A História Secreta Dos Jesuítas - Edmond Paris
A História Secreta Dos Jesuítas - Edmond Paris
A História Secreta Dos Jesuítas - Edmond Paris
dos Editores
No h pessoa mais quali cada para fazer a introduo do livro de Edmond Paris, "A
Histria Secreta dos Jesutas", que o Dr. Alberto Rivera, ex-sacerdote jesuta, criado
desde os sete anos de idade em um seminrio na Espanha, sob extremo juramento e
os mais rgidos mtodos de induo, treinado inclusive no Vaticano, que resumiu a
histria dos jesutas.
Os dados contidos neste livro so factuais e amplamente documentados,
encontrando-se disposio para consulta de todos os cristos, ao redor do mundo,
que crem na Bblia, a qual declara:
"O meu povo est sendo destrudo porque lhe falta o conhecimento". Osias 4.6
Prefcio
Um escritor do sculo passado, Adolphe Michel, lembrava que Voltaire estimava em
seis mil o nmero de obras publicadas sobre os jesutas quela poca. 'A que nmero
chegaremos um sculo depois?", perguntava Adolphe Michel, apenas para terminar
em seguida: "No importa. Enquanto houver jesutas, livros tero de ser escritos
contra eles. Nada mais pode ser dito de novo sobre eles, mas as novas geraes de
leitores surgem todos os dias, e esses leitores procuraro por livros velhos?" A razo a
qual acabamos de mencionar seria mais do que su ciente para justi car a retomada
desse assunto exaustivamente discutido.
De fato, muitos dos primeiros livros retratando a histria dos jesutas no podem
mais ser encontrados. Apenas em bibliotecas pblicas ainda podem ser consultados, o
que os torna inacessveis maior parte dos leitores.
Com o propsito de informar suscintamente ao pblico em geral, pareceu-nos
necessrio um sumrio dessas obras.
H tambm outra razo, to importante quanto a que acabamos de mencionar. Ao
mesmo tempo em que novas geraes de leitores surgem, novas geraes de jesutas
aparecem, e estes, trabalham ainda hoje, com os mesmos mtodos tortuosos e
tenazes com os quais to freqentemente no passado zeram funcionar os re exos
defensivos de naes e governos.
Os lhos de Loyola, mais do que nunca, so a ala dominante da Igreja Romana. To
bem disfarados quanto antigos, continuam a ser os mais eminentes
"ultramontanos"; os agentes discretos mas e cazes da Santa S em todo o mundo; os
campees camuflados de sua poltica; a "arma secreta do papado".
Este livro ao mesmo tempo uma retrospectiva e atualizao da histria do
jesuitismo. Pelo fato da maioria das obras referentes aos jesutas no mencionarem o
papel primordial deles nos eventos que esto subvertendo o mundo nos ltimos
cinqenta anos, acreditamos ter chegado o momento de superarmos essa lacuna ou,
mais precisamente, iniciarmos com nossa modesta contribuio um estudo ainda
mais profundo sobre o assunto.
Fazemo-lo, sem ignorar os obstculos a serem enfrentados pelos autores no apologistas, desejosos de tornarem pblicos escritos sobre esse assunto to
incandescente.
De todos os fatores integrantes da vida internacional de um sculo cheio de
confuses e transtornos, um dos mais decisivos - e ainda no su cientemente
reconhecidos - reside na ambio da Igreja Romana.
Seu desejo secular de estender sua in uncia ao Oriente fez dela o aliado "espiritual"
do Pan-Germanismo e, ainda, sua cmplice na tentativa de conquistar poder
supremo, em duas ocasies, 1914 e 1939, trazendo morte e runa aos povos da
Europa. O pblico praticamente ignora a responsabilidade absoluta do Vaticano e
seus jesutas no incio das duas guerras mundiais - uma situao que pode ser
parcialmente explicada pelos fundos gigantescos disposio do Vaticano e seus
jesutas, dando-lhes poder em muitas esferas da vida social, especialmente a partir do
ltimo conflito.
Na realidade, o papel desempenhado por eles nesses eventos trgicos, quase nem
chegou a ser mencionado at o presente momento, exceo dos apologistas,
ansiosos por disfar-lo. com o objetivo de corrigir isso e estabelecer os fatos
verdadeiros que apresentamos nesta e em outras obras a atividade poltica do
Vaticano na atualidade - atividade esta que tambm conta com a participao dos
jesutas.
Apesar da tendncia generalizada cada vez maior de uma "laicizao" (excluso da
religiosidade); do progresso inelutvel do racionalismo, que reduz um pouco a cada
dia o domnio do "dogma", a Igreja Romana no poderia desistir do grande objetivo,
o qual tem sido seu propsito desde o incio: reunir sob o seu domnio todas as
naes da Terra. Essa "misso" monumental deve continuar, independentemente do
que acontea, tanto entre os "pagos" quanto entre os "cristos separados".
O clero secular tem, em especial, a tarefa de sustentar as posies adquiridas, o que
particularmente difcil hoje em dia, enquanto ca a cargo de certas ordens regulares o
aumento do rebanho de is, pela converso dos "hereges" e "pagos", um trabalho
ainda mais rduo.
A tarefa de preservar ou adquirir, defender ou atacar e, na frente de batalha, est a
fora de combate da Companhia de Jesus - os jesutas. Essa companhia no secular
nem regular nos termos de seus estatutos; , no entanto, um tipo sutil, intervindo
quando e onde for conveniente, dentro e fora da Igreja.
Resumindo: "A Companhia de Jesus o agente mais quali cado, mais perseverante,
mais destemido e mais convicto da autoridade papal", como a descreveu um de seus
melhores historiadores.
Veremos de que maneira esse corpo de janzaros (tropa de choque) foi formado e que
tipo de servio inestimvel dedicou ao papado. Veri caremos tambm o quanto esse
zelo foi realmente efetivo, a ponto de se tornar indispensvel instituio que servia,
exercendo tamanha in uncia que seu prior era chamado, e com razo, de o "Papa
Negro", pois tornava-se cada vez mais difcil distinguir, no governo da Igreja, a
autoridade do papa e a do seu poderoso coadjutor.
O papa, no satisfeito em dar apenas o seu "apoio" pessoal a Hitler, concedeu dessa
forma o apoio moral do Vaticano ao Reich nazista! Ao mesmo tempo em que o
terror estava comeando a reinar do outro lado do Reno, e era secretamente aceito e
aprovado, os assim chamados "camisa marron" j tinham posto quarenta mil pessoas
em campos de concentrao.
Os massacres organizados e perseguies se multiplicavam, ao som dessa marcha
nazista: "Quando o sangue judeu escorrer pela lmina, nos sentiremos melhor
novamente" (Horst- Wessel - Lied).
Durante os anos seguintes, Pio XII viu coisas ainda piores, sem se alterar. No de
surpreender que os dirigentes catlicos da Alemanha competissem entre eles na
servido ao regime nazista, encorajados que eram pelo seu "mestre" romano. Seria
importante ler os delrios ensandecidos e as acrobacias verbais de telogos
oportunistas, dentre eles Michael Schmaus, o qual foi posteriormente elevado por
Pio XII a "alto dignatrio da Igreja", e descrito como "o grande telogo de Munique"
pela publicao La Croix, em 2 de setembro de 1954. Ou ainda um certo livro
intitulado Katholisch Konservatives Erbgut, sobre o qual algum escreveu:
"Esta antologia oferece-nos textos dos principais tericos catlicos da Alemanha, de
Gorres a Vogelsang, fazendo-nos crer que o nacional-socialismo nasceu pura e
simplesmente de idias catlicas" (Gunther Buxbaum, Mercure de France, 15 de
janeiro de 1939).
Os bispos, obrigados a fazer um voto de obedincia a Hitler, devido ao Tratado,
sempre tentaram superar uns aos outros em sua "devoo".
"Sob o regime nazista, constantemente encontramos o suporte fervoroso dos bispos
em todas as correspondncias e declaraes de dignatrios eclesisticos" (Joseph
Rovan, op. cit. pg. 214).
Tais documentos trazem luz as aes secretas e pr das do Vaticano para a criao
de con itos entre as naes, quando serviam aos seus interesses. Com a ajuda de
artigos conclusivos, mostramos o papel desempenhado pela "Igreja" na ascenso dos
regimes totalitrios na Europa.
Estes testemunhos e documentos constituem uma denncia esmagadora e, at o
momento, nenhum apologista se atreveu a desmenti-los.
No dia 1o. de maio de 1938, o jornal Mercure de France lembrou do que havia dito
quatro anos antes, e ningum o desmentiu: Que o papa Pio XII foi quem "fez"
Hitler. Ele veio ao poder, no tanto atravs dos meios legais mas, principalmente,
por causa da in uncia do papa no Centrum (partido catlico alemo). O Vaticano
acredita que cometeu um erro poltico ao ajudar Hitler indicando-lhe o caminho do
poder? Parece que no...
Pelo menos parecia que no quando isso foi escrito, ou seja, no dia seguinte ao
'Anschluss", ocasio na qual a ustria se uniu ao Terceiro Reich; nem
posteriormente, quando as agresses nazistas se multiplicaram; nem mesmo durante
toda a Segunda Guerra Mundial.
Na verdade, no dia 24 de julho de 1959, Joo XXIII, sucessor de Pio XII, conferiu
Franz Von Papen, seu amigo pessoal, o ttulo honorrio de camareiro secreto. Este
homem havia sido espio nos Estados Unidos durante a Primeira Guerra Mundial e
um dos responsveis pela ditadura de Hitler e pelo Anschluss. S algum tipo especial
de "cegueira" pode nos impedir de ver fatos to claros.
Joseph Rovan, autor catlico, comenta o acordo diplomtico entre o Vaticano e o
Reich nazista em 8 de julho de 1933: "O Tratado trouxe ao governo nacionalsocialista, considerado por quase todo o mundo como sendo formado de
usurpadores, quando no bandoleiros, o selo de um acordo com a fora internacional
mais antiga, a epstola pastoral de 3 de junho de 1933, na qual todo o episcopado
alemo est envolvido. Que forma toma este documento? Como que comea?
Com otimismo e com esta declarao de satisfao: Os homens na direo deste
novo governo, para nossa grande alegria, deram-nos a garantia de que colocam a si
prprios e ao seu trabalho em bases crists. Uma declarao de tamanha sinceridade
merece a gratido de todos os catlicos" (Paris, Plon, 1938, pg. 108).
Desde o incio da Primeira Guerra Mundial, vrios papas tm surgido e desaparecido,
mas suas atitudes tm se mantido invariavelmente as mesmas com respeito s duas
faces que se tm confrontado na Europa. Muitos autores catlicos no poderiam
esconder a surpresa - e pesar - ao escreverem sobre a indiferena desumana
demonstrada por Pio XII face aos piores tipos de atrocidades cometidas por aqueles
em seu favor. Dentre muitos testemunhos, citaremos um entre os mais moderados
em suas palavras contra o Vaticano, por Jean d'Hospital, correspondente do Le
Monde:
"A memria de Pio XII est cercada de apreenso. Devido seguinte polmica feita
por observadores de todas as naes: Mesmo dentro das paredes do Vaticano, ser
que ele sabia de certas atrocidades cometidas durante esta guerra, iniciada e conduzida
por Hitler?"
Tendo sua disposio, a todo tempo, de todas as regies, relatrios regulares dos
bispos, poderia ele desconhecer o que os dirigentes militares alemes no podiam
disfarar - a tragdia dos campos de concentrao; civis condenados deportao; os
massacres a sangue-frio daqueles que cavam "pelo meio do caminho"; o terror das
cmaras de gs onde, por razes administrativas, milhes de judeus foram
exterminados? E se por acaso sabia de tudo isso, por que ele, el dignatrio e
primeiro pregador do Evangelho, no veio a pblico, vestido de branco, armas
estendidas na forma da cruz, para denunciar um crime sem precedentes e bradar:
"No!"?
Apesar da diferena bvia entre o universalismo catlico e o racismo hitleriano, essas
duas doutrinas haviam sido "harmonicamente reconciliadas", de acordo com Franz
Von Papen. A razo pela qual esse acordo escandaloso era possvel consistia em que
"o nazismo uma reao crist contra o esprito de 1789".
Voltemos a Michael Schmaus, professor na Faculdade de Teologia de Munique, que
escreveu: "Imprio e Igreja consistem em uma srie de escritos que devem ajudar na
construo do Terceiro Reich, j que rene um Estado nacional-socialista e a
cristandade catlica. Inteiramente alemes e inteiramente catlicos, estes escritos
favorecem relaes e intercmbio entre a Igreja Catlica e o nacional-socialismo; eles
abrem caminho a uma cooperao frutfera, como est realado pelo Tratado.
O movimento nacional-socialista o mais intenso e abrangente protesto contra o
esprito dos sculos XIX e XX. A idia de um povo de nico sangue o ponto
fundamental de seus ensinamentos e todos os catlicos que obedecerem s instrues
dos bispos alemes tero de admitir que assim . As leis do nacional-socialismo e as
da Igreja Catlica tm o mesmo objetivo" (Begegnungen Zwischen Katholischem
Christentum und Nazional-Sozialistischer Weltanschauung Aschendor, Munster,
1933).
Esse documento prova o papel fundamental assumido pela Igreja Catlica na
ascenso de Hitler ao poder; na verdade, tratava-se de uma combinao prestabelecida. Ilustra o tipo de acordo monstruoso entre o catolicismo e o nazismo. O
dio ao liberalismo, que a chave de tudo, torna-se absolutamente claro.
Vejamos o que Alfred Grosser, professor do Instituto de Estudos Polticos da
Universidade de Paris, diz: "O conciso livro de Guenter, Lewy e Catholic Church
and Nazi Germany (New York, McGraw Hill, 1964), diz que todos os documentos
concordam ao demonstrar a cooperao da Igreja Catlica com o regime de Hitler.
Em julho de 1933, quando o Tratado obrigou os bispos a jurarem um voto de
obedincia ao governo nazista, os campos de concentrao j estavam abertos. A
leitura de citaes compiladas por Guenter Lewy a prova irrefutvel disso.
Encontramos algumas evidncias impressionantes de personalidades, tais como o
cardeal Faulhaber e o jesuta Gustav Gundlach.
Apenas palavras vazias podem ser encontradas para negar tais evidncias que provam a
culpabilidade do Vaticano e de seus jesutas. A ajuda destes a principal fora por
detrs da ascenso "iluminada" de Hitler que, juntamente com Mussolini e Franco,
apesar das aparncias, eram fantoches de guerra manipulados pelo Vaticano e seus
jesutas.
Os aduladores do Vaticano deveriam ter baixado suas cabeas, envergonhados,
quando um membro do Parlamento italiano exclamou: 'As mos do papa esto
cheias de sangue!" (fala de Laura Diaz, membro do Parlamento por Livorno,
pronunciada em Ortona, em 15 de abril de 1946), ou quando os estudantes do
Cardi University College escolheram como tema para conferncia: Deveria o papa
ser trazido a tribunal como sendo um criminoso de guerra? (La Croix, 2 de abril de
1946).
Vejamos agora como o papa Joo XXIII se expressou ao se referir aos jesutas:
"Perseverem, queridos lhos, nas atividades que j vos trouxeram mritos
possa trazer, e que a nova era encontre a Companhia no mesmo caminho honrado
que ela seguiu no passado" (pronunciado em Roma, prximo Baslica de So
Pedro, em 20 de agosto de 1964, durante seu segundo ano como papa).
Em 29 de outubro de 1965, o jornal Osservatore Romano anunciou: "O
Reverendssimo Padre Arrupe, prior dos jesutas, celebrou a Missa Sagrada pelo
Concilio Ecumnico em 16 de outubro de 1965".
Eis a apoteose da "tica papal": Um pronunciamento simultneo sobre um projeto
de beati cao de Pio XII e Joo XXIII. "Para fortalecer a ns mesmos em nossa
busca de uma renovao espiritual, decidimos iniciar os procedimentos cannicos
para a beati cao destes dois pont ces grandes e iluminados e que so to queridos
a todos ns"(?) (papa Paulo VI).
Que este livro revele a todos aqueles que o lerem a verdadeira natureza deste mestre
romano, cujas palavras so to mel uas (brandas e harmoniosas) quanto ferozes so
suas aes secretas.
O fundador da Companhia de Jesus, o basco espanhol don Inigo Lopez de Recalde,
nasceu no castelo de Loyola, na provncia de Guipuzcoa, em 1491. Foi um tipo de
monge-soldado dos mais estranhos j engendrados pelo mundo catlico: de todos os
fundadores de ordens religiosas, ele talvez tenha sido o de personalidade mais
marcante na mente e comportamento de seus discpulos e sucessores.
Esta pode ser a razo para aquela "aparncia familiar" ou "marca", fato que chega ao
ponto da semelhana fsica entre eles. Folliet questiona este fato(1), mas muitos
documentos provam a permanncia de um "tipo jesuta" atravs dos tempos.
O mais interessante destes testemunhos se encontra no museu Guimet. Sobre o
fundo dourado de uma tela do sculo XVI, um artista japons pintou, com todo o
humor de sua raa, a chegada dos portugueses e dos lhos de Loyola, em particular,
nas ilhas nipnicas. O espanto desse amante da natureza e das cores fortes explcito
na maneira como representa aquelas sombras longas e escuras, com suas faces
desoladas, sobre as quais se capta toda a arrogncia do dirigente fantico. A
semelhana entre o trabalho do artista oriental do sculo XVI e nosso Daumier, de
1830, est a para todos verem.
semelhana de tantos outros santos, Inigo, que posteriormente romanizou seu
nome e se tornou Igncio, parecia longe de ser aquele predestinado a iluminar os seus
contemporneos. Sua juventude atormentada foi repleta de erros e mesmo "crimes
hediondos". Um relatrio policial a rma que era "traioeiro, brutal e vingativo".
Todos os seus bigrafos admitem que ele no recuava nem mesmo diante de seus
melhores amigos, no que envolvia a violncia dos instintos, ento uma coisa comum.
"Era necessrio um golpe fsico violento para mudar sua personalidade"
Foix.
O ferimento que decidiu o futuro de sua vida foi-lhe in igido nessa ocasio. Com a
perna quebrada por um tiro, foi levado pelos franceses a seu irmo, Martin Garcia,
no castelo de Loyola, iniciando-se o martrio das cirurgias sem anestesia, pois o
trabalho no havia sido bem feito. Sua perna foi quebrada novamente e recolocada
no lugar. Apesar de tudo isso, Igncio acabou ficando coxo.
E compreensvel que apenas uma experincia como essa poderia causar-lhe um
esgotamento nervoso. O "dom das lgrimas", o qual lhe foi, ento, outorgado "em
abundncia" (e que seus bigrafos acreditam como um favor dos cus), pode ser o
resultado de sua natureza profundamente emocional, afetando-o mais e mais.
Enquanto estava deitado, sofrendo as dores do ferimento, seu nico divertimento era
a leitura de "A Vida de Cristo" e "A Vida dos Santos", os nicos livros que
encontrou no castelo. Praticamente iletrado e ainda afetado por aquele choque
terrvel, a angstia da Paixo de Cristo e o martrio dos santos tiveram um forte
impacto sobre ele; essa obsesso levou o guerreiro aleijado ao caminho do
apostolado.
Aps uma con sso detalhada no monastrio de Montserrat, Igncio tencionava ir a
Jerusalm. A peste era comum em Barcelona e, como todo o trfego martimo estava
interrompido, teve de permanecer em Manresa por aproximadamente um ano.
Passava o tempo em oraes, longos jejuns e auto- agelao, praticando todas as
formas de macerao. Alm disso, nunca perdia a chance de se apresentar diante do
tribunal de penitncia, apesar de sua con sso em Montserrat ter aparentemente
durado trs dias. Tal con sso minuciosa teria sido su ciente a um pecador menos
escrupuloso. Tudo isso descreve claramente o estado mental e nervoso desse homem.
Finalmente, ao se libertar da obsesso de pecado, decidiu que aquilo era, nada mais
nada menos, que um truque de sat, e devotou-se inteiramente s ricas e variadas
vises assaltavam sua mente conturbada.
"Foi por causa de uma viso", diz H. Boehmer, "que ele comeou a comer carne
novamente. Uma srie completa de vises que lhe revelou os mistrios do dogma
catlico e o ajudou a viv-lo verdadeiramente.
Dessa forma, ele medita sobre a Santssima Trindade como sendo um instrumento
musical de trs cordas: o mistrio da criao do mundo a partir de alguma coisa
nublada e a luz vinda de um raio de sol; a milagrosa vinda de Cristo na Eucaristia,
como ashes de luz penetrando na gua consagrada, quando o sacerdote a toma
durante a orao; a natureza humana de Cristo e da Virgem Santssima, sob a forma
de um corpo branco deslumbrante e, nalmente, sat como uma forma sinuosa e
cintilante, semelhante a uma imensido de olhos brilhantes e misteriosos." No este
o comeo da produo da imagem jesutica conhecida?
Em abril de 1527, a Inquisio leva Igncio priso para julg-lo por acusaes de
Os Exerccios Espirituais
Quando, nalmente, chegou o momento de Igncio deixar Manresa, no poderia
prever seu destino, mas a ansiedade relativa sua prpria salvao no era mais uma
preocupao. Foi como missionrio, e no como um simples peregrino, que ele
seguiu para a Terra Santa em maro de 1523. Chegou a Jerusalm no dia 12 de
setembro, aps muitas aventuras; entretanto, logo partiu sob as ordens do superior
franciscano que no desejava ver a paz entre cristos e turcos ameaada por um
proselitismo fora de hora.
O missionrio, desapontado, passou por Veneza, Gnova e Barcelona, no caminho
para a Universidade de Alcal, onde iniciou seus estudos teolgicos e, assim, comea
tambm a sua "cura de almas".
compreensvel que aps quatro semanas de dedicao a estes exerccios intensivos,
com um mestre por sua nica companhia, o candidato estivesse pronto para o treino
subseqente e a ruptura. Isso o que Quinet tem a dizer a respeito do criador de tal
mtodo alucinatrio: "Voc sabe o que o distingue de todos os ascticos do passado?
O fato que podia observar e analisar a si mesmo lgica e friamente, em total estado
de arrebatamento, enquanto para todos os outros a idia de re exo era impossvel.
Impondo aos seus discpulos aes que lhe eram espontneas, ele apenas precisava de
trinta dias para romper, com este mtodo, a vontade prpria e o bom senso, tal qual
um montador domina seu cavalo. Ele precisava de apenas trinta dias, "triginta dies",
para subjugar uma alma.
Note que o jesuitismo se expandiu com a inquisio moderna: enquanto a Inquisio
quebrava o corpo, os exerccios espirituais quebravam os pensamentos, atravs da
mquina de Loyola."(12b)
possvel examinar sua vida "espiritual" muito profundamente, mesmo que no se
tenha a "honra" de ser jesuta. Os mtodos de Loyola so para ser recomendados aos
is e eclesisticos em particular, como somos lembrados por comentaristas tais
como R. E Pinard de Ia Boullaye, autor de Orao Mental para Todos, inspirado
por Boehmer diz mais ainda: "Igncio compreendeu, mais claramente do que
qualquer outro lder social anterior a ele, que a melhor forma de conduzir um
homem a um certo ideal atravs do controle de sua imaginao. Ns "o imbumos
das foras espirituais que ele acreditaria serem difceis de eliminar posteriormente",
foras mais duradouras que os melhores princpios e doutrinas. Essas foras poderiam
vir de novo tona, s vezes anos depois de no terem sido mencionadas, tornando-se
to imperativas que a vontade se acharia incapaz de oferecer qualquer obstculo, e
ento teria que seguir seu impulso irresistvel."
Portanto, todas as "verdades" do dogma catlico tero de ser no apenas meditadas,
mas vividas e sentidas por aquele que se dedica a essas "prticas", com a ajuda de um
"diretor". Em outras palavras: ele ter de ver e reviver o mistrio com a maior
intensidade possvel. A sensibilidade do candidato ca impregnada com tais foras,
cuja persistncia em sua memria, e ainda mais em seu subconsciente, sero to fortes
quanto o esforo que fez para evocar e assimilar tais foras. Alm da viso, os outros
sentidos, como a audio, o olfato, o tato e o paladar teriam seu papel. Resumindo,
simplesmente auto-sugesto controlada.
A rebelio dos anjos, a expulso de Ado e Eva, o julgamento nal, as cenas
evanglicas e as fases da Paixo so, como se costuma dizer, revividos diante do
candidato. Cenas suaves e bem-aventuradas se alternam com as mais obscuras, em
um ritmo competentemente determinado. Nem preciso dizer que o inferno
desempenha a parte principal nesse show de "lanterna mgica", com seu lago de fogo
onde as almas perdidas so atiradas, o terrvel concerto de gemidos, a feroz viso de
slfura e carne queimando. Ainda assim, Cristo est l para sustentar o visionrio que
no sabe como Lhe agradecer por no ter sido atirado ainda no inferno para pagar
seus pecados passados.
Eis o que Edgar Quinet escreveu: "No s as vises so predeterminadas, mas
tambm suspiros, inspiraes e expiraes so implantada em todos os tipos de
atividades escolhidas e ganhou a confiana da Cria para sempre."
Essa con ana era plenamente justi cada. Os jesutas e Lainez, em particular,
juntamente com seu devotado amigo cardeal Morone, tornaram-se os campees
astutos e incansveis da autoridade papal e da intangibilidade do dogma, durante as
trs sesses daquele Concilio, terminado em 1562. Por suas geis manobras e
dialtica, conseguiram derrotar a oposio e todas as solicitaes "hereges" (incluindo
casamento de padres, comunho com dois elementos, uso do idioma local nos rituais
e, especialmente, a reforma do papado). Apenas a reforma dos conventos foi
mantida. O prprio Lainez, com um forte contra-ataque, sustentou a infalibilidade
papal, a qual foi promulgada trs sculos depois, pelo Concilio do Vaticano.
A Santa S emergiu fortalecida da crise na qual estava praticamente afundada, graas
s iniciativas geis e precisas dos jesutas. Os termos escolhidos por Paulo III para
descrever essa nova Ordem, em sua bula papal de autorizao, foram plenamente
justificados: "Regimen Ecclesiae Militantis".
O esprito lutador se desenvolveu mais e mais medida que o tempo passava. Alm
das misses no estrangeiro, as atividades dos lhos de Loyola comearam a se
concentrar nas almas dos homens, especialmente dentro das classes dominantes. Os
polticos seriam seu principal campo de ao e todos os esforos de seus "dirigentes"
se concentraram em um objetivo: a submisso do mundo ao papado e, para atingilo, era necessrio conquistar as "cabeas" antes. Para a obteno desse ideal, duas
armas importantssimas eram necessrias: serem os confessores dos poderosos e
Captulo 1
Fundao da Companhia
A Companhia de Jesus foi constituda no dia da Assuno, em 1534, na capela de
Notre Damme de Montmartre. Igncio tinha ento 44 anos de idade. Aps a
comunho, o fundador e seus companheiros zeram um voto de ir Terra Santa,
assim que seus estudos fossem concludos, para converter os infiis.
O ano seguinte, no entanto, os encontra em Roma, onde o papa, que estava na poca
organizando uma cruzada contra os turcos, em conjunto com o imperador alemo e
a Repblica de Veneza, mostrou-lhes que o projeto era invivel justamente por causa
disso. Assim, Igncio e seus companheiros se dedicaram ao trabalho missionrio em
terras crists.
Em Veneza, seu apostolado levantou suspeitas da Inquisio. Os estatutos da
Companhia de Jesus foram nalmente de nidos e aprovados em Roma por Paulo
III, em 1540, e os jesutas se colocaram disposio do papa, prometendo
obedincia incondicional. Ensino, con sso, pregao e obras de caridade foram o
campo de ao para essa nova Ordem. Quanto as misses no estrangeiro, no foram
excludas pois, em 1541, Francisco Xavier e dois companheiros deixaram Lisboa em
direo ao Extremo Oriente, a m de evangelizarem. Em 1546, o lado poltico da
carreira deles foi lanado, quando o papa escolheu Lainez e Salmeron para o
representarem no Concilio de Trento, na condio de "telogos papais"..
O Esprito da Ordem
"No podemos esquecer, escreve o jesuta Rouquette, que historicamente o
"ultramontanismo" tem sido a afirmao prtica do "universalismo".
Esse universalismo necessrio seria apenas uma palavra vazia, se no resultasse em
uma coeso ou obedincia prtica do cristianismo. Por isso Igncio quis que sua
equipe estivesse disposio do papa, e ser o campeo da unidade catlica, unidade
que s pode ser assegurada atravs de uma submisso efetiva ao vigrio de Cristo.
(13a) Os jesutas quiseram impor esse absolutismo monrquico na Igreja Romana e
o mantiveram na sociedade civil, pois tinham de olhar os soberanos como
representantes temporais do "Santo Papa", verdadeira cabea do cristianismo.
Enquanto esses monarcas fossem inteiramente submissos ao seu senhor comum, os
jesutas seriam seus mais is partidrios. Por outro lado, se esses prncipes se
revoltassem, encontrariam nos jesutas seus piores inimigos.
"Na Europa, sempre que os interesses de Roma exigissem que o povo se levantasse
contra seu rei, ou se esses prncipes temporais tivessem tomado decises embaraosas
para a Igreja, a Cria sabia que no havia instituio mais habilitada, astuta e ousada
que a Companhia de Jesus para a intriga, propaganda ou at mesmo a rebelio
aberta."
R.E Rouquette escreve corajosamente: "Longe de ser uma diminuio do homem,
essa obedincia inteligente e autodeterminada o mximo da liberdade, uma
libertao da escravido de si mesmo". S temos que ler esses textos para
percebermos o extremo (ou ainda monstruoso) carter de submisso da alma e do
esprito imposto pelos jesutas, sempre fazendo deles instrumentos dceis nas mos
dos seus superiores, alm de inimigos naturais de qualquer tipo de liberdade desde o
incio. O famoso "perinde ac cadver" (como se fosse um cadver nas mos de um
agente funerrio) pode ser encontrado em toda a "literatura espiritual", de acordo
com Folliet, e mesmo no Oriente, na constituio de Haschichin.
Os jesutas devem estar nas mos de seus superiores "como se fosse um sta",
obedecendo a cada impulso, qual uma bola de cera que pode ser modelada e atirada
em qualquer direo; semelhante a um pequeno cruci xo, sendo manipulado e
movido vontade". Essas frmulas "agradveis" no deixam de ser muito
esclarecedoras. Observaes e explicaes do criador dessa Ordem no deixam
dvidas sobre seu verdadeiro signi cado. Alm disso, entre os jesutas, no s a
vontade prpria, mas tambm o bom senso e mesmo o escrpulo moral devem ser
sacrificados, diante da virtude primordial da obedincia que , de acordo com Brgia,
"o mais forte baluarte da Companhia".
"Podemos estar convencidos de que tudo vai bem quando o superior assim ordena.
Mesmo se Deus lhe desse um animal irracional como senhor, voc no hesitar em
obedec-lo como sendo mestre e guia, porque Deus assim ordenou", escreveu
Loyola.
Algo ainda mais interessante: O jesuta deve enxergar em seu superior no um
homem falvel, mas o prprio Cristo. J. Huber, professor de Teologia Catlica em
Munique e autor de uma das obras mais importantes sobre os jesutas, escreveu: "Eis
um fato provado: os estatutos repetem quinhentas vezes que deve-se ver Cristo na
pessoa do prior".
A disciplina da Ordem, to freqentemente aproximada das Foras Armadas, nem
pode chegar a ser comparada realidade. 'A obedincia militar no equivalente
obedincia jesutica. A ltima muito mais abrangente, pois assume o homem
inteiro e no est satisfeita, como a primeira, apenas com o ato exterior, mas requer o
sacrifcio da vontade pessoal e o abandono da prpria capacidade de julgar".
O prprio Igncio escreveu em sua carta aos jesutas portugueses: "Temos de ver o
preto como branco, se a Igreja assim determinar". Isso o "mximo da liberdade" e a
Os Privilgios da Companhia
Depois de 1558, Lainez, o sutil estrategista do Concilio de Trento, foi elevado a
prior da Congregao, com amplos poderes para organizar a Ordem como lhe fosse
inspirado. As "declaraes" compostas por ele prprio e Salmeron foram
acrescentadas aos estatutos, de forma a criar um compndio; acentuaram ainda mais
Captulo 2
Os Jesutas na Europa Durante os Sculos XVI e XVII
D-se o mesmo hoje em dia. Os 33 mil membros o ciais da Companhia operam
por todo o mundo, na capacidade mxima de seu pessoal: o ciais de um exrcito
altamente secreto, contando nas suas leiras com dirigentes de partidos polticos,
o ciais de alta patente, generais, magistrados, mdicos e professores universitrios,
dentre outras categorias. Todos lutando para realizar, em seu prprio campo de ao,
o "Opus Dei" (a Obra de Deus) ou, na verdade, os planos do papado.
efetivamente a "heresia".
"No dia 07 de julho de 1556, oito padres e 112 professores jesutas foram a
Ingolstadt. Foi o incio de uma nova era para a Bavria. O prprio Estado recebeu
um novo selo. As concepes catlicas romanas dirigiam a poltica dos prncipes e o
comportamento das altas classes. Esse novo esprito, porm, foi incorporado apenas
pelas classes altas, no tendo conquistado os coraes do povo da rua, da gente
simples... Apesar disso, sob a disciplina de ferro do Estado e da Igreja restaurada, eles
se tornaram novamente catlicos devotos, dceis, fanticos e intolerantes quanto a
qualquer heresia.
Pode parecer excessivo atribuir tais virtudes e aes prodigiosas a alguns poucos
estranhos. Mesmo assim, nestas circunstncias, a fora deles era inversamente
proporcional ao seu nmero e foram imediatamente e cientes, pois nenhum
obstculo lhes surgiu pela frente. Os emissrios de Loyola conquistaram o corao e a
mente do pas desde o comeo. A partir da gerao seguinte, Ingolstadt tornou-se o
tipo perfeito de cidade alem jesuta." (14)
Pode-se julgar o estado mental dos padres presentes nessa "fortaleza de f" lendo o
seguinte: "O jesuta Mayrhofer de Ingolstadt ensinava em seu espelho de pregao:
No seremos julgados se pedirmos o assassinato de protestantes mais do que
seramos ao pedir a pena de morte para ladres, assassinos, contraventores e
revolucionrios." (15)
Os sucessores de Albert V, e especialmente Maximiliano I (1597-1651),
completaram seu trabalho, mas Alberto V j estava consciente de sua
"responsabilidade" de assegurar a "salvao" de seus sditos. "Logo que os padres
chegaram Bavria, sua atitude em relao aos protestantes e os que eram favorveis a
eles tornou-se severa. A partir de 1563 impiedosamente baniram todos os recalcitrantes e no tinham piedade dos anabatistas, os quais acabavam por sofrer
afogamentos, fogueiras, prises e cadeias, tudo isso com os elogios do jesuta
Agrcola. Toda uma gerao teve de desaparecer antes da perseguio ser coroada com
xito absoluto. J em 1586, os anabatistas morvios conseguiram esconder 600
vtimas do duque Guilherme. Esse exemplo prova que eram milhares, e no
centenas, os banidos, um nmero assustador em um pas com to poucos
habitantes."
"Mas a honra de Deus e a salvao de almas deve estar acima de quaisquer interesses
temporais", disse Albert V, do Conselho da Cidade de Munique.(16) Pouco a
pouco, todo o ensino na Bavria foi posto nas mos dos jesutas e aquela regio se
transformou na base para sua penetrao no Leste, Oeste e Norte da Alemanha.
'A partir de 1585, os sacerdotes converteram a parte da Westphalia sob controle de
Colnia. Em 1586, surgem em Neuss e Bonn, uma das sedes do arcebispo de
Colnia; abrem escolas em Hildesheim em 1587 e Munster em 1588. Esta, em
especial, j tinha 1.300 pupilos em 1618... Uma grande parte do Oeste da Alemanha
foi reconquistada dessa forma pelo catolicismo, graas aos Wittelsbach e aos jesutas.
'A aliana entre os Wittelsbach e os jesutas talvez tenha sido mais importante ainda
para as regies da ustria do que para o Oeste da Alemanha." (17) O arquiduque
Carlos de Styrie, ltimo lho do imperador Ferdinando, casou-se em 1571 com
uma princesa da Bavria, trazendo ao castelo de Gratz as rgidas tendncias catlicas e
a amizade dos jesutas que prevaleciam na Corte de Munique." Sob a in uncia dela,
Carlos lutou muito para "extirpar a heresia" de seu reino e, quando morreu, em
1590, fez com que seu lho e sucessor, Ferdinando, jurasse continuar essa tarefa. De
qualquer modo, Ferdinando estava muito bem preparado para tal. "Por cinco anos
havia sido aluno dos jesutas em Ingolstadt; alm disso, era to bitolado que, para ele,
no havia mais nobre misso que o reestabelecimento da Igreja Catlica em seu
Estado hereditrio. Se essa misso era vantajosa ou no a seu reino, no lhe importava
verdadeiramente. "Pre ro "reinar num pas em runas, do que num pas
amaldioado", dizia ele.
Em 1617, o arquiduque Ferdinando foi coroado rei da Bomia pelo imperador.
"In uenciado pelo seu confessor jesuta Viller, Ferdinando comeou imediatamente
a combater o protestantismo ern seu novo reino, assinalando assim o comeo
daquela guerra sangrenta de religio, a qual, nos 30 anos seguintes, manteve a Europa
em suspense. Quando em 1618 os infelizes eventos em Praga deram sinal de uma
rebelio aberta, o velho imperador Mathias tentou primeiro comprometer-se, mas
no tinha poder su ciente para fazer prevalecer suas intenes contra o rei
Ferdinando, o qual era dominado pelo seu confessor jesuta; assim perdeu-se a ltima
esperana de resolver este con ito amigavelmente. Ao mesmo tempo, a Bomia
havia tomado medidas especiais e decretado solenemente que todos os jesutas
deveriam ser banidos, pois eram promotores de uma guerra civil." (19)
Logo aps, a Morvia e a Silsia seguiram esse exemplo, e os protestantes da
Hungria, onde o jesuta Pazmany governou com mo-de-ferro, tambm se
rebelaram. A batalha da Montanha Branca (1620), no entanto, foi vencida por
Ferdinando, que havia sido elevado a imperador novamente aps a morte de
Mathias. "Os jesutas persuadiram Ferdinando a submeter os rebeldes mais cruel
das punies; o protestantismo foi arrancado de todo o pas s custa de meios
indescritivelmente terrveis. No fim da guerra, a runa material do pas era completa."
"O jesuta Balbinus, historiador da Bomia, admirava-se como ainda pudesse haver
alguns habitantes naquele pas. A runa moral, porm, foi ainda mais terrvel. A
cultura emergente encontrada entre os nobres e classe mdia, a rica literatura nacional
no poderia ser substituda: tudo isso havia sido destrudo, e at mesmo a
nacionalidade fora abolida. A Bomia estava aberta para as atividades jesuticas. Eles
queimaram a literatura tcheca em massa; sob sua in uncia, at mesmo o nome do
grande santo nacional (John Huss) foi sendo gradualmente apagado at que estivesse
extinto do corao do povo."
"O auge do poder dos jesutas", disse Tomek, "coincidiu com a maior decadncia do
pas em sua cultura nacional. Foi por causa da in uncia da Ordem que o despertar
dessa terra desafortunada s veio a acontecer aproximadamente um sculo depois".
Quando a "Guerra dos 30 Anos" chegou ao m e a paz foi concluda, com a garantia
aos protestantes alemes dos mesmos direitos polticos dos catlicos, os jesutas
fizeram o mximo para que a luta continuasse, mas foi em vo." (20)
Obtiveram, entretanto, de seu aluno Leopoldo I, ento imperador, a promessa de
perseguir os protestantes em suas prprias terras e, especialmente, na Hungria.
'Acompanhados de drages imperiais, os jesutas assumiram esse trabalho de
reconverso em 1671. Os hngaros se levantaram contra eles e comearam uma
guerra que duraria por quase uma gerao inteira, mas essa insurreio foi vitoriosa,
sob a liderana de Francis Kakoczy. Os vitoriosos quiseram expulsar os jesutas de
todos os pases sob seu domnio, mas protetores in uentes da Ordem conseguiram
adiar tais medidas e a expulso s aconteceu em 1707".
"O prncipe Eugnio culpou, com uma franqueza ousada, a poltica da casa imperial
e as intrigas dos jesutas na Hungria. "A ustria quase perdeu a Hungria por ter
perseguido os protestantes", escreveu ele, a rmando amargamente que a moral dos
turcos era muito superior dos jesutas, na prtica, pelo menos. "Eles querem
dominar conscincias, alm de ter o direito de vida e morte sobre os homens",
continuou ele.
'A ustria e a Bavria ceifaram os frutos da dominao jesutica por completo: a
compresso de todas as tendncias e a idiotizao sistemtica do povo. A profunda
misria que se seguiu guerra religiosa, a poltica impotente, a decadncia intelectual,
a corrupo moral, uma diminuio alarmante da populao e o empobre cimento
de toda a Alemanha. Estes foram os resultados das iniciativas da Ordem."(21)
Sua
Somente durante o sculo XVII que os jesutas conseguiram se estabelecer com
sucesso na Sua, depois de terem sido chamados e posteriormente banidos por
algumas poucas cidades da Confederao, durante a segunda metade do sculo XVI.
O arcebispo de Milo, Carlos Borromee, o qual tinha favorecido sua instalao em
Lucema, em 1578, logo percebeu quais seriam os resultados de suas aes, conforme
nos lembra J. Huber: "Carlos Borromee escreveu a seu confessor que a Companhia
de Jesus, governada por dirigentes mais polticos do que religiosos, estava se
Polnia e Rssia
A dominao jesutica na Polnia foi, de todas, a mais mortal. Isso provado por H.
Boehmer, um historiador moderado, o qual no tolera a hostilidade sistemtica a
essa Ordem.
"Os jesutas foram totalmente responsveis pela aniquilao da Polnia. A decadncia
do Estado polons j havia comeado quando eles surgiram em cena. inegvel,
entretanto, que aceleraram o processo de decomposio do reino. De todos os
Estados nacionais, a Polnia, que tinha milhes de cristos ortodoxos, deveria ser o
mais tolerante, do ponto de vista religioso, mas os jesutas no permitiram que isso
acontecesse. Fizeram ainda pior: puseram a poltica externa da Polnia a servio dos
interesses catlicos de forma mortal". (25)
Esse texto foi escrito no nal do sculo passado, sendo muito semelhante ao que o
coronel Beck, antigo ministro polons dos Assuntos Estrangeiros de 1932 a 1939,
disse aps a Segunda Guerra Mundial (1939-1945): "O Vaticano uma das
principais causas da tragdia do meu pas. Percebi tarde demais que tnhamos seguido
nossa poltica externa apenas para servir aos interesses da Igreja Catlica". (26)
Assim, com distncia de vrios sculos, a mesma in uncia desastrosa deixou sua
marca outra vez naquela nao desaventurada. J em 1581, o padre Possevino,
Sucia e Inglaterra
Nos pases escandinavos, o luteranismo anulou todo o resto e, quando os jesutas
zeram seu contra-ataque, no encontraram o que havia na Alemanha: um partido
poltico em minoria, mas ainda forte, escreveu Pierre Dominique.(28) Sua nica
esperana era a converso do soberano (que secretamente estava a favor dos catlicos).
Tambm esse rei, Joo III Wasa, tinha se casado em 1568 com uma catlica romana,
a princesa polonesa Catarina. Em 1574, o padre Nicolai e outros jesutas foram
trazidos Escola de Teologia recentemente fundada, onde se tornaram ardorosos
defensores de Roma, enquanto oficialmente assumiam o luteranismo.
Posteriormente, o hbil negociador Possevino obteve a converso de Joo III e os
cuidados pela educao de seu lho Sigismundo, o futuro Sigismundo III, rei da
Polnia. Quando chegou o momento de submeter a Sucia Santa S, as condies
do rei (casamento de padres e uso do idioma nacional em servios e comunhes todas rejeitadas pela Cria Romana), levaram as negociaes a um beco sem sada. De
qualquer forma, o rei, o qual havia perdido sua primeira mulher, teve de se casar com
uma sueca luterana. Os jesutas tiveram que abandonar o pas.
"Cinqenta anos depois, a Ordem ganhou outra grande batalha na Sucia. A rainha
Cristina, lha de Gustavo Adolfo, o ltimo dos Wasa, foi convertida sob a educao
de dois professores jesutas, os quais conseguiram chegar a Estocolmo ngindo
viajarem com nobres italianos. Para conseguir trocar sua religio sem con itos, no
entanto, ela teve que abdicar no dia 24 de junho de 1654." (29)
Na Inglaterra, por outro lado, a situao parecia mais favorvel Companhia e
podia-se esperar, por algum tempo pelo menos, trazer o pas de volta jurisdio da
Santa S. "Quando Elizabeth subiu ao trono, em 1558, a Irlanda era ainda
totalmente catlica. Nessa poca, o catolicismo atingia 50% da populao da
Inglaterra. J em 1542, Salmeron e Broel tinham sido enviados pelo papa Irlanda,
para investigaes." (30)
Foram criados seminrios sob a direo dos jesutas em Douai, Pont-a-Mousson e
Roma, com o objetivo de preparar missionrios ingleses, irlandeses e escoceses. Em
acordo com Filipe II, de Espanha, a Cria Romana trabalhou pela queda de
Elizabeth em favor da catlica Maria Stuart. Uma rebelio irlandesa, provocada por
Roma, havia sido esmagada. Os jesutas, todavia, que haviam chegado Inglaterra
em 1580, tomaram parte de uma grande assemblia catlica em Southwark.
"Posteriormente, sob diversos disfarces, eles se espalharam de condado a condado, de
casas de campo a castelos. noite, ouviam con sses; de manh, pregavam e davam
a comunho; depois desapareciam to misteriosamente quanto tinham chegado.
Assim foi que, em 15 de julho, os jesutas foram proscritos pela rainha Elizabeth."
(31)
Eles imprimiam e distribuam secretamente pan etos virulentos contra a rainha e a
Igreja Anglicana. Um deles, o padre Campion, foi preso, condenado por alta traio
e enforcado. Tambm conspiraram em Edimburgo para conquistar o rei James, da
Esccia, para sua causa. O resultado de todos esses distrbios foi a execuo de Maria
Stuart em 1587. Posteriormente veio a expedio espanhola, a Armada Invencvel,
que fez a Inglaterra tremer por algum tempo, fazendo surgir a "unio sagrada" em
torno do trono de Elizabeth. A Companhia, entretanto, manteve-se rme em seus
propsitos. Preparava padres ingleses em Valladolid, Sevilha, Madrid e Lisboa,
enquanto sua propaganda secreta era mantida na Inglaterra, sob a direo do padre
Garnett. Aps a conspirao de Gunpowder contra James I, sucessor de Elizabeth,
este mesmo padre Garnett foi condenado por cumplicidade e enforcado, tal qual o
padre Campion. Sob Charles I, j na Commonwealth de Cromwell, outros jesutas
pagaram com a vida por suas intrigas.
A Ordem chegou a pensar que venceria com Charles II, o qual, juntamente com Lus
XIV havia concludo um acordo secreto em Dover, comprometendo-se a restaurar o
catolicismo no pas. 'A nao no foi completamente informada a respeito dessas
circunstncias, mas o pouco que vazou foi su ciente para criar uma agitao
inacreditvel. Toda a Inglaterra estremeceu diante do fantasma de Loyola e das
conspiraes jesutas."(32) Uma reunio deles no prprio palcio levou a fria
popular a um limite. "Charles II, que desfrutava a vida de um rei e no queria
atravessar outra "viagem pelos mares", enforcou cinco padres por alta traio em
Tybum. Isso no abateu os jesutas. Charles II, no entanto, foi muito prudente e
cnico para o gosto deles, pois estava sempre pronto a despist-los. Imaginaram que a
vitria seria possvel quando James II subiu ao trono.
O rei retornou ao velho jogo de Maria Tudor, mas usou de meios mais suaves.
Fingiu converter a Inglaterra e estabeleceu para os jesutas, no palcio de Savoy, um
colgio onde 400 estudantes foram imediatamente admitidos. Uma camarilha
completa de jesutas tomou conta do Palcio.
Todas essas combinaes foram a causa principal para a revoluo de 1688. Os
jesutas tiveram de ir contra uma corrente muito poderosa. Na poca, a Inglaterra
tinha 20 protestantes para cada catlico. O rei foi derrubado; todos os membros da
Companhia foram presos ou banidos. Por algum tempo, os jesutas tentaram
recomear seu trabalho como agentes secretos, mas no passou de uma agitao ftil.
Eles tinham perdido a causa." (33)
Companhia parece ser extremamente perigosa com respeito f; uma inimiga da
paz da Igreja; mortal ao Estado monstico e parece ter sido criada para trazer no a
edi cao, mas a runa." (34) Os padres, no entanto, foram autorizados a se
estabelecerem em Billom, um recanto de Auvergne. De l, organizaram uma grande
ao contra a Reforma nas provncias do Sul da Frana. Lainez, o famoso homem do
Concilio de Trento, sobressaiu-se nas polmicas, especialmente no Colquio de
Poissy, numa tentativa frustrada de conciliar as duas doutrinas (1561).
Graas rainha me, Catarina de Mdicis, a Ordem abriu sua primeira casa
parisiense, o Colgio de Clermont, que passou a competir com a Universidade. A
oposio desta, do clero e do Parlamento foi mais ou menos paci cada com
Frana
Em 1551, a Ordem comeou a se estabelecer na Frana e, aps 17 anos de sua
fundao, estava instalada na capela Saint-Denis, em Montmartre. Os jesutas se
apresentavam como adversrios efetivos da Reforma, a qual havia conquistado um
stimo da populao francesa. O povo, no entanto, no con ava nesses soldados
excessivamente dedicados Santa S. Assim, sua penetrao na Frana foi
inicialmente muito lenta. Tal como em todos os outros pases onde a opinio
pblica no lhes era favorvel, se insinuavam em primeiro lugar entre as pessoas da
Corte; depois, atravs destas, nas classes superiores. Em Paris, entretanto, o
Parlamento, a Universidade e mesmo o clero mantinham-se hostis. Isso cou mais
evidente na sua primeira tentativa de abrir um colgio na cidade.
Em 1592, um certo Bamere, o qual tentara assassinar Henrique IV confessou que o
padre Varade, reitor dos jesutas em Paris, o havia persuadido a isso. Em 1594, outra
tentativa foi levada a cabo por Jean Chatel, ex-aluno dos jesutas, os quais haviam
ouvido sua con sso pouco antes de cometer o ato. Foi nessa ocasio que os j
mencionados exerccios escolares eram aproveitados na casa do padre Guignard. "O
padre foi enforcado em Greve, enquanto o rei con rmava um dito do Parlamento
banindo os filhos de Loyola do reino, como "corruptores da juventude, violadores da
paz pblica e inimigos do Estado e da Coroa da Frana."
O dito no foi levado avante em sua totalidade e, em 1603, foi revogado pelo rei
contra recomendao do Parlamento. Aquaviva, o prior dos jesutas, havia sido
ardiloso em suas manobras e levara o rei Henrique IV a acreditar que a Ordem,
reestabelecida na Frana, seria leal servidora dos interesses nacionais. Como poderia
ele, sutil como era, acreditar que esses romanos fanticos realmente aceitariam o
dito de Nantes (1498), o qual determinava os direitos dos protestantes na Frana e,
ainda pior, apoiariam seus projetos contra a Espanha e seu imperador? O fato que
Henrique IV escolheu para seu confessor e tutor um dos mais distintos membros da
Companhia, o padre Cotton.(38a)
Em 16 de maio de 1610, na vspera de sua campanha contra a ustria, o monarca
foi assassinado por Ravaillac, o qual confessou ter sido inspirado pelos escritos dos
padres Mariana e Suarez. Estes dois recomendavam o assassinato de "tiranos hereges"
e de todos aqueles no su cientemente devotados aos interesses do papado. O duque
de Epernon, que fazia o rei ler uma carta enquanto o assassino estava pronto para a
emboscada, foi um amigo famoso dos jesutas, e Michelet provou que eles sabiam
dessa cilada. "De fato, Ravaillac havia se confessado ao padre jesuta d'Aubigny pouco
antes e, quando os juizes interrogaram o padre, ele simplesmente respondeu que
Deus lhe havia concedido o dom de esquecer imediatamente o que lhe era dito no
confessionrio."(38)
O Parlamento, convicto de que Ravaillac tinha sido apenas um instrumento da
outubro de 1685, ele assinava a Revogao do dito de Nantes, fazendo com que
aqueles dentre seus sditos que se recusassem a abraar a religio catlica ficassem sem
direitos legais.
Logo em seguida, para acelerar as "converses", os famosos "dragonnade" entraram
em ao. Esse nome sinistro tornou-se parte de todas as tentativas posteriores de
evangelizar por fogo e correntes. Enquanto os fanticos aplaudiam, os protestantes
fugiram do reino em massa. De acordo com Marshal Vauban, a Frana perdeu dessa
forma 400 mil habitantes e 60 milhes de francos. Industriais, comerciantes,
proprietrios de navios e artesos quali cados fugiram para outros pases, levando
consigo a vantagem de suas especialidades.
Os jesutas tiveram um dia de vitria em 17 de outubro de 1685; o prmio nal
para uma guerra que tinha durado 125 anos ininterruptos, mas o Estado pagou os
custos da vitria jesutica. 'A despopulao e a reduo da prosperidade nacional
foram as conseqncias materiais graves de seu triunfo, seguidas de um
empobrecimento espiritual que no poderia ser curado, nem mesmo na melhor
escola jesuta. Isso foi o que a Frana sofreu e a Companhia de Jesus teve de pagar
muito pouco tempo depois."(41)
Durante o sculo seguinte, os lhos de Loyola viram, no apenas na Frana mas em
todos os pases europeus, a rejeio contra eles, mas novamente durou pouco tempo;
esses janzaros fanticos do papado no haviam acabado de acumular runas na
perseguio ao seu sonho impossvel.
Captulo 3
Misses no Estrangeiro
"Tornaram-se os catlicos devotos e supersticiosos, que vem milagres em todos os
lugares e parecem gostar da autoflagelao"
ritos com os cristos, tudo isso com a aprovao do papa Gregrio XV. Graas a essa
ambigidade, converteu, segundo ele mesmo a rmava, 250 mil hindus. "Cerca de
um sculo aps sua morte, quando o intransigente papa Benedito XIV proibiu a
observncia desses rituais hindus, tudo faliu e os 250 mil pseudo- catlicos
desapareceram."(1)
Nos territrios do Norte da ndia, do grande mongol Akbar, um homem tolerante
que tinha f, mesmo tentando introduzir no seu Estado o sincretismo religioso, os
jesutas foram aceitos para construir uma sede em Lahore, em 1575. Os sucessores de
Akbar concederam-lhes os mesmos favores. Aureng-Zeb (1666-1707), um
muulmano ortodoxo, ps, no entanto, um m a essa empreitada. Em 1549, Xavier
embarcou para o Japo com dois acompanhantes e um japons que ele havia
convertido em Mallaca, chamado Yoshiro. Os primeiros tempos no foram muito
prsperos. "Os japoneses tm sua prpria mortalidade e so muito reservados; seu
passado os mergulhou no paganismo. Os adultos olhavam para aqueles estranhos
com graa e as crianas os seguiam, zombando." (2)
Yoshiro, nativo, conseguiu comear uma pequena comunidade com cem seguidores.
Francisco Xavier, que no falava japons muito bem, no conseguia nem mesmo
obter uma audincia com o Mikado, a suprema autoridade religiosa japonesa.
Quando deixou o pas, dois padres permaneceram e, posteriormente, conseguiram a
converso dos daimos de Arima e Bungo. Este ltimo se decidiu nalmente pela
converso aps analisar o assunto por 27 anos.
No ano seguinte, os padres se estabeleceram em Nagasaki. Pensavam ter convertido
cem mil japoneses. Em 1587, a situao interna do pas, dividido pela guerra dos
cls, modi cou-se inteiramente. "Os jesutas tiraram vantagem dessa anarquia e de
sua relao ntima com os mercadores portugueses."(3) Hideyoshi, um homem de
origem simples, usurpou o poder e tomou para si o ttulo de Taikosama.
No con ava na in uncia poltica dos jesutas, suas associaes com os portugueses
e conexes com os grandes e rebeldes vassalos, os Samurais. Conseqentemente, a
jovem Igreja japonesa foi violentamente perseguida. Seis franciscanos e trs jesutas
foram cruci cados; muitos convertidos foram assassinados e a Ordem foi banida. O
decreto, entretanto, no foi levado avante; os jesutas continuaram seu apostolado em
segredo.
Em 1614, o primeiro Shogun, Tokugawa Yagasu, irritou-se com suas aes ocultas e
a perseguio recomeou. Alm disso, os holandeses haviam tomado o lugar dos
portugueses nos balces de negcios e eram vigiados de perto pelo governo. Uma
descon ana profunda de todos os estrangeiros, eclesisticos ou leigos, passou a
inspirar a conduta dos lderes a partir de ento e, em 1638, uma rebelio dos cristos
de Nagasaki foi afogada em sangue. Para os jesutas, a aventura japonesa chegava ao
fim e assim permaneceu durante um longo tempo.
Podemos ler no notvel livro de Lord Bertrand Russell, Science and Religion, a
seguinte passagem insinuante sobre Francisco Xavier, "o realizador de milagres": "Ele
e seus acompanhantes escreveram muitas cartas longas que foram guardadas at hoje;
nelas, prestavam contas de seus trabalhos, mas nenhuma mencionava seus poderes
miraculosos."
Jos Acosta negava expressamente que esses missionrios tivessem sido ajudados por
milagres nos seus esforos para converter os pagos. Logo aps a morte de Xavier,
histrias sobre milagres comearam a surgir. Diziam que ele tinha o dom de lnguas,
apesar de suas cartas estarem cheias de aluses s suas di culdades quando quis
dominar o idioma japons ou encontrar bons intrpretes.
Histrias foram contadas a rmando que, quando seus amigos sentiram sede no mar,
transformara a gua salgada em doce. De acordo com uma verso posterior, ele teria
atirado o cruci xo no mar para acalmar uma tempestade. Ao ser canonizado em
1622, foi "provado", para a satisfao das autoridades no Vaticano, que ele havia
realizado "milagres", pois ningum pode ser transformado em santo sem realizar
milagres.
O papa deu sua garantia o cial ao dom de lnguas e cou particularmente
impressionado pelo fato de Xavier ter supostamente feito lamparinas acenderem com
gua benta, e no com leo. "O mesmo papa, Urbano VIII, recusou-se a acreditar
nas a rmaes de Galileu. A lenda continuou a aumentar. Uma biogra a pelo padre
Bonhours, publicada em 1682, conta que o santo tinha ressuscitado 14 pessoas
durante sua vida. Autores catlicos ainda atribuem a ele o dom dos milagres em uma
biogra a publicada em 1872; o padre Coleridge, da Companhia de Jesus, rea rma
que ele tinha o dom das lnguas."(4) A julgar pelas explicaes acima mencionadas, o
"santo" Francisco Xavier realmente merecia uma aurola.
Na China, os lhos de Loyola tiveram uma poca longa e favorvel com apenas
poucas expulses. Obtiveram isso na condio de que trabalhassem por l
principalmente como cientistas e respeitassem os ritos milenares dessa civilizao to
antiga.
A Meteorologia era a disciplina principal. Francisco Xavier j havia descoberto que os
japoneses no sabiam que a terra era redonda. Eles eram muito curiosos quanto s
coisas que Xavier lhes ensinava sobre este e outros assuntos. "Na China, tornou-se
o cial e, como os chineses no eram fanticos, as coisas se desenvolveram
paci camente. Um italiano, padre Ricci, foi seu iniciador. Tendo feito seu caminho
para Pequim, assumiu prontamente a funo de astrnomo diante dos cientistas
chineses. A Astronomia e a Matemtica eram uma parte importante das instituies
chinesas.
Estas cincias davam condies ao soberano de agendar suas vrias cerimnias
religiosas e civis. Ricci trouxe informaes que o tornaram indispensvel e usou dessa
minha morte, que meu objetivo em tudo o que fiz era obter um protetor para a mais
sagrada das religies no Universo; e o protetor era Sua Majestade, o maior rei do
Oriente." (7)
Tanto na China quanto em Malabar, essa religio no podia sobreviver, no entanto,
sem algum artifcio. Os jesutas tiveram de trazer a doutrina romana ao nvel chins,
identi car Deus com o cu (Tien) ou o Chang-Ti, "imperador de cima", misturar os
ritos catlicos com os chineses, aceitar o ensino de Confcio e o culto de ancestrais.
O papa Clemente XI, que foi informado disso por ordens rivais, condenou a
doutrina "ecltica" e, como resultado, todo o trabalho missionrio dos jesutas no
"Imprio Celestial" se arruinou. Os sucessores de Kang-Hi baniram a Cristandade e o
ltimo padre deixado na China morreu sem nunca ter sido substitudo.
sistema, esses "pobres inocentes", como eram chamados pelo marqus de Loreto: 'A
alta cultura das misses no passa de um produto arti cial de uma estufa, carregando
em si a semente da morte. Porque, apesar de toda essa quebra e treinamento, o
guarani continuou sendo o que era: um selvagem preguioso, bitolado, sensual,
ambicioso e srdido. Conforme os prprios padres dizem: ele apenas trabalha
quando sente que o aguilhoar do capataz est atrs dele.
Assim que so deixados por sua prpria conta, cam indiferentes ao fato da colheita
estar apodrecendo no campo, os implementos se deteriorando e o rebanho se
perdendo. Se ele no vigiado quando trabalha no campo, pode at mesmo abater
uma vaca, acender uma fogueira com a madeira do arado e, ali mesmo, com seus
companheiros, comear a comer a carne mal passada, at no sobrar nada. Sabe que
levar 25 chicotadas por isso, mas tambm sabe que os bons padres no o deixaro
morrer de fome." (9)
Em um livro recentemente publicado, podemos ler o seguinte quanto s punies
dos jesutas: "O acusado, vestindo roupas de penitente, era acompanhado igreja
para confessar sua falta. Ento era chicoteado na praa pblica, de acordo com o
cdigo penal. Os culpados recebiam esse castigo com murmrios, alm de aes de
graas. O culpado, tendo sido punido e reconciliado, beijava a mo daquele que lhe
batia, dizendo: "Que Deus o recompense por estar me libertando, por esta leve
punio, das penas eternas que me ameaavam.(10)
Aps essa leitura, podemos entender a concluso de H. Boehmer: 'vida moral dos
guaranis se enriqueceu muito pouco sob a disciplina dos padres. Tornaram-se os
catlicos devotos e supersticiosos, que vem milagres em todos os lugares e parecem
gostar da auto agelao at derramar sangue. Aprenderam a obedecer e foram ligados
aos bons padres (que cuidaram to bem deles) com uma gratido de lhos que,
apesar de no ser profunda, era de qualquer forma muito tenaz. Esse resultado no
muito brilhante prova que houve uma considervel de cincia nos mtodos
educativos dos padres. Qual era o defeito? O fato de que nunca tentaram desenvolver
em seus lhos "vermelhos" as faculdades inventivas, a necessidade de atividade, o
sentido de responsabilidade. Eles prprios inventavam jogos e divertimentos para
seus cristos e pensavam para eles, ao invs de os i encorajarem a pensarem por si
prprios; simplesmente submeteram aqueles que estavam sob seus cuidados a uma
"domesticao" mecnica, ao invs de uma educao.
Como poderia ser diferente, se eles prprios tambm eram submetidos a uma
"domesticao" durante 14 anos? Ensinariam os guaranis e seus discpulos brancos a
pensarem "por si mesmos", se eles prprios eram proibidos de o fazerem? No um
antigo jesuta, mas um contemporneo, que escreve: "Ele (o jesuta) nunca esquece
que a caracterstica da Companhia a obedincia total da ao, da vontade e at
mesmo do julgamento. Todos os superiores sero limitados da mesma forma em
relao aos superiores e o Padre Supremo ao Santssimo. Assim foi estabelecido para
todos e tudo se rende autoridade universalmente e caz da Santa S, e santo Igncio
estava certo que, a partir de ento, o ensino e a educao trariam a unidade catlica de
volta Europa dividida". " com a esperana de reformar o mundo", escreveu o
padre Bonhours, "que ele abraou em especial este meio: a instruo da juventude".
(12)
A educao dos nativos paraguaios foi feita nos mesmos princpios que costumavam
usar, os quais usam e usaro em todos os povos e em todos os lugares. Seu objetivo,
deplorado por Boehmer mas ainda ideal para os olhos fanticos, a renncia de todo
julgamento pessoal, toda a iniciativa, uma submisso cega ao superior. Este no "o
mximo da liberdade", "a libertao da escravido de si mesmo", louvadas por R. P.
Rouquette e que j mencionamos antes?
Os bons guaranis haviam sido libertados to bem pelos mtodos jesuticos por mais
de 150 anos que, quando seus senhores saram durante o sculo XVIII, voltaram para
suas orestas e seus costumes antigos, como se absolutamente nada tivesse
acontecido.
"Se um padre, cedendo tentao, abusar de uma mulher e ela tornar pblico o
acontecido, desonrando-o, este mesmo padre pode mat-la, para evitar desgraa!"
Captulo 4
O Ensino dos Jesutas
O mtodo pedaggico da Companhia, escreveu R. P. Charmot, S.J., "consiste
primeiramente em envolver os alunos com um grande conjunto de oraes".
Posteriormente, ele cita o padre jesuta Tacchini: "Que o Esprito Santo os complete
como alabastros so preenchidos com perfumes; que Ele penetre neles tanto que,
com o passar do tempo, podero respirar mais e mais a fragrncia celestial e o
perfume de Cristo!"
O padre Gandier tambm faz sua contribuio: "No nos esqueamos que a
educao, como vista pela Companhia, ministrio mais prximo do que feito
pelos anjos."(1) O padre Charmot tambm diz: "No sejamos ansiosos sobre
quando e como o misticismo est inserido em nossa educao. No feito atravs de
um sistema ou tcnica arti cial, mas por in ltrao, por "endosmosis". As almas das
crianas cam impregnadas por estar em contato ntimo com mestres que esto
literalmente saturados em misticismo."(2)
Do mesmo autor, aqui est "o objetivo do professor jesuta": 'Atravs de seu ensino,
ele procura formar no uma elite intelectual crist, mas cristos de elite. "(3) Estas
poucas citaes nos dizem sobre o principal objetivo desses educadores. Vejamos
como formam esses cristos de elite, e qual o tipo de misticismo que "inserido" ou
"inoculado", "in ltrado", "bombeado" nas crianas submetidas ao seu sistema
educacional.
frente, e uma caracterstica da Ordem, encontramos a "Virgem Maria". "Loyola
havia transformado a Virgem na coisa mais importante de sua vida. A adorao de
Maria era a base de suas devoes religiosas e foi por ele transmitida Ordem. Esse
culto se desenvolveu tanto que costuma-se dizer, e com razo, que era a verdadeira
religio dos jesutas."(4) Isso no foi escrito por um protestante, mas por J. Huber,
professor de Teologia, catlico. O prprio Loyola estava convencido que a "Virgem"
o havia inspirado quando escreveu os seus Exerccios. Um jesuta teve uma viso de
Maria cobrindo a Companhia com seu manto, como um sinal de sua proteo.
Outro, Rodrigo de Gois, cou to inebriado com sua beleza indescritvel que teria
sido visto utuando. Um novio da Ordem, que morreu em Roma em 1581, teria
sido ajudado pela Virgem em sua luta contra as tentaes do diabo; para fortalec-lo,
ela lhe teria dado o gosto do sangue de Jesus, de tempos em tempos, alm do
"conforto de seus seios".(5)
A doutrina de Duns Scot sobre a Imaculada Conceio foi entusi-asticamente
adotada pela Ordem, que conseguiu transform-la em dogma atravs de Pio IX, em
Maria; dizer Virgem que gostaramos de lhe oferecer nosso lugar no Paraso, caso
ela j no estivesse l; desejarmos nunca termos nascido ou irmos ao inferno se Maria
no tivesse nascido; nunca comer uma ma, pois Maria se absteve do erro de provla. "(8) Tudo isso foi em 1764, mas s precisamos dar uma olhada nos trabalhos
semelhantes que ainda hoje so publicados em grande nmero, ou na imprensa
catlica, para evidenciarmos o fato de que, por mais 200 anos, essa idolatria selvagem
s cresceu e se tornou mais so sticada. O papa Pio XII superou-se no culto Maria.
Sob sua direo, uma grande parte da Igreja Romana tomou esse caminho. Alm
disso, os lhos de Loyola, sempre ansiosos para se adequarem ao esprito do tempo,
tentam at hoje ajustar essas puerilidades medievais ao presente.
Existem vrios tratados publicados por alguns desses bons padres, sob os grandes
auspcios do Centre National de Ia Recherche Scienti que (C.N.R.S). Se
acrescentarmos a isso os escapulrios de vrias cores, com suas virtudes apropriadas, a
adorao de santos, imagens, relquias, a apologia dos "milagres" e a venerao do
"Sagrado Corao", dentre outras prticas, teremos uma idia do misticismo com o
qual "as almas das crianas so impregnadas" atravs de seu contato com mestres "que
esto saturados nelas", conforme R. P Charmot escreveu, em 1943.
No h outra forma de gerar "cristos de elite". Para vencer sua luta contra as
universidades, os colgios jesutas precisavam expandir seu ensino e incluir matrias
seculares, pois a Renascena havia despertado uma sede de conhecimento. Sabemos
que zeram isso com alegria sem, no entanto, esquecerem de tomar as precaues
necessrias para evitarem que esse aprendizado fosse contra o objetivo de seu ensino:
manter nas mentes a obedincia absoluta Igreja.
por isso que seus pupilos so primeiramente "envolvidos" com um grande
"conjunto de oraes", o qual no seria su ciente se o conhecimento transmitido no
fosse cuidadosamente purgado de todo o esprito ou idias heterodoxas. Assim, grego
e latim (o latim muito estimado nesses colgios) eram estudados pelo seu valor
literrio; o "antigo" pensamento ortodoxo, entretanto, era exposto apenas na medida
em que se pudesse estabelecer a superioridade da loso a escolstica. Esses
"humanistas", treinados pelos jesutas, eram capazes de compor discursos e versos em
latim, mas o nico senhor de seus pensamentos era Santo Toms de Aquino, um
monge do sculo XIII. Vejamos o Ratio Studiorum, um tratado fundamental de
Pedagogia jesuta, citado por R. E Charmot: "Ns cuidadosamente descartamos as
matrias seculares, que no favorecem a piedade e a boa moral. Vamos compor
poemas, mas que nossos poetas sejam cristos e no seguidores de pagos que
invocam musas, ninfas das montanhas, ninfas do mar, Calope, Apoio, etc, ou
outros deuses e deusas. E, se acaso estes vierem a ser citados, que o sejam de forma
caricatural, como se fossem demnios".(9) Assim, todas as cincias -e especialmente
as cincias naturais - sero interpretadas de forma similar.
De fato, R. P. Charmot nem mesmo tenta esconder o que disse sobre o professor
jesuta em 1943: "Ele ensina cincias, no por causa delas, mas para trazer vista a
grande glria de Deus. Esta a regra de acordo com o que de ne Santo Igncio em
sua obra Estatutos."(10) E de novo: "Quando falamos de toda uma cultura, no
queremos dizer que ensinamos todas as matrias e cincias, mas damos uma educao
literria e cient ca que no puramente secular e impermevel s luzes da
Revelao".(11)
A educao ministrada pelos jesutas deve ser, portanto, mais espalhafatosa do que
profunda, ou "formalista", como se costuma dizer. "Eles no acreditavam em
liberdade, o que era mortal no que se refere ao ensino", escreveu H. Boehmer. A
verdade que os mritos relativos do ensino jesuta diminuam na medida em que a
cincia e os mtodos de educao e instruo avanavam, nas bases de uma concepo
mais larga e profunda de Humanidade. Buckle disse: "Quanto mais avanada for a
civilizao, mais os jesutas vo perder terreno, no s por causa de sua decadncia,
mas por causa das modi caes e mudanas de mentalidade daqueles que esto
volta deles. Durante o sculo XVI, os jesutas estavam frente mas, durante o sculo
XVIII, estavam perdidos de seu tempo".
sem pecado", se, enquanto o disser, pensar que aquela absolvio tirou-lhe o peso de
seu pecado. Se o seu marido estiver ainda incrdulo, ela pode reassegurar-lhe, dizendo
que no cometeu nenhum adultrio; entretanto, se acrescentar, mesmo em voz baixa
"adultrio", obrigada a confessar." No difcil de imaginar que tal teoria foi bem
sucedida com suas belas senhoras penitentes! Seus galantes acompanhantes eram
tratados da mesma forma: "A Lei de Deus diz: No deves matar. Isso no signi ca
que todo homem que mata esteja pecando contra este mandamento. Por exemplo:
Se um nobre for ameaado com tiros ou agresso, pode matar seu agressor;
logicamente, porm, esse direito restrito aos nobres, e no aos plebeus, pois no h
nada de desonroso para um homem comum em ser agredido. Da mesma forma, um
servo que ajude seu senhor a seduzir uma jovem no est cometendo pecado mortal,
pois ele pode temer srias conseqncias no caso de se recusar. Se uma jovem estiver
grvida, um aborto pode ser induzido se sua falta for causa de desonra para ela ou
para algum membro do clero".(17) O padre Benzi tambm teve seu momento de
fama quando declarou: "E apenas uma pequena ofensa sentir os seios de uma freira".
Por causa disso, os jesutas foram apelidados de "telogos mamilares". Tanto quanto
se sabe, o famoso casusta omas Lanchz merece o prmio por seu tratado De
Matrimnio, no qual estuda com detalhes ultrajantes todas as variedades de "pecados
carnais". Estudemos mais profundamente essas mximas convenientes dentro do
campo da poltica, especialmente aquelas relativas a assassinatos de tiranos
considerados culpados de indiferena com relao aos interesses da Santa S.
Boehmer tem isto a dizer: "Conforme acabamos de ver, no difcil se guardar do
pecado mortal. Dependendo das circunstncias, precisamos apenas usar os meios
excelentes permitidos pelos padres: ambigidade, reserva mental, a sutil teoria da
direo de intenes. Seremos capazes de cometer, sem pecado, atos considerados
criminosos pelas massas ignorantes, mas nos quais at mesmo o mais severo padre
no poder encontrar nada alm de um tomo de pecado mortal".(18)
Entre as mximas jesuticas mais criminosas, h uma que despertou indignao
pblica ao mximo e que merece ser examinada: "Um padre ou monge pode matar
aqueles que estiverem prontos a caluni-lo ou a sua comunidade". Assim, a Ordem se
d o direito de eliminar seus adversrios e at mesmo seus membros, caso sassem da
instituio e se tornassem muito "faladores". Esta "prola" se encontra na Teologia
do Padre VAmy.
H outro caso onde esse princpio aplicvel. Este mesmo jesuta foi cnico o
bastante para escrever: "Se um padre, cedendo tentao, abusar de uma mulher e ela
tornar pblico o acontecido, desonrando-o, este mesmo padre pode mat-la, para
evitar desgraa!" Outro lho de Loyola, citado pelo "Le grand ambeau" Caramuel,
pensa que esta mxima deve ser mantida e defendida: "Um padre pode usar isso
como desculpa para matar a mulher e assim preservar sua honra!" Essa teoria
monstruosa foi usada para cobrir muitos crimes cometidos por eclesisticos e
provavelmente foi, em 1956, a razo (se no a causa) para o lamentvel caso do padre
de Unuffe.
Seus tratados sobre Teologia Moral deram Companhia uma reputao universal,
pois sua sutileza para distorcer e perverter as obrigaes morais mais evidentes era
muito aparente.
O Eclipse da Companhia
Os sucessos que a Companhia de Jesus obteve na Europa e em terras distantes, apesar
de intercalados por vrias perdas, lhe asseguraram uma situao dominante por um
longo perodo. Conforme j mencionamos, o tempo, no entanto, no estava
trabalhando a seu favor. As idias se desenvolviam e o progresso das cincias tendia a
liberar as mentes. O povo e os monarcas achavam cada vez mais difcil suportar o
controle desses campees da teocracia. Alm disso, muitos abusos, originados de seus
sucessos, prejudicaram a Companhia internamente. Ao lado da poltica, na qual
estava profundamente envolvida (como se pode notar, contra os interesses nacionais),
sua atividade devoradora logo se fez sentir no campo econmico. "Os padres se
envolveram em muitos negcios que no tinham nada a ver com religio, ou seja, no
comrcio, cmbio ou como liqidantes de falncias. O Colgio Romano, que
deveria se ater a modelo intelectual e moral de todos os colgios jesutas, tinha
tecelagens em Macerata e vendia os tecidos em feiras a preos baixos. Seus centros na
ndia, Antilhas, Mxico e Brasil logo se transformaram em mercados de produtos
coloniais. Na Martinica, um procurador criou vastas plantaes cultivadas por
escravos negros".(19) Este o lado comercial das Misses no Estrangeiro mantido at
hoje. A Igreja Romana nunca desprezou a extrao de lucros temporais de suas
conquistas "espirituais". Tanto quanto se sabe, os jesutas eram exatamente iguais s
outras ordens religiosas, chegando at a ultrapass-las. De qualquer forma, sabemos
que recentemente os padres brancos estavam entre os mais ricos proprietrios de
terras do Norte da frica. Os lhos de Loyola foram muito dedicados, tanto na
conquista de almas quanto em obter o mximo do trabalho dos "pagos".
No Mxico, tinham minas de prata e re narias de acar. No Paraguai, plantaes de
ch e cacau, alm de fbricas de tapetes.
Tambm criavam gado e exportavam 80 mil mulas por ano".(20) Conforme
podemos ver, a evangelizao de seus " lhos vermelhos" foi uma boa fonte de renda
e, para lucrarem mais ainda, os padres no hesitavam em defraudar o Tesouro
Nacional, como pode ser visto na conhecida histria das chamadas "caixas de
demais.
Na Espanha, os Bourbons suprimiram todos os estabelecimentos da Companhia,
tanto os da metrpole quanto os das colnias. Assim deu-se o m do Estado
paraguaio dos jesutas.
Os governos de Npoles, Parma e mesmo o Gro-Ducado de Malta tambm
baniram os filhos de Loyola de seus territrios.
Os seis mil jesutas que estavam na Espanha tiveram uma estranha experincia aps
terem sido atirados priso: "O rei Carlos III enviou todos os prisioneiros ao papa,
com uma longa carta, na qual dizia que 'os colocava sob o controle sbio e imediato
de Sua Santidade'. Quando os desafortunados estavam para desembarcar em Civita Vecchia, foram recebidos com o barulho dos tiros de canhes do prprio prior, o
qual j tomava conta dos jesutas portugueses, mesmo sem ter como aliment-los.
Assim, o mximo que obtiveram foi um santurio miservel na Crsega".(22)
"Clemente XIII, eleito em 6 de julho de 1758, tinha resistido um bom tempo aos
pedidos insistentes de vrias naes, as quais solicitavam a supresso dos jesutas.
Estava a ponto de ceder e j havia marcado um consistrio para o dia 3 de fevereiro
de 1769, que informaria sobre sua resoluo de acatar os desejos daqueles pases. Na
noite anterior quele dia espec co, de repente sentiu-se mal, quando estava indo
dormir, e gritou: "Estou morrendo!" realmente muito perigoso atacar os jesutas".
(23) O conclave se reuniu e se manteve-se por trs meses. Finalmente o cardeal
Ganganelli ascendeu mitra e tomou o nome de Clemente XIV.
As naes que haviam banido os jesutas continuaram a pedir pela supresso total da
Companhia. O papado, entretanto, no tinha pressa em abolir o principal
instrumento de consecuo de sua poltica, e quatro anos se passaram antes que
Clemente XIV, compelido pela rme atitude de seus oponentes (que haviam
ocupado algumas das funes papais), finalmente assinasse a ordem para dissoluo.
Dominus ac Redemptor, em 1773, Ricci, o prior da Ordem, chegou at mesmo a
ser levado priso no castelo de Saint-Ange, onde morreu alguns anos depois.
"Os jesutas somente apareceram para se submeterem a esse veredito que os
condenava. Escreveram inmeros pan etos contra o papa e incitaram a rebelio;
mentiram e caluniaram inmeras vezes a respeito das chamadas atrocidades
cometidas."(24) A morte de Clemente XIV, 14 meses depois, foi at mesmo
atribuda a eles por um setor da opinio pblica europia. Os jesutas, pelo menos a
princpio, no mais existiam. Clemente XIV, no entanto, sabia muito bem que,
assinando a sentena de morte deles, estava tambm assinando a sua prpria: "Esta
supresso nalmente feita", exclamou, "e no me arrependo dela. Eu a faria
novamente se j no estivesse feita, mas esta supresso me matar".(25)
Ganganelli tinha razo. Logo em seguida, cartazes comearam a surgir nas paredes do
palcio, exibindo apenas cinco letras: I.S.S.S.V.
russos. Alguma coisa coerente estava voltando vida, porm as massas, e menos
ainda os polticos, no reconheceram a princpio".
A Revoluo Francesa, e posteriomente o Imprio, deram Companhia de Jesus
uma credibilidade inesperada novamente. Foi uma reao defensiva contra as novas
idias surgindo nas antigas monarquias. Napoleo I descreveu a Companhia como
"muito perigosa; nunca ser permitida no Imprio". Quando, no entanto, a Santa
Aliana triunfou, os novos "monarcas" no desprezaram a ajuda desses absolutistas,
para trazer de volta o povo obedincia irrestrita.
Os tempos, porm, haviam mudado. Toda a habilidade dos bons padres poderia
apenas retardar e no impedir a propagao das idias liberais. Seus esforos foram
mais prejudiciais que teis. Na Frana, a Restaurao sentiu-a de forma amarga. Lus
XVIII, poltico descrente e esperto, tentou conter o surgimento dos "ultras" tanto
quanto pde. Sob Carlos X, bitolado e muito devoto, os jesutas tiveram muito
espao. A lei que os expulsou em 1764 estava ainda em vigor. Sem problemas.
Eles reviveram a famosa "Congregao", primeiro tipo de Opus Dei. Essa
"irmandade santa", composta de eclesisticos e leigos, se encontrava em todos os
lugares, ngindo "purgar" o exrcito, os magistrados, a funo pblica e o ensino.
Manteve "misses" por todo o pas, plantando cruzes comemorativas onde quer que
fosse (muitas delas ainda esto por a) e provocando os adeptos a atacarem os in is.
A Ordem se fez to odiada que o muito catlico e muito legitimista Montlosier
exclamou: "Nossos missionrios acenderam incndios por todos os lados. Se algo
tem que nos ser mandado, que nos mandem a praga de Marselha, antes do que estes
missionrios."
outro lado triunfava, eles se reestabeleciam, para defenderem o trono e o altar. Assim
foram banidos de Portugal em 1834; Espanha em 1820,1835 e 1868; Sua em
1848; Alemanha em 1872 e Frana em 1880 e 1901. Na Itlia, de 1859 em diante,
todos os seus colgios e estabelecimentos foram gradualmente tomados, tanto que
foram forados a interromperem todas as suas atividades prescritas em suas leis. O
mesmo ocorreu na Amrica Latina. A Ordem foi suprimida na Guatemala em 1872;
Mxico em 1873; Brasil em 1874; Equador e Colmbia em 1875 e Costa Rica em
1884. Os nicos pases onde os jesutas viveram em paz foram aqueles em que o
protestantismo estava em maioria: Inglaterra, Sucia, Dinamarca e Estados Unidos.
Pode parecer surpreendente primeira vista, mas isso se explica porque nestes pases
os padres nunca puderam exercer uma in uncia poltica. Sem dvida, aceitavam o
fato mais por necessidade do que por inclinao. Do contrrio, teriam aproveitado
todas as oportunidades para in uenciar a legislao e a administrao, diretamente
manobrando as classes dominantes, ou indiretamente provocando as massas
catlicas."(32)
Para ser el verdade, essa imunidade dos pases protestantes em relao s atividades
jesutas estava longe de ser absoluta. "Nos Estados Unidos, a Companhia
desenvolveu uma atividade sistemtica e frutfera por um longo perodo, pois no
proibida por leis", escreveu Fulop-Miller. "No estou satisfeito com o renascimento
dos jesutas", escreveu o ex-presidente John Adams Union a seu sucessor omas
Jeerson, em 1816. "Enxames deles se apresentaro sob os mais variados disfarces:
pintores, escritores, editores, professores, etc. Se alguma vez uma associao de
pessoas mereceu a condenao eterna nesta terra e no inferno, , sem dvida, a
Companhia de Loyola, mas com o nosso sistema de liberdade religiosa, nada
podemos fazer, alm de lhes ceder refgio". Jeerson respondeu a seu antecessor:
"Tal qual voc, tenho objees ao reestabelecimento dos jesutas".(33) Os receios
provaram ser corretos, um sculo depois, conforme veremos.
E ainda: "O clero vai parar de ser ultramontano assim que for educado como
antigamente, mas em uma forma mais atual, para se misturar s pessoas, recebendo
sua educao das mesmas fontes que o pblico em geral." Com relao forma pela
qual os padres alemes eram treinados, o autor esclarece seus pensamentos da seguinte
maneira: 'Ao invs de serem fechados longe do mundo, desde a infncia, e depois
instigados em seminrios com o dio contra a sociedade na qual vivem, aprenderiam
cedo a ser cidados antes de serem padres".(34)
Isso no encorajou o clericalismo poltico ao futuro soberano, ento um
"Carbonari". A ambio de se sentar em um trono, entretanto, logo o fez mais dcil
em relao Roma. No ter esta mesma ajudado em seu primeiro passo rumo ao
poder?
"Tendo sido erguido presidncia da Repblica em 10 de dezembro de 1848, Louis
pelo fervor religioso das tropas sitiando Sebastopol. SaintBeuve narrou com emoo
como Napoleo III havia mandado uma imagem da Virgem frente francesa" .(39)
Que expedio era essa que despertou o entusiasmo do clero? Paul Leon, membro do
Instituto, explica: "Uma disputa entre os monges reaviva a questo do Leste: surgiu a
partir de rivalidades entre as Igrejas Latina e Ortodoxa, com relao proteo dos
locais sagrados (na Palestina). Quem iria guardar as igrejas de Belm, car com as
chaves, dirigir os trabalhos? Mas, por detrs dos monges latinos, est o Partido
Catlico Francs, abastecido de privilgios ancestrais e apoiante do novo regime.
Atrs dos crescentes pedidos dos ortodoxos, que cresceram numericamente, est a
influncia russa".(40)
O czar invocou a proteo da Igreja Ortodoxa, a qual tinha para assegurar e efetivar.
Pediu tambm que sua esquadra pudesse usar a passagem de Dardanelos. A
Inglaterra, que era apoiada pela Frana, recusou-se e a guerra comeou.
"A Frana e a Inglaterra podem chegar ao czar apenas atravs do Mar Negro e da
aliana turca. A partir deste momento, a guerra da Rssia torna-se a guerra da
Crimia e ca totalmente centrada em Sebastopol, um caro empreendimento sem
resultado. Batalhas sangrentas, epidemias mortais e sofrimentos desumanos custaram
Frana cem mil mortos".(41) Devemos explicar que estes cem mil mortos eram
"soldados de Cristo" e gloriosos "mrtires da f", de acordo com monsenhor Sibour,
arcebispo de Paris, que ento declarou: "A guerra da Crimia, entre a Frana e a
Rssia, no uma guerra poltica, mas uma guerra santa; no um pas lutando
contra outro, povos lutando contra povos, mas simplesmente uma guerra religiosa,
uma Cruzada".(42)
A admisso no ambgua. No ouvimos a mesma coisa, no muito tempo atrs,
durante a ocupao nazista, exposta em termos idnticos aos dos prelados de Sua
Santidade Pio XII, por Pierre Lavai, presidente do Conselho de Vichy?
Em 1863, foi a expedio ao Mxico. O que foi isso exatamente? Transformar uma
repblica leiga em um imprio e oferec-lo a Maximiliano, arquiduque da ustria
que, por sinal, o pilar bsico do papado. O objetivo foi tambm erigir uma barreira
contra a in uncia protestante dos Estados Unidos sobre os pases da Amrica do
Sul, fortalezas da Igreja Romana.
Albert Bayet escreveu sagazmente: "O objetivo da guerra o de estabelecer um
imprio catlico no Mxico e reduzir os direitos das pessoas de autodeterminao; tal
qual durante a campanha da Sria e as duas campanhas na China, tende a servir em
especial aos interesses catlicos".(43)
Sabemos de que maneira, em 1867, aps as foras francesas terem reembarcado,
Maximiliano, o infeliz campeo da Santa S, foi feito prisioneiro quando Queretaro
capitulou e foi morto, dando espao para que a repblica fosse instaurada com
Juarez, o presidente vitorioso.
glicas".
O bispo de Poitiers acrescentou que isso havia sido feito como sendo um sacrifcio
ao princpio de autoridade, doutrina e direito comum. Tudo foi colocado aos ps do
soberano pont ce, o qual foi entronizado ao som de um trompete, dizendo: "O
papa nosso rei; no s seu desejo nosso comando, mas suas vontades tambm so
nossas regras".(49)
A entrega de todo o clero "nacional" nas mos da Cria Romana su cientemente
clara. Os catlicos franceses caram submissos vontade do dspota estrangeiro que,
sob a mscara do dogma ou da moral, imporia sobre eles suas direes polticas, sem
nenhuma oposio. Os catlicos liberais protestaram em vo contra a exorbitante
pretenso da Santa S de ditar suas leis supostamente em nome do Esprito Santo.
O abade Brugerette denunciou que seu dirigente, M. de Montalembert, publicou na
Gazette de France um artigo no qual protestava veementemente contra aqueles que
"sacri cam a justia e a verdade, a razo e a Histria ao dolo que levantaram no
Vaticano".(50)
Vrios bispos notrios, dentre eles os padres Hyacinthe, Loyson e Gratry seguiram a
mesma linha; este ltimo, ainda com muito esprito, publicou sucessivamente suas
quatro Cartas ao Monsenhor Deschamps. Nelas, no s discute eventos histricos,
como a condenao do papa Honrio que, segundo consta, se ops proclamao da
infalibilidade papal. De forma inteligente e amarga, denunciou o desdm das
autoridades catlicas pela verdade e integridade cient ca. Um deles, um candidato
eclesistico a Doutoramento em Teologia, chegou at a ousar justi car falsas
decretais diante da Faculdade de Paris, declarando que "no era uma fraude odiosa".
Gratry acrescentou: 'At hoje se diz que a condenao de Galileu foi oportuna".
"Vocs, homens de pouca f, com coraes miserveis e almas srdidas! Seus truques
so escandalosos. No dia que a grande cincia da natureza for levantada acima do
mundo, vocs a condenaro. No se surpreendam se os homens, antes de perdoarem
seus atos, esperarem de vocs con sso, penitncia, profunda contrio e correo de
suas almas".(51)
Nem preciso dizer que os jesutas, agentes inspirados de Pio IX e todo-poderosos
do Concilio, estavam ansiosos a respeito da con sso, penitncia, contrio e
correo, em um tempo onde estavam quase a conseguir o objetivo ao qual se
haviam determinado no Concilio de Trento, no meio do sculo XVI. Naquele
tempo, Lainez j apoiava a idia da infalibilidade papal.
S faltava, portanto, consagrar como dogma uma pretenso quase to velha quanto o
papado. Nenhum outro Concilio at ento havia desejado rati c-lo, mas a ocasio
parecia propcia. Alm disso, o trabalho paciente dos jesutas havia preparado o clero
nacional para entregar suas ltimas liberdades. O colapso iminente do poder
temporal dos papas (que acabou acontecendo antes da votao do Concilio) pedia
que, logicamente, e julgando por todo o contexto prvio, era muito mais o
pensamento do papa que re etia as opinies da "Civilta Cattolica". Nem preciso
dizer que os jesutas, todo-poderosos em Roma, tanto pelo seu esprito quanto pela
sua organizao, estavam engajando o papado na poltica internacional cada vez mais,
conforme Louis Roguelin escreveu:
"Como perdera seu poder temporal, a Igreja de Roma se aproveitou de toda a
oportunidade para reconquistar o terreno forosamente perdido, atravs de um
recrudescimento de atividades diplomticas. J que seu esquema astutamente oculto
de dividir para reinar, tentou se aproveitar de todo e qualquer con ito para seu
prprio benefcio. De acordo com os planos dos sditos de Loyola, o dogma da
infalibilidade papal favorecia em muito a ao da Santa S, cuja importncia pode ser
medida pelo fato da maioria das naes terem representantes diplomticos indicados.
Sob a cobertura do dogma e da moral, os sditos que a princpio eram contra a
palavra infalvel, hoje aceitam as disposies do papa em sua autoridade sem limite
sobre as conscincias dos is. Assim, durante o sculo XX, podemos ver o Vaticano
engajado ativamente nas polticas internas e externas dos pases, e at mesmo
governando atravs de partidos catlicos. Vemos ainda o seu suporte "providencial" a
homens como Mussolini e Hitler que, por causa de sua ajuda, desencadearam os
piores tipos de catstrofes. O "vigrio de Cristo" admitiu profusamente os servios
desta famosa Companhia, que to bem trabalhava a seu favor. Estes " lhos de sat",
conforme alguns bravos eclesisticos os quali cavam, esto agora desbotados;
podem, por outro lado, gabarem-se de seu testemunho augusto da satisfao absoluta
que lhes foi dada pelo falecido papa Pio XII, cujo confessor, como sabemos, era um
jesuta alemo. Neste texto, publicado por La Croix em 9 de agosto de 1955,
podemos ler: "A Igreja no necessita de outros auxiliares que no do tipo desta
Companhia. Que os lhos de Loyola se esforcem a seguir as marcas de seus
predecessores".
Hoje, tanto quanto ontem, esto apenas fazendo isso, para a grande destruio das
naes.
os desastres que ocorriam em sua prpria casa (o Vaticano), ainda falavam como
senhores.
Quem no se lembra das manifestaes presunosas e das ameaas insolentes dos
jesutas durante esses anos derradeiros? Ou de certo padre Marquigny, o qual
anunciava o queimar em praa pblica dos princpios de 89; ou M. de Belcastel, em
seu prprio nome, dedicando a Frana ao Sagrado Corao? Os jesutas ergueram
uma igreja no monte de Montmartre, em Paris, e assim desa avam a Revoluo: Os
bispos incitavam a Frana a declarar guerra contra a Itlia, a m de reestabelecerem o
poder temporal do papa".
Gaston Bally explica muito bem as razes para essa situao aparentemente
paradoxal: "Durante o cataclisma, os jesutas, como sempre, rapidamente voltaram
aos seus buracos, deixando a Repblica por sua prpria conta na confuso que fora
criada. Quando, entretanto, a maior parte do trabalho de salvamento havia sido
terminado, quando nosso territrio nos foi recuperado da invaso prussiana, a
invaso negra recomeou e eles tiraram proveito. A terra estava comeando a emergir
de um tipo de pesadelo, um sonho horrvel, e este era simplesmente o melhor
momento deles se apoderarem das massas apavoradas".
No seria, por acaso, exatamente assim depois de cada guerra? incontestvel que a
Igreja Romana sempre se bene ciou dos grandes desastres pblicos. A morte, a
misria e o sofrimento de qualquer espcie incitam as massas a procurarem consolo
ilusrio em prticas complacentes. Dessa forma, o poder daqueles que deixam tais
desastres surgirem ca fortalecido (ou at mesmo maior) pelas prprias vtimas. As
duas guerras mundiais, na verdade, tiveram as mesmas conseqncias da guerra de
1870. Assim que a Frana foi conquistada.
Por outro lado, foi uma vitria brilhante da Companhia de Jesus quando, em 1873,
uma lei foi aprovada, permitindo a construo da baslica do Sagrado Corao em
Montmartre. Essa igreja, chamada de "desejo nacional" (por uma cruel ironia do
destino), materializaria em pedra o triunfo do jesuitismo, no local onde havia
comeado a sua existncia. primeira vista, essa invocao do Sagrado Corao de
Jesus, exaltado pelos jesutas, pode parecer quase inocente, apesar de basicamente
idolatra.
"Para compreender a extenso do perigo", escreveu Gaston Bally, "devemos olhar por
trs da fachada, testemunhar a manipulao de almas e ver o objetivo de suas vrias
associaes: Irmandade da Adorao Perptua; Irmandade da Guarda de Honra;
Apostolado da Orao; Comunho Reparativa, e outras. Irmandades, associaes,
apstolos, missionrios, devotos, fanticos, guardas de honra, os restauradores, os
mediadores e outros agregados do Sagrado Corao parecem querer exclusivamente,
como Mille. Alacoque os convidou a unirem sua homenagem aos nove coros dos
anjos. Na realidade, tudo isso no tem nada de inocente. As irmandades a rmam
seus objetivos muitas vezes. "Elas no podem me acusar de caluni-las, pois citarei
algumas passagens de suas mais claras declaraes e confisses".
'A opinio pblica cou chocada com as observaes do padre Olivier quando o
incidente ocorrido no Bazar de Caridade, o qual provocou inmeras vtimas, foi
encoberto. O monge viu na catstrofe apenas mais uma prova da clemncia divina.
Deus estaria triste com os pecados do povo e estaria convidando, gentilmente, a uma
correo. Isso parecia monstruoso. A construo da Baslica de Montmartre foi o
resultado do mesmo tipo de pensamento, mas isso foi esquecido".
Qual era ento o terrvel pecado do qual a Frana precisava se redimir? O autor acima
mencionado responde: 'A Revoluo!" Este foi o "terrvel crime" que os franceses
tiveram de "expiar"! 'A Baslica do Sagrado Corao simboliza o arrependimento da
Frana (Sacratissimo cordi Jesu Gallioe poenitens et devoter) e expressa tambm
nossa rme inteno de corrigirmos nossas faltas. um monumento de expiao e
correo ".
"Salve Roma e a Frana em nome do Sagrado Corao", tornou-se o slogan da
ordem moral. 'Assim nos tornamos capazes de termos esperanas contra todas as
esperanas", escreveu o abade Brugerette, "e esperarmos do "cu pac co" em algum
momento o grande evento da restaurao da Ordem e da salvao da ptria".
Parece, no entanto, que os "cus", com raiva da Frana e dos direitos humanos, no
era su cientemente "pac co" quando da construo da famosa baslica. A
restaurao da monarquia se aproximava lentamente. O mesmo autor explica isso da
seguinte maneira: 'Apesar das grandiosas manifestaes da f catlica durante os anos
seguintes guerra de 1870 poderem parecer impressionantes, seria uma falta de
raciocnio lgico querer julgar a sociedade francesa da poca apenas em termos da
piedade exterior. Tambm nos estaria faltando o esprito psicolgico e iseno dos
fatos. Devemos nos perguntar ento se o sentimento religioso era verdadeiramente
uma resposta direta de toda a sociedade, nas expresses de f reveladas pelas
peregrinaes impostas e organizadas pelos bispos e pelo ardor das missas nas igrejas.
Sem querer atenuar de alguma forma a importncia do movimento religioso na
Frana, surgido pela ocasio das duas guerras de 1870 e 1914, que tambm
despertaram grandes esperanas, devemos admitir, no entanto, que este renascimento
da f no tinha nem a profundidade nem a extenso que uma verdadeira renovao
religiosa deve ter. Mesmo nessas ocasies, a Igreja da Frana era formada
(infelizmente) por milhares de descrentes e adversrios, alm de uma grande
quantidade de pessoas que s eram catlicas pelo nome, e no pela convico. As
prticas religiosas eram realizadas no por convico, mas por hbito. Logo depois
das eleies, a Frana parecia arrepender-se do sentimento desesperado que a havia
feito mandar uma maioria catlica para a Assemblia Nacional.
Cinco meses depois, reverteu sua posio nas eleies comple-mentares de 2 de julho!
Nesse dia, o pas escolheria 113 deputados. Foi uma derrota completa para os
catlicos e a vitria para os republicanos, que obtiveram entre 80 e 90 deputados
eleitos. Todas as eleies seguintes a essa consulta de sufrgio universal tiveram o
mesmo carter republicano e de composio anticlerical. Seria infantil supor que no
fossem a expresso dos sentimentos e vontades da sociedade".
O abade Brugerette, falando sobre as grandes peregrinaes organizadas naquela
poca para o "reerguimento da nao", admite que estas eram as causas de "alguns
erros e excessos" que levantavam as suspeitas dos "adversrios da Igreja". 'As
peregrinaes sero, para eles, empreendimentos organizados pelo clero para a
restaurao da monarquia na Frana e o poder papal em Roma. A atitude tomada
pelo clero nestes dois sentidos parece justi car essa acusao por parte da imprensa
irreligiosa e dar, dessa forma, como poderemos observar adiante, um potente
mpeto ao anticlericalismo. Sem se livrar de seus hbitos religiosos reavivados to
intensamente durante os anos do ps-guerra, a sociedade francesa se rebelar contra
este "governo de padres", conforme Gambetta costuma estigmatiz-lo. No fundo, o
povo francs tinha mantido um instinto invencvel de resistncia contra tudo o que
vagamente lembrasse a dominao poltica da Igreja.
Como um todo, essa nao amava a religio, mas o espectro da "teocracia", reavivado
pela imprensa oposicionista, assustava. A lha mais velha da Igreja no queria se
esquecer que tambm era a me da Revoluo".
Mesmo assim, o clero (encabeado pelos jesutas) fazia esforos para persuadir o povo
francs a negar o esprito republicano! "Desde que a lei Falloux foi posta em vigor, os
jesutas se expandiram livremente com seus colgios, onde educavam as crianas das
classes mdias dominantes. bvio que no lhes ensinavam um grande amor pela
Repblica... semelhana dos assuncionistas, criados em 1845 pelo intransigente
padre d'Alzon, eles queriam devolver ao povo a f que haviam perdido". Brotavam,
no entanto, outras congregaes de ensino, orescentes e invejosas: oratorianos,
eudistas, dominicanos da Terceira Ordem, marianitas, maristas (que Jules Simon
chamava de "o segundo volume" dos jesutas, envoltos em peles de animais) e os
famosos "Irmos das Escolas Crists", mais conhecidos pelo nome de ignorantinos,
que ensinavam a "doutrina boa" aos descendentes da classe mdia e a um milho e
meio de crianas do povo.
No de surpreender que essa situao tenha colocado o regime republicano na
defensiva. Uma lei, proposta em 1879 por Jules Ferry, queria remover o clero do
Conselho de Instruo Pblica, no qual havia sido introduzido por leis de 1850 e
1873, e assim devolver ao Estado o direito exclusivo de credenciar os vrios nveis de
professores.
O abade Brugerette, autor dessa passagem, descreve a resistncia levantada pelos
catlicos contra o que ele viria a chamar "um ataque traioeiro", mas ainda
sinceramente buscavam a verdade cada vez mais. Estes, porm, pertenciam quase
exclusivamente aos grupos protestantes, judeus e leigos.
"Na Frana, os catlicos do lado de Dreyfus eram poucos e distantes; dentre eles,
poucos eram proeminentes. As aes dessas poucas pessoas no causaram muita
agitao. A conspirao do silncio os envolvia".
"Muitos padres e bispos mantinham-se convencidos da culpa de Dreyfus", escreveu o
abade Brugerette. George Sorel tambm declarava: "Enquanto o caso Dreyfus trouxe
diviso entre todos os grupos sociais, o mundo catlico estava absolutamente unido
contra a reabertura do processo". O prprio Peguy admite que "todas as foras
polticas da Igreja tinham sido levantadas contra Dreyfus". Ser que devemos lembrar
as listas de subscries abertas pelo Libre Parole e pelo La Croix em favor da viva do
falsi cador Henry, o qual havia cometido suicdio? Os nomes dos padres subscritos
eram freqentemente acompanhados de "comentrios no muito evanglicos",
conforme nos diz Adrien Dansette, que cita o seguinte: "Um certo abade Cros pediu
um pequeno tapete de quarto feito de pele judia, para poder fazer estamparias dia e
noite; um jovem padre gostaria de arrebentar o nariz de Reinach com seu salto; trs
padres adorariam esbofetear a face imunda do judeu Reinach".
Somente o clero secular mantinha ainda alguma reserva. Nas congregaes, as coisas
eram mais violentas. A 15 de julho de 1898, o dia de distribuio de prmios no
Colgio de Arcueil, presidido pelo generalssimo Lamont (vice-presidente do
Conselho Superior de Guerra), o padre Didon, reitor da Escola Albert-le-Grand, fez
um discurso violento no qual advogava o uso da violncia contra os homens cujo
crime havia sido a denncia corajosa de um erro militar. "Ser que devemos", disse o
monge eloqente, "deixar os infelizes se safarem? claro que no! O inimigo o
intelectualismo que nge desprezar a fora, e civis que querem subjugar os militares.
Quando a persuaso falhar, quando o amor se tornar incuo, devemos levantar nossa
espada, espalhar o terror, cortar cabeas, fazer guerra, atacar." Esse discurso parecia
um desafio contra todos os simpatizantes daquele infeliz condenado".
Quantos destes discursos, no entanto, j ouvimos desde ento? Convocaes a
represses sangrentas, vindas de um clero gentil, especialmente durante a ocupao
alem! Pelo grito de alerta de dio contra o intelectualismo, podemos encontrar o
eco perfeito nesta declarao de um certo general: "Quando algum fala de
inteligncia, saco do meu revlver!"
Destruir o pensamento pela fora fsica um princpio da Igreja Romana nunca
alterado. O abade Brugerette pensa, no entanto, sobre o fato de nada haver
perturbado a crena do clero da culpa de Dreyfus: "Um evento to grande e
dramtico, vindo como um furaco em um cu azul e trazendo tona o
departamento de falsificaes que operava no Estado-Maior, deve ter aberto os olhos,
at mesmo daqueles que no queriam conhecer a verdade. Re ro-me descoberta das
publicao o cial dos jesutas, sob o ttulo de O Caso Dreyfus: 'A emancipao dos
judeus tem sido o resultado dos assim chamados princpios de 1789, que tm
subjugado to fortemente todo o povo francs. Os judeus tm a Repblica nas suas
mos, que se tornou muito mais hebraica do que francesa. Os judeus foram criados
por Deus para serem usados como espies, sempre que houver alguma traio a ser
preparada. No s na Frana, mas tambm na Alemanha, ustria e Itlia, os judeus
tm de ser expulsos da nao. Ento, com a grande harmonia dos tempos antigos a se
reestabelecer, as naes encontraro novamente sua felicidade perdida".
Nos captulos anteriores, zemos um pequeno resumo da "grande harmonia" e
"felicidade" vividas pelas naes nas quais os lhos de Loyola ouviam as con sses e
inspiravam os reis. Tal qual acabamos de ver, a "harmonia" tambm reinou quando
eles se tornaram confessores e conselheiros de chefes do Estado-Maior.
De acordo com o abade Brugerette, o general de Boisdere, penitente do padre
jesuta du Lac, sentiu o mesmo amargor que muitos outros antes, os quais haviam
sido enganados igualmente por esses "diretores de conscincias". As con sses do
falsi cador Henry o zeram se demitir. "Sendo um homem muito honesto, ele
prprio diria que havia sido "escandalosamente enganado", e aqueles que o
conheciam sabiam que se sentia amargurado com a trama da qual ele prprio havia
sido vtima".
O abade Brugerette acrescenta que tinha encerrado "todas as formas de comunicao"
com seu antigo confessor e "at mesmo se recusado a v-lo de novo quando estava
morrendo". Aps ler tudo isso, escrito e publicado na Civilta Cattolica, seria
desnecessrio nos estendermos ainda mais sobre a culpa da Ordem. Podemos apenas
concordar com o que Joseph Reinach disse na poca: "Conforme vemos, foram os
jesutas que criaram este caso obscuro. Para eles, Dreyfus s um pretexto; o que
querem, e o admitem, estrangular o laicismo e redirecionar a Revoluo Francesa".
Devido ao fato de que alguns ainda insistem, contra todas as evidncias, que poderia
haver uma possvel discordncia entre o papa e seu exrcito secreto, entre as intenes
de um e as aes do outro, fcil mostrar o vazio de tal suposio. O caso de Bailly
muito esclarecedor sobre esse aspecto. O que podemos ler no La Croix de 29 de
maio de 1956? Nada menos do que isto: "Como j anunciamos, Sua Eminncia o
Cardeal Feltin ordenou uma pesquisa nos escritos do padre Bailly; ele foi o fundador
de nossa publicao e da Maison de Ia Bonne Press."
Aqui est o texto daquela ordenana, datado de 15 de maio de 1956: "Eu, Maurice
Feltin, pela graa divina e da Santa S apostlica, cardeal chefe da Santa Igreja
Romana, cujo ttulo Santa Maria da Paz, arcebispo de Paris. Em vista do plano
submetido pela Congregao dos Augustinianos da Assuno e aprovado por ns, de
introduzir em Roma a causa do servo de Deus Vincent-de-Paul Bailly, fundador de
La Croix e Bonne Press. Em vista das disposies e instrues da Santa S com
relao ao ato de beati cao e busca dos escritos dos servos de Deus, ns ordenamos
o seguinte: Qualquer pessoa que conheceu este servo de Deus ou que possa nos dizer
algo em especial sobre sua vida, deve nos informar sobre ele. Qualquer um que
possua escritos deste servo de Deus deve repass-los antes de 30 de setembro de
1956, seja por livros escritos, notas manuscritas, cartas, memorandos, at mesmo
instrues ou conselhos no escritos, mas por ele ditados. Por todas essas
comunicaes, designamos Canon Dubois, secretrio do arcebispado e promotor de
f, para esta causa."
Eis aqui um servo de Deus bem no caminho para receber o prmio justo por seus
servios leais na forma de uma aurola. Ousamos dizer, no que tange aos seus
"escritos" to cuidadosamente pesquisados, que o "promotor de f" ter muito para
escolher. Quanto ao material "impresso", a coleo do La Croix, especialmente entre
1895 e 1899, fornecer os materiais mais "edificantes."
'A atitude deles (dos jornais catlicos), e especialmente do La Croix, constitue no
momento, para todas as mentes esclarecidas e concretas, o que Paul Violet, membro
catlico do instituto, chama de escndalo indescritvel (e este escndalo gera, no Caso
Dreyfus, os mais chocantes erros): a mentira e o crime contra a verdade, a
honestidade e a justia. A Corte de Roma, sabe disso, tanto quanto todas as outras
Cortes da Europa."
A Corte de Roma realmente sabia mais do que qualquer outra! Como j vimos, em
1956 ela no havia se esquecido das faanhas "santas" desse "servo de Deus", pois
estava preparando sua beati cao. Sem dvida, o promotor de f creditava a esse
futuro "santo" aquelas famosas listas de subscries em favor da viva do falsi cador
Henry, sobre quem o abade Brugerette diz: "Hoje, quando lemos aqueles pedidos
pelo retorno da Inquisio, pela perseguio aos judeus e pelo assassinato dos
defensores de Dreyfus, como se estivssemos ouvindo as imaginaes delirantes de
fanticos selvagens e grotescos. Estes, no entanto, nos so apresentados pelo La Croix
como sendo um espetculo grandioso, reconfortante e digno de aplausos".
O padre Bailly no teve o prazer de ver realizar durante sua vida todos esses "santos
desejos" com relao aos judeus, o que s viria a ser possvel com esses fanticos
selvagens sob a sustica.
Ele s poderia desfrutar desse espetculo "grandioso, reconfortante e digno de
aplausos" nos cus, apesar de l, os espetculos desse tipo serem "muito comuns", de
acordo com os "estudiosos" e, especialmente, Santo Toms de Aquino, o "anjo" da
Escola: 'A m de ajudar os santos a desfrutarem suas bnos ainda mais, e aumentar
suas aes de graas a Deus, a eles permitido contemplarem em todo o seu absurdo
a tortura dos homens sem Deus. Os santos se regozijaro nos tormentos dos homens
sem Deus" (Sancti de poenis impiorum gaudebunt).
Conforme podemos constatar, o padre Bailly, fundador do La Croix, tinha feito
no era uma ameaa a ningum e a Frana estava errada em se isolar diante de tal
bloco. Com trs contra um, o golpe teria sido mais fcil e nosso "Santo Papa" no
teria que lamentar, em 1918, a derrota de seus "campees".
ensino. Aps isso, a disputa entre o governo francs e a Santa S ser constante.
A eleio do novo papa tambm foi feita em circunstncias signi cativas. "Leo XIII
morreu em 20 de julho de 1903. O conclave, que se reuniu para designar seu
sucessor, aps vrias votaes, somou 29 votos para o cardeal Rampolla (sendo que o
mnimo para a eleio eram 42 votos), quando o cardeal austraco Puzyna se
levantou e declarou que Sua Majestade Apostlica o Imperador da ustria, rei da
Hungria, foi o cialmente inspirado a excluir o secretrio de Estado de Leo XIII.
Todos sabemos que o cardeal Rampolla era pr-Frana."
O cardeal Sarto foi eleito, atravs da manobra austraca, que acabou por tomar o
lugar do Esprito Santo para inspirar cardeais do conclave. Esta eleio foi uma
vitria dos jesutas. Na verdade, o novo pont ce, descrito como sendo uma mistura
de "padre de provncia e arcanjo com uma espada apaixonada", era o tipo perfeito
desejado pela Ordem. Vejamos o que Adnen Dansette diz sobre o assunto: "Quando
amamos o papa, no limitamos o campo no qual ele pode e deve exercer a sua
vontade".
E ainda esta sua primeira conferncia consistorial: "Sabemos que chocaremos muitas
pessoas quando declararmos que estaremos necessariamente envolvidos em poltica.
Qualquer um, no entanto, que deseje julgar com justia, pode ver que o Soberano
Pont ce, investido por Deus com uma autoridade suprema, no tem o direito de
separar a poltica do domnio da f e da mora".
Assim que Pio X, no momento em que foi erguido ao "trono de So Pedro",
publicamente declarou que, para ele, a autoridade do papa deveria ser sentida em
todos os campos, e que o clericalismo poltico no era apenas um direito, mas um
dever. Tambm acabou por escolher para seu secretrio de Estado um prelado
espanhol, monsenhor Merry dei Vai, que tinha 38 anos na poca e, tanto quanto ele,
era apaixonadamente pr-Alemanha e anti-Frana.
Esse estado de esprito no surpreendente quando lemos estas palavras do abade
Fremont: "Merry dei Vai, que tive a oportunidade de encontrar no Colgio
Romano, era o "pupilo favorito dos jesutas".
As relaes entre a Santa S e a Frana logo sentiram os efeitos dessa escolha.
Primeiro, foi a indicao dos bispos pelo poder civil que de agrou um con ito.
Antes da guerra de 1870, a Santa S determinava os nomes dos novos bispos s aps
terem sido indicados. O papa se reservava o direito, se no lhe agradava algum nome,
de o afastar do bispado pela recusa da instituio cannica. As di culdades eram
enormes, pois os governos, sob qualquer tipo de regime, eram cuidadosos em eleger
candidatos valiosos para o ofcio episcopal".
Assim que Pio X se tornou papa, a maior parte das indicaes para novos bispos foi
recusada por Roma. Alm disso, o nncio de Paris, Lorenzelli, era, como nos conta
Dansette, "um telogo que havia se perdido pela poltica e era enlouquecidamente
hostil Frana". Alguns diro: " s mais um a acrescentar na lista! Mas tal escolha
para um posto to estratgico demonstra claramente quais eram as intenes da Cria
Romana em relao Frana. Essa hostilidade sistemtica viria a ser exibida mais
claramente em 1904, quando M. Loubet, presidente da Repblica, foi a Roma para
retribuir uma visita feita a ele em Paris algum tempo antes, pelo rei da Itlia, Victor
Emmanuel III. M. Loubet desejou tambm ser recebido pelo papa. A Cria
Romana, entretanto, produziu um suposto "protocolo inevitvel": O papa no
poderia receber um chefe de Estado que, ao visitar o rei da Itlia em Roma, parecia
reconhecer como legtima a "usurpao" daquele antigo Estado papal. Houve, no
entanto, precedentes: Em 1888 e 1903, um chefe de Estado (e no menos
importante) havia sido recebido pelo rei da Itlia e pelo papa. lgico que esse
visitante no era o presidente de uma Repblica, mas o imperador alemo Guilherme
II. A mesma honra havia sido dada a Edward VII, rei da Inglaterra, e ao czar.
A inteno de insulto dessa recusa cou evidente e foi ainda mais enfatizada por uma
nota enviada por vrias chancelarias pelo secretrio de Estado Merry dei Vai. Um
autor catlico, M. Charles Ledre, escreveu sobre o assunto: 'A diplomacia ponti cai
poderia ignorar o objetivo decisivo e importante que, por detrs da visita do
presidente Loubet a Roma, estava tomando forma?"
bvio que o Vaticano sabia a respeito do plano de afastar a Itlia de seus parceiros
da Trplice Aliana, Alemanha e Austro-Hungria, esses dois poderes germnicos
considerados pela Igreja Romana como sendo seus melhores braos seculares. Este era
o verdadeiro ponto de embate e foi, de fato, a razo das freqentes exploses
nervosas do Vaticano.
Outros con itos surgiram em relao aos bispos franceses, considerados por Roma
como excessivamente republicanos. Finalmente o governo francs ps um fim em 29
de julho de 1904 s "relaes que se tornaram anuladas pela Santa S". A quebra de
relaes diplomticas fatalmente levaria, logo em seguida, separao da Igreja e do
Estado. "Achamos normal, hoje em dia", escreveu Adnen Dansette, "que a Frana
mantenha relaes diplomticas com a Santa S e que o Estado e a Igreja vivam em
regime de separao. As relaes diplomticas so necessrias, pois a Frana deve ser
representada onde tenha interesses a defender, alm de qualquer considerao
doutrinria. A separao necessria, pois em uma democracia fundada sobre a
soberania de um povo dividido por vrias crenas, o Estado s deve Igreja a
liberdade". O autor acrescenta: "Pelo menos, esta a opinio geral".
Ns s temos a concordar com essa opinio razovel, sem esquecer, lgico, que o
papado nunca avalizaria tal coisa. A Igreja Romana nunca deixou de proclamar sua
proeminncia sobre a histria civil, atravs de sua prpria histria, e pela vontade de
ser capaz de se impor abertamente em tempos recentes, fez o mximo para se
implantar com a ajuda de seu exrcito secreto, a Companhia de Jesus. Alm disso, foi
naquela poca que o padre Wemz, o prior dessa Ordem, escreveu: "O Estado est
sob a jurisdio da Igreja; assim, a autoridade secular est, na verdade, sob o jugo da
autoridade j eclesistica e esta tem que ser obedecida".
Essa a doutrina desses campees intransigentes da teocracia^ conselheiros e
executores de suas prprias ordens, que se zerar indispensveis ao Vaticano, tanto
que hoje seria absolutament^ impossvel distinguir a menor diferena entre o "Papa
Negro" e "Papa Branco"; eles so praticamente o mesmo.
Conforme podemos ver, o papado tinha feito tudo o que era necessrio para
implantar essa convico. Alm disso, o monsenhor Fruhwirth disse em 1914: 'A
Alemanha a base sobre a qual o Santo Papa pode e deve estabelecer grandes
esperanas".
Quando nos referimos poltica do Vaticano, simplesmente queremos dizer a
poltica dos jesutas. Juntamente com muitos outros observadores quali cados, o
abade Fremont admite essa verdade, como se segue: "Os jesutas dominam o
Vaticano". Diante da oposio irredutvel dos jesutas (todo-poderosos na Igreja)
contra a Repblica, o Estado foi obrigado a determinar a Lei da Separao, com
vrias emendas, de 1905 a 1908. Essa lei no se destinava a diminuir a riqueza e os
bens da Igreja, ou mesmo as construes para culto. Os is poderiam se reunir em
associaes locais, sob a direo de um padre que os liderasse. O que Roma faria?
"Na encclica Vehementer, de 11 de fevereiro de 1906, Pio X condena o princpio de
separao e o de associaes locais. Mas ser que ele vai alm dos princpios?
"Saberemos em breve.
Apesar do conselho do episcopado francs, ele rejeitou qualquer acordo em 10 de
agosto de 1906, na encclica Gravssimo. Eis uma outra frustrao para os catlicos
liberais: "Quando penso", exclama Brunetiere, "que o que foi recusado pelos
catlicos franceses, com certo conhecimento de que tal recusa desencadearia uma
guerra religiosa em nosso pobre pas que tanto precisa de paz, acabou sendo aceito
pelos catlicos alemes, e que as "associaes locais" tm operado por l h 30 anos
para a satisfao geral, eu no posso evitar, na posio de patriota e de catlico, de
sentir muita indignao".
Houve algum problema, de fato, quando um inventrio das propriedades
eclesisticas foi feito, mas no uma guerra religiosa. Mesmo assim, os ultramontanos
estavam provocando confuso. A populao em geral cou calma, quando algumas
das propriedades da Igreja foram devolvidas ao Estado por ela mesma, que assim
preferiu do que se submeter s medidas conciliatrias determinadas por lei.
Teria, ento, o escritor Brunetiere conseguido compreender plenamente a razo para
aquela diferena entre os catlicos franceses e os alemes, no tratamento dispensado
pela Santa S? A primeira guerra mundial viria a revelar todo o significado disso.
Enquanto os jesutas tinham efetivamente trabalhado, atravs do Caso Dreyfus, para
Captulo 5
O Ciclo Infernal
"Se a guerra comear (...) no procurem a culpa fora do Vaticano, pois ele ser o
provocador oculto"
um comentrio bem caracterstico: "Com certeza, poderia ter sido melhor", disse Sua
Santidade, "se a Austro-Hungria tivesse punido os srvios por todos os erros que
haviam cometido"
Assim, os sentimentos pr-guerra de Pio X j tinham sido claramente expressos em
1913. No h nada de surpreendente nisso, quando lembramos de quem so os
inspiradores da poltica de Roma. "O que que se esperava dos Hapsburgs? Que
punissem a Srvia, uma nao ortodoxa. O prestgio da Austro-Hungria, destes
Hapsburgs que, semelhana dos Bourbons de Espanha eram os ltimos suportes
dos jesutas, e em especial o prestgio do herdeiro, Franois-Ferdinand, o homem
deles, havia aumentado muito. Para Roma, o caso tornou-se de importncia quase
religiosa; uma vitria da monarquia apostlica sobre o czarismo poderia ser
considerada uma vitria de Roma sobre o cisma do Leste".
O caso se arrastava sem maiores conseqncias em 1913. Em 28 de junho de 1914,
o arquiduque Franco is-Fendinand foi assassinado em Sarajevo. O governo srvio
no teve nada a ver com esse crime, cometido por um estudante macednio, mas essa
seria a desculpa perfeita para que o imperador Franois-Joseph comeasse com as
hostilidades.
"O conde Sforza a rma que o principal problema seria persuadir Franois-Joseph da
necessidade da guerra. O conselho do papa e do seu ministro era o que poderia ter
maior in uncia sobre ele". * Esse conselho foi, logicamente, dado ao imperador,
sendo do tipo que poderia ser esperado desse papa e seu ministro, "pupilo favorito
dos jesutas". Enquanto a Srvia tentava manter a paz, cedendo a todos os pedidos do
governo austraco, o qual havia mandado uma nota ameaadora a Belgrado, o conde
Paly, representante austraco no Vaticano, fornecia a seu ministro Berchtold, em 29
de julho, um resumo das conversas mantidas no dia 27 com o cardeal-secretrio de
Estado, Merry dei Vai. Essas conversas foram sobre "as questes que esto afetando a
Europa neste momento". O diplomata negava com desprezo os rumores
"fantasiosos" sobre a suposta interveno do papa, o qual aparentemente implorava
ao imperador para salvar as naes crists dos horrores da guerra.
Tendo lidado com essa suposio "absurda", ele expe a "verdadeira opinio da
Cria", assim comunicada pelo secretrio de Estado: "Seria impossvel detectar
qualquer esprito de indulgncia e conciliao nas palavras de Sua Eminncia.
verdade que descreveu a nota Srvia como sendo muito severa; ele, entretanto, a
aprovava inteiramente. Ao mesmo tempo e indiretamente, expressava o desejo de
que a Monarquia terminasse com o trabalho. "De fato", acrescentou o cardeal, "
uma pena que a Srvia no tenha sido humilhada muito antes, como poderia ter sido
feito no passado, sem tantos outros riscos adicionais". Essa declarao re ete os
desejos do papa que, durante os ltimos anos, tem expressado desgosto pela Hungria
ter negligenciado a "punio" de seu vizinho perigoso do Danbio".
Isso seguramente o oposto dos rumores "fantasiosos" sobre uma interveno papal
em favor da paz. O diplomata austraco no foi o nico a relatar a "verdadeira
opinio" do pont ce romano e de seu ministro. Um dia antes, em 26 de julho, o
baro Ritter, representante comercial da Bavria no Vaticano, havia escrito ao seu
governo: "O papa concorda que a ustria esteja lidando de forma severa com a
Srvia. Ele no pensa muito a respeito dos exrcitos francs e russo; sua opinio de
que no poderiam fazer muita coisa em uma guerra contra a Alemanha. O cardeal
secretrio de Estado no v outro momento, seno agora, para que a ustria possa
entrar em guerra".
Conforme podemos ver, a Santa S estava plenamente consciente dos "grandes
riscos" representados por um con ito entre a ustria e a Srvia; fez, no entanto, tudo
o que estava ao seu alcance para encorajar a guerra. O "Santo Papa" e seus
conselheiros jesutas no estavam preocupados com o sofrimento das "naes crists"!
No era a primeira vez que essas naes estavam sendo usadas para o benefcio da
poltica romana. A oportunidade desejada havia chegado, nalmente, para se usar o
brao secular alemo contra a Rssia ortodoxa, a Frana "sem Deus", que precisava de
um "sangramento prolongado" e, de "boni cao", contra a Inglaterra "herege".
Tudo parecia prometer uma guerra "viva e feliz".
Pio X no enxergou os desdobramentos que acabaram por resultar contra todas as
suas previses. Ele morreu no princpio do con ito, em 20 de agosto de 1914.
Quarenta anos depois, entretanto, Pio XII canonizou este "augusto pont ce", e o
Precis d'Histoire Sainte (Resumo da Histria Santa), usado para catecismo paroquial,
dedica a ele essas palavras "edi cantes": "Pio X fez o que pde para evitar o comeo
da guerra de 1914 e morreu de angstia ao antever os sofrimentos que ela
deflagraria".
Se fosse uma comdia, no haveria palavras melhores do que essas! Alguns anos antes
de 1914, Yves Guyot, um verdadeiro "profeta", disse: "Se a guerra comear, ouam
vocs, homens que pensam que a Igreja Romana o smbolo da ordem e da paz:
No procurem a culpa fora do Vaticano, pois ele ser o provocador oculto,
semelhana da guerra de 1870"
Provocador da calnia, o Vaticano viria a apoiar os seus "campees" no menos
habilidosos, os austro-hngaros, durante toda a guerra. A excurso militar na Frana,
que o kaiser se gabava que faria, foi detida no Marne e o agressor voltou defensiva,
aps todos os seus furiosos ataques. A diplomacia papal lhe trouxe, no entanto, toda
a ajuda possvel, e isso no chega a surpreender quando consideramos que a
"Providncia Divina" parecia adorar favorecer os imprios centrais.
O cardeal Rampolla, considerado pr-Frana (e por essa mesma razo afastado do
trono papal por um veto da ustria), no se encontrava mais entre aqueles que
poderiam se tornar papa, pois havia morrido alguns meses antes de Pio X, morte que
O resultado dessa audincia foi que o futuro papa exerceu por 12 anos as funes de
nncio em Munique, depois em Berlim, de forma que conseguiu, durante aqueles
anos, multiplicar as intrigas que acabaram por derrubar a Repblica Alem
estabelecida aps a Primeira Guerra Mundial e preparar a revanche de 1939 ao levar
Hitler ao poder. Quando os aliados assinaram o Tratado de Versailles, em julho de
1919, estavam to conscientes do papel exercido pelo Vaticano no con ito que este
foi cuidadosamente mantido afastado da mesa de conferncias. Ainda mais
surpreendente foi que o Estado mais catlico, a Itlia, insistiu nessa excluso. 'Atravs
do artigo XV do Pacto de Londres (26 de abril de 1915), que de niu a participao
da Itlia na guerra, o baro Sonnino havia obtido a promessa dos outros aliados de
que se oporiam a qualquer interveno do papado nos acordos de paz."
Essa medida era correta, mas insu ciente. Ao invs de aplicar as sanes contra a
Santa S, que bem as merecia por suas implicaes no comeo da Primeira Guerra
Mundial, os vitoriosos no zeram nada para evitar futuras intrigas dos jesutas e do
Vaticano. Estes, 20 anos depois, levariam o mundo a uma catstrofe ainda pior,
talvez jamais vista.
reconstitudo em 1930).
"Pio XI criou o Colgio Russo (Ponte cio Collegio Russo di S Teresa dei Bambino
Gesu) e o colocou sob a orientao dos jesutas. Eles tambm eram responsveis pelo
Instituto Oriental, Instituto de So Joo Damasceno, o Colgio Polons e,
posteriormente, o Colgio Lituano. No seriam para lembrar o padre Possevino,
Ivan o Terrvel e o falso Dimitri? O segundo dos trs grandes objetivos durante o
tempo de Igncio tomou o lugar principal. Os jesutas, novamente, foram os agentes
inspiradores e executores daquela grande iniciativa"
Na derrota que acabaram de sofrer, os lhos de Loyola conseguiram ainda enxergar o
brilho de alguma esperana. A Revoluo Russa, pela eliminao do czar, protetor da
Igreja Ortodoxa, no tinha decapitado o grande rival e ajudado a penetrao da Igreja
Romana? No se molda o ferro enquanto ele ainda est quente? O famoso Russicum
foi criado e seus missionrios clandestinos levaram as Boas-Novas a este pas do
cisma.
Um sculo aps a expulso deles pelo czar Alexander I, os jesutas novamente
retornam conquista do mundo eslavo. Desde 1915, o seu prior era Nalke von
Ledochowski. Outra vez, Pierre Dominique: 'Alguns diro que vejo jesutas em
todos os lugares! Sou, no entanto, obrigado a indicar a sua presena e as suas aes;
dizer que eles estavam por detrs da monarquia de Alfonso XIII, cujo confessor era o
padre Lopez. Quando a monarquia espanhola acabou e seus monastrios e colgios
foram incendiados, eles estavam por detrs de Gil Robles. Quando a guerra civil
explodiu, estavam por detrs de Franco. Em Portugal, sustentaram Salazar. Na
ustria e na Hungria, o imperador Charles, o qual j havia sido destronado trs vezes
(que papel eles exerceram nessas tentativas de retomada do trono da Hungria? Quem
sabe...). Eles mantinham a cadeira aquecida sem saber muito bem para quem ou para
o qu. Os monsenhores Seipel, Dolfuss e Schussnig pertenciam s suas leiras.
Sonharam por algum tempo com uma grande Alemanha, a maioria catlica, qual
os austracos necessariamente pertenciam: uma verso moderna da velha aliana do
sculo XVI entre os Wittelsbach e os Hapsburg.
Na Itlia, apoiaram primeiramente Don Sturzo, fundador do Partido popular;
depois Mussolini. O padre jesuta Tacchi Ventun, secretrio-geral da Companhia,
serviu de mensageiro entre Pio XI (cujos confessores eram os jesutas Alissiardi e
Celebrano) e Mussolini. "O papa, em fevereiro de 1929, na poca do Tratado de
Lateran, chamou Mussolini de "o homem que a Providncia nos permitiu conhecer".
Roma no condenou o que foi chamado de "a agresso etope" e, em 1940, o
Vaticano ainda era o amigo sincero de Mussolini. Os jesutas tinham sua residncia
secreta l. Dessa residncia, avaliavam a Igreja com uma viso fria e calculista de
polticos".
Este um resumo perfeito da atividade jesuta entre as duas guerras mundiais. A
todas as regras de nidas pelas leis internacionais? As prprias naes se deixaram levar
por esses truques e, assim procedendo, favoreceram a penetrao deles em suas
sociedades, dentro do "cavalo de Tria" do clericalismo. "O papa parecia se
identi car demais com os ditadores", escreveu Fraois Charles Roux, embaixador
francs no Vaticano. Poderia ser diferente, se a prpria Santa S era responsvel por
ter levado esses homens ao poder?
Mussolini, o prottipo, inaugurou a srie de homens "providenciais", esses
empunhadores de espada que preparariam a vingana contra a derrota sofrida na
Primeira Guerra Mundial. Da Itlia, onde havia prosperado to bem sob o cuidado
do padre jesuta Tacchi Venturi e seus auxiliares, o fascismo foi logo exportado para
a Alemanha.
"Hitler recebeu seu mpeto de Mussolini; o ideal dos nazistas era o mesmo da Itlia...
Desde que Mussolini subiu ao poder, todas as simpatias foram dirigidas para a
Alemanha. Em 1923, o fascismo se integrou ao nacional-socialismo; Mussolini cou
amigo de Hitler, a quem forneceu braos e dinheiro". Naquela poca, o monsenhor
Pacelli, futuro Pio XII e ento o melhor diplomata da Cria, era o nncio em
Munique, capital da catlica Bavria. L, o comeo do futuro ditador nazista
irrompeu. Ele tambm era catlico, tal qual a maior parte de seus seguidores.
Daquela provncia, bero do nazismo, Maurice Laporte nos diz: "Os seus dois
inimigos se chamavam protestantismo e Democracia".
A angstia da Prssia era, portanto, compreensvel. " fcil imaginar qual o tipo de
cuidado especial que o Vaticano dispensava Bavria, onde o nacional-socialismo de
Hitler recrutava seu mais forte contingente"
Tomar da Prssia "herege" o controle do brao secular alemo e transferi-lo para a
catlica Bavria era um fantstico sonho! Monsenhor Pacelli envidou todos os
esforos para conseguir isso, agindo em comunho com o lder da Companhia de
Jesus. 'Aps a Primeira Guerra (1914-1918), o prior dos jesutas, Halke von
Ledochowski, tinha concebido um plano vasto: a criao, com ou sem imperador
Hapsburg, de uma federao de naes catlicas na Europa Central e no Leste:
ustria, Eslovquia, Bomia, Polnia, Hungria, Crocia e, logicamente, Bavria.
"Este novo Imprio Central teria de lutar em duas frentes: no lado oriental, contra a
Unio Sovitica; no lado ocidental, contra a Prssia, a Gr-Bretanha protestante e a
Frana republicana e rebelde. Naquele momento, o monsenhor Pacelli, futuro Pio
XII, era o nncio em Munique, depois em Berlin, e um amigo ntimo do cardeal
Faulhaber, principal colaborador de Ledochowski. O plano deste ltimo era o sonho
de juventude de Pio XH".
Seria realmente apenas um sonho de juventude? A "Mittel-Europa" que Hitler estava
tentando organizar era muito semelhante quele plano, exceto pela presena, naquele
bloco, de uma Prssia luterana, uma minoria no muito perigosa, e as reconhecidas
Sabemos que eles chegaram a fazer mais ainda do que prometeram, e que Mussolini
e Hitler continuaram a abastecer a rebelio espanhola com material, aviao e
"voluntrios". Quanto ao Vaticano, esquecendo-se de seu prprio princpio de que
os is deveriam respeitar o governo estabelecido, pressionou a Espanha com
ameaas. O papa excomungou os chefes da Repblica Espanhola e declarou guerra
espiritual entre a Santa S e Madrid. Editou, ento, a encclica Dilectissimi Nobis. O
arcebispo Goma, novo primaz da Espanha, declarou a guerra civil".
Os prelados de "Sua Santidade" aceitaram os horrores desse con ito fratricida com
alegria, e o monsenhor Gomara, bispo de Cartagena, interpretou de forma admirvel
seus sentimentos apostlicos quando disse: 'Abenoados so os canhes se, nas
brechas que abrem, o Evangelho chegar a ser espalhado!"
O Vaticano chegou at a reconhecer o governo de Franco, em 3 de agosto de 1937,
vinte meses antes do m da guerra civil. A Blgica tambm contou com a ateno da
Ao Catlica que era, nem preciso dizer, uma organizao eminentemente
ultramontana e jesutica. O terreno havia sido preparado para a invasodo Exrcito
do Fuhrer! Assim, sob a pretensa "renovao espiritual", o evangelho hitlerista fascista
era diligentemente pregado ali pelos jesutas, monsenhor Picard, padre Arendt, padre
Foucart e outros. Um jovem belga, vtima deles semelhana de muitos outros,
testi ca isso: "Naquela poca, todos estvamos obcecados com um tipo de fascismo.
A Ao Catlica, qual eu pertencia, era claramente simpatizante do fascismo
italiano. O monsenhor Picard proclamava dos plpitos que Mussolini era um gnio
e que desejava muito a chegada de um ditador... Organizavam-se peregrinaes para
desenvolver contatos com a Itlia e o fascismo. Quando, com 300 alunos, fui
Itlia, todos em nossa volta para casa nos saudmos italiana e cantamos a
Giovineza".
Outra testemunha diz: 'Aps 1928, o grupo de Leon Degrelle colaborava
regularmente com o monsenhor Picard. Este contou com sua ajuda para uma misso
particularmente especial: administrar uma editora dentro da Ao Catlica, que
recebeu um nome que caria famoso: Rex. As exigncias por um novo regime se
multiplicavam. Os resultados dessa propaganda na Alemanha eram observados com
muito interesse.
Em outubro de 1933, um artigo no Vlan lembrava que os nazistas eram apenas sete
em 1919, e que Hitler nada mais deu, alm do talento, para a publicidade. Fundada
em princpios semelhantes, a equipe "rexista" iniciava um programa de propaganda
ativa no pas. Suas reunies logo comearam a atrair algumas centenas, depois
milhares de participantes".
claro que Hitler havia trazido ao recente nacional-socialismo o mesmo que
Mussolini trouxe ao fascismo, muito mais que o talento para a publicidade: o apoio
do papado! No sendo mais que uma plida sombra desses dois, Leon Degrelle, lder
do "Christus Rex", era bene cirio do mesmo apoio, mas para um propsito bem
diferente, pois seu trabalho seria o de abrir o pas ao invasor.
Raymond de Becker diz: "Eu colaborei com a Avant Garde. Esta publicao (editada
por Picard) tinha como objetivo quebrar os laos que uniam a Blgica, a Frana e a
Inglaterra".
Sabemos como foi rpida a vitria do Exrcito alemo sobre a defesa belga, trada
pela "quinta coluna" do clero. Talvez lembremos tambm que o apstolo do
"Christus Rex", em um uniforme alemo, foi "lutar no front do Leste",
acompanhado de muita publicidade e como dirigente de sua "Waen SS", recrutada
principalmente entre a juventude da Ao Catlica. Depois, uma oportuna retirada
lhe deu condies de chegar Espanha. Antes disso, porm, deu vazo total aos seus
sentimentos "patriticos" pela ltima vez.
Maurice de Behaut escreveu: "Dez anos atrs (em 1944), o porto de Anvers, o
terceiro mais importante do mundo, caiu quase intacto nas mos das tropas
britnicas. No momento em que a populao comeava a vislumbrar o m dos
sofrimentos e privaes, a mais diablica inveno nazista caiu sobre eles: as bombas
areas VI e V2. Esse bombardeio, o mais longo da Histria, durou quase seis meses,
dia e noite, cuidadosamente escondido, sob as ordens do comando central dos
aliados. Esta a razo pela qual ainda hoje o martrio das cidades de Anvers e Liege
totalmente ignorado. Na vspera do primeiro bombardeio (12 de outubro), algumas
pessoas ouviram na Rdio Berlin os comentrios alarmantes do traidor "rexista" Leon
Degrelle: "Pedi a meu Fuhrer", exultava, "20 mil bombas areas. Elas castigaro um
povo idiota. Prometo a vocs que farei de Anvers uma cidade sem porto ou um
porto sem cidade". "Daquele dia em diante, o ritmo dos bombardeios iria se
acentuar; as catstrofes e os desastres seriam as conseqncias, enquanto o traidor
Leon Degrelle ficava prometendo na Rdio Berlin cataclismas ainda mais terrveis"
Essa foi a despedida de sua ptria desse produto monstruoso da Ao Catlica. Um
pupilo obediente do monsenhor Picard (jesuta), padre Arendt (jesuta), etc. O chefe
do "Christus Rex" seguiu estritamente as regras papais. "Os homens da Ao
Catlica", escreveu Pio XI, "falhariam em seus encargos se, assim que a ocasio
permitisse, no tentassem dirigir a poltica de sua provncia e de seu pas". Leon
Degrelle cumpriu sua funo e o resultado, como podemos observar, foi
proporcional sua devoo. Lemos no livro de Raymond de Becker: "A Ao
Catlica havia encontrado na Blgica homens excepcionais para orquestrar seus
temas, como o monsenhor Picard (o mais importante) e o cnego Cardjin, fundador
do movimento jocista, um homem de temperamento quente e visionrio".
Este ltimo, em especial, chegou a jurar que nunca "viu ou ouviu" seu companheiro
Leon Degrelle. Assim sendo, estes dois lderes da Ao Catlica belga, ambos
trabalhando sob o controle do cardeal Van Roey, aparentemente nunca se
conheceram! Mas que tipo de "milagre" esse? Claro, o antigo cnego no nos
contaria qual . Desde ento, ele foi elevado a "monsenhor" por Pio XII e diretor dos
movimentos jocistas do mundo inteiro.
Outro "milagre": o monsenhor Cadijn tambm nunca se encontrou com o lder de
pssima reputao dos "Rex" durante o Congresso descrito por Degrelle: "Lembrome do grande congresso da Juventude Catlica em Bruxelas, em 1930. Eu estava
atrs do monsenhor Picard, que por sua vez estava ao lado do cardeal Van Roey.
Cem mil jovens marcharam atrs de ns, por duas horas, aplaudindo as autoridades
religiosas que se reuniam sobre a plataforma". Pois ento onde que se escondia o
lder dos jovens catlicos, cujas tropas estavam tomando parte naquela gigantesca
marcha? Ser que, por um decreto especial da "Providncia", estes dois homens
foram condenados a tropear um no outro e nunca se viram, tanto nas plataformas
o ciais quanto nos centros da Ao Catlica que eles freqentavam to
assiduamente?
Monsenhor Cardijn, jesuta, ainda vai mais longe. Chega a ngir que tambm lutou
"verbalmente" contra o "rexismo". Realmente, essa Ao Catlica era uma
organizao peculiar! No s os lderes de seus dois principais "movimentos" "Juventude Catlica" e "Rex" - brincavam de esconde-esconde nos corredores, mas
tambm um deles poderia dizer que "lutava" contra o que o outro fazia com o pleno
consentimento da "hierarquia"! Este fato no pode ser negado: "Degrelle foi
levantado direo do "Rex" pelo prprio monsenhor Picard, sob a autoridade do
cardeal Van Roey e o nncio apostlico monsenhor Micara. Assim, de acordo com o
monsenhor Cardijn, ele desaprovava incisivamente as aes de seu colega na Ao
Catlica, sob a tutela, tal qual ele prprio, do primaz da Blgica e, sem nenhuma
considerao pelo nncio, seu "protetor e amigo reverenciado", de acordo com Pio
XII".
Esta declarao bastante grave. Ficamos ainda mais alarmados com ela quando
examinamos qual foi a atitude, aps a invaso de Hitler Blgica, daqueles que so
como o monsenhor Cardijn e seus associados e que, "repudiavam" Degrelle e o
"rexismo".
Em um livro (posteriormente "revisado" quando da sua edio), o lder dos "Rex"
trouxe lembranas, como podemos ver e, para o nosso conhecimento, o que foi dito
por ele nunca chegou a ser refutado: "Sendo um cristo fervoroso e habituado s
interpretaes do espiritual e do temporal, no pensaria em colaborar (com Hitler)
sem antes consultar as autoridades religiosas de meu pas. Tinha solicitado uma
entrevista com Sua Eminncia, o cardeal Van Roey. O cardeal me recebeu de forma
amigvel, no palcio episcopal de Malines. Ele estava tomado por um fanatismo
total e absoluto. Se tivesse vivido alguns sculos antes, teria, enquanto cantava a
"Magni cat", colocado os in is na ponta da espada, queimado ou deixado car nos
Alemanha."
Em 29 de maio de 1940, um dia aps a rendio, o cardeal Van Roey descreveu a
invaso como sendo um tipo de presente dos cus: "Estejam certos", escreveu ele, "de
que esto a testemunhar no momento uma interveno excepcional da Providncia
Divina, a qual est exibindo seu poder atravs destes grandes eventos." Assim, aps
tudo isso, Hitler parecia ser nada mais nada menos que um instrumento puri cador
a castigar providencialmente o povo belga".
'Algo semelhante estava acontecendo em outro pas (a Frana), onde ramos
constantemente lembrados de que "a derrota mais frutfera que a vitria" como,
antes de 1914, quando um "sangramento prolongado" e puri cador foi desejado
para a Frana. Nessas lembranas que caram no esquecimento (ou melhor, foram
jogadas na masmorra), tambm podemos encontrar alguns detalhes interessantes com
relao a "Boerenbond", a grande mquina poltica e nanceira catlica do cardeal
Van Roey, que nanciava largamente a seco amenga da Universidade de
Louvain".
"A gr ca Standaard assegurava-se que suas impressoras se mantivessem trabalhando
na impresso de convocaes extremamente colaboracionistas de VN.V (Vlaamsch
Nationalist Verbond). Logo, os negcios comearam a jorrar dinheiro. Sendo 200%
catlica e pilar da Igreja de Flandres, os lderes da Standaard no levariam em
considerao o colaboracionismo a menos que o cardeal tivesse anteriormente dado
sua bno a isso de forma clara e distina. O mesmo foi dito a respeito de toda a
imprensa catlica".
Todos esses esforos tinham por objetivo a quebra da Blgica, conforme nos lembra
outro escritor catlico, Gaston Gaillard: "Os catlicos amengos e os catlicos
autonomistas da Alscia justi cavam sua atitude pelo suporte tcito sempre dado
pela Santa S propaganda alem. Quando se referiam carta memorvel enviada
por Pio XI a seu secretrio de Estado, cardeal Gaspari, no dia 26 de Junho de 1923,
eles foram facilmente convencidos de que a sua poltica tinha a aprovao de Roma e,
logicamente, Roma no fez absolutamente nada para os convencer do contrrio. Ou
o nncio Pacelli (futuro Pio XII) no havia habilmente apoiado os nacionalistas
alemes e encorajado a chamada populao "oprimida" da Alta-Silsia? Os planos
autonomistas da Alscia, EupenMalmedy e Silsia no haviam recebido a aprovao
eclesistica que nem sempre era dada de forma discreta? Foi, portanto, muito fcil
para os amengos esconderem seus feitos contra a unidade da Blgica atrs das
diretivas de Roma"
Tambm em 1942 o papa Pio XII solicitou sua nunciatura em Berlim para enviar
suas condolncias a Paris, por ocasio da morte do cardeal Baudrillart, querendo dizer
com isso que considerava a anexao da Frana do Norte pela Alemanha j um fato.
Tambm con rmou o apoio "tcito" sempre dado expanso germnica pela Santa
seus inimigos se atreveriam a dizer uma coisa dessas... melhor dizer que R. P
Fessard expressou seus medos patriticos de 1941-1942 somente em 1957. Suas
"meditaes livres" trouxeram resultados apenas 15 anos depois e ele teve tempo de
reler uma certa passagem dos Exerccios Espirituais, a qual diz ue "o jesuta deve estar
pronto, se a Igreja assim determinar, a ver 0 branco como negro; a concordar com
ela, mesmo se os seus sentidos lhe disserem o oposto".
Nesse aspecto, R. P. Fessard parece ser um excelente jesuta! No dia 7 de maro de
1936, Hitler levou a Wehrmacht regio desmilitarizada do Reno, quebrando,
portanto, o Pacto de Locarno. A11 de maro de 1938, era a Anschluss (unio da
ustria e Alemanha), e a 29 de setembro do mesmo ano, em Munique, a Frana e a
Inglaterra tiveram que admitir a imposio do Reich de anexao da Sudelndia
Tchecoslovquia. O "Fuhrer" chegara ao poder, graas aos votos do Zentrum
catlico, apenas cinco anos antes, mas a maior parte dos objetivos cinicamente
revelados em "Mein Kampf" j tinham sido realizados. Este livro, um desa o
insolente s democracias ocidentais, foi escrito pelo padre jesuta Staemp e e
assinado por Hitler. O fato que muitos ignoram que foi a Companhia de Jesus que
aperfeioou o famoso programa Pan-Germnico de nido neste livro, e o "Fuhrer" o
endossou.
Vejamos o que diz Franois Charles-Roux: "No meio de agosto, eu havia tentado
persuadir o papa de que ele deveria falar em favor da paz - uma paz justa, claro.
Minhas primeiras tentativas foram sem sucesso. A partir do comeo de setembro de
1938, no entanto, quando a crise internacional atingiu seu limite, comecei a
perceber, no Vaticano, reaes tranqilizadoras que contrastavam estranhamente com
a situao que se deteriorava rapidamente".(70)
"Todas as minhas tentativas", acrescenta o embaixador francs, "recebiam a mesma
resposta de Pio XI: "Seria intil, desnecessrio, inoportuno". No conseguia entender
sua obstinao em manter o silncio".
Os eventos logo explicariam esse silncio. Antes de tudo foi a anexao da Sudelndia
pelo Reich, com o apoio do Partido Social Cristo, lgico. Essa anexao foi
rati cada pelo acordo de Munique e a Repblica da Tchecoslovquia foi dividida.
Hitler, que tinha se comprometido a respeitar sua integridade territorial, queria na
verdade anexar a regio tcheca independentemente da Eslovquia, e reinar sobre esta
atravs de seu prprio homem de confiana a ser indicado.
Foi fcil para ele alcanar esses objetivos, pois a maior parte dos dirigentes eslovacos
era de sacerdotes catlicos, de acordo com Walter Hagen e, dentre estes, o padre
Hlinka (jesuta) tinha sua disposio Urn "guarda treinado nos princpios da polcia
secreta nazista".
Sabemos que, de acordo com a lei cannica, nenhum padre pode aceitar um posto
pblico ou um mandato poltico sem o consentimento da Santa S. Isso
con rmado e explicado pelo jesuta De Soras: "Como poderia ser diferente? J
dissemos o mesmo anteriormente: um padre, em virtude do "carter" que sua
ordenana lhe concede, em virtude das funes o ciais que exerce dentro da prpria
Igreja, em virtude da batina que veste, obrigado a agir como um catlico, pelo
menos quando uma ao pblica est envolvida. Onde o padre estiver, l estar a
Igreja".
Foi, portanto, com o consentimento do Vaticano, que os membros do clero se
sentaram no Parlamento tchecoslovaco. Ainda mais, um desses padres teve de obter a
aprovao da Santa S quando o prprio "Fuhrer" o designou para a posio de
chefe-de-governo e posteriormente lhe conferiu as mais altas distines hitleristas: as
condecoraes da Cruz-de-Ferro e da guia Negra. Como j dissemos, em 15 de
maro de 1939 Hitler anexou o resto da Bomia e da Morvia, e ps a Repblica da
Eslovquia (que havia sido criada com um rabisco de caneta) "sob sua proteo". No
governo, colocou o monsenhor Tiso (jesuta), "que sonhava em combinar o
catolicismo e o nazismo".
Uma "nobre ambio" e facilmente realizada, pois j tinha sido aprovada pelos
episcopados da Alemanha e da ustria. "O catolicismo e o nazismo", proclamava o
monsenhor Tiso, tm muito em comum; trabalham de mos dadas para reformar o
mundo". Tal deve ter sido tambm a opinio do Vaticano pois, apesar da "terrvel"
encclica Mit brennender Sorge, no perdeu tempo e nm tentou regatear sua
aprovao ao padre chefe-de-governo. Em junho de 1940, a Rdio Vaticano
anunciava: A declarao de monsenhor Tiso, chefe do Estado eslovaco, a rmando
sua inteno de construir a Tchecoslo-vquia de acordo com um plano cristo, tem a
plena aprovao da Santa S".
"O regime de Tiso, na Tchecoslovquia, foi especialmente a itivo para a Igreja
Protestante daquele pas, que correspondia a uma quinta parte da populao. O
monsenhor Tiso tentou reduzir a in uncia protestante a seu mnimo, e at mesmo
elimin-la. Membros in uentes da Igreja Protestante foram mandados para campos
de concentrao". Estes ainda poderiam se achar com sorte, se considerarmos esta
declarao do prior jesuta Wernz, um prussiano (1906-1915): "A Igreja pode
condenar hereges morte, pois quaisquer direitos que venham a ter s lhes podem
ser atribudos devido nossa clemncia".
Vejamos agora que tipo de "gentileza apostlica" foi usada pelo prelado Tiso com
relao aos judeus: "Em 1941, o primeiro contingente de judeus da Tchecoslovquia
e da Alta-Silsia chega a Auschwitz. Desde o comeo, aqueles que no eram capazes
de trabalhar eram mandados para as cmaras de gs, em um salo do prdio onde
cavam os fornos crematrios". Quem escreveu isto? Uma testemunha que no
podia ser desa ada, Lord Russel de Liverpool, um conselheiro jurdico nos
julgamentos de crimes de guerra.
Assim sendo, a Santa S no havia "emprestado" um de seus prelados a Hitler em
vo. O chefe-de-Estado jesuta estava fazendo um bom trabalho e a satisfao
manifestada pela Rdio Vaticano era compreensvel. Ser o primeiro a abastecer
Auschwitz, que glria para este homem "sagrado" e para toda a Companhia de Jesus!
De fato, a este triunfo no faltava nada. No momento da Libertao, este prelado foi
entregue pelos americanos Tchecoslovquia, condenado morte em 1946 e
enforcado - a vitria, para o "mrtir"!
"Qualquer coisa a ser feita contra os jesutas, faremos por causa de nosso amor por
esta nossa grande nao. O amor por nossos companheiros e o amor pelo pas tm
levado a uma luta frutfera contra os inimigos do nazismo" .
Outro alto dignatrio da Igreja Romana, em um pas vizinho poderia ter-se
apropriado dessa declarao do monsenhor Tiso para si. Se as fundaes da "Cidade
de Deus" eslovaca eram o dio e a perseguio, de acordo com a longa tradio da
Igreja, o que podemos dizer do eminente Estado catlico da Crocia, lho da
colaborao entre o assassino Pavelitch e monsenhor Stepinac, e com a assistncia do
legado papal Marcone?
Teramos que olhar para trs at chegarmos s conquistas do Novo Mundo, reunir
todas as aes dos aventureiros das cortes e dos no menos ferozes monges da
Auschwitz.
Para essa lista sangrenta de honrarias, devemos adicionar os nomes do abade Bozidar
Bralo, o padre Dragutin Kamber, os jesutas Lackovic e o abade Yvan Salitch; os
secretrios do monsenhor Stepinac, o padre Nicolas Bilogrivic e outros, e numerosos
franciscanos; sendo que um dos piores foi o irmo Miroslav Filipovitch, principal
organizador daqueles massacres, chefe e carrasco no campo de concentrao de
Jasenovac, o mais terrvel desses infernos terrestres.
O destino do irmo Filipovitch foi o mesmo do monsenhor Tiso, na Eslovquia:
quando nalmente veio a Libertao, ele foi enforcado, vestindo o seu hbito.
Muitos de seus rivais, no muito ansiosos por lhe tomarem o smbolo de mrtir,
escaparam para a ustria, juntamente com os assassinos que eles to bem haviam
ajudado.
O que, entretanto, estaria fazendo a "hierarquia", quando foi confrontada com o
frenesi sedento de sangue daqueles que estavam sOb suas ordens? A "hierarquia", ou
seu episcopado e seu lder, monsenhor Stepinac, votou no Parlamento "Oustachi"
pelos decretos referentes converso dos ortodoxos ao catolicismo; enviou
"missionrios" aos aterrorizados camponeses; "converteu", sem titubear, vilas inteiras;
incorporou bens da Igreja Ortodoxa Srvia e lanou sem cessar bnos e louvores
sobre Poglavnik, copiando o exemplo j firmado pelo papa Pio XII.
"Sua Santidade" Pio XII estava representado pessoalmente em Zagreb por um monge
eminente, Marcone. Este "Sancti Sedis Legatus" recebia o lugar de honra em todas as
cerimnias do regime "Oustachi", e tinha ele mesmo se fotografado na casa do lder
dos assassinos, Pavelitch, com sua famlia, que o havia recebido na condio de
amigo. Assim, a mais sincera cordialidade sempre reinou nas relaes entre os
assassinos e os eclesisticos; logicamente, muitos desses eclesisticos mantiveram
ambas as funes, pelas quais nunca foram acusados de nada. "Os ns justi cam os
meios".
Quando Pavelitch e seus quatro mil "Oustachis" (que incluam Saric, um jesuta, o
bispo Garic e 400 sacerdotes) saram de cena com suas realizaes para a ustria,
primeiro, depois Itlia, deixaram para trs parte de seu "tesouro": lmes, fotogra as,
discursos gravados de Ante Pavelitch, caixas cheias de jias, anis de casamento,
dentes de ouro e platina. Esse esplio, tomado dos pobres infelizes assassinados, foi
escondido no palcio episcopal onde posteriormente vieram a ser descobertos.
Quanto aos fugitivos, tiraram vantagem da "Assistncia da Comisso Ponti cai",
criada expressamente para salvar pessoas dos crimes de guerra. Essa caridosa
instituio os escondia em conventos, Principalmente na ustria e na Itlia, e
fornecia aos lderes passaportes falsos que os permitiam ir a outros pases de forma
"amigvel" onde poderiam usufruir dos frutos do roubo em paz. Isso aconteceu com
Ante Pavelitch, cuja presena na Argentina foi revelada em 1957 por um atentado
contra sua vida no qual cou ferido. Desde ento o regime ditatorial comeou a cair
em Buenos Aires. Como o prprio ex-presidente Pern, seu protegido teve de
abandonar a Argentina. Do Paraguai (para onde foi em primeiro lugar), ele chegou
Espanha, onde morreu em 28 de dezembro de 1959, no hospital alemo de Madrid.
Nessa ocasio, a imprensa francesa lembrou sua carreira sangrenta e, mais
discretamente, os "cmplices poderosos" que o ajudaram a escapar da punio.
Sob o ttulo "Belgrado exigiu a extradio em vo", lemos no Le Monde: 'A curta
notcia publicada na imprensa esta manh reavivou, no povo iugoslavo, as
lembranas de um passado cheio de sofrimento e amargura por aqueles que, ao
esconderem Ante Pavelitch, por quase 15 anos, obstruram o curso da justia". Paris
Presse mostra o ltimo abrigo oferecido ao terrorista com esta frase curta, mas
signi cativa: "Ele acabou seus ltimos dias no mosteiro franciscano de Madrid". Foi
de l que Pavelitch foi levado ao hospital, onde veio a pagar as suas dvidas pela
natureza, e no pela justia, objeto de zombaria daqueles "cmplices poderosos" que
so fceis de se identificar.
O monsenhor Stepinac, que tinha, conforme suas prprias palavras, uma
"conscincia tranqila", cou em Zagreb, onde foi julgado em 1946. Condenado a
trabalhos pesados, na verdade s foi levado a residir em sua vila de origem. A pena
foi fcil de suportar, como podemos ver, mas a Igreja precisa de mrtires. O
arcebispo de Zagreb foi ento transformado em membro da corte sagrada, em vida,
por Pio XII, que se apressou a conferir-lhe o ttulo de cardeal, ern reconhecimento
"de seu apostolado que demonstrava o mais puro brilho".
Devemos observar uma "reversibilidade de mritos". Se este fosse o caso, o
direito ao cardinalato do monsenhor Stepinac no poderia ser contestado. Na diocese
de Gornji Karlovac, parte de seu arcebispado, de 460 mil ortodoxos que ali viviam,
50 mil conseguiram escapar para as montanhas; 50 mil foram mandados para a
Srvia; 40 mil "convertidos" ao catolicismo, atravs de um regime de terror, e 280
mil massacrados".
A 19 de dezembro de 1958, lemos no Catholic France: "A m de exaltar a grandeza
e o herosmo de Sua Eminncia, o cardeal Stepinac, uma grande reunio ser
celebrada no dia 21 de dezembro de 1958, s 16 horas, na cripta de Sainte-Odile - 2,
Avenue Stphane-Mallarm, Paris 17. Ser presidida por Sua Eminncia, o cardeal
Feltin, arcebispo de Paris. O senador Pezet e o padre reverendo Dragoun, reitor
nacional da Misso Croata na Frana, tomaro parte. Sua Excelncia, o monsenhor
Rupp, celebrar a missa e a comunho".
Esta foi a forma pela qual uma nova gura, e no a menos importante, ou seja, o
cardeal Stepinac, veio a enriquecer a galeria dos Grandes Jesutas. Outro objetivo
dessa reunio de 21 de dezembro de 1958, na cripta de Sainte-Odile, era "lanar" um
livro escrito em defesa do arcebispo de Zagreb, pelo prprio Dragoun; o monsenhor
homens como Deat, Bucard, Doriot (que era, de acordo com Andr Guerber, o
"agente n2 56 BK do Servio Secreto Alemo"). De todo este bando heterogneo,
Doriot tambm era o mais bem visto pelo arcebispo, que contava com as maiores
atenes de todos e, lgico, de Hitler que, posteriormente, em Sigmaringen,
concedeu-lhe amplos poderes. Doriot era a estrela em ascenso mas, para o futuro
imediato e para tratar com cuidado da transio aps a derrota prevista e aguardada,
era necessrio um outro homem, um chefe militar altamente respeitado, que fosse
capaz de disfarar o desastre e apresent-lo como uma "recuperao nacional".
J em 1936, o cnego Coube escreveu: "O Senhor que trouxe Carlos Magno e os
heris das Cruzadas ainda pode levantar sbios. Dentre ns, deve haver homens que
Ele tenha marcado com o Seu Selo e que sero revelados quando chegar a hora.
Dentre ns, deve haver homens da terra que sejam os trabalhadores para a grande
recuperao nacional. Mas quais so os requisitos necessrios para executarem esta
misso? As qualidades naturais de inteligncia e carter; as sobrenaturais, ou seja, a
obedincia a Deus e Sua Lei tambm so indispensveis, pois esse trabalho poltico
, antes de tudo, moral e religioso. Esses sbios so homens com coraes generosos
que trabalham apenas para a glria de Deus".
Quando o discpulo de Loyola exps esses pensamentos polticos e religiosos, sabia
quem seria esse santo "sbio", pois seu nome no era desconhecido no clero e, entre
os fascistas, o que segue nos dito por Franois Ternand: "Uma campanha de
propaganda inteligente e persistente foi iniciada em favor de uma ditadura Petain".
Em 1935, Gustave Herv publicou um pan eto. O tratado intitulado "Precisamos
de Petain". Seu prefcio uma apologia entusistica da "recuperao italiana" e da
mais espantosa recuperao alem. Tambm uma exaltao dos lderes
maravilhosos que eram os autores dessas recuperaes. Quanto ao nosso povo
francs? Existe um homem entre ns que pode nos erguer. Tambm temos um
homem providencial. Quer saber o seu nome? Petain. Precisamos de Petain, pois a
ptria est em uma situao perigosa e no apenas a ptria, mas tambm o
catolicismo: 'A civilizao crist est condenada morte se um regime ditatorial no
for imposto em todos os pases".
Ouam: No tempo de paz, um regime s pode ser derrubado por um golpe de
Estado se ele assim o quiser ou no tiver o apoio de seu Exrcito ou burocracia. A
operao pode ser um sucesso somente atravs da guerra e especialmente da derrota.
A trilha a seguir j estava aberta em 1935 para recristianizar a Frana; o regime tinha
de ser banido, e a melhor maneira de chegar a isso era sofrendo uma derrota militar
que colocasse a Frana sob o jugo alemo. Em 1943, isso foi con rmado por Pirre
Lavai, assessor do papa e presidente do governo de Vichy. "Espero que a Alemanha
seja vitoriosa. Pode parecer estranho ouvir isso: que algum derrotado deseje a vitria
do vencedor. Mas porque essa guerra no como as anteriores. uma verdadeira
ao brincarem de camalees. Isso eles fazem bem e, como sabemos, aps a Libertao
tivemos a surpresa de ver surgir, em todos os lugares, os padres "que haviam
pertencido Resistncia" (eles entraram nessa muito tempo depois de outros!) e que
testi cavam que a Igreja nunca, nunca havia "colaborado". Esquecidos, abolidos,
evaporados foram todos os artigos do La Croix e de outros jornais catlicos, os
mandatos episcopais, as cartas pastorais, as comunicaes o ciais da Assemblia de
Cardeais e Arcebispos, as exortaes do cardeal Baudrillart, convocando a juventude
francesa a usar o uniforme nazista e servir na L.VF aps terem feito um juramento de
lealdade a Hitler! Tudo isso era passado e esquecido! 'A histria uma novela", disse
um pensador desiludido.
A da nossa poca ser a prova desta de nio: a novela est sendo escrita sob nossos
olhos. Muitos "historiadores" esto contribuindo Para isso; eclesisticos e leigos
extremamente empenhados tambm e podemos estar certos que o resultado ser
"edificante": uma novela catlica, com certeza.
A contribuio dos jesutas extensa, tal qual a valiosa herana do padre Loriquet,
cuja "Histria da Frana" faz um retrato fantstico de Napoleo.
Comparada a esse feito notvel, seria uma coisa simples a camuflagem da colaborao
entre os sacerdotes e o invasor alemo, de 1940 e 1944, e a posterior eliminao. Isto
se mantm ainda hoje, aps tantos anos; muitos artigos vm sendo escritos em
jornais, peridicos, livros e outras publicaes, sob o patrocnio da "Imprimatur",
para louvar os superpatriotas julgados de forma leviana, como por exemplo Suhard,
Baudrillart, Duthoit, Auvity, Du Bois de Ia Villerabel, Mayol de Luppe e outros!
Quanta tinta gasta para exaltar a atitude - to herica - do episcopado, durante os
anos de guerra nos quais a Frana experimentou "uma situao que levou os bispos
franceses a se tornarem os "defensores da cidade", como escreveu um humorista.
"Calnias e mais calnias! Alguma coisa verdadeira deve ser dita!", avisou Basile, esse
tipo perfeito de jesuta. "Pr a limpo, pr a limpo de novo", dizem seus sucessores,
grandes escritores de "novelas histricas". Esse "pr a limpo" continua sendo feito
extensivamente. As geraes futuras, submersas em tantos exageros, devotaro a eles
sentimentos de gratido - pelo menos, achamos que sim - a esses "defensores" da
cidade, esses heris da Igreja Romana e da Ptria, "vestidos com uma honestidade
cndida de linho branco" pelo trabalho de seus apologistas. Alguns foram at mesmo
canonizados!
A 25 de agosto de 1944, o cardeal jesuta Suhard, arcebispo de Paris (desde 11 de
maio de 1940!) e lder do clero colaboracionista, decidiu imperturbavelmente
celebrar o "Te Deum" da vitria em Notre Dame. Fomos poupados dessa farsa
inaudita apenas pelo "forte protesto do capelo geral da F.F.I."
Lemos no France Dimanche de 26 de dezembro de 1948: "Sua Eminncia, o cardeal
Suhard, arcebispo de Paris, no aniversrio de sua admisso ao sacerdcio, acaba de
receber uma carta autografada de sua Santidade Pio XII, que o congratula, entre
outras coisas, pelo apel que exerceu durante a ocupao". Sabemos que o
comportamento do cardeal durante aquele perodo havia sido profundamente
criticado aps a Libertao. Quando o general De Gaulle voltou a paris, em agosto
de 1944, recusou-se a encontrar com o cardeal no "Te Deum" de Notre Dame.
Naquela poca, o cardeal era acusado abertamente de "tendncias colaboracionistas".
As congratulaes do "Santo Papa" so, portanto, compreensveis, mas h uma outra
histria do "Te Deum" ainda mais "edi cante"! Aps o desembarque dos aliados, a
cidade de Rennes sofreu muito com os combates que vieram a seguir, e muitos
morreram dentre a populao civil, pois o o cial comandante do batalho alemo
havia se negado a deixar que abandonassem o local.
Quando a cidade foi tomada, o "Te Deum" tradicional seria celebrado, mas o
arcebispo e primaz da Bretanha, monsenhor Roques, se recusou peremptoriamente
no apenas a celebr-la mas ainda a autorizar que essa cerimnia fosse realizada na
Catedral. Agradecer aos Cus pela libertao da cidade era um escndalo intolervel
aos olhos desse prelado.
Por causa dessa atitude, ele foi con nado residncia do arcebispo pelas autoridades
francesas. Tal lealdade ao "pensamento papal" pedia uma retribuio equivalente.
Esta veio de Roma, logo depois, na forma de um chapu de cardeal. Podemos culpar
Pio XII por muitas coisas, mas temos de admitir que ele sempre "reconheceu seus
pares". Uma carta elogiosa ao cardeal Suhard, colaboracionista distinto; o cardinalato
ao monsenhor Roques, heri da Resistncia Alem: este "grande papa" estava
praticando uma justia estritamente distributiva. claro que seus assessores eram do
tipo que Poderiam aconselh-lo sabiamente: dois jesutas alemes, Leiber e Hentrich,
"seus dois secretrios particulares e seus favoritos". Seu confessor era o jesuta alemo
Bea; a irm Pasqualina, freira alem, supervisionava a casa e cozinhava tudo para ele.
At mesmo o vinho, com o nome de "Dumpfaf', havia sido importado do outro
lado do Reno. Este Soberano Pont ce, no entanto, no havia dito Ribbentrop,
depois de Hitler ter invadido a Polnia, que "ele serrmr teria uma afeio especial
pela Alemanha?"
outros, por seu discurso ou exemplo, pode no s ser excomungado mas tambm
assassinado justamente".(118e usa) e jsso n;jo pU(jer ser considerado um apelo
caracterstico matana, que me transformem tambm em um moedor de pimenta",
como Courteline disse recentemente.
Tambm querem a contribuio do Sumo Pont ce? Aqui est, de um papa
moderno, cujo "liberalismo" foi criticado pelo clero intransigente, o papa jesuta
Leo XIII: 'Antema (excomunho) sobre aquele que diz: o Esprito Santo no quer
que matemos os ereges". Que outra autoridade mais alta poderia ser invocada depois
dessa, alm do prprio Esprito Santo? Apesar disso poder desagradar queles que
manipulam a cortina de fumaa (referncia queles que fazem os sinais de fumaa
durante a escolha do papa), os consolos para as conscincias inquietas, os "altos
princpios" do papado continuam de p, intactos e, entre outras coisas, a exterminao pela F to vlida e cannica hoje em dia quanto foi no passado.
Uma concluso muito "esclarecedora" - para usar uma palavra muito familiar aos
msticos - quando consideramos o que aconteceu na Europa entre 1939 e 1945:
"Hitler, Goebbels, Himmler e a maior parte dos membros da "velha-guarda" do
partido eram catlicos", escreveu Frederic Hoet. "No foi por acaso que, por causa
da religio de seu lder, o governo nacional-socialista foi o mais catlico que a
Alemanha j teve algum dia", continuou.
Esse parentesco entre o nacional-socialismo e o catolicismo ainda mais
impressionante se estudarmos de perto os mtodos de propaganda e a organizao
interior do partido. Sobre esse assunto, nada mais instrutivo do que os trabalhos de
Joseph Goebbels, criado em um colgio jesuta e seminarista antes de se dedicar
literatura e poltica. Cada pgina, cada linha de seus escritos lembra os
ensinamentos de seus mestres; assim que ele enfatiza a obedincia e o desprezo pela
verdade. 'Algumas mentiras so to teis quanto o po", proclamou, em virtude de
um relativismo moral extrado dos escritos de Igncio de Loyola".
Hitler no atribuiu o prmio do jesuitismo ao seu chefe de propaganda, mas ao seu
chefe da Gestapo, conforme disse aos seus auxiliares: "Posso ver Himmler como
nosso Igncio de Loyola".(120) Para dizer uma coisa dessas, o Fuhrer deve ter tido
boas razes.
Em primeiro lugar, percebe-se que Kurt Heinrich Himmler, Reichsfuhrer da SS,
Gestapo e foras policiais alems, parecia ser um dos mais clericalistas entre os
membros catlicos da assessoria de Hitler. Seu pai havia sido diretor de uma escola
catlica em Munique, depois tutor do prncipe Ruprecht, da Bavria. Seu irmo um
monge beneditino, vivia no monastrio de Maria Laach, um d^ principais locais do
pan-germanismo. Um tio seu tambm havia trabalhado com o importante cargo de
cnego da Corte da Bavria o jesuta Himmler.
O autor alemo Walter Hagen tambm nos fornece essa interessante informao: "O
prior jesuta, conde Halke von Ledochowski estava pronto para organizar na base
comum do anticomunismo' alguma colaborao entre o Servio Secreto Alemo e a
Ordem Jesuta".
Como resultado disso, dentro da Central do Servio de Segurana da SS, uma
organizao foi criada, e a maior parte de seus postos foram exercidos por padres
catlicos usando o uniforme preto da SS. O padre jesuta Himmler era um dos
o ciais superiores. Aps a capitulao do Terceiro Reich, ele foi preso e levado a
Nuremberg. Seu depoimento no tribunal internacional teria sido aparentemente
muito interessante, mas a "Providncia" foi vigilante: o tio de Heinrich Himmler
nunca se apresentou perante a Corte. Em uma certa manh, ele foi encontrado morto
na sua cela, e o mundo nunca veio a saber a causa de sua morte. No insultaremos a
memria desse sacerdote, supondo que ele deu m a seus dias por livre e espontnea
vontade, contra as leis de ensino solenes da Igreja Romana. Sua morte foi repentina e
oportuna, tanto quanto a de outro jesuta, algum tempo antes, padre Staemp e, o
autor no reconhecido de Mein Kampf. Realmente, uma estranha coincidncia...
Voltemos, porm, a Kurt Heinrich Himmler, chefe da Gestapo, o que signi cava
que ele tinha nas mos as rdeas essenciais para o poder do regime. Ser que foi por
seus mritos pessoais que conquistou to alta posio? Hitler via nele uma
genialidade superior quando o comparou ao criador da Ordem Jesuta? Isso com
certeza no corresponde aos testemunhos daqueles que o conheciam e que no viam
nele nada mais do que um homem medocre.
Ser que aquela estrela brilhava com um brilho emprestado? Era realmente Himmler,
o chefe ostensivo, quem governava sobre a Gestapo e os servios secretos? Quem
estava mandando milhes de pessoas ao desespero, judeus aos campos da morte e
deportando homens por motivos polticos? Seria o sobrinho de cara amassada ou o
tio, ex-cnego da Corte da Bavria, um dos favoritos de Ledochowski, um padre
jesuta e oficial superior da SS?
Pode parecer excessivo, e at mesmo presunoso olhar to para trs, ou seja, por
detrs das cortinas da Histria. A pea representada no palco, diante de luzes
arranjadas na ribalta, nas varas de luz e nas laterais. Sempre assim para qualquer
show, mas aquele que quer enxergar para alm do bvio pode ser visto como
encrenqueiro e inconveniente. Os atores fantoches sobre quem o pblico lana o seu
olhar vm todos da parte detrs das cortinas. Isso ca ainda mais evidente quando
estudamos esses "monstros sagrados" e percebemos que esto longe de serem iguais
aos indivduos que supostamente devem representar. Esse parece ser o caso de
Himmler.
No seria correto dizer o mesmo daquele a quem prestou ajuda como sendo seu
brao direito, Hitler? Quando vemos Hitler gesticular nas telas ou ouvimos seus
discursos histricos, no temos a impresso de estarmos olhando os movimentos de
sanginrias que zeram da Itlia uma priso durante 20 anos, e as runas da guerra
de 1940-1945 encontrava a sua origem em um caso historicamente quase nico: a
absurda desproporo entre a lenda criada arti cialmente em volta de um nome e as
capacidades reais do pobre diabo que usava deste nome, um homem que no se
incomodava com a cultura"
Essa frmula perfeita aplicvel tanto a Hitler quanto a Mussolini: a mesma
desproporo entre a lenda e as capacidades e a mesma falta de "cultura" naqueles
dois medocres aventureiros com passados praticamente idnticos. Suas carreiras
fulgurantes podem encontrar uma explicao apenas no seu dom de "levantar" as
massas, dom que os levou para a frente do brilho da publicidade. Que a lenda foi
"criada arti cialmente" muito evidente, principalmente quando hoje sabemos que
as aparies retrospectivas do Fuhrer, nas telas da Alemanha, provocam risos naqueles
que tm um mnimo de discernimento.
No seria a inferioridade bvia desses "homens providenciais" a verdadeira razo por
terem sido escolhidos a subir ao poder? O fato que a mesma falta de qualidades
pessoais pode ser encontrada em todos aqueles que o papado escolhe para serem os
seus "campees". Na Itlia e na Alemanha havia alguns "verdadeiros" homens de
Estado, "verdadeiros" lderes, que eram capazes de assumirem o pas e governarem
sem terem de recorrer a esses "msticos" delirantes. Esses homens eram muito
brilhantes intelectualmente, mas no suficientemente devotos.
O Vaticano, e especialmente o "Papa Negro", von Ledochowski, no os poderia
manter "como se fossem um basto nas suas mos", de acordo com a frmula
passional, e faz-los servirem a seus objetivos a todo custo, at a chegada da
catstrofe. O revolucionista Mussolin; foi transformado e "virado do avesso" pelos
emissrios da Santa S que lhe prometeram poder. Hitler provou o quanto era
malevel. o plano de Ledochowski era criar uma federao de naes catlicas na
Europa Central e do Leste, na qual a Bavria e a ustria, governada pelo jesuta
Seipel, teriam a proeminncia. A Bavria teria de se separar da Repblica Alem de
Weimar e, como por acaso, o agitador Hitler, de origem austraca, era na poca um
separatista bvaro.
A oportunidade de realizar essa federao e colocar um Hapsburg no controle se
tornou mais e mais distante, enquanto o monsenhor Pacelli, o nncio que tinha
deixado Munique para ir a Berlim, cava mais consciente em relao fragilidade da
Repblica Alem, por causa do pouco apoio dado pelos Aliados. A esperana de
tomar conta da Alemanha nasceu ento no Vaticano e o plano se modi cou: 'A
hegemonia da Prssia protestante tinha de ser evitada, e como o Reich ia dominar a
Europa - para sustentar o federalismo alemo -um Reich tinha de ser reconstitudo,
no qual os catlicos seriam os senhores". Isso era o suficiente.
Mudando de postura radicalmente e acompanhado de seus "camisas marrons",
Hitler, que tinha sido at ento um separatista bvaro, tornou-se do dia para a noite
o inspirado 'Apstolo do Grande Reich".
crimes. Durante cinco anos, massacrou seis milhes de judeus. Dentre estes seis
milhes, um milho e oito-centas mil eram crianas. Quem disse uma vez: "Deixem
vir a mim as criancinhas?" E por que razo? Devem vir at mim para que possa
chacin-las? O papa militante foi substitudo pelo papa diplomtico. Da Paris
ocupada, seguimos para Roma, tambm ocupada pelos alemes aps o fracasso
italiano.
Aqui transcrevemos uma mensagem endereada a von Rubbentrop, ministro nazista
dos Negcios Estrangeiros: Embaixada Alem na Santa S. Roma, 28 de outubro de
1943. Apesar de pressionado por todos os lados, o papa no demonstrou nenhum
tipo de reprovao quanto deportao dos judeus de Roma. Ele teme que nossos
inimigos reprovem sua atitude nesse caso, e que esse venha a ser explorado pelos
protestantes de pases anglo-saxes em sua propaganda contra o catolicismo. 'Ao
considerar essa questo delicada, 0 possvel estremecimento de nossas relaes com o
governo alemo foi o fator decisivo". Assinado: Ernst von Weiszaeker.
Ao relatar a carreira deste baro von Weiszaeker - julgado como criminoso de guerra
"por ter preparado listas de extermnio" - o Le Monde, de 27 de junho de 1947,
escreveu: "Prevendo uma derrota da Alemanha, ele conseguiu uma indicao para o
Vaticano, aproye-tando-se da oportunidade de trabalhar intimamente com a
Gestapo"
Para ajudar os nossos leitores no completamente convencidos citaremos o seguinte
documento o cial alemo que estabelece as disposies do Vaticano e dos jesutas
com relao aos judeus, antes da guerra: 'Ao estudar a evoluo do anti-semitismo no
Estados Unidos percebemos com interesse que o nmero de ouvintes das
transmisses de rdio do padre Coughlin (jesuta), reconhecido por seu antisemitismo, excede a 20 milhes!"
O anti-semitismo militante dos jesutas nos Estados Unidos, semelhana de todos
os lugares, no surpreendente da parte desses ultramontanos, pois est
perfeitamente de acordo com a "doutrina". Vejamos o que Daniel Rops, da
Academia Francesa, tem a dizer sobre o assunto; este autor se especializou em
literatura, devotou e publicou sempre sob os auspcios da Imprimatur. Lemos em
um de seus trabalhos mais conhecidos, "Jesus e Sua poca", publicado em 1944,
durante a ocupao alem: "Durante sculos, por onde a raa judia se espalhasse, o
sangue escorria, e sempre a mesma exigncia de assassinato proferida no hall de
julgamento de Pilatos e afogando o grito de desespero repetido mil vezes. A face de
uma nao judia perseguida preenche as pginas da Histria, mas no se pode
eliminar essa outra face, untada com sangue e cuspe, pela qual a multido judia no
sentiu pena alguma.
Israel no teve alternativa nessa questo tendo que matar seu Deus aps repudi-Lo, e
como o sangue misteriosamente clama por sangue, a caridade crist pode no ter
sucumbido diante da tarefa nova e gigantesca a ela atribuda pelo "Santo Papa?" No
seria de surpreender. Alm da "santinha", ainda havia a "Rainha dos Cus" que, em
1917, j tinha assumido, sob certas condies, trazer de volta a Rssia do cisma ao
rebanho da Igreja Romana.
Vejamos o que o La Croix disse sobre o assunto: "Lembramos nossos leitores que a
prpria Nossa Senhora de Ftima havia prometido a converso dos russos, se os
cristos praticassem com sinceridade e devoo todos os mandamentos da lei do
evangelho".
De acordo com os padres jesutas, que eram grandes especialistas em milagres, o
Mediador Celeste teria recomendado como especialmente e caz o uso dirio do
rosrio. Essa promessa da Virgem teria sido selada por ela com uma "dana do Sol",
uma maravilha que teria ocorrido novamente em 1951, nos jardins do Vaticano,
para o benefcio exclusivo de "Sua Santidade" Pio XII. Os russos, no entanto,
invadiram Berlim, apesar da cruzada convocada pelo papa e, at hoje, os
compatriotas de Khrushev no demonstraram nenhuma vontade, que seja do nosso
conhecimento, de surgirem diante das "portas de So Pedro" em trajes de penitentes,
com um cabresto em volta do pescoo. O que aconteceu de errado? Os cristos no
teriam contado bem as contas do rosrio? Algumas das rezas no foram feitas
corretamente?
Seramos tentados a acreditar que essa seria a causa, se no houvesse aquele detalhe
meio escabroso da "maravilhosa" histria de Ftima. A promessa de converso da
Rssia, feita clarividente Lcia em 1917, foi por ela "revelada" apenas em 1941,
quando havia Se tornado freira, e tornada pblica em outubro de 1942 pelo cardeal
^hr, um partidrio entusiasta do eixo Roma-Berlim. Foi tornada pblica por
solicitao (melhor seria dizer "ordem") de Pio XII mesmo Pio XII que, trs meses
depois, fez a j mencionada convocao para uma Cruzada. extremamente
"esclarecedor": Um dos apologistas de Ftima admite que, por causa disso, o caso
"evidentemente perde algo do seu valor proftico". o mnimo que se pode dizer
sobre o assunto.
Um certo cnego, grande especialista na questo do "milagre portugus", conta-nos
em con dencia: "Devo confessar que, com grande relutncia, acrescentei s minhas
primeiras edies o texto revelado ao pblico por Sua Eminncia Cardeal Schuster".
Com certeza podemos entender os sentimentos do bom cnego: A "Santa Virgem"
teria contado pastorinha Lcia, em 1917: "Se meus pedidos forem atendidos, a
Rssia ser convertida", enquanto a encarregava de manter esse "segredo" s para ela.
Ento como que os cristos chegaram a car sabendo sobre esses "pedidos"?
"Credibile quia ineptum".
Parece que de 1917 a 1942 a "infeliz Rssia" no precisava ter nenhuma reza feita em
seu nome, e que essas rezas seriam extremamente necessrias somente aps a derrota
Captulo 6
Concluso
Recapitulamos nesse livro as principais manifestaes da atividade multiforme
desenvolvida pela Companhia de Jesus, durante quatro sculos. Estabelecemos
tambm que o carter militante, e at militar, dessa famosa instituio ultramontana
justi ca plenamente o ttulo freqentemente atribudo a ela de "exrcito secreto do
papado". Na frente de batalha, "para a glria de Deus" e especialmente da Santa S,
os soldados eclesisticos dessa Ordem se entregam e so tambm orgulhosos dela.
Ao mesmo tempo, se esforam atravs de livros e da imprensa devota que
supervisionam, a despistarem tanto quanto possvel sobre as empreitadas
"apostlicas" da ao que exercem em seu campo favorito: na poltica das naes. A
camu agem inteligente, os protestos de inocncia, a revolta contra as "tramas
obscuras" atribudas a eles pela imaginao atribulada dos inimigos, ludo isso vem
carregado da hostilidade unnime da opinio pblica em relao a eles, sempre e em
todos os lugares, e a inevitvel reao contra suas intrigas que os levou expulso de
todos os pases, inclusive os mais fortemente catlicos. Essas 56 expulses, para citar
apenas as principais, fornecem um argumento infalvel. Seria o su ciente para provar
sua natureza maiigna. Como no poderia ser prejudicial s sociedades civis esse
instrumento de imposio das leis "espirituais" nos governos temporais? E essa lei por natureza - no teria a menor considerao pelos vrios interesses nacionais?
A Santa S, essencialmente oportunista, no adota esses interesses nacionais quando
coincidem ser os seus prprios. Mas, se a Santa S puder dar uma ajuda signi cativa
nesses projetos, o resultado nal ser ben co para ambos. Isto tambm pde ser
visto em 1918 e1945.
Terrvel contra os inimigos ou quem se oponha a ele, o Vaticano, essa organizao
anfbia clricopoltica, ainda mais mortal com os amigos. Sobre tal assunto, T.
Jung escreveu, em 1874, as seguintes linhas que no foram ultrapassadas ainda: "O
poder da Frana inversamente proporcional intensidade de sua obedincia Cria
Romana".
Uma testemunha recente, Joseph Hours, ao estudar os efeitos da muito relativa
"desobedincia" francesa, diz: "No h dvidas sobre isso; por todo o continente e
talvez por todo o mundo, onde o catolicismo tentado a se tornar poltico,
tambm tentado a se tornar antifrancs".
Uma observao contundente, apesar do termo "tentado" ser muito fraco.
Conclumos que "obedecido" seria mais apropriado. "No fcil se expor a essa
hostilidade", eis a concluso que chegou o coronel Beck, ex-ministro dos Negcios
Resumindo, esto por todos os lados, e podemos ver como signi cativo o fato do
papa, ao ministrar a missa, estar necessariamente sempre assistido por um jesuta. Seu
confessor tambm sempre jesuta. Ao manter a concentrao do poder nas mos do
Soberano Pontfice, a Companhia est trabalhando para o papa e para si mesma,
bene ciria aparente desse trabalho, que pode repetir essas famosas palavras: "Sou o
lder deles; obedeo, portanto, suas ordens".
Assim, cada vez mais difcil distinguir a ao da Santa S e da Companhia. Essa
Ordem, no entanto, o verdadeiro pilar da Igreja, tende a domin-la absolutamente.
J faz muito tempo que os bispos no passam de "funcionrios pblicos", executores
dceis das ordens vindas de Roma, ou melhor, do "Gs".
Sem dvida, os discpulos de Loyola se esforam para ocultar dos olhos dos is a
severidade de um sistema cada vez mais totalitrio. A imprensa catlica, sob seu
controle direto, assume alguns tons ideolgicos diferentes para dar a impresso de
um certo tipo de independncia a seus leitores, de que aberta a novas idias: os
padres, que so todas as coisas para os homens, praticam com empenho esses truques
de circo que s enganam os bobos. Por detrs dessa pequena "diverso", entretanto,
os eternos jesutas esto vigilantes, como diria um autor j mencionado: 'A
intransigncia inerente a eles". Capazes de fazer truques de mgica, por causa de suas
habilidades, sua caracterstica por excelncia a intransigncia"
Encontramos excelentes exemplos dessa teimosia e do vis insidioso no trabalho
paciente dos membros da Companhia para conciliar, por bem ou por mal, o esprito
cient co e "moderno" com a doutrina, de forma a que o primeiro se curve perante
essa, e especialmente com essas formas completamente idolatras de devoo - o culto
de Maria e os milagres - dos quais so ainda os mais dedicados propa-gandistas.
Dizer que esses esforos so coroados de xito seria um exagero: misturar fogo e gua
s faz fumaa. Mas at mesmo a inconsistncia dessas nuvens chega a agradar algumas
mentes sutis, apesar de conscientes dos perigos que os pensamentos muito precisos
trazem f sincera. "Vade retro, satans!"
A metafsica alem muito valiosa; podemos encontrar tudo o que precisamos, e at
mesmo o contrrio. No h superstio infantil
que, aps um tratamento, no adquira alguma aparncia de seriedade e mesmo
profundidade. engraado acompanhar nas publicaes dos vrios grupos culturais
esses jogos intelectuais. O pesquisador pode achar o material que precisa, em especial
aquele estudioso que, por uma tendncia aberrante, goste de ler nas entrelinhas.
Esses homens cheios de amargura no vivem na esfera especulativa; os bons padres s
se garantiram em fazer um bom apostolado entre os "intelectuais", formando uma
slida base temporal. Aos "dons do Esprito", que eles cedem luxuosamente aos seus
discpulos, acrescentam-se vantagens substanciais. uma tradio antiga.
Nos tempos de Carlos Magno, os saxes convertidos recebiam uma camisa branca.
oposio que supostamente a "Opus Dei" enfrenta da parte dos jesutas, vemos que
no passa de mera rivalidade de grupos. A Companhia, como j dissemos e
provamos, to "modernista" quanto "conservadora", de acordo com as
oportunidades, pois est determinada a ter um p em cada lado do campo de batalha.
O mesmo jornal Le Monde publicou um artigo de Jean Creach, ironicamente nos
convidando a admirar um 'Auto-de-f dos jesutas espanhis", felizmente limitado
aos trabalhos da literatura francesa. Com certeza, esse censor jesuta no parece ser um
"modernista", a julgar pelo que Jean Creach diz: "Se o padre Garmendia tivesse o
poder do cardeal Tavera, aquele do olhar ressuscitado por El Greco como uma
mscara de luz esverdeada com prpura, a Espanha s teria contato com nossa
literatura atravs de autores castrados ou at mesmo decapitados".
Ento, aps citar vrios exemplos engraados do cuidado puri cador do reverencio
padre, o autor nos conta essa re exo pertinente: "Ser que as mentes formadas pelos
nossos jesutas so to frgeis que no podem entrar em contato com o menor perigo
de serem derrotadas por elas mesmas?", sussurou uma "lngua malvada". Diga-me,
caro amigo, se eles so incapazes de fazer isso, qual o valor do ensino que os faz to
frgeis?"
A essa crtica humorstica, podemos responder que a dita fraqueza das mentes
moldadas pelos jesutas o principal valor do seu ensino - bem como seu perigo. a
esse ponto que sempre devemos retomar. Atravs de uma vocao especial, apesar de
algumas honrosas e at mesmo famosas excees, eles so os inimigos eternos da
liberdade de pensamento: so agentes da lavagem cerebral que j sofreram a sua
prpria lavagem cerebral. Essa a sua fora, e fraqueza, alm de seu prejuzo.
Andr Mater declarou com muita pertinncia o totalitarismo absoluto dessa Ordem
quando escreveu: 'Apesar da disciplina que os une em esprito a todos os membros,
cada um deles age e pensa com a intensidade de outros trinta e nove. Esse o
fanatismo jesutico".
Mais terrvel hoje em dia do que antes, esse jesuitismo fantico, senhor absoluto da
Igreja Romana, fez com que esta se intrometesse demais nas competies do mundo
poltico, no qual o esprito militante e militar que caracteriza esta Companhia se
desenvolveu ainda toais. Sob seu cuidado, a organizao papal e a sustica lanaram
um ataque fatal contra o odiado liberalismo e tentaram estabelecer urna "nova Idade
Mdia", prometida por Hitler para a Europa.
Apesar dos planos prodigiosos de von Ledochowski, de Himmler "nosso Igncio de
Loyola", dos campos de morte lenta, da corrupo das mentes pela Ao Catlica e
pela propaganda irrestrita dos jesutas nos Estados Unidos, a empreitada do "homem
da Providncia" foi um asco, e a "herana de So Pedro", ao invs de crescer no
Leste, foi drasticamente reduzida. Um fato inegvel ca: o governo nacionalsocialista, "o mais catlico que j houve", tambm foi o mais absurdamente cruel -