Arte Despertar Livro Portugues
Arte Despertar Livro Portugues
Arte Despertar Livro Portugues
So Paulo, 2010
Associao Arte Despertar
NOSSA ARTE
DESPERTAR O MELHOR
DO SER HUMANO
01 I 02
0
IMPRESCINDVEIS UTPICOS
4
09
1
A NOO DE RESPONSABILIDADE SOCIAL
EM PERSPECTIVA HISTRICA: DO INCIO
DA MODERNIDADE AO CONTEXTO QUE
GEROU A ASSOCIAO ARTE DESPERTAR
NDICE
UM POUCO DE NS
79
5
A VISO DO LADO DE FORA
23
153
6
ONTEM, HOJE E AMANH
207
LINHA DO TEMPO
41
OS PARCEIROS
213
221
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
225
PATROCINADORES
235
2
O INDIVDUO E A ARTE DE RECRIAR-SE
53
3
DESPERTAR COM E PARA A ARTE
MARIA CHRISTINA DE SOUZA LIMA RIZZI
67
01 I 02
01 I 02
IMPRESCINDVEIS UTPICOS
EDUARDO MONTECHI VALLADARES
01 I 02
IMPRESCINDVEIS UTPICOS
em mim
eu vejo o outro
e outro
e outro
enfim dezenas
trens passando
vages cheios de gente
centenas
o outro
que h em mim
voc
voc
PAULO LEMINSKI
Contranarciso (1980)
Este texto um convite. Caro leitor, leia atentamente o livro que est em
suas mos. Ele conta, em captulos escritos por diferentes autores, os
dez anos de trajetria da Associao Arte Despertar. Essa , com certeza,
uma histria que merece ser conhecida.
Sabemos que dcadas so marcaes arbitrrias, embora possuam uma
representao simblica bastante grande para a maioria das pessoas. Na
histria da humanidade a predileo pelo nmero dez no foi um acontecimento fortuito. Na Antiguidade alguns povos primitivos adotaram a
diviso em dez porque simbolizava a ideia de fim, de consumao. Essa
noo provavelmente est ligada ao fato de, com o auxlio dos dedos, s
podermos contar at dez. Mesmo hoje, quando fingimos que j somos
civilizados, ainda continuamos presos s antigas crenas de nossos ancestrais. Mas, de qualquer forma, a publicao de um livro que relata os dez
anos de atuao de uma entidade que cotidianamente nos mostra que a
solidariedade possvel e que as perspectivas propostas so realizveis
sempre uma notcia alvissareira.
A razo da existncia da Associao Arte Despertar despertar pessoas,
procurando assegurar que cada indivduo tenha possibilidade de acesso
ao seu potencial criativo. Talvez o seu papel mais importante seja nos
lembrar o tempo todo de algo do qual os homens j deveriam estar suficientemente persuadidos: o Outro no deve jamais ser tratado como um
objeto inanimado, que pode ser manipulado impunemente. necessrio
sempre levar em considerao seus desejos e suas vontades, suas caractersticas e suas singularidades.
Existe uma questo tica fundamental para cada um de ns: como devo
viver? Em uma de suas ltimas entrevistas, o filsofo francs Michel Foucault observou: O que me surpreende o fato de que, em nossa sociedade,
a arte se tornou algo relacionado apenas a objetos e no a indivduos ou
vida. (...) Mas a vida de cada indivduo no poderia se tornar uma obra
10 I 11
12 I 13
14 I 15
16 I 17
Por isso, reitero o convite leitura cuidadosa deste livro. Espero que
ele contribua para que um nmero maior de pessoas conhea o trabalho desses sonhadores e perceba que ainda possvel fazer com
que algumas utopias se tornem realidade. Que essa realidade inspire
novos sonhos, outras utopias. E que, nesse compartilhamento de sonhos, cada um de ns, leitores, venha a se tornar mais um comparsa
dessa empreitada. Afinal, quem disse que a palavra cmplice significa
apenas reunio de pessoas para promover atos maldosos ou ilcitos? A
Associao Arte Despertar, formada por um bando de idealistas incorrigveis, nos mostra exatamente o contrrio.
01 I 02
01 I 02
01 I 02
UM LENTO DESPERTAR
24 I 25
26 I 27
O limiar da Modernidade assinalou, tambm, a emergncia de dois fatores importantssimos para as transformaes que geraram a perspectiva
de responsabilidade social. Trata-se do Estado moderno e das modernas
relaes de mercado.
O Estado moderno caracterizou-se pela centralizao poltica e administrativa, que obrigou criao de um aparelho burocrtico capaz de absorver as mltiplas funes que o Estado passou a concentrar (arrecadaes,
monoplio da violncia atravs dos exrcitos nacionais, subordinao dos
mais diversos foros autoridade central). Esse processo, grosso modo,
estabeleceu-se de modo irreversvel na passagem do sculo XVI para o
XVII e desenvolveu-se at chegar, no sculo XIX, aos Estados-nao plenamente consolidados.
Por outro lado, a expanso europeia para outros continentes, possibilitada
pelos desenvolvimentos tecnolgicos do sculo XV, permitiu a configurao de uma economia-mundo marcada pelas relaes de centro e periferia.
No bojo desse processo, o capitalismo se estabeleceu produzindo novos
sentidos para a noo de mercado ao longo de uma histria complexa,
assinalada por fases (comercial, industrial, financeira) e por crises. Mas
significativo observar que todos os principais embates ideolgicos da poca moderna giraram em torno dessas duas grandezas, desde o liberalismo
econmico clssico, com Adam Smith (para quem o Estado deveria ser
colocado sombra pela mo invisvel do mercado), at o socialismo,
com sua perspectiva de controle e eliminao do mercado que, ao fim e
ao cabo, deveria conduzir prpria superao do Estado.
No sculo XIX, o triunfo da ideologia liberal assentou como fato a
noo ideolgica de separao absoluta entre trs esferas distintas: a esfera poltica, a esfera econmica e aquela considerada como de natureza
sociocultural. No difcil enxergar nessa diviso tripartite a presena
das esferas do Estado e das relaes de mercado, acrescidas de outra que
DA FILANTROPIA AO
TRANSFORMADORA
28 I 29
O TERCEIRO SETOR:
GNESE DE UM CONCEITO
30 I 31
Habermas no formulou o conceito de Terceiro Setor, cuja origem ser detalhada a seguir. Mas quase consensual a percepo de
que a teoria de Habermas pode ser invocada
como matriz desse conceito, sobretudo em
dois pontos fundamentais: a identificao de
uma terceira esfera na sociedade, com uma
lgica diferente tanto em relao ao mercado
quanto ao Estado; e a perspectiva de que as
sociedades contemporneas, em sua complexidade, no admitem mais solues oriundas
das antigas polarizaes.
32 I 33
O CONTEXTO DE SURGIMENTO DA
ASSOCIAO ARTE DESPERTAR
34 I 35
A Associao Arte Despertar veio a existir e completou sua primeira dcada, portanto, num contexto
de crescente valorizao do dilogo entre as diferentes foras sociais tendo em vista a humanizao das
relaes dentro da sociedade. Enquanto a aplicao
indiscriminada da razo instrumental levou a uma
profunda desvalorizao dos seres humanos, fenmeno que se manifestou tanto no sistema capitalista
quanto nas tentativas de construo do socialismo,
o incio do novo milnio assistiu ao aprofundamento da conscincia de que era preciso reagir a isso,
reafirmando a dignidade do ser humano e investindo em sua autonomizao. A economia de mercado, percebe-se hoje, precisa ser domesticada social
e ecologicamente: a subordinao dos valores econmicos e poltico-partidrios ao interesse comum
deve incluir no somente o respeito ilimitado ao ser
humano mas, tambm, o respeito por sua casa, o
ambiente onde ele vive.
A tentao das anlises demasiadamente simplistas
afastada quando considera-se que, ao longo da
primeira dcada do sculo XXI, o prprio paradigma neoliberal deu sinais de exausto. Algumas de
suas limitaes j haviam sido expostas por Habermas, para quem o capitalismo tardio objeto de
intervenes estatais frequentes com vistas a melhorar as condies de realizao do capital, no
obstante pregar, do ponto de vista ideolgico, a total ausncia do Estado. Esse carter ideolgico do
paradigma neoliberal (ou seja, o fato de ele existir
mais como discurso legitimador do que como rea-
36 I 37
01 I 02
Delineamento de uma
economia-mundo como
preparao do moderno
conceito de mercado
Desenvolvimento do
capitalismo comercial
LINHA DO TEMPO
LEGENDA
MUNDO E BRASIL: CONTEXTO POLTICO E ECONMICO
TERCEIRO SETOR NO BRASIL
ASSOCIAO ARTE DESPERTAR
Passagem do capitalismo
industrial ao financeiro
Triunfo do liberalismo
Estado moderno
consolidado na forma
de Estados-nao
Surgimento do
pensamento socialista
Preocupaes sociais
tomam a forma
de aes filantrpicas
SC. XVIII
Desenvolvimentos
tecnolgicos
e descobrimentos
Incio da
consolidao
do Estado
moderno,
centralizado
e burocrtico
SC. XIX
SCS. XVI/XVII
SC. XVI
Mstica franciscana:
pobreza como modelo,
forma de salvao
e fonte de inspirao
SC. XV
SC. XII
Pobreza como
expresso da
vontade de Deus
Regulamentao da
mendicncia e leis
para auxlio aos pobres
em diversas cidades
europeias
Capitalismo
industrial
Promulgao do
Estatuto da Criana
e do Adolescente
(ECA), Lei n 8069/90
Instituio do Sistema
nico de Sade (SUS)
Criao do Conselho
Municipal de Assistncia
Social, Lei n 2469/96
Conceituao da Arte
Despertar
Criao da Associao
Brasileira de Organizaes no
Governamentais (ABONG)
Criao do Conselho Nacional
dos Direitos da Criana
e do Adolescente (CONANDA)
Lei n 8242/91
Promulgao da Lei Federal
de Incentivo Cultura
(Lei Rouanet), n 8313/91
Promulgao da Lei
Orgnica da Assistncia
Social (LOAS), n 8742/93
Promoo da Campanha
contra a fome, por Herbert
Jos de Souza (Betinho)
2010
Reeleio de Luiz Incio Lula da
Silva como presidente do Brasil
Promulgao da Lei do
Voluntariado, n 9608/98
Constituio jurdica
da Associao Arte Despertar
Aprovao do primeiro projeto
no Ministrio da Cultura (MinC),
por meio da Lei Rouanet
Incio da parceria com
o Programa Einstein
na Comunidade
de Paraispolis (PECP)
Promulgao da Lei da
Organizao da Sociedade
Civil de Interesse Pblico
(OSCIP), n 9790/99
Obteno do Certificado de
Utilidade Pblica Municipal
Registro no Conselho Municipal
dos Direitos da Criana e do
Adolescente (CMDCA)
Incio da parceria com o Instituto
de Oncologia Peditrica (IOP) Grupo de Apoio ao Adolescente
e Criana com Cncer (GRAACC)
Criao de website
Criao do Programa
Comunidade Solidria
Criao da Pastoral
da Criana
Incio do Programa de
Humanizao da Assistncia
Hospitalar (PNHAH)
pelo Ministrio da Sade
Obteno do Certificado
de Utilidade Pblica Federal
Inscrio no Conselho
Estadual de Assistncia
Social de So Paulo
Aprovao de projeto
na Secretaria Municipal
de Cultura/Lei Mendona
Obteno do Certificado
de Entidade Beneficente
de Assistncia Social (CEBAS)
Contratao do Instituto
Fonte, para consultoria
em sustentabilidade
Conscientizao da necessidade
de sustentabilidade para projetos
do Terceiro Setor
2009
2005
Protocolo de Kyoto
Aprovao do primeiro
projeto em seleo pblica
do Programa Petrobras
Fome Zero
Gravao de CD pelas
crianas e jovens de projeto
na Comunidade de Paraispolis
2007
Crescimento da
conscincia ecolgica
Eleio de George
W. Bush, presidente
dos EUA
Comunidade Europeia
assinala tendncia
de relativizao das
fronteiras nacionais
2006
2002
1999
1993
Agenda 21 para
o meio ambiente,
criada na ECO 92
1997
Estabilizao monetria
no Brasil, conjugada a
crises sociais e exausto
dos servios pblicos
Eleio de Fernando
Henrique Cardoso
como presidente
do Brasil
1995
Reunificao da Alemanha
1992
1990
Fim do Apartheid
na frica do Sul
EUA e aliados
invadem o Iraque
2008
2004
2001
Relatrio da Comisso
Internacional sobre Educao
para o Sculo XXI, Unesco
Lanamento do Plano
Real no Brasil: incio da
estabilizao monetria
brasileira, conjugada a
crises sociais e exausto
dos servios pblicos
1998
Tratado de Maastricht,
tambm conhecido como
Tratado da Unio Europeia
(TUE)
Reeleio de Fernando
Henrique Cardoso,
presidente do Brasil
2003
Queda do Muro
de Berlim
1989
1996
Promulgao da nova
Constituio Brasileira
1994
1991
1988
1982
SC. XX
Sistematizao da Tecnologia
Arte Despertar
Renovao da parceria com a
Secretaria da Sade da Prefeitura
Municipal de Guarulhos
Implantao da Tecnologia Arte
Despertar para profissionais
da sade nos Hospitais
Municipais da Criana e de
Urgncias em Guarulhos
Implantao da Tecnologia
Arte Despertar para profissionais
da sade no Hospital Nossa
Senhora de Lourdes
Incio de atividades formativas
em cursos tcnicos de
enfermagem na Escola Nossa
Senhora de Lourdes
Incio da parceria com
o Hospital e Maternidade
So Lucas, em Diadema
A NOO DE RESPONSABILIDADE
SOCIAL EM PERSPECTIVA HISTRICA
A CINCIA DESCREVE AS COISAS COMO SO; A ART E COMO SO SENTIDAS, COMO SE SENTE QUE SO.
Fernando Pessoa
01 I 02
01 I 02
O que me surpreende
o fato de que, em
nossa sociedade, a arte
tenha se transformado
em algo relacionado
apenas a objetos e no
a indivduos ou vida;
que a arte seja algo
especializado ou feito
por especialistas que
so artistas.
Entretanto, no poderia
a vida de todos se
transformar numa obra
de arte?
Por que deveria uma
lmpada ou uma casa
ser um objeto de arte, e
no a nossa vida?
(FOUCAULT, 1995, P. 261)
54 I 55
Esta comunicao se tornou cada vez mais necessria medida que aumentaram as chances
de falar outras lnguas, de ser diferente das
demais pessoas dos prprios grupos. A partir
de uma determinada poca da histria da humanidade, ampliaram-se as possibilidades de
divergncias na construo pessoal de valores
e vises de mundo distintos do restante do
grupo de pertena. A reflexo sobre esta questo de coexistncia de diferentes estilos de vida
por parte de membros de uma mesma coletividade caro Sociologia, uma vez que, ela mesma, justamente, surge como uma cincia que
se prope a problematizar sobre a sensao de
crise causada pelos eventos constituintes do
perodo conhecido como Modernidade. Neste
momento, marcado sobretudo por revolues
(Revoluo Industrial, Revoluo Francesa,
por exemplo) e pelas consequncias da perda da capacidade da tica religiosa influenciar
outras reas da vida coletiva, que, a partir de
ento, puderam ter funcionamentos prprios.
A linhagem familiar de origem, o gnero e a posio social deixaram de ser atributos decisivos
na constituio identitria das pessoas, que, a
partir da Modernidade, ganharam maior autonomia e mobilidade para jogar com as influncias coletivamente herdadas.
A necessidade de formao especializada
para produo industrializada e o aumento
de trocas com diferentes grupos propiciados
56 I 57
58 I 59
60 I 61
01 I 02
01 I 02
01 I 02
No mais limitada
tarefa de anlise da
beleza, nos tempos
contemporneos,
a Esttica amplia
seu campo de
questionamento
acerca da natureza
do objeto de Arte e
do carter de sua
criao, apreciao,
interpretao,
avaliao, assim
como acerca das
relaes da Arte
com a sociedade,
tudo isto podendo
ser examinado em
diferentes nveis
de complexidade
DONALD CRAWFORD
68 I 69
SEQUNCIA 1
LER
FAZER
CONTEXTUALIZAR
SEQUNCIA 2
FAZER
LER
CONTEXTUALIZAR
SEQUNCIA 3
CONTEXTUALIZAR
FAZER
LER
SEQUNCIA 4
LER
CONTEXTUALIZAR
FAZER
SEQUNCIA 5
CONTEXTUALIZAR
LER
FAZER
SEQUNCIA 6
FAZER
CONTEXTUALIZAR
LER
No h um procedimento dominante ou hierrquico na combinao dessas aes e seus contedos. Ao contrrio, vale mais o conceito de pertinncia na escolha, enfatizando sempre a coerncia entre os objetivos e
os mtodos. Em vista disso a organicidade e flexibilidade no arranjo da
proposta pedaggica tambm so importantes.
70 I 71
A Figura 3 atribui cores s trs grandes formas de pensamento. A Figura 4 representa por formas as aes constitutivas da Construo de
Conhecimento em Arte.
Esses fundamentos tericos deram sustentabilidade para as aes da Associao Arte Despertar.
Nos anos seguintes, a ao e a reflexo a respeito da prtica deram consistncia metodolgica ao seu fazer, da derivando-se a qualidade que
poder ser apreciada ao longo desta publicao comemorativa dos 10
anos de sua existncia.
Figura 3
Figura 4
Figura 7
Quanto Abordagem Triangular, tornou-se o paradigma do ensino contemporneo de Arte, j que permite estreita inter-relao entre os sujeitos
e a Arte, atualizando tambm sua dinmica e importncia sociocultural.
Por isso, para realizar um balano das aes desenvolvidas pela Associao Arte Despertar, possvel propor algumas questes decorrentes da
escolha terico-metodolgica:
Qual a compreenso que a Associao Arte Despertar desenvolveu a respeito desta abordagem de ensino de Arte e como ela foi operacionalizada
nas vrias aes realizadas desde o incio?
Tal compreenso est presente em todas as linguagens artsticas?
Houve mudanas ao longo do tempo? Quais?
Figura 5
Figura 6
Figura 8
72 I 73
01 I 02
01 I 02
UM POUCO DE NS
MARIA ANGELA DE SOUZA LIMA RIZZI
MARIA HELENA DA CRUZ SPONTON
01 I 02
Despertar a
potencialidade de
indivduos por meio
da arte e da cultura,
possibilitando o
exerccio de aes
transformadoras
MISSO
80 I 81
MARCOS KISIL
GOVERNANA INSTITUCIONAL
Seis meses mais tarde, em 15 de janeiro de 1998, constituda juridicamente, criou-se a Associao Arte Despertar, organizao sem fins lucrativos, cuja misso despertar a potencialidade de indivduos por meio
da arte e da cultura, possibilitando o exerccio de aes transformadoras.
Ao adotar a arte, a educao e a cultura como pilares de sustentao do
seu fazer, a Arte Despertar passou a difundir valores que explicitam suas
principais convices:
Para adquirir a forma de Associao, foi necessrio produzir um Estatuto, que determinou as diretrizes reguladoras da ao da Arte Despertar;
constituir conselhos e diretoria; alm de investir na probidade e iseno
de seu sistema de governana.
Inicialmente participaram da instituio pessoas que, de alguma forma,
haviam contribudo para a sua criao. Estes, conforme o Estatuto, constituram os Associados Fundadores. Tambm se criaram as categorias
Associados Benemritos e Associados Contribuintes, e foram definidas
as competncias dos Associados: respeitar, observar ou alterar o Estatuto Social, eleger conselheiros, destituir dirigentes, verificar as contas,
deliberar sobre as demonstraes financeiras e transaes patrimoniais
importantes e extinguir a Associao.
Da mesma forma, instituiu-se o Conselho Consultivo e o Conselho Fiscal, compostos por membros voluntrios, dispostos a aceitar a responsabilidade de assegurar a realizao do compromisso social da Associao
Arte Despertar e de zelar por sua integridade moral e tica.
Desde ento, para viabilizar uma governana saudvel e garantir a sustentabilidade da instituio, todos os conselheiros disponibilizam tempo, ex-
82 I 83
Um momento simbolicamente importante do processo de criao institucional foi a escolha de uma logomarca capaz de sintetizar as propostas
da Arte Despertar. Inicialmente, a forma de uma clula bem definida
e orgnica se colocava acima do nome da Associao, escrito por extenso, em destaque. Mais tarde, a logomarca foi modificada, subtraiu-se
a palavra Associao para demonstrar a consolidao da instituio e,
mantendo a organicidade, deu-se destaque clula. Esta passou a sugerir
movimento, traduzindo a evoluo institucional como um caminho que
aponta, simultaneamente, para a continuidade e a mudana.
perincia e competncia, de modo a manter a viso estratgica institucional, analisar relatrios, avaliar questes jurdicas, financeiras ou contbeis.
A tarefa do Conselho Consultivo cuidar do desenvolvimento da Associao, aconselhar, orientar e indicar os melhores meios de manuteno
das polticas e da misso institucional. J o Conselho Fiscal responsvel
por verificar a administrao contbil, fiscal e financeira, mediante anlise
de informaes ou documentaes e emisso de pareceres.
As ferramentas usadas para o desenvolvimento das aes de governana so assembleias e reunies. Dada a relevncia dessas aes para
a gesto institucional, so preparadas pela equipe administrativa e validadas pela direo.
As pginas que seguem mostram que, desde as primeiras iniciativas, desenvolvidas por uma pequena equipe, at os atuais projetos, mais complexos e abrangentes, houve sempre compromisso com o desenvolvimento humano, a valorizao do indivduo por meio da arte e cultura
e o favorecimento de acesso a bens culturais. Os avanos, conquistas,
enfrentamento de dificuldades e superao de obstculos empreendidos
durante uma dcada colaboraram para a construo de saberes que esto
aqui registrados.
Os assuntos operacionais so delegados Diretoria e Equipe Administrativa da Arte Despertar. A Diretoria composta por trs membros: um
diretor-presidente e dois diretores. A ela compete interagir com os Conselhos e a Equipe Administrativa, alm de responsabilizar-se por elaborar e
implementar todos os processos operacionais e financeiros da Associao.
A Equipe Administrativa, composta por trs gerncias (financeira, de projetos e de produto) e estagirio, responsvel pela execuo dos projetos.
Ainda, para assegurar a credibilidade e transparncia da Arte Despertar,
desde o ano de 2004, realiza-se uma auditoria externa, com o intuito de
submeter os controles internos da organizao a uma validao.
Todos os atos de governana tm como finalidade, desde a origem, favorecer o cumprimento do papel social da Arte Despertar, cujo objetivo
levar seus participantes a despertarem para si prprios e para o universo
cultural em que esto inseridos e a que tm direito. Com base nisso, a Associao desenvolve iniciativas de insero social em espaos educativos
no formais e de sade.
84 I 85
86 I 87
O tempo modifica as pessoas, a sociedade, o planeta. A tnica da existncia humana, na contemporaneidade, a mudana. Entretanto, na perspectiva institucional, alguns princpios sempre serviram de base para a ao
da Arte Despertar: a conscincia tica, a solidariedade, a cidadania, o respeito, a autonomia e a valorizao humana. Por se constituir como instituio do Terceiro Setor, a Associao compartilha com as demais a ideia
de que o desenvolvimento das questes sociais e culturais tarefa de toda
a coletividade e de cada indivduo, j que ferramenta de transformao.
Em decorrncia, procura integrar segmentos diversos, constituindo uma
rede de parcerias comprometidas com aes de responsabilidade social.
Nas escolhas institucionais, arte e cultura tm um papel importante no
processo de acolhimento, reinsero e reestruturao da sociedade. Desde as primeiras aes, houve interesse em possibilitar interao entre
pessoas, envolvendo-as em processos arte-educativos e culturais capazes
de fortalecer diferentes formas de humanizao, incluso social, reflexo,
comunicao, expresso e construo de conhecimento.
Reconhecemos que
a arte representa a
apoteose cultural de
uma sociedade, mas
reservamos um espao
bem pequeno para a
sua aprendizagem nas
instituies culturais.
Por qu?
ANA MAE BARBOSA
88 I 89
Por isso, ao atuar nesse campo, a Associao contribui para avanos significativos em aes de responsabilidade social, uma vez que amplia espaos de criao e dilogo atravs da arte e da cultura, favorecendo, por
meio delas, o estreitamento das relaes humanas.
Entre as caractersticas dos projetos que desenvolve e que os torna singulares, est o deslocamento da equipe de arte-educadores para os espaos
de ao: comunidades e hospitais nos quais a arte e a cultura fazem diferena. Tambm relevante destacar que as relaes interpessoais oportunizadas pela ao institucional favorecem a aprendizagem pela experincia, a descoberta dos talentos de cada um, e investem na experimentao
e na expresso da sensibilidade por meio das linguagens da arte.
Os conceitos e escolhas subsidirias das aes da Arte Despertar se
apoiam em pressupostos que situam a arte como atividade criativa que
demanda experimentao, apreciao e interpretao de diferentes cdigos, por meio dos quais os seres humanos buscam se comunicar e atribuir
sentidos ao mundo. Em vista disso, princpios organizadores da ao institucional, apresentados a seguir, foram desenvolvidos por suas equipes
arte-educativas e orientam suas prticas.
ARTE TRANSFORMAO
A arte pode elevar o homem de um estado
de fragmentao a um estado de ser ntegro,
total. A arte capacita para compreender
a realidade e ajuda no s a suport-la
como a transform-la, aumentando-lhe
a determinao de torn-la mais humana
e mais hospitaleira para a humanidade.
A arte uma realidade social. A sociedade
precisa do artista, este supremo feiticeiro,
e tem o direito de pedir-lhe que ele seja
consciente de sua funo social. Mesmo
o mais subjetivo dos artistas trabalha em
favor da sociedade. Pelo simples fato de
descrever sentimentos, relaes e condies
que no haviam sido descritos anteriormente
[...], representa um impulso na direo de
uma nova comunidade cheia de diferenas
e tenses, na qual a voz individual no se
perde em uma vasta unissonncia.
ERNST FISCHER
90 I 91
ARTE CIDADANIA
O movimento do mundo palavra e da palavra
ao mundo est sempre presente. Movimento
em que a palavra dita flui do mundo mesmo
atravs da leitura que dele fazemos. De
alguma maneira, porm, podemos ir mais
longe e dizer que a leitura da palavra no
apenas precedida pela leitura do mundo, mas
por uma certa forma de escrev-lo ou de
reescrev-lo, quer dizer, de transform-lo
atravs de nossa prtica consciente.
PAULO FREIRE
92 I 93
Aprende-se quando se quer aprender e s se aprende o que significativo, dizem os construtivistas. Paulo Freire tambm foi um dos criadores
do construtivismo, mas do construtivismo crtico. Desde suas primeiras
experincias no nordeste brasileiro, no incio dos anos 60, buscava fundamentar o ensino-aprendizagem em ambientes interativos, atravs
do uso de recursos audiovisuais. Mais tarde reforou o uso de novas
tecnologias, principalmente o vdeo, a televiso e a informtica. Mas
no aceitava a sua utilizao de forma acrtica.
Para Jean Piaget (1974), atravs de aes, o sujeito extrai o conhecimento.
O pesquisador suo apregoa uma educao inovadora, ativa, que motive
aquele que aprende a realizar descobertas e se ver como parcela relevante
no processo de ensino-aprendizagem.
A nfase na natureza social humana, atribuda ao russo Lev Vygotski
(1991), completa a concepo sociointeracionista e construtivista adotada pela Arte Despertar. Embora, em linhas gerais, haja mais divergncias
que convergncias entre Piaget e Vygotski, ambos entendem o conhecimento como adaptao e como construo individual, concordando
que a aprendizagem e o desenvolvimento so autorregulados. Enquanto
Piaget se interessa pela forma como o conhecimento construdo da
sua teoria se debruar sobre a construo mental do indivduo -, Vygotski
destaca a maneira como os fatores sociais e culturais influenciam o desenvolvimento intelectual de quem aprende.
Piaget destaca os aspectos biolgicos no processo de educao. Para ele,
os estgios do desenvolvimento da inteligncia esto apoiados na biologia e so idnticos em todos os seres humanos. Do mesmo modo, a aquisio do conhecimento ocorre por meio de trocas e interaes com o objeto a conhecer. O indivduo reconstri o objeto, para se apropriar dele e
dar-lhe significados, primeiramente pela ao, depois, pela representao.
94 I 95
ARTE EDUCAO
Somente uma educao que fortalece a
diversidade cultural pode ser entendida
como democrtica. A multiculturalidade
o denominador comum dos movimentos
atuais em direo democratizao
da educao em todo o mundo. (...)
A preocupao com o pluralismo cultural,
a multiculturalidade, o interculturalismo
leva necessariamente a considerar e
respeitar as diferenas, evitando uma
pasteurizao homogeneizante.
ANA MAE BARBOSA
arte, o prprio conceito pode diferir de acordo com os valores e a forma de insero na vida de cada um.
Em qualquer situao, entretanto, vale destacar que o pensamento e o
sentimento esto presentes, pois, como diz Fayga Ostrower (1987, p.39),
o criar um processo existencial, no lida apenas com pensamentos,
nem somente com emoes, mas se origina das profundezas do nosso
ser, onde a emoo permeia os pensamentos ao mesmo tempo em que
a inteligncia estrutura e organiza as emoes. A ao criadora d forma, torna legvel, inteligvel o mundo das emoes.
Ao considerar o poder transformador da arte, bem como as condies
que ela possui de proporcionar vivncias culturais, em especial junto s
populaes socialmente vulnerveis ou queles que se encontram hospitalizados, a atuao da Arte Despertar, por meio de ao arte-educativa
no formal, amplia a possibilidade de colaborar para a conquista da cidadania e a elevao da autoestima dessas populaes.
Suas prticas envolvem sempre ao, articulao com as realidades representadas e reflexo, formatando uma metodologia cujo desenvolvimento universaliza o direito arte e cultura e procura realizar cada
procedimento como etapa vivenciada de um processo de aprendizado
e aprimoramento pessoal dos que dele participam.
96 I 97
Para criar, o ponto de partida a realidade, mas tambm preciso mobilizar experincias anteriores, a histria pessoal e cultural, determinada
pelo tempo e o espao, e recorrer a diferentes artifcios que deem novos
significados ao que se v, rememora ou sente. O mesmo percurso cumprido pelo espectador ao apreciar a arte, pois ele atribui sentidos ao que
v, ouve ou l, a partir de seu universo prximo. Este conhecimento, organizado atravs de sistemas simblicos, pode se expressar por imagens,
gestos, palavras, sons, formas que constituem as linguagens atravs das
quais o ser humano interroga o mundo que o rodeia.
98 I 99
100 I 101
102 I 103
o processo perceptivo e despertam em seus interlocutores o interesse por registros de identidade e pertencimento. Em consequncia, na
interao entre espectador e objeto, ou entre
produtor e sua obra, as informaes so captadas pelo corpo, as sensaes so assimiladas
antes de se tornarem reflexo.
Por isso h interao entre os participantes
das aes da Arte Despertar, pois h contato entre diferentes formas de ver o mundo e
desfrutar emoes. Nesse contexto, conscientizar-se da prpria reflexo exerc-la como
uma prtica, abrindo perspectiva para a transformao. tambm uma forma de ser e estar
sensvel aos prprios pensamentos, deixandose afetar por eles.
A sensibilidade, entretanto, no s a capacidade de perceber, mas tambm de interpretar
sensaes, ampliando as condies de leitura. Nesse sentido, nas iniciativas promovidas
pela Arte Despertar, todos so, simultaneamente, aprendizes e educadores. Por isso, ao
definir espaos de ao ou temas a serem
desenvolvidos, as linguagens da arte e da cultura, veculos de atuao da Arte Despertar,
so tambm vividas pelos mediadores, e todos, simultaneamente, aprendem e ensinam,
propem e participam, questionam e argumentam, sensibilizam e sensibilizam-se com
seu fazer.
MEDIADORES DA AO
O ser humano inclinado por natureza,
inexoravelmente, a estabelecer vnculos
com os outros e a se relacionar com
os demais, j que encontra neles uma
referncia inevitvel para apoiar sua
incompletude original. Graas a esses
contatos em nossa existncia, chegamos
a ser o que somos. Existimos coexistindo,
apesar de nossa vontade, inclusive.
GIMENO SACRISTN
104 I 105
Nesse sentido, o arte-educador tambm um mediador, um facilitador, a quem cabe valorizar o repertrio e a identidade das pessoas,
criando situaes que convoquem uma participao ativa, em que aspectos novos sejam agregados para promover o enriquecimento e ampliao cultural e possibilitar que os envolvidos se reconheam como
produtores de conhecimento.
ESPAOS DE AO
RAFAEL ALEXANDRE GOMES,
MOSTEIRO SO GERALDO
106 I 107
108 I 109
Comunidades
110 I 111
cimento, com potencial de apontar projetos de futuro, pois as aprendizagens realizadas promovem a reflexo a respeito das alternativas de
mudana. Assim, em vez de pessoas habituadas ao estado atual das coisas, a Arte Despertar aposta na formao de cidados dispostos a se
envolverem a fundo em aes capazes de transformarem a sociedade
para melhor.
A cada encontro, em cada oficina, independentemente do lugar,
possvel desencadear o processo criador dos educandos e tambm
dos arte-educadores. Os encontros, ento, se tornam significativos,
ampliam o conhecimento de si e do mundo, e podem ter como culminncia uma exposio de trabalhos de artes visuais, a produo de
um livro de poemas, a narrao da histria do lugar ou a gravao
de um CD de msica.
Hospitais
112 I 113
METODOLOGIA DE AO
O trabalho desenvolvido pela Arte Despertar nos hospitais procura levar arte e cultura para todos indiscriminadamente, articulando palavras,
imagens e sons. As atividades arte-educativas atuam como estimuladoras
do lado saudvel e criativo dos pacientes, favorecendo a expresso de
individualidades e ampliando sensibilidades. A experincia esttica instiga olhares, pensamentos individuais e coletivos, aprofundando formas
de ver, ouvir e sentir o mundo ao redor. Nesse contexto, arte e cultura
atuam como instrumentos mediadores do dilogo entre o ser humano e
a realidade apresentada.
As regras rgidas dos ambientes hospitalares muitas vezes impem algum
estranhamento interveno da Arte Despertar e, em vrias ocasies, foi
necessrio tempo at o entendimento da proposta. Entretanto, medida
que a ao se desenvolvia, seu efeito era percebido e a interao entre as
equipes se estreitava, ocasionando at mesmo atividades conjuntas ou
demanda por parte do profissional da sade de atendimento a pacientes
mais necessitados.
Ainda que tenham um sentido mais genrico, os quatro pilares da educao, presentes no relatrio de Jaques Delors, tambm so contemplados nas aes da Arte Despertar em hospitais, j que elas fortalecem o
indivduo e melhoram a autoestima, sendo, portanto, mobilizadoras do
aprender a ser; estabelecem um dilogo e transformam o ambiente
pela introduo de objetos pessoais, fotos, desenhos, que valorizam o
aprender a conviver; exercitam novas maneiras de ver, tocar, ouvir,
medida que a Associao realiza suas aes, vai construindo uma metodologia decorrente da preocupao de assegurar que as prticas repercutam suas escolhas tericas e possam ser replicveis em diferentes espaos.
Nesse sentido, seja em comunidades ou em hospitais, h interesse em
se apropriar do que acontece no entorno para, ento, planejar atividades
que faam sentido para os diferentes sujeitos envolvidos e estejam apoiadas nos pressupostos tericos antes enumerados.
Esse percurso, organizado a partir da realidade definida pelos parceiros,
tem reflexo nos contedos e nas linguagens da arte abordadas nos projetos, orienta o planejamento das aes e das atividades arte-educativas
levadas a diferentes espaos e pblicos, por meio de atendimentos, sensibilizaes pontuais, oficinas e vivncias, capacitaes, cursos, palestras
ou visitas a instituies culturais.
Todo trabalho planejado, executado e avaliado pela equipe Arte Despertar, constituda, como j se disse, por arte-educadores, pedagogos e
psiclogos, com suporte administrativo.
A metodologia de interveno social que faz uso das linguagens da arte
desenvolvida pela Arte Despertar retoma a viso triangular apresentada
por Ana Mae Barbosa. Ela aborda o objeto ou ato artstico, explora a
compreenso do contexto histrico em que o objeto ou ato foi produzido e estimula o fazer artstico, por meio de experincias significativas,
ressignificando o lugar da arte na vida de cada um.
114 I 115
Comunidades
116 I 117
A Fada e o Violeiro
Em dezembro eu estava na sala de espera do Hospital das Clnicas,
enquanto minha irm era submetida a um cateterismo. Eu estava cansada como
todos ali, o rosto das pessoas j apresentava marcas da espera, o humor exaltado.
Os mdicos faziam tudo para atender da melhor forma possvel, tambm estavam
cansados e, por mais que tentassem ser gentis no conseguiam satisfazer a todos,
tambm pareciam exaustos. Algumas pessoas mais impacientes reclamavam da
demora, do cansao, do calor, da fome, de tudo! O rosto fechado de cada um com
seus problemas. Nenhum sorriso naquele ambiente. L no fundo comecei a ouvir
uma msica, uma voz muito afinada, olhei para trs, pude ver aquela garota de um
metro e sessenta, olhos castanhos, cabelos curtos e encaracolados, acompanhada
por um violeiro dos olhos azuis como o cu, lembro que tocavam msicas natalinas.
Parecia mgica, as pessoas comearam a sorrir aliviadas, a pequena Fada foi
cantando Asa Branca, Quinem Jil e assim por diante. O Violeiro cantante
chamava todos para acompanh-los na cantoria. Aqueles olhos azuis iluminavam o
sorriso da Pequena, que usando um miniacordeom, cantava. Tocavam e cantavam
como crianas que brincam em um parque de diverses. O rosto das pessoas, o
ambiente, tudo estava iluminado. Os mdicos, os pacientes, os familiares, todos
cantarolando e sorrindo, como se o dia tivesse acabado de comear. Os dois saram
contentes e cantando como os anjos que acompanham as crianas, deixando em
cada rosto o sorriso. Levaram todo o cansao e apatia do ambiente. No satisfeita,
corri at eles, perguntei seus nomes e peguei um folheto, precisava de uma prova
de que realmente no estava sonhando, de que existem pessoas como aqueles
anjos, como a Fada e o Violeiro!
Espero que este trabalho continue sempre. Parabns pequena Fada, parabns
Violeiro. Vocs realmente conseguiram despertar o melhor do ser humano!
LOUISEANNE RGO BALDEZ, ACOMPANHANTE NO INCOR
118 I 119
120 I 121
Hospitais
As aes nos hospitais sempre envolvem duplas de arte-educadores, preferentemente de diferentes linguagens, o que amplia o horizonte de expectativas e alarga o leque de conhecimentos dos participantes. O planejamento tem a sustentao de profissionais das reas de pedagogia e
psicologia, fundamentais na estruturao e fortalecimento de vnculos
com os parceiros e com o grupo atendido, assim como em todos os demais encaminhamentos necessrios ao xito da ao.
interesse pelas artes como forma de conhecimento, interpretao e expresso do ser humano sobre si e sobre o mundo que o cerca;
122 I 123
Nos espaos do ambulatrio, que costumam ter um pblico de diferentes procedncias aguardando atendimento, as linguagens musical e
literria so as mais adequadas, desde que apresentem repertrio compatvel com a procedncia do grupo. O mesmo acontece no saguo
de entrada dos hospitais e em outros locais com grande trnsito, que
requerem propostas coletivas.
As aes da Arte Despertar tambm intervm junto aos profissionais da sade, possibilitando que conheam, vivenciem, apreciem
e contextualizem a arte. Esses profissionais experimentam alternativas dinmicas e sensveis que minimizam o efeito estressante do
ambiente em que atuam e exercitam um novo olhar sobre o espao
cotidiano de trabalho.
As intervenes realizadas pela Arte Despertar em hospitais possuem
o objetivo de socializar diferentes culturas com pacientes, familiares
e profissionais da sade pelo resgate e valorizao de razes culturais
e pela ampliao de horizontes e repertrios artsticos. Desse modo,
elas contribuem para disseminar a humanizao hospitalar, otimizando potencialidades e aspectos saudveis dos beneficirios envolvidos
com a Associao.
CONTEDOS DA MEDIAO
124 I 125
Comunidades
linguagem artstica artes cnicas: teatro; conscincia e movimento corporal; organizao espacial; exerccio do imaginrio; jogos e brincadeiras corporais; comunicao verbal e no verbal; desinibio;
linguagem artstica artes visuais: exposies; pintura; gravura; escultura; desenho; artes plsticas;
Hospitais
126 I 127
Relatrio de arte
Ao iniciar o curso de Artes, no acreditava que o mesmo pudesse ajudarme a melhorar minha prtica cotidiana enquanto educador.
Foi difcil compreender de que forma as diversas abordagens artsticas ali
tratadas poderiam subsidiar meu trabalho como educador, com crianas
de 6 a 15 anos, com expectativas e interesses bastante diferenciados.
medida que fui me apropriando dos conceitos e abordagens, comecei a estabelecer
relaes entre a prtica educativa, as diferenas individuais e a importncia
da expresso artstica para o desenvolvimento da criatividade humana.
Considerando-se que a arte est muito presente no cotidiano, embora
nem sempre seja percebida, um bom exemplo quando ao acordarmos
olhamos no espelho e, utilizando os padres com os quais nos identificamos,
elaboramos nosso desenho para iniciar o dia, ou quando observamos uma
obra de arte desenvolvemos nossa sensibilidade ao atentarmos para o
sentimento que o artista expressa atravs das cores, sombras, luz, etc.
Sei que preciso aprender muito ainda sobre a importncia da arte. No entanto,
gostaria de deixar registrado que o curso da Arte Despertar trouxe-me contribuies
valiosas medida que fui aplicando os conhecimentos adquiridos em minha prtica,
podendo observar que apesar das expectativas e interesses diferenciados para cada
faixa etria, as expresses e criaes produzidas pelos educandos favoreceram
no s o desenvolvimento da criatividade, como tambm possibilitaram um melhor
relacionamento entre eles, os quais, mais tolerantes e sensveis, passaram a
observar a arte sob um outro olhar, agora pautado no respeito pelo diferente.
PEDRO JOO DA SILVA, ASSOCIAO SANTO AGOSTINHO
128 I 129
COORDENAO PEDAGGIGA
Algum s se torna
marceneiro tornandose sensvel aos signos
da madeira e mdico
tornando-se sensvel
aos signos da doena
GILLES DELEUZE
130 I 131
grador, com clareza de objetivos e propsitos e com um espao de autonomia profissional. Por isso, no exerccio de sua funo, a coordenao
pedaggica produz a articulao crtica entre os arte-educadores e seu
contexto de atuao, entre os pressupostos tericos e a prtica, investindo em um processo, ao mesmo tempo, formativo, emancipador, crtico
e comprometido, como j se viu anteriormente, ao caracterizar os arteeducadores como mediadores da ao.
Nesse sentido, cabe coordenao pedaggica organizar espaos, tempos e processos que considerem que as prticas precisam corresponder
aos pressupostos tericos que as organizam e que esto em constante
processo de redirecionamento, com vistas a se assumirem em sua responsabilidade social e crtica.
Em vista disso, a coordenao pedaggica, com os demais participantes da equipe, seleciona, organiza, analisa criticamente e observa a possibilidade de reconstruo de valores, conhecimentos, crenas e hbitos
apreciados pelo pblico beneficiado pela ao da Arte Despertar, atravs
de reunies de trabalho coletivo. Juntos, todos procuram viabilizar que,
apoiados em vivncias anteriores, os beneficirios se envolvam em situaes que ampliem seus horizontes de expectativas e interesses, proporcionando outras experincias, avanos cognitivos e o estabelecimento de
novas relaes com o contexto.
Ao problematizar e agregar conhecimento tcnico aos procedimentos das aes planejadas em equipe, a coordenao pedaggica investe na possibilidade de promover aprendizagens em que ao e
expresso mostrem o que os sujeitos envolvidos no processo sentem, pensam e sabem, de modo a poderem ampliar a percepo de
si e do mundo.
ASSESSORIA PSICOLGICA
O suporte psicolgico da Arte Despertar contribui com aspectos relacionados ao ambiente, aos arte-educadores e, indiretamente, ao pblico a
quem se destinam as aes e ao contexto social e cultural.
A assessoria psicolgica atua como facilitadora e mediadora nos trabalhos da equipe de arte-educadores, fornecendo suporte psicossocial
frente s questes provenientes do ambiente de trabalho e das relaes
estabelecidas com seus beneficirios, tanto no hospital, com pacientes,
acompanhantes e profissionais da sade, quanto na comunidade, com
crianas, adolescentes e jovens. Ela cria possibilidades para que todos
percebam seus potenciais e suas limitaes e fortaleam seus relacionamentos interpessoais.
Uma leitura do espao a partir do olhar da psicologia procura compreender as situaes vivenciadas e fornecer dados relacionados ao perfil
do pblico a ser trabalhado. Da mesma forma, contribui na orientao
dos arte-educadores, para a interao com o pblico atendido e adequao das atividades.
Nos hospitais, aes simples, como chamar o paciente pelo nome, conhecer sua identidade e nvel sociocultural, podem assegurar respeito
identidade e histria pessoal de quem, devido internao, abandona a
rotina e papis sociais.
Tambm a escolha vocabular, adotando uma linguagem simples e acessvel, pode ser sinalizadora, na perspectiva de pacientes e familiares, da
disponibilidade para a interao, colocando todos mais vontade para
exporem medos, dvidas e questionamentos.
J nas comunidades, a assessoria psicolgica pode abrir espao para a
discusso de questes como violncia domstica, agressividade e dificuldades comportamentais.
132 I 133
MEDIAO ESPECIALIZADA
Cabe, tambm, psicologia, a flexibilidade, de acordo com a especificidade de cada projeto, a compreenso das caractersticas, dificuldades e potencialidades dos diferentes pblicos atendidos, respeitando os aspectos
psicossociais para a seleo e adequao dos contedos de acordo com
as necessidades apresentadas.
LGIA CORTEZ
Estas assessorias, formadas por profissionais de artes visuais, msica,
teatro e literatura, so responsveis pela referncia, estudo, pesquisa,
contedo, e repertrio da Arte Despertar. Elas disponibilizam acompanhamento e suporte tcnico, orientando os arte-educadores por meio de
encontros de assessoria e formao continuada.
Segundo depoimento de Stela Barbieri: Ns tnhamos reunies onde
aprendamos muito umas com as outras. Na poca, a Snia Silva era assessora de msica, a Lgia Cortez, de teatro, Maria Helena da Cruz Sponton, de artes plsticas, e eu de literatura. A reflexo do grupo era muito
potente. Coordenada pela Regina, a equipe era vigorosa, era um dilogo
comprometido com o trabalho realizado, discutamos as questes conceituais a partir da experincia vivida e dos desafios que se apresentavam
nos vrios contextos dos locais onde trabalhvamos. Para fazer a arte
acontecer, esbarrvamos em muitos pontos das outras instituies que
nada tinham a ver com a arte, mas que precisavam ser resolvidos para
no atropelar os processos delicados e sensveis que ocorriam nos encontros. Aprendi muito com o compromisso que cada pessoa tinha com
o trabalho. Acredito e espero que eu tenha deixado ali meu encanto pelo
universo cultural das vrias etnias.
134 I 135
A forma de associao com parceiros, a sistemtica e as rotinas de atuao adotadas pela Arte Despertar so caracterizadoras da prxis institucional e elementos que promovem o conhecimento da organizao e de
seu funcionamento.
SISTEMATIZAO DE PROJETOS,
ROTINAS DE ATUAO E AVALIAO
A parceria pode ser entendida como um compartilhamento de responsabilidades para alcanar um objetivo comum. Ela caracterizada
por respeito mtuo e disposio para negociar, o que implica repartir informaes, responsabilidades, habilidades, tomada de decises e
prestao de contas.
Parcerias
Sistematizao
Em todos os projetos, aspectos como o ambiente, o pblico, o contexto social e cultural, suas caractersticas e necessidades especficas
so prioritrios, desde o planejamento at o balano final. A pesquisa,
a anlise, a compreenso e a avaliao desses itens so realizadas sistematicamente por toda a equipe, reunindo saberes das vrias reas.
As aes desenvolvidas pela Arte Despertar decorrem de um fazer
coletivo, pautado por uma concepo arte-educativa organizada
para transformar as realidades em que atuam. Para isso, constituda por profissionais com formao especfica e experincia, e possui
uma organizao administrativa que est a servio dos objetivos que
quer realizar.
Seus projetos esto atentos a critrios pedaggicos que favorecem as
aprendizagens, oferecem assistncia didtico-pedaggica constante
aos arte-educadores, assegurando a realizao de reunies, espao
para a discusso sobre questes de interesse coletivo, troca de experincias, estudo sobre temas que melhorem a qualidade do trabalho
e articulem as diferentes linguagens da arte, de modo a favorecer o
desenvolvimento de aes.
Os projetos envolvem parceiros definidos, equipes diferenciadas e
um plano de ao compartilhado. Estruturam-se de modo a possibilitar a realizao dos seguintes instrumentos: plano de ao, relatos
semanais, planejamento semestral, avaliao processual e relatrios
semestrais e anuais.
136 I 137
Planejamento anual
o planejamento de todas as aes necessrias para o desenvolvimento
dos projetos a serem realizados no ano. o momento para identificar e
relacionar as prioridades de cada projeto e suas relaes com a instituio
parceira, com o pblico a ser atendido e as atividades a serem desenvolvidas, objetivando mais qualidade e eficincia nos resultados.
Aes culturais
So aes pontuais desenvolvidas pela equipe tcnica, com o propsito de apresentar a
metodologia, difundir e divulgar o trabalho
da Arte Despertar para diversos pblicos,
em momentos pertinentes aos objetivos da
Associao.
Planejamento semestral
Realizado em equipe pelos arte-educadores, coordenao pedaggica
e assessoria psicolgica, busca discutir contedos e objetivos, organizar
e estruturar as atividades arte-educativas e administrar a progresso do
planejamento para o semestre.
Consiste tambm em uma ao de desenvolvimento da competncia de
trabalho em equipe, anlise em conjunto de situaes de aprendizagem e
reflexo a respeito das diferentes prticas profissionais.
Os projetos da Associao Arte Despertar se realizam a partir das seguintes aes: atividades arte-educativas, sadas e aes culturais, reunies tcnicas e formativas.
Atividades arte-educativas
Realizadas nas linguagens das artes visuais, literatutura/contao de histrias, teatro e msica, planejadas e desenvolvidas por arte-educadores,
com possvel auxlio de monitores, tendo em vista despertar as potencialidades do indivduo por meio da arte e da cultura.
Rotinas de atuao
Reunies tcnicas
As reunies tcnicas constituem-se de troca de
saberes, por meio dos relatos individuais entre a equipe, caracterizando assim um espao
efetivo de reflexo e aprendizagem. Ocorrem
sistematicamente e possibilitam trabalhar os aspectos operacionais quanto organizao das
aes, ao acompanhamento e avaliao das
atividades desenvolvidas.
Sadas culturais
As sadas culturais tm como objetivo a ampliao ou aprofundamento de contedos
tratados durante as oficinas arte-educativas
e culturais. Esto diretamente ligadas ao
processo de trabalho e visam ao enriquecimento e complementao das aes vivenciadas na prtica semanal.
Reunies formativas
As reunies formativas visam ampliao e ao
enriquecimento do repertrio de toda a equipe.
Ocorrem trs vezes ao ano, mediante definio
prvia do tema a ser estudado. So fundamentais para a educao continuada, atualizao,
coeso da equipe, apropriao da metodologia
e da linha de atuao da Arte Despertar.
138 I 139
Registros
O registro realizado pelos arte-educadores um procedimento que permite acompanhar o trabalho, por meio de observao, depoimentos
e documentao de cada etapa desenvolvida. tambm o resultado
da leitura crtica sobre o fazer, com a inteno de relatar e aprimorar
aspectos que tenham facilitado ou dificultado o desempenho do planejamento e o alcance dos objetivos dos projetos. So tambm instrumentos de comunicao entre arte-educadores, coordenao pedaggica e
assessoria psicolgica.
Avaliao
Relatrios
Relatrios anuais
Realizam o fechamento e registro de todos os trabalhos desenvolvidos
ao longo do ano pela Arte Despertar, em que so demonstrados os
resultados quantitativos, qualitativos, depoimentos e ilustrao com
registros fotogrficos.
Relatrios semestrais
Contemplam o resumo dos registros preenchidos ao longo do semestre
pela equipe tcnica. Neles, a equipe manifesta pontos positivos, impasses
ou aspectos que necessitam de reformulao para otimizar as aes e
viabilizar a continuidade no prximo semestre. uma oportunidade para
realizar uma avaliao baseada em trs reas arte-educao, pedagogia e
psicologia que fundamentam a metodologia Arte Despertar.
140 I 141
142 I 143
DISSEMINAO DO CONHECIMENTO
PARA A SUSTENTABILIDADE
DA ARTE DESPERTAR
Os materiais elaborados at ento so organizados a partir de registros e do incio sistematizao da metodologia Arte Despertar.
Possuem foco na ampliao de repertrio e disseminao da metodologia e so documentados em vdeo e em multimdia.
A linguagem utilizada no material simples, concisa e objetiva, ressaltando os pontos essenciais da anlise e reflexo surgidas a partir
da prtica. A estrutura do Material de Apoio Arte-Educativo permite que ele transite em diferentes espaos de formao e seja utilizado com diversos pblicos, potencializando a ao institucional.
A articulao com as instituies parceiras, a troca de saberes, a socializao dos conhecimentos aprendidos e do material produzido
embasam a formao de uma rede. Esta constitui-se na meta maior e
necessria para assegurar a disseminao da metodologia Arte Despertar e sua sustentabilidade.
Este modelo de atuao realiza o objetivo de formao de multiplicadores da Associao, viabiliza e d continuidade ao aprendizado
e amplia o pblico atendido. Ao se tornar um multiplicador, o profissional percebe a necessidade de uma formao permanente e se
torna um parceiro na aprendizagem.
Outra forma compreendida como necessria para garantir a disseminao do conhecimento produzido consiste no registro, sistematizao e edio das atividades-eixo elaboradas, atravs da publicao de
um Material de Apoio Arte-Educativo. Este material possibilita
ao profissional dar continuidade e fortalecer sua prtica, recorrendo,
sempre que necessrio, fundamentao e/ou atualizao do contedo produzido.
144 I 145
146 I 147
01 I 02
01 I 02
01 I 02
154 I 155
Rogrio Magon
Instituto Fonte
Telma Sobolh
RGNutri
Paulo (GRAACC/UNIFESP)
Estdio Colrio
Valdir Cimino
Universidade Mackenzie
William Malfatti
Grupo Ultra
Grupo Fleury
da Universidade de So Paulo
Marcos Kisil
(InCor HCFMUSP)
de Misericrdia de So Paulo
da Universidade de So Paulo
ENTREVISTADOS
da Universidade de So Paulo
(InCor HCFMUSP)
156 I 157
158 I 159
160 I 161
ESTRUTURAO INSTITUCIONAL
162 I 163
164 I 165
ESTRUTURAO METODOLGICA
166 I 167
Eu sei que, primeiro, foi uma experincia maravilhosa ser convidada para
trabalhar na Arte Despertar. Eu no lembro direito como que foi, lembro
do meu primeiro contato com a Regina, atravs de amigos comuns, alguma
coisa assim. Eu fiquei muito animada e achei que aquele trabalho realmente
tinha uma conceituao e uma dedicao muito grande, muito legal.
Ento era para fazermos algumas coisas no hospital, isso foi o maior desafio
do mundo: o que fazer l? E tambm em um lugar chamado Aldeia SOS,
onde o trabalho estava se iniciando e o teatro foi uma das possibilidades.
LGIA CORTEZ
Um dos primeiros desafios foi formar a equipe, que comeou bem pequena,
depois se ampliou. (...)
A minha ao foi sempre junto aos educadores, tanto os que atuavam
em hospitais quanto os que atuavam nas comunidades trabalhando com
histrias da tradio oral. Ns procuramos sempre ativar um imaginrio
relacionado diversidade cultural, s vrias etnias, s festas sazonais, um
universo que dialogasse com a cultura de cada pessoa que encontrvamos.
Era um trabalho de dilogo entre vrias culturas. Eu fazia oficinas de formao
bastante intensas, em que estudvamos as histrias, vamos arte, ouvamos
a msica de uma mesma etnia. Tinha inteno de tecer uma viso abrangente
com vrios olhares para uma mesma cultura.
STELA BARBIERI
O grande desafio foi como chegar nessas crianas. O contato comeou a ser
em grupo, mas falvamos com cada criana. Num determinado momento,
comeamos a trabalhar com as mes, para elas entenderem, verem e
valorizarem esses trabalhos. Foi um grande aprendizado e um dado de
realidade muito difcil.
Logo depois fomos para Paraispolis, que foi um convnio com o Programa
Einstein na Comunidade de Paraispolis. Comeou muito pequeno, as
crianas divididas por idade, e l, por mais que as crianas tivessem falta de
recursos, elas tinham a estrutura da famlia.
LGIA CORTEZ
168 I 169
STELA BARBIERI
170 I 171
Mas o que eu vejo que esse desafio de trabalhar com uma pessoa que
est em uma situao diferenciada, seja porque no est podendo se
locomover, ou porque est com algum rgo do sentido prejudicado
momentaneamente, ou debilitada, deve exigir destes arte-educadores a
construo de procedimentos absolutamente singularizados para cada
situao. Ento, s vezes, aquele paciente est l, na semana seguinte pode
no estar. Voc nunca sabe, chegando l, com quem voc vai realmente
trabalhar e como a disponibilidade daquela pessoa naquele momento.
Tem gente em quimioterapia, s vezes em hemodilise, ou na UTI, ento
so situaes muito diferenciadas. Isso exigiu da equipe da Arte Despertar
uma formulao de princpios para criar estratgias de trabalho, no s do
procedimento com aquela pessoa que est sendo atendida, como tambm a
organizao do material da ao. O que levar, como levar, como acondicionar,
como preparar. Isso tudo foi uma criao do processo da Arte Despertar.
MARIA CHRISTINA DE SOUZA LIMA RIZZI
Mas, o mais importante, que a grande maioria das crianas que convivem
aqui no hospital nunca foi exposta a esse tipo de estmulo, ento ao dar a
elas uma iniciao cultura, notamos assim o interesse que muitas delas
tm. (...) Curar no mais o suficiente, queremos curar com qualidade
de vida, com insero social, com qualidade no sentido de que saia daqui
depois e tenha chance de achar um trabalho, um emprego, estudar e, se
possvel, que saia daqui com novas capacitaes, com novos estmulos,
que siga sua vida com um impacto favorvel, que esta doena no pare a
vida da criana. (...) Para mim, o conceito bsico de humanizao voc
tratar os outros como voc gostaria de ser tratado. Ento, como eu gostaria
de ter uma criana minha tratada dentro de um hospital? Qual a forma
que voc sente que importante para isto? E eu acho que isso evoluiu
muito, parece que qualquer coisa que voc desse antigamente estava bom,
porque a criana era menos favorecida. E o que a gente sentiu aqui com
nossa experincia que o contrrio. Ns somos solidrios, ns queremos
ser parceiros dessas famlias, a ideia resgatar, junto com outras ONGs, o
direito que a criana tem de ser atendida. Eu vejo isso na Arte Despertar, os
arte-educadores tm um dever muito srio a cumprir e so extremamente
objetivos com isso, ao passar ensinamento para essas crianas. (...) Ento
eu acho que esse modelo de humanizao, em que voc faz o tempo passar
dentro do hospital, amenizando a dor, amenizando o trauma, fundamental.
ANTONIO SRGIO PETRILLI
172 I 173
174 I 175
CENRIO
WILLIAM MALFATTI
176 I 177
Eu acho que ele tomou o espao da iniciativa pblica. O Terceiro Setor veio
ocupar essa lacuna de carncia e naturalmente surgiram distores, mas
existe um trabalho bastante laborioso, srio, porque ns temos contato
com outras ONGs e vemos que um trabalho bastante eficiente, que
desenvolvido por outros, que fazem o mesmo que ns. Naturalmente isso
no aconteceu somente no Brasil, mas aqui a desigualdade grande,
vemos que o campo muito frtil. Temos visto que pessoas que esto
abrindo uma ONG nos procuram, acabamos virando referncia.
JOS FERRAZ FERREIRA FILHO
178 I 179
MARCOS KISIL
180 I 181
ERROS E ACERTOS
VALDIR CIMINO
182 I 183
184 I 185
186 I 187
Bom, vou comear pelo que deixei. Deixei uma porta aberta, porque foi
bacana isso, eu sai da empresa e o projeto continuou, foi isso que provou
a legitimidade do projeto, que era da empresa, no meu. Foi porque ele era
qualificado e est l at hoje. E o que a Arte Despertar deu pra mim? Bom, me
ensinou a olhar a questo do aproveitamento da Lei Rouanet de uma forma
diferente. Eu tinha tido uma experincia anterior, quando aproveitamos
essa lei de uma forma grandiosa, mas de baixo impacto social. Confesso que
eu desacreditei sobre o projeto da Arte Despertar, e de fato conseguimos.
Quer dizer, eu acho que a Arte Despertar me ensinou a ver que a quantidade
financeira na mo no fator para voc se inserir em um projeto ou no.
Provou-se ali que com poucos recursos voc pode fazer um projeto relevante.
Outro fator foi ver o impacto de um projeto desses na comunidade. Porque, at
ento, eu nunca tinha entrado em uma favela e uma vez a Regina me convidou
para ir. A voc v que o projeto do Programa Einstein na Comunidade de
Paraispolis tem um alcance fabuloso, transformou aquela comunidade.
As pessoas que esto no entorno sabem que tm um ponto de apoio para a
sade, para a educao, para a escola, e um projeto para desenvolvimento
cclico e cultural. Voc v o impacto disso para uma comunidade, v que
as pessoas tinham cara de futuro, tinham cara de que estavam felizes,
de que tinham alguma coisa de melhor por vir l na frente. E elas exigem esse
respeito porque constituram ali uma comunidade. Voc v aquelas pessoas
evoluindo, cada vez mais organizadas, ganhando sua vida honestamente. H
uma viso muito equivocada do que favela, do que comunidade. Voc acha
que ali so pessoas sem perspectiva, pessoas perigosas, pessoas que no
tm uma atividade, esto ali a esmo. completamente diferente. Voc entra
l e v que todas as oportunidades que surgem ali as pessoas abraam. A Arte
Despertar me despertou para ver uma comunidade de forma diferente. uma
boa, porque eu acho que quem passa por isso comea a pensar melhor no que
favela e no que comunidade. E esse o grande ensinamento que tem ali.
Acho que a primeira rodada como instituio foi com uma empresa farmacutica, e o primeiro tombo tambm foi com ela, quando mudou o presidente
e mudaram os patrocnios tambm. Da a gente precisou correr atrs de outro.
DARIO FERREIRA GUARITA NETO
WILLIAM MALFATTI
HELOISA GUARITA PADILHA
188 I 189
FORMAO DE PARCERIAS
TELMA SOBOLH
TELMA SOBOLH
190 I 191
192 I 193
Acho que estamos num momento muito melhor do que dez anos atrs. Tem uma
curva de aprendizado a valiosa e tem projetos muito bons a serem olhados. Acho
tambm que as empresas esto mais conscientes de que precisam envolverse de alguma forma e este um dos grandes aprendizados que aconteceu.
A evoluo que houve foi que as empresas passaram a acompanhar melhor a
utilizao desses recursos e esse o grande avano. As empresas encontraram
oportunidades de inserir as pessoas nesses projetos. Para a marca
da empresa, l na ponta, faz bem, e para o esprito da empresa tambm. (...)
As empresas esto colocando essas questes como metas corporativas.
SUSTENTABILIDADE
Quando voc doa para um hospital, por exemplo, eu sei que foi para uma
finalidade especfica. Assim, para a Arte Despertar, pensamos em diferentes
formas para isso e foi criado um fundo especfico, do qual sairia uma verba
para a Associao. Uma parte desse rendimento seria voltada sempre para ela,
independente da variao. E isso funcionou bem, ou seja, com retirada duas
vezes ao ano. um valor que tem importncia para a Arte Despertar e temos
o compromisso de continuar com ele. Em primeiro lugar, o modelo precisa
ser sustentvel. No adianta voc ganhar cinco mil reais de salrio e querer
doar quatro, porque no vai funcionar. Tem que ser algo verdadeiro, que caiba
no oramento. Assim, para o modelo ser bem feito, preciso estipular um
nmero fixo. Alm disso, como o fundo no agressivo, quando pensamos em
longevidade preciso pensar em moderao, ou seja, com uma rentabilidade
boa, mas sem correr muito risco, j que desse fundo voc ter um ganho do
qual ser retirado um percentual estabelecido previamente.
Por isso, manter tudo dentro de uma estrutura conservadora o que faz dar
certo. Podem ser valores muito grandes ou pequenos, o importante que a conta
esteja dentro de uma realidade familiar ou individual e que tenha durabilidade.
HELOISA GUARITA PADILHA
194 I 195
Ficamos entre a cruz e a espada por ter os ovos em uma s cestinha, porque
se algum parceiro muda de ideia, o que eu vou fazer? Ento, muitas vezes se
perde, e as maiores angstias so sempre quando revalidamos um contrato.
O sofrimento de ficar sem dinheiro passamos todo ano, normal. Vamos
consolidando a credibilidade a partir do momento que esses investidores veem
resultado e se sentem participativos, a partir do momento que a empresa vem
buscar resultados positivos com as organizaes.
VALDIR CIMINO
Essa foi sempre uma preocupao que eu coloquei para a Regina, porque
obviamente as empresas procuram se colar em um objetivo de imagem ao
fazer aes como essa, isso legtimo. O segredo est em saber como usar
isso, e sempre tivemos esta responsabilidade de no deixar o marketing
ser maior que a ao e no ter essa desproporo. O marketing uma
consequncia da grandiosidade do projeto. No queramos usar o projeto
como um trampolim para fazer uma propaganda. Tinha um envolvimento,
e o projeto era um exemplo para outras empresas, marcava presena na
comunidade e levava as crianas at a empresa para terem o trabalho delas
valorizado. Aumentamos o projeto para um CD e as crianas at gravaram
um em estdio.
WILLIAM MALFATTI
196 I 197
E eu tenho impresso que para essa nova fase da Arte Despertar esse ser
o grande mote.
JOS FERRAZ FERREIRA FILHO
198 I 199
Uma fora bem atual, est aqui a prova, que so vocs. Jovens empresrios que
esto chegando hoje na liderana das organizaes e que vm com uma outra
cultura, uma cultura diferente das geraes anteriores, que no se preocupavam
com essas questes, que viviam um outro perodo econmico, que no tinham
esse tipo de preocupao. Hoje, essa nova gerao de empresrios e executivos
j vm com essa cultura, j ouvem isso desde criana, j fazem parte da cultura.
Ento isso um ganho que vem de forma natural. Uma segunda fora muito
importante a sustentabilidade do planeta. Os empresrios esto vendo que
no adianta tapar o sol com a peneira, o planeta est consumindo o restinho dos
seus recursos, que se a gente no souber dar uma freada nisso e trabalhar de
uma forma mais humana, mesmo que deprede menos, no vai ter planeta para
uma prxima gerao. Ento essa uma fora que est impulsionando bastante,
ela pega inicialmente a questo ambiental, mas passa pela questo social
fortemente. E a terceira fora a sociedade. Que apesar de voc estar falando
que difcil mudar hbitos de consumo, pelo menos uma parte da sociedade j
sabe que no pode comprar aquele produto que no tem aquele selo e tal. Ainda
no uma mudana grande porque o mercado no se regulou dessa forma,
mas j existe um bom nvel de conscincia da sociedade para empresas que
atuam de forma correta. Ento eu acho que essas trs foras ajudam muito essa
questo e favorecem. E a quarta fora essa que voc falou, com a possibilidade
que vem no bojo da volta da democracia para o Brasil, a possibilidade de
expresso democrtica das associaes, das ONGs e tudo mais. Isso veio da
nova constituio para c. Antes de 1988, meia dzia de pessoas reunidas em
uma associao dava cadeia. Ns aqui, antes de 1988, seramos acusados de
comuna, de esquerda. Ento acho que isso veio da para c e mudando muito. A
sociedade, quer organizada ou no, j est de olho. Ainda incipiente? Claro, um
projeto novo, que no tem 20 anos. Mas j d sinais. Voc v que hoje no se fica
to impune como antes. Voc tem a sociedade e a mdia podendo se expressar,
as coisas no acontecem assim, sem que a sociedade fique sabendo. (...)
Eu no estou no dia-a-dia da organizao, eu no estou familiarizado com o
planejamento mais recente, mas eu vejo assim, tambm, como o Guilherme
est falando. o desafio da liderana, da sucesso, porque hoje so dez
anos de muito impulso da Regina. Que cara vai ter essa instituio daqui para
frente, como ela vai estar nos prximos anos? Como essa transio de um
perodo pioneiro para uma organizao mais madura, que tem o seu trabalho
vinculado com os princpios do pioneiro, mas sempre tendo uma gesto que
possa ser compartilhada por vrias pessoas? Acho que esse continua a ser
um desafio muito grande.
ROGRIO MAGON
200 I 201
01 I 02
NO SE DESCOBREM NOVAS TERRAS SEM CONSENTIR EM PERDER A PRAIA DE VISTA POR UM LONGO TEMPO.
Andr Gide
01 I 02
01 I 02
ONTEM
A Arte Despertar, na sua concepo, privilegiava crianas em comunidades de baixa renda e em hospitais.
Em seguida, naturalmente, foram engajados neste rol de beneficirios,
adolescentes, jovens e adultos. Adultos porque acompanhavam suas
crianas nos hospitais, e adolescentes e jovens porque se interessavam
pelas propostas de arte e cultura oferecidas nas comunidades.
A prtica social exigia responsabilidade, mas a persistncia surgia como
elemento imprescindvel na conquista de resultados.
A falta de modelos de gesto jurdica, financeira e social obrigava os profissionais envolvidos no dia-a-dia dos projetos a usar de muita criatividade na busca de boas estratgias e solues prprias.
S a mudana que
queres ver no mundo
Neste momento as aes da Arte Despertar se circunscreviam a um pblico ainda reduzido, porm engajado, fiel e observador em relao ao
carter transformador das propostas.
208 I 209
HOJE
AMANH
Daqui para a frente, aps anos de exerccio de uma prtica cujo objetivo
maior foi valorizar o indivduo, a Arte Despertar quer ampliar o espectro
de suas aes, atingindo e fortalecendo a quem mais precisa no apenas
na promoo de seus direitos, mas tambm na criao de um novo perfil,
do protagonista e do crtico experiente, capaz de favorecer o desenvolvimento social, o cidado!
Para tanto, a Associao pretende divulgar a Tecnologia Arte Despertar e implant-la onde haja espao para a transformao deste cidado, seja em ambientes de sade, de educao ou no meio empresarial,
cumprindo assim seu papel na criao de uma sociedade capaz de projetar um futuro promissor.
Esta evoluo retratada da Arte Despertar s foi possvel graas ao comprometimento de seus associados, conselheiros, diretores, parceiros, patrocinadores e profissionais da Associao, responsveis pela conquista
de resultados positivos. A estes deixo meu agradecimento.
Regina Vidigal Guarita
Diretora-presidente
210 I 211
OS PARCEIROS
01 I 02
OS PARCEIROS
A Associao Arte Despertar agradece a todos que acreditaram em sua causa e contriburam
para o seu crescimento, tornando seus projetos uma realidade.
Alessandra P. S. Peixoto
Alex Rosato
Cristiane Sayegh
Diana Matsumoto
Elisabeth Belisrio
Camila Miccas
Chake Erkizian
214 I 215
Gabriel Jnior
Graziela K. Kunsch
Helena Domingos
Fabio Noto
Fernanda Niemeyer
Flora Romanzoni
Alexandre Grynberg
Roberta Delizoicov
Alexandre Negro
Gilberto Dantas
Alice Ferreira
Giordano Biagi
Joo Mauro
Rodrigo Dionisio
Andr Mesquita
Giselle Cicotti
Rodrigo Y. Castro
Andr Sobral
Rosana Errico
Rosngela Almeida
Samara Ferreira
Irineu Ferman
Juliana Yogui
Silvana Abreu
Maurcio Souen
Simone Moerdaui
Marina Quinan
Solange Salva
Laura Finocchiaro
Cristiano Biagi
Josefa Rodrigues
Mauricio Anacleto
Sonia Silva
Leila Garcia
Milena de Marco
Murilo Krammer
Luciano Sapata
Paula Galasso
Thelma Lbel
Paulo Brito
Lgia Nbrega
Edith Geribello
Paulo Guaspari
Rafael Galli
Luiz Martins
Luciana de S Bertossi
Eleonora Pitombo
Reinaldo Marques
Luciane Toffoli
Fabiana Fagundes
216 I 217
Teatro Brincante
Novartis Biocincias SA
Epanor Lecca SA
Teatro FUNARTE
Robertson Emerenciano
Escola Habitat
Espao Cachuera
Odontoclnicas
Estdio 185
Theca Corretora SA
Estdio Colrio
Instituto Fonte
Tiffany & CO
Sheila Lyrio
Simone Guaspari
Banco Pecnia SA
Banco Sudameris
Fundao Julita
Intercode Tecnologia
Petrleo Ipiranga
Suzana C. Scuracchio
Banespa SA
Galo SA
Ita Seguros SA
Tania Morin
Grfica Igupe
Tereza Proena
JP Morgan
Terezinha Gotti
Grupo Ultra
Lecca SA
Guarita Associados
PricewaterhouseCoopers
Vernica Tutundjian
Mapfre Seguros
Projeto Arrasto
Markiodonto
RGNutri
Ao Comunitaria (CENPEC)
Minerao Buritirama SA
Ministrio da Cultura
Ministrio da Sade
SESC
Mosteiro So Geraldo
SESI
Social Web
Teatro Alfa
218 I 219
01 I 02
0
IMPRESCINDVEIS UTPICOS
Ps-doutorando em Histria pela Unicamp. Doutor e mestre em Histria Social pela USP. Bacharel e licenciado em Filosofia pela USP e em
Histria pela PUC-SP. Autor do livro Anarquismo e anticlericalismo,
Editora Imaginrio (2000), e coautor de Revolues do sculo XX,
Editora Scipione (1995). Corroteirista e consultor histrico do filme
Ns que aqui estamos por vs esperamos (1999).
3
DESPERTAR COM E PARA A ARTE
1
A NOO DE RESPONSABILIDADE SOCIAL
EM PERSPECTIVA HISTRICA: DO INCIO
DA MODERNIDADE AO CONTEXTO QUE
GEROU A ASSOCIAO ARTE DESPERTAR
4
UM POUCO DE NS
2
O INDIVDUO E A ARTE DE RECRIAR-SE
6
ONTEM, HOJE E AMANH
222 I 223
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
01 I 02
1
A NOO DE RESPONSABILIDADE SOCIAL EM
PERSPECTIVA HISTRICA: DO INCIO
DA MODERNIDADE AO CONTEXTO QUE GEROU
A ASSOCIAO ARTE DESPERTAR
Rui Luis Rodrigues
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2
O INDIVDUO E A ARTE
DE RECRIAR-SE
Felipe de Souza Tarbola
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228 I 229
4
UM POUCO DE NS
Maria Angela de Souza Lima Rizzi
Maria Helena da Cruz Sponton
ARNHEIM, Rudolf. Arte e percepo visual: uma psicologia da viso criadora. So Paulo:
Cengage Learning, 2002.
230 I 231
1
SEATTLE (Chefe ndio). Preservao do meio ambiente: manifesto do Chefe
Seattle ao Presidente dos EUA. So Paulo: Babel Cultural, 1987, p. 39.
2
PESSOA, Fernando; MARTIN, Claret; FONSECA, Cristina; BRUNO, J.C..
O Pensamento vivo de Fernando Pessoa. So Paulo: M. Claret, 1986, p. 82.
3
LOPES, Rodrigo Garcia. Vozes e vises - Panorama da arte e da cultura norteamericanas hoje. So Paulo: Editora Iluminuras, 1996, p. 81.
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VILLAMARN, Alberto J.G. Citaes da cultura universal. Porto Alegre: Editora
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BARROS, Manoel. Retratos do artista quando coisa. Rio de Janeiro: Editora
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KAPLAN, Allan. O processo social e o profissional de desenvolvimento. Artistas
do invisvel. So Paulo: Instituto Fonte para o Desenvolvimento Social e Editora
Fundao Perpolis, 2005, p. 181.
232 I 233
PATROCINADORES
234 I 235
ORGANIZAO
Arte Despertar
Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)
(CRB-8/6331, SP, Brasil)
Associao Arte Despertar
Arte Despertar: primeira dcada / autoria de Associao
Arte Despertar. So Paulo : Arte Despertar, 2010.
ISBN 978-85-63880-00-0
1. Arte e Cultura 2. Incluso Social 3. Sade
4. Terceiro Setor I. Arte Despertar II. Ttulo
CDD-360
COORDENAO EDITORIAL
Helena Domingos
Maria Helena Webster
AUTORES
Eduardo Montechi Valladares
Felipe de Souza Tarbola
Maria Angela de Souza Lima Rizzi
Maria Christina de Souza Lima Rizzi
Maria Helena da Cruz Sponton
Regina Vidigal Guarita
Rui Luis Rodrigues
PESQUISA DE ACERVO
Claudia Viri de Oliveira
COPYDESK
Gipe Projetos Educativos Ltda
COORDENAO ICONOGRFICA
Helena Domingos
Regina Vidigal Guarita
PRODUO FOTOGRFICA
Guto Seixas
Acervo Arte Despertar
PROJETO GRFICO
Estdio Colrio
EDITORAO ELETRNICA
Estdio Colrio
REVISO
Caroline Franco
PRODUO GRFICA
GFK Comunicao
01 I 02
Fonte Garamond e Conduit Papel Couch Fosco 180 g/m2 Impresso GFK Tiragem 2 000
01 I 02