Schelling - Introdução Ao Projeto de Um Sistema Da Filosofia Da Natureza Ou Sobre o Conceito Da Física Especulativa e A Organização Interna de Um Sistema Desta Ciência 1799
Schelling - Introdução Ao Projeto de Um Sistema Da Filosofia Da Natureza Ou Sobre o Conceito Da Física Especulativa e A Organização Interna de Um Sistema Desta Ciência 1799
Schelling - Introdução Ao Projeto de Um Sistema Da Filosofia Da Natureza Ou Sobre o Conceito Da Física Especulativa e A Organização Interna de Um Sistema Desta Ciência 1799
[I, 3, 271]
1
O que denominamos Filosofia da Natureza uma cincia necessria no
sistema do saber
A inteligncia produtiva de duas formas: ou cega e inconsciente
ou livre e consciente; produtiva inconscientemente na intuio do mundo,
consciente na criao de um mundo ideal.
A filosofia supera esta oposio porque ela admite a atividade
inconsciente como originariamente idntica atividade consciente e, por
assim dizer, brotadas da mesma fonte; esta identidade demonstrada por ela
de modo imediato em uma atividade decisiva que consciente e inconsciente
ao mesmo tempo e que se externa nas produes do gnio e, de modo
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proposio (com seu contedo, seja ele qual for), ser elevada quela
dignidade, j que a diferena entre proposies a priori e proposies a
posteriori no , como muitos podem imaginar, uma diferena
originariamente aderida s prprias proposies, mas uma diferena que,
visando simplesmente ao nosso saber e ao gnero de nosso saber, produzido
por estas proposies, de tal forma que toda proposio com validade
apenas histrica para mim, portanto, uma proposio da experincia, tornase uma proposio a priori to logo eu compreenda sua necessidade interna,
seja de modo imediato, seja de modo mediato. Ento tem de ser de um
modo geral possvel reconhecer cada fenmeno natural originrio como
simplesmente necessrio; pois, se no h de forma alguma acaso na
natureza, ento nenhum fenmeno originrio seu pode ser tambm casual,
isto antes de tudo pelo seguinte: j que ela um sistema, este tem de
fornecer, para tudo que nela acontece ou se realiza, [I, 3, 279] uma conexo
necessria em algum principio que a mantm unida inteiramente. A
compreenso da necessidade interna de todos os fenmenos da natureza se
torna certamente melhor to logo se reflita que no h nenhum sistema
verdadeiro que no seja ao mesmo tempo uma totalidade orgnica. Pois, se
em cada sistema orgnico tudo se apoia e se sustenta de modo recproco,
ento esta organizao teria, enquanto totalidade, de preexistir a suas partes,
o todo no poderia brotar das partes, mas as partes teriam de brotar do
todo. Portanto, ns no conhecemos a natureza, mas a natureza existe de
modo a priori, ou seja, todo particular nela est previamente determinado
pelo todo ou pela ideia de uma natureza em geral. Porm, se a natureza
existe de modo a priori, ento tem tambm de ser possvel reconhec-la como
algo que existe de modo a priori e isto verdadeiramente o sentido de nossa
afirmao.
Tal cincia, como todas as outras, no comporta o hipottico nem o
simples provvel, mas visa ao evidente e ao certo. Queremos, na verdade,
estar certos agora de que cada fenmeno da natureza se conecta com as
ltimas condies da natureza, mesmo que tambm ainda atravs de
inmeros elos intermedirios; porm, estes prprios elos intermedirios
podem nos ser desconhecidos e residirem ocultos nas profundezas da
natureza. Descobrir estes elos intermedirios o trabalho da pesquisa
experimental. A Fsica especulativa tem como objetivo central fazer apontar
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a falta destes elos; 1 porm, dado que cada nova descoberta nos lana para
trs em uma nova ignorncia, ou seja, enquanto um n desatado um novo
j se pe, ento compreensvel que a descoberta integral de todos os elos
intermedirios na conexo da natureza e, portanto, tambm nossa prpria
cincia, uma tarefa infinita. Nada, porm, tem mais retido o progresso ao
infinito desta cincia que a arbitrariedade das imaginaes, com as quais [I,
3, 280] h muito a falta em julgamentos fundamentados deveria ficar
oculta. Este aspecto fragmentrio de nosso saber s se torna, ento,
evidente, caso se separe o simplesmente hipottico do resultado puro da
cincia e se rena novamente aqueles fragmentos da totalidade da natureza
em um sistema. Por isso, compreensvel que a Fsica especulativa (a alma
do experimento verdadeiro) foi desde sempre a me de todas grandes
descobertas na natureza.
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Sobre um sistema da Fsica especulativa em geral
At agora foi deduzida e desenvolvida a ideia de uma Fsica
especulativa; outro empreendimento mostrar como esta ideia teria de ser
realizada e efetivamente implementada.
O autor se reportaria diretamente ao Projeto de um sistema da
filosofia da natureza, caso ele no tivesse motivo para prever que, mesmo
muitos daqueles que podem ter este projeto digno de sua ateno, chegaro
antecipadamente com certas ideias a algo que ele justamente no pressups
e nem deseja tomar como pressuposto.
O que pode dificultar a compreenso deste projeto (fora as
deficincias da exposio) fundamentalmente o seguinte:
1) Que muitas pessoas esperam encontrar (talvez guiadas pela
expresso filosofia da natureza) dedues transcendentais de fenmenos
naturais semelhantes s que existam alhures em diversos fragmentos e, alis,
vero a filosofia da natureza como uma parte da filosofia transcendental,
1 Tornar-se-, por exemplo, bastante claro durante o transcurso inteiro de nossa investigao
que, para tornar evidente a organizao dinmica do universo em todas suas partes, ainda
nos falta aquele fenmeno central de que fala Bacon e que seguramente reside na natureza,
mas que ainda no foi obtido dela via experimento (Observao do original. Cf. p. 320,
Observao).
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6 Volta pergunta, por ocasio em que trata da afeco dos sentidos pelo galvanismo: No
poderia o fluido eltrico ser a causa imediata de cada um dos gostos? Ele no poderia ser a
causa da sensao de todos os outros sentidos? (Observao do original).
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A.
Estabelecemos aqui logo de incio como principio que, visto que o
produto orgnico o produto na segunda potncia, a construo orgnica do
produto tem de ser no mnimo smbolo da construo originria de todo
produto.
a) Para que a produtividade seja fixada em um ponto apenas em
geral, tm de ser dados limites. Dado que os limites so a condio do primeiro
fenmeno, pode, assim, a causa atravs da qual eles so produzidos no mais
aparecer e ela, ento, retorna ao interior da natureza ou do produto todas as
vezes.
Esta limitao da produtividade na natureza orgnica dada por
aquilo que ns denominamos sensibilidade e que tem de ser pensada como
primeira condio da construo do produto orgnico (Cf. Projeto, p. 169
[acima p. 155]).
b) O efeito imediato da produtividade limitada uma alternncia
entre contrao e expanso na matria j dada e, como ns agora sabemos,
matria construda, por assim dizer, pela segunda vez.
[I, 3, 307] c) Onde esta alternncia cessa, a produtividade transita
para o produto e onde ela novamente produzida o produto transita para a
produtividade. Pois dado que o produto deve permanecer produtivo ao
infinito, ento aqueles trs nveis da produtividade tm de se diferenar no
produto; a passagem absoluta da produtividade para o produto a runa do
prprio produto.
d) Assim como estes trs nveis so diferenveis no individuum,
assim eles tm de ser diferenveis na natureza orgnica inteira, pois a
progresso das organizaes no outra coisa que a prpria produtividade.
(A produtividade se esgota at o ltimo grau no produto A e pode comear
ento com o produto B apenas onde este cessou com A, ou seja, com o grau
d e, assim, para baixo at o desaparecimento de toda produtividade. Caso se
conhecesse o grau absoluto da produtividade, como, por exemplo, da Terra
(o qual que determinado pela sua relao com o sol), poder-se-ia ento
determinar o limite da organizao existente nela de modo mais exato do
que atravs da experincia incompleta, - a qual tem de ser, j por isso,
incompleta, porque as catstrofes da natureza tragaram, sem dvida, os elos
mais externos da cadeia. A genuna histria da natureza que tem no os
produtos, mas a si mesma como objeto, persegue uma nica produtividade,
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B. 10
Universalizadas, estas sentenas levam aos seguintes princpios de
uma teoria geral da natureza.
[I, 3, 308] a) A produtividade deve ser limitada originariamente.
Posto que para alm da produtividade limitada h [apenas] identidade pura,
ento a limitao no pode ser dada atravs de uma diferena j presente,
portanto, atravs de uma oposio que surja na prpria produtividade qual
ns retornamos aqui enquanto primeiro postulado 11 .
b) Esta diferena pensada de modo puro a primeira condio de
toda atividade [na natureza]; a produtividade atrada e repelida entre
opostos (os limites originrios) 12 ; nesta alternncia entre expanso e
contrao surge necessariamente algo comum, porm, existindo apenas na
alternncia. Se algo comum deve existir fora da alternncia, ento esta
prpria alternncia tem de ser fixada. O elemento ativo na alternncia a
produtividade dividida no interior de si mesma.
c) Pergunta-se:
10 Daqui seguem novamente, como no Projeto, adendos na forma de notas (como alguns j
foram acolhidos at agora no texto com [...]). Eles foram tirados de um manuscrito do
autor. D. H.
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O primeiro postulado da cincia da natureza uma oposio na identidade pura da
natureza. Esta oposio tem de ser pensada de modo totalmente puro, ou seja, no com
um outro substrato do que aquele da atividade; pois ela certamente a condio de todo
substrato. Quem no pode pensar nenhuma atividade, nenhuma oposio sem substrato,
no pode, de forma alguma, filosofar. Pois todo filosofar objetiva apenas a deduo de um
substrato.
12 Os fenmenos eltricos so o esquema da segunda produtividade e produto da natureza
em suspenso. Este estado de suspenso, de alternncia entre fora de atrao e fora de
repulso o estado autntico de formao.
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26 De modo que fica precisamente comprovado o que foi dito acima, a saber, que a queda na
direo do ponto mdio um movimento composto.
27 A superao sem distino dos movimentos opostos.
28 Ou o objeto distinguido no primeiro nvel do devir ou da transio da diferena para a
indiferena. Os fenmenos do magnetismo servem justamente por assim dizer para nos
motivar a assumirmos o ponto de vista que ultrapassa o plano do simples produto, o que
necessrio para se construir o mesmo.
29 Segue-se a ao oposta uma atrao negativa, ou seja, repulso. Repulso e atrao se
comportam como grandezas positivas e negativas. Repulso apenas atrao negativa,
atrao apenas repulso negativa: portanto, assim que o mximo da atrao alcanado,
ela transita para o seu oposto, para a repulso.
30 Caso se caracterize os fatores por eletricidade positiva e eletricidade negativa, tem-se, no
segundo nvel, uma preponderncia relativa da eletricidade positiva sobre a negativa.
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negativa e se confirma, portanto, o que eu j disse nas Idias Para Uma Filosofia da
Natureza (V. I, p. 130), que o oxignio um princpio do tipo negativo e, portanto, por
assim dizer, representante da fora de atrao, enquanto o floguisto, o que o mesmo,
eletricidade positiva, representante do positivo ou da fora repulsiva. Faz tempo que se
discute que os fenmenos magnticos, eltricos, qumicos e finalmente os prprios
fenmenos orgnicos se entrelaam em uma grande conexo. Esta conexo tem de ser
feita. Seguramente que a conexo da eletricidade com o processo de combusto permite ser
ainda apresentada atravs de muitos experimentos. Um dos mais recentes que me
conhecido quero expor aqui. Ele se encontra no jornal de qumica de Schere. Se uma
garrafa de Leyde for enchida com limalhas de ferro e reiteradamente carregada e
descarregada e aps passado algum tempo se retire aquele ferro e o ponha sobre um
isolador, por exemplo, sobre um papel, ento este comea a se aquecer, torna-se
incandescente e se transforma em xido de ferro. Este ensaio merece ser bastante repetido
e investigado de modo mais exato Ele poderia levar facilmente a novas descobertas.
Aquela grande conexo que uma Fsica cientifica tem de estabelecer se estende para
toda a natureza. necessrio, portanto, que, uma vez estabelecida, jogue uma nova luz
sobre a histria da natureza inteira. Assim claro, por exemplo, que toda geologia tem de
ter como base o magnetismo da Terra. Porm, a eletricidade da Terra tem de ser
determinada, por sua vez, pelo magnetismo. A conexo entre norte e sul com o
magnetismo se apresenta at mesmo atravs de movimentos irregulares da agulha
magntica. Porm, com a eletricidade geral (a qual, da mesma forma que a gravidade e o
magnetismo, tem seu ponto de indiferena) se conectam, por sua vez, o processo geral de
combusto e os fenmenos vulcnicos.
Portanto, certo que segue uma cadeia que se inicia com o magnetismo geral e
desce at os fenmenos vulcnicos. Entretanto, tudo isto so tentativas individuais.
A fim de pr aquela conexo em completa evidncia, nos falta o fenmeno ou o
experimento central, do qual Bacon j fez previso eu tenho em mente o experimento
no qual todas aquelas funes da matria, do magnetismo, da eletricidade, etc., confluem
de tal modo para um nico fenmeno que o individual pode ser distinguido, que um
fenmeno no se perde imediatamente no outro, mas que cada um pode ser apresentado
de modo separado; um experimento que, caso seja descoberto, tem de ser para a natureza
inteira aquilo que o galvanismo para a natureza orgnica. Cf. a discusso sobre a mais
nova descoberta de Faredey (1832), p. 15, Obras Completas, 1 Seo, ltimo volume.
D.H.
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42 O processo qumico no tem tambm fatores simples e destitudos de substrato; ele tem
produtos como fatores.
43 A mesma deduo j foi fornecida no Projeto, p. 177 [acima, p. 163]. O que seria a
ao dinmica que, de acordo com o Projeto, tambm causa da irritabilidade , agora,
provavelmente bastante claro. Trata-se da ao geral que est condicionada em toda parte
pela superao da indiferena e que tende, por fim, para a intussuscepo (indiferena dos
produtos) onde ela no impedida como acontece constantemente a no processo da
irritao (Observao do original).
44 O abismo de foras que aqui notamos se abre j com uma nica pergunta: qual
fundamento se poderia ter na primeira construo de nossa Terra que faz com que no se
torne nela possvel nenhuma gerao de novos indivduos do que sob a condio de
potncias opostas? Cf. um comentrio de Kant sobre esta questo em sua Antropologia
(Observao do original).
45 Ambos os fatores jamais poderiam ser um nico, mas tm de ser separados em produtos
diferentes Com isso, a diferena seria permanente.
46 A indiferena da primeira e mesmo da segunda potncia alcanada no produto (por
exemplo, ao ocorrer uma gnese da massa atravs da prpria irritao [ou seja, a
indiferena da primeira ordem] e mesmo a formao dos produtos qumicos [ou seja, a
indiferena da segunda ordem], porm, no possvel alcanar a indiferena da terceira
potncia, porque ela prpria um conceito contraditrio (Observao do original).
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