Marta Anaísa Bezerra Ramos (UFPB)

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AS FUNES SEMNTICO-DISCURSIVAS DO ITEM GRAMATICAL

ASSIM NOS GNEROS ENTREVISTA E ARTIGO DE OPINIO: UM


PRINCPIO DE ORGANIZAO TEXTUAL
Marta Anasa Bezerra Ramos (UFPB)
[email protected]

Introduo
Ao situar as teorias de gnero no campo da lingstica, Brando (2000) afirma
inicialmente que a considerao do texto como objeto de estudo despertou a necessidade
de categorizao, como forma de esclarecer os princpios que norteiam a organizao
textual. Nessa perspectiva, conforme o critrio de classificao centre-se na funo
comunicativa, no contexto scio-cultural em que se situam os enunciadores, na esfera
discursiva em que circulam os textos, no nvel de linguagem e na composio
lingstica, podem-se distinguir variadas vertentes explicativas dos gneros.
Bronckart (1999/2003), apoiado numa perspectiva enunciativa, ao explicar como
se organiza um texto, utiliza-se de uma expresso metafrica folhado textual para se
referir aos trs nveis organizacionais envolvidos no planejamento do texto, quais
sejam: a infra-estrutura geral dos textos, os mecanismos de textualizao e os
mecanismos enunciativos. Restringindo-me ao aspecto composicional, objetivo, neste
artigo, destacar a relao entre o emprego das categorias gramaticais e a construo da
textualidade, pressupondo que, estando a gramtica a servio da organizao do texto oral ou escrito -, a anlise lingstica deve conjugar os nveis semntico, sinttico e
discursivo, de modo que se possa compreender o funcionamento da lngua. Por essa
razo, abordo, sob uma perspectiva funcionalista, os diferentes valores semnticos e
discursivos assumidos pela forma gramatical assim, em textos pertencentes s
modalidades oral e escrita da lngua, aqui representados pelos gneros entrevista e
artigo de opinio.
Ao focalizar os diferentes valores assumidos por uma forma gramatical,
busco chamar a ateno para o fato de que a possibilidade de uma s forma lingstica
acumular vrias funes ou, inversamente, diferentes formas representarem uma s
funo, fenmeno a que se atribui, na rea dos estudos funcionalistas, a denominao de
processo de gramaticalizao, reflete o dinamismo da lngua, sinalizando, ao mesmo
tempo, a inconsistncia de uma abordagem que conceba as classes gramaticais como
categorias fixas, discretas. Particularmente em relao ao assim, objeto de estudo deste
trabalho, reporto-me classe dos advrbios, uma das categorias gramaticais flutuantes.
Nesse caso, h advrbios que, embora preservem sua funo de adjunto na esfera
oracional, assumem uma nova funo no mbito do texto a de articuladores textuais,
eis o uso do assim, que migrou para a classe das conjunes, atuando como operador
discursivo. Ou ainda, de uma funo tipicamente gramatical transportou-se para o
discurso, vindo a desempenhar o papel de marcador discursivo. Logo, atravs dos usos
evidenciados, objetivo mostrar que o item gramatical em foco no se limita a preencher
vazios do discurso, mas, sobretudo, funciona como princpio de organizao textual,
revelando usos convergentes nas duas modalidades enquanto elemento coesivo, e usos
especficos: como marcador discursivo, na modalidade oral e como operador
argumentativo, na modalidade escrita, classificao proposta por Martellota (2004).

Para melhor entender o comportamento do item assim em situaes reais de uso,


tomo para anlise uma amostra de dados constituda de textos de trama argumentativa:
11(onze) deles da modalidade escrita artigos de opinio e uma entrevista. Os
artigos foram retirados da revista Veja, do segundo semestre de 2009, sendo
representativos do registro formal da lngua; quanto entrevista, faz parte do corpus do
Projeto Variao Lingustica no Estado da Paraba (VALPB), representativo da
modalidade oral, do registro informal. A anlise se apia teoricamente nas leituras de
Bechara (1999), Vilela e Koch (2001), Duarte (apud Mira Mateus 2003) e na proposta
de classificao presente em Martelotta (2004) quando do estudo do processo de
gramaticalizao dos itens gramaticais. Na sequncia, exponho brevemente conceitoschave que iro subsidiar a anlise, a saber: gramtica, gramaticalizao, discursivizao,
operadores argumentativos e marcadores discursivos, alm da noo de tipologizao
dos gneros.

2. Sobre a tipologizao dos gneros


medida que o texto passa a ser objeto de anlise quando do funcionamento da
lngua, surgem as propostas de tipologizao, que, segundo Brando (2000), justificamse por dois motivos: primeiro a necessidade de melhor compreender a sua organizao
e, por conseguinte, identific-los; depois a aspirao de um carter cientfico.
A autora enquadra as abordagens classificatrias em quatro vertentes
explicativas: 1. As tipologias funcionais, representadas por K. Bhler e Jakobson, cujo
critrio de classificao baseia-se nas funes que envolvem o ato de comunicao,
podendo o foco da situao de comunicao estar no destinador, no destinatrio, no
contexto, no cdigo, no canal ou na mensagem; 2. As tipologias enunciativas,
inspiradas em Benveniste e Bronckart, em cuja base esto os modos de manifestao,
nos textos, das marcas de enunciao, marcas que podem revelar um discurso centrado:
a) no locutor ou no destinatrio, e aqui estaria a distncia entre um discurso mais
ntimo, um mais livre e um discurso persuasivo (textos argumentativos); b) no contexto
da situao, distinguindo-se ento um discurso tcnico de um discurso espontneo; e c)
na forma de enunciao, se marcada pela subjetividade ou no, da a diferena entre o
texto-discurso e o texto-histria.; 3. As teorias cognitivistas, destacando-se os
trabalhos de Adam, em torno da organizao macro-estrutural dos textos e das
sequncias lingsticas prototpicas de cada gnero, correspondentes aos esquemas
globais dos textos; e 4. A teoria do discurso, cujo precursor Bakhtin, sendo
respaldada pela teoria scio-interacionista. Nesse caso a classificao determinada
pelo contedo dos textos, pelas marcas lingsticas neles presentes e, sobretudo, em
funo das esferas de uso da lngua, da se falar em discurso jurdico, discurso religioso,
discurso cientfico, discurso literrio, entre outros, em suas subdivises.
No campo das tipologias enunciativas, caracterizadas pela considerao das
condies materiais (pessoa, lugar, tempo), situa-se a perspectiva de Bronckart, para
quem a linguagem uma prtica social condicionada por fatores sociais, interativos,
convencionais e ativos. Sendo assim, a concretizao, em um gnero de discurso, das
aes de linguagem resultam de decises dos sujeitos, ou agentes ativos no mundo dos
acontecimentos. Bronckart, cujos estudos so uma continuidade dos estudos de
Benveniste, que diferenciou dois mundos enunciativos o da histria e o do discurso -,
estabelece em sua tipologia de discurso dois mundos discursivos - o do narrar e o do
expor -, associados a operaes distintas. No primeiro caso estabelece-se uma relao

entre as coordenadas gerais que organizam o contedo de um texto e as coordenadas


gerais do mundo ordinrio em que se desenvolve a ao de linguagem de que o texto se
origina(BRONCKART, 2003, p.152). No segundo, uma relao
entre, de um lado, as diferentes instncias de agentividade
(personagens, grupos, instituies, etc.) e sua inscrio espaotemporal [...] e, de outro, os parmetros fsicos da ao de linguagem
em curso (agente-produtor, interlocutor eventual e espao-tempo da
produo) (idem, p. 152).

Em se tratando da caracterizao do texto, segundo este autor, um texto integra,


em sua configurao trs nveis hierrquicos de organizao, cuja distribuio, em
termos metodolgicos, parte de um nvel mais profundo para um superficial, quais
sejam: a infra-estrutura geral do texto, os mecanismos de textualizao e os mecanismos
enunciativos. Trata-se de camadas sobrepostas: a segunda se sobrepe primeira, j que
a seleo das marcas de textualizao depende da organizao geral do texto e a
terceira, segundo o autor, no sendo dependente da linearidade do texto, atua no plano
mais superficial, tanto por no interferir na progresso textual quanto por estar
relacionada interao que se estabelece entre o agente-produtor e seus destinatrios.
Resumidamente, pode-se dizer que o primeiro nvel diz respeito a aspectos
como: a disposio do contedo, ou organizao tpica do texto; o entrelaamento entre
os tipos de discurso, isto , a articulao entre os segmentos que formam o texto,
podendo o texto comportar segmentos de narrao e de discurso direto; e as sequncias
ou modos de planificao convencionais, que correspondem ao plano global do texto, a
exemplo de uma sequncia narrativa de que fazem parte blocos como
orientao/complicao/ aes/resoluo. O segundo nvel constitui-se dos meios
responsveis pelo estabelecimento da coerncia temtica e envolve trs tipos de
recursos: a conexo, a coeso nominal e a coeso verbal. Fazem parte do primeiro
bloco os organizadores textuais, a exemplo de conjunes (e aqui situa-se o assim),
advrbios, grupos preposicionais entre outras marcar que tanto podem servir para
relacionar as vrias fases de uma sequncia narrativa, como podem relacionar
internamente as frases; no segundo bloco esto os elementos que ora introduzem temas
ou novos personagens e garantem a unidade do texto por meio de retomadas. Trata-se
dos mecanismos de referncia - a anfora ou catfora, representados pelos pronomes ou
sintagmas nominais; e no terceiro bloco esto os mecanismos responsveis pela
organizao temporal e/ou hierrquica dos processos (estados, acontecimentos ou aes)
verbalizados no texto e so essencialmente realizados pelos tempos verbais. (grifos do
autor) (BRONCKART, 2003, p.127).
Quanto ao terceiro nvel, o dos mecanismos enunciativos, relaciona-se aos
recursos responsveis por garantir a coerncia pragmtica, ou seja, a funo interativa
do texto. Integram essa classe as marcas indicativas das vozes presentes no texto, que
identificam de quem a responsabilidade do dizer, sinalizadas por expresses como
segundo x, expresses agrupadas pelo autor (idem, p. 130) em trs grupos: a voz do
autor emprico, as vozes sociais, as vozes de personagens. Inclui tambm as marcas de
modalizao ( lgicas, denticas, apreciativas e pragmticas) por meio das quais o autor
expressa um julgamento, seja para asseverar, atenuar, para fazer apreciaes subjetivas,
apresentando um contedo como bom, ruim, estranho, etc.

3. Os processos de gramaticalizao/discursivizao e o funcionamento dos


operadores argumentativos e dos marcadores discursivos:
Contrariamente a uma viso de gramtica esttica e que impe uma norma tida
como correta a escrita culta padro -, a concepo de gramtica defendida pelos
funcionalistas est alicerada numa viso de linguagem como instrumento de interao
social e, por conseguinte, na concepo de que a lngua , sim, um sistema, dadas as
regularidades estruturais, mas um sistema cuja estrutura malevel, sujeita a presses
oriundas das diferentes situaes comunicativas, que ajudam a determinar sua estrutura
gramatical (MARTELOTTA e AREAS, apud FURTADO DA CUNHA, M. A.;
OLIVEIRA, M. R., 2003, p.20). Sob o enfoque funcionalista, por gramtica se entende o
conjunto de regularidades lingsticas motivadas sob influncia de fatores no
puramente formais, mas do mbito da interao, dado que a lngua reflete a relao
entre os usurios e o contexto social. Depreende-se, pois, que a gramtica de uma lngua
compreende os princpios que governam o seu uso natural, nos seus vrios nveis de
realizao: fonolgico, morfolgico, sinttico, semntico e pragmtico. Considerando a
integrao destes nveis no sistema lingstico, Martelotta e Areas (2003, p.23)
acrescentam, no que concerne sintaxe, que se trata de uma estrutura em constante
mutao em consequncia das vicissitudes do discurso.
Em virtude dessa condio de gramtica em construo, da a denominao
atribuda por Hopper (1987) de gramtica emergente, surge um novo conceito
relacionado noo processual de gramtica o de gramaticalizao. Trata-se de um
fenmeno associado ao processo de mudana por que passam os elementos lingsticos,
de modo que novas formas ou combinaes sintticas so criadas e passam a conviver
ao lado daquelas j existentes, sem que necessariamente estas caiam em desuso, pondo
em relevo o carter polissmico da lngua. Um segundo mecanismo envolvido no
processo de mudana seria o de discursivizao, que para alguns autores no chega a
caracterizar um segundo processo, mas uma ltima etapa do percurso da
gramaticalizao. Por discursivizao, entenda-se a migrao de um item gramatical
para o discurso, tendo por funo organizar a fala, j que, em virtude de planejamento e
execuo da fala se darem simultaneamente, h uma propenso a falhas estruturais.
Alm do que, presses de natureza diversa nervosismo, insegurana, ou a prpria
informalidade da situao comunicativa -, provocam uma fragmentao do fluxo
informativo, resultando num texto com digresses, rupturas, repeties, hesitaes, o
que leva o falante a reestruturar seu texto, da a presena dos marcadores, que, quando
no marcam o incio ou final de tpico, vo preenchendo os vazios no interior do texto.
A gramaticalizao ocorre quando, pela repetio dos usos, uma forma vem a
constituir uma norma, vindo a fazer parte da gramtica. Martelotta (2003, p.57) remete a
Hopper 1991, para caracterizar os dois princpios de gramaticalizao: o de camadas,
que consiste na disponibilidade, na lngua, de formas divergentes para indicar funes
idnticas, ou seja, duas formas concorrentes, e o de divergncia, que consiste na
ocorrncia de uma s forma que assume diferentes funes. Martelotta e Arreas (2003,
p.51) delimitam dois mecanismos no processo de gramaticalizao. Um deles
compreende a migrao de um elemento do lxico para a gramtica (gramaticalizao
stricto sensu), o outro compreende as mudanas ocorridas no interior da gramtica
(gramaticalizao lato sensu), o que justifica o fato de um elemento gramatical se
tornar ainda mais gramatical.

A percepo de que o tempo um condicionador das mudanas e de que estas


so sistemticas ou lineares conduziu idia da unidirecionalidade no percurso da
mudana. Esse um princpio segundo o qual um uso mais concreto cede lugar para um
menos concreto; ou um item que tem valor espacial cede lugar para um valor temporal;
ou um elemento que tem funo no nvel da orao adquire nova funo no nvel do
texto. Acrescente-se que outros fatores de ordem cognitiva, sociocultural e
comunicativa influenciam as mudanas, estando na dependncia dos interlocutores
envolvidos na situao comunicativa. Portanto, as formas esto disponibilizadas na
lngua e os falantes as escolhem de acordo com a necessidade de uso.
Martelotta (2004), ao analisar o emprego de determinadas partculas, entre as
quais: logo, agora, assim, t, n, tal, sabe, entendeu, que, no decorrer do tempo, tiveram
suas funes alteradas, processo de mudana ao qual se atribuiu o rtulo de
gramaticalizao, evidenciou dois modos distintos e regulares de comportamento que o
levaram a agrupar tais partculas em duas categorias distintas, de acordo com o percurso
da mudana. Dessa forma, o percurso que consiste na passagem de um item do lxico
para o texto, na condio de operador argumentativo, participando da organizao
interna do texto, caracteriza o processo de gramaticalizao. De outro modo, a
passagem de um item gramatical para o discurso, na condio de marcador discursivo,
tendo por funo organizar a fala, em virtude da perda de linearidade da informao,
prpria dessa modalidade da lngua, caracteriza o processo de discursivizao. Ou seja,
operadores argumentativos esto para gramaticalizao como os marcadores discursivos
para a discursivizao.
Para Martelotta (2004), embora se possa considerar a mudana que envolve os
marcadores como parte do processo de gramaticalizao, cada um dos grupos o dos
operadores e o dos marcadores - apresenta, nos enunciados, comportamentos peculiares,
o que suficiente para distinguir, dentro de um s processo, dois mecanismos de
mudana. Sistematicamente, operadores e marcadores apresentam a seguinte
configurao: os primeiros tendem a ocupar posies mais fixas (como conjuno
temporal ou como prefixo), assumindo funo prototipicamente gramatical nas duas
modalidades da lngua oral e escrita e obedecem uma regularidade de uso:
advrbio>locuo conjuntiva; os ltimos tm maior disponibilidade de colocao, com
funo relacionada organizao/adaptao do discurso em contextos de fala, sendo
motivados pela natureza improvisada da fala, que influencia na produo do discurso,
dificultando a organizao linear das informaes. Em se tratando da funo exercida
por esses itens lingsticos, o autor anuncia: os operadores marcam partes do discurso j
mencionadas (anfora/catfora); sinalizam partes a mencionar; e ligam partes do
discurso, estabelecendo relaes argumentativas. Quanto aos marcadores, sua
macrofuno viabilizar o processamento da fala/recepo do ouvinte, e, como subfunes, marcam reformulaes na fala; marcam topicalizao; indicam discurso de
fundo; modalizam a fala; preenchem vazios.

3. Desenvolvendo uma anlise: o caso do ASSIM


O conjunto dos dados totalizou 25 (vinte e cinco) ocorrncias do assim nos
artigos de opinio, e 59 (cinqenta e nove) na entrevista. Como procedimento de anlise,
distribu o conjunto das ocorrncias nas duas modalidade em 4 (quatro) categorias de
uso, conforme o valor semntico assumido e o contexto estrutural. No quadro abaixo
disponho as categorias e, em seguida, caracterizo esse elemento lingstico. Neste

trabalho, analiso uma amostra constituda de dezessete excertos representativos de cada


categoria, em cada uma das modalidades. Ressalte-se, no que se refere ao nmero de
ocorrncias do item em anlise, que houve preponderncia de emprego na modalidade
oral, embora o corpus se constitua de uma s entrevista em comparao aos vrios
textos escritos.
MODALIDADE ORAL
1. ditico remissor de informaes inferncias
2. estratgia de negociao de expectativa, com funo catafrica de sinalizar
Reformulaes
3. marcador de referncia anafrica/catafrica
4. marcador de tpico
MODALIDADE ESCRITA
1. conector adverbial com valor lgico de concluso/conseqncia =
Portanto/Por isso
2. conector anafrico, representado por advrbio ou predicativo com valor
circunstancial de modo = dessa maneira/desse jeito/dessa forma
3. expresso idiomtica indicadora de sucesso de fatos = etc.
4. outros: modificador com valor de intensidade e de condio
Quadro1: categorias de anlise

3.1 Caracterizao geral


Tradicionalmente o elemento assim se enquadra em duas classes de palavras
na dos advrbios e na das conjunes. Na qualidade de advrbio, o termo caracteriza-se
sintaticamente como modificador, portanto, como adjunto, e semanticamente indica
circunstncia de modo; j na qualidade de conjuno (funo de conexo, parte dos
mecanismos de textulizao), articula ou liga frases ou pores textuais, estabelecendo
relaes de concluso, conseqncia, ou sntese entre as partes interligadas.
De acordo com Vilela e Koch (2001, p.245), a marca categorial do advrbio
a de modificar: o verbo, a frase, o adjetivo, o prprio advrbio, ou a enunciao. Alm
disso, a partir da orao: S Deus justo, os autores mostram o advrbio enquanto
modificador de um substantivo. Bechara (1999) tambm se refere a esse ltimo tipo de
uso do advrbio, ilustrando com o item assim em situaes como: Pessoas assim no
merecem nossa ateno. Este autor alude ainda ao uso do advrbio na funo de
predicativo, com base na orao A vida assim, deixando evidente a proximidade
entre essa classe e a dos adjetivos. No decorrer da sua exposio sobre o advrbio,
Bechara chama a ateno para a mobilidade posicional dessa categoria gramatical e
aponta esse trao como responsvel pela incluso, por parte de alguns gramticos, de
unidades dessa classe - o caso de advrbios como: pois, logo, entretanto, contudo, por
conseguinte (p.289) - na das conjunes.
Na relao sugerida por Bechara no consta o assim, mas, dada a sua associao
semntica com outros elementos citados, a exemplo de logo e por conseguinte,
poderia integrar a mesma lista. tambm interessante o posicionamento desta autor
quando, ao tratar das conjunes coordenativas, subclassifica-as em aditivas,
adversativas e alternativas e justifica que algumas unidades adverbiais como: pois,
porquanto, logo, portanto, assim, por conseguinte, contudo, entretanto, que introduzem
oraes com valor de explicao, concluso, conseqncia, adversidade no so
conjunes, por no terem o papel de conector, embora, em certos casos, tenham certa

proximidade com estas; tais partculas so, sim, advrbios que, conforme Bechara (1999,
p.322) estabelecem relaes inter-oracionais ou intertextuais.
Duarte (apud Mira Mateus, 2003) compartilha dessa mesma viso quando estuda
a coeso interfrsica. Nesse sentido, ela faz uma diviso entre conexes paratcticas de
que resultam frases compostas; conexes paratcticas em que um dos membros frsicos
parenttico e conexes paratcticas de que resultam unidades textuais superiores ao
texto. O item assim contemplado no primeiro e terceiro tipos de conexo. Na
exposio da primeira modalidade de conexo, a autora lista oito tipos de conexo:
listagem enumerativa, listagem aditiva, confirmao, sequncia temporal, contraste
concessivo, contraste antittico, disjuno e inferncia. O termo em discusso assume,
ao lado de pois, portanto, por isso e consequentemente, o valor de inferncia. Mas,
frise-se, sua especificao de conector adverbial, no de conjuno, pois esta tem
como representao a partcula e. As conexes do terceiro tipo expressam os mesmos
valores semnticos, diferenciando-se pelo fato de que estas, nos termos de Duarte (idem,
p.99) articulam perodos simples, compostos ou complexos e pargrafos com outros
perodos ou pargrafos. Logo, o assim novamente aparece, junto a unidades como da,
ento, desse modo, entre outras, como conector adverbial que expressa os valores de
sntese e inferncia. Conforme a autora, as conexes citadas so mecanismos de
organizao textual, por ajudarem o leitor a recuperar a diviso do texto, e, no caso
especfico da sntese, sua relevncia se justifica porque, ao estabelecer a ligao entre as
unidades textuais, a ltima unidade engloba o significado das primeiras (p. 102).
Martelotta (2004), tal como Duarte (ibidem) tambm atribui um carter anafrico
a esse elemento, o que se evidencia em construes nas quais o termo estabelece relao
lgica de causa/conseqncia entre oraes, de modo que o enunciado anterior
apresentado como causa para o que se vai enunciar na sequncia organizacional do
discurso. Esse elo anafrico ocorre ainda em construes em que se estabelece relao
de tempo, confirmando o processo de gramaticalizao ocorrido nas locues assim
que e sendo assim, que expressam, respectivamente, idia de tempo e consequncia.
Ademais, este autor assinala a natureza ditica dessa partcula. Trata-se de um uso
marcado pela remisso a informaes inferveis, recuperveis no contexto, de acordo
com os conhecimentos compartilhados pelos participantes na interao comunicativa.
Nesse caso, o falante pressupe que possvel ao ouvinte construir um quadro/esquema
resultante de uma experincia comum. Segundo o autor, esse uso muito freqente em
descrio de ambiente, uma vez que o ouvinte conduzido pelo falante a visualizar
mentalmente a imagem/cenrio construdos por este.
Uma outra modalidade de uso corresponde ao que Martellota (idem, p. 130)
denomina ponto de negociao de possveis expectativas do ouvinte em relao ao que
est sendo dito, estratgia utilizada pelo falante para evitar erros de interpretao.
Tambm se associa a uma estrutura de comparao em que o assim, ao sinalizar para o
segundo elemento da comparao, assume uma natureza catafrica.
Por fim, tem-se um uso como marcador discursivo, cuja funo assinalar
reformulaes, resultantes do prprio dinamismo da fala, bem como omisso de
informaes inferveis, indcio de insegurana do falante quanto exatido do dizer ou
do no comprometimento com o dizer.

3.2 Diversidade de usos do ASSIM nas modalidades oral e escrita da lngua: do


nvel da orao ao do texto e do discurso
Para elucidar os aspectos supracitados, comento os excertos de texto abaixo
transcritos, ordenados na seguinte disposio: primeiramente os dados da modalidade
oral, depois os da modalidade escrita.

3.2.1 Modalidade oral


Se dentre as quatro categorias de classificao do assim na modalidade escrita
predominam as funes de conector adverbial e de conector anafrico, na modalidade
oral destaca-se o uso como elemento de remisso de natureza ditica, seguindo-se do
uso como mecanismo de negociao de expectativas em relao ao que se vai dizer.
Nesses dois usos da modalidade oral, o elemento lingstico abarca potencialmente um
conjunto de informaes que o falante pressupe ser do conhecimento do ouvinte. Para
elucidar esses aspectos observem-se as categorias a seguir:

CATEGORIA (1): ditico remissor de informaes inferenciais


Nesta categoria situam-se os exemplos cuja compreenso depende de que o
ouvinte acione na memria esquemas de fatos, acontecimentos ou mesmo situaes
concretas experienciadas no cotidiano pelos interlocutores da situao comunicativa.
Nos casos ilustrados em (1, 2, 3 e 4), a remisso aponta para situaes bem familiares
aos interlocutores. Nesse sentido, em (1) o falante caracteriza um bairro como sendo
bom por se localizar proximamente ao centro da cidade, pressupondo que o ouvinte no
s visualiza o centro, mas tambm conhece os atributos desse local. O mesmo ocorre
quando das referncias, em (2), atitude do professor de separar alunos numa turma,
caracterizando um comportamento rgido; em (3), situao das crianas cujos pais
vivem mendigando, sob alegao de no ter emprego, argumento que no aceito pelo
falante. E tambm em (4), a referncia ao tipo de programao do meio de comunicao
rdio. Quanto aos outros exemplos, o processo de recuperao das informaes
inferveis mais complexo por depender de imagens que se constrem no decorrer do
tempo; ou seja, o falante no vive necessariamente as situaes mencionadas, mas faz
uma ideia do que elas representam.
1. E- Desses bairros que voc j morou, qual que voc mais gostou, Vnia?
I- Acho que foi Cruz das Armas, apesar de ter morado pouco tempo achei timo,
foi um ano maravilhoso pra gente. L tem tudo, n? Pra gente, mais :: mais aqui
tambm num ruim no, sabe, que bom, perto assim do centro, aqui :: o pior
daqui :: tempo, que tem muita gente que gosta de reparar, n? A vida dos outros,
essas coisa0 toda0[...]
2. E- Vnia, o que voc acha da importncia que se d ao dinheiro?
I- [...] Se voc num tem dinheiro, como que vai comprar uma roupa, um, numa
doena como que voc :: voc vai, olhe, hoje em dia assim: a pessoa adoece pra
um hospital, assim, municipal, ou mesmo hospital que vai, chega l num atendido
da maneira que voc vai pra um particular. Quer dizer, que voc pra um particular
com qu?

3. E- Qual seria a soluo para eles, Vnia?


I- Evitar ter filhos (risos). Ps no mundo pra sofrer. Se no tem condies que
no tenha filho. Mas hoje eu:: , eu fiquei ali perto da Americana, fiquei
horrorizada; um casal novo com dois filho0, assim me pedindo, oxe (gaguejo)
sinceramente acho isso:: acho isso o fim, sabia? [...] Ajudo deficiente, cego, se
pedir:: a gente v tanto cego por a trabalhando, tudinho, por que eles jovens ainda
eles, di, n? O casal, com os dois filhos, assim, pedindo esmola? Por favor, n?.
4. E- Vnia, qual a importncia do rdio pra comunidade, na sua opinio?
I- Se passar o dia sem escutar rdio, pra mim o dia acabou (risos) [...] A acho
que o rdio tem muito a ver, assim com o dia-a-dia da gente, nas notcia0, nas
msica0, eleva at a :: o ambiente. Acho que importante, um meio de
comunicao, n?

CATEGORIA (2): estratgia de negociao de expectativa, com funo catafrica


de sinalizar reformulaes
Este segundo grupo rene os casos que Martelotta (2004, p.131) designa de
ponto de negociao de possveis expectativas do ouvinte em relao ao que est sendo
dito. Nesta macro-categoria esto inclusos diversos usos cujo trao comum o de
preencher vazios caractersticos da elaborao do texto oral. Ao mesmo tempo, o item
funciona cataforicamente como sinalizador de reformulaes, deixando transparecer a
passagem de elemento gramatical para a de marcador discursivo.
Nos exemplos (5) e (6) percebe-se claramente a preocupao do falante em
esclarecer, sem parecer antiptica ou preconceituosa, o que entende por dedicao, da
procurar se expressar de modo adequado, evitando crticas sua posio. Tambm nos
exemplos (7) e (8) v-se a busca de preciso, atravs de ressalvas, como ocorre nos
pares: no esses trombadinha0 que fica l embaixo, {inint} assim, essas creches que
tm assim :: que precisa de dinheiro, n?, em (6); s vezes eu t, assim, de cabea
quente, assim, s vezes brigo, n? Dentro de casa., em (7). Nota-se ainda o uso como
modalizador, o caso do exemplo (8) em que o falante tenta justificar o medo de adotar
uma criana de rua.
5. E- Vnia, e como voc acha que deve ser a esposa, ento, depois de casada?
I- Acho que tem que ser dedicada (risos). Dedicada assim, se num tiver filhos,
n? Tem que ser sempre limpa, tem que ter, assim, nas hora0 que o marido precisar
est ali. Eu num digo empregada n? Mas tem que sei l, ser uma boa esposa, ser
limpa, [...]
6. E- Vnia, quem mais voc ajudaria, como e por qu?
I- Acho que esses meninos de rua. Tenho tanta pena deles, de ver assim :: no
esses trombadinha0 que fica l embaixo, {inint} assim, essas cheches que tm assim
:: que precisa de dinheiro, n? Com os :: pra alimentao, vestimento :: so esses
que eu ajudaria. [...]
7. E- Vnia, como a carismtica?
I- [...] E um, como diz, uma terapia. Eu me sinto bem {inint}. s vezes eu t,
assim, de cabea quente, assim, s vezes brigo, n? Dentro de casa. A eu saio, vou
pra minha carismtica, peo a Deus que ele me proteja, que ele me ilumine. [...]
8. E- Vnia, voc adotaria uma criana de rua?

I- Sinceramente? No. Acho que se eu tenho condies de ter os meus, pra que
eu vou adotar outros, num ? E outra, eu acho assim, eu vejo tantos exemplos por a
que adota assim, e no final s tem decepes. A minha madrinha adotou uma
criana [...] Ela teve a maior decepo porque criou com muito carinho, deu amor a
ela, de tudo, do bom e do melhor e qual foi o pago dela? Decepes. Ento eu acho
que eu poderia assim, at adotar sabe, mas se fosse o caso assim de :: ser assim, de
uma pessoa at conhecida.
9. E- E qual foi o pior professor assim, que voc j pegou?
I- Pior? Ah, mais num foi de l no, foi do Osvaldo no. Foi do colgio
estadual ao de Cruz das Armas, [...]
10. E- Vnia, como voc acha que teria sido se voc tivesse continuado os estudos?
I- Acho que seria assim, mais vantajoso no termo, assim, de gravar mais, n?
porque quem tem um curso superior sempre ganhava mais um pouquinho, num num
muito no, mais mais ganhava mais um pouquinho, num num muito no, mais
mais ganhava mais um pouquinho l. Fora isso acho num tem outras vantagem no
(risos) [...]

CATEGORIA (3): marcador de referncia anafrica/catafrica

O tipo de uso ora em observao revela o papel de conector do assim, em que o


termo corresponde a desse modo, dessa maneira como adjunto adverbial de modo
ou predicativo tal como se verifica no texto escrito. Nesse sentido, serve de organizador
textual seja para retomar informaes dadas, a exemplo de (11), (12) e (13) seja para
chamar a ateno do ouvinte para o que se vai dizer, a exemplo de (14), (15) e (16):
11. E- Qual o curso que voc gostaria de ter feito?
I- Educao Fsica (risos). Educao Fsica porque eu sempre gostei de esporte,
n? Joguei oito anos handebol e sempre eu pensava assim, sabe, em fazer Educao
Fsica. Na poca que eu jogava meu sonho era esse, mas depois que eu parei de
jogar [...]
12. E- Vnia, o que voc acha da importncia que se d ao dinheiro?
I- Acho o dinheiro muito importante na vida, sabe?Num tudo no, num
tudo, mas que importante, . Se voc num tem dinheiro, como que vai comprar
uma roupa, um, numa doena como que voc :: voc vai, olhe, hoje em dia
assim: a pessoa adoece pra um hospital, assim, municipal, ou mesmo hospital que
vai, chega l num atendido da maneira que voc vai pra um particular.
13. E- Vnia, voc fez alguma promessa? [...] Por que?
I- Que dizem, assim, n? Que a gente faz a promessa, disse que a gente no
pode falar o que foi que a gente pediu. Se a gente pede e alcanado pra que
falar?[...]
14. E- Vnia, o que voc acha da existncia de tantas religies?
I- [...] Assemblia de Deus. Acho so os piores. Justamente isso que eles
falam, que s eles sero salvo. Eu num acredito nisso. Eu num sou muito de ler a ::
ler a Bblia, n? Num sou, mas ele diz que ta escrito l na Bblia, n? Que :: mas sei
no eu num acho que seja assim no (risos) de jeito nenhum.
15. E- Como voc imagina que seria? (referindo-se a algum tipo de violncia)

I- Bem desagradvel, bem sofredor. Acho que seja assim, mas eu num posso
tambm dizer, me aprofundar, mesmo se eu nunca passei por ele, n?
16. E- Vnia, o que voc acha da mulher trabalhar fora e no se dedicar ao lar, ao
marido e aos filhos depois de casada?
I- [...] Acho que eu num faria nunca isso, deixar meus filho0 na mo dos outros
tudinho, e [...] num a mesma coisa de voc passar a manh com o filho. Dar a
lio, dar carinho, dar um banho, num a mesma coisa. O bichinho at se sente
rejeitado. No que tenha que ser assim tem que s vezes at por obrigao mesmo,
uma pessoa tem que ajudar o marido e o que?

CATEGORIA (4): marcador de incio de tpico

A situao abaixo ilustrada apresenta o assim com funo de marcador de


hesitao, ao mesmo tempo em que introduz um enunciado. Paralelamente, o termo
serve como estratgia de manuteno de tpico.
17. E- Vnia, vocs j discutiram, assim, alguma vez muito feio mesmo que voc
achou [...]
E- Como foi?
I- Assim, tem que contar a?
I- Foi por conta de uma besteira mesmo, a por causa de uma besteira se tornou,
assim, uma um caso srio, que a gente passou mais de ms sem se ver. [...]

3.2.2 Modalidade escrita

CATEGORIA (1): conector adverbial de concluso/conseqncia = Portanto/Por


conseguinte
Integram esta categoria os exemplos de (1) a (3) abaixo transcritos, que, sob o
aspecto estrutural, revelam comportamento distinto. Em (1) tem-se um uso do termo em
posio intercalada, separando, na orao, o sujeito do predicativo, j em (3), separando
o verbo e seu complemento objeto indireto. Observem-se os exemplos:
1. [...] uma boa oposio pode acelerar nossa evoluo nesse campo.
decepcionante, assim, a atitude de oposio porque no caso da caderneta de
poupana, principalmente porque a ele devemos [...] grande parte das mudanas
que nos legaram a estabilidade econmica [...].(artigo: Oposio desorientada Malson da Nbrega - 03/06/09)
2. [...] o normal, na verdade, [...] o contrrio: estamos quase sempre no topo da
tabela quando se medem desgraas [...] e no fim da fila quando a classificao se
refere honestidade na poltica, [...]. uma surpresa e um alvio, assim, ver uma
mudana nessa escrita e numa questo essencial: de acordo com [...] (artigo: Ponto
de partida - J. R. Guzzo - 30/09/09)
3. [...] Hoje, ao estado democrtico cabe o monoplio da violncia [...]. Os frutos
do esforo individual pertencem aos que empreendem, sem risco de confisco por
reis absolutistas ou regimes autoritrios. A polcia, uma organizao do estado, zela
pelo cumprimento da lei.

O estado se transforma, assim, no baluarte do direito de propriedade [...].


(reportagem: O MST , sim, um caso de polcia - 18/11/09)

Nesses casos o conector assim viabiliza a modalidade de conexo que Duarte


(apud Mira Mateus, 2003) confere o nome de conexo paratctica de que resultam
unidades textuais superiores ao perodo, pois se estabelecem entre as pores textuais
de (1-2) relaes lgicas de concluso e em (3), de sntese. Ressalte-se que a
interpretao resulta de um processo inferencial, j que o autor organiza os enunciados
tentando conduzir o leitor a perceber, com base na situao descrita e analisada, os
mesmos subentendidos, e a compartilhar da mesma opinio, que em (1) seria a idia de
que a oposio tem atitudes contraditrias, em (2) de que h boas notcias no campo
educacional, e, por ltimo, em (3) o autor abrevia a situao a que se reduziu a relao
entre o sistema de leis e o estado.
Outro contexto estrutural corresponde ao uso do assim no incio da orao,
podendo vir separado por vrgula, como ilustram os exemplos de (4 a 6) ou no
exemplos (7) e (8):
4. [...] Em um governo ausente de vontade poltica para enfrentar questes
impopulares, a oposio acabou fornecendo um motivo a mais para a inao. Assim,
preferiu-se um confuso remendo tributrio a uma soluo definitiva como a de
atrelar o rendimento taxa Selic. [...]. (03/06/09)
5. [...] Da a emenda constitucional 22, de 1951, que restringe o exerccio da
Presidncia a dois perodos, consecutivos ou no. Assim, Roosevelt foi razo para
limitar e no para ampliar o nmero de mandatos. (artigo: o terceiro mandato
arruinaria a economia - Mailson da Nbrega - 03/06/09)
6. [...] Em outras palavras, sua filosofia a de que no basta manter os alunos
dentro dos muros do colgio preciso ensin-los de maneira efetiva. Assim,
cursos adicionais como xadrez, msica, dana e mecnica so ministrados nas horas
extras [...](reportagem: Mais estudo, menos violncia - 09/09/09)
7. [...] O direito de propriedade garantido pela Constituio (...). A lei atribui ao
Ministro da Justia e defesa da ordem jurdica, dos direitos polticos e das garantias
constitucionais. Assim, a ofensa quele direito, especialmente por meio violento,
um caso de polcia [...]. (reportagem: Mais estudo, menos violncia - 18/11/09)
8. Se o respeito volta, o crime adoece. Assim mais fcil combat-lo. Foi dessa
maneira que [...] (entrevista: A vitria estar vivo - 03/06/09)

Nesses exemplos visvel a relao de causa e conseqncia entre perodos.


Exceto em (7), em que a conexo ocorre no nvel do texto, pois se segue a uma srie de
informaes. Os dados revelam a regularidade de uso (no s estrutural, mas
semntica), confirmando, pois, a classificao a que se referiu Martelotta (2004) - do
assim como operador argumentativo.

CATEGORIA (2): conector anafrico/catafrico, representado por advrbio ou


predicativo, com valor circunstancial de modo = dessa maneira/dessa forma
Ilustram essa categoria os exemplos (9) e (10), nos quais o assim,
estruturalmente, tanto funciona como predicativo - estando o sujeito elptico - anteposto
ou posposto (9 -11) quanto como adjunto adverbial de modo (12 - 13).

9. [...] Fica assim, ento: Serra, Gabeira e Marina entre dezenas de nomes
semelhantes, esto na direita; Sarney, Tuma e Maluf, entre outros tantos, esto na
esquerda. nisso que veio dar, no Brasil atual, a distino entre ideologias. (artigo:
Baralho falso - J. R. Guzzo - 02/09/09)
10. Somos uma democracia jovem felizmente j vigora -, ainda no dispomos de
bons partidos, [...] Acontece que foi assim tambm nas democracias hoje maduras
[...]. (artigo: Oposio desorientada - Malson da Nbrega- 03/06/09)
11. [...] Mas a secretria se estanhou com o governo e com a ministra Dilma
Rousseff em particular; acabou posta fora, foi chamada de essa secretria pelo
presidente da Repblica e j est a caminho de entrar na lista negra dos que
colaboram objetivamente com a estratgia direitista de Serra, Gabeira, Marina etc.
assim que funciona. (artigo: Baralho falso - J. R. Guzzo - 02/09/09)
12. [...] Mas, interessante registrar, os avanos tecnolgicos tm sido muito
generosos par com os mais pobres. No que tenham sido pensados assim, mas o
que aconteceu. (Tecnologia para ricos ou pobres? - Cludio Moura e Castro 25/11/09)
13. [...] Meu problema com a bebida piorou muito quando fui diagnosticado com
Parkinson. Quando me deram a notcia, comecei a beber mais ainda. Par mim, o
alcoolismo e o Parkinson tm muito em comum impossvel ter controle sobre
ambos. Foi preciso me render e aceitar que eu no podia beber moderadamente. S
assim a recuperao se tornou possvel [...]. (entrevista: O Parkinson no me vence
- 02/12/09)

Em todos os exemplos o item gramatical em anlise funciona como uma forma


referencial, logo, como um recurso coesivo, que ora sinaliza para o que ser enunciado
(relao catafrica ex. 9) ora faz remisso ao contexto anterior seja um perodo ou
um pargrafo (relao anafrica).

CATEGORIA (3): Expresso idiomtica indicadora de sucesso de fatos


Os exemplos (14) e (15) a seguir assemelham-se, sob o aspecto estrutural, por se
seguirem partcula e como parte de uma expresso j cristalizada. Semanticamente
exprimem ao texto uma relao de enumerao (14) ou freqncia/repetio (15).
14. Nas democracias representativas, cada vez mais o caso do Brasil, a oposio
parte essencial do processo. A ele cumpre realar os erros da administrao, evitar
abusos, prevenir corrupo e assim por diante. (artigo: Oposio desorientada Malson da Nbrega- 03/06/09)
15. [...] A aprovao do terceiro mandato abriria campanha para o quarto, e assim
sucessivamente. [...] (artigo: o terceiro mandato arruinaria a economia - Mailson da
Nbrega- 17/06/09)

CATEGORIA (4): modificador com valor de intensidade ou de condio


No exemplo (16), o assim modifica um substantivo, comportamento apontado
por Bechara (1999). O uso do termo imprime s informaes um valor de nfase,
intensidade, ou seja, busca-se realar os fatos; J no exemplo (17) o elemento imprime
ideia de condio.

16. uma surpresa, no fundo, que algum consiga ser eleito com tanta proibio
assim e a sada para os polticos, inevitavelmente, trapacear. o que est
acontecendo no momento. [...] (artigo: tempo de trapaa - 28/10/09)
17. O Brasil atravessou silenciosamente, em 2007, uma fronteira que d o que
pensar: passou a marca dos 10 milhes de funcionrios pblicos. Tudo isso? um
nmero e tanto, assim primeira vista. Qualquer coisa que chega aos 10 milhes
parece grande e no caso, quando se pensa no servio que o pblico recebe em troca
do que paga para sustentar essa gente toda, parece maior ainda. [...] (artigo:
Empregos secretos - 24/06/09)

4. Consideraes finais
Destacou-se, neste trabalho, o papel da forma lingstica assim na organizao
dos textos, tanto da modalidade oral como da escrita, particularmente como recurso de
conexo (conjuno), um dos mecanismos de textualizao apontados por Bronckart
(2003). Depreenderam-se, pois, regularidades de uso nessas modalidades, demonstrando
a validade de se explorar as formas gramaticais nos diferentes gneros. Evidenciou-se
a pluralidade de funes semntico-discursivas do item em foco, bem como a influncia
do contexto com base no qual foi possvel a depreenso das inferncias. Logo, houve, de
um lado, funes convergentes nas duas modalidades da lngua, no sentido de que o
assim apresentou comportamento similar (uso como conector adverbial ou conector
anafrico/catafrico coeso nominal e tambm inferencial), com predomnio da funo
de operador discursivo; e, por outro lado, um comportamento peculiar, na modalidade
oral, funcionando como marcador discursivo. Face ao exposto, percebe-se a
incoerncia de um estudo pautado numa classificao fixa das formas, quando estas tm
uso diversificado, o que prprio da mobilidade da lngua, da a relevncia dos estudos
centrados na explicao das mudanas lingsticas, a partir de situaes reais de uso.

5. Referncias
BECHARA, Evanildo. Moderna gramtica portuguesa. 38. Ed. Rio de Janeiro:
Lucerna, 1999.
BRANDO, H. N. Gneros do discurso na escola: mito, conto, cordel, discurso
poltico, divulgao cientfica. Vol. 5. So Paulo: Cortez, 2000.
BRONCKART, Jean-Paul. Atividade de linguagem, textos e discursos: por um
interacionismo scio-discursivo. So Paulo: EDUC, 2003
DUARTE, Ins. Nome do artigo. In: MATEUS, Maria H. M. et alii. 2003. Gramtica
da lngua portuguesa. Coimbra, Almedina.
MARTELOTTA, Mrio Eduardo; AREAS, Eduardo Kenedy. A viso funcionalista da
linguagem no sculo XX. In: FURTADO DA CUNHA, M. A.; OLIVEIRA, M. R.;
MARTELOTTA (Orgs.). Lingstica funcional: teoria e prtica. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.

_________.Gramaticalizao em operadores argumentativos. In: MARTELOTTA, M. E.,


VOTRE, S. J. e CEZRIO, M. M. (orgs) Gramaticalizao no portugus do Brasil: uma
abordagem funcional. Rio de Janeiro: Tempo brasileiro, 1996.
VILELA Mrio; KOCH, Maria Ingedore Vilaa. Gramtica da Lngua Portuguesa: gramtica
de palavra, gramtica de frase e gramtica de texto/discurso. Coimbra: Almedina, 2001.

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