Fisica Do Violino PDF
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Fisica Do Violino PDF
2, 2305 (2008)
www.sbfisica.org.br
A fsica do violino
(The physics of the violin)
Instituto de Fsica de S
ao Carlos, Universidade de S
ao Paulo, S
ao Carlos, SP, Brasil
2
Departamento de Fsica, Universidade Federal do Paran
a, Curitiba, PR, Brasil
Recebido em 28/9/2007; Revisado em 15/2/2008; Aceito em 14/4/2008; Publicado em 21/7/2008
Neste artigo apresentamos uma descrica
o geral da fsica do violino, analisando os conceitos que lhes d
ao sustentaca
o fsica e que revelam toda a riqueza e o potencial pedag
ogico do assunto. Destacamos as contribuico
es
de fsicos como Helmholtz, Savart, Raman e Saunders no esforco para descrever a vibraca
o produzida pelo arco
nas cordas, e por compreender as propriedades ac
usticas do instrumento. Descrevemos a funca
o de cada uma
das componentes do instrumento e discutimos a import
ancia dos modos normais de vibraca
o dos tampos e do
cavalete na resposta ac
ustica do violino. A resson
ancia ac
ustica da caixa do violino (resson
ancia de Helmholtz)
ser
a discutida fazendo-se um paralelo entre osciladores mec
anico, eletrico e ac
ustico. Discutiremos a resposta
ac
ustica do violino e descreveremos a produc
ao de seu som caraterstico, que resulta da forma de onda originada
pela excitaca
o das cordas pelo arco, influenciada pelas vibraco
es e resson
ancias do corpo do violino, seus tampos
e o cavalete.
Palavras-chave: violino, ac
ustica, resson
ancia, instrumentos musicais, Helmholtz.
In this work we present a general description of the physics of the violin. We examine the concepts which
provide the physical support and reveal the richness and the pedagogical potential of the subject. We remark
the contributions of physicists such as Helmholtz, Savart, Raman and Saunders to the undesrtanding of the way
in which a bowed string vibrates, and the comprehension of the acoustical properties of the instrument. The
role of each component of the violin is described in details. We also discuss the importance of the bridge, the
plates and the body normal modes of vibration for the acoustical response of the instrument. The air-resonance
of the enclosed air in the violin body (Helmholtz resonance) is disscussed using the equivalent fomalism between
mechanical, electrical and acoustic oscillating systems. The production of the characteristic sound of the violin,
which results from the vibrational waveform of a bowed string, is also described.
Keywords: violin, acoustics, resonance, musical instruments, Helmholtz.
1. Introduc
ao
A Fsica dos instrumentos musicais e uma area de estudos fascinante e de grande potencial pedagogico pelas aplicacoes praticas das oscilacoes & ondas, e do
fenomeno de ressonancia. Embora a maioria dos textos de fsica basica discuta as propriedades e a propagacao das ondas sonoras, a producao dos sons nos
instrumentos musicais nao e abordada em profundidade. Um instrumento que ilustra bem a riqueza da
fsica que se encontra na ac
ustica musical e o violino.
Seu estudo envolve um consideravel conhecimento de
fsica basica, tais como o entendimento do fenomeno
de ressonancia na caixa ac
ustica do violino, a funcao
dos orifcios em forma de f que permitem considerar
o violino como um ressoador de Helmholtz, o estudo
dos modos normais de vibracao dos tampos de ma1 E-mail: [email protected].
Membro da Orquestra Experimental
deira e do cavalete, e o problema das vibracoes produzidas numa corda friccionada por um arco. Este
u
ltimo topico resulta tambem numa interessante analise
da transferencia de energia entre os modos de vibracao
naturalmente estimulados pelo arco (torsionais) e aqueles que efetivamente acoplam com o meio em que a perturbacao ac
ustica se propaga.
Os fsicos sempre se sentiram cativados por este
instrumento tao delicado e sofisticado, seja para estudar suas propriedades ou apenas como instrumento
para executar m
usica. O proprio Albert Einstein era
violinista. Em Berlin, Einstein tocava sonatas com
Max Planck e em Princenton costumava reunir-se semanalmente com colegas e amigos para tocar m
usica
de camara [1]. Muitos fsicos contriburam com suas
pesquisas para a compreensao das propriedades fsicas
e ac
usticas do instrumento. A historia destas pesqui-
da Universidade Federal de S
ao Carlos, S. Carlos, SP, Brasil.
2305-2
Donoso et al.
A fsica do violino
mento.
2.
2.1.
O instrumento
Lutheria
2305-3
A caixa ac
ustica esta formada por um tampo superior e um tampo inferior separados por ilhargas. A qualidade de um violino depende das propriedades fsicas
2305-4
das madeiras utilizadas na sua construcao, como a densidade, a elasticidade, a dureza e a velocidade de propagacao do som na madeira [22]. A madeira tradicionalmente utilizada para a construcao do tampo superior e o abeto (Picea abies. Spruce, em ingles). Esta
madeira se caracteriza por ser muito elastica (modulo
de Young Y 9 GPa), de densidade e dureza relativamente baixa ( 0.45 g/cm3 , hardness: 2200 N).
A estrutura em espiral das moleculas de celulose, por
outra parte, conferem ao abeto uma consideravel firmeza e resistencia [36]. A elevada velocidade do som
ao longo das fibras (c = (Y /)1/2 4500 m/s) favorece a rapida propagacao das vibracoes por todo o violino. Para o tampo inferior se emprega o bordo, arvore
da famlia das aceraceas, de boa elasticidade (modulo
de Young Y 11 GPa) e maior densidade e dureza
( 0.6-0.7 g/cm3 , hardness: 4226 N). O corte das
madeiras e o controle da espessura dos tampos seguem
procedimentos especficos [22,28,38,39]. Na montagem
da caixa ac
ustica, as madeiras dos tampos sao arqueadas para o exterior dando essa tpica forma arredondada. Esta forma resulta num aumento significativo nas
freq
uencias dos modos normais de vibracao dos tampos
(secao 3.1 e 3.3) [14].
No tampo superior da caixa ac
ustica ha dois orifcios
na forma de f estilizados, localizados simetricamente
em ambos os lados do cavalete. A forma destes f
pode ter sido influenciada pela tipologia cursiva (ou
italico, como e mais conhecida hoje) inventada pelo
tipografo italiano Aldo Manuzio (1450-1515) [40]. Estes orifcios comunicam para o exterior as vibracoes do
ar dentro do violino e tem uma grande influencia no
importante salientar que a area
timbre do violino. E
destes orifcios e bastante significativa, 13 cm2 , ou seja
2.5% da area do tampo superior. As cordas assentam
no cavalete sobre o qual exercem uma forca consideravel
(secao 2.3). O cavalete, fabricado de bordo, e uma peca
de importancia crucial para o violino pois e atraves dele
que se faz o acoplamento entre a corda e o corpo do
instrumento. Geracoes de luthiers descobriram que a
forma e a geometria do cavalete influencia a resposta
ac
ustica do violino [13,22]. Ele atua como um transdutor mecanico, acoplando os modos de vibracao transversais das cordas em modos vibracionais da caixa de
ressonancia. Ele atua tambem como filtro ac
ustico, suprimindo certas freq
uencias indesejaveis (secao 3.4).
O violino tem quatro cordas, confeccionadas em aco
e recobertas de prata ou alumnio. A tensao das cordas
pode ser ajustada por meio das cravelhas e dos microafinadores (Fig. 1) ate que a freq
uencia de vibracao
atinja o valor desejado. As cordas do violino estao afinadas em quintas (uma quinta e o intervalo entre duas
notas cujas freq
uencias estao numa razao 3:2). As notas e as freq
uencias correspondentes `as quatro cordas
do violino sao: Sol3 (196 Hz), Re4 (293.66 Hz), La4
(440 Hz) e Mi5 (659.26 Hz). O sub-ndice da nota indica
a oitava correspondente na escala temperada (Fig. 2).
Donoso et al.
A fsica do violino
2305-5
2.2.
2305-6
Donoso et al.
Tabela 1 - Afinaca
o das quatro cordas dos instrumentos da famlia do violino e do contrabaixo; comprimento tpico dos
instrumentos e o fator de escala entre eles considerando o violino como dimens
ao unit
aria; e freq
uencia de resson
ancia da
cavidade do instrumento (modo A0 ).
Violino I
Viola
Violoncelo
Contrabaixo
Afinac
ao
Sol3 , Re4 , L
a4 , Mi5
Do3 , Sol3 , Re4 , L
a4
Do2 , Sol2 , Re3 , L
a3
Mi1 , L
a1 , Re2 , Sol2
Comprimento (cm)
59-60
70-71
124
178-198
Fator de escala
1.00
1.17
2.13
3.1-3.4
Freq
u
encia de resson
ancia
270-280 Hz
220 Hz
100 Hz
60 Hz
d
2.3.
For
cas est
aticas e tens
ao das cordas
Figura 4 - Diagrama de forcas utilizado para calcular a resultante vertical sobre o tampo superior do violino. A figura
indica as dist
ancias desde o cavalete ate as extremidades do
instrumento (seguindo o comprimento das cordas) e a altura
do cavalete.
Como a freq
uencia da nota La e 440 Hz, o comprimento da corda do violino e 32.5 cm e sua massa por
unidade de comprimento e 102 g/m, a tensao dessa
corda e T 80 N. Supondo que a tensao das outras
cordas e da mesma ordem de grandeza - o qual e verdade apenas para as duas cordas centrais [10] - a tensao
total resultante das quatro cordas no instrumento sera
cerca de 250-300 N. Para calcular a forca vertical sobre
o tampo superior do violino devido a tensao das cordas
resolvemos o diagrama de forcas mostrado na Fig. 4
TA cos 1 TB cos 2 = 0,
TA sen1 TB sen2 + F = 0.
(2)
A fsica do violino
mento apertando as cravelhas. Como mencionado anteriormente, as cordas sao afinadas ajustando-se a tensao
delas com as cravelhas ate o valor da freq
uencia desejada (Eq. (1)). As cordas do violino sao confeccionadas
em aco. O coeficiente de elasticidade do aco (modulo
de Young) vale Y = 200 GPa (contra Y 3 GPa
do nylon!). A tensao de ruptura ou resistencia de
tracao do aco e (F/A) = 520 MPa. Considerando-se,
por exemplo, a corda M do violino, cujo diametro e
aproximadamente 0.2 mm (area da secao transversal:
r2 3 108 m2 ), e supondo-se uma tracao aplicada de F 63 N, `a deformacao tolerada pela corda
pode ser estimada atraves da expressao [44,45]
F/
L
= A.
(3)
L
Y
Substituindo estes parametros na Eq. 3, obtemos
(L/L) 1%. Isto significa que a corda Mi vai estourar
se a deformacao relativa for maior que 1%. Como o
comprimento da corda do violino, desde a cravelha ate
o microafinador, e de cerca de 34 cm, basta uma volta
na cravelha para atingir esse 1% de tolerancia. De fato,
como o diametro do eixo da cravelha e de 0.5 cm, uma
volta na cravelha encurta a corda em aproximadamente
3 mm, chegando-se assim proximo `a tensao de ruptura
do aco. Ao apertar-se um pouco mais a cravelha, a
corda rompe-se (Fig. 3). Por isso que os violinistas
nao costumam afinar seus instrumentos girando as cravelhas, preferindo faze-lo atraves dos micro-afinadores
colocados nas extremidades das cordas (secao 5.1).
3.
3.1.
2305-7
Resposta ac
ustica do violino
Modos de vibra
c
ao dos tampos
Os tampos dos violinos nao sao meras pecas de madeira. Elas precisam se comportar como verdadeiras
t
abuas harm
onicas, com modos normais de vibracao cujas freq
uencias formam uma seq
uencia harmonica (ou
seja, que as freq
uencias dos sobretons sejam m
ultiplos
inteiros de uma freq
uencia fundamental). Nos cursos de
graduacao descreve-se o movimento da corda em termos
de ondas estacionarias, que correspondem aos modos
normais de vibracao [43]. Da mesma forma se podem
descrever as ondas estacionarias bidimensionais estabelecidas numa placa vibrante. Cada uma destas ondas estacionarias corresponde a um modo normal de vibracao (ou ressonancia), sendo que a menor freq
uencia
e chamada de fundamental e as demais sao sobretons
ou harmonicos. Estes modos normais de vibracao podem ser colocados em evidencia pelo metodo de Chladni
mencionado anteriormente. Foi este o metodo utilizado
por Savart em 1830 para determinar a diferenca tonal
na freq
uencia fundamental das placas superior e inferior
dos violinos [7].
A Fig. 5 mostra os diagramas de Chladni para os
tres modos mais importantes da afinacao tonal dos tam-
Figura 5 - Configuraca
o das linhas nodais para os modos
de vibraca
o 1, 2 e 5 do tampo inferior de um violino obtidas pelo metodo de Chladni. As figuras caractersticas para
cada freq
uencia correspondente a um modos normal aparecem ao colocar-se em vibraca
o um tampo no qual foi espalhada areia fina na sua superfcie. Esta areia se acumula
formando montculos sobre as linhas nodais, onde a amplitude de vibraca
o e nula, permitindo a visualizaca
o das linhas nodais e a identificaca
o dos modos normais de vibrac
ao
[14,43]. Figura adaptada das Refs. [7] e [38].
2305-8
Donoso et al.
Resson
ancia de Helmholtz
Os dois orifcios em forma de f permitem - em primeira aproximacao - considerar a caixa do violino como
um ressoador de Helmholtz. Este ressoador consiste de
uma cavidade de volume V cheia de ar e conectada ao
exterior por um tubinho de comprimento l e area da
secao reta A (Fig. 6). Quando este ressoador oscila,
as colunas de ar se movimentam atraves das aberturas
produzindo oscilacoes na pressao interna da cavidade.
Helmholtz, e mais tarde Lord Rayleigh, investigaram
as freq
uencias de ressonancia desta cavidade. Quando
o comprimento de onda da oscilacao >> l, o ar no
tubo se comporta como a massa num sistema massamola enquanto a pressao ac
ustica dentro da cavidade
atua como o elemento elastico do oscilador [50-52]. A
massa do ar dentro do tubo (Fig. 6) e m = Al, onde
e a densidade do ar ( = 1.3 kg/m3 ). A variacao de
pressao provocada pelo deslocamento da massa de ar
no tubo e dada pela expressao [44,45]
p = B
V
,
V
(4)
s
o =
r
BA
A
=c
.
V l
lV
(5)
A fsica do violino
2305-9
[22,50,57].
A Tabela 2 ilustra a analogia que existe entre um
oscilador mecanico, um oscilador eletrico e um sistema
ac
ustico. No caso de um oscilador massa-mola forcado
e amortecido, o modulo da impedancia e
p
|Z| = b2 + (m k/)2 ,
(6)
onde m e a massa, k a constante de forca e b a constante de amortecimento do oscilador. Como a reatancia mecanica e nula na freq
uencia de ressonancia,
(m k/) = 0, e |Zo | = b. Desta condicao se obtem
a freq
uencia de ressonancia do oscilador (Tabela 2). No
caso do oscilador eletrico - um circuito RLC em serie,
por exemplo - o modulo da impedancia e
p
|Z| = R2 + (L 1/C)2 .
(7)
Q=
o l
2o
,
ARA
aRA
(9)
Na freq
uencia de ressonancia, a reatancia eletrica
e nula, (L-1/C ) = 0, e a impedancia sera puramente resistiva, |Zo | = R. Desta condicao obtemos a
freq
uencia de ressonancia deste circuito, o2 = 1/LC. O
fator de qualidade ou fator Q, que e uma medida da
seletividade da ressonancia vale Q = o L/R. Um valor
de Q alto indica uma curva de ressonancia mais aguda.
Alem disso, o fator de qualidade Q caracteriza tambem
o quanto a tensao nos componentes reativos (capacitor
ou indutor) e maior que a tensao no elemento dissipativo (resistor), e por isso e tambem chamado de coeficiente de sobretensao. No caso do sistema ac
ustico,
especificamente uma cavidade ressonante, o modulo da
impedancia e
s
2
2 + l B
|Z| = RA
.
(8)
A
V
Da mesma forma como nos sistemas mecanico e
eletrico, a reatancia ac
ustica e nula, (l/A-B/V )
Tabela 2 - Equaca
o din
amica, m
odulo da imped
ancia e freq
uencia de resson
ancia de um oscilador mec
anico (sistema massamola), um oscilador eletrico (circuito RLC ) e um sistema ac
ustico (cavidade ressonante). Par
ametros: m indica a massa, k a
constante de forca e b a constante de amortecimento do oscilador mec
anico; L a indut
ancia, R a resistencia, C a capacit
ancia
e q a carga eletrica no sistema eletrico; indica a densidade do ar, l o comprimento do tubo, A a
area do orifcio, RA a
resistencia ac
ustica (R0 RA /A), Bo m
odulo volumar (bulk modulus) do ar, V o volume da cavidade de Helmholtz e x o
deslocamento do ar.
Oscilador
I
I
Mec
anico I
Equac
ao din
amica
d2 x
dx
m 2 +b
+ kx = F (t)
dt
dt
Circuito el
etrico
Sistema ac
ustico
d2 q
dq
q
+R
+
= (t)
dt2
dt
C
dx
BA
d2 x
+
x = P (t)
l 2 + R0
dt
dt
V
Imped
ancia
p
|Z| = b2 + (m k/)2
|Z| =
R2 + (L 1/C)2
s
2 +
RA
|Z| =
B
l
A
V
Freq
u
encia de resson
ancia
k
2 =
m
2 =
1
LC
2 =
BA
V l
2
d
3.3.
Modos de vibra
c
ao do corpo
receram as tecnicas opticas de interferometria e de holografia [13,14,60]. Estes modos foram rotulados pelo
Prof. Erik Jansson de Estocolmo, de acordo com o principal elemento vibrante. Assim, os modos do ar sao
2305-10
identificados como A0 e A1 . Estes modos foram visualizados atraves de tecnicas holograficas [13,54] e foram
identificados tambem em experiencias especficas, nas
quais se introduz helio, dioxido de carbono e outros
gases no corpo do violino. Devido a diferenca na velocidade do som destes gases em relacao ao ar (259 m/s
no CO2 e 965 m/s no He, contra 331 m/s no ar a 0 C)
observou-se que a introducao destes gases na cavidade
deslocava a freq
uencia do modo A0 , de 270 Hz (no ar)
para 218 Hz no CO2 e 820 Hz no Helio [55,61].
Os modos do corpo sao rotulados C1 , C2 , etc. No
modo mais baixo (C1 ) o violino vibra num modo semelhante ao da flexao de uma barra livre (bending mode)
com uma linha nodal perto do cavalete. Nos modos rotulados C3 e C4 , os tampos se movimentam em fase e
sao muito semelhantes - na sua forma - aos tres modos
de vibracao dos tampos livres, os modos 2 e 5 (modos
X e O) mencionados anteriormente (secao 3.1). Por
u
ltimo, os modos dos tampos sao rotulados T1 , T2 , etc.
O modo T1 e um modo de vibracao do tampo superior
e envolve tambem o movimento do ar pelas f . Este
modo, assim como o C3 , e considerado muito eficiente
para a radiacao de som [54]. A vibracao e assimetrica
por causa da alma do violino, que esta localizada numa
linha nodal de T1 e num no de A1 (Fig. 7).
Donoso et al.
3.4.
O cavalete
A fsica do violino
2305-11
3 e 6 harmonicos desta u
ltima nota [65].
Uma outra importante funcao do cavalete e de atuar
como filtro ac
ustico, suprimindo certas freq
uencias indesejaveis. Enquanto as ressonancias em 3000 Hz e
4500 Hz reforcam o som do instrumento nessas freq
uencias, a depressao entre as duas ressonancias reduz
o tom nasal indesejavel na regiao entre elas [8]. Uma
outra manifestacao da funcao de filtro ac
ustico do cavalete ocorre na regiao entre 1300 e 1800 Hz. Em 1978,
Hacklinger observou que ate os 1200 Hz, o som do violino e cheio e muito valorizado; acima dos 2000 Hz
o som e claro e brilhante, mais entre 1300 e 1800 Hz
aparecem sons nasais, indesejaveis, que precisam ser
suprimidos [64]. A Fig. 9 mostra que efetivamente a
amplitude do som tem uma reducao na regiao de 1300
a 1800 Hz num violino. Modificando o cavalete, o autor
verificou que esta peca atua como um verdadeiro filtro
ac
ustico passa baixas nessa regiao, bloqueando as altas
freq
uencias. Podemos parametrizar o comportamento
deste filtro fazendo uma analogia com o bem conhecido filtro eletrico passa baixas estudado nos cursos de
Fsica Basica. Neste filtro eletrico - uma combinacao
de um resistor (resistencia R) e um indutor (indutancia
L) - verifica-se que a tensao no resistor (VR ) e atenuada para freq
uencias acima da chamada freq
uencia de
corte, fc = R/L [34,36]. Adotamos o modelo mecanico
massa-mola da Fig. 9 para o cavalete, consistindo de
uma massa efetiva (m) suportada em duas molas de
constante de forca k. Considerando as freq
uencias de
ressonancia do cavalete, em 3060 Hz e 4500 Hz, obtemos k 3 105 N/m e m 1.65 g para o oscilador. A
expressao para a freq
uencia de corte do filtro mecanico
fc , e obtida da analogia entre os osciladores mecanico
e eletrico (Tabela 2)
1
fc =
2
3b
m
(10)
A resposta ac
ustica do violino
2305-12
Donoso et al.
ac
ustica de 25 violinos de alta qualidade fabricados
entre 1730 e 1894 por luthiers de Italia, Franca, Holanda e Alemanha. Ele identificou as ressonancias Ao ,
C2 , C3 e T1 em quase todos os instrumentos e conclui
que a ressonancia C3 e a presenca de um bridge hill pronunciado seriam as maiores caractersticas na resposta
ac
ustica de um violino de alta qualidade [59].
4.
4.1.
Movimento ondulat
orio da corda
friccionada pelo arco
O arco
A fsica do violino
2305-13
A arcada
(11)
onde
na
1
sen
.
(13)
n2
L
A excitacao da corda num dado ponto a suprime os
harmonicos n tais que
na
sen
= 0.
(14)
L
De acordo com esta condicao, para evitar a audicao
do nono harmonico no violino, ou seja eliminar o no
correspondente, basta passar-se o arco no ponto L/9.
Nesse lugar sera produzido um ventre de vibracao, anulando assim o harmonico dissonante Na pratica, o arco
e passado entre 2 e 4 cm de distancia do cavalete. Como
o comprimento da corda L e da ordem de 32 a 33 cm,
a posicao da arcada corresponde bem com a distancia
(L/9) desejada. Na realidade, o timbre do som emitido
por um violino nao e tao sensvel ao lugar em que se
aplica o arco como e no caso da corda pulsada ou percutida. O motivo disto e que as vibracoes geradas na
corda sao transmitidas ao tampo superior atraves do
cavalete, e ao tampo inferior atraves da alma, o que faz
que o ar encerrado na caixa tambem seja colocado em
vibracao [38].
O som gerado ao passar um arco pelas cordas depende essencialmente de tres variaveis: a velocidade do
arco, a posicao do arco (distancia ao cavalete) e a forca
com que se pressiona o arco contra as cordas. A situacao nao e tao simples quanto parece porque existe
uma correlacao entre estas grandezas. Se desejamos ,
por exemplo, passar o arco lentamente (como ocorre no
caso de notas longas e ligadas), a forca perpendicular
com que o m
usico pressiona as cordas devera ter um valor mnimo, para que resulte um som firme de boa qualidade. Uma pressao muito leve provoca instabilidade
An
2305-14
Donoso et al.
Vibra
c
ao da corda friccionada por um arco
Como foi mencionado na Introducao, o primeiro a estudar o problema da vibracao produzida numa corda friccionada por um arco foi Helmholtz que, utilizando um
arranjo experimental com a objetiva de um microscopio
acoplada a um diapasao, observou o movimento de uma
partcula colada na corda do violino e concluiu que esta
vibracao e muito diferente da vibracao senoidal observada nas cordas estacionarias. A posicao da partcula
em funcao do tempo assemelha-se `a um zig-zag com
um perodo igual ao inverso da freq
uencia de oscilacao
da corda [21]. Esta vibracao particular de uma corda
friccionada por um arco e conhecida como movimento
de Helmholtz [22,23,74]. Tocar o violino consiste em
obter e em manter os movimentos de Helmholtz a
isso
partir de condicoes transitorias muito diferentes. E
que estabelece a essencia da expressao musical [31].
A Fig. 10 mostra a evolucao temporal do movimento de uma corda friccionada por um arco deslocando-se a velocidade constante [13]. Esta vibracao envolve
um mecanismo do tipo prende-desliza (stick-slip, na
designacao inglesa). Na primeira parte do movimento,
o arco captura a corda e a leva consigo. O ponto
de contato entre o arco e uma corda se movimenta, inicialmente, no mesmo sentido que o arco e com a mesma
velocidade com que o executante o movimenta (quadros
3 a 8 da Fig. 10).
Na seq
uencia, a forca restauradora aplicada na
corda fica muito grande, e conseq
uentemente ela estala,
ou seja, deixa de estar aderida ao arco e desliza na
direcao contraria ao seu deslocamento, ate ser capturada de novo pelo arco, recomecando o ciclo (quadros
1 a 3 da Fig. 10). Quando a corda esta deslizando na
direcao contraria ao deslocamento do arco, ela escorrega facilmente por debaixo das crinas do arco. A natureza do mecanismo de atrito (estatico ou cinetico) intervem de forma decisiva na estabilidade do movimento
pois na fase de escorregamento o arco apresenta uma
resistencia dinamica negativa a corda [74]. Quando o
A fsica do violino
2305-15
ciclo recomeca, a corda se movimenta novamente acompanhando o arco [13,22,33]. O movimento transversal
da corda, em todo instante, e formado por dois segmentos retos unidas num ponto, o qual se desloca na
corda, refletindo-se na extremidade desta. Quando a inflexao volta ao ponto de contato com o arco, a tensao da
corda atua de forma a desprende-la do arco. Devido a
velocidade com que o ponto de dobra percorre a corda,
nao e possvel ve-la. Observa-se apenas a envolvente
desse movimento, na forma de dois arcos parabolicos
(linha pontilhada na Fig. 10). Animacoes mostrando
o movimento da corda friccionada por um arco podem
ser encontradas nas paginas web da University of New
South of Wales [9] e do Prof. Woodhause [75].
Vamos analizar o movimento da parte da corda
proxima ao cavalete, porque e justamente essa vibracao
que o cavalete transfere para o corpo do violino. Consideremos o ponto da corda, localizado a uma curta
distancia D do cavalete. Podemos analizar o movimento
deste ponto calculando os tempos de subida e de descida em cada ciclo. Se L e o comprimento da corda
(tipicamente de 33-34 cm), o ponto P divide a corda
em dois segmentos, de comprimentos D e (L D), respectivamente. Quando a arcada e realizada no sentido
para cima, o tempo que o ponto P despende na descida (TF ) e proporcional a D, e o despendido na subida
(TR ) e proporcional a (L D)
TF
D
=
.
TR
LD
(15)
2305-16
Donoso et al.
O som do violino
Agora estamos em condicoes de discutir como e produzido o som do violino. Helmholtz mostrou que a
forma da onda da vibracao que o arco produz na corda
nao e senoidal senao uma funcao do tipo dente de
serra, uma forma de onda que produz um espectro
de som rico em harmonicos. A analise espectral do
som do violino ao se tocar a corda Sol por exemplo, revela a presenca de cerca de 15 harmonicos intensos [22, 38]. Sons com muitos harmonicos soam
cheios e musicalmente mais ricos [76]. No violino, estes harmonicos sao afetados pelas respostas ac
usticas
do cavalete e do corpo do instrumento. Como mencionado anteriormente, o cavalete possui dois modos
normais de vibracao, ou ressonancias, em 3000 Hz e
4500 Hz. Elas reforcam as componentes do som com
freq
uencias nessas regioes e, ao mesmo tempo, reduzem o tom (indesejavel) na regiao da depressao entre
elas. A seguir temos a influencia das ressonancias do ar
dentro do instrumento, as ressonancias do corpo e dos
tampos. O som produzido pelas cordas e modulado
por estas ressonancias, que reforcaram as componentes
(harmonicos) cujas freq
uencias coincidam com as dos
modos normais. O resultado e um espectro de som cujas componentes terao diferentes intensidades como resultado da influencia de todas estas multirressonancias.
O som do violino entao, resulta da forma de onda originada pela excitacao das cordas pelo arco modulada
pelas vibracoes e ressonancias do corpo do violino, seus
tampos e o cavalete [8,14,77].
4.5.
Efici
encia da convers
ao de energia
Quando um violinista puxa o arco sobre as cordas, o esforco que ele faz e da ordem de 0.5 N. Como a potencia
proporcionada por uma forca e a taxa temporal com
que a forca efetua trabalho, entao P = Fv b 0.25 W,
onde vb 0.5 m/s e a velocidade da arcada. Esta energia e introduzida no cavalete e se transfere atraves de
uma cadeia passando pelos pes do cavalete, o corpo do
instrumento e a radiacao sonora. Um ouvinte a 3 m
do instrumento percebe um som com um nvel de intensidade de 76 dB quando se toca forte na corda
Mi do violino. O nvel de intensidade correspondente e
4Z1 Z2
(Z1 + Z2 )
2,
(16)
e a energia refletida
Er =
Z1 Z2
Z1 + Z2
2
.
(17)
A fsica do violino
5.
5.1.
Tocando o violino
Afina
c
ao e dedilhado
2305-17
2305-18
Donoso et al.
Intensidade relativa
nI1
2 1 = 10 log
= 10 log (n) .
(19)
I1
O nvel de som de um trompete na altura da nota
Do5 e aproximadamente 2 70 dB. O de um violino
nessa mesma nota e de cerca de 1 55 dB [79]. Substituindo estes valores na Eq. (19), obtemos n 32.
Este resultado indica que precisamos de cerca de 32
violinos para balancear os metais de uma orquestra.
Este e, efetivamente, o n
umero de violinos numa orquestra sinfonica convencional.
5.3.
O
angulo entre o arco e a corda
Para a obtencao de um som de boa qualidade, e necessario que o arco siga o seu curso mantendo uma linha
que deve ser estritamente perpendicular `a corda em que
se esta tocando [80,81]. Quando toca, o violinista faz
com que o arco exerca uma forca normal sobre a corda.
O movimento do arco sobre a corda e governado pelas
forcas de atrito estatico e cinetico as quais sao dadas
pelos respectivos coeficiente de atrito entre a crina e
a corda multiplicado pelo modulo da forca normal. A
energia transferida para a corda sera igual ao trabalho
realizado por esta forca menos as dissipac
oes termicas.
Esta parcela da energia que realmente poe a corda em
movimento divide-se de maneira desigual na excitacao
de tres tipos de oscilacoes da corda, a transversal, a longitudinal e as oscilacoes de torcao. A maior parte da
energia corresponde a oscilacao transversal, a qual e a
geradora do som musical. As oscilacoes longitudinais e
as de torcao da corda sao responsaveis de uma pequena
fracao da energia.
(20)
A fsica do violino
6.
Conclus
oes
As ideias abordadas neste trabalho mostram uma aplicacao pratica de conceitos dados em cursos introdutorios de fsica basica e em cursos de oscilacoes e
ondas. Nesse sentido, acreditamos que a discussao apresentada em nosso trabalho venha a dar uma contribuicao no sentido de melhorar a motivacao dos alunos para estudar conceitos fsicos e relaciona-los com
aplicacoes praticas. Ha, naturalmente, muitas outras questoes `a serem aprofundadas sobre o assunto,
questoes estas que o reduzido espaco deste artigo nao
nos permite abordar. Falta considerar, por exemplo,
toda uma gama de efeitos relacionados `a difracao sonora produzida pelo corpo do instrumento no momento
da producao do som. Os efeitos de difracao e outras
7.
2305-19
Ap
endice 1
A figura mostra a montagem experimental utilizada para medir a curva de ressonancia da cavidade do violino. O
instrumento e excitado por uma caixa de som (Premier, SP 690) ligada a um oscilador de audio (Function Generator
BK Precission, modelo 3026). A resposta ac
ustica e coletada por um microfone de eletreto posicionado dentro da
caixa ac
ustica do instrumento. Este microfone deve ser suficientemente pequeno de forma a passar pelo espaco dos
f do violino (7 mm de diametro). O circuito utilizado na ligacao do microfone e mostrado tambem na figura. O
sinal captado pelo microfone foi analisado num osciloscopio digital (Tektronix, 60 MHz, mod. TDS 210), equipado
com um kit de FFT. As medidas foram realizadas numa sala de 330 m2 do Laboratorio de Ensino do IFSC-USP. E
importante salientar de que a sala nao dispoe de tratamento ac
ustico especfico. A curva de ressonancia foi levantada
de duas maneiras. No primeiro procedimento variou-se a freq
uencia de excitacao no gerador de 200 Hz ate 320 Hz,
registrando a intensidade de som captada pelo microfone. A ressonancia do violino foi observada em 270 3 Hz e o
fator de qualidade, determinado a partir da largura de linha a meia altura da curva de ressonancia, foi Q = 14 1
(Fig. 6). Este procedimento foi aplicado tambem para um violoncelo, observando-se a ressonancia A0 em 96 3 Hz
com um fator Q = 27 2. No segundo procedimento, aplicou-se um pulso curto, de duracao definida na freq
uencia
de ressonancia e registrou-se o decaimento do sinal captado pelo microfone. A curva de ressonancia e obtida da
transformada de Fourier do sinal captado. Os fatores de qualidade neste caso foram de Q = 17 para o violino e
Q = 21 para o violoncelo.
2305-20
Donoso et al.
Agradecimentos
Refer
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