O Processo de Trabalho Do Assistente Social Nos Abrigos

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CURSO DE GRADUAO EM SERVIO SOCIAL

ANA FLAVIA WESSLING

O PROCESSO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NOS


ABRIGOS

DEPTO. SERVIO SOCAI


DEFENDIDO E APROVADO
EM:

(2iO1,o,
i

troe_

Teresa Kleba Lisbe


Chefe do Depto. de Servio Se
CSE/UFS('

FLORIANPOLIS
2004

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA


CENTRO SCIO-ECONMICO
DEPARTAMENTO DE SERVIO SOCIAL
CURSO DE GRADUAO EM SERVIO SOCIAL

O PROCESSO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NOS


ABRIGOS

Trabalho de Concluso de Curso, apresentado


como requisito parcial para a obteno do titulo de
Bacharel em Servio Social, Departamento de
Servio Social, Centro Scio Econmico,
Universidade Federal de Santa Catarina.

Por: Ana Flavia Wessling


Orientadora: Prol' Msc. Rbia dos Santos

FLORIANPOLIS, JULHO DE 2004

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA


CENTRO SCIO-ECONMICO
DEPARTAMENTO DE SERVIO SOCIAL
CURSO DE GRADUAO EM SERVIO SOCIAL

A Banca Examinadora resolveu atribuir a nota

a aluna Ana Flavia Wesslino

pela apresentao deste trabalho

Banca Examinadora:

Orientadora RUbia dos Santos


Assistente Social

1 Examinador -1 Adrian4 Muller


Assistente Social'

2 Examinador Silvana Espndola


Assistente Social

Dedico este trabalho minha ,fmlia,


em especial, minha tia Anua, cujo
apoio e dedicao foram
determinantes para a sua realizao e
minha me, a estrela que mais brilha
no cu. Tenho certeza que seu brilho
iluminou a realizao deste trabalho.

AGRADECIMENTOS

Neste momento to especial, no poderia deixar de expressar minha mais sincera gratido a
todos que, de alguma forma, me acompanharam e contriburam para que essa trajetria fosse
cumprida. impossvel mencionar todos. Entretanto, agradeo em especial:

Aos professores e funcionrios do Departamento de Servio Social da Universidade Federal


de Santa Catarina, que fizeram parte dessa histria e em especial a Onditta, secretria do
curso, muito prestativa, que sempre sero lembrados, por contriburem para a realizao deste
sonho;

As Assistente Sociais dos abrigos visitados que serviram de base para a minha pesquisa: Lar
Recanto do Carinho, Casa-Lar Biguacu, Ao Misso Social. Lar So Vicente de Paula,
pela ateno dedicada;

A minha orientadora, Rbia, por ter sido mais que supervisora, sendo to prestativa em meio
a tantos afazeres, e principalmente por seus incentivos e "empurres" para realizao deste,

s Assistentes Sociais Mrcia Gomes de Oliveira e Maria Tereza Barreto Floriani pelos
ensinamentos, dicas e orientaes repassados na poca de realizao do estgio nas CasasLares So Joo da Cruz e Nossa Senhora do Carmo, em especial as crianas, adolescentes e
funcionrios;

Ao meu melhor pai do mundo, Drio, por me educar e me transformar na pessoa que sou e
por toda sua fora e carinho dedicado at o hoje.

A minha me, Jlia (in memorian), extremamente presente em minha vida, apesar que meus
olhos no possam v-la, mas com certeza, as nossas almas esto em constante comunho,

A minha tia, Anita Fliires, a quem eu admiro e respeito pela constante presena,
principalmente por sua dedicao em estar ao meu lado sempre que necessitei,

Aos meus irmos, Mrcia, Maristela e Pedro Mauricio, aos quais tanto amo, por toda
preocupao dedicada em todas as etapas da minha vida e por tantas vezes me socorrerem em
momentos delicados;

Aos meus queridos sobrinhos Bruna Louise (20), Paula Tilais (13), Joo Manoel (12),
Maria Jlia (05) e o pequeno Edgar (02) por trazerem tanta felicidade para toda a nossa
familia e especialmente para essa tia coruja;

Aos amigos do Curso e Colgio Deciso pelo companheirismo e pacincia dedicada ao


longo desta trajetria final:

Todos os amigos e parentes, que de uma forma especial, me acompanharam na construo


deste trabalho que ora finaliza.

E no poderia de deixar de agradecer a Deus, pela oportunidade de cumprir mais essa


trajetria da minha vida

RESUMO

Titulo: Processo de Trabalho de Servio Social nos Abrigos

Autor: Ana Flavia Wessling

Orientador: Prof Msc. Rbia dos Santos

Este trabalho de Concluso de Curso teve por objetivo identificar o processo de trabalho do Assistente
Social nos programas abrigos, no intuito de buscar subsdios que orientem a prtica profissional em
programas desta categoria. O trabalho em questo est distribudo em 03 captulos. O primeiro
captulo aborda, a histria do pensamento assistencial infncia e a adolescncia, perpassando por
todas as transformaes ocorridas na infncia at a implementao do Estatuto da Criana e do
Adolescente ECA, desta abordou-se os aspectos pertinentes. No segundo, aborda-se o processo de
trabalho do Assistente Social em sua totalidade, enfatizando o trabalho do profissional que atua nos
programas abrigo. Finaliza-se com a pesquisa realizada com quatro Assistentes Sociais dos abrigos
visitados, como forma de colher os resultados obtidos com as entrevistas, apresentando possveis
propostas para desenvolver um trabalho de melhor qualidade para as instituies visitadas.

Palavras chaves: crianas e adolescentes, famlias e abrigos

SUMRIO

INTRODUO

10

CAPITULO 1

12

I HISTRICO DOS DIREITOS DA CRIANA E DO ADOLESCENTE NO BRASIL 12


1 REFERNCIA HISTRICA SOBRE CRIANAS E SUAS FAMILIAS

12

1.2 A FAMLIA: ESPAO DE CUIDADOS DE SEUS MEMBROS OU ESPAO A SER CUIDADO?

20

1.3 FATORES QUE CONDUZEM CRIANAS E ADOLESCENTES AO ABRIGAMENTO

23

1.4 CONSEQNCIAS DO ABRIGAMENTO NA VIDA DAS CRIANAS E ADOLESCENTES

26

1.4.1 Ruptura dos vnculos familiares


CAPTULO II

29
34

II PROCESSO DE TRABALHO DO SERVIO SOCIAL NOS PROGRAMAS


XBR1GOS

34

2.1 PROCESSO TRABALHO E SERVIO SOCIAL

34

2.2 A INTERVENO DO SERVIO SOCIAL NOS PROGRAMAS Al3RIGOS

4I

CAPTULO III

44

3 PERCURSO METODOLGICO DA PESQUISA

44

3.1 CARACTERIZAO DA PESQUISA

44

3.2 OBJETIVOS

45

3.2.1 Objetivo Geral

45

3.2.2 Objetivos Especficos

46

3 UNIVERSO DA PESQUISA

4b

3.4 PROCEDIMENTOS METODOLGICOS

46

3.5 TRATAMENTO DOS DADOS

48

3.6 LIMITAES DA PESQUISA

48

3. 7 DESCRIO E ANLISE DOS DADOS

48

3.8 POSSVEIS PROPOSTAS

56

CONSIDERAES FINAIS
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

62

APNDICE

67

INTRODUO

O presente trabalho de Concluso de Curso requisito para encerramento do curso de


Servio Social, bem como para conferir o grau de Bacharel em Servio Social.
Este trabalho teve por objetivo identificar o processo de trabalho do Assistente Social
nos programas abrigos, no intuito de buscar subsdios que orientem a prtica profissional em
programas desta categoria.
Na atualidade, so ntidos os reflexos em torno do inundo do trabalho, sobretudo no
processo de trabalho do Assistente Social, que atua diretamente na realidade, em constante
processo de anlise e de criao de respostas s questes sociais evidenciadas na mesma.
E segundo lamamoto (1996), o objeto de trabalho do Servio Social a questo social.
-'E ela em suas mltiplas expresses, que leva necessidade da ao profissional junto
criana e ao adolescente, ao idoso, a situaes de violncia contra a mulher, a luta pela terra",
entre outros.
Portanto, o objeto de interveno do presente trabalho so as Assistentes Sociais que
trabalham em Casas-Lares, denominadas pelo Estatuto da Criana e do Adolescente ECA,
como abrigo, mas nos municpios so denominadas de Casas-Lares. Neste trabalho utiliza-se
as duas denominaes; sendo o abrigo, umas das oito medidas de proteo criana e ao
adolescente, em casos de ameaa ou violao dos direitos dos menores. Convm relatar que
essas ameaas ou violaes podem acontecer por ao ou omisso das autoridades publicas;
por falta (ausncia, morte); omisso ou abuso dos pais ou responsvel. E tambm por causa do
prprio comportamento ou conduta da criana ou do adolescente.
O abrigo uma medida provisria, excepcional, e s deve ser usada enquanto no se
encontre para as crianas e aos adolescente uma famlia substituta. Abrigo no implica
privao de liberdade, isto , no uma priso.

II

As entidades ou instituies que tenham programas de abrigo devem respeitar uma


srie de princpios previsto no art. 92 do Estatuto da Criana e do Adolescente ECA, o
primeiro dos quais manter a ligao dos menores abrigados com suas famlias. Para uni
melhor esclarecimento, durante o decorrer do trabalho o artigo est sendo citado por
completo.
O Captulo I, resgata a histria do pensamento assistencial infncia e adolescncia
at a implementao do Estatuto da Criana e do Adolescente e apresenta-se uma breve
explanao sobre as transformaes que as famlias enfrentam e os motivos que levam essas
famlias a abri g arem seus filhos. Por fim, aborda-se as conseqncias do abrigamento na vida
das crianas e adolescentes.
O Captulo II direciona-se para o processo de trabalho do Assistente Social, em sua
totalidade, enfatizando o trabalho do profissional que atua nos programas abrigos.
No Capitulo III apresentase a anlise da pesquisa, como forma de colher os
resultados obtidos com as entrevistas, apresentando possveis propostas para desenvolver um
trabalho de melhor qualidade para as instituies visitadas.
No item Consideraes Finais apresentar-se s impresses da autora quanto a este
trabalho, principalmente, no que se refere reflexo da pesquisa. E por ltimo, expem-se as
Referncias Bibliogrficas utilizadas no decorrer do trabalho e em anexo as entrevistas
realizadas.

CAPTULO 1

1 HISTRICO DOS DIREITOS DA CRIANCA E DO ADOLESCENTE NO BRASIL

Neste primeiro captulo apresenta-se um breve resgate histrico das polticas de


atendimento s crianas e aos adolescentes, at a implementao do Estatuto da Criana e do
Adolescente ECA Lei n8069/90.
Posteriormente, realiza-se uma explanao sobre as transformaes econmicas,
polticas e sociais que as famlias enfrentam na atualidade, bem como, problemas decorrentes
dessa situao, entre eles o abandono e a institucionalizao de crianas e adolescentes.
Abordam-se tambm, os motivos que conduzem ao abrigamento, as conseqncias
acarretadas para a vida destes, enfatizando a ruptura dos vnculos familiares como umas das
conseqncias mais graves.

1.1 Referncia histrica sobre crianas e suas famlias

A histria da legislao brasileira no um problema recente, bem como, as


instituies de amparo e assistncia, tambm se faziam presentes em vrios perodos de nossa
histria.
No Brasil Colnia (sculos XVI e XVII), os primeiros trabalhos desenvolvidos com
criana foram realizados pelos jesutas com a preocupao de ensinar a ler, escrever e
aprender os bons costumes.

Depois disso, j no sculo XVIII, tem-se claramente o Sistema de Roda conhecido


tambm como Casa dos Expostos. A Roda dos Expostos era procurada igualmente por
pessoas pobres que no tinham recursos para criar seus filhos e por mulheres da elite que no
podiam assumir um filho ilegtimo ou adulterino. Essas instituies eram criadas e mantidas
pela Santa Casa de Misericrdia.
A Roda de Expostos era uma dispositivo cilndrico instalado de
maneira a que urna parte ficava para dentro e outro para fora da casa.
.As pessoas colocavam, anonimamente, as crianas enjeitadas nessa
roda que, uma vez girada, coloca-as dentro da casa, transformando-as
em propriedade da instituio, para ai serem "cuidadas" e "tratadas"
(SANTOS, s.d.).

Apesar da Roda ter sido criada com o objetivo de salvar vidas, os ndices de
mortalidade eram altssimos. Era o chamado infanticdio maquiado, resultante de fatores
econmicos, sociais e culturais que geravam pssimas condies de sobrevivncia. A
aglomerao de recm nascidos e crianas nas mesmas salas, freqentemente sem o
arejamento adequado, propiciava o agravamento de todas as demais condies de
intensificao da mortalidade infantil, como a proliferao de doenas.
A falta de caridade demonstrada em relao aos enjeitados sobrecarregava o
oramento, tornando precria a assistncia dada pela Roda. Pode-se perceber que, j naquela
poca, estas instituies enfrentavam muitas dificuldades financeiras, materiais e de pessoal,
ocasionando um atendimento precrio. Foi nesta fase que surgiu a criana carente, que
necessitava de caridade, sendo cuidada pela igreja e entidades filantrpicas que davam casa e
comida sem urna preocupao especifica com elas.
A sociedade tradicional via a criana e o adolescente como pessoas insignificantes. A
infncia no tinha durao longa, a criana logo que demonstrava desembarao fisico era
levada a conviver com adultos, inclusive em seus trabalhos. Na idade medieval a criana fazia
parte do cotidiano dos adultos, no com o status de criana, mas como componente deste

14

grupo. Sem ritos de passagem da fase de criana para a fase adulta, a criana era companheira
natural do adulto.
A familia no era responsvel pela transmisso de valores, educao e socializao,
pois a criana era logo afastada de seus pais e era normal os vizinhos ou outra famlia educaIas. Assim, a educao por muitos anos se deu atravs da convivncia com adultos, sendo os
primeiros anos de vida aqueles em que as crianas recebiam maior ateno e considerao.
No que se refere ao aspecto fisico, as crianas no se diferenciavam dos adultos, pois
se vestiam de maneira uniforme, sem qualquer caracterizao prpria infncia. Nem a morte
de uma criana ocasionava um sentimento de perda para sua familia, pois a compreenso era
de que poderia ser substituda por outra.
Antes do sculo XVII, a famlia no tinha privacidade sequer no interior de sua prpria
moradia, pois havia muita interferncia externa, visto que no existia a compreenso de que
cada famlia compunha um ncleo prprio, com caractersticas e valores especficos. Somente
a partir deste sculo e inicio do sculo XVIII surge o sentimento como al go mais intimo, tanto
da casa como da familia. longe da rua e defendida contra os intrusos. A aprendizagem, que
antes era atravs do contato com os adultos como meio de educao, foi substituda pela
escola. Os pais comearam a se interessar pelos estudos dos filhos e estes foram separados
dos adultos e, atravs da escola, iniciou um novo processo de educao e valorizao das
crianas.
A pesquisa histrica de Aris sobre a sociedade europia demonstra claramente as
diferenas na organizao familiar ao longo da histria. Segundo o autor, foi na idade
moderna (1600 a 1900) que foram estabelecidos o limite entre o familiar e o social. Nessa
poca se desenvolveu a idia de privacidade_ o sentimento de casa e, assim, o sentimento
familiar (originado da aristocracia e da burguesia) estendeu-se praticamente a toda sociedade,

15

persistindo at nossos dias. Dentro desta nova ordem, as crianas foram retiradas da vida
comum, bem como de grande parte do tempo e das preocupaes dos adultos.
Com o decorrer dos anos, houveram diversos avanos legislativos buscando
adequao do tratamento criana e ao adolescente que no conseguiram frear a situao de
desrespeito infncia. Somente no sculo XX surge um novo modelo de assistncia
infncia, calcado na racionalidade cientfico, priorizando o mtodo, a sistematizao e a
disciplina no lugar da piedade, caridade e a filantropia.
Em 1927 foi aprovado o primeiro Cdigo de Menores do pais e tambm o primeiro da
Amrica Latina, conhecido como Cdigo Mello Mattos, o qual consolidava as leis de
assistncia e proteo aos menores de 18 anos abandonados ou infratores. Uma das
caractersticas mais marcante a modificao da concepo de ptrio poder. O cdigo
institucionaliza o dever do Estado de assisti-los em virtude de carncia econmica. Incorpora
as mudanas na concepo de assistncia. que era exercida exclusivamente por religiosos,
tornando-a competncia estatal. O Estado passa a fazer de menores delinqente objeto de
coero, sob a premissa de regenerar e educar.

Consideram-se abandonados os menores de 18 anos: que no tenham


habitao certa nem meios de subsistncia, por serem os pai falecidos,
desaparecidos ou desconhecidos ou por no terem tutor ou pessoa sob
guarda viva; que vivem em companhia de pai, me, tutor ou pessoas
que se entreguem habitualmente a pratica de atos contrrios moral e
aos bons costumes; que se encontram em estado habitual de
vadiagem, mendicidade ou libertinagem [...] vitimas de maus tratos
fsicos habituais imoderados I.] "(VOLP1, 2001, p.26).

Depois de muitas criticas a esse modelo, cria-se em 1964 (tendo por respaldo o Cdigo
de Menores) um outro tipo de organizao para atendimento s crianas e adolescentes, a
FUNABEM (Fundao Nacional do Bem-Estar do Menor) que, de acordo com o caderno do
Centro Brasileiro para a Infncia e Adolescncia (CBIA) "Trabalhando Abrigos" (1993,
p13) -, tinha por objetivo principal uma poltica nacional de atendimento a crianas e

adolescentes desajustados, como tambm uma coordenao central e uma fiscalizao sobre
as entidades executoras do trabalho com o "menor". Era um rgo de cunho federal. Tinha
sua prtica voltada represso, assistencialismo e atitudes correcionais, tendo em vista que
apesar da viso do "menor" carente, o que ainda prevalecia era a concepo de "menor" como
uma ameaa social.
Em 10 de outubro de 1979, foi aprovado o novo "Cdigo de Menores", Lei N
6697/79, com sua aplicao condicionada s diretrizes da Poltica Nacional do Bem-estar do
Menor o qual trazia em sua essncia as mesmas diretrizes da antiga Lei Mello Matos, apenas
adaptando-a aos novos tempos de conjuntura scio-poltica. Portanto, na dcada de 80 a lei
que amparava as crianas e adolescentes era o referido Cdigo de Menores.
Pode-se dizer que a dcada de 80 fermentou e consolidou um novo olhar sobre a
criana e o adolescente. Olhar este, exigente na alterao do "status quo". E nesta dcada que
os movimentos sociais pela criana se tornam instituintes. No bojo deles muitas das entidades
no governamentais prestadoras de atendimento se articulam e se somam ao processo
instituinte (COSTA, 1993, p.17).
Essa doutrina via as crianas e adolescentes como menores ou em situao irregular.
Levava-se em conta no s os atos considerados delituosos de acordo com a justia, mas
tambm, os comportamentos de inadaptao ou irregulares que requeriam medidas de
proteo ou de reeducao, devido negligncia familiar ou social. Portanto, a situao
irregular podia ocorrer no s pela autoria de infrao penal, mas por abandono, carncia
econmica da famlia que pudesse comprometer a subsistncia da criana, vitimizao, desvio
de conduta, etc, o que levava, muitas vezes, os pais a perder o ptrio poder sobre seus filhos.
"Havia unia clara preocupao com os setores pobres da populao,
com o objetivo de mant-las sob controle permanente na medida em
que colocavam sob ameaa os espaos pblicos, as ruas e as praas.
Era preciso ordenar e controlar a pobreza (politica, moral e
higienicamente) pelas suas possibilidades de se construir um risco
para as comunidades" (OLIVEIRA, 2001, p.27).

17

Ser pobre, vtima de abuso, maltratado, explorado, abandonado da famlia, do Estado


ou da sociedade, j era motivo para uma criana ou adolescente ser privado de liberdade
A doutrina da situao irregular culpabilizava os pais pelo abandono dos filhos, por
no poderem suprir as necessidades bsicas quando, na verdade, essa situao era gerada por
causas estruturais ligadas organizao da sociedade, pela m distribuio de renda, pelas
desigualdades e pela omisso do estado
Como se tratava de uma Lei que beneficiava apenas os detentores de renda, viu-se a
necessidade de modific-la, trazendo significativas mudanas no campo poltico-social
brasileiro, com importantes conseqncias para a legislao relativa infncia, visto que na
dcada de 80, com o final da ditadura, um novo quadro se instala no Brasil, sinalizando os
novos rumos que a abertura poltica propiciava. Foi neste perodo que comeou a ganhar
visibilidade e organizao os grupos e as instituies preocupadas com as causas da infncia
marginalizada, tornando possvel formao de um movimento em torno da "causa do
menor".
A poca era favorvel para mobilizaes populares, no campo das polticas de
atendimento infncia e adolescncia e a mais marcante das manifestaes foi
concretizao de um Movimento Nacional que passou a simbolizar a causa no pas "O
Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua".
. portanto, neste cenrio de mudanas, onde indivduos, grupos e instituies
articulavam-se em defesa das crianas, demonstrando que era possvel organizar-se e
exercerem influncia no debate e na ao ao nvel de poltica, que ocorre a revogao do
Cdigo de Menores, sendo substitudo pelo Estatuto da Criana e Adolescente - ECA, Lei
8.069, de 13 de Julho de 1990.
De acordo com Costa (1993, p. 09).

18

... a nova lei rompeu de modo visceral com os mtodos e processo de


elaborao legislativa que vigoraram h sculos em nosso pais.
Segundo o autor, no nenhum exagero dizer que, literalmente, tratase de uma lei pensada por milhes de cabeas e escrita por milhes de
mos...

O ECA estabelece uma nova concepo sobre os direitos da infncia e adolescncia.


fruto de uma imensa mobilizao nacional, originou-se de uma emenda popular, consignada
no Art. 227 da Constituio Federal (1988), onde:
dever da famlia, da sociedade e do Estado assegurar a criana com
absoluta prioridade o direito vida, sade. alimentao,
educao, ao lazer, profissionalizao, cultura, dignidade, ao
respeito, liberdade e convivncia familiar e comunitria, alm de
coloca-los a salvo de toda forma de negligncia, discriminao,
explorao, violncia, crueldade e opresso.

Baseado na doutrina de Proteo Integral o Estatuto inspirado na Conveno


Internacional dos Direitos da Criana da Organizao das Naes Unidas, preconiza que a
criana precisa ser amparada, assistida e respeitada em todos os seus direitos. Passa a ver as
crianas e adolescentes como sujeitos de direitos, inimputveis at os 18 anos e sujeitos s
normas e penalidades da legislao especial.
De fato a concepo sustentadora do Estatuto a chamada Doutrina
da Proteo Integral defendida pela ONU com base na declarao
Universal dos Direitos da criana. Esta doutrina afirma o valor
intrnseco da criana como ser humano; a necessidade de especial
respeito sua condio de pessoa em desenvolvimento; o valor
prospecto da infncia e da juventude, corno portadoras da
continuidade do seu povo e da sua espcie e o reconhecimento da sua
vulnerabilidade o que torna as crianas e adolescentes merecedores de
proteo integral por parte da famlia, da sociedade e do Estado, o
qual dever atuar atravs de polticas especificas para promoo e
defesa de seus direitos.

O ECA (1990, p.17), em seu Artigo 2 prev que "criana, para efeito desta Lei,

pessoa at 12 anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre 12 e 18 anos de idade".

19

Essas mudanas passam a exigir um esforo conjunto da sociedade civil e do Estado,


pois a questo da criana marginalizada passa a ser de responsabilidade do Estado e da
sociedade como um todo
A Doutrina da Proteo Integral responsabiliza o Poder Pblico e sociedade como
agentes promotores das garantias dos direitos e provedores das necessidades bsicas da
infncia e adolescncia, sem qualquer tipo de discriminao excluso ou exceo.
A partir de ento, abolido o discriminador termo -menor" e passa-se a utilizar os
termos "criana e adolescente", que se tornam cidados, sujeitos de direitos, pessoas em
desenvolvimento que devem ser tratadas com prioridade absoluta.
O termo "menor infrator", "crime", "pena", so substitudos por adolescente autor de
ato inflacionai ou em conflito com a lei, ato infracional e medida scio-educativa,
respectivamente.

De acordo com Gilberto Dimenstein, citado por Guimares (2000, p.50)


No podemos nos conformar em ser "cidados de papel -, lembrando
que a criana o elo mais fraco e exposto da cadeia social. Nenhuma
nao conseguiu progredir sem investir na infncia. A viagem pelo
conhecimento da infncia a viagem pela profundeza de uma nao.
A situao da infncia um fiel espelho de nosso estgio de
desenvolvimento econmico. poltico e social.

O artigo 19 (1990, p.21), do Estatuto da Criana e do Adolescente, define que,


Toda criana ou adolescente tem direito a ser criado e educado no
seio da sua famlia e, excepcionalmente, em familia substituta,
assegurada a convivncia familiar e comunitria, em ambiente livre
da presena de pessoas dependentes de substncias entorpecentes.

Portanto, a criana e o adolescente tm o direito legal de ser criado e educado no seio

da sua famlia. Mas a prtica tem demonstrado que isso nem sempre acontece, pois em casos
especficos, quando as crianas passam a ter seus direitos fundamentais violados,
encontrando-se, muitas vezes, em risco pessoal e social, por diversos fatores os quais sero

20

citados posteriormente, estes so colocados em casas de abrigos, com o objetivo de proteglos. Porm, estas casas no possuem programas de ao continuada de atendimento familia,
que visem a superao das dificuldades enfrentadas, afim de que possam receber novamente
em seu meio as crianas que estiveram afastadas, longe dos vnculos familiares.
O Estatuto da Criana e do Adolescente passou a prever um sistema de atendimento
integral, digno e justo s crianas e adolescentes, definindo procedimentos, alternativas de
ao e normas de funcionamento das instituies pblicas e privadas de atendimento a este
segmento da populao. Apesar de terem decorrido treze anos de sua promulgao a
sociedade e, especialmente, o Poder Pblico ainda no esto dando importncia e no detm a
compreenso doutrina da proteo integral, no sentido de que a criana e o adolescente so
titulares de todos os direitos inerentes a qualquer pessoa, mais aqueles prprios e especiais
que, em razo da condio de pessoas em desenvolvimento, necessitam de um atendimento
especializado e diferenciado.

1.2 A famlia: espao de cuidados de seus membros ou espao a ser cuidado?

Inicialmente, para uma melhor compreenso do tema a ser abordado, considera-se


como "famlia": "um ncleo de pessoas que convivem em determinado lugar, durante um
lapso de tempo mais ou menos longo e que se acham unidas (ou no) por laos
consangneos" (MIOTO, 1997, p.120).
A famlia faz parte do universo de experincias (real/ou simblica) dos seres humanos
no decorrer de sua histria e est articulada dialeticamente com a sociedade na qual est
inserida. Ela possui uma histria e se constri atravs de sua existncia e se transforma

continuamente no mbito de suas relaes de gnero, de gerao, bem como de seu contexto
social.

2I

As grandes transformaes que caracterizam a sociedade ocidental a partir da Segunda


Guerra Mundial desencadearam uma srie de repercusses, entre As quais se inclui o
comportamento demogrfico e a organizao familiar.
No Brasil, a mudana dos padres demogrficos da populao na segunda metade do
sculo passado ocorreu de forma significativa, condicionada por um lado pelas
transformaes ocorridas no mbito da liberao dos hbitos e dos costumes especialmente
relacionados sexualidade e posio da mulher na sociedade. Por outro lado, o modelo de
desenvolvimento econmico adotado pelo Estado redundou um empobrecimento das famlias,
migrao do campo para os centros urbanos e insero considervel das mulheres e crianas
no mercado de trabalho. Alm disso, o desenvolvimento tcnico cientifico proporcionou um
grande impacto no mbito das familias.
O destaque da mulher no ocorreu apenas por necessidade, mas
porque elas passaram a compreender melhor o papel que tem na
sociedade e a importncia da sua realizao pessoal (ROSSETTI &
TOLEDO, 1998, p.8).

Todos esses fatores que implicam na estrutura das famlias, desencadearam um


processo de fragilizao dos vnculos familiares, tornando assim, as famlias mais
vulnerveis.
A famlia, no contexto destas profundas transformaes econmicas,
culturais, sociais e polticas, veio transformar-se numa rea de disputa
de poder, barganha e conflitos. (...) ao sofrer o impacto direto do
processo de transformao social mais amplo, obriga-se a um
rearanjar contnuo. Por outro lado, abre novos espaos, sob novas
condies, o que implica um movimento interminvel que cria e
recria rupturas e continuidades com os valores herdados do passado,
entre conflitos e contradies, confrontando-se com os valores.
crenas e ideais do presente (RIBEIRO. 1999, p.22).

Hoje j no possvel falar de famlia, ou simplesmente num modelo de famlia.


Admite-se cada vez mais diversificaes das formas de familias ou de arranjos familiares que

->n

no mais o tradicional pai, me e filhos. As formas de organizao das famlias esto


interligadas s desigualdades que ocorrem dentro de uma conjuntura social.
Independente das formas ou modelos que assume, na famlia que aprende-se a ser e
conviver, ela a matriz da identidade individual e social.
A famlia o espao indispensvel para a garantia da sobrevivncia,
de desenvolvimento e proteo integral dos filhos e demais membros.
independente do arranjo familiar ou forma como vm se estruturando
(KALOUSTIAN,1994, p11).

Percebe-se que a famlia constitui um grupo fundamental para o desenvolvimento do


ser humano, pois ela serve como suporte para que o indivduo sinta sua prpria importncia
dentro dela, contribuindo na construo da identidade do sujeito, Assim, diante do
agravamento da misria, da marginalizao e da excluso, os valores da famlia (unio, amor,
solidariedade, respeito mtuo, etc) esto sendo ameaados e perdendo a sua fora, como fonte
formadora de perspectivas para o futuro.
A famlia sofre influncia de aspectos internos (nascimento, morte, separao), de
aspectos externos (mudanas na economia_ leis de trabalho), mudanas no contexto social
(desemprego, migraes) e tambm pelo desenvolvimento de seus membros (adolescncia,
envelhecimento). Com todos esses desafios se apresentando, a famlia se v pressionada para
dar respostas, mas nem sempre est em condies de enfrent-los e assim, expressa suas
dificuldades por meio de inmeros problemas, como os de difcil relacionamento familiar,
falta de assistncia educao, sade, etc.
Portanto, no se pode negar_ que a famlia a clula maior da sociedade e se constitui
num processo varivel de transformao e mudanas, considerando-se que as formas de
organizao so diversas e modificam-se constantemente.
A maioria das famlias brasileiras vive em processo excludente, ficando comprometida
e buscando diversas formas para se manter.

23

Os diversos fatores econmicos, polticos e sociais afetam diretamente a famlia e sua


estrutura, gerando os mais diversos problemas, fazendo com que as famlias abram mo do
cuidado de seus filhos, abandonando-os na rua ou esquecendo-os nas mais variadas
instituies.
Quando a familia no capaz de educar e proteger seus filhos, e mostra-se como
ameaa crianas e adolescentes, que geralmente so o alvo escolhido pelos pais para
descarregarem suas frustraes geradas em uma sociedade injusta e violenta, a instituio
torna-se um suporte na tentativa de superar tais traumas e experincias negativas.
Muitas vezes a criana ou o adolescente exposta a situaes que ameaam. e
transgridem sua integridade fsica, psicolgica ou moral, por ao ou omisso da famlia, de
outros agentes sociais ou do prprio Estado.

1.3 Fatores que conduzem crianas e adolescentes ao abrigamento

Na realidade brasileira, podem ser elencadas vrias situaes especiais que afetam a
vida da criana e/ou do adolescente. Dentre estas situaes, destacam-se:

vitimas de abandono e maus tratos;

vtimas de abuso, negligncia e maus tratos na famlia e nas instituies:

moradores de rua. sendo este o espao de luta pela vida e, at mesmo, de moradia,

vtimas de trabalho abusivo e explorador,

envolvidos no uso e trfico de drogas;

as crianas e adolescentes explorados sexualmente;

os adolescentes em conflito com a lei, em razo do cometimento de ato infracional,

outras situaes que impliquem em ameaa ou violao da integridade fisica,


psicolgica ou moral das crianas e adolescentes a ela exposta.

24

Convm lembrar que est previsto no ECA, que a pobreza no lhes retira os direitos
nem os deveres, pelo contrrio, as famlias tm direito proteo, quando elas necessitarem
( I O Medidas Bsicas para a lnffincia Brasileira, 1994, p. 33-34), e quanto mais expostas esto
as famlias a situaes de excluso, mais exposta ao abandono ficam os mais vulnerveis.
No que diz respeito ao direito da criana e do adolescente com relao funo da
famlia, o ECA reafirma o direito convivncia familiar e comunitria, como citado
anteriormente, enunciado no artigo 227 da Constituio Federal. Os pais tm o dever de
assistir, criar e educar os filhos e para isso precisam ter acesso junto com a comunidade,
formulao das polticas sociais.
A famlia a principal responsvel pelo bem-estar fisico e emocional das crianas e
adolescentes, necessitando de infra-estrutura econmica e social para cobrir suas demandas.
a base da sociedade e o ponto supremo para a formao do ser. Qualquer desequilbrio ou
instabilidade afetar substancialmente a criana e o adolescente.
A situao de misria em que vive grande parte da populao, frente ao caos
econmico instalado no pas e a m administrao do errio publico, mostra a desateno total
aos dispositivos inseridos na Carta Magna e no ECA relativos proteo da famlia.
Visando atender as diferentes demandas e problemticas das crianas e/ou
adolescentes em situao de abandono, risco pessoal e social, o Estatuto da Criana e do
Adolescente (ECA Lei Federal 8.069 de 13.07.90) apresenta as medidas scio-educativas e
as medidas de proteo.
As medidas scio-educativas so destinadas a adolescentes que cometeram ato
infracional (ECA-1990, p.38 - Art. 112), na qual pode-se destacar a internao, a advertncia,
a obrigao de reparar danos, a prestao de servios comunidade, a liberdade assistida e o
regime de semiliberdade.

25

As medidas de proteo se aplicam criana e adolescente que tem seus direitos


bsicos ameaados ou violados, seja por omisso ou abuso dos pais ou responsveis, seja pela
sociedade ou mesmo por parte do Poder Pblico.
E, dentro das medidas de proteo, o abrigo em entidade determinado pelo pargrafo
nico do art. 101 (ECA-1990, p.36), que prescreve o seguinte:
O abrigo considerado unia medida de proteo provisria e
excepcional, utilizvel como forma de transio para posterior
colocao em famlia substituta, no implicando privao de liberdade.

As entidades que desenvolvem programas de abrigo devero adotar os seguintes


princpios (art. 92 ECA-1990, p.32,33):
I. preservao dos vnculos familiares;
II. integrao em famlia substituta quando esgotados os recursos de nianuteno
famlia de origem;
Hl. atendimento personalizado e em pequenos grupos;
IV. desenvolvimento de atividades em regime de co-educao;
V. no-desmembramento de grupos de irmos;
VI. evitar sempre que possvel, a transferncia para outras entidades de crianas e
adolescentes abrigados;
VII. participao na vida da comunidade local;
VIII. preparao gradativa para o desligamento;
IX participao de pessoas da comunidade no processo educativo.
Pargrafo nico O dirigente da entidade de abrigo equiparado ao guardio, para
todos os efeitos de direito.
Entende-se por abrigo, um lugar que oferece proteo, moradia (embora provisria),
atendimento personalizado, em pequenas unidades, para pequenos grupos de crianas.

Caracteriza-se por oferecer s crianas e adolescentes a oportunidade de participar na vida da


comunidade atravs da educao, lazer, sade, esporte, etc
As crianas e adolescentes que passam por um perodo de institucionalizao acabam
sentindo algumas conseqncias no decorrer de sua vida. Dentre estas, situa-se
principalmente, a dissociao e ruptura dos vnculos familiares. Neste sentido, torna-se
imprescindvel analisar estes fatores decorrentes da internao para que melhor possam ser
entendidos na sua complexidade.

1.4 Conseqncias do abrigamento na vida das crianas e adolescentes


A institucionalizao de crianas e adolescentes fato concreto e polmico; visto que,
muitas vezes, estes passam urna boa parte da histria de sua vida "conectada" ou
"absorvida" por uma unidade de abrigo, que pode trazer muitas vezes conseqncias srias e
negativas como: represso, agressividade, falta de referenciais, etc.
Em princpio, como citado anteriormente, o abrigamento de crianas e adolescentes
visto como uma medida a curto prazo e provisria. No entanto, comum encontrar crianas e
adolescentes que passaram a maior parte de sua vida morando em centros residenciais,
denominados Casa-Lares.
Parece claro que a infncia conturbada e privada de laos afetivos
fortes traz conseqncias futuras para o repertorio comportamental
dos indivduos. inclusive para sua auto-estima, definindo assim sua
forma de relacionamento como o outro e com o mundo em geral
(WEBER & KOSSOBUDZKI, 1996, p.34).

As crianas institucionalizadas por um longo perodo perdem suas "razes" e sua


identidade familiar devido falta de contato e a inexistncia de visitas. Os laos que outrora
os unia pelo fator de consanginidade, com o passar do tempo vo se estreitando, chegando a

27

desaparecer por completo, fazendo com que se tornem "estranhos" sem vestgios de laos
afetivos que os unam, cada qual com sua histria pessoal.
Embora concordando com Weber e Kossobudzki (1996, p.34) que "... institucionalizar
no a melhor soluo, pois priva a criana de um convvio afetuoso que permite uma
intimidade e uma cumplicidade, somente possveis numa relao familiar, nunca numa
instituio", aqui, neste trabalho, entende-se que em algumas situaes a instituio torna-se
uma referncia s crianas que pelas mais variadas demandas no podem contar com suas
famlias, ou ento, quando abandonadas prpria sorte, so amparadas e protegidas na CasaLar.
Pode-se concluir que, de acordo com os trabalhos de diversos
estudiosos, o carinho, o aconchego, o dar e receber amor ficam
prejudicados em uma instituio, pelas inerentes limitaes de
atitudes espontneas, causando diferentes tipos de danos criana, s
vezes irreversvel, sejam eles fsicos, intelectuais ou, principalmente
emocionais (WEBER & KOSSOBUDZKI, 1996, p.49).

muito preocupante a questo das crianas e adolescentes que se encontram


abandonados em instituies por suas famlias pai, me, irmos, tios, avs e demais parentes

cujas visitas, em alguns casos, reduzem-se a nenhuma.


Apesar de Vicente (1994, p.53) afirmar no existirem rfos, pois "... para que uma
criana perca toda a sua familia (incluindo avs, e tios maternos e paternos), necessrio que
uma grande tragdia tenha lhe sucedido. E isto rarissimo". Percebe-se, com uma certa
freqncia, a existncia de "rfos - de pais e parentes vivos, que abandonam suas crianas na
instituio.
O ideal seria que todo o individuo nascesse e crescesse "... num ambiente familiar
onde pudesse ser reconhecido como nico e capaz de criar, acertar e errar, interferir,
modificar e construir seu prprio mundo e ser dono do seu destino" (WEBER &
KOSSOBUDZKI, 1996, p.53).

28

Concorda-se com o ideal preconizado por Weber (1996), contudo, considera-se uma
utopia, tendo em vista o grau de pobreza, somado a um grande nmero de problemas
apresentados por muitas familias, que so obrigadas a procurar unia instituio que oferea
abrigo e melhores condies de vida s crianas e adolescentes necessitados, embora como
um recurso em carter excepcional e temporrio.
Para a criana, a institucionalizao prolongada leva ao empobrecimento de sua
subjetividade pela perda de relacionamentos humanos individualizados, continuos e afetuosos.
Esse processo pode deixar seqelas graves, como a incapacidade de autogerenciar-se, o que
costuma dificultar as chances de uma insero social adequada. Pode tambm determinar a
ruptura dos vnculos afetivos com a famlia de origem, levando a series dificuldade na
construo de novas relaes sociais.
Para a famlia, a institucionalizao pode representar o progressivo no investido no
Filho, a omisso, a construo de novos projetos familiares que excluem a criana e tambm a
desvalorizao perante a sua prpria imagem (auto-estima) e perante a sociedade. Em alguns
casos, a permanncia da criana na instituio atende apenas s necessidades dos pais,
representando verdadeira condenao para a criana.
No mbito social, o comprometimento mais significativo est na perda de referncias
afetivas e sociais bsicas, o que poder dificultar, para a criana apartada de seu meio, de
origem, suas chances futuras de integrao social.
O sofrimento maior da criana institucionalizada de no ser importante para
ningum, no pertencer a ningum, mas estar nas mos de todos.
Toda criana ou adolescente que chega ao abrigo traz consigo uma carga emocional
acentuada, pelo fato de ter vivido experincias muito marcantes, so vivncias nicas que
precisaro ser consideradas por todos os responsveis que atuam diretamente com essas
crianas e adolescentes.

1.4.1 Ruptura dos vnculos familiares


Ressalta-se primeiramente que o ambiente familiar especialmente importante nos
primeiros anos de vida, j que a famlia cumpre a funo mais importante na socializao da
criana
no contexto das relaes familiares, cujo motor so os afetos (amor,
dio, inveja, gratido), que a criana aprende a reconhecer-se como
nica (identidade) e como parte de um grupo (o sentido de pertencer,
o sentido de ns) (M1OTO, 1997, p.120).
Ela um espao indispensvel para a garantia da sobrevivncia, do desenvolvimento e
da proteo integral dos filhos e demais membros, independente do arranjo familiar ou da
forma como vem se estruturando. a famlia que propicia os aportes afetivos e, sobretudo,
materiais, necessrios ao desenvolvimento e bem-estar dos seus componentes. Ela
desempenha um papel decisivo, a educao formal e informal, em seu espao que so
absorvidos os valores ticos e humanitrios. onde se aprofundam os laos de solidariedade
Para um desenvolvimento completo e harmonioso de sua
personalidade a criana deve crescer num ambiente familiar, numa
atmosfera de felicidade e compreenso (FERRARI, 1991;
KALOUSTIAN, 1991).
Contudo, importante lembrar que a capacidade de cuidado e proteo dos grupos
familiares depende diretamente da qualidade de vida que eles tm no contexto social nos
quais esto inseridos. Sem dvida nenhuma, as famlias brasileiras, especialmente as de
camadas populares, esto fortemente pressionadas pela poltica econmica do governo. Em
vez de tal poltica assegurar condies minimas (renda, emprego, securana, servios pblicos
de qualidade) de sustentao das famlias, ela vem desencadeando situaes (migraes,
desemprego, ausncia de servios pblicos) que so fortes motivos para a desestruturao
familiar.

30

A famlia ainda hoje vista como uma caixa de ressonncia dos problemas e desafios
deste sculo, que envolvem problemas de ordem tica, econmica, poltica e social. Nesse
sentido, tem sido um espao de conflitos, ao enfrentar no cotidiano, situaes extremamente
contraditrias, dentre as quais pode-se destacar:

o cumprimento de suas tarefas bsicas (proteo e cuidado de seus membros,


socializao primria de suas crianas) sem que tenha condies objetivas para tanto;

o embate entre o projeto pessoal dos pais e o projeto familiar de cuidado do outro,

a convivncia de um modelo familiar ideal calcado no passado com a diversidade dos


arranjos familiares atuais.
Dessa forma, pode-se dizer que a qualidade de vida das famlias depende da

articulao que cada uma consegue fazer entre as demandas internas (necessidades de seus
membros nos diferentes estgios de desenvolvimento), as demandas advindas de seu espao
social e as formas de lidar com as transformaes ocorridas no mbito das relaes
homem/mulher e pais/filhos.
Esta articulao est constituindo-se num processo extremamente difcil, diante das
respostas que vm sendo dada pelas famlias e por seus membros. inegvel a intensidade
das atitudes destrutivas no contexto das relaes familiares (a violncia, especialmente contra
mulher e a criana, o filicidio) e o aumento gradativo de problemas na infncia e na
juventude. Porm, todo o movimento que est ocorrendo no interior das famlias e nas suas
formas de insero no contexto social pode ser entendido como uma luta pela sua
sobrevivncia, no apenas no sentido estrito da palavra (uma vez que aumenta a cada dia o
nmero de famlias em condio de misria), mas especialmente no sentido de preservao do
prprio grupo enquanto lugar da vida.
Assim, uma hiptese a ser considerada lidar com as dramticas respostas que as
famlias vm apresentando enquanto grupo (relaes muito conflituosas e destrutivas) e por

3'

intermdio de seus membros individualmente (abuso de substncia, problemas de


comportamento, comportamentos suicidas, suicidio, delinqncia) aos desafios que lhe esto
sendo impostas como pedidos de socorro. Dai decorre a necessidade de se estabelecer
processos de ateno s famlias, que as auxiliem a enfrentar tais esforos e ofeream novas
articulaes que sejam prenncios de uma condio humana melhor.
Para sustentar os filhos em momentos de crise, muitas famlias encontram como unica
sada colocar as crianas e adolescentes em entidades de abrigo, internatos, etc. Para essas
familias no se trata de abandono e sim de uma estratgia de sobrevivncia. A expectativa da
maioria ter os filhos de volta o mais breve possvel.
Considera-se, portanto, que por romper, ainda que temporariamente, os vnculos
afetivos entre os membros da famlia em funo do afastamento daquela criana ou
adolescentes vtima da ao ou omisso dos pais ou responsveis, a medida protetiva de
abrigo deva ser o ltimo recurso a ser efetivado na busca pela proteo integral da infncia.
Pelos mesmos motivos ele tambm deve ser temporrio e mantido somente o tempo que
necessitar para que a famlia de origem da criana receba apoio, seja orientada e acompanhada
na busca de reestruturao que possibilite a superao ou amenizao das dificuldades
enfrentadas, com vistas ao retorno da criana sua origem com proteo integral.
A partir do momento que passam a ser abrigados, so tolhidos de um certo tipo de
"liberdade" que possuam fora da instituio; o contato com a famlia e antigos amigos passa
a ser restrito, provocando uma grande quebra de vnculos, que no ser substitudo dentro do
abrigo. Quanto mais tempo que a criana ou o adolescente permanece abrigado, muito maior
a perda desses referenciais, o que provoca angstias e sentimentos de perda e abandono.
As crianas abrigadas trazem consigo "diferenas" oriundas de quadros caractersticos
de abandono, rejeio, maus tratos e outros componentes que certamente influenciaro na
formao de sua personalidade, cabendo aos responsveis conduzir criteriosamente a

32

educao, de forma a superar estas falhas e incutir elementos que fortaleam a efetividade, o
intelecto e proporcionem condies favorveis que respeitem a necessidade de segurana
material e emocional possibilitando a formao do cidado autnomo e responsvel frente a si
e a sociedade.
Uma das maiores necessidades das crianas e adolescentes abrigados, sem dvida, a
construo de referenciais individuais, fortalecendo sua subjetividade e a formao de
vnculos, manifestando-se atravs da amizade e do afeto.
Entidades de renome na ateno e cuidados infncia e adolescncia, na obra 10
Medidas Bsicas para a lnfncia Brasileira (1994, p.35) esclarecem que:
O vinculo afetivo e fundamental para o desenvolvimento humano e
em especial o das crianas e adolescentes para a construo de sua
integridade fisica, psquica e moral. Ameaas ao convvio familiar
colocam crianas/adolescentes em situao de risco.

Dentro do abrigo difcil estabelecer vnculos pois a entrada e sada de crianas,


funcionrios e estagirios constante, alm disso os funcionrios e profissionais precisam
dividir as atenes, no existindo um adulto que d ateno exclusiva para cada criana e
adolescente em todos os momentos em que eles necessitam
[...] o carinho, o aconchego, o dar e receber amor ficam prejudicados
em urna instituio, pelas inerentes limitaes de atitudes
expontneas, causando diferentes tipos de danos criana, s vezes
irreversveis, sejam eles fisicos, intelectuais ou principalmente
emocionais (WEBER< KOSSOBUDZKI, 1996, p.49)

Uma criana precisa estabelecer vnculos para sentir-se segura e amada, pois o apego
no se caracteriza s pelo "amor materno" ou familiar. Ele pode ser construdo com outros
membros externos.
O vinculo (o apego) traz em si mesmo elementos referenciais para o
desenvolvimento pleno do cidado. O sentimento de pertencimento
estabelece moldura para todas as cenas que comporo a histria de
vida do individuo (VIAN, 1990, p.25).

33

A criana e o adolescente abrigado devem criar vnculos externos instituio para


que a criana, enquanto sujeito em desenvolvimento, possa aflorar seu lado subjetivo e
desenvolver potenciais que podem estar tolhidos por falta de estimulao, ateno e afeto.
Crianas institucionalizadas esto sujeitas a inmeras privaes, mas a questo dos
vnculos afetivos de fundamental importncia para o desenvolvimento da criana e do
adolescente e para a construo de sua integridade fisica, psicolgica e moral.

CAPITULO H

II PROCESSO DE TRABALHO DO SERVIO SOCIAL NOS PROGRAMAS


ABRIGOS

Neste captulo procura-se demonstrar que, no interior dos processos de trabalho o


Assistente Social que d a direo tcnica na parte da assistncia social. ele que orienta e
informa sobre as normas institucionais e os direitos dos usurios no servio.
O processo de trabalho do Assistente Social caracteriza-se, principalmente, pela sua
especificidade, que est no fato de atuar sobre todas as necessidades humanas de uma classe
social formada por grupos marginalizados, pauperizados e excludos dos bens e servios, da
sociedade em que vivem.

2.1 Processo Trabalho e Servio Social

Inicialmente, faz-se necessrio descrever o que se entende por processo de trabalho


Segundo Gentilli (1998, p.25),
O processo de trabalho configurado por todo fazer profissional que
abrange metodologias, utilizao de arsenal tcnico da profisso,
estabelecimentos de diretrizes de ao, de comunicao e de
prestao de servios aos usurios.

Levando-se para o campo do assunto em questo, a Assistncia Social,


compreende diversos tipos de trabalho social que tm como objetivo
auxiliar o indivduo ou a famlia em sua luta pela adaptao ao meio:
abrange uma grande variedade de atividades como a assistncia
mdica e a jurdica - (BARSA, v.15).

35

Assim, o Servio Social caracteriza-se por um processo pedaggico, que procura


tornar o homem capaz de ser sujeito do seu processo de desenvolvimento, tornando-o apto a
fazer suas escolhas e tomar decises.
Verifica-se, pelas lies de Gentilli (1998, p.39), que o Servio Social e uma
especialidade profissional que tem com funo principal (mas no nica), a execuo de
programas de polticas sociais, em organismos governamentais e no-governamentais,
destinados aos extratos mais pobres das camadas trabalhadoras. Por contingncias da diviso
scio-tcnica do trabalho, cabe ao Servio Social realizar atendimentos diversos em
organizaes pblicas ou privadas, que podem se vincular ao Estado (como o caso de
Secretarias de Ao Social de Estados e de Municpios); a organismos de classe trabalhadora
(como sindicatos); a entidades patronais (como o Servio Social da Indstria) e, as
organizaes pblicas, porm no estatais, como o caso das Organizaes NoGovernamentais.
Em se falando de polticas sociais em qualquer um dos segmentos da sociedade,
depreende-se dos ensinamentos de Gentilli (1998, p.79) que politica social uma expresso
que se refere a aes governamentais dos Estados modernos tendo em vista atender reduo
das conseqncias da pobreza em diversas reas de servios como educao, sade, habitao,
previdncia, etc. Estas aes objetivam resolver (em alguns casos) ou minimizar (os outros);
no mbito da politica geral dos governos; as questes da equidade social
O fazer profissional visto como a -atividade do assistente social na relao com o
usurio, os empregados e os demais profissionais" (Iamamoto, 2001, p.94). Suas aes afetam
diretamente a vida dos usurios dos servios nos mais variados campos de atuao dos
assistentes sociais.
No se pode negar que o campo de atuao do assistente social muito amplo e, no
espao governamental, o Servio Social se estende s polticas sociais nas reas da

36

assistncia, previdncia, relaes de trabalho, habitao em programas de atendimento


infncia, adolescncia e ao idoso (Gentilli, 1998, p.42), executando programas e polticas
pblicas.
Para analisar o processo de trabalho do assistente social imprescindvel contemplar
quais os objetos que envolvem a pratica profissional, qual o contedo da atividade do
Servio Social, quais os instrumentos utilizados e seus significados, qual o resultado do seu
processo de trabalho e como o mesmo pode ser aferido, considerar ainda os elementos
externos, as dimenses e formas de exerccio do controle que perpassam seu trabalho
(Francisco & Cardoso, 1995, p.8), ou seja, o processo de trabalho elege um objeto que se
transforma e acaba gerando um produto.
Compreender o processo de trabalho no Servio Social requer, por parte dos
Assistentes Sociais, alm da apreenso da dinmica institucional onde atuam levar em
considerao no mesmo movimento de anlise, o conjunto de mudanas que ocorrem na
sociedade brasileira hoje. Pois, os "modos de aparecer" do Servio Social, manifestados no
agir profissional, so redefinidos ao longo do processo histrico da profisso. Processo este
complexo e contraditrio, gestado no confronto das classes sociais que a interveno
profissional polariza. Portanto, discutir o processo de trabalho no Servio Social, requer
primeiramente que o mesmo seja compreendido a partir dos seguintes pressupostos.
O primeiro, refere-se compreenso de que a base scio-histrica de constituio da
profisso est diretamente ligada questo social e emergncia do setor de Servios, isto ,
o Servio Social se desenvolveu a partir dos embates das classes sociais, originados sobretudo
da tenso entre capital X trabalho. Sendo assim, a profisso emerge como estratgia do Estado
no enfrentamento das vrias expresses da questo social, isto , ele institucionalizado com
o objetivo de adequar a classe operria s novas condies instauradas pelo processo de

37

industrializao e o avano do capitalismo em sua fase monopolista (BARBOSA &


CARDOSO, 1998, p.110).
Segundo Barbosa & Cardoso (1998, p.110),
A disciplina profissional se desenvolve, ento, direcionada para
grupos populacionais carentes de modos prprios de reproduo e de
formas de acesso a servios pblicos e privados que respondam s
necessidades de sobrevivncia e socializao no contexto urbanoindustrial.
O Estado passa a criar polticas pblicas que redistribuem o valor excedente do
capital, e requisita o Servio Social como fora de trabalho especializado e inserido na diviso
scio-tcnica do trabalho, para atuar no setor e servios, em particular como executor das
polticas desenhadas pelo Estado no mbito da assistncia e polticas sociais.
colocado por Barbosa & Cardoso (1998, p.123) que, o crescimento do setor de
servios est relacionado com "o movimento tpico do capitalismo de buscar o
desenvolvimento constante da diviso do trabalho e a capitalizao generalizada de todas as
esferas sociais".
Por sua vez, o Estado reduz as manifestaes dos conflitos sociais no mesmo
instante em que assume o que seria a nica responsabilidade do capitalista na reproduo da
fora de trabalho, ou seja, na medida em que o Estado obtm recursos para as polticas sociais
atravs da arrecadao de tributos, a acumulao de capital se consolida, pois, o mesmo
"encobre" os direitos trabalhistas (diminuindo gastos) e o Estado atravs das polticas sociais,
as repassa, (de forma mnima) como "favor", perpetuando a ideologia do
assistencialismo/paternalismo, isto , essas polticas aparecem mistificadas como uma doao,
como concesso do Estado e do empresariado, e no como direitos das classes trabalhadoras,
como bem nos ensina lamamoto (1995, p.52) quando descreve que:
Trata-se de uni perodo marcado pelo aprofundamento do modelo
corporativista do Estado e por uma poltica nitidamente favorvel
industrializao (a partir de 1937). A burguesia industrial adquire
supremacia no poder de Estado aliado aos grandes proprietrios

38

rurais, e tem de se defrontar com o crescimento do proletariado


urbano, reforado pelos fluxos populacionais liberados pela
capitalizao da agricultura. Em face de tal expanso, surge a
necessidade de absorver e controlar esses setores. O Estado Novo vai
buscar na classe operria um elemento adicional de sua legitimao,
atravs de uma poltica de massas, ao mesmo tempo em que procura
reprimir o componente autnomo dos movimentos reivindicatrios do
proletariado que foge aos canais institucionais criados para absorvelos na estrutura corporativista.

O segundo pressuposto leva a considerar a prtica profissional do Assistente Social


como trabalho e, que o seu exerccio profissional est inscrito em um processo de trabalho
Como uma categoria chave, a eleio do trabalho no ocorre por acaso O
reconhecimento do Servio Social como trabalho, proporciona categoria configurar a sua
prtica profissional como trabalho profissional, que deixa de ser tratada como uma pratica
social abstrata. Proporciona ainda, a compreenso de que o agir profissional do Assistente
Social est diretamente ligado dinmica da sociedade em que este se insere, ou seja, a
prtica profissional adquire a sua "forma" na sociedade em que est inserida, ela histrica.
De acordo com Iamamoto (1997, p.40):
A analise da prtica do Assistente Social como trabalho, integrado
em um processo de trabalho permite mediatizar a interconexo entre o
exerccio do Servio Social e a prtica da sociedade.

O trabalho a atividade prpria do ser humano, ele permite que o homem se


diferencie da natureza pela sua capacidade de antecipar e projetar resultados, ou seja, o ser
humano j tem idealizado na sua conscincia, a configurao que quer imprimir ao objeto de
trabalho, antes de sua realizao. Isto ressalta a capacidade teleolgica do ser social.
Portanto, compreender a prtica profissional enquanto trabalho, significa apreender
que a ao realizada pelo Assistente Social projetada anteriormente sua execuo, ela
possui um caminho a ser percorrido para atingir determinada finalidade, um dever ser
imbricado de valores tico-polticos.

39

Pode-se dizer que o trabalho proporciona uma dupla transformao: sendo uma
atividade prtico-concreta, ele opera mudanas tanto no objeto a ser transformado, quanto no
sujeito, na subjetividade dos indivduos, isto , o prprio homem que trabalha e transformado
pelo seu trabalho, pois, este permite descobrir novas capacidades e qualidades humanas.
Assim, o trabalho fator fundamental de realizao do ser social_ ele condio
para a sua existncia, j que, o ato de produo e reproduo da vida humana realiza-se
atravs dele.
Por outro lado, dada a forma que o trabalho assume nas sociedades capitalistas, temse a desrealizao do ser social, ou seja, nas sociedades regidas pelo valor, o trabalho torna-se
estranho ao homem, pois, o processo de trabalho converte-se em meio de subsistncia. A
fora de trabalho torna-se uma mercadoria, cuja finalidade vem a ser a produo de
mercadorias. Assim, o que deveria ser a forma humana de realizao do individuo reduz-se
nica possibilidade de subsistncia do mesmo.
Enfocando o capitalismo, entende-se que, o Servio Social est integrado no
universo do valor, da mercantilizao, pois, vende a sua fora de trabalho especializada em
troca de um salrio. Seu trabalho se torna especializado na sociedade quando atende as
necessidades sociais, isto , passa a ter um valor de uso, uma utilidade social.
Pela filosofia Marxista, depreende-se que:
Para o trabalho reaparecer em mercadorias, tem de ser empregado em
valores de uso, em coisas que sirvam para satisfazer necessidades de
qualquer natureza. O que o capitalista determina ao trabalhador
produzir e portanto uni valor-de-uso particular, um artigo
especificado (MARX, 1987, p. 201).

Assim sendo, pode afirmar que o Servio Social constitui-se como: uma fora de
trabalho assalariada e contratada no mercado, com um objeto de trabalho, dispondo de certos
meios de produo, gerando um produto, como resultado do trabalho. Todo este processo de
transformao do objeto de trabalho em "produto til" o prprio processo de trabalho que

40

expressa as particularidades e singularidades da ao profissional, nos diversos campos onde


atua o Assistente Social, ou seja, resulta na prpria identidade profissional
Outro elemento integrante do processo de trabalho so os meios ou instrumentos de
trabalho, isto , aquilo que o trabalhador interpe entre ele e o objeto sobre o qual trabalha
para transformar. O principal meio ou instrumento de trabalho do Servio Social o
conhecimento, sendo a base terica metodolgica o recurso fundamental para decifrar a
realidade e clarear a conduo do trabalho a ser realizado. E atravs do conhecimento que o
Assistente Social tem a possibilidade de pensar a realidade de forma critica e,
conseqentemente transform-la, como bem nos elucida lamamoto (1997, p.42):
"O conhecimento da realidade deixa de ser um mero pano de fundo
para o exerccio profissional, tomando-se condio do mesmo, do
conhecimento do objeto junto ao qual incide a ao transformadora ou
esse trabalho".

Alm do conhecimento, o Assistente Social utiliza-se de instrumentos tcnicos


operativo, tais como: reunies, palestras, encaminhamentos, entrevistas, plantes e outros.
Pelo que foi estudado, pode-se dizer que o objeto de trabalho ou a matria-prima do
trabalho profissional a questo social em suas mltiplas expresses, isto , nas suas vrias
manifestaes. Para tanto, pesquisar e reconhecer a realidade so condies necessrias para o
exerccio profissional.
No que se refere aos meios pelos quais se materializa o trabalho do assistente social,
no h como negar que os instrumentos potencializam a ao do Servio Social junto
demanda.
Portanto, os instrumentos tericos e tcnicos so essenciais, pois permitem uma
leitura mais fidedigna da realidade e motivam rumos ao Poder-se-ia, ento afirmar que o
conjunto de conhecimentos e habilidades, bem como o instrumental tcnico-operativo e as

condies institucionais so integrantes dos meios de trabalho.


Instrumental tido como,

41

O conjunto articulado de instrumentos e tcnicas que permitem a


operacionalizao da ao profissional. Nessa concepo possvel
atribuir-se ao instrumento a natureza de estratgia ou ttica, por meio
da qual se realiza a ao, e a tcnica fundamentalmente a habilidade
do uso do instrumental (MARTINELL1 & KOUMROUWYAN,
1994).

Da entende-se, que o espao da criatividade no uso do instrumental reside


exatamente no uso da habilidade tcnica, portanto reside no agente. Por outro lado, entende-se
que o instrumental no nem o instrumento nem a tcnica tomados isoladamente, mas ambos,
organicamente articulados em uma unidade dialtica (entrevista, relatrios, visita, reunio,
observao participante, etc).
Por trs da aparente neutralidade de sua aplicao, encontram-se objetivaes que
articulam dimenses econmico-sociais e tico-polticas, relativos aos sujeitos profissionais
individualmente, e aos interesses de classe.

2.2 A interveno do Servio Social nos programas abrigos


As Casas-lares devem ter conscincia de que "por mais que existam excelentes
instituies, jamais substituram o binmio famlia-sociedade" (FREIRE, 1991, p.135).
Como j foi citado anteriormente no art. 101 do ECA, o abrigo era para ser o mais
breve possvel, porm, muitas crianas permanecem abrigadas por longos perodos na
instituio, devido a vrias causas, dentre elas, a situao econmica dos pais, a morosidade
da justia quando ocorre a destituio do ptrio poder.
A prtica profissional do Assistente Social necessita de tcnicas e instrumentos, que
possibilitem a operacionalizao da proposta de ao profissional. Dentre os instrumentos
utilizados pelo Assistente Social, pode-se citar: relatrios, entrevistas, visitas domiciliares,
entre outros.

Estes so requisitos indispensveis para construir respostas eficazes,


segundo os compromissos ticos norteadores do exerccio
profissional. Exige urna habilitao tcnico-operativa, que envolve
um conjunto de tcnicas instrumentalizadoras da ao, que
potencializam o trabalho profissional (1AMAMOTO. 1996, p.56).

Dessa forma, o Servio Social tem como aes profissionais orientao e repasse
de informaes a respeito da criana e sobre sua famlia para o Juizado, e ainda os registros
profissionais, sendo muito importante e necessrio para que os funcionrios que mantem
contato com as crianas e adolescentes possam estar ciente de todos os acontecimentos
relacionados aos mesmos.
Assim, vrias demandas chegam ao Servio Social do abrigo, trazidas atravs de
seus usurios: crianas e adolescentes abrigadas e suas famlias. Dentre as vrias demandas
pode-se destacar: a violncia domstica contra crianas e adolescentes; crianas e
adolescentes

com experincia com drogas; crianas analfabetas e semi-analfabetas,

necessidades

de cursos para adolescentes; atendimento psicolgico para crianas,

adolescentes e famlias destes; desligamento de crianas e/ou adolescentes da instituio;


egressos da Casa-Lar; excesso de crianas e adolescentes abrigados, tentativas de fugas e
fugas de crianas e adolescentes do abrigo; suspenso ou perda do ptrio poder dos pais;
auxlios concretos para as famlias; crianas e/ou adolescentes que precisam ser atendidos por
outras Casas-Lares, devido a situaes especiais; treinamento e capacitao dos monitores;
adoo; enfraquecimento de vnculos afetivos e a necessidade de crianas e adolescentes
construrem e manterem outras relaes afetivas.
As demandas que se tornam objetos de trabalho do Servio Social podem ser tanto
objetivas, como por exemplo, necessidades de auxlios concretos (roupas, cestas bsicas, etc.)
ou demandas subjetivas, como o enfraquecimento de vnculos de crianas e adolescentes
abrigados.

43

Alm disso, nem sempre as demandas so explcitas, preciso problematizar as


demandas e identificar a necessidade dos usurios. necessrio buscar parcerias para atender
as demandas que exigem articulao com outros profissionais, como pedagogos, psiclogos e
outros.
Segundo Oliveira (1999, p.37), "as demandas colocadas pelos usurios tornam-se
cada vez mais complexas e amplas, pois alm das tradicionais surgem outras, fazendo com
que o Servio Social planeje e execute projetos e programas dentro da instituio".
A interveno profissional, alm dos instrumentais que j foram citados
anteriormente, no se d somente atravs do referencial terico e instrumental, mas tambm
atravs das condies institucionais que seriam os meio financeiros, tcnicos e humanos.
necessrio tambm manuteno de vnculos externos instituio, para que,
quando forem desligados do abrigo, tenham outros referenciais. O Servio Social deve
intervir para viabilizar espaos de lazer e estimular o vnculo afetivo com a comunidade da
instituio e outras comunidades em geral.
Neste sentido, busca-se no prximo capitulo, analisar as possveis propostas e
resultados da ao profissional nos programas abrigos. Para tal, realizou-se uma pesquisa
emprica, mediante entrevista no intuito de identificar o processo de trabalho em programas
desta envergadura.

CAPTULO III

3 PERCURSO METODOLGICO DA PESQUISA

Neste captulo, apresenta-se o processo e a anlise da pesquisa imprica realizada com


as Assistentes Sociais, como forma de colher os resultados obtidos com as entrevistas,
apresentando possveis propostas para desenvolver um trabalho de melhor qualidade para as
instituies visitadas.

3.1 Caracterizao da pesquisa


A pesquisa realizada foi de natureza qualitativa e esse tipo de pesquisa permite um
espao mais profundo de relaes, pois, atravs dela se responde s questes mais
particulares; ela trabalha com um universo de significados e fenmenos que aprofunda um
lado perceptvel das relaes sociais.
A pesquisa qualitativa responde a questes muito particulares. Ela se
preocupa, nas cincias sociais, com uni nvel de realidade que no
pode ser quantificado (MINAYO, 1993, p.23).

O instrumental utilizado para obter os resultados e possveis propostas

da

ao

profissional foi a entrevista, considerada corno uma tcnica coleta de dados mais usada nos
trabalhos cientficos.
A entrevista consiste numa conversa intencional e utilizada quando
existem poucas situaes a serem observadas ou quantificadas, e
ainda quando se deseja aprofundar uma questo (RIZZIN1, 199Q,
p.62).

45

O que torna a entrevista um instrumento de coleta de dados relevante para a


pesquisa social o fato de a fala ser capaz de revelar as condies pessoais, econmicas,
estruturais e sociais de um determinado grupo ou de uma dada localidade e atravs dela podese planejar a ao, verificar os resultados e visualizar as conquistas obtidas pela ao do
Assistente Social junto ao usurio.
A entrevista um instrumento utilizado quando h interesse de
desenvolver um trabalho em que e necessrio priorizar um
atendimento individual e aprofundar uni determinado conhecimento
da realidade humano-social, atravs do estabelecimento de um
dilogo (SARMENTO, 1996, p.80).

Outra vantagem da entrevista que ela possui maior flexibilidade, ou seja, o


entrevistador pode repetir ou esclarecer as perguntas, explicar algum significado que o
pesquisado no entendeu e da oportunidade para se obter dados que no se encontrem em
fontes documentais e que sejam significativos.

3.2 Objetivos

3.2. I Objetivo Geral


Identificar o processo de Trabalho do Assistente Social nos programas Abrigos, no
intuito de buscar subsdios que orientem a prtica profissional em programas desta
envergadura

46

3.2.2 Objetivos Especficos

- Conhecer as mudanas que ocorreram no processo de trabalho do Assistente Social


nos programas abrigos;
-

Identificar as demandas dirigidas aos Assistentes Sociais;

- Identificar os instrumentos tcnico-operativos utilizados no processo de trabalho do


Assistente Social;
-

Conhecer as possveis propostas de interveno para a melhoria no desempenho das


atividades realizadas.

3.3 Universo da pesquisa


A entrevista foi realizada com amostra aleatria, pois no existiu critrio de escolha
em relao ao entrevistado, no tendo sido entrevistado todo o universo, mas sim um pequeno
contingente. No total foram realizadas quatro entrevistas com assistentes sociais de programas
abrigos da regio da grande Florianpolis.

3.4 Procedimentos metodolgicos


"A utilizao da metodologia faz-se necessria para que se compreenda o caminho
dos pensamentos tericos e a prtica exercida na abordagem da realidade, ou seja, servir de
parmetro para no se desviar da linha do conhecimento" (MINAYO, 1993, p 16).
A princpio pensou-se em realizar a pesquisa em vrias Casas-lares da grande
Florianpolis, no entanto, algumas no disponibilizavam o trabalho do Assistente Social
Desta forma, a escolha das instituies onde foram realizadas as entrevistas deu-se de forma
aleatria, dependendo da disponibilidade dos prprios profissionais.

47

Ressalta-se que a entrevista foi realizada individualmente com cada Assistente


Social, sendo portanto, denominada entrevista individual. De acordo com Rizzini (1999, p.
64), "entrevistador e entrevistado esto face a face. Vrias pessoas podem ser entrevistadas
individualmente a respeito dos mesmos tpicos facilitando a compreenso das diferentes
atitudes, comportamentos e opinies sobre o mesmo assunto". Objetivando identificar e
conhecer melhor o processo de trabalho do Servio Social nos abrigos, realizaram-se as
entrevistas.
Na coleta de dados foram utilizadas duas formas: o gravador, com permisso do
entrevistado, sendo todo o material transcrito de forma mais fiel possvel para posterior
anlise e, segundo Siqueira (1998, pg. 22), o gravador pode ser utilizado,
quando o entrevistado permitir e o entrevistador perceber que no
causa constrangimentos ao informante. Neste caso. antes da anlise
dos dados deve-se transcrever a entrevista. Independente da forma,
todo registro deve ser feito com as mesmas palavras que o
entrevistado usa. evitando-se resumi-las.

Alm disto, tem-se tambm a entrevista falada, sem a utilizao de gravador, cujo mtodo de
coleta se d mediante escrita.
As perguntas caracterizam-se como semi-estruturadas segundo um roteiro
previamente estabelecido, o entrevistador tem mais liberdade para desenvolver a entrevista,
alargando o plano perceptvel e geralmente apresenta um conjunto de questes abertas. A
seqncia das questes definida pelo entrevistador segundo a situao em que se encontra.
O entrevistador pode dar explicao que facilitam o entendimento do informante ou
acrescentar outras questes que melhor esclaream o problema pesquisado, mas no
permitido ao entrevistador eliminar as questes.
11 combina perguntas fechadas/ou estruturadas e abertas onde o
entrevistado tem a possibilidade de descorrer o tema proposta sem
respostas ou condies prefixadas pelo pesquisador (MINAYO, 1993,
p.108).

48

A pergunta aberta caracteriza-se por ser ampla, permitindo ao entrevistado vrias


possibilidades, alargando o plano perceptivo. J a pergunta fechada restrita, limitando as
respostas especificas
A pergunta aberta um convite s suas concepes, opinies,
pensamentos e sentimentos, a pergunta fechada exige apenas fatos
objetivos (BENJAMIN, 1998, p. 93).
Para obter-se xito na entrevista, utilizou-se um questionrio com 07 perguntas, sendo estas
consideradas de relativa importncia para o tema em questo, tendo como base tericometodolgica as bibliografias estudadas.

3.5 Tratamento dos dados

A apreciao dos dados foi realizada mediante agrupamento de respostas com

posterior anlise, adquirindo-se desta forma, subsdios para elencar os pontos propostos nos
objetivos especficos.

3.6 Limitaes da pesquisa

Este estudo apresentou as seguintes limitaes:

Escassez de bibliografias especficas de processo de trabalho do Assistente


Social nos programas Abrigos:

O fato de alguns programas abrigos no possurem o trabalho do Assistente


Social

3. 7 Descrio e anlise dos dados

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A pesquisa foi realizada em quatro instituies, sendo que, quatro Assistentes Sociais

foram entrevistas. So as instituies: Abrigo Lar So Vicente de Paula Florianpolis, Lar


Recanto do Carinho Florianpolis, Casa Lar Bilwau, Ao Social Misso Florianpolis.
A pesquisa ser apresentada da seguinte forma: perguntas, respostas e posterior
anlise.
01 No atual quadro conjuntural perpassado por profundas transformaes, quais as
mudanas ocorridas no seu processo de trabalho?

Quando questionadas demonstraram estarem cientes que ocorreram mudanas, mas


no foram suficientes para a profisso ser mais valorizada, apesar dos campos de trabalho
terem expandido-se. Um dos pontos positivos se destacou, pelo fato de que no existe mais
aquela viso assistencialista, pelo contrrio, so isolados, os casos ocorridos. Relataram
tambm que o Assistente Social tm que estar sempre envolvido e articulado com as polticas
sociais.
necessrio que os profissionais da prtica ampliem suas noes, tomando o seu
objeto a partir das relaes que os mesmos estabelecem com os usurios, visto que,opbjeto
oC.--:
de trabalho do Servio Social de corporifica, isto , transforma-se em matria-prima, atravs
do planejamento e da implementao de aes qe efetivamente transformem, os usurios de
uma demanda a ser atendida em usurios dos servios profissionais.
Desta forma, decifrar as novas mediaes na qual vem se expressando a questo
social, de fundamental importncia, j que, ela apresenta uma dupla perspectiva para a
profisso: de uni lado, apreendes as desigualdades sociais e suas mltiplas expresses na
atualidade, e de outro, elaborar formas de resistncia e de defesa da vida.
As respostas a seguir demonstraram:

50

"tem que realmente se especializar, tem que correr atrs para estar conquistando
esses espao, porque a globalizao ela realmente ela suprimiu a Assistente Social,
ela em vez de ser s Assistente Social ela tem vrias outras situaes que ela vai ter
que embarcar junto" (entrevista 11001).

"tem que estar envolvido na poltica com um todo, tem que estar atento para as
polticas sociais e para as nmdanas que ocorrem com as instituies envolvidas com
os abrigos" (entrevista n02).

"ainda falta espao para o Servio Social, o trabalho no reconhecido" (entrevista


n 03).

"antigamente era mais assistenciahsta e hoje no , expandiu-se." (entrevista n04).

02 Qual a avaliao por parte do Assistente Social com relao ao grau de satisfao
das necessidades e a efetividade dos projetos oferecidos pela instituio na vida dos
usurios?

Os pontos levantados foram que os projetos esto sendo bem aceitos e executados
na medida em que podem atender s necessidades da demanda.
Um dos pontos negativos foi relacionado questo das verbas das instituies e do
dificil repasse dos convnios, em detrimento de algumas aes, que por este motivo, deixam
de ser efetuadas. Acrescentaram, ainda, que se tivessem mais recursos, poderiam oferecer
muito mais, mesmo assim tentam fazer o possvel para proporcionar o bem-estar os seus
usurios. Outro ponto negativo colocado foi relacionado morosidade da justia, no sentido
de que as respostas aos problemas deveriam ser mais rpidas e que houvesse uma maior
articulao entre os dois segmentos. Porm, a Assistente Social da Casa-Lar de Biguau,
relatou estar satisfeita com o atendimento da justia da sua cidade.

Ressalte-se que uma das Assistentes Sociais entrevistadas no reclamou de questes


relacionadas ao problema financeiro. Ainda assim, a Assistente Social da Casa-Lar de
Biguau disse estar satisfeita com o atendimento por parte da Justia de sua cidade
Percebe-se nas respostas a seguir:

"para os pais uma satisfo ao mesmo tempo eu vejo que eles querem tirar
entende, e eles pensam no vou deixar ele ali dentro, mas ao mesmo tempo eles
sabem, que l fora, l na casa deles, eu no vou poder dar tudo isso agora para eles e
assim pelo menos quando crescer vo poder trabalhar e se virar" (entrevista n01)

"quando consegue dar um bom nvel de bem-estar-fisico e mental para essas


crianas" (entrevista n02).

"os projetos esto sendo vlidos, o contato com a escola, a questo do lazer"
(entrevista n 03).

"quando no parecer Social sua opinio valorizada" (entrevista n04)

03 Quais as aes dirigidas ao Servio Social deste abrigo?


A matria-prima dos Assistentes Sociais so as diversas expresses da questo social
que se manifestam na vida e, que constituem objetos de interveno e investigao da
categoria
E a refrao da questo social que se expressa no Servio Social, nos abrigos, isto , a
sua matria-prima so as demandas trazidas pelas crianas e adolescentes e suas famlias a
partir do momento em que so abrigadas_ Em relao a esta questo, mais sempre levando em
considerao individualidade de cada criana e adolescente, pode-se afirmar que as aes
so basicamente as mesmas. Constatamos tal afirmao nos depoimentos das Assistentes

52

Sociais referindo-se s demandas dirigidas ao Servio Social, ou seja, aos objetos de trabalho
onde incide a ao do Servio Social e, que constituem-se na prorpia matria-prima com a
qual este trabalha. Entre as quais destaca-se o contato com todas as instituies na qual as
crianas e adolescentes esto envolvidos como o Juizado, escola, mdicos, dentistas; estar
viabilizando cursos, passeios e atividades que possam estar proporcionando o bem-estar dos
adolescentes, como demonstrado nas respostas recebidas quando da entrevista.

"a partir do momento do recebimento , faz toda a papelada dela, toda a


documentao. Abre a pasta de arquivo, contacta com o pessoal da sade" (entrevista
n" 01).

"efetuar diversos encaminhamentos, garantindo seus direitos" (entrevista n04).

"a execuo das polticas sociais" (entrevista n02).

"so os prprios abrigados" (entrevista n 03).

"efetuar diversos encaminhamentos, garantindo seus direitos" (entrevista n04).

04 Quais so seus instrumentos de trabalho?


Os meios ou instrumentos de trabalho do Servio Social so o conhecimento, e os

instrumentais tcnico-operativos. Atravs do conhecimento, o Assistente Social tem a


possibilidade de pensar a realidade de forma critica e, conseqentemente transform-la
E atravs das entrevistas, observa-se que h urna dificuldade de articulao entre
atividade prtica e terica, visto que, as mesmas, na sua maioria, identificam e do nfase
apenas ao instrumental tcnico-operativo, como ferramenta de trabalho. As Assistentes
Sociais foram unmines ao responder que seus instrumentos de trabalho so basicamente os
mesmos: entrevistas, visitas, relatrios, contato com as instituies que envolvem a criana
(escola, mdicos, dentistas, etc). A nica diferena foi que urna ou outra instituio possuem
veiculo para locomover as crianas, sempre que necessrio.

53

certo q ue o instrumental tcnico-operativo constitui-se numa ferramenta


imprescindvel para a concretizao do trabalho do Servio Social, no entanto, ele deve estar
aliado urna slida base terica-metodolgica e um atento acompanhamento da dinamica da
sociedade, o que supe um forte investimento na pesquisa da realidade.

A seguir, as respostas encontradas:

"trabalho em grupo com as crianas e os adolescentes" (entrevista n01)

"contato com diversos rgos relacionados criana" (entrevista n02).

"as observaes das atitudes" (entrevista 11003).

"visita familiares" (entrevista 11004).

05 -

Voc poderia identificar quais os resultados da sua ao?

Os resultados das aes do Assistente Social so aceitos, geralmente, como positivos,


dentre os quais destacaram a questo do desabrigamento, quando observam o brilho nos olhos
das crianas, pois tm conscincia que os abrigos, apesar de tentarem da melhor maneira
possvel possibilitar um atendimento de qualidade, no conseguem suprir a idia de familia,
devido inmeros fatores como por exemplo a questo dos funcionrios, que so poucos para
dar ateno a tantas crianas; tambm quando nos dias de visita, as famlias reconhecem que
as crianas esto bem cuidadas, limpinhas; quando conseguem observar e atender s
necessidades das crianas, como por exemplo comprar com algum dinheiro que sobra (o que
difcil), algo que as crianas esto precisando, vindo a proporcionar uma alegria que
compensa qualquer barreira.
Observa-se estas questes nas colocaes a seguir:

54

"ver que o abrigo bem visto, por suas famlias e pelas crianas, as vezes tem essa
ligao de amor e dio, mas que se sente seguros estando aqui - (entrevista n01)

"no deixa de ser a participao nos conselhos, eu sou do conselho, levando idias,
tentando implementar essas idias" (entrevista n02).

"quando voc consegue a reintegrao familiar... voc observa que

linha

possibilidade e lutar para isso acontecer" (entrevista n03).

"a casa possui uma coordenadora (que no momento esta afastada), que no possui
nenhuma viso do que ser Assistente Social, tem uma cabea

11111i10 fechada,

no

para tudo (.). E hoje no, quando ela saiu de licena fui aos poucos mudando e estou
conseguindo ter resultados, s que tem muita coisa para ser feito. (..) as crianas
esto adorando e vivem perguntando quando a coordenadora vai voltar, com medo de
que essa situao mude" (entrevista n'04).

06 Como a instituio em que voc atua avalia o trabalho do Servio Social

Tem que analizar que todo trabalho resulta em um produto. Sendo assim, o trabalho
realizado pelo Assistente Social, possui finalidades, objetivos, metas e resultados que
correspondem determinadas necessidades humanas.
No entanto, nem todos os produtos dos trabalhos realizados pelo Servio Social dos
abrigos so imediatamente visveis. Dai parte, a dificuldade de alguns profissionais em
reconhecer o resultado do seu trabalho. O produto do trabalho do Assistente Social nem
sempre possui um efeito material, ou seja, ela no resulta apenas em objetos teis, mas
socialmente objetivo, isto , o Assistente Social, produz efeitos na sociedade enquanto um
profissional que incide no campo do conhecimento, dos valores, dos comportamentos, da

55

cultura, que, por sua vez iro repercutir na vida dos sujeitos. Embora no se corporifiquem
como coisas materiais, o resultado de suas aes existem, so objetivos e se expressam sob a
forma de servios
As Assistentes Sociais demonstraram ser de fundamental importncia o trabalho do
Assistente Social no abrigos, sentindo-se bem valorizadas e possuindo credibilidade por parte
das instituies onde atuam. lima das Assistentes Sociais relatou que seu trabalho
reconhecido, somente quando acontece a concretizao das aes realizadas pelo Servio
Social, conforme as respostas a seguir:

"a gente se depara coma algumas situaes, assim, principalmente para quem est no
lado . fiincional mesmo (..) para eles quem est l na frente sentada no faz nada (..)
depois ela entende que quando uma criana saiu, vai para guarda ou adoo, ekt
entende que foi o trabalho que a gente fez "aliviou" o trabalho dela e ento vem
realmente que estamos fazendo algo" (entrevista n001)

" muito valorizado, lemos muita credibilidade" (entrevista n002).

"hoje a casa no ficaria sem o trabalho da Assistente Social, e isso muito


importante, timo" (entrevista n 03).

"como a coordenadora no fazia o que tinha que ser feito, eles nem imaginavam qual
era o papel da Assistente Social, e agora esto observando e valorizando" (entrevista
n04).

07 Entre o real e o ideal existe um caminho a ser percorrido?

A respeito deste questionamento constatou-se que existe um longo caminho a ser


percorrido, bastante rduo, com muitos percalos e muitas barreiras, mas por outro lado muito
esperanoso.

56

O ideal para quase todas as Assistentes Sociais proporcionar um lar, seja biolgico
ou no; proporcionar urna vida digna, com os direitos garantidos para as crianas e para suas
famlias. Todas lutam para alcanar o idealizado, mas, embora conscientes de todas as
dificuldades que se apresentam na profisso escolhida a luta continua, em busca do objetivo
preconizado. Como mostram as respostas a seguir:

"a gente luta, bate, fira e consegue chegar no objetivo, eu acho que isso que
nosso real a construo desse objeto que a gente quer" (entrevista n01)

" longo, ficamos angustiados com essa morosidade da Justia" (entrevista n'02).

"existe e muito. Toda a questo da famlia, da adoo e da idade. um caminho que


tem que ser percorrido" (entrevista n 03).

"O ideal o acompanhamento antes e depois do desligamento. de fundamental


importncia na vida dessas famlias ter o apoio do profissional" (entrevista n"04).

3.8 Possveis propostas


Tendo em vista os problemas detectados no presente trabalho, toma-se a liberdade de
apresentar algumas propostas para dirimir os problemas apresentados quando das visitas s
instituies.

Quanto dinmica familiar:

Conhecer a histria, a cultura, a dinmica familiar. contextualizando o universo em


que vivem e respeitando suas singularidades (perfis de famlias);

Sempre trabalhar na perspectiva de reintegrao familiar, de forma interacionista,


fazendo com que est se sinta parte do processo;

57

9 Desenvolver com a famlia um plano de ao e avaliao do trabalho, tendo como foco


os objetivos que se almejam alcanar;

Resgatar a auto-estima da famlia, detectando no s suas fragilidades mas tambem as


potencialidades que possuem;

Procurar incentivar a dinmica familiar, buscando a resoluo de conflitos.

Tipos de trabalhos que podem ser desenvolvidos com as famlias:

Formao de grupos operativos ou teraputicos (psiclogos), para que juntos consigam


perceber que os problemas no so individuais e sim comuns para muitas pessoas,
esclarecendo aos membros quanto ao papel que cada um desempenha no intuito de
atribuir responsabilidades, principalmente no que concerne ao compromisso para com
as crianas e adolescentes.

Promover cursos de capacitao, palestras, debates sobre temas que permeiam a


realidade destas, bem como, proporcionar orientao quanto aos seus direitos e
deveres;

Buscar atravs da intersetorialidade a resoluo de questes que permeiam o meio


familiar.

Quanto aos profissionais:

Os Assistentes Sociais devem estar em constante aprimoramento profissional,


qualificando-se continua e sistematicamente.,

A necessidade da categoria profissional se organizar com intuito de realizar grupos de


discusses para trocar experincias e conhecimentos;

58

Buscar conhecer profundamente os instrumentos terico-metodolgicos e tcnicooperativos do Servio Social, para a aplicao no processo de trabalho cotidiano,

Entender que em cada contexto se aplicam diferentes instrumentos de trabalho, por


isto, o Servio Social possui diversos processos de trabalho e no apenas um;

Aplicar os princpios ticos fundamentais constantes no Cdigo de tica profissional;

Ser um profissional criativo, propositivo, inovador, atualizado, culto, informado e


dinmico, que acompanhe a dinmica do processo evolutivo da sociedade e do
mercado de trabalho.

Consideraes sobre o programa abrigo direcionado a criana e ao adolescente

Para que o programa deixe de ser mero torna-se necessrio investir em aes que
possibilitem aos beneficirios, tecer novas redes de relaes e repor vnculos com o
mercado de trabalho, que a discriminao e a falta de oportunidades haviam
corrompido.

Atravs dessas propostas apresentadas, pretende-se contribuir para o desenvolvimento do


trabalho dos Assistentes Sociais dos abrigos.

CONSIDERAES FINAIS

O presente trabalho consistiu em identificar o processo de trabalho do Assistente


Social nos programas abrigos, no intuito de buscar subsdios que orientem a prtica
profissional em programas desta categoria. Paralelamente, foi estudado teorias sobre a histria
da criana e do adolescente e famlias.
Sentiu-se tambm a necessidade de um estudo a respeito do Assistente Social, bem
como sobre seu processo de trabalho, pois o Assistente Social trabalha no mbito das
reprodues sociais, e para que esse processo seja desencadeado necessrio identificar o
objeto de interveno, os objetivos e finalidades, a partir das demandas percebidas na prtica
cotidiana. Deste modo, h necessidade de assumir um maior comprometimento com a
profisso e com os usurios, oferecendo-lhes um servio de melhor qualidade. E para isso se
concretizar fundamental importncia que o profissional esteja em constante aprendizado,
pois a sociedade est em constante transformao e novos paradigmas surgem a cada
momento.
Assim, chega-se parte final deste estudo com a inteno de se pautar algumas
consideraes a partir de reflexes desencadeadas no decorrer da construo do trabalho.
Apesar dos avanos introduzidos pelo ECA, verifica-se que, embora as instituies de
recolhimento tenham mudado sua nomenclatura entre o sculo XVIII e inicio do sculo XX e
evoluindo de urna fase inicialmente caritativa para assistencia pblica e institucionalizada dos
dias de hoje continuam, de modo geral, no s preservando muitas das caractersticas
negativas citadas no decorrer do trabalho, como em vez de ter um carter provisrio na vida
dessas crianas e adolescentes acolhidos terminam sendo local permanente de moradia para
muitas delas, pelo menos at a idade-limite em que so aceitos pela instituio.

60

Percebe-se que os abrigos visitados diferenciam-se das grandes instituies que


abrigavam crianas e adolescentes e eram comumente conhecidas como orfanato. E claro que
existem diferentes situaes, bem como o atendimento em cada uma delas tambm se
diferencia. O que pretende enfatizar que embora se saiba que o abrigo jamais ir substituir
uma famlia, este se faz necessrio em muitas situaes e que pretenciosamente, pode-se dizer
que as vezes um mal necessrio.
Atravs desse estudo percebeu-se que as polticas de ateno criana e adolescentes
no esto devidamente articuladas com aes de ateno a suas familias, o que poderia no
apenas evitar a institucionalizao, como tambm abrevia-la, quando se mostrar
excepcionalmente necessria.
Ao descrever a histria da assistncia social e sua rede de atendimento, pode-se
verificar que as polticas sociais no incluam a idia de familia como uma totalidade, pois
eram implementadas em funo de indivduos. Todavia, apesar da legislao vigente j ter
avanado neste aspecto, percebe-se que, de fato, ainda vigora um olhar individualizado e
setorizado das questes familiares. Os processos de ateno familia so considerados a
partir da tica da incapacidade e da falncia. necessrio esforo no sentido de articular e
integrar as polticas setoriais, para que possam facilitar a qualidade de vida das famlias,
analisando toda a sua conjuntura, para que ela no chegue a falir antes de receber cuidados.
Verificou-se tambm que a morosidade para o andamento dos processos (a nvel
judicial) revela a burocracia existente nesse mbito e tambm na efetivao das polticas
sociais pblicas, por parte do estado e da sociedade civil, que dificultam ainda o trabalho
profissional. Em conseqncia disso, as crianas e adolescentes aguardam ansiosamente essa
deciso judicial.
Assim, conclui-se que muito ainda preciso ser feito em prol das crianas,
adolescentes e suas famlias, haja vista a importncia do assunto em questo.

6I

Espera-se que este trabalho tenha contribuido para uma melhor compreenso sobre o
processo de trabalho nos programas abrigos, e que seja o comeo de mais reflexes almejando
assim a continuidade de estudos e pesquisas sobre esta tematica.

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APNDICE

ENTREVISTA N"01
INSTITUIO: Lar Recanto do Carinho
ASSISTENTE SOCIAL: P. P
01 No atual quadro conjuntural perpassado por profundas
transformaes, quais as mudanas ocorridas no seu processo de trabalho?
R: Globalizao em todo esse quadro, essa economia a vida em si, Assistente
Social tem que comear a trabalhar junto com as transformaes que h, no tem
como no ser verstil, cada dia anda para trs e cada dia mais pessoas que esto
vindo no mercado de trabalho e adquirindo espao muito mais conceituado.
Eu no meu ponto de vista tem que realmente se especializar tem que correr atrs
para estar conquistando esse espao porque a globalizao ela realmente, ela
suprimiu a Assistente Social, ela em vez de ser s Assistente Social ela tem
Vrias outras situaes que ela vai tr que embarcar junto, porque caminhar junto
com isso, porque se no ela realmente no vai conseguir nem ter o ingresso no
mercado de trabalho. E as mudanas que eu posso ver aqui no trabalho nesse
processo de trabalho principalmente dentro de um abrigo e no s o trabalho
interventivo do Assistente Social em funo da entrada, do abrigamento dessa
criana, do trabalho com as famlias com at mesmo o trabalho do Juizado mas
tambm tem que quer ter um pouco a mais que isso tem que ser empreendedor.
Estar atrs de parcerias concretas para que esse lar, estar dando subsdios para
que ele sobreviva at mesmo e de uma certa maneira a Assistente Social tem que
ter esprito empreendedor porque esse processo de globalizao pede isso
tambm exige mudanas num todo o processo interventivo um deles, tem
que estar precisando um pouco do administrativo, do direito e graas a Deus
pelo menos na poca que eu estudei eu tive um pouco dessas cadeiras e isso
mesmo que acontece. Na prtica a gente tem que ter uma dinmica tambm
dessas matrias para que gente possa, precisa pois entra um projeto, esse projeto
ou a gente faz esses projeto requer urna demanda e dentro desse projeto vai
gastar tanto tem planilhas que voc tem que fazer e tua vai administrar de que
maneira esse dinheiro que chega, como vai ser aceito esse trabalho sempre tem
que estar ao todo se reciclando e procurando resgatar tudo que a gente estudou l
Trazer um pouco daquela teoria para prtica e muitas vezes se pega dizendo que
a prtica fica desvinculada mais ao mesmo tempo a gente usa. No parar no
tempo. O campo de trabalho hoje esta muito escasso, principalmente aqui na
UFSC est abrindo muitas vagas de Servio Social no perodo da manh tm
vagas no perodo da noite, ento crescente o numero de Assistente Sociais que
esta vindo e a dificuldade de encontrar um emprego.
Campo tem bastante, mas eles no esto vendo e quando assim, precisa de uma
Assistente Social como eu falei, ela no pode ser s Assistente Social, ela tem

que ter outras habilidades, mexer no computador ter uma noo de


administrao, noo de que um de direito.
Antigamente no era assim, por exemplo se era o abrigo eu tambm no sei se
era assim eu estou pouco tempo na rea, s 7 anos, sendo o abrigo a gente pensa,
a criana que est chegando vai fazer de abrigamento fazer o processo de
reintegrao ou de adoo ta ligado ao Juizado, o Juizado faz parte dele e a
Assistente Social aqui faz todo esse trabalho de articular junto a criana e aos
familiares ou junto a criana e ao casal adotante fica por ai, mas no por isso.
Hoje, no mais assim, as crianas aumentam cada vez mais, A gente foi num
congresso de magistratura sobre proteo integral a criana e ao adolescente
uma das coisas que foi colocado entre os magistrados que isso urna situao
que esta no Estatuto , at foi uma Assistente Social Minam Batista que no
Estatuto e nas pesquisas no se abriga uma criana por ordem financeira mas em
toda pesquisa que ela fez claro que teve uma negligncia mas a maioria das
mes, dos familiares que se constata que a criana esta aqui por uma situao
financeira, sendo o principal motivo. E que sustentam a idia de que esto no
abrigo e que com o tempo ela pode melhorar, no vem o abrigo como uma
medida judicial, eles vem o abrigo mais ou menos como uma escola internato
que a criana vai ter onde comer, onde ficar vai dar tudo certo e que depois
quando ela estiver um pouquinho mais organizada e que a criana estiver melhor
tudo certo ela vai vir buscar dai ela se depara com a situao judicial dai o
problema. Ela sabe que causou urna situao para aquela criana.
02 Qual a avaliao por parte do Assistente Social com relao ao grau de
satisfao das necessidades e a efetividade dos projetos oferecidos pela
instituio na vida dos usurios?
R: Isto um programa e no um projeto. Essa satisfao um pouco dbia

digamos assim, porque ao mesmo tempo em que essa famlia se sente satisfeita
porque os filhos esto num local em segurana e de uma certa maneira, tudo
aquilo que em casa dificil de oferecer e eles tm aqui e que nos finais de
semana alguns que tem ordem judicial que podem levar no final de semana para
casa, os familiares se sentem bem, porque essa criana esta bem, que de uma
certa maneira, aqui nos temos por isso levar uma cesta bsica para criana passar
o final de semana para criana tambm, se sentir junto com a famlia e com os
outros filhos que tem ento a gente d uma porozinha um pouco maior, ento
isso um grau de satisfao, porque esta tendo no s acompanhamento com
essa criana aqui dentro, mas tambm com essa famlia l fora. Ento elas se
sentem bem, mais ao mesmo tempo eles no se sentem bem, eles gostam disso
aqui, sabem que bom, tem coisas interessantes, atrativos para eles, mas ao
mesmo tempo eles odeiam, e a relao meio complicada, porque o odiar deles
porque eu tenho tudo isso mais minha famlia no esta aqui, ento eu vou para
casa, eu no quero ficar aqui. Eu prefiro deixar isso tudo para ficar com minha
famlia. O que aconteceu, tem que analisar urna coisa, por mais que a gente

queira que aqui seja um lar dentro de um abrigo tu perde toda a referencia de
famlia, por mais no vai aparentar um lar porque no so pais, mes e sim so
funcionrios que com todo carinho e ateno do mundo esto tentando passar
isso para eles, no uma pessoa da famlia, mesmo que seja aquela pessoa que
te bate, que te negligenciou, mas algum familiar algum que te d cho, d
onde voc est, que constituio, da onde voc veio, Eles querem a construo
de uma famlia, se voc me tirou daquela famlia ento inc de outra ou me levem
de volta para ela, mas no me deixa perdido e isso que acontece.
Para eles no h um apego pelo lar, pelo abrigo, eu to aqui de passagem, quando
a gente diz vai para tua casa se deitar, cuida da tua casa, eles falam essa aqui no
a minha casa no h nada meu aqui.
Mas ao mesmo tempo a gente sente que quando eles esto l, a saudade muito
grande dos amigos que ficaram de visitar mais a garantia de estar l com eles
tambm muito bem.
Ento situao de amor e dio, a satisfao deles boa para os pais, tem
segurana, o filho est bem, as coisas esto melhorando, ele esta se alimentando,
esta crescendo esta tendo tratamento, principalmente pela patologia deles, eu
no sei dar o remdio direito, eu no sei fazer a coisa certa, pelo menos ele vai
ficar ali, pelo mesmo at ele alcanar urna idade que j tenha sua independncia
de trabalho, de comida. Saber os medicamento, horrio de medicamentos, saber
tudo isso ento eu vou l e vou busca-lo, porque dai ele vai poder ser
independente.
Para os pais uma satisfao, ao mesmo tempo eu vejo que eles querem tirar,
eles falam, eu quero tirar, eu no vou deixar ele ali dentro, mais ao mesmo
tempo eles sabem, que l fora, l na casa deles, eu no podem dar tudo isso
agora para ele e assim pelo menos quando ele crescer vo poder trabalhar e se
virar, se ele for agora vai me pedir coisas que no lar tem e aqui na casa no tem.
Isso tudo uma situao de reflexo e para eles a mesma coisa, eles adoram
isso aqui, mas o bom que tivessem uma famlia, ou uma famlia substituta ou
uma famlia porque a facilidade de apego.
Tenta suprimir toda essa felicidade em alguma coisa, em algum nesse familiar
que um dia vai tirar ela daqui, mas a gente sabe que tem essa dificuldade essa
avaliao que eu fao. Eles gostam mais urna relao de amor e dio os pais
por estarem aqui por estarem bem claro que querendo tira-los mais sabem que
h uma condio nesse momento e os filhos que querem ou as vezes a gente no
tem os prprios pais, que tem a questo da orfandade, patologia deles, mas tem
os outros familiares, tios, tias, avs, avs, nessa vontade de querer. Famlia todo
inundo quer ter o referencial, seja ela biolgica ou no, esse o grau de
satisfao que eu vejo.

03 Quais as demandas dirigidas ao Servio Social deste abrigo?


R: O nosso trabalho aqui consiste especificadamente alm de todo o trabalho a
gente tem a situao do abrigamento, o recebimento da criana, faz toda a
papelada dela toda a documentao, abre a pasta de arquivo contacta com o
pessoal da sade, faz todo o documento de sade dela, se ela vem de uma
famlia, se vem atravs do conselho tutelar a gente solicita o encaminhamento e
em seguida os documentos (certido de nascimento, carteira de vacinao,
sade). Se vm do Juizado a mesma coisa se caso ela vem do hospital ai eles
faz todo esse o processo, a gente s recebe as crianas via Conselho Tutelar ou
via Juizado no h uma outra, porque so os rgos de proteo que ns vamos
atender, ai as crianas vem ficar aqui conosco, ento fazemos o processo de
adaptao dessa criana junto com o pessoal da pedagogia, a gente tem uma
coordenadora pedaggica nos no temos infelizmente uma psicloga, temos
uma psicloga voluntria que trabalha com os adolescentes, quando nen fica
mais fcil s alimentao e carinho mas quando um pouco maior dois ou trs
anos j tem que dar toda urna ateno a ela, todos os funcionrio ficam atentos a
essa situao a gente faz esse trabalho com os funcionrios a parte da sade
tambm gente j contacta como eu j falei com o pessoal da rea da sade para
ver se h necessidade de alguma falta de alguma documentao a gente solicita a
esses rgos, nesses rgos h uma morosidade nos processos, claro que
imediatamente que a criana vem a gente tem que ser avisado que a criana est
abrigada, da dali a gente comea a fazer um trabalho para desligar,m a gente
trabalha em funo do desliga-lo e no de ficar, ento a gente trabalha com essa
famlia, h existncia da famlia, vai vir visitar o lar, a gente faz o trabalho de
conversao com a famlia, alm da conversao se ela ainda no pode levar nos
filiais de semana porque o Juiz diz no ter condies. Ela vem visitar nas
segundas-feiras, urna vez por semana, ento a gente comea a fazer uni trabalho,
fazemos a entrevista com esses familiares para ver como que foi. O nosso
problema maior que esses rgos de proteo no mandam um
encaminhamento com relatrio com os acontecimentos porque essa criana esta
aqui o que aconteceu ento a gente tem que estar sempre solicitando, buscando
meios para ver o que esta acontecendo. Esse meio que no deveriam ser feito,
mas acaba-se descobrindo esses meio atravs dos prprios pais, a gente faz uma
trabalho de investigao em cima disso, os pais aparecem a gente comea a
conversar, fazer um trabalho em cima disso para ver porque essa criana esta
aqui, o que esta acontecendo e corno vai poder ajudar essa famlias, a gente
trabalha tambm com essa famlia at o ponto que ela deixa ser trabalhada, se a
gente v que no h possibilidade de fazer o trabalho de reintegrao a gente
vai comear a trabalhar o outro lado, o lado da adoo, guarda. Aqui nos temos
uma situao muito complicada, porque alem de o juizado rgo que ficaria
responsvel em mandar casais interessados por uma criana a gente no tem isso
muito freqente em funo da patologia deles, por serem portadores do vrus
Hl V .

Nos trabalhamos inuito com o processo de acolhida desses voluntrios, ento


nos temos voluntrios na casa, da os voluntrios com a simpatia, vo se
encantando, h um namoro mesmo desses voluntrios, a maior parte das
crianas que so adotadas ou esto sob a guarda, so em funo de estarem
atravs dos nossos voluntrios. Poucos nesses dois anos e meio que estou aqui,
poucos chegaram atravs do juizado que estavam l no cadastro e tinham
interesse em uma criana. Eles no tm um trabalho e alm disso dentro do
cadastro muitas vezes eles colocam como querem a criana e muitas vezes no
querem portadores, por diversas situaes, medo de no conhecer a doena, de
criana v morrer, toda essa situao que at compreensvel, como tem esses
voluntrios que sabem e conhecem so essas crianas eles vo se acostumando,
levam para suas casas, depois de seis meses de voluntariado eles podem levar
nos finais de semana, ai faz o processo de sociabilizao e da nesse processo de
sociabilizao sempre surgem voluntrios que se encantam, comea aquele amor
e acontece de uma guarda, claro que isso acontece com crianas menores e tem
uma dificuldade muito grande com os adolescente que aclamam por uma
adoo, por ter algum uma famlia. Ento as demandas so para os menores e
no para os maiores, ento os Assistentes Sociais trabalham tambm com os
adolescentes, tenta trabalhar os adolescentes para mostrar outra realidade, uma
outra situao que seria que eles esto crescendo coisas que a gente no
imaginava, viraram adolescentes e eles vo virar adultos. a preocupao tambm
do Assistente Social fazer com esses adolescentes que no conseguiram ter
uma familiar comeam a trabalhar o lado de que quando eles sarem daqui eles
precisem saber aonde querem trabalhar, ento a gente faz esse trabalho, atravs
de palestras, ir at o SINE inscreverem eles l, porque a gente j tem adolescente
com 16 anos, que j podem comear a ver essa possibilidade, trazendo pessoas
para conversar sobre isso, ns agora temos uma serie de palestras que estamos
fazendo sobre sexualidade, AIDS, como so esses remdios na vida deles e
como se pega ou no, sei que eles esto carecas de saber mais sempre bom
estar trazendo isso para no deixar morrer isso dentro da instituio entender que
so pessoas iguais mas ao mesmo tempo trabalham com um ponto negativo para
eles, ento eles tem que estar bem ciente, esse tambm um trabalho do
Assistente Social de estar fazendo esses trabalho com eles, nosso trabalho
tambm de acompanhamento com a psicloga voluntria, ento quinzenalmente
a gente d um suporte para essa psicloga no trabalho de grupo que um outro
trabalho que a gente faz com eles, trabalhar mesmo no dia-a-dia como que
esto, como esto se sentindo, assuntos que trazem a tona e a gente conversa.
Alm disso, Assistente Social ala tem o outro lado do empreendedorismo que
seria a busca de parcerias, a competio de projetos para trazer beneficios para o
abrigo, recursos financeiros at para o prprio abrigo isso tudo a agente esta
sempre se engajando para trazer subsdios para dentro do abrigo, j que um
abrigo que vive totalmente de doaes, Temos convnios com Prefeituras e o
governo, mas cobre apenas 20% da situao atual. O repasse dessas verbas

urna dificuldade principalmente do governo, da prefeitura at que a gente em


urna situao razovel mais pouco, e do governo a gente j assinou convnio
basicamente em maio e no foi recebido nada ainda e esta acabando o ano e
estamos ficando sem dinheiro.
o lar mais conhecido, mas ao mesmo tempo com ponto negativo de mais
conhecido, que agora as pessoas por essa situao econmica as pessoas esto
com muitas dificuldades e ao mesmo tempo o lar recebe muita coisa, mas na
realidade isso criou um ponto negativo, porque no recebe tanta coisa corno se
recebia. Isso esta acontecendo, a gente no esta fora da realidade, claro que
ainda h o recebimento mais no com o mesmo fluxo, ao o financeiro que era
dessas doaes tambm decaiu um pouco, ento entra o Assistente Social para
ajudar, sempre trabalhando no vermelho, procurando parceiras novas para que a
gente possas estar conseguindo sair desse vermelho, esta muito dificil, a gente
no esta conseguindo. uma dificuldade acho que do prprio sistema como um
todo, e muitas vezes aquela coisa, as pessoas auxiliam com muita coisa
material (alimentos, roupas) timo mais a gente precisa do financeiro para
pagar os funcionrios, para pagar manuteno do lar, hoje ns estamos com 58
crianas e adolescentes juntos, h urna despesa de farmcia, com essa patologia
alem da cesta bsica do SUS tem alguns remdios que no vem gratuitamente
pelo posto de sande tem que ser comprados, gasta-se me mdio de dois a trs mil
reais por farmcia, no ternos urna iseno da Celesc, isso nos dificulta mais
ainda as vezes a gente fica atrasado, e luta para conseguir e as vezes aparece
urna viva alma um voluntrio e conversa para pagar.
04 - Quais so seus instrumentos de trabalho?
R: A gente usa muito a entrevista, o relatrio, trabalho em grupo com crianas
e adolescentes, as entrevistas particularmente com os pais, basicamente isso.
Ficaria mais na constituio de relatrios, a parte das entrevistas individuais e
grupais, o trabalho de dinmica de grupo que gente faz com eles e a interveno
propriamente, dia-a-dia de conversar mesmo, dialogo, que com eles tem que ser
trabalhado dessa maneira.
05 Voc poderia identificar quais os resultados da sua ao?
R: Eu acho que um dos resultados que eu posso te dizer que a outra Assistente
Social a Cristina est um pouco mais de trs anos e eu dois anos e meio.
Quando eu cheguei e a Cristina, chegamos tinha 72 crianas abrigadas e hoje
tem 58.
Antes de colocar estes resultados at acho importante que ao mesmo tempo de
ver a satisfao, porque assim o trabalho de todo o lar, em algumas situaes,
algumas crianas retornaram para suas famlias, mas em virtude de toda
dificuldade de estar passando os remdios, de conseguir creche a gente abriu o
projeto dia, que so poucas crianas, estamos ainda na experincia. Hoje tem 06

crianas que esto conosco, eles foram moradoras da cada e agora moram com
suas famlias, mas em relao a essa situao de creche, de at mesmo levar para
essas creches e essas creches haver uma descriminao, at por parte das
prprias pessoas, de comentar que portadora, tem medo de como as pessoas
vo agir. Ns atendemos essas crianas aqui, ento elas ficam aqui vo para
escola ficam conosco no perodo adverso da escola e ai acontece de eles irem
apara casa no final do dia, vo e volto e a o nosso nico problema por causa
dos passes que agente no tem da a gente tentou uma parceira com algumas
pessoas que esto pagando esses pais com passes. Ento a gente conseguiu essa
parceria.
Com algumas pessoas, a maioria so os que moram mais prximos porque a
gente no conseguiu voluntrios para estar bancando. So dois voluntrios que
cuidam de duas crianas rfos dessas famlias, ento eles pagam o passe delas
que seriam o mais longe daqui, outro a gente consegui com parceira do projeto
florir Floripa, como ele passa no Monte Cristo de manh, ele trs e quando volta
ele leva, e o restante mora mais prximo daqui. um projeto que estamos
tentando levar em frente.
Os retornos para essas famlias o mais breve possvel quando a gente consegue,
as guardas e as adoes quando a gente tem essas parceiras do Juizado o mais
rpido possvel, esses voluntrios que tambm nos ajudam , o desenvolvimento
da prpria criana, que chegam aqui e no ir vingar, mesmo eu acho que requer
uma questo do Servio Social junto com uma parceria com o pessoal da
enfermagem e isso que a gente consegue que da todos os subsdios para que ela
possa levantar essa criana social e isso que a gente faz, no s aqui dentro do
lar mas fora do lar a gente procura isso, a gente tenta sociabilizar ele ao Maxim
possvel com a comunidade ento de a comunidade conhece o nosso trabalho, a
escola ento a gente esta muito integrado nisso, So informaes importantes as
aes que a gente faz aqui. Uma das aes do Servio Social ver de uma certa
maneira o abrigo se bem visto eles fez por essas crianas as vezes tem essa
ligao de amor e dio mas que se sente seguros estando aqui e isso faz parte
tambm de passar isso para eles.
Os engajamentos que a gente tm nos conselhos municipais, de sade, da
criana e do adolescente, a gente procurando tambm tangrilar o Servio Social,
A Cristina uma pessoa que batalha muito para esse lado ela cuida fica mais
dessa parte de conselhos mais direcionada e a ente v o quanto ela exprime a
dedicao e a vontade de mudana de buscar subsidio para a melhoria, alem do
profissional tambm a gente deixa fluir essa efetividade grande, no sou
casada no tenho filhos eles parecem nossos filho mexe com eles mexeu com a
gente, fortifica a rotina muito isso.

06 Como a instituio em que voc atua avalia o trabalho do Servio


Social
R: A gente se depara com algumas situaes assim principalmente que est no
Aldo funcional mesmo, no trabalho meio que braal tem que pegar a criana, dar
banho, dar comida para ela fazer isso ou aquilo, para ela o que estas fazendo l
frente sentada e no faz nada, a gente tem isso tambm aqui, muito complicado
mais ao mesmo tempo observvel em algumas outras partes e que aqui a
grande maioria de dar uma fora para gente. Vai o entrosamento, o trabalho em
equipe que tua faz. Porque eu como Assistente Social jamais vou me meter no
trabalho dela, sem antes a gente conversar, mesmo que haja tuna situao errada
naquele momento, eu pelo menos no sou assim, eu no vou na frente de
qualquer um e dizer que voc esta fazendo errado na frente das crianas, ela
pode at estar tornando uma atitude errada, mas depois a gente sente em outro
local, olha voc tomou essa medida, acho que no por ai, ver o que a gente
tem. Tenta mostrar para ela que o Servio Social tambm no tambm de ficar
atrs da mesa e no faz nada eu acho que isso aqui Lee tem muito bem
discriminado, apesar de que claro ainda muito ntido de que quem esta aqui na
ti-ente no faz nada fica s na boa vida e realmente tem momentos que d para
ter esse visual prtico, realmente enquanto ela esta l com vinte crianas em uma
sala, com a cabea a mil porque a Assistente Social est aqui podendo l me
ajudar, seria mais uma pessoa que iria l..
Depois ela entende que quando uma criana saiu, vai para guarda ou adoo que
foi o trabalho que a gente fez, quando alivia o trabalho dela ela v que realmente
ela esta fazendo algo.
Tambm com aquela famlia, que no final de semana, no domingo veio todo
amimadinho mais no outro no chegou legal, no estava bem, o Servio Social
tenta conectar com aquela famlia e muda a situao, j no por ai, agente tenta
fazer um trabalho em equipe as vezes complicado
Mas o que a gente v, h com certeza essa visualizao do processo de
trabalho do Servio Social mais tem momento que tem essa visualizao, mas
tambm h o outro lado, que esta andando, que de 72 crianas foram para 56, a
cada dia procuramos melhorar.

07 Entre o real e o ideal existe um caminho a ser percorrido?


R: Existe um caminho rduo, com muitos percalsos no caminho, com militas
barreiras, mais esperanoso ao mesmo tempo porque a gente luta, bate, fura e
consegue chegar no objetivo, e eu acho que isso que o nosso real a
construo desse objeto que agente quer que aqui no Lar melhor para crianas
e adolescentes, fazer com que eles possam ter um lar seja onde for, seja
biolgico ou no e esse o real, o objetivo que nos queremos. O ideal que
tivesse todos essa oportunidade ma a gente sabe que vai ter alguns que no vo
ser todos a terem essa situao mais que a gente pelo menos enquanto estiverem
aqui fazer com que seja melhor possvel, desgostoso, complicado mas

quando acontece muito bom, esperanoso, a gente v a alegria nos olhos dele
a gente corno Assistente Social fez a nossa parte e deu certo ento o real e o
ideal se no conseguir meta real mas fazer o possvel para que chegue perto ser
forte cai em algumas horas mas levanta e ai o Servio Social d essa fora.
O grau de satisfao bem, eu gosto muito, eu tenho uma dificuldade em falar
bonito, de se expressar, sou muito da prtica, sou de trabalhar em problemas
deles, buscar, ir atrs , quem posso ajudar, de fazer relatrio, as duas Assistentes
Sociais trabalham juntas em parceria. um dos empregos que mais gostei.
O Servio Social trabalha, atua e acho que isso importante porque de um
relatrio uma entrevista, de urna conversa com o Juiz, que voc luta para que ele
tenha uma melhoria na vida dele.
No abrigo isso e lutar por eles, eles esto aqui e tem que ter algum para ajudar
eu sou apenas uma pequena parte tem toda essa equipe boa que trabalha aqui, o
pessoal da coordenao a coordenadora geral, a auxiliar de coordenao que nos
d um suporte muito grande qualquer coisa assim tem unia bagagem muito
brande de abrigos por isso nos ajuda muito. Lar tem 14 anos. Tem que apreender
muito com elas, a gente acerta juntas, muitas vezes conversamos, erramos juntas
mais estamos juntas e isso que importante.

ENTREVISTA N"02
INSTITUIO: Abrigo Lar So Vicente de Paula
ASSISTENTE SOCIAL: B.G.
01 No atual quadro conjuntural perpassado por profundas
transformaes, quais as mudanas ocorridas no seu processo de trabalho?
R: As transformaes so que o Assistente Social tem que estar envolvido na
poltica como um todo, tem que estar atento para as polticas sociais, para as
mudanas que ocorrem nas instituies envolvidas com os abrigos. Antes o
Assistente Social ficava sentada na sua sala, aguardando a demanda chegar, hoje
no, tem que ir atrs, correr atrs do que necessita. Apesar dessas mudanas,
ainda existe a falta de polticas pblica e isso nos angustia.
02 Qual a avaliao por parte do Assistente Social com relao ao grau de
satisfao das necessidades e a efetividade dos projetos oferecidos pela
instituio na vida dos usurios?
R: Existe a satisfao com certeza. Quando o Assistente Social consegue dar um
bom nvel de bem-estar fsico e mental para essas crianas isso uma satisfao.
E essa satisfao nota-se nas famlias tambm, quando vem visit-las e vem
que esto bem cuidados, apesar da situao de estarem aqui.
03 Quais as demandas dirigidas ao Servio Social deste abrigo?
R: Alm de Assistente Social, sou coordenadora, porque tipo de urna regra da
Irmandade que as coordenadoras sejam Assistentes Sociais e as demandas so a
execuo de polticas sociais; a interface com o Juizado; com as famlias; o
cuidados do bem estar das crianas e tambm a execuo de polticas sociais. E
tambm o quadro funcional do abrigo, se esto com algum problema, a parte
administrativa. O contato com o Juizado deixa a gente angustiada, porque tem
uma certa morosidade, quanto a definio dos casos e isso dificulta o trabalho.
04 Quais so seus instrumentos de trabalho?
R: Relatrios, entrevistas com as famlias contato com diversos rgos
relacionados criana.

05 Voc poderia identificar quais os resultados da sua ao?


R: Os resultados so ver que essas crianas esto bem, como eu j falei. E
tambm no deixa de ser a participao nos conselhos, eu sou do conselho,
levando idias, tentando implementar essas idias.

06 Como a instituio em que voc atua avalia o trabalho do Servio


Social
R: muito bem valorizado, temos muita credibilidade.
O lar um dos programas da Irmandade e todos os programas oferecidos pela
Irmandade so coordenados por uma Assistente Social.

07 Entre o real e o ideal existe um caminho a ser percorrido?


R: longo. Ficamos angustiados com essa morosidade da Justia. No existe
um procedimento para dar embasamento para as Assistentes Sociais dos abrigos,
eles no possuem um prazo, um caminho ideal a ser percorrido,o que certo
ento isso dificulta o trabalho, porque o retomo teria que ser mais breve
possvel, mas no , teria que encurtar esse caminho.
Eu estava at conversando com algumas outras pessoas para estar fazendo,
organizando um seminrio para discutir todos esses assuntos, que deixam
dvidas e que no tem um esclarecimento. Tomara que de certo.
E tambm gosto do que fao, muito gratificante.

ENTREVISTA N"03
INSTITUIO: Ao Social Misso
ASSISTENTE SOCIAL: S.
01 No atual quadro conjuntural perpassado por profundas
transformaes, quais as mudanas ocorridas no seu processo de trabalho?
R: Apesar de todas as transformaes que ocorreram, ainda falta espao para o
Servio Social, o trabalho no reconhecido.
02 Qual a avaliao por parte do Assistente Social com relao ao grau de
satisfao das necessidades e a efetividade dos projetos oferecidos pela
instituio na vida dos usurios?
R: O lar possui 10 meninos e nenhum deles tem a possibilidade de retorno, mas
alguns possuem irmos em outras instituies e ento tentamos manter o vinculo
e isso muito vlido. Os projetos esto sendo vlidos, o contato com a escola, a
questo do lazer. Temos psiclogas e psicopedagoga voluntrias que
desenvolvem um trabalho, apesar de eu ter um p atrs com voluntrios. Mas
temos falhas que os convnios com prefeituras e governos, as verbas no
chegam, meses sem mandar e ento como que fica a alimentao dessas
crianas muito complicado.

03 Quais as demandas dirigidas ao Servio Social deste abrigo?


R: As demandas so os prprios abrigados, que sempre tem que manter contato
com a escola-, e estar analisando suas atitudes como um todo; tem que ter o
contato com o Juizado-, fazer o acompanhamento psicolgico; ver mdico; todo
problema ou atitude que o funcionrio perceber dessas crianas obrigada a
passar para mim, tudo passa por mim. Se a demanda que chegar eu conseguir
resolver tudo certo se no passo para o presidente e tentamos achar a soluo.
04 Quais so seus instrumentos de trabalho?
R: Os instrumentos so os relatrios para o Juizado que feito dois por
semestre, as entrevistas, as conversas com as crianas, observaes das atitudes.

05 Voc poderia identificar quais os resultados da sua ao?


R: Os resultados so quando voc consegue perceber as coisas por exemplo,
bem nu inicio quando entrei aqui tnhamos um caso que o pai era alcolatra e o
menino estava uns trs meses conosco e nesse perodo o pai no estava bebendo
para tentar conseguir a criana de volta, ento eu fiz todo o acompanhamento
deste caso, enviando relatrios, fazendo estudo de caso, tentando a reintegrao
dessa criana, vrias idas ao Juizado, at que a criana voltou a morar com o pai.
Isso vlido, voc ver, observar que tinha possibilidade e lutar para isso
acontecer. A casa no o ideal, o ideal a famlia.
Alguns esto em colgio particular e o colgio rotulou essas crianas de meninos
da Casa-Lar, tambm faz pouco tempo que eu descobri que o diretor do colgio,
quando deu a bolsa, ns nem fomos pedir, ele ofereceu, e antes das crianas
iniciarem na escola, no dia de urna reunio com os pais ele falou l na frente,
que o colgio iria receber crianas de urna Casa-Lar, ento eles ficaram
conhecidos como alunos da Casa-Lar, e, tambm a pegao no p deles muita,
tudo o que acontece de errado culpa deles. A coordenadora vive me ligando e
vive no p deles, acontece de quebrar alguma coisa a culpa foi dele, ento
estamos analisando at que ponto o colgio particular bom vlido na vida
deles, claro que a gente pensa, uma educao melhor, mas nessa situao que
est ocorrendo isso est sendo negativo para eles, ento acho que vamos tirar.

06 Como a instituio em que voc atua avalia o trabalho do Servio


Social
R: Para a instituio eu vejo que fundamental o Servio Social na instituio,
porque como eu j falei, tudo passa por mim. Hoje a casa no ficaria sem o
trabalho da Assistente Social, e isso muito importante, timo.

07 Entre o real e o ideal existe uni caminho a ser percorrido?


R: Existe e muito. Toda a questo da famlia, da adoo, da idade. um
caminho que tem que ser percorrido. No dia-a-dia a gente se auto avalia para
poder estar percorrendo e ir atrs desse ideal. Tem que estar em busca dos
direitos, tm muitas barreiras, complicado mais por outro lado muito bem e
gosto do que eu fao.

ENTREVISTA N"04
INSTITUIO: Casa-Lar Biguau
ASSISTENTE SOCIAL: M.P.

01 No atual quadro conjuntural perpassado por profundas


transformaes, quais as mudanas ocorridas no seu processo de trabalho?
R: As mudanas foram que antigamente era mais assistencialista e hoje no ,
expandiu-se bastante, foi aberto campos de trabalho em empresas privadas que
antigamente no existiu, o surgimento das ONG s.

02 Qual a avaliao por parte do Assistente Social com relao ao grau de


satisfao das necessidades e a efetividade dos projetos oferecidos pela
instituio na vida dos usurios?
R: No momento atual a satisfao est sendo bem boa.

03 Quais as demandas dirigidas ao Servio Social deste abrigo?


R: A Casa-Lar recebe crianas da cidade de Biguau, Governador Celso Ramos
e Antnio Carlos, com idade de 0 18 anos. E as demandas so diversas: estar
viabilizando cursos para os abrigados0, passeios, atividades que possam estar
proporcionando o bem-estar da criana e do adolescente; manter o contato com a
escola para ver a situao; efetuar diversos encaminhamentos, garantindo os
seus direitos e principalmente quando se tem o contato com a famlia ; ver a
carteira de bolsa-escola. O contato com mdicos, ainda bem que e o Posto de
SaUde daqui timo, contato com o dentista. Temos trs rfos, ento mais
dificil. Manter contato com os padrinhos afetivos.
04 Quais so seus instrumentos de trabalho?
R: Os instrumentos so as entrevistas, relatrio situacional (somente quando
importante, porque o Juizado no gosta de receber muitos relatrios), confeco
de oficios, principalmente quando chega a criana e quando acontece o
desligamento, visitas familiares, observao das crianas, atualizao das pastas
das crianas, colocando tudo o que acontece com elas, estudo social, parecer
social (quando est para acontecer a adoo com o meu ponto de vista).

05 Voc poderia identificar quais os resultados da sua ao?


R: Cada dia est melhorando mais. Porque estou aqui faz um ano, seis meses de

estgio e seis meses de contratada, e a casa possui uma coordenadora (que no


mento esta afastada) que no possui nenhuma viso do que ser Assistente
Social, tem urna cabea muito fechada, no para tudo, no fazia nada em
beneficio dos abrigados. Quando eu cheguei aqui de estagiria e saia para fazer
visitas ela dizia que no adiantava de nada e que eu iria sair era para passear,
no deixava fazer nada, nem documentao das crianas tinha, nem regimento
interno. A Casa em si no possua nenhum documento. E temos psicloga e
antes ela tambm no podia atuar, porque a coordenadora falava que no
adiantava ela fazer o trabalho dela, porque no iria dar resultados. E hoje no,
quando ela saiu de licena fui aos poucos mudando e estou conseguindo ter
resultados, s que tem muita coisa para ser feito. Primeiramente falei para
psicloga vai desenvolver a tua profisso e vamos trabalhar em conjunto. Agora
j tem o regimento da casa, as documentaes das crianas esto em ordem,
comeamos a fazer festinhas de aniversrio para as crianas, nem que seja um
bolo, mas fazemos, estamos programando uma festa junina e nessa festa vai ser
convidado os visinhos aqui da Casa e cada funcionrio vai trazer um amigo ou
parente, tudo em beneficio das crianas, para estarem se socializando.Nesse
regimento mudamos algumas regras, porque parecia uma priso, por exemplo
ver televiso at mais tarde, principalmente os adolescentes, mas assim, se vo
mal na escola, relaxam, ento a coisa muda. As crianas esto adorando e vivem
perguntando quando que a coordenadora vai voltar, com medo de que essa
situao mude. Tem que esperar para ver.

06 Como a instituio em que voc atua avalia o trabalho do Servio


Social
R: Como existia essa situao que eu falei, eles nem imaginavam qual era o

papel do Assistente Social, agora esto observando e como foi feito o regimento
interno, constando o que cada funcionrio faz, ficou bem melhor. Tambm foi
feito urna reunio com eles, onde colocaram suas opinies e isso no era feito,
ento eles se sentiram valorizados.

07 Entre o real e o ideal existe um caminho a ser percorrido?


R: Ideal o acompanhamento antes e depois do desligamento. de fundamental
importncia na vida dessas famlias ter o apoio do profissional para evitar a
reincidncia, e ver se no esto passando por alguma situao que pode
prejudicar a vida dessas crianas novamente, e tentar viabilizar suas
necessidades Essas famlias tem que ter outra oportunidade mais com a ajuda.
Tambm encaminhar para cursos. Adora o que faz. Mas est preocupada, se a
partir do momento que a coordenadora voltar, como que vai ficar a casa, tudo
o que esta sendo modificado. Mas j se sente feliz, por estar conseguindo fazer o
Regimento Interno, no esta pronto, mas se a partir do momento que estiver
pronto e acontecer alguma coisa de ela ter que sair, j estar satisfeita.

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