CHRISTIE (ARTIGO) - Limites A Dor. O Papel Da Política Criminal
CHRISTIE (ARTIGO) - Limites A Dor. O Papel Da Política Criminal
CHRISTIE (ARTIGO) - Limites A Dor. O Papel Da Política Criminal
O Papel da Punio
na Poltica Criminal
Nils Christie
Vol. 1
Coleo
Percursos Criminolgicos
Traduo:
Gustavo Noronha de vila
Bruno Silveira Rigon
Isabela Alves
Nota do Autor
As principais ideias deste pequeno livro so simples.
O raciocnio o seguinte: impor punies dentro das
instituies jurdicas significa infligir dor, inflig-la de maneira
intencional. Esta uma atividade que muitas vezes est em
dissonncia com valores estimados como a bondade e o perdo.
Para conciliar estas incompatibilidades, as vezes so feitas tentativas para esconder a caracterstica fundante da punio. Nos
casos em que no possvel esconder, toda sorte de razes para
a inflico dolosa de dor so dadas. Um grande esforo neste
sentido ser descrever, expor e avaliar as principais caractersticas
dessas tentativas e as relacionar com os contextos sociais.
Nenhuma das tentativas de lidar com a dor intencional
parecem, no entanto, ser minimamente satisfatrias.Tentativas
de mudar o infrator criam problemas de justia. Tentativas
de infligir apenas uma medida justa de dor, criam sistemas
rgidos e insensveis s necessidades individuais. como se as
sociedades, em sua luta com as teorias e prticas penais, oscilassem entre tentativas de solucionar dilemas insolucionveis.
Em minha viso, chegada hora de dar fim a esses
movimentos oscilatrios dada sua futilidade. preciso tambm tomar uma posio moral em favor da severa restrio
ao uso da dor fabricada pelo homem, enquanto forma
de controle social. Com base na experincia de sistemas
sociais nos quais a utilizao de dor mnima, possvel
extrair algumas condies gerais para um baixo nvel de
Sumrio
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1. Em Dor
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2. O Escudo de Palavras
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4. Dissuaso
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4.1. As ideologias gmeas
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4.2 Cientificao do bvio
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4.3 Nvel de distribuio de dor
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4.4. O controle da criminalidade como o objetivo
para o controle do crime?
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4.5. Uma abertura ao neo-classicismo
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5. Neo-classicismo
5.1. Nascimento e re-nascimento
5.2 Com Beccaria para os EUA
5.3. Beccaria na Escandinvia
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6. O Currculo Oculto
6.1. O Crime no importante o bastante
6.2. Culpando indivduos, e no sistemas
6.3. A dor no doce o suficiente
6.4. Neutralizao da Culpa
6.5. O estado forte
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7. O Computador
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8. Neo-positivismo
8.1. A sociedade impotente
8.2 Defensores a favor do controle
8.3. Nossos camaradas
8.4. Meu camarada, o funcionrio
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10.3.Vulnerabilidade
10.4. Dependncia mtua
10.5. Sistema de crena
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Bibliografia
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Apresentao:
em busca da reduo de dores
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castigo, como manejado pelo sistema penal, significa infligir dor conscientemente. Podemos perceber a relevncia
que Nils Christie confere dor em nosso modelo de
controle do delito em outra passagem do texto: Pior do
que a importncia dada ao crime e da culpa individual a
legitimidade dada dor. Dor, destinada a ser dor, elevada
ao posto de resposta legtima ao crime.
A preocupao central do autor a dor que o sistema
penal inflige atravs da pena. Segundo ele nosso modelo
punitivo inflige muita dor. A sociedade precisa de muito
menos distribuio de dor. Precisamos reduzir esses nveis
de dor, por isso a necessidade de limites, limites dor.
As justificaes da pena so consideradas, pelo autor,
como bastante questionveis, e nenhuma parece fundamentar a dor intencional de forma suficientemente satisfatria. As intenes de ressocializar o infrator da lei criam
problemas de justia, especialmente em nosso pas, onde
os ndices de reincidncia so extremamente significativos.
Geralmente, as teorias que tentam justificar a sano criminal costumam criar sistemas rgidos, insensveis s necessidades individuais: como se a sociedade, em sua luta
com as teorias e prticas penais, vacile entre possibilidades
de resolver alguns dilemas insolveis21.
Nils Christie considera que chegou o momento de
colocar fim s vacilaes, atravs da descrio da futilidade
da pena e tomar uma posio moral que defenda o estabelecimento de restries severas ao uso da dor provocada
pelo homem como um meio de controle social. A partir
disso, tenta apontar alguns caminhos que possam propiciar
condies gerais, para que se inflija um baixo grau de dor22.
Argumenta no conseguir imaginar alguma situao a
justificar o aumento da dor imposta pelo homem.Tambm,
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