Tática Defensiva No Ensino Do Handebol I
Tática Defensiva No Ensino Do Handebol I
Tática Defensiva No Ensino Do Handebol I
Observando esse jogo, e analisando-o sob a tica do jogo defensivo, verifica-se um jogo
cujos defensores tm como principal princpio operacional a proteo do alvo, porm,
como o atacante (ou gavio) tem como objetivo TOCAR o ltimo da fila defensiva, o
jogo acaba por trabalhar um recurso do handebol que muitas vezes passa despercebido
pelo professor na iniciao, que a estratgia de impedir que o adversrio passe pela
defesa, usando contatos sobre o jogador com bola. Isso um recurso empregado que
tem como princpio impedir a progresso do adversrio.
Verifica-se, dessa forma, que alm de defender o seu alvo (o ltimo jogador da fila)
utilizando regras de ao muito semelhante aos do jogo de handebol (deslocamentos
laterais e antecipao da trajetria ofensiva adversria), o defensor tambm impede a
progresso do atacante, usando como regra de ao para isso, a utilizao de contatos
diretos ao atacante (com bola, caso seja o jogo de duplas).
Quando o jogo ganha uma formatao de 22+fila, o jogo fica ainda mais complexo
para os defensores, dificultando as aes defensivas e exigindo acentuado grau de
compreenso coletiva das aes dos dois defensores das filas, surgindo a idia de
cobertura defensiva e proteo de um alvo indireto quele de sua responsabilidade.
Para dar ao jogo o ganho de mais um princpio defensivo a recuperao da posse de
bola pode-se sugerir que cada vez que a bola roubada pelos defensores das filas e
consegue-se completar um passe, os defensores ganham 1 ponto, criando assim um jogo
quem que as duas equipes a que ataca e a que defende tm possibilidades de
marcar pontos, aumentando ainda mais a complexidade do jogo.
Deve-se, sempre destacar aos alunos a utilizao de estratgias defensivas que no
coloquem em risco o atacante, retirando pontos por agarres de lado, pelas costas,
rasteiras, valorizando as aes com deslocamentos laterais, que antecipem as trajetrias
ofensivas.
3.2. Jogo do Esperto
De maneira geral, quando utilizamos o jogo do esperto (KINJNIK, 2004) (ou
bobinho), enfatizamos os jogadores que possuem a posse de bola, acreditando que nesse
jogo a nfase est na resoluo de problemas para passar a bola para o outro (num jogo
de 21) ou outros (num jogo, por exemplo de 31, 41, 42, 43 e etc..) jogadores que
jogam para receber a bola.
No entanto, esse jogo pode ser muito til tambm para o aprendizado de estratgias
defensivas.
Pensando na proteo do alvo, esse um excelente jogo de goleiros, pois ao adpatar-se
a regra tradicional do jogo e permitir a utilizao dos membros inferiores para
recuperao da bola, se ganha muito em relao aprendizagem da utilizao dos
membros inferiores para defesa da trajetria da bola que segue para o outro jogador (um
alvo virtual do jogador que deve impedir a passagem da bola).
Ao utilizar um jogo com mais de 1 bobinho, mas estes em nmero de jogadores ainda
inferior aos jogadores com posse de bola, e tambm limitando a regio do jogo, cria-se
um jogo de grande nfase no princpio defensivo de recuperao da posse de bola,
pois, por ser um jogo que no possibilita o contato entre defensores (bobinhos) e
atacantes (jogadores com a posse de bola), cria-se uma estratgia defensiva cuja regra
de ao seja fechar as linhas de passe dos atacantes. Mas, por ainda haver inferioridade
numrica, o jogo mais complexo para os jogadores defensores.
A transio natural desse jogo so os jogos de passe (passa 10, passa 20 e etc..) nos
quais a equipe atacante deve realizar 10 ou 20 passes ininterruptos. Defensivamente
um excelente jogo para trabalhar o princpio de recuperao da posse de bola.
3.3. Jogo de Alvo Central (Alvo nico)
Os jogos de alvo central, ou alvo nico um jogo cujos princpios defensivos podem ser
muito valorizados e explorados. Trata-se de um jogo em que as noes de defesa em
zona passam a ser uma estratgia rapidamente empregada pelos jogadores (claro que a
nfase disso pode ser dada pelo prprio professor), porm pensando nos princpios
operacionais, nos jogos com essa organizao, todos os princpios so amplamente
aplicveis.
Pensando a proteo do alvo, o jogo por si s um jogo enftico nesse princpio, uma
vez por no trabalhar transies longas e, portanto, a opo pela proteo do alvo a
primeira a ser adotada rapidamente pelos jogadores que quando atacavam, perdem a
posse da bola.
Isso pode ganhar ainda mais complexidade quando so adicionados pequenos alvossecundrios, com valor de pontuao menor que o alvo central, quando a bola passa por
dentro desses alvos.
Figura 3. Jogo de Alvo Central com rea delimitada nfase no princpio de Impedir a
Progresso Adversria
3.4. Jogo de reas-Alvo
Neste jogo, a equipe defensora deve impedir que a equipe adversria tenha a posse da
bola em reas que se aproximam do alvo defensivo, tendo com nfase o princpio de
impedir a progresso adversria e recuperao da posse de bola.
Para a equipe ofensiva poder finalizar ao alvo, ela deve passar a bola de rea em rea,
no podendo realizar um passe longo.
Essas reas podem ser feitas com giz e fitas adesivas, por exemplo.
Caso a equipe defensora consiga ficar mais de 30 segundos sem deixar que a equipe
penetre a ltima rea, ganha 1 ponto e ganha a posse de bola.
De maneira geral, a equipe deve tentar recuperar a posse de bola, pois ao recuper-la,
esta torma-se a equipe atacante, invertendo de papel e podendo marcar 1 ponto no
ataque.
Figura 5. Defenda sua rea a equipe defensora no pode deixar a equipe atacante
penetrar s reas.
3.6. Jogo de recuperao de posse de bola
Neste jogo, gol vale 1 ponto, mas recuperar a posse de bola atravs da interceptao do
passe imediatamente vale 2 pontos.
um jogo que ocorre em estrutura de mini-jogo com alvos feitos de cones e um jogador
defendendo o alvo, mas participando do ataque efetivamente como jogador de linha
tambm.
4. Bibliografia
BAYER, Claude. La Enseanza de los Juegos Deportivos Colectivos. 2. ed. Barcelona:
Hispano Europea, 1992.
DIETRICH, K., DRRWCHTER, G., SCHALLER, H.J. Os grandes jogos.
Metodologia e prtica. Ao Livro Tcnico. Rio de Janeiro, 1984.
KNIJNIK, Jorge Dorfman. Colaborao de estratgias de ensino e aprendizagem na
niciao prtica do handebol. In. Revista Ludens Cincias o Desporto, Lisboa, p.
75-81, 2004. [clique aqui]
SCAGLIA, Alcides Jos. O Futebol e os jogos/brincadeiras de bola com os ps: todos
semelhantes, todos diferentes. Tese (Doutorado) Universidade Estadual de Campinas.
Faculdade de Educao Fsica, Campinas, 2003. [clique aqui]
WITTGENSTEIN, L. Investigaes filosficas. So Paulo: Nova Cultural, 1999.
Essa reflexo pode ser principalmente defendida quando vemos jogadores em fase de
especializao e de alto-nvel no conseguindo ter bom desenvolvimento de jogo em
situaes de defesa individual.
2. Defesa individual coletiva?
Essa organizao defensiva, apesar de ser individualizada e ter uma relao direta de 1
contra 1, no pode ser considerada em essncia uma organizao descompromissada
com a coletividade.
Muitas vezes, ao esquecer-se disso, no fica claro aos alunos a importncia que alguns
princpios defensivos devem reger as estratgias individuais de cada um dos alunos que
marcam de forma individual.
Um princpio que por muitas vezes esquecido e que possui grande apelo coletivo a
proteo do alvo a ser defendido.
No raro vermos alunos que ao serem estimulados a defenderem de maneira
individualizada esquecem-se de colocar-se entre o adversrio e o alvo, facilitando assim
a passagem do adversrio em direo ao alvo. Isso por vezes se d exatamente pelo fato
de no ter havido uma pedagogizao do ensino da defesa individual, e dessa forma, o
aluno no mostra autonomia para resolver os problemas complexos de um ambiente de
jogo tambm complexo.
Outro fator de grande apelo coletivo o fato de que a defesa individual ter um grande
xito principalmente se for capaz de criar uma o conceito de presso contra a equipe
ofensiva, de forma que obrigue a equipe atacante a realizar passes com alto grau de
risco.
Isso possvel se as linhas de passe forem constantemente fechadas e se em uma
situao de extrema presso, torna-se possvel que uma defesa individual seja
transformada em uma defesa grupal sobre o jogador em posse de bola.
Ou seja, cria-se uma situao to propcia para a recuperao da posse da bola, que
mesmo deixando um jogador livre adversrio, o jogador em posse de bola no consegue
transmitir a bola a este jogador.
Outro fator que tange a defesa individualizada em busca da coletividade dar aos
alunos a conscincia de que mais do que marcar um determinado jogador, existe
tambm a possibilidade de marcar as linhas de passe as quais o jogador em posse de
bola possui, possibilitando a antecipao da trajetria da bola por parte dos marcadores.
Isso bastante comum quando um marcador indireto intercepta a bola ou seja, aquele
que no marcava diretamente o possvel receptor da bola abre mo de sua defesa
individualizada em detrimento da possibilidade de antecipar a trajetria que a bola est
realizando.
Outro ponto especial da marcao individual est no fato de que apesar de ser
individual, em algumas situaes passa a ser vantajosa a idia de trocas de marcao,
ou seja, visando manter a idia de que cada 1 responsvel por apenas 1 jogador, podese propor jogos em que seja possvel haver uma troca de marcao, porm mantendo a
proporo de 1 jogador marcando apenas 1 jogador adversrio.
3. Jogos Pedaggicos
Com base nesses quatro aspectos proteo do alvo, criar situao de presso,
marcao das linhas de passe e trocas de marcao que mostram que no caso da
defesa individual deve-se muito mais do que transmitir um conceito, mas sim
ENSINAR uma forma de se defender sem que a coletividade seja esquecida, nada
melhor do que pensarmos no desenvolvimento de jogos para essa aprendizagem, a final,
para aprender a jogar, nada melhor do que jogo (ver mais sobre o jogo como ferramenta
pedaggica no artigo Entre o que aprendemos a ensinar e o que aprendemos a jogar
jogando do Prof. Riller Reverdito).
Seguem alguns jogos pedaggicos que sistematizem a aprendizagem da defesa
individual:
Jogo 1: Pegue o seu rabo com 10 passes
nfase: Conceito de Presso e Marcao da Linha de Passe
Esse jogo uma variao de um jogo bastante tradicional, no qual cada jogador tem
amarrado ao seu short um pequeno pedao de barbante (parecendo um rabo) e deve
proteg-lo impedindo que seja retirado de seus shorts.
Nesse jogo, haver duas formas de uma equipe marcar pontos: a equipe que possui a
posse de bola ganhar 1 ponto sempre que conseguir realizar 10 passes entre si, desde
que em nenhum momento a equipe adversria encoste-se bola. O jogador com posse
de bola no pode caminhar com a bola e cada jogador s poder retirar o rabo do seu
respectivo jogador.
Caso a equipe adversria toque na bola ela ganha a posse de bola e passa a tentar
realizar os 10 passes a bola deve ser imediatamente reposta pelo professor, a fim de
que o jogo no tenha grandes paradas.
A equipe sem posse de bola, por sua vez, deve tentar, alm de recuperar a posse da bola,
retirar o barbante (rabo) do jogador que estiver com a posse da bola. Retirado o
barbante, a equipe ganha 1 ponto.
O jogador que perder o rabo continua jogando mesmo sem o rabo, o que cria na equipe
defensora uma grande necessidade de impedir que o passe chegue a esse jogador, pois
ele no tem mais o rabo e, portanto a equipe defensora no conseguir marcar seu
ponto.
um jogo que estimula estratgias de marcao individual em detrimento da tentativa
de criar uma situao de presso ao detentor da posse de bola de forma que este tenha
muitas dificuldades em encontrar um jogador livre para receber a bola.
A tendncia do jogo de que poucos rabos sejam pegos, mas sua presena
imprescindvel, pois cada jogador por poder apenas pegar o rabo de seu respectivo
jogador atacante, tornar a estratgia de defesa individual a principal do jogo junto com
a idia de impedir que o passe chegue a esse jogador e a possibilidade de marcao da
linha de passe.
Jogo 2: Jogos de Alvo Central (vale atacar o alvo por todos os lados)
nfase: Proteo do Alvo e Trocas de Marcao
Para enfatizar a proteo do alvo, torna-se interessante utilizar jogos que tenham em sua
estrutura apenas 1 alvo, que serve tanto para uma equipe quanto para a outra atacar e
defender, ou seja, para um mesmo alvo, se a equipe estiver em posse de bola essa o
atacar; se equipe estiver sem a posse da bola, ela o defender.
Neste jogo, se o jogador em posse de bola realizar uma trajetria direta ao alvo a equipe
atacante marca dois pontos. Caso o jogador tenha que fintar o jogador que o marca, a
equipe atacante marcar apenas 1 ponto. Como regra determinante, temos que o alvo
para ser atingido dever ter a bola tocada e no arremessada no alvo.
A centralizao do alvo e a subjetividade da regra da presena ou no da finta ir dar ao
jogo uma grande necessidade dos jogadores defensores a manter-se entre os jogadores
que atacam e o alvo a ser protegido.
A troca da marcao pode ser sugerida ao criar entre os jogadores de uma mesma equipe
a possibilidade de que eles realizem uma marcao trocada nos jogadores de
responsabilidade de cada um. Ou seja, num jogo de 44, a equipe que defende agrupase em duas duplas que podem trocar de jogadores que defendem a qualquer momento do
jogo.
Vale dar feedbacks sobre as trocas bem feitas e aquelas feitas de forma a no auxiliarem
na ttica coletiva.
Por exemplo, trocas de marcao na qual os respectivos atacantes esto prximos um
dos outros facilita a chance de xito na troca da marcao, j em situaes em que h
uma distncia muito grande entre os atacantes respectivos dupla, torna mais difcil
essa troca de marcao. Cabe ao professor claro analisar e verificar o quanto as
trocas esto sendo bem realizadas e conversar isso com os alunos.
Acredito que esses 2 exemplos podem sugerir aos leitores a criao de mais jogos, que
podem ser criados de acordo com a criatividade de cada professor.
At o prximo artigo da srie de artigos sobre a Importncia da Evoluo da Ttica
Defensiva no Ensino do Handebol.
4. Bibliografia
GARGANTA, Jlio. Para uma Teoria dos Jogos Desportivos Coletivos. In. Graa, A. &
Oliveira, J. (Eds.). O ensino dos Jogos Desportivos. Centro de Estudos dos Jogos
Desportivos. FCDEF-UP. Porto. Portugal, 1995.
Figura 3. A localidade da bola mostra a regio de maior perigo do jogo, pois o ponto
(ou gol) s obtido atravs dela. Logo, onde a bola est, deve haver maior proteo
para que no haja perigo de sofrer o ponto (gol)