Mitologia Maçônica

1
ITOLOGIA MANICA
Por Rafhael Guimares
Pode-se dizer que o sonho como a pedra desprezada pelos

1. 2
pedreiros e que depois se tornou a pedra angular. Carl G. Jung
INTRODUO
Este estudo tem por objetivo analisar as influncias psicolgicas que a
Mitologia e neste caso, a Mitologia Manica em questo atravs da sua prtica
ritualstica, suas falas, movimentos, smbolos, dramas e alegorias, pode ter sobre seus
praticantes, acompanhando as similaridades da Mitologia Manica com as outras
Mitologias da histria.
Malgrado muitos talvez possam julgar os rituais manicos como ingnuos,
estranhos, primitivos e ultrapassados ou at mesmo supersticiosos. Sero
apresentados neste estudo indcios de que, muito pelo contrrio, tanto os rituais como
a mitologia possuem as mesmas fontes de origem o inconsciente3, ponto
fundamental para o progresso psicolgico.
H, sem dvida, inmeras diferenas entre as religies e mitologias da
humanidade, e todas essas, de uma forma ou de outra, podem ser encontradas em
alguma medida, representadas nas alegorias manicas4. Esse sincretismo na
Mitologia Manica nos leva a crer que nossos antepassados j tinham noo das
similaridades existentes nas manifestaes religiosas e mitolgicas. Encontramos um
direcionamento para um estudo comparativo nas palavras ad-referendum do erudito
norte americano Joseph Campbell:
A esperana que acalento a de que um esclarecimento
realizado em termos de comparao possa contribuir para a
causa, talvez no to perdida, das foras que atuam no
mundo de hoje, em favor da unificao, no em nome de
algum imprio poltico ou eclesistico, mas com o objetivo de
promover a mtua compreenso entre os seres humanos.
Como nos dizem os Vedas: "A verdade uma s, mas os
5
sbios falam dela sob muitos nomes".
A definio mais comum de Maonaria a de que Maonaria um belo

sistema de moralidade velado em alegoria e ilustrado por smbolos 6. Isso j diz muito
sobre a instituio e seu modo de ensino e aprendizagem, que ocorre por meio de
N.R.: ARTIGO ACADEMICO REGISTRADO NA BIBLIOTECA NACIONAL (RJ)
1
JUNG, Carl Gustav. Psicologia do Inconsciente, 7/1 (pag.32). Rio de Janeiro, Editora Vozes, 1978;
2
Apesar de no ter sido Maom, Jung fala de uma das mais importantes lendas da Maonaria Operativa, que
relembrada nos graus de Mestre de Marca e Mui Excelente Mestre do Rito de York. Os ritos anglo-saxes (Rito de York
e as Ordens Inglesas de Aperfeioamento Manico) operam com um simbolismo voltado mais para o lado operativo
da Maonaria, razo de ser lembrado enfaticamente cerimnias como essas da pedra desprezada.
3
CAMPBELL, Joseph. Heri de mil faces, Monomito - A aventura do heri. So Paulo, Pensamento, 2007;
4
5
6
MAXENCE, Jean-Luc. Jung a aurora da Maonaria. SP, Madras, 2010;

CAMPBELL, Joseph. Heri de mil faces, Prefcio. So Paulo, Pensamento, 2007;
ZELDIS, L., Illustrated by Symbols. New York, NY: Philalethes, The Journal of Masonic Research & Letters, Vol. 64,
No. 02, p. 72-73, 2011;
2
rituais repletos de alegorias e expresses simblicas. No entanto, entre o
desdobramento do ritual e o comportamento moral de seus praticantes h um
mecanismo psicolgico que no pode ser ignorado e cuja compreenso pode
colaborar para um melhor entendimento da razo pela qual a Maonaria atraiu ao
longo dos sculos o interesse de tantos distintos homens e a ira de to perigosos
inimigos, como os nazistas, papas e o Comintern Comit Comunista Internacional7.
Foi em 1900 que Sigmund Freud apresentou ao mundo sua teoria do
Inconsciente, na obra A interpretao dos sonhos 8. O conceito de Inconsciente e
Arqutipos j existiam de alguma forma desde a Grcia Antiga ao perodo medieval,
contudo, foi somente com Carl Gustav Jung que tal teoria encontrou sua plenitude,
alcanando um sentido mais amplo, quando o mesmo diferenciou a atuao do
inconsciente de uma camada mais profunda, que chamou de Inconsciente Coletivo,
que so formas ou imagens de natureza coletiva que se manifestam praticamente em
todo o mundo como constituintes dos mitos e, ao mesmo tempo, como produtos
individuais de origem inconsciente, que influenciam toda nossa psique.9 10
Ao contrrio da escola freudiana, que afirma que os mitos esto profundamente
enraizados dentro de um complexo do inconsciente11 (Complexo de dipo, por
exemplo), para Jung, a origem atemporal dos mitos reside dentro de uma estrutura
formal do inconsciente coletivo. Torna-se assim uma diferena considervel para
Freud, que nunca reconheceu a autonomia congnita da mente e do inconsciente,
enquanto que, para Jung havia uma dimenso coletiva inata, com autonomia
energtica.
As ideias apresentadas por Jung foram o embasamento cientfico que o
estudioso das Religies e Mitologias Comparadas, Joseph Campbell, precisava para
sustentar as similaridades existentes entre todas as religies e mitologias da histria.
Tal conceito chamado anteriormente de Monomito por Jaymes Joyce12,foi esmiuado
por Campbell, que mostrou o roteiro da manifestao arquetpica do heri
(personagem universal) que se encontrava representado em todo o mundo como um
arqutipo do Inconsciente Coletivo.13 14
Com isso, inmeras publicaes de Joseph Campbell tomaram notoriedade,
especialmente a srie de entrevistas O Poder do Mito 15. Muitos autores escreveram
estrias tendo por base tais teorias, em especial destacamos a saga Star Wars e
Indiana Jones, que tiveram a direo e roteiro de George Lucas, que publicamente
assumiu ser Campbell seu mentor pessoal e daqueles trabalhos em particular.16
Assim, ser com base nas obras de Campbell e Jung o desenvolvimento deste
artigo, que visa comparar e reapresentar o simbolismo manico sob a tica cientfica
da Psicologia Junguiana (Parte I) e da Cincia das Religies, com nfase na Jornada
do Heri (Parte II).
O mtodo comparativo apresentado neste artigo proporciona uma viso
ampla entre duas matrias, transcendendo os limites impostos pela natureza de cada
uma. Esse cruzamento de matrias resulta num denominador comum entre ambas,
7
ROBERTS, J. M.: Freemasonry: Possibilities of a Neglected Topic. The English Historical Review, Vol. 84, 331, 1969;
FREUD, Sigmund. A interpretao dos sonhos. Obras Completas, vol. V. Rio de Janeiro, Imago, 1972;
Jung dizia que tomou o termo Arqutipo de fontes clssicas como Ccero, Plnio, Plato, Santo Agostinho e
principalmente na obra medieval O Corpus Hermeticus. Foi nos escritos da tradio hermtica e posteriormente
alquimista que Jung encontrou inmeras referncias antigas sobre os Arqutipos, como o citado Corpo Hermtico,
onde Deus (Kether) denominado por Luz Arquetpica e em Dionsio Areopagita onde encontramos diversas vezes o
termo Os Arqutipos Imateriais;
10
FREUD, Sigmund. A interpretao dos sonhos., Obras Completas, vol. V. Rio de Janeiro, Imago, 1972;
11
JUNG, Carl Gustav. Psicologia e religio, 11/1, A autonomia do inconsciente. Rio de Janeiro, Editora Vozes, 2011;
12
13
14
15
16
O termo Monomito de James Joyce, da obra Finnegans Wake;

JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus smbolos, Chegando ao Inconsciente (pag.50).RJ, Nova Fronteira;
JUNG, C.G. Interpretao psicolgica do Dogma da Trindade (pag.21) e (pag.45-46). RJ, Vozes;
CAMPBELL, Joseph. Coleo DVD, O Poder do mito com Bill Moyers (1987). LogON Editora Multimdia;
Idem (1987);
3
como tambm, no crescimento investigativo, de natureza intelectual, para abeberar as
fontes de conhecimento, neste caso em questo, dos conhecimentos dispostos na
Sublime Instituio Manica.
PARTE I
ESTUDO E ANLISE COMPARATIVA DA
PSICOLOGIA JUNGUIANA COM O SIMBOLISMO MANICO
17
O que um Smbolo?18
"Os smbolos so para a mente quais so os instrumentos as
mos. - Uma aplicao alargada dos seus poderes."
Dion Fortune
Podemos definir os smbolos como metforas e compndios de um

conhecimento sensivelmente elevado19, que em outras palavras so manifestaes
exteriores dos arqutipos. Os arqutipos s podem se expressar atravs dos smbolos
em razo de se encontrarem profundamente escondidos no inconsciente coletivo sem
que o indivduo os conhea ou possa vir a conhecer20. Dessa forma, em nosso nvel
comum de existncia, para compreendermos um elevado sentimento (como o
Inconsciente Coletivo e suas manifestaes), necessitamos dos smbolos, que por
essa e outras causas so gestos existentes desde o incio da humanidade.21 22
Essas afirmaes precedentes necessitam de um exemplo hipottico: O amor
da me para com seu filho jamais seria compreendido por palavras ou descries
objetivas (nmeros e letras). Outrossim, podemos ao invs de escrever sobre tal amor,
apenas lanar o smbolo do corao. Deste modo, mesmo que parcialmente, a noo
que teremos a respeito do amor de uma me para com seu filho, ser muito mais
prxima do que as expressadas por meras palavras.
A diferena crucial entre smbolo e arqutipo que o primeiro pode ser visto e
em alguns casos tambm tocado e sentido, ao passo que o segundo pode ser apenas
sentido, e mesmo assim, somente por intermdio do primeiro. Portanto, para que haja
smbolos, deve antes haver arqutipos, pois aqueles so a manifestao destes em
menor escala23 24.
Contrariamente a esta teoria junguiana ora apresentada, observamos na
psicanlise de Freud outra viso dos arqutipos, que se encontra centrada nos trs
arqutipos relativos ao chamado Complexo de dipo, que por suas caractersticas
peculiares, possui proximidades com a antropologia e com a lingustica, tendo sido
ainda muito influenciado pelo renomado neurologista Jean-Martin Charcot, inobstante,
de outro modo, a viso que apresentamos neste artigo a viso Junguiana, que
possui proximidades com os conceitos de Consciente Coletivo sustentados pelo
socilogo francs mile Durkheim, um dos pais da Sociologia Moderna, onde em sua
obra o define como o conjunto de crenas e sentimentos autnomos de uma
sociedade25. Suas teorias tambm influenciaram Freud, mas com devido efeito,
acham-se proficuamente delineadas nas obras de Jung.
17
Publicado em: Revista Cincia e Maonaria, Vol.1, N.1, 2013. Braslia, DF, Loja Manica Flor de Ltus, 2013;
18
O conceito de smbolo adotado nesta obra o da Psicologia Junguiana, que difere do conceito semitico de smbolo
institudo pelo suo Ferdinand de Saussure, pai da lingustica, bem como tambm difere parcialmente de certas
anlises Psicanalticas de Freud;
19
CAMPBELL, Joseph. Heri de mil faces, Da Psicologia metafsica. So Paulo, Pensamento, 2007;
20
21
JUNG, Carl Gustav. Os arqutipos e o inconsciente coletivo, 9/1. Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 2011;
CAMPBELL, Joseph. Mito e Transformao, Parte I, A necessidade de ritos. So Paulo, Editora gora, 2008;
22
JUNG, Carl Gustav. Interpretao psicolgica do Dogma da Trindade (pag.21). Rio de Janeiro, Vozes;
JUNG, Carl Gustav. A vida simblica, 18/1. Rio de Janeiro, Vozes, 2012;
24
JUNG, Carl Gustav. Psicologia e alquimia, 12, (144-336). Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 2012;
23
25
DURKHEIM, mile. Da diviso do trabalho social, (pag.342). So Paulo, Martins Fontes, 2004;
4
As mitologias e sentimentos se manifestam por meio de smbolos e gestos, e
de modo semelhante, a Maonaria atua atravs da ritualstica das suas iniciaes e
instrues. Os smbolos e gestos ou seja, a ritualstica em si atuam como um
boto automtico que libera energia e assim, libera e desenvolve o Inconsciente
Pessoal de seus praticantes atravs do Mito trabalhado pelo grupo-cultura26,
funcionando como um fator equilibrante na mente humana, semelhante aos efeitos dos
sonhos, a qual Jung define como: so processos naturais que existem em paralelo ao
sistema orgnico e psicolgico, a fim de propiciar mecanismos de compensao em
busca do equilbrio fsico e emocional do sujeito sonhador. Isso tambm seria, de
forma relativa, uma excelente definio para a Ritualstica Manica. Destarte, o
avano instrutivo que a Maonaria proporciona a seus adeptos , alm de consciente,
moral e esotrico, tambm um reforo psicolgico, nos mostrando claramente a
magnitude e complexidade do processo inicitico desta Sublime Ordem.
O TEMPLO MANICO E A PSIQUE HUMANA

Uma nova anlise do simbolismo do Templo Manico dos Ritos Latinos27
O homem a medida de todas as coisas. Protgoras
Os maons so unanimes em dizer que o Templo28 Manico simblico, e

como j vimos, o smbolo muito mais do que mera ornamentao artstica para
representar algo29. Importante aqui observar que o templo manico no uma
rplica do Templo de Salomo30, como muitos maons insistem em fazer crer, mas,
em verdade tanto o templo como toda Mitologia Manica simbolicamente inspirado
no Templo de Salomo e em outras poucas passagens bblicas31, mas contendo
muitas outras influncias, de acordo com o Rito adotado32. No caso do presente
estudo, refere-se a um templo do Rito Escocs Antigo e Aceito.
Portanto, toda a ornamentao e diviso do templo no fruto do acaso e do
achismo, a comear pela sala dos passos perdidos, mais adiante o trio, a cmera ou
caverna de reflexes, e finalmente o templo em si. Todos estes compartimentos so
estgios de nveis de conscincia h muito tempo utilizados para separar o Sagrado
do profano33.34
Nesse contexto, o ritual representa a passagem de um estado de conscincia
para outro (do profano para o sagrado), e em ltima anlise o templo com suas
divises demonstram o estado de conscincia a qual nos encontramos, neste caso, o
Sagrado. Desta forma, o templo em si representa um estado intransponvel de
pureza e santidade para seus membros. As funes-cargos expressas no ritual ou na
mitologia e as disposies do templo so personificaes simblicas das leis
psicolgicas que atuam na psique35 36, e isto a base essencial da ritualstica
manica e toda a sua mitologia37.
26
CAMPBELL, Joseph. Mito e Transformao, Parte I, A necessidade de ritos. So Paulo, Editora gora, 2008;
27
Por Ritos Latinos entende-se: REAA - Rito Escocs Antigo e Aceito; RER Rito Escocs Retificado; Rito
Adonhiramita e Rito Moderno.
28
O termo templo manico comumente usado nos ritos manicos de origem latina. Os de origem anglo-saxnica
costumam chamar o local de reunies de Sala da Loja.
29
JUNG, Carl Gustav. Psicologia e alquimia, 12, Smbolos onricos do processo de individuao. RJ, Ed. Vozes, 2012;
30
Muitos encontram semelhanas com o Parlamento Ingls (Cmara dos Comuns), mas, neste caso seriam somente
nos Ritos Anglo-saxes Sala da Loja e no nos Ritos Latinos que so o foco deste artigo.
31
Essa colocao melhor observada na Parte II do presente artigo;
32
ISMAIL, Kennyo. Desmistificando a Maonaria. So Paulo, Universo dos Livros, 2012;
33
A palavra vem do latim Profanum: Pro (diante de; fora do); Fanum (templo; lugar sagrado);
34
VAN Guennep, Arnold. Os Ritos de Passagem (pag.23-40). RJ, Editora Vozes, 2011;
35
36
CAMPBELL, Joseph. Heri de mil faces, O Ciclo Cosmognico, O giro universal. So Paulo, Pensamento, 2007;
37
Por isso quando um maom ocupa um cargo, o mesmo deve ser tratado (sempre) pelo ttulo oficial que possui,
sendo sempre abordado pelo cargo que desempenha, pois, como dito, ele personifica a essencial-ritual em questo,
vindo a cumprir sua finalidade psicolgica na dramatizao mitolgica e/ou ritualstica;
5
Rituais ou simples gestos simblicos identificam nossa conscincia com o
campo essencial de ao38. O soldado que retorna da guerra, ao passar pelo Arco do
Triunfo Rito de passagem39 acaba deixando a guerra para trs. Da mesma forma,
ao deixarmos para trs a sala dos passos perdidos e posteriormente o trio, sabido
consciente ou inconscientemente de que estamos (ou estaremos) em um local
dedicado virtude e consagrado para a prtica do bem, o Templo Manico. Assim,
as salas que antecedem o templo, cumprem a funo psicolgica de devidamente
introduzir o adepto em um local estado de conscincia, para que o ritual cumpra seu
dever cognitivo de forma efetiva40 41. Um excelente exemplo ritualstico disso, e
infelizmente muitas vezes ignorado sabe-se l porque, a entrada ritualstica dos
que chegaram aps a cerimnia de abertura dos trabalhos ritualsticos. De acordo com
muitos rituais, h neste momento uma saudao ritualstica e isso independente de
formalidade ou sem formalidade: a regra saudar! pois, como vimos acima, tais
gestos ho de identificar o consciente ou inconsciente com o campo de ao, haja
vista que o mesmo no ter sido devidamente introduzido no ritual, pela ritualstica de
abertura dos trabalhos.
Em se tratando de Maonaria, sempre encontraremos um significado instrutivo
de moral, esotrico e acrescento ainda, um significado tambm psicolgico nos rituais.
Com efeito, essa psicologia na ritualstica e smbolos manicos, so perfeitamente
sustentados, medida que teorias e fundamentaes como a Psicologia e a Cincia
das Religies conseguem justificar os efeitos psicolgicos da mitologia e das alegorias
primitivas e medievais. Saberiam nossos antepassados sobre psicologia para
encontrarmos tantas questes cientficas em nossos rituais? Evidente que tais noes
j eram conhecidas desde a antiguidade, contudo sem a devida organizao e
proficincia que possumos hoje. A Mitologia Manica foi analisada e estruturada
quando pesquisadores e eruditos supracitados desenvolveram mtodos e
proposies psicolgicas e sociolgicas das mitologias e smbolos conhecidos desde
antiguidade, que por sua vez, encontram sua parcela de participao e inspirao nos
rituais manicos, mesmo que, em casos especficos utilizem um novo simbolismo.
Um estudo comparativo da estrutura da Personalidade

correspondncias simblicas com o Templo Manico
suas
De acordo com a psicologia analtica de Carl G. Jung, a psique divide-se em

trs nveis: A Conscincia, o Inconsciente pessoal e o Inconsciente coletivo.42
Conforme segue-se abaixo, tais divises se conciliam em significados e funes com a
parte exterior e interior do templo manico (sala dos passos perdidos, trio e o
templo), sendo que na parte interior, teremos uma correspondncia particular com o
ocidente e oriente.
NVEL 1 CONSCINCIA43: Sala dos passos perdidos e o mundo profano
Sobre Conscincia, Persona e etc.;
A conscincia a nica parte da psique a qual conhecemos direta e

objetivamente44, e nela tudo ocorre de forma racional e lgica. Da mesma forma, isso
tambm ocorre antes de adentrarmos ao templo, pois na sala dos passos perdidos
que tudo ainda ocorre de forma desprovida de questes onricas, sem sinais ou gestos
38
39
Portanto, entendemos porque em passagens ritualsticas especficas exigido certos sinais e gestos pelo ritual;
O termo rito empregado pelo autor da teoria Ritos de Passagem com significado semelhante a Ritual;
VAN Guennep, Arnold. Os Ritos de Passagem (pag.23-40). RJ, Editora Vozes, 2011;
41
JUNG, Carl Gustav. Psicologia do Inconsciente, 7/1 (pag.97-131). Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 1978
42
Hall, Calvin S. & Nordby, Vernon J. Introduo Psicologia Junguiana, A estrutura, dinmica e desenvolvimento da
Personalidade (pag.24-83). So Paulo. Editora Cultrix, 2005;
43
Muitos autores o chamam de Conscincia objetiva;
42
Idem (2005);
40
6
simblicos, salvo detalhes excepcionais (no confundir com o trio que uma
especfica sala que antecede o templo).
O significado psicolgico de Persona, para Jung, aquela parte da
personalidade desenvolvida e usada em nossas interaes mundanas (profanas),
nossa face externa consciente, nossa mscara social, como veculo no de nossa real
vontade, mas da nossa necessria aceitao45 46.
Assim que, nas iniciaes manicas, o gesto dos candidatos serem despidos
de todos os metais, e iniciarem todos exatamente da mesma forma, significa que,
naquele momento, o indivduo despe-se de suas personas. Esse desprendimento se
faz necessrio visto que, conforme Jung, no nvel do inconsciente pessoal que
citaremos logo adiante no h persona, a qual se manifesta apenas no nvel
consciente. Se os irmos observarem bem, o tratamento igualitrio tanto na iniciao
como nas reunies ritualsticas fazem jus a presente comparao simblica deste
esquema, conforme corroborado abaixo, todavia no ignoramos os outros significados
para com esse detalhe.
O crescimento psicolgico ocorre, de acordo com Jung, quando algum tenta
trazer o contedo-conhecimento do Inconsciente, para o nvel Consciente, e
estabelecer uma relao entre a vida consciente e o nvel arquetpico da existncia
humana47 48, o homem que assim o fizer, haver de reconhecer as origens dos
problemas no prprio inconsciente (em si mesmo), pois a pessoa que no torna
consciente suas limitaes e defeitos, acaba por projetar nos outros tais percepes
negativas49. Fazendo o devido paralelo, o crescimento na senda manica somente
ocorre quando se aplica no chamado mundo profano o que se estuda e aprende no
mundo manico, que neste quadro comparativo o referido inconsciente pessoal, e
assim tem-se a oportunidade de transformar o conhecimento adquirido em sabedoria.
OBSERVAO - ESTADO INTERMEDIRIO:50 O Pr-consciente e o trio
Para Freud, a conscincia humana tambm se subdividia em trs nveis que
ele chamava de Consciente, Pr-Consciente e Inconsciente. O estado intermedirio
entre a Conscincia (j abordado no nvel 1 supra delineado) e o Inconsciente, era o
Pr-consciente, onde justamente por ser intermedirio possua a experincia de um
material perceptvel (consciente) e um material latente51.
Dessa forma, este plano Pr-consciente de Freud corresponde ao trio do
templo manico, que apesar de ser uma extenso do templo, tambm um
intermedirio entre a sala dos passos perdidos e o templo. Nele ocorre o incio da
ritualstica (carter onrico) que vir a ser efetivada no interior do templo. O trio se
assemelha em correspondncia com o pr-consciente, na medida em que ambos no
possuem uma natureza especfica, o que por sua vez, ocorre nos nveis anterior e
posterior. Portanto, este estado intermedirio (pr-consciente e trio) contm uma
natureza dupla, que tem por misso introduzir o personagem no recinto onrico e
simblico seguinte, bem como a desconexo com o mesmo no momento oportuno.
45
JUNG, Carl Gustav. Psicologia do Inconsciente, 7/1. Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 1978;
HALL, Calvin S. & Nordby, Vernon J. Introduo Psicologia Junguiana, A estrutura, dinmica e desenvolvimento da
Personalidade (pag.24-83). So Paulo. Editora Cultrix, 2005;
47
JUNG, Carl Gustav. Os arqutipos e o inconsciente coletivo, 9/1, O conceito de inconsciente coletivo, c) O mtodo
de comprovao. Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 2011;
48
JUNG, Carl Gustav. Psicologia do Inconsciente, 7/1 (pag.97-131). Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 1978;
46
49
HALL, Calvin S. & NORDBY, Vernon J. Introduo Psicologia Junguiana, A estrutura, dinmica e desenvolvimento
da Personalidade (pag.24-83). So Paulo. Editora Cultrix, 2005;
50
A Psicologia Analtica no trabalha com o conceito de Pr-consciente da Psicanlise. Todavia, visando um carter
mais amplo, no poderamos deixar de apresentar tal conceito comparao que estabelecemos neste artigo, para
perpetrarmos o carter investigativo, abrangente, didtico e principalmente comparativo.
51
7
NVEL 2 O INCONSCIENTE PESSOAL52: O Templo Manico53
Sobre Inconsciente Pessoal, Sonhos, Anima/Animus e etc.;
Todas as experincias que temos, sendo que algumas so esquecidas, mas

que todavia no deixam de existir, so antes armazenadas e trabalhadas no
inconsciente pessoal. nesse nvel que ocorrem os sonhos e toda a projeo quando
estamos dormindo, e como sabemos, tais eventos onricos so dotados de
acontecimentos surreais e ilgicos perante a nossa realidade objetiva54, visto que
conceitos de Tempo e Espao so fatores produzidos pelo nvel Consciente.55 56
Assim o Inconsciente Pessoal encontra correspondncia simblica com o
interior ocidental do templo manico, onde a ritualstica j alcana a totalidade dos
trabalhos, e estes retratam bem o estado fictcio e mtico da Mitologia Manica
(drama manico), estado este que paralelamente tambm encontrado nos
sonhos dotados de sentidos simblicos e abstratos, onde tanto no estado onrico como
na ritualstica, para-se ir do oriente ao ocidente, basta-nos dar alguns passos, e do
amanhecer ao pr do sol, bastam-se alguns minutos, o que ocorre semelhantemente
aos nossos sonhos, onde no nvel do Inconsciente Pessoal no h uma limitao
objetiva, da mesma forma o simbolismo da ritualstica no possui um senso lgico,
pois, sua linguagem figurada57. Outra coincidncia, no acha?
Assim como o ritual manico no literal os sonhos tambm no so, e
ambos transmitem instrues morais atravs de seus simbolismos que, como
observado por Jung, o crescimento e amadurecimento moral tambm uma finalidade
dos sonhos58. Destarte, em ambos os casos perde-se o efeito do lgico e racional59,
para com isso, trabalhar o simblico e onrico60. Sendo assim, interpretar o ritual
manico somente de forma literal um erro lastimvel, ao passo que o sonho,
inexoravelmente, tambm deve ser interpretado de forma no literal61.
Os conceitos de Anima e Animus foram talvez as duas mais importantes
descobertas de Jung. Ambos so aspectos inconscientes de um indivduo. O
inconsciente do homem encontra ressonncia com o arqutipo feminino, chamado de
Anima, enquanto que a mulher associa-se com o arqutipo masculino, chamado de
Animus62. Cabe notar que quando se fala de masculino e feminino, em se tratando de
Animus e Anima, est se referindo s expresses e caractersticas, e no algo literal63
64
, pois, como supramencionado, o inconsciente reside em um nvel atemporal,
inteiramente psicolgico, portanto no material.
52
Outras correntes chamam de Conscincia subjetiva em contraponto Conscincia Objetiva citada no nvel 1;
53
Abordagem ocidental-oeste do Templo Manico;

JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus smbolos, Chegando ao Inconsciente. RJ, Editora Nova Fronteira;
55
Quando entramos numa crescente concentrao decorrente de uma atividade consciente, a ordem natural das
coisas adentrarmos sutilmente no Pr-consciente ou Inconsciente pessoal, de modo no profundo, mas
estabelecermos um estado intermedirio diante da viglia. O que ocorre com isso esquecermos as horas e dimenses
sensoriais (passam-se minutos e horas, contudo no nos damos conta, ou supomos ter passado poucos minutos).
Razo mor de necessariamente fazermos um relaxamento antes de adentrarmos ao Templo e dar incio aos trabalhos.
56
JUNG, Carl Gustav. Sincronicidade 8/3 (pag.28,29 e 122, 123). Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 2013;
54
57
58
59
60
Idem (2013);
Ou seja: Consciente, Sala dos Passos Perdidos, Mundo Profano;
Ou seja: Inconsciente, Ritualstica/Templo Manico, Mundo Real, Smbolos;
61
JUNG, Carl Gustav. Psicologia e alquimia, 12, Smbolos onricos do processo de individuao 2.Os sonhos iniciais
(pag.58). Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 2012;
62
O casamento entre a parte Inconsciente (Anima ou Animus) com o Indivduo, ou seja, no reconhecimento interior
destas particularidades da Psique, ocorre o chamado Casamento Alqumico dos filsofos alquimistas. Jung sinaliza
essa unio nas diversas alegorias alqumicas e outros textos filosficos. Segundo ele, o casamento ou paixo a
primeira vista, e inmeras ocorrncias mundanas, seriam reflexes que estaramos encontrando essa nossa
contraparte Inconsciente (Anima ou Animus), podendo os divrcios trazerem graves consequncias psicolgicas.
Observao complementar na Parte II;
63
64
JUNG, Carl Gustav. Os arqutipos e o inconsciente coletivo, 9/1, Conceitos de anima (pag.63). RJ, Vozes, 2011;
JUNG, Carl Gustav. Psicologia e religio, 11/1, A autonomia do inconsciente. Rio de Janeiro, Editora Vozes, 2011;
8
A Anima manifesta-se na psique de forma emocional, passiva e intuitiva, por
outro lado, o Animus manifesta-se de forma racional, ativa e objetiva. Jung costuma
relacionar Anima ao deus grego Eros, o deus do Amor, ao passo que Animus era
relacionado com o termo Logos, que em grego significa verbo, razo65. No templo
manico tal equilbrio dual conhecido pelas duas colunas B e J. Sendo que na
coluna B, tomam assento os Aprendizes Maons, os quais so inteiramente instrudos
sobre a educao moral, espiritualidade e tica manica, conceitos perfeitamente
associados ao arqutipo de Anima. E na coluna J tomam assentos os Companheiros
Maons, que ao contrrio dos aprendizes, possuem suas instrues voltadas para arte
da cincia, tambm conhecida como artes liberais, bem como para o conhecimento
esotrico, que so caractersticas de Animus. Ao oriente vemos o sol e a lua, que so
smbolos do Animus e da Anima66. Se no bastassem as discusses para o to
debatido tema se as colunas (Boaz e Jakin) so dentro ou fora do templo, este
argumento acresce, aos outros mais67, no sentido delas serem dentro do templo, por
correspondncias simblicas e psicolgicas descritas.
Desta forma, neste contexto, Boaz e Jakin, representam Anima e Animus68, e a
consecuo entre ambas colunas representa o Casamento Alqumico, a totalidade do
ser, ou seja, o Equilbrio Perfeito, o Mestre69. Aquele que caminha com tal unio, anda
pelo Caminho do meio (Mestre Maom) 70. Por fim, v-se que as duas colunas
separam o ocidente em dois lados, e ambas norteiam para os respectivos estudos
aqueles que esto sob o seu direcionamento, semelhantemente o que ocorre com
nosso Inconsciente.
NVEL 3 INCONSCIENTE COLETIVO71: Slio do Oriente
Sobre Inconsciente Coletivo, Arqutipos e etc.;
Teoria proposta pela Psicologia Analtica, ele difere do Inconsciente Pessoal,

visto que no se trata de experincias individuais, mas como o nome sugere, so
experincias coletivas. Ele um reservatrio de imagens, chamadas de imagens
arquetpicas, tais imagens e concepes so herdadas pelo homem de forma
inconsciente atravs do Inconsciente pessoal. O Inconsciente coletivo estimula no
homem/humanidade um comportamento padro pr-formado, que este seguir desde
o nascimento72 73. Assim recebemos a forma do mundo em uma imagem virtual. Tal
imagem transforma-se em realidade consciente quando durante a vida identificamos
os objetos a ela correspondentes74, da mesma forma recebemos do inconsciente a
impresso da contraparte Anima (no caso dos homens), enquanto crianas a
identificamos com nossas mes (ou pessoas que nos criaram que possuam
caractersticas de Anima), mais adiante em nossas vidas, tal impresso se converte na
companheira-mulher a qual nos casamos.
Os contedos do Inconsciente coletivo so denominados de arqutipos. Tal
termo significa um modelo original que conforma outras coisas do mesmo tipo,
semelhante ao termo prottipo. Tanto o Inconsciente coletivo como o arqutipo se
confundem com aquilo que chamamos nas ordens iniciticas e meios espiritualistas de
65
66
67
68
69
70
71
72
73
Na Parte II, Jornada do Heri e a Maonaria, acresceremos um outro conceito de Anima;
Muitas alegorias de Dualidade, nada mais so que representaes de Anima/Animus;
Encontra-se um complemento na Parte II, em Provao difcil ou traumtica, O encontro com a Deusa.
CAMPBELL, Joseph. Mito e Transformao, Terceira parte, O Self como Heri. So Paulo, Editora gora, 2008;
Informao substancial para a interpretao mitolgica da Jornada do Heri - Conforme Parte II deste artigo;
No podemos confundir esse direcionamento Psicolgico com decises conscientes, a qual necessitamos para uma
vida consciente (cotidiana);
74
JUNG, Carl G. Os arqutipos e o inconsciente coletivo, 9/1, O conceito de inconsciente coletivo. RJ, Vozes, 2011;
9
Egrgora, e a principal base cientfica que sustenta este presente artigo, sem
sombra de dvida o conceito de Inconsciente coletivo75.
Jung acreditava que tanto a experincia quanto a prtica religiosa eram
fenmenos que tinham sua fonte, interna e externa, no inconsciente coletivo76
(conhecido esotericamente por Egrgora). O cu, o inferno, a era mitolgica, o jardim
do den, o olimpo, bem como as outras moradas dos deuses, so interpretados pela
psicanlise como smbolos do Inconsciente77, e se enquadram ao simbolismo do
dossel e do slio no Oriente, localizado a sete degraus acima do nvel onde se
encontram os Aprendizes, Companheiros e Mestres, onde se encontra o chamado
Trono de Salomo e que possui estampado o olho que tudo v no Rito Escocs Antigo
e Aceito.
Assim como o Inconsciente coletivo dispe da pr-formao psquica da
psique78, o direcionamento ou pr-formao dos trabalhos vem do Oriente da Loja,
alm de que as informaes histricas da Loja, presentes na carta constitutiva,
tambm se localizam na regio do slio, bem como os registros de todas as reunies
ficam junto ao secretrio (que normalmente toma assento no oriente).
OS EFEITOS E SINAIS INCONSCIENTES DA RITUALSTICA MANICA

"O que real? Como voc define o "real"? Se voc est falando sobre
o que voc pode sentir, o que voc pode cheirar, o que voc pode
saborear e ver, o real so simplesmente sinais eltricos interpretados
pelo seu crebro." Morpheus - Matrix
A ritualstica se no estudada e compreendida, se torna pura fantasia e
iluso! Todo aparato do ritual iluso! Todas as roupagens simblicas
nos servem para nortear nossa Vontade, Inspirao e Imaginao.
Os rituais praticados e todas as suas repeties centram o indivduo dentro dos

propsitos do mito, pois o ritual a simples representao do mito. Ao participar de um
ritual, vivencia-se da sua mitologia. Assim, tais gestos e movimentos transcendem os
adeptos79, razo maior, a ttulo de exemplo, de se vivenciar a iniciao dos quatro
elementos ou o mito de Hiram Abiff. Tornar-se Mestre Maom o mesmo que Jung
chamava de processo de individuao para realizao do Si-mesmo80, conceito este
que explanaremos melhor na Parte II deste estudo.
Quanto ritualstica e seu potencial psicolgico, transcrevo abaixo ad
probationem uma citao da obra Os arqutipos e o inconsciente coletivo, de Carl
Gustav Jung, onde o mesmo discorre sobre as formas de simbolicamente podermos
atuar no Inconsciente pessoal do indivduo:
Outra forma de transformao alcanada atravs de um ritual usado
para este fim. Em vez de se vivenciar a experincia de transformao
mediante uma participao [vivncia natural], o ritual
intencionalmente usado para produzir tal transformao. (...) Se recebe
um novo nome e uma nova alma, ou ainda passa-se por uma morte
figurada, transformando-se em um ser semidivino, com um novo
carter e um destino metafsico transformado. (CARL GUSTAV JUNG,
81
2011, p. 231;) [colchete nosso]
75
76
77
78
79
80
81
Idem (2011);
JUNG, Carl Gustav. Psicologia e religio, 11/1. Rio de Janeiro, Editora Vozes, 2011;
JUNG, Carl G. Os arqutipos e o inconsciente coletivo, 9/1, O conceito de inconsciente coletivo. RJ, Vozes, 2011;
CAMPBELL, Joseph. Mito e Transformao, Introduo. So Paulo, Editora gora, 2008;
JUNG, Carl Gustav. Os arqutipos e o inconsciente coletivo, 9/1, Sobre o Renascimento, 2.f-g-h [231] (Procedimento
e Transformaes). Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 2011;
10
Desta forma, o indivduo que vivencia o ritual, as iniciaes, elevaes e
exaltaes, acaba por se transformar, seja pelas convices conscientes, tambm
ocasionadas pelo sistema mnemnico da ritualstica, ou pela influncia do
inconsciente que recebe todos os sinais enviados pela mitologia atravs do ritual82.
Os maons devem, portanto, realizar reflexes da simbologia manica. Ao
executar um ritual de alto valor cultural, com gestos e passagens incomuns
sociedade, o qual, sob um olhar ctico e profano, pode ser considerado como infantil e
ingnuo, deve o maom analisar tais movimentos a nvel psicolgico, onde reside sua
maior fora e resultado. Ademais, abordar o ritual manico ou qualquer outro ritual
sem um entendimento psicolgico e simblico do seu significado, de fato como ver
animais nas nuvens, ou seja, um exerccio de pura vontade e imaginao83.
Para o primitivo no bastava ver o Sol nascer e declinar. Esta observao
exterior correspondia a um acontecimento anmico, isto , o Sol representava em sua
trajetria o destino de um Deus. Todos os acontecimentos mitologizados da natureza,
tais como o vero, inverno, amanhecer, meio dia e por do sol, as fases da lua, as
estaes juntamente com norte, sul, leste e oeste, no so alegorias destas
experincias objetivas, mas sim, expresses simblicas do drama interno e
inconsciente do homem que a conscincia humana consegue apreender atravs da
dramatizao84, o que efetivamente encontramos nos rituais manicos.
Conhecendo a antropologia das sociedades primitivas, Jung comparou a vida
com a trajetria do sol em um dia. A primeira parte para cima, do nascimento para a
sociedade, semelhante ao amanhecer do sol. A segunda parte para baixo, da
participao no mundo e na sociedade para a morte, semelhante ao meio dia. E,
enquanto o desafio da primeira metade da vida era a prpria vida, o desafio da
segunda metade a morte, e todos os smbolos trocam de significado, semelhante ao
anoitecer85 86.
Outro detalhe ritualstico curioso relativo ao sol a circulao em sentido
horrio, tambm chamada de dextrocentrica. Uma prtica to antiga quanto a
Maonaria. Os gregos e romanos tinham o lado direito como favorvel, visto que este,
de forma geral, favorece mais seu dono do que o esquerdo. Relacionaram tal
procedimento ao aparente movimento que o Sol faz diariamente em torno da Terra.
Assim, essas civilizaes, tendo sempre o aparente movimento do Sol como
referncia, adotavam a circulao em sentido horrio, tendo altares, fogueiras, totens
ou sacrifcios como eixo de seus templos87.
Na obra O smbolo de transformao da Missa 11/3, Jung desmistifica os
diversos rituais imbudos de liturgias e simbolismos. A exemplo prpria circulao
em sentido horrio, que neste caso otimiza e direciona os trabalhos para o Consciente,
enquanto que, a circulao no sentido anti-horrio assim o faz direcionado para o
Inconsciente.88 Como se sabe a circulao ritualstica varia conforme o rito manico
adotado, e em alguns casos, encontramos duas circulaes diferentes dentro do
prprio Templo Manico. Analisando as questes simblicas e psicolgicas
destacadas acima, notamos a diferena crucial que existe nos movimentos ritualsticos
e uma das razes eu suponho de se praticar esses detalhes ritualsticos que
tornam do ritual algo incomum a outras prticas e cerimnias profanas, e que
encontram uma slida justificativa nesse argumento psicolgico.
82
JUNG, Carl Gustav. Psicologia do Inconsciente, 7/1. Rio de Janeiro, Editora Vozes, 1978;
Tambm podemos admirar os animais nas nuvens ou qualquer outro exerccio de fantasia, e deles retirarmos
parbolas instrutivas de moral e bons costumes, no caso dos nossos rituais queremos, justamente, dizer que eles
transcendem tais questes morais e ticas, sendo imbudos de outros valores alm dos descritos nos prprios rituais;
84
JUNG, Carl Gustav. Os arqutipos e o inconsciente coletivo, 9/1, Sobre os arqutipos do Inconsciente Coletivo
(pag.14). Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 2011;
85
86
JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus smbolos, Chegando ao Inconsciente. Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira.
87
88
JUNG, Carl Gustav. O smbolo da transformao na missa 11/3, (pag.22). Rio de Janeiro, Vozes, 2011;
83
11
Os efeitos e significados psicolgicos do Sol descritos por Jung, encontram
ressonncia, dentre outras coisas, quando comparamos o trajeto do sol com os graus
simblicos89, bem como, com a ritualstica de abertura e encerramento dos trabalhos
ritualsticos.
A funo psicolgica da ritualstica a de restaurar um equilbrio psicolgico,
por meio do sistema moral e alegrico bem como psicolgico proposto pela cultura
em questo90, de modo a produzir um material onrico no inconsciente de seus
membros, que tero um amadurecimento progressivo, tanto a nvel objetivo e moral,
como subjetivo e inconsciente. Desta forma o conhecimento da Maonaria retrata um
estudo do inconsciente, tanto do Inconsciente Pessoal atravs dos efeitos diretos da
ritualstica, como do Inconsciente Coletivo atravs do estudo da Mitologia Manica.
Curioso notar a antropologia das sociedades, que nos mostra que os rituais
tribais de iniciao (e outros por equiparao) d-se ao candidato um novo nome91, e o
classifica dentro do grupo em seu grau correspondente, bem como ele ganha ainda
uma idade fictcia, que desempenha um papel simblico do seu posto, e recebe uma
marca, que nos tempos atuais figura como simblica, e no final, tudo isso distingue o
iniciado dos no iniciados qualquer semelhana com prtica ritualstica no acaso!
No Rito Escocs encontramos estes mesmos e outros atos ritualsticos. Seja fsica ou
simblica estas representaes operam igualmente no inconsciente92. Estudos
antropolgicos nos mostram at que ponto encontramos embasamento para tais
prticas simblicas encontradas na Maonaria.
A prtica de diferentes termos lingusticos tambm usada para separar o
sagrado do profano93. Este exemplo um dos diferenciais da ritualstica manica,
onde uma linguagem prpria e coloquial adotada, inmeros so os exemplos disso.
Em resumo, conclui-se que a ritualstica, assim como o sonho, o mito
personalizado, e o mito a ritualstica despersonalizada. A mitologia e a ritualstica,
em sntese, simbolizam e expresso a dinmica da psique94. O ritual possui inmeros
nveis de atuao simultaneamente. O que ocorre de simblico no plano consciente
e erroneamente deduzido de teatro ou faz de conta est ocorrendo real e
efetivamente em outros nveis, como por exemplo, no inconsciente pessoal do
praticante e/ou dos maons.95
Estudar a ritualstica a nvel puramente moral, em nada difere de especial s
prticas educativas e imaginativas do RPG Role-playing game, ou como antes
sugerido, imaginar animais nas nuvens, num exerccio de vontade e imaginao, pois,
em quaisquer destes exemplos conseguiremos um amadurecimento moral e educativo
dentre outras coisas. A nossa proposta uma anlise alm das fronteiras objetivas da
ritualstica, uma viso que permita entender o porqu da execuo de certos gestos e
passagens simblicas. Por sua vez, esta uma semelhante posio de estudiosos de
Mitologia, Religies e Culturas Comparadas que perceberam um valor peculiar e
transcendental nos mitos e culturas existentes.
Por derradeiro, podemos nos esforar em saber todos os procedimentos
ritualsticos, entretanto, se procedermos um ritual sem estudar seus smbolos e efeitos
psicolgicos, seremos como robs que obedecem o comando de um computador.
89
Aprendiz, Companheiro e Mestre Maom;

JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus smbolos, Chegando ao Inconsciente (pag.50). RJ, Editora Nova Fronteira;
91
Ne-varietur;
92
VAN Guennep, Arnold. Os Ritos de Passagem, Passagem material Os ritos de iniciao. RJ, Editora Vozes, 2011;
85
Idem (2011);
94
CAMPBELL, Joseph. Heri de mil faces, Prlogo (pag.27). So Paulo, Pensamento, 2007;
95
A Iniciao Manica contm elementos psicolgicos imprescindveis para introduzir o profano no contexto cultural
[psicolgico] manico. Caso contrrio haveria uma dissidncia de entendimento inconsciente.
90
12
PARTE II
A JORNADA ARQUETPICA DO HERI NA MITOLOGIA MANICA
Jornada do heri X Iniciao Manica
Em muitos povos o sol representa a experincia de vida do homem
96
C.G. Jung
Havendo demonstrado a estrutura psicolgica da Mitologia Manica na parte I

por associao e equiparao, veremos a seguir os princpios da jornada arquetpica
do Heri, bem como projetaremos uma anlise dos conceitos cientficos da Cincia
das Religies e da matria de Religies, Mitologias e Culturas Comparadas. E com
isso adaptaremos ento, a Jornada Iniciao Manica, de forma que o artigo no
tire a interpretao pessoal do grau de Companheiro e Mestre Maom que
complementam o roteiro da Jornada do Heri.
O intitulado Heri 97 na anlise psicolgica da sua manifestao, pode ser
compreendido como um arqutipo dentro da psique coletiva98. Para reforar tal teoria,
Jung indica sua representao nas mais conhecidas culturas e religies ao redor da
terra99, e ns tambm poderemos encontra-lo em filosofias como a Maonaria.
O encontramos essencialmente nas histrias de Atum, Osris e Hrus do
Antigo Egito; de Marduk, dos Mistrios Sumerianos; de Apolo, Febo, Hracles,
Dionsio e Orfeu, da Mitologia Greco-Romana; de Krishna, da Religio Hindusta; de
Baldur, dos Mistrios Nrdicos; de Amaterasu, na religio Xintosta; de Oxal, Oxaluf,
e Oxagui, das Religies Afro-brasileiras; do Rei Arthur, Galahad e Persival, na
histria do Santo Graal; na verdica histria de Jacques DeMolay, nos Medievais
Cavaleiros Templrios; em Cristian Rosenkreuz, nas Npcias Alqumicas da Tradio
Rosacruz (Manifestos); em outros contos como Branca de Neve e o Mgico de Oz; em
vrios heris cinematogrficos, como Luke Skywalker, Indiana Jones, James Bond,
Superman, Harry Potter, Frodo Bolseiro, e alm claro, de Jesus o Cristo, da Religio
Crist100. Em todas estas histrias, encontram-se exatas e ntidas similaridades que
podem ser compreendidas pelo conceito do Inconsciente Coletivo. Por fim, na
Mitologia Manica tem-se a lenda de Hiram Abiff, mito esse exclusivo da
Maonaria101.
Embora a Mitologia Manica utilize do contexto contido no Antigo Testamento,
pouco se tem no mito de contedo especificamente bblico, haja vista que o enredo
principal composto por mitos elaborados. Malgrado, muitos so os maons que
insistem em fundamentar a maonaria na bblia, ou, pior ainda, fundamentar a histria
pela Maonaria102. O maior exemplo de elaborao mtica na Maonaria a de Hiram
Abiff. No h, logicamente, registros histricos de tais eventos, e interpret-los no
sentido literal um erro crasso, pois mitos devem ser interpretados, como j dito, de
forma simblica e no literal 103 104.
Conforme descreve o clebre maom, Arthur Edward Waite, em sua
Enciclopdia Manica105:
A lenda do mestre construtor a grande alegoria manica. Sucede
que essa histria figurativa baseia-se num personagem mencionado
NR.: Publicado em: Revista Fraternitas in Praxis, Vol.01, N.01, Rio de Janeiro, RJ, 2013;
96
97
98
99
JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus smbolos. Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira;
Quando empregarmos o termo Heri estaremos nos referindo ao Heri Mitolgico;
100
101
102
103
104
105
DEL DEBBIO, Marcelo. Enciclopdia de Mitologia. So Paulo, Daemon Editora, 2008;

STAVISH, Mark. As origens ocultas da Maonaria. SP, Pensamento, 2011;
ISMAIL, Kennyo. Desmistificando a Maonaria. So Paulo: Universo dos Livros, 2012;
CAMPBELL, Joseph. Isto s Tu, Metfora e mistrio religioso (pag.15-25). SP, Landy Editora, 2002;
CAMPBELL, Joseph. Mito e Transformao, Segunda parte, O mito pessoal. SP, Ed. gora, 2008;
WAITE, A. E., A New Encyclopaedia of Freemasonry, 2 vols. (London: William Rider and Son Limited, 1921;
13
nas sagradas escrituras, mas o pano de fundo histrico acidental e
no essencial, assim o importante a alegoria e no um ponto
histrico qualquer que esteja por trs dela (WAITE, A. E., A New
Encyclopedia of Freemasonry, 2 vols - pag.267. London: William
Rider and Son Limited, 1921);
Mark Stavish corrobora sobre tal elaborao: 106

A maior parte do ritual composto por mitos elaborados, cuja
finalidade um valor moral, tico e espiritual, mas no intelectual (..).
O fato de interpretar os mitos como fatos, mesmo estes sendo ambientados

num perodo de difcil documentao (como perodo dito bblico) um evento
normal em muitas sociedades, sendo inclusive atual. Passam a viver em nome do mito
e no mais compreendem o recado da mitologia e com isso tudo passa a ser literal,
semelhante s outras demonstraes sugeridas na parte I, ao passo que aqueles que
vivem em nome da transcendncia da alegoria, como por ora propomos,
compreendem a verdade do mito e tornam-se verdadeiros Mestres107.
Mito no o mesmo que histria, pois, ele deve to somente, fazer o indivduo
atravessar as etapas da vida, do nascimento maturidade, depois a senilidade e a
morte, a grande questo reside nessa chave de interpretao no literal, mas,
simblica e transcendente.108
O Monomito ou a Jornada do Heri

Assim como a psique humana dividida em trs partes pela Psicologia Analtica 109, a
Jornada do Heri tambm o , podendo ser classificada como: a) Separao ou
Partida; b) Iniciao ou Provas e Vitrias; e c) O retorno110. Esse ternrio constitui a
base essencial do mito, bem como dos Rituais de Passagem111. No que concerne a
Iniciao Manica, essa pode perfeitamente ser enquadrada neste postulado ternrio,
como o estudo demonstrar abaixo, sendo a ltima fase 3. O retorno devidamente
completada no grau de Mestre Maom e Maom do Real Arco.
Como j esclarecemos a teoria da Jornada do Heri teve por base a ideia do
Monomito difundida por James Joyce, vindo a ser aperfeioada por Campbell pela
associao com o conceito freudiano de foras do Inconsciente, e alcanando seu
pleno embasamento cientfico com a psicologia analtica ou arquetpica de Carl Gustav
Jung, que prope o conceito psicolgico de Arqutipos e Inconsciente Coletivo. A
estruturao dos Ritos de Passagem pelo antroplogo Arnold Van Guennep
possibilitou a anlise das diferentes fases da aventura do heri, bem como as diversas
manifestaes do mesmo nas sociedades tribais112.
Para tanto, ser apresentada a constituio bsica da Jornada do Heri, seus
significados psicolgicos e antropolgicos, que esto presentes em formas disfaradas
nos contos e mitos, alm claro, de exemplificar o contexto manico da mitologia,
ideia central deste artigo.
Os principais objetivos da misso do Heri so, atingir a liberdade plena,
compaixo pela humanidade, ou ainda um casamento mstico e espiritual. O processo
que leva a tais consecues, e que suscintamente, retrata a repetida Jornada
Arquetpica, foi chamado por Jung de processo de Individuao. Quando h uma
harmonia entre o consciente e o inconsciente, havendo uma contnua relao
106
107
108
109
110
111
112
STAVISH, Mark. As origens ocultas da Maonaria. SP, Pensamento, 2011;

CAMPBELL, Joseph. Mito e Transformao, A necessidade de ritos. SP, Ed. gora, 2008;
CAMPBELL, Joseph. Heri de mil faces, As chaves (pg.241-247). So Paulo, Pensamento, 2007;
Parte I - Anlise comparativa da estrutura da Personalidade e suas correspondncias simblicas com o Templo;
Idem, Prlogo, (2007);
VAN Guennep, Arnold. Os Ritos de Passagem. Classificao dos Ritos. Rio de Janeiro, Editora Vozes, 2011;
Idem (2011);
14
funcional em outras palavras, quando deliberadamente a prtica manica
(Inconsciente) toma praticidade no mundo profano113 (Consciente) , h uma sucesso
de experincias nicas, que levam a um alto estado de percepo, liberdade e
amadurecimento, tornando-se, segundo Jung, um consigo mesmo114. Isto , portanto
encontrar sua prpria individualidade, estar livre de influncias exteriores, ou como
outros o definem atingir a Verdadeira Vontade, vontade livre de influncias exteriores
(profanas, mundanas, dos outros), por isso vontade verdadeira.
1. Partida ou Separao
O chamado da aventura
... Eu o proponho, na devida forma, um candidato apropriado para os
mistrios da Maonaria. Eu o recomendo, como digno de compartilhar
privilgios da Fraternidade, e, em consequncia de uma declarao de
suas intenes, feita de forma voluntria e devidamente atestada, eu
acredito que ele seguir estritamente em conformidade com as regras
da Ordem. Illustrations of Masonry, WILLIAM PRESTON, 1867, p.26.
A primeira tarefa do heri retirar-se da cena mundana, do mundo profano nas

alegorias e contos, e iniciar uma jornada que desmistificada trata-se de uma imerso
nas regies causais da psique onde residem efetivamente as reais dificuldades115 a
fim de transpor os obstculos, tornar consciente as dificuldades, e por fim super-los
em benefcio prprio ou coletivo116.
Normalmente um problema se apresenta diante do heri mitolgico, a fim de
convoc-lo a cumprir seu destino, mas tambm poder ocorrer outros fatores para o
seu prprio crescimento, como curiosidade, sonhos, desejos e etc. Deste modo,
conforme o procedimento manico padro117, o candidato geralmente convidado a
iniciar na Sublime Ordem. O convite parte do chamado no meio manico de padrinho,
o qual figura a funo de arauto.
113
114
A palavra vem do latim Profanum: Pro (diante de; fora do); Fanum (templo; lugar sagrado);
Tal afirmao de Jung apenas uma adaptao da sentena grega: Conhea-te a ti mesmo....
115
Como demonstrado na parte I, o nico lugar onde de fato existem problemas e sofrimentos no inconsciente, a
qual devemos reconhecer e erradica-los em favor de ns mesmos. Eis a eterna e difcil tarefa que temos.
116
CAMPBELL, Joseph. Heri de mil faces, O Monomito (pg.27). So Paulo, Pensamento, 2007;
117
PRESTON, William. Illustrations of Masonry. New York: Masonic Publishing and Manufacturing Co., 1867;
15
Na aceitao do convite reside este estgio do chamado da aventura118, que,
em outras palavras, o padrinho figura como um sinal enviado pelo inconsciente (a qual
j falamos o Templo Manico Reunio Ritualstica). O candidato que recebe o
convite-chamado a conscincia objetiva (simbolicamente o exterior do Templo
Manico Mundo Profano). Em termos reais, isso nada mais que, um sonho, a qual
como demonstramos, um fator equilibrante do nosso Inconsciente, para,
devidamente direcionar o Consciente, a fim de alcanarmos o equilbrio. Com o devido
paralelo que fizemos na parte I, acha-se dramatizado tal comunicao Inconsciente
Pessoal X Consciente, nesta referida passagem na Mitologia Manica.
A associao dos estgios da Jornada do Heri para com os mitos no devem
ser literais, pois, cada mito possu um conotao cultural que lhe peculiar, obtendo
variaes de um lugar para o outro. Desta forma, o que devemos observar o
simbolismo essencial e arquetpico de cada estgio da jornada, como forma de
adaptao e posterior compreenso do contexto. Assim evidente que a histria de
um Heri (Buda, Jesus e Hiram) so literalmente diferentes apesar das coincidncias
significativas mas o simbolismo arquetpico de suas manifestaes no desenrolar da
histria so notoriamente semelhantes.
A recusa do chamado
...Tente! E no diga que a vitria est perdida, Se de batalhas que
se vive a vida, V, Tente outra vez! Raul Seixas
Sempre encontramos tanto na vida real como nos contos mitolgicos, o

dramtico caso do chamado que no obtm resposta, havendo, pois, o desvio da
ateno para outros vis interesses. A recusa convocao acaba por aprisionar o
heri mitolgico, seja pelo tdio, pelo trabalho duro ou pela ignorncia. A recusa uma
negao atitude de renunciar quilo que a pessoa o inconsciente considera
interesse prprio119, mesmo que sua mente consciente ainda no saiba, e tal recusa
caracteriza-se, cumulativamente, pela identificao da persona120 com seu ego121 o
que acarretaria no conceito psicolgico de Inflao122. Por essa e outras razes
sempre encontramos uma manifestao de egosmo no estgio da recusa do
chamado. H casos onde no aceitam convites e iniciaes por egosmo, ou mesmo
largam e abandonam a maonaria tambm por egosmo.
A esposa de L, tornou-se uma esttua de sal por ter olhado para trs e
desobedecido a instruo, e devido a forte emoo que caiu diretamente em L, tal
evento tornar-se-ia uma recusa do chamado, pois poderia diretamente ter rompido
com a jornada.123
A recusa do chamado na maioria das vezes representada pelo medo em
suas vrias manifestaes, sendo que tal evento promove um olhar ou mesmo um
voltar-se para trs de forma a no prosseguir. Ocorre de modo semelhante como
recusa do chamado na jornada manica, quando por algumas vezes o medo do
desconhecido ou oculto impede os candidatos de iniciarem, outras vezes a prpria
cultura de certas sociedades tratam de cumprir esta funo.
118
119
CAMPBELL, Joseph. Heri de mil faces, A Aventura do Heri (pg.66). So Paulo, Pensamento, 2007;
Idem, Prlogo (pg.72). 2007;
120
Em grego significa mscara. A psicologia analtica define Persona como parte da personalidade desenvolvida e
usada em nossas interaes, ela nossa face externa consciente, uma mscara social que usamos para dar forma ou
fora imagem exterior que as pessoas tem ou a qual achamos que possumos. Jung enxergava a Persona como um
mediador entre o mundo externo e o eu, voltando-se para a materialidade da vida consciente, enquanto Anima-Animus
tambm um mediador, mas do eu para o inconsciente, voltado para a subjetividade da vida inconsciente;
121
Na viso de Jung, Ego o nome dado organizao da mente consciente, constituindo-se de percepes
conscientes, de recordaes, pensamentos e sentimentos. A menos que o Ego reconhea tais percepes elas no
chegariam a nossa conscincia. Tais reconhecimentos do Ego so estabelecidos pela funo dominante de cada
pessoa (sensibilidade, objetividade e etc). Uma forte experincia pode forar entrada pelo ego ocasionando graves
consequncias (traumas). O Ego passa a falsa ideia de que ele , essencialmente, nossa inteira conscincia, ou
melhor, nossa Psique como um todo. (HALL; NORDBY, 2010)
122
HALL, Calvin S. & Nordby, Vernon J. Introduo Psicologia Junguiana. So Paulo. Editora Cultrix, 2005;
123
AT. Gnesis 19:26: E a mulher de L olhou para trs e ficou convertida numa esttua de sal.
16
Para muitos, talvez, esse estgio seja o mais difcil de todos, garantindo as
devidas propores. Todo incio (na vida) conturbado, repleto de dvidas e
dificuldades. Dar o primeiro passo, eis chave para o chamado!
O auxilio sobrenatural
...Quando os tempos se tornarem tempestuosos, E os amigos
simplesmente no puderem ser encontrados, Como uma ponte sobre
guas turbulentas, Eu surgirei... Bridge Over Troubled Water, by
Elvis Presley.
Para aqueles que no recusaram o chamado convite para iniciar , o primeiro

encontro da jornada do heri se d com uma figura protetora, que fornece ao iniciando
ajuda para lhe proteger na jornada que estar prestes a deparar-se.
As mitologias desenvolvem o papel na figura do guia e do mestre. No mito
grego esse guia Hermes-Mercrio, e no mito egpcio a sua contraparte egpcia,
Thoth. Nas tradies judaicas, No contou com uma pomba. Na mitologia crist
encontramos como guia o Esprito Santo ou mesmo com a protetora, a Virgem
Maria124.
Na iniciao pelo Rito Escocs Antigo e Aceito da Maonaria, fica evidente a
figura de auxilio da jornada na funo do oficial chamado de Experto/Guia, que conduz
o iniciando durante a jornada, oferecendo-lhe a devida proteo: Eu serei o vosso
guia, tendes confiana em mim, e nada receeis. A funo do Experto durante a
iniciao conduzir o candidato, que estando privado de certas faculdades, necessita
inexoravelmente do amparo do guia.
A passagem pelo primeiro limiar
"Cedo ou tarde, voc vai aprender, assim como eu aprendi, que existe
uma diferena entre Conhecer o caminho e Trilhar o caminho."
Morpheus - MATRIX
Tendo resistido ao medo, muitas das vezes personificado como medo de

morte, simbolizado no Rito Escocs pela passagem da cmara de reflexes, o heri
segue em sua aventura at chegar ao conhecido na Jornada do Heri por guardio do
limiar"125. Entende-se psicologicamente pelo limiar como a passagem do consciente
para o inconsciente, onde se adentra a um mundo de fantasias e imagens,
semelhantes aos sonhos. Ou seja, um mundo mtico e surreal o inconsciente ,
muitas vezes chamado de mundo da fantasia, variando conforme cada contexto
cultural.
Conforme explicamos na Parte I, o ponto simblico intermedirio que marca a
passagem do consciente para o inconsciente a passagem da sala dos passos
perdidos para o trio e templo. Joseph Campbell diz que no mbito mitolgico esse
primeiro limiar representado pela presena de um guardio, e o mesmo est
associado, variavelmente, a um posto que pode ser uma porta, ponte ou lago,
simbolizando o limiar. Isto posto, na Iniciao pelo Rito Escocs a passagem pelo
primeiro limiar ocorre, exatamente, no momento em que o candidato levado porta
do templo e recebido pelo Guarda do Templo, sendo que nos ritos anglo-saxes j
seria o Cobridor Externo. Aps sua passagem, ou seja, aps ser franqueado seu
ingresso, o candidato passa a vivenciar uma nova e nica experincia, sendo
submetido a uma ritualstica incomum a todas as outras, a simblica e mstica
ritualstica manica, que regida com base no sentido figurado e subjetivo,
igualmente aos contos e mitos, a qual j falamos so retrataes do inconsciente.
Muitos poderiam agora at mesmo dizer que Campbell baseou toda sua teoria
no processo inicitico da maonaria, para assim compor a Jornada do Heri (1949)
124
125
CAMPBELL, Joseph. Heri de mil faces, Prlogo (pg.80). So Paulo, Pensamento, 2007;
Idem, pg.82-85, 2007;
17
devido a tamanhas coincidncias, at mesmo em detalhes, que foram por ora
apresentados neste artigo. Todavia cabe uma observao que o trabalho de Joseph
Campbell foi analisado cientificamente sobre a estrutura de todas as religies at
ento conhecidas, principalmente as religies de cunho ocidental. Como j salientado,
a teoria da Jornada do Heri teve por base pesquisas antropolgicas, histricas e
sobretudo psicolgicas, tendo foco no estudo de Religies, Culturas e Mitologias
comparadas. Em verdade, no teramos dificuldade nenhuma em fazer este estudo,
visto a herana cultural que a Sublime Ordem recebeu. Estas reflexes, que chegam
ao vulgo cunho de coincidncias, so a causa deste artigo se chamar Mitologia
Manica.
Provaes, testes, a nova experincia - O ventre da baleia
"Pois vontade pura, desembaraada de propsito, livre da nsia de
resultado, toda via perfeita." Liber AL I:44
A ideia de que a passagem pelo limiar uma passagem para uma esfera de
renascimento simbolizada na imagem mundial do tero, ou ventre da baleia. O heri,
em lugar de conquistar ou aplacar a fora do limiar, jogado no desconhecido, dando
a impresso de que morreu, ou em outros casos submetido a testes e provaes, de
forma que aprenda as regras simblicas deste novo mundo.126 127
Como exemplo pode-se citar alguns contos, como Chapeuzinho Vermelho
(conto alemo) na qual ela engolida pelo lobo. Da mesma forma todo o panteo
grego, exceto Zeus, foi engolido pelo pai Cronos. Na bblia e no Alcoro encontramos
Jonas, que engolido por um peixe, e passa trs dias e trs noites nas entranhas do
peixe, e depois sai de l vivo.128 Arnold Van Guennep, salienta que A morte
momentnea tema principal das iniciaes tribais.129
Na jornada manica o iniciando colocado prova por testes simblicos,
fazendo-o seguir por caminhos escabrosos, para que coloque a mostra sua coragem
de forma a persistir na senda da virtude.
2. Iniciao ou Provas e Vitrias - A Descida
O caminho subsequente de provas
... Se quisermos ir ao paraso, devemos antes passar pelo inferno...
Divina Comdia Dante Alighieri
Vindo a ser vitorioso nos primeiros testes e provas, ao cruzar por completo o
limiar, o heri caminha por uma paisagem onrica povoada por formas curiosamente
fluidas e ambguas, na qual deve sobreviver a uma sucesso de novas provas. Esta
passagem marca o Heri que definitivamente apresentado a um novo mundo.
notrio o paralelo com a Mitologia Manica, sendo que a ritualstica manica algo
jamais experimentado antes, eis a o novo mundo que apresentado ao iniciando
maom. O heri continua a ser auxiliado de forma indireta, por Guias e Mestres.
Porm, aos poucos ele percebe que existe um poder benigno, presente em toda parte,
que o sustenta em sua jornada.130
Um mito interessante sobre esse estgio, e um dos mais antigos da histria,
o conto sumeriano da descida ao mundo inferior, pela deusa Inana131. Tal mito era
126
Idem, pg.92, 2007;
127
Devido este estgio se encontrar logo aps a passagem do primeiro limiar no citamos a Cmera de Reflexes,
mas, tambm seria possvel a associarmos este estgio, por possuir caractersticas ideais a este nvel. Contudo
haveria uma ambiguidade devido a ordem dos fatos. Ressalta-se, porm, que esta associao verossmil de
associao;
128
AT. Jonas 1:17: O Senhor fez que ali se encontrasse um grande peixe para engolir Jonas, e este esteve trs dias e
trs noites no ventre do peixe.
129
VAN Guennep, Arnold. Os Ritos de Passagem. Os Ritos de Iniciao (pag.87). Rio de Janeiro, Editora Vozes, 2011;
130
131
CAMPBELL, Joseph. Heri de mil faces, Aventura do Heri (pg.102). So Paulo, Pensamento, 2007;
18
ritualisticamente praticado na antiguidade pelas Prostitutas Sagradas132 133, que foi
profanado e hoje conhecido como strip-tease em a Dana dos Sete Vus 134.
Muitas mitologias retratam neste momento uma descida ao submundo, quando na
verdade, tal descida retrata a imerso aos domnios da psique aos quais voc no
est dando a devida ateno135, e disto viria anlise clnica da Psicologia Analtica136.
O auxlio indireto de Guias e Mestres uma perfeita associao s opinies
dadas quando o Venervel Mestre faz sucessivas perguntas ao candidato. Estas
novas provas, cada vez maiores em nveis, representam no processo inicitico
manico, a passagem pelos quatro elementos, onde o iniciando vivencia e supera
simbolicamente os elementos. No passado, relatos indicam que os candidatos de fato
se colocavam provas, seja de um incndio, a nado, ou de tempestades,
diferentemente de nossos tempos, antigamente os grupos e tribos realizavam
literalmente tais testes137.
Provao difcil ou traumtica, O encontro com a Deusa
"Quem olha para fora sonha, quem olha para dentro
desperta." Carl Gustav Jung
A provvel ltima aventura, quando todas as barreiras foram vencidas,

aparecer como a experincia mais profunda e traumtica do enredo mitolgico.
Normalmente representado por uma morte efetiva e momentnea, ou mesmo por um
renascimento miraculoso138. Em diversos ritos manicos (e em diferentes graus)
encontramos encenaes de todo o tipo para representar este importante estgio, seja
por mais provas iniciticas ou por demonstraes fnebres, funestas e sombrias, de
forma que pela ltima vez dada a chance ao candidato de desistir da senda da
virtude, e render-se ao medo do desconhecido, mas como ele mesmo descobrir no
futuro isso seria utilizado para cumprir com as finalidades do processo inicitico.
Sendo persistente, o iniciando compreende depois o sentido simblico ou
mesmo psicolgico de suas provaes e testes, e no pice da aventura apresentado
diante da Deusa. Tal passagem finalizada por um Casamento Mstico, conhecido
nos mitos por hierosgamos139, o mesmo anunciado pelos manifestos rosacruzes140.141
Em termos psicolgicos tal casamento representa a unio com a Anima, ou
Animus em contos da herona. Ocasio em que se toma pleno conhecimento da
dualidade do Inconsciente. Esta unio representa o chamado Casamento Alqumico
dos Alquimistas, e retrata uma unio indissolvel entre o ouro e a prata, e, em outras
palavras, o encontro do Cavaleiro com a Princesa, aquele momento dos contos onde
se diz E viveram felizes para sempre (o que quer dizer: viveram felizes alm do
tempo e do espao no Inconsciente) ou descobre-se o elixir da longa vida dos
alquimistas142.
132
VAN Guennep, Arnold. Os Ritos de Passagem. Os Ritos de Iniciao (pag. 95). Rio de Janeiro, Ed. Vozes, 2011;
133
Na antiga Sumria o nome Prostituta significava originalmente Aquelas que se prostram, neste caso em
homenagem a Deusa, A Sacerdotisa Inanna ou Ishtar. Contudo com o advento das sociedades patriarcais o termo se
profanou juntamente com os rituais desta antiga forma religiosa, passando a possuir outras significaes na Roma
Antiga;
134
O nmero 7 em questo se refere aos Sete Portais a qual a Deusa tinha que atravessar, onde a cada portal ela
retirava um vu. A dana dos Sete Vus na verdade retrata um ritual inicitico;
135
136
137
138
CAMPBELL, Joseph. Isto s Tu, Metfora e mistrio religioso (pag.15-25). SP, Landy Editora, 2002;
LEVI, Eliphas. Dogma e Ritual da Alta Magia e Histria da Magia. Editora Pensamento;
CAMPBELL, Joseph. Heri de mil faces, Aventura do Heri. So Paulo, Pensamento, 2007;
139
Significa Casamento Sagrado", a cpula de um deus ou homem com uma deusa ou mulher. Trata-se de um
antigo ritual que proporcionava uma intensa experincia espiritual ou intercmbio de conhecimentos atravs do sexo;
140
Manifestos Rosacruzes publicados na Alemanha em 1614, 1615 e 1616, versados em alquimia, magia e cabala.
141
142
O referido Casamento, conforme explicado, no encerra a Jornada, que ainda encontra-se na metade do caminho;
JUNG, Carl Gustav. Estudos alqumicos, 13,Anima e Animus (45-62). Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 2012;
19
Para desmistificarmos, a mulher representa na linguagem pictrica da
mitologia, a totalidade do que pode ser conhecido, e o heri aquele que a
compreende. Segundo Jung, havendo o equilbrio total na psique (o conhecimento de
Anima e Animus), atinge-se em seguida o Si-mesmo, ou seja, a totalidade do ser,
torna-se consciente todo o inconsciente143, e assim completa o processo que Jung
chamou de processo de individuao144. Contudo, quando achamos que um processo
encerrou, descobrimos que ele o incio de outro, e que em todo fim acha-se um novo
incio145, e vemos que o heri (ou iniciando) apenas se capacitou para enfrentar
desafios maiores.
neste estgio que chegamos ao fim desta breve apresentao, pois
entraramos no contexto do grau de companheiro e por fim, culminar no grau de
mestre maom. No grau de companheiro maom recebe-se instrues pertinentes a
Animus, quando ento o processo devidamente equilibrado havendo passado por
ambas colunas e no grau do mestrado completa-se em todos os nveis a projeo
arquetpica do heri na Mitologia Manica.
Semelhante ao contexto da Mitologia Manica ocorre o mesmo no mito
egpcio de Osris, como sabemos um dos mais antigos que existem. Depois de se
casar com sis (sua Anima), Osris trado por seu irmo Seth, que juntamente com
outros conspiradores, induz Osris a adentrar a um esquife, onde acaba morto pelo
prprio irmo. Achando-se prximo a uma planta (em algumas verses uma accia)
Osris encontrado por sis, e posteriormente passa pelos mistrios da ressureio,
passando a ser chamado de Senhor dos Dois Mundos, pois superou a vida e a morte,
sendo a coroao da sua jornada o nascimento do seu filho, o Deus Hrus, a qual
tambm conhecido como Filho da Viva - a viva em questo sis146. Da mesma
forma ocorre os mistrios da ressureio com Jesus Yeshuah que trado por um
discpulo, morre com a crucificao e aps acontece os mistrios da Redeno, e o
mesmo ascende ao paraso147.
O prosseguimento da jornada do heri na Mitologia Manica acha-se no grau
de Mestre Maom, todavia o final feliz dessa jornada se situa no grau de Maom do
Real Arco. No atoa que ele foi considerado como segunda parte dos mistrios do
terceiro grau, onde a primeira parte o prprio grau de mestre maom.
Por essas e outras razes que nos ritos anglo-saxes (Rito de York e Ritual de
Emulao) o grau de Maom do Real Arco tratado como imprescindvel ao
conhecimento manico. O segundo artigo do Tratado de Unio das Grandes Lojas,
dos Antigos e Modernos, de 1813, diz:
Est declarado e pronunciado que a pura e antiga maonaria consiste
de trs graus e nenhum mais, isto , os de Aprendiz, Companheiro de
ofcio, Mestre Maom, incluindo a Suprema Ordem do Sagrado Arco
148
Real.
Em sntese, poderamos concluir que, nos graus de companheiro e mestre

maom incluindo o Maom do Real Arco h a continuidade da jornada arquetpica
do heri na Mitologia Manica, a qual pode ser complementada por outros inmeros
graus que encontramos nos ritos manicos.
Ainda sobre o encontro com a Deusa ou Encontro com a Anima psicolgica
143
HALL, Calvin S. & Nordby, Vernon J. Introduo Psicologia Junguiana, A estrutura, dinmica e desenvolvimento
da Personalidade (pag.24-83). So Paulo. Editora Cultrix, 2005;
144
145
146
147
148
JUNG, Carl Gustav. Psicologia e alquimia, 12, Simbolismo da mandala. Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 2012;
Na equao da Ttrada dos Pitagricos: 10: 1+0 = 1. 10 = 1;
J falamos na parte I sobre os significados por trs deste e outros lugares sagrados;
RIBEIRO, Joo Guilherme C. O Nosso Lado da Escada. Rio de Janeiro, Ed., 2012;
20
Fim do primeiro ciclo da Jornada Manica149 Aprendiz Maom
... Em cada um espera-vos um Companheiro, e aquele Companheiro
Vs Mesmos... Liber Tzaddi, XC.
O casamento o supracitado conhecimento da Anima , representa o domnio

total da vida pelo heri. Na Mitologia Manica (ou todas as mitologias em que se trata
de heri, e no herona) a mulher o smbolo da Vida e o heri o seu conhecedor e
mestre, em outras palavras a mulher o Templo e o heri seu Sacerdote, da que
muitas representaes de templo em culturas ocidentais150 so em forma de uma
mulher grvida dando a luz151, bem como um dos motivos de sempre se ter sacerdotes
e no sacerdotisas em algumas religies.
Poderia perguntar-se, onde reside o encontro com a Deusa em nossa
Mitologia, se mulher no inicia na maonaria? Desde o incio do artigo frisamos que
tudo apresentado nas mitologias so conceitos simblicos, psicolgicos e no
literais152 (salvo raras excees). Assumindo todo o Templo as caractersticas e
conceitos de Anima, como exemplificado acima, o Templo Manico torna-se o objeto
de conquista inicial da jornada manica.
O iniciando tendo superado todos os testes e provaes do processo inicitico,
recebe como prmio da jornada, o Encontro com a Anima, que nada mais do que,
a Luz da Maonaria a qual dada ao nefito, que estava privado de certas funeshabilidades durante a iniciao e agora passa a ter a Viso e Conhecimento do
Templo Manico Inconsciente e ento pode comungar de sua Egrgora, pois o
referido casamento firmado com o sagrado juramento. Ele ganha tambm a sua
completa Liberdade, pois possui meios visuais para tal, desta forma ele fica liberto de
influncias contrrias153 154, bem como poder agora exercer por inteiro o seu livrearbtrio.
O encontro ou unio com a Anima155 tambm pode ser chamado de Encontro
com a Verdade, pois a totalidade do ser e o completo conhecimento do inconsciente,
alm de libertar, proporciona ao heri, um conhecimento nico e inexplicvel, por
conta de sua magnitude e proporo156, no havendo desembaraos e conflitos
internos. Em outros contextos tal Encontro com a Deusa ocorre de forma diferente,
na qual chamamos de Sintonia com o Pai, que nada mais do que uma relao
ntima entre Deus e o Heri, ou seja, do Eu inferior com o Eu Superior.157
Os testes que o heri passou, preliminares de suas experincias e faanhas
ltimas, simbolizaram as crises de percepo por meio das quais sua conscincia foi
amplificada e capacitada a enfrentar. Com isso, ele aprendeu que ele e seu Supremo
Pai-Me (ou ainda, Anima) so um s, pois se casaram, ele est no Pai-Me, e o PaiMe est nele158. Por derradeiro, torna-se o Mestre ou Heri, que variando de uma
149
Devido a continuao da Jornada do Heri, dentro da Mitologia Manica, ir alm do mbito dos estudos do grau de
Aprendiz Maom, no vamos adentrar adiante na terceira fase da Jornada do Heri - 3.O Retorno. Em anexo
encontra-se um trabalho complementar contando o final dessa aventura inicitica;
150
Muitos religies antigas possuem a crena da mulher como aspecto negativo da humanidade, sendo que suas
maiores divindades so sempre Homens, ao passo que a Mulher associada com a Queda;
151
MURPHY, Tim Wallace. O cdigo secreto das catedrais. So Paulo, Pensamento, 2007;
152
153
Vide Parte I, O que um Smbolo?;

Representa o medo profano sobre a Maonaria, que no incio da aventura tendia a impedir o incio da jornada;
154
A Liberdade pregada em todas as mitologias s pode ser adquirida e consolidada com o Casamento Alqumico,
tambm chamado de Consecuo;
155
O casamento comum na vida cotidiana apenas uma demonstrao, em menor nvel, do real casamento interior.
Jung indica essa unio inconsciente nas diversas obras alqumicas e filosficos, e nos mostra que tal deduo
psicolgica j era compreendida desde a antiguidade. O amor e felicidade resultante s do casamento interior jamais
poderia ser comparado com qualquer outro casamento, pois se trata de um desejo da alma (do inconsciente), e
segundo o prprio Jung este o nosso objetivo enquanto seres viventes.
156
NT. Joo 8:32: "E Jesus disse: E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertar."
157
Em termos iniciticos: Na unio do Iniciando com a Egrgora. Este contexto de Sintonia com o Pai tambm
encontra suas associaes com tal estgio manico, por tratarem de conceitos especficos desta passagem, mas sua
definio necessria dependeria de outras caractersticas;
158
NT. Joo 10:30: Eu e o Pai somos apenas um.
21
cultura para outra, pode ser um filsofo, mestre pedreiro, lder poltico ou religioso e
etc., mas a sua referncia como demonstramos transcende a estes exemplos.
As representaes do esquema psicolgico do mito acham-se representados
em vrios nveis e formas, seja nas diretrizes do Templo (do macrocosmo) ou na
jornada e realizao da ritualstica (do microcosmo). Conceitos como arqutipos,
smbolos, individuao, sincronicidade, sombra, anima-animus, heri e todos os outros
objetos de estudo da Psicologia Analtica, acham-se representados, de uma forma ou
de outra, nos enredos e contextos da mitologia159. Razo de tantas vezes termos
encontrado representaes de Anima e Inconsciente Pessoal neste artigo, bem como
de descoincidncias e variaes, mas abordamos essa temtica de uma forma
pioneira e geral dentro da Mitologia Manica.
Desmistificando a mitologia, percebemos que o mistrio do universo retratado
como Deus. Se para o religioso o infinito Deus Onipotente, Onisciente e
Onipresente, para o atu ou agnstico, o infinito o Universo, e seus infinitos espaos
siderais. O ego torna-se a figura do heri, por isso quando ele se encontra com a
Deusa-Deus (Inconsciente160 e infinito), toma-se conhecimento de todo o universo e a
vida. Por isso o axioma: Conhece-te a ti mesmo, e conhecers todo o Universo, em
outras palavras, Conhea o seu prprio ego, e sua mente se expandir 161. Em
algumas passagens colocam o Eu Inconsciente como o Velho Sbio, que tudo sabe
e ensina, pois conhece as fraquezas e desejos reprimidos pelo o heri162. 163 (ego).
Depois deste primeiro ciclo da Aventura do Heri ou Jornada Manica o
heri ainda levado a cumprir outros deveres no universo, assim como o Maom
instrudo e posteriormente passado de grau, onde encontramos a continuidade da
Jornada Manica. Entretanto, dificilmente encontra-se um final para a mitologia como
um todo, pois em todo fim acha-se um (novo) incio164. Em outras palavras, tornar feliz
a humanidade um processo, relativamente, progressista e infinito.
Segue um exemplo de roteiro mitolgico, por Joseph Campbell:165
O heri mitolgico, saindo de sua cabana ou castelo cotidianos,
atrado/levado ou se dirige voluntariamente para o limiar da aventura. Ali,
encontra uma presena sombria que guarda a passagem. O heri pode
derrotar essa fora, assim como pode fazer um acordo com ela e penetrar
com vida no reino das trevas (batalha com o irmo, batalha com o drago;
oferenda, encantamento, etc.); pode, da mesma maneira, ser morto pelo
oponente e descer morto (desmembramento). Alm do limiar, ento, o heri
inicia uma jornada por um mundo de foras desconhecidas e, no obstante,
estranhamente ntimas, algumas das quais o ameaam fortemente (provas),
ao passo que outras lhe oferecem uma ajuda. Quando chega ao nadir da
jornada mitolgica, o heri passa pela suprema provao e obtm sua
recompensa. Seu triunfo pode ser representado pela unio sexual com a
deusa-me (casamento sagrado), pelo reconhecimento por parte do paicriador (sintonia com o pai), pela sua prpria divinizao (apoteose) ou,
mais uma vez se as foras se tiverem mantido hostis a ele -, pelo
roubo, por parte do heri, da bno que ele foi buscar (rapto da noiva,
roubo do fogo); intrinsecamente, trata-se de uma expanso da conscincia
e, por conseguinte, do ser (iluminao, transfigurao, libertao). O
trabalho final o do retorno. Se as foras abenoaram o heri, ele agora
retorna sob sua proteo (emissrio); se no for esse o caso, ele
empreende uma fuga e perseguido (fuga de transformao, fuga de
159
CAMPBELL, Joseph. Heri de mil faces, As chaves (pg.241-247). So Paulo, Pensamento, 2007;
160
O inconsciente retratado como Infinito, pois no seu nvel de manifestao no h uma dimenso de tempo e
espao, como de outro modo ocorre com o Consciente j falamos sobre isso na parte I;
161
Jung deixou claro, como j citado neste trabalho, que o processo de elevao dar-se- por tornar consciente as
nossas limitaes e fraquezas que so, tambm, ocasionadas pelo Ego em questo.
162
Idem, 2007;
163
164
165
CAMPBELL, Joseph. Heri de mil faces, O ciclo cosmognico (pg.249-268). So Paulo, Pensamento, 2007;
Idem, 2007;
22
obstculos). No limiar de retorno, as foras transcendentais devem ficar
para trs; o heri reemerge do reino do terror (retorno, ressurreio). A
bno que ele traz consigo restaura o mundo (elixir).
Depois de analisarmos a parte inicial da Jornada do Heri no contexto manico,

podemos ver, claramente, os estgios desta jornada no roteiro acima mencionado.
Trata-se de um exemplo sucinto das vrias histrias do Heri, a qual Campbell reuniu
em um nico exemplo.
CONCLUSES A RESPEITO DE MITOLOGIA E

AS RAZES DESTE ESTUDO
O sentido da vida no est de todo explicado pela nossa atividade
econmica, nem os anseios mais ntimos do corao humano
166
atendidos por uma conta bancria. C. G. Jung
Galadriel: Mithrandir, porque o Pequeno? Gandalf: Eu no sei.
Saruman acredita que apenas com um grande poder que podemos
manter o mal sob controle, mas no isso o que eu descobri. Eu
descobri que so nas pequenas aes de nosso cotidiano, de
pessoas comuns, que mantemos a escurido afastada. Simples atos
de bondade e amor. Porque Bilbo Bolseiro? Talvez seja porque eu
tenho medo, e ele me d coragem. O Hobbit: Uma Jornada Inesperada
Em sntese, a mitologia pode ser entendida, sob a tica da Psicologia

Junguiana, como um sonho coletivo, sintomtico dos impulsos arquetpicos existentes
no interior das camadas profundas da psique humana167. 168, ou numa viso religiosa,
como a revelao de Deus aos seus filhos.
Tanto a mitologia, como os seus smbolos, so metforas reveladoras do
destino do homem, e, nas diversas culturas so retratadas de diferentes formas169, nos
contos a Princesa adormecida, significa, Inconsciente Pessoal adormecido, ou a
supremacia do ego sobre o consciente, o que para Jung consistia o motivo de todos os
males do homem, havendo, pois, a necessidade de despertar e estudar o Inconsciente
atravs, tambm, do estudo dos sonhos170, que simbolicamente acham-se
representados na Mitologia, e no nosso caso no estudo e prtica da ritualstica
manica. A ideia da mitologia que a mesma seja uma ferramenta para promover e
entender o crescimento psicolgico do individuo, sendo esta a funo principal do
mito171.
As semelhanas entre sonhos e mitos e como j dito a ritualstica em si so
evidentes, conforme j demonstrado no pargrafo anterior. Os sonhos, segundo a
Psicologia Arquetpica, podem tambm sugerir dentre outros feitos principais uma
autorrepresentao da estrutura da psique, fazendo um teatro de operaes face ao
ego, como forma de adaptao, necessria, ao processo de Individuao, e com isso
proceder num crescimento psicolgico do sonhador.
Nesse contexto, os sonhos criam enredos, do qual o sonhador pode enfrentar
seus medos e complexos (ambientados no Consciente) de forma a amadurecer
enquanto ser vivente por intermdio desse processo Inconsciente de compensao.
Ou seja, basicamente, sonhos so semelhantes a tudo o que j apresentamos na
Jornada do Heri na Iniciao Manica. Pode-se dizer, portanto, que de fato a
iniciao manica, bem como as mitologias, so autorrepresentaes da psique, a
166
167
168
169
170
171
JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus smbolos (pag.102). Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira;
CAMPBELL, Joseph. Heri de mil faces, Eplogo, Mito e sociedade. So Paulo, Pensamento, 2007;
CAMPBELL, Joseph. Heri de mil faces, Ciclo cosmognico. So Paulo, Pensamento, 2007;
CAMPBELL, Joseph. Mito e Transformao, A funo da mitologia (pag.31-37). So Paulo, Editora gora, 2008;
23
qual com suas pertinentes alegorias e contextos culturais, todavia, seus princpios e
mensagens so sempre os mesmos, que o equilbrio psicolgico e a devida conexo
entre o consciente (vida profana) com o inconsciente (vida manica), e desta relao,
resultar no conhecimento do Si-mesmo, ou melhor, no transcendente e espiritual
Mestre Maom. Todas as mitologias retratam uma estria relativa relao entre
Consciente x Inconsciente, seja por mundo profano e Maonaria, mundo real e
mundo da fantasia, ou mesmo por cu e inferno, e etc.
Em termos de interpretao psicolgica da Mitologia, sempre vamos encontrar
como chave essencial, a questo: Inconsciente = Reino metafsico, em outras
palavras, ''Porque eis que o reino de Deus est dentro de vs"172. Assim, a anlise
para toda questo mitolgica, o estudo da psique humana173.
Em vrias sociedades e cultos primitivos, a prtica religiosa consistia em
vivenciar a Mitologia de forma direta, pois no decorrer das cerimnias o mito o estaria
influenciando de forma indireta, por intermdio do inconsciente. Assim, o crescimento
e finalidade da Mitologia, ocorreria de forma particular em cada um, como uma
semente que aos poucos iria germinando174. A tradio manica conserva esses
costumes como forma de instruo aos seus membros, sendo portanto, herdeira
histrica dessas antigas culturas175.
Compreende-se a validade e relevncia de toda essa abordagem pelo fato da
literatura manica publicada no Brasil privilegiar as interpretaes ritualsticas que
seguem um raciocnio estrito ao entendimento consciente de seus ensinamentos
morais, bem como outras poucas questes esotricas176, desconsiderando os efeitos
psicolgicos produzidos pela prtica ritualstica e toda a sua mitologia.
Considerando que toda a ritualstica da Maonaria (como de outras ordens)
baseia-se fundamentalmente na prtica simblica, nada mais lgico do que a
interpretarmos alm da questo moral e cvica comuns s lojas, mas, de todo,
adentrarmos nessa questo psicolgica como fizemos neste estudo, e sobretudo,
esclarecer que o estudo manico, bem como a ascenso de graus e postos na
Ordem Manica, retratam claramente a autodescoberta do potencial humano, ou em
outras palavras, o autoconhecimento em uma jornada introspectiva.
Como vimos ao longo destas poucas pginas, nas diversas culturas,
sociedades tribais, religies e mitologias, encontramos semelhanas prximas ou
distantes, dos seus templos e histrias para com o Templo Manico. Conforme os
templos de algumas ordens rosacruzes como tambm as antigas catedrais crists
em Aparecida do Norte, por exemplo tem-se o altar sagrado ao meio do templo, por
outro lado, cultos antigos como a Umbanda e o Xamanismo faziam seus templos
tendo sempre ao centro a fogueira ou o cong. E nesse contexto que tambm
encontramos o altar dos juramentos da Maonaria, que mesmo tendo algumas
variaes de um rito para o outro, sempre ter um lugar de destaque no templo. O
templo representa em sntese um diagrama da Psique Humana como um todo. Sendo
ele mesmo um arqutipo que ser moldado conforme o contexto cultural, conforme
exemplificado acima, onde desmistificado passa a ser uma autorrepresentao da
psique humana, passando a ser conhecido pela mente de acordo com suas
peculiaridades arquetpicas.
Espero que ao final destas pginas uma reflexo possa ter sido estabelecida
de que, a julgvel infantil, ingnua e supersticiosa177 ritualstica manica
transcende toda crtica e limitao objetiva que possamos dar, e nela que reside se
172
173
174
175
176
177
NT. Lucas 17:21;

CAMPBELL, Joseph. Heri de mil faces, As chaves. So Paulo, Pensamento, 2007;
JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus smbolos, (pag.104-157). Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira;
BLAVATSKY, HELENA P.; O ocultismo prtico e as origens do ritual na Igreja e Maonaria. SP, Pensamento, 2009;
ISMAIL, Kennyo. Desmistificando a Maonaria. So Paulo: Universo dos Livros, 2012.
Se olharmos a ritualstica a nvel objetivo, talvez achamos de fato um foroso exerccio (de moralidade). Por outro
lado numa viso subjetiva ela passa longe de ser algo incomum. Ritualstica = Inconsciente;
24
no em maior escala uma boa parte do potencial transformador da Augusta,
Respeitvel e Sublime Ordem Manica.
BIBLIOGRAFIA E OBRAS RELACIONADAS:
CARL GUSTAV JUNG

Sincronicidade 8/3. Rio de Janeiro, Vozes, 2013;
Interpretao psicolgica do Dogma da Trindade. 11/2. RJ: Vozes, 2011.
O Homem e seus smbolos. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2005.
Os arqutipos e o inconsciente coletivo. 9/1. Rio de Janeiro: Vozes, 2011.
Psicologia do Inconsciente. 7/1. Rio de Janeiro: Vozes, 1978.
O smbolo da transformao na missa. 11/3. Rio de Janeiro: Vozes, 2011;
Psicologia e alquimia. 12. Rio de Janeiro: Vozes, 2012.
Estudos alqumicos. 13. Rio de Janeiro: Vozes, 2012.
Psicologia e religio. 11/1. Rio de Janeiro: Vozes, 2011.
A vida simblica. 18/1. Rio de Janeiro: Vozes, 2012.
JOSEPH CAMPBELL
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
14.
15.
16.
Heri de mil faces. So Paulo: Editora Pensamento, 2007.

As mscaras de Deus, Mitologia Ocidental. So Paulo: Palas Athena, 1994.
As mscaras de Deus, Mitologia Oriental. So Paulo: Palas Athena, 1994.
Isto s Tu. So Paulo: Landy Editora, 2002.
Mito e Transformao. So Paulo: Ed. gora, 2008.
BLAVATSKY, HELENA P. O ocultismo prtico e as origens do ritual da Igreja e da Maonaria;
SP: Pensamento, 2009.
DEL DEBBIO, Marcelo. Enciclopdia de Mitologia. So Paulo: Daemon Editora, 2008.
DURKHEIM, mile. Da diviso do trabalho social. So Paulo: Martins Fontes, 2004.
FREUD, Sigmund. A interpretao dos sonhos. Rio de Janeiro: Editora Imago, 1972.
HALL, Calvin S.; NORDBY, V. J. Introduo Psicologia Junguiana. SP: Cultrix, 2010.
ISMAIL, Kennyo. Desmistificando a Maonaria. So Paulo: Universo dos Livros, 2012.
LEVI, Eliphas. Dogma e Ritual da Alta Magia. So Paulo: Pensamento-Cultrix, 2012.
MAXENCE, Jean-Luc. Jung a aurora da Maonaria. So Paulo: Madras, 2010.
MURPHY, Tim W. O cdigo secreto das catedrais. So Paulo: Pensamento, 2007.
PRESTON, William. Illustrations of Masonry. New York: Masonic Publishing and Manufacturing
Co., 1867.
RIBEIRO, Joo Guilherme C. O Nosso Lado da Escada. Rio de Janeiro, Ed., 2012;
ROBERTS, J. M.: Freemasonry: Possibilities of a Neglected Topic. The English Historical Review,
Vol. 84, No. 331, p. 323-335, 1969.
STAVISH, Mark. As origens ocultas da Maonaria. So Paulo: Pensamento, 2011.
VAN Guennep, Arnold. Os Ritos de Passagem. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2011.
WAITE, A. E., A New Encyclopaedia of Freemasonry, 2 vols. Londres: William Rider and Son
Limited, 1:351-352, 1921.
ZELDIS, L., Illustrated by Symbols. New York, NY: Philalethes, The Journal of Masonic Research
& Letters, Vol. 64, No. 02, p. 72-73, 2011.
O AUTOR
Rafhael Guimares Mestre Maom da A.R.L.S. Jacques DeMolay n33, jurisdicionada Grande
Loja Manica do Estado do Esprito Santo. No Rito de York Cavaleiro Templrio (KT), filiado ao
Supremo Grande Captulo de Maons do Real Arco do Brasil. No Rito Escocs Antigo e Aceito possui
o grau 14 - Grande Eleito ou Perfeito e Sublime Maom, filiado ao Supremo Conselho do Grau 33 do
Rito Escocs Antigo e Aceito da Maonaria para a Repblica Federativa do Brasil. Alm de pertencer
a outros Corpos Manicos, Ordens Iniciticas, Rosacruzes, Martinistas e Grupos de Estudo.
E-mail: [email protected]
Facebook: facebook.com/filosofo.desconhecido

Mitologia Maçônica

Enviado por

Direitos autorais:

Formatos disponíveis

Mitologia Maçônica

Enviado por

Dados do documento

Descrição original:

Título original

Direitos autorais

Formatos disponíveis

Compartilhar este documento

Compartilhar ou incorporar documento

Opções de compartilhamento

Você considera este documento útil?

Este conteúdo é inapropriado?

Direitos autorais:

Formatos disponíveis

Mitologia Maçônica

Enviado por

Direitos autorais:

Formatos disponíveis

1

Pode-se dizer que o sonho como a pedra desprezada pelos

A definio mais comum de Maonaria a de que Maonaria um belo

MAXENCE, Jean-Luc. Jung a aurora da Maonaria. SP, Madras, 2010;

O termo Monomito de James Joyce, da obra Finnegans Wake;

Podemos definir os smbolos como metforas e compndios de um

O TEMPLO MANICO E A PSIQUE HUMANA

Os maons so unanimes em dizer que o Templo28 Manico simblico, e

Um estudo comparativo da estrutura da Personalidade

De acordo com a psicologia analtica de Carl G. Jung, a psique divide-se em

A conscincia a nica parte da psique a qual conhecemos direta e

Todas as experincias que temos, sendo que algumas so esquecidas, mas

Abordagem ocidental-oeste do Templo Manico;

Ou seja: Inconsciente, Ritualstica/Templo Manico, Mundo Real, Smbolos;

Teoria proposta pela Psicologia Analtica, ele difere do Inconsciente Pessoal,

OS EFEITOS E SINAIS INCONSCIENTES DA RITUALSTICA MANICA

Os rituais praticados e todas as suas repeties centram o indivduo dentro dos

Aprendiz, Companheiro e Mestre Maom;

Havendo demonstrado a estrutura psicolgica da Mitologia Manica na parte I

DEL DEBBIO, Marcelo. Enciclopdia de Mitologia. So Paulo, Daemon Editora, 2008;

Mark Stavish corrobora sobre tal elaborao: 106

O fato de interpretar os mitos como fatos, mesmo estes sendo ambientados

O Monomito ou a Jornada do Heri

STAVISH, Mark. As origens ocultas da Maonaria. SP, Pensamento, 2011;

A primeira tarefa do heri retirar-se da cena mundana, do mundo profano nas

Sempre encontramos tanto na vida real como nos contos mitolgicos, o

Para aqueles que no recusaram o chamado convite para iniciar , o primeiro

Tendo resistido ao medo, muitas das vezes personificado como medo de

Idem, pg.92, 2007;

A provvel ltima aventura, quando todas as barreiras foram vencidas,

Em sntese, poderamos concluir que, nos graus de companheiro e mestre

O casamento o supracitado conhecimento da Anima , representa o domnio

Vide Parte I, O que um Smbolo?;

Depois de analisarmos a parte inicial da Jornada do Heri no contexto manico,

CONCLUSES A RESPEITO DE MITOLOGIA E

Em sntese, a mitologia pode ser entendida, sob a tica da Psicologia

NT. Lucas 17:21;

BIBLIOGRAFIA E OBRAS RELACIONADAS:

CARL GUSTAV JUNG

Heri de mil faces. So Paulo: Editora Pensamento, 2007.

Você também pode gostar