O Cabeleira

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FRANKLIN TVORA (1842-1888)

O romance no se ocupa apenas de pura fico, conta a vida de Jos Gomes, O Cabeleira, cujo pai,
Joaquim Gomes, foi um temeroso bandido. Pai e filho, associados a outro delinquente, Teodsio, roubam
e matam sem d nem piedade. As populaes pauprrimas, com o pouco que tinham, eram foradas a lhes
dar alimento, dinheiro e sangue. O grupo decide assaltar a vila de Recife e a populao, sabendo que os
bandidos se aproximam, trata de fugir para o mato. Os que no tm para onde ir, oferecem aos criminosos
hospedagem.
Cabeleira, nessa poca, tinha vinte e dois anos. Seus comparsas vo armados de facas, bacamartes
e pistolas em direo vila de Recife. Mais experiente, Teodsio o primeiro a entrar no lugarejo, marcando
a ingazeira da ponte, como local de encontro. A vila era pouco desenvolvida, por isso os esparsos
moradores trancam-se cedo em suas casas, temendo roubos e assassinatos to comuns na regio.
Pai e filho chegam ao bairro da Boa Vista ao anoitecer. Como no sabiam que os habitantes, por ordem do
governador, deviam colocar luminrias em suas casas, festejando a abolio dos jesutas, ficam alarmados,
pensando que sero descobertos. Mas logo se encontram com Teodsio, que rema uma canoa. Era 1 de
dezembro de 1773. O povo festejava, passeando pela ponte iluminada de Recife, quando um deles
reconhece o Cabeleira e se pe a gritar. A multido comea a se dispersar desordenadamente, gritando,
atropelando-se.
Os dois malfeitores apanham suas facas, o Cabeleira grita que chegou e vem acompanhado do pai
que, sem pestanejar, d com o faco sobre a cabea de um passante, espirrando sangue no rosto do
matador. O filho no entende porque o pai fez aquilo, mas o degenerado e infeliz lhe diz que ali so malqueridos e, portanto, preciso fazer o trabalho bem feito. Incentivado, Cabeleira sai ferindo a torto e a
direito.
Os soldados da infantaria chegam e o povo preso na ponte, no tendo para onde fugir, lana-se s
guas e logo os malfeitores, tambm, encurralados, fazem o mesmo. Um dos soldados atingido pela vara
de um canoeiro e desce correnteza abaixo. Teodsio foi quem o assassinou, enquanto buscava os
comparsas. Em breve, esto todos na canoa com as armas na mo. Joaquim e o filho se encontravam na
ponte para dar cobertura a Teodsio, que estava assaltando um armazm. Com a confuso, o velho
assaltante teve tempo de praticar o furto desejado e, ainda, salvar os dois amigos, lanados escurido do
Rio Capibaribe.
A violncia do Cabeleira incentivada pelo pai desde tenra idade. Aos 16 anos o menino demonstra
extrema crueldade. Nessa poca, mata de forma violenta Chica, uma mameluca, companheira de Timteo,
dono de uma venda de artigos roubados.
Chica, enfurecida, porque o cavalo do rapaz estava comendo sua horta, d uma forte pancada no
animal que sai correndo desabaladamente. No contente, a mulher passa a dirigir insultos ao bandido, e
este de raiva lhe d uma surra to grande que ela acaba falecendo. Sua valentia fica sendo conhecida por
todos, pois nesse mesmo dia, tinha feito um roubo, assassinado um comerciante e deixado, quase mortos,
dois soldados.
Timteo jamais brigou com o malfeitor, pois o temia. Seu estabelecimento passa a ponto de encontro
e venda dos produtos de roubo do trio. Nessa taberna, na ponte dos Alagados, escondem-se os trs, aps a
confuso na vila de Recife. Mas, logo so sobressaltados pelo semblante desfigurado de Teodsio, que
descobre ter deixado o dinheiro roubado no camarote da canoa que tinha desaparecido. Notam que dois
meninos retornam com ela. Gritam para eles, mas os garotos, amedrontados, abandonam o barco,
carregado pela correnteza, e se pem a correr. Cabeleira pensa no dinheiro e atira certeiramente nas costas
de um deles, mata o segundo a tiros, enquanto, sorrateiramente, Teodsio oculta de seus comparsas o fruto
do roubo.
Segundo a tradio, o Cabeleira tinha boa ndole, herdada da me, a fraca Joana. Na infncia,
Joaquim ensina ao filho a matar os animaizinhos, entregando-lhe uma pequena faca para ser usada contra
todos aqueles que o provocassem: fosse velho, moo, mulher ou criana. A me se esfora para colocar o
menino no caminho do bem e amor ao prximo. O marido decide partir levando a criana. Cabeleira fica
abatido com a notcia, mas despede-se da querida amiga de infncia, Luisinha, prometendo-lhe, quando
voltar, no fazer mal a mais ningum.
Luisinha era uma rf, criada pela viva Florinda. A menina vai crescendo, ao mesmo tempo em que
a fama do Cabeleira e do pai se fortalece. A cada novo terror, ela sente-se triste e angustiada, recordando a
imagem do antigo amigo. At que, ao fim de uma tarde, quando vai buscar gua, se encontra com o
Cabeleira, que mata Florinda, quando esta vem em defesa de Luisinha. O bandido, no reconhecendo a
moa, pretende lev-la consigo. Ela se apresenta e ele a liberta, dizendo que logo retornar para uma
conversa.
Liberato, um proprietrio de terras, arrasadas pelos bandidos, rene-se com outros moradores
queixosos e prope atacarem o bando do Cabeleira, mas os homens se negam. Liberato no desiste e
acompanhado de seus dois filhos, Ricardo e Sebastio, mais o genro, Vicente, parte caa dos
malfeitores. Um de seus vizinhos conta o plano ao bando. Ao chegarem clareira dos malfeitores, estes j
os esperam e os liquidam.

Dias mais tarde, quando o velho ndio, Matias, conhecedor das matas, vai em busca do grupo,
encontra seus corpos. Retorna casa do morto acompanhado pelo pai do Cabeleira que, a qualquer custo,
deseja entrar onde se encontram as mulheres, esperando por seus familiares. Lusa, tambm, a est,
assistindo Florinda a expirar, aps t-la encontrado ainda com vida. Matias morto avisando s mulheres
sobre o ocorrido e sobre a presena dos bandidos.
As cinco mulheres entram em pnico, enquanto Joaquim esmurra a porta, gritando para que elas
sassem. Percebendo que vo atear fogo a casa, elas decidem ficar. Morrem no incndio, mas Lusa sai,
carregando s costas a morta Florinda. Joaquim quer a moa para si, mas o filho enfrenta ferozmente o pai
que decide perdoar seu desafio, enquanto o bando evita os policiais. Cabeleira abraa e beija ternamente
Luisinha, fugindo com ela para a mata.
Timteo, forado pelos policiais, leva-os at o esconderijo do bando, deixando o Cabeleira e Lusa
nas matas. As milcias volantes cercam a regio da provncia de Alagoas at a Paraba, prendendo todos os
ladres, malfeitores e aterrorizadores das populaes h anos, inclusive Joaquim e Teodsio. Entretanto, o
povo ainda se sente ameaado, porque o Cabeleira est livre.
O bandido busca gua e comida para a amada que o impede de matar as pessoas que cruzam seu
caminho. O malfeitor deseja agrad-la, por isso joga fora o bacamarte e a faca como prova de que jamais
far mal a ningum, reza e se arrepende de todo o mal causado. Uma manh, ao despertar, encontra a
companheira morta, vtima de queimaduras no peito, por tentar salvar Florinda, de febre e da longa
caminhada.
Estupefato, o malfeitor descobre a ferida oculta com um lencinho, doido de dor, chora amargamente.
Cabeleira ouve uma corneta e percebendo que a milcia est em seu encalo, embrenha-se mata a dentro,
largando o corpo de Lusa para trs. Marcolino, um dos moradores, leva os soldados para o mato, mas no
consegue localizar o bandido.
Desapontado, resolve agir por conta prpria; decidido a caar o delinquente a qualquer custo. Vai na
direo de Pau D' alho, quando avista o malfeitor penetrando no canavial. Este j sabe que est cercado e a
sada controlada. O cerco dura quase trs dias, quando, finalmente, se entrega ao chefe, o capito-mor
Cristvo de Holanda Cavalcanti, que lhe dando voz de priso, leva-o para sua casa, antes de
encaminh-lo priso mais segura, em Recife.
A esposa do capito-mor fica comovida com a dor e a msica que saem da viola do Cabeleira e
implora ao marido para deixar escapar a vtima da violncia paterna. Mas Cristvo de Holanda cumpre seu
dever. Decorrido um ms, O Largo das Cinco Pontas, em Recife, ostenta a forca que far justia. Joana, a
me do Cabeleira, implora para v-lo, mas no lhe permitem. Vai para a praa aguardar o filho e chorar sua
dor. Ele aparece plido e diz arrepender-se do que fez, despede-se, dando adeus me, que morre do
corao entre as mulheres da praa.
A morte dos bandidos no inibe a manifestao de outros malfeitores. O narrador pergunta: 'De que
serviu pois a proviso rgia?'. E, acrescenta: ' a pena de morte, que as idades e as luzes tm demonstrado
no ser mais que um crime jurdico, de feito no corrige, nem moraliza'. Atribui aos crimes cometidos por
Cabeleira pobreza e ignorncia, reclamando da sociedade o dever de dar a educao a todos e de
organizar o trabalho. Aproveita, tambm, para defender os escravos que, levados pelos aoites e condio
servil, matam seu senhor por serem vtimas da pobreza e degradao social.

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