos documentos que
subsidiaram a experincia em questo, tais como: o Projeto da ETI (SEMED, 2009); o livro
publicado pela SEMED (2011) intitulado Educao Integral: uma Experincia na Rede
1165
Assim, foram realizadas as trs fases de anlise de contedo propostas por Bardin
(2009), iniciando com a pr-anlise, que envolve a escolha sob critrios de seleo
(representatividade, pertinncia, etc.) dos documentos analisados, a formulao de hipteses a
serem verificadas e dos objetivos da pesquisa e elaborao de indicadores que fundamentem a
interpretao final.
Na segunda fase de explorao do material, as informaes obtidas nos questionrios e
os registros das transcries integrais das entrevistas foram fragmentados em categorias de
anlise, permitindo a ordenao e classificao de elementos que remeteram s situaes
(diretrizes das ETI, organizao fsica e funcional, envolvimento profissional e outros)
1166
DISCUSSO
A proposta de ampliao da jornada escolar, incorporada aos conceitos de educao
integral e escola de tempo integral, vem figurando na agenda pblica como mecanismo capaz
de consubstanciar uma educao com qualidade, compromisso assumido pelo Estado perante
demandas supranacionais e provenientes dos instrumentos nacionais legais que normatizam a
educao desde a Constituio Federal de 1988.
O conceito de qualidade educacional, entretanto, por ser construdo historicamente,
formulado de acordo com os interesses e presses sociais que demarcam a ideia hegemnica
em determinado momento e local e assumiu mltiplos sentidos no cenrio nacional,
relacionando-se promoo de acesso universal s escolas, progresso dos alunos nos anos
e nveis escolares livre de reteno e evaso, adequao de domnio de conceitos e
habilidades dos estudantes em cada ano escolar e ainda capacidade de instrumentalizar o
sujeito para a sua emancipao social.
Na atualidade, vrias perspectivas de qualidade coexistem e se articulam, constituindose como dimenses complementares da totalidade da ao educativa e para que a escola de
tempo integral produza qualidade em suas variadas dimenses, deve, alm de promover o
aumento quantitativo do tempo de ensino e o incremento do currculo com atividades
complementares, superar a prtica de uma educao reprodutivista e meritocrtica.
A aposta na ETI est na oportunidade de utilizao do tempo e dos espaos que lhe so
agregados para a realizao de alteraes estruturais da prtica pedaggica que provoquem
aprofundamento dos conhecimentos e desenvolvimento da criticidade a partir de vivncias
democrticas, no intuito de instrumentalizar a autopromoo dos estudantes.
Porm, a percepo predominante considera que a oferta da ETI para alunos
provenientes de famlias com baixo nvel socioeconmico uma forma de atendimento aos
problemas sociais, pelo oferecimento de alimentao, abrigo e ocupao do tempo dessas
1167
1168
todo o territrio nacional, sendo caracterizadas por uma viso de escola com funo
prioritariamente assistencialista e uma concepo de educao integral em que a educao
formal permanece inalterada, sendo apenas ampliada pela oferta de atividades curriculares
complementares.
Mais especificamente sobre o modelo praticado pelo Programa Mais Educao, que
representa, na contemporaneidade, a forma hegemnica de se conceber e praticar a ampliao
da jornada escolar, ainda possvel observar o desvio da ateno e esforos da estruturao e
fortalecimento da escola pblica para o atendimento do maior quantitativo possvel de alunos
no contraturno.
Em Campo Grande, a Secretaria Municipal de Educao, no intuito de aumentar a
qualidade de educao das escolas de sua rede de ensino, formulou e implementou, no ano de
2009, o Projeto da Escola de Tempo Integral, em duas unidades escolares, investindo em
nvel de estrutura fsica das edificaes, compatveis para o desenvolvimento das
especificidades da proposta pedaggica, em nvel de aquisio de recursos materiais (aparatos
tecnolgicos, livros, instrumentos musicais etc.), e em nvel de formao de professores, por
meio de formao preparatria, reunies de trabalho e estudos semanais.
A educao integral, planejada para ETI englobaria tanto aspectos j explorados em
outras experincias (metodologia participativa, organizao curricular interdisciplinar,
formao global aluno e oportunizao de vivncias de carter democrtico) como
incorporaria outros elementos, como o uso da metodologia da problematizao, o
desenvolvimento da fluncia tecnolgica, o ensino pela pesquisa, a estruturao curricular em
Ambientes de Aprendizagem e a educao ambiental, indicando que a concepo de educao
integral presente no texto do Projeto refletiria em uma mudana profunda na proposta
pedaggica comumente praticada.
RESULTADOS
Foi possvel observar, pela anlise dos dados coletados nesta pesquisa, que, os
princpios e elementos expostos no contedo da proposta da Escola de Tempo Integral, no
foram plenamente concretizados ao longo de seu processo de implementao.
Em relao dificuldade de implementao da estrutura curricular planejada, o
condicionante mais influente foi a reduo da carga horria semanal dos alunos na escola (de
52h 50min para 38h30min), que desencadeou na diminuio de horas destinadas para o
1169
1170
Esse contexto compe o cenrio geral atual do processo de implementao das ETIs,
indicando um movimento de distanciamento entre o que foi estabelecido nos textos
norteadores e o que efetivado na prtica cotidiana, causado, em grande parte, por decises e
aes realizadas no rgo gestor central, representado pela Secretaria Municipal de Educao,
como a reduo de carga horria dos alunos na escola, a articulao precria com outros
rgos da prefeitura para a implementao do Integra Educa e a manuteno dos
equipamentos, a paralisao do fornecimento dos computadores de uso individual dos alunos
e a disponibilizao de nmero insuficiente de funcionrios para as escolas.
Desse modo, os esforos que se aglutinaram em torno da implementao da ETI para a
promoo de uma escola pblica com educao de qualidade, correm o risco de se tornarem
nulos.
As informaes levantadas por esta pesquisa sobre o processo de implementao (das
incongruncias existentes entre os elementos da proposta, ou entre o que foi planejado e o que
foi executado, das condies bsicas para a sua materializao, daquilo que no foi possvel
ser realizado, dos desafios a serem superados, dos objetivos j alcanados), podem contribuir
para as aes estratgicas dos implementadores, no sentido de promover continuidade,
alteraes, incremento ou expanso do Projeto da ETI, procurando garantir a melhor alocao
e uso eficiente de recursos disponveis e possibilitando o cumprimento do objetivo primeiro
do Projeto Escola de Tempo Integral, de melhoria na qualidade da educao oferecida aos
estudantes das escolas municipais campo-grandenses.
REFERNCIAS
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1171
1172
1. Introduo
O atendimento s demandas emergentes da sociedade civil sob a forma de polticas
pblicas definidas pelo Estado tem desempenhado papel de extrema relevncia para o
estabelecimento das prioridades a serem introduzidas na agenda pblica do pas.
Nessa condio, a demanda por educao integral foi sendo incorporada agenda da
poltica pblica de educao de modo intersetorial1 e buscando a equidade e a qualidade do
ensino para a populao.
Na concepo de Arroyo (1988) o Estado, frente s propostas de educao em tempo
integral, apresentado como
[...] protetor do prprio povo, mesmo contra si prprio, contra sua barbrie,
ignorncia, sua desorganizao, sua imoralidade. No raro justificar a
necessidade de alargar o tempo de escola pela desestruturao da famlia
operria, pela violncia nos lugares de moradia e outros diagnsticos que
justificam a necessidade de conferir escola maior abrangncia, de modo a
1
Na perspectiva do Programa Mais Educao, o modo intersetorial perpassa pelo conceito de intersetorialidade
definida como a co-responsabilidade de todos os entes federados na implementao do Programa, afirmando a
necessidade de planejamento territorial das aes intersetoriais, de modo a promover sua articulao no mbito
local. (CAVALIERE, 2010, p. 4).
1173
2
suprir o ambiente humano e a proteo afetiva e moral que o lar operrio no
tem capacidade de dar. (ARROYO, 1988, p. 06).
1174
3
Para que o Plano de Aes Articuladas, que possui vigncia plurianual, fosse
elaborado, coube aos gestores municipais e estaduais a assinatura do Termo de Adeso ao
Plano de Metas Compromisso Todos pela Educao assinado em 29 de novembro de 2007
pelo Governador do Estado, pela Secretria de Estado de Educao e pelo Ministro da
Educao poca, no qual alm do cumprimento das 28 (vinte e oito) diretrizes dispostas no
art. 2 do Decreto 6.094 de 24 de abril de 2007, o Estado se compromete a:
[...] 2. Desenvolver aes que possibilitem o cumprimento das metas
estabelecidas para o ndice de Desenvolvimento da Educao Bsica
(IDEB); 3. Mobilizar a comunidade e suas lideranas, os profissionais de
educao do estado, pais e alunos, os meios polticos e administrativos e os
recursos estaduais disponveis necessrios para, em parceria com o MEC,
implementar as diretrizes estabelecidas e cumprir a trajetria do IDEB; 4.
Colaborar, com assistncia tcnica ou financeira adicionais, para a execuo
e o monitoramento dos Planos de Aes Articuladas de seus municpios; 5.
Promover a participao das escolas da rede na Prova Brasil, quando
atenderem aos critrios estabelecidos pelo INEP; 6. Divulgar a evoluo dos
dados educacionais no mbito local; 7. Preencher e enviar dados financeiros,
por meio do Sistema de Informaes sobre Oramentos Pblicos em
1175
4
Educao SIOPE; 8. Criar meios de facilitar o acesso, por parte dos
gestores municipais, s informaes das escolas estaduais, sobre a frequncia
escolar dos alunos beneficirios do Programa Bolsa Famlia, para o envio
regular das mesmas ao MEC. (BRASIL, 2007a).
O Termo de Cooperao Tcnica vigora pelo prazo de 04 (quatro) anos, a partir da data de sua assinatura, com
a possibilidade de prorrogao por igual ou inferior perodo, podendo ser rescindido por iniciativa de qualquer
das partes, mediante aviso prvio de no mnimo 30 (trinta) dias. Cabe destacar que no presente momento apenas
as informaes sobre as redes municipais esto disponveis, conforme consta no site
www.simec.mec.gov.br/cte/relatoriopublico. Acesso em 25 de maio de 2015.
1176
5
O SIMEC um portal operacional e de gesto do Ministrio da Educao (MEC), que trata do oramento e
monitoramento das propostas on-line do governo federal na rea da educao. neste portal que os gestores
verificam o andamento dos Planos de Aes Articuladas em suas cidades. Disponvel em
www.portal.mec.gov.br. Acesso em 15 de maio de 2015.
1177
6
1178
7
[...] contribuir para a formao integral de crianas, adolescentes e jovens,
por meio da articulao de aes, de projetos e de programas do Governo
Federal e suas contribuies s propostas, vises e prticas curriculares das
redes pblicas de ensino e das escolas, alterando o ambiente escolar e
ampliando a oferta de saberes, mtodos, processos e contedos educativos.
(BRASIL, 2007b).
Pelo exposto, possvel perceber que ao manter como foco a proteo social por meio
da ampliao das tarefas da escola, o Programa Mais Educao acaba por camuflar tanto a
reduo das polticas sociais quanto a omisso do Estado, medida que surge apenas como
indutor de uma poltica de educao integral, atribuindo a essa um carter solucionador das
mazelas da sociedade.
Faz-se necessrio compreender que, historicamente nossa escola pblica tem abarcado
em seu fazer uma amplitude de tarefas de cunho assistencialista, caracterstica de uma poltica
de educao compensatria, assim apresentada por Saviani (1984):
[...] a funo bsica da educao continua sendo interpretada em termos da
equalizao social. Entretanto, para que a escola cumpra sua funo
equalizadora necessrio compensar as deficincias cuja persistncia acaba
sistematicamente por neutralizar a eficcia da ao pedaggica. V-se, pois,
que no se formula uma nova interpretao da ao pedaggica. Esta
continua sendo entendida em termos da pedagogia tradicional, da pedagogia
nova ou da pedagogia tecnicista encaradas de forma isolada ou de forma
combinada. [...] Da porque a educao compensatria compreende um
conjunto de programas destinados a compensar deficincias de diferentes
ordens: de sade e nutrio, familiares, emotivas, cognitivas, motoras,
lingusticas etc. Tais programas acabam colocando sob a responsabilidade da
educao uma srie de problemas que no so especificamente educacionais,
o que significa, na verdade, a persistncia da crena ingnua no poder
redentor da educao em relao sociedade. Assim, se a educao se
revelou incapaz de redimir a humanidade atravs da ao pedaggica no se
trata de reconhecer seus limites, mas de alarg-los: atribui-se ento
educao um conjunto de papis que no limite abarcam as diferentes
modalidades de poltica social. A consequncia a pulverizao de esforos
e de recursos com resultados praticamente nulos do ponto de vista
propriamente educacional. (SAVIANI, 1984, p. 36-37).
1179
8
1180
9
1181
10
Cabe aqui destacar que por tratar-se de uma poltica de Estado e no de uma poltica
de Governo fundamental que seja observada a continuidade integrada desta, como forma de
alcance real dos objetivos a que se prope, contribuindo para a reduo das polticas de
carter paliativo.
Em seu Art. 1, o Decreto 7.083/2010 ressalta como finalidade do Programa Mais
Educao, [...] contribuir para a melhoria da aprendizagem por meio da ampliao do tempo
de permanncia de crianas, adolescentes e jovens matriculados em escola pblica, mediante
oferta de educao bsica em tempo integral. (BRASIL, 2010).
No que tange a ampliao do tempo de permanncia na escola, concorda-se com
Cavaliere (2007), para quem tal ampliao representa,
[...] uma aposta na diminuio das diferenas entre os sistemas de prestgio e
os sistemas desprestigiados, entre os alunos com forte capital cultural e os
oriundos de famlias com baixo capital cultural, coisa que o prolongamento
generalizado dos anos de escolarizao no teria atingido. A novidade da
ampliao do tempo dirio estaria na transformao do tipo de vivncia
escolar, na mudana, portanto, no papel desempenhado pela escola.
(CAVALIERE, 2007, p. 1021).
Posto isso, preciso ter clareza quanto forma de ampliao do tempo escolar para
que ocorra a melhoria da qualidade da educao sem que existam possibilidades de
fragmentao do saber.
Verifica-se a partir do referido Decreto, a centralidade do Programa Mais Educao no
processo de aprendizagem do educando em detrimento a sua proteo integral, contribuindo
para uma perspectiva de educao integral enquanto poltica pblica, com vistas qualidade
do processo educacional.
oportuno ressaltar que, para a efetivao da educao integral no mbito do
Programa Mais Educao a ampliao do tempo de permanncia do aluno na escola no pode
1182
11
ser reduzida a expresso mais do mesmo e sim compreendida como uma estratgia capaz de
[...] garantir aprendizagens, reinventar a organizao dos tempos, espaos e lgicas que
presidem nos processos escolares, superando o carter discursivo e abstrato predominante nas
prticas escolares. (MOLL, 2012, p. 133).
Faz-se necessrio ainda considerar que em virtude da amplitude do territrio nacional
e de suas singularidades, no se pode pensar em um modelo padronizado para a oferta de
educao integral, sendo imprescindvel a adoo de polticas que valorizem as
particularidades das diversas localidades do pas.
1183
12
5. Referncias
1184
13
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1187
1188
O recorte temporal escolhido foi 2007-2014, tendo em vista dois marcos que
demandaram um debate mais sistemtico sobre os primeiros anos do Ensino
Fundamental, a saber: a Lei n 11.274, de 6 de fevereiro de 2006, que dispe sobre a
ampliao do Ensino Fundamental para nove anos; e o Decreto n 6.094, de 24 de abril
de 2007, que lana o Plano de Metas Compromisso Todos pela Educao, o qual
estabelece como uma de suas diretrizes a alfabetizao das crianas at, no mximo, os
8 anos de idade. Partimos do princpio de que, com a entrada dos alunos de 6 anos, e at
mesmo de 5 anos, como aconteceu maciamente em Mato Grosso do Sul, as redes de
ensino necessitaram considerar com mais cuidado os procedimentos e as prticas dos
professores das sries iniciais, bem como investir em formao especfica para que os
professores soubessem como lidar com esse novo pblico, antes atendido pela Educao
Infantil
A busca por essas fontes se deu por meio do Banco de Teses e Dissertaes da
CAPES, no caso das pesquisas empricas, e da Plataforma Scielo, no caso dos artigos
cientficos, optando-se, como critrio de escolha, apenas pelas revistas e peridicos
classificados como A-1 pela CAPES.3 Os resultados aqui apresentados no se referem
anlise de todos os dados coletados, mas a apenas algumas das categorias eleitas na
dissertao, devido aos limites de espao que temos em um artigo.
dissertaes
Considerando apenas os programas adotados por Secretarias de Educao e
voltados para a formao e capacitao de professores alfabetizadores da rede pblica,
encontramos as anlises dos programas mineiros PDP - Programa de Desenvolvimento
Profissional de Educadores, Alfabetizao no Tempo Certo e Curso Encontro de
Alfabetizadores, de Figueiredo (2007), Chiacchio (2012) e Rofino (2012),
respectivamente. Suas pesquisas revelaram que, apesar de as professoras atriburem
grande valor aos programas, mencionando a possibilidade de reflexo sobre a prtica
pedaggica como ponto favorvel, houve questionamentos pertinentes sobre o tempo de
implementao, a forma de apresentao muito pautada nos materiais disponibilizados,
sobrando pouco espao para que as professoras revelassem suas crenas, anseios e
3
Essa opo deveu-se to somente como forma de delimitao do escopo de pesquisa, pelos limites de
espao impostos a um estudo desse tipo, no tendo como objetivo desconsiderar ou indicar como
inferiores os artigos publicados em revistas com outras classificaes.
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foram distribudos manuais que visavam melhorar a didtica do professor (12 guias
do professor alfabetizador) e livros didticos (Cantalel) para os alunos do 1 ano.
Simes (2012) se prope, em sua dissertao, a realizar uma comparao entre o
Programa de Interveno Pedaggica de Minas Gerais e dois outros programas,
apontados por ela como exemplos de sucesso no gerenciamento de polticas pblicas de
interveno pedaggica, a saber: O Programa de Alfabetizao na Idade Certa (PAIC),
no Cear e o Direito do Aprendizado Ler, Escrever e Contar O Ponto de Partida para
todo Aprendizado, no Esprito Santo. Essa comparao, justifica a autora, serviria para
apontar as boas prticas presentes nos dois programas, que poderiam ser incorporadas
ao PIB. Vale ressaltar que a pesquisadora faz parte da equipe gestora do programa,
sendo coordenadora do Proalfa (Programa de Avaliao da Alfabetizao). Em suas
consideraes finais, ela aponta o sucesso do programa e apresenta um plano de ao
com medidas dos programas pesquisados que poderiam aumentar a eficcia do PIB. Em
sua metodologia de coleta de dados, porm, as vozes dos professores no foram
consideradas, sendo que em nenhum momento da pesquisa houve espao para
contemplar a viso do programa do ponto de vista pedaggico: como se sentem os
professores das salas de aula que sofreram interveno direta, o que pensam sobre a
forma em que o programa foi implantado e como foram recebidos, por eles, os manuais
e livros didticos.
Pesquisando tambm sobre a poltica de interveno pedaggica de Minas
Gerais, Maia (2012) desenvolveu sua dissertao Reagrupamentos temporrios e o
sucesso na alfabetizao crianas: estudo de caso em duas escolas pblicas da
Superintendncia Regional de Ensino de Montes Claros. A autora pretendeu analisar o
contexto de implementao da poltica estadual, elencando os efeitos e sua relao com
a melhoria dos resultados das escolas pesquisadas. Utilizou-se da pesquisa qualitativa,
incluindo a observao direta, anlise documental e entrevista semiestruturada com
diretores, supervisores escolares e professores. Em suas consideraes finais, indica
pontos a serem repensados, como o papel do diretor na conduo da poltica e a forma
de organizao dos tempos e espaos escolares. Um detalhe importante analisado na
leitura dessa dissertao em relao s falas das professoras entrevistadas e falta de
compreenso do conceito de alfabetizao e letramento presente no programa. Revelam,
nas entrelinhas da entrevista, que o principal movimento que necessitaria ser feito, que
seria a melhoria dos conhecimentos conceituais sobre os processos de aquisio da
lngua escrita, aparentemente no foi consolidado, o que leva a considerar que o
1192
1193
O recorte feito para esse artigo engloba apenas uma das quatro categorias
analisadas na pesquisa completa (SOUSA, 2014). A categoria que escolhemos para
compor esse estudo foi a apreciao dos autores que publicaram artigos em revistas
1194
classificadas como A-1 pela Capes, selecionadas a partir da busca na Plataforma Scielo
utilizando a combinao das palavras-chaves polticas pblicas, alfabetizao,
formao de professores.
Analisando os artigos encontrados nos peridicos classificados como A-1 pela
CAPES, percebeu-se que, em maior ou menor proporo, a discusso acerca da incluso
dos saberes docentes nas aes formativas est presente na maioria dos escritos. Foram
observados estudos que tratam da relao teoria / prtica educacional, bem como da
formulao de polticas de formao que no sejam distanciadas da realidade escolar
(ALMEIDA; BIAJONE, 2007) e que contribuam para a constituio de uma
comunidade de aprendizagem na escola pblica, em seus momentos de trabalho
pedaggico coletivo (JESUS; VIEIRA; EFFGEN, 2014) de forma a valorizar e
incentivar a reflexo do docente sobre a prpria formao e sobre o currculo escolar
(PAVAN, 2010).
De fato, h a constatao de que nem sempre a formao continuada contribui
para o desenvolvimento profissional (RAMOS, 2007), podendo ocorrer um
desequilbrio entre a teoria difundida na formao e a prtica consolidada dos
professores (CORDEIRO, 2007; SILVA; SANTOS, 2013), ou ainda, na ocorrncia de
aprendizagens diversas da objetivada pelos formadores.
Percebe-se, nesse movimento, que se faz necessrio abandonar as posies
redentoras, baseadas em essencialismos dicotmicos e na figura do superprofessor
consciente crtico (FISHMAN; SALES, 2010), entendendo os limites e possibilidades
da pesquisa e dos saberes dos professores da educao bsica (LUDKE; CRUZ;
BOING, 2009) alm de ter em conta os aspectos tericos, histricos (SAVIANI, 2009) e
legislativos (GATTI, 2008) da formao de professores no contexto brasileiro.
As polticas aplicadas rea educativa tm sido analisadas de acordo com sua
relao com os modos de gerir os processos formativos dos professores, revelando
muitas vezes a fragilizao das instituies e os desafios propostos gesto escolar
(SILVA; BUSNELLO; PEZENATTO, 2013), alm de expor as questes externas, como
a regulao e a avaliao pelo Estado, e a viso da formao como reciclagem ou
treinamento, inspirada no tecnicismo (BRZEZINSKI, 2008).
Uma das conseqncias desse paradigma a difuso de um discurso que indica
como a sada melhor e mais eficiente para a resoluo dos problemas educacionais e
para a melhoria da qualidade na educao a formao de parcerias entre rgos pblicos
e entidades no-governamentais, como se os problemas e as prioridades educacionais
1195
das
aes
formativas
(ANDR,
2013;
ALMEIDA;
LEITE;
1196
Como parte das exigncias do Programa de Mestrado Profissional da UEMS, foi elaborada uma
Proposta de Interveno, que abrange os principais problemas apontados pela pesquisa. O que
apresentamos, nestas consideraes finais, um resumo desta proposta, melhor esmiuada em Sousa
(2014).
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Conceio (2013) destaca que a houve srios embates durante a aprovao desse decreto
brasileiro que vem validando uma norma supranacional e, aps sua aprovao surgem vrias
crticas, em especial, por parte da Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel
Superior (CAPES) que apresenta, em nota, sua preocupao com o processo de revalidao de
ttulos no mbito do MERCOSUL, alertando para o cuidado que os interessados deveriam ter
com empresas que faziam propagandas enganosas sobre facilidades na revalidao e, afirmava
a rigorosidade das legislaes nacionais para realizao desse processo.
Novo acordo estabelecido em 2009 no mbito do MERCOSUL sobre essa temtica,
solicitando que cada pas mantenha informaes atualizadas sobre as legislaes prprias e os
procedimentos a serem tomados na solicitao da revalidao de diplomas, no entanto, mantmse a obrigatoriedade de seguir as normas prprias de cada pas, no considerando, em nenhum
momento a revalidao automtica.
Desde 2002, esse assunto tem chamada a ateno do Estado brasileiro que vem
publicando resolues acerca dos processos de revalidao de diplomas (Resoluo CNE/CES
n 1 em 2002, n 8 em 2007, n 7 em 2009), cada uma das resolues busca aprimorar a primeira
e orientar o desenvolvimento dos processos realizados pelas IES pblicas. Vale lembrar, o art.
48 da LDB ainda se mantm como referncia para todas essas legislaes, no entanto, ele dava
as universidades total autonomia para o desenvolvimento desses processos, o que diminudo
com o surgimento das resolues.
Em 2011 o senador Roberto Requio prope um projeto de Lei alterando o art. 48 da
LDB, nesse projeto o senador sugere a revalidao automtica de diplomas oriundos de cursos
de instituies de ensino superior estrangeiras com reconhecida excelncia acadmica. No
entanto, projeto encaminhado Comisso de relaes exteriores e defesa nacional e a
Comisso de educao, cultura e esporte do senado que fazem suas propostas de emendas e no
projeto final no aparece a revalidao automtica, mas, processo de revalidao simplificado
para solicitaes que tenham diplomas vindo de tais instituies. Fica estabelecido que o rgo
responsvel pela coordenao da poltica nacional de educao divulgar anualmente uma
relao de cursos, instituies e programas de ensino estrangeiros de excelncia, acompanhada
de instruo de procedimentos e orientaes para a tramitao clere dos processos de
revalidao ou reconhecimento de seus diplomas. Esse projeto foi aprovado pelo senado em 28
1203
de julho de 2014 e encaminhado Cmara dos Deputados em 30 de julho do mesmo ano aonde
encontra-se em tramitao.
Pode se observar os conflitos de interesses na construo das legislaes, h
preocupaes em atender os acordos do MERCOSUL, manter a autonomia das IES no processo
de revalidao, verificar a qualidade do ensino, entre outras. Assim, a revalidao de diplomas
est na pauta de discusso de diversas instituies tanto governamentais, como nogovernamentais.
O ponto emprico desse estudo a anlise do Projeto de Lei (PL) que altera a Lei n.
9.394/96 (Lei de diretrizes e bases da educao), para dispor sobre a revalidao e o
reconhecimento de diplomas oriundos de cursos de instituies de ensino superior estrangeiras.
Segundo Serafim e Dias (2012), a Anlise de Poltica (Policy Analysis) tem a finalidade
de analisar o processo de elaborao da poltica pblica, focando o comportamento dos atores
sociais envolvidos, seus valores e interesses, constituindo como elementos essenciais desse
processo. Sua importncia se d ao buscar entender o porqu e para quem a poltica foi
construda, no se limitando a olhar somente o contedo da poltica pblica.
Por sua vez os objetivos da presente proposta so:
- Explicitar o movimento de construo da poltica de revalidao de diplomas no Brasil;
- Evidenciar a influncia dos acordos dos pases membros do MERCOSUL na elaborao da
poltica nacional de revalidao de diplomas;
- Identificar contradies nos setores da educao quanto a mudanas na poltica nacional de
revalidao de diplomas;
- Compreender o processo de interlocuo das organizaes sociais e os poderes do Estado
traduzido na esfera do legislativo brasileiro.
Metodologia
Para atingir os objetivos propostos se buscou um referencial terico-metodolgico que
fundamente as anlises empricas da pesquisa, optando por Villanueva (1993, 1996) como
referencial terico e, como referencial metodolgico, acredita-se que a melhor opo seja a
abordagem qualitativa ou simplesmente pesquisa qualitativa.
Esse tipo de abordagem propicia a declarao de como o objeto de estudo ser tratado,
caracteriza-se como uma atividade investigativa onde o rigor cientfico centra-se no enfoque
compreensivo, apreendendo e problematizando implicaes abrangentes, bem como
1204
Para o melhor desenvolvimento das atividades, esse estudo est divido em etapas, onde
na primeira corresponde a pesquisa bibliogrfica, pois a partir de um contexto histrico-social
possvel fazer o confronto terico das intenes do pesquisador e atores sociais envolvidos
em um campo de interesse (MINAYO, 1994).
Para a pesquisa bibliogrfica, sero consultadas publicaes cientficas a partir de livros,
revistas, artigos, teses e dissertaes. Atravs dos bancos de dados cientficos digitais, como o
Scielo, Bireme, EDUBASE, Sistema de Informaes sobre Teses - IBICT SIT, sero
realizadas pesquisas avanadas de artigos a partir dos seguintes descritores: anlise de polticas,
elaborao de polticas, poltica educacional, revalidao de diploma, acordos do MERCOSUL,
polticas supranacionais. Ainda, ser consultado banco de teses da Coordenao de
Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (Capes) e as bibliotecas digitais das grandes
universidades pblicas que dispem teses e dissertaes.
A segunda etapa corresponde a pesquisa documental, onde pretende-se contemplar as
legislaes j existentes sobre a revalidao de diplomas no Brasil, os acordos internacionais,
especialmente no mbito do MERCOSUL, os processos, relatrios, pareceres que compem a
elaborao da poltica nacional de revalidao de diplomas, sua tramitao no poder legislativo,
tanto no Senado Federal como na Cmara dos Deputados Federais.
Atravs do Portal Atividade Legislativa do senado (www.senado.gov.br/atividade)
possvel acompanhar toda a tramitao de projetos e matrias legislativas, com isso, nesse portal
encontra-se toda a tramitao do projeto de Lei n.399/2011 que dispe sobre a revalidao de
diploma, est disponvel a proposta de Lei original com justificativa, os relatrios completos
das comisses que a analisaram o projeto e a relao dos membros que fizeram parte delas, as
ementas apresentadas pelos senadores a proposta final aprovada pelo senado e enviado para
cmara dos deputados federais.
1205
cmara
dos
deputados,
tambm
tem
um
portal
semelhante
1206
Neste nterim, acredita-se que a partir da anlise dos documentos e, se necessrio, das
falas dos sujeitos da pesquisa, ser possvel analisar o processo de elaborao da poltica de
revalidao de diplomas no Brasil, enfatizando as polticas supranacionais e nacionais.
Resultados parciais
Aqui so apresentados alguns resultados obtidos com o incio da primeira etapa da
pesquisa, assim, partir da pesquisa bibliogrfica elaborou-se um quadro terico acerca da
globalizao, das polticas supranacionais e nacionais, da elaborao das polticas pblicas e
sua anlise, tendo como ponto de partida o conceito de poltica.
Dentre as inmeras contribuies sobre definies de poltica e da complexidade em
adotar uma sem ser reducionista, optou-se pela que se compreende ser a mais elucidativa para
esta proposta de estudo. Assim, adota-se que poltica um comportamento propositivo,
intencional, planejado que busca alcanar certos objetivos atravs de certos meios: uma ao
com sentido. Mas, optar em no fazer uma ao, no deixa de ser uma poltica
(VILLANUEVA,1996).
No mesmo sentido, Palumbo (1994, p.8) sustenta que a poltica consiste em [...] um
processo, ou uma srie histrica de intenes, aes e comportamentos de muitos
participantes. No se limitando, a uma lei ou um programa, pois sua construo se d junto ao
desenvolvimento dos fatos, num fluxo de construo, reconstruo e adaptao. Em sentido
mais estrito, quanto poltica pblica, ele sustenta que a [...] sua manifestao visvel a
estratgia adotada pelo governo para solucionar problemas pblicos.
Dessa forma, a poltica pblica caracteriza-se por uma ao ou inao que escolhida
por autoridades pblicas na busca de resolver um problema, concebida em meio a disputas de
interesses entre governo e sociedade e, ao ser implementada ter influncia na vida de cidados.
As polticas pblicas se constroem de acordo com as concepes da sociedade que as
criam, tem uma intrnseca conexo com seu sistema de significaes que prpria de uma
realidade social. Assim, orientaes que vem de fora jamais so implantadas de forma idntica,
elas so recontextualizadas pelas caractersticas da sociedade a que se destinam, no entanto
importante lembrar que Azevedo (2001) faz essa afirmao e continua, destacando que mesmo
com a ressignificao dos padres definidos pela globalizao, as essncias advindas das
decises em escala mundial so mantidas.
1207
O Estado uma relao social, no tem seu prprio poder independente que possa tanto
se fundir com o poder do capital quanto ser eliminado por obra do crescente contrapoder do
capital global, ele relacional, sobre influncias de diversas foras e continua sendo
fundamental (JESSOP, 1998 p.25-26). Assim, Cassasus (2001) acrescenta que na prtica as
aes no so estruturadas em nvel supranacional e sim pelas polticas nacionais, com isso,
elas acontecem no espao estabelecido por essa poltica, a Nao.
Para Dale (2009) at o incio da dcada de 1980 a educao era vista como um assunto
exclusivamente nacional, o que foi se alterando com o passar dos anos em decorrncia de
mudanas na economia poltica global e o estabelecimento dos blocos econmicos, com isso,
se passa a ter os modelos regionais de educao. E, ressalta:
O fato de os sistemas educacionais ainda serem nacionais, no sentido de que as
decises continuam sendo tomadas nesse nvel, no necessariamente implica que
onde jaz o poder sobre essas decises; mesmo se as formas e os modelos educacionais
existentes continuam aparentemente mais ou menos inalterados, suas significaes se
modificaram e novas formas [...] passaram a existir []. Entre as vrias razes dessas
mudanas [] esto o declnio das economias nacionais, a difuso do
neoliberalismo e da nova administrao pblica (DALE, 2009 p.872).
Com isso, Carmo, Zaidan Filho e Miyachi (2014) afirmam que a educao e sua
estrutura organizacional so baseadas no nvel da poltica, da cultura e do sistema econmico
mundial, indo alm do plano nacional. Da mesma forma, ao se reportar as Instituies de ensino
superior, especificamente, Segrega (2008) traz que essas so influenciadas e condicionadas por
tendncias globais do sistema capitalista mundial e pelas polticas de Estado-nao.
Charlot (2007, p.134) acrescenta que a sociedade globalizada trata o saber como um
recurso econmico, mas requer homens globalizados instrudos, responsveis e crticos.
1208
Preocupados com isso, ministros e seus assessores colocam em suas agendas reflexes e
recomendaes que orientam a poltica educacional, pois como j dito, a educao vista como
um setor estratgico para a insero dos pases no processo de globalizao, em especial, em
suas dimenses econmicas, assim essas orientaes so assumidas por vrios pases,
estabelecendo-se como de carter regional, buscando atender as demandas de determinado
bloco ou determinada regio (CASSASUS, 2001).
A formao desses blocos econmicos e culturais observada em continentes como
sia, Europa e Amrica Latina, nesse ltimo pode ser evidenciada pela criao da Coordenao
Econmica da Amrica Central e o MERCOSUL, o qual ser destacado nesse estudo pois, para
se pensar a educao em mbito local (nacional) necessrio ir alm e se debruar sobre outros
contextos que a influenciam (SCAFF; REAL, 2014), uma vez que para Casassus (2001, p.25)
as polticas regionais transcendem ao nvel da poltica educacional nacional mas tambm a
influenciam, pois se refletem nela.
Nesse contexto de globalizao, blocos econmicos e polticas pblicas no h como
deixar de lembrar que o bloco econmico europeu, formado por pases desenvolvidos, o
grande influenciador de outros blocos econmicos, assim, ao se tratar da educao influenciou
tanto na maneira de pens-la com papel fundamental nas relaes regionais como nas
estratgias adotadas para o fortalecimento dessas relaes (ROBERTSON, 2009).
O
Setor Educacional do Mercosul um bom exemplo disso, ele foi motivado pela
1
Estabelecido em 1999 o pacto de Bolonha compe um conjunto de aes que dizem respeito adoo
de prticas de aprendizagem contnua, superao de entraves burocrticos, e eliminao de barreiras que
impedem a livre circulao de capitais, mercadorias, conhecimentos e pessoas (SIEBIGER, 2013 p. 51).
1209
1210
10
1211
11
desses momentos que precedem a implementao da poltica, Barreto e Pinto (2001) alertavam
para uma escassez de pesquisas sobre essa vertente no Brasil. Atualmente, mesmo com aumento
do nmero de estudos sobre a elaborao das polticas, ainda existe uma imensido de assuntos
serem estudados pois, conforme vo sendo definidas as agendas polticas, novos objetos de
pesquisa vo surgindo. Para Arretche (2003, p.8) [...] essas novas questes da agenda poltica
brasileira constituem tambm um problema para o desenvolvimento da agenda de pesquisa em
polticas pblicas.
Oliveira (1997), em sua tese de doutorado, analisou o processo de elaborao da Lei de
Diretrizes e Bases da Educao Nacional publicada em 1996, enfatizando a ao dos partidos
polticos representados no Congresso Nacional, as lutas que travaram entre s e a influncia de
diferentes foras sociais. Apesar de haver uma diminuio da identidade poltico-ideolgica dos
partidos (SALLUM JUNIOR, 2008), essa vertente no pode ser descartada nessa pesquisa, pois,
favorece uma compreenso mais abrangente sobre a legislao.
Azevedo (2001, p. 60) ressalta que a poltica educacional [...] articula-se ao projeto de
sociedade que se pretende implantar, ou que est em curso [...], relacionada a determinado
momento histrico ou a determinada conjuntura. Assim, esse projeto de sociedade elaborado
pelas foras sociais emblemticas, que conseguem fazer com que suas ideias e propostas sejam
consideradas pelo Estado, influenciando a formulao de polticas ou programas.
Referncias
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http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=13192%3Aresoluc
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2014.
______. Conselho Nacional de Educao. Resoluo CNE/CES n 8, de 04 de outubro de
2007. Altera o Art. 4 e revoga o art. 10 da Resoluo CNE/CES n 1/2002, que estabelece
normas para a revalidao de diplomas de graduao expedidos por estabelecimentos
estrangeiros de ensino superior. Braslia, DF: Dirio Oficial da Unio, 2007. Disponvel em:
<http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/2007/rces008_07.pdf>. Acesso em: 27 de outubro
de 2014.
______. Conselho Nacional de Educao. Resoluo CNE/CES n 7, de 25 de setembro de
2009. Altera o 2 do art. 8 da Resoluo CNE/CES n 8, de 4 de outubro de 2007, que
estabelece normas para a revalidao de diplomas de graduao expedidos por
estabelecimentos estrangeiros de ensino superior. Braslia: Dirio Oficial da Unio, 28 set.
2009, Seo 1, p. 30. Disponvel em:
<http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/rces007_09.pdf>. Acesso em: 12 de fev. 2013.
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<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Decreto/D5518.htm> Acesso
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Estado em transformao. So Paulo: UNESP, 1999. cap. 5. p. 147-171.
1213
13
1214
14
1215
Resumo
O presente trabalho tem como objetivo apresentar o levantamento das produes cientficas
brasileiras sobre o tema Plano de Cargos e Remunerao do Magistrio Pblico (PCRM) e as
implicaes para a formao e valorizao dos professores e observar como as polticas
pblicas educacionais vm operando na sociedade brasileira. Apresenta-se os resultados
parciais da pesquisa em andamento. Para tanto, escolhemos dois eventos nacionais Associao
Nacional da Ps-Graduao e Pesquisa em Educao e Associao Nacional de Polticas e
Administrao da Educao para buscar artigos que contemplassem a temtica. Sendo assim,
direcionou-se a busca para as produes que apresentavam no ttulo, resumo ou nas palavras
chaves trs conceitos: Plano de Cargos e Carreira do/ profissionais de educao/ docente. Nos
trabalhos consultados, especificamente buscou-se identificar o objetivo principal de
investigao; a metodologia utilizada na abordagem do problema proposto; o instrumento
terico; os resultados e as concluses. O estado do conhecimento permitiu identificar as
produes acadmicas no campo das polticas pblicas educacionais, tentando destacar em que
aspectos e dimenses de diferentes pocas e lugares, de que forma e em que condies tm sido
produzidos os artigos publicados em peridicos. Nos trabalhos encontrados o plano de carreira
dos profissionais de educao descrito como um instrumento utilizado para valorizar o
trabalho dos professores e a melhoria da educao. Nos planos analisados nos artigos
encontram-se regulamentaes que defendem melhores condies de trabalho, de carreira, de
salrio e a garantia de direitos trabalhistas historicamente conquistados.
Palavras-chave: POLTICAS EDUCACIONAIS. ESTADO DO CONHECIMENTO.
PLANO DE CARREIRA.
Introduo
O artigo objetiva apresentar o levantamento das produes cientficas brasileiras
publicadas nos eventos nacionais Associao Nacional da Ps-Graduao e Pesquisa em
Educao (ANPED) e Associao Nacional de Polticas e Administrao da Educao
1
Mestranda em Educao: mestranda pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. E-mail:
[email protected].
2
Doutora em Educao: Filosofia e histria da educao pela UNICAMP. Professora Titular da Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul E-mail: [email protected].
3
Doutoranda em Educao: doutoranda pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. E-mail:
[email protected]
1216
1217
Na Amrica Latina houve uma acentuada tendncia de diminuio dos gastos pblicos
que interferiu diretamente na educao, pases como a Argentina, Brasil e Costa Rica reduziram
drasticamente o recurso referente ao Produto Interno Bruto repassado para a educao como
mostra os dados do Banco Mundial, no perodo que compreende o incio da dcada de 1970 e
final da dcada de 1980.
De acordo com VILAS (1991, p. 110.), os gastos governamentais com educao
diminuram na Argentina de quase 20% do PIB a menos de 7%; no Brasil, de mais de 8% a
menos de 5%; na Costa Rica, de 28% a 16%. Adentramos a dcada de 1990 sob o domnio
hegemnico da poltica neoliberal que d rumo poltica econmica latino-americana.
(OLIVEIRA, 2003)
Em 1995, o Brasil iniciou a reforma do aparelho de Estado promovida por Bresser
Pereira, ento titular do Ministrio da Administrao e da Reforma do Estado (MARE), durante
o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC). O governo instituiu o Plano
Diretor da Reforma do Aparelho do Estado (PDRAE), essa poltica de gesto ganhou dimenso
nacional (OLIVEIRA, 2003). O plano introduziu a gesto gerencial nas instituies de ensino
e consequentemente no trabalho dos professores desencadeando perdas de garantias
trabalhistas.
As concepes neoliberais adotadas pelo Brasil impuseram educao uma lgica de
desvalorizao dos trabalhadores na qual os investimentos foram reduzidos, o que produziu a
diminuio consequentemente do salrio dos profissionais de educao e precarizao das
condies de trabalho, contraditoriamente ao discurso de qualificao.
Desta forma, surgiram novas normas para regulamentar os sistemas de ensino no pas.
A Lei 9424/1996 que instituiu o FUNDEF, que entre outras disposies destaca a elaborao
de novos dos Planos de Carreira do Magistrio como uma exigncia do Ministrio da Educao
(MEC), prevista no Art. 9 que instituiu a criao e aprovao de um plano de carreira que
regulamente o trabalho dos profissionais de educao, que deveria ser implantado depois de 1
de Janeiro de 1998.
Posteriormente aprovao da lei do FUNDEF/1996 se intensificou o processo de
municipalizao da educao no Brasil. As responsabilidades de organizar e manter as
instituies de ensino foram delegadas aos estados e municpios, mas a Unio manteve o
comando das polticas de financiamento.
1218
1219
EVENTO
23 Reunio anual da
ANPED
2004
Rodolfo Ferreira
27 Reunio anual da
ANPED
2010
33 Reunio anual da
ANPED
Fonte: Quadro elaborado com base nas informaes obtidas na ANPED (http://www.anped.org.br)
1220
2012
AUTOR
Margarita Victoria
Rodrguez
Jorismary Lescano
Severino
Caroline Hardoim
Simes
Lus Gustavo Alexandre
da Silva
TTULO
Estudo das implicaes do programa escola
campe no trabalho dos professores do
municpio de Campo Grande MS.
EVENTO
XI Encontro de Pesquis
Educao da ANPED C
Oeste
XI Encontro de Pesquis
Educao da ANPED C
Oeste
Fonte: Quadro elaborado com base nas informaes obtidas na ANPED (http:/www.anped.org.br)
1221
Grande-MS suas implicaes na formao de professores, bem como, o ingresso por concurso
pblico, a progresso na carreira mediante a formao continuada e a remunerao conforme a
titulao do docente.
Silva (2012) no artigo Trabalho docente na educao bsica: contrato, carreira e
remunerao docente em Gois realizou um estudo evidenciando o processo de precarizao
da funo docente materializado na descaracterizao do exerccio da profisso, na
intensificao do trabalho e no aumento da jornada no estado de Gois. Descreveu as
legislaes que regulamentam o plano de carreira no pas e posteriormente descreve a
efetivao do plano na regio, bem como, o conhecimento dos docentes sobre o documento nas
escolas estaduais e municipais selecionadas para pesquisa.
Posteriormente, realizamos a busca por produes cientficas na ANPAE, a escolha
desta organizao se deve a sua histria institucional, porque a mais antiga associao de
administradores educacionais da Amrica Latina e a primeira associao brasileira da sociedade
civil organizada. Desde o seu nascimento, em 1961, a ANPAE passou por vrios momentos
testemunhando e protagonizando os movimentos e contradies que marcaram a trajetria da
construo do conhecimento e das prticas de gesto da educao adotadas ao longo das ltimas
cinco dcadas.5
No mapeamento de artigos apresentados nos eventos organizados pela ANPAE
selecionaram-se dezesseis (16) trabalhos publicados nos anos de 2011 a 2014 por pesquisadores
de nove (09) universidades pblicas, posteriormente foram analisadas as produes que
apresentaram no ttulo as palavras chaves plano de carreira, salrio e valorizao docente.
Salientamos que as produes so oriundas de vrias instituies universitrias
brasileiras que contam com grupos de pesquisa que centram seus estudos na questo da
remunerao e na carreira dos professores: a Universidade de So Paulo (USP), Universidade
Estadual de Minas Gerais (UEMG), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE),
Universidade Federal da Paraba (UFPB), Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN), Universidade Federal do Piau (UFPI), Universidade Federal do Paran (UFPR),
Universidade Federal do Par (UFPA) e Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).
Quadro 3 Artigos sobre plano de carreira docente na ANPAE - Nacional
ANO AUTOR
TTULO
EVENTO
2011
Lisete Regina
Trabalho docente e
25 Simpsio Brasileiro e
Gomes Arelaro
valorizao do magistrio
2 Congresso Ibero5
http://www.anpae.org.br/website/sobre-a-anpae/nossa-historia
Universidade
USP
1222
Mrcia
Aparecida
Jacomini
Nlson Alves de
Souza
Ktia Aparecida
Santos
2011
Maria da
Consolao
Rocha
na rede municipal de So
Paulo
Regulao do trabalho
educacional atravs dos
planos de carreira da
educao municipal de
Belo Horizonte de 1948 a
2003
2011
Ildo Salvino de
Lira
As discusses acerca da
valorizao do magistrio
brasileiro
2011
Rogrio
Fernandes
Gurgel
2011
Magna Frana
O magistrio da educao
bsica Paraibana no
contexto das polticas
educacionais.
Os Planos de Cargos,
Carreira e Remunerao
(PCCR) dos docentes
municipais de Natal e
estaduais do RN e o Piso
Salarial Nacional
2011
Lus Carlos
Sales
Juliana
Gonalves
Quaresma
Ribeiro
Profissionais do magistrio
na educao infantil:
algumas questes sobre
carreira e remunerao.
2011
2011
2011
FdylaKssia
Rocha de
Arajo
Dalva Valente
Guimares
Gutierres
Rosana Maria
Oliveira
Gemaque
Silvia Letcia
D Oliveira da
Luz
Financiamento da
educao e valorizao do
magistrio
A carreira dos
profissionais do magistrio
do sistema
municipal de educao de
Belm: o dito e o feito
Americano de Poltica e
Administrao da
Educao
25 Simpsio Brasileiro e
2 Congresso IberoAmericano de Poltica e
Administrao da
Educao
UEMG
25 Simpsio Brasileiro e
2 Congresso IberoAmericano de Poltica e
Administrao da
Educao
25 Simpsio Brasileiro e
2 Congresso IberoAmericano de Poltica e
Administrao da
Educao
25 Simpsio Brasileiro e
2 Congresso IberoAmericano de Poltica e
Administrao da
Educao
UFPE
25 Simpsio Brasileiro e
2 Congresso IberoAmericano de Poltica e
Administrao da
Educao
25 Simpsio Brasileiro e
2 Congresso IberoAmericano de Poltica e
Administrao da
Educao
25 Simpsio Brasileiro e
2 Congresso IberoAmericano de Poltica e
Administrao da
Educao
25 Simpsio Brasileiro e
2 Congresso IberoAmericano de Poltica e
Administrao da
Educao
UFPI
UFPB
UFRN
UFPR
UFRN
UFPA
1223
2013
Aline
ChalusVernick
Carissimi
2013
Fabrcio Aaro
Freire Carvalho
Condies de ingresso e
carreira dos profissionais
do magistrio da rede
municipal de ensino de
Curitiba
Poltica de valorizao do
magistrio da educao
bsica no contexto recente
da poltica de fundos:
anlise da carreira docente
em Ananindeu-PA.
2014
Maria Dilnia
Espndola
Fernandes
Solange Jarcem
Fernandes
XXVI Simpsio
Brasileiro de Poltica e
Administrao da
Educao
UFPR
XXVI Simpsio
Brasileiro de Poltica e
Administrao da
Educao
UFPA
UFMS
1224
1225
1226
1227
Universidade
UFRN
UFPI
UFRN
UFRN
1228
1229
1230
REFERNCIAS
ARAJO. FdylaKssia Rocha de, Financiamento da educao e valorizao do
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1233
1
1234
2
1235
3
Essa viso gerencial com transferncia de gesto das poltica sociais aos entes
subnacionais, imprimia descentralizao uma forma eficiente pela qual os recursos
chegariam administrao local ampliando de forma racional o atendimento aos direitos
sociais e diminuio das desigualdades locais (GENTILINI, 1999).
Pode-se evidenciar que as polticas educacionais so definidas e concretizadas nas
relaes de poder entre a Unio, estados e municpios conforme seus interesses polticos e
sociais. Nesse sentido, estudar o federalismo se torna um ponto fundamental para a
compreenso do planejamento das polticas educacionais.
Origem, conceito e caractersticas do federalismo
So vrias as menes sobre o conceito e origem do federalismo, desde as obras de
Kant e tambm de Saint-Simon (1760-1825) e at nos ideais das associaes pacifistas e nas
resolues dos congressos para a paz de juristas do final do sculo 19; porm, anteriormente,
Montesquieu, poltico e filsofo, j o mencionava em sua obra O Esprito da Leis (escrita
em 1748) quando escreveu que a repblica federativa uma forma de constituio que
possui todas as vantagens internas do governo republicano e a fora externa da monarquia.
Com a Revoluo francesa, nasce o ideal federalista impresso pelo sentimento de
implantao dos chamados Estados Nacionais, ou seja, na Europa nessa poca (final do sculo
18) imperava a poltica do Estado Absoluto, onde as relaes internacionais estavam
circunscritas s relaes monrquicas e o povo era excludo de toda e qualquer possibilidade
de manifestao poltica, as alianas por meios matrimoniais perpetuavam essa ideologia,
onde a aristocracia formava uma sociedade comum europia [...] que tinha por finalidade
1236
4
1237
5
modo tal que ao Governo federal, que tem competncia sobre o inteiro
territrio da federao, seja conferida uma quantidade mnima de poderes,
indispensvel para garantir a unidade poltica e econmica, e aos Estados
federais, que tm competncia cada um sobre o prprio territrio.[...] A
conseqncia desta distribuio de competncias entre uma pluralidade de
centros de poder independentes e coordenados (esta frmula de Wheare)
que cada parte do territrio e cada indivduo esto submetidos a dois centros
de poder: ao Governo federal e ao de um Estado federado, sem que por isso
seja prejudicado o princpio da unicidade de deciso sobre cada problema.
(BOBBIO, MATTEUCCI e PASQUINO, 1989, p.481. grifo nosso).
1238
6
Sena (2013) esclarece que a forma como a Federao relaciona-se com os entes
federativos permite Unio coeso entre os poderes e a garantia de funcionamento:
[...] sob uma nica soberania, abrigam-se pores territoriais dotadas de
autonomia, que constituem os celebrantes do pacto federativo (entes
federativos), selado pela Constituio Federal. Para o entendimento da
coeso da Federao, importante a distino entre soberania, atributo que,
no Estado federal exercido pela unio, e autonomia, caracterstica dos
Estados federados que o integram. Tratam-se de noes complementares.
Como a Federao consiste na unio de coletividades regionais autnomas,
supe o compartilhamento do poder, sem o qual a autonomia no se realiza
de forma plena (SENA, 2013, p.123, grifo nosso).
1239
7
1240
8
Em resumo, pode-se afirmar que a Federao a unio de vrios estados, cada qual
com uma parcela de autonomia, para administrar, para fazer suas prprias leis desde que
respeitando a Constituio Federal, onde, o objetivo do federalismo a unidade, respeitando
e assimilando a pluralidade. (BERCOVICI, 2003, p.147).
Assim, o federalismo pode assumir diferentes formas: confederao, unio, liga,
federao, entre outras. Dependendo do arranjo constitucional, o tipo de vnculo estabelecido
entre os vrios nveis de governo diferir no apenas entre pases, como tambm ao longo do
tempo. (CETRNGOLO, 2007 apud MORDUCHOWIEZ; ARANGO, 2010, p. 109)
Mas se h modelos diferenciados em relao distribuio de poder em um estado
federalista, como fica a atribuio de poderes? Quem faz o qu? Como o faz?
Para tentar responder esses questionamentos, recorre-se a explicao de Anderson
(2009) sobre essa pauta:
No modelo de federalismo dual ou clssico, a jurisdio constitucional sobre
diferentes matrias normalmente atribuda a uma nica esfera de governo.
Nesse modelo, em geral, cada ordem de governo conduz os programas
especficos sob sua responsabilidade, utilizando seus prprios servios e
departamentos pblicos civis. Por isso, departamentos do governo federal
costumam estar presentes em todo o territrio nacional. [...] No modelo
integrado, muitas das competncias so compartilhadas, cabendo geralmente
s unidades constitutivas a administrao de programas ou o cumprimento
de legislao definidos em nvel central (ANDERSON, 2009, p. 41).
1241
9
perspectiva,
democratizao
da
participao
da
sociedade
no
1242
10
planejamento somente ganha um enfoque de longo prazo e com fora para efetivao na rea da
educao, com a determinao na Emenda constitucional n. 59 de 2009 estabelecendo que:
[...] o plano nacional de educao de durao decenal, com o objetivo de
articular o sistema nacional de educao em regime de colaborao e definir
diretrizes objetivos, metas e estratgias de implementao para assegurar a
manuteno e desenvolvimento do ensino em seus diversos nveis, etapas e
modalidades por meio de aes integradas dos poderes pblicos das diferentes
esferas federativas que conduzam a: I - erradicao do analfabetismo: II universalizao do atendimento escolar; III- melhoria da qualidade de ensino;
IV - formao para o trabalho; V - promoo humanstica, cientfica e
tecnolgica do Pas. (BRASIL, 2009, Art. 4).
O Plano Nacional de Educao (PNE) 2014-2024 aprovado pela Lei n 13.005 de 2014
1243
11
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12
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13
Governo federado, uma vez que no so raros os conflitos referentes s questes tributrias e
desigualdades financeiras dos entes.
Esclarecem Abrucio e Couto (1996) que o processo de descentralizao, no que diz
respeito questo fiscal, pode continuar reproduzindo as desigualdades sociais, posto que os
recursos decorrentes da estrutura tributria no so iguais entre os municpios e estes no
partem do mesmo nvel de desenvolvimento socioeconmico para planejar e implementar as
polticas educacionais. A repartio de renda acaba sendo uma necessidade em todo e qualquer
ente da federao, e talvez a maior dificuldade para estipular uma relao de cooperao entre
os entes federativos (ABRUCIO; COUTO, 1996).
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1246
14
1247
15
1248
1
Mestrando em educao pela Universidade Catlica Dom Bosco- UCDB. E-mail: [email protected]
Doutora em educao, Professora do Programa de Ps-graduao em Educao da Universidade Catlica Dom
Bosco - UCDB. E-mail: [email protected].
2
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2
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3
Fenmeno descrito por Harvey, (1992) que se diferencia da rigidez do fordismo pela reestruturao econmica
e reajustamento social e poltico em diversos pases do mundo acorrido na dcada de 1970, e principalmente na
dcada de 1980.
1251
4
Nessa direo, Castro e Souza, (2013) interpretando a teoria de Poulantzas afirma que:
as polticas sociais do Estado capitalista, emergem subsidiadas pelas funes econmicas e
poltico-ideolgicas sobre a questo social. nessa inter-relao que as funes de
acumulao e legitimao se materializam (2013, p. 4). Se, no capitalismo concorrencial, as
principais tarefas do Estado consistiam em organizar materialmente espao poltico-social da
acumulao do capital, j que suas funes estritamente econmicas estavam subordinadas s
repressivas e ideolgicas afirmam (NEVES e PRONKO, 2010, p. 102). No capitalismo
monopolista, o Estado passa a ampliar sua interveno para diversas reas, dentre elas, a
qualificao da fora de trabalho, afirmam (Castro e Souza, 2013, p. 5).
Harvey e Poulantzas, so dois tericos que subsidiam as discusses que nos permite
analisar a relao das Polticas Pblicas de implementao do Programa Nacional de Acesso
ao Ensino Tcnico e Emprego - PRONATEC com o Plano Nacional de Educao (PNE 20142024), e o Plano Estadual de Educao de Mato Grosso do Sul 2014-2024. No entendimento
de Poulantzas, (1980) o Estado capitalista
[...] no deve ser considerado como uma entidade intrnseca mas, como alis o
caso do capital, como uma relao, mais exatamente como a condensao material
de uma relao de foras entre classes e fraes de classe, tal como ele expressa, de
maneira sempre especfica, no seio do Estado. (POULANTZAS, 1980, p. 147)
1252
5
tecnolgica e de fundaes pblicas de direito privado precipuamente dedicadas
educao profissional e tecnolgica, habilitadas nos termos desta Lei. (BRASIL,
2011.)
Esse fomento ampliao de vagas pode ser observado na planilha elaborada pela
Secretaria de Educao do Estado do Mato Grosso do Sul (SED-MS) em 23.3.2015. Os
dados foram baseados no censo escolar 2014, tabela 1, e apontam um crescimento da oferta e
procura por matrculas na modalidade de educao profissional nos anos de 2010 a 2014 no
Estado do MS.
Tabela 1 - Matrculas por etapa e modalidade de ensino na Rede Estadual MS.
ANO
ENSINO MDIO
EDUCAO PROFISSIONAL
2010
86.183
2.118
2011
86.559
3.575
2012
86.997
4.895
2013
86.486
7.626
2014
86.186
7.722
1253
6
TOTAL
EDUCAO PROFISSIONAL
2010
65.662.121,52
589.010,34
2011
77.008.717,64
13.105.064,36
2012
192.734.765,41
29.333.057,36
2013
102.422.744,76
18.483.060,00
2014
150.962.815,29
25.775.835,68
1254
7
Nesse sentido, podemos observar que o PNE (2014-2024) est articulado com o
PRONATEC, principalmente no que tange a Meta 11, j citada, sobretudo estratgia 11.2
que prev: fomentar a expanso da oferta de educao profissional tcnica de nvel mdio nas
redes pblicas estaduais de ensino. (Brasil, 2014 p. 71). Essa estratgia j vem se
operacionalizando atravs do PRONATEC, que prev financiamento para o cumprimento dos
seus objetivos previstos no Pargrafo nico do art. 1 da Lei n 12.513, de 26 de outubro de
2011.
No item 472 do PEE-MS (2014-2024) na parte da anlise situacional para o
cumprimento da meta 11 do PNE (2014-2024) que prev triplicar as matrculas da educao
profissional tcnica de nvel mdio, assegurando a qualidade da oferta e pelo menos 50%
(cinquenta por cento) da expanso no segmento pblico, o Governo do Estado do MS expe o
quanto o financiamento previsto pelo PRONATEC favorecer a Rede estadual de Ensino a
cumprir a meta. Nesse sentido assevera:
472. Para muitos especialistas, a meta de expanso das matrculas na educao
profissional tcnica de nvel mdio, prevista no Plano Nacional de Educao 20142024, soa um tanto pretensiosa e destoada da realidade vivenciada no Brasil.
Entretanto, em Mato Grosso do Sul, a oferta crescente de cursos tcnicos demonstra
a possibilidade de atender a meta estipulada pelo PNE. Ressalte-se que, em 25 de
outubro de 2011, o governo federal instituiu o Programa Nacional de Acesso ao
Ensino Tcnico e Emprego - PRONATEC, que tem como objetivo promover a
ampliao, interiorizao e democratizao da oferta de educao profissional em
todo o pas. Esse programa tem contribudo significativamente para a trajetria
crescente dos cursos no Estado. Em 2012, a Rede Estadual de Ensino e Mato Grosso
do Sul atendeu 1.240 alunos em cursos tcnicos por meio do PRONATEC. Em
2013, esse quantitativo aumentou para 3.588 alunos, e, em 2014, j foram
computadas 960 matrculas no programa. Outras instituies tambm oferecem
vagas do PRONATEC, mas at a concluso deste trabalho os respectivos dados no
chegaram para cmputo geral. (MATO GROSSO DO SUL, 2014, p. 181)
Exercicio=2010&hidIdTipoFavorecido=&hidNumCodigoTipoNaturezaJuridica=1&CpfCnpjNis=025859240001
22&NomeFavorecido=SECRETARIA%20DE%20ESTADO%20DE%20EDUCACAO%20DE%20MATO%20
GROSSO%20DO%20SUL%20%5BSECRETARIA%20DE%20EDUCACAO%5D&valorFavorecido=1434456
0940. Acessado em 7 de setembro de 2017.
1255
8
Fonte: Plano Estadual de Educao de Mato Grosso do Sul - Texto Base, 2014/ REE-MS, 2014. Disponvel em
http://www.sed.ms.gov.br/?page_id=276. Acessado em 20 de julho de 2015.
Fonte: Plano Estadual de Educao de Mato Grosso do Sul - Texto Base, 2014/ REE-MS, 2014. Disponvel em
http://www.sed.ms.gov.br/?page_id=276. Acessado em 20 de julho de 2015.
1256
9
Podemos perceber no grfico 2 que a partir do ano de 2011, quando foi lanado o
PRONATEC, houve um aumento significativo da oferta de educao profissional ofertada
pela Rede Estadual de Ensino de Mato Grosso do Sul, se tornando, j em 2012, a rede de
ensino que mais oferta vagas na modalidade educao profissional em comparao com o
Sistema S, IFMS e com a Rede Privada. Por isso, existe certa confiana por parte do
governo do Estado de MS para atingir a meta 11 at 2018, como explicitado no trecho abaixo
do PEE- MS (2014-2024).
478. Considerando que, em Mato Grosso do Sul, 21,3 mil vagas foram ofertadas em
cursos tcnicos, nos anos de 2007 a 2009, e que 56,6 mil vagas foram
disponibilizadas de 2010 a 2013, e ainda, a trajetria crescente observada nos dados
apresentados, pode-se afirmar que h possibilidade de atingir o proposto na meta 11
do PEE-MS at 2018, com a possibilidade de superar a meta at o final da vigncia
do Plano. Para tanto, o PEE-MS prope as seguintes estratgias: (MATO GROSSO
DO SUL, 2014)
1257
10
desenvolvimento da juventude
11.5) ampliar a oferta de programas de
reconhecimento de saberes para fins de certificao
profissional em nvel tcnico
11.6) ampliar a oferta de matrculas gratuitas de
educao profissional tcnica de nvel mdio pelas
entidades privadas de formao profissional
vinculadas ao sistema sindical e entidades sem fins
lucrativos de atendimento pessoa com deficincia,
com atuao exclusiva na modalidade
11.7) expandir a oferta de financiamento estudantil
educao profissional tcnica de nvel mdio oferecida
em instituies privadas de educao superior
11.8) institucionalizar sistema de avaliao da
qualidade da educao profissional tcnica de nvel
mdio das redes escolares pblicas e privadas
1258
11
Trata-se de uma longa citao, mas necessria para entendermos as relaes que se
estabelecem por meio dos documentos legais e nos permitem observar que no mbito da
poltica pblica esse investimento na qualificao do homem para o trabalho se d atravs da
educao profissional. Frigotto (2001), afirma que a valorizao da educao profissional pelo
governo vem sendo apontada, mais uma vez, como a melhor possibilidade de alinhar o Brasil
com a nova ordem mundial. Porm, no h espao para todos, mas apenas aqueles que
desenvolvem competncias reconhecidas pelo mercado, para garantir no mais apenas o posto
de trabalho e ascenso numa determinada carreira, mas a empregabilidade.
Ainda em Frigotto, (2003) alguns fatores denotam a sujeio das polticas
educacionais aos interesses do capital, e que em determinados perodos esses fatores so
determinantes, ele defende que
Nessa perspectiva a educao e a formao humana tero como sujeito definidor as
necessidades, as demandas do processo de acumulao do capital sob as diferentes
formas histricas de sociabilidade que assumir. Ou seja, reguladas e subordinadas
pela esfera privada, e sua reproduo. (FRIGOTTO, 2003, p. 30)
Ainda sobre este assunto Frigotto, (2008, p. 10) diz que a educao tem um papel
fundamental para a evoluo do capitalismo, promovendo desigualdades entre as naes e
grupos sociais. Essa materializao ocorre por meio da educao profissional, inculcando nos
seus frequentadores que para eles conseguirem um emprego precisam se tornar cidados
produtivos, adaptados, adestrados e treinados. E, assim, a educao acaba sendo caracterizada
pelo vis economicista, fragmentrio e tecnicista.
Marise Ramos defensora da educao profissional integrada ao ensino mdio como
forma de minimizar o vis economicista, fragmentrio e tecnicista, apontado por Frigotto
(2003). Para Ramos, (2008)6 a educao profissional integrada ao ensino mdio objetiva:
Possibilitar que os sujeitos tenham uma formao que, conquanto garanta o direito
educao bsica tambm possibilite a formao para o exerccio profissional. Este
sentido equivale indissociabilidade entre educao profissional e educao bsica.
Uma ressalva ainda deve ser feita, qual seja, que mesmo os cursos somente de
educao profissional no se sustentam se no se integrarem os conhecimentos com
os fundamentos da educao bsica. Caso contrrio, seriam somente cursos de
RAMOS, Marise N. Concepo do ensino mdio integrado. Texto apresentado em seminrio promovido pela
Secretaria de Educao do Estado do Par nos dias 8 e 9 de maio de 2008. Disponvel em
<http://www.nre.seed.pr.gov.br/wenceslaubraz/arquivos/File/Currculo_integrado.pdf> Acesso em 25/06/2014.
1259
12
treinamento, de desenvolvimento de habilidades procedimentais, [...] mas no de
educao profissional. (RAMOS, 2008, p.12-13)
1260
13
3- Consideraes finais
O Plano Estadual de Educao PEE/MS (2014-2024) contemplou em vrios trechos
o ensino mdio na modalidade educao profissional em sintonia com o PNE (2014-2024) e
com o PRONATEC. O PEE/MS ao contemplar o ensino mdio na modalidade de educao
profissional garante, desse modo, a captao de recursos federal para a formao de fora de
trabalho para o mercado, atendendo demandas dos sindicatos por qualificao e formao
profissional, assim como, atende, tambm, as demandas do empresariado por profissionais
qualificados.
No trecho, Anlise Situacional do PEE-MS (2014-2024), confirma-se a importncia
que o governo do MS atribui ao PRONATEC, ao contemplar a meta11 do PNE triplicar as
matrculas da educao profissional tcnica de nvel mdio, assegurando a qualidade da oferta
em pelo menos 50% (cinquenta por cento) da expanso no segmento pblico (Brasil, 2014 p.
71).
Os indicadores de matrculas na modalidade educao profissional apresentados no
corpo desse texto, confirmam o estmulo que o PRONATEC proporcionou, se considerarmos
o avano do nmero de matriculados na modalidade educao profissional at 2014, ano de
lanamento da Lei n 13.005 de 25 de junho de 2014 (PNE 2014-2024). Podemos perceber
que o Governo do Estado do MS alinhou seu Plano Estadual, tambm aprovado em 2014,
com as metas e estratgias do Plano Nacional, mencionando, inclusive, os recursos do
PRONATEC como garantia para cumprir a meta 11 do PNE (2014-2024).
A relao que se percebe entre as estratgias para cumprir a meta 11 do PNE (20142024) estabelecidas no prprio PNE (2014-2024), assim como, no PEE-MS (2014-2024)
confirma a teoria do Estado relacional de Poulantzas (1980). Tais estratgias foram criadas
e desenvolvidas pelo governo federal no mandado da Presidente Dilma Rousseff (2011-2014),
em colaborao com os Estados, no contexto do que Harvey, (1992) chamou de fase de
acumulao flexvel do capital, e o PRONATEC sendo a poltica pblica federal de
financiamento da educao profissional, se caracteriza como a amlgama para esse sistema
de estmulo educao profissional.
1261
14
REFERNCIAS
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POULANTZAS, Nicos. O Estado, o poder, o socialismo. Rio de Janeiro: Graal, 1980.
1262
15
1263
1264
1265
1266
1267
1268
Salienta-se que o Plano Municipal de Educao (PME) 2015-2025 de CorumbMS foi aprovado pela Cmara Municipal de Corumb-MS pela Lei n 2.484, de 26 de
junho de 2015 e sancionado pelo Prefeito Municipal (CORUMB, 2015).
Quanto ao Plano Nacional de Educao, O PNE (2014-2024), Lei 13.005/2014,
no seu Art. 2 apresenta 10 (dez) diretrizes a serem seguidas pelos entes federados:
I - erradicao do analfabetismo;
II - universalizao do atendimento escolar;
III - superao das desigualdades educacionais, com nfase na
promoo da cidadania e na erradicao de todas as formas de
discriminao;
IV - melhoria da qualidade da educao;
V - formao para o trabalho e para a cidadania, com nfase nos
valores morais e ticos em que se fundamenta a sociedade;
VI - promoo do princpio da gesto democrtica da educao
pblica;
VII - promoo humanstica, cientfica, cultural e tecnolgica do Pas;
VIII - estabelecimento de meta de aplicao de recursos pblicos em
educao como proporo do Produto Interno Bruto - PIB, que
assegure atendimento s necessidades de expanso, com padro de
qualidade e equidade;
IX - valorizao dos (as) profissionais da educao;
X - promoo dos princpios do respeito aos direitos humanos,
diversidade e sustentabilidade socioambiental. (BRASIL, 2014a).
precisam
organizar-se
para
efetivar
regime
de
colaborao
e,
1269
(dezessete) anos de idade, inclusive a todos que no tiveram acesso na idade certa,
conforme Emenda Constitucional n 59 (BRASIL, 2009).
A mesma Constituio define as prioridades e competncias de cada ente
federado, no Art. 211, da seguinte forma:
A Unio, os Estados, o Distrito Federal e os Municpios organizaro
em regime de colaborao seus sistemas de ensino.
1 A Unio organizar o sistema federal de ensino e o dos
Territrios, financiara as instituies de ensino pblicas federais e
exercer, em matria educacional, funo redistributiva e supletiva, de
forma a garantir equalizao de oportunidade educacionais e padro
mnimo de qualidade do ensino mediante assistncia tcnica e
financeira aos Estados, o Distrito Federal e os Municpios (Redao
dada pela Emenda Constitucional n 14, de 1996);
2 Os municpios atuaro prioritariamente no ensino fundamental e
na educao infantil (Redao dada pela Emenda Constitucional n 14,
de 1996);
3 Os Estados e o Distrito Federal atuaro prioritariamente no ensino
fundamental e mdio (Includo pela Emenda Constitucional n 14, de
1996);
4 Na organizao de seus sistemas de ensino, a Unio, os Estados, o
Distrito Federal e os Municpios definiro formas de colaborao, de
modo a assegurar a universalizao do ensino obrigatrio (Redao
dada pela Emenda Constitucional n 59, de 2009);
5 A educao bsica pblica atender prioritariamente ao ensino
regular (Includo pela Emenda Constitucional n 53, de 2006).
(BRASIL, 1988)
1270
J estamos vivenciando o segundo Plano Nacional de Educao (PNE) 20142024, ps-Constituio Federal de 1988 e os Estados, os municpios e o Distrito Federal
se encontram espera de uma definio da Unio e/ou do Congresso Nacional de como
se dar a forma e o regime de colaborao entre os entes federados, e assim alavancar os
seus planos de educao.
Saviani (2011, p. 89-90) defende que a soluo para essa questo pendente seria
a construo do Sistema Nacional de Educao. Em suas palavras,
Penso que devemos caminhar resolutamente na via da construo de
um verdadeiro sistema nacional de educao, isto , um conjunto
unificado que articula todos os aspectos da educao no pas inteiro,
com normas comuns vlidas para todo o territrio nacional e com
procedimentos tambm comuns, visando a assegurar educao com o
mesmo padro de qualidade a toda a populao do pas
1271
Desse modo, cabe sociedade como um todo estar atenta ao cumprimento das
Metas e Estratgias aprovadas nos Planos Educacionais a serem alcanadas at o final
do decnio, em regime de colaborao, entendendo-se que a cooperao exige
entendimento mtuo entre os entes federados e a participao supe a abertura de novas
arenas pblicas de deliberao e mesmo de deciso (CURY, 2010, p. 158).
Consideraes finais
A Constituio Federal, a Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional
(LDBEN) e o PNE trazem ao longo de seus artigos que a Unio, os Estados, o Distrito
Federal e os Municpios brasileiros devem atuar em regime de colaborao para
assegurar o direito educao.
1272
1273
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1275
Resumo:
Este estudo analisou como os programas de ps-graduao em Educao tem utilizado as
bolsas de mobilidade internacional fomentadas pelos dois rgos de incentivo pesquisa
brasileiros, a Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (Capes) e o
Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPQ), dados
disponibilizados para o perodo de 2000 a 2014. A anlise dos dados visa suscitar um
questionamento sobre a oferta e a demanda por estas bolsas, verificando que ao longo
destes anos, ocorreu um aumento de 1871% das ofertas e em 2013 um uso (demanda de
atendimento) de apenas 24%. Dados importantes para a anlise do fenmeno
internacionalizao da educao superior, e de como os programas de ps-graduao,
avaliados pelo Sistema de Avaliao da Ps-Graduao (SAPG), realizado pela Capes, que
confere notas 6 e 7 para os programas que apresentarem insero internacional.
Palavras-chave: Internacionalizao, Ps-Graduao, Educao.
INTRODUO
1276
1277
1278
2004-2006
20
40
13
2007-2009
1
27
43
13
2010-2012
1
49
48
18
1279
6
7
Total de programas avaliados
5
78
5
3
95
6
3
121
2007-2009
2010-2012
1,1
0,8
6,4
29,3
39,2
16,7
46,7
38,4
51,3
14,1
14,4
25,6
5,4
4,8
3,3
2,4
2010-2012
2007-2009
2004-2006
UFMG
UERJ
UNISINOS
PUC-RIO
UFRGS
PUC-RS
USP
PUC/SP
UFSCAR
1280
Assim, sob a luz de Marx e Engels que acreditavam que inerente ao ser
humano esta motivao em fazer histria que partimos do princpio que seria necessrio
analisar como os dois principais rgos de fomento tem disponibilizado investimento para
a mobilidade internacional de pesquisadores lotados na ps-graduao brasileira e
chegamos necessidade consequente de analisarmos como estas bolsas esto sendo
utilizadas.
Analisamos os dados relacionados ps-graduao que incentivem com apoio
financeiro a internacionalizao via mobilidade para o exterior, nesta mobilidade, tanto
Capes quanto CNPq oferecem bolsas que variam de US$1.300 a US$2.300 (valores
referentes para bolsas a serem concedidas para estudo nos Estados Unidos, havendo
pequena
variao
em
relao
ao
pas
destino,
informao
disponvel
em
1281
Bolsas
no 2.250
exterior para
Cincias
Humanas
Bolsas
no 24.406
exterior para
todas as reas
% da Cincias 9,2
Humanas no
Total
de
investimento
2006
2008
2010
6.251
4.171
2.434
3.157
2.622
55.674
37.342
24.957
31.984
24.568
11,2
11,2
9,7
9.9
10,7
1.648
1.337
458
2008
2010
2012
2014
808
576
1.005
2.035
3,6
1,8
2,5
2,3
0,5
0,3
1282
2. A DEMANDA
Analisando a demanda e atendimento do CNPq em 2013 para as bolsas ofertadas,
encontramos:
Tabela 6: Demanda/ atendimento das bolsas ofertadas para Cincias Humanas em 2013
Doutorado no exterior
Doutorado sanduiche no exterior
Estgio snior no exterior
Ps-doutorado no exterior
Graduao sanduiche no exterior
total
Oferta
Para Cincias Humanas
167
72
23
209
3
474
Demanda/ atendimento
14
37
9
45
3
108
1283
CONSIDERAES FINAIS
Iniciamos esta proposta de concluso citando Cabral Neto e Castro (2015, p.
225) que apontam que nas ltimas dcadas, vem sendo constatado, no pas, um processo
crescente de expanso da ps-graduao, ancorado no argumento de que ela assume papel
preponderante na produo do conhecimento, o que consideram como importante para a
insero do pas nas novas relaes que se configuram com a intensificao da
globalizao e do processo de reestruturao produtiva (Ibdem, p. 226). , no entanto,
salientam que na rea de educao, apesar de tambm estar vivendo este perodo de
expanso da oferta e da qualidade, precisam ser melhor dimensionadas muitas lacunas,
como a assimetria entre a produo cientfica das diferentes regies brasileiras.
Assimetria dentro da prpria rea de educao e tambm entre a
representatividade das vrias reas de conhecimento frente ao fenmeno da insero
internacional de suas pesquisas e consequente participao do mercado internacional.
1284
Ou, como Mszros, em sua obra A educao para alm do capital (2008),
nos explica como sendo a expanso do sistema do capital uma das possveis razes do
incentivo internacionalizao ao expor que:
A educao institucionalizada, especialmente nos ltimos 150 anos,
serviu no seu todo o propsito de no s fornecer os conhecimentos
e o pessoal necessrio mquina produtiva em expanso do sistema do
capital, como tambm gerar e transmitir um quadro de valores que
legitima os interesses dominantes, como se no pudesse haver nenhum
alternativa gesto da sociedade, seja na forma "internacionalizada" (isto
, pelos indivduos devidamente "educados" e aceitos) ou atravs de uma
dominao estrutural hierrquica e implacavelmente impostas
(Mszros, 2008, p. 35)
1285
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Universidade Estadual de Campinas.
1286
Resumo
O artigo traz os resultados do estudo sobre o Plano Nacional de Formao de Professores da
Educao Bsica (PARFOR) e sua implantao na Universidade Estadual de Mato Grosso do
Sul. Criado com o objetivo de preencher a demanda dos docentes da rede pblica que no tem
formao superior ou para aqueles que esto h mais de trs anos na educao bsica e atuam
na rea diferente de sua formao. Para a anlise dos achados utilizamos: Souza (2014), Gatti
(2008), Garcia (2009), Silva Jnior (2003), o Plano Nacional de Educao (2001 e 2014),
Decretos n. 6.094/2007 e n. 6.755/2009, Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional n.
9.394/1996 e as Atas do Frum Estadual Permanente de Apoio a Formao Docente. Os
estudos sobre a implantao do PARFOR na UEMS apontam que ainda faltam incentivos do
governo para promover a formao continuada, pois, por serem cursos presenciais, os
professores tem que faltar nas escolas em que trabalham o que acarreta em desistncia.
Palavras-chave: 1) PARFOR; 2) UEMS; 3) formao continuada; 4) Professores.
Introduo
O presente artigo objetiva discutir a implantao do Plano Nacional de Formao de
Professores da Educao Bsica (PARFOR) na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
(UEMS) e os debates travados em relao modalidade de cursos que privilegiem a formao
presencial ou distncia na instituio.
O Plano uma ao do governo federal para suprir a demanda por formao
continuada dos professores que atuam na Educao Bsica, ou seja, professores em servio.
Primeiramente conceitualiza-se a formao continuada e os antecedentes polticos que
1287
1288
1289
ser obtida por meio de uma poltica global de magistrio, a qual implica simultaneamente, a
formao profissional inicial; as condies de trabalho, salrio e carreira e a formao
continuada. Para tal,
[...] preciso polticas permanentes de estmulo profissionalizao,
jornada nica, progresso na carreira, formao continuada, dedicao
exclusiva ao magistrio, melhoria das condies de remunerao e
garantia de condies dignas de trabalho[...]. (BRASIL, 2009).
1290
inicial, ela busca, portanto complementar, aperfeioar, atualizar o professor. Sendo assim, tal
formao visa ou deveria visar atingir fins educacionais para harmonizar com os objetivos
dos usurios da escola.
Com efeito, o momento de formao/qualificao/educao desses professores deve
ser contabilizado como horas trabalhadas, substituindo assim, perodo de trabalho docente,
por perodo de formao/qualificao/educao docente, no nterim de tempo, em que tal
ocorresse. A justificativa para tal afirmao se firma na base de que, por um lado, o
responsvel da oferta do ensino pblico o Estado, e incumbido por implantar polticas que
valorizem o magistrio. Veremos a seguir os impasses que se apresentam para os professores
cursistas que coadunam com a sua duplicao da jornada de trabalho, carregando sobre si todo
o nus de sua formao, bem como o Estado se abstm de responsabilizar-se de instituir
condies materiais para garantir a formao dos docentes.
2. Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul e o Plano Nacional de Formao de
Professores
Em Mato Grosso do Sul, os cursos oferecidos pela Universidade Estadual de MS
historicamente, se caracterizam principalmente pela rotatividade dos mesmos, promovidos de
acordo com as demandas regionais do estado, ou seja, so permanentes apenas na oferta e
temporrios na localizao. Isto se deve, principalmente, devido ao objetivo da Instituio,
que o de democratizar o acesso educao superior pblica, atendendo s necessidades
regionais, principalmente de formao de professores, com a finalidade maior de equalizar a
oferta da educao superior no Estado em oportunidades e qualidade (UEMS, 2011, p. 8).
Partindo desse conciso objetivo da UEMS, podemos comparar tal posicionamento da
instituio, com sua implantao do PARFOR de forma sria e sistemtica. Dvilla (2014),
Nucci (2013) Catanante e Brito (2014) Rodrguez e Brito (2013) apontam para a implantao
criteriosa dessa universidade para com a execuo do PARFOR, foi a primeira no estado a
abrir turmas mediante este programa.
A seguir traremos transcries das Atas do Frum Estadual Permanente de Apoio
Formao Docente, instituio responsvel por cumprir os objetivos do PARFOR em regime
de colaborao entre a Unio, os Estados, o Distrito Federal e os Municpios. Alm desse
material de pesquisa, transversalizaremos com entrevista com o coordenador geral do
PARFOR na UEMS.
1291
Dos dados coletados como resultado da entrevista e da anlise das atas das reunies do
Frum, ressalta-se um ponto importante dos cursos de formao continuada de professores: a
tendncia investir em cursos distncia:
A profa. Carla, representante do CEE, disse da importncia de se investir
mais na primeira licenciatura por ser a distncia. Quanto segunda
licenciatura, resolveu-se que o Frum formalizar uma consulta
CAPES/MEC quanto possibilidade de ser oferecida a distncia, uma vez
que, presencial, no tem apresentado muito interesse. (MATO GROSSO DO
SUL, ata 5, p. 3, 2011).
1292
1293
1294
com uma abordagem sistmica, mas o segundo termo ainda pior, pois uma tcnica fcil
de ser aprendida mecanicamente, mas uma competncia algo que o indivduo no alcanar,
ele incompetente e isso torna um desafio, pois ningum quer ser incompetente, portador
de alguma incompetncia.
O termo competncia muito utilizado para definir pessoas que no realizam o
trabalho como deveriam. Ento para a formao de professores, bem como para o resto dos
trabalhadores, esse conceito voltado para atender s necessidades da produtividade
capitalista, com o qual se produz um efeito muito mais devastador em termos de formao
que a concepo de domnio de uma tcnica, dado que se afasta completamente da formao
integral a qual implica ter conhecimentos vinculados s disciplinas de fundamentos scio
histricos, para apenas adquirir habilidades de uso estritamente tcnicos. Sob esta perspectiva,
a lgica voltada para a aferio de resultados, com intuito de avaliador, no mais nfase no
processo.
Sendo assim, formaes rpidas e no tempo em que seus cursistas disponham
sinnimo de eficincia e tem sido regulamentado por legislaes desde a LDBEN/1996, em
seu artigo 80, fixa que o Poder Pblico incentivar o desenvolvimento e a veiculao de
Bahia (2014) suscita questes relativas aos questionamentos quanto qualidade da educao na modalidade
distncia, sendo que o foco deve ser a qualidade da formao de professores, para alm da modalidade que ela
for oferecida. Ser que a modalidade formativa importa? Ser que no hora da modalidade a distncia ser
1295
1296
1297
CONSIDERAES FINAIS
1298
formao gratuita, visto que o Estado apenas garante o acesso formao, mas no oferece o
mnimo de recurso possvel para que o professor permanea em um curso presencial.
A valorizao do magistrio mediante formao continuada velada por discurso de
confirmao de demanda existente, e a nica ao tomada o oferecimento de cursos aos
professores. E o resultado eficiente para melhorar a valorizao do magistrio, assim como a
melhoria da educao pblica e os resultados numricos por formao alcanada sinnimo
de que o professor deixou de lado seu tempo livre para estudar e qualificar-se. Caindo sobre
ele todo o dispndio fsico e material de sua formao.
REFERNCIAS
1299
1300
SILVA JUNIOR, Joo dos Reis. Reformas do Estado e da educao e as polticas pblicas
para a formao de professores a distncia: implicaes polticas e tericas. Rev. Bras.
Educ. [online]. 2003, n.24, pp. 78-94. ISSN 1809-449X. Disponvel em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141324782003000300007&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Acesso em: 05 jun. 2015.
SOUZA, Valdinei Costa. Poltica de formao de professores para a educao bsica: a
questo da igualdade. Rev. Bras. Educ. [online]. 2014, vol.19, n.58, pp. 629-653. ISSN
1413-2478. Disponvel em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141324782014000800006&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Acesso em: 02 jun.
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL. Projeto Pedaggico do
Curso de Primeira Licenciatura em Educao Fsica. Oferta Especial para o Plano Nacional de
Formao de Professores da Educao Bsica. Jardim: 2010.
1301
Consideraes iniciais
1302
os
possveis
problemas
limitaes
na
produo
acadmica
no
1303
- Refere-se ao primeiro Projeto de Lei n 8.035/2010 que prope o Plano Nacional de Educao (2011-2020)
aprovado em 2014 como PNE (2014-2024)
1304
poca, foi defendida em 2012 e teve por objetivo problematizar alguns discursos que tratam
as metas educacionais do PNE (2011-2020) na mdia impressa (2009 a 2010).
Ao investigar os artigos das revistas analisadas, a autora percebeu a perspectiva da
governamentalidade neoliberal, uma vez que as revistas passam a gerir discursos e conduzir
os indivduos, construindo sujeitos para uma sociedade idealizada. A escola, enquanto
mquina de vigilncia e disciplinamento, constitui um espao de governamento do corpo e da
alma dos sujeitos, operando a partir de sua subjetividade, fazendo uso do poder que a sustenta,
uma lei neste momento, o PNE. (MARION, 2012, p. 76). Por fim, a pesquisa evidencia que a
educao vista como redentora ou vil da populao, capaz de desenvolver habilidades,
implementar a liberdade e a democracia e formar cidados.
A pesquisa realizada por Paulo Ferreira Pereira, Dissertao de Mestrado intitulada
Anlise do Plano Nacional de Educao e do Plano Municipal de Educao de Itaja por seus
nveis de consistncia e de congruncia, foi defendida em 2012 e teve por objetivo
caracterizar o nvel de consistncia interna, bem como o de congruncia entre o Plano
Nacional de Educao de 2001 e o Plano Municipal de Educao de Itaja de 2004.
A pesquisa evidenciou que, em relao consistncia interna, os dois planos
assemelhavam-se, visto apresentarem, no confronto entre as diretrizes estipuladas e as metas
propostas, um bom nvel de consistncia, exceto no captulo referente ao financiamento. Em
virtude dos vetos tanto o Plano Nacional de Educao como o Municipal no apresentam
garantias para operacionalizao do plano em sua totalidade, o que permitiu constatar que os
planos so inconsistentes em sua totalidade, uma vez que no apresentaram as condies
necessrias para a materializao dos seus objetivos gerais.
A dissertao de Mestrado de Lucy Rosa Silveira Souza Teixeira defendida em 2012,
denominada Plano Municipal de Educao de Rio Bonito: uma anlise sobre o processo de
elaborao (2007-2009), teve como objetivo analisar a elaborao do Plano Municipal de
Educao em Rio Bonito em suas mltiplas etapas.
A pesquisa aponta que durante aproximadamente dois anos (2007 a 2009), houve
disputas em torno da definio do teor do Plano Municipal de Educao. Para alguns, o
documento era um elemento fundamental na definio de polticas pblicas educacionais,
enquanto que para outros, a elaborao do PME no passava de uma atividade burocrtica,
necessria apenas para o cumprimento das determinaes legais.
A pesquisa concluiu que a Comisso Organizadora no tinha clareza do que se estava
planejando, bem como de qual era a funo de um PME. A esse respeito, a pesquisa evidencia
1305
1306
ambas
expressavam concepes
e prioridades
educacionais
distintas,
principalmente no que diz respeito abrangncia das polticas em seu financiamento e gesto.
Nessa perspectiva, a aprovao do plano foi resultado da hegemonia governamental no
Congresso Nacional que buscava traduzir a lgica das polticas governamentais em curso.
A esse respeito, o plano aprovado contou com significativas restries quanto a sua
gesto e financiamento, presenciando-se, como lgica e concepo poltica desse processo, a
interpenetrao entre as esferas pblica e privada sob a gide do mercado, o que, na prtica,
abriu espaos para a consolidao de novas formas de privatizao da educao, sobretudo da
educao superior. (DOURADO, 2010, p. 684).
Alm disso, embora o plano apresentasse metas de amplo alcance e grandes desafios
para a melhoria da educao brasileira, apresentou-se como plano formal, marcado pela
ausncia de mecanismos concretos de financiamento e organicidade oramentria.
1307
pela sociedade civil como tal. O autor destaca a importncia de se superar os limites do plano,
no que diz respeito a sua proposio e materializao, alm de ressaltar a importncia dos
processos avaliativos desenvolvidos sobre o Plano.
Nessa perspectiva de anlise, Maria da Graa Nbrega Bollmann publicou em 2010 o
artigo Revendo o Plano Nacional de Educao: proposta da sociedade brasileira cujo
objetivo foi analisar as principais iniciativas do Frum Nacional em Defesa da Escola Pblica
(FNDEP) em suas contribuies para as polticas educacionais brasileiras, em particular, ao
Plano Nacional de Educao.
A autora aponta que o FNDEP desempenhou importante papel no processo de
elaborao democrtica de um Plano Nacional de Educao, inaugurando um processo de
participao na elaborao de projetos de lei para a educao brasileira. Nessa perspectiva, o
FNDEP atuou em diferentes momentos da poltica educacional, como por exemplo, na
elaborao e tramitao do Projeto de Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional, entre
1988 a 1996, nas mobilizaes do processo de elaborao da Constituio da Repblica
Federativa do Brasil, que culminou com a aprovao, em 1988, do Captulo III, Seo I,
Educao (artigos 205 a 214).
Devido conjuntura dos anos de 1990, o FNDEP decidiu pela necessidade da
sociedade civil organizada elaborar uma proposta de educao nacional alternativa ao modelo
vigente, tanto no que diz respeito aos processos de elaborao como nos contedos.
1308
1309
Consideraes finais
1310
Referncias bibliogrficas
AGUIAR, Mrcia ngela da S. Avaliao do Plano Nacional de Educao 2001-2009:
Questes para reflexo. Educao e Sociedade, Campinas, v.31, n.112, p.707-727. jul-set.
2010. Disponvel em: <http://www.scielo.br/pdf/es/v31n112/04>. Acesso em 21 ago. 2015.
1311
SHEIBE, Leda. Valorizao e formao dos professores para a educao bsica: questes
desafiadoras para um novo Plano Nacional de Educao. Educao e Sociedade, Campinas,
v.31,
n.112,
p.988-1000.
jul-set.
2010.
Disponvel
em:
<http://www.scielo.br/pdf/es/v31n112/17>. Acesso em: 22 ago. 2015.
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anlise sobre o processo de elaborao (2007-2009). 2012. 220f. Dissertao. (Mestrado em
Educao). Universidade Federal Fluminense. 2012. Disponvel em: <http://www.ppgeducacao.uff.br/novo/index.php/component/k2/item/102-plano-municipal-de-educacao-de-
1312
1313
1314
1315
elaborao do Plano Municipal de Educao (PME), poltica que vai reger os rumos da
educao da cidade para a dcada seguinte (BRASIL, 2014).
Nesse sentido, considera-se importante que o CME alm de executar o Plano
Municipal de Educao, oriente e avalie o mesmo, mobilizando a sociedade a participar das
discusses sobre a qualidade da educao do municpio, assim como suas polticas
educacionais, para que se atinja o objetivo principal do PME que a elevao da qualidade do
ensino, sendo esta tambm uma meta para o PNE 2014-2024.
De acordo com a LDB 9.394/1996, no Artigo 14:
1316
1317
Sigla
CME
Norma de criao/competncia
Reconhecido com objetivo poltico e
estratgico de gesto, pela Lei n 10.172 de
2001, que aprovou o Plano Nacional de
Educao 2001-2011.
1318
1319
Quadro 1
Cidades do Estado de Mato Grosso do Sul que possuem o Cadastro de Conselho
Municipal de Educao
CIDADES DE
MS
1-GUA
CLARA
POSSUE CIDADES DE
MO
MS
CME?
SIM
28-COXIM
2NO
ALCINOPOLI
S
3-AMAMBAI SIM
POSSUE
MO
CME?
NO
29DEODPOLIS
NO
30-DOIS
IRMOS
BURITI
NO
DO
4ANASTACIO
SIM
31DOURADINA
NO
5ANAURILAN
DIA
6-ANGELICA
NO
32DOURADOS
SIM
NO
33ELDORADO
NO
CIDADES
DE MS
55-NOVA
ALVORA
DA
DO
SUL
56-NOVA
ANDRADI
NA
57-NOVO
HORIZON
TE
DO
SUL
58PARASO
DAS
GUAS
59PARANA
BA
60PARANH
OS
POSSU
EM O
CME?
NO
SIM
NO
NO
SIM
SIM
1320
7-ANTONIO
JOO
8APARECIDA
DO
TABOADO
9AQUIDAUAN
A
10-ARAL
MOREIRA
SIM
11BANDEIRAN
TES
12BATAGUASS
U
13BATAYPOR
NO
SIM
SIM
SIM
34-FTIMA
DO SUL
35FIGUEIRO
NO
NO
36-GLRIA
NO
DE
DOURADOS
37-GUIA
NO
LOPES
DA
LAGUNA
38-IGUATEMI NO
SIM
39INOCNCIA
NO
NO
40-ITAPOR
NO
14-BELA
VISTA
SIM
41ITAQUIRA
NO
15BODOQUEN
A
NO
42-IVINHEMA
NO
16-BONITO
NO
43-JAPOR
NO
17BRASILNDI
A
NO
44JARAGUARI
NO
18-CAARAP
SIM
45-JARDIM
SIM
19CAMAPU
SIM
46-JATE
NO
20-CAMPO
GRANDE
SIM
47-JUTI
NO
21-CARACOL NO
48-LADRIO
SIM
22-
49-LAGUNA
SIM
SIM
61-PEDRO
GOMES
62-PONTA
POR
NO
63-PORTO
MURTINH
O
64-RIBAS
DO
RIO
PARDO
65-RIO
BRILHAN
TE
66-RIO
NEGRO
SIM
SIM
SIM
NO
SIM
67-RIO
NO
VERDE
DE MATO
GROSSO
68NO
ROCHED
O
69-SANTA NO
RITA DO
PARDO
70-SO
GABRIEL
DO
OESTE
71SELVRIA
SIM
72-SETE
QUEDAS
73SIDROL
NDIA
74SONORA
SIM
75TACURU
76-
SIM
SIM
SIM
SIM
NO
1321
CASSILNDI
A
23CHAPADO
DO SUL
TAQUAR
USSU
CARAP
50MARACAJU
NO
77TERENOS
NO
24NO
CORGUINHO
51-MIRANDA
SIM
78-TRS
LAGOAS
SIM
25-CORONEL SIM
SAPUCAIA
52-MUNDO
NOVO
NO
79NO
VICENTIN
A
26CORUMB
53-NAVIRA
SIM
54-NIOAQUE
NO
SIM
SIM
27COSTA NO
RICA
Fonte: http://www.uncme.com.br/.
Analisando o quadro acima, pode-se constatar que dos 79 municpios do MS, 43 ainda
no cadastraram seus Conselhos Municipais de Educao at o momento. Cabe agora
verificar, refletir e analisar quais os desafios e motivos pelo qual os municpios no formaram
seus Conselhos Municipais de Educao e tambm cabe analisar nos municpios que j
possuem os CME, suas participaes na elaborao dos Planos Municipais de Educao, em
atendimento ao PNE 2014-2024.
Referncias
BRASIL. Constituio Federal 1988. Disponvel em:
http://www.senado.gov.br/legislacao/const/ Acesso em abr. de 2015.
BRASIL. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica. Disponvel em:
http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/uf.php?coduf=50&search=mato-grosso-do-sul&lang=.
Acesso em abr. de 2015.
BRASIL. Lei n 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educao
PNE e d outras providncias. Disponvel em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L13005.htm. Acesso em abr.
de 2015.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional. Lei n 9.394/1996. Estabelece as
diretrizes e as bases da educao nacional. Disponvel em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm > Acesso em abr. de 2015.
1322
1323
Resumo: O presente trabalho tem como objetivo apontar a funo do processo de autoavaliao no
Sistema de Acreditao Regional de Cursos de Graduao do Mercosul. O Manual de Procedimentos
explicita que a autoavaliao um processo com aes voltadas ao curso, o qual verifica o grau em
que se ajusta aos critrios de qualidade estabelecidos e acordados pelo Sistema. Para desenvolver a
autoavaliao, cada curso deve ter como referncia a Guia de autoavaliao de cursos de graduao
e as disposies sobre a sua implementao pela Agncia Nacional de Acreditao. Como
procedimentos metodolgicos, nessa investigao, foram utilizadas a reviso de literatura e a anlise
documental de carter exploratrio. Ressalta-se que a anlise emprica neste trabalho aconteceu no
processo de autoavaliao de um curso de agronomia de uma Universidade Federal brasileira
acreditado. Pode-se constatar que mesmo com o ARCU-SUL rejeitando a promoo por meio de
rankings, a agncia de acredio brasileira estabeleceu dentre as condies para a participao dos
cursos, os conceitos obtidos nas avaliaes que integram a poltica nacional, o que levou o curso
analisado a dar maior nfase, na autoavaliao, aos aspectos quantitativos favorveis relacionados s
dimenses avaliadas, caracterstica que figura como predominante nas avaliaes do Brasil.
Introduo
A garantia da qualidade tem justificado as reformas na educao superior em
diversos pases, que instituem a avaliao como um instrumento capaz de gerar a expanso
das instituies, por meio de um vis controlador e indutor de aes e resultados. Isso porque,
dentre as consequncias da globalizao para a educao, incide a implementao de reformas
educativas muito similares na maioria dos pases do mundo (OLIVEIRA, 2009; DALE,
2004).
Nesse sentido, a constituio de blocos econmicos como a Unio Europeia e o
Mercado Comum do Sul (Mercosul3), que estabeleceram modelos supranacionais de
1
1324
1325
1326
superior. Nessa perspectiva, Azevedo (2008), destaca que a avaliao e a acreditao tm uma
autntica importncia nesse processo.
Nesse contexto, como tentativa de criar medidas para a acreditao, destaca-se o
Mecanismo Experimental de Credenciamento de Cursos para o Reconhecimento de Ttulos de
Graduao Universitria nos Pases do Mercosul (MEXA), firmado em 19 de junho de 1998,
na Argentina, pelos Ministros da Educao dos Estados Partes e Associados e revisado em
2002. O MEXA teve o objetivo de implementar em carter experimental e voluntrio, um
sistema de credenciamento de cursos superiores, apoiado num processo de avaliao de pares,
com a participao de especialistas dos pases membros do Mercosul e que obedeceria a
padres de avaliao.
A partir dos resultados positivos da avaliao do mecanismo experimental, a reunio
XXXI de Ministros de Educao, realizada em 2 de novembro de 2006, em Belo HorizonteMG, Brasil, deu por concluda a fase do MEXA e aprovou o plano de trabalho orientado
elaborao de um sistema de acreditao permanente.
O Acordo sobre a criao e a implementao de um sistema de credenciamento de
cursos de graduao para o reconhecimento regional de qualidade acadmica dos respectivos
diplomas do Mercosul e Estados Associados, assinado entre os Ministros de Educao de
Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai, Bolvia e Chile considerou, dentre outras questes que
1327
Cabe registrar que embora o processo de acreditao seja comum em alguns pases
da Amrica Latina, no Brasil, o termo acreditao no utilizado para os procedimentos de
avaliao dos cursos. No entanto, o Ministrio da Educao explica a opo pela sua
utilizao especificamente para a implementao do ARCU-SUL no contexto brasileiro, uma
vez que o mesmo tem sentido prprio no mbito da poltica supranacional.
O Sistema gerenciado pela Rede de Agncias Nacionais de Acreditao (RANA),
formada pelas agncias nacionais de acreditao, entidades especficas, designadas pelo
Estado Parte ou Associado como responsveis pelos processos de avaliao e acreditao no
que diz respeito ao ARCU-SUL em seus respectivos pases.
Para a implementao do ARCU-SUL no Brasil, a Portaria n 1.004, de 13 de agosto
de 2008, designou [...] a Comisso Nacional de Avaliao da Educao Superior - CONAES
a atribuio de integrar, pelo lado brasileiro, a Rede de Agncias Nacionais de Acreditao RANA, do Setor Educacional do Mercosul SEM [...].
Posteriormente, o Ministrio da Educao, designou, por meio da Portaria MEC n
1.734, de 9 de dezembro de 2011, a CONAES, o INEP e a SERES para a integrarem a
RANA, e definiu, ainda, as seguintes atribuies:
Ressalta-se que em relao agncia brasileira, Hizume (2013) mostra que embora a
CONAES cumpra com os requisitos previstos para uma Agncia Nacional de Acreditao
(ANA), a execuo do Sistema ARCU-SUL por este rgo foi prejudicada. Dentre os motivos
explicitados pela autora esto o fato da CONAES no possuir oramento prprio nem de
outras fontes de financiamento para arcar com os gastos relativos visita de pares, estando
sua dotao oramentria atrelada sua subordinao ao Ministrio da Educao, e no contar
com corpo de funcionrios mnimo para realizar os processos avaliativos. Conforme a autora,
1328
ainda, a falta de condies da CONAES para atuar como ANA foi objeto indiretamente de
nota da Comisso Regional Coordenadora da Educao Superior (CRC-ES) do bloco.
A Reunio de Ministros de Educao do Mercosul define quais titulaes sero
acreditadas e a deciso de emitir convocatrias para as titulaes definidas ocorre por acordo
entre os pases na RANA. Cada Agncia Nacional realiza o chamado para as titulaes
especficas, seguindo as diretrizes definidas pela RANA e informando s instituies de
educao superior, contempladas na convocatria, os requisitos que devem cumprir para
incorporar-se ao processo. Segundo consta na pgina eletrnica do Sistema ARCU-SUL, at o
incio de 2015 foram realizadas 15 convocatrias para acreditao distribudas entre
Argentina, Brasil, Chile, Colmbia e Uruguai.
O Acordo de criao e implementao do ARCU-SUL determina, dentre as diretrizes
operacionais do Sistema, que a avaliao para a acreditao deve compreender a totalidade do
curso, considerando, para todos os diplomas, no mnimo, os seguintes aspectos: contexto
institucional, projeto acadmico, recursos humanos e infraestrutura (MERCOSUL, 2008a).
Segundo o referido Acordo, ainda, o processo de acreditao envolve a
considerao do perfil do graduado e dos critrios regionais de qualidade em uma
autoavaliao, uma avaliao externa por comits de pares e uma resoluo de
credenciamento
de
responsabilidade
da
Agncia
Nacional
de
Credenciamento
(MERCOSUL, 2008a).
Para informar sobre as etapas que configuram o processo de acreditao do ARCUSUL, bem como, os tempos estabelecidos para as fases do mesmo, foi elaborado o Manual de
Procedimentos do Sistema.
De acordo com o Manual de Procedimentos, o processo de autoavaliao requer um
conjunto de aes, atravs das quais o curso candidato acreditao verifica o grau em que se
ajusta aos critrios de qualidade estabelecidos e acordados pelo Sistema. O curso deve
indicar, ainda, o grau em que alcana suas prprias metas e propsitos. Para tanto, o
documento aponta alguns elementos que devem ser levados em conta para o xito do processo
de autoavaliao: compromisso das autoridades; liderana, consenso e participao; clareza e
transparncia; qualidade e pertinncia da informao.
Para desenvolver a autoavaliao, que deve ser uma prtica permanente nas
instituies de educao superior, cada curso deve ter como referncia a Guia de
autoavaliao de cursos de graduao e as disposies sobre a sua implementao pela
Agncia Nacional de Acreditao. Para cada um dos cursos, quais sejam Agronomia,
Arquitetura, Enfermagem, Engenharia, Medicina, Medicina Veterinria e Odontologia, foi
1329
Projeto Acadmico
Comunidade
Universitria
Infraestrutura
Plano de estudos.
Estudantes.
Infraestrutura fsica e
logstica.
Processos de ensino
aprendizagem.
Graduados.
Biblioteca.
Investigao e
desenvolvimento
tecnolgico.
Docentes.
Instalaes,
laboratrios, campos e
instalaes
experimentais.
Polticas e Programas
Extenso, vinculao e
de bem estar
Pessoal de apoio.
cooperao.
institucional.
Fonte: Elaborado pelas autoras a partir da Guia de Autoevaluacin para carreras de Agronomia
Sistema ARCU-SUR (MERCOSUL, 2008b).
1330
1331
primeiro ciclo de acreditao, foi definido que poderiam ser acreditados at 20 cursos de
Agronomia e 20 cursos de Arquitetura brasileiros pelo ARCU-SUL, sendo que o processo
realizada pela ANA brasileira teve validade apenas a partir de 2013.
Como as agncias nacionais podem considerar aspectos das avaliaes realizadas
nacionalmente, o Convite para os cursos brasileiros estabeleceu como condies de
participao para os cursos brasileiros:
As diretrizes nacionais complementares para as candidaturas dos cursos
so: ter carter universitrio (desenvolver atividades de ensino, pesquisa e
extenso); ter pelo menos 10 (dez) anos de funcionamento; e, participar dos
processos avaliativos do Sistema Nacional de Avaliao da Educao
Superior SINAES.
Para efeito de seleo dos cursos que participaro da acreditao pelo
Sistema ARCU-SUL, dentre os inscritos, a CONAES considerar o seguinte
ordenamento: ter sido acreditado pelo Mecanismo Experimental de
Acreditao MEXA; antiguidade do curso; conceitos obtidos nas
avaliaes que integram o SINAES; histrico das avaliaes. (BRASIL,
2009)
O Sistema acreditou 46 cursos de Agronomia, sendo que o Brasil foi o pas com o
maior nmero, 17 cursos, com acreditao vigente at o ano de 2019, pertencentes a
universidades pblicas federais e estaduais e uma universidade privada, a saber: Universidade
de Braslia; Universidade Federal de Uberlndia; Universidade de Passo Fundo; Universidade
Estadual de Maring; Universidade Estadual de Montes Claros; Universidade Estadual de
Ponta Grossa; Universidade Estadual do Oeste do Paran; Universidade Estadual Paulista
Jlio de Mesquita Filho (Jaboticabal); Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho
(Ilha Solteira); Universidade Federal da Grande Dourados; Universidade Federal de Gois;
Universidade Federal de Lavras; Universidade Federal de Santa Maria; Universidade Federal
de Viosa; Universidade Federal do Paran; Universidade Federal do Rio Grande do Sul;
Universidade Tecnolgica Federal do Paran.
Para este trabalho, foi analisado o Informe de Autoavaliao7 de um curso
acreditado pela agncia brasileira, na rea de agronomia, disponibilizado na pgina eletrnica
da universidade federal a qual o curso vinculado. A anlise do Informe de Autoavaliao
ponderou dentre outros aspectos, como o curso, em sua avaliao sobre o atendimento dos
critrios de qualidade do ARCU-SUL, contemplou as propriedades necessrias para a
O documento que apresenta o texto da Autoavaliao do curso em anlise contempla as informaes
referentes ao perodo de 2009 a 2011 e foi construdo a partir do Formulrio de Coleta de Dados e
Informaes, disponibilizado ao Sistema ARCU-SUL em abril de 2012.
7
1332
1333
1.14. Autoavaliao
A Faculdade, em sintonia com a Secretaria de Avaliao Institucional (SAI),
tem um Ncleo de Avaliao da Unidade (NAU), integrado por professores,
servidores e discentes, para atendimento do processo de autoavaliao,
contemplando aspectos acadmicos, de infraestrutura, de apoio aos
estudantes, de condies de trabalho e de gesto ambiental. Como exemplo,
pode-se citar o esforo conjunto, dedicado para a reformulao do currculo
1334
1335
Consideraes
Ainda que a avaliao realizada para acreditao pelo ARCU-SUL, cuja participao
das instituies e cursos voluntria, seja resultado de um processo de avaliao sem o
ranqueamento, a ANA brasileira estabeleceu dentre as condies para a participao dos
cursos, os conceitos obtidos nas avaliaes que integram o SINAES. Essa condio parece ter
influenciado o curso analisado a destacar, na autoavaliao, os aspectos quantitativos
favorveis relacionados s dimenses avaliadas, caracterstica que figura como predominante
nas avaliaes do Brasil.
Nesse sentido, as constataes acerca da nfase do curso brasileiro no ENADE
provocam indagaes sobre como as demais agncias nacionais de acreditao definiram as
condies para a participao dos seus cursos, uma vez que a literatura da rea aponta que
para o estudo do Sistema do Mercosul preciso considerar como a dinmica poltica interna
dos pases pode interferir na elaborao e na implementao das polticas supranacionais.
Dessa forma, as reflexes acerca dos dados levantados neste trabalho demandam
pesquisas mais aprofundadas tanto sobre a autoavaliao de outros cursos brasileiros, como
tambm sobre como esse processo realizado pelos cursos acreditados por outras agncias
nacionais, no mbito do ARCU-SUL.
Referncias
AZEVEDO, Mrio Luiz Neves. A formao de espaos regionais de educao superior: um
olhar meridional para o MERCOSUL. Avaliao, Campinas, v. 13, n. 3, p. 875-879, nov.
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1336
1337
1338
Introduo
Este artigo tem o propsito de expor o estudo sobre as abordagens tericas a respeito
do livro didtico que so disponibilizados para as escolas pblicas, por meio das polticas
pblicas de educao implementadas pelo Estado no Brasil nas ltimas dcadas do sculo XX
e nos anos iniciais do sculo XXI, como o caso do Programa Nacional do Livro Didtico
(PNLD). Considerando a existncia de um universo bastante vasto e variado de pesquisas j
produzidas no mbito das universidades brasileiras focalizou-se o estudo apenas na anlise de
artigos de peridicos e anais de eventos cientficos publicados na dcada de 1990 e nos anos
2000.
Para promover o estudo foram utilizados alguns procedimentos metodolgicos que
permitiram organizar e descrever os aspectos primordiais da pesquisa. So eles: a) busca nas
bases de dados disponveis nos stios de instituies de ensino superior do Brasil, com a
finalidade de fazer uma triagem de artigos cientficos que versam sobre a temtica; b) seleo
de um conjunto significativo de artigos; c) elaborao de planilhas e quadros para catalogar e
organizar o material coletado; f) realizao de leitura e anlise dos artigos, com o propsito de
destacar os aspectos pertinentes, levando em considerao os fundamentos tericometodolgicos que embasaram a investigao. Na anlise do material foram priorizados
quatro aspectos: o livro didtico, as polticas do livro didtico promovidas pelo Estado, o
Programa Nacional do Livro Didtico e o mercado editorial.
Tendo como pressuposto que a cincia uma produo histrica, ou seja, resultado
do trabalho desenvolvido pelos homens, em diferentes pocas, para atender necessidades
concretas (FIGUEIRA, 2002, p. 103-105), partiu-se do princpio que, para compreender a
questo do livro didtico essencial se fazer, inicialmente, uma anlise da produo
disponvel, para o conhecimento das diferentes abordagens terico-metodolgicas a partir das
1339
quais o tema foi tratado. Assim, ento, foi possvel estabelecer um dilogo com os autores,
fazer contraponto com a perspectiva de investigao adotada e evidenciar possveis lacunas
no campo dos estudos acadmicos.
No Brasil, possvel identificar grupos, projetos e centros de investigao sobre o
tema, vinculados a universidades como UNICAMP, USP, PUC/SP, UFMG, UFRGS. As
diferentes pesquisas tm procurado colocar a questo do livro didtico, no centro do debate
sobre as polticas pblicas e a histria da educao. Diante do estudo realizado, pode-se
afirmar que o tema livro didtico tem mobilizado a ateno de muitos estudiosos tanto no
Brasil como em outros pases do mundo, como por exemplo, Frana e Espanha.
Total de artigos/base de
dados
16
SCIELO
13
09
04
Total Geral
42
1340
O livro didtico, de uma forma geral, colocado pelos autores de grande parte dos
artigos analisados, como um recurso pedaggico que ocupa uma posio central no trabalho
didtico desenvolvido em sala de aula, nos tempos atuais. Muitos autores fazem questo de
ressaltar que o livro didtico apresenta uma srie de problemas que contribuem para
depreciao da sua qualidade. Dentre esses problemas, esto os seguintes: fragmentao e
simplificao de contedo, erros conceituais, contedos desatualizados, contedos
desvinculados do contexto do aluno, inadequao metodolgica, inconvenincia do projeto
grfico-editorial. Alm disso, restringiria a autonomia do professor, no atenderia a realidade
regional e local do aluno, seria portador de ideologias tnico-raciais e de classe, entre outras
observaes.
Embora os estudiosos concordem que o livro didtico um recurso que tem muitas
deficincias, com raras excees, encontram-se autores que afirmam de maneira categrica a
necessidade de superao desse instrumento de trabalho do professor, to exaltado nas
discusses promovidas no mbito da pedagogia moderna. Alguns autores ponderam que os
professores brasileiros, muitos deles com formao profissional precria, ainda precisam do
apoio do livro didtico para ministrar suas aulas. Outro argumento desses ltimos autores
que muitos alunos, das escolas pblicas do Brasil, tm apenas o livro didtico como material
para leitura e acesso ao conhecimento. Nesse sentido, eles salvam o livro didtico.
Na leitura de trechos dos artigos analisados e transcritos a seguir possvel
vislumbrar as diferentes concepes e posies de alguns autores a respeito do livro didtico.
Centeno (2009), ao estudar os manuais didticos do componente curricular Histria
do Brasil, faz crticas incisivas sobre a utilizao desse instrumento de trabalho do professor,
sugerindo inclusive a sua superao, visto que eles no propiciam aos estudantes o acesso ao
fazer cientfico. A autora indica, ainda, a incorporao de outros instrumentos de trabalho,
para se ministrar o componente curricular de Histria do Brasil, nas escolas.
1341
Bittencourt (2004), em outra abordagem, realiza uma anlise do perfil dos autores de
livros escolares, ressaltando as implicaes da atuao e do itinerrio de produo percorrido
por eles, no contexto da histria das obras didticas no Brasil, entre 1810 a 1910. A
pesquisadora explicita outras questes como: o papel dos editores, a funo das empresas
responsveis pela publicao dos compndios e livros de leitura, a atuao do poder estatal na
aprovao das obras que poderiam circular nas escolas, o pblico para quem se destinavam os
livros, as caractersticas e as funes que os livros didticos assumiram no transcorrer do
referido perodo. No final do artigo, Bittencourt afirma que o livro didtico um
significativo objeto cultural, que traz em sua trajetria histrica as marcas da escola
moderna.
1342
Gatti Jnior (2004), em seu artigo, realiza uma anlise acerca do papel e do perfil dos
editores de livros didticos de Histria do Brasil, no perodo de 1970 a 1990, tendo como base os
depoimentos coletados. O autor conclui que os livros didticos dessa disciplina escolar, nesse perodo,
passaram por um processo de melhoria da qualidade, no que se refere aos contedos que, segundo ele,
tornaram-se mais crticos e completos, como ainda, na parte de edio, por meio do uso de quatro
cores e papel de alta qualidade.
Na anlise do conjunto dos artigos selecionados, foi constatado que eles expressam
diferentes enfoques terico-metodolgicos sobre o tema livro didtico. No entanto, possvel
afirmar, que existe atualmente no Brasil uma perspectiva terica que pode ser considerada
predominante (hegemnica) no meio acadmico1. Esta perspectiva tem seus fundamentos em
uma linha de abordagem denominada histria cultural e sociologia da cultura 2. Autores
franceses como Andr Chervel, Roger Chartier, Pierre Bourdieu, Jean Claude Forquin,
Dominique Julia, Alain Choppin so considerados uma referncia basilar. Entre os
pesquisadores brasileiros que comungam desta orientao terica encontram-se autores de
renome nacional, quais sejam: Circe Bittencout, Dcio Gatti Jnior, Kazumi Munakata,
Arlette Medeiros Gasparello, Vera Teresa Valdemarin, Rosa Ftima de Souza. Boa parte dos
artigos que compem o grupo de anlise, e que apresenta estudos sobre o livro didtico
fundamentada, teoricamente, a partir das obras produzidas por esses autores.
O livro didtico, para os autores que seguem a perspectiva de abordagem referida
anteriormente, entendido como um artefato que comporta a cultura escolar de um
determinado perodo histrico. Por isso, o livro didtico considerado um material importante
1
Silva (2006, p. 88), no estado da arte realizado em sua tese de doutorado, tambm concluiu que, em boa parte
das pesquisas desenvolvidas mais recentemente sobre o livro didtico, seguem uma abordagem cultural. Essa
linha de investigao, segundo a autora, orientada pelas reflexes de autores como Roger e Anne Marie
Chartier, Robert Darton, Jean Hbrard, dentre vrios outros. Esses autores tomam os livros escolares, em
especial os didticos, a partir de uma perspectiva mais ampla, da histria do livro, valorizando aspectos ainda
pouco estudados, como os da sua materialidade, a sua produo e a circulao dessas obras.
2
Faria Filho et al.(2004, p 139-159) realizam um estudo que ajuda compreender os diversos arcabouos tericos
referentes s diferentes concepes de cultura escolar, os quais servem de fundamento s pesquisas
desenvolvidas na rea da Histria da Educao no Brasil.
1343
para os pesquisadores das prticas culturais que constituem a histria das instituies
escolares. Observar-se que os adeptos dessa vertente no descartam aspectos como: o
processo de produo e circulao dos livros, a questo do mercado editorial, a poltica do
livro didtico. Porm, fica evidente que o foco central desses estudiosos o livro escolar
como um documento portador da cultura escolar3. Seguem alguns excertos dos artigos, cujos
autores perfilam na abordagem da histria cultural, para melhor percepo do significado
atribudo por eles ao livro didtico.
Compreendendo o livro como um auxiliar do ensino da lngua portuguesa e
como um objeto cultural, esta investigao objetivou delinear as diferentes
faces do livro de leitura e seu uso na escola considerando o contedo, a
finalidade, o formato, a autoria, buscando, dessa maneira, fazer a insero
entre a histria das disciplinas escolares e a histria da leitura (OLIVEIRA e
SOUZA, 2000, p. 25-26).
Nos ltimos anos, tem crescido o nmero de trabalhos que, realizados
sobretudo no campo da histria da educao, tem tomado o livro escolar
como objeto de pesquisa. Nesses trabalhos, ao contrrio do que ocorria h
alguns anos, o livro tem sido analisado predominantemente como um
artefato cultural e no apenas como um suposto reprodutor da ideologia
dominante, como construtor de projetos de nao ou simplesmente como
fonte de pesquisa (GALVO, 2005, p. 1).
Ao analisar as cartilhas como artefato cultural, discuto suas posies e
relaes, em uma cadeia de produo cultural, na medida em que os artefatos
culturais no interessam por si mesmos, mas pelo sentido que recebem nas
prticas culturais e ao constituir outras mais. Nos estudos culturais, h um
redobrado interesse pelas prticas e pelos artefatos culturais. Podemos
examinar, ento, as cartilhas como artefatos que cristalizam de certa forma
significados e representaes de determinadas pocas e de diversos grupos
em cada poca. Podemos examinar tambm em que cadeias de produo
cultural elas se situam (FAVIERO, 2003, p. 1).
Nesse caso, o livro didtico no visto como instrumento que se constitui no interior das relaes sociais
travadas num determinado momento histrico. Segundo Alves (2010, p. 56), os estudos sobre manuais didticos
realizados pelos pesquisadores da cultura escolar, como tambm, aqueles que visam demonstrar a presena de
ideologia tm abordado esse material como coisa. Ou seja, tratam o manual didtico fora da relao educativa.
1344
A Revista HISTEDBR on-line, nmero especial, de maio de 2010 publicou uma coletnea de artigos que
versam sobre o trabalho didtico e o manual didtico na referida abordagem. Os artigos sobre essas temticas so
assinados por pesquisadores integrantes do Grupo de Trabalho do HISTEDBR de Mato Grosso do Sul.
5
Ver ALVES, Gilberto Luiz. A produo da escola pblica contempornea. Campo Grande, MS: Ed. UFMS;
Campinas, SP: Autores Associados, 2001.
1345
alimentar o mercado editorial. Neste caso, o manual didtico entendido como uma
mercadoria qualquer que circula no interior da sociedade capitalista.
Procurando ser coerente com o referencial assumido, o grupo de pesquisadores
pleiteia a superao do manual didtico, como forma de criar uma nova didtica que, dentre
outras questes, esteja pautada na riqueza cultural da humanidade (ALVES, 2001, p. 246247). O manual didtico, conforme os autores, um instrumento que expressa a vulgarizao
do conhecimento que hoje oferecido aos estudantes que frequentam a escola pblica. Os
excertos abaixo explicitam, com clareza, a concepo e o posicionamento dos pesquisadores
acerca do manual didtico: instrumento central de trabalho do professor moderno.
1346
Outra questo colocada em pauta pelos autores dos artigos selecionados que tratam
da poltica do livro didtico a relao que se estabelece entre o Estado e os grupos de
editoras na operacionalizao do Programa Nacional do Livro Didtico. Para demonstrar o
desempenho do programa, quanto distribuio desse material escolar, so apresentados
dados estatsticos que expressam o nmero de obras didticas compradas pelo governo (hoje
MEC/FNDE), o total de escolas e alunos contemplados com esse material e o quantitativo de
recursos transferidos para os cofres dos grupos de editoras. O Estado, apontado pelos autores
1347
como o maior comprador de livros didticos, gasta cifras expressivas que, com frequncia,
ficam concentradas nas mos de poucas editoras (tica, Scipione, Saraiva, Moderna, FTD)
que monopolizam a indstria desse recurso pedaggico (HFLING, 2000, p. 164-167).
A avaliao do livro didtico pelas comisses de especialistas convocadas pelo
Ministrio de Educao constitui, ainda, outro ponto de discusso dos autores que tratam das
polticas educacionais sobre a disponibilizao desse material didtico s escolas no Brasil.
Este assunto, considerando o estudo feito a partir dos artigos cientficos selecionados, tem
despertado o interesse de um nmero grande de pesquisadores. So muitos os trabalhos
voltados para a investigao do processo de avaliao pedaggica do livro didtico
coordenado pelo Ministrio de Educao (constituio das comisses avaliadoras, elaborao
dos Guias de Livros Didticos, critrios de avaliao, impacto da avaliao dos livros no
mercado editorial brasileiro, entre outros), como ainda o processo de escolha dos livros pelos
professores das escolas pblicas (participao dos docentes na escolha, uso do Guia de Livros
Didticos).
O discurso ideolgico que permeiam os textos dos livros didticos, embora com
frequncia bem reduzida, foi outro tema adotado pelos autores dos artigos cientficos
selecionados. Rosemberg, Bazilli e Silva (2003), em um dos poucos artigos encontrados,
realizaram uma reviso das produes acadmicas brasileiras sobre expresses de racismo
em livros didticos e formas de combate, no perodo de 1981 a 1998, tendo como referncia a
base de dados da Associao Nacional de Ps-Graduao em Educao (ANPED).
Considera-se relevante registrar, ainda, nesse trabalho que, no levantamento dos
artigos cientficos para anlise, constatou-se a presena de um nmero relativamente pequeno
de autores que se propem a desenvolver um debate sobre o uso do sistema apostilado como
um recurso didtico adotado pelas escolas pblicas do Brasil. No foi encontrado um conjunto
expressivo de artigos cientficos que abordam, por exemplo, o avano que a imprensa
nacional tem atribudo aos grupos privados como: Positivo, Anglo, COC Objetivo, UNO em
direo s redes pblicas de ensino, principalmente no ensino fundamental e na educao
infantil. No entanto, no parece ser um tema que possa ser desprezado. Os stios desses
sistemas de ensino informam, com frequncia, que os gestores das instituies escolares,
principalmente da rede municipal do Estado de So Paulo, tm recorrido aos seus servios e
aos seus pacotes didtico-pedaggicos que envolvem, entre outros, apostila para os alunos,
manual orientador para os professores, kits tecnolgicos, materiais com simulados para o
Exame Nacional do Ensino Mdio (ENEM), portal com inmeras informaes.
1348
Arruda et al. (2008), em um dos poucos estudos que procura explicar o processo de
comercializao de materiais didtico-pedaggicos no movimento da sociedade capitalista
contempornea, realizam uma pesquisa em uma capital brasileira de mdio porte (Campo
Grande, Mato Grosso do Sul), cujos resultados indicam uma tendncia de expanso
crescente do mercado de servios educacionais, dentre eles a oferta de material didtico
apostilado, produzido pelos Sistemas de Ensino, para a rede pblica e escolas particulares,
considerando o aumento do nmero de alunos matriculados na educao bsica, nas ltimas
dcadas no Brasil. Afirmam as autoras:
Consideraes finais
Tendo como referncia o estudo realizado a partir de um conjunto de artigos
cientficos selecionados em Revistas impressas e em plataformas eletrnicas (SCIELO,
1349
HISTEDBR, ANPED) foi possvel fazer um mapeamento das abordagens e das temticas
priorizadas pelos pesquisadores da academia a respeito da questo do livro didtico, enquanto
um material que tem sido adquirido e distribudo s escolas pblicas pelo Estado brasileiro,
nas ltimas dcadas do sculo XX e nos anos iniciais de 2000.
Como j se colocou anteriormente, uma abordagem tem se revelado predominante
entre os estudiosos brasileiros que tratam do tema investigado, qual seja, a histria cultural.
Nesta perspectiva o livro didtico compreendido como um objeto que carrega a cultura de
um perodo da sociedade. Autores renomados como Bittencourt, Gatti Jnior, Munakata,
Valdemarin so filiados a esta corrente terica. No entanto, verificou-se a presena de outras
perspectivas, como por exemplo, aquela pleiteada pelo grupo do HISTEDBR, unidade de
Mato Grosso do Sul que busca explicar o manual didtico no mbito do trabalho didtico
desenvolvido nas escolas numa determinada poca histrica. Neste caso, o manual didtico,
compreendido a partir da sua historicidade. Isto , deve-se levar em considerao a funo do
manual didtico enquanto um instrumento que utilizado para mediar o processo educativo
(relao professor e aluno/alunos) necessrio para atender as demandas prprias da
organizao da sociedade. O livro didtico abordado, tambm, como um material que tem
relao com as polticas de educao engendradas no mbito do Estado para atender os alunos
das escolas pblicas.
A anlise dos artigos selecionados permitiu, ainda, constar os principais recortes
adotados pelos autores quando fazem a discusso acerca do livro didtico. Dentre eles
encontram-se os seguintes: polticas pblicas de educao empreendida pelo Estado
(Programa Nacional do Livro Didtico), mercado editorial do livro didtico e sua relao com
o Estado, ideologia que permeia os livros didticos e avaliao dos livros didticos pelo
Ministrio da Educao e pelos professores.
Para finalizar, oportuno ressaltar que, a questo do livro didtico um tema que
tem merecido a ateno de muitos pesquisadores do Brasil e de outros pases nos ltimos
tempos. Como foi assinalado, ao desenvolver o presente estudo, encontrou-se um nmero
expressivo de artigos cientficos onde seus autores procuram de alguma forma, abordar essa
questo. Alm disso, encontraram-se tambm dissertaes, teses e livros que tratam
especificamente sobre o livro didtico e a respeito do Programa Nacional do Livro Didtico
(PNLD).
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1352
INTRODUO
1353
1354
1355
o destaque a elementos internos que vo para alm dos professores e alunos, como a
Associao de Pais e Mestres(APM) de personalidade jurdica prpria, de direito privado e
interno, sem fins lucrativos que visa a promoo de um melhor entrosamento entre os
participantes do processo educativo. (MATO GROSSO DO SUL, 2012, p. 22)
O Grmio Estudantil/Agentes Jovens-ProEMI/PJF atua como uma instituio civil
congregada por estudantes da escola, visando organizar, representar e defender os interesses
individuais e coletivos dos mesmos. (Id., ibid.). Os Agentes Jovens-ProEMI/PJF 1 atuam como
protagonistas na interlocuo com toda a comunidade escolar, buscando a conquista dos
objetivos pactuados como melhoria da qualidade de ensino e diminuio dos altos ndices de
evaso e faltas no Ensino Mdio. Considerado essencial para o xito das aes do Jovem de
Futuro, o Agente Jovem 2 atua como protagonista do processo de mobilizao da comunidade
escolar. Contribui para a conquista de objetivos pactuados, como a melhoria da qualidade do
ensino, dos ndices de frequncia e do clima coletivo, compartilhando desafios e as metas
estabelecidas no planejamento estratgico da instituio. Os estudantes promovem e divulgam
aes relacionadas ao projeto, alm de atividades culturais, esportivas e vinculadas
preservao do meio ambiente.
Ao desempenharem essas tarefas, tornam-se agentes de mudana, sendo vistos
como exemplos a serem seguidos pelos colegas. Por isso, essa formao de Agentes Jovens
visa fortalecer o papel mobilizador e articulador dos alunos nas escolas, alm de ampliar a sua
atuao participativa e cidad na comunidade escolar. Os Agentes Jovens so,
preferencialmente, representantes e lderes de turma do Ensino Mdio ou eleitos pelos alunos
para represent-los. Os candidatos devem ser comunicativos, ter esprito de equipe,
capacidade de liderana junto ao grupo e um bom relacionamento com gestores e professores.
Para desempenhar esse papel, participam de encontros de capacitao, recebendo uma
O Projeto ProEMI/PJF( Projeto Jovem de Futuro) centraliza-se na gesto e na avaliao de resultados, com
nfase no planejamento e monitoramento, utiliza-se de metas e indicadores ao prestar apoio s polticas pblicas
do Estado. Tem por objetivo promover apoio tcnico e financeiro s escolas de Ensino Mdio com vistas ao
fortalecimento e desenvolvimento de propostas curriculares inovadoras. Ainda, o de expandir o atendimento e
melhorar a qualidade do ensino mdio, bem como desenvolver e reestruturar o ensino mdio no profissional, de
forma a combinar formao geral, cientfica, tecnolgica, cultural e conhecimentos tcnico-experimentais.
2
Considerado essencial para o xito das aes do Jovem de Futuro, o Agente Jovem atua como protagonista do
processo de mobilizao da comunidade escolar. Contribui para a conquista de objetivos pactuados, como a
melhoria da qualidade do ensino, dos ndices de frequncia e do clima coletivo, compartilhando desafios e as
metas estabelecidas no planejamento estratgico da instituio.
1356
Objetivo geral: Contribuir para que os jovens concluam o ensino mdio com
qualidade. Objetivos especficos: Desempenho dos jovens do ensino Mdio
melhorado. Permanncia dos jovens na escola. Metas: Aumentar em 25 pontos a
proficincia mdia da escola em Lngua Portuguesa e Matemtica, em trs anos.
Diminuir em 50%o percentual de estudantes no padro de desempenho baixo, na
escala SAEB de Ensino Mdio, em trs anos. Resultados esperados: Estudantes com
competncias e habilidades em Lngua Portuguesa e Matemtica, desenvolvidas.
Estudantes com alto ndice de frequncia. Professores com alto ndice de frequncia.
Prticas pedaggicas melhoradas. (MATO GROSSO DO SUL, 2012. pp15-16)
Alves (2005) afirma que ao se produzir uma forma histrica de educador e uma
forma histrica de estudante, produz-se tambm os recursos didticos, ou a mediao de tais
recursos que envolve os procedimentos tcnico-pedaggicos do educador, as tecnologias
educacionais que esto relacionadas prticas pedaggicas, como tambm os contedos
programados que servem formao dos educandos.
1357
Como
facilitadores
do
processo
de
ensino-aprendizagem
para
Livro Didtico O livro didtico constitui em patrimnio pblico que deve ser
entregue aos responsveis pelo estudante (menor de idade), quando maior ao prprio
estudante. Por se tratar de patrimnio pblico, os livros, no consumveis, entregues
e/ou aos pais e estudante devem ser devolvidos ao final de cada ano letivo, em bom
estado de conservao. A no devoluo implica em prejuzos para si e para os
demais estudantes, uma vez que os livros didticos entregues sero repassados a
outros estudantes, conforme legislao vigente. (MATO GROSSO DO SUL, 2012.
P. 27).
1358
show), mouse (sem fio) Hubs USB, caixas de som, fones de ouvido sem fio, microscpio
com interfaces para televiso, vdeo e computador, tela de projeo, lousa interativa,
telescpio e outros (MATO GROSSO DO SUL, 2012, p. 41), cabendo ao professor gerente
da sala de tecnologias e recursos miditicos o gerenciamento de tais recursos.
Como articuladora de todos os elementos do processo educativo est a
metodologia do currculo, que permite conhecer os limites de cada aluno e possibilita
estabelecer aes que visem melhoria a qualidade de ensino, o que requer do professor a
capacidade de ressignificar saberes antigos, como ler, escrever, falar, contar, calcular e valerse de tais recursos para analisar e compreender o mundo.
O currculo escolar pode ser compreendido como o planejamento das aes
escolares que possibilitaro ao educando uma real compreenso das necessidades sociais e das
diversas possibilidades de conhecimentos e aos professores e gestores a organizao do
trabalho pedaggico. O currculo direciona o trabalho escolar de maneira que as atividades
desenvolvidas possam caminhar para o desenvolvimento da pesquisa e do trabalho cientfico,
valorizar a importncia do trabalho escolar como elemento necessrio ao desenvolvimento
cultural, que ocorre para o desenvolvimento humano em geral. (SAVIANI,1991, p.105).
A LDB/1996 define em seus princpios e finalidades no Art. 2 que o ato de
educar : preparar o indivduo para o seu desenvolvimento, para a cidadania e para o
trabalho. O currculo no se elabora no vazio, pressupe a representao do universo do
conhecimento armazenado e da escola que atenda perspectiva de uma cultura.
O currculo no pode ser concebido como algo inaltervel, como a cultura no
pode ser compreendida como esttica, porque pressupe ser a prtica das relaes sociais de
qualquer natureza, centradas nas relaes de poder. Assim, tambm, o currculo.
O currculo o conjunto das atividades desenvolvidas pela escola e, portanto tudo
o que ela faz para promover o acesso ao saber elaborado. a partir desta compreenso de
currculo que a especificidade da educao ganha uma importncia ainda maior, porque o
papel da escola fica definido mais claramente quanto formao do cidado e sua
participao na sociedade. Compreender a posio que a escola ocupa no papel de mediadora
da construo do saber elaborado compreender, de fato, o significado de educar.
A LDB/1996 em seus artigos 22 ao 36 determina sobre a organicidade da
educao bsica e estabelece quais so os contedos curriculares obrigatrios. A
complexidade do currculo, aliada s tecnologias, possibilitam o deslocamento do eixo da
pedagogia do ensino enciclopdico para os processos de aprendizagem real/virtual, processos
1359
Ingls;
Sala
9:
Histria/Filosofia/Sociologia;
Sala
10:
Sociologia/Filosofia/Histria; Sala 11: Geografia. A unidade escolar contm doze (12) salas
de aula ambiente com a mdia de trinta (30) conjuntos escolares, em cada sala h ventiladores
de teto e janelas vitrs, em cinco (5) salas h ar condicionado. Cada sala equipada com um
(01) armrio de ao com duas portas, seis (06) prateleiras de madeira,. Para a sala em que
ministrada a disciplina de Biologia h uma (01) dessecadora de folhas e um liquidificador
industrial, trs (03) bancadas com lavatrio. Na escola h uma Sala de Leitura (onde tambm
so ministra algumas aulas de Lngua Portuguesa e Literatura) com uma bancada e vinte (20)
cadeiras de madeira, um rack, uma estante para livros, quarenta (40) poltronas de
polipropileno, cento e cinquenta (150) livros de literatura, uma (01) TV 32 com suporte fixo,
um aparelho data show, tela para projeo, um aparelho home theater, um note book 3gb, um
ar condicionado, trs (03) calhas com duas lmpadas fluorescentes e quatro (04) janelas vitr,
trs (3) prateleiras coloridas de ao.
1360
1361
Tal questo vem tona, uma vez que a pedagogia de resultados implantada pelo
Instituto Unibanco em parceria com o Ministrio da Educao/MEC e a instncia estadual
(Secretaria de Estado de Educao/SED), apresentam aos gestores escolares, representantes
dos professores e da coordenao pedaggica o quadro abaixo:
1362
Fonte: Mato Grosso do Sul, Secretaria de Estado de Educao. Proposta Pedaggica. Disponvel no endereo
eletrnico: <ppp.sistemas.sed.ms.gov.br/ProjetoPoliticoPedagogico/Visualizar.aspx?PP PID=345>. Consultado
em; 03 de out. de 2014.
CONCLUSO
Diante do exposto, o estudo sobre a organizao do espao escolar por meio das
salas laboratrios ou salas temticas como organizao do trabalho educativo relevante, haja
vista que o Ensino Mdio vem ganhando destaque no cenrio nacional.
1363
REFERNCIAS
ALVES, G.L. O trabalho didtico na escola moderna. Campinas: Autores Associados,
2005.
____________. O Universal e o singular: em discusso a abordagem cientfica do
regional. In: ALVES, G.L. Mato Grosso do Sul: o universal e o singular. Campo Grande:
Uniderp, 2003.
BRASIL. Constituio da Repblica Federativa do Brasil (1998). Disponvel no endereo
eletrnico:< www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>.Acesso em 01 de
mai. de 2015.
BRASIL. Lei
de Diretrizes e Bases da Educao. Disponvel
<www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em 01 de mai. de 2015.
em:
1364
1
GT6 - Polticas Pblicas, Gesto e financiamento
1365
2
Introduo
Moambique um dos pases da frica Austral e tornou-se independente de Portugal em
1975, tendo adotado, como sistema poltico, o socialismo, devido, sobretudo ao apoio recebido
pelos pases desta linha ideolgica durante a luta armada de libertao nacional. Essa tendncia
ideolgica foi sendo uma marca indelvel na forma como foram sendo gestadas as polticas
pblicas: sade, educao e segurana social, principalmente, cujos princpios bsicos se
enraizavam no materialismo histrico-dialtico at a fim do socialismo, a entrada da dcada de
1990, quando as instituies de Bretton Woods impuseram a reforma na Admirao Pblica, cujo
teor se fundamenta no projeto Neoliberal.
neste panorama poltico econmico que pretendemos apresentar os impactos e desafios
da poltica de educao, a partir de modelos de gesto; centralizao como tendncia da
socializao da educao e a descentralizao cuja tnica se implantou com a liberalizao da
educao. Pretendemos, ainda, identificar os documentos produzidos em cada um desses
contextos (socialismo e capitalismo) que formaram a base da legislao e administrao
educacional e; descrever a influncia que tais contextos exerceram na ressignificao do conceito
das polticas educacionais. Nisso usaremos os planos, as leis da poltica educacional e a acepo
da descentralizao como modelo atual de gesto da educao em Moambique.
Trata-se de um estudo que faz parte de uma pesquisa para dissertao sobre a
massificao do ensino em Moambique a ser apresentada no Programa de Ps-Educao da
Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. Para tal, usaremos alm da descrio nos
documentos acima mencionados, a reviso bibliogrfica que versa especificamente da educao
moambicana aps a independncia e a gesto de polticas de educao em geral. Para tal, por
questes metodolgicas, o texto ser apresentado em duas partes: o contexto poltico-econmico
de Moambique ps-independncia embate entre a centralizao e a descentralizao e a
ressignificao da centralizao na gesto pblica.
O contexto poltico-econmico de Moambique: centralizao e descentralizao
Diferentemente de muitos pases que aps a descolonizao tiveram apoio das
metrpoles, Moambique herdou um sistema educacional capitalista precrio e, teve que remar
contramar na sua reconstruo, optando por uma educao de massa via socialismo, o que
historicamente condicionou a maior parte dos avanos e recuos e contradies em menos tempo,
1366
3
no embate com as polticas emanadas pelos Organismos Multilaterais (OMs) de ndole
capitalista, sobretudo a entrada para a dcada de 1990. Em relao educao no perodo do
socialismo, aps a independncia nacional, pode se dizer que houve uma socializao de um
direito que antes era negado aos negros a educao alis, consta que Moambique quando
tornou-se independente tinha mais de 90% de analfabetos. Assim, logo aps a independncia, o
Estado nacionalizou a educao e coloca-se a necessidade de alfabetizar tanto adultos como
crianas ensinando-os a ler e escrever. (GOMEZ, 1999, p.131).
A partir desta poca, segundo Castiano, Ngoenha e Berthoud (2005) houve uma alterao
radical no sistema de ensino herdado, na socializao educao para garantir o direito s massas.
notrio o dever que o Estado, como provedor dos servios pblicos, comea a dar conta do
direito educao, buscando sempre alternativas para aproxim-la a quem mais precisa os
pobres que no tempo colonial no esse direito. Uma das marcas, segundo lembrava o Presidente
Samora Machel da ento Repblica Popular de Moambique, era a Administrao Centralizada
da Educao, e que a nacionalizao do ensino efectuada um ms aps a proclamao da
independncia (25.06.1975) consagrava essa poltica educacional que atribua ao Estado o papel
director, planificador e executor da educao. (GOMEZ, 1999, p.233).
Foi uma fase em que houve uma tendncia clara de socializar a educao que antes era de
acesso difcil ao povo. Contudo, esse desejo do acesso educao para as massas foi
comprometido pelo contexto socioeconmico e poltico rede escolar precria, em termos de
inexistncia ou insuficincia de infra-estruturas, materiais e professores. Esse cenrio exigiu da
administrao educacional um novo desafio de gerir a exploso escolar com uma rede de ensino
precria, como observa Uaciquete (2010) que:
No campo educacional, a rede escolar naturalmente insuficiente para a
maioria da populao e h escassez de professores e de outros quadros de
direco do sector, o que entra em contraste com a actual liberdade de
frequentar a escola pela maior parte da populao que durante muitos anos
esteve margem da educao formal devido ao carcter discriminatrio e
altamente selectivo do sistema educativo colonial. (p.15).
Dessa forma, no seria uma tarefa fcil implementar essa socializao, devido ao vazio,
em termos de recursos humanos e materiais, deixado pelo Sistema Nacional Colonial e, claro,
tambm, pela conjuntura poltica econmica da poca. Umas das sadas para esta situao foi a
abertura de escolas pelas iniciativas populares, campanha de alfabetizao e a contratao de
alunos que tinham pelo menos concludo a 9 classe (srie) para serem professores, o que criou
1367
4
uma aumentou o acesso ao ensino, em menos tempo (GOLIAS, 1993, p.83). Era preciso
democratizar o ensino, como testemunhava o discurso do presidente Samora Moiss Machel que
se tornou uma frase de ordem para que a escola fosse um verdadeiro espao de o povo tomar o
poder ao convidar a todos para que aderissem a democratizao do ensino Fazendo do pas
uma grande escola onde todos aprendem e todos ensinam. (GOMEZ, 1999, p.225).
Com o tempo, este marco foi enfrentando novos dilemas, sobretudo, se tivermos o
cenrio dado para as diferenas entre a Lei 4/83 (Maro de 1983) a Lei do Sistema Nacional de
Educao cuja filosofia pretendia a socializao da educao, uma necessidade do Estado
Socialista e a 6/92 (1992), opostamente concebida para revogar a 4/83, que visa a consolidao
do capitalismo no campo educacional. Assim, em termos de papis assumidos pelo Estado; pelo
sistema econmico e poltico as duas leis se configuram na centralizao e descentralizao.
Entendia-se na filosofia da Lei 4/83 que era preciso socializar o trabalho e a educao
para que a classe trabalhadora ascendesse aos conhecimentos cientficos. Para materializao
dessa poltica, incumbia-se ao Estado a responsabilidade de regulamentar e estabelecer
princpios, elaborar projetos legislativos que pudessem regular o desenvolvimento da educao,
definir polticas cientficas e critrios orientadores para as carreiras docentes e investigao. Essa
tarefa no se figurava ser fcil, devido a dependncia e precariedade da rede escolar existente.
A dependncia tcnica estrangeira foi bastante acentuada no campo de
educao, particularmente depois da nacionalizao com sada em massa de
professores portugueses com destaque ao nvel do ensino secundrio geral. A
cooperao com os pases socialistas, com destaque com Cuba, ex-Repblica
Democrtica Alem e ex-Unio das Repblicas Socialistas Soviticas foi
decisiva para suprir a crise quase generalizada de falta de professores. A
Repblica Socialista de Cuba, para alm de apoio em professores, no seu
territrio construiu escolas secundrias onde passou a receber milhares de
alunos moambicanos. A ex-RDA e ex-URSS a participao em Moambique
destes dois pases foi em professores e tcnicos da educao, estes ltimos
desempenhando o papel de assessores no Ministrio da Educao
moambicano e nas Direes Provinciais de Educao. daqui que se explica
a gnese das bases socialistas que assentavam o Sistema Nacional de
Educao, introduzido em 1983, por meio da lei n 4/83 de 23 de maro. Alis,
sistema de ensino este que foi testado nas zonas libertadas durante a luta de
libertao nacional. (LUS, 2005, p. 28).
1368
5
intervm os sectores que contribuem para realizao da actividade fundamental de uma forma
to centralizada. (REPBLICA DE MOAMBIQUE, 1995, p.44).
Para que esta funcionalidade do MINED fosse hbil, essa estrutura se apoiou em alguns
rgos e servios centrais direes e departamentos. Alm disso, tem instituies como o
Instituto Nacional de Desenvolvimento Educacional (INDE), a Universidade Eduardo Mondlane
(UEM), a Universidade Pedaggica de Moambique (UPM), dotados de autonomias cientficas e
superviso competente aos reitores e vice-reitores. Os servios centrais do MINED, logo aps a
concepo do SNE, compreendiam direes nacionais para o ensino primrio, secundrio,
tcnico, alm das ligadas ao planejamento, administrao e finanas, recursos humanos, ao
social e de inspeo. Existiam, tambm nessa hierarquia, os departamentos: jurdico, de
avaliao e certificao do Ensino Particular, Centro de Documentao e Gabinete do Ministro.
Toda essa estrutura se compreendia em cinco rgos; nomeadamente de orientao; de
controle; de apoio tcnico administrativo e planejamento; da investigao e desenvolvimento da
educao e de consulta (GOLIAS, 1993; GOMEZ, 1999). A gesto curricular era e feita em
nvel central, provincial e distrital. A gesto do SNE do topo a base, passando em trs nveis
administrativos e, compete ao:
a) Nvel Central conceber, planificar, coordenar e avaliar todo o sistema
educativo; b) Nvel Provincial apoiar e gerir os recursos humanos, materiais e
financeiros. nele que se acomodam as tarefas de implementao das
orientaes e das polticas educativas definidas centralmente. c) Nvel
Local/Distrital a funcionalidade especfica dos estabelecimentos de ensino,
particularmente do nvel primrio e ainda dos equipamentos escolares,
competindo lhes, especificamente a superviso administrativa quanto ao uso
desses meios. (GOLIAS, 1993, p.90-91).
1369
6
aprovados pelo Ministro da Educao e, havendo necessidade de adaptar algum contedo para o
nvel local, essa formalizao, quando necessria, passa pela aprovao do ministro. Essa
tendncia centralizadora vigorou at 1992, em termos legais, quando foi promulgada em maio de
1992, a Lei 6/92 que introduz uma descentralizao do sistema e, assim, de forma gradativa a
gesto comea a ter uma ligeira descentralizao. A partir desse momento, sobretudo, quando foi
concebida Poltica Nacional de Educao (PNE, 1995), cabem ao Ministrio da Educao,
tambm, as seguintes funes:
Regulamentao e estabelecimento de princpios gerais para a educao.
Elaborao de projectos legislativos, que regulem o desenvolvimento da
educao.
Determinao de critrios para o financiamento das instituies de ensino
pblico.
Definio de polticas cientficas.
Definio de critrios que orientem as carreiras docente e de investigao.
(REPBLICA DE MOAMBIQUE, 1995, p.21).
Embora se diga que a gesto centralizada, pelas necessidades atuais de agregar outros
atores na proviso da educao, tem havido uma tendncia, nos ltimos anos, de descentralizao
de algumas funes e responsabilidades aos outros rgos que so meros executores de
programas. Por exemplo, para as direes provinciais de educao, entre vrias tarefas
executivas, podemos destacar a coordenao dos estabelecimentos de ensino, exceto as do ensino
superior, provendo os instrumentos de gesto financeira, dos recursos humanos e administrativa
como forma de concretizar as tarefas centralmente concebidas. Cabe a este nvel o processo de
superviso e inspeo escolar desde a abertura do ano letivo: distribuio de material escolar;
exames nacionais que so elaborados centralmente; compilao das estatsticas recolhidas pelos
Servios Distritais de Educao, Juventude e Tecnologia (SDJETs), levantadas nas escolas.
Os SDJETs so rgos de execuo, por excelncia, cabendo-lhes a misso de monitoria
e avaliao do funcionamento dos estabelecimentos de ensino. Trata-se de uma entidade
executora das atividades de gesto do sistema, com pouca autoridade financeira e legal. Com
essa especificidade, coordenam as atividades rotineiras de planejamento trimestral e anual das
escolas, alm de recolher as estatsticas nas escolas para, posteriormente, envi-las para o nvel
provincial. Com a descentralizao aparente, tambm so responsveis pela gesto financeira
de recursos para algumas atividades fins.
Sob o pretexto de que a educao devia ser liberalizada (Lei 6/92), h uma crise de
legitimao do estado moambicano, encurtando cada vez mais as despesas para os sectores
1370
7
sociais (sade e educao). Ademais a crise resultante das reformas do Estado impostas pelo
exterior e no como tem se conotado que devido a fraca capacidade de gesto da coisa
pblica devido a centralidade do Estado Socialista, no caso de Moambique (LUS, 2005).
A crise pode ser considerada o resultado da implementao das medidas da
restaurao econmica e da guerra. Em 1990 o Banco Mundial classifica
Moambique como sendo o pas mais pobre do mundo (). Moambique
despede-se da orientao marxista, comea a caminhar com passos largos para
uma economia de mercado livre. (CASTIANO, NGOENHA e BERTHOUD,
2005, p.85).
das
agncias
organizaes
internacionais
nas
estratgias
de
LEI 4/83
LEI 6/92
Socialismo (monopartidarismo, Capitalismo
(multipartidarismo,
democracia popular)
democracia representativa)
Provedor da educao
Apenas o Estado
Finalidade
Garantia da educao
Todos nveis
gratuitos
Viso
de
ensino
Apenas o ensino
obrigatrio/gratuito
bsico
moral
1371
8
Enquanto na Lei 4/83 os programas e contedos do ensino [devem] reflectir a orientao
poltica e ideolgica da FRELIMO (alnea a do Artigo 3) para a 6/92, o Estado, no quadro da
lei, permite a participao de outras entidades, incluindo comunitrias, cooperativas,
empresariais e privadas no processo educativo (alnea b do Artigo 1); dum lado uma questo
mais Estado-Partido e doutro lado amplia-se para o conceito de Estado-Sociedade Civil, na
concepo capitalista. E, nesta vertente, o papel do Estado ganha tambm dimenses
diferenciadas: A Educao dirigida, planificada e controlada pelo Estado, que garante a
universalidade e laicidade no quadro da realizao dos objectivos fundamentais consagrados na
Constituio (alnea e do Artigo 1, Lei 4/83) e na Alnea b (Artigo 1, Lei 6/92), diz que O
Estado, no quadro da lei, permite a participao de outras entidades, incluindo comunitrias,
cooperativas, empresariais e privadas no processo educativo. (UACIQUETE, 2010, p.19-20).
A partir dessa nova concepo, o SNE orienta-se pelos seguintes princpios gerais:
Educao direito e dever de todos os cidados; o Estado no quadro da lei permite a participao
de outras entidades, incluindo comunitrias, cooperativa, empresariais e privadas no processo
educativo; o Estado organiza e promove o ensino, como parte integrante da ao educativa e; o
ensino pblico laico (GOMEZ, 1999; CASTIANO, NGOENHA e BERTHOUD, 2005).
No panorama das relaes internacionais, Moambique assina a Declarao Mundial
sobre Educao para Todos, numa altura em que 40% da rede do ensino primrio no estava
funcionando, devido a Guerra Civil, apenas 33.7% das crianas com 7 anos de idade
conseguiram matricular-se no ensino primrio em 1991 (GOLIAS, 1993, p.68). A nvel
continental e, em especial, na frica Austral, o processo de democratizao j tinha tomado
quase todos os pases e, Moambique tinha que mudar a sua Constituio da Repblica para
acomodar as orientaes de Bretton Woods sobre a democratizao do Estado como forma de
angariar os dividendos capitalistas do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), da
Organizao dos Pases Exploradores de Petrleo (OPEP) e a entrada massiva das ONGs um
factor que vai favorecer a abertura de Moambique para medidas do Banco Mundial e do FMI
a dvida externa. (CASTIANO, NGOENHA e BERTHOUD, 2005, p.85).
Assim, novos instrumentos foram produzidos para regulamentar a educao em face de
economia de mercado com maior destaque para a PNE (1995); PCEB (1999) e EESG (20092015), cuja produo, orientao e financiamento coube a UNESCO, sobretudo e outros OMs
que comeam a atuar em Moambique Neoliberal que vo fazendo ressignificar o conceito de
1372
9
descentralizao como um fim em si mesmo, quando, muita vezes, apenas uma forma de retirar
ao Estado aquelas responsabilidades que antes lhe cabiam para com a sociedade, resultado das
exigncias dos pases centrais.
Tal como foi referido, algumas das relaes que o pas mantm com os pases
centrais e com as instituies mundiais tm um impacto significativo na
mudana do papel do Estado moambicano, como agente de definio das
polticas pblicas no geral e, particularmente, das polticas educativas.
(UACIQUETE, 2010, p.47-48).
A educao devia seguir os parmetros usados no mercado: uso de mnimos recursos para
alcanar muitos resultados (Estado Minimax), no onerando o Estado com as despesas para o
setor e incentivar o privado na proviso dos servios educativos. Ainda que essa perspectiva de
Estado tenha sido a mais comum, vale destacar que tal ao no significou a retirada do Estado
no controle e coero (AFONSO, 2003; CASTIANO, NGOENHA e BERTHOUD, 2005).
H, alis, vrios exemplos relativos a polticas educacionais neoconservadoras e
neoliberais que mostram que em algumas situaes se produziu um
desequilbrio (paradoxal) a favor do Estado e em prejuzo do livre-mercado, por
causa das tenses e contradies assentes na frmula poltica da nova direita,
que se caracterizou por exigir um Estado limitado, portanto, mais reduzido e
circunscrito nas suas funes, mas, ao mesmo tempo, forte enquanto mecanismo
de coero e controlo social. (AFONSO, 2003, p.39, grifos do autor).
O conceito de Estado Minimax vai caracterizar sua nova roupagem em relao educao
que deveria seguir os parmetros do mercado, uso de mnimos recursos para as reas sociais e
uma ampla preocupao com os resultados (NOGUEIRA, 2005; GERWIRTZ e BALL, 2011).
1373
10
H, nessa nova forma de gesto da coisa pblica, um pensamento de que a onerosidade
do Estado com os servios sociais estaria a minar o desenvolvimento do capitalismo. A maior
parte das reformas de reajuste exigiu do Estado a tomada de posturas; de carter empresarial, em
que a Administrao por Objetivos (APO), tornasse o modelo da gesto das polticas pblicas,
para se livrar do sistema burocrtico pesado. (GERWIRTZ e BALL, 2011, p.199). Contudo, o
que se verificou, na prtica, foi a fortificao da burocratizao e que, na maioria dos casos, as
mudanas foram mais no mbito formal do que em sua substncia, passando a ser uma simples
valorizao da reforma e, conscientizando a responsabilizao dos indivduos pelos resultados a
serem ou no alcanados na administrao pblica, como observa Nogueira (2005, p.39), que:
A agente reformadora, ainda que ao preo de uma hipervalorizao da
administrao empresarial e de uma entrega do Estado ao mercado, ajudou a
que se criassem focos de incentivo para a atualizao do modelo burocrtico, o
aumento do controle social e a incorporao de mecanimos de participao e de
descentralizao gesto das polticas sociais. Nesse movimento, uma caultura
democrtica-partcipacionista floresceu no setor pblico, ajudando a que se
tomasse maior conscincia da relevncia do protagonismo social.
Em, Moambique, por exemplo, reconhece-se que com as novas estratgias adotadas, as
taxas de matrculas comearam a crescer em todos os nveis e, expandiu-se a rede escolar para
zonas mais recnditas, cumprindo o objetivo de dar maior acesso a educao para todos,
preconizada na poltica. Para Uaciquete (2010), trata-se sim de concretizao dos objetivos de
liberalizao do ensino recomendados pelas instituies de cooperao que tm financiado a
maior parte das polticas de educao no pas, nomeadamente, FMI, BM, UNESCO.
Uma das preocupaes do FMI/BM para com a educao nos pases com as
caractersticas de Moambique, e decorrentes da sua condio scio-econmica,
era a garantia da educao bsica, a abertura do mercado educacional para a
interveno dos privados e a reduo da centralidade do Estado na definio e
execuo das polticas sociais. (UACIQUETE, 2010, p.47).
1374
11
Ressignificando as Polticas centralizadoras e descentralizadoras
A necessidade de cada vez mais ganhar o consenso, as orientaes do capital, nas
polticas sociais, sempre criam atualizaes estandardizadas para os reajustes e reformas do
capital. Tais atualizaes carregam consigo, princpios mais cadentes, aqueles que justificando a
diversidade social e poltica, por exemplo, se tornam um bojo necessrio nas novas interaes
entre o local e o global; novas identidades culturais; o Estado seu (novo) papel na Educao
fortalecimento da coeso social construindo assim uma nova pedagogia de hegemonia como o
que tem sido pregado pela terceira via e o projeto neoliberal. Hoje em dia, notrio o
aparecimento de expresses que justificam o declnio do Estado na gesto da coisa pblica,
aparecendo regulamente conceitos de descentralizao, parcerias escolares, participao, papel
do conselho de escola, necessidade do setor privado na gesto escolar, como se isso fosse tudo
para o que se chamasse de democratizao do ensino (NOGUEIRA, 2005; PERONI, 2010).
A descentralizao foi fortemente aproximada da idia de democratizao,
aponto de se confundir com ela, fixou-se, por essa via, uma causalidade pouco
rigorosa: s seriam democrticos os entes e espaos descentralizados, isto ,
capacitados para assumir encargos antes desenvolvidos centralmente e, dessa
forma, para neutralizar o excesso de Estado. (). Descentralizando suas
atribuies e atividades, o Estado teria como se concentrar no fundamental,
reduzir seus custos operacionais, diminuir seu tamanho e ganhar, com isso,
mais leveza e agilidade. Aliviando-se de parte da carga, o Estado incentivaria o
envolvimento subnacional (local e regional, sobretudo) na implementao de
certas polticas pblicas, com o que avanaria em termos de tomadas de
decises, sustentabilidade e controle social. (NOGUEIRA, 2005, p.55-56).
1375
12
Assim, as reformas educacionais vo se constituindo com um cunho de que melhorias
aparecero com o distanciamento do Estado na gesto escolar. Em Moambique, por exemplo,
tem sido notrio a fortificao das equipes gestoras nas escolas sendo instrudas em novas
formas de gesto, como forma de dar xito a gesto das polticas educacionais, evocando que:
Uma das premissas fundamentais para o xito das reformas previstas na
planificao e gesto do sistema educativo a criao, pela via de uma
formao apropriada, de uma competncia profissional local para a correcta
execuo das polticas do sector. Nesse sentido, sero desenvolvidas aces de
formao inicial e contnua dos directores das escolas, dos planificadores e
administradores educacionais, inspectores escolares e supervisores.
(REPUBLICA DE MOAMBIQUE, 1995, p. 22).
Desde ento a ligao com as ONGs e o setor privado vai se tornando uma prtica
indelvel na gesto pblica em Moambique. Em contrapartida, essa tendncia parece mais com
uma prestao de contas do que descentralizao e que a descentralizao parece mais aparente
do que efetiva. Parafraseando a definio do termo descentralizao nas polticas de educao,
Kuenzer, Garcia e Calazans, (2011, p.73) explicam que a formulao das polticas educacionais,
na era de globalizao, caracterizadas por populismo democrtico que junta a uma interessante
mescla de populismo com autoritarismo, atravs de um processo que, ao pretender ser
democrtico contrapondo-se centralizao, terminou por caracterizar-se pela ausncia de
direo e pela fragmentao.
Na verdade, para que a gesto escolar seja efetivamente descentralizada necessita que
haja uma total transferncia de poderes e que trs condies sejam realizadas, nomeadamente:
desconcentrao, delegao e entrega e no apenas desconcentrao como tem sido prtico.
Desconcentrao. a forma mais simples de descentralizao, que implica a
transferncia de determinadas tarefas e trabalhos, mas no de autoridade, para
outras unidades numa organizao.
Delegao. Inclui a transferncia de autoridade de tomada de decises de
unidades hierrquicas mais elevadas para unidades mais baixas, mas essa
autoridade pode ser retirada segundo a vontade da unidade delegante.
Entrega. Refere-se transferncia de autoridade para uma unidade que pode
actuar de forma independente, sem primeiro precisar de pedir autorizao.
Dessa forma, a unidade funciona por si prpria e assume muito maior
responsabilidade pelos seus actos. (LEMMER, 2006, p.116, grifos da autora).
O que acontece na prtica uma mescla que apenas exclui as tendncias tecnocrticas
de centralizao, mas que a mo do Estado continua se estendendo nas atividades exercidas nas
unidades escolares, alis, ademais aumentaram as responsabilidades na escola. Essa tendncia
1376
13
mescla tambm vivida quando o Estado delega essa misso a sociedade civil, as ONGs e o
setor privado, nomeadamente, onde sob a tese defendida pela Teoria Neoliberal e Terceira Via,
culpando o Estado sobre a sua crise, prope estratgias de superao de democratizao e
privatizao das polticas sociais (PERONI, 2010; KUENZER, GARCIA e CALAZANS, 2011).
O Neoliberalismo prope o estado mnimo e a Terceira Via prope reformar
o Estado e repassar para a sociedade civil, tarefas sem fins lucrativos. Ambos
buscam a racionalizao dos recursos, a diminuio dos gastos do estado com
as polticas sociais e a reduo do papel das instituies pblicas, que, como
vimos no diagnstico neoliberal, so permeveis correlao de foras, o que
eles chamam de rent seeking. (PERONI, 2010, p.4).
1377
14
Consideraes finais
Em Moambique os contextos polticos e econmicos se caracterizam por embate entre a
socializao da educao, logo aps a independncia, chamando o Estado a sua responsabilidade
como planejador e administrador das polticas, aps a independncia e mudando o papel
centralizador para reformas de descentralizao quando aderiu s instituies de Bretton Woods,
a entrada da dcada de 1990.
A primeira fase de concepo de polticas educacionais foi caracterizada por crises
internas de no dar seqncia s demandas polticas econmicas de formar em quantidade em
qualidade quadros especializados devido aos fatores internos: uma rede escolar precria em
termos de infra-estruturas e recursos humanos e financeiros e fatores externos aliados a
geopoltica regional e internacional, j que Moambique havia optado, aps a sua independncia
ao modelo socialista que era visto como impasse para os pases capitalistas a seu redor. Tendo
sido pressionado por fatores acima destacados, o papel centralizador nas polticas de gesto da
educao foi abandonado, reformados todos os instrumentos para adequar a nova postura do
Estado que, evocando a onerosidade com os aspectos sociais, incentiva gesto compartilhada nas
despesas e recursos com o sector privado e a sociedade civil. Nessa segunda fase, o Estado passa
a ser figura regulador das polticas e delega alguns dos seus poderes e funes aos outros
atores. Na prtica, a reforma se deu campo procedimental, porque as aes centralizadoras foram
permanecendo, de forma mesclada, apenas para criar o consenso ativo sobre o Estado Neoliberal.
Nessa transio de descentralizao pode se observar que houve uma ressignificao do
papel do Estado que o excessivo chamamento sociedade civil ou terceiro setor se justifica
como estratgia de modernizao da gesto pblica, onde a sociedade civil passou a ser um
elemento de colaborao governamental e no o abandono da centralizao como tem sido
constantemente evocado uma descentralizao aparente mesclada de centralizao implcita.
1378
15
Referncias bibliogrficas
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1379
Esse estudo parte das reflexes empreendidas no projeto de Iniciao Cientfica que
teve por objetivo apresentar pesquisa tendo como objeto de investigao a valorizao do
profissional docente no Municpio de Dourados, tendo como foco os movimentos em torno do
plano de carreira e salrio docente no momento atual. Trata-se de pesquisa inserida em
Projeto maior denominado Valorizao docente no Plano de Aes Articuladas (PAR):
anlise de municpios sul-mato-grossenses, articulado Linha de Polticas e Gesto da
Educao. Essa pesquisa foi financiada pelo CNPQ\UFGD, atendendo a propsitos do
Programa Observatrio da Educao. Teve como objetivos identificar e analisar a poltica de
valorizao dos profissionais da educao no municpio de Dourados, MS, especialmente no
que se refere ao piso salarial nacional e destinao de 1/3 da carga horria para planejamento
1
1380
das atividades de ensino e analisar o contexto em que foram geradas tais polticas e os
embates enfrentados na sua elaborao.
Um marco para nossa anlise foi a aprovao da Lei N. 11.738 em 16 de julho de
2008 que instituiu o piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistrio
pblico da Educao Bsica. Sua aprovao foi duplamente benfica, pois, alm de instituir
um piso nacional, regulamentou a destinao de 1/3 da carga horria de trabalho do professor
a realizao de atividades de planejamento, estudos, reunies, avaliao.
A no implantao imediata do piso ocasionou um descontentamento geral por parte
dos docentes, uma vez que para alm dos discursos, cujos contedos expressam as intenes
eleitoreiras, na prtica muito pouco tem sido feito para efetuar a valorizao do magistrio.
O salrio, alm de incentivo profisso, deve constituir-se em oportunidade de
crescimento profissional e pessoal. J a destinao de 1/3 da carga horria do docente para
atividades de planejamento considerada crucial para a melhoria de suas condies de
trabalho.
Trata-se de pesquisa qualitativa, pois foi orientada para o tratamento de dados
concretos considerando suas especificidades locais e temporais (FLICK, 2004).
Para esse estudo a fomos subsidiadas por fontes bibliogrficas que versam sobre o
tema, fonte estatstica principalmente disponveis no site do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatsticas (IBGE) e pelo Instituto Nacional de Estudos Pedaggicos Ansio Teixeira
(INEP). O corpus documental foi composto por leis, decretos, resolues, artigos e
publicaes no Dirio Oficial e nos Jornais Eletrnicos do municpio em anlise.
Cabe destacar que segundo Shiroma, Campos e Garcia 2005, (p. 433) na anlise
documental os textos so considerados como [...] produto e produtores de orientaes
polticas no campo da educao, cuja difuso e promulgao geram tambm situaes de
mudanas ou inovaes, experienciadas no contexto das prticas educativas.
A anlise das fontes foram submetidas as anlise de contedo, que Bardin (2009)
define como sendo
Um conjunto de tcnicas de anlises das comunicaes visando obter por
procedimentos sistemticos e objetivos de descrio do contedo das mensagens
indicadores (quantitativos ou no) que permitam a inferncia de conhecimentos
relativos s condies de produo\recepo (variveis inferidas) destas mensagens
(BARDIN, 2009, p.44).
Uma Poltica Educacional que preza uma educao de qualidade, est comprometida
com a valorizao dos profissionais da educao bsica pblica como requisito indspensvel
para a construo de uma escola e uma sociedade, ambas democrticas.
1381
1382
1383
O piso nacional e seu reajuste anual refletem a variao do valor mnimo por aluno
definido anualmente pelo Fundo de Manuteno e Desenvolvimento da Educao Bsica e de
Valorizao dos Profissionais da Educao (FUNDEB).
A conquista do piso salarial nacional foi fruto de muita luta enfrentada pela categoria,
refletida em grandes mobilizaes, paralisaes e passeatas, sendo que o resgate dessa dvida
histrica se d, como aponta Fernandes (2009), no apenas porque a garantia do piso vai
melhorar o salrio de milhes de profissionais, mas pela conquista de um conceito novo que
articula remunerao com qualidade de trabalho.
Em nota publicada pelo MEC em Janeiro de 2015, o piso salarial nacional foi
reajustado em 13,01%. A grande novidade envolvendo essa temtica foi a recente criao de
um Frum de acompanhamento de atualizao do valor do Piso Salarial Nacional dos
profissionais do magistrio pblico da Educao Bsica, que foi criado no dia 25 de Junho de
2015 por meio da Portaria n. 618, conforme informao do Dirio Oficial da Unio.
Segundo o site do MEC, o objetivo do Frum propor mecanismos para obter e
organizar informaes sobre o cumprimento do piso salarial dos professores e de planos de
carreiras, alm de acompanhar a evoluo salarial por meio de indicadores da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domiclios, conforme prevista no Plano Nacional de Educao. O
frum ser composto por 12 pessoas, entre representantes do Ministrio da Educao (MEC),
de secretrios estaduais e municipais de Educao e profissionais da educao pblica bsica.
Nesses termos, a Lei foi fundamental tanto para a definio do salrio docente quanto
para a construo de perspectivas de carreira e especificidade do trabalho docente. Ainda que
limitada, pois no estipula um valor mnimo para profissionais formados em nvel de
graduao e nem para uma carga horria de 20 horas, sabendo que uma realidade vivenciada
pela categoria.
A Lei n.9.424 de 24 de Dezembro de 1996, que dispe sobre o Fundo de Manuteno
e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizao do Magistrio (FUNDEF), foi o
documento oficial na caminhada para a garantia desse direito, conforme seu art. 9 que afirma
1384
1385
1386
1)As Funes Docentes referem-se aos indivduos que estavam em efetiva regncia de classe da data de
referncia do censo.
2) O mesmo professor pode atuar em mais de uma Unidade da Federao e em mais de uma etapa e/ou
modalidade de ensino.
3) Professores (ID) so contados uma nica vez em cada etapa/modalidade de ensino e em cada Unidade da
Federao, porm podem atuar em mais de uma etapa/modalidade de ensino e em mais de uma UF.
4) Ensino fundamental anos iniciais: inclui professores de turmas de educao infantil e ensino fundamental
multietapa.
1387
Tabela 01- Nmero de docentes na Educao Infantil, por formao que atuam na rede pblica
municipal de Dourados-MS
Formao
Educao Infantil 2007
Educao Infantil 2014
Creche
Pr-escola
Total
Creche
Pr-escola Total
Ensino mdio
0
1
1
3
5
8
Ensino mdio - 3
10
13
2
4
6
magistrio
Com
42
167
203
362
340
702
licenciatura
Total de
53
187
233
367
350
717
professores
Fonte: Censo Escolar/InepData - Disponvel em: http://portal.inep.gov.br/inepdata
Tabela elaborada pelas autoras
1388
No municpio, a prefeitura garante a hora atividade dos docentes desde 2014, mas nem
sempre foi assim, foram cinco anos de luta da categoria, visto que a lei foi aprovada em 2008
e somente garantida em 2013, essa conquista foi fruto da greve dos professores no mesmo
ano, momento em que foi firmado um acordo para pagamento retroativo da hora atividade.
Ficando a seguinte negociao: receber as horas trabalhadas que deveriam ser
dedicadas hora atividade fora da sala de aula conforme o valor da hora-aula, retroativos,
referente aos anos de 2012 e 2013 parcelados em folha de pagamento, esses valores so
referente as horas que eram direito do professor em se ausentar da sala de aula para
planejamento e avaliao, o que at o momento vem sendo cumprido, sendo que o pagamento
ir at o ms de Outubro do atual ano (2015).
A Lei que efetivou a garantia de 1\3 de hora atividade no municpio foi a Lei
Complementar n 220 de 29 de Maio de 2013 que regulamenta a jornada dos profissionais do
magistrio.
1389
Lutas por direitos igualitrios e melhores condies de vida e trabalho nas diferentes
esferas da sociedade, esse conjunto de reformas sociais est diretamente ligada s reformas
educacionais, relacionando a melhoria da qualidade do ensino ao desempenho dos docentes.
Os profissionais em Educao enfrentam uma luta recorrente de problemas polticos
no municpio de Dourados, o maior deles a questo da liberao do concurso pblico de
1390
provas e ttulos para a categoria, que aguarda h nove anos pela divulgao do edital,
infelizmente, sem sucesso.
Sendo que a garantia do concurso pblico tambm consta na Lei Complementar do
municpio (PCCR), como um compromisso com o profissional docente, conforme aponta em
seu Art.13
O provimento de cargos iniciais das categorias do Quadro Permanente do
Profissional da Educao Municipal depender sempre de concurso pblico nos
termos da legislao vigente e regulamentados em Edital prprio para isto, seguinte
o que consta nos anexos desta Lei.
1 Fica obrigatrio a realizao de concurso pblico quando as vagas alcanarem
20% (vinte por cento) do nmero de cargos.
2 A validade do concurso ser de 2 (dois) anos, a partir da data de publicao do
resultado, podendo a administrao prorrog-lo por igual perodo (DOURADOS,
2007).
Assim, fica evidente o quanto essa questo vem sendo negligenciada por parte da
administrao pblica municipal. Portanto, a realizao de concurso pblico no municpio e a
aprovao do Piso Salarial Profissional para uma jornada de 20 horas, conforme garante a
meta 17 do PNE, seguido do 1\3 da hora atividade, se constituem os principais motivos da
luta dos profissionais no momento.
Em relao ao piso de 20 horas o acordo aponta os seguintes termos: Em 2016 ser
incorporado 20% do adicional em abril e em outubro, do mesmo ano, ser pago a primeira de 05
parcelas, assim a proposta findar em outubro de 2020 equiparando o piso municipal ao piso
nacional em 20 horas. Conforme publicado no Dirio Oficial de 08 de Janeiro de 2015 atendendo a
Lei Complementar n. 267 que dispe sobre a poltica salarial para os profissionais do magistrio
municipal.
Observando que j foi negociado e publicado em Dirio Oficial que durante os anos de
2014 e 2015 os educadores recebero a diferena de 1/3 de hora atividade referente aos anos 20122013, o que de fato vem sendo cumprido at o momento atual.
Por ora, a questo do piso salarial para 20 horas, a classe segue aguardando o cumprimento
do acordo firmado a contar a partir de 2016. Vale salientar, que a garantia de se estipular 1\3 de
carga horria para o professor fora da sala de aula, com certeza favorece a melhoria da
qualidade do ensino no pas, uma vez que os professores podero dispor um tempo maior para
a elaborao e criao de aulas e atividades pedaggicas, resultando num melhor
desenvolvimento da prtica pedaggica e do desenvolvimento dos estudantes.
Algumas consideraes
1391
1392
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1393
1394
Introduo
1395
1396
Esse decreto abriu caminho para que a maioria das provncias brasileiras, no sculo
XIX, criasse as suas escolas normais. Porm, como eram consideradas muito onerosas, [...]
adotadas j a partir de 1835, somente adquiriu certa estabilidade aps 1870 [...], havendo
construo de unidades em outros Estados do pas. Essas escolas, entretanto, tiveram
existncia intermitente, sendo fechadas e reabertas periodicamente segundo (SAVIANI, 2009,
p. 144).
Segundo Tanuri (2000, p. 64), essas escolas normais tiveram uma [] trajetria
incerta e atribulada, submetidas a um processo contnuo de criao e extino, pois se
consolidam com base nas [] ideias liberais de democratizao e obrigatoriedade da
instruo primria, bem como de liberdade de ensino. Porm, realava tambm, conforme
Bigarella (2015, pp.3-4), [] as qualidades inatas e o esforo pessoal do indivduo [], a
vocao cvica e nacionalista, [a] laicizao do currculo do Instituto Nacional, importantes
para o estabelecimento de outra estrutura estatal.
Para Jacomeli e Xavier (2003, p. 196), a concepo liberal [] influenciou projetos
e reformas no perodo imperial, tanto no mbito nacional, como nas provncias. De acordo
com a mesma autora, [] algumas reformas da instruo pblica ocorridas no Brasil, s
vsperas da repblica, j traziam algum esboo do iderio republicano a ser implantado.
Como exemplo: [] a Reforma, em 1879, de Lencio de Carvalho que, dentre outras
medidas, propunha a liberdade de ensino e a obrigatoriedade do nvel primrio do primeiro
grau. Reforou a instalao de outras escolas normais pelo pas, organizada pela []
Opus citatum.
Opus citatum.
1397
Assim, na viso de Saviani (2009, p.2), o governo central no assumiu a [...] instruo
pblica como uma questo de sua responsabilidade [...]. Essa reforma de acordo com Cury,
Opus citatum
1398
Embora o curso normal de formao docente fosse adotado j a partir dos anos de
1835, conforme j citado e em conformidade com os estudos de Saviani (2009, p.144), [...]
permaneceu ao longo do sculo XIX como uma alternativa sujeita a contestaes, haja vista
que a [] organizao e funcionamento das Escolas Normais foram fixados com a reforma
da instruo pblica do Estado de So Paulo levada a efeito em 1890, porm, a Escola
Normal daquela poca, no tinha um currculo com atividades prticas, contemplava apenas
discusses tericas.
Em 1901, a educao e a Escola Normal brasileiras, orientadas pela Reforma de
Epitcio Pessoa (1901 a 1910), envolvendo os institutos de ensino superior e secundrio,
buscaram executar as diretrizes dadas pela Reforma de Benjamin Constant (SILVA, 2003).
Nesse perodo, por meio do Decreto n. 3.890, de 01 de janeiro de 1901, foi aprovado o
Cdigo dos Institutos Oficiais de Ensino Superior e Secundrio, dependentes do Ministrio da
Justia e Negcios Interiores, que permitiu o acesso feminino aos cursos secundrios e
superiores8.
Opus citatum.
Decreto n. 3.890/1901 - Art. 121. facultada a matrcula aos indivduos de sexo feminino, para os quaes
haver nas aulas em logar separado.
8
1399
Essa reforma foi estabelecida pelo Decreto n. 3.810/1932, que determinava a [...]
Reorganizao do Ensino Normal Mdio e sua Transposio para o Plano Universitrio:
1400
1401
Art. 1 A Faculdade Nacional de Filosofia, Cincias e Letras, instituda pela Lei n. 452, de 5 de julho de 1937,
passa a denominar-se Faculdade Nacional de Filosofia. Sero as seguintes as suas finalidades: a) preparar
trabalhadores intelectuais para o exerccio das altas atividades de ordem desinteressada ou tcnica; b) preparar
candidatos ao magistrio do ensino secundrio e normal;) realizar pesquisas nos vrios domnios da cultura, que
constituam objeto de ensino.
1402
Os cursos normais de primeiro ciclo, conforme Saviani (2009), pela sua similitude
com os ginsios, contavam com um currculo centrado nas disciplinas de cultura geral,
semelhante s Escolas Normais antigas (to criticadas). J os cursos de segundo ciclo
contemplavam todos os fundamentos da educao introduzidos pelas reformas da dcada de
1930. Ao serem implantados tanto os cursos normais como os de licenciatura e Pedagogia,
[] centraram a formao no aspecto profissional garantido por um
currculo composto por um conjunto de disciplinas a serem frequentadas
pelos alunos, dispensada a exigncia de escolas-laboratrio. Essa situao,
especialmente no nvel superior, expressou-se numa soluo dualista: os
cursos de licenciatura resultaram fortemente marcados pelos contedos
culturais-cognitivos, relegando o aspecto pedaggico-didtico a um apndice
de menor importncia, representado pelo curso de didtica, encarado como
uma mera exigncia formal para a obteno do registro profissional de
professor. (SAVIANI, 2009, p.147).
1403
os problemas educacionais.
Para Tanuri (2000, p. 78-79), essa lei permitiu algumas iniciativas no mbito da
educao, favorveis formao de professor primrio em nvel superior. O Conselho
Federal de Educao (CFE), como parte do Plano Nacional de Educao (PNE), exerceu
papel importante, assim como tambm os conselhos de educao estaduais e municipais, que
representaram uma estratgia efetiva para levar adiante o movimento de democratizao da
gesto da educao pblica e de garantia dos direitos.
Nessa nova organizao normativa, destacam-se os Pareceres/CFE n. 251/1962, e o
de n. 252/1969 que de acordo com Silva (2006, p. 25-26) fixa os mnimos de contedo e
durao na organizao do Curso de Pedagogia. Assim, as modificaes curriculares, as
polticas educacionais monitoradas pelas Leis da Reforma Universitria, Lei n. 5.540/1968 e
a Lei n. 5.692/1971, de acordo com Aguiar et. al. (2006, p. 822) estava evidente o interesse
de servir o mercado e [] definiram um modelo de formao de professores
compartimentado em dois loci da universidade: de um lado, a faculdade de educao,
responsvel pelo curso de pedagogia e a formao pedaggica dos licenciandos, e, de outro,
os institutos de contedos especficos, onde se formavam
bacharis e licenciados.
Nesse perodo, Saviani (2009, p. 147) afirma que a Lei 5.692/1971 modificou o
ensino primrio e mdio denominando-os de 1 e 2 graus e desapareceram as Escolas
Normais, surgindo em seu lugar a Habilitao Especfica do Magistrio (HEM), para o
exerccio do magistrio de 1 grau. Acrescenta que:
[...] Pedagogia, alm da formao de professores para Habilitao
Especfica de Magistrio (HEM), conferiu-se a atribuio de formar os
especialistas em Educao, a compreendidos os diretores de escola,
10
1404
Nessa perspectiva, o projeto CEFAM, conforme Saviani (2009, p. 147), [...] apesar
dos resultados positivos, foi descontinuado quando seu alcance quantitativo era ainda
restrito, no tendo havido tambm qualquer poltica para o aproveitamento dos professores
formados pelos centros nas redes escolares pblicas.
Com vrios projetos desenvolvidos nos anos de 1980, em relao formao de
professores, foi elaborada a Constituio Federal de 1988 que [...] montou um sistema de
repartio de competncias e atribuies legislativas entre os integrantes do sistema
federativo (CURY, 2002, p.172), acentuando assim, significativamente o debate sobre a
formao de professores da Educao Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental no
11
1405
Brasil, especialmente em nvel superior, mas nos limites da lgica da reproduo capitalista.
Aps a promulgao da Constituio Federal de 1988, que deu base para a aprovao
da Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional n. 9.394/1996 Saviani (2008, p. 218221), a definiu [...] uma poltica educacional tendente a efetuar um nivelamento por baixo e
os Institutos Superiores de Educao e as Escolas Normais Superiores surgem, como
alternativa, porm de nvel superior de segunda categoria, de forma mais aligeirada, mais
barata, com cursos de curta durao. O autor assegura que [] a essas caractersticas no
ficaram imunes s novas diretrizes curriculares do curso de pedagogia homologadas em abril
de 2006. Comentou ainda que [] ao longo dos ltimos dois sculos, as sucessivas
mudanas introduzidas no processo de formao docente revelam um quadro de
descontinuidade, embora sem rupturas (BRASIL, 2009, p. 148).
7
Concluso
Com deferncia aos aspectos histricos da poltica de formao docente, que
influenciaram a criao do Curso Normal Mdio no Brasil, com base na legislao federal,
desde as Constituies Federais de 1824 a 1988, nesta fase inicial da pesquisa, pode-se inferir
que nos perodos de:
- 1824 1890, em relao formao de professores, destacou-se a exigncia de
preparo didtico, embora no se faa referncia propriamente questo pedaggica. A via
normalista de formao docente, adotada j a partir de 1835, adquiriu certa estabilidade aps
1870 e permaneceu ao longo do sculo XIX como uma alternativa sujeita a contestaes.
- 1890 -1932, efetivou-se o estabelecimento e expanso das Escolas Normais, por
meio da reforma de instruo pblica de So Paulo, com o objetivo de dar uma boa formao
aos professores, com currculo diferenciado.
- 1932- 1939, a Escola Normal foi transformada em Escola de Professores (escola de
cultura geral e profissional), rumo consolidao do modelo pedaggico-didtico de
formao docente que permitiria corrigir as insuficincias e distores das velhas Escolas
Normais.
- 1939 1971, o Curso Normal foi dividido em dois ciclos e, assim, os cursos de
licenciatura e pedagogia centraram a formao no aspecto profissional, garantindo um
currculo composto por um conjunto de disciplinas (teoria) dispensando a exigncia de
escolas-laboratrio (prtica).
- 1971 1988, como a Lei 5692/1971 modificou o ensino primrio e mdio
12
1406
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14
1408
15
1409
RESUMO
O artigo apresenta um recorte da pesquisa de doutorado que busca analisar o Programa
Nacional de Incluso de Jovens (Projovem Urbano), no contexto das polticas pblicas
educacionais, efetivado pela Secretaria de Estado de Educao de Mato Grosso do Sul,
no perodo de 2012 a 2014. Trata-se de um programa formulado pelo Governo Federal
para jovens de 18 a 29 anos, que sabem ler e escrever e que no tenham concludo o
ensino fundamental, executado em cooperao com os sistemas pblicos de ensino dos
estados, do Distrito Federal e dos municpios. Neste texto, apresenta-se, com base em
documentos oficiais, a contextualizao do processo de constituio do Projovem
Urbano, desde a sua implantao em 2005, no primeiro mandato do governo Luiz Incio
Lula da Silva (2003-2006), no mbito da Poltica Nacional de Juventude, at a sua
insero, em 2012, na Secretaria de Educao Continuada, Alfabetizao, Diversidade e
Incluso (SECADI), quando o programa passou a ser executado pelo Ministrio da
Educao.
Palavras-chave: Polticas Pblicas Educacionais. Projovem Urbano. Juventude.
INTRODUO
Doutorando no curso de ps-graduao da Universidade Catlica Dom Bosco (UCDB), sob a orientao
da professora Dr Regina Cestari de Oliveira. E-mail: [email protected]
1410
partir de 2011.
1411
O Programa Nacional de Incluso de Jovens - Projovem, editado pela Medida Provisria n 238-b, de 1
de fevereiro de 2005, transformada na Lei 11.129, de 30 de junho de 2005 e regulamentada pelo Decreto
n 5.557, de 05 de outubro de 2005.
3
1412
1413
2009, p. 31) .
juventude brasileira, 31% dos indivduos entre 15 anos e 29 anos podem ser
considerados pobres, pois tem renda domiciliar per capita inferior a meio salrio
mnimo (CASTRO; AQUINO, 2009, p. 31). Com relao educao, 2,8% so
analfabetos, 68,3% no frequentam atividades regulares de ensino e 19,9% no
concluram o ensino fundamental (CASTRO; AQUINO, 2009, p. 32).
Portanto, os registros de estatsticas sobre a juventude no Brasil, realizadas
por pesquisadores, com dados que diagnosticou que havia milhes de jovens que no
frequentavam a escola e nem uma espcie de trabalho formal eram um dos fatores que
preocupavam o governo federal.
Nesse sentido, o ano de 2004 foi muito importante em relao s polticas
pblicas dirigidas para a juventude, j que foi criado um grupo interministerial,
coordenado pelo ento ministro-chefe da Secretaria geral da presidncia da repblica, para
BLANCO, Diego Monte. O Projovem Urbano na trajetria das polticas para juventude - desafios do
programa e perspectivas de anlise. Revista Brasileira de Histria & Cincias Sociais. Volume 2.
Nmero 03. Julho de 2010.
6
CASTRO, Jorge A. de; AQUINO, Luseni Maria (Orgs.). Juventude e Polticas Sociais no Brasil.
Braslia: IPEA, 2009.
1414
BRASIL. Lei n 11.129, de 30 de junho de 2005. Institui o Programa Nacional de Incluso de Jovens
Projovem; cria o Conselho Nacional da Juventude CNJ e a Secretaria Nacional de Juventude e o decreto
5.557, de cinco de outubro de 2005, que o regulamentou.
1415
O Programa Nacional de Incluso de Jovens - Projovem, editado pela Medida Provisria n 238-b, de 1
de fevereiro de 2005, transformada na Lei 11.129, de 30 de junho de 2005 e regulamentada pelo Decreto
n 5.557, de 05 de outubro de 2005. O Projovem teve como meta atuar em todas as 27 capitais brasileiras,
a partir de 2005 e, desde 2006, expandir o Programa para as cidades com nmero igual ou superior a
200.000 habitantes. (BRASIL, 2009). Ver mais, BRASIL. R. F. Secretaria-Geral da Presidncia da
Repblica. Secretaria Nacional de Juventude. Relatrio de gesto ano referncia 2008. BRASLIA,
Abril/2009
1416
que cumprissem o mnimo de 75% de presena em sala de aula, recebiam R$ 100,00 por
ms, como bolsa auxlio10.
O decreto n 5.557 de 05 de outubro de 2005 regulamenta o Programa
Nacional de Incluso de Jovens (Projovem), com pretenses de contribuir para jovens
de 18 a 24 anos com este programa.
Art. 3 O Projovem dever contribuir especificamente para: I - a
reinsero do jovem na escola; II - a identificao de oportunidades
de trabalho e capacitao dos jovens para o mundo do trabalho; III - a
identificao, elaborao de planos e desenvolvimento de aes
comunitrias; e IV - a incluso digital dos jovens, para que desfrutem
desse instrumento de insero produtiva e de comunicao. (BRASIL,
2005b).
1417
a exigir que seja realizado o programa do Projovem em escolas pblicas e destinado para
jovens de 15 a 29 anos. O curso passa tambm a ter durao de 18 meses.
1418
Este programa que tem como intuito atender a uma juventude que esto em
vulnerabilidade revela a importncia social do mesmo. Conforme os documentos
oficiais aqui elencados (leis e decretos) o Programa Nacional de Incluso de Jovens
Projovem, foi institudo no Governo Federal, como um Programa de gesto
compartilhada entre vrios Ministrios (Secretaria-Geral da Presidncia da Repblica,
Ministrio da Educao, Ministrio do Trabalho e Emprego e Ministrio do
Desenvolvimento
Social
Combate
Fome).
Isso
representa,
alm
do
1419
superior a 200 mil habitantes, a implantao do Programa previu parceria direta com as
Prefeituras locais.
No total, aderiram ao Projovem Urbano 128 Entes Federados: 105
municpios com populao igual ou superior a 200 mil habitantes
(sendo 55 municpios j atendidos pelo Projovem Original) e 23
Estados. A meta acordada para 2008 foi na ordem de 334.225 jovens,
sendo que, 24 Municpios e 1 Estado tiveram aulas iniciadas em 2008,
totalizando 89.942 matrculas. Os demais jovens esto em processo de
matrcula realizada por 22 Estados e 82 Municpios que aderiram ao
Programa at o momento. (BRASIL, 2009, p. 8).
1420
Gilberto
demonstrada
poder
ser
plenamente
realizada,
ampliando
12
1421
abrangncia territorial, desde que essas localidades no tenham feito adeso por
intermdio de suas secretarias municipais de educao. (BRASIL, 2014).
De acordo com a Resoluo n. 8 de 2014, os governos estaduais que
aderirem ao Projovem Urbano devero atender aos jovens aptos a participar do
Programa, residentes nos municpios sob sua jurisdio que tenham populao inferior a
cem mil habitantes, devendo garantir, nesses casos, que as atividades do curso sejam
iniciadas com no mnimo 200 estudantes agrupados em um ncleo, que poder ser
constitudo tanto por turmas de jovens residentes no municpio quanto por turmas de
dois municpios prximos. (BRASIL, 2014).
O Edital do governo do Estado de Mato Grosso do Sul n. 14/2014 de 23 de
setembro de 2014, do qual contrata professores para o Processo Seletivo
Simplificado/SED/MS Projovem Urbano demonstra o total de dezesseis municpios
que aderiram ao Projovem Urbano em Mato Grosso do Sul, Anastcio, Antnio Joo,
Bonito, Camapu, Campo Grande, Coronel Sapucaia, Costa Rica, Coxim, Deodpolis,
Dourados, Nova Andradina, Paranaba, Ponta Por, Sidrolndia, Terenos e Trs Lagoas.
CONSIDERAES FINAIS
1422
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1424
1
1425
2
1426
3
piramidal, nas federaes vigoram os princpios de autonomia dos governos
subnacionais e de compartilhamento da legitimidade e do processo decisrio
entre os entes federativos. (ABRUCIO, 2010, p.41).
Nas palavras de Sena (2013, p. 123), a federao pode ser definida como:
[...] uma forma de Estado que se caracteriza pela unio de coletividade polticas
regionais autnomas. Comporta, dessa forma, uma pluralidade consorciada e
coordenada de mais de uma ordem jurdica incidente sobre um mesmo
territrio, com mbitos de competncias previamente definidas.
Arretche (2002, p. 28) esclarece que os Estados federados, sendo constitudos pela
unio de regies autnomas e com compartilhamento de poder entre elas, "o governo central
e os governos locais so independentes entre si e soberanos em suas respectivas jurisdies,
pois cada governo local [...] est resguardado pelo princpio da soberania, o que significa que
estes so atores polticos autnomos com capacidade para implementar suas prprias polticas".
Abrucio (2010, p.41) esclarece que o federalismo uma forma de organizao
territorial do Estado e, como tal, tem enorme impacto na organizao dos governos e na
maneira como eles respondem aos cidados. Isso porque o processo de deciso e sua base de
legitimao so distintos do outro modelo clssico de nao, o Estado unitrio.
O ideal da descentralizao poltica vem desde os tempos coloniais. Os primeiros
sistemas administrativos adotados por Portugal, as governadorias gerais, as feitorias, as
capitanias, traaram os rumos pelos quais a nao brasileira caminharia fatalmente para a
forma federativa (MALUF, 2010, p. 187).
Em 1822 o Brasil tornou-se independente adotando a forma unitarista, com um
governo central que tinha grandes poderes sobre as ento provncias e as municipalidades
(ABRUCIO, 2010, p. 43).
A federao brasileira foi criada em 1891 com a implantao da Repblica Federativa
do Brasil e estruturou-se sobre as bases da experincia dos americanos com caractersticas de
base dual. Atualmente, apresenta-se de forma multifacetada no que se refere ao centro de
poder e se organiza de uma forma mais descentralizada, permitindo aos governos subnacionais
gozarem de uma maior autonomia e poder de deciso na administrao (ARAUJO, 2013).
Assim, Abrucio (2010, p. 43) esclarece que:
[...] nasce a federao brasileira, cujo mote principal era o repasse do poder
de autogoverno aos estados os municpios eram bastante frgeis e
dependentes dos governos estaduais. [...] O fato que o federalismo
brasileiro, em suas origens, foi bastante centrfugo, sem que houvesse uma
1427
4
proposta de nao e interdependncia entre as partes (ABRUCIO, 2010, p.
43).
1428
5
existentes. Como bem destacou Abrucio (2010) o problema que a duplicidade se somou, ao
longo da histria, com uma falta de articulao e coordenao entre as redes de ensino, num
ambiente de grande desigualdade no plano subnacional. (ABRUCIO, 2010, p.53).
Em 1930, ocorreu um aumento da participao nacional na definio dos rumos
educacionais com a criao de uma pasta ministerial para a rea, e em 1934, nomeando
Gustavo Capanema. Este teve uma gesto de onze anos, dando incio a um perodo reformista
para educao, mas com pouca atuao no ensino primrio, j que fora priorizado o ensino
secundrio e superior. No contexto federativo, o perodo no democrtico de Getlio Vargas,
possibilitou um enfraquecimento poltico dos governos subnacionais que gerou uma quase
extino da federao. (ABRUCIO, 2010, p.55).
O perodo de 1946-1964 tornou a federao brasileira mais dinmica e mais
democrtica, combinando melhor os princpios de autonomia e interdependncia do que nos
momentos anteriores. Pela primeira vez no plano constitucional, estabeleceu-se uma
preocupao, ainda que incipiente, com a maior coordenao federativa, mesmo que num
arremedo de federalismo cooperativo. Alm disso, a bandeira da descentralizao ganhou
fora, inclusive no se refere a bandeira municipalista. (ABRUCIO, 2010, p.55).
Esse arremedo de federalismo cooperativo que o autor se refere, serviu mais para
reduzir intervenes centralizadoras que retirassem a autonomia dos governos subnacionais,
do que para aumentar a colaborao intergovernamental com vistas melhoria e expanso da
educao no Brasil (ABRUCIO, 2010, p.55).
Embora houvesse problemas na nacionalizao da poltica educacional em virtude da
falta de aes que criasse avanos em relao universalizao do ensino, as relaes
intergovernamentais tinham em certo ponto avanado; no entanto, com o golpe de 1964
impe um unionismo-autoritrio que tomou conta da federao (ABRUCIO, 1998) fazendo
com que houvesse um retrocesso no que se tinha avanado no campo educacional.
Foram criados tributos e/ou fundos pblicos para sustentar iniciativas de
financiamento, induo ou auxlio tcnico da Unio junto aos outros entes (particularmente
municipalidades), bem como houve um reforo do aparato burocrtico federal para planejar e
controlar tal processo. Por esses instrumentos, o governo federal tentou uniformizar a
implementao das polticas por toda a federao. (ABRUCIO, 2010, p.55).
Essa nova dinmica federativa afetou fortemente a educao. O balano final da
relao entre educao e federalismo no regime militar revela que a expanso dos servios e
dos temas de atuao foi feita sob novas bases polticas, administrativas e financeiras, por
uma forte centralizao no plano federal, que se revestia, paradoxalmente, de caractersticas
1429
6
1430
7
principais da reforma do Estado mostra deficincias, uma vez que esta no se resume somente
a transferncia de competncias, responsabilidades ou de recursos; mas que preciso levar em
considerao o contexto poltico que, enfraquecido e pressionado por mudanas, procurava de
maneira impositiva, sair de um Estado centralizado para um Estado descentralizado, tido
como democrtico.
O processo de descentralizao das polticas sociais foi intensificado somente a partir
da dcada de 1980 com o fim da ditadura e a abertura para a redemocratizao poltica do
pas. Diante do quadro de fragmentao das polticas sociais, a Unio procurou se fortalecer
promovendo a universalizao da educao por meio da ao subnacional, principalmente
pelos municpios, com a transferncia da gesto das polticas pblicas. Esse movimento
resultou na concretizao da diretriz constitucional de descentralizao de polticas pblicas,
fortalecendo principalmente os municpios (FRANZESE; ABRUCIO, 2009, p. 14):
Ao introduzir a universalizao de polticas sociais por meio da
descentralizao, o governo federal brasileiro no promove apenas a
execuo de um programa nacional por meio dos municpios, mas lhes
transfere a operacionalizao e gesto da poltica pblica (Ibid., p. 14).
1431
8
para elaborar suas polticas, como para aderir s polticas elaboradas pelos outros nveis de
governo. Essa nova dinmica da gesto das polticas pblicas ganharam um novo modelo
federativo, que segundo Abrucio (2010, p. 40) se caracterizava por trs temas relacionados ao
federalismo:
[...] a descentralizao, em especial na sua traduo como municipalizao [...]
a previso de polticas nacionais orientadoras e planejadoras, nas formas da
LDB e do Plano Nacional de Educao; e [...] a proposio de um regime de
colaborao entre os nveis de governo como instrumento que garantiria a boa
implementao da poltica em todos os seus ciclos, em especial na educao
bsica.
Na execuo dessas competncias que so atribudas aos entes federados, Sena (2013,
p. 124), classifica o federalismo de duas formas:
[] dual, quando a atuao d-se de forma separada e independente e as
competncias so exclusivas e excludentes; um modelo rgido no tocante
aos poderes delegados Unio e aos reservados aos entes federados
subnacionais; [] cooperativo, quando se caracteriza por formas de ao
1432
9
conjunta entre as instncias de governo; as competncias no so partilhadas,
mas compartilhadas.
Nesse sentido, Martins (2014) adverte que num regime federativo, como o brasileiro,
o governo s atua diretamente sobre a sua esfera, relacionando-se com as demais conforme
dispe a Constituio, que no caso brasileiro adota o modelo do federalismo cooperativo.
(MARTINS, 2014, p.14).
Na relao entre os entes para execuo das competncias, a Constituio Federal de
1988 opta pelo federalismo cooperativo, no qual as competncias da Unio, estados e
municpios so compartilhadas. Ao se estruturar assim, mais especificamente na educao, a
Constituio Federal adota um sistema mais descentralizado, por meio de normas que
definem as competncias dos entes, fazendo-o sobre o princpio da colaborao entre os
mesmos (CURY, 2002) e com uma relao horizontal entre os mbitos federativos
(BRASIL, 2009, Art. 2 o, 4o).
Uma vez que a Constituio brasileira de 1988 consagrou o modelo de federalismo
cooperativo, deve existir o princpio da harmonia federativa (SENA, 2013, p. 124), pelo qual
todas as unidades federadas, sem exceo, devem atuar em conformidade para alcanar os
objetivos da Repblica Federativa do Brasil com vistas a garantir o desenvolvimento nacional
pautada nos princpios fundamentais por meio da cooperao entre os entes federados.
No aspecto que envolve a autonomia dos entes no plano poltico-administrativo, a
poltica de centralizao das decises e descentralizao da ao, juntamente com a
capacidade diferenciada de recursos, de planejamento e execuo das aes dos entes
federados tm trazido tenses no mbito do pacto federativo (CURY, 2002).
O problema do atual arranjo federativo, que a concentrao de recursos na Unio,
os critrios de repasse desses recursos levou perda de autonomia pelos municpios gerando
mais dependncia em relao ao Estado (ARAUJO, 2013, p. 229).
Abrucio (2010, p. 61) enfatiza que a organizao do sistema educacional, em regime
1433
10
de colaborao entre os entes, ainda no obteve sucesso por completo, principalmente pela
[...] falta de incentivos financeiros, gerenciais ou de democratizao que guiassem a relao
entre os nveis de governo e sua necessria colaborao. Explica o autor que para "construir
um modelo de descentralizao com poltica nacional" exige-se uma coordenao federativa
que significa "[...] sair da dicotomia de centralizao e descentralizao, que leva mais ao
jogo do cabo de guerra do que a prticas colaborativas que respeitam a autonomia dos entes,
sem perder de vista as necessidades nacionais de uma federao" (Ibid., p. 49).
Cury (2002), ao confirmar essa mesma ideia, ressalta que na ausncia de um regime de
colaborao, as diferenas entre os entes permanecer caso mantenham uma poltica orientada
principalmente pela diviso e distribuio de impostos de acordo com as competncias dos entes.
Dessa forma, se torna importante estabelecer mecanismos de cooperao entre as
unidades do Governo federado, uma vez que no so raros os conflitos referentes s questes
tributrias e desigualdades financeiras dos entes. A repartio de renda acaba sendo uma
necessidade em todo e qualquer ente da federao, e talvez a maior dificuldade para estipular
uma relao de cooperao (ABRUCIO; COUTO, 1996).
Quanto aos impasses entre os entes no desenvolvimento das poltica pblicas,
Franzese e Abrucio (2009, p. 8) colocam que existem dois impactos que so prprios do
federalismo: a autonomia e interdependncia. A interdependncia se manifesta no federalismo
cooperativo produzindo "[...] dilemas de deciso conjunta em razo do processo de
responsabilidade compartilhada nas polticas sociais".
A autonomia refere-se ao modelo federalista competitivo que [...] cria novos atores
institucionais (com base territorial) e que, como unidades autnomas, so capazes de sustentar
opes prprias de polticas pblicas e ainda influenciar as possibilidades de polticas sociais do
governo central e das demais unidades federativas (FRANZESE; ABRUCIO, 2009, p. 7).
De acordo com Arretche (2002), os entes resguardados pela Constituio em suas
autonomias, so considerados atores polticos com capacidade para implementar as suas
polticas pblicas.
A Constituio Federal brasileira, na sua histria, busca consolidar um processo
democrtico na gesto da educao e ao mesmo tempo descentralizador nas suas aes,
quando possibilita aos entes agirem com autonomia para tomar decises relacionadas s suas
prprias realidades, demandas e necessidades. No entanto, de acordo com Araujo (2013, p.
232) os estudos sobre a descentralizao pela via da municipalizao identificam que ainda
existem grandes dificuldades no federalismo quanto implementao das polticas
educacionais com o objetivo de equalizao das oportunidades educacionais.
1434
11
Consideraes Finais
A gesto das polticas educacionais torna-se complexa, principalmente quanto ao
regime de colaborao, posto que esta, em um regime federativo cooperativo, pressupondo a
autonomia dos entes federados, torna-se uma arena de disputas dos diferentes atores, com
diferentes interesses. Sena (2013, p. 138) refora esse pensamento dizendo que "[...] a
coordenao de medidas, essencial ao planejamento, torna-se mais sujeita a dificuldades no
ambiente federativo, dada a multiplicidade dos ncleos de poder".
Dentre as principais dificuldades na gesto da educao no estado federativo esto: a
falta de esclarecimento sobre as normas que regulamente o "regime de colaborao"
(ARAUJO, 2010a, p. 237). Para Araujo (2010, p. 758), a falta de clareza do que vem a ser um
regime de colaborao levou a duas relaes conflitantes: uma horizontal, na qual os conflitos
se do principalmente pela falta de articulao e coordenao do governo federal.
Estes conflitos podem ser observados pela desresponsabilizao dos entes para "[...]
garantia de medidas de acesso, permanncia e qualidade nas etapas e modalidades da
educao bsica" (Ibid., p.758); e outra vertical, na qual o Governo opta pela descentralizao
com pouca interveno, exercendo um papel de fiscalizador dos processos, que leva a uma
forte relao de competitividade entre os entes na disputa por recursos.
A indefinio das responsabilidades pelas competncias comuns dos entes possibilitou
aos estados sentirem-se desobrigados em fazer qualquer investimento na rea educacional,
transformando a descentralizao em um repasse de funes (FRANZESE; ABRUCIO,
2009).
Percebe-se na legislao educacional, um interesse em fortalecer as relaes
intergovernamentais por meio do pacto federativo caracterizado pelo sentido de cooperao
entre os entes com o apoio tcnico e com "transferncias regulares e contnuas de recursos
financeiros" pela Unio para diminuir as desigualdades regionais e para ofertar uma educao
de qualidade (BRASIL, 2014a, p. 86). No entanto, para garantia do direito educao com
qualidade necessrio uma descentralizao da gesto que permita uma autonomia na gesto da
educao com o planejamento e implementao das polticas educacionais em mbito local e a
complexa tarefa da construo de um financiamento que diminua as diferenas econmicas e
sociais entre os entes federativos (BRASIL, 2014a, p. 86).
Referncias
1435
12
1436
13
1437
14
1438
Resumo:
Este trabalho apresenta como objetivo geral a anlise das contribuies do Plano de Aes
Articuladas (PAR) enquanto programa estratgico do Plano de Desenvolvimento da Educao
(PDE) para a formao continuada dos profissionais da educao em quatro municpios de Mato
Grosso do Sul, no perodo de 2007 a 2010. Buscou-se evidenciar quais as aes foram
implementadas nos municpios via PAR em torno da formao continuada. Desenvolvido por
meio de pesquisa bibliogrfica e documental, com a utilizao de questionrio e entrevista
semiestruturada com os responsveis do programa nos municpios. Constatou-se que o Plano de
Aes Articuladas constitui-se como um importante instrumento de planejamento local que
viabiliza a construo de uma educao pblica de qualidade no pas. Concluiu-se que aes
foram implementadas nos municpios via PAR com o intuito de fortalecer e construir uma
formao continuada dos professores da educao bsica de qualidade.
Palavras-chave: Polticas educacionais, Plano de Aes Articuladas (PAR) e Formao
continuada.
Introduo
Nas ltimas dcadas, no Brasil, esforos foram concentrados na rea educacional, tendo
como horizonte os desafios postos pelas demandas e necessidades que tm emergido da
1439
sociedade, como de natureza social, econmica e cultural na conjuntura dos direitos humanos. Na
rea educacional, entre tantas aes polticas, procurou-se:
Nesta direo, segundo Freitas H. (2007) durante os ltimos 30 anos busca-se uma
poltica global de formao docente que conceba de forma a associar e priorizar a formao
inicial e formao continuada por meio da concepo scio - histrica do docente e orient-lo na
luta pela qualidade da educao pblica no pas.
Essa busca, porm, no se concretiza no meio de uma sociedade marcada pela
desigualdade e pela iseno prpria do capitalismo. Compreender tal vnculo necessrio para
perceber a amplitude dos problemas relacionados educao e a formao no contexto capitalista
1440
1441
Metodologia
O Plano de Metas Compromisso Todos pela Educao, institudo pelo Decreto n. 6.094
de 24 de abril de 2007, um programa estratgico do Plano de Desenvolvimento da Educao
(PDE) e inaugura um novo regime de colaborao. Este novo regime busca contribuir com a
atuao dos entes federados sem ferir-lhes a autonomia, envolvendo primordialmente a deciso
poltica, a ao tcnica e atendimento da demanda educacional, visando melhoria dos
indicadores educacionais. Trata-se de um compromisso fundado em 28 diretrizes e
consubstanciado em um plano de metas concretas, que compartilha competncias polticas,
tcnicas e financeiras para a execuo de programas de manuteno e desenvolvimento da
educao bsica (BRASIL, 2007d).
Ao aderir ao Plano de Metas, os municpios elaboram o Plano de Aes Articuladas
(PAR), este composto por um diagnstico da educao do municpio e objetivos a serem
atingidos. O plano dividido em quatro reas: (1) gesto educacional, (2) formao de
professores e de profissionais de servios e apoio escolar, (3) prticas pedaggicas e avaliao e
(4) infraestrutura e recursos pedaggicos.
1442
1443
Critrio
Municpio
Populao
IBGE/2010
Navira
46.424
Ponta Por
83.747
Corumb
107.347
Dourados
207,498
Assim, a investigao teve incio a partir de pesquisa bibliogrfica, por meio de reviso de
literatura que, segundo Creswel (2004), tem vrios objetivos, tais como:
Compartilha com o leitor os resultados de outros estudos que esto
proximamente relacionados ao estudo que est sendo relatado; relaciona um
estudo ao dilogo corrente mais amplo na literatura sobre um tpico,
preenchendo lacunas e ampliando estudos anteriores; fornece uma estrutura para
estabelecer a importncia do estudo e um indicador para comparar os resultados
de um estudo com outros resultados (CRESWEL, 2004, p. 46).
1444
Resultados e discusso
1445
1446
propiciar aos docentes uma postura reflexiva e crtica sobre suas aes, levando-os a produzirem
conhecimentos e aprimorarem suas estratgias para enfrentarem os desafios de sua profisso.
Havendo uma articulao entre instituio e professores, os problemas enfrentados no cotidiano e
trabalhados no coletivo fortalecem a construo de novas alternativas de ao pedaggica.
Assim, ao analisar o Plano de Aes Articuladas (PAR) dos municpios acima
relacionados, quanto a sua contribuio para a formao continuada dos docentes, uma vez que
este plano tem como objetivo melhorar a qualidade da educao, utilizando como estratgia a
formulao de um diagnstico, no qual so mencionados os pontos frgeis do campo educacional
de cada municpio que precisam ser solucionados na busca da melhoria da educao pblica. E
tendo tambm, como base as quatro dimenses, cujo Plano dispe: Dimenso 1 Gesto
educacional, Dimenso 2 Formao de Professores e dos Profissionais de Servio e Apoio
Escolar, Dimenso 3 Prticas pedaggicas e Avaliao e Dimenso 4 Infraestrutura Fsica e
Recursos Pedaggicos.
O estudo analisou o PAR dos municpios no que diz respeito a Dimenso 2 Formao de
Professores e dos Profissionais de Servio e Apoio Escolar.
Concluiu-se que por meio do PAR todos os municpios implementaram programas de
formao continuada para seus professores no perodo que diz respeito ao perodo de 2007 a
2010. Foram programas como o Pr-Letramento, o Gestar I, o PROFA, o PNAIC, formaes por
meio da Plataforma Freire. Foram formaes para a educao infantil, anos/sries iniciais e finais
do ensino fundamental, formao para professores de escolas de campo e formao para
cumprimento da Lei n.10.639.
A contribuio do PAR para a formao continuada dos docentes na rede pblica de
ensino pode ser observado tambm por intermdio da entrevista de um dos responsveis pelo
PAR na secretaria de educao, ao afirmar que
[...] olha eu acho que na questo da formao ele foi bem decisivo, porque as
aes elas foram todas focadas na parte da formao, n, mesmo as aes que,
por exemplo, foram feitas na parte de gesto, elas eram de formao, at
porque como maior parte dessas aes seria executada pelo municpio com
assistncia tcnica do MEC.
O estudo permitiu verificar que, uma poltica nacional de formao de professores, inicial
e/ou continuada, pode avanar na medida em que os diferentes segmentos da sociedade e
1447
REFERNCIAS
1448
MELLO, Guiomar Namo de. Formao inicial de professores para a educao bsica: uma (re)
viso radical. Perspecitiva., So Paulo, v.14, n.1, jan./mar. 1999.
MAUS, Olgases. Reformas internacionais da educao e formao de professores. Cadernos de
Pesquisa, Campinas, n. 118, p.89-117, mar. 2003.
Rego e Mello (2002) REGO, Cristina Teresa; MELLO, Guiomar Namo de. Formao de
professores na Amrica Latina e Caribe: A busca por Inovao e Eficincia. In: Anais ...
Conferncia Internacional Desempenho dos Professores na Amrica Latina tempo de Novas
Prioridades. Braslia, 2002. Disponvel em:
<http://www.namodemello.com.br/pdf/escritos/oficio/tereaversaoenviada.pdef>. Acesso em: fev.
de 2014.
1449
Rizete Pereira
Resumo
O objeto deste ensaio de pesquisa o Programa Mais Educao (PME), e visa analisar sua implantao, expanso
e evoluo no Estado de Mato Grosso do Sul no perodo de 2008 a 2014 Aps o levantamento bibliogrfico do
tema observou-se que existem poucos estudos a respeito da escola pblica em jornada ampliada em MS, ento nos
propomos a investigar. Para tanto a metodologia usada foi de levantamento das legislaes que regulamentam o
Programa e os dados estatsticos em textos, tabelas e grficos (nmeros de escolas, nmero de matriculas de alunos
e municpios que aderiram ao programa), como fonte a SED/MS, e entrevistas. Verifica-se que o PME foi
implantado, porm, conclui-se que ao decorrer das anlises o programa Mais Educao obteve investimentos
insuficientes para garantir a manuteno e qualidade nas escolas de jornada ampliada e apresenta algumas
dificuldades, e apesar da expanso do programa.
Palavras-chave: Implantao; Expanso; Evoluo; Mais Educao
Introduo
1450
2
(Ideb)1 para elevar o desempenho e se supriu a demanda de matricula nas escolas. Para coleta
de dados foram utilizados pesquisa bibliogrfica junto a Secretaria de Educao. E aps o
levantamento de dados identificou-se que no Estado de MS existem 12 escolas na Capital,
Campo Grande e 18 escolas no interior num total de 16 Municpios as quais oferecem a
Educao Fundamental em Tempo Integral atravs do Programa Mais Educao. Em 2014,
mais de 58 mil escolas no Brasil aderiram ao programa, que contou com investimento da ordem
de R$ 1,5 bilho.2
1451
3
1452
4
Dentro deste contexto, Moll (2011) discute que o conhecimento no pode ficar apenas
dentro das disciplinas, o conhecimento abrange toda a histria da comunidade, do bairro, cultura
onde a escola est inserida Alves (2001) tambm, destaca as transformaes econmico-sociais
faz com que a escola seja vista como o nico local reservado criana e ao adolescente na
sociedade e que ambos aportam uma ampla necessidade que vo alm da formao intelectual.
Alves (2001) diz que essa nova instituio educativa, que, vem sendo denominada
escola de tempo integral, precisa ser redimensionada e dotada de instrumentos que estimulem
a criana e o jovem e lhes assegure meios de superar as suas necessidades. E para isso o espao
escolar deve ser repensado e a gesto dessa nova escola social, torna-se complexa, exigindo
adequadas solues.
1453
5
Alves (2001) levanta a questo para o fato da escola integrar servios vinculados a
diferentes reas de governo: educao, sade, bem-estar social etc. Algumas experincias
educacionais no Brasil j vm revelando dificuldades para o ajuste e a integrao desses
servios, originando conflitos dentro das escolas.
1454
6
10
Fonte: Caminhos para elaborar uma proposta de Educao Integral EM JORNADA AMPLIADA, SEB/MEC,
2011.
11
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, coordenao de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional por amostra
de domicilio 2013
1455
7
Ideb observado
Metas Projetadas
Estado
2005
2007
2009
2011
2013
2007
2009
2011
2013
2015
2017
2019
2021
do MS
3.2
4.00
4.4
4.9
5.1
3.3
3.6
4.0
4.3
4.6
4.9
5.2
5.5
Devido a isso, em 2008 Mato Grosso do Sul, durante a gesto do governador Andr
Puccinele (2007-2010) reeleito (2011-2014) tendo como Secretria de Educao Prof Maria
Nilena Badeca da Costa, implanta o Programa Mais Educao em duas unidades escolares do
Municpio de Campo Grande/MS
Ao apresentar bons resultados o Governo amplia em 2009 para quatro unidades (4), e
a SED/MS implanta a primeira unidade no interior do Estado, a Escola Estadual em
Corumb/MS, e mais uma em Campo Grande.
Grfico 1 -Distribuio de escolas cadastradas no Programa Mais Educao (Educao Integral) na rede
estadual de ensino no Estado de Mato Grosso do Sul (2008 - 2012)
35
31
30
24
24
2010
2011
25
20
15
10
5
0
2008
12
2009
2012
1456
8
Percebe-se pela leitura do grfico que no perodo de 2008 a 2012 no Estado de Mato
Grosso do Sul obteve um crescimento no nmero de instituies de tempo integral. Entre o ano
de 2008 e 2012 o nmero de escolas teve um aumento de 1450%, ou seja, 14,5 vezes.
Observa-se que no ano de 2010, ocorre uma expanso e o nmero de escolas de tempo
integral da rede passa de quatro instituies para vinte. Identificamos que em 2012, a Secretaria
de Educao amplia o nmero de escolas chegando a trinta e uma.
N de escolas
4000
3500
3000
2500
2000
1500
1000
500
0
N de alunos
3.397
360 362
1245 1 1 12
1.345
1.104989
672
412
339 364
255
166
1 3 1 1 1 1112 1127 2 1 1219 1 1
1457
9
6000
5000
4000
3000
2000
1000
0
MUNICPIOS
2008
1
2009
2
2010
9
2011
12
2012
15
2013
17
N ESCOLAS
25
24
31
33
241
563
ALUNOS ATENDIDOS
MUNICPIOS
N ESCOLAS
MNICPIOS
N DE ESCOLAS
N DE ALUNOS
ANASTCIO
01
245
AQUIDAUANA
01
360
BODOQUENA
01
362
CAMPO GRANDE
12
3.397
CASSILANDIA
01
255
CORUMB
03
1.345
COXIM
01
672
FTIMA DO SUL
01
166
MIRANDA
01
412
NOVA ANDRADINA
01
112
01
127
PARANABA
02
1.104
PONTA POR
01
989
TAQUARUSSU
01
219
TERENOS
01
339
TRS LAGOAS
01
364
TOTAL
30
10.468
1458
10
Ideb observado
Metas Projetadas
Unidade Escolar
2009
2011
2013
2009
2011
2013
2015
2017
3.6
5.1
3.7
3.1
3.6
3.9
4.2
4.5
5.3
5.6
6.2
3.1
3.5
3.8
4.1
4.4
5.3
5.9
6.0
4.7
4.9
5.2
5.5
5.17
Ideb observado
Metas Projetadas
Unidade Escolar
2009
2011
2013
2009
2011
2013
2015
2017
3.1
3-5
3.7
2.9
3.3
3.6
3.9
4.2
5.4
5.7
5.0
4.7
5.1
5.4
5.6
5.9
4.7
6.1
3.9
4.3
4.6
4.9
5.2
Barros- Corumb
Srie Mais Educao Rede de Saberes Mais Educao Pressupostos para Projetos Pedaggicos de
Educao Integral/MEC/2009
13
1459
11
Fonte: IDEB INEP/MEC/CENSO DA EDUCAO BSICA CENSO ESCOLAR, elaborado a partir dos
dados da SED/MS 24.03.2015.
Diante de dos grficos apresentados foi possvel perceber uma aprendizagem por parte
dos alunos devido o bom desempenho do profissional dentro da escola (de acordo com nossa
primeira observao in loco), pois os mesmos ao longo do tempo foram driblando a falta de
financiamento, estrutura e manuteno, implementando aes de modo gradual, j que foram
delegadas a essas escolas o papel de manuteno mesmo que essas escolas no foram planejadas
para a permanncia dos alunos em tempo integral, porm existem excelentes professores,
independente de resultados de avaliaes padronizadas. Essas ponderaes exigem de ns uma
resposta mais aprofundada e pesquisada, como o trecho abaixo a meno construo de
escolas, que foi ausente no PNE-142001, representando um avano implantao consequente
das ETI.
Instituir em regime de colaborao, programa de construo de escolas com padro
arquitetnico e de mobilirio adequado ao atendimento em tempo integral,
prioritariamente em comunidades pobres ou com crianas em situao de
vulnerabilidade social (BRASIL, 2014).
Durante nossa visita em cinco escolas da Capital que aderiram o horrio integral
percebemos por meio de conversas formais e observaes que a implantao do programa no
foi planejada e nem foi consultada a comunidade. Foi uma imposio dos rgos competentes,
algumas escolas no haviam infraestrutura para o porte desse projeto de educao, pela
representao da escola para os pais uma das vantagens dessa escola que a criana fique em
lugar seguro e aprendendo. Percebe-se o problema scio histrico devido s mudanas
decorrentes do capitalismo que exige que as mes trabalhem fora de casa.
Neste contexto, no percebemos um dilogo prvio entre a Escola e o Estado15 e com
as entidades representativas de profissionais da educao sem uma ampla consulta para se
implantar o projeto quanto menos a mobilizao e participao da comunidade escolar no
processo. Isso demonstra ainda que a cultura de participao democrtica no se enraizou no
sistema educacional brasileiro em todas as instancias e nveis de organizao.
Cavaliere (2014), apresenta algumas condies para ETI: 1. as escolas so instituies
complexas e uma ETI ainda mais complexa, porque no temos construes escolares
preparadas para a rotina em tempo integral e todas esto ocupadas por, no mnimo, dois grupos
de alunos por dia; 2 Construir e reformar escolas condio de mdio e longo prazo para a
14
15
1460
12
Consideraes finais
Referncias
ALVES, Gilberto L. A produo da escola pblica contempornea. 4 Ed. Campinas SP:
Autores Associados, 2006.
BRASIL. Constituio (1988). Constituio da Repblica Federativa do Brasil. Braslia,
DF: Senado, 1998.
BRASIL. Lei n 8.069 de 13 de julho de 1990.art 11.Estatuto da criana e do adolescente.
Braslia, DF. Disponvel em < http://www.mec.br >acesso em 11 de janeiro de 2014.
BRASIL. Lei n 10172, de 9 de janeiro de 2001.Educao integral. Disponvel
em:<http://www.mec.gov.br. >Programas. Acesso em 20 de maio de 2014.
BRASIL. Decreto n 7083/2010. Mais educao. Ministrio da educao, Braslia, DF.
Disponvel em: <http://www.mec.gov.br >Acesso em 11 de janeiro de 2013.
BRASIL. Portaria Normativa Interministerial n 17, de 24 de abril de 2007.Ministrio da
educao, Braslia, DF. Disponvel em: < http://www.mec.gov.br> Acesso em :14 de janeiro
2014.
BRASIL. Lei n 10.176/2001. Plano Nacional de Educao. PNE.
1461
13
1462
1
1463
2
sociais
mais
consoantes
com
suas
reivindicaes/aspiraes
histricas,
1464
3
do
governo
quanto
pelos
diversos
(e,
por
vezes,
antagnicos)
1465
4
bens sociais, a compreendida a educao escolar (CURY, 2005, p. 12). Considera-se que os
conceitos de direitos humanos e de cidadania so a base sobre a qual se desenvolvem
perspectivas de incluso e de educao para a diversidade no espao escolar brasileiro. Ao
tratar da incluso, h que se atentar ao sentido do termo que anseia dar acesso aos excludos.
Portanto, ao abordar a temtica da incluso faz-se necessrio discutir o conceito de
igualdade e de direitos. Para Marshall (1967), a igualdade pode ser entendida em trs
dimenses que historicamente se sucedem: a igualdade civil, a igualdade poltica e a
igualdade social, que juridicamente se materializam como direitos consolidados nas leis.
Para Cury (2005, p. 14-15), as polticas inclusivas podem:
[...] ser entendidas como estratgias voltadas para a universalizao de
direitos civis, polticos e sociais. Elas buscam, pela presena interventora do
Estado, aproximar os valores formais proclamados no ordenamento jurdico
dos valores reais existentes em situaes de desigualdade.
1466
5
passado, momento em que a Declarao Universal dos Direitos dos Homens desencadeou
uma srie de debates e acordos internacionais dos quais o Brasil foi signatrio.
Dentro de um amplo espectro de grupos excludos pode-se destacar alguns segmentos
que passaram a ser priorizados pelo Estado na formulao de polticas pblicas, tais como os
que visavam eliminar o preconceito tnico-racial. Theodoro (2014) afirma que o racismo
naturaliza a desigualdade, alm de contribuir para a manuteno e engessamento da hierarquia
social, aliado falta de mobilidade racial que ainda caracteriza o pas.
1467
6
1468
7
1469
8
1470
9
relaes sociais e de poder (BRASIL, 2013, p. 28). Nesse sentido, o debate sobre o direito a
igualdade se colocou diante do reconhecimento de uma sociedade desigual.
A preocupao em nomear a diversidade e especificar quais so esses grupos esteve
presente no DR da CONAE/2014, conferindo visibilidade aos grupos obliterados por uma
lgica hegemnica de dominao histrica.
O trato das questes da diversidade se coloca para alm do trato tico e democrtico
das diferenas, da superao de prticas pedaggicas discriminatrias e excludentes se
constituindo em articulao para a construo da justia social, a incluso e os direitos
humanos (BRASIL, 2013, p.28). Segundo o DR da CONAE/2014, essa construo se
articula com a luta dos movimentos sociais organizados politicamente para a afirmao do
direito diferena, como afirmao da igualdade de direitos.
importante destacar a emergncia de alguns segmentos sociais no contemplados no
documento anterior, tais como os povos das florestas, povos das guas, comunidades
tradicionais e ciganos. H que se destacar ainda que o DR da CONAE/2014 amplia algumas
concepes do documento anterior. Como exemplo, podem-se mencionar as propostas que
contemplam a categoria gnero e diversidade sexual, que ao serem ampliadas e ao estarem
amparadas no Manual de Comunicao da Associao Brasileira de Lsbicas, Gays,
Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) traz tona a necessidade em se construir uma
sociedade democrtica, que supere situaes de sexismo, homofobia, lesbofobia e
transfobia, at mesmo porque nenhuma pessoa dever ser submetida a qualquer forma de
coero, discriminao e violncia, tendo em vista sua orientao sexual e identidade de
gnero.
Outro exemplo refere-se ao conceito de incluso que no Documento Final de 2010, foi
apresentado de maneira mecnica e incipiente, como se a educao inclusiva perpassasse
apenas pelo acesso, permanncia e sucesso na educao bsica e superior dos estudantes com
deficincia, transtornos globais do desenvolvimento, altas habilidades e superdotao. Com
uma viso mais qualitativa, o DR da CONAE/2014 trouxe tona a concepo de que uma
sociedade/escola inclusiva deve agregar todos os segmentos sociais.
Para Mantoan (2006), a sociedade precisa alavancar sua concepo de incluso e
entender que ela no se restringe somente insero das pessoas com deficincias sociedade
ou ao espao escolar. Todavia, preciso ter cautela com esse tipo de discurso, at mesmo
porque em uma sociedade excludente como a capitalista, a desigualdade social e as diferentes
formas de apropriao dos bens materiais e saberes produzidos culturalmente e socialmente
1471
10
1472
11
1473
12
No que tange aos vrios movimentos e/ou segmentos sociais que ganharam
visibilidade no DR da CONAE/2014, destacam-se o feminista, o indgena, o LGBTT, o negro,
o quilombola, o ambientalista, das populaes do campo, dos povos das florestas, dos povos
das guas, das comunidades tradicionais e ciganos.
Vale apontar que os povos das guas, povos das florestas e ciganos aparecem
nominados como populaes itinerantes em trs estratgias, ao lado das populaes
1474
13
tradicionais, que em linhas gerais visam alfabetizao dessas populaes com materiais
especficos se necessrios e respeitando todas as especificidades que houver, alm da oferta
da Educao de Jovens e Adultos com a educao profissional, em cursos presencias e a
distncia. Embora seja pontual a nfase a esses povos, compreende-se como um avano,
diante de sua invisibilidade recente nas diferentes polticas pblicas educacionais do Brasil.
Por fim, constata-se que apenas o movimento feminista e o LGBTT no foram
mencionados no PNE (2014-2024). Como destacado acima, a busca pela promoo da
igualdade de gnero e de orientao sexual, foi mitigada diante do enfrentamento de grupos
religiosos, aliado aos deputados que compem a bancada evanglica no Congresso. Salientase que todo este retrocesso culmina num problema maior, pari passu, refora e naturaliza
formas de discriminao e de preconceito instaurados ao longo da histria humana.
CONSIDERAES FINAIS
O presente trabalho teve como objetivo analisar os avanos e retrocessos presentes
desde o processo de realizao das Conferncias Nacionais de Educao em 2010 e 2014, at
aprovao do Plano Nacional de Educao com vigncia de uma dcada (2014-2024) frente
temtica da diversidade. No h como negar os ganhos que o pas teve ao aprovar o presente
PNE. Contudo, diante das disputas polticas e de grupos organizados socialmente, algumas
temticas que o eixo diversidade contempla avanaram, enquanto outras perderam fora e/ou
visibilidade no PNE.
A temtica da diversidade de maneira geral foi secundarizada, sendo alocada num
mesmo inciso com o tema da sustentabilidade ambiental. E, quando o documento menciona
diversidade cultural, abrange apenas as comunidades indgenas e quilombolas, alm da
educao especial neste processo, o que se entende como um retrocesso, se comparado ao que
vinha sendo anunciado, inclusive no DR da CONAE (2014). Anteriormente havia propostas e
interlocues a partir de vrios movimentos e/ou segmentos sociais, tais como o feminista,
indgena, LGBTT, negro, quilombola, ambientalista, do campo, povos das florestas, povos
das guas, comunidades tradicionais e ciganos.
O maior retrocesso ficou por conta do debate sobre as temticas de gnero e
sexualidade, que mesmo aps serem proclamadas como fundamentais durante os documentos
das CONAEs, no que tange promoo da igualdade de gnero e de orientao sexual, foram
retiradas da lei que aprovou o atual PNE (2014-2024). Este processo, decorrente da presso de
grupos religiosos, em consonncia com o posicionamento dos deputados que compem a
1475
14
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
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1476
15
1477
RESUMO:
Este artigo visa apresentar resultados preliminares de pesquisa que tem como objetivo analisar
o papel do Comit Local do Compromisso em dois municpios sul-mato-grossenses, Campo
Grande e Corumb, no perodo de 2011 a 2014. A organizao desse Comit trata-se de uma
exigncia do Decreto n. 6.094 de 2007 que instituiu o Plano de Metas Compromisso Todos pela
Educao e formalizou o Plano de Desenvolvimento para a Educao (PDE) para a educao
bsica. O Plano de Metas tem como instrumento de planejamento e operacionalizao da
poltica educacional, o Plano de Aes Articuladas (PAR), elaborado pelos entes federados
(estados e municpios), para recebimento de assistncia tcnica e financeira da Unio. Ao
Comit atribuda a funo de mobilizar a sociedade, tendo em vista o acompanhamento das
aes previstas no PAR e o acompanhamento das metas de evoluo do ndice de
Desenvolvimento da Educao (Ideb). Neste texto, focaliza-se a anlise do movimento do
Comit Local do Compromisso, desde o lanamento do PDE, do primeiro ciclo do PAR, 20072010, at o segundo ciclo 2011-2014, observando-se como os municpios atenderam s
regulaes desencadeadas pelo PDE e definiram aes para subsidiar a atuao desse Comit.
Utilizar-se- como procedimento metodolgico a anlise documental. Os resultados indicam
que a organizao e o funcionamento do Comit Local do Compromisso constituem-se induo
do Governo Federal e podem, a depender da ao dos atores locais, apresentarem-se como
experincias de democratizao da gesto da educao bsica.
Palavras-chave: Plano de Desenvolvimento da Educao; Plano de Metas Todos pela
Educao; Plano de Aes Articuladas; Comit Local do Compromisso; Gesto democrtica.
1- Introduo
Este artigo tem como objetivo apresentar um recorte de pesquisa de doutorado1
em andamento que se prope a analisar o papel do Comit Local do Compromisso, no
mbito do Plano de Aes Articuladas (PAR), 2011-2014, segundo ciclo do PAR, e
suas implicaes para a democratizao da gesto da educao bsica nos municpios de
Campo Grande e Corumb, estado de Mato Grosso do Sul.
1
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1479
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1482
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na
definio
do
planejamento
pblico
e,
principalmente,
no
Excertos retirados do texto que est no link presente no Instrumento Diagnstico PAR Municipal 20112014 (BRASIL, 2011) para auxiliar as Secretarias Municipais de Educao nas discusses sobre a
composio
e
funo
do
Comit
Local.
Disponvel
em
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=14720&Itemid=1051. Acesso
em: 12 de julho de 2015.
1484
(2)
(3)
(4)
1485
FONTE: Guia Prtico de Aes para os municpios PAR 2011-2014 (BRASIL, 2011c, p. 13)
1486
FONTE: Guia Prtico de Aes para os municpios PAR 2011-2014 (BRASIL, 2011c, p. 13)
1487
da gesto da educao bsica. Assim, deve-se observar se esse espao constitui-se uma
concretizao marcada por muita gesto (tcnico-instrumental) para pouca democracia
substantiva, quando se abre espao para debater sobre as realizaes prticas, indo-se
alm das definies essencialistas e legalistas, conforme reflete Lima (2014, p.1070)
Nesse sentido, no se pode afirmar que a partir da garantia institucional para que
se estabelea a gesto democrtica tenha-se uma relao direta com a efetiva
participao, uma vez que pensar em participao e em gesto democrtica no mbito
dos sistemas de ensino ainda se configura em um desafio. H que se analisar as
dificuldades para o estabelecimento da gesto democrtica, pois o modelo de gesto
praticado na administrao pblica apresenta, ainda, fortes resqucios do modelo
patrimonialista, marcado pelo clientelismo, centralizao de poder, falta de
transparncia e pelo distanciamento entre governo e sociedade (ARRETCHE, 2010;
ABRUCIO, 2010), posies que se chocam com os princpios democrticos e dificultam
o fortalecimento da democracia, tendo-se conscincia que de fato o que predominou no
Brasil foi uma estrutura patrimonialista e clientelista, no sentido de que o que
pblico tem sido determinado pela esfera do privado (JESUS, 2014, p. 179).
5- COMIT ESTRATGICO DO PAR: OUTRAS POSSIBILIDADES
Importante mencionar que no mesmo perodo de vigncia do PAR (2011-2014),
aprovou-se, em mbito nacional, a criao do Comit Estratgico do PAR a partir do
texto da Lei 12.695, de julho de 2012:
Art. 3o Fica institudo o Comit Estratgico do PAR, no mbito do
Ministrio da Educao, com o objetivo de definir, monitorar e
revisar as aes, programas e atividades que sero objeto de apoio
tcnico ou financeiro da Unio [grifo nosso] assegurada a
representao do Conselho Nacional de Secretrios de Estado da
Educao - CONSED e da Unio Nacional dos Dirigentes Municipais
de Educao - UNDIME, na forma de regulamento.
1o A incluso ou a atualizao das aes do PAR pelo comit de
que trata o caput poder implicar a reviso do termo de compromisso
a que se refere o 1o do art. 4o (BRASIL, 2012. Grifos nossos).
1488
1489
Podem-se relacionar esses nveis crescentes com o que Vieira (1992) apresenta
em outro texto de sua autoria que entende a democracia como processo, pois para o
autor ela no constitui um estgio, constitui um processo. O processo pelo qual a
soberania popular vai controlando e aumentando os direitos e os deveres um processo
prolongado, implicando avano muito grande dentro da sociedade. (VIEIRA, 2001, p.
14).
Assim, cabe aqui resgatar a etimologia gesto, conforme apresenta Cury (2002,
p.164) gesto provm do verbo gero, gessi, gestum, gerere e significa: levar sobre si,
carregar e executar e exercer, ou seja, algo que implica o sujeito. Segundo o autor, o
substantivo gestatio (gestao), derivado desse verbo, implica reconhecer que a gesto
traz em si algo novo. E isso se confirma quando o autor traz tambm a raiz do mesmo
verbo, ger-, que significa fazer brotar, do que se depreende que a gesto relaciona-se a
um novo modo de administrar uma realidade que em si mesma democrtica, j que se
traduz pela comunicao, pelo envolvimento e pelo dilogo, um alto grau de
determinao aos Comits Locais do Compromisso e aos sistemas municipais de
educao e aos demais atores envolvidos na elaborao, acompanhamento das aes
desencadeadas pelo PAR nos municpios brasileiros.
REFERNCIAS
ABRUCIO, F. L.. A dinmica federativa da educao brasileira. In: OLIVEIRA, R. P.
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1490
1491
1492
Introduo
No Brasil, o planejamento educacional passou por inmeros vieses para atender
interesses diversos. Sua elaborao centralizada era baseada na diviso do trabalho, separando
os que pensam e dos que executam. Tornando os agentes executores em meros tarefeiros.
Esse modelo, porm, no podia ser sustentado perante uma constituio com princpios
democrticos como a de 1988. Contudo, colocar a sociedade civil como protagonista de um
processo que lhe foi negado por muito tempo um processo que ainda est sendo construdo.
1493
1494
tcnicos que fixava metas para a realizao das prioridades econmicas. Ganha consistncia
nos anos de 1950 impulsionado por entidades internacionais de assistncia tcnica e
financeira que incentivaram o planejamento estatal como forma de impulsionar o
desenvolvimento na regio, inclusive condicionando a elaborao do plano para a liberao de
crdito. O Plano de Metas do governo do presidente Kubitschek (1956-1960) foi a primeira
experincia de um plano abrangente, incorporando inclusive o setor social (FONSECA,
2013).
Contudo, o planejamento na rea educacional s vai emergir na segunda metade do
sculo 20, como enfatiza Scaff (2007, p. 335) O planejamento voltado para a rea especfica
da educao s vai emergir na segunda metade do sculo 20, como resultado de um
movimento mais amplo, de carter internacional, j que se constituiu tema de vrias reunies
e conferncias internacionais.
Trs documentos importantes so citados pela autora por refletirem a preocupao
com o planejamento educacional por parte do governo nacional: [...] Lei de Diretrizes e
1495
1496
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1498
Talvez no precise haver uma escolha maniquesta, a chave est em ter capacidade
poltico-administrativa sem deixar de receber auxlios tcnicos e financeiros.
No campo educacional o carter descentralizador foi expresso na Lei de 1834,
conhecida como Ato Adicional e foi mantida na Constituio de 1891. Nesse momento a
Unio se responsabiliza apenas pela educao no Distrito Federal, os estados que ficaram
responsveis pela educao dentro de seus territrio. Os estados favorecidos economicamente
criaram seus Sistemas de Ensino, enquanto os menos favorecidos transferiram essa
responsabilidade aos seus municpios (OLIVEIRA, SOUZA, 2010).
Abrucio (2010) ressalta que a participao da unio na educao volta em 1930 com a
pasta Ministerial e 1934 a nova organizao ganha fora com a nomeao de Capanema. A
CF.88 prev a organizao do sistema de ensino em regime de colaborao, sendo que os
estados e municpios podero ter sistemas de ensino prprios. Importante tambm foram a
Emenda Constitucional (EC) n 14, de 1996 (BRASIL, 1996a), e a Lei de Diretrizes e Bases
da Educao Nacional (LDB) de n 9.394/1996 (BRASIL, 1996b) que definiram as
atribuies de responsabilidades dos entes federados na educao nacional.
As bases tericas da relao federativa e de colaborao, nos aponta para o estado e
municpio como entes federados importantes na implementao de polticas educacionais, a
legislao direcionada ao tema e sinaliza que est havendo avanos. A cooperao
intergovernamental tornar-se- mais eficiente a media que o Estado tornar-se mais agente
coordenador das polticas.
O sucinto esboo das relaes federativas aponta para uma tarefa complexa, a criao
de um Sistema Nacional de Educao. A maior complexidade advm em parte por no se ter
legislao especfica sobre regime de colaborao, em parte pelo temor da centralidade das
polticas e do planejamento educacional, que colocaria em cheque a autonomia dos estados e
municpios.
O planejamento educacional no contexto atual toma um poder de possibilidade de
estabelecer efetiva colaborao a medida que o PNE 2014-2024 alinha metas nacionais,
estaduais e nacionais enfatizando as especificidades dos entes federados, estabelecendo
inclusive metas intermedirias para seu cumprimento. A participao da sociedade na
elaborao e monitoramento foi, e est sendo, mecanismo importante de gesto democrtica.
Contudo, sua efetividade carece de pesquisa.
1499
O que fica posto o Plano Nacional de Educao (PNE) como articulador para a
criao do Sistema Nacional de Educao (SNE), pois segundo a Secretaria de Articulao
com os Sistemas de Ensino (SASE/MEC, 2015) a falta de um SNE dificulta a superao das
desigualdades.
A ausncia de um SNE at os dias atuais tem resultado em graves
fragilidades para a educao nacional, como a ausncia de referenciais
nacionais de qualidade capazes de orientar a ao supletiva para a busca da
equidade, a descontinuidade de aes, a fragmentao de programas e a falta
de articulao entre as esferas de governo. Esses fatores no contribuem para
a superao das histricas desigualdades econmicas e sociais do pas.
Depois da aprovao da Lei n 13.005 de 2014 que instituiu o PNE 2014-204 o grande
desafio que est posto a concretizao de seu Artigo 13, que estabelece obrigatoriedade do
poder pblico estabelecer em at dois anos em regime de colaborao o Sistema Nacional de
Educao. Diante disso, muitos textos esto sendo elaborados com a finalidade de
esclarecimento e de colocar o assunto em debate.
O texto mais recente com esse propsito o texto intitulado Instituir um Sistema
Nacional de Educao: agenda obrigatria para o pas elaborado pela SASE/MEC em junho
de 2015 com a colaborao de especialista na rea da educao Carlos Augusto Abicalil
(OEI), Carlos Roberto Jamil Cury (PUC/MG), Luiz Fernandes Dourado (UFG e CNE) e
Romualdo Luiz Portela de Oliveira (USP) apresenta alm de justificativas algumas
possibilidades para a criao do SNE, no fim do texto apresenta um agenda de discusso do
tema nos anos de 2015 e 2016 com entidades nacionais inclusive os fruns estaduais e
municipais de educao.
Esse texto est disponvel no site do Mec 3, e est aberto a debates e contribuies que
podem ser feitas via e-mail disponvel na prpria pgina. Essa iniciativa, mais uma forma de
descentralizao das tomadas de deciso. De junho, ms de divulgao do texto pela
SASE/MEC, at setembro, foram registrados na pgina vinte e cinco texto com manifestao
de importantes entidades, bem como relatos de encontros das entidades para a discusso do
SNE.
Assim, apenas cito a relao das manifestaes disponveis no site, permitindo apenas
a visualizao da diversidade de entidades, a anlise de tais manifestaes foge ao escopo
desse trabalho, mas se coloca como urgente para o prximo. Confederao Nacional dos
http://pne.mec.gov.br/conhecendo-o-pne/instituindo-o-sne
1500
Consideraes
O planejamento educacional no Brasil est passando por uma nova configurao em
sua elaborao e acompanhamento, as vozes que por muito tempo foram caladas so
chamadas a manifestao. A participao da sociedade nas tomadas de decises dos rumos da
educao sem dvida um desafio, mas, sobretudo uma importante conquista, que vai se
efetivando no decorrer desse recente processo.
Esse arranjo complexo de articulao da participao da sociedade com o
planejamento educacional pode ser uma estratgia para o fortalecimento das instncias
Estaduais e municipais atravs de seus fruns, bem como associaes, Conselhos, visando a
aprovao da criao de um Sistema Nacional de Educao previsto desde a Constituio
Federal de 1988 e reafirmado no PNE (2014-2024), mas que at o momento enfrenta
resistncia devido principalmente ao temor da centralidade do planejamento educacional.
1501
Importante tem sido o uso de sites na internet como espao de divulgao e debates,
tornando possvel o conhecimento das discusses a um nmero maior de pessoas, que
inclusive podem se cadastrar e receber informaes peridicas de atualizao do site.
Contudo, A criao de um Sistema Nacional de Educao num prazo de at dois anos
a contar da aprovao do PNE que foi em 2014, parece um tempo exguo, principalmente
considerando que embora o debate sobre a criao j existisse, a nfase foi dada somente em
2015, mas especificamente junho com o documento Instituir um Sistema Nacional de
Educao: agenda obrigatria para o pas da Secretaria de Articulao com os Sistemas de
Ensino (SASE).
O documento apresenta uma discusso complexa, com aes importantes que
precisam ser efetivadas para que seja possvel tal criao, como modificao da LDB/96,
estabelecer regime de colaborao, definir responsabilidades financeiras e ampliao de
recursos para os entes federados dentre outros. Essas aes sem dvida so urgentes e
precisam ser debatidas com seriedade e serenidade pela sociedade que foi conclamada a
participar do planejamento educacional, mas participao exige tempo, elemento
indispensvel que est sendo ignorado e pode ser custoso para esse momento to importante
de construo democrtica do planejamento.
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exerccio de 2009, o percentual da Desvinculao das Receitas da Unio incidente sobre os
recursos destinados manuteno e desenvolvimento do ensino de que trata o art. 212 da
Constituio Federal, d nova redao aos incisos I e VII do art. 208, de forma a prever a
obrigatoriedade do ensino de quatro a dezessete anos e ampliar a abrangncia dos programas
suplementares para todas as etapas da educao bsica, e d nova redao ao 4 do art. 211 e
ao 3 do art. 212 e ao caput do art. 214, com a insero neste dispositivo de inciso VI. .
Portal da Subchefia de Assuntos Jurdicos da Casa Civil da Presidncia da Repblica.
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Acesso em: jul.2014.
1503
1504
GT1- Formao de professores para a educao bsica
RESUMO
O presente artigo trata da formao inicial do professor inserido na sociedade,
parte da totalidade, sujeito s exigncias postas pela realidade da sociedade da qual faz
parte, levando em conta a legislao que regulamenta, bem com as implicaes das
polticas de formao de professores. Propomos abordar algumas questes da formao
docente que se colocam para a melhoria do trabalho realizado e enfatizar para e como o
professor est sendo formado, bem como para, como e de que forma deve ser preparado
para educar. Assim so apresentadas aes do governo que tratam da formao. Para tal
entendimento adotar-se- o pressuposto assentado luz do materialismo histrico, que
fundamenta o pensamento marxista. Os resultados indicam que a formao de
educadores na perspectiva marxista pode obter ganhos significativos na qualidade em
que se busca a relao entre prtica e teoria.
Palavras-Chave: Formao de professores; marxismo; prtica educativa.
Introduo
Ao falar de Formao Inicial de Professores h que situar o momento histrico
onde essa formao ocorre, assim necessrio compreender as condies materiais nas
quais se coloca e a realidade na qual se insere.
Falamos num contexto em que adotado pelos governos da Repblica brasileira
o modelo de Estado mnimo, em que dois projetos disputam o poder das polticas
educacionais. De um lado, o projeto da sociedade poltica, em que a nfase est na
qualidade social da formao do professor, e no entanto, se pratica a qualidade total.
De outro lado, o projeto da sociedade civil organizada que tem buscado nas entidades
acadmicas a qualidade social na formao docente para atuao na educao bsica.
Tal projeto de formao tem as bases epistemolgicas na concepo histrico-social e
fundamenta-se no conhecimento como eixo da formao inicial e continuada de
professores. Aquele baseado na ideologia neoliberal, no qual as polticas educacionais
e esto inseridas, com retorno ao tecnicismo, reconfigurado sob novas formas e
propugna a cultura da produo de saberes instrumentais e utilitrios, com o recuo da
teoria fundamentando a prtica.
Evidenciaremos, pois, a necessidade de outro rumo para a formao de
professores da educao bsica, que no seja a prxis fetichizada, utilitria,
________________
Pedagoga, mestranda do Curso de Mestrado Profissional em Educao (Profeduc) na
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)
1505
Objetivos Especficos:
Enfatizar para e como o professor est sendo formado, bem como para, como e
de que forma deve ser preparado para educar.
2. Metodologia
Para a anlise da formao docente adotar-se- o pressuposto assentado luz do
materialismo histrico, que fundamenta o pensamento marxista. Sero apresentadas as
polticas de formao inicial docente a nvel nacional, bem como os programas de
formao adotados pelo governo federal. Dessa maneira a anlise ser documental e
sero realizadas pesquisas bibliogrficas a respeito do tema pesquisado que possam
contribuir com esse artigo.
3. Formao inicial de professores em discusso
A problemtica da formao de professores nos remete a algumas questes que
aqui julgamos essenciais encontrarmos respostas: para, como e de que forma o est
sendo formado e para, como e de que forma deve ser preparado para educar. Ento, no
h como falar da formao do professor sem falar da escola, locus de formao, e os
determinantes histricos dessa realidade.
O cenrio atual nos revela que os investimentos na educao so precrios,
escolas encontram-se sucateadas, com falta de materiais, de livros nas bibliotecas, com
salas de aula comportando um nmero de alunos alm de sua capacidade, professores
com baixos salrios e m formao, com jornada tripla, na maioria das vezes em
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1513
docente nas redes pblicas de nvel superior. Dessa maneira o Ministrio da Educao
(MEC) criou em 2006 a Universidade Aberta do Brasil (UAB) visto que o sistema
tradicional de educao no conseguiria atender tamanha demanda. Como a UAB
permitia a realizao de parcerias entre Instituies de Ensino Superior (IES) para a
oferta de ensino a distncia e com aporte do Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educao (FNDE) foi possvel ampliar as ofertas de vagas nas instituies pblicas e
atingir a populao mais distante dos grandes centros.
Ainda para ampliar o acesso e a permanncia aos cursos de graduao o MEC
instituiu no ano de 2007 o Programa de Apoio aos Planos de Reestruturao e Expanso
das Universidades Federais (REUNI). Com o programa REUNI houve a expanso dos
cursos de licenciaturas.
Barretto (2015) relata que no ano de 2009 formulada a Poltica Nacional de
Formao de Profissionais do Magistrio da Educao Bsica, e institudo o Plano
Nacional de Formao de Professores da Educao Bsica (PARFOR), uma ao via
CAPES/MEC em colaborao com as IES pblicas e secretarias de educao de estados
e municpios, para ministrar cursos superiores e de formao continuada aos docentes
em servio. Nesse rol de atendimento estavam 600 mil professores que ainda no
possuam formao adequada ao trabalho exercido.
As informaes sobre instituies de ensino superior no Brasil, seus cursos de
graduao presenciais ou a distncia, vagas oferecidas nas diferentes formas de
organizao acadmica e categoria administrativa so reunidas no Censo de Educao
Superior. Os dados so coletados a partir do preenchimento dos questionrios, por parte
das IES e por importao de dados do Sistema e-MEC.
1514
estar
articulados
na
execuo
de
polticas
pblicas
destinadas
ao
1515
1516
Consideraes Finais
A questo da formao de professores no tem prazo par terminar, uma vez que
o conhecimento no dissociado da realidade da sociedade. Dessa maneira se em cada
poca temos um tipo de educao, que corresponde etapa de desenvolvimento da
sociedade, que atende s exigncias dessa sociedade, tambm temos um tipo de
formao de professores que essa sociedade exige.
sabido que o educador no pode amparar-se apenas na experincia acumulada
e nos exemplos, mas deve, sobretudo preocupar-se com os fundamentos histricos,
filosficos, polticos, e culturais, bem como com as implicaes do trabalho que realiza.
Sem esse conhecimento possvel que as interferncias do meio e da classe interfiram
na prtica docente.
Conforme lvaro Vieira Pinto
[...] libertar-se poltica, econmica e culturalmente das peias do atraso
e da servido, a apropriao da cincia, a possibilidade de faz-la no
apenas em si, mas para si, condio vital para a superao da etapa
da cultura reflexa, vegetativa, emprestada, imitativa, e a entrada em
nova fase histrica [...]. A cincia s pode tornar-se um instrumento
de libertao do homem e do seu mundo [...] se for compreendida por
uma teoria filosfica. (PINTO, 1979, p.4)
1517
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1
INTRODUO
A ao dos administradores/gestores escolares constantemente representada no
espao escolar por meio de dicotomias que evidenciam diferentes concepes e mesmo
incompreenses sobre a finalidade do seu trabalho. Essas anlises separam sua atuao entre o
pedaggico e o administrativo, a dimenso tcnica e a dimenso poltica, entre outras dades
encontradas no cotidiano da atuao dos gestores, que demonstram vises parciais sobre sua
1520
2
atuao. Rompendo com uma viso maniquesta, consideramos que no possvel apreender
a funo do diretor por meio de oposies reducionistas, uma vez que compreendemos que
esta comporta mltiplas dimenses e grande complexidade.
At a dcada de 1980 predominou no debate sobre a Administrao Escolar a defesa
de que os princpios da Administrao Geral deveriam ser aplicados nas organizaes
escolares. Essa perspectiva tinha como pressuposto bsico de que, na escola, devem ser
aplicados os mesmos princpios administrativos adotados na empresa capitalista (PARO,
2010, p.187). Transpondo esses pressupostos para a administrao/gesto escolar, a funo do
diretor restringe-se meramente as tarefas de natureza burocrtica e a participao se reduz ao
seu significado mais restrito, sem influncia da comunidade sobre as decises tomadas. Dessa
forma, tentava-se legitimar, a validade dos princpios, mtodos e tcnicas da Administrao
Geral para as demais organizaes.
Em contraposio a esse discurso se coloca uma crescente descentralizao da
administrao, calcada na afirmativa de que a escola deve ser administrada com a participao
coletiva de diferentes segmentos, uma vez que todas essas prticas implicam em repensar o
papel do dirigente como protagonista pedaggico, organizacional e poltico da instituio
educacional (SANDER, 2002, p. 67).
Paro (2010, p. 15) identifica duas posies divergentes no debate sobre a
Administrao Escolar no Brasil: uma que abarca a defesa dos procedimentos
administrativos na escola sob a forma de adeso ao emprego, a, dos princpios e mtodos
desenvolvidos e adotados na empresa capitalista; e outra que expressa a negao da
necessidade e convenincia da prpria administrao na situao escolar.
Como expresso da primeira perspectiva, Sander (2002, p. 61) observa que [...]
especialmente nas agncias internacionais de crdito, as palavras-chaves que definem a
orientao intelectual no campo da organizao e da gesto da educao so eficincia e
produtividade. Com relao segunda perspectiva, Paro (2010) defende a especificidade da
administrao escolar, diferenciando-a da Administrao Geral, ressaltando que essa
especificidade se encontra na prpria finalidade educacional da escola que a torna uma
instituio que no pode ser comparada com uma empresa capitalista.
Assim, em um sentido abstrato a administrao a utilizao racional de recursos
para a realizao de fins determinados (PARO, 2010, p. 25). Dessa forma, pode existir uma
prtica administrativa espontnea, na qual o uso dos recursos feito medida que
necessrio sem uma viso consciente do processo, ou uma administrao reflexiva com
conscincia dos sujeitos que participam do processo racional de utilizao dos recursos. Paro
1521
3
Desse debate que derivam diferentes significados para os termos de gesto escolar
e administrao escolar, e embora comportem outros significados em pases como Portugal,
no Brasil a administrao educacional foi associada s prticas do perodo da ditadura militar
e seu uso foi substitudo pelo termo da gesto, acompanhado pelo adjetivo democrtica,
cunhando assim o princpio da gesto democrtica como uma das bases para a administrao
das escolas. Porm, a acepo de gesto tambm adquiriu conotao negativa quando usada
nos debates educacionais, uma vez que est associada gesto empresarial.
1522
4
os normativos legais,
estabelecendo a
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5
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6
Ao procurarmos como o novo PNE incorpora esse debate encontramos entre seus
dispositivos o Inciso VI do Artigo 2, que estabelece como uma de suas diretrizes a
promoo do princpio da gesto democrtica da educao pblica. Esse princpio se
apresenta desenvolvido na meta 19 e suas respectivas estratgias que de forma geral no
comtemplam a produo histrica que versa sobre a gesto democrtica da educao, nem
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7
Dessa forma, apresenta prazo de dois anos para efetivao da gesto democrtica,
porm associada a critrios tcnicos de mrito e desempenho. A primeira vista fica difcil
compreender em que medida critrios de mrito e desempenho pode contribuir para uma
democratizao da administrao/gesto. Essa formulao vincula a gesto democrtica
qualidade da educao.
A meta n 19 acompanhada de oito estratgias que permitem algumas consideraes
a respeito. Um primeiro aspecto associa o repasse de recursos voluntrios da Unio
existncia de legislao especfica aprovada, que considere para nomeao dos diretores e
diretoras de escolas, critrios tcnicos de mrito e desempenho, bem como a participao da
comunidade escolar.
Na atualidade existem mecanismos de nomeao para diretores escolares baseados em
trs elementos: processos eleitorais de consulta comunidade, concursos pblicos de provas
especficas com base em conhecimentos tcnicos e a indicao poltica. A Estratgia n 19.1
aponta para a exigncia de um modelo que combina dois desses critrios: o conhecimento
tcnico e a consulta comunidade, aspecto que representa um avano, uma vez que combate a
prtica de indicao poltica, prtica que segue critrios estranhos ao campo educacional. No
entanto, insere outro elemento, completamente ausente dos mecanismos atuais, que o
desempenho dos diretores como critrio para sua escolha. Entendemos que sem uma definio
de que tipo de desempenho se refere esse dispositivo estabelece pouca relao com a
democratizao da gesto escolar.
Da mesma forma, a Estratgia 19.8 apresenta como objetivo para escolha de diretores
aplicar prova nacional especfica, a fim de subsidiar a definio de critrios objetivos para o
provimento dos cargos, cujos resultados possam ser utilizados por adeso. Assim, reafirma
um dos princpios apontados na meta 19.1, ao destacar que o ocupante da funo de diretor,
deve passar por uma avaliao antes de ocupar o cargo, acrescentando que esta avaliao
poder ser feita em nvel nacional, com livre adeso dos sistemas de ensino. A questo que se
1
A CONAE 2014 teve suas etapas municipais e estaduais realizadas durante o ano de 2013. A etapa nacional
marcada para incio de 2014 foi adiada para novembro do mesmo ano, portanto, o novo PNE, aprovado em junho
de 2014, foi promulgado antes da realizao da conferncia final da CONAE.
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8
coloca em que medida uma avaliao nacional dos gestores seria capaz de ampliar a
democratizao das prticas administrativas e/ou pedaggicas?
Outras estratgias se referem ampliao, institucionalizao, incentivo e formao
para a participao em fruns, conselhos e entidades representativas em diferentes instncias.
A estratgia 19.2 aponta para a necessidade de formao dos conselheiros, representantes
educacionais membros de conselhos de acompanhamento de polticas pblicas.
A estratgia 19.4 reafirma a necessidade das redes de ensino estimular o
funcionamento dos grmios estudantis. Igualmente, a estratgia 19.5 exorta as redes a
estimular e fortalecer os conselhos, conferindo-lhes novo significado: instrumento de
participao e fiscalizao. Por fim, as estratgias 19.6 e 19.7 destacam a necessidade de
estimular a participao e a autonomia nos processos de gesto escolar.
As estratgias n 19.3 e 19.8 apresentam inovaes. A primeira, incentiva os diferentes
entes federados a constiturem seus fruns de participao, para coordenar as conferncias
municipais, estaduais e distrital bem como efetuar o acompanhamento da execuo deste PNE
e dos seus planos de educao. Nessa perspectiva, esses fruns se constituem como novo
espao institucional de participao, com objetivo de acompanhar a prpria execuo do PNE
e seus possveis desdobramentos nos estados, municpios e no distrito federal.
A capacidade dessas estratgias de induzir a ampliao de prticas de gesto
democrtica no promissora, uma vez que esses dispositivos, em sua maioria, j esto
previstos em lei, pelo menos desde a aprovao da LDB/1996. Portanto, o PNE apenas
reafirma elementos j previstos na legislao, sem grandes inovaes.
No nosso entendimento, essas estratgias provocam dificuldades em torno da
implementao da legislao j existente, uma vez que acrescenta elementos que pouco
contribuem para construo de uma cultura de participao, marcadamente sua vinculao a
avaliao de desempenho, medida por meio de provas. Fica evidente a analogia com os
mecanismos de mercado em que estes elementos contribuem, para em ltima instncia,
criarem mecanismos de concorrncia, seja pelos clientes, seja pela oferta de servio ao
menor custo possvel, ao passo que a participao pretendida, vinculada ao desempenho se
coloca no sentido de um controle e responsabilizao das escolas pos seus resultados.
Diferentemente de outras concepes de participao como a proposta implementada
por Freire (2006), durante sua gesto como secretrio municipal de educao na cidade de So
Paulo entre 1989-1991. Conforme o autor:
Para ns, a participao no pode ser reduzida a uma pura colaborao que
setores populacionais devessem e pudessem dar administrao pblica.
1527
9
Participao ou colaborao, por exemplo, atravs dos chamados mutires
por meio dos quais se reparam escolas, creches, ou se limpam ruas ou
praas. A participao para ns, sem negar este tipo de colaborao, vai mais
alm. Implica, por parte das classes populares, um estar presente na histria
e no simplesmente nela estar representadas. Implica a participao poltica
das classes populares atravs de suas representaes ao nvel das opes, das
decises e no s do fazer o j programado. Por isso que uma
compreenso autoritria da participao a reduz, obviamente, a uma
presena concedida das classes populares a certos momentos da
administrao (FREIRE, 2006, p. 75 - grifos nossos).
CONSIDERAES FINAIS
Ao analisarmos o PNE (2014-2024), podemos considerar que em relao gesto
democrtica o texto da lei apresenta alguns avanos, embora no solucione antigas
dificuldades e no contexto geral traga retrocessos s formulaes sobre o tema.
Consideramos que o PNE (2014-2024) avana ao incorporar a temtica da gesto
democrtica numa meta especfica, conferindo ao tema uma relevncia e uma centralidade no
debate, inexistente at ento. Por outro lado, mantm ranos antigos, ao no solucionar
problemas da LDB/1996, por exemplo, ao no estender a gesto democrtica para as
escolas privadas e para o Ensino Superior, como tambm deixar a cargo dos sistemas de
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10
ensino todas as formulaes especficas sobre o tema. Aspecto que nas duas ltimas dcadas
se mostrou insuficiente para avanar em relao aos mecanismos de participao democrtica
nos processos de administrao/gesto da educao.
Gadotti (2014, p. 1-2) observa que conquanto a CF/1988 tenha estabelecido esse
modelo de gesto como princpio pedaggico e como preceito constitucional no se
restringe escola. Ela impregna todos os sistemas e redes de ensino, na prtica, ele no foi
considerado nos sistemas educacionais, restringindo-se apenas s escolas de educao bsica
e pblicas.
Por fim, o texto normativo pode ser considerado um retrocesso ao vincular o tema da
gesto democrtica e da participao a conceitos ligados concepo de meritocracia. Dessa
forma, induz os sistemas de ensino a formulaes de participao especialmente restritas,
vinculando-a aes com foco nos resultados mensurveis e no nos processos participativos,
massivos ou mesmo ao controle social dos processos administrativos e de gesto das escolas e
dos sistemas de ensino.
Portanto, traz consigo contradies e poder reforar uma perspectiva de participao
vinculada ao controle e responsabilizao das escolas por seus resultados em testes e provas,
sem avanar no sentido de uma participao popular nas formulaes das polticas.
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ideologias de convenincia. Revista Portuguesa de Educao, 2000, 13(1), pp. 283-297.
1530
O Pacto Nacional pela Alfabetizao na Idade Certa (PNAIC) est em pauta no Brasil
como ao recente da poltica educacional, instituda sob a Portaria n. 867, de 4 de julho de
2012. Decorre do compromisso de alfabetizar as crianas at, no mximo, os oito anos de
idade, ao final do 3 ano do Ensino Fundamental, previsto no Decreto n. 6.094 de 24 de abril
de 2007.
Teve como inspirador o Programa de Alfabetizao na Idade Certa do estado do Cear
(PAIC). O estado do Cear teve uma experincia exitosa com o PAIC implantado no estado
em 2007. O PNAIC um programa integrado cujo objetivo a alfabetizao em Lngua
Portuguesa e Matemtica, at o 3 ano do Ensino Fundamental, de todas as crianas das
escolas municipais e estaduais, urbanas e rurais, brasileiras. O lanamento do PNAIC para o
Pas foi em oito de novembro de dois mil e doze, onde a presidente declarou preocupao
com o desafio de dar um passo frente na construo do desenvolvimento da nao, sua fala
expressou a importncia de ter uma viso consciente no sentido de querer o Brasil um Pas de
1531
classe mdia com igualdade de oportunidades para todos e com a garantia de acesso a mesma
oportunidade sem distino de classe raa ou nvel social, e que para tanto, redimensiona
urgncia em alfabetizar toda criana at os oito anos de idade, somando ao valor estratgico
de progresso do Pas (VIEIRA, 2012).
No Brasil, a Histria da Educao segundo Viera (2009), evidncia que nosso Pas
sempre foi prdigo na elaborao de leis, reformas, programas e projetos, mesmo com alguns,
nos primrdios, tendo efeitos incuos. Destacamos junto a estes, o Decreto n. 6.094 de 24 de
abril de 2007, que se trata do Plano de Metas Todos Pela Educao, o Projeto de Lei
Ordinria n. 8.035/2010 - Plano Nacional de Educao (2011-2020) e a Portaria n 867, de 4
de julho de 2012 que instituiu o Pacto Nacional Pela Alfabetizao na Idade Certa (PNAIC).
O PNAIC um Programa formulado pelo governo federal com seus pilares firmados
nos seguintes eixos: 1. Formao continuada presencial para os professores alfabetizadores e
seus orientadores de estudo; 2. Materiais didticos, obras literrias, obras de apoio
pedaggico, jogos e tecnologias educacionais; 3. Avaliaes sistemticas, e; 4. Gesto,
controle social e mobilizao (BRASIL, 2012).
O programa tem sua organizao divulgada em cadernos, sendo eles: cadernos
explicativos que apresenta toda a organizao e funcionamento do programa, caderno de
formao que totalizam oito unidades de Linguagem e oito cadernos de Matemtica, cada um
com um tema especfico que sobre a rea de conhecimento que so estudados mensalmente e
cadernos de jogos com instrues sobre regras e procedimentos.
Com as funes e atribuies bem definidas entre os entes federados nas aes de
gesto, coube a o Ministrio da Educao MEC de acordo com o caderno explicativo
(Brasil, 2012), promover parceria com as instituies pblicas de ensino superior (IPES) que
sero responsveis pelas formaes; conceder bolsas; fornecer os materiais didticos;
distribuir a Provinha Brasil; aplicar as avaliaes externas.
Dourados uma cidade de quase duzentos mil habitantes (IBGE 2010), localizada na
regio sul do Estado do Mato Grosso do Sul, conta uma rede de ensino com quarenta e cinco
(45) escolas, sendo vinte e nove (29) urbanas e dezesseis (16) escolas rurais e deste
quantitativo de rurais, sete (7) so indgenas. Aderiu ao Pacto Nacional pela Alfabetizao na
Idade Certa no segundo semestre de dois mil e doze.
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Fonte: SEMED - Elaborado para este estudo.
A escola nunca deve perder de vista a funo social que tem diante da
sociedade, que ensinar com propriedade a criana a ler, produzir,
interpretar, socializar seus saberes. Enfim que cada ano desenvolva nos
alunos o que lhe devido para aquela fase. As capacidades bsicas precisam
ser efetivadas para que um ano no deixe para o outro cumprir o que lhe era
devido.
Segundo Aquino e Aranda (2013) preciso que a escola saiba da sua importncia
como instituio educativa, social, poltica e cultural, por isso mais do que adotar diretrizes
gerais, metas e pactos formulados do nacional para o local se faz importante preservar sua
autonomia na gesto escolar, de modo a no ser mero instrumento estratgico de consecuo
de reformas educacionais [...] (ARANDA e BRITO, 2003, p.65).
EXPECTATIVAS
Que haja investimentos nos recursos didticos, no educador e na educao
propriamente dita. Minhas expectativas frente ao processo elevar a nota do
IDEB e que as crianas ao fim do ciclo consiga ler e interpretar textos e
realizar as quatros operaes bsicas.
Expectativa de melhorar o dilogo coordenao-professor, buscando
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Nossa expectativa que esse alunos que ora esto nesse processo
futuramente possa desenvolver uma melhor produtividade, competncia.
Como a escola apresentou em dois mil e doze um quadro de distoro idade
/srie, espera-se que este quadro mude, contribuindo na aprendizagem dos
alunos.
Espero que tenha avano na aprendizagem.
As expectativas so grandes com essa proposta que as crianas realmente
sejam alfabetizadas/letradas no terceiro ano (3). Isso acontecendo a
aprendizagem nas sries subsequentes ocorrer com facilidade e
correspondendo as expectativas do professor que o acompanha. A proposta
veio estimular o trabalho diferenciado para desmistificar o trabalho pronto e
acabado.
Diante do PNAIC vemos que a rede deveria rever seu referencial, pois esto
desconectados.
A minha expectativa que cada professora precisa trabalhar em suas turmas,
respeitando o nvel de conhecimento de cada criana.
Que haja aprendizagem dos alunos.
A prtica do alfabetizador j trabalhar diferenciado e este trabalho sendo
acompanhado com cobrana, acredito que ir melhorar.
Minhas expectativas so que a alfabetizao acontea realmente na idade
certa, visto que muitos alunos chegam ao terceiro ano do ensino fundamental
sem saber ler e escrever.
Minhas expectativas so que os alunos consigam serem alfabetizados at o
terceiro ano e que o professor entenda o processo de alfabetizar letrando.
Fonte: SEMED - Elaborado para este estudo.
No processo de ensino democrtico a gesto escolar tem papel fundamental, por isso
fica complexo o entendimento do PNAIC sobre o mesmo. O coordenador pedaggico no foi
includo como participante da formao no programa, ele citado apenas habilitado a ser
orientador de estudo como descreve o livreto de informaes do programa.
1536
Analisa Aranda (2013b) que a gesto escolar do processo alfabetizador precisa ser
compreendida como um princpio orientador para a ao, no caso, aes da gesto escolar que
possibilitam a alfabetizao da criana em decorrncia da poltica educacional vigente,
buscando analisar aes que abarcam um processo, desde os indicativos para sistematizar uma
proposio no tocante elaborao, implantao, implementao, avaliao e em termos
administrativo, pedaggico, poltico, cultural e de financiamento.
Nas entrevistas do quadro 5 esto registradas as expectativas de coordenadores
pedaggicos da rede municipal que participam diretamente da formao e outros que
acompanham os professores nas Unidades Educacionais, mas no participam da formao. A
preocupao e expectativa com a melhoria do ensino por meio do PNAIC observada na
maioria das falas dos coordenadores.
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EXPECTATIVAS
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Fonte: SEMED - Elaborado para este estudo.
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Consideraes Finais
REFERNCIAS
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RESUMO
Este artigo tem como principal objetivo fazer uma breve contextualizao referente evoluo do saneamento
bsico no Brasil, com nfase no ano de 2007, quando foi aprovada a Poltica Nacional de Saneamento Bsico.
Aps a implementao desta poltica, diversas outras leis foram promulgadas pelo Governo Federal a fim de
proporcionar melhor qualidade de vida populao brasileira, preservar o meio ambiente, prover condies
bsicas de habitabilidade, de modo a relacionar a poltica de saneamento bsico com o Planejamento Urbano
dos municpios. Aps a discusso sobre o Planejamento Urbano em contraposio a Poltica Nacional
apresenta-se o panorama brasileiro e ao desfecho, apresenta-se a situao atual do saneamento bsico de um
distrito do municpio de Duque de Caxias, cidade pertencente Regio Metropolitana do Rio de Janeiro frente
a falta de Planejamento Urbano apesar do desenvolvimento industrial da regio.
PALAVRAS-CHAVE: Planejamento Urbano, Saneamento Bsico, Poltica Nacional de Saneamento Bsico.
ABSTRACT
This article main objective is to make a contextualization about the evolution of Brazilians basic sanitation,
enlightening the 2007 year, when the National Basic Sanitation Politic have been passed by the Congress. This
fact intended to implement better life quality to the Brazilian population, save the environment, promote basic
habitability to the municipalities in way to make relationship between basic sanitation with the cities urban
plans. After the discussion about urban planning and the National Urban Sanitation Politic the Brazilian
panorama is presented and, to conclude, the actual situation of a district in the city of Duque de Caxias, Rio de
Janeiro Metropolitan Region facing the lack of urban planning versus the great industrial development.
KEYWORDS: Urban Planning, Basic Sanitation, National Basic Sanitation Politic.
INTRODUO
O conceito de saneamento bsico tem evoludo ao longo da histria, relacionando, principalmente, ao contexto
necessrio para a qualidade de vida de uma populao e sua ausncia compromete a sade e o bem estar das
pessoas, tal como contribui para a degradao do meio ambiente. Partindo do conceito de justia social, tal
servio j considerado como necessidade bsica para toda populao, quebrando qualquer conceito que s as
classes mais favorecidas tm acesso a tal servio.
Segundo Filho (2011), saneamento, o conjunto de medidas, visando a preservar ou modificar as condies
do meio ambiente com a finalidade de prevenir doenas e promover sade. Desta forma, saneamento bsico
se restringe ao abastecimento de gua e disposio de esgotos, mas h quem inclua o lixo nesta categoria.
Outras atividades de saneamento so: controle de animais e insetos, saneamento de alimentos, escolas, locais
de trabalho e de lazer e habitaes. Normalmente qualquer atividade de saneamento tem os seguintes
objetivos: controle e preveno de doenas, melhoria da qualidade de vida da populao, melhoraria da
produtividade do indivduo e facilitao da atividade econmica.
1543
Este artigo tem a finalidade de discutir a questo do saneamento bsico desde sculo XIX at o sculo XXI,
dando uma nfase para o ano de 2007 onde foi regulamentada a lei 11.445 que diz respeito Poltica Nacional
de Saneamento Bsico, atribuda pelo governo federal, sob a coordenao do Ministrio da Cidade. Aps
2007, o conceito de saneamento bsico incorpora o conjunto dos seguintes servios:
O presente artigo tambm ressalta que desde ento diversas, implementaes atravs de leis vem ressaltando a
importncia do saneamento bsico, graas a essas discusses presentes referente sustentabilidade urbana.
Fato este ocorrido em 2010 com o decreto nmero 7.217, onde regulamenta a lei 11.445, que estabelece
diretrizes nacionais para o saneamento bsico, onde institui que os municpios s tero acesso aos recursos da
unio caso elaborem o plano Municipal de Saneamento Bsico (PNSB). Recentemente, em 17 de setembro de
2013, por meio da lei 12.862/13: a qual estabelece diretrizes nacionais para o saneamento bsico, com o
objetivo de incentivar a economia no consumo de gua.
De acordo com Santos (2010), a produo do espao urbano no contexto capitalista fortemente marcada pela
dicotomia de ocupao e uso do solo pelas classes distintas, baseadas principalmente no fator renda de cada
grupo. Desta maneira, pode-se mencionar que, no apenas no contexto brasileiro ou latinoamericano, mas em
todas as cidades desta categoria em todo mundo. Apesar de o Planejamento Urbano primar pela igualdade,
harmonia e distribuio equitativa de recursos para infraestrutura urbana, o que observa-se a concentrao
destes(as) em determinadas reas em detrimento de outras.
Feldman (2005) e Gouva (2005) complementam estas informaes ao mencionar que o planejamento urbano
das cidades brasileiras extremamente setorizado, seja na construo de novas reas ou ordenamento de outras
j existentes. Desta forma, o modelo aplicado continua a fragmentar o espao e ampliar a dicotomia
scioespacial existente, tendo em vista que sempre havero reas dotadas de novos recursos e tecnologias de
infraestruturas urbanas, enquanto outras ainda carecero das mesmas ou, como tambm observa-se em muitos
casos, as reas so dotadas destas estruturas, porm em estado muito obsoleto.
EVOLUO HISTRICA DO SANEMANETO BSICO NO BRASIL
Em meados do sculo XIX at o inicio do sculo XX, a estruturao das aes do saneamento bsico era com
o foco higienista, isto , como uma ao de sade, contribuindo para reduo da mortalidade por doenas
infecciosas, parasitrias e at mesmo no infecciosas, onde organizaes dos sistemas de saneamento eram
montadas, a fim, de conter situaes epidmicas, mesmo antes de identificao dos agentes causadores das
doenas. No incio do sculo XX at a dcada de 30, a preocupao sobre a sade publica ganha mais fora
devido a intensa mortalidade das pessoas, aonde a sade viria ocupar o papel principal dentro das
preocupaes nas agendas pblicas. Devido a essa intensa viso higienista, ocorreu um incremento do nmero
de cidades com o abastecimento de gua e da mudana na orientao do uso da tecnologia em sistemas de
esgotos, com a opo pelo sistema separador absoluto.
Entre as dcadas de 30 e 40, j se encontra a primeira medida referente ao controle dos recursos hdricos no
Brasil, atravs da elaborao do cdigo de guas em 1934. Porem nesta dcada, os governantes ainda no
havia conseguido relacionar o saneamento bsico com a sade publica, uma vez que a maior preocupao era
com a assistncia mdica, essencialmente pelo setor da sade, deixando de lado os investimentos no setor do
saneamento. Ainda na dcada de 40 no havia a preocupao quanto a quantidade e qualidade no
abastecimento de gua. Do ponto de vista da qualidade, as deficincias principais eram: inexistncia de
qualquer tratamento qumico na maioria dos servios operao defeituosa e falta de fiscalizao adequada nas
muitas cidades que possuam instrumento de purificao de gua. Esta falha em associar saneamento bsico
com sade, se estendeu at a dcada de 60, onde o servio no teria sido tratado como condies mnimas de
sobrevivncia da populao. Com o ritmo de urbanizao da economia brasileira impunha uma presso que se
avolumava sobre os sistemas de saneamento, onde a forte urbanizao causava uma deteorizao contnua dos
ndices de cobertura dos servios de gua e de esgoto. Aliado com esta forte urbanizao da poca, originou-se
a preocupao quanto a qualidade da gua, que vinha ganhando fora, como necessidade bsica, a dcada de
60 marcada com o surgimento de iniciativas para estabelecer as primeiras classificaes e os primeiros
parmetros fsicos, qumicos e bacteriolgicos definidores da qualidade da gua por meio de legislaes
estaduais no mbito federal.
Finalmente na dcada de 70, houve o predomnio da viso em que avanos nas reas de abastecimento de gua
e esgotamento sanitrio resultariam em uma considervel reduo das taxas de mortalidade infantil. Segundo
Moreira (2002), ao longo da dcada de 70, o Brasil empreendeu um significativo esforo com visitas a
1544
propiciar o abastecimento de gua populao urbana. Em 1969 foi criado o Plano Nacional de Saneamento
(Planasa), onde esta poltica foi institucionalizada pelo decreto-lei 949, onde permitia que o antigo Banco
Nacional da Habitao (BNH) utilizasse recursos do FGTS para financiar a implantao ou expanso dos
sergios de saneamento bsico. Valendo deste mecanismo, o governo incentivou a criao de companhias
estaduais de saneamento bsico (Cesbs) sob forma de sociedade annima, que deveriam obter as concesses
diretamente do poder concedente, as autoridades municipais. A Cesbs foram criadas para serem as executoras
do Planasa, sendo para os recursos para elas transferidos pela Unio, atravs do BNH. Ainda segundo a autora
com o Planasa e a criao das Cesbs, grande parte dos municpios brasileiros, onde aquele que no possuam
servios prprios de gua e esgoto e tampouco dispunham de recursos para desenvolvimento, implantao,
operao e manuteno desses sistemas, concederam a prestao desses servios s companhias estaduais
criadas na poca. Segundo Turolla (2002), o Plansa tinha o ambicioso objetivo em atender 80% da populao
urbana com servios de gua e 50% com servios de esgoto at 1980. O Planasa incentivou os municpios a
concederam os servios companhia estadual de saneamento, onde esta por sua vez tinha acesso aos
emprstimos do BNH.
Um dos maiores ganhos da poca segundo Turolla (2002), foi a centralizao em nvel estadual o
gerenciamento de polticas referente a saneamento da poca, onde os governos estaduais tinha mais fora que
os governos municipais, acarretando em uma maior eficincia nas presses poltica, para adquirirem os
investimentos necessrios ao setor, alm do estabelecimento de subsdios cruzados, com regies mais
rentveis financiando as menos rentveis.
A lgica do Planasa era muito bem fundamentada, onde tinha um planejamento a longo prazo do servio as ser
prestado, segundo Turolla (2002) j na concepo do sistema previa que o papel do BNH seria gradualmente
reduzido medida que os fundos estaduais fossem capazes de obter autonomia financeira, partir do fluxo de
tarifas gerados pelos investimentos. De fato, o BNH disponibilizou recursos abundantes para as Cebss na
primeira dcada de existncia do Planasa, o que permitiu a manuteno de tarifas baixas e a realizao de
investimentos.
A dcada de 80 inicia com resultados concretos atingidos pelo Planasa, aonde os servios de abastecimento de
gua no Brasil chegaram prximos a 80% da populao urbana. Porem, nesta dcada surgiu diversos fatores
que contriburam para a deteriorao da sade financeira das companhias. Segundo Turolla (2002), as fontes
de financiamento esgotaram-se acompanhando as dificuldades macroeconmicas, ao mesmo tempo em que
terminaram as carncias dos emprstimos obtidos nos anos anteriores e aumentaram as despesas de
amortizao e os encargos financeiros das dvidas. A nfase anterior em construo, o uso poltico das
companhias e o crescimento da inflao impuseram um nus adicional sobre o custo de operao.
Em 1986 o BNH foi extinto, onde a Caixa Econmica Federal assumiu os antigos papis do banco, ficando de
seu encargo proporcionar financiamento ao setor. Com as limitaes oramentrias da poca, o setor de
saneamento bsico sofreu com severas redues de recursos, resultando uma degradao dos sistemas e um
ndice bastante elevado de perda de gua por exemplo.
Segundo Turolla (2002) o Planasa foi o nico mecanismo articulado de financiamento e de modernizao do
setor de sanemanto no Brasil. Aps seu colapso, as iniciativas governamentais revelaram-se pontuais e
desarticuladas, enquanto a Poltica Nacional de Saneamento permaneceu por toda a dcada de 90 sem
regulamentao.
A Constituio federal de 1988 criou um importante demanda por regulamento no setor de saneamento, porm
ela definiu de forma ambgua que os municpios seriam responsveis pelo servio de interesse local.
Na dcada de 90 e inicio do sculo XXI, a nfase no conceito de desenvolvimento sustentvel e de preservao
e conservao do meio ambiente e particularmente dos recursos hdricos, j refletiam diretamente no
planejamento urbano, surgindo assim diversos programas federais implementados na poca, onde eles
priorizavam a reduo das desigualdades socioeconmicas e privilegia sistemas sem viabilidade econmicofinanceiro, como mostra a Figura 01.
1545
Figura 02: ndices de Cobertura antes e depois do Planasa 1970 e 1991 (Em % de Domiclios
Urbanos)
UMA BREVE DISCUSSO SOBRE A POLTICA NACIONAL DE SANEAMENTO BSICO
Aps um breve entendimento aos acontecimentos passados referentes, este captulo, tem como finalidade
discutir a conquista mais importante ocorrida no sculo XXI, a aprovao da Lei numera 11.445 no ano de
2007. Segundo o Plano Plurianual de 2012-2015, pode-se considerar que o saneamento vincula-se diretamente
a questes sociais de extrema gravidade, reverso de quadros epidemiolgicos alarmantes e recuperao,
melhoria, conservao e preveno ambiental, com impacto imediato na sade pblica traduzindo-se me
melhorias para o ambiente urbano e rural e da qualidade de via da populao. Sob essa lgico, os servios de
saneamento devem ser concebidos em articulaes com as polticas de desenvolvimento urbano e regional, de
habitao, de combate a pobreza, de proteo ambiental, de recursos hdricos, de promoo a sade, de
educao ambiental e outros de relevante interesse social, voltadas para a melhoria da qualidade de vida, para
os quais o saneamento bsico seja fator determinante. Essa abordagem pressupe, portanto, a estrita
1546
Figura 03: Total de domiclios com abastecimento de gua, esgotamento sanitrio e coleta de lixo
(em milhes)
Como de forma geral as informaes cedidas pela Pesquisa Nacional Domiciliar (PNAD), no consideram os
aspectos qualitativo sobre os servios, os nmeros encontrados na figura acima podem ser pires quando
associadas as condies mnimas de moradias. Abaixo o presente texto selecionar medidas importantes que
devem ser regulamentadas aps a aprovao da lei 11.445:
1547
1548
um modelo, no qual se prev os efeitos provveis decorrentes de um sistema de abastecimento de gua que
podem ser tanto positivos quanto negativos conforme grau de relevncia.
Abastecimento de gua
Rede geral
Domiclios
47.494.025
82,9
1549
5.750.475
10,0
2.164.375
3,8
742.624
1,3
15.772
0,0
1.027
0,0
1.155.869
2,0
Outra
Total de domiclios
57.324.167
Esgotamento Sanitrio
Domiclios
31.786.866
55,5
Fossa Sptica
6.653.417
11,6
Fossa Rudimentar
14.020.630
24,5
Vala
1.397.566
2,4
1.192.841
2,1
757.855
1,3
1.514.992
2,6
Outro
No tinham banheiro nem sanitrio
Total de domiclios
57.324.167
1550
habita. Ou seja, o processo de desigualdade social refletido no espao e, assim, o planejamento urbano
brasileiro tem sido aplicado efetivamente para manter o este modelo.
Nesse sentido, possvel observar que as condies de abastecimento de gua e de esgotamento sanitrio so
mais precrias nas regies Norte e Nordeste do Brasil, enquanto as regies Sul e Sudeste possuem condies
um pouco melhores, mas ainda no completamente satisfatrias. Em 2005, a situao das regies brasileira era
bastante precria, de um modo geral, conforme ilustra a grande Figura 07, referente ao ndice de atendimento
total de gua e esgoto nas cidades da regio Sudeste do Brasil.
Esgotamento Sanitrio
Rede Geral
Fossa Sptica
Fossa Rudimentar
Domiclios
207.814
24.062
10.704
77,2
8,9
4,0
1551
Vala
Rio, Lago ou Mar
Outro
Total de Domiclios
18.375
6,8
6.735
2,5
1.267
0,5
269.353
Cabe destacar a quantidade de domiclios que descartam o esgoto em valas: 6,8% dos domiclios,
demonstrando a precariedade do saneamento no municpio. De acordo com o Ranking de Saneamento do
Instituto TrataBrasil (utilizando os dados do SNIS 2010), o municpio de Duque de Caxias em 69 lugar dentre
as 100 maiores cidades brasileiras. No estado do Rio de Janeiro Duque de Caxias, Nova Iguau, So Joo de
Meriti, So Gonalo e Belford Roxo so os piores municpios segundo o Ranking.
Os bairros do distrito que se encontram mais prximos do polo industrial so os que possuem as piores
condies em Campos Elyseos, conforme possvel observar na Figura 09.
Atendimento
total de Esgoto
(%)
85,09
41,6
Esgoto tratado
Ligaes
Ligaes faltantes
Nota do Saneamento
por gua
Faltantes de
de gua
(Mximo 10)
consumida (%)
esgoto
4,36
91.007
188.599
3,91
CONCLUSES
Baseado em todas as exposies mencionadas, observa-se que o planejamento urbano pode sim ser utilizado
como ferramenta terica e concreta para equalizar as disparidades existentes no quesito de saneamento bsico
das cidades brasileiras. Neste ponto, tambm possvel afirmar que a Poltica Nacional de Saneamento Bsico
10
1552
trouxe as diretrizes necessrias para a estruturao de planos locais e regionais para concretizar as estratgias e
solues que permitam a soluo da problemtica estudada.
Neste ponto, Feldman (2005) menciona que o planejamento aplicado a macrozonas urbanas capaz de atingir
e implementar a qualidade de vida de uma grande parte da populao residente na cidade. Ou seja, como
percebe-se que a aplicao efetiva do planejamento urbana a toda uma cidade (em especial, as mdias,
grandes, aglomerados urbanos e metrpoles) de difcil implementao e baixa aplicabilidade, pode-se utilizar
este aplicado a um conjunto de bairros prximos, como em uma zona, distrito ou, no caso paulistano estudado
pela autora, subprefeituras.
Em consonncia a esta afirmao, Mosso (2001) afirma que possvel garantir a qualidade do servio prestado
quando este direcionado a atender, objetivamente, grupos prximos espacialmente. Chiavenato (2005)
tambm complementa ao mencionar que a distribuio de recursos adequada ao atender efetivamente a
atividade a qual foi destinada. Assim, ambos os autores mencionam que a construo de infraestruturas e os
servios (aqui destinados ao saneamento bsico) so realmente efetivas quando aplicadas em reas distintas,
porm abrangentes de uma cidade. No tocante ao distrito de Campos Elysios, o planejamento urbano aplicado
ao saneamento da regio ser efetivo apenas se aplicado a toda rea e no apenas a um bairro ou outro pois,
desta maneira, quando o problema for resolvido na rea com nova infraestrutura as outras (com poucos ou
obsoletos equipamentos) no responder adequadamente ao plano de toda a rea de abrangncia.
Entretanto, neste contexto, os legisladores avanaram bastante ao aprovar o Plano Nacional de Saneamento
Bsico, especificando no mesmo documento, normas e diretrizes para o saneamento bsico, a unio de entes
para a resoluo do problema e o tratamento (origem e obrigao de aplicabilidade) de recursos financeiros.
Desta maneira, observa-se uma mudana de tratativa do Estado Brasileiro em abordar a problemtica em
questo ao indicar as instncias responsveis os caminhos e mtodos pelos quais passam a resoluo da
problemtica. Entretanto, como os autores mencionaram ao longo deste artigo, o planejamento urbano deve ser
aplicado a toda cidade (mesmo que de forma setorizada em grandes macrozonas) e continuamente, quebrando
assim o paradigma de separao espacial urbana por classes de renda e contribuindo para uma cidade mais
justa e equitativa para todos aqueles que ali residem.
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11
1553
Introduo
Esta investigao debruou-se sobre indicadores e transformaes sociais em
municpios interioranos que so considerados cidades universitrias, sua historicidade recente,
bem como, a dinmica de interaes universidade-cidade.
A instalao/desenvolvimento de um setor de ensino superior forte, com uma instituio
grande ou um conjunto de instituies, em um municpio de mdio porte do interior (com
mais de 150 e menos de 500 mil habitantes), provoca impactos na economia, dinmica
1
Artigo elaborado como resultado de Pesquisa de Iniciao Cientifica com bolsa do CNPq/PIBIC/UFGD, junto
ao Curso de Pedagogia da FAED/UFGD, em 2013-2014, sob a orientao do Prof. Dr. Reinaldo dos Santos.
2
Aluna de graduao do Curso de Pedagogia da Faculdade de Educao da UFGD. E-mail:
[email protected], bolsista PIBIC de maro a julho de 2015.
3
Pedagoga, graduada pela Faculdade de Educao da UFGD. E-mail: [email protected], bolsista
PIBIC de agosto de 2014 a fevereiro de 2015.
4
Doutor em Sociologia pela Unesp e Ps-Doutor em Educao pela USP, Professor Associado de Fundamentos
da Educao da UFGD. E-mail: [email protected]
1554
social
econmico
local/regional,
sobretudo
que
possam
1555
1556
Objetivos
A pesquisa buscou os seguintes objetivos:
- Caracterizar oportunidades e ameaas decorrentes da presena/instalao de um forte
setor de educao universitria para o desenvolvimento social no municpio de Dourados;
- Analisar, socialmente, o processo de transformaes que leva um municpio de mdio
porte a se tornar uma cidade universitria;
- Configurar as especificidades, de Dourados como cidade universitria, no que se
refere a aspectos sociais como incremento no lazer, cultura e artes, avano na escolaridade
mdia da populao, melhora nos servios, aumento da diversidade cultural, impacto no IDH
etc.
A consecuo dos objetivos se balizou pelas seguintes hipteses de investigao:
- A presena/instalao de um forte setor de ensino superior em municpios de mdio
porte provoca uma dinmica de transformaes com grande potencial de desenvolvimento
social das cidades universitrias e de localidades vizinhas;
- Parte dos indicadores/impacto de um forte setor de ensino superior remete a benefcios
sociais (incremento no lazer, cultura e artes, avano na escolaridade mdia da populao,
melhora nos servios, aumento do IDH, avano na diversidade cultural etc.), que contribuem
para o desenvolvimento socioeconmico da cidade universitria e da regio na qual se insere;
1557
Metodologia
Empreender uma abordagem sobre a dinmica relao universidade-cidadeuniversidade significou adentrar em um campo temtico multifacetado, exigindo do
pesquisador uma estratgia multidisciplinar, caracterstica das Cincias Humanas. Assim, em
nossa anlise, recorreremos sociologia da educao, reforada por emprstimos tericoconceituais da Economia, Histria, Geografia e Demografia, por exemplo. Historiadores da
cultura como Roger Chartier e Jacques Le Goff indicaram nortes para trilharmos nesta
metodologia, sugerindo um emprstimo, junto a outras disciplinas, de instrumentos
complementares investigao com fontes escritas, iconogrficas, orais e audiovisuais
(VOVELLE, 1993, p.79).
Da mesma forma, esta metodologia multidisciplinar subsidiou a discusso em torno
de alguns conceitos, fundamentais para o trabalho. As concepes de corporao, campo
cientfico, capital intelectual, localidade/regio, esfera pblica e transformao do
espao/territrio partiro das disposies de Max Weber, Pierre Bourdieu, Jrgen Habermas e
Milton Santos, embasando-se tambm em outros referenciais que se debruaram sobre a
temtica.
1558
1559
Resultados e Concluses
Em relao aos indicadores sociais positivos decorrentes do perfil de Dourados como
cidade universitria, eles sero tratados em outro texto da pesquisa. Contudo cabe destacar
aqui, sem maiores dados e detalhamentos: a) IDH bem maior que a mdia do estado,
sobretudo a partir do fator educao; b) escolaridade mdia (anos de estudo) da populao 3
anos acima do ndice nacional; c) parcela da populao com ensino superior completo com o
dobro da mdia nacional. Da mesma forma, Entre os anos de 2010 e 2015, 90% das atividades
(eventos) de lazer, cultura e arte ocorridos na cidade tiveram uma das instituies de ensino
superior como promotora ou parceira.
Em relao hiptese de que parte dos indicadores/impacto de cidades universitrias
remete a efeitos perversos na vida social, ela foi, em grande parte, confirmada. Contudo, no
que se refere ao surgimento/agravamento de problemas, decorrentes do perfil de uma cidade
universitria, verificamos questes mais srias somente no que se refere ao trnsito e ao
transporte coletivo.
Os dados (obtidos em registros policiais) sobre mortes violentas (incluindo as de
acidente de transito) envolvendo pessoas de 16 a 26 anos, os de apreenso de drogas (tanto
configurando trfico como posse) ilcitas com pessoas de 16 a 26 anos e os de perturbao do
sossego pblico (incluindo ocorrncias em residncias, estabelecimentos comerciais e em vias
pblicas) revelam um ndice trs vezes maior que o da mdia nacional. Mesmo se comparados
com o de outras cidades universitrias interioranas e de porte semelhante, como Botucatu, So
Carlos, Viosa e Santa Maria, o ndice muito maior.
Cabe ressalvar, neste aspecto, que outros fatores como violncia no campo e nas aldeias
indgenas e proximidade com a fronteira com o Paraguai e estar em uma das principais rotas
1560
internacionais de trfico de drogas, tambm pesaram nestes ndices, em uma proporo que
ainda ser devidamente depurada em outras anlises vinculadas a pesquisa matriz.
Em relao populao flutuante, diretamente relacionada com as atividades
universitrias, a busca por informaes sobre estudantes e professores (inclusive de psgraduao) que no residem no municpio de Dourados (consideramos os que no
permanecem na cidade por mais de dez dias seguidos), indicou, por amostragem, cerca de sete
mil pessoas (60% em nibus/vans fretados, 30% em carros de passeio e 10% em nibus de
linha regular ou por outros meios) que vem diariamente cidade para aulas, estgios ou
trabalho nas cinco instituies de ensino superior, bem como em colgios e cursos tcnicos. A
este nmero, somam-se ainda usurios de servios prestados pelas instituies universitrias,
provindos da regio, para atendimento em hospital, clnicas e similares.
No ms de janeiro de 2015, perodo de recesso/frias nas instituies universitrias,
observamos que, somados o nmero de pessoas que deixam de vir a dourados ao nmero
daquelas que viajam para outras cidades (considerando famlias apenas de estudantes e
profissionais que estudam trabalham nas faculdades e universidades) h um decrscimo de
cerca de 25 mil pessoas na cidade de Dourados.
Esta variao populacional, tpica de cidades universitrias, ocasiona problemas tanto
nos picos como nas baixas populacionais. Nos momentos de pico, coincidentes com os
perodos letivos destacam-se problemas com o transporte coletivo, nos quais a qualidade,
quantidade e funcionamento das linhas de nibus, sobretudo que ligam o terminal central da
cidade at o campus, passam por uma espcie de estrangulamento, com protestos dos
usurios, reclamao das instituies e at multa dos rgos de transito. A pesquisa nos
jornais da cidade e a observao nos terminais e pontos de nibus revelaram que o transporte
coletivo no quantitativa e qualitativamente suficiente para atender demanda universitria.
Da mesma forma, o fluxo de veculos que transita pela via que liga o ncleo urbano da
cidade de Dourados at a Cidade Universitria (campus) chega a ultrapassar 10 mil veculos
dirios, em uma avenida/rodovia de pista simples (no momento da pesquisa passando por
obras de duplicao), sendo registrados muitos congestionamentos, lentido e acidentes no
transito (vrios com mortes).
1561
Em relao a uma regio do ncleo urbano sede do municpio na qual esto situadas
unidades de quatro instituies universitrias (Vila Planalto, Vila Progresso e Jardim
Universitrio), tambm se verifica congestionamentos de veculos nas vias de transito
prximas, falta de vagas para estacionamento no interior e entorno das unidades de ensino e
problemas de segurana para o pblico no entorno (com ocorrncias de furto, roubo, assalto e
agresso).
J em relao aos perodos de baixa da populao (entre meados de dezembro e meados
de fevereiro e tambm no ms de julho e ainda em feriados prolongados), observamos duas
caractersticas que merecem destaque. A primeira no que se refere a uma boa quantidade de
imveis (mais de mil), boa parte concentrada em alguns bairros, que fica fechada no perodo
de frias/recesso, aumentando em muito o nmero de furtos em residncia.
A segunda, de carter social e econmico, refere-se ao esvaziamento da cidade e a
quedas no faturamento, que vo de 30% a 70%, em setores como bares, restaurantes,
lanchonetes, cinema, papelarias, livrarias, fotocopiadoras, hotis, motis, lavanderia,
mercearias, posto de combustveis, taxis, faxineiras, transporte coletivo e imobilirias.
Esta baixa na sazonalidade da demanda destes servios tm srios reflexos no emprego,
tributao e economia da cidade. Contudo, como acontece em outras cidades universitrias,
em parte, estas variaes de fluxo de demandas nos perodos no letivos so incorporadas
1562
Bibliografia e Referncias
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CHARTIER, R. A Histria cultural. Rio de Janeiro: Bertrand, 1990.
1563
1564
1565
Resumo
O presente texto prope uma reflexo sobre os desafios de se concretizar uma gesto
democrtica, pois embora esta esteja prevista nos documentos oficiais, ainda temos muito que
avanar para que a mesma passe a fazer parte de nossas rotinas. Procurou-se trazer elementos
presentes tanto na Conferncia Nacional de Educao 2014, quanto no Plano nacional de
Educao 2014, para uma possvel leitura das proposies existentes nestes documentos no
intuito de se concretizar uma gesto democrtica. Percebemos a relevncia da participao
democrtico popular e a necessria articulao entre a sociedade civil organizada e setores do
Estado na construo de uma poltica nacional de educao, demonstrando ser este um
possvel caminho para uma educao democrtica.
Introduo
Embora o debate sobre a gesto democrtica na educao se estenda por mais de trs
dcadas, sua permanncia no campo das discusses acadmicas evidencia seu carter basilar
no campo de polticas educacionais. Diversos autores tm contribudo para esta discusso,
destacando sempre o papel do Estado na articulao das polticas pblicas e, em seu interior,
das polticas de gesto (AZEVEDO, 2002; CABRAL NETO, 2007; CATANI; ADRIO,
2007; COUTINHO, 1980; DE TOMASI, L.; WARDE, M. J.; HADDAD, S.,1990; FERREIRA,N.
S. C.; AGUIAR, M. A., 2000, 2001, 2005; FONSECA, 1997; FRIGOTTO; CIAVATTA, 2005;
JACOBI, 2000; MACHADO, L. M.; FERREIRA, N. S. C., 2002; NEVES, 2000; OLIVEIRA, 2007;
TEIXEIRA, 2002).
Como apontam Paro (1990), Libneo, Oliveira e Toshi (2003) e outros, no possvel
pensar a gesto educacional de forma dissociada das polticas pblicas de educao vigentes e
do quadro scio-poltico-econmico onde nos inserimos. este contexto que evidenciar o
jogo das foras polticas mais abrangentes que se confrontam e que do sentido tanto para a
existncia das propostas pedaggicas, quanto para a sua direo, ajudando a entender os
entraves e facilitadores da caminhada na luta hegemnica que marca as sociedades
capitalistas.
1566
1567
de regras e de procedimentos para a formao das decises coletivas, na qual est prevista e
facilitada a ampla participao dos interessados (p. 37); b) a distino da democracia como
governo do povo para a democracia como governo para o povo (p. 38), ou seja, da
democracia substancial
1568
1569
Neste sentido mais abrangente, ela constitui uma mediao entre cidadania, vontade geral e
soberania popular (GRAMSCI, 1984).
Oliveira e Silva (2005) discutem tambm a autonomia na gesto da escola. Os autores
fazem um retrospecto sobre a temtica e apontam que somente a partir dos anos 1970 que a
ideia da autonomia escolar vai sendo ligada a uma concepo de emancipao social, sendo
percebidos mais claramente seus determinantes scio-poltico-econmicos. Segundo estes
autores, Barroso (2000, p. 11-31) traz uma proposta que contribui para a discusso, que aqui
trazemos em parte. Ele fala em territorializao das polticas educativas. Para Barroso, no
contexto atual, presenciamos um quadro de crise de legitimidade entre o Estado e a sociedade,
entre o pblico e o privado, entre o interesse comum e os individuais, entre o central e o local.
Esta territorializao faz com que sejam postas em prtica lgicas e objetivos distintos e, por
vezes, contraditrios. No caso das polticas de descentralizao implementadas sob orientao
neoliberal, o Estado substituiu o controle direto, centrado no respeito s normas e
regulamentos, por um controle remoto baseado nos resultados.
Lembra o autor que esta territorializao no pe em causa o papel do Estado na
produo de uma identidade nacional e como instncia de regulao e coeso. Ela pode, no
entanto, possibilitar uma maior autonomia e parceria com as comunidades locais. Neste
sentido, faz uma proposta de reforo na autonomia das escolas. Prope, ento, princpios e
estratgias. Como a autonomia, para o autor, sempre relacionada a algo, tratar dela no
mbito da escola, constru-la, envolve saber gerir, integrar e negociar. No se trata, portanto,
da autonomia de um ou de outro segmento ou de uma ou outra dimenso da escola
isoladamente.
A construo da autonomia, para Barroso (2000), ocorre num campo de foras onde
se equilibram e confrontam diferentes detentores de influncia que tm diferentes vises dela
(o governo, professores, alunos, pais...). Como no h autonomia da escola sem a autonomia
dos indivduos, ela se constri na ao concreta destes, no uso da sua margem relativa de
ao. A autonomia no tem um fim em si mesma, mas um meio da escola atingir seus
objetivos e suas finalidades. Ele defende e detalha os seguintes princpios: a) o reforo da
autonomia no pode ser definido de um modo isolado, sem se levar em conta outras
dimenses complementares do processo global de territorializao das polticas educativas; b)
a autonomia da escola sempre uma autonomia relativa, porque condicionada pelos poderes
de tutela e superintendncia do governo e da administrao pblica e deve-se busc-la num
processo de mudana sustentada; c) o reforo da autonomia da escola deve ser assentado na
1570
1571
cotidiano escolar quando cada membro da comunidade escolar sentir que faz parte da escola,
tem parte real na sua conduo e, dessa forma, toma parte efetivamente, no s da execuo,
mas da concepo dos processos na construo de uma nova escola da qual se sente parte.
Observamos que a gesto foi chamada a assumir um novo papel, que ultrapassa a
administrao, superviso e orientao do processo educacional numa viso tradicional.
Agregou uma complexidade de aes, que vo desde o reconhecimento da funo social da
escola at as formas mais adequadas de conduo do trabalho na escola, condies
necessrias para que se aumentem as chances de um ensino de qualidade e,
consequentemente, e de aprendizagem no ambiente educativo.
A gesto democrtica na CONAE E no PNE
A realizao da 2 Conferncia Nacional de Educao CONAE 2014 no perodo de
19 a 23 de novembro de 2014, sob o tema O PNE na Articulao Sistema Nacional de
Educao: participao popular, cooperao federativa e regime de colaborao, foi um
importante passo na articulao da educao nacional como uma poltica de Estado.
Durante a conferncia, foram definidos oito eixos temticos que nortearam as
discusses, dentre esses destacamos, como elemento basilar para nossas reflexes, o eixo V:
Gesto democrtica, participao popular
1572
1573
essa proposio, estabelecendo a gesto democrtica como uma das diretrizes para educao
nacional, devendo ser assumida como dinmica para construo de uma poltica de Estado.
Para isso a gesto democrtica da educao deve ser capaz de envolver os sistemas e as
instituies educativas e de considerar os nveis de ensino, as etapas e as modalidades, bem
como as instncias e mecanismos de participao coletiva (MEC, 2014, p.59).
Da a importncia da construo dos espaos coletivos para discusso da educao,
como as Conferncias Nacionais, estaduais e municipais, pois a efetiva participao social e
popular na construo de uma poltica nacional de educao requer a colaborao e
articulao entre os meios federados Ser necessrio estabelecer as atribuies de cada ente
na democratizao da gesto, garantir a participao popular - em dilogo com os
movimentos sociais - e o controle social da educao para lograr processos formativos
emancipatrios (CONAE, 2014, p. 82).
Houve um grande e intenso envolvimento da sociedade civil e setores do Estado,
atravs da CONAE e da elaborao dos Planos de Educao, para construo de uma poltica
de Estado. O desafio grande, principalmente para uma sociedade que ainda traz um histrico
de subservincia, que no consegue ocupar todos os espaos sociais, que participa dos
processos de elaborao de forma muito superficial e menos ainda nos processos de
implementao e avaliao, mas um marco histrico nas polticas pblicas com vrios
desdobramentos, os quais, esperamos, contribuam para efetiva democratizao na gesto
educacional.
Consideraes Finais
Comumente as relaes entre governo e sociedade so marcadas por uma enorme
assimetria de recursos que limita, em muito, as possibilidades do exerccio da autonomia.
Nesse contexto, encontram terreno muito propcio para o e atualizao dos vieses no
democrticos de nossa cultura poltica, como o clientelismo, a cooptao, a troca de favores,
entre outros. Estamos aqui no terreno das continuidades de uma construo democrtica
permeada de avanos e retrocessos, num pas fortemente marcado pela hierarquizao das
relaes sociais. Ignora-se que a construo de uma gesto democrtica depende da educao
poltica dos prprios educadores, que s se dar no exerccio de prticas democrticas e no
apenas em belos e bem elaborados textos.
1574
Referncias
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qual democracia? Educao e Fronteiras, Dourados, MS, UFGD, 2007.
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1575
1576
1577
RESUMO
O presente texto tem por objetivo compreender se a gesto da escola favorece o uso didtico
do laboratrio de Cincias para a pr-escola e evidenciar a existncia ou no de processos de
gesto democrtica. As reflexes esto pautadas em autores que estudam, analisam, refletem e
criticam os processos administrativos e pedaggicos da escola, tais como Jos Carlos
Libneo, Vitor Henrique Paro, Moacir Gadotti, Luiz Fernandes Dourado e Gilberto Luiz
Alves. A metodologia empregada foi a anlise do documento oficial projeto poltico
pedaggico e uma entrevista semiestruturada com a diretora de uma escola municipal de
Campo Grande com laboratrio de Cincias em funcionamento. Constata-se que ocorrem
prticas educativas para a pr-escola no laboratrio de Cincias da escola pesquisada porm
no previsto no projeto poltico pedaggico e que a gesto deste espao quanto aos recursos
financeiros so provenientes do Programa Dinheiro Direto na Escola. Ainda ressalta-se que o
conceito de gesto democrtica praticado nesta escola encontra divergncias, porm em
consonncia com a prpria dualidade preconizada pelos programas do Ministrio da
Educao.
INTRODUO
1578
constituio, pois como afirma Libneo (2004) este documento consolida-se num documento
que detalha objetivos, diretrizes e aes do processo educativo a ser desenvolvido na escola,
expressando a sntese das exigncias sociais e legais do sistema de ensino e os propsitos e
expectativas da comunidade escolar (LIBNEO, 2004, p. 151).
Diante do apresentado, se torna vivel o conhecimento das prticas educativas de uma
escola por meio da leitura e interpretao do projeto poltico pedaggico.
A seleo da diretora para a entrevista pauta-se no papel desempenhado por ela na
escola, pois segundo Libneo (2004):
O diretor coordena, organiza e gerencia todas as atividades da escola, auxiliado
pelos demais componentes do corpo de especialistas e de tcnico-administrativos,
atendendo s leis, regulamentos e determinaes dos rgos superiores do sistema
de ensino e s decises no mbito da escola assumidas pela equipe escolar e pela
comunidade (LIBNEO, 2004, p. 128)
1579
METODOLOGIA
A pesquisa teve como palco uma escola pblica da rede municipal de ensino com
turmas de pr-escola ao 9 ano do ensino fundamental de Campo Grande/MS. Esta escola,
alm das salas de aulas convencionais, tem uma biblioteca, uma sala de tecnologia, uma sala
de recursos multifuncionais, quadra coberta, parquinho e laboratrio de Cincias. Este ltimo
espao o que possibilitou a escola ser pesquisada.
Para o presente estudo sero nomeados como fontes primrias o projeto poltico
pedaggico da escola e as informaes coletadas por meio de entrevista estruturada com a
diretora da escola em questo. De acordo com Bonat (2009) os dados ou fontes sero
considerados primrios quando constiturem documentos sejam escritos ou no. Esses dados
podem ser coletados no momento em que estiverem acontecendo ou depois (BONAT, 2009,
p. 15).
Desta maneira, para a entrevista elaborou-se um pequeno roteiro com 18 questes que
nortearam a entrevista com a diretora, dessa maneira, evitando a perda de foco da entrevista.
Sobre as vantagens do emprego de entrevistas em pesquisas Brni (2002) afirma que
[...] permitem, em qualquer caso, melhores explicaes sobre problemas surgidos enquanto a
pessoa responde s perguntas, evitando interpretaes erradas (BERNI, 2002, p. 138).
RESULTADOS E DISCUSSES
Ao analisar o Projeto Poltico Pedaggico da escola constata-se a organizao da
educao infantil relacionada aos materiais pedaggicos metodologia e avaliao a ser
empregada pelo professor. Porm, no mencionado o Laboratrio de Cincias como espao
ou estratgia de auxlio aos professores regentes da educao infantil para o desenvolvimento
das atividades.
De acordo com Libneo, Oliveira e Toschi (2012) o projeto um documento que
prope uma direo poltica e pedaggica ao trabalho escolar, formula metas, prev as aes,
institui procedimentos e instrumentos de ao (LIBNEO, OLIVEIRA e TOSCHI, 2012, p.
470).
Desta maneira, percebe-se que a ausncia de explicitao no texto do Projeto Poltico
Pedaggico da instituio quanto a utilizao do Laboratrio de Cincias fere o que os autores
colocam como institui procedimentos e instrumentos de ao, pois assim pratica-se
atividades no previstas no documento.
1580
Ressalta-se que para estes autores a nomenclatura usual projeto pedaggicocurricular e no projeto poltico pedaggico, mas os autores ressalvam a diversidade de
expresses e afirmam que todas as nomenclaturas abordam o mesmo objeto. Foi mencionada,
anteriormente, a denominao projeto poltico pedaggico devido a expresso ser utilizada
pelos agentes da escola pesquisada e por estar destacada na capa do documento analisado.
A entrevista realizada com a diretora da instituio revelou que os recursos financeiros
para equipar e manter o laboratrio de Cincias so provenientes do Programa Dinheiro
Direto na Escola/PDDE. Para utilizar o referido recurso com essa finalidade foi realizada
consulta a comunidade e aos conselhos escolares. Salienta-se que os conselhos escolares
citados pela diretora foram a Associao de Pais e Mestres/APM, Conselho de Professores e
Escolar.
Como resultado da consulta, outras prioridades foram levantadas, o que implicou em
no utilizao de recursos do PDDE para instrumentos e recursos pedaggicos para o
laboratrio de Cincias, sendo utilizado o equivalente a manuteno e pequenos reparos.
De acordo com a Lei n. 11.947, de 16 de junho de 2009 que dispe sobre o
atendimento da alimentao escolar e do Programa Dinheiro Direto na Escola aos alunos da
educao bsica; altera as Leis nos 10.880, de 9 de junho de 2004, 11.273, de 6 de fevereiro
de 2006, 11.507, de 20 de julho de 2007; revoga dispositivos da Medida Provisria n 2.17836, de 24 de agosto de 2001, e a Lei n 8.913, de 12 de julho de 1994 o objetivo do Programa
Dinheiro Direto na Escola/PDDE est disposto no artigo 22, sendo ele:
Art. 22. O Programa Dinheiro Direto na Escola - PDDE, com o objetivo de prestar
assistncia financeira, em carter suplementar, s escolas pblicas da educao
bsica das redes estaduais, municipais e do Distrito Federal, s escolas de educao
especial qualificadas como beneficentes de assistncia social ou de atendimento
direto e gratuito ao pblico, s escolas mantidas por entidades de tais gneros e aos
polos presenciais do sistema Universidade Aberta do Brasil - UAB que ofertem
programas de formao inicial ou continuada a profissionais da educao bsica,
observado o disposto no art. 25, passa a ser regido pelo disposto nesta Lei.
1 A assistncia financeira a ser concedida a cada estabelecimento de ensino
beneficirio e aos polos presenciais da UAB que ofertem programas de formao
inicial ou continuada a profissionais da educao bsica ser definida anualmente e
ter como base o nmero de alunos matriculados na educao bsica e na UAB, de
acordo, respectivamente, com dados do censo escolar realizado pelo Ministrio da
Educao e com dados coletados pela Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal
de Ensino Superior - CAPES, observado o disposto no art. 24.
2 A assistncia financeira de que trata o 1 ser concedida sem a necessidade de
celebrao de convnio, acordo, contrato, ajuste ou instrumento congnere,
mediante crdito do valor devido em conta bancria especfica:
I - diretamente unidade executora prpria, representativa da comunidade escolar,
ou quela qualificada como beneficente de assistncia social ou de atendimento
direto e gratuito ao pblico;
II - ao Estado, ao Distrito Federal ou ao Municpio mantenedor do estabelecimento
de ensino, que no possui unidade executora prpria (BRASIL, 2009, p.7).
1581
Sobre esta destinao financeira do Programa, Dourado (2007, p. 932) diz que o
PDDE consiste no repasse anual de recursos por meio do FNDE s escolas pblicas do ensino
fundamental estaduais, municipais e do Distrito Federal [...]. Ainda sobre o PDDE, Dourado
(2007) explicita que:
Os recursos, oriundos predominantemente do salrio-educao, so destinados
aquisio de material permanente e de consumo necessrios aquisio de material
permanente e de consumo necessrios ao funcionamento da escola; manuteno,
conservao e pequenos reparos da unidade escolar; capacitao e ao
aperfeioamento de profissionais da educao; avaliao de aprendizagem;
implementao de projeto pedaggico; e ao desenvolvimento de atividades
educacionais (DOURADO, 2007, p. 932).
http://www.fnde.gov.br/etiquetas/item/555-repasses-diretos
1582
Sendo assim, cabe entender como est sendo a participao dos conselhos e da
comunidade nas tomadas de deciso desta escola e de todas as outras que fazem parte de um
sistema pblico de ensino, para evitar-se a falsa ideia de democracia.
Ainda, sobre a articulao entre gesto democrtica e projeto poltico pedaggico,
Paro (2003) informa:
A possibilidade de uma administrao democrtica no sentido de sua articulao, na
forma e no contedo, com os interesses da sociedade como um todo, tem a ver com
os fins e a natureza da coisa administrativa. No caso da Administrao Escolar, sua
especificidade deriva, pois: a) dos objetivos que se buscam alcanar com a escola; b)
da natureza do processo que envolve essa busca (PARO, 2003, p. 151).
1583
Dias letivos na escola em que os estudantes recebem aula programada enquanto o corpo docente e outros
profissionais da escola desenvolvem atividades de estudo.
1584
Na certeza de que a escola atual deve expandir seus espaos, diante da possibilidade
de usar um espao alternativo tal qual o laboratrio de Cincias, no se pode deixar de
destinar recursos financeiros, bem como estimular sua utilizao por todos os estudantes que
frequentam a escola.
CONSIDERAES FINAIS
A pesquisa evidencia a necessidade de reformulao do projeto poltico-pedaggico da
escola em questo, pois existe uma organizao semanal para a utilizao do Laboratrio de
Cincias especfica para a educao infantil, com recorte para turmas da pr-escola (Pr I e
Pr II) que no est descrita no documento oficial.
Ora, se o projeto poltico pedaggico, denominado por Libneo, Oliveira e Toschi
(2012) como projeto pedaggico-curricular, deve formular objetivos sociais e polticos e
meios formativos para o processo educativo no devem ocorrer prticas pedaggicas no
referendadas pelo documento.
Evidencia-se tambm a pouca destinao de recursos financeiros para o laboratrio de
Cincias, com a justificativa de que os participantes dos conselhos escolares demandam
outras preocupaes ou urgncias que no as pertencentes ao utenslios e instrumentos
laboratoriais necessrios para a aprendizagem de crianas neste espao.
Reconhece-se fragilidade no conceito de gesto democrtica assumido pela diretora,
que na verdade, o disseminado por diversos textos oficiais do Ministrio da Educao.
Sobre essa vulnerabilidade, Oliveira e Fernandes (2009), discorrem que a gesto democrtica
presente na legislao atual devido a redefinio do papel do Estado est organizada em
processos de gesto gerencial da educao. Isto implica em uma gesto da escola pblica
centrada nos padres da eficincia e eficcia, alm de delegar parte dos processos sociedade
civil.
Corroborando
com
esses
preceitos,
Azevedo,
Marques
Aguiar
(2014)
1585
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10
1587
Introduo
O presente trabalho est vinculadoa linha de pesquisa Poltica e Gesto da Educao
do Programa de Ps-Graduao (Mestrado e Doutorado) da Faculdade de Educao da
Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). Tem como objeto de investigao do
Programa Institucional de Bolsa de Iniciao Docncia (PIBID), institudo pela
Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES) e pela Diretoria de
Formao de Professores da Educao Bsica (DEB/MEC) nos anos finais da primeira dcada
do sculo XXI. A proposio avaliar a implementao do PIBID na UFGD com vistas
a detectar a qualidade presente na gesto que orienta a sua relao entre a universidade e a
1588
As discusses sobre o PIBID chegaram UFGD nos finais dos anos de 2007. Uma
Comisso foi formada para estudar e compreender as linhas da proposta e a partir da elaborar
o primeiro Projeto Institucional da UFGD no PIBID, em atendimento ao primeiro Edital do
PIBID publicado em forma de Chamada Pblica por meio do MEC/CAPES/FNDE n.
01/2007, publicado no Dirio Oficial da Unio (DOU), em 13/12/2007. Essa chamada foi uma
ao conjunta do Ministrio da Educao (MEC), por intermdio da Secretaria de Educao
Superior (SESU) da CAPES e do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao (FNDE)
objetivando a formao inicial de professores para a educao bsica.
Nesse primeiro Edital a prioridade focava apenas os Cursos de Fsica, Qumica,
Biologia e Matemtica para o ensino mdio, pois havia escassez de professores nessas reas,
mas no item Demais Licenciaturas abriu para que todas as Licenciaturas participassem. S a
partir de 2009, em novo Edital, em direo as polticas de valorizao do magistrio em
destaque, o PIBID passou a contemplar todas as etapas da educao bsica (Educao Infantil,
Ensino Fundamental e Ensino Mdio), inclusive com ampliao de modo a atender as
seguintes modalidades: Educao de Jovens e Adultos (EJA), Educao do Campo, Indgenas
e Quilombolas.
Conforme dados disponibilizados no site da CAPES, o PIBID se destina s
Instituies de Ensino (IES) pblicas, comunitrias, confessionais e filantrpicas sem fins
lucrativos que oferecem cursos de licenciatura, desde que atendam a critrios destacados no
Artigo 5, incisos I, II, e III do Decreto n.7.219/2010:
1589
Em finais do ano de 2011 eram 288 Projetos de Iniciao Docncia que j estavam
em desenvolvimento nas Universidades parceiras do PIBID, em aproximadamente 4.000
(quatro mil) escolas pblicas de educao bsica no Brasil. (RELATRIO/CAPES 20092011).
A CAPES concede recursos para as despesas com a aquisio de materiais para as
atividades dos subprojetos. Esses recursos so custeados pela Capes para que todas as
atividades sejam desenvolvidas de forma a alcanar os objetivos esperados pelo Programa.
A proposta que assim como o Programa Institucional de Bolsa de Iniciao
Cientfica (PIBIC) que apoia a poltica de Iniciao Cientfica desenvolvida nas Instituies
de Ensino e/ou Pesquisa, por meio da concesso de bolsas de Iniciao Cientfica, tambm o
PIBID, alm da mesma caracterstica quanto ao oferecimento de bolsas, passasse a ser
tambm uma poltica de Estado, uma vez que amplia os sujeitos, conforme pode ser
constatado no quadro abaixo.
Bolsistas
Iniciao a docncia
Supervisor
R$400,00 (Quatrocentos
reais).
R$765,00 (Setecentos e
sessenta e cinco reais).
R$1.400,00 (Um mil e
quatrocentos reais).
Coordenador de rea
1590
1591
MUNICPIOS
UFGD
UEMS
Dourados
Dourados
Aquidauana
Campo Grande
Corumb
Paranaba
Trs Lagoas
6
UFMS
Total
QUANTITATIVO DE
ESCOLAS
CONTEMPLADAS
7
4
1
2
2
1
1
18
Fonte: INEP/2009.
A UFGD, portanto, marca presena nesse contexto e foi selecionada como lcus desta
proposio de pesquisas por ser nela que a proponente fez sua Licenciatura, inclusive foi
bolsista do PIBID. Nesses termos, cabe um breve destaque para a UFGD.
A UFGD teve seu projeto de criao aprovado no Congresso Nacional para
desmembramento da UFMS, pela Lei N 11.153, de 29 de Julho de 2005. Artigos 2 e 3 da
referida lei dispe que:
Artigo 2o A UFGD ter por objetivo ministrar ensino superior, desenvolver pesquisa
nas diversas reas do conhecimento e promover a extenso universitria.
Artigo 3o - A estrutura organizacional e a forma de funcionamento da UFGD,
observado o princpio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extenso, sero
definidas nos termos desta Lei, do seu Estatuto e das demais normas pertinentes
(BRASIL, 2005).
1592
Segundo Saviani (2009), dentre as aes para a poltica educacional propostas pelo
MEC est o PIBID como uma das 11 (onze) aes inscritas no Plano de Desenvolvimento de
Educao (PDE), voltadas para o Ensino Superior. um Programa destinado a alunos dos
cursos de licenciatura [...] das universidades pblicas para desenvolver projetos de educao
nas escolas da rede pblica de educao bsica (SAVIANI, 2009, p. 11).
Compreende-se, assim, que o PIBID uma grande ao da Poltica Educacional
Brasileira voltada para a formao inicial do professor e tambm para a qualificao do
professor em exerccio, considerando a importante presena do mesmo no processo, bem
como da possibilidade visvel de fortalecimento de relao entre a Universidade e as Escolas
Pblicas de Educao Bsica. Dados levantados por meio de documentos j analisados
mostram que o PIBID vem fortalecendo tambm a relao entre o Estado e Sociedade na
concretizao de proposies que no conjunto com outras aes movimentam as polticas e a
gesto da educao.
1593
1594
Com essa compreenso, espera-se que o PIBID ocupe o espao anunciado e consiga se
fortalecer como poltica de Estado, pois analisaDourado (2007) que a constituio e a
trajetria histrica das polticas educacionais no Brasil, bem como e os processos de
organizao e gesto da educao bsica nacional e adverte que esses processos so marcados
hegemonicamente pela lgica da descontinuidade, por carncia de planejamento de longo
prazo que evidenciasse polticas de Estado em detrimento de polticas conjunturais de
governo (p. 925).
1595
Consideraes Finais
A grande expectativa esperada pela Universidade por meio do PIBID fortalecer os
cursos de Licenciatura. Segundo Kramer (1997, p 20) [...] os programas de interveno
educacional e as polticas de formao de profissionais da educao so carregados de
expectativas, principalmente por parte daqueles que, seja de uma secretaria de educao, seja
da universidade, concebem nova proposta.
O PIBID, alm de contribuir com a formao do aluno, possibilita estabilidade para
se dedicar aos estudos e ter uma renda para manter os custeios com a faculdade, dessa forma
as propostas para o PIBID apresentadas pela UFGD pretende aprimorar a formao dos
futuros professores para intervenes educativas eficazes, atravs da aproximao com as
reais necessidades da Educao Bsica, fomentando experincias metodolgicas e prticas
docentes de carter inovador que se orientem para a superao de problemas identificados no
processo ensino-aprendizagem.
Nas palavras de Saviani (2009) o PIBID um grande Programa destinado aos alunos
dos cursos de licenciatura das universidades pblicas com vistas ao fortalecimento e
valorizao docente em termos de formao.
Registra-se aqui a credibilidade da relevncia social da pesquisa maior em que o
estudo aqui delineado est inserido e pode se afirmar indita nos espaos cientficos da
UFGD, uma vez que se prope a avaliar o PIBID como ao da poltica pblica e com
fundamentos na poltica e na gesto da educao.
Em sntese, o caminhar da pesquisa permite pontuar que o PIBID vem qualificando a
formao inicial de professores para a Educao Bsica e oportunizandoa articulao da
Educao Superior pblica com a Educao Bsica tambm do sistema pblico,
possibilitando aos acadmicos dos Cursos de Licenciatura importante contato com o futuro
local de trabalho.
Referncias
BRASIL. Lei n 9.394, de 20 de dezembro 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educao
nacional. Dirio Oficial da Repblica Federativa do Brasil, Braslia DF: 20 dez. 1996.
BRASIL. Decreto n. 7.219, de 27 de junho de 2010. Dispe sobre o programa Institucional
de Bolsa de Iniciao Docncia - PIBID e d outras providncias. Dirio Oficial da
Repblica Federativa do Brasil, Braslia DF: 27 Jun. 2010.
1596
1597
1598
Resumo
O presente artigo aborda algumas consideraes sobre os avanos e impasses presentes nas
propostas de polticas pblicas para a Educao bsica no Brasil. Aponta essas contradies
no prprio mbito de suas formulaes. Parte da premissa de que as sociedades divididas em
interesses diferentes e por vezes opostos, acabam por expressar tenses nas prprias
instituies como a poltica e a educao. Dessa forma procuramos demonstrar que muitos
projetos, programas e aes inscritos nas polticas educacionais trazem subjacente a lgica das
concepes idearias de seus formuladores. Estas polticas educacionais tornam-se palco da
luta entre interesses opostos. Procuramos destacar estas ocorrncias apresentando alguns
importantes programas e projetos do Governo Federal que na sua materializao revelam as
dificuldades da implantao de uma Educao que atenda os interesses verdadeiramente
coletivos de nossa sociedade. Assim ser feita uma anlise da gesto bsica da educao
brasileira tomando como elemento de reflexo o Programa de Aes Articuladas (PAR) e
suas interfaces com outros programas, projetos e aes ligados as polticas e programas da
Educao.
Palavras-chave: PAR. Gesto Democrtica. Poltica educacional.
Introduo
Polticas pblicas para a educao bsica no Brasil
As polticas pblicas para educao de um pas, no so isentas da perspectiva
interessada de seus governantes, ou seja, elas sero propostas segundo as concepes polticoideolgicas de seus proponentes. No entanto nas sociedades democrticas, desde sua
elaborao at sua efetiva implementao, elas passam por processos de discusso, conflitos,
desgastes e alteraes oriundas de diversos atores sociais, que incluem os prprios membros
do poder poltico (s vezes contrrios uns aos outros), at as diversas entidades e organizaes
da sociedade civil que tem os olhos voltados para essa questo. Como as sociedades so
internamente divididas em interesses diferentes e por vezes opostos, isso se reflete nas
polticas educacionais. Dessa forma no possvel pensar a organizao dos sistemas
1
1599
educacionais de uma sociedade sem vincul-los aos processos polticos e econmicos desta
mesma sociedade. E no raro a dinmica econmica internacional tambm procura interferir
em maior ou menor grau nas questes internas, como a educao, das sociedades que esto
sob seu raio de influencia.
Podemos perceber em Dourado esses aspectos mencionados, quando ele afirma
que:
Nessa tica, a discusso sobre tais polticas articula-se a processos mais
amplos do que a dinmica intra-escolar, sem negligenciar, nesse percurso, a
real importncia do papel social da escola e dos processos relativos
organizao, cultura e gesto intrnsecos a ela. [...]
[...] Uma perspectiva importante implica no reduzir a anlise das polticas e
da gesto educacional mera descrio dos seus processos de concepo
e/ou de execuo, importando, sobremaneira, apreend-las no mbito das
relaes sociais em que se forjam as condies para sua proposio e
materialidade. (DOURADO, 2007, p. 922)
1600
1601
atores envolvidos nos processos educacionais devem promover uma dinmica administrativa
de descentralizao das decises acerca do pblico. Tendo como controle as instncias de
participao no planejamento, execuo, monitoramento e avaliao dos programas, o
movimento de participao conjunta entre Estado e Sociedade so intrnsecas s
responsabilidades, que devem ser compartilhadas para a efetividade da eficcia bem como
para a transparncia das aes do poder pblico local.
Observa-se que o eixo central das polticas implementadas, do Plano de
Desenvolvimento da Educao dos governos nas ltimas dcadas, contempla o planejamento
participativo, no entanto, de sentido restrito quanto s normativas. A forma operacional, no
mbito das decises executivas, j consolidadas embasa o aumento da capacidade do ente
executor. Segundo Gadotti,
[...] sem participao social impossvel transformar democracia poltica
em democracia social. A igualdade formal, jurdica insuficiente, sem a
igualdade econmica. Vista desta forma, a participao social se constitui,
tambm, num mtodo de reconfigurao do prprio Estado. A democracia
participativa no concorre com a representativa: elas se complementam, se
fortalecem,aproximando o cidado do Estado. (GADOTTI, 2013, p.3).
1602
e o que traz como perspectiva e implicaes, uma viso que estimule a participao para as
solues dos problemas educacional: local e nacional.
1603
2011) que aponta como estratgia a necessidade de reunir iniciativas, articuladas, sob uma
abordagem do sistema de educativo nacional que priorize a qualidade da educao. (BRASIL,
2007, p.18).
As perspectivas aqui destacadas, portanto, direcionaro a investigao das
discusses sobre a configurao e a importncia de Polticas Educacionais, como o Plano de
Aes Articuladas PAR e o PME.
O Plano de Aes Articuladas PAR
Nos ltimos anos, a reestruturao de polticas, como tambm a gesto,
organizao e financiamento da educao se fez relevante elucidar, tendo em vista as diversas
alteraes ocorridas e resultantes em Planos e Programas Educacionais de governo, assim
como o Plano Nacional da Educao (PNE), Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE), o
Fundo de manuteno e Desenvolvimento da Educao Bsica e a Valorizao dos
Profissionais da Educao (FUNDEB), e o Plano de aes Articuladas (PAR).
Na discusso acerca desse tema, Barroso (2006) nos diz que a implantao destes
programas nos remete a indagaes que se desdobram sobre a lgica e a concepo polticas
pedaggicas subjacentes a eles, e observa-se um descompasso no efetivo iderio da
participao e deliberao coletiva, na premissa de agilidade da assistncia financeira aos
sistemas pblicos de ensino, ao apoio tcnico e financeiro da Unio e ainda nos revela a falta
de organicidade entre as polticas as polticas de gesto e a organizao das unidades
escolares envolvidas o escopo poltico pedaggico das aes. (BARROSO, 2006 op. cit.
Dourado 2007)
Tal dinmica est na proposio e a materializao das polticas, segundo o autor,
que contribuem para:
(...) um processo de sedimentao normativa que resulta da sobreposio de
novas regras, orientaes e reformas (produzidas numa volpia de
transformao permanente que raramente ultrapassa a superfcie do sistema),
s prticas e estruturas antigas que, na maior parte dos casos, acabam por
subsistir, ainda que travestidas de uma pretensa modernidade (Barroso,
2006b, p. 53)
1604
inaugura um novo regime de colaborao, que busca concertar a atuao dos entes federados
sem lhes ferir a autonomia, envolvendo primordialmente a deciso poltica, a ao tcnica e
atendimento da demanda educacional, visando melhoria dos indicadores educacionais.
Trata-se de um compromisso fundado em vinte e oito diretrizes e consubstanciado em um
plano de metas concretas, efetivas, que compartilha competncias polticas, tcnicas e
financeiras para a execuo de programas e manuteno e desenvolvimento da educao
bsica. (MEC, 2011)
Com o objetivo de colocar disposio dos estados, municpios e Distrito Federal,
instrumentos eficazes de avaliao e de implementao dessas polticas, e com o discurso de
melhoria da qualidade da educao bsica pblica reordena tais aes atravs do PAR como
mecanismo e instrumentos que inaugura o regime de colaborao conferindo a autonomia e
deciso poltica, a ao tcnica e o atendimento das necessidades educacionais visando a
superao dos baixos ndices e indicadores educacionais.
Em 2011 o PAR completou quatro anos e, na etapa atual, os municpios foram
orientados a atualizar seus diagnsticos, na nova estrutura do PAR, com vigncia para o
perodo de 2011 a 2014. Essa etapa deveria significar uma atualizao dos dados da realidade
local, com nfase na importncia do planejamento na construo da qualidade do ensino.
Considerado como um momento de reviso, pelo municpio, do seu Plano de Aes
Articuladas deve, contudo estar alinhado s metas do PNE Lei 13.005, 25 de junho de 2014.
Constitudo como uma oportunidade privilegiada de reflexo partir da anlise
das aes e das condies de monitoramento do PAR.
As metas e estratgias, cujo enfoque, a qualidade do ensino e da aprendizagem
tem destaque e sero discutidas pressupondo identificar os condicionantes da poltica de
gesto e construo de estratgias que redimensionem a qualidade educacional e a formao
dos docentes atreladas aes do plano.
As aes que contemplem a qualidade da educao no PAR contribuiro para
anlise dos fatores intra e extra-escolares que se referem aos alunos, professores, equipe
pedaggica e gestores, projeto pedaggico, ambiente escolar, estrutura fsica e recursos
didticos e relaes intersubjetivas do cotidiano escolar. Dourado (2007) corrobora,
afirmando:
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envolvidos
nos
processos
educacionais
devem
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responsabilidades, que devem ser compartilhadas para a efetividade da eficcia bem como
para a transparncia das aes do poder pblico local.
Nesta perspectiva, observa-se que a mudana ocorrida no cenrio das polticas
pblica educacionais principalmente no que se refere gesto da educao, e nfase dos
Planos de Desenvolvimento da Educao (PDE) dos governos recai sobre os Programas cujos
recursos passam pela transferncia aos estados e municpios, a exemplo: o Plano de Aes
Articuladas.
Sob a gide de atender as reivindicaes sociais pela ampliao da cidadania,
volta-se para estratgias e metas de transformao da cultura poltica e das relaes entre
Estado e seus cidados. Na perspectiva de ampliao da cidadania as polticas educacionais
tm focalizado os processos de descentralizao, poder local, democratizao da gesto,
participao e controle social, autonomia entre outros.
Sendo o processo educativo mediado pelo contexto sociocultural, pelas condies
em que se processa o ensino e a aprendizagem, pela estrutura e organizao das polticas do
sistema educacional, a gesto bsica se consolidar a medida que a articulao e compromisso
do governo bem como dos profissionais da educao se efetive.Uma perspectiva importante,
seria a valorizao dos docentes tendo em vista que os novos desafios, inerentes ao exerccio
e qualidade da prtica educativa, perpassa pela superao das limitaes estruturais da lgica
poltico-pedaggica dos programas e gesto da educao.
Contudo constatamos que a educao passa por mudanas e destacam-se nos
planos de educao, notadamente o PNE, os Planos Estaduais de Educao (PEE) e os Planos
Municipais de Educao (PME). E compreendidos como poltica de governo h
necessariamente que ser redimensionado no mbito da gesto educacional. O financiamento e
apoio tcnico deve estar articulado e relacionado a participao e mobilizao de todos os
envolvidos no processo.
O desafio, contudo requer a constituio de instncias participativas como
conselhos cuja representatividade dos segmentos participe das discusses e tomada de
decises para as metas e estratgias do processo. O principio dessa gesto consta-se nos
objetivos e estruturas organizacional dos planos: PDE, PAR bem como dos PME dos
Municpios.
Referncias
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Resumo
O presente artigo aborda algumas consideraes sobre os avanos e impasses presentes nas
propostas de polticas pblicas para a Educao bsica no Brasil. Aponta essas contradies
no prprio mbito de suas formulaes. Parte da premissa de que as sociedades divididas em
interesses diferentes e por vezes opostos, acabam por expressar tenses nas prprias
instituies como a poltica e a educao. Dessa forma procuramos demonstrar que muitos
projetos, programas e aes inscritos nas polticas educacionais trazem subjacente a lgica das
concepes idearias de seus formuladores. Estas polticas educacionais tornam-se palco da
luta entre interesses opostos. Procuramos destacar estas ocorrncias apresentando alguns
importantes programas e projetos do Governo Federal que na sua materializao revelam as
dificuldades da implantao de uma Educao que atenda os interesses verdadeiramente
coletivos de nossa sociedade. Assim ser feita uma anlise da gesto bsica da educao
brasileira tomando como elemento de reflexo o Programa de Aes Articuladas (PAR) e
suas interfaces com outros programas, projetos e aes ligados as polticas e programas da
Educao.
Palavras-chave: PAR. Gesto Democrtica. Poltica educacional.
Introduo
Polticas pblicas para a educao bsica no Brasil
As polticas pblicas para educao de um pas, no so isentas da perspectiva
interessada de seus governantes, ou seja, elas sero propostas segundo as concepes polticoideolgicas de seus proponentes. No entanto nas sociedades democrticas, desde sua
elaborao at sua efetiva implementao, elas passam por processos de discusso, conflitos,
desgastes e alteraes oriundas de diversos atores sociais, que incluem os prprios membros
do poder poltico (s vezes contrrios uns aos outros), at as diversas entidades e organizaes
da sociedade civil que tem os olhos voltados para essa questo. Como as sociedades so
internamente divididas em interesses diferentes e por vezes opostos, isso se reflete nas
polticas educacionais. Dessa forma no possvel pensar a organizao dos sistemas
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educacionais de uma sociedade sem vincul-los aos processos polticos e econmicos desta
mesma sociedade. E no raro a dinmica econmica internacional tambm procura interferir
em maior ou menor grau nas questes internas, como a educao, das sociedades que esto
sob seu raio de influencia.
Podemos perceber em Dourado esses aspectos mencionados, quando ele afirma
que:
Nessa tica, a discusso sobre tais polticas articula-se a processos mais
amplos do que a dinmica intra-escolar, sem negligenciar, nesse percurso, a
real importncia do papel social da escola e dos processos relativos
organizao, cultura e gesto intrnsecos a ela. [...]
[...] Uma perspectiva importante implica no reduzir a anlise das polticas e
da gesto educacional mera descrio dos seus processos de concepo
e/ou de execuo, importando, sobremaneira, apreend-las no mbito das
relaes sociais em que se forjam as condies para sua proposio e
materialidade. (DOURADO, 2007, p. 922)
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atores envolvidos nos processos educacionais devem promover uma dinmica administrativa
de descentralizao das decises acerca do pblico. Tendo como controle as instncias de
participao no planejamento, execuo, monitoramento e avaliao dos programas, o
movimento de participao conjunta entre Estado e Sociedade so intrnsecas s
responsabilidades, que devem ser compartilhadas para a efetividade da eficcia bem como
para a transparncia das aes do poder pblico local.
Observa-se que o eixo central das polticas implementadas, do Plano de
Desenvolvimento da Educao dos governos nas ltimas dcadas, contempla o planejamento
participativo, no entanto, de sentido restrito quanto s normativas. A forma operacional, no
mbito das decises executivas, j consolidadas embasa o aumento da capacidade do ente
executor. Segundo Gadotti,
[...] sem participao social impossvel transformar democracia poltica
em democracia social. A igualdade formal, jurdica insuficiente, sem a
igualdade econmica. Vista desta forma, a participao social se constitui,
tambm, num mtodo de reconfigurao do prprio Estado. A democracia
participativa no concorre com a representativa: elas se complementam, se
fortalecem,aproximando o cidado do Estado. (GADOTTI, 2013, p.3).
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e o que traz como perspectiva e implicaes, uma viso que estimule a participao para as
solues dos problemas educacional: local e nacional.
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2011) que aponta como estratgia a necessidade de reunir iniciativas, articuladas, sob uma
abordagem do sistema de educativo nacional que priorize a qualidade da educao. (BRASIL,
2007, p.18).
As perspectivas aqui destacadas, portanto, direcionaro a investigao das
discusses sobre a configurao e a importncia de Polticas Educacionais, como o Plano de
Aes Articuladas PAR e o PME.
O Plano de Aes Articuladas PAR
Nos ltimos anos, a reestruturao de polticas, como tambm a gesto,
organizao e financiamento da educao se fez relevante elucidar, tendo em vista as diversas
alteraes ocorridas e resultantes em Planos e Programas Educacionais de governo, assim
como o Plano Nacional da Educao (PNE), Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE), o
Fundo de manuteno e Desenvolvimento da Educao Bsica e a Valorizao dos
Profissionais da Educao (FUNDEB), e o Plano de aes Articuladas (PAR).
Na discusso acerca desse tema, Barroso (2006) nos diz que a implantao destes
programas nos remete a indagaes que se desdobram sobre a lgica e a concepo polticas
pedaggicas subjacentes a eles, e observa-se um descompasso no efetivo iderio da
participao e deliberao coletiva, na premissa de agilidade da assistncia financeira aos
sistemas pblicos de ensino, ao apoio tcnico e financeiro da Unio e ainda nos revela a falta
de organicidade entre as polticas as polticas de gesto e a organizao das unidades
escolares envolvidas o escopo poltico pedaggico das aes. (BARROSO, 2006 op. cit.
Dourado 2007)
Tal dinmica est na proposio e a materializao das polticas, segundo o autor,
que contribuem para:
(...) um processo de sedimentao normativa que resulta da sobreposio de
novas regras, orientaes e reformas (produzidas numa volpia de
transformao permanente que raramente ultrapassa a superfcie do sistema),
s prticas e estruturas antigas que, na maior parte dos casos, acabam por
subsistir, ainda que travestidas de uma pretensa modernidade (Barroso,
2006b, p. 53)
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inaugura um novo regime de colaborao, que busca concertar a atuao dos entes federados
sem lhes ferir a autonomia, envolvendo primordialmente a deciso poltica, a ao tcnica e
atendimento da demanda educacional, visando melhoria dos indicadores educacionais.
Trata-se de um compromisso fundado em vinte e oito diretrizes e consubstanciado em um
plano de metas concretas, efetivas, que compartilha competncias polticas, tcnicas e
financeiras para a execuo de programas e manuteno e desenvolvimento da educao
bsica. (MEC, 2011)
Com o objetivo de colocar disposio dos estados, municpios e Distrito Federal,
instrumentos eficazes de avaliao e de implementao dessas polticas, e com o discurso de
melhoria da qualidade da educao bsica pblica reordena tais aes atravs do PAR como
mecanismo e instrumentos que inaugura o regime de colaborao conferindo a autonomia e
deciso poltica, a ao tcnica e o atendimento das necessidades educacionais visando a
superao dos baixos ndices e indicadores educacionais.
Em 2011 o PAR completou quatro anos e, na etapa atual, os municpios foram
orientados a atualizar seus diagnsticos, na nova estrutura do PAR, com vigncia para o
perodo de 2011 a 2014. Essa etapa deveria significar uma atualizao dos dados da realidade
local, com nfase na importncia do planejamento na construo da qualidade do ensino.
Considerado como um momento de reviso, pelo municpio, do seu Plano de Aes
Articuladas deve, contudo estar alinhado s metas do PNE Lei 13.005, 25 de junho de 2014.
Constitudo como uma oportunidade privilegiada de reflexo partir da anlise
das aes e das condies de monitoramento do PAR.
As metas e estratgias, cujo enfoque, a qualidade do ensino e da aprendizagem
tem destaque e sero discutidas pressupondo identificar os condicionantes da poltica de
gesto e construo de estratgias que redimensionem a qualidade educacional e a formao
dos docentes atreladas aes do plano.
As aes que contemplem a qualidade da educao no PAR contribuiro para
anlise dos fatores intra e extra-escolares que se referem aos alunos, professores, equipe
pedaggica e gestores, projeto pedaggico, ambiente escolar, estrutura fsica e recursos
didticos e relaes intersubjetivas do cotidiano escolar. Dourado (2007) corrobora,
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envolvidos
nos
processos
educacionais
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responsabilidades, que devem ser compartilhadas para a efetividade da eficcia bem como
para a transparncia das aes do poder pblico local.
Nesta perspectiva, observa-se que a mudana ocorrida no cenrio das polticas
pblica educacionais principalmente no que se refere gesto da educao, e nfase dos
Planos de Desenvolvimento da Educao (PDE) dos governos recai sobre os Programas cujos
recursos passam pela transferncia aos estados e municpios, a exemplo: o Plano de Aes
Articuladas.
Sob a gide de atender as reivindicaes sociais pela ampliao da cidadania,
volta-se para estratgias e metas de transformao da cultura poltica e das relaes entre
Estado e seus cidados. Na perspectiva de ampliao da cidadania as polticas educacionais
tm focalizado os processos de descentralizao, poder local, democratizao da gesto,
participao e controle social, autonomia entre outros.
Sendo o processo educativo mediado pelo contexto sociocultural, pelas condies
em que se processa o ensino e a aprendizagem, pela estrutura e organizao das polticas do
sistema educacional, a gesto bsica se consolidar a medida que a articulao e compromisso
do governo bem como dos profissionais da educao se efetive.Uma perspectiva importante,
seria a valorizao dos docentes tendo em vista que os novos desafios, inerentes ao exerccio
e qualidade da prtica educativa, perpassa pela superao das limitaes estruturais da lgica
poltico-pedaggica dos programas e gesto da educao.
Contudo constatamos que a educao passa por mudanas e destacam-se nos
planos de educao, notadamente o PNE, os Planos Estaduais de Educao (PEE) e os Planos
Municipais de Educao (PME). E compreendidos como poltica de governo h
necessariamente que ser redimensionado no mbito da gesto educacional. O financiamento e
apoio tcnico deve estar articulado e relacionado a participao e mobilizao de todos os
envolvidos no processo.
O desafio, contudo requer a constituio de instncias participativas como
conselhos cuja representatividade dos segmentos participe das discusses e tomada de
decises para as metas e estratgias do processo. O principio dessa gesto consta-se nos
objetivos e estruturas organizacional dos planos: PDE, PAR bem como dos PME dos
Municpios.
Referncias
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Resumo:
Este artigo apresenta resultados de pesquisa em andamento que tem como objetivo analisar
em que medida o Plano de Aes Articuladas (PAR), em seu segundo ciclo, enquanto
programa estratgico do Plano de Desenvolvimento da Educao (PDE) tem influenciado no
desenvolvimento de polticas de valorizao docente, levando-se em considerao os
elementos Piso Salarial Profissional Nacional (PSPN), Plano de Cargos e Carreira e
Remunerao (PCCR) e Formao Inicial e Continuada, nos municpios de Dourados e Ponta
Por, Estado de Mato Grosso do Sul (MS), no perodo de 2011 a 2014. Neste texto, apresentase um mapeamento das pesquisas sobre valorizao docente com base em teses de doutorado
em educao, coletadas no banco de dados da Capes, referentes ao perodo de 2000 a 2015.
Constata-se que a maioria dos trabalhos focaliza um dos elementos como condio essencial
para a valorizao docente. Percebe-se tambm, que as aes e subaes do PAR planejadas
pelos municpios selecionados, indicam a possibilidade de implantao de polticas de
valorizao docente, condio essencial para o desenvolvimento de um processo educativo de
qualidade nas escolas pblicas desses municpios.
Palavras-chave: Polticas Educacionais; Valorizao Docente; Plano de Desenvolvimento da
Educao (PDE); Plano de Aes Articuladas (PAR).
Introduo
Este artigo apresenta resultados de pesquisa3 em andamento que tem como objetivo
analisar as implicaes do Plano de Aes Articuladas (PAR), no segundo ciclo,
correspondente ao perodo de 2011-2014, para as polticas de valorizao docente, levando-se
em considerao as seguintes aes: Piso Salarial Profissional Nacional (PSPN), Plano de
Doutoranda em Educao pela UCDB, Linha de Pesquisa 1: Polticas Educacionais, Gesto da Escola e
Formao Docente.
2
Orientadora e Professora do Programa de Ps-Graduao em Educao- Mestrado e Doutorado da UCDB.
3
A pesquisa conta com o apoio do CNPq e da FUNDECT/MS.
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1621
1622
1623
com base nos elementos acima apresentados que se busca analisar as polticas de
valorizao docente, a partir do Plano de Aes Articuladas (PAR), no perodo de 2011 a
2014, levando-se em considerao as aes j mencionadas: Piso Salarial Profissional
Nacional (PSPN), Plano de Cargos e Carreira e Remunerao (PCCR) e formao inicial e
continuada, presentes nesse Plano (PDE/PAR), analisado, por meio de suas dimenses.
Nesse sentido, apresenta-se, a seguir, o mapeamento referente s pesquisas coletadas
at o momento, sobre o tema acima citado.
6
1624
DEFESA
UNIVERSIDADE
2000-UNICAMP
Maria
da
Consolao Rocha
2009 USP
2010- UFRGS-
Severino Vilar de
Albuquerque
2013 UNB -
Fbio Mariano da
Paz
2014/UNESP/Presidente
Prudente
TTULO
TEMA DE ESTUDO
1625
examina
histria
salarial
concentrando-se
no
processo
de
1626
1627
10
1628
1629
1630
Vilar Albuquerque (2013), em perodo mais recente, aps ser institudo o Plano de Aes
Articuladas (PAR), no segundo mandato do governo Lula da Silva (2007-2010) apresenta
maior afinidade com esta pesquisa, uma vez que o autor analisa uma dimenso do PAR, ou
seja, a formao continuada, elemento essencial para a valorizao docente.
Aps esse levantamento inicial, entende-se que ainda h necessidade de estudos
focalizando as polticas de valorizao docente. Como assinalam Santos, Cunha e Gomes
(2007, p. 68. Grifos nossos):
Entretanto, importante considerar a ausncia de estudos voltados para outras
dimenses da valorizao do profissional da educao. Foram poucos os estudos que
se dedicaram s questes da profissionalizao e das condies funcionais do
educador, aspectos cruciais para a concretizao dessas polticas. A questo dos
planos de carreira, do piso salarial digno, do perodo reservado para estudos,
dos concursos pblicos para provimento dos cargos do magistrio, dos
incentivos para a progresso funcional, alm da avaliao do desempenho do
professor carecem de novas pesquisas. Neste sentido, observa-se a necessidade de
mais investimentos de estudos neste campo do conhecimento.
Dessa forma, esta pesquisa busca avanar em relao aos trabalhos anteriormente
apresentados, por relacionar as polticas de valorizao docente a partir do 2 ciclo do PAR
2011-2014, focalizando os aspectos: Piso Salarial Profissional Nacional (PSPN), Planos de
Cargos e Carreira e Remunerao (PCCR) e formao inicial e continuada, em municpios do
estado de Mato Grosso do Sul.
Consideraes Finais
Ao analisar o planejamento dos municpios de Dourados (2011) e Ponta Por (2011),
por meio do Plano de Aes Articuladas (PAR) 2011-2014, ainda que de forma inicial,
evidenciou-se que as aes relacionadas s polticas de valorizao docente, levando-se em
considerao os elementos Piso Salarial Profissional Nacional (PSPN), Plano de Cargos e
Carreira e Remunerao (PCCR) e formao inicial e continuada, esto presentes nas
dimenses gesto educacional e formao de professores e dos profissionais de servio e
apoio escolar.
Dessa forma, espera-se que as aes definidas no PAR dos municpios selecionados
para estudo, possam se constituir em polticas educacionais efetivas, voltadas exclusivamente
para elevar a qualidade da educao nesses municpios, assim como no estado, uma vez que a
qualidade da educao est diretamente relacionada questo da valorizao docente. o que
a pesquisa pretende mostrar.
Referncias
ABRCIO, Fernando Luiz. A dinmica federativa da educao brasileira: diagnstico e
propostas de aperfeioamento. In: OLIVEIRA, R.P.; SANTANA, W. (Org.). Educao e
13
1631
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2006.
14
1632
1633
Resumo
Este artigo fruto de uma pesquisa em andamento vinculada ao Programa de Ps-Graduao em
Educao - Mestrado e Doutorado da Universidade Catlica Dom Bosco (UCDB). Pretende-se
neste artigo apresentar as principais polticas pblicas educacionais para a formao de
professores, em especial, as polticas para formao de professores em educao do campo
presentes em documentos do governo federal, relacionando com as propostas elencadas pelos
movimentos sociais. Tem-se a inteno de identificar a participao dos movimentos sociais nas
reivindicaes pelas polticas educacionais para a formao de professores do campo. No
decorrer do trabalho, elencaremos as principais polticas para formao dos professores a partir
da aprovao da Lei n 9.394/96, que estabelece diretrizes para educao nacional e buscar
apresentar as propostas elencadas em documentos oficiais sobre a formao docente. No
momento, apresenta-se como aporte terico: Azevedo (2004), Arroyo (1999), Caldart (2008),
Carnoy (1998), Lombardi e Sanfelice (2007), Lombardi e Saviani (2005), Mszros (2006),
Gohn. (1997) e Leite (1999 ). O texto produzido realizado a partir de leituras de documentos
oficiais e de autores que debatem sobre polticas educacionais, formao de professores e
educao do campo.
1 Introduo
1634
relacionando com as propostas elencadas pelos movimentos sociais. Este artigo resulta
de uma pesquisa em andamento, intitulada Polticas de formao de professores do
campo em Mato Grosso do Sul, vinculada a linha 1- Polticas Educacionais , Gesto da
Escola e Formao Docente do Programa de Ps-Graduao em Educao Mestrado e
Doutorado da Universidade Catlica Dom Bosco (UCDB) em Campo Grande-MS.
Tem-se a inteno de identificar a participao dos movimentos sociais nas
reivindicaes pelas polticas educacionais para a formao de professores do campo.
Busca-se tambm discorrer sobre as principais polticas para formao dos professores a
partir da aprovao da Lei n 9394/96, que estabelece diretrizes para educao nacional
e apresentar as polticas presentes nos documentos oficiais que contemplem a formao
docente.
So de fundamental importncia conhecer e analisar as polticas que so
desenvolvidas para atender a formao dos professores, em especial, os da educao do
campo.
Leite (1999), em seu livro Escola Rural: urbanizao e polticas educacionais
j alertava sobre algumas problemticas, dentre as quais, a formao dos professores do
campo:
2. quanto situao do professor: presena do professor leigo; formao
essencialmente urbana do professor; questes relativas a transporte e
moradia; clientelismo poltico na convocao dos docentes; baixo ndice
salarial; funo trplice: professora/merendeira/faxineira. (LEITE, 1999,
p.55).
1635
por meio das polticas pblicas, ou polticas sociais, que possvel evidenciar a ao
do Estado. Azevedo nos mostra de que forma as polticas pblicas so definidas e como se
materializam as polticas pblicas:
O conceito de polticas pblicas implica considerar os recursos de poder que
operam na sua definio e que tem nas instituies do Estado, sobretudo na
mquina governamental, o seu principal referente [...] outra importante
dimenso que se deve considerar que as polticas pblicas so definidas,
implementadas, reformuladas ou desativadas com base na memria da
sociedade ou do Estado em que tem lugar e que por isso guardam estreita
relao com as representaes sociais que cada sociedade desenvolve sobre si
prpria. Nesse sentido, so construes informadas pelos valores, smbolos,
normas, enfim, pelas representaes sociais que integram o universo cultural
e simblico de uma determinada realidade. (AZEVEDO, 2004, pp 5-6).
1636
1637
Ens. Fundamental
Ensino Mdio
Urbano
65,4
84,8
93,5
Rural
45,6
58,9
88,5
Diferena 19,8
entre
urbano e
rural em
%
25,9
5,0
1638
O artigo 62 da LDB no faz meno educao do campo, mas tal lei tambm
se aplica para tal modalidade. Sendo assim, o campo tambm tem direito de
profissionais com formao especfica para trabalhar nas escolas do campo.
No ano de 2002, o Ministrio da Educao (MEC) aprova a Resoluo
CNE/CEB 1, DE 3 DE ABRIL DE 2002, no qual estabelece as Diretrizes Operacionais
para escolas do campo. Esta resoluo fruto das lutas dos movimentos sociais para de
fato garantir que os Artigos 23 e 28 da LDB possam ser materializados, pois no
bastava a LDB dar autonomia para as escolas do campo serem diferenciadas, mas
juntamente com outras leis e polticas educacionais de oferta da educao do campo e
para a formao do professores do campo pudessem ser construda e efetivada.
De acordo com as Diretrizes operacionais para a Educao do Campo:
Art.12. O exerccio da docncia na Educao Bsica, cumprindo o
estabelecimento nos Arts. 12, 13, 61 e 62 da LDB e nas Resolues ns
3/1997 e 2/1999, da Cmara da Educao Bsica, assim como os Pareceres
ns 9/2002 e 27/2002 e 28/2002 e as Resolues ns 1/2002 e 2/2002 do
Plano do Conselho Nacional de Educao, a respeito da formao de
professores em nvel superior para a Educao Bsica, prev a formao
inicial em curso de licenciatura, estabelecendo como qualificao mnima,
para a docncia na Educao Infantil e nos anos iniciais do Ensino
Fundamental, o curso de formao de professores em Nvel Mdio, na
modalidade Normal. (BRASIL, 2002, p40 e 41).
1639
1640
o curso de
Dados de acordo com o site da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul-UFMS. Disponvel em :
http://www-nt.ufms.br/news/view/id/2441. Acessado em : 12/08/2015.
1641
1642
meio rural mas sim de todo o sistema educacional brasileiro[....] ali que se
concentra o maior nmero de professores leigos, que so mnimas as
possibilidades de formao no prprio meio rural, e que de modo geral os
programas de formao de professores, incluindo os cursos de Magistrio e
os cursos superiores, no tratam das questes do campo, nem mesmo nas
regies em que grande parte dos futuros professores seguramente ir
trabalhar neste contexto, ou se o fazem, no sentido de reproduzir
preconceitos e abordagens pejorativas.; e quer, por extenso, praticamente
inexistem materiais didticos e pedaggicos que subsidiem prticas
educativas vinculadas s questes especficas da realidade do campo.
( ARROYO, 2011, p.37).
10
1643
da
1644
1645
Referncias
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VIEIRA, Evaldo. Democracia e Poltica Social. So Paulo: Cortez; Autores
Associados, 1992.
14
1647
Resumo
Esta pesquisa de natureza bibliogrfica e documental teve como objetivo avaliar a
operacionalizao do PARFOR, nas instituies pblicas de ensino superior no estado de
Mato Grosso do Sul (MS), no perodo de 2008 a 2013. Para tanto, recorremos ao aporte
terico de Oliveira e Souza (2010), Andrade (2012), Alves (2010), entre outros. Conclui-se
que o PARFOR uma poltica planejada pelo MEC/Capes, no para melhorar a qualidade da
educao bsica brasileira, e sim para dar respostas aos resultados negativos apresentados
pelo IDEB. Apesar desse fato, o referido plano no estado de MS conseguiu, mesmo que
parcialmente, qualificar professores para atuarem na educao bsica. O grande desafio para o
fortalecimento do PARFOR no estado de MS seria a articulao entre todos os segmentos
envolvidos na proposta: governo federal, estados, municpios e as universidades pblicas.
Palavras-chave: Poltica educacional. Formao de Professores. PARFOR.
Introduo
No ano de 2009, o Governo Federal, sob a gesto do ento Presidente Luis Incio Lula
da Silva, lanou por meio do Decreto n 6.755, o Plano Nacional de Formao de Professores
da Educao Bsica (PARFOR).
Esse Plano, juntamente com a Lei n 9.424, de 24 de dezembro de 1996, que instituiu
o Fundo de Manuteno e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizao do
Magistrio (Fundef), substitudo em 2007 pelo Fundo de Manuteno e Desenvolvimento da
Educao Bsica e de Valorizao dos Profissionais da Educao (Fundeb), institudo pela
Lei n. 11.494 e pela Lei n. 11.738, de 16 de julho de 2008, que criou o Piso Salarial
Profissional Nacional (PSPN), consiste em polticas executadas pelo governo brasileiro que
visam a valorizao do magistrio da educao bsica pblica.
1
2
1648
revistas
1649
[...] Em mbito federal, registram-se iniciativas tais como: o Sistema Nacional de Avaliao da Educao
Bsica (Saeb), ampliado com a Prova Brasil, o Exame Nacional do Ensino Mdio (Enem) e no ensino superior, o
Exame Nacional de Cursos (ENC), conhecido como Provo, voltado para os cursos de graduao, substitudo
pelo Sistema Nacional de Avaliao da Educao Superior (Sinaes), alm da avaliao da ps-graduao, que
realizada desde 1976 (OLIVEIRA; SOUZA, 2010, p. 30, grifo do autor).
1650
Para compreender o que foi analisado at aqui preciso dizer que o objeto do estudo
em pauta articula-se com a totalidade histrica e social. Por isso, a sua vinculao com os
interesses sociais.
A abordagem crtica do PARFOR, busca nos fundamentos histricos e sociais, a
origem dessa Poltica, o que nos conduz ao esclarecimento da sua natureza mais profunda, e
no apenas ao questionamento de suas possveis lacunas ou imperfeies. Assim, a chave para
a realizao da anlise apreender os nexos [...] causais que penetram o desenvolvimento do
sistema capitalista na sua processualidade histrico-concreta em conexo com categorias
centrais da reproduo social (ANDRADE, 2012 p. 12).
Com base nessa argumentao, trilhamos o caminho para o entendimento do
movimento real do PARFOR com a adoo, como metodologia, da investigao histrica das
relaes antagnicas, imanentes ao modo de produo capitalista. Por meio desse processo
metodolgico, podemos [...] revelar toda a riqueza interpretativa das categorias que
viabilizam a reproduo e apreenso do movimento do real em pensamento (ALVES, 2010,
p. 4).
A anlise do objeto focalizada sobre a sociedade regida pelos ditames econmicos
do capital. A partir da compreenso dessa totalidade, discutimos a [...] natureza social da
educao, as funes que lhe competem no interior do modo de produo (ALVES, 2010, p.
2), bem como o carter histrico da organizao do trabalho docente em busca de sua
formao.
A partir desta introduo, este texto encontra-se estruturado em duas partes sendo a
primeira relacionada discusso e a anlise do tema proposto, e, a ltima traz uma sntese do
estudo, destacando os principais pontos abordados.
1651
1652
1653
Municpio de Bataguassu MS
Municpio de Miranda MS
Municpio de Porto Murtinho
MS
Curso
Cincias Biolgicas Licenciatura
Geografia Licenciatura
Letras Licenciatura Habilitao em
Portugus/Espanhol
Pedagogia Licenciatura
Geografia Licenciatura
Cincias Biolgicas Licenciatura
Geografia Licenciatura
Matemtica Licenciatura
Matemtica Licenciatura
Pedagogia Licenciatura
Matemtica Licenciatura
Letras Licenciatura Habilitao em
Portugus/Espanhol
Geografia Licenciatura
Pedagogia Licenciatura
Cincias Biolgicas Licenciatura
Letras Licenciatura Habilitao em
Portugus/Espanhol
Administrao Pblica Bacharelado
Letras Licenciatura Habilitao em
Portugus/Espanhol
Matemtica Licenciatura
Pedagogia Licenciatura
Cincias Biolgicas Licenciatura
Geografia Licenciatura
Vagas
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
32
7
6
7
9
11
1654
Municpio de So Gabriel do
Oeste MS
Curso
Cincias Biolgicas Licenciatura
Letras Licenciatura Habilitao em
Portugus/Espanhol
Matemtica Licenciatura
Cincias Biolgicas Licenciatura
Geografia Licenciatura
Matemtica Licenciatura
Matemtica Licenciatura
Geografia Licenciatura
Letras Licenciatura Habilitao em
Portugus/Espanhol
Administrao Pblica Bacharelado
Letras Licenciatura Habilitao em
Portugus/Espanhol
Matemtica Licenciatura
Pedagogia Licenciatura
Cincias Biolgicas Licenciatura
Geografia Licenciatura
Vagas
5
4
5
7
10
6
7
4
8
32
7
6
7
9
11
A UFMS ofertou 415 vagas no ano de 2012 e 128 vagas em 2013, como mostram os
quadros anteriores, nmeros inferiores sua proposta inicial, de 1.680 vagas. Percebe-se que
essa IES no ofereceu aos docentes dos municpios a oportunidade de qualificao. Isso
mostra que o PARFOR no se configura como [...] um instrumento de poltica pblica
eficiente na qualificao de professores e no parece estar fortalecendo significativamente as
bases e aes da educao voltadas para enfrentar o desafio da educao para todos
(CATANANTE; BRITO, 2014, p. 13).
No podemos negar a validade e a legitimidade do PARFOR, enquanto poltica
nacional de formao de professores para a educao bsica, porm importante que os
Fruns Permanentes de Apoio Formao Docente, necessitam revisar a operacionalizao
dessa poltica junto as Universidades para que os docentes recebam uma formao apropriada.
Consideraes finais
1655
Referncias:
1656
1657
______. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul UFMS. Edital PREG n 46, de 26 de
fevereiro de 2013, vestibular EAD 2013 PARFOR Vagas Remanescentes. Disponvel em:
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julho de 2012, vestibular EAD 2012 PARFOR Disponvel em:
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2010.
1658
1659
1
1660
2
1661
3
piramidal, nas federaes vigoram os princpios de autonomia dos governos
subnacionais e de compartilhamento da legitimidade e do processo decisrio
entre os entes federativos. (ABRUCIO, 2010, p.41).
Nas palavras de Sena (2013, p. 123), a federao pode ser definida como:
[...] uma forma de Estado que se caracteriza pela unio de coletividade polticas
regionais autnomas. Comporta, dessa forma, uma pluralidade consorciada e
coordenada de mais de uma ordem jurdica incidente sobre um mesmo
territrio, com mbitos de competncias previamente definidas.
Arretche (2002, p. 28) esclarece que os Estados federados, sendo constitudos pela
unio de regies autnomas e com compartilhamento de poder entre elas, "o governo central
e os governos locais so independentes entre si e soberanos em suas respectivas jurisdies,
pois cada governo local [...] est resguardado pelo princpio da soberania, o que significa que
estes so atores polticos autnomos com capacidade para implementar suas prprias polticas".
Abrucio (2010, p.41) esclarece que o federalismo uma forma de organizao
territorial do Estado e, como tal, tem enorme impacto na organizao dos governos e na
maneira como eles respondem aos cidados. Isso porque o processo de deciso e sua base de
legitimao so distintos do outro modelo clssico de nao, o Estado unitrio.
O ideal da descentralizao poltica vem desde os tempos coloniais. Os primeiros
sistemas administrativos adotados por Portugal, as governadorias gerais, as feitorias, as
capitanias, traaram os rumos pelos quais a nao brasileira caminharia fatalmente para a
forma federativa (MALUF, 2010, p. 187).
Em 1822 o Brasil tornou-se independente adotando a forma unitarista, com um
governo central que tinha grandes poderes sobre as ento provncias e as municipalidades
(ABRUCIO, 2010, p. 43).
A federao brasileira foi criada em 1891 com a implantao da Repblica Federativa
do Brasil e estruturou-se sobre as bases da experincia dos americanos com caractersticas de
base dual. Atualmente, apresenta-se de forma multifacetada no que se refere ao centro de
poder e se organiza de uma forma mais descentralizada, permitindo aos governos subnacionais
gozarem de uma maior autonomia e poder de deciso na administrao (ARAUJO, 2013).
Assim, Abrucio (2010, p. 43) esclarece que:
[...] nasce a federao brasileira, cujo mote principal era o repasse do poder
de autogoverno aos estados os municpios eram bastante frgeis e
dependentes dos governos estaduais. [...] O fato que o federalismo
brasileiro, em suas origens, foi bastante centrfugo, sem que houvesse uma
1662
4
proposta de nao e interdependncia entre as partes (ABRUCIO, 2010, p.
43).
1663
5
existentes. Como bem destacou Abrucio (2010) o problema que a duplicidade se somou, ao
longo da histria, com uma falta de articulao e coordenao entre as redes de ensino, num
ambiente de grande desigualdade no plano subnacional. (ABRUCIO, 2010, p.53).
Em 1930, ocorreu um aumento da participao nacional na definio dos rumos
educacionais com a criao de uma pasta ministerial para a rea, e em 1934, nomeando
Gustavo Capanema. Este teve uma gesto de onze anos, dando incio a um perodo reformista
para educao, mas com pouca atuao no ensino primrio, j que fora priorizado o ensino
secundrio e superior. No contexto federativo, o perodo no democrtico de Getlio Vargas,
possibilitou um enfraquecimento poltico dos governos subnacionais que gerou uma quase
extino da federao. (ABRUCIO, 2010, p.55).
O perodo de 1946-1964 tornou a federao brasileira mais dinmica e mais
democrtica, combinando melhor os princpios de autonomia e interdependncia do que nos
momentos anteriores. Pela primeira vez no plano constitucional, estabeleceu-se uma
preocupao, ainda que incipiente, com a maior coordenao federativa, mesmo que num
arremedo de federalismo cooperativo. Alm disso, a bandeira da descentralizao ganhou
fora, inclusive no se refere a bandeira municipalista. (ABRUCIO, 2010, p.55).
Esse arremedo de federalismo cooperativo que o autor se refere, serviu mais para
reduzir intervenes centralizadoras que retirassem a autonomia dos governos subnacionais,
do que para aumentar a colaborao intergovernamental com vistas melhoria e expanso da
educao no Brasil (ABRUCIO, 2010, p.55).
Embora houvesse problemas na nacionalizao da poltica educacional em virtude da
falta de aes que criasse avanos em relao universalizao do ensino, as relaes
intergovernamentais tinham em certo ponto avanado; no entanto, com o golpe de 1964
impe um unionismo-autoritrio que tomou conta da federao (ABRUCIO, 1998) fazendo
com que houvesse um retrocesso no que se tinha avanado no campo educacional.
Foram criados tributos e/ou fundos pblicos para sustentar iniciativas de
financiamento, induo ou auxlio tcnico da Unio junto aos outros entes (particularmente
municipalidades), bem como houve um reforo do aparato burocrtico federal para planejar e
controlar tal processo. Por esses instrumentos, o governo federal tentou uniformizar a
implementao das polticas por toda a federao. (ABRUCIO, 2010, p.55).
Essa nova dinmica federativa afetou fortemente a educao. O balano final da
relao entre educao e federalismo no regime militar revela que a expanso dos servios e
dos temas de atuao foi feita sob novas bases polticas, administrativas e financeiras, por
uma forte centralizao no plano federal, que se revestia, paradoxalmente, de caractersticas
1664
6
1665
7
principais da reforma do Estado mostra deficincias, uma vez que esta no se resume somente
a transferncia de competncias, responsabilidades ou de recursos; mas que preciso levar em
considerao o contexto poltico que, enfraquecido e pressionado por mudanas, procurava de
maneira impositiva, sair de um Estado centralizado para um Estado descentralizado, tido
como democrtico.
O processo de descentralizao das polticas sociais foi intensificado somente a partir
da dcada de 1980 com o fim da ditadura e a abertura para a redemocratizao poltica do
pas. Diante do quadro de fragmentao das polticas sociais, a Unio procurou se fortalecer
promovendo a universalizao da educao por meio da ao subnacional, principalmente
pelos municpios, com a transferncia da gesto das polticas pblicas. Esse movimento
resultou na concretizao da diretriz constitucional de descentralizao de polticas pblicas,
fortalecendo principalmente os municpios (FRANZESE; ABRUCIO, 2009, p. 14):
Ao introduzir a universalizao de polticas sociais por meio da
descentralizao, o governo federal brasileiro no promove apenas a
execuo de um programa nacional por meio dos municpios, mas lhes
transfere a operacionalizao e gesto da poltica pblica (Ibid., p. 14).
1666
8
para elaborar suas polticas, como para aderir s polticas elaboradas pelos outros nveis de
governo. Essa nova dinmica da gesto das polticas pblicas ganharam um novo modelo
federativo, que segundo Abrucio (2010, p. 40) se caracterizava por trs temas relacionados ao
federalismo:
[...] a descentralizao, em especial na sua traduo como municipalizao [...]
a previso de polticas nacionais orientadoras e planejadoras, nas formas da
LDB e do Plano Nacional de Educao; e [...] a proposio de um regime de
colaborao entre os nveis de governo como instrumento que garantiria a boa
implementao da poltica em todos os seus ciclos, em especial na educao
bsica.
Na execuo dessas competncias que so atribudas aos entes federados, Sena (2013,
p. 124), classifica o federalismo de duas formas:
[] dual, quando a atuao d-se de forma separada e independente e as
competncias so exclusivas e excludentes; um modelo rgido no tocante
aos poderes delegados Unio e aos reservados aos entes federados
subnacionais; [] cooperativo, quando se caracteriza por formas de ao
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9
conjunta entre as instncias de governo; as competncias no so partilhadas,
mas compartilhadas.
Nesse sentido, Martins (2014) adverte que num regime federativo, como o brasileiro,
o governo s atua diretamente sobre a sua esfera, relacionando-se com as demais conforme
dispe a Constituio, que no caso brasileiro adota o modelo do federalismo cooperativo.
(MARTINS, 2014, p.14).
Na relao entre os entes para execuo das competncias, a Constituio Federal de
1988 opta pelo federalismo cooperativo, no qual as competncias da Unio, estados e
municpios so compartilhadas. Ao se estruturar assim, mais especificamente na educao, a
Constituio Federal adota um sistema mais descentralizado, por meio de normas que
definem as competncias dos entes, fazendo-o sobre o princpio da colaborao entre os
mesmos (CURY, 2002) e com uma relao horizontal entre os mbitos federativos
(BRASIL, 2009, Art. 2 o, 4o).
Uma vez que a Constituio brasileira de 1988 consagrou o modelo de federalismo
cooperativo, deve existir o princpio da harmonia federativa (SENA, 2013, p. 124), pelo qual
todas as unidades federadas, sem exceo, devem atuar em conformidade para alcanar os
objetivos da Repblica Federativa do Brasil com vistas a garantir o desenvolvimento nacional
pautada nos princpios fundamentais por meio da cooperao entre os entes federados.
No aspecto que envolve a autonomia dos entes no plano poltico-administrativo, a
poltica de centralizao das decises e descentralizao da ao, juntamente com a
capacidade diferenciada de recursos, de planejamento e execuo das aes dos entes
federados tm trazido tenses no mbito do pacto federativo (CURY, 2002).
O problema do atual arranjo federativo, que a concentrao de recursos na Unio,
os critrios de repasse desses recursos levou perda de autonomia pelos municpios gerando
mais dependncia em relao ao Estado (ARAUJO, 2013, p. 229).
Abrucio (2010, p. 61) enfatiza que a organizao do sistema educacional, em regime
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10
de colaborao entre os entes, ainda no obteve sucesso por completo, principalmente pela
[...] falta de incentivos financeiros, gerenciais ou de democratizao que guiassem a relao
entre os nveis de governo e sua necessria colaborao. Explica o autor que para "construir
um modelo de descentralizao com poltica nacional" exige-se uma coordenao federativa
que significa "[...] sair da dicotomia de centralizao e descentralizao, que leva mais ao
jogo do cabo de guerra do que a prticas colaborativas que respeitam a autonomia dos entes,
sem perder de vista as necessidades nacionais de uma federao" (Ibid., p. 49).
Cury (2002), ao confirmar essa mesma ideia, ressalta que na ausncia de um regime de
colaborao, as diferenas entre os entes permanecer caso mantenham uma poltica orientada
principalmente pela diviso e distribuio de impostos de acordo com as competncias dos entes.
Dessa forma, se torna importante estabelecer mecanismos de cooperao entre as
unidades do Governo federado, uma vez que no so raros os conflitos referentes s questes
tributrias e desigualdades financeiras dos entes. A repartio de renda acaba sendo uma
necessidade em todo e qualquer ente da federao, e talvez a maior dificuldade para estipular
uma relao de cooperao (ABRUCIO; COUTO, 1996).
Quanto aos impasses entre os entes no desenvolvimento das poltica pblicas,
Franzese e Abrucio (2009, p. 8) colocam que existem dois impactos que so prprios do
federalismo: a autonomia e interdependncia. A interdependncia se manifesta no federalismo
cooperativo produzindo "[...] dilemas de deciso conjunta em razo do processo de
responsabilidade compartilhada nas polticas sociais".
A autonomia refere-se ao modelo federalista competitivo que [...] cria novos atores
institucionais (com base territorial) e que, como unidades autnomas, so capazes de sustentar
opes prprias de polticas pblicas e ainda influenciar as possibilidades de polticas sociais do
governo central e das demais unidades federativas (FRANZESE; ABRUCIO, 2009, p. 7).
De acordo com Arretche (2002), os entes resguardados pela Constituio em suas
autonomias, so considerados atores polticos com capacidade para implementar as suas
polticas pblicas.
A Constituio Federal brasileira, na sua histria, busca consolidar um processo
democrtico na gesto da educao e ao mesmo tempo descentralizador nas suas aes,
quando possibilita aos entes agirem com autonomia para tomar decises relacionadas s suas
prprias realidades, demandas e necessidades. No entanto, de acordo com Araujo (2013, p.
232) os estudos sobre a descentralizao pela via da municipalizao identificam que ainda
existem grandes dificuldades no federalismo quanto implementao das polticas
educacionais com o objetivo de equalizao das oportunidades educacionais.
1669
11
Consideraes Finais
A gesto das polticas educacionais torna-se complexa, principalmente quanto ao
regime de colaborao, posto que esta, em um regime federativo cooperativo, pressupondo a
autonomia dos entes federados, torna-se uma arena de disputas dos diferentes atores, com
diferentes interesses. Sena (2013, p. 138) refora esse pensamento dizendo que "[...] a
coordenao de medidas, essencial ao planejamento, torna-se mais sujeita a dificuldades no
ambiente federativo, dada a multiplicidade dos ncleos de poder".
Dentre as principais dificuldades na gesto da educao no estado federativo esto: a
falta de esclarecimento sobre as normas que regulamente o "regime de colaborao"
(ARAUJO, 2010a, p. 237). Para Araujo (2010, p. 758), a falta de clareza do que vem a ser um
regime de colaborao levou a duas relaes conflitantes: uma horizontal, na qual os conflitos
se do principalmente pela falta de articulao e coordenao do governo federal.
Estes conflitos podem ser observados pela desresponsabilizao dos entes para "[...]
garantia de medidas de acesso, permanncia e qualidade nas etapas e modalidades da
educao bsica" (Ibid., p.758); e outra vertical, na qual o Governo opta pela descentralizao
com pouca interveno, exercendo um papel de fiscalizador dos processos, que leva a uma
forte relao de competitividade entre os entes na disputa por recursos.
A indefinio das responsabilidades pelas competncias comuns dos entes possibilitou
aos estados sentirem-se desobrigados em fazer qualquer investimento na rea educacional,
transformando a descentralizao em um repasse de funes (FRANZESE; ABRUCIO,
2009).
Percebe-se na legislao educacional, um interesse em fortalecer as relaes
intergovernamentais por meio do pacto federativo caracterizado pelo sentido de cooperao
entre os entes com o apoio tcnico e com "transferncias regulares e contnuas de recursos
financeiros" pela Unio para diminuir as desigualdades regionais e para ofertar uma educao
de qualidade (BRASIL, 2014a, p. 86). No entanto, para garantia do direito educao com
qualidade necessrio uma descentralizao da gesto que permita uma autonomia na gesto da
educao com o planejamento e implementao das polticas educacionais em mbito local e a
complexa tarefa da construo de um financiamento que diminua as diferenas econmicas e
sociais entre os entes federativos (BRASIL, 2014a, p. 86).
Referncias
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IBGE 2010.
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(estas duas j nas pores centrais do estado), alm de Londrina e Maring, ao norte e nas
proximidades da divisa de So Paulo.
Faz importante comentar que a ocupao do Grande Oeste Paranaense foi realizada em
duas etapas e por processos distintos. Enquanto o Norte Pioneiro, aqui mencionam-se as
cidades de Londrina e Maring como polos urbanos principais, possui uma forte influncia da
dinmica urbana paulista pois sua ocupao representou uma expanso da fronteira agrcola
daquela unidade federada, as pores a oeste, sudoeste e sul, bem como todo o Oeste
Catarinense foram ocupados a partir da expanso das fronteiras agrcolas gachas, em um
movimento que iniciou-se com as pores Oeste da Regio Sul do Brasil e, posteriormente,
extravasou por toda a poro leste paraguaia e, tambm, para as Regies Centro-Oeste e Norte
do Brasil. Este movimento que iniciou-se timidamente ao incio do sculo XX seguiu-se por
muitos anos adiante e, atualmente, nestas regies muito presente na cultura e demografia
local elementos e populaes descendentes de pioneiros oriundos do Rio Grande do Sul.
Dentre os principais receptores dos novos migrantes e investidores gachos, destacam-se o
Paran, Mato Grosso do Sul e Rondnia (Folador, 2005).
Desta maneira, a partir da Colnia Militar possvel identificar o primeiro marco
significativo de colonizao de Foz do Iguau. Contudo, por mais que o contrabando tivesse
sido reduzido drasticamente e a chegada das Foras Armadas consolidou a presena brasileira
em seu territrio, trazendo a lei e a ordem para este local esquecido, o extrativismo de
madeira e erva-mate continuou sendo a principal atividade econmica local. Tambm
necessrio lembrar que muitas das atuais cidades do Oeste e Sudoeste Paranaense ainda
pertenciam aos limites de municpios, cujas sedes ainda estavam muito distantes geogrfica,
poltica e economicamente do cotidiano de seus cidados. Por exemplo, a Vila de Iguassu
emancipou-se de Guarapuava, municpio distante 390 (trezentos e noventa) quilmetros.
Capital do Oeste, a cidade de Cascavel foi emancipada em 1951 do mesmo municpio e a
distncia entre os mesmos de 245 (duzentos e quarenta e cinco) quilmetros (Ferreira, 2006
e IPARDES, 2011).
Tambm deve ser levado em considerao que aos padres atuais esta distncia no
parece ser to longa, pois atualmente a BR-277 (Paranagu Foz do Iguau, 740 quilmetros)
as conectas com pistas asfaltadas e todos os elementos de segurana indispensveis para o
bom trfego na rodovia, contudo ao incio do sculo, picadas (ou trilhas) eram abertas para o
trfego de pessoas e veculos de trao animal, em uma regio que ainda sofria grande
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1678
1679
levada, legalmente ou no, para beneficiamento e posterior revenda para outras partes do
territrio argentino ou mesmo para os prprios pases de origem dos produtos.
A nova empresa binacional criada, por fora de seu estatuto, deveria ter sua diviso
igual para ambos os membros e, alm disto, tudo o que fosse feito no limite de um pas
deveria ser igualmente construdo no outro. Desta maneira, a usina hidreltrica possui 20
(vinte) turbinas para gerao de energia, sendo 10 (dez) destas pertencentes ao Brasil e as
outras ao Paraguai. O mesmo ocorre com a quantidade de linhas de transmisso de energia e
todas as outras construes de Itaipu Binancional.
Com o incio das obras de construo da barragem e do canal de desvio, foi necessrio
importar trabalhadores de outras regies do Brasil e Paraguai, j que o local no contava com
mo-de-obra apta e suficientemente qualificada a poca. No incio da construo, em 1974, a
cidade de Foz do Iguau possua em sua totalidade 16 (dezesseis) mil habitantes, segundo
dados do Censo de 1970 (IBGE, 2011). Aproximadamente 08 (oito) anos transcorridos e o
nmero de trabalhadores apenas no canteiro de obras j superava 40 (quarenta) mil pessoas,
ou seja, apenas o contingente de trabalhadores da obra j era 250% (duzentos e cinquenta
porcento) maior do que toda a populao do municpio, o que gerou violentos impactos sobre
as infraestruturas locais, sobretudo de habitao e transportes.
A principal questo surgida na poca era: como acomodar tantos trabalhadores e
funcionrios em uma pequena cidade que carecia de infraestrutura at mesmo para seus
cidados?
Para isto, Itaipu Binacional lanou um plano para duas inovadoras (e at mesmo
ousados para os padres locais) vilas habitacionais destinadas a seus funcionrios efetivos,
bem como a construo de uma vila temporria para os trabalhadores contratados para o
trabalho nas obras de construo da usina. Sendo que a primeira delas, a Vila C, de carter
temporrio foi a primeira a ficar pronta, enquanto as outras duas foram entregues
posteriormente. Alm destas, diversos novos equipamentos urbanos e virios foram
implantados para atender a demanda futura gerada por suas atividades. A cidade foi ento
preparada por este agente para que suas atividades pudessem ser desenvolvidas de maneira
adequada e com pouca interferncia no cotidiano da rea urbana j existente.
1680
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1682
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Brasileira
de
Infra-Estrutura
Aeroporturia
(INFRAERO):
www.infraero.gov.br
Empresa Brasileira de Turismo (EMBRATUR): www.embratur.gov.br
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE): www.ibge.gov.br
Instituto Foz do Iguau de Transporte e Trnsito (FOZTRANS): www.foztrans.pr.gov.br
Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada (IPEA): www.ipea.gov.br
Instituto
Paranaense
de
Desenvolvimento
Econmico
www.ipardes.gov.br
International Air Transporte Association (IATA): www.iata.org
Itaipu Binacional: www.itaipu.gov.br
Ministrio das Relaes Exteriores (MRE): www.mre.gov.br
Ministrio dos Transportes (MT): www.transportes.br
Presidncia da Repblica: www.planalto.gov.br
Social
(IPARDES):
1684
TRABALHOS COMPLETOS
1685
Resumo
Esse artigo parte dos estudos realizados em uma pesquisa de mestrado em andamento,
vinculada ao Grupo de Pesquisa Polticas Pblicas e Gesto da Educao (GEPPE), do
Programa de Ps-Graduao em Educao - Mestrado e Doutorado da Universidade Catlica
Dom Bosco (UCDB). Tem-se a inteno na pesquisa de analisar o processo de implementao
do Exame Nacional para Certificao de Competncias de Jovens e Adultos no Estado de
Mato Grosso do Sul, no perodo de 2010 a 2015. Todavia, nesse artigo, objetiva-se apresentar
uma reflexo acerca da Educao de Jovens e Adultos, na perspectiva por uma educao de
qualidade, democrtica e de direitos. As ponderaes advm de um estudo documental e
bibliogrfico a luz de autores que debatem sobre a temtica, como, Horta (1987), Paiva
(2006), Cury (2002-2014), dentre outros. O estudo realizado at o momento aponta que a
Educao de Jovens e Adultos vem ganhando centralidade nos discursos e aes de diversos
interlocutores polticos e sociais, todavia entende-se que dentro do sistema democrtico
contemporneo que vive a sociedade brasileira, as condies ligadas aluso do direito a
educao de qualidade para todos, apresentam-se ainda como aquisies jurdicas,
manifestadas em leis, decretos, resolues, pouco validadas na realidade da populao
brasileira, solidificada no domnio intelectual das classes, fragmentando suas aes, conforme
orientaes da sociedade capitalista.
Palavras-chave: Educao de Jovens e Adultos; Qualidade, Direito, Democracia.
INTRODUO
O texto apresentado fruto de uma pesquisa de mestrado em andamento, vinculado
ao Grupo de Pesquisa Polticas Pblicas e Gesto da Educao (GEPPE), do Programa de
Ps-Graduao em Educao - Mestrado e Doutorado da Universidade Catlica Dom Bosco
(UCDB). Tem-se a inteno na pesquisa de analisar o processo de implementao do Exame
Nacional para Certificao de Competncias de Jovens e Adultos no Estado de Mato Grosso
do Sul, no perodo de 2010 a 2015. Porm nesse artigo, prope-se a reflexo acerca da
Mestranda em Educao Universidade Catlica Dom Bosco, Especialista em Gesto de Polticas Pblicas,
Bacharel em Servio Social. e-mail: [email protected]
Professora Doutora do Programa de Ps Graduao em Educao da Universidade Catlica Dom Bosco
(UCDB), docente Orientadora da Mestranda.
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2
Educao de Jovens e Adultos, na perspectiva de uma educao de qualidade, democrtica e
de direitos.
As reflexes e anlises advm de um estudo documental, e bibliogrfico a luz de
autores que debatem sobre a temtica, entre eles, Horta (1987), Paiva (2006), Cury (20022014), dialogando com os preceitos da Constituio Federal de 1988, com a LDB de 1996,
com o Plano de Metas Compromisso Todos pela Educao e com o Plano Nacional de
Educao (PNE 2014-2024).
As concluses sinalizam que no contexto atual das polticas pblicas, as propostas
neoliberais visam ampliar e perpetuar o sistema vigente, o qual a educao tem sido usada
como instrumento para concretizao das intencionalidades de dominao capitalista. Todavia
a sistematizao e a anlise advindas de reflexes acerca de temas ligados a educao ser
sempre um contraponto a hegemonia posta e imposta sociedade brasileira.
CURY, C.R.J. (2014). O termo qualidade advm do latim qualitas, mas cuja procedncia mais funda a de
poits do grego e que significa um ttulo definidor de uma categorizao ou classificao. De certo modo,
estamos no campo de um atributo distintivo de um bem que passa a se apresentar com uma caracterstica
particular alm da comum. Por vezes, essa distino costuma ser assinalada com uma adjetivao como no caso
de qualidade social, qualidade total, entre outras. A qualidade, at por essa origem greco-latina, um termo
polissmico e cuja definio no s carece de uniformidade como tambm se louva em sentidos de muita
complexidade (Educ. Soc., Campinas, v. 35, n. 129, p. 1053-1066, out.-dez., 2014).
1687
3
fatores se associa para alcanar um bom resultado. So condies que o autor pondera no
intuito de fomentar condies bsicas de qualidade na educao. Ressaltando que:
A qualidade da educao precisa ser encarada de forma sistmica: da
creche ao ps-doutorado. O sistema educacional formado de muitas partes
inter-relacionadas, interdependentes e interativas: o que ocorre em uma delas
repercute nas outras. A educao s pode melhorar no seu conjunto [...]
Medidas isoladas no iro surtir efeito. (GADOTTI, 2013, p. 8)
1688
4
materializadas em programas e aes articuladas, com acompanhamento e
avaliao da sociedade, tendo em vista a melhoria dos processos de
organizao e gesto dos sistemas e das instituies educativas. Implicam,
tambm, processos de avaliao, capazes de assegurar a construo da
qualidade social inerente ao processo educativo, de modo a favorecer o
desenvolvimento e a apreenso de saberes cientficos, artsticos,
tecnolgicos e scio-histricos, compreendendo as necessidades do mundo
do trabalho, os elementos materiais e a subjetividade humana
(MEC/CONAE, 2014, grifo nosso).
PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios, Obtm informaes anuais sobre caractersticas
demogrficas e socioeconmicas da populao, como sexo, idade, educao, trabalho e rendimento, e
caractersticas dos domiclios, e, com periodicidade varivel, informaes sobre migrao, fecundidade,
nupcialidade, entre outras, tendo como unidade de coleta os domiclios. Temas especficos abrangendo aspectos
demogrficos, sociais e econmicos tambm so investigados. Realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatstica (IBGE).
1689
5
qualidade na educao, qual seja: informatizao das escolas pblicas, melhoria no
desenvolvimento de pesquisas, avaliao da qualidade do ensino fundamental e mdio,
investimentos em infraestrutura, entre outros (BRASIL, 2014).
Logo, as leis e decretos constituem um arcabouo legal que prescrevem a educao
de qualidade para todos os cidados brasileiros. Ressalta-se, porm, que o termo qualidade
pode ser interpretado de diversas maneiras e essas maneiras esto relacionadas a necessidades
e expectativas que podem diretamente definir a percepo do que qualidade, configurando
resultados diferentes a cada indivduo. Para tanto, so necessrias definies claras e objetivas
[sobre o qu???]que possam ser mensuradas para tomadas de decises, principalmente quanto
a definies de polticas pblicas que legalmente se mostram amparadas a efetivarem o direito
a qualidade na educao bsica.
Nesse sentido, evidencia-se que o termo qualidade ainda de difcil definio, talvez
por estar vinculado a um arcabouo complexo que delimita a qualidade planejada, e
implementada pelas polticas pblicas.
compreenso em sua totalidade, Cury (2014) traz algumas reflexes do que no qualidade,
de modo que evidencie como a educao vem sendo desenvolvida, definindo a no qualidade
como,
[...] barreiras excludentes da desigualdade sociais inclusive legais como era o
caso dos exames de admisso, a discriminao que desigualava o ensino
profissional, os limites do ensino no-gratuito e a descontinuidade
administrativa. A no qualidade se expressou e ainda est presente nas
repetncias sucessivas redundando nas reprovaes seguidas do desencanto,
da evaso e abandono. A qualidade no a falta de acesso, no o
aligeiramento, no a carncia de recursos e, sobretudo, no sada dos
egressos sem o domnio daquilo que a LDB considera como formao
comum (art. 22) e formao bsica do cidado (art. 32) e respectivos
objetivos e finalidades (art. 32 e art. 35) (CURY, 2014, p. 1055).
1690
6
profissional, que diluem em um conjunto de correlaes de foras, suprimindo o direito a
educao de qualidade, evidenciada pelas legislaes.
Ainda sobre a questo da qualidade em educao,Saviani (2007, p. 1251 ===) coloca
que pertinente entender o esforo que o governo desprende ao multiplicar ao que
fomentam mudanas no perfil da educao brasileira, porm necessrio uma criticidade ao
analisar essas intenes para que se evite a fragmentao e a disperso que levariam a perda
do foco principal: a melhoria da qualidade da educao bsica, e que essa qualidade no seja
apreendida como um mtodo de qualidade total empregada pelo mercado, onde os alunos se
tornam clientes e a educao um produto, com qualidade varivel, certamente estaramos
lanando mo do direito educao de qualidade, apregoadas nas leis e decretos.
2. Educao de Jovens e Adultos - Direito Educao
Por certo que a Constituio Federal de 1988, no art. 205, dispe do direito a
educao, sendo um direito de todos e dever do Estado, que se configura enquanto elemento
fundamental para cidadania, constituindo, uma sociedade mais democrtica e igualitria assim
descrita a educao, direito de todos e dever do Estado e da famlia, ser promovida e
incentivada com a colaborao da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa,
seu preparo para o exerccio da cidadania e qualificao para o trabalho (BRASIL/1998).
Entretanto Horta (1987, p. 214), sinaliza outra discusso acerca do direito a
educao. Para o autor a incluso da educao como direito social constituiu um processo
lento, ambguo e contraditrio. Esta incluso se apresenta ao mesmo tempo como uma
conquista e uma concesso, um direito e uma obrigao, assegurando que
Dentro desse processo mais amplo da legitimao da ordem social
capitalista, a ampliao de direitos sociais da cidadania, apresenta-se como
uma estratgia. Nesta perspectiva, tal ampliao apresenta-se como, uma
incorporao subordinada de interesses de classes dominantes, atravs do
Estado (HORTA, 1987, p.230).
Deste modo, alm de uma base comum, a educao forma cada indivduo segundo
sua posio social e o prepara para desempenhar o papel que esta posio lhe atribui, ou seja,
dentro de um legado constitucional que ampara ao direito insolvel educao, esta posta
de maneiras diferentes e de acordo com os interesses hegemnicos vigentes. Assim, ao
mesmo tempo em que cada um educado segundo o seu lugar na sociedade, uma cultura
1691
7
comum se impe a todos, com vistas integrao de todos nesta mesma sociedade (HORTA,
1987, p. 233).
Configura-se necessrio a apreenso da autora sobre a dualidade da educao, posta
de maneira diferente a sociedade, mediante os interesses vigentes, porm igualmente
necessrio se faz, referir a educao como direito, como poltica pblica emancipatria,
dentro de um sistema democrtico e cidado, so condies ligadas aluso do direito a
educao de qualidade para todos, mesmo que ainda esses direitos representem somente
aquisies jurdicas, manifestadas em leis, decretos, resolues, pouco validadas na realidade
da populao brasileira.
Esse direito salientado por Cury (2002), para quem
O direito educao parte do reconhecimento de que o saber sistemtico
mais do que uma importante herana cultural. Como parte da herana
cultural, o cidado torna-se capaz de se apossar de padres cognitivos e
formativos pelos quais tem maiores possibilidades de participar dos destinos
de sua sociedade e colaborar na sua transformao [...]. O direito educao,
nesta medida, uma oportunidade de crescimento cidado, um caminho de
opes diferenciadas e uma chave de crescente estima de si (CURY, 2002, p.
252-260).
Barzotto (2003), Conceito de democracia aparece na Constituio de 1988 como elemento central da nova
ordem constitucional. Considerando os modelos de democracia apresentados anteriormente, a proposta
interpretar a democracia na Constituio Brasileira como uma democracia deliberativa. Vale lembrar que, o
sujeito da democracia o povo (comunidade), o funcionamento da democracia regido por uma concepo
institucionalista do Estado de Direito e a finalidade da democracia o bem comum como um bem de todos.
1692
8
escolar, entre outros, que constituem parmetros negativos da realidade brasileira e configurase num contingente de pessoas jovens e adultos, nessas situaes. Desse modo, o Estado
transpe para as polticas pblicas a aplicabilidade de propostas que imediatizam solues
imbudas de representar o discurso generalista do direito a educao de qualidade e cidadania
democrtica.
Nesse sentido, o Plano Nacional de Educao (PNE/2014-2024), instrumento de
planejamento do Estado Democrtico de Direito brasileiro, orienta justamente o
aprimoramento e a aplicabilidade das polticas pblicas de educao, onde as aes
estrategicamente elaboradas devem conduzir ao desenvolvimento de uma educao de
qualidade para todos os nveis, etapas e modalidades de ensino, em consonncia com aos
propsitos expressos no art. 204 da Constituio, quais sejam: erradicao do analfabetismo;
universalizao do atendimento escolar; melhoria da qualidade de ensino; formao para o
trabalho; promoo humanstica, cientfica e tecnolgica e aplicao de recursos pblicos a
educao.
Proposta amparada na Lei de Diretrizes e Bases da Educao (LDB/1996), que
enfatiza o direito educao e o dever de educar, sendo este efetivado mediante a garantia de
um ensino fundamental, obrigatrio e gratuito inclusive para os que no tiveram acesso a
idade prpria, enquadrando a educao de jovens e adultos (BRASIL, 1996).
No que se refere ao direito educao de jovens e adultos o Parecer n 11/00 do
CNE/CEB, sinaliza para lacuna social nessa modalidade quando reconhece que
1693
9
CONSIDERAES FINAIS
A Educao de Jovens e Adultos est permeada por processos revestidos de
interesses capitalistas, mediadas por polticas pblicas e propostas institucionalizadas
instveis em funo reguladora do mercado, num processo de construo democrtica ainda
no consolidado.
Objetivou-se nesse texto, trazer a reflexo acerca da Educao de Jovens e Adultos,
na perspectiva de uma educao de qualidade, democrtica e de direitos, onde numa sucinta
trajetria dialgica com os preceitos da Constituio Federal de 1988, da Lei de Diretrizes e
Bases da Educao LDB n 9394/96, o Plano de Metas Compromisso Todos pela Educao,
Plano Nacional de Educao (decreto n 6.094/2007) e o PNE Lei n 13.005/2014, e
fundamentado em Horta (1987), Paiva (2006), Cury (2002; 2014), entre outros, nos reporta as
dicotomias presentes no cenrio brasileiro, onde so viabilizadas propostas educacionais
pontuais na legislao e fragmentadas em nome de assegurar um direito subjetivo a todos os
cidados.
Nesse sentido quando se refere Educao de Jovens e Adultos: por uma Educao
de Qualidade, Democrtica e de Direitos, pressupem-se direitos que democraticamente
deveriam estar acessvel a todos, porm, evidenciam-se dicotomias estruturais que
naturalizam o poder do Estado frente a esses direitos, num discurso generalizado de educao,
apenas amparados legalmente. Uma vez que o Estado democrtico de direito, utilizando-se
das expertises na implantao de polticas pblicas que atendam a demanda por uma educao
de qualidade, mantendo as diferenas e divises de classes, na materializao da hegemonia
1694
10
capitalista, que impede o desenvolvimento e a universalizao da educao bsica de
qualidade e de direito.
Tais condies, se asseguradas, conduziriam as pessoas a uma participao ativa nas
mudanas sociais, polticas, culturais e econmicas e de fato consolidariam uma cidadania
democrtica, conspirando para construo de uma esfera pblica capaz de garantir a todos,
principalmente aos jovens e adultos seu direito a educao de qualidade.
Assim, evidencia-se que no contexto atual das polticas pblicas, as propostas
neoliberais visam ampliar e perpetuar o sistema hegemnico vigente, o qual a educao tem
sido usada como instrumento para concretizao das intencionalidades que o sustenta.
Todavia sistematizar a anlise e reflexes acerca de temas ligados a educao ser sempre um
contraponto a essa hegemonia posta e imposta sociedade brasileira.
Referncias
BARZOTTO, L. F. A Democracia na Constituio
So Leopoldo: UNISINOS, 2003. p. 9-38 e 175-207
Brasileira
de
1988.
1695
11
1696
1
GT: 7- FORMAO DE PROFESSORES E EJA
Introduo
O Brasil conhecido historicamente por sua defasagem educacional, ou seja, devido
ao seu grande ndice de analfabetismo na vida adulta. Porm, j deu um grande passo nas
questes que se referem alfabetizao de jovens e adultos, por meio de alguns projetos e
polticas voltadas para esta questo. Visto que, por vrios anos foram desenvolvidos projetos
para a alfabetizao de jovens e adultos, destacando-se, portanto, alguns deles como o
Movimento Brasileiro de Alfabetizao (MOBRAL), de 1967-1985; a Fundao Educar, de
1986-1990 e o Programa Brasil Alfabetizado, de 2003 at o momento atual.
A Constituio Federal de 1988 e a LDB/1996, conferiu aos municpios a
responsabilidade pelo Ensino Fundamental, e estabelece aos sistemas de ensino assegurar
gratuitamente aos jovens e adultos, que no puderam efetuar os estudos na idade regular, as
oportunidades educacionais apropriadas, considerando as caractersticas do aluno, seus
interesses, condies de vida e de trabalho. Tambm cabe a esses sistemas de ensino,
viabilizar e estimular o acesso e a permanncia do trabalhador na escola, mediante aes
integradas e complementares entre os diversos setores das esferas pblicas.
Considerando a trajetria da Educao de Jovens e Adultos (EJA) no Brasil, esta tem
sido pautada por campanhas e movimentos desenvolvidos, a partir da administrao federal,
1697
2
com envolvimento de organizaes da sociedade civil, visando realizao de propostas
ambiciosas de eliminao do analfabetismo e formao de mo-de-obra qualificada, em curto
espao de tempo.
Mas, nos dias de hoje a alfabetizao no busca somente capacitao do aluno para o
mercado de trabalho, pois necessrio tambm que a escola desenvolva no aluno suas
capacidades, em funo de novos saberes que se produzem e que demandem um novo tipo de
profissional, ou seja, que o educando obtenha uma formao indispensvel para o exerccio da
cidadania.
Devido a ampliao no nmero de vagas nas universidades, sejam pblicas ou
privadas, mais pessoas tambm tem tido acesso a educao superior aps a promulgao da
LDBEN/96. Sejam por meio de financiamentos como FIES e/ou PROUNI, polticas de cotas,
ou pelo aumento crescente do nmero de vagas em universidades pblicas devido a expanso
das universidades federais (REUNI), mais pessoas tem se interessado por fazer um curso
superior, deixando portanto, de ser uma educao menos elitizada.
Polticas governamentais como os projetos de Educao de Jovens e Adultos e
tambm a possibilidade de certificao por meio do Exame Nacional para a Certificao de
Competncias de Jovens e Adultos (ENCEEJA) e o de concluso do Ensino Mdio por meio
do Exame Nacional do Ensino Mdio (ENEM)1, tem possibilitado as pessoas jovens e adultas
a conclurem o Ensino Mdio e, desta forma, almejar a uma vaga na universidade. Tambm
oferecido pelos sistemas de ensino cursos e exames supletivos, que compreendem a base
nacional comum do currculo, habilitando assim progressivamente os estudos em carter
regular.
Com isto, mais e mais pessoas tem procurado a educao de forma tardia visando uma
formao superior, com diferentes propsitos, tais como: melhorar condies de vida;
poder acompanhar a educao dos filhos na escola; arrumar um emprego melhor; entre
outros. Ou seja, a educao tem possibilitado aos indivduos jovens e adultos retomarem seu
potencial, e desenvolver suas habilidades, confirmando competncias adquiridas na educao
extra-escolar e na prpria vida, com vistas a um nvel tcnico e profissional mais qualificado.
Deste modo, a educao de jovens e adultos representa uma possibilidade que pode contribuir
para efetivar um caminho e desenvolvimento de todas as pessoas, de todas as idades.
As notas do ENEM so fornecidas diretamente para as universidades federais pelo Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas (INEP).
1698
3
A educao de adultos torna-se mais que um direito: a chave para o sculo XXI;
tanto consequencia do exerccio da cidadania como condio para uma plena participao na
sociedade. Alm do mais,
[...] um poderoso argumento em favor do desenvolvimento ecolgico
sustentvel, da democracia, da justia, da igualdade entre os sexos, do
desenvolvimento socioeconmico e cientfico, alm de um requisito
fundamental para a construo de um mundo onde a violncia cede lugar ao
dilogo e cultura de paz baseada na justia (UNESCO, 2004).
1699
4
compreenso dos impactos da vivncia de excluso precoce da escola e de uma experincia de
escolarizao tardia e sobre quais conseqncias geram na vida de adultos das camadas
populares. Buscamos paralelamente levantar elementos para verificar a pertinncia de se
considerar a EJA como um mecanismo que permite atenuar as consequencias da excluso
social, contribuindo na luta em favor da efetivao da cidadania.
A pesquisa inscreve-se nos campos temticos da EJA; excluso escolar e educao e
cidadania, concluso da educao bsica e formao profissional. Esses campos temticos
foram articulados entre si, e posteriormente, essa articulao foi confrontada com dados
empricos coletados especificamente para este fim.
Constituindo-se uma pesquisa do tipo qualitativa, pautando-se pela compreenso da
experincia escolar e dos resultados do fazer educativo a partir dos sujeitos para e sobre os
quais tal fazer se desenvolve. A realizao da pesquisa nos possibilitou identificar o rico
potencial analtico que o trabalho investigativo com os alunos egressos da EJA e ingressos na
universidade representam, bem como as possibilidades que o enfoque na experincia escolar
abre para a compreenso da ao que se desenvolve nas instituies educacionais.
Trabalhamos a partir dos referenciais de Mrcio Luiz Bernardim (2008), com o
conceito de educao tardia e define que:
A Educao de Jovens e Adultos, no sistema educacional brasileiro, poder
servir para reproduzir os interesses da classe dominante ou para
democratizar o acesso do saber sistematizado. Mas se a classe trabalhadora
avanar da conscincia ingnua para compreenso da importncia da
educao, a EJA poder deixar de ser apenas um espao de relativa
autonomia para se converter em uma conquista histrica da classe para o
devir de uma situao social igualitria. (BERNARDIM, 2008, p. 180).
1700
5
organismos internacionais, para enfrentar dois problemas da sociedade dita globalizada: a
baixa produtividade e o desemprego estrutural (BERNARDIM, 2008).
Com a promulgao da Constituio Federal de 1988, a legislao Brasileira
dispensou um pouco mais de ateno ao EJA. E de acordo com Art.208:
O dever do estado com a educao ser efetivado mediante garantia de:
I- ensino fundamental, obrigatrio e gratuito, inclusive para os que a ele no
tiveram acesso na idade prpria:
II- progressiva extenso da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino mdio.
VI- oferta de ensino noturno regular, adequado s condies do educando
(BRASIL, 1988, 142)
1701
6
Bsica nas etapas dos ensinos fundamental e mdio, nos termos da Lei de
Diretrizes e Bases da Educao Nacional, em especial dos seus artigos 4, 5,
37, 38, e 87 e, no que couber da Educao Profissional (BRASIL, 1996).
de compreender melhor a
histria educacional,
apresentamos um breve
1702
7
Cabe destacar que os principais documentos que regem a educao bsica no pas so:
a Constituio Federal (CF/88), as Leis e Diretrizes e Bases da Educao Nacional (LDB/96),
e o Plano Nacional de Educao (PNE). No contexto jurdico legal o Ensino Mdio tem
respaldo no art.35 da LDB/96, incisos de I ao IV, o qual estabelece suas finalidades:
Art. 35. O ensino mdio, etapa final da educao bsica, com durao
mnima de trs anos, ter como finalidades:
I - a consolidao e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no
ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos;
II - a preparao bsica para o trabalho e a cidadania do educando, para
continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a
novas condies de ocupao ou aperfeioamento posteriores;
III - o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a
formao tica e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do
pensamento crtico;
IV - a compreenso dos fundamentos cientfico-tecnolgicos dos processos
produtivos, relacionando a teoria com a prtica, no ensino de cada disciplina
(BRASIL, 1996).
A partir de ento surgiu uma nova relao entre a educao e o mercado de trabalho,
sendo papel do Ensino Mdio a preparao no s para o mundo do trabalho, mas tambm
para operao das novas tecnologias existente. Com as transformaes ocorridas no pas, no
mbito poltico, social e econmico, dentre elas o processo de globalizao, houve a
necessidade de mudanas na educao.
Para tanto, a fim de preparar os jovens para a nova realidade no mercado de trabalho, o
Ministrio da Educao (BRASIL, 2002), considera que:
a) os processos produtivos de bens, servios e conhecimentos com os quais
os alunos se relacionam no seu dia a dia, bem como os processos com os
quais se relacionar mais sistematicamente na sua formao profissional e,
b) a relao entre teoria e prtica, entendendo como a prtica os processos
produtivos, e como teoria, seus fundamentos cientficos tecnolgicos.
Ainda, de acordo com Queiroz et. al. (2009, p. 4), nosso ensino mdio desde o
principio traz uma dicotomia em que prevalece uma forma de estudo destinado preparao
para o ingresso no ensino superior e outra que prepara para o mercado de trabalho. No
entanto, nas ltimas dcadas essa modalidade de ensino tem se destacado mais ainda pelas
possibilidades de ingresso ao Ensino Superior.
3.1 Vestibulares, PROUNI, Certificao por meio do ENEM: formas de acesso ao ensino
superior
Por meio de pesquisas realizadas em sites governamentais e do Ministrio da
Educao verificamos que o vestibular a forma mais comum e tradicional para se ingressar
1703
8
no ensino superior. Com maior ou menor rigor o mesmo usado em todas as instituies que
possuem tal modalidade de ensino. O processo seletivo pode ser aplicado pela prpria
instituio ou por empresas especializadas.
J o Exame Nacional de Ensino Mdio (ENEM), surgiu em 1998 para medir o
desempenho dos estudantes do Ensino mdio. Com a sua reestruturao em 2009, passou a ser
uma das formas de ingressar no ensino superior, traz questes objetivas sobre o contedo
aprendido no ensino mdio e uma redao. A nota do ENEM tambm utilizada de outras
maneiras: na primeira fase do vestibular como parte da nota final e tambm para preencher
vagas remanescentes nas instituies.
Outra forma utilizada pelas universidades o Sistema de Seleo Unificada (SISU). O
qual se trata de um processo organizado pelo Ministrio da Educao (MEC) para selecionar
os candidatos s vagas nas instituies pblicas por meio da nota obtida no ENEM (BRASIL,
2009).
Conforme
dados
informaes
contidos
no
site
Portal
Brasil
(http://
1704
9
Com relao expanso do ensino superior, temos o Programa de Apoio a Planos de
Reestruturao e Expanso das Universidades Federais (REUNI) institudo pelo Decreto n
6.096/2007, que buscou ampliar o acesso e a permanncia na educao superior. O intuito do
mesmo dobrar o nmero de alunos nos cursos de graduao em dez anos, a partir de 2008,
e permitir o ingresso de 680 mil alunos a mais nos cursos de graduao (BRASIL,
2007). Para tanto, todas as universidades federais deveriam aceitar fazer parte do programa e
apresentarem ao Ministrio da educao, planos de reestruturao, seguindo as orientaes
colocadas pelo Reuni. Dentre as aes previstas pelo programa incluam o aumento de vagas,
a ampliao ou abertura de cursos noturnos, bem como o aumento do nmero de alunos por
professor, a reduo do custo por aluno, flexibilizao de currculos e o combate evaso
(BRASIL, 2007).
A UFGD teve sua origem em um conjunto de medidas relativas ao ensino superior, editadas pelo Governo do
Estado de Mato Grosso, entre 1969 1970, e pelo governo federal, em 1979, 2005 e 2006. Os cursos do CEUD
criados a partir de 1979 so os seguintes: Pedagogia Licenciatura Plena, como extenso do curso de Pedagogia
do Centro Universitrio de Corumb (1979), e a sua desvinculao do Curso de Corumb em 1982; Geografia
Licenciatura Curta (1979); Geografia Licenciatura Plena (1983); Cincias Contbeis (1986); Matemtica
Licenciatura Plena (1987), com a extino do Curso de Cincias; Geografia Bacharelado (1990); Anlise de
Sistemas (1996); Administrao (1999); Cincias Biolgicas-Bacharelado (1999); Direito (1999); Letras
Bacharelado Habilitao em Secretrio Bilnge, com opes em Lngua Espanhola e Lngua Inglesa (1999);
Letras Bacharelado Habilitao em Tradutor Intrprete, com opes em Lngua Espanhola e Lngua Inglesa
(1999) e Medicina (1999). O aumento do nmero de cursos provocou a necessidade de ampliao de instalaes
no CEUD. Na Unidade I do Campus funcionavam os cursos de graduao em Histria, Geografia e Pedagogia e
os de ps-graduao (nvel de Mestrado) em Histria e em Geografia. O Campus de Dourados (CPDO) pela
Lei N 11.153, de 29/7/2005, publicada no DOU de 1/8/2005 tornou-se Universidade Federal da Grande
Dourados, por desmembramento da UFMS, tendo sua implantao definitiva em 6/1/2006. (UFGD, 2009, p. 6).
1705
10
O curso funciona na modalidade de ensino presencial. Seu regime de matrcula o de
crdito semestral. O tempo de durao do mesmo de quatro anos, que equivale a oito
semestres. Sendo que o tempo mnimo para sua concluso so trs anos e o mximo sete anos.
A carga horria total do curso de 3948 horas-aula (3290 horas-relgio), so ofertadas 50
vagas anuais, sendo o equivalente ao mesmo de alunos por turma (50 alunos).
A concepo do curso de Pedagogia da UFGD, explicitada no Parecer CNE/CP N
5/2005, de 15 de maio de 2006, indica os seguintes termos:
Entende-se que a formao do licenciado em Pedagogia fundamenta-se no
trabalho pedaggico realizado em espaos escolares e no-escolares, que tem
a docncia como base. Nesta perspectiva, a docncia compreendida como
ao educativa e processo pedaggico metdico e intencional, construdo em
relaes sociais, tnico-raciais e produtivas, as quais influenciam conceitos,
princpios e objetivos da Pedagogia. Desta forma, a docncia, tanto em
processos educativos escolares como no- escolares, no se confunde com a
utilizao de mtodos e tcnicas pretensamente pedaggicos, descolados de
realidades histricas especficas. Constitui-se na confluncia de
conhecimentos oriundos de diferentes tradies culturais e das cincias, bem
como de valores, posturas e atitudes ticas, de manifestaes estticas,
ldicas, laborais (BRASIL, 2005 apud, UFGD, 2009, p. 12).
1706
11
Cota de 50% - Outra novidade que ocorreu nesse ano na UFGD que 50%
das vagas, em ambas as formas de ingresso Enem/Sisu e Vestibular, foram
destinadas para cotistas, antes a Universidade reservava 25% apenas. A
reserva de vagas atende a Lei Federal 12.711 de 29 de agosto de 2012 e
voltada para estudantes da rede pblica de ensino, considerando renda per
capita e cor/raa (UFGD, 2013).
1707
12
5 De egresso da EJA a discente da Pedagogia da UFGD
Os questionrios a respeito da origem escolar dos alunos foram aplicados junto aos
discentes do terceiro semestre de Pedagogia da FAED/UFGD, ingressantes no ano letivo de
2013. Escolhemos esta turma pelo fato de que o ingresso dos alunos do primeiro semestre
letivo de 2014 s ter ocorrido no ms de abril e muitos foram sendo chamados no decorrer do
ms de maio.
E, por que no terceiro semestre os mesmos se encontram concentrados nas turmas
iniciais e freqentam disciplinas com carga horria de fundamentos e, na sua maioria no
frequentam aulas em outras turmas como ocorre depois de decorrido metade do curso.
Tambm se observa nesta fase do curso que as turmas so maiores, cerca de 50 matriculados,
ou seja, ainda no houve um processo de evaso e de reprovao em disciplinas, o que
provoca a procura por outras turmas e salas, que no as suas para cumprirem as dependncias,
por exemplo.
6 Discusso sobre os resultados da pesquisa e Consideraes Finais
Os questionrios foram aplicados em duas ocasies na sala do terceiro semestre de
pedagogia, nos dias 14 e 19 de maio de 2014. Em ambas as datas o objetivo foi aplicar um
questionrio geral, para identificar quais discentes eram egressos de alguma etapa da EJA.
Assim, dentre uma turma de 50 matriculados, 36 responderam ao primeiro questionrio6 com
questes fechadas a respeito de qual modalidade de ensino concluram o ensino mdio:
Ensino regular, EJA, Supletivo, ENCEEJA, ou outra forma; se abandonaram a escolar em
algum momento e quais as razes. E qual a forma de ingresso na Universidade: Vestibular,
ENEM, SISU, como Portador de Diploma, por Mobilidade Acadmica ou outra.
Aps, decorrido o processo anterior de aplicao e anlise dos questionrios
verificamos as seguintes situaes:
- que 20% dos discentes so provenientes da EJA, com destaque para aqueles que
frequentaram, sobretudo, o ensino mdio nesta modalidade de ensino;
- que a maioria desses discentes do sexo feminino, com idade entre 35 e 45 anos,
pois as mulheres se declararam preocupadas em recuperar o tempo perdido;
O questionrio foi acompanhado de um resumo explicativo a respeito dos objetivos da pesquisa e, foi solicitado
junto direo e a coordenao de curso uma autorizao para a aplicao do mesmo.
1708
13
- que em relao formao escolar, encontraram na educao de jovens e adultos
uma forma mais rpida de concluir o ensino mdio, para poder ingressar em uma instituio
de ensino superior, e por perceber as possibilidades de valorizao salarial e profissional.
Na fase seguinte, entramos em contato com os 20% de alunos egressos da EJA e
aplicamos um questionrio especfico para identificar, por exemplo, as razes que os levaram
a reingressar numa instituio escolar; sobre a preparao para o processo seletivo
(vestibular), a respeito da importncia do Ensino Superior em sua opinio. E sobre possveis
dificuldades ao ingressar e no Ensino Superior por ser advindo da EJA.
A partir das respostas dos questionrios especficos verificamos que os discentes
enxergam no ensino superior uma oportunidade de ascenso profissional e melhoria salarial,
Um enriquecimento cultural, e muitas oportunidades para um emprego melhor e ajudar
futuramente os meus filhos, e se espelhar em mim (Entrevistada 1).
Para outra significa poder ser exemplo para seus filhos e poder auxili-los no
desempenho escolar: O ensino superior nos leva a contribuir para educao dos nossos
filhos (Entrevistada 2). E, representa tambm segundo a maioria das participantes uma
valorizao educacional e cultural: Um enriquecimento cultural, e muitas oportunidades para
um emprego melhor e ajudar futuramente os meus filhos, a se espelhar em mim
(Entrevistada 3). A entrevistada nmero 4, afirmou que O curso superior em minha opinio,
abre mais portas para o emprego, alm de preparar melhor para uma profisso. E a nmero 5
destacou que: O ensino superior nos leva a contribuir para educao dos nossos filhos.
Com relao questo sobre se houve dificuldades de ingressar na universidade e de
aprendizagem ao iniciar o curso por serem advindas da EJA, as discentes declararam que:
Sim, tenho muita dificuldade, percebo que no consigo compreender um texto, por mais que
leia com ateno (Entrevistada 2). Outra participando afirmou que: Mesmo parando por
alguns anos nunca deixei de estudar e praticar leituras, mas acredito numa maior dificuldade
do que os que seguiram o ensino regular (Entrevistada 6).
Deste modo, percebemos que, conforme apontado nas leituras, a EJA percebida
pelos discentes como uma possibilidade de preparao e continuidade dos estudos,
representando uma maior valorizao para o campo do trabalho e tambm para adquirir
conhecimentos, que sero utilizados na vida cotidiana.
Por fim, verificamos que muitos discentes optaram por freqentar a EJA para
recuperar o tempo perdido em que passaram fora da escola, o que ocorreu segundo as
mesmas por vrios motivos, tais como: a necessidade de trabalhar; dificuldades de
aprendizagem que geraram reprovaes consecutivas, desinteresse na fase da adolescncia em
1709
14
frequentar e permanecer no espao escolar, gravidez precoce e a distancia entre as moradias e
as escolas, dentre outras razes.
J em relao EJA, destacaram que a mesma representa uma maneira de acelerar a
concluso da educao bsica e, as chances de re-ingressar no espao educacional, para
alcanar seus objetivos de ingressar no ensino superior, visando melhores oportunidades na
vida profissional e social.
As respostas dos questionrios especficos apontaram que, ainda muito pequena a
quantidade de ingressantes no espao universitrio, dentre os educandos egressos da EJA. E,
afirmaram sentir dificuldades na aprendizagem por serem advindas dessa modalidade de
ensino. Pois, esta oferecida de forma aligeirada, no possibilitando maior aprendizado dos
contedos ofertados, ficando impossibilitadas de terem melhor aproveitamento dos estudos e,
alm disto, destacaram o fato de trabalharem durante o dia e estudarem a noite, no tendo
disponibilidade para dedicar-se com mais afinco as leituras preparatrias para o vestibular.
Destacando que apesar de tantas dificuldades, os discentes, no perodo dos processos seletivos
como e ENEM, por exemplo, recorreram internet, como meio de complementar a sua
preparao para tal finalidade.
Referncias
ALMEIDA, M. M. Concepo de Desenvolvimento Regional Construda no Processo de
Criao e Implantao da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). Dissertao
(Mestrado em Geografia). Dourados: UFGD/Faculdade de Cincias Humanas, 2012.
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BERNARDIM, M. L. Educao do Trabalhador: da escolaridade tardia educao
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<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10172.htm>. Acesso em fev/2014
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BRASIL, Lei n. 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da
1710
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Educao Nacional. Dirio Oficial da Unio. Braslia, 1996.
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POSTERS
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Resumo
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Resumo
O presente trabalho o resultado da anlise e da leitura de tericos e peridicos, que
anteriormente j abordaram a temtica aqui em enfoque. Pretende-se explanar os
avanos e retrocessos, que se encontram em vigor nas polticas pblicas educacionais de
Campo Grande/MS, com destaque na organizao das polticas educacionais,
distribuio de recursos, gesto democrtica, processo de formao do grupo docente e
o encaminhamento do processo de eleio de gestores na Rede Municipal, relatando-se
o compromisso denotado para o ensino pblico nas ltimas dcadas.
Palavras-chave: Organizao, Gesto Democrtica, processo de formao.
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Introduo
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do estudo e pesquisas cientficas em sua prtica diria. Entendendo que o estudo tem o
sentido de somar com os saberes j construdos ao longo de sua formao, de modo, a
refletirem sua prpria prtica, e sejam capazes de criarem novas estratgias para garantir
o envolvimento do alunado que se encontra no meio educacional de maneira
organizada. O Plano Nacional de Educao invoca o regime de cooperao [...],
destina a reconciliar a gesto das escolas pelos Estados e municpios com padres de
investimento e de qualidade (Brasil, p. 7, 2015).
Assim, compreendemos que muitos esforos ainda precisam acontecer para que o
ensino pblico, garanta acesso e permanncia, para toda a populao, tendo
investimentos condizentes as necessidades dos educandos. E mais que os gestores
realizem seu trabalho com base em conhecimentos legislativos, oramentrios e no
gerenciamento humano, garantindo assim, a efetiva implementao do planejamento
estratgico necessrio para o bom andamento da instituio escolar.
Diante dos avanos at aqui enfocados faremos uma breve analise a respeito da
Poltica de Educao na Rede Municipal de Ensino de Campo Grande, tendo como
referencial o Plano Municipal de Educao a partir de 2007 at 2015, envolvendo a
gesto de Nelson Trad Filho.
Estes estudos permitiram-nos perceber, que houve um avano significativo e
pertinente aos anseios da sociedade em garantir para geraes mais novas, uma
formao pautada em conhecimentos que dizem respeito com seu entorno social.
Assim, a organizao da Poltica Educacional de Campo Grande/MS realizada
pela equipe gestora do prefeito Nelson Trad Filho, firma parcerias com Universidades
da capital, organizando formaes de estudos com temas como: teorias pedaggicas,
projeto poltico pedaggico, recursos e estrutura fsica, fatores fundamentais para se
estruturar o Plano Municipal de Educao, tendo como norte a Lei de Diretrizes e Bases
da Educao Nacional.
Deste modo, o Plano Municipal de Educao no poderia se manter alheio aos
resultados que se encontravam posto a respeito dos dados baixssimos das avaliaes
externas, propondo objetivos e metas para oportunizar no apenas o acesso educao,
mas criando condies dos alunos terem em sala de aula metodologias diferenciadas, e
para isso, implementa diferentes momentos de formaes continuadas para os
educadores.
Os momentos de formao foram organizados em diferentes escolas, consideradas
polo durante a efetivao do Plano Municipal de Educao e aps sua criao, fazendo-
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REFERNCIAS
Ptria
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RECONTANDO O CONTO
Raphael Albertoni Gonalves
Luzia de Lima Alves
Deilde Maria Niedermeyer
Introduo: A leitura est hoje entre as ltimas atividades a se fazer no mundo infantojuvenil, ficando atrs de navegar na internet e at mesmo de "fazer nada" conforme
pesquisa Instituto Pr-livro em 2011, intitulada de Retrato da Leitura no Brasil. O
cenrio literrio na escola, hoje, no dos melhores e carece de cuidados pedaggicos,
alm de muita vontade poltica para melhorar esse quadro. O professor tem em suas
mos poucas ferramentas para superar tais desafios, levando-se em conta a facilidade do
acesso indiscriminado aos meios de comunicao como smathphones, notebooks ou
mesmo o celular. H leitura, mas muito pouca e precria. Notou-se que na pouca leitura
se encontram figuras mitolgicas, livros em formato de dirio e seres que adquirem
aspecto humano ou vice-versa. Objetivos: Pensando nisso, notou-se que o conto
contemporneo traz as caractersticas textuais que mais atraem o pblico leitor do
mundo infanto-juvenil. A narratividade em O primeiro beijo, de Clarice Lispector, por
exemplo, aliado a recursos tecnolgicos, proporciona uma metodologia capaz de atrair o
pblico no leitor para uma outra perspectiva: a de leitor curioso que v com outros
olhos a experincia de leitura. Metodologia : O conto contemporneo envolve a
narrativa e desperta o leitor para sensaes como o medo, a curiosidade, o mistrio, a
raiva, a vingana, a paixo, a iluso - o que de certa forma uma maneira de o leitor de
se colocar, em algum momento, como sujeito da histria. Assim, o conto
contemporneo via de mo-dupla, funciona no ensino e no aprendizado, e muitas
vezes o ponto de partida para muitas outras leituras. Trazer o leitor para o texto alm
de um desafio, uma forma de usar o que se tem disposio e que to cedo no sair de
moda: a tecnologia.
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Pster
Grupo Temtico: 1 Formao de professores para a educao bsica
Este trabalho apresenta o resumo de uma pesquisa desenvolvida como parte das atividades
inerentes ao Mestrado Profissional em Educao PROFEDUC, onde os autores (orientando,
orientador e co-orientador) fazem uma reflexo sobre os desafios que se colocam aos docentes
iniciantes. Para tanto, pautou-se numa pesquisa bibliogrfica como para a anlise ora
encaminhada neste pster, o qual apresenta os desafios carreira docente com base em alguns
autores que ensejam essa discusso (Nvoa, Barreto, Scheibe, Gatti, Mello, Canrio,
Gauthier, Pimenta e Lucena, Habermas e Marques). Todos colaboram com uma reflexo a
partir da formao universitria e as condies para o fazer docente, na universidade ou na
escola de educao bsica: (1) a batalha da formao inicial; (2) os dramas do professor
iniciante; (3) a hora da formao continuada; (4) o embate teoria e prtica. Aps vencer (ou
pelo menos enfrentar) os desafios postos aqui, novos viro, com certeza. O mais importante
a disposio em encar-los de frente, sem meias-palavras e com energia suficiente para
equacion-los a contento. Pelo desafio de reflexo nmero 1 formao inicial entende-se
como necessrio um maior aporte de recursos do Estado, pois a formao de (bons)
professores passa por um intento estratgico de interesse maior de amplos setores e atores
nacionais. Cabe escola pblica contempornea uma atuao mais contundente para formar
seus novos cidados. Para o desafio de reflexo nmero 2 o incio da prtica profissional
deve considerar que o professor precisa o mais rapidamente entranhar-se na escola,
passando a fazer parte de seu corpo orgnico, mas de forma ativa. preciso recuperar o
protagonismo do professor, dando a ele oportunidade de decidir seu futuro. Como preconiza
Antnio Nvoa, o ensino uma profisso exigente. Muitas vezes falta apoio at mesmo na
famlia para a correta compreenso da profisso e suas particularidades. O terceiro desafio de
reflexo versa sobre formao continuada e seu enfrentamento deve levar em conta que, com
a globalizao, todos os saberes precisam de atualizao constante. Vida de professor
demanda um estudo infindvel, cabendo um alerta a todos os ingressantes nesse sentido. Mas
o que parece tortura para alguns prazer para outros. Nos programas de ps-graduao a
concorrncia, qualitativa e quantitativa ferrenha e crescente. Destacam-se nas avaliaes
externas aqueles sistemas de educao pblicos que oferecem a seus educadores vagas em
cursos de especializao, mestrado e doutorado. Quanto ao ltimo desafio, que versa sobre
teoria e prtica, espera-se que, quando estes estiverem lado a lado, iguais em tempo e espao,
o docente ser mais valorizado e o trabalho didtico abranger todos os vieses possveis.
Vencidos os desafios, ser o educando o maior beneficiado, aprendendo sob uma nova
didtica e uma educao integral, que poder aplacar a crise que se abate sobre a educao.
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Resumo:
O presente trabalho tem como objetivo relatar as experincias e resultados das
atividades desenvolvidas em sala de aula no Projeto gua, pelos bolsistas do
Programa Institucional de Bolsas de Iniciao Docncia- PIBID/ Interdisciplinar da
UEMS, realizado na Escola Estadual Carlos Henrique Schrader em Campo Grande, MS,
em 2015. O objetivo desse trabalho visa desencadear um debate sobre a economia e o
uso da gua, tendo em vista que esse assunto pouco trabalhado em sala de aula o que
acentua a importncia da realizao dessa proposta. Para tanto, foi realizada uma
adaptao da pea intitulada, O Sumio da minha amiga gota apresentada pelos
estudantes do stimo ano da referida escola. Alm disso, foi realizada uma pesquisa
sobre o assunto com a utilizao de recursos multimdia. Essa atividade possibilitou aos
estudantes a produo de cartazes e folders, com a finalidade de distribu-los na escola
para a compreenso da importncia do uso consciente da gua. Como base tericometodolgica para a construo da pea, usamos a transposio didtica dos autores de
Dolz, Noverraz e Schneeuwly (2004) em uma inter-relao com o mtodo brechtiano.
Na perspectiva de Brechet o principal objetivo daqueles que assistem um espetculo
absorver a mensagem emitida pelos artistas no confundindo realidade com fico, pois
para alcanar esse resultado, esse mtodo prope o afastamento do pblico em relao
ao que ocorre no palco, resultando em uma opinio imparcial. Dessa maneira os
resultados das atividades desenvolvidas evidenciam a necessidade de debater
continuamente com as novas geraes o uso sustentvel da gua no s nos espaos
domsticos, mas tambm nas instituies escolares.
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RESUMO:
O projeto Mandala uma parceria entre as Universidades Federal e Estadual de Mato Grosso
do Sul (campus Trs Lagoas e Maracaju) representadas, respectivamente, por pesquisadoras da
rea da Educao Especial e da Diversidade Cultural no mbito da formao docente, que rene
suas frentes de interesse no intuito de construir um olhar sobre a(s) infncia(s) e juventude em
desenvolvimento, percebendo as situaes que envolvem a educao, direta e
incondicionalmente ligadas condio de sade integral dos sujeitos. A unio desses interesses
resultar na criao do Laboratrio de Pesquisas e Estudos sobre Educao e Sade do Ser
Integral/ LAPEESSI, que hospedar o Projeto Mandala entre outros no mbito deste Estado.
Compreendendo a necessria interlocuo entre profissionais de outras reas, agregar os
saberes numa perspectiva multi e interdisciplinar. Somar aos estudos um olhar frente s
caractersticas identitrias e cultural desses/as educandos/as cuja sade se encontra fragilizada.
Nesse sentido, esse projeto foi elaborado com vistas a criar suportes ao desenvolvimento de
atividades que amenizem o impacto causado pela hospitalizao. As proponentes chamam a
ateno para especificidades da formao docente, na complexidade de suas referncias quanto
natureza integral dos/as educandos/as. Conhecendo a dinmica do ambiente hospitalar no que
tange as condies que favorecem e/ou dificultam os processos de aprendizagem do sujeito em
situao de internao poder-se- ofertar atividades ldico-pedaggicas, que melhor
contribuiro ao processo de construo do conhecimento dos sujeitos matriculados, ou no, nos
sistemas de ensino regular e que nesse momento/fase da vida muito necessitam desse suporte.
No presente evento, visa-se divulgar esse trabalho que no binio 2016 a 2017, executar-se-
essa proposta, cujo foco principal ser a formao de professores para atuar na Educao
Especial e Diversidade. O referido estudo foi aprovado na Fundao de Apoio ao
Desenvolvimento do Ensino, Cincia e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do SulFUNDECT.
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RESUMO:
O desenvolvimento auditivo segue etapas graduais de complexidade, tendo incio j na vida
intrauterina. Quaisquer dessas etapas, especialmente as iniciais, so de muito importantes para
que todo o processo se complete, e sua interrupo levar, consequentemente, a prejuzos
funcionais importantes no desenvolvimento da criana. Para tanto, necessrio que se
identifique um neonato com deficincia auditiva ainda no primeiro ms de vida, mesmo que em
sua histria no sejam encontrados indicadores de risco que potencializem a probabilidade
desse agravo ter ocorrido, pois o sistema nervoso central apresenta grande plasticidade quando
precocemente estimulado, principalmente at os doze meses de idade, permitindo o aumento de
conexes nervosas e possibilitando melhores resultados na reabilitao auditiva e no
desenvolvimento da linguagem de crianas acometidas pela deficincia auditiva. Pensando
nessas questes, esse estudo foi realizado por meio do relato da me e de uma professora de
criana com surdez severa de cinco anos de idade, matriculada em um Centro de Educao
Infantil na cidade de Castilho, Estado de So Paulo. Ela foi avaliada em 2009, no Centro de
Pesquisa Audiologia, referncia no Estado de So Paulo, como portadora de um potencial
evocado auditivo de tronco enceflico, o que a levou referida deficincia. Atualmente
frequente na instituio escolar, onde apresenta boa integrao e aprendizagem. A me
bastante participativa e assdua na escola. Diante de tais questes, motivada pela busca de mais
conhecimento e de reflexes sobre tais processos perante a proposta de incluso de alunos com
deficincia no ambiente escolar, que a professora regente teve o interesse de levantar, por
meio de entrevistas e relatos orais, tal trajetria, os sucessos, bem como as dificuldades
percorridas nesse trabalho. Em geral, nesse estudo uma maiores preocupaes parte do fracasso
educativo das crianas com surdez, j que na escola se verifica uma valorizao extremada em
seus processos de escrita e ensino, sendo essa uma das grandes barreiras sentidas e/ou
vivenciadas pelo aluno surdo, mesmo na Educao Infantil. Nesse contexto torna-se necessrio
deflagrar, urgentemente, iniciativas que desconstruam os modelos conservadores e autoritrios
de educao, visando a gestar novas formas de fazer uma educao escolar inclusiva, pautada
no reconhecimento e na valorizao das diferenas, mostrando-se efetiva e coerente, pois, como
se viu no caso do aluno estudado, a existncia de um trabalho conjunto da escola/famlia torna
possvel e produtiva essa incluso/integrao. J nas salas de aula regulares, o investimento na
formao e no preparo do professor para atuar se torna imprescindvel, pois, por estar mais
seguro, mais facilmente ele aceita e acolhe esse aluno. Outro ponto refere-se a melhor
equipagem de recursos e aparelhos a essa clientela, que, como discutido, muito necessita de
aparatos auxiliares em todo o seu processo de ensino e aprendizagem. Nesse sentido, o foco
deste trabalho deve partir da transformao das prticas pedaggicas, da formao do professor,
do acompanhamento e da devida orientao famlia, de modo mais transformacional,
inconcluso, reflexivo, sntese de mltiplas determinaes em um conjunto de relaes sociais, com
capacidade de idealizar e de criar.
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A Lei das Diretrizes e Bases da Educao Nacional, lei N 9.394 de 1996 prev que educao
escolar para estudantes com deficincia, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades ou superdotao deve ser oferecida, preferencialmente, na rede regular de ensino,
o que significa o direito educao destes estudantes deve ser exercido na escola comum.
Consequentemente, surge a necessidade de professores especializados, mas tambm de
professores capacitados, conforme previsto nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Formao do Professor da Educao Bsica, Resoluo CNE/CP N 01 de 2002, tendo em
vista que so, os profissionais da classe da escola comum e que atuam direta e cotidianamente
com estes estudantes. So responsveis pelo processo de incluso escolar que requer o
desenvolvimento de prticas pedaggicas que devem ser qualificadas de modo que sejam
valorizadas as possibilidades, os talentos, as habilidades destes estudantes visando o xito
escolar e a incluso ativa destes na sociedade, portanto, para alm da escola. Neste contexto,
as universidades passam a assumir o compromisso que se materializou com a insero nos
projetos pedaggicos dos cursos de licenciatura de disciplinas que tratam das diversidades
humana, entre elas, as das pessoas com deficincia, transtornos globais do desenvolvimento e
altas habilidades ou superdotao. Diante tal questo, o presente trabalho tem por objetivo
levantar as contribuies da disciplina de Educao Especial, na perceptiva dos estudantes
dos cursos de licenciatura Artes Cnicas, Geografia, Letras/Espanhol, Letras/Ingls e
Pedagogia da Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul, da Unidade Universitria de
Campo Grande. Trata-se de uma pesquisa de carter exploratrio e com vistas a oferecer
subsdios para estudos posteriores com relao ao impacto dessa disciplina na formao dos
futuros professores em seu exerccio profissional. Como o instrumento de pesquisa ser
adotado um questionrio com perguntas fechadas e abertas e que ser aplicado em cerca de
200 estudantes do 1 ano ao 4 ano. No momento, o trabalho encontra-se na fase de aplicao
do questionrio para posterior tabulao, anlise de dados e publicao de resultados.
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GT- 03
Resumo
O presente texto tem como objetivo central refletir sobre as orientaes e aes para a
educao das relaes tnico-raciais. Em termos gerais, admite-se que desde a colonizao, a
discriminao, o preconceito, o racismo e a excluso estiveram presentes na realidade
brasileira. As minorias como os descendentes de indgenas, europeus, asiticos, e em especial
da populao negra, sempre estiveram margem do desenvolvimento social, econmico e
cultural, principalmente no processo de escolarizao, contribuindo para o surgimento de uma
sociedade excludente. Com intuito de incluir, qualitativamente, afrodescendentes no sistema
escolar e resgatar a contribuio histrica do negro na formao social e cultural, o Estado
passou a atuar por meio de suas polticas pblicas para eliminar as desigualdades raciais e
tnicas. Entre as aes, houve a criao e implantao da Lei 10.639/2003, que por sua vez
alterou itens da Lei 9.394/1996, estabelecendo a obrigatoriedade o ensino da Histria e
Cultura Afro-Brasileira e Africana na Educao Bsica, sendo tal mecanismo um dos marcos
legais mais significativos na luta contra todo tipo de preconceito. O Parecer CNE/CP 03/2004
props as Diretrizes Curriculares para a Educao das Relaes tnico-Raciais e para o
Ensino de Histria e Cultura Africana e Afro-Brasileira. Por certo, os mecanismos
regulatrios contribuem para a valorizao da diversidade, reafirmando a importncia que
descendentes de africanos tiveram e tm na nossa sociedade. Nesse contexto, a educao
escolar possui um papel de destaque para a conquista de direitos, respeito e valorizao desses
sujeitos que ainda trilham por difceis caminhos para se tornarem visveis no cenrio
brasileiro. A pesquisa (modalidade reviso bibliogrfica) se deu em torno de temas como
histria, cultura, identidade, polticas educacionais e estratgias pedaggicas que priorizam os
afrodescendentes. Sendo assim, para aprofundamento, reflexo e anlise do tema utilizou-se
das contribuies de Ana Clia da Silva (1995, 2001), Ana Lcia Valente (1995), Delcele
Mascarenhas Queiroz (2003), Iolanda de Oliveira (1999, 2000), Luiz Alberto O. Gonalves
(1985, 1998) entre outros. Por fim, observamos que o grande desafio est na qualificao dos
professores da Educao Bsica e Superior, para que estes possam lidar com as discusses
que acontecem sobre o racismo, discriminaes e, principalmente na valorizao da
diversidade para extinguir a discriminao, o preconceito e as polticas excludentes que
permeiam a educao escolar e sociedade brasileira.
Palavras-Chave: Diversidade. Legislao. Educao.
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Este trabalho tem por finalidade apresentar resultados parciais das aes realizadas na Escola
Estadual Dolor Ferreira de Andrade, em Campo Grande/MS, atravs do Programa
Institucional de Bolsas de Iniciao Docncia (PIBID), que uma iniciativa para o
aperfeioamento e a valorizao da formao de professores para a educao bsica. O norte
dessas aes est diretamente relacionado com o subprojeto Leitura e produo textual na
formao e na prtica docente do professor iniciante de portugus: uma proposta de ensino a
partir da diversidade textual que contempla alunos do 8 e 9 ano do Ensino Fundamental e
tambm do 1 e 2 ano do Ensino Mdio. Priorizamos a apresentao e discusso do gnero
textual Conto Policial, elegendo Bernardo Kucinsk - autor paulista contemporneo que retrata
principalmente momentos ligados ditadura militar no Brasil - e Edgar Allan Poe, que
considerado o criador dos contos policiais e filia-se uma narrativa tradicional. Embora sejam
autores com caractersticas diferentes, abordam a temtica com objetividade e maestria
facilitando a compreenso do gnero pelos alunos. Nosso principal objetivo trazer ao
ambiente escolar discusses e reflexes acerca da violncia presente nos diferentes ambientes
sociais. Com a leitura dos contos dos autores mencionados, podemos observar o interesse dos
alunos ao final de cada histria lida e comentada. A discusso do texto em si se torna
participativa, pois no final cada um d sua contribuio ou conta algo semelhante que tenha
acontecido consigo ou com sua famlia. O gnero em discusso apresenta reflexes e aborda
um tema vivenciado por todos em algum momento, em sociedade. Cada um sempre tem uma
histria diferente para contar, por isso a aula se torna produtiva e prazerosa. Ao final das
discusses e reflexes, propomos aos alunos que produzam seu prprio conto com uma
narrativa policial atestando, assim, que entenderam o que lhes foi proposto. Neste mbito
visamos estimular os estudantes a adquirir uma boa leitura e uma elaborao de textos
inovadores.
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RESUMO
Este pster tem por objetivo apresentar os resultados parciais alcanados com atividades de
Iniciao Docncia desenvolvidas na E.E Professor Carlos Henrique Schrader, por meio do
Laboratrio de Apoio Ao Docente para a Educao das Relaes tnico-raciais e a
Diversidade Sexual, Gnero e Educao Ambiental. Este subprojeto est sendo desenvolvido,
pelos discentes dos Cursos de Pedagogia e Geografia, da Universidade Estadual de Mato Grosso
do Sul. As atividades so realizadas em parceria com professores em sala de aula, em uma turma
do Ensino Fundamental, da referida Escola. Visa registrar a falta de conhecimento dos estudantes
sobre os efeitos do uso de drogas, como um dos fatores da violncia escolar, pois alguns dos
estudantes enfrentam conflitos sociais e familiares e desconhecem que alguns psicotrpicos so
considerados como droga, a exemplo a maconha e que este faz mal sade tanto quanto as
demais substncias consideradas como drogas. A metodologia adotada foi a realizao de
atividades de leitura, escrita e debates no sentido de possibilitar a compreenso ampla desses
conceitos pelos estudantes e a utilizao de recursos audiovisuais, como o filme Juventude
Rebelde, Noel Clarke e entrevistas que nos possibilitou como ferramenta, para o entendimento
parcial do uso de entorpecentes oportunizando aos estudantes uma reflexo no entendimento de
que a violncia tem uma origem e um caminho e para onde ela vai e a que pblico ela quer
atingir, deixando sequelas em toda a famlia e a sociedade. Diante disso, constatamos a
necessidade de debater com os alunos, esses conceitos nas atividades de docncia,
principalmente considerando o meio familiar em que vivem e convivem. Tambm sero
debatidos os tipos de drogas e psicotrpicos presentes no mercado regional, nacional e
internacional, comercializados de maneira clandestina. Dessa maneira, os resultados evidenciam
que as atividades que realizamos com os educandos nos oportunizam a repensar o ensino, a
educao tnico-racial e a convivncia que estabelecemos na escola e na sociedade. Demonstra
que o dilogo ainda o melhor caminho para a preveno das drogas e da violncia nas
instituies escolares, pois essa reflexo possibilita a ampliao do conhecimento do estudante
sobre os efeitos das drogas, no s no organismo, mas tambm no ambiente social.
Palavras-chaves: Drogas. Estudantes. Iniciao a Docncia. Professores.
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RESUMO
Esta comunicao tem como objetivo divulgar os resultados finais das atividades realizadas
durante a realizao do Estgio Supervisionado II do Curso de Pedagogia da Universidade
Estadual de Mato Grosso do Sul - UEMS - Unidade Campo Grande, desenvolvida na Escola
Estadual Joo Carlos Flores localizada no Municpio de Campo Grande - MS. Este projeto
foi desenvolvido, durante o ano letivo de 2014. As atividades foram realizadas de forma
articulada com os contedos e atividades desenvolvidas na sala do 4 ano do Ensino
Fundamental, da referida Escola. Deste modo, este trabalho atende aos dispositivos da lei
10.639/2003 e 11.645/2008, que determina a obrigatoriedade da temtica Histria e Cultura
Afro-brasileira e Indgena, no currculo oficial da rede do ensino fundamental e mdio das
escolas pblicas e particulares do Brasil. Diante da legtima determinao legal de incluso
dentro da temtica da diversidade buscamos, por meio das lendas indgenas promover a
valorizao da Cultura Indgena do Mato Grosso do Sul - MS, permitindo uma melhor
compreenso desses povos. Considerando a importncia da diversidade cultural na formao
do estudante, pretendemos remet-los a um novo olhar do que "tido" como diferente e
assim possibilitar que esses estudantes possam ter uma educao transformadora voltada
para o social e o cultural, permitindo uma interao entre educador e educando. O objetivo
do projeto foi sensibilizar os estudantes a conhecerem e valorizar a cultura dos povos
indgenas do MS com foco em algumas de suas lendas mais conhecidas como: a lenda do
milho, da mandioca,a criao do mundo e do guaran. Como metodologia de pesquisa
utilizamos a pesquisa qualitativa, por meio de rodas de conversas; atividades em grupo e
individuais; criao de desenhos,pinturas e interpretao de textos. Conclumos que de
suma importncia que seja discutido a temtica da diversidade no ambiente escolar, para que
assim possamos sensibilizar os estudantes para uma cultura da paz e do respeito
diversidade.
GT: 3- Formao de professores e diversidade
Acadmica do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul - UEMS/ Unidade Campo
Grande.
2
Acadmica do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul - UEMS/ Unidade Campo
Grande.
3
Acadmica do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul - UEMS/ Unidade Campo
Grande.
4
Professora e Orientadora do Estgio Supervisionado II (2014) do Curso de Pedagogia da Universidade
Estadual de Mato Grosso do Sul - UEMS/ Unidade Campo Grande.
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Um dos principais objetivos das polticas educacionais lanadas nas ltimas dcadas no
Brasil que todas as pessoas sejam alfabetizadas, com destaque para a formao de
professores e suas prticas pedaggicas. A partir, principalmente, da dcada de 1990, os
principais documentos oficiais e programas de formao continuada passaram a
divulgar o referencial construtivista como orientao para as prticas dos professores
em sala de aula. Entretanto, muitas crticas foram atribudas s concepes
construtivistas, a maior parte delas considerando-as responsveis pelo fracasso escolar,
no que se refere, sobretudo, aprendizagem da leitura e da escrita. Sob essa tica, o
presente estudo tem por objetivo investigar as prticas alfabetizadoras de professoras
que atuam nos anos iniciais do Ensino Fundamental em uma escola da rede pblica de
ensino na cidade de Campo Grande/MS a fim de analisar em que medida os programas
de formao continuada tem contribudo ou no para a permanncia ou mudanas de
suas prticas alfabetizadoras. A metodologia utilizada foi de carter qualitativo, sendo
que para a coleta de dados foi realizada uma pesquisa bibliogrfica sobre os principais
programas de formao para alfabetizadoras em nvel nacional, bem como realizao de
entrevistas semi-estruturadas com seis professoras, sendo trs delas professoras
experientes como alfabetizadoras e trs professoras iniciantes com no mximo cinco
anos atuao na educao bsica. A anlise dos dados demonstrou que os programas de
formao investigados realmente trazem uma concepo de base construtivista para
atuao das prticas docente dos professores alfabetizadores, atentando-se para os
processos de aprendizagem e no somente nas tcnicas ou mtodos de alfabetizao.
Observou-se tambm que o uso de textos de diferentes gneros textuais foi a
metodologia mais enfatizada nos programas, propondo uma alfabetizao pautada no
letramento. Quanto s professoras, constatou-se que se utilizam de textos de diferentes
gneros textuais, bem como de outras propostas dos programas de formao analisados.
Contudo, acreditam, em sua maioria, que essa prtica no eficaz em todos os
momentos, com todos os tipos de alunos, reconhecendo que utilizam em seu cotidiano
muitas prticas dos mtodos tradicionais de ensino com os quais foram alfabetizadas,
mesmo no as considerando um bom modelo. Dessa forma, conclui-se que a
participao das professoras nesses programas no possibilitou uma anlise e reflexo
que garantisse que as suas prticas alfabetizadoras fossem efetivamente ressignificadas.
Palavras-chave: Programas de Formao de Professores; Prticas pedaggicas;
Alfabetizao;.
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O Pacto Nacional pela Alfabetizao na Idade Certa (PNAIC), institudo pela Portaria n 867, de 4
de julho de 2012, uma ao do governo federal em parceria com os entes federados, visando
garantir que, todas os estudantes ao conclurem os trs primeiros anos do Ensino Fundamental,
estejam alfabetizadas, sendo composto por um conjunto integrado de aes apoiadas nos eixos:
Formao Continuada; Materiais Didticos; Avaliaes e Gesto, Mobilizao e Controle Social,
com vistas a contribuir com a alfabetizao e o letramento. Desta forma, o presente estudo pretende
analisar a implantao do PNAIC no Estado de Mato Grosso do Sul, utilizando-se da pesquisa
bibliogrfica e documental. As Secretarias municipais, estaduais e do distrito federal, ao optar por
aderir ao Pacto, automaticamente se comprometem a alfabetizar todos os estudantes de sua rede de
ensino nos componentes curriculares de Lngua Portuguesa e Matemtica; participar das avaliaes
anuais aos estudantes que estiverem terminando o 3 ano do Ensino Fundamental, avaliao esta
aplicada pelo Instituo Nacional de Estudos e Pesquisas Ansio Teixeira (INEP) e, sendo que, s
secretarias estaduais cabe ainda, apoiar os municpios que tenham aderido s aes do PNAIC, a
fim de garantir sua implementao. Em Mato Grosso do Sul, o processo de formao dos sujeitos
participantes ocorreu a partir das formaes, realizadas no municpio de Campo Grande e
ministradas pelos Professores Formadores da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul aos
Orientadores de Estudo(OE), cuja funo compreendeu a orientao do processo de formao dos
Professores Alfabetizadores distribudos em 39 (trinta e nove) polos, nos quais foram propostas
discusses, reflexes e aplicabilidade acerca dos conhecimentos apreendidos em diferentes
metodologias desenvolvidas nas salas de aulas. As despesas com deslocamento, alimentao e
hospedagem nos polos, foram financiadas pela Secretaria de Estado de Educao. As formaes no
mbito do PNAIC, realizadas no ano de 2013, voltaram-se para a rea de Lngua
Portuguesa/Alfabetizao, com a participao de 2 (dois) Coordenadores; 54 (cinquenta e quatro)
Orientadores de Estudos, 1.073 (um mil e setenta e trs) Professores Alfabetizadores e 520
(quinhentos e vinte) convidados. No entanto, no ano de 2014, participaram: 1 (um) Coordenador; 48
(quarenta e oito) Orientadores de Estudos; 945 (novecentos e quarenta e cinco) Professores
Alfabetizadores e 489 (quatrocentos e oitenta e nove) convidados, sendo que as formaes
concentraram-se na rea de Matemtica com acrscimo de Lngua Portuguesa/Alfabetizao. Como
resultado parcial deste estudo destaca-se a importncia de se compreender a formao continuada
como estratgia para assegurar a viso de totalidade e de interao entre teoria e prtica, como
possibilidade de formao humana, visando apreender o desenvolvimento completo por meio de
uma formao docente que contemple o conhecimento sistematizado.
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O Pacto Nacional pela Alfabetizao na Idade Certa (PNAIC), institudo pela Portaria n 867, de 4
de julho de 2012, uma ao do governo federal em parceria com os entes federados, visando
garantir que, todas os estudantes ao conclurem os trs primeiros anos do Ensino Fundamental,
estejam alfabetizadas, sendo composto por um conjunto integrado de aes apoiadas nos eixos:
Formao Continuada; Materiais Didticos; Avaliaes e Gesto, Mobilizao e Controle Social,
com vistas a contribuir com a alfabetizao e o letramento. Desta forma, o presente estudo pretende
analisar a implantao do PNAIC no Estado de Mato Grosso do Sul, utilizando-se da pesquisa
bibliogrfica e documental. As Secretarias municipais, estaduais e do distrito federal, ao optar por
aderir ao Pacto, automaticamente se comprometem a alfabetizar todos os estudantes de sua rede de
ensino nos componentes curriculares de Lngua Portuguesa e Matemtica; participar das avaliaes
anuais aos estudantes que estiverem terminando o 3 ano do Ensino Fundamental, avaliao esta
aplicada pelo Instituo Nacional de Estudos e Pesquisas Ansio Teixeira (INEP) e, sendo que, s
secretarias estaduais cabe ainda, apoiar os municpios que tenham aderido s aes do PNAIC, a
fim de garantir sua implementao. Em Mato Grosso do Sul, o processo de formao dos sujeitos
participantes ocorreu a partir das formaes, realizadas no municpio de Campo Grande e
ministradas pelos Professores Formadores da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul aos
Orientadores de Estudo(OE), cuja funo compreendeu a orientao do processo de formao dos
Professores Alfabetizadores distribudos em 39 (trinta e nove) polos, nos quais foram propostas
discusses, reflexes e aplicabilidade acerca dos conhecimentos apreendidos em diferentes
metodologias desenvolvidas nas salas de aulas. As despesas com deslocamento, alimentao e
hospedagem nos polos, foram financiadas pela Secretaria de Estado de Educao. As formaes no
mbito do PNAIC, realizadas no ano de 2013, voltaram-se para a rea de Lngua
Portuguesa/Alfabetizao, com a participao de 2 (dois) Coordenadores; 54 (cinquenta e quatro)
Orientadores de Estudos, 1.073 (um mil e setenta e trs) Professores Alfabetizadores e 520
(quinhentos e vinte) convidados. No entanto, no ano de 2014, participaram: 1 (um) Coordenador; 48
(quarenta e oito) Orientadores de Estudos; 945 (novecentos e quarenta e cinco) Professores
Alfabetizadores e 489 (quatrocentos e oitenta e nove) convidados, sendo que as formaes
concentraram-se na rea de Matemtica com acrscimo de Lngua Portuguesa/Alfabetizao. Como
resultado parcial deste estudo destaca-se a importncia de se compreender a formao continuada
como estratgia para assegurar a viso de totalidade e de interao entre teoria e prtica, como
possibilidade de formao humana, visando apreender o desenvolvimento completo por meio de
uma formao docente que contemple o conhecimento sistematizado.
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RESUMO
A coordenao pedaggica composta por profissional da educao que integra o quadro de
pessoal das secretarias de educao e das instituies escolares no Brasil por meio de
diferentes modos de admisso: indicao, seleo, etc. O cargo, as funes e as atribuies
dependem de uma poltica nacional, estadual ou municipal de educao que cria diferentes
processos de gesto do ensino, cuja trajetria se apresenta marcada pela impreciso da
abrangncia das atribuies e das funes designadas. O crescimento da demanda por
profissionais que atuam nessa funo tem gerado nos estudiosos e tericos a necessidade de
atentar para a constituio do perfil deste profissional. Os estudos realizados geralmente
apontam para o papel da coordenao pedaggica com destaque na articulao de sua prtica
pedaggica e a sua ao frente aos docentes. Nesse sentido, o objeto de investigao do
presente estudo a coordenao pedaggica com a pretenso de estabelecer o debate acerca
dos limites e das perspectivas das prticas desse profissional. O objetivo investigar como a
coordenao pedaggica organiza e implementa as atribuies que lhe so conferidas
legalmente, considerando a sua relativa autonomia sobre a articulao da ao que
implementa no espao escolar. A pesquisa emprica, de base qualitativa, envolveu uma
coordenadora pedaggica, dois docentes e a diretora-adjunta da Escola Estadual Polo
Professora Regina Lcia Anfee Nunes Betine, que oferta a Educao de Jovens e Adultos a
um universo de 357 detentas no Estabelecimento Penal Feminino Irm Irma Zorzi. A pesquisa
foi realizada por meio de coleta de dados com utilizao de questionrio estruturado com
questes objetivas e subjetivas, abertas e fechadas. O contexto escolar diferenciado de um
Estabelecimento Penal interfere diretamente na atuao da coordenao pedaggica. No caso
da coordenao pedaggica que atua no supramencionado Estabelecimento Penal, objeto
deste estudo, pode-se inferir que demandas variadas limitam a sua atuao. Questes como
controle de frequncia para assegurar a remisso de pena, entrevista e solicitao de
documentos, conforme exige a legislao, so alguns desdobramentos da realidade da
educao em um Estabelecimento Penal que dificultam a atuao da coordenao pedaggica
na sua funo prioritria, qual seja a formao continuada dos docentes. Cabe destacar que os
limites das aes da coordenao nesse Estabelecimento Penal perpassam pelas normas
internas, pela Lei de Execuo Penal e pelo cumprimento da sentena criminal expedida s
encarceradas, o que exige uma postura e atendimento diferenciado. No que tange s
perspectivas da atuao da coordenao pedaggica, faz-se necessria a busca por novos
mecanismos na construo de uma identidade que possibilite legitimar junto escola uma
liderana pautada na adequao da quantidade e qualidade de tempo e aes dedicadas s
tarefas da coordenao pedaggica e na compreenso da seriedade e importncia do seu papel
na instituio de ensino. consenso entre todos os entrevistados que a formao continuada
imprescindvel para a prtica pedaggica. O que falta condio para que a coordenao
pedaggica esteja imbuda no seu papel, que fundamental para o sucesso do ensino e da
aprendizagem dentro da instituio de ensino.
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