Nkisi - Mukixi - Hamba
Nkisi - Mukixi - Hamba
Nkisi - Mukixi - Hamba
Temos no Candombl Angola e Congo a palavra MAHAMBA cujo singular HAMBA que
significa DIVINDADE, para designar as divindades que compoe o grupo familiar de um Nkisi ou
Mukixi. E assim mais uma vez caimos dentro do Cesto do Ngombo, lugar aonde podemos encontrar
as Mahamba, todas juntas como MAKAMBA - AMIGOS, e com NGOLO - FORA, PODER.
Muitos devem estar concluindo que os adeptos do Candombl Angola e Congo cultuam
ANCESTRAL COM FORMA HUMANA E DIVINIZADO, mas eu digo nem que sim e nem que
no, pois a palavra ANCESTRAL esta ligada aos tempos primodios, tempo da criao da terra, um
tempo que nos conecta com Nzambi Mpungu por ser ele o nosso primeiro ancestral, a fonte de tudo
que vemos e sentimos, principalmente tudo aquilo que no vemos. A Terra, o Fogo, a gua e o Ar
so ancestrais, nossos antepassados divinizados mais remotos.
Conforme as informaes de Rui Sousa Martins e Mesquitela Lima, na regio Norte e Nordeste de
Angola as mascaras e mascarados so designado com o radical KISI ou KIXI.
As palavras NKISI e MUKIXI exceto HAMBA esta claramente ligado a mascara e ao mascarado,
uma hora sendo NKISI ou MUKIXI a mascara e outra hora sendo o proprio mascarado.
Segundo Mesquitela Lima (1976), o Norte e Nordeste de Angola usam a palavra MUKIXI, DIKIXI,
RIKIXI ou LIKIXI para designar mascara e mascarado, assim como o espirito do antepassado, cujo
radical KISI ou KIXI so escrito da seguinte forma: n'quisi, quisi, kisi, n'kisi, nkissi, kissi, kixe,
kixi, nkixe, nkixi, nquishi, quishi, nkichi, kichi, nquiche, quiche, nkiche e kiche. J o prefixo desses
radicais so usados: mu, ri ou li para o singular e a, mi, ma ou ba para o plural (pg:81).
Agora podemos observar que o nome da mulher possuida pelo espirito do seu antepassado,
conhecida como MUKIXI UA MAHAMBA ou MUKIXI UA NGOLA, revelado ao escritor Rui
Sousa Martins, por um Kota (Idoso), significa ser a primeira mulher ha fazer uso de uma mascara
ancestral. Sendo assim, MUKIXI alm de ser o nome da primeira mulher mascarada, tambm a
mascara, pois a MAHAMBA quem possui o MUKIXI, por isso o nome da primeira mulher
possuida pelo espirito do antepassado chamava-se MUKIXI UA MAHAMBA que ao p da letra
significaria A MASCARA DO ANCESTRAL.
Torday e Joice, citados por Mesquitela Lima (1976), transcreve um lenda que revela a origem de
um mascarado que condiz com as explicaes que o Kota (Idoso) disse ao escritor Rui Sousa
Gonalves sobre MUKIXI, MUKIXI UA MAHAMBA ou MUKIXI UA NGOLA ser o nome de
uma mulher que foi incorporada pelo espirito do seu antepassado.
Conta-se a lenda que:
'' Xafwanandenda era mwata de uma grande aldeia. Tinha sob o seu domnio imensa gente, grandes
mayanga (caadores) e os melhores twa (ces de caa) de toda a regio. Os nganga a mukanda
(homens que fazem a circunciso) da txihunda (aldeia) de Xafwanandenda era muito afamados.
Toda a gente os mandava chamar mais os seus ilombola (ajudantes da circunciso) para que
interviessem nas suas festas de mukanda. A razo disso era porque Xafwanandenda foi quem, entre
os Lundas, comeou pela primeira vez a fazer a circunciso. Nesta poca ainda no havia
mascarados. Porm, um dia, uma mulher da aldeia, de nome Natxifwa, para amedrontar o filho que
queria acompanh-la ao rio onde ia buscar gua numa cabaa, desenhou uns olhos sobre ela e
voltando-se para o filho disse: - tu no podes ir comigo porque no lwiji (rio) h pessoas assim. - E
mostrava a cabaa onde estavam desenhados os olhos. O mido, ao ver tal, amedrontou-se e foi
esconder-se no interior da nzuwo (casa). E a mulher foi descansada buscar gua ao rio onde contou
o sucedido a outras suas amigas que passaram a adoptar o mesmo sistema. Assim, as mulheres
passaram a manter os seus filhos em respeito, acontecendo o mesmo a maior parte dos homens, que
passaram a temer as mulheres, alegando que tinham feitio. Xafwanandenda via o poder dos
homens decrescer em benefcio do das mulheres. Um dia foi ao yambu (mato) e encontrou uma
enorme cabaa redonda com grandes olhos em fenda, uma boca com dentes salientes, toda coberta
de rede e dos lados saam-lhe grandes cornos. Atemorizado, quis fugir, mas a cabaa falou-lhe:
- No tenhas medo, no sou txipupu (alma do outro mundo), eu sou teu mukulu (antepassado) e sei
tambm que andas muito preocupado com o que est acontecendo com as mulheres da tua aldeia.
- O que hei-de fazer? - inquiriu Xafwanandenda.
- Olha - e apontava para outra cabaa -, pega nela, faz-lhe olhos, boca e nariz, cobre-a de rede e
coloca-a no rosto. Depois disto cobre-te de folhas e capim e aparece na txota (recinto s para
homens) da tua aldeia. Todos viro ver-te, e ento dirs que representas os myata akulu (chefes
antigos) e que de hoje para o futuro toda a mulher que for apanhada com cabaas em forma de
mscara sofrer o castigo dos makulwana (grandes) j falecidos. Depois, reunirs todos os homens,
com excepo dos twanuke (rapazes no-circuncidados), e explicars que o teu segredo no pode
ser revelado as mulheres e crianas. Desta forma, estou certo, acabars com o poderio das mulheres.
- Mas porque hei-de pr este objeto no rosto? - perguntou Xafwanandenda.
- Se a puseres na tua face, passars a ser mukixi (esprito) e sers como os teus makulwana que
vivem no mundo dos yizuli (das sombras). No tm a face de homens, pois morreram e foram ter
com Kalunga nyi Nzambi (Deus Supremo).
Xafwanandenda assim fez, e, na realidade, os homens passaram a reunir-se na floresta:
mascaravam-se, danavam e imolavam animais em honra dos antepassados falecidos. Algumas
vezes danavam a volta de uma grande cabaa coberta de rede, com olhos, nariz e boca pintados, a
qual representava os mukulwana j falecidos. Se alguma mulher ou criana se aproximava do local,
corria esbaforida, indo esconder-se na cubata ou nos stios mais recnditos do mato.
Por aquela poca, realizava-se na sanzala de Xafwanandenda uma grande mukanda, mas os homens
encarregados dos tundandji (iniciados), os yiembwoka ou yilombola, tinham muita dificuldade em
obter comida quando a pediam nas sanzalas. Reunindo-se, os homens resolveram que os yilombola
deveriam aparecer nas aldeias mascarados. Assim se fez e, quando as mulheres e crianas viam os
mascarados, fugiam a sete ps. Ento, os yilombola roubavam comida que levavam para o
acampamento da circunciso'' (Mesquitela Lima: 1976; pag. 94, 95).
Conforme as informaes de Mesquitela Lima (1976), na regio Lunda Sul, a primeira mulher
supostamente que inventou a mscara se chama Natxifwa, a mesma Natxifwa da lenda acima, assim
como um titulo da unica mulher idosa que cozinha para os neofitos da mukanda em uma cubata
com o nome de txifwa, e que pode entrar no local da circunciso.
Na frica-Bantu o NKISI e o MUKIXI faz uso de mascaras para preservar o segredo e mostrar aos
descententes que j no portam ou nunca portaram uma face humana, e principalmente
demonstrando serem seres divinos possuidores de uma unica face, pois sabemos que as expresses
da masca fixa. J as expresses humana no so fixa, pois modificam de segundo ha segundo e
principalmente por sentirem um sentimento e demonstra outro, ocultado o verdadeiro sentimento,
por isso os seres humano esto em fase de evoluo, enquanto as DIVINDADES so evoluidas e
portadoras de grades sabedorias que a cabea humana no capaz de ingerir.
por esse e outros motivos que o NKISI e o MUKIXI sendo uma DIVINDADE para ns, cultuado
no Candombl Angola e Congo como DEUSES, so seres completos, sem mascaras e sem
expresses humanas, por isso utilizam mascaras com uma natureza fixa.
Com relao a palavra HAMBA, uma palavra de origem Kimbundu e deriva da palavra KAMBA
cujo plural MAKAMBA que significa AMIGO na lingua Kikongo. A palavra HAMBA cujo
plural MAHAMBA no denomina a DIVINDADE INCORPORADA entre os Lunda, Tchokwe
ou Luxaze, pois quando incorporada para festival, passa a ser chamada de MUKIXI por conta da
MUKANGE (MASCARA) que significa o mesmo que MUKIXI utilizado pelo seu descendente.
Explicamos aqui sobre o MUKIXI (ANGOLA) o NKISI (CONGO) e HAMBA
(ANGOLA/CONGO), mas no falamos sobre a palavra DIKIXI cujo plural MAKIXI.e a palavra
NKISI-NSI cujo plural BAKISI-BASI.
As informaes que obtivemos atravs do escritor Rui Sousa Martins, DIKIXI cujo plural
MAKIXI, nada tem haver com a palavra MUKIXI como esplicamos acima, mas o seu registro
completo sobre MAKIXI transcreveremos nas proximas linhas para que seja melhor colocado e
comparado.
Conforme registra Dennett (1906), '' o Makishi so s vezes diz ter muitas cabeas, em uma histria
quando o heri corta a cabea de um dikishi, ele imediatamente cresce um segundo, no outro um
dikishi carrega uma mulher e faz dela sua esposa, quando seu filho nasce e encontrado para ter
apenas uma cabea, o marido ameaa a cham-lo de "nosso povo" para com-la se ela j tem outro
como ele. Como o segundo beb aparece com duas cabeas a ameaa no foi cumprido. Mas,
pensando que a melhor forma de estar no lado seguro, a mulher levou o mais velho da criana e
fugiu, escondeu-se durante a noite em uma casa abandonada, ficou surpreso quando adormecido por
umdikishi errantes, e comido depois de tudo''.
Mas Mesquitela Lima (1976), registra que:
''CHATELAIN apresenta na sua obra alguns contos em que entram <<ma kishi>> (sing: <<di
kishi>>), dizendo que tais personagens so representaes folclricas, semi-histricas ou
semimitolgicas dos Vtuas que os Bantos incorporaram no seu conto popular. Relaciona tambm
os <<ma kishi>> com o canibalismo. Talvez este autor tivesse sido mal informado, pois no me
quer parecer (pelo menos no possuo quaisquer informaes ou testemunhos que o confirmem) que
os Vtuas tenham qualquer relao com os mascarados'' (Mesquitela Lima: pag: 82).
Dennett (1906), assim como Mesquitela Lima fez o seu comentario sobre o que escreveu Chatelain
sobre DIKIXI e os Batwa, tambm faz seu comentario que:
''Chatelain pensou que o Makishi foram os habitantes indgenas do pas, o "Batua (Batwa)
Pigmeus," no como so agora, mas como apareceu aos colonos originais Bantu ". Mas no h
nenhuma evidncia de que os pigmeus ou os bosqumanos (a quem a chamada Zulus Abatwa)
nunca foram considerados como canibais. Informantes Callaway Zulu foram muito enftico sobre
"o horror do Abatwa", que, se ofendido, como por uma referncia sua pequena estatura, sobre os
quais foram especialmente sensveis, iria atirar-lhe com uma flecha envenenada, assim que olhar
para voc. Mas no h nenhuma referncia ao seu comer carne humana''.
Como podemos ver acima, Mesquitela Lima e Dennet desconcideram que os MAKIXI tenham
qualquer relao com os Batwa e os AKIXI.
Rui Sousa Martins registra que:
''E os makishi (sing. dikishi) quem eram? Os makishi, conforme rezam os mabadiu que tantas vezes
ouvimos da boca dos velhos da regio, eram <<a primeira nao do mundo>>. Um povo de
caadores e notveis ferreiros que praticavam a antropofagia e foram os introdutores da podoa
(invo, pl. jinvo) e da banana kimburi. Habitavam em casas redondas de tecto cnico e cobriam as
sepulturas com tumuli de pedra solta amontoada. Os makishi eram de baixa estatura mas fortes e de
pele amarelada. Mas a sua caracteristica mais surpreendente era possuir varias cabeas, pormenor
terrfico que os narradores no se cansavam de acentuar.
As narrativas sobre os makishi, que apresentam numerosas variantes onde se reunem elementos
etiolgicos e esttico-fabulosos, particularmente realados, tm sido recolhidas entre grupos de
lingua Kimbundu e lingua Kongo nuna vasta rea a norte do rio Kwanza com limites difusos a norte
(rio Loje?) e a leste (Brito Godins?). Podemos acrescentar que os estudiosos do Kimbundu quando
se referem aos Makishi fazem-nos em termos concordantes com os elementos que recolhemos.
scar Ribas diz-nos acerca do termo dikishi: <<Monstro de grande cabbea, a qual, uma vez
decepada, se reproduz limitadamente, segundo uns, ou com muitas cabeas simultaneas, em nmero
varivel, segundo outros. Estes seres, embora com forma humana, so antropfagos, vivendo entre
si, isolados do homem propriamente dito. Este estado tambm pode ser obtido por magia, por um
tempo determinado. De <<Kuxila>> sorver>>. Matta traduz <<rikixi>> por <<cabea grande
(myth) monstro>>. Assis Junior registra o mesmo termo (<<rikixi>>, pl. <<makixi>>) com os
significados: <ano, pigmeu, homem pequeno de cabea grande, hidra, monstro>>. Tambm
Pereira do Nascimento atribui a <<rikixi>> (pl. <<makixi>>) o significado de <<monstro
(mythologico)>>. Antnio da Silva Maia registrou os termos <<dikixi>> e <<murikixi>> para
monstros e <<dikixi>> para ano.
Parece que todos os elementos concordam em afirmar que no Kimbundu os termos de radical kishi
no significam explicitamente mscara ou mascarado.
Mas antes de prosseguirmos importa dizer uma palavra de esclarecimento sobre a traduo de
dikishi por ano. Na mesma rea das narrativas de makishi existem <<lendas aniticas> referentes a
seres de pequena estatura e pele clara, provveis reminiscncias de pigmides ainda vivos na
imaginao dos actuais. Muitas vezes elementos dos dois ciclos temticos aparecem misturados na
mesma narrativa, o que explica as tradues citadas.
Retomemos a questo dos makishi e o seu elemento fantstico: a multicefalia. Segundo a verso
mais corrente, os makishi tinham duas ou trs cabeas com carcter de hidra: uma vez decepadas
voltariam a crescer. Alguns narradores atribuem-lhes quatro, cinco e at seis cabeas. Ouvimos uma
verso em que o dikishi aparece com uma nica cabea de grande tamanho. E, no decurso das
longas conversas sobre este tema, os velhos acabaram por dizer que os makishi tinham somente
uma cabea e que as outras apareciam ou desapareciam, colocadas conforme as circunstancias ou
desejos de momento. Relacionada com a multicefalia ouvimos tambm vrias vezes a expresso:
<<colocar as cabeas>>. Pedroso Gonalves recolheu uma verso segundo a qual das duas ou trs
cabeas s uma era visvel. O Padre Jos Sporndli, C.S.Sp., que durante a sua estadia na <<Misso
dos Dembos>> fez estudos etnolgicos e foi colaborador de John Gossweiler, tambm recolheu
vrias narrativas de makishi <<que diziam ter duas cabeas>> ou, mais concretamente. seriam <<de
duas caras>>.
Como interpretar a multicefallia dos makishi? J defendemos noutro trabalho que a multicefalia
pode interpretar-se como uma aluso simblica ao mascarado, elaborada esteticamente com
acentuao de aspectos fantsticos e monstruosos.
As narrativas de makishi constituen um modo de explicao da realidade que no se destina aos
adultos, aos iniciados, mas as crianas. Os mais velhos, ao mesmo tempo que transmitem aos jovens
ouvintes dos mabadiu uma explicao mtica sobre o passado, as mscaras, as sepulturas, os
utenslios, etc., atemorizam-nos com o monstro de vrias cabeas que os devorar caso no
cumpram as normas estabelecidas ou desrespeitem as ordens dos mais velhos.
O termo di ou rikishi que nas lnguas do Leste angolano significa mscara ou mascarado, assume