Neurofisiologia Da Escrita
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Agradecimento: as contribuies de Mrcio Galvo Guimares de Oliveira, Celeste Dias Amorim e Daisy Deell Figueira Glass.
Resumo
A escrita, ao tornar a linguagem oral visvel e material, de longe a mais importante inveno da humanidade. Muito
alm de uma importante conquista cultural, significou uma extraordinria aquisio cognitiva, mas pouco se conhece sobre
o que acontece no crebro humano quando escrevemos. O objetivo deste estudo realizar uma reviso terica dos modelos
cognitivos e dos substratos neurais relacionados produo da linguagem escrita. Para isso, iniciou com uma sntese da
histria da escrita, em sequncia, discorreu sobre seu processamento, finalizando com os correlatos neurolgicos da escrita.
A fim de converter ideias em palavras escritas, os processos centrais da linguagem escrita partem da semntica, ou seja, do
conhecimento do significado das palavras. Aps, a forma das palavras (no caso da grafia, as letras) recuperada atravs
das representaes lexicais e/ou sublexicais que so, ento, transitoriamente armazenadas em um sistema de memria de
trabalho chamado de graphemic buffer. Estes processos mais centrais so seguidos por componentes perifricos que
envolvem a elaborao de planos de motores especficos para cada modalidade de escrita, como a escrita manual, digitao
e a soletrao. Embora a localizao precisa dos substratos neurais relacionados ao processamento da escrita seja difcil, h
evidncias de que o giro fusiforme, o giro frontal inferior e algumas reas dos lobos parietais superior e inferior esquerdo
esto relacionados com os componentes centrais e que o giro/sulco frontal superior esquerdo, o giro pr-central, as reas
dos lobos parietais inferior e superior esquerdo e o cerebelo direito esto mais relacionadas com o processamento perifrico
da escrita. Destarte, a melhor compreenso de como ocorre o processamento da escrita em nosso crebro pode
proporcionar o desenvolvimento de novas abordagens diagnsticas e terapias futuras para os pacientes com agrafias,
abrindo novas perspectivas nas reas da neurolingustica, neuropsicologia clnica, desenvolvimental e intervencionista.
Palavras-chave: linguagem, escrita, sistema de escrita, cognio, neurofisiologia.
Resumen
La escritura, entendida como la materializacin del lenguaje oral, es una de las creaciones ms importantes de la
humanidad. Ms que un logro cultural importante significa una adquisicin cognitiva extraordinaria, pero se conoce poco
acerca de lo que sucede en el cerebro humano cuando escribimos. El objetivo de este estudio es hacer una revisin terica
de los modelos cognitivos y los substratos neurales relacionados con la produccin del lenguaje escrito. Para ello, se inicia
con una sntesis de la historia de la escritura, luego se presentan sus mecanismos de procesamiento y finalmente se
describen los correlatos neurolgicos de la escritura. Con el objetivo de transformar ideas en palabras escritas, los procesos
centrales del lenguaje escrito parten de la semntica, es decir, del conocimiento del significado de las palabras. Luego, la
forma de las palabras (en el caso de la grafa, las letras) es recuperada a travs de las representaciones lexicales y/o
sublexicales que son almacenadas temporalmente en un sistema de memoria de trabajo llamado buffer grafmico. Estos
procesos ms centrales son seguidos de componentes perifricos que implican la elaboracin de planos motores especficos
para cada modalidad de escritura, como la escritura manual, digital y por deletreo. Aunque la ubicacin precisa de los
sustratos neurales relacionados con el procesamiento de la escritura es compleja, hay evidencia de que el giro fusiforme, el
giro frontal inferior y algunas reas de los lbulos parietales superior e inferior izquierdos estn relacionados con los
componentes centrales y que el giro/surco frontal superior izquierdo, el giro pre-central, las reas de los lbulos parietal
inferior y superior izquierdos y el cerebelo derecho estn ms relacionados con el procesamiento de la escritura perifrica.
Artigo recebido: 22/07/2015; Artigo revisado (1a reviso): 30/10/2015; Artigo revisado (2a reviso): 22/02/2016; Artigo aceito: 07/03/2016.
Toda correspondncia relacionada a este artigo deve ser enviada a Welma Wildes Amorim, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Colegiado
de Medicina, Estrada do Bem-Querer, Km 04, Universitrio, Vitoria da Conquista - BA, CEP 45206190
Email de contato: [email protected]
DOI: 10.5579/rnl.2016.0260
NEUROFISIOLOGIA DA ESCRITA
De esta manera, una mejor comprensin de cmo se produce el procesamiento de la escritura en nuestro cerebro puede
proporcionar el desarrollo de nuevos enfoques diagnsticos y terapias futuras para pacientes con agrafia, lo que abre
nuevas perspectivas en la Neurolingstica y la Neuropsicologa Clnica, del desarrollo e intervencionista.
Palabras clave: lenguaje, escritura, sistemas de escritura, cognicin, neurofisiologa.
Rsum
L'criture, en faisant orale langue "visible" et matriel, est de loin la plus importante invention de l'humanit. Plus qu'une
simple ralisation culturelle remarquable, cela signifie aussi une acquisition cognitive extraordinaire; Cependant, on sait
peu sur ce qui se passe dans le cerveau humain quand nous crivons. Cet article prsente un examen thorique des modles
cognitifs et les substrats neuronaux lis la production du langage crit. Il commence par un bref aperu de l'histoire de
l'criture, examine les processus impliqus, et se termine par les corrlats neurologiques de l'criture. Afin de convertir l es
ides en mots crits, les processus centraux d'criture commencent avec la smantique - qui est, la connaissance de la
signification des mots. Ensuite, la forme des mots (les lettres utilises, dans le cas de l'orthographe) est rcupre travers
des reprsentations lexicales et / ou sous-lexicales qui sont temporairement stocks dans un systme de mmoire de travail
appel le tampon graphmique. Ces processus centraux sont suivis par des composants priphriques impliqus dans la
production de plans de moteur spcifiques pour chaque type d'criture, comme l'criture, la dactylographie et l'orthographe.
Bien qu'il soit difficile de dterminer l'emplacement exact des substrats neuronaux lis au processus d'criture, il est prouv
que le gyrus fusiforme, le gyrus frontal infrieur et certaines zones de la gauche lobes paritaux suprieurs et infrieurs
sont lis aux composants centraux et que le suprieur gyrus frontal / sulcus gauche, le gyrus pr-central, les domaines de la
gauche lobes paritaux infrieurs et suprieurs et le droit cervelet sont plus lis au traitement priphrique de l'criture. Par
consquent, une meilleure comprhension de la faon dont le processus d'criture se produit dans notre cerveau peut aider
au dveloppement de nouvelles approches diagnostiques et des thrapies futures pour les patients atteints de agraphia,
ouvrant de nouvelles perspectives dans le domaine de la neurolinguistique ainsi que la neuropsychologie clinique,
dveloppement et interventionnelle.
Mots-cls: langue, criture, systme d'orthographe, cognition, neurophysiologie.
Abstract
Writing, by making oral language visible and material, is by far the most important invention of humanity. More than
just a remarkable cultural achievement, it also means an extraordinary cognitive acquisition; however, little is known about
what happens in human brains when we write. This paper presents a theoretical review of cognitive models and the neural
substrates related to the production of written language. It starts with a brief overview of the history of writing, discusses
the processes involved, and concludes with the neurological correlates of writing. In order to convert ideas into written
words, the central processes of writing begin with semantics that is, the knowledge of the meaning of the words.
Afterwards, the form of the words (the letters used, in the case of spelling) is retrieved through lexical and/or sub-lexical
representations that are temporarily stored in a working memory system called the graphemic buffer. These more central
processes are followed by peripheral components involved in the generation of specific motor plans for each type of
writing, such as handwriting, typing and spelling. Although it is difficult to determine the exact location of the neural
substrates related to the writing process, there is evidence that the fusiform gyrus, the inferior frontal gyrus and some areas
of the left superior and inferior parietal lobes are related to the central components and that the left superior frontal
gyrus/sulcus, the pre-central gyrus, the areas of the left inferior and superior parietal lobes and the right cerebellum are
more related to the peripheral processing of writing. As a result, a better understanding of how the writing process occurs
in our brain may aid the development of new diagnostic approaches and future therapies for patients with agraphia,
opening new prospects in the field of neurolinguistics as well as clinical, developmental and interventional
neuropsychology.
Keywords: language, writing, spelling system, cognition, neurophysiology.
para a civilizao.
A escrita proporcionou o armazenamento e a
transmisso de informaes e conhecimentos atravs do
tempo e do espao, bem alm da capacidade de memria
humana. Quando falamos, ns podemos somente nos
comunicar com quem est prximo e no momento da fala,
pois a linguagem oral efmera e imediata. No entanto, a
escrita permite que nos comuniquemos distncia, tanto em
lugares distantes, quanto em eras distantes, levando a
transmisso de conhecimentos por pocas indeterminadas e
tornando possvel ao ser humano ter uma histria, aprender
com o conhecimento do outro e reformul-lo, em um
constante processo de evoluo cultural (Rogers, 2005; Rapp
Introduo
Se a linguagem, ou seja, a habilidade de usar signos
lingusticos para expressar pensamentos formados livremente
marque a verdadeira distino entre o homem e o animal,
estando presente em todos os aspectos da vida, do pensamento
e da interao humana (Chomsky, 1998), o que dizer ento da
representao da linguagem oral por meio de signos grficos?
A escrita, ao tornar a linguagem visvel e material, de
longe a mais importante inveno da humanidade e sua mais
notvel conquista intelectual e cultural (Rapp, Fischer-Baum
& Miozzo, 2015). Segundo Woods, Emberling, Teeter e
Institute (2010), a fala para o ser humano o que a escrita
NEUROFISIOLOGIA DA ESCRITA
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Figura 2. Representao esquemtica da arquitetura cognitiva funcional do sistema de produo escrita pela via lexical
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ser montada a partir do processo de converso fonemagrafema pelo estmulo fonolgico (Figura 3), que considera as
informaes aprendidas sobre as relaes entre sons e letras
(ou outras unidades sublexicais) e gera grafias possveis para
as cadeias sonoras. Por exemplo, o som do estmulo /ma/
pode resultar na recuperao da informao de MAA na
memria de longo prazo ortogrfica ou na montagem de uma
grafia plausvel, como MASSAN, pelo sistema de converso
fonema-grafema (Purcell et al., 2011; Purcell & Rapp, 2013).
Figura 3. Representao esquemtica da arquitetura cognitiva funcional do sistema de produo escrita pela via sublexical
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giro/sulco frontal superior esquerdo (Brodmann 6), giro prcentral esquerdo (Brodmann 4), giro ps-central esquerda
(Brodmann 3), reas motoras suplementares (Brodmann 6),
lobos parietais superior e inferior esquerdo (Brodmann 7 e 40,
respectivamente), giro temporal inferior/giro fusiforme
esquerdo
(Brodmann
37),
cerebelo
direito
e,
subcorticalmente, tlamo e putmen esquerdos. O giro
fusiforme, o giro frontal inferior e algumas reas dos lobos
parietais superior e inferior esquerdo esto relacionados com
os componentes centrais da grafia das palavras, como o lxico
e a memria de trabalho processual. J as reas como o
giro/sulco frontal superior esquerdo, o giro pr-central, as
reas dos lobos parietais inferior e superior esquerdo e o
cerebelo direito esto mais intimamente relacionadas com o
planejamento motor e a programao da escrita (Planton et
al., 2013; Purcell et al., 2011).
Figura 4. Substratos neurais envolvidos no processamento central e perifrico de produo escrita da palavra utilizando o mtodo
Activation Likelihood Estimate (ALE). esquerda, os resultados esto projetados em um modelo de crebro padro e, direita, em
cortes axiais.
Consideraes Finais
A linguagem escrita alm de ser uma valiosa
ferramenta de transmisso de ideias e conhecimentos,
representa uma funo cognitiva primordial nas civilizaes
contemporneas. intrigante como o crebro humano capaz
de empregar signos grficos para representar a linguagem
oral.
Dois modelos cognitivos de representao da escrita
foram expostos, a via lexical, que compreende a ativao de
uma representao lxico-ortogrfica (memria de longo
prazo ortogrfica), permitindo a recordao da escrita da
palavra, e a via sublexical, com mecanismos fonolgicos de
converso fonema-grafema. A fim de promover a grafia
desejada, as representaes das letras montadas via converso
fonema-grafema ou recuperadas da memria de longo prazo
ortogrfica so, ento, alocadas por uma memria de
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