A Colônia de Imigração Alemã Santo Ângelo

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Anais Eletrnicos do III Congresso Internacional de Histria Regional (2015) ISSN 2318-6208

A COLNIA DE IMIGRAO ALEM SANTO NGELO: APONTAMENTOS


SOBRE A INSTALAO DA COLNIA, QUESTES DE TERRA E SUA
ADMINISTRAO COLONIAL1
Carlos Eduardo Piassini2
Introduo
O presente trabalho, integrante dos estudos em desenvolvimento na linha de
pesquisa Fronteira, Poltica e Sociedade do Mestrado do Programa de Ps-Graduao
em Histria da Universidade Federal de Santa Maria, parte de meu Trabalho de
Concluso de Graduao concludo e aprovado sob o ttulo A Biografia de um Baro:
Karl von Kahlden, o Diretor da Colnia Santo ngelo, 1857-1882, pela mesma
universidade, e tem como objetivo apresentar o processo de instalao da Colnia
Provincial de Imigrao Alem Santo ngelo, localizada no territrio correspondente ao
dos atuais municpios sul-rio-grandenses de Agudo, Paraso do Sul, Cerro Branco, Novo
Cabrais, Cachoeira do Sul e parte de Restinga Seca e Dona Francisca, bem como
aspectos gerais acerca de questes envolvendo a posse de terras; a administrao
colonial, conduzida praticamente durante toda sua existncia pelo Diretor Baro Karl
von Kahlden; e seu processo de instalao e consolidao.
Dessa forma, procuramos evidenciar a histria da Colnia Santo ngelo em
vista desta ainda ser pouco conhecida e estudada frente a histria de outras colnias
germnicas provinciais e imperiais instaladas na Provncia de Rio Grande de So Pedro
ao longo do sculo XIX. O estudo foi realizado atravs de reviso bibliogrfica e uso de
fontes documentais, como Livros de Registros e Ofcios, Documentos da Colonizao e
Documentos Avulsos sobre a Colnia Santo ngelo e o Baro von Kahlden. Em linhas
gerais, durante seus primeiros anos de existncia, a Colnia Santo ngelo demorou a
prosperar, ainda que tivesse potencialidade para tanto; sua administrao esteve sob o
monoplio do Baro von Kahlden, o qual distribuiu e mediu os lotes de terras, e
constituiu parte de um grupo que se valeu da especulao sobre as terras coloniais e das
redondezas para lucro prprio.

1. A Colnia Santo ngelo


1

Este Trabalho parte da Monografa intitulada A Biografia de um Baro: Karl von Kahlden, o Diretor da Colnia
Santo ngelo, 1857-1882, vinculada a Universidade Federal de Santa Maria e orientada pela Profa. Dra. Maria
Medianeira Padoin, defendida em Dezembro/2014.
2
Mestrando do Programa de Ps-Graduao em Histria da Universidade Federal de Santa Maria, na Linha de
Pesquisa Fronteira, Poltica e Sociedade, e Bolsista CAPES/DS; [email protected]. Trabalho orientado pela
Prof. Dr. Maria Medianeira Padoin, Coordenadora do Programa de Ps Graduao em Histria PPGH da
Universidade Federal de Santa Maria; [email protected].

A movimentao para instalar uma colnia de imigrantes alemes em Cachoeira


do Sul, ento Vila, teve incio em 1847. O primeiro passo teria sido dado pelo Duque de
Caxias3, ento Presidente da Provncia, que fizera uma visita a Cachoeira e pedido
informaes sobre a possibilidade de ali criar uma colnia germnica, pois a imigrao
estava sendo retomada na provncia e tambm os colonos de So Leopoldo procuravam
novas terras. No mesmo ano, a Cmara Municipal recebeu ofcio4 do Presidente da
Provncia que sucedeu Caxias, Manoel Antnio Galvo, pedindo informaes sobre
local apropriado para estabelecer uma colnia. A Cmara nomeou uma comisso para
tal fim e a mesma apresentou relatrio5 informando que havia um lugar denominado
Cerro Agudo, na margem esquerda do rio Jacu, com terras devolutas prprias para a
agricultura. A Cmara levou ao conhecimento da Assembleia Provincial6 a necessidade
do estabelecimento de uma colnia agrcola, apontando como possvel local de seu
estabelecimento as terras na margem esquerda do rio Jacu, ou outro local que se
julgasse mais conveniente ao municpio.
A notcia da provvel instalao de uma colnia agrcola no Municpio parece
ter chegado aos ouvidos de pessoas desvinculadas do processo de petio da mesma,
que agiram frente a oportunidade. Exemplo disto foi o despacho7 do Presidente da
Provncia recebido pela Cmara, em 1849, pedindo informaes sobre a Fazenda da
Mouraria, oferecida em requerimento enviado por Jos da Silva Moura, no qual
propunha vender a mesma para a instalao de uma colnia. Assim, uma comisso foi
formada para avaliar o local e, aps faz-lo, enviou relatrio8 ao Presidente da Provncia
informando as grandes vantagens oferecidas pela Fazenda para a fundao de uma
colnia. A Mouraria estava situada prxima a arroios, o Bexiga e o Czar, prxima a
terras devolutas nas quais havia boa madeira para construo e campo suficiente para
criar gado, oferecia terras frteis, nas quais j se produzia arroz, milho, feijo, mandioca
e cana-de-acar, e estava conectada a estrada que levava ao municpio de Cruz Alta,
alm disso, apesar de estar distante de Cachoeira, a estrada que levava at l estava em
boas condies. No mesmo relatrio, a Cmara demonstrou grande interesse em obter a
3

Ficha com Anotaes. Documento do Centro de Pesquisas Genealgicas de Nova Palma. Caixa Agudo.
Livro 3 de Lanamento de Atas das Sesses da Cmara Municipal da Vila Nova de So Joo da Cachoeira, 1841, p.
77. Arquivo Histrico Municipal de Cachoeira do Sul.
5
Livro 3 de Lanamento de Atas das Sesses da Cmara Municipal da Vila Nova de So Joo da Cachoeira, 1841, p.
94. Arquivo Histrico Municipal de Cachoeira do Sul.
6
Livro 3 de Registro de Ofcios da Cmara Municipal da Vila de So Joo da Cachoeira, 1845, p. 183. Arquivo
Histrico Municipal de Cachoeira do Sul.
7
Livro 3 de Registro de Ofcios da Cmara Municipal da Vila de So Joo da Cachoeira, 1845, p. 179. Arquivo
Histrico Municipal de Cachoeira do Sul.
8
Livro 3 de Registro de Ofcios da Cmara Municipal da Vila de So Joo da Cachoeira, 1845, p. 197. Arquivo
Histrico Municipal de Cachoeira do Sul.
4

3
autorizao para instalar uma colnia provincial em Cachoeira, argumentando ser de
suma importncia facilitar a introduo de braos livres no Brasil com a finalidade de
adensar a populao, acabar com o contrabando de elementos africanos, salientado
como oneroso e brbaro, e, para o Rio Grande do Sul, proteger as fronteiras.
No entanto, as pretenses da Cmara no foram atendidas. Em 1850 o Presidente
da Provncia, Jos Antnio Pimenta Bueno, respondeu9 Cmara afirmando no julgar
conveniente estabelecer uma colnia na Fazenda da Mouraria ou em qualquer outra
parte do municpio naquele momento por conta do parecer do contador, ou seja, no
estava disposto a enviar recursos para tal empreendimento, ou ainda, no possua
recursos para tanto. A Cmara no aceitou tal argumento, e respondeu10 afirmando ser
vantajoso estabelecer nova colnia, principalmente levando-se em conta o caso
vitorioso de So Leopoldo e questionando incisivamente a recusa de tal benefcio a
Cachoeira, concedido a Rio Pardo e Pelotas.
De acordo com Roche (1969), a Colnia Santo ngelo foi oficialmente fundada
apenas em 1855 atravs de Lei Provincial de 30 de novembro daquele ano. Tal lei
referida, segundo Knob (1990) por Koseritz em relatrio de 1867 e, mais tarde, em 1877
pelo Baro von Kahlden. Ambos atribuam referida lei a fundao da Colnia Santo
ngelo. Entretanto, Knob (1990) contesta tal responsabilidade ao afirmar no ter
encontrado essa lei na documentao por ele consultada. A concluso dele que houve
uma confuso, e que a lei correta seria a de n. 304 de 30 de novembro de 1854. De
qualquer forma, a Colnia Santo ngelo foi efetivamente fundada apenas em 1857,
quando chegaram os primeiros colonos. Antes, porm, uma comisso11 foi verificar as
terras devolutas prximas ao rio Jacu quanto a sua extenso e condies para a
instalao de uma colnia. Fazia parte desta comisso o agrimensor Frederico
Guilherme de Wedelstaedt. Foi constatado, segundo Knob (1990, p. 31) que,

Existem para mais de sete lguas quadradas de terras de matos


devolutos, entre o Rinco do Paraso e Serro [sic] Agudo, com frente
ao rio Jacu, e na distncia do mesmo rio, de um quarto de lgua,
alternadamente at duas lguas; terras de muito boa qualidade para
agricultura, abundncia de madeiras de construo, com bons terrenos
para vias de transporte para portos de embarque daquele rio,
admitindo comunicao por terra do Rinco do Paraso com as terras
imediatas ao Serro Agudo por terreno por ns explorado [...] Todo
9

Livro 3 de Registro de Ofcios da Cmara Municipal da Vila de So Joo da Cachoeira, 1841, p. 206. Arquivo
Histrico Municipal de Cachoeira do Sul.
10
Livro 3 de Registro de Ofcios da Cmara Municipal da Vila de So Joo da Cachoeira, 1845, p. 218. Arquivo
Histrico Municipal de Cachoeira do Sul.
11
Livro 4 de Lanamento das Atas das Sesses da Cmara Municipal da Cachoeira, 1851, p. 209. Arquivo Histrico
Municipal de Cachoeira do Sul.

4
esse terreno suficientemente regado por arroios tributrios do rio
Jacu, com propores para tocar mquinas, e mesmo em grande parte
navegveis, principalmente os arroios Paraso e o denominado
Grande do Engenho [...] Alm do Serro Agudo, h terras de matos
devolutos em abundncia, com frente ao predito rio Jacu que
circulam o Rinco do Inferno e que ficam entremedirias do Paraso e
Serro Agudo [...].

O destaque s vantagens daquelas terras remetem Fazenda da Mouraria, to


vantajosa para a colonizao quanto o local prximo ao Jacu. A diferena estava, pois,
na questo das terras devolutas. Para que comprar uma fazenda e a lotear se h terras do
governo suficientemente boas e bem localizadas para servir a tal fim? A resposta pode
estar contida no jogo de interesses daqueles que, desde o comeo, procuraram tirar
proveito do empreendimento colonial em Cachoeira. Porm, so apenas suposies.
A Cmara escolheu12 Frederico G. Wedelstaedt para medir as colnias e
escolher o local adequado para edificar um galpo para servir de moradia provisria aos
colonos que chegassem colnia, alm disso, propuseram t-lo como Diretor. Apesar
do trabalho de Frederico em medir lotes e auxiliar na construo do galpo, ele no foi
nomeado como Diretor.
Para o cargo foi nomeado Floriano Zurowski13. A no nomeao14 de Frederico
foi justificada atravs do argumento de que ele no conseguiria desempenhar os dois
cargos caso os acumulasse e, tambm, as condies por ele exigidas para tanto eram
muito onerosas. Pelo visto, ele exigiu demais, pois Zurowski arrematou tambm o cargo
de agrimensor. A colnia recebeu, ento, um nome, Santo ngelo, que segundo
Werlang (1995) foi dado em homenagem ao Presidente da Provncia em exerccio no
ano de 1857, ngelo Muniz Ferraz, Baro de Santo ngelo, que deu o encaminhamento
final para a fundao da Colnia.
Em outubro de 1857 foi dado o sinal15 Provncia, por parte da Cmara de
Cachoeira, que chegara o momento de enviar colonos para a nova colnia provincial.
12

Livro 4 de Lanamento das Atas das Sesses da Cmara Municipal da Cachoeira, 1851, p. 210. Arquivo Histrico
Municipal de Cachoeira do Sul.
13
De famlia nobre, nasceu em Przemysl, na Galcia, em 11 de maio de 1806. Em 1820 ingressou na Faculdade de
Engenharia de Viena, na qual se formou em 1826. Foi convocado para ser Cadete de Infantaria. Em 1833 passou a ser
Alferes da Marinha e dali dez anos 1. Tenente, depois, em 1844, tornou-se Tenente de Fragata e, por fim, em 1846,
Capito. Deu baixa em 1850, quando imigrou para a Argentina, onde se envolveu na represso contra Urquiza como
Comandante em Chefe das Foras Martimas da Provncia de Buenos Aires. Comandou uma frota de seis navios a
vela. Quando confrontado pela esquadra inimiga de trs navios tambm a vela, sua tripulao quis passar para o lado
inimigo. Diante dessa atitude, rebelou-se. Conseguiu escapar, mas sua reputao ficou arruinada. Acabou indo para o
Rio Grande do Sul e l envolveu-se com a colonizao na recm fundada Colnia Santo ngelo - Dados encontrados
em documento do Centro de Pesquisas Genealgicas de Nova Palma Caixa Agudo.
14
Livro 4 de Lanamento das Atas das Sesses da Cmara Municipal da Cachoeira, 1851, p. 214. Arquivo Histrico
Municipal de Cachoeira do Sul.
15
Livro 4. de Lanamento das Atas das Sesses da Cmara Municipal da Cachoeira, 1851, p. 214. Arquivo Histrico
Municipal de Cachoeira do Sul.

5
Foi comunicado que j se achavam medidos e demarcados prazos coloniais com cerca
de uma lgua de terreno e que o galpo para receber os colonos estaria pronto em breve.
Tambm, apontava boas condies de navegao pelo rio Jacu, o que possibilitaria
transportar os colonos diretamente de Porto Alegre colnia.
Ento, aps todos esses entraves burocrticos e negociaes, finalmente a
primeira leva de colonos iniciou sua viagem em direo a Colnia Santo ngelo.
Segundo Werlang (1995), foram 46 imigrantes que vieram no vapor Irene. As
passagens da Europa para o Rio Grande do Sul foram pagas pelo governo Imperial.
Logo no incio da viagem, na costa da Inglaterra, aps partirem de Hamburgo, o
nevoeiro teria encobrido o navio e, dessa forma, facilitado uma coliso com um navio
Holands. Houve a morte de uma mulher, que no resistiu aos ferimentos. O resto da
viagem no trouxe novas surpresas desagradveis. Desembarcaram em Rio Grande,
onde receberam acolhimento, assistncia, alimentos e vveres. Seguiram para Porto
Alegre, de onde partiram no vapor fluvial Dom Pedro, com o qual subiram o Jacu e
chegaram a Cachoeira (WERLANG, 1995).
De acordo com Knob (1990) os passos seguintes desses imigrantes foram
relatados de duas formas diferentes, sendo uma verso contada pelos prprios
imigrantes e a outra verso relatada pelo intrprete oficial do governo, Carlos Jansen. A
primeira foi registrada pelo colono Pedro Rockenbach, chegado Colnia Santo ngelo
com a segunda leva de imigrantes, que teria ouvido os relatos daqueles que vieram antes
dele. Teriam os colonos chegado colnia no dia 1 de novembro de 1857. Quando o
vapor atracou no esconderam a decepo e logo quiseram voltar. Antes, porm,
decidiram descer terra e dar uma olhada nas redondezas para ter uma ideia melhor de
como era aquele lugar. Foi em vo. O caminho levava para o mato, que no permitia um
raio de viso amplo. A decepo s fez aumentar. Voltaram ao rio e tiveram uma
desagradvel surpresa. As bagagens deles os esperavam enquanto o vapor ia embora.
Ficaram a ver navios. A possibilidade de voltar havia sido descartada. Para piorar, no
podiam ficar mais tempo ao relento, ento deixaram que sua bagagem fosse carregada
para as carretas espera deles. Seguiram para o galpo reservado a eles e, novamente
ficaram decepcionados. O galpo ainda no estava totalmente pronto e a nica parte
coberta era ocupada em grande parte por aqueles que a estavam construindo. Sem sada,
os colonos trataram de levantar um teto provisrio. Alguns despejaram a raiva sobre o
Diretor Floriano Zurowski, que com eles viajara, e sobre Carlos Jansen, intrprete
oficial e representante do governo Provincial.

6
Essa verso, entretanto, parece romantizada, pois difcil pensar que todos os
imigrantes tenham deixado o vapor para olharem as novas terras e tenham sido to
facilmente ludibriados. Ao mesmo tempo, improvvel que todos tenham conseguido
se alojar em um galpo inacabado e pequeno, pois eram 46 pessoas, oriundas de onze
famlias, nove de imigrantes germnicos e duas que se reuniram ao grupo em Rio Pardo:
os Lausin, os Finger, os Neujahr, os Fiss, os Holtz, os Thom, os Barth, duas famlias
Ptter, os Witte e os Maak, alm do solteiro Frederico Weise (KNOB, 1990).
Como destaca Knob (1990), a verso oficial de Carlos Jansen, relatado ao
Presidente da Provncia atravs de relatrio, traz um enredo diferente. Incumbido pelo
governo provincial a acompanhar os imigrantes at a Colnia Santo ngelo, Jansen
uniu-se a eles em Porto Alegre. Chegaram a Cachoeira no dia 30 de outubro, onde
foram recepcionados com entusiasmo por membros da Cmara Municipal e moradores
da Vila. L, Jansen encontrou Floriano Zurowski, Diretor da colnia, e o apresentou aos
colonos. A passagem por Cachoeira foi rpida, mas suficiente para haver confuso. Um
imigrante germnico morador de Cachoeira tentou desviar os imigrantes de seu destino
dizendo a eles que seriam vendidos como escravos, que o governo no possua terras em
Santo ngelo, e outras coisas mais.
Frente a isso, Carlos Jansen acionou a fora policial e o sujeito de nome Carlos
foi preso at que os colonos seguissem viagem. Foi registrado que ele era marceneiro,
mas que no gostava de trabalhar. A viagem teve seguimento durante a noite. Os
imigrantes foram acompanhados por moradores da Vila e uma banda de msica. Por
conta da correnteza das guas e da necessidade de fazerem lenha, s conseguiram
chegar colnia na noite seguinte. No porto, encontraram o Presidente da Cmara de
Cachoeira Antnio Xavier da Silva, responsvel pelas obras de acomodao dos
colonos, e o agrimensor Frederico Guilherme de Wedlestaedt, seu ajudante. Carlos
Jansen e eles rumaram para o lugar destinado ao pouso dos imigrantes, que
permaneceram no prtico. Chegando l, havia um galpo parcialmente coberto que em
poucas horas ficou pronto. Alm disso, Antnio Xavier da Silva havia mandado
construir, com tbuas, um abrigo provisrio. No dia seguinte, os imigrantes e sua
bagagem foram desembarcados e levados para o galpo. O intrprete destaca que ao se
despedir dos colonos, estes estavam contentes e cheios de esperanas para o futuro
(KNOB, 1990).
H, porm, uma terceira verso acerca da chegada dos imigrantes na Colnia
Santo ngelo. Segundo Aurlio Porto (1934 apud WERLANG, 1995), os colonos
foram enganados. Havia sido prometido a eles que iriam para Santa Cruz, colnia

7
provincial, mas ao aproximarem-se de Rio Pardo seguiram em frente sob o pretexto de
que a cheia do Jacu os obrigava a continuar. Ao chegarem ao Cerro Chato, j em Santo
ngelo, os colonos relutaram em desembarcar, ento a tripulao do vapor os fez descer
fora. A resistncia foi grande e a tripulao teve de se empenhar para lutar contra os
revoltosos enquanto o vapor ia embora.
Independente da verso apresentada, da forma como pode ter acontecido o
desembarque dos imigrantes, a partir de 1 de novembro de 1857 a Colnia Santo
ngelo passou efetivamente a existir enquanto ncleo de colonizao germnica
provincial. J nos primeiros tempos, ou melhor, na segunda semana aps a chegada dos
primeiros colonos, houve um desentendimento. Os imigrantes no aceitaram o Diretor
Floriano Zurowski, e requereram Cmara Municipal de Cachoeira a substituio dele.
Pediram Frederico Guilherme de Wedelstaedt como novo diretor e agrimensor, pois j o
conheciam, visto que eram oriundos da mesma regio, a Prssia (KNOB, 1990).
O diretor era o responsvel pela administrao e distribuio dos lotes coloniais,
e fora justamente por no estar cumprindo devidamente com esses deveres que
Zurowski ganhou a antipatia dos recm-chegados. A Cmara Municipal, porm, decidiu
levar a questo para o Presidente da Provncia. Em ofcio, o Vereador Miguel Cndido
da Trindade relatou que durante a viagem dos primeiros colonos de Cachoeira at a
Colnia, Floriano pouco falou e, quando o fez, foi rude. Alm disso, no deu as devidas
informaes e, no fossem o intrprete Carlos Jansen e o prussiano Frederico G. de
Wedelstaedt, mal teriam desembarcado (KNOB, 1990). Alis, essa informao pode
colocar em cheque as duas verses sobre a chegada dos pioneiros colnia que
denunciam abandono, pois a perspectiva de que teriam desembarcado pode anular
aquelas nas quais teriam sido obrigados a sair ou ludibriados pelos tripulantes.
No bastasse o que j foi relatado, o Vereador Miguel C. da Trindade
acrescentava que Floriano no tinha as caractersticas necessrias exigidas pelo cargo e
que a segunda leva de imigrantes germnicos chegados Cachoeira espera de
lanches ou de vapor para o transporte at a colnia, visto que a cheia do rio havia
obstrudo a estrada de terra, haviam se pronunciado contra o mencionado Diretor
(KNOB, 1990). O brigadeiro Jos Gomes, atendendo ordens do Presidente da Provncia,
foi colnia verificar a denncia, e relatou,

De chegada a esta Vila tratei de indagar o motivo que deu a


representao feita pelos colonos a V. Exa. contra o atual Diretor
Floriano Zurowski, e todas as informaes que pude colher so
desfavorveis ao mesmo diretor, que nada tem feito na continuao da

8
medio das terras, notando-se muita falta de desenvolvimento, e isto
seja talvez por ser pouco acostumado a estar nos matos, e como
homem do mar tem mais se ocupado no exame do rio do que colocar
os colonos nas terras medidas pelo seu antecessor, o agrimensor
Frederico [...]. (Arquivo Histrico do Rio Grande do Sul.
Colonizao, lata 296, mao 66).

Antes desse acontecido, segundo Knob (1990). Carlos Jansen j havia remetido
ao Presidente da Provncia relatrio com suas impresses sobre a Colnia no qual cita a
pouca animosidade entre os imigrantes e Floriano Zurowski. O intrprete deixa
implcito que a melhor atitude a tomar substituir o referido Diretor por Frederico G. de
Wedelstaedt, muito elogiado por ele e que gozaria de grande simpatia entre os colonos.
A questo foi resolvida. No entanto, os pedidos por Wedelstaedt como substituto
preferido no foram atendidos. O Presidente da Provncia nomeou outro germnico,
Karl Hermann Johann Adam von Kahlden, o Baro von Kahlden, que chegou colnia
no dia 11 de dezembro de 1857, acompanhado de um grupo de Brummer. Ele recebeu a
direo da Colnia Santo ngelo trs dias depois das mos de Floriano Zurowski
(WERLANG, 1995).
1.1 Impresses sobre Santo ngelo
Viajantes europeus deixaram relatos de sua passagem pelas Colnias germnicas
do Rio Grande do Sul. Foi o caso do mdico Av-Lallemant, que fez longas viagens.
Ele visitou vrios pases da Europa, o Egito e o Brasil, onde viveu durante dezessete
anos exercendo sua profisso. Retornou para a Europa, mas pouco tempo l
permaneceu. O esprito de viajante o fez engajar-se como um dos mdicos da fragata
austraca Novara, que empreendeu em 1855 a circunavegao do mundo. Aps
desentendimentos com os oficiais a bordo, ele desembarcou no Brasil e realizou suas
incurses ao Sul e ao Norte. Por onde ia procurava ver tudo: o solo, a paisagem, a flora,
a fauna, o homem, a economia, a vida social, os usos e os costumes. Av-Lallemant
percorreu as colnias germnicas do Rio Grande do Sul em 1858.
Quando chegou a Cachoeira do Sul, a Colnia Santo ngelo estava em seu
segundo ano de fundao. Av-Lallemant visitou um depsito no qual ficavam
hospedados os imigrantes alemes chegados de viagem para serem direcionados
Colnia, e l passou a noite. Relata o contato com uma famlia de Lubeck, sua cidade
natal, fugida de uma desgraa no revelada. O Mdico partiu no dia seguinte para a
colnia e sua primeira impresso ao chegar ao destino no foi das melhores. Considerou

9
o lugar um verdadeiro caos, um princpio de colnia sem os devidos preparativos
(AV-LALLEMANT, 1980, p. 198). As construes eram de arquitetura pobre e as
famlias ali residentes desunidas. Os moradores foram at ele e logo exprimiram queixas
e reclamaes acerca da alimentao recebida. Alguns queriam dinheiro para comprar o
que melhor lhes conviesse ao invs de receber os gneros alimentcios, outros queriam
mais feijo e menos arroz, batata em vez de farinha de mandioca, carne verde em vez de
carne seca, e outras reivindicaes envolvendo os alimentos. Aqueles eram colonos que
ainda no haviam tomado seus lotes de terras. Estavam em situao provisria. Passada
a impresso inicial, Av-Lallemant deixou de lado o pessimismo inicial e convenceu-se
de que quela colnia poderia prosperar por conta do solo propcio agricultura e do rio
Jacu, potencialmente navegvel. O cultivo dos campos, naquele momento, era feito
com o uso do machado e do fogo, um para baixar a mata e o outro para limpar o solo. A
colnia carecia de mdico e sacerdotes (AV-LALLEMANT, 1980).
Tambm Michael Mulhall (1974) deixou relatos de sua passagem pelo Rio
Grande do Sul. O Estatstico Ingls reuniu em livro suas impresses e notas, alm de
certos artigos publicados no jornal Standard de Buenos Aires, a respeito da excurso
que realizou ao Rio Grande do Sul em 1868. Mulhall (1974) descreveu as condies
geogrficas das reas por onde passou, os aspectos econmicos, os empreendimentos
(portos, rodovias, ferrovias) e mesmo aspectos culturais. Sobretudo, o autor destaca sua
passagem pelas cidades de Rio Grande, Porto Alegre, Novo Hamburgo, So Jernimo,
So Leopoldo, Arraial, Pelotas e Jaguaro, reservando ateno especial para as colnias
germnicas, as quais ele descreve com grande entusiasmo e adjetivaes elogiosas.
A vida dos imigrantes e descendentes no era assim to florida como foi pintada
por Mulhall. Ainda assim, seus relatos so de grande valia. O autor procura resgatar a
origem das colnias, o crescimento delas e a atual condio, naquele ano de 1868. Para
a Colnia Santo ngelo, demarca sua fundao a 30 de novembro de 1855, mesma data
apontada por Koseritz e Kahlden, como visto anteriormente, mas contestada por Knob
(1990). A localizao da colnia elogiada por conta do solo considerado frtil, e de
estar entre o rio Jacu e as escarpas da Serra Geral, prxima de Cachoeira do Sul e de
Santa Maria. Segundo Mulhall (1974), a rea da colnia era de cerca de 14.400 ha
naquele perodo (1868). Lotes de cerca de 80 ha eram vendidos por 45 libras esterlinas e
lotes menores, de cerca de 45 ha, por 30 libras. No momento de sua visita a populao
somava, com germnicos, brasileiros, alguns poucos holandeses e franceses, 825
pessoas. Desses, 68% eram protestantes, com capela construda com recursos dados pela
Cmara de Cachoeira. Tambm os catlicos possuam sua capela. Alm disso, havia

10
uma escola. A produo agrcola compreendia plantaes de milho, tabaco, feijo,
arroz, acar de cana, entre outros. Havia moinhos, seleiros, casas comerciais, curtumes,
sapateiros, alfaiates, ferreiros, carpinteiros, construtores de carroas e cortadores de
pedra. No rebanho havia cavalos, reses, porcos, ovelhas, cabras e aves. Mulhall destaca
que alguns dos produtos da colnia foram apresentados na Exposio de Paris e o
tabaco obteve um prmio (MULHALL, 1974).
Os dados mostram que a Colnia Santo ngelo teve relativo progresso durante
seus primeiros dez anos, entre a viagem de Av-Lallemant, que via nela uma aposta
promissora, e de Mulhall. Tambm Carlos Jansen, o intrprete enviado pelo governo
provincial para acompanhar os primeiros imigrantes enviados a Colnia Santo ngelo,
deixou registros e observaes da visita que fez. De acordo com Knob (1990), Carlos
Jansen viu grande potencial naquela colnia, sobretudo por conta de sua localizao
geogrfica, da ateno dada pela Cmara Municipal de Cachoeira ao empreendimento
colonizador e ao solo propcio agricultura. A proximidade com Santa Maria e
Cachoeira, e a navegabilidade do rio Jacu, acessvel durante cerca de dez meses no ano,
ofereciam mercado e facilidades para o escoamento da produo agrcola, algo
fundamental para o progresso da regio. As terras ofereciam mata abundante com
excelente madeira para construes, uma rica fonte de lucros.
O intrprete comenta o pedido dos colonos a sua pessoa para que o governo
deixasse de enviar alimentos em forma de subsdio e lhes enviasse o dinheiro referente a
tal auxlio uma vez que preferiam escolher eles mesmos seu alimento, alm disso, um
negociante de Cachoeira j havia estabelecido um armazm na colnia com grande
oferta de produtos. O subsdio era de quinhentos ris dirios para os maiores de doze
anos e trezentos ris para os menores de doze anos (KNOB, 1990).
As impresses quanto a Colnia Santo ngelo indicavam um futuro promissor,
baseado nas boas condies para a agricultura existentes ali. O objetivo do
empreendimento colonizador fica claro nesses discursos: adensar a populao e
incentivar a produo agrcola para abastecer o mercado interno, como Klug (2009)
havia apontado. A Colnia Santo ngelo foi criada na borda da Serra Geral,
acompanhando a linha da colonizao germnica iniciada nas proximidades de Porto
Alegre, em So Leopoldo, que criou colnias como a de Santa Cruz, Candelria e
Sobradinho.
1.2 Os Habitantes de Santo ngelo

11
A Colnia Santo ngelo contou com indivduos oriundos de diferentes lugares.
Vieram colonos dos Reinos da Prssia, da Baviera, de Hanver, da Saxnia, dos GroDucados de Nassau, de Hesse, de Oldenburg, de Baden, dos Ducados de Brunswick e
de Holstein, e do principado de Schwartzburg. No s de Estados germnicos vieram
imigrantes, havia colonos da Frana, da Holanda, da Blgica, da Sua e das Cidades
Livres (KNOB, 1990).
Contriburam, ainda, para a colonizao na Colnia Santo ngelo, imigrantes do
Reno, de Brandenburgo e principalmente da Pomernia, de onde veio cerca de 70
famlias provenientes da cidade de Lubow, regio de Neustettin. Em 1859, segundo
censo realizado pelo Baro von Kahlden, de um total de 394 pessoas, 43,89% da
populao era de origem prussiana (WERLANG, 1995). A presena de colonos
nacionais existiu em nmero aprecivel. Inmeras famlias brasileiras requereram a
compra de lotes na Colnia Santo ngelo, onde vieram a se instalar. Por volta de 1873,
os nacionais passaram a liderar a lista dos que compunham a populao da colnia
(KNOB, 1990).
Para Gimeno (2014), as terras devolutas daquela regio, teoricamente aquelas
que estariam desocupadas e pertenceriam ao governo, contavam com inmeros
ocupantes, constatao essa proveniente do fato de existirem ali, em 1857, vrios
posseiros, isto , [...] ocupantes da terra sem o devido ttulo legal (GIMENO, 2014, p.
43). A presena desses elementos teria obstaculizado as medies de terras feitas pelo
Baro von Kahlden, e tambm por Frederico Zurowski.
Toda a rea central da regio que viria a ser o ncleo originrio da Colnia
estava ocupada por pequenos posseiros, como Manoel da Rosa Garcia, Miguel da Rosa,
Antnio Vicente da Fontoura, Igncio Moreira, Firmino Jos de Camargo, Camilo Jose
de Lara, Jos Pedro Goeres, e posses medianas, como as de Manoel da Rosa Garcias,
cujas terras situavam-se entre o morro Agudo e o morro Pelado. Essa populao de
luso-brasileiros instalada naquelas terras, muitos sem ttulo de propriedade, parece ter
sido removida para outro local, a chamada Linha Brasileira (GIMENO, 2014).

1.3 O Diretor Colonial e as Terras Coloniais

A direo da Colnia Santo ngelo foi conduzida ao longo de sua existncia


praticamente apenas pelo Baro von Kahlden, desde fins de 1857 at idos de 1882. Este,
nasceu em Ludwigslust, no Gro-Ducado de Mecklenburg-Schwerin, em vinte de maio
de 1831 (WERLANG, 1995), e migrou para o Brasil em 1851 como mercenrio

12
Brummer16, fixando-se no Rio Grande do Sul (FLORES, 1997), onde soube aproveitar
as oportunidades que surgiram. Alm de Diretor colonial, ele foi agrimensor,
comerciante de escravos, especulador imobilirio, delegado de polcia, construtor de
pontes, vereador de Cachoeira do Sul e, por fim, Deputado Provincial na ltima
legislatura do perodo imperial brasileiro.
O governo provincial, desde a criao da Colnia Santo ngelo em 1857,
determinou que o Diretor da Colnia fosse o responsvel pela medio dos lotes
coloniais. Nesse sentido, o Baro von Kahlden ocupou-se da tarefa. Como agrimensor,
mediu primeiramente as reas devolutas. Em seu primeiro relatrio, enviou ao governo
um croqui onde indicava as reas que poderiam ser ocupadas para colonizao. Kahlden
encarregou-se da medio de uma rea de aproximadamente 55 mil hectares e chegou a
contar com cerca de uma centena de trabalhadores. O chamado loteamento oficial
prolongou-se at 1882, quando um Ato Provincial emancipou as colnias de Nova
Petrpolis, Monte Alverne e Santo ngelo, suspendendo qualquer auxlio econmico.
Kahlden mostrou-se alarmado com a emancipao da Colnia Santo ngelo e o fim do
auxlio oficial (WERLANG, 2002).
O alarde, talvez, possa ser explicado devido existncia do comrcio de terras
existente na regio de Cachoeira do Sul fundado no processo de loteamento oficial, no
qual o Baro von Kahlden estava envolvido. Segundo Alejandro J. F. Gimeno (2014),
havia uma rede de comrcio de terras facilitada pelo Tabelio de Cachoeira. Compradas
a preos menores, eram vendidas para a colonizao ou outros interessados a preos
maiores, beneficiando os envolvidos. O Baro, pode-se aferir, detinha o monoplio da
distribuio das terras na regio colonial e, pensa-se, tirou proveito disso aliando-se ao
Tabelio de Cachoeira. Ele fazia transaes comerciais ligadas propriedade da terra,
atuando como especulador imobilirio. De acordo com Gimeno (2014), ele comprava e
vendia terras de posseiros e proprietrios, ora sozinho, outrora como scio de membros
da elite cachoeirense do perodo, por exemplo, o Tabelio da cidade e comerciantes
locais. Dentre essas atividades comerciais o Baro comprava e vendia imveis no
ncleo urbano de Cachoeira e tambm escravos (GIMENO, 2014). A atividade de
agrimensor rendeu grandes somas ao Baro von Kahlden. O governo provincial pagou a
ele 5% sobre o valor arrecadado em cada lote colonial medido e vendido na Colnia
Santo ngelo (WERLANG, 2002).
16

Em ofcio de 08/08/1881, Kahlden afirmou17

Soldados recrutados por Rego Barros para engrossar as fileiras do Imprio brasileiro na Guerra Grande (18391852), conflito internacional envolvendo questes de influncia na regio do Rio da Prata, sobretudo em vista das
pretenses de Rosas (BETHELL, 1991).
17
AHRS, Colonizao, Mao 66, Lata 296.

13
receber 45 ris por metro linear medido e vendido. Alm disso, o Baro procurou anexar
Colnia Santo ngelo terras que demarcou na regio onde em breve seria instalada a
Colnia Silveira Martins. O Governo Imperial, porm, revogou os atos de Kahlden18.

Assim, considerando o exposto antes, a Colnia Santo ngelo foi fundada a


partir de um projeto provincial durante a segunda fase da colonizao no Rio Grande do
Sul que, segundo Cunha (2006), iniciou em 1844 e estendeu-se at o fim do perodo
imperial, em 1889, tendo como principais objetivos a inteno de constituir uma
agricultura voltada para o mercado interno, e por outro realizar a povoao da provncia
atravs da criao de comunidades agrcolas sedentrias, que possibilitem uma nova via,
diversificando a produo, baseada na criao de gado. Depois de 1845 as colnias
passam a ser fundadas de So Leopoldo em direo ao oeste, quase em linha reta,
acompanhando a depresso formada pelo vale do Rio Jacu, regies desprezadas pela
pecuria e que uma vez povoadas possibilitariam abrir comunicaes entre a poro sul
e a poro norte da provncia.
Aps os primeiros tempos, caracterizados pelo processo de instalao dos
colonos, sua adaptao, acomodao e incio da produo, a Colnia Santo ngelo
prosperou, sobretudo em virtude daquelas caractersticas apontadas pelos viajantes, ou
seja, o solo rico e a proximidade com o rio Jacu. A administrao colonial esteve sob
responsabilidade do Baro von Kahlden, que exerceu ali tambm o cargo de delegado e
agrimensor, valendo-se de sua posio para tirar proveito do comrcio das terras
coloniais e das redondezas. A atual conformao daquele territrio demonstra o xito do
projeto colonizador, constitudo por diversos municpios que se emanciparam na
segunda metade do sculo XX.

Referncias Bibliogrficas
AV-LALLEMANT, Robert. Viagem pela Provncia do Rio Grande do Sul, 1858. Belo
Horizonte, Itatiaa, 1980.
CUNHA, Jorge Luiz da. Imigrao e Colonizao Alem. In: Imprio. PICCOLO,
Helga Iracema Landgraf; PADOIN, Maria Medianeira Padoin (org.). Passo Fundo:
Mritos, 2006. v.2. (Coleo Histria Geral do Rio Grande do Sul). p. 279-300.

18

AHMC, Registro dos livros recolhidos do arquivo apud WERLANG, 2002, p. 47

14
GIMENO, A. J. F. Apropriaes e comrcio de terras na cidade da Cachoeira no
contexto da imigrao europeia (1850-1889). 2014. 110 f. Dissertao (Mestrado em
Histria)-Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2014.
KLUG, Joo. Imigrao no Sul do Brasil. In: O Brasil Imperial, volume III: 1870-1889.
GRINBERG, Keila; SALLES, Ricardo (org.). Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira,
2009. p.199-231.
KNOB, Frei Pedro. Parquia de So Bonifcio, Agudo, 1889-1989. Porto Alegre: Nova
Dimenso, 1990.
KHLER, Neiva Ester Corra. Memorial da Colnia Santo ngelo. Cachoeira do Sul,
1992. Acervo do Arquivo Histrico Municipal de Cachoeira do Sul.
LENZ, C., SCHFERr, H., SCHNACK, J. J., & FLORES, H. A. H. (1997). Memorias
de Brummer. Porto Alegre: EST.
MULHALL, Michael G. O Rio Grande do Sul e suas Colnias Alems. Trad. de
Euclides Santos Moreira. Reviso de Rosaura Eichenberg. Porto Alegre: Bels, 1974,
169 p.
ROCHE, Jean. A Colonizao Alem no Rio Grande do Sul. Traduo de Emery Ruas.
Porto Alegre: Editora Globo, 1969, vol. 1.
WERLANG, William. Histria da Colnia Santo ngelo. Santa Maria: Pallotti, 1995.
______. A famlia de Johannes Heinrich Kaspar Gerdau: um estudo de caso sobre a
industrializao no Rio Grande do Sul, Brasil. Agudo: Werlang, 2002.

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