Anselmo Eckart - Memórias de Um Jesuíta
Anselmo Eckart - Memórias de Um Jesuíta
Anselmo Eckart - Memórias de Um Jesuíta
ffi
MEMORIAS DE UM JESUTA
PRISIONEIRO DE POMBAL
1.
2.
Proscrltos (2 vols.),
3.
4.
5.
L.
Gonzaga de Azevedo.
ANSELMO ECKART,
S..
J.
Memrias de um Jesuta
prisioneiro de Pombal
LIVRARIA A.
I. -
BRAGA
EDrES LOYOLA
SO PAULO
S. J., ,oorn
do
priig,;rnal;
tNu,rn,berg,
llartino
.,H,irsttoira Fers,ecuionris
lrrg-1280, ipor
Joaq,uiirm Abranch.e,s,
@
SECRETARIADO NACIONAL DO APOSTOLADO DA ORAO
47Lg BRAGA Codex (portugal)
EDIES LOYOT-A
B,a'irro
do lpinanga C.
PosNa'l 42.ggs
(BRAS|L)
ADVERTNCIAS
PREFCIO
No hd dvida que este liyro que agora a.parece, pela
primeira vez em traduo portuguesa integral do original
latino, s' deve considerar como contributo de ineghtel valor
histrico, para maior conhecimento da poca pombalina.
O anttor, no s foi testemunha ocular do essenial
daquilo que nos relata, mas esteve existencialmente implicado
no drama, vivendo-o no corpo, flo corao e na, Alma. E, ao
contrdrio de grande parte das publicaes da poca sobre o
mesmo temA, nunca procura esconder a sua personalidade,
os seus ideais e a sua filiao religiosa, por detrtk do anonimato.
, impressionante o equilbrio do gnero literdrio que
conseguiu criar: por um lado, revela a vibrao sempre contida (embora umas vezes menos que outras) prpria de quem
rtiveu os vrios passos deste calvdrio; por outro, revela o
homem culto e o narrad.or obiectivo que sabe que tem de
observAr, estudar e investigar, antes de lanar ao papel o
seu relato.
No menos impressionante a coincidncia mAtemdtica dos dados humanos, geogrdficos e histricos descritos
pelo autor h mais de 200 anos para enqua"drar o seu testemunho pessoal, com aquilo que ainda hoie podemos verificar
in loco e com aquilo eil:, os mais qualificados historiadores
seus contemporneos, embora de outros quadrantes e afinL
dades, nos deixaram.
Trata-se do P. Anselmo Eckart, nascido a 4 de Agosto
de 1721 , no Eleitorado de Mogncia (Mainz), muito provavelmente em Bingen. Filho de Francisco Pedro Eckart, que foi
Pref
cio
mente quando) comeou a redigir AS memrias do seu cativeiro, que depois ird aornpletando com mais da"dos, rigorosamente investigados n,o estudo e no contacto com outras
testemunhas oculares. E assim que estas Memrias nos aparecem publicadas pela primeira rzt entre 1775 e 1789, em
latim, na obra, monumental em 17 tomos de Christoph Gottlieb
von Murr Journal nJr Kunstgeschichte unrd zur allgemeinen
Litteratur, nps Tomos VII, 293-320; VIII, 81-288; IX, 113-254;
344-352, sob o ttulo R.P.A.E. (R. P. Anselmi Eckart) Historia
Persecutionis Societatis Jesu in Lusitania.
Von Murr (1733-1511) foi um erudito alemo, nascido
em Nuremberga, de vastssima cultura, que viaiou muito e
investigou ainda mais. Pertenceu a um grande nmero de
academias cientficas e literdrias. As suas obras, todas em
vdrios volumes, abarcam rwnos do saber como a. histria,
a. religio, a msica, a filosofia, etc.... Apesar d,e protestante,
no escondeu a sua simpatia pela aco da Companhia de
Jesus. Por altura da suq. supresso pelo Papa Clemente XIV
escreve as clebres Cartas de um Proestante sobrle a
extino dos Jesutas. De 1787 a 1789 publicard. A Histria
dos Jesutas em Portugal na poca do Marqus de Pombal,
em que nA bibliografia por ele consultada e que ele enumera ('), pudemos contar cerca de 100 obras e documentos,
tuw
('1) Geschchte d,er lesutan i,n Portug,al, unter der Staa,tsverwaldes Marquis v,on Pombar. Nrnberg, Felsechrischen Buchhandlung,
L787, 2 vol., Erster Theil, Verzeichnis der Schriften zrtr Geschichte der
Jesten in PortrUal" XUI-XL; B.N.L. R. 34875-6 P.
Von Mur abre a introduo desta sua obra da seguinte maneir: "Q triste destino dos Jesutas em Portugal como todos aqueles
que procurarn a verdade no podem deixar de o admitir
exige uma
descrio isenta dos motivos secretos que estiver&m na- sua origem
e que, pouco a pouco, se tm vindo a revelar. Quando se pensa na
cnreldade com que foram tratados, por um Ministro desptico, tantos
l0
Mas
o seu trabalho,
verdadeiramente monumental
nps
referimos,
em 17 Tomos (ou mais exactaid
mente em 19, porque depois acrescentou mais dois com o
ttulo Neues Journal zur Kunstgeschichte und zur allgemeinen
Litteratur) , em e, entre muitas outras obras, publica pela
primeira vez diversos documentos inditos jesuticos: os do
P. Eckart, por exemplo. Desses documentos, pudemos verifioar que pelo menos o original de um deles se e?trcontra na
nossa B. N. L.: as celebruimas plantas dos crceres de .S. lulio da Barra (von Motrr, Jounlal, IX, 236) (').
O relato do P. Eckart, publicado por von Murc sob o
ttulo de P.P.A.E. Historia Persectrtionis Societatis Jesu in
Lusitania, foi traduzido jd em ydrias lnguas.
aquele a que
Para francs, por A. Carayofl, na sua obra Documents indits concernant I'a Compagnie de Jsus, IX, LXXXII;
1-312, Ed. de Poitiers, 1865 (t), com o ttulo Les Prisons du
Marquis de Pombal ministre de S. M. le Roi du Portugal
(1759-1777).
Pref co
2
Novamente para francs por Dom H. Leclerce,
nA sua obra Les Martyrs, Recueil des pices authentiques sur
les martyrs depuis les origines iusqu'au XX' sicle. PAris,
1903-1924. N,o conseguimos apurar se segue o texto de t)on
Murr ou de A. Carayon.
a 1777.
Segue, de modo geral, a traduo de A. Carayono <<mediz o P. MArinos em alguma passagem em que preferimos
recorrer ao originAlrr.
nho
p.
206).
t2
I
Aneddoti del Ministero di Sebastiano Giuseppe
Carvalho, Conte de Oeyras, Marchese di Pombal, sotto il Regno
di Giuseppe I Re di Portugallo; Venezia, 1787, em 2 Tomos.
Esta obra, ao contrdrio do que julga Carayofr, no
totalmen,te annima. Sabemos que uma parte do tomo II
do P. Loureno Kaulen: Litterrae de miseriis ctaptivorum Societatis Jesu in Lusitania. In Carcere S. Iuliani ad Fluvium Taguffi, die 12 Dec. 1766. (Cfr. Serafim Leite, Historia da Companhia de Jesus no Brasil, VIII, p. 308) O.
Alm disso, segundo von Morr, que conhecia perfeitamente esta obra porque a cita na sua bibliografia da Geschichte ('), e tambm segundo Sommervogel, Bibliothque de
la Compagnie de Jsus (III, col. 1963), id existiria umo edio
francesa, anterior italiana, publicada em Varsvia, chez
Janos Rovicki, em 1783.
2
13
Segundo Sommervogel (|il, col. 1963), o tradutor francs seria Claude Marie Gattel e a edio francesa impre.ssa
em Lyon. O manuscrito de Gattel ainda existiria em Grenoble.
Antnio Lopes, s. i.
rrrsrnH Da PERSEcUTo
DA COMPANHIA DE .IESUS
EM
PORTUGAT
AI\O DE
Comea
1754
cadssima Soberana>>.
A perseguio futura
de Diana,
o fruto do
e inolvidntimo um
Companhia, comeou pouco a pouco a
ANO DE
1755
de
ad
20
It/lemrias
de um Jesuita prisioneiro de
Pombal
trava-se ento no Par, e ele teve de equipar uma outra lancha, entregando a carta
a um homem de confiana para ele a dar pessoalmentea Mendona o mais depressa
possvel. Deu-se este por ofendido de a cafia ser confiada a um estranho, o no a
um homem da sua casa. Queixou-se ao Provincial, e exigiu que expulsasse para Portugal um sbdito que no sabia servir a Deus nem ao rei. (Aneddoti del Ministero
di Sebastiano Guseppe Carvalho, Conte de Oeyras, Marchese di Pombal, Sotto il
Regno di Guseppe I Re di Portugallo, MDCCLXXXYII, 1787,Ip.27).
ANO DE
1756
Vendo o Padre Hundertpfund que se apagaa toda a esperana de voltar Amrica, obteve do rei permisso paa regressar sua provncia natal.
essou a
rofessor
Espanha, a, 3 de Maio de
classes.
em Trento, onde outrora ti
Yeio a morrer na sua pfiia, ro ms de Janeiro de 1776.
AI\O DE
1757
(') Ao ruir dos edifcios, seguiu-se um feroz incndio que se prolongou sete
dias, e ameaou reduzir a cinzas toda a capital. Em meio da horrvel confuso, o
Irmo Braz com incrveis esforos, afrontando por quatro dias o perigo de ser devorado pelas chamas que o rodeavarn, conseguiu domin-las, salvando a Casa Professa,
e com ela parte da cidade. Os Jestas armaram pressa imensas barracas na cerca
da sua casa, e abrigaram nelas mais de trezentos infelizes sem amparo, alimentando-os, e cuidando-lhes os ferimentos. Os Padres percorriam a cidade paa confessar
Ano de t757
25
(t)
Eis como se executou esta despedida: Eram dez horas da noite, quando
do Bispo de Lame-
(N.4. *) esta uma cidade da provncia chamada Beira, clebre pelas cortes
ali reunidas, em 1243, vulgarmente conhecidas por Cortes de Lamego. (n) Nelas se
confirmaram as principais leis do Reino e, sobretudo, a lei que proibia a uma
herdeira do Reino casar com um prncipe estrangeiro.
(n) Refere-se s lendrias Cortes de Lamego, consideradas, hoje em dia,-sem
qualquer fundamento histrico. CN.T.)
(u) A causa que provocou o exlio do Padre Francisco de Toledo foi uma carta
escrita a D. Jos l, a seu prprio pedido. Ouvindo todos os dias do seu Ministro
as acusaes mais revoltantes e inverosmeis contra os Jesutas, quis informar-se da
Ano de
27
1757
Portu Eal, props-se procuar os indgenas, atra-los vida civilizada, fundar uma nova misso. No longe da aldeia de Carara
(a mais bela das misses do lVaranho, nas margens do rio Pina) esforava-se ele, com todo o vigor, por atrafu luz da f as
vrias tribos, euo jaziam ainda na noite obscura do pagatismo:
entre estas sobressaa a tribo dos Amanajs, tribo menos selvagem e mais parecidana cor com os europe-us, superando, a regio
do Maranho e do Par, todos os outros Indios, guo viviam ainda
na barbrie.
2B
Ano de 1757
Por fins do mesmo ms de Novembro de 1757, igual desgraa cau sobre mais dez Jesutas do Par. Eram estes, paru
alm do Reitor do Colgio do Par, nove missionrios, dos quais
seis portugueses e trs alemes; o Padre Loureno Kaulen, de
Colnia, o Padre Antnio Meisterburg, de Berncastell, ambos
da Provncia do Baixo Reno, e o Padre Anselmo Eckart, de Mogncia, adscrito Provncia do Alto Reno.
Foram todos atirados para um navio de guerra carregado
com material blico. O oflcial militar obrigava os seus subordinados a fazer exerccio todos os dias. Os Nossos ocuparam a maior
cabine do navio, partilhando-a com dez padres da Ordem Serfica dos Capuchos, que viajavam juntamente.
Acompanhavam este barco trs navios mercantes. Um deles,
depois de vrios dias de viagffi, comeou a meter gua em tanta
abundncia gue, mesmo com as bombas constantamente em
aco, so entrou a duvidar se conseguiria chegar salvo ao porto
de Lisboa. Por isso, os capites dos outros navios dirigiram-se
ao barco de guerra pata delibetat) no sobre a melhor forma de
fugir a algum recife perigoso, mas de evitar ser submergido pela
violncia das guas. Resolveram dirigir a nau, no meio de to
grande perigo, para a Ilha de Barbados, que era a mais prxima
(na Amrica Setentrional) e pertencera Inglatera) uma das
chamadas Ilhas de Barlavento. Uma vez rcpaada, entrou no
porto de Lisboa com mais sorte do que o navio de guerra.
ar{o DE 1758
No dia 1 de Janeiro, avistmos ao longe um navio. No nos
dando sinal algum da sua nacionalidade, mandou o comandante
disparar contra ele uma bala de cantro. Imediatamente retorquiu com outro tiro. Pouco faltou para que uma bala de chumbo,
zunindo aos ouvidos do comandante, o matasse. O nosso navio
estava j preparado paru o combate. Os marinheiros armados
tinham tomado o seu posto.
Mas, depois de dois ou trs dias, no se atrevendo a travat
combate com o nosso, o navio desapareceu. Pouco depois, surgiram no horizonte mais outros dois. Eram duas naus francesas,
comandadas por ingleses gu, como eles prprios confessaram,
as tinha
comandante
de
Mar e
ingleses,
a bandeira
convencer
al,
os
sso
Chegada a Llsboa
n
o
ffifiufiT*5rfi
umh
&trr sf{$flrrtrurrffi
tfifi#tr
;fr'd r
fl
IJ*
f,
ffi
f,?t}
Frontespcio de um dos 17 volumes da obra de von Murr Journai zur Kunstem que ele publica, pela primeira vez, As
MII, 81-288; IX
113-254;344-352), Nrn-
i
1
tli
de
Ano de
1758
Na tarde de 15 de Fevereiro, saindo do navio, fomos levados paru tena, onde nos esperava j, gtande multido. Encontrei-le, ento, com o Conde de Paraso, brigadeiro, antigo e valoroso oficial sob a bandeira austraca, que sau de Lisboa em 1753,
um dos principais comandantes militares. No mesmo ano, dera
ele um lauto banquete aos Jesutas alemes, antes da nossa partida paa o Maranho.
Estavam j, preparadas algumas pequenas caleches, e,ada
uma com lugar para duas pessoas. Eram oito para os quinze exila3
34
dcis, que foram distribudos aos pares por sete carros, e um ocu-
Poucos libelos deram tanto brado, e fizeram tanto mal Companhia como
a Relao Abreviada. Foi o livro favorito de Pombal. S na cidade de Lisboa mandou
imprimir 20.000 exemplares, que distribuu por Prncipes, Bispos e Superiores de
Ordens Religiosas. Enviou-os aos embaixadores de Portugal nas diversas cortes da
Europa, com ordem de os fazerem traduzir para as lnguas dos diferentes pases em
que se encontravam, e de os espalhar por todos os meios ao seu alcance. Mais ainda.
Para maior divulgao f-los imprimir com diferentes ttulos. Assim em Outubro
de 1757, sau em Roma com o ttulo de Carta do Ministro de Portugal ao lulinistro
de Espanha sobre o imprio dos fesutas,' pouco depois com o de Repblica do Maranho e Hstria do Rei Nicolau I, sucessivamente. (Anedd. t. f, p. 130)
Ano de
1758
Mas prprio dos falsos polticos usar de palavras prfidas corrtra aqueles que querem caluniar e contra o leitor ignorante, que
pretendem induzir em erro, ou, pelo menos, deixar perplexo e
menos benvolo para com aqueles contra os quais e escreve.
Este libelo (que fora tambm fiadtzido para espanhol, italiano e alemo) menciona igualmente dois alemes, os Padres
Antnio Meisterburg e Anselmo Eckart: <<Jesutas que com a
violncia do dio so conhecedores experientes de todos os meandros, desvios, enganos, manhas, astcias, maquinaes e estrotagemas>>. Este ridculo autor no sabe o que diz; a si mesmo se
afiaio, quando mede a todos com a sua prpria medida. Toda
esta to grande astcia dos Padres da Companhia permaneceu
oculta dos Reis de Portu9al, to perspicazes como os antecessores de D. Jos I: Filipe IV, Filipe III, Filipe II, Cardeal D. Henrique e D. Sebastio ? Todos estes prncipes coroados confirmaam
com diplomas rgios as misses confiadas aos cuidados paternais
dos Jesutas, cumularam-nos de privilgios e favores, honraram-nos prodigamente com elogios: mas, enganaram-se, iludiram-se,
foram induzidos em erro. O fogo, por tantos anos oculto debaixo
das cinzas, finalmente, sob o glorioso regime de Sebastio de
Carvalho e Melo e de seu irmo Mendona Furtado, explodiu
em chamas, quando os Jesutas conspiradores ocultos deram o
mximo do seu esforo, fiabalharam arduamente com todas as
veras da sua alma e se esgotaram de fadiga para conquistar estas
terras meridionais para Cristo e Portu gal. Eu no discuto aqui
como descorts meter a foice em seara alheia; como feio e
estulto impor leis a homens que nunca se meteram comigo, nem
nunca me fu;eram mal; como insensato pr-se a investigar o
que fizeram de bom ou mau nas nossas prprias casas.
Entretanto, o desvergontrado redactor deste tristemente
famoso libelo escreve muitas pginas narrando histrias retintamente falsas. tIma delas, cau por acaso nas mos dum
certo desembargador da provncia da Beira de Portugal. O caluniador contava que um missionrio jesuta do Paraguai dizia aos
seus indgenas go, se num combate matassem algum portugus,
deviam depois cortar-lhe a cab
depois de mortos, se os no
aquele desembargador ao ler t
estas pginas cheio de nusea e indigna,o.
Ano de
1758
E a aldeia que antes se cha"mava Trocano, passou a chamar-se Borba-a-Nova. Nome que foi tomado da vila de Borba, frL
provncia portuguesa do Alentejo. Foi esta a clebre vila que o
Padre Anselmo Eckart edificou, conquistou e honrou com nome
novo. Sustende o riso meus amigos !
Que ele, poucos meses antes da chegada de Mendotrg, nos
princpios de Julho de 1755, fora enviado como missionrio para
este lugar, concedo; mas, que tivesse por companheiro o Padre
Antnio Meisterburg, absolutamente falso. Este ltimo estava
frente de uma outra misso, chamada Abacaxis, nas margens
do rio Madeira, mas distncia de dois dias de viagem. Depois
de uma ou duas semanas, chegaram uns pobres soldados, os primeiros fundamentos desta ilustre vila futura. A maior parte deles
tinham sido obrigados a casar contra vontade com mulheres
indgenas na misso de Mariv, junto ao rio Negro, misso que
tinha sido administrada pelos padres cannelitas e guo, depois
tinha sido tambm ela reduzida condio de vila; ai iam ser
convocados os delegados de Espanha e Portugal pata determilarem os limites das provncias.
Jesutas acusados de possurem dols canhes
Entramos agoa a ttatat a grassima acusao sobre a suspeita atroz de que os Jesutas tinham consigo dois canhes de
guerra. Mais um crime inaudito at ao dia de hoje.
A respeito destes pequenos canhes, eis a histria muito
verdadeira, que tanto exasperou os nossos adversrios. No ano
de 1725, fundou o clebre missionrio portugus, Padre Joo
de Sampaio, residente em Abacaxis, uma nova aldeia de Santo
Antnio de Pdua, nas margens do rio Jamari, que no mapa
aparece como Cayenro, mas os ndios chamam Irury. Este lugar
era frequentemente infestado e os seus campos devastados por
uma tribo brbaru bastante numerosa chamada Muras, no
muito diferente daquela de quem Tlio Ccero diz: houve um
tempo em que os homens vagueavnm como feras pelos campos. Este
povo nmada gente de tanta crueldade, que mata impiedosamente qualquer indivduo que encontre, quer seja europou, quer
seja de qualquer outra tribo. O Padre Sampaio, paa livrar os seus
nefitos de to perigosas incurses, pensou em transferir a misso
38
Ano de
1758
e Melo,
ir
estas
ial
(')
a 1735,
i. I, p.
131)
::fs:
: El
*:,*ttyT;
ixar impune
No obstante tal proibio, o Padre Fonseca atreveu-se resolutamente a ilibar a honra e o bom nome da Companhia, que qualquer homem e, muito mais um religioso, tem obrigao de defender, segundo o aviso do Esprito Santo: Tem cuidado de defender
41,15).
Para apagar, sobretudo entre os nativos, a infmia espalhada pelos caltrniadores, o Padre Fonseca escreveu uma obra-n otvel pela autenticidade dos testemunhos que colheu, digna de ser
publicada, a fim de desfazer tantas mentiras; esta mesma obra,
escrita em portugus, foi traduzida paa latim pelo Padre Fay.
Contlnuao da vlagem para Sanflns
Ano de
4t
1758
Chegmos
a uma
era
ser s eles os estimados, s eles tidos por grandes e famosos. Mendona ficou marcado junto do rei com este negro ferrete e por
isso, foi mandado sair de Lisboa no espao de 24 horas. Acolheu-se a uma propriedade sua, vizinha de um lugar chamado Salrego.
Assomand janela da sua casa, levantou ao alto um leno branco
e agitou-o quando passvamos: era um exilado a saudar outros
exilados.
No Porto, tivemos tambm de presenciar espectculos ter-
Ano de
1758
Ao aproximar-nos de Braga, capital da provncia de Entre-Douro-e-Minho, fomos recebid os com muita delicadeza nas
casas de campo de Ferreiros e Montariol, pertencentes ao nosso
colgio de Braga. Dali cavalgmos em mulas, a 8 de Maro de
1758, e chegmos, o meu companheiro e ou, mortos de cansao,
nossa residncia de Sanfins, exilados para o mais longnquo
lugar do mundo portugus. Esta casa antiqussima, euo fora dos
beneditinos, conta j cerca de 1.000 anos. Fora dedicada ao mrtir S. Flix, de quem se l, a 1 de Agosto, no Martirolgio Romano: Em Gerona, na Espanha, o natalcio de S. Flix Mrtir;
depois de muitos tormentos, foi mandado aoitar at dar a vida
por Cristo. O seu crneo guarda-se nq Igreja contgua a esta
casa, muito frequentada pelos galegos. E pia tradio entre eles
que se tocarem com po nas sagradas relquias deste mrtir ) e
(')
44
Esta casa foi imortalizada por alguns dos seus ilustres habitantes da nossa companhia: Simo Rodrigues, um dos primeiros
dez companheiros de Santo Incio; o venervel Incio de Azevedo
que foi martirizado com 39 companheiros pelos piratas em dio
da f e submergido no mar i a, ainda por S. Francisco de Borja,
que se diz ter habitado o quarto onde eu mesmo dormi, agora
transformado em biblioteca. Estvamos como reclusos, quinze
Jesutas da Amrica, espalhados por diversas residncias, pois,
por ordem de Sebastio de Carvalho, so impupera a9s nossos Superiores a obrigao de vigiar, paa que nenhum de ns pudesse
afastar-se pata longe da regio a que fora confinado. Foi-nos
proibido ainda com mais severidade pr p em qualquer terra
fora de Portugal.
Novas cahimias
Entretanto, continuam os adversrios da Companhia a espalhar pelo povo novos panfletos, uns manuscritos, outros impressos. Alegavam,-se as falsas razes pelas quais o Rei fidelssimo
proibira os Jesutas, confessores do palcio real, de nele entrarem.
Acusavam frngidamente os Nossos de terem introduzido no palcio real o Prncipe de Espanha, D. Lus, vestido com o hbito
serfico de S. Francisco, no intuito de o levar ao casamento com
D. Maria, Princesa do Brasil. Falava-se ento do Duque de Cumberland, como pretendente sua mo. Incriminavan os Nossos
no Porto; g,
de serem os instigadores dos tumultos
-populaes
nem sequer servia
ainda, de afimarem que o vinho do Porto
para as missas: ramos ns rus de tanto sangue derramado ('o).
(t')
Todas as mentiras, mesmo as mais desaforadas e inverosmeis, eran aproveitadas e usadas, desde que com elas se pudessem enganar os simples e desacreditar
os Jesutas. Pombal e os seus sequazes no tinham o mais pequeno escrpulo. Mas
infelizmente para eles, nem tudo eram almas simples e crdulas. Lfm dia um dos mais
ardorosos adeptos do partido anti-jesutico, depois de despejar na presena duma
dama muito culta o seu mais longo e belo captulo a respeito dos Padres, recebeu
dela esta rplica : <Mas tudo isso no nada; eu sei a respeito deles uma coisa muito
mais horrvel; foram eles esses medonhos monstros que provocaran o tremor de
terra destruidor de Lisboa!... E o falacioso interlocutor ficou mudo, de boca aberta,
e sau rodando sobre os calcanhares. (nedd. t. f, 137, not.)
Ano de 758
45
lT il'Jtill?:,t:
No dia 2 de Maio de 1758, chega nossa Casa Prode S. Roque a bula (que na realidade era um
breve) da Refonna de Bento XIV, datada de I de Abril (,').
fessa
clebre
(N.A. *) Dos seus muitos volumes, cinco foram traduzidos paa a lngua
latina; encontrarn-se em Colnia com este ttulo: Sermones Selectissimi foecmditate materiarum, sublimitate et acumne conceptuum admirabiles.
(") A autenticidade deste decreto foi muito contestada. Eis o que a este respeito afirma o autor de Mmoires de Pombal: O estado de abatimento em que na
altura se encontrava Bento XIV, com a sade to abalada que j pouca esperana
havia de recuperao, o dio desmascarado contra os Jesutas, do Cardeal Passionei, secretrio dos brevos, as intrigas do Comendador Almada, o o prprio teor do
mesmo Breve, provo@ran as suspeitas bem plausveis do seu carcter subreptcio.
Por tal o tiveram os que se julgam com jt:zo crtico para julgar objectivamente os
factos atravs das obscuridades do Direito Cannico. ( Mmoires de Sbastien
foseph de Carvalho et Mlo, Comte d'Oeyras, Marquis de Pombal -- Secrtaire
et Premier Ministre du Roi de Portugal loseph I, 4 tomos M DCCLXXXIV, pp.
146 e 147.)
da Companhia, mas
antes
Cf, Mmores
de
Ano
de 758
A 3 de Maio, morre
47
o de-
creto declarando as virtudes hericas do Vener iel Padre Francisco de Jernino, S. J., morto a 11 de Maio de 1716, ilustrado
por m_uitos milagres na vida e depois da morte. Expirou o Sumo
Pontflce nos braos do Padre Pepi (',), clebre missionrio da
nossa provncia napolitana. A respeito deste abrao escrevia um
arguto escritor romano: <<Amou-os at ao fim> (Jo 13rl).
Nesse mesmo ms, o Cardeal Saldanha, envergando as vestes pontifcias debaixo do plio, comparece com um squito
aparatoso na Igreja de S. Roque, eue hoje a Igreja da Miiericrdia, e exi ge a homenagem de todos os Jesutas, como seu Visitador Apostlico ('). Este templo menos danificado pelo terramoto comeou a ser parquia em 1756, e, a Casa Professa destinou-se s orianas rfs.
(")
Maio de
religioso. Eis uma amostra da gazeta de Lisboa, de 20 de Agosto de 1759: <O Cardeal
Arcebispo de Npoles fez-se transportar juntamente com o Ministro de Sua Majestade casa dos Jesutas, pouco depois da morte do Padre Pepi, falecido em odor de
santidade. Nos aposentos do defunto encontraram-se 600 onas de oiro em p, no
valor de 50.000 ducados em notas; 1.600 libras de cera; 3 relgios de oiro; 10 vasos
de cobre cheios de tabaco da Holanda i 2W lenos de seda, e uma soma de 300.000
ducados. AIm de tudo isto, tinha este Padre mandado fazer uma esttua da Virgem
em prata macia, de tamanho quase natural; numa palavra , eta to rico que ornamentou a igreja dos Jesutas, em toda a sua extenso de veludo carmesim com gales
e franjas de oiro. Estas e outras, as fantsticas invenes do jornal lisboeta. A verdade, porm, que nem o Cardeal, nem o Ministro se deslocaram qasa dos Jesutas;
e que tais mentiras bem poderiam ao menos inventar-se com menos inverosimilhana.
(nedd.
(")
t. II, p. 5)
Afectou mesmo um certo ar de humildade, chegando a dizpr que estava
ele mais necessitado de reforma do que a Companhia, o que bem podia ser verdade,
diz o autor de Aneddoti. <Coragem!, diz ele ao Padre Henriques, hei-de tratar-vos
com bondade. Mas logo no dia seguinte, se desvaneceram todas estas bondosas
disposies. Queixou-se mesmo de que os Padres no tivessem iluminado as casas
em sinal de regozijo pela sua tomada de posse. Estranha queixa, esta! Querer obrigar
as pessoas a regozijarem-se com os golpes que preparava paa as fustigar! (Anedd.
t. f, p. 168)
48
5 I5T'{{ $:l
]'-t.:, [t']
[i s.
h,
r$"rirlr"TTT,
t' \ [t
.\
rl \ {.\ \'{}N,
Ano de
1758
50
mente XIII.
E que comrcio era o que Saldanha atribua aos Jesutas de Lisboa? Os Padres
tinham, de facto, nesta cidade um depsito de mercadorias, que faziam as vezes de
moeda. Vendiam-r&s, como qualquer particular pode vender o produto das suas
terras, e o preo delas era empregado no sustento dos missionrios da Amrica, que
no possuam outros recursos. No era comrcio propriamente dito. (Anedd. t. I,
p.
170
Para avaliar justamente a boa f que presidiu redaco deste decreto, recorde-se que o Cardeal Reformador s foi a S. Roque uma vez, em 31 de Maio, para receber as homenagens da comunidade da primeira residncia da provncia, e informar
a todos que ia entrar no exerccio do seu cargo. Ora nesse dia o decreto que condenava os Jesutas como culpados de comrcio jl tinha sido redigido e assinado havia
duas semanas. (Mmoires de Pombal, t, f, p. 213)
Ano de
5l
1758
todaaterraeas
seu
trs magistrados, QU aprovaram o meu sermo e concedernm outorizao para o publicar, etc...
Todas estas asseres do Padre Malagrida posso eu confir-
Ano de
1758
prometia
('u).
(") Parece certo que este, como muitos outros libelos aparecidos por aquele
tempo contra os Jesutas, se imprimiram em Roma no prprio palcio do embaixador de Portugal. De facto, Almada, vendo as vantagens que uma tipografia ao seu
dispor lhe ofereceria para a realizao dos seus desgnios, contratou, fora de promessas e de dinheiro, um Italiano, chamado Pagliarini, que tinha sido um simples
livreiro, a dirigir no seu prprio palcio uma imprensa clandestina. Comeou ento
a sair a lume uma multido de livros sob a falsa origem de Lugano, qve irradiavam
da embaixada. Almada ps disposio do impressor uma varanda do seu palcio,
para mais depressa secar as folhas dos livros que ali eram vistas pelas religiosas do
mosteiro de So Loureno. Estas comunicaram to estranha exposio s pessoas
que as visitavam, e assim se despertou o alarme. Tornou-se deste modo pblica a
verdadeira fonte donde jorrava a enxurrada de libelos que infestavam a cidade de
54
Mas venhamos agora ao nosso reformador, o Cardeal Saldanha. J, o Cardeal de Solis y Cordoy, Arcebispo de Sevilha,
o aconselhara a que moderasse um pouco o rigor da sua autoridade para com a Companhia que tinha obrigao de defender,
e se no deixasse influenciar tanto pelos inimigos dela. Pois a
sua sentena condenatria seria uma ndoa contra a Santa S.
Vlslta ApostItca de Saldanha Companhla
Eis como decorreu a visita apostlica de Saldanha Comu por exigir aos
do Ultramar, os
despesas e receit
ram e rebuscaratrn, effi vo, sem conseguirem descobrir os imensos
tesouros que Sebastio de Carvalho vislnmbrava e cobiava. No
havia uma casa gue, sobretudo depois do terramoto, no estivesse atolada em dvidas. Os colgios de Coimbra e do Par, que
eram os maiores
o primeiro com cerca de 2N religiosos, e o
segundo com 100- deviam ajudar os que estavam em maiores
- desembaraar-se das suas dvidas. Imps
diflculdades a tentar
proibio
ao Provincial a
absoluta de fazer qualquer trasferncia
dos sbditos de uma casa para outra. No fez visita cannica a
comunidade alguma, como a bula pontifcia lhe permitia.
No dia 31 de Julho, ainda pude celebrar pela ltima yez,
embora com liberdade limitada, a festa de Santo Incio. No dia
seguinte, celebrava-se a de S. Flix, padroeiro da nossa Igreja.
As primeiras Vsperas so acompanhadas de msica, maneira
do Minho. IJm gaiteiro munido da gaita de foles e um moo ru-
Roma, tais como: Reflexes sobre o Memorial dos lesutas; Os Lobos desmascarados
pelo P. Dinelli, Dominicano, etc.. Mons. Caprara, Governador de Roma, mandou
fazer uma sindicncia para descobrir o impressor, e Pagliarini, confessando o crime,
foi condenado s gals, donde sau passado algum tempo, e se retirou a Npoles.
Pombal , o sab-lo, passou-lhe carta de nobreza, com um alvar de secretrio da
Iegao, uma penso anual de I .200 escudos, e um prmio de 6.000 escudos. Mais
tarde, chamou-o a Lisboa, confiando-lhe a direco da imprensa real, e, depois de
lhe ter obtido de Clemente XIV um breve de reabilitao, nomeou-o cavaleiro da
Espora de Oiro. (Mmores de Pombal, t. II/, p. 27 e f82)
Ano de
1758
fando o tambor. Cada vez que termin ava um salmo entoado por
sete clrigos, rompia a gaita com uma rufadela, em suavssima
sinfonia. Na regio do Minho no se concebe uma festa sem este
melodioso concerto. Bstas gaitas de foles so to apreciadas pelo
povo, que quando algum quer troar de outrem, Ihe atira cara
este insulto: <<Nem tens um gaiteiro de foles na tua famlia>>.
No dia 27 de Agosto, faleceu a Rainha Catlica, D. Maria
Brbara, esposa de Fernando VI, e filha de D. Joo V. Troaram
a anunciar a sua morte os canhes da fortaleza de Tuy. Esta cidade da Galiza ergue-se nnma colina, frente nossa residncia de
Sanfins, cerca de um quarto de hora de distncia. O comandante
daquela paa militar espanhola foi delicado paa connosco, despachando a nossa correspondncia com o Padre
vedra (cidade situada entre Tuy e Santiago de
l, paru Madrid e Roma. Em Portu3al, o correi
confiana. Como testemunho da grande estima desta Rainha
pela Companhia, basta recordar que em seu testamento legou
212.N0 cruzados ao Padre Borrotr, da CompaUhia de Jesus,
paa serem aplicados s misses da China e d ndia Oriental.
(N.4.*) Tomou este nome de Belm por causa do mosteiro dos Eremitas de
S. Jernimo, dedicado Virgem Maria com o ttulo de Nossa Senhora do Bom
Parto. O rei D. Manuel f, que o erigiu, jaz sepultado nele. A 13 de Junho de 1,777,
eu mesmo, celebrando missa neste sumptuoso templo, ainda pude ver um pano negro
estendido sobre o lugar da sua sepultura. Tambm sua esposa, D." Maria, tem ali
o seu mausolu; tal como D. Joo III com sua esposa D. Catarin, o Cardeal-Rei
D. Henrique e D. Afonso VI.
Segundo Plato, esta Ordem dos Jernimos teve como fundador Pedro Fernando,
que abandonando a corte de D. Pedro, rei de Castela, e levando consigo para a vida
solitria alguns companheiros fundou, pelo ano de 1383, esta ordem, que foi con-
Ano de
1758
(N.4. *) Neste panteo, perto de Lisboa, que se chama, vulgarmente, Convento das Agostinhas Descalas do Grilo, repousam os restos de D. Lusa de Gusmo,
mulher de D. Joo IV.
58
Ano de
1758
ANO DE
1759
Venho agora ao ms de Janeiro, cujo primeiro dia foi outrora sempre to alegre. Mas, neste ano de 1759, Janeiro ficar
peqpetuarnente de tritssima memria para as casas de Portugal.
O dia 12 deste ms, frcar, funestamente assinalado na lembrarLa
de todos, pela fercz sentena lavrada contra seis rus de sangue
nobilssimo e cinco outros, ro Palcio de Nossa Senhora- da
A,no
de
1759
63
Ano de
1759
com az,o se pode perguntar se faeram tal declara,o espontneamente ou fora de torturas. Conta-se que puseram na cabea
*)
(N.4.
do
5
Minho.
*) A
Ano de
1759
ques,
de R
deste
aos Jesutas
dos Jesutas
, nos nossos
tempos to tormentosos, embora sejam ainda estimados por
muitos nobres da corte; e pede as fervorosas oraes dos seus
irmos.
O instigador dos nossos adversrios nada poderia descobrir
de condenvel nesta carta escrita por um homent to bondoso:
nela, procura afiancat trevas
rando
e, a mesma piedade, a mesma
sol e
eturpa e transforna em vcio e
ora
dncial e contra
ou-se
, declarando que eles esto to cheios de arrogncia
m num
palavra
sbito abismo de baixeza, como se se fizesse
de Ben-Sirac: <H quem se humilhe malici
com o
corao cheio de dolo (Ecli 19,23).
O Padre Malagrida, a quem Carvalho odiava com dio viperino, no pde fi.car esquecido. D." Leonor de Tvora tinha-o
por homem santo e penitente. Ela, com seu marido Francisco
de Assis, frzeru com este padre os exerccios espirituais, j depois
de ele ter sido proscrito para Setbal. Tal crime no poderia ser
imputado a um homem imprudente, nem a um criminoso, a no
ser que fosse doido varrido; isto porm, atribuu-o Cawalho a
este homem honestssimo e perfeitamente so. Seria impossvel
acreditar ou sequer suspeitar qualquer demncia no Padre Malagrida. Ouvi um religioso de um mosteiro vizinho da nossa residncia afirmar-me que tinha por um Jesuta so, sbio e santo
ao Padre Malagrida, a quem conhecera muito bem no tempo
em que vivera no Maranho (N. A. *).
Os outros dois atingidos por esta sentena eram os Padres
Joo Alexandre e Joo de Matos. E qual foi o crime que lhes
imputaram? O de visitarem o duque de Aveiro, de quem eram
amigos. O
no procedimento do homem
incluu quatro Jesutas, mas
recto. Esta
e facto, acrescenta que o duque
tinha muitos
(N.A.
*)
antonomsia
o Mosteiro, fora
Mas, vejamos agoa os factos: O Padre Joo de Pina, procurador da provncia lusitana, que ao tempo residia em Santo
nha ido apenas uma
as para assistir a um
se me no engano,
um certo parente dos marqueses de Marialva, pelo qual fora consabido que o duque no simpatizava
rvalho, porm, esforou-se por demonso duque ao colgio os desentendimentos
tinham acabado. Argumento que prova demais, no prova nada.
Dia vfu, em que resplandece luz do sol a inocncia dos Jesutas e a maldade dos Cawalhos.
Invadtda a residncia de Sanflns
um forte
casa.
Ano de
1759
69
t. f, p.263 e
sgs.)
70
da residncia
Provncias do
bm um segundo procurador enviado de Goa paa ir a Roma,
mas no foi, porque no obteve licena de Carvalho e Melo. E
ainda um novo procurador do Brasil, porque a nossa Provncia
do Brasil, como eta demasiado numerosa, se dividiu em duas:
a do norte e a do sul.
Comea o catlvelro do Padre Eckart
um trabalho que ele devia fazq: uma lista com o ttulo de todos
os livros e seus autores. No erarn muitos
cerca de 500.
- apenas
Como ele me fazia freguentes visitas, numa
delas perguntou-me:
<Que tem el Rei contra os padres estrangeiros ?
Eckart levado com outros Jesutas
('o) O texto
No dia
bilo (Is
9,3).
Ano de
7l
1759
os meus dez
No dia
**).
OI. A.
(N.A. *) O rio Lima, sobre o qual foi lanada esta ponte, nasce na Galiza e
no Atlntico. H historiadores espanhis que tentam provar que o Letes
desagua
no o sabiam loc,alizar,
outrora os
-Limia
- este rio,
ou Lima. Daqui yem que, quando os mestre-escolas
Irtes
* *) Bracara Augusta, Braga, capital da provncia de Entre-Douro-e-Minho, uma cidade antiqussima, da qual alguns povos da Galecia (Galiza) toma-
(N.4.
rarn o nome de Brcaros @racarenses). Era um dos sete tribunais romanos da pennsula Hispnica. <Fu Chancellera de Romanos (que llamavan ellos Convento) a
donde conveniam los comarcanos a recibir justicia (Lexicon Ecclesiasticum Latino-Hispanicum, auct. Didacus Ximenez Arias O.P. Alcantarensis, Pampelonae, 1722).
Por ordem de Pombal, todos os Jesutas clas residncias prximas do Colgio foram presos como ns e fiazidos paa a cidade
escolta
muros
algum
faltou
para que eu no ficasse esmagado pela multid,o. Foi um sargento
que
numa sp,la qEe servia de farmcia,
armados. Estava tambm o
Des
do Porto, revestido de negra
toga de seda roagante at aos tornozelos, sustentando na mo
a longa vara da justia. Mediu-rro dos ps cabea, e segredou
ao Reitor do Coleio: Eu no posso iulgar o interior das pessoas,
mas a caa deste Padre diz-me que ele est inocente).
Permaneci nesta farmcia at 12 de Maro. A falta de sade
3'H:
dos
iona-
uma vez.
cascalho.
Ano de
1759
dindo as trevas da minha priso. IJm fragor terrvel, semelhante ao estoirar dum canho potente, veio ensurdecer-me os
ouvidos. O fulgor de um raio gue incendiou de luz a torre da
igreja, perto da minha cadeia de prisioneiro, irradiava em todas
as direces. Na torre, - antjOussima. relqrria du_ _?rquitectura
mourisca, h uma capelinha da Santssima Yirgem Me de Deus,
que vista da praa por todos os transeuntes, e que pelo lugar
que ocupa tem o ttulo de Nossa Senhora da Torre. Algumas
alfaias sagradas ficaram marcadas pelos efeitos deste extraordinrio raio e as velas do altar cobertas de fuligem. O chumbo que
ligava entre si os polgonos de vidro do vitral da capelinha derreteu-se. Dois dos nossos, un situado perto da janela e o outro
junto da mesa, ficaram a tremer de susto com o cheiro sufocante
a enxofre que se sentia no ar. Celebrava a cidade a festa de S.
Pedro de Rates, o primeiro Bispo de Braga.
O rei, ou melhor, Cawalho e Melo, continuou a descarregar
a blis principalmente sobre os Padres estrangeiros. Isto tanto
mais de admirar, se nos lembrarnos que nas veias de D. Jos
circulaya sangue germnico, pois sua me era austraca; e sua
av paterna, Maria Sofia, era filha de Filipe Guilherme, eleitor
palatino do Reno. Quanto a Sebastio Jos casara com a condessa de Daun, effi ateno quat a Rainha viva o promovera.
A perseguio continua. No dia 30 de Abril, chegam de
Lisboa, expulsos do Brasil, o Padre Joo Brener, de Colnia,
da Provncia do Baixo Reno, com mais 9 Padres { italianos,
ingleses
alemo.
*)
(") O Padre Moreira deixou-se enganar pelas aparncias, porque nessa altura
Carvalho fazia tudo por esconder os seus verdadeiros sentimentos. Quem o visse
ou ouvisse, pensaria que os Jesutas no tinham melhor amigo. Chegou at a vestir
o seu segundo filho com a batina da Companhia; e, depois de assim o ter apresentado
Ano de
1759
75
passara
por Lisboa, de caminho paa a ndia. O prprio futuro Marqus quando vinha visitar
os Padres, anunciava-se s vezes com o cognome de <Iesutico. Mas a fina perspiccia da Companhia no foi capaz deadivinhar todo o verdadeiro significado daquele gesto.
A D. Joo V, porm, Carvalho com toda a habilidade e prodigiosa flexibilidade do seu carcter, nunca conseguiu iludi-lo. IJm dia em que o indigitavam o rlonarca para Ministro, ele retorquiu: <<nem me faleis em tal homem. No o conheceis.
No quero colocar o meu Reino sobre brasas, deixando-o on tais mos). S os
Jesutas, tidos por finos e astutos, se deixaram enganar por este hipcrita.
Do Padre Moreira dizia o mesmo monarca: < um santo e sbio religioso
(Mm. de Pombal, t, I, pp. 17 e 21)
(") A respeito
cavalo s.
Ano de
1759
chamado pelo Papa: chega apressado, a exultar de alegria, orador eloquente para advogat a causa do seu rei. Mas que desiluso!
Apenas entra fla antecrn??, v diante de si vrios carcl,eais, entre
os quais Rezzonico, sobrinho do Pontfice, com o Cardeal-Secretrio; Corsini e Cavalchini estavam ausentes. E ainda Almada
no recupeaa da sua desagradvel surpresa, quando se abre subitamente a cortina dos aposentos pontifcios e, convidado a falar,
emudece, vendo-se iludido na sua esperana. O Papa pede-lhe
que exponha o que tem a dizer em nome de Sua Majestade Fidelssima. Ento ele cheio de indignao responde: <<Pedi umt audincia privada corn o Papa; ort vendo tantos cardeais perto de mim,
sem poder dizer coisa alguma que eles no oiam, nada tenho a
propor>>. O Pontflce faz-lhe sinal com a sua habitual cortesia, e
Almada, voltando-se paa o Secretrio, diz-lhe: <<Afinal vejo que
Sua Majestade Fidelssima nada consegue de Sua Santidade>>.
O que entretanto se passava em Lisboa, pode facilmente perceber-se pelo teor desta importante carta,escrita em espanhol por
pessoa de grande autoridade: O trgico e deplorvel espectculo
que este infeliz Reino nos apresenta no pe diante dos nossos
olhos seno desordens, confuses, crueldades e to triste cena
que dificilmente poder encontrar-se semelhante em todos os
sculos passados. Prosseguem as prises e as execues, quer
pblicas, quer secretas. No h ningum que no pense: Deus
abandonou este reino. Na ltima e,arta que escrevi a V. Ex.u informei-o guo, todos os que estvamos contra a Companhia de Jesus,
nos convencemos j da nossa sem-raz.o, pois aps as mais minuciosas investigaes, no encontrmos uma s casa que no fosse
de ediflcao e em que todos os bens no fossem destinados a
um nm santo e apostlico. Esmolas e dotaes estavam todas
escrupulosamente assentes nos livros de contas, com o acerto
e sentido de economia que deveria servir de modelo a todo o flel
cristo. Durante 52 dias tive em meu poder este precioso tesouro
entre muitos outros documentos, todos eles provas evidentes da
perseguio de que eram alvo estes religiosgs. Tornou-se esta
perseguio patente pelo luminoso resplendor do cu no momento
em que alguns dos seus santos religiosos morreram, coroados
com o martrio. Julgou-sg sejia suflciente que Deus, por este meio,
declarasse a inocncia da Companhia, para o monatca cair em
si. E, de facto, ele deu mostras disso. Mas, voltando o Ministro
sua presena, publicou depois deste encontro um decreto, proibindo sob pena de morte, que ningum falasse em tal viso. Assim,
78
a perseguio continuou com todo o seu fercz rigor. Parece incrvel que para informar este processo fossem procurados ingleses
e os que eram tidos como judeus. V-se claramente o dique que
esta Companhia opusera libe dade de costumes com a sua dutrina e pregao; pois logo que foi impedida de exercer o seu
ministrio, jorraram as maldades em torrentes caudalosas. So
inexcedveis a pacincia e resignao com que se oferecem a Deus
por este reino e seus inimigos. Os prprios guardas se comovem
e ediflcam ao observar a suavidade dos seus modos e atitudes.
No me considere, V. Ex.u., demasiado volvel, por mudar de
opinio e contradizet o que antes insinuaa a respeito da Compnhia de Jesus, pois foram a justi a e a conscinci que, abrindo-firrlo os olhos, me ajudaram a reconhecer o meu erro. O mesmo
aconteceu aos cultos e sensatos religiosos de outras ordens, que
admiram a constncia dos Jesutas, e alguns houve que afirmaram
desde o plpito que a Companhia oferecia a Deus tantos mrtires neste reino, quanto o nmero de religiosos que nele contava.
Foi doloroso; mas, conseguiram o prmio do mrtrio. Na triste
situao em que se encontra o pas, s a Companhia permanece
perfeitamente unida, pois as outras ordens encontram-e internamente divididas. Envio este breve resumo a V. Ex.u., que Deus
guarde por muitos anos. Lisbo, Julho de 1759>.
Est cafia escrita para a Europa atravessou tambm a sia,
em 1761. Os Jesutas de Manila remeteram-na paa os Jesutas
de Macau (N. A. *).
Tal ea
em Portu Eal, quando, a fim de
dar alguma
real, chegu s mos do Nncio
Aposlolico
lo, uma bafia pontif cia para o
rei. Nela se
o, ressalvado sempre os sagrados cnones e os privilgios forenses, para agir contra os re[igiosos acusados de cumplicidade no atentado ao rei. O Nncio,
no cumprimento do seu ofico, informa disto Carvalho e Melo
e pede uma audincia com o rei. Trs dias volvidos, recebe a resposta de que o rei lhe concede a desejada audincia, contanto
ut o Nncio rompa o selo das cartas o infonne com antece-
Ano de
1759
Ano de
1759
8t
Voltemos agora ao colgio de Braga e minha cela de prisioneiro. Os soldados que cercavam a nossa casa no s impediam a entrada de qualquer homem da cidade, mas examinavam
cuidadosamente at o alimento oferecido pela liberalidade dos
benfeitores, a fruta, como as melancias, que cortavfiI, no se
desse o caso de a natureza fazq brotar uma melancia cotr uma
carta escrita dentro dela! O nome de Carvalho e Melo chega aos
ouvidos dos Jesutas presos por todo o reino at Almeida, perto
da fronteira com a Espanha. Nesta fofialeza vivia o Visconde
dito de Mesquitela, parente de Cawalho, que quis celebrar com
uma festa pblica a elevao deste ltimo dignidade de Conde
de Oeiras; mesmo no meio da festa, no dia 10 de Agosto, deu-se
a morte do rei catlico, Fernando VI, provocada pela dor da
saudade em que a morte de sua esposa o deixara, no chegando
a sobreviver-lhe um ano.
Foram testemunhas desta festa abruptamente interrompida
sete Jesutas do Maranho, que estavam presos naguela fortaleza e tinham vindo do Colgio de Gouveia e de duas residncias, da Lapa e de Crquere (N. A. *).
*)
(N.4.
Gouveia, na diocese de Coimbra, era o marquesado do infeliz duque
de Aveiro. costume entre os portugueses que nenhum duque pode atingir tal ttulo
sem ter sido primeiro marqus, nem nenhum marqus sem primeiro ter sido conde.
E assim, o duque de Cadaval, o mais antigo dos duques, mais prximo da casa real
de Bragata, marqus de Ferreira e conde de Tentgal.
Depois da morte do duque de Aveiro, Aveiro passou a chamar-se Nova Bragana; mas, no pequeno calendrio de Lisboa, vulgarmente chamado 'folhinha de
algibeira', que se publica todos os anos, ainda se encontra o nome de Aveiro. Aveiro
uma cidade da provncia da Beira com um belo porto, que dista 11 lguas de Coimbra.
Os aveirenses tm um dialecto especial, cantando e acrescentando uma letra no fim
de vrias palawas.
6
ser
Come ava ele com estas palavras que bem patenteiam o ridculo
estilo do ministro : <<O Rei Fidelssimo depois de ter feito tudo aquilo
que deve fazer um rtlho rtd da Santa S>>. E que que ele fez afinal ?
O Papa enviou ao rei cartas cheias de zelo apostlico e de afecto
paternal, e nem sequer foram abertas; a Cria Vaticana nomeou
1uzes eclesisticos, mas todos eles foram rejeitados. Pediu o Papa
que a causa dos Jesuitas fosse legitimamente provada com testemunhos autnticos, e respondeu-se-lhe que no eram precisas
mais provas, pois o rei no queria que elas se divulgassem no
estrangeiro. As coisas falam por si, mesmo
quanta simulao! desta forma se pretendia
perversa do ministro: se uma pele de leo n
uma pele de raposa! O rcifez tudo, afinal no fez nada. Que mais?
Aprouve a Sua Majestade Fidelssima, por conselho de homens
probos e eruditos, para salvado do rei e para bem do reino, expulsar os Jesutas de todos os territrios sujeitos Coroa Portuguesa.
Neste decreto recoze-se de novo o caldo, e caldo recozido gera
fastio e ndusea. (Plnio, liv. 20. cap.Ix).
Volta bla a to decantada guerra dos Jesutas do Brasil
contra o rei. Uma guerra viva no Brasil. E para conflrmar a causa
do crime utilizarn-se especiosos exageros: acrescenta-se um novo
assim
apndice fbula prpria paa tolos e barbeiros
- poislanara
continua o autor do decreto : Esta horrvel e extensa guerra
jd razes to profundas QU, se se prologasse por ntais dez anos,
nenhum prncipe, nem nenhum rei da Europa, por mais poderoso
que fosse, poderia resistir-lhe, etc...
Mas, toda esta severidade veio a ser temperuda com alguma
clemncia do rei. Concede ele licena de permanecer em Portu gal
a todos, mas principalmente aos rnais novos, ainda ignorantes
dos malflcos segredos da Companhia, se se prontiflcarem a despir o hbito religioso. ('n) Se assim fu;erem, sero tidos como sb-
('n)
Ano de
83
1759
ditos fiis do monarca fidelssimo. Portanto, aquele crime de lesa-majestade de que se acusavam os Jestas, no era imputado s
pessoas, mas t,o s ao hbito religioso que eles vestiam.
Executou-se este decreto a 15 de Setembro. Alfa noite, mais de
100 Je_stas das nossas casas de Lisboa e dos colgios de Coimbra
e de vora (N.4. *) (todos eles eram dos que na eompanhia chamamos professos) foram atirados para um navio. O Reitor do
nosso colgio de Evora dirigia tambm a universidade fundada
pelo Cardeal D. Henriee, que depois foi rei.
A respeito deste exlio dos padres escreveu para Braga uma
irm de earualho e Melo (vulgarmente conheida por -Madre
Madalena, professa do Instituto de S. Domingos) a um certo
pintor seu conhecido, dizendo-lhe: ((Esta noite embarcaram os
Apstolos em Lisboa no se sabe para onde (N. A. **).
Carvalho encerrou no mosteiro a sua prpria irm, fixando-lhe uma parca penso anual para seu sustento. Morreu, h pouco,
na bonita idade de quase 90 anos.
Um navio estrangeiro transportou os primeiros
Companhia acompanhando-o um navio de guerr
at fronteira do reino. As provises destinadas
eram to escassas que o navio se viu forado a fazet escala no
memria dos habitantes desta cidade a lembrana da herica firmez.a qtrc mostraram
estes jovens religiosos perante os violentos assaltos com que os seus parentes e amigos
e at professores universitrios, tentaram convenc-los a largar a sotaina da Companhia. Poucos foram entre eles os que cederam violncia destes ataques, A maior
parte respondeu com tal grandeza de alma e nobreza de sentimentos, que, com grande
raiva do conde de Oeiras, muita gente admirou e aplaudiu. No contara com tanta
resistncia. Nunca ele imaginara que numa juventude frgil ia encontrar to obstinado apego a uma instituio que ele infamara e jurara destruir. As suas esperanas
saram-lhe inteiramente frustradas>.
(N.A. *) vora a capital da Provncia Transtagana, a que chamam Alentejo,
conhecida como o celeiro de Portugal, pois fornece trigo a Lisboa por seis meses:
**)
estrangeiro.
(N.A.
84
porto de Alicante (N. A. *). IJm dos nossos padres foi a terra e
recolheu de esmolas de mercadores uma soma avultada de dinheiro, alm de outros mantimentos e roupas necessrias.
Para vergonha de Carvalho e Melo e do prprio rei, publicou-se mais tarde uma lista das provises que esta nau recebera
ao partir de Lisboa. Nem sequer havia colheres de pau suficientes.
Aochegarem estes padres eiilados a Roma, no pucos prncipes
da alta nobeza e at insignes pela prpura, enviaram'ao encontro
deles as suas prprias carruagens. Mas, afastando de si to grande
honra, entraram a p na cidade e foram apresentados ao pai universal dos aflitos e dos pobres, llemente XIII. Em nome de todos
falou ao Sumo Pontflce, arranc.ando lgrimas abundant_es de
todos os ouvintes, o ltimo cancel fuio da niversidade de vora.
no Brasil os bispos continuavam a usar a faculdade de os reformar, que lhes fora concedida pelo Patriatca de Lisboa ('u), se
que lcito usar esta palavra reformar. Esta reforma foi o mais
(N.A.
*)
seu vinho generoso tambm chamado Ximenez, da corrupo do termo Simonis Petri,
em Lisboa.
('u) Houve alguns Bispos, entre os quais o da Baa, que se atreveram a no
obedecer cegamente s imposies do Cardeal e do Ministro. O Arcebispo da Baia
D. Jos Botelho de Matos fora nomeado para substituir no Brasil o Cardeal reformador. Prontificou-se a publicar o decreto relativo ao comrcio e a fazer as investigaes; mas recusou-se a caluniar os Jesutas e a desacredit-los junto do povo. Fiz.eram-se as indagaes com regularidade e franqrteza, e todas lhes foram favorveis. Juntou
Ano de
1759
*)
Ano de
1759
S Arquiepis
Mrtires, da
colgio, que
Tendo sido grande no governo da sua diocese, tornou-se ainda
maior ao depor o bculo pastoral, para vir a morrer no seu convento de Yiana, a 16 de Julho de 1590.
Jesutas levados de Braga para o Porto
vivera.
a flcar
que so
a no
Btaga, trs
prio Reitor.
se lembrava
eus sbditos,
Os
o
Eu
do
cativos
colgio.
guarda-
oficiais;
8B
7,15).
(cf. Mt
7,3).
Ano de
1759
mente chamados
drages.
A.
pere-
juntos a lti
lnhel.
con uma cidade da provncia de
fluem os dois rios Ca e Pinhel. Ainda hoje se podem ver os restos de uma fortal eza que noutros tempos ali existiu.
g-rinao, tommos
se p
as n
as
*)
Ano de
1759
9t
levanta
os poderem examinar
e apalpar.
uma moeda de cobre
(a que os
capaa s mos vorazes daqueles piratas e guardei-a comigo paa perpetuar a memria desta abjecta faanha.
Ainda nesse ms de Novembro, cresceu o nmero dos nossos
irmos detidos na fortal eza de S. Juli o, pois do Brasil vieram
quatro sacerdotes, trs dos quais eram portugueses e um alemo,
e dois coadjutores, um italiano e o outro ingls.
Volto agoa ao nosso crcere de Almei da, assim o exige a
ordem cronolgica dos acontecimentos. O edifcio que era caserna
militar foi acabado por D. Joo V. Mas, sob o rtinado de seu
filho, o rs-do-cho foi destinado a priso dos Jesutas. Eram
2l celas dispostas por ordem, tantas quantos os padres, dos quais
trs pertenciam Provncia Portuguesa e 18 do Maranho.
primeira era a do antigo compartierior tinha um postigo com uma
ou fechar, munida de duas barras
largura. A esta antiga porta acrescentou-se outra nova com grades de madeira. E, pata nos roubarem a possibilidade de estende r os olhos pelo ptio, construram um muro a todo o comprimento das c
seram grades de madeira que, porventura ser
mas ainda cerravam mais a luz. Com efeit
grades em arco que chegava at ns a escassa claridade do dia.
Neste muro de pedra abriram 2l portas , cada uma frente s duas
portas de cada cela. Mas, paru que os presos no pudessem falar
uns com os outros, prolongaram as paredes com cimento que
separavam as celas at ao muro de pedra. E, assim, cada uffi,
fora da sua masmorra tinha apenas um pequenino trio que podia
ver, mas no podia usar.
Bem podamos com Jeremias soltar os gemidos das suas
lamentaes : <<Cercou-me com ur, muro para que no possa sair
92
ANO DE
1760
Enquanto em Almeida, onde estvamos, ramos atormentados; em Roma, onde no estvamos, ramos louvados. Pois, em
1760, Clemente XIII, defensor dos inocentes, dos oprimidos e
da justia, convocou uma Congregao, gue estiveram presentes
sete cardeais, para defender veementemente a causa da Companhia.
Apresentou o Santo Padre no poucos testemunhos escritos
(foram 70) recebidos dos seus Nncios espalhados pela Europa,
de Arcebispos e Bispos, e de Superiores de vrias ordens religiosas,
todos eles tecendo grandes louvores ao Instituto e virtude dos
seus membros. Esta Congregao prolongou-se por seis horas,
desde as 4 horas da tarde at alta noite. No possvel apagar
juzos to numerosos e honrosos de homens to ilustres, consignados em cartas e outros documentos pblicos. Pergunto-me: como
que o esquecimento pde destruir tudo isto ?
Mandou o Sumo Pontfice ao seu Nncio residente em Espanha
vigiasse para que naquele reino se no divulgassem os insidiosos
libelos contra a Companhia, que ele louva grandemente como
benfeitora da Igreja, e muito necess ria e til mesma Igreja;
e se alguns desses escritos lhe viessem mo os mandasse quei-
mar ('u).
Assim se fez, graas sobretudo ao zelo do notabilssimo
Arcebispo de Farsala, D. Manuel Quintano y Bonifaz, Inquisidor
(") O texto de uma cafia escrita ao Cardeal Torrigiani: <Sua Santidade tem
conhecimento, por vrias cartas que lhe foram directamente dirigidas por diferentes
Bispos de Espanha, que em Madrid e outras partes do reino, etc.... (N.4.)
do Supremo Tribuna
Muitos destes libelos
ino d
consu
na praa pblica, em
ro do
de: Nuda veritas. At
Xry
Companhia foi sujeita s chamas, porque na sua traduo espanhola lhe fizeram insidiosos aditamentos. Em Portugal, Caryalho
ficou furioso com esta carta do Papa paa Espanha e apresentou
as suas queixas na Cria Vaticaa, principalmente, contra os
grandes ehcmios que nela se teciam- Companhia.
A namao volta aos Crceres de Almeida
*)
Farsala uma cidade da Tess lia, outrora muito conhecida, mas que
S. Sebastio.
Ano de
1760
Este governador de Almeida vigiou-nos com extrema solicitude. Cada dia, renovava o corpo militar que nos guardava. Jantar
e ceia revestiam-se sempre de grande so-lenidade. Alm de dois
ou trs oficiais, vrios soldados transportavam tudo o que era
necessrio. A maior parte do tempo, o abrir-se a porta, 4 sentinelas armadas com baionetas apontavam as suas armas paa os
sacerdotes inermes. Eu at me admirava de que no entrasse tambm no nosso crcere o porta-bandeira ao rufar dos tambores!
Alm da guarda ordinria, outros oficiais circulavam em redor
dos nossos crceres para vigiar as nossas sentinelas.
O constante rudo de cad a dia tornava-se insuportvel. Sobre
a minha cel a jogava-se, e as marteladas de um sapateiro atormentavam-me os ouvidos. No Inverno, o frio era de enregelar. Ainda
em Abril, vi a torre coberta com grossa camada de neve. O pavimento da cela era de pedra. Havia uma chamin, mas tinham-na
obstrudo e, frequentemente, uivavam os ventos rodopiando pelas
suas frestas. Quanto mais frio, num prolongado fnverno, tanto
mais calor, no Vero. Os portugueses costumam dizer: Em Almei da,
9 meses de Inverno e 3 meses de Inferno. A parede da cela, recentemente construda, era to hmida que at os musgos cresciam
nela.
96
a pulga
E que dizet dos mosquitos que os porugueses chamam trombeteiros, a impedir-nos constantemente o sono ? E do fedor dos
percevejos a rastejar pelas paredes da cela ?
Casamento de D. Pedro com D. Maria
6 de Junho foi o dia em que D. Pedro, irmo do rei, celebrou
solenemente o casamento com sua sobrinha, a princesa do Brasil,
em meio de grande aparato e esplendor. At a esta fortaleza se
estenderam as celebraes solenes por alguns dias. Repetiam-se
Gravura de Moguncia em 1730 (portanto contempornea do P. Eckart). Reproduo de um exemplar amavelmente oferecido pela actual Cmara Municipal desta
cidade alem, por ocasio da publicao deste livro.
Moguncia hoje. De uma fotografia que nos foi enviada pela mesma Cmara
Municipal, tirada da margem direita do Reno. Em primeiro plano: o edificio da
Cmara e a Catedral de S. Martinho.
Ano de
97
1760
juoli
98
Baa no conseguirarr, ape.ar dos seus instantes pedidos, mesmo nos dias abrasadores e fatigantes de Vero, lhes permitissem subir ao convs para respirar um pouco
de ar puro. Nos dois meses de navegago o seu alimento consistiu apenas num prato
de favas em peque,lra quantidade; e a Sw era to escassamente distribuda, que
alguns, devorados pela sede ardente, chegaram a beber a prpria urina. Quatro morrea^m na travessia, privados at do auxlio dos sacramentos, pois o Comandante
os olhava como excomungados. A sede foi o pior tormento que tiveram de supota.
A 11 de Maio de l7@,permitiu-se aos 53 Jesutas embarcados no antigo navio da
Companhia de Jesus, que subissem ao convs para ouvirem Missa. Acabada ela, o
P. Vicente Rodrigues, venerando ancio de 70 anos, cau aos ps do Capito a implorar de mos postas que em nome de Jesus Cristo a arder em sede na cruz, lhe concedesse uma gota de gua. Como resposta a esta splica, os prisioneiros foram proibidos de sair do poro, o de vir ao convs provocar a piedade dos marinheiros e dos
passageiros. Nesse mesmo dia dois Paes morreran de sede, e um outro expirou
no dia segnte. Trs dias depois faleceu pelo mesmo, motivo, llm ancio de 90 anos.
O cirurgio desceu ao fundo do poro a ver os doentes. Mas apenas entrou nesse lugar
pestilento sau logo precipitadamente quase sufocado, e dirigiu-se ao Capito, dizendo-lhe: Se no aliviar os seus prisioneiros, nem um s chegar vivo a Lisboa.
(Mm. de Pombal, t. II, p. 130; nedd. t. II, pp. 154 e 164)
E o P. Louis du Gad completa assim esta triste narraSo: <Dos que embar@ram em Pernambuco, 3 morreram na viagem; e dos que partiram do Par,,l no
chegaram a Portugal. Entre estes ltimos encontrava-se um velho de 70 anos, homem
de temperalnento ainda vigoroso, mas que j no tinha dentes. A bordo viu-se assim
reduzido a comer biscoitos, e veio a morrer de fome no caminho. Residia no Par
um outro ancio de compleio igualmente robusta. Os Padres da residncia felicitavIIt-Do em tom jocoso pela boa forma com que se apresentava, e pela vigorosa disposio com que se preparava para embarcar com eles para o exlio. Ele, porm,
Ano de
1760
ros j destinados a
ANO DE
176I
102
Um destes foi o P. Simo Gumb, do Tirol, que na sua adolesccncia exercera o ofcio de ajudante de pedreiro. Trabalharu na
reconstruo das escolas de Aschaffenburgo, que tinham sido
devoradas por um incndio. Acabado o edifcio, frequentou o
liceu, e entrando na Companhia, na provncia do Reno Superior,
pediu a Misso da China. Em 1757 encontrava-se em Tonquim.
A todas estas torturas acresceu outra, provo cada pela fama
que se espalhou de possurem e trazetem consigo uma fortuna
de oiro. A cobia desenfreada dos guardas levou-os a mais de
9 morreram antes da partida. Entre os Padres de Goa, havia outros 6 missionrios Jesutas, presos em Moambique, um dos quais impedira os cafres, seus nefitos, de
usarem de violncia contra os executores das ordens da Corte. De facto, eles estavam
dispostos a agredi-los, se o Padre os no dissuadisse de o fazr.
Quando embarcmos, haa entre ns um doente duma enfermidade mortal,
que j h muito estava de cama. Pedem ao Vice-Rei que o enfermo fique em terra.
<No, respondeu, guo v com os outros. Prefiro vir a arrepender-me de ter sido
demasiado rigoroso do que faltar numa vrgula s ordens do Rei. 22 morreram na
travessi?, a passaram, como esperanos, ao prmio dos Bem-aventurados, antes de
experimentarem at ao fim todos os infortnios e fadigas duma das mais deplorveis
navegaes.
Para dar uma ideia de tudo o que tiveram de sofrer os que embarcaram, basta
dizrr que o Capito levou a sua desumanidade ao ponto de pr a ferros, primeiro
no prprio barco, depois em Lisboa mal l chegmos, um cirurgio e um outro oficial
subalterno, por terem dado sem sua licena algum alvio aos Padres doentes, e por
terem minorado a sede de alguns prisioneiros, dando-lhes mais gua do que a medida
prescrita. (Crf. Carayon, pp. 97-98, nota)
Para completar esta relao do Padre du Gad, eis o que o Autor de neddoti
nos conta (Tomo II, p. 186):
<<Pelos finais de Setembro de 1760, chegaram a Goa os navios ndos de Portugal,
aguardados com expectativa, com novas ordens para o Vice-Rei. Executando essas
ordens, tiraram os Jesutas dos conventos onde estavam em custdia, e reuniram-Dos no colgio de S. Paulo. Eram 121 que amontoaram no corredor mais baixo,
onde muito tiveram que sofrer. A morreram um Padre e um Irmo, que foram pouco
depois substitudos por 7 prisioneiros vindos de Moambique, mais 3 Padres da
provncia do Japo. Ali permansceran at 19 de Dezembro, dia em que foram levados para o porto com uma qscolta de foras armadas. No momento em que abandonavarn a ndia, pediram lhes fosse concedi da a graa de ir venerar o tmulo de S. Francisco Xavier, erezarjunto s suas relquias. Mas at essa consolao se lhes negou.
No entanto, os soldados, no momento em que passavam pela rua que ladeia a igreja
Ano de 76t
t03
uma vez sujeitar os prisioneiros a inspeces humilhantes, plpando-lhes violentamente todo o corpo na sofreguido de encontrar oiro escondido. Ao fim da viagem j no havia um s que
no estivesse atacado pelo escorbuto. Exaustos de fome e de sofri-
do
Professos.
1M
os cativos.
Quatro dias depois, o Conde de S. Vicente veio de manhzinha cedo apressar a
partida paraltlia. Esperararn, porm, pelo meio-dia para transferir os doentes dum
barco paa outro. Muitos deles estavam to fracos, que tiveram de ser transportados sobre tbuas. Os Portugueses, em nmero de 60, foram conduzidos para uma
especie de lazareto, ou priso na margem do Tejo, frente a Lisboa. Os estrangeiros,
em nmero de 18 (11 Italianos, 3 Alemes, I Francs,2 Espanhis, e I de Tonquim)
foram conduzidos com 7 Portugueses para a Torre de S. Julio, onde os sepultaram
vivos nos subterrneos que Pombal mandara cavar.
Quando a nau que transportava os cativos de Goa entrou em Lisboa, a piedosa
Princesa do Brasil atirou-se aos ps do Rei a suplicar-lhe tivesse compaixo dos
pobres missionrios das ndias; mas nada conseguiu. A alma do Rei estava nas mos
Ano de
t05
176
em Tonquim, selaram com o sangue a verdadeira f, oferecendo a cabea ao algoz. Foram eles o Padrg Johann Gaspard-Cratz e 3 prtuguess, Padres Bartolomeu lvares, Manul de
Abreu e Vicente da Cunha, de Lisboa, euo ainda no tinha 30
anos. O rei de Portu Eal, D. Joo V, ao ter conhecimento deste
martrio felicitou pessoalmente os pais deste ltimo.
Outro, o espanhol Padre Manuel Guevara, da provncia de
Toledo, foi levado em braos j moribundo paa uma das celas
subterrneas de S. Julio. Tinha ele ido a Goa para venerar o
tmulo de S. Francisco Xavier. Com ele foram tambm o Padre
Gabriel Martorelli, oriundo da ilha de Maiorca e 11 italianos,
2franceses e 3 alemes; o Padre Carlos Przikril, natural de PraE,
Padre Maurcio Thoman (Langenargensis) formado em medicina,
que recebia uma penso anual de 300 florins, concedida em 1777
pela Imperatriz, a rainha apostlica clementssima, e o Irmo
Jacob Muller, fannacutico, actualmente em Colnia, sua terra
natal, no colgio chamado das Trs Coroas (design ao tomada
das insgnias da cidade) e que a exerce o ofcio de prefeito da
sade.
106
ci
de
Ano de
761
t07
t08
(")
consultores do tribunal do Santo Ofcio, pois recebia ento uma renda anual de
4.000 cruzados. M. (N.A.).
Mmoires e Aneddoti acres@ntam ainda a este respeito alguns pormenores interessantes: Os Juzes do Padre Malagrida celebrararn exultantes
a sua tria. O primeiro Inquisidor, Nuno lvares Pereira de Mello, deu nesse
mesmo dia, no convento dos Dominicanos, em sinal de jbilo pelo triunfo do
Santo Ofcio sobre os inimigos da f, um magnfico banquete a que assistiram os
diversos membros do tribunal da Inquisio com muitos nobres ( Mmoires de
Pombal, t. III, p. 39).
A vingana de Deus cau de forma visvel sobre os que mais contriburam paa
a morte do seu fiel servo. Os dois homens que depois de Pombal mais contriburam
paa a morte do Padre Malagrida, foram sem dvida o Padre Norberto, ex-Capuchinho, mais conhecido pelo nome de Abade Platel, e o Padre Joo Mansilha, dominicano, criatura de Pombal, por ele nomeado vitaliciamente Provincial da sua Ordem,
e, o que era ainda mais lucrativo, Director da Companhia dos Vinhos do Porto.
Todos eles tiveram um fim trgico.
Ano de 761
109
Ntrno lvares foi ignobilmente eliminado alguns dias aps o banquete que
oferecera aos Inquisidores.
O P. Mansilha, por morte de D. Jos I, foi despojado das suas funes, cargos
e rendimentos, e acusado de diversos crimes. E s no foi condenado morte pelo
respeito da Rainha pa com a sua Ordem.
O P. Norberto teve um fim ainda mais infeliz. Depois de por longo tempo ter
errado de provncia em provncia, levando no seu rasto mulheres de m vida, que
ele apresentava como filhas de seu irmo, morreu miseravelmente em 1770.
Os Jesutas sepultados vos nas mLsmorras de S. Julio, privados de todas as
notcias do exterior, tiveram conhecimento da morte do P. Malagrida por um menino
de que o carcereiro s vezes se servia paa levar aos presos as magras refeies. Voltando ele s depois de trs semanas, perguntaram-lhe os prisioneiros se acontecera
alguma coisa. <<Nada, respondeu a criana, a no ser que morreu o Santo; h quinze
dias que foi condenado a ser estrangulado e queimado. fnterrogado sobre de que
Santo se tratava, respondeu: <<No lhe sei o nome; era Jesuta, e s lhe chamavam
'o Santo'>> (Anedd., t. If. p, 194).
Senhor Jesus Cristo, como seu ju2. Mas Ele no respondeu coisa
alguma, de modo que o governador estava muito admirado
(Mt 2l ,14). Pelo gue, num frmito de indigna,o, todos os juzes
do tribunal o difamaam, condenando-o como rebelde a Deus e
ao rei, sedutor do povo e pertinaz defensor dos seus prprios
erros; e o Arcebispo de Lacedemnia, que sempre o auxiliar do
Patriaca de Lisboa, privou-o dos privilgios prprios dos clrigos
e entregou-o ao brao secular.
Escolheu-se pata a execuo o dia de S. Mateus, sendo esta
precedida de solene auto-de-f, que se celebrou na igreja dos
Dominicanos. Levanta-se um enorme cadafalso e rodeiam-no
os juzes com a cabea coberta por um barrete obloogo, maneira
dos turcos. Compaecem todos os rus condenados pelo tribunal
usando insgnias de penitncia sobretudo rLa cabea, conforme
a gravidade das suas culpas. Com velas acesas devem professar
a verdadeira f e abjurar os seus erros. O ministro de Deus prega
longamente imens multido sobre as verdades da f. Assistem
todos os religiosos das sagradas ordens, que eram muito numerosas em Lisboa. Da tribuna proclamam-se as culpas e as penas
dos rus. O acto comeou de manh cedo e prolongou-se ate ser
noite escura.
Obrigarn Malagrida a subir ao cadafalso com 40 outros rus
de vrios crimes. Vi uma efgie deste padre gravada em bronze.
Na cabea tinha enflada uma espcie de mitra, que se impunha
aos hereges; trajava uma toga talar com flguras de horripilantes
serpentes e monstruosos diabos em chamas. Na boca mordia
um freio de madeira, como se fosse blasferlo, ou melhor, paru
o impedir de manifestar a toda a assembleia a sua prpfia inocncia. A mesma efgie mostrava dois sacerdotes, que o ladeavam,
um franciscano e outro dominicano. Mas, foram dois beneditinos
que o acompanharam realmente ao cadafalso.
Na paa chamada do Rossio, nas proximidades daquele
o para Deus, para os
templo, Malagri
momento da execuo
Anjo.s e para os
estas palavras: <Deus
os circunstantes
misericordioso acode-me nesta hora e tem piedade da minha alma.
Senhor, nas Tuas mos encomendo o meu esprito. Digna morte
de uma vida to santa. Depois de estrangulado lanaran-no
e as cinzas foram atiradas ao mar.
fogueira
- Assim
descreveu esta morte um homem ilustre como testemunha directa e que muito bem conhecea o Padre, pois sob a
Ano de
176
111
cs) e tendoperguntou-lh
o padre que
em
Lisboa>>,
Il2
como foi possvel procla"mar herege um homem gu, como a ppria sentena o atesta, por duas ou trs vezes declaraa em termos solenes que todas as suas afirmaes e escritos submetia
(to) Eis o que J. Lcio de Azevedo escreve a este propsito em <<O Marqus
de Pombal e a sua WCat, 2.t edio p. 204: Carvalho ngava-se fnalmente. Para
ele era o velho missionrio um inimigo pessoal, que desde o terramoto o afrontava.
Um ano tinha lutado a exigir da Santa S a concesso que lhe permitiria entregar
ao verdugo a encanecida caloega donde o siso desertara. At que ao cabo de tanto
esforo, o tinha mero. Dentro do tribunal l estava seu irmo Paulo de Canalho,
inquisidor.... Ento sucedeu esta coisa incrvel : Sebastio Jos de Carvalho quis
ser em pessoa o delator de Malagrida no Santo Ofcio, por crimes contta a f. E,
tomada a denncia, com o seu punho, como num decreto rgio, assinou: Condc de
Oeiras.
O que o ministro deps revela os abismos de rarcor que na alma lhe cabiam.
Acusa o Jesta de ganncia, de hipocrisia, de actos e pensamentos sacrlegos, de
impostlrra. No Brasil, a pregar, incitava as mulheres a despojarem-se das suas jias
com evidentes fins de avarezae cobia. Interrogado pelo Governador do Par, sobre
a aplicao dos donativos, recusara sempre dar explicaes. Participara no crime
dos Tvoras, sendo a conspiraio tramada em Setbal, nos Exerccios Espirituais.
A narrativa da entrevista de Malagrida com o Ministro faz parte do depoimento
com as ameaas proferidas sobre o Rei. Por ltimo vem a denncia dos escritos
apreendidos, que eram, no dizer de Carvalho, um sacrilgio horroroso, e constitam
a parte substancial da acusao. Pedro Cordeiro, juiz da Incordncia, Oliveira
Machado, secretrio do mesmo tribunal, ao mesmo tempo carcereiro no forte da
Junqueira, depuseram a seguir. Nunca um ru tivera contra si denncia to bem
amparada.
,g
Ano de 176
fi3
inscrio
20).
(t')
fi4
geral>.
Por este tempo em que os trabalhos evanglicos do P. Malagrida foram coroados com um fim semelhante morte dos mtires, ouvi, muitas vezes, em Almei da, o seu nome mencionado
pelos soldados, quando falavam entre si; pois ele era clebre em
todo o reino de Portugal e em todos os domnios ultramarinos,
sobretudo no Par, no Maranho e em todo o Brasil, onde fundou mais de 30 igrejas, levantou seminrios e mosteiros. No ano
de 1753, estando eu no Maranho, assisti a um solene acto religioso em que as virgens consagradas a Deus, que iam professar
no Instituto das Ursulinas, foram introduzidas numa casa provisria at o novo mosteiro, j em construo, ser concludo.
Sobre a porta maior deste mosteiro foram gravadas em pedra
estas palavras: <<Foi a Senhora que fez isto, um prodgio admirdvel
aos nossos olhos>> (Sl 117,23). Por Senhora, entendia o P. Malagrida a Me de Deus, cuja esttua famosa por muitos milagres
ele sempre levava consigo nas suas misses, como o P. Antnio
Baldinucci, clebre missicnrio italiano. Neste domingo festivo,
dia da inaugurao do mosteiro das virgens consagradas, falou,
por trs vezes, multido que ali se apinhara. O tema do ltimo
sermo foi este : <<Jd vos no chamarei servos) mas amigos (Jo 15,15)
I)e novo em Almetda
Ano de
fi5
1761
a terra
s desigu
os desta
papel q
em um s dia o trabalho de dois anos, tal como, os Exerccios
de Santo Incio, guo eu estaya a escrever em estilo rtmico maneira do hino Planctus B.M.V., vulgarmente conhecido por,
Stobat Mater dolorosa. Todas as medalhas de bronze que tinha,
compradas em Augsburgo, me foram arrancadas. Tiraram-me
que possua, o
sta triste soliaam o livro da
depois de lhe
s em branco.
as estampas e
ANO DE
1762
ea
impiedade.
118
Do Forte de Almelda
para o de S. Jullo da Barra
foi
da
de h muito
1762
o clarim
Ano
de 1762
fi9
120
Do ptio descemos por longa escadaria a um corredor comprido sob um tecto abobadado que sustentava as casernas dos
soldados. Porque estavam obstrudas todas as clarabias, embora
fosse meio-dia, seguia nossa frente um oficial com uma candeia
Ano de
1762
121
22
Ano de
/-762
!23
A segunda
XIil,
Lus
124
arte exterior da fortal eza, que tinha sido o noss o cLrcere : Quantos
dias santos foram violados com a desnecessria construo daquela estrutura! Consumidas todas as provises, no dia 5 de
Setembro, festa de S. Loureno Justiniano, primeiro Patriaca
de Yenez,a, os sitiados reduzidos ltima rnisria foram obrigados a render-se ao inimigo.
O oficial que comandava esta slida, mas no inexpugnvel
fortaleza ao tempo da nossa violentssima priso, chamado Freire,
ainda antes da invaso dos espanhis, chegou ao Forte de S.
Julio (perto do lugar chamado Carcavelos) j gasto pelos anos,
e apesar dos banhos termais, morreu poucos meses depois. Foi
substitudo por um novo comandante saudado como Cipio.
No sei como se chamay, nem se merecia ttulos de heri. O
facto que, tomada a fortaleza) foi levado prisioneiro paa Coimbta, como quem no tivesse cumprido os seus deveres militares.
O oficial L.us Delga$o, que no ms de Janeiro me conduziu com
os meus seis companheiros a Lisboa cau em poder dos espanhis,
ele com seu fllho, o porta-bandeira, em Penamacor (povo a,o
que est perto de Almei da, defendida por um castelo). Alguns
dos soldados que nos guard'o;ramnas nossas masmorras de Almida,
foram depois ((guardados no Forte de S. Julio.
O exrcito portugus, frente do qual estava o comandante
Supreffio, conde de Lippe-Bckeburg, no conseguiu impedir a
rendio da fortaleza de Almeida, que nunca at ento fora ocupada pelos espanhis. A mesma triste sorte da guerra teve a cidade
de Miranda-do-Douro, assim chamada paru se distinguir de outra
em Castel a-a-Yelha, design ada por Miranda Ibrica, que est
situada numa colina onde confluem dois rios: o Douro e o Fresno,
a treza lguas de Leo.
poderamos vir
Cawalho, esperto como
os em Almeida.
a ser libertados pelos espanh
Por isso, mais de seis eses
cerco, mandou
que fssemos transferidos; e pior ainda, como um oficial me corrtou ao chegarmos ao forte de S. Julio, af,rmou publicamente:
<Enquanto eu viver, estes no ho-de ver a luz do sol! Realment ele mostrou para connosco um nimo muito benvolo!
Que Deus lhe perdoe tanta benevolncia. Foram, pois, Almeida
e Miranda, os lugares onde mais violentamente deflagrou o fragor
desta guerra. A provncia do Alentejo, onde por ocasio de outros
conflits costumavam concentrar-se as foras militares, foi desta
yez palco de ligeiros recontros entre portugueses e espanhis.
Ano de
1762
125
Jesutas de S. Julio:
priso
IN
(N.A.
*)
rio Sabor, perto da fronteira com a Galiza, deu o nome ao ducado de Bragana. O
duque D. Joo II foi aclamado rei de Portugal, em lffi,com o nome de D. Joo IV.
126
tuorum,
Ano de 1762
Furibis
127
illa
(t') Um dos prisioneiros imaginou r'm outro meio, mais fcil e menos perigoso,
de comunicar com os outros companheiros: era bater na parede um certo nrnero
de pancadas, consoante a letra que queramos exprimir. Para dar a conhecer a descoberta aos colegas de crcere, resolveu serr-se do livro <Exerccios de Perfeio
de Afonso Rodriguez que trm dos caroereiros levava de cela em cela para os presos
fazerem a leitura espiritual. Com uma palha defumada pela chama duma vela, descreve na primeira folha do livro em branco o seu sistema, cola essa folha a outra
com saliva, e devolve o volume ao carcereiro, que o leva, sem nada suspeitar. Algum
tempo depois, bate na parede, mas ningum lhe responde. No tinham descoberto
a pgina manuscrita. S trs meses depois um dos cativos deu com ela, e compreenderam ento o sentido das pancadas que havia tanto tempo estavam a ouvir. A
partir de ento, foi-se generalizando pouco a pouco o costume desta invulgar conversao. Os Padres comeararn ento a usar este estranho modo de conversao
paa se encorajarem mutuamente nos seus sofrimentos, ou para pedir oraes pelos
doentes ou os mortos, ou paa quebrar a silenciosa pasmaceira em que viviam na
escurido da cela.
'128
amtgos.
Tenho-vos inveja,
a quisera ter.
ir
convosco. Bem
eu respondi:
Os mocinhos trouxeram ao nosso cdrcere os dois livros;
quem os mandou estd preso, mas as mos esto livres.
Tens inveja destes livros virem sem ti.
Esta inveja santA, ou antes, amor:
Pois desejas servir os prisioneiros, embora tambm tu
sejas prisioneiro.
(") Para melhor compreenso do sentido destes versos, convm saber que a
palavra <Schwart> em alemo, significa a cor negra (N.T.).
Ano de
1762
129
ANO DE
1763
A Guerra no se prolongou por muito tempo. A paz sancionada a 26 de Maro, entre os reis de Espanha, Frana, Inglaterra
e Portugal, foi anunciada triunfalmente ao povo, ao som de clarins.
Celebrava-se tambm o centenrio da vitria nas lutas da Restaurao. Os espanhis tinham atacado os portugueses com um
exrcito duas vezes mais numeroso que o destes. Parecia que a
derrota dos portugueses era cetta, mas o general de Schomb"lg
com a sua prtdncia e fortal ez.a, alcanou uma nobilssima vitria
sobre os espanhis, ro ano de 1663. O dia da promulga{o solene
deste centen rio cau no sbado, que precedia Domingo de Ramos.
A palma prmio da dextra vencedora convinha muito bem aos
vencedores dos espanhis.
Apresento aqi um resumo deste tratado de paz traduzido
para portugus, que o Padre Kaulen me mostroll.'
Senhor
.lfN.
Amigo
Saude!
Ontem mandou N.nf. aqui o tratado de paz, QU contm onze folhas e meya de papel; mas az tanto volume,
r,7:"':,
prelim
ra
os
a Poz.
":?';i;
assinaro os Ministros de Frafto, Castella e InglateruA, aos
132
na America, Africa, e
nas
(N.A.
*)
por
Rei de Castela.
paz vem mencionado com todos estes ttulos: Carlos, pela graa de Deus
Rei de Castela, de I*o, de rago, das Dws Ceclias, de Jerusalm, de Navarra, de
Granada, de Toledo, de Valencia, daGaliza, de Maiorca, de Sevilha, de Sardenha, de
Crdova, de Crsega, de Mrca, de faen, dos Algarves, de AlgecirAs, de Gbraltar,
das llhas Canrias, das ndias Orientas e Ocidentais, das llhas e Terra Firme do Oceano,
Arquiduque de ustria, Duque de Borgonha, de Brabante e de Milo, Conde de Absburgo,
Flandres, Tirol, Barcelona, Senhor de Biscaia e de Molina, etc.
Valencia cognominada pelos Espanhis: Valencia la bella-El jardin de Espdta. De Sevilha, dizem eles: Quen no ha visto Sevilla, no a visto moravilla.
Assim como os Portugiueses costumam dizer de Lisboa i quem no tem visto Lisboa,
no tem visto cousa boa.
No tratado
de
Ano de
1763
133
do
da
tc.
em
1494.
134
Ano de 763
35
(N.
A. t)
dista
numerosa famlia religiosa fixou-se uma renda anual, pois el-rei no quis que esmolassem os professos desta ordem mendicante.
A escola pblica era dirigda pelos Capuchos. Entrando eu numa aula de gfamtica, todos os alunos a um tempo se levantaram dos seus bancos com enorme
fragor. este um sinal de acolhimento e de satisfao pela nossa vinda, assim como
o rumor do patear dos ps prova de que a nossa vinda lhes desa$advel.
Passando eu pela aula de metafsica, ouvi um dos alunos dos Frades Capuchos
a argumentar com tanto ardor que a cada silogismo que propunha dava um forte
t36
sentando-se mesa
Ano de
1763
137
da barba comprida,
dizendo: Meu lrmo j me fez a barba. No pavimento da sala que ele mais habitava
notam-se os vestgios deixados pelo deambular constante deste infeliz prncipe. O
prprio D. Joo V reprovou este modo de proceder contra seu tio, a quem os portugueses j tinham re,ndido vassalagem. Por isso, nunca quis ir a Sintra. Foi certamente demasiado cruel um irmo que no s roubou o reino a seu irmo, mas at
a prpria rainha. Diz-se que D. Pedro II observou com exactido a penitncia que
lhe foi imposta pela Santa S de jejuar todas as sextas-feiras e dormir sobre uma
enxerga de palha. Nunca usou o ttulo de rei, mas apenas de regente, enquanto D.
Afonso viveu. Assinava-se Pedro ff , regente de Portugal, etc...
Este soberbo edifcio de Mafra ostenta muitas torres que se elevam a grande
altura. Alm da imensidade de sinos, possui um enorme carrilho.
Estive em Mafrah alguns anos e vi l, apenas umas poucas casas, com um ou
outro solar. Num deles vivia D. Toms de Almeid, o primeiro Patriarca de Lisboa.
Hoje, porm, a povoao desenvolveu-se muito. No palcio de Mafra residia, frequentemente, D. Joo V. E para satisfazer seu filho Jos, apaixonado pela caa,
mandou murar uma tapada com reserva de veados e coras e outros animais de caa.
Carvalho no regime desptico com que amordaou todo o reino, expulsou os
para
quero, posso e mando
Capuchos daquele celebre convento
- e trasladou-os
outros mosteiros da mesma ordem, chamando para Mafra os cnegos regrantes de
Santo Agostinho, que tinham a sua casa principal, fundada por S. Teotnio no iempo
de S. Bernardo, nos subrbios de Coimbra.
t38
ANO DE
1764
Tambm por essa poca estalou a tempestade sobre a Companhia, em Frana. Os Jesutas exilados da sua Pfiia encontraram honroso e favorvel acolhimento junto do Imperador, dos
reis e prncipos, sendo convidados a estabelecer-se na Austria,
Bomia, Hungria, Siclia, Baviera, Prssia, Polnia, Rssia, e
at na Inglaterta. Mesmo em Frana saram muitos Bispos com
publicaes eruditas, em defesa da Companhia atacada pelos
Jansenistas. Distinguiu-se entre eles Jean de Caulet, nascido em
1693, e eleito Bispo e Prncipe de Grenoble em 20 de Maro de
1726. Publicou ele ento uma apolo Eia da Companhia, em trs
tomos, dedicando-a ao Sumo Pontfice, que agtadeceu com uma
carta de que extramos algumas passagens:
(tn)
140
de Jesus ...
Dada em Roma, ffi Santa Maria lV[aior, sob o sinal do Pescador, aos 4 de Abril de 1764, Ano sexto do Nosso Pontificado.
Ano de
4t
1764
rveis frutos que a Companhia colheu dos seus labores apostlicos pela salvao das almas. Isto nunca ningum se atreveu a
negar seno os inimigos da verdade. Todos os ministrios em
favor do prximo que as Ordens Religiosas exercem, umas de
uma forma, outras de outra, todos toma paru si a Companhia,
excepo do coro que as outras Famlias Religiosas louvavelmente mantm.
D. Joo V tinha verdadeira paixo pelo canto coral. Nem
se envergongava de cantat em alta yoz nos servios litrgicos.
J desde menino se deleitava com as cerimnias da .ISreja, ponto
de sua me lhe chamar <<o sacristozinho>>. Ouvi mesmo dizer
que se ele sobrevivesse sua esposa, abdicafia paa abtacrar o
estado religioso, ou pelo menos o estado eclesistico.
Foi sempre duma real munificncia na fundao de Bispados,
e na construo e ornamentao de templos e mosteiros, como
se pode ver em O Elogio Fnebre de El-Rei D. Joo V, publicado logo depois da sua morte. Este mesmo merecido panegrico
lhe teceu em Roma, nas exquias solenes celebradas na Igreja
de Santo Antnio dos Portugueses, o Padre Pedro Serra, ltimo
Reitor do nosso colgio de Coimbra. Na orao fiinebre que
ento pronunciou, tomou por tema este texto: In omni domo
mea fidelissimus est (Num. 12,7), aluso ao ttulo de Rei Fidelssimo, com que Bento XIV o honrara.
Trs Jesutas de Azelto para Itlta
142
Ano de 1764
143
(N.A.
*)
quer regular, usasse o barrete tricrnio dos Italianos e dos Franceses. Os Espanhis
usan barretes que terminam em quatro bicos, mas muito maiores que os dos Alemes.
Houve um Jesuta mandado por Filipe V a Portugal, que ningum consegu conven@r a usar este barrete italiano , to leve que mal se sente na cabea. Segurava-o
com a mo, dizendo: <oasci espanhol, vivi portugus, mas Deus me livre de morrer
italiano.
144
ANO DE
1765
seu
as
dest
mes
a fogueira
sacrlegas;
146
Ano de
147
1765
Esta falta de todo o remdio humano que o P. Koffler menciona foi a causa de tantos adoecerem, e de nos serem roubados
po-r-.uma.morte precoce. Noto em primeiro.lugalgpe lo havia
mdico algum; era o cirurgio-mor que exercia o ofcio de mdico.
Mas nem habitava no forte; morava em Oeiras que flca a meia
hora de distncia. S ele podia visitar os reclusos doentes. Passavam, porm, trs, quatro e mais dias, sem o doente receber visita
alguma. E assim, no se lhe acudindo logo ao princpio da doena,
a medicina, se che gaya, eta j6 tarde para efectuar a cura.
E que remdios se davam ? Os mais baratos e trivais, como
pedilvios e semicpios. Ofereciam gua em yez de remdios:
gua e mais gua. O prprio cirurgio costumaya dizer: a gua
tambm cura. Raras vezes se davam purgantes, porgue estes
tinham de ser procurados na fatmcia de Oeiras, no se davam
gratuitamente, e nem sempre os havia. Era preciso ir procur-los
a Lisboa, enquanto o enfermo ficava a braos com a morte. Se
algum caia gravemente doente, no havia esperana de salvao;
s por milagre poderia escapar.
Que se poderia esperar dum homem guo, depois de ser curandeiro, estudou qualquer coisa de cirurgia, sem nunca ter frequentado uma esoola mdica ? O P. Koffler, que era filho de um mdico
de Praga, e por muitos anos tratou na Cochinchina da sade do
prprio Rei, louvou-lhe ahabilidade parafazq sangrias nas veias.
Trouxea este Padre consigo vrios medicamentos que oculta
g, fte_quentemente dava aos doentes. Mas como eram antiquq{os,
j no produziam o efeito esperado. Na Cochinchina, os mdicos
no se contentam com receitar remdios aos enfermos, mas so
eles que os preparam e aplicam, fazendo tambm de farmacuticos.
Expulso dos Jesutas de Macau
t48
(N.A.
*)
Ano
de 176
149
ANO DE
T766
Abril deste ano foi um ms fatal para dois dos nossos sacerdotes que, j sob o peso dos anos, sucumbiram aos sofrimentos
da sua srdida masmorra. Foram homens sempre integrrimos
por. Manu
perdo P.
lustrou
o r-
chama
ianas
(nome derivado do missionrio italiano Segneri) produziam extraordinrio fruto nas almas. Foi um operrio indefesso na vinha
do Senhor. Comeou o seu trabalho apostlico na diocese do
152
More o Hncfpe
D. Manuel,
tio do Rei
Ano de
1766
153
chegar
No dia 8 de
dos Jesutas pris
Gad, natural de
que desta passou
t54
Memrlas a"
\,
prcso em Macau.
Uma vez em liberdade, informou logo o embaixador de que na fortaleza de
S. Julio estavam tambm encerrados dois outros Franceses: o P. Jean - Baptiste
du Ranceau, natural de San-Remo e de pais franceses, levado cativo das misses
da fri@ paajunto dos outros prisioneiros em Goa. Mas s foi posto em liberdade
4 meses depois do P. du Gad, em Dezembro de 1766.
O terceiro Franos, ea o fr. Jacques Delsart, feito prisioneiro no colgio de
Rachol, Do pennsula de Salcete, a 7 lgsas de Goa. Navegando da sia para Lisboa,
encerrado em S. Julio, donde sau 2 meses antes do P. Ranceau, depois de 5
anos e 4 meses de cativeiro. Regressou Flandres, edificando l os seus Irmos em
religio, sobretudo pela pacincia em suportar as doenas contradas na priso.
Permaneceu algrrns anos no nosso colgio de Huy, e depois no de Dinant. Antes
de entrar na Companhia, estudara por algum tempo teologia em Douay. Foi esta
uma das razes que levaram o Bispo de Lige a orden-lo sacerdote, depois da supresso da Companhia. Isto veio aumentar ainda mais o seu fervor, que parecia crescer
com os sofrimentos da doena. Era impossvel ouvir o relato dos seus padecimentos,
foi
Ano de
1766
155
sem se ficar extremamente comovido. Rosto de desenterrado, ps corrodos por parasitas e pela humidade das masmorras, dores contnuas que mais impressionavam
com as suas palawas sempre repletas de modstia e resignao. Esta atitude, longe
de a desmentir, confirmou-a diante do Juiz Supremo, no momento de receber o santo
Vitico, declarando que de todo o corao perdoava aos seus inimigos, sobretudo
queles que lhe tinham abreviado a vida. Sobreviveu apenas 3 anos aps a supresso
da Companhia, ndo a morrer em 1176. (Anedd, t. II, p. 199)
ANO DE
1767
158
d libertatem natus et
vitam,
Victurus
In
aetermtm.
Yale
(tu).
(tt)
Viandante
o P. Francisco Wolff,
espontaneamente
morte, oo munfu
carne,
encontrou
liberdade
ea
vida.
amigos
Ano de 1767
159
natural de Landeck (N.A. *), da provncia da Bomia. Acrescento aqui o relato do P. Jos Unger, tambm natural da Bomia:
Foi o P. Francisco zelosssimo missionrio no Brasil durante
vinte anos.
No ano de 1738, foi por duas vezes Visitador. Depois foi
por tr-q vezes Scio do Prvincial. Como a meu antigo -Mestre,
escreviJhe uma vez do Paraguai, quando e e j , tinha sldo levado
prisioneiro paru Lisboa: onde vais tu, Mestre, sem o teu discpulo ? E recebi esta resposta: <Depois de trs dias hs-de seguir-me. Mas o que no aconteceu depois de trs dias, aconteceu
depois de trs anos, pois tambm eu, encerrado no forte de S.
Julio fiquei durante 15 anos jullo - dele. O P. Kaulen, companheiro do P. Wolff na prosperidade e na. adversidade conlui
deste modo o elogio fnebre que dele escreveu:
Siste Viator,
,S, agnus es vel ovis.
*)
160
(t')
Se s cordeiro ou ovellu.
Longe daqui todos os lobos !
qui jaz um cordeiro que se clannou lobo.
Assim se engaru o mundo enganador.
Os mpios clwmaram-lhe lobo,
E sepultaram-to numa cela subterrnea.
Os criminosos culparam a inocente, e os lobos o cordeiro.
Morrendo encarcerado aps sete anos de tortura,
reconheceram que era cordeiro.
Chora, se quiseres, a sua sorte passada,
mos exulta com a sua sorte presente.
Pois aquele que entre os homens se chamnva lobo
segue agora o Cordeiro para onde quer que v,
Adeus.
lobos,
viveres.
ou
Avanadas
Ano de
t6t
1767
Nome
XIII
ta lgreja?...
Abril de 1767, Ano
nono do Nosso Pontfficado.
Roga depois ardentemente ao Rei, por tudo o que h _de mais
santo ns cs, e de sagrado na terca, suspenda o decreto de exflio,
e mande examinar a causa da Companhia, paru que no destrua
um corpo numeroso de sacerdotes consagrados ao servio de
Deus e ila Repblica, que por mais de dois sculos to abundantes
frutos de salvao produ4iu,
provncias e reinos das Indi
destrua sem os ouvir e sem
opetrios que estrenuamente co
Deus e pela Ptria....
162
mais vergonhosamente. Trs deles sacerdotes, protestaram veementemente contra tal ignomnia. Finalmente apareceu a carta.
De contrrio, fariam passar completamente nus a todos os reclusos diante dos ministros rgios e soldados.
oficiai
terem
cmpl
dos fo
priso
os pres
clandes
conden
Os
no
sido
ega-
smo
depois deles.
Ano de
1767
',
163
64
(N.A.) Os nativos de Tonquim tm a mesma religlo dos Chineses, e prestam culto ao clebre filsofo Confcio, do reino de Lu, hoje Canto. Chekiam uma
das quinze provncias da China, entre Nanquim e Fokien, clebres pelas florestas
de amoreiras, e pelas sedas que lhe mere,ceram o ttulo de Paraso da China, e palcio
voluptuoso dos
deuses.
Ano de
1767
Proibe-se
165
No dia 28 de Agosto sau um decreto real proibindo severamente a qgem quer que fosse, introduzir no reino qualquer Bula
emanada a Ciia Rmarra. E guo, com grande fria ds nossos
inimigos, Clemente XIII sara em defesa da Companhia com a
Dr-la Apostolicum pascendi muntn, renovando todo os privilgios
dela nas misses, e com o Breve Animarum saluti de 10 de Setembro
de
1766.
se tinham poupado a sacrifcios e tiabalhos para servirem o prximo de noite e de dia, tro servio da glria d Deus e da salvo
das almas. Mais tarde, um cocheiro que em 1777 me transportou
de Milo para Muniquo, contou-me que ainda se lembrva do
quele dia com carruagens de
e praas no meio de grande
ovo' que acudia de todos os
cantos.
166
ANO DE
176-
t68
Ano de
1768
169
t70
Ano de
1768
171
blante se lhe ilumin ava de contentamento, e a conversa anirnava-se com pilhrias e mentiras, que era um nunca acabar.
No ms de Agosto de 1768, uffi Ingls, meu companheiro
de crcere, foi transferido paa outro lugar, e substitudo pelo
P. Schwartz, alemo, o o P. Kayling, hngato, natural de Schmnitz
pelas
suTtr*it'.ot#l3rro,
ANO DE
1769
74
o Pontif,cado dum novo Papa, conseguir finala realizao dum sonho que havia tantos anos alimentava
mnte
Ano de
75
1769
(tt)
guardar a palavra.
176
oomo observava o j
logo de incio os seus sentimentos para com a Companhia.
No dia 20 de Novembro diminuu o nmero dos nossos
irmos de cativeiro, com a morte
vncia da Siclia. Nascera em Petral
estudou filosofia, tendo como me
Palermo, autor de vrios opsculos. Tendo primeiro sido destinado s misses do Malabar, como era de sade frgil, desaram-no depois os Superiores
Ali the ouvi
eu no dia de Santo Incio de
o panegrico
do Santo Fundador. Depois,
e nos crceres do Tejo, foi companheiro do P. Silva que faleceu h,3 anos.
Morre Mendona Furtado
Mal passara uma hora, quando este dito jocoso perdeu toda
a Eaa. Rebentou-lhe um abcesso que tinha no peito, e em poucas
horas flcou cadver. Que frgll arcaboio o do homem, imagem
da inconstncia, espelho de corrupo, escravo da morte! O adver entrou logo em putrefaco, e exalava um tal fedor que at
os criados f,ugiram. O cheiro nauseabundo infectou no s a casa,
mas at a praa, a ponto de afastar os tran
lan-lo terra quanto antes. O Capito do n
cera outrora o cargo de Administrador na
'{
de
P.
de
Ano de
1769
177
ANO DE
I77O
No dia 17 de Janeiro deste ano, o undcimo do nosso cativeiro, Paulo de Cawalho e Mendona seguira na esteira de seu
irmo, Francisco de Mendona. J desde h muito se previa esta
morte. Preso ao leito havia j muitos meses ) ea vtima duma doena ftida e incurvel. O pus manava de todo o co{po ; paecia
um cadxer ambulante. Os seus ttulos eram estes: Paulo de Carvalho e Mendofio, do Conselho de Sua Majestade e da Rainha
nossa Senhora, vedor da Fazenda e Estado da mesma Senhora, do
*)
e Minho,
cerca do rio Ave, clebre pela indstria de tecidos de linho. Fica prxima de Braga,
aonde os Vimaranenses acodem quase todos os dias, nos seus trajes regionais muito
peculiares, que os distinguem de todos os Portugueses. a terca natal de S. Dmaso,
Papa. O benefcio eclesistico do Priorado desta cidade de longe o mais rendoso.
80
a queq o
coraes (Mmoires,
t. III, p.
74)
Ano de
t8t
1770
A Corte
182
bene-
planos,
volncia, e por ele
Era esta
principalmente o da
a suprema ambio
No ms de Agosto soubemos que o Rei Frederico II, grande
benfeitor da nossa Companhia na Alemanha, tivera um filho, e
logo um dos prisioneiros comps um pequeno poema em verso
lafino ) a augurar-lhe um futuro glorioso. Entre os meus companheiros, mesmo portugueses, no faltava quem chamasse a Frederico o Grande simplesmente <<o nosso Rei>. E era-o de verdade,
pois foi o nosso maior defensor. Embora no tivesse o ttulo de
Rei Catlico, ou Fidelssimo, foi, contudo, o nico a proteger a
e a fazerlhe justia quando tudo se conjurava contra
Companhia
-defendendo-a
contra todos os seus adversrios.
ela,
A 6 de Agosto de 1770, Joo Cosme da Cunha, eue eta parente
dos Tvoras,- herdou o barrete cardinalcio deixado por Paulo
de Carvalho. Havia muitos anos que suspirava por ele, procurando mesmo servir-se da influncia dos Nossos, quando eles
ainda frequentavam a Corte. Mas ao comear a perseguio dos
Jesutas em Portu Eal, juntou-se logo ao Marqus, apoiando-o
:eceu a Sede arquiepisno seu pla4o de destruio, o que
te do Arcebilpo_. Foi
copal d vora, apenas vagou co
dignidades da Corte,
alm disso elevado a algumas das
que lhe mereceram estes ttulos: D. Joo da Cunha, Presbtero
de Ronta, do Conse_lho de Estado de El-Rei
Ca
Metropolitano de vora, Regedor da Casa
me
da
r Geral
ANO DE
1771
184
A luta dos Portugueses contra os Moiros travou-se principalmente em Marrocos, onde, para impedirem o avano do Alcoro,
construrarn a inexpugpvel fortal za de Mazago. Foi esta demolida em 1769 por ordem de El-Rei, isto , de bwalho. Antes,
enviara alguns navios de gueffa com soldados do forte de S. Julio,
Ano de l77l
t85
taleza ter
ainda por
taleza, eu
Marrocos
ado a levantar o cerco pela invencvel coragem dos seus defensores. Nem nos anos seguintes, em sucessivos ataques, conseguiu
apoderar-se dela.
Foi nesta ocasio que o clebre ex-Secretrio de Estado Diogo
de Mendona, que em 1758 tinha sido deportado paa Mazago,
voltou a terras de Europa, j octogenrio, vindo a morrer na
se revestiu
186
O Natal de I77l
Como remate deste ano, na poca em que celebramos o mistrio do Natal, recordo um episdio que a todos nos comoveu.
Um dos meus companheiros de crcere, natural de Roma, muito
devoto do Menino Jesus, conseguiu enviar a percorrer todas as
celas uma imagem do Divino Menino, que segurava numa das
mos uma cruz doirada, e na outra o Corao a arder em chamas
de amor. Um dos Portugueses comps estes versos enternecedores
que gravou na imagem:
l.
Meu rico, meu belo Infante !
Duas coisas ofertais
Na grandeza ambas igwis:
Uma cruz de oiro brilhante,
um corao todo amante.
Bendito, meu Deus, sejais;
Pois se grande cruz nos dais,
Tambm todos visitando,
A todos nos vindes dando
Corao at no mais.
Ano de l77l
187
2.
,Sozs
da minha
Componhia,
deveras quereis.
AI\O DE
Clemente
1772
Xw e a Compaia
vestir como os clrigos romanos, embora os outros religiosos continuassem a usar o hbito prprio. Clemente XIII concedera uma
penso anual, a expensas da Cmara Apostlica, a muitos dos
exilados portugueses. Ganganelli suspendeu-a, e ordenou alm
disso uma visita severa a todas as casas dos Jesutas, fechando
os sete colgios que dirigiam em Roma. At o clebre Colgio
Romano dos Nobres mandou encerrar. Foi desta instituio que
ao longo de 2N anos saram homens notveis que ilustraram com
o seu saber, doutrina e piedade, tanto a Igreja como a Repblica.
Dele saram, alm de muitos generais e governadores, Prncipes
Eclesisticos e Bispos: 96 Cardeais, 11 dos quais ainda vivos, e
4 Romanos Pontfices. Tudo isto fazia prever que estava iminente
uma terrvel
tempestade.
90
so_rte
de morrer
pois o
e sofrimentos do que honrarias. Porque
alm dos ofcios que exercem em comum com os outros missionrios, tm de se expor aos perigos das viagens, por mar e por
terra, nas visitas ao rebanho disperso pelos mais variados lugares.
So como os Bispos dos primeiros sculos, guo, se trabalharam
muito, tambm muito tiveram que sofrer.
O outro a quem coube a sorte de trocar o negrume da enxovia
pelo esplendor da Glria era da provncia de Goa, e nascera no
Brasil, offi Rio Real terra banhada pelo rio S. Francisco, na arquidiocese da Baia. Morreran de manh, e foram sepultados no
mesmo dia, ao cair da noite.
Funerais em S. Julio
Em -Portugal no se esperam 24 horas paa enterrar os defuntos. s vezes nem dez ou- sete. Isto aos es[rangeiros parece um
tanto brbaro. Tirando um ou outro mais nobre ou mais rico,
o cadver levado ao cemitrio num caixo conum, e baixado
terra depois de lhe cobrirem o rosto e de lhe lanarem cal. A
terra com que se cobre a sepultura calcada e recalcada com
maos de calceteiro, com tanta violncia que mal se fica a perceber
o lugar dela. Os Portugueses podem ter a certez.a que ningum
enterrado semivivo, pois no haveria vida que resistisse aos
golpes com que se calca e recalca a terca que cobre os cadveres.
No h cemitrios nem ossrios que sugiram o pensamento
s4lutar da nossa mortalidade. Toda a gente sepultada nas igrejas.
de advertir que nas igrejas de Portua] no h bancos nem genuflexrios onde os flis possam ajoelhar. As portas do templo encontram-se frequentemente banquinhos paru os homens usarem;
as mulheres sentam-se em tbuas estendidas pela nave da igreja.
Ao cimo da nave h um gradeamento que a separa do recinto
Ano de
1772
191
92
se apodeaa.
Que triste e cruel sorte a de Portu gal ter de sofrer to tirnica
opresso, com uma incrvel pacincia, j calejada pelos anos!
Ao menor tumulto popular de descontentameto que surgisse,
acudiam logo as tropas convocadas pela violncia dste homern.
Nihil violentum duturnum- o que
dizia o ditado antigo. S a violncia
ter
fim. Pertence ao mnus do primeiro
rrpanhar g ggrtejo firnebre do Rei defunto, e firmar com juramento
a autenticidade do seu cadver, antes de baixar ao tmulo. Por
morte de D. Joo V era Pedro da Mota
o.
M, ancio, alquebrado de foras, foi
o.
Comeou ento este a subir a interm
e
dignidades.
No contente com o ttulo de Conde de Oeiras, foi elevado
tambm s honras de Marqus, com o ttulo de Marqus de Pombal, vila da diocese de Coimbra, na provncia da Bira, na qual
i possua vrias propriedades. O Comandante do forte- de
S. Julio, como criatura dele, apressou-se a ir ao beija-mo do
novo Marqus, com todo o pessoal da Guarda Militar. Junto s
celas tenebrosas dos Jesutas, ressoaram os aplausos, e toda a
fortal eza resplandeceu com o brilho das luniinrias- em festa.
No
icionar tambm o ttulo de Duque, que
s a nobres de sangue real, u plo
em P
meno
Casa de Braganga.
Este ttulo de Duque, por
ridculas ambies do Marqus.
est convencida que o Rei D. Seb
dos Sebastianistas. A este respe
grosso volume, edio de 1758,
fbulas, sobre este Rei z j tinha
mundo; num ano em Espanha, n
Ano de
1772
193
perco
Lisboa,_
de Portugal
e peregrino;
salm.
em
s Adjaente
Num cat-
I#H"t'"lH?"trlt:
no forte de
S. Julio.
1772 terminaram
a 2l do mesmo ms.
ANO DE
Realiza-se enfim
1773
o soo do Marqus:
supresso da Compaia
sua
foi
redigido em forma de
t96
hegou enfi.m o dia 2l de Julho - e antes nunca chegasse que viu o ocaso duma Ordem que durante
mais de duzent-os anos
serviu ardorosamente a Santa Igreja Catlica, e se distinguiu sem-
golpe fatal!
o aos Romanos
Pontfices,
Ano
de
1773
97
Incio permanecer at morte sepultados nos sepulcros tenebrosos de S. Julio, contanto que continuasse com vida a sua
me a Companhia, marcada com o Santssimo Nome de Jesus.
Houve um dos nossos companheiros que no pde compilecer
por estar doente. Depois de saber a triste notcia, o Comandante
foi encontr-lo desfeito em lgrimas e soluos, a choa a morte
da me que o gerata no Esprito Santo. Ao v-lo assim, repreendeu-o severamente por essas lgrimas que ele dina serem injuriosas paru o Rei e paa o Papa. O grande Agostinho chorou
amagamente diante do cadver de sua m e, que duplamente o
dera luz para o mundo e paa o cu. E se algum julgar que
pequei choiando por minha me, no se a; se tem caridade,
hore antes pelos meus pecados. (Confisses, 1. IX, c. I2).
Nem o prprio Clemente XIV probe a ningum de chorar
pela m.orte da Cg-panhia; s probe, e severamente, guo algum
se queixe por palavra ou por escrito, de cc m a sua supresso se
lhe ter feito injustia. Mas no faltou, mesmo entre os no-catlicos quem sasse em defesa de homens to esmagados e oprimidos de angstia.
Ainda as chagas no tinham cicatrizado, quando @walho,
o figadal inimigo dos Jesutas, para mais lhes exacerbar a dor,
manda que em Lisboa e em todo o Reino, sob pena de grave
multas, todas as casas se iluminem em festa. Mas nenhuma embaix-
disto.
Por todas as igrejas se cantam hinos de aco de graas pela
extino duma Ordem que era completamente intil e perniciosa.
E contudo, perseguida em toda a parte, e j prestes a expirar,
ainda recentmente, na Transilvnia, conquistara 10.000 Arianos
para a F Catlica. Estas fes-tas solenes renovaram-se em todos
bs domnios portugueses da frica, da Amrica e da sia. Nem
faltarum ditiiambos, estilo pombalino, de que apresento aqui
uma amostra:
198
Ano de
199
1773
gna
O primeiro
outro, que nas
ses.
faleceu
*), a 7
de Dezembro.
*)
(N.4.
ANO DE
1774
A Espanha, no contente oom obter do Papa a nossa destruio, com proclam-la solenemente por meio do prego oficial,
com expor o breve de supresso nos lugares pblicos traduzido
paa a lngua ve
public -lo na folha
e 1773, p.50 e segs),
oficial (Mercurio
pretendia ainda
breve Dominus ac
Redemptor fosse
e a assinatura de
todos os Cardeais. Pois no tinha agradado nada aos promotores
da destruio da Cg*panhia qug fossem to.poucos os Padres
pu{purados que assinaram aquele importantssimo documento.
De facto, foram s cinco, e quatro deles criados recentemente,
e j com este fim em vista. Conta-se que em Roma apareceu exposta em uma
i com o Cardeal Mareps do Papa, a quem
fusco e seus c
este entrega a
anhia. Duma abertura
rasgada sobre o trono saa uma pomba, e volta dela lia-se esta
inscrio: Surrexit, non est hic !
A 19 de Setembro de 1771, grande alvoroo de alegria na
corte de Madrid, com o nascimento dum filho do prncipe das
Astrias, Iogo subitamente afogado na tristeza da sua morte prematura, 7 de Maro de 1774. O prprio Rei com o prncipe nos
braos o apresentou aos grandes do Reino, reunidos na sala contgua. Clemente XIV quis ser seu padrinho, e por isso o recm-nascido se chamou Carlos Clemente. Na cidade de Rofr?, cunha-so uma moeda de oiro: numa das faces est o Sumo Pontflce;
na outra a Espanha sob a figura de rainha que apertando nos
braos o afilhado do Papa, o oferecia ao cu, paa onde voou
quando contava apenas os dois anos e meio de idade.
,a-
Ano de
1774
Companhia
dos primeiros foi
condenao
da Ordem
se escreveu.
ll4
Bispos
Ano de 774
<<Sobre este assunto
Misso de
de 1759>.
,S.
de
1758.
206
ANO DE
Exacerba-se
o fiuor
1775
anti-Jesutico de Pombal
Julgar-se-ia que com o sangue dos Jesutas exilados ou sepultados em negras masmorras, ou mortos com tantas privaes e
sofrimentos, acalmaria enfim o dio de Pombal. Engano. Ainda
se ateou mais. Manda que todos os livros escritos por Jesutas,
em qualquer casa particular que se encontrem, sejam inexoravelmente queimados. O Capelo da fortaleza confessou-nos, no
ano de 1777, que por medo de Pombal, com grande pena teve de
queimar livros de autores de grande valor, que muita falta lhe
fi-gram.
Mas a atdcia do seu dio foi ainda mais longe, levando-o
a declaa guerra aos prprios Santos da Companhia. Por ocasio
do terramoto de Lisboa em que os Nossos to heroicamente
se sacrificaram pelo povo,- a ponto de o prprio Rei em nome do
Franmesmo povo lhes agtadecer publicamente
- foi escolhido S.
cisco de Borja, q
tra os terramoto
publicou uma b
todo o Reino, e
solenidade nas igrejas da Companhia, com Missa cantada, sermo
e assistncia das autoridades civis; e onde no houvesse igreja
da Companhia, no principal templo da cidade. E num outro decreto de 15 de Maro de 1758, ordena que s comemoraes das
Horas Cannicas se ajtrnte a de S. Francisco de Borja. Pombal,
porm, aboliu este rito, e mandou apagar do Ordo Ecclesiasticus
qre se publica cada ano, a memfia deste Santo que ea indicada
com este ttulo: ,S. Francisco de Borja, Padroeiro do Reino e seus
domnios, advogado contra os terramotos. Foi ainda mais longe
a fria antijesutica deste homem. Para que nunca mais se fizesse
de Potnbal
eleito Pio YI
Faamos agota uma digresso do crcere de S. Julio para
Sacro Colgio est reunido em Conclave,
para ouvirmos duma das janelas do palcio este anncio solene
s multides, apinhadas na paa de S. Pedro: Anuntio vobis
gaudium mognum; Papam habemos Eminentissimum et Reverendissimttm Joarunem Angelum, Sanctae Romanae Ecclesiae Cardinalem
Braschi, qtii sibi nomen imposuit PIU,S VI.
Por quatro meses e 23 dias esteve vacante a S Apostlica,
at ao dia 15 de Fevereiro de 1775, em que foi eleito Papa o Cardeal mais recente do Sacro Colgio. E a 22 do mesmo ms, dia em
que se comemora a Ctedra de S. Pedro em Antiquia, tomou posse
da Ctedra Romana do Prncrpe dos Apstolos este seu dignssimo
sucessor. Sob o governo do novo Pontfi.ce, a comisso dos cinco
Cardeais instituida por Clemente XIV para gerir os assuntos da
extinta Companhia de Jesus comeou a actuar com mais modera,o. Quis Pio VI, como supremo rbitro e jz desta gtave controvrsia, ge ela se resolvesse segundo as leis da justia e da virtude.
E isto tomou-o este virtuoso Papa ainda mais a peito, quando
abrindo um pequeno cofre deixado por Clemente XIV, encontrou
nele, entre otrs papis, uma folha escrita em que recomendava
ao sucessor, como seu ltimo desejo, retomasse em suas mos esta
causa. Este pormenor foi publicado no <<Mercurio de Madrid.
o Vaticaro, onde o
tinha sido
solene
o lugar destinado
Ano de
1775
real, chamada Terreiro do Pao. Rodeavam-na edifcios apressadamente pintados no interior e no exterior, e ornados de tapearias. O Rei, a Rainha e os Prncipes pr )senciaram duma casa
frente esttua este magnfico espectculo. A esttua de bronze
estava velada, sem a princpio ningum a poder ver. As duas cortinas que a encobriam deveriam ser corridas pelo Marqus e seu
filho, o. Conde de Oeira-s, sentados dum lado e do outro em coches
com seis cavalos atrelados. Por pouca sorte, as cordas emaranharam-se, de forma que as cortinas mal corridas encobriam os dois
protagonistas desta cena, privando-os assim dos primeiros aplausos da multido. Uma yez removidas, a bos dobraram o jelho
pata prestar honras esttua do monatca. O mesmo fizeram todos
os marqueses e condes presentes. Os altos comandantes do exrcito,
generais, brigadeiros e coronis, inclinaram a espada em sinal
de homenagem. Por todo o anfi.teatro resplandeciam as mesas
com baixelas de ptata, e serviam-se lautas iguarias. Os edifcios
estavam profusamente iluminados dentro e fora; e na paa ressoavam as danas em coro. Atrau especialmente a curiosidade e a
admirado de toda a gente o fogo de artifcio, quando no a apareceu cintilante o diadema real, irradiando ofuscantemente as
mais variegadas cores.
Esta solene inaugurao deu ensejo publicao dum opsculo em prosa e verso, que chegou s mos dos cativos de S. Julio.
O autor, paru bajular Pombal e os seus sectrios, no perdeu a
oportunidde de irazer baila os malefcios do Jesuitas. Nos
ltimos dois sculos, escreveu ele, o esprito de todos os Portugueses flcou envolto no mais cerrado nevoeiro, e todas as artes
liberais se atroflaram e oprimiram. Aos dois sculos da nossa
Companhia chama-lhes sculos de ignorncia e obscurantismo.
As cincias, que tinham sido desterradas pela iniquidade dos
Jesutas, voltaram enfim Pfiiq sob o gloriosssimo reinado
de D. Jos I.
Entre os Portugueses os poemas eram geralmente compostos em portugus notabilizou-se
um ver- chamado Feij,especialmente
sejador, pigmeu amerieano
que estudara no nosso
colgio de Pernambuco, exortando todas as quatro partes do
mundo a congratularem-se alegremente com a exalta-o triunfal
desta esttua equestre.
i
2t0
Ano de
1775
2t1
212
caffuagem fechada chave, eue ea aramente usada pelo Marqus, e se enconttava permanentemente guardada por tantos
criados, e vigiada por guardas militares, sempre de sentinela
porta do palcio.
1775
Ano de
2t3
1775
Este protesto foi redigido por escrito. Eis o que diz uma carta
vinda de Roma: Um Jesuta, sbdito do Rei da Sardenha a quem
ele tinha em grande estima, possui o original do protesto do M.R.P.
Geral, e pediu ao Rei o guardasse nos arquivos do seu Reino.
No, respondeu ele, no preciso, pois estou perfeitamente
seguro da inocncia do vosso Geral e da vossa Companhia. No
leveis a mal que eu no aceda ao vosso pedido ) a fim de evitar
desentendimentos com as outras Cortes.
A 26 de Novembro, foi exposto o cadver na igreja de S.
Joo dos Florentinos, porque Ricci era duma ilustre famlia daquela cidade. Todas as paredes do templo estavam revestidas
de negro. Armou-se um enorme catafalco, ricamente ornamentado, com 30 crios a arder em torno do cadver, vestido de paramentos de seda bordados a oiro. Este foi transportado de noite,
acompanhado de trs carruagens, para a igreja da Casa Professa,
conhecida por igreja do Ges. A rs funerais assistiu enorme multi-
mereceu.
24
ANO DE
1776
26
de olhares.
Ano de
2t7
1776
inteligentes e cordatas>.
Entretanto, grande azfama militar em Lisboa, guo fazia
prever uma guerra que se preparava. De dia paa dia, aumenta
o nmero de soldados, guo, como cativos se amontoam junto do
forte de S. Julio e de outras fortalez.as vizinhas. Inspeccionam-se
todos os postos de defesa, e neles se acumula o material de guera.
Preside a todos estes preparativos o prprio General Francisco
Maclen, ingls, Governador da provncia da Estremadura, lugar-tenente do Comandante supremo, Conde de Lippe.
Tudo parecia prestes para a guera1, s faltava vir o inimigo.
Nos pases estrangeiros tudo estava intrigado, sem saber a que
se destinava tanto apaato blico. Correu o boato de que D. Jos,
filho do prncipe D. Pedro, desposara Isabel Filipa, irm do Rei
de Frana.
Desejava Pombal introduzir em Portugal a lei slica que
justificasse a sucesso ao trono do prncipe D. Jos, neto do Rei,
para afastar dele a princesa do Brasil, D. Maria. Diz-se que o
Marqus instigara o Rei a urgir com sua fllha paa que renunciasse
ao ceptro real, e que ela respondera que isso no faria sem o consentimento do Prncipe consorte D. Pedro, nem estava disposta
a ceder a ningum o seu direito hereditrio sucesso do Reino.
s ainda
apod
o-se um dia
S. Julio, re
Pombal.
Patriatca,
dade
sso,
Eu
sboa
2t8
(no) De,z anos antes, o Cardeal Saldanha, que tinha sido sempre to servil e
adulador, atreveu-se pela primeira vez a respondet no a um pedido do Ministro.
Imediatamente recebeu um mandato de exlio, em nome do Rei, que nem sequer
fora informado de nada. Era este o costume habitual do Ministro: agir por si prprio,
confirmando as suas ordens com o selo real. O Cardeal retirou-se para a casa de
campo que lhe fora designada para lugar do seu exIio. Entretanto, o Rei, admirado
por o no ver na Corte, a ele que tinha o hbito de aparecer todos os dias a render
homenagem a Sua Majestade, perguntou que lhe acontecera. Ningum se atrevia
a responder-lhe. Finalmente, depois de D. Jos ter feito por duas ou trs vezes a
mesma pergunta, atreveu-se algum a dizerlhe: <Senhor, ele foi para fora de Lisboa.
<<Perdoai, mas ele recebeu ordem
p.
105)
ANO DE
1777
A Corte
1 de Julho
de 1776, mor
D. Pedro
afllhada de C
ano, nasce
uma outra infanta, que viria a morrer a 14 de Janeiro de 1777.
A ale gria, porm, vem substituir o luto no s da Corte, mas de
todo
riva
com
i'?"X:,-H::t
anos.
E assim
Portu gal se viu livre duma guerra que poderia ser fatal, se este
prncipe tivesse casado com a irm do Rei de Frana.
Mas logo depois, outras nuvens negras se acastelam sobre
a Corte. A sade do Rei vai-se deteriorando mais e mais, evidenciando o aproximar da morte. S Pombal, sempre agarrado
esperana de manter o seu domnio absoluto, promete longa vida
ao enfermo, e continua a matelar-lhe os ouvidos com os assuntos
do Estad o, at que a Rainha lhe impediu a entrada nos aposentos
reais
j passaYa
idad
suas virtudes,
com
(nt) Depois do luto a alegria,
no aceitou logo a catuagem que seu sobrinho, o Conde de Povolide lhe oferecera. Quis, ao sair do crcere, ir primeiro a p
prxima igreja dos Franciscanos, que lhe saram todos ao encont1o para o acompanhar e rece ber solenemente ao _repique dos
sinos, cantando-se no templo um Te Deum de ac,o de graas.
Morre o Rei D.
Jos
Ano de
1777
221
acontecimentos.
da carruagem em sinal de luto e dor profunda. Todos os magnates do Reino, a Corte e os conselheiros acompanham o cortejo
a cavalo, de capa negra a arastar por terra; e chegados ao templo,
todos quebram as varas, insgnias da sua dignidade.
liberdade
brao, ou no chapu.
At ento fomos por longos anos expostos caoada daqueles que nos viam cobertos duns trapos rotos, com remendos
das mais ridculas cores. A suprema crueldade do tirano troar
Ano de
777
225
da vtima da sua opresso. Esse riso escarninho com que a despreza como as garras do tigre cravadas nas feridas em carne
viva da sua presa.
Exploses de alegria com a libertao dos Jesutas
Mas se Pombal, na maneira brbara como nos tratou, pretendia convencer o povo de que ramos rus dos mais degradantes
crimes, e s dignos de dio e desptezo, enganou-se redondamente.
Apenas constou que as portas do nosso crcere se abriram, foi
incrvel a alegria de toda a gente. No h, palavras que descrevam
as manifestaes esfuziantes das turbas que acorreram de Lisboa
e arredores, qaru nos verem. Exultavam expansivamente com o fim
de tantos males que por longos anos nos oprimiram. Davam-nos
os parabns por termos resistido vivos a tanto sofrimento, termos
ressuscitado enfim do negrume dos nossos tmulos. Abraavam-rros com ternura, mostrando eloquentemente que a profunda
amizade que tinham Companhia ainda se no extinguira nos
seus coraes. Todos desejavam avidamente saber os trabalhos
porque passmos em tantos anos. Quiseram ver com os prprios
olhos a imundcie dos nossos crceres, e palpar com as prprias
mos tudo aquilo que por to longos anos nos atormentou. Nem
se contentaram s com palavras e lamentaes. Homens em altas
funes, eclesisticos e seculares, acudiram em auxlio da nossa
misria. O primeiro foi um Alemo de Hamburgo, que nem catlico era, e nos estendeu uma mo generosa. Tambm entre os
primeiros nos socorreram os Rgligiosos da antiqussima Ordem
do Carmo, e o Embaixador da Austria, Senhor de Lebzeltner, que
quis ficar incgnito. Este chamou todos os Padres alemes, e falou
a cada um com extrema amabilidade, pedindo lhe expusessem
tudo o que precisavam.
Confessou-nos ele depois que ficou estarrecido ao ver o horrvel aspecto desta tenebrosa priso. Tinha ouvido falar da aspereza e imundcie deste lugar. Mas que fosse coisa to horrorosa,
no podia sequer imaginar. Segundo os jurisconsultos, o crcere
foi feito para guarda dos rus. Deveria pois ser minimamente
tolervel, para no se converter em cadafalso de morte lenta. Que
assim foi, provam-rro os 37 companheiros nossos que sucumbiram
a o peso dos sofrimentos, no forte de S. Julio. O ltimo deles foi
224
(nt) O clculo que o Padre Eckart aqui nos apresenta est longe de ser exacto.
Eis os nmeros oficiais apresentados por trs magistrados encarregados de fazer um
inqurito a este respeito: O nmero dos prisioneiros, ou exilados nas colnias, ou
executados por ordem do Ministro eleva-se a 9.640, entre os quais se contam 3.970,
a quem se no pode imputar crime algum. Pombal tinha por cmplice da sua tirania
o Tribunal da Inconfidncia, que ele criara parajulgar os crimes de lesa majestade,
e constitudo por homens totalmente subservientes e executores cegos da sua vontade.
(C. Mmoires de Pontbal, t. IV).
Entre as vtimas que escaparam com vida aps a morte de D. Jos, uma das principais foi o Bispo de Coimbra. Depois da queda do Ministro, procurou-se por todai
as cadeias do pas o Bispo D. Miguel da Assuno, sem resultado algum. S depois
de consultado o prprio Pombal foram dar com ele num calaboio subterrneo do
forte de Pedrouos, apenas com trs ps de largura e sete de comprimento. A cobri-lo
pouco mais tinha que a barba extraordinariamente longa, com uns mseros farrapos.
Ao aparecer luz do dia, confessou que sem a caridade do seu guarda, que lhe ia
dando algum alimento, teria morrido de fome (Cf. Carayon, p. 309).
Ano de
1777
22s
O Conde de Sampaio,
casado com
15
226
Pombal no desterro
Quem poderia acredit-lo? J removido do seu cargo, que
to tiranicamente exercera, o Marqus e dgia ainda para si as
honras da antiga dignidade. Na vila de Pombal mandou paa a
cadeia o carniceiro por este se recusar a vender-lhe carne fresca.
O mesmo fez ao se prprio mdico, por no ter vindo v-lo
no dia determinado. Ambos eles foram postos em liberdade
por mandato
rgio.
As cartas que nos chegaram contavam que ele logo nos primeiros dias do seu desterro em Pombal,
tar-se de ter sido atirado para um canto
em Lisboa que rejubilava a5oa por se ver
se lhe apodeaa das propriedades, que vi
sagrados e profanos, que destruira cruelmente tantas vidas. E
este homem j decrpito, octogenrio, sonha e devaneia como
se tivesse longos anos de vida diante de si
Os Jesutas retomam os seus Ministrios
Depois de tanto tempo de forada inaco, alcan ada a liberdade que o Rei D. Jos em vida nos roubou e com sua morte nos
restituu, comemos de novo a exercer os ministrios da Companhia, no s na parquia de S. Julio, mas n
es circunvizinhas, e at na prpria cidade de
rimento que frz ao Patriarca eleito escrevia eu
elle suplicante, que pertende agora por servio de Deus e bem do
prximo, exercer
os
Sua Eminncia de
uzar das suas ordens,
de tres onnos. Lisboa,
Quando pelos jornais constou na Alemanha a notcia de eue,
sob o felicssimo reinado da nova Rainha, todos os prisioneiios,
tanto religiosos como seculares, tinham sido restitu-dos liberdade, comearam a chegar cartas de irmos, parentes e amigos,
a indagar se os seus ainda estariam entre os vivos. Tambm eu
recebi uma carta dum dos criados do Embaixador de Portugal
junto da corte do imprio austraco.
Ano de
1777
227
Aclamao de D. Maria
e do Prncipe Consorte
228
lissima, preces porrectoe fuerint pro recitatione etiam in suis dominiis obtinenda Officii proprii cum Missa Sanctissimi Cordis Jesu...
DAt. Lisbonae, in aedibus nostrae Residentiae, die 16 Maii L777.
B. Arch. Petren, et
Nuntius Apostolicus,
Na fficina
-Wesa de Antonio Rodrigues Galhardo, Impressor
Real
da
censoriA.
Ano de
229
1777
lauta mesa.
No dia seguinte, navegmos paru Lisboa nas guas mansas
do Tejo, que eu no via j desde Fevereiro de 1762. Nesta viagem
descobri junto margem do rio uma grande gruta cavada pelo
terramoto de 1 de Novembro de 1755, na qual agoa se refugiam
os barcos pequenos para se abrigarem das tempestades. Na cidade
visitmos antigos conhecidos e amigos, entre os quais uns Alemes
da Ordem dos Carmelitas Descalos. Era o dia de Santo Antnio
seu Reformador, no porque o estimasse e admirasse, mas porque
o temia, tambm a mandou demolir. At o prprio Comandante
mo,
Ano de
1777
23t
com
232
Ano de
1777
que pertenceu
em 1578.
a Gnova
Ano de
235
1777
andar, t,o alto, que mal podamos assomar janela sem sentir
vertigens. O sol era to quente que quase nos sufocava.
O Arcebispo de Gnova recebeu-nos no dia 8 de Agosto com
primores de delicadeza. Ao saber que cerca de 250 Jesutas estiveram por tantos anos encarcerados nas masmorras de S. Julio,
da Junqueira, e de outras prises, sem que durante todo esse tempo
se lhes provasse qualquer culpa em processo judicirio, exclamou
num mpeto de admirao: Que horrvel injustia! Tantos sacerdotes sem nunca serem ouvidos, nem se lhes dar possibilidade
alguma de defesa, cortados do convvio dos homens e artancados luz do dia para serem sepultados nas trevas imundas dum
crcete, vivendo uma vida de toupeiras, ou antes, sorvendo aos
poucos o travor duma morte lenta!
A Ccero, o prncipe dos oradores, bastou-lhe o lume da
raz,o para aflrmar que o crcere foi a vingana que _o_s nossos
maiores encontraram paa os mais nefandos crimes. Mas quais
so os nefandos crimes que a Companhia praticou ? Deus tudo
sabe; mas inquiriu os rus paa ensinar ags .magistrados e juzes
como devem portar-se nos processos criminais. Ado pecata.
Mas o divino Juiz no o expulsou do Paraso antes de o ouvir,
e de ele se declarar culpado. Se dez anos passados numa cadeia
parecem uma vida, 18 anos desta nossa curta vida passados em
to negro e cruel cativeiro parecero mais duros e acerbos que
a mesma morte.
nossa despedida, o Arcebispo, juntamente com a sua bno,
concedeu-nos faculdades paa ouvirmos confisses entre ns e
celebrarmos.
Vivem nesta cidade uns 150 dos Nossos, espanhis, alm
de um ou outro portugus. Todos eles nos honraram com as suas
frequentes visitas. Os quatro senadores que ali administram os
bens da Companhia so-lhes muito pouco simpticos. Na casa
qyq outrora foi Casa de Exerccios, conhecida por Carignano,
viviam juntos trinta Jesutas.
Prossegue
Ano de
1777
Pombal.
Prossegue de
exercido-s por
Ano de
1777
No posso deixar de recordar aqui um dos Nossos da Provncia da Baviera, o P. Joo BaptistaL. B. Hornstein, hoje Cnego
Capitular da igreja Elvacense. Tinha sido secretfuio em Roa
da Assistncia Germ nica. Contou-me a maneira como a Companhia fora expulsa de Espanha; e a suanarao concorda exactamente com o que eu tinha j ouvido ao chegar Baviera.
Ainda a expulso dos Jestas de Espanha
p. 28 1).
1863,
Hoje, o Forte de S. Julio. (Os mais belos castelos de Portugal, Verbo, 1986,
p. t13).
,fl
-[ f i,,'i]*
[*
.,fl
1".
!"i ?'ll
j.
l"
"]
tii
flir,- ,,'j
ffi,,'[::,,
,wt'
'
::,:.
.,i
1,'
;t; .i
i4.
]
3,
fl} S HH$SH
"ffi*1
s' ffiffi
''
fuffi,
#*d
i} l', l.
;d "5'{i{:"f,f: #,#"/j
.'
$ : H H
fl
e,
{;f
i 4l:i ,'\ [,
ih ih'l
,fu
}}'
l; 1; LI il . t^;, ;i {", i} ;} i{
t, ;"[ - i-] i:] f,] i-] *] It. i"i il
i,
}, Jtg
Frontespcio do Breve de Supresso da Companhia de Jesus Dominus ac Redemptor de Clernente XIV. (B. N. L., F. G. Ms 669; Marqus de Pombal, Bibliografia, Iconogra"ia, B. N. L. , 1982, p. 128).
Ano de 777
241
duma yez todos os Jesutas do Reino de Espanha. O Rei coocordou finalmente. Explica-se assim claramente a razo das palavras com que termina o decreto real de ex lulso da Companhia:
Sua Majestade Catlica guardard sempre ocultas no ntimo do seu
peito as gravssimas razes que o levaram expulso da Companhia de Jesus pora fora do seu Reino.
Poucos anos depois, viajando por trtlia um dos Grandes
de Espanha, ao passar por Ferrara, onde ainda hoje em dia se
encontram muitos Espanhis, tentou investigar se entre eles se
encontraria ainda o ltimo Reitor do colgio de Madrid. Conseguiu dar com ele e, depois de longa e familiar conversa, perguntou-lhe se sabia qual teria sido a causa do seu exlio e dos Jesutas. Respondeu-lhe que a ignorava absolutamente. Insistindo
ele se se recordava duma carta num envelope comprido, que fora
tado,
: :,';
ue recebia, apedir-lhe o seu parecer ffl:
qualquer assunto. Referiu-lhe ento o nobre viajante o contedo
daquele libelo.
Viajando mais tarde por Itlia o Serenssimo Duque de Wurtemberg, chegando-lhe aos ouvidos a narrao -desta hedionda
conjua, para tirar dvidas sobre a sua autenticidade, foi a Ferrara)
e ouviu da boca do prprio Reitor, esta mesma histria exactamente como acabo de a descrever. O mesmo serenssimo Duque
a repetiu ao P. Geiger, que hoje Cnego em Basileia, e quis
mes
fosse divulgada com o seu prprio nome.
conflrmao deste facto, e paa tornar
imp
or dvida, permitiu Deus que eu me encontrasse
com o Senhor de Hornstein, o qual me assegurou que ele mesmo
ouvira em Ferrara do prprio Reitor de Madrid a narrao pormenorizada deste triste acontecimento.
De uma carta escrita de Roma paru o Revmo. Vigrio Geral da diocese de Basileia, Mons. Klinglin, com data de 12 de
Fevereiro:
<O Duque de
escrito ao Rei que el
fora o impulsionad
Companhi, e o prin
o Rei; fora ainda ele
r6
Paraguai, e que ocultamente cunhara a moeda que andou dispersa por Espanha. Ele com os seus sequazes inventata todas
estas monstruosas calnias contra os Padres da Companhia, paru
o induzir a extermin-la
(uo).
Uma outra carta escrita com data de 29 de Fevereiro de 1777, por um dos
Itlia, afirma que a retractao do Duque de Alba feita perante o
Inquisidor Mor, Mons. Filipe Bertran, Bispo de Salamanca, no pode dar margem
meus amigos de
Ano de 778
4 Jesutas
IIha de
Cayenne
Ano de
1778
245
Sobre a amizade do Sumo Pontfice Pio VI para com a Companhia, e da sua boa vontade para com ela, nem se pode duvidar.
Mas os adversrios eram ainda muito poderosos. Diz-se guo,
sendo ainda Cardeal, tinha no seu palcio dois Jesutas espanhis;
e Ganganelli no via com bons olhos esta sua benevolncia paa
com eles. Mais tarde, depois de eleito Papa, tendo morrido um
deles, chamou o outro sua Cria, confiando-lhe o encargo de
introduzir os Cardeais s audincias com o Sumo Pontfice. Tal
escolha deu origem a este comentrio jocoso: <<No tempo de
Clemente XIV nem 60 Cardeais tinham poder paru introduzir um
s Jesuta junto do Papa; mas a5ora, uffi Jesuta basta paa intro-
ram Sacerdotes seculares, muitos deles sem piedade nem capacidade alguma, ne(n
conhecimento das lnguas indgenas. Pombal, porm, tudo resolveu com uma simples deciso de que todos os habitantes da selva falassem portugus.
Passaram os novos missionrios a receber 125 escudos do tesoiro real, alm
da casa e mobilirio dos Jesutas, que estes partida lhes deviam deixar absolutamente intactos. Trs Padres que infringiram esta ordem foram condenados ao exlio,
tendo de lhes pagar a viagem para Lisboa o colgio do Par.
Todas as aldeias antigas foram elevadas categoria de vila, e os seus habitantes
receberam ttulos de nobeza e tribunal prprio.
Mas nem por isso os indgenas ficaram mais felizes. Do-nos ttulos bonitos,
diziam eles, mas tiram-nos o po da boca. Os missionrios exerciam gratuitamente
todos os ministrios; e agora a estes, temos de lhes pagar para nos baptizarem, casarem, ou acompanharem os nossos defuntos sepultura. certo que tnhamos de
trabalhar paa os Jesutas. Mas eram s trs horas de trabalho durante cinco dias
seguidos, ficando depois livres por trs semanas inteiras. Contentavam-se eles com
o pouco que lhes dvamos, encontravam ainda com que acudir s necessidades
dos nossos doentes, das vivas e dos pobres. E se ainda alguma coisa lhes sobrava,
tnhamos a consolao de com isso vermos as nossas igrejas e altares mais bonitos.
246
Hoje, o nome de cidade que nos dais, e os ttulos de nobreza reduzem-nos a uma vordadeira escravido, sem podermos trabalhar os nossos campos, nem fazer a colheita
das nossas sementeiras. Pois todos os dias somos obrigados a deixar o nosso ttabalho agrcola para construir o que chamais edifcios pblicos, Cmara Municipal,
casa do proco, e tudo aquilo que vos apetece mandar-nos. De que nos servem ttulos
de nobtez", se os nossos campos permanecem incultos e acabamos por morrer de
fome
licena para a abandonar porque no tinha meios de subsistir. Um outro, no conseguindo adaptar-se aos hbitos e costumes da populao indgena, abandonou-a
inesperadamente sem nenhum pr-aviso. LJm terceiro chegara misso da Conceio
quando os ndios andavam na @a. Ao voltarem, to exasperados ficaram de no
encontrarem o seu missionrio que decidiram matar o Padre recm-chegado. Este
ao aperceber-se do perigo conseguiu fugir.
Pouco a pouco, todos os indgenas foram abandonando a misso, regressaran
floresta. (Anedd. t. I, pp. 156 e sgs. ; II, pp. 137 e sgs) .
CATL
OGO
fr. ALBERTO,
de Goa, morto a
23.YI.1761
Maro de
1777.
de
P. ANTNIO, Aleixo, Portugus, vice-prov. do Maranho; transferido do crcere de Almeida paa S. Julio 12.1I.1772;
posto em liberdade em Maro de 1777.
P. AFONSO, Manuel, Portugus, vice-prov. do Maranho, transferido do crcere de Almeida para S. Julio 10.II. 1762,
onde morreu 5.X. 1775, com 66 anos de idade.
Ir. f,VanBS,
P. ANCHIETA, Joside,
Gatlogo
1777.
crcere
Ir. BOTELHO,
h.
1777.
L777.
Catlogo
251
P. CARVALHO, Cristvo de, Portugus, vice-prov. do Maranho, morreu no ctere de Azeito 29.Y.1'766.
Ir. CARVALHO,
no crcere de
Azeit"o 3.I.1762.
1777.
Goa
para S. Julio 24.Y.1761; exilado para I.tlia 9.VII. 1767.
Ir. COELHO,
do crcere de
17 67 .
Ir. CORREIA,
do
Japo, veio da priso de Macau paa S. Julio 19.X. 1764;
onde morreu 1l.VIII.L766 com 76 anos de idade.
252
66
Ir. CUNIIA,
P. CUNIIA,
no con-
Ir. DELSART,
P. DUARTE, Francisco, Portugus, prov. de Portugal; desconhece-se o lugar da sua priso; recuperou a liberdade
em
1777.
Catlogo
nil
morreu
254
P.
FERREIRA, Joo, Pgrtugus, vice-prov. do Maranho; deportado para Africa em 1768, destino desconhecido.
1777.
h.
no
crcere
de
Catlogo
do Brasil; morreu
Ir. GIRO, Manual,-Portugus, vice-prov. do Maranho; deportado para Africa, nada se soube
Ir.
dele.
GOMES, Manuel, Portugus, vice-prov. da China; transferido do crcere de Azeit,o paru o de S. Julio 11.V. 1769;
libertado em Maro 1777.
em
P. GONZAGA, Manuel,
56 anos de idade.
P. GONZAGA, Manuel, Portugus, prov. do Maranho; deportado paru Africa em 1768, nada mais se soube dele.
Ir. GONAL\DS,
das
256
Ir.
no Porto em L760.
preso
P.
GR
P. HEI\RIQL,IES, Joo, Portugus, Provincial da prov. portuguesa; transferido do crcere de Belm para o de S.
Julio 17.XIL1760; deportado paa ltlia 9.VII. 1767,
P. HOMEM, Pedro, Portugal, prov. de Portugal; desconhece-se
o lugar da sua priso; recuperou a liberdade em 1777 .
P. HONORATO, Joo, Portugus, Provincial da prov. do Brasil; preso em S. Julio 7.X1.1759; exilado para ltlia
g.VIr.1767.
P. HLrhlDT,
Catlogo
de Belm, e libertado em
1777.
Ir.
S.
Ir. KING,
17
P. LOPES, Estvo, Portugus, prov. do Japo, antigo Provincial; transferido do crcere de Belm paru S. Julio
17.XII .1760, onde morreu 15.XII .1766, com 74 anos
de idade.
P. LOPES, Joo, Portugus, prov.
de Azeito
P. LOPES,
28.I.1761.
L, Portugtrs, Provincial
P. LOPES, Manuel, Portugus, vice-prov. do Maranho ; ayartado em idade, com o brao e o p direito parulisados
em consequncia dum ataque apopltico, ficou abandonado no crcere de Azeit,o quando os seus companheiros foram transferidos para S. Julio em Maio de
1769.
1767.
P. MACEDO,
15.V.
Ca'tlogo
259
1767.
no
no
do
Ir. MEDEIROS,
morreu
P. MEI\DES, Mateus, Portugus, prov. de Goa; norreu na viagem de Goa paa Lisboa 29.\Y.1761.
P. MEI\DON.A, Jos de, Portugg9s: pro;.._99_9ou; morreu
na viagem de Goa para Lisboa 10.V. 1761.
P. MONTEIRO, Bento, Portugus, prov. de Goa; transferido
do crcere de Azeito para o de S. Julio 11.V.1769;
libertado em Maro 1777.
Ir. MONTEIRO,
no crcere de Azeito
do Brasil; morreu
P. MORAIS, Jos
de, Portugus, vice-prov. do Maranho; encerrado num mosteiro perto de Belm; libertado em Maro
1777.
I; morreu
no crcere de Belm.
Ir. MOURA,
Catlogo
261
OLMIRA, Jos de, Portugus, prov. de Portugal; transferido do crcere de Belm paa o de S. Julio 17.XII1760; deportado para I.tlia g.VII. 1767 .
P. OLMIRA, Timteo de, Portugus, prov. de Portugal; outrora confessor da Princesa do Brasil, guo foi D. Maria
II; ignora-se o crcere em que esteve preso; foi libertado em 1777.
prov. do Brasil; era cego
e morreu na viagem de Pernambuco paru Lisboa, offi
crcere
262
!
h. PEREIRA,
Sebastio, Portugus, prov. de Portu gal; transferido do crcere de Azeito paao de S. Julio 11.V. 1769;
libertado em Maro 1777.
libertado em Maro
1777.
S. Julio
Catlogo
foi
h. ROBIATI,
de
P. ROCHA,
Ir. RODRIGUES,
fr.
RODRIGLJES, Aleixo, Portugus, vice-prov. da China; transferido do crcere de Azeito para o de S. Julio 11.V. 1769
libertado em Maro
1777.
P. SAMPAIO, Francisco de, Portugus, prov. do Brasil; transferido do crcere de Azeito paa S. Julio 11.V. 1769;
libertado em Maro de 1777.
P. SAMPAIO, Joo de, Portugus, prov. do Brasil; transferido
de Azeito paru S. Julio 11.V. 1769; libertado em Maro
1777.
em Maro
1777
P. SCHWARTZ, Ma{inho, 4ltp?.9, prov. da Germnia Superior; encerrado em S. Julio 3.XII. 1760; Iibertado em
Maro 1777.
P. SEIXAS, Vicente de, encerrado em S. Julio em Abril
1759,
morreu
do Maranho;
morreu em 1760, na viagem do Maranho paa Lisboa.
1767
Catlogo
P. SOUSA, Joo de, Portugus, vice-prov. do Maranho; encerrado em S. Julio 3.XII. 1760; libertado em Maro
1777.
de
1777.
9l
anos de idade.
11.V.
l"
P. TORRES, Antnio de, Portugus, prov. de Portu9al, ex-Provincial; preso no forte de Almei da, foi transferido de
Ir. VfEIRA,
1770.
Catalogo
VICENTE, Xavier, Portugus, prov. de Goa; morreu na viagem de Goa para Lisboa 20.Y.1761.
S.
de idade.
APENDICE
Aqui temos a lista de 220 Jesutas vtimas de Pombal,
pelo nico crime de pertencerem a uma Ordem Religiosa, cujos
membros esto ligados Igreja e ao Papa por um voto de especial
fldel
Por serem fiis a esse voto foram apontados
crimirlosos, e sujeitos,+s mais graves .peram 123 aos tratos cruis, sem um mnimo
nas.
de assistncia, no mar ou nas masmorras em que os encarceraram.
de
Julgo no dever encerrar estas pginas, sem render homenagem a estes Jesutas annimos, que preferiram o desconforto e
as incertezas de um desterro perptuo a quebrar a palattta de
fidelidade que deram a Deus e Companhia.
Junto igreja da casa dos Jesutds em Castelo Gandolfo,
antiga casa de ca
ltimo
pusera
Superior Geral
disposio dos
m sarcfago com as ossadas de 82 Jesutas portugueses, que ali terminaram os dias do seu exlio. Sobre a porta l-se esta inscrio:
270
S.J.
(52)
(o')
e Irmlos da antiga
Provncia Portuguesa
S.J., que sob o governo de Pombal, depois de duros sofrimentos, preferiram ser depara o exlio, a abandonar a Companhia de Jesus.
nortados
Apndice
271
neiros estavam estritamente proibidos de largar o navio, enviaram-lhes todos os mantimentos que puderam haver. At os padeiros
passaram a noite a cozer po para os desterrados portugueses.
Se no fossem os ventos contrrios que lhes retardaram a nave-
Apndice
Naquela acolhedora cidade pennaneceram at 6 de Novembro, dia em que partfuam para voli, onde o Padre Lorenzo Ricci
mandaa aprontar uma casa de campo paa os acolher. Ali os
foi saudar o P. Geral, vrios Cardeais e Prelados da Corte Romar, os Prncipes Coloni, Borghese, e muitas outras personagens
da primeira nobteza.
Entretanto, em Lisboa, Pombal assesta as baterias contra
Jesutas jovens, no-professos que separara dos Padres mais antiBos, na nsia de os fazer abjurar da vocao. O seu flel coopedor, Cardeal Saldanha ps em aco todos os meios paa seduzir
estes jovens religiosos: splicas, promessas, arneaas, mentiras.
Arrogou-se o poder de os dispensar dos seus votos. Asseguravam-lhes que os professos tiram entrado no segredo da conjurao,
e qug s depois d9 provado 9 crime de alta traio qqe foram
expulsos do pas. Se eles se obstinassem em os seguir, seriam rus
do mesmo crime.
Alguns houve que fraquej aram perante estes incessantes
ataques. O primeiro deles foi um Escolstico de Coimbra, chamado Lus da Costa. A notcia constou logo, como o primeiro triunfo de Saldanha, o que lhe merecou, sada, uma trovoada de
apupos do povo simples que se juntou frente portaria do colgio.
Isto deu motivo a que os outros que fraquejaram fossem despedidos de noite. Mesmo assim, no lhes faltaram as graolas sarcsticas dos prprios soldados a verberar-lhes a covardia. Houve
entre eles quem, rodo de remorsos, debandasse paru terras de
Itlia a fim de reentrar na Comparia, e se juntar as seus antigos
a nulidade da dispensa dos seus
lemente XIII fez sber ao Minisos votos conoedida pelo Cardeal
era um deplorvel abuso do poder, e como tal, ilegtima e invlida.
Jovens Jesutas presosl em Azeitio
18
Apndice
ltIia
Entretanto, sau a pblico em Lisboa o decreto que expatriava todos os Jesutas como criminosos indignos de respirar
os ares da sua Ptria. Embora registado s em 4 de Outubro,
Pombal antecipou de um ms a data
para ligar o castigo com a
Setembro
- retintamente po tbalino.
O seu estilo
Apndice
dando-lhe afixar
como aprovado
dito sobre todo
a todos os fiis
Mais ataques
sob pena de
yoz ou por
m.
o Cardeal Saldanha, manas as igrejas, apresentado
, offi que se lanava interse proibia rigorosamente
com eles.
de
Coimbra
novos, nada tinham a temer, porque era sabido que estavam inocentes, e que podiam por isso contar sem temor com a bondade
de S. Majestade. Bastava aceitassem a dispensa dos seus votos,
que o Crdeal Saldanha benignamente lties oferecia. Eles responderam euo, sendo o assunto de tanta gravidade, tinha de ser
ponderado antes duma resposta decisiva. Pensariam, e d-la-iam
to, bem depressa, em pequenos
onde nada se pudesse acrescentar
abertos nas mos dos soldados,
que os puderam ler antes de os entregar ao Desembargador Castro,
paru ele os fazq chegar s mos do Ministro. Os termos destes
bilhetes eram todos semelhantes: <No quero deixar a Companhia
de Jesus); ou continuarei na Companhia de Jesus at ao ltimo
suspirq; e outros parecidos. Os soldados levaram-nos, e por
meio deles a cidade pde conhecer e admirar a herica firmeza
destes jovens.
Mas Pombal no desistiu, e ordenou nova tentativa. Todos
se prepararam paa o assalto com a sagrada Comunho.
A 5 de Outubro, Castro reuniu primeiro os novios, de quem
lhe parecia poder obter mais facilmnte a vitria. Alguns tinham
apenas 16 anos. Comeou por ler-lhes trs cartas: a primeira, do
Cardeal Saldanha, convidando-c s a abandonar a Cmp arrhia, e
assegurando-lhes que o Rei lhes concedia um tosto dirio para
a sua subsistncia. A segunda era do prprio Rei, ordenando o
pagamento desta penso a todos os gue obedecessem ao Cardeal.
A terceira era de Pombal para o Cardeal, mandando-lhe usasse
todos os meios paru forar aqueles jovens a separar-se duma
Companhia que estava totalmente desacreditada.
Foi tudo intil. Persistiram todos numa teimosa recusa.
Depois dos novios, fez vir sua presena os estudantes de
filosofia. Ao ler-lhes a carta com a generosa promessa de um
tosto dirio, puseram-se a rir. Perguntando-lhes Castro porque
motivo se riam, responderam que lhes parecia preo demasiao
magro paa os compensar da infidelidade a Deus que se lhes
exigia. Mandando depois vir os Padres e telogos, Ieu-lhes as
des-
bem
licar
Apndice
2W
ver
ap
inutilidade
voca
eles cinco
ego
demoparasse
Estes,
tr'"l,t"i:
o martrio,
todos aqueles jovens beijaram as relquias saudosas dos seus antepassados, abraaram com ternura o Ir. Almeida, ancio vene-
Apndice
281
Santa tIno.
Os Jesutas de Braga (ut)
Foram tratados como os outros. Trs aceitaram a demisso;
mas um Irmo nonagenrio recusou-a constantemente, e foi por
(ut) Sobre o que sucedeu aos Jesutas de Braga, cf. Brotria Julho 1973,
pp. 7l-8'1. D. Maurcio <<Bloqueio e Desteno dos Jesutas de Braga, 175.
282
A 5 de Novembro, os prisioneiros foram avisados que se preparassem paa partir. Todos afluram capela pata recitar um
Te-Deum de aco de gras, por serem achados dignos de sofrer
o exlio pelo nome de Jesus. Fez-lhes ainda o desembargador uma
ltima admoestao para aceitarem a dispensa dos votos. Mas
aingum cedeu.
A partida fez-se de noite, como de costume, e todos os habitantes receberam ordem sob pena de morte, de no sair rua. E
os Jesutas desfilaram em direco Ribeira, cantando as Ladanhas da SS-u. Virgem, cuja imagem levavam consigo. Toda a
viagem foi uma srie ininterrupta de trabalhos e extrema misria.
Ao nascer do sol chegaram Foz, ensardinhados em trs
barcaas, e ali permaneceram a baloiar nas ondas do Atlntico,
espera do navio que os transportaa a Lisboa. E os dias arrastavam-se lentamente, mas o navio no tinha pressa de chegar. Mtos
caram doentes; e mesmo os militares que fanam a guarda nas
d
d
se acomo-
foz
ma
ora'
8uju imagem o P. Marques erguer a aoalto, junto do leme.
Na tarde de 25 de Novembro entraram a barua do Tejo, mas
s a 27 subiram o rio de noite, para no serem vistos de ningum,
Apndice
'
Apndice
centes
Apndice
287
Clemente
Os Jesutas do Oriente
Em fins de Maio de 1761, chegaram a Lisboa os sobreviventes
288
CONCTUSO
e
19
inocnciaz
Concluso
A. M. D. G.
NDICE
... ... ..r ... ... ... .o. ... ... ... ... ... ... o.. ...
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... .e.
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Os trs primeiros persgguidos ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
7
L7
19
19
2L
2t
23
29
1758
Chegada
24
26
27
at
Lisboa
ANO DE
23
31
a Lisboa
32
... ...
... ...
... ...
... ...
Chegada a Sanfins . ... ...
. ... ... ... ... ... ... ...
Novas calnias ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... .,.
Bula de reforma de Bgnto XIV ... ...
.. . ... ... ... ...
Jesutas proibidos de exerce,r ministros . .. ... .. !
.. ... ...
Defesa apresentada pelo Padre Malagrida ao ,Papa o. ... ... ...
.,
33
34
36
37
40
4t
43
44
4s
48
50
294
Reaces Bula Pontifcia ... ... ... o.. ... ... ... ... ...
Visita apostlica de Saldanha C.,ompanhia ... ... ... ... ...
...
...
Atgntado contra D. Jos ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
AhtO DE 1759 ... ..o ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ..r ...
Encarcgrados os primeiros Jesutas ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Jesutas incriminados como instigadores do atentado ... ... ...
Invadida a residncia de Sanfins
. ... ... ... ... ... ... ...
NOVaS priSeS ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Comga o cativgiro do Padre Eckart ... ... ... ... ... ... ... o..
Eckart lgvado com outros Jesutas ... ... ... ... ... ... ... ...
Clregam a Braga ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Morte do Padre Jos Morgira ... ... ...... ... ... ...... ......
Exigncias de Carvalho e Melo junto da S ... ... ... ... ... ...
Carta de Clemgntg XIII a D. Jos ... ... ... ... ... ... ... ...
Decreto de expulso dos Jesutas .. . ... ... ... ... ... ... ...
Rgforma dos Jesut'as no Brasil ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
D. Gaspar de Bragana (Palhav) - Arcebispo de Braga ... ... ...
Jesutas levados de Braga para o Porto .. . ... ... ... ... ... ...
Eckart chega ao Porto ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
De novo a caminho do gxflio ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Eckart chega ao forte de Almgida ... ... ... ... ... ... ... ...
ANO IIE 1760 ... .o. ..o ... .o. ... ... ... ... ... ... ... t.o ... ... ...
Clemente XIII com a Igreja defende a Companhia ... ... ... ...
A narrao volta aos crceres de Almgida .. .. .. . .. . .. . ...
Casamento dg D. Pedro com D. Maria ... ... ... ... ... ... ...
Nncio Apostlico expulso dg Portugal ... ... ... ... ... ... ... ...
Jesutas do Maranho aportam a Lisboa ... ... ... ... ... ...
..
AltO DE 176l ... ... ... ... .to ... o.. ... ..o ... ..o ... ..o ... ... .o.
52
54
55
6l
61
66
68
69
70
70
71
74
75
79
82
84
85
87
87
89
90
93
93
94
96
96
97
101
DE
1162
o.! ...
..o ...
ll7
lndice
295
Elegia de um dos cativos Virgem Maria ... ... ... ... ... ...
Comunicao dos prisioneiros gntre si ... ... ... ... ... ...
ANO DE
...
...
1763
Tratado dg paz (guerra dos sete anos) . .. ... ... ... ...
Nascimento e morte do prncipe D. Joo ... ... ... ... ...
At aos moribundos se negam os sacramentos ... ... ...
... ...
... ...
... ...
ANO DE 1764 ... ... ... ... ... ... ... ... ... .,. ... ... ... ... ... ...
A Co'mpanhia perseguida gm Frana .. o ... ... ... ... ...
Pombal e D. Joo V face Companhia ... ... ... ... ... ... ...
Trs Jesutas de Azeito para ltlia
Mais Jesutas de Macau gm S. Julio ...
l2S
lZ7
131
131
134
136
139
139
IN
t4t
ANO DE 1765 ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Morrem mais sete Jesutas em So Julio . .. ... ... ... ...
Como se tratavam os doentgs ...
... ... ... ... ... ... ...
Expulso dos Jesutas de Macau ... ... ... ... ... ... ...
r42
... 145
... 145
... 147
... 147
ANO DE 1766 ... ...
... ... ... ... oo. ... ... ..o ... ... ..o ... ... 151
Morem mais dois Jesutas em S. Julio .. . ... ... ... ... o.. ... 151
Morre o Prncipe D. Manuel, tio do Rei ... ... ... ... o.. ... lS2
Trs Jesutas franceses o postos em liberdade ... ... ... ... ... 153
ANO DE 1767 ... ... ... ... ...
... .. o ... ... ... ... .. o ... ... ... tS7
Mortg dos Padres e Wolff ... ... ... ...
... ... ... ... ... ... I57
Os Jesutas expulsos de Espanha ... ... ... ... ... ... ... ... ... 161
Mais humilhaes a que os presos so expostos ... .. ... ... .. . 161
37 prisioneiros postos em libgrdade ... ... ... ... ... ... ... ... 163
Probe-se a publicao das bulas pontifcias o. ... ... ... o. ... 165
Expulso dos Jesutas do Reino de Npoles ... ... ... ... ... ... 165
Novo comandante no forte e exerccios militares .. . ... ... ... 165
ANO DE 1768 ..o ... ... ... ... o.. ... o.. ... ... ... ... ... ... ..o ..o ... 167
Ainda a vingana nos Jesutas presos em Azpito ... ... ... ... lG|
Reforma dos estudos da universidade de Coimbra ... ... ... ... 168
Julgamento e condenao do Bispo de Coimbra .,. ... ... ... ... 169
ANO DE 1769 ... ...
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... t73
Mortg de Clgmgnte XIII ... .. o ... ... ... ... ... ... ... ... ... 173
Jesutas reclusos de Azeito transferidos para S. Julio ... ... o.. t74
Eleio de Clemgntg XIV
... ... ... ... ... .. . ... ... ... ... ll5
Morre Mendona Furtado ... ... ... ... ... ... ., o ... ... ... ... 176
.
296
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
... ... ...
... ...
Carvalho
... ... ...
A corte de Lisboa reconcilia-se com o Vaticano
... ...
...... ... ......
...
ANO DE l77l
...
Alguns pormenores sobre a Torre de S. Julio ...
... ...
Pombal manda demolir a Fortaleza de Mazagfio
... ...
...
Bula da Santa Cruzada
...
Morrem mais dois Jesutas da Provncia de Goa ...
... ... ...
.. ...
...
... ...
O Natal de l77l
... ... ... ... ... ...... ... ......
ANO DE 1772 ... ...
... ... ... ... ... ...
Clemente XIV e a Companhia ... i r
... ... .. o ...
Morrem mais dois Jesutas ...
... .. .
... ... ... ...
..
Funerais gm S. Julio ...
... ... ... ... ... ...
A insacivel ambio de Pombal
o.. ... ... ...
...
... ... ...
ANO DE 1773 ... ... ...
Realiza-se o sonho do Marqus: a supresso da Companhia
... ... ... ... ... ... ... ...
ANO DE 1774 ... ... ... ...
ANO DE
1770
Morre Paulo de
Dominus
179
181
183
183
184
185
186
186
189
189
190
190
191
195
195
201
ac Redemptor 202
...
... ... ... ...
XIV ...
... ... ...
O Libelo Dilogo no Imprio dos mortos ...
...
... ... ... ... ...
... ... .,. ...
ANO DE 1755
Exacerba-se o furor anti-jesutico de Pombal ... ... ... ...
gleito Pio vI
... ... ... ... ...
... .,.
... ... ...
... ...
Inaugurao da esttua equestre .. .
... ... ...
Visita de El-Rei ao Palcio de Pombal
... ...
Horrorosa execuo de Joo B. Pele
... ... ... ...
Morte e funeral do P. Lotenzo Ricci
... ... ... ...
... ...
... ... ... ... ...
ANO DE 1776 ...
Priso de dois Jesutas nobres e dos Meninos de Palhav ... ...
Uma biografia de Clemente XIV
... ... ... ... ...
Morre o Cardeal Saldanha ... ...
... ... ... ... ... ... ...
ANO DE 1777 ...
... ... ... ... ... ... ...
...
Morre o Rgi D. Jos
... ... ... ... ... ... ... ...
Prisioneiros Jesutas postos finalmente em liberdade ... ... ...
Exploses de alegria com a libertao dos Jesutas ... ...
Exploso do dio popular recalcado contra Pombal ... ... ... ...
Morre Clemente
179
203
204
207
207
208
208
210
210
212
215
2ts
216
217
2lg
220
222
223
Z2S
lndice
297
Pombal no desterro
Jesutas retomam os seus ministrios
...
226
226
vida
... ...
22t
...
... ...
...
embaixador da
ustria
...
...
...
..,
227
229
231
232
240
242
243
247
...
APENDICE
...
...
Jovens Jesutas
Colgio de Coimbra
Segunda leva de professos para ltlia
Publica-se
o decreto de conden ao
aaa
aaa
aaa
o exlio
presos em Azeit,o ...
aaa
aaa
aaa
237
269
270
aaa
273
274
275
276
277
280
oaa
aaa
234
235
aaa
28t
...
...
de Jesutas jovens para l't.Iia ... ...
281
...
...
Terceira leva
Quarta leva de Jesutas de vora para ltlia
Quinta leva de Jesutas das Ilhas para Ttlia ...
Sexta leva de Jesutas libertos do rcere de Azeito
.,. .. . ... ... ... ... ...
Os Jesutas do Orientg
282
aaa
aaa
aaa
aaa
aaa
283
283
285
287
aaa
aaa
287
289
histria.
Restitudo liberdade com a subida ao
trono de D. Mada I, o autor volta Rennia,
sua terra natal, e escreve as memrias desses
18 anos de priso celular. Conta, como
observador saga4 o gue vu e ouviu no
longo peregrinar de crcere em ctcere, at
ser finalmente encefrado no forte de S.
Julio da Barra.
Uma Yez em liberdade, os seus olhos,
por longos anos cerrados taa escurido,
abrem-se deslumbtados paru o que se passa
em redor, e descreve em cores vivas e realistas o que observou em Portu gal e nas
terras percorridas de volta sua ptria.