Padre Cicero - A Sabedoria Do Conselheiro Do Sertão - Daniel Walker - Iba Mendes
Padre Cicero - A Sabedoria Do Conselheiro Do Sertão - Daniel Walker - Iba Mendes
Padre Cicero - A Sabedoria Do Conselheiro Do Sertão - Daniel Walker - Iba Mendes
Padre Ccero
A Sabedoria do Conselheiro do Serto
Daniel Walker
(1947)
NDICE
PREFCIO......................................................................................................
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PADRE CCERO
A SABEDORIA DO CONSELHEIRO DO SERTO
PREFCIO
Nesta obra esto reunidos alguns dos meus textos produzidos sobre o Padre
Ccero como resultado de minhas pesquisas sobre ele, e que neste ano de 2009
completam exatos 40 anos.
Ao longo desse tempo foi fcil perceber o quanto avanaram os estudos e as
pesquisas tendo ele como tema, desenvolvidos por historiadores locais e de
fora, por iniciativa prpria ou a servio de alguma instituio acadmica. Sobre
isso falo mais detalhadamente na parte Padre Ccero e os novos estudos.
Nos textos que formam as partes A Sabedoria de Padre Ccero e Padre Ccero, o
Conselheiro do Serto me detive em mostrar que ele, contrariando opinies
propagadas por muitos escritores, era de fato uma pessoa de estudo dotada de
extraordinria sabedoria, e foi um excelente conselheiro para os seus milhares
de afilhados e admiradores. Alguns escritores chegaram at a dizer que ele no
gostava de ler. No verdade, pois na casa onde ele morreu hoje existe um
museu com seus pertences no qual esto expostos centenas de livros de sua
biblioteca particular.
Na parte Padre Ccero Entrevista-biogrfica apresento um curioso recurso
jornalstico conhecido como entrevista-montagem, na qual o entrevistado
responde a perguntas cujas respostas so montadas a partir de textos por ele
mesmo produzido. Aqui, no caso de Padre Ccero, as respostas s perguntas
formuladas foram montadas a partir do contedo das cartas que ele escreveu e
tambm de seu testamento, sendo transcritas conforme esto no original. Esta
entrevista-montagem uma espcie de Padre Ccero por ele mesmo, ,
portanto, sua autobiografia.
H tambm uma biografia j publicada em outra publicao de minha autoria,
que resultado de minhas pesquisas, mas agora revisada e ampliada. Aqui dois
assuntos mereceram ateno especial: a visita de Lampio a Juazeiro,
oportunidade em que ele se encontrou com Padre Ccero e aqui recebeu a
famigerada patente de Capito e a questo do milagre da hstia. Apresento
uma verso nova, pouco divulgada, sobre a polmica outorga da patente de
Capito a Lampio, e acrescentei mais detalhes sobre a questo do milagre da
hstia, a qual no texto original foi tratada de forma bastante resumida.
No mais, espero ter dado minha pequena contribuio para a vasta linha de
estudo e pesquisa deste homem polmico, virtuoso, admirado, autntico
tangedor de massas populares e o mais biografado do clero brasileiro.
Daniel Walker
PARTE I
SABEDORIA DE PADRE CCERO
CONSELHOS, PROFECIAS E PENSAMENTOS
sabido que Padre Ccero morreu sem deixar nenhum livro publicado, sendo,
por isso, motivo de crtica por parte dos seus inimigos gratuitos. Porm, um
juzo mais coerente aponta que isto em nada diminui o seu inquestionvel valor.
fato notrio que a histria da humanidade revela a existncia de vultos
extraordinrios (como Cristo e Scrates, por exemplo), consagrados
mundialmente, que tambm morreram sem haver escrito qualquer obra
literria, e cujo valor no foi abalado por isso.
Na verdade, Padre Ccero no escreveu, efetivamente, nenhum livro, mas
pregou, aconselhou, fez previses, exps e defendeu ideias, redigiu e expediu
muitas cartas. Juntando tudo isso, foi possvel condensar aquilo que constitui ou
representa o seu pensamento, e, por que no? a sua sabedoria.
Muitos pesquisadores, historiadores e escritores estudaram e emitiram opinio
sobre a vida e a ao evangelizadora de Padre Ccero. Vejamos algumas.
O jornalista Edmar Morel, referindo-se ao estilo de Padre Ccero, assim se
expressou: Ao falar, a sua voz terna, cheia de modulao. Com as mos
erguidas para o cu, cabea levantada como se estivesse a contemplar o
horizonte, a multido ouve os conselhos. Tamanho o silncio, que seu respirar
ouvido distncia. 1
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Em alguns assuntos Padre Ccero adotou pontos de vista aos quais permaneceu
intransigente at morrer, aos noventa anos. Por isto, nacionalista convicto e
publicamente confesso, jamais aceitou a explorao das terras e riquezas
brasileiras por estrangeiros, chegando a protestar veementemente neste
sentido, publicando um Manifesto que est transcrito neste trabalho.
Tratando-se de religio, a Catlica Apostlica Romana era para ele a nica,
verdadeira e salvadora, razo por que defendia tambm o ensino religioso nas
escolas, justificando que sem educao religiosa perfeita no h agremiao
que progrida e seja til a si, famlia, sociedade e ptria. 9
Com relao a Deus, diferentemente de Froschammer, para quem Deus
produto de uma fantasia viva e irrefletida10, Padre Ccero O encarava como
um ser superior, dono de todas as coisas e que dirige o homem por caminhos
que s Ele sabe. 11
Com respeito salvao, no somente a dele, mas de todo o seu povo, ela era
um ideal de absoluta prioridade dentro do seu projeto de vida. Para ele, a
salvao apenas seria possvel atravs de uma vida honesta, com o sacrifcio
individual e, sobretudo, com a prtica da orao diria. Este era o primeiro
passo, que todos tinham que dar, porquanto o resto, o nosso bom Deus dar,
completava.
Sabiamente ele orientou os romeiros para o trabalho ensinando-lhes ou
indicando-lhes algum ofcio, por menor que fosse, para garantir o sustento da
famlia e evitar a ociosidade, que , como diz a sabedoria popular a me de
todos os vcios. Por isso, o romeiro autntico no um preguioso, mas, no
mnimo, um arteso daqueles que fazem do seu lar uma oficina e um oratrio.
Sobre a instituio do casamento, aconselhava a necessidade da combinao do
religioso com o civil, justificando que o primeiro um sacramento
indispensvel para a unio do casal com Deus, enquanto que o segundo, por ser
a lei da Nao, possibilita a segurana da famlia. E condenava veementemente
o concubinato.
Uma de suas grandes previses est desde algum tempo plenamente
confirmada e consagrada. Disse ele: Depois da minha morte que Juazeiro ir
crescer. 12
De fato, depois que o Padre Ccero morreu (1934) a cidade que ele fundou no
para de crescer. Parte desse crescimento deve ser creditada aos romeiros que
continuaram visitando Juazeiro, atendendo assim ao seu pedido, expresso no
testamento.
Muita gente chegou a dizer que com a morte de Padre Ccero, o povo iria
esquec-lo e a cidade que ele fundou no passaria de uma simplria cidade do
interior cearense. Puro engano! Prevaleceu a profecia do Padre Ccero e a
cidade fundada por ele deu saltos gigantescos praticamente em todos os
setores partindo da bodega ao shopping; da capela baslica; do b--b
faculdade; do lpis ao computador; da amplificadora internet; e do jumento
ao avio.
Tal como So Francisco, Padre Ccero foi tambm um grande defensor da
Ecologia. Nesse ponto, mais uma vez, a sua sabedoria foi aplicada, seja
aconselhando a todos a respeito da necessidade de preservao da fauna e da
flora, seja na orientao direta aos rurcolas sobre como manejar corretamente
o solo para torn-lo mais produtivo e perene. Recomendava coisas simples,
porm eficientes, como: no derrube o mato; no toque fogo no roado; deixe
os animais viverem; represe os riachos, etc. 13
No h dvida nenhuma, os conselhos eram o ponto mais forte da sabedoria de
Padre Ccero. Segundo Padre Manuel Macedo, s mesmo o Papa poderia d-los
melhores. 14
Quem o procurava atormentado por algum problema srio, saa aliviado ou,
como se diz hoje: com o astral levantado. At mesmo colegas de batina
NOTAS
1 - MOREL, Edmar. Padre Ccero, o santo de Juazeiro. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1966.
p.45.
2 - ALCIDES, Jota. Padre Ccero, o poder da comunicao. Braslia: Thesaurus, 1990. p.56.
3 - MAIA, Helvdio Martins. Pretensos milagres em Juazeiro. Petrpolis: Vozes, 1974. p.187.
4 - ANSELMO, Otaclio. Padre Ccero, mito e realidade. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1968. p.62.
05. FEITOSA, Neri. O Padre Ccero e a opo pelos pobres. So Paulo: Paulinas, 1984. p.58. 06. OLIVEIRA,
Amlia Xavier de. O Padre Ccero que eu conheci. Rio de Janeiro, 1969. p.14.
07. SOBREIRA, Azarias. O Patriarca de Juazeiro.
Juazeiro do Norte, 1969. p.32.
8 - S BARRETO, Francisco Murilo. Patriarca de Juazeiro, Conselheiro do Serto. Revista Memorial.
Juazeiro do Norte, 20.07.1984. p.1.
9 - MARQUES, Daniel Walker Almeida. O pensamento vivo de Padre Ccero. So Paulo: Martin Claret,
1988. p.88.
10 - WILGES, Irineu & COLOMBO, Olrio.
Cultura Religiosa. Temas Religiosos Atuais.
Petrpolis: Vozes, 1985. p.19.
11 MARQUES, Daniel Walker Almeida Marques. Op.cit., p.81.
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12 WALKER, Daniel. Pensamentos de Padre Ccero. Juazeiro do Norte: Grfica Mascote, 1984. p.12.
13 VASCONCELOS SOBRINHO, J. Catecismo de ecologia. 2. ed. Petrpolis: Vozes, 1982. p.
14 SOBREIRA, Azarias. Op.cit. p.81.
15 TELES, Antnio. Padre Ccero nas pegadas do Mestre. Juazeiro do Norte, 1985. p.79.
16 - GUIMARES, Therezinha Stela & DUMOULIN, Annette. O Padre Ccero por ele mesmo. Petrpolis:
Vozes, 1983, p.56.
17 CAMPINA, Maria da Conceio Lopes. Voz do Padre Ccero. (Eduardo Hoornaert, org.). So Paulo:
Edies Paulinas, 1985. p.9.
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Apesar das bruscas mutaes da poltica cearense, sempre procurei conservarme em atitude discreta, sem apaixonamentos, evitando sempre as
incompatibilidades que pudessem determinar choques de efeitos desastrosos.
Para conseguir isto, muitas vezes tive de me expor ao conceito de homens sem
ideias bem definidas.
Aps a queda do Governo Accioly, por motivo de ordem moral, retra-me da
poltica, mantendo, entretanto, relaes de cordialidade com o Governo Franco
Rabelo, sendo at eleito terceiro vice-presidente do Estado. E o meu amor
ordem foi to manifesto que, a despeito da m vontade do partido Dominante
para comigo, no hesitei em atender ao pedido da populao desta terra e
autorizar que o meu nome fosse apresentado para voltar ao cargo de Prefeito
desde municpio naquele governo que me era sobremaneira hostil.
Dom Bosco sabia o segredo de corrigir sem molestar. O seu saber assombrou
os centros mais cultos do mundo.
No tenho ascendentes vivos nem tampouco descendentes, e assim julgo
poder dispor dos meus bens que se acham livres e desimpedidos, de acordo com
as leis do meu Pas.
Nunca fiz mal a ningum, nem a ningum votei dio nem rancor.
Nunca cometi nem alimentei embuste de espcie alguma.
Desde a minha ordenao, mesmo durante o pouco tempo em que fui vigrio
de So Pedro do Crato, nunca percebi um real sequer pelos atos religiosos que
tenho praticado como sacerdote catlico.
Neste mundo, durante toda a minha vida, quer como homem quer como
sacerdote, nunca, graas a Deus, cometi um ato de desonestidade, seja sob que
ponto de vista se possa ou se queira encarar.
D. Quintino foi sempre um padre virtuoso e inteligente. Conheci-o desde que
chegou ao Cariri, ainda muito moo, para ser Coadjutor do Vigrio de Misso
Velha. Foi, muitas vezes, meu hspede e sempre o estimei de corao. Se, em
relao a minha pessoa, cometeu alguma injustia nem por isto deixou de ser
um justo, pois estava convencido que s assim procedia exemplarmente.
uma grandessssima calnia dizer que tenho revoltas contra a Igreja. Eu
nunca tive dvidas sobre a F Catlica; nunca disse nem escrevi, nem em cartas
particulares nem em jornais, nem em qualquer escrito nenhuma proposio
falsa, nem hertica, nem duvidosa, nem coisa alguma contra o ensino da Igreja.
Nunca disse nada contra o ensino da Igreja e da Moral Crist. No preguei s
escondidas e Nosso Senhor me justificar.
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Tempos viro, meus amiguinhos, que o Norte vai virar Sul, e o Sul, Norte.
Quando esse tempo chegar, em vez de vocs irem para l, eles que viro para
c.
A prudncia dos velhos e o respeito e temor a Deus que devem governar a
todos.
No seja to zeloso demais que v degenerar em excesso.
Sabem quem o homem mais mentiroso do Brasil? o Padre Ccero de
Juazeiro. Toda extravagncia que se inventa por a, afirmam logo que fui eu
quem disse, para o povinho no desconfiar. E eu tenho que assumir a
responsabilidade de afirmaes que nem de leve imaginei.
Conselho a Lampio: Eu acho que j tempo de voc mudar de vida... Voc
precisa me fazer uma promessa. Eu quero que me prometa que ao sair daqui
(Juazeiro) vai procurar mudar de vida. Com essa vida que voc leva, est
condenado ao inferno. Deus castiga com muita severidade aquele que tira a vida
do irmo, aquele que rouba, aquele que desonra as filhas alheias. preciso que
voc se arrependa e faa como Lus Padre e Sinh Pereira, que seguindo meus
conselhos, deixaram o cangao e hoje vivem honestamente em Gois, servindo a
Deus e sociedade.
Conselho aos voluntrios da Sedio de Juazeiro: No tomem bebida alcolica
de qualquer espcie. No desperdicem cartucho porque a munio muito
pouca. Chegando s primeiras casas, no queiram logo entrar na cidade: dem
tempo s famlias e tambm aos soldados para fugirem; e em nenhuma hiptese
faam fogo sobre os fugitivos. Ningum pegue no alheio, ainda que seja uma
simples agulha. Respeitem as famlias e os prisioneiros.
Doena nervosa se cura com a intuio.
S se paga promessa quando de fato h cura.
A melhor coisa que se faz na vida, cada qual tratar de si.
O que eu quero, na nossa cidade, a vinda de gente que sirva para ajudar o
desenvolvimento da nossa cultura, progresso nas artes e tudo o mais que
beneficie o nosso povo.
A obedincia to importante para o cristo que, se um anjo de luz viesse
ensinar doutrina contrria ao ensino tradicional da Igreja, qualquer um de ns
tinha o direito de cuspir-lhe no rosto, porque este anjo no seria nem mais nem
menos do que o demnio mascarado.
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Deus castigou o demnio com o fogo dos infernos, mas no se lembrou de tirar
sua sabedoria ou cincia, que com ela faz tudo o que quer.
O Papa no faz nada sem a determinao de Deus.
Vocs, meus amiguinhos, no bulam com padre que Deus castiga vocs. Os
padres so ministros de Deus. Deus no tira a vista deles um s instante de
tanto bem que quer a eles.
A beata Maria de Arajo era uma santa. Sua vida foi uma maravilha da graa
de Deus.
A Igreja somos ns, no s os padres no.
A mulher perde o seu valor, mas Deus vai castigar com severidade, porque
Deus fez a mulher para o casamento, para defender os homens do pecado
mortal de se amasiarem.
Quando os homens quiserem ser mais sabidos do que Deus, Deus muda os
tempos. Troca os planetas e eles no acertam mais nunca. Tu no vs as nuvens
soltas no ar soltar fogo e gua? Tu no vs um p de rvore florar e depois ficar
cheio de frutas? No vs as coisas nascendo umas das outras? E por que no
pensar que isto tem um autor? O autor disto Deus. Isto veio da natureza divina
de Deus: quem fez estas coisas foi Deus e mais ningum.
Ah, se os homens ricos soubessem o que o outro mundo, eram eles quem
mais serviam Deus, porque tm tempo e vivem descansados. eles quem so
mais beneficiados por Deus. terras, gado, burros, cavalos, grupos de
ovelhas, cabras, animais de toda espcie, frutas de todo jeito e de toda
espcie. At peixes nos grandes audes eles possuem. engenhos, fbricas,
lojas, armazm, afinal uma riqueza sem fim aqui na terra. uma riqueza
grande neste mundo que Deus lhes deu que faz gosto. Mas no agradecem. S
vivem se servindo com o que de Deus para ir pecar contra Deus, com ofertas
que receberam das mos de Deus. E se um homem destes morrer no pecado,
que que lhe responde Deus?
Os ricos, se quiserem ganhar o cu, s viver se confessando, comungando,
rezando, praticando a caridade, no andar fazendo mal a ningum.
O maior presente que Deus nos deu foi a vida.
O homem que casa, eu digo a vocs, deve dar graas a Deus de ter sua
companheira ou esposa.
Ns devemos nos confessar aos oito anos, antes que o demnio tome conta de
nossos coraes.
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Era assim que os padres deviam fazer: prestar ateno vida de So Pedro e
fazer o que ele fez. So Pedro fez a comunidade, quem tinha mais repartia com
os que no tinham e era uma unio entre os cristos que fazia gosto.
O Pai Eterno se arrependeu de ter acabado o mundo de uma s vez. Agora vai
acabar de pedao em pedao, de tempo em tempo, um pedao aqui e outro
acol, um com fome e outro com peste, um com tempestades e outro com
inundaes, e outro com guerra e outro com tremores de terra.
Em Roma: Se no fosse a minha gente que no tem, abaixo de Deus, outro
amparo seno eu, com certeza no ia nunca mais ao Brasil. Ficava num desses
asilos onde as almas que no pretendem nada deste mundo, como as que
sofrem, acham descanso.
Em Juazeiro, desiludido diante das perseguies sofridas: Eu at tinha vontade
de ir embora com a minha famlia para Roma que l fui muito bem acolhido
pelos padres, mas quando eu fazia planos de escrever para o Papa, Nossa
Senhora vinha e me empatava e eu tinha que me aquietar que ela queria que eu
cuidasse de seus romeiros.
Sejam sempre obedientes s autoridades civis e da Santa Igreja Catlica
Apostlica Romana.
Se vocs forem fieis Me de Deus, seguindo somente o caminho de Deus,
sem mistura de outras leis, Nossa Senhora reage por vocs, quando vierem uns
homens maus contra o povo de Juazeiro. Se for pelos ares, o aparelho cai; se for
por terra, os carros viram, mas aqui no chegam.
Aproveito o ensejo para pedir a todos os moradores desta terra, o Juazeiro,
muito especialmente aos romeiros, que depois da minha morte no se retirem
daqui, nem a abandonem. Que continuem Domiciliados aqui no Juazeiro,
venerando e amando sempre a Santssima Virgem Me de Deus, nico remdio
de todas as nossas aflies, auxiliando a manuteno do culto e de todas as
instituies religiosas que aqui se fundarem, e com especial meno a dos
Benemritos Padres Salesianos, que sero os meus continuadores nas obras de
caridade que aqui iniciei. Insistindo, peo, como sempre aconselhei, que sejam
bons e honestos e respeitadores s leis e autoridades civis e da Santa Igreja
Catlica Apostlica Romana, no seio da qual to-somente pode haver felicidade
e salvao.
Estes conselhos que sempre os dei em minha vida, no me canso de repeti-los
aqui para que depois da minha morte bem gravados fiquem na lembrana deste
povo, cuja felicidade e salvao sempre foram objeto da minha maior
preocupao.
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terras brasileiras! Sangra-me o corao pois nele ainda sinto acesa a chama do
patriotismo e comigo est a maioria dos brasileiros ver o plano inclinado a que
esto arrastando o Brasil na vertigem da insnia. Parafraseando Clemenceau,
acho que o Brasil tambm tem filhos que no permitiro sejam postos em leilo
e retalhos suas terras. Seria medida de alto alcance se o Congresso Nacional,
ainda este ano, votasse uma lei vedando concesso desta natureza, porque
fatos desta ordem desagregando a Nao, fermentam o esprito da revolta,
dando lugar guerra civil, nico meio, triste alis, para as grandes
reivindicaes. Salvemos a nossa cara terra. Salvemos o Brasil. Termina a,
Exmo. Sr. Senador, o cabograma que passei e a que me referi acima. Espero e
confio que V. Exa., o homem poltico para o qual se voltam as esperanas do
Brasil, tudo far para fazer cessar esses abusos, que esto ocorrendo para
tornar a Repblica malvista por nossos concidados. Aguardo a honrosa
resposta e subscrevo-me de V. Exa. patrcio, atendo amigo e admirador,
As. Padre Ccero Romo Batista
MANIFESTO ANTICOMUNISTA
Carssimos fieis: Que a f vos salve!
A horda vermelha ameaa com as suas garras de abutre destruir a nossa
felicidade, perturbando a paz do Brasil em seus fundamentos seculares a
prpria organizao da famlia, clula mater da sociedade crist.
A Igreja de Jesus Cristo que tem sido em todos os tempos visada, com dio e
rancor pelos pregadores de ideias subversivas, nesta hora de graves
apreenses para a grande Ptria do Cruzeiro, o alvo predileto dos emissrios de
Satans.
Acenando com a falsa bandeira do liberalismo, a besta fera do apocalipse atira
suas patas de fogo contra a estabilidade de nossas instituies!...
Ai daqueles que prestarem seu auxlio aos inimigos de Deus... As lavas ardentes
do vulco bolchevista lambero a face da terra e sob os escombros da f,
calcinada pelas labaredas do anticristo ressurgiro Sodoma e Gomorra!
De p cristos do Brasil! Guerra de morte aos que empunharem a bandeira
vermelha do liberalismo para estancar em nossas almas a fonte perene de f e
entreg-la inerme nos braos de Satans! Cegos sero todos aqueles que
cerrarem os olhos evidncia da verdade.
Juazeiro, fevereiro de 1930
As. Padre Ccero Romo Batista
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vrios crimes e que tinha vindo de outras plagas se homiziar em Juazeiro, tendo
recebido total apoio do Padre Ccero).
Dr. Belm, Nosso Senhor Jesus Cristo nos ensina a amar os maus, porque os
bons por si, j no precisam de tantos cuidados. Um homem desses, sem
instruo, s vezes injustiado, sem a menor noo de Deus, se procurar uma
pessoa que lhe sirva de lenitivo e esta pessoa lhe enxota, ele aumentar a
quantidade de crimes, pois sua revolta aumenta contra tudo e todos. Assim, eu
recebo como amigo, vou aconselhando e mostrando o caminho correto e, quem
sabe, ele poder se tornar um homem de bem, como aconteceu com Lus
Padre, que era um bandido e depois que fiz este trabalho, encaminhei-o para
Gois com uma carta de apresentao, e hoje ocupa o lugar de delegado.
***
Zeca Marques, meu pai, em seu livro Milagres e previses de Padre Ccero,
escreveu com base em depoimento prestados por amigos:
OS TRS ANOS E MEIO SIMBLICOS DO PADRE CCERO
No tempo do Padre Ccero os comerciantes de artigos religiosos Joaquim
Mancinho, Pedro Magalhes, Dando, Lourencinho e Beata Rita tambm eram
proprietrios de casas para hospedagem dos romeiros que chegavam a Juazeiro.
Para os romeiros falarem com o Padre Ccero eram obrigados a fazer compras
na loja do proprietrio do rancho em que estavam hospedados.
Logo depois da morte do Padre Ccero, Joaquim Mancinho contou-me o
seguinte fato: Eu, disse ele, estava certo dia na sala de espera da casa do Padre
Ccero, esperando chegar a minha vez para apresentar meus romeiros a ele,
quando deu-se uma discusso entre a Beata Rita e Manoel Lucas (scio de
Lourencinho). Cada qual queria apresentar primeiro seus romeiros ao Padre
Ccero. Da sala vizinha, onde o Padre Ccero recebia os visitantes, ele ouviu a
discusso e levantando-se da rede aproximou-se dos dois e disse:
Vocs vo logo se acostumando porque est bem prximo de meus romeiros
chegarem a Juazeiro, podendo se hospedar onde melhor achar conveniente,
fazer suas compras onde bem lhes convm, me visitar a qualquer hora e eu
atendo suas preces, benzo suas imagens, seus teros e rosrios sem ser preciso
a interferncia de vocs.
Disse mais: Isso acontecer trs anos e meio depois da minha morte. Estarei
aqui em esprito e verdade para velar por esta cidade que ser perseguida, mas
no vencida.
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Joo Monteiro saiu dali envergonhado, foi a sua casa, pegou a dita moeda de
mil ris, foi farmcia e fez como era devido. Resultado: trs dias depois sua
esposa, Dona Hermnia, estava completamente curada.
***
Uma mulher perguntou ao Padre Ccero:
Meu Padrinho, pecado a mulher dormir com o marido dia de sexta-feira?
No, respondeu o Padre Ccero, pecado dormir com o marido alheio.
***
Outra perguntou:
Meu padrinho, meu marido muito bom, mas por qualquer besteira que fao
ele briga. D um jeito nele.
Tenha pacincia respondeu o Padre Ccero , linha sem n ponto perdido.
***
Uma romeira perguntou:
Meu padrinho, no h dinheiro que chegue. Eu fui fazer compras na feira nova
e encontrei tudo caro, igualzinho a minha terra. O que se faz pra acabar com
essa carestia?
Minha filha respondeu o Padre Ccero , com outra maior que vem por a.
***
Sobre a sabedoria de Padre Ccero, Padre Azarias Sobreira faz as seguintes
referncias, transcritas do seu livro O Patriarca de Juazeiro:
Um belo dia, aps lhe ter expressado todo o meu pesar por v-lo imiscudo na
poltica partidria, eis a resposta que ele me deu:
Que havia eu de fazer para no ficar ocioso, se me tiraram o sacerdcio,
privando-me do uso total de minhas ordens? Fiquei reduzido condio de um
simples leigo: no posso dizer missa, no posso confessar nem tenho licena de
levantar a voz na igreja. Foi este o nico caminho que encontrei para continuar
fazendo algum bem.
***
Uma romeira perguntou:
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Meu padrinho, diga-me com sua prpria boca, para eu ter certeza: Vosmic
mesmo Deus Nosso Senhor?
No diga uma coisa dessas atalhou energicamente o Padre. Dizer isso
cometer um pecado mortal e aumentar a perseguio que j existe contra
minha pessoa. Eu no sou Deus nem podia ser. O que eu sou um enviado de
Deus. Vivo to unido a Ele e Ele a mim, como o fogo, na forja, fica unido ao
carvo e ao ferro. Voc no v que o carvo uma coisa, o ferro outra coisa
muito diferente e outra coisa tambm o fogo? Pois tudo isso, na tenda do
ferreiro, no parece ser a mesma coisa, tendo a mesma cor e a mesma
quentura? Assim vivo eu unido a Deus pela vontade de fazer o bem.
***
Certa vez, um bacharel em Direito disfarado em humilde beiradeiro, quis testar
o Padre Ccero, fazendo-lhe as seguintes perguntas:
Por que o Reverendo no mandou prender Lampio no tempo em que aqui
esteve armado com seus companheiros de tropelias, numa revoltante afronta s
autoridades de sua terra?
Porque no sou delegado de polcia retrucou o Patriarca. No me compete
dar ordem de priso a ningum. Ainda que eu tivesse tal pensamento, como
que eu poderia mandar prend-lo com seu grupo de bandoleiros aguerridos e
bem municiados, sem provocar, por essa forma, um conflito de grandes
propores? Antes de tudo, eu sou um sacerdote catlico que vive
aconselhando a todos para o bem. Ao prprio Lampio j tenho dado conselhos
para deixar o cangao; e se ele no tem feito como eu desejo, a culpa no
minha.
Por que o Reverendo no repreende severamente esse povo ignorante que
vive dizendo que o Sr. santo e faz milagres?
Meu amiguinho respondeu o interrogado, sorrindo compassivamente no
os repreendo porque no tenho o poder de tapar a boca do mundo. Tambm
certo que muito maior o nmero daqueles que me chamam de demnio,
atribuindo-me as mais perversas intenes. At o dia de hoje, s no me tiraram
a vida porque Deus, em sua infinita misericrdia, no tem consentido.
E o que me diz sobre uma famosa apario de sangue nas hstias consagradas
aqui em Juazeiro?
Digo simplesmente que, no ano de 1898, durante minha estada em Roma,
recebi de meus Superiores ordem terminante para dar por encerrado esse
assunto, entregando-o aos cuidados da Divina Providncia. Voc no sabe que
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manda quem pode e obedece quem deve? este o meu caso. E parece que
estamos bem entendidos.
***
O escritor Aldenor Benevides, em seu livro Padre Ccero e Juazeiro, relata
algumas passagens interessantes para ilustrar a sabedoria de Padre Ccero. Eis
algumas:
Disse o Padre Ccero, um dia, a Jos Geraldo, quando a conversa sobre religio
j estava bastante avanada:
Toda religio, Jos Geraldo, que tem Jesus como Mestre e o Pai Eterno como
Criador, conduz as pessoas ao Cu. como viajar aqui na Terra. Uns andam a
p. Outros, viajam em jumentos. Outros, dispem de cavalos e h ainda os que
tm cavalos andando mais depressa. E terminou acrescentando:
Toda pessoa que tem Deus como escopo se salva.
***
A um romeiro que lhe pediu para ensinar um meio de viver muito porque tinha
verdadeiro pavor da morte, o Padre Ccero com o seu habitual sorriso paternal,
disse-lhe:
Meu amiguinho, j que voc tem tanto medo assim da morte, vou ensinar-lhe
uma maneira de viver muito at enjoar. Trate bem a ricos e pobres; faa o
mesmo com brancos e pretos; no fume nem beba lcool; sua primeira refeio
dever constar de 2, 3 ou 4 bananas-po com 3 colheres de farinha de mandioca
e uma colher de acar cristal.
***
O Padre Ccero disse a D. Leonilda Lacerda Botelho, muito conhecida em
Caririau, que, se o povo soubesse o que mel de abelha, o consumiria inclusive
no leite.
***
As transcries a seguir foram extradas do livro Voz do Padre Ccero, de dona
Maria da Conceio Lopes Campina.
Padre Ccero aconselhava um homem rico:
Voc, meu amiguinho, v plantar mandioca na Serra do Araripe para dar de
comer a sua famlia, que daqui em diante vem fome, que s come quem tiver
legume guardado em casa.
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est prevenido para passar com a sua famlia, vendendo farinha e comprando o
que precisar. Digo mais: Quantas vacas voc tem?
Eu s tenho cinco.
Venda trs e faa um aude que no tempo dessa seca voc vai ficar sem elas,
que morrem da peste, e a gua fica pra voc fazer vazante para o seu bem e
para os outros. Voc tem grota no seu terreno?
Tenho, sim senhor!
Pois mea dez braas da grota e cave um buraco, e v levando a terra e
tapando a grota com dez braas de distncia do buraco, e tape a grota bem
tapada, deixando a grota umas vinte braas entupida de terra, para ficar bem
forte. A parede e o buraco mais tarde vo tirando a terra e fica sendo o poro
do aude. Mas faa logo o sangrador fundo e largo se no a grota enche de gua
e carrega o seu trabalho. o melhor meio de voc fazer um aude muito ligeiro.
Mas faa um morro de terra bem alto na passagem da gua na grota para no
arrebentar. possvel que o dinheiro de trs vacas no d para voc fazer isto?
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PARTE II
PADRE CCERO, O CONSELHEIRO DO SERTO
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Cristo reunia e falava s multides; Padre Ccero, tambm. Cristo fez uma
orao ao Deus-Pai, o Pai Nosso que todo cristo conhece; Padre Ccero fez uma
orao Me de Deus: a Orao da Me das Dores que todo romeiro sabe de
cor.
Cristo pronunciou o sermo da montanha; Padre Ccero, o sermo da caatinga.
Os dois foram punidos por Roma. Cristo recebeu a pena capital; Padre Ccero, a
suspenso das ordens sacerdotais.
Cristo morreu e ressuscitou no terceiro dia. E como venceu a morte, conquistou
a eternidade; Padre Ccero morreu e ressuscitar no dia do Juzo Final, mas sua
memria continua viva no corao dos seus milhares de afilhados e
admiradores.
Augusto Cury analisando a vida dos apstolos afirma que eles frustraram Jesus
durante mais de trs anos. E nas ltimas horas antes de morrer, eles o
decepcionaram mais ainda. Judas o traiu por uma quantia irrisria. Pedro o
negou trs vezes. E Tom duvidou da sua ressurreio. Mas Cristo os amou
incondicionalmente e os transformou em homens inspirados, corajosos e
propagadores da f, e mostrou-lhes que era verdadeiramente o Caminho, a
Verdade e a Vida.
E os romeiros de Padre Ccero? Bom, esses nunca o decepcionaram e por ele
jamais foram decepcionados. Quando Padre Ccero disse aos romeiros Venham!
e eles vieram, isto no significa necessariamente que eles vieram todos para
Juazeiro. Muitos vieram e ficaram, outros vm pelo menos uma vez por ano,
mas nunca deixam de vir a Juazeiro do Norte.
Essa fora de atrao magntica que o Padre Ccero exerce sobre os romeiros
muito forte e parece imorredoura. Ele transformou os romeiros nos grandes
propagadores do rosrio da Me de Deus.
E agora vejamos como atuava o Padre Ccero, o Conselheiro do Serto.
Em suas pregaes dirias e usando uma linguagem simples, todavia repleta de
mensagem e f crist, ele costumava aconselhar:
Quem bebeu no beba mais. E explicava: A cachaa um poderoso enviado
agente de Satans. Quem matou no mate mais. E justificava: Somente Deus
tem o poder de tirar a vida de suas criaturas. Quem roubou, no roube mais. E
lembrava: Quem rouba vai para o inferno. Quem mentiu, no minta mais. E
acrescentava: A mentira filha do diabo e o mentiroso, seu encarregado. Estes
so os seus conselhos mais famosos.
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PARTE III
BIOGRAFIA DE PADRE CCERO
1 - NASCIMENTO-INFNCIA-FAMLIA
Padre Ccero Romo Batista nasceu na cidade de Crato, Cear, no dia 24 de
maro de 1844. Entretanto, sua certido de batismo registra seu nascimento
como tendo sido no dia anterior. Mas ele nunca fez referncia a essa data. No
testamento ele cita o dia 24 como sendo o dia de seu nascimento, sendo esta a
data historicamente aceita. Joaquim Romo Batista e Joaquina Vicncia
Romana, mais conhecida como Dona Quin, eram os seus pais.
O nome completo de seu pai era Joaquim Romo Batista Mirab, modesto
comerciante e pequeno proprietrio rural (era dono do Stio Fernando). A me
antes de casar tinha o nome de Joaquina Ferreira Casto.
H divergncia sobre o local exato onde Padre Ccero nasceu. Alguns escritores
afirmam ter sido na Rua Dr. Miguel Limaverde, antes Rua Grande, n 19, e que
na poca pertencia a Totnio Romo, tio paterno do recm-nascido. Outros,
que ele nasceu naquela rua, mas no local onde hoje se ergue o Palcio Episcopal
do Crato. Esta a verso mais aceita.
Apresentava os seguintes traos fsicos: l,60 m de altura, cor branca, cabelos
louros, olhos azuis pequeninos e penetrantes, rosto ovalado, orelhas
desenvolvidas, nariz adunco, voz modulada e firme.
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beata Mocinha confia a caixa contendo os panos beata Bicinha (Josefa Maria
do Menino Jesus) que, temerosa de mant-la sob sua guarda, resolve entreg-la
ao vigrio monsenhor Juviniano Barreto que a entregou ao bispo de Crato, D.
Francisco de Assis Pires. A aconteceu outro fato mais incrvel ainda: em vez de
mandar fazer exame, para verificar a autenticidade ou no do to famigerado
milagre e assim pr um fim na polmica Questo Religiosa, o bispo mandou
queimar os tais paninhos! Isso ocorreu no dia 30 de novembro de 1949, por
coincidncia na data de aniversrio de ordenao sacerdotal de Padre Ccero. O
bispo nomeou uma comisso composta de monsenhor Joviniano Barreto e dos
padres Antnio Batista Vieira e Francisco Custdio Limeira. O ato de incinerao
dos panos ocorreu s 10 horas daquele dia, no interior do Seminrio So Jos
em Crato. Terminada a misso, foi plantada no local uma mangueira que, mal
germinou, murchou e feneceu. Mas nem todos os paninhos foram queimados.
Ainda existem alguns em casa de pessoas que os guardam como relquia.
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O bispo nunca mandaria guardar os paninhos no Sacrrio, uma vez que ele
dizia ser tintos de sangue de Maria de Arajo e no de Jesus Cristo.
A verso do sacrrio foi um mal-entendido ocasionado por conta do contedo
de um documento segundo o qual se diz que os sanguinhos e corporais onde
eram recebidos os fragmentos e o sangue sado das sagradas hstias, eram
depositados em um Sacrrio de vidro e envolvido em uma toalha das que
serviam ao altar do Santssimo Sacramento, debaixo do outro sacrrio, com
todo o cuidado, at a ordem do Senhor Bispo para que tudo fosse entregue ao
Revmo. Proco do Crato.
O termo sacrrio foi usado no sentido de urna, com s minsculo, ao contrrio de
Sacrrio, com S maisculo. Da veio a confuso.
No est no perfil moral de Marrocos prestar-se a furto. E depois, com quem ele
arranjou as duas chaves: a da Matriz e a do Sacrrio? Quantas pessoas estariam
implicadas nesse furto! Naquele tempo, a chave do Sacrrio ficava sob custdia
de duas pessoas.
E afinal, para que roubar estes panos, se havia pano manchado em profuso e
se o Padre Ccero sempre pediu um exame in loco, do bispo ou de um emissrio
de Roma? So anedotas de gente distrada para contradies, conclui Pe. Neri.
Atualmente j se percebem mudanas favorveis que do um novo olhar sobre
essa to polmica questo religiosa. Por exemplo, as romarias decorrentes da
propagao do milagre, atraindo para Juazeiro milhares de romeiros de vrios
pontos do Nordeste, que antes eram reprovadas pela Igreja, foram oficializadas
em 2003 pelo bispo D. Fernando Panico, da Diocese do Crato, atravs da Carta
Pastoral Romarias e Reconciliao. Em 2006, D. Fernando esteve em Roma,
acompanhado de comitiva, onde entregou ao Vaticano um pedido oficial de
reabilitao histrica e eclesial de Padre Ccero, como resultado de um
profundo estudo. E a Igreja de Nossa Senhora das Dores foi elevada em 2008
Baslica Menor. Pelo visto, a Igreja tem agora uma nova postura...
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7 - INGRESSO NA POLTICA
Padre Ccero ingressou na poltica de forma circunstancial. Eis como ele explica
isso em seu Testamento: Em 1911, quando foi elevado o Juazeiro, ento
povoado, categoria de vila, para atender aos insistentes pedidos do ento
Presidente do Estado, o meu saudoso amigo Comendador Antnio Pinto
Nogueira Accioly e, ao mesmo tempo, evitar que outro cidado, na direo
poltica deste povo, por no saber ou no poder manter o equilbrio de ordem
at esse tempo por mim mantido, comprometesse a boa marcha desta terra, vime forado a colaborar na poltica. E acrescentou: Apesar das bruscas
mutaes da poltica cearense, sempre procurei conservar-me em atitude
discreta, sem apaixonamentos, evitando sempre as incompatibilidades que
pudessem determinar choques de efeitos desastrosos.
8 - REVOLUO DE 1914
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Foto que marca a visita de Lampio e seu bando a Juazeiro em 1926. Aqui ele visto
entre amigos e familiares.
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camaradinha, que isso vai nos trazer grandes desgostos no s para minha
pessoa, como para todo Juazeiro". Nesse momento, entra no recinto Maria das
Malvas, uma caseira que cuidava da alimentao do Padre, trazendo-lhe o
costumeiro copo de leite, nica alimentao noturna do Padre, que foi recusado
terminantemente, dado seu estado de nervos.
O tenente, sentindo a gravidade da situao e antevendo, embora tardiamente,
as consequncias que seu impensado ato poderia acarretar, continuou
desculpando-se perante o Padre. Alegou que s convidara Lampio para
acompanh-lo at Juazeiro, em virtude da pssima situao financeira em que
se encontrava, e que Lampio j estava de sobreaviso a respeito dos patriotas e
da tal patente de capito que ganharia se participasse do combate,
acrescentando que Virgolino manifestou tambm um grande desejo de
conhecer o Padre Ccero e que para no desagradar o bandoleiro, temendo uma
revolta, resolveu traz-lo.
Padre Ccero no se conformava com a situao e continuou a recrimin-lo,
dizendo: "Por que voc no procedeu como Manoel Calixto que mesmo em
pssima situao financeira, recusou deixar-se acompanhar por Lampio,
demonstrando assim ser um homem ntegro? (Logo que chegou a Juazeiro,
Manoel Calixto fora tambm diretamente ao Padre Ccero, e por alto tocara no
assunto).
O tenente ficou cabisbaixo e foi saindo de fininho, enquanto o Padre Ccero,
estarrecido, via o mundo desabar sobre sua cabea. J velho, com seus 82 anos
de idade, sentia-se sem foras para enfrentar to grande problema. Alm disso,
no poderia contar mais com a valiosa colaborao do Dr. Floro, que viajara
para o Rio de Janeiro muito doente.
Padre Ccero foi ao encontro de Lampio e lhe disse: "Virgolino, por que razo
voc teve a coragem de vir a uma cidade como Juazeiro, to bem assistida por
autoridades civis e militares, sendo voc um fora da lei?"
"Meu Padim, eu vim porque me disseram que o sinh precisava de mim".
"Lampio, eu sou um sacerdote. Por que iria precisar de voc? Eu acho que j
tempo de voc mudar de vida. Mas, como meu nome foi usado e voc pensou
que estava atendendo meu chamado, procure ajeitar seu povo e trate de sair
daqui deste local o mais breve possvel para um outro alojamento no centro da
cidade onde ficar mais seguro, pelo menos at amanh, quando eu quero que
voc se retire do Juazeiro".
Na segunda-feira, conforme prometera aos patriotas, Padre Ccero tomou todas
as providncias para sua ltima e definitiva visita a Lampio.
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- Pois ento, retrucou o Padre Ccero, ele que se entenda com Lampio; se ele
disse tal absurdo, que resolva.
- Meu Padim, continuou Lampio, eu s estou aqui confiando no Sinh.
E fazendo um gesto significativo, colocou a mo sobre o peito, ajoelhando-se,
exclamou: Eu lhe garanto qui v v se saio daqui ainda hoje, mais num deixe
ningum mexer com eu e com meu povo, qui aqui eu no quero faz alarme.
- Lampio, disse o Padre Ccero, eu lhe dou 24 horas para voc sair daqui, nem
mais um minuto sequer. Se voc no me atender, eu no me responsabilizo
pelo que acontecer. Isso no uma ameaa, estou falando para seu bem.
- Meu Padim, v faz o pussive. Mais eu quero diz ao sinh, qui eu t em
dificuldade, pois t cercado pur macaco de sete Estado.
Mais uma vez, o astuto Benjamim Abraho entra no dilogo dizendo:
- Padre Ccero, s tem um jeito de Lampio sair daqui. fardado com a
vestimenta dos patriotas.
Padre Ccero no respondeu e continuou falando a Lampio:
- Voc precisa me fazer uma promessa. Eu quero que me prometa que ao sair
daqui vai procurar mudar de vida. Com essa vida que voc leva, voc est
condenado ao inferno. Deus castiga com muita severidade quele que tira a
vida do irmo, quele que rouba, quele que desonra as filhas alheias. preciso
que voc se arrependa e faa como Luiz Padre e Sinh Pereira (Padre Ccero
referia-se ao primeiro chefe de Lampio, Sebastio Pereira), que seguindo meus
conselhos, deixaram o cangao e hoje vivem honestamente em Gois, servindo
a Deus e a sociedade.
Depois disso, Padre Ccero deu por encerrada a conversa.
A ideia de transformar-se em Capito tomou conta da mente de Virgolino. Ele j
se via fardado de oficial do Batalho Patritico, com trs gales marcando sua
posio de Capito. Sonhava assim, ser um homem livre, sem precisar mais
viver s escondidas, fugindo como uma caa perseguida, acossado pelas
volantes policiais que no lhe davam sossego.
Na segunda-feira, quando recebeu a visita do Padre Ccero, falou do seu desejo
de receber no Juazeiro a patente de Capito. No entanto, ficou desiludido, ao
receber do Padre Ccero a resposta do que ele no tinha credenciais para
expedir a tal patente. Porm, sentiu que o astuto Benjamim Abraho, o srio que
acompanhava o Padre, poderia solucionar seu problema. Fez ento um sinal a
Benjamim para que este no se retirasse juntamente com o Patriarca, ficasse
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mais um pouco. O srio, cujo interesse era agradar a Lampio, para depois
conseguir film-lo, o que realmente fez algum tempo depois, ficou no
sobradinho enquanto o Padre retirava-se com os outros acompanhantes.
Lampio, satisfeito, vendo seu intento quase realizado, convidou Benjamim a
sentar-se e olhando sempre para o cho, pois o cangaceiro nunca encarava
algum de frente, comeou a falar:
- Voc me disse duas coisas qui me interess. A premeira foi que eu pudia sa
daqui fardado. A tra foi que esse t de Ucha fal qui me dava a patente de
Capito. Me conte isso direito.
- Lampio, falou Benjamim com seu sotaque de estrangeiro, s tem esse meio.
voc e seus homens se vestirem de Patriotas. Aqui tem muitas costureiras e
atravs de amigos seus voc manda comprar a fazenda e procurar as costureiras
para fazerem as fardas.
Lampio, imediatamente mandou um dos seus homens juntamente com um
parente seu que residia em Juazeiro, comprar a fazenda e procurar quem
confeccionasse as fardas. Resolvido esse problema, Virgolino voltou-se para
Benjamim e disse: "Onde posso acha esse t de Ucha?
- Pode deixar, respondeu o srio, que eu vou pessoalmente buscar o Dr. Ucha.
Como j era quase hora do almoo, Benjamim retirou-se com a promessa de
noitinha voltar acompanhado do agrnomo.
tardinha, conforme prometera, Benjamim dirigiu-se casa do Dr. Ucha, a fim
de manter contato com este e informar-lhe do desejo de Lampio de v-lo l no
sobradinho.
Em l chegando, procurou conversar um pouco, antes de falar do real motivo
daquela visita. Ao se inteirar das intenes de Benjamim, Ucha relutou, negouse terminantemente a acompanh-lo dizendo-lhe que Lampio no era homem
de se levar na brincadeira, quando ele descobrisse que aquela patente de nada
valia, iria se revoltar contra ele.
Benjamim no aceitou as desculpas e falou: "Ucha, Lampio j est sabendo
que a conversa de dar uma patente a ele partiu de voc. Se voc se recusar ser
pior".
Mesmo demonstrando m vontade, Ucha aquiesceu e acompanhou o srio,
que ia rindo e gracejando pelo caminho. Enquanto Ucha, contagiado pela
gaiatice do companheiro, comeou a se soltar tambm.
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por essas razes que muitos historiadores concordam em atestar que ele
realizou uma obra notvel, quase incrvel, concorrendo no apenas para a
criao da maior cidade do interior cearense, como tambm para um maior
desenvolvimento do Cariri.
Pode-se dizer com absoluta segurana: foi Padre Ccero quem colocou Juazeiro
no mapa do Brasil. Em muitas localidades do Brasil, quando as pessoas querem
se referir a esta cidade costumam dizer: Juazeiro do Padre Ccero.
Por tudo isso, dever de todos que moram em Juazeiro, independentemente de
serem ou no aqui nascidos e tambm do credo religioso que professem, honrar
e respeitar o seu nome, pois ele foi o fundador de Juazeiro do Norte. preciso,
tambm, que as pessoas de outras religies (e at mesmo catlicos
desinformados) enxerguem um Padre Ccero sem batina, o vejam como pessoa
cvica, ecumnica, ex-prefeito e fundador de Juazeiro, enfim, o verdadeiro m
que atrai desenvolvimento para esta terra. Sem ele Juazeiro seria uma cidade
comum, ou at continuasse sendo uma vila de Crato.
11 - HOMENAGEM
Padre Ccero com certeza a personalidade mais homenageada do Brasil. Salvo
uma ou outra exceo, todas as pessoas nascidas em Juazeiro do Norte (e em
outras cidades do Nordeste) que tm o nome de Ccero ou Ccera (e ainda
Romo ou Romana) so assim chamadas em homenagem a ele, como
pagamento de promessa ou graa alcanada. praticamente incontvel o
nmero de ruas, praas, estabelecimentos comerciais, escolas, etc. que exibem
o seu nome no s em Juazeiro, mas em muitas cidades do Brasil.
Tambm uma personalidade muito estudada. Sobre ele j foram escritas
centenas de livros, sem contar as reportagens publicadas em jornais e revistas
de grande circulao no Pas e no Exterior, onde seu nome tambm j
bastante conhecido. Ultimamente ele tem sido alvo de estudo por parte de
universidades brasileiras e estrangeiras de onde tm sado muitas teses
acadmicas focalizando algum aspecto da sua vida. Tambm assunto de
simpsios, seminrios, congressos, filmes, peas teatrais, msicas e
documentrios de televiso.
O monumento em concreto erigido em sua honra na Serra do Horto, em
Juazeiro do Norte, inaugurado em 1 de novembro de 1969, com 25 metros de
altura e montado num pedestal de 8 metros, um dos maiores do Brasil e
constitui a maior atrao turstica de Juazeiro.
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12 - A MORTE DO DOLO
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como o padrinho que faz a intermediao das preces e dos rogos de cada um
desses desafortunados.
Instalado dentro desse contexto, Padre Ccero no est necessariamente
alimentando fanatismo; ao contrrio, est alimentando a f do nordestino
desamparado. assim, de fato, que os romeiros conseguem ver a postura de
seu padrinho diante dos seus pedidos. Ningum forado a gostar ou a recorrer
ao Padre Ccero nos momentos de infortnio. Os romeiros o procuram
espontaneamente e dificilmente o largam, porque acreditam nele mais do que
em qualquer poltico ou mesmo do que em muitos santos oficiais. Mas isso s
ser fcil de entender, se for observado sem preconceito e estudado
cientificamente, como vm fazendo as irms cnegas de Santo Agostinho
Annete Dumoulin e Teresinha Stela Guimares (ambas psiclogas e com
excelente formao acadmica em nvel de doutorado), h mais de trinta anos
estudando os romeiros nordestinos. preciso compreender muito bem o que se
passa dentro do imaginrio dos romeiros, pois do contrrio corre-se o risco de
interpretar mal suas atitudes.
Tambm usando a coerncia e a racionalidade inadmissvel elevar Padre
Ccero categoria divina, embora no se possa coloc-lo na categoria de
homem comum, pois se o fosse, com a morte teria desaparecido por completo.
E isto no ocorreu, porquanto sua memria continua viva no corao de seus
milhares de devotos.
fcil perceber como foi feito o enfoque apresentado pelos primeiros bigrafos
do Padre Ccero. Todos, invariavelmente, estavam movidos por interesses
pessoais, paixo, inveja, dio, amor, ou ento a servio de alguma organizao
(a Igreja, inclusive), formando-se ento uma forte corrente bilateral interessada
em difamar e destruir ou louvar e santificar o Padre Ccero.
Estudiosos como Ralph Della Cava, Marcelo Camura, Luitgarde Oliveira, Maria
do Carmo Pagan Forti, Renata Marinho, Teresinha Stela Guimares, Francisco
Salatiel, Antnio Braga, Rgis Lopes e muitos outros aceitaram o desafio de tirar
da penumbra a real histria do Padre Ccero.
Seus trabalhos, resultantes de meticulosa pesquisa e com coleta de dados em
fontes somente agora acessveis, esto contribuindo para formatar a nova figura
de Padre Ccero. Atualmente, ele no mais visto como alimentador de
fanatismo, pois segundo o historiador Marcelo Camura: Isto foi compreendido
pela antropologia e pela sociologia modernas no como fator de ignorncia,
alienao, mas como uma apreenso da realidade por aquelas populaes com
sua coerncia e lgica interna.
Aps exaustivos estudos, os historiadores modernos conseguiram entender os
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reais motivos que levaram o Padre Ccero a se envolver, mas sem efetivamente
comandar, a famigerada Revoluo de 1914, quando as tropas chefiadas pelo
Deputado Floro Bartolomeu apearam do poder do governo cearense o coronel
Franco Rabelo. E sobre a questo do milagre, a aceitao corrente que no
houve embuste, contrariando a tese explicitamente defendida no passado
principalmente pela Igreja.
Pode-se dizer que a moderna bibliografia de Padre Ccero tem como marco de
referncia maior a obra do historiador americano Ralph Della Cava, intitulada
Milagre em Joaseiro, publicada inicialmente nos Estados Unidos e depois no
Brasil (1976). Ele produziu o primeiro trabalho de cunho acadmico publicado
sobre Padre Ccero, tendo contribudo de forma efetiva para inaugurar a nova
fase de estudos sobre Padre Ccero.
Depois dele, a vida de Padre Ccero passou efetivamente a ser alvo de estudo
nas academias no s do Brasil, mas tambm do Exterior. Outra fonte que
tambm tem contribudo de forma eficiente para diversificar e aprofundar a
pauta de estudo sobre Padre Ccero so os congressos, simpsios e seminrios
realizados por diversas universidades brasileiras e outras instituies. Os trs
simpsios realizados pela Universidade Regional do Cariri, por exemplo,
produziram excelentes trabalhos envolvendo a participao de estudiosos do
Brasil e do Exterior. Graas a eles o nmero de pesquisadores agora envolvidos
com a histria de Padre Ccero cresceu substancialmente.
Ao promover seus fruns de debates, esses eventos democratizam as
discusses em torno do Padre Ccero e da sempre emerge uma farta e
consistente produo de textos de excelente qualidade, e isso, claro, elucida
certas questes at ento nebulosas para muitos pesquisadores e o pblico em
geral.
Ultimamente a prpria Igreja, atravs da Diocese de Crato, est colaborando
para que esse novo enfoque de estudo do Padre Ccero prospere. O bispo Dom
Fernando Panico abriu os arquivos da Diocese e os colocou disposio dos
pesquisadores. Com isso, documentos at ento guardados a sete chaves esto
agora acessveis, contribuindo eficazmente para que muitas dvidas sejam
dirimidas.
Na verdade, de uns tempos para c, tudo mudou na historiografia de Padre
Ccero. O milagre da hstia, por exemplo, j foi discutido em simpsios,
dissecado pela parapsicologia, examinado em laboratrio, evoluindo de
embuste para aporte, estando hoje bem mais prximo de ser mesmo um fato
extraordinrio. Se no for um milagre eucarstico autntico, como h quem
queira, ser alguma coisa do tipo o dedo de Deus est aqui..., como tambm
h quem queira.
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Fernandes Tvora, mdico, poltico e escritor: "O meu ilustre amigo Loureno
Filho afirma que no pde conseguir a boa vontade do Padre Ccero no sentido
de incrementar a instruo primria em Juazeiro. Eis outro paradoxo aparente,
s compreensvel e explicvel pelos que conheceram intimamente os homens e
as coisas daquela terra. Padre Ccero sempre amou a instruo e desejou v-la
difundida em sua cidade, como podero dar testemunho diversos moos que, a
expensas dele, se educaram desde a escola primria at os cursos superiores. Se
no atendeu ao esforado e digno Diretor da Instruo Pblica do Cear, ter
sido por causa estranha sua vontade". 14
Neri Feitosa, sacerdote e escritor: "Padre Ccero fez as duas coisas: instruiu e
educou seu povo. Quanto instruo, o Padre Ccero fez de Juazeiro um
modelo". 15
Antnio Teixeira Junior, jornalista: "Padre Ccero preocupou-se com escolas a
ponto de no seu testamento legar todos os seus bens aos Salesianos, com a
condio de esses religiosos construrem um colgio". 16
ERA O PADRE CCERO UM PARANICO?
Nertan Macedo, jornalista e escritor: "As quatro pastorais do bispo Dom
Joaquim, sbias e incisivas, de condenao ao milagre da beata Maria de Arajo,
feriram profundamente o Padre do Juazeiro: na sua parania, crena e amorprprio." 17
Helvdio Martins Maia, sacerdote e escritor: "Aps examinarmos,
cuidadosamente, o pronunciamento de telogos e cientistas, consideramos o
Padre Ccero um paranico de fundo mstico e no um louco". 18
Fernandes Tvora, mdico, poltico e escritor: "Se analisarmos, com ateno, a
vida do Padre Ccero, verificaremos que ela foi sempre deficiente, no s em
relao mentalidade, como a outras funes fisiolgicas. Bastariam, para
justificar esta assero, os constantes xtases em que caa, durante horas, e a
sua absoluta castidade, ou melhor, frigidez, por todos propalada. E, realmente,
nunca houve quem lobrigasse, na longa vida do velho sacerdote, a sombra de
uma mulher... Foi nesse organismo mioprgico que o choque profundo do
desentendimento com as autoridades eclesisticas evidenciou a parania. Eu
no encontro motivos para discrepar do que formulei, h tantos anos e agora
reitero, com integral convico". (Depoimento de 1943). 19
Fernandes Tvora: "Padre Ccero era um homem de timas qualidades morais,
e estas nunca deixaram de manifestar-se no decurso de sua vida patolgica: no
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esqueceu velhas amizades; dava esmolas; educava, por sua conta, grande
nmero de moos pobres...". (Depoimento de 1961). 20
Jos Leite Maranho, psiquiatra e professor: "O Padre Ccero teve uma
personalidade normal, o seu psiquismo foi hgido e equilibrado com raro poder
de autocrtica e inteligncia. Sei que temeroso avanar esta afirmao, numa
espcie de percia pstuma, para juzo dos homens cultos, luz da cincia e da
sociologia. , todavia, um dever de quem o conheceu de perto e acompanhou a
sua projeo na histria, restabelecer a verdade numa viso histrica serena e
cientfica luz da psicologia e percepo sociolgica. Posso, pois, afirmar: o
Padre Ccero no paranico. Como definir a personalidade do Patriarca?
Dentro da classificao biopatolgica de Kretschmer, alis, da escola alem, o
Padre Ccero um ciclide, bitipo admiravelmente caracterizado na sua
organizao psicossomtica, e na confluncia dos fenmenos sociais, polticos e
religiosos que o envolveram. O Padre Ccero no paranico". 21
Antnio Teles, mdico e escritor: "Inimigo poltico, de longa data, do Patriarca,
a quem, muitas vezes, atacou ferozmente pela imprensa, at injustamente,
como ele prprio reconhece, e outrora partidrio fantico do Coronel Franco
Rabelo apeado do poder pelos bacamartes dos romeiros do Padre Ccero, o Sr.
Fernandes Tvora jamais lhe perdoou a deposio do seu antigo chefe e atiroulhe, por isso, a pecha de paranico, como um ajuste de contas pstumo. O
diagnstico de parania no se coaduna com o comportamento do Padre
Ccero, todo ele balizado pelos princpios evanglicos da humildade, da
abnegao e do amor ao prximo". 22
Abelardo F. Montenegro, advogado, professor e escritor: "Padre Ccero no era
um paranico, um megalomanaco ou um paciente digno de um consultrio
psicanaltico. Mas, sim, um psiclogo que conhecia perfeitamente o meio e o
homem do serto". 23
PADRE CCERO FOI HERESIARCA?
Euclides da Cunha, escritor: "Padre Ccero um heresiarca sinistro". 24
Otaclio Anselmo, militar e escritor: "Inegavelmente, o Padre Ccero comeou
bem...
S depois, numa progresso lenta, mas continuada, ele mudou de rumo, dando
um sentido nebuloso ao seu sacerdcio, para finalmente transform-lo em
heresia, movido pelo impulso de pendores ancestrais (recorde-se que o pai era
mitmano) e pela influncia decisiva do primo e inseparvel amigo Jos
Marrocos". 25
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antiga Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas junto com Arrojado Lisboa.
Incentiva a construo de usinas de beneficiamento de algodo e outras
leguminosas. Sonha com a produo de cobre na rea do Cox, tendo trazido
engenheiro de minas da Frana para a realizao de estudos de prospeco
geolgica do Cariri. Finalmente, entusiasmado com o que viu na Itlia, sonha
com a implantao de escolas profissionais salesianas, educando as populaes
sertanejas. Pode-se, contudo, constatar que a maior contribuio histrica do
Padre Ccero para as mudanas estruturais do Cear e do Nordeste foi a de
conseguir transformar o modo de produo sertaneja, mediante a organizao
da produo artesanal, tirando sua caracterstica de eventual e espordica,
dando-lhe um carter permanente e profissionalizando o arteso. 58
Mrio Souto Maior, escritor e etnlogo: "O problema habitacional mereceu, da
parte do Padre Ccero, uma ateno toda especial". 59
Joo Alves de Melo, economista: "Padre Ccero foi um dos primeiros cidados
nordestinos a clamar pela Regio. Clamar por melhores condies de vida.
Clamar por educao. Clamar por verdadeiras oportunidades de trabalho. 60
Vejam estas caractersticas anotadas por diversos estudiosos: vigoroso
propulsor do desenvolvimento; orientador e condutor investido de
responsabilidade social; solidariedade, integrao e ao comunitria;
promoo do homem; planejamento de fbricas; contribuio ao
desenvolvimento agrcola, econmico e cultural. Ningum duvida que essas
caractersticas sejam de uma instituio social, de desenvolvimento, como o
Banco do Nordeste. Mas seus autores estavam se referindo ao Padre Ccero. 61
NOTAS BIBLIOGRFICAS
1 - Antnio de Alencar Araripe, O Padre Ccero I, in O Povo, de 29.12.1970, apud Helvdio Martins Maia,
Pretensos Milagres em Juazeiro, Petrpolis, 1974, p. 52.
2 - Jder de Carvalho, A Gazeta de Notcias, de 22.7.1973, apud Helvdio Martins Maia, o.c. p.
3 - Edmar Morel, Padre Ccero, o Santo do Juazeiro, 2 ed., Rio de Janeiro, Editora Civilizao Brasileira,
1966, pp.126 e 127.
4 - Lus Sucupira, A Perptua Fisionomia do Padre Ccero, in Memorial da Celebrao do Centenrio de
Ordenao Sacerdotal do Padre Ccero Romo Batista, Fortaleza, Empresa Editora A Fortaleza, 1970, p.
12.
5 - Trecho extrado do Relatrio da visita feita ao Padre Ccero pelo Marechal Rondon, a servio do
Governo Federal em 1922.
6 - Phillip Von Luetzelberg, Estudo Botnico do Nordeste, Rio de Janeiro, Ministrio da Viao e Obras
Pblicas, 1923, p. 59.
7 - Amlia Xavier de Oliveira, O Padre Ccero que eu conheci, Rio de Janeiro, 1969, p. 14.
8 - Loureno Filho, Juazeiro do Padre Ccero, 3 ed., Rio de Janeiro, Edies Melhoramentos, s/d, p. 186.
9 - Jder de Carvalho, apud Helvdio Martins Maia, o.c., p. 52.
10 - Otaclio Anselmo, Padre Ccero Mito e Realidade, Rio de Janeiro, Editora Civilizao Brasileira, 1968,
p. 62.
11 - Edmar Morel, o.c., p. 43.
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PARTE IV
PADRE CCERO POR ELE MESMO
ENTREVISTA-BIOGRFICA
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- Perante Deus tenho a minha conscincia tranquila. Neste mundo, durante toda
a minha vida, quer como homem, quer como sacerdote, nunca, graas a Deus,
cometi um ato de desonestidade, seja sob que ponto de vista se possa ou se
queira encarar, nem nunca cometi nem alimentei embuste de espcie alguma.
Eu ofereo Deus como meu Juiz inteiro em testemunho de minha inocncia.
23 - Esse milagre de que tanto se fala, de fato lhe causou muitos dissabores. O
senhor at chegou a ser suspenso de ordem. Mas, no satisfeitos s com isto,
queriam os seus superiores hierrquicos impedir a visita dos romeiros sua
casa, e isto o senhor no aceitou. Por qu?
- No posso fechar as portas de minha casa aos que me vm visitar. No receblos seria no somente imperdovel descortesia, mas uma ingratido inominvel.
So amigos meus que vm de muito longe, com sacrifcios de toda sorte, render
seu preito de venerao a Nossa Senhora das Dores.
24 - O ato de suspenso de suas ordens teve alguma repercusso?
- Foi um horror terem-me assim roubado o meu sacerdcio e terem-me assim
coberto de to grande injria no meio da sociedade e no meio da Igreja, com
tais penas e opresses to grandes contra mim e contra os meus. Foi to grave
aos olhos de todos que em uma grande parte do Brasil onde sou muito
conhecido, todos ficaram admirados, e outros escandalizados e cheios de
indignao por cousa to inesperada, como se v dos mesmos jornais de
diferentes Estados.
25 - Desde quando vem seu conhecimento com a beata Maria de Arajo?
- Desde a idade de oito anos, quando ela fez sua primeira comunho.
26 - Qual a sua opinio sobre ela?
- A vida desta criatura uma maravilha de graa de Deus. Sei de conscincia,
como confessor, que ela era dotada de grande esprito de piedade e de temor
de Deus. Uma das almas mais enriquecidas de graas de Deus que j conheci.
27 - verdade, que depois das repeties do fenmeno das hstias que se
transformavam em sangue, a beata Maria de Arajo passou a ser alvo de
constantes romarias?
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- Apesar das bruscas mutaes da poltica cearense, sempre procurei conservarme em atitude discreta, sem apaixonamentos, evitando sempre as
incompatibilidades que pudessem determinar choques de efeitos desastrosos.
Para conseguir isto, muitas vezes tive de me expor ao conceito de homens sem
ideias bem definidas.
37 - Por quanto tempo o senhor esteve na poltica?
- Aps a queda do governo Accioly, por motivo de ordem moral, retra-me da
poltica, mantendo, entretanto, relaes de cordialidade com o governo Franco
Rabelo, sendo at eleito Terceiro-vice-presidente do Estado. E o meu amor
ordem foi to manifesto que a despeito da m vontade do partido Dominante
para comigo, no hesitei em atender ao pedido da populao desta terra e
autorizar que o meu nome fosse apresentado para voltar ao cargo de Prefeito
deste municpio, naquele mesmo governo que me era sobremaneira hostil.
38 - O que o senhor acha de eleies indiretas?
- Creio que o nosso processo eleitoral ingressaria pela porta da dignidade
nacional se o povo, na sua quase totalidade analfabeto, concorresse simples e
unicamente com o seu voto inconsciente para a formao das Cmaras
Municipais, ponto de partida de uma eleio indireta, cabendo a estas cmaras
as eleies dos prefeitos e das assembleias estaduais que, por sua vez,
escolheriam os presidentes de estado e os deputados federais, vindo estes, ao
mesmo tempo, elegerem os presidentes da repblica. Assim teramos a
cristalizao do processo eleitoral, adaptado ao nosso atrasado grau de cultura.
Deste modo, acredito que os nossos homens pblicos ficariam moralmente
obrigados a bem desempenhar os mandatos para os quais foram eleitos.
39 - E o que se deve fazer com governo ruim?
- Rezar para ele, meu filho, a fim de que venha a governar com justia.
40 - O senhor considera o servio militar importante?
- A caserna, hoje em dia, a grande escola do civismo, onde o cidado vai
aprender a mais imprescindvel das lies: o culto nossa Ptria querida.
41 - Falemos agora da Sedio de Juazeiro. Apesar de Dr. Floro Bartolomeu da
Costa haver declarado que foi ele o chefe e nico responsvel pelo famoso
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livros e os tratava em suas doenas. Que a Igreja pode fazer isto que tem muita
gente por ela. s pedir que o povo ajuda. Se assim a Igreja fizesse, no tinha
tanta pobreza no lugar. A Igreja somos ns! No s os padres no!
57 - Houve uma poca em que o senhor, indignado com a concesso de terras
brasileiras a estrangeiros, lanou veemente protesto, inclusive endereando
telegramas s autoridades. Com isto o senhor estaria demonstrando alguma
forma de nacionalismo?
- Precisamos de um nacionalismo inteligente, sadio, sem embargo de esprito de
cordialidade, de fraternidade mesmo, que deve existir entre as naes, unindo
os povos, mas respeitando-se a integridade territorial de cada pas, que os seus
filhos receberam dos antepassados e devem transmitir intata s geraes
vindouras. Mais moo, tudo envidaria no sentido de evitar o predomnio do
estrangeiro no comrcio e na indstria de nosso Pas, com supremacia sobre as
nossas terras, por entender descabida, criminosa, esta situao singular de
estrangeiros imigrados para a nossa cara Ptria.
58 - Quer dizer, que Padre Ccero contra qualquer interferncia estrangeira
no Brasil?
- Meu amiguinho, este velho que aqui lhe fala, visceralmente contrrio
concesso de qualquer espcie, notadamente as territoriais, a filhos de outras
naes, embora com estas mantenhamos as mais amistosas relaes
diplomticas. A explorao das nossas florestas, do nosso solo, das nossas minas
e, enfim, de todas as riquezas da nossa Ptria, pertence aos brasileiros e aos
seus governantes que trabalham e querem o seu engrandecimento.
59 - Qual a sua opinio sobre Dom Quintino, ex-bispo da Diocese de Crato?
- Dom Quintino foi sempre um padre virtuoso e inteligente. Conheci-o desde
que chegou ao Cariri, ainda muito moo, para ser Coadjutor do Vigrio de
Misso Velha. Foi, muitas vezes, meu hspede e sempre o estimei de corao.
Se, em relao a minha pessoa, cometeu alguma injustia, nem por isto deixou
de ser um justo, pois estava convencido que s assim procedia exemplarmente.
60 - Que valor tem o professor?
- Todo aquele que ensina portador de luz para os que no sabem.
61 - Quem pobre na Terra vai ser rico no Cu?
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homens esto atraindo para a Terra. Sejam fieis em rezar cada dia o rosrio da
Me de Deus, mesmo andando pelas estradas, mesmo doentes. No deixem um
s dia de rezar.
75 - E o que dizer da seca do Cear?
- S quem viu 77 entre ns, pode avaliar o que seja o flagelo das secas nos
sertes do Norte! uma aflio os horrores da seca; parece que fica deserto o
Cear. Cada cearense deve ser uma trombeta na imprensa e em toda parte,
gritando com toda fora, pedindo socorro para o grande naufrgio do Cear.
Pode ser que esses governos, que tm dever de salvar os Estados nas
calamidades pblicas, despertem este clamor e no queiram passar por
assassinos, deixando morrer caprichosamente milhares de vidas que podiam
salvar e no querem. Estamos certos que s a Providncia nos dar remdios.
76 - Qual o melhor caminho para a salvao da alma?
- O sacrifcio individual tem sido muitas vezes a salvao. Perdoem, e ainda que
as nossas paixes no queiram perdoar, perdoem, porque Deus, Nosso Pai, que
dono de ns, manda; e preciso para nos salvar que perdoemos aos que nos
ofendem. Para ganhar o Cu preciso fazer caridade e no ter inveja de
ningum.
77 - O Padre Alencar Peixoto no seu livro Juazeiro do Cariri chegou a duvidar
de sua to propalada castidade. Como o senhor encarou essa acusao?
- Era s o que faltavam dizer contra mim. At a pouco, atriburam-me todos os
defeitos, mas deixavam comigo a pureza sacerdotal. Agora, arrebatam-me
tambm esta qualidade, e quem o faz, aquele que comeu muitas vezes comigo
na mesma mesa e a quem dispensei todas as atenes que merecem os que nos
batem porta...
78 - Foi o senhor quem chamou Lampio a Juazeiro?
- Esse homem veio porque mandaram cham-lo utilizando o meu nome.
79 - Certa vez, Lampio quis morar com todo o seu bando em Juazeiro, e o
senhor o convenceu a retirar-se, sem lhe causar desgosto. O que o senhor lhe
disse?
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BIBLIOGRAFIA
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XAVIER DE OLIVEIRA, Amlia. O Padre Ccero que eu conheci. Petrpolis: 1969.
www.poeteiro.com
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BIOGRAFIA
Nascimento, filiao
Nasci na cidade de Juazeiro do Norte, Cear, Bairro Socorro, no dia 6 de
setembro de 1947. Sou filho de Jos Marques da Silva e de Maria Almeida
Marques. Casado com a Professora Tereza Neuma de Macedo e Silva Marques,
com quem tenho dois filhos: Michel, Professor Universitrio, e Daniel Walker
Junior, Engenheiro de Produo.
Escolaridade
Fiz as primeiras letras com a conhecida professora Toinha Gonalves em sua
escola particular localizada na Rua Santa Luzia, Bairro do Socorro, em Juazeiro
do Norte. Depois estudei no Grupo Rural Modelo (que era a Escola de Aplicao
da Escola Normal Rural) e no Grupo Escolar Paulo Sarasate, todos de Juazeiro do
Norte, e depois (1960) estudei no Colgio Agrcola de Lavras da Mangabeira,
Cear, em regime de internato, onde fiz o 1 Ano do Curso de Iniciao Agrcola.
Retornei a minha terra natal em 1961, e da at 1964, fiz o Curso Ginasial no
Colgio Salesiano So Joo Bosco. Neste educandrio passei os melhores
momentos da minha vida estudantil. Fiz boas amizades, algumas das quais
perdura at hoje, fui aluno aplicado, e foi a que iniciei minha vida literria,
participando da fundao do Grmio Literrio Dom Pedro II. Concludo o Curso
Ginasial, ingressei no Colgio Diocesano do Crato, onde cursei o 1 e 2
Cientficos (1965-1966). Como em Juazeiro no havia faculdade, em 1967
ingressei no Colgio Castelo Branco, de Fortaleza, Cear, onde fiz o 3 Cientfico
e o cursinho pr-vestibular. Reprovado no vestibular para Agronomia da
Universidade Federal do Cear voltei a minha terra natal e em 1969 fui estudar
em Recife, onde fiz vestibular para a Faculdade de Medicina, sendo classificado
para o Curso de Fisioterapia, o qual cursei apenas o primeiro semestre,
retornando em seguida para Juazeiro do Norte. Em 1971 fiz vestibular para o
Curso de Histria Natural, da Faculdade de Filosofia do Crato, Cear, logrando o
primeiro lugar, concluindo a Licenciatura em 1974. Sou ps-graduado com
Especializao em Cincias (Universidade Federal do Cear); Sexologia
(Universidade Cndido Mendes, Rio de Janeiro) e Histria do Brasil
(Universidade Cndido Mendes).
do Norte como sendo uma emissora de rdio, e que fundei, em abril de 1964,
com os amigos Vital Tavares, Wellington Amorim, Jos Marques Filho, Jussier
Cunha e Renato Casimiro. Neste perodo concomitantemente com a vida
escolar, prestei servio militar (1966) como atirador do Tiro de Guerra 210,
tendo como dirigente o sargento Veras, e passei a desenvolver intensa
atividade radiofnica e jornalstica. De incio fui colaborador do Jornal Juvenil,
editado em So Paulo, e foi nesse jornal, em 1964, com 17 anos de idade, que
publiquei minha primeira matria jornalstica. Tambm nesse mesmo ano
consegui uma faanha da qual muito me orgulho, que foi a publicao de uma
nota enviada por mim para a famosa revista O Cruzeiro, a qual foi publicada na
seo O impossvel acontece. Narrava o fato real de homem que tentou o
suicdio pulando da torre da Capela do Socorro, caindo em cima de outro
homem que passava na frente da capela, matando-o. Os dois morreram na
hora.
Em seguida, a partir de 17 de agosto de 1964, passei a trabalhar
profissionalmente no SACI-Servio de Alto-falantes Cicerpolis (como locutor e
redator de notcias) e pouco tempo depois, convidado por Coelho Alves
ingressei na Rdio Iracema (nas mesmas funes), onde fiquei de 1965 a 1971.
Ao mesmo tempo passei a escrever para jornais impressos, ocupando as
funes de Redator Correspondente do jornal O Povo, de Fortaleza. Durante
esse perodo tambm fui membro da diretoria do CEJ-Centro Estudantal
Juazeirense, sendo responsvel pela redao e apresentao do seu jornal
sonoro O CEJ Informa. Fui redator-chefe do jornal Tribuna de Juazeiro, fundado
por Aldemir Sobreira, alm de colaborar como redator nos jornais Folha de
Juazeiro, A Imprensa, Folha de Juazeiro, Jornal do Cariri, Tribuna do Cear,
Tribuna do Cariri, Correios Estudantil, entre outros. Fui fundador do Juaonline, o
primeiro jornal eletrnico de Juazeiro do Norte, depois transformado em Portal
de Juazeiro. Em muitas instituies onde ocupei funo editei seus rgos
informativos, como os do IPESC, CEJ, Associao Comercial, CELCA e CREFOP. O
auge da minha carreira de radialista foi ter conseguido realizar o sonho de ser
proprietrio de uma emissora de rdio. Em 1984 eu, Coelho Alves, seu filho
Ccero Antnio, Francisco Silva Lima e Adauto Bezerra Junior colocamos no ar a
Rdio Transcariri FM, a primeira do gnero em Juazeiro do Norte e tambm de
todo o interior cearense.
Magistrio
Iniciei minha carreira de professor em 1971 como substituto de Dr. Geraldo
Menezes Barbosa, ensinando Cincias no Curso de Madureza do Colgio
Estadual de Juazeiro do Norte. Foi nesta escola que introduzi no ensino
juazeirense uma coisa at ento indita na cidade: as provas com questes de
mltipla escolha. Trouxe a novidade de Recife e Fortaleza, onde estudei. No ano
Labuta precoce
Comecei a trabalhar muito cedo. Com 14 anos fui ajudante de seu Herclio, um
mecnico especializado em hidrulica e eletricidade que tinha sua oficina perto
de minha residncia, na Rua Conceio. Minha funo era fazer rosca em canos
de metal para uso nas instalaes hidrulicas residenciais. Na minha
adolescncia, uma das coisas que muito me orgulha foi ter tido a ideia e fundar,
no dia 7 de setembro de 1963, a Cooperativa de Crdito dos Primos Marques,
uma espcie de banco para empresar dinheiro aos associados, ou sejam, os
primos da Famlia Marques. Foi um grande sucesso. A Cooperativa depois se
expandiu e passou a oferecer emprstimos a pessoas do Bairro do Socorro, no
pertencentes Famlia Marques. Em 2 de fevereiro de 1965 fundei meu
primeiro jornal, O Acionista, que era o rgo oficial da Cooperativa, e em 1966
lancei meu primeiro livro, intitulado Histria da CCPM, o qual contava como se
deu a fundao da Cooperativa de Crdito dos Primos Marques.
Afora as atividades profissionais de magistrio exerci outros empregos. Relaes
Pblicas (1971-1974) da Celca-Companhia de Eletricidade do Cariri (depois
Coelce); gerente da Crdimus S.A. Crdito Imobilirio, posteriormente
transformada em Poupana Bradesco, 1974-1982. Em 1989 fui nomeado pelo
reitor Teodoro Soares, da URCA, para o cargo de Coordenador de Pesquisa e
Editorao do IPESC-Instituto Jos Marrocos de Pesquisas e Estudos ScioCulturais, entidade que ajudei a fundar, juntamente com os amigos Renato
Casimiro e Jos Boaventura de Sousa. Nessa instituio intensifiquei minha
carreira de escritor e pesquisador a qual resultou na publicao de vrios livros.
Ainda cheguei a trabalhar no servio pblico municipal, ocupando as funes de
Diretor de Pesquisa e Documentao da Secretaria de Cultura de Juazeiro, na
administrao do prefeito Mauro Sampaio (2000, onde fiquei menos de um ano)
e Assessor Tcnico da Secretaria de Turismo e Romaria, na administrao do
prefeito Manuel Santana (2009). Trabalhar no servio pblico municipal foi a
pior experincia de minha vida. De todos os meus empregos, o que me deu
mais prazer foi o de locutor e redator da Rdio Iracema e do Saci, pois nesses
locais nunca tive nenhum momento de dissabor. S alegria, mesmo! Ganhava
pouco, mas era feliz! O magistrio me proporcionou grandes momentos de
empolgao e crescimento cultural, por muito tempo, mas depois me
decepcionei com os rumos da Educao brasileira e resolvi pedir aposentadoria
proporcional. Guardo, porm, ainda, boas lembranas de muitos colegas e
alunos. Como professor da URCA nutro eternas recordaes do tempo em que
ministrei aulas de Biologia e proferi palestras em Seminrios de Sexologia para
os alunos do Curso de Licenciatura Plena do Ensino Fundamental, realizado nas
cidades de Juazeiro do Norte, Barbalha, Caririau, Misso Velha, Vrzea Alegre,
Jati, Brejo Santo, Jardim, Saboeiro, Antonina do Norte, Assar e Tarrafas. E
tambm das vezes em que participei como membro das bancas para seleo de
professores da URCA. Me trabalho como professor do Moreira de Sousa
tambm me proporcionou uma breve, nica, gratificante e inesquecvel
passagem pela arte teatral, quando escrevi e dirigi a pea Escolinha do Professor
Comenius, com um elenco de 40 integrantes, todos alunos do Moreira de Sousa.