Estratificação Situacional Randall Collins PDF
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DESIGUALDADE
Randall Collins
University of Pennsylvania
Traduo:
Ralph Ings Bannell
informal, sem fazer a barba, ou com roupas rasgadas; longe da conduta adequada ao
ritual da ocasio, eles adotam o estilo que uma gerao anterior teria associado ao de
operrios e mendigos; esse estilo, largamente adotado por jovens e outros quando a
ocasio permite (p.ex. sextas-feiras informais no trabalho), constitui uma forma de
anti-status ou de um esnobismo invertido, historicamente sem precedentes. Altos
funcionrios do governo, executivos de corporaes e celebridades do entretenimento
so alvo de escndalos pblicos envolvendo sua vida sexual, seus empregados, uso de
drogas e tentativas de preservao da privacidade; a posio social superior, longe de
oferecer imunidade para pequenas infraes, deixa-os sob ataque dos funcionrios em
posies inferiores. Um jovem negro musculoso, vestindo calas largas e um bon
invertido, carregando um som que toca um rap agressivo, domina o espao pblico de
um centro comercial enquanto brancos de classe mdia visivelmente recuam com
deferncia. Em reunies pblicas, quando mulheres e minorias tnicas assumem o papel
de porta-vozes e denunciam a descriminao social contra seu grupo, homens brancos
de classes sociais superiores ficam em silncio constrangedor ou se juntam ao coro de
apoio; em situaes pblicas de expresso de opinies e proposio poltica, a voz do
oprimido que carrega a autoridade moral.
Como conceituar esses tipos de evento? Os exemplos dados so microevidncias; minha tese a de que eles caracterizam o fluxo do cotidiano em ntido
contraste com o tipo ideal de uma macro-hierarquia. A imagem hierrquica domina
nossas teorias, assim como os conceitos populares para tratar de estratificao; alis,
a ttica retrica de assumir a atitude moralmente superior do oprimido depende da
afirmao da existncia de uma macro-hierarquia ao mesmo tempo que se assume
tacitamente o domnio do oprimido na situao do discurso imediato. Conflitos sobre a
questo do chamado politicamente correto que poderia ser considerado como uma
imposio autorizada da considerao especial pelo oprimido, depende dessa disjuno
no reconhecida entre o micro e o macro. Nas cincias sociais, geralmente conferimos
o status de realidade objetiva s estatsticas (p.ex. a distribuio de renda,
ocupaes, educao); embora observaes etnogrficas sejam mais ricas e dados
2
empricos mais imediatos. O problema que etnografias so parciais; ainda temos que
fazer um panorama da situao atravs de algum tipo de amostra sistemtica, para
ser capaz de argumentar com confiana de que se trata da distribuio das
experincias do cotidiano na sociedade como um todo.
Meu argumento que dados micro-situacionais tm prioridade conceitual. Isso
no quer dizer que dados macro no tm importncia; mas o acmulo de estatsticas e
de dados de survey no delineia um quadro acurado da realidade social, a no ser que
sejam interpretados no seu contexto micro-situacional. Encontros micro-situacionais
so o ponto de partida de toda ao social e de toda evidncia sociolgica. Nada real
a menos que se manifeste em uma situao concreta. Estruturas macro-sociais podem
ser reais, desde que sejam padres agregados que se manifestam atravs de microsituaes ou redes de conexes repetidas entre uma micro-situao e a outra
(compondo, portanto, por exemplo, uma organizao formal). Mas macro realidades
ilusrias podem ser construdas pela compreenso do que acontece nas microsituaes. Dados de surveys sempre so coletados em micro-situaes em que se
pergunta aos indivduos: quanto eles ganham, o que eles pensam sobre o prestgio de
determinadas ocupaes, quantos anos de escolarizao eles tm, se eles acreditam
em Deus, ou qual o grau de descriminao que eles acham que existe na sociedade. A
agregao dessas respostas parece um quadro objetivo de uma estrutura hierrquica
(ou consensual para alguns itens). Porm dados agregados sobre a distribuio de
riqueza no tm qualquer significado a no ser que saibamos qual de fato a riqueza
numa experincia situacional: dlares em preos de aes inflacionadas no querem
dizer a mesma coisa que dinheiro numa mercearia. Como Zelizer (1994) mostra com
etnografias sobre uso efetivo do dinheiro, h uma variedade de moedas que, na
prtica, so restritas a determinadas vantagens sociais e materiais de determinados
circuitos de troca. (Ter jias com um certo valor nominal no significa que a maioria de
pessoas, caso no estejam no mercado de jias, possa realizar esse valor e convert-lo
em outros tipos de poder monetrio). Vou me referir a esses circuitos como circuitos
de Zelizer. Precisamos fazer uma srie de estudos sobre as converses das macro3
especificao
(de
economia,
de
sociologia,
de
qumica)
afeta
negativamente esse prestgio (Treiman 1977); e cai mais ainda quando h mais
especificao (professor assistente, professor auxiliar de faculdade). Ser um
cientista e especialmente ser fsico alcana um status alto nos surveys recentes;
mas isso quer dizer que a maioria de pessoas gostaria de sentar ao lado de um fsico
num jantar? Ser bombeiro pode ter um status baixo no survey, mas na prtica sua
renda supera a de muitos profissionais educacionalmente credenciados e isso pode se
traduzir em recursos materiais suficientes para resolver a maioria das situaes de
vida; bombeiros podem sentar nas cadeiras VIP em um estdio, enquanto profissionais
de colarinho branco esto em uma arquibancada distante. Qual o padro de vida
real de operrios de construo que desenvolvem nas ruas um estilo de atividade
fsica respeitada, em uma poca em que o estilo mais valorizado de carro o veculo
grande, utilitrio e esportivo parecido com um caminho? Prestgio ocupacional s
pode ser compreendido realisticamente se pudermos avaliar os encontros ocupacionais
e julgar a estratificao tal como acontece em situao.
A interpretao comum de anos de estudo como a chave para a hierarquia de
estratificao, seja como indicador principal ou como componente principal de um
ndice complexo, oferece um quadro distorcido da estratificao micro-situacional. A
populao negra, a estudante que consegue boas notas geralmente recebe muita
reao negativa de seus pares, que a acusam de estar agindo como uma branca ou
pensando que melhor do que eles; ela no se destaca positivamente, e sim
negativamente, na estratificao da comunidade local. Muitos desses alunos com bom
desempenho cedem sob a presso micro-situacional dos pares e no avanam no
sistema escolar (Anderson 1999: 56, 93-97).
A crtica micro-situacional se aplica a fortiori para inferncias a partir de
dados de comportamentos de pesquisa para caracterizaes de uma estrutura social
maior. O fato de que aproximadamente 95% dos americanos dizerem que acreditam
em Deus (Greeley 1989: 14) diz pouco sobre o nvel de religiosidade na sociedade
americana; comparaes de respostas de surveys com o real comparecimento a
atividades religiosas mostram que as pessoas exageram bastante sobre sua freqncia
igreja (Hardaway et alli 1993, 1998); investigaes profundas sobre crenas
religiosas em conversas informais mostram considerveis discrepncias, amplamente
herticas de um ponto de vista teolgico, entre as crenas categorizadas nas
respostas do survey como indicando conformidade (Halle 1984: 253-269). Da mesma
forma, deveramos suspeitar de relatos de survey sobre a extenso da ocorrncia de
discriminao de raa ou gnero, de assdio sexual, de experincia de abuso infantil
etc., at serem confirmados por tentativas de surveys situacionais, que no dependem
de reconstrues, lembranas distorcidas ou opinies. Respostas a tais perguntas so
ideolgicas e freqentemente partidrias, assunto de mobilizao social e flutuao
de ateno da mdia ou de grupos especficos de interesse profissional. Dizer isso no
significa assumir a posio de que a maioria dos problemas sociais exagerada pelos
Classe econmica
Classe econmica certamente no est desaparecendo. No nvel macro, a distribuio
de riqueza e renda vem se tornando cada vez mais desigual, tanto dentro das
sociedades, como em escala mundial (Sanderson 1999: 346-356). O que isso traduz em
termos da distribuio de experincias de vida? Vamos dividir a questo em riqueza
material como experincias de consumo, e riqueza como controle sobre experincias
ocupacionais.
virtualmente impossvel traduzir quantidades enormes de riqueza em experincias
de consumo. O fato de que os maiores acionistas da Microsoft ou alguns outros
imprios empresariais tm um valor lquido da riqueza na faixa de dezenas de bilhes
de dlares (flutuando de acordo com os preos das bolsas de valores) no quer dizer
que esses indivduos comem, moram, se vestem, ou compram servios muito diferentes
dos milhes de outros indivduos que esto entre os 10% mais ricos na distribuio de
riqueza; e se contarmos experincias temporrias de consumo de luxo, a sobreposio
poderia se dar em relao a um grupo ainda maior. A maior parte da riqueza
proveniente da posse de finanas est restrita dentro de circuitos de Zelizer que
ficam prximos de seus pontos de origem; com isso quero dizer que indivduos que tm
centenas de bilhes de dlares ou mais, pouco podem fazer com esse dinheiro seno
comprar e vender ativos financeiros; eles podem trocar seu controle de um segmento
do mundo financeiro pelo controle de um outro segmento.
Uma riqueza dessa escala precisa ser localizada no em consumo, mas em
experincias ocupacionais. Em termos de experincia micro-situacional, possuir
grandes quantidades de ativos do mercado financeiro significa uma rotina de vida onde
se interage freqentemente com outros aplicadores do mercado. A principal atrao
de ter quantidades enormes de dinheiro pode ser a emoo de fazer parte de um
grupo de pessoas que ficam no telefone todas as horas do dia e da noite, fazendo
transaes excitantes. Em termos de poder de consumo, os muito ricos j atingiram o
mximo do que podem ter como benefcios materiais; no entanto, a maioria continua a
trabalhar, s vezes obsessivamente por muitas horas, at idades avanadas (alguns
dos ricos executivos, que lutam para controlar os imprios da mdia no mundo, so
homens nos seus 70 e 80 anos). Parece que o valor de dinheiro, nesse nvel, se realiza
todo na micro-experincia, na atividade de ostentar dinheiro em circuitos de
intercmbio muito prestigiosos. Aqui o dinheiro se traduz em poder situacional e nada
mais.
O principal divertimento nesses circuitos que sua riqueza pode ser deslocada
para organizaes de caridade e, portanto, ficar fora do controle dos donos originais.
Do ponto de vista do dono, isto trocar riqueza por honra - o prestgio moral de ser
um doador de caridade, muitas vezes recebendo uma recompensa concreta na forma
de ter uma organizao de caridade batizada com seu nome e, portanto, de ter sua
reputao divulgada: A Fundao Rockefeller, a Corporao Carnegie, a Fundao
Milken, e agora a Fundao Gates, a Fundao Packard, etc. No entanto, os dois
circuitos de capital no so muito distantes. Executivos de fundaes, geralmente
recebem suas doaes e aplicam nos mercados financeiros, sacando somente pequenas
parcelas para despesas de custeio, seus prprios salrios, e algumas bolsas para
organizaes sem fins lucrativos. Contando os funcionrios do setor filantrpico,
chega-se a um grupo de pessoas de classe mdia alta ou de classe alta no muito
10
pessoalmente
como
transaes
financeiras
relevantes.
Quando socilogos incorporam esses conceitos nos seus modelos de hierarquia de classe, esto sendo seduzidos pela
ideologia do grupo de status da classe alta de lazer, talvez porque esse grupo mais falante e mais fcil de entrevistar do
que a classe alta que est ativamente acumulando dinheiro.
11
ordens
dos
treinadores.
Uma
pequena
parcela
deles
H tambm aspectos annimos do mercado de trabalho e de bens, que so os tpicos da teoria econmica clssica e
neoclssica. No entanto, como enfatizada na sociologia econmica recente, a estruturao de mercados pelas redes pode
tornar as conexes particulares, no mais importante aspecto das vidas dos empreendedores. A relao entre aspectos
annimos e particulares do intercmbio est apenas comeando a ser formulada.
12
Nota do Tradutor: tais como Casas Bahia, Lojas Americanas, Casa e Vdeo, etc.
13
14
Grupos de status
Status um dos termos mais frouxos no vocabulrio sociolgico. Deixando
de lado o uso de status como um ranking estratificado em geral e limitando-o a
uma esfera especfica de honra cultural, podemos distinguir vrios significados. O
15
16
A exceo principal parece ser as Crists Evanglicas, para quem h evidncia de uma percentagem grande de amigos
pessoais dentro de sua congregao, sociabilidade no confinada ao grupo, e lugares rivais para encontros podem ser
evitados, como, por exemplo, ensinando seus filhos em casa. A nova Direita Crist uma parte da sociedade que est
tentando reconstruir a hierarquia moral dos grupos de status. Por essa razo eles so rejeitados por muitos outros
americanos.
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agenda est organizada com antecedncia; o evento pode ser divulgado amplamente; e
o que acontece, segue roteiros tradicionais e provavelmente ensaiados; aqui
encontramos casamentos, danas tradicionais, jantares comemorativos. Na antiga
etiqueta das classes altas (descrito por Goffman 1959, 1963; Annett e Collins 1975),
os detalhes de comportamento foram largamente roteirizados: o ritual com que os
cavalheiros acompanham as damas no jantar, a organizao dos convidados na mesa, os
rituais de brindar, as formas de conversao polida, os jogos de cartas e outras
atividades de lazer depois do jantar. Descendo na direo de situaes menos
especficas e mais informais encontram-se rituais improvisados de interao:
almoos e outras situaes em que a comida compartilhada com conhecidos (muitos
vezes como uma maneira gentil de conduzir uma conversa sobre negcios), festas,
comparecimento em eventos comerciais de entretenimento.
No ponto extremo superior, esse continuum se sobrepe com cerimnias
formais
tais
como
discursos
polticos,
cerimnias
governamentais,
paradas,
que se refere ao controle, polidez e grau de controvrsia. Aqui tambm pode haver
variaes na estratificao situacional, por mais efmeras que elas sejam.
Esse continuum oferece um pano de fundo para um survey situacional de ambos
os grupos de status de incluso/excluso e comportamento de deferncia. H duas
sub-dimenses: (a) quanto tempo os rituais de grupo ocupam na vida das pessoas, se
regular ou ocasionalmente e, portanto, representam comunidades contnuas ou
episdicas; (b) no momento em que um ritual da comunidade est ativado, qual o grau
de entusiasmo e de solidariedade que ele gera; grupos de status regularmente
representados no so necessariamente mais capazes de gerar compromissos
entusiasmados do que aqueles que so temporrios. Assim sendo, sugiro duas
generalizaes.
Onde existe um curso repetido de ocasies rituais, formais e altamente
especializadas (casamentos, jantares, festivais), que envolvem as mesmas pessoas, as
fronteiras dos grupos de status so fortes. Quem est includo e excludo de ser
membro fica evidente para todo mundo, dentro e fora do grupo de status. Isso mais
o caso dos encontros rituais que so visveis publicamente: p.ex., quando os
Quatrocentos se encontraram para jantar e danar na sala de baile do hotel mais
luxuoso na cidade de Nova York e multides das classes baixas ficaram nas caladas
para v-los entrando e saindo, a fronteira do grupo de status e seu sistema de
posies relativas ficaram visveis para todo mundo. Aqui status tem uma qualidade de
coisa, seguindo o princpio neo-durkheimiano: quanto mais cerimonial e pblica for a
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continuum: uma cerimnia formal (um casamento, um discurso, um baile) pode falhar ou
ter xito, tal como uma festa pode ser aborrecida, agradvel, ou algo muito
memorvel. Aqui temos um segundo continuum: Situaes podem ser categorizadas
dependendo da ateno que elas geram; situaes tm mais ou menos prestgio,
dependendo de como so representadas. Em nveis mais altos de formalidade ou de
especificidade do continuum, a intensidade do ritual no importa muito; a sociedade
estruturada por incluses e excluses formais nessas ocasies, e as categorias de
identidade que resultam so patentes e inescapveis, de modo que rituais podem ser
aborrecidos e mesmo assim promover uma forte incluso. Na medida em que descemos
para rituais relativamente informais e inespecficos, mais esforo necessrio para
que eles sejam emocionalmente intensos e ter algum efeito nos sentimentos de
posio social. Isso pode explicar por que americanos so muitas vezes expansivos e
barulhentos, chamando ateno quando esto em eventos esportivos ou de
entretenimento, festas grandes, e outras ocasies pblicas.
Portanto, a segunda generalizao ou hiptese: para terem um efeito, quanto
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tm
desenvolvido
estruturas
de
grupos
mais
complexas,
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mais aberto entre diferentes ordens de status, como manifestado na violncia escolar
daqueles excludos, ou com status subordinado, contra os crculos sociais dominantes.
Escolas so uma das poucas arenas em que grupos de quase-status podem se
formar, com diferenas institucionalizadas de estilo de vida, de honra social ou de
desonra, e de identidades categricas indo alm da reputao pessoal. Esses so
grupos de quase-status na medida em que ser um membro desses grupos no
permanente, mas eles so reais nos seus efeitos sociais durante os anos que eles
moldam a vida dos jovens. A estrutura local de grupos de jovens formada contra o
pano de fundo de uma excluso categrica maior. Jovens constituem um dos poucos
grupos na sociedade moderna que esto sujeitos a incapacidades e restries legais
especiais, semelhante s ordens medievais definidas legalmente. Eles so excludos de
formas rituais de consumo de lazer, como fumar e beber; o nico grupo que
separado por um tabu oficialmente imposto sobre fazer sexo com pessoas de fora do
grupo. O mundo segregado em lugares onde jovens no podem ir; significativamente,
esses so lugares onde rituais de sociabilidade acontecem (lugares de farras como
bares e festas) ou lugares de entretenimento onde as formas mais intensas de
excitao socivel atividade sexual so exibidas; o efeito de dramatizar uma
hierarquia de intensidade ritual reservada aos adultos. O mundo oficial do adulto,
como enunciado por polticos em ocasies pblicas formais, racionaliza essas excluses
no sentido de proteger os jovens do mal, uma atitude que aumenta a diviso moral
entre os mundos subjetivos dos adultos em seu papel oficial e a experincia dos
jovens. O efeito situacional concreto o de que jovens, quer estejam abaixo de um
limite de idade (antigamente 18 anos, agora geralmente elevado para 21) ou um pouco
acima, rotineiramente precisam provar sua idade, diante de sub-oficiais e de
seguranas, de porteiros, de vendedores nas lojas e no cinema, que so transformados
em autoridades e podem exigir subservincia e excluir. Assim, o grupo dos jovens o
nico grupo contemporneo que oficialmente sujeito a humilhaes pequenas por
causa de sua categoria de status; nesse sentido semelhante aos negros que so
sujeitos extra-oficialmente a testes parecidos; o pressuposto o de que ambos os
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grupos no tm honra at que provem o contrrio. Essa a razo por que a cultura dos
jovens tem simpatia pela cultura dos negros, e imita especialmente seus elementos de
rebeldia.
A representao patente de barreiras dos grupos, que to comum, apia a
contracultura dos jovens. O estilo e o comportamento dos jovens so moldados
diretamente em oposio aos estilos dos adultos: usando o bon invertido porque o
estilo normal o contrrio; vestindo calas largas e roupas rasgadas porque so
contra-estilos (documentado por Anderson 1999: 112). A contracultura comea na
fronteira com a cultura do adulto e prossegue na direo oposta; a hierarquia de
status se desenvolve dentro da comunidade dos jovens afastando-os cada vez mais da
respeitabilidade adulta. No decorrer do tempo houve um aumento na quantidade, no
tamanho, e na localizao de piercings, tatuagens e marcas feitas com ferro quente no
corpo. Muitas dessas prticas parecem com aquelas utilizadas numa hierarquia de
status religioso entre faquires indianos, excludos religiosos demonstrando seu
carisma religioso pela maneira extrema na qual so preparados para se distanciar da
vida ordinria. H uma variedade de estilos culturais e estruturas de crculos sociais
dentro do grupo de jovens de quase-status; as formas mais extremas de negao da
cultura do adulto ocupam um tipo de nicho, enquanto outros (atletas, nerds,
estudantes aplicados, evanglicos) fazem compromissos, at positivos, com o mundo
respeitvel do adulto no qual eles querem ser inseridos. No entanto, a contracultura
anti-adulta de uma maneira ou de outra parece ser a mais patente; podemos prever
que cada aumento de cruzadas morais dos adultos, que ritualmente desprezam os
jovens, vai ser enfrentado por um grau correspondente de polarizao da
contracultura jovem.
Tenho argumentado que a contracultura jovem ancorada nas excluses pblica
e legalmente representadas, praticadas contra adolescentes e que do ao grupo uma
identidade estigmatizada. No entanto a contracultura dos jovens atinge muitos
adultos jovens tambm. Isso ocorre por causa de vrias continuidades estruturais:
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Deferncia
No nvel micro-situacional mais detalhado, encontramos comportamentos
diferenciados os gestos momentneos pelos quais um indivduo demonstra deferncia
a um outro. Em sociedades bem organizadas historicamente, a vida cotidiana foi cheia
de gestos de deferncia bem visveis curvando-se, utilizando formas de tratamento
(Meu Senhor, Minha Senhora, Por favor, Senhora), cadncias de voz (descritas
por Chesterfield 1774/ 1992; para exemplos em japons, ver Ikegami 1995), todos
exemplos de rituais assimtricos. Goffman (1967) descreve a maioria dos rituais em
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A ltima historicamente mostraria um deslocamento de se curvar e de formas de tratamento honorficos a pessoas que
tem uma determinada categoria de status, para uma deferncia mais sutil na forma de quem tem direito a falar e do
controle da vez de falar. Dados micro-situacionais sobre o ltimo: Gibson 1999; sobre a tendncia em longo prazo,
Annet e Collins, 1975.
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exibio. H um nmero enorme de associaes voluntrias nos EUA, e cada uma tem
uma hierarquia de status interna. Embora a maioria delas no se interesse pelas
outras, uma proporo considervel da populao de adultos, talvez a metade, passa,
pelo menos pequenas partes de sua vida, em domnios onde recebe deferncia, por
mais fraca e temporria que seja.
Fora de tais organizaes e redes especializadas, deferncia trans-situacional
largamente restrita s celebridades. Tais figuras so fabricadas pela mdia,
particularmente pelas empresas de entretenimento, cuja renda vem principalmente da
promoo e venda das identidades das estrelas; meios de comunicao tambm criam
identidades famosas (polticos, criminosos, e sujeitos de estrias de interesse
humano) e vendem informao sobre elas. A mdia o nico lugar onde h um foco
recorrente de ateno que compartilhado por quase toda a sociedade; isso no ajuda
apenas a construir uma intensidade de significado em volta dessas personagens, mas
facilita as empresas de informao e de entretenimento a preencher sua cota de
ofertas ao pblico. (No mundo da informao isso chamado de tirando leite de
contemporneas,
elas
recebem
muito
menos
deferncia
do
que
27
Noticias revelaram que o Congresso dos EUA, bem como o Presidente, suspenderam seus procedimentos oficiais para
ouvir o resultado do julgamento de O.J.Simpson.
9
H precedncia em casos de pessoas tratadas como objetos sagrados e religiosos: por exemplo, uma santa medieval,
cujos transes atraam espectadores que a atacaram com facas e objetos quentes para se maravilhar com sua resistncia
dor (Kleinberg 1992).
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hierarquia situacional clara dos dures e dos dominados; aqui encontros igualitrios
so geralmente igualitarianismo hostil, testado em conflito violento que pode ser
reaberto a qualquer momento. Indivduos dominantes exigem controle do espao da
rua; outros os monitoram com cautela. Aqui o monitoramento tcito da desateno civil
elevado a alguns graus numa situao pblica muito mais tensa e especfica. So os
dominados que expressam desateno civil, enquanto os dominantes a exigem10.
O cdigo de rua no apenas nega os critrios normais de sucesso e
respeitabilidade da classe mdia, mas uma contracultura por completo. Padres de
comportamento da classe mdia so vistos como sinais de timidez; alm disso, exibir
qualquer marca de sucesso convencional (escola, disciplina no trabalho, um emprego
lcito) visto como pretenso de status e, portanto, insultos implcitos queles que no
os tm. Para essa razo, Anderson argumenta que, muitos moradores negros
decentes ou caretas adotam os sinais exteriores da cultura de oposio vestindose com roupas e smbolos do estilo das gangues, adotando o estilo de conversa dos
dominantes da rua, tocando msica que representa oposio, os sons raivosos e
desprezveis do rap. O cdigo de rua se torna a cultura publicamente dominante, em
parte porque jovens a adotam como uma fachada de proteo contra o perigo da
violncia, em parte porque a cultura de oposio tem prestgio situacional. O cdigo de
rua um conjunto de rituais que gera uma intensidade muito emocional e domina o
foco de ateno; a polidez suave e a tendncia de se acomodar s maneiras sociais
goffmanianas normais perdem importncia diante desse cdigo e no so capazes de
competir com ele no espao de ateno11.
10
30
31
Estado muito fraco ou inexistente; o poder est nas mos de bandos de guerreiros
12
Historicamente, isso aconteceu em situaes onde grupos de homens fizeram viagens de longa distncia ou incurses,
freqentemente capturando mulheres. Em todos esses casos, houve muita nfase em estabelecer um parentesco fictcio.
Vemos isso nos dados de Anderson (1999) sobre pais, irmos e primos fictcios dentro das alianas de proteo e apoio;
e era comum onde a ordem tribal foi quebrada gerando grupos pouco coesos de saqueadores. Cf. Finley 1977; Borkenau
1981; Njals Saga [ c. 1280] 1960; Searle 1988.
32
categricas
desapareceram
largamente,
substitudas
por
33
cdigo pblico goffmaniano esto entre as poucas bases que ainda existem para
identidades categricas.
Poder
Poder outro conceito convencionalmente reificado. A definio de Weber, que
de impor sua vontade contra oposio, no ainda suficientemente micro-traduzida.
Podemos distinguir entre o poder de fazer com que outros cedam em uma situao
imediata e o poder de produzir resultados. H uma disputa antiga se o ltimo
necessariamente envolve o primeiro; Parsons (1969) argumentou que poder no
primariamente soma-zero (eu veno, voc cede), mas uma questo de eficcia social
em que a coletividade inteira consegue algo que no tinha antes. Vamos chamar o
primeiro de poder-D (poder de deferncia ou poder de dar ordens) e o ltimo de
poder-E (poder de fazer). O ltimo s vezes existe em micro-situaes, mas somente
se o resultado desejado for concretizado diante dos olhos de quem deu as ordens13.
Aqui poder-D e poder-E poderiam coincidir empiricamente, mas em muitas situaes o
poder-D formal e ritualstico: Algum d ordens, em casos extremos com um tom e
um comportamento imperioso, enquanto o outro cede verbalmente e com a postura de
seu corpo. Mas uma questo em aberto se as ordens so realmente obedecidas e,
mesmo se forem, se o resultado seria o que o mandante queria. O poder-D sempre
socialmente significativo, mesmo quando completamente separado do poder-E; tem
conseqncias relevantes para a experincia social, moldando a cultura das relaes
pessoais. Na sociedade em que h muita desigualdade no poder-D haver diferenas
ntidas nas identidades sociais e muito ressentimento latente e conflito contido (para
evidncia, ver Collins 1975: caps. 2 e 6). Concentrao de poder-E poderia no ter tais
efeitos, mas isso uma hiptese a espera de evidncia emprica.
O poder-E tipicamente trans-situacional ou em longa distncia; se for real ele
deve envolver eventos que acontecem porque ordens e intenes so transmitidas
13
Michael Mann (1986) se refere a isso como poder de corte suas cabeas e sugere que nas sociedades despticas
tradicionais o alcance real desse poder poderia ser muito limitado; ele designou isso de diferena entre poder
intensivo e extensivo.
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40
recebia ordens, dava ou recebia deferncia, dependendo de sua posio como servial,
empregado ou parente do chefe da famlia. Indivduos podiam se mover na hierarquia,
mas apenas atravs da mudana de uma famlia para outra, ou pela ascenso dentro da
estrutura interna de uma famlia ao estabelecer relaes mais prximas de confiana
e dependncia com o chefe. Mesmo pessoas de alta posio geralmente confrontaram
algumas situaes em que tinham que demonstrar sua lealdade e subordinao a uma
pessoa de posio ainda mais elevada14. Pessoas de situadas nos patamares superiores
da estrutura social estavam cercadas por serviais e a posio de algum era medida
pelo nmero de empregados que tinham15. Isso significou que essas pessoas (e aqueles
que as serviam) estavam constantemente em uma situao formal (isso documentado
com clareza em relao Lus XIV: Lewis 1957; Elias 1983); grupos sempre
convergiram e se organizaram em torno de pessoas de posio, criando uma grande
densidade de interao ritual. O resultado um alto grau de realidade social na
verdade, reificao das categorias sociais acima, e assim um alto grau de conscincia
da posio social de quem se aproximava de pessoas poderosas. Em suma, a interao
cotidiana era altamente ritualizada e os rituais eram largamente assimtricos, dando
deferncia a algumas pessoas e no a outras.
O carter da interao social no cotidiano tem mudado acima de tudo devido
diminuio e substituio da famlia patrimonial. Isso aconteceu gradativamente ao
longo dos ltimos sculos, em decorrncia de mudanas ao nvel macro. O crescimento
do Estado centralizado tirou poder militar das famlias, e a expanso da burocracia
governamental, para extrair renda e regular a sociedade, criou um novo tipo de espao
organizacional, departamentos em que os indivduos interagiam com propsitos
especializados e tempos limitados. Categorias de identidade foram substitudas pela
14
Por exemplo, Francis Bacon, filho e sobrinho de oficiais de alta posio na monarquia Tudor, ele mesmo membro da
aristocracia com cargos de prestgio, mostrou alto grau de deferncia cerimonial quando se direcionou ao seu prprio
protetor . O padro de deferncia nas famlias patrimoniais ilustrado continuamente nas peas de Shakespeare,
romances chineses da dinastia Ching e antes, e em quase toda a literatura descritiva do mundo antes do sculo XX.
15
Esse tema forte na pea Rei Lear de Shakespeare, o argumento que se desenvolve em torno da quantidade de
empregados pessoais e armados que um lorde podia ter em volta dele. Stone (1967) documenta que isso foi uma luta da
poca, quando o Estado tentou limitar a extenso dos armamentos privados a um nmero pequeno de guardas de
famlia, portanto monopolizando o controle em um Estado cada vez mais centralizado como parte da primeira fase da
revoluo militar.
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Estrelas de entretenimento esto fora dos circuitos de classe econmica e poder organizacional, e at fora das redes de
grupos de status. Eles tm grande quantidade de dinheiro, mas no participam das atividades que constituem os circuitos
financeiros da classe alta. No tm nem poder-E nem, no sentido estrito, muito poder-D.
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palcos goffmanianos para a maioria das pessoas. Essa uma razo porque as
reputaes individuais se tornaram mais importantes que as identidades.
A frase de Habermas (1984) a colonizao do mundo da vida expressa uma
viso correta da tendncia principal da histria moderna. Ela congruente com a
tendncia de penetrao estatal, a expanso da esfera de obrigaes dos indivduos
diretamente relacionadas s agncias burocrticas do Estado, que aconteceu junto
com a ruptura das barreiras que cercavam a famlia patrimonial. Mas o argumento de
Habermas no d conta dos padres atuais das situaes sociais. A estrutura
patrimonial desenvolveu relaes econmicas e polticas de uma maneira concreta e
muitas vezes opressiva em todos os aspectos da experincia diria. A penetrao do
Estado tem fragmentado e quebrado as estruturas patrimoniais, mas a experincia
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capturar o toso de ouro porque a filha do Rei se apaixonou por ele. Isso no quer
dizer que os recursos de classe social, que ficam como pano de fundo, no poderiam
ajudar a manobrar uma situao. Mas os recursos precisam ser traduzidos em alguma
coisa que impressione numa situao imediata. Ter muito dinheiro pode garantir
atendimento (mas no necessariamente polidez) em um restaurante muito caro, mas
voc tambm pode ser roubado; ser uma pessoa importante em uma profisso, ou uma
pessoa poderosa em uma organizao no garantir nada, se voc estiver viajando em
alguma outra parte do cenrio social. James Joyce tentou dar corpo a essa analogia
quando descreveu um Ulisses contemporneo viajando nas redes urbanas de Dublin, em
1904, zigue-zaguiando entre pequenos espaos de reputao, solidariedade e
hostilidade. A descrio de Joyce pertence marcadamente ao perodo de transio,
descrevendo uma cidade pequena onde as redes de reputao ainda estavam
relativamente espalhadas. Se restringirmos essas redes aos pequenos enclaves de
famlia e de ocupaes, e expandirmos a rea de influncia da mdia de
entretenimento, com suas reputaes pseudo-familiares de imagens de estrelas
fabricadas, ento chegaramos ao nosso mundo contemporneo.
Talvez uma imagem melhor fosse a de uma auto-estrada, especialmente uma
estrada interestadual de alta velocidade. Aqui h uma igualdade formal; todos os
carros so iguais e esto sujeitos s mesmas leis; situacionalmente tendem a aderir a
um cdigo de civilidade muito informal (no fechar outros carros ou ficar em cima
deles). Como no modelo de Goffman (1971) de trfego de pedestres, motoristas
monitoram uns aos outros principalmente para manter sua distncia; contato visual,
mesmo quando possvel (nos semforos e quando os carros esto em pistas
paralelas), geralmente evitado, e gestos de qualquer tipo so muito raros. Falta de
ateno civil o costume que prevalece.
A igualdade situacional da auto-estrada geralmente uma igualdade de
indiferena, e no de solidariedade ou de hostilidade. A exceo clara so os carros
de polcia, para os quais todo mundo olha, pois exigem deferncia em forma de sinais
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com luzes piscando e sirenes, e ferem as regras que impem aos outros (excesso de
velocidade, atravessando a faixa central, etc). Por um simples critrio de
comportamento, carros de polcia so os reis da estrada. Mas tambm h alguma
dominncia simplesmente situacional. Isso pode ser correlacionado levemente com
pura propriedade fsica: um carro veloz e caro passa por cima de carros populares
quando os ultrapassa; deferncia aberta manifestada quando um carro assume a
trajetria dominante do movimento ou do momentum na estrada, de tal maneira que
outros carros se afastem quando o vem se aproximando17. Portanto, recursos transsituacionais, principalmente dinheiro, podem se traduzir em bens materiais que
permitem dominar os encontros situacionais na auto-estrada. Carros pequenos, velhos
ou sem manuteno, provavelmente pertencendo a pessoas pobres, se afastam para o
lado da estrada e fazem deferncia a quase todos os carros maiores e mais velozes.
Aqui vemos que o poder econmico se traduz em dominncia situacional, at certo
ponto, enquanto poder poltico no se traduz na estrada de modo algum (somente se
voc um oficial do governo com batedores da polcia ou a prpria polcia). Mas a
dominncia no estritamente uma questo de classe econmica; caminheiros s vezes
experimentam situaes de dominncia, especialmente nas estradas rurais com pouco
policiamento, utilizando seu tamanho bruto para forar a passagem em faixas de
controle. H tambm uma ordem de dominncia emergente, completamente situacional:
o carro que ultrapassa outros carros e consegue que os outros ainda faam deferncia
(embora s vezes competies aconteam sobre quem dirige na frente de quem, e
lutas sobre quem vira o heri da estrada). Dentro do leque de carros com
aproximadamente o mesmo poder de velocidade, alguns so dirigidos por pessoas que
usam de agressividade para assustar a maioria dos outros. Pode ser que algumas
pessoas (ou at categorias de pessoas, como adolescentes) ocupem essa posio de
elite da estrada mais do que outras, e possam at mesmo ter a repetitividade transsituacional como um trao de personalidade. Mas no h uma clara identidade a
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O autor tem observado isso dos dois lados e pode um dia desses publicar uma etnografia do motorista de estrada. Para
uma anlise de entrevistas com motoristas, enfatizando sua frustrao como agentes autnomos incapazes de se
comunicar com os outros que os impedem, ver Katz 1999.
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