A História Secreta Dos Jesuítas - Edmond Paris

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 160

Introduo

dos Editores

No h pessoa mais quali cada para fazer a introduo do livro de Edmond Paris, "A
Histria Secreta dos Jesutas", que o Dr. Alberto Rivera, ex-sacerdote jesuta, criado
desde os sete anos de idade em um seminrio na Espanha, sob extremo juramento e
os mais rgidos mtodos de induo, treinado inclusive no Vaticano, que resumiu a
histria dos jesutas.
Os dados contidos neste livro so factuais e amplamente documentados,
encontrando-se disposio para consulta de todos os cristos, ao redor do mundo,
que crem na Bblia, a qual declara:
"O meu povo est sendo destrudo porque lhe falta o conhecimento". Osias 4.6

Introduo do Dr. Alberto Rvera



Os homens mais perigosos so aqueles que aparentam muita religiosidade,
especialmente quando esto organizados e detm posies de autoridade, contando
com o profundo respeito do povo, o qual ignora seu srdido jogo pelo poder nos
bastidores.
Esses homens chamados "religiosos", que ngem amar a Deus, recorrero ao
assassinato, incitaro revolues e guerras, se necessrio, em apoio sua causa. So
polticos ardilosos, inteligentes, gentis e de aparncia religiosa, vivendo em um
obscuro mundo de segredos, intrigas e santidade mentirosa.
Esse padro humano, observado em A Histria Secreta dos Jesutas, espiritualmente
falando, pode ser veri cado entre os escribas, fariseus e saduceus do tempo de Jesus
Cristo.
Os "pastores primitivos" observavam muito do antigo sistema babilnico, alm da
Teologia judaica e da Filoso a grega. Todos eles perverteram a maior parte dos
ensinamentos de Cristo e de Seus apstolos, construindo as bases para a mquina do
catolicismo romano, que estava por vir. Piamente, atacaram, perverteram,
acrescentaram e suprimiram da Bblia.
Esse esprito religioso anticristo, trabalhando atravs deles, pde ser visto novamente
quando Igncio de Loyola criou os jesutas para, secretamente, atingir dois grandes
objetivos da instituio catlica romana:
1) Poder poltico universal
2) Uma igreja universal, no cumprimento das profecias de Apocalipse 6.13-17 e 18.
No momento em que Igncio de Loyola apareceu em cena, a Reforma Protestante
tinha dani cado seriamente o sistema catlico romano. Ele chegou concluso que a
nica possibilidade de sobrevivncia para a sua "igreja" seria atravs do reforo dos
cnones.
Isso aconteceria no pelo simples aniquilamento das pessoas, conforme os frades
dominicanos se incumbiam de fazer atravs da Inquisio, mas pela in ltrao e
penetrao em todos os setores da sociedade. "O protestantismo deve ser
conquistado e usado para o benefcio dos papas", era a proposta pessoal de Igncio de
Loyola ao papa Paulo III.
Os jesutas comearam a trabalhar imediatamente, in ltrando-se em todos os grupos
protestantes, incluindo-se a suas famlias, locais de trabalho, hospitais, escolas,
colgios e demais instituies. Atualmente, tm sua misso praticamente concluda.
A Bblia coloca o poder de uma igreja local nas mos de um pastor de Deus. Os
astutos jesutas, no entanto, conseguiram com sucesso tirar aquele poder das
denominaes evanglicas ao longo do tempo, tendo conseguido agora lanar quase

todas as denominaes protestantes nos braos do Vaticano. Isso foi exatamente o


que Igncio de Loyola se props a atingir: uma igreja universal e o m do
protestantismo.
Na medida em que o leitor for se aprofundando na leitura do livro A Histria
Secreta dos Jesutas, perceber a existncia de um] paralelo entre os setores religioso e
poltico. O autor, Edmond Paris, revela a in ltrao dos jesutas nos governos e
naes do mundo, para manipulao do curso da Histria, erguendo ditaduras,
enfraquecendo democracias, abrindo caminho para a anarquia social, poltica, moral,
militar, educacional e religiosa.

O Homem Edmond Paris



Atravs dos trabalhos profticos do livro do Apocalipse, Edmond Paris se tornou em
um mrtir para Jesus. Ao expor tal conspirao, apostou sua vida na verdade dos
sinais bblicos a serem conhecidos.
Edmond Paris nunca chegou a me conhecer, mas o conheci sem termos sido
apresentados pessoalmente, quando, com outros jesutas e sob juramento, fui
instrudo a respeito dos nomes de instituies e indivduos na Europa considerados
perigosos para os objetivos da instituio catlica romana. Seu nome nos foi passado
nessa ocasio.
Obras de Edmond Paris: Le Vatican Contre La France Genocide in the Satellite
Croatia The Vatican Against Europe.
As obras de Edmond Paris sobre o catolicismo romano zeram com que os jesutas
assumissem como compromisso: destru-lo; destruir sua reputao, inclusive de sua
famlia, e destruir seu trabalho. At hoje, estas grandes obras de Edmond Paris tm
sido adulteradas, mas pedimos que Deus continue a preserv-las, pois so
extremamente necessrias para a salvao do povo catlico romano.

Prefcio

Um escritor do sculo passado, Adolphe Michel, lembrava que Voltaire estimava em
seis mil o nmero de obras publicadas sobre os jesutas quela poca. 'A que nmero
chegaremos um sculo depois?", perguntava Adolphe Michel, apenas para terminar
em seguida: "No importa. Enquanto houver jesutas, livros tero de ser escritos
contra eles. Nada mais pode ser dito de novo sobre eles, mas as novas geraes de
leitores surgem todos os dias, e esses leitores procuraro por livros velhos?" A razo a
qual acabamos de mencionar seria mais do que su ciente para justi car a retomada
desse assunto exaustivamente discutido.
De fato, muitos dos primeiros livros retratando a histria dos jesutas no podem
mais ser encontrados. Apenas em bibliotecas pblicas ainda podem ser consultados, o
que os torna inacessveis maior parte dos leitores.
Com o propsito de informar suscintamente ao pblico em geral, pareceu-nos
necessrio um sumrio dessas obras.
H tambm outra razo, to importante quanto a que acabamos de mencionar. Ao
mesmo tempo em que novas geraes de leitores surgem, novas geraes de jesutas
aparecem, e estes, trabalham ainda hoje, com os mesmos mtodos tortuosos e
tenazes com os quais to freqentemente no passado zeram funcionar os re exos
defensivos de naes e governos.
Os lhos de Loyola, mais do que nunca, so a ala dominante da Igreja Romana. To
bem disfarados quanto antigos, continuam a ser os mais eminentes
"ultramontanos"; os agentes discretos mas e cazes da Santa S em todo o mundo; os
campees camuflados de sua poltica; a "arma secreta do papado".
Este livro ao mesmo tempo uma retrospectiva e atualizao da histria do
jesuitismo. Pelo fato da maioria das obras referentes aos jesutas no mencionarem o
papel primordial deles nos eventos que esto subvertendo o mundo nos ltimos
cinqenta anos, acreditamos ter chegado o momento de superarmos essa lacuna ou,
mais precisamente, iniciarmos com nossa modesta contribuio um estudo ainda
mais profundo sobre o assunto.
Fazemo-lo, sem ignorar os obstculos a serem enfrentados pelos autores no apologistas, desejosos de tornarem pblicos escritos sobre esse assunto to
incandescente.
De todos os fatores integrantes da vida internacional de um sculo cheio de
confuses e transtornos, um dos mais decisivos - e ainda no su cientemente
reconhecidos - reside na ambio da Igreja Romana.
Seu desejo secular de estender sua in uncia ao Oriente fez dela o aliado "espiritual"
do Pan-Germanismo e, ainda, sua cmplice na tentativa de conquistar poder

supremo, em duas ocasies, 1914 e 1939, trazendo morte e runa aos povos da
Europa. O pblico praticamente ignora a responsabilidade absoluta do Vaticano e
seus jesutas no incio das duas guerras mundiais - uma situao que pode ser
parcialmente explicada pelos fundos gigantescos disposio do Vaticano e seus
jesutas, dando-lhes poder em muitas esferas da vida social, especialmente a partir do
ltimo conflito.
Na realidade, o papel desempenhado por eles nesses eventos trgicos, quase nem
chegou a ser mencionado at o presente momento, exceo dos apologistas,
ansiosos por disfar-lo. com o objetivo de corrigir isso e estabelecer os fatos
verdadeiros que apresentamos nesta e em outras obras a atividade poltica do
Vaticano na atualidade - atividade esta que tambm conta com a participao dos
jesutas.
Apesar da tendncia generalizada cada vez maior de uma "laicizao" (excluso da
religiosidade); do progresso inelutvel do racionalismo, que reduz um pouco a cada
dia o domnio do "dogma", a Igreja Romana no poderia desistir do grande objetivo,
o qual tem sido seu propsito desde o incio: reunir sob o seu domnio todas as
naes da Terra. Essa "misso" monumental deve continuar, independentemente do
que acontea, tanto entre os "pagos" quanto entre os "cristos separados".
O clero secular tem, em especial, a tarefa de sustentar as posies adquiridas, o que
particularmente difcil hoje em dia, enquanto ca a cargo de certas ordens regulares o
aumento do rebanho de is, pela converso dos "hereges" e "pagos", um trabalho
ainda mais rduo.
A tarefa de preservar ou adquirir, defender ou atacar e, na frente de batalha, est a
fora de combate da Companhia de Jesus - os jesutas. Essa companhia no secular
nem regular nos termos de seus estatutos; , no entanto, um tipo sutil, intervindo
quando e onde for conveniente, dentro e fora da Igreja.
Resumindo: "A Companhia de Jesus o agente mais quali cado, mais perseverante,
mais destemido e mais convicto da autoridade papal", como a descreveu um de seus
melhores historiadores.
Veremos de que maneira esse corpo de janzaros (tropa de choque) foi formado e que
tipo de servio inestimvel dedicou ao papado. Veri caremos tambm o quanto esse
zelo foi realmente efetivo, a ponto de se tornar indispensvel instituio que servia,
exercendo tamanha in uncia que seu prior era chamado, e com razo, de o "Papa
Negro", pois tornava-se cada vez mais difcil distinguir, no governo da Igreja, a
autoridade do papa e a do seu poderoso coadjutor.
O papa, no satisfeito em dar apenas o seu "apoio" pessoal a Hitler, concedeu dessa
forma o apoio moral do Vaticano ao Reich nazista! Ao mesmo tempo em que o
terror estava comeando a reinar do outro lado do Reno, e era secretamente aceito e
aprovado, os assim chamados "camisa marron" j tinham posto quarenta mil pessoas

em campos de concentrao.
Os massacres organizados e perseguies se multiplicavam, ao som dessa marcha
nazista: "Quando o sangue judeu escorrer pela lmina, nos sentiremos melhor
novamente" (Horst- Wessel - Lied).
Durante os anos seguintes, Pio XII viu coisas ainda piores, sem se alterar. No de
surpreender que os dirigentes catlicos da Alemanha competissem entre eles na
servido ao regime nazista, encorajados que eram pelo seu "mestre" romano. Seria
importante ler os delrios ensandecidos e as acrobacias verbais de telogos
oportunistas, dentre eles Michael Schmaus, o qual foi posteriormente elevado por
Pio XII a "alto dignatrio da Igreja", e descrito como "o grande telogo de Munique"
pela publicao La Croix, em 2 de setembro de 1954. Ou ainda um certo livro
intitulado Katholisch Konservatives Erbgut, sobre o qual algum escreveu:
"Esta antologia oferece-nos textos dos principais tericos catlicos da Alemanha, de
Gorres a Vogelsang, fazendo-nos crer que o nacional-socialismo nasceu pura e
simplesmente de idias catlicas" (Gunther Buxbaum, Mercure de France, 15 de
janeiro de 1939).
Os bispos, obrigados a fazer um voto de obedincia a Hitler, devido ao Tratado,
sempre tentaram superar uns aos outros em sua "devoo".
"Sob o regime nazista, constantemente encontramos o suporte fervoroso dos bispos
em todas as correspondncias e declaraes de dignatrios eclesisticos" (Joseph
Rovan, op. cit. pg. 214).
Tais documentos trazem luz as aes secretas e pr das do Vaticano para a criao
de con itos entre as naes, quando serviam aos seus interesses. Com a ajuda de
artigos conclusivos, mostramos o papel desempenhado pela "Igreja" na ascenso dos
regimes totalitrios na Europa.
Estes testemunhos e documentos constituem uma denncia esmagadora e, at o
momento, nenhum apologista se atreveu a desmenti-los.
No dia 1o. de maio de 1938, o jornal Mercure de France lembrou do que havia dito
quatro anos antes, e ningum o desmentiu: Que o papa Pio XII foi quem "fez"
Hitler. Ele veio ao poder, no tanto atravs dos meios legais mas, principalmente,
por causa da in uncia do papa no Centrum (partido catlico alemo). O Vaticano
acredita que cometeu um erro poltico ao ajudar Hitler indicando-lhe o caminho do
poder? Parece que no...
Pelo menos parecia que no quando isso foi escrito, ou seja, no dia seguinte ao
'Anschluss", ocasio na qual a ustria se uniu ao Terceiro Reich; nem
posteriormente, quando as agresses nazistas se multiplicaram; nem mesmo durante
toda a Segunda Guerra Mundial.
Na verdade, no dia 24 de julho de 1959, Joo XXIII, sucessor de Pio XII, conferiu
Franz Von Papen, seu amigo pessoal, o ttulo honorrio de camareiro secreto. Este

homem havia sido espio nos Estados Unidos durante a Primeira Guerra Mundial e
um dos responsveis pela ditadura de Hitler e pelo Anschluss. S algum tipo especial
de "cegueira" pode nos impedir de ver fatos to claros.
Joseph Rovan, autor catlico, comenta o acordo diplomtico entre o Vaticano e o
Reich nazista em 8 de julho de 1933: "O Tratado trouxe ao governo nacionalsocialista, considerado por quase todo o mundo como sendo formado de
usurpadores, quando no bandoleiros, o selo de um acordo com a fora internacional
mais antiga, a epstola pastoral de 3 de junho de 1933, na qual todo o episcopado
alemo est envolvido. Que forma toma este documento? Como que comea?
Com otimismo e com esta declarao de satisfao: Os homens na direo deste
novo governo, para nossa grande alegria, deram-nos a garantia de que colocam a si
prprios e ao seu trabalho em bases crists. Uma declarao de tamanha sinceridade
merece a gratido de todos os catlicos" (Paris, Plon, 1938, pg. 108).
Desde o incio da Primeira Guerra Mundial, vrios papas tm surgido e desaparecido,
mas suas atitudes tm se mantido invariavelmente as mesmas com respeito s duas
faces que se tm confrontado na Europa. Muitos autores catlicos no poderiam
esconder a surpresa - e pesar - ao escreverem sobre a indiferena desumana
demonstrada por Pio XII face aos piores tipos de atrocidades cometidas por aqueles
em seu favor. Dentre muitos testemunhos, citaremos um entre os mais moderados
em suas palavras contra o Vaticano, por Jean d'Hospital, correspondente do Le
Monde:
"A memria de Pio XII est cercada de apreenso. Devido seguinte polmica feita
por observadores de todas as naes: Mesmo dentro das paredes do Vaticano, ser
que ele sabia de certas atrocidades cometidas durante esta guerra, iniciada e conduzida
por Hitler?"
Tendo sua disposio, a todo tempo, de todas as regies, relatrios regulares dos
bispos, poderia ele desconhecer o que os dirigentes militares alemes no podiam
disfarar - a tragdia dos campos de concentrao; civis condenados deportao; os
massacres a sangue-frio daqueles que cavam "pelo meio do caminho"; o terror das
cmaras de gs onde, por razes administrativas, milhes de judeus foram
exterminados? E se por acaso sabia de tudo isso, por que ele, el dignatrio e
primeiro pregador do Evangelho, no veio a pblico, vestido de branco, armas
estendidas na forma da cruz, para denunciar um crime sem precedentes e bradar:
"No!"?
Apesar da diferena bvia entre o universalismo catlico e o racismo hitleriano, essas
duas doutrinas haviam sido "harmonicamente reconciliadas", de acordo com Franz
Von Papen. A razo pela qual esse acordo escandaloso era possvel consistia em que
"o nazismo uma reao crist contra o esprito de 1789".
Voltemos a Michael Schmaus, professor na Faculdade de Teologia de Munique, que

escreveu: "Imprio e Igreja consistem em uma srie de escritos que devem ajudar na
construo do Terceiro Reich, j que rene um Estado nacional-socialista e a
cristandade catlica. Inteiramente alemes e inteiramente catlicos, estes escritos
favorecem relaes e intercmbio entre a Igreja Catlica e o nacional-socialismo; eles
abrem caminho a uma cooperao frutfera, como est realado pelo Tratado.
O movimento nacional-socialista o mais intenso e abrangente protesto contra o
esprito dos sculos XIX e XX. A idia de um povo de nico sangue o ponto
fundamental de seus ensinamentos e todos os catlicos que obedecerem s instrues
dos bispos alemes tero de admitir que assim . As leis do nacional-socialismo e as
da Igreja Catlica tm o mesmo objetivo" (Begegnungen Zwischen Katholischem
Christentum und Nazional-Sozialistischer Weltanschauung Aschendor, Munster,
1933).
Esse documento prova o papel fundamental assumido pela Igreja Catlica na
ascenso de Hitler ao poder; na verdade, tratava-se de uma combinao prestabelecida. Ilustra o tipo de acordo monstruoso entre o catolicismo e o nazismo. O
dio ao liberalismo, que a chave de tudo, torna-se absolutamente claro.
Vejamos o que Alfred Grosser, professor do Instituto de Estudos Polticos da
Universidade de Paris, diz: "O conciso livro de Guenter, Lewy e Catholic Church
and Nazi Germany (New York, McGraw Hill, 1964), diz que todos os documentos
concordam ao demonstrar a cooperao da Igreja Catlica com o regime de Hitler.
Em julho de 1933, quando o Tratado obrigou os bispos a jurarem um voto de
obedincia ao governo nazista, os campos de concentrao j estavam abertos. A
leitura de citaes compiladas por Guenter Lewy a prova irrefutvel disso.
Encontramos algumas evidncias impressionantes de personalidades, tais como o
cardeal Faulhaber e o jesuta Gustav Gundlach.
Apenas palavras vazias podem ser encontradas para negar tais evidncias que provam a
culpabilidade do Vaticano e de seus jesutas. A ajuda destes a principal fora por
detrs da ascenso "iluminada" de Hitler que, juntamente com Mussolini e Franco,
apesar das aparncias, eram fantoches de guerra manipulados pelo Vaticano e seus
jesutas.
Os aduladores do Vaticano deveriam ter baixado suas cabeas, envergonhados,
quando um membro do Parlamento italiano exclamou: 'As mos do papa esto
cheias de sangue!" (fala de Laura Diaz, membro do Parlamento por Livorno,
pronunciada em Ortona, em 15 de abril de 1946), ou quando os estudantes do
Cardi University College escolheram como tema para conferncia: Deveria o papa
ser trazido a tribunal como sendo um criminoso de guerra? (La Croix, 2 de abril de
1946).
Vejamos agora como o papa Joo XXIII se expressou ao se referir aos jesutas:
"Perseverem, queridos lhos, nas atividades que j vos trouxeram mritos

reconhecidos. Assim vs alegrareis a Igreja e crescereis com incansvel fervor: o


caminho do justo como a luz da aurora... E que a luz cresa e ilumine a formao
dos adolescentes...
Em seu livro, Le Silence de Pie XII, publicado por du Rocher, Mnaco, 1965, o
autor Cario Falconi escreve em especial:
"A existncia de tais monstruosidades - extermnios em massa de minorias tnicas,
civis prisioneiros e deportados - ultrapassa de longe qualquer conceito de bem e mal.
Desa a a dignidade dos seres individuais e da sociedade em geral de tal forma, que
leva a denunciar aqueles que poderiam ter in uenciado a opinio pblica, sendo eles
simples civis ou dirigentes de governos.
Para manter o silncio diante de tamanho ultraje, deve-se levar em conta uma
colaborao inequvoca. Esta estimularia a vilania dos criminosos, instigando sua
crueldade e vaidade. Mas se todo homem tem o dever moral de reagir quando
confrontado com tais crimes, as sociedades religiosas e seus dirigentes so duplamente
obrigados a isso e, acima de tudo, a Igreja Catlica.
Pio XII nunca expressou uma condenao direta e explcita da guerra de agresso,
muito menos com respeito aos crimes indescritveis cometidos pelos alemes ou seus
cmplices durante a guerra.
Ele no se manteve em silncio por no saber o que estava acontecendo; sabia da
gravidade da situao desde o comeo, talvez at melhor do que qualquer outro chefe
de Estado do mundo" (pgina 12 ss).
O pior ainda est por vir! O Vaticano prestou ajuda na execuo desses crimes,
"alugando" alguns de seus prelados para que estes se tornassem agentes pr-nazistas,
neste caso, Hlinka e Tiso. Tambm enviou para a Crocia seu prprio representante,
R.P Marcone que, auxilado por Stepinac, vigiava as atividades de Ante Pavelitch e
seus assessores. Onde quer que procuremos, o mesmo espetculo "edi cante" se
apresenta.
Muito sofrimento, condio de vida desumana, desespero e milhes de mortes nos
chamados campos de concentrao nazistas: este foi o resultado do apoio da Igreja
Catlica a Hitler.
Dessa forma, vs ajudareis a levar avante nossos desejos e preocupaes espirituais...
Ns concedemos nossa bno apostlica de todo o corao ao vosso prior, a vs e a
vossos coadjutores, e a todos os membros da Companhia de Jesus".
E do papa Paulo VI: "Desde o tempo de sua restaurao, esta famlia religiosa tem
recebido a carinhosa ajuda de Deus, e tem enriquecido rapidamente e com grande
progresso. Os membros da Companhia tm realizado grandes faanhas, tudo para a
glria de Deus e para o benefcio da religio catlica. A Igreja precisa de soldados de
Cristo com valor, armados com uma f destemida, prontos para enfrentar
di culdades. por isso que temos muitas esperanas na ajuda que vossa atividade

possa trazer, e que a nova era encontre a Companhia no mesmo caminho honrado
que ela seguiu no passado" (pronunciado em Roma, prximo Baslica de So
Pedro, em 20 de agosto de 1964, durante seu segundo ano como papa).
Em 29 de outubro de 1965, o jornal Osservatore Romano anunciou: "O
Reverendssimo Padre Arrupe, prior dos jesutas, celebrou a Missa Sagrada pelo
Concilio Ecumnico em 16 de outubro de 1965".
Eis a apoteose da "tica papal": Um pronunciamento simultneo sobre um projeto
de beati cao de Pio XII e Joo XXIII. "Para fortalecer a ns mesmos em nossa
busca de uma renovao espiritual, decidimos iniciar os procedimentos cannicos
para a beati cao destes dois pont ces grandes e iluminados e que so to queridos
a todos ns"(?) (papa Paulo VI).
Que este livro revele a todos aqueles que o lerem a verdadeira natureza deste mestre
romano, cujas palavras so to mel uas (brandas e harmoniosas) quanto ferozes so
suas aes secretas.
O fundador da Companhia de Jesus, o basco espanhol don Inigo Lopez de Recalde,
nasceu no castelo de Loyola, na provncia de Guipuzcoa, em 1491. Foi um tipo de
monge-soldado dos mais estranhos j engendrados pelo mundo catlico: de todos os
fundadores de ordens religiosas, ele talvez tenha sido o de personalidade mais
marcante na mente e comportamento de seus discpulos e sucessores.
Esta pode ser a razo para aquela "aparncia familiar" ou "marca", fato que chega ao
ponto da semelhana fsica entre eles. Folliet questiona este fato(1), mas muitos
documentos provam a permanncia de um "tipo jesuta" atravs dos tempos.
O mais interessante destes testemunhos se encontra no museu Guimet. Sobre o
fundo dourado de uma tela do sculo XVI, um artista japons pintou, com todo o
humor de sua raa, a chegada dos portugueses e dos lhos de Loyola, em particular,
nas ilhas nipnicas. O espanto desse amante da natureza e das cores fortes explcito
na maneira como representa aquelas sombras longas e escuras, com suas faces
desoladas, sobre as quais se capta toda a arrogncia do dirigente fantico. A
semelhana entre o trabalho do artista oriental do sculo XVI e nosso Daumier, de
1830, est a para todos verem.
semelhana de tantos outros santos, Inigo, que posteriormente romanizou seu
nome e se tornou Igncio, parecia longe de ser aquele predestinado a iluminar os seus
contemporneos. Sua juventude atormentada foi repleta de erros e mesmo "crimes
hediondos". Um relatrio policial a rma que era "traioeiro, brutal e vingativo".
Todos os seus bigrafos admitem que ele no recuava nem mesmo diante de seus
melhores amigos, no que envolvia a violncia dos instintos, ento uma coisa comum.
"Era necessrio um golpe fsico violento para mudar sua personalidade"

Fundao da Ordem Jesuta


"Ele deixou os livros de lado e comeou a imaginar e sonhar. Um tpico caso de
"sonhar acordado", uma continuao na vida adulta do jogo imaginrio infantil. Se
deixarmos que este invada o domnio fsico, o resultado uma neurose e uma
alienao da vontade: o que real ca em segundo plano. primeira vista, esse
diagnstico parece difcil de ser aplicado ao fundador de uma Ordem to ativa. O
mesmo ocorre em relao a outros "grandes msticos" e criadores de sociedades
religiosas, todos aparentemente muito capacitados para organizaes. Acreditamos,
no entanto, que todos fossem incapazes de resistir a suas imaginaes superativas e,
para eles, o impossvel torna-se possvel.
O mesmo autor tambm diz sobre o assunto: "Quero ressaltar o resultado bvio da
prtica do misticismo por algum possuidor de uma inteligncia brilhante. A mente
fraca, entregue ao misticismo, encontra-se em rea perigosa, mas o mstico inteligente
representa um perigo muito maior, pois seu intelecto trabalha em maior
profundidade e amplitude. Quando o mito assume o controle da realidade, atravs
de uma inteligncia ativa, torna-se mero fanatismo; uma infeco da vontade que
sofre de um alargamento ou distoro parcial."
Igncio de Loyola foi um exemplo tpico desse "misticismo ativo" e "distoro da
vontade". A transformao do cavaleiro-guerreiro em fundador da Ordem mais
militante da Igreja Romana foi muito lenta; haveria muitos passos vacilantes antes
dele encontrar sua verdadeira vocao.
No inteno nossa segui-lo atravs de todos esses diferentes estgios. Vamos
apenas relembrar os pontos principais: Na primavera de 1522, ele deixou o castelo
ancestral com a idia de se tornar um santo semelhante queles cujas faanhas
edi cantes havia constatado naquele grande livro gtico. Alm disso, segundo ele, a
prpria "Virgem" lhe teria aparecido em uma noite, segurando nos braos o menino
Jesus.
"Um soldado desobediente e presunoso", disse um de seus comandantes; "levava
uma vida desregrada em tudo que tratasse de mulheres, jogos e duelos", acrescentou
seu secretrio Polanco. Tudo isso foi relatado por um de seus lhos espirituais, R. E
Rouquette, que tentou de alguma maneira explicar e desculpar esse temperamento
explosivo que, posteriormente, se tornou "ad majorem Dei gloriam" (para a glria
suprema de Deus).
Como o caso de muitos heris da Igreja Catlica Romana, era necessrio um golpe
fsico violento para mudar sua personalidade. Ele havia sido mensageiro do tesoureiro
de Castilla at a desgraa de seu chefe. Depois tornou-se cavaleiro sob as ordens do
vice-rei de Navarra. Tendo vivido tal qual um corteso, o jovem comeou sua vida
de soldado defendendo Pampeluna contra os franceses, comandados pelo conde de

Foix.
O ferimento que decidiu o futuro de sua vida foi-lhe in igido nessa ocasio. Com a
perna quebrada por um tiro, foi levado pelos franceses a seu irmo, Martin Garcia,
no castelo de Loyola, iniciando-se o martrio das cirurgias sem anestesia, pois o
trabalho no havia sido bem feito. Sua perna foi quebrada novamente e recolocada
no lugar. Apesar de tudo isso, Igncio acabou ficando coxo.
E compreensvel que apenas uma experincia como essa poderia causar-lhe um
esgotamento nervoso. O "dom das lgrimas", o qual lhe foi, ento, outorgado "em
abundncia" (e que seus bigrafos acreditam como um favor dos cus), pode ser o
resultado de sua natureza profundamente emocional, afetando-o mais e mais.
Enquanto estava deitado, sofrendo as dores do ferimento, seu nico divertimento era
a leitura de "A Vida de Cristo" e "A Vida dos Santos", os nicos livros que
encontrou no castelo. Praticamente iletrado e ainda afetado por aquele choque
terrvel, a angstia da Paixo de Cristo e o martrio dos santos tiveram um forte
impacto sobre ele; essa obsesso levou o guerreiro aleijado ao caminho do
apostolado.
Aps uma con sso detalhada no monastrio de Montserrat, Igncio tencionava ir a
Jerusalm. A peste era comum em Barcelona e, como todo o trfego martimo estava
interrompido, teve de permanecer em Manresa por aproximadamente um ano.
Passava o tempo em oraes, longos jejuns e auto- agelao, praticando todas as
formas de macerao. Alm disso, nunca perdia a chance de se apresentar diante do
tribunal de penitncia, apesar de sua con sso em Montserrat ter aparentemente
durado trs dias. Tal con sso minuciosa teria sido su ciente a um pecador menos
escrupuloso. Tudo isso descreve claramente o estado mental e nervoso desse homem.
Finalmente, ao se libertar da obsesso de pecado, decidiu que aquilo era, nada mais
nada menos, que um truque de sat, e devotou-se inteiramente s ricas e variadas
vises assaltavam sua mente conturbada.
"Foi por causa de uma viso", diz H. Boehmer, "que ele comeou a comer carne
novamente. Uma srie completa de vises que lhe revelou os mistrios do dogma
catlico e o ajudou a viv-lo verdadeiramente.
Dessa forma, ele medita sobre a Santssima Trindade como sendo um instrumento
musical de trs cordas: o mistrio da criao do mundo a partir de alguma coisa
nublada e a luz vinda de um raio de sol; a milagrosa vinda de Cristo na Eucaristia,
como ashes de luz penetrando na gua consagrada, quando o sacerdote a toma
durante a orao; a natureza humana de Cristo e da Virgem Santssima, sob a forma
de um corpo branco deslumbrante e, nalmente, sat como uma forma sinuosa e
cintilante, semelhante a uma imensido de olhos brilhantes e misteriosos." No este
o comeo da produo da imagem jesutica conhecida?
Em abril de 1527, a Inquisio leva Igncio priso para julg-lo por acusaes de

heresia. O inqurito examinou aqueles "incidentes estranhos" ocorridos entre seus


devotos; as declaraes "excntricas" do acusado sobre o poder excepcional que sua
castidade lhe conferia, e sua teoria bizarra sobre a diferena entre os pecados mortais e
veniais. Essas teorias tinham a nidades assustadoras com as teorias dos jesutas
casustas do perodo seguinte".
Libertado, mas proibido de realizar reunies, Igncio partiu para Salamanca e logo
deu incio s mesmas atividades. Suspeitas parecidas entre os inquisidores o levaram
novamente priso. A liberdade s lhe seria possvel mediante a suspenso de tal
conduta.
Assim foi; viajou a Paris para continuar seus estudos na faculdade de Montaigu. Seus
esforos para doutrinar seus colegas estudantes dentro de seus mtodos singulares
criaram-lhe novos problemas com a Inquisio. Tornando-se mais prudente, passou
a se encontrar com apenas seis de seus amigos de faculdade. Dois dentre eles viriam a
se tornar recrutas profundamente estimados: Salmeron e Lainez.
O que teria ele de especial, que pudesse atrair de forma to poderosa jovens a um
velho aluno? Talvez o seu ideal e um certo "charme", alm de um pequeno livro, na
verdade um livrete que, independente de sua pequena dimenso, tornou-se um dos
livros de maior in uncia nos destinos da humanidade. Esse livro foi editado tantas
vezes que o nmero de cpias desconhecido; tambm foi objeto de mais de 400
comentrios. o livro guia dos jesutas e, ao mesmo tempo, o resumo do longo
desenvolvimento pessoal do seu mestre: os "Exerccios Espirituais".
Assim trabalham eles para o surgimento do "Reino de Deus", de acordo com seu
prprio ideal: um grande rebanho sob o cetro do Santssimo Pai.
Que homens estudados pudessem ter um ideal to anacrnico parece muito
estranho, mas inegvel que ainda pensam assim, sendo, portanto, a con rmao de
um fato freqentemente desprezado: a proeminncia das emoes na vida do
esprito. Alm disso, Kant a rmou que toda a Filoso a no passa da expresso do
carter ou temperamento do filsofo.
A parte dos mtodos individuais, o "temperamento" jesutico parece ser mais ou
menos uniforme entre eles: uma mistura de piedade e diplomacia; asceticismo e
sabedoria mundana; misticismo e calculismo. Tal como era o carter de Loyola, esta
a marca registrada da Ordem." Em primeiro lugar, o paradoxo desta Ordem tem
persistido durante 400 anos: Uma Ordem que se empenha em ser "intelectual" mas,
simultaneamente, tem sido, dentro da Igreja Romana e na sociedade, a campe do
comportamento mais rgido.

Os Exerccios Espirituais

Quando, nalmente, chegou o momento de Igncio deixar Manresa, no poderia
prever seu destino, mas a ansiedade relativa sua prpria salvao no era mais uma
preocupao. Foi como missionrio, e no como um simples peregrino, que ele
seguiu para a Terra Santa em maro de 1523. Chegou a Jerusalm no dia 12 de
setembro, aps muitas aventuras; entretanto, logo partiu sob as ordens do superior
franciscano que no desejava ver a paz entre cristos e turcos ameaada por um
proselitismo fora de hora.
O missionrio, desapontado, passou por Veneza, Gnova e Barcelona, no caminho
para a Universidade de Alcal, onde iniciou seus estudos teolgicos e, assim, comea
tambm a sua "cura de almas".
compreensvel que aps quatro semanas de dedicao a estes exerccios intensivos,
com um mestre por sua nica companhia, o candidato estivesse pronto para o treino
subseqente e a ruptura. Isso o que Quinet tem a dizer a respeito do criador de tal
mtodo alucinatrio: "Voc sabe o que o distingue de todos os ascticos do passado?
O fato que podia observar e analisar a si mesmo lgica e friamente, em total estado
de arrebatamento, enquanto para todos os outros a idia de re exo era impossvel.
Impondo aos seus discpulos aes que lhe eram espontneas, ele apenas precisava de
trinta dias para romper, com este mtodo, a vontade prpria e o bom senso, tal qual
um montador domina seu cavalo. Ele precisava de apenas trinta dias, "triginta dies",
para subjugar uma alma.
Note que o jesuitismo se expandiu com a inquisio moderna: enquanto a Inquisio
quebrava o corpo, os exerccios espirituais quebravam os pensamentos, atravs da
mquina de Loyola."(12b)
possvel examinar sua vida "espiritual" muito profundamente, mesmo que no se
tenha a "honra" de ser jesuta. Os mtodos de Loyola so para ser recomendados aos
is e eclesisticos em particular, como somos lembrados por comentaristas tais
como R. E Pinard de Ia Boullaye, autor de Orao Mental para Todos, inspirado
por Boehmer diz mais ainda: "Igncio compreendeu, mais claramente do que
qualquer outro lder social anterior a ele, que a melhor forma de conduzir um
homem a um certo ideal atravs do controle de sua imaginao. Ns "o imbumos
das foras espirituais que ele acreditaria serem difceis de eliminar posteriormente",
foras mais duradouras que os melhores princpios e doutrinas. Essas foras poderiam
vir de novo tona, s vezes anos depois de no terem sido mencionadas, tornando-se
to imperativas que a vontade se acharia incapaz de oferecer qualquer obstculo, e
ento teria que seguir seu impulso irresistvel."
Portanto, todas as "verdades" do dogma catlico tero de ser no apenas meditadas,

mas vividas e sentidas por aquele que se dedica a essas "prticas", com a ajuda de um
"diretor". Em outras palavras: ele ter de ver e reviver o mistrio com a maior
intensidade possvel. A sensibilidade do candidato ca impregnada com tais foras,
cuja persistncia em sua memria, e ainda mais em seu subconsciente, sero to fortes
quanto o esforo que fez para evocar e assimilar tais foras. Alm da viso, os outros
sentidos, como a audio, o olfato, o tato e o paladar teriam seu papel. Resumindo,
simplesmente auto-sugesto controlada.
A rebelio dos anjos, a expulso de Ado e Eva, o julgamento nal, as cenas
evanglicas e as fases da Paixo so, como se costuma dizer, revividos diante do
candidato. Cenas suaves e bem-aventuradas se alternam com as mais obscuras, em
um ritmo competentemente determinado. Nem preciso dizer que o inferno
desempenha a parte principal nesse show de "lanterna mgica", com seu lago de fogo
onde as almas perdidas so atiradas, o terrvel concerto de gemidos, a feroz viso de
slfura e carne queimando. Ainda assim, Cristo est l para sustentar o visionrio que
no sabe como Lhe agradecer por no ter sido atirado ainda no inferno para pagar
seus pecados passados.
Eis o que Edgar Quinet escreveu: "No s as vises so predeterminadas, mas
tambm suspiros, inspiraes e expiraes so implantada em todos os tipos de
atividades escolhidas e ganhou a confiana da Cria para sempre."
Essa con ana era plenamente justi cada. Os jesutas e Lainez, em particular,
juntamente com seu devotado amigo cardeal Morone, tornaram-se os campees
astutos e incansveis da autoridade papal e da intangibilidade do dogma, durante as
trs sesses daquele Concilio, terminado em 1562. Por suas geis manobras e
dialtica, conseguiram derrotar a oposio e todas as solicitaes "hereges" (incluindo
casamento de padres, comunho com dois elementos, uso do idioma local nos rituais
e, especialmente, a reforma do papado). Apenas a reforma dos conventos foi
mantida. O prprio Lainez, com um forte contra-ataque, sustentou a infalibilidade
papal, a qual foi promulgada trs sculos depois, pelo Concilio do Vaticano.
A Santa S emergiu fortalecida da crise na qual estava praticamente afundada, graas
s iniciativas geis e precisas dos jesutas. Os termos escolhidos por Paulo III para
descrever essa nova Ordem, em sua bula papal de autorizao, foram plenamente
justificados: "Regimen Ecclesiae Militantis".
O esprito lutador se desenvolveu mais e mais medida que o tempo passava. Alm
das misses no estrangeiro, as atividades dos lhos de Loyola comearam a se
concentrar nas almas dos homens, especialmente dentro das classes dominantes. Os
polticos seriam seu principal campo de ao e todos os esforos de seus "dirigentes"
se concentraram em um objetivo: a submisso do mundo ao papado e, para atingilo, era necessrio conquistar as "cabeas" antes. Para a obteno desse ideal, duas
armas importantssimas eram necessrias: serem os confessores dos poderosos e

daqueles de posio elevada, e a educao de seus lhos. Dessa forma, o presente


estaria a salvo enquanto o futuro seria preparado.

Captulo 1
Fundao da Companhia

A Companhia de Jesus foi constituda no dia da Assuno, em 1534, na capela de
Notre Damme de Montmartre. Igncio tinha ento 44 anos de idade. Aps a
comunho, o fundador e seus companheiros zeram um voto de ir Terra Santa,
assim que seus estudos fossem concludos, para converter os infiis.
O ano seguinte, no entanto, os encontra em Roma, onde o papa, que estava na poca
organizando uma cruzada contra os turcos, em conjunto com o imperador alemo e
a Repblica de Veneza, mostrou-lhes que o projeto era invivel justamente por causa
disso. Assim, Igncio e seus companheiros se dedicaram ao trabalho missionrio em
terras crists.
Em Veneza, seu apostolado levantou suspeitas da Inquisio. Os estatutos da
Companhia de Jesus foram nalmente de nidos e aprovados em Roma por Paulo
III, em 1540, e os jesutas se colocaram disposio do papa, prometendo
obedincia incondicional. Ensino, con sso, pregao e obras de caridade foram o
campo de ao para essa nova Ordem. Quanto as misses no estrangeiro, no foram
excludas pois, em 1541, Francisco Xavier e dois companheiros deixaram Lisboa em
direo ao Extremo Oriente, a m de evangelizarem. Em 1546, o lado poltico da
carreira deles foi lanado, quando o papa escolheu Lainez e Salmeron para o
representarem no Concilio de Trento, na condio de "telogos papais"..

O Esprito da Ordem

"No podemos esquecer, escreve o jesuta Rouquette, que historicamente o
"ultramontanismo" tem sido a afirmao prtica do "universalismo".
Esse universalismo necessrio seria apenas uma palavra vazia, se no resultasse em
uma coeso ou obedincia prtica do cristianismo. Por isso Igncio quis que sua
equipe estivesse disposio do papa, e ser o campeo da unidade catlica, unidade
que s pode ser assegurada atravs de uma submisso efetiva ao vigrio de Cristo.
(13a) Os jesutas quiseram impor esse absolutismo monrquico na Igreja Romana e
o mantiveram na sociedade civil, pois tinham de olhar os soberanos como
representantes temporais do "Santo Papa", verdadeira cabea do cristianismo.
Enquanto esses monarcas fossem inteiramente submissos ao seu senhor comum, os
jesutas seriam seus mais is partidrios. Por outro lado, se esses prncipes se
revoltassem, encontrariam nos jesutas seus piores inimigos.

"Na Europa, sempre que os interesses de Roma exigissem que o povo se levantasse
contra seu rei, ou se esses prncipes temporais tivessem tomado decises embaraosas
para a Igreja, a Cria sabia que no havia instituio mais habilitada, astuta e ousada
que a Companhia de Jesus para a intriga, propaganda ou at mesmo a rebelio
aberta."
R.E Rouquette escreve corajosamente: "Longe de ser uma diminuio do homem,
essa obedincia inteligente e autodeterminada o mximo da liberdade, uma
libertao da escravido de si mesmo". S temos que ler esses textos para
percebermos o extremo (ou ainda monstruoso) carter de submisso da alma e do
esprito imposto pelos jesutas, sempre fazendo deles instrumentos dceis nas mos
dos seus superiores, alm de inimigos naturais de qualquer tipo de liberdade desde o
incio. O famoso "perinde ac cadver" (como se fosse um cadver nas mos de um
agente funerrio) pode ser encontrado em toda a "literatura espiritual", de acordo
com Folliet, e mesmo no Oriente, na constituio de Haschichin.
Os jesutas devem estar nas mos de seus superiores "como se fosse um sta",
obedecendo a cada impulso, qual uma bola de cera que pode ser modelada e atirada
em qualquer direo; semelhante a um pequeno cruci xo, sendo manipulado e
movido vontade". Essas frmulas "agradveis" no deixam de ser muito
esclarecedoras. Observaes e explicaes do criador dessa Ordem no deixam
dvidas sobre seu verdadeiro signi cado. Alm disso, entre os jesutas, no s a
vontade prpria, mas tambm o bom senso e mesmo o escrpulo moral devem ser
sacrificados, diante da virtude primordial da obedincia que , de acordo com Brgia,
"o mais forte baluarte da Companhia".
"Podemos estar convencidos de que tudo vai bem quando o superior assim ordena.
Mesmo se Deus lhe desse um animal irracional como senhor, voc no hesitar em
obedec-lo como sendo mestre e guia, porque Deus assim ordenou", escreveu
Loyola.
Algo ainda mais interessante: O jesuta deve enxergar em seu superior no um
homem falvel, mas o prprio Cristo. J. Huber, professor de Teologia Catlica em
Munique e autor de uma das obras mais importantes sobre os jesutas, escreveu: "Eis
um fato provado: os estatutos repetem quinhentas vezes que deve-se ver Cristo na
pessoa do prior".
A disciplina da Ordem, to freqentemente aproximada das Foras Armadas, nem
pode chegar a ser comparada realidade. 'A obedincia militar no equivalente
obedincia jesutica. A ltima muito mais abrangente, pois assume o homem
inteiro e no est satisfeita, como a primeira, apenas com o ato exterior, mas requer o
sacrifcio da vontade pessoal e o abandono da prpria capacidade de julgar".
O prprio Igncio escreveu em sua carta aos jesutas portugueses: "Temos de ver o
preto como branco, se a Igreja assim determinar". Isso o "mximo da liberdade" e a

"libertao de si mesmo", anteriormente louvados por R. P. Rouquette. Com efeito,


o jesuta verdadeiramente libertado de si mesmo, pois ca totalmente submetido a
seus mestres; qualquer dvida ou escrpulo seria considerado pecado.
Boehmer escreve: "Nos aditivos dos estatutos, os superiores so aconselhados a
comandarem os novios, tal qual Deus zera com Abrao, ordenando coisas
aparentemente criminosas, para prov-los; devem, no entanto, proporcionar essas
tentaes de acordo com a fora de cada um. No difcil imaginar quais podem ser
os resultados de uma educao dessas". Os altos e baixos na vida da Ordem - foi
expulsa de todos os pases nos quais esteve - atesta que esses perigos foram
reconhecidos por todos os governos, at mesmo os mais catlicos. Introduzindo
homens to cegamente dedicados sua causa e ensinando s classes superiores, a
Companhia - senhora do universalismo, portanto, "ultramontanismo" - foi
inevitavelmente reconhecida como uma ameaa autoridade civil, pelo fato da
atividade da Ordem (mero fato de sua vocao) ter-se tornado mais e mais dirigida
poltica.
Paralelamente, o que chamamos de esprito jesuta foi se desenvolvendo dentre os
seus prprios membros. O fundador, no entanto, inspirado principalmente pelas
necessidades das "misses" internas e no estrangeiro, no tinha menosprezado a
especializao e habilidade, escrevendo em seu Setentiae Asceticae: "Um cuidado
inteligente com uma pureza medocre melhor do que uma santidade maior aliada a
uma habilidade menos perfeita. Um bom pastor de almas deve saber como ignorar
muitas coisas e ngir no entend-las. Uma vez que o senhor das vontades, ser
capaz de sabiamente guiar os seus alunos para onde ele prprio escolher. As pessoas
so totalmente absorvidas por interesses passageiros; assim, no devemos falar-lhes
especificamente sobre suas almas, pois seria o mesmo que lanar o anzol sem isca".
Mesmo a expresso facial esperada dos lhos de Loyola era enfaticamente
determinada: "Deviam manter suas cabeas ligeiramente abaixadas, sem jogar para a
esquerda ou direita; no deveriam olhar para cima e, quando falavam com algum,
no deviam olhar diretamente nos olhos, mas apenas indiretamente."(18) Os
sucessores de Loyola memorizaram muito bem essa lio e a aplicaram
ostensivamente na realizao de seus planos.

Os Privilgios da Companhia

Depois de 1558, Lainez, o sutil estrategista do Concilio de Trento, foi elevado a
prior da Congregao, com amplos poderes para organizar a Ordem como lhe fosse
inspirado. As "declaraes" compostas por ele prprio e Salmeron foram
acrescentadas aos estatutos, de forma a criar um compndio; acentuaram ainda mais

o despotismo do prior eleito vitaliciamente.


Um admonitor, um procurador e assistentes, residentes tambm em Roma, o
ajudariam a administrar a totalidade da Ordem, dividida em cinco congregaes:
Itlia, Alemanha, Frana, Espanha, Inglaterra e Amricas. Essas mesmas congregaes
eram subdivididas em provncias, que agrupavam as diferentes sedes da Ordem.
Apenas o admonitor e os assistentes eram nomeados pela congregao. O prior
indicava todos os outros encarregados, promulgava os regulamentos (que no
poderiam modi car os estatutos), administrava as riquezas da Ordem de acordo com
sua prpria vontade e dirigia suas atividades, reportando-se apenas ao papa.
Para tal milcia to bem costurada e entregue nas mos de seu chefe, o qual
necessitava da maior autonomia possvel para efetuar as suas aes, o papa concedia
privilgios que pareciam exorbitantes a outras ordens religiosas.
Por causa de seus estatutos, os jesutas caram isentos do regimento enclausurante
que a vida monstica implicaria. Eram monges vivendo "no mundo" e,
externamente, nada os diferenciava do clero secular mas, ao contrrio deste e de
outras congregaes religiosas, no estavam sujeitos autoridade do bispo. J em
1545, uma bula do papa Paulo III os capacitava a pregarem; ouvirem con sses;
dispensarem sacramentos; realizarem a missa; absolverem; trocarem penitncias por
outras mais fceis de realizar ou at mesmo cancel-las. Em resumo, exerciam seu
ministrio, sem terem de se reportar ao bispo. S no podiam celebrar casamentos.
Gaston Bally escreve: "O poder do prior referente absolvio e dispensao ainda
maior. Pode suspender toda e qualquer punio in igida aos membros da
Companhia, antes ou depois de sua entrada na Ordem, absolver todos os seus
pecados, at mesmo o pecado de heresia e cisma, a falsi cao dos escritos
apostlicos, etc.
O prior absolve, pessoalmente ou atravs de um delegado, todos aqueles que esto
sob sua Ordem, do estado infeliz advindo da excomunho, suspenso ou interdio,
desde que essas censuras no tenham sido in igidas por excessos to grandes que
outros, diante do tribunal papal, possam vir a saber delas.
Ele tambm absolve o resultado de irregularidades, como bigamia, danos a outrem
ou homicdio, desde que estes atos perversos no sejam publicamente conhecidos e
causa de escndalo".(19)
Finalmente, Gregrio XIII outorgou Companhia o direito de negociar, no
comrcio e no sistema bancrio, um direito do qual ela veio a usufruir
posteriormente. Essas atribuies e poderes sem precedentes lhes foram inteiramente
garantidos. "Os papas chegavam mesmo a convocar prncipes e reis para defender
estes direitos; eles ameaavam com a grande excomunho "Lata e sententiae" todos os
que tentassem infringi-los. Em 1574, uma bula de Pio V dava ao prior o direito de
restaurar estes privilgios ao seu mbito inicial, contra todas as tentativas de alter-los

ou diminu-los, mesmo que tais diminuies houvessem sido documentadas por


revogao papal.
Cedendo aos jesutas privilgios to exorbitantes, os quais ultrapassavam a antiquada
constituio da Igreja, o papado queria no apenas fornecer-lhes armas para combater
os in is, mas principalmente us-los como um corpo de segurana, o qual
defendesse seu prprio poder irrestrito dentro e fora da Igreja. Para preservar a
supremacia espiritual e temporal, eles usurparam durante a Idade Mdia; os papas
venderam a Igreja Companhia de Jesus e, como conseqncia, entregaram-se nas
mos deles. Se o papado era sustentado pelos jesutas, toda a existncia deles dependia
da supremacia espiritual e temporal do papado. Desta forma, os interesses de ambas
as partes estavam intimamente ligados".(20)
Este comando seleto, no entanto, precisava de auxiliares secretos para dominar a
sociedade civil. Tal papel recaiu tambm sobre aqueles aliados da Companhia, os
chamados jesutas. "Muitas pessoas importantes eram ligadas Companhia: os
imperadores Ferdinando II e Ferdinando III; Sigismundo III, rei da Polnia, que
tinha pertencido Companhia o cialmente; o Cardeal Infante e um duque de
Savoy. E estes no eram os menos teis."(21)

Captulo 2
Os Jesutas na Europa Durante os Sculos XVI e XVII

D-se o mesmo hoje em dia. Os 33 mil membros o ciais da Companhia operam
por todo o mundo, na capacidade mxima de seu pessoal: o ciais de um exrcito
altamente secreto, contando nas suas leiras com dirigentes de partidos polticos,
o ciais de alta patente, generais, magistrados, mdicos e professores universitrios,
dentre outras categorias. Todos lutando para realizar, em seu prprio campo de ao,
o "Opus Dei" (a Obra de Deus) ou, na verdade, os planos do papado.

Itlia, Portugal e Espanha



A Frana o bero da Companhia de Jesus, mas foi na Itlia que recebeu seu
programa, estatutos e se expandiu, escreveu Boehmer(1), observando o nmero
crescente de academias e colgios jesutas (128 e 1680); "mas a histria da civilizao
italiana durante os sculos XVI e XVII demonstra suas conseqncias de forma
avassaladora. Se uma Itlia culta abraou ento a f e os preceitos da Igreja, recebeu
um novo alento do ascetismo e das misses; comps novamente poemas piedosos e
hinos para a Igreja; dedicou conscientemente os pincis dos pintores e as esptulas
dos escultores para exaltar o ideal religioso. No ter sido por esses motivos que as
classes cultas foram instrudas nos colgios e confessionrios jesutas? J no eram
mais os tempos de simplicidade infantil, alegria, vivacidade e o simples amor
natureza", acrescenta o autor. "Os pupilos dos jesutas so muito clericais, devotos e
absorvidos em preservar essas qualidades. So criados com vises de xtases e
iluminaes; embriagam-se literalmente com morti caes assustadoras e tormentos
atrozes de mrtires; precisam da pompa, brilho e dramaticidade. A partir do nal do
sculo XVI, a arte e a literatura italianas reproduzem elmente essa transformao
moral. A inquietao, a ostentao e a splica chocante, que caracterizam as criaes
daquele perodo, promovem um sentimento de repulsa ao invs de simpatia pelas
crenas que supostamente interpretam e glorificam".(3)
a marca sui generis da Companhia. Esse amor pelo distorcido, afetado, brilhante e
teatral poderia parecer estranho entre os msticos formados nos Exerccios Espirituais,
se no detectssemos nele esse desejo essencialmente jesuta de impressionar. uma
aplicao da mxima "Os ns justi cam os meios", aplicada com perseverana pelos
jesutas nas artes e literatura, tal qual na poltica e na moral. A Itlia mal havia sido
tocada pela Reforma.

Os Waldenses, no entanto, haviam sobrevivido desde a Idade Mdia, apesar das


perseguies, e se estabeleceram ao Norte e ao Sul da pennsula, ligando-se Igreja
Calvinista em 1532. Baseado em um relatrio do jesuta Possevino, Emmanuel
Philibert de Savoy lanou outra perseguio sangrenta contra seus temas "hereges" em
1561. O mesmo aconteceu na Calbria, em Casal di San Sisto e Guardi Fiscale. "Os
jesutas implicados nesses massacres estavam ocupados convertendo suas vtimas..."
(4) "Ele foi com o exrcito catlico, como seu capelo, e recomendou o extermnio
na fogueira dos pregadores hereges como um ato necessrio e sagrado", escreveu o
padre Possevino.(5)
Os jesutas eram todo-poderosos em Parma, na corte de Farnese, tanto quanto em
Npoles, durante os sculos XVI e XVII. Em Veneza, onde haviam sido agraciados
com favores, foram, no entanto, banidos em 14 de maio de 1606, "conforme os
demais is servos e emissrios do papa". Foi-lhes, entretanto, permitido voltar em
1656, mas sua in uncia nessa Repblica seria, a partir de ento, nada alm de uma
sombra do que tiveram no passado.
Portugal foi um pas especial para a Ordem. "J sob Joo III (1521-1559), era a
comunidade religiosa mais poderosa do reino. Sua in uncia cresceu ainda mais aps
a revoluo de 1640, que ps os Bragana no trono".(6)
Sob o primeiro rei da casa de Bragana, o padre Fernandez era membro do governo
e, sob a minoridade de Afonso VI, o conselheiro mais estimado pela regente rainha
Luiza. O padre De Ville conseguiu derrubar Afonso VI em 1667, e o padre
Emmanuel Fernandez tornou-se representante na Corte em 1667, pelo novo rei
Pedro II.
'Apesar dos padres no exercerem cargo pblico no reino, eram mais poderosos em
Portugal que em qualquer outro pas. Eram no s os guias espirituais de toda a
famlia real, mas at mesmo o rei e seu ministrio os consultavam em todas as
circunstncias importantes. A partir de um de seus prprios testemunhos, hoje
sabemos que nenhum cargo na administrao do Estado ou da Igreja poderia ser
obtido sem o seu consentimento. Tanto que o clero, as classes altas e o povo
disputavam entre si para alcanar seus favores e aprovao. Polticos estrangeiros
tambm estavam sob sua in uncia. Qualquer homem razovel perceberia que tal
estado de coisas era prejudicial ao bem do reino."(7)
Na verdade, podemos ver os resultados disso pelo estado de decadncia em que essa
terra desafortunada caiu. Toda a energia e perspiccia do Marqus de Pombal foram
necessrias, no meio do sculo XVIII, para arrancar Portugal das garras mortais da
Ordem.
Na Espanha, a penetrao dos jesutas foi mais lenta. O alto clero e os dominicanos
se opuseram durante muito tempo. Os prprios soberanos, Carlos V e Filipe II, ao
aceitarem seus servios, descon avam desses soldados do papa e temiam

interferncias em sua autoridade. Com muita habilidade, porm, a Ordem


finalmente derrubou essa resistncia.
"Durante o sculo XVII, eles foram poderosssimos na Espanha, entre as altas classes
e na Corte. At mesmo o padre Neidhart, ex-o cial cavaleiro alemo, governou
completamente o reino como conselheiro de Estado, primeiro ministro e Grande
Inquisidor. Na Espanha, tanto quanto em Portugal, a runa do reino coincidiu com a
ascenso da Ordem. "(8)
Edgar Quinet discorre sobre o assunto: "Sempre que uma dinastia morre, posso ver,
surgindo e mantendo-se atrs dela, um tipo de gnio mau, uma dessas figuras que so
os confessores, gentil e paternalmente atraindo-a para a morte." (9)
Na verdade, no se pode atribuir a decadncia da Espanha apenas a essa Ordem. "
inegvel, no entanto, que a Companhia de Jesus, juntamente com a Igreja e outras
Ordens religiosas, aceleraram sua queda. Quanto mais rica cava a Ordem, mais
pobre cava a Espanha; tanto que quando Carlos II faleceu, os cofres do Estado no
tinham nem mesmo a soma necessria para pagar as dez mil missas usualmente
rezadas pela salvao de um monarca falecido."(10)

Itlia, Portugal e Espanha E Alemanha



No era o Sul da Europa, mas a Europa Central, Frana, Holanda, Alemanha e
Polnia o local para a batalha histrica entre o catolicismo e o protestantismo. Esses
pases eram os campos principais de batalha para a Companhia de Jesus.(11) A
situao era particularmente grave na Alemanha: "No s pessimistas conhecidos,
mas tambm catlicos sbios e bem-pensantes consideravam a causa da velha Igreja
em toda a Alemanha como quase perdida. Mesmo na ustria e na Bomia, a quebra
com Roma era to generalizada que os protestantes razoavelmente poderiam esperar a
conquista da ustria dentro de mais algumas dcadas. Pois ento como que essa
mudana acabou no acontecendo e, ao contrrio, o pas acabou cando dividido em
duas partes? O Partido Catlico, ao nal do sculo XVI, nunca hesitava ao responder
a essa pergunta, pois j atribua aos Witelsbach, Habsburg e aos jesutas a
responsabilidade por essa feliz mudana no rumo das coisas."(12)
Rene Fulop-Miller escreveu sobre o papel dos jesutas nesses eventos: 'A causa
catlica poderia esperar por um sucesso real apenas se os padres pudessem ter
in uncia e liderana sobre os prncipes, em todas as ocasies e circunstncias. Os
confessionrios ofereciam aos jesutas os meios para assegurar uma in uncia poltica
duradoura e, portanto, uma ao efetiva." (13)
Na Bavria, o jovem duque Albert V, lho de um catlico el e educado em
Ingolstadt, a velha cidade catlica, convocou os jesutas para combaterem

efetivamente a "heresia".
"No dia 07 de julho de 1556, oito padres e 112 professores jesutas foram a
Ingolstadt. Foi o incio de uma nova era para a Bavria. O prprio Estado recebeu
um novo selo. As concepes catlicas romanas dirigiam a poltica dos prncipes e o
comportamento das altas classes. Esse novo esprito, porm, foi incorporado apenas
pelas classes altas, no tendo conquistado os coraes do povo da rua, da gente
simples... Apesar disso, sob a disciplina de ferro do Estado e da Igreja restaurada, eles
se tornaram novamente catlicos devotos, dceis, fanticos e intolerantes quanto a
qualquer heresia.
Pode parecer excessivo atribuir tais virtudes e aes prodigiosas a alguns poucos
estranhos. Mesmo assim, nestas circunstncias, a fora deles era inversamente
proporcional ao seu nmero e foram imediatamente e cientes, pois nenhum
obstculo lhes surgiu pela frente. Os emissrios de Loyola conquistaram o corao e a
mente do pas desde o comeo. A partir da gerao seguinte, Ingolstadt tornou-se o
tipo perfeito de cidade alem jesuta." (14)
Pode-se julgar o estado mental dos padres presentes nessa "fortaleza de f" lendo o
seguinte: "O jesuta Mayrhofer de Ingolstadt ensinava em seu espelho de pregao:
No seremos julgados se pedirmos o assassinato de protestantes mais do que
seramos ao pedir a pena de morte para ladres, assassinos, contraventores e
revolucionrios." (15)
Os sucessores de Albert V, e especialmente Maximiliano I (1597-1651),
completaram seu trabalho, mas Alberto V j estava consciente de sua
"responsabilidade" de assegurar a "salvao" de seus sditos. "Logo que os padres
chegaram Bavria, sua atitude em relao aos protestantes e os que eram favorveis a
eles tornou-se severa. A partir de 1563 impiedosamente baniram todos os recalcitrantes e no tinham piedade dos anabatistas, os quais acabavam por sofrer
afogamentos, fogueiras, prises e cadeias, tudo isso com os elogios do jesuta
Agrcola. Toda uma gerao teve de desaparecer antes da perseguio ser coroada com
xito absoluto. J em 1586, os anabatistas morvios conseguiram esconder 600
vtimas do duque Guilherme. Esse exemplo prova que eram milhares, e no
centenas, os banidos, um nmero assustador em um pas com to poucos
habitantes."
"Mas a honra de Deus e a salvao de almas deve estar acima de quaisquer interesses
temporais", disse Albert V, do Conselho da Cidade de Munique.(16) Pouco a
pouco, todo o ensino na Bavria foi posto nas mos dos jesutas e aquela regio se
transformou na base para sua penetrao no Leste, Oeste e Norte da Alemanha.
'A partir de 1585, os sacerdotes converteram a parte da Westphalia sob controle de
Colnia. Em 1586, surgem em Neuss e Bonn, uma das sedes do arcebispo de
Colnia; abrem escolas em Hildesheim em 1587 e Munster em 1588. Esta, em

especial, j tinha 1.300 pupilos em 1618... Uma grande parte do Oeste da Alemanha
foi reconquistada dessa forma pelo catolicismo, graas aos Wittelsbach e aos jesutas.
'A aliana entre os Wittelsbach e os jesutas talvez tenha sido mais importante ainda
para as regies da ustria do que para o Oeste da Alemanha." (17) O arquiduque
Carlos de Styrie, ltimo lho do imperador Ferdinando, casou-se em 1571 com
uma princesa da Bavria, trazendo ao castelo de Gratz as rgidas tendncias catlicas e
a amizade dos jesutas que prevaleciam na Corte de Munique." Sob a in uncia dela,
Carlos lutou muito para "extirpar a heresia" de seu reino e, quando morreu, em
1590, fez com que seu lho e sucessor, Ferdinando, jurasse continuar essa tarefa. De
qualquer modo, Ferdinando estava muito bem preparado para tal. "Por cinco anos
havia sido aluno dos jesutas em Ingolstadt; alm disso, era to bitolado que, para ele,
no havia mais nobre misso que o reestabelecimento da Igreja Catlica em seu
Estado hereditrio. Se essa misso era vantajosa ou no a seu reino, no lhe importava
verdadeiramente. "Pre ro "reinar num pas em runas, do que num pas
amaldioado", dizia ele.
Em 1617, o arquiduque Ferdinando foi coroado rei da Bomia pelo imperador.
"In uenciado pelo seu confessor jesuta Viller, Ferdinando comeou imediatamente
a combater o protestantismo ern seu novo reino, assinalando assim o comeo
daquela guerra sangrenta de religio, a qual, nos 30 anos seguintes, manteve a Europa
em suspense. Quando em 1618 os infelizes eventos em Praga deram sinal de uma
rebelio aberta, o velho imperador Mathias tentou primeiro comprometer-se, mas
no tinha poder su ciente para fazer prevalecer suas intenes contra o rei
Ferdinando, o qual era dominado pelo seu confessor jesuta; assim perdeu-se a ltima
esperana de resolver este con ito amigavelmente. Ao mesmo tempo, a Bomia
havia tomado medidas especiais e decretado solenemente que todos os jesutas
deveriam ser banidos, pois eram promotores de uma guerra civil." (19)
Logo aps, a Morvia e a Silsia seguiram esse exemplo, e os protestantes da
Hungria, onde o jesuta Pazmany governou com mo-de-ferro, tambm se
rebelaram. A batalha da Montanha Branca (1620), no entanto, foi vencida por
Ferdinando, que havia sido elevado a imperador novamente aps a morte de
Mathias. "Os jesutas persuadiram Ferdinando a submeter os rebeldes mais cruel
das punies; o protestantismo foi arrancado de todo o pas s custa de meios
indescritivelmente terrveis. No fim da guerra, a runa material do pas era completa."
"O jesuta Balbinus, historiador da Bomia, admirava-se como ainda pudesse haver
alguns habitantes naquele pas. A runa moral, porm, foi ainda mais terrvel. A
cultura emergente encontrada entre os nobres e classe mdia, a rica literatura nacional
no poderia ser substituda: tudo isso havia sido destrudo, e at mesmo a
nacionalidade fora abolida. A Bomia estava aberta para as atividades jesuticas. Eles
queimaram a literatura tcheca em massa; sob sua in uncia, at mesmo o nome do

grande santo nacional (John Huss) foi sendo gradualmente apagado at que estivesse
extinto do corao do povo."
"O auge do poder dos jesutas", disse Tomek, "coincidiu com a maior decadncia do
pas em sua cultura nacional. Foi por causa da in uncia da Ordem que o despertar
dessa terra desafortunada s veio a acontecer aproximadamente um sculo depois".
Quando a "Guerra dos 30 Anos" chegou ao m e a paz foi concluda, com a garantia
aos protestantes alemes dos mesmos direitos polticos dos catlicos, os jesutas
fizeram o mximo para que a luta continuasse, mas foi em vo." (20)
Obtiveram, entretanto, de seu aluno Leopoldo I, ento imperador, a promessa de
perseguir os protestantes em suas prprias terras e, especialmente, na Hungria.
'Acompanhados de drages imperiais, os jesutas assumiram esse trabalho de
reconverso em 1671. Os hngaros se levantaram contra eles e comearam uma
guerra que duraria por quase uma gerao inteira, mas essa insurreio foi vitoriosa,
sob a liderana de Francis Kakoczy. Os vitoriosos quiseram expulsar os jesutas de
todos os pases sob seu domnio, mas protetores in uentes da Ordem conseguiram
adiar tais medidas e a expulso s aconteceu em 1707".
"O prncipe Eugnio culpou, com uma franqueza ousada, a poltica da casa imperial
e as intrigas dos jesutas na Hungria. "A ustria quase perdeu a Hungria por ter
perseguido os protestantes", escreveu ele, a rmando amargamente que a moral dos
turcos era muito superior dos jesutas, na prtica, pelo menos. "Eles querem
dominar conscincias, alm de ter o direito de vida e morte sobre os homens",
continuou ele.
'A ustria e a Bavria ceifaram os frutos da dominao jesutica por completo: a
compresso de todas as tendncias e a idiotizao sistemtica do povo. A profunda
misria que se seguiu guerra religiosa, a poltica impotente, a decadncia intelectual,
a corrupo moral, uma diminuio alarmante da populao e o empobre cimento
de toda a Alemanha. Estes foram os resultados das iniciativas da Ordem."(21)

Sua

Somente durante o sculo XVII que os jesutas conseguiram se estabelecer com
sucesso na Sua, depois de terem sido chamados e posteriormente banidos por
algumas poucas cidades da Confederao, durante a segunda metade do sculo XVI.
O arcebispo de Milo, Carlos Borromee, o qual tinha favorecido sua instalao em
Lucema, em 1578, logo percebeu quais seriam os resultados de suas aes, conforme
nos lembra J. Huber: "Carlos Borromee escreveu a seu confessor que a Companhia
de Jesus, governada por dirigentes mais polticos do que religiosos, estava se

tornando poderosa demais para preservar a submisso e moderao necessrias. Ela


domina reis e prncipes e dirige assuntos temporais e espirituais; a instituio piedosa
perdeu o esprito que a animava na origem; nos sentamos obrigados a exclu-la".(22)
Ao mesmo tempo, na Frana, o famoso legista Etinne Pasquier escreveu: "Introduza
essa Ordem em nosso meio e, ao mesmo tempo, estar produzindo dissenso, caos e
confuso. "(23) No seria essa a mesma reclamao ouvida e repetida em todos os
pases contra a Companhia? Foi o mesmo na Sua, quando a evidncia de seus atos
malignos irromperam das aparncias lisonjeiras pelas quais se superava na arte de se
disfarar. "Sempre que os jesutas conseguiam ncar razes, seduziam grandes e
pequenos, jovens e velhos. Logo, as autoridades comeariam a consult-los em
circunstncias importantes; suas doaes comeavam a entrar; logo depois passaram a
ocupar todas as escolas, os plpitos de muitas igrejas, os confessionrios de todas as
pessoas de posio elevada e in uente. Confessores e atentos orientadores da
educao de todas as classes sociais, conselheiros e amigos ntimos dos membros da
Cmara, sua in uncia crescia dia aps dia, e no se faziam de rogados para logo
exerc-la em assuntos pblicos. Lucema e Friburgo eram seus centros principais, de
onde conduziam a poltica externa de muitos cantes catlicos."

Polnia e Rssia

A dominao jesutica na Polnia foi, de todas, a mais mortal. Isso provado por H.
Boehmer, um historiador moderado, o qual no tolera a hostilidade sistemtica a
essa Ordem.
"Os jesutas foram totalmente responsveis pela aniquilao da Polnia. A decadncia
do Estado polons j havia comeado quando eles surgiram em cena. inegvel,
entretanto, que aceleraram o processo de decomposio do reino. De todos os
Estados nacionais, a Polnia, que tinha milhes de cristos ortodoxos, deveria ser o
mais tolerante, do ponto de vista religioso, mas os jesutas no permitiram que isso
acontecesse. Fizeram ainda pior: puseram a poltica externa da Polnia a servio dos
interesses catlicos de forma mortal". (25)
Esse texto foi escrito no nal do sculo passado, sendo muito semelhante ao que o
coronel Beck, antigo ministro polons dos Assuntos Estrangeiros de 1932 a 1939,
disse aps a Segunda Guerra Mundial (1939-1945): "O Vaticano uma das
principais causas da tragdia do meu pas. Percebi tarde demais que tnhamos seguido
nossa poltica externa apenas para servir aos interesses da Igreja Catlica". (26)
Assim, com distncia de vrios sculos, a mesma in uncia desastrosa deixou sua
marca outra vez naquela nao desaventurada. J em 1581, o padre Possevino,

representante papal em Moscou, tinha se esforado ao mximo para aproximar o czar


Ivan, "o Terrvel", e a Igreja Romana. Ivan no era estritamente contra ela. Cheio de
grandes esperanas, Possevino tornou-se, em 1584, o mediador da paz de Kirewora
Gora entre a Rssia e a Polnia, uma paz que veio a salvar Ivan de di culdades
incrveis. Isso era exatamente o que o astuto soberano esperava. No houve mais
discusses sobre a converso dos russos e Possevino teve de abandonar a Rssia sem
ter obtido absolutamente nada. Dois anos mais tarde, uma oportunidade ainda
melhor se ofereceu aos padres para invadir a Rssia: um monge destitudo revelou-se
a um jesuta como sendo na verdade Dimitri, lho do czar Ivan, que havia sido
assassinado.
Ele props submeter Moscou a Roma caso fosse erguido ao trono do czar. Sem
re etir, os jesutas aceitaram a proposta de apresentar Ostrepjew ao paladino de
Sandomir, o qual lhe concedeu a lha em casamento. Falaram em nome dele ao rei
Sigismundo III e ao papa sobre suas expectativas, e conseguiram levantar o exrcito
polons contra o czar Boris Godounov. Como recompensa por esses servios, o falso
Dimitri renunciou religio de seus pais na Cracvia, uma das sedes jesutas, e
prometeu Ordem uma sede em Moscou, prxima ao Kremlin, aps sua vitria
sobre Boris.
"Foram estes favores dos catlicos, entretanto, que desencadearam o dio da Igreja
Russa Ortodoxa contra Dimitri. No dia 27 de maio de 1606, ele foi massacrado
com vrias centenas de seguidores poloneses. At ento, no se podia falar de um
verdadeiro sentimento nacionalista russo; agora, esse sentimento se tornava
importantssimo e tomava imediatamente a forma de dio fantico pela Igreja
Romana e pela Polnia. A aliana com a ustria e a poltica ofensiva de Sigismundo
III contra os turcos, fortemente encorajada pela Ordem, foi tambm desastrosa
esutica. Em nenhum outro pas, exceo de Portugal, a Companhia foi to
poderosa. A Polnia no s teve um "rei dos jesutas", mas tambm um jesuta rei,
Joo Casimiro, um soberano que havia pertencido Ordem antes da sua ascenso ao
trono em 1649. Enquanto a Polnia seguia rapidamente para a runa, o nmero de
sedes e escolas crescia to rapidamente que o prior estabeleceu na Polnia uma
congregao especial em 1751." (27)

Sucia e Inglaterra

Nos pases escandinavos, o luteranismo anulou todo o resto e, quando os jesutas
zeram seu contra-ataque, no encontraram o que havia na Alemanha: um partido
poltico em minoria, mas ainda forte, escreveu Pierre Dominique.(28) Sua nica

esperana era a converso do soberano (que secretamente estava a favor dos catlicos).
Tambm esse rei, Joo III Wasa, tinha se casado em 1568 com uma catlica romana,
a princesa polonesa Catarina. Em 1574, o padre Nicolai e outros jesutas foram
trazidos Escola de Teologia recentemente fundada, onde se tornaram ardorosos
defensores de Roma, enquanto oficialmente assumiam o luteranismo.
Posteriormente, o hbil negociador Possevino obteve a converso de Joo III e os
cuidados pela educao de seu lho Sigismundo, o futuro Sigismundo III, rei da
Polnia. Quando chegou o momento de submeter a Sucia Santa S, as condies
do rei (casamento de padres e uso do idioma nacional em servios e comunhes todas rejeitadas pela Cria Romana), levaram as negociaes a um beco sem sada. De
qualquer forma, o rei, o qual havia perdido sua primeira mulher, teve de se casar com
uma sueca luterana. Os jesutas tiveram que abandonar o pas.
"Cinqenta anos depois, a Ordem ganhou outra grande batalha na Sucia. A rainha
Cristina, lha de Gustavo Adolfo, o ltimo dos Wasa, foi convertida sob a educao
de dois professores jesutas, os quais conseguiram chegar a Estocolmo ngindo
viajarem com nobres italianos. Para conseguir trocar sua religio sem con itos, no
entanto, ela teve que abdicar no dia 24 de junho de 1654." (29)
Na Inglaterra, por outro lado, a situao parecia mais favorvel Companhia e
podia-se esperar, por algum tempo pelo menos, trazer o pas de volta jurisdio da
Santa S. "Quando Elizabeth subiu ao trono, em 1558, a Irlanda era ainda
totalmente catlica. Nessa poca, o catolicismo atingia 50% da populao da
Inglaterra. J em 1542, Salmeron e Broel tinham sido enviados pelo papa Irlanda,
para investigaes." (30)
Foram criados seminrios sob a direo dos jesutas em Douai, Pont-a-Mousson e
Roma, com o objetivo de preparar missionrios ingleses, irlandeses e escoceses. Em
acordo com Filipe II, de Espanha, a Cria Romana trabalhou pela queda de
Elizabeth em favor da catlica Maria Stuart. Uma rebelio irlandesa, provocada por
Roma, havia sido esmagada. Os jesutas, todavia, que haviam chegado Inglaterra
em 1580, tomaram parte de uma grande assemblia catlica em Southwark.
"Posteriormente, sob diversos disfarces, eles se espalharam de condado a condado, de
casas de campo a castelos. noite, ouviam con sses; de manh, pregavam e davam
a comunho; depois desapareciam to misteriosamente quanto tinham chegado.
Assim foi que, em 15 de julho, os jesutas foram proscritos pela rainha Elizabeth."
(31)
Eles imprimiam e distribuam secretamente pan etos virulentos contra a rainha e a
Igreja Anglicana. Um deles, o padre Campion, foi preso, condenado por alta traio
e enforcado. Tambm conspiraram em Edimburgo para conquistar o rei James, da
Esccia, para sua causa. O resultado de todos esses distrbios foi a execuo de Maria
Stuart em 1587. Posteriormente veio a expedio espanhola, a Armada Invencvel,

que fez a Inglaterra tremer por algum tempo, fazendo surgir a "unio sagrada" em
torno do trono de Elizabeth. A Companhia, entretanto, manteve-se rme em seus
propsitos. Preparava padres ingleses em Valladolid, Sevilha, Madrid e Lisboa,
enquanto sua propaganda secreta era mantida na Inglaterra, sob a direo do padre
Garnett. Aps a conspirao de Gunpowder contra James I, sucessor de Elizabeth,
este mesmo padre Garnett foi condenado por cumplicidade e enforcado, tal qual o
padre Campion. Sob Charles I, j na Commonwealth de Cromwell, outros jesutas
pagaram com a vida por suas intrigas.
A Ordem chegou a pensar que venceria com Charles II, o qual, juntamente com Lus
XIV havia concludo um acordo secreto em Dover, comprometendo-se a restaurar o
catolicismo no pas. 'A nao no foi completamente informada a respeito dessas
circunstncias, mas o pouco que vazou foi su ciente para criar uma agitao
inacreditvel. Toda a Inglaterra estremeceu diante do fantasma de Loyola e das
conspiraes jesutas."(32) Uma reunio deles no prprio palcio levou a fria
popular a um limite. "Charles II, que desfrutava a vida de um rei e no queria
atravessar outra "viagem pelos mares", enforcou cinco padres por alta traio em
Tybum. Isso no abateu os jesutas. Charles II, no entanto, foi muito prudente e
cnico para o gosto deles, pois estava sempre pronto a despist-los. Imaginaram que a
vitria seria possvel quando James II subiu ao trono.
O rei retornou ao velho jogo de Maria Tudor, mas usou de meios mais suaves.
Fingiu converter a Inglaterra e estabeleceu para os jesutas, no palcio de Savoy, um
colgio onde 400 estudantes foram imediatamente admitidos. Uma camarilha
completa de jesutas tomou conta do Palcio.
Todas essas combinaes foram a causa principal para a revoluo de 1688. Os
jesutas tiveram de ir contra uma corrente muito poderosa. Na poca, a Inglaterra
tinha 20 protestantes para cada catlico. O rei foi derrubado; todos os membros da
Companhia foram presos ou banidos. Por algum tempo, os jesutas tentaram
recomear seu trabalho como agentes secretos, mas no passou de uma agitao ftil.
Eles tinham perdido a causa." (33)
Companhia parece ser extremamente perigosa com respeito f; uma inimiga da
paz da Igreja; mortal ao Estado monstico e parece ter sido criada para trazer no a
edi cao, mas a runa." (34) Os padres, no entanto, foram autorizados a se
estabelecerem em Billom, um recanto de Auvergne. De l, organizaram uma grande
ao contra a Reforma nas provncias do Sul da Frana. Lainez, o famoso homem do
Concilio de Trento, sobressaiu-se nas polmicas, especialmente no Colquio de
Poissy, numa tentativa frustrada de conciliar as duas doutrinas (1561).
Graas rainha me, Catarina de Mdicis, a Ordem abriu sua primeira casa
parisiense, o Colgio de Clermont, que passou a competir com a Universidade. A
oposio desta, do clero e do Parlamento foi mais ou menos paci cada com

concesses verbais, pelo menos, feitas pela Companhia, a qual se comprometeu a se


restringir ao direito comum. A Universidade, porm, tinha lutado muito e por
muito tempo contra a introduo de "homens subornados s custas da Frana, para
se armarem contra o rei", de acordo com Etinne Pasquier, cujas palavras se
mostraram verdadeiras no muito tempo depois.
Nem preciso perguntar se os jesutas "consentiram" com o Massacre de So
Bartolomeu (1572). Eles chegaram a prepar-lo? Quem sabe? A poltica da
Companhia, sutil e exvel nos seus procedimentos, tinha objetivos muito claros; a
poltica do "tudo para destruir a heresia". Todo o resto deve estar submetido a esse
objetivo maior. "Catarina de Mdicis trabalhou muito por esse objetivo e a
Companhia podia contar com os Guises. "(35) Esse plano superior, entretanto, to
ajudado pelo massacre da noite de 24 de agosto de 1572, provocou uma terrvel
exploso de dio fratricida. Trs anos depois, foi a Liga, aps o assassinato do duque
de Guises, apelidado "o rei de Paris", e o pedido de "Sua Alta Majestade Crist" para
combater os protestantes.
O astuto Henrique III fez o mximo para evitar uma guerra religiosa. Em acordo
com Henrique de Navarra, eles conquistaram os protestantes e os catlicos mais
moderados contra Paris, a Liga e seus partidrios, romanos enlouquecidos apoiados
por Espanha. "Os jesutas, poderosos em Paris, protestaram que o rei da Frana tinha
se entregado heresia. O comit dirigente da Liga deliberou na casa dos jesutas na
rua de Saint Antoine. Estaria a Espanha controlando Paris? Improvvel. A Liga? A
Liga s era um instrumento em mos extremamente habilidosas. Essa Companhia de
Jesus, que tem estado lutando em nome de Roma por trinta anos j, este era o
senhor secreto de Paris."
'Assim, Henrique III foi assassinado. Devido ao fato do herdeiro ser protestante, o
assassinato pareceu primeira vista tr sido cometido apenas por razes polticas, mas
no seria possvel que aqueles que o planejaram e persuadiram o jacobino Clement a
execut-lo estivessem esperando uma revolta da Frana Catlica contra o herdeiro
huguenote? O fato que algum tempo depois, Clement foi chamado de "anjo" pelo
jesuta Camelet. Guignard, outro jesuta que posteriormente foi enforcado, dava a
seus alunos, como forma de moldar suas opinies, textos tirnicos em seus exerccios
de latim."(36) Entre outras coisas, esses exerccios escolares continham o seguinte:
"Jacques Clement cometeu um ato de mrito inspirado pelo Esprito Santo. Se
podemos travar guerra contra ele, ento devemos lev-lo morte." E ainda:
"Cometemos um grande erro em So Bartolomeu; deveramos ter feito sangrar a veia
real." (37)

Frana


Em 1551, a Ordem comeou a se estabelecer na Frana e, aps 17 anos de sua
fundao, estava instalada na capela Saint-Denis, em Montmartre. Os jesutas se
apresentavam como adversrios efetivos da Reforma, a qual havia conquistado um
stimo da populao francesa. O povo, no entanto, no con ava nesses soldados
excessivamente dedicados Santa S. Assim, sua penetrao na Frana foi
inicialmente muito lenta. Tal como em todos os outros pases onde a opinio
pblica no lhes era favorvel, se insinuavam em primeiro lugar entre as pessoas da
Corte; depois, atravs destas, nas classes superiores. Em Paris, entretanto, o
Parlamento, a Universidade e mesmo o clero mantinham-se hostis. Isso cou mais
evidente na sua primeira tentativa de abrir um colgio na cidade.
Em 1592, um certo Bamere, o qual tentara assassinar Henrique IV confessou que o
padre Varade, reitor dos jesutas em Paris, o havia persuadido a isso. Em 1594, outra
tentativa foi levada a cabo por Jean Chatel, ex-aluno dos jesutas, os quais haviam
ouvido sua con sso pouco antes de cometer o ato. Foi nessa ocasio que os j
mencionados exerccios escolares eram aproveitados na casa do padre Guignard. "O
padre foi enforcado em Greve, enquanto o rei con rmava um dito do Parlamento
banindo os filhos de Loyola do reino, como "corruptores da juventude, violadores da
paz pblica e inimigos do Estado e da Coroa da Frana."
O dito no foi levado avante em sua totalidade e, em 1603, foi revogado pelo rei
contra recomendao do Parlamento. Aquaviva, o prior dos jesutas, havia sido
ardiloso em suas manobras e levara o rei Henrique IV a acreditar que a Ordem,
reestabelecida na Frana, seria leal servidora dos interesses nacionais. Como poderia
ele, sutil como era, acreditar que esses romanos fanticos realmente aceitariam o
dito de Nantes (1498), o qual determinava os direitos dos protestantes na Frana e,
ainda pior, apoiariam seus projetos contra a Espanha e seu imperador? O fato que
Henrique IV escolheu para seu confessor e tutor um dos mais distintos membros da
Companhia, o padre Cotton.(38a)
Em 16 de maio de 1610, na vspera de sua campanha contra a ustria, o monarca
foi assassinado por Ravaillac, o qual confessou ter sido inspirado pelos escritos dos
padres Mariana e Suarez. Estes dois recomendavam o assassinato de "tiranos hereges"
e de todos aqueles no su cientemente devotados aos interesses do papado. O duque
de Epernon, que fazia o rei ler uma carta enquanto o assassino estava pronto para a
emboscada, foi um amigo famoso dos jesutas, e Michelet provou que eles sabiam
dessa cilada. "De fato, Ravaillac havia se confessado ao padre jesuta d'Aubigny pouco
antes e, quando os juizes interrogaram o padre, ele simplesmente respondeu que
Deus lhe havia concedido o dom de esquecer imediatamente o que lhe era dito no
confessionrio."(38)
O Parlamento, convicto de que Ravaillac tinha sido apenas um instrumento da

Companhia, ordenou ao carrasco queimar o livro de Mariana. Felizmente, Aquaviva


ainda estava l. Novamente esse grande prior tramou muito bem; condenou
severamente a legitimidade do tiranicdio. A Companhia sempre teve autores que, no
silncio de seus estudos, expunham a doutrina em toda a sua retido; tambm tinha
grandes polticos os quais, quando necessrio, a vestiriam com as mscaras
adequadas."(39) Graas ao padre Cotton, que tomou conta da situao, a
Companhia de Jesus saiu desse "temporal" ilesa. Sua fortuna, o nmero de
estabelecimentos e seguidores cresceu vertiginosamente.
Quando, entretanto, Lus XIII subiu ao trono, e Richelieu assumiu os assuntos de
Estado, houve um con ito de interesses. O cardeal no permitia que ningum se
opusesse sua poltica. O jesuta Caussin, confessor do rei, pde veri car a verdade
dessa a rmao, quando foi levado priso em Rennes, sob as ordens de Richelieu,
tal qual um criminoso de Estado. Esse ato produziu timos resultados. A m de se
manter na Frana, a Ordem chegou ao ponto de colaborar com o respeitado
ministro.
H. Boehmer escreveu sobre esse assunto: 'A falta de considerao pela Igreja sempre
demonstrada pelo governo francs, desde Philippe le Bel, nos con itos entre os
interesses nacionais e eclesisticos era, novamente, a melhor poltica."(40) A ascenso
ao trono de Lus XIV marcou o incio de um tempo de grande prosperidade para a
Ordem. A indulgncia dos confessores jesutas, seu "descuido" inteligente usado para
atrair pecadores no muito interessados em pagar penitncias, foram extensivamente
utilizados, tanto com o povo quanto na Corte, especialmente com o rei, muito mais
um conquistador "Don Juan" que um devoto.
"Sua Majestade" no tinha inteno de renunciar aos seus casos amorosos, e seu
confessor foi muito cuidadoso em evitar o assunto, apesar de ser puro adultrio.
Assim, toda a famlia real foi prontamente abastecida com confessores jesutas
apenas, e sua in uncia cresceu mais e mais na alta sociedade. Os padres de Paris
atacavam nos seus Escritos a moral frouxa dos famosos casustas da Companhia, mas
sem sucesso. O prprio Pascal interveio, em vo, a favor dos jansenistas, durante a
grande disputa teolgica da poca. Em suas Cartas da Provncia, ele exps ao eterno
ridculo seus oponentes muito mudanos, os jesutas. Apesar disso, a posio segura
que tinham na Corte lhes assegurou a vitria e os de Port-Royal sucumbiram.
A Ordem assim conquistava outra grande vitria para Roma, cujas conseqncias
foram contra os interesses nacionais. No preciso dizer que, contra a vontade,
tinham aceitado a paz religiosa assegurada pelo Edito de Nantes, e que tinham
continuado em uma guerra secreta contra os franceses protestantes.
medida que Lus XTV envelhecia, tornou-se mais e mais intolerante, sob a
in uncia de Madame de Maintenon e do padre La Chaise, seu confessor. Em 1881,
eles o persuadiram a recomear a perseguio aos protestantes. Finalmente, em 17 de

outubro de 1685, ele assinava a Revogao do dito de Nantes, fazendo com que
aqueles dentre seus sditos que se recusassem a abraar a religio catlica ficassem sem
direitos legais.
Logo em seguida, para acelerar as "converses", os famosos "dragonnade" entraram
em ao. Esse nome sinistro tornou-se parte de todas as tentativas posteriores de
evangelizar por fogo e correntes. Enquanto os fanticos aplaudiam, os protestantes
fugiram do reino em massa. De acordo com Marshal Vauban, a Frana perdeu dessa
forma 400 mil habitantes e 60 milhes de francos. Industriais, comerciantes,
proprietrios de navios e artesos quali cados fugiram para outros pases, levando
consigo a vantagem de suas especialidades.
Os jesutas tiveram um dia de vitria em 17 de outubro de 1685; o prmio nal
para uma guerra que tinha durado 125 anos ininterruptos, mas o Estado pagou os
custos da vitria jesutica. 'A despopulao e a reduo da prosperidade nacional
foram as conseqncias materiais graves de seu triunfo, seguidas de um
empobrecimento espiritual que no poderia ser curado, nem mesmo na melhor
escola jesuta. Isso foi o que a Frana sofreu e a Companhia de Jesus teve de pagar
muito pouco tempo depois."(41)
Durante o sculo seguinte, os lhos de Loyola viram, no apenas na Frana mas em
todos os pases europeus, a rejeio contra eles, mas novamente durou pouco tempo;
esses janzaros fanticos do papado no haviam acabado de acumular runas na
perseguio ao seu sonho impossvel.

Captulo 3
Misses no Estrangeiro

"Tornaram-se os catlicos devotos e supersticiosos, que vem milagres em todos os
lugares e parecem gostar da autoflagelao"

ndia, Japo e China



Converso de "pagos" havia sido o primeiro objetivo do fundador da Companhia
de Jesus. Apesar da necessidade de combater o protestantismo na Europa envolver
seus discpulos mais e mais (e essa iniciativa poltica e religiosa, da qual zemos um
breve sumrio, tornou-se sua tarefa principal), ainda assim continuaram com a
evangelizao de terras distantes. Seu ideal teocrtico (submeter o mundo
autoridade da Santa S) exigia que fossem a todas as regies do globo, na "conquista
de almas". Francisco Xavier, um dos primeiros companheiros de Igncio, foi o
grande promotor da "evangelizao na sia". Em 1542, desembarcou em Goa e
encontrou ali um bispado, uma catedral e um convento de franciscanos que,
juntamente com alguns padres portugueses, j haviam tentado espalhar entre os
nativos a religio de Cristo. Deu tamanho impulso ao movimento nessa sua primeira
tentativa que comeou a ser chamado de "apstolo da ndia".
Na verdade, era muito mais um pioneiro e divulgador do que exatamente algum
que completasse alguma coisa duradoura. Apaixonado, entusiasta, sempre na busca
de novos campos de ao, ele mostrou o caminho muito mais do que semeou o
cho. No reino de Travancore, em Malacca, nas Ilhas de Banda, Macassar e Ceilo,
seu charme pessoal e seus discursos eloqentes zeram maravilhas e, como resultado,
70 mil idolatras foram convertidos, especialmente nas castas baixas. Para alcanar
isso, ele no desprezava o suporte poltico e at militar dos portugueses. Esses
resultados, mais espetaculares do que slidos, fatalmente despertaram o interesse
pelas misses na Europa, alm de trazer um outro brilho sobre a Companhia de
Jesus.
O apstolo incansvel - mas pouco perseverante - logo deixou a ndia em busca do
Japo, depois China, onde estava para entrar quando veio a morrer em Canto, em
1552. Seu sucessor na ndia, Roberto de Nobile, aplicou nesse pas os mesmos
mtodos que os jesutas usavam com sucesso na Europa: apelou s classes mais altas.
Para os "intocveis", ele s concedia a hstia consagrada na ponta de um basto.
Nobile adotou as roupas, os hbitos e a forma de vida dos brmanes e misturou seus

ritos com os cristos, tudo isso com a aprovao do papa Gregrio XV. Graas a essa
ambigidade, converteu, segundo ele mesmo a rmava, 250 mil hindus. "Cerca de
um sculo aps sua morte, quando o intransigente papa Benedito XIV proibiu a
observncia desses rituais hindus, tudo faliu e os 250 mil pseudo- catlicos
desapareceram."(1)
Nos territrios do Norte da ndia, do grande mongol Akbar, um homem tolerante
que tinha f, mesmo tentando introduzir no seu Estado o sincretismo religioso, os
jesutas foram aceitos para construir uma sede em Lahore, em 1575. Os sucessores de
Akbar concederam-lhes os mesmos favores. Aureng-Zeb (1666-1707), um
muulmano ortodoxo, ps, no entanto, um m a essa empreitada. Em 1549, Xavier
embarcou para o Japo com dois acompanhantes e um japons que ele havia
convertido em Mallaca, chamado Yoshiro. Os primeiros tempos no foram muito
prsperos. "Os japoneses tm sua prpria mortalidade e so muito reservados; seu
passado os mergulhou no paganismo. Os adultos olhavam para aqueles estranhos
com graa e as crianas os seguiam, zombando." (2)
Yoshiro, nativo, conseguiu comear uma pequena comunidade com cem seguidores.
Francisco Xavier, que no falava japons muito bem, no conseguia nem mesmo
obter uma audincia com o Mikado, a suprema autoridade religiosa japonesa.
Quando deixou o pas, dois padres permaneceram e, posteriormente, conseguiram a
converso dos daimos de Arima e Bungo. Este ltimo se decidiu nalmente pela
converso aps analisar o assunto por 27 anos.
No ano seguinte, os padres se estabeleceram em Nagasaki. Pensavam ter convertido
cem mil japoneses. Em 1587, a situao interna do pas, dividido pela guerra dos
cls, modi cou-se inteiramente. "Os jesutas tiraram vantagem dessa anarquia e de
sua relao ntima com os mercadores portugueses."(3) Hideyoshi, um homem de
origem simples, usurpou o poder e tomou para si o ttulo de Taikosama.
No con ava na in uncia poltica dos jesutas, suas associaes com os portugueses
e conexes com os grandes e rebeldes vassalos, os Samurais. Conseqentemente, a
jovem Igreja japonesa foi violentamente perseguida. Seis franciscanos e trs jesutas
foram cruci cados; muitos convertidos foram assassinados e a Ordem foi banida. O
decreto, entretanto, no foi levado avante; os jesutas continuaram seu apostolado em
segredo.
Em 1614, o primeiro Shogun, Tokugawa Yagasu, irritou-se com suas aes ocultas e
a perseguio recomeou. Alm disso, os holandeses haviam tomado o lugar dos
portugueses nos balces de negcios e eram vigiados de perto pelo governo. Uma
descon ana profunda de todos os estrangeiros, eclesisticos ou leigos, passou a
inspirar a conduta dos lderes a partir de ento e, em 1638, uma rebelio dos cristos
de Nagasaki foi afogada em sangue. Para os jesutas, a aventura japonesa chegava ao
fim e assim permaneceu durante um longo tempo.

Podemos ler no notvel livro de Lord Bertrand Russell, Science and Religion, a
seguinte passagem insinuante sobre Francisco Xavier, "o realizador de milagres": "Ele
e seus acompanhantes escreveram muitas cartas longas que foram guardadas at hoje;
nelas, prestavam contas de seus trabalhos, mas nenhuma mencionava seus poderes
miraculosos."
Jos Acosta negava expressamente que esses missionrios tivessem sido ajudados por
milagres nos seus esforos para converter os pagos. Logo aps a morte de Xavier,
histrias sobre milagres comearam a surgir. Diziam que ele tinha o dom de lnguas,
apesar de suas cartas estarem cheias de aluses s suas di culdades quando quis
dominar o idioma japons ou encontrar bons intrpretes.
Histrias foram contadas a rmando que, quando seus amigos sentiram sede no mar,
transformara a gua salgada em doce. De acordo com uma verso posterior, ele teria
atirado o cruci xo no mar para acalmar uma tempestade. Ao ser canonizado em
1622, foi "provado", para a satisfao das autoridades no Vaticano, que ele havia
realizado "milagres", pois ningum pode ser transformado em santo sem realizar
milagres.
O papa deu sua garantia o cial ao dom de lnguas e cou particularmente
impressionado pelo fato de Xavier ter supostamente feito lamparinas acenderem com
gua benta, e no com leo. "O mesmo papa, Urbano VIII, recusou-se a acreditar
nas a rmaes de Galileu. A lenda continuou a aumentar. Uma biogra a pelo padre
Bonhours, publicada em 1682, conta que o santo tinha ressuscitado 14 pessoas
durante sua vida. Autores catlicos ainda atribuem a ele o dom dos milagres em uma
biogra a publicada em 1872; o padre Coleridge, da Companhia de Jesus, rea rma
que ele tinha o dom das lnguas."(4) A julgar pelas explicaes acima mencionadas, o
"santo" Francisco Xavier realmente merecia uma aurola.
Na China, os lhos de Loyola tiveram uma poca longa e favorvel com apenas
poucas expulses. Obtiveram isso na condio de que trabalhassem por l
principalmente como cientistas e respeitassem os ritos milenares dessa civilizao to
antiga.
A Meteorologia era a disciplina principal. Francisco Xavier j havia descoberto que os
japoneses no sabiam que a terra era redonda. Eles eram muito curiosos quanto s
coisas que Xavier lhes ensinava sobre este e outros assuntos. "Na China, tornou-se
o cial e, como os chineses no eram fanticos, as coisas se desenvolveram
paci camente. Um italiano, padre Ricci, foi seu iniciador. Tendo feito seu caminho
para Pequim, assumiu prontamente a funo de astrnomo diante dos cientistas
chineses. A Astronomia e a Matemtica eram uma parte importante das instituies
chinesas.
Estas cincias davam condies ao soberano de agendar suas vrias cerimnias
religiosas e civis. Ricci trouxe informaes que o tornaram indispensvel e usou dessa

oportunidade para falar do cristianismo. Buscou dois padres que corrigiram o


calendrio tradicional, estabelecendo o curso das estrelas com os eventos terrestres.
Ricci ajudou em tarefas menores tambm; desenhou, por exemplo, um mapa mural
do imprio, onde cuidadosamente colocou a China no centro do universo".(5) Esta
era a principal atividade dos jesutas no "Imprio Celestial", posto que o interesse
pelo lado religioso de sua misso era mnimo. engraado pensar que, em Pequim,
os padres estivessem to ocupados em corrigir os erros astronmicos dos chineses
enquanto em Roma a Santa S persistentemente condenava o sistema coprnico, e
isso at 1822!
Apesar do fato dos chineses terem pouca inclinao para o misticismo, a primeira
igreja catlica foi aberta em Pequim em 1599. Quando Ricci morreu, foi substitudo
por um alemo, o padre Shall von Bell, um astrnomo que tambm publicou alguns
tratados importantes em chins. Em 1644, foi-lhe dado o ttulo de "Presidente do
Tribunal Matemtico", o que gerou inveja entre os mandarins. Enquanto isso, as
comunidades crists se organizavam.
Em 1617, o imperador deve ter previsto os perigos dessa penetrao pac ca quando
decretou o desterro de todos os estrangeiros. Os "bons padres" foram mandados aos
portugueses em Macau, em caixotes de madeira. Logo em seguida, no entanto,
foram chamados de volta. Eram to bons astrnomos...
De fato, eram to bons astrnomos quanto missionrios, com 41 casas na China,
1.159 igrejas e 257 mil membros batizados. Nova reao contra eles, entretanto,
pediu seu desterro e o padre Shall foi condenado morte. Sem dvida, ele no foi
condenado tal sentena simplesmente por seu trabalho com Matemtica! Um
terremoto e o incndio do palcio imperial, astutamente apresentados como um sinal
da clera divina, salvaram-lhe a vida e ele morreu em paz, dois anos depois. Seus
companheiros, porm, tiveram que deixar a China.
'Apesar de tudo isso, a estima pelos jesutas era to grande que o imperador Kang-Hi
sentiu-se obrigado a cham-los de volta em 1669, ordenando um funeral solene para
os despojos de Iam Io Vam (Jean Adam Shall). Essas honras inesperadas foram
apenas o incio de favores excepcionais. "(6) Um padre belga, Verbiest, seguiu-se a
Shall na direo das misses e do Instituto de Matemtica Imperial. Foi ele que deu
ao Observatrio de Pequim aqueles famosos instrumentos cuja preciso matemtica
ocultada por quimeras, drages, etc. Kang-Hi, "o dspota esclarecido", que reinou
por 61 anos, apreciava os servios daquele cientista, o qual lhe deu conselhos sbios,
acompanhou-o na guerra e at mesmo o apoiou numa fundio de canhes.
Sua atividade profana e guerreira era dirigida "ad majorem Dei gloriam", conforme o
bom padre lembrou ao imperador na mensagem enviada antes de sua morte:
"Senhor, morro feliz pois usei de quase todos os momentos de minha vida para
servir Sua Majestade. Mas rogo a ele, com humildade, para lembrar-se, aps a

minha morte, que meu objetivo em tudo o que fiz era obter um protetor para a mais
sagrada das religies no Universo; e o protetor era Sua Majestade, o maior rei do
Oriente." (7)
Tanto na China quanto em Malabar, essa religio no podia sobreviver, no entanto,
sem algum artifcio. Os jesutas tiveram de trazer a doutrina romana ao nvel chins,
identi car Deus com o cu (Tien) ou o Chang-Ti, "imperador de cima", misturar os
ritos catlicos com os chineses, aceitar o ensino de Confcio e o culto de ancestrais.
O papa Clemente XI, que foi informado disso por ordens rivais, condenou a
doutrina "ecltica" e, como resultado, todo o trabalho missionrio dos jesutas no
"Imprio Celestial" se arruinou. Os sucessores de Kang-Hi baniram a Cristandade e o
ltimo padre deixado na China morreu sem nunca ter sido substitudo.

As Amricas: O Estado Jesuta do Paraguai



Os missionrios da Companhia de Jesus encontraram o Novo Mundo muito mais
favorvel sua catequizao do que a sia. Na Amrica no encontraram nenhuma
civilizao culta ou antiga; nenhuma religio solidamente estabelecida; nenhuma
tradio los ca; muito pelo contrrio, encontraram tribos pobres e brbaras,
espiritual e temporalmente desarmadas diante dos conquistadores brancos. Apenas o
Mxico e o Peru, com a memria dos deuses astecas e incas ainda fresca em suas
lembranas, resistiram a essa religio importada por algum tempo. Os dominicanos e
franciscanos, entretanto, j tinham se estabelecido solidamente.
Foi, portanto, entre as tribos selvagens, caadores nmades e pescadores que os lhos
de Loyola exerceram sua atividade devoradora. Os resultados obtidos variavam de
acordo com as populaes. No Canad, os Hurons, pac cos e dceis, aceitaram
facilmente o catecismo, mas seus inimigos, os Iroquois, atacaram as estaes criadas
ao redor do Forte Sainte-Marie e massacraram seus habitantes. Os Hurons foram
praticamente exterminados em dez anos e, em 1649, os jesutas tiveram de partir
com apenas 300 sobreviventes.
Eles no deixaram uma forte impresso quando passaram atravs dos territrios que
hoje formam os Estados Unidos. Apenas no sculo XIX que comearam a plantar
razes naquela parte do continente.
Na Amrica do Sul, a ao dos jesutas passou por bons e maus momentos. Em
1546, os portugueses haviam convocado os jesutas para trabalhar nos territrios que
possuam no Brasil; enquanto convertiam os nativos, encontravam muitos con itos
com a autoridade civil e outras ordens religiosas. O mesmo acontecia em Nova
Granada.

O Paraguai, no entanto, foi a terra da grande "experincia" da colonizao jesutica.


Esse pas se espalhava, na poca, do Atlntico aos Andes e alcanava os territrios que
hoje pertencem ao Brasil, Uruguai e Argentina. Os nicos meios de acesso atravs da
mata virgem eram os rios Paraguai e Paran. A populao dessas terras era formada de
indgenas nmades e dceis, prontos a se curvarem diante da dominao de qualquer
um, desde que fossem abastecidos com comida su ciente e um pouco de tabaco. Os
jesutas no poderiam encontrar condies melhores para estabelecer, longe da
corrupo dos brancos, o modelo perfeito de colnia. No incio do sculo XVII, o
Paraguai foi elevado a Provncia pelo prior da Ordem que tinha sido empossado pela
Corte Espanhola, e o "Estado Jesuta" se desenvolveu e expandiu.
Esses "bons selvagens" foram devidamente catequizados e treinados para viverem
sedentariamente, sob uma disciplina to gentil quanto forte: 'Assim como uma mode-ferro em uma luva de veludo". Essas sociedades patriarcais deliberadamente
ignoravam as liberdades de qualquer espcie. "Tudo o que o cristo possui e usa, a
cabana em que vive; os campos que cultiva; o gado que lhe d comida e roupas; as
armas que carrega; as ferramentas com as quais trabalha; at mesmo a nica faca de
mesa dada a um jovem casal, quando se casa, "Tupambac", propriedade de Deus. A
partir dessa mesma concepo, o "cristo" no pode dispor de sua vida livremente. O
beb recm-nascido est sob a proteo de sua me. Assim que comea a andar, ele
pertence a Deus ou a seus "agentes". Quando cresce (se for uma garota), aprende a
des ar e tecer, ou a ler e escrever (se for um rapaz), mas apenas em guarani, porque o
espanhol severamente proibido, de forma a evitar qualquer contato com os "criolos
corruptos."
Assim que a garota atingir 14 anos e o rapaz 16, eles se casam, pois os padres anseiam
que no cheguem a cair em pecado carnal. Nenhum deles pode se tornar padre,
monge, e muito menos jesuta. Eles praticamente no tm nenhuma liberdade. So,
obviamente, muito felizes, materialmente falando... Pela manh, aps a missa, cada
grupo de trabalhadores vai para o campo, um aps o outro, cantando e precedido de
uma imagem "santa". noite, voltam para a vila da mesma maneira, para ouvir o
catecismo ou recitar o rosrio. Os padres tambm imaginaram alguma diverso
honesta para os "cristos".
"Os jesutas vigiam como se fossem pais; como tais, tambm punem o menor dos
erros. O chicote, o jejum, a priso, a exposio ao ridculo no pelourinho e a
penitncia pblica na igreja eram os castigos que usavam. Assim, os lhos
"vermelhos" do Paraguai no conheciam nenhuma outra forma de autoridade, alm
dos bons padres. Nem vagamente suspeitavam que o rei da Espanha era o seu
soberano." (8)
No este o retrato caricaturado de um modelo ideal de sociedade teocrtica?
Analisaremos como que afetou o avano intelectual e moral dos bene cirios desse

sistema, esses "pobres inocentes", como eram chamados pelo marqus de Loreto: 'A
alta cultura das misses no passa de um produto arti cial de uma estufa, carregando
em si a semente da morte. Porque, apesar de toda essa quebra e treinamento, o
guarani continuou sendo o que era: um selvagem preguioso, bitolado, sensual,
ambicioso e srdido. Conforme os prprios padres dizem: ele apenas trabalha
quando sente que o aguilhoar do capataz est atrs dele.
Assim que so deixados por sua prpria conta, cam indiferentes ao fato da colheita
estar apodrecendo no campo, os implementos se deteriorando e o rebanho se
perdendo. Se ele no vigiado quando trabalha no campo, pode at mesmo abater
uma vaca, acender uma fogueira com a madeira do arado e, ali mesmo, com seus
companheiros, comear a comer a carne mal passada, at no sobrar nada. Sabe que
levar 25 chicotadas por isso, mas tambm sabe que os bons padres no o deixaro
morrer de fome." (9)
Em um livro recentemente publicado, podemos ler o seguinte quanto s punies
dos jesutas: "O acusado, vestindo roupas de penitente, era acompanhado igreja
para confessar sua falta. Ento era chicoteado na praa pblica, de acordo com o
cdigo penal. Os culpados recebiam esse castigo com murmrios, alm de aes de
graas. O culpado, tendo sido punido e reconciliado, beijava a mo daquele que lhe
batia, dizendo: "Que Deus o recompense por estar me libertando, por esta leve
punio, das penas eternas que me ameaavam.(10)
Aps essa leitura, podemos entender a concluso de H. Boehmer: 'vida moral dos
guaranis se enriqueceu muito pouco sob a disciplina dos padres. Tornaram-se os
catlicos devotos e supersticiosos, que vem milagres em todos os lugares e parecem
gostar da auto agelao at derramar sangue. Aprenderam a obedecer e foram ligados
aos bons padres (que cuidaram to bem deles) com uma gratido de lhos que,
apesar de no ser profunda, era de qualquer forma muito tenaz. Esse resultado no
muito brilhante prova que houve uma considervel de cincia nos mtodos
educativos dos padres. Qual era o defeito? O fato de que nunca tentaram desenvolver
em seus lhos "vermelhos" as faculdades inventivas, a necessidade de atividade, o
sentido de responsabilidade. Eles prprios inventavam jogos e divertimentos para
seus cristos e pensavam para eles, ao invs de os i encorajarem a pensarem por si
prprios; simplesmente submeteram aqueles que estavam sob seus cuidados a uma
"domesticao" mecnica, ao invs de uma educao.
Como poderia ser diferente, se eles prprios tambm eram submetidos a uma
"domesticao" durante 14 anos? Ensinariam os guaranis e seus discpulos brancos a
pensarem "por si mesmos", se eles prprios eram proibidos de o fazerem? No um
antigo jesuta, mas um contemporneo, que escreve: "Ele (o jesuta) nunca esquece
que a caracterstica da Companhia a obedincia total da ao, da vontade e at
mesmo do julgamento. Todos os superiores sero limitados da mesma forma em

relao aos superiores e o Padre Supremo ao Santssimo. Assim foi estabelecido para
todos e tudo se rende autoridade universalmente e caz da Santa S, e santo Igncio
estava certo que, a partir de ento, o ensino e a educao trariam a unidade catlica de
volta Europa dividida". " com a esperana de reformar o mundo", escreveu o
padre Bonhours, "que ele abraou em especial este meio: a instruo da juventude".
(12)
A educao dos nativos paraguaios foi feita nos mesmos princpios que costumavam
usar, os quais usam e usaro em todos os povos e em todos os lugares. Seu objetivo,
deplorado por Boehmer mas ainda ideal para os olhos fanticos, a renncia de todo
julgamento pessoal, toda a iniciativa, uma submisso cega ao superior. Este no "o
mximo da liberdade", "a libertao da escravido de si mesmo", louvadas por R. P.
Rouquette e que j mencionamos antes?
Os bons guaranis haviam sido libertados to bem pelos mtodos jesuticos por mais
de 150 anos que, quando seus senhores saram durante o sculo XVIII, voltaram para
suas orestas e seus costumes antigos, como se absolutamente nada tivesse
acontecido.
"Se um padre, cedendo tentao, abusar de uma mulher e ela tornar pblico o
acontecido, desonrando-o, este mesmo padre pode mat-la, para evitar desgraa!"

Captulo 4
O Ensino dos Jesutas

O mtodo pedaggico da Companhia, escreveu R. P. Charmot, S.J., "consiste
primeiramente em envolver os alunos com um grande conjunto de oraes".
Posteriormente, ele cita o padre jesuta Tacchini: "Que o Esprito Santo os complete
como alabastros so preenchidos com perfumes; que Ele penetre neles tanto que,
com o passar do tempo, podero respirar mais e mais a fragrncia celestial e o
perfume de Cristo!"
O padre Gandier tambm faz sua contribuio: "No nos esqueamos que a
educao, como vista pela Companhia, ministrio mais prximo do que feito
pelos anjos."(1) O padre Charmot tambm diz: "No sejamos ansiosos sobre
quando e como o misticismo est inserido em nossa educao. No feito atravs de
um sistema ou tcnica arti cial, mas por in ltrao, por "endosmosis". As almas das
crianas cam impregnadas por estar em contato ntimo com mestres que esto
literalmente saturados em misticismo."(2)
Do mesmo autor, aqui est "o objetivo do professor jesuta": 'Atravs de seu ensino,
ele procura formar no uma elite intelectual crist, mas cristos de elite. "(3) Estas
poucas citaes nos dizem sobre o principal objetivo desses educadores. Vejamos
como formam esses cristos de elite, e qual o tipo de misticismo que "inserido" ou
"inoculado", "in ltrado", "bombeado" nas crianas submetidas ao seu sistema
educacional.
frente, e uma caracterstica da Ordem, encontramos a "Virgem Maria". "Loyola
havia transformado a Virgem na coisa mais importante de sua vida. A adorao de
Maria era a base de suas devoes religiosas e foi por ele transmitida Ordem. Esse
culto se desenvolveu tanto que costuma-se dizer, e com razo, que era a verdadeira
religio dos jesutas."(4) Isso no foi escrito por um protestante, mas por J. Huber,
professor de Teologia, catlico. O prprio Loyola estava convencido que a "Virgem"
o havia inspirado quando escreveu os seus Exerccios. Um jesuta teve uma viso de
Maria cobrindo a Companhia com seu manto, como um sinal de sua proteo.
Outro, Rodrigo de Gois, cou to inebriado com sua beleza indescritvel que teria
sido visto utuando. Um novio da Ordem, que morreu em Roma em 1581, teria
sido ajudado pela Virgem em sua luta contra as tentaes do diabo; para fortalec-lo,
ela lhe teria dado o gosto do sangue de Jesus, de tempos em tempos, alm do
"conforto de seus seios".(5)
A doutrina de Duns Scot sobre a Imaculada Conceio foi entusi-asticamente
adotada pela Ordem, que conseguiu transform-la em dogma atravs de Pio IX, em

1854. Erasmo satiricamente retratou o culto Maria em seu tempo. Durante o


quarto sculo, a lenda da casa de Loreto havia sido inventada. Essa casa tinha
aparentemente sido trazida da Palestina pelos anjos.
Os jesutas aceitaram e defenderam essa lenda. Canisius chegou ao ponto de produzir
cartas da prpria Maria e, graas Ordem, altos valores comearam a chegar em
Loreto (assim como em Lourdes, em Ftima, etc). "Os jesutas continuaram com
todos os tipos de relquias da Me de Deus. Quando entraram na igreja de So
Miguel, em Munique, ofereceram para venerao pedaos dedignos do vu de
Maria, vrios tufos de cabelos e pedaos de sua escova; eles instituram um culto
especial, consagrado venerao destes objetos". Este culto se degenerou em
manifestaes sensuais e licenciosas, em particular nos hinos dedicados Virgem pelo
padre Jacques Pontanus. O poeta no conhecia nada mais lindo que os seios de
Maria; nada mais doce que seu leite e nada mais maravilhoso que seu abdmen."(6)
Poderamos multiplicar essas citaes infinitamente.
Igncio queria que seus discpulos tivessem uma piedade "perceptvel", ou ainda
sensual, semelhante sua prpria, e eles realmente conseguiram. No foi toa que
foram to bem sucedidos com os guaranis; esse fetichismo ertico caiu-lhes
perfeitamente. Os padres brancos, no entanto, imaginavam que cairia bem com os
"brancos" tambm. Como o fundamento de sua doutrina um desprezo absoluto
pelas pessoas enquanto seres humanos, "brancos" ou "vermelhos" eram o mesmo, e
ambos tinham de ser tratados como crianas. Assim, trabalharam incansavelmente na
propagao desse esprito e dessas prticas idolatras. Devido in uncia que tinham
na Santa S (que obviamente no conseguia viver sem eles), foraram essas idias na
Igreja Romana, apesar da resistncia que, gradualmente, diminua.
O padre Barri escreveu um livro intitulado O Paraso se Abre Atravs de Cem
Devoes Me de Deus. Nele, expe a idia de que a maneira pela qual entramos
no paraso no importante: o importante entrar. Enumera exerccios de piedade
exterior Maria, os quais abririam as portas do cu. Entre outras coisas, esses
exerccios consistem em saudar Maria de manh e de noite; freqentemente expressar
o desejo de construir para ela mais igrejas do que todas as que j foram construdas
por todos os monarcas juntos; carregar um rosrio dia e noite, da mesma forma que
um bracelete, uma imagem de Maria, etc. "Essas prticas eram su cientes para
garantir nossa salvao. Se o demnio, quando estivssemos para morrer, viesse pedir
nossas almas, ns s precisaramos lembrar a ele que Maria responsvel por ns e
que ele deve acertar as contas com ela."(7)
Em seu Pietas Quotidiana Erga S.D. Mariam, o padre Pemble recomenda o
seguinte: "Bater ou agelar a ns mesmos, e oferecer cada suspiro como um sacrifcio
a Deus, atravs de Maria; gravar com uma faca o santo nome de Maria em nosso
peito; cobrir-nos decentemente noite, de forma a no ofendermos o santo olhar de

Maria; dizer Virgem que gostaramos de lhe oferecer nosso lugar no Paraso, caso
ela j no estivesse l; desejarmos nunca termos nascido ou irmos ao inferno se Maria
no tivesse nascido; nunca comer uma ma, pois Maria se absteve do erro de provla. "(8) Tudo isso foi em 1764, mas s precisamos dar uma olhada nos trabalhos
semelhantes que ainda hoje so publicados em grande nmero, ou na imprensa
catlica, para evidenciarmos o fato de que, por mais 200 anos, essa idolatria selvagem
s cresceu e se tornou mais so sticada. O papa Pio XII superou-se no culto Maria.
Sob sua direo, uma grande parte da Igreja Romana tomou esse caminho. Alm
disso, os lhos de Loyola, sempre ansiosos para se adequarem ao esprito do tempo,
tentam at hoje ajustar essas puerilidades medievais ao presente.
Existem vrios tratados publicados por alguns desses bons padres, sob os grandes
auspcios do Centre National de Ia Recherche Scienti que (C.N.R.S). Se
acrescentarmos a isso os escapulrios de vrias cores, com suas virtudes apropriadas, a
adorao de santos, imagens, relquias, a apologia dos "milagres" e a venerao do
"Sagrado Corao", dentre outras prticas, teremos uma idia do misticismo com o
qual "as almas das crianas so impregnadas" atravs de seu contato com mestres "que
esto saturados nelas", conforme R. P Charmot escreveu, em 1943.
No h outra forma de gerar "cristos de elite". Para vencer sua luta contra as
universidades, os colgios jesutas precisavam expandir seu ensino e incluir matrias
seculares, pois a Renascena havia despertado uma sede de conhecimento. Sabemos
que zeram isso com alegria sem, no entanto, esquecerem de tomar as precaues
necessrias para evitarem que esse aprendizado fosse contra o objetivo de seu ensino:
manter nas mentes a obedincia absoluta Igreja.
por isso que seus pupilos so primeiramente "envolvidos" com um grande
"conjunto de oraes", o qual no seria su ciente se o conhecimento transmitido no
fosse cuidadosamente purgado de todo o esprito ou idias heterodoxas. Assim, grego
e latim (o latim muito estimado nesses colgios) eram estudados pelo seu valor
literrio; o "antigo" pensamento ortodoxo, entretanto, era exposto apenas na medida
em que se pudesse estabelecer a superioridade da loso a escolstica. Esses
"humanistas", treinados pelos jesutas, eram capazes de compor discursos e versos em
latim, mas o nico senhor de seus pensamentos era Santo Toms de Aquino, um
monge do sculo XIII. Vejamos o Ratio Studiorum, um tratado fundamental de
Pedagogia jesuta, citado por R. E Charmot: "Ns cuidadosamente descartamos as
matrias seculares, que no favorecem a piedade e a boa moral. Vamos compor
poemas, mas que nossos poetas sejam cristos e no seguidores de pagos que
invocam musas, ninfas das montanhas, ninfas do mar, Calope, Apoio, etc, ou
outros deuses e deusas. E, se acaso estes vierem a ser citados, que o sejam de forma
caricatural, como se fossem demnios".(9) Assim, todas as cincias -e especialmente
as cincias naturais - sero interpretadas de forma similar.

De fato, R. P. Charmot nem mesmo tenta esconder o que disse sobre o professor
jesuta em 1943: "Ele ensina cincias, no por causa delas, mas para trazer vista a
grande glria de Deus. Esta a regra de acordo com o que de ne Santo Igncio em
sua obra Estatutos."(10) E de novo: "Quando falamos de toda uma cultura, no
queremos dizer que ensinamos todas as matrias e cincias, mas damos uma educao
literria e cient ca que no puramente secular e impermevel s luzes da
Revelao".(11)
A educao ministrada pelos jesutas deve ser, portanto, mais espalhafatosa do que
profunda, ou "formalista", como se costuma dizer. "Eles no acreditavam em
liberdade, o que era mortal no que se refere ao ensino", escreveu H. Boehmer. A
verdade que os mritos relativos do ensino jesuta diminuam na medida em que a
cincia e os mtodos de educao e instruo avanavam, nas bases de uma concepo
mais larga e profunda de Humanidade. Buckle disse: "Quanto mais avanada for a
civilizao, mais os jesutas vo perder terreno, no s por causa de sua decadncia,
mas por causa das modi caes e mudanas de mentalidade daqueles que esto
volta deles. Durante o sculo XVI, os jesutas estavam frente mas, durante o sculo
XVIII, estavam perdidos de seu tempo".

A Moral dos Jesutas



O esprito conquistador de sua Companhia, o desejo ardente de atrair conscincias e
assegurar sua in uncia exclusiva s poderia levar os jesutas a serem mais indulgentes
com os penitentes que os confessores de todas as outras ordens ou clero secular. "No
se pegam moscas com vinagre", diz sabiamente o provrbio. Conforme j vimos,
Igncio expressava a mesma idia em termos diferentes e seus lhos seguiram sua
inspirao. 'A atividade extraordinria desenvolvida pela Ordem no campo da
Teologia moral j demonstra que essa cincia sutil tinha, para eles, uma importncia
prtica muito maior que as outras cincias".(13) Boehmer, autor da frase citada
acima, lembra-nos que a con sso era muito rara durante a Idade Mdia e o el a
usava apenas em casos mais graves. O carter dominador da Igreja Romana, no
entanto, fez com que sua prtica se espalhasse mais e mais. Durante o sculo XVI, a
con sso tinha se tornado um dever religioso que devia ser diligentemente
observado.
Igncio considerava a con sso muito importante e recomendava aos seus discpulos
que o maior nmero possvel de is deveria observ-la regularmente. Os resultados
desse mtodo eram extraordinrios. Os confessores jesutas logo passaram a gozar da
mesma considerao dos professores jesutas, e os confessionrios foram considerados

smbolo do poder e da atividade da Ordem, tal qual a cadeira professoral e a


Gramtica latina. Se lermos as instrues de Igncio com respeito con sso e
Teologia moral, devemos admitir que, desde o comeo, a Ordem estava preparada
para tratar do pecador com carinho e, posteriormente, tornou-se mais e mais
indulgente at que se transformasse em desmazelada.
Podemos entender facilmente por que essa tolerncia inteligente fez deles confessores
to bem sucedidos. Foi a maneira como eles obtiveram os favores dos nobres e
poderosos deste mundo, os quais sempre precisaram da condescendncia de seus
confessores mais do que a massa de pecadores comuns.
"As cortes da Idade Mdia nunca tiveram qualquer tipo de confessor todo-poderoso.
Essa gura caracterstica surgiu somente nos tempos modernos, e a Ordem jesuta
que a implanta em todos os lugares."(14) Boehmer escreveu: "Durante o sculo
XVII, esses confessores obtiveram uma in uncia poltica invejvel em todos os
lugares; s vezes at mesmo funes ou cargos claramente polticos. Foi ento que o
padre Neidhart assumiu a direo da poltica espanhola como "Primeiro Ministro e
Grande Inquisidor"; o padre Fernandez sentava-se e era chamado a opinar e votar no
Conselho portugus; o padre La Chaise e seu sucessor mantiveram-se em funes de
ministros para os Negcios Eclesisticos na Corte de Frana.
No podemos esquecer tambm o papel dos padres na poltica em geral, mesmo fora
dos confessionrios. O padre Possevino foi embaixador do Vaticano na Sucia,
Polnia e Rssia; o padre Petre, ministro na Inglaterra; o padre Vota era conselheiro
ntimo de Joo Sobieski, da Polnia, na funo de "criador de reis" e mediador.
Quando a Prssia se tornou um reino, devemos admitir que nenhuma outra Ordem
mostrou tanto interesse e talento pela poltica e desenvolveu tantas atividades quanto
a Ordem jesuta."(15)
Se a indulgncia desses confessores, pela augusta penitncia, ajudou imensamente os
interesses da Ordem e da Cria Romana, deu-se o mesmo em esferas mais modestas,
onde os padres usaram mtodos similares e convenientes. Com sua meticulosidade e
at um certo esprito intrometido, herdado de Loyola, os famosos casustas, tais
quais Escobar, Mariana, Sanchez, Busenbaum e outros se aplicaram a estudar cada
regra em particular e suas aplicaes prticas em todos os casos que pudessem se
apresentar nos tribunais de penitncia.
Aqui seguem alguns exemplos dessas acrobacias: 'A lei divina prescreve: No
levantars falso testemunho. H falso testemunho somente quando aquele que fez o
juramento usa palavras que sabe que enganaro o juiz. O uso de termos ambguos,
portanto, permitido, e mesmo a desculpa da reserva mental em certas
circunstncias. Se um marido pergunta sua esposa adltera se ela quebrou o
contrato conjugai, ela pode dizer "no" sem hesitar, pois aquele contrato ainda existe.
Uma vez que tenha obtido a absolvio no confessionrio, ela pode dizer: "Estou

sem pecado", se, enquanto o disser, pensar que aquela absolvio tirou-lhe o peso de
seu pecado. Se o seu marido estiver ainda incrdulo, ela pode reassegurar-lhe, dizendo
que no cometeu nenhum adultrio; entretanto, se acrescentar, mesmo em voz baixa
"adultrio", obrigada a confessar." No difcil de imaginar que tal teoria foi bem
sucedida com suas belas senhoras penitentes! Seus galantes acompanhantes eram
tratados da mesma forma: "A Lei de Deus diz: No deves matar. Isso no signi ca
que todo homem que mata esteja pecando contra este mandamento. Por exemplo:
Se um nobre for ameaado com tiros ou agresso, pode matar seu agressor;
logicamente, porm, esse direito restrito aos nobres, e no aos plebeus, pois no h
nada de desonroso para um homem comum em ser agredido. Da mesma forma, um
servo que ajude seu senhor a seduzir uma jovem no est cometendo pecado mortal,
pois ele pode temer srias conseqncias no caso de se recusar. Se uma jovem estiver
grvida, um aborto pode ser induzido se sua falta for causa de desonra para ela ou
para algum membro do clero".(17) O padre Benzi tambm teve seu momento de
fama quando declarou: "E apenas uma pequena ofensa sentir os seios de uma freira".
Por causa disso, os jesutas foram apelidados de "telogos mamilares". Tanto quanto
se sabe, o famoso casusta omas Lanchz merece o prmio por seu tratado De
Matrimnio, no qual estuda com detalhes ultrajantes todas as variedades de "pecados
carnais". Estudemos mais profundamente essas mximas convenientes dentro do
campo da poltica, especialmente aquelas relativas a assassinatos de tiranos
considerados culpados de indiferena com relao aos interesses da Santa S.
Boehmer tem isto a dizer: "Conforme acabamos de ver, no difcil se guardar do
pecado mortal. Dependendo das circunstncias, precisamos apenas usar os meios
excelentes permitidos pelos padres: ambigidade, reserva mental, a sutil teoria da
direo de intenes. Seremos capazes de cometer, sem pecado, atos considerados
criminosos pelas massas ignorantes, mas nos quais at mesmo o mais severo padre
no poder encontrar nada alm de um tomo de pecado mortal".(18)
Entre as mximas jesuticas mais criminosas, h uma que despertou indignao
pblica ao mximo e que merece ser examinada: "Um padre ou monge pode matar
aqueles que estiverem prontos a caluni-lo ou a sua comunidade". Assim, a Ordem se
d o direito de eliminar seus adversrios e at mesmo seus membros, caso sassem da
instituio e se tornassem muito "faladores". Esta "prola" se encontra na Teologia
do Padre VAmy.
H outro caso onde esse princpio aplicvel. Este mesmo jesuta foi cnico o
bastante para escrever: "Se um padre, cedendo tentao, abusar de uma mulher e ela
tornar pblico o acontecido, desonrando-o, este mesmo padre pode mat-la, para
evitar desgraa!" Outro lho de Loyola, citado pelo "Le grand ambeau" Caramuel,
pensa que esta mxima deve ser mantida e defendida: "Um padre pode usar isso
como desculpa para matar a mulher e assim preservar sua honra!" Essa teoria

monstruosa foi usada para cobrir muitos crimes cometidos por eclesisticos e
provavelmente foi, em 1956, a razo (se no a causa) para o lamentvel caso do padre
de Unuffe.
Seus tratados sobre Teologia Moral deram Companhia uma reputao universal,
pois sua sutileza para distorcer e perverter as obrigaes morais mais evidentes era
muito aparente.

O Eclipse da Companhia

Os sucessos que a Companhia de Jesus obteve na Europa e em terras distantes, apesar
de intercalados por vrias perdas, lhe asseguraram uma situao dominante por um
longo perodo. Conforme j mencionamos, o tempo, no entanto, no estava
trabalhando a seu favor. As idias se desenvolviam e o progresso das cincias tendia a
liberar as mentes. O povo e os monarcas achavam cada vez mais difcil suportar o
controle desses campees da teocracia. Alm disso, muitos abusos, originados de seus
sucessos, prejudicaram a Companhia internamente. Ao lado da poltica, na qual
estava profundamente envolvida (como se pode notar, contra os interesses nacionais),
sua atividade devoradora logo se fez sentir no campo econmico. "Os padres se
envolveram em muitos negcios que no tinham nada a ver com religio, ou seja, no
comrcio, cmbio ou como liqidantes de falncias. O Colgio Romano, que
deveria se ater a modelo intelectual e moral de todos os colgios jesutas, tinha
tecelagens em Macerata e vendia os tecidos em feiras a preos baixos. Seus centros na
ndia, Antilhas, Mxico e Brasil logo se transformaram em mercados de produtos
coloniais. Na Martinica, um procurador criou vastas plantaes cultivadas por
escravos negros".(19) Este o lado comercial das Misses no Estrangeiro mantido at
hoje. A Igreja Romana nunca desprezou a extrao de lucros temporais de suas
conquistas "espirituais". Tanto quanto se sabe, os jesutas eram exatamente iguais s
outras ordens religiosas, chegando at a ultrapass-las. De qualquer forma, sabemos
que recentemente os padres brancos estavam entre os mais ricos proprietrios de
terras do Norte da frica. Os lhos de Loyola foram muito dedicados, tanto na
conquista de almas quanto em obter o mximo do trabalho dos "pagos".
No Mxico, tinham minas de prata e re narias de acar. No Paraguai, plantaes de
ch e cacau, alm de fbricas de tapetes.
Tambm criavam gado e exportavam 80 mil mulas por ano".(20) Conforme
podemos ver, a evangelizao de seus " lhos vermelhos" foi uma boa fonte de renda
e, para lucrarem mais ainda, os padres no hesitavam em defraudar o Tesouro
Nacional, como pode ser visto na conhecida histria das chamadas "caixas de

chocolate" descarregadas em Cdiz, as quais estavam cheias de ouro em p.


O bispo Palafox, enviado como visitante apostlico pelo papa Inocncio VIII,
escreveu-lhe em 1647: "Toda a riqueza da Amrica do Sul est nas mos dos
jesutas".
"Em Roma, os cofres da Ordem zeram pagamentos embaixada portuguesa em
nome do governo portugus. Quando Auguste le Fort foi Polnia, os padres de
Viena abriram uma linha de crdito para esse "monarca necessitado" junto aos
jesutas de Varsvia. Na China, os padres emprestavam dinheiro aos mercadores a
juros de 25,5% e at mesmo 100%".(21)
A cobia escandalosa da Ordem, sua moral frouxa, suas intrigas polticas incessantes e
tambm suas invases nos domnios das prerrogativas do clero secular e regular
geraram inimizades mortais e dio em todos os lugares. No seio das altas classes, a
Ordem cou com pssima reputao e, na Frana, seus esforos para manterem o
povo na piedade formalista e supersticiosa abriu espao para a inevitvel emancipao
das mentes. A prosperidade maternal conseguida pela Companhia, as posies
adquiridas na Corte e especialmente o suporte dado pela Santa S (que eles
acreditavam ser eterno) mantiveram, entretanto, os jesutas tranqilos e seguros,
mesmo s vsperas de sua runa. J no haviam eles passado por tantas tempestades e
sofrido aproximadamente 30 expulses desde o incio de sua fundao at a metade
do sculo XVIII? Quase sempre acabavam por voltar, cedo ou tarde, a ocupar suas
posies perdidas.
Esse novo eclipse ameaador sobre eles chegou a ser quase absoluto dessa vez, e durou
por mais de 40 anos. O estranho que o primeiro assalto contra essa poderosa
Companhia veio justamente da Catlica autoridade espiritual e temporal;
procurando introduzir na Igreja e nos Estados, sob o vu plausvel de instituto
religioso, no uma Ordem realmente desejosa de espalhar a perfeio evanglica, mas
um corpo poltico trabalhando incessantemente para usurpar toda a autoridade, por
todos os meios indiretos, secretos e intrincados."
Concluindo, a doutrina jesuta foi descrita como segue: "Perversa; uma destruidora
de todos os princpios religiosos e honestos; uma afronta moral crist; perniciosa
sociedade civil; hostil aos direitos da nao, do poder real, e at mesmo da segurana
dos soberanos e obedincia de seus sditos; adequada para provocar os maiores
distrbios nos Estados; criadora e mantenedora do pior tipo de corrupo nos
coraes dos homens".
Na Frana, os bens da Companhia foram con scados em favor da Coroa e nenhum
de seus membros foi autorizado a car no reino, a menos que renunciasse a seus
votos e jurasse submeter-se s regras gerais do clero na Frana.
Em Roma, o prior dos jesutas, Ricci, obteve do papa Clemente XIII uma bula
con rmando os privilgios da Ordem e proclamando sua inocncia, mas era tarde

demais.
Na Espanha, os Bourbons suprimiram todos os estabelecimentos da Companhia,
tanto os da metrpole quanto os das colnias. Assim deu-se o m do Estado
paraguaio dos jesutas.
Os governos de Npoles, Parma e mesmo o Gro-Ducado de Malta tambm
baniram os filhos de Loyola de seus territrios.
Os seis mil jesutas que estavam na Espanha tiveram uma estranha experincia aps
terem sido atirados priso: "O rei Carlos III enviou todos os prisioneiros ao papa,
com uma longa carta, na qual dizia que 'os colocava sob o controle sbio e imediato
de Sua Santidade'. Quando os desafortunados estavam para desembarcar em Civita Vecchia, foram recebidos com o barulho dos tiros de canhes do prprio prior, o
qual j tomava conta dos jesutas portugueses, mesmo sem ter como aliment-los.
Assim, o mximo que obtiveram foi um santurio miservel na Crsega".(22)
"Clemente XIII, eleito em 6 de julho de 1758, tinha resistido um bom tempo aos
pedidos insistentes de vrias naes, as quais solicitavam a supresso dos jesutas.
Estava a ponto de ceder e j havia marcado um consistrio para o dia 3 de fevereiro
de 1769, que informaria sobre sua resoluo de acatar os desejos daqueles pases. Na
noite anterior quele dia espec co, de repente sentiu-se mal, quando estava indo
dormir, e gritou: "Estou morrendo!" realmente muito perigoso atacar os jesutas".
(23) O conclave se reuniu e se manteve-se por trs meses. Finalmente o cardeal
Ganganelli ascendeu mitra e tomou o nome de Clemente XIV.
As naes que haviam banido os jesutas continuaram a pedir pela supresso total da
Companhia. O papado, entretanto, no tinha pressa em abolir o principal
instrumento de consecuo de sua poltica, e quatro anos se passaram antes que
Clemente XIV, compelido pela rme atitude de seus oponentes (que haviam
ocupado algumas das funes papais), finalmente assinasse a ordem para dissoluo.
Dominus ac Redemptor, em 1773, Ricci, o prior da Ordem, chegou at mesmo a
ser levado priso no castelo de Saint-Ange, onde morreu alguns anos depois.
"Os jesutas somente apareceram para se submeterem a esse veredito que os
condenava. Escreveram inmeros pan etos contra o papa e incitaram a rebelio;
mentiram e caluniaram inmeras vezes a respeito das chamadas atrocidades
cometidas."(24) A morte de Clemente XIV, 14 meses depois, foi at mesmo
atribuda a eles por um setor da opinio pblica europia. Os jesutas, pelo menos a
princpio, no mais existiam. Clemente XIV, no entanto, sabia muito bem que,
assinando a sentena de morte deles, estava tambm assinando a sua prpria: "Esta
supresso nalmente feita", exclamou, "e no me arrependo dela. Eu a faria
novamente se j no estivesse feita, mas esta supresso me matar".(25)
Ganganelli tinha razo. Logo em seguida, cartazes comearam a surgir nas paredes do
palcio, exibindo apenas cinco letras: I.S.S.S.V.

Todos imaginavam o que signi cavam, mas o papa compreendeu imediatamente e


secamente declarou: "Signi ca: In Settembre, Sara Sede Vacante (Em setembro, a S
estar vaga)".
Aqui est outro testemunho: "O papa Ganganelli, ou Clemente XIV, no sobreviveu
muito aps a supresso dos jesutas, disse Scipion de Ricci. O laudo da autpsia,
enviado Corte de Madrid pelo Ministro da Espanha em Roma, provou que sua
morte havia sido causada por envenenamento. Tanto quanto sabemos, nenhum
inqurito foi levado a cabo pelos cardeais a respeito do assunto, nem mesmo pelo
novo pont ce. O responsvel por to odioso ato pde escapar do julgamento do
mundo, mas no conseguir escapar da justia de Deus"
"Podemos seguramente a rmar que em 22 de setembro de 1774 o papa Clemente
XIV morreu por envenenamento." Enquanto isso, a imperatriz da ustria, Maria
Teresa, tambm havia banido os jesutas de todos os seus domnios. Apenas
Frederico da Prssia e Catarina II, imperatriz da Rssia, os aceitaram em seus pases
como educadores.
Na Prssia, eles s conseguiram car por dez anos, at 1786. A Rssia os favoreceu
por mais tempo, mas l tambm, e pela mesma razo, fatalmente despertaram a
animosidade do governo. 'A supresso do cisma e a recuperao da Rssia para o
papado os atraram tal qual moscas ao mel. Lanaram um programa de propaganda
ativo no exrcito e na aristocracia e lutaram contra a Sociedade Bblica criada pelo
czar. Ganharam vrias batalhas e converteram o prncipe Galitzine, sobrinho do
Ministro da Devoo. Ento o czar interveio."
Nem preciso dizer que as bases do decreto que baniu os jesutas de So Petersburgo
e Moscou foram as mesmas de todos os outros pases. "Percebemos que eles no
cumpriam as funes esperadas; ao invs de serem cidados pac cos em um pas
estrangeiro, e agrediram a religio grega, que tem sido desde tempos remotos a
religio predominante em nosso imprio e mantido em paz e alegria as naes sob
nosso comando.
Abusaram da con ana que obtiveram e transformaram a juventude a eles con ada
em pessoas inconsistentes e distantes de nossa devoo. No nos surpreende que esta
Ordem religiosa tenha sido expulsa de todos os pases e que suas aes no fossem
toleradas em lugar algum".(29) Em 1820, nalmente, medidas gerais foram tomadas
para expuls-los de toda a Rssia. Por causa de eventos polticos favorveis Ordem,
eles voltaram ao Leste da Europa sendo solenemente reestabelecidos pelo papa Pio
VII em 1814. O signi cado poltico dessa deciso claramente expresso por Daniel
Rops, um grande amigo dos jesutas. Assim escreveu ele sobre o ressurgimento dos
filhos de Loyola: " impossvel no ver a um ato bvio de contra-revoluo".
Em 1799, as duas Companhias se fundiram, tendo por dirigente o padre
Clariviere, o nico jesuta francs sobrevivente. Em 1803, uniram-se aos jesutas

russos. Alguma coisa coerente estava voltando vida, porm as massas, e menos
ainda os polticos, no reconheceram a princpio".
A Revoluo Francesa, e posteriomente o Imprio, deram Companhia de Jesus
uma credibilidade inesperada novamente. Foi uma reao defensiva contra as novas
idias surgindo nas antigas monarquias. Napoleo I descreveu a Companhia como
"muito perigosa; nunca ser permitida no Imprio". Quando, no entanto, a Santa
Aliana triunfou, os novos "monarcas" no desprezaram a ajuda desses absolutistas,
para trazer de volta o povo obedincia irrestrita.
Os tempos, porm, haviam mudado. Toda a habilidade dos bons padres poderia
apenas retardar e no impedir a propagao das idias liberais. Seus esforos foram
mais prejudiciais que teis. Na Frana, a Restaurao sentiu-a de forma amarga. Lus
XVIII, poltico descrente e esperto, tentou conter o surgimento dos "ultras" tanto
quanto pde. Sob Carlos X, bitolado e muito devoto, os jesutas tiveram muito
espao. A lei que os expulsou em 1764 estava ainda em vigor. Sem problemas.
Eles reviveram a famosa "Congregao", primeiro tipo de Opus Dei. Essa
"irmandade santa", composta de eclesisticos e leigos, se encontrava em todos os
lugares, ngindo "purgar" o exrcito, os magistrados, a funo pblica e o ensino.
Manteve "misses" por todo o pas, plantando cruzes comemorativas onde quer que
fosse (muitas delas ainda esto por a) e provocando os adeptos a atacarem os in is.
A Ordem se fez to odiada que o muito catlico e muito legitimista Montlosier
exclamou: "Nossos missionrios acenderam incndios por todos os lados. Se algo
tem que nos ser mandado, que nos mandem a praga de Marselha, antes do que estes
missionrios."

Renascimento da Companhia de Jesus Durante o Sculo XIX



Quando Clemente XIV foi obrigado a suprimir a Ordem jesuta, segundo
testemunhas, teria dito: 'Acabei de cortar minha mo direita". A declarao parece
su cientemente plausvel. A Santa S deve ter certamente achado difcil cortar seu
mais importante instrumento de dominao no mundo. A desgraa da Ordem, uma
medida poltica imposta pelas circunstncias, foi gradualmente atenuada pelos
sucessores de Clemente XIV: Pio VI e Pio VIL
Se o eclipse o cial dos jesutas durou 40 anos, foi devido s convulses na Europa
resultantes da Revoluo Francesa. De qualquer forma, esse eclipse nunca foi total. 'A
maior parte dos jesutas havia cado na ustria, Frana, Espanha e Itlia, misturada
ao clero. Encontravam-se em pequenos ou grandes grupos, e tanto quanto era
possvel.

Em 1794, Jean de Tournely fundou a Companhia do Sagrado Corao na Blgica,


com um corpo docente. Muitos jesutas foram incorporados a. Trs anos depois, o
tirols Paccanari, que pensava ser outro Igncio, fundou a Companhia dos Irmos de
F.

O Segundo Imprio e a Lei Falloux A Guerra de 1870



No captulo anterior, mencionamos que larga tolerncia foi concedida Companhia
de Jesus na Frana durante Napoleo III, apesar de ser o cialmente proibida. De
qualquer forma, no poderia ser diferente, pois o regime devia sua existncia, em
grande margem, pelo menos, Igreja Romana, cujo suporte nunca falhou enquanto
o regime durou. Isso, no entanto, custaria muito caro Frana.
Os leitores do Progres du Pas-de-Calais, uma publicao para a qual o futuro
imperador escreveu vrios artigos em 1843 e 1844, no poderiam suspeitar nele uma
certa brandura em relao ao ultramon-tanismo (doutrina que defende a autoridade
absoluta do papa), a julgar pelo seguinte texto: "O clero pede, sob a cobertura da
liberdade de ensino, o direito de instruir nossa juventude.
O Estado, por outro lado, tambm exige o direito de instruo pblica por seus
interesses prprios. Essa batalha o resultado de opinies, idias e sentimentos
divergentes entre o Governo e a Igreja. Ambos querem in uenciar as novas geraes
em direes opostas e para seu prprio benefcio. No acreditamos, conforme um
famoso orador, que todos os laos entre o clero e a autoridade civil devam ser
quebrados para acabar com esse desvio. Infelizmente, os ministros de religio da
Frana geralmente so contrrios aos interesses democrticos; permitir que construam
escolas sem controle o mesmo que encoraj-los a ensinar s pessoas o dio da
revoluo e da liberdade."

Em 1828, Carlos X retirou o direito de ensino Ordem, mas era tarde demais. A
dinastia ruiu em 1830. Odiados e cobertos de vergonha, os lhos de Loyola, no
entanto, caram na Frana, disfarados, pois a Companhia estava o cialmente
abolida.
Lus Filipe e Napoleo III os toleravam. A Repblica os dispersou em 1880 apenas,
sob a administrao de Jules Ferry. O fechamento de seus estabelecimentos foi
efetivado apenas em 1901, sob a lei de separao.
Durante o sculo XIX, a histria da Companhia na Amrica e parte da Europa foi
igualmente cheia de altos e baixos, tal qual no passado, enquanto lutava contra as
novas idias. "Sempre que os liberais ganhavam, os jesutas eram expulsos. Quando o

outro lado triunfava, eles se reestabeleciam, para defenderem o trono e o altar. Assim
foram banidos de Portugal em 1834; Espanha em 1820,1835 e 1868; Sua em
1848; Alemanha em 1872 e Frana em 1880 e 1901. Na Itlia, de 1859 em diante,
todos os seus colgios e estabelecimentos foram gradualmente tomados, tanto que
foram forados a interromperem todas as suas atividades prescritas em suas leis. O
mesmo ocorreu na Amrica Latina. A Ordem foi suprimida na Guatemala em 1872;
Mxico em 1873; Brasil em 1874; Equador e Colmbia em 1875 e Costa Rica em
1884. Os nicos pases onde os jesutas viveram em paz foram aqueles em que o
protestantismo estava em maioria: Inglaterra, Sucia, Dinamarca e Estados Unidos.
Pode parecer surpreendente primeira vista, mas isso se explica porque nestes pases
os padres nunca puderam exercer uma in uncia poltica. Sem dvida, aceitavam o
fato mais por necessidade do que por inclinao. Do contrrio, teriam aproveitado
todas as oportunidades para in uenciar a legislao e a administrao, diretamente
manobrando as classes dominantes, ou indiretamente provocando as massas
catlicas."(32)
Para ser el verdade, essa imunidade dos pases protestantes em relao s atividades
jesutas estava longe de ser absoluta. "Nos Estados Unidos, a Companhia
desenvolveu uma atividade sistemtica e frutfera por um longo perodo, pois no
proibida por leis", escreveu Fulop-Miller. "No estou satisfeito com o renascimento
dos jesutas", escreveu o ex-presidente John Adams Union a seu sucessor omas
Jeerson, em 1816. "Enxames deles se apresentaro sob os mais variados disfarces:
pintores, escritores, editores, professores, etc. Se alguma vez uma associao de
pessoas mereceu a condenao eterna nesta terra e no inferno, , sem dvida, a
Companhia de Loyola, mas com o nosso sistema de liberdade religiosa, nada
podemos fazer, alm de lhes ceder refgio". Jeerson respondeu a seu antecessor:
"Tal qual voc, tenho objees ao reestabelecimento dos jesutas".(33) Os receios
provaram ser corretos, um sculo depois, conforme veremos.
E ainda: "O clero vai parar de ser ultramontano assim que for educado como
antigamente, mas em uma forma mais atual, para se misturar s pessoas, recebendo
sua educao das mesmas fontes que o pblico em geral." Com relao forma pela
qual os padres alemes eram treinados, o autor esclarece seus pensamentos da seguinte
maneira: 'Ao invs de serem fechados longe do mundo, desde a infncia, e depois
instigados em seminrios com o dio contra a sociedade na qual vivem, aprenderiam
cedo a ser cidados antes de serem padres".(34)
Isso no encorajou o clericalismo poltico ao futuro soberano, ento um
"Carbonari". A ambio de se sentar em um trono, entretanto, logo o fez mais dcil
em relao Roma. No ter esta mesma ajudado em seu primeiro passo rumo ao
poder?
"Tendo sido erguido presidncia da Repblica em 10 de dezembro de 1848, Louis

Napoleon Bonaparte juntou-se a vrios ministros; um deles era de Falloux. Quem


este M. de Falloux? Uma ferramenta dos jesutas. Em 4 de janeiro de 1849, ele
instituiu uma comisso cuja funo era "preparar uma grande reforma legislativa da
educao primria e secundria". No decorrer das discusses, Cousin tomou a
liberdade de observar que possivelmente a Igreja estivesse errada ao atrelar seu destino
aos jesutas. Dupanloup defendeu energicamente a Companhia: "Uma lei de ensino
est sendo preparada e levar emendas sobre os jesutas.
No passado, o Estado e a Universidade tinham sido protegidos contra as invases
jesutas. Fomos injustos e incorretos; pedimos que o governo aplicasse suas leis
contra estes agentes de um pas estrangeiro e pedimos que nos perdoem. So bons
cidados que foram caluniados e julgados erroneamente. O que poderamos fazer
para lhes mostrar o respeito e a estima que lhes so devidos? Coloquemos em suas
mos o ensino das novas geraes". Este de fato o objetivo da lei de 15 de maro de
1850, que indica um conselho superior para Instruo Pblica, no qual o clero
domina (primeiro artigo); faz do clero professores de escolas (art. 44); d s
associaes religiosas o direito de criarem escolas livres, sem necessidade de se
explicarem sobre congregaes no-autorizadas jesutas (art. 17,2); diz que as cartas
de obedincia seriam seus diplomas (art. 49).
Barthelemy Saint-Hilaire tenta em vo demonstrar que o objetivo dos autores desse
projeto dar o monoplio ao clero, e que esta lei seria fatal para a Universidade
Victor Hugo. Exclama tambm em vo: "Esta lei um monoplio nas mos
daqueles que tentam fazer do ensino uma sacristia e governar a partir do
confessionrio."(35) A Assemblia, entretanto, ignora esses protestos. Prefere ouvir
M. de Montalembert, o qual diz: "Seremos engolidos se no pararmos
imediatamente com o atual comrcio de racionalismo e demagogia; e ainda, s
podemos par-lo com a ajuda da Igreja."
M. de Montalembert acrescenta estas palavras para assegurar a importncia desta lei:
"Contra o exrcito de professores desmora-lizadores e anrquicos, devemos opor o
exrcito do clero". A lei foi aprovada. Nunca antes na Frana os jesutas haviam
conquistado uma vitria to absoluta. M. de Montalembert admitiu com orgulho:
"Estou defendendo a justia e apoiando tanto quanto possvel o governo da
Repblica, que tanto fez para salvaguardar a Ordem e manter a unio do povo
francs; este governo rendeu mais servios Igreja Catlica do que todos os outros
governos no poder durante os ltimos dois sculos".(36) Tudo isso aconteceu h
mais de cem anos, mas parece familiar ainda hoje. Vejamos como a "Repblica",
presidida pelo prncipe Louis Napoleon, estava agindo internacionalmente.
A revoluo de 1848 tinha, entre outras repercusses na Europa, provocado a
rebelio dos romanos contra o papa Pio IX, seu soberano temporal, que havia fugido
para Gaete. A Repblica Romana havia sido proclamada. Por um paradoxo

escandaloso, foi a Repblica da Frana, em acordo rmado com os austracos e o rei


de Npoles, que ps de volta no trono o soberano indesejado.
"Um regimento francs sitiou Roma, tomou-a em 2 de junho de 1849 e restaurou o
poder papal; conseguiu manter-se com a ajuda da diviso de ocupao francesa, a
qual deixou Roma somente aps os primeiros desastres da guerra franco-germnica
de 1870".(37)
Este comeo era promissor. O golpe de 2 de dezembro de 1851 trouxe a
proclamao do Imprio. Louis Napoleon, presidente da Repblica, tinha favorecido
os jesutas de todas as formas. Agora, imperador, no recusava nada a seus cmplices
e aliados. O clero derramou suas bnos e "Te Deum" em profuso nos massacres e
proscries de 2 de dezembro. O nico responsvel por essa emboscada abominvel
foi admirado com sabedoria providencial.
O arcebispo de Paris, monsenhor Sibour, que viu os massacres do boulevard,
exclamou: "O homem que foi preparado por Deus chegou. O dedo de Deus nunca
foi to visvel quanto agora, nos eventos que produziram estes grandiosos
resultados." O bispo de Saint Flour disse de seu plpito: "Deus indicou Louis
Napoleon; Ele j o havia eleito imperador. Sim, meus caros amigos, Deus
consagrou-o antes de tudo atravs da bno de seus dignatrios e padres; Ele o
aclamou; como no reconheceramos o eleito de Deus?" O bispo de Nevers
falsamente saudou: "O instrumento visvel da Providncia". Essas adulaes piedosas,
que poderiam ainda ser mais multiplicadas, mereciam um prmio, o qual foi uma
completa liberdade dada aos jesutas enquanto o Imprio durasse.
"A Companhia de Jesus foi literalmente a senhora da Frana por 18 anos!
Enriqueceu-se, multiplicou seus estabelecimentos e aumentou sua in uncia. Sua
ao foi sentida em todos os eventos importantes de seu tempo, especialmente na
expedio ao Mxico e na declarao de guerra de 187O."(38)
"O Imprio signi ca paz", declarou o novo soberano. Mal tinha ele completado dois
anos no trono, entretanto, e a primeira de todas as guerras que se sucederiam pelo
reino comeou.
A Histria pode no perceber os motivos dessas guerras, achando que no eram
interligadas, como se no pudesse ver o que as unia: a defesa dos interesses da Igreja
Romana. A guerra da Crimia, a primeira dessas loucas iniciativas, que enfraqueceu o
pas e no era interessante para a Frana, um exemplo tpico. No foi ningum
anticlerical, mas sim o abade Brugerette, quem escreveu: "Deve-se ler os discursos do
famoso eatine (padre Ventura) feitos na capela de Les Tiiileries durante Lent, em
1857. Ele apresentou a restaurao do imprio como uma obra de Deus e louvou
Napoleo III por ter defendido a religio na Crimia e ter feito brilhar os grandes
dias das Cruzadas pela segunda vez no Leste. A guerra da Crimia foi vista como um
complemento expedio romana e elogiada por todo o clero, cheio de admirao

pelo fervor religioso das tropas sitiando Sebastopol. SaintBeuve narrou com emoo
como Napoleo III havia mandado uma imagem da Virgem frente francesa" .(39)
Que expedio era essa que despertou o entusiasmo do clero? Paul Leon, membro do
Instituto, explica: "Uma disputa entre os monges reaviva a questo do Leste: surgiu a
partir de rivalidades entre as Igrejas Latina e Ortodoxa, com relao proteo dos
locais sagrados (na Palestina). Quem iria guardar as igrejas de Belm, car com as
chaves, dirigir os trabalhos? Mas, por detrs dos monges latinos, est o Partido
Catlico Francs, abastecido de privilgios ancestrais e apoiante do novo regime.
Atrs dos crescentes pedidos dos ortodoxos, que cresceram numericamente, est a
influncia russa".(40)
O czar invocou a proteo da Igreja Ortodoxa, a qual tinha para assegurar e efetivar.
Pediu tambm que sua esquadra pudesse usar a passagem de Dardanelos. A
Inglaterra, que era apoiada pela Frana, recusou-se e a guerra comeou.
"A Frana e a Inglaterra podem chegar ao czar apenas atravs do Mar Negro e da
aliana turca. A partir deste momento, a guerra da Rssia torna-se a guerra da
Crimia e ca totalmente centrada em Sebastopol, um caro empreendimento sem
resultado. Batalhas sangrentas, epidemias mortais e sofrimentos desumanos custaram
Frana cem mil mortos".(41) Devemos explicar que estes cem mil mortos eram
"soldados de Cristo" e gloriosos "mrtires da f", de acordo com monsenhor Sibour,
arcebispo de Paris, que ento declarou: "A guerra da Crimia, entre a Frana e a
Rssia, no uma guerra poltica, mas uma guerra santa; no um pas lutando
contra outro, povos lutando contra povos, mas simplesmente uma guerra religiosa,
uma Cruzada".(42)
A admisso no ambgua. No ouvimos a mesma coisa, no muito tempo atrs,
durante a ocupao nazista, exposta em termos idnticos aos dos prelados de Sua
Santidade Pio XII, por Pierre Lavai, presidente do Conselho de Vichy?
Em 1863, foi a expedio ao Mxico. O que foi isso exatamente? Transformar uma
repblica leiga em um imprio e oferec-lo a Maximiliano, arquiduque da ustria
que, por sinal, o pilar bsico do papado. O objetivo foi tambm erigir uma barreira
contra a in uncia protestante dos Estados Unidos sobre os pases da Amrica do
Sul, fortalezas da Igreja Romana.
Albert Bayet escreveu sagazmente: "O objetivo da guerra o de estabelecer um
imprio catlico no Mxico e reduzir os direitos das pessoas de autodeterminao; tal
qual durante a campanha da Sria e as duas campanhas na China, tende a servir em
especial aos interesses catlicos".(43)
Sabemos de que maneira, em 1867, aps as foras francesas terem reembarcado,
Maximiliano, o infeliz campeo da Santa S, foi feito prisioneiro quando Queretaro
capitulou e foi morto, dando espao para que a repblica fosse instaurada com
Juarez, o presidente vitorioso.

Estava, no entanto, chegando o tempo da Frana comear a pagar, novamente e com


mais rigor, o suporte poltico dado pelo Vaticano ao trono imperial. Enquanto o
exrcito francs estava derramando seu sangue nos quatro cantos do mundo,
tornando-se mais fraco ao defender interesses que no eram os seus, a Prssia, sob o
brao duro do futuro "chanceler-de-ferro", estava ocupada em expandir seu poder
militar para que os Estados germnicos fossem um s bloco.
A ustria foi sua primeira vtima. Em acordo com a Prssia, que estava para tomar a
duquesa dinamarquesa de Schleswig e Holstein, a ustria foi enganada por seu
cmplice. A guerra que se seguiu foi logo vencida pela Prssia em Sadowa no dia 3
de julho de 1866. Foi um terrvel golpe para a antiga monarquia dos Habsburgos, j
decadente. O golpe tambm foi forte para o Vaticano, pois a ustria sempre fora sua
fortaleza mais segura nas terras germnicas. A partir de ento, a Prssia, protestante,
exerceu sua hegemonia sobre eles.
A Igreja Romana procurava encontrar uma "arma secular" capaz de acabar por
completo com a expanso do poder "herege". Quem poderia assumir este papel na
Europa, alm do imperador francs Napoleo III, "o homem enviado pela
Providncia", para vingar a Sadowa?
O exrcito francs no estava pronto. 'A artilharia est ultrapassada. Nossos canhes
ainda so carregados pela boca", escreveu Rothan, ministro francs em Frankfurt,
prevendo o desastre futuro. 'A Prssia conhece sua superioridade e nossa falta de
preparo", acrescentou, com muitas outras observaes.
Os instigadores da guerra nem se preocuparam. A candidatura do prncipe de
Hohenzollern para o trono vago de Espanha foi a desculpa para o con ito. Alm
disso, Bismark tambm quis assim. Quando falsi cou o despacho de Ems, os
advogados da guerra tinham o jogo nas mos e despertaram a opinio pblica.
A prpria Frana declarou a guerra, a de 1870, "que a Histria provou ser trabalho
dos jesutas", conforme Gaston Bally escreveu. A composio do governo que levou
a Frana ao desastre descrita pelo eminente historiador catlico Adrien Dansette:
"Napoleo III comeou por sacri car Victor Duruy; depois resolveu indicar para seu
governo os homens do Partido do Povo (janeiro de 1870). Os novos ministros eram
praticamente todos sinceros catlicos, ou eclesisticos crentes no conservadorismo
social".(44)
fcil entender, agora, o que era inexplicvel: a pressa deste governo em extrair um
"casus belli" deste despacho falsi cado, at mesmo antes da con rmao. 'As
conseqncias foram: o colapso do Imprio e o contragolpe em direo ao trono
papal. O edifcio imperial e o edifcio papal, coroados pelos jesutas, caram na
mesma lama, ao invs da Imaculada Conceio e da infalibilidade papal;
infelizmente, porm, tudo estava sobre as cinzas da Frana. "(45)

Os Jesutas em Roma O Slabo



Podemos ler em um livro do abade Brugerette a seguinte passagem, no captulo
intitulado "O Clero sob o Segundo Imprio": "Devoes particulares, novas ou
velhas, eram honradas mais e mais em um tempo no qual o romantismo ainda
exaltava os sentidos, em detrimento da austera razo. A adorao de santos e suas
relquias, restringidas por tanto tempo pelo frio sopro do racionalismo, haviam
retomado um novo vigor. A adorao da Santa Virgem, graas s aparies de La
Salette e Lourdes, adquiriram uma popularidade extraordinria. Peregrinaes a estes
lugares privilegiavam a multiplicao de milagres. O episcopado francs favoreceu
novas devoes. Recebeu calorosamente, em 1854, a encclica de Pio IX
proclamando o dogma da Imaculada Conceio. Foi tambm o episcopado, trazido
a Paris em 1856 para o batismo do prncipe imperial, quem pediu a Pio IX que a
festa do Sagrado Corao fosse feita com uma celebrao solene da Igreja Universal".
(46)
Estas poucas linhas mostram a in uncia preponderante exercida pelos jesutas sob o
Segundo Imprio, na Frana tanto quanto na Santa S. Conforme vimos
anteriormente, eles eram e ainda so os grandes propagadores dessas "devoes
particulares, novas ou velhas".
Essa piedade "perceptvel" e quase sensual fez as massas excessivamente escrupulosas
em assuntos religiosos, especialmente as mulheres. Pode-se dizer que elas eram
realistas. Durante a poca de Napoleo III, o povo, de forma geral, os ignorantes e os
cultos comearam a tomar um profundo interesse por questes teolgicas.
Intelectualmente, o catolicismo havia terminado sua carreira. , portanto, mais por
necessidade que por causa de sua formao, que os lhos de Loyola se esforaram,
durante o sculo XIX, e ainda hoje, para despertar a religiosidade supersticiosa,
especialmente entre as mulheres, que renem grandes rebanhos; isto para
contrabalanar o "racionalismo".
Para a educao secundria de moas, a Ordem promovia a fundao de diversas
congregaes de mulheres. A mais famosa e ativa era a "Congregao das Senhoras do
Sagrado Corao", em 1830, composta por 105 casas, com 4.700 professores, com
grande influncia nas altas classes.(47)
No que tange adorao de Maria, sempre to louvada pelos jesutas, foi fortemente
ajudada, no Segundo Imprio, pelas "oportunas" supostas aparies da Virgem para
jovens pastores em Lourdes.
Isso aconteceu dois anos depois de Pio IX ter promulgado o dogma da Imaculada
Conceio (1854), pela in uncia dos jesutas. Os principais atos deste ponti cado
foram todos vitrias dos jesutas, cuja in uncia toda-poderosa sobre a Cria

Romana se a rmava mais e mais. Em 1864, Pio IX publicou a encclica Quanta


Cura, acompanhada do Slabo, que anatematizava (excomungava) os melhores
princpios polticos das sociedades contemporneas. 'Antema de tudo o que
valioso para a Frana moderna! A Frana moderna quer a independncia do Estado; o
Slabo ensina que o poder eclesistico deve exercer sua autoridade sem o
consentimento e permisso da sociedade civil. A Frana moderna quer a liberdade de
conscincia e a liberdade de culto. O Slabo ensina que a Igreja Romana tem o direito
de usar da fora e reinstaurar a Inquisio. A Frana moderna assegura a existncia de
vrios tipos de culto; o Slabo declara que a religio catlica deve ser considerada
como a nica religio de Estado, e todas as outras so excludas. A Frana moderna
proclama que as pessoas so soberanas; o Slabo condena o sufrgio universal. A
Frana moderna professa que todos os franceses so iguais perante a lei; o Slabo
afirma que os eclesisticos so isentos de tribunais civis e criminais."
"Estas so as doutrinas ensinadas pelos jesutas em seus colgios. Elas esto na frente
do exrcito da contra-revoluo. Sua misso consiste em educar a juventude sob seus
cuidados com dio contra os princpios sobre os quais a sociedade francesa se assenta,
princpios de nidos por antigas geraes a um preo muito alto. Atravs de seus
ensinamentos, tentam dividir a Frana em duas e colocam em dvida tudo o que
tem sido feito desde 1789. Queremos harmonia, eles querem luta; queremos paz,
querem a guerra; queremos a Frana livre, eles a querem escravizada; querem uma
sociedade combatente recebendo ordens de fora; e nos combatem, nos deixam
defender sozinhos; eles nos ameaam: vamos desarm-los."(48)
A eterna pretenso da Santa S de dominar a sociedade civil era ento rea rmada,
conforme Renan j havia dito em 1848, em um artigo intitulado "Liberalismo do
Clero": "Demonstrou-se que a soberania do povo, a liberdade de conscincia e todas
as liberdades modernas foram condenadas pela Igreja. Demonstrou-se que a
Inquisio a conseqncia lgica de todo o sistema ortodoxo, como o sumrio do
esprito da Igreja". E acrescenta: "Quando for capaz, a Igreja trar de volta a
Inquisio; se no o fizer, porque no pode faz-lo".(49)
O poder dos jesutas sobre o Vaticano cresceu e se tornou mais e mais forte alguns
anos aps o Slabo, quando o dogma da infalibilidade papal foi promulgado. O
abade Brugerette escreveu que este dogma era para "atirar sobre os trgicos anos de
1870-1871, os quais deixaram a Frana de luto, o brilho de uma grande esperana
crist."
O mesmo autor diz ainda: "Pode-se dizer que, durante a primeira metade do ano de
1870, a Igreja da Frana no estava mais na Frana: estava em Roma,
apaixonadamente ocupada com o Concilio Geral que Pio IX tinha acabado de
convocar no Vaticano". De acordo com o monsenhor Pie, esse clero francs tinha
"atirado fora absolutamente todas as suas vestes, mximas e liberdades francesas ou

glicas".
O bispo de Poitiers acrescentou que isso havia sido feito como sendo um sacrifcio
ao princpio de autoridade, doutrina e direito comum. Tudo foi colocado aos ps do
soberano pont ce, o qual foi entronizado ao som de um trompete, dizendo: "O
papa nosso rei; no s seu desejo nosso comando, mas suas vontades tambm so
nossas regras".(49)
A entrega de todo o clero "nacional" nas mos da Cria Romana su cientemente
clara. Os catlicos franceses caram submissos vontade do dspota estrangeiro que,
sob a mscara do dogma ou da moral, imporia sobre eles suas direes polticas, sem
nenhuma oposio. Os catlicos liberais protestaram em vo contra a exorbitante
pretenso da Santa S de ditar suas leis supostamente em nome do Esprito Santo.
O abade Brugerette denunciou que seu dirigente, M. de Montalembert, publicou na
Gazette de France um artigo no qual protestava veementemente contra aqueles que
"sacri cam a justia e a verdade, a razo e a Histria ao dolo que levantaram no
Vaticano".(50)
Vrios bispos notrios, dentre eles os padres Hyacinthe, Loyson e Gratry seguiram a
mesma linha; este ltimo, ainda com muito esprito, publicou sucessivamente suas
quatro Cartas ao Monsenhor Deschamps. Nelas, no s discute eventos histricos,
como a condenao do papa Honrio que, segundo consta, se ops proclamao da
infalibilidade papal. De forma inteligente e amarga, denunciou o desdm das
autoridades catlicas pela verdade e integridade cient ca. Um deles, um candidato
eclesistico a Doutoramento em Teologia, chegou at a ousar justi car falsas
decretais diante da Faculdade de Paris, declarando que "no era uma fraude odiosa".
Gratry acrescentou: 'At hoje se diz que a condenao de Galileu foi oportuna".
"Vocs, homens de pouca f, com coraes miserveis e almas srdidas! Seus truques
so escandalosos. No dia que a grande cincia da natureza for levantada acima do
mundo, vocs a condenaro. No se surpreendam se os homens, antes de perdoarem
seus atos, esperarem de vocs con sso, penitncia, profunda contrio e correo de
suas almas".(51)
Nem preciso dizer que os jesutas, agentes inspirados de Pio IX e todo-poderosos
do Concilio, estavam ansiosos a respeito da con sso, penitncia, contrio e
correo, em um tempo onde estavam quase a conseguir o objetivo ao qual se
haviam determinado no Concilio de Trento, no meio do sculo XVI. Naquele
tempo, Lainez j apoiava a idia da infalibilidade papal.
S faltava, portanto, consagrar como dogma uma pretenso quase to velha quanto o
papado. Nenhum outro Concilio at ento havia desejado rati c-lo, mas a ocasio
parecia propcia. Alm disso, o trabalho paciente dos jesutas havia preparado o clero
nacional para entregar suas ltimas liberdades. O colapso iminente do poder
temporal dos papas (que acabou acontecendo antes da votao do Concilio) pedia

um reforo da autoridade espiritual, de acordo com os ultramontanos. O argumento


prevaleceu e o "dictatus papae" de Gregrio VII, princpios de teocracia medieval,
triunfaram bem no meio do sculo XIX.
O que o novo dogma realmente consagrou, entretanto, foi a onipotncia da
Companhia de Jesus na Igreja Romana. Com a cobertura dos jesutas (estabelecidos
no Vaticano desde que os poderes seculares os tinham rejeitado de todos os pases
livres, como se fossem uma associao de malfeitores), o papado passou a aspirar a
novas ambies. Esses homens malignos, que haviam transformado o Evangelho em
um espetculo de lgrimas e sangue, mantendo-se na posio dos piores inimigos da
democracia e liberdade de pensamento, dominavam a Cria Romana. Todos os seus
esforos se concentravam em manter, na Igreja, suas doutrinas vergonhosas e
preponderncia perniciosa".
"Dedicados causa da centralizao extrema, apstolos irredutveis da teocracia, so
senhores assumidos do catolicismo contemporneo a estampar seu selo na ideologia
catlica, em sua piedade o cial e em sua poltica vigarista. Verdadeiros janzaros do
Vaticano, inspiram tudo, mandam em tudo, penetram em todos os lugares, colocam
a "informao" como um sistema de governo; is ao casusmo, cuja profunda
imoralidade tem sido revelada pela Histria e tem inspirado pginas imortais de
zombaria sublime a Pascal. Atravs do Slabo de 1864, escrito por eles prprios, Pio
IX declarou guerra contra todo pensamento livre e sancionou, alguns anos depois, o
dogma da infalibilidade, que um anacronismo histrico real e sem, absolutamente,
valor algum perante a cincia moderna". (52)
Para aqueles que, contra toda a probabilidade, persistirem em ver as linhas acima
mencionadas como um exagero rancoroso ou depreciao vingativa, nada mais
podemos fazer do que apresentar a con rmao dos fatos por si, pela escrita muito
ortodoxa de Daniel-Rops. Essa con rmao tem ainda mais valor pelo fato de ter
sido publicada em 1959 sob o ttulo de O Reestabelecimento da Companhia de
Jesus, na prpria publicao jesuta Etudes. , portanto, um discurso de verdadeira
defesa que lemos: "Por muitas razes, esta reorganizao da Companhia de Jesus teve
uma considervel importncia histrica. A Santa S redescobriu esta formao el,
intimamente devotada sua causa, e que viria a ser necessria posteriormente. Muitos
padres vieram a exercer, durante aquele sculo e at hoje, uma discreta mas profunda
in uncia em certas disposies tomadas pelo Vaticano. Um certo tipo de provrbio
era ouvido em Roma: "Quem segura a pena do papa so os jesutas". Sua in uncia
foi bvia no desenvolvimento do culto ao Sagrado Corao, assim como na
proclamao do dogma da Imaculada Conceio, na edio do Slabo e na de nio
da infalibilidade. A "Civilta Cattolica", fundada pelo neapolitano jesuta Cario Curei,
supostamente refletiu o pensamento".(53)
Esta con sso clara o bastante. Lembramos ao esprito passado deste pio acadmico

que, logicamente, e julgando por todo o contexto prvio, era muito mais o
pensamento do papa que re etia as opinies da "Civilta Cattolica". Nem preciso
dizer que os jesutas, todo-poderosos em Roma, tanto pelo seu esprito quanto pela
sua organizao, estavam engajando o papado na poltica internacional cada vez mais,
conforme Louis Roguelin escreveu:
"Como perdera seu poder temporal, a Igreja de Roma se aproveitou de toda a
oportunidade para reconquistar o terreno forosamente perdido, atravs de um
recrudescimento de atividades diplomticas. J que seu esquema astutamente oculto
de dividir para reinar, tentou se aproveitar de todo e qualquer con ito para seu
prprio benefcio. De acordo com os planos dos sditos de Loyola, o dogma da
infalibilidade papal favorecia em muito a ao da Santa S, cuja importncia pode ser
medida pelo fato da maioria das naes terem representantes diplomticos indicados.
Sob a cobertura do dogma e da moral, os sditos que a princpio eram contra a
palavra infalvel, hoje aceitam as disposies do papa em sua autoridade sem limite
sobre as conscincias dos is. Assim, durante o sculo XX, podemos ver o Vaticano
engajado ativamente nas polticas internas e externas dos pases, e at mesmo
governando atravs de partidos catlicos. Vemos ainda o seu suporte "providencial" a
homens como Mussolini e Hitler que, por causa de sua ajuda, desencadearam os
piores tipos de catstrofes. O "vigrio de Cristo" admitiu profusamente os servios
desta famosa Companhia, que to bem trabalhava a seu favor. Estes " lhos de sat",
conforme alguns bravos eclesisticos os quali cavam, esto agora desbotados;
podem, por outro lado, gabarem-se de seu testemunho augusto da satisfao absoluta
que lhes foi dada pelo falecido papa Pio XII, cujo confessor, como sabemos, era um
jesuta alemo. Neste texto, publicado por La Croix em 9 de agosto de 1955,
podemos ler: "A Igreja no necessita de outros auxiliares que no do tipo desta
Companhia. Que os lhos de Loyola se esforcem a seguir as marcas de seus
predecessores".
Hoje, tanto quanto ontem, esto apenas fazendo isso, para a grande destruio das
naes.

Os Jesutas na Frana de 1870 a 1885



O colapso do Imprio deveria, ter trazido uma reao contra o esprito ultramontano
na Frana. No foi, no entanto, o que aconteceu. Adolphe Michel mostra: "Quando
o trono caiu na lama de Sedan em 2 de dezembro, a Frana foi de nitivamente
derrotada, quando a Assemblia de 1871 se encontrou em Bordeaux; enquanto
esperavam a vinda a Versalhes, o partido clerical foi ainda mais audacioso. Em todos

os desastres que ocorriam em sua prpria casa (o Vaticano), ainda falavam como
senhores.
Quem no se lembra das manifestaes presunosas e das ameaas insolentes dos
jesutas durante esses anos derradeiros? Ou de certo padre Marquigny, o qual
anunciava o queimar em praa pblica dos princpios de 89; ou M. de Belcastel, em
seu prprio nome, dedicando a Frana ao Sagrado Corao? Os jesutas ergueram
uma igreja no monte de Montmartre, em Paris, e assim desa avam a Revoluo: Os
bispos incitavam a Frana a declarar guerra contra a Itlia, a m de reestabelecerem o
poder temporal do papa".
Gaston Bally explica muito bem as razes para essa situao aparentemente
paradoxal: "Durante o cataclisma, os jesutas, como sempre, rapidamente voltaram
aos seus buracos, deixando a Repblica por sua prpria conta na confuso que fora
criada. Quando, entretanto, a maior parte do trabalho de salvamento havia sido
terminado, quando nosso territrio nos foi recuperado da invaso prussiana, a
invaso negra recomeou e eles tiraram proveito. A terra estava comeando a emergir
de um tipo de pesadelo, um sonho horrvel, e este era simplesmente o melhor
momento deles se apoderarem das massas apavoradas".
No seria, por acaso, exatamente assim depois de cada guerra? incontestvel que a
Igreja Romana sempre se bene ciou dos grandes desastres pblicos. A morte, a
misria e o sofrimento de qualquer espcie incitam as massas a procurarem consolo
ilusrio em prticas complacentes. Dessa forma, o poder daqueles que deixam tais
desastres surgirem ca fortalecido (ou at mesmo maior) pelas prprias vtimas. As
duas guerras mundiais, na verdade, tiveram as mesmas conseqncias da guerra de
1870. Assim que a Frana foi conquistada.
Por outro lado, foi uma vitria brilhante da Companhia de Jesus quando, em 1873,
uma lei foi aprovada, permitindo a construo da baslica do Sagrado Corao em
Montmartre. Essa igreja, chamada de "desejo nacional" (por uma cruel ironia do
destino), materializaria em pedra o triunfo do jesuitismo, no local onde havia
comeado a sua existncia. primeira vista, essa invocao do Sagrado Corao de
Jesus, exaltado pelos jesutas, pode parecer quase inocente, apesar de basicamente
idolatra.
"Para compreender a extenso do perigo", escreveu Gaston Bally, "devemos olhar por
trs da fachada, testemunhar a manipulao de almas e ver o objetivo de suas vrias
associaes: Irmandade da Adorao Perptua; Irmandade da Guarda de Honra;
Apostolado da Orao; Comunho Reparativa, e outras. Irmandades, associaes,
apstolos, missionrios, devotos, fanticos, guardas de honra, os restauradores, os
mediadores e outros agregados do Sagrado Corao parecem querer exclusivamente,
como Mille. Alacoque os convidou a unirem sua homenagem aos nove coros dos
anjos. Na realidade, tudo isso no tem nada de inocente. As irmandades a rmam

seus objetivos muitas vezes. "Elas no podem me acusar de caluni-las, pois citarei
algumas passagens de suas mais claras declaraes e confisses".
'A opinio pblica cou chocada com as observaes do padre Olivier quando o
incidente ocorrido no Bazar de Caridade, o qual provocou inmeras vtimas, foi
encoberto. O monge viu na catstrofe apenas mais uma prova da clemncia divina.
Deus estaria triste com os pecados do povo e estaria convidando, gentilmente, a uma
correo. Isso parecia monstruoso. A construo da Baslica de Montmartre foi o
resultado do mesmo tipo de pensamento, mas isso foi esquecido".
Qual era ento o terrvel pecado do qual a Frana precisava se redimir? O autor acima
mencionado responde: 'A Revoluo!" Este foi o "terrvel crime" que os franceses
tiveram de "expiar"! 'A Baslica do Sagrado Corao simboliza o arrependimento da
Frana (Sacratissimo cordi Jesu Gallioe poenitens et devoter) e expressa tambm
nossa rme inteno de corrigirmos nossas faltas. um monumento de expiao e
correo ".
"Salve Roma e a Frana em nome do Sagrado Corao", tornou-se o slogan da
ordem moral. 'Assim nos tornamos capazes de termos esperanas contra todas as
esperanas", escreveu o abade Brugerette, "e esperarmos do "cu pac co" em algum
momento o grande evento da restaurao da Ordem e da salvao da ptria".
Parece, no entanto, que os "cus", com raiva da Frana e dos direitos humanos, no
era su cientemente "pac co" quando da construo da famosa baslica. A
restaurao da monarquia se aproximava lentamente. O mesmo autor explica isso da
seguinte maneira: 'Apesar das grandiosas manifestaes da f catlica durante os anos
seguintes guerra de 1870 poderem parecer impressionantes, seria uma falta de
raciocnio lgico querer julgar a sociedade francesa da poca apenas em termos da
piedade exterior. Tambm nos estaria faltando o esprito psicolgico e iseno dos
fatos. Devemos nos perguntar ento se o sentimento religioso era verdadeiramente
uma resposta direta de toda a sociedade, nas expresses de f reveladas pelas
peregrinaes impostas e organizadas pelos bispos e pelo ardor das missas nas igrejas.
Sem querer atenuar de alguma forma a importncia do movimento religioso na
Frana, surgido pela ocasio das duas guerras de 1870 e 1914, que tambm
despertaram grandes esperanas, devemos admitir, no entanto, que este renascimento
da f no tinha nem a profundidade nem a extenso que uma verdadeira renovao
religiosa deve ter. Mesmo nessas ocasies, a Igreja da Frana era formada
(infelizmente) por milhares de descrentes e adversrios, alm de uma grande
quantidade de pessoas que s eram catlicas pelo nome, e no pela convico. As
prticas religiosas eram realizadas no por convico, mas por hbito. Logo depois
das eleies, a Frana parecia arrepender-se do sentimento desesperado que a havia
feito mandar uma maioria catlica para a Assemblia Nacional.
Cinco meses depois, reverteu sua posio nas eleies comple-mentares de 2 de julho!

Nesse dia, o pas escolheria 113 deputados. Foi uma derrota completa para os
catlicos e a vitria para os republicanos, que obtiveram entre 80 e 90 deputados
eleitos. Todas as eleies seguintes a essa consulta de sufrgio universal tiveram o
mesmo carter republicano e de composio anticlerical. Seria infantil supor que no
fossem a expresso dos sentimentos e vontades da sociedade".
O abade Brugerette, falando sobre as grandes peregrinaes organizadas naquela
poca para o "reerguimento da nao", admite que estas eram as causas de "alguns
erros e excessos" que levantavam as suspeitas dos "adversrios da Igreja". 'As
peregrinaes sero, para eles, empreendimentos organizados pelo clero para a
restaurao da monarquia na Frana e o poder papal em Roma. A atitude tomada
pelo clero nestes dois sentidos parece justi car essa acusao por parte da imprensa
irreligiosa e dar, dessa forma, como poderemos observar adiante, um potente
mpeto ao anticlericalismo. Sem se livrar de seus hbitos religiosos reavivados to
intensamente durante os anos do ps-guerra, a sociedade francesa se rebelar contra
este "governo de padres", conforme Gambetta costuma estigmatiz-lo. No fundo, o
povo francs tinha mantido um instinto invencvel de resistncia contra tudo o que
vagamente lembrasse a dominao poltica da Igreja.
Como um todo, essa nao amava a religio, mas o espectro da "teocracia", reavivado
pela imprensa oposicionista, assustava. A lha mais velha da Igreja no queria se
esquecer que tambm era a me da Revoluo".
Mesmo assim, o clero (encabeado pelos jesutas) fazia esforos para persuadir o povo
francs a negar o esprito republicano! "Desde que a lei Falloux foi posta em vigor, os
jesutas se expandiram livremente com seus colgios, onde educavam as crianas das
classes mdias dominantes. bvio que no lhes ensinavam um grande amor pela
Repblica... semelhana dos assuncionistas, criados em 1845 pelo intransigente
padre d'Alzon, eles queriam devolver ao povo a f que haviam perdido". Brotavam,
no entanto, outras congregaes de ensino, orescentes e invejosas: oratorianos,
eudistas, dominicanos da Terceira Ordem, marianitas, maristas (que Jules Simon
chamava de "o segundo volume" dos jesutas, envoltos em peles de animais) e os
famosos "Irmos das Escolas Crists", mais conhecidos pelo nome de ignorantinos,
que ensinavam a "doutrina boa" aos descendentes da classe mdia e a um milho e
meio de crianas do povo.
No de surpreender que essa situao tenha colocado o regime republicano na
defensiva. Uma lei, proposta em 1879 por Jules Ferry, queria remover o clero do
Conselho de Instruo Pblica, no qual havia sido introduzido por leis de 1850 e
1873, e assim devolver ao Estado o direito exclusivo de credenciar os vrios nveis de
professores.
O abade Brugerette, autor dessa passagem, descreve a resistncia levantada pelos
catlicos contra o que ele viria a chamar "um ataque traioeiro", mas ainda

acrescenta: "O clero ainda ignora o imenso progresso do laicismo; no entendeu


ainda que, por causa da sua oposio aos princpios de 89, ele perdeu sua profunda
influncia sobre a direo do esprito pblico na Frana".
O artigo 7 foi rejeitado pelo Senado, mas Jules Ferry invocou as leis existentes a
respeito das congregaes. "Em conseqncia, a 29 de maro de 1880, o Journal
Odel publicou dois decretos obrigando os jesutas a se dispersarem, e todas as
congregaes no autorizadas de homens e mulheres a obterem o reconhecimento e a
aprovao de seu regimento e estatuto legal dentro de trs meses".
Sem qualquer atraso, um movimento de oposio foi organizado: 'A Igreja,
profundamente ferida, desperta", de acordo com M. Debidour. 'Aps 11 de maro,
Leo XIII determina: Agora a vez de todos os bispos defenderem energicamente as
ordens religiosas".
Os lhos de Loyola, no entanto, foram expulsos. Vejamos o que o abade Brugerette
tem a dizer sobre esse assunto: "Apesar de tudo, os jesutas, experts em entrar atravs
de janelas quando so jogados pela porta afora, j tinham conseguido (e com sucesso)
colocar os seus colgios nas mos de leigos ou eclesisticos seculares. Apesar de no
residirem nesses colgios, podiam ser vistos chegando em certos momentos do dia,
para exercerem suas funes de direo e superviso".
O truque, no entanto, foi descoberto e os colgios jesutas nalmente fechados. No
total, os decretos de 1879 foram executados sobre 32 congregaes que se recusaram
a se submeter s disposies legais. Em muitos locais, a expulso foi levada a cabo
pelo peloto militar "Manu Militari", contra a oposio dos is, os quais eram
instigados pelos jesutas. Estes no s se recusaram a solicitarem a autorizao legal,
mas tambm a assinarem uma declarao negando toda a idia de oposio ao regime
republicano. Isto teria sido su ciente ao M. de Freycinet, ento presidente do
Conselho e favorvel a eles, para que ainda os pudesse "tolerar".
Quando as Ordens nalmente decidiram assinar essa declarao formal de lealdade, a
manobra foi anulada e M. de Freycinet teve de se afastar, pois havia tentado negociar
esse acordo contra a vontade do Parlamento e de seus colegas de gabinete. O abade
Brugerette comentou sobre a declarao que as ordens religiosas tinham de assinar,
considerando o fato repugnante: "Esta declarao de respeito pelas instituies que a
Frana criou para si prpria livremente pode parecer isenta e inofensiva hoje, quando
comparada com o voto solene de lealdade pedido aos bispos alemes pelo Tratado de
20 de julho de 1933 entre a Santa S e o Reich: Artigo 16 - Antes de assumir suas
dioceses, os bispos faro um voto de lealdade diante do presidente do Reich ou um
Reichsstatthalter competente nos seguintes termos: Diante de Deus e sobre a Sagrada
Escritura, eu juro e prometo, como um bispo deve fazer, lealdade ao Reich alemo e
ao Estado. Eu juro e prometo respeitar e fazer o meu clero respeitar o governo
estabelecido de acordo com as leis constitucionais. Como o meu dever, trabalharei

para o bem e os interesses do Estado alemo; no exerccio do ministrio sagrado a


mim atribudo, tentarei evitar tudo o que seja danoso a ele (Tratado entre a Santa S
e o Reich alemo)".
O artigo 7 dessa lei tambm especi cava que "ningum seria autorizado a tomar
parte no ensino pblico ou privado se pertencesse a uma congregao religiosa no
autorizada". "Os jesutas eram o maior objetivo desse famoso artigo 7, e ningum
mais. Os padres do deado de Moret (Seine-et-Mame) declararam que "esto do lado
de todas as comunidades religiosas, incluindo os venerveis padres da Companhia de
Jesus". 'Atacar os jesutas", eles escrevem, "seria como atacar a ns mesmos". A
confisso explcita.
A diferena seguramente grande entre uma mera promessa de no-oposio ao
regime da Frana e esta garantia solene de apoio ao Estado nazista. To grande
quanto a diferena entre os dois regimes: um, democrtico e liberal, to odiado pela
Igreja Romana; o outro, totalitrio e brutalmente intolerante, desejado e estabelecido
pelos esforos unidos de Franz von Papen, o ajudante secreto do papa, e pelo
monsenhor Pacelli, nncio em Berlim e futuro Pio XII.
De novo o abade Brugerette quem, aps ter declarado que o desejo do governo
havia sido atingido no que tange Companhia de Jesus, tambm admite: "No
podamos falar na destruio da instituio de congregaes. As congregaes
femininas sequer haviam sido tocadas e as autorizadas, "to perigosas quanto as
outras para o esprito laico", ainda permaneciam de p. Sabamos tambm que quase
todas as congregaes masculinas, expulsas de suas residncias por causa dos decretos
de 1880, haviam silenciosamente voltado aos seus monastrios".
Essa trgua, no entanto, teve vida curta. A inteno do Estado em coletar impostos e
direitos de sucesso sobre a riqueza de comunidades eclesisticas provocou uma
manifestao de protesto entre eles, pois no tinham a menor inteno de se
submeterem lei comum.
'A organizao da resistncia foi feita por um comit liderado por Bailly,
"assuncionista", Stanislas, capuchino, e Le Dore, superior dos eudistas. O padre
Bailly estava reavivando o grande zelo do clero quando escreveu: "Como So
Laurent, os monges e as freiras devem antes voltar aos pelouros de torturas do que se
entregarem".
Por "coincidncia", o principal revivalista deste grande "zelo", Bailly, era um
"assuncionista" ou, na verdade, um jesuta camu ado. Quanto ao pelouro e s
torturas, poderamos lembrar a esse bom padre que esses tristes expedientes so
muito mais uma tradio da prpria Santa S que do Estado republicano.
Finalmente, o abade acima mencionado admitiu que "a prosperidade de seu trabalho
no fora prejudicada", conforme bem podemos imaginar.
No podemos entrar em detalhes sobre as leis de 1880 e 1886, as quais tendiam a

assegurar a neutralidade confessional das escolas pblicas, essa "secularizao" to


natural a todas as mentes tolerantes, mas rejeitada pela Igreja Romana como uma
tentativa abominvel de forar conscincias, algo que ela sempre considerou ser tarefa
exclusiva sua. Poderamos imagin-la a lutar por esse "direito" to violentamente
quanto por seus privilgios financeiros.
Em 1883, a congregao romana do Index, inspirada pelo jesuitismo, entrou na luta
pela condenao de certos livros escolares de moral e civismo. O assunto era grave.
Um dos autores, Paul Bert, ousou escrever que at mesmo a idia de milagre "deve
ser destruda". Assim que mais de 50 bispos promulgaram o decreto do Index, com
comentrios fulminantes, e um deles, monsenhor Isoard, declara em sua carta
pastoral de 27 de fevereiro de 1883 que os professores, pais e crianas que se
recusassem a destruir esses livros seriam afastados dos sacramentos.
As leis de 1886, 1901 e 1904, que declaravam que nenhum posto de ensino poderia
ser exercido por membros de congregaes religiosas, tambm geraram uma onda de
protestos do Vaticano e do clero francs. Na verdade, os monges e freiras que
exerciam a funo de professores apenas teriam de se "secularizar".
O nico resultado positivo dessas disposies legais foi que os professores das
chamadas escolas "livres" tiveram, a partir de ento, de produzir quali caes
pedaggicas adequadas, uma boa coisa quando se sabe que, antes da ltima guerra, as
escolas primrias catlicas na Frana chegavam a 11.655 com 824.595 alunos.
Quanto s escolas "livres", especialmente as jesutas, se os seus nmeros esto
baixando, devido a vrios fatores que no tm nada a ver com as disputas legais. A
superioridade do ensino laico, reconhecida pela maioria dos pais, a principal causa
de sua crescente popularidade. Alm do que, a Companhia de Jesus tem
voluntariamente reduzido o nmero de suas escolas.

O General Boulanger e o Caso Dreyfus



No faltariam justi cativas para a hostilidade que o "partido santo" ngiu ter sido
vtima, ao nal do sculo XIX, por parte do Estado republicano, apesar dessa
hostilidade, ou melhor seria dizer descon ana, ter sido ainda mais ben ca. A
oposio do clero ao regime ao qual a Frana se havia auto-determinado se mostrava
evidente em todas as ocasies, de acordo com o abade Brugerette. Em 1873, a
tentativa de restaurar a monarquia com o conde de Chambord falhou, apesar de
fortemente apoiada pelo clero, porque o "pretendente-embusteiro" teimosamente se
recusava a adotar a bandeira de trs cores, para ele o emblema da Revoluo.
"Tal como est, o catolicismo parece restrito poltica, ou a um certo tipo

especi camente. A lealdade Monarquia foi transmitida de gerao a gerao dentro


das velhas famlias nobres, tanto quanto nas classes mdias e no povo, nas religies
do Leste e do Sul. Sua nostalgia de um regime antigo e idealizado, retratado em uma
Idade Mdia pica, era reforada pelos desejos de catlicos ardorosos, cuja principal
preocupao era a salvao da religio; eles se reorganizaram, atrs de Veuillot, com a
famlia real legtima e devota dos Chambord, considerando que esta era a forma de
governo mais favorvel Igreja. Da unio destas foras polticas e religiosas nasceu, na
situao complicada do ps-guerra, um tipo de misticismo reacionrio, ilustrado
perfeio pelo monsenhor Pie, bispo de Poitiers, e sua melhor encarnao no mundo
eclesistico: 'A Frana, que espera por outro chefe e clama por um senhor, receber
novamente de Deus "o cetro do Universo que lhe caiu das mos por algum tempo",
no dia em que tiver aprendido outra vez como se ajoelhar".
Este quadro, descrito por um historiador catlico, signi cativo. Ajuda a
compreender os sentimentos que se seguiram, alguns anos depois, na tentativa infeliz
da Restaurao de 1873. O mesmo historiador catlico descreve da seguinte forma a
atitude poltica do clero na ocasio: "Na poca das eleies, os presbteros se
tornaram centros de apoio para os candidatos reacionrios. Os padres e auxiliares
batiam de porta em porta, fazendo propaganda eleitoral; caluniavam a Repblica e
suas novas leis de ensino; declaravam que aqueles que votassem nos liberais, no atual
governo ou nos maons (descritos como "bandidos", "ral" e "ladres") seriam
culpados de pecado mortal. Um deles chegou mesmo a declarar que uma mulher
adltera seria perdoada mais facilmente que aqueles que mandassem seus lhos s
escolas laicas. Outro disse: melhor estrangular uma criana que apoiar o regime.
Um terceiro ameaou recusar os ltimos sacramentos queles que tivessem votado
nos partidrios do regime. Ainda zeram mais: os negociantes republicanos e anticlericais eram boicotados; recusavam ajuda a pessoas sem bens e os trabalhadores
eram demitidos".
Esses excessos de um clero cada vez mais afetado pelo ultramon-tanismo jesutico
eram ainda menos aceitveis devido ao fato de serem tais eclesisticos pagos pelo
Governo, pois o Tratado ainda estava em vigor.
A maioria da opinio pblica tambm no estava satisfeita com essa presso sobre as
conscincias, conforme o autor anteriormente mencionado indica: "O povo francs,
como um todo, era indiferente quanto aos problemas religiosos, e no podemos
confundir a observao hereditria de prticas religiosas com a f verdadeira. O fato
que o mapa poltico da Frana idntico ao mapa religioso. Podemos dizer que nas
regies onde a f forte, o povo francs vota pelos candidatos catlicos; nos outros
locais, conscientemente so eleitos deputados e senadores anti-clericais. O povo no
quer o clericalismo, ou seja, uma autoridade eclesistica nos assuntos polticos, o que
usualmente chamado de "governo dos padres". Para um grande nmero de

catlicos, o fato do padre, este homem incmodo, interferir, atravs de instrues de


sermes e prescries de confessionrio, no comportamento dos is, checando
pensamentos, sentimentos, atos, comida e bebida, e at mesmo as intimidades da
vida de casado, o su ciente. Pretendem, pelo menos, limitar seu imprio pela
preservao de sua independncia enquanto cidados".
Gostaramos de ver esse esprito de independncia vivo ainda hoje. Apesar da opinio
de "um grande nmero de catlicos" ser esta, os ultramontanos, no entanto, no se
desarmaram e buscaram, em todas as oportunidades, a luta contra o regime to
odiado. Pensaram por algum tempo que haviam encontrado o "homem
providencial" na pessoa do general Boulanger, ministro da Guerra em 1886, o qual
havia organizado sua propaganda pessoal to bem que parecia destinado a ser o
futuro ditador.
"Um acordo tcito", escreveu Adnen Dansette, " cou estabelecido entre o general e
os catlicos, e tornou-se claro durante o vero. Ele tambm rmou um acordo
secreto com os membros monarquistas do Parlamento, dentre eles o baro de
Mackau e o conde de Mun, is defensores da Igreja na Assemblia. O eumtico
ministro do Interior, Constans, ameaou prend-lo e, a Io de abril, o candidato a
ditador escapa para Bruxelas, com sua amante. A partir desse momento, o
boulangismo declinou rapidamente. A Frana no havia sido tomada: ela se
recuperara. O boulangismo foi esmagado nas votaes de 22 de setembro e de 6 de
outubro de 1889".
Podemos ler, do punho do mesmo historiador, qual era a posio do papa da poca
em relao a este aventureiro: foi Leo XIII quem, em 1878, sucedendo a Pio IX, o
papa do Slabo, ngia aconselhar aos is da Frana que se unissem ao regime
republicano. "Em agosto (1889), o embaixador alemo no Vaticano pretende que o
papa se encontre com o general (Boulanger), o homem que derrubar a Repblica
Francesa e restabelecer o trono. Podemos ler um artigo no qual o Monitor de Roma
prev que o candidato ditatorial tomar o poder na Frana e que a Igreja poder se
bene ciar muito disso. O general Boulanger enviou um de seus antigos o ciais a
Roma, com uma carta para Leo XIII, na qual promete ao papa "que no dia em que
ele tiver em suas mos a espada da Frana, far o mximo possvel para que os
direitos do papado sejam reconhecidos"
Este era o pont ce jesuta e o clero intransigente que discordava de seu suposto
excesso de "liberalismo". A crise boulangista revelou a ao dirigida pelo partido
religioso contra a Repblica laica, sob o disfarce de nacionalismo. A natureza
"apartidria" de seu carter, entretanto, bem como a resistncia de uma maioria da
nao, haviam derrotado tal tentativa, apesar de toda essa agitao forada. Essa ttica
chauvinista, no entanto, havia provado ser muito efetiva, especialmente em Paris, e
eles a usariam novamente em uma outra (e melhor) oportunidade. Esta surgiu (no

teria sido provocada?) e os discpulos de Loyola, obviamente, l estavam a encabear


o movimento outra vez. "Os amigos deles esto aqui", escreveu Pierre Dominique,
"uma nobreza fantica, uma burguesia que rejeita Voltaire e muitos militares. Eles
trabalham bem, especialmente sobre o Exrcito, e o resultado a famosa aliana "da
espada e do borrifador da gua santa".
"Em 1890, no se trata mais de dominar a conscincia do rei da Frana, mas sim do
aparelho de governo, ou pelo menos, de seu chefe; ento, o "Caso Dreyfus" explode,
uma autntica guerra civil que divide a Frana em duas".
O historiador catlico Adnen Dansette resume o comeo do caso assim: 'A 22 de
dezembro de 1894, o capito de artilharia Alfred Dreyfus foi acusado de traio,
condenado deportao para priso perptua e demitido. Trs meses antes, nosso
Servio de Inteligncia havia descoberto, na embaixada alem, uma lista de vrios
documentos que tinham a ver com a segurana nacional. Tambm foi estabelecida
uma semelhana entre as escritas do capito Dreyfus e a da lista. Imediatamente, o
Estado-Maior a rmou: " ele, o judeu". S existia pressuposto, pois a traio no
tinha nenhum tipo de explicao psicolgica (Dreyfus tinha boa reputao, era rico e
levava uma vida normal). O pobre homem foi, no entanto, levado priso,
condenado por um tribunal militar aps um inqurito to ligeiro e parcial que o
julgamento certamente havia sido preconcebido. Para piorar ainda mais as coisas,
soube-se de um documento secreto dado aos juizes, sem o conhecimento do
advogado de defesa.
"Mas houve ainda mais vazamento do Estado-Maior aps a priso de Dreyfus. O
comandante Picquart, chefe do Servio de Inteligncia, aps julho de 1895, veio a
saber de um certo projeto chamado "petitbleu" (cartas expressas), entre o assessor
militar alemo e o comandante francs (de origem hngara) Esterhazy. Este era um
homem de m fama que no alimentava nada, alm de dio e desprezo por seu pas
de adoo. Um o cial do Servio de Inteligncia, o comandante Henry, acrescentou
ao arquivo Dreyfus - conforme veremos - um documento falso que seria desastroso
para o o cial judeu se fosse genuno; ele tambm apagara e reescrevera o nome de
Esterhazy no "petit bleu" para dar a impresso de que o documento era falso. Assim
foi que Picquart caiu em desgraa, em novembro de 1896".
A queda do chefe do Servio de Inteligncia fcil de entender: o seu cuidado ao
tentar dissipar a obscuridade acumulada era excessivo demais. O testemunho mais
dedigno pode ser encontrado nos Carnets de Schwartzkoppen, publicados aps a
sua morte, em 1930. Foi de Esterhazy, e no de Dreyfus, que o autor, ento
primeiro adido militar da embaixada alem em Paris, recebia os documentos secretos
da defesa nacional francesa. "J algum tempo antes, em julho, Picquart pensava ter
chegado o momento de avisar por carta ao chefe do Estado-Maior, que na altura se
encontrava em Vichy, sobre as suspeitas em relao a Esterhazy. O primeiro encontro

foi em 5 de agosto de 1896.


O general de Boisdere aprovou tudo o que Picquart havia feito at ento com
relao a este caso e lhe deu autorizao para continuar com sua investigao. "O
ministro da Guerra, general Billot, foi igualmente informado, a partir de agosto,
sobre as suspeitas de Picquart, pois tambm sancionava as medidas tomadas por ele.
Esterhazy, que havia sido demitido, tentara, usando suas conexes com o deputado
Jules Roche, obter um cargo no ministrio da Guerra, a princpio para tentar entrar
em contato comigo novamente. Havia escrito vrias cartas ao ministro da Guerra
assim, e ao seu auxiliar de campo. Uma das suas cartas foi dada a Picquart que, pela
primeira vez, percebeu que a sua caligra a era a mesma que constava da "lista". Ele
mostrou uma foto daquela caligra a a Du Paty e Bertillon, sem lhes dizer, bvio,
quem havia escrito aquilo. Bertiloon disse: 'Ah, mas a caligrafia da lista!"
"Sentindo se desfazer sua convico sobre a culpa de Dreyfus, Picquart decidiu
consultar o "pequeno arquivo" que havia sido entregue somente aos juizes, o qual lhe
foi repassado pelo arquivista Gribelin. Era noite. Abandonado em seu escritrio,
Picquart abriu o envelope sem selo de Henry, sobre o qual se encontrava o estampo
do mesmo, escrito com uma caneta azul. Grande foi seu espanto quando percebeu a
nulidade daqueles lamentveis documentos, pois nenhum deles poderia ser aplicado a
Dreyfus. Pela primeira vez, ele tinha a certeza que o homem condenado da "lie du
Diable" (Ilha do Diabo) era inocente. No dia seguinte, Picquart escreveu uma carta
ao general de Boisdere, na qual expunha todas as acusaes contra Esterhazy e sua
recente descoberta. Quando leu sobre o "arquivo secreto", o general pulou da cadeira
e exclamou: "Por que isso no foi queimado como havia sido combinado? "
Von Schwartzkoppen escreveu posteriormente: "Minha posio tornou-se
extremamente delicada. Deveria dizer toda a verdade e assim reparar o erro terrvel e
liberar aquele pobre homem inocente? Se eu tivesse agido como queria, com certeza
teria feito dessa forma! Olhando com mais cuidado, cheguei concluso que no
deveria me envolver na situao porque, naquela conjuntura, ningum teria
acreditado em mim. Alm disso, as consideraes diplomticas me impediriam de
assim proceder. Considerando que o governo francs seria capaz de tomar as medidas
necessrias para esclarecer o problema e reparar a injustia, eu realmente me
determinei a nada fazer". "Podemos ver a ttica do Estado-Maior", observa Adrien
Dansette. "Se Esterhazy for culpado, os o ciais que provocaram a condenao ilegal
de Dreyfus, e principalmente o general Marcier, ministro da Guerra na poca,
tambm so culpados. Os interesses do Exrcito exigiam o sacrifcio de Dreyfus; no
devemos interferir na sentena de 1894". impressionante a constatao de que tal
argumento pudesse ser invocado para justi car uma condenao absolutamente
injusta.
Assim seria durante todo o caso que estava apenas comeando. bvio que se vivia

na poca uma verdadeira febre anti-semtica. As violentas dissertaes de Edouard


Drumont, no Libre Parole, mostravam todos os dias os lhos de Israel na posio de
agentes da corrupo e dissoluo nacional. O pesado preconceito assim criado
incitava uma grande parcela da opinio pblica a acreditar, "a priori", na culpa de
Dreyfus. Posteriormente, entretanto, quando a inocncia do acusado se tornou
evidente, o argumento monstruoso da "infalibilidade" do tribunal militar ainda foi
mantida, e desde ento com um cinismo invejvel. No seria o Esprito Santo, o
qual supostamente inspirava esses juizes de farda, isento de cometer algum erro? Seria
tentador acreditar nessa interveno celestial - to semelhante quela que tambm
supostamente garantia a infalibilidade papal -quando lemos sobre o padre du Lac, da
Companhia de Jesus, e que tinha muito a ver com o caso: "Ele dirigia o colgio da
Rue des Postes, quando os jesutas preparavam os candidatos para as escolas maiores.
um homem inteligente, que mantm contatos importantes. Ele converteu
Drumont; o confessor de De Mun e de Boisdere, chefe do Estado-Maior do
Exrcito, que o avistava todos os dias".
Drumont e o incitou a escrever A Frana Judia, e quem forneceu os meios para criar
o Libre Parole? O general de Boisdere tambm no v o famoso jesuta todos os
dias? O chefe do Estado-Maior nunca toma uma deciso sem antes consultar o seu
dirigente religioso"
Na Ilha do Diabo, que bem merece esse nome, por seu horrvel clima, a vtima dessa
trama atroz era tratada com uma crueldade extrema, pois a imprensa anti-semtica
havia espalhado uma reportagem que dava conta de sua tentativa de fuga. O ministro
para as Colnias, Andr Leblon, deu ordens para um controle maior.
"Na manh de domingo, dia 6 de setembro, o carcereiro chefe, Lebar, informou seu
prisioneiro que ele no estava autorizado a caminhar pela parte da ilha que lhe havia
sido reservada, e que seria con nado sua cabana. Foi-lhe dito que passaria a ser
acorrentado todas as noites. Ao p de sua cama, feita de trs tbuas, foram xadas
duas algemas do mais duro ferro, as quais serviriam para prender seus ps. Quando as
noites eram trridas, essa punio era especialmente dolorosa".
"De manhzinha, os guardas soltavam o prisioneiro que, ao se levantar, tremia sobre
seus ps. Ele estava proibido de sair de sua cabana, na qual deveria car dia e noite.
Aps algum tempo, seus calcanhares comearam a se cobrir de sangue e tiveram de
enfaix-los. Seus guardas, emocionados e condodos, envolviam seus ps
secretamente, antes de acorrent-los". O condenado continuava a proclamar sua
inocncia. Escreveu esposa: "Deve haver, em algum lugar nessa terra bela e generosa
da Frana, um homem honesto que seja su cientemente corajoso para buscar, e
descobrir, a verdade"
De fato, a verdade no era mais desconhecida. O que faltava era o desejo de torn-la
pblica. O prprio abade Brugerette testemunha do fato: "As suposies sobre a

inocncia do condenado da Ilha do Diabo se multiplicavam em vo; as declaraes de


M. de Bulow no Reichstag e as que foram transmitidas por M. de Munster, seu
embaixador, ao governo francs, tambm afirmavam a inocncia de Dreyfus, em vo.
Uma inocncia tambm proclamada pelo imperador Guilherme e con rmada
quando Schwartzkoppen (o adido militar alemo) foi convocado a Berlin assim que
Esterhazy foi acusado por Mathieu Dreyfus (irmo do condenado). O Estado-Maior
se manteve contra a reabertura do processo. Algum est ocupado com a cobertura de
Esterhazy. Documentos secretos so transmitidos a ele para a sua defesa, e at mesmo
sua caligrafia no chega a ser autorizada a ser comparada com a da "lista".
'Assim protegido, o vilo Esterhazy torna-se suficientemente audacioso para pedir sua
presena diante de um Conselho de Guerra. L, ele unanimemente absolvido em
17 de janeiro de 1898, aps uma deliberao que durou apenas trs minutos".
Devemos mencionar que, alguns meses depois, quando o coronel Henry foi
condenado por falsi cao de documentos em uma tentativa de esconder uma
verdade bvia, houve a demisso do chefe do Estado-Maior e a queda dos ministros.
Detido em Mont Valerien, Henry cometeu suicido cortando o pescoo e, assim,
assinou com seu prprio sangue sua con sso de culpa. Em dezembro de 1898, esta
nota semi-o cial foi publicada pela imprensa germnica: 'As declaraes do governo
imperial determinam que nenhuma autoridade alem, superior ou inferior, teve
qualquer tipo de relaes com Dreyfus. Portanto, do ponto de vista alemo, no
vemos qualquer inconveniente com relao publicao integral do arquivo secreto"
Finalmente, a reabertura inevitvel do caso foi decidida pela Corte Suprema. Dreyfus
precisou se apresentar diante do Conselho de Guerra em Rennes, em 3 de julho de
1899, e este foi o comeo de uma nova tortura. "Ele no poderia imaginar que se
defrontaria com um dio ainda mais virulento do que quando caiu e que seus exchefes, os quais conspiravam para coloc-lo de novo no caminho para a Ilha do
Diabo, no teriam piedade dele, desafortunado, pobre criatura, que pensava j ter
suportado todo o sofrimento deste mundo". 'Assim que", escreveu o abade
Brugerette, "o Conselho de Guerra em Rennes somente acrescentaria uma nova
injustia iniqidade do julgamento de 1894. A ilegalidade deste julgamento, a
culpa de Esterhazy e as manobras criminosas de Henry se tornaram patentes durante
as 29 sesses daquele julgamento de Rennes. O Conselho de Guerra, no entanto,
julgaria Dreyfus por outras acusaes de espionagem, as quais nunca haviam sido
causa de uma acusao ou relatrio. Todos os vazamentos anteriores seriam a ele
atribudos e vrios documentos seriam forjados. Finalmente, e contra toda a nossa
tradio legalista, exigiriam que o prprio Dreyfus provasse que tais documentos ou
papis no haviam sido feitos por ele, como se no mais coubesse acusao a tarefa
de provar o crime".
A parcialidade dos acusadores de Dreyfus era to bvia que a opinio pblica fora da

Frana despertou. Na Alemanha, o semi-o cial Cologne Gazee publicou, em 16 e


29 de agosto, no meio do julgamento, dois artigos em que podemos ler a seguinte
frase: "Se, aps as declaraes do governo alemo e dos debates da Corte Superior na
Frana, algum ainda acreditar que Dreyfus culpado, podemos apenas responder a
essa pessoa que deve estar mentalmente doente ou que conscientemente quer a
condenao de um inocente".
O dio, o absurdo e o fanatismo no estavam desarmados para essa batalha. Ainda
outras novas falsi caes foram usadas, substituindo aquelas que haviam perdido o
seu crdito. Resumindo, tudo no passava de uma sinistra palhaada. Ao nal, para
Dreyfus, surgiu a condenao a dez anos de deteno, com circunstncias paliativas!
"Este julgamento desastroso provocou um estupor indignado por todo o mundo. A
Frana foi desprezada. Quem poderia ter imaginado pesar to terrvel?", exclamou
Clemenceau, por ocasio da leitura dos jornais alemes e franceses.
A misericrdia era indispensvel. Dreyfus aceitou-a para "continuar a viver", disse, "e
buscar o reverso do terrvel erro militar do qual havia sido vtima". Para este reverso,
no adiantava contar com a justia dos Conselhos de Guerra. Essa justia j tinha
dado provas do seu trabalho! Ela s pde vir novamente da Corte mxima de
apelao que, aps minuciosas investigaes e longos debates, anulou para sempre o
ver edito de Rennes. Alguns dias depois, a Assemblia e o Senado, por um voto
solene, reincorporaram Dreyfus ao Exrcito: Dreyfus, a quem havia sido conferida a
Legio de Honra, estava finalmente reerguido diante da nao".
Essa mudana nal, obtida com tanto trabalho, deveu-se aos homens "honestos e
corajosos", tal qual sonhava o inocente da Ilha do Diabo. O nmero deles cresceu
cada vez mais na medida em que a verdade vinha tona. Aps a absolvio ligeira do
traidor Esterhazy por um Conselho de Guerra em janeiro de 1898, mile Zola
publicou na Aurore, a publicao de Clemenceau, sua famosa carta-aberta J'accuse:
'Acuso o primeiro Conselho de Guerra de ter violado a lei atravs da condenao de
um ru baseada em alguns documentos que permaneceram secretos, e acuso o
segundo Conselho de Guerra de haver coberto esta ilegalidade e cometer tambm
um crime judicial ao absolver conscientemente um culpado".
Os "cavaleiros" de nossa famosa Companhia, entretanto, estavam de vigia para calar
qualquer coisa que pudesse esclarecer o pblico. Uma acusao do deputado catlico
De Mun trouxe Zola diante da Corte Assize de Sena, e o corajoso escritor foi
condenado a um ano de priso, a pena mxima, como conseqncia desse
julgamento inquo.
A opinio pblica havia sido enganada to bem pelas manifestaes de protesto dos
clrico-nacionalistas que as eleies de maio de 1898 foram favorveis a eles. A
revelao pblica das falsi caes, a demisso do chefe do Estado-Maior e a
parcialidade criminal evidente dos juizes, no entanto, abriram os olhos daqueles que

sinceramente buscavam a verdade cada vez mais. Estes, porm, pertenciam quase
exclusivamente aos grupos protestantes, judeus e leigos.
"Na Frana, os catlicos do lado de Dreyfus eram poucos e distantes; dentre eles,
poucos eram proeminentes. As aes dessas poucas pessoas no causaram muita
agitao. A conspirao do silncio os envolvia".
"Muitos padres e bispos mantinham-se convencidos da culpa de Dreyfus", escreveu o
abade Brugerette. George Sorel tambm declarava: "Enquanto o caso Dreyfus trouxe
diviso entre todos os grupos sociais, o mundo catlico estava absolutamente unido
contra a reabertura do processo". O prprio Peguy admite que "todas as foras
polticas da Igreja tinham sido levantadas contra Dreyfus". Ser que devemos lembrar
as listas de subscries abertas pelo Libre Parole e pelo La Croix em favor da viva do
falsi cador Henry, o qual havia cometido suicdio? Os nomes dos padres subscritos
eram freqentemente acompanhados de "comentrios no muito evanglicos",
conforme nos diz Adrien Dansette, que cita o seguinte: "Um certo abade Cros pediu
um pequeno tapete de quarto feito de pele judia, para poder fazer estamparias dia e
noite; um jovem padre gostaria de arrebentar o nariz de Reinach com seu salto; trs
padres adorariam esbofetear a face imunda do judeu Reinach".
Somente o clero secular mantinha ainda alguma reserva. Nas congregaes, as coisas
eram mais violentas. A 15 de julho de 1898, o dia de distribuio de prmios no
Colgio de Arcueil, presidido pelo generalssimo Lamont (vice-presidente do
Conselho Superior de Guerra), o padre Didon, reitor da Escola Albert-le-Grand, fez
um discurso violento no qual advogava o uso da violncia contra os homens cujo
crime havia sido a denncia corajosa de um erro militar. "Ser que devemos", disse o
monge eloqente, "deixar os infelizes se safarem? claro que no! O inimigo o
intelectualismo que nge desprezar a fora, e civis que querem subjugar os militares.
Quando a persuaso falhar, quando o amor se tornar incuo, devemos levantar nossa
espada, espalhar o terror, cortar cabeas, fazer guerra, atacar." Esse discurso parecia
um desafio contra todos os simpatizantes daquele infeliz condenado".
Quantos destes discursos, no entanto, j ouvimos desde ento? Convocaes a
represses sangrentas, vindas de um clero gentil, especialmente durante a ocupao
alem! Pelo grito de alerta de dio contra o intelectualismo, podemos encontrar o
eco perfeito nesta declarao de um certo general: "Quando algum fala de
inteligncia, saco do meu revlver!"
Destruir o pensamento pela fora fsica um princpio da Igreja Romana nunca
alterado. O abade Brugerette pensa, no entanto, sobre o fato de nada haver
perturbado a crena do clero da culpa de Dreyfus: "Um evento to grande e
dramtico, vindo como um furaco em um cu azul e trazendo tona o
departamento de falsificaes que operava no Estado-Maior, deve ter aberto os olhos,
at mesmo daqueles que no queriam conhecer a verdade. Re ro-me descoberta das

falsificaes realizadas por Henry."


"J no seria a ocasio para o clero francs e os catlicos repudiarem um erro que j
havia chegado longe demais? Os padres e os is poderiam ter se alinhado, tais quais
os trabalhadores mencionados pelos evangelhos, para aumentar as leiras dos
defensores da justia e da verdade. Os fatos mais evidentes, no entanto, nem sempre
esclarecem as mentes dominadas por certos preconceitos, pois estes so contrrios
anlise e, por natureza, se revoltaram contra as evidncias".
De qualquer maneira, incontveis esforos foram feitos para manter os catlicos no
erro! Poderiam eles imaginar que eram escandalosamente enganados por uma
imprensa que teimosamente escondia todas as provas da inocncia, todos os
testemunhos favorveis ao condenado da Ilha do Diabo, e tambm buscavam
impedir o curso da justia de todas as formas?"(94) frente dessa imprensa estava La
Libre Parole, criada, conforme j vimos, com a ajuda do padre jesuta du Lac, e La
Croix, do padre "assuncionista" Bailly. Como a Ordem da 'Assuno" era uma " lial
disfarada" da Companhia de Jesus, devemos, portanto, atribuir a esta o incio e a
manuteno da campanha anti-Dreyfus.
Uma testemunha no muito suspeita, o padre Lecanuet, escreve claramente: 'As
congregaes, e em especial os jesutas, so denunciados pelos historiadores do caso.
E, neste momento, devemos admitir que os jesutas deram o primeiro tiro com uma
temeridade muito impensada".
"Quase todos os jornais de provncia catlicos, como por exemplo o Nouvelliste, de
Lyon, to informativos e muito lidos, tomaro parte nessa trama obscura contra a
verdade e a justia. Parece que o lema passava por impedir a luz de entrar e manter o
pblico na escurido."
Na realidade, seria necessria uma cegueira muito peculiar que no discernisse, por
detrs do furor demonstrado pelo La Croix em Paris e nas provncias, o tal lema
mencionado pelo abade Brugerette. Seria tambm muita ingenuidade no conhecer
sua origem.
Adnen Dansette tambm diz: " a Ordem assuncionista, em sua totalidade, e com
ela a Igreja, que esto expostas pela campanha do La Croix. O padre Bailly gaba-se de
que o "Santo Papa" o aprova."
De fato, no h qualquer dvida a respeito dessa aprovao! Os jesutas, usando o
nome emprestado dos "assuncionistas", no so os instrumentos polticos do papado
desde a sua fundao? A histria espalhada, a qual repetida por historiadores
apologistas, de que Leo XIII tinha uma aparente "moderao" com relao aos
diretores do La Croix, no passa de uma piada. Trata-se de um truque clssico, que
no perde sua e cincia nos dias atuais, pois ainda existem pessoas que acreditam em
um certo tipo de "independncia" da voz oficial da Santa S!
Vejamos agora o que foi publicado na prpria Roma pela Civilta Cattolica, a

publicao o cial dos jesutas, sob o ttulo de O Caso Dreyfus: 'A emancipao dos
judeus tem sido o resultado dos assim chamados princpios de 1789, que tm
subjugado to fortemente todo o povo francs. Os judeus tm a Repblica nas suas
mos, que se tornou muito mais hebraica do que francesa. Os judeus foram criados
por Deus para serem usados como espies, sempre que houver alguma traio a ser
preparada. No s na Frana, mas tambm na Alemanha, ustria e Itlia, os judeus
tm de ser expulsos da nao. Ento, com a grande harmonia dos tempos antigos a se
reestabelecer, as naes encontraro novamente sua felicidade perdida".
Nos captulos anteriores, zemos um pequeno resumo da "grande harmonia" e
"felicidade" vividas pelas naes nas quais os lhos de Loyola ouviam as con sses e
inspiravam os reis. Tal qual acabamos de ver, a "harmonia" tambm reinou quando
eles se tornaram confessores e conselheiros de chefes do Estado-Maior.
De acordo com o abade Brugerette, o general de Boisdere, penitente do padre
jesuta du Lac, sentiu o mesmo amargor que muitos outros antes, os quais haviam
sido enganados igualmente por esses "diretores de conscincias". As con sses do
falsi cador Henry o zeram se demitir. "Sendo um homem muito honesto, ele
prprio diria que havia sido "escandalosamente enganado", e aqueles que o
conheciam sabiam que se sentia amargurado com a trama da qual ele prprio havia
sido vtima".
O abade Brugerette acrescenta que tinha encerrado "todas as formas de comunicao"
com seu antigo confessor e "at mesmo se recusado a v-lo de novo quando estava
morrendo". Aps ler tudo isso, escrito e publicado na Civilta Cattolica, seria
desnecessrio nos estendermos ainda mais sobre a culpa da Ordem. Podemos apenas
concordar com o que Joseph Reinach disse na poca: "Conforme vemos, foram os
jesutas que criaram este caso obscuro. Para eles, Dreyfus s um pretexto; o que
querem, e o admitem, estrangular o laicismo e redirecionar a Revoluo Francesa".
Devido ao fato de que alguns ainda insistem, contra todas as evidncias, que poderia
haver uma possvel discordncia entre o papa e seu exrcito secreto, entre as intenes
de um e as aes do outro, fcil mostrar o vazio de tal suposio. O caso de Bailly
muito esclarecedor sobre esse aspecto. O que podemos ler no La Croix de 29 de
maio de 1956? Nada menos do que isto: "Como j anunciamos, Sua Eminncia o
Cardeal Feltin ordenou uma pesquisa nos escritos do padre Bailly; ele foi o fundador
de nossa publicao e da Maison de Ia Bonne Press."
Aqui est o texto daquela ordenana, datado de 15 de maio de 1956: "Eu, Maurice
Feltin, pela graa divina e da Santa S apostlica, cardeal chefe da Santa Igreja
Romana, cujo ttulo Santa Maria da Paz, arcebispo de Paris. Em vista do plano
submetido pela Congregao dos Augustinianos da Assuno e aprovado por ns, de
introduzir em Roma a causa do servo de Deus Vincent-de-Paul Bailly, fundador de
La Croix e Bonne Press. Em vista das disposies e instrues da Santa S com

relao ao ato de beati cao e busca dos escritos dos servos de Deus, ns ordenamos
o seguinte: Qualquer pessoa que conheceu este servo de Deus ou que possa nos dizer
algo em especial sobre sua vida, deve nos informar sobre ele. Qualquer um que
possua escritos deste servo de Deus deve repass-los antes de 30 de setembro de
1956, seja por livros escritos, notas manuscritas, cartas, memorandos, at mesmo
instrues ou conselhos no escritos, mas por ele ditados. Por todas essas
comunicaes, designamos Canon Dubois, secretrio do arcebispado e promotor de
f, para esta causa."
Eis aqui um servo de Deus bem no caminho para receber o prmio justo por seus
servios leais na forma de uma aurola. Ousamos dizer, no que tange aos seus
"escritos" to cuidadosamente pesquisados, que o "promotor de f" ter muito para
escolher. Quanto ao material "impresso", a coleo do La Croix, especialmente entre
1895 e 1899, fornecer os materiais mais "edificantes."
'A atitude deles (dos jornais catlicos), e especialmente do La Croix, constitue no
momento, para todas as mentes esclarecidas e concretas, o que Paul Violet, membro
catlico do instituto, chama de escndalo indescritvel (e este escndalo gera, no Caso
Dreyfus, os mais chocantes erros): a mentira e o crime contra a verdade, a
honestidade e a justia. A Corte de Roma, sabe disso, tanto quanto todas as outras
Cortes da Europa."
A Corte de Roma realmente sabia mais do que qualquer outra! Como j vimos, em
1956 ela no havia se esquecido das faanhas "santas" desse "servo de Deus", pois
estava preparando sua beati cao. Sem dvida, o promotor de f creditava a esse
futuro "santo" aquelas famosas listas de subscries em favor da viva do falsi cador
Henry, sobre quem o abade Brugerette diz: "Hoje, quando lemos aqueles pedidos
pelo retorno da Inquisio, pela perseguio aos judeus e pelo assassinato dos
defensores de Dreyfus, como se estivssemos ouvindo as imaginaes delirantes de
fanticos selvagens e grotescos. Estes, no entanto, nos so apresentados pelo La Croix
como sendo um espetculo grandioso, reconfortante e digno de aplausos".
O padre Bailly no teve o prazer de ver realizar durante sua vida todos esses "santos
desejos" com relao aos judeus, o que s viria a ser possvel com esses fanticos
selvagens sob a sustica.
Ele s poderia desfrutar desse espetculo "grandioso, reconfortante e digno de
aplausos" nos cus, apesar de l, os espetculos desse tipo serem "muito comuns", de
acordo com os "estudiosos" e, especialmente, Santo Toms de Aquino, o "anjo" da
Escola: 'A m de ajudar os santos a desfrutarem suas bnos ainda mais, e aumentar
suas aes de graas a Deus, a eles permitido contemplarem em todo o seu absurdo
a tortura dos homens sem Deus. Os santos se regozijaro nos tormentos dos homens
sem Deus" (Sancti de poenis impiorum gaudebunt).
Conforme podemos constatar, o padre Bailly, fundador do La Croix, tinha feito

tudo que necessrio, segundo a rmavam, para se fazer um santo: perseguir os


inocentes e amaldioar aqueles que os defendiam; entreg-los para serem assassinados;
sustentar com todas as foras a mentira e a iniqidade e provocar a discrdia e o
dio. Estes so, aos olhos da Igreja Romana, realizaes slidas para a "glria", e
podemos entender seu desejo de outorgar a aurola ao autor dessas faanhas to
"devotas".
A seguinte questo, no entanto, oportuna: Seria esse "servo de Deus" um
trabalhador padro tambm? Porque sabemos que, para merecer tal promoo, devese ter realizado milagres muito bem "documentados". Quais foram, a nal, os
milagres realizados pelo diretor-fundador do La Croix? Seria a transmutao, para os
seus leitores, do preto em branco e do branco em preto, apresentando uma mentira
como sendo verdade e a verdade como mentira?
Naturalmente, mas um "milagre" ainda maior foi o fato de que ele persuadiu
membros do Estado-Maior (e ento o pblico) que, aps terem cometido o erro
inicial, e quando esse erro foi descoberto, foi pela honra deles que negaram as
evidncias, transformando dessa forma o erro em abuso de poder!
"Errare humanum est;perseverare diabolicum". O "servo de Deus" no estava
prestando muita ateno neste provrbio. Ao invs de se deixar inspirar por ele, o
escondeu sob sua batina. De fato, o "mea culpa" para os simples is, e no para os
eclesisticos. Tambm no , como acabamos de ver, para os chefes militares que
tinham confessores jesutas. O resultado - pretendido - era a exaltao das paixes
partidrias e a diviso do povo francs. Isso con rmado pelo eminente historiador
Pierre Gaxotte: "O Caso Dreyfus foi um decisivo momento de virada. Julgado por
o ciais, envolveu a instituio militar. O Caso se expandiu, tornou-se num con ito
poltico, desestruturou famlias e dividiu a Frana em duas. Teve os efeitos de uma
guerra religiosa. Criou o dio contra as corporaes de o ciais e de agrou o antimilitarismo".
Quando pensamos na Europa daquela poca, a Alemanha superequipada com suas
armas e seus dois aliados; quando lembramos a responsabilidade do Vaticano no
incio do con ito de 1914, no podemos deixar de perceber que a diminuio do
potencial militar da Frana havia sido premeditada. Como poderamos deixar de
notar que, de fato, o Caso Dreyfus comeou em 1894, o ano da Aliana FrancoRussa? Naquele perodo, o porta-voz do Vaticano chegou a falar demais sobre o
acordo com poder de cisma o que, a seus olhos, era um escndalo.
At mesmo hoje, "um prelado de Sua Santidade", monsenhor Cristiani, ousou
escrever: "Atravs de polticas misteriosamente ; cegas e doentes, nosso pas parece
sentir prazer em provocar inclinaes guerreiras em seus formidveis vizinhos (a
Alemanha). A aliana franco-russa parecia ameaar a Alemanha com o isolamento".
Para o "respeitvel prelado", a Trplice Aliana (Alemanha, Itlia, Austro-Hungria)

no era uma ameaa a ningum e a Frana estava errada em se isolar diante de tal
bloco. Com trs contra um, o golpe teria sido mais fcil e nosso "Santo Papa" no
teria que lamentar, em 1918, a derrota de seus "campees".

Os Anos Antes da Guerra 1900 - 1914



Escreveu o abade Brugerette: "Sob a imagem de Jesus cruci cado, smbolo divino da
idia da justia, La Croix tinha apaixonadamente cooperado com o trabalho de
fraude e crime contra a verdade, a honestidade e a justia". A justia, no entanto,
tinha vencido ao final. O abade Fremont, que no temia mencionar a cruzada sinistra
liderada por Inocncio III contra os albigenses, quando se referiu ao caso parecia um
verdadeiro profeta: "Os catlicos esto vencendo e pensam que derrubaro a
Repblica por causa do dio contra os judeus. Temo, porm, que eles acabem por
derrubar a si prprios" .
Quando a opinio pblica foi esclarecida, a reao foi fatal. Ranc havia aprendido a
lio do caso quando exclamou: 'A Repblica quebrar o poder das congregaes, ou
ento ser estrangulada".
Em 1899, um ministro de "defesa da Repblica" foi constitudo. O padre Picard,
superior dos "assuncionistas", o padre Sailly, diretor do La Croix, e outros dez
membros daquela Ordem foram levados a julgamento diante do Tribunal do Sena,
por quebra da lei de associaes. A congregao dos "assuncionistas" foi dissolvida.
Waldek-Rousseau, presidente do Conselho, declarou em um discurso pronunciado
em Toulouse, em 28 de outubro de 1900: "Dispersadas, mas no suprimidas, as
Ordens religiosas formaram-se novamente, maiores em nmero e militncia; cobrem
o territrio com uma rede de uma organizao poltica cujas ligaes so milhares e
muito bem costuradas, como viemos a observar em um julgamento recente".
Finalmente, em 1901 uma lei foi aprovada, determinando que nenhuma
congregao poderia ser formada sem autorizao, e que aquelas que no a
solicitassem dentro do tempo legal seriam automaticamente dissolvidas.
Sero esses regulamentos, muito naturais da parte de autoridades pblicas cuja funo
acompanhar as associaes fundadas em seu territrio, que sero considerados um
abuso intolervel por parte dos catlicos. 'A casa de um homem o seu castelo", diz
o ditado; a Igreja, no entanto, no entende assim: a lei comum no para ela.
A resistncia dos sacerdotes quanto aplicao da lei seria su ciente para mostrar
quo necessria era ela. Tal resistncia s viria a fortalecer a atitude do governo,
especialmente sob o ministro Combes; e a intransigncia de Roma, especialmente
quando Pio X sucedeu a Leo XIII, conduziria lei de 1904, que aboliu as Ordens de

ensino. Aps isso, a disputa entre o governo francs e a Santa S ser constante.
A eleio do novo papa tambm foi feita em circunstncias signi cativas. "Leo XIII
morreu em 20 de julho de 1903. O conclave, que se reuniu para designar seu
sucessor, aps vrias votaes, somou 29 votos para o cardeal Rampolla (sendo que o
mnimo para a eleio eram 42 votos), quando o cardeal austraco Puzyna se
levantou e declarou que Sua Majestade Apostlica o Imperador da ustria, rei da
Hungria, foi o cialmente inspirado a excluir o secretrio de Estado de Leo XIII.
Todos sabemos que o cardeal Rampolla era pr-Frana."
O cardeal Sarto foi eleito, atravs da manobra austraca, que acabou por tomar o
lugar do Esprito Santo para inspirar cardeais do conclave. Esta eleio foi uma
vitria dos jesutas. Na verdade, o novo pont ce, descrito como sendo uma mistura
de "padre de provncia e arcanjo com uma espada apaixonada", era o tipo perfeito
desejado pela Ordem. Vejamos o que Adnen Dansette diz sobre o assunto: "Quando
amamos o papa, no limitamos o campo no qual ele pode e deve exercer a sua
vontade".
E ainda esta sua primeira conferncia consistorial: "Sabemos que chocaremos muitas
pessoas quando declararmos que estaremos necessariamente envolvidos em poltica.
Qualquer um, no entanto, que deseje julgar com justia, pode ver que o Soberano
Pont ce, investido por Deus com uma autoridade suprema, no tem o direito de
separar a poltica do domnio da f e da mora".
Assim que Pio X, no momento em que foi erguido ao "trono de So Pedro",
publicamente declarou que, para ele, a autoridade do papa deveria ser sentida em
todos os campos, e que o clericalismo poltico no era apenas um direito, mas um
dever. Tambm acabou por escolher para seu secretrio de Estado um prelado
espanhol, monsenhor Merry dei Vai, que tinha 38 anos na poca e, tanto quanto ele,
era apaixonadamente pr-Alemanha e anti-Frana.
Esse estado de esprito no surpreendente quando lemos estas palavras do abade
Fremont: "Merry dei Vai, que tive a oportunidade de encontrar no Colgio
Romano, era o "pupilo favorito dos jesutas".
As relaes entre a Santa S e a Frana logo sentiram os efeitos dessa escolha.
Primeiro, foi a indicao dos bispos pelo poder civil que de agrou um con ito.
Antes da guerra de 1870, a Santa S determinava os nomes dos novos bispos s aps
terem sido indicados. O papa se reservava o direito, se no lhe agradava algum nome,
de o afastar do bispado pela recusa da instituio cannica. As di culdades eram
enormes, pois os governos, sob qualquer tipo de regime, eram cuidadosos em eleger
candidatos valiosos para o ofcio episcopal".
Assim que Pio X se tornou papa, a maior parte das indicaes para novos bispos foi
recusada por Roma. Alm disso, o nncio de Paris, Lorenzelli, era, como nos conta
Dansette, "um telogo que havia se perdido pela poltica e era enlouquecidamente

hostil Frana". Alguns diro: " s mais um a acrescentar na lista! Mas tal escolha
para um posto to estratgico demonstra claramente quais eram as intenes da Cria
Romana em relao Frana. Essa hostilidade sistemtica viria a ser exibida mais
claramente em 1904, quando M. Loubet, presidente da Repblica, foi a Roma para
retribuir uma visita feita a ele em Paris algum tempo antes, pelo rei da Itlia, Victor
Emmanuel III. M. Loubet desejou tambm ser recebido pelo papa. A Cria
Romana, entretanto, produziu um suposto "protocolo inevitvel": O papa no
poderia receber um chefe de Estado que, ao visitar o rei da Itlia em Roma, parecia
reconhecer como legtima a "usurpao" daquele antigo Estado papal. Houve, no
entanto, precedentes: Em 1888 e 1903, um chefe de Estado (e no menos
importante) havia sido recebido pelo rei da Itlia e pelo papa. lgico que esse
visitante no era o presidente de uma Repblica, mas o imperador alemo Guilherme
II. A mesma honra havia sido dada a Edward VII, rei da Inglaterra, e ao czar.
A inteno de insulto dessa recusa cou evidente e foi ainda mais enfatizada por uma
nota enviada por vrias chancelarias pelo secretrio de Estado Merry dei Vai. Um
autor catlico, M. Charles Ledre, escreveu sobre o assunto: 'A diplomacia ponti cai
poderia ignorar o objetivo decisivo e importante que, por detrs da visita do
presidente Loubet a Roma, estava tomando forma?"
bvio que o Vaticano sabia a respeito do plano de afastar a Itlia de seus parceiros
da Trplice Aliana, Alemanha e Austro-Hungria, esses dois poderes germnicos
considerados pela Igreja Romana como sendo seus melhores braos seculares. Este era
o verdadeiro ponto de embate e foi, de fato, a razo das freqentes exploses
nervosas do Vaticano.
Outros con itos surgiram em relao aos bispos franceses, considerados por Roma
como excessivamente republicanos. Finalmente o governo francs ps um fim em 29
de julho de 1904 s "relaes que se tornaram anuladas pela Santa S". A quebra de
relaes diplomticas fatalmente levaria, logo em seguida, separao da Igreja e do
Estado. "Achamos normal, hoje em dia", escreveu Adnen Dansette, "que a Frana
mantenha relaes diplomticas com a Santa S e que o Estado e a Igreja vivam em
regime de separao. As relaes diplomticas so necessrias, pois a Frana deve ser
representada onde tenha interesses a defender, alm de qualquer considerao
doutrinria. A separao necessria, pois em uma democracia fundada sobre a
soberania de um povo dividido por vrias crenas, o Estado s deve Igreja a
liberdade". O autor acrescenta: "Pelo menos, esta a opinio geral".
Ns s temos a concordar com essa opinio razovel, sem esquecer, lgico, que o
papado nunca avalizaria tal coisa. A Igreja Romana nunca deixou de proclamar sua
proeminncia sobre a histria civil, atravs de sua prpria histria, e pela vontade de
ser capaz de se impor abertamente em tempos recentes, fez o mximo para se
implantar com a ajuda de seu exrcito secreto, a Companhia de Jesus. Alm disso, foi

naquela poca que o padre Wemz, o prior dessa Ordem, escreveu: "O Estado est
sob a jurisdio da Igreja; assim, a autoridade secular est, na verdade, sob o jugo da
autoridade j eclesistica e esta tem que ser obedecida".
Essa a doutrina desses campees intransigentes da teocracia^ conselheiros e
executores de suas prprias ordens, que se zerar indispensveis ao Vaticano, tanto
que hoje seria absolutament^ impossvel distinguir a menor diferena entre o "Papa
Negro" e "Papa Branco"; eles so praticamente o mesmo.
Conforme podemos ver, o papado tinha feito tudo o que era necessrio para
implantar essa convico. Alm disso, o monsenhor Fruhwirth disse em 1914: 'A
Alemanha a base sobre a qual o Santo Papa pode e deve estabelecer grandes
esperanas".
Quando nos referimos poltica do Vaticano, simplesmente queremos dizer a
poltica dos jesutas. Juntamente com muitos outros observadores quali cados, o
abade Fremont admite essa verdade, como se segue: "Os jesutas dominam o
Vaticano". Diante da oposio irredutvel dos jesutas (todo-poderosos na Igreja)
contra a Repblica, o Estado foi obrigado a determinar a Lei da Separao, com
vrias emendas, de 1905 a 1908. Essa lei no se destinava a diminuir a riqueza e os
bens da Igreja, ou mesmo as construes para culto. Os is poderiam se reunir em
associaes locais, sob a direo de um padre que os liderasse. O que Roma faria?
"Na encclica Vehementer, de 11 de fevereiro de 1906, Pio X condena o princpio de
separao e o de associaes locais. Mas ser que ele vai alm dos princpios?
"Saberemos em breve.
Apesar do conselho do episcopado francs, ele rejeitou qualquer acordo em 10 de
agosto de 1906, na encclica Gravssimo. Eis uma outra frustrao para os catlicos
liberais: "Quando penso", exclama Brunetiere, "que o que foi recusado pelos
catlicos franceses, com certo conhecimento de que tal recusa desencadearia uma
guerra religiosa em nosso pobre pas que tanto precisa de paz, acabou sendo aceito
pelos catlicos alemes, e que as "associaes locais" tm operado por l h 30 anos
para a satisfao geral, eu no posso evitar, na posio de patriota e de catlico, de
sentir muita indignao".
Houve algum problema, de fato, quando um inventrio das propriedades
eclesisticas foi feito, mas no uma guerra religiosa. Mesmo assim, os ultramontanos
estavam provocando confuso. A populao em geral cou calma, quando algumas
das propriedades da Igreja foram devolvidas ao Estado por ela mesma, que assim
preferiu do que se submeter s medidas conciliatrias determinadas por lei.
Teria, ento, o escritor Brunetiere conseguido compreender plenamente a razo para
aquela diferena entre os catlicos franceses e os alemes, no tratamento dispensado
pela Santa S? A primeira guerra mundial viria a revelar todo o significado disso.
Enquanto os jesutas tinham efetivamente trabalhado, atravs do Caso Dreyfus, para

dividir o povo francs e enfraquecer o prestgio de seu exrcito, na Alemanha eles


estavam fazendo exatamente o contrrio. Bismark, que havia lanado no passado o
"Kultur Kampf" contra a Igreja Catlica, estava recebendo muitos favores dela. Isso
o que o autor catlico Joseph Rovan tambm explica: "Bismark ser o primeiro
protestante a receber a Ordem de Cristo com jias, uma das honrarias mximas da
Igreja. O governo alemo autoriza os jornais devotos a publicarem o fato de que o
chanceler estaria pronto a apoiar efetivamente as pretenses do papa de uma
restaurao parcial de sua autoridade temporal".
"Em 1886, o Centro (partido catlico alemo) estava hostil aos projetos militares
apresentados por Bismark. Leo XIII interveio nos assuntos internos alemes em
favor de Bismark. Seu secretrio de Estado escreveu ao nncio de Munique: "Tendo
em considerao a prxima reviso da legislao religiosa que, por termos razes para
acreditar, ser executada de forma conciliatria, o Santo Papa deseja que o Centro
promova, de todas as formas possveis, os projetos dos militares".
Isso o que Joseph Rovan tem a dizer: 'A diplomacia alem interveio (j um velho
hbito) no Vaticano, para fazer com que o papa exercesse a sua in uncia no
Zentrum (partido catlico), de forma a favorecer os projetos militares. Os catlicos
alemes falaro sobre a grande "misso poltica" da Alemanha que , ao mesmo
tempo, uma misso moral universal. O Zentrum torna-se assim responsvel pelo
prolongamento de um reino que, entre estrondos que ocultam fraquezas, discursos
de guerra sobre armamentos navais e coisas do gnero, acabariam por levar a
Alemanha para a catstrofe. O Zentrum entra na guerra (de 1914) convencido da
honestidade, pureza e integridade moral dos lderes de seu pas, do acordo dos seus
planos e programas com os planos da justia eterna.

Captulo 5

O Ciclo Infernal

"Se a guerra comear (...) no procurem a culpa fora do Vaticano, pois ele ser o
provocador oculto"

A Primeira Guerra Mundial



A fria levantada no Vaticano pela aliana franco-russa e to bem comprovada no
Caso Dreyfus, ao dio que a unio franco-italiana incitou e que o incidente com
Loubet prova claramente, acrescentou-se um ressentimento ainda mais amargo
causado pela Entente Cordiale com a Inglaterra. A Frana tinha rmemente decidido
no se opor sozinha ao seu "formidvel vizinho", a ustria-Hungria. Os polticos,
"to cegos e doentes", de acordo com monsenhor Cristiani, eram vistos de forma
extremamente desfavorvel pelo "santo" catolicismo. Alm de pr em perigo o
"cuidadoso sangramento" que a Frana "sem Deus" precisava, esses polticos eram
um apoio inestimvel para a Rssia do cisma; essa ovelha perdida, cujo retorno ao
rebanho do catolicismo romano nunca tinha deixado de existir na esperana e no
sonho, apesar de sua realizao implicar em uma guerra.
Naquele momento, a Igreja Ortodoxa estava rmemente implantada nos Blcs,
especialmente na Srvia, onde o Tratado de Bucarest, ao terminar o con ito dos
Blcs, havia feito dela um centro de atrao de eslavos do Sul e em particular
daqueles que estavam sob o jugo da ustria. Os planos ambiciosos do Vaticano e o
imperialismo apostlico dos Hapsburg estavam, portanto, em perfeita sintonia, tal
como era no passado. Para Roma e para Viena, o poder crescente da Srvia fazia desta
um inimigo a derrubar.
Isso se torna efetivamente claro em um documento diplomtico encontrado nos
arquivos austro-hngaros, o qual relata, para o conhecimento do ministro austraco
Berchtold, as conversaes mantidas entre o prncipe Schonburg e o Vaticano, em
outubro/ novembro de 1913: "Entre outros assuntos discutidos primeiramente com
o cardealsecretrio de Estado (Merry dei Vai), a questo da Srvia foi levantada,
conforme j antecipamos. O cardeal, de incio, expressou seu contentamento com
relao nossa atitude rme e oportuna tomada nos ltimos meses. Durante a
audincia que tive com Sua Santidade, o Santo Papa, o qual comeou a conversa
com a meno dos passos enrgicos tomados por ns em Belgrado, ele chegou a fazer

um comentrio bem caracterstico: "Com certeza, poderia ter sido melhor", disse Sua
Santidade, "se a Austro-Hungria tivesse punido os srvios por todos os erros que
haviam cometido"
Assim, os sentimentos pr-guerra de Pio X j tinham sido claramente expressos em
1913. No h nada de surpreendente nisso, quando lembramos de quem so os
inspiradores da poltica de Roma. "O que que se esperava dos Hapsburgs? Que
punissem a Srvia, uma nao ortodoxa. O prestgio da Austro-Hungria, destes
Hapsburgs que, semelhana dos Bourbons de Espanha eram os ltimos suportes
dos jesutas, e em especial o prestgio do herdeiro, Franois-Ferdinand, o homem
deles, havia aumentado muito. Para Roma, o caso tornou-se de importncia quase
religiosa; uma vitria da monarquia apostlica sobre o czarismo poderia ser
considerada uma vitria de Roma sobre o cisma do Leste".
O caso se arrastava sem maiores conseqncias em 1913. Em 28 de junho de 1914,
o arquiduque Franco is-Fendinand foi assassinado em Sarajevo. O governo srvio
no teve nada a ver com esse crime, cometido por um estudante macednio, mas essa
seria a desculpa perfeita para que o imperador Franois-Joseph comeasse com as
hostilidades.
"O conde Sforza a rma que o principal problema seria persuadir Franois-Joseph da
necessidade da guerra. O conselho do papa e do seu ministro era o que poderia ter
maior in uncia sobre ele". * Esse conselho foi, logicamente, dado ao imperador,
sendo do tipo que poderia ser esperado desse papa e seu ministro, "pupilo favorito
dos jesutas". Enquanto a Srvia tentava manter a paz, cedendo a todos os pedidos do
governo austraco, o qual havia mandado uma nota ameaadora a Belgrado, o conde
Paly, representante austraco no Vaticano, fornecia a seu ministro Berchtold, em 29
de julho, um resumo das conversas mantidas no dia 27 com o cardeal-secretrio de
Estado, Merry dei Vai. Essas conversas foram sobre "as questes que esto afetando a
Europa neste momento". O diplomata negava com desprezo os rumores
"fantasiosos" sobre a suposta interveno do papa, o qual aparentemente implorava
ao imperador para salvar as naes crists dos horrores da guerra.
Tendo lidado com essa suposio "absurda", ele expe a "verdadeira opinio da
Cria", assim comunicada pelo secretrio de Estado: "Seria impossvel detectar
qualquer esprito de indulgncia e conciliao nas palavras de Sua Eminncia.
verdade que descreveu a nota Srvia como sendo muito severa; ele, entretanto, a
aprovava inteiramente. Ao mesmo tempo e indiretamente, expressava o desejo de
que a Monarquia terminasse com o trabalho. "De fato", acrescentou o cardeal, "
uma pena que a Srvia no tenha sido humilhada muito antes, como poderia ter sido
feito no passado, sem tantos outros riscos adicionais". Essa declarao re ete os
desejos do papa que, durante os ltimos anos, tem expressado desgosto pela Hungria
ter negligenciado a "punio" de seu vizinho perigoso do Danbio".

Isso seguramente o oposto dos rumores "fantasiosos" sobre uma interveno papal
em favor da paz. O diplomata austraco no foi o nico a relatar a "verdadeira
opinio" do pont ce romano e de seu ministro. Um dia antes, em 26 de julho, o
baro Ritter, representante comercial da Bavria no Vaticano, havia escrito ao seu
governo: "O papa concorda que a ustria esteja lidando de forma severa com a
Srvia. Ele no pensa muito a respeito dos exrcitos francs e russo; sua opinio de
que no poderiam fazer muita coisa em uma guerra contra a Alemanha. O cardeal
secretrio de Estado no v outro momento, seno agora, para que a ustria possa
entrar em guerra".
Conforme podemos ver, a Santa S estava plenamente consciente dos "grandes
riscos" representados por um con ito entre a ustria e a Srvia; fez, no entanto, tudo
o que estava ao seu alcance para encorajar a guerra. O "Santo Papa" e seus
conselheiros jesutas no estavam preocupados com o sofrimento das "naes crists"!
No era a primeira vez que essas naes estavam sendo usadas para o benefcio da
poltica romana. A oportunidade desejada havia chegado, nalmente, para se usar o
brao secular alemo contra a Rssia ortodoxa, a Frana "sem Deus", que precisava de
um "sangramento prolongado" e, de "boni cao", contra a Inglaterra "herege".
Tudo parecia prometer uma guerra "viva e feliz".
Pio X no enxergou os desdobramentos que acabaram por resultar contra todas as
suas previses. Ele morreu no princpio do con ito, em 20 de agosto de 1914.
Quarenta anos depois, entretanto, Pio XII canonizou este "augusto pont ce", e o
Precis d'Histoire Sainte (Resumo da Histria Santa), usado para catecismo paroquial,
dedica a ele essas palavras "edi cantes": "Pio X fez o que pde para evitar o comeo
da guerra de 1914 e morreu de angstia ao antever os sofrimentos que ela
deflagraria".
Se fosse uma comdia, no haveria palavras melhores do que essas! Alguns anos antes
de 1914, Yves Guyot, um verdadeiro "profeta", disse: "Se a guerra comear, ouam
vocs, homens que pensam que a Igreja Romana o smbolo da ordem e da paz:
No procurem a culpa fora do Vaticano, pois ele ser o provocador oculto,
semelhana da guerra de 1870"
Provocador da calnia, o Vaticano viria a apoiar os seus "campees" no menos
habilidosos, os austro-hngaros, durante toda a guerra. A excurso militar na Frana,
que o kaiser se gabava que faria, foi detida no Marne e o agressor voltou defensiva,
aps todos os seus furiosos ataques. A diplomacia papal lhe trouxe, no entanto, toda
a ajuda possvel, e isso no chega a surpreender quando consideramos que a
"Providncia Divina" parecia adorar favorecer os imprios centrais.
O cardeal Rampolla, considerado pr-Frana (e por essa mesma razo afastado do
trono papal por um veto da ustria), no se encontrava mais entre aqueles que
poderiam se tornar papa, pois havia morrido alguns meses antes de Pio X, morte que

parece ter sido muito oportuna.


Isso diz respeito interveno de "Deus": Conforme havia prometido, mesmo antes
da votao acontecer, o novo papa, Benedito XV, indicou o cardeal Ferrata para
secretrio de Estado. Mas o cardeal no teve tempo nem mesmo de assumir todas as
suas funes. Tendo sido empossado no nal de setembro de 1914, morreu
subitamente em 20 de outubro, vtima de uma "terrvel indisposio", aps saborear
um leve refresco.
"Ele estava sentado em seu escritrio quando, de repente, cou extremamente
doente. Desfaleceu como se um relmpago tivesse cado sobre ele. Os criados
correram para ajudar. O mdico, que havia sido chamado imediatamente, percebeu a
gravidade da situao e pediu uma junta mdica urgente. A exemplo de Ferrata, ele j
havia compreendido que no havia esperanas... Implorou para que aquele homem
no fosse deixado ali, a morrer no Vaticano. Seis mdicos o examinaram e se
recusaram a emitir um boletim o cial; o que acabou por ser publicado no levava
nenhuma assinatura".
Ele no sofria de doena ou enfermidades. "O escndalo dessa morte foi tamanho,
que uma sindicncia no poderia ser evitada. Descobriram que uma jarra havia sido
quebrada no escritrio. A presena de vidro modo no aucareiro usado pelo cardeal
foi explicada dessa forma to simples. O fato do acar ser granulado foi muito til!
A sindicncia acabou por a".
O abade Daniel acrescenta que a partida repentina, alguns dias depois, do criado do
cardeal morto provocou uma srie de comentrios, especialmente porque ele tinha
aparentemente sido criado tambm de monsenhor. Von Gerlach, antes de seu mestre
entrar para as ordens sagradas. Esse prelado germnico, um famoso espio, viria a
fugir de Roma em 1916. Seria preso e acusado de sabotagem do navio de guerra
italiano "Leonardo da Vinci", o qual explodiu na Baa de Tarento, levando consigo
21 o ciais e 221 marinheiros. "Seu julgamento foi reaberto em 1919. Von Gerlach
no se apresentou e foi condenado a 20 anos de trabalhos forados".
Atravs do caso desse "camareiro participativo", editor do Osservatore Romano,
podemos ter uma clara idia da concepo de mundo das altas esferas do Vaticano.
Novamente o abade Brugerette descreve aos "assessores da Santa S": "Doutores ou
eclesisticos, eles no desistem diante de nenhum obstculo em sua luta para
conseguir impressionar o clero italiano e o mundo catlico em Roma, com o
respeito e a admirao pelo exrcito alemo, e o desprezo e dio pela Frana.
Ferrata, que favorecia a neutralidade, havia morrido no momento exato, e o cardeal
Gaspam se tornou secretrio de Estado; em perfeita sintonia com Benedito XV, fez o
seu melhor para servir aos interesses dos imprios centrais. "Levando em conta tudo
isso, no chega a surpreender que o papa Benedito XV, nos meses seguintes, tenha
trabalhado tanto para manter a Itlia no nvel de interveno que melhor servisse aos

jesutas, amigos dos Hapsburgs".



Charles Ledre, outro autor catlico, con rma: "Em duas ocasies, mencionadas em
alguns famosos artigos da La Revue de Paris, a Santa S, ao convidar a Itlia e
posteriormente os Estados Unidos a se manterem afastados da guerra, no quis
apenas antecipar o nal do con ito. De acordo com o abade Brugerette, servia aos
interesses de nossos inimigos e trabalhava contra ns".
As aes dos jesutas e, portanto, as aes do Vaticano, no eram sentidas apenas na
Itlia e nos Estados Unidos. De qualquer forma e em todos os lugares havia sido
favorvel a eles. "No se assustem de ver a diplomacia ponti cai ocupada desde o
incio em di cultar o nosso suprimento de comida e dissuadindo os neutros de se
ligarem ao nosso lado, de forma a quebrar os laos da Entente. No se desprezou
nada que pudesse ajudar nessa grande empreitada e que trouxesse a paz pela fraqueza
do aliados.
Ainda havia pior: solicitaes por uma paz separada. Entre os dias 2 e 10 de janeiro
de 1916, alguns catlicos alemes foram Blgica para pregar (diziam ser em nome
do papa) e pedir por uma paz separada. Os bispos belgas os acusaram de mentir, mas
o nncio e o papa se mantiveram em silncio... 'A Santa S pensou em reunir a
Frana e a ustria; assim esperava fazer a Frana assinar uma paz separada ou
convenc-la de que, com seus aliados, deveria negociar uma paz geral. Algumas
semanas depois, em 31 de maro de 1917, o prncipe Sixto de Bourbon deu a
famosa carta do imperador Carlos ao presidente da Repblica. Como a manobra
havia falhado nos lados dos Alpes, tinha de ser tentada em algum outro lugar; na
Inglaterra, na Amrica e em especial, na Itlia... Quebrar as foras temporais da
"Entente", de forma a deter os ataques ofensivos, arruinar seu prestgio moral para
enfraquecer sua coragem e lev-la a negociar; essa foi a poltica de Benedito XV e
todos os esforos da sua imparcialidade sempre foram e ainda so para nos paralisar".
Isso foi escrito por um famoso catlico, Louis Canet; e isto pelo abade Brugerette:
"Ficamos sabendo somente quatro anos depois, atravs das declaraes de Erzberger,
publicadas no Germnia de 22 de abril de 1921, que a proposta de paz defendida
pelo papa em agosto de 1917 havia sido precedida por um acordo secreto entre a
Santa S e a Alemanha".
Outro ponto interessante que o diplomata eclesistico negociador desse "acordo
secreto" era o nncio em Munique, monsenhor Pacelli, futuro Pio XII. Um de seus
apologistas, o jesuta Femesoll, escreveu: "Em 28 de maio de 1917, o monsenhor
Pacelli apresentou suas credenciais ao rei da Bavria. Fez o que pde para se envolver
com a cooperao de William II e o chanceler Bethmann-Holveg. Em 29 de junho,
o monsenhor Pacelli foi solenemente recebido pelo imperador William II em
Kreuznach".

O resultado dessa audincia foi que o futuro papa exerceu por 12 anos as funes de
nncio em Munique, depois em Berlim, de forma que conseguiu, durante aqueles
anos, multiplicar as intrigas que acabaram por derrubar a Repblica Alem
estabelecida aps a Primeira Guerra Mundial e preparar a revanche de 1939 ao levar
Hitler ao poder. Quando os aliados assinaram o Tratado de Versailles, em julho de
1919, estavam to conscientes do papel exercido pelo Vaticano no con ito que este
foi cuidadosamente mantido afastado da mesa de conferncias. Ainda mais
surpreendente foi que o Estado mais catlico, a Itlia, insistiu nessa excluso. 'Atravs
do artigo XV do Pacto de Londres (26 de abril de 1915), que de niu a participao
da Itlia na guerra, o baro Sonnino havia obtido a promessa dos outros aliados de
que se oporiam a qualquer interveno do papado nos acordos de paz."
Essa medida era correta, mas insu ciente. Ao invs de aplicar as sanes contra a
Santa S, que bem as merecia por suas implicaes no comeo da Primeira Guerra
Mundial, os vitoriosos no zeram nada para evitar futuras intrigas dos jesutas e do
Vaticano. Estes, 20 anos depois, levariam o mundo a uma catstrofe ainda pior,
talvez jamais vista.

Preparativos para a Segunda Guerra Mundial



Em 1919, os lhos de Loyola colheram os frutos amargos de sua poltica criminosa.
A Frana no havia sucumbido ao "sangramento prolongado". O imprio apostlico
dos Hapsburgs (que eles tinham encorajado a "punir os srvios") havia se
desintegrado, liberando os eslavos ortodoxos do jugo de Roma. A Rssia, ao invs de
voltar ao rebanho romano, havia se tornado marxista, anticlerical e o cialmente
atesta. Quanto Alemanha invencvel, estava mergulhada no caos. A natureza
arrogante da Companhia, no entanto, nunca consideraria a hiptese de confessar um
pecado. Quando Benedito XV morreu, em 1922, ela estava pronta a recomear sobre
novas bases. Ou no era ela toda-poderosa em Roma?
Vejamos o que diz Pierre Dominique: "O novo papa Pio XI, que , de acordo com
alguns, um jesuta, tenta remendar as coisas e recuperar a Companhia de Jesus.
Enviou o padre jesuta d'Herbigny para a Rssia, em uma tentativa de recuperar tudo
o que tenha sobrado do catolicismo e, especialmente, para ver o que poderia ser feito.
Esperana vaga e grandiosa: recuperar ao pont ce o mundo ortodoxo oprimido. Em
Roma, existem 39 colgios eclesisticos, cuja fundao marca as datas de grandes
contra-ataques; a maior parte deles possui jesutas em sua direo ou trabalhando: Os
Colgios Germnico (1552); Ingls (1578); Irlands (1628, reestabelecido em 1826);
Escocs (1600); Norte-Americano (1859); Canadense (1888); Etope (1919,

reconstitudo em 1930).
"Pio XI criou o Colgio Russo (Ponte cio Collegio Russo di S Teresa dei Bambino
Gesu) e o colocou sob a orientao dos jesutas. Eles tambm eram responsveis pelo
Instituto Oriental, Instituto de So Joo Damasceno, o Colgio Polons e,
posteriormente, o Colgio Lituano. No seriam para lembrar o padre Possevino,
Ivan o Terrvel e o falso Dimitri? O segundo dos trs grandes objetivos durante o
tempo de Igncio tomou o lugar principal. Os jesutas, novamente, foram os agentes
inspiradores e executores daquela grande iniciativa"
Na derrota que acabaram de sofrer, os lhos de Loyola conseguiram ainda enxergar o
brilho de alguma esperana. A Revoluo Russa, pela eliminao do czar, protetor da
Igreja Ortodoxa, no tinha decapitado o grande rival e ajudado a penetrao da Igreja
Romana? No se molda o ferro enquanto ele ainda est quente? O famoso Russicum
foi criado e seus missionrios clandestinos levaram as Boas-Novas a este pas do
cisma.
Um sculo aps a expulso deles pelo czar Alexander I, os jesutas novamente
retornam conquista do mundo eslavo. Desde 1915, o seu prior era Nalke von
Ledochowski. Outra vez, Pierre Dominique: 'Alguns diro que vejo jesutas em
todos os lugares! Sou, no entanto, obrigado a indicar a sua presena e as suas aes;
dizer que eles estavam por detrs da monarquia de Alfonso XIII, cujo confessor era o
padre Lopez. Quando a monarquia espanhola acabou e seus monastrios e colgios
foram incendiados, eles estavam por detrs de Gil Robles. Quando a guerra civil
explodiu, estavam por detrs de Franco. Em Portugal, sustentaram Salazar. Na
ustria e na Hungria, o imperador Charles, o qual j havia sido destronado trs vezes
(que papel eles exerceram nessas tentativas de retomada do trono da Hungria? Quem
sabe...). Eles mantinham a cadeira aquecida sem saber muito bem para quem ou para
o qu. Os monsenhores Seipel, Dolfuss e Schussnig pertenciam s suas leiras.
Sonharam por algum tempo com uma grande Alemanha, a maioria catlica, qual
os austracos necessariamente pertenciam: uma verso moderna da velha aliana do
sculo XVI entre os Wittelsbach e os Hapsburg.
Na Itlia, apoiaram primeiramente Don Sturzo, fundador do Partido popular;
depois Mussolini. O padre jesuta Tacchi Ventun, secretrio-geral da Companhia,
serviu de mensageiro entre Pio XI (cujos confessores eram os jesutas Alissiardi e
Celebrano) e Mussolini. "O papa, em fevereiro de 1929, na poca do Tratado de
Lateran, chamou Mussolini de "o homem que a Providncia nos permitiu conhecer".
Roma no condenou o que foi chamado de "a agresso etope" e, em 1940, o
Vaticano ainda era o amigo sincero de Mussolini. Os jesutas tinham sua residncia
secreta l. Dessa residncia, avaliavam a Igreja com uma viso fria e calculista de
polticos".
Este um resumo perfeito da atividade jesuta entre as duas guerras mundiais. A

"residncia secreta" dos lhos de Loyola era o crebro poltico do Vaticano. Os


confessores de Pio XI eram jesutas; os de seu sucessor, Pio XII, tambm foram
jesutas e alemes, em boa parte. No importa que, por causa disso, a trama casse
evidente: parecia que tudo estava pronto para a vingana.
Sob o ponti cado de Pio XI, temos apenas o perodo dos preparativos. O "brao
secular" germnico, derrotado, havia largado a espada. Enquanto o Vaticano esperava
que a Alemanha voltasse a tomar a espada nas mos, na Europa estava sendo
preparado um campo digno para suas faanhas futuras, obstruindo o surgimento da
democracia.
A Itlia foi o primeiro campo de ao. L existia um lder socialista barulhento, o
qual reunia ex-funcionrios pblicos em torno de si. Demonstrava uma doutrina
aparentemente intransigente, mas era ambicioso e su cientemente lcido para
compreender quo precria era sua posio, apesar de sua arrogncia extravagante. A
diplomacia jesuta logo o trouxe para seu lado.
Fraois Charles-Roux, embaixador francs no Vaticano, diz: Quando o Duce era um
simples deputado, o cardeal Gaspam, secretrio de Estado, teve um encontro secreto
com ele. O lder fascista tinha concordado imediatamente que o papa deveria exercer
uma soberania temporal sobre uma parte de Roma. Quando me relatou essa
entrevista, o cardeal Gasparri concluiu: Com esta promessa, tive a certeza que, se este
homem subisse ao poder, ns o sucederamos. No mencionarei seu relatrio de
negociaes entre os agentes secretos de Pio XI e Mussolini...".
Esses agentes secretos, sendo o principal deles o padre jesuta Tacchi Venturi,
realizaram plenamente sua misso.
No se surpreendam ao saberem que o padre era o secretrio da Companhia de Jesus
e confessor de Mussolini ao mesmo tempo. De fato, ele era "instrudo" a fazer essas
"adulaes" ao lder fascista pelo prior da Ordem, Halke von Ledochowski,
conforme nos diz Gaston Gaillard (22): "A 26 de novembro de 1922, o Parlamento
elegeu Mussolini por 306 votos contra 116 e, no encontro, podia-se ver o grupo
catlico Don Sturzo, supostamente democrata cristo, votando de maneira unnime
a favor do primeiro governo fascista" .
Dez anos depois, a mesma manobra levou a um resultado semelhante na Alemanha.
O Zentrum catlico de monsenhor Kass assegurou, por sua votao macia, a
ditadura do nazismo.
A Itlia tinha sido, em 1922, o campo de testes para a nova frmula do
conservadorismo autoritrio: o fascismo mascarado, quando as condies locais assim
o exigiam, com algum pseudo-socialismo. A partir de ento, todos os esforos dos
jesutas do Vaticano tinham por objetivo espalhar essa "doutrina" na Europa, cuja
ambigidade era muito familiar.
Ainda hoje, o colapso do regime de Mussolini, a derrota e as runas no foram

su cientes para desacreditarem, diante dos democratas cristos italianos, o ditador


megalomanaco imposto sobre seu pas pelo Vaticano. Negado apenas "da boca para
fora", seu prestgio continua intacto nos coraes dos sacerdotes.
Quando Roma sediou as Olimpadas, em 1960, a impresa publicou: "Decidimos
que os visitantes que vm a Roma para os Jogos Olmpicos vero o obelisco de
mrmore erguido por Benito Mussolini para sua prpria glria, pois este domina, da
beira do Tiber, o estdio olmpico. O memorial de 33 metros de altura leva a
inscrio: "Mussolini Dux" 6 decorado com mosaicos e inscries que louvam o
fascismo. A frase "Vida longa ao Duce" repetida mais de cem vezes e o slogan
"Muitos inimigos signi cam muita honra" tambm. O monumento tem, em cada
lado, blocos de mrmore que comemoram os principais eventos do fascismo, da
fundao da publicao Popolo d'Itlia por Mussolini, at o estabelecimento do
curto imprio fascista, e incluindo a guerra na Etipia. O obelisco seria coroado com
uma esttua gigantesca de Mussolini, com quase cem metros de altura, mas o regime
caiu antes que esse estranho projeto pudesse ser acabado. Aps um ano de polmica,
o governo de Segni decidiu que o obelisco do Duce deveria permanecer".
A guerra, o sangue que jorrou, as lgrimas e as runas no importavam. Eram
detalhes, pequenas manchas no monumento erguido para a glria do "homem que a
Providncia nos permitiu conhecer", conforme o decreveu Pio XI. Nenhuma falta,
erro ou crime pode apagar seu principal mrito: o fato de ter restabelecido o poder
temporal do papa, ter proclamado o catolicismo romano como sendo a religio
o cial do Estado, e ter dado ao clero, atravs de leis que ainda hoje vigoram, poder
absoluto sobre a vida da nao.
para atestar isto que o obelisco de Mussolini deve permanecer no corao de
Roma, para benefcio dos turistas estrangeiros que olham com admirao ou ironia, e
na esperana de tempos melhores que permitiriam a construo da esttua de cem
metros de altura, enaltecendo o campeo simblico do Vaticano.
O Tratado de Lateran, pelo qual Mussolini demonstrou sua gratido ao papado,
concedia Santa S, alm do pagamento de um bilho e 750 milhes de libras (mais
de 300 milhes de dlares!), a soberania temporal sobre'o territrio da cidade do
Vaticano. Monsenhor Cristiani, prelado de "Sua Santidade", explica o signi cado
desse evento: "Com absoluta certeza, a Constituio da Cidade do Vaticano era uma
questo de primeira ordem no estabelecimento do papado como um poder poltico".
No vamos perder tempo tentando em vo conciliar esta con sso explcita com a
frase to ouvida de que "a Igreja Romana no se envolve com poltica". S vamos
apontar para a posio nica e singular no mundo de um Estado que secular e
sagrado, de natureza ambgua tambm, e as conseqncias dessa posio.
Quais so os truques habilidosos dos jesutas usados por esse poder que, dependendo
das circunstncias, faz uso do seu carter temporal ou espiritual, para se isentar de

todas as regras de nidas pelas leis internacionais? As prprias naes se deixaram levar
por esses truques e, assim procedendo, favoreceram a penetrao deles em suas
sociedades, dentro do "cavalo de Tria" do clericalismo. "O papa parecia se
identi car demais com os ditadores", escreveu Fraois Charles Roux, embaixador
francs no Vaticano. Poderia ser diferente, se a prpria Santa S era responsvel por
ter levado esses homens ao poder?
Mussolini, o prottipo, inaugurou a srie de homens "providenciais", esses
empunhadores de espada que preparariam a vingana contra a derrota sofrida na
Primeira Guerra Mundial. Da Itlia, onde havia prosperado to bem sob o cuidado
do padre jesuta Tacchi Venturi e seus auxiliares, o fascismo foi logo exportado para
a Alemanha.
"Hitler recebeu seu mpeto de Mussolini; o ideal dos nazistas era o mesmo da Itlia...
Desde que Mussolini subiu ao poder, todas as simpatias foram dirigidas para a
Alemanha. Em 1923, o fascismo se integrou ao nacional-socialismo; Mussolini cou
amigo de Hitler, a quem forneceu braos e dinheiro". Naquela poca, o monsenhor
Pacelli, futuro Pio XII e ento o melhor diplomata da Cria, era o nncio em
Munique, capital da catlica Bavria. L, o comeo do futuro ditador nazista
irrompeu. Ele tambm era catlico, tal qual a maior parte de seus seguidores.
Daquela provncia, bero do nazismo, Maurice Laporte nos diz: "Os seus dois
inimigos se chamavam protestantismo e Democracia".
A angstia da Prssia era, portanto, compreensvel. " fcil imaginar qual o tipo de
cuidado especial que o Vaticano dispensava Bavria, onde o nacional-socialismo de
Hitler recrutava seu mais forte contingente"
Tomar da Prssia "herege" o controle do brao secular alemo e transferi-lo para a
catlica Bavria era um fantstico sonho! Monsenhor Pacelli envidou todos os
esforos para conseguir isso, agindo em comunho com o lder da Companhia de
Jesus. 'Aps a Primeira Guerra (1914-1918), o prior dos jesutas, Halke von
Ledochowski, tinha concebido um plano vasto: a criao, com ou sem imperador
Hapsburg, de uma federao de naes catlicas na Europa Central e no Leste:
ustria, Eslovquia, Bomia, Polnia, Hungria, Crocia e, logicamente, Bavria.
"Este novo Imprio Central teria de lutar em duas frentes: no lado oriental, contra a
Unio Sovitica; no lado ocidental, contra a Prssia, a Gr-Bretanha protestante e a
Frana republicana e rebelde. Naquele momento, o monsenhor Pacelli, futuro Pio
XII, era o nncio em Munique, depois em Berlin, e um amigo ntimo do cardeal
Faulhaber, principal colaborador de Ledochowski. O plano deste ltimo era o sonho
de juventude de Pio XH".
Seria realmente apenas um sonho de juventude? A "Mittel-Europa" que Hitler estava
tentando organizar era muito semelhante quele plano, exceto pela presena, naquele
bloco, de uma Prssia luterana, uma minoria no muito perigosa, e as reconhecidas

reas de in uncia (talvez temporrias) que pertenciam Itlia. Era o plano de


Ledochowski, adaptado s necessidades do momento, que o Fuhrer estava tentando
seguir, sob o patrocnio da Santa S, com a ajuda de Franz von Papen, camareiro
secreto do papa, e do monsenhor Pacelli.
Franois Charles-Roux escreve: "Durante a poca contempornea a poltica mundial
sentiu a interveno catlica mais do que durante o ministrio de monsenhor
Pacelli".
Joseph Roven esclarece: 'Agora, a Bavria catlica vai receber e proteger todos os que
semearam problemas, todos aqueles confederados e assassinos de Saint-Vehme".
Dentre esses agitadores, a escolha dos "regeneradores" da Alemanha recaiu sobre
Hitler, que estava destinado a vencer sobre os "erros democrticos" com o estandarte
do "Santo Papa".
bvio; ele era catlico. "O regime nazista como um retorno ao governo da
Alemanha do Sul. Os nomes e as origens de seus lderes demonstram isso: Hitler
especi camente austraco; Goering bvaro; Goebbels vem do Reno, e assim por
diante".
Em 1924, a "Santa S" assinou um tratado com a Bavria. Em 1927, podemos ler na
Cologne's Gazette: "Pio XI certamente o mais germnico dos papas que j sentou
no trono de So Pedro". Seu sucessor, Pio XII, viria roubar esse ttulo. Por
enquanto, o encontramos seguindo sua carreira diplomtica (ou melhor, carreira
poltica) nessa Alemanha pela qual, como chegou a dizer mais tarde a Ribbentrop,
"ele sempre teria uma afeio especial".
Promovido a nncio em Berlim, trabalhou com Franz von Papen pela destruio da
Repblica de Weimar. Em 20 de julho de 1932, um estado de stio foi proclamado
em Berlim e os ministros expulsos "manu militari". Seria o primeiro passo em
direo ditadura hitleriana. Novas eleies foram preparadas para estabelecer o
sucesso dos nazistas.
"Com a aprovao de Hitler, Goering e Strasser entraram em contato com
monsenhor Kaas, lder do partido de centro catlico".
O cardeal Bertram, arcebispo de Breslau e primaz da Alemanha, declarava: "Ns,
cristos e catlicos, no reconhecemos nenhuma religio ou raa". semelhana de
tantos outros bispos, ele tentou alertar os is contra "o ideal pago dos nazistas".
Obviamente, o cardeal no havia compreendido a poltica papal, mas logo teria
leumas lies sobre o assunto. O Mercure de France apresentou urn excelente estudo
em 1934: "No incio de 1932, os catlicos alemes no consideravam que tivessem
perdido a causa mas, na primavera, seus lderes pareciam de alguma forma indecisos:
Ficaram sabendo que "o papa estava pessoalmente a favor de Hitler".
"Que Pio XI era simpatizante de Hitler algo que no nos surpreende. Para ele, a
Europa poderia se estabelecer apenas pela hegemonia alem. O Vaticano havia

pensado em mudar o centro de gravidade do Reich, atravs de Anschluss, por muito


tempo, e a Companhia de Jesus estava trabalhando abertamente com este m (o
plano de Ledochowski), especialmente na ustria. Sabemos o quanto Pio XI
dependia da ustria para realizar o que chamava de "seu triunfo poltico". O que
deveria ser evitado era a hegemonia da Prssia protestante, tanto quanto o Reich ser o
nico dominador da Europa... um Reich teria de ser reconstrudo onde os catlicos
fossem maioria.
"Em maro de 1933, os bispos alemes se reuniram em Fulda, debatendo sobre as
vantagens que o discurso de Hitler produziu em Potsdam, declarando: "Temos de
admitir que o mais alto representante do governo do Reich, que ao mesmo tempo
era o cabea do movimento nacional-socialista, tem feito pblicas e solenes
declaraes sobre a inviolabilidade da doutrina catlica e seu trabalho, reconhecendo
os imutveis direitos da Igreja...
"Von Papen viveu para Roma; este homem, cujo passado obscuro, veio a ser um
piedoso peregrino, com a misso de concluir a Concordata (para uma Alemanha
totalitria) com o papa. Ele tambm teria de trabalhar em favor de aberturas para
Mussolini em direo ao Vaticano.
De fato, muitos acontecimentos, em ambos os pases: na Itlia, o partido catlico de
Don Sturzo encaminhou a ascenso de Mussolini ao poder; na Alemanha, o
Zentrum do monsenhor Kaas fez o mesmo Para Hitler e, em ambas ocasies, a
Concordata selou o pacto.
M. Joseph Rovan admite o seguinte: 'Agradecemos a Von Papen deputado do
Zentrum desde 1920 e dono do Germnia, publicao o cial do partido. Hitler
chegou ao poder em 30 de janeiro de 1933".
O catolicismo poltico alemo, ao invs de se tornar democrata cristo, foi
eventualmente composto para conferir amplos poderes a Hitler, em 26 de maro de
1933. Para votar a favor de amplos poderes, uma maioria de dois teros era necessria
e os votos do Zentrum foram indispensveis para a sua obteno".
O mesmo autor acrescenta: "Na correspondncia e declaraes dos dignatrios
eclesisticos, sempre encontraremos, sob o regime nazista, a aprovao ardorosa dos
bispos".(36) Tal fervor facilmente explicado quando lemos o seguinte de Von
Papen: "Os termos gerais do Tratado eram mais favorveis do que todos os outros
acordos similares assinados pelo Vaticano, e o chanceler Hitler me pediu para
assegurar ao secretrio de Estado papal (cardeal Pacelli) que ele amordaaria o cl
anticlerical imediatamente".
Esta no era uma promessa vazia. Naquele mesmo ano (1933), alm do massacre de
judeus e assassinatos perpetrados pelos nazistas, havia 45 campos de concentrao na
Alemanha, com 40 mil prisioneiros de diversas opinies polticas mas,
principalmente, liberais.

Franz Von Papen, o camareiro secreto do papa, de niu perfeitamente o profundo


signi cado do pacto entre o Vaticano e Hitler, por esta frase digna de ser
reproduzida: "O nazismo uma reao crist contra o esprito de 1789".
Em 1937, Pio XI, sob presso da opinio pblica, "condenou" as teorias raciais como
incompatveis com a doutrina catlica e seus princpios, no que seus apologistas
curiosamente chamam de a "terrvel" encclica Mit brennender Sorge. O racismo
nazista condenado, mas no Hitler, seu promotor: "Distinguio". E o Vaticano
tomou cuidado em no denunciar o "vantajoso" tratado concludo quatro anos antes,
com o Reich nazista. Enquanto a cruz de Cristo e sustica estavam cooperando na
Alemanha, Benito Mussolini seguiu para a conquista da Etipia, com a bno do
"Santo Papa".
"O Soberano Pont ce no havia condenado a poltica de Mussolini e havia deixado
o clero italiano absolutamente livre para cooperar com o governo fascista. Os
sacerdotes, dos padres de humildes sapatos aos cardeais, falavam em favor da guerra.
"Um dos mais incrveis exemplos veio do cardeal-arcebispo de Milo, Alfredo
Ildefonso Schuster, jesuta, o qual chegou ao ponto de chamar esta campanha de
"uma cruzada catlica".
'A Itlia", esclareceu Pio XI, pensa que essa guerra justi cada por causa de uma
necessidade premente de expanso". Dez dias depois, quando falava a uma platia de
membros das Foras Armadas, Pio XI expressou o desejo de que as necessidades
legtimas de uma nao grande e nobre (da qual ele mesmo descendia e assumia isso),
fossem satisfeitos"
A agresso fascista contra a Albnia, numa sexta-feira de 1939, teria a mesma
compreenso, como nos conta Camille Cianfarra: 'A ocupao italiana da Albnia foi
muito vantajosa para a Igreja. De uma populao de um milho de albaneses, que se
tornaram sditos italianos, 68% eram muulmanos, 20% ortodoxos-gregos e apenas
12% catlicos-romanos. Do ponto de vista poltico, a anexao do pas por um
poder catlico certamente melhoraria a posio da Igreja e agradaria ao Vaticano".
Na Espanha, o estabelecimento da Repblica ainda era sentido pela Cria Romana
como sendo uma ofensa pessoal: "Nunca ousei mencionar a questo espanhola a Pio
XI", escreveu Franois Charles-Roux. "Ele provavelmente teria me lembrado que os
interesses da Igreja, naquela grande e histrica terra da Espanha, era uma questo
exclusivamente para o papado". Assim, esse "campo de caa protegido" acabou sendo
abastecido com um ditador semelhante queles que haviam sido bem sucedidos na
Itlia e na Alemanha. A aventura do general Franco s comeou no meio de julho de
1936, mas em 21 de maro de 1934 o Pacto de Roma havia sido selado entre
Mussolini e os lderes dos partidos reacionrios da Espanha, sendo que um deles era
Goicoechea, lder da Renovao Espanhola. Por esse pacto, o Partido Fascista
Italiano assumia abastecer os rebeldes com dinheiro, armas, soldados e munio.

Sabemos que eles chegaram a fazer mais ainda do que prometeram, e que Mussolini
e Hitler continuaram a abastecer a rebelio espanhola com material, aviao e
"voluntrios". Quanto ao Vaticano, esquecendo-se de seu prprio princpio de que
os is deveriam respeitar o governo estabelecido, pressionou a Espanha com
ameaas. O papa excomungou os chefes da Repblica Espanhola e declarou guerra
espiritual entre a Santa S e Madrid. Editou, ento, a encclica Dilectissimi Nobis. O
arcebispo Goma, novo primaz da Espanha, declarou a guerra civil".
Os prelados de "Sua Santidade" aceitaram os horrores desse con ito fratricida com
alegria, e o monsenhor Gomara, bispo de Cartagena, interpretou de forma admirvel
seus sentimentos apostlicos quando disse: 'Abenoados so os canhes se, nas
brechas que abrem, o Evangelho chegar a ser espalhado!"
O Vaticano chegou at a reconhecer o governo de Franco, em 3 de agosto de 1937,
vinte meses antes do m da guerra civil. A Blgica tambm contou com a ateno da
Ao Catlica que era, nem preciso dizer, uma organizao eminentemente
ultramontana e jesutica. O terreno havia sido preparado para a invasodo Exrcito
do Fuhrer! Assim, sob a pretensa "renovao espiritual", o evangelho hitlerista fascista
era diligentemente pregado ali pelos jesutas, monsenhor Picard, padre Arendt, padre
Foucart e outros. Um jovem belga, vtima deles semelhana de muitos outros,
testi ca isso: "Naquela poca, todos estvamos obcecados com um tipo de fascismo.
A Ao Catlica, qual eu pertencia, era claramente simpatizante do fascismo
italiano. O monsenhor Picard proclamava dos plpitos que Mussolini era um gnio
e que desejava muito a chegada de um ditador... Organizavam-se peregrinaes para
desenvolver contatos com a Itlia e o fascismo. Quando, com 300 alunos, fui
Itlia, todos em nossa volta para casa nos saudmos italiana e cantamos a
Giovineza".
Outra testemunha diz: 'Aps 1928, o grupo de Leon Degrelle colaborava
regularmente com o monsenhor Picard. Este contou com sua ajuda para uma misso
particularmente especial: administrar uma editora dentro da Ao Catlica, que
recebeu um nome que caria famoso: Rex. As exigncias por um novo regime se
multiplicavam. Os resultados dessa propaganda na Alemanha eram observados com
muito interesse.
Em outubro de 1933, um artigo no Vlan lembrava que os nazistas eram apenas sete
em 1919, e que Hitler nada mais deu, alm do talento, para a publicidade. Fundada
em princpios semelhantes, a equipe "rexista" iniciava um programa de propaganda
ativa no pas. Suas reunies logo comearam a atrair algumas centenas, depois
milhares de participantes".
claro que Hitler havia trazido ao recente nacional-socialismo o mesmo que
Mussolini trouxe ao fascismo, muito mais que o talento para a publicidade: o apoio
do papado! No sendo mais que uma plida sombra desses dois, Leon Degrelle, lder

do "Christus Rex", era bene cirio do mesmo apoio, mas para um propsito bem
diferente, pois seu trabalho seria o de abrir o pas ao invasor.
Raymond de Becker diz: "Eu colaborei com a Avant Garde. Esta publicao (editada
por Picard) tinha como objetivo quebrar os laos que uniam a Blgica, a Frana e a
Inglaterra".
Sabemos como foi rpida a vitria do Exrcito alemo sobre a defesa belga, trada
pela "quinta coluna" do clero. Talvez lembremos tambm que o apstolo do
"Christus Rex", em um uniforme alemo, foi "lutar no front do Leste",
acompanhado de muita publicidade e como dirigente de sua "Waen SS", recrutada
principalmente entre a juventude da Ao Catlica. Depois, uma oportuna retirada
lhe deu condies de chegar Espanha. Antes disso, porm, deu vazo total aos seus
sentimentos "patriticos" pela ltima vez.
Maurice de Behaut escreveu: "Dez anos atrs (em 1944), o porto de Anvers, o
terceiro mais importante do mundo, caiu quase intacto nas mos das tropas
britnicas. No momento em que a populao comeava a vislumbrar o m dos
sofrimentos e privaes, a mais diablica inveno nazista caiu sobre eles: as bombas
areas VI e V2. Esse bombardeio, o mais longo da Histria, durou quase seis meses,
dia e noite, cuidadosamente escondido, sob as ordens do comando central dos
aliados. Esta a razo pela qual ainda hoje o martrio das cidades de Anvers e Liege
totalmente ignorado. Na vspera do primeiro bombardeio (12 de outubro), algumas
pessoas ouviram na Rdio Berlin os comentrios alarmantes do traidor "rexista" Leon
Degrelle: "Pedi a meu Fuhrer", exultava, "20 mil bombas areas. Elas castigaro um
povo idiota. Prometo a vocs que farei de Anvers uma cidade sem porto ou um
porto sem cidade". "Daquele dia em diante, o ritmo dos bombardeios iria se
acentuar; as catstrofes e os desastres seriam as conseqncias, enquanto o traidor
Leon Degrelle ficava prometendo na Rdio Berlin cataclismas ainda mais terrveis"
Essa foi a despedida de sua ptria desse produto monstruoso da Ao Catlica. Um
pupilo obediente do monsenhor Picard (jesuta), padre Arendt (jesuta), etc. O chefe
do "Christus Rex" seguiu estritamente as regras papais. "Os homens da Ao
Catlica", escreveu Pio XI, "falhariam em seus encargos se, assim que a ocasio
permitisse, no tentassem dirigir a poltica de sua provncia e de seu pas". Leon
Degrelle cumpriu sua funo e o resultado, como podemos observar, foi
proporcional sua devoo. Lemos no livro de Raymond de Becker: "A Ao
Catlica havia encontrado na Blgica homens excepcionais para orquestrar seus
temas, como o monsenhor Picard (o mais importante) e o cnego Cardjin, fundador
do movimento jocista, um homem de temperamento quente e visionrio".
Este ltimo, em especial, chegou a jurar que nunca "viu ou ouviu" seu companheiro
Leon Degrelle. Assim sendo, estes dois lderes da Ao Catlica belga, ambos
trabalhando sob o controle do cardeal Van Roey, aparentemente nunca se

conheceram! Mas que tipo de "milagre" esse? Claro, o antigo cnego no nos
contaria qual . Desde ento, ele foi elevado a "monsenhor" por Pio XII e diretor dos
movimentos jocistas do mundo inteiro.
Outro "milagre": o monsenhor Cadijn tambm nunca se encontrou com o lder de
pssima reputao dos "Rex" durante o Congresso descrito por Degrelle: "Lembrome do grande congresso da Juventude Catlica em Bruxelas, em 1930. Eu estava
atrs do monsenhor Picard, que por sua vez estava ao lado do cardeal Van Roey.
Cem mil jovens marcharam atrs de ns, por duas horas, aplaudindo as autoridades
religiosas que se reuniam sobre a plataforma". Pois ento onde que se escondia o
lder dos jovens catlicos, cujas tropas estavam tomando parte naquela gigantesca
marcha? Ser que, por um decreto especial da "Providncia", estes dois homens
foram condenados a tropear um no outro e nunca se viram, tanto nas plataformas
o ciais quanto nos centros da Ao Catlica que eles freqentavam to
assiduamente?
Monsenhor Cardijn, jesuta, ainda vai mais longe. Chega a ngir que tambm lutou
"verbalmente" contra o "rexismo". Realmente, essa Ao Catlica era uma
organizao peculiar! No s os lderes de seus dois principais "movimentos" "Juventude Catlica" e "Rex" - brincavam de esconde-esconde nos corredores, mas
tambm um deles poderia dizer que "lutava" contra o que o outro fazia com o pleno
consentimento da "hierarquia"! Este fato no pode ser negado: "Degrelle foi
levantado direo do "Rex" pelo prprio monsenhor Picard, sob a autoridade do
cardeal Van Roey e o nncio apostlico monsenhor Micara. Assim, de acordo com o
monsenhor Cardijn, ele desaprovava incisivamente as aes de seu colega na Ao
Catlica, sob a tutela, tal qual ele prprio, do primaz da Blgica e, sem nenhuma
considerao pelo nncio, seu "protetor e amigo reverenciado", de acordo com Pio
XII".
Esta declarao bastante grave. Ficamos ainda mais alarmados com ela quando
examinamos qual foi a atitude, aps a invaso de Hitler Blgica, daqueles que so
como o monsenhor Cardijn e seus associados e que, "repudiavam" Degrelle e o
"rexismo".
Em um livro (posteriormente "revisado" quando da sua edio), o lder dos "Rex"
trouxe lembranas, como podemos ver e, para o nosso conhecimento, o que foi dito
por ele nunca chegou a ser refutado: "Sendo um cristo fervoroso e habituado s
interpretaes do espiritual e do temporal, no pensaria em colaborar (com Hitler)
sem antes consultar as autoridades religiosas de meu pas. Tinha solicitado uma
entrevista com Sua Eminncia, o cardeal Van Roey. O cardeal me recebeu de forma
amigvel, no palcio episcopal de Malines. Ele estava tomado por um fanatismo
total e absoluto. Se tivesse vivido alguns sculos antes, teria, enquanto cantava a
"Magni cat", colocado os in is na ponta da espada, queimado ou deixado car nos

calabouos dos conventos as ovelhas no muito obedientes de seu rebanho. Como


estamos no sculo XX, s tem seu basto episcopal, mas mesmo assim faz com que
realize um grande trabalho. Para ele, tudo era importante desde que servisse aos
interesses da Igreja. Se era algo bom, apoiava, mas qualquer coisa ruim, ele destrua.
A Igreja tinha tantos canais de servios: suas obras, festas, jornais, cooperativas
agrcolas (Boerenbond) e instituies bancrias, os quais asseguravam o poder
temporal da instituio divina... "E agora, posso dizer honestamente que este era o
sentido dos comentrios do cardeal: "A colaborao era uma coisa adequada a ser
feita; a nica que uma pessoa sensata deveria fazer. Durante toda a entrevista, ele nem
mesmo considerou que aquela atitude no devesse ser tomada. Para o cardeal, no
outono de .1940 a guerra j estaria acabada. Ele sequer mencionou o nome "ingls"
ou sups que uma recuperao aliada fosse vivel... O cardeal no acreditava que,
politicamente, qualquer coisa fosse possvel, alm da colaborao... Ele no fazia
objees a nenhuma das minhas concepes ou dos meus projetos... Ele poderia ou
deveria ter avisado se achasse minhas idias referentes poltica sem propsitos, pois
eu tinha ido para obter seu conselho. Antes de partir, o cardeal me deu sua bno
paternal."
Tambm outros catlicos, no outono de 1940, procuraram pela grande torre de
Saint Rombaut. Muitos entraram no palcio episcopal para pedir o conselho do
monsenhor Van Roey ou de seus assessores, com relao moralidade, utilidade ou
necessidade de colaborao. "Mais de mil burgomestres catlicos, todos os secretrios
gerais, apesar de cuidadosamente escolhidos, se adaptaram imediatamente nova
ordem. Todas as boas pessoas na priso ou insultadas em 1944 devem ter pensado
em 1940: O que Malines pensa sobre isso? Quem poderia imaginar que nem
Malines, nem os bispos, nem os padres tinham sido capazes de descansar suas
mentes? Oito de cada dez colaboracionistas eram catlicos... Durante aquelas
semanas decisivas, por causa da escolha que tinha de ser feita, Malines e outros
bispados chegaram a emitir conselhos negativos por escrito e oralmente, a mim e a
todos os outros colaboracionistas.
Apesar de no muito agradvel, esta a pura verdade. A atitude do alto clero catlico
no estrangeiro s podia fortalecer a convico dos is de que o colaboracionismo era
perfeitamente compatvel com a f. Em Vichy, os mais altos prelados da Frana
tiveram fotos suas tiradas ao lado de Marshal Petain e Pierre Lavai, aps a entrevista
entre Hitler e Petain. Em Paris, o cardeal Baudrillart declarou publicamente que era
um colaboracionista. Na prpria Blgica, o cardeal Van Roey autorizou um dos mais
famosos padres dos Flandres (o intelectual catlico mais importante da regio), o
abade Verschaeve, a declarar em 7 de novembro de 1940, durante uma Sesso solene
do Senado e na presena de um general alemo, o presidente Raeder: "
responsabilidade do Conselho Cultural construir a ponte que unir os Flandres

Alemanha."
Em 29 de maio de 1940, um dia aps a rendio, o cardeal Van Roey descreveu a
invaso como sendo um tipo de presente dos cus: "Estejam certos", escreveu ele, "de
que esto a testemunhar no momento uma interveno excepcional da Providncia
Divina, a qual est exibindo seu poder atravs destes grandes eventos." Assim, aps
tudo isso, Hitler parecia ser nada mais nada menos que um instrumento puri cador
a castigar providencialmente o povo belga".
'Algo semelhante estava acontecendo em outro pas (a Frana), onde ramos
constantemente lembrados de que "a derrota mais frutfera que a vitria" como,
antes de 1914, quando um "sangramento prolongado" e puri cador foi desejado
para a Frana. Nessas lembranas que caram no esquecimento (ou melhor, foram
jogadas na masmorra), tambm podemos encontrar alguns detalhes interessantes com
relao a "Boerenbond", a grande mquina poltica e nanceira catlica do cardeal
Van Roey, que nanciava largamente a seco amenga da Universidade de
Louvain".
"A gr ca Standaard assegurava-se que suas impressoras se mantivessem trabalhando
na impresso de convocaes extremamente colaboracionistas de VN.V (Vlaamsch
Nationalist Verbond). Logo, os negcios comearam a jorrar dinheiro. Sendo 200%
catlica e pilar da Igreja de Flandres, os lderes da Standaard no levariam em
considerao o colaboracionismo a menos que o cardeal tivesse anteriormente dado
sua bno a isso de forma clara e distina. O mesmo foi dito a respeito de toda a
imprensa catlica".
Todos esses esforos tinham por objetivo a quebra da Blgica, conforme nos lembra
outro escritor catlico, Gaston Gaillard: "Os catlicos amengos e os catlicos
autonomistas da Alscia justi cavam sua atitude pelo suporte tcito sempre dado
pela Santa S propaganda alem. Quando se referiam carta memorvel enviada
por Pio XI a seu secretrio de Estado, cardeal Gaspari, no dia 26 de Junho de 1923,
eles foram facilmente convencidos de que a sua poltica tinha a aprovao de Roma e,
logicamente, Roma no fez absolutamente nada para os convencer do contrrio. Ou
o nncio Pacelli (futuro Pio XII) no havia habilmente apoiado os nacionalistas
alemes e encorajado a chamada populao "oprimida" da Alta-Silsia? Os planos
autonomistas da Alscia, EupenMalmedy e Silsia no haviam recebido a aprovao
eclesistica que nem sempre era dada de forma discreta? Foi, portanto, muito fcil
para os amengos esconderem seus feitos contra a unidade da Blgica atrs das
diretivas de Roma"
Tambm em 1942 o papa Pio XII solicitou sua nunciatura em Berlim para enviar
suas condolncias a Paris, por ocasio da morte do cardeal Baudrillart, querendo dizer
com isso que considerava a anexao da Frana do Norte pela Alemanha j um fato.
Tambm con rmou o apoio "tcito" sempre dado expanso germnica pela Santa

S, e por ele em particular.


Hoje podemos sorrir com desdm quando vemos os jesutas de "Sua Santidade"
so smarem sobre algo to bvio e repudiar toda a cumplicidade com a "quinta
coluna" que eles prprios haviam organizado, e especialmente com Degrelle. A ele
(mantido em refgio seguro, pois sabia demais) podemos dedicar os famosos versos
de Ovdio: "Donec eris feliz, muitos numerabis amicos. Tmpora si fuerint nubila,
solus eris". S podemos rir quando lemos o seguinte de R. R Fessard (jesuta): "Em
1916 e 1917, espervamos pelos reforos americanos com muita impacincia! Em
1939 percebemos com tristeza que, mesmo aps a declarao de guerra, Hitler era
visto favoravelmente por uma grande parte da opinio pblica americana; e ainda
mais pelos catlicos! Em 1941 e 1942, ainda cvamos imaginando se os Estados
Unidos iriam ou no intervir".
Assim, parece que o "Bom Papa" via os resultados obtidos na Amrica pelos seus
prprios irmos jesutas "com tristeza"! sabido e provado pela Histria que a
"Frente Crist", um movimento catlico de oposio interveno norte-americana,
era dirigida pelo padre jesuta Coughlin, um ilustre hitlerista. 'A esta santa
organizao no faltava nada e ainda recebia, de Berlim, um grande suprimento de
material de propaganda, preparado pelo escritrio de Goebbels. Atravs de sua
publicao Justia Social e transmisses de rdio, o padre jesuta Coughlin, apstolo
da sustica, alcanava um grande pblico. Ele tambm era responsvel por comandos
secretos nos principais centros urbanos, dirigidos de acordo com os mtodos dos
filhos de Loyola e treinados por agentes nazistas".
Um documento secreto de Wilhelmstrasse esclarece o seguinte aspecto: "Estudando a
evoluo do anti-semitismo nos Estados Unidos, observamos que o nmero de
ouvintes das transmisses radiofnicas do padre Coughlin, famoso por seu antisemitismo, excedia a 20 milhes"
Ser que devemos lembrar que o padre jesuta Walsh, um agente do papa, dicono da
Escola de Cincias Polticas da Universidade de Georgetown, era auxiliar da
diplomacia americana e um dedicado propagandista da poltica alem? Naquela
poca, o prior da Companhia de Jesus era, como se fosse por acaso, Halke von
Ledochowski, um ex-general do Exrcito austraco; ele sucedeu a Wernz, um
prussiano, em 1915.
Fessard tambm se esqueceu que o La Croix escreveu durante toda a guerra, e
especialmente isto: "No h nada a ganhar com uma interveno das tropas do outro
lado do canal e do Atlntico". Tambm no se lembra deste telegrama de "Sua
Santidade" Pio XII: "O papa envia sua bno ao La Croix, a voz do pensamento
papal".
Levando-se em conta tanto esquecimento, deveramos chegar concluso que os
membros da Companhia de Jesus tm uma memria muito curta? Nem mesmo

seus inimigos se atreveriam a dizer uma coisa dessas... melhor dizer que R. P
Fessard expressou seus medos patriticos de 1941-1942 somente em 1957. Suas
"meditaes livres" trouxeram resultados apenas 15 anos depois e ele teve tempo de
reler uma certa passagem dos Exerccios Espirituais, a qual diz ue "o jesuta deve estar
pronto, se a Igreja assim determinar, a ver 0 branco como negro; a concordar com
ela, mesmo se os seus sentidos lhe disserem o oposto".
Nesse aspecto, R. P. Fessard parece ser um excelente jesuta! No dia 7 de maro de
1936, Hitler levou a Wehrmacht regio desmilitarizada do Reno, quebrando,
portanto, o Pacto de Locarno. A11 de maro de 1938, era a Anschluss (unio da
ustria e Alemanha), e a 29 de setembro do mesmo ano, em Munique, a Frana e a
Inglaterra tiveram que admitir a imposio do Reich de anexao da Sudelndia
Tchecoslovquia. O "Fuhrer" chegara ao poder, graas aos votos do Zentrum
catlico, apenas cinco anos antes, mas a maior parte dos objetivos cinicamente
revelados em "Mein Kampf" j tinham sido realizados. Este livro, um desa o
insolente s democracias ocidentais, foi escrito pelo padre jesuta Staemp e e
assinado por Hitler. O fato que muitos ignoram que foi a Companhia de Jesus que
aperfeioou o famoso programa Pan-Germnico de nido neste livro, e o "Fuhrer" o
endossou.

A Agresso Alem e os Jesutas: ustria, Polnia, Tchecoslovquia e


Yugoslvia

Vejamos como a Anschluss foi preparada: Primeiro e por um "providencial"
sincronismo, quando Mussolini assumiu o poder na Itlia, graas a Don Sturzo,
jesuta e chefe do Partido Catlico, o monsenhor Seipel (jesuta) tornou-se o
chanceler da ustria. Manteve-se no posto at 1929, com um intervalo de dois anos
e, durante aqueles anos decisivos, levou a poltica interna da ustria pelos caminhos
reacionrios do clero. Seus sucessores o seguiram na mesma trilha que levaria
absoro daquele pas pelo bloco germnico. A represso sangrenta dos levantes
operrios lhe custaram o apelido de "Keine Mild Kardinal" (o Cardeal Sem
Piedade).
"Nos primeiros dias de maio (1936), Von Papen entrou em negociaes secretas
com o doutor Schussnigg (chanceler austraco). Trabalhando com o seu ponto fraco,
mostrou-lhe como seria vantajosa uma reconciliao com Hitler na medida em que
os interesses do Vaticano estavam em jogo. O argumento pode parecer estranho, mas
Schussnigg era muito devoto, e Von Papen, o camareiro do papa".
Sem ser surpreendente, foi o camareiro secreto que dirigiu todo o caso que acabou

em 11 de maro de 1938 com a demisso do "santo" Schussnigg (pupilo dos


jesutas), em favor de Seyss-Inquart, chefe dos nazistas austracos. No dia seguinte, as
tropas alems entraram na ustria e o governo "fantoche" de Seyss-lnquart
proclamou a unio do pas ao Reich. Esse evento foi recebido com uma declarao
entusistica do arcebispo de Viena, cardeal Innitzer (jesuta). A 15 de maro, a
imprensa alem publicou a seguinte declarao do cardeal Innitzer: "Os padres e os
is devem apoiar sem hesitar o grande Estado alemo, e o Fuhrer cuja luta para
estabelecer o poder, a honra e a prosperidade da Alemanha est de acordo com os
desejos da Providncia".
Os jornais imprimiram uma cpia dessa declarao para dissipar qualquer dvida
sobre sua autenticidade. As reprodues eram pregadas nas paredes em Viena e em
outras cidades austracas. Innitzer tinha escrito, do prprio punho, as seguintes
palavras diante de sua assinatura: "Und Heil Hitler!" Trs dias depois, todo o episcopado austraco dirigiu uma carta aos seus paroquianos. Os jornais italianos
publicaram o texto dessa carta em 28 de maro. Era uma adeso incondicional ao
regime nazista, cujas virtudes eram altamente elogiadas".
O cardeal Innitzer, o mais alto representante da Igreja Romana na ustria, tambm
escreveu em sua declarao: "Convido a todos os chefes de organizaes jovens a
prepararem sua unio para organizao do Reich alemo".
Conforme podemos ver, o cardeal-arcebispo de Viena no tinha s seguido a seu
episcopado, aderindo a Hitler com muito entusiasmo, j as tambm tinha exortado a
juventude "crist" a ser treinada de acordo com os mtodos nazistas.
"Esses mesmos mtodos haviam sido "o cialmente condenados" na "terrvel"
encclica "Mit brennender Sorge"! Posteriormente, o Mercure de France observa com
razo: "Estes bispos no tomaram uma deciso que envolvesse a Igreja como um
todo no seu prprio acordo; a Santa S lhes deu diretivas que eles apenas tiveram de
seguir".
Isso bvio. Que outras "diretivas", no entanto, poderamos esperar desta Santa S
que levou Mussolini ao poder, da mesma forma que Hitler, Franco e, na Blgica,
criou o "Christus-Rex" de Leon Degrelle? "Entendemos porque autores ingleses, a
exemplo de F. A. Ridley, Secker e Warburg, faziam objees poltica de Pio XI,
que favorecia movimentos fascistas por todos os lados".
Quanto Anschluss, Franois Charles-Roux nos conta por que a Igreja estava to
favorvel a ela: "Oito milhes de catlicos austracos unidos aos catlicos do Reich
poderiam fazer um corpo catlico alemo mais capaz de exercer o poder".
A Polnia estava na mesma situao da ustria, quando Hitler, aps t-la invadido,
anexou parte dela com o nome de "Terra do Pai". Eram outros tantos milhes de
catlicos para reforar o contingente alemo sob a obedincia a Roma. A Santa S s
poderia ser a favor de uma coisa dessas, apesar de todo o seu amor pelo seu "amado

povo polons", e no cou de "cara amarrada" ao ver a reagrupao brutal dos


catlicos na Europa Central, que estava de acordo com o plano do prior jesuta,
Halke von Ledechowski.
Os aduladores licenciados do Vaticano continuavam a lembrar aos seus leitores que
Pio XII "protestava" contra a agresso na encclica Summi Pontifcatus. A bem da
verdade, esse documento ridculo era igual aos outros: no chegava a 45 pginas e
havia apenas uma frase no nal que fazia referncia Polnia esmagada por Hitler e
essa pequena aluso era um aviso ao povo polons para que rezasse muito Virgem
Maria!
O contraste chocante entre aquelas palavras de condolncias contritas e as pginas
de adulao dedicadas Itlia fascista e exaltao do Tratado de Laterano, o qual
havia sido assinado pela Santa S e Mussolini, o colaborador de Hitler que, no
momento em que o papa estava escrevendo a encclica, fez um discurso escandaloso,
com uma ameaa ao mundo, e que comeava dizendo: "Liquidata Ia Polnia!"
Quais so, realmente, os riscos de se usar esses libis irrisrios, quando se prega aos
convertidos? Alm disso, quantos deles estavam ansiosos por referncias desse tipo?
Quando estudamos o comportamento do Vaticano nesse caso, o que vemos?
Primeiramente, o nncio em Varsvia, monsenhor Cortesi, incitando o governo
polons a ceder em tudo a Hitler: Dantzig, "o corredor" e os territrios onde as
minorias alems viviam. Depois, quando isso estava feito, tambm vemos o "Santo
Papa" emprestar sua ajuda ao agressor, tentando fazer Paris e Londres rati carem a
amputao de uma grande parte de sua "amada Polnia". Para aqueles que cariam
surpresos com tal comportamento em relao a um pas catlico, citaremos um
precedente famoso: Aps a primeira diviso da Polnia, em 1772, uma catstrofe na
qual as intrigas dos jesutas desempenharam um papel importante, o papa Clemente
XIV, ao escrever imperatriz da ustria, Maria Teresa, expressou sua satisfao
assim: "A invaso e diviso da Polnia no aconteceram por motivos polticos. Era
interessante para o desenvolvimento espiritual da Igreja que a Corte de Viena
estendesse sua dominao sobre a Polnia tanto quanto fosse possvel".
Obviamente, no h nada de novo sob o sol, especialmente no Vaticano. Em 1939
no houve necessidade de modi car uma palavra sequer daquela declarao cnica,
exceto "o desenvolvimento espiritual da Igreja" Que naquele momento, consistia em
vrios milhes de catlicos poloneses se unindo ao Reich. Esse fato explica facilmente
a parcimnia das condolncias papais na Summi Pontificatus.
Na Tchecoslovquia, o Vaticano fez ainda mais: deu a Hitler um de seus prprios
prelados, um camareiro secreto, para que este fosse o dirigente desse Estado satlite
do Reich. A Anschluss tinha feito muito barulho na Europa. A ameaa hitteriana
estava rondando a Repblica da Tchecoslovquia e a guerra se sentia no ar. No
Vaticano, entretanto, ningum parecia preocupado.

Vejamos o que diz Franois Charles-Roux: "No meio de agosto, eu havia tentado
persuadir o papa de que ele deveria falar em favor da paz - uma paz justa, claro.
Minhas primeiras tentativas foram sem sucesso. A partir do comeo de setembro de
1938, no entanto, quando a crise internacional atingiu seu limite, comecei a
perceber, no Vaticano, reaes tranqilizadoras que contrastavam estranhamente com
a situao que se deteriorava rapidamente".(70)
"Todas as minhas tentativas", acrescenta o embaixador francs, "recebiam a mesma
resposta de Pio XI: "Seria intil, desnecessrio, inoportuno". No conseguia entender
sua obstinao em manter o silncio".
Os eventos logo explicariam esse silncio. Antes de tudo foi a anexao da Sudelndia
pelo Reich, com o apoio do Partido Social Cristo, lgico. Essa anexao foi
rati cada pelo acordo de Munique e a Repblica da Tchecoslovquia foi dividida.
Hitler, que tinha se comprometido a respeitar sua integridade territorial, queria na
verdade anexar a regio tcheca independentemente da Eslovquia, e reinar sobre esta
atravs de seu prprio homem de confiana a ser indicado.
Foi fcil para ele alcanar esses objetivos, pois a maior parte dos dirigentes eslovacos
era de sacerdotes catlicos, de acordo com Walter Hagen e, dentre estes, o padre
Hlinka (jesuta) tinha sua disposio Urn "guarda treinado nos princpios da polcia
secreta nazista".
Sabemos que, de acordo com a lei cannica, nenhum padre pode aceitar um posto
pblico ou um mandato poltico sem o consentimento da Santa S. Isso
con rmado e explicado pelo jesuta De Soras: "Como poderia ser diferente? J
dissemos o mesmo anteriormente: um padre, em virtude do "carter" que sua
ordenana lhe concede, em virtude das funes o ciais que exerce dentro da prpria
Igreja, em virtude da batina que veste, obrigado a agir como um catlico, pelo
menos quando uma ao pblica est envolvida. Onde o padre estiver, l estar a
Igreja".
Foi, portanto, com o consentimento do Vaticano, que os membros do clero se
sentaram no Parlamento tchecoslovaco. Ainda mais, um desses padres teve de obter a
aprovao da Santa S quando o prprio "Fuhrer" o designou para a posio de
chefe-de-governo e posteriormente lhe conferiu as mais altas distines hitleristas: as
condecoraes da Cruz-de-Ferro e da guia Negra. Como j dissemos, em 15 de
maro de 1939 Hitler anexou o resto da Bomia e da Morvia, e ps a Repblica da
Eslovquia (que havia sido criada com um rabisco de caneta) "sob sua proteo". No
governo, colocou o monsenhor Tiso (jesuta), "que sonhava em combinar o
catolicismo e o nazismo".
Uma "nobre ambio" e facilmente realizada, pois j tinha sido aprovada pelos
episcopados da Alemanha e da ustria. "O catolicismo e o nazismo", proclamava o
monsenhor Tiso, tm muito em comum; trabalham de mos dadas para reformar o

mundo". Tal deve ter sido tambm a opinio do Vaticano pois, apesar da "terrvel"
encclica Mit brennender Sorge, no perdeu tempo e nm tentou regatear sua
aprovao ao padre chefe-de-governo. Em junho de 1940, a Rdio Vaticano
anunciava: A declarao de monsenhor Tiso, chefe do Estado eslovaco, a rmando
sua inteno de construir a Tchecoslo-vquia de acordo com um plano cristo, tem a
plena aprovao da Santa S".
"O regime de Tiso, na Tchecoslovquia, foi especialmente a itivo para a Igreja
Protestante daquele pas, que correspondia a uma quinta parte da populao. O
monsenhor Tiso tentou reduzir a in uncia protestante a seu mnimo, e at mesmo
elimin-la. Membros in uentes da Igreja Protestante foram mandados para campos
de concentrao". Estes ainda poderiam se achar com sorte, se considerarmos esta
declarao do prior jesuta Wernz, um prussiano (1906-1915): "A Igreja pode
condenar hereges morte, pois quaisquer direitos que venham a ter s lhes podem
ser atribudos devido nossa clemncia".
Vejamos agora que tipo de "gentileza apostlica" foi usada pelo prelado Tiso com
relao aos judeus: "Em 1941, o primeiro contingente de judeus da Tchecoslovquia
e da Alta-Silsia chega a Auschwitz. Desde o comeo, aqueles que no eram capazes
de trabalhar eram mandados para as cmaras de gs, em um salo do prdio onde
cavam os fornos crematrios". Quem escreveu isto? Uma testemunha que no
podia ser desa ada, Lord Russel de Liverpool, um conselheiro jurdico nos
julgamentos de crimes de guerra.
Assim sendo, a Santa S no havia "emprestado" um de seus prelados a Hitler em
vo. O chefe-de-Estado jesuta estava fazendo um bom trabalho e a satisfao
manifestada pela Rdio Vaticano era compreensvel. Ser o primeiro a abastecer
Auschwitz, que glria para este homem "sagrado" e para toda a Companhia de Jesus!
De fato, a este triunfo no faltava nada. No momento da Libertao, este prelado foi
entregue pelos americanos Tchecoslovquia, condenado morte em 1946 e
enforcado - a vitria, para o "mrtir"!
"Qualquer coisa a ser feita contra os jesutas, faremos por causa de nosso amor por
esta nossa grande nao. O amor por nossos companheiros e o amor pelo pas tm
levado a uma luta frutfera contra os inimigos do nazismo" .
Outro alto dignatrio da Igreja Romana, em um pas vizinho poderia ter-se
apropriado dessa declarao do monsenhor Tiso para si. Se as fundaes da "Cidade
de Deus" eslovaca eram o dio e a perseguio, de acordo com a longa tradio da
Igreja, o que podemos dizer do eminente Estado catlico da Crocia, lho da
colaborao entre o assassino Pavelitch e monsenhor Stepinac, e com a assistncia do
legado papal Marcone?
Teramos que olhar para trs at chegarmos s conquistas do Novo Mundo, reunir
todas as aes dos aventureiros das cortes e dos no menos ferozes monges da

converso para encontrar algo que se possa comparar s atrocidades daqueles


"Oustachis", sustentados, comandados e assessorados por aqueles sacerdotes loucos e
fanticos. O que esses "assassinos em nome de Deus" (como eram to bem
apelidados por Herv Laurire) zeram por mais de quatro anos desa a toda a
imaginao, e os anais da Igreja Romana, apesar de to ricos nesse tipo de material,
no poderiam exibir nada semelhante ocorrido na Europa. Precisamos acrescentar
que o amigo ntimo desse sangrento Ante Pavelitch era monsenhor Stepinac, outro
jesuta?
A organizao terrorista croata dos "Oustachis", dirigida por Pavelitch, veio a ser
conhecida pelo povo francs quando do assassinato, em Marselha, do rei Alexandre I,
da Yugoslvia, e do ministro de Assuntos Externos da Frana, Louis Barthou, em
1934. "Como o governo de Mussolini estava claramente tambm envolvido no
crime(79), a extradio de Pavelitch, que tinha se refugiado na Itlia, foi solicitada
pelo governo francs; o Duce obviamente no fez caso e a sesso do Tribunal
Superior de Aix-en-Provence havia imposto a sentena de morte por ausncia para o
lder dos "Oustachis". Esse dirigente de terroristas, contratado por Mussolini,
"trabalhou" pela expanso italiana na costa do Adritico. Quando, em 1941, Hitler e
Mussolini invadiram e dividiram a Yugoslvia, esse suposto patriota croata foi posto
por eles no governo de um Estado satlite criado por eles com o nome de "Estado
Independente da Crocia".
A 18 de maio do mesmo ano, em Roma, Pavelitch ofereceu a coroa daquele Estado
ao duque de Spoleto, o qual assumiu o nome de "Tomislav II". claro que ele
tomou o cuidado de nunca pr os ps naquela terra manchada de sangue do seu
pseudo-reino. "No mesmo dia, Pio XII concedeu uma audincia privada a Pavelitch
e seus "amigos", um dos quais monsenhor Salis-Sewis, vigrio-geral do monsenhor
Stepinac. 'A Santa S no temeu apertar a mo de um assassino, sentenciado morte
pelo assassinato do rei Alexandre I e de Louis Barthou, um lder de terroristas que
tinha os crimes mais horrveis na sua conscincia! A 18 de maio de 1941, quando Pio
XII recebeu alegremente Pavelitch e sua "gang" de assassinos, o massacre dos croatas
ortodoxos estava em seu ponto mximo, tanto quanto as converses foradas ao
catolicismo".
Era a minoria servia da populao que eles procuravam, conforme o autor Walter
Hagen explica: "Graas aos "Oustachis", o pas logo se transformaria em um caos de
sangue. O dio mortal dos novos senhores era dirigido aos judeus e aos srvios, os
quais eram o cialmente considerados criminosos. Vilas inteiras, at mesmo regies
inteiras foram sistematicamente destrudas. Como a tradio antiga queria a f
catlica e a Crocia (enquanto a Srvia e a Igreja Ortodoxa eram sinnimos), os is
ortodoxos eram obrigados a entrar para a Igreja Catlica. Essas converses
compulsrias constituram a realizao da "croatizao".

Andrija Artukovic, ministro do Interior, era o grande organizador desses massacres e


converses compulsrias. Enquanto fazia isso, ele se defendia "moralmente", de
acordo com uma testemunha de alta patente. Quando o governo iugoslavo pediu sua
extradio dos Estados Unidos (onde estava refugiado), algum veio a seu favor: o
jesuta Lackovic, tambm residente nos Estados Unidos, e secretrio do monsenhor
Stepinac, arcebispo de Zagreb durante a ltima guerra.
'Artukovic", a rma o jesuta, "foi o porta-voz leigo do monsenhor Stepinac. Entre
1941 e 1945, sequer um dia se passou sem que ele viesse ao meu escritrio ou eu
fosse ao dele. Ele pedia o aconselhamento do arcebispo em todas as suas aes, no
que respeitava aos seus aspectos morais".
Quando conhecemos as "aes" desse carrasco, podemos imaginar que tipo de
conselho "edi cante" o monsenhor Stepinac lhe dava. Os massacres e as "converses"
aconteceram at a Libertao, e a boa vontade do "Santo Papa" em relao aos
assassinos nunca chegou a se alterar.
Devemos ler, nos jornais catlicos croatas da poca, as trocas de elogios entre Pio XII
e Pavelitch, o "Poglavnik", a quem o monsenhor Saric, arcebispo jesuta de Sarajevo
e poeta nos tempos livres, dedicou versos impregnados de uma adorao entusistica.
Isso era apenas uma demonstrao de "boas maneiras": "O monsenhor Stepinac
tornou-se membro do Parlamento "Oustachi".(82) Veste as prendas "Oustachi", est
presente em todas as manifestaes "Oustachi" importantes nas quais chega a fazer
discursos. Podemos ento imaginar o respeito devido ao monsenhor Stepinac pelo
Estado satlite da Crocia? Ou como suas virtudes eram elogiadas pela imprensa
"Oustachi"? evidente que sem o apoio de monsenhor Stepinac, no aspecto
religioso e poltico, Ante Pavelitch nunca teria obtido a colaborao dos croatas
catlicos a tal nvel.(83) A m de compreendermos plenamente essa colaborao,
devemos ler a imprensa catlica croata, o Katolicki Tjednik, o Katolicki List, o
Hrvatski Narod, e tantas outras publicaes que competiam entre si para adularem o
sangrento "Poglavnik".
Pio XII estava muito satisfeito por ser um "catlico praticante", e a alta estima do
"Soberano Pont ce" se estendia at mesmo aos seus cmplices. O Osservatore
Romano nos informa que, em 22 de julho de 1941, o papa recebia cem membros da
Polcia de Segurana da Crocia, liderados pelo chefe da polcia de Zagreb, Eugen
Kvaternik Dido. Esse grupo da SS croata, o mais representativo grupo dos carrascos e
torturadores que operavam nos campos de concentrao, foi apresentado ao "Santo
Papa" por algum que cometera crimes to monstruosos que levou a prpria me ao
suicdio, devido a0S sucessivos desgostos.
A boa vontade de Sua Santidade Pio XII fcil de ser explicada pelo cuidado
apostlico destes assassinos. Outro "catlico praticante", ]Vlile Budak, ministro do
Culto, exclamava em agosto de 1941, em Karlovac: "O movimento "Oustachi" est

baseado na religio. Todo nosso trabalho se apoia na lealdade religio e Igreja


Catlica".
Alm disso, em 22 de julho, em Gospic, o mesmo ministro do Culto tinha de nido
perfeitamente esse trabalho: "Mataremos alguns srvios, deportaremos outros, e o
restante ser obrigado a abraar a religio catlica romana". Este belo programa foi
executado "ao p da letra".
Quando a Libertao ps um m a essa tragdia, 300 mil srvios e judeus haviam
sido deportados e mais de 500 mil massacrados. Atravs desses meios, a Igreja
Romana havia feito 240 mil is ortodoxos serem incorporados ao seu rebanho, mas
que rapidamente voltaram religio de seus ancestrais quando sua liberdade foi
restaurada. Para a obteno desses resultados ridculos, no entanto, quantos horrores
caram sobre aquele pas desafortunado! Deve-se ler, no livro de Herv Laurire,
Assassinos em Nome de Deus, os detalhes das torturas monstruosas que estes
catlicos praticantes chamados de Oustachis impuseram s suas pobres vtimas.
O jornalista ingls J. A. Voigt escreveu: "A poltica croata consistia em massacres,
deportaes ou converses. O nmero daqueles que eram massacrados chegava a
centenas de milhares. Os massacres eram acompanhados pelas torturas mais
selvagens. Os "Oustachis" arrancavam os olhos de suas vtimas e faziam guirlandas
com eles, usando-as e presenteando-as como lembranas". "Na Crocia, os jesutas
^plantaram o clericalismo poltico".
Esse o presente invariavelmente dado pelos jesutas aos pases que os recebem bem.
O mesmo autor acrescenta: "Com a morte do grande tribuno croata, Raditch, a
Crocia perdeu seu prncipe oponente ao clericalismo poltico que envolvera a misso
da Ao Catlica de nida por Friedrich Muckermann. Este jesuta alemo conhecido
antes do advento de Hitler, tornou isso pblico, em 1928' em um livro cujo
prefcio foi escrito pelo monsenhor Pacelli (ento nncio apostlico em Berlim).
Muckermann se expressa da seguinte forma: "O papa apela em favor da nova cruzada
da Ao Catlica. Ele o guia que carrega o estandarte do Reino de Cristo. A Ao
Catlica signi ca a reunio do mundo junto ao catolicismo. Ela deve viver o seu
momento herico. A nova poca pode ser atingida em Cristo apenas pelo preo do
sangue".
Dez anos depois, aquele que escrevera o prefcio do livro do padre jesuta
Muckermann sentou-se no "trono de So Pedro" e, durante o seu ponti cado, o
"sangue de Cristo" literalmente escorreu pela Europa; a Crocia, entretanto, sofreu os
mais horrveis desastres daquela "nova poca". Ali, no s os padres advogavam a
carni cina do plpito, mas tambm chegaram a marchar com os dirigentes dos
assassinos. Outros mantinham, alm de seus ministrios sagrados, postos o ciais de
prefeitos ou chefes da polcia "Oustachi", sendo at mesmo responsveis por campos
de concentrao, onde os horrores no eram superados nem mesmo por Dachau ou

Auschwitz.
Para essa lista sangrenta de honrarias, devemos adicionar os nomes do abade Bozidar
Bralo, o padre Dragutin Kamber, os jesutas Lackovic e o abade Yvan Salitch; os
secretrios do monsenhor Stepinac, o padre Nicolas Bilogrivic e outros, e numerosos
franciscanos; sendo que um dos piores foi o irmo Miroslav Filipovitch, principal
organizador daqueles massacres, chefe e carrasco no campo de concentrao de
Jasenovac, o mais terrvel desses infernos terrestres.
O destino do irmo Filipovitch foi o mesmo do monsenhor Tiso, na Eslovquia:
quando nalmente veio a Libertao, ele foi enforcado, vestindo o seu hbito.
Muitos de seus rivais, no muito ansiosos por lhe tomarem o smbolo de mrtir,
escaparam para a ustria, juntamente com os assassinos que eles to bem haviam
ajudado.
O que, entretanto, estaria fazendo a "hierarquia", quando foi confrontada com o
frenesi sedento de sangue daqueles que estavam sOb suas ordens? A "hierarquia", ou
seu episcopado e seu lder, monsenhor Stepinac, votou no Parlamento "Oustachi"
pelos decretos referentes converso dos ortodoxos ao catolicismo; enviou
"missionrios" aos aterrorizados camponeses; "converteu", sem titubear, vilas inteiras;
incorporou bens da Igreja Ortodoxa Srvia e lanou sem cessar bnos e louvores
sobre Poglavnik, copiando o exemplo j firmado pelo papa Pio XII.
"Sua Santidade" Pio XII estava representado pessoalmente em Zagreb por um monge
eminente, Marcone. Este "Sancti Sedis Legatus" recebia o lugar de honra em todas as
cerimnias do regime "Oustachi", e tinha ele mesmo se fotografado na casa do lder
dos assassinos, Pavelitch, com sua famlia, que o havia recebido na condio de
amigo. Assim, a mais sincera cordialidade sempre reinou nas relaes entre os
assassinos e os eclesisticos; logicamente, muitos desses eclesisticos mantiveram
ambas as funes, pelas quais nunca foram acusados de nada. "Os ns justi cam os
meios".
Quando Pavelitch e seus quatro mil "Oustachis" (que incluam Saric, um jesuta, o
bispo Garic e 400 sacerdotes) saram de cena com suas realizaes para a ustria,
primeiro, depois Itlia, deixaram para trs parte de seu "tesouro": lmes, fotogra as,
discursos gravados de Ante Pavelitch, caixas cheias de jias, anis de casamento,
dentes de ouro e platina. Esse esplio, tomado dos pobres infelizes assassinados, foi
escondido no palcio episcopal onde posteriormente vieram a ser descobertos.
Quanto aos fugitivos, tiraram vantagem da "Assistncia da Comisso Ponti cai",
criada expressamente para salvar pessoas dos crimes de guerra. Essa caridosa
instituio os escondia em conventos, Principalmente na ustria e na Itlia, e
fornecia aos lderes passaportes falsos que os permitiam ir a outros pases de forma
"amigvel" onde poderiam usufruir dos frutos do roubo em paz. Isso aconteceu com
Ante Pavelitch, cuja presena na Argentina foi revelada em 1957 por um atentado

contra sua vida no qual cou ferido. Desde ento o regime ditatorial comeou a cair
em Buenos Aires. Como o prprio ex-presidente Pern, seu protegido teve de
abandonar a Argentina. Do Paraguai (para onde foi em primeiro lugar), ele chegou
Espanha, onde morreu em 28 de dezembro de 1959, no hospital alemo de Madrid.
Nessa ocasio, a imprensa francesa lembrou sua carreira sangrenta e, mais
discretamente, os "cmplices poderosos" que o ajudaram a escapar da punio.
Sob o ttulo "Belgrado exigiu a extradio em vo", lemos no Le Monde: 'A curta
notcia publicada na imprensa esta manh reavivou, no povo iugoslavo, as
lembranas de um passado cheio de sofrimento e amargura por aqueles que, ao
esconderem Ante Pavelitch, por quase 15 anos, obstruram o curso da justia". Paris
Presse mostra o ltimo abrigo oferecido ao terrorista com esta frase curta, mas
signi cativa: "Ele acabou seus ltimos dias no mosteiro franciscano de Madrid". Foi
de l que Pavelitch foi levado ao hospital, onde veio a pagar as suas dvidas pela
natureza, e no pela justia, objeto de zombaria daqueles "cmplices poderosos" que
so fceis de se identificar.
O monsenhor Stepinac, que tinha, conforme suas prprias palavras, uma
"conscincia tranqila", cou em Zagreb, onde foi julgado em 1946. Condenado a
trabalhos pesados, na verdade s foi levado a residir em sua vila de origem. A pena
foi fcil de suportar, como podemos ver, mas a Igreja precisa de mrtires. O
arcebispo de Zagreb foi ento transformado em membro da corte sagrada, em vida,
por Pio XII, que se apressou a conferir-lhe o ttulo de cardeal, ern reconhecimento
"de seu apostolado que demonstrava o mais puro brilho".
Devemos observar uma "reversibilidade de mritos". Se este fosse o caso, o
direito ao cardinalato do monsenhor Stepinac no poderia ser contestado. Na diocese
de Gornji Karlovac, parte de seu arcebispado, de 460 mil ortodoxos que ali viviam,
50 mil conseguiram escapar para as montanhas; 50 mil foram mandados para a
Srvia; 40 mil "convertidos" ao catolicismo, atravs de um regime de terror, e 280
mil massacrados".
A 19 de dezembro de 1958, lemos no Catholic France: "A m de exaltar a grandeza
e o herosmo de Sua Eminncia, o cardeal Stepinac, uma grande reunio ser
celebrada no dia 21 de dezembro de 1958, s 16 horas, na cripta de Sainte-Odile - 2,
Avenue Stphane-Mallarm, Paris 17. Ser presidida por Sua Eminncia, o cardeal
Feltin, arcebispo de Paris. O senador Pezet e o padre reverendo Dragoun, reitor
nacional da Misso Croata na Frana, tomaro parte. Sua Excelncia, o monsenhor
Rupp, celebrar a missa e a comunho".
Esta foi a forma pela qual uma nova gura, e no a menos importante, ou seja, o
cardeal Stepinac, veio a enriquecer a galeria dos Grandes Jesutas. Outro objetivo
dessa reunio de 21 de dezembro de 1958, na cripta de Sainte-Odile, era "lanar" um
livro escrito em defesa do arcebispo de Zagreb, pelo prprio Dragoun; o monsenhor

Rupp, coadjutor do cardeal Feltin, escrevia o prefcio. No podemos realizar uma


anlise completa, mas diremos o seguinte: O livro O Dossier do Cardeal Stepinac
promete ao leitor uma exposio objetiva do julgamento de Zagreb. Nesse volume
de 285 pginas encontramos os discursos completos de dois advogados do arcebispo,
acompanhados ^e observaes extensas do autor, mas nem a prpria acusao, nem o
discurso da promotoria so mencionados, sequer de passagem.
Sua adulao de Pavelitch e de seu regime de sangue. Nem tinha le nenhuma
autoridade, como a rmam, sobre os bispos "Oustachi" Sacric, Garic, Aksamovic,
Simrak, etc, que louvavam o Poglavnik e aplaudiam os seus crimes, nem sobre os
"expedicionrios" da Ao Catlica, verdadeiros auxiliares dos "Oustachi" que faziam
as converses, nem mesmo sobre os franciscanos assassinos e nem sobre as freiras de
Zagreb, que marchavam atrs levantando suas os, moda de Hitler. Que estranha
"hierarquia" essa, que no delega a autoridade a ningum nem a nada! O fato dele se
sentar, com outros dez padres catlicos, no "Sabor" (o Parlamento Oustachi) no
compromete o arcebispado, ou pelo menos, presumimos, que isso deva ser
simplesmente ignorado.
No deveramos reprov-lo nem por sua presidncia sobre as Conferncias
Episcopais, nem sobre o Comit para a aplicao do decreto referente converso
dos ortodoxos. Nesta apologia, o pretexto "humanitrio" de ter feito tantos entrarem
para a Igreja Catlica pela fora est plena e habilmente explicado.
Lemos o seguinte, em relao ao "difcil dilema" com o qual se defrontava o
monsenhor Stepinac: "Sua obrigao pastoral era de manter intactos os princpios
cannicos mas, por outro lado, os dissidentes que se recusavam a abraar o
catolicismo eram massacrados; assim, ele abrandou a severidade das regras." Ficamos
ainda mais desnorteados quando lemos um pouco depois: "Ele tentou resolver esta
questo dramtica com uma carta circular de 2 de maro de 1942, na qual ordena os
padres a identi carem claramente os motivos da converso". Este , sem dvida, um
mtodo peculiar de "abrandar a severidade das regras" e resolver "esta questo
dramtica"!
O monsenhor Stepinac estaria abrindo ou fechando as portas da Igreja Romana aos
falsos convertidos? Seria absolutamente impossvel descobrir, se lssemos apenas o
discurso da defesa. Os apologistas do arcebispo parecem escolher o "fechar"; no
entanto, guando declaram: "Os casos de rebatismo eram muito raros no territrio da
arquidiocese de Zagreb".
Dragoun parece ignorar o provrbio francs "Qui n'entend qu'une cloche n'entend
qu'un son" (h sempre dois lados para cada histria) a menos, verdade, que ele saiba
isso at bem demais! Sendo assim' essa obliterao (supresso) sistemtica do outro
lado da histria seria su ciente para fechar o debate. Vamos considerar, no entanto as
boas razes invocadas para a inocncia do bispo de Zagreb. Antes de tudo, porm, o

monsenhor Stepinac era de verdade o prelado metropolitano da Crocia e da


Eslovnia? O livro de Dragoun no responde a esta pergunta. Em suas pginas,
podemos ver o seguinte, das prprias declaraes de Stepinac diante do tribunal: 'A
Santa S enfatizou que as pequenas naes e as minorias nacionais tm o direito de
serem livres. No deveria eu, como "bispo e prelado metropolitano", ter o direito de
discutir isto?" Quanto mais lemos, menos entendemos!
No faz mal! Como somos lembrados repetidamente, o monsenhor Stepinac no
poderia in uenciar de forma alguma o comportamento de seu rebanho e do clero.
Para aqueles que trazem tona os artigos da imprensa catlica louvando as realizaes
de Pavelitch e seus assassinos contratados, eles responderam assim: " simplesmente
ridculo tornar o monsenhor Stepinac responsvel pelo que um jornal escreveu".
Mesmo quando este jornal era o Katolicki List, a mais importante publicao
catlica em Zagreb, diocese do monsenhor Stepinac! Nessas condies, no nos
incomoda mencionar o Andjeo Cuvar (O Anjo da Guarda), pertencente aos
franciscanos, o Glasnik Sv. Ante (A Voz de Santo Antnio) dos conventuais, o
Katolicki Tjednik (O Semanrio Catlico de Sarajevo), o bispo Saritch, nem,
lgico, o Vjesnik Pocasne Straze Srca Isusova (A Publicao da Guarda de Honra do
Corao de Jesus), pertencente aos jesutas.
Estas poucas linhas do dossi, no entanto, so muito mais esclarecedoras: "O prprio
promotor, em seu processo de indiciamento, cita o Secretrio de Estado da Santa S,
cardeal Maglione, que havia, ern 1942, aconselhado o arcebispo Stepinac a
estabelecer relaes mais cordiais e sinceras com as autoridades "Oustachi". Isto
suficiente para colocar um ponto final em qualquer outra evasiva.
As ligaes entre o Vaticano e os assassinos da Oustachi so claras. A prpria Santa S
incentivava o monsenhor Stepinac a colaborar com eles, e o representante pessoal de
Pio XII, ao tomar o seu lugar junto mesa de Pavelitch, estava simplesmente
seguindo as instrues papais letra: sinceridade e cordialidade nas relaes com os
assassinos dos fiis ortodoxos, judeus e protestantes.
Isso no nos surpreende! O que, no entanto, os jesutas pensam, pois a rmam
obstinadamente que a cooperao constante dada pelos prelados aos ditadores era
uma "opo" inteiramente pessoal, e no determinada pelo Vaticano?
Quando o cardeal Maglione enviou as recomendaes acima mencionadas ao
arcebispo de Zagreb, isso seria sua "opo pessoal" a ser exprimida, sob o selo do
secretrio de Estado? A prova da conivncia entre a Santa S e os "Oustachis"
fornecida por Dragoun, que j foi mencionada, coloca um ponto final neste captulo,
mas aqui surge uma nova con rmao dos sentimentos "evanglicos" que oresciam,
e ainda orescem, entre os is da Igreja Catlica Croata em relao aos srvios
ortodoxos. A "Federation Ouvrire Croate en France" (Federao dos Trabalhadores
Croatas na Frana) enviou um convite para a reunio solene organizada para o

domingo, 19 de abril de 1959, na sede da Confederao Geral dos Trabalhadores


Cristos, em Paris, para celebrar o 18e aniversrio da fundao do Estado croata
"Oustachi". Dizia: 'A cerimnia comear com a santa missa na Igreja de
NotreDame-de-Lorette". O leitor, entretanto edi cado pelo "santo" comeo do
convite, cava ainda mais perplexo quando, em seguida, via a seguinte exortao:
"Morte aos srvios!"
Assim, este documento no to banal expressa os pesares por no se ver mais destes
"irmos em Cristo" mortos. O livro de Dragoun, reitor da Misso Croata na Frana,
sugere que as boas-vindas dadas pelos franceses catlicos aos refugiados croatas no
foram suficientemente calorosas.
Considerando os documentos mencionados, esta falta de "compreenso" no deixa
de ter a sua lgica; camos felizes de ver que os catlicos franceses, apesar dos
inmeros convites, mostrem pouca simpatia pela forma de piedade em que o
chamamento dos assassinos caminha de mos dadas com a "santa missa", na melhor
tradio romana e "Oustachi". Ficaramos ainda mais contentes se tais convites
sedentos de sangue no fossem autorizados para impresso e distribuio na prpria
Paris.
A 10 de fevereiro de 1960, o infame arcebispo de Zagreb, Alois Stepinac, morreu em
sua vila natal de Karlovice, onde havia sido obrigado a residir. Sua morte deu ao
Vaticano a oportunidade de organizar uma das suas manifestaes espetaculares pelas
quais preza. Nessa ocasio, muito j havia sido feito pelo Vaticano; muitos catlicos,
entretanto, no tinham mais iluses no que se referia ao "caso" Stepinac. Assim a
Santa S se superou ao dar a esta apoteose toda a pompa possvel.
O Osservatore Romano e toda a imprensa catlica dedicaram colunas aos louvores
entusisticos feitos ao "mrtir", seu "testamento espiritual" e aos discursos de Sua
Santidade Joo XXIII, proclamando "seu respeito e afeio sobrenatural"; estes eram
os motivos que o induziram a dar a este cardeal (que no fazia parte da Cria) as
honras de um ritual solene em So Pedro, em Roma, onde ele prprio lhe concedeu
a absolvio geral. E, para completar esta glori cao, a imprensa anunciou a sua
beatificao preparada para breve.
Infelizmente, as estatsticas nos contam o contrrio, como dissemos anteriormente:
"S na diocese de Gornji Karlovac, parte do arcebis-pado de Zagreb, 40 mil pessoas
foram rebatizadas".
evidente que tais resultados s poderiam ser obtidos atravs de converses em
massa de vilas inteiras, tal como em Kamensko exatamente na mesma arquidiocese
do monsenhor Stepinac, onde 400 ovelhas desgarradas voltaram ao rebanho romano
em um dia, "espontaneamente e sem qualquer tipo de presso por parte das
autoridades civis ou eclesisticas".
Por que, ento, esconder estes nmeros? Se estas converses fossem verdadeiramente

devidas aos sentimentos "caridosos" do clero catlico da Crocia, e no explorao


cnica do terror, eles deveriam ter cado orgulhosos disso. A verdade que o vu
jogado sobre estas infmias, em uma tentativa de esconde- Ias, transparente para
acobertar Stepinac; outros teriam de ser desvendados: os bispos Saric, Garic, Simrak;
os padres Bilogrivic, Kamber, Bralo e seus comparsas -os franciscanos e jesutas
teriam que ser descobertos e, nalmente, a Santa S. Tambm poderamos deixar
este estranho arcebispo desfrutar de sua "conscincia tranqila", este primaz da
Crocia supostamente despido de qualquer autoridade, que chamava a si mesmo de
"prelado metropolitano", quando na verdade no o era e que, para coroar o
paradoxo, abria as portas quando as estava fechando.
Ao lado deste "fantstico" prelado, entretanto, havia outro, consistente e corpulento,
Marcone, o representante pessoal de Pio XII. Ser que este "Sancti Sedis legatus"
tambm era destitudo de qualquer autoridade sobre o clero croata? Ningum sabe!
O "dossi" to bem expurgado no faz qualquer meno a esta "grande pessoa";
poderamos at ignorar a sua existncia se no tivssemos outras fontes de
informao, a exemplo das fotos que o mostram realizando missas na catedral de
Zagreb, entronado, no meio do Estado-Maior do "Oustachi" e, acima de tudo,
tomando uma refeio com a famlia de Pavelitch, o catlico "praticante" que
organizava os massacres. Confrontado com tal documentao, no de surpreender
niie a presena do representante do papa tenha sido "apagada"; os msticos
chamariam a isto de "milagre"!
Devemos admitir que ele merecia tanto louvor, e at mesmo a aurola, por ter
observado com "santa obedincia" e executado literalmente as ordens no positivas da
Santa S no que se refere s relaes "cordiais e sinceras" que eram desejadas entre a
Santa S e os "Oustachis". Esperamos que alguns catlicos sinceros possam ser
encontrados, os quais possam discenir mais alm da exaltao deste futuro santo e o
funeral sob lembranas sangrentas do seu "apostolado", a tentativa do Vaticano de
esconder o seu prprio crime.

O Movimento Jesuta na Frana Antes e Durante a Guerra de 19391945



Vimos como a Ao Catlica, com Leon Degrelle e seus scios no comando,
preparou o caminho para Hitler na Blgica do "Christus Rex". Na Frana, a mesma
atividade de minar acontecia. Comeou quando Mussolini chegou ao poder e
terminou nalmente em 1940, com o colapso da defesa nacional. Quanto Blgica,
foi, como nos informam, com os "valores espirituais", que deveriam se restaurar,

para o bem da nao.


A FNC, Federation Nationale Catholique, nasceu e se estabeleceu sob a presidncia
do general de Castelnau, com um nmero de associados que chegava a trs milhes.
A escolha de seu lder foi inteligente: um general de 78 anos de idade, uma grande
gura militar que acobertava com o seu prestgio pessoal (de forma inconsciente,
lgico) um programa intenso de propaganda clrico-fascista.
Que a FNC, semelhana de toda a 'Ao Catlica", era, acima de tudo, jesuta, isso
bvio. Tambm sabemos que os bons padres, cujo pecado eterno o orgulho,
gostam de colocar sua assinatura em todas as suas criaes. Assim zeram no caso da
FNC, quando consagraram este Exrcito catlico ao Sagrado Corao de Jesus, m
culto criado pela Companhia de Jesus e cuja baslica est erguida em Montmartre, de
onde Igncio de Loyola e seus companheiros se armaram para a conquista do
mundo. Um livro relativo FNC, cujo prefcio foi escrito por Janvier, preservou
para a posteridade o ato de consagrao lido no altar pelo velho general. Citaremos
apenas algumas poucas frases: "Sagrado Corao de Jesus, os chefes e representantes
dos catlicos franceses, que se prostram agora diante de ti, se reuniram e organizaram
a FNC (Federao Nacional Catlica) para reestabelecer o teu reino sobre esta terra.
Todos ns, aqueles que esto presentes e os que esto ausentes, nem sempre somos
perfeitos. Carregamos o fardo dos crimes da nao francesa cometidos contra ti.
Tendo em vista, portanto, a reparao e expiao que nos apresentamos perante ti,
hoje, com nossos desejos, intenes e a resoluo unnime de reestabelecer sobre toda
a Frana tua soberania sagrada e real, e liberar as almas desses lhos do ensino
sacrlego. No nos acovardaremos mais diante da luta pela qual tiveste a
condescendncia de nos armar. Queremos que tudo esteja empenhado e devotado ao
teu servio". "Sagrado Corao de Jesus, suplicamos, atravs da Virgem Maria, que
receba a homenagem".
Quanto aos "crimes da nao francesa", o mesmo autor catlico os enumera: Palavras
e diretivas gerais mortais: o socialismo est condenado; o liberalismo est condenado.
Leo XIII mostrou que a liberdade de culto injusti cvel. O papa tambm
demonstrou que a liberdade de opinio e expresso no pode ser justi cadamente
aceita.
Assim, a liberdade de pensamento, imprensa, ensino e culto, consideradas como
direitos naturais do homem, no podem ser concedidas. "Devemos", diz Pio XI,
"reinstaurar estes ensinamentos e regulamentos da Igreja". Este o objetivo principal
da FNC, sob o controle da hierarquia e assegurado pela descentralizao dos comits
diocesanos. Tanto na Ao Catlica quanto nessa guerra, a famosa palavra do general
de Castelnau se mantm vlida: 'Avante !"(95) Isso claro e explcito. Sabemos,
portanto, o que esperar quando lemos de Pio XI: 'A Ao Catlica o apostolado
dos is" (Carta ao cardeal Van Roey, 15 de agosto de 1929). Que estranho

apostolado, que consiste na rejeio de todas as liberdades valorizadas pelos pases


civilizados e, ao invs dessas, coloca-se como patro do evangelho totalitrio! Teria
este o "direito de comunicar a outras mentes os tesouros da Redeno"? (Pio XI,
Non abbiamo bisogno).
Na Blgica, Leon Degrelle e seus amigos, heris da Ao Catlica, espalhavam sua
volta esses "tesouros da Redeno", revisados e atualizados pelo padre jesuta
Staemp e, o autor secreto de Mein Kampf. O mesmo sucedeu na Frana, onde os
apstolos leigos, "unindo-se na atividade do apostolado hierrquico" (Pio XI "dixit"),
estavam ocupados preparando "outra colaborao".
Vejamos o que Franz von Papen, o camareiro secreto do papa e brao direito do
Fuhrer, escreveu no que se refere a esse assunto: "Nosso primeiro encontro aconteceu
em 1927, quando uma delegao alem qual eu tinha a honra de pertencer, veio a
Paris, para a Semana Social do Instituto Catlico, sob a presidncia de monsenhor
Baudrillart. Foi realmente um primeiro contato frutfero, pois marcou o incio de
uma longa troca de visitas entre personalidades importantes da Frana e da
Alemanha. Do lado francs, Delattre (jesuta), de Ia Brire (jesuta) e Denset (jesuta)
estiveram presentes nessas conferncias".
Mais adiante, o "bom apstolo" acrescenta que s vezes "esta conferncia de catlicos
chegava a alturas sobre-humanas de grandeza". Essa "grandeza" atingiu o seu pice a
14 de junho de 1940, o dia que viu a bandeira adomada com a sustica voar
vitoriosamente sobre Paris. Sabemos que Goebbels, chefe da propaganda hitlerista,
de niu a data trs meses antes, a 14 de maro, e que a ofensiva alem s foi lanada
no dia 10 de maio. A preciso dessa previso no to surpreendente quanto possa
parecer. Aqui segue o relatrio secreto do agente 654 J.56, que trabalhava para o
Servio Secreto Alemo, e que enviou estas revelaes a Himmler: "Paris, 5 de julho
de 1939. Posso declarar que, na Frana, a situao est nas nossas mos. Tudo est
pronto para o dia J e todos os nossos agentes esto em seus postos. Dentro de
algumas semanas, a fora policial e o sistema militar iro ruir como um domin".
Muitos documentos secretos relatam que os traidores haviam sido escolhidos muito
tempo antes. Homens como Luchaire, Bucard, Deat Doriot e Abel Bonnard, da
Academia Francesa.(97) Este, em especial, fugiu para a Espanha quando da
Libertao. Voltou Frana no dia Ia de julho de 1958 e se entregou, mas foi
imediatamente libertado em termos temporrios pelo presidente da Alta Corte da
Justia.
O livro extremamente documentado de Andr Guerber d detalhes de pagamentos
feitos a esses traidores pela SR alem. Este dinheiro era bem utilizado, pois o trabalho
deles era muito eficaz. O ambiente j estava sendo preparado h muito tempo.
A m de "regenerar" a terra de acordo com os desejos da Ao Catlica, toda uma
ninhada de aprendizes de ditador, no modelo de Leon Degrelle, havia sido criada;

homens como Deat, Bucard, Doriot (que era, de acordo com Andr Guerber, o
"agente n2 56 BK do Servio Secreto Alemo"). De todo este bando heterogneo,
Doriot tambm era o mais bem visto pelo arcebispo, que contava com as maiores
atenes de todos e, lgico, de Hitler que, posteriormente, em Sigmaringen,
concedeu-lhe amplos poderes. Doriot era a estrela em ascenso mas, para o futuro
imediato e para tratar com cuidado da transio aps a derrota prevista e aguardada,
era necessrio um outro homem, um chefe militar altamente respeitado, que fosse
capaz de disfarar o desastre e apresent-lo como uma "recuperao nacional".
J em 1936, o cnego Coube escreveu: "O Senhor que trouxe Carlos Magno e os
heris das Cruzadas ainda pode levantar sbios. Dentre ns, deve haver homens que
Ele tenha marcado com o Seu Selo e que sero revelados quando chegar a hora.
Dentre ns, deve haver homens da terra que sejam os trabalhadores para a grande
recuperao nacional. Mas quais so os requisitos necessrios para executarem esta
misso? As qualidades naturais de inteligncia e carter; as sobrenaturais, ou seja, a
obedincia a Deus e Sua Lei tambm so indispensveis, pois esse trabalho poltico
, antes de tudo, moral e religioso. Esses sbios so homens com coraes generosos
que trabalham apenas para a glria de Deus".
Quando o discpulo de Loyola exps esses pensamentos polticos e religiosos, sabia
quem seria esse santo "sbio", pois seu nome no era desconhecido no clero e, entre
os fascistas, o que segue nos dito por Franois Ternand: "Uma campanha de
propaganda inteligente e persistente foi iniciada em favor de uma ditadura Petain".
Em 1935, Gustave Herv publicou um pan eto. O tratado intitulado "Precisamos
de Petain". Seu prefcio uma apologia entusistica da "recuperao italiana" e da
mais espantosa recuperao alem. Tambm uma exaltao dos lderes
maravilhosos que eram os autores dessas recuperaes. Quanto ao nosso povo
francs? Existe um homem entre ns que pode nos erguer. Tambm temos um
homem providencial. Quer saber o seu nome? Petain. Precisamos de Petain, pois a
ptria est em uma situao perigosa e no apenas a ptria, mas tambm o
catolicismo: 'A civilizao crist est condenada morte se um regime ditatorial no
for imposto em todos os pases".
Ouam: No tempo de paz, um regime s pode ser derrubado por um golpe de
Estado se ele assim o quiser ou no tiver o apoio de seu Exrcito ou burocracia. A
operao pode ser um sucesso somente atravs da guerra e especialmente da derrota.
A trilha a seguir j estava aberta em 1935 para recristianizar a Frana; o regime tinha
de ser banido, e a melhor maneira de chegar a isso era sofrendo uma derrota militar
que colocasse a Frana sob o jugo alemo. Em 1943, isso foi con rmado por Pirre
Lavai, assessor do papa e presidente do governo de Vichy. "Espero que a Alemanha
seja vitoriosa. Pode parecer estranho ouvir isso: que algum derrotado deseje a vitria
do vencedor. Mas porque essa guerra no como as anteriores. uma verdadeira

guerra religiosa! Sim, uma guerra religiosa !"


Isso era realmente o que a Igreja queria, apesar de desagradvel aos ouvidos do
"esquecido" jesuta Fessard, j mencionado anterior mente, que no quer saber mais
sobre o que foi dito na rdio americana para os 20 milhes de ouvintes do Christian
Front, pelo seu irmo jesuta o padre Coughlin: 'A guerra alem uma batalha pela
Cristandade"
Durante o mesmo perodo, na Frana ocupada, o cardeal Baudrillart, reitor do
Instituto Catlico em Paris, dizia a mesma coisa. Vejam: 'A guerra de Hitler uma
nobre iniciativa assumida para a defesa da cultura europia".(102) Ambos os lados do
Atlntico, como na verdade por todo o mundo, as vozes do clero estavam cantando
os louvores do nazismo vitorioso. Na Frana, o cardeal Suhard, arcebispo de Paris,
deu o exemplo a todos os episcopados, "colaborando" completamente, e assim
tambm o fez o nncio jesuta monsenhor Valerio Valeri. Aps a Libertao, o
governo pediu ao Vaticano para expatriar nada menos do que 30 bispos e arcebispos
que tinham estado profundamente comprometidos. Por m, o Vaticano consentiu
em expatriar somente trs deles. 'A Frana se esqueceu...", escreveu Maurice Nadeau.
O La Croix, o mais perigoso porta-voz a servio do colabora-cionismo, reassume seu
papel entre as publicaes da Frana libertada e os prelados que estavam incitando a
juventude francesa a trabalhar pela vitria da Alemanha no foram levados a tribunal.
Pode-se ler no Artaban, de 13 de dezembro de 1957: "Em 1944, o La Croix foi
processado por ter favorecido o inimigo e levado diante da Corte de Justia em Paris.
O caso foi posto nas mos do juiz Raoult, que o liberou da acusao. O caso foi
discutido na Cmara, a 13 de maro de 1946 (veja J.O. Debates Parlamentares,
pginas 713-714) e soube-se que, ento, M. de Menthon, ministro da Justia e
devotado expurgador da imprensa francesa, havia se declarado em favor do La
Croix".
A "voz do pensamento papal" (conforme Pio XII o chamou em 1942, ao enviar a
sua bno) foi a nica publicao isenta das medidas gerais tomadas para suprimir os
veculos de propaganda da ocupao. Apesar disso, conforme o Artaban lembra, "La
Croix recebeu instrues do tenente alemo Sahm e, em Vichy, de Pirre Lavai".
lgico, o "pensamento papal" e as instrues hitleristas coincidiam de forma feliz.
Isso se con rma quando estudamos as edies da poca da guerra dessa estimada
publicao.
Uma das atribuies dos jesutas, e no a menos importante, supervisionar toda a
imprensa catlica. Nas suas, publicaes adaptadas s necessidades de seus leitores,
trazem vrias perspectivas deste "pensamento papal" que, sob variados aspectos,
sempre acabam por atingir implacavelmente seus objetivos. No h um jornal ou
peridico "cristo" que no conte com a colaborao de alguns "discretos" jesutas.
Esses padres, considerados "tudo para todos os homens", sem dvida so os melhores

ao brincarem de camalees. Isso eles fazem bem e, como sabemos, aps a Libertao
tivemos a surpresa de ver surgir, em todos os lugares, os padres "que haviam
pertencido Resistncia" (eles entraram nessa muito tempo depois de outros!) e que
testi cavam que a Igreja nunca, nunca havia "colaborado". Esquecidos, abolidos,
evaporados foram todos os artigos do La Croix e de outros jornais catlicos, os
mandatos episcopais, as cartas pastorais, as comunicaes o ciais da Assemblia de
Cardeais e Arcebispos, as exortaes do cardeal Baudrillart, convocando a juventude
francesa a usar o uniforme nazista e servir na L.VF aps terem feito um juramento de
lealdade a Hitler! Tudo isso era passado e esquecido! 'A histria uma novela", disse
um pensador desiludido.
A da nossa poca ser a prova desta de nio: a novela est sendo escrita sob nossos
olhos. Muitos "historiadores" esto contribuindo Para isso; eclesisticos e leigos
extremamente empenhados tambm e podemos estar certos que o resultado ser
"edificante": uma novela catlica, com certeza.
A contribuio dos jesutas extensa, tal qual a valiosa herana do padre Loriquet,
cuja "Histria da Frana" faz um retrato fantstico de Napoleo.
Comparada a esse feito notvel, seria uma coisa simples a camuflagem da colaborao
entre os sacerdotes e o invasor alemo, de 1940 e 1944, e a posterior eliminao. Isto
se mantm ainda hoje, aps tantos anos; muitos artigos vm sendo escritos em
jornais, peridicos, livros e outras publicaes, sob o patrocnio da "Imprimatur",
para louvar os superpatriotas julgados de forma leviana, como por exemplo Suhard,
Baudrillart, Duthoit, Auvity, Du Bois de Ia Villerabel, Mayol de Luppe e outros!
Quanta tinta gasta para exaltar a atitude - to herica - do episcopado, durante os
anos de guerra nos quais a Frana experimentou "uma situao que levou os bispos
franceses a se tornarem os "defensores da cidade", como escreveu um humorista.
"Calnias e mais calnias! Alguma coisa verdadeira deve ser dita!", avisou Basile, esse
tipo perfeito de jesuta. "Pr a limpo, pr a limpo de novo", dizem seus sucessores,
grandes escritores de "novelas histricas". Esse "pr a limpo" continua sendo feito
extensivamente. As geraes futuras, submersas em tantos exageros, devotaro a eles
sentimentos de gratido - pelo menos, achamos que sim - a esses "defensores" da
cidade, esses heris da Igreja Romana e da Ptria, "vestidos com uma honestidade
cndida de linho branco" pelo trabalho de seus apologistas. Alguns foram at mesmo
canonizados!
A 25 de agosto de 1944, o cardeal jesuta Suhard, arcebispo de Paris (desde 11 de
maio de 1940!) e lder do clero colaboracionista, decidiu imperturbavelmente
celebrar o "Te Deum" da vitria em Notre Dame. Fomos poupados dessa farsa
inaudita apenas pelo "forte protesto do capelo geral da F.F.I."
Lemos no France Dimanche de 26 de dezembro de 1948: "Sua Eminncia, o cardeal
Suhard, arcebispo de Paris, no aniversrio de sua admisso ao sacerdcio, acaba de

receber uma carta autografada de sua Santidade Pio XII, que o congratula, entre
outras coisas, pelo apel que exerceu durante a ocupao". Sabemos que o
comportamento do cardeal durante aquele perodo havia sido profundamente
criticado aps a Libertao. Quando o general De Gaulle voltou a paris, em agosto
de 1944, recusou-se a encontrar com o cardeal no "Te Deum" de Notre Dame.
Naquela poca, o cardeal era acusado abertamente de "tendncias colaboracionistas".
As congratulaes do "Santo Papa" so, portanto, compreensveis, mas h uma outra
histria do "Te Deum" ainda mais "edi cante"! Aps o desembarque dos aliados, a
cidade de Rennes sofreu muito com os combates que vieram a seguir, e muitos
morreram dentre a populao civil, pois o o cial comandante do batalho alemo
havia se negado a deixar que abandonassem o local.
Quando a cidade foi tomada, o "Te Deum" tradicional seria celebrado, mas o
arcebispo e primaz da Bretanha, monsenhor Roques, se recusou peremptoriamente
no apenas a celebr-la mas ainda a autorizar que essa cerimnia fosse realizada na
Catedral. Agradecer aos Cus pela libertao da cidade era um escndalo intolervel
aos olhos desse prelado.
Por causa dessa atitude, ele foi con nado residncia do arcebispo pelas autoridades
francesas. Tal lealdade ao "pensamento papal" pedia uma retribuio equivalente.
Esta veio de Roma, logo depois, na forma de um chapu de cardeal. Podemos culpar
Pio XII por muitas coisas, mas temos de admitir que ele sempre "reconheceu seus
pares". Uma carta elogiosa ao cardeal Suhard, colaboracionista distinto; o cardinalato
ao monsenhor Roques, heri da Resistncia Alem: este "grande papa" estava
praticando uma justia estritamente distributiva. claro que seus assessores eram do
tipo que Poderiam aconselh-lo sabiamente: dois jesutas alemes, Leiber e Hentrich,
"seus dois secretrios particulares e seus favoritos". Seu confessor era o jesuta alemo
Bea; a irm Pasqualina, freira alem, supervisionava a casa e cozinhava tudo para ele.
At mesmo o vinho, com o nome de "Dumpfaf', havia sido importado do outro
lado do Reno. Este Soberano Pont ce, no entanto, no havia dito Ribbentrop,
depois de Hitler ter invadido a Polnia, que "ele serrmr teria uma afeio especial
pela Alemanha?"

A Gestapo e a Companhia de Jesus



Se a boa vontade e amabilidade de Pio XI e Pio XII nunca falharam em relao ao
Fuhrer que eles haviam conduzido ao poder, devemos admitir que ele tambm
cumpria todas as condies do Pacto pelo qual estava ligado ao Vaticano. Conforme
havia expressamente prometido estrangular os anticlericais, esses logo seguiram os

liberais e judeus para os campos de concentrao. Sabemos de que forma o lder do


Terceiro Reich tinha decidido o destino dos judeus: foram simplesmente
massacrados ou, quando ainda eram favorecidos, obrigados a trabalhar at a exausto
e ento liquidados. Nesse caso, a "soluo nal" era apenas postergada. Vejamos
primeiro, porm, como uma personalidade especialmente "autorizada", o "generalssimo" Franco, Cavaleiro da Ordem de Cristo, con rmou expressamente a
ligao entre o Vaticano e os nazistas.
De acordo com o Reforma, isso o que a imprensa do ditador espanhol Franco
publicou a 3 de maio de 1945, o dia da morte de Hitler: "Adolf Hitler, lho da
Igreja Catlica, morreu enquanto defendia a Cristandade. compreensvel que no
encontremos palavras para lamentar a sua morte, quando tantos existiram para exaltar
a sua vida. Sobre os seus despojos mortais est a sua gura moral vitoriosa. Com o
galardo de mrtir, Deus d a Hitler as ureas da Vitria".
Essa orao funeral do chefe nazista, um desa o aos aliados vitoriosos, proclamada
pela prpria Santa S, atravs da cobertura da imprensa de Franco. E um
comunicado do Vaticano feito atravs de Madrid. evidente que esse "heri" ausente
tenha merecido tanto a gratido da Igreja Romana - que eles no tentem escond-la.
Hitler serviu elmente: todos aqueles que essa Igreja lhe indicava como a jo seus
adversrios sentiram as conseqncias. E esse bom " lho" no tardou em admitir o
que devia sua Santssima Me e, especialmente, queles que se haviam feito seus
soldados neste mundo. Aprendi muito com a Companhia de Jesus", disse Hitler.
'At hoje, nunca houve nada mais grandioso na Terra do que a organizao
hierrquica da Igreja Catlica", exaltava o ditador.
"Implantei muitas coisas dessa organizao em meu prprio partido. Vou lhe contar
um segredo: estou fundando uma Ordem. Nas fortalezas da minha Ordem,
criaremos uma juventude que far o mundo tremer". Hitler ento parou, dizendo
que no podia contar mais nada".
Outro hitlerista com alto cargo, Walter Schellenberg, ex-chefe da contra-espionagem
alem, nos passa esta con dencia do Fuhrer, aps a guerra: 'A organizao da SS
tinha sido constituda por Himmler, de acordo com os princpios da Ordem jesuta.
Seus regulamentos e os Exerccios Espirituais prescritos por Igncio de Loyola foram
o modelo que Himmler tentou copiar com exatido. O "Reichsfuhrer SS", ttulo de
Himmler como chefe supremo da SS, era o equivalente ao de "prior jesuta" e toda a
estrutura da direo era uma imitao quase perfeita da ordem hierrquica da Igreja
Catlica. Um castelo medieval, prximo a Paderbom, na Westphalia, chamado de
"Webelsbourg", foi restaurado. Tornou-se o que poderia ser chamado de uma
monastrio da SS".
Os melhores escritores teolgicos se ocuparam em demonstrar a similaridade entre as
doutrinas catlicas e nazistas. Nesse trabalho, os lhos de Loyola eram os mais

empenhados. Como exemplo, vejamos que Michaele Schmaus, telogo jesuta,


apresentou ao pblico numa Sene de estudos sobre esse assunto: "O Imprio e a
Igreja" uma srie de escritos que deveriam ajudar a construir o Terceiro Reich corno
uma unio do nacional-socialismo cristandade catlica. O movimento nacionalsocialista o protesto mais vigoroso e envolve^ contra o esprito dos sculos XIX e
XX. Um compromisso entre a f catlica e o pensamento liberal impossvel. Nada
mais contrrio ao catolicismo do que a democracia. O sentido despertado da
"autoridade estrita" abre novamente o caminho para a interpretao real da
autoridade eclesistica. A falta de con ana na liberdade baseada na doutrina
catlica do pecado original. Os mandamentos do nacional-socialismo e os da Igreja
Catlica tm o mesmo objetivo".(110)
Esse objetivo era o da "nova Idade Mdia" que Hitler prometia Europa. A
similaridade bvia entre o anti-liberalismo passional desse jesuta de Munique e o
idntico fanatismo expressado durante o "ato de consagrao da FNC na baslica de
Montmartre". Durante a ocupao, o R. P. Marklen escreveu: "Nesses dias, a
liberdade no parece mais merecer qualquer estima".
Citaes como essas podem ser multiplicadas em milhares. No seria esse dio da
liberdade sob todas as suas formas o prprio carter do "Senhor de Roma"? fcil
compreendermos tambm como as doutrinas catlica e nazista podiam se
harmonizar to bem. Quem pode demonstrar isso com habilidade, o "jesuta
Michaele Schmaus", foi chamado pelo La Croix, dez anos depois da guerra, de "o
grande telogo de Munique"(112), e ningum deve se assustar ao car sabendo que
ele foi elevado a "Prncipe da Igreja" durante Pio XII. Sob tais circunstncias, o que
signi ca ento a "terrvel" encclica "Mit brennender Sorge", de Pio XI, que
supostamente condenava o nazismo? Nenhum casusta jamais tentou nos explicar...
evidente!
O "grande telogo", Michaele Schmaus, tinha muitos rivais, de acordo com um
autor alemo que v no Katolisch Konservatives Erbgut o livro mais estranho j
publicado pelas Edies Catlicas Alems: "Essa antologia que traz textos reunidos
dos principais tericos catlicos da Alemanha, de Gorres a Vogelsang, nos faz
acreditai que o nacional-socialismo nasceu de ideais catlicos". Ao escrevei isso, o
autor certamente no imaginava que estivesse to correto.
Outra pessoa muito bem informada, o principal eixo do pacto entre a Santa S e
Berlim e tambm camareiro secreto do papa, Franz von Papen, foi ainda mais
explcito: "O Terceiro Reich o poder do nrimeiro mundo que no apenas
reconhece, mas tambm coloca em ottica os altos princpios do papado".
A isso, acrescentaremos os resultados desse "pr em prtica": 25 milhes de vtimas
em campos de concentrao, nmero o cial emitido pela ONU, Organizao das
Naes Unidas. Achamos necessrio lembrar algo para mentes cndidas, para aqueles

que no podem admitir que os massacres organizados foram um dos "altos


princpios do papado". claro que essa candura diligentemente conservada: "Essas
barbaridades pertencem ao passado!", dizem alguns bons apstolos aos simples,
enquanto erguem suas vozes diante dos no-catlicos, "para quem as fogueiras da
Santa Inquisio ainda esto queimando"
Que assim seja! Deixemos de lado os testemunhos super-abundantes sobre a
ferocidade clerical de anos passados para nos atermos somente ao sculo XX. No
vamos lembrar nem os feitos de homens como Stepinac e Marcone, na Crocia, nem
Tiso, na Eslovquia, mas nos limitaremos a examinar a ortodoxia de certos "altos
princpios" que puseram em prtica to bem.
Ser que esses princpios esto realmente ultrapassados hoje, repudiados por uma
doutrina "das luzes", o cialmente rejeitados pela Santa S com outros erros do
passado negro? fcil de descobrir. 0 livro Grandes Apologticos, do abade Jean
Vieujan, que no pode de forma alguma ser chamado de medieval, pois foi datado
de 1937. 0 que lemos? "Aceitar o princpio da Inquisio, s precisamos ter uma
mentalidade crist, e isso o que falta a muitos cristos. A Igreja no tem tal
timidez".
No poderia ser dito de outra forma. Ser que outra prova, no menos ortodoxa e
moderna, necessria? Vejamos o que R. E Janvier, Urn famoso conferencista de
Notre Dame diz: "Em virtude de seu poder indireto em questes materiais, a Igreja
no deveria ter direito de esperar de Estados catlicos a opresso dos hereges at o
limite da morte, de forma a suprimi-los? Aqui est a resposta: "Eu sou
completamente a favor disso, at o limite da morte. Agindo primeiramente na
prtica, depois no ensino da prpria Igreja, estou seguro que nenhum catlico diria o
contrrio sem correr o risco de pecar gravemente".
No podemos acusar esse telogo de falar nas entrelinhas. Seu discurso foi claro e
conciso. Seria impossvel dizer mais com menos palavras. Tudo est a, com relao
ao direito que a Igreja atribui a si prpria, de exterminar aqueles cujas crenas no
correspondam s suas: o "ensino" que os obriga; a "prtica" que legitima a tradio e
at mesmo a "convocao dos Estados cristos", cujo exemplo perfeito a cruzada
hitlerista.
As prximas palavras, nem um pouco ambguas, tambm no foram pronunciadas
na escurido da Idade Mdia: "A igreja pode condenar os hereges morte, pois
quaisquer direitos que venham a ter s existem por causa da nossa tolerncia, e esses
direitos so aparentes, mas no so reais". O autor desse texto foi o prior jesuta
Franz Wernz (1906-1915), e o fato de ser ele alemo d ainda mais peso a essa
declarao.
Tambm durante o sculo XX, o cardeal Lepicier, famoso prncipe da Igreja,
escreveu: "Se algum confessa publicamente que um herege ou tenta perverter

outros, por seu discurso ou exemplo, pode no s ser excomungado mas tambm
assassinado justamente".(118e usa) e jsso n;jo pU(jer ser considerado um apelo
caracterstico matana, que me transformem tambm em um moedor de pimenta",
como Courteline disse recentemente.
Tambm querem a contribuio do Sumo Pont ce? Aqui est, de um papa
moderno, cujo "liberalismo" foi criticado pelo clero intransigente, o papa jesuta
Leo XIII: 'Antema (excomunho) sobre aquele que diz: o Esprito Santo no quer
que matemos os ereges". Que outra autoridade mais alta poderia ser invocada depois
dessa, alm do prprio Esprito Santo? Apesar disso poder desagradar queles que
manipulam a cortina de fumaa (referncia queles que fazem os sinais de fumaa
durante a escolha do papa), os consolos para as conscincias inquietas, os "altos
princpios" do papado continuam de p, intactos e, entre outras coisas, a exterminao pela F to vlida e cannica hoje em dia quanto foi no passado.
Uma concluso muito "esclarecedora" - para usar uma palavra muito familiar aos
msticos - quando consideramos o que aconteceu na Europa entre 1939 e 1945:
"Hitler, Goebbels, Himmler e a maior parte dos membros da "velha-guarda" do
partido eram catlicos", escreveu Frederic Hoet. "No foi por acaso que, por causa
da religio de seu lder, o governo nacional-socialista foi o mais catlico que a
Alemanha j teve algum dia", continuou.
Esse parentesco entre o nacional-socialismo e o catolicismo ainda mais
impressionante se estudarmos de perto os mtodos de propaganda e a organizao
interior do partido. Sobre esse assunto, nada mais instrutivo do que os trabalhos de
Joseph Goebbels, criado em um colgio jesuta e seminarista antes de se dedicar
literatura e poltica. Cada pgina, cada linha de seus escritos lembra os
ensinamentos de seus mestres; assim que ele enfatiza a obedincia e o desprezo pela
verdade. 'Algumas mentiras so to teis quanto o po", proclamou, em virtude de
um relativismo moral extrado dos escritos de Igncio de Loyola".
Hitler no atribuiu o prmio do jesuitismo ao seu chefe de propaganda, mas ao seu
chefe da Gestapo, conforme disse aos seus auxiliares: "Posso ver Himmler como
nosso Igncio de Loyola".(120) Para dizer uma coisa dessas, o Fuhrer deve ter tido
boas razes.
Em primeiro lugar, percebe-se que Kurt Heinrich Himmler, Reichsfuhrer da SS,
Gestapo e foras policiais alems, parecia ser um dos mais clericalistas entre os
membros catlicos da assessoria de Hitler. Seu pai havia sido diretor de uma escola
catlica em Munique, depois tutor do prncipe Ruprecht, da Bavria. Seu irmo um
monge beneditino, vivia no monastrio de Maria Laach, um d^ principais locais do
pan-germanismo. Um tio seu tambm havia trabalhado com o importante cargo de
cnego da Corte da Bavria o jesuta Himmler.
O autor alemo Walter Hagen tambm nos fornece essa interessante informao: "O

prior jesuta, conde Halke von Ledochowski estava pronto para organizar na base
comum do anticomunismo' alguma colaborao entre o Servio Secreto Alemo e a
Ordem Jesuta".
Como resultado disso, dentro da Central do Servio de Segurana da SS, uma
organizao foi criada, e a maior parte de seus postos foram exercidos por padres
catlicos usando o uniforme preto da SS. O padre jesuta Himmler era um dos
o ciais superiores. Aps a capitulao do Terceiro Reich, ele foi preso e levado a
Nuremberg. Seu depoimento no tribunal internacional teria sido aparentemente
muito interessante, mas a "Providncia" foi vigilante: o tio de Heinrich Himmler
nunca se apresentou perante a Corte. Em uma certa manh, ele foi encontrado morto
na sua cela, e o mundo nunca veio a saber a causa de sua morte. No insultaremos a
memria desse sacerdote, supondo que ele deu m a seus dias por livre e espontnea
vontade, contra as leis de ensino solenes da Igreja Romana. Sua morte foi repentina e
oportuna, tanto quanto a de outro jesuta, algum tempo antes, padre Staemp e, o
autor no reconhecido de Mein Kampf. Realmente, uma estranha coincidncia...
Voltemos, porm, a Kurt Heinrich Himmler, chefe da Gestapo, o que signi cava
que ele tinha nas mos as rdeas essenciais para o poder do regime. Ser que foi por
seus mritos pessoais que conquistou to alta posio? Hitler via nele uma
genialidade superior quando o comparou ao criador da Ordem Jesuta? Isso com
certeza no corresponde aos testemunhos daqueles que o conheciam e que no viam
nele nada mais do que um homem medocre.
Ser que aquela estrela brilhava com um brilho emprestado? Era realmente Himmler,
o chefe ostensivo, quem governava sobre a Gestapo e os servios secretos? Quem
estava mandando milhes de pessoas ao desespero, judeus aos campos da morte e
deportando homens por motivos polticos? Seria o sobrinho de cara amassada ou o
tio, ex-cnego da Corte da Bavria, um dos favoritos de Ledochowski, um padre
jesuta e oficial superior da SS?
Pode parecer excessivo, e at mesmo presunoso olhar to para trs, ou seja, por
detrs das cortinas da Histria. A pea representada no palco, diante de luzes
arranjadas na ribalta, nas varas de luz e nas laterais. Sempre assim para qualquer
show, mas aquele que quer enxergar para alm do bvio pode ser visto como
encrenqueiro e inconveniente. Os atores fantoches sobre quem o pblico lana o seu
olhar vm todos da parte detrs das cortinas. Isso ca ainda mais evidente quando
estudamos esses "monstros sagrados" e percebemos que esto longe de serem iguais
aos indivduos que supostamente devem representar. Esse parece ser o caso de
Himmler.
No seria correto dizer o mesmo daquele a quem prestou ajuda como sendo seu
brao direito, Hitler? Quando vemos Hitler gesticular nas telas ou ouvimos seus
discursos histricos, no temos a impresso de estarmos olhando os movimentos de

um autmato ajustado de forma doentia, com molas estragadas? At mesmo os seus


movimentos mais simples lembram um boneco mecnico. E o que dizer dos seus
olhos imensos e arregalados, nariz mole, fisionomia "estourada", cuja vulgaridade no
poderia ser disfarada pelo famoso tufo de cabelo e bigode de escovinha que parecia
grudado embaixo das narinas? Esse resmungo de praa pblica poderia ser um
verdadeiro lder, o "verdadeiro senhor da Alemanha", um "autntico" homem de
Estado cuja genialidade faria o mundo virar de cabea para baixo? Ou ser que ele era
apenas um mau substituto para tudo isso? Uma pele que cobria de forma esperta um
fantasma, para o uso das massas, um agitador da plebe? Ele prprio admitiu isso
quando disse: "Sou apenas uma trombeta!".
Franois Poncet, ento embaixador francs em Berlim, con rma que Hitler
trabalhou muito pouco, no costumava ler e deixava seus colaboradores vontade
para trabalharem. Seus auxiliares davam a mesma impresso de vazio e irrealidade. O
primeiro, Rudolf Hess que voou para a Inglaterra em 1941, parecia no seu prprio
julgamento em Nuremberg um completo estranho, e nunca soubemos se ele era um
louco ou s um luntico. O segundo era o grotesco Goering, vaidoso e obeso, que
vestia os uniformes mais engraados e espetaculares, um viciado em mor na. As
outras personalidades fundamentais do partido tinham as mesmas caractersticas e,
nos julgamentos de Nuremberg, uma das surpresas maiores dos jornalistas era de
terem de relatar que - tirando os seus defeitos particulares -esses heris nazistas no
tinham inteligncia, carter, e eram mais ou menos insigni cantes. O nico que
estava acima dessa massa vulgar - por causa de sua astcia, e no pelo seu valor moral
- era Franz von Papen, o camareiro de Sua Santidade, o "homem para todas as
misses", que ia ser inocentado. Se o Fuhrer surge como um boneco extraordinrio,
seria quem o modelou pelo menos mais consistente?
Vejamos a exibio ridcula daquele "Csar de carnaval", Mussolini, que rodava seus
grandes olhos escuros, tentando fazer com que brilhassem debaixo daquele estranho
chapu decorado. E aquelas fotogra as para a propaganda, tiradas de seus ps e
mostrando apenas suas mandbulas, abertas contra o cu, o "homem maravilha",
como uma pedra imvel - smbolo da grande vontade que no conhecia obstculos!
Que vontade! Das con dencias de alguns de seus companheiros, temos o retrato de
um homem constantemente indeciso.
Esse "homem formidvel" que iria "invadir tudo", com a fora elemental, para usar
os termos do cardeal Ratti, futuro Pio XI, no resistiu aos adiantamentos feitos a ele
pelo cardeal jesuta Gasparri, secretrio de Estado, em nome do Vaticano. Apenas
algumas reunies secretas foram su cientes para persuadir o revolucionrio a se
submeter aos padres do "Santo Papa", e galgar to bem a sua brilhante carreira, de
forma que o ex-ministro Cario Sforza poderia escrever: "Um dia, quando o tempo
tiver atenuado a amargura e o dio, reconhecero que a orgia de brutalidades

sanginrias que zeram da Itlia uma priso durante 20 anos, e as runas da guerra
de 1940-1945 encontrava a sua origem em um caso historicamente quase nico: a
absurda desproporo entre a lenda criada arti cialmente em volta de um nome e as
capacidades reais do pobre diabo que usava deste nome, um homem que no se
incomodava com a cultura"
Essa frmula perfeita aplicvel tanto a Hitler quanto a Mussolini: a mesma
desproporo entre a lenda e as capacidades e a mesma falta de "cultura" naqueles
dois medocres aventureiros com passados praticamente idnticos. Suas carreiras
fulgurantes podem encontrar uma explicao apenas no seu dom de "levantar" as
massas, dom que os levou para a frente do brilho da publicidade. Que a lenda foi
"criada arti cialmente" muito evidente, principalmente quando hoje sabemos que
as aparies retrospectivas do Fuhrer, nas telas da Alemanha, provocam risos naqueles
que tm um mnimo de discernimento.
No seria a inferioridade bvia desses "homens providenciais" a verdadeira razo por
terem sido escolhidos a subir ao poder? O fato que a mesma falta de qualidades
pessoais pode ser encontrada em todos aqueles que o papado escolhe para serem os
seus "campees". Na Itlia e na Alemanha havia alguns "verdadeiros" homens de
Estado, "verdadeiros" lderes, que eram capazes de assumirem o pas e governarem
sem terem de recorrer a esses "msticos" delirantes. Esses homens eram muito
brilhantes intelectualmente, mas no suficientemente devotos.
O Vaticano, e especialmente o "Papa Negro", von Ledochowski, no os poderia
manter "como se fossem um basto nas suas mos", de acordo com a frmula
passional, e faz-los servirem a seus objetivos a todo custo, at a chegada da
catstrofe. O revolucionista Mussolin; foi transformado e "virado do avesso" pelos
emissrios da Santa S que lhe prometeram poder. Hitler provou o quanto era
malevel. o plano de Ledochowski era criar uma federao de naes catlicas na
Europa Central e do Leste, na qual a Bavria e a ustria, governada pelo jesuta
Seipel, teriam a proeminncia. A Bavria teria de se separar da Repblica Alem de
Weimar e, como por acaso, o agitador Hitler, de origem austraca, era na poca um
separatista bvaro.
A oportunidade de realizar essa federao e colocar um Hapsburg no controle se
tornou mais e mais distante, enquanto o monsenhor Pacelli, o nncio que tinha
deixado Munique para ir a Berlim, cava mais consciente em relao fragilidade da
Repblica Alem, por causa do pouco apoio dado pelos Aliados. A esperana de
tomar conta da Alemanha nasceu ento no Vaticano e o plano se modi cou: 'A
hegemonia da Prssia protestante tinha de ser evitada, e como o Reich ia dominar a
Europa - para sustentar o federalismo alemo -um Reich tinha de ser reconstitudo,
no qual os catlicos seriam os senhores". Isso era o suficiente.
Mudando de postura radicalmente e acompanhado de seus "camisas marrons",

Hitler, que tinha sido at ento um separatista bvaro, tornou-se do dia para a noite
o inspirado 'Apstolo do Grande Reich".

Os Campos da Morte e a Cruzada Anti-Semita



Na medida em que os catlicos passam a ser os senhores da Alemanha nazista logo
setorna to aparente quanto a severidade coro que alguns dos "altos princpios do
papado" foram aplicados. Os liberais e os judeus tiveram muito tempo livre para
descobrir que esses princpios estavam longe de serem con rmados. O direito da
Igreja de se considerar apta a exterminar lenta ou rapidamente aqueles que estavam
no meio do caminho foi "posto em prtica" em Auschwitz, nachau, Belsen,
Buchenwald e outros campos da morte. A Gestapo de Himnaler, nosso "Igncio de
Loyola", diligentemente executava essas "obras de caridade". A Alemanha civil e
militar teve que submeter "perinde ac cadver" a essa organizao toda-poderosa.
jvjem preciso dizer que o Vaticano lavou as mos diante desses horrores. Ao
conceder uma audincia ao doutor Nerin F. Gun, um jornalista suo que tinha sido
deportado e se perguntava por que o papa no havia intervindo, pelo menos
fornecendo alguma assistncia a tantas pessoas desgraadas, Sua Santidade Pio XII
teve o displante de responder: "Sabamos que por motivos polticos as perseguies
violentas esto acontecendo na Alemanha, mas nunca fomos informados quanto ao
carter desumano da represso nazista".
Quando o locutor da Rdio Vaticano, o R.P. Mitiaen, declarava que "uma prova
documental inegvel em relao crueldade dos nazistas tinha sido recebida", sem
dvida o "Santo Papa" tambm no foi informado sobre o que acontecia nos
campos de concentrao "Oustachi", apesar da presena do seu prprio legado em
Zagreb.
Em uma ocasio, no entanto, pde-se ver a Santa S interessada pelo destino de
algumas pessoas condenadas deportao. Eram 528 missionrios protestantes,
sobreviventes dentre todos aqueles que haviam sido feitos prisioneiros pelos
japoneses nas ilhas do Pacfico e internados em campos de concentrao nas Filipinas.
Andr Ribard, em seu excelente livro "1960 e o Segredo do Vaticano", revela a
interveno pontificai em relao a esses desaventurados.
O texto aparece sob o nmero 1591, datado, Tquio, 6 de abril de 1943, em um
relatrio do Departamento de Assuntos Religiosos nos territrios ocupados, e cito o
seguinte trecho: Expressava o desejo da Igreja Romana de ver os japoneses seguirem
sua poltica e evitar certos propagadores religiosos do erro de reconquistarem uma
liberdade da qual eles no so dignos.

Do ponto de vista "cristo", esse passo caridoso no precisa de nenhum comentrio;


no seria, entretanto, signi cativo do ponto de vista poltico? Na Eslovquia, como
sabemos, o monsenhor Tiso, 0 jesuta, tambm era livre para perseguir as ovelhas
"desgarradas" apesar da Alemanha (da qual era pas satlite) ser preponderantemente
protestante. Isso diz muito a respeito da in uncia da Igreja Romana no Reich
Hitleriano! Tambm vemos o papel desempenhado na Crocia pelo representante da
Igreja, na exterminao dos is ortodoxos. A cruzada contra os judeus, a obra prima
da Gestapo, pode parecer supr uo mencionar novamente o papel desempenhado
por Roma; j relatamos os feitos de monsenhor Tiso, o primeiro fornecedor das
cmaras de gs e fornos crematrios de Auschwitz. Acrescentaremos, porm, apenas
alguns documentos tpicos a esse dossi.
Em primeiro lugar, aqui est uma carta de Leon Berard, embaixador do governo
Vichy junto Santa S: "Senhor Marshal Petain, em sua carta datada de 7 de agosto
de 1941, V E. me honrava ao pedir algumas informaes sobre as questes e
di culdades que poderiam surgir eventualmente do ponto de vista catlico romano,
em relao aos judeus. Tenho a honra de lhe comunicar que nada me foi dito, no
Vaticano, que pudesse ser interpretado como uma crtica ou reprovao das leis e
diretivas em questo".
O peridico L'Arche, ao mencionar essa carta em um artigo intitulado "O Silncio
de Pio XII", refere-se a um relatrio complementar subseqente que Leon Berard
enviou a Vichy em 2 de setembro de 1941. "H alguma contradio entre o estatuto
das doutrinas judaica e catlica? Apenas uma e Leon Berard respeitosamente indica
que esta se refere ao chefe de Estado; reside na de 2 de junho de 1941, que de ne os
judeus como uma raa. "A Igreja", escreveu o embaixador de Vichy, "nunca
professou que os mesmos direitos deveriam ser dados a todos os cidados, como
uma pessoa de in uncia no Vaticano me disse: "Vocs no tero di culdades
quanto categoria dos judeus".
Existe, "na prtica", a "terrvel" encclica Mit brenender Sorge, contra o racismo,
freqentemente citada pelos apologistas. Encontra, no entanto, algo muito melhor
no livro de Leon Polakovs: 'A proposta da Igreja Protestante na Frana de que,
juntamente com a Igreja Romana, tomassem medidas contra o recolhimento dos
judeus, durante o vero de 1942, foi rejeitada pelos dignatrios catlicos". Muitos
parisienses lembram ainda hoje a forma pela qual as crianas judias foram tomadas de
suas mes e mandadas em trens especiais aos fornos crematrios de Auschwitz.
Essas deportaes de crianas so con rmadas, entre outros documentos o ciais, em
uma nota do "SS Haupsturmfuhrer Danneker", datada de 21 de julho de 1942. A
insensibilidade cruel da Igreja Romana, e dos seus lderes em particular, inspirou no
muito tempo atrs estas linhas revanchistas do j mencionado peridico L'Arche:
"Durante cinco anos o nazismo foi o autor de ultrajes, profanaes, blasfmias e

crimes. Durante cinco anos, massacrou seis milhes de judeus. Dentre estes seis
milhes, um milho e oito-centas mil eram crianas. Quem disse uma vez: "Deixem
vir a mim as criancinhas?" E por que razo? Devem vir at mim para que possa
chacin-las? O papa militante foi substitudo pelo papa diplomtico. Da Paris
ocupada, seguimos para Roma, tambm ocupada pelos alemes aps o fracasso
italiano.
Aqui transcrevemos uma mensagem endereada a von Rubbentrop, ministro nazista
dos Negcios Estrangeiros: Embaixada Alem na Santa S. Roma, 28 de outubro de
1943. Apesar de pressionado por todos os lados, o papa no demonstrou nenhum
tipo de reprovao quanto deportao dos judeus de Roma. Ele teme que nossos
inimigos reprovem sua atitude nesse caso, e que esse venha a ser explorado pelos
protestantes de pases anglo-saxes em sua propaganda contra o catolicismo. 'Ao
considerar essa questo delicada, 0 possvel estremecimento de nossas relaes com o
governo alemo foi o fator decisivo". Assinado: Ernst von Weiszaeker.
Ao relatar a carreira deste baro von Weiszaeker - julgado como criminoso de guerra
"por ter preparado listas de extermnio" - o Le Monde, de 27 de junho de 1947,
escreveu: "Prevendo uma derrota da Alemanha, ele conseguiu uma indicao para o
Vaticano, aproye-tando-se da oportunidade de trabalhar intimamente com a
Gestapo"
Para ajudar os nossos leitores no completamente convencidos citaremos o seguinte
documento o cial alemo que estabelece as disposies do Vaticano e dos jesutas
com relao aos judeus, antes da guerra: 'Ao estudar a evoluo do anti-semitismo no
Estados Unidos percebemos com interesse que o nmero de ouvintes das
transmisses de rdio do padre Coughlin (jesuta), reconhecido por seu antisemitismo, excede a 20 milhes!"
O anti-semitismo militante dos jesutas nos Estados Unidos, semelhana de todos
os lugares, no surpreendente da parte desses ultramontanos, pois est
perfeitamente de acordo com a "doutrina". Vejamos o que Daniel Rops, da
Academia Francesa, tem a dizer sobre o assunto; este autor se especializou em
literatura, devotou e publicou sempre sob os auspcios da Imprimatur. Lemos em
um de seus trabalhos mais conhecidos, "Jesus e Sua poca", publicado em 1944,
durante a ocupao alem: "Durante sculos, por onde a raa judia se espalhasse, o
sangue escorria, e sempre a mesma exigncia de assassinato proferida no hall de
julgamento de Pilatos e afogando o grito de desespero repetido mil vezes. A face de
uma nao judia perseguida preenche as pginas da Histria, mas no se pode
eliminar essa outra face, untada com sangue e cuspe, pela qual a multido judia no
sentiu pena alguma.
Israel no teve alternativa nessa questo tendo que matar seu Deus aps repudi-Lo, e
como o sangue misteriosamente clama por sangue, a caridade crist pode no ter

outra alternativa tambm ou a vontade divina no deveria compensar o maior e mais


insuportvel horror, a cruci cao, atravs de outro horror? " Que palavras mais bem
escolhidas! Ou, pondo as coisas de forma mais direta: Se milhes de judeus tiveram
que passar por cmaras de gs e fornos crematrios de Auschwitz, Dachau e outros
lugares, foram a "sobremesa" que bem mereciam. Essa adversidade foi desejada por
"vontade divina e a "caridade crist" estaria cometendo uma falta como se fosse
contra ela.
O eminente professor Jules Isaac, presidente da "Amizade t daico-Crist", exclamou
ao se referir a essa passagem: "Estas frases rrveis e blasfemas provocam um horror
in nito", ainda mais agravado orunia nota que diz: "Entre os judeus de hoje, alguns
deles tentam negar a importncia dessa pesada responsabilidade. Honro os
sentimentos, diga-se de passagem, mas no podemos ir contra a evidncia Ha
Histria; no cabe aos homens rejeitar o peso terrvel da morte de Jesus que Israel
deve assumir".
Jules Isaac nos informa que as frases em questo foram alteradas pelo editor "nas
edies mais recentes" desse livro "edi cante", ou seja, aps a Libertao. H "um
tempo" para todas as coisas: os fornos crematrios haviam se tornado ultrapassados.
Assim, da a rmao doutrinai dos altos princpios do papado sua colocao em
prtica por Himmler, "nosso Igncio de Loyola", o crculo se fecha, e ainda temos
que acrescentar que o anti-semitismo meio louco do Fuhrer perde muito do seu
mistrio. Isso no vem a esclarecer um pouco mais as coisas sobre esse indivduo
intrigante? As coisas que foram imaginadas, antes da guerra, numa tentativa de
explicar a desproporo evidente entre o homem e o papel que tinha de
desempenhar! Havia um buraco, um vcuo bvio sentido por todos.
Para preencher essa lacuna, lendas foram criadas: contaram-se histrias, algumas com
o propsito secreto de desviar da verdade! Cincias ocultas, mgicos orientais,
astrlogos "inspirados", o heremita sonmbulo de Berchtesgaden, e a escolha da
sustica como insgnia do partido nazista e originria da ndia, pareciam corroborar a
idia.
Maxime Mourin refuta essa ltima a rmao espec ca: 'Adolf Hitler havia sido
aluno da escola de Lambach e cantava com os Meninos do coro na abadia do mesmo
nome. L, ele descobriu a sustica, pois era o smbolo herldico do padre Hagen, o
administrador da abadia".
As inspiraes do Fuhrer tambm so facilmente explicveis, sem necessidade do uso
de loso as exticas ou misteriosas. Se bvio que esse " lho da Igreja Catlica",
conforme foi descrito por Franco era controlado por impulsos de lderes misteriosos,
tambm j sabemos que esses no tinham nada a ver com a mgica oriental. Os
infernos terrestres, que devoraram 25 milhes de vtimas, merecem outra explicao,
facilmente reconhecvel: a marca de povos que tiveram de ser treinados

intensivamente, de acordo com as prescries dos Exerccios Espirituais dos jesutas.


Os Jesutas e o Collegium Russicum



Dos vrios motivos que zeram o Vaticano decidir a comear a Primeira Guerra
Mundial, ao incitar o imperador da ustria, Francis Joseph, a "castigar os srvios", o
principal era aplicar um golpe fatal contra a Igreja Ortodoxa, essa ancestral e odiada
rival. O Vaticano tambm visava Rssia, protetora tradicional dos crentes
ortodoxos nos Blcs e no Leste.
Pierre Dominique escreveu: "Para Roma, esse caso se tornou de suma importncia;
uma vitria da monarquia apostlica sobre o czarismo poderia ser vista como uma
vitria de Roma sobre o cisma do Leste".
A Cria Romana de forma alguma se preocupou se tal vitria s poderia ser
conseguida atravs de um holocausto gigantesco. O risco, ou melhor, a certeza, foi
aceito, pois as alianas zeram a guerra inevitvel. In uenciado pelo secretrio de
Estado, o jesuta Merry dei Vai, Pio X no fazia segredo disso, e o encarregado de
Negcios da Bavria escreveu ao seu governo, na vspera do con ito: "Ele, o papa,
no acredita que os exrcitos da Frana e da Rssia sejam vitoriosos em uma guerra
contra a Alemanha".
Esse clculo perverso provou ser falso. A Primeira Guerra Mundial que devastou o
Norte da Frana e deixou milhes de mortos, no atingiu as ambies de Roma; ao
contrrio, dividiu a ustria-Hungria; e privou, portanto, o Vaticano de sua fortaleza
mais importante na Europa e liberou os eslavos, que j faziam parte dessa monarquia
dupla* do jugo apostlico de Viena. A Revoluo Russa libertou do controle do
Vaticano aqueles catlicos romanos, a maior parte deles He origem polonesa, que
viviam no antigo imprio czarista. A derrota foi total. A "patiens quia aeterna" da
Igreja Romana, no entanto, perseguida com esforos renovados sua poltica de
"Drang nach Osten", o impulso em direo ao Leste, que combinava to bem com
as ambies pan-germnicas.
O surgimento de ditadores e a Segunda Guerra Mundial, com o seu squito de
horrores, a "lavagem" de Wartheland, na Polnia, e a "catolizao compulsria" da
Crocia so exemplos especialmente atrozes desses horrores. Realmente no
importava que 25 milhes tivessem morrido nos campos de concentrao; 32
milhes de soldados assassinados nos campos de batalha e 29 milhes tivessem ficado
feridos ou invlidos. Essas so as estatsticas o ciais da ONU, Organizao das
Naes Unidas e mostram a magnitude dessa carnificina!
Dessa vez, a Cria Romana achou que seus objetivos foram atingidos, e pode-se ler

na "Basler Nachrichten" de Basilia: 'A ao alem na Rssia coloca a questo da


evangelizao daquele pas, e o Vaticano est extremamente interessado nisso". E isto,
de um livro dedicado glori cao de Pio XII: "O Vaticano e Berlim assinaram um
pacto que permitia aos missionrios catlicos do Colgio Russicum ocuparem s
territrios, colocando os blticos sob a nunciatura de Berlim". A "catolizao" da
Rssia estava para ser lanada, sob a proteo da Wehrmacht e da SS, maneira de
Pavelitch e seus comparsas na Crocia, mas numa escala muito maior. Essa seria uma
verdadeira v|tria de Roma! Que decepo, ento, quando o movimento htlerista foi
interrompido diante de Moscou e quando von Paulus e Seu batalho foram
emboscados em Stalingrado! Era Natal de 1942, e podemos reler a mensagem, ou
melhor, a "brilhante convocao" endereada s "naes crists" pelo "Santo Papa":
"Esse momento no de lamentao, mas de ao. Que o entusiasmo das Cruzadas
invada o cristianismo, e o apelo "Deus assim quer!" seja ouvido. Qe estejamos
prontos a servir e nos sacri car, como os cruzados dos velhos tempos. Exortamos e
imploramos que vocs estejam atentos gravidade penosa da situao atual. Quanto
aos voluntrios que participam dessa Santa Cruzada dos tempos modernos,
"levantem alto o estandarte e declarem guerra contra as trevas de um mundo afastado
de Deus!"
Nesse dia de Natal, estvamos muito longe da "Pax Christi"! Esse discurso guerreiro
no era a expresso da "estrita neutralidade" a qual o Vaticano se atribui nas questes
internacionais. Esse discurso se torna ainda mais imprprio pelo fato da Rssia ser
aliada da Inglaterra, Estados Unidos e Frana livre. A contestao veemente dos
defensores de Pio XII diz que a guerra de Hitler no era uma verdadeira "cruzada",
quando essa palavra mencionada na mensagem do prprio "Santo Papa"!
Os "voluntrios" que o papa convocou para as armas eram da "Diviso Azul" ou
recrutados pelo cardeal Baudrillart em Paris. 'A guerra de Hitler uma iniciativa
nobre na defesa da cultura europia", exclamou ele a 30 de julho de 1941.
Observamos, no entanto, que o Vaticano no est mais interessado na defesa dessa
cultura agora que tenta instigar naes africanas a se revoltarem contra a Frana. Pio
XII disse: 'A Igreja Catlica no se identi ca com a cultura Ocidental".(141 e 141a)
As mentiras e grandes contradies so in nitas da parte daqueles que acusam sat de
ser o "pai de todos os aliados".
A derrota da Rssia pelos Exrcitos de Hitler, "esses nobres defensores da cultura
europia", envolvia tambm os jesutas da converso. Ficamos imaginando o que
"Santa" Teresa estaria fazendo diante de tamanho desastre! Pio XI a tinha
proclamado "santa padroeira da infeliz Rssia" e o cnego Coube a representou de
p, "sorrindo", mas to terrvel quanto um Exrcito pronto para a batalha contra o
gigante bolchevique.
Ser que a santa de Lisieux, usada para todos os tipos de obras da jgreja, tinha

sucumbido diante da tarefa nova e gigantesca a ela atribuda pelo "Santo Papa?" No
seria de surpreender. Alm da "santinha", ainda havia a "Rainha dos Cus" que, em
1917, j tinha assumido, sob certas condies, trazer de volta a Rssia do cisma ao
rebanho da Igreja Romana.
Vejamos o que o La Croix disse sobre o assunto: "Lembramos nossos leitores que a
prpria Nossa Senhora de Ftima havia prometido a converso dos russos, se os
cristos praticassem com sinceridade e devoo todos os mandamentos da lei do
evangelho".
De acordo com os padres jesutas, que eram grandes especialistas em milagres, o
Mediador Celeste teria recomendado como especialmente e caz o uso dirio do
rosrio. Essa promessa da Virgem teria sido selada por ela com uma "dana do Sol",
uma maravilha que teria ocorrido novamente em 1951, nos jardins do Vaticano,
para o benefcio exclusivo de "Sua Santidade" Pio XII. Os russos, no entanto,
invadiram Berlim, apesar da cruzada convocada pelo papa e, at hoje, os
compatriotas de Khrushev no demonstraram nenhuma vontade, que seja do nosso
conhecimento, de surgirem diante das "portas de So Pedro" em trajes de penitentes,
com um cabresto em volta do pescoo. O que aconteceu de errado? Os cristos no
teriam contado bem as contas do rosrio? Algumas das rezas no foram feitas
corretamente?
Seramos tentados a acreditar que essa seria a causa, se no houvesse aquele detalhe
meio escabroso da "maravilhosa" histria de Ftima. A promessa de converso da
Rssia, feita clarividente Lcia em 1917, foi por ela "revelada" apenas em 1941,
quando havia Se tornado freira, e tornada pblica em outubro de 1942 pelo cardeal
^hr, um partidrio entusiasta do eixo Roma-Berlim. Foi tornada pblica por
solicitao (melhor seria dizer "ordem") de Pio XII mesmo Pio XII que, trs meses
depois, fez a j mencionada convocao para uma Cruzada. extremamente
"esclarecedor": Um dos apologistas de Ftima admite que, por causa disso, o caso
"evidentemente perde algo do seu valor proftico". o mnimo que se pode dizer
sobre o assunto.
Um certo cnego, grande especialista na questo do "milagre portugus", conta-nos
em con dencia: "Devo confessar que, com grande relutncia, acrescentei s minhas
primeiras edies o texto revelado ao pblico por Sua Eminncia Cardeal Schuster".
Com certeza podemos entender os sentimentos do bom cnego: A "Santa Virgem"
teria contado pastorinha Lcia, em 1917: "Se meus pedidos forem atendidos, a
Rssia ser convertida", enquanto a encarregava de manter esse "segredo" s para ela.
Ento como que os cristos chegaram a car sabendo sobre esses "pedidos"?
"Credibile quia ineptum".
Parece que de 1917 a 1942 a "infeliz Rssia" no precisava ter nenhuma reza feita em
seu nome, e que essas rezas seriam extremamente necessrias somente aps a derrota

nazista em Moscou e quando von Paulus caiu na emboscada de Stalingrado. Pelo


menos, a nica concluso que essa ltima revelao permite. O sobrenatural, como
j dissemos, uma coisa poderosa, mas deve ser manipulado com um certo cuidado.
Aps Montoire, o prior dos jesutas, Halke von Ledochowski j falava soberbamente
sobre a reunio geral que a Companhia teria em Roma aps a Inglaterra ter
capitulado, e cuja importncia e brilho no encontrariam paralelo em toda a sua
histria. Mas os cus haviam decidido o contrrio, apesar de "Santa" Teresa e da
"Senhora" de Ftima. A Gr-Bretanha recuperou foras contra o inimigo; os Estados
Unidos entraram na guerra; apesar do padre jesuta Coughlin ter trabalhado tanto
contra, os aliados desembarcaram no Norte da frica e a campanha russa foi um
desastre para os nazistas. Para Ledochowski, era o colapso de seu grande sonho.
Wehrmacht, a SS, oS "limpadores" e os jesutas da converso estavam capitulando
juntos. A sade do prior no suportou o desastre e ele morreu. Vejamos, entretanto,
no que o "Russicum" se tornou quando foi incorporado por Pio XI e von
Ledochowski em 1929 j rica e variada organizao romana.
"Com a constituio apostlica Quam Curam, Pio XI criou esse seminrio russo em
Roma, onde jovens apstolos de todas as nacionalidades seriam treinados, "na
condio de que adotassem, acima de qualquer outra coisa, o rito bizantino-eslavo, e
que suas mentes fossem inteiramente dedicadas tarefa de trazer a Rssia de volta ao
rebanho de Cristo".
Esse o objetivo do Colgio Ponti cai Russo, alis "Russicum", o Instituto
Ponti cai Oriental e o Colgio Romano - esses trs centros tambm administrados
pela Companhia de Jesus.
No "Colgio Romano" - 45, Piazza dei Gesu - encontramos os novios jesutas e,
entre eles, alguns levam a alcunha de "russipetes", pois so destinados a "petere
Russiam", ou seja, ir para a Rssia. Os crentes ortodoxos deveriam tomar cuidado,
pois esses (muitos) campees valorosos esto determinados a destru-los. Temos que
admitir, no entanto, que o acima mencionado Homme Nouveau a rma: "Todos
esses sacerdotes esto certamente destinados a se dirigirem Rssia, mas este projeto
no pode ser levado adiante por enquanto". De acordo com essa publicao, a
imprensa sovitica chama estes apstolos de "pra-quedistas do Vaticano".
E, a partir do testemunho de algum bem informado sobre o assunto, chegamos
concluso que esse nome muito adequado. A pessoa em questo ningum menos
do que o jesuta Alighiero Tondi, Professor da Universidade Ponti cai Gregoriana,
que repudiou a Igncio de Loyola e aos Exerccios Espirituais (no sem antes gerar
uma grande controvrsia), e nalmente se afastou da famosa Companhia, bem como
de suas pompas e faanhas. Podemos ler o seguinte, dentre outras declaraes, em
uma entrevista dada por ele a um jornal italiano: 'As atividades do Collegium
Russicum e outras organizaes ligadas a ele so muitas e variadas. Por exemplo,

juntamente com os fascistas italianos e o que restou do nazismo alemo os jesutas


organizaram e coordenaram vrios grupos anti-russos, sob a autoridade eclesistica. A
nalidade ltima de estarem prontos eventualmente, a derrubar os governos do
Leste. Os recursos so fornecidos por organizaes eclesisticas de renome. Essa
uma obra qual os prprios lderes do clero se dedicam. Esses ltimos estariam
prontos a rasgar as suas vestes, sem piedade, e serem acusados de se misturarem em
poltica e incitarem os bispos e sacerdotes do Leste a conspirarem contra os seus
governos. Ao falar com o jesuta Andrei Ouroussof, disse que tinha sido infeliz ao
a rmar, no Osservatore Romano, a voz o cial do Vaticano, e em outras publicaes
eclesisticas, que os espies desmascarados eram "mrtires da f", Ouroussof caiu na
gargalhada. "O que que voc escreveria, padre?", ele me perguntou. Voc os
chamaria de espies ou algo pior? Hoje a poltica do Vaticano precisa de mrtires,
mas atualmente difcil de se encontrar mrtires. Ento, eles tm que ser fabricados."
Mas isso um jogo desonesto! Ele balanou a cabea ironicamente.
Voc inteligente, padre. Pelo trabalho que faz, deveria saber melhor do que
ningum que os dirigentes da Igreja sempre foram inspirados pelas mesmas regras.
E Jesus Cristo? perguntei.
Ele riu: No devemos pensar em Jesus Cristo, ele disse. "Se pensssemos n'Ele,
acabaramos na cruz. E hoje, chegou o momento de colocarmos outros na cruz, para
que no sejamos ns mesmos a ficarmos pregados nela".
Assim, como disse to bem o jesuta Ouroussof, a poltica do Vaticano precisa de
mrtires, voluntrios ou no. "Criou" milhes deles durante as duas guerras.

O Papa Joo XXIII Tira a Mscara

De todas as ces geralmente aceitas nesse mundo, o esprito de paz e harmonia
atribudo Santa S provavelmente o mais difcil de extirpar, pois esse esprito
parece inerente natureza do prprio magistrio apostlico. Apesar das lies da
Histria, no completamente conhecidas ou muito rapidamente esquecidas, aquele
que chamado de "vigrio de Cristo" deve, necessariamente, encarnar para muitos o
ideal de amor e fraternidade ensinado pelo Evangelho. E a lgica, tanto quanto o
sentimento, no quer que seja dessa forma?
Os fatos, na realidade, nos fazem perceber que essa opinio favorvel deve ser revista
e diminuda - e acreditamos que tenha sido su cientemente demonstrada. A Igreja,
no entanto, prudente - como sempre nos dizem - e raro que suas aes no sejam
envolvidas pelas precaues indispensveis que tomem conta das aparncias. "Bonne
renommee vaut mieux que ceinture doree" (A boa reputao vale mais do que um
cinto dourado), diz o provrbio francs. Mas ainda melhor possuir ambos.
O Vaticano - incrivelmente rico - se guia por essa mxima. Sua luxria poltica pela

dominao sempre assume pretextos "espirituais" e humanitrios, proclamada "urbi


et orbi" por uma propaganda intensa fornecida por um cinto dourado-prateado, e a
"boa reputao", preservada dessa maneira, permite a entrada de ouro ao dito cinto.
O Vaticano no se desvia dessa linha de conduta e, quando o seu "status" em
negcios internacionais ca revelado de forma clara atravs das atitudes de sua
hierarquia; a lenda de sua imparcialidade absoluta mantida viva por aquelas
encclicas solenes e ambguas e outros documentos papais. Recentemente a era
hitlerista multiplicou esses exemplos. Poderia, entretanto, ser de outra forma, em
uma autoridade que se supe como transcendente e universal ao mesmo tempo?
Poucas foram as vezes em que a mscara caiu. Para que o mundo seja testemunha
desse espetculo, necessria uma contingncia que diante dos olhos da Igreja seja
perigosa aos seus interesses vitais Somente assim, ela deixa de lado a ambigidade e se
pe abertamente de um dos lados.
Isso foi o que aconteceu em 7 de janeiro de 1960, em Roma, com relao
conferncia de cpula que viria a reunir os dirigentes dos governos do Ocidente e do
Leste, numa tentativa de determinar as condies de co-existncia realmente pac ca
entre os defensores das duas ideologias contrrias. claro que a posio do Vaticano
diante de tal projeto no parecia deixar qualquer dvida. Nos Estados Unidos, o
cardeal Spellman demonstrou-a claramente ao levar os catlicos a exibirem sua
hostilidade a Khrushchev quanto este foi convidado pelo presidente norte-americano.
Por sua vez, e sem express-lo claramente, "Sua Santidade" Joo XXIII havia
demonstrado pouco entusiasmo pela "detente" na sua mensagem de Natal. A
"esperana" que demonstrava de ver a paz reinstalada no mundo, um desejo que
deveria ser uma obrigao nesse tipo de documento, parecia muito frgil, pois era
acompanhada por muitos pedidos aos lderes ocidentais de serem prudentes.
At ento, o Vaticano vestia a boa mscara. O que aconteceu, ento, em menos de
duas semanas? Vendo que a primeira mensagem falhou, ser que uma outra
"esperana" to desejada provava ser intil? Ser que a deciso de Gronchi, presidente
da Repblica Italiana, de ir a Moscou, entornou o copo de amargura romana?
Independente do que tenha acontecido, o furaco desabou a 7 de janeiro - e os
ataques eclesisticos irromperam, com fria, sobre os chefes-de-Estado "cristos",
acusados de colocarem um m guerra fria. A 8 de janeiro, o Le Monde publicou:
"No dia em que o presidente da Repblica Italiana estava partindo para uma visita
o cial extremamente agendada com os lderes de Moscou, o cardeal Ottaviani,
sucessor do cardeal Pizzardo como secretrio da Congregao do Santo Ofcio ou
chefe do Supremo Tribunal da Igreja, fez um discurso absolutamente incrvel na
baslica de "Sainte-Marie -jylajeure", durante um culto matutino pela "Igreja do
Silncio". Nunca antes havia um prncipe da Igreja, detentor de um dos cargos mais
importantes dentro do Vaticano, atacado as autoridades soviticas com tanto furor,

nem reprimido to severamente as autoridades ocidentais que trabalhavam com eles."


O Le Monde forneceu fragmentos substanciais daquele discurso violento que
justi cou plenamente o adjetivo de "absolutamente incrvel" que havia sido usado.
"A poca de Tamerlanes voltou", a rmava o cardeal Ottaviani, e os lderes russos
foram descritos como sendo "novos anticristos que condenam deportao, priso,
massacre e no deixam nada atrs de si, alm de uma terra destruda."
O orador estava chocado com o fato de ningum mais "ter medo de apertar a mo
dele", e que, "ao contrrio, disputavam uma corrida para ver quem seria o primeiro a
faz-lo e ainda trocar amabilidades". Ento ele recordou a seus ouvintes que Pio XII
se afastou e foi a Castelgandolfo quando Hitler chegou a Roma, esquecendo-se, no
entanto, de acrescentar que esse mesmo pont ce havia concludo com o mesmo
Hitler um pacto extremamente vantajoso para a Igreja.
As viagens espaciais tampouco foram poupadas nessa violenta denncia: "O novo
homem cr que pode violar os cus com faanhas no espao e assim demonstrar,
mais uma vez, que Deus no existe. Os polticos e chefes-de-Estado ocidentais que,
de acordo com o cardeal, " caram estpidos com o terror", foram amaldioados,
pois eram todos "cristos que no mais reagem ou protestam com violncia".
"Podemos nos dar por satisfeitos com qualquer tipo de "detente" quando no puder
haver nenhum tipo de tranqilidade na humanidade, se no observamos um respeito
elementar pela conscincia, pela nossa f, pela face de Cristo, coberta de saliva,
coroada com os espinhos? Podemos esticar a mo queles que fazem isso?"
Essas palavras dramticas no nos deixam esquecer que o Vaticano no pode nem
falar de "respeito de conscincias", pois a Igreja oprime sem piedade as conscincias
nos pases em que domina, a exemplo da Espanha de Franco, onde os protestantes
eram perseguidos. realmente despudorado da parte do secretrio do Santo Ofcio,
em especial, o pedido de que os outros observem esse "respeito elementar" quando
toda a Igreja Romana o rejeita inteiramente. A encclic Quanta Cura e o Slabo so
explcitos: 'Antema (excomunho) para aquele que diz: todo homem livre para
abraar ou professar a religio que seu discernimento considere ser correta" (Slabo,
artigo XV). " loucura pensar que a liberdade de conscincia e culto seja direito
simples de todos os homens" (Encclic Quanta Cura).
A julgar pela forma como trata dos "hereges", no de assustar que o Vaticano
condene sistematicamente todas as tentativas de se chegar a bom termo entre os
pases "cristos" e aqueles que so o cialmente atestas. "Non est pax impilis" ("Nada
de paz para os perversos"). E o padre jesuta Cavelli, semelhana de muitos outros
antes dele, proclama que essa "intransigncia" a "lei mais imperativa" da Igreja
Romana.
Em contrapartida a essa exploso de fria da parte do cardeal, citaremos outro artigo
que apareceu no mesmo nmero do Le Monde, a 9 de janeiro de 1960: 'A

humanidade est chegando a um ponto em que a aniquilao mtua uma


possibilidade. No mundo de hoje, nenhum outro fato pode ser comparado em
importncia a este. Devemos, portanto, lutar intensamente por uma paz justa".
Assim disse o presidente Eisenhower, diante do Congresso dos Estados Unidos, no
mesmo momento em que o cardeal Ottaviani, em Roma, condenava a co-existncia
como sendo uma participao no crime de Caim.
O contraste entre as duas formas de pensamento no poderia ser mais chocante: o
humano e o teocrtico. Nada mais bvio do que o perigo que paira sobre o mundo
por causa do ncleo de fanatismo cego ao qual chamamos de Vaticano. Seu egosmo
"sagrado" tamanho que chega a no importar a necessidade urgente de um acordo
internacional, de forma a evitar uma ameaa de extermnio total da humanidade. O
secretrio do Santo Ofcio, esse tribunal supremo cujo passado bem conhecido, no
leva em considerao tais contingncias "negligenciveis". Os russos vo missa? Esse
o ponto importante e, se o presidente Eisenhower no compreende, porque
"parece ter cado estpido com o terror", para usar os termos do "Porporato"
passional.
O frenesi delirante do discurso do cardeal Ottaviani nos faz rir e nos sentimos
chocados ao mesmo tempo. Muitos acham que essa chama vai ter di culdades em
persuadir os "cristos" a aceitarem a bomba atmica em paz. Mas temos que estar em
guarda! Por detrs do porta-voz da Santa S h uma organizao ponti cai e, em
especial, essa armada secreta dos jesutas no composta de soldados comuns. Todos
os membros daquela famosa Companhia trabalham dentro dos corredores do poder;
sua ao, sem fazer muito barulho, pode ser e caz de maneira excepcional, ou seja,
maligna.
Surgiram boatos de que a postura violenta do cardeal Ottaviani no era o re exo
exato do pensamento da Santa S, mas simplesmente a opinio de um integrante do
"cl integralista". A imprensa catlica, na Frana pelo menos, tentou atenuar a
importncia daquele discurso violento, e o La Croix, em particular, s imprimiu um
curto extrato no qual era omitida toda a violncia.
Esse oportunismo foi muito esperto, mas no poderia enganar ningum.
simplesmente impossvel que uma crtica to feroz e de importncia poltica
excepcional possa ter sido proferida do plpito de "SainteMarie-Majeure", pelo
secretrio do Santo Ofcio, sem a aprovao do chefe da Congregao, do seu
dirigente, o prprio Soberano Pont ce e, tanto quanto sabemos, ele nunca
desmentiu o seu eloqente subordinado. O papa Joo XXIII no poderia jogar
aquela "bomba" ele mesmo mas, ao fazer um de seus mais altos dignatrios na Cria
tomar o seu lugar, quis deixar claro a todos a sua conivncia .
Por uma estranha "coincidncia", uma "exploso" mais modesta aconteceu ao
mesmo tempo, na forma de um artigo no Osservatore Romano, condenando

novamente o socialismo, mesmo o no-marxista, como sendo "oposto verdade


crist". Aqueles que praticam esse erro poltico, no entanto, no so excomungados
"ipso facto" como so os comunistas, tendo eles ainda a esperana de escaparem do
inferno, mas a ameaa do purgatrio continua!
Ao mostrar sua oposio veemente a qualquer tentativa de reunir o Ocidente e o
Oriente, estaria o Vaticano esperando por resultados positivos? Esperaria intimidar os
chefes-de-Estado que buscam essa poltica de paz, ou queria apenas provocar pelo
menos um sentimento contrrio "detente" entre os is? Por mais insensata que
essa esperana possa parecer, ela realmente pode ter invadido as mentes desses
sacerdotes. Seu ponto de vista peculiar fatalmente leva a produzir tais iluses. Alm
do mais, esses homens "tranquilizadores" no poderiam ter esquecido uma certa
iluso usada por tanto tempo para enganar aqueles que neles con aram - e na qual
tambm pareciam acreditar. Referimo-nos "converso da Rssia", aparentemente
anunciada em Ftima por "Nossa Senhora" em pessoa, em 1917, a Lcia, a
pastorinha, a qual posteriormente fez o voto sagrado e testi cou sobre isso algum
tempo depois, em 1942, nas "Memrias" que escreveu a pedido de sua madre
superiora.
Essa "histria da carochinha" faz rir, mas em nada muda o fato de que o Vaticano,
sob o ponti cado de Pio XII, a propagou por todo o mundo, com muitos discursos,
sermes, declaraes solenes, uma torrente de pan etos e livros, alm de
peregrinaes da esttua dessa nova e poltica "Nossa Senhora" a todos os continentes
- onde at mesmo os animais, segundo dizem, vinham pagar tributos. Essa
propaganda barulhenta ainda pode ser lembrada por is mais velhos, tanto quanto
as a rmaes enlouquecidas como essa, publicada em Ia de novembro de 1952, pelo
La Croix: "Ftima se tornou uma andarilha das estradas. O destino das naes pode
ser melhor decidido por ela do que em volta das mesas."
Seus tarifrios no podem encontrar mais refgio na ambigidade. A alternativa
perfeitamente visvel: "detente ou guerra fria". O Vaticano escolhe a guerra e no
esconde esse fato. Essa escolha no deveria surpreender ningum - se a experincia
anterior, mesmo recente, foi uma lio para ns. Se ela surpreender alguns, cremos
que seja por causa da sua proclamao sem cerimnias ou sem a "camu agem
habitual."
Comeamos a entender a violncia quando consideramos a importncia da aposta do
Pont ce Romano. Estaramos a julgar mal o Vaticano pensando que eles seriam
capazes de renunciar a uma expectativa to antiga quanto o cisma do Leste - a de
trazer de volta os crentes ortodoxos sob sua obedincia, atravs de um xito militar. 0
surgimento de Hitler se deve a essa esperana obstinada - mas a derrota nal de sua
Cruzada ainda no abriu os olhos da Cria Romana loucura de tal ambio. Ainda
h outro desejo mais opressivo: a libertao da Polnia, Hungria e Tchecoslovqua,

esta famosa "Igreja do Silncio", que s se transformou nisso pela inesperada


mudana de rumos, na perspectiva da Santa S, durante a cruzada nazista. "Qui trop
embrasse mal etreint" ("Quem tudo quer, tudo perde"), diz um provrbio sbio que
nunca inspirou os fanticos.
A m de resumir sua marcha para o Leste, "Drang nach Osten", e reaver
primeiramente as fortalezas perdidas, o Vaticano ainda con a no "brao secular"
alemo, seu principal campeo europeu, que necessita de nova fora e vigor. Na
direo da Alemanha Federal - a seco Ocidental do Grande Reich - colocou um
homem confivel, o chanceler Konrad Adenauer, o camareiro secreto do papa.
A poltica por ele adotada por mais de 15 anos mostrava claramente a marca da Santa
S. Exibindo primeira vista um grande cuidado e uma postura liberal oportuna, o
homem que seus compatriotas costumavam chamar de "der alte Fuchs" (a velha
raposa) trabalhou pelo rearmamento do pas, e da juventude alem em Particular,
que era um imperativo suplementar ao primeiro. por isso que os postos
importantes nos ministrios e na administrao H Alemanha Ocidental foram
ocupados por muitos indivduos com passado reconhecidamente hitlerista - a lista
longa - e industriais a exemplo de von Krupp e Flick, que no fazia muito tempo
tinham sido acusados de criminosos de guerra, passaram a dirigir novamente os seus
negcios gigantescos que foram a eles restitudos. "O m justi ca os meios". Forjar a
nova espada de Siegfried, a arma necessria para a vingana - uma vingana que seria
dividida com o Vaticano.
Com um sincronismo perfeito e durante uma entrevista dada em um peridico
holands, o camareiro secreto repetiu o discurso fulminante que o cardeal Ottaviani
tinha acabado de expressar: "A co-existncia pac ca das naes cujas vises so
totalmente opostas apenas uma iluso que, infelizmente, ainda encontra partidrios
demais". O "sermo" incendirio feito em 7 de janeiro em "Sainte-Marie-Majeure"
precedeu por alguns dias - como por coincidncia -a visita de Konrad Adenauer a
Roma. As reportagens que a imprensa fez foram unnimes em destacar a atmosfera
amigvel e simptica que prevaleceu durante a audincia particular que Sua Santidade
Joo XXIII deu ao chanceler alemo e seu ministro de Assuntos Estrangeiros, von
Brentano. Podamos at ler no L'Aurore: "Essa reunio provocou uma declarao
quase inesperada do chanceler, ao responder ao discurso papal que louvava a coragem
e f do dirigente do governo alemo: Creio que Deus concedeu ao povo alemo um
papel especial a desempenhar nesses tempos conturbados: ser o protetor do Ocidente
contra as influncias poderosas do Leste".
Combat observou com preciso: "J havamos lido isso antes, mas de forma mais
condensada: "Gott mit uns" - "Deus conosco", na legenda do cinturo do uniforme
dos soldados alemes na guerra 1914-1918". O mesmo jornal acrescentou: 'A
evocao do trabalho do doutor Adenauer atribuda nao alem encontrou sua

inspirao em uma declarao semelhante do pont ce anterior. Somos, portanto,


autorizados a presumir que se o doutor Adenauer pronunciou essa frase nas
circunstncias atuais, porque pensa que seus ouvintes estavam prontos para ouvilo".
"Teramos que ser ingnuos e ignorantes em diplomacia elementar para pensarmos
que essa declarao "inesperada" no fazia parte do Drograma. Apostamos tambm
que no lana nenhuma sombra na "conversa prolongada que Adenauer teve com o
cardeal Tardini, secretrio de Estado da Santa S, que ele recebeu para um almoo
oficial na Embaixada Alem".
A interferncia espetacular do Santo Ofcio em poltica internacional, atravs do
cardeal Ottaviani, chocou at mesmo os catlicos que estavam acostumados h
muito tempo s invases da Igreja Romana nos negcios de Estado. Roma tinha
conscincia disso, mas a perpetuao da guerra fria era to vital e importante ao poder
poltico do Vaticano, e at mesmo sua prosperidade nanceira, que no hesitou em
se pronunciar com tais vises polticas, apesar da primeira declarao ter sido mal
recebida.
A viagem de Kruschev Frana, em maro de 1960, deu-lhe outra oportunidade.
Dijon foi uma das localidades includas na visita do lder sovitico. semelhana de
todos os seus colegas na mesma situao, o prefeito de Dijon deveria receber com
cortesia o convidado da Repblica Francesa. A cidade de Burgandy tinha um
sacerdote como prefeito, o cnego Kir. De acordo com a lei cannica, a Santa S
havia autorizado expressamente o padre a aceitar o seu mandato duplo - com todas as
funes e tarefas superpostas. Seu bispo, no entanto, proibiu o prefeito-cnego de
receber Kruschev. Nessa ocasio, as funes de prefeito cederam espao batina. O
visitante foi recebido por uma assistente que substitua o prefeito ausente.
A forma tranqila com que a "hierarquia" engoliu a autoridade civil naquela ocasio
levantou comentrios cidos. Em 30 de maro, O Le Monde escreveu: "Quem est
realmente exercendo autoridade sobre a prefeitura de Dijon: o bispo ou o prefeito? E
acima desses dirigentes: o papa ou o governo francs? Esta a pergunta que todos se
fazem. A resposta no deixa dvidas: primeiro a teocracia A partir de agora, ao serem
recebidos por uma batina vestida ri prefeito, os convidados da Repblica Francesa
tero de receber bilhetes para a confisso?"
No artigo acima mencionado, o editor do Le Monde tambm diz com muita
correo: 'Alm dessa questo interna francesa, o caso Kir traz discusso um
problema ainda maior. A ao do Vaticano no se refere apenas s relaes entre um
prefeito e seu governo Como aconteceu, constitui uma interveno direta e
espetacular na diplomacia internacional. As reaes que esse caso provocou mostram
que essa concluso foi de quase toda a opinio pblica mundial. Nos Estados
Unidos, em particular, o pblico, que j havia presenciado as demonstraes hostis

organizadas pelos cardeais Spellman e Cushing durante a visita de Kruschev,


comeou a questionar a verdadeira independncia que um presidente catlico
romano poderia preservar com relao Santa S. Muitos temiam, nesse caso, ver a
poltica internacional do pas jogada de acordo com os interesses da Igreja Romana em detrimento dos interesses nacionais, o que no deixa de ser um perigo em todas
as circunstncias, mas em especial nesse caso".
A resistncia contra uma "detente" Ocidente/Oriente foi ento organizada de forma
aberta, aps a "bomba" atirada pelo cardeal Ottaviani. Um instrumento ridculo,
alguns podem dizer, comparado com aquelas bombas que ameaam enterrar nas
runas (mais cedo ou mais tarde) s naes enlouquecidas que chegaram a um
impasse nesse antagonismo terrvel. Os jesutas zeram o melhor para afastar a pior
"calamidade" que poderia cair sobre a Santa S: um acordo internacional que
exclusse o recurso da guerra. O que seria do prestgio do Vaticano, sua importncia
poltica, e todas as vantagens peculiares e outras que procederiam disso, por causa de
um acordo desses? No poderiam mais fazer tramias, usar sua in uncia, estender
sua cooperao aos governos, favorecer alguns e destruir outros, se opor s naes,
criar con itos para seus benefcios prprios. E se, para servir suas ambies in nitas,
no pudesse mais recrutar soldados? Ningum pode ser enganado - e os jesutas
muitos menos do que nirigum - um desarmamento geral destruiria a Igreja Romana
como potncia mundial. O dirigente "espiritual" caria cambaleante. Devemos,
portanto, esperar ver os lhos de Loyola se opondo com todo o seu arsenal de
truques aos desejos de paz das naes e dos governos. A m de arruinar o edifcio
cujas fundaes esto tentando instalar, eles no mediro esforos. uma guerra sem
d, uma "guerra santa", lanada pelo discurso louco do cardeal Ottaviani. A
Companhia de Jesus travar a batalha com a obstinao cega de um inseto - "ad
majorem papae gloriam" - sem qualquer ansiedade quanto s catstrofes que podem
resultar da. O mundo deve perecer para a supremacia do Pont ce Romano, se
necessrio!

(*) NOTA DO EDITOR:
Edmond Paris estava em desvantagem por no saber que a "Prostituta do
Apocalipse" j est entre ns. Os jesutas avaliaram a Terceira Guerra Mundial e
decidiram que os Estados Unidos perderiam, e o Vaticano sempre ca do lado dos
vencedores. Assim, desde ento, estavam apoiando com entusiasmo Moscou e at
adquiriram um papa da Polnia comunista. Moscou serviria ao Vaticano como base
para conquistar as naes onde o catolicismo romano seria a nica religio tolerada. A
Rssia seria forada a atacar Israel, cumprindo-se assim as profecias da Bblia, em
Ezequiel 38 e 39. Hoje a guerra fria acabou - pelo menos assim parece ser; a Rssia
est sob controle, por enquanto, e os jesutas preparam seus prximos movimentos

no sentido de manterem vivos os seus objetivos.


Captulo 6
Concluso

Recapitulamos nesse livro as principais manifestaes da atividade multiforme
desenvolvida pela Companhia de Jesus, durante quatro sculos. Estabelecemos
tambm que o carter militante, e at militar, dessa famosa instituio ultramontana
justi ca plenamente o ttulo freqentemente atribudo a ela de "exrcito secreto do
papado". Na frente de batalha, "para a glria de Deus" e especialmente da Santa S,
os soldados eclesisticos dessa Ordem se entregam e so tambm orgulhosos dela.
Ao mesmo tempo, se esforam atravs de livros e da imprensa devota que
supervisionam, a despistarem tanto quanto possvel sobre as empreitadas
"apostlicas" da ao que exercem em seu campo favorito: na poltica das naes. A
camu agem inteligente, os protestos de inocncia, a revolta contra as "tramas
obscuras" atribudas a eles pela imaginao atribulada dos inimigos, ludo isso vem
carregado da hostilidade unnime da opinio pblica em relao a eles, sempre e em
todos os lugares, e a inevitvel reao contra suas intrigas que os levou expulso de
todos os pases, inclusive os mais fortemente catlicos. Essas 56 expulses, para citar
apenas as principais, fornecem um argumento infalvel. Seria o su ciente para provar
sua natureza maiigna. Como no poderia ser prejudicial s sociedades civis esse
instrumento de imposio das leis "espirituais" nos governos temporais? E essa lei por natureza - no teria a menor considerao pelos vrios interesses nacionais?
A Santa S, essencialmente oportunista, no adota esses interesses nacionais quando
coincidem ser os seus prprios. Mas, se a Santa S puder dar uma ajuda signi cativa
nesses projetos, o resultado nal ser ben co para ambos. Isto tambm pde ser
visto em 1918 e1945.
Terrvel contra os inimigos ou quem se oponha a ele, o Vaticano, essa organizao
anfbia clricopoltica, ainda mais mortal com os amigos. Sobre tal assunto, T.
Jung escreveu, em 1874, as seguintes linhas que no foram ultrapassadas ainda: "O
poder da Frana inversamente proporcional intensidade de sua obedincia Cria
Romana".
Uma testemunha recente, Joseph Hours, ao estudar os efeitos da muito relativa
"desobedincia" francesa, diz: "No h dvidas sobre isso; por todo o continente e
talvez por todo o mundo, onde o catolicismo tentado a se tornar poltico,
tambm tentado a se tornar antifrancs".
Uma observao contundente, apesar do termo "tentado" ser muito fraco.
Conclumos que "obedecido" seria mais apropriado. "No fcil se expor a essa
hostilidade", eis a concluso que chegou o coronel Beck, ex-ministro dos Negcios

Estrangeiros da muito catlica Polnia(2a): "O Vaticano um dos principais


responsveis pela tragdia do meu pas. Percebi tarde demais que tnhamos obedecido
na nossa poltica externa aos interesses unicamente da Igreja Catlica."
O destino do imprio muito catlico dos Hapsburg no foi realmente dos melhores.
Quanto Alemanha, to amada pelos papas, e especialmente por Pio XII, no deve
ter cado muito satisfeita com o preo dos favores carssimos prestados por Sua
Santidade no passado.
Imaginamos se a Igreja Romana colheu algum fruto dessa louca aspirao de dominar
o mundo, uma pretenso mantida viva pelos jesutas mais do que ningum. Durante
quatro sculos, nos quais as fogueiras espalharam morte e dio, massacres e runas na
Europa, na Guerra dos Trinta Anos at a Cruzada de Hitler, a Igreja ganhou ou
perdeu? A resposta fcil: o resultado mais claro e incontestvel a diminuio
constante da "herana de So Pedro", um final muito triste para tantos crimes!
Teria a in uncia dos jesutas trazido resultados melhores ao Vaticano? Dvidas...
Um autor catlico escreveu: "Eles sempre querem concentrar o poder eclesistico que
controlam. A infalibilidade do papa exaspera os bispos e os governos; no entanto, a
exigem no Concilio de Trento e a obtm no Concilio do Vaticano (1870). O
prestgio da Companhia fascina, dentro da Igreja, tanto os adversrios quanto os seus
amigos. Temos respeito ou, pelo menos, medo dela. pensamos que ela pode tudo, e
agimos de acordo com isso".
Outro escritor catlico a rmou categoricamente os efeitos dessa concentrao de
poder nas mos do pont ce: "A Companhia de Jesus tinha suspeitas sobre a vida, a
fonte da heresia, e se ops a ela com autoridade. O Concilio de Trento parece j ser o
testamento do catolicismo. o ltimo concilio genuno. 'Aps esse, s haver mais
o Concilio do Vaticano, que consagra a abdicao dos conclios. Estamos bem a par
dos ganhos do papa com o m dos conclios. Que simpli cao! E que
empobrecimento tambm! A Cristandade Romana assume seu carter de monarquia
absoluta, fundada agora e para sempre na infalibilidade papal. O retrato bonito,
mas a vida cobra o seu preo. Tudo vem de Roma e Roma deixada sozinha para se
apoiar apenas em Roma".
Mais adiante, o autor resume o que se deve creditar Companhia: "Talvez tenha
adiado a morte da Igreja, mas por um tipo de pacto com a morte???" Um tipo de
esclerose, ou melhor, necrose, se desenvolve e corrompe a Igreja, sob o comando de
Loyola. Os vigilantes do dogma, cujo carter antiquado acabam por reforar com seu
culto aberrante Virgem Maria: esses so os jesutas - mestres da Universidade
Ponti cai Gregoriana fundada por Igncio de Loyola - que checam o ensino nos
seminrios; supervisionam as misses; controlam o Santo Ofcio; animam a Ao
Catlica; censuram e dirigem a imprensa religiosa em todos os pases; padronizam
com "amor" os grandes centros de peregrinao: Lourdes, Lisieux, Ftima, etc.

Resumindo, esto por todos os lados, e podemos ver como signi cativo o fato do
papa, ao ministrar a missa, estar necessariamente sempre assistido por um jesuta. Seu
confessor tambm sempre jesuta. Ao manter a concentrao do poder nas mos do
Soberano Pontfice, a Companhia est trabalhando para o papa e para si mesma,
bene ciria aparente desse trabalho, que pode repetir essas famosas palavras: "Sou o
lder deles; obedeo, portanto, suas ordens".
Assim, cada vez mais difcil distinguir a ao da Santa S e da Companhia. Essa
Ordem, no entanto, o verdadeiro pilar da Igreja, tende a domin-la absolutamente.
J faz muito tempo que os bispos no passam de "funcionrios pblicos", executores
dceis das ordens vindas de Roma, ou melhor, do "Gs".
Sem dvida, os discpulos de Loyola se esforam para ocultar dos olhos dos is a
severidade de um sistema cada vez mais totalitrio. A imprensa catlica, sob seu
controle direto, assume alguns tons ideolgicos diferentes para dar a impresso de
um certo tipo de independncia a seus leitores, de que aberta a novas idias: os
padres, que so todas as coisas para os homens, praticam com empenho esses truques
de circo que s enganam os bobos. Por detrs dessa pequena "diverso", entretanto,
os eternos jesutas esto vigilantes, como diria um autor j mencionado: 'A
intransigncia inerente a eles". Capazes de fazer truques de mgica, por causa de suas
habilidades, sua caracterstica por excelncia a intransigncia"
Encontramos excelentes exemplos dessa teimosia e do vis insidioso no trabalho
paciente dos membros da Companhia para conciliar, por bem ou por mal, o esprito
cient co e "moderno" com a doutrina, de forma a que o primeiro se curve perante
essa, e especialmente com essas formas completamente idolatras de devoo - o culto
de Maria e os milagres - dos quais so ainda os mais dedicados propa-gandistas.
Dizer que esses esforos so coroados de xito seria um exagero: misturar fogo e gua
s faz fumaa. Mas at mesmo a inconsistncia dessas nuvens chega a agradar algumas
mentes sutis, apesar de conscientes dos perigos que os pensamentos muito precisos
trazem f sincera. "Vade retro, satans!"
A metafsica alem muito valiosa; podemos encontrar tudo o que precisamos, e at
mesmo o contrrio. No h superstio infantil
que, aps um tratamento, no adquira alguma aparncia de seriedade e mesmo
profundidade. engraado acompanhar nas publicaes dos vrios grupos culturais
esses jogos intelectuais. O pesquisador pode achar o material que precisa, em especial
aquele estudioso que, por uma tendncia aberrante, goste de ler nas entrelinhas.
Esses homens cheios de amargura no vivem na esfera especulativa; os bons padres s
se garantiram em fazer um bom apostolado entre os "intelectuais", formando uma
slida base temporal. Aos "dons do Esprito", que eles cedem luxuosamente aos seus
discpulos, acrescentam-se vantagens substanciais. uma tradio antiga.
Nos tempos de Carlos Magno, os saxes convertidos recebiam uma camisa branca.

Hoje em dia, os bene cirios de uma f descoberta recentemente, ou redescoberta,


usufruem de outros favores, especialmente no mundo acadmico e cient co: o
aluno no muito esclarecido passa nas provas sem di culdades; o mdico que " el",
alm dos clientes ricos, tem a preferncia ao tentar entrar em clnicas importantes,
etc. Por um mecanismo natural, esses recrutas escolhidos traro outros e, como a
quantidade gera fora, sua ao conjugada ser extremamente e caz no que
chamamos de esferas do poder.
Isso o que se veri ca na Espanha, segundo dizem, e tambm em outros lugares. No
Le Monde de 7 de maio de 1956, Henri Fesquet dedicou um artigo importante
"Opus Dei" espanhola. Ao de nir a ao dessa "santa" e oculta organizao, escreveu:
"Seus membros procuram ajudar intelectuais atingirem um estado religioso de
perfeio atravs do exerccio de suas pro sses e santi cao do trabalho
profissional."
Isso no novidade, e Fesquet sabe disso, pois diz mais adiante: "Eles so acusados, e
parece que no se pode negar o fato, de quererem ocupar os postos-chaves nas
Universidades, nas funes pblicas e Privadas, nos governos, para evitarem a entrada
ou at mesmo para expulsarem os descrentes e os liberais".
A "Opus" aparentemente entrou na Frana de forma clandestina, em novembro de
1954, "trazida" por dois padres e cinco leigos, doutores ou estudantes de Medicina.
Pode ser que tenha sido dessa forma, mas duvidamos se esse reforo trazido "de trs
dos montes" foi realmente necessrio para a continuidade do trabalho que tem sido
desenvolvido h tantos anos na Frana, principalmente nos mundos acadmicos e da
Medicina, como alguns escndalos em exames e vestibulares revelaram.
De qualquer forma, o ramo francs dessa ao, supostamente "obra de Deus", no
parece ser clandestino a nal, a julgar pelo que Franois Mauriac escreveu sobre o
assunto: "Fui depositrio de uma con dencia estranha; to estranha, que se no
houvesse sido assinada por um autor catlico que um amigo meu e em quem eu
confio, chegaria a pensar que se trata de uma mentira. Ele havia oferecido um artigo a
um jornal que aceitou a oferta de bom grado, mas nunca chegou a public-lo. Alguns
meses depois, meu amigo cou irritado, fez perguntas e nalmente recebeu esta
resposta do diretor daquele peridico: "Como voc provavelmente deve saber, a
"Opus Dei" tem checado o que publicamos nos ltimos meses. E a "Opus Dei" se
recusou a autorizar a impresso daquele texto." Esse amigo me fez uma pergunta: "O
que a "Opus Dei?" E eu, tambm francamente e candidamente pergunto o
mesmo".
Essa pergunta, que na verdade no foi feita to "candidamente" por Franois
Mauriac, como pode parecer primeira vista, poderia ter sido feita a escritores,
editores, livreiros, cientistas, conferencistas, gente do Teatro e do Cinema. A menos
que ele pre ra se informar pessoalmente nas prprias centrais de edio. Quanto

oposio que supostamente a "Opus Dei" enfrenta da parte dos jesutas, vemos que
no passa de mera rivalidade de grupos. A Companhia, como j dissemos e
provamos, to "modernista" quanto "conservadora", de acordo com as
oportunidades, pois est determinada a ter um p em cada lado do campo de batalha.
O mesmo jornal Le Monde publicou um artigo de Jean Creach, ironicamente nos
convidando a admirar um 'Auto-de-f dos jesutas espanhis", felizmente limitado
aos trabalhos da literatura francesa. Com certeza, esse censor jesuta no parece ser um
"modernista", a julgar pelo que Jean Creach diz: "Se o padre Garmendia tivesse o
poder do cardeal Tavera, aquele do olhar ressuscitado por El Greco como uma
mscara de luz esverdeada com prpura, a Espanha s teria contato com nossa
literatura atravs de autores castrados ou at mesmo decapitados".
Ento, aps citar vrios exemplos engraados do cuidado puri cador do reverencio
padre, o autor nos conta essa re exo pertinente: "Ser que as mentes formadas pelos
nossos jesutas so to frgeis que no podem entrar em contato com o menor perigo
de serem derrotadas por elas mesmas?", sussurou uma "lngua malvada". Diga-me,
caro amigo, se eles so incapazes de fazer isso, qual o valor do ensino que os faz to
frgeis?"
A essa crtica humorstica, podemos responder que a dita fraqueza das mentes
moldadas pelos jesutas o principal valor do seu ensino - bem como seu perigo. a
esse ponto que sempre devemos retomar. Atravs de uma vocao especial, apesar de
algumas honrosas e at mesmo famosas excees, eles so os inimigos eternos da
liberdade de pensamento: so agentes da lavagem cerebral que j sofreram a sua
prpria lavagem cerebral. Essa a sua fora, e fraqueza, alm de seu prejuzo.
Andr Mater declarou com muita pertinncia o totalitarismo absoluto dessa Ordem
quando escreveu: 'Apesar da disciplina que os une em esprito a todos os membros,
cada um deles age e pensa com a intensidade de outros trinta e nove. Esse o
fanatismo jesutico".
Mais terrvel hoje em dia do que antes, esse jesuitismo fantico, senhor absoluto da
Igreja Romana, fez com que esta se intrometesse demais nas competies do mundo
poltico, no qual o esprito militante e militar que caracteriza esta Companhia se
desenvolveu ainda toais. Sob seu cuidado, a organizao papal e a sustica lanaram
um ataque fatal contra o odiado liberalismo e tentaram estabelecer urna "nova Idade
Mdia", prometida por Hitler para a Europa.
Apesar dos planos prodigiosos de von Ledochowski, de Himmler "nosso Igncio de
Loyola", dos campos de morte lenta, da corrupo das mentes pela Ao Catlica e
pela propaganda irrestrita dos jesutas nos Estados Unidos, a empreitada do "homem
da Providncia" foi um asco, e a "herana de So Pedro", ao invs de crescer no
Leste, foi drasticamente reduzida. Um fato inegvel ca: o governo nacionalsocialista, "o mais catlico que j houve", tambm foi o mais absurdamente cruel -

sem excluir as comparaes com os brbaros. Uma declarao extremamente


dolorida para muitos fiis, mas seria correto meditar.
Nos "burgos" da Ordem, onde o treinamento foi uma cpia dos mtodos jesutas, o
senhor (aparente, pelo menos) do Terceiro Reich formou essa "elite da SS" antes que,
de acordo com seus desejos, o mundo "tremesse"(mas ele tambm vomitou de
desgosto). Os mesmos motivos produzem os mesmos resultados.
"H disciplinas pesadas demais para a alma humana suportar e que poderiam destruir
uma conscincia. O crime da alienao de si mesmo mascarado de herosmo.
Nenhum mandamento pode ser bom se, antes de qualquer coisa, corromper a alma.
Quando algum se engaja plenamente em uma Ordem, os outros seres humanos
perdem muito de sua importncia".
Os lderes nazistas no tiveram considerao alguma pelos outros "seres humanos";
podemos dizer o mesmo dos jesutas! "Obedeciam ao seu dolo". E essa obedincia
extrema foi invocada pelos acusados de Nuremberg como desculpa para seus crimes
odiosos. Finalmente, recolhemos do mesmo autor, que analisou o fanatismo
jesutico to bem, esse julgamento: "Reprovamos a Companhia com sua habilidade,
sua poltica e seus truques; atribumos a ela todos os clculos, os motivos ocultos, os
jogos desonestos; reprovamos ate mesmo a inteligncia de seus membros. No h, na
verdade, nenhum pas onde a Companhia no tenha experimentado grande
frustrao; onde no tenha agido de forma escandalosa e chamado para si o dio do
ultraje".
Se o seu maquiavelismo tivesse a profundidade que geralmente se atribui a eles, ser
que esses homens "srios e re exivos" se jogariam constantemente nos abismos que a
sabedoria humana pode prever, nas catstrofes que a prpria Ordem j enfrentara em
situaes semelhantes em outros pases?
"A explicao simples: um gnio poderoso governa essa Companhia; um gnio to
poderoso que luta at mesmo contra blocos de pedra, como se pudesse quebr-los,
"ad majorem Dei Gloriam". Esse gnio no o prior, o seu conselho, os dirigentes...
o gnio vivo desse corpo imenso, a fora inevitvel que resulta dessa unio de
conscincias sacri cadas, inteligncias atadas. a fora explosiva e a fria dominante
da Companhia, que resulta de sua prpria natureza. "Em uma grande acumulao de
nuvens, a luz poderosa e o trovo est prestes a surgir".
Entre 1939 e 1945, o "trovo" matou 57 milhes de almas, devastando e arruinando
a Europa. Devemos ficar em guarda. Outra catstrofe ainda pior pode estar escondida
entre as mesmas nuvens; a "luz" pode irromper novamente, jogando o mundo no
"abismo que a sabedoria humana pode prever", mas se tivesse a infelicidade de se
deixar jogar nele, nenhuma fora poderia resgat-lo.
Apesar do que o porta-voz de Roma possa vir a dizer, no o "anticlericalismo" que
nos fez estudar cuidadosamente a poltica do Vaticano ou dos jesutas, e denunciar

seus motivos e meios, mas a necessidade de esclarecer o pblico sobre a atividade


clandestina dos fanticos que no retrocedem diante de nada - e o passado provou
isso. Durante o sculo XVIII, as monarquias europias unidas exigiram a supresso
dessa Ordem maligna. Hoje em dia, ela pode orquestrar suas intrigas em paz e os
governos democrticos parecem no se Preocupar com isso. O perigo ao qual o
mundo est exposto por causa desta Companhia muito maior hoje do que no
tempo d "pacto familiar", e ainda maior do que quando as duas guerras explodiram.
No podemos alimentar iluses quanto s conseqncias mortais que outro con ito
mundial teria.

Você também pode gostar