2012 WalterMendesDosSantos
2012 WalterMendesDosSantos
2012 WalterMendesDosSantos
O Intertexto Balzaquiano em
Recordaes do Escrivo Isaas Caminha
SO PAULO
2012
O Intertexto Balzaquiano em
Recordaes do Escrivo Isaas Caminha
SO PAULO
2012
Ficha Catalogrfica
Aprovado em:
Banca Examinadora
AGRADECIMENTOS
RESUMO
10
ABSTRACT
This PhD thesis aims to stablish a new approach for the first Lima
Barretos novel Recordaes do Escrivo Isaas Caminha. Divided into
four chapters, this work discusses the traditional view of literary
criticism that analyzes the book as a mere roman clef with
autobiographical traits, an important but incomplet reading. Instead,
the author proposes an intertextual approach between the Lima
Barretos novel with Illusions Perdues, by Honor de Balzac, from
which the Brazilian writer does a creative use of the protagonists
trajectory and themes like the myth of Napoleon, the provincial man
in the Capital and the criticism against the modern industrial press.
Its pointed out as well the presence of elements of other works from
French and Western literatures in Recordaes do Escrivo Isaas
Caminha, in a smaller degree than the Balzatian intertext, and the
process of articulation of these connections used by Lima Barreto to
denounce the social contradictions from the First Brazilian Republic
(1889-1930).
11
RESUM
12
SUMRIO
INTRODUO .......................................................................14
Corpus e metodologia .......................................................18
Fundamentao Terica .....................................................21
Relaes literrias Brasil-Frana .........................................36
1. UMA OUTRA CHAVE PARA ISAAS CAMINHA ....................48
1.1. A persistncia de um clich .........................................49
1.2. Pacto romanesco, no autobiogrfico ............................56
1.3. Chaves em Illusions Perdues .......................................60
2. POR UMA LEITURA INTERTEXTUAL...................................71
2.1. Preliminares de nossa tradio ....................................71
2.2. O modelo balzaquiano ................................................76
2.3. Outros emprstimos ...................................................90
3. UM ICONOCLASTA NO HORIZONTE ..................................110
3.1. Provincianos inspirados por Napoleo ..........................110
3.2. Temas stendhalianos em Lima Barreto .........................121
3.3. Um crtico da Belle poque .........................................134
3.4. Rompendo o horizonte de expectativas ........................149
4. CRTICAS DA LITERATURA AO QUARTO PODER ...............164
4.1. Panorama francs .....................................................165
4.2. Panorama brasileiro ...................................................173
13
14
INTRODUO
15
16
17
18
Corpus e metodologia
19
20
21
Fundamentao terica
22
23
24
25
ISER, Wolfgang. Problemas da teoria da literatura atual. In: COSTA LIMA, Luiz.
26
27
28
29
30
31
32
10
12
33
13
15
1966-1973. tablie et presnte par Eric Marty. Paris: ditions du Seuil, 1994.
34
Plus le texte est pluriel et moins il crit avant que je le lise;
je ne lui fais pas subir une opration prdicative,
consquente son tre, appele lecture, et je nest pas un
sujet innocent, antrieur au texte et qui en userait ensuite
comme dun objet dmonter ou dun lieu investir. Ce moi
qui sapproche du texte est dj lui-mme une pluralit
dautres, de codes infidles, ou plus exactement: perdues
(dont lorigine se perd). (...) Le commentaire dun seul texte
nest pas une activit contingente, place sous lalibi
rassurant du concret : le texte unique vaut pour tous les
textes de la littrature, non en ce quil les reprsente (les
abtrait et les galise), mais en ce que la literatura elle-mme
nest jamais quun seul texte17.
18
35
36
37
38
21
Durante muito tempo tive a meu lado um homem que havia permanecido dez ou
12 anos naquele outro mundo descoberto neste sculo, no lugar em que tomou p
Villegaignon e a que deu o nome de Frana Antrtica...
39
22
40
41
42
43
24
44
26
27
ALENCAR, Jos de. Sonhos dOuro. So Paulo: Melhoramentos, s/d. pg. 91.
28
45
Usado pela primeira vez por Michel Chevalier em 1836, durante misso
diplomtica francesa feita aos Estados Unidos e ao Mxico, o termo Amrica Latina
teria sido cunhado pelo imperador Napoleo III. Ele citou a regio e a Indochina
como reas de expanso da Frana na metade do sculo XIX. Na mesma poca foi
criado o conceito de Europa Latina, que englobaria as regies com predomnio de
lnguas romnicas.
30
46
47
GRAFIA UTILIZADA
48
49
Para entendermos a persistncia do roman clef como lugarcomum da crtica literria diante do romance de estreia de Lima
Barreto, precisamos rememorar a recepo inicial de Recordaes do
Escrivo Isaas Caminha. Os crticos literrios que primeiro
abordaram o livro foram os pioneiros a analis-lo a partir do estigma
do romance de chave isto , um texto no qual os protagonistas e os
lugares remetem a pessoas e a lugares reais cujos nomes so
codificados na obra.
Em resenha 3 para o jornal A Notcia, de 15 de dezembro de
1909, Medeiros de Albuquerque elogiava a tcnica do flashback usada
na obra, mas condenava o livro como um mau romance porque da
parte inferior dos roman clef (sic), com lamentveis aluses e
descrio de pessoas conhecidas. Alcides Maia, no Dirio de Notcias
3
50
Carta de Jos Verssimo a Lima Barreto. IN: LIMA BARRETO, Afonso Henrique.
51
Cultrix, 2007, pg. 358. verdade que Alfredo Bosi, nessa obra, assume uma
posio discursiva mais de historiador do que de crtico da literatura brasileira,
registrando meramente os juzos de valor que se construram em torno do escritor
pr-modernista. Entretanto, ao atuar como crtico literrio propriamente dito, ele
toma essa tendncia como ponto de partida, sem nenhum questionamento ou
ressalva, apenas avanando no caminho do biografismo, conforme podemos ver em
Figuras do eu nas recordaes de Isaas Caminha. IN: ____________. Literatura
e resistncia. Companhia das Letras: So Paulo, 2008, pgs. 186-208.
7
52
NUNES, Benedito. Prolegmenos a uma Crtica da Razo Esttica. IN: LIMA, Luiz
Vtor Manuel de Aguiar e Silva remete o leitor nesse ponto para TODOROV,
53
peculiar, um heterocosmo com estrutura e funes
especficas, onde o ser se funde com o no-ser, o existente
com o inexistente, o possvel com o impossvel, e atravs
desse heterocosmo, deste como se10, que se constitui e
manifesta essa correlao semntica. Uma correlao que
tanto pode revestir uma modalidade metonmica como uma
modalidade metafrica, que tanto pode apresentar-se sob a
espcie de uma fidelidade verista como sob a espcie de uma
deformao grotesca ou de uma transfigurao
desrealizante 11.
Idem, pg.168.
54
13
55
14
16
56
et alii. So Paulo: Martins Fontes: 1995. (Srie Leitura e Crtica), pgs. 5-12.
57
18
Idem.
19
58
59
21
60
22
61
23
BALZAC, Honor de. Illusions Perdues. presente et anote par Patrick Berthier.
62
24
63
25
Paris'". IN: LAnne Balzacienne (ISSN 0084-6473). Paris: Garnier, 1961, pages
185-189.
26
64
27
65
28
Idem.
66
67
Na questo dos personagens h (ouso pensar) uma simples
questo de momento. Caso o livro consiga viver, dentro de
curto prazo ningum mais se lembrar de apontar tal ou qual
pessoa conhecida como sendo tal ou qual personagem.
Concordo que h frases aqui e ali [em Recordaes do
Escrivo Isaas Caminha], e mesmo certas referncias, que
muito o prejudicam. Ainda questo de momento... (...) a
fora dos romances dessa natureza reside em que as
relaes dos personagens com o modelo no devem ser
encontradas no nome, mas na descrio do tipo, feita pelo
romancista de um s golpe, numa frase. Dessa forma, para
os que conhecem o modelo, a charge artstica, fica clara,
expressiva e fornece-lhes um maldoso regalo; para os que
no o conhecem, recebem o personagem como uma fico
qualquer de um romance qualquer e a obra, em si, nada
sofre. 29
29
68
como personagem coletivo da obra Recordaes do Escrivo
Isaas Caminha. No compreender esta diferena crer como
verdade toda e qualquer verso estabelecida por relatos de
cunho mimtico, com forte nfase na verossimilhana
realista, ou neorrealista, ou ainda naturalista. (...) Para
apresentar as coisas que poderiam suceder30 , isto , para o
campo da literatura ficcional da narrativa imaginria,
desprezvel saber-se o que o Correio da Manh criticou com
veemncia o autoritarismo governamental que submeteu a
populao vacinao obrigatria, em 1904. Do mesmo
modo, saber-se que o ttulo O Globo existe, desde 1876,
quando Quintino Bocaiva cria, de fato, o jornal
homnimo. 31
30
O grifo nesse ponto da citao de Moacyr Scliar. Ele cita ipsis literis a tese
69
32
LIMA BARRETO, Afonso Henrique. Prosa seleta. org. de Eliane Vasconcelos. Rio
70
71
72
Para ser preciso, ele no foi sequer o ltimo. Joo do Rio, jornalista e escritor
73
Completa. vol.1: romances. 2.ed. Rio de Janeiro: Jos Aguilar, 1962. (Biblioteca
Luso-Brasileira), pgs. 639-804.
6
74
10
11
A saber: Memrias Pstumas de Brs Cubas, Quincas Borba e Esa e Jac, sob os
75
76
Conforme reunida nas obras LIMA BARRETO, Afonso Henrique. Prosa Seleta. Rio
de Janeiro: Nova Aguilar, 2001 e; LIMA BARRETO, Afonso Henrique. Triste Fim de
Policarpo Quaresma. edio crtica. Antonio Houaiss e Carmen Lcia Negreiros de
Figueiredo (coord.). Paris: Allca XX; So Paulo: Scipione Cultural, 1997. (Coleo
Archivos).
16
77
17
78
20
79
80
81
82
Lima Barreto. A relao completa das obras de Lima Barreto na sua biblioteca
particular pode ser consultada no apndice Inventrio na obra BARBOSA,
Francisco de Assis. A Vida de Lima Barreto, pgs. 348-370.
83
22
acrescentados.
23
LIMA BARRETO, Afonso Henrique. Dirio ntimo. pref. de Gilberto Freire. Rio de
Janeiro, Belo Horizonte: Livraria Garnier, 1956. (Obras de Lima Barreto; XIV),
anotaes de 1/01/1905, grifos acrescentados.
24
Idem, pg 47.
25
84
26
27
29
acrescentados.
85
31
86
32
87
com o
34
entre Vutrin e Lucien, devemos lembrar que Vautrin descrito como homossexual
nas obras da Comdie Humaine, havia feito a mesma proposta em Le Pre
Goriot Rastignac (que a recusou) e sugere a Lucien que lhe devote a mesma
submisso de uma esposa ao seu marido.
35
88
36
dOphlie. Cest toutefois le mme dgot lide dtre extrait de leau sous forme
de cadavre grotesque qui retient Raphal et Lucien. Seul Athanase Granson ira
jusquau bout de sa pulsion mortelle dans La Vieille Fille.
LABOURET, Mireille. Mphistophles et lAndrogyne : les figures du pacte dans
Illusions Perdues. IN: LAnne Balzacienne (ISSN 0084-6473). Paris: PUF,
1996, n 17, page 213.
89
37
Caminha, pg.102.
38
39
40
Continuei a olhar o mar fixamente, de costas para os bondes que passavam. Aos
90
Como podemos ver, um ponto to pequeno retomado na obra prmodernista aciona mltiplas referncias na economia narrativa e
mostra o aproveitamento criativo realizado a partir do preliminar
francs.
91
41
Enfin le choix des prnoms bibliques contribue faire de ces deux personnages
des justes, qui llection divine donne la force de combattre un ennemi plus
puissant. Les pisodes clbres de la lutte de David et Goliath, ou de Daniel jet
dans la fosse aux lions [em nota: Voir I Samuel, 17 et Daniel, 6] apportent une
connotation pique et religieuse au combat que David va livrer et perdre en
partie ! contre les Cointet, ainsi quaux preuves de Daniel, subissant trahisons et
outrages lors de la sortie de son ouvrage, sans se dparter de sa srnit.
Lattachement rciproque de David et du fils de Sal, Jonathan, qui lamait comme
lui mme [em nota: I Samuel 18, 4.], rsonne dans lamiti passionne de David
et Lucien.
LABOURET, Mireille. Mphistophles et lAndrogyne : les figures du pacte dans
Illusions Perdues. IN: LAnne Balzacienne (ISSN 0084-6473). Paris: PUF,
1996, n 17, page 222.
Sobre outros intertextos bblicos em Illusions Perdues (como a presena do
Eclesiastes, do Gnesis, dos Evangelhos e da queda de Lcifer), ver BARON, AnneMarie. LIntertexte biblique dIllusions Perdues. IN: DIAZ, Jos-Luiz et GUYAUX,
Andr (eds.). Illusions Perdues. Actes du Colloque des 1er et 2 dcembre
2003 organis par lUniversit Paris-Sorbonne et la Societ des tudes
romantiques. 2e. ed. Paris: Presses de lUniversit Paris-Sorbonne, 2004.
(Colloques de la Sorbonne), pages 13-24.
92
42
do
livro de Isaas a um profeta individual e histrico que teria escrito uma obra
unificada.
44
O livre trnsito do profeta na elite israelita pode ser visto em Isaas 3.1-26; o seu
93
45
94
deixava de ter seus aspectos mgicos 47: a tentadora sibila a falarme, a toda hora e a todo o instante, na minha glria futura 48 e os
patos selvagens negros no cu bifurcando-se para formar a inicial de
VAI (para o Rio de Janeiro), um sinal animador [e] bom augrio do
meu propsito audacioso49. A denncia dos governantes no tarda a
chegar, quando ele contempla uma sesso da Cmara do Deputados
nos primeiros dias na ento Capital Federal e percebe o descompasso
47
Lima Barreto elenca uma srie de elementos mgicos nos primeiros captulos. Por
um lado, eles revelam uma conscincia ainda imatura por parte de Isaas das
contradies sociais, antes que ele ingresse no jornal, lanando ao sobrenatural as
razes do seu sucesso ou fracasso . Por outro, eles se articulam em torno das
capacidades especiais atribudas pelo heri posse do ttulo de Doutor:
Ah! Doutor! Doutor!... Era mgico o ttulo, tinha poderes e alcances mltiplos,
vrios, polifrmicos... Era um pallium, era alguma coisa como clmide sagrada,
tecida com um fio tnue e quase impondervel, mas a cujo encontro os elementos,
os maus olhares, os exorcismos se quebravam. De posse dela, as gotas da chuva
afastar-se-iam transidas do meu corpo, no se animariam a tocar-me nas roupas,
no calado sequer. O invisvel distribuidor dos raios solares escolheria os mais
meigos para me aquecer, e gastaria os fortes, os inexorveis, com o comum dos
homens que no doutor. Oh! Ser formado, de anel no dedo, sobrecasaca e
cartola, inflado e grosso, como um sapo-intanha antes de ferir a martelada beira
do brejo; andar assim pelas ruas, pelas praas, pelas estradas, pelas salas,
recebendo cumprimentos: Doutor, como passou? Como est, doutor? Era sobrehumano!
LIMA BARRETO, Afonso Henriques de. Recordaes do Escrivo Isaas
Caminha, pg. 46.
48
49
95
50
96
51
peso ainda maior diante das circunstncias histricas e ideolgicas que a envolvem.
Temendo a cobia dos espanhis sobre a terra recm-descoberta, Portugal manteve
o texto em segredo at o sculo XVIII no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em
Lisboa. Ele viria tona novamente em 1773, quando foi descoberta pelo diretor do
arquivo, Jos Seabra da Silva, que tinha ligaes familiares com o Brasil e mandou
fazer uma nova cpia do documento. Supe-se que o texto de Caminha tenha
chegado aqui por meio dele, com a sua transferncia para o Rio de Janeiro na vinda
da famlia real portuguesa. A cpia da carta foi encontrada no Arquivo da Marinha
Real do Rio de Janeiro pelo padre Manuel Aires do Casal, que a imprimiu em 1817,
tornando-a pblica pela primeira vez. O documento ganhou particular importncia
para o Brasil com a Independncia, em 1822, pois se tratava do manuscrito com o
primeiro registro de sua existncia, alimentando os sentimentos nacionalistas da
jovem nao.
97
52
98
53
99
Removam suas ms obras para longe da minha vista!
Parem de fazer o mal,
aprendam a fazer o bem!
Busquem a justia,
acabem com a opresso.
Lutem pelos direitos do rfo,
defendam a causa da viva.
(...) Vejam como a cidade fiel se tornou prostituta!
Antes cheia de justia e habitada pela retido,
agora est cheia de assassinos!
Sua prata tornou-se escria,
seu licor ficou aguado.
Seus lderes so rebeldes,
amigos de ladres;
todos eles amam o suborno
e andam atrs de presentes.
Eles no defendem os direitos do rfo,
e no tomam conhecimento da causa da viva.
Por isso o Soberano,
o Senhor dos Exrcitos, o Poderoso de Israel, anuncia:
Ah! Derramarei minha ira
sobre os meus adversrios
e me vingarei dos meus inimigos.
Voltarei minha mo contra voc;
tirarei toda a sua escria
e removerei todas as suas impurezas.
Restaurarei os seus juzes como no passado,
os seus conselheiros, como no princpio.
Depois disso voc ser chamada
cidade de retido, cidade fiel. 54.
54
100
55
56
que pelo fato de estar no palcio do rei, voc ser a nica entre os judeus que
escapar, pois, se voc ficar calada nesta hora, socorro e livramento surgiro de
outra parte para os judeus, mas voc e a famlia do seu pai morrero. Quem sabe
se no foi para um momento como este que voc chegou posio de rainha?
Ester 4.12-14, Bblia Sagrada: Nova Verso Internacional.
101
59
102
103
Flaubert, o Antchrist de Renan 61, o Ea; na estante, sob as
61
104
minhas vistas, tenho o Taine 62, o Bougl 63, o Ribot
62
105
64
64
106
Sobre as tradues portuguesas de livros estrangeiros nos sculos XIX e XX, ver
69
107
70
Aludimos aqui ao famoso texto do escritor e crtico literrio argentino Jorge Luis
108
s'arrter ?" 71. Nossa inteno , como ensina Leyla Perrone-Moiss 72,
estudar as transformaes introduzidas e objetivos buscados por
Lima Barreto com os modelos que ele usou a partir do levantamento
dessas fontes.
Primeiramente, as referncias do narrador barretiano
estabelecem a ancoragem do romance no contexto scio-histrico da
Belle poque, testemunhando da presena francesa na cultura
brasileira dos anos 1870-1920. Segundo, elas firmam um pacto de
legitimao e insero do romance Recordaes do Escrivo Isaas
Caminha dentro da tradio literria ocidental, convidando o leitor a
buscar e examinar as filiaes, preliminares e dilogos com os
autores franceses, portugueses e russos apresentados por ele.
Finalmente, os modelos e normas confessados por Isaas
Caminha efetuam um desejo de transcendncia literria, por assim
dizer: o narrador procura transpor o relato de seus dramas pessoais e
o retrato da Belle poque brasileira em um tom prximo ao da
pera-bufa para um nvel mais amplo e universal. Mas tal uso das
fontes no implica mera cultura enciclopdica nem submisso cega a
modelos. Como veremos no prximo captulo, o livro traz marcas que
71
109
110
3. UM ICONOCLASTA NO HORIZONTE
111
Para uma viso histrica sobre a influncia dos ideias da Revoluo Francesa na
Vrios dos poemas de Victor Hugo (1802-1885) testemunham do seu culto figura
Presente nos romances do Ciclo Vautrin (ver nota 6), mas de forma mais intensa
no segundo relato, feito por mile Blondet, de Autre tude de Femme (1842) e no
terceiro captulo de Mdecin de Campagne (1833).
112
113
114
115
aussi lide de voir la ralit parisienne par les yeux
dun jeune provincial, naf et pur dabord, mais vite
perverti par les sirnes de lambition. 9
116
117
10
Diante daquela mulher, na casa particular do deputado, cuja situao nela era
fcil de descobrir, eu fiquei nessa atitude de menino tmido que me invade, sempre
que estou em presena de mulheres, numa sala qualquer.
LIMA BARRETO, Afonso Henriques de. Recordaes do Escrivo Isaas
Caminha. pref. de Francisco de Assis Barbosa. Rio de Janeiro: Ediouro; So Paulo:
Publifolha, 1997. (Biblioteca Folha; 18), pg. 80.
11
Modern Language Notes, Vol. 43, No. 3. (Mar., 1928), pp. 179-180.
118
case, incidental in the other. Here is considerable likeness,
both of tone and trend 12 .
12
13
119
conservait, depuis soixante-dix au moins, ses robes de noce
en superbes toffes de Lyon, broches d'or. 14
120
15
BALZAC, Honor de. Illusions Perdues. presente et anote par Patrick Berthier.
121
votre dmission parce que vous ne pouvez pas obtenir
l'paulette que vous souhaitez... Mais avezvous rapport
tous vos vouloirs, toutes vos actions une ide ? ...
Hlas ! non, dit Lucien.
Vous avez t ce que les Anglais appellent inconsistent,
reprit le chanoine en souriant. 16
122
17
123
20
124
125
21
126
23
Patrick Berthier nos explica que le Bacchus indien des archologues est
represent barbu et vtu dune robe flottante, ce qui peut expliquer dentre sur
landrogynie du personnage de Lucien.
BALZAC, Honor de. Illusions Perdues, page 67.
24
Auprs du pauvre imprimeur [David Schard], (...) Lucien se tenait dans la pose
gracieuse trouve par les sculpteurs pour le Bacchus indien. Son visage [de Lucien]
avait la distinction des lignes de la beaut antique : c'tait un front et un nez grecs,
la blancheur veloute des femmes, des yeux noirs tant ils taient bleus, des yeux
pleins d'amour, et dont le blanc le disputait en fracheur celui d'un enfant. Ces
beaux yeux taient surmonts de sourcils comme tracs par un pinceau chinois et
bords de longs cils chtains.
BALZAC, Honor de. Illusions Perdues. presente et anote par Patrick
Berthier. Paris: Le Livre de Poche, 2008. (Classiques; 21017), page 67.
127
27
128
129
29
130
esquecer que essa mazela nacional pode ser agravada pela questo
da cor.
Tal realidade pode ser comprovada em diversos momentos da
obra, a comear pelo prefcio, tantas vezes ignorado na leitura do
romance. Nele, o narrador barretiano prope demonstrar como as
consideraes desfavorveis natureza da inteligncia das pessoas
do meu nascimento 30, alegadas num artigo provavelmente sobre os
estudos em voga que correlacionavam capacidade intelectual e
caractersticas raciais, no estava em ns, na nossa carne e nosso
sangue, mas fora de ns, na sociedade que nos cercava, as causas de
to feios fins de to belos comeos31. E as evidncias prosseguem
com o ns reticente presente no conselho da me antes da partida
de Isaas Caminha, os j citados episdios do passageiro loiro no
trem (em iguais condies sociais s do protagonista) com
tratamento melhor no balco e a denncia por suspeita de furto no
Hotel Jenikal, bem como o emprego rejeitado na padaria assim que
o proprietrio examinou o narrador32. No se trata, portanto, de uma
mera questo de conflito de classes.
30
32
131
132
33
133
134
135
35
Tal declarao precisa ser relativizada diante do fato de que o sujeito no sculo
XVIII apresenta-se inseguro em relao razo, como vemos nas obras filosficas
e literrias de Rousseau, Diderot e Prvost. A aparente contradio desaparece
quando contrastamos o sujeito moderno com o pr-moderno: enquanto aquele
reconhea os limites do pensamento racional, este guiava-se pelo pensamento
mgico para explicar e apreender o mundo.
136
137
138
38
139
40
140
141
43
142
143
144
Idem.
46
Ibidem.
Mais frente na pgina 68, Leyla Perrone-Moiss aponta o romance mais conhecido
de Lima Barreto, Triste Fim de Policarpo Quaresma, como a obra literria que
mostra de forma exemplar e irnica a reao nacionalista a essa rendio
incondicional Frana. Uma atitude, entretanto, rara na Belle poque brasileira.
145
47
146
48
49
forma literria e processo social nos incios do romance brasileiro. So Paulo: Duas
Cidades/Ed. 34, 2000, pgs. 11-31.
147
50
52
148
149
56
57
150
Gregorvitch incitara-me a trabalhar pela grandeza do
Brasil; fez-me notar que era preciso difundir na conscincia
coletiva um ideal de fora, de vigor, de violncia mesmo,
destinado a corrigir a doura nativa de todos ns. (...) Ele
riu-se do nosso critrio habitual dela, da insignificncia do
critrio dos nossos literatos. Gente, disse-me ele, que vive
perturbada, desejosa de realizar ideais de povos mortos,
ideais que j se esgotaram; prisioneira da arqueologia, e
muito certa de que a verdade est a, como se houvesse uma
beleza absoluta, existindo fora de ns e independente de
ns? Por a ele fez uma formidvel charge aos nossos
intelectuais. Eu sinto no poder reproduzi-la aqui. Estvamos
em meio do almoo e o vinho dava asas s suas palavras e
tornara mais lcido o meu esprito.
58
151
vivo cheio de dvidas, e hesito de dia para dia em continuar
a escrev-lo. No o seu valor literrio que me preocupa;
a sua utilidade para o fim que almejo. Quem sabe se ele me
no vai saindo um puro falatrio?! Eu no sou literato,
detesto com toda a paixo essa espcie de animal. O que
observei neles, no tempo em que estive na redao do O
Globo, foi o bastante para no os amar, nem os imitar. So
em geral de uma lastimvel limitao de idias, cheios de
frmulas, de receitas, s capazes de colher fatos detalhados
e impotentes para generalizar, curvados aos fortes e s idias
vencedoras, e antigas, adstritos a um infantil fetichismo do
estilo e guiados por conceitos e um pueril e errneo critrio
de beleza. Se me esforo por faz-lo literrio para que ele
possa ser lido, pois quero falar das minhas dores e dos meus
sofrimentos ao esprito geral e no seu interesse, com a
linguagem acessvel a ele. esse o meu propsito, o meu
nico propsito. No nego que para isso tenha procurado
modelos e normas. Procurei-os, confesso; e, agora mesmo,
ao alcance das mos, tenho os autores que mais amo.59
152
foram extrados de GENETTE, Grard. Figures III. Paris: ditions du Seuil, 1972.
153
154
61
62
155
63
156
157
64
158
65
adotada pelos escritores contemporneos a Lima Barreto, como Coelho Neto e Rui
Barbosa. Esse um outro clich que, ao lado daquele do roman cl, reflete o
horizonte de expectativas da recepo inicial de Lima Barreto e, volta e meia,
reaparece na fortuna crtica do autor pr-modernista.
67
159
68
69
PROENA, Manuel Cavalcanti de. Prefcio. IN: LIMA BARRETO, Afonso Henrique.
160
161
162
72
Com isso no queremos insinuar que Honor de Balzac no situe seus arrivistas
Lhomme nest ni bon ni mchant, il nat avec des instincts et des aptitudes ; la
163
74
164
165
166
167
35-46.
168
dos Media. Porto: Edies Universidade Fernando Pessoa, 2003. A obra aludida de
Jesus Timteo Alvarez, com os conceitos de party press e penny press, ALVAREZ,
Jesus Timteo. Historia y Modelos de la Comunicacin em el Siglo XX: el
nuevo orden informativo. 2. ed. Barcelona: Ariel, 1992. Grafia original mantida
segundo a norma do portugus europeu, em conformidade com o Acordo
Ortogrfico de 1945, ligeiramente alterado pelo Decreto-Lei n 32, de 6 de
fevereiro de 1973, vigente em Portugal antes do Acordo Ortogrfico da Lngua
Portuguesa (1990).
169
O'BOYLE, Lenore. The Image of the Journalist in France, Germany, and England,
1815-1848. IN: Comparative Studies in Society and History, Vol. 10, No. 3.
(Apr., 1968), pages 290-317.
170
171
aquilo que este pedia, ou talvez coisa pior do que teria
pedido. 7
O'BOYLE, Lenore. The Image of the Journalist in France, Germany, and England,
172
173
... a mans full time and so was the ideal way for a poor law
student or artist to make out temporarily. The same situation
could be observed elsewhere in Europe. Everywhere men
who were, in Girardins [um proprietrio de jornal da poca]
phrase, victimes of a university education, men who had not
succeeded in becoming lawyers, doctors, or professors,
turned to journalism. What was unique about the French
press was the intimate association between journalism and
politics; writing for the newspapers was regarded as a
normal step in a mans career and a n accepted means of
gaining political office. 9
10
174
11
175
12
176
13
14
177
178
15
179
17
complete, A Z identifica esse jornalista com o redator mal pago. Embora este
dado seja plausvel por haver semelhanas no comportamento entre os dois,
Honor de Balzac no os associa textualmente na obra Illusions Perdues.
CERFBERR, Anatole & CHRISTOPHE, Jules Franois. Repertory of The Comdie
Humaine complete, A Z. translated by J. Walker McSpadden.
Teddington: Echo Library, 2007, pg. 222.
18
BALZAC, Honor de. Illusions Perdues. presente et anote par Patrick Berthier.
180
181
21
; Oliveira parvo
182
23
183
grotesco, transferindo a capacidade de liderana e
inteligncia brutal irracionalidade animalesca.24
24
184
25
185
26
186
avalia-se a importncia do escrito pelo tamanho; a questo
no comunicar pensamentos, convencer o pblico com
repeties inteis e impression-lo com o desenvolvimento
do artigo. Para se dar extenso aos artigos lana-se mo de
todos os recursos. Acumulam-se incidentes e aprestos,
organizam-se consideraes, empregam-se velhas
pilhrias. 28
187
BALZAC, Honor de. Illusions Perdues. presente et anote par Patrick Berthier.
188
31
e; o
33
. Plnio
30
31
32
33
189
190
livro 35. Tal luta pode ser percebida no destaque que o jornalismo
assume internamente na intriga como um espao simblico
privilegiado nos romances em questo.
Douglas Kellner36
35
191
192
37
39
40
193
41
194
42
BALZAC, Honor de. Illusions Perdues. presente et anote par Patrick Berthier.
195
44
Outras crticas de Lima Barreto aos jornais da poca podem ser vistas na crnica
196
CONSIDERAES FINAIS
197
Deus escreve direito por linhas tortas, dizem. Ser mesmo isso ou ser de
198
199
200
temos a certeza de
201
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
21017).
_________________. Iluses Perdidas. trad. de Ernesto Pelanda e
Mrio Quintana. So Paulo: Crculo do Livro, s/d.
_________________. La Comdie Humaine. 7 Vols. prface de
Pierre-Georges Castex; presente et anote par Pierre Citron.
Paris: ditions Du Seuil, 1965. (LIntgrale).
_________________. Le Pre Goriot. prface et commentaires de
202
203
204
pg. 91.
______________. Senhora. So Paulo: Zero Hora; Klick Editora,
1997. (Biblioteca ZH; 2).
EA DE QUEIROZ. A Correspondncia de Fradique Mendes:
memrias e notas. Porto: Lello & Irmo, 1952.
MACHADO DE ASSIS. Quincas Borba. IN:_____________________.
Obra Completa. vol.1: romances. 2.ed. Rio de Janeiro: Jos
Aguilar, 1962. (Biblioteca Luso-Brasileira), pgs. 639-804.
STENDHAL. Le Rouge et le Noir : cronique du XIXe sicle. prface
et commentaires de Pierre-Louis Rey. Paris: Pocket, 2010 (Pocket
Classiques; 6028)
205
206
p u b l i c a t i o n s / l i m a b a r r e t o . p d f ?
PHPSESSID=a204ae6c9a8f49446402f4e25ff0207a> Accs : 30
dcembre 2006.
LINS, Osman. Lima Barreto e o espao romanesco. So Paulo:
tica, 1976.
MACHADO, Maria Cristina Teixeira. Lima Barreto Um Pensador
Social na Primeira Repblica. Braslia, 1997 (?). Tese de
Doutorado em Sociologia. Departamento de Sociologia
Doutorado em Sociologia, Universidade de Braslia.
PRADO, Antnio Arnoni. Lima Barreto: literatura comentada. So
Paulo: Nova Cultural, 1990.
PROENA, Manuel Cavalcanti de. Prefcio. IN: LIMA BARRETO,
Afonso Henrique. Impresses de Leitura. So
P a u l o :
Brasiliense, 1956.
RESENDE, Beatriz. Lima Barreto e o Rio de Janeiro em
Fragmentos. Rio de Janeiro: UFRJ; Campinas, SP: Unicamp,
1993.
SEVCENKO, Nicolau. Lima Barreto, a Conscincia sob Assdio. IN:
LIMA BARRETO, Afonso Henrique. Triste Fim de Policarpo
Quaresma. edio crtica, Antonio Houaiss e Carmen Lcia
Negreiros de Figueiredo (coord.). Paris: AlLiteratura Comparada
XX; So Paulo: Scipione Cultural, 1997, pgs. 318-350. (Coleo
207
Archivos).
SANTIAGO, Silviano. Uma Ferroada no Peito do P: dupla leitura de
Triste Fim de Policarpo Quaresma. IN: __________________.
Vale Quanto Pesa: ensaios sobre questes poltico-culturais.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982 (Coleo Literatura e Teoria
Literria; 44), pgs. 163-181.
SIQUEIRA, Marina Gonzaga de. Lima Barreto a proposta
literria, social e poltica do cronista. Braslia, 2005.
Dissertao de Mestrado em Literatura. Departamento de Teoria
Literria e Literatura Mestrado em Literatura, Universidade de
Braslia.
SOUZA, Elaine Brito. Isaas Caminha: desiluses de um mulatoinstrudo na imprensa. IN: Congresso da Associao Brasileira de
Literatura Comparada (ABRALIC), XII, 2011, Curitiba. Anais
Online. Curitiba: Associao Brasileira de Literatura Comparada,
2011. Disponvel em: <http://www.abralic.org.br/anais/
cong2011/AnaisOnline/resumos/TC0634-1.pdf >. Acesso em: 11
de setembro de 2011.
VERANI, Ana Carolina. O Triste Fim de Lima Barreto: Literatura,
Loucura e Sociedade no Brasil da Belle poque. Rio de
Janeiro, 2003. Tese de Doutorado em Literatura. Departamento
de Letras Doutorado em Literatura, Pontifcia Universidade
208
209
p. 823-850.
CARVALHO DE ALMEIDA, Maria Manuela. A literatura entre o
sacerdcio e o mercado: estudo comparatista de "Illusions
perdues" de Balzac e "A eminente actriz" de Fialho de Almeida.
Braga: Angelus Novus, D.L. 1997. (Ensaio. Literatura)
CENTRE DE RECHERCHES HUBERT DE PHALSE. Echos et
rceptions des Illusions perdues. IN: Complments au
livre la recherche des Illusions perdues. Paris : Nizet,
2003. Page web du Centre de recherches Hubert de Phalse
Universit Paris III (Sorbonne la Nouvelle). Disponible sur :
<http://www.cavi.univ-paris3.fr/phalese/Balzac/echos.htm>.
Accs : 24 aout 2009.
CERFBERR, Anatole & CHRISTOPHE, Jules Franois. Repertory of
The Comdie Humaine complete, A Z. translated by J.
Walker McSpadden. Teddington: Echo Library, 2007.
COLLON-BRARD, Suzanne. La gense d'un roman de Balzac:
"Illusions perdues", 1837. 1, Thmes et expriences; 2, Du
manuscrit l'dition. Paris: A. Colin, 1961.
CONNER, Wayne. Sur Quelques Personnages dUn Grande Homme de
Province Paris. IN: LAnne Balzacienne (ISSN 0084-6473).
Paris: Garnier, 1961, pages 185-189.
DURAND, Alain-Philippe. Lucien Chardon de Rubempr:
210
211
212
213
Pensadores).
ARLOW, Jacob A. The Poet as Prophet: a psychoanalytic
perspective. Psychoanalytic Quarterly (1986), 55:53-68.
AUERBACH, Erich. Mimesis: a representao da realidade na
literatura ocidental. So Paulo: Perspectiva, 1976. (Coleo
Estudos).
BAKTHIN, Mikhail. Marxismo e Filosofia da Linguagem. Hucitec.
So Paulo, 1994.
______________. Problemas da potica de Dostoivski. Rio de
Janeiro: Forense- Universitria, 1981.
______________. Biografias e Autobiografias Antigas e A Pessoa
que Fala no Romance. IN: ______________. Questes de
Literatura e Esttica: a teoria do romance. trad. de Aurora
Fornoni Bernardini et alii. So Paulo: Unesp/Hucitec, 1988.
BARTHES, Roland. S/Z. IN: ______________. Oeuvres Compltes.
tome II: 1966-1973. tablie et presnte par Eric Marty. Paris:
ditions du Seuil, 1994.
BENJAMIN, Walter. A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade
Tcnica: primeira verso, A Imagem de Proust, A Crise do
Romance: sobre Alexandersplatz, de Dblin, O Autor Como
Produtor, Franz Kafka: a propsito do dcimo aniversrio de
sua morte e O Narrador: consideraes sobre a obra de Nikolai
214
215
216
217
218
219
220
221
169-210.
BELLANGER, Claude et alii (ed.). Histoire gnrale de la presse
franaise. Paris: Presses universitaires de France, 1969.
BOURDIEU, Pierre. A Influncia do Jornalismo Sobre a Televiso. IN:
_______________. Sobre a Televiso. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 1997, pgs. 101-120.
COSTA, Cristina. Pena de Aluguel: escritores jornalistas no
Brasil 1904 2004. So Paulo: Companhia das Letras,
2000.
DELPORTE, Christian. Histoire du journalisme et des journalistes
en France: du XVIIe sicle nos jours. Paris: Presses
universitaires de France, 1995. (Que sais-je?; 2926).
DEMTRIO, Silvio Ricardo. Os limites do devir literatura no
jornalismo. IN: Biblioteca On-line de Cincias da
Comunicao (ISSN: 1646-3137). Stio web da Faculdade de
Artes da Universidade da Beira Interior, Portugal. Disponvel em:
<http://www.bocc.ubi.pt/pag/demetrio-silvio-literaturajornalismo.pdf.> Acesso em: 5 de outubro de 2007.
ERBOLATO, Mrio. Tcnicas de Codificao em Jornalismo:
redao, captao e edio no jornal dirio. 5. ed. So Paulo:
tica, 1991. (Srie Fundamentos).
JOBIM, Danton. Esprito do Jornalismo. So Paulo: Livraria So
222
de 2006.
223
224
APNDICES
APNDICE A:
TRAVANCAS, Isabel. O jornalismo e suas representaes literrias. Anais do 26.
Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao. Belo Horizonte-MG, setembro de
2003. So Paulo: Intercom, 2003. [cd-rom]. Tambm disponvel em: <http://
hdl.handle.net/1904/4425>. Acesso em: 5 de outubro de 2007.
Isabel Travancas
UFRJ
Introduo
A literatura ocupa um lugar de destaque nas sociedades ocidentais, desde antes da
modernidade. Os textos literrios tiveram grande poder de penetrao nos mais diversos
grupos sociais, ajudaram a construir mitos e a romancear atividades e profissionais, como foi
o caso da imprensa e dos jornalistas. O quarto poder e seus agentes foram e continuam
sendo na atualidade tema e protagonistas de diversas obras de fico. possvel afirmar que
a literatura imortalizou algumas imagens do jornalista; representaes que certamente
marcaram os futuros reprteres. Heri e bandido estiveram presentes em diferentes romances.
O vilo representado pelo profissional que no mede esforos para conseguir seus objetivos
e dar um furo de reportagem. Sem carter e trafegando pelo submundo do crime, ele no
hesita em colocar sua carreira na frente de tudo e todos e esta representao a mais presente
na literatura de um modo geral. Isso no acontece com os livros-reportagem ou de histrias
de vida, como o caso de Todos os homens do Presidente de C. Bernstein e B. Woodward
sobre a cobertura do escndalo Watergate. Este acontecimento se tornou emblemtico do
modelo de jornalista-heri que coloca a profisso acima de tudo e luta at o fim pela verdade
dos fatos. O livro virou filme com mesmo ttulo e contou com a atuao de Dustin Hoffman e
Robert Redford nos papis principais.
Duas obras clssicas so referncia fundamental para pensar o jornalista na literatura:
Iluses perdidas, de Honor de Balzac e Recordaes do escrivo Isaas Caminha, de
Lima Barreto. O romance francs A Comdia Humana traa um retrato da Frana em
meados do sculo XIX, poca em que Paris a grande capital europia, a burguesia est em
plena ascenso e os conflitos sociais explodem por toda parte. o perodo em que se do
grandes transformaes, como o surgimento do trem a vapor e o aparecimento das lojas de
departamento para felicidade das mulheres. Os sales literrios so verdadeiros
1 Trabalho apresentado no Ncleo de Jornalismo, XXVI Congresso Anual em Cincia da Comunicao, Belo
Horizonte/MG, 02 a 06 de setembro de 2003.
acontecimentos que renem no apenas literatos, mas jornalistas e polticos. A imprensa tem
um lugar de destaque neste contexto. Longe de funcionar como uma empresa nos moldes
capitalistas e com funcionrios assalariados, ela ainda profundamente amadora, com laos
estreitos com grupos polticos e com um enorme poder de influncia.
no segundo episdio da obra Iluses perdidas -, que o escritor apresenta a sua
viso crtica da imprensa e dos jornalistas, atravs da trajetria de Lucien Chardon,
personagem provinciano seduzido pela capital e pelo desejo de sucesso. Basta lembrar que
Balzac se referia aos jornais como cncer que talvez devore o pas e no tinha piedade ao
mostrar os jornalistas como inescrupulosos e superiores aos fatos. Lima Barreto em Isaas
Caminha alm de narrar a luta contra o preconceito racial, apresentava de forma crtica a
mediocridade presente na imprensa e na literatura. Nota-se que estes dois romances enfatizam
o mesmo lado da moeda: o jornalista sem carter trabalhando em uma imprensa, nem sempre
corrompida, mas inmeras vezes leviana e agindo apenas em funo de seus interesses
particulares. No h nada de herico nos personagens de Balzac e Lima Barreto.
Entendo aqui heri nos termos que R. Helal(Rocha,1998:138) utiliza para discutir este
papel na atualidade. Heri como
quem conseguiu, lutando, ultrapassar os limites possveis das condies histricas e
pessoais de uma forma extraordinria, contendo esta faanha uma necessria dose de
redeno e glria de um povo. Mas, para que sua trajetria herica alcance este status,
necessrio que as pessoas acreditem na verdade que as faanhas do heri afirmam.
O que ele est afirmando na verdade que todos os grupos sociais de alguma forma
fabricam seus heris.
Mas a literatura de maneira geral, e estes trs romances em particular, - Bel-ami de
Guy de Maupassant; Adeus princesa, de Clara Pinto Correia e O vo da rainha, de Toms
Eloy Martinez-, no procuram representar o jornalista como o heri urbano. Ele aparece
sobretudo como bom vivant, ambicioso, sedutor e bomio, e no como o homem pblico
preocupado com o bem comum e com a esfera pblica, nos termos de R. Sennett(1988:27).
Sennet afirma em sua obra que h uma tirania da intimidade e que esta provocou um declnio
do interesse pelo mundo pblico nas sociedades modernas e individualistas. A meu ver, o
jornalista poderia ser visto como um dos ltimos representantes deste homem pblico.
1 Trabalho apresentado no Ncleo de Jornalismo, XXVI Congresso Anual em Cincia da Comunicao, Belo
Horizonte/MG, 02 a 06 de setembro de 2003.
suas informaes, astuto, rpido, sutil, um verdadeiro valor para o jornal, como dizia
Walter, que era conhecedor de redatores.
Ele, como Chardon, no de Paris, veio do interior, onde ainda vivem seus pais. E
est tambm fascinado pela cidade, pela vida urbana, pelo jornalismo.
Afinal, o jornalista antes de tudo um habitante da cidade. O mundo urbano tem
caractersticas e particularidades que se combinam e se misturam no jornalismo. Quando
Simmel (1979) cita como caractersticas dos indivduos da cidade a superficialidade, o
anonimato, as relaes transitrias, a sofisticao e a racionalidade, difcil no associ-las
ao jornalista. No que elas sejam exclusivas desta carreira, mas nela se expressam com
intensidade. E por isso possvel estabelecer uma relao to ntima entre este profissional e
a cidade como se percebe nos textos citados. A cidade, mais intensamente a metrpole, como
afirma Simmel determina um novo modo de vida, novas relaes sociais e uma ampliao
das ocupaes resultantes do desenvolvimento tcnico associado ao transporte e
comunicao. No h apenas novos e diferentes meios de comunicao, mas um processo que
ocorre tambm, agora, a partir de meios indiretos.
O desencantamento a marca do texto literrio da portuguesa Clara Pinto Correia.
Seu livro Adeus, princesa, escrito no final da dcada de 1990, conta a histria do assassinato
de um mecnico alemo no interior de Portugal, atravs da cobertura jornalstica realizada
pelo estagirio Joaquim Peixoto e pelo fotgrafo Sebastio Curto. Os dois jornalistas so da
cidade grande, - eles vm de Lisboa -, seus olhares so de estranhamento e de um certo
desprezo pela regio do Alentejo, considerada atrasada. Neste romance policial, cuja
descoberta do assassino no o foco da narrativa, h muitos personagens desencantados. A
jovem Maria Vitria Rosado, 18 anos, principal suspeita do crime e todos os seus jovens
colegas se mostram desesperanados. O nico personagem que acredita no seu prprio
trabalho, e procura realiz-lo da melhor forma possvel o estagirio inexperiente, ignorante
ainda das artimanhas da profisso. Na verdade, a cobertura sua primeira grande experincia
jornalstica, j que trata-se de um foca no jornal e na vida. E ele no esconde sua decepo
com os rumos da reportagem e com o texto final. Sebastio Curto que lhe ensina:
1 Trabalho apresentado no Ncleo de Jornalismo, XXVI Congresso Anual em Cincia da Comunicao, Belo
Horizonte/MG, 02 a 06 de setembro de 2003.
No penses que eu no entendo o que tu sentes. Estou nesta vida h anos, e j assisti a
muitas estrias. H sempre um momento bestialmente doloroso em que vocs descobrem
que o que escrevem nunca o que as pessoas envolvidas gostariam que tivessem escrito.
E se a cidade o espao da diversidade, do cruzamento de mundos e tribos
diferentes, o jornalista vivencia com mais intensidade este fato em seu cotidiano. Transitar
por distintas esferas da metrpole, desvendando territrios heterogneos e construindo um
mapa, para muitos habitantes desconhecido, uma das funes do reprter - figura
paradigmtica do jornalismo que, com as suas tarefas de apurao dos fatos e redao da
notcia, se torna uma espcie de cidado do mundo. O jornalista atravessa fronteiras e tem
acesso livre quase todos os lugares. Dos meios oficiais aos marginais e perigosos. Essa
convivncia e proximidade com inmeros segmentos da sociedade num alto grau de
heterogeneidade geram no reprter um ar blas diante da vida, do qual fala Simmel ao
descrever o indivduo da cidade. Recebendo uma grande quantidade de estmulos, entrando
em contato com diferentes realidades e diferentes pessoas a cada dia, o jornalista precisa se
proteger desse excesso de estmulos produzidos pela metrpole e pela sua experincia
profissional, como vemos demonstrada na figura de Sebastio Curto, o fotgrafo experiente e
desiludido com o papel da imprensa.
O vo da rainha1, do escritor argentino Toms Eloy Martnez, publicado no Brasil em 2002,
faz parte da coleo Plenos Pecados da editora Objetiva, na qual diferentes escritores foram
convidados a produzir textos de fico tendo um dos pecados como tema. No por acaso
que a vida de um jornalista, que torna-se um poderoso homem de imprensa, o protagonista
desta histria sobre a soberba. Trata-se de um profissional extremamente bem sucedido, com
poder e glria, mas atormentado por no ter encontrado a felicidade. Ele, Camargo comanda
os destinos do jornal, em muitos aspectos de seus funcionrios e interfere diretamente nos
acontecimentos da nao argentina. E se mostra, ao longo de toda a narrativa disposto a pagar
qualquer preo para obter o que deseja: uma jovem reprter, Reina, que o fascina e encanta,
mas o abandona. E isto Camargo no perdoa. Com toda sua arrogncia prepara uma vingana
contra sua amada, usando todas as artimanhas que sua posio lhe permite. Manipula o jornal
contra ela, encontra aliados em seus concorrentes, preparando-se para um desfecho trgico.
1
Vale lembrar que o livro faz referncia direta e explcita ao caso do diretor do jornal O Estado de S. Paulo, Antonio
Pimenta Neves que em 2001, aps ter contratado e promovido a namorada, a assassina por no ter suportado ser abandonado
por ela.
1 Trabalho apresentado no Ncleo de Jornalismo, XXVI Congresso Anual em Cincia da Comunicao, Belo
Horizonte/MG, 02 a 06 de setembro de 2003.
Camargo est ligado ao jornal visceralmente. Ele atende seu telefone celular no
importa onde estiver. Nunca a primeira pgina do dirio fechada sem a sua autorizao ou
interferncia. Suas filhas s contam com a sua ausncia, mesmo nos momentos mais
dramticos. Sua ex-mulher conta com seu auxlio financeiro. No parece haver sentimentos
em jogo. O jornal est sempre na frente, em qualquer situao, doa a quem doer. At que
Reina entra em cena. Tudo se transforma e ele perde o controle. Embora, nas palavras de
Camargo, como seria melhor o jornal se ele pudesse escrever sozinho. Como seria melhor o
mundo se ele o escrevesse a realidade se impe diferente do sonho, da soberba. Aqui vemos
o jornalismo e suas rotinas associadas diretamente arrogncia e presuno. Deslizes
ticos so constantes tanto por parte dos reprteres quanto de seus editores. A imprensa
colocou-os em um lugar especial, de destaque. Nesta narrativa, que tem a cidade de Buenos
Aires do incio do sculo XXI como pano de fundo, com todas as mazelas das grandes
cidades desta poca com violncia, injustia social e corrupo, no aparece o reprter
ingnuo de Adeus, princesa que tenta entender sua entrevistada, que se comove com a sua
histria. Mesmo Reina sabe desde o comeo o que quer. ambiciosa e desde que entrara no
jornal considerava aquele trabalho uma beno em que iria superando uma prova aps
outra ao longo de muitas semanas, at que algum editor reparasse nela e proclamasse seu
talento. Ela era uma jovem de classe mdia de Buenos Aires que buscava conquistar seu
lugar na capital.
E se o mundo urbano o local privilegiado do anonimato em oposio ao campo ou
cidade pequena, para o jornalista esta vivncia se torna marcante para a obteno de sucesso
e status. O jornalista est atrs de um furo que nada mais do que a possibilidade de
diferenciao dentro da profisso, de individualizao, de conquista de notoriedade e,
portanto, de escape do anonimato, o que significar ter seu nome impresso na primeira pgina
do jornal e ser reconhecido pelos colegas e pela sociedade. Esta situao est presente nas
trs obras analisadas, de diferentes maneiras.
Para Adorno e Horkheimer(1991), importantes pensadores da Escola de Frankfurt, a
imprensa, em particular, e a indstria cultural como um todo, no tm sada. Os jornais visam
o lucro e os jornalistas buscam o furo e a notoriedade. E isso d mdia uma feio muito
peculiar, segundo os autores. Ela ter sempre fins capitalistas, valorizando o sensacionalismo
e o entretenimento, o que a impossibilitar de se tornar informativa e democrtica..
1 Trabalho apresentado no Ncleo de Jornalismo, XXVI Congresso Anual em Cincia da Comunicao, Belo
Horizonte/MG, 02 a 06 de setembro de 2003.
O que se pode notar em uma rpida reflexo sobre algumas obras literrias de
diferentes pocas, autores e nacionalidades, o quanto estas narrativas esto impregnadas por
esta viso adorniana da imprensa e dos jornalistas. Pode-se afirmar que Balzac,
Maupassant e Lima Barreto so anteriores Escola de Frankfurt. Mas no se trata aqui de
buscar uma filiao ou mesmo uma genealogia nesta anlise, mas perceber os pontos de
contato com esta importante corrente de reflexo sobre a indstria cultural e seu alcance nas
sociedades contemporneas.
Adorno e Hokheimer, assim como Balzac, Maupassant, Lima Barreto, Correia e
Martinez, com suas inmeras distines e estilos constrem uma representao dos jornais e
de seus jornalistas, bastante desencantada. No h aqui espao para o jornalista que busca
noticiar a verdade acima de tudo, que assume um compromisso tico com seus leitores, que
procura ser um guardio da liberdade de expresso e informao, trazendo para as pginas
dos jornais uma informao isenta e objetiva. Aqui o jornalista no o heri.
Concluso
A anlise destas obras de diferentes escritores em diferentes pocas, tendo o jornalista
como personagem central de suas histrias, me permitiu chegar a algumas concluses. A
literatura privilegiou e continua privilegiando a imprensa e sua figura mais paradigmtica o
reprter como tema de seus romances.
Entretanto, gostaria de chamar a ateno para o fato de as representaes mais
freqentes dos jornalistas na literatura serem diferentes das que pude detectar no
cinema(Travancas:2001), onde aparecem com igual dimenso o heri e o bandido. Nas obras
literrias que analisei, este profissional tem uma imagem muitas vezes ambgua ou
contraditria, fascinando e atraindo em muitas ocasies, mas tambm sendo mostrado
inescrupuloso, desonesto ou mau carter.
A profisso de jornalista exige de quem a escolhe um envolvimento e uma dedicao
particulares e pelo fato de significar bem mais do que uma atividade ou emprego na vida de
seus profissionais, ela gera um estilo de vida e uma viso de mundo especficos. o que se
pode observar nas obras citadas. Cada um dos protagonistas apresenta um estilo de vida
totalmente impregnado pela profisso. Eles tm suas rotinas determinadas pelo trabalho, seus
1 Trabalho apresentado no Ncleo de Jornalismo, XXVI Congresso Anual em Cincia da Comunicao, Belo
Horizonte/MG, 02 a 06 de setembro de 2003.
1 Trabalho apresentado no Ncleo de Jornalismo, XXVI Congresso Anual em Cincia da Comunicao, Belo
Horizonte/MG, 02 a 06 de setembro de 2003.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
ADORNO, Theodor & HORKHEIMER, Max. Dialtica do esclarecimento. RJ: Zahar, 1991.
BALZAC, Honor de. Iluses perdidas. In: A comdia humana. SP: Globo, 1990.
BARRETO, Lima. Recordaes do escrivo Isaas Caminha. RJ: Ediouro, 1980.
BERNSTEIN, Carl & WOODWARD, B. Todos os homens do Presidente. RJ: Francisco
Alves, 1978.
BOURDIEU, Pierre. Sobre a televiso. RJ: Zahar, 1997.
CORREIA, Clara Pinto. Adeus, princesa. RJ: Rocco, 2001.
HELAL, Ronaldo. Cultura e idolatria: iluso, consumo e fantasia. ROCHA, Everardo(org).
Cultura e imaginrio. RJ: Mauad, 1998.
MARTINEZ, Toms Eloy. O vo da rainha. RJ: Objetiva, 2002.
MAUPASSANT, Guy de . Bel-ami. SP: Martins Editora s. d.
SENNET, Richard. O declnio do homem pblico. SP: Companhia das Letras, 1988.
SIMMEL, Georg. A metrpole e a vida mental. VELHO, Otvio(org). O fenmeno urbano.
RJ: Zahar, 1979.
TRAVANCAS, Isabel. O mundo dos jornalistas. SP: Summus, 1993.
__________________. O jornalista como personagem de cinema. Campo Grande, Intercom,
2001(Cdrom)
1 Trabalho apresentado no Ncleo de Jornalismo, XXVI Congresso Anual em Cincia da Comunicao, Belo
Horizonte/MG, 02 a 06 de setembro de 2003.
APNDICE B:
LE MOING, Monique. Lima Barreto ou L'illusion Tragique. IN: Littrature
brsilienne Les auteurs brsiliens traduits en franais. Page web de lAmbassade du
Brsil en France. Disponible sur : <http://www.bresil.org/images/stories/ambassadedocuments/le-bresil-en-france/publications/limabarreto.pdf?
PHPSESSID=a204ae6c9a8f49446402f4e25ff0207a> Accs : 30 dcembre 2006.
Monique LE MOING*
Le 29 mai 1954, O Cruzeiro, lun des plus grands quotidiens brsiliens, prsentait Lima Barreto de cette
faon caricaturale et succinte :
Nom : Afonso Henriques de Lima Barreto. N dans le district fdral le 13 mai 1881. Clibataire. Filleul du Vicomte de Ouro
Preto et de Notre-Dame de la Glria. Il aimait faire de longues promenades pied et portait un chapeau de paille. Il naimait pas
le cinma, particulirement le cinma amricain. Il crivait la main. Il avait une profonde antipathie pour le tlphone quil
trouvait inutile. Son plat favori : les haricots noirs avec une bonne sauce tomate, des oignons et du vinaigre, accompagns de
viande sche. Il savait trs bien nager. Il rpondait religieusement toutes les lettres quil recevait et gardait les minutes de ses
rponses. Il naimait pas le quartier de Botafogo ni la zone sud en gnral. Il dtestait le football, surtout parce que les grands
clubs cariocas affichaient leur prjugs raciaux. Sans tre monarchiste, il naimait pas la Rpublique. Plus dune fois il se
proclama anarchiste. Antimilitariste, il tait fonctionnaire au Ministre de la Guerre. Il fumait et buvait normment. Il hantait
tous les petits bars de la ville. Il tait superstitieux. Ses lectures prfres : Guyau, Brunetire, Kropotkine, Balzac, Dostoevski,
Tolsto et Maupassant. Il naimait pas quon le compare Machado de Assis et encore moins quon le considre comme son
disciple, son mule. Il critiqua le futurisme. - Bien quapprciant peu lAcadmie Brsilienne de Lettres, il sy prsenta trois fois
sans succs. Il ne se considrait pas comme athe bien quil ne ft pas catholique (il disait lui-mme : Je suis profondment
tolrant, jamais je nai t anti-clrical ). Il shabillait mal, affreusement mal ; ctait son style - Il mourut le 1er novembre
1922 et fut enterr le jour des morts dans le cimetire de So Joo Batista, selon sa volont.
Ce portrait on ne peut plus strotyp prsente lavantage de dessiner les contours du personnage. Mais,
comme dans un croquis, tout est l mais sous une forme inacheve : les choses sont beaucoup plus complexes
et mritent une approche plus attentive. Nous allons donc effectuer quelques retouches ncessaires.
Lima Barreto est effectivement n le 13 mai 1881, dans un faubourg de Rio de Janeiro, Todos os Santos, et le
destin qui se manifeste ds sa naissance ne sera pas trs gentil avec lui. Il est multre. Sa mre meurt en 1887,
laissant quatre enfants dont lan, Afonso, na pas encore sept ans. Il sattache beaucoup son pre,
typographe lImprimerie Nationale et ptri de Littrature et dHistoire franaises.
A sept ans, il assiste joyeux aux festivits relatives lAbolition de lesclavage, le jour mme de son
anniversaire. Par contre lavnement de la Rpublique, en 1889, ne lui laisse que damers souvenirs. Son pre,
monarchiste et plein dadmiration pour les grands noms de lEmpire, perd sa place ; la famille part pour lIlha
do Governador, en face de Rio, o monsieur Barreto va tre administrateur des Colnias de Alienados, les
asiles dalins. Lenfant commence souffrir des injustices du monde et rver dune autre vie. Son projet :
devenir ingnieur. Il tudiera lEcole Polytechnique, de 1897 1900. Il sintresse au Positivisme par
* Monique Le Moing est chercheur, essaiyste et traductrice.
2
simple curiosit : il en trouve le dcorum ridicule et les lois trop rigides (il fera dire lun de ses personnages
ce nfaste et hypocrite positivisme, un pdantisme tyrannique limit et troit qui justifie toutes les
violences ). Il tudie, seul, la philosophie avec grande passion et grand srieux (dans son Journal, on trouve
ce passage : Cours de philosophie fait par Lima Barreto pour Lima Barreto selon la Grande Encyclopdie
Franaise du XIXme sicle et dautres dictionnaires et livres faciles obtenir.) Mais son temprament
rebelle, violent et ferm saccommode mal des tudes classiques. Il fait des choix entre autres Condorcet et
en particulier Rflexions sur lEsclavage des Ngres. Il frquente la Rua do Ouvidor, la rue la plus clbre du
Rio de Janeiro de lpoque. Et la ville, ses rues, ses faubourgs et ses plages vont tenir un rle important dans
son uvre. Il vit sa ville comme une passion le lieu o se crent les modes, se font et dfont les rputations,
tombent les cabinets ministriels 1
En 1901, il prend part au Mouvement de la Fdration des Etudiants Brsiliens, mouvement socialiste et
nationaliste qui prnera la fin du rgionalisme et le service militaire obligatoire (Lima Barreto y tant
farouchement oppos sloigne alors du mouvement). Cest cette poque aussi quil prend vraiment
conscience de son origine et du phnomne de sgrgation : sgrgation par la couleur et par largent. Il est
franchement multre et on ne lui mnage pas les humiliations : il est recal tous ses examens et se trouve
dans lobligation de faire appel son parrain, le vicomte de Ouro Preto. En 1902, son pre devient fou et
Afonso se retrouve soutien de famille. Il dcide de quitter la Fdration des Etudiants et lEcole
Polytechnique. Pistonn par son parrain, il passe le concours dentre au Secrtariat la Guerre et devient un
fonctionnaire modle.
Rio de Janeiro vivait cette poque les grandes heures de son remodelage : le prfet Passos, comme
Haussmann Paris, transformait la ville que les tramways lectriques sillonnaient. On y frquentait beaucoup
les cafs. Lima Barreto y rencontre des intellectuels et tente de sincruster dans le milieu du journalisme
professionnel. En 1905, il entre au Correio da Manh.
Cest cette poque de sa vie quapparat le phnomne du bovarysme , phnomne quil analyse trs bien
dans son Journal : il ne parvient pas superposer limage quil se fait de lui-mme avec la ralit, la vie et la
littrature le mettent au centre de situations contradictoires : elles salimentent mutuellement dans la
dnonciation des prjugs, particulirement les prjugs de race. Alors il se replie sur lui-mme et se plonge
dans les livres Dostoevski, Stendhal, Balzac Flaubert, Taine, Anatole France, Ea da Queiroz Il boit
pour supporter ce dsenchantement et crit dans son Journal intime : Cest triste de ne pas tre blanc .
1 Beatriz Resende. Lima Barreto e o Rio de Janeiro em fragmentos, ed. UFRJ ed. UNICAMP, R.J., 1993,
p. 102
3
Il sessaie diffrents genres de la littrature, mais il narrive pas terminer ce quil commence. Il bauche
Triste fim de Policarpo Quaresma en 1903 et en 1904 les premires pages de Clara dos Anjos (histoire
dune vie de multresse) quil ne terminera que 16 ans plus tard.
A lpoque o Lima Barreto crivait, les courants littraires suivaient deux influences : un courant libral
(allant jusqu lanarchie dans lcriture) et les nphlibates, les reprsentants du symbolisme agonisant. Cest
dans ce contexte que parat Floral, revue fonde par Lima Barreto en 1907 mais qui agonise en 1908 :
lamertume sabat sur ses paules. Il doute de ses deux romans en gestation quon pourrait facilement
considrer comme des autobiographies, mais aussi comme des tmoignages de lvolution de sa pense et de
sa grande dception : Recordaes do Escrivo Isaas Caminha (qui paratra sous forme de feuilleton dans
Floral, mais ne sera dit que deux ans plus tard) et Vida e Morte de M.J. Gonzaga de S. Cest lanne
o meurt Machado de Assis.
Nous sommes donc en 1909 et Lima Barreto cherche un diteur. A cette poque, la Librairie Garnier, LA
maison ddition de Rio de Janeiro, nditait que des auteurs consacrs. Il tente donc de se faire diter au
Portugal, aid en cela par Monteiro Lobato. Cest Recordaes do Escrivo Isaas Caminha quil choisit
pour dbuter sa carrire littraire Un livre ingal, volontairement mal fait, brutal parfois, mais toujours
sincre , dit-il. En fait, il sagit dune uvre de haine, de rvolte contre la socit, qui veut dranger et
obliger les gens penser dune autre faon.
1909, cest aussi lanne o Anatole France vient au Brsil et o il est reu par Rui Barbosa. Lima Barreto
critique cette rception et par la mme occasion ceux quil appelle les btisseurs de politique. Son livre sort
dans un climat politique trs perturb. Au dbut de lanne 1910, il fait partie des jurs au procs dun officier
de larme. Il se prononce pour la condamnation et cela nuira davantage encore sa carrire, car cest sur lui
que retombera la responsabilit de cette condamnation.
1911 est une anne cruciale. Lima Barreto est au fate de sa production littraire : il a crit Histrias e
Sonhos et Triste Fim de Policarpo Quaresma est publi sous forme de feuilleton dans la presse. Pourtant
cest lanne o il bascule ; lanne de ses trente ans. La publication de Recordaes do Escrivo Isaas
Caminha la du. Pas de ractions, le silence total, comme sil nexistait pas. La critique, si importante pour
un auteur, la critique fait dfaut. Il se consacre alors des nouvelles satiriques et populaires : Aventuras do
Dr. Bogoloff, mais cest un fiasco. Il se met boire. Sa sant se dtriore. Il tombe ivre mort dans les rues, il
a des hallucinations : il a limpression quil devient fou. A cette poque, il crit dans son Jounal intime :
Serai-je en train de devenir fou ? Dot daptitudes, de qualits, de grands et de puissants dfauts, je vais
mourir sans avoir rien fait . Il se projette nouveau dans un personnage du roman quil est en train dcrire,
4
Cemitrio dos Vivos.
En 1914, le Brsil se prpare dclarer la guerre lAllemagne. Lima Barreto est contre ce projet car
lattitude raciste de lAmrique du Nord vis - - vis des noirs la lui rend profondment antipathique. Cette
anne-l parat la deuxime dition des Recordaes do Escrivo Isaas Caminha, compte dauteur.
A nouveau intern entre novembre 1918 et janvier 1919, il envoie loriginal de Vida e Morte de M.J.
Gonzaga de S au Portugal, Monteiro Lobato qui propose immdiatement de lditer. Estimant que ce
roman est son uvre la plus acheve, il prend cela comme une sorte de compensation. La sortie du livre est
entoure de circonstances trs favorables. Il tente alors de se prsenter lAcadmie Brsilienne de Lettres,
mais celle-ci ne lui ouvrira jamais ses portes. Il voulait par l obtenir la gloire littraire, il ne lobtiendra pas,
du moins de son vivant.
A partir de 1919, il accentue sa collaboration la presse. Il reste en marge de la politique et se contente
darticles incendiaires et de conversations de caf : son arme, lironie qui tue et tue sans verser de sang. Il
sinsurge contre le football, le sport breton comme on lappelait alors au Brsil, qui symbolise ses yeux
un retour la barbarie ; il dira mme que cest le sport et Nietzsche qui ont contribu la dclaration de la
Guerre de 1914 (en ralit, le problme rside surtout dans le fait que le football tait un sport de riches
interdit aux noirs). Il sintresse aussi la condition fminine : farouchement oppos au fminisme, il prend
vraiment la dfense de la femme et de manire extrmement moderne. Toute sa vie il entretiendra des
relations bizarres avec les femmes ; sa grande timidit et sa gaucherie sont bien dcrites dans Recordaes do
Escrivo Isaas Caminha o il fait dire son personnage-alter ego : Jai toujours t ainsi devant les
femmes, quelle que soit leur condition, ds que je les aperois dans un salon, elles sont toutes pour moi des
marquises ou de grandes dames . On ne lui connat quun petit flirt seize ans ; plus tard, mal laise, il se
contentera de rver et dcrire. Pourtant, par les lvres de Gonzaga de S, son autre alter ego, il regrette
davoir ainsi cart les femmes de sa vie.. A-t-il tout simplement eu peur quelles entravent sa vie littraire,
elles quil ne considrait ni comme amies ni comme ennemies ? Cest du moins ce que pensait Francisco
Assis Barbosa, grce qui Lima Barreto sortit de loubli. Il sagit en fait dun rapport au deuxime degr,
fruit dun blocage, nouvelle manifestation de son bovarysme : Elle devait tre dlicieuse cette
Guilhermina , pense-t-il, ou bien encore je mintresse certaines jeunes femmes et parfois pendant
cinq minutes jarrive les aimer ; je cherche leur adresse ; je passe deux ou trois fois devant leur porte
timidement, gauchement . Mais rien de plus, il ne peut faire concider ses lans et leur concrtisation.
1919, nouveau il dlire. On linterne et cet enferment est un poids terrible pour lui. Lunique aventure
cest la libert , confie-t-il cette poque, ajoutant quil ne supportera pas un nouvel internement : il pense
5
au suicide ; il y pense depuis trs longtemps dailleurs.En 1921, Lima Barrreto a quarante ans. Ce nest plus
quune loque humaine, un vieillard dsabus.
Nous arrivons la grande anne 1922. Importante au Brsil pour plusieurs raisons : On y commmore le
centenaire de lIndpendance. Cest lanne de la fondation du Parti Communiste : en mars, le premier
Congrs du Parti Communiste Brsilien se runit Nitri. Cest aussi lanne des lections prsidentielles.
Cest encore cette anne l que se produit un vnement dune porte norme : la rvolte du Fort de
Copacabana, appele la Rvolte des Douze du Fort. En fvrier est organise So Paulo la Semaine dArt
Moderne, manifestation importante sil en est pour les futures orientations du Brsil.
Lima Barreto aiguise sa critique. Il traite le Mouvement de futurisme national , ny voit quun certain
snobisme et reproche Mario de Andrade et ses amis modernistes de ntre que de simples imitateurs de
lItalien Marinetti, auteur du clbre Manifeste Futuriste , qui lui est profondment antipathique. Il expose
ses ides dans un article intitul Le Futurisme , qui parat dans la revue Careta du 22 juillet 1922.
Le 1er novembre, il steint aprs une vie faite de douleur dont il a utilis des fragments comme prtexte une
cration littraire o rien nest trait sur un ton neutre, o affleure une sensibilit sans cesse heurte, ds
lenfance, dans sa propre maison et dans la socit o il vivait et dont il aurait tant voulu faire vraiment partie.
Il ne faut chercher aucun rapport entre Lima Barreto, homme dhonneur, homme de bien, homme de loyaut,
bris par la vie, et le fantoche imbib dalcool quon a caricatur lpoque et qui la longtemps suivi.Il est
mort en tenant un volume de la Revue des deux Mondes entre ses mains, quarante-huit heures avant son pre
quil avait tant aim et soign.
LUVRE
Trois romans se dtachent nettement dans cette uvre extrmement diversifie puisquelle contient dix-sept
livres qui vont du roman au journal en passant par la chronique, la satire,les contes, les nouvelles, les
mmoires et la correspondance. Trois romans mergent de ce monument, trois romans dont les principaux
personnages sont en ralit les alter ego de lauteur. Des crans derrire lesquels il se cache plutt des porteparoles engags, des observateurs attentifs lvolution dune socit qui sort de lesclavage pour sengager
dans la voie de l imprialisme racial .
Recordaes do Escrivo Isaas Caminha 2 :
Cest un roman, quil qualifie pourtant de nouvelle, dont la toile de fond est le rdaction dun journal et
6
lhistoire, celle dun mtis intelligent, bon, honnte, qui se heurte aux prjugs sociaux et raciaux de la socit
brsilienne de lpoque, celle de la Repblica Velha, celle qui prcde la guerre de 1914 : poque o lhomme
noir, sortant de lesclavage se trouve bout hors du systme national , marginalis par sa couleur. Lima
Barreto crit ici un vritable pamphlet contre la presse, les matres de la politique, les mandarins de la
littrature et du journalisme. On y sent le dsir de scandaliser, de mettre sous les yeux de tous les humiliations
quil vivait. La thmatique du livre est centre sur le pouvoir et le racisme.
Cest un livre pre, amer, un livre clefs aussi : il est clair par exemple que le journal dont il est question est
le Correio da Manh et une bonne partie des personnages cache (ou ne cache mme pas) des personnalits
relles. Cest dailleurs l-dessus que vont porter les critiques : on lui reproche davoir fait un mauvais roman
clefs. On lui trouve un grave dfaut : son excessif gocentrisme. Douze ans plus tard, en 1921, la plaie nest
pas encore referme et il crira :
La force dun roman de cette sorte rside dans le fait que les relations entre les personnages et les modles ne se retrouvent pas
dans le nom mais dans la description du type faite par le romancier dun seul jet dans une phrase.
La presse se vengea en opposant un silence total et mprisant la cruelle satire qui atteignait de plein fouet le
journal le plus puissant de lpoque.
Le titre mme de louvrage reprsente un raccourci exemplaire : lantihros, Isaias (Isae ?),le prophte de sa
race, pouss par un fatalisme actif, une volont au-dessus de sa propre volont, avance sur le chemin de la
dcouverte, de la vie, chemin difficile vers la terre nouvelle, lidentit brsilienne. Mais Isaias sera dans
limpossibilit de raliser son rve tre doutor tre diplm et tenir ainsi entre ses mains la preuve de son
ascension sociale
et donc de son existence par le double fait dtre multre et pauvre (ces deux
composantes tenant lui comme une tunique de Nessus). Il ne sera quun simple gratte-papier. Isaias semble
un manation de Lima Barreto. Cest un roman essentiel pour cerner la vision critique de lauteur, en dpit
des exagrations quil contient, moins que ce ne soit pour cela mme
Triste fim de Policarpo Quaresma 3
Mri pendant plusieurs annes, crit en deux mois et demi, paru en feuilleton dans le Jornal do Comrcio et
dit en 1915, cest le roman de lge dhomme dont le hros est un patriote exalt, un visionnaire, un pur...Il
est bti autour dun thme dvelopp en trois phases culturelle, agricole et politique qui sont aussi trois
2 Roman traduit par Monique Le Moing et Marie-Pierre Mazas aux ditions Harmattan sous le titre Souvenirs
dun gratte papier.
3 Roman traduit par Monique Le Moing et Marie-Pierre Mazas aux ditions Harmattan sous
le titre Sous la Bannire toile de la Croix du Sud
7
checs et qui visent conforter son nationalisme, en fait un nationalisme de classe : Les relations entre
culture et nation sont formules sous un angle nouveau, et assurment progressiste , crit Alfredo Bosi4, qui
compare Triste fim de Policarpo Quaresma aux funrailles dune idologie que le contact avec le rel a
fait clater . Le Major, Policarpo Quaresma, employ au Ministre de la Guerre, a de drles dides :il prne
ladoption de la langue tupi dans les textes officiels et fait preuve dune originalit par trop vidente. On le
prend pour un illuminAprs un sjour oblig dun mois dans un hpital psychiatrique, il sinstalle la
campagne pour mettre en pratique ses thories concernant la mise en valeur des richesses du Brsil, pas assez
reconnues son got. Mais le combat est ingal et les fourmis viennent bout de son acharnementIl
cristallise alors son amour patriotique sur un engagement total la cause du marchal Floriano Peixoto, le
prsident de la Rpublique - dont le journaliste Assis Chteaubriand dira lpoque Qui mieux que le
marchal Floriano a incarn le militarisme, les privilges de classes, la haine des civils ? - et sengage
comme volontaire pour sauver la Patrie. Mais il a le malheur de dire haut et fort son amertume devant le
comportement des vainqueurs et se retrouve prisonnier : personne ne pourra le soustraire lexcution qui
lattend.
Cest le roman le mieux crit, le plus travaill. Comme Isaas, Policarpo narrive pas faire concider ses
rves avec la ralit brsilienne : la ralit brise ses espoirs, ses ides sont vaines ses rves inutiles. La satire
politique est froce Rien ne sert de changer de gouvernements, si on ne change pas les hommes ! - et
cest peut-tre dans ce roman quil ressemble le plus Sisyphe ou lalbatros, au pote doux et rveur sacrifi
sur lautel de la libert. Cest aussi dans ce livre que se manifeste avec le plus de force le caractre
dichotomique du propos de Lima Barreto.
Exceptionnellement, car il ny en a gure dans les romans de Lima Barreto, trois femmes apparaissent dans ce
roman : Adlaide la sur de Quaresma, reste auprs de son frre pour le protger et qui a perdu toute
personnalit , Ismnia la pauvre fiance abandonne dont la vie, toute entire est oriente vers le mariage,
va seffilochant au fur et mesure que samenuise lespoir de retour du promis , Olga le porte-parole du
bon sens fminin, celle qui saura dire non, celle qui comprendra que seule la littrature peut crer et garantir
un espace pour la libert, celle qui jusquau bout aidera Policarpo.
Mais ce roman met encore en scne un personnage qui prendra toute son importance dans Vida e Morte de
M. J. Gonzaga de S, la ville de Rio de Janeiro et ses faubourgs, espace social, espace vital, espace
sgrgatif o lhomme noir est expuls dun Brsil qui se modernise et seuropanise, dun Brsil o les
esclaves sont devenus des marginaux la fois attirs et rejets par le progrs o lhomme ngre est
4 Alfredo Bosi. Dialtica da Colonizao, S.P., Companhia das Letras, 1992, p. 268.
8
envoy dans les cales du capitalisme national, sordide et grotesque 5.
Vida e Morte de M.J. Gonzaga de S 6
Achev en 1906, mais publi en 1919, cest une sorte de livre testament, de testament philosophique
et intellectuel, une uvre de maturit, le roman de lindividu face au doute mtaphysique. Mais cest
aussi le plus beau pome en prose jamais crit sur Rio de Janeiro 7. La vie de Gonzaga de S
est la fois lexpression dun dsir et dune exprience rate. Cest aussi la vie dun historienartiste comme le qualifie Carmem Lcia Negreiros de Figueiredo, qui ajoute :
Dans la culture brsilienne une tradition de paysages construit sur un vaste ensemble de souvenirs, de mythes et de
lgendes qui, en plus daccompagner de longues priodes de lhistoire sociale, moule aussi les institutions et les
valeurs 8.
Gonzaga de S est un homme qui cherche sa force vitale dans le destinhumain et dans lhritage
culturel. Cest le porte parole de Lima Barreto qui dcrit, au cours de conversations entre un
personnage et son interlocuteur, la ville de Rio de Janeiro comme il ne la jamais fait, dpeint le
rythme des rues, le regard des passants, tudie les badauds un sujet social et qui passe quatorze
heures sur vingt-quatre dans la rue parlant avec des gens de toutes conditions et de toutes
classes .9 Il est les flneur du Jardin public, parcourt le centre ville et les plages, et sinterroge sur
le destin individuel de ltre humain en qute daccomplissement, insparable de celui de citoyen,
quil soit crivain, agriculteur, bureaucrate ou homme politique. Il met en vidence lalination des
hommes par les hommes dans la ralit sociale. Son raisonnement est simple : la bureaucratie
lgitime le faux, transforme les hommes en rptiteurs de formules, mutile leurs penses et leurs
actions, en un mot les aline. Xisto Beldroegas, le fonctionnaire modle dont la morale ne repose
que sur lordre bureaucratique en est la caricature.
Histrias e sonhos
9
Traduits en franais sous le nom gnrique de Contes10, ce sont des petits tableaux satiriques
concis, mticuleux, qui dnoncent les marginalisations sous toutes leurs formes et les injustices
sociales mais caricaturent aussi lhomme tout simplement, lhomme et ses dfauts universels, dans
un espace historique et gographique particulier, le Brsil : on y ctoie la multresse devenue la
matresse exigeante dun homme blanc, lescroc qui abuse de la navet de tout un village, la jeune
fille en qute dun mari diplm , un couple dAnglais peu acadmique, un jeune homme tortur
par le remords mais aussi un joueur de modinhas.
Nous noublierons pas Clara dos Anjos - qualifi de Germinal ngre car il met en valeur la
solidarit des humbles et des opprims, en loccurrence les noirs, et dresse un constat manichiste et
pessimiste du monde o lhomme est un loup pour lhomme - ni ses Notas sobre a Repblica
das Bruzundangas ( on pourrait traduire par la Rpublique des magouilles), collection darticles
satiriques sur la politique du pays quil dfinit ainsi: On peut dfinir de manire gnrale la
socit de Bruzundanga dun seul mot :mdiocre . Cest aussi un observateur touch par le peuple
dans le dsespoir de son quotidien, un journaliste qui rcupre la vie du citoyen menace dans ce
Rio de Janeiro en pleine mutation, exil au milieu dune mer danalphabtes , solidaire et
compatissant.
Les Mmoires
Cest ainsi que lon peut qualifier le Dirio ntimo, le Dirio do Hospcio et son adaptation
fictionnelle Cemitrio dos vivos : mmoires douloureux crits pendant et sur son exprience
lasile, o il fut intern plusieurs fois, mmoires qui naviguent entre ralit et fiction, la ralit
dpassant souvent la fiction dans linsupportable condition de cet homme soumis larbitraire,
stigmatis par un destin mdiocre. On pourrait parler aussi de chroniques dune mort annonce .
LE FOND
Toute luvre de Lima Barreto se droule dans un cadre historico-social charnire au Brsil. Elle a
donc une valeur documentaire, mais elle met surtout en valeur le divorce entre le peuple et les
objectifs nationaux du Brsil. Et cest sur le fait que le simple changement de rgime ne supprime
10 Traduits par Monique Le Moing en trois volumes : La Nouvelle Californie et autres contes , Le fils de
Gabriela et autres contes , Un amer tourment et autres contes aux ditions Rafael de Surtis, 20 rue de la
Margotterie, La Touche, 86170 Cherves.
10
nullement les vices fondamentaux de lvolution brsilienne (mais est-ce uniquement brsilien ?)
que Lima Barreto a construit sa rvolte, cest--dire son uvre, tant celle-ci lui colle la peau. Il
sinsurge contre la mdiocratie , le jacobinisme de la rpublique et des rpublicains qui mne
la corruption et la chute du rve rpublicain dun pays quon dit toujours du futur et de
lesprance , contre le positivisme, le militarisme, le patriotisme militant gnrateur de guerre,
contre les intellectuels borns. Il sera lun des premiers intellectuels brsiliens saluer la rvolution
russe et dfendre le communisme avec ardeur et conviction. Toute sa vie et son uvre ont t un
combat pour dnoncer les fausses valeurs et les institutions qui exploitent parfois linconscience
populaire ; une subversion vcue comme un acte damour envers un pays riche naturellement et
moralement en stagnation, thtre dagissements dgradants. Il se battait pour les ides de
philosophes positivistes comme Taine, Guyau et celles de Condorcet. Comme eux, il fondait sa
conception de lart comme expression pathtique de lhomme un art engag, viscral, vcu -, et sur
le pouvoir de lintelligence comme facult matresse du dveloppement de lEsprit Humain et du
Progrs. Par certains cts, on peut penser Camus : il est la fois Sisyphe, finalement et dans la
mort, plus fort que son rocher ; il est lhomme rvolt quand il sexprime par la bouche de Policarpo
Quaresma ; il est ltranger quand tout lui est indiffrent comme Isaias qui croise et ctoie des
personnages qui disparaissent sans marquer leur place, qui voit mourir son collgue Floc et surtout
sa mre sans motion apparente, qui parat insensible la folie du grammairien Lobo, qui ne se
mle aucun des vnements qui secouent la ville ; il est, tout comme Meursault, un homme dont
lidologie na pas survcu au contact du rel, un homme qui a tragiquement perdu ses illusions
LA FORME
Lima Barreto va laborer la troisime marge du rcit brsilien Nous voulons dire par lque luvre de Lima
Barreto constitue une des rares fusions dlments stylistiques, les plus divers, o le classique et ce qui est
traditionnellement accept comme littraire se mlent au populaire, plus communicatif et mieux compris par le peuple
il a cr le plus authentique style multre de la littrature brsilienne.. Aprs lui, seul Guimares Rosa a russi une
telle fusion 11
En fait, ce style multre introduit la rvolte sociale et prend les couleurs dune littrature
militante et ouvre la voie la gnration des modernistes. Cest lpoque o les nphlibates les
reprsentants du symbolisme agonisant sont encore la mode au Brsil. Lima Barreto ressent le
besoin dchapper aux injonctions des mandarins de la littrature, aux conjurations des prjugs. Il
inaugure lre du rejet des vieux modles et de la recherche de lidentit brsilienne, annonant en
11 Giberto Mendona Telles, As recordaes de um gratte-papier in Jornal de Letras, juillet 1990.
11
cela les modernistes. Son uvre est construite sur trois plans la Fiction, lHistoire et
lAutobiographie et sur lpisode : la vie apparat dans des squences, des flashes, des apparitions,
des entres et des sorties de personnages qui dcident plus ou moins du sort dautres protagonistes.
Il ny a pas vraiment dintrigue, dans aucun de ses romans, quon pourrait plutt classer dans le
genre nouvelles .
Son style est la fois potique et dune simplicit parfois dconcertante. Il ne recule devant aucune
rptition voire redite. Le fait est, et cela lui a t beaucoup reproch, que ses phrases ne sont pas
assez travailles. Mais il sexplique lui-mme et il avoue que son style est ingal, volontairement
nglig, brutal Mes livres sont pleins derreurs cause de ma ngligence et de mon laisser-aller, cause des
rvisions mal faites, y compris les miennes ; mais quant celles qui concernent la
12
lanne mme o naissait le Modernisme dont il fut le prcurseur au Brsil, comme sil passait le
relais, et pourquoi pas le flambeau, ses hritiers, rassur sur lavenir de lidentit brsilienne.
Laissons le dernier mot Lima Barreto soi-mme, qui nous dit par la bouche de Leonardo Flores,
personnage de Clara dos Anjos :
Jai toujours pari sur lidal ; et si celui-ci ma rabaiss aux yeux des hommes qui nont pas compris certains actes
dsarticuls de mon existence, du moins ma-t-il lev mes propres yeux, devant ma conscience, parce que jai
accompli mon devoir, jai excut ma mission, jai t un pote ! Pour cela jai fait tous les sacrifices. LArt naime que
celui qui laime totalement, uniquement, exclusivement, et javais besoin de laimer parce quil reprsentait non
seulement ma rdemption mais celle de mes frres dans la mme douleur .
APNDICE C:
SOUZA, Elaine Brito. Isaas Caminha: desiluses de um mulato-instrudo na
imprensa. IN: Congresso da Associao Brasileira de Literatura Comparada
(ABRALIC), XII, 2011, Curitiba. Anais Online. Curitiba: Associao Brasileira de
Literatura Comparada, 2011. Disponvel em: <http://www.abralic.org.br/anais/
cong2011/AnaisOnline/resumos/TC0634-1.pdf >. Acesso em: 11 de setembro de 2011.
18 a 22 de julho de 2011
UFPR Curitiba, Brasil
1 Jornalismo e literatura
Em 1908, quando o Rio de Janeiro se despedia do Bruxo do Cosme Velho, na outra ponta da
cidade, no subrbio de Todos os Santos, o jovem Afonso Henriques de Lima Barreto dava os
retoques finais no texto com o qual se lanaria como romancista. Em dezembro do ano seguinte, j
pode ser encontrada nas livrarias a primeira edio de Recordaes do escrivo Isaas Caminha.
Porm, em breve Lima Barreto ter que enfrentar o silncio da imprensa ou as crticas negativas.
Medeiros e Albuquerque, por exemplo, considera-o venenosssimo. Em carta a um amigo, o
escritor no esconde sua preocupao com a recepo da obra:
Ningum quis ver no livro nada mais que um simples romance cl, destinado a
atacar tais e quais pessoas; os que gostaram foi por isso, os que no gostaram foi
por isso tambm. H alguma coisa a mais do que isso no meu modesto volume.
(BARRETO, 2001. p. 22)
De fato, por muito tempo o romance de estreia de Lima Barreto foi lido como uma revanche
de um escritor rejeitado pelo meio literrio e incompreendido pelo pblico de seu tempo. Porm, a
obra ganhou novos olhares, terminando por ser conduzida ao posto de uma das mais importantes da
literatura brasileira, segundo consulta realizada nos anos quarenta pela Revista Acadmica a
intelectuais do pas inteiro.
Dando continuidade aos estudos que, para alm do rancor de Lima Barreto, revelam a
densidade temtica e esttica de Recordaes, nesta comunicao pretendo desenvolver a hiptese
de que Lima Barreto compe seu romance de estreia em amplo dilogo com Iluses perdidas, de
Honor de Balzac, publicado cerca de um sculo antes. Comeo por explorar alguns aspectos que
aproximam essas obras to distantes no tempo e no espao.
Primeiro, considero que, em Recordaes, Lima Barreto retoma um tema que garantiu a
romancistas europeus do sculo XIX grande sucesso de pblico: a ambio. Esse o elemento que
impulsiona a saga de Lucien de Rubempr e Isaas Caminha.
A ao de Iluses perdidas tem incio em 1819, numa pacata provncia do interior da
Frana, onde o jovem poeta Lucien mora com a famlia, que sobrevive, com dificuldades, graas
aos rendimentos trazidos por uma modesta tipografia. Num arroubo apaixonado, Lucien foge com
sua amada para a capital, onde espera obter as condies necessrias para lanar-se como escritor, o
que lhe renderia fama, prestgio e conforto. Agora, vejamos o que ocorre ao nosso Isaas: tambm
de famlia humilde, entusiasmado pela notcia de que um colega havia se formado em Farmcia,
abandona a vida interiorana para fixar-se na capital, onde esperava concluir os estudos superiores e,
assim, laurear-se, com direito a anel no dedo, sobrecasaca e cartola (BARRETO, 2001. p. 126).
No entanto, a vida em uma capital, seja Paris ou Rio de Janeiro, sempre mais dispendiosa e
arriscada. Tanto Lucien como Isaas experimentam a misria, o abandono e a dissoluo de seus
18 a 22 de julho de 2011
UFPR Curitiba, Brasil
18 a 22 de julho de 2011
UFPR Curitiba, Brasil
Neste ponto, proponho o seguinte questionamento: por que Balzac e Lima Barreto teriam
escolhido a imprensa como cenrio dos romances em estudo? Certamente, a escolha no foi
aleatria, pois os dois escritores pressentiram um mesmo processo ainda em curso no momento em
que seus romances foram publicados: a progressiva transformao da palavra em mercadoria.
No toa que os jornalistas de Balzac referem-se ao seu local de trabalho como lojas, nas
quais se vendem ao pblico palavras da cor que se deseja (BALZAC, 1986. p. 320), sugerindo
que a informao tratada como negcio. De acordo com a mesma lgica, o dono do jornal O
Globo no mede esforos para alavancar as vendas do peridico, seja recorrendo ao
sensacionalismo to ao gosto do pblico, caluniando os concorrentes ou chantageando figures da
poltica.
Na verdade, a converso da palavra em produto a consequncia mais imediata da ampla
modernizao da imprensa, quando esse setor abandona o perfil artesanal para ganhar ares de
empresa, o que acontece na Europa na primeira metade do sculo XIX. Mas, no Brasil, pas de
imprensa e capitalismo tardios, isso s vem a ocorrer nas primeiras dcadas do sculo XX, quando
os primeiros maquinrios comeam a ser importados, tornando obsoletas as tradicionais tipografias.
Nesse contexto, os jornais, de pequeno ou grande porte, tornam-se indstrias, submetidas a
uma rgida diviso do trabalho para produzir tiragens cada vez maiores em intervalos de tempo cada
vez mais curtos. Em outras palavras, Balzac e Lima Barreto intuem que problematizar o
desenvolvimento da imprensa significa problematizar o desenvolvimento da prpria sociedade
capitalista.
Em Recordaes, no so poucas as vezes em que Isaas, ainda como contnuo de O Globo,
testemunha a ansiedade dos funcionrios da redao em cumprir os objetivos dentro dos prazos
estabelecidos. Certa madrugada, Isaas presencia o desespero do crtico literrio do peridico, que
atende pela alcunha de Floc, diante da cobrana por mais artigos. Nesse sentido, Floc a metfora
trgica do jornalista absorvido pela indstria da notcia, cujas bases operam sobre a mecanizao da
palavra, resultando na produo em srie de textos. Vtima de uma espcie de bloqueio mental, o
crtico, operrio da palavra, no consegue dar conta da demanda.
Aproximou a pena do papel e escreveu algumas palavras que riscou imediatamente.
Suspendeu o trabalho. (...) Eu estava inquieto, sentindo vagamente um drama. (...)
O paginador voltou:
- Seu Couto!
- Homem! J vai! Voc pensa que isto mquina?
Voltou a escrever. A pena estava emperrada; no deslizava no papel. (BARRETO,
2001. p. 142)
Ento, Isaas presencia o suicdio de Floc, momento em que o crtico sucumbe diante da
presso da engrenagem jornalstica. Logo, algum que o jornal mais tirnica manifestao do
capitalismo. (BARRETO, 2001. p. 131) Enfim, a mercantilizao da palavra, seja na sua forma
jornalstica ou literria, outro aspecto problematizado por Lima Barreto e Balzac.
2 Os romancistas da desiluso
Na viso de Lukcs, esta seria a grande lio de Iluses perdidas: a de que nem mesmo a
literatura escapa da engrenagem capitalista, ideia sintetizada pela tese de que o romance de Balzac
trata da capitalizao do esprito em todos os terrenos. (LUKCS, 1968. p. 100) Segundo o
terico, com Iluses perdidas, Balzac cria os chamados romances da desiluso, assim
denominados porque neles, de uma forma geral, os inescrupulosos, identificados com os valores do
18 a 22 de julho de 2011
UFPR Curitiba, Brasil
Ento, podemos dizer que Lucien termina sua escalada profissional de modo, digamos,
quixotesco. Arruinado por dvidas e relaes pessoais desastrosas, acaba retornando em farrapos
para sua cidade de origem. Em Recordaes, Isaas tambm retorna ao interior, mas como homem
bem-sucedido e at respeitado por seus pares.
Tendo chegado ao posto de redator de um jornal influente, depois de anos trabalhando como
contnuo, Isaas protagonista de uma histria que contm todos os ingredientes para um autntico
final-feliz, com direito a casamento e filho no final. Mas, para o narrador de Recordaes, o lucro
material e profissional representa irreparvel prejuzo moral.
Desesperava-me o mau emprego dos meus dias, a minha passividade, o abandono
dos grandes ideais que alimentara. No; eu no tinha sabido arrancar da minha
natureza o grande homem que desejara ser; abatera-me diante da sociedade; no
soubera revelar-me com fora, com vontade e grandeza...Sentia bem a
desproporo entre o meu destino e os meus primeiros desejos; mas ia.
(BARRETO, 2001. p. 253)
Portanto, no com o tradicional otimismo que Isaas conclui o relato de sua prpria jornada
em direo a um posto de prestgio na sociedade. Em lugar da vitria, o personagem , antes, a
imagem da desolao.
Como vimos, Lucien e Isaas cumprem trajetrias bastante semelhantes, mas em contextos
histricos distintos. Iluses perdidas, assim como os demais romances da desiluso, ambientado
no perodo da Restaurao, quando a monarquia retoma o poder na Frana, cenrio propcio para a
desiluso de jovens idealistas como o heri de Balzac, pois uma gerao inteira, entusiasmada pelos
ideais da Revoluo, v-se encurralada pelos interesses de uma nobreza decadente, mas de poder
revigorado, e as pretenses de uma burguesia poderosa economicamente, mas sem fora poltica.
J em Recordaes, a desiluso de Isaas no se d com a falncia dos valores burgueses,
at porque no se pode falar em formao de uma classe autenticamente burguesa no Brasil. A
desiluso de Isaas se processa em relao aos ideais republicanos, a exemplo de outros personagens
de Lima Barreto, como o emblemtico Policarpo Quaresma. Portanto, para esclarecermos como se
constri a desiluso de Isaas no contexto da Repblica Velha, preciso compreender, primeiro, a
relao contraditria que sustenta o novo regime.
Enquanto o liberarismo europeu identificou-se, desde o princpio, com os conceitos de
cidadania e democracia, o nosso liberarismo demorou a questionar algumas distores sociais,
como, por exemplo, o trabalho escravo. Com a Abolio, o regime republicano substitui a antiga
mo de obra por braos europeus, abrindo uma lacuna na sociedade brasileira, afinal, que destino
dar ao ex-escravo?
Por esse motivo, Alfredo Bosi defende a tese de que o romance de Lima Barreto
problematiza, sobretudo, a histria do negro no Brasil depois do Treze de Maio. O mulato Isaas,
embalado pelo discurso republicano, pretensamente defensor de igualdades e da universalizao da
18 a 22 de julho de 2011
UFPR Curitiba, Brasil
Em sntese, Lucien e Isaas sofrem da mesma iluso de mobilidade social. Assim como o
heri balzaquiano, que no consegue superar a origem pequeno-burguesa numa sociedade em que
brases valem mais do que qualquer trabalho honrado, o heri de Recordaes reconhece que o
ttulo de doutor, mesmo que o tivesse obtido, no lhe teria sido suficiente.
18 a 22 de julho de 2011
UFPR Curitiba, Brasil
Para muitos escritores, como o prprio Lima Barreto, a escrita de um romance uma
angstia intraduzvel (BARRETO, 2001. p. 20) Em 1905, quando comea a trabalhar em
Recordaes, revela a um amigo: Mas, bem sabes o que a dor de escrever. Essa tortura que o
papel virgem pe nalma de um escritor incipiente. (idem) Seu personagem Isaas, sntese do
escritor moderno, tomado pela mesma sensao de mal-estar diante da prpria obra. Por isso,
busca nos grandes autores modelos e normas, uma frmula para que a narrativa deslanche:
Confesso que os leio, que os estudo, que procuro descobrir nos grandes romancistas o segredo de
fazer. (BARRETO, 2001. p. 162) Entre os autores citados por Isaas esto Dostoievski, Voltaire,
Tolstoi, Stendhal, Flaubert e, claro, Balzac. Porm, recorrer aos clssicos no soluciona os impasses
com a escrita do romance.
Por isso, em Recordaes, Isaas vive uma desiluso no s como personagem, mas
tambm como narrador. A desiluso de Isaas se torna uma experincia mais complexa que a
balzaquiana medida que no consegue narr-la. O heri no se desilude apenas com o saber, com
a imprensa, com o fazer literrio, com o mundo letrado. Ele se d conta de que impossibilidade de
ascender socialmente pelo trabalho intelectual soma-se outra impossibilidade: a de narrar a prpria
histria de acordo com os padres estabelecidos. Por isso, digo que Lima Barreto cria um romance
sobre o a imprensa, o intelectual brasileiro e o Brasil republicano, mas tambm sobre o prprio
romance, fazendo jus ao carter autocrtico desse gnero.
Isaas constata que, para atender aos seus objetivos, preciso questionar o modelo
tradicional de narrao, motivo que talvez tenha levado a uma recepo muito tmida por parte da
crtica de seu tempo, ainda norteada por princpios bastante conservadores em matria de romance.
A posio isolada e intrigante de Lima Barreto explica-se pelo fato de ter ele
assumido uma esttica popular numa literatura como a brasileira, em que os
critrios de legitimao do produto ficcional foram sempre os dados pela
leitura erudita. (SANTIAGO, 1982. p. 166)
Nesse sentido, Recordaes contraria, por exemplo, a relao espao-temporal tpica que
encontramos no romance de Balzac.
Enquanto o heri balzaquiano desenvolve-se na velocidade do seu deslocamento, o heri de
Lima Barreto um personagem que se desenvolve no curso do tempo. De fato, Lucien dono de
uma trajetria meterica, pois no curto intervalo de dezoito meses vai do anonimato fama, da
pobreza ao luxo, da amizade traio, do casamento ao luto. Recordaes, por sua vez,
cronologicamente muito mais amplo, pois se estende da juventude maturidade de Isaas, mas o
resultado um romance condensado em, relativamente, poucos captulos. Logo, o excesso de
movimentao que caracteriza o romance tradicional, mesmo o autobiogrfico, cede espao, em
Recordaes, reflexo, ao olhar do narrador sobre os acontecimentos. Isaas Caminha mais que
um narrador-personagem tpico, um observador cuidadoso da sociedade em que vive, mas seu
ponto de vista perifrico em funo do lugar social que ocupa.
Enfim, ao explorar o ponto de vista de um literato de nascimento pobre e mulato, que
durante anos trabalha como contnuo de um jornal e decide contar em livro sua trajetria
profissional de modo nada convencional, Lima Barreto d voz a um personagem que no est
apenas na periferia da cidade, mas tambm do romance.
Referncias Bibliogrficas
1]
BALZAC, Honor de. Iluses perdidas. Trad. Ernesto Pelanda e Mrio Quintana. Crculo do
Livro: So Paulo, 1986.
2]
BARRETO, Lima. Prosa seleta. Organizao de Eliane Vasconcelos. Rio de Janeiro: Nova
18 a 22 de julho de 2011
UFPR Curitiba, Brasil
Aguilar, 2001.
3]
4]
BENJAMIN, Walter. O narrador: consideraes sobre a obra de Nikolai Leskov. In: ___ Magia
e tcnica, arte e poltica. So Paulo: Brasiliense, 1994.
5]
BOSI, Alfredo. Figuras do eu nas recordaes de Isaas Caminha. In: ___ Literatura e
resistncia. Companhia das Letras: So Paulo, 2008.
6]
______. A escravido entre dois liberarismos. In: ___ Dialtica da colonizao. So Paulo:
Companhia das Letras, 1992.
7]
BROCA, Brito. A vida literria no Brasil 1900. Rio de Janeiro: Jos Olympio: Academia
Brasileira de Letras, 2004.
8]
COSTA, Cristiane. Pena de aluguel: escritores jornalistas no Brasil de 1904 a 2004. So Paulo:
Companhia das Letras, 2005.
9]
10] ______. Lima Barreto e o fim do sonho republicano. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1995.
11] GINZBURG, Jaime. Impacto da violncia e constituio do sujeito: um problema de teoria da
autobiografia. In: GALLE, Helmut et AL (org). Em primeira pessoa: abordagens de uma teoria da
autobiografia. So Paulo: Annablume, 2009.
12] LUKCS, Georg. Teoria do romance. Trad. Jos Marcos Mariani de Macedo. So Paulo: Duas
Cidades; Ed. 34, 2000.
13] ______. Balzac: Les Ilusions Perdues. In: ___ Ensaios sobre literatura. Civilizao Brasileira:
1968.
14] MOISS-Perrone, Leila. Atualidade de Balzac. In: ___ Intil poesia e outros ensaios. So Paulo:
Companhia das Letras, 2000.
15] SODR, Nelson Werneck. A histria da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Civilizao
Brasileira, 1966.
16] TAILANDIER, Franois. Balzac. Trad. Ilana Heineberg. Porto Alegre: L&PM, 2006.
17] WATT, Ian. A ascenso do romance. So Paulo: Companhia das Letras, 1990.
18] WISNIK, Jos Miguel. Iluses perdidas. In: ___ NOVAES, Adauto (org). tica. So Paulo:
Companhia das Letras: 1992.
iAutor
Elaine SOUZA, Prof. Ms. em Literatura Brasileira
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
[email protected]
APNDICE D:
DEMTRIO, Silvio Ricardo. Os limites do devir literatura no jornalismo. IN:
Biblioteca On-line de Cincias da Comunicao (ISSN: 1646-3137). Stio web da
Faculdade de Artes da Universidade da Beira Interior, Portugal. Disponvel em:
<http://www.bocc.ubi.pt/pag/demetrio-silvio-literatura-jornalismo.pdf.> Acesso em: 5
de outubro de 2007.
Universidade Estadual de Ponta Grossa. Fundao Assis Gurgacz - Cascavel. FAUL - Toledo
Silvio Demtrio
www.bocc.ubi.pt
Balzac foi um dos escritores que Engels admirava. Este afirmava que, embora reacionrio em seus
princpios, o autor da Comdia Humana consegiu absorver o esprito de sua poca, criando personagens
consistentes sob o ponto de vista do entendimento dos
conflitos sociais que se desenvolviam ento na Europa.
www.bocc.ubi.pt
3
em relao ao cosmopolitismo e industrializao de Paris, o espao depositrio dos
verdadeiros e bons valores. A repblica
seria a corrupo instituda. Dilataes do
romantismo que Balzac assimilou de Walter
Scott e Hoffmann.
Da a imprensa ser um mal. A nova sociedade desencadeada pelas transformaes
da Revoluo Industrial se impunha aos que
queriam conservar um mundo j extinguido,
forando a perda total das iluses. s
idias totalizantes da literatura de ento, o
jornalismo vai se opor em sucessivas fragmentaes. Balzac quer levar a cabo uma
luta entre duas mquinas de representar o
mundo: o jornal e o livro. A pureza est
toda com o segundo.
Apresentamos estas consideraes na tentativa de nos precavermos de estabelecer
uma relao hierrquica entre jornalismo e
literatura. No acreditamos que uma prtica
seja a degenerao da outra, seno um prolongamento que pode ser entendido a partir da origem de todas as iluses. A linguagem, como foi tratada pela literatura na
poca de Balzac, o substrato sobre o qual se
pode construir uma representao do mundo.
No sua reproduo. A equivalncia impossvel. Significante e referente, neste caso,
jamais coincidiro. Portanto, quer na literatura, quer no jornalismo, a reconstruo do
real pode chegar, no mximo, ao verossmil.
Afirmamos isto, e frisamos, em relao ao
plano da linguagem. Isto coloca o jornalismo
e a literatura numa relao de identidade a
partir da materialidade da linguagem: a palavra. Como Bakhtin prope6 , todo signo
ideolgico. Diante disto, quais seriam as di6
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e Filosofia da
Linguagem. Hucitec. So Paulo1994.
Silvio Demtrio
www.bocc.ubi.pt
Tomamos por acontecimento o que uma manifestao do que no pr-definvel, inaudito e que,
portanto, desencadeia uma srie de efeitos que iro resultar numa outra condio que seja a possibilidade , e
no o determinante, de outros acontecimentos. Acontecimento seria ento, por conceito, o termo que desencadeia uma srie e seus repectivos cruzamentos
com outras sries de outros acontecimentos.
www.bocc.ubi.pt
Bibliografia
BALZAC, Honor du. Iluses Perdidas. Abril Cultural. So Paulo, 1981.
DELEUZE, Gilles. Lgica do sentido. Editora Perspectiva. So Paulo, 1984.
MACHADO, Roberto. Gilles Deleuze e a Filosofia. Graal. Rio de Janeiro, 1985.
MICHELI, Mario de. As Vanguardas Artsticas. Martins Fontes. So Paulo, 1992.
WISNIK, Jos Miguel. Iluses Perdidas. In
NOVAES, Adauto. tica. Cia das Letras, So Paulo, 1992.
APNDICE E:
CENTRE DE RECHERCHES HUBERT DE PHALSE. Echos et rceptions des
Illusions perdues. IN: Complments au livre " la recherche des Illusions perdues".
Paris: Nizet, 2003. Page web du Centre de recherches Hubert de Phalse Universit
Paris III (Sorbonne la Nouvelle). Disponible sur : <http://www.cavi.univ-paris3.fr/
phalese/Balzac/echos.htm>. Accs : 24 aout 2009.
CHOS ET RCEPTIONS
22/01/12 22:58
CHOS ET RCEPTIONS
Il existe une rception critique des Illusions perdues trs riche et qui perdure tout au long du XIXe sicle et du
XXe sicle mais il y a galement une intertextualit interne aux uvres romanesques qui montre la force de cette
intrigue dans limaginaire des crivains. Rubempr devient comme Rastignac un type, voire un mythe, au point
dapparatre explicitement ou implicitement dans tous les romans dartistes ou romans dcrivains : Lducation
sentimentale de Gustave Flaubert, Charles Demailly des Goncourt, la trilogie de Valls, Bel-Ami de Maupassant, Les
Dracins de Maurice Barrs...
Illusions perdues a souvent t lu par les contemporains comme un roman cls. Journalistes et lecteurs ont cherch
les modles possibles des diffrents personnages. Ds la parution du premier roman en 1837, une rumeur court : Jules
Sandeau, amant phmre de George Sand, romancier vellitaire qui connatra son heure de gloire sous le Second
Empire, et accessoirement ancien secrtaire de Balzac, aurait fourni le modle de Lucien. Ses amours avec madame de
Bargeton seraient la transposition de sa liaison avec George Sand.
Lettre de Sandeau Balzac du 21 janvier 1837
Quest ce que les Illusions perdues ? On mcrit de Paris que cest mon histoire avec la personne que vous savez. Cette
histoire est celle de tout le monde et on a bien pu sy tromper. Toutefois, on ajoute que chaque page de votre livre est un
jour de ma jeunesse. Deux choses minquitent en tout ceci. La premire cest que par amiti pour moi vous ne vous
soyez fait trop svre lgard de lautre personne. La seconde cest quen crivant moi-mme cette heure cette fatale
histoire, je narrive quaprs vous. Vous comprenez quUlysse, crivant ses mmoires aprs lOdysse net t quun sot
et quun drle. Faite-moi le plaisir de mcrire ce quil en est : jattends quelques lignes de vous avec impatience...
Lettre de Sandeau de mars 1837
En mars 1837, Sandeau crivait rassur : " ... Je viens de lire les Illusions perdues. Il y a bien dans tout ceci quelques
lignes mon intention et je ne suis pas sans quelque ressemblance avec le mauvais ct de Lucien. Mais pour ce qui est
de mon histoire avec Mme Dudevant, il nen est rien dans ces pages, et mon livre diffrera du vtre autant par le sujet
que par le talent.
La parution du deuxime volume surtout dclenche lire de la presse qui affirme avoir " fait " Balzac et qui fustige le
manque de reconnaissance de ce dernier. Le prince de la critique, Jules Janin, crit sur Illusions perdues un article qui,
par sa mauvaise foi, ressemble singulirement aux caricatures critiques que propose le roman. Toute la critique
contemporaine fonctionne dailleurs en miroir avec le roman et sanantit par sa virulence mme comme si le roman
avait dsamorc sa propre rception.
Jules Janin, " Un grand homme de province Paris, par M. H. de Balzac ", Revue de Paris,
juillet 1839.
[...] Vous voyez que jhsite encore me prcipiter dans ce nouveau rcit. Cela me fait mal de trier ces affreux dtails, de
dcoudre, lambeaux par lambeaux, ces haillons de pourpre maladroitement attachs ces haillons de bure. Mais encore
une fois, il le faut ; donc fermons les yeux, retenons notre haleine, mettons nos jambes les bottes impermables des
goutiers, et marchons tout notre aise dans cette fange, puisque cela vous plat. [...]
Quel style ! La description de lalouette, par Dubartas, est un chef-duvre, compare ce galimatias double. Que je
voudrais bien voir un de nos matres dans lart dcrire assister cette blancheur veloute, au cristallin de ces yeux
noirs force dtre bleus, ces tempes dun blanc dor, ce menton court et pourtant relev ; quant aux lvres de
corail, cest l une couleur un peu bien vieille pour des lvres quelconques. Ce quil y a de plus merveilleux dans ce
portrait, ce sont des hanches conformes comme celles dune femme : ces hanches doivent gter, que vous en semble ?
la grande beaut de M. Lucien, bien plus, pour peu que la voix du jeune homme ne soit pas encore forme, ces hanchesl doivent tre horribles voir. Quant la conclusion, que les grosses hanches annoncent les esprits les plus fins, ceci
est dune physiologie si savante quil nous est impossible de dire o cela sarrte, o cela commence. Ceux qui ont eu
linsigne honneur de voir de prs M. de Talleyrand, M. de Metternich ou M. de Nesselrode, pourraient seuls vrifier
lassertion de M. de Balzac ; si la chose est vraie, la diplomatie senrichira dun mot nouveau ; on ne dira plus : Cest un
homme de gnie, cest un esprit fin, il a peu de talent ; mais on dira : cest une fameuse paire de hanches. [...]
Mais, me direz-vous, M. de Balzac a bien de lesprit, il est le matre du roman moderne, il produit sur ses lecteurs une
fascination puissante, il magntise pour ainsi dire, cette me qui lit, la transportant son gr dans tous les abmes de la
licence et du doute ; [...] il sait fond les murs du journal, il a t journaliste lui-mme, telle enseigne que son
http://www.cavi.univ-paris3.fr/phalese/Balzac/echos.htm
Pgina 1 de 8
CHOS ET RCEPTIONS
22/01/12 22:58
Pgina 2 de 8
CHOS ET RCEPTIONS
22/01/12 22:58
journal se remit parler de la canne. Eh bien, cest ce qui le trompe. Le petit journal en a trop parl, il nen parlera plus.
Albric Second " Le dernier livre de M. de Balzac ", Figaro, 28 juillet 1839
Cest dans sa dernire publication que cet esprit us, cette imagination tarie, ce style qui nen est plus un se sont rvls
hideux et dcharns. M. de Balzac est mort ; son ombre seule subsiste ; laurole qui entoure ce nom, jadis tant clbre,
pourra bien le galvaniser encore quelque temps aux yeux des cabinets de lecture de quelque province recule, mais le
charme en admettant quil ne soit pas entirement dtruit , disparatra bientt, et de fait, ce sera justice...
O donc trouver, plus que dans ce grand homme de province, des murs fausses et un but extravagant ? Lauteur a
prtendu saper le journalisme dans sa base, irrit que la critique lui ait signal ses erreurs et lui ait fait son procs
chaque fois quil y et lieu ; M. de Balzac a troqu sa plume contre un poignard, son encre contre du fiel, et il sest mis
crire lhistoire des journaux et des journalistes, comme il affirme la connatre ; son sens, qui dit journal, dit coupegorge infme, sentine dgotante, rceptacle impur. Il pousse mme la dlicatesse jusqu dfinir la presse : le bagne de
lintelligence. Quant aux journalistes, notre plume rpugne reproduire les odieuses calomnies quil entasse leur
endroit. [...]
Telle est la publication dernire de M. de Balzac. Dieu veuille, pour nous et pour son libraire, que ce soit en outre sa
dernire publication.
Amen !
Thodore Muret, " Un grand homme de province Paris ", par M. de Balzac, La Quotidienne,
10 dcembre 1839
Savez-vous quil devient fort embarrassant de rendre compte des ouvrages de M. de Balzac ? Cet crivain a pris depuis
quelque temps, vis vis des journaux, une position telle, que le public croira difficilement peut-tre limpartialit de
leurs jugements sur un auteur qui sest constitu leur ennemi dclar. [...]
Hlas ! quel crime impardonnable le journal a-t-il donc commis envers lauteur dUn grand homme de province ? Sestil refus jamais lui rendre pleine justice, lui prodiguer la louange, quand elle tait mrite ? A-t-il ferm les yeux et la
bouche sur les incontestables belles qualits empreintes dans Eugnie Grandet, dans La Recherche de labsolu, dans la
plupart des Scnes de la vie prive ? Aurait-il fallu lever au ciel Seraphta, les Contes drlatiques, Le Lys dans la
valle, la triste exhumation des uvres du pseudonyme Horace de Saint-Aubin, vanter la moralit du Pre Goriot,
flatter toutes les erreurs dun haut talent, toutes les affligeantes priodes de sa dcadence ? M. de Balzac nous parat
singulirement humoriste. Il est mcontent de tout et de tous. Avez-vous oubli cette trange prface de La Femme
suprieure, cette lamentable lgie dont lauteur accusait si amrement son sicle de ne pas lui avoir constitu une
fortune de millionnaire et des baronies seigneuriales, et par un fcheux oubli de la dignit des lettres, semblait tendre
aux passants le casque de Blisaire ? Au lieu de se contenter dtre un romancier, ingal sans doute, mais dun mrite
trs distingu, M. de Balzac, malheureusement, parat possd dune ambition universelle. Il veut tre grand seigneur ;
il veut tre un personnage politique, et que savons-nous encore ? Laffaire Peytel a t, pour M. de Balzac, loccasion
dun manifeste qui visait sans doute lclat des factum de Voltaire en faveur de Calas et du chevalier de Labarre. Le
manifeste de M. de Balzac na pu sauver le malheureux, dont cette dmonstration imprudente et plutt empir la
position, si la chose avait t possible. Depuis longtemps, lon assure que la dputation est lobjet des vux de M. de
Balzac. Il faut lavouer : les bancs du Palais-Bourbon nont pas exerc jusqu prsent, une influence trs favorable sur
les talents littraires qui sont venus sy asseoir. Un pote clbre tomb des hauteurs du ciel dans les ralits vulgaires
du gouvernement reprsentatif, en est arriv composer de tristes vers, sans faire par compensation de bons discours ;
et nous nosons esprer que latmosphre de la chambre ait le privilge de rendre M. de Balzac ses inspirations dun
temps meilleur.
La prface du Grand homme de province peut tre considre comme le complment de celle de la Femme suprieure :
cest une suite aux lamentations amres dj formules par M. de Balzac que lon pourrait vraiment appeler le Jrmie
de la littrature. M. de Balzac va jusqu se plaindre des louanges exagres donnes, dit-il, Eugnie Grandet, dans le
seul but dtouffer ses autres ouvrages. Nous croyons trouver ici dune part une modestie trop grande, sans doute
lgard dEugnie Grandet, de lautre un amour-propre un peu trop paternel pour des productions qui ne mritent pas
cette tendresse. [...]
Dans cette foudroyante prface, M. de Balzac nous le dclare en termes clairs et nets : " les journaux ne sont pas moins
funestes lexistence des crivains modernes que le vol permanent commis leur prjudice par la Belgique. " Le journal
nest rien moins quun bton pestifr sur lequel M. de Balzac a eu le bonheur de ne point sappuyer pour faire son
chemin. Il se flicite de navoir jamais implor cette hypocrite tyrannie. Il a enfin " le droit chrement acquis de
regarder en face ce cancer qui dvorera peut-tre le pays. " M. de Balzac ny va pas de main morte, il faut en convenir. Le
http://www.cavi.univ-paris3.fr/phalese/Balzac/echos.htm
Pgina 3 de 8
CHOS ET RCEPTIONS
22/01/12 22:58
journal est tout la fois, sous sa plume, un cancer, une hypocrite tyrannie et un bton pestifr : cest un flagrant
cumul. Si M. de Balzac na jamais implor ces odieux tyrans appels journaux, il y a dautant plus de mrite de leur part
dans les loges quils ont donns ses bons ouvrages. Il est vrai, nous en avons t avertis plus haut, que ces loges
mme taient une noire perfidie. Mais tout larsenal de charlatanisme dploy en faveur du plus fcond de nos
romanciers ? Tout cela tait luvre des libraires de M. de Balzac, la bonne heure : cependant lcrivain qui professe
un si profond mpris pour la presse priodique, naurait-il pas d dfendre rigoureusement ses diteurs, par une
clause en bonne forme, et sous toutes rserves de droit, de compromettre son nom par lemploi de pareils moyens ? Il
paratrait donc quen librairie, les journaux, parfois, sont bons quelque chose.
Mais cette prface nest que le premier coup de canon qui engage laction. Aprs lescarmouche, la bataille : aprs la
prface, le livre.
Nous sommes si loin de payer la haine de M. de Balzac contre la critique, par une rciprocit hostile, que nous
reconnaissons dans le sujet du Grand homme de province le fond dun beau et large tableau de murs. Les murs
littraires sont, elles aussi, un texte fcond, pour lobservateur, pour lcrivain. Le public aime connatre, voir en
dshabill les hommes dont il lit les ouvrages. Il se plat pntrer dans ce monde qui est tout fait un monde
particulier. M. de Balzac par malheur na vu dans ce sujet que des inimitis satisfaire, un dbouch o il pouvait
rpandre le trop plein de ses ressentiments ; au lieu dune peinture de murs, comme il en sut faire jadis, il ne nous a
donn quune satire dont lamertume fait tort mme ce quelle renferme de vrai. [rsum de lintrigue].
Nous ne conduirons point sur ses pas, nos lecteurs, travers toutes les infmies, toutes les noirceurs, toutes les ignobles
intrigues, tous les brigandages que nous tale M. de Balzac, sans nous faire grce du moindre dtail. Nous chercherons
encore moins quels sont les journalistes actuels quil a personnellement dsigns et mis en scne, sous le nom et le
masque assez transparent de ses journalistes de 1821. Toutes ces plaies mises nu, tous ces haillons retourns, toute
cette sale cuisine expose sous nos yeux, dgotent beaucoup plus quils nintressent ou quils namusent. Il nous
suffira de dire que Lucien, devenu en fort peu de temps une des puissances de la presse priodique, se voit la terreur ou
lespoir des libraires, le favori et le sultan des coulisses. Il trafique de son esprit, de sa plume, de sa conscience, il vend
tout, il fait argent de tout jusqu ce que les acheteurs lui manquent, pour ce vil commerce qui, dans sa rapide
dcadence, finit par le conduire la misre, travers la honte et le dsespoir.
Que de pareilles murs, de si dgotantes turpitudes puissent exister, nous ne le nierons pas. La presse priodique est
un pouvoir expos tomber en de mauvaises mains, comme tous les pouvoirs de ce monde, sans quil faille en tirer une
conclusion gnrale contre lui-mme. Oui, nous le savons : en scrutant les murs du journalisme, on peut y trouver de
misrables trafics. Nous ne parlons pas seulement du journalisme littraire, qui a des gouts, des mauvais lieux dans
lesquels il faut sabstenir de jeter mme un regard. Nous parlons aussi du journalisme politique, o trop dexemples
fameux de corruption et de bassesse se montrent effrontment au grand jour. [...]
Au lieu de vous en tenir exclusivement, M. de Balzac, dans votre peinture du journalisme, ces tripots de bas tages,
ces viles boutiques, vous auriez pu, si vous aviez voulu faire un tableau fidle, et non pas un pamphlet, trouver de nobles
oppositions mettre en regard de ces hideux tableaux. Non, quoi que vous disiez, mme en ce temps de corruption, tout
nest pas corrompu. Le journal qui, depuis dix ans, fidle ses vritables antcdents dindpendance et de loyaut, aura
soutenu son drapeau sur la brche, au milieu des perscutions, des emprisonnements, des amendes pour lesquelles il
na plus mme la ressource des souscriptions, prohibes par de rigoureuses lois ; le journal dont plusieurs rdacteurs
ont renonc sans hsiter par honneur, par conviction, des positions dj acquises, ce journal ne vous en dplaise na
rien de commun avec les bouges repoussants o vous conduisez vos lecteurs.
F. de Lagevenais, " Revue littraire, les derniers romans de M. de Balzac et de M. Frdric
Souli ", Revue des deux mondes, 1er dcembre 1843
Lauteur de David Schard disperse, travers les chapitres de son roman, de longs fragments qui seraient mieux leur
place dans la collection des manuels-Roret. Ainsi, il y a tour tour une thorie complte de lart du papetier, un expos
tendu des travaux de limprimeur, et enfin une histoire trs dtaille et trs rudite de la saisie et de la contrainte par
corps, laquelle ferait honneur lhuissier le plus expert [...].
ve est la seule figure intressante du roman, parce quelle est la seule honnte. Lauteur, pour peindre ce touchant
caractre a retrouv souvent son pinceau dli dautrefois. Quant aux personnages secondaires, ils sont tellement faux,
quon nen saurait accepter aucun. [...] M. de Balzac, au surplus, ne se met gure maintenant en frais dinvention. Il
reprend, on le sait, ses vieux personnages et se contente de leur couper une basque dhabit et de leur mettre un peu de
rouge. Ici encore, nous avons lternel Lousteau et lternel Lucien de Rubempr, le journaliste et le pote. [...]
Voil comment se termine cette histoire parasite de Lucien, laquelle senchevtre (on ignore comment et pourquoi)
travers des dtails techniques qui senchevtrent fort mal eux-mmes dans une histoire dcousue et sans intrt. M. de
http://www.cavi.univ-paris3.fr/phalese/Balzac/echos.htm
Pgina 4 de 8
CHOS ET RCEPTIONS
22/01/12 22:58
Balzac croit avoir montr le Gnie et le dvouement, David et ve, perscuts par la socit ; en ralit, il na russi qu
mettre un niais honnte et une femme nave au milieu dune bande de fripons. Conu sans proportions, compos sans
mthode, crit sans naturel, ce livre est le digne pendant de Rosalie. Pour exprimer cette ide que, dans un salon, une
femme promne ses yeux sur ceux qui lentourent, M. de Balzac dit : " elle jette un regard de circumnavigation. " Cest l
le style habituel du livre : un Cyrano, doubl de Scudry, net pas parl autrement.
Les crivains du XIXe sicle notamment ne cessent de revenir Illusions perdues, gnralement pour constater que
Balzac a su rendre compte de leur position insupportable devant le Journal et les journalistes.
Jules Valls, " Les victimes du livre ", Le Figaro, 9 octobre 1862.
Balzac
Ah ! sous les pas de ce gant, que de consciences crases, que de boue, que de sang ! Comme il a fait travailler les juges
et pleurer les mres ! Je le sais, moi, qui ai pu voir de prs le bataillon des Irrguliers parisiens.
Combien se sont perdus, ont coul, qui agitaient au-dessus du bourbier o ils allaient mourir une page arrache
quelque volume de La Comdie humaine.
Ceux-ci, avec Rastignac du haut dune mansarde ou debout sur le pont des Arts, ont montr le poing la vie et cri au
monde : nous deux ! jurant, sur Le Pre Goriot ou le volume d ct, de faire leur trou coups dpe ou de couteau
prts jouer tout, et, pour forcer la porte, sauter dans larne, passant davance sur le ventre des hommes et le cur
des femmes.
Les femmes, des drlesses sentimentales, qui vous jettent des places, des croix par les alcves, vous font entrer dans leur
boudoir devant le mari qui sen va, et vous promnent leur bras travers les salons, au thtre, au bois, devant le
monde qui salue !
On ne parle que par millions et par ambassades, l-dedans ! Les hommes de lettres y font des vies ! les attachs sen
donnent !
La patrie tient entre les mains de quelques farceurs, canailles faire plaisir, spirituels faire peur, qui allument des
volcans avec le feu de leur cigare et crasent vertu, justice, honneur sous la semelle de leurs bottes vernies.
Il sest trouv des gens des conscrits pour prendre le roman la lettre, qui ont cru quil y avait comme cela de par le
monde un autre monde o les duchesses vous sautaient au cou, les rubans rouges la boutonnire, o les millions
tombaient tout ficels et les grandeurs toutes rties, et quil suffisait de ne croire rien pour arriver tout...
Monde de filous et dentretenus.
Dans lombre, au second plan, La Vieille fille, Les Deux frres, les chefs-duvre.
Au soleil, le sermon de Vautrin, coup par le clbre jet de salive ! Et les pauvres garons den faire un vangile, crachant
comme lui, en homme suprieur (voyez la page) au nez de la socit, qui les a laisss sembarrasser dans leurs ficelles et
tomber de ces chutes dont quelquefois on porte la marque sur lpaule.
Les Grands Hommes de province Paris ! Jai vu sen aller un un, fil par fil, leurs cheveux et leurs esprances, et le
chagrin venir, quelquefois mme le chtiment en voiture jaune, au galop des gendarmes. Quon en a reconduit de
brigade en brigade, de ces Illusions perdues !
Les plus heureux, je vous les nommerai un jour, jouent au La Palfrine dans les escaliers du ministre, les antichambres
de financiers, les cafs de gens de lettres, et font des mots, nayant pas pu faire autre chose. Ils attendent lheure de
labsinthe, aprs avoir laiss passer celle du succs.
mile Zola, " Jules Janin et Balzac ", Le Roman exprimental, Paris, Charpentier, 1880, p. 341
Il faut dire que Balzac venait de malmener la presse dans son roman des Illusions perdues. Janin crut devoir prendre la
dfense du journalisme. En ce temps-l, on stonnait dj quun romancier, gorg par les journaux, tran chaque
matin dans la boue, et laudace grande de ntre pas content et daccuser ses diffamateurs de mauvaise foi et
dignorance. Balzac ne mchait pas ses paroles : dans la Revue qui lui appartenait, il avait carrment dclar que les
journaux montraient une attitude " ignoble " son gard. Jamais, dailleurs, il ne leur pardonna. Ce sont des choses
quon a trop oublies aujourdhui, lorsquon cherche craser les vivants sous le souvenir des grands morts. Ajoutons
que Janin, en se faisant le dfenseur de la presse, tait bassement lexcuteur des rancunes de la Revue de Paris, qui
venait de perdre son fameux procs contre Balzac. [...]
http://www.cavi.univ-paris3.fr/phalese/Balzac/echos.htm
Pgina 5 de 8
CHOS ET RCEPTIONS
22/01/12 22:58
Mais le plus amusant des reproches que lui fait Janin, cest de se rpter, cest de navoir quune note. Cela gaie, quand
on se rappelle que ledit Janin a refait pendant quarante ans le mme article, au rez-de-chausse des Dbats. Quarante
annes du mme bavardage vide, quarante annes de critique inutile et fleurie ! Nest-ce pas norme de venir ensuite
accuser duniformit lauteur de la Comdie humaine, qui a cr tout un monde ? [...]
En somme, comme je lai dit, Jules Janin feint de croire que Balzac sattaque aux grandes personnalits du journalisme
tous ces grands noms : Chateaubriand, Royer-Collard, Guizot, Armand Carrel, Villemain, Lamenais. La vrit tait que
Balzac parlait des honteuses cuisines dont il tait le tmoin, des coulisses de la presse, de tous les abus que le brusque
succs des journaux faisait natre. [...]
Eh bien ! prince, je crois que cest vous qui avez disparu le lendemain dans un immense oubli. Personne ne lit plus vos
romans, et vos quarante annes de critique nont mme pas laiss une trace dans notre histoire littraire. Quant
Balzac, il est debout, il grandit chaque jour davantage. Ce sont l des fouilles dans le pass, des lectures saines et
rafrachissantes, qui font du bien. On respire, en constatant limbcillit de la critique, mme lorsquelle est couronne.
Songez donc quaujourdhui il ny en a mme un quon ait jug digne dasseoir sur le trne. Si lon patauge ce point
lorsquon est prince, que penser des jugements ports par le troupeau des critiques ordinaires.
Marcel Proust, grand pratiquant du pastiche balzacien claire ici sur quelques particularits du style dIllusions perdues.
Marcel Proust, Contre Sainte-Beuve, ditions Gallimard, 1954 (crit entre 1908 et 1910)
Tandis que souvent chez les crivains le titre est plus ou moins un symbole, une image quil faut prendre dans un sens
plus gnral, plus potique que la lecture du livre qui donnera [sic], avec Balzac cest plutt le contraire. La lecture de
cet admirable livre qui sappelle Les Illusions perdues restreint et matrialise plutt ce beau titre : Illusions perdues. Il
signifie que Lucien de Rubempr venant Paris sest rendu compte que Mme de Bargeton tait ridicule et provinciale,
que les journalistes taient fourbes, que la vie tait difficile. Illusions toutes particulires, toutes contingentes, dont la
perte peut lacculer au dsespoir et qui donnent une puissante marque de ralit au livre, mais qui font rabattre un peu
de la posie philosophique du titre. Chaque titre doit ainsi tre pris au pied de la lettre : Un grand homme de province
Paris, Splendeur et Misre [sic] des Courtisanes, A combien lAmour revient aux Vieillards, etc.
Le style est tellement la marque de la transformation que la pense de lcrivain fait subir la ralit, que, dans Balzac, il
ny a pas proprement parler de style. Sainte-Beuve sest tromp l du tout au tout : " Ce style si souvent chatouilleux et
dissolvant, nerv, ros et vein de toutes les teintes, ce style dune corruption dlicieuse, tout asiatique comme disaient
nos matres, plus bris par places et plus amolli que le corps dun mime antique ". Rien nest plus faux. [...] Dans Balzac
coexistent [...], non digrs, non encore transforms, tous les lments dun style venir qui nexiste pas. Le style ne
suggre pas, ne reflte pas : il explique. Il explique dailleurs laide des images les plus saisissantes, mais non fondues
avec le reste qui font comprendre ce quil veut dire comme on le fait comprendre dans la conversation si on a une
conversation gniale, mais sans se proccuper de lharmonie du tout et de ne pas intervenir. Si, dans sa correspondance,
il dira : " Les bons mariages sont comme la crme : un rien les fait manquer ", cest par des images de ce genre, cest-dire frappantes, justes, mais qui dtonnent, qui expliquent au lieu de suggrer, qui ne se subordonnent aucun but de
beaut et dharmonie quil emploiera : " Le rire de M. de Bargeton, qui tait comme des boulets endormis qui se
rveillent, etc. ".
Sil se contente de trouver le trait qui pourra nous faire comprendre comment est la personne sans chercher le fondre
dans un ensemble beau, de mme il donne des exemples prcis au lieu den dgager ce quils peuvent contenir. Il dcrit
ainsi ltat desprit de Mme de Bargeton : " Elle concevait le pacha de Janina ; elle aurait voulu lutter avec lui dans le
srail et trouvait quelque chose de grand tre cousue dans un sac et jete leau. Elle enviait Lady Esther Stanhope, ce
bas-bleu du dsert. " Ainsi, au lieu de se contenter dinspirer le sentiment quil veut que nous prouvions dune chose, il
la qualifie immdiatement : " Il eut une affreuse expression. Il eut alors un regard sublime. " Il nous parlera des qualits
de Mme de Bargeton qui deviennent de lexagration en sen prenant aux riens de la province. Et il ajoute comme la
comtesse dEscarbagnas : " Certes, un coucher de soleil est un grand pome, etc. " [...]
Balzac se sert de toutes les ides qui lui viennent lesprit, et ne cherche pas les faire entrer, dissoutes, dans un style
o elles sharmoniseraient et suggreraient ce quil veut dire. Non, il le dit tout simplement, et si htroclite et disparate
que soit limage, toujours juste dailleurs, il la juxtapose. " M. du Chtelet tait comme ces melons qui de verts
deviennent jaunes en une nuit. " [...]
Ne concevant pas la phrase comme faite dune substance spciale o doit sliminer et ne plus tre reconnaissable tout
ce qui fit lobjet de la conversation, du savoir, etc, il ajoute chaque mot la notion quil en a, la rflexion quelle lui
inspire. Sil parle dun artiste, immdiatement il dit ce quil en sait, par simple apposition. Parlant de limprimerie
Schard, il dit quil tait ncessaire dadapter le papier aux besoins de la civilisation franaise qui menaaient dtendre
la discussion tout et de reposer sur une perptuelle manifestation de la pense individuelle un vrai malheur, car les
http://www.cavi.univ-paris3.fr/phalese/Balzac/echos.htm
Pgina 6 de 8
CHOS ET RCEPTIONS
22/01/12 22:58
peuples qui dlibrent agissent trs peu, etc. Et il met ainsi toutes les rflexions qui, cause de cette vulgarit de nature,
sont souvent mdiocres et qui prennent de cette espce de navet avec laquelle elles sont au milieu dune phrase
quelque chose dassez comique. Dautant plus que les expressions " propres ... ", etc. dont lusage vient prcisment du
besoin de dfinir au milieu dune phrase et de donner un renseignement, leur donne quelque chose de plus solennel. [...]
Et quand il y a une explication donner, Balzac ny met pas de faons, il crit voici pourquoi : suit un chapitre. De
mme, il a des rsums o il affirme tout ce que nous devons savoir, sans donner dair, de place : " Ds le second mois de
son mariage, David passait la plus grande partie de son temps, etc. ; trois mois aprs son arrive Angoulme, etc. " [...]
Mais prcisment tout cela plat ceux qui aiment Balzac ; ils se redisent en souriant : " le prnom ignoble dAmlie ", "
biblique, rpta Fifine tonne ", " la princesse de Cadignan tait une des femmes les plus fortes sur la toilette ". Aimer
Balzac ! Sainte-Beuve qui aimait tant dfinir ce que ctait que daimer quelquun aurait eu l un joli morceau faire. Car
les autres romanciers, on les aime en se soumettant eux, on reoit dun Tolsto la vrit comme de quelquun de plus
grand et de plus fort que soi. Balzac, on sait toutes ses vulgarits, elles nous ont souvent rebut au dbut ; puis on a
commenc laimer, alors on sourit toutes ces navets, qui sont si bien lui-mme ; on laime, avec un tout petit peu
dironie qui se mle de la tendresse ; on connat ses travers, ses petitesses, et on les aime parce quelles le caractrisent
fortement.
Balzac, ayant gard par certains cts un style inorganis, on pourrait croire quil na pas cherch objectiver le langage
de ses personnages, ou, quand il la fait objectif, quil na pu se tenir de faire toute minute remarquer ce quil avait de
particulier. Or, cest tout le contraire. Ce mme homme qui tale navement ses vues historiques, artistiques, etc., cache
les plus profonds desseins, et laisse parler delle-mme la vrit de la peinture du langage de ses personnages, si
finement quelle peut passer inaperue, et il ne cherche en rien la signaler. [...] Lucien de Rubempr, mme dans ses
aparts, a juste la gat vulgaire, le relent de jeunesse inculte qui doit plaire Vautrin : " Alors, pensa Lucien, il connat
la bouillotte ". " Le voil pris ". " Quelle nature dArabe ! " Lucien se dit lui-mme : " Je vais le faire poser ". " Cest un
lascar qui nest pas plus prtre que moi ". Et de fait, Vautrin na pas t le seul aimer Lucien de Rubempr. [...]
Mais tout, depuis la manire dont Vautrin arrte sur la route Lucien quil ne connat pas et dont le physique seul a donc
pu lintresser, jusqu ces gestes involontaires par lesquels il lui prend le bras, ne trahit-il pas le sens trs diffrent et
trs prcis des thories de domination, dalliance deux dans la vie, etc. dont le faux chanoine colore aux yeux de
Lucien, et peut-tre aux siens mmes, une pense inavoue. La parenthse propos de lhomme qui a la passion de
manger du papier nest-elle pas aussi un trait de caractre admirable de Vautrin et de tous ses pareils, une de leurs
thories favorites, le peu quils laissent chapper de leur secret ? Mais le plus beau sans conteste est le merveilleux
passage o les deux voyageurs passent devant les ruines du chteau de Rastignac. Jappelle cela la Tristesse dOlympio
de lHomosexualit : Il voulut tout revoir, ltang prs de la source. On sait que Vautrin, la pension Vauquer, dans Le
Pre Goriot, a form sur Rastignac et inutilement, le mme dessin de domination quil a maintenant sur Lucien de
Rubempr. Il a chou, mais Rastignac nen a pas moins t fort ml sa vie ; Vautrin a fait assassiner le fils Taillefer
pour lui faire pouser Victorine. Plus tard, quand Rastignac sera hostile Lucien de Rubempr, Vautrin, masqu, lui
rappellera certaines choses de la pension Vauquer et le contraindra protger Lucien, et mme aprs la mort de Lucien,
Rastignac souvent fera appeler Vautrin dans une rue obscure.
De tels effets ne sont gure possibles que grce cette admirable invention de Balzac davoir gard les mmes
personnages dans tous ses romans. Ainsi un rayon dtach du fond de luvre, passant sur toute une vie peut venir
toucher, de sa lueur mlancolique et trouble, cette gentilhommire de Dordogne et cet arrt des deux voyageurs.
On terminera cet ventail de textes de rception par des extraits du fameux article de Georg Lukcs, Balzac et le
ralisme franais qui prsente une lecture oriente mais trs riche dIllusions perdues.
Georg Lukcs, Balzac et le ralisme franais, 1935
Avec cette uvre, acheve lapoge de sa maturit dcrivain (1843), Balzac cre un nouveau type de roman qui devient
dune importance capitale pour toute lvolution du XIXe sicle : le type du roman de la dsillusion, le type dun roman
dans lequel on montre comment les ides fausses, mais apparues par ncessit, des personnages sur le monde, se
brisent ncessairement au contact de la force brutale de la vie capitaliste. Naturellement, la destruction des illusions
napparat pas avec Balzac pour la premire fois dans le roman moderne. Le premier grand roman, Don Quichotte, est
bien lui aussi une histoire des " illusions perdues ". Mais chez Cervants, cest la bourgeoisie naissante qui dtruit des
illusions fodales attardes, tandis que chez Balzac les ides ncessairement engendres par la socit bourgeoise sur
lhomme, la socit, lart, etc., les produits idologiques les plus levs du dveloppement rvolutionnaire bourgeois
apparaissent comme de simples illusions quand on les confronte la ralit de lconomie capitaliste. Mme le roman
du XVIIIe sicle dtruit maintes illusions. Toutefois cette destruction touche pour une part des restes encore existants
de pense et de sentiments fodaux chez certaines personnes, alors que, pour une autre part, ce sont des ides peu
fondes, de faible valeur, insuffisamment ancres dans la ralit, au sein dune conception plus large, plus relle de cette
mme ralit, qui sont surmontes partir du mme point de vue. Le tragique rire moqueur sur les plus hauts produits
http://www.cavi.univ-paris3.fr/phalese/Balzac/echos.htm
Pgina 7 de 8
CHOS ET RCEPTIONS
22/01/12 22:58
idologiques du dveloppement bourgeois eux-mmes, la tragique dcomposition des idaux bourgeois sous la pousse
de leur propre base conomique, capitaliste, sont rapports pour la premire fois de faon ample, en totalit, dans ce
roman de Balzac. Seul le chef-duvre immortel de Diderot, Le Neveu de Rameau, peut tre considr comme
prcurseur idologique des Illusions perdues.
Balzac nest nullement le seul qui soccupe de ce thme cette poque. Le Rouge et le Noir de Stendhal et les
Confessions dun enfant du sicle de Musset, etc., lont prcd. Le thme tait dans lair ; non pas la suite de quelque
mode littraire, mais la suite de lvolution sociale de la France, le pays modle pour la croissance politique de la
bourgeoisie. La grande, lhroque priode de la Rvolution franaise et de Napolon avait veill, ranim et mobilis
toutes les nergies en sommeil de la classe bourgeoise. La priode hroque donnait la meilleure partie de la classe
bourgeoise la possibilit de faire passer directement dans la vie les idaux hroques et de mourir hroquement en
conformit avec ces idaux. Avec la chute de Napolon, avec la Restauration et aussi avec la Rvolution de juillet,
sachve la priode hroque, les idaux deviennent des ornements et des dcorations superflus de la vie relle : le
chemin ouvert au dveloppement du capitalisme par la Rvolution et Napolon slargit pour devenir la grand-route
confortable et accessible tous du dveloppement. Les pionniers hroques doivent se retirer et cder la place ceux qui
profitent du dveloppement, aux spculateurs. [...]
Les Illusions perdues slvent cependant une hauteur solitaire au sein de la production littraire de la France dalors,
car Balzac ne sen tient pas la comprhension et la reprsentation des situations sociales tragiques ou tragi-comiques
esquisses ici. Il voit et porte plus loin. Il voit que la fin de la priode hroque de lvolution bourgeoise en France
signifie en mme temps le dbut du grand essor du capitalisme franais. Dans presque tous ses romans, Balzac dcrit cet
essor capitaliste, la transformation de lartisanat primitif en capitalisme moderne, la conqute de la ville et de la
campagne par le capital dans sa croissance imptueuse, le recul de toutes les formes de socit et les idologies
traditionnelles devant la marche en avant triomphante du capitalisme. Dans ce processus, les Illusions perdues sont
lpope tragi-comique de la capitalisation de lesprit. La transformation en marchandise de la littrature (et avec elle
de toute idologie) est le thme de ce roman, et la mise en pratique trs large de cette capitalisation de lesprit intgre la
tragdie gnrale de la gnration directement postrieure Napolon un cadre social plus profondment compris que
ne pouvait le faire le plus grand contemporain de Balzac, savoir Stendhal.
Balzac reprsente ce processus de la transformation en marchandise de la littrature dans toute son ampleur, dans sa
totalit : depuis la production du papier jusquaux convictions, penses et sentiments des crivains, tout devient
marchandise. Et Balzac ne se contente pas dune constatation gnrale des consquences idologiques de cette
domination du capitalisme, mais rvle dans tous les domaines (journaux, thtres, maisons ddition) le processus
concret de la capitalisation dans toutes ses tapes et ses dterminations. " La gloire, cest douze mille francs darticles et
mille cus de dners " dclare le libraire Dauriat [...].
Dans cette situation, les journalistes et les crivains sont les exploits : leurs capacits deviennent des marchandises, des
objets de spculation pour le capitalisme de la littrature. Mais cause du capitalisme ils deviennent des exploits
prostitus : ils veulent se hisser eux-mmes au niveau dexploiteurs ou pour le moins dintermdiaires de lexploitation
[...].
Ce large contenu du thme, la capitalisation de la littrature depuis la production du papier jusqu la sensation lyrique,
dtermine comme toujours chez Balzac la forme artistique de la composition. Lamiti de David Schard et de Lucien de
Rubempr, les illusions dtruites de leur jeunesse commune peuple de rves, linteraction de leurs diffrences de
caractre dterminent les grandes lignes de laction. Le gnie de Balzac sexprime directement dans ce schma de base
de la composition. Il cre des personnages dans lesquels dune part, les tensions intrieures du sujet sexpriment sous
forme de passion humaine, deffort individuel : David Schard invente une nouvelle faon de produire du papier bon
march et est dup par des capitalistes, tandis que Lucien porte sur le march du capitalisme parisien la posie la plus
subtile. Dautre part apparat de manire humaine et plastique dans lopposition des deux caractres le contraste
extrme dans les ractions possibles face la capitalisation et toutes ses horreurs. David Schard est un stocien
puritain, tandis que Lucien incarne parfaitement la dmarche hypersensible de la jouissance, lpicurisme raffin, sans
consistance, de la gnration daprs la Rvolution. [...]
http://www.cavi.univ-paris3.fr/phalese/Balzac/echos.htm
Pgina 8 de 8