RICARDO REIS - Analise de Poemas
RICARDO REIS - Analise de Poemas
RICARDO REIS - Analise de Poemas
Ao abrirem-te as mos
Nada te cair.[]
1. Os versos No tenhas nada nas mos / Nem uma memria na alma
remetem para a filosofia epicurista defendida por Ricardo Reis, que apela
moderao das emoes, renunciando ao prazer, abstendo-se de qualquer
desejo ou vontade, numa atitude contemplativa perante a vida. Defendendo a
necessidade de viver num estado de profunda serenidade e desprendimento, o
sujeito procura assim iludir o sofrimento que a ideia de morte lhe inspira.
2. O conselho do sujeito potico nada mais do que uma tentativa ilusria para
combater a dor e a perturbao causadas pela passagem do tempo e a
proximidade da morte. A recusa de qualquer compromisso que comprometa a
sua liberdade interior a nica forma de superar a angstia face a uma
fatalidade inevitvel (Ao abrirem-te as mos / Nada te cair.).
3. As interrogativas retricas apontam para a filosofia estica, pois o sujeito
potico est consciente de que o Fado inaltervel e cabe a cada um, de
forma altiva e resignada, aceitar o fim e a morte. O poder, o mrito e a
grandeza humana nada valem perante essa cruel certeza: tudo efmero e
est condenado fatalidade (Que trono te querem dar / Que tropos to no
tire?).
4. As expresses Colhe flores e Senta-te ao sol esto relacionadas com a
filosofia horaciana do carpe diem, aproveitar o momento presente, de forma
serena e contida, para evitar qualquer perturbao. A expresso larga-as da
Neste poema de acordo com o sujeito potico, devemos viver o presente sem
pensar ou recordar o passado, porque no podemos evitar que o tempo
passe, pois todo o presente se converte rapidamente em passado e, por isso
intil conhecer.
Tal como Alberto Caeiro, Ricardo Reis apresenta-se como poeta do presente,
rejeitando a recordao do passado ou o autoconhecimento, para se
concentrar na perspetiva do ser como existncia.
"Cada um cumpre o destino que lhe cumpre"
Cada um cumpre o destino que lhe cumpre,
E deseja o destino que deseja;
Nem cumpre o que deseja,
Nem deseja o que cumpre.
Como as pedras na orla dos canteiros
O Fado nos dispe, e ali ficamos;
Que a Sorte nos fez postos
Onde houvemos de s-lo.
O sujeito potico neste poema defende uma filosofia de vida que assenta na
aceitao do destino de uma forma tranquila, sem tentativas de o mudar,
alimentando desejos ou esperanas pois Nada mais nos dado. Tentar fugir
ao destino seria intil, porque viver radica numa total incompatibilidade entre
aquilo que se deseja e aquilo que se alcana. O sujeito potico revela, em suma,
o seu conformismo face ao destino, de fase estoicista no vale apenas desejar,
no vale apenas ter esperanas, porque a nossa vida ser apenas como foi
programada e o melhor aceitar isso com dignidade.