O Rio São Francisco e A Chapada Diamantina

E a Chapada
PELO
Diamantin~
Il()!" HU
THEODORO SAMPAIO
ESCOLAS PROFISSIOHAES
Df)
1. H.:J.<:U 1>0
'
s.
..
S.AGHAOO,,G~..\()
.. ~.
PAULO --1906"
Este libro fue Digitalizado Por la Biblioteca Luis ngel Arango del Banco de la Repblica,Colombia
Este libro fue Editado por la Biblioteca Luis ngel Arango del Banco de la Repblica,Colombia
RIO DE S. FRANCISCO
E A
CHAPADA
DIAMANTINA
Dr.
THEODORO
SAMPAIO
o RIO DE S. FRANCISCO
TE.EC:a:OS
DE
UM DIARIO
DE
VIAGEM
CHAPADA DIAMANTINA
PubliBados pela primeira vez na Revista S. Cruz.
SO PAULO
E~colo.s
Profi$:,~ionue~
~alesianl.lR
1905
Aos Jovens leitores

J vae, elizmente, longe o tempo em que reinava o preconceito
expresso n'esta plwse;
No temos
livros de leitura nacional, vivemos de traduces!
Uma pleiade de talentos robustos, aqui mesmo no
Estado, com um brilhantismo applaudidissimo,
tem ultimamente
levado a prelo obras e opllsculos de reconhecido valor lhdactico, CO/11 o fim Je proporcionar
juvcntude
estudiosa a precisa instnlC(/lo inteliectuai de
pcnneio aos mais ineffaveis prazeres
de um corao
verdadeiramcnte
amigo de sua patri;l.
::\estas condices est o Ii \TO do ~a bio engenheiro
Dr. Theodora
Sampaio, intitulado o RIO S. F!'/I:\CISCO
E A CHAPADA
DI:\~L\:\TIN:\, em ba hora
desentranhado das paginas da brilhante REVISTA S:\:\'u CIWZ, para
servir de premio escolar aus alumnos e, para o publico
em geral, como leitura util, instructiva,
de reconhecido valor scientifico e litterario, eminentemente
nacional.
Sob l arma de um diario de viagem e em linguagem desataviada
mas verdadeira,
documentada
por
trinta e um mappas originaes,
diz o autor que em seu
trabalho destaca apenas algumas notas concernentes
geographia
e geologia das regies
banhadas pelo formoso rio, regies e valles comparados
a !lm vasto.
cadinho, em que todas as raas representadas
na America se fundem ou se amalgamam,
e que
fazem
ro
exclamar
n'um assomo de justo enthusiasmo:
Como l: bello esse Brasil Central que to poucos conhecem e de que ns brasileiros
to ingenuamente
nos
ufanamos!. ..
Outra impresso
mais colhe-se da leitura do valioso trabalho
que ora apresentamos
juventudeo
muito que inda ha por fazer n' esses sertes to affastados, de escassa habitao e de vida to differente da
que :,e vive nas grandes capitaes.
Que de riquezas mineraes no su bsolo a f1r da terra! C1mo so numerosos os vastissimos campo's, incultos,
despovoados e que entretanto renderiam quatrocentos por
um (\'. pago I 08)! Quanta industria nova a explorar, margem Ile rios caudalosos e lagas, nas escuras cavernas das
J11ontlOhas, e nas espessas mattas prenhes de segredos e
das mais inebriantes surprezas para o sabia e para o aven. I
turelto
....
Oh! este pensamento
no deve
incutir desanimo al)S BOSSaS jovens patricios, no: longe de ns uma
fraqu,~za to criminosa, esses desfallecimentos
indignos.
Estreito ou mesmo esgotado o campo de aco
perto de ns, necessario
atirarmos
nossas \istas c
nossos passos para mais longe.
Alem,
nos acenam
para o trabalho certo, fecundo, immellsamcnte
rcmllrlcrador em todos os ramos da actividade humana, da
sciencia ou da arte, irms proliflcas por que dia e noite
dama m ha seCldos, em linguagem
sublime, os nossos
granc.es caudaes, verdadeiros
camtlws que marc/tam,
as nessas mattas virgens-oceano
cie vida, as intenniFlas campinas verdejantes
e um solo to -jco que. j;l
o clis:,e alguem, parece tcr veias de ouro e corao
adamlntino.
\lais cio que nenhuma outra. ag"raclou-l1(ls esta feio caracteristica
das pagi nas q lie se seguem, cuja beneme -encia desejariamos
hem accentuar no esprito dos
1'I0SS0~ patricios
estudiosos.
:\J' ellas o illustrado
all tor descrevendo,
em bora
.s pr~ssas. aqlleIlcs riquissimos valles e chapadas
dn
norte e interior da Bahia, parece dirigir um appello

aos bros dos herdeiros natos de t'antas maravilhas e
dizer-lhes:
-Oh! jovens, para a magnanimidade do trabalho e
para a grandiosidade da messe a colher deveis, desde
cda, preparar o vosso animo pelo estudo e pela applicao mais decidida, afim de vos tornardes cada vez
mais dig-nos da grande patria que a Providencia se dig-nou outorgar-nos!
s.
>aulo, Maio de 1906
INDICE
Rio de S.Fra nci~co
Py,',
C/dlTIJ1.0
I. Il. -
Ill, l','.
Y.
\1.
\'lI.
VIII.
IX.
X. Xl. XII. :'\ III. -
A()~ joven>; Icito!'c"

I{io de .laneiro
I'cnco
])0
, .........
a Pencdo.
.
Dc Penedo a Piranhos
y
JI)
il. pedra. do sino

.
A Caehocira
,k Pa.ulo .\tl'onso
\" olta. Grande;
o IUo )10:1::0(6.
.Jaboa.t;j .
' ...
Atalho
....
Boa. Vista c Capim (;ros,'o.
.)oazeiro
.
.\s Salinas
de Casa. :\ OViL
Bana ..
Da. Ba.na il. Crub ...
Xl\'.
Em
X \'.
X \1.
X \'lI.
X\lII.
XIX.
XX.
XXI.
X\I1.
O sanetllario
do Bom .leslls da Lapa.
Carinl1anl1i\ . , ..
(Is .laglIn,os do "eco,
. ,
At S. FriU{'SCO
A Citlad,) de S, Franeisc.:>.
() Rio Pal'aca.t ..
Pj'apora "
, ..
A Scrr;l da :\lan;.ril .
l:r'uh
c na Lapa ..
It
li
:til
ti
:Ill
:lli
. ).)
~,I
Chlpada Diamantina
CAl'. Tl;l,()
na. Cal'inhanha il ~I()ntc Alto

ne )lonte Alto a Cactit ..
l';m Caetite
..
, ....
Dc Caetit e :\lina~ do !UO e Conta.ti,
V. - De :'Ilinas (lo IUo de Contas Santa. Isabel
<la l'al'a.guas,;, antigo arraia.l do Moc\1g).
\'1. - il. Chapada DiRmantina ..
, .
VII. - Visita l lavra da ~ova Siberia.
\'Ill. - De Santa Isa.bel a. So "cliz.
Laudo arhita.l
..
, ...
,
I. .-
ie
Il. lIL I\". ,-
Inl
10:-:
Il:.
li:!
1:lll
,j(i
\:,;\
l~:)
c.
\:::r:
p:::
o
tU
->
Il:!
-a
l1:l
-o
ru
tJ
'1""0
ro-
..c:~
w
Pro
-o
0.J
o RIO DE S. FRANCISCO
Trechos de um diario de viagem
CAPITULO I
::00
~Y'.
~o
d.e :T'a.ne1ro a. l?ened.o
:;._-:;~
,~
;.~
;1 fi 1879, O Conselheiro Canano

'b ento testa do governo, iniciando
de Sinimb,
uma politica
de melhoramentos
materiaes,
organisou,
sob a
direco do abalisado engenheiro americano William Milnor Roberts, uma commisso de engenheiros para o fim de estudar os melhoramentos
dos
portos do Brazil e a navegao interior dos grandes rios
que desembocam
na costa oriental.
A commisso que era numerosa, visava no s quelles problemas
de indiscutivel
alcance nacional, como
tambem se (lestinava ao preparo de profissionaes
bra7.ileiros que, no futuro, teriam de dirigir trabalhos conducentes soluo dos sobreditos
problemas.
Foi como um dos ajudantes de Roberts, nessa C01llmisS(to que se denominou
Hydrrmlica, que fiz as minhas
primeiras armas na profisso
que abracei,
Terminados os estudos do porto de Santos, iniciados
e concluidos
na primeira
metade
do sobredito
anno,
deveriamos dar come,o ao estudo da navegao interior
pela explorao do rio S. Francisco,
com razo considerado, o mediterraneo brasileiro pela sua posio geogr'aphica em relao zona littoral povoada e emique-
nH,
THEODORO
SA~II'AIO
('ida., e tambem por proporcionar

{) sell <lmplissimo ndle
lima linha de commullitaes
das mais favoraYei~ ent['f~
as regies eentraes e as do norte e sul do pa izo
Comquanto
explorado por Half'eld, Liais (' out ro:s
y ajantes
que lhe deStel'cun il corrente em annos antt';io1'('S, as conclitles tecllllieas
da na\'(~gabilidade do .!Tande
ri) permaneciam
ignomdas
e (IS melhoramentos
propostos bem eOlllo as olwas de~tiIHulas a aSHf'g'Ul'l,os
ll::,sumiam cm aJguns espiritos as propOI'~(,H dos CI1lprchendimentos
fabulosoH. Melhorar a nan-'':,l:io do ,"io
df' S, Francisco considerava-se
cnto necf'ssidarle
palpitante, mas se aITcceia\'all1 todos dos gl'andps gastos
que esse melhonunento
ha\'n de aearretar.
As estradas de ferl'o partindo dos pOl'tos <1f' m,ll',
como o Hio de .lanf'il'o, Bahia e Pernambuco"
desen\'olvianH;c j, mais ou menos rapidamente,
f'lll direeii.o
ao grande rio, cujo eu rso, na parte nl.Yegal, dt'v lU compk!.<lr UIll systema de via;o interim',
Era, pois, t(,TllpO de ,;e iniciarem os e,,;tudos c de
se dl'ectuarem
as obras de lIlelhoramen to, as quaes CIl}
boa hora passaram a modelar-se pelas eOllrenf'res alIlfriranas executadas
no Obio e n'outros
rios ('entrae..;
dos Estado::; Cuidos da ~orte America.
Assim, a :a de .J ulho de JH7), deix<l\'ilmOS
porto
do Hio de .Janpiro, seguindo viagem a uordo do paqudf'
/i;s]Jil'ilo Snlllo da Companhia
Brasileira,
e depois de
breve escala. pela \dol'ia
(Fig'. J e II) e lH'la Bahia,
desenbarcavamos
a ti elll 1\lo.cei, no sen pequeno e lllal
abriFac/o porto do Jnl'a!Jw, onde devamos a~ua)'(lar
um "apor da Companhia
Pernambueana
que no:,; conduziria . (,idae de Penedo, mar.rem do S. Franc~wo
e cerca de sete leguas acima da foz delle.
~io me proponho dese,rever aqui episodios de viagem, nem dar um rotci1'O completo da expJora<;o que
se exlendeu
do mar at o corao de Millas Gel'aes.
Destacarei
somellte
do meu diario o que possa mais
interessar ao leitor, pl'oporcionando-Ihe
notas f'OlWel'nen
10
BIO S.TRANCrSCO
lMn/a
,-1,1: -100.000
,,-t
\.
-.
I
I
I
I
JD
il
~~-
..
RIO
DE S. FIU:\CISCO
tes g-eogmphia, i geologa e ao povoamento das rcgies

banhadas
pelo gr'ande e formoso rio quc examinamos.
Deixarei, pois, que fale na sua ling'uagelll
cO/Icisa
e desataviada,
mas vcrdadcim, o Diario deVia[Jem que,
sn no fra (~sta Revista, no logra ria. tal vez n liIlca as
Ilonras da publicidade.
A II de Agosto tinham-se concluido os preparativos
de viag-ern (' concertado
eom o governo da Pl'ovineia as
providencias
para o melhol' andamento
dos trabalhos
da exp!omllO do rio.
A's 11 horas da noitl~, por I1lOti\'() de alcanyal' mar
fu.voravcl entrada da barra do S. Francisco, partimos
d(~ 1\lacei, l. bordo do pequeno vapor ,Tuqui, ellL d('manda da cidade de Penedo.
Pelo amanhecer
do dia seguinte comeamos a\'istar'
as costas arenosas das Alag{ms, com as suas dunas al\'LS, entrcmeadas
do v(,l'de escuro de uma vegetao
I~aracteristi('a, assignalando
as alturas do Peba, InonotOllas nas suas linhas sem ondulu;i'o e sem l'fllcro.
Os perigosos baixios de D. Rodrigo c o lli:.;torico Cururilw orille olltr'ora I/aufl'agal'a o Illallogrado pl'meil'o
bispo, n. Pedro Sardn/m, passaram desper<:ebdos, cn\'oHo~ corno esla yarn ainda nas hrumas da madrugada.
Eram j 11 horas e meia da manh, quando o Ju(I/lici, fortemente
sacudido pelas agu:ls revoltas e colorada:.; do mar, nos re\'clava
ter embicado
barra do
S. Francise.o. (Fig. ] II. ) Corremos todos ao tombadilho
para mais ln'm apreeiarrnos
as peri pecias da entra da
qUf> algun:.; nos descreviam
arriscada e ditleil.
.J ah encontramos o velho Rob(~rts qUi', para melhoJ'
obsc/'\"ar os ca/laCS, o jogo das aguas, e a regio em torllo.
tinha galgao pelas eseadas de corda algnns metros p:lm
cima da anllll'uda e applieava o seu telescopio na diree~lO
da atalaia assentada
i esquerda,
na margem alagoana.
Entramw;, todavia, sem o mnimo accidente.
O mal' revolto e em lueta com as agua:; rio rio qUI>
t%ram
larga faxa, barra a fra, exhibe aqui onda 1'tl1-
DR.
TH~:OJ)ORO
~A:lrPALO
pohldas que se erguem em eirclllo de mais de milha d?

raio, formando 1'010s successi\'os e coneentricos por sobre o cordo da barra que conseguimos yam!' sem difficuldade com o concurso da mar.
Por sobre esse cordo ou baixio arenoso e movedio, a sonda aCCUSOllcerca de 1tl ps d'agua na vasante,
porem no tem mais que 9 ps, Varado o cordo para
o la(lo de dentro, e j em pleno rio, a profundidadt(',reSleo ento consideravelmente
e a sonda passou a
indicar de 4- a ;) brat,as de fundo rio acima at o porto
de Penedo.
O canal, que constantemente muda atravs do cordo dil. barra, estava ento mais chegado margem
alagoana e nos levava de pra feita para o atalaia onde
deviamos trocar de pratico.
Amhas as margens so aqui haixas. A da direita,
porem, do lado serglpauo, pareee todavia um pouco mais
alta E!ensombrada de basto arvoredo que lhe empresta
aspeeto mais aprasivel e revela solo mais rico. A margem alagowa, ao contrario; estende-se haixa, arenosa
e alagadia, exhibindo extensos arca es aoutados pelo
yellto As dUlla~ do-lhe um aspecto de aridez e de d'solao, ali<s desmentido pelo movimento de toda \lUla
populao de peseadores cojas cahanas cobertas de palha dE~coqueiro se divulgam por entre as mesmas duna~
ealvas que o vento constantemente desnda e transporta.
O mangue cresce e alastra mais nesta margem do
que n.l outra. A vegetao, porem, mais corpulenta ('
(:amct'~ristiea direita na ilha de ArambiqllB, formada
pelas ,llluvics e apE~nas destacada da ten-a firme pelo
pequeno brat,o ou t'uro do rio eonheeido por Parpoca.
DE~sselado distingue-se tambem um grupo de habitaE~s humildes por sobre as quaes uma mata de coqueiro~ esbeltos e desaprumados haloul,ia ao vento l
('(pa verde-amarellada das ,mas palmas.
Sulcando rio acima, c observando-se mais attentameute as margens por entre o lahyrintho das pequenas
Il
---
t5'
N.Il
---
~O'
H'
4~'
~5
R lO DE S.Flti\~T CI seo
EH.!;' Jti; 4oocJO<l
10
o
-y
'J'
51
5
<f-
<!'
~
C
I
fl)
..
15
i
I
------~
10
'I
~o'
I
I
"0, i.
,
4S
S I
5n
SS
ss
1
. 10'
f~-
NIlJV
,
So
4S"'
-40'
------"
JS
I
7.0
20
..
1:
-<>
.;-
<1
'"
"1l
~::-
..c
..-
Co
CH
.'"
';/
-?
.p
'
-'
3;l
~O
'?
C
""
-O
35
35
14.
B.,
Jr'
40'
-------
..
l.'
_.~----
'
ss'
fo'
4~'
zo'
s'
-<1
-<'
10
('
(t
C'
'
-'t
"
<-
....,
.r
.s
/5
,j'
~
i'
,.
<.0
.,<:>
:'0
<'
RIO
D~; S.
~'HA:-GISGO
ilhas lJelixas e ensombradas que sur'gem a miudo, verifica-se que a populao no aqui escassa; nota-se
mesmo certa actividade agricola pelas numerosas plantaes de canna, algodo e ceraes. Os engenhos de asi:5UCar
denunciam-se ao longe pelo pennach de fumo que
se escapa das altas chamins. A villa de Piassabo, na
margem alagoana, appresenta-se distancia por entre
os ilhotes baixos, cujas barrancas desabam ao passar
da embarcao que nos conduz.
E fornos assim navegando tres leguas at a ilha
dos Bois, onde ha um simulacro de porto commercial
com llma povoao em frente constituida de palhoas
e casinhas de aspecto pobre, occupadas por canoeiros
e pescadores.
Na ilha dos Bois tivemos que deixar o Juqui, cuja
navegao rio acima j no o consentia a mar, ellOS
transferimos para a bordo de um vaporsinho com que
viera a nosso eneontro o activo negociante portuguez
.r os Ventura de quem eramos recom mendados. Lat'gamos o ancoradouro ,is quatro horas da tarde, e subiudo
a corrente por ('erea de quatro leguas, passando a Villa
:\ova de Santo Antonio, que fica do lado de Sergipe,
pOI' sobre unE; outei/'Os baixos
de grs, fomos desembarcar no porto de Penedo antes do pr do sol, eom cerca
de hora e meia de viagem, graas el boa marcha do
$'antelmo. \ Fig. T\',)
10
DB. TIIEODOHO
~,\:III'AI0
CAPITCLO
II
Pened.o
Petwdo. para quelll a obspl'\'a do rio, t('lll a I)plla.

aPl'arencia das ('idades ('ollstruidas P.l11amphikatro
s()bl'l~
uma eminentia
que se debru<:a sobre as a;.!'Ilas. \"'-a
illuminada luz do sol popnte, COll) a sua ('asara (~1lI
alto relevo e recebi a illlpresso de Ulll sitio apl'Usin;1
e de uma. cidade que, ('0\11 raso, se ('onsidl'ra a sl'~ulldil
da Provincia.
PrtlPtrando-sl'
nella. pO\,(~l!I, a llll"'PSS' o
modifica-se CUlll u aspecto
irl'rg'ular das suas rna--, a
vetustez. e irrp.gularidlI{e das ~;as edilicac,:es, a l'ail it
Ile ~onforlo () rOllllnodidadp do sell vin-l', Sota-se todavia
eerta atlividadp
comlllertial.
O porto lem nlo\"illll'!ILo.
O caes rampauo e revestido de Ih~d1'a Lelll sua anim,H:o
({'If' agJ'ada nas hOJ'as (la feira diaria, ([lwndo os canoeiros
da. on Lra margem e das il has prox iIllas Irazrlll ci "('IHi a.
os productos de sua prquel1a lavoura de t'aO{lIIlc,
A collina, ou antp.s o f':dremo da lombada que vrlll
de long!), sobre a lJual rst< a cidadr edifieada, p que na
yerdade a primeira
tCl'l'a JeYlntada que se de:,('obl'e
(to lado de AJaga~, subindo o rio, apresenta
uma bDnib escarpa rochosa do larlo do noroeste, (' dp~('a(' SUlI"elllente para
sul, liIlindo-~e a plan tie bai sa e sujei la
cs nllndaes que se estende para 1.1 Jado do mar,
Penedo, cujo nome procede de cerLo da eS('arpa
l'ocho~a onde a POVOll,i-W
prirIleit,o tOrIlet;0U ('Olll Ulll
pequeno forte qlle Leve sua impol'taneia
no tempo da.
g'lH'!'\'it (~()l\tI'a os Hollandezes.
('alita sobre a tollina a 1gUlls editieios notaveis.
A Slla matriz,
dedil'uja
Nossa Senhora do Rosario, (~ grande, mas dI' f('o aspetto exterior; os sellS altares ~em gosto e sem al'<:hitee:ura;
o cho humido ladrilhado
a tijolo, e apenas
assoalhado
110 Iogar onde outr'ora se fizeram inllllllla-
.. ----;
~.
)
.~
._r-)
')
?_, ') .-~' ~-
/~...-:- ..... --../
/...f--
I
.J
~~-
..
'".'
....
---,..:--
-,-';
--- ....
--
--.-.----
RIO
rH; s
FnA~C/~C:O
Il
t:e~. Ha ainda a igrcja de l\"o~~a Senhora da COlTcntl',

a de S. Gonalo d'Amarante,
a cie S. Uonalo Garcia e
no alto o convento de S. Franci~co.
Corre ao lonp:o do port.o uma rua, o!lcle se notam
edifieaes de meIltOl' aspecto, alguns alt.os sobrados, ('
muitas casas de commercio, i qual vem ter outras ruas
IlIais ou !llenOS tortuosas
de~welHto da collilla dl'sJe o
eemit(~rio qllc fica distallte.
Alguma~ dessas l'lias silo bem caladas com pedras
irregulares
de I1Ti's e mieaschislo
de que tarnlJem se tiraIn grandes lages para os passeios, e umbreiras
para
as portadas das edificay()cs melhores.
Ha mais Illll bom edificio para a cadeia publica,
IIIlJ pobre hospital de misericordia, a casa do tl:'lcg-rapbo
e O~ trapkhf's das cOlllpanhias Dahiana c Pernambucana.
A popula<;<'o da ('idade esf.l\'u ent~o muito augllwlltada com a gente emigrada dos sert()cs a~solados pela
secea. Vialll-se nas mas muito povo faminto e semtrabalho, levas de mendigos andrujosos esmolando ou estell-
didos pelo ('ho sombra das ar\'o\'l~S, homens que foram robustos, bellos typos de uma adapta~~o admiravel,
(:Oll1f.l se foram esqueletos
vestidos de touro.
A fome que os tinha depauperado
e dezilllado aos
eentos, cedera logar agora variola que devorava
familias inteiras c1estes desgraados
que de Hio longe, fugindo ,is miserias da secca, tinham vindo procurar so('eorro s margens do grande rio.
O S. Francisco,
como um oasis no dserto, atravs
dos sertes adustos da Bahia ao Cead, de Pernambuco
ao Piauhy, , nil vel'Clade, L terra da ])/'omi,o.s(o e o 1'('fugio daquelles
povos assolado~ pela secca prolongada
p per-iodica.
Penedo demonstrava-
cabalmente com li sua nUIlH'rosa popu]l\'o de retirantes.
12
DR. THEODOHO
CAPITUDO
De Pened.o
SA~rp.\lO
III
a. PiJ:a.nha.s
Os poucos dias que passamos

em Penedo em aprstos de viagem nos pcrlllittiram tentar o cxamc da regio
circumvisinha
e ensaiar o processo mais conveniente
para a explorul,io do rio que se ia iniciar.
Fomos margem fronteira, Villa Nova de Santo
Antonio, uma povoao insignificante
de Sergipe, edificada sobre uma collina pouco elevada, onde o grs friavel, mas util;ado nas construccs,
apparece em camadas espessas pouco inclinadas. Apezar do calor intenso,
no 'lOS pudemos furtar ao desejo de visitar Boacica, cuja laFoa, distante cerca de :3leguas para o noroeste de Penedo, nos diziam ser grande e com bella paisagem pelas suas margens. A chuva copiosa e insistente ljuc comeou a cahir depois do meio dia nos impedia, porm,
de lroseguir
na viagem, c tomamos
sem se quera Hi\}gil' o desaguadouro
da lagoa, junto da capella e p(woado d o mesmo llame.
A li de Agosto pelas6 horas da manh largava da
pontt~ de Penedo () vapor SinimlHt que nos devia condu7.ir a Piranhas, rio aeima, viagem que ordinariamente
se
faz t m dous dias, pousando-se
na cidade de Po d.e
Assucar, que se alc'lHt;a antes do pr do sol.
l) trajeeto
rio acima deveras
interessantissimo.
O vu por novo, dispondo de boa marcha, guiado por piloto dextra, que segundo o canal, sempre mutavel, om
nos eva para a direita, ora para a esquerda, atravl>s dt'
bancos de areia, de lagcdos descobertos
e de pequenas
ilhas baixas, vence a corrente
garbosamente
como se
si ngr asse por u rn lago de aguas traq uillas .
.\s margens do rio muito povoadas, com muita lavour,l pelas baixadas e pelas numerosas e pequenas la-
o
u
Cf)
'
...
~
...
1.1...
en
~.'
~:
. ,.
..
It.
Q)
'O
1<';)
U"
<';)
>
o
c...
RIO
DE
S.
FHA~CISCO
goas eixadas pela enchente anterior, so como duas

bellas avenidas onde as editicaes alternam com o verde da matta, o branco dos areaes extensos, as escarras
rochosas dos montes, os taholeiros louros dos arrozaes
de vasante, e as roas de milho por colher.
Na marcha de oito milhas por hora com que o vaporsinha nos transporta atraxs dessa regio aprasivel, vamos successivamente enfrentando pittol'cscas povoaes,
Ulnas insignifj(~antes, outras maiores, e ainda. outras, verdadeiras ddades; vamos deixando margem numerosas
vivendas isoladas, sitias pequenos com as suas plantat,;-esbem cuidlldus, engenhos de assuear que se assignaIam ao longe pejas suas compridlls chamins fumarentas.
Boacica, Saude, Brejinho, Mon'o Vel'lnelho, Prazeres,
Tapra Urub!, silo os povoados e capellas que vamos
:mccessivameute avistando direita
e esquerda at
a cidade de Propri, onde fazemos a primeira escala.
Seguem-se depois, na serie ininter'l'llpta dos povoaos, o Collegia quasi fronteira i cidade precedente ('om
o aspecto de uma villa prospera: o Tibiry sobre uma
('minencia, dominando extenso leno] de areia; CampiIlhas apoiado sobre um outeiro de rocha gneissica; S.
Braz com as apparencias de uma villa pequena e ainda nova: Amparo e Marimbondo coroando duas bellas
eollinas uma aps outra; Lagoa Comprida sobre um
banco espesso de micuschisto, junto ao dcsaguadouro
da lagoa do mesmo nome; Rubella entre outeiros pedregosos, foz do ribeiro da mesma denominao; os
Buriaes, junto aos cabeas rochosos em que vem tm'minar, beira do rio, os pequenos contrafortes da serrada 'l'abanga, cujas eminencias se avistam ao longe para
o lado de Sergipe, fronteiras cidade de Taip, onde
fazemos segunda escala, e meia distancia entre Penedo e Po d'Assuear.
De Traip em diante o rio se estreita um pouco, as
montanhas ebruam-se mais sobre as margens, offerendo Il milldo escarpas elevadas de mieaschisto, proflln-
14
D H. TH !-;O))ORO :-;,\:\1 1''\ r ()
da~ queblldas
COIllO aquella llIuito earaderisliea,
(0Ilheeida na loealidade
por H1!/'acn de J.1Irt/'ia PNeira,
e
Ila corrente, ai:!Ora. mais aeeelcl'ada do rio, grandI' quantidade dl' roehedos, tran'ss(es
e iheos aspcros.
As pm'oa<,es de Maria Pereira, Curral dl' Ped\'1Ls,
Ocnipaluhil,
S. do O', ,Jacobina, \. S. dos PI'azeres, LagOil ~'unda, Limoeiro, S. P'dro e :\IO(:iltIlbo er!:n1idas a
direita c i esqucrda, ora na. margem alagoanil, ora lia
seqripanu, continuam
il serie piUoresea ue atraz as,;igll1L[anros e que se prolollga (',0111o mesmo aspel'to nas
t'iliea(~(lPs (' nas euHu/'as, apenas ditfe\,('I\(;;do \lO n'll'vo mais aeecn\uado
da paisagem. at Po d'Assl1tar Oilde de\'iarnos pousar.
Po d'Assucur no ot't'ercep de notavel sewl0 a stla
paisagem pitton'sea,
qu~~il montanha
('oniea qlW IIP!le
o IJOllle aformos['il, e () pprfiJ azulado da sen'a dos :\I,~l'lis, duas lcgnas ao longe, toma quasi encantador.
Saltamos todos em terra para visitar a eidadp, atravc~"al1los a p o largo leno] d'areia que a precede e
pCI':orremos-llles
as ruas rectilineas,
planas, mllq!'nadas
de editica<'{H~shumildes e sem elegancia. :'\enhulll edifieio nota.vl se descohre,
nem mesilla a rgreja
que
ali.s offerece melhor aspecto, vista de longe.
J tarde regressamos
para o bordo do vapor onde
dcviamos pemoitar,
e, no dia seguinte, pelas 7 horas (h
manh, apesar da abundante (.huva que cahia, pro>,;cgu mm rio aeima atl~ Piranhas
que alcanc,;amos aps lrcs
hams de viagem.
Veio a. hordo l'c(;eIH~r-T1oso pessoa.l da. Estrada de
Ferro lIe Pira.nha.s a ,Iat(ba, ento em comeo de (:onslruc(l, e eujo chefe, o engcnheiro
Kruger, nos acolheu
hospedou.
Piranhas
otl'el'cce ao visitante, quer o lado do rio
quer do alto da montanha
em euja encosta asperas SI'
edifitou, \Jill aspecto desagradavel.
O loca] topo.!Taphieamente falando nfio podia sel' peior. Mas como ahi que
a lw\'egai1o de facto termina, eorn o trecho na\'egavel
='.
I.~
BIO D'; S.
1i)
FHA:\CISCO
do ('allhJo elll (lue o rio penetra desde Paulo Afl'onso

at I'o d'Assu(~ar, o porto natural se foi aos pOllCOS
po\oiudo, p as edificaes t'onu)] galgando a montanha
ao longo da I~stl'ada do serto que ahi eomca,
O tl'e(~ho do rio qu(' ac;abayamos
de pelTOlTer,
para
tima de Pao d'Assllcar, de fado, um est('(~ito canho

de margem; escarpadas, altas e pedregosas, onde o gneiss
l' (J mitaschisto
predominam
e do paisagem esse tom
Itspel'o e ellegrecido, das regies estereis e (IUa~i despidas
de \"cgeta<;fio.
A populao, nesse trecho, , por isso mais l'ara;

as ('ultllras qllasi que desapparem e, se acaso existem,
fitam por dell'ut: dos ma/TOS de aceesso dilfie;!.
A llOla pittoresea
no perdeu cOllltudo em el'feitos,
talvet: /lwsmo tenlHl ganho alguma cousa mais, nessa see
Ila da lIalmcza, em que niio raro o bello sobre-lent ao utiJ.
E subimos a con'cnte como qucm percorr'c um extenso corredor, semeado de obstacuJos, e ern que I'UI'O
se descobre llllla aherta por onde il vista se estenda surjJrehcllIlendo o aspecto da regiJ.o mais visinha. E assim
fOlllos slH.Tessivilll1ente passando pelos peguenos povoados do Boquciro,Hom
Successo, Sipoalha, Cu('['alinl1o
Velho, Curralinho Novo, Barra do .Jacar, Entrc Montes ou
Annazf'm, Collete at o porto das Piranhas onde deviamos passar alguns dias em aprestos para a viagem por
terra,
Havia. ahi ento muito povo. O mulherio era extraordinario;
e isso se expliea\(l pelo alfluxo dos retirantes
do alt.o serto que . seeca prolongada expellira dos seus
lares, .-\ populao masculina esta\,l espallwda ao longo
da linha ferren em trabalhos de construeo, emquanto
o elemcnto f(~minino e as crianas pel'lnaneciam
na sde
onde S(~ I1ws distribuia em mantimcntos
parte Jl0 salario
ganlto por seus paes e maridos empregados
nos servi(:os da. estrada.
As )aIJita<.;Jes eram poucas para tauta
gente. 11Ilfll'Ovisal'aJll-sI~
ranchos
de palha, pequenas tend~s fe-
16
OH.
'fHF.ODOHO
~A~II'AI()
chadas com esteiras, tudo quanto cra possivel imagina:'se para agasalhar a populao excedente ou actventicl.
Chegavamos exactament.e na occasio em que se
distribuiam os ,;oecOl'rospela populao faminta !lO bar
rae,io proximo estao da estrada, de feno. O aspecto
dessa gente no nega va os sotl'rimcntoH por que tinba
passado. As mulheres e as erian:~,s maeilllentas. sujas,
e c,)m as roupas em farrapos, assentadas pelo cho, trahiam um soffrimento que os primeiros soecorros no logra~am totalmente extinguir.
Mais a fraqueza e debilidade do que a impaciencia no
receber o minguado soccorro, vagarosamente distribuido,
davam-lhes um aspecto triste, desconsolado e doentio.
Entretanto, quanta miseria, quanta desgraa, quanto infortunio com esse minguado soccorro se pouparam?
RIO
DE S.
FIUXCISCO
C.\PITULO
IV
..A.":2e:lra. d.o Sino
1\'0 dia 'i:: de Agosto, depois de expedida a hagagem

mais pesada na frente. partimos de Piranhas, no porm
sem primeiro visilaI"lllos, l'/rJ tompallhia
do Doutor Orville Derby, l famosa pedm, do sino, no sitio do Teixeirrt.
O illustre geologo, tillha apl"Oveitado o ensejo que
enUo SI! lhe ot'fe["f~eia de um rceonhecimento
atravz do
valh~ do So Franciseo, para obter do Governo viajar
eomo addido COlnltlissiO Hydrauliea,
(~II.iOS estudos
elle devia completar pela parte geologica.
Conhecedor de quasi todo o Brazil, tendo j \"ajado grande parte do valll' do Amazonas, o littoral atlantico e a zona meridional, o DI'. D(!rby vinha agora eOIllpletar o Sl'll j;i vasto eallCdal seientifico, percorrendo
o
S. f'ranei:Sl:o, eujo \ClUe U/ll dos mais erninPille:llente
earaderistieo
do Brasil Celltral
Sem prejuizo da tarefa que
enUio di:stribuida
na Commisso, procurei :sempre acompanhar
o illustre
geologo nas suas varias eXClIl'eS, aigUillas apartadas
do nosso verdadeiro
eaminllO, econfesso que no pouco
deve o meu espirito ao genio operoso, culto e i;uperior
des~e notavcl homem de sciencia, com cuja amisade
me honro e me desvaneo.
O sitio do Teixeira fica obra de tI'es quartos de legua
para traz de Piranhas,
isto , ao norte deste Jogar, e
para alm de umas gratas profundas e sem agua que ali
ha rasgadas para um minusculo affluente do S. Francisco.
O terreno tem ahi nivel supcrior
a duzentos metros sobre as aguas do rio.
E' pedr'egoso, arido, vestido pobremente
de uma
vegetao de arbustos espinhentos,
retorcidos c entremeiados de cardos de uma variedade numerosa. Tinha
mm
IH
\)1\. TH~:O\)OHO
~.\).IP.\I()
ti !O \' illl dias alltp~. \-l.a via, !l0;s, a 19u ma llll I\)idade no
solo, I' tanto hasta"a para (PW na vcg'ctar,;o da ('((til/ua
houn~s:,p j<i algum verdI'; 11 d!'spl'ito tlisso, porm,
o
aSlwell' g'l'l'al (h~ esterilidadl'
e de tristeza.
A ocr/l'(/, do .<;i/lo Ulll ulIolltoado dI' blocos gTalliti('os go 'andes, formando \111\ grupo isolado IlO meio da
('ating'l I' ('om appi\l'pI1Cia de 11111 bastif.o ou tO\'l'e l'ill
l'luna.
:\a parte slIperior, em equilibrio qlle parl'('c instar!'l,
erg\ll~-H>:('Ill ('orma de cunha, pOllsado imlllediatallH'llte
sobre as las(:as mais elwda" de ull\a ro('ha, qUl' lIll1
phollolithodl1rissimo,
UllI blo('o dl' dou,.; pal'a tres m!'tros
de a!lura, simulando o coroamPIl!o de Ulll n~lho Illonumento (Fig. \I). Clllwadas pelo martello, aq\lpllas las('as
de pedra emit.telll um som como o do bl'ollze SOIHlro (~Olll
um timbre grwp. lIla~ ]lOlll'O illlpnso. ]on(le l)\'(wedl' o
1l00lle '.Iue lhe deralll os \'aqllPil'oS, lllOradol'l's do logar,
P a curiosidade
que deslwrta ('I\) quem IH'la ]lrinwira
vez vi ,ita Pit'auhas.
A>; fOl'lllaes deste genero,
isto (~, os amontoados
de blocos de pedra gigantescos,
afft>f'!;lIIdo fOI'lllas pittOl'pscas, ('uriosas, alg'ulllas, (;01110 a
p()voa~o das
Pcdl'cf,': que simula
ullla Illulher assentada
(',Olll uma
erianC;Labraada no collo, so fl>e(lUentcs ne,;sa regio que
vamo>' atravcssando
por entrc catingas estercis e sem
agua.
En Olho cL\gua, que \1m taboleiro areuoso com
uma pequena depresso no terreno a 2)O metros de altitmle onde surge uma fraquissima. mina d'agua, a populato ento augmentada. com os trabalhos
da estrada de l'crro, vivia sequiosa.
At ahi o teneno (~ granitieo, formando o embasamenl<. geraL sobre qne se erguem pequenos sen'os disperso:;; de grs, e algumas
ele,"a(es onde o sicnito
freq uentemente
apparccc. 1\0 Riacho S't(~O ha um ea 1careo cristaHino explorado para cal. :\0 Hiacho do Talhado, cujo nome se justifka
pelo canh.o profundo
e
I
ua
BIO
DE
s,
FR.\:\crSCo
/9
~streito Pill que alii corrc um ribei\'() tCllIpot'ario, ha

}wfJuPllas grulas caleareas com bonitas stalactites . .Junto
{le 0111.0 d"\guil notam-se nos grs ttllhado em escarpa
elevada e corroido pelo lempo quc Ille d formas hizarras. t/lllas inscripcs na rocha, attrihuiclas aos indig-cllas, dc quem hoje no sc eneontra seno a destendenea
profundamcnte
lIIestiada.
;\a povoao das Pedm,8, residencia do engcnheiro
CrocLlt de S, ehcfe de uma das scc,,(Jf>S da estrada,
nos
J'(~~Illj/llOS
todos para tomarmos
uma travessia mais'
Paulo Affonso cuja cacllOeira desejavumos

,'sital'. Ped/'((,.~ psl< a 22f) llwtros
acima do nivel
do
l!lm', t' telll
bo:n e1irna. Pela manh sentimos o ar fresco,
{~ IH~\"oa inte:lsa
tomo .ia tinhamos ohscnado
JlO Olho
(,I/I"ta
para
d';\f!'lla.
DB. THEODORa
CAPITL'LO
.A. Oaeheeua
SAm'AIO
d.e Paule
A:fense
A caminho atravz das catingas perlregosa8 e espinhentas em direco a Paulo Alfonso, fonnavamo:.;;
uma numerosa cavalgata. Alm do pessoal da COlllisso composto de 2\:lr.Roberts, e dos engenheiros Amarante, Wieser, Lisba, Saboya, Pecegueiro, Aquino .~
CaSTO, Derby e eu, acompanhavam-nos
os ~ngenheiros da estrada, Kmger, Crockat e Livio dos Reis aproveitando o ensejo para de novo visitarem a explcndid.).
e famosa cachoeira.
Chegamos l Paulo Affonso as 4,1/, da larde, tcndo ga'.to na travessia seis horas sob um sol intenso, e com um calor que sombra sc assignalava por 2R gros centigrado~;.
Sendo j tarde para visilar a 'cachoeira, opc'ao
dilfieil e arriscada que ninguem t.enta sem nlll ~'uia,
pousamos n'uns pobrcs ranchos : heira do rio, junt.o
do monumento que alIi assignala a visit.a de D. Pedro
II, ~ agua.rdamos impa.cientes a manh segui,lile.
A cachoeira de Paulo Alfonso, o famoso s1llnidoul'o
dos antigos chronislas e viajant.es, , de facto, um dr,s
esp'~ctaclllos mais est.upendos qllc se pode imaginar.
No tento descrcvel-o, direi apenas o quanto bast.e
para explicar as vistas photographicas que aqui reproduzimos e que por si ss dispensam qualquer descripo sempre pallida daquelle prodigioso e inesqucCvel
quv.dro da natureza.
Na regi.o n.o se vm montanhas seno dispersas
ao longe. Tudo mais uma vasta. planicie, monotona,
coberta do manto cinzento das catingas, e onde a custo
se iescobrc aqui c acol uma mancha prateada que se
verifica assignalal' o eurso do rio. A planieie prolonga-~e para haixo sem a menor depresso 011 desni'"eh.-
HlO
DE
S.
FHA .
CISCO
21
mento sem5ivel. Xo Iheio della, porm, o rio que vinha

descendo ou dcslisando pela superficie do ten'eno, subito despenha-se em succpssivas qlledas, e por muitos
!!raos, engolfando-se n'um estreitissimo corredor, verdadeiro canho de paredes ingremes. escarpadas, inaccessiveis.
Do logar onde pousamos, junto do porto do Vaee-Vem, denomina(;o que se explica pelo fluxo e refluxo
violentos das aguas do rio nesse logar pouco acima do
ponto em que comea elle a despenhar-se, no se ouve
absolutamente o hl'amido das aguas, nem o mais tenue
vapor trahe a presena de to violcnto tombo.
Condies particulares da atmosphcra ex.plicam o
phcnomeno. Chegando porm mais pcrto, depois de transpI' largo trecho do leito roclwso em secco, com as luges corrodas, desgastadas, lisas, to lisas como se foram polidas a capricho e cobertas de \lm \'cl'Iliz metallico,
,<; {JeJ/eris, f~ alcanando
a margem do profil ndo lal1wdo
Oll canhlO, para onde as aguas se precipitam em rolos
de espuma alvissill1a, em explendido contraste COIU as
rochas negras do granito, o bramir do colosso torna-se
ento formidavel, ensurdecedor. E' prcciso falar pOI'
acenos porqne metlmo gritando aos ouvidos do companheiro elle no vos entende.
O espeetaculo , de vel'as, indescrptvel, to vario,
Uto !I'ande, to estupendo elle se nos offereee, atravz
do:,; mais bellos effeitos de luz e coroao com o diadema phantastico, fugidio do Iris, tantas vezes apagado quantas renovado ao embate da luz ohliqua e dos
vaporcs aseendelltes, que no me sinto com foras
para pintaI-o.
Paulo Affonso v-se, sente-se, no se descl'cve.
DIl.
THk:ODOHO ::;A;\!P:\lO
CAPITCLO
""Volta. G:rand.e~
Deixamos
a eachocira
\1
o :rio ~oxct
de Paulo
Affonso
s 'i horas
da arde do dia, 2t de Ag-osto, e fomos pe1'lloitar l'ln 1'nlln Ol'anrle, povoauo e Pernambuco,
distante ecrea de t
legu as, que altarH;amos pelas ' '/ ~ da tarde.
Volt(~ Grande {:> Utll logar'pjo sem impol'tanc!a no meio de umR pequena phtnicic ti direita do rio Moxotl, onde (~nU'io se notava. .tlgull1 movimento, devido aos trabalhm: da via ferrea e ao accumulo dos reliraI/te;;
quP pl'OCUrLvam servio.
O rio ~Joxot<J esta\'a inteiramente
se('(',o. O :,opu ('ito era ento umo larga estrada. arenosa com al.wns ('aldeir!)es de agua. salgada nas depresses mais fundas q UI~
o gado sequioso procura para matar a sde, scm IO.!T.lI
sequer mitigal-a.
A agua grossa, tuna,
('mn () sabor de urina p o aspecto repugnante do liquido podre, llenhUII\ de ns sC al11ma 1 leval-a aos labios apczar da sde 411e nos atoJ'lnenlava nessa travessia. arida e deserta desde Paulo AtTolIso at aqui. As borracha.';, saccos de couro l'Ill q\ll~ nestes ~ertes costume tranporta t'-se a agua pa.ra. .iOl'nada~
mai~: longas, eram poucas e tinham-se esyasiado hem (~e(lo.
O l'o l\loxot() eu,jas nascentes mais apartadas do nor
deste, ileam nas abas da serra Cal'ir!!, een~a de \'illte pan
l'a trinta leguas distante, apczar da extclIsfLO do seu cm
so, que aqui assigllala a divisa entre Alagas (~Pemam
buce, s< concnte durante as thuva.s, alilS escassas t'
nadL regulares. O peixe que sobe o rio S. Francis('o fl.,.
oecasio oa. enchcnte fenece todo, logo que as aguas (lei ..
xam de correr e comeam a aquecer soL a intluen<'a dOH
raio~: intensissimoR
do sol, nessa latitudp
de POUC(,
mai~ de ~) gnios ao sul do Equador.
~I
r,"
b:.-__
.e'
o ruo
DE ~. FIUXC/Seo
~o leito arenoso qlle vamos trilhando como se fm

uma alllpla estrada, os ~eixos de quartzo, os grandes fraI:!mentos de gTs formam aqui c ali bancos que intcnornrwm o caminho,
e contl~ll1 a ugua salobra /lOS ealfleires
onde nenhum ser vivo (',onsegue permanecer.
A vegetao pelas margens dit'fere apenas CIll algulls
tqJOs vegetaes novos, mas ainda assim. o horizollte da
cufill!/It
ond(~ imperarn () mOl/daer/r"',
() chjue-chiq/le,
() q/IHl. (, cardo cnea de {J'Iule, a macabira, () ju/'ellla.
a
/itl:cllnlt
Ylli;"X:rm, o iIll., o al/gico,
It n(ural/a
vem qua-
si at a borda da torrente e participa-lhe

das humidad(~s, ao menos urna \-ez no anno, quamlo ella desce impetuosa dos montes \Jtnhados pelas chuvas do n'l'50.
A vista alonga-se aqui pela vast.a planieic que rae
fcnecer ao longe para alm do S. Franeiseo n'lIllIa linha
illdc(:isa e nevocrtla, onde raros pontos illuminados
dc11IllH:iam o relevo insig-nifieante
do ~()lo. Para o lado do
lIorte porm, e, prolongando-se
para o oriente, des\.;o!Jn'lllse as alturas que aqui se denominam
tierras e .,;c/Tole.,;,
('om o seu perfil pittoresco cie montanhas dest.acadas, (',01110 ilhas
na planicie nivelada das catingas. A \'istaIlH,;e
as eumiadas da serra dcTucCt/'ati com as linhas along-adas de uma ehapada srm reel'tes; os cabeos e elen.l<;es da sen'a da Aguft Jlrrt'crt Oll da Prt/'iconirt
os grupos isolados do J'iJlgu.lJ, do (;/,rwJlrZ do Padre, do Olho
rl'r1rJua sumindo-se j< no 'orizont.e na direco de Piranhas.
At aqui o terreno no dill'ere da zona precedente na
sua ('(HJstituio geologie.l. O granito afflorn frequentement.e no meio da planicie, Dikes de uma rocha ,t\'erillClhada de base feldspathiea, semelhante
ao "'yeJ/ita, atravessam os l:aminho~ e surgem H,meldo por entre as tO[]-
('eiras dos cardos.

O solo est.<i eoberto de seixos e de fragmentos
de
quartzo braneo ou corado de vermelho-ferrugem.
Extraordinaria a quantidade de blocos arredondados
de quartzo branco de l(~ite fendidos, grandes, formando bancos
DH.. TH~:Ol>OHO
S.\:\II'AIO
ou montculos que a vegetac,o espinhenta do~ ("11'110se

das bromelias bravas, por vezes, cerram com uma COl'tina impenetravel.
~ m montes, di visa-se pelas encostas atm vez do ma lIta da c"/,tiu[Ja, os grs em camadas quasi horizoIltaes ou
apenas perturbadas
por algum accidente local.
A rocha tcm ahi uma contextura grosseira, ora branca, ora avermelhada
e Ulll tanto friavel na superficie.
PO)' toda a parte o aspecto silicoso do solo explica
a pouca fertilidade delle.
E la verdade, no ha regio mais ingrata do que esta. A \ egetao o attesta no typo e qualidade das espeeies dominantes.
A populao permanente
escasissima.
Poucas fazenda~ de criar, umas muito distantes das outras, se encoutram por estas paragens onde, a no ser o S. Francisco, no ha rios pcrcnnes, no ha fOlltes que resistam
aos anlores do estio, como no ha lodo ou humidade qU(~
nao tenha um sahnr amargo ou salillo.
"'oUa Grnllde ei:)t:i a 2T metros acima do I1ivel do
mar, ('U 4~)leguas mais alto do que a c:whoeira Paulo
Alfonso da parte de cima.
Pdas 6 horas da. manhan, tinhamos abi uma temperatura agradavel de 1911 centigrados, e observamos as
varzeas como as montanhas ao longe cnvolta~ na sua tunica ce nevoas, que rapido se dissipavam aos primeiros
raios lia sol nasnte.
A~ 1\l~U1hans so aqui encantadoras,
admiraveis, df~
fres(~()(' e de helleza.
Durou pouco . todavia, porque o sol, em alando-sp,
j :is 8 horas comea a arder. inundando tudo com a sua
luz r' rissima que a cr al va(~ellta do terreno torna ainda mais intensa e encommoda.
O BIO D1~ ~,
fIU:\CISCO
CAPITULO
VII
J"a.'bot.
As' 7 hOJ'Ri>e mea, partamos de Volta Grande e alcana vamos o lugar Qu-ixaba, cerca das 11 horas.
E' este sitio aprazvel, na base de um pico de -)30
metros de altitude, provavelnwnte
o esporo mais meridional da set'l'a do TacCtl'at que pouco antes divisavamos a.o longe.
Para descortinarmos
a regio ao redor e darmos melhor razo della subimos, o DI'. Ol'Ville Derby e eu, ao
alto do pico da Quixaba, donde de facto se consegue
abrantwr um amp1issimo horizonte, aprofundando-se
mai~
pelo tpr'jlorio
bahiano !.lue !lOS fica fronteiro
e para
aJem da liuha prateada que l embaixo assignala o Cllrso do S, Franeisco.
Estamos com OULOSfilos na direc(,;o do sul.
Dm territorio immewso desdobra-se a nossos ps. E'
uma pla nieie quasi em relevos percept.i veis, cujo pendO!'
s ua base da monlanha em que estamos se eonhece ou
se cOlllprehende.
Mais longe no se distingnem
seno
manchas eSCUl'as movedias, sombl'as projectadas das nuveilS, quc passam tangidas pelo vento, e qne o observador, li primeira vista, levado a admittir como uma nf1exo do telTeno, Oil tomo ullIa haca elll que as humidades aecumulauas
tenham feito brotaI' uma vegetao
mais vigorosa e cie tOilS mai:,; intensos,
Alguns picos ou senos rlestacados, que se di\'isam
ao longe, no territorio bahiano, no eom;eguem modifiear o aspecto geral da regio, euja monotonia nos revela ou nos traz ao espirito o presentimento
da desolao
e da esterilidade.
To longe como a vista pode aqui penetrar
neste
ambiente secco, e intensamente
iIluminado, estamos, de-
DIl.
___________________
TlIEOf)OHO
~.\'IJ>IO
eerto, dominando
a" paragens do di\'isor das aguas do
S. [<'f'i.lIlcis('o e do Yasa Barris, as terras on\r'ora dominadas pelos Oris!!s, o mesmo asperl'l1lo paiz (]os}I/!///IIo.-;
r(~\olt.ldos de CaJl,udo,'t.
:'Iienhum relevo partieular
a('(;usa, porPllI, ('ss(' diviso!'. A,.;linhasdo
tpl'l'itorio ollsen'ado lf'trI aqui a .!:randeza e a igualdade rlo~ horizontes
maritimos, .-\s [has, a
costa fie:Wl a 1l0SS0S p6s ou junto rip flls; ao IOIl.!p porem (I inunenso mal' (;u,jas cl'ispaes 011 \'aga~ se apagam na grande linha pma do nivd ideal.
1\'0 dia seguinte, :2H de Agosto, dlegamo~ a .JatolJ<
pelas 9 horas da mallh. Fomos logo v(~r o rio S. Friln('iseo que aqu forma altas harrancas ro('hosas como Ulll
('aes natural, e o aehamos estreito. I)~faeto o rio Piltra.
aqui n'uma gurganta, formada pelas :,-;crras de 1'(f.('Ju'(/f
e de Itrtparica e se estreita ('onsicleravelmcllte
ra~~,\lldo
atra"cz das rochas um lpito profundo tal ('.omo IWIll Sf'
observa na cachoeiru de Ita]l((/'iw
onde elwg-a a t~1' canue:" su ht crraneos.'
Em .Jatob Hea a estao terminal da via ('('rrpa, dl'stina/la a Jigur a~ duas secies navegan:is do J'io S. Fl'll 11CISCO.
No havia
ali seno alg-uns ranchos d~~tl'1tballlado(le cOl1struco l'pg:ular destinada

ao
sen io da e~trada. ~lateria es expostos ao tempo, \'a rios
tmbalhos comeados e eom aspedo incoherente dI' servios incipientes, eis que vimos em .1atob, ali<s j dcnominada Cidade nos proje({os qlle se vinham eXP('l/taJl(io.
No nos demoramos
em .Iatob. sen;lo o tempo jlJ'e(~is() )ara
visitarmos a eachocil'a que tica proxima, e dcixannos que o sol dedinasse um poueo para. nos pfflllittil' eontinual' a viagem para o Atalho, 011l1e devialllos
comear a estudar o I'io, navegando-o.
l'es, e urn comeo
HlO
DE
1'\. FHA:\CISCO
CAPITCLO
VJ.7
VIII
.Ao talh.o
permanecemos
muitos dias, em preparativos de viagem, e em organisaI' a expedi(,;io. Foi mistcr
seguir \1m dos engenheiros
at Hodellas e Cahrob para coml))'al' canoas e contraetar
pessoal para () sen'io ;
expedir alguns homens ao cneontro das bagagens que j
demoravam, tranportadas
em carretas;
foi mister improvisar em carpinteria
para se fazerem os aj oj o.';, especie
de balsa em que deviamos viajar rio acima.
Emqu.ll1to esses preparativos
se avia\'arn, fomos fazendo varias excu['se.::;, pela regio ao redor; deseemos
() rio at a cachoeira de ltapa/'ca, ee)'(~a de :~leg\las distante, c ainda para baixo de .Jatob,l e ahi observunos,
sob as camadas de grs nuas, corl'Oidas e relusentes pela aco das eOlTelltes que as recortam (:apriehosamente, dando-flIes formils bizarras, exquisitas, as aguas volumosas do grallde ro cor'['(~ndo soturnas em profundo e
estreito eanal, e por innumeros conductos subterrancot;
Oll sumidouros
que do ao sitio um aspecto pittoreseo,
uma belleza l'ude, imponente () ao mesmo tempo medonha.
O canal principal fiea ahi do lado bahiano c tem ullIa
queda de cerca de H a 10 metros, entre paredes talhados a prumo que aqui se denominam
portics. O
"01'. Derby que se aventurou
a visital-o,
atravez dos
innumeros grotes e fendas do leito roehoso posto a sec('o, obt;ervou que as camadas de grs se superpe ao
8!/cnUo, descob(~rto lia queda do rio.
Vm espesso manto de grs maIle, grosseiro, COlli camadas de UIll sehisto variegado em alguns .,ontos, unde
tambem se observam bancos tenues de um caleareo esbmnguiado,
domina por toda esta regio cujo cmbasa~O
Atalho
DR.
THEODOHO
SA~IPAIO
mento o granito e )lar vezes o syenito, no muito profundo no leito do rio.

r,a cachoeira da Volta Grande, entre Jatob<l e o Atalho,)
grs, que se avisinha de uma e de outra margem,
aperta tanto a COrI'entc fluvial quc a reduz de 700 metros,
largura normal, a 80 metros entre dous enormes
pilares
que ~;imulam o porto de um grande corredor de 500 metros de comprimento,
onde correm as aguas com violenda e a sonda diflicilmente alcana o fundo. Em um ponto pOl'm accusou ella 2H metros de profundidade.
Subindo rio acima a mesma paisagem se I'cpete. O
grs toma as formas mais pittorescas
e d<l logar;a que
se v(~.iam pelas margens ruinas de castellas, fortalezas e
basti(-les que a imaginayo facilmente concebe.
No logar chamado SobJ'a(linho, pouco acima do Atalho, v-se margem esquerda, erguendo-se
das aguas,
um eabe<,oarredondado
com fendas caprichosas simulando gigantescas
portadas. No sitio do Pel1ed'nho, projeda-se para o rio um esporo pedregoso da serra visinha,
que de longe parece uma torre em ruinas.
~ a base essa torre phantastica,
o grs retalhado
forma columnas, ou pilares que dir-se-ia representarelll
os r'~stos de uma construco
c~relopica.
~o Atalho e no Angico, meia legua rio acima, eIl(~onL'at'al11-se, sob o grs, camadas de um schisto calcaJ'eo muito rico em fosseis, grande abundancia de agathas
me,:la:,:, e fragmentos
de madeira petrificada.
A silificao da maneira. aqui mui frequente
nu
margem do rio. Nas visinhanas do lagar chamada Cam-.
pillllO, entre o Atalho e Papagaio \'(~-se um grande trollco, quasi uma arvore inteira petrificada, com a base para o lado do rio e, met'gulhando
por baixo de um balleo de grs, surge alem com 2(i metros de comprimento
e 40 centimetros
de diametro medio.
No Atalho, que no seno uma vivenda de .Jos
Manoel de Souza, ti margem esquerda do rio, e que por
muitos dias foi o nosso quartel general, estavamos a 3'20
o mo
D~~ S. FJLDIC/8CO
metros acima do mar c tinhamos regularmcnte

em SetC/llbro tcmpemtur-as, de 2~ a '2!,.o ccntgrados pelas 8 ItoJ'ai:; da manh, 20." ao meio dia e :H.o is 4- horas da tarde. Durante o dia o vento sopra brando e eonstante ro
acima, mas durantc a noitc as barracas
em que pousa1ll0S agitam-se e quasi no resistem violcnta dclle em
(~ertOi:;momentos.
X.o prer.samente
um regalo o navegar em ajf;jo,
arrastando
rio acima, fora de varas, ao longo da
margem menos funda, esse estrado tluetuante e de mo
governo.
A naYega\,o fluvial pOl' simples harco sempre
foi
um mister inado de enfadonhos
incidentes,
mas em
qllc estes, pOl' via de rcgt'a, no passam de mcrai:; excepes. 1\0 rio de S. Francisco, pOt'm, no trecho que
estamos percorrendo,
o contrario que o verdadeiro.
Os incidentes e obstaculos
que so l regra.
:10
DH. TJ-IEODOHO
:-;,.\:III',\lO
CA PlTULO
Eea
""\Tist",- e Oapirn
IX
Grosso
Partitllo"
rio a(~lma de vt'las pnt\lIIadas,
duas I'IlOrnll'''; \,pla" trian,,:'ulan's
presa"
a um Sl masko,
silllulando as Zafo; dr gigalltps('a
gainlta,
<1H' \"()asse' '('lIte
eOI I as al'llilS bem prlo lIwio da ('OITPlltP, f' sillgTllllOS
ilssilll pll!' llIuitas
hOl'as n'unla
destilada
tl'iulIlp]!. gozar do da paisagPlll
milis tip largo, distinguill(lo
por so
bn' a \'('getal,~fjo !onoto/la
das cali/lf1flS
as linhas
do
l'l~ll'\'o do telTPllO distant!',
e lllall!l'IHlo-nos
e01l1O que
il i ,rnal distallein
dl' anlllas
as margPlls
<jl\(' \lO" P;ll'('eenlll
dl'shahitadas,
Subito,
o n~nto ('essoll (' ('onl isso a Sl~l'na llllldoll
eOI:l pleta IlII'II te.
Colheram-se
tU; vt'las,
..-\ embartu<,;fo
abieoll
para
1l~l'\'a, IWl'llendo do ('aminllO andado,
e os I'enll'iros l~()rreralll s varas para a desl'ahida
nfo ser aillda Inail',
A sulJida ao lOllgo da margem
toma-se
ento
de
UtHl monotonia
insnpporta\'el.
Aqnclles
movimentos
rithlllicos
dos remeiros
no il' e dI' sobn~ as coxias,
irnpellin<lo a cmharea~,o
qllP parece 11,1.0 a\'an~ll'; aquella
pai~,a.rem llaq.dllal
Uio lilllitada,
agora t.l0 poueo \"al'iavel e que parece niio <{uerel' sUlnir-se das llossas \'istas enfastiadas,
to lenta a IIlar<:ha com <Jlle SUIJilllos;
aqlleIle
sol qllelltissirno
que faz alwias
(' aquella
luz
viva que os reflexos
ffuseantf~s
d'aglllt
tomam
ainda
mais mortifkantes,
fio pn~dis}l(em de certo o pspirito
do viajanh~ para il eontell1pla~,no
l' o estudo
O <JIW
vae passando
tilo lentamcnte
diant<~ d('llc n'urna c 1l'011Ira lI1aq.('elll. E eOlllo o horizonte
Pill redor
nada
lelll
de ,;edll<:lnr, as atten(,:es vollam-se
para o (1'11\ se aella
mais junIo
de llS.
~----..--
_-:.~
----:
/..'
-~--
'.
.'
'.\ "
( ,I
.~
l'
~\.
}
-_.;-;.-c-=
--
-... _- ---------------
..
HIO
DE 8.
:31
VIL\:\CISCO
COllle~'amos
enUio it analysaI'
os c()mpal\heil'o~
e os
lahitos /lOVOS Il(H,IUcll(~ ambiente 1\0\'0.
O,., IIOil\f~nS scmi-IIs que cantam a sua cantig;l
tllOllOton,t de barqueiros,
c vo c voltam;
levando
as
sllas varas longas e ferradas,
jogando-as firmcs, eel tas,
Il'agn<l, os peitos apoiado:;; ~obre ellas, tremcndo
sobt'e
o impulso dos ll1usculos retesados,
emquanto
debaixo
sellS
dos >'cus P(~s e impellida

por estes a emhureac,;i1o ealJ1iIl/la de cnconlt'o
,i corrente,
so para Jogo o olJ.i(,~etoda,
nossa
curiosidadp
e exame.
V-s(~ alli, (~ntre elles, todos os matizes
lal;'!O polyellrorna
da nossa terra. O (~aboclo
da
popu-
Il'gitimo, o
negro nioulo, o carihow, JlIixto do negro c do indio, o
cr))'', o IIwlrrfo,
o hranco tostado
d(~ cabellos castanhos
c <:-; \'('zes rui\'o, todas as raas do contincllte
e os
prol/lidos
dos seus diversos cruzamcntos
ali est:l0 ,'ppres!' n tad os.
\'('st('
partieular,
o .valle do S. Francifo;eo
em qllP todas as raas relwesentadas
11m
\'a~t() cadillllo
lia
AnJe1'j1,1 Sf' fundem ou se amalgamam.
L)s mestios eram comtudo muito mais Ilumerosos.
Estatura PoWO acima da llIe, ealJcllos erespos all al1-
jwllados, prelos soh

abas curtas, descidas,
chiLpeo de COIlI'O redondo e de

podendo servil' este a UIll telllj)o
li/il
de ('stojo e de ellia para heher agua, delltes bOilS, curtos, firmes, cortados em ponta corno os do peixe,
que
(~ este o chie do s(~rta,\(,;jo, pescoo curIo e grosso, hom-
hros largos,
bom peito, desharrigado,

(:anelIas linas e
tal o eabra do serU10 a quem
no
j'alta a. palana
faei!, il rapidez da rplica, a vivacidade,
p lltto
e largo,
imaginao
Xa turma
galll as varas
e il poesia.
dos l'emeiros,
onde todos
porfia, jol compasso
certo, s se ouve
o relinir
das pon las de ferro de ellcontl'O aos seixos ou areacs
do fllTlr!o da corrente.
Por !!lamentos !ling-uem fala.
Hejlla sileli{:io cxpontaneo que nenlwllla razo t'Xplita. Subito, porm,
um dos da eompanhia
ri-sp e inil
OH. THEODOHO
tcrpellt n'esta linguagem

zir: - Hein, Z Lett/'C1Ao,
S,\:\IPAIO
pietorcsea diffil'il de rPJll'odu/ttio qniz saber de co//,'Vf/,,;a .~... T/'UNteJ01t, lUlO tem. qlle lJ/W. P'/,aque que um
atb/'a
tCIIi talento
110 b/'({'o P... Citrodia ('erto dia) nK jl
scrrilllo ...ttm ba,//'do p/'o mode o llJaf.hia e o......e.u,.. fw'd/,{no.~... Apoio'; desta feUn foi COlli Vo!;..,. .... O Cabra .wJe
cnnr COllt /t'lnn {i ..,.u/,(t IIO.'~ terem do!; ontro ... que lIinrt
gtaa .. e WID !;e di[}lt
VON..
lI(lda,
(l/te
UIlU alTclia
do ..
]JCc-
E sempre nesse tom ia o eosinheiro que tambem ~ra o Pi[Jal'a destas handas, l;ontando iL sua pilheria e narrando
um taso de \'a.lentia que sallio s avessa.s, de que todos se riam sem cOltudo amo~inal' o Ldt/'(tdo que cra j avesado a taes motejos.
Ao cahir da tarde abicavamos
pam terra, ao primein porto c abarracavamos,
isto , dispunhalllos
o
leito de eampanha
sob as copas espinhentas
dos joaI-ici/'o.'l e das quixnbei/'a ...
, porque ninguem snpportava as
barracas fechadas, atendia-se
toga, e eada qual sahia,
caminho if fI'a, infoJ'mal'-se , aventura, at a hom da
refe o que de ordinario tinha IOil'ai' ao anoitp('Pl',
Nestas paragens, o de~;p\'l() (~ Hpella~ appaI'Pllt('. O
Bl'<lsil, cm vCl'llade, mais habitado do que se pen:-5a
e mcnos rico do que se prcsume.
Daqui para tima, em ambas as margens do Rio S.
F't'aneisco no faltam moradores.
A populao llIesmo
numcrosa,
bem que pouco pl'odudiva.
\'lve alheia s
lei~ economicas. Produz apenas o preeiso para vivcr.
N') importa, porque n[LOproduz para trocar, ncm troca
ou permuta porque no tcm mercado onde fazel-o.
Nas cstradas que margeiam o rio ou delle partem em
direces diversas, as habitaes
se ~uccedem a medo,
formando pequenas povoaes, lugarejos insignificantes,
e algumas yilIas c cidades. :Kas povoaes
ribeirinhas,
o aspecto de pobreza e de atrazo extremo. Vh'e-sc ahi
sem se sahel' de que. No se V(~ agricultura
alguma,
n(lm trabalho permanente.
Na beira. do rio, no lameiro
(las margens, onde a humillado resiste melllOr < S('('(,\1Cad-OK . ,}}
l'a do ar, df's('obrem-se <s vezes os restos de uma plantao rie milho, de aboboras, de batatas doces c mandioea, Illas 1 udo em propores
minuseulas
e milito
pouco r-uidadas. :\as catingas, reconhece-se
yue o gado
ali pasta pf'lo l'asto da rez yue passou, porque
ra.ras
so as eabe<,;as que lppareeelll,
As habifa\''~s eOllstruCIIH:ie aqui pequenas e baixas, .i falta de madeira, f'mpregando-sc
por essa raziio
at o mandaca/', cujo troneo mais grosso fOl'lH~(~eu m
tabuado branco, aproveitado
para portas c para o pobre mobiliamellto
que :::;eusa,
As easas \'oltarn-se todas para as estradas, onde o
eomrnercio frequente e no raro deixam o rio distante
por causa das enchentes.
/{asiio porque quem navega.
nem sempre distingue atravs
da vegeta;1O marginal
os poroarlos, que vai deixando para traz de si.
Approxilllavalllos
dessas habitaes com ('onfian(a
porque not<imos qu!' os seus moradores
no se arre(',I~iavalll de Il()s. HOllwns c mulheres de nada ~e admi
ntvam; pal'e(~i"lfJl at indiffercntc:,; em ~aber qu('m era.!lIOS. Illas dei.\a\,(llll-~e inquirir 11 vontade, rcspolldendo
sem deseolllianr;as
nelll telnoreS.
As mullwrcs vinham trazer as sllas rendas
paru,
vender e lhes (~omprava.mos algumas per;as a bom preo.
Os meninos, quasi sempre ns, nos rodeavam e seguiam,
ensinando-nos
as veredas e os atalhos naquelle labyrinto das catillgcts.
:\0 interior das casas no havia mais que sala,
quarto, corredor e cosinba; o eho duro, mas exeavado
pelo transitar
e valTer; as paredes ban'cadas c enegrecidas pela fumaa; o tecto de palha n.o tinha melhor
aspecto. A um canto, estava o pote cheio d'ag'ua que se
ia buscar ao rio, cuja qualidade
todos nos gahavam,
pois (~ crena geral que a agua do S. Francisco no 1:;e
corrompe. Notavamos pelo cho as esteit'as em que as
moas costumam assentar-se
pra fazer renda em almofadas, I~ em que empn'.ram bilros feitos dp coquiJJos
DB.
THEODOBO
~.UIPAlO
c espinhos de mandacan
substituindo
os aJtinetes; vamos as redes que, logo que entravamos,
eram estendidas ou armadas para nos receberem, algumas feitas de
algol.O e guarnecidas
de rendas, outras mais singelas
feita~; de palha macia do lHu,ity
I}elas cinco boras da lllanbrt, partiamos
do pouso,
almc(;avamos
em qualquer ponto do tmjecto, ordinariament.e junto a alguma cachoeira
em que era prcei,,;o
deitL!' gente n'agua ou aliviar a carga para se transpor.
Depois examina\'amos
os eanaes praticaveis,
SOI1da\.d110S e proseguamos
ro i(~ima nessa mesma raina
de lodos os dias.
~esse marehar, tinhamos transporto
as imporlantes e diticeis cachoeiras do Fro, il do Rosario e a do
Ca'J.:auh.lJ, e vnhamos
ao 1/)(; omle o rio se reduz minima largura de :mo metros, execde ern profundidade
a
mais de SW metros e a concnte superficial aeellsa nove
d;t mos de milha por hora. Jnnllmeras ilhas, grandes lagea,~los em seceo, hantas de ara extensos,
tra\'esses
WH nilicos, se eneontram
a. todo o momento n'essa travessia de cerea de 2'. leguas at Cctb/'ob, que alc:an<,avanos a 27 de Setembro, depois de doze dias de viagem desde o Atalho.
Cabrob uma villa insignificante
e sem vida, ,t
margem do eanal de .4- leguas de exlens.o que ahi forHW a grande
ilha da Assumpo, e represent.a o ponto
mais septentrional
que attinge o ro lle S. Franciseo 110
sell curso atravs dos sertes. A villa euja populao
nflO excedia ento de .I-)O~almas, tem uma pequena matriz, llma capella, um pobre edificio para a calleia c umas
{luzentas casas, no geral, mal construidas.
Estavamos
ahi a :150 metros de altitude,
ou 30 mctros mais alto
dc. que o nosso ponto dc partida 110 Atalho, e o thermometro marcavc 30. centig;rados sombra ts 4- !loras
da tarde.
O curso do rio quc vinha orientado mais ou menos
a nordeste, aqui il1flcctc para sueste cncaminhando-se
0
RIO
DF. S. FHA:\CISCO
para o mar, atl'avez das sen'as, <ue aqui se abatem

e
se separam para franquear-lhe
a passagem.
Nestas proximidades,
tNmina a zona do grs e eomea <.l do glwiss e do granito, os quaes emergem
no
leito da corrente tomo nos ealJeos e morros que se
.avisinham ele ns.
Daqui at ao Jowwiro, cidade bahiana que alcanaillas a (l. de Outubro, depois de termo-nos
demorado
alguns dias a examinar as caehoeiras visinhas das villas
(((' noa Ttsla e de Capim Gr08so, o telTeno
muda de
{:ollstitui\o
c de aspeeto. O granito a rocha dominante, c o caleareo, s vezes cristallino ou marmoreo,
de rres variegadas tOl1l0 nos Morcegos, apparece
fre(Iue 1\ teme n te.
A vegetao melhora por lI1uito em relao a que
dominara lia zona do grs .
.-\pparcccm agora a lIIedo, de Boa Vista para. tima,
os bosqucs de Carnahubas, assignalando
q nasi sempre
U/ll solo salgado, que os moradores
exploram, lavando,
coando e (~\-apol'ando para apurarem o sal.
Att-" Joaseiro, na altitude de 420 metros, a navegal,.'o tlurial ~ cheia de ditliculdades
pelo grande numero
de earhoeims,
que no rio se contam, todas, ali.ls, suscepti\'eis de melhoramentos.
No (:remos, porm, que esse melhoramento
venha
a ser preferido ao que pode trazer uma estrada de ferro
do .J oaseiro, rentra abastecedor
destas paragens, e por
onde podem escoar-se os productos do valle em demanda
do porto da Bahia, muito mais directamente
do que
{iescendo o rio at .1 sua barra, qne de to dfficil
pratica, e cujos dispendios para melhol'ul-a ninguem jamais calculou.
DB.
TIIF.ODOBO
8A:\IPAIO
CAPITULO
J"oazei:ro
A cidade do .Joazciro com razo eonsiderada

o
emporio do 8erto do S. Francise<>.
A sua zona de int1uencia commercial que, por um
lado, attingc Cabrob 2O:J kilometl'os rio abaixo, por
Ol tro, a .1anuana
lO;>'~ kilometros rio acima, afredando
ai Hia os sertes do Piauhy por Oei\'as e Paranagu
e
0:3 de Goyaz por Palmas
e Natividade,
, sem duvida,
ullla das mais vastas do Brazil central.
O Joazeiro, que lica distante
do porto da Bahia
jJG kilometros
ou 87 leguas, a mais curta travessia
elltl'l~ o mar e a seco nayegavcl do alto S. Frantisco,
e, por essa razo, l,onto term inal escolhido da grande
liilha ferrea que para e8tes sertes se encaminha, linha
fenea hoje concluida e trafegada, tinha ento para ns
q'Je acabavamos de percorrer uma regio aspcra, atrazada
e to pouco favorecida pela naturcza, o aspecto de uma
c()rte do serto. As sua8 cOllstrnces em que se procuram
OJ~ervar terto gosto architectollico,
a sua 110\.1 choa.
c;;reja matriz, o theatro, uma grande praa arborisada,
ruas extensas, cOlnmcrcio animado,
porto profundo e
amplo, exhihindo uma verdadeira ft'Ota fluvial, populao
alegre e activa de mais ou menos tres mil habitantes,
davam-nos
uma imwesso
to fayoravel de progrc880,
de riqueza e de actividae que nos alegrava e nos levava
a mudar o conceito que vnhamos fazendo este rio e
dos seus adustos sertes.
Tudo, com eff'cito, aqu concone para tornar
e8ta
<:idade um centro de activas
transaccs.
Situada
na
encrusilhada
de duas grandes arterias de commllIlicao
i Ilterior, isto , a velha estrada historiea que da Bahia
~e encaminha
para o Maranho atravs do Piauhy, e a
rrnplissima
estrada fluvial que des de :\rinas c V<le ao
RIO
DF. S.
FHA:\CISCO
Oeeano atrav~ da Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe, o Joazeiro, fundado pejos tins do seculo XVII, se
tornon logo Il m centro preferido das transaces COCllmerciaes destas regies, e cresceu e se constituio o foco
mais poderoso da civilisao e da riqueza desta parte
do Brasil (lue se pode designar como a regio media
dentre os rios S. Francisco e Tocantins. Por essa razo
aqui COlllllllll1lnente denominada
a }Jl'an
entre os
sertanejos, mantendo com o porto da Bahia um grosso
trato, servido por cerca de dous mil muares, que de
ordinario fa:,em a grande travessia para o littoral em
quinze dias de marcha regular.
Entretanto, apezar da distancia e dos meios de
transporte e das difliclildades vencidas, chegam aqui
as mercadorias europeas por preos bem razoaveis, e
ainda sllpportam com vantagem o frete addicional para
logarcs mais distantes.
Xotamos na populao do .Joazeiro a mais obsequiosa
atteno e LI t'haI1ldade.
Haviamos assentado acampamento, abaixo da cidade,
,1. sombra dos frondosos cajueiros de lima chacara situada
< margcm do rio. Em poucas horas,
porem, toda a
populao sabia da nossa chegada e o que nella havia
de mais distineto e elevado nos vinha visitar e offereeer
os sells prcstimos. Notamos-lhe ao par de muita affabilidarle e coneco dc maneiras, o sineero desejo de
obsequiar e de servir. Em breve, reeebiamos convite
pam ('cias e jantares, bandejas de fructas e doces cobertas
com toalhas de requissimos bordados, e outras provas
repetidas de eonsiderao e de sympathia.
Dentre as pessoas que mais attenes nos dispensavam, distinguia-se o velho vigario, o Conego Matta Gt'osso,
figura sympathica que tactos tratavam o padrinho vi[Ja1'o,
pois vira surgir e baptisaI' a quasi duas geraes desse povo
~ertanejo CJue to sineera e to justamente o amava.
Como nos demorassemos no .Joazeiro uns quatro
dias em providenciar para a viagem que, do Sobradinho
:m
DH,
THEODORO
SA:\IPAlO
paru cima, devia ser feita a bordo do vapo!' P'csiclcltle

que solicitararnos
do governo da Bahia, aproveitamos o tempo a percorrer
os arredores, a colhcr
Both ias da::; regies visinhas, Passamos o rio que aqui
tem '750 metros de largura e ,'isitamos il. ,'illa da Pelrolil/a,
na margem opposta, em territorio
pernaIllbu('ano,
i) logar era ento um pO\'oado insigniiitllnte.
{'uja
JlI0df~8tia a pr'opria categoria de villa decerto prejudi{'a va,
Algumas casas de feill COI1Stl'llC<;oao longo de unla::;
poucas ruas estreitas,
desalinhadas
e 1treientas,
uma
egrcja de modcstissima
appul'clIciu,
pouco comnH'l'cio,
populao escassa, cis o que era a Pctrolil/u,
que alis
todo:~ informavam
ser uma povoao I\lUito nova c destinac.a a grande futuro, vaticinio decerto muito prohl'lIlatieo, attcnto as conies da localidade e dos sf'rtile:;
rl(~ slla mais directa dependencia.
Entre .Toazeiro e Pclrolina
ha no mcio do rio UIll
ilho pittoresco, denominado por alto penhasco em fOl'llla
de tone, do cimo do quai se desfruct<L o bello panorama
da eidade e das regies mais distante~, Espeeie dejardil1l
naJu'al, formado pelos alluvies, a pequena ilha o logar
pret'el'ido por joazeirenses
e petrolinenses
pura os seus
folguedos, pescarias e jantares
ao relento. Chamam-lhe,
no ,;ei porque -ilha do Fo{/o, Illas, em verdade um
pequeno museo mineralogico, porque em to pequeno ambito, qual o de uns duzentos ou trezentos
metros, exhibe UI:la grande varierlade de rochas e mineraes dos mais
caractersticos
do valle. Ha alIi a rocha hornbleudiea
durissilna que forma o nuclco do ilho mesmo, atran~;-;sada
por c ike de um quartzo escut"O, fragmentos esparsos
de
cong.oratns
ou pudiJ1.Ys, in1iltraf.ies lIe ferro e silca,
graphito impuro, blocos graniticos, grande copia de seixos
de qlJartzo de cres diversas, fragmentos
de agathas,
de tc'pazios e pingos d'ag-ua.
Deixamos o .Toazciro a ln de Outubro,
depois do
meio dia, e fomos pousar duas leguas rio acima, 110
lugal Vn1'{Jcm do lado de Pernambuco,
fronteira an valle
])nIlICtS,
.r/-_~~:rU
- -~ . ~'"':--'.'"
-=~-~~
-",:-',;.~.:,.~~,':~~~~~-~-:-~~~':"'-;:-:-;':~7
~r""a .lu MuJuto
\";d.s
tt.
(.ampo dQ. ('.,,:11101
__ ~ ~
c:::.
..
fi_~~~~~~~~~~~b~~-=:,:,~,c.
,-
I
!
l
RIO
DE S.
FIlA:\CISCO
do ,gnlil/'e qlle vem por entre as montanhas

da part!'
do sul.
Diante de o{s, illuminado pejos raios do sol poente.
appareeia-nos
i distancia
em grande
relevo sohre a
planicie, o perfil da SelT(/, do .L'\lulato, com as suas cncostas
talhadas a. prllrno e os SellS robustos contrafortes,
superiormente
eort.ados em forma. de meza, avanando
({UileSdOllS CJlomws hasties de uma fortaleza de Cyclopes.
O rio largo como um brao de mar da\Oa ainda
ma.ior realce .l paisagem que as montanhas
distantes
embellezavam,
refleetindo nos seus alcantis os tons n~rmelhos da luz solar' ({lW desapparecia.
40
DR,
TfH;OJ)ORO
CAPI1'ULO
..6..5 Sa.lina.s
:->'\)11';\10
Xl
d.e Ca.sa. Nova.
No dia 20 aleanamos
a Cachoci'(~ do Sobl'aclil'w.
mo direila o Pnu rIr Histol'ia, lugarcjo
illsignifieante
c areiento
onde tcrmina o t.erritorio dp
Pernambuco
margem do rio S, Franeiseo, l)t>ste ponto
elll diante il Bahia ocC'upa ambas as margclls do grande
rio E estende o seu vaslo territorio at a Scn'a dOH ])011.'-;
Irmo8, nas divisas com o Pauhy.
j'a Cachoeira do Slluradinho, ou melhor lias cachoeiras deste nome, porque ellas so lIIuitas, quatro
pelo
men(IS ao longo do canul, ahi mais sU8cepti\'cl denavegao,
divide-se o rio em dOllS bl'lll;oS desiguaes e exhibe UIIl
vcrduleiro
archipelago
de que so as maiores illws, as
de Slll/tn
..liliif/,
e da Ca.choeira.
Impl'alicavel o bmo maioI', do lado do sul;
graudes so ahi os cl.esnivelnment.s, lIlllltiplos os obstacujas que o leito rochoso apresenta. O Canal do Sobrad'I/ho,
porem, entre a ilha da Cachoeira
c a margcm
esquerda, com um descIl\'olvimento
maior, reparte pOI'
quatro
sllceessivos e curtos
J'((pido:.;
ou cOJ'J'cdciras ()
maiol desnivela mento qne se obsen'a 110 outro brao.
Mellu-rallo csse canal, com a l'eeti1icao da passagem
e l'en)(l(~o de lages que o prejudicam
em profundidaol'
dirECO, o tnmsito para grandes barcas Hca assegurado
em qualquer poca do armo, e as cOlllmunicacs
do
.Joaze ro eom a seeo desimpedida
do l'io garallticl.as.
:'\o eanal do Sobradiuho tnbamos encontrado, nessa
poca de vasante, \lma largura media de 12 J metros, e
o fundo minimo de ;)0 ecntimell'os
sohre o travesso
da cadlOeira mais importante. As embarcaes passavam
ento descarregadas,
ou, quando
pequenas,
alliviadas
de meia carga.
dcix.1I1<10
j~
lHO
/JE
S.
fHA\"CrSCO
41
~o dia 21, pela tarde, depois de examinados os canaes

e cachoeiras do Sobradinho, apartamos Santa A11I1a, one nos passamos para bOl'do do vapor Presidente DctJa.;,
ah ancorado havia j UW, trcs annos quasi abandonado.
Santa AUlla um povoado com arcs de frcguezia
sem vigario: COllstruces humildes, rua larga e unica
n'uma lomhaa areienta, pequena distancia ri., margem,
capella no acabada, commcrcio nullo.
Algumas barcas que se preparam
para descer as
cachoeiras,
alliviando-se
da carga Ol) de parte desta, e
outras qllc j as venceram e se dispem a proseguir rio
acima, animam-lhe
todavia o porto, do-lhe alguma vida
com essa populao adventicia dos harqueiros, acampados
sobre a ara da margem,
ollde noite se accende o
lume das merendas e se olive o descante saudoso, melancolico do remeiro ao som da viola insubstituivel.
S a -:W, depois de concertado o vapor. e recebida
a
alltorisao offidal para !lOS utilisal'lllos delle, feitas as
provises, chegadas dias antes do .Toazeiro, contratados
lllachinista
e prati(~o, qlle conseguimos partir de Santa
Anna ,s () I '4 horas cia rnanh, navegando rio acima em
diree~o i villa do Hincho de Cr.tl;(~ Nova, qlw attingimos
pOllCO depois do llIeio dia, com viagem regular.
C((l~n Vova, onde
domina a familia Vianna, uma
pequena villa que se mantem com a industria
do sal.
Visitamos-lhe as salinas, e achamos intere"santissimo
o processo de trahalhal-as.
sal 1I1l1 dos pl'ocluetoi:> naturaes
mais interessantes do valle de S. Franciseo, no trecho entre Cabrob
c Chique-Chique.
A SWI origcm ignorada, Illas o seu
modo de ser eis COll)O se nos apresenta.
O solo da salina ordinariamenteum
terreno argilloso,
!;ecco, de alluvio, eom superficie mais ou menos plana
onde apparece manchas l'regulal'cs como as de UIll corpo
gl'UXO ou oleo del'l'amado sobre il. term. So estas manchas intlorcscencias
salinas, superficiaes e pOllCOextensas,
que o povo costuma raspar, rcunindo a ten'a para lan~al-a
_______________
DR. THEOOORO
';.UIP,\JO
ell1 codlOs de madeira em que fazem a deeoada, que (~

e\'aporada
depois ao sol no concavo de grandes la,teos,
011 fervida
ao fogo.
~.o se emprega nesse senio instrumento
algum
metallieo. Todos os utcnsilios
sfio de madeira ou ele
procedeneia
vegetal, porque crena arraigada do .;ertanejo que o ferro extingue a salina..
O sal assim obtido impuro, lalll('llat' ou eS('aIllOSO,
e(.rado e contendo magnesia. Quem pela prim('irH YE'Z
o prova ou nflo est habiluado, exp(,I'imenta d('saran.ios
do apparelho
intestinal,
leves e p.ssag'ciros.
A lama rctirada da. deeoada amontoada
ao lado
da salina e ahi fica al que com os annos se degrada,
e volta. muila vez a produzir sal.
E' eerto que as salinas produzem maioI' quantidad(~
dl! sal nos annos chuvosos e qu(' a safra. tanto mais
abundante
quanto mais tempestuoso
correll () tempo .
..\. origem do sal no Hille dc S, l<'raneiseo nio foi
b(!1l1explicada ainda: presumo, porem, eom l'erto fun(1<llllento, que o solo das sllinas, composto de allu\'iiies
marnosos, com dctrictos de I'ochas ealeareas, e de gesso
ainda a.bundantes dcntro do vallc, c contendo particulas
d(~ sal, s mui lentamente se desaggTega e se deeolllpr
en contado eom o ar e com RS agua.s meleoricas <1\110niaeaes, dano ento loga.r s lI1t1oresceneias. Por esse
motivo, a. prodllco muito superficial e tenue, e por
is:,o tambem que a. argilla depois de lavada,
volta a
plOduzir sal depois e alguns a.nnos cie exposii:'to ao
U e ~hllva.
O emprego de inst.rumentos dc ferro leva dI' ('erto
o explorador
a carar o solo mais profunda.mentl~
do
que o permittiriam
os tosco,.; appa.relhos de ma.deira em
uso e, portanto, por a deseoberto camadas ma.is profundas, no amadurecidas
e que s mui lenlamente
viriam
a deeompor-se,
gcrando ou desprendendo
o sal lat(,lIte
D'ahi o dizer-se que o emprego
do ferro mata il
salina.
O RIO
DE
S.
FHAXCSCO
Santa Anna do Sobradiuho, Casa Xova, Pilo Arcado,

Taboleiro, Santo Antonio das Salinas e Chique-Chique
so os centros da mais consideravel
produco de sal,
e anno houve que essa produeo chegou a cinco mil
alqueircs. O sal produzido
no 1'aboleiro, , pOl'm, de
t.odo o quc se extralw
dentro do vallp o mais puro e
o mais alvo.
~o pousamos em Cw,a Nova, preferimos
aneora\'
uma legua cima na ponta superior da ilha doP.,'ncIb/,o,
onde deviamos examinar a corredeira do AI1{Jico, e donde
(~omeam08 a observar mais de perto a gigantesea III \1ralha que ahi nos apresenta
a pittoresca Serra do R/1crtibro, eom as suas encostas aprumadas
e as cumiadas
planas como uma meza-n\'elada.
Daqui para cima a navegao faeil, e a marcha
seria mesmo regular e caminada se no foram os repetidos
accidentes occorridos no machinismo
velho do vapor,
e a necessidade
de parar para recolher o combusti\'el,
cortados nas maUas marginal's. Ainda assim, chegamos
il Centoc a
2H (1f~ Outubro,
ao Rem(t/M;O il :H, villa
prospera, construida sobre uma barranca alta, .margem
e~qllerda, e cuja popllla~o nos vem receber festivamente.
DH. THEODOHO
CAPITVLO
S.\:\II'.\lO
Xl [
:Sarra
A :} de ~oYembro saJtaxal1los em Pilrlo AI'cado, villa

velha, decadente, cujas ruas cobertas
dos fragmentos
de um quartzo branco pereolTcmos rapidamcnte.
O rio awesenta-se agora eom paisagem mais variada.
Ao longe, para os lados do nasccnte
di\'isam-se as
cUl.liadas da famosa Serla. de A.'isuru, que a lenda nos
pinta como um thesouro, c, nas margcns
surg'em de
continuo
espores
pedregosos,
dikes gigantescos
de
itaJirito com riquissimo minerco de fCITO, como esse
promontorio
das Pedras do Br/l.eRto que simu4a a muralha derruida de um ca.stello feudal a 4.0 metros de altma
sobre as aguas o rio.
~ a 'pueira ou ba.hia Iluvial de Chique-chiqne entl'U11l0S
a ~ de No\'em bro, desembarcando
no eaes natural dI'
nmrmorc esbranquiado
sobre que repousa {l \'jlla, cs
!) horas da manh.
Como a villa nada oifcrecesse de particular
e intere.,;sante seno os muitos e tristes vestigios das ultimas
desordcns de que fora thcatro, c aquellc bello eaes natmal formado por um calca reo branco,
partimos
log'o
p<lra a cidade da Bnrra qllc aICanl,i.l.lllOS a 10, Lerea dI'
meio dia.
A nossa chegada Barra j era esperada (h-soe algum
t(~mpo, porque a noticia da nossa viagem de explorauo
(~OlTera rapidamente
rio acima, pelo que grande massa
de povo aflluio margem e elo alto da barranca, qU(~aqn i
como um cae::,;natural de dous metros de alto, !lOS r('<:~beu festivamente.
A cidade que logo, dcpois oe desembarcarmos,
pe\'(~orremos n'um rapido passeio, apezar do ar festi\'o daquelle dia, no nos impressionou
bem.
RIO
DE
R.
FfL\:\'CISCO
A a11irna;o e alegria dc um momcnto no lograram

apagar-lhe
aqllelle aspcdo triste c moralmente doentio
das ('.ousas que depcrecem.
Entretanto,
cxcellente a posi~-lo cm que a cidade
pst edificada. Situada na eontlucneia do rio de S, Franeisco com o scu notavcl tributario,
o rio Grande, a cdade da Barra () cntreposto
natural das regies oceidentaes que "isinham com o Sul o Piallhy e com o
oriente de Goyaz, tmnspostas
as serras do divisar dos
rios S. Francisco e Tocantins,
O rio G/'ande ([IIC, cm suu foz t.em 24-; metros de
largura e ofT'cl'cce navegao cerca de eincoenta leguas,
facilitando as comll111l1icac,lcspara as villas de Campo
Largo, Scmtn fita, permittindo
por Illeio de seu mais
consideravel
affluente, o rio Preto, atlingir, de UIll lado
Pa/'allaf}u no territorio
de PiulIhy, e, de outro, o baixo
Tocantins
que Sl~ aleana descendo as aguas tranquillas
do l'o do SOllWO contl'llverlentes
das do rio Preto uma
arlcria de primeira ordem dentro do valle de S. Frandseo, As !';uas ten'as so geralmente mais fcrteis que as
deste e lar'gos trechos de maltas fl'ondosas tom suas ricas essencias cobrem alii as planu!'as llUlllidas, aS grandes baixadas onde se diz que a canna produz scm ca
rceel' de rcnovo por mais de quinze annos consecutivos,
\'o montuoso o valle do Rio Grande, ao contrario sabe-sc allt da existencia de grandes planuras
que
se desdouram em campinas e se alam aos poucos para
o occidente na direco das serras do diviso!' da bacia.
A cidade da Burra cstli na altitude de '-!Hi. metros:
a villa dc S, llita, t rnargern esque!'da do rio Preto, donde parte a cstrada pa.ra o Piauhy, csti a ::>Gn; Ilas cabeceiras do rio Preto a altura do solo acima do mal' ta!\-ez
no atlinja a HOOmctros, ainda que < distaneia, e sobre
o dorso da cordilheira
do divisor, se verifiquem pontos
com 104-;) metros de altitude.
Por' isso, a navega(~o pelo CUl'SO d'agua principal
c pelos afflucntes perlllilte penetrar fundo no intel'o)'
DIl.
THEODORa
S.DII'AIO
da~ ten'us attingindo-se

Rarre'((,'; sobre o rio ~wnde c
po JCO abaixo da eonflueneia do rio das Ondal:l, Porto
da,; Pedl'(l,; no rio Bl'rtllco, S. Mal'ia
para cima de S.
Rila no rio Preto, pontos donde partem as estradas que
levam aos sel'tes de Goyaz, do slaranho e do Piauhy,
e ce qlle a cidade da Barra representa
o eentro ilTt::.diante.
Mas, a despeito da sua excellente situao, a antig'it e famosa Filln da na/,/,((, bero que foi do haro fit'
Col~.ripe, de Bonifacio de Abreu, de Mariani, de Canha e
Figueiredo vultos que brilharam
na politiea, lia seiell('ia
e 1M administrao
do paiz, no eOlTespondeo nossa
mu' legitima espcetati\'.
A cid:lde pareee que se conn~rte ('m ulHa. grande
In},~/'(f.. POI' sobre
as allas barra.ncas
que dominam
o
pOl'lo, e que se escalam com ditIiellldade depois de Sf'
pas.;ar a orla lamacenta da praia, estende-se a casaria.
ba~:a destonjundadas,
e telhados nenos e dc fpio aspeel.o, deitando pat'a o rio os muros mal curados de sua
('cre a. ;\lais para o interior, abrem-se tres ruas longitudinaes parallelas. cortadas por becos e viellas sujas e
liga1do dous largos sem importancia
e sem belleza. As
cast.s parecem t.ombar, talo desaprumo
das suas paredes enegrecidas
e rachadas. E os eseombros das que j
tombaram permanecem ahi como um attest.ado da incuria
e do abandono, refugio de animaes que se (Tiam soltos ('
invadidos pelit hena que brota com vio nas ruas desertas.
Outras villas d(~ menor categoria nos pareceram mais
anllIitdas e mais prosperas,
Informaram-nos,
entretanto,
que m: drzeseis
negociantes rnais fodes da (~idade estavam ausentes. pl'OClImndo sortimento
novo !la Hallia para onde tinham partido, havia tempo, e isso explicava porque a falta de
negccio (' de transac<;.es era mais sellsi,'cl que de 01'dinal'io.
Comtudo a.o longo do porto, a bordo das embarcaes ancoradas, nas pranchas estendidas pam telTa, soh
RIO
1m
s.
FHA~CJ8CO
4.7
a~ t()ldl~ ahahuladas
das barcas abarrotadas
de todo genero de men:adorias qlle aqui fazem eseala, nas eanas,
lias balsas
de madeira que descem com a corrente fluvial, havia o scu commcrcio, quc em certas hOl'as do
dia sc animava e tinha o sen effeito.
Pcrcebia-se bem que a cidade era um foco intermittente de commercia, Illas arriscado a apagar-se, uma
vez qnc lhe tirassem o supprimento
que vinha de fra.
De facto, o municipio da BetJ'/'(t reconhecidamente
pobre no ponto de \'ista agricola. No tem quasi lavoura
alguma, j peja pouca fertilidade do seu solo, j pela
fraca capacidade de ,sua populao
para os mistcres
agrarios. A cl'iai,o do gado a sua melhor industria.
O Chique-ehique fornece-lhe mant.imentos, e do Campo Largo e S, Hita descem-lhe os mais productos
de
que se ahast.eec, como sejam o assucar em rapaduras,
o anoz, l.:ult.ivado nos alagadios e brejos que abundam
Ilas margens do rio Grande e dos seus affluentes.
Na Bru'J'et colhemos informaes
sobre as regi(es
visinlJ;1S. Disser'am-nos que a serrade i1sHuru,distante da
cidade cerca de oito leguas para Leste, eome,undo abaixo da villa de Chique-chicJlle
prolor;gava-se
muito
pelo sel'to dentro em direco aos Lenes e ao Distrido Diamantino,
interrompendo-se
de qnando em vez,
dando passagens de nivel e proporcionando
a riqueza nas
regies que ia atravessando.
Plantava-se o caf nas suas
encostas, cultivava-se
a canna nos brejaes de suas fraldas.
O caf era jci bastante, e de um gro miudo e muito
denso, considerado
C0ll10 de superior qualidade.
J\f ost.l'al'a.m-nos u ma bonita colleco de ,ciiama.ntes
brutos, colhido nos LeIH;es, pela mI' parte miudos como
gro::> de ervilha, mas limpidos, assim como alguns ca/'bonatos de qne cnto havia llluita procura. Disseram-nos
qnc !lO "JS;l(,)'lt nilo s havia diamant.es como aquclles,
mas ainda muito ouro em grossas pepitas, muito ferro,
chumbo,
c outros
metars. O A;;W'lt
goza aqui dos
fros de urna 'l'erra de Promisso.
DR.
TJlEOOORO
~ ..\:\rI'.\I()
Disscram-nos
(IUC daqui
< cidade da Rallia ha HO
lcguas, passano pdo Morro do Cha,po cm. dircc<;o it
Feil'll de Santa Alli/(/, perto de Caclweirrt, c 41H', n>s~a
longa jOl'nlda se cmpregav:un
('OIllIllUlllmclltc J~) dias,
encontrando-se
na traves~ia largos trcchos de H, tO a 1'1'
leguas de catinga gl'ossa. onde \lilo ha a~ua (' quI' por
isso, os pousos se tornavam
fon;ados para certos pon~
t.os, ~:endo mui escassa a populao
(~ntre A,'iS1tJ'1U
c
,fncobiJw
Velha.
Irl'onnaram-nos
mais que o eakan~o abundava
ao
poerLc da cidade e que O~ bellos cxernplal'es de ardosia
que ..iramos cmpl'egados em mezas na Casa de Caridade
proc(,iarn da Cal'inha/lhn,
villa situada
ro acima e
que 1 pech'a rie grs dura e de grlr tina que ahi sC USina
nas eonst.ruces da cidade vinlJa do PnmlitirilJl,
ribeira qtle desee das terras altas e auriferas do Inuni(~ipio do
Rio (~e Contas e desagua no S. Franeiseo, junio ao Morro
do Pan, onde abundam pedras de amolar
execl1p\ltes.
Durante o dia que csti\,(~ll1os na ]:I(JT((., SOhI'Oll-lll)S
t.empo para visitarmos a. matriz, cgreja n:io aeabada
aimla, mas que nos parecell obra dp ll1p.rilo, o f'dilkio
da Camara ?llunieipal que tambem serve de cadeia, o
theatro ainda no acabado tambem, c a casa que \lOS
mostraram
com certo carinho e em qne na.seera o baro de Cotegipe.
Penetrando
na modesta habit.ao que o passar dos
annos comlmlra, veio-nos logo . memoria e passmos
il eonmentar
aquella receita hygienica que nos dera o
velho est.adista, despedindo-se de ns no palado do Govern) quando alIi nos apresentmos
ao Presidente, Dr.
Pedlo Luiz Pereira de Souza, amigo e admirador,
ainda
que adversario
politico do baro que naquella hora o vi-
sitcna.
- I\-Ieninos, dizia-nos
o haro com um ar 1>on<1cho e alegre, faam como eu e como todos os qne vivem naq uella tcna cm CI lie nasci, tragam scm pre i cabcceira a sua g'arrafinha de aguardente e lwlo amanhece!'
OHIO
DP. ~.
~'IL\\CISCO
no ponham p em terra S(~1l1 primeiro tomarem o seu

~olf', aquillo um tiro ,is maleltas ...
As velhas. (~ontinlla va o velllo baro em tom piHlcl'iro e t'a III liar, C'ostu Illa \"am otl'cl'eeer-nol-a COlli li m
leve rcsaibo de l{uina, pOl' pre\'enti\'o, diziam ellas, quaudo as aguas do rio davam de deseer; mas prefel'ia-a sempre, tomo estoll eerto que VosJnect~s todos a preferiro ...
pura;. ,. t.omem.,.
t.olllem sell copito pela manh. e mc
digam depois se a reeeita o velho servio ou no para
alguma
eousa .. "
GO
DB,
'I'HEODOIlO
CA PITL'LO
~.\:-'ll'.\l()
XII
:Da. Ea.:r:ra. a. U:ru b'
dia 11, pelas duas e mcia horas da tarde I(,\<lllferro e proseguimos

rio acima em c1ircco ao
U/,uh. muitas leguas e muitos dias de viagem.
~o tl'ajeeto, a navegao se fazia ~i m;u'avilha.
A
quilha do velho vapor >,.c,-idcnic ])ania:; cOI'tava as
agua!:> tranq u illas do S, Francisto
como n'u m lago sereuo, Pareceu-nos
o leitu da corrente
mais e~tI'ejt() e
mais profuud0, As ilhas <uasi que dpsapparecem assim
como as coroas e ban<.;os de ara. E iamos assim deixando l. direita c ;i esquerda, sllccessivamclltc,
as pecJlH'uas povoaes e fazendas do C/(/'/'alim, .lo, lfaunra,
Prc}Jcc, JJ{aUa-fonw, T/n!J pouco abaixo do Paramrlll,
c observmos como as terras tinham melhorado de aspecto, como a vegetao mlHhira tornando-se
mais vigol'sa
e variada c como as cnlturas se sllccediam mais a meudo pelas vaixadas marginaes.
Cerca de leguR para baixo da fazenda da l'ol'l'llha,
no lugar Timb, onde paramos para fazel' lenha c a barranca se eleva 4- metros acima das aguas, os Drs. Dcrby,
Wiescl' e eu galgamos um serro qual'lzoso e aspero para observarmos
a regio ao redor. Do alto desta eminencia avistamos ao longe, para alem das vastas planul'a::>
de uma vegetao que 1108 pareceu melhor, a serra deAssw'w com os seu:,; recorte::> pittorescos, os seus picos
elevados, alando-se como u,ma muralha azul para o lado do oriente e afundando
no horisonte
na direc~o do
Sueste. Mais proximos de ns, surgem como ilhas, um;
JOUCaS serrates dispersas na planicie nivelada que vem
;Harrer na margem da corrente, simulando e::>tarcpartir
() vasto horisonte que contemplamos
como uma tita de
prata resplandecente.
~ll
tmos
"1"
I '
.11.
\1
.."
...
\:
HIO
DE
S.
FH.\XCr~CO
~a IlHu'g'em esquerda em que nos aehamo;;, passava pOl' Ih,tns de ns e no longe a Sel't'a do Brejo,
orientada pal'a ~oroeste, e, em distaneia
maior, cerca
de d~~z legllas 11 occidente, outra linlla de cumiaoas correndo pamllela < primeira e como que interceptando
o
ellrso do rio em ponto superior, invisivel, fecha-nos
o
horisonte por esse lado e limita os ehapade;; e terl'as altas est.endidas para o poent.e com uma feio que
() neogra plIO ai nrla no eonsegu io def nil' com pletawente.
Do pi(~o da 'l'orrinh(( seguimos cerca de meia legua
para. eima, at urna lag-ba cujas Hg'uas as enchentes anIlllaPS de S. Francisco renovam e p<l\'oam de peixes ao
i!lfin ito,
ento o ambito da laga muito reduzido

e
impunemente
pisar-lhe o solo secco e gl'etado
<ue as aguas transbordadas
do rio, todos os annos, illnH)f'rn e abandonam.
Nos troncos
das an'ores,
nas
ramat!'cns que () illlpet(} da tempol'aria inundao emaranhou, descobramos
a cada passo os vestigios da ultima cheia. Restos de peixes que a agua, ritirando-se,
deixou em seec:o, carcassas do car!!, peixe cascudo que, como
os camboahs, viaja na matta onde nc raro perece sem
encontrar
a corrente tluvial salvadora instinctivamentc
procurada, tudo denota que havamos penetrado
muito
no ambito da laga sem o termos percebido.
No solo duro e gretado pelo calor intenso, e marcado fundamente
pelos ps das aves aquaticas que ah
pousam aos bandos, descobramos
a carla passo cascas
partidas 011 inteiras dos caracoes 011 caramujos de varios
tamanhos,
grande quantidade
de conchas
fluviacs ou
lacll;;tres c notavelmente
as dos ytans (Mytilus), algumas
das quaes alcanavam
12 e 18 centimetros
de comprimento, a 9 de largura, hastante espessas e com a bella
apparenca
de madreperola.
Informaram-nos
que as ha
maiores e to grandes que bem podiam servir como
uma bacia de lavar I'osto.
ES/;U,L
PUd(l!llOS
DIl.
THEO[)OIlO
HA:\\PAIO
Di:;seram-Ilos OH moradores
ribeirinhos que na ,'l'c/'J'a do IJrejo ha ouro em abundancia,
no nos explicando
porem porque prodigio de desinteresse
o no buscavam.
A isso calavam-se como que rendidos a um fatalismo illExplicavel. Mas a lenda das grandes riquezas cscondid 1S nas entranhas da serra contnull a caner mundo
a escaldar a. imaginao do ingenuo se'tanejo,
tra:endo-Ihc vises, cncantamentos,
fazendo-lhe ouvir ruidos
myst.eriosos, perceber
clares qllc subito se formam c
se exp.lI1dem por sohre II cumiada dos montcl:>.
At a villa do Urub que alcanamos a 17, pelo meiodia, a viagem se effectua sem incident.e apreci'l\'el.
A~ montanhas
sc levant.am e se avisinham mais elo
rio qUI~,em algum; pontos, se estreita c corre num desfiladeiro comprido, desde a Pel'ipc'!J at o Bom .Ja/'dim,
acima da Pedra Grande.
A paisagem torna-se
mais pittoresca.
As CII('ostas
dos mnntes exhibem vegetaO mais \'igorosa c, nos altos,
disting'ue-se, na rocha escalvada, a estructura do itabil'ilo,
(lo ital~umulito e do talcosehisto.
Por vezes, o desfiladeiro esappa'ece e pela aberta dos morros se oeixa yer
largo t 'eeho do horsontc com quatro 011 cinco planos tlistinctm, de montanhas
e de planicie que se succcdem a
perder de vista.
1\0 Bom-.Jal'dim, onde faz harra o rio e S. Onofre
que v(~m da Chapada das ilIlmedia<:et:; de Caefit com
trinta leguas de curso, as montanhas
alteiam-se mais e
prolongando-se
cerradas e em succcssi,'os prol11ontol'ios,
na margem esquerda, alcanam cerca de :300 metros sobre
o nivt'l do rio, deixando ver bellas escarpas de itaculumilo, rocha que ah se explora para. varias obras, exlrahindo-se
grandes lousas, algumas de mais de metro
de comprimento
e espessura de dous a tres centimetros.
Arvore
barn~lIJa
(I/vl!,b:xj
da cirClIlllfcrcnci,( maior de 6 lIIetro~.
lHO
Dt<; S.
CAPfTULO
:El=. Uru
YIL\~C;ISCO
XI\"
b" e na. La.pa.
ullla villa pobre, das mais antigas do

serto e edifkada em sitio elevado, mas sem belleza.
Saltamos cm terr'a pouco depois de meio dia e aps
a (;opiosil chuva, que desde a /laite precedente comera.
Havia pouca gente na margem e ao saltarmos,
a)lresentou-se-nos
o vigario, velho conego que, apesar
do tempo que fazia, veio dar-nos as boas vindas e guiat'-nos na visita ao povoado.
:\Iostrou-nos logo a velha egreja de Santo Antonio
cuja fundao disse-nos datar do comeo do seculo XVIII,
o que alis bem se demonstrava
pelo seu aspedo de Vf'tustez illTllinada.
Comqllanto
solidamente construida, os estragos dos
annos, n'ulll clima tropical
onde as edi1icaes rapido
en velheeem e a vegetao tem audacias incriveis, invadindo paredes e telhados, da"un-Ihe um aspecto de ruina e de abandono.
:'\as paredes sujas c feridas abriam-se
grossas fendas. Vioso cardo espinhento
erguia-se sobre Ullla aba
00 tP/hado fazendo symetria com outro ainda mais vioso c esgalhado ergucndo-se sobre as telhas do pl'csb~'teria.
YUill dos braf,:os do aIteroso
cruzeiro, feito de grosso madeiro, e pintado e negro, o furnal'ius
rufus ou
.Joo dp. Banos, construido
de argilla o seu ninho canica c polido. lcmbrando-nos
que a natureza
primitiva,
COlli todo o sell pittoresco,
no havia perdido ainda o
seu iIl1pe/'io nestas paragens remotas onde il alma do
('rente est em intimo convivio com ella,
Ao abrirem-se as pesadas portas que tinham resi~tido a qlla~i dOllS seculos, sente-se ao penetrar na gl'ilUUJ'u
DH. TIIEOnOHO
:-5'\~[PA JO
de na\ e, l'ria c eseura, esse bao suspeito dos recintos

fpehados a longo tempo, e ouve-se COlli o thilrear das andorinhas pelo alto o ruido dos morccgos que esvoa<,;am
em tO)'110 de ns e HOS ameaam o rosto (~om o I>a ~CI'
das suas azas sinistras.
Pareccu-nos que ainda "c faziam elltelramcntos
dentro da. velha egreja .
.\:gumas
sepulturas
traziam ills(~ripes na madeira do soalho c pareciam rccente.." outras e"tanull
ainda ccbertas
do panna preto COlllO se Ulll otlicio funelire ti'/esse apenas terminado.
O templo parece-nos \J :I.U
ruina apI'o\'citada
para eemiterio.
C forro interior, furado por cima do (~{)ro, amea,a
tahil'. Sobre os altares enegrecidos vecm-se imagf'ns tUjos Llvores o tempo cornbalira, mas que l\Pm por isso
deixam de ser obras lI'arte de algullI mcrito como aquella gr;lI1de imagem do Senhol' .1.\10I'to,de tamanho natural, vinda da Babia em poca remota e quc nflo nos pare(~eu to imperfeita
tomo o l.'Olllmllm das imagf'IIS, que
por aqui temos visto expostas H~ner;ll;o dos eis.
As edilicaes na villa no so ll\uito (lensas e \10
COllllllum s.o humildes e de feio as\wl'loo Duas ruas lOllgitucdnaes, parallelas ao rio, e distante:;: da margelll eerea de quatrocentos
metros para fiearelll ao abrig'o das
cnchentes, constituem
o povoado, onde ha duas pl'U<;as,
a Dlt~nOr das qual's arborisadas
e com bal)(~os < SOI\1bra.
A velha egT(~ja de ;\'ossa Senhora do Hosario edificio que nunca se ;u~aboll. A cadeia pareef'lHlllS mais
um gallinheiro,
com as paredes de pall a pique desapl'llmadas c cabidas.
Preso pelos ps elll um grosso e
ferrado tron<;o jazia por tenoa UIIl polir!' rapaz soffrendo L pena por deUdo dc furto de gado. Ali lhe 1t>\'avulI
a comida e, para o no deixarem to ao l'el(>nto, ael'lldiam-Ihe fogo perto todas as noites.
Informou-nos
o conego vgario qlle 11 sua 1'1'f'2:IIf'zia
n.uito extensa, povoada com muitas fazendas, ro<;as e
Ca.dla do
Jesus da I,;I});! (Gruta calcar\:a)

Provincia da Bahia.
BUIll
RIO
DE
S.
FHAl'\CISCO
arraiaes, pelo interior e ao longo do rio, dizendo-nos que

tll/'gava a dar qu;roeentos
conscriptos
para o exercito.
A populao qlla:,;i toda de mestios. Os homens hem
falhwtes e as mulheres, as de mais recato, timidas e acanhadas, espialldo-nos por detrs das suas rotulas e gelosias
com desconfiana. Ainda assim, as da nelhor sociedad(=>
desejaram vel' o vapor e nos foram visitar a bordo.
O rubi, entretem
eomme)'(~io regular ('om a cidade de Len6e:,; nu Chapada Diamantina e com o 5,'a{!Jado, que eomo aqui se conhece <t cidade da .Janu<tria,
antigo Brejo rio Sf[lfulo enl :\linas Genies. Esse commercio, porm, atravs de II1<lOScaminhos por tl~rrenos asperos, e por via lIuvial no ou est bem longe de SPI'
11m grosso
trato, eOll)o alis a regio .i o ompOJ'lal'ia
e a populao relativamente
o podia sustentar.
~o dialH deixamos o Jrub em demanda do Nan[f!d, onde devamos renovar a provsiio
de lenha panl
...
pr'oseglllr rIO Henna.
O Nangal no nos cOlTespondeu espectati\'a
e foi
Illistl~r procurar
ponto lIIais azado. navegando
um dia
inteiro at o Iogal' Sitio do 1Ilalto, cCJ'('a de uma lcgua abaixo da harra do rio das F:gllas.
O rio continua desimpedido e COllIlllui poucas lIws,
As montanhas,
agora mais distantes,
dpixam vcr horisonks mais amplos; o solo, porm, no mLldoLl de tonstituif,;o. As rochas metamorphicas,
o itaculumito,
o itahirko, o taleosehisto dominam nas encostas dos nlOl'l'OS
oeeultando-se
sob um manto mais denso de \'f~geta\flo
melhoI'. O cakareo assignalado
em pontos mais distantes, donde nos chegam notieias da fabrieao da eal
quc sc diz excellcnte.
:'io Sitio do Jllalto, um' povoado p()hl'c, rom. Limas
cem casas construidas
sobre uma hal'l'anca alta de el'1'ca de 8 metros, no foi sem diffieulclade qLle logramos
ohter dos llJoru()ores a lenha precisa. Gente preguiosa,
\'vendo sem trabalho, no se tomava de estimulo para ganho, respondia displicente aos que lhe falavam de
DIl.
THEODORO
SAIIIPAIO
aproreilar
pi'co c occasio: - A lenha lita muilo 1011ge ... dizia f ssa genle desanimada,
e liraI' lenha servio muilo duro que no paga l pena ... no valia o sacrificio dos :;eus commodos quando ali Lem mo e,;lava o peixe que no faltava e dava muito para \"iver
sem massadas ... Demais, ~iunta"'a o bando dos preguic;osos, no tinham ferramentas,
nem quem os ajuda,;se no transpOl'te para a beira do rio
careciam e algum dinheiro adianlado
para a comida
CIlI dellps allegara a sua 'malcita, que no deixara de vir todas as
tardes, outn: tinha a mulher doente,
este preCiSa\l ir
avisar primeiro lint amigo, aquellc outro por no estar
acostumado
a taes misteres.
SI) a I~Llito CllstO o bando seguia para o malto a
ganhar li vida mais honradamente.
Durante os dois dias que aqui permanetemos
recolhendo combustivel, levamos o::>nossos passeios pela catinga at vermos a malta inlerior mais dislanle. Tiv('Illas ensejo de \'er ento 11m extraordinario
grnpo de cin(:0 giganlescas
barrigudas
(Romba;x;) (:om os seus troncos prodigio:;amentc
inllados (' os galhos e ramagcn,; entortados
ou disformes, do mais pittoreseo e ~squisit()
d'l'cita.
At ondl) podiamos aleanar tom o bra(;o erguido
e quc de facto mo era ainda a palote mais int1ada do
trolleo, medimos de circurnfereneia
seis metros n'uma
dessas arvores mais corpulentas.
Outras havia, de l'crto, mais grossas mas impossvel et'a medii-as
pela des(:onformidade
dos S('\lS troneos inaceessi\'('is.
()
1110 DE
S.
Ffl.\:-O;CISCO
CAPITCLO
Sa.n~tua.rio
'57
XV
d.o J301:1:1. ::T'esus d.a. La.pa.
dia 21 pelas seis horas da tarde estavarnos fUlldeados diante do Serrote da ,opa em cuja ipueir(l, ou
callal qlle f'unccion<l como bahia fluvial, no pudemos
l'mtrar COllI o vapor por ser estreita, ainda que profunda suffcienlcmente,
Ahtpa
Ulll sanetuario
e um prodigio
da na'UI'eza.
Cm monte, ou antes UIll retallJO de montanha calcat'ea, isolado no meio de uma plallicie, com a base quasi dentm d'agua e a cumiaa
coroada de cactus e de
bromelas espinhentas
entrellleadas
de picos, agulhas,
pyramides, minaretos dat' mais divcrsas formas, eis o
SCtTote da Lapa que visto do lado do rio, parece antes
lIllIa lasca de rocha pousada sobre uma mcza, que uma
eminencia CO/ll rckvo subordinado
serie ol'ogra}Jhica
da regio a que pcrtence,
As ag'uas da pl/etra banham-lhe sap do lado meridional c a barca do. eOlllmerciallte
que jamais passa
sem aportar,
como a embarcao
mais humilde do 1'0mciro <{lie n~m de longe e de toda parte, ahi encosta
rente e deita em terra il sua carga piedosa bem na hase do monumento
que , de facto, essa cllriosissima
,ohra da naturcza,
() morro inteiro um mass<;o calcarco com uma
estl'udura
to esquisita,
to extraordinaria
que diflicil
determinar-lhe
a orientao
das call1adas e estudarlhes as disposit;,es,
O calcarco gasto pela aco do tempo apresenta aqui as frmas mais pittorcseas
que se podem ima.dnar.
As ponas de pedra, inllumeras,
formam grimpas, agulhas, ton'cs; simulam flechas elegantes de estylo gothico,
~O
DH, THEODOflO
;':,\)11'.\10
Go('ucheo~ ('cndillllldos, recortados,

rematados
do modo
mais csc uisito e por vezes. com uma disposilJto e symetria tacs, qlle parece que se levanta diante de ns um
desses immensos pagodes indianos, em ruinas, ('ujo pitto('c,wo a i!llla mais se salienta com o tom vcrde e ('om
il;': linhas alt'utlladaf.; e dllt'us dm; ('urdos que lhe ('oram as el\1ineneias,
7\0 di,L seguinte pelas seis horas da lllanh:1, ~Ir. J)!,l'b~' e eu tomamos
dOllS guias (' eotIlcC;amos a ..
mIgar o
monte r(lr um dos seils J'aros rontos aceessin~is. Suhi!lIOS com extrema difliellldadp por entre grimpas. aJ'estas
vivas e agulhas de pedra atravs de ('orredorcs t'Ill labyrintho e de tardos,
de brolllplias (' ortig-as sem (,ullta.
:So mais alto do monte que aUingimos ap<s ljuarPllta
minutos ,Ie aS(,J~no arriscadissilllil,
\"erifiealnos nio estar esse )onto a mais de HO mrtros solJl'e a~ aguas do
rio. Dahi descortinalllos
ento UIIl hOl'isonlr lwllis"illlo
e \'H.;tO.
Ao longe, para os lados de lest!', norte e SIlPStp divisam-se a" serranias
em fnlla de ehapadas akantiladas que Iwnelram no interior da Bahia e vo na dirc(~o de OIlollle Alto, de Rincho de Sauta Auua r J/awll1lbas; no meio, e aos nossos ps, a 'i}J1teirn tOIllO uma
bahia 0\1 um lago tranquillo,
e depois o t:urso de S,
Frantisco
serpea.ndo na plani(~ir immrnsa c verde l' sumindo-se alem no azul enfulllado do horizonte:
para ()
poente, n,Hia 0\1 sil11pl(~sll1enl.eo indelinido de uma hruma que se alevanta de u 111solo f':.e!H relevo:
pa l'a o
noroestc, o perfil dos montes atravs dos <uaes n;\I~-
gamos antes de aUi nf('innos o l!rl!l)/.
A no:,:sa visita ao sanetuario tinha-se ]'calisado anlrs,
Eram e meia horas da manh, qualldo galgulllos
a eseada que nos conduz ao atrio. '['oea.mos ahi o sino
como signal de romeiro , porIa
logo appan'('pu-1l0s o
saeristo, que nol-a abrio c pOI' onde entramos
na capella .ia oteupada
pOl' urlla multid.o andrajosa (' eheg-ada, homens, mulhcrcs, meninos exhibindo as suas dis(>
(>
..
'
~
r ..
.-
..
'
-'
.............
::. ~.:' ~.
'
.t'
o
i:::
"
v
...
..:J
o
<n
./
I
'1
l,.,
t
y.~;
..
V,~,I.
I
"V
<f.
!: ~
..
I
I
O HW
OE S.
FIlA:\CISCO
59
formdades,
us silas ulceras, as slla~ miserias, pedino,
C'lumundo atravessando
o scu brao descamado para nos
tomar o passo, rogando, sllpplieando
impcrl.inentf'menti., incansavelmente.
Logo ao entrar, o elfeito que expcrimenta o visitante
extraordinario
e emocionante.
O espeetador entralogo
em trevas a dOllS passos da entrada,
mas di,'isa logo,
lIO fundo
da gruta, illllll1inados por Ilma 11Iz discreta,
que entra por Ulna fr'esta envidral;aJa
li dircita, os tres
allares domados,
mas singelos onde esto as imagens.
e !lO meio a do {;rllcilicado Senhol'Hom
JesuN rlaLapa,
(~onsolo e remedio dos qlle creem e dos que tm f.
Experimenta-se
lInta certa e irreprimi\'el
emo\,o:
:o:ente-se uma illlpr'esso de frio medida que se avaul..:a; percebe-se que estamos pisando no !tumido; ea/lJililla-se por entre pOt;as d'agua milagrosa qne pinga vagarosa e incessante das pontas e slaladites
que se [11'0jetlam cia abobada negra da carerna e por tilll <:omeamse a divulgar mel!tor os objectos em torno: esquerda, 11m pulpito, o confess;onar'io,
os milagres representados em e(~ra e pendclltes da paredt~ retoelln, o cofre
de feno oncle uni letreiro indica a espeeie da moeda li.
depositar-se
(cobre, })(tpel), o altar de ~ossa Senhora as
Dores; 1. direita, veem-se empilhados
alguns tijolos para revestir o eho, os me;o:;mosvotos ou milagres de el'a, as portas e .lanellas ell\'jdraadas
aheltas na rocha,
a sacl'stia e um outro altar.
;'\0 fundo, o altar-mr,
dourado e rico, tem ao lado
Illlla pequena porta que d para uma galcria estreita (~
fnais baixa, de eel'to, o extremo obscl\l'o da ca verna primil ira qne ficou sem applicao .
.A imagem milagTosa, objedo da IIniversal vencl',Jo deste povo, no grandc, mede l~erUl. de quarenta
('cntnnetros
de altura, e (o um crllcifixo no sei se de
barro, sc de madeira, mas quc se diz aehar-se nas mesmas eondi<,~(H~selll qlW foi aqui eneontrado
e venerado
pelos primeiros derotos, ha quasi duzentos annos.
lO
DR. TH~O[)OHO :";.\:\11'.\10
Os companheiros
de viagem, muitos delles protestantes, no puderam
negar o effeito surpl'ehendente
e
cmodonante
do sanctuario
do Bom ,leKuH da TJa]Jet.
A f o proclama, a. natureza prodigiosamente
o senc.
Na Lalla, informaram-nos
que as rendas do sanctuario cram avultadas, que as suas riquezas eram grandes,
ainda que ,mdassem as cousas um tanto diminuidas nos
ultimos annos pela escassez das esmolas, pelo pequeno
Ilumero do~ peregrinos, e prineipamente,
diziam-nos, por
IlflO serem JOlItOS os que comiam c viviam dcll<ls.
:\o sabemos se com rcal fundamento,
se por mal(>dicclleia, aCl-usavum os procuradores,
zeladores e sacristes que delapida\uJ1 a fortuna da capella, que de tudo dispunlH m e enriqueeiam.
As humildes funces rIe sllcrisUIo eram ohjecto de
luda e de cohia dos magnates
da tena. -- OS COl'Oneis daqui, dizia-nos malicioso informante,
viv(~1l1a {aze/' politiea para guardarem
pam si es,;as f'unef,;cs, razo
pOl' que diHicilmente aqui p:.m um capello, no se to1<'!'ando a pre;.en<;a do vigario.
Contounos
ento por que motivo o Jogar, apezar
de populoso, nem sequcr Se leVH\L .i pal'oehia e llluito menos t. villa. -- Essa gente no qucl' fiscaes, dizia,
lIilo quer pr<-,star contas li nillgucm. -- A cousa assil!l
mesmo qUt! serve .... porque, !Io s d para vi\'(~J' I
muita gente <:01110at d para sC fazerem eleies ...
;\'o nos .,obrava tempo para OU\ ir todo o longo 1'01
de iml11oralid:tdes e de desmalldos
que o nosso critico
loq Haz se clis)lun ha il revelar-tIOS, t'ai m istet' em barcu r
e partir, porq w de bordo o signal .ia soara duas \'<,zes,
t' ns (~stavalr os retardados.
Deixei a Lapa convencido de que l:-W tudo aquilla
era \l111inestintncl
thesouro
de piedade e de crena,
lambem
era \lin testemunho
da divina miserieordia,
mantendo
iIlesa a f n'um reducto de sinceridade
mileeessivel aos botes de toda essa miseria humana.
O IlIO
IH~ S.
FHA:\CISCO
CAPITULO
(il
xvr
f)ros('l!nimos nan'gando
rio acima COni as vantagens que nos offereeia um (~anal amplo, descmpedido,
atra\'cz dc uma regi;lo ali<ls monotona
e sem relevos
appa rentes.
Nas margens
\'amos descobrindo
os indicios
de
nma cnltura mais larga.
Cm ou outro sitio distante, meio occulto na folhag'cm marginal revela-nos qlle H~ a populao no cons[(lel'avel, a lavonra no jaz esquecida nessas paragens
onde IIlC dizem quc o algodo produz t.anto qne mister amparar os galhos da planta, vergados ao pcso da
ea I'ga exaggerada.
Cultiva-se aqui a canna. d'assncar
em mais larga
escala, e os e(~reaes do em to larga copia que esta
fa z esquecer ,lS diffieuldades de sua ex porta.o.
So obstante a lavoura deperecia a olhos vistos. O
brao servil continuava
a ser exportado elll grande nu
mero para saldar os debitos que a producO insuffiiciente
aCClll1l11lava e aggl'avava rada anno .
.l instituiO servil, em IH7!). tinha j< entrado
no
seu periodo agudo IIOS sertes do norte do Brasil.
O exodo da eserava.ria para as fazendas de caf no
sul, fazia-se jl. em grandes leva", quer pelas estradas
do interior
atravs
das provincia.s
limitrophes,
corno
pelos portos do littoral onde por largo periodo se mantinha um trafico vcrgonhoso e aetivo.
Privados de recursos, os lanudores
do serto no
t.irlllam outro rcmedio seno venderem o escrlno, deixando-se /Hl desgraada
contingencia
de /liTo eontarem
('om o trabalho l\,/,e.
DR. TIODOIW
S.\:IIP.\IO
Nestes Hertes. o homem pobre 1\ u Ilea ,~ Sil ffieientemeute pobl'" ljue preeise vivcr do salario. O mundo aqui
largo de 11ais para que se faa sentir a presso das
Ileressidade~ .
A natureza prodiga n;}o deixa haver a verdadeira
pobreza que forc'~ a tl'abalhar e 'pc obriglle e mantenha a disciplina pela necessidade
de vin>r.
No ha aqlli. tampouco. estmulos para capitalisar.
riVe-se bem, vive-se ao natural, sem cuiados pelo futuro, po\' fit e a pobreza aqui niio uterI'll a ninguem.
O l'io um enorme vi v'eiro, onde o peixe no es(~asscia jamais, assim como as eatingas e as mattas
marginaes um ' mmenso e illexgotlavel
thesoll!'o, fa,~il de
C'xplora\' no~; momentos, nos rarissimos
momentos
em
que a preguia
uni\,m..;al cede um pOUCO do sell 11lIperio.
Da vou", de Hnixo onde pousaralllos
aeostados
a
um ilho no primeiro dia ela nossa partida da Lap;t at
em frclltc ao povo da Paraleea, (~erca de doze leguas
rio acima, o caraeler da regio vae melhorando
sensi"elmente. So ainda os mesmm; aspectos no rio, mas, no horizonte, ao redor, sente-se que a naturcza tom outra~ galas,
ha mais frescor nas arvores, mais hl1midade
no ambiente. Xo rio, as vantagens do navegar se mantm;
nem ilhas n Jmerosas nem bancos de ara emharaam
a con'ente a medo; o canal contina profundo;
as
bal'l'ancas vermelhas, altas, bem mais altas margem esquerda do que ; direita, erguendo-se
<svezes a H e 10
metros acima das aguas, no mudaram
sensivelmente.
A vegetao, porm, ostenta-se mais corpulenta e variada sobre as margens, exhibindo-se j no seu rendilhado
de eip.'I, sob o qual se vcrifica (Ille j no to absoluto
o predominiJ
das ACflCirPi que tanta monotonia
imprimia < paisai~elll da regio anterior. O dc~appareeim'~nto das carnahuhas,
eujas (',opus csphericas
Ido halan(;alll
mais ao SOpl'O da brisa,
alinhadas
sobro as bal'l'ancas, desd,~ qllc deixamos a cidadf' da Barra, tiroll . pa i-
BIO
DE S.
~'BA:\CISCO
SiLKPtllltt{uelIe aspecto de terra adusta dos paizes vidimados pelas seccas perodicas.
Tudo denota que vamos
entrando em regio fresca e:ariada,
e que nos approximamos das mias de :\'Iinas, verificando como, de facto,
as divises administrativas
aqui reflectem os phenomcnos naturaes alis to evidentes.
A i~ de Xovembro pelas dllas homs da tarde alleom vamos sob as altas barrancas de 10 a 1U metros de
altura sobre que se acha edificada a antiga villa da Carinhanha, a ultima villa bahiana pelo S. Francisco cima.
Demoramos aqui algum tempo pam fazer lenha, (~
no intervallo visiLamos os arredores;
fornos em cana
examinar o rio Carinhanha
cuja aguas escuras passavam
junto de ns opprmidas contra a barrancu. pelas do
S. Francisco, vennelhas
ou barrentas
que com ellas se
mxturavam
lentamente.
O rio CaI'nhanha,
que assignala o limite entJe a
Bahia e J\'Iinas, com 8~) metros de largura na boca, rcconheeeu-se
pelas sondagens que fizemos ser mais profundo do que o H.io Gmnde; mas a sua bacia , em
verdade, menor. As aguas turvas, cr de caf, parecem
menos impuras do que as do S.F'rancisf:o,
porm nwlias "iaborosas tambem. No navegavel seno em curt,t extenso, sendo o seu leito muito irregular e encaehoeirado.
Descendo da barra do Cal'inhanha cerca de 600 metros, entontramos
no logar
Pontat
a pedreira
de
caleareo
schistoso,
imitando
ilrdosia de que aqui se
faz gl'illlde uso para mczas, bancos, caladas
e passt~ios, e que se exporta para outros logares.
Xa Barra tinhamos visto \lm bello specimen deste
schisto ealcareo empregado n'uma
meza do hospital;
em (Jarinhnl1hn vimos ouho, isto , uma lamina deste
schisto frmando uma meza to grande que podiam
sentar-se a ella 16 pessoas bem a seu commodo.
Apezar da enctlcnte que .ia cohrira mais de metade
da pedreira conseguimos
examinaI-a
bern. As laminas
DB,
T!H:Of)OHO
~.Drp.\IO
de seltisto so le\,ultadas
e extrahidas:.
alavallea c
silo cnto !OlIito brandas,
cll\qllanto
dent.ro ('anra,
endurecendo
consideravrll11ente
uma vcz postas
Pill
se eco e ao ab! ig'o de hUll1idade.
A villa da Carinhanhn, construida lI'uma assentada
sobre a alta barran ea, profundamente
I'ctalhada ou gretada pelas torrentes,
parcceu-me
maior do que a do
Urub/i, e mellt.)r ainda o aspecto das suas edificil~es.
O povo que aqlli nos re(~ebell festivamente, ao (~SPoear de foguete:;, parceeu-nos affavel eheio de urbanidae. Vimos w4ui as escolas bem frequcntadas,
e admiramos a pericia eom que os artifices da terra fabriGa\'am
os chapeos de couro, obra fina e delicada,
imitando o
conhecido chapeo de jlanilha, r'~velalldo gosto c arte n'lIl11
produdo
alis de JIlodico preo: 4 a ;),~O()O Gada ('hapea,
No dia 2 proseguimos
viagem deixando a Carinhanha e o seu p:wo postado sobre a barranca, (jUP todo
aecorrera para se despedir de n(s: aportamos
ao povoado da .Malhada eerca dp lima legua i1l'illla, rlouteiro
a halTa do rio Carinhanha
onde o gon~l'llo de ~[ill<.IS
estabeleceu
ullla balTeira, para cobrar taxa de toda a.
(lmba!'cafo que entrar all sahir do tenitorio
mineiro;
passamos sem perceber diante da barra do Rio Vel'de
GI'ande, rio que serve (le limite mais elll ('ima rntre as
duas provincias, e fomos anehora!' ua Mal/!Jrt do All/O.dol', pequeno povoado com uma centena de cditieaes
em tres ruas ~obre uma barranca alta de 1 metros, cuja
populao fugi'a quasi toda ao approximarlllos
do porto.
Indagando do motivo, explicaralll-Ilos
que no lagar
havia muita g(mte implicada nos rccntes disturbios da
.falluaria de qlle em Carinhanha
j tinham tido noticia,
e suppunham
~ue )iO vapor chegavam
a.s autoridades
c a fora para a represso dos ('I'iminosos, Isso explicava, tambem, pi)l'que, ao passarmos
por algumas fazendas, nos saudllvam com foguctes, como se festejassPII1
a dnda da ordem c do I'cspf'ito lei.
BIO
DF. S
FTlA"CJSCO
(;)
Of'selll)ar~alldo, encontramos
us casas fee/Jadas, as
l'\las desprtas, tcndo-se retirado a mI' pal'tf' das familias
para sitius distantes.
Uma barea ({tif' avistarall10s ancoJada, ap[,(~SSOlH?e logo em pit!'tir. fugindo a tima pcrs('g'ui<;o imaginaria.
(;1;
DH.
THEODOHO
S.\l\II'AlO
CAPITl:"LO
XVII
Os J"a.g-unos d.e Neco'
O pOYO da Mn/1ga pertencia partialidade poltica

que n.o podia contar com aH audol'idades,
fossem ellas l'ecemchegadas ou no. Isto estava nos habitos e no
havia c)nveneel-a
do contrario. A fuga era, pois, o melhor re,:urso para a situao em que se aeha.va com a.
approxima.o
do vapor.
Contaram-lIoH os mais animosos que sc tinham deixado tkar que, pOl' uma questo politica,
a gente da
..Ia.lluaI' a entrou em lueta encarniada, uma parcialidade
contra outra, levando-se de odio velho e de muita intriga como se acontecer nesses sertes apartados~ O grupo ou parcialidade
que no tinha por si as auetoridades
retirouse rio abaixo e veio fazer sen quartel
general
no logar Jacar onde o Neco, seu chefe, reunia um H~rdadeir(l exercito de jagunos com o qua.l pretendia. tomar desforo, e reentrar triumphante
na cidade donde
fora c.pellido com os se,lS amigos, e cruelmente
maltrata.dcl.
Era um verda.deiro cstado de guerra.
Dc, .lacar no sahia barca. O bloqueio do rio ra
compkto. Ninguem ali passaria sem o placet do Neco.
Cc'mpl'ehendemos
logo qual a nossa situao e, sem
hesitar, adoptamos
a politica que mais convinha em tal
emergencia, isto , a mais completa neutralidade. Mr. Roberts (,nlenou que dalli por diante se observas~e a parle
do pessoal a maior circumspe(~o, toda a independencia, e nenhuma interfercncia
na lucla.
A:-;sim ~e fez.
'l'o)davia, no dia '2H, depois de termos apartado
a
Morl'iilhoK,
cuja bella e antiga
egreja visitamos,
no
rcsistimos
\ curiosidade
rie visitar oNeco a.o passarmos
HlO
F;
s,
F1U:-;CISCO
(;7
pelo :;eu quartclg-eneral

do ,{(tar, Eram;3
horas da
tarde quando encostamos
o \'apor it bal'l'anca e saltamos em ten'a.
Havia entre os nossos um tal ou qual receio do:;
jagunos
que as Ilotieias nos pintavam ('amo eriminosos
sanguinarios.
Alguns daqueUes no quizeralll
mesmo
sahir de bordo, temendo um ataque de improviso, tanto mais quanto se dizia, que a gente do Neeo n;1o consentiria que o vapor passasse alem,
O Jacar um povoado pequeno, COlli umas SO casas
velhas, exparsas na planicie marginal,
e estava ento
repleto de gente adventicia
e l'ecl'Utada para aluda
imminente,
}<'1)mOS,comtudo, recebidos mui polidamente.
ONeco
no se fez esperar, e de bonet na mo nos deu as boa:;
vindas mui affavelmente.
Contou-nos
durante cerca. de meia hora os horrores
que soffreu, e as peripecias da luda cujo desfecho, declarou-nos,
no demoraria muito, nem mesmo dous dias,
pois que ia partir immediatamente
para atacar a .lanuaria.
,T tinha havido dias antes Ulna refrega pm que do
.seu lado apenas houve seis homens fel'dos IpvClllente,
mas que ficara senhor do campo, tendo-se retirado os
da .Januaria precipitadamente.
Ia agora marchar com 200
homens alem de outros 200 que formavam a vanguarda
e estavam ji sitiando a cidade. Esperava ehegar ali primeiro do que nls.
Despedindo-nos,
pedio-nos
neutralidade,
mandou
dous dos seus homens que nos acompanhassem
at a
bordo, offereeeu-nos carta de reeommendao,
e presenteou-nos COlli algumas arrobas de carne fresca, offereeel1do ainda cal'llcar uma rez se quizess(~mos demorar algumas horas.
Partimos, porem, do acima eNca de 4'/, da turd!',
mas no pudemos fazer muito, porque um pequeno desalTanjo na machina fez com que () vapor no deitasse
DH.
TIODOIlO
~A:\II'.\IO
mais q'.le 4 kilomdros

at o log;U' onde ancoramos para
passar a noite.
En pouco mais de H horas, quando ouvimos o troar da ['uhilaria para os lados do Jacar;
depois ailllla
algulls tiros perdidos, e mais distantes
e, finalmente,
sem <Ile muito nos inquietassem
os suceessos, tudo elltrou en silencio e !la repouso debaixo de um explendido lllar.
:\0 dia seguinte. sabhado, -:W de :\Ton~rnbro, pelas
seis horas da manh partimos rio acima do nosso anchol'aeouro,
perlo do Jaear. em diree<;o ; .la!lllaria.
Alravessamos
uma regio l'Ill tudo semelhante
que vnhamos examinando

desde a Ca.rinhanha.
O rio continua desimpedido e franco a naveg'ao,
correndo entre duas cordilheiras
baixas, parallrlas
que
a cU:';:.o se devulgam
do tambadilho
do vapOI', e das
quues sc destacam de espar,:o a espao serrates pittorescos que avanam at a margem bal'l'an(~osa e alta.
C)lTem as duas cordilheira.; dislantes
lima da outra cerca de ~) para' H leguas, elevando-s(~ de l~O a 1iJO
melros sobre o rio, (:om relevo semelhante
ao dos terrenos que se alleiam i!lsensi\t~lmente,
Illas exllibindo
de quando em vez uns tlrtes fundos, umas quebradas
com '"alles estreitos,
apertados
e de curta extenso.
1~ serra,
ou antes a alta lOI/{wdn que separa o valle do S. Francisco do seu all1ucnte, o rio Verde Grande tem esse as pedo das planicies elevadas com as margens cheias de rewrtes (~de valles pequenos donde des<:cm f~llI>SOSc!'agua insignificantes
e sem nome na localida(k
Entramos j n'unla reg-iuo emincntemente
cakarea,
l'egi,) que parece extender-se
por larga zona do territorio mineiro, indo de um lado entestar
com a SeITa
do E.~pinhaco c de outro at Goyaz, /la cordilheira que
os llOSSOS geogl'aphicos
denominaram
das llertentcs. E'
a ret:io pitt.ores(~a das cavernas, dos sumidouros,
das
g1"llt.S de slalaetites,
das torres e dos hasties erguidos
OHIO
J)F; S. FIUSCISCO
no cimo clOH ara.:CC8 e que s,o o encanto dos viajantes do serto,

Chegamos i Januaria
cef(~a das qllatro horas da
tarde e desembarcamos
logo. Hein;l\'a. na cidade um lugubre silencio. Et'a grande o terror entre os raros moradores que tinham permanecido e quc, assust.ados, nos
olhavam com desconfiana
e se occulta\'un logo. As ruas
estavam desert.as, as casas fechadas, o commercia recolhido, as autoridades
fugitivas. Heinava o desanimo
e o abandono era l:ompleto.
Quem nuo logrou fugir do acima acompanhando
li
fon,;a publica, as autoridades
e as pessoas de mais credito que se punham assim ao ahrigo da sanha do New
e dOH scus sequazes, ganhou a catinga, refugiou-se !la:';
maltos proximos at \'cr em que paravam as cousas.
Neco indubita\'(~lmernte
triul1lpbava em toda a
linha. () scu nornc inspil'ava
tcn'or, c, por i,,:,;o, qucm
no fugiu da .Tanuaria porque contava
d(' qualquer
modo com a sua proteco 011 amizade. Tinha elIP, de
facto, ehcgado primeiro do que n6s; mas, ao que nos
consta, no tillha commettido
as atrocidadc:,; quc sc receiavam e que os seus inimigos propalavarn scriam postas em pratica contm clles.
As barrieadas construidas de gralldes travcs, pedras,
e areia COlli que os habitantes
procurar~lln defender-se
fechando as rua:,; do lado do nort.c dc nada valemll1.
Vimol-as intactas 110 seu logar, attestando
a pericia e
a hahilidade com quc foram erguidas pela estrategia sertaneja, e ainda mais a prudencia
e melhor cOllsclho dos
quc as guarneeiarn,
pois que cm lempo rcconlleceram
que entre seguro e seguro melllOr fru partir qlw ficar ....
e foram-sc com DeliS.
A gcnte do Neeo, ist.o , o scu exercito do jagunos
entrou na cidade c fez o que quiz. Contaram-nos
que
beberam a ,aiel', e quando ja no podiam beber, abriam
as pipas dc villho c oeixaram-nas
vazar para a rua, na
doce alegria de verem corrcr um rio do precioso. Fi-
70
nit.
THEODORa
i'A~rPAIO
yueint; roubaram
o que quiz.eram, () gado lll8 fazenda~,

l eria<,;:), a mohilia dai' (:asas abandonadas,
qucbraram,
distruimm,
dC8moutaram
engenhos dc assuear,
iuutilisando peas essenriaes
das machinas, UIIl \'crdadeiro
vandali:mlO.
De ccrto havia algum t'xaggero em tudo isso, Xa
cidade nenhum rest.i.do de t.acs desmandados
nos ('.OTlfirmoll a etfedi\"idade
destes, ~Ias hem de ver qlW o
Neco (~ seu povo no se tcriam limit.ado a entrar na eidade pelo f'fo orgulho de dizercm qlw a tomaram.
O
faanhudo chefe dos jagunos deve ter tirado sua vingana. Senhor da cidade, diclou-Ihe l lei a seu bel-pntzel' e cont.inuou
a didal-a
emquant.o Jo centro, alis
bem r(,moto, ni:'lOo mandaram
desalojar.
Tinha feito
eOlTer de medo aos que o haviam desfeiteado e arruinado e, deeerto, procurou lambem indemnisar-se
li ellsta
delles, dos prcj Ilizos sotl'rirlos, (~ das de8pezas que a
guerra lhe trouxcra,
Estas guerras do serto lln IIIu ito de tra ..d-eomedia; so tomo entmdas
de leo e sahidas de s(~Il(leiro;
muita tro\'ouda
cchoando ao longe, IIl1lito ronco, muito alarido e, no fim de eonta~, a {/,IJn impetuosa
do~
valiente.'!, prc(:cdida de lIluita notitia mentirosa, mandada para effeito l; fra.
Contou-nos
UlIl dos partidarios
do Seco que o barulho comeara por um dos mais revoltantes
{' cstupidos ataques que possivcl imaginar-se.
F\~ste.iava-se um easament.o em tasa de um dos amig-os do Veco, e bailava-se li noite ('om as janellas aberta~ pam a rua. Subito, por entres as damas, as luzes
e tlr'~s, tra violenta desearga, e eaern por terra, feridos
no 1'Olleos dos que to ineautamente
se divertiam.
Tinham os eontml'os eseolhido aquella occasio para
eome(;ar a lucla, e melhOl' ueeasiiio por certo se lhes no
depararia
se a deixassem perder, e pois, apont.aram os
e1avilloles para dent.ro de uma sala em festa (' fizeram
li ma ra:.zi(t .....
...5;._
,:'
...
;--{"'
Colulllnas de calcareo no alto da Serra do brejo

Salgaclo (Januaria)-Provincia
de Minas Geracs
O lHO DE S. FHAXCISCO
71
terl'ol' que isso produziu foi indescriptiveJ;

maH,
bem averiguadas as cousas, poueos foralll os ferido:s, ningllem nlOrreu, merc de Deus.
Fugiram osque escaparam sanha dos bandidos; mas,
dias depois, conseguiram
estes deitar a mi'io em um dos
mais dedicados dos partidarios
do Neco. A marraram-110
de ps e mftos como a um porco, amordaaram-no,
deitanllll-110 no fundo de uma (~ana e eonduzindo-a
para o
mt~io do rio, deixaram-na
descer , merc das aguas.
O desgraado, ]enHlo rio abaixo pOl' entre imprccaes, vozeria e tiros de toda uma populao odienta e
a:ssanhada contra elle, vagou largo tempo, at que pOI'
milagre, foi dar em terra, entm gente amiga c compassiva que o recollteu.
A h(~ta, qlle assim come\,oll, teve o desfecho que acima de:s('rev(~mos. ONeco vingou-:se, mas de facto vingou-se menos barbaramente.
Ao seu inimigo no o deitou
agua:s abaixo, no lite COItOIlnariz, nem mos, nem p~,
como ::;e assoalhava, mas deu-lhe 'lWt( cal'1'eirn de J/ws(l'e,
da gyrill dizer-se Iii fra, c pagou-se de juro e principal.
DR.
THEODORO
CA PITCLO
... t
S.-\:\!PAIO
XVIII
S. Francisco
No dia seguinte, muito ('ello, IIln domingo, convido uo 1>1'.Derby para uma excurso Serrer do Brejo que
vamos a pouco !lUllS de legua por detrs da ./anuaria.
A travessamos a principio uns terrcnos baixos. alagadios e bem la\'l'ados, vimos JIIuita gentc corrcndo assustada ao prcsentir a nossa approximao,
as casas fe('hadas, as r.ulturas ahandonadas,
c clegamos depois de
hora e 111eia de caminho, a p, ao povoado do lJrejo, j
na bas~ da Serra, onde cncOlltnullOS o Ine8mo terror na
poplllali"to, que toda ella se havi<l occultado.
O loc.1I ferti] c a qualidade do solo bem se altcstava !lO vigor das plantaes quc vnhamos encontrando
t margem da cstrada. 1\Ias no sadio; pelo quc a popula(, delinha, minada pc]as febrcs palustres cndcmieas
no lagar.
A )erra do B1'f!;jo um bcllo cspecimcn de lllOntanha
caleaJ'(~a, com as S\las encostas ingremcs, recortadas, retalhada:;, desgastadas pelas aguas mcl.coricas que lhc modelam ('olumnas, pilares, figuras de aspecto bizarro, que
vistas i distancia e em conjuncto, simulam como o Serl'ote da [;apa essllS construccs monst.l'Uosas do Oriente,
exubel'u nt.es de ornament.ao e estranhas na. sua eolossal enol'midade.
Em poucos minutos tinhamos galgado a escarpa. mais
vsinha, pisando sobre um amontoado de lages desaggl'egadas subjaccntes,
onde se exhibialu especimens de tina
cOlltextul'a do ca!careo lithographico. Do alto da esca.l'pa,
onde cresce \lma vegetao mais vgol'osa, descortina.vamos 'Jma vast.a planicie verde com algumas casas espal'sas 10 meio da; sebes que enquadram os campos (;111tivn.os, e vamos o teneno monotono e sem relevos se nIllC
HW
DE
S.
FHA?\CfSCO
siveis estender-se
a perder de \'sta para o lado do 1'\ 01'te. Grimpa lido uma arvorc elas m:l is altas, para vel' o
horizonte ao oestc, conseguimos
dcscol'tinar
para alm
da primeira linha da escarpa da montanha
ealear'ea, o
terreno qlle se levantava
mais e mais ti medida que se
afastava para oecidente e descobriamos,
nas linhas regulares dos chapad(es ou araxs que so a caraetcristica topographica
ul:stas paragem; quasi desconllCcidas.
O paiz , em .!'Cral,plano, exhibindo vasta.s campinas
na direco cie Goyaz, onde sobre os chupad{jcs de SrwtCt
JJfar-ia e do Urucuya, retalhados
pelas correntes do ,TaJior, Perua8s, Riacho dos Pmulciros, Rio Pardo e Urucuya, se crguem, soh as formas mais bizillTils e eaprichosas, os dikes I'oehosos de grs eakareo,
simulando
a.qui muralhas arruinadas, torrcs derroeadas, ali grandes
baslies, ('.olumnas aHerosas, pilares gigantescos no mais
bello (~onlraste (:O!l1a planicie cir'cum.iaccnte donde re\ll1lbm uma serenidade
tr'istc.
Ao meio dia esta\,UJlOS de volta < .lanuaria e seguamos viagem at o Jogar PedJ'a.<; de Jlfarta da Cruz em tuja
barraca. rochosa atracamos eomo n'uni excellente caes nutural, construido
de pl:dra cakarea. Alli informaram-nos
estarem refugiadas as autoridades
fugitivas da .lanuaria,
aneiosas por saberem noticias do Neco, Fomos I.<~l'ravisit.al-as e, na mal'gem, encontl'arnos soldados que tinha/li
vindo ao nosso encontro a colher informaes. Achamos
toda aquella gente n'um abatiTllento indescl'iptiveJ.
Estavam com a cabe~a eheia de vs(ies; acreditavam
em
quanto boato mentiroso lhes ehega va; recebiam cartas
anonymas cheias de ameaas, reca.dos insultuosos e com
isso se exalta.vam ou se tomavam de imaginarias terrores,
O juiz de direito, o vigario, o tabelJiio, autoridades
judieiarias e polieiaes, todos alli se aC)Ji1vall1arranchados
em palhoas, hospedes inesperados da pobrcz;,t do logar.
A nossa presena acalmou-os
urn poueo, sem comtudo, timl-os da pcnosissima
situa;'jo em que ~e achavam. No podiamos intervir' em causa alguma que tives-
7-t
DB.
THEOnOHO
SA:\IPAIO
se rela.{o com a lueta. Tillha\llos tomado es:-;r eornprolllisso eOIll a outra pa['(~ialidade, e por esse motivo foi mister
resistir s solicitaes dos fugit.ivos. Demos-lhes llotieias
authentieas,
seguras, com o que se I'l'unimammum
pouCO, mas negamos
qualquer auxilio de que a inlrigt po<lesse tirar partido, lIlalquistando-nos
tom il !:!flnte do Neco. E seguimos viagem com o pezar IWIn sentido de no
poder 'azer cousa alguma por aquella pobre gente. O {~Stado d,~ espil'ito do juiz de direito causava pena.
O digno magistrado, l'om as lag-rima:,; nos olllOs. vionos a.f'..star l'OlnO quem perdia uma esperan~a, o seu 1'('cmso ~uprem() naquelle passo ditlicil.
Quanta desgraa, e quanta haxharia naquelles sertes, santo DrllS !
Deixando as Pcdm,; de l1nria da Cruz pela Il horas da manhan do dia 2 de Dezembro,
continuamos
a
subir rio at J'Iol'nda Hen'!JIU~, vencendo apenas scis legoas em sete horas d.e nav{~gafto, to fraca era a marcha do velho vapor de rodas eontra a concnte
tluvial,
agora. Il III pouco mais forte.
Nenhum ineidenl.e digno de nota, nenhullIa
fei<{o
t.opographiea
nO"l 011 mais salientei:'c
no~ deparam
nesse tr('cho de rio, rompendo com a lnonotonia da paisagem anterior e com o te{lio innunavel
em que vinhamos lllcrgulhados
todo o dia.
Sob a tolda do vapo\', tornava-se
in::;upportavel
()
(~alor desse::; dias
vc\'fto, prostrava-nos
a todos, SOIllnolentos e alagadm; de SilO\' sobre os frageis leitos de.
carnpan '1a armados por detmz da machina, a. qual dc
(uando em vez enchia-nos o camarim de vapor humillo
c deitava para o nosso lado o halito quellt/' das suas
fornalhas aquccidas.
Zombava de todas as et.iqudas esse {~alor intolent vel,
forava-lIos a tirar o paletot, a desapcl'tar, a abrir o peito
{:omo se o contacto das p['{)prias roupas nos abrazasse.
Eram 6 horas da tarde e ainda o thermOllH~tro tcntiKI'ado 'tccusa ya :~O.O
ne
"O
o
b'b
~
o
"O
o
.4)'
...
p::
"O
HlO
Dt~ S. FHAXf;fSCO
75
Mas a calmada reinante, o eo nubloso assim como

o echo surdo dos troves distantes,
avisaxam-nos
OR
imrnll1encia da tempestade
que investia pat'a ns rugindo, tangida pelos ventos do sul. A escurido adcnsa-se
mais e mais. Uma cortina
negra e temerosa restringenos o horizonte, roncando os trovf>es por entre coriscos
fusilantes.
Gt'ossos pingos quentes comeam a cahir, e
sem mais deiO!'a desaba formidavel aguaceiro. Sente-se
que a ten'a treme e vibra com os repetidos trovf>es que
reboam no alto.
;'\io possvel eontinuar a navegar. No se enxerga
cousa alguma poucos metros adiante da pra da embarcao. O pratico recolhe-se
e o vapor abei!'a-se de
uma das margens, procurando
abrigo tambem.
Foi assim que a a de Dezembro nos approximamos
da cidade de S. Francisco, antiga villa das Periras dos
.-{gicos, cuja populao,
postada
sobre a bananca,
e
soltando foguetes, queria dcmonstmr
4UC, supcrior
;1
furia dos elementos, era a sua delicada ~ afl'eduosu
curiosidade
em reeeber-no~.
Tinhamos
gasto oito horas de Jl10rada Beni!}l/(('
at aqui, sem encontrarmos obstaculo algum na navegao
tluvial que continua, desimpedida
e franca, o rio amplo
de 500 :l GOO metros, profundo de () a 7 em media, as
harraneas
elevadas de t", a ti sobre o nivel da corrente,
e o paiz com o earactel' geral de uma planicie
monotona onde raro descohrir-se uma eminentia qualquer assignalalldo um rdevo topographieo
mais variado.
76
Dfl,
.....
TlIEODOHO
S.U!PA10
CAPITCLO
XIX
Cid.ad.e d.e S. Francisco
A cid;de de S. Francisco em de eathegoria

recel,tissima e belll o demonstrava
na modestia. excessiva.
du; suas l'cacs propores.
Tees ruas
long:ituJinaes,
algumas tmllsversaes
curtas, tortuosas toda.s por calf,~ar,
ou CO!1l um eal:a.mento rudimentar
apenas iniciado, i3H
casas de feio aspecto, irregulares, IDal construidas,
titila
populao de 2.000 habitantes
cscassos, c muita pobt,Csa, apezar de se nos dizer que o logar era bOll1, prospero
e fadadc a auspicioso futuro, pis () que era cnto a noyissima eidade que t;10 gentilme1lte nos reeebia.
O que, porm, mais aUeno attrahe neste logar
() seu caes, ou o seu porto natural, dominado por um
altcroso cruzeiro onde se exhibelll todos os s~'mbolos
do ll1ill't,n'olol'o, belli frente da \'clha e modesta egre.ia
que ;UU serve de matriz.
O tees natura] , lia \"enlade, lima ll1ara\'lha. Um
banco calcareo da allma. de 12 metros, talhado a pique
sobt'e as 19uas, e ao qual podem raca.r as embarcaes,
fluer enl t.empo de vasanle quer de ell~henle, forma ahi
uma "ereadeira
muralha, que as mais altas aguas no
logram .id mais assoJcrbal'. A rocha (~ aqui da mesma
natlln-~za e fonnao da dos Mor/'/hos
que est na mal'
gem direi ~a tomo esta, mas differe da das Pedras de
Mct]'t da Cruz que um ealcareo durissimo
como o
do Chiquc~hique e contendo n'uma Hlassa eompacta e
eSbraIH]uilada concrees o\'aes felTugillosas, O calcareo
da ('idade de S. Francisco scbistoso, com as ('amadaiS
levemente
inclinadas
para. norte, mui fragmentado
e
exhibindo lages de mais de metro de comprimento.
Intercalado
l este
sehisto, ha leitos mais grossos de
um schsto calcareo argilloso, mole, desaggrcgando-se
em
-.-~~::~~.--:~::;:/"~\-'~~~-"-:--;<--:~
-
Serrn:
.I"
R:lInAlhn
"'l'
,-
"fl..
-=4~~~;::~~-~~~~~
MCU"oD
rtt!
ItncllrurnLy
-----~
fi;1~~:;~;
~-~---;-~I
~~""'~~G'~:'::---'
_..:;-.:1:~"
..,. -:~~
..
-""':.~:-'~~_I
--::u:_ .~
..... ~.-..:.~-
~<I"I:~';;';):-AI1!l
f~
\If.
Rio J:rnriro.
J'~.
tr"I"'p~H.:Q
rI,.,
o
folhetos
tenucs,
HIO
Apczilr
DE
S.
de
77
FllA:\CISCO
bons
indicios
de
fossf~is
nell" u m fOI cncon tl'udo ci\Iran te L explol'll;,o Oll exame

de llIuita . .; horas que Ille fez o DI', Orville Derbr,
O sellisto ealcareo argil1oso pal'f~C(~IHIOS fOl'mar' il
base do deposito, Plllcrgindo do rio com bastante es/wssura c appareeendo
altcl'l1adall1ente
<;Olll o eaIcareo cm
leitos mais delgados,
Na cidade de S. Francisco foi-nos dado ainda aprecial'
uma destas scpoas vergonhosas, dl~stas peripecias da lucta
<:Olll que o Neeo vinha (:onflagrando
toda essa l'egio.
O fenor dos j(({Jlwo:-; tinha chegado at aqui. Todo o mUJHlo se al'l'ceeiuvlt delles e andava por ter notieias scgUl'<LS do fjlW a(~olltecera !la .Janu<lria e pOl' certificar-se
se .ia ni10 estanull
e!Jes elll marcha para virem
atacar a cidade e libert.al'(~m os seus ami~os conduzidos
preso:,; para aquI.
Soubemos poneo depois, que o Neeo .ia os havia f(ltlalllado
por Ilwio de emiss<ll'ios que acabavam de
ehegar,
.-\ itJtIllUO
cm percmptoria:
- ou entregavam
os
presos que haviam sido transferidos
da cadeia da .Jalluul'Ja, ou elle l~m pessoa os viria buscar.-A ent.rega no se fez esper',ll',
De faeto, estando ns . tarde i beira do rio, examinando [\, bella barranca de caleal'co e schistos, deparollse-nos um grande ajuntament.o
de PO\'O sileueioso
e
triste il observar alguma cousa. que sc passant no porto
de embarque.
Olhamos ento para o rio e vimos, ja afastando-se
da margem, lIlIla grande cana com alguns homens nella.
Estes sim, falltvam
em altas vozes, ('11} 10111 de desafio
f\ tom
gestos ameaadores,
e, alem disso, soltavam
1'0gnetes medida que se apartavam levados pela corr'ente.
Intrigando-nos
o facto, aproximamo-nos
pam iwIngal' do ([ue se passava.
Soubemos enUio que aqnelIcs homens, que to exf!':U1hanwnt.c se despediam,
eram os tacs presos tOIll O~
\lH.
THEODOHO
HA:\IPAIO
.iaguJlo~ do Neeo que l ialll tl'iumphanles
jUJletal'-se
aos da ~;ua grei.
E i<lm anchos e oqrulhosos de sua "alentia, desfeileando a tudo e a todos. Certos de que ning'uem ali lhes
fafla fnnte, no se tinham aquelles poncos handidos
contentado em vir, ver e vence/', no se satisfaziam com
a. humilhao que infligiam a toda uma populao intimidada e inerme, insultavam-na agora, lan(;avam-lhe
em ro::;-:oa sua pnsillanimidade, e esfogueteavam. assobiavam, riam daquella misera fraqneza qne nem, ao menm;,
tivera a compostura de se oceultar, mas bem ao contrario,
presa de urna doentia eUJ'iosidade, tinha affiuido aos
caes para assistir ao seu proprio vilipendio.
Ef,tavamos de facto n'um mundo extranho. Como
estavas longe, oh civilisao!
Dmnte daquella affronta, a aut.oridade, Ilma sombra, t'nha desapparecido.
Ao menos no tinha ella presenciado, no sanceionam aquelle escanda lo que se a prudencia tinha tolerado, um pouco de hombridade teria de certo l'epellido
com "uccesso.
Sem foras, sem recursos, no podendo mesmo contar
com estes ainda qundo instantemente
solicitados, a.
autoridade, nestes sertes to apartado~, no faz outra
(~OUSl seno o que lhe dieta uma
prudencia habil em
tal unergencia - no foge, ausenta-c.
Mas aquella vaia escandalosa, dada por um punhado
de bandidos em toda uma cidade, muda, triste, enfileiradh no caes, sem um protesto, sem uma repulsa, sem
uma crispao de nervos, foi para ns uma sccna ulliea ,~, praza aos ceus, nUllca mais, no nosso Brazil,
se 'lOS depare to feio espectaeulo.
No dia seguinte, depois de recolhido a. bordo todo
o combustivel neeessario, proseguimos viagem debaixo
de copioso aguaceiro que nos obrigou a parar diversas
ver.es e no nos permittiu alcanar S. R01llilo, a antiga
lTilla R'WlllUt, oito leguas rio cima. Pa:-;samos a noite
()
HJO nE
s,
FHA:\CISCO
79
ancorados junto a pOllta superior da ilha de Affund

cerca de llwia. legoa abaixo da foz do Urucu!Ja, que sc)
llO dia seguinte bem cedo avistamos na margem esquerda. O UI'ucu!Ja vem das terr'as altas do lado de Goyaz e tem
cer<~a de 140 metros de largura na sua tWI'ra; um dos
maiores amuentes
do S, Francisco e tem o porto do
Cal"inhanha. Fel'llando
Halfeld calculou-lhe
o volume
d.'agua em l).64G palmos cubicos por segundo
e estamos informados que d navegao para barcas at Campo
Orrmde cerca cie 2GI/, leguas rio acima,
podendo-se
ir
mais longe de eana, As SlHtS margens so ferteis, tem
muitas fazendas e culturas, extensos campos, e maltas
iIIIportan tes.
Ao meio dia chegamos a S. Ronulo que de Villa
Risonha que era ja tinha descido cathegoria
de simples bairro ou parochia, com umas duzentas casas quanto muito. A deeadencia dos povoados nesses sertes
uma eousa to inexplicavel como o apparecimento
deUes.
Surgem, (is mais das \ ezes, sem ullla razo economica
apreciavel e extinguem-se
sem se saber porque. S. Romfto bem cedo via passar a aura de prosperidade
que
algum dia a bafejou e ia j deperecendo
mergulhada
n'um torpor invencive!.
O seu edifieio paru a edilidarle jamais se concluiu.
A egreja matriz era lllna velha construco
de feio
aspecto, pessimamente
conservada;
raros eram os edificios particulares
de uma apparencia
melhor. O cemiterio er"a um simples cercado; as ruas desertas e invadidas
pelo maltas;
tudo tristonho
e decadente, ., nada, nada de rwnlw, .. ,. ainda uma vez verificamos que
nem sempre o nome (~ uma voz com que se d l con/weeI' pessoa ou cousa.
Deixamos S. Homo, cujo porto ensombrado por quatro frondosas figueiras, com as raizes ao :sol pelo continuo
desmoronar das barrancas, a uniea causa piLtoresea d(\ logar, e seguimos rio acima com marcha vagarosa, pela JIluita chuva que de continuo nos interrompia e pelas grandes
HO
DH. 'nn;ODOHO
S.\:\IPAIO
sinuo,;idadf-'s
da eorrcnte
quc no raro
faz ang-ulo de
novclta
~T<iOS, reduz-se
a poueo mais de ~(lO melros de
largo. mas ausando
fundo de H it ~) melros
na linha
do ca nal.
Estumos
no meio de ullla extensa
p!anieic
para a
qual ::onVI~rge, com pequenos
intervallos,
um nUl1JeI'OSO
eOltejo de all1uentes
considal'<lveis
n'Ulllil c lI'outra
margem. O aSI.H~do do paiz no mudou. A paisagem
lluvia!
selllprc a mcsma, o nwsmo talllbcl\1 o (oetel; eeonomito da regio.
j'.t(~ a barra do Paracall quc akal\(;amus
a 9, pelas
H 1/2 !toms da manh,
no fizcmos
seno Ulll pouso,
no
logar conhecido
pOl' 1I1ct1/oel Silre, ..;tre, ;t mal'g(~m di\'l~ita,
C ahi soubemos
que ovapaI' Snldallha J.l1arillho, por tant.o
temp,) largado,
estava
sendo esperado
na blllTa do Rio
das Iethas, ond(~, de eerto, vinha ao nosso encont.ro.
Era boato falso, tomo depois verifi(~;UllOS, Illas alti
eonfil'll1o\l-se
a nolitil
Iit morle do baro de Guaieuhy,
um dos vullos
mais considcrados
e dc real inllucll('ia
nestas
paragens,
e quc havia conll'actado
com o gO\"CI'no dc Minas Gentes a navegao
rio Allo S. Frandsco, tendo .ia inici,ulo
as olJra,; de I'Pparo
do pequeno
vapnl"
a ({lW aeima nos ref('I'imos.
RIO
DE
S.
FflAXCISCO
CAPITCLO
81
XX
Na barra do Paracat
demoramo-nos
um pOllCO
pam fazel' lenha e para medir o volume deste consideI'llvel affluente do S. Francisco.
Achamos-lhe
em um
ponto situado eerca de 100 metros acima da embocadura,
'216 metros de largura,
4 /. metros de profundidade
maxima, t,02 pOl' segundo de velocidade superficial maxima, e ;')14 metro>; cubicos el'agua descarregada
por Sf'gundo. Medimos tambem o rio S. Francisco, cerca de tOo
metros acima da confluencia do Paracat e achamos-lhe
;,()<J metroH de largura, G metros de profundidade
maxima,
0,111 88 de velocidade media e um volume de 1fj7~'metro:->
eubicos, ou mais do triplo do Paracat.
Desenganados
de acliar o combustivel de qlle care<~ialJ1osneste lagar, transferimos
o nosso Hnco'adolll'O
para o sitio do Paw;tino, llma legua rio cinla. :\:fas foi
Ulll engano
porque peioramos de sorte.
O logar era bastante povoado c com muitas plantaes ao redor. A matta porem fitava distante
e a
lenha, por isso nos veio a sahir mais cara e mais
demorada. Achamos ahi excellentes
laranjas,
vendidas
alOO ris o cento, muito cel'eaes, e algodo produzido
apenas para o consumo local.
Deste sitio, cerca de um quarto
de legua para o
interior, est uma formosa laga de legua e meia de
<:omprimento e meia de largura, raza, desaguando para
o S. Francisco cerca de quatro leguas mais abaixo e
recebendo o tributo de var:os ribeiros, entre os quaes ()
mais com;demvel o denominado Gameleira, Chamam-llw
os moradores - .J.l1deda Pobreza, porque,
sendo muito
piscoso, o recurso da popl1la~rLO menos abastada daquellas redondezas.
6
Dl{. TIlEOnOHO
SA~II',\IO
Outra lagoa menor, ~ituatla. mai~ aeimu, e menos

atiu;t.lda
da margem
do rio pareceu-nos
antes urn
espril amenta do Pa/'rtcat1 de Se~ Ded08, um pequeno
aftluulte da direita do S. Franeisl:o, do que o el't'eito das
(mdll~ntes alll\UaeS deste, como- par-eec <{ue o (~aso da
pril1wira laga, tamhem chamada do P((/,((wII, por fkar
fronteir-a barra deste rio.
Dos l\1omdores
aff.seis e hospitaleiros
eolhemos
ento boas noticias da regio interior, das terras altas,
distantes,
de nenhull1 logar conseguamos
avistar
c
tomamos conhecimento
dos sellS habitos,
costUI1ICS e
avus)es.
r:ontavam-lJos
eOl1sas maravilhosas,
pas~adas SOlll'P
ilS aguas das lagas, os CnCalJtilll1entos e assombraes
dellas, as mortes numerosas
de peseadores
cujus (~adan>,\'e~;slllniam-se
mysteriosalllente,
o modo C0l\10 s(~
IH'ocedia para, em certa hora da noite, se deseobrr
o
corpo dos que pereciam afogados, para a que, diziam-nos,
era mister tomar uma euia ou caba<;a nova c dentro
della accendel' uma vela que se deita il fluctuar () mais
perto do Jogar onde pro,'avel que a morte occorres~e. .: ento, aquella luz venta que o ,-cuto no apagar
e quc Ulll~t fora mysteriosa faz deslisar sohre as aguas,
ni JI,uar exactamente,
COIllO se uma antara
a deti\"essc
110 ponto em que se hade encontrar 110 fundo o corpo
do misero euja luz se apagou para sell1pre.
:\'[o vo l dizel'-lhes, a esses
pobres
pescadore:s,
que o seu prosso ali;; to engenhoso e tilo faei! podp
falh',I'. Isso os esealldalisaria.
:\Io faltam testemunhas
oulal'es e serias para \'01-0 affirma!', sob palavra d{~
hOll! a.
A tI de Dezemhro ,Linda nos achavamos IlO porlo 110
Faudtino, cerca de ullm legua acima da balTa de PUl'acat.
O crte da lenha nos retinha por mais tempo do ljup
previramos. Era. mister calltempol'i~:;ar, condescendcr COlli
a gellte da tena e com os seus modos de trahalhar, em que
a fador tempo entra por muito, mas com valor negativo.
o HIO
DE
s. FIL\:\CrSCo
O rio S', P/,((,J/cisco continua. a encher por influentia

das primeiras ('huvas da estao. Em dous clias tinha suGido I mctro. As aguas deseem ento barrentas e cspumosas, transportando
detrielos vegetaes de todo o genero
e tamanho. F'atilima se torna agora a navegao rio acima,
onde todo o bstatulo provenicnte do Leito desapparecc,
e il tOl'l'cntezu se ahranda tom a elevai'io do nivel da endlen te.
Vimos ainda nas visinhanas
as lages calcareas de
torma:o idenlica li das Pedra.., dos AngicoN (S. Ft'ancisco)
(~ \'el'itiralllos que a planicie marginal, estendendo-se
em
larg'a faxa para o interior, ia at tres leguas distante onde
('Oll1c<;a o tcrreno a elevar-sc, exhihindo pequenos serros
destaLados e sem systema. O 'val'gedo como aqui se diz,
l~extenso elll ambas as margens e se converte em grande
lago desde lJue o rio transborda desalojando os fazendeiros
e plantadores.
Disscram-nos que so aqui mui baratas as tcrras. Uma
legua de terra na mat'gem do rio tOIll duas para tres de
fundo, l'ncel'l'ando largos tractos para cult.ura e muita varZl'<l pllra solla de gado, vende-se aqui ao preo de G008000
~e t.em alguma bcmfeitoria, e custa ainda menos se o solo
inteiramente
baldio, ainda que comprehendendo
mallas
LOmm uita madeira apl'oveitavel como o cedro, a aroeira,
pereiro e outras propl'ias para tonslruces.
:\'as margens
do Paracatli t' do Unicuia, as terras so ainda mais baratas
e excellentes para a lavoura .
.As ternis tem aqui, de facto, muito pOlleo valor. Os
proprielarios
cedem-as gratuitamente
aos moradores pobres para fazel'l~/IJ suas plant;u;.()es e estes obteem quanta
desejam, dcrrubando as mallas, tirando madeira ern veI'lladeira devastao.
So aqu tcrrveis as fonngas, as quacs inutilisam
irea consideravel
de terreno proprio para cultura, e s6
pt'Oximo s barrancas
do rio l~ que as suas devastaes
so menos sensveis. Por essa razo, as culturas se fazem
DR.
THEODORO
SUIPAIO
toda:; nas margens, e a mr parte dos proprietarios do

solo se dedicam de preferencia creao do gado.
Comquanto estejamos no fundo de um valle, no centro do continente, e na estao mas quente do anno, o
clima, destas paragens, a GiO metros de altura sobre o
nvel do mar, nada tem de extraordinario. Comtudo, temoR
constantemente 23 centgrados sombra, s 6 horas da
manh, 32 a 33 s 3 horas da tarde c s 8 horas da
noik ainda o thermometro de Celsius accusa 26.
IUO
Dg
S,
CAPITULO
FHAKCISCO
85
XXI
FiJ:apo:ra
A l't de Dezembro, hem cedo, pela manh levamos

aneora e proseguimos
viagem depois de haver recebido
cinco mil achas de lenha para o resto da viagem at Pil'apm. l\'este dia no conseguimos
deitar mais de seis leguas rio acima, indo ancorar cerca de tres quartos leguas
para alem da povoao da Extrema da qual passamos de
Jargo,
.
O terrcno eomea a clevar-se .. T se obHerva do rio
alguns morros de (,O a HO metros de altura,
formando
cltu padas que se crguem sensivelmente
desde as margens
do rio e mais assignaladamente,
no trecho entrc a barra
do Pacuh!J e o riacho da Cannabrava que veem de leste
e pntram no S, Frallcisco pela. direita.
A matLa marginal no mudou de typo. As palmeIras
appare(~elll porem agora em maior numero, e as cannas
bravas eom as silas tlexas csguias ostentam aJvos pendcs que a aragem agita brandamente.
Nos montes. observa-se, por vczes, uma faxa limpa
a meia encosta, como se fra um campo arteficial intel"
posto il matta mais dgorosa que sbe do rio e aquella.
mais I'ala que coroa as eminencias.
N essa faxa, o solo anHu'cIlado sulcado pejas eros((~s, tem aspeeto arido, paysagclll, que vai agora apresentando mais variedade e mais belleza. A Scrra da JJan[In, fronteira
(~ontluencia do S. F'ranclco e do rio dali
V/~lh(('8 c,,~w typo.
~ o dia 1:3pelas fi horas da tarde alcanamos a barra.
do Hio das Vclhas depois de percorrer ccrca de II leguas
com excellente
viagem. Aneoramos
em fronte ao arraia.l
da .lIaI/ua, pequeno e pobre logarejo, e feio aspecto como
o da Porteira quc lbe fica bem proximo, e saltamos em
DH,
THEODOHO
S.HIPAlO
ten'a. pa 'a. visit.ar o lagar. A JInlt/Jet tem uma. egreja em

const.ruq;o que pal'e(~e jamai8 se acabad, porque o rio
a\a.n<,;a contra ella, destruindo a harl'anea, damnilieundo
as ('.onstruces como ja o tizera ('.0111 as casas da rua
marginal. Apezal' da excellente posio do povoado, soh
o ponto de vista commercial, na ('ontluencia de dous ~Talldes rios, e das hoas tenas ao redor, a pobreza aq u i (~
. mui sensivel. O povo extremamente
pohre, alimentase de pl~ixe e contenta-se com isso, A carestia nestes !orares incrvel. ~o cl)llseguimos apezar do maiol' PIllpenho (,btcl' que nos vendessem um poueo de sal, al~'\Jns
~eneros de primeira neecssi(lade, e ullla rezo Tivemos pois
que pal til' para Pi/'npo/'et, (:inco leguas mais acima, SPI1l
rdol'l';o de munio de hoeea, e o mais triste aiuda <uP
liaS anuunciavam
seI' a nossa penuria nemed iavel porque para diante, na direco que le\'lt\<lllloS. no havia
onde comprar cousa alguma.
s duas hOl'as da tarde do dia seruinte cheganllllos
a Pi/'(ll'Ont, a grande eacho(~ira do S. Francisco onde t{'rmina a ;!;rande ~eeo navega\'{~l dess{' caudaloso l'io. A Ll(,Oramos ahi, junto ti margem esquerda, pouco al'imado ria(,ho da" PedJ'(t,'; c eeJ'(~a de 4()() metros abaixo da qUNla
('ujo iT ido soturno.ia
haviamos pen'pbido desde dua~ ll'guas niais em baixo.
A cachoeira. de Pil'aZlo/,(/, P, em yerdade, mais uma
grande cOI'/'cdei/'n ou uma sprie de r:Oi'/'cdcii'et.'l produzidas
por um travesso
rochoso do que UIlI salto (~Olll qupda
accentuada.
t'm banco de gl's qu(-~hradi<;o yermelho ou
roxo que, nas margens se mostra formando eSl.'arpas (fp
'2 a 4-rllf~tI'os de altura, corta o rio obliqualllent(>, fazendo
yarios soca1cos pOI' sobre os quaes se preeil?itam yiolentas
. espumosas as aguas que o dique rochoso debaldp ('Olllprime e estrangula. Id em cima.
O rio tinha-se a"olumado l'01Il as ultimas l:\luyas, (por is~o grande parte das aspcrezas do leito rodlOso ti nha
(lesapparecido.
Disspram-nos,
porem, os moradorcs qUI'.
quumb o rio esl<i baixo, pode-se ir a p enxut.o sobJ'(~lages
__
_J
RIO
Dg S.
H7
FHA:\CISCO
c pontes df~ pedra em g-rande distaneia at o mcio da

conente que ento mais precipite e de um piUores("o
mais accentuado.
A impralicabilidade
parecen-mc eomplcta pelo qlW
respeita ~L navegao. Todavia informaram-nos
quc, proxima ti margem direita do lado da peqnena povoao de
Pirapuru, ha nm eanal para canns desclLnegadas,
ar .
rastando-se estas por sobre as pedras emquanto as cargas
so conduzidas
por teITa' at a parte aceessivcl do rio.
Com it enehentf~ CBse tallal sc tOJ'lJa mais profundo ento
os mais arrojados se atrevem a pratical-o sem a pl'l'>via
desca.rga da s embarcaes.
O nivelamcnto a qlw se proccden, na margem direita.
aCCllson, na extenso de pouco mais de kilo/lwtro,
enIre o alto e baixo da ('aehoeira, a differlH,;ade (l, 12 para
queda total della, rcsultado que ponco diverge do obtido
por Fernando
Halfeld qne achou i;!~)palmos (G,OO"'), elllqllanto E. Liais d apenas 3,4:3 este talvez referindose ao trel'l1O /I1a.is curto e ingrellle da caehoeira.
:\0 dia I;, de Dezembro pelas Il hora~ da manh estavamos de volta ti barra do rio das Velhas, tendo destido
as tinco legua~ entre Pir(J,}Jora
c a J.l{(tI1!J((, em duas
horas.
O tempo eontil1uando favoravel, ainda que o t.her1l10metro iL somhra indicasse 30" antes do meio dia, nos
animalllos a saltir ;i terra para fazer uma visita ao arI'aial da Porteira, distante l'crea de meia legua do nosso
ancoradouro.
O anaial eonta. apenas umas setenta. casas
c no telll Inais de uma centena de ha.bitantes. A e;?"reja.
eorno edifieio lnais il1\vortante, ehamo\J-l1os logo a at.ten\.o, e pois fomos visitai-a. E" unla cOlIstl"lle(;o pronlvelmente do fim do seculo XVlIl.
O frontespicio della que nos dissera.l\l tcr sido muito
bello, tinha desabado ha alguns annos, e foi ento rp(~onstruid() ou n~mendado. Pintaranl-l1O grol.eseamentl'.
Desenharam-lhe
em meia altura uma fila dc veixes azues
(~ rIo fronto J'epresenl.al'a.m uma eOI'<aladeada pOI' dnas
'11
111
DB. THEODORO
S,\)I1'..\IO
figuras ridiculas de indios, vestidos europa e apontando

para ella os COlli petcntcs arcos retezados.
A (bra in lerior sera, porcm, digna de admirao e
de todo apreo pelo lado artistico se no t'lIra o muito
estrago c a pessima conservao
da bellissima architectura d05 altares. Que bellas imagens! Que formosos lavores n:\, obra de talha! Todo isso, porm, no resistir
por mu tos annos ainda., to adiantados e to il'remediaveis S(lj os estragos do tempo.
O vigario, homem de cr, velho e doente que to am(tvclmcnt.: !lOS tratou, pareceu-nos um rcsignado cuja voz
damuv(J no deserto. A sua parochia cra grande de mais;
extendia-se por uma e outra margem do S. Francisco, COlli
:1O leguas de comprimcnto
e mais de 20 de largura, caleulando em eNea de 12 mil almas a sua populao pauperrima e disseminada.
Elle, coitado, no tinha a minima
pspera.na de ver as cousas melhorarem,
encontrara-as
assim, ]ariam dl' continuar ....
O RIO
nE
S.
FRA:\CISCO
CAPITULO
89
XXII
.A. Se:r:ra. d.a. ~a.:c.g-a
o DI'. Derby e eu, ao alto da Serra

se erguia 34-0 metros sobre o nivel do rio, a meia legua de distancia. :Fomos encolIU'ando pelas encosta!; um schisto a vel'lnelhado que aqui
par(>ce constituir o embasamento
do planalto e muito seixo
rolado proveniente da decomposio do grs vennelho que
domina nas eminencias.
Depois de ullIa marcha de pouco mais de lIma hora,
cOI'seguimos, no sem difficuldade. galgal' os rochedos
<Iue formam o eulminante da sena, e alcanamos a ponta
de [1m penedo elevado, ele grs vermelho com o aspecto
do tijolo recosido, onde a ClIsto nos mantinhamos
para
observar a regifio ao redor.
(Jue bellissimo panorama
esse qlle se desdobrava a
IIOSSOSps n\lIn raio de mais de vinte leguas, por um
amplissilllo
horisonte!
lh~(~Ollhece-se Jugo que estamos no alto de urna larga
chapada que os rios retalham ou sulcam profundamente
(' no (~imo da qual se erguem, destacados, curtos serro~
I'Ot/lOSOS
de um piltoresco incompal'avel.
A oeste fi noroeste avista-se J em baixo, em seguida
no ponto de contIuencia do S. Fl'anciseo e do Hio das
relhas, it fita prateada, aqui e alem interl'ompida
pOl' um
relevo mais saliente do terreno, que vo deixando na plancie venle-escul'o,
as aguas do ~rallde ro que se somem /lO horisonte entre duas pOlltas de morro que tingem
aterrados
gigantescos.
Mais alem, na mesma direco, sobl'e o dorso ela chapada, cujas nnrgells parecem franjadas de vermelho pelos
lJ\lllH~I'OSOS
sulcos, quebradas e barraneas nuas qlle a \'egeta~o nflo COhi'iu, erguem-se bellos picos pyramidaes, pequenos, serrotes alcantilados,
montanhas despidas que aSubimos
depois,
det lIfan[Jct, cujo pico vermelho
UH.
qu i tomam
THEODOHO
nome:.; pretent:osos
~A:\II'AIO
de
Kefl'(P;
como as
dl:'
n;
do ...1101'1'0, ROIn/Je Da" Tt{tculumi, Uenipa}io, e dCf:pnham

no horisonte ao noroeste, \lm perfil dos mais pltol'Pseos,
Depois, a Sei ru d(t V(t/,gillh(1 tom a sua ('umiada \"'1'mplha e nivelada, pl'eeedida de algl;ns eabeas ,ll'\'\'oon(lado~, dissimulam-nos
apenas o comc(:o de lima chapada
longinqua eujo pedi! azulado fOl'llla uma linha ('on!illll;
estendendo-se
por (,l-'rea dl-' UIlI quarto do hodsolJl!:', PPl;
extenso e grandeza desse rPlc\'o ol'og'l'aphito, par('('('unos que (Jp\'ia eorJ'(~spondel' S'e/'l'{( rhr ~'\latta da Cordn,
cujos eontrufortcs
ou projee(es mais septentrionaes
no
liDS podium
ficar muito distantes.
:\lais prOXll1lO, e oecupa1Hlo o meio ('ntre o ro das
Velhas e o S, Francisco. avan,'a em forma de baslio,
simulan(lo um tel'l'<I(;o, a ponta da chapada qU(~ aqui tem
o Ilome de :';1'1';\ria TrrlJ/rr ou da TapeJ'a. p fOl'llIa ('OJl1
as tel'l'as altLs que SI' desdohram
alpm pilra o ~ul UIII
largo ('hapad\o de aspecto mOi'lOtono, apenas lIIilig'\llo
pelas multiptas e Sl1ccf'ssi\,ts chanfl'aduras
quP a Pl'oso
lhe rasgou profulldamente,
Prolongando
na dircrt;ilo do ::.;upstp o largo sulco qu!'
o S. FranC'.;co abriu em mais de meio horizonte, o \'ttllt'
do rio da,'; Felha lO, com l slIa pl.wi(:ie baixa, manehad,l
de llt~gro, t,ue pare(:e flll.!:ir-Ilos pOl' llma quehrada.iulllo
do esporo apla.inado a que se d o 1l0l1W de SerJ'(1 rio
Corwll()((,taOlj,
assignala-nos
uma regio eOIll o aspl.'r-to dl'
um tampo deixado 1 lavoura do futuro,
A no!'sos ps, o terI'l~no (:oberto de gramineas altas
e sOlllhrehdo de arvores raras. dispersas, deixa-no;.; helll
patente o dorso levemente ondeado da ('\apada em cujas
dobras In. midas en~sce capado e \'igoroso () bHril!!, orlando
de vel'de ;)s breja.es, acompanhando
(:om uma alt~a de palmas esphcrieas o eurso dos ribeiros ll1inusclllos quP deslisam pelas encostas e vo engolfar-se \la planieip l ('Ill
baixo.
Como bello esse Brasil cenll'al que to pOllCOS eo\)heecm I>, de que ns brasileiros to ingellua.mellte
1I0S ufa.namo:,;, t'xaggerando
OS recursos!
0 .
"~
'"t
~
~
~ ..c~
V
~ >
CIl
C'<l
"C
O
Z
OJ
O
U
CIl
.:;
:::
C'<l
...
HIO
DF. ~.
FHAXCISCO
Em j tarde quando conseguimos

terminar UIll de;:.;pnho do horizonte ao redor, utilisando-nos
para j~so das
folhas de uma earteim de notas que o DI'. Derbr nos ia
passando t medida que o tmbalho prosegua. Naquella
pOSiiiO em lJue il c:usto nos mantinhamos
sobre a ponta
d Ulll rochedo escarpado,
tomando notas, lendo os 1'\1l/JOS n'uma simples bll::,:sola de geologo, tinham-se passado horas, e diante dos nossos olhos estasiados,
too
quelle scenario, amplo, de lIma belleza estranha e de ullla
/llIHlez cu'aeieristea
dc dcserto, pas::;oll por success\,ls
tr'ansfol'maes
nas cambiantes de luz eorn que de dive/":-:as alturas o iuundava o sol cadente. Aqui, era uma dobra
do terreno que se illllmiuava e no:-: destobria
mais um
rclc\'o qlle tinha passado despercebido;
ali era uma linha
de picos enfileirado8, lJl'ilhantes, ::;ohrp UllJ fundo llCgro
do c(~o,como se foram as p)Tamide~ dos PtIal'as. eq ..wida=-:
lia oda de um paiz desconhecido: alm, o azulado da=-:
montanhas
distantes
que se dissipa e no~ deixn reI' os
('01ItOl'n08 mais aeeentuados
do l'elpro orographiro
n'um
hello contraste de luz (~ de sombras.
Descemos j tarde daquellas emineneias aoit.adas pelos renlos e, alravs dos call1po~ e dos uUl'ilisaes, \'Cllta:nos ao porto da Jllll!lrt onde.ia se faziam aprestos para
a viagem de regresso.
O plano para ultimar as explol'e::; estar a feito e
destribuidos
os papeis. O DI'. Ol'rille Derby, para eOIllpletar o estudo geologieo da ba(~ia do S. Francisco, tinha
de seguir, remontando o ralle do rio das Velhas, para transpor a. Serra do ENllinha(o e roltar por estrada de ferro
ao Hio de .raneil'. Eu devia descer rio abaixo COllia Coml\1i~so at a villa da Cal'inhanha. donde, atrarez dos terI'cnos diamantinos
da Chapada ballana, deria ganhar o
littoral. O grosso da Commisso regres~aria }lelo rio, vCl'ilkando os pontos duvidosos e, em Jlacei, tomaria o vapor brasileiro da linha do Xarte, cm que eu tambclII devia embarcar para.iuntos
,'egressarmosao
Riodf' .1'1.Ilf'iro.
Viagem atravs da Chapada Diamantina

EM 1879
CAPITULO
Da. Ca.:rinh.a.nh.a. a. ~onte

8(,.."
.
Alto
rrn-Y,3
-
regresso da cachoeira de Pirapra" at onde

'" nos Ievara o exame d a navegaao
- (Ol'S no ~.
!'"'it
Francisco, chegamos Carinhanha, a 22 de Dezembro de 1879 onde devia eu apartar-me da
Commisso, cumprindo ordem do meu illustre
chefe, Milnor Roberts, para dali fazer a tl"a,'essia dos
~ertes bahianos, estendendo o quanto possiveI o meu
trajecto pela Chapada diamantina cujos caracteres geographicos muito desejavamos conhecer.
Feitas as despedidas, saltei para terra no mcio do
ll1uito povo reunido no alto da barranca e vi bem depressa
desappareeer na primeira curva do rio o penacho de fumo
do vapor Presidente Dantas, assignalando por entre as
arvores marginaes a carreira que levava o velho barco
navegando aguas abaixo.
Fiquei s6 no meo d'aquella gente anarehisada e no
pensei no perigo que dahi pudesse advir. E, comtudo, o
perigo era bem de rc<'eiar, como depois veritiquei.
A Carinhanha estava de facto em poder dos assaltantes da .Januaria, que para ahi se recolheram depois
da sua ,'idoria t.o faeit quo escandalosa. Reinava na
"ilia um terror panico. Que tinha o que perder entrin~ .;
!H
('heirava-se em casa depois de l'diraI' a familia .; o('enltas para algull sitio distante,
As Iludo) idadc:i :illlllil'all1-sf:>,e os eriminoso.; le' assassinos dominavam.
O Capito l,'ranciseo de Magalhes eom aSila .rente
armada c com os despojos de sua reeente
campanl);}
t'staya aqui a,;ampado
l'mquanto
que o seu, a,lliado,
:\tanoel 'l'a\ an's de S,, por alellnha
o No, preferira
liear com as s Jas fon;as na O\ltl'a margem, na pO\'Otll;o
da 11[(tllwda, q\le avistavarr.os
ro acima.
Cou:,m cnriosa. Toda essa .!'enlt" formada elll alas
lI'uma e n'outra
margem, l'e('cbeu-nos
(~Olll foguet(s ('
acdamailo
ao clwgal'lllos.
Indag'1I1do (lo moti\'o,
informaram-Ilos
que tinham aprcciado muito a nossa ('01'ree<;o no theall'o lIa luda, tUlllprindo eOIll a palana
dada de no intervir por nenhuma das parcialidadf's,
Apesar diss), niTo me adwi seguro uo meio d'atplPlla
gente desenfr.eada. ~o me sentia intimidado, mas <'.IIH')".ronhado; e pois ))"oeurei a pressa I' a lIlin ha partida, dando
(IS passos
para '1 compra dos animaes e pal'a eonlral'lar
\llll canlarada, o' que entretanto
no em fatil 110 llleill
q\le reinava.
Ajlldav,.-me deligentementp
O meu hospede,
o SI',
Antonio .Joaquim Ah'es, e o bom vgario, Padrc .Joo
Haulino RacellaJ" fazia o possivel por me ver de via~em,
fugindo lquella ':ergonha
que ellc, por Slla vez, no
queria supportaI' por Illais tempo, DesejavHl'etirur-s(>
no
dia. ~eguinte, indo eelehrar missa no povoado do Espirito
Santo, tel'ca de l'ineo legoas I'io baixo.
;\' noite, a desol'(h~m alling-io ao sell auge. Gritos,
tiros, correrias tr.l~iam a villa em sobresalto.
Defrontl'
da tasa onde nie hospedei veio alta noite descaxregar Il
seu ba.eamarle um valento, dizendo aos outros em ,u'
de mofa que aquilJo el'1t para eXJH~rimenta.r o engenheil'O
que elle sabia est.lI' ali dOl'lllindo quella hora,
No dia 25, j pelas 4- horas da tarde, a.tmvessei o
rio pal'a a outra margem; emba.rcando me n'uma cana
meu hospede, () Sr. Antonio Alyes, que no desse no despedia de mn e nilo me

vio de viagcm a caminho da Bahia.
Do SnI'. Alves, tomo do reverendo vigal"o de quem
reeebi as maiores aUenes, tinha colhido grande numero
de infol'maes sobre il regio ao poenk da Carinhanha,
cm dil'pt<:.flo il Go:'az, e fiquei assim habilitado
a bem ajuizar do que ia trilhar COlllO parte integrante
que era do
grande \,dle, eujos l:araetercs no podiam alis seI' /llui
differentcs dos d'aqnella outra.
Partimos, estrada <i fora, <s 4'/, horas da tarde COlli
espcran.a apenas de ganhar algnma distancia, e pousar em
sitio um ponto mais tranquillo
do qne aquelle de que
de horn grado nos apartavamos.
:\'s ; 1:4 horas paSSaGlll10S pela fazenda de Thom
:\ unes, no desagl1adoul"o
a Jag{a do Jl1ocambo que
fiea a sueste para os Jados da serra da j}falhada,
sen'a que s< a ClIsto se divisant ao long'.:' por uma aberta
da Cltti n{Ja.
\aja\<unos
toda\'ia tom vagar, tomando
apontamentos, obscn'ando;
pois que contavamos com um d'esse5
granes
dias de vero em qlle o crepuseulo
como que
faz est.acar a noite por algumu; horas.
A's () horas passaV<lmos o riacho do Bom Olho que
<:Olll
()
<;anoll emquanto
vem daquella serra da ~lalhada, correndo quasi a Norte e

cujo
A's
Jeito
sem agua
a estrada
horas j alloiteeendo.
cort.a a rumo de Leste.

alcanamos
a fazenda
do
,Ioa~ei/'o do Sr. Atilio .Jos Pereira, qlle nos recebeu bondosamente,

offerendo-nos
pousada.
fazenda encerra
muito gado e est prospera. Fahrica-se neJIa muito queijo e requeijes. A lavoura porem
ncnhuma.
Atp aqll vem a estl'Uda a I'Umo de nordeste, com
mu itos brejos e alagados porque o tefTcno, sendo sujeito .s inundaes do S. Francisco, offerece fraca e irre-
gular inclinao. Vimos porm no trajecto extensas e boas

pastagens, e algum gado. O solo {~todo alluvial.
OH. THEODOHO
SAMPAIO
Fronteira
a Joaseiro, termina a mencionada sen'a dn
Nalhada, cerca de tres legoas a Es-sueste, a qual todavia
no se eon ,egue evitar seno de mui poueos logares, to
baixa ell'l na sna projeO para o ;'\orte.
~estas
paragens de aspecto monotono e tristonho
reinam as febres de fundo palustre e os mosquitos so
lima praga insoffrivel em epoca de vasante .
.Na mrgem do rio, que fica pouco distante, industria da criao se ajunta a da pesca, euja sde a
povoado da Para teca, um pouco mais em baixo, eom cerca
de cem visiuhos e sua capella de pedra e cal. Ahi se wsca
muito surubim e se faz delle um bom commercia, ao longo
do rio ou para o interior, exportando-se
o peixe secco
ou salgado como o bacalho com o qual muito se parece.
No dia seguinte, 26, pelo amanhecer,
partimos da
fazenda do .loaseiro e vencemo:::; cerca de cinco leguas at
as 'Jnze horas, no povoado do Curralinho, onde descanamos para almoar.
trajecto se fez at aqui por 11m terreno mais alto e
de melhor a ~pecto.
Seguia-se a principio no rumo geral de Nordeste at a
Boca da Cal''':nga, onde o caminho se bifurca, um galho
levando Parateca e aos povoados de rio abaixo e outro
a I'llmo de Leste em direco Baha.
Na Boca da Catinga, que tambem onde eomea a,
matta e que 5e alcana depois de uma hora e vinte minutos de marcha, e de atravessar o pequeno povo da Venda,
COIll apenas
'~inco visinhos, o solo melhor e de constituio differente do da zona marginal do S. Franeiseo.
Cma legua mais alem, apparece o calcarea na estrada,
POllCOantes do peqneno ribeiro de Caunabra'va, como que
assignalando
,) eixo da serra da .11,[alhnda qne sahcmo~
ser uma montanha
calcarea.
terreno torna-se fIepoi,;
mais arenoso.
As poncas casas do pequeno povo do Cu/'raUnho,
todas coberta~; de cascas d'arvores, que disseram-me
ser
!)
d(~ r;o ({"ar'('o, (oIH'rluril

dllrar
-,li"
;~L~,
ljllillZP
l'arp(,pll-llOS
I';;nllanllll-lll!'
S\'IIIHI '('til ("pila IIOS allnlla-
qtH'
allllOS PIllai".
11111
Itl~'lr
([Il!'
('Sla\llll
11;'\(,
dp~prlo.
{. :-;illO dp ('f'rl
halli-
todas
IIi'iO ol>stalllp
illl}lortalll'ia,
ill-
('!>tll al-
/.! (i[~la la \'otlra f~ !;lllllild() pl'lo ril'!lo do 1'(; da ,"'('J'J'(( Oil

(Ji}.
(f'tsf(.
relhn quP d(l:--:(O(\ da ~PI'l':1 dp J/nute ~llt(J .. eujo
:ll!o
(',.:pori'io
Vendll,
p ~f~
i\o
rUI,IO dl'
perlil
dirl'!~\;o "ilia
Ll'stl'
a/ra"s
a ('Ilcos!a
IIIlI ,.:-allIo paru
dl' J/o/lfl'
.Ilto, (' prosegllP
\.dl(
rio
do
oidl'llia!
do
da Clwpad,l
il di"lalll:i;
:-;(' dislilq.nle
, .l'(('J'o[ecn.
proxilllO
a f~:-;!rada )2'prallalll,:a
('Il/'I'ft!il/!w,
S{Jf~stp l'Ill
gili.!'ar
,'j:,:ta. ao IOil;,!'(', dp~d(' a po\'oa~';'lo ri;)
":1'
lalJ(;a 110rio da:-; /il/JI"";,
das
eujfl
Oll plallalto
Il'L1l1la 1lllia
no
para
1:1/1/1;
('olllillua
('
L!OllOlolla,
TOlllalllos
j:!uito
pl'lo
\'jsi:ar
,.:-alllo dl' ~ll(':-;lp
a \'illa
cil' J/I/JI/'
,i;
l.:o 1II('S/lIO IIO/lIf', quc'

;:Ol/t:~ I:OIIlO Illlla
il'il' )J\,t'lada
no
('tUTulillIIO,
(,','f
('J'I'I/.
ora
l;a
j'I/.';,","I!lI:/II,
dl;zia
;)Iilllo
Barra.;
dl)n~
ria
l'l'a
sO!JP da
cl(',,:pllhar-sp
~~ig;lt!pSI'; (rgllida.
":P..!lliIIJI)SIllar;.!'(illldll
Illlla
()l'iXillldo
Ill
1\0
1I0S~()
spITa
/ori-
":O!I a pla-
liga,.:
dil'l'it;
or;
II l"ia(';lo
do
[1';
!":<llpl'da. all' a !l0\,oa(:o
Il'j.!'Ilil ad,\IIll'
dI' habila(;ps
as daqllPllp
(~,('
"ir:lllI<JS
Il'<Illlh,
da,.: (';d
!lol'que
.lIf(J.
Olldl'
!ta a!wl<"
II111a
pohl'l''':. l'oll:-:truid;:-; do Illt~SllIO goslo
pm'oado.
11111
pequ('llo
l'::;qlll'rd;,
,'i'('/,I'{(
)lO\'() dl' qll,{1O \',.:illllo::; ('l1a-
pl'OXilllO da cOltlIUf'/lcia
l'to d(' /':s/Jt/l!tn.
('0111o
['adIO, alf; :l fazenda do ,M~i((-
Sue:-;l(~, ao [OlIgO daquell('

FOfjo, llOIlW <J1H'
aqui
do ria:lw
Pl'ospl,nilllo:-: a
se cl; ao \'agalulllp
ou PYl'ilalllpo,
('
alii pOll:'lallIOS, l'e('pbendo do fazpllIil'i t'() o 1111'1

hol' ag;:-:a1110.
VendO-llOS eh('g<u' f',pITa rip IiI. hora,.: da larde, rindo:,;
d.o
lado
da Carinh,udil,
S(~l'enou-se logo
ti respeito
a todo
Por
:,;obrf'sa1!oll-"p
dos jft{/llUr;O,';
IHOlr.cnto
toda
assaltavam
do
Nero.
dI'
mas
illfol'll1ae~
('l1ja approxilllaf'to
reeeia\'a.
a parle,
tom
lIlH jloueo;
que Ihf' dPIlIO" ilS spgul'as
onde
perguntas
qllPI'
<1J('('heg'avalllos,
iIlSisll'llll':';,
inquiriam
nos
das cou-
IlH.
THEO\)OIlO
~..\:\II'AlO
1':as eOl1lo ialll l >t'la lwira do rio (' \'ia-se helll que esta\'alll todos pO~;S\lidos de t('\'l'or. 1\ Igu ns j ti n ham pla 110
f(~ito de ahi\.nlouar
tudo, retirando as familias para 10g-ar Sl'i-(1I1O. Olltl"O::;ql1edavam-~e indeeisos mas in<\liet()~,
espcl'allllo ter que uetar de Utll 1l10nwntn para oulro.
ProCUra\,lllIOS por tndo \lIodo s('l'('nar os fluimos,
n'ferilldo os fados eomo plies realnH'llte sp deral1l. desfazendo boatos alarmantes,
reduzindo o episodio gUPI'l'ciro is suas I,ropor()('s reaps, alHl\1u('iando a dispcrsw
das for<;as r!Pjwis do ataque da .Januaria, llem ao ('ontrario das nctitias <{uc ento ('orram, pois pra l'reua
desse POYO {JIll' OSJ((ffH/lO.-; d\~pois de sua t50 fatil \'l'loria
uo tinham nwis seno eOIlI{\listar () Brasil inteiro. ONeco
ahi vinha ,l fl't~nt(' dos s(~us l:alicJ/te.'i para arrasar tudo.
A tendencia
pam o maravilhoso
e ]lara o extraordinario proplo das almas simpl(~s, "(,l'('('hi en\;1o {JUl'
o !HCU ('mpenh.) cm tudo I'xpl<'ar, il reduzir tudo a spus
verdadeiros
limites nilo lograva o des('jado eff('ilo na
maioria dos IlWU8 interlotlltOl'es
- Aquillo era f.l('il df-'
mais, e t.o sin; pIes era o que Ih('s contava quI' par'el~ia
ined ve\. O verdadeiro
nem sem pre vprosim il.
;\0 dia 1.J.7, (~om Ulll manh fresca e densos nevoeiros
que se dissiparam
aos primeiros raios do sol, partimos
da fazenda
do Mija-FofJo lis sete horas, e, ern grandI'
('il'cuita, fomos contornando
os brejaes do riacho do p~
da Serra, c atra \'e"sando a (:nrtos intel'vallos o po\'oado
do 11lija-l'o[Jo eom ullIas vinte e l~into casas pohres, O\ll](>
se encontra um schisto calcarco; () po\'oado do HCHh"if'r com UIlS ql1inze vizinhos; o rial~ho da {'((.'<If llcllw
(:orrendo de sut a norte; uma /Ilatta ou catinga grossa
que a entrada crta no rumo de leste; campos gramados l'Ill um terreno cho com branda inclinao pnra o
lado da Sam d.l Monte Alto, clIja face voltada para ns
sc arruma dc sueste para norocste; a fazenda das Campinas do Sr. ('.apito Lueio de Souza Pinto, onde de no\'o
se apresenta
o schisto calcareo com o aspecto de ardosia
que aqui se emprega como ladrilho e por fim a villa de
CIL\P'\D.\
J).\
Jlollle
df'pos
Allo onde elltralllO::;

do lllio dia.
DLUl.\:\TJ:\A
Iwlo
::;ul,
('0('('<1
dp
IIlPU
hora
.\. villa antiga e pequena, mas regularmentl~

edifi!l'uma situao
exeellente
na base da ser'ra do
IlH'S!llo nome e em altitude
de eNea de GHO metros, tom
!llll dima
dos mais afamados do serto.
~'a"a
Apezar
de {'stal' quasi abandonada
pelos seus hahilalltr.'squc 110geral se refugiaram
!las fazendas, reteiosos
de um assalto deju!jlfl/08
l "illa appareceu-Ine
jllteres,--allte, no seu aspecto
de tranquillidadc
e de repouso.
FOlllos ahi gentilllwnte

acolhidos pejos senhores Josi'
I)all'ieio de Souza,
.fos Barbm;a Madureira
e AveJino
de O!ivei'a Guimares,
hospedando-nos
em casa. deste
acompanhou
(Illilllo, o q!lalnos
desde a fazenda
das
Crt//l-
para () fi \11 de nos dar agasa lho em sua easu.

Este fado l' tanto ruais digno de nossa ~l'uta rcmiltis(,(~lleia, quando certo que para esse cavalheiro, no
1razialllos (~a\'ta de retommcnd<lI;o,
e no nos eonhc-
jii
//(1.0,;
!'!'mos ;,;pnJ.o nos POUCOf; momentos em que eon"ersa\llO~

:;obl"c os ~lleeessos yne s~ desenrolayum
no rio de S.
Vrall<"is('o, promovidos
por lVeco c seus sequazes.
Passamos
dois dias em .Moule Atto. Subimos duas
\'L~WSao clllne da serra "isinha, examinamos

a regio ao
n~dor, e diseortiuamos dali um horizonte
immenso em qlW
:;(~abrangiam as lenas alta::; em forllla de chapada
de
alem S. Francisco,
'!nnlho eomo dous
ra de .:.l1alhadn,
.amphitheatl'o
as serras do .MoJ1za,nd e do Ra-
gigantescos
lelTaos ao poente; a germais proxima, e erguendo-se
tomo UIll
cie
\'tu'ios
soca/eos;
a plani('.ie
extensa
t'
igual que desde os nossos ps se estende para o noroeste,

lllal'gcalia direita pelos paredes da Serra Geral 011 cia
C!ut}JctdCt que se prolongam
naquelle rllmo a perde\' de
\'Isla, retalhada
pelo rio das Rs, invadida de serrotes
{UItos, pittorescos,
como HC forum ilhas ou rochedos
~raniticos de um mal' petrificado.
A rocha dominante na serra de Monte Alto um grs
.1vermelhado
que d a pedra de amolar e um <1uartzito
\00
Dn,
THEOOO/!O
~A:lll'AI()
emprc..mado
di' llP([lIellos ('.I'y~ta('slilllpido~, O fen'o, IIfonllaram-lIos,
<'~ ('lltolltrado
l'Ill al)\ll}(la(~ia lias silas
('1Itosta"
I~x('a\'a'as P IlO alto,
\:PITil dlla:-i h'gllas
(' Illl'ia
da ,-ilia para o :-iues!.t\ ell\:Ol\tm-sp IItII,\' ('pnsidcraye!lllassa d(~ f(,ITo ljull::;i pllI'O,
(1I1\~ :-iPlIc!O
forjado
,-;PIll 1\('U\UIIl
preparo
de flll11li<;,lO pr,'ia, apl'I'Sl'llta-se tuebrlllil;o
to
felllle-s(' lodo, SlIppollho
qll(~Si' trata dl' all,flllll lllPteol'ito
('01110 o fa mos!
Hel/deur).
:as
PlIto"tas
da Si'rra q\l(~ so akalllladas,
I~ j'Slendidas
l'Ill pu'pd,-\o, ha IIlllilas lapas e ('a"Pl'lIas,
alguIllas bastalltes profundas
(~ (~Olll abulldallcia de salitn~
no S('t! lIlterior,
As div('l'sas ([ualidades
rip argilla COl.Ida silo lambelll
fl'equelllps
lias (1'lI'bradas
da sena, (,lllpl'C'galldo-as os habitanlps
para a pintura
de :suas ('asas.
J\a. grllta dlam; da tio ('ollrle do" .I'cos. formad;1 na lllpia
p!ltos!.a da montanha,
soh uma ('alllada l'spf's,-;a dl' qllar(",ito pmpregllado df~ veias de slpx, ('Oil! UIlI all~lIl\l
dI'
2;o soh!'l' o horizollte, illl'lillalldo-~e para ~uP~t(', I('ito~
de L1rgilla ('ol'.Ida P tillis~ima,
,-erlllt'lha. <.'llIu'l'lla. I'Oxa
011 "l'l'de
altf'I'!laIlH.;e
('0111('amadas do qllal'lzito,
COl!lO
esla g!'uta IIlllilas ollll'as !ta lia visillhallc,:a
da \-ilIa l'.
lia fUllda qlwl raua ont!p 11'll! o S('\l ll'ilo o rial'llo dI'
.:.l/nI/fe
.I11o, lia \lllla "l'lia ('a~('ata pm ~itjo dl' llln pit(orl'Sl:O PIll'antadol',
J)p,;('llhalllm; o wl'fi! das IIlOlltalll,,}!' no horizolltp
,,sin'l da pmillPlll;i,ll'll1
qu~~ /lOS aehamos, !omallllo-llll's
os 1l01l](,S C rUlIl'),; lIHI:._meti('os p dl'~('e:nos para plll' PI;J
Ordl'lll a,.; llotas e in1'Ol'llIat;(H'S 'lIle cow,cguilllos
('olh('!'
e para
os apn'stos
da ,'jagem
que devia
proseguir
na
mallh segllinte,
lU
C H,\ 1';\ nA
1l1,\ M,\ :\''1'1 i\' A
CAPITULO
:De ~on.te
101
II
.A.lto a. Cs.etit
))rixallJos Montl' Alto pelas oilo horas da manhal]

de JO dl' Dezembro e seguimos por cerca de duas horas
JW dil'<~tO (~ .\'ordeste, rumo da Vazenda dos Trps 11'mos, clIj seno granlico de trplice p~'J'alllide desejavaIl]OS examinar,
e onde deviamos retomar a entl'nda geral
da Bahia de que nos aparlaramos
dias alltes na povoa<;;{O da Passagem.
Atl'an'ssalllos il principio
ullla I'f~g'jo
plana, cucllal'l'ada, (',om 11m solo breve, oude a (~ada passo atllora o
g'1'a/lito ou o g'lIeis-gran ilieo, forma ndo J)aneos e Ia.reados
('xtensos Oil leY<intando-se
ell1 ealwos
alTedoudados de
f'Ol'lllilS pi!.lorese;ls,
ornando a pais'lgt'm
<ful', por V('Zf>S,
(~ to bplla eOlllo 11m pan{lJ(' Oil jal'llilll nilllll'a!.
,'lllltpli(~allH;e
os bJ'(~jaes na extensa
planicie ljlW
de fado eonstit liP aqui o valle do rio das Rr7s, ('Olll os
sens dOllS galhos prilltipaes,
o C(tJ'Jl(th!J{as rie f'ra p o
Crll'lw11olJ{(/,';
rie rlcl/fro, ambos naseidos na Scan (kra.l, que
ao IOllge SP louriga
COIllO urna rxtrnsa
burra azulada f('l"i1aIlt!O lllais de ullllfuarto
do horizonte <le Sueste a ;\ 01'1('.
Entrf'tanto,
valllos sueerssivHnlellte cortando
o leito
di' 1l1l1l]('rOSOSribeiros selll aglla, de laga:-; que seCLaram
' dl' ba n IJ<uJo:' ton\"('rli<los
('Ill perigosos
atoleiros.
O Hiuc!u70, LOIIl as origens na "isinha S('lTa de Monte
.1110, estava
ser(~o, O sell leito que eorta a pntrada dr,
slll a Iod(" eerca dl' meia legua da villa, ]lal'e(~ia antes
llllla
larga \'l'l'cela do <lie o alveo de uma tot'l'enle que,
wlo seu IIOlllp, nfo deixa <Ir tf'l' inportaneia
na pslao
das a.was
Na fazenda
da l.,r(!/fl do PoJo, rneia legua mais adi;111!i', j IJ() IJa\'a seno brejos,
il laga <lesappal'eref'a,
~a fazpnda do CaZdei/'(70, cujo nOllle lhe n'Ill de ulila des-
102
nil,
THEonOHO
SA:\II'AIO
~as hacias natu1'llCS aqui to frequentes nos 1I1(1(;os:.!'l'aIliti(~o~. a ,gUll que havia l'l'a a que st~ g:uardara, de um
<1l1no para outro, uo groto de peclt'a, onde o fado \'lIlm
helwr um liquido es(~ur() coherto de plantas aquatil'(.l:-::,
A estmda, :-::cmprc a :'\o\'(leste eom ligeiras ddlext's
a Les-Nordeste,
atravessa
mais adiaute,
e~)'('a de Ulll
quarto de legua do Cldeirlo, outro )'iaeho Sl:'('(~o:Illas
logo a.ps envereda por um telTCIIO alagadio e extpnsn
que mistr contornar
pela direita, mas que de fado
(; ohrigada a cortar em mais df' \lm ponto, atoJando os
animal's, lesconcertando
as cargas. atmzando a I1mlTlla.
Poueo depois das dez horas, (~hegall1os fazf'llda
dos Trel; [,ulo,,;, cujo nome lhe veUI das p~Talllides dl'
granit.o (Pc ('oroam o serrate em tuja base est cditl'ada.
Almoamos e fomos SPill demora pen'oner
I) logm'
liue deveras dos mais piUOI'cscos destes serti)ps.
O SC'.')'ote granitico lima \'erdadeira
maravilha,
to pit.to"esea~, Uio estl'allha~ ~.o a:-::formas assllmidas
).lclo monto df' pedras que aqui simula um monlllllPnto
eydopiec. sobre um emha~amellto
fOl'lnida\t~J.
Tres grandes blocos de granito, pirifol'lllP~, altos
:lO nH~tr('S mais ou menos, assentados sobre dua.,; dohras
~uperpm,tas, espessas e arqueadas da mesma roeha. to
distindos,
lisos, e s)'metrieamente
disp()~tos q\](' dous
outros nais baixos passam despereebidos
t~ lIilO sr. fala
seno dos tres, que so tOl1l0 tres iruo8, er~uem-sp
sODre a planicie. ominallllo-a
de lima altUI'Ll total (le
I'iO metros, e se constituem
o sig:nal mais tara('tf'ristieo
de toda esta redondeza, a balisa. natural por ollde todos
aqui se orienta.m.
Estas grandes pedras deixam li\'l'e passagelll entn~
si. A dL dirpita tilo destacada. fita do seu emhasallH~lIto
que parece sllspensa, ou apenas apoiada ('amo Ulll pio,
A \ egetao ('res('e-lhes em torno, melle-sr.-llIPs pelos
intersticios,
e as arvores
le\<lntam as suas frondes,
matisando de verde c de sombra estas Iwnedias que o sol.
a pino, illurnina cruamente,
aquccendo-as.
esealdalldo,
ue
DA t:fL\I'ADA
VIAllAXTJXA
10:;
l\'a base lJue um pxtenso lageado COIII:a\"o, alongando-se tomo ulna maneha cinzenta atra\"s da n~W'Lu;o mOtlotona da catil'f/a, \'m-se dous enormes crrlrleiri;CH onde podem bebpr l'Ill tempo
de secta
para IlHlIS
de tres mil tiibcas de gado.
Silo verdadeiros
dons da Pl'o\"dentia, e li~o ltelll
semlFe ill)l'oveitada. estes rcsen'atorios
natllraes ol}(I(~se
O('CIIlDUlam as aguas do tempo de dUI\,l, guardando-as
de urn anno para outro, n'uma regio cujo problemil
p('onomito mais gril\'C o do abastccimento
d'agua, to
l'scassa ella nas fontes. to minguada
nas lap:las, e
desapparect'ndo
quasi sempre no leito dos rios quI' so
110 g'('ral tenpOl'arios
ou insignifieantes.
Do alto ua esplanada ou anll~s do massio g'raniti(~o
que ser\'f~ de f'lllbasamen!o
aos Ji'c,., .lrllu7os, olhando-se
1111 direo
o suestf' c' su], por soble a planicie onde
(:(JlTe o rio das Rlls, ou o sell galho printipal, tonhr('ido
por {/a,rJ/rthyb((s de dentro, depara-se il pittorcsl'a Scrra,
de Jlonte Afto tom as silas IlllllH:'I'osas endenta<;es em
forma de ba]ll<ute, aSila esp]endida estal'pa a\'(,l'lIH'lhada
silllulando 11ll1ralhas gigantescas, as suas l'lIeos!as I'l'taIhadas pelas tOlTenteR que lhe ('ayalll profundos sultos,
ernquanto que superiormente
a linha das tUllliadas fing-e
LI rtI e!lorllle t('rrao
ou u ma outra plan eie su pel'pos! a
primeira,
.vlais 1()Ilge, ao fundo, distingue-se o perfil aplainado
da Sara, Uera,l, <JIll' entretanto,
parece um ('orpo
parte, <,orno de facto , porque a deSrlllda<;o )lrofulld
chegou mesmo a destatar,
!la garga!lta
do Cafeete, o
trel'ho montanhoso
acima dcscl'ipto da grandI' l'Ilapada
(~u.iaconstituio geologica e\"idcllt.pmente a mesilla.
:'\os TI'e8 Iruutos. estamos apelWS na margem do,.;
teI'rC!lOS graniti('()s que se sun~edem aos caleal'cos a,.;signalados n'uma faixa de mais on menos quinze 1('guas de largura desde as margens do rio S. Francisco,
Duas leguas ao poente levanta-se o serrote do Pau ri' n's
pillho (fllf' j: de fOl'lnao ealearea, e proyarelme!lte
da
I()'~
1111'''111<1
]'(l('l1a do Sl'l'Ill.'
tanto~; oulros
dire(,'Do
(k
H(/IJI
No PlleontralllOS
ross('is
/lO granit.o.
thl::rIlle!llo:-;.
('stalllOS
par'lido,.;
inforlllados,
Till'S
quasi
appart-'('('llI
st'lnpl'r
:-'ilnl;
pOl' dpposito,.;
Ilos
1"'I'('ira
pohn'JIlPlIll'
pl'la
1lIOI)(.t.ona t' i,i!I'lllilla,'p!

da da IArflirt
cortando
do
pOl'
'It'
kilos
\)0
('<llllinho
<lqul'lla
P,{[fII-:/I'IIIJlII
Fl'ill}(:is('o
l'l'rl'il.l
atra\'Ps
pllll'('
do ('Ol'O-
1)('llOit.alllo:-;. ha
t~ a
I'assalllos
hanhados
~l'allito.
l(llt'
Sl'llIpr'e
pt'la
flzl'i)-
J:OI/
\'is/II.
dI' IJII1'1p!allil'il'
ha:-;l' de
(~ lodo lTallitico
fazf'lIda
do
.\\ajrlr
do IIl1'S1l10
quasi de Ili\'l'l
olldl'
~e
di,'I'I':-:o:--; ('idH'(;OS gTanitieo:--; do Ill"is
l~ o dJalllado
:"';"/,/,0/"
('0111a fi~llll
dt' 11111
l'1t'pl1alltl'
l)l'la
('anlillllalll/o
dI' Ca:-;ll'Il, :-;;o (illco Iq,was
a~pf'('1Il, C III dl':--;ll'S,
gTalld('s
ol'a
JI"!1It-
PI'IP)'il'daJ( do ('()['Ol)t'! J>ol'p\il'io.
pi ti on's('o
d(~ l'~jlOIISO, Por
d('
Illais
lag-(a:-:.o"a
fi
l\pl'all\o:-:
talllht'lI)
I'sparsos.
Sf' )lP1Tl'I)("
os,.;adas
t('I,("1'1I0S gl'ilniti('os,
\'f'g'('ta(::10 qll(,
le\'illltalll.
':Pllladas
l't'lira,
gllld('s
olld('
I'io:-: ll'llIjlol'aros,
~;Ohl'P lag't'ado,.; dI'

SI' !l'ha
da
d(' ISSOfo,.;ssil. pl'o\'a"t'!IIlPlItt'
,.;empn'
dp
pOl' o('(a,.;;o
P({!I({-'!i'lJIl){}
d('
('{{!iH!/U,
:-;Pl'l'ot do Prt!!lt-'!ijJtlill.
olldl'
Lagla
!'(',IJ'fI o!ldt' ('Olllt'lllOS 11111

fl'agllH'ltlo
d"
\PII l'OIISf'n,lIlo
l'
\IllS
1I1ll fpllwl'
dos dilos ('aldl'ir()l's,
('({lrleirl/",";.
dl" Castro.
\'(',.;lidos
elll'O!l-
\'imos
('OIlIIl1111Iissill111S,e
(~randt'.
< t'ilZl'lltla
'l'l'CI:! !I'IWiIIS
fol'-
allll\'iaps,
do (:alllpo
dp ('gua t' 11Ipia atrl\'s
1III'I'idlll,
lla
natllraps
foralll
aillda
di'
:-;io mlui
110 fundo
do,.; "!',,;pl'(,ti,'o,.;
IOl'phirio
('en'a
por
que
Ho,.;a l' '1'1'('''; IIllo,.; dl',.;('ohl'iralll-sP,
da lilll}H'za
r()S,;(~: s,
Iwl
.)ssadas
fazendas
d('
dpstas
ou hatias
('(1111os rl'stos
.1klf/I/'p/'ilflll.
\as
Lo lio. ('(lUlO
{I/
urad(ri,.;li('os
dos ('({ldei/'lJI'I;,
t rada:, gi,rant(',.;('as ossadas.
('ohl'rtas
./(,S/I,'
lWI'tI'.
m;\l(H's, Illas no fundo

('a\"rias
do
pl'qUl'1l0S ";PITO";pspal\wdo,.; lia plalli'p
1111 l'I/!J"/1.
clos IIW i S (-;1l'a t'! pl'i:--;1

i('os
; ('squl'l'da
da plJ!r;lda,
g'igallt(s(o
l'Ill
sohl'P o dol':--;o do plp]llJ<llItp
posi(:,o
('sto
as-
ppdl'a,,; ('111fOI'II) d(~('lllll1a t'Ill qUt' bt'1Il

l''"il)('('ial
t':--;trudlll'a,
,I 1Ill'~llla fOI"ll(il/1O
!>.\ CH.\ P.\ 1>.\ 1J!.\:lT.\ ~T IcU
l)(l!osa do;:.;1'/'c,~ /'Julios, A estrada passa ahi II'Ulll ('OIllO

d("sfiladl'il'o l'litre essa massa de \!Tallito ('om IlllS t~em
Illl'I.f'OS de altlll'a :;ohn~ a planicie P oulro monle muis
alto . dj['('ita, :I,ais adiante, depois de contol'l1ar pelo
_'iort(~ esta el('vao, U)l'ta a eslrada lllll riacho ~{'et:oc
SI' elll:llnillh; na dirceilo gl'l'al de les-nordeste;
passa
o ribeiro das CUrl/:'I!/I.J,(,'i rie dCl/lto (IIW enti'lo tinha IIllli
pOllt'a aglla ap('%ar da exlelll';o pe<{lIP1Wde S(>II('lII'SO;
1'11Il'alIa fazt'nda do Capim do Uniz. t~u.aspastagells tran'ssa, P, wla faZl'lllla rio Roqueirr70, IlUIIl pequcrw "dIe
l'litre IlIOITOSlambem l:!rlllilicos, val.', atravps dl' catil/Oft,';
!liais f'rl'scas P dl' ('ampina::;povoarias de clllas.i floa ri,~tn,
('lija posi<;;oPllln' Il ('(tl'l/allf/has rlf' dei/tro e o Cal'l/alil/bas
,/(, (oJ'{f, P den:l,ls adllliravel.
Uosa-se da}i dI' um bl'\Io
pallOflllla n'lIlIl raio dl' (:int'o a oito leguas. r-se ,1
di:,tll/('ia dl' llflla It>gllpara o Hl/'Ille o morro mais alto
dos qu!' \"isillhllll o nOI/Heinl!),
lJup POUI'OanIl':' illlmIllOS atra'.ps:,ado, a <Jllehrada por olld!' passa a e~trada,
}l0llll do s"'Tole do HOI/I/('iJ'I!),
lllf'ia Il'glla para SudOt'sk, llllla lan!;a passagem dp lIiy!'1 por ond(' a d~ta
:W ('xlpIIlII'
at.l>l belliss'lla Sl'lTl de MO/ltt' :\Jto, domiliando I":l('t'Ia~ haixas do ('I(/'//((h.'lbl(,~.
A t aqui o asppl'fo do paiz Ililo fllndon, Silo as
111('SIl1<lS
fl'I/l;s /lO /'l'le'"o do solo, o mesmo aspedo da
\P~t'ta~:lo, o 11IPSIllOralllO de illd\lstria. isto P, a t'l'i;ll:o
do gado hm"i)JO l'Ill larg"a l'~';('a
la ('001 a SIIlI rndiflwnlar
illd1l.'-:I,iados ](u:lit'jllios.
Ila 1:011 \",tf/, a pslrada IOllla a dirp~io de Leste e
Lf'S-SIlt'sle pul'a s\lllir a 81'1'1'1( Uau!,
isto (~ l 8eJ'J'f'f do
F8/)i.JI!lO('o
qlH' \,('lll dl' :\'1 i/las (jnat's ('01110IlIlla larga
('hapada I'llfr'p II val/I' do S. I'flllt;i,wo (' os rif)S da ver1(:111('
din'cll do AllinU(,o, (' pelH'lra 110 t.erritorio baial)() ('011\o lIleSIllO l'ill'a('It>r (> pl'o\'ayt>lmellt(> l'O;}] a
III"Sllla r,ollstitui<;ito.
J)pj)ois dt dlla,. IlOrns dl' ,"iq.l"PIlI,passalldo pl'la
i'az('llda da l'il/lollll, a po\'oa(~odo nl'l'jo jUllto an l'ilH'ir;\O
das O{(,/'/w!l//lm8
de {!'({, ('Ollle(;UllOSa subir il Sel'j'a peJo.
II)(j
DI{, 'fIIEO\)OHO
~A:\II'AI()
vale apertado e ingreme deste riheiro, tortando () ('urso

de:.;te varias vezes. C ma legua depois que eOIlH'(:a\lIO~ il
subir, na alt.itude ele [Jl'oximanwnte
SO Illetros, faz o
ribeiro
Cal'lI{I,hylw,'
uma bella (~a~(:ata ele cpre(l tip )
lllftros de queda, passa-se o rio out.ra vez pam il direita,
~evue-se Illlrgean(10 por cssp lado at il povoa(;o da
Ga IIIclcil'lt,
depois de VCIl('ido o pri Ilwi ro soeako da SPI'rania. Corta-se ahi um pequeno at't1uPllte do {!O/'l/f/!lI/I)(/:{
c, proscg'uindo ('01110 rUlllO geral de Leste ou Lp~-."':lwstl',
galga-se o segul1(lo so('al('o 0\1 degl'o da seITa na altitude approxilllad<l dl' ~(i() metros, passa-se pela fazenda e
pela povoao do }Jo,'lcio, >plo po\'oado do P((1'(/!/IU{!! l'
lo.!o (lcpois ganha-se () alto da r.hapada, onde ('()IlW~aln os
punpos ger(ics, e o ter['(~no SI' a prcsenta le\"t~llwnt e ondpado
COlli aigllns
Illorros
destacados
ou dispersos
na planieil'.
C/pgamos .i,l 110ite , fazpnda das H.-.;cadiJl}((,' do snI'.
Joo Antero Ladeira Lima onde nos hospedamos.
Era
o 1. de .Janeiro de l&~O, dia de (tI1l1O bOlli, I' hada algnlls cantlheros
de visita ao nosso IIO:,;p('dl'. IntpITssaram-se todos pela nossa viagem, inqueriram llluito do
qUI~ Il\'iamos
feito no rio de S. Franeisco ()Iule reina\,)
New ('om os scus jagunos, p deram-nos
lIluita~ l)(las
informaes sobre il geogJ'(lphia
OR regio que a('alJamos
de atravessar,
(~olllpletando
as que nos dem, 110 dia
anteeedenlc,
o Major franeisco Pereira de Castro. g'I'andl!
e011hecedoI' destes sel'tes que p\le nos deS('l'e\'U ('OlnO
nillguem.
Tinhamos viajado seis horas t())lse(~utivas, por maos
ealllinhos, lendo partido (:a fazenda de Boa \sla ('('l'Cil
de meia hora depois do meio dia,
~as 'seis leguas do nosso tJ'ajcelo at as Kw;({di/l/Ul,',
das quaes pouco mais de quatro subindo pela t'ncosta
da S(!JT<l, o tf!rreno
se apresenta (~Oln a mesma fOl1nac,;o
granitica meiR f'lleosta, passa a gneiss OIl micasehisto no alto do segundo socal<-o, proximo do povoado
do Pnra[juay, olHle o ba"'o Oil argilla se mostl'a 1'01'1/'mente corada.
107
J)ahi C:ll diante j se nota a presella do quartz.lto
e a a rgilla !llais a renosa torna um a~pecto esh/'illlqu iado.
~a eneosta da serra, nos seu~ valles e quehradas o
tel'l'eno fresco, e a vestimenta
\'(~getal traduz logo a
qualidade
melhor do solo. No alto, ollde domi!lam
os
('ampos, o aspeeto triste, e revela. pohresa f~monotonia.
Das P;;carlinha8 a Caetif ha (;erc.a de duas legllas f'
a estrada torna a direo rndia de Les-Sueste, atrav{~s
dos oel'aes que se extelldem a perder de vista, entre as
tabeteiras
dos rios de Santo Onofre e das ('((J,/ut!.!J{)n.'o;
de f/'a aquellas ao l\ortf~ e estas ao Sul e Oeste.
Eneontr<ll11-se pelo eaminho as tailladas ele lIm qual'tzito avcrmelhado,
um solo bre\'c e enxuto pelas 101llbadas que !lOS levalll at a linha de diviso das aguas,
na altitude proximamente
de !)OO mdro~.
Xo ha rnoradorf~s riestes ('ampos tristes,
onde a
lavoura parece que no \"juga sem maior esforo. Heina
ahi a desola<;o. Descendo para Caetit, situada no fundo
de um valle estrcito, a estrada detlecte il Les-Nol'desft,
depois a Nordeste, procurando
pas~agell1 por entre .!"I'Otas e penhascos de quartzito, que nos informaram sel'cm
auriferos c penetra
na (~idade cujo aspecto deVl'llS
grato ao \"iajante que vem do serto.
10H
Illl,
TIIEOIlOHO
CAPITULO
S,\:\II',\;O
III
::Em Caetit
h~1Il01'alllos q ualro d ia::; Pili Caeli lp, dIl \'ant e as festas dI' Heis, a tolher
inforJlHl(;es tcrea da regio e
dos llllllliti pios I:i\'('UlIlyisi Ilhos, a di spor as (:OusaS pal'a
proscguillH'lIto da viagem elll direq;o i Chapada
Dialllill1tilla,
COIllO tnhamos qllt' perl'orrer Ulll paiz IlIOlltIlO"O lie
quI' IlOS infonnaram St'l'l'lIl diftkes os eaminl1os, !'stLlndo o,: l10SS0Sanill1aeS sl'ntidos I' fral'os l'O1l1a \'iq.!.'l'm
dI' trinta !('gllas que u:alJamos (le faz!'r, foi-nos ]Jrl'('iso
deSl'all<,:ar esses dias. ('ompl'ar !lHlis Ulll animal para a
noss; ('oIHlu('{,:o, \'(~furlllar os anl'ios dI' que tanto se
queixa\'a o uosso .n1ia.e oht.el' I~arlas dI' \'('{'olllmplldal,.'io
para os log-arcs que unos examinar.
(;oza-sl' l'Ill Cal'till; dl' um t:lillla eXl'ellente, CUIlIquanto situada a POU('Umais de \4." de latitude sul t' distalllp do Illill' ('I'\'('a dI' 4.00 kilOlllelros.
a altituJt'
da
l'\ laplda pm lJ\\1' Sf' nehn cdi Iitaa il tidad\~ (:ol'l'i.r(-lIw
os l'i'-('Ol'('Sda tf'l1lperatura I' di-llte i1rps saluliff'l'os,
Esta I!lOS, ('om I'lfei to. nos pri 1\1I~i
l'OS IIias de .r aupirO,!lO :tug.' da esta<,:;\oIluelllp, e pnlrptalllo
1I'IlI0S as
1Ilalll1,.:fres\:as, as Iloi!\'>,.:\'isiladas por hr~lIldas urag-Plls,
o ('PO limpo (' bl'llhanlf~Ill('lltl' estrellado, :lI' frio por \'('zes, marta lido ent.o o t1lPrlllOllletro I~I(' cpnl grados I'(l'a (' :2::" lJ(l illterior das ]ahitay(Jes,
IJ dillla justli{'a a pI'Odllt(:O, ,\qui, ('Olll() lias l'f~gilll": visillllil:-'; suhl'p a chapada ('oJlJ('III-se quasi todas
as l'lutta;.; da Europa. EII;.;aiou-sl' o Iri.:o('om \'untafH'lI\
na fu:;cllda C(~jueil'() do ~Iajol' FI';\lwi S(:oI'erei l'a dl' Cast1'0
(~ eOllspguiu-sl' tolhf>I' gnl0 lIa raso dl' '~HO litros pOI' 1
dp Sl'lI\l'llt.I',
Visitando pl'la manh o I\ll'lTado da {'dadl" que
paI'P('ia ullla fl'il'a Imst.all!l' fl'l'(lIlf'lItada, lIotei. alelll dos
,lA
('ouros
alltllHlalJ('ia
req{/('I.l()('~,
('lli:rja.
tilS
l!(W(''':. lIhalll!''':.
1',!!AI',\ Il,\
oulros
lO!'
IILDI,i\TI.\'A
prodlJ('fns
da industria
1)('-
de 1(~i4'ullles, batatas jngl(~sas, hataIJOrlali<,:as, abullOrns.

11$'!()('S
pxc(']-
kllLps. gTalHlps p hoas 1Ilt'lall(:as, IIH'/ldolJis, Illllito lIlillw.

ar!"Oz. fl~i.i:lll, ra,udlll'!.
;SSlltar.
('x('pllt'IJtp
farinha
dp
IllalHliotil qlle, sep:lllldo
dll\'(J10 1l1aisilnlllado,
{JIltIl)'{/I/((S,
rio elo
para
IlOS
prill('ilpnlll}(,lJ!l~
d('strictos
dus
(~.\pnrtando-sl~
.I/llllllio,
olltros
i'Jfol'lllar'lIll. (~aqui il pr()-
1111'
IllUlli(:ipos
qlll'
dplla
frf'~!'IlPsiil dl'
lia
FII/'I/dos
('
d('
(~Ill lin
('0111 r<tz10
('f/cllfI:.
lal'f!'l
sr
IJO
\-'s\'al<1
(:ofj,..;id(r;
Cat'lit(~ o Lldeiro jI/,{'l\'ido dp:-:tps s(,1'1 ()l'S,

Em IH$, SlIviu a ePl'ea de :rlo:ooo:::; a prodlltilo
d,'
filJ'illlJa de Ill<ludol'a, n'lldendo-sp
o alqueirc
dp l(iO Ii-
I 'OS l'or ~~OD:)
l'S,
l!l'('lare dt' IIl<lJldiol:it prodllz ('OlllllllIIIIIlPlltt'

ill)
alqw'ires
dl' t'arilllm Oll :s'iOOO litros,
O feijo da pspp('ie aqui u;;adil. I' dt'llolllillado JI/Oel/o, pruduz /la raz:)o dl' ;-1:; lit.,.os po,. 1. l'Ill t(~IT('11O ,'rl'llOSO
f' l(tW/ltt',
\-PIIt!l'lIdo-;;C-1/1f'
it ru il '1.0 ,.~, l'iii
tl'/UPOS
lIor/niles,
O 1I1illlO d ,:W(} po,. I. () al'roz. qlJ(' \'1'111aqui ('.\c('!I('l!t(, C0l\10 lias \,II'7;P<lS do ,.io da;; Ui."! (' 110:-5 SI'US dOllS
I-mil/o;; p,.i/JI'ip<lt's ('alllwcidos
por ('//I'II((h!/fJl/,~
rir delllro l'
OIl'/III{I.lI'l1/x
dI' j'01'1/ d,
lia razo dl' l(iO por l.
.JtI foi aqui llliLs
pl'ospera <I (~Idtura dI' al,:'odo, l:lIJ
t{~ITenO
P!Il ljlJ('
Sf> Sl'llll'il\-a/lI
Vlltros
dava folradallJ('/ll
I~ carg'as dl' (i arrobas
('ada lll/la dl' illgodi"lO dpse<lro<,:ado 011 IOSO J;.ilo.:rallllllas
de algodiw
elll
W,
Estina ('nUlo ~~Ill frallto deSPII\-olvillll'll!O
<l !a"OUlt
da ealllla, da l'spe<:il' ()a,l)cJUiIt qut' ll/ui /lO scrto Illllletl
pestcoll,::) 1101l11lllicipio de Ccwfif hava
JOO pequenos
f'nge/lhos
fa.briea.ndo
assncar para o consumo local e rapadura ]Jara cxport;u;o, ;)0 alambiques
dist.iJlando Hwl
l'Ill
para
agnardcnte,
O fumo (:nlti,-a-se oem em Cmburanas
pontos
do mllllejpio, e o caf comeava.
e em outl'OS
il ser ensaia-
do com vantagem.
110
IlH.
THEODRO
SAm'.-\IO
K O nil n i(i Il iO de COlei it<~tOlllO ~m l{ u a"i todos os ou t ros

siluadm
nas t~lTas altas da Chapada,
onoe o te!TellO I;
mais variado mais abll ndantcs os IlHll1a I)tiaes para a re.\'a,
a ag-ricultura
SI' de;;f'I1Yohe como lIlH' qllerpndo
sohreleva[" as outras
indll;;trias,
il erialo,
Oil alltps a industria
peeutll'il
todavia
IJI'pvaleet" no s( l'OlHO Illlla tradi<,:o
a litiga, <,omo porqlle os tl'l'I'ellOS I'xll'lI;;O;; :-;;10-11)(' sohl'!'llJ1l1leir\ propi('ios.
Os campos dI' tillla da Sena, os d('!lotllill:lIlos
!lel'lIe . ,.
largo:-; a Jwrd!'r
dI' \'.ista, (:ollPrtos
dI' gram ilia es li lH'
('OI\stitllPm
pX<:l'llelltp pastag'l'lI;;,
(:om boa;.: q"rlladas wrenn!'s,
pois que quasi todos os rios dt'stes :-;prt()('s telll
suas origells
lles;.:('s altos
campos:
as I'xt('!)sas
var/.eas (la regio baixa ('Olll as :-;lIas rfll'l'{!r"..; cobl'rtas
d('
('apim; os bellos (',lInpos ou f}e/'rres do;.: Vpads, !la faz(~nda do Cmbuseiro,
('om lllllitas
lPg-lias dt' <,xtetlso,
('omc(~ando cerea de ;~ 1('~nlUs a :\:\0 dI' Cadit:
os d<l
(,'acho.!/'illlw, para :\':\E; o~ Campos <1('S .. Joo ('omlll\lita~

legua:;, abrilHlo-se
para E:\E, as hellas vaI'zeus do rio do
.II/tol/io
COlli (~PI'C(l de 12 le!lla~e('llmpl'ililent().f'
mais
de fi de largura, estel1dendo-~e
ainda pelo 1II11\li(~ipi() do
nOIn Jows das .!1fei/'n.'1; os \Io mcnos bellos campos
a
Tapem a 10 leguas para SSE de Caetit,
e tautos
ou-
tros esto aqlli povoados de infinito gado, constituindo

a m2 ior riqueza destas paragens.
Manadas de gado bo\"ino, criados
\lestes campos,
Oll aqui estacionando
quando procedentes
elas varzcas
do rio S, Fmneisco, descem de continuo para a regio
do t,cira-mal', e se compram nos eUJ'raes li ~r)e ;~0800()J'S.
por cabea.
As outras ospeeies de gado se criam em mellO!' t's(~ala,
1)013 lados do C(tcul, Furados e .Mata Veado, ondl~ mais
desenvolvida
a criao do gado !:mino, exporta-sI"
muito toucinho,
:Mas na zona da Sen'a, mais propriamente
agricola,
o effeito de um trabalho mais intenso e perduravel
e
mais bem remunerado,
manifesta-se
logo por esse ar de
DA CHAP.\D.\
DL\:\r.\:-iT/:-i.\
111
pro:';/H'ridac!e qUi' se divisa por toa parte IW:'; cidades

(\ nos povoados. As fazendas aqui apresentam
tal }lI'Og'rcsso na,; respectivas
in,;talla()es que denotam bons
habitos agrcolas e Jwm-esUu'.
Pral <.:a-,;pa iJ'l'ga<;o em larga eseala ; represam-se
as aguas dos ribeiros tell1porllros; fazem-se levada difticeis pe/ls elwostas das lllontanhas
e drenam-se
os
llrpjaps, e<HIlOos do Azevedo no rio de S. J)mniJ/[los, os
do Prt[jeli lO rio do Anlonio, os do Baixio para o SF: de
1!11I!)lfI'(t}/(t.,-;,
olldp a canna vie{-~.iaelU talhes ext.f\IlSOS,
ao lado dos alTozaes amurellos
que a rCf!.'a continua
fa \'0 l'(~(~e.
Estava o plantio lIa Slla {-'sla,'1Opl'O}ll'ia que (. aqui

de Outubro
a Janeiro.
quando
taem dwvas
abundanl l's.
lnt'ormarilll1-nos,
porm, <ue a eallna aqlli se planta
todo o tempo porque
alimentada
pOI' irriga<;,o
artifitial, preferindo-se
todaria lanar-:;e a semente
de
Mar~,o il .J unllo, assim tomo ao trigo que j alguns lanad 01'(\:'; elII'osos ensa iam.
So !lestas paragens as propriedades
tenitoriaes,
no
geraL indi\"isas, raZ1l0 porque no alcanam
Illelhores
preos. S por excepo, c quando deJl1af(~ada e benelieiada uma legua quadrada de boas tenas alcana o pl'e~o de ;)():OOO~ l's. ~o COlllmum, porm, no ntle seno
de l:~008 no minimo, e :3 para '1-:00080001'5.no lnaximo.
I~ntretanto, os produclos
naturacs cio solo, as madeiras palll construco,
os metaes prceiosos, as rochas
~lIsceptiveis de explolllo
industrial
no so escassos,
antes pelo eontrario, muitos ,;o (IS logares onde tacs
prol/urlos
so (tssignalados
e at colhidos com pl'Ovf'ito,
Das grandes mattas que se estendem
a Leste de
Caetit, ao longo das montanhas
da Fa.zedn da Serra,
c do lkti:txlo; das mattas do Jacar no valle do rio das
Antas ao Sueste, que sC prolongam at as fraldas do
pittorcsco Morro d'Anlas, destacado da Serra Geral c
erguido no meio de uma vasta planicie;
das grandes
elll
11~
'lIl.
Tr:r:()i!OI\ll
~.\:\il-.\!I\
mattas lO rio do Aultlllio

l' do ~f'li ,:11111('/11(' }'I/IIIII';i'I/.':
dos qt/(' se t'SI'11I1PIIIllI-lil 1'11I'w.:\ada :-:PITCl(;('1,/1. l'X,
Irahl'/ll-sP o ja('aralld;, <I :-;t'ha.~\i;'l<lIL\ITllda () ,IIJlill"g'()so, o pat) rI'ilrco, o ('prim, a ('ahl'illra, o,iaholr I' Illlli\a~
outras p 'c('iosa;.: pssPIll'ias, \as Illallas do <:;l('ltll~. 110
riudo Allfoll;O,
(Tl'S('Pallllllllallll' a jal)()ti('all(':ra silr!'slrc,
Os milleral's jlOI'l'/l1 ('arp('PlIl dI' Illi~ lilr~,1 im('.st:gi.U;O,'[',)da\'a, ha ouro lIas !,(II''IP; fo 1'111//,:: l('gllil;': ;,
Esl!~ rI(~ :mIJllrallas. 110Urejos do,...; Plld)'!',...; 1Ii1;': (,Ill'l'l'ira.";
do rio d; s I{is, '1 lpg-lias a OPSll'-;-';lido('sll' dt' C;l('lit(~,
O f!~'TOI' ilssi..mailldo P/li ql/asi fodo a :-;PITa(~('\':,
:\a. SPITa dn SI/lfo
1II1 dI' S, j)o/lIiJ/f/OS
ao ~I:J ,.
Cal'litp. IIOS log-arps: !:n:jilllw
F"rofo
fl/
P;/lfluf)((.
illl'i;!
lp.glla ao Sill dI' Fur((do., lia \'lIrfll'JlI
(,'nrllrll',
:; \1'g'IUI>;
<l Eslp. dl' Clllllllraluls,
110 ()/I/'i('rll/f/(('''';,
-2 Jqllas d/' Cal'lit para. o SId, \('Ill-;':P /'xll'alJido ('III la!'ga ('s('a!;; (' ('\porlado (-'xcpllelJlps allJl'!l,isla,;,
Cr~'stal dl' l'ol'!; da Illl'llIol' <lIidirl:ld(' (',('llf'o/dr;rlil
Ila fazPllda do Esprito Saldo dll lnajor ,\\Ollill X;,\ ip;'
CO!I'iIll.
Do S(Ilislo abIlIH)allt(, PIli ('rllllll(IJJ'((/,/(
(IJ,"'; ('"I,I';n,'"
se pX!l'alll'1lI l:!'l'illHks lag'l's ('OIJ)()as do ita('olu!lIito
do
BOlli ./arfllll, t llWI'g'l"m do rio ::-).FI'III('isr'o. ))Plltl'O da
('idad!" lli! \wd\'l'il'S !la PIlI'o;;!a da S('I'!'; (1'lC' !'O!'IlP('{'
[~:\('('II(,lItt' <uarlizlo para a;; (~dij(';l(:()l';':,hoa (, \'ariad;
labiltillg,l, Ilsada para lJl,lll<u/'ial' as ('a;;as.
Talllb~1I1 delltro da ('idadl' Ita ulna 1'(1111('
l\lilll'l'll.
!~h;lInada da Perl ,('i'II,
:\'a .lf."(('
(Iucllfe,
pPI'\O do a!Tilal d/' ,,,,,'(/11la {,8ill,
It 1('l'lIasara SlI'slt' de Captit, Ita IIll1a fO/l!/' \l"'l'Il1a1.
assim eotlJu as que Ita !~ll\ C'rll/II(({I'/It'r( do....; (;((lril'lls
<II!'
s(~jlllgam sulphul'osas,
Como empol'io !~olllll1ertia) qllf~ deste;; SNl.'S aparltdos, Caetit (~onstitllill-se o !:clI\ro il'l'adial\lt~ dl' lima
via~o ordinaria e btstante aetiva.
Daqui partem para leste e para Ilol'del:il!~as duas estradas qU(' levam t Bahia: uma, mais direda peja "ilhl
DA C1UP.\/l.\
DLUL\'>T/:\A
Il:;
do Hom ,}o;/p; dos J/cir{(s t'Ill dirf'c(;il0 a Jia/,((,crll; e outra

Illai~ IOllgu, all'a\'t~s das 1\l0IltaI1I1tl~, passando Iwla ,-illa das .jUillfls do Hia de COllias e pelo Sil/coJ'l. Para ~lilias (feraes partem lillnlJelll dllas (~stradas prillcipaes;
qlle /('\,1 ao rio u(' S. Fralleis(:o,
ao arraial dos .J/oJ'J'iJ/Jw8, pass<l.!ldo peja fregllesia de [mlJUJ'al/as
(~ Duo,."
j]lun/s,
e outra !la direq;o do Sul pelos Furados e fr('guesi das .-lllIlas, lenwdo de ulIllado, i .i\la do Rio Pardo
(' de outro . ilia de J.'IIO/lles GlaJ'os, !las ('abc(:eir'as do
riu Verrie (,(wrle. Para o ~orte salle a estrada de Ca/ll/olJJ'aw qll. por Jlacal1uba,'i e pelo ralle do Par((JII,irim,
le\'a cidad(~ da Riu'ra. :\a direco de -:\'oroestc \',W
a estrada (10 Ubu/' (:Olll trajcdo pelo nonUo, Riacho de
Sallllt
Alllla
e 110m Je8W ([((, LI/pa;
em quanto que para
o Oeste elll din~co de J.'Ilonte Alto e t Cal'nhanha,
<1.tl'a\'s do \'alle do rio das Rd8, se prolollga a est.rada.
geral, a mais antig'a que da regio do liUOl'al penet.roll
nestes sertes.
Cacti$'. apresenta
ao riajante um aspecto
dl' erte
do serto.
Ha aqui lima !Joa e culta. soeiedadp, lllllita llrhanidad(~ f> df ieadpza /la g'f>1l
te do IOg'II'.
:-; festas de Heis, muito animadas.
(\f\ram-/los CIlSl'jo
para bem jlllgar das maneiras. dos 1mbitos ho:-;pitaleil'Os
de:-;tl' PO\'o to amarel e to ('lleio de delicadas attene~.
TinIJa/lIO-nOS hospedado
em casa do rgario, I'adl'f~
1\1onoel Beillrimlo de Salles, e deste dig-no saccr'dotc (~
dos SCllS amigos, o escol da sociedade eaetiteense, /'e(~I'bemos as Illai~ gratas e ino!\idaveis
})"O\Us de atTc~('tuosa atteno.
No dia 7 de .Janeiro sahiamos de Caetit, utompanhados por um grande IHl/11erO de eavalIeil'os, o vigul'io
Salles, o padre .Joaquim Pedro Garcia Leal, "igario de
Urnburanas,
os doutores Oeta\'iano Xa\'ier Cotrilll, Cezar Quirino da Silva, :Manocl .Jos Gonalves Fraga, .Joo
.Jos de Faria, e outros amigos que vinham ao nosso bola
fra meia legua da cidade, na estrada da Chapada Dias
t t 4-
DIl.
TI/EOJ)OBO
~,UIPA[()
lIlanlilla. $e:spcdimo-llo~, abn\(:ando-o~ a todos, gratos

tanta gcnlileza.
A ('idade de Caelil(> devia lpr por pssp tempo seus
:.tOO{) Ilabitantes,
('.ontando-se na fregupzia para mais de
-n.00l) almas e :)O.OO{) em toda a comarca. As ~uas rllas
siio ea.l,;adas c aIgUillas arbori~ada~ (~om palmeiras. As
('asas, no geral, hem ('onstrllidas
e (;om a.nla canalisa~Ia. Hu na edade qllatm cgrejas, as quaes a matriz, j
mn tanto arruinada p obra dos antigos jpsuitas. Ha ma.is
11111 IWl,;OllluniC'ipal e eadf'a,
11m Upalro (' um cClllitcrio.
EIll tito pou('o tempo, (~omo o que ahj passa.mos, dcvo
zef', :PI(\ deixamos Caetitl\ pl1n~'ido~ dl' saudade.
DA
CIL\J>.\DA
CA
DI.\:II.\:\1'I:\.\
J>ITCLO
De Caetite a ~inas
Iy
do Rio
de
Contas
Lma vez lIa entrada do Hio de COlltas, reeolllcou

para ns o pstudo pOl' al.!'lllls das interrompidos,
da. regio qlle vinhalllos atravessando.
Sahindo di-' Caelit, ll1arg'cando o riacho do meslIlo
!Ollle pela direita, il estrada toma a principio para leste,
at~ a encrusil/ada
dohuucirrio,
e depuis para. nordeste
em direco ' Chapada Diamantina, fraldeanto a Serra
neral Oll o mais proximo possivel da sua encosta oriental.
O trajecto faz-se portanto, em regUlo moutuosa, cortando-se valles successi\'os,
galgando-se
di\'e'sos espo'es e contrafortes.
e, nO ra.ro, pela linha de diviso
das awas de cluas vertentes oppostas.
At Sanln TJnl'b(t/'((,
fasenda do DI'. (tomes \eUo,
juiz de dircito da Comal'ea, a duas horas de viagem de
Caetit,
terreno
ondeado,
fOl'lllado de \lma argilla
n~nl1el/a, hem irrigado, eoberto rIe boa \'e/!eta:o offpret:e exeell('ntl~s l:ondies para o traballlO agricola.
Depois de Santa Barbara, ondl' pas:,:amos a noite para
proseguil'lnos
!lO dja Se.willte, o t.erreno lenwta-se
mais,
e a entrada tOl'na a g-algar um treellO da Chapada pp!lf'tralldo nos r/e/'acs, em altitude de DOO metros, cortando uma rl~g'io mouotona, pobre (, POLl('O habitada.
Cerca de l/lila legua de Santa Bal'lJara, no alto dos
{;ilmpOS, que alti se al)J'(~lll a perder de vista, akan\~a-s('
UIIl ponto bastante elninellte paTa se poder ohsenar
a
I'pgio ao redor, n'ulll horizoute
imJllenso, Ao norte,
\'(~em-se serrotes curtos, perdidos na monotonia da c.:ampina deserta sem sigllificado apparente
n orngraphia
da regan, para os outros pontos do horizonte,
porem,
o scenario de um effeito surprehendentc.
Distingllemse, pam alelll do valle do rio dl-' S. ,J()(70, as linhas sut(J
III;
IlB.
Tln:Ol)()BO
S.\\IPAIO
ressinlS
dos ('spi.res qllt' se Ip\lIltam
plll,'l' (';;te e o rio
do .1lnto1tiu, e rio do (]((cfo; o pprlil azulado
da Ser1"(~ das Afma . , (~ do II100TO da
COJl(fd,!Jr/, llil diJ'(~eC;o do
sul, assignalalldo
os lilllil<';; da Ballia ('om "illas
(i('r,lCS, a Sa/'a de S. j)O/Uill!/08,
ou do /:"'((II(). ('OIIlO Illll
hastiio
l, candl(~iro
da Cllapada
a slIdo('stp, p mais proximo, n'lIl11 raio
dl' trt's
leg-uas, a q\\ehl<\lla
da sena
oIlde lie. Caetill\
oe('ulta
110 S('II pl'qllPIIo yalll' ('avado
no flaIlco da. montanha.
At o povoado
das ()//dJl'({(f.'.;,
o trajecto
se efff'('tua monotollo
como a regio percorrida,
por meio das
eampilla~; ou fJC/'cte.,; que pare('em
inlindas.
e ondl' o ardor do ~ol de .Janeil'o,
que IIcnllumil
sombra,
Oll 111'nhullla al'llgem mili~a, tOl'llll a m'H('lia fatig-allte (~ penosa.
Do solo seeco c duro
brotam
gramneas
variadas
que
os anim,ws
procuram
comeI', mas qlW pareef'm aSllPras,
dando
lima f'olTag('1l1 jn I'l'rior.
~a r,((J/O(( G J'(/J1 de, onde ha um esta:xnado
lIm tanto
profundo,
('om lins pOli tos ('asebrcs
ao rl'dor e no Rn;io
Sujo, cujo nOlllP (~ IWIlI signilkatiyo,
no vimos I,inguern.
A~ (:asa~; fedwdas
parl'<:lalll ahandonadas.
'\esta~
pa.ragens, , margelll
dos caminltos,
a I:Cltas
horas
do dia,
no Ita \'lva allnu. j)Ol'll}('-~e , sesta 0\1 trabalha-se
na
ro<;a distante . ...-\ l'l'i,ll:O lIlillda pm tomo das hahita<.:(cs
qllc llOS r('\'l'la qlle o lo!.wr llio lima pOY(HH:Oabandonada.
Descendo
para
()uerar/((,';,
110 fundo
dI' um yalle
f'streilo
<I\(' veril' para o rio de S. .ToJo, eO\lll'l,:amos
logo dl'pois,
a PCI'(:Ol'l'l'r IIIlJa rl'i.riio mais I'r('sca onde o
gneiss
? o p:ranito
aflloram
a I:ada passo alraves
do
camilIlIO, e olllll' ji se desl'ohrpm
na vegrlao
os si~'naes evidcllles
de Ulll solo melltor.
l'\a fazenda
do Jo{(,zci'o, eom alf.?:ulls moradorcs
ao longo do riaeho do Ill('smo
Ilome, j< se H' alguma
l.:ultura, e scnte-se
impresso
hem di"ersa
riR qllc experi\llenta
(\ viajante
ao atraves~al'aquellas
campinas
tristes do divisor das aguas do
S .. Joo e do rio de Santo Onofrl'.
?;i
~
I"
.~
I~
I~
I~
Il
'.
':
fH
CIL\I'.-\I)'-\
1)],\:11.\-"1'1:\.\
11
Sempre 110 nuno ~l'ral dl' ;\'ol'destr, a l'f-;tl'ada penetra n'uns desfiladeiros,
ganllU llllla regiio mais baixa
c IInifol'1I1P, no mpio da qlHlI se levantam
eabe<;os rochusos e sCITotes de Clleostas lisas, pedrcgosas,
e os pequenos rilJf'il'os, dese idos da seITa a meia legua d(' disfaneia, rctaIlHtln-lIH' o solo alJrindo su!eos que pel'lIlane<'elll Sl'm aguu elll seu leito arcnoso.
:\'0 dia k pelas I) e Illeia da tarde alcan~.amos o
logar ('hamado -,aljO(1 d(( Jlatfn on C'aeimbas, onde pousamos, depois de um tl'ajeeto de !) leguas, preferindo
estc~ ponto, pOl' estuf' mais adiante, ao da poYOar,;o da
l~a!/o((, do 'f'ilJlolheo <Ille nos pare('f'u bastante piUorpsca
eom as silas trinta ('asas belll ('onstruidas e hoa capella
levantadas
em torno de unIa peqllena laga,
Pela manh, IlO aup:e do vero, tnhamos lW eentgrados pelas ) horas, e partimos cedo para terlllos tempo <~c p:alp:ar a S'erm, daVilla
Velha., e ganhal'
a yilIa
do Rio de CaJita.'; alites df' esellre('(~I'. Passamos os povoados do Salitre, Coca.s de J/flJldiocas, e 1hbllleiro, na
ponta de 11mesporo granitieo, junto do ribeiro do mesmo
))ol1le, qlle atra\'cssamos
quasi SPill agua, (~fomos almoar nas Porteira.,;, OI](.ICse g-oza dl' llIH bello panOralll1l
Je montanhas.
Ahi proximo, UIll qnarto de legua apenas para nol'oe~t(', ~e ll's<lnta o bello peo do nor/uein1o, da altitllde
de 1100 metws approximadamentp,
com as silas encosLas al('alltiladas,
dl'spidas de \'egeta(;o, e o seu perfil
l'eeodado e pittores('o
fazendo eontraste
romo corpo
massio e lll0l10tOllO da Chapada que se lhe erguf' pOI'
df'tr<s. Na direro do nort!'. atl'a\'s dos contrafortes
ou espores que se adiantam ela SeNa Geral ou Chapada, se dirisa ao longe, dominando
um alto rnassio
esearpado,
o pieo das illlnas, eoroaclo de nevoas qlle
de nstallf~ a instante
sc dissipalll e se renovam, erguelldo-se esealntdo
e 11I de toda \'egetao ;i alLitud(~
de eerea de 1;)00 metros e por cujos suleos ou quebradas descem filetes resplandeseentes
d'agua. Ao sudoeste
llH
!ln.
TIlI';Ollono
SA~IPAIO
appan'eelll,
i peeuella distallcia,
\IllS ('a he~os ,nail iti(,os
de HO a 100 Illetros dl' altura sobre a 'planieie, o csporo el'~Yado do Taboleiro ('om eprta de IIHO mctros, A
norde~;te e a leste cstcllde-sp, COIIIOUlll alto parello dI'
eneo~tas ing['Ptlles, sClllt'lhantps
:; da 'e/'l'u de J'ollte
Alto, a bella :,lena ela \lla V pllla qtH' pan~('e ('orrer, das
proxiwidadps
do Pico d((.'; JlfIlUl.'l, do 1l00'()('ste para slleste.
:\'a estrada que \,lInOS pCl'('OITendo. sPlllpre na IllPSma dirce(:lO de nordl'stp, P ('Olltorllando as pontas dos
espig'(les qll(, aYan~all1 para sueste, cntre os pequenos
ribeiro)s quasi todos SPill agua qlle dcseem para o ",till'
do Hnwuulo, CI)(,O/ltra-se;1 cada passo o .tll('iss-I!raniti(~o l'In diqups transy!'rsos,
o ellartzito fprruginoso
no
meio de UIlI :solo U'(,I~OSO.
AI hora da tard(', pllzemo-nos dE' nonl a caminho
elll direec,;u a \lla Ycllla ollllp l'ilegalllos <s ;~ limas,
pa:-;s()ndo ao (,Iltl'ar no po\'oado, o rio '1'rtlj/w/'!/ de agllas
frias, daras, impetuosas
sobrc \11\1 leito pedr('::oso deseidas da \'(~rtpllle lIIeridional do Pico daI; All/wo'!.
Depois de uma ((('lI\ora de l'Crea d(~ trcs quartos
d'hOla, cm \"sita do povoado, que P llllla \'illa das mais
antigas destes sertcs, aqui fundada quando se iniciaram, pelos paulistas. os primeiros trabalhos de minerao de ou\'() nestas paragens, passamos para outra margcm do rio H/'mnado, ne ahi limita a villa pelo lado
de leste, depoi s de eontclll pla rlUOS, por alglllls ilista Iltes il
altis:~ima (~aseata que ahi faz este rio ao dcsl;pr da Chapadr n'ulll salto de l'crea de 200 metros de alto. COIllCtU1II)Sdahi a ..
!'<lIgar a SeNa, a prilleipio l1largeando o
rio ()t. quasi em frente da casc:ata e depuis em sucecssivos
zig-;ags atl~ o alto que aUngilllo!'; pelas () horas da
tarde.
Na subida, 4UC bastante diffi('il pela grande quantidade df! pedras deslocadas
que enchem a entrada,
vamos eneontrando
as camadas empinadas
de \Jill quartzito schistoso,
corado, eOlll indinarlO de Gr)" sobre o
hOI,'zonte, orientadas
de \lor-nordeste
para sul-sudoeste,
DA
CHAPADA
DIA~L\.'\TI.'\A
Il!)
nWl'gulhallllo para o sul. Xo alto, (~<,r(~ad<, 400 melros

aeillla da Villa Velha, o panol'ama que se desfrud.a para
o lado do sul (; de um effeito surprehendente.
1'~1l1 baixo, a IlOSSOS ps, \'-sc
primeiro a easaria
branca. da Villa Velha. umas qllatroepntas
('asas estpIldidas na lombada estreita entre os I'ios Taqllilr~' f' Brumildo, P, na marg'<,m d<,ste ultimo, pre(:('dendo a lJllW
planiei<, \'asta que sp ahre para o sul, limitada d(~ UIIl
lado pelo cnorme Pill'Nlilo da seITa da Villa Velha p dt'
outro pelo:-: nlrio:-: espores da S(~ITa neral, qual mais
(,.Ul'to, qual mais anw(;ado pela plallicie, qllf~ do alto
sinlllla
um immenso
jardim.
No fundo, por detns
da SeN(( do Srt]Jrtto qne COIIlO ullla explanada ou t(>rrar;:.o no IlIeio do \'alle, SI' a\'istam montanha:-: Zip maio
elc\'ao, elll planos sl)(~eessi\'os, p distantes del;-) (~ 'if)
leguas.
O caract('r das montanhas que aeahalllos de subir (;
aspero.
A:-: :-:uas en(~ost as e:,;earpadas e ing'l'f'IIlCS sito
despida:-: (h~ H~gda(;o l'Ill g'l'ande pasto. l\'a hase d'ella:,;,
ao sahil' dl' \la \"eIlla, 110 ll~ito inferior' do H/'Il/Il(ulo,
ao lado do granito, appill'(~ee \1111 qUilrtzito dllro, de g'!',l
finissinla, clf' ('[JI' (~s\erdeada. Oll einzl'ntada. Ma~ l'Ill tilJ1il,
em nleia (neosta. OIHlP a esll'atilieao
(; IlJais di;-.;cOl'dante olJscr\'lllllo:,; \lllla indinH:flO de ();">" sobre o horizonte, () quarlzito (~mais sdIisto:,;o (' molle, enl alg:un:-:
pontos, parecendo tal('o:-;chi:-:to, df' (:tJr a\'l'rmelhada.
;'\0
alto, appareeem
lima arg:illa taIrosa, al'a linissima p
alva, resultante
da deco/llj)osi<,:fio do quarlzito sdlstoso,
ahi Illuito abundante
C' utilisado
nas (ollstruc\es.
Apezar desse a:,;!w('.lo aspel'O e appal'entenwntl'
pouco
favoravel ;. cultura, esta rl'!iiio l'ntl'danto
\lmn elas
mais la\Tadas destes sertes.
Pratica-se aqui em aq.m eseala a i['f'i~ao, fazendo-se levada.'; extensas pelas cll(:ostas dos lIlontes. talhando-sf' na rocha e guiando-se por toda parte os t'e~os
d'aguil lJlIe \'o le\'ar a f('J'tiJj(Jade e a abundanti".
nos
numerosos cultivados das entostas.
l'lO
DIl.
'l'll)':Oi)OHO
;';A:\ll'.\IO
Os rio;.; qur )laret<'m ;.;e('('o;.;, onde a I';.;lrada o;.; alra\'1';.;;.;a, foram todo;.; ('aplados
li montante
e S\las aguas,
d(';.;viada;.;, repartida;.;,
;.;uhmcllidas
a UIll rf'g'im('nl que a
boa tradi<;o tcm frito rl's)lpilar,
vo tOl'nar
po;.;sin~is
as culturas
nos nunlt'rosos
pequenos
vallI';'; de ;.;('rra, vo
banhar
() solo rrs('('C,uh
e quasi estprilisado
p('la falta
pl'Ololl;rada
da;.; dIU \a;.;, 1)('10 ardor do sol inl'l('mellte.
(;heganlos
villa das Jlil/(f", do Hio de ('onta..:;, ante;.;
df' f's('urec('r,
e ainda ('In tempo dr ('onhl'('er-Ihe
a topOf!'1'ap!lia <;om os ultimo;.;
clar()es
do dia.
O lo('al,
marf!'l'l I ('stuerda
do HI'IIIJ/(u[o.
110 alto
de \lma Chapada da altitude
de I~()() lI1('tro;.;, proxilnalllPnl<"
\'isinho
do pOlito CUllllilJalltl' do s~'sll'ma Ol'og'raphico
da Bahia,
o Pico da'" _llm.((""
<ur Iht' fi('a (~rr('a dI' dUitS leguas
para o noroesle,
(, Ulll do;.; mai;.; fanlJ'('('idos
)ll'las suas
('ondi,iies
dl' clima, ainda
IllW
topog'raphicanH'nte
llo
;,;('.ia o nH'lhor assrnto
para po\'oa,i"lo.
Como quasi lodo;.; o;.; logu'ps qUl' ti\PI'<lm Ol'lgl'1ll
lIa nlil e1'(l<;io, a villa
ao Hio de COI/fa", suq ..do r (:l'I'S('eu ilTegul,u'lIH'nte,
df'senvo!n'u-sp
e prosp('rou
('om o
progr<,~,so das lanas
auriff'l'as
do leito
do HJ'1flnru(o, ('
pOl' filll cstacionOIl
ou dctahio
rOIll o (~sgolament()
das
millas. Todavia
alguma
('oll;.;a lhe fi(:ou da prosperidade
dI' out 'ora. As ;.;ua;.; ('onstru('l;(':f'S
de pPflra, os ;';I'IlS edifi(~ios publicos,
revelam
ainda
que ('sse logar t<,vr UIIl
nascilllento
rito e prolllissor.
<lie o futllro ali<s no confi l'Ill o li.
A \'illa 11,10 tinlta mais qup IIlIS tresl'ntos
prpdios
e
slla jlopulao
talvez ni"lo attingis;.;e a -200 almas.
O tommcreio inslgmficanle
indicava
que no logar I:omo nos
al'redores,
POU('o se traballtanl.
Da 1I1iIH'J<I<;o do ouro lIo haria lIlais do que IIllla
exa.gerada
t.radil,:io, e todavia. me inforlllaralll
os moradore:,
qlle no leito do Brumado
ainda o 0111'0 era ahundante,
e se nie offrreeeralll
para o demonstrar
l'Ill qua.l<jller ponlo dessl' rio que se quizesst'
trahalhar.
D(' fado,
munindo-se
de ullla halt~a. guiaram-me
para um lagar a
J),\
CH,\PAD.\
121
/)LD1.\XTI.'\A
J}]olltanle
da rilla. f' alii, 110 ('spao de Ullla Ilma, ]eralldo

, beira do rio, l~ollseguin:lIllaIgull~ grJliS do
precioso meta] qlle trollxe cOll1ll1igo como rclquia, certo
de I{Uf\ Sl' a]gum dia '$e roltar 11 Illincrar Iwquellas paragens, no scr jamais po/' aquelle p/'oee~so antif[uado
de dous spcuJos atns.
O dima pareceu-me t!('l<:oso, l~stavamos em Janeiro,
1\0 <luge de urn rero f~SCaSS() de cllll\"as, e todavia
indka ,,' o tllel'lI\olllcl ro pelas ~)horas da lila nh 17 celltp:rados 110 interior das habitaes.
As serranias CIll
o c;u,;ealllo,
cOl'oadas
Illll rellto f/'io,
altas ('olwl'las dr Ilf'n~
fOl'Il0
alllatlhe(~ialll
lado dr. norte
de
nc\'()as
I:OIllO
e SOpl'lIra
se ,'esse
do
de l'igifws
Ill!,
'IIEOJ)OIW
S,\~II',.\IO
CAPITCLO
:De 1M:l:).as
do Rio
de Contas
Fa:rag'\:l.ass., antigo
. Sar_ta Ise. bel
do
a:r:raial do ~oc'\:l.g
\)a \'illa das MJ/((.''; do Ilo rIe ('o/lta;; i de Srtnln

Isabel ([Il P((,/,(/.fJItW;, ; o trajecto (~ feito pOI' unJll rf'giilo
de terras altas (Ill' os rios pxeavaralll profulldanwntl' (~
oncle Sf' aprescntam

os mais bellos perfis de montanhas
destes ~,ertes,
O curto trpc)o dl' eineo leguas que vae das margens
de Brumado a oeste at~ <is do rio de Conlas a leste
torlo elle urn panorama dos \lIais cnealltadores
quI' tPlI\OS
)PITon'ido, pela belleza. l'lcva::io (' l'e('orll' dos seus Illon-
tes, Iwlo seu aspe('\o s('!nl!.!'em, pela ,'ariedade de sua \'w~tayo na eSI:ala as('pndellte
das il ltitudp,...;,
I)c lado do norll', ond(~ s(~ ('I'g-ue o hello pico dr'
J/atto
(i-/'o,,;,w. distante
f'ri~ado das
o non'este,
profundos
da PU/'/In
escarpadas,
duas
lPg-nas
(~ (:ol\wa
wdi!
da ItltlJira e da Tromba, pstl'IH.lido para

de:,wf'lIl para o sul e sueste, por I'utl'(-~ valh~s
e estreito,...;, f:onlraj'ortes altos. (:OlllO a S(,ITa
e de Sunlo li /I tOil io, de el)(:osl as a hi'll plas e
s('l'l'as
e\lcill1ada~
de picos
a~'lldos
do ma is [wHo
etl'eito na paisagc/ll, A vegetao, que (lf'spollta vigorosa

(~ v(>}'(lejanle lIO fllndo do~ valli'S, s([w at a meia. encosta desses montcs que \la parte slllwriol' St' conse)'yam
m"s e despidos de verdura, pondo elll ('ontraste a er
eseur,l, roxeada da pedra com o '~O bran('o das \lu,'('\ls
debrli<;adas sobre os pin(:a!'os,
11artirnos da villa das JIiJl.rt8 do Riu rie ('ol/la.'; il 11
de Janeiro, pela manh, tornando pela pes~ima estrada
da. Q([1jI,eleil'a que, em volta~ suc(essi,as
e por pCl'igosa:o:
I'<un['as, nos eonduz at o valle profundo do U i7eil"llo,
affln'~nte do rio de Contas, eujo leito distante nos era
indicado para alm <las montanhas por lIm len(;ol de )wvoas.
DA CHAPA/U.
DJ..UL\:\TI\'A
A esb'ada tailla a principio para lest.c\ declina Ulll

para su~ste, volt.a. depois a lIordeste e ai nda para
leste, passa ern frente da faz~nda (hl Gameleira, ondl) ha
sua pequena lavoura de canna, margeia o riaeho do meslllo
nonw Iwla dir~ita e, depois de duas leguas e meia de
trajedo
aspero e difficil, tendo df~scido terca de 40U l\1~tros rlesd~ a villa, akanc,;a () arraial da (Jasa di: Tel/ur.
com os seus quar~J1ta \'isinllOs, na (~onfltwneia daquelll'
riaeho tom () /Ww:irllo.
:\Tio (~ grande () arraial, mas tem um ar de prosperidade que se justifica pela exellencia das suas tPITas e
pela produ(~~~i1odo valle do Hitwiro de que elle o centro
mais lllj:lOltante. :\'essas tl'rras baixas, abundantelllente
irrigadas /wlas aguas das montanhas \'sinhas, ri(~os mananciar,,; qu~ se vem reluzir ao IOllg~ em eatadupas
pelas encostas, trawndo para o fundo do vall(~ o rr~str,
o sedimento pingue das alturas, prospera toda uma IlUrlJ~rosa. populu.o de pequellos lavradores que tultivalll
a tanna, praticam a ilTigalo artifieiaL e nos seus toseos
CllgPlI!lOS~ alambiques
fallrieam a rapadura e a aguardente.
;') arraial
da Fur/lu, (~el'Ca de dua:s leguas, vailI'
acima, eon) IlItS einto~lIta moradores e sua peqlH~na capella: ~m Canual/rava, outro pequeno povoado ('0111outros
tantos visinhos, ullla legua para eima da C({Sft de Telha;
CIIl .Mallo Grosso, nas eabeeciras do valle, cm ponto el(~vado, posto que muito frio, ecrca de duas leguas para
nordcste da villa, alt~m da euHura ordinaria dos cereaes,
cultinllll-se
helll a call1la, o eaf(\ o algodo. ~a Furun"
o solo (~ tio rieo e to proprio para a. eanna quc esta,
tOll1ll1Il III IIlCnte da varicdade C(t!lC/I./I({, dll'g:U. a ('\'es(~er at
trillta palillOS dt eumprimento,
tom execll~nte poret~ntagem sacc/1arina.
I>cseendo a ladeira da Gamcleira, encontramos
n,l
estrada as mesmas roc.:!Jas quartzosas da subida de Villa
Velha para Bio de Contas, demonstrando
assim identidade de fOl"lllao nesta outra eneosta da ::,;erl'a. Encon-
POUtO
\lH.
THf:OJ)OIW
S.\'II'.\IO
Iramo~, lnda l1luita wd'a fC!Tpa, ('Olll O aslPC'!o (IP limonto,

nllmel'OSOS n'os
de quartzo
('om ahllndant('s
(:Ill'yst If'S dp !toril hlellda.
O tacullllllito
(;, porm,
a nll'IJa }lredominnntp
nas
allllra:~, onde forma aqueUas linhas de ('umiadas
dwias dt'
r('eOl'tl~:';, to pi'orcsf:as
rut' anter()rIllPI1t(~ dcserc\'clIloS,
;'\ IS illllllt'dia~(ws
da yiUa das ,\Unas do Bio de Contas I\IIC j fOl'am um ('elltro ,lllrifcl'O, e onde aillda
SI.'
explola
o ouro
('Ill (wqucllissirna
('s('ala 110 yalle do
/]ntll/:tr!o,
se (~llf~()1I11'ao feITO, e, se.?:llndo nos informaralll, .\.l o Illen:llrio
appart~ee
no (;o\'l'c.?:o do CirW{J(,
<1('1111")
da mesilla yilla.
:\ a reg-io rIlP SI' cstellde
pal'a o nOl'oestf',
j 110
valle do [>(II'(ll/lirm,
que dpse(' do Pico dOH AlI/lits.
eOI1trayc'tendo
('Olll os rios 1'(((jIW/'!/ p Hi'/I/l/((do e Yae lan<,;ar-sl' 110 H.io S. Fl'alwiseo;
lias suas
('abcl'f'iras
Iwlas
frald"s
da ItlllJiJ'((, e da SPI'l'a da l'rO7J(I, ainda se f'n(,OIlha o ouro df' allu\'o
apezar
de j; lerem
sido \I1uito
la\'a(;os
as art~as e ('asealho
(los SCllS illllUll1e'Os 'ia('hos
:.;prrallos. ;\'o menos dI' dezoito minas ahi se exploraram
oUtl":ll'll, e, sepmdo
nos informaram,
aiuda podem dar
bom 1'~l1di 1I1el\Io s~ fOl'pm t l'abalhadas
com mu is art e.
Sas J[((J/tOl/((,'i
Oll :)(wt(f JU((l'i((. do Oli/'O
aillda
Sf'
Ian;
l'sie metal c abunda
o fpl'I'O nas rol'llas d(' itabirito.
~~m J!JWL quel/te, d"rca df' 10 lpg-uas \l,u'a o \'oroestp
do Hio dI' COlltas. lambem
abunda
o ilabidto
ril:o de
felT(', assill! ('omo no <lnaial do ,"'((CCO, cJ'('; de duas
leguas pal'll Sueste da \'illa

Em .Mal/o G/'OI";SO, oude
\plha.
pm litH alp'lIlIs I'aulistas

descobriram
ouro e S(~ inieioll
Iwstes
sprtrleS
a lana
destf' prl'<:ioso ll1f'tal, ainda
hoje SI' explora ~m lJ(>quella
(>seala.
;'li () .Mor/'o do F{Jo, 1I0S Remedio,o.;, pm Catll l.o.;(' HOIII
./e.'w8 I a mbem se la \TOU ou 1'0, mas hoj? das anjilIas la \TaS
no resta sellc' a tradio.
Deixamos
o anaal
da C((sn de Tell/(( pela
taJ'fh~,
depois
que ha sou UIl! pOllCO a t(,Ill}lPl'il t ura, a q ua I IlPlas
-~~
----=-- '--=--'-..:~'
t".
o
t
'0
D..\
CHAP,un
lJI.U/.\:\'TI.\",\
Il llOl'as da IlJanll jc se ssj~JalaYa por :mo ('('ntigrados

sOIl1JJ/'a,
e srguilllOs dahi a l'lnllO geral de llordestr, galgalHlo a serra da FUi'i/a, pOl' IJma das suas mais baixas
gargantas, ('ortando adianle () Iwqucno rl)l'il' da VW'f/(WI.,
junto da l'azP/Hla do mesmo Ilome, transpondo
mais alm
Ulll dos contrafortes
da mesilla scna, dCllolllillarto d~
",,'nl/lo ./ll/lonio,
desI.:Cndo para o riadlO do nief/O que
llHu'u'eado pPla esquerda, depois de o atrayessarlllos
e
(~JlPgal'JlIo::;ao anaial da Fazel/ria do Gado, il lllargem do
rio d(~ Coni as que, ('Olll as snas aguas ('/aras, frias e (~orl'ente::;, da-1I11~ \llll aspecto aprasi\'(~1. Ahi pel'lloitamos,
para proseguir no di,( s(>guinte IllUilo GeOo,
~o curto trajecto C\ltl'e a C((.I;(tde 'l'elha e Fazcl/da du
Gadu encnlltr'illllO:-: ainda o quartzito
scllistoso ou tacu,
IUlllit no alto, ou takite Ulll POll(',O mais cm baixo, na
ladeira que precede o riacho do Bicho e o glwiss !lO
h-jto deste, COII1 extrtfca(;ilc qlla~i \'crtical, orientada
para ),'. lto E. Camadas de llliea~chisto apparccem
com
Unl angula de 0 sobre o horizonte, orientadas tOlHO o
g'nl'iss, Oll tendendo um pouco para o norte, e mergulha ndo para Sileste,
A deeolllposio
das I'orhas d<i <l(Jlli IIIll barro argilloso bastantt> l~orado e eOlll muito esmeril qlle sr') deixa
\'CI' lIas :lras JavaJas p(~la eIIXLlI'l'ada.
Da FrrzcJlda do Cado, quc um po\'oado proslH>ro,
segue a estrada geral para o Sillcol' a leste e dahi para
a Cadlf~ira, descendo pelo valle do Paraguassl. Mas ('011I0
() IIOSSOintuito era visitar a ('fwprula. lJiflllUwtina, projJl'iamente dita, deixamos qne essa estr'ada que at ahi
tnhamos trilhado (I envredamos para o norte, em dreci10 a Sanla /zabel. antigo
arraial do Jloc1/.{/, qlle foi
outrma o l~entro pril)eipal da~ la\Tas de diamante.
:\0 fundo deste ullle apertado cntre montanhas,
a
temperatura
quasi sempre alta, llesde cedo pela manh.
Dentm do ,uTaia/' pell~ cinco horas, antes do nascer do
~()I, j tnltamos 'l-i-:' contigrados,
quando nos dispunhaIlIOS para partir.
-----.---
DH,
..
THEOf)OHO
----.----"-
S'\\II'.\IO
.---------
S,.!'uimos marg-eando () rio de COlltas pela esqu('rda,

t'uu o do no\'tp, e fomos slwcessiyamentf'
atraYPssallllo
os I'ia;hos do Pail de Faro (' do ('ocal qlIe n~lIl de leste,
o peq ucno povoado da BOI'lluna (~()m os seils IS a 20
\"sillhos e, depois dI' quatro horas (h~ ma\'cha rep;ular,
l'Ilegamos ao povoado U ifill/I, 01H11' s(~ comea il su hi I'
a sena do Cowl, Depois de duas lLoras de dl:'scano
para almoar e tolher inl'orllla(es, encetamos il dillicil
suhida pelo "aIle estreito e profundo do riacho do G/U!!
que nm de SIlf'ste e se vae lanar 110 rio de Contas cerea
de uma legou a oeste, :\o me reco['(lo han'\' jamais transilado l'or caminho to aspero (~ perigoso ('OIllO esse que
gal~a a serl'a dI' C/ocal pela ladcim do Git/Il!) ao Callk
pcdrc e deste uo Alto dos Gerrtes. :-\o , de fado, UI11
eallln lO Illas lIllIa. esca<lal'ia de pedras soltas de todos
os tal1lanhos e feitios, de laseas de roeha at.ra \'(~ssadas
Oil em p qlW Ol'; animaes
tt~m de venecr aos saltos,
escoIT:g-antlo, tomando as mais ditlieeis attit.udes
pam
se lllarllcrem em equilibrio debaixo da carga. quc a eatla
illstalltc se desaran.ia e fOJ'(~aa parar pam t.omar folego.
Uma "cz, porem, no Alto do,,; Ge/'(~e,,; que Sl' aleana
depois 2'/. horas de as('(~n.o, o viajante
fatigado e
cheio Jc tetlio, pan'<:endo emergir do inferllo, tpm logo
a sem:a<,:o eC)/lsoladol'<l de Uni eo aberto. () horizont.e
<lpresenta-se-lne
amplo e de um eneanto indpseripti\el.
Os campos !Jlwal~s ao ['edo!', \'estidos de uma gt'Uma rastpira, ,))[lip ('\'eSCI~m piI\IH~i]'()s minllsculos,
e:-;tendem-se
por Ullla alta planieie que s tem limites lUIS IlIont.anhas
longin'lItas, cujas cumiadas se desenham
ntidas IJlWI
<~o azul abuudantemente
Iluminado, Ao norte, .l\istase a extrcmidade
nH'ridiollul da SeITa do O({[/au ou do
Hasta,), simulando
UlII castello d~ ~iv:a/ltes sobre uma
esplawlCla a cavallcil'o do rio de Contas quc co!'re (~mhaixo
;t csqucrda;
para. o noroeste, desenha-se
o hello lwrfil
da Sen'a da TI'om/m, eontinuao
da de ltllbil'a
para. o
norte; a leste, para ah~nl das ol\dul;t<;e~ mais u-eecntuadas 11:1 planitie
que indicam a baixada
onde corre o
il
1':27
d('scobrclll-se as tumiaas da Serl'a do Si/1coni, fcchawla largo trecho do horizonte pOI' esse lado.
Seste lagar. maq.('em da CIUffJada Diamal/lil/a,
que de facto ahi comea. a altitude no inferior < da
villa do Hio de Contas. Pereebe-sc que UIll e outm 10gar' fitam em einw de lInla Ilwsmi1 chapada qlle a eroso di\'idio, cavando ,de permeio, o ndle profundo do rio
de Cautas. cujo eixo, no trecho que descrevemos (~UIlJa
par'allcla f linha de clllniada dos montes, orientada de
sul-este pal'a noroeste. No alto rio.'>uenw.'> devialllos estar
I 1100 ou I~OO metros
sobre o /llar c cel't~a de ::;00 Illais
dto do <.Iue o arraial da FazeNda do Gado, no fundo do
ralle. Vesse ponto a plani<.;ic alta vae declinando
para
IHml(~st(~ e constitue quasi toda ella, com os seus b(~llos
('WljHlS ~'eraes, il ba<.;ia superior do Paraguassl.
Proseguindo
IJO rumo
do nordeste, dwgarnos pelas
;) lwras da tarde ao '['aJl,qulnlw, ainda a tempo de gozar
do bello espedanlloda
Sel'l'a rio Siucorl, fronteira a ns,
COlli os seus tlallCo~ eseal\'ado~ onde se esconde () diamante, lIumina.dos pelos raios do sol poente.
O TaJ/f}uillho I' 1I!lI pequerlO povoado de umas 20
('aS;ls dI' paIlla. junto a mIs olhos d'agua
que vertem
para () riIH~ir() do PrrllI;tfl, ('Orno Ulll oasis 110 desprto
t,.istl~ l~ sileneioso dos reraes. Alli pernoitamos,
SI~gUlld(l
eostulIlc dos vaquciros que percorrem
esta. regio l'
das tropas ([Ile procuram as lavras dialllantinas.
No dia seguillt.e, I;edo, com lima temperatul'a
de 1W
('entigrados,
pozelllo-nos a caminho para. Santa b;abel,
atnl\'z dos {ferae.'; e pelo alto de ullla lomlmda que divide as aguas
do ribeiro PauUsla., HOl/cado}' e Sumidou}'o, f direita, das do Alp(trcarla esquerda, aftluel1tes todos do P(lJ'(t[jlU'S'<;.
Passamos,
ento, o povoado das Cabeceiras do 8umidow'o, (' mais adiante,
no povoado do Commercio de
Fra, passamos
o Paraguass
sohre uma ponte de madeira e entramos lia garganta por onde esse rio, cortando
transversalmente
a Serra do SiJlcor, desce da Chapada
p(tl'((!Jll((s,';'r,
l:lN
DB.
THEOD()1l0
~.Dfl'.\l()
pOl Ul\l lcito fra\l<.:amente

diamantino.
('()IWO
mai~ de
I('g'la dalti l1ea a villa dl! ,"'(('I/ta 18ft/JeI, antigo arraial
do
Jlo,;u!/, outr'ora
t<lo afalllado IH'lo~ sel1~ bello~ dialllant(~s.
e (lllll(! dwgamo,.;
pelas dllas hora:,; da tilnle. indo hO~lw(1m-nos para a ('asa do I'i('o nq,!'O('ianlp, ('apito .Joaquin\
"a IOAI Hodrigues
Lillla, pes:,;oa (l' l'pal (' Illui ll'gitillla
int1l1eneia \lO logar e a qllell} vinhanlO";
r(,(:olllendados
.
..'lanta JmlJel foi, oulr'ol'a,
Ulll anaial
de f!lrilnp(~il'OS
(I'w prosperou
tom a laHa do~ diamantes:
sLlrgio {'om
ell" e eOIll ella deeahio.
A villa jaz apertaria elltn~ 11l0lTOS
pedregoso~,
quasi
despidos
de vegeta~o
(! banltada
pel) ribeiro
do JlfoclI[jfJ que n~ll\ do ~ul, por um yalle
cSli'cili:,;simo
da Sel'l'((. do .';"il/col'< qlle por aqui tcm diversos
1I0llleS l()('ac~. :\acla leIll de pittore~co
il villa,
nel) lagar a('(IUado para o assento
de lima ('idade.
:\.o tem hOI'izollh' porqlle os montes a opprimem.
ro<1pando-a por todos os lados.
O logar, meSilla, r 11m p0l1S0
de garimpeiros
lH'ira do garimpo.
Contavalll-~p
PlltO
:l4iJ predios dentro da yilla e quasi o (lohro por fra;
(luas ruas longitndinae:,;
e liez outras tl'lnSYCrSaes pequena~, (luas cgrejas no acabada~
e ulIla tasa da t<lm<lra l'
l~lflea.
O treeho
do tel'l'itorio
IW1TOl'l'ido, da FazeJl{[a
do
Gado at(~ aqui, no oITt!re('e melhor
a~pedo
do qlH' os
anteriores
sob o ponto de visla agricola.
1';lI\baixo,
no
valle do rio de Contas
a layO\wa da canna, dos cereal'S
tOl1llllUnS, do algodo
c ea 1'(; t l'Ill (:t~rto dcscll\'o h'illlPn to
c a populao
mais llumerosa
nos wquenos
yalles dos
atl1l1entes da direita
deste
rio. :\a margem
eSl}Ilt'\'da,
porm,
a popuhlf,o no S(l mais escassa,
tomo a predOIl1inanci a dos tampos
geraes
ohriga
il ou t 1'0 .relUTO
de industria
tomo seja il tri'll;,.o do gado.
Predolllina
aqui entre o povo o elemento
mestio.
Entre a populao
recenseada
em 1H7~, populao
qlle
roi achad<.t de i">,lOll habitantes,
S()
\lO nlllllicipio
de
Santa
Isabel,
cOlllayam-se
H.9n~) pessoas
de cI', :U 41
pretos,
:;2:nG brancos e ;)H de sangue indgena, \)pssa po-
DA
CH\P:\DA
DL\MAXTlXA
12!>
pU]U;fiO sabiam
ler e ('strever to s<mente ::,UlH individuo:.;.
Quanto , constituio geologica deste trecho do territorio, pouca clifferena se nota em rela,"lO ua trecho
precedente.
No fundo do valle do rio cie Contas, desde
a Fazenda do Gado at OiquV, o gneiss apparece de con tiIIUO na estrada,
formando o embasalllento
cia Chapada
que a el'os.o profunda
deixou a descoberto;
na meia.
encosta, suJ)indo do Giquy paru o Campestre, apparecem
os taIeites, que j antes tinhamos assignalado nas montanhas entre a Casa d(' Telha e a Fazenda do Gado:
da meia encosta, para tima, isto , do Campestre,
para
o Alto dos Geraes, predomina
o quart.z.ito semelhante
pedra dI' arnolar,o itaclllumito, rn. alguns pontos, muito
t'riavel; no alto, onde os gerrw8 se estendem, o solo breve
deixa ver por entre os fragmentos do limonito, vstigios
do itabirito. No Alto dos Geraes, colhemo:.; Ilma excellente amostra
de magnetita.
Ka Sen'a do Sincor, erguida sobre a Chapaa, e
toda retalhada
e recortada
em varios sentidos, os montes so geralmente
de quartzito com leitos intercalados
de um conglomerato
grosseiro, onde apparecc o diamante, mas dando sempre um solo fraco, arenoso c mui
pobre sob () ponto de vista agricola.
tHO
DB.
THEODORO
CAPITCLO
A. Chapad.a.
SAJlIPAJO
VI
:Dia.=.antina.
Em Salita Isabel do Paraguassl, onde ehegamos

li
l:~ de ;raneiro de tHHO, estavamos,
seno no centro da~
lavra~; de diamante da Bahia, ao menos, no pOlito quP
hi~toricamellte
(' soh o ponto de vista da produe<;o, mais
eonccrrem
para a grande fama que j teve ol1tr'ora ('ssa
regio sertaneja.
fi zona diamanlina
na Bahia muito "asta, e mal p<de
ser a~signahda pelos limites do que se chama commll\lmenlp a Chapada; porquanto
os iamantes
tm sido
encor,lraos at na zona liloral, tomo 110 Salobro, enln~
o Hi<, Pardo e o Rio Cna, como em ()allulssar!J, Pilall!J((,
(' rio Cat, ao Norte da Capital e como no rio Imfms.'{(thy, cerca de 100 kilomelros
para o nordeste da mesma
Capital.
No leito do Rio S. Francisco, o DI'. Orville Dcrh)'
<whou, no casculho da cachoeira de ltaparica, visinha de
.Jatob, indicios de diamante. ~o riacho da Solid(70, que
rega o povoado do Boqueiro das Parreiras,
no termo
do ;\lonte Alto, lambem se assignalou a presena do dia-
mante.
~'e, porm, quizermos determinar com mais preciso
a zorta diamantifera,
no interior da. Bahia, teriamos de
destacar, entre os 11 e OR 14 de latitude sul, o mais
largo trecho da Chapada, cujos limites por linhas naturues beriam, a comear de Oeste: o rio S. ~'rancisco desde
o Chlque-<',hique at a barra do Paramirim,
e por este
acillHLat us silas nascentes no Pico das Almas, dahi pelo
curso do Hio 13rumado at sua barra no rio de COlltas, seguindo depois por este abaixo at onde lhe entra
pela esquerda o rio SincJr. Dahi, tomando para o norte,
sobe o rio Sincor at as suas cabeceiras
e, tran:,;0
J'
"
l'LANTA
DACHAPADA DIAMANTINA
o
I
,.
I
"
l,
"I
--- -
4 '
:r~.. l'n''VH,.io
J,
1>..\ CHAP.\!),\
DLUL\~TI~A
131
pondo a serra do mesmo nome, ganha as na~centes do

rio G na, cujo curso de~ce at a sua fz no ParaguasBl.
Remonta o cur~o deste at 11 barra do rio :::;anto AntolIio, e ~ubindo por cste acima vae at a fz do rio TJtinga,
(~ujo curso subid at as suas eaheceiras lias visinhanas
do MOITa do Chapeo, c, pl'oHegllindo ao norte pal'a alem
das nascentes do rio .Jacuipe, sbe at o parallelo de 11
de latitude sul, que fiear sendo o limite do lado septentrional.
Ne~te va~t() ambito, cujo maior compl'mento de
~)O kilometros, e il maior lrgura 22R, ~e comprehendem
:
IlO extremo nOJ'oe~te, as antigas lavras de Sauto igllacio
de A:ssuru, visinhas do Chique-chique;
110
meio, tendendo para Oesft', as no menos antigas lavras, hoje
.tbandonadas,
da Chapada Velha, ao nordeste fie Macahubas; no extremo sul, as prilllitivas lavras diamantinas
{ia Sincor e do rio Ona; no centro da face de leste, e
.quasi que abrangenfio-a
totalmente, a Chapada Diamalltina, pl'OpI'alnente dita e no extremo lIordeste, as minas
do distrieto do 3101'1'0 do Chapeo.
A regio compl'ehendida
em taes limites a mais elevada dos sertcs bahianos e nella se aeha o ponto culminante do seu systema orogl'aphico, no Pieo das Almas,
com a altitude de cer~a de 1;:'00 metros, como j o dissemos anteriormente.
As montanhas
aqui se dispem CIll tres cOI'dlheims
paraJlelas, na dirp(~.o geral de sul-sueste para nor- noI'Oste, e corta obliquamente
a linha de diviso das
aguas da bacia do S. Francisco e das que correm
(lirectamente
ao Atlantico, linha de dh-so das aguas,
.sinuosa c irI'egula' no rumo geral de nordeste.
Das tres cordilheiras
referidas, a mais occidental e
tambem a mais alta, frma, em grande extenso, ullla alta
.tresta escarpada, interrompida
por quebradas numerosas,
t' tomando
varios nomes segundo os districtos que vae
atravessando:
serra da YiUa Velha ou das Almas, junto
da villa das Minas do Rio de Contas, a comear do
0
DR
THEODOHO
SA:lIPAIO
sul;
a .serra do llubira
com o notaycl Pico do J/tfo'
cerca de t:l kilometros
para norte da referida
villa, serra de que so projeces nota\'cis on Silllpl('~
l',;porcs do lado de leste, as seITas da Furl/a,
c a de
SCtnto Antonio; a serra da Tromblt nm dos trl'chos mais
e evadas da cordilheira,
com eerca de GO kilometros de
e.<tenso; a. serra da l}Jal/!/abeil'a, e em seg-uida a de
nrola8 prolongando-se
em direco margem dir'eit<t do
rio S. Francisco.
A cordilheira. central, dislante da anterior cef(~a de
40 kilomell'os, comea. ao sul com a denominao de serra
do Cocal, COITe entre o rio Paraguass
e o rio de Serra
d(~Contas, toma o nome de serra do Gagan ou do Rm;{o
no trecho mais proeminente
c mais pittoresco, e segu(~
alem para o !lor-noroeste
com o llame de Sen'a. do G(ulo
nww e, com muita.s interrupes,
se estende at o
Chique-Chique
onde tcm o nome de seITa de A,~.'lllr1(.
A cordilheira
mais oriental, distante da preeedentp:
cerca de flOkilo metros, tem o nome geral de Sam
do
Sil1cor, por comear, ao sul, junto do anaial do ml'smo
nome, e, muito fragmenlada,
quel' no sentido longitudinal, quer no transvcrsal,
pcnetra nos sertes a nOJ'-noronste com mui divcrsas c1enominaes.
E' e~l,a eordilhera a propri,t CIU/,pada Dia'mantina,
no sentido l'l'stricto em que ora se emprega esta denotI1ina~~rto. A faee ou Vl'rtf'nte occidental nella que apresenta urna bella esca.rpa por sobl'f~ a alta planicie
dos
!)eJ'ae8, onde corre o Pm'agnass,
tem (;omll1ummenfe o
nome Sincon e eonta. nada menos de l'inco inlerrup()('S ou gargantas
n'uma pxtenso
de 140 kilollletros,
dalldo passagem
ao ni\'(~l dos gcraes, como sejam, a
cot:"lear do snI, a garganta do Sil/corr,
onde passa a.
estada. geral do serto jnnto desle arraial, a garganta
do Palmital, cerca de (; kilometros para o norle, dando
passagem
para o Mundo Novo, nas cabeceiras
do rio
enOl; mais alm, 22 kilometros,
a do Jlo/'I'o do Gad{lo,
anue passava outr'ora a eslrada do scrtrto, deixa.ndo ()
(;1'01;80,
\lA
CHAPADA
DL\lIIAX'l'I:\A
valle do Dna para penetrar nos campos gentes do Paraguass;

em seguida a esta, e distante della 2R kilometros, a garganta do Sobrado, dando passagem
para
o valle do Mcu!J; ti kilometros alem, a mais Ilotavel
Je todas ellas, a do CommerC'o de F/'a, onde penetra o
Paraguass,
cortando transversalmente
a cordilheim ou
chapada, em saltos successivos
e por extensos ::iumidouros. Adiante desse ponto, cerca de 20 kilometro::i fi(:a a garganta da Catinfla GI'Ctnde, c perto desta a do
CapiTo Grande. Seguem-se
depois duas outras
eujos
/lames se ignoram, e tarllbem
as da Bocca da ll'latta,
onde passa a estrada dos Lenes para o rio S. l"rancisco, da [.avrin/w, do La{Je(ulinho, aquella ande penetra
() rio Coch, e ainda outras mais alm pam o noroeste.
A face de leste desta cordilheira, tambem retalhada
('omo a outra, escarpada em varios lwntos e em outros
com rampas mais suaves, toma o Ilonw de Emparedado,
1~ kilometros a leste de Santa Isahel, serra do Andamhy,
sena elos .LeneR ou do Rarro Branco, serra das rueiras at desaparecer
nas cabeceiras do rio Verde de
baixo, na direeo de nor-noroeste.
Quasi a meia distancia das duas Jaces ou vertentes desta Chapada Diamantino"
cotTe uma linha de cullliadas, tambem com varias interrupes
e nomes diversos; serra da Chapad'illha, no extremo sul, serra do
Nobre{Jn depois de passar o Paraguass,
serra do Rio
Preto, Serra da C'otill!Juiba, da Pal/Jwa. etc.
O aspecto da zona djamantina
o de uma reglw
alta, com largos trechos planos nos intervulIos de serranias asperas,
abundantemente
irrigados
na metade
sul. Os rios e ribeiros so ahi numerosos,
e os que so
propriamente
diamantinos
trazem as suas aguas escuras, all alllarelIo-topasio
quando
tornadas em pouca
quantidade.
T'or isso so frequentes
as denoninaes
como: rio Negro, do Preto, rio Uua (Preto), applicadas
s correntes
d'aguJ, escura que descern das senas escarpadas
e l'a/am no seu leito de cascalho as pedras
OH.
THEOnOIW
SUII'AIO
pre(:iosas que foram out'rora o unieo incentivo p:lra se

povoarem estes logares to pouco ferleis, sob o ponto
de dsta agricola.
Dentre os rios que banham a rcgio diamantina
e
se distingucm,
011 por seu volume,
ou por sua riqueza
em diamantes,
mereeem referencia o PaJ'nmirn, o rio
Verde de Baixo, o rio da Feredn do Jacar que S~IO aff1lH'ntes do rio S. Francisco; o Jrrcnipe, o ParCtguCt,-;s1 e
o Ii') de Contw, qlW amucm direttamenta
para o Atlantieo,
O rio da Feredn do Jncar, que drena as aguas ao
norte do MOlTO do Chapo, comquanto tenha um curs()
exltmso, as suas aguas so to escassas que desapparcc(~m totalmente
por largo trecho, ao travs cie u ma
reg o ingTatissima e secca.
O rio Ferde, appellidado de bai:co, para se distingui.'
de seu lLOmonymo superior que faz a divisa dos territor os da Bahia e .Minas, nasee na Chap(ula lrelha,
eorre aO norte, atravs de uma rcgio deserta c scm
agua, c entra no rio S. Franeisco
aba ixo do ChiqueCh quc. Comquanto
no scja pequeno o seu valle, a eseassez das suas aguas to grande que tornam difcds os trabalhos
da minerao.
O Pnralllirim
no mais fornecido. O seu curso ,
na verdade,
mais extenso do quP os dos pre('edelllc~,
mas as aguas ainda lhe silo escassas e no bastam seqlwr para a irriga:o que a lavoura elas suas l1\argen~
exige. Os seus tributarios
perennes
como os rios da
()nixa, dos RelHedio~ e do Pi/'es, que descem da veI'ten te occidental da llubi/'a c da serra da Tromba, so
os mallanc;aes
mais poderosos e os ullicos capazes de
peJ'mittir um trabalho mais regular de minerao
nas
suas margens.
O rio de ,((cuipe, que nasee nas immediaes
do
)101'['0 do Chapo,
cOITe cm leito diamantino,
Illas tem
po,lca agua nas cabeceiras, o quc difficulta qualquer
trabalho ele minerao
elll maior escala. Este rio desce
da Chapada, corre para a leste, atravessando
terrenos
DA CIL\PAIH
DLL\IA:\TI:\A
aridoR de catiJ/ga, c, nesse trajecto, secta muitas

\'eze~
na cstal;o propria,
O Para{Jnas8 que propriamente
o rio diamantino,
pois que nelle all no leito dos seus numerosos tributarias que descobriram
as lanas
mais ricas e produdivas de diamante, merece aqui mais particular
referencia. Xascc este rio, no lagar Farinha
Jfothrtda, nil
vertente
occidental
do Jlor/"o do (}u/"o, na Serra do
Cowl, cerca de 2ft- kilometros a oeste do arraial do Sincorl cone ao norte, recebendo pela esquerda:
o Riacho
que traz as aguas dos ribeiros Panli,;la e Eslicn, o
nOl1cndol', o Swnidou/"o; o A lpa.l'calCt, que vem do logar
Hai,Trt
Verd/\ 1'2 kilometros
ao norte do Tunquinho
torre a principio pura o norte e fazendo gl'andp curva
com qlle eolleceiona as aguas do Talltrtnrlu, dos relutos,
do CntiJ/!/a Orrmde, pela esquerda e do ''''. Pedro jlPla.
direita, faz harra
no Paragullss
ao penetl'al' este nu
garganta do f'OIltI/lei'ctO
de Forli.
At esf(~ ponto, o ('urso do Paraguassl se faz atl'aVI~S d()~ (~amp()s gemes,
e no se Ille encontraram
diamantes,
ainda que Ho faltem indieio::> seguro:.: dell,~
em muitos dos atlluentes ljue de~w,elll das proximidatles
da Sena do Oogu e do SiliCai'lL
Depois de penetrar
na garganta do (;omlllercio de
Fora, () Jeito do Paraguass
se torna fl'ancalnentf~ diamantillO. Prosegundo
ento atnt\'s
de montes escarpados e nts, dando saltos successi\'os,
formando por:os,
sumindo-se
por baixo dl~ extensos
lagedos que do
passagem a p enxuto de uma para outra
margem. o
rio tom
as sua::; aguas esturas
e impetuosas
\"LW
sendo engrossado
a cudos
intervallos
por numpro"os
tributarios,
todos diamantinos.
Assim que recebe
pela esquerda logo depois de entrar na garganta, o rio
Prelo que desce impetuoso da serra do mesmo noml~
eom um curso de cerca de:JO kiloll1etros;
o pequeno
l'acllo do Jloreirn entrou
pouco antes pela direita; o
riadlO das Combucas que traz as aguas do jlfucug,
ambos na::;cidos na Serra da ChapndilllUt, ao sul e faz
1,)()
Dit.
Tllf~OnOHO
SA:\lP.\IO
barTa. na margem direita, pouco acima do Poo do ][((1'

de. j<;.'l}H1ltha, famoso na hIstoria da m inerao
dest.as
para.wns; ponca abaix.o, pela esquerda recebe o Pal'agua~;s o pequeno ribeiro do Beiudo que tem pouco
mai!; de () kilo metros de curso,
O rio Preto de COlltifI/tib'l,
que nasce na sen'a do mesmo nome entra-Hw
mai~; embaixo pela esq uerda, cerca cie meia legua acima ,la povoa.o da Pwmagem. ~este
logar entra no
Pa!'<Jguass pela direita, o riacho elas Piabas ou COUH((
R)n que nasce na se!'ra do Empa/'I'erado,
banha
o arraial
do Chique-Chique,
e muito diamn.ntino, Meia
legua mais aba.ixo, entra pela esquerda o riacho do
Ca;'n~i/'o, que vcm do norte, banha
os povoados de
(Jo;' /!,~i/'o e do C'ommcrcinho,
e o unaial de Allrla/'ah,l).
Abal '\O d(~ste een'ade
!) kilometros,
entra no Paraguus:,( pela esquerda o rio S'al/to AI/tonio,
o seu maio!'
aff1IH'nte IHl r('gio dialllantina,
() quaI lem as suas
na:::;\~('nt(':snil S(~rra dos T/'C8 j11o/'/'o.'1, ao lIortc da villa
do B:Jm .Jeslls do rio de Contas, eO!'!'l) para o norte f'
(kpois para nordeste, com o llomc dt) COr-IIl'l, alravessando a seITa do (Jagau, rel:ebendo numerosos
atlllwIItes ('OIllO os rios do Cam]Je8tre, da Prata e Preto, forma
a J~(!}((. arrnule, <~e!'('a d(' :JO kilomdros
ao poente
dos J,cnCc};, passa por um sublrrraneo
ca!eal'eo, (>
depoi;~ de dcsappareeer,
reeehe abaixo do Pcrijleri o rio
Prata que talllbenl
vem po!' um extenso snbtcna.npo
eakareo c salitroso, eujas ag\las ltupidas e assim SalU!!das, ullemrn dahi em diante o sabor da agua dr!
rio, < \le dahi passa a denominar-se
Santo Antollio,
o qual, depois de reeeber diversos riheiros, e o nolavcl
rio da Utinf/fZ qlle vern do norte, das visinha nas do
~'1orro do Chapo, forma a LU!Jn Encantada, cerca de
12 kiloIlletros
l leste
da ref0rida
cidade de Len<:es,
segouindo depois sen eu l'sa, agora pam o sni, at se
juntar cOIn o Paraguassl.,
tendo ante:,; recebido pela
margem direita, o rio de S. ,Jos que vcm dos Len<,s
c um dos mais diamantino!:> desta regii"lO, (~o riaeho
da Ga"apcL
DA
CHAPADA
DLL\L\:\TI:\A
107
Depois
de receber o rio Santo Antonio, o Pamguassl] encaminha-se
para ICfite-sllestc, sepal'undo
os
terrenns
diamantinos
dos terrenos
agrcolas,
e yae
certa de G6 kilometros
abaixo
rccebel' pela dircita o
rio Unn, o qual nascendo com o nome de Rwlulo na
sena da Chapadinha,
corre a printipio
para o ~ml; re~lecte para leste, recebe os ribeiros da Gibo'ia, llfucuf./ti/ho, Sa.nto JI ntonio,
Gineta, Tie lnverl1ada e
(,lllcaminltando-se
para nordeste,
vae desembocar
no
Paraguass,
junto ,'tO Morro das Araras.
O rio de Contw;. antigo Jus'~''ape, tem a sua 01'1gem no alto da sena da J'rombrr., entre brejos e treJlleda('s, cOl'l'(>ndo ao nOl'tc )pJa pJani(,je do campo que
existe
entre os dous ramos da mesma serra que se
\'ilo abrindn,
e eujo valle diamantno
na extenso
de terca de 24. kilollwtros. e dl'pois, cortando
um dos
ramo:-:; da scna e lalll/wlll li seITa de Santa. AnI/ct. por
entre I'o('hedos. e (~O!ll numerosas
caseatas, passa ccrca
d~ li kiJollletl'oS distante ria \"illa do Bom .Jesus, torre
lO norte em grande
curva, e torna cuto dirccf;o de
sul. Hecebe depois peja esquerda o I'io de S . .Joo que
vem dos campos da visinhanc,a da sClTa do Oa!fro, e
2.'~ kilometros
mais abaixo entm nella pela direita o
rio Agua Suja que traz as aguas dos ribeiros do Ourl'atil/ho,
Outul;; e FHI/do, descidos das serrai:; da 'l'rom1m da Itubira. O rio Dl'umarlo que nasee no Pico das
.'lImns, banha a villa dus il/iuas do Ho de COllta.~, faz
il bcJIa ~ altissima
ca~wata da Villa Vclha, recebe o rio
'l'aq/ur!'!! e o rio do Tabuleiro pela margem
direita, e
eutra
no rio de contas
no lugar Bcttra dct iJlacella,
tcrca de 120 kilornetros abaixo da foz do Agua Suja.
O rio do SiIlCOl'ri,
cujas nascentes
titam visinhas do
al'raial do mesmo nome, cone para o sul, collecta as
aguas dfntre as serras do Coenl e do Sillcor e, depois
de um curso de cerca de 120 kilometros, em parte diamantino, entra !lO rio de Conlas pela margem esquerda.
Conhecida a topographia da regio, estudemos agora
as suas riquezas mineral\lgicas.
:m
DR.
THEODORO
SA;\IPAIO
No se sabe, <lO eel'to, quando se inieiamlH os primeiros trabalhos

de mineraftO do diamante na Bahia.
E' b(~m prova\'el
que taes tntbalhos
tives~em a
me.;ma origem que os da minerao do onro, pois que
aqui como em tantas outras localidades do Brasil, as
alluvies diamantferas
muito frequentemente
se apl'esentam de mistura com as alluvi()es auriferas.
~stl, porm, averiguado,
q\le os nossos mineiros
e batedore,; de serto no aprPllderam
a conhece\' o
diamante seno depois de 172!l, quando
Bernardo da
FOLseca Lobo o descubrin
pela. primeira vez no Serro
Frio em ~linas Ch-\raes, At ahi, o dialllantp no passava
de \lm seixo reluzente,
mas sem valor pam o !)ltl'i/llpeiro o quem no raro se depararia essa pedra preciosa.
no'undo
da sua bata, ao lava\' o cascalho aurife\'o.
Cdo, po\'m o conhecimento
do diamante
se di ..
vulg-ou, e bem poucos mineit,os havi,\ que o no SOIlbesl'em distingui!' e proeurar,
Apezar de prohibida a sua extraec:;o cm t 7Ji, a
no sc\' cm Serro frio ou ])"';lriclo ])wwllliIlO,
a p\'o('ura do diamante no dilllillUio, tornando-se
to someutp
um mister clandestino,
])ah o ignorar-se em qlle epoea.
precisamente,
a mnerac:;o do diamante sr tera inieiado
em qualqucr
outra localidade
do Brasil que nilo uo
afan:ao Sel'ro Frio.
Pelos annos de 17'20 a 17'21 inieiou-s' no sel'lo do
Hio de Contas a mincJ'(u;o de Ol\l'O 1'01' :tlgUlls paulistas recem-chegados
de 'tinas Ueraes, entre os quaes o
cOl'onel Sebastio Hapozo e seu sobrinho,
Antonio de
Almfida que, pOl' algum tempo, tive\'Hm grandes lavras
pelas ccrcanias do arrRial de Matto nl'OSSO, donde, {.
tradi io que o famoso e legendario
('oronel ('hegon a
retinT qnarente! arrobas dl' ouro, no aTOUl/UP;
(f.J'J'obiIlhas eomo elle proprio costumava
dizer.
Continuando
as suas exp!oral;es, Hapozo penetran
mais fundo no scrto, atT'it\'essando serranias espessas.
pesqllisano
em todas e, tomando rumo desconhc(:ido
D,\
CHAPADA
DIA:lIA:\TI:\A
1J9
por picada nova que abrill, se foi na volta do Maranho

ou do Piauhy onde (;onsta que depois o mataram.
Desde este tempo, comearam a ser devassadas
e
exploradas
pelos garimpeiros
aqucllas
auriferas
terras
situadas ao longo das montanhas de Itubira, do Guarda
1\161', da Tromba e das suas ramificaes
011 prolongamcntos ao noroeste para o lado do rio S. Francisco.
Foram ento smgindo varIOs nucleos cie populao
cntre estas serras e se fundou o armial do Senhor Hom
,Je8u8 lias cabe(:eil'as do rio de Conta~, para (;uja capella, .Joo dp MOIaes Barros, estabelecido
tom minerao no logar, fez em 172(i doao do terreno
pal'a o
respectivo patrimonio
cornprehendendo
as lavras e o
sitio do Ribeiro. Foi liesse lagar, onde prova\'elmente,
se assig-nalou l, presena do diamante
no cascaIllO aurifero, pela pl'imcira vez, nestes sertes,
pois que ahi
nas cabeceiras do Bio das Contas, a formao
do terreno to aurifera
como dia.mantina,
Todavia. (. tradio mais corrente que a priml\ira descoberta
do diamante na. Chapada s6 SE' deu pelos anoos de I8L7 ou
IHtH quando o Capito mI' Felix Hibeiro de Novae:"
faz.endo pesquizas na Serra do Gagau, logrou l'Punir
algmnas
destas
pedras preciosas
qlle apresentou
ao
(~oroncl Joaquim Pcreira de Castro, mas guardoll disso
segredo por SCl' cnto prohibida a extraco delIas.
Foi pOI' essa mesma epoeu qlle atravessaram
esta
regio os sabias naturalistas,
Spix c }fartins e lhe reconheceram
o caraeter francamente
diamantino,
dando
disso conhccimento
ao sargento-mor,
Francisco .Jos da.
Hodw
Medrado,
proprietario
de vastos
terrcnos nel
Sen'a do Sil/corr.
A minerar;o do diamante
todavia
no prosperou,
ou porquc os resultados colhidos fossem insignificantes,
ou porquc a zona que dc preferencia
se la\Tava
no
fosse a mais propicia. At 1844, a minerao
de diamante que, desde alguns allllOS, se vinha fazendo na
Chapadn Velha, regiilo mais central, situada
nas cabe-
t'~o
DIl.
TIIEOf)O!lO
SA:\!PAIO
ceiras do rio Venle de Ha/.m e equidistante

cel'(~a de
ao le~:uas tiP ~lacauhas, S. Ignacio de AssuJ'lHt e Santa
haLe
de Paragllassl
(~lu(;ug), no apresentava
rf'sllltados dIgnos de menso. Os diamantes
eram em geraL
miudos e de pequeno valor .
.:\0 referido anno, porm.
em Setembro,
.Jos Pereira do Prado,
morador
em Bom Jesus uo Hio de
Contas, e conhecedor
de diamantes,
pOl' os ter lavrado
na Chapada Velha. percorrendo
as tenas marginaes do
ribeirlo do l\Iueug, ento fazenda de gado do coronel
H.eginaldo Lalldulpho
da H.oeha ~ledrado, l'eeonheceu
pelo aspecto das montanhas
e pela er negra das aguas
que o lagar deYa produzir diamantes,
e cntflo, fazclltlo
um e Isaio de algulllas lloras, logrou extral1ir algllmas
oitav,cs que h~vou a vender na referida Chapada Velha,
ento considerado
o (',entl'o das la \Tas e do commercio
de diamantes.
Eram os diamantes
do .\lu(;ugl~ de maior \'olunw c
mais hellos Cf lIC os da Chapada Velha, o q lie, despertando a atteno do~ aventureiros
e exdtando-lhes
a
eobi(;a, determinou
Illlla grande invaso de uarupeiro;
para as margclIs do ~tucug{~.
A s pedras preciosas cram ahi em quantidade
extraordinaria,
e dc muito boa [wt. Do lcito O riheiro
retiravam-se,
scm tmbalho 1)\'eparatol'o algum, os diamales qlle os garimpeiros
iam huscar de mergulho,
surgindo
< tona
d'agua
com os (:hapus de (;ouros
cheio:.; de cascalho donde retiravam
por oitavas dessas
pedras preciosas.
Yo poo denominado do Pudre, cerca de (OO metros
para Laixo da villa de Santa Izabel, que ento comeou
a ap:arccer sob a dcnomina<,;o de P((/,aju((ss Diomal/two, depois arraial do .i.1IucurJ, um garimpeiro,
mergulhando, chegou a colher 1!1 oitavas
de diamantes.
em outubro de 1844. :\0 mesmo logar, outros iudividuos,
empregando
o mcslllo processo, conseguiram
retirar do
leito do rihciro mais de oitenta
oitavas
e () capito
"
E.c~h: 1:
5.500.000'
'"
....'
F..
1'1
I:l
...;
'-'
c;:)
DA CHAPADA
OIA~rA~TI~A
14-1
Rodrigo Antonio Pereira de Castro. em quatorze

dias
de trabalho (',om trinta homens, conseguia extrahir /10venta e trcs,
A::; lavras multiplicaram-se
como que pOl' encanto.
Em poucos mczes, uma populai'iO cie eerca de vinte e
cineo mi! pessoas attrahidas
de toda a parte, afflui()
para cstes logares. No preciso mencionar as luctas,
os crimes horrorosos
a que a atllbi;o exaltada
dos
fOl'asteiros teria dado lagar, Basta que se saiha que
em dous annos de minerao deram-se
para mais de
cem assassinatos,
pela maior parte implmes,
A "ida c
a propl'icade
fkaram sem garantias.
Mas a mineraiio tomou UIll impulso to, consideravcl (lue as pedras preciosas comearam a depreciar-se,
to grande rra quantidade
dellas nos mercados,
LaVrOIH;(~ ento pelo leito dos rios e ribeiros, pelos
brcjaes e pelas en(~ostas das montanhas
mais "isinhas.
Os riheiros M.ltCUgl? e Comblwas que descem da serra da
Chapadnha, foram todo~ lavrados at as Sllas cabeceiJ'as. O leito do Paraguassl,
do Commercio de Po/'a para
baixo, tambem foi intensamente
lavrado. Ahi, no poo
do Na' de llespanha, cerca de uma legua ao norte de
Santa Izab('l, se extrahiralll
de mergulho quatorze e
nwia oitavas de diamantes
em um s dia,
~o rio das Pictba,o.; que tem uma das silas Ila~centes
proximas das do }l11eu~ e do COlllhucas na sen'a da
Chapadinha.
e eo['\'(\ para o l'orte depois de despenhar-se da seiTa do Emparedado,
recolhendo
as aguas
do pequeno cOlTego do Chique-Chique
ou Causa Hoa,
para ir fazer barra no povoado da Passagem, margem
direita do Paraguasi'l, cerca de quatro leguas e meia
para o nordeste de Santa Izabel, as lanas diamantinas
que ahi se fizeram deram resultados
espantosos.
No
arraial do Chique-Chique,
;J 1/~ leguas de S, h:abel, os
trabalhos
de minerao que ahi se levaram a effeito no
leito e barrancos
do corrego do mesmo nome, nos brejos, nos altos, nas encostas, nos baixos, em toda a parte
DR,
TJlt~OJ)OHO
SA;\II'AIO
one!.~ sc podia fazer uma excaVIU;O, permittiram,

em
hrc\c praso, reeolher milhciros de oitavas ..
Assim tambem, do ribeiro do Cajueiro que n~m do
norte com um curso de cen'a de duas le~uas e se lan.a
no Paragllass perto da povoao
da Passaflem e em
cujo vaIle se frmou o populoso
arraial
do Andaray,
distante cinco legua.s de Santa Izabel para o nor-Ilordest~, se extrahiram
libras de dia.mante.
No valle do rio S, Jos, proxima de cujas eabeceil'aS "c forlllol! a eonsideravel
cidade dos Lenes,
10
leguas ao norte de Santa Izabel, a. minerao dos diamantes tomou um impulso prodigioso, Nos pequenos
amuentes
da direita, que descem da se!'ra denominada
dos l.enes, corno JlOS corregos do Roncado!', db.s Bicas,
Caldeires, Capivaras, Ribeiro do Inferno e dos Len<ies se fizeram abundantissimas
lavras, as quaes se
estenderam
por pont.os ainda mais distantes,
pclo leito
do J'a Coch ou Srmto Antonio, em direco ao nOl'te .
.\10 lllgar
T.icurioba, legua e meia para o norte <la
eidade dos Lenes, no leito do rio Santo Ant.onio, o
diamante torna a ser eneontrado
em abundancia.
nos
poo:~, colhendo-se de mergulho como no Mueug e no
Paraguass,
~a. redra Cravada" quatro leguas ao nort.e
dos Lenles, na Pal'nahyba, ti margem csqucrda do rio
Ctinga, e cerca. de tres leguas para o nordeste
da 10{~alid,lde precedente:
nas Al'oeiras, junto serra do
mesmo nomc, que um prolongamento
da Hena do
Sinc(lr, cerca dc set.e leguas para o noroeste
de Parnahyba, visinhando-se
j da Chapada
Velha, que fica
pa.ra oeste oito leguas; em Santo Antonio de ./L.'isll1'uri,
tl'inl;, leguas da Chapada Velha para o noroeste, e distante das margens de S. Francisco
cerca de doze, lavrou-se em t.odos estes logares o diamante em larga
escala.
No Sincol', caheceiras do rio do mesmo nome, cerca
de do;eseis leguas ou antes dez em lin/lU reela para o
sul de Santa !zabel, no leito desse rio n'uma extenso
DA
CHAPADA
DIA;lI..\NT/:'\.\
14H
de seis leguas, at o povoado do Triumpho a rumo de

;,;ueste; no \'JO Una, e seus affluentes superiores na
mesma sen'a do Sineor, se descobriram diamantes,
mas as suas lavras tiveram d.e ser abandonadas
pela
malignidade das febres endemieas nessas paragens.
Como se vi\ foi extensissma a superficie lavrada
nestes sertes cata do diamante.
Por oecasi.o ela nossa visita, porm, a minerao
estava j em fr~nca decadencia. As lavras permaneciam
abandonadas, e os lucros das que anda se mantinham
j no compensavam muitas vezes os esforos dos
mineiros.
Os trabalhos agrcolas comeavam a solicitar a
atten.o dos habitantes j agora desenganados de que
no podiam espe)'ar mais nada da minerao.
Alguns dos mais antigos moradores, como o nosso
hospede, () coronel ,Joaquim 'Ianoel Rodriguez Lima,
guardavam todavia a crena de que a minerao tinha
apenas passado pela sua primeira phase, que tempo
viria, em que aquelles montes, trabalhados por mineiros
mais experientes e por processos mais aperfeioados,
ha\"am de restituir a ~stas tenas a opulencia de
outr'ora.
O coronel H.odrigues Lima, negociante em Santa

Jzabcl, contou-nos ento a historia dessas mInas, os
acontecimentos mais dramaticos que ali se deram, os
lUel'os que se tiraram, e mostrou-nos aSila bellissima
<:olleco de diamantes, que trazia encerrada em UIIl
pequeno cofre, colleco que ia aos poucos augmentan do, porque o coronel costumava comprar por preos
razoaveis as pedras mais bonitas que os garimpeiros
da visinhana lhe vinham offerecer ao balco.
Pedindo-nos de escolher um diamante, como uma
recordao da nossa visita a estes lagares, tiramos da
colleco uma pequena pedra que o nosso hospede
gentilmente nos offereceu, ao mesmo tempo que gabava
o nosso acerto na escolha, porque, sem sermos conhe-
IH
nI{.
THEonOHO
"A~IPAIO
eedores de diamantes,
ha\"amos na yel'dade escolhido
um da melhor agua.
Informou-nos
ento o coronel sobre o estado da
minera.o no municipio, f'orlleceno-lloS os nomes dos
proprietarios
das lan'as
mais prosperas
e assentada:,,;
em melhor escala: o coronel Francisco J os da Rocha.
~ledrado, o tenente co!'onel Simpliciano Habello Lima,
.ros Gomes Flores, capito Simplicio da Cunha Braga,
.Jos da Silva Reis e Modesto Cypriano
de Athahydc.
)ia fr'eguezia do Andarahy,
contavam-se
entre as mais
impcrtantes
lavras a de D. Anna de Brito Faria, a do
majo!'..:;Theotonio
Gomes de Azevedo, a do tenente Cornelio de Souza Lima e a do ('apito Bernardino
rie
Senna e Souza.
:~as lavras, ainda as mais importantes,
no se empregn.vam machinis\l1os, mas o processo geralmente seguido de dcs,iar as aguas para se lavar o cascalho no
leito posto a secco, c trabalhado
to somente com ferramenta de uso manual.
l\.o facil calcular-se a prOdU(:fLO dessas lavras
pelo muito segredo que co~tumc guardar-se
nesse
negocio de diamantes.
O nosso informante,
nem pOI'
simph!s aproximao,
o podia dar.
C,)mquanto muito decadente a minerao, informonnos o SnI'. Candido .Jos da Cunha, morador
c proprielal'io na fazenda da Catinga
Grande,
as lavras e
servios ainda abrangio uma regio bem extensa desde
o Sincor ao sul at o 1110/'1'0 do Chal)n ao norte. N ()
rio Sillcor lavrou-se
pouco e to somente no leito d()
rio, mas os diamantes
eram ahi de boa qualidade ainda
que miudos, regulando de tres a seis gros entre minima e maximo. Foi pelos armas de lR67 e 1870 que
os trabalhos de minerao nesse rio tiveram a sua maior
actividade. ~o rio 1\Iucu[J, onde existio a maior e mais
importante
lavm diamantina
desta regio, os trabalhos
reglllar'~s no tinham cessado de todo.
DA CIL\PAD.-\
DLL\L\XTI:\,\
AIi'm uos faiscadol'f~s que lhe corriam os brejos e

(terrenos seeeos, altos nas clleoslas) Jlrocuranda seu meio de \'ida, algllmas lanas em ponto maior
ainda ali se mantinham. ;\0 leito do Paraguass, do
Commercia de Fora para baixo. onde elle diamantino,
os trabalhos mais recentes estavam concentrados no
trecho de cc['ca de uma legua de comprilncnto, da foz
do ['io Combucas at o logar jl[attinha, onde fica a importante lavra da Nova Sibcl'iu dos senhores .Jos du
Silva H.eis e Modcsto Cypriano de Athahyde .
. Para baixo desse lagar os servios eram ent.iw pouco
('cglllares e em menor escala,
O centro da maior produco, ao tempo da nossa
visita, era o districto do Chique-Chique, qllcr no valle
do rio das Piabas, que foi outr'ora mui pl'Oductivo,
qllcr !lO leito do proprio Paraguassll, da po\'oao da
.Passagcm para baixo na extenso de tres para quatro
leguas at o povoado das Piranhas,
~o Andaray, faziam-sc ainda grandes explora(es,
parecendo reanimar-se a minerao /lO \'alle do rio
Cajuciro, como 110 do Cotinguiba.
Nos l~enc;, porem, a decadencia das lavras era
cxtrema, resentindo-se disso o commel'cio local.
~o consta terem-se encontrado jamais, nesta regio,
diamantes de mais de ulIla oitava, Illas os carbonato.';
e as torras tm-se achado de grande volume, extl'ahindo-se mensalmente grandes partidas, que' regulam por
mil oitavas, vista da grande procura que essas pedras,
especialmente o carbonato, tem tido no mercado pela
sua applicao nas industrias.
At hoje, s na Chapada Diamantina se tem encontrado o c(lrbonato.
Ha trinta annos no se pagava por oitava do carbonato mais que 1$280 reis. Hoje, os preos subiram
tanto, que se pode equiparar essa pedra escura e feia
ao proprio diamantc,
!ll'llJJirtl'rt;
10
DIl.
TH~;ODOIlO
s.\:\II'.\lO
CAPITtLO
nI
""IVisita. . la.-v:ra. d.a. No-va.
Sibe:ria.
l\o <-uizemos deixar Sant.a Isabel sem termos primeit o visi tado Ilma lana d iaman ti tia em ponto gra nde,
e, pob, conseguimos do I\OSSO hOSlWdp apnsetlt.alo pal'a
os :mpI'etarios
da mina da Nora, Siberia ou 1l1aftiu//((,
no rio Pal'agua:-;sl, r para l !lOS cll(~aminhall1os tiO dia
t:.) de Janeiro, pela manh.
Saindo da villa, situada ,i margem csquf'rda do rilJeil';o do MlIcug, galgal!los, Jogo enl srglli<la, uma JH'qllena chapada
prdrcgosa,
que se levant.a entre o ribeil',o e o !'al'aguass,
e, pelo eill10 della, a rumo du
Harte, fmos atravessando
algumas pequenas lanas Oil
f1!'II}/ia/'(ts,
mantidas por fa8cadore,"!, at deseermos, jutlto
< b<LtTa do ribeir.o das Combucas,
para o leite do Pal'agl assl, pujas aguas encadlOciradas
(' l'UIl1Ol'osas sent ian os correr <i nOS'5a esquerda por Ulll su leo profundo,
rstrl~ito, ladeado
de grandes
pcnhas('os e de ribeiras
.(1 lta~, talhadas
em rocha.
Passamos () rio il p enxuto a uma leg'ua da villa,
pot' s,obl'e lages e rocbedos mal disposl.os como se f.ram os' destro<;os d\~ uma ponte arruinada, e verifkamos
'ento que nos acha\'amos em presen<,;a de um do,; muitos
<,umidoul'os que ha neste rio ao penetra.r elle no extenso
deshladeil'o
ou fl'llctum tmnsvcrsa
desla senania
do
Sintol'. O sumidouro
esta\'a j,. Illuito reduzido do que
primitivamcnte
fl'a. As lages que o constituam partiramz,e, subverte'ram-se
e foram arrebatadas
pelo impeto da
torr~nte.
O que restava,
por muito pouco, havia de
dumr ainda, resistindo ao trabalho incessante das aguas
na sua inevitavel tendencia pa.ra cavarem um leito sufficiente ou entnlrem n'um .regimen definitivo.
Proseguimos ao norte mar-geanJo o Paraguassl
pela
esquerda, lado accessivel, porque pela outra margem no
!fi1r~~;:~'"
I,..,I.:.-
..
~'
..
"
"
"
"i .'t ~ i 1
."
..
,.,~",
2j
,1'
"
.
,'
.,t-
"
,t'
,Il
DA CHAP:\J),\
OLDIAXTI:\A
14.7
~e via seno uma ribaneeim alta, pedregosa c na, como

se fra um (~norllle paredo correndo ao longo do rio,
e sustentando
uma aspera ehapada que nos disseram
chamar-se do Capa-Rode.
Passamos, logo em seguida, beira do Poo de mar
de lle.;paJlha, to fumoso na minerao dos prirneiro~
tempos,
e que liada mais do que um trdw reman.sado do rio cntre duas cachoeiras successivaH, e fornos
passar
o pcqueno con'cgo do Neindo, meia Jegua adi.ante pOI" onde descem do flanco da serra do Nobreflrt, ao
noroeste, us aguas anegradas sobre castalho diamantino.
Depuis de duas horas de rnartha, atravs de um
terreno
aspero, pedregoso e retalhado,
chegamos eabeceim de \JIn salto de 10 metros de altura, abaixo do
qu,il f;e estendem, n'l1ma volta do rio, os trabalbos
da
mina da Nova, Siberia dos Senhores
Reis e Athayde,
que ahi nos receberam gentilmente, e se promptitieamOl
pam nos mostmr a respeetiva illstallao e os protessos
de lanar,
A mina da Nora Siberia um corredor' pI'ofundo
(caon), estreito e tortuoso,
onde se preeipita
o ro
Parag'uass logo ap6s o salto a que aeima nos referimos. O leito, comprimido
entre paredes
alcantilados
dos quaes o da direita tom crea de oitenta metros de altura e o mais a pique, tem lima largura variavel de 70 a 25
metros; nlaS parte delle permanece orculto ou suLterl'aneo, pois que os paredes esqUf'rd'L so mais 011!llenos
solapados,
e do passagem s aguas por occasi:'to de
enehente, ou quando ellas sobem 11m pOI1COdo nivel
rdinario.
A' vista desta disposio topographica,
o trabalho da
mina era feito parte a ell aberto c parte subterraneo,
DU atravs
das lapas ou grUlla.'!, que cailla aqui se
denominam
essas exeavaes
mais ou menos extensas,
-e, gerahnente
de pOllea altura, feitas pelas aguas.
O trabalho capital aqui consistia
em desviar as
.aguas pOI' meio de diques transversos
e longitudinaes
DR.
THEODOHO
SA:\IPAIO
cam }inados de mOlla il manler-se cm secco, ou l'Ill remiln~o a parte do leilo do rio cujo cascalho
deve srI'
lava.do. Se o scrvio para as fl'unal'> ou lapas, o e:,;t'orl. maior cOllverge para manterem-se
estanques,
ou
livre~ de itlundaes
esses baixos subtcl'\'ancos,
l'ujo
i;ascdho interior ea rece de ser rctirado a IJrao, penetrando nelles os operarias de joelho, e lIo raro dl'bru(;ado:; sobre a lage, al'\'aslando
o v(>lItre cOlltra a pedra, e tocanoo com a cabea o ted.) da caverna.
Em
certo.;; lagares, onde o hOlllcm no pode penetra!',
por
ser muito estreita a fenda, llIas onde o cascalho
pode
ser rcndoso. o Rcrvi(;o comc(,:<Lpor encaminhar
para o
ponto llesejado um podcroso ,jacto d'agua, que serve
COlllOvassoura,
arrastan<lo para f6m todos os delrietos
e fraFmenlos de rocha nelle deposi tado;,;.
Esses detrieto5 e fragmcntos
vo ento para uma
bacia remansada
construida
em logar inferior, onde sero la'lados na bateia para se apurarem
os diamalltes~
P,)r oceasio da nossa visita, o trabalho estava. jt
conduido
para o servi(~o a cu aberto. Tinha-se corrido um dique dc pedra, partindo da margem direita, logo abaixo do salto, em sentido obliquo em diree<,;flO
marge TI opposla, coneentmndo
todas as aguas de mo
do a fazel-as torreI' por \I m estreito canal entre essa
mesma mnrgl'm e a parede do dique.
Deste modo reduzia-se
ti um
quinto espao livre
deixad.) ao curso das aguas e se mantinha
em secco,
ou quasi scccos os quatro quintos do leito onde se ia
procedl~r <1lavagem do cascalho.
Esse dique de pedra, prolongado
na extenso
de
crca de 200 metros, at o centro do cotovello que ahi
faz o rio, arrojava ento as aguas dl~ encontro
ao paredo rochoso da margem direita;
mas ponca antes.
delle terminar comeava, na margem OppostR, ontro dique,
feito dt mesmo material, e em desenvolvimento
curvo,
para o fim de manter as aguas correntes
de encontro
marg(~m direita e deixar em hacia tranquill<L e reman-
DA
CH.\PADA
DL\:\L\:\TI:\A
sada a poro da margem esquerda,

ollde ficavam as
lapas 011 {jI'WlrtS,
eujo servio assim se comeava
et
preparar.
Descemos ento VOl' um trilho perigoso at o nivel
d'agua, passamos, n'uma estiva, o canal por onde conem
as aguas concentradas,
e approximamo-nos
da baeia elll
8<'CCO,onde estavam os homens com as suas bateias,
la vando o castalho com a mesma regra, e com os mesillas instrumentos
e vasilhame
que se empregam
em
.Minas Gemcs. Vimos ahi as baleias, ou gamellas redondas e rasas de forma canica, onde se Java o cascalho,
os crivos ou rolos onde se apum o case-alho eliminaudo
a areia, e lima espeeie de tacho onde se procedia
cata do diamante. A alavanca, a cavadeira, e a eoxada
-completavam
a ferramenta.
O homem da baleia comea o trabalho, enehendo-a
eom o eascalho apanhado
no fundo da repreza, o qual
geralmente
\'em sujo e lodoso. Ag-ita-o dentro da bateia
que fll1ctua e gorra entre suas mos de modo a recebe!'
agua limpa e despejar, aos poucos, a que tem dent!'o
suja, operaJo
que elle contina a affectuar at que
o cascalho fique hem limpo, e (I agua inteiramente dara.
O cascalho j all viado dos seixos grandes e dos detridos mais grosseiros, ento passado para o Crt'VO, Ollde de novo lavado, perdendo grande poro da areia
que o acompanha.
Finda essa operao, passa-se o residuo para um tabolei/'o ou tacho. onde f\ estendido e
catado. l\" a nossa presena se repetia essa operao u mas
poucas de vez.es antes de se encontrar
o primeiro diamante, alis pequeno e no mui limpo. No foi um dia
feliz..
A mina da Nova Siberia comeava
apenas a trabalhar, e no poucas eram as esperanas dos seus propI'etarios, e a sua anciedade pelos resultados
que poderiam colher.
A localidade oft'erecia todavia os indicios mais promettedorcs.
A formao diamantina
era ahi authentiea,
DR.
THEODOHO
SA:\IPAIO
e as tradics
historicas
as mais animadoras
possiveis.
O tCl'reno offcrecia o mesmo aspedo que !la 1\1ucug c em toda a Chapada
Diamuntina
propriamentedita, isto , o mesmo facics geologico da serra do Sinconi. O gr{~s pardo Oil ayet'l1\clhado
duro (~m leito ail
stmtos, que a!temam
com camadas
mais molles da
mesma radIa, que em algulls logares
se desgasta,
i:5P
(h~stroe, redllsindo-se
a um p tino, que a eroso fa7.
rapidamente
dcsappareeer,
dando logar a se formarem
fendas e solapas, forma a massa rochosa predominante
da regio a que se associa o conglomerado
grosso, em
eunadas
intercaladas,
algumas
bem espessas,
outras
mais. tenues, Illas geralmcnte
mnito resistentes.
Na \ova Siberia os leitos de grs tinham espessura
de duas a cinco pollegadas no minima, e na. superficiedl) terreno, bem como no leito do rio, yiam-se grandes
b'oeos de cOfl.domerad.o duro de crcade quatro a (ilWo
toneladas ele pcso.
Por ef1'eito da eroso lenta, essas rochas de deseglJal l'esisten<:ia se desgastam.
.ppareeem ento as [II'/!II'/,.'; on solapas,
cujo tecto constituido
pcla camada
superiol' mair,; resistente,
Oll quebram-se desaggregam-sn
cobrindo o t('ITcno de rochedos angulosos, de fragmellto~
illcolwrentes
de todos os tamanhos
e feitios.
~() leito do Paraguassl,
junto do Sto que precede a mina li direita, o grs em camadas mais tenues (.
inclinadas de terca de :30" i:5obre o nirel do rio, forma
um parcdo de dcz a doze nletros dc altum simulando
urn monto dc pranchas
superpostas;
na margem opposta, porem, ohsel'Vam-se camadas mais espessas qm~
se dcgradam e se desaggregal1l Clll forma de pedestaes,
ou tin~indo os degraus de uma escadaria gigante.
Em outros lagares, como no valle do Mucug, pouco
ao sul da villa de Santa [sabel, o desgaste
da roeha
deixa. por vezes nueleos resistentes
em forma de torres
ou de pilares, em euja estructura
se podem descobrir
DA CHAPADA
DLurA:\TI:\A
1;) 1
as eamadas alternadas
do grs, do conglomerado,
e lie
um grs molle corn a apparcncia
de limonito .
.\lassas corro idas, follJetadas e l:urvas, ahi simulam
figuras as mais curiosas, ora. cascas de ovos gigalltcscos
qnebrados
e espalhados
a esmo, ora abobadas partidas
ou tectos anuinados.
Numcrosas
so as eavernas e sumidouros.
O grs da Chapada Diamantina,
talvez referido ci
idade terciaria, experimentou
grande perturbafLO que
lhe alterou a disposio das ealnadi.s, fazendo-Ihc
fraduras e sublcvando-o
em grande extenso.
As linhas
de fraeturas
mais
ilnportantes
so as cia direc(:iio
.\'. ::\TO., que dcterminaram
li formafo
da alla psearpa
que quasi todas as serras aqui apresf~lltall1 na sua vertcnte orcidenlal, (~ fizeram inclinar para ENE as (~all1adas ou stratus qlW mergulham
("om U/l1 anglllo riP ~;)'
a 30" sobre o IIorizollte.
\'a Scrm dn Sineol'ii e lWS duas eonlillleiras
que
lhe eorrem parallelas, esse o syslema (h~ deslol:anlenlo, que assim abrange grande parte das tCl'ras altas do
lado oren tal da ba('ia dn S. Franeisf'o, no !plTi!or;o bahia110, p segundo obse("\amos, e e~lalllOS informados,
lalllbem
se faz sentir no lado occident.al, ao nort.e do parallelo
do C!'lllll, pl'Cllongando-se para alem do ('io nrallde e do
seu f1luellt!' rio Pretn at ao Piauhy e ao Marallhi'o.
~a ,ulI'fWIl!ado COlllllI('/,O de 1<'6/'a,na rocha ahi sublentda est. bem exposto esle s~'stema de desloeamento.
As camadas de grs duro, aVPlllellwdo,
aprcscnLUIl-sp
quasi horizontal's
na escarpa
voltada para os
!/el'({(~'>; ao poente,
mas nas faees que margeLun
referida gar~allta, a r'lI1l1O de leste ou Iest-n()rd!~ste, ao entraI',
as (~amadas mcrgulham COlli um angola proximalllente
de ao'. :\To valle do :\lucug observamos as mesmas eOIldies sl1'ltigraficas n'uma das torrcs Oll pilares, deixados na plallil:lc por elfeilo da eroso.
:\0 conglomerado
prevaleccm as mesmas condies,
pois que essa rorha formando baneos espessos, e eonten-
DR.
TH~~O))OHO
SA:lIPAIO
do seixos gralles elltre si ligados por um cimellto "ifreo, e partindo-se com fraetura dos mesmo seixos, est
de fado subordinada
grs.
Hegressano cia. mina, obtivemos
dos seus propl'letarios uma colle~o das rochas que costumam acompanh<J.r o diamante, e que aqui se consieram caraderi.;tieas: o carlJOnato, a torra que um meio termo entre
o carbonato
e o diamante, os {eijiles ou seixos miudos,
pretos, lusidios com o aspecto do feijo preto, a paBw
d'a,TOZ
constituida
por pequenos
fragmentos
de ullla
roclm,
branco-amarellada,
com o aspecto da casca do
arr")Z, o e.<mwrU, constituido
por pequellOs gros escuros de fenos Utanado, c p~Tites de ferro.
Pela tarde estavamos de volta Santa Isahel, rcgre.;sando pelo mesmo caminho. Do alto da chapada,
a (avalleiro sovre a milla, "irnos ento os altos e aprumados parediles
que se f'stendem
para baixo della,
soc~a\'ados
p el>iados de pontas
onde ousados garimpeiros ou faiscadores rahal/HI III nas suas {jl'llpiftl'((8,
e mais
Il isl a n les, dom inundo os abpmlOs do GanJlIto em que CI
ro se engolpha e quasi que de,;appareee,
os allos cimos
da ..;pna da GotiJ/f/uilJa,
prolongamento
da do RIIl}Jrt/'erindo, Iluminados
pelo sul, c ('omo que assignalando
a aresta mai" alcvantad.a desta regio aspel'a, triste, ('
qu:si
despida de toda n~geta\o.
DA
CHAPADA
D1A!lIA:\TIXA
CAPITULO
VIII
De Sa.n.ta. Isa.bel a. S.o Feliz
A 17 de ./aneiro de 1&:;0, pela manh deixamos Santa Isabel, subindo pelo valle estreito e pedregoso do rio
Moeug na direco do sul, para ganharmos pelo caminho
mais directo, atravz das serranias do Sincorl, e dos gera(!8 alti to vastos
e desolados, a estrada geral do scrto,
(lue liga a villa do Rio das Contas 1 cidade de S. Fcliz.
Deixavamos
assim o caminho mais frequentado, que
margeia o Parag'uasst', depois de descer a seITa do Emparedado, e procura aquella cidade, para ent.ranharll1onos n'um n~rdudeiro deserto, humido pedregoso e triste,
spm habita.ntes e sem recursos, pelo simples desejo de
estudarmos
esse trecho desconhecido dos sert.es ba/dan os.
Penetrando
nessa regio a.spera, 01H11) o rio Una tem
as suas principaes cabeceiras, e desviando-nos
das margens doent.ias do Parguassl, nutriamos ainda a vaga eslwralla de verificarmos na paisagem local aquellc asped.o dc ruinas aquella derrocada dos montes, que deu aos
primeiros viajantes destes sertes l illuso de uma gmnde cidadc abandonada,
de que tanto se fallou em outro
tempo e busca da qual andou errando por cstes montes o Conego Benigno .Jos dc Carvalho e Cunha, para.
esse fim comlllissionado
pejo Instituto Historieo pelos annos de tR41 e seguint.es.
Durante cerca de trcs horas percorremos o valle do
Mocug, passando por entre os garimpos ou lavras diamantinas
mais ou :nenos bem apparelhadas,
e ent.rando
nos campos geraes visinhos da serra da Chapadinha,
rontnuamos para o sul, ao longo da margem esquerda do
Hiaeho, Ulll dos mais importantes
aflluentes do rio Gila,
scn[to o proprio Una na sua nascente pl'incipaL e pelas
DH.
TIfEODOHO
S.UlI'AfO
sei~ horas da tarde alcall~amo8 o nosso pouso cia. lapa

a l\Ja.xambomba, no alto de um calwo pedregoso,
no
meio do campo c aoitado de ventos frios que ahi SO)H<I",U1 rijos e humidos ..
;\o havia ali viva alma, Pelo hU'go horisonte por
onde a vista se extp-ndia sohre os eampos desolados at
ao p das montanhas
nas, distant{~s, n[o Sf~descobria
uma arvore, um arbusto. ;.io St' cneontruva para actender fogo seno a palha humilla dos ehareos e o estereo
do gado que por ali passou, havia tempo.
A Japa, que 1I0S devia abrigar por Ilma noite, era UIIl
simples socav[o por baixo de uma enorme lage de quartzilo vermelho plantado
obliquamente
no alto da collina, e com a abertura voltada para o nascente, donde nos
SOl/'ilVa incessallte o velllo,
No foi possin~l conciliar o somuo nessa ('averna humida e fria, invadida pelo fumo da fogueira que tinhamos
ac;elldido elll frcnte, queill1lIldo a maef'ga e o l'stI'Ulllf'
de gado, invadina por uma quantida<le de ratos, qlle nos
saltavam por cima, roiam os alTcios e f'stragavam-llos
Of:' mantimentos.
;\ as paredes da (~a,'el'lltt "ialll-se, desenlwdas tom ti nta vermelha, umas figuras, um tanto apa.!'<ulas, imitando
animal'S e o homflm, outms torno all2,u'i",mos ou signaes
usados pelos \'aqueiros
para marear () gado. l{peordcime ento das iW5(:rip(;es cntontradas
na refpl'ida (;idad(~
ahandonada,
de que trata um mallllSlTipto existente na
bihliotbeca
publiea
do Rio de .Janeiro e publi;ada:,; \lO
tJlmo primeiro da Revista do Instituto Hislori(~o, e retonllCci a perfeita scmelhana
dos taraderes
que linha <
lrinha vista com os das eitadas inscripics. ~o estara
ali a chave do l'nigllla'~ :'io estaramos ns no proprio
s tio em que leve naseimento
a lenda da eidade ahandonada ~
1\0 dia seguinte, pela manh, logo que as nevoas se
dissiparam
sobrc os montes, e emquanto
o nosso guia.
procurava nas baixadas os animaes, que se afastaram du-
DA
CHAPADA
DlAMAi\TI:-<A
rante a noite, procurando abrigar-se dos ventos frios, puzme a observar o horizonte a ver se deseohria LlOS montes
e nos valles, at onde minha vista aleanc,;ava, alguma.
cousa que se assemelhasse
a ruinas, as lascas de pedra.
levantadas
simula.ndo paredes, pilares ou columnas, os
hoqueir()es ou trombas fingindo porticos ou entradas, as
eumiadas da sClTa eriadas de grandes penhas em que
brilham muitos cristaes, os signacs caraeteristicos
de
que falla a rel,u<o dos aventureiros
de t7i3, a respeito
da cidade ahandonada.
);ada, POI'f'Ill, descobri que justifieasse
no terreno a.
possihilidade
lie ali ter existido em tempos prehistorieos
UIll centro de populao
qualquer. Viamos ao redor de ns
11'11111 raio de tres a qllatro kilometros,
o terreno ondeado
do campo, aqui e ali retalhado mais profundamente
pelo
leIto das torrentes Ilumerosas. No alto das tollina::;, como
a que oceupavamos,
pcrcebia-se o /llesmo afflonunento
da rocha, e as mesillas lascas, de pedra levantadas,
as
quaes s por um esfor~,o de imaginao se poderiam tornar
('omo ruinas de palacios 011 de cidade desapparecida.
:'<Ias 1l10ntanhas ao longe, tom as suas encostas
mas,
asperas,
onde se pertChcm distinetarnentp
as grandes
linhas de estratilicaiio
pouco desviadas da horizontal,
no \"i os crisLws relusentes,
mas os reflexos do sol
solll"e as lages humedecidas
pelas agnas que vertem do
alto, renexos qlW nmguem confunde com o reluzir clos
cristaes e as pedrarias de valor. ~os estratos ou camadas
sLIccessivas sobrepostas,
aqui e ali retalhadas
ou interrompidas pelo suleo das tOlTentes, ningllem que no
esteja com a imagina;<lo dominada
pelo mara\'ilhoso,
poder \"er a>; linhas artisticas dos entahlamentos,
das
eornijas de monulIlentos
derruidos.
Tudo ali se V(~ ao
natural, exposto com toda a sineericlade inexo!'avel d,t
natureza.
Divisei, porem, no prolongar dos montes as tromhas
lIumerosas, isto , as aberturas
ou passagens, tomo se
foram l.ne('juls feitas a talho, e para melhor guarar a
DIl.
THEODOIlO
~A:lIP.\I0
disposio dellas tomei o men lapiz c desenhei o perfil

da ",erl'a fronteira a ns com as Sllas intclTupes,
os
seu ~ alcantis, e as suas linhas de estratificao
bem
expostas.
As hypotheses
e conjecturas
do Conego Benigno
l:;obre a relao de 17f):3 tinham-no
fcito localisaI' a
len(laria cidade abandonada
nestas paragens quc estamos
des~re\'endo,
entrc o rio Paraguasslt
c Una, proximo da
extremidade meridional da Serra do Sincont, qlle tnhamos
em frente.
H.esllmamos aqui o que to prolixamente
se contem
na dita relaiIo dos aventurciros
de 17;-)3.
Depois dc dilatada pcregrinaio por este \'astissimo
serto, it busca de oum, descobriram os taes aventureiros
UIln cordilheira
de mOIltes to elevados que pareciam
chegar rego elherea c servir de throno ao vento e
s mesmas estrellaR. Approximaram-se
sem diftlculdade,
ma;; no acharam COIllOaccometter esh~s Alpes e Pyrcneos
Bn.zilicos.
Aharracaram
perto, j com o dcsi.1:nio de
retl'oeedel', quando succedeu correr um negro. andando
a l.mb;t, e \lm veado branco, qlle veio a descobrir por
est,~ acaso o caminho entre dllas serras qlle pareciam
cortada,'; por artificio e no pela natureza. Galgaram 0,'1
montes por este caminho achando mnita pedra solta c
amontoada qlle jlllgaram
ser cal<;ada desfeita e cristaes.
No cllme do monte fizeram alto e, laiH;ando a vista ao
redor, divisaram cerca de legua e meia uIlIa povoao
grande, que lhes pareceu pelo dilatado
da fignra ::,;er
aigu ma cidade da crte do Brazil. Des<:eram e mandaram
exploradores.
os quaes depois de muito custo lograram
introduzil-os
na encantada
eidade por uma entrada com
tres arcos de grande altura, sendo o maio}', o do meio no
qllal se divi~avam letras qlle se no poderam copiar pela
grane altura. Entraram
n'uIlIa rua larga com casas de
sohrado de uma e outra parte com fl'Onteiras de pedra
lavrada e j denegrida, uniformes como se foram uma s
propriedae
de casas com os seus terrados descohertos
DA CIL\PADA
Dl.UL\:\TI:\A
e sem telha, porque os teetos silo de ladrilho requeill1itdo::>

lins e dp lages outros. Examinaram
varias edificios
com interio!' escassamente
illuminado, os teetos em abobada onde o cello resoava de tal modo que as mesmas
"ozes atemorisavanl.
Chegaram a uma praa r('gular com
uma columna de pera preta de grandeza extraordinaria
c sobre ella uma estatua ele homem ordinario, com lima.
mo na ilharga esqucrda e o brao direito estendido
mostrando
eom o indice o polo do Norte. Nos angulos
da praa estavam agulhas
de pedra ("omo Ilsavam os
Romanos, algumas porem j maltratadas
e partidas como
feridas de <llgUllS raios. Ao lado direito da praa ficava
um soberbo editieio como casa. principal de um senhor da
ten'a. Sobre o portico principal da rua. da-se uma fgum
em relevo, t:lIhada da mesma pedra e despida da cintura
para cima, coroada de louro e representando
pessa imberbe e de pouca idade, corn urna banda atravessada
e
um fnH1<olim pela. cintura, Por baixo do escudo da tal
figura viam-se alguns caracteres j gastos com o tempo.
\'a face esquerda da praa estava outro edificio em
ruinas que pa.recia ter sido um templo. conservando parte
do seu magnifico frontispicio
e algumas naves de pedra
inteira, occupando
grande extenso de terreno e mostrando nas suas paredes arruinadas
obras de primor com
algumas figllI'as e retratos
embutidos
em pedl'a, com
cruzes de varios feitios, cravos e outras miudezas. Para
alem desse edificio estendiam-se as ruinas cie uma grande
parte de po"oa.es sepultadas
em grandes e medonhas
aberturas da ten'a, sem que em toda essa eireumfcrencia
se visse herva, arvore ou planta produzida. pela natureza,
mas sim montes de pe(lJ'a, umas toscas e outras lavra.das.
Defronte da dita praa corria violento um caudaloso rio
de onze a doze bra.os de largura, quinze a deseseis de
profundidade,
sem voltas considcraveis
e de margens
limpas de arvoredo e troncos que as inundaes costumam
frazer. Da parte d'alem tudo eram campos mUlto viosos
e com ta.nta variedade
de flores que parece a.ndou a.
DH.
TIIEODOHO
~A:\II''\TO
natlll'cza mais cuidadosa por estas partes, fazendo produzir os rnais mimosos campos de Flora. Admiraram tambem
alg-IIm.Is lagas todas cheias de anoz, do qual se aproveitaram, e tambem os innllmcraseis
bandos dl' patos
que se criam na fertilidade
oestcs ('ampos (' que se
ca<;avull mo. Tres dias ~aminharam
rio abaixo ('
toparll.m uma catadupa de tanto estrondo pela fOI',a das
aguas e resisteneia no logar qual o niio faziam maior as
boeas do decantao Nilo. Depois deste sallo espraianl-se
de so 't.l~ o rio que parecia o grande Oeeano. A Oriente
desta catadupa
havia varios subcav(lcs
e mcdonhas
CO\,1S insondaVl~is, com muitas
pedras soltas ao lado,
Cl'ava Jas de prata. na superficie, como se fora.m rctiradas
das III inas e dei xadas ao tcm po.
F ntre estas fumas uma haviacoberta com uma grande
lage e com figuras hvrudas
na. mesilla pcdra, que
insinuavam
grande mysterio ao quc parece. Mctteram-se
depois os avent.ureiros a lavar as aras do rio por descobrir
ouro e sem t.rabalho acharam boa pinta na superlicie da
terra. assim clesse met.al como de prat.a. Havia no lagar
das ruinas muitos moreegos, andorinhas,
ratos c raposas.
Os rat.os tinham porem as pernas to curtas que salt.avam
como pulgas c no andavam, nem corriam como os de
povoado. l~neontraram moeda de ouro de forma espherieu.
com ullla imagem na figura de um joven post.o de .iOf~lhos
de lima part.e e da out.ra de UIll arco. lima COI'la c
u ma seUa.
Deste logar alguns dos avent.ureiros, fazl'udo viagem
dep(.is de nove dias de boa marcha, avistaram
, beira
de una grande enseada que faz um rio, uma ~ana com
duas pcssoas
branca.s c de cabellos pretos e soltos,
vest.idos Europa.
At aqui a narrao dos aventureiros
que segundo
ti m :Sll1a relao de t 735 foi escripta e expedida do serto
da 3ahia e dos rios Para-oat e Una, narrao que pelo
COlLexto se v que imaginosa e mui provavelmcnte
escJipta em epoca mui posterior a ln5, por algum viajante
D.\
f:H,\I'ADA
DI.UL\:\T1:\A
159
sonhador
de maravilhas
ou por algum mineiro ocioso
que, . cata de diamantes,
percorreu as terras altas do
Sineor, e as naseentes o Una.
O theatro de tautas maravilhas de facto cscl'ipto
tom tal ou qual vcrosimilhana
que admira. Aqui so
os mont.es elevados e os campos despidos de vegetao
u'borca, ao rcdor delles; aqui as tromba::; 011 quebradas,
qlle (l<le passagem dfficil por entre pedras soltas; aqui
se veelD as furnas ou lapas, cobertas com umas grandes
lages e tom figuras pint.adas na mesilla pech'a, figuras
dentieRS is que se desenham na ttada relao; aqui se
encontram,
nos tampos, ratos em grand(' numero refugiados lias fumas,
no ratos de pemas
curtas
que
saltam como pulgas, lilas verdadeiros
e importunos
roedo/'es que ning-lIem explica tomo vi\'em e se multiplicam
nesses CI'lHOS.
Daqui, da lapa da Maxambomba se avista no muito
dist.ante a quebrada
da sen'a pOI' onde se atravessa
para o povoado do Sineor, juneto do qual cOl're o I'io
do mesmo nome com grandeza e a~pecto que na dita rela~~;1ose lhe d, com a sua catadupa e nmrg-ens limpas, os
seus campos, e em CPltOS logal'es com as margens talhadas
em rocha oude se vcem eavel'l1as e subcaves.
Daqui
com cerca. de nove l dez dias de marcha e por caminhos
lanados entre os rios Sincor e Paraguass
se vae a
S. Felix ou a Maragogipe, ci beira de uma grande enseada
que faz um rio que , por fim de contas, o meSl110
f'araguassl.
No ha duvida que o auctor da relao de 1735 teve
sob as vistas estas paragens,
est.es tampos
altos da::;
cabeL:ciras do rio Una, nas abas da serra do Sinconi,
quando a escreveu, embebido de certo das lendas muito
em voga nestes sertes, onde se ouvem estrondos e estampidos mysteriosos,
o cantar do gallo nos sitios escuros
em que ninguem jamais penetrou,
e perdura
ainda
a tradio das celebres minas de prata de Roberio Dias,
como um thesouro escondido que debalde se procura.
uo
nH.
THEOOOHO
S.\~IPAIO
Deixamos a lapll da ~Jaxambomba ainda cedo pcht

manh, de~cenflo para o valle profundo do Riacho que
depois de uma grande cuna, se nos atran~ssa por diante,
c, .1 passo vagal'()so, por caminhos
(lessimos,
dando
grlJ ndes n)lta~, errando a miudo, passamos o rio para.
a outra margem, pouco acima da confluencia do rio da
Gjl)oia que tinhamos pefl~orrido pela direita, e cortLtldo
maltas com excellente madeira de cOllstnlc<;o, fomos
ainda passar o rio ~locugsinh(), atlluente da dircilll do
Riacho, para akan<;armos, ji.l pelas seis horas da larde, o
silio do ~'1undo-N'ovo, um ermo nabase da Serra do Sincon.,
onde conseguimos pousar.
No outro dia s depois das quatro horas da tarde
que ganhamos a estrada real do serto, de que nos
apartaramos
na Fazenda do Gado, i margem do rio de
Contas, para fazermos o largo circuito
pela ehapada
Diamantina
que acabanunos
de visitar.
DA
CHAPADA
DI.UIAXTIX1\
CAPITCLO
Hil
VHI
De So l:za'bel a S.
Felix
Uma vez na t;stl'ada geral que leva a S. Felix e t.

Bahia, estava de facto terminada a nossa travessia pela Chapada Diamantina e finda a nossa principal misso nestes sertes. Faltavam-nos porm ainda limas
sessenta leguas para ganhat o littoral, e a fei~o topographica da regif"LOque se seguia, mui imperfeitamente
conhecida c geralmente mal representarla nos rnappas,
inspiraram-me o desejo de examinar essa parte do serto entre os rios Paraguass e das Contas, e de perseguir, eomo at ento, os estudos que vinhamos fazenrio desrle as nHll'gens do rio S. Francisco.
Fomos pousar no pequeno povoado de Giquy, situado i margem direita do ribeiro rio mesmo nome.
affluente do rio Una, logarejo formado por umas cinco
oil seis hahitaes pobres e uma capella, i margem da
estrada gera/.. Deste ponto ao ~fundo ~ovo, onde po usaramos no dia antecedente, ha tpenas duas e meia le.was, e pouco mais de tres i freguezia do Sinconi, atravessando a sena do mesmo nome, pela }H~irado
Carrapato, famosa ent.re os sertanejos pela sua extenso
e pessimas condies de trafego.
Cedo pela manh, despedimos o guia que aqui terminara a sua misso e que obstinadamente
recusara,
l'peeber de ns uma pequena gratificao, que eHe bem
met'ccera, mas que o seu patro, o capito .Joaquim
Ivlanoel Hodrigues Lima lhe recommendara de no acceitar.
Era mais lima, gentileza deste estimado cavalheiro,
que em Santa {zabel nos hospedara durante alguns dias, nos proporcionara todos os recursos de que carecamos, e que tinha ainda. a peito dispensar-nos os seus
II
llll.
THEOJ)OHO
S,\:\II',\[O
obsequias at aquelle ponto onde nos deviamos adIar

110 h.>m caminho.
Estrcvi ao eapitfto renovando-lhe
os
meu!' agradeeimentos,
dando-lhe tonta da nossa viag-plIl.
dos bons seI'Vi~,os que o guia nos prestara e qne, por
obstinada
recusa do mesmo, Il:iO pudemos gratificar .
.\ hospitalidade
seI'taneja tinha de facto lia pessoa
do capito Hodrigues Lima um dos sellS mais :enuillos
r(~prtsentanles.
Por sell internwclio,
a hospitalidade
(uma virtude que ennobrece () que entallta:
enllobr('('('
e exalta a quem, eO!1lO elle to galhardanwllte
e to
llf'rfei t anlPntl' a praticava:
eneall ta e ('a pli vil a ti Ul'1Il
com,) lIS a recebiamos.
Por muito tempo, hon;'OlHlOs (',Ollla SlIa amisadp o
SnI'. Hodrigues Lima escrevendo-lIOs muitas \'pzes e procurando informar-se
de ns e dos l'f~sLlltados da llossa
viagem. Procurei cor['(~sponder a tantas \1l'ovas de ('stima I~om uma gratido sint'el'a e como a lembrana
illdel('vel dos heneticios I'(~cehidos, os quae:,; ainda uma
vez aqui rccordamos
a~radecidos.
Pelas sete horas da manh, com lima temperatura
det:r'
centgrados,
poi:; e:-;tava mo:-; no aug!' do vero,
partimos do Giqu~', pela estrada geral a l'lima de 1101'deste, pa:-;samos s H homs pela fazenda do Cobreiro,
distante uma legua, e s ~) horas o povoado da Lapinha com uns cinco moradores em torno de umas eabe(:eims. Deste ponto em diante, a estrada comea a dedinar para o leste e les-nordeste
por entre mattas frondosas e extensas que, segundo fomos informados,
v{~m
das partes do sul, atra vpssalldo o rio de Contas, o Para~~uass, e prolongam-se
alm na diree<.:.o do norte.
Nestas maltas, viamos a mido grossas
madeiras,
tnneos robustos e Iinheiros das melhores essencias, de
20 a 2;) metros de altura, predominando
o ip, o pau
d'olio, a bicuhyba,
o cedro, a eangerana,
a arueira, o
oity, o hndim, a peroha, o pau d'arco, o Gonalo Alves, a sueupira, o potomuj e variedades
de canella ou
lOUI'O.
D.\ CI-L\P,\IJ.-\ DLDU:\TJ:\.-\.
I (;B
Cerca do meio dia, dwgamos ao povoado das Aln~a:,;,

-onde !ta umas eem ha/Jita<;es f\Spal'Sas, muitas )'oas dt'
mandioca, milho e arroz liltS visinhall<:as de llllla peqllena lag<t pOllCOpl'ofuna e qlle serca quando as chuvas escasseia!!!.
Do Giquy at as Aimas uftO }a mais que cinco leg'uas, pela mI' part.e at.ravs de mat.t.as de muit.o bom
uspecto, e Ila linha de diviso dai'; aguas do Paraguassl
e do rio das Contas. Por esta razo, no encontramos
rio algum nesse t.rajecto, e Wo sonwnt.e, nas baixadas
e tabeepiras que iamos confront.alldo ora < direita, ol'a ci
esquerda, alguns bre.iaes, ou lagoas razas e alg-lunas
nuscentes insignificant.es. Mas, apc%at' da escassez d'aguu,
a regio impressiona
bem pelo cameter' da vegetao
{JIll' a reveste.
O solo, em que predomina o barr'o vermelho fertil, como bt'1l1 se reV(~la nas pequenas
eultUl'as quc di,'isamos da estrada.
Sob () manto de argilla mais ou menos espesso que
a maUa vig-ol'osa encobre, difficil/llente se pcrcebe qual
a natureza da rocha subjaeente. Na estrada, no alto das
ladeiras, amaram ycios de quartzo (;om aspecto de pederneil'1l, e, por vezes, se deseob)'(~m frag'menlos de pedr'a caJearea, rocha q\le segundo
nos informamll1,
muito abundante
no valle do rio Clla, ondf\ a f'xploram
para o fahrico de eaI, usado no Jogar f~f'xporlada para
outros lagares do serto,
~as Almas vi, empregado como lage para passeio,
I1Ill sehisto
calcareo mili ::wmelhallte ao da Sf'ITa do Brejo
do Sa.lgado, proximo da .Jalluaria, de er CillzPllta-J'oxeada e lI1ui proprio para eOllstl'uc<;es. Extrahiam-no
de
uma pedreira dislant.e uma legua para Oeste do povoado,
e contirmaram-me
ellto que rocba mui abundante HO
valle do rio Gila, o qual parece ser uma bacia ealcarea.
No dia 21, pela manh, sahimos dai:; Almas, a rumo geral de le:s-nordeste e percorremos cinco leguas, atravs de maltas, at o povoado dos Olhos d'Agua de
Cima, onde chegamos s tres horas da tarde.
DH.
TH~ODOHO
SA:lIPAIO
o aspecto da regio o mesmo, a mesma estructura, it ml~sma vestimenta

n'getaJ. A populao l~ por~\ll
mais numerosa. Os povoarlos, fazendas e moradores
sfio
mais frequentes
e mais extensas as culturas
ao long'o
da estrada, :\a Lagoa Comprida, nas l:mhuranas
e no
Saloho, lugarejos que vamos atravessando,
as plantaes de (;Creaes ao redor das habita<,;es tem um aspedo r;(lnl1o e do ideia de uma fertilidade e de um belI1estar c,)mo em t.o largo trado desses :::Cl'tes nilO t.inhamo __observado.
Nas visillhanas
do Salabo, pOlleo antes de~sc povoado apparece na estrada o granit.o, rocha que se vae
tornando predominante
medida (ue nos approximamos dlS margens do Paraguass.
Os motTos, como cabeos isolados, tornam-se
ento mais nllIlH~rosos e alguns levantam-se
certa de 200 melros sobre o nivel das
tenas clIja altitude (~ de mm metros na povoao de Olhos d'Agua.
!\'este 10gaI' que um pouso de trop(~iros, (~()m UllS
eineo moradores.
foi-nos mister trotar d ullinHleS, pot'que os nossos ja no SIlpportavam
mais a viagrlll. Fiearam em misero estado, depois que dt'seeram da Chapada e pelletraram
na regio oas mattas.
Contraetei
eom 11111 Oj)riro elo logar o \'f~sto da viaw~m, t'O\'lWCf'Ildo elle os animal'S e sen'indo elle mesmo de f2.'uia, rccebelldo porem em troca os nossos quatro
muares estropiados que, para servirem, earetiam dI' um longo tratamento,
que no lhes po(liamos clar, pois que antes
do fim de ,Janeiro devamos estar na eidade da Bahi;~
Ha l,assag:em da Commissio 110 seu l'ewesso para o l{io
de ,)alIei
\'0,
Apesar disso, desejando eonhe'cer

terl'ilorjo entre
o Paraguass
e o rio de Contas e as terras altas do
municipio de Maracs. qllC daqui avislavamos
ao longe
como uma extensa chapada, resolvemos deixar a estrada ~eral que margcia o Paraguassl
f', pOI' uma
lravt~ssia poutO frequentada,
fomos bmwar no rumo d~
(I
IL\
CHAPADA
DIA"'lA~TIS\
::>ueste a estrada de Caetit a S. Felix que passa em MaI'acs.

Nestes aprestos, gastamos cerca de meio dia, }Jor{lue s 110 dia seguinte depois d(~ 1 hora da tarde que
sahimos dos Olhos d'Agua de Cima, atravessando
mattas, pOl' um terreno seeco e de::,;habitado, at a fazenda
do Bom .Jesus, na base de sert'a do Lambar ou Embar, cinco leguas e meia a sueste.
O trajedo
at aqui atravs de Ulna regio granitiea o por sobrc o lombo do c1\'isor das aguas,
Ilada
tem de importante.
E' UIll deserto, onde o gado raramente app<lI'ece c que se sabe percorrido
pclo gado,
porque se dcscourc nas haixadas o rasto da rez de vereda para aguadas 10llgillqU<lS e l'aras.
Xa fazenda do Bom Jesus, junto serra do Lambar ou Embar como lambem
se denomina
aquella
corda de morros, estendida do Paraguass
ao rio de
Conlas, estavamos outra vez nas vertentes deste ultimo
rio. A vereda, que vinhamo~ trilhando at aqui, sc!;windo pela linha de diviso das aguas dos dous \<lIles, e
pouco se desIiando
della atravs das illnumeras
cabe~eiras dos rios temporarios,
que, ao norte, viio ao Paragllass e ao sul ao rio de Contas, tinha descido para
o valle cio l'o .Jacar, cujas nascentes (IUalro leguus a
oeste, nas alturas da,,:; Almas e Umbllranas,
se assignalavam ao longe por uma linha ondeada no fundo azul
do horizonte. Estavarnos
n'ullla regi:1o dt~ aguas escag~as, onde OH rios seeeam a mr' parte do a!lIlO, e as itl1I1111leI'aS, peqllPllas
lagas, razas reduzem
cada dia o
sell ambito ao influxo dos calores estivaes,
ou desapparecem de todo, substituindo-se
pot' Ulll lallleiro extenso
que o gado sequioso visita de continuo, busca de um
refrigerio que no dura llluito pOI'que a insistencia
da
alta temperatura
reinante acaba por converter o sitio
da antiga Iaga num terreno fendido e quebrado, donde
a humidade desappareee
c COtIJ ella o gado e as aves
aquaticas CJuej;:l agora procuram paragens menos ingratas.
1lj(i
H, 1'11EO})ORO
SA~IPA lO
Apc,al' da yisinhan~,a. da s(>rl'a a fazcn(la do Hom

.Jesus to seeta e falta d'agua eomo o traeto do trr('itorio de cinto le:uas que aeal>avamos
de atm"essaI'
desde o~. Olhos ('\gua elp Cima, Isso dava uma nota
triste aO aspetlo da paisagem que, um tanto pittOl'es('o wla ysinl afl<;a dos montes, pelos muitos serrotes l:!1'anit(:os
quI' se e\'(ntam do seio da. vasta planic(~ ao norte e
noroeste, pal'ce(' 11m deserto sem "ida,
Olhand(/-sr para a sena ,,sinha, eujas erl('ostas rptalhada:.; e cobertas
de lllattas,
tem a sua hell(';f,a d(~
('ont l'as Lr, sen ll~-se a illda. a. m pressiTo de llll! tprreno SP('CO
qlle ali;s as roas r plallta<;es,
aqui mais numerosas,
pam logo dissipam,
A ~~eJ'l'ado Lambar (~antes a margcm o(:('ielental d(~
uma larga
chapada
que das proximidadcs
do littoral
s(' ('s-
tende l.ara (l serto, do li ue o dorso 'pr'oll u neiado e u lila

serrania que se illterpozc~se aos rios ]>artlglHlsSl e das
COlltas. Essa margelllfla Chapada, que del1omiuarl'llIo:,; (Il'
JIr(rac:,';. pOl'qur no alto d 'ella esll il prospera , lia. tlpst l'
nome,
(:Ol'l'e muito
prOXill1alLf'nte
dc norte
a Sill. dpsdl-'
o logar PalIlU(8, na margem direita do P(lI;agllas~\ onde

se int1eete para leste, at a margern esquerda
do rio
de Contas onde dedina pal'a snes\(\ ao longo deste rio,
estendendo-se
pelo .1r.qui, em dirpco < sua barra,
A :\w.pacla (~ lal'ga, rctalhada
superiol'lllenle
pelos
rios (, ritwil'os do alto Jiquiri, que Ilella tem as silas
fonte';, attingindo
ern algnns pontos a mais de lOoo m(~tros rie altitudc, eomo rm ;\laras, As prosperas lo,'olll'aS ce Amargosa,
Areia, Caprlla
:'Ioya, onde se cultiyarn o fumo e o caf (~sto Jwlla situadas, Pela sua extensi'l tambem
denominada,
no logar, .
'-;/lITU Gentl.
I<:starnos
nUllla
rrg-io
granitiea,
xa sena a roeha predominante

e na vasta planieil' qne se estende ao !lomeste.
coberta de maUa,
deshahitada
como um descrto, aimla () gr'anito leyanta
cabl'os ou serl'otes como ilhas dispersas
no meio de
um mar "ertle, So os sente~ dos Olhos (l'Agua, o mor-
])A
CHAPA])A
DLDL\:\TI:\A
Jj
da Forll1osa 3 leguas ao nortc do Bom Jesus, o dos

Dous Irlllos, o da Laga da Pedra, o do Caeh e o da
Vaqlf~1l1noce, relit'ado uma legua do Paraguass, que daqui se deseobt'Cnl, concorrendo
paTa a belleza da paiz;g'(~IlI,
De Bom .Jrsus villa de Maracls, a l'IHllO de sucsll'
tendeudo para sill, ha eirwo legllas de IlIUIlS euminhos;
galgando ladeiras pC'rigosas da sena, atra vessHndo pelas
fazendas de S. Gonalo e de Gamcleira, Uliltt legua distante, onde se tonle\~a " subir, e pelos Furados, no alto
da serra, Ilma legua alem, onde se encontralll
umas lagoas, e caldeires entre lag-eelos, veredas
e caplles de
maUo e se desce UIlI pOIlCO para seguir a Marais, atravs das fazendas da 1'aba e da lagoa do Barro.
No tOll\amos
essa
direeilo ao deixal'lllOS
o BOLli
.Jesus no dia 'la pelas li t horas da Illarll, seguimos
som8n!.p at Gallleleim,
na hasp da Sp.rTa, e rlahi, to1'0
mando
zenda
trilho a l'UIllO tie nOl'des',

fumos 1 fada FUtIlaa,
no fnndo de urn pequeno .allp, ('011I
intnito
de Pllellrtar (amillho. A t{~ahi, fl'aldeamJo
ti SPITa.
\'inllillllOs
('llContl'ando sempre pela (>strada 11m t(>l'reno
qnarlzoso,
as camadas
levantadas
de mirasdlisto,
(-'
Flllldr~s blocos de nlll g'ncis-gmlitico ~obl'e enOl'II\(:'S agcados da mesilla rocha, u qnal se desgasta e se deeolllpe pOl' eulIad;s tenues, como que dp.scaseando pOI' effeito da a('<;o !lIrteorica, ou abre felldas profundas,
quI'
SilO os ('aldpres,
cheios d'agla de ('hura. I'(~sel'\'atol'ios
natl/raes ao alrarwe da populaTto
quasi SPlll])!'P atorment ada. pela seCta.
Ih'pois dl' nlll breve deseano na fawnda da. FUllIaa,
part mos daili pelas nove c meia da manh, na dil'e<'<,;o
dp leste, gaJrando a. encosta da SCtTa elll que gast<ulIos
(~erea de hora e meia.
Pelas onze horas, estavurnos no alto da S('l'l'il do
Lambal', (:el'l:a de 4-(lO metros
acima da Fumaa, Clll
ponto donde descol'tnavamos
um vasto horizonte, que ao
longe, para alcm da planicie il que antes nos refpl'imos
VHe mOI''el' <If> pneontro
is seITas do Sineol', do ElIlpapOI'
11m
OH.
THEOnORO
S.\:\IJ>.\IO
rcdado, da Chapada Diamantna,

e das terras altas que
se estendem ao noroeste, para alem das a!uas encaehoej'adas ,fo Paraguasslt. Na encosta que acabamos de vencer, 'lIolamos a lIIesma rocha grantiea, produzindo
por
decomposio
uma terra vermelha bastante produetiva.
Majas de boa madeira
ensombl'am o eaminho
ao
longo 1.,0 qua) as casas humildes rios roeeiros, as cercas
protegendo
as plantaes,
nos rcvelam ulHa regio propicia agricultura, onde a popula(;o ycm encontrar urn
refugio nas epocas infelzJll!'nte to re)lPtidas de PClIUria c cc miseria.
lJ tlUl hora depois, alcanamos o pequeno !HIVOado
do [>0'.;0 com as suas q\linze habitaes
toscas dispostas elll t.omo de Ulll caldeiro de pcdra q\le lhes fOl'llel:e
a agu:t aqui to escassa (~por isso mesmo to preciosa.
A est ,(llla, qu!' eonlinla a rUlllo de leste, nos ('onduz
atraY{z de \lllltelTellO ondeado, e rochoso, Illas bastante
(~uJtiv do ~eg:udo ~e deprel1ellde da~ tI U merosa~
pla nta()('s dl' nlilho, lIlilndiota e feijo que \'tunos PI1l'OI\trallf/o. O feijo abundava
notavclmente,
pois estava lIil
sua (stac,;.o propria, e o tel'l'plHl aqui parece prestar-se
mui j'avoravelnwllte
para (~s~!' ~!(mero de legumes.
lllformaram-no~
({lI(" nesse
alto dl' (hapada,
Ulll
I)/'(/l(;
(~om ~', 2 litros de f"<'ijfto semcados produz
COI1lInumllHmle1-S litros.
[ilia legua adiallte pas~alllOS :JIItro pequPllo po\'oado,
o de Agua Yerde, tom os sellS oito \'Sillhos, depois, a
fazellda do Quilombo, c, cerca de quatro horas da lardl',
entramos lia povoao do ;Vlorl'O, pequeno
arraial,
;
mar~el1l da estrada geral do sertiio, \(up )l'\'a a Cwtit
com as ;,luas trinta casas l:olwrtas de tPiha, um eommer('io animado com os tropein)s
c uma ppquena capella.
;\I'ull1a baixada l'Ill l'l'cnte, ficam as primeiras fontes d
rio .Tiquirit;, que ahi perto lIasce e corre por entre morros lia direCt;O de leste.
Paramos !lO Morro c('rra de duas horas, informandono~;, descan<;alldo um pouco para a nora in\"estida at
l
DA
CHAPADA
DJA:\L\:\TI:\A
1()9
a noite, visto tomo o nosso guia manifestava

repuRllalleia de pousar nesse log-lI' e, deseja,'a muito soltar os
seils animaes elll pastos seguros e mais fartos.
AeeedcllIos de bom grado ao seu desejo, tanto mais
quanto isso nos adiantava
de algumas
h~guas n'uma
travessia que j sentiamos ir se alongando
demasiado,
e j nutramos
o receio de no chegarmos ( Bahia na
epoca aprasada.
El'am nove horas e vinte minutos da noite, quando
ehcgamos ao logar 'l'l'CS Lagoas, onde earn difficuldade
logramos pousar, a despeito das r('laes de alJJizade,
eOIll que o I\OSSO guia tanlo contava. Quem ainda no
viajou o interior do Brasil no sabe o que sfio as desiluses e os desenganos
\lOS pousos ao longo das estl'adas, pOl/SOS de favor, que a ,'erdadeira
hospitalidade
no inlpe, Illas qLW se tornam obrimdos pela falta de
albergues, Oil de eslaheleeimentos
que explorem essa industria nas eOlldies regulares e usual'S do commercio,
satisfazendo
uma Ileeessidade indeelillan~l dos que frequentalll essaS estradas,
Ern 'l'l'es Lagoas, falta (h~outro reeul'SO, fomos
obrigados a pousar debaixo de um earro velho, lJue cobrimos tom uln i 1\1 pcrmea "eL t emendo
Il ma
borrasca
imminente, que por felicidade SI' dissipou.
])0 JIoITo
at aqui, a estrada agora mais ampla,
lItais frequentada,
tomo estrada
geral que , segue o
rllJllO de nordeste, passando pelo povoado dos Quatis
rOll! L1l1lasdez habita<;es espalhadas, uma lq~ua adiante
do Morro, e duas distante de Tres Lagoas que outra
eousa ne seno uma fazenda com os seus duze momuores disper,;os. At aqui tillltamos feito 1l0ye legua,;
tailladas
do BOllI .Iesus,
:\"a mauh (h~24. de J auei 1'0 pelas j e meia horas,
levantamos
o nosso al~alllpamento de sob o velho carro
que to uem nos abrigou, e tom a temperatura
agradavel de IR. ccntigrados,
tirito gros, menos do que na
regio haixa, 110 Bom Jesus, mesma hora, c prose-
DR.
TH~:OnOHO
R.UIPAIO
guim,)s vjagem t rU\l\o de nordeste, passando a fazenda

Formosa, ('.om llln morador (~ ullIa ycnda, duas le~uas
e llIeia adiante de Tres Lagoas, e, d\'poi::,; de hreve de1I101'a, segnimos
para o Riheiro do Salgado, povoado
('lIjo nome lhe vem (le um curso de agua insignitkante
que he corre ao ]H, e se vae la 1I(:at' a leste no .1 iqn iriC;lepois de banhar a villa de :\ marg'osa, d(~zeseis 11'.ruas distante.
:'0 Ribeil'ito do Salgado, paramos qllatro
horas,
rspera de que o sol abranclasse os seils rigores, l'ontil1uando a viagem s tres horas da tarde. :\Ieia kgUil
alm, na estrada quc contillua no rllmo de nordeste.
t('ud,) galgado Illnas eminellt;ias,
eOllH':alllos a a\'istar
por lima quebrada dos 1I101\tes, lia dir('(::o de 1\. L~l.'(),
scrr(ls que se prolongam quasi 1\0 IllCSlllO!'ll11l0 para alem do curso do Parag:uassl, e Illl(~ nos pal'Pl'el'alll as
de Ctrobl, cntre estc ultimo rio e o seu atllllt'ntc ,Ja(uipe.
mai~ ao norte.
~a Lagoa Pcch'a, po\'oado ('om UliS trillta lllorador('s, uma legua adial\tl~ do Hiheil'o Sal.rado, do alto dl'
lIll1 :1101'1'0.tornamos a dt':-worti1lar, )lor ('il\la da thapada
um ,'asto horizonte, ahrangendo
Hm solo 01l(leado, tOllert,) de rnattas. pelo mf'io das quaE's se distillguE'm Illlmel'Osas fazendas e sitios prt'parados
parl il l'ultma,
Cerca de seis e meia horas da tarde chrg-alllos ao
povoado das l\lamonas depois de atra\'cssar
UIII terreno
bastante habitado e tom Illlmerosas
plallta(,~(es dI' cereaes: no permanc(:elllos pOl'l~1l1ah, poque o guia a('\lou
quI' era mclhor ir pousar na fazellda das Tromhas, l\leia
legua adiante.
por b01l1 ealllillho. e tempo fres('o (lit
Iloitr, que (omeava.
Fomos, pois, 1H'l'IIoitar lIas Tl'olllhas. fazenda do Sr.
Clerncntino .Jos de SOllza, situada 110 sop de 1I1Ilserl'ote granitico, a beira da ('strada,
:'ia manh seguinte os (',Hnpos apparE'cel'arn abulldanterncnte
orndhados,
e a temperatura.
pelas cinco e
mei 1, CT'a j. de 2() I/~ (:l'lltigrudos.
debaixo de um cpo
DA CIUP.\DA
DfA:lU:-iTI:-i..\
171
nublado. Pozcmo-nos a caminho s seishora;; e <is nove

e meia deseiamos a encosta cia chapada,
entrando
no
povoado dos Milagres, oncle ti('amos at a larde.
O povoado constava d(~ \lns trinta moradores, junto
de IIn};l capella. e tiuha o sell cOlllmcreio animado, ('omo
pouso que .; dos tl'opril'os que demandam os sertes de
Mar,l(',s, do Brejo Grande. do Bom JeslIs clos Meiras,
de Caetitf> (~ das regies mais longinquas do l!Ortf> de
lVlinas c do valle cio S. Francis('u. Deste logar, !la base
da chapada qllP H~abavamos de atravessar,
avista-se
uma immensa plani(~ie, abcrta ao noroeste por olllle se
podia ver as seITas cJ'allll Paraguassl, e que as serras
das Trahiras c da Tapera c os 1I10lTOS do TamalllllHL
do Gavio e das Baraunas limitavam e restringiam desd(~
os GO." ~. O. at os ;)4-" N. E. como nma extpllsa barreira sem s()lu~O de continuidade.
Estavamos
ainda nllma regio granitica.
Clljo aspecto e capacidade ~o, co-r.tudo, infel'iOl'l's as da elwparla (IP :\laraes. Voltamos uma regio sel:eu, em tlldo
semelhante
quella que tnhamos atravessado
antrs d"
FaZl'nda do Hom .Jesus.
As Illattas so agora pon'm mais raras e menos
rje.-as de ('sseneias; a drenagem do solo irregular e il1lperfl'ita. Ap/:HlI'ecern a cada passo as pequenas
lagoas,
razas que no resistem aos calores estivaes; os rios so
tOI'l't'ntes que pOllCOduram, passadas as chuvas, e os caldeires de 'O()(',haso ainda aqui o recurso sah'ador das
popula(Jes \iet.irnadas pelhs i-oeccas amiudarlas,
por isso
llH'smo. os povoados e fazendas so daqui ('Ill diant{~
mais freqlH'ntados,
pois que a cuda passo vamos encontrando
as tropas <II{' regrrssam
de S. Fcli:\ e do Cllrralinho onde foram le\'<11' seu fumo c algodo; os cargueiros q\l(' transportam
legumes e farinha para feira;
os carros d(' boi que seguem chiando
/llonotonamente
sob o peso da {'urga {Ille levam para o interior.
Partimos dos Milagres s tres horas da tarde. seguindo a nordeste e a leste por entre outeiros
pedrp-
1 7:!
Dit.
TfH:ODOHO
SA:\!I'AIO
gosos, dcixando UIIla. legua. diante, j no meio da planicie il encruzilhada

da estrada que ley a Amargosa,
logo ,iepois o pouso do ~loc, junto de UIIl serrote granitko lanado do norte a sul, donde podcmos contemplar
a extl:nsa escarpa da serra da que descemos nos l\Iilagl'cs
correndo de Oeste para leste numa extenso
pl'oximaIl1Cntf~ de 8 a to leguas, quando pareee que dcdina para
sul o Il sueste .
fj:s seis horas d,t tarde, chegamos
ao povoado das
Trahit'as onde pernoitamos,
tendo vencido seis leguas e
meia desde as Trombas.
T Ilha chovido pela madrugada
do dia 2(; elll 'l'l'a
hiras, mas, ainda assim, amanheceu
muito quente.
A's cinco horas da manh, com Ulll ('l1 nublado e
escuro), j a tcmperatul'a
era de 2;)0 centgrados. prenuncio tf mcroso de UIll ia abrasaflo c de borrasca proxima.
Assignalo o facto porque elle. na vcrdad', digno

de tH,ta. Havia 11m mcz que esta vamos ncstes scrtes,
desdf que deixamos as Illar~cns de S. Francis(~o, e ainda nf.o tinhamos mareado no nosso diario um dia de
ehunl. Agora, porem, o ('o inelemente tomeara
a cpder nos seils ['igores e as primeiras
el1l1\"as, chuyas
salyadoras,
preeiosas, cahiam sohl'e a tNra adusta p SPquiosa, banhando-a
eoplosanHmte,
fe1'tilisando-a, t1'ansfo1'mhndo-a de uma ma neiru mara dlhosa
Era o signaL de que j'-l amos entrando lia zOlla littoral, donde, tlO longinquo horizonte, se cliyisa\"alll os
aguaceiros penetmodo
no serlfio, tangidos pelos n~nto s
humillos que sopram o mar.
(lue bom presagio
para aquella
regio scrtalle.ia
<{ue tallamos de perconer,
c one a cada passo se
descobria na term c no ar os sigllaes inequiyoeos de mn
YCrllO ahntsadol' e prolongado!
Eram cinco horas e um quarto, quando
deixamo:,;
a faz,:,nda das Trahiras,
pela estrada geral, a rumo de
nonste.
Passamos,
lpg-ua e meia adiante, o pequello
DA CHAPADA
DLUJAXTIXA
povoado de Po~i)es c penetramos

n'uma regIao pedregosa, granitiea, couerta de um matto carrasquento
e imprestaveI. Serrates
curtos de mediana altura appareeem
aqui (' ali na vasta planicie, orientados
quasi de norte a su], dedinando
para noroeste, c quebrando um pouco a monotonia
da paisagem. Nenhum rio eorrente atravessa a. estrada que pal'eec lanada
sobre o dorso
de llma chapada pela linha da diviso das aguas. As baixadas esto ainda sem agua, e as lagoas continuam extindas arwzar da c1ll1va comear. O solo to pobre
que parece estcri!. ~\s fazendas e moradores
so raros
ao longo do caminho,
At a fazenda Mangaheira, que fica na base da Serra da Tapera, duas leguas adiante de Poes, o aspecto
da regio ainda o mesmo.
Veri ficamos, porem, nesse logar, onde de novo comeamos a descer para uma vasta planicie que se abria
para o norte em dircco ao rio Paraguass,
que estavamo;; n'uma seg'unda chapada, ou so calco mais baxo
sobre o qual se levantam as ten'as do serto. Estamos, de
fado, na maqrem de um planalto infeJ'ol' ao de JIarae<s.
planalto
cu.ia~ margens, pOI' esse lado, se assignalam
pOI' serras de pequena elevao, com os nomes locaes de
Serra (francie, Tapera, ltatinga ou Pech'a Branca, esta ullima notavel na histol'ia do descobrimento
destes sertes.
Para alem de extensa planicie, onde corre o Paragllass, cen'a de cinco leguas distante,
il vista-se
uma
linha de moutanhas ao noroeste, ainda mais distante, eque so as terras altas do Orob, famosa pela sua fertilidade e peIns suas extensas
maltas.
,'\-fais long'!" ao nordeste, eomea-se a distinguir
o
perfil denteado das montanhas
granitieas das visinhan-'
as ele Santo Estevarn e da Feira de Sant.a Anna, que
o Jacuipe atravessa
antes de misturar
as suas aguas
eom as do PUl'aguass.
,'VIais perto, no seio da planitie monotona, ergue-seao norte UJl1 curto serrate pedregoso,
como um Iha
I
\
1, ~
DIl,
TH\<;ODORO
8,\:\II'A[0
perdido naquelle mal' das catingas, e mais adiaute ont.ro S~\l'I'ote de mais yulto que nos infol'marUlll ser o da
J'larwaheira, junto do qual fica a antiga fazenda do 130quel o, onde passa a estrada para o Orol.)(), t~que nos
tempos eoloniaes foi famoso pOI' ser () COlUCyOda perigosa travessia de muitas leguas de <1es('rto, antecedendo
as t('ITaS altas da Chapada.
Seste ponto do nosso trajecto, estavarnos exactamente at.ravessando
a linha do roteiro de Uabriel Soares, u
(~plehre sertanista
e escriptor do fim do setulo XVI, que
sahi,) do littoral, relllontando
() valle do Jaguaripe, vindo ~'algar a seITa do GuarerLr que essa mesma da Pedra Branca, oude estavamos, fundando ahi uma casa fortl, <'!ltre os iudios Cal'iris, e, ent.mnhando-se
no serto
a noroeste, CI'IISOUo Pal'aguass
em cuja margem ergueu outra casa forte, de que ainda hoje guarda o noIlle uma fazenda antiga, beira desse riu, e seguin a
hm;,~ar a Serra da .Jacobina, onde se perdel!.
Descendo a encosta aspera da serra e trusando
o
leito secco de uma torrente
que rnargeialllos por algum
tempo, alcanamos
s 10 horas da rnanh o arraial da
Tapera, 1111. ponta da serra, onde nos detivemos para al1Il01;ar e colher algumas inforllla\es. Tapera traz ainda o tratamento
de villa que ji teve em algum tempo,
e que agora nada .i ustifiea, porque no pas~;a de !llll lugarejo decadente, COIll umas trinta ca,;as pobrc:-5, ullla
pequena egTeja no acabada, e quasi nenhum commercia,
Entretanto,
a sua posio tOIllO entroneamento
das estradas da Chapada Diamantina, de Caitet(~, Santo Antonil. da Barra e Maraes deve garantir-lhe
ccrta importalleia eqtre os povoados que pl'e(~edem a t'egio sertaneja propt'amente dita, lI:formararn-nos
porcm que esta
importancia
perdeu-a a Tapera em pron~ito do Curralinho, que cresten e prosperou rapidamente
tornando-se
o (~entro preponderante
nesses lagares depois de S. Felix.
A Tapera pareceu-nos
uma ruina, justificando
perfeital1llmte o seu nome selvagem. Todavia, nota\'amos-lhe
DA CH.\I'ADA
DJA:\L\:\T/:\A
lias ruas solitarias, de instante a illstaute,

a passagem
dos carglleiro:,:, das tropas numerosas
qlle ou es(~iam
do serto ou "oltavam dos portos do littoral com os artigos de importao para o commercia interior, e vamos
tamlH'lll que nada do que por ah passava aproveita ao
log-aI', considerado
uma ruina a. cle:mpparecer -- (({que
jcrierunl
J'uillr(~.
lllfonnaralll-llos
que desse ponto cie eutroncamento
(10 Cu)"'aliJlho
no ha mais {JUl' duas leguas; a ,loo
A metro, arraial Ilstorieo, fu ndaclo pelo paulista
do mesIlla nOllie, t, margem direita do Paraguass,
32 leguas,
lia estrada pam a Chapada
J)iamantina, passando
por
Serra nrande, Tanquinhos,
Entre Morros, Lagedo Alto
e outros loga{'(~::;.Da Tapera villa a Amar!}(N)a, centro
illlportante
da ellHura de taf. flllllO e algodo, vo setf~ leguas passa do pelo arra ial da Gloria; t Pedra Branca, no alto da seITa do mesmo llonw, duas leguas;
fazenda do RO(/lIeil'o, que lhe liea ao nort.e, uas leguas;
e ao una.ial da 1'ftrtaruga, encostada a Serra, Iogar prospero pelas snas culturas de filmo, caf e mandioca, seis
leguas.
A's 2 1,2 horas da tarcle, COllI uma tempera tura de
':->::2" centigrados,
sombra, cu turvo, e ameaa.ndo chover, puzemo-no:" a caminho, em emanda do Curralinho
onde <]ucriarnos pel'lloitar. Contornamos
primeiro a ponta cia serra, P, seguindo pela larga estrada geral, que nesse
trecho, dedil1<l um pouco para lessueste, detivemo-nos
unm meia hora na fazenda da Cruz do Medrado, onde gelltlmente nos receheu o deputado DI'. Marcolino de Moura
e Albuquerque,
com quem conversamos sobre as causas
do sctto e trocamos noticias e informaes de que so
to sedentos os que, C0ll10 ns, estavam
tanto tempo
separados
do mundo.
No curto trajecto que nos restava fazer para ganhar
o Curralnho,
surprendeu-nos
copiosissinm' chuva acompanhada de fortes descargas eIectricas, o que nos for.ou a accellerar a marcha galopando pela estrada am-
DR. THEODOIW
SA:\IPAIO
pIa, ago\'a convcrtida

pm leito de imlPluosa
torrente.
O ~(llo negro e resvaladio, seml~lhate ao famoso massap de Santo Amara, recebia depois de tallto tempo,
o primeiro e copioso banho, que () ia 1l',lIlsformar tomo
por encanto, re\'estilldo-o
de nova li luxuriante vegeta-
(;o.
Eram
einco horas da tarde quando entramos
no
Cu 'l'alinho, cessando ~ogo depois a chuva, que nos tinha
to profundamente
alagado. O CUlTalinho, apesar da dift'icllldade que ahi ti"emos de achar pouso, imprcssionouno:; hem. E' um centro populoso, que se desenvolve rapicamente,
com as ,mas I'uas largas, boas edificailcs,
numerosas
casas de commercia,
boa egrcja edificada IHL
praa principal e muita actividade,
principalmente
no
dia da feira que sellJanal e a que concorn~m
dos
logares visinhos quatro para cinco mil pcssoas.
A diiliculdadc de achar pouso n'um lugar onde o
commercio tanto se desenvolveu
uma feil,(o caraeteri,;tica do lugar que merece explica(,io. O nosso guia,
tropeiro 1.Jaqueano nesses lagares, conduzio-nos, como lip
ccstume, ao seu pouso habitual,
um grande
raneho
.iu nto a uma venda, cujo dono nos reeebeu como I'eeche
a um freguez ou adventicio q\lalquel'.
Notci porem que o l'ancho, muito molhado
eom a
ultima dlU,-a, e lamacento, estava sujo demais. As 1l0Ss.tS malas foram contudo ali mesmo dqlOsitadas
e os
animaes desarreiados
condusidos
:sem demora ao pasto
\'isin\o. Achando o lugar insuppol'tavcl
pela falta de aceio c pela lama que impediR de o eOllseguil', chegueime para o vendeil'o e pedi-lhe de eonscntir
armar o
meu pequeno leito de campanha lia SURsalet.t lll'oxima,
onde, sem incommodo para sua familia, podia passar a
Hoite e pr em dia as minhas notas de viagem.
Negou-me o bom do homem o favor peremptoriamente, ajllnUtndo qne isso nfto era cost.ume do lagar, que
todo o mundo que ali pousava, dormia no rancho, fos.;c
como t'osse, (lue o juiz de direito de tallogar ali posra
DA CHAPADA
DIA:\fAXTf:\'\
177
havia pOllCO, e qlle o professor' de tal parte a('abava de

sahir dali mesmo e, por confirmao, apontava-me
para.
o logar onde ainda se viam os restos de um fogo extincto, Ouvindo-se falar ao bom do vendeiro, aquilla era
mesmo uma delicia para juizes de direitos e professores
em transito pelo Cu l'l'ali n ha. Achei, porem, que um pobre engenheir'o, como eu, que, dias antes, pousava to
gem ceremonia n'uma lapa eheia de rat08 ou debaixo df~
um carro velho, abandonado
a beira do caminho, bem
podia ter o gosto de dormir uma noite, no enxuto, estando n'uma cidade. No tinha acabado
de justifiear'
esta minha phantasia
ao vendeiro, quano senti baterme ao hombro e abraar-me
um velho amigo de Santo
Amaro, o habil engenheiro
Alexandre
Theotono,
que
se acercara de ns ao voltar do seu trabalho de campo.
Passamos ahi a noite e o dia seguinte, sempre muito obsequiados
pelo nosso amigo, euja gentileza to
grande quanto a, sua actividade e intellegente applkao
ao trabalho, .Informou-me ento que se achava ali, desde alguns dias, no servio de locao da linha da Central
Bahia Railway, clljos trahalhos
de avanamento
ficavam
apenas a alguns kilometros para traz do Curralinho.
Ia
porcm .ia levantar acampamento
e seguir para adiante,
porque no tinha tempo a perder, c as chuvas tinham
('ol1lcado.
Sahi do Cut'l'a.linho a 28, .ii depois de 1 hora da
tarde, para irmos pousar, depois de quatro
homs de
marcha. na Salgada, para alcm do Candeal e do (renipapo pequenos povoados, margem da estrada, servindo
de pouso s tropas que descem do serto.
Estavamos
n'uma regiflO chata secca onde de espao a spao se v urna laga pouco profunda, bebedouro
obrigado do gado pouco numeroso que vive por essas catingas. O solo um tanto pedregoso, provenicnte do granito, notando-se na estrada muito seixo e fragmentos
de
quartzo muito variegado.
Colhemos,
nesse trecho do
caminho,
dous beIlissinos
exemplares
dc um quat't12
17H
1J1l. TIlEODOHO
~A:lIPAIO
zo t'Ozco, de um dique ou filo exposto

!la e~trada it
qual seFue o ramo geral, por ~ohre uma lombada q\W (~
>,'oprialllcnte o divisor da~ aguas ('ntre os \'alJe~ do Paraguassl e .Ja.waripe,
Do alto de qualqut'r
emilH~neia, onde () horizonU'
se dilatava Ulll poueo mais, avi~talllos para tniz, .ia ao
longe, as elevaes vsillhas do CurralinllO, a st'lTa de
ltnlim JlI Pedra Brall{'a, COlHO uma chapada lalH,:ada ao
tran~~, lia direeo de noroe~te para sueste, procurando
a zona littoral, ainda que COlli alguma illteITUp<,:es por
esse lado, Pela trellte, .i1 hem proximo, tnhamos it no\'de~t(' (I ~crrote curto do A)()/'{, eomo UIII ilhpo H'J'lII\'lho soilre il planura monotona da eatin.w qlle SI' pstf'nd(~ a perder de \'sta,
O haixo onl1f~ cone o Paraguass!'i. alis pouco distante, no perceptin~1. A planura d'aqUf-~m e d'alelll parece t'Ol'mar um todo scnl soluo <le {:ontilluidadf', como
se no existisse interposto o lomlcodo rio diamantino, (~\l.io
valle pelo lado do sul temos viudo coutornando at(~ aqui,
Da Salgada para o norte, cerca d(~ tres leguas, tiea
porem a cachoeira da Til1lbl;m, qne 1\(1 linguagem dos illdio~ quer dizer .-- dos V Il.p ores, pejos muitos que se levalltam l~m eertas horas dos tombm; d'agua de 2;) metros de
altum que ali tem o Paraguass,
ao descer da planicie
para o profundo callho que () leva at ao mar, na ba. Iiia de Todol:; os Salltos, distante CPl'ca tip 71. kilornetl'o",
Mas apezar de seus vapores ou nevoeil'Os il cachoira no
se nos tornan perceptivel em nenhum ponto do horizonte.
Se algum dia o progresso de minha terra, despertando mais vivaz, qnizer apr"oveilal' para os vario~ misteres industriaes,
para os transportes,
para a illuminao e para tantas outras applicaes,
a grande
for<,:a
hydrauliea
dos rios, a cachoeira da Timbol'a, antes mes- .
mo da de Paulo Affonso, ser decerto a primeira de que
se hade lanar mo \:Omo a mais proxima da capital, e
a que mais vantagem; poder trazer zona rica e povoada do nosso reeoncavo.
Calclo que superior
a
-.'
... ....'
.,..
...'"
~
:
.i
'~
,;
fi
I
;,
~.
i:
t-
r;;'
t_
D.\
CH.\J>.\D,\
DIA:\L.\:\T/:\..I.
17H
dez mil ,:a \'allos-va!)()I' a fOl'l:a hydraulita

do Paraguas,
~l na (.aeltoeira da Tirnbc)ra e quc a distall(:ia a ven(:er,
eom trajedo
pelas eidaoe de S. Felix, CaohoeiI"a e Santo Amaro, no exeeder de 1B() kiloll1ctros,
ou poueo
Inais de vinte l(>guas, ao passo que a cachoiera de Paulo
Affonso, lima explendida resena do futuro, fita lima distancia tres vezcs maior, ao norte da Bahia.
;'\0 dia seguinte, 29 de .Janciro, partilllm; eedo da
Salgada e veneemos at a uma hora da tarde as s8tr
leguas que nos restavam para S. Felix, tCI'!110da !lossa
longa viajem pelo sel'io.
A estrada, nesse trecho, percorre ainda ulna regiJo do mmmlO aspetlo do precedente, terreno secc.;os de
catinga, COlli aIgUIllas lagoas esparsas, e onde a agua
para durar eareee de ser rcpresada em audcs.
A populao .ill mais numerosa ao longo dos caminhos, (:OIllO se verifica pelas numerosas
povoac,;es que
vamos sueeessi vamen tc <ltran~ssalldo: Lagoa Seeca, Venda )lova, Palame~, Torto, Cabea e }luritiba
onde SI'
eomea a de~e(\r para o fundo (;anho do Pa.rglla~s(
rill tlljas mal'gens, e fronteiras uma <i outra, I'sto as (;Ida{les de S. Felix e Caeho('ira, emporio dos scrliles, eentro da
maior adividadc
fabril da Bahia.
Aqui terminou a nossa peregl'inac,;Jo pelos serl(le::;
hahianos. No dia seguinte, do tombadilho do vapor quP
zarpava, singrando o Paragllassl
aguas a uaixo pm
dil'ee~:o i tapital, dizamos o IlOSSOultimo adl~us aos modestos s~rtane.ios que nos trouxcram at ali em paz e
salvamcnto
e que, ergucndo os seus grossos
dmpeos
de couro para corresponder-nos,
tinham no s('molante
eomo ns tinhalllos no corao o acerbo pung-il' da saudude. 1)0 serto disU-'nte tica\'a-nos a impresso indetiniyel, Ulll ('omo cnigma que s o futuro longinquo decifraria. DaquelJes pobres companheiro::;, porcm, levavamos
I\(~, da sua leal e sincera dedicao,
a grata lembrana dos
bons servios e a quasi certeza de que no nos lornal'lamas a ver.
180
DH. THEOOOHO
SA~rPA[O
'l're:.:, dias depois da nos!';a ehegada a Bahia, e1\(\garam por sua vez os nossos eollegas de eornmisso, com
o nosso caro c illustre ehefe, ~Iilnor Roberts, de quem
nos haviamos apartado nas margens do S, Fran(iseo.
Estava "erminada a minha misso.
Nota
mappa junto UIIl eomplemento s notas, !lesta

Hcvist.a publicada~: sob o t.itulo-Viagem
atrarz da Chaparla Diamantina em IH79-tH80, para lhes servil' de earlaindex, l;omo coordena(,;o que das diversas
cart.as
geographkas
parciaes que ento appareceram.
Dei-Ihe~
porm,:Jor
tit ulo SedlTo da Hahir(, porque neste trabalho no lHC limitei a representar
unicamente
a zona
mais vizinha do men tl'ajecto, procurei antes reunir n'um
mappa mais amplo todos os dados fidedignos que consegui colher com relao a essa parle do territorio hahiano, a leste do rio S. Francisco e comprehendido
entre
os rios Parag'uasslt e das Contas.
Pos;;o dizer qlle fiz trabalho propriamente
meu; e, sem
querer dppreeiar albeios trabalhos
sobre o nwsmo assumpto, julgo que esse mappa l'epresenta
de fado um
passo adiante no progre~so cartographieo
referente <s
regies eentraes do Brasil. Aos dados do levanta manto
geographico
que fiz ao longo !lo meu trajecto, ajuntei
larga eopia de nt'orma()es relativas a pontos mais distantes, infol'lllaeS que procurei cotejar, veriticar com
o maior escrupulo. A~;sim qlle este mappa se no ,
de facto, uma representao
rigorosamente
exacta d()~
factos attinentes
geographia daquella parte do paiz, ,
contudo, na escala em que est desenhado, um elemento de
infonna(,~o e tambem de correco, digno de conHana~
no que respeita quclla wna, ordinariamente
to mal
rt'presentada
nos antigos mappas.
L--.~.
1\
l' ,
I:
DA CH'\PA~A
DL\:\L\~TI:\A
tHl
E' hem digno de nota li representao

orograph ica
ahi to diversa do que se v em outras
cartas
publicadas.
As montanhas
e serranias no se figuram ahi como
linhas de relevo aeol1ll'anhando parallelamente
os cursos
d'agua principaes,
como erroneamente
se costuma figurar, mas, ao contrario,
como enrugamentos
em sentido
transverso
aos rios, facto que ahi se obsena na orientao das cumiadas, as quaes, em geral, apresentam um
angula de 2H a :lQ gros para oeste sobre o meridiano.
A serie de {'adeias parallelas,
entre os rios Paralllirim
Paraguass,
na Chapada Diamantina, as serras do '1'0111ha.dor e do rob, a Serra Preta,
visinha
de Santo
Estevam e da. Feira de Santa. Alma, seguem todas proximamente
esta mesma. orientao.
Os rios affluentes do S.Francisco,
rios tempomrios
quasi todos, correndo sobre a Chapada, guardam
tamhem a nw:-;ma direco gera.l daquellas
linhas
de cumiadas. No assim porm, os rios da vertente
directa
do Atlantico, rios perennes, e mais volumosos
que aque:les outros, os qua.es cortam trans\'el'salmente
as ditas serranias
e de~cem da Chapada,
onde tm naselmento, por va.lIes estreitos e gargantas
que so venjadeil'os cOIom:, em alguns logares at subterraneos.
Outro facto para que chamo a atteno
dos que
estudam a nossa geographia o das origens dos rios
Paraguassl
e das Contas, ordinariamente
mal representadas nos antigos mappas, que aqui procuramos
liguT'ar com a clareza
compativel com a escala adoptada.
Lanando-se
a vista para o centro do zona montanhosa,
onde est a villa do Hom Jesw;, perto do logar onde Sf'
cr'usam o Meridiano de 1.0 e o parallelo de 1ilo, se vm
representadas,
entre montanhas pa.rallelas, sobre a Chapada, e a pequena distancia
uma da outra as nascentes daquelles dOllS grandes rios, a de Pa.raguass,
a. :2
leguas ao Nor-noroeste,
correndo em largo circuito para
o nOIte com o nome Coch, penetrando
n'uma garganta
lH-l
UH. THEODOBO
S,\:\{I'AIO
da Serra. do Sil1l'ol'l declinando <Iepois para sul e sueste, (~om o nome de rio i>;''nJlto AI/tol/io,
recebe poueo
abaixo do Andarahy,
Oll tIa Pa"".'Iaucm
o outro galho,
aO qllaI s por antel'edentes
historieos
se attribue
o
nOl'le ['a,/'(lgunss, pois que, nuseendo 110 ~lolTO do OUI'O,
entre a ra7.en<la do gado e o Sinl'on, dl-l fado galho
mais curto c mais baixo,: a ol'gel\l do rio de Contas
fil:a l'erca de 2 l/~ I('gnas para o sul, donde
salle es\('
rio ,~m largo ('irellito pelo norte da nlPsma \'illa, declinam\o para o sul e eOl'!'cndo ern \':llle estreito att~ perto
do paralldo
It.", onde se Hw entram varios alllllentf's
eonsllleraveis,
algllns at de maiol' volume,
e que, do
ponto de vista geographico,
dcviam ser o ('ursa d'aglla
pl'nc:pa!, se a favor do rio de Contas qne acabamos <Ill
descr,~ver, no militassem tamuem razes historicas,
l til def(li to, a pf'zar (le tutio, enterra o nosso 1I1l1ppa do Se/'tlo da Hahin e qne, sendo publi('ado
,'int<'
c quuro annos depois da nossa viagem por aquell/':-:
lop:arc;.;, lita um (loeumento antiquado,
se se no att('lldercm as 1H0difieal,;r.s de earadel' polticn que se deram CI l to longo periodo.
Esse def'ito .;, em partI',
consegui
attenuar,
mas, por isso mesmu qne dvo
(,hamar a attcnfto dos estudiosos pam no incorrcr na
wcha de anuehronieo,
figuranJo n'l1lll mappa de l~\l18HO, dt.dos e factos que s posteriol'lnellh~
se realizaram. E' assim que nelle representamos
as estradas de
ferro que n'aquclle tempo apcnas
se !lidaram e algumas que se eonstruram
dcpois, i\las s(~ fizemos es.sa
(ollcess) ao progresso, no intuito de tomar mais util
um mappa publi('ado
nossos das, no ('et/emos, por

s nO\'as denominao
<Ias localidaelll
outro lauo, quanto

(les e consenutllo-Ihes
os mesmos predicamentos
de villa
e povoali.) que tinham au h~mpo da Ilossa visita. Hoje. por
exemplo, a Villa Velha passon a denominar-se
Villa do
Brumudo; a do Hio de Contas hoje a cidade de .Mi1/,((;'; do Rio de Contn.'!; o anuia!
da Fazemla do Gado foi
j elevado a villa com o nome de Ju.'I.'!inpe; a villa de
DA
Santa
!zabel
passou
CHAPADA
Df..\:\J..\XTIXA
cidade com
a denomina<;o
de
do Pa}'ft{Jua8f!; a villa do Brejo Grande tambem

pa~~oll il cidade (:0111 o nome de ltua.wi1; Curralinho, Si}o
S.
JO([O
Felix, Santo Antonio de .Jesu~, Amargosa so hoje cidades. Mas, a despeito disso, julgo que o mappa do Sel'frZo dn Bah/ia sent sempre subsidio de algum valor para
() conhecimento
dos nossos sert()es ainda tito pOllCO<,sludados sob o ponto de visla scientifico.
Oh! quanto
1I0S falla ainda
conhecer do nosso proprio paiz!
O LAUDO ARBITRAL
na questo da Guyana Brasileira
~II'--r-r'r.:sj
~
E~
'
questes
intcrnaeionaes
cie limites que ha
[;'3<"1:' . ;-'t) mais de dous seculos se dehatem
entre ns e
, '~~ as naes yisinhas,
conta o Bn;.si1 mais uma
'l'~)'1 assignalada
\ietori.a. no terreno do direito.
Acaba de decldll'-se
pelas prctenes
do
B/'8sil o tril.HlIlal arbitral de Berna.
So, portanto, brasileiros
os territorios
at ento
contestados dentre
o Orapoc e o Amazonas. Esclusivamente brasilcil'O fica sendo de Ora em diante todo o
baixo Amazonas com as numerosas
ilhas do seu amplissilllo estuario,
que foi outr'ora
o llar Dulce dos
pI'meiros desC'obridores,
A nossa fronteira
.~eptentI'onal
com a Guyana
F'rallceza cOITer, pois, sem contestao
possivel agora,
pela linha do rio O,ljapoc desde li Nua foz 1/0 Atlantico
at li SeITa de TUIIHtGunuUflte e pelu cumiada desta serra
ate a fronteira da (iu!Jana llollll,deza,
Foi esta com effeito a linha de fronteira
que ha
mais de dous seculm; reclamamos,
e que o talento e
o patriotismo
do Baro do Rio Branco fizeram triumphal' to cabalmente
perante o Conselho Federal Sllisso, eonstituido
elll tribunal arhitral pelo compromisso
de 10 de Abril de 1H97 ent'e o Brasil e a Frana.
Para tllO grande victoria
no tent'no
do direito,
nunta ~ exaggerado
o juhilo de um povo como nunca
I
AS
<
nI{.
T1ODORO
SA)!PAIO
sumcentell1cnte
grande o sen reeonheeinH'llto
pelos
qne souberam advorar a sua cansa.
E' mister, porem, eonlwcer-se
toda a importancia
ou akancc dessa eiUlsa para mais lWIIl aquilatar-sp
o
111e1'1 to dos servios
prestados e para que se tique sabendo quo grande (~ o debito que a gratido national,
de ('prto, saLw!'. saldar conclignanlf'nte.
A questo
da Uuyana,
(flIP, de modo to allspi('iost e justo, se solveo a no;,;"o fayor, no outra em
snbsl ancia seno a da posse e dOlllinio do rio Amazona:, que a Frana nos disputava.
Possuir
Hilla
das mar..rcms do grande
rio pa,l
podcl' dietar a politic<L cornmcrtal
da America Equinoxial a qlle amplanlPnte
St'Tye essa artera tlu\'inl,
tal foi o alvo da diplomacia
franceza
alimentando
e
prolrahilldo
at(~ o pl'csetlte
essa queslo . .\ (;u~'alla,
on antes (ff/,ljCJWCl, ('l'a um pretexto, o .\ ma zonas PI.I
porem o objecto yerdadeiro.
Inglpzes (' Hollalldezp:,;
que d~ fado
precederam
a Portu.("upzes e Fralwezps
tW eolonisao do gl'Unde rio nio tinham de ('l'rio objeetivo ncm intuitos difl'prenl<s.
!)(~ toda~
as tentativas
que fiZ(,I'H a Frant.;a para
apos~ar-se
de h~t'l'ito['ios dpntro do ambito do Brazil,
jci fundando com os calvinistas
dp \llPp:aignon
no Rio
de .Jalwiro uma. FJ'(u/(,(t
AIIl((J'diw,
eSplltmada pelos
Portugueses
em !i)(j;>, 1'0111 qllatro anltos apenas tie
durafo; j fundando
('Ill \(jl~ tom La Havardil'(' iL
l~donia de S. Luiz (lo ~[aran[o
para initio de \llInL
o\lt.ra Frann J.;gul/o:((l,
tomada
por Jf'l'OnYlllo d('
..\lbllq\ll~['(llIe dOllS (\nnos depois, a Guyana 0\1 antI's
('aljcma, eom Iimilp;.; telTtoriaes desnlPdida p infundadament(~ ampliados
para lq\ll'lI1 da~ nossas
fronteiras,
ficou SWldo () ultimo quartel
das suas desarrazoadas
pret.eni'>cs.
I~nlretanto,
no do direito it to largas exig(~neias
('orno depois o govemo fI'anecz aprespntoll
t' defemleu
os titulos historieos d(\8s(, t~stabele('imento
('olollial.
LU.:DO
AIWITHAL
tH7
Assim q\le em HH6 q\lando

os Portugnc::;es de
;\laranho, guiados por Caldeira,
penetraram
no Amazonas, fundando
a cidade de Selem no estuario do
Pani (' iniciando li conquista c po\'oamento do valle, os
Fmncezes nem ao meno::; tinham inieiarlo os se\ls e::,;tabelecimentos
na costa da Glf~'ana,
Enqnanto os Hollundezes, precedendo
aos proprios
Portugw~zes, lpvillltuvam os dous fodes de ~assau p e
Orange
IHl margem
do Xuigl, eln t()ll erguiam
\l1ll
tl'reci 1'0 em Gu "Il p e lia vega yam e tndiea nun lias
aguas do Amazonas;
emquanto
os Inglezes, seguindo
os meslllos passos: fortifkanun-se
lia IIwrg'em esquerda
do grande rio, no continente
da Guyana, erguendo suceessivarnente
o" t'ortes de TaurcSJc, FeliflJle e ('1l!Uah,
estrategicamente
assentados
e hem guarnecidos,
os
"ra lIeezes, IIIU nidos de tartas patentes pUl'U se estahc}(~I'erem nas tcrrtis da Guyana, vatilavum ainda na l'seolbit
do lugar elll que se teria de rellovar a. tentati\'a
para
il fundao
dl' lima olltra Fram:a EquiJloxial,
Sp, <:01\1 crfl'ilo, cmIG04.,
Daniel de la TouttH',
o mesmo Senhor< de la Haval'it~rp, visitou as costa~
da Gu~'ana, e [lO unno seguinte
ohteve tartas
pateilles que o nomeavam logal'-tenente
do rei de Frana nas regi('s da Amerta
desde o Amazonas
at a
jlha da Trindade, todavia, s em 1G2G, doze anJlos depois do mallogro da expedio
do Maranho,
que
eonseguio
com 2;) colonos apenas
lanar os fundamentos
do primeiro estabeleejrnento
l'rantez nas margens do Sinall1ary, il mais de tcm leguas do Amazonas,
Assim, ellquanto
os Portuguezes,
cornn11I1Hlados
pOI' Benlo
l\laeiel Parente
tomavam aos Hollallllezes
em 16i:~ o sell forle de Gurup, e dOllS arlllOS depois
com Pedra Teixeira expelJiam-nos
das margens de Xuigr'l, destruindo-lhes
os dois fortes, e obrigando-lhes
as
guarniy(-cs de~imadas a asylarem na margem esqllenlR
do Amazonas entre os Inglezes;
enquanto em 12!) o
meSlllO Pedro Teixeira tomava a estes o fOl'te 7'au/'e!J(~,
1HH
DR.
TH~~O))ORO
SA~ll'AIO
c que Jacome
e Noronha
em 1();-H lhes destruia o
fate li'elippe, e Feliciano Coelho de Carvalho em 1l):l2
os expulsava do forte de Cwna, completando
a conquista de toda a margem esquerda do grande rio, os
Francezes,
passando por vicissitudes
varias, desmedraYam, em Sinamary.
Os Hollamlezes
e Ing-Iezes, repellidos do Amazonas
t'Olam sitiar-se para o Orinoco.
Os Francezes no tinham conseguido pr o p nas
margens do Amazonas; no obstante os seus projectos
e (4 suas aspiraes de eonquista eram grandiosas.
companhia
creada
em Hia;) pelo Cardeal de Richelieu, enbo superitelldente
geral da navegao e do
eonmercio
da Fr'ana, para fazer, sob a direco
dm; senhores
rie Rose e Hobin, o irafico de Guyana,
mallogrou-se,
t.endo apenas fundado a colonia de Cayenna um pouco ao sul de Sinamary em 1M.
Dessa empresa
fallida fkou, porm, um Ilome o
do Cnbo do Norte, com que fra appellidada,
e (lue de
celto ,'isava a regio do Amazonu::ol donde os Inglezes
acanavam de ser espellidos, mas que no servia senio
de nretesto para as dcsarrazoadas
pl'ctenes ulteriores
do g'overno francez, porque a verdade que, pela coneesso de 163:3, os Francezes
da Guyana jamais attingiram o denominado
Cabo do Norte, ponta sept.entrional da foz do Amazonas, no dcseendo os seus e:-:;taheleciment.os e o seu commercio pam o sul do rio Oyapoc, que desemboca junto do Cabo Orange.
O nome de Cabo do lVorte, eom que deliberadamente
se appellidou
a sobredita
Companhia,
no expremia
seno llma aspirao de conquista que alias nunca foi
realidade.
Do lado dos Portuguezes
t.inham os successos
aspeeto bem diverso. Sallceionando
a conquista da margem septentrional
do Amazonas e galardoando
os servios do mais distinto
dos cabos de guetTa dessa
(~onqllista, Fellippe IY fazia dOHflO elll 16~7 a Bento
LArDa
ABBrTHAL
Maciel Parente da ('omllal/hic~ do CalJOdo Sorle que se

estendia do rio Part ao O~'apoc, enUio conhecido entre
POl'tuglIezes c Hegpanhoes pelo nome de Vicente Pinol/.
, M;lciel Parente, goVt~rnadOl' geral do Maranho
cm
1G:~8, faz ento construir
o forle do Desterro, nas proximidades da balTa doPan. no territorio de slla Capitania.
No aHno seguinte, expedio numerosa, ao mando
de Pedro Tl~ixeira. sbe o Arnazonas, pelletra. 110 ~apo,
a caminho de Quito e, lia margem desse rio, di~tante
mais de 20 gnos de longitude do Oyapoc, toma posse
solemne do tentorio
para a cora de Portugal
em
nome de FeJlippe IV,
Desse modo, o valle do Amazonas em cerca de clous
teros de slla superficie
passa a fazer parte integrante
do Brasil, sem mais se cogitar no disposto no tratado
de Tordcsilhas
uma vez que unidas (:ontinuavam
as
coras de Portugal c de Hespanha sob os FclJippes.
anllO mais tarde, em H)~O, Portugal sacudio
porem o jugo hcspanhol,
acclamando
a D. Joo IV de
Rmgana, :vra,;,apezal' das ludas qne por e~se facto se
seguirarn
lla Europa
e na All1eric:., a co!onisao do
Amazonas no se detevc.
Em Wi;), o rei de Portugal
eonlil'mava na pessoa
do 1ilho e herdeir'o de Bento Maciel il doa\:o da Capi tania do Caho do 1\ortf'.
.;o mesmo arll10, os POl'tuguezes do Pani penetram
no ri,:, Ne{jl'o. Sobem o ,hlJ'!} e submettelll as tribus selvagells das l'mas margens em l)4-. Costa Favella levauta
um forte. em l(){O, nas margens do Ara[//lftr!}
que desde
ent.o (:omea a ser visitado pelos missionarios
da cat.echese do gentio da t'oz do Amazonas.
Os Francezes,
porem, a custo se mantinham
nos
seus estabelecimentos
decadentes da Guyana.
Uma segunda Companhia do Cabo do Nade formada.
cm Ruen, ::iob os auspicios
de Poneet de Bretigny,
desembal'('a em Cayenna tresentos colonos para renovar
o estabelecimf'nto
que os Carahibas haviam df'struido.
um
DH, THEODOHO
';.-DIJ>A/O
A inepcia (~ eI"ueldae
de Bretig'll~' tudo, porem,
aniquilam,
Ao cabo de UIl1 anno, apella~ alguns colonos
~u b:; istem, O mesmo Bl'etign~' !wrecera s Il\os dos
selvagens r{'voltados.
:\(l\'a Compmhia se constitue, tO!1l a dellomillalio
pom)usa
de ];'1'((,//<;((
Equilloxinl,
('om o pri\'ilegio de
o(~eupar toda a Gllyanna,
() \ mazonas
c
Orcnoco
eompl'ehendidos,
:,ov\J refur,:o de terca de oitoeento::, (',OIOIlOS dwga
Cayelllla em Hi~J2, To mallograda
porelll foi esta nova
tentativa CO!1l0 as anteriores,
Aps dOllS annos de luctas
eom os selvagens, desill1ados pela. fehre e pela fome, os
sobrEviventes
companheiros
de Marivaux e de Ro~'\'ille
viran-se
oht'i~nH1os a abandonar ~t colonia e refugiarelll~e III Suril/am.
toi ento 4ue os Hollandezes
se apoderaram
de
Cayellnu de que n50 foram desalojados
s(~no annos
depoi:.;, em 1i6!., por Lefpbre de la BalTe, o mesmo
qlle depois foi g:overna~!or da Colonia como reprpsentante da Companhia das Indias Oecidenlaes, ento ('I'eadas P,)l' Lui7, XIV, em 16M,
Deve-sc a La Barre um lino precioso para a questo qte acaba de solver-se, E' a descripo da (~uyana
F'ranCf'za em Hil.i;I, onde bem se define a qne se reduzia.
a es!::;e tempo. a FI'rtll'a R<{u'lIO:/.'ial, a qual comprehcndia umas oitenta leguas fmncezas de costa, a COllwal'
(lo (Jab.) Orrw[le,

//Ia/'
e que
se
ponta
/'econhece
de te/'/'a
por
l)({;:cn
tj'(~8 pequeI/o.';
que a1~all'n pelo

mOllies
al!xtalll
por cima e ficam pant alem do do
dexembdca
/10 mar jll /I to a es.';e Cabo.
qw~
Yapoca
se
que
La Barre,
que estende
em 156r) a Gu~'ana Franceza d(l Cabo Ont1l!Jc at o Jl1aJ'o/li, declara, pon'm, que
os Por.uguezes
n.o estendiam o seu dominio na margem septcntrional
do Amazonas seno at a ponta de
]'I1acaJ, e que entre esta ponta. e Cabo Orange, o territorio estava desoccupado
e pOl' isso denominava-o
Guyana indepelldcnte.
tACno
AHIlITHAL
1!)1
7\ovo:,; desastres sohJ'evt~m malfadada colonia de

Cayenna. Apoderam-se
della os Inglczes em Him, mas
dois mezes depois reconquistada
pela Frana, que faz
explorar-lile
os sertes
por doi:::: missionarios
jesuitas
os quaes penetraram
at o rio Camopi, affluente da esquerda
do O~'apoc.
Os Hollandezes,
porem, ,'oltam a campo e de novo
se apodenull de Cayenna em l(>4., fundando tres H1I10S
depois nas marg:ens do Oyapoc a delade de Orange que
fortifil:aram.
Neste mesmo anno, Lui7. XIV encorpora aos dominios da cora a colonia de Cayenna,
e envia cm 167(;
para retomal-a aos Hollandezes,
() Senhol' de FeITolles
e o Conde d'Estre, que de fado reconquistam
brilhantemente as posies perdidas.
Soh o governo do }[arque7. de }<'errolles, eOllleam
de parte dos Francezes de Cayenna as tentativas
para
se apodel'ureul da margem esquerda do Amazona;.;.
O Marquez transpe em 16HH o Oyapoc, e por via
terrestre se apresenta
diante do forte portuguez do Araguary, cujo commandante
intima.do a rendf>r-se ou a
retirar-se pOI' serem as teITas daquclla ma.rgem do dominio do rei de franc;a,
RespolHle-lhe
o commandante
que em virtude de
doao feita a Bento Maciel Parente, o limite do territorio portugucz couia pelo rio do Cabo Orangc, denominado pelos Portuguezesr-io
de Vicente Pinon e pelos
France7.es Oyapoc.
Diante da firmeza do official port.ug-uez, J'etirou-se
o Sm. de .ferrolles, limitando se a escrevcr ao go\'ernadO\' e capitfto gencral do Par convidando-o a assentar
no Amazonas
o limite commum
das possesses das
duas coras.
Em 1mJ7, o activo marqucz d COOl maior audacia
e relativo Sl1eccsso um golpe nos estabelecimentos
portugue7.cs da margem septentrional
do Amazonas. Tinha
feto abrir clandestinamente
atravs
dos sertes, do
DR. THEODORa
SA~JPAIO
O::apoc ao rio Part, uma estrada em que emprf'g<tra

(,f'~'('ade cinco annos. Desee com uma fora respeitaveI
o ~\1rso do rio Part'l, cahe de improviso sobre o forte
do Desterro, e successivamente sobre os de Tlwer t~
J{aGaI)!i, toma-os e arrasa-os, excepo do tie Maeapti
qUI) deixou guarnecido com H;) homens ao regressar
para Cayenna. Essa vidoria, porem, foi de curta dura<:o, porque, um mez depois, j os Portllgllezcs do
Pur rctomavam o forte de .Macap, deHe expcllindo
a guamio frallceza. ~o deram mais qu(' isso as
,wdaciosas tentativas do marquez ds 1"errollc8.
Comea aqui a campanha da. diplomacia fnlllceza,
uma vez que os esforos at ento expedidos para levar
as fronteiras de Cayenna at o Amazonas no sortiram o
desejado effeito.
AdoptolH;e ento a tatica inqllalitieavel de negar-se
a identidade do ro Oyapoc ou de ''icentc Pinon, infonnando a esse pl'oposito o marquez de Ferrolles ,que
lia lingua dos Galibis da Guyana, o llome yapoc quer
discI' -ilha, e que, portanto, o Oyapoc que serve de limite Capitania de Bento ~laciel Parente era uma
ilhn, e esta no podia ser sino a de J[((/'(Ij.
I) insuspeito TJa [Jurre, em Wf;), tinha porem,
publkarl.o que !fapoc era um rio e que este era. o que tlesemboca "a junto do eabo Oranw~,
\o ohstant.e, Luiz Xlr envia t Lisboa o marque2de Houill a reclamar a. n. Pedro rr o rio Amazonas
como lmite das possesses francczas da Guyana com
o Brasil.
Era o cumulo da exigencia. a que belli longe d~
acceder estava o soberano Portug-uez.
Todavia o embaixador francez consegue a t de
Mar(' de 1700 assignaI' um tratado provisional e suspensi,o, marcando o prazo de um anno para as duas partes
eontratantes reunirem dados e esclarccimentos sobre as
terras do Cabo do .Norte, e estatuindo que provisoriamente ficaria. indecisa entre as dua::; coras a posse lIas
LAuno
ARIHTRAL
193
ditas terras desde a ponta de Mac1Jp at o Rio. de

Oyapoc ou de Vicente Pinton, devendo o rei de Portugal
mandar
demolir o forte de Macap e qualquer outro
existente dentro d'uquelles limites.
A Frana tinha assim levado a melhor, e o que
mais , obtinha
em 1701 que o tratado provisional
e
sllspensivo
se convertesse
em tratado definitivo e de
allianl,a, tanto era o reeeio que ento inspirava a politica de Luiz XIV na successo do tl1rono de Hespanha,
Entretanto,
Portugal
deixava a allianl,a franceza
e se atirava
nos braos da coalliso quc se formara
contra u Frana na chamada Guerra de 8UCCeSStlO,
preo dessa nova alliana
era ento regulado por
um triplice tratado assignado em Lisba a 16 de Maio
de 1703, segundo o qual se garantia a Portugal a posse
das terTas do Cabo do ~ol'te entre o Amazonas e o rio
de Vicente Pinon.
Em 1712 abriu-se o congresso de Utrecht para regular a paz entre a )<'rana e as potencias de coalliso.
j<-'irmou-se emfim a 11 de Abril de 1713 entre a
Frana e Portugal o tmtado de Utrecht, que , a chave
de toda essa secular questo da Guyana.
POI' esse tratado no seu artigo 8. l Frana desistia para sempre de todos os direitos e pretenes
que
podia tel' sobre a propriedade
das ten'as denominadas
do Cabo do Norte e situadas entre o rio Amazonas e o
do yap::w (yapoc, ou de Vi('entc Pinon, sem reservar
all reter poro alguma das ditas lenas que passavam
de ento em (liante a ser possuidas pOI' Sua Magestade
Portugueza.
POI' ouh'os m'tigof' do mesmo tratado, Portugal podia mandar reconstruir
os fortes do Al'aguary
e de Macap, demolidos
por effcilo do tratado provisional de 1700; elltra,,"a na posse de ambas as margens
do Amazonas,
comprometiendo-se
ainda a Frana a
no alimentar
preteno
alguma sobre a navegao e
uso do dito rio, sob qualquer que fosse o pretexto, a
desistir de qualquer direito que podesse tcr sobre terras
13
DH.
THEODOHO
s,nrp AIO
da America do dominio de Portugal, e a nilO consentir

que os habitantes
dc Cayenna transpozesscm
o rio de
Vicente Pinon para commerciarem
wm na foz do Amazonas, nem nas tenas do Cabo do 1'\ arte.
Todo o esforo da diplomacia de uma c de outra
parte, de ento cm diante, eonycq.o para fazer yalcr
o artigo H.o do Tratado de Utrecht feio do seu interesse
ou do seu diJ'(~ito. Portugal e depois o Brasil sllstentaram sempre que o ynpoc ou O!Japoc tambem conhecido
pelo nome de Vicente Pinol/. cr; (l rio que desembocava
junto do Cabo Orange, tal como o dedal"Ou La Barre
em 100;). A Fra\l(;.a, do sell lado, depois de haver sustentado que YalJOC se referia l ilha de ~1ara.i, depois
ao rio Amazonas, passou a sustentar
que o Yapoc do
Tratado de Utrecht era o Am[Jtwry que desemboca no
Amazonas abaixo do (Jaba Corso.
Por quasi dOllS seelllos a questo da Guyana no
teve outro aspecto.
Varios tl'atados se firmaram df\)lois, mas a questo
lIunea logroll soluiW (~abal e satisfactoria.
A 10 de Abril de 189, porem, a.ssignou-:,;e no Hia
de Janeiro entre os govcrnos da Frana e do Brasil o
comproI1isso ou ar.cordo, submetlendo
a arbitramento
do Governo da COllferlcrao da Sllis~a o ligitio da fronteira. com a Guyana l"ranceza.
Foi a. questo apresentada
ao arbitrio nos seguintes termos. tendo de decidir elle qua.l a. verdadeira. das
duas linhas de limites a eorrer entre o Brasil e a possesso franceza da Guyanna.
O Brasil pedia para linha de fronteira.. segundo o
artigo 8.0 do tratado de Utrecht, o rio Oyapoc desde a
sua foz no Oceano a.t o pararello de ~.o '24 como limite maritima, e como limite interior o mesmo parallelo de ~.o ~~ desde a margem do Oyapoe at a fronteira da Guyana Hollandeza.
(Vide mappa, linha a, lJ c)
A. Frana
reclamava,
em definitiva,
como limite
maritimu o rio "'l'agual'Y desde a SlIa foz al a eacl1o-
L.\lJDO
AHIlITHAL
eira Grallde Pancada, e tomo linha interior a que partisse dessa cachoeira parallelamerlte
t margem septentrional do Amazonas e Rio Negro at encontrar
oHio
Branco. (Vide !nappa, linha (t be).
O arbitro teria de decidir qual o verdadeiro
rio
Yapoc ou lTiccnte Pil1{'OJ1. e elll seguida
fixar o limite
interior,
podendo entret.ant.o, se achasse fundamento,
assentar a linha de limite em posio intermedia,
A decis;io do arbitro foi, como vimos, quasi que
totalmente
favol'Uvel ao Bl'Usil.
O verdadeiro Yapoc ou rio de Vicent.e Pinon foi
reconhecido como o reelamado pelo governo hrasileiro,
traando-se
a fronteira: na parte maritima,
pelo curso
do Yapoc ou Oyapoc que desemboca junto do Cabo
Orange, at a sua cabecl'ira principal na sena de Tumucumaque,
e o limite interior por lima linha correndo
pela cumiada dessa serra, pelo di'vodium aquarmn at
a fron~ira com a Guyanna
Hollandeza, (Vide mappa,
linha abmn).
'rerminoll assim o tri-secular
litigio.
Honra ao arbitro e gloria ao Baro do Rio Branco
que to patT'iotica e sabiamente
o soube defender.

O Rio São Francisco e A Chapada Diamantina

Enviado por

Direitos autorais:

Formatos disponíveis

O Rio São Francisco e A Chapada Diamantina

Enviado por

Dados do documento

Título original

Direitos autorais

Formatos disponíveis

Compartilhar este documento

Compartilhar ou incorporar documento

Opções de compartilhamento

Você considera este documento útil?

Este conteúdo é inapropriado?

Direitos autorais:

Formatos disponíveis

O Rio São Francisco e A Chapada Diamantina

Enviado por

Direitos autorais:

Formatos disponíveis

E a Chapada

Aos Jovens leitores

norte e interior da Bahia, parece dirigir um appello

>aulo, Maio de 1906

X. Xl. XII. :'\ III. -

A()~ joven>; Icito!'c"

il. pedra. do sino

na. Cal'inhanha il ~I()ntc Alto

Il. lIL I\". ,-

d.e :T'a.ne1ro a. l?ened.o

;1 fi 1879, O Conselheiro Canano

('ida., e tambem por proporcionar

tes g-eogmphia, i geologa e ao povoamento das rcgies

pohldas que se erguem em eirclllo de mais de milha d?

EH.!;' Jti; 4oocJO<l

Petwdo. para quelll a obspl'\'a do rio, t('lll a I)plla.

?_, ') .-~' ~-

/~...-:- ..... --../

t:e~. Ha ainda a igrcja de l\"o~~a Senhora da COlTcntl',

Os poucos dias que passamos

goas eixadas pela enchente anterior, so como duas

D H. TH !-;O))ORO :-;,\:\1 1''\ r ()

do ('allhJo elll (lue o rio penetra desde Paulo Afl'onso

tima de Pao d'Assllcar, de fado, um est('(~ito canho

A populao, nesse trecho, , por isso mais l'ara;

..A.":2e:lra. d.o Sino

1\'0 dia 'i:: de Agosto, depois de expedida a hagagem

~streito Pill que alii corrc um ribei\'() tCllIpot'ario, ha

todos para tomarmos

uma travessia mais'

Paulo Affonso cuja cacllOeira desejavumos

mento sem5ivel. Xo Iheio della, porm, o rio que vinha

~o leito arenoso qlle vamos trilhando como se fm

Ylli;"X:rm, o iIll., o al/gico,

si at a borda da torrente e participa-lhe

('eiras dos cardos.

ou montculos que a vegetac,o espinhenta do~ ("11'110se

ali seno alg-uns ranchos d~~tl'1tballlado(le cOl1struco l'pg:ular destinada

mento o granito e )lar vezes o syenito, no muito profundo no leito do rio.

metros acima do mar c tinhamos regularmcnte

dos >'cus P(~s e impellida

jwllados, prelos soh

chiLpeo de COIlI'O redondo e de

bom peito, desharrigado,

tcrpellt n'esta linguagem

para o mar, atl'avez das sen'as, <ue aqui se abatem

A cidade do .Joazciro com razo eonsiderada

paru cima, devia ser feita a bordo do vapo!' P'csiclcltle

(.ampo dQ. ('.,,:11101

do ,gnlil/'e qlle vem por entre as montanhas

d.e Ca.sa. Nova.

~o dia 21, pela tarde, depois de examinados os canaes

ell1 codlOs de madeira em que fazem a deeoada, que (~

Santa Anna do Sobradiuho, Casa Xova, Pilo Arcado,

A :} de ~oYembro saJtaxal1los em Pilrlo AI'cado, villa

A a11irna;o e alegria dc um momcnto no lograram

da~ ten'us attingindo-se

no ponham p em terra S(~1l1 primeiro tomarem o seu

:Da. Ea.:r:ra. a. U:ru b'