Von Franz Imaginacao Ativa PDF
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Weaver
o 11,"lnlno
AI",rtu- p~rda e renovao, Eva Pattis
A '"mllll/ldade consciente: Entrevistas com Marion
WuutllltrJn, Mnrlon Woodman
A IlIlJIIJ.rmoderna em busca do aima: Guia junUIIIlIIlO do mundo vlslvel e do mundo
IlIv/JIvol,Juno Slnger
A "roltltuta sagrada, N. Q.Corbett
A, ,I.usas e a mulher, J.S. Bolen
A virgem grvida, Marlon Woodman
Crlmlllho para a iniciao feminino,
5.0. Porora
o masculino
A busca flica, J.Wyly
A tradio secreta dajardinagem,
G.Jackson
Castrao e fria masculina, E.Monik
Curando a alma mascuHna, G. Jackson
e religio
mitolgicas
PRTCOTERAPIA
Opuer
O livra do puer, J. Hillman
. Puer aeternus, M.-L. von Franz
Relacionamentos
lunar, M. Stein
Sonhos
A IMAGINAO ATIVA
NA PSICOLOGIA DE C. G. JUNG
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Embora as duas primeiras dificuldades acima mencionadas possam ser superadas atravs da pacincia ou
da coragem de sermos objetivos, de acordo com minha
experincia a melhor maneira de lidar com a voz da dvida simpl~smente deix-Ia falar e depois responder o
seguinte: "E possvel que isso no seja real, mas no momento vou prosseguir". Geralmente, ento, alguma coisa
acontece que convence a pessoa da realidade estranhamente viva e independente do parceiro da conversa. A
pessoa se d conta do seguinte: "Nunca poderia ter conscientemente inventado isso". A melhor maneira de dizer
se uma imaginao ativa genuna ou no atravs dos
seus efeitos, pois so enormes e imediatamente perceptveis, num sentido positivo ou negativo. por isso que a
imaginao ativa um instrumento extremamente perigoso que no deve, de modo geral, ser utilizado sem a
superviso de uma pessoa experiente. Ela pode, como
enfatizou Jung, trazer psicoses latentes ao ponto de uma
exploso.6 Nesse ponto, os pacientes podem entrar em
um intervalo psictico bem no meio da imaginao.
Outro perigo o surgimento de sintomas somticos.
Lembro-me do seguinte exemplo. O caso era o de um artista que havia comeado a fazer anlise por causa de uma
tendncia para o alcoolismo e uma sensao geral de desorientao. Uma figura particular de sombra aparecia
repetidamente em seus sonhos; vamos cham-Ia de Albert.
Essa figura era um homem esquizide, altamente inteligente, completamente cnico e amoral, que na verdade
h muito havia se suicidado. Como no conseguamos
chegar a um acordo com essa "sombra", aconselhei o artista a tentar ter uma conversa franca com esse Albert
interior. Ele se dedicou tarefa com grande coragem e
abertura. Mas Albert com muita esperteza desvirtuava
negativamente tudo que o artista dizia: ele s estava fazendo anlise porque tinha medo das conseqncias do
alcoolismo; no prestava para nada, era um covarde que
como ltimo recurso estava tentando se salvar atravs
da psicologia, e assim por diante. Seus argumentos eram
to engenhosos e incisivos que, em certo ponto da conversa, o artista se sentiu derrotado. Ele tristemente admitiu
que Albert estava certo, e interrompeu a conversa. Pouco
tempo depois, teve ataque cardaco psicognico. O mdico que o atendeu na emergncia chegou concluso de
que ele no tinha nenhum problema orgnico, mas que
ainda assim o estado do artista era bastante delicado.
significativo que o corao, a sede simblica dos
sentimentos, tenha se revoltado. Fiz ver ao artista que,
embora ele tivesse sido intelectualmente derrotado por
Albert, havia coisas como argumentos do corao que ele,
o artista, no havia usado. Ele ento retomou sua conversa interior. Albert imediatamente comeou a zombar
dele: "Ento agora sua mentora psicolgica lhe deu bons
conselhos; mas a idia no foi sua, foi dela!" E assim por
diante. Dessa vez, entretanto, o artista no se deixou
derrubar, no arredou p e acabou levando a melhor. Na
noite seguinte, sonhou que Albert havia morrido, e a partir de ento essa figura interior, com a qual ele vinha
sonhando at esse ponto pelo menos duas vezes por semana, s voltou a aparecer uma nica vez em seus sonhos nos anos seguintes, e nessa ocasio ele j no era
bem o mesmo Albert e tinha sofrido uma mudana positiva. Ao mesmo tempo, uma nova fase, na minha opinio
mais significativa, iniciou-se na vida do artista.
Com isso, chegamos ao que talvez seja o aspecto mais
importante da imaginao ativa: ela uma forma de influenciar o inconsciente. verdade que a interpretao
correta de um sonho, se no for apenas intelectual, provoca uma mudana na personalidade consciente, que por
sua vez afeta o inconsciente, mas o efeito da imaginao
ativa infinitamente mais poderoso. Alm disso, o sonho
e a habilidade de compreend-Io, por assim dizer, obra
e graa do Esprito Santo. A imaginao ativa, ao contrrio, pe uma chave em nossas mos; pelo menos dentro
de uma estrutura modesta, ela permite que nos organizemos. Por esse motivo, representa um meio inestimvel
que o analisando tem nas mos para ir se tornando menos infantilmente dependente do analista. Alm disso,
uma experincia libertador a para todos aqueles que o
destino - um casamento, uma mudana de profisso, um
retorno ao pas de origem, a morte do analista - separa
fisicamente do analista.
Entretanto, muito mais importante do que isso o
fato de a imaginao tornar possvel a completa autonomia do analisando. Com efeito, Jung referiu-se aceita-
parecido com um sapo, com mais ou menos setenta e cinco centmetros de altura. Ela pensou: "Ah, apenas meu
afeto personalizado", mas continuou objetivamente olhando para ver o que ia acontecer a seguir. O gnomo caminhou com seus ps de sapo na direo da casa e ela pensou, horrorizada: ", cus, com certeza ele vai matar a
velha, ou talvez v explodir de repente como um punhado de dinamite!" Um conflito moral teve incio dentro dela:
"Devo deix-Ioentrar na casa? Mas e se eu disser que ele
no pode entrar e ele ficar zangado comigo?"O gnomo j
estava tocando a campainha, e ela decidiu deix-Io entrar na casa e perguntar o que ele queria. Ele imediatamente indicou atravs de gestos que queria subir ao andar superior onde estava a velha. Uma vez mais surgiu o
conflito por causa do problema do assassinato. A garota
decidiu naquele momento crtico ir em frente e tocar a
campainha do apartamento da velha, mas decidiu tambm ficar junto do gnomo para impedi-Io de praticar alguma maldade. A velha veio abrir a porta. Nesse ponto, a
garota teve o pensamento de como seria infinitamente
engraado e surpreendentemente acompanha a reao da
velha, ao v-Ia de p ao lado do ano preto com ps de
sapo, e ela no pde deixar de rir. De fato, de to assombrada, a velha fez uma expresso grotesca, mas a garota disse: "Este cavalheiro gostaria de falar com a senhora". Sem
graa, a velha convidou os dois para se sentarem na sua
melhor sala de estar, na qual, por sinal, a garota nunca
tinha estado. (Quando, muito mais tarde, ela teve a oportunidade de entrar l, descobriu, para seu assombro, que
ela imaginara, na imaginao ativa, a sala exatamente como era na realidade.) Quando os dois se sentaram
no sof de pelcia em frente velha, o ano comeou a
contar piadas erticas, com dupla interpretao. A velha
ficou to feliz que mandou a garota embora, para poder
ficar a ss com o simptico "cavalheiro".
lou de uma maneira relativamente passiva e cinematogrfica. Mas foi genuna, porque em certos momentos a
garota participou plenamente e tomou decises ticas: se
devia, por um lado, deixar o gnomo entrar apesar de ele
ser perigoso, ou, pelo outro, impedi-Io de entrar para que
no tentasse matar a velha. claro que ela poderia ter
agido de maneira completamente diferente. Por exemplo, poderia ter dito ao Kabirus que no o deixaria entrar
se ele no confessasse primeiro suas intenes.
Quando escuto as imaginaes ativas dos analisandos, freqentemente penso em pontos particulares: "Eu
no teria agido dessa maneira!" Mas essa reao demonstra como a imaginao que ocorre corresponde a uma srie de eventos pessoalmente condicionada e nica, como
a realidade da vida individual em si. O fato de a velha
paranica tambm ter sofrido uma mudana um pouco
surpreendente, mas no fora do comum. E isso nos leva a
outro perigo inerente imaginao ativa, o perigo de a
utilizarmos de maneira errada, como uma espcie de
magia negra, para atingir objetivos egostas ou para influenciar outras pessoas.
Uma jovem analisanda certa vez me trouxe um sonho que lhe disse que ela havia cado sob o poder de uma
bruxa. Como eu estava explorando suas atividades internas e externas dos dias mais recentes, ela relatou que
havia feito uma imaginao ativa. - pelo menos foi como
ela a chamou - contra (!) uma conhecida sua. Essa pessoa a havia aborrecido, e ela se entregara a uma fantasia
na qual ela a havia decapitado, torturado, cuspido nela, e
assim por diante. Desse modo, como ela o apresentou, ela
queria "ab-reagir sua raiva". No fui eu e, sim, o inconsciente dela que encontrou o nome certo para O que ela
havia feito - no tinha sido imaginao ativa e, sim, bruxaria. Esse emprego errado da imaginao extremamente perigoso. Pode ser atraente, especialmente para
A IMAGINAO ATIVA
Gostaria de me concentrar em alguns pontos que formam o carter especfico da imaginao ativa de Jung
em comparao com o grande nmero de outras tcnicas
que esto aparecendo hoje em dia por toda parte. Encontramos hoje grande nmero de pessoas que praticaram
alguma tcnica de imaginao antes de se submeterem
anlise junguiana; e, de acordo com minha experincia,
percebi que muito difcil fazer com que elas consigam
realizar a verdadeira imaginao ativa. Esta ltima pode
ser melhor dividida em quatro partes ou fases.
1. Como sabemos, primeiro devemos esvaziar a nossa conscincia do ego, libertando-nos do fluxo de pensamento do ego. Isso j bastante difcil para muitas pessoas que no conseguem interromper a "mente alucinada",
como a chamam os zen budistas. O processo mais fcil
no caso da pintura e mais fcil ainda no caso da atividade com areia. Entretanto, esta ltima fornece conscincia figuras j existentes. Embora seja verdade que isso
parea tornar possvel passar por cima da "esterilidade",
ou ausncia de quaisquer idias (que freqentemente a
primeira coisa que ocorre), ao mesmo tempo tem a tendncia de provocar dificuldades posteriores, quando o
analisando precisa se envolver com a verdadeira imaginao ativa. A maioria das tcnicas de meditao orien-
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mgicas externas. Achavam que essas influncias mgicas tinham u.mrelacionamento sincrnico per analogiam
com a matria do corpo. Dessa forma, a imaginao ativa
est essencialmente ligada ao corpo atravs do significado
simblico dos seus componentes qumicos. Pessoalmente,j vivenciei com freqncia fortes reaes fsicas positivas e negativas a imaginaes ativas correta ou erroneamente executadas. Certo analisando at mesmo sofreu
grave ataque cardaco psicognico, quando agia contra
seus sentimentos em uma imaginao ativa. Afetos e
emoes intensos representam s vezes um obstculo
prtica da imaginao ativa. O prprio Jung, segundo ele
relata em suas memrias, tinha s vezes que recorrer a
exerccios de ioga para controlar suas emoes antes que
fosse capaz de extrair delas uma imagem com a qual pudesse se relacionar em uma imaginao ativa.
Certo tipo de imaginao ativa pode ser realizado
como uma conversa com partes internamente examinadas do nosso corpo, na qual tambm escutamos o que elas
dizem (como Odisseu fazia s vezes, na Odissia, com seu
corao ou seu "freno"). Essa tcnica s vezes favorvel
no.caso de um sintoma fsico psicognico. Sempre que a
matria est envolvida, seja dentro ou fora do corpo, podemos esperar fenmenos sincrnicos, o que demonstra
que essa forma de imaginao ativa especialmente "carregada de energia". Em seu aspecto negativo, ela se aproxima da magia e dos perigos desta ltima, sobre os quais
falarei adiante.
Dois tipos de erro, que Jung descreve em sua dissertao A dinmica do inconsciente,2 tendem a ocorrer nessa terceira fase. Um deles consiste em atribuir nfase
exagerada elaborao esttica do contedo da fantasia,
transformando-a em uma obra de arte, o que faz com que
a pessoa negligencie sua "mensagem" ou significado. Na
minha experincia, isso acontece principalmente no caso
vo, apenas coisas que os autores bem informados facilmente poderiam ter criado conscientemente. O ponto mais importante surge no final, quando o livro termina com a
idia de que toda a vida na Terra ser destruda e, por essa
razo, teremos que fugir para outro planeta ou escapar
internamente, em direo esfera da mente csmica.
Gostaria de comparar o exposto com um sonho. Trata-se do sonho de um estudante, que no corre o risco de se
tomar psictico e que est atualmente fazendo anlisejunguiana. Sou grata a ele por permitir que eu narre seu sonho. Depois que fiz esta palestra, Edward Edinger apresentou o mesmo sonho e ofereceu excelente interpretao
dele.4 O sonho (em forma levemente reduzida) o seguinte:
Estou caminhando ao longo do que so chamadas as
Palisades, das quais podemos contemplar Nova Iorque.
Estou andando ao lado de uma figura de anima desconhecida para mim; ambos somos conduzidos por um homem
que nosso guia. No restou pedra sobre pedra em Nova
Iorque - o mundo foi destrudo. Incndios se alastram
por toda parte; milhares de pessoas correm sem rumo em
todas as direes. O rio Hudson inundou grandes partes
da cidade. Anoitece. Bolas de fogo no cu assobiam em
direo Terra. o fim do mundo.
O que causou isso foi uma raa de gigantes que veio do
espao. Vi dois deles sentados no meio das pedras, indiferentemente pegando um punhado de pessoas atrs do
outro e engolindo-os como se fossem uvas. Era uma viso
horrvel. .. Nosso guia nos explicou que esses gigantes
haviam vindo de diferentes planetas onde eles viviam em
paz uns com os outros. Haviam aterrizado em discos voadores (eram as bolas de fogo). A Terra que conhecamos
fora na verdade planejada pelos gigantes. Eles haviam
"cultivado" nossa civilizao da maneira como cultivamos
legumes e verduras em estufa. Agora tinham vindo para
a colheita. Havia uma razo especial para isso, que eu s
vim a saber mais tarde.
Eu fora salvo porque minha presso sangnea era levemente alta. Se fosse normal ou alta demais, eu teria sido
devorado. Assim, fui escolhido para passar por essa pro-