Hidrocefalia Fetal Neonatal
Hidrocefalia Fetal Neonatal
Hidrocefalia Fetal Neonatal
VENTRICULARES CEREBRAIS
Ventriculomegalias fetal e neonatal
Hidrocefalias fetal e neonatal
Paulo R. Margotto
A paralisia cerebral (PC) uma das mais comuns e severas seqelas do nascimento
do pr-termo extremo, constituindo mais de 25% de todos os casos de PC na Sucia 1. Desde
os anos 90, as taxas de sobrevivncia dos RN pr-termos extremos vem aumentando, em
decorrncias de inovaes como: maior uso de corticosteride no pr-natal, uso cada vez
mais precoce de surfactante pulmonar exgeno, novas tcnicas de ventilao, transferncia
in utero. No entanto, os efeitos destas inovaes na desabilidade tardia destas crianas so
muito controversos e constituem matria de discusso.
O estudo francs de Ancel e cl mostrou uma prevalncia de PC aos 2 anos de idade
de 20% nos recm-nascidos (RN) com idade gestacional entre 24 a 26 semanas
(corresponde a mais do que 2/3 dos casos de PC entre os RN pr-termos), comparado com
4% na idade gestacional de 32 semanas. Na populao total das crianas que foram muito
pr-termos ao nascer, este estudo mostrou que 1 de cada 12 crianas teve PC (esta taxa
corresponde a quase 80 vezes mais do que as crianas nascida a termo).
Com base nos resultados dos ultra-sons cerebrais no perodo neonatal, o estudo de
Ancel e cl evidenciou que 17% das crianas com hemorragia intraventricular grau III e
25% das crianas com leso da substncia branca (ventriculomegalia, hiperecogenicidade
persistente ou leucomalcia periventricular cstica) tiveram PC, comparado com 4% das
crianas com ultra-sons cerebrais normais.
Outros estudos estimaram a prevalncia de PC nos RN abaixo de 27 semanas entre
11% a 35%
A leso cerebral no RN pr-termo consiste de mltiplas leses, principalmente a
hemorragia peri/intraventricular (HP/HIV), a leucomalcia periventricular (LPV) e a
ventriculomegalia (VM). Estas constituem as maiores complicaes neuropatolgicas dos
RN pr-termos e so associadas com alta mortalidade e com um desenvolvimento
neurolgico adverso, principalmente nas mais tenras idades gestacionais.
A hemorragia peri/intraventricular e a leucomalcia periventricular j foram
discutidos em outros artigos. Neste artigo, vamos discutir a ventriculomegalia e a
hidrocefalia fetal e neonatal, revisando o conceito, a etiologia e a fisiopatologia que
envolve a leso cerebral. Assim ser possvel a melhor compreenso do prognstico, com
o objetivo de identificar os fatores de risco envolvidos, prevenindo seqelas nestes RN de
muito baixo peso. Este objetivo deve constituir o papel de todo neonatologista na Unidade
de Cuidados Intensivos.
VENTRICULOMEGALIA CEREBRAL FETAL
A dilatao ventricular representa a mais freqente anormalidade cerebral observada
nos fetos. Em 60% dos casos, a dilatao ventricular isolada.
Pilu e cl, mostraram que a largura atrial dos ventrculos laterais de fetos normais
permanece constante durante a gestao, com um dimetro mdio de 6,9+-1,3mm., sendo
considerada moderada ventriculomegalia um dimetro entre 10-15mm e severa
ventriculomegalia acima de 15mm. O ponto de corte para a ventriculomegalia na
ressonncia magntica foi largura atrial >10mm. Wyldes e Watkinson usam o termo
hidrocfalo quando o dimetro atrial maior que 15mm e com rpido aumento.
Devido ao aumento da espessura do crtex durante a gestao, o tamanho relativo
dos ventrculos laterais diminui de 70% com 18 semanas a 30% com 28 semanas de
gestao e permanece constante a seguir.
Goldstein e cl avaliaram as caractersticas clnicas e ultrassonogrficas, assim como
o prognstico dos fetos com moderada ventriculomegalia. Os autores estudaram 34 fetos
consecutivamente com moderada ventriculomegalia (largura atrial dos ventrculos laterais
de 10-15mm) entre 18-35 semanas de gestao. Em 7 dos 34 fetos foi realizado o caritipo
e este foi normal. Em 4 dos 34 fetos, a gravidez foi interrompida, sendo que em 2 havia
evidncia de hidrocefalia. Oito fetos que nasceram tiveram malformaes congnitas, 3 dos
quais morreram no perodo neonatal precoce. Dos 8 com malformaes, 6 apresentaram no
caritipo aberraes cromossmicas. A moderada ventriculomegalia resolveu-se
espontaneamente em 10 de 30 (33,3%). Das 26 crianas disponveis para o seguimento, 16
(61,1%) eram normais com 1 ms e aos 2 anos de idade. Assim, os dados dos autores
confirmaram relatos anteriores do prognstico de moderada ventriculomegalia: na ausncia
de malformaes e com um caritipo normal. Assim, o prognstico da moderada
ventriculomegalia parece favorvel.
Drugan e cl , analisando 43 casos de ventriculomegalia fetal, evidenciaram que o
prognstico ruim para os fetos que apresentam malformaes, bom para aqueles com
ventriculomegalia isolada e no progressiva e varivel para aqueles com ventriculomegalia
isolada progressiva.
A etiologia da ventriculomegalia permanece desconhecida. Provavelmente
multifatorial e freqentemente encontra-se associada com anomalias do sistema nervoso
central, aberraes cromossmicas, infeco fetal ou hemorragia intracerebral.
O encontro de uma dilatao ventricular intra-tero levanta uma srie de questes
que podem ajudar na determinao da etiologia, como: aumento da ecogenicidade da
parede ventricular que um forte indicador de etiologia hemorrgica, espessamento e
irregularidade da parede ventricular pode sugerir distrbios na migrao neuronal
(heterotopias periventriculares, onde neste caso, a ressonncia magntica a tcnica de
escolha na confirmao diagnstica), agenesia do corpo caloso, agenesia septal (a falta de
visibilidade do septo pelcido, fuso dos cornos frontais e ventriculomegalia, sugerem
agenesia septal).
As alteraes cromossmicas foram relatadas em 9% dos fetos com moderadas
ventriculomegalia (no estudo de Goldstein e cl , a incidncia foi de 23%-3/13 casos
examinados).
As anomalias do sistema nervoso central nos casos de moderada ventriculomegalia
estiveram presentes e mais de 50% dos casos, incluindo espinha bfida, malformao de
Dandy-Walker e agenesia de corpo caloso. Na srie de Goldstein e col., 12% dos fetos
(4/33) com moderada ventriculomegalia apresentaram anomalias do sistema nervoso
central (2 com hidrocfalo e 2 com cisto no plexo coride)
Quanto ao prognstico, interessante citar que pode haver regresso espontnea da
moderada ventriculomegalia, ocorrendo em 33,3% na srie de Goldstein e cl , estando de
acordo com os relatos na literatura (29%). Estudo de Kelly e cl citado por Garel e cl , a
partir de uma anlise de 295 fetos com ventriculomegalia isolada, demonstrou resoluo
espontnea da ventriculomegalia moderada em 29% dos casos, permanecendo estvel em
57% dos casos e, porm, progresso em 14% dos casos. Goldstein e cl explicam a
regresso observada da ventriculomegalia pelo atraso parcial ou transitrio na drenagem ou
superproduo do fluido espinhal.
A completa resoluo in utero da ventriculomegalia, embora globalmente favorvel,
no sempre acompanhada de prognstico favorvel.
Quanto ao seguimento das crianas que apresentaram ventriculomegalia moderada
na vida fetal, os dados disponveis na literatura so insatisfatrios. No estudo de Goldstein e
cl , 61,6% (16 de 26 crianas) tiveram crescimento e desenvolvimento normais na idade de
2 anos.
O estudo de Gaglioti e cl mostrou que quando a ventriculomegalia constitua um
achado insolado, 97,7% dos fetos com leve ventriculomegalia (10-12 mm), 80% com
moderada ventriculomegalia (12,1-14,9mm) e 33,3% dos fetos com severa
ventriculomegalia (>15mm) estavam vivos aos 24 meses ou mais de vida. O prognstico
neurocomportamental correspondente a essas crianas foi normal em 93% (leve
ventriculomegalia),
75%
(moderada
ventriculomegalia)
e
62,5%
(severa
ventriculomegalia). Com estes resultados, os autores estabeleceram um limite abaixo de 12
mm para a largura ventricular na definio de ventriculomegalia boderline. Os casos com
medidas acima deste valor so aqueles mais freqentemente associados a malformaes e
menos freqentemente tero um desenvolvimento neurocomportamental normal.
A presena de malformaes associadas considerada um fator de prognstico
ruim. Tambm a presena do 3o ou 4o ventrculos dilatados tm sido considerado um
marcador de prognstico ruim, assim como severas dilataes (acima de 15mm).
No estudo de Pilu et al, o risco de prognstico neurolgico ruim nos fetos com
moderada ventriculomegalia (10-15 mm) foi maior no sexo feminino (22,6%) em relao
ao sexo masculino (4,6%: RR= 4,89; IC a 95% de 1,35-17,65). No caso da largura atrial
maior que 12 mm ou mais, os resultados foram 13,9% para o sexo feminino e 3,8% para o
sexo masculino com RR=3,6; IC a 95% de 1,035-12,84.
Uma vez identificado ventriculomegalia fetal deve ser realizada uma busca de
malformaes, incluindo ecocardiograma e caritipo. Na ausncia de malformaes
associadas e aberraes cromossmicas, uma moderada ventriculomegalia isolada no
progressiva permite um favorvel prognstico neurocomportamental.
O neonatologista ao receber um RN com histria de ventriculomegalia fetal deve se
informar se a ventriculomegalia foi aparentemente isolada ou associada com outras
anormalidades e se foi transitria, unilateral ou leve. O ultra-som deve ser realizado para a
deteco de malformaes cerebrais, entre as quais a hipoplasia ou aplasia de corpo caloso,
Sndrome de Dandy-Walker, lisencefalia, holoprosencefalia, esquisencefalia e estenose de
aqueduto de Sylvius. Investigar erros inatos do metabolismo. Muitas malformaes so
diagnosticadas intra-tero, mas em 16-25% dos bebs com ventriculomegalia
aparentemente isolada haviam malformaes associadas somente diagnosticadas aps o
nascimento como: leses cardacas, atresia de esfago e renal e anormalidades genitais.
Aneuploidia tem sido relatada em 3% das ventriculomegalias isoladas e em 36% quando
associada a malformaes. A trissomia do 21 tem sido associada com ventriculomegalia
isolada em 3,8%.
Fig.10. US no plano coronal em (A) e sagital em (B) aos 21 dias de vida (7 dias
aps o US da figura 5.9), mostrando cogulos em coaslescncia (setas) e tamanho
ventricular que define hidrocfalo ps-hemorrgico,(Margotto/Castro)
-HIDROCFALO PS-HEMORRGICO
Aproximadamente 65% dos RN com hemorragia intraventricular exibem dilatao
ventricular no progressiva (inclui a maioria dos RN com leve a moderada hemorragia
intraventricular; tamanho ventricular ou leve dilatao ventricular na poca do diagnstico
da hemorragia intraventricular e a minoria dos RN com severa hemorragia intraventricular).
Os restantes 35% dos RN com hemorragia intraventricular desenvolvem dilatao
ventricular progressiva lenta (ocorre em semanas, sendo secundrio a mltiplos pequenos
cogulos atravs dos canais do LCR, impedindo a circulao e reabsoro do LCR) .
Na experincia de Murphy et al envolvendo 248 RN com idade gestacional mdia de
26,8+/-2,6 semanas com HP/HIV (incidncia de 25%), apresentou dilatao ventricular
ps-hemorrgica; 38% apresentaram uma parada da dilatao; dos 62% restante, 48% no
necessitou de interveno cirrgica e 34% recebeu ou drenagem ventricular externa ou
derivao ventrculo-peritoneal; 18% morreram. O maior predictor de prognstico adverso
foi a severidade da hemorragia.
A seguir, exemplo de um RN que apresentou hemorragia intraventricular grau III
bilateral, acompanhada de infarto periventricular esquerda com formao de cisto
porenceflico que evoluiu para hidrocfalo ps-hemorrgico, sendo transferido para a
neurocirurgia do Hospital de Base de Braslia, onde foi realizada derivao ventrculoperitoneal(figura 12).
Fig. 12. Hemorragia grau III com infarto hemorrgico periventricular (IHP).
Em (A) US no plano sagital linha mdia mostrando hemorragia intraventricular grau III
bilateral (setas). Em (B) US no plano sagital mostrando hemorragia grau III (seta longa)
e IHP direita (seta curta). Em (C), US no plano sagital mostrando a hidrocfalo
hemorrgico a esquerda (seta longa) e cisto porenceflico (seta curta) direita
comunicando-se com o ventrculo lateral (Margotto/Castro)
grupo do diurtico do maior ensaio clnico, ocorreu um leve aumento do dficit motor no
primeiro ano de vida (OR: 1,27; IC: 1,02-1,58), assim como maior risco para
nefrocalcinose (OR: 5,31; IC: 1,9-14,84). No estudo do International PHVD Drug, a
mortalidade foi maior no grupo do diurtico (20% versos 12%), assim como maior
necessidade de colocao da derivao (48% versus 45%) e maior desabilidade
neurolgica com um ano de idade (77% versos 60%) Assim, a terapia com a
acetazolamida e furosemide no nem segura e nem efetiva para o tratamento da
dilatao ventricular ps-hemorrgica e, portanto, no pode ser recomendada como
terapia para o hidrocfalo ps-hemorrgico. Punes lombares tambm no resultaram
na reduo da necessidade de derivao ventrculo-peritoneal ou de desabilidade
neurolgica (houve aumento de infeco)41. A terapia fibrinoltica intraventricular
tambm no diminuiu a necessidade da derivao ventrculo-peritoneal e no diminuiu a
mortalidade.
O nico tratamento estabelecido para o hidrocfalo ps-hemorrgico persistente e
progressivo com aumento da presso intracraniana a derivao ventrculo-peritoneal .
A deciso de usar terapia definitiva para o hidrocfalo ps-hemorrgico atravs da
colocao de uma derivao ventrculo-peritoneal difcil no RN prematuro. Devido,
pois estes RN apresentarem peso abaixo do mnimo requerido para a interveno,
cogulos sanguneos residuais intraventriculares e debris, h aumento o risco de
obstruo recorrente, alm do alto risco de sepse, infeco e ventriculite com
prognstico neurolgico ruim. Na experincia de Roland e Hill, a colocao nestes RN
de um shunt ventriculosubgaleal (figuras 14
E 15) uma opo temporria,
especialmente nos RN com peso abaixo de 1500g, podendo ser transformado em
derivao ventrculo-peritoneal quando o RN ganhar peso suficiente (em 20% dos casos
pode servir como procedimento definitivo). Um potencial contra-indicao a aparncia
cosmtica de uma grande coleo de fluido subgaleal. Willis e col. recentemente
descreveram uma associao inaceitavelmente alta de infeco no LCR com o uso do
shunt ventriculosubgaleal (taxa total de infeco de 66,6%). A potencial causa de
infeco a estase do LCR sob a pele fina do prematuro, promovendo colonizao pela
flora da pele. Todas as infeces foram causadas pela espcie Staphylococcus.
moderado retardo mental e 17,5% (22% aos 5 anos) tiveram severo retardo mental. O
pior prognstico foi no grupo que necessitou de derivao ventrculo-peritoneal, assim
como nos RN que necessitaram de maior nmero de reviso da derivao. Portanto, 50%
tiveram leve a moderado atraso e 50% com severa atraso aos 5 anos de vida.
Outro estudo randomizado e controlado envolvendo 157 RN com dilatao
ventricular progressiva ps-hemorrgica, evidenciou que a drenagem precoce no
resultou na melhora do prognstico em relao aos controles, apesar de ter reduzido a
taxa de expanso dos ventrculos e do permetro ceflico. Destes 157 RN, 32 (20%)
morreram. Aos 30 meses, 127 crianas foram avaliadas, sendo que 90% tinham
deficincia motora e 76% tinham grave desabilidade e 56% apresentavam deficincias
mltiplas.
Paneth sugere incluir a ventriculomegalia no espectro da leso da substncia branca,
podendo alguns destes RN com ventriculomegalia apresentar espectro de leucomalcia tipo
II (densidades periventriculares transitrias evoluindo para pequenos cistos localizados).
Tradicionalmente a ventriculomegalia e o hidrocfalo tem sido interpretados como seqela
de hemorragia intraventricular, mas h uma evidncia cada vez maior que a
ventriculomegalia quase sempre reflete algum grau de leso da substncia branca. Esta
evidncia patolgica (a leso da substncia branca freqentemente est presente nas
crianas que morrem com ventriculomegalia) e prognstica (o risco de desenvolvimento
anormal nas crianas com ventriculomegalia semelhante s crianas com leso da
substancia branca).
O artigo de Leviton et al resume as evidncias de que a ventriculomegalia melhor
vista como uma forma de leso da substncia branca. O estudo de Kuban e col. d suporte a
este ponto de vista. Neste estudo, os RN com ventriculomegalia apresentam um risco quase
50 vezes maior de ter ecogenicidade ou ecoluscncia parenquimatosa, em relao aos RN
sem hemorragia intraventricular e ventriculomegalia. A hemorragia intraventricular pode
contribuir de alguma forma na patognese da leso da substncia branca, mas no tanto
quanto a ventriculomegalia. Segundo Kuban et al, embora a ventriculomegalia possa ser um
marcador indireto da leso da substncia branca, muitos RN neste estudo com
ventriculomegalia foram identificados precocemente (dentro de semanas de nascimento),
tornando assim improvvel a hiptese que a leso da substncia branca levaria a algum grau
de atrofia, resultando no hidrocfalo ex-vcuo. Embora a maioria dos RN com
ventriculomegalia apresente hemorragia intraventricular, isto no universalmente
verdadeiro. A persistente ventriculomegalia nos RN que no apresentam hemorragia
intraventricular sugere ter ocorrido injria pr-natal ou a falta de um desenvolvimento
normal da substncia branca. A ventriculomegalia, evento que ocorre mais nos RN de
menores idades gestacionais, permite a entrada de entidades txicas ao crebro,
possivelmente citocinas, para a substncia branca, devido o rompimento do epndima da
parede ventricular.
Na coorte de RN com LPV, no estudo de Pierrat et al a ventriculomegalia foi um
bom predictor de paralisia cerebral (29 de 30 RN com ventriculomegalia ao redor do termo
desenvolveram paralisia cerebral). No entanto, importante ter em mente que
ventriculomegalia pode estar presente ao redor do termo em RN que apresentaram
hemorragia intraventricular durante o perodo neonatal. Nestes RN, a ventriculomegalia
pode ser devida a leve dilatao ventricular ps-hemorrgica que improvavelmente leva a
dficit neurolgico. H sugesto de que o aumento dos ventrculos, quando pertencente
leso da substncia branca, mais irregular no que diz respeito forma.
insulto hipxico crnico subletal no 7o dia de vida (nos primeiros 20 dias destes ratos
recm-nascidos ocorre uma rpida diferenciao dos axnios e dendritos), evidenciou
no 7o dia de vida diminuio do volume cortical e do volume hemisfrico da substncia
branca com significante ventriculomegalia e evidncia de severo comprometimento na
corticognese neste modelo animal de desenvolvimento cerebral.
Assim, a ventriculomegalia secundria a reduo do volume da substncia branca,
sugere um profundo efeito no padro e nvel da conectividade crtico-cortical e crticofugal. Os estudos clnicos informam que estas crianas com ventriculomegalia sofrem
no somente anormalidades nos testes de resposta evocada visual, como tambm no
desempenho motor visual. Os dados do presente estudo de Ment et al provem adicional
evidncia da associao das anormalidades visuais com ventriculomegalia a termo nos
RN de muito baixo peso ao nascer aos 4,5 anos de idade corrigida.
Stewart e Kirkbride, citados por Ment et al, relataram deficiente desempenho
escolar em crianas com 14 anos de idade com histria de nascimento pr-termo e que
apresentaram ventriculomegalia detectada pela ressonncia magntica. As
anormalidades encontradas na substncia branca em seus pacientes representam
alteraes subjacentes na conectividade hemisfrica, provendo assim base para a
deficincia cognitiva nos pacientes estudados.
Tang et al relataram recentemente que os RN de muito baixo peso ao nascer (idade
gestacional mdia de 30 semanas; peso mdio de 1290g) com desproporcional aumento
do trgono ou corno occipital (>=15 mm no corte sagital, mais a esquerda e em RN do
sexo masculino, parede ventricular lisa e regular) no apresentaram significantes
diferenas no desenvolvimento nas idades corrigidas de 6,12,18 e 24 meses em relao
aqueles RN sem estes achados; 55% destes RN apresentaram hiperecogenicidade
periventricular transitria versos 35% no grupo controle de semelhante idade gestacional
e peso ao nascer. Muitos destes RN com aumento do corno occipital apresentaram
resoluo nas ecografias posteriores (88%) e os autores acreditam que este achado pode
ser uma variante normal do desenvolvimento cerebral. No entanto, o estudo sonogrfico
tem suas limitaes na deteco de leso cortical e leses difusas da substncia branca.
A colpocefalia (desproporcional aumento do trgono, corno occipital e geralmente
temporal) tem sido descrita como a persistncia da configurao fetal dos ventrculos
laterais (figura 17). Este quadro patolgico caracterizado por diminuio ou atraso do
desenvolvimento do crebro que resulta em diminuio da espessura da substncia
branca na poro posterior do centro semioval, ocasionando o aumento dos cornos
occipitais. Nem todos os casos de colpocefalia se acompanham de distrbios de
migrao neuronal e deficiente neurodesenvolvimento. Nos casos de distrbios de
migrao neuronal, a parede e a forma ventricular so irregulares.
Fig17. RN com 7 dias, 39 sem 5 dias, com diagnstico de hidrocefalia intratero. A ultrassonografia (A) no plano coronal e em (B) no plano sagital e a
correspondente tomografia computadorizada (C) mostram desproporcional
aumento do ventrculo direito (colpocefalia). A regularidade da parede ventricular
no sugere a presena de distrbios de migrao neuronal. (Margotto, Castro).
Publicao recente de Reinprecht et al, compreendendo 76 crianas com hemorragia
intraventricular que foram tratadas primariamente pela drenagem ventricular externa e
42 crianas que necessitaram de derivao permanente, o segmento entre 15 meses e 15
anos (mdia de 92 meses) evidenciou, nas crianas com derivao permanente:
mortalidade de 7% (3 pacientes); a mdia de revises da derivao foi de 1,57 por
paciente e que as principais causas das revises foram infeco (7,1%) e bloqueio
(45,2%). O seguimento evidenciou que o desenvolvimento foi normal em 13 pacientes
(33,3%), atraso menor em 12 pacientes (30,8%) e atraso maior em 14 pacientes (35,9%).
Neste perodo de seguimento, o resultado neurolgico foi normal em 15 pacientes
(38,4%), leve desabilidade em 8 pacientes (20,5%), moderada desabilidade em 9
pacientes (23%) e severa desabilidade em 7 pacientes (18%).
O prognstico ruim destes RN pode estar relacionado a complicaes com a
derivao, tais como infeco ventricular, desconexo, fratura, migrao, superdrenagem
obstruo da derivao. Segundo Bergsneider e col., mais de 30% das novas derivaes
falham com um ano. Com 2 anos de idade a falha chega a 50% . Menos que 1/3 das
novas derivaes sobrevivem a 10 anos sem reviso.
Brouwer e cl relataram significantemente menos infeco, comparando dois
perodos (1992 2 2003):4% versus 19,2% (p=0.029).
Estudos neuropatolgicos de hidrocfalo ps-hemorrgico em animais e humanos
tm demonstrado estiramento axonal e gliose, permitindo a infuso de lquor
cefaloraquidiano na substncia branca causando atenuao vascular e leso cerebral
isqumica. Dados de estudos em animais sugerem haver nos modelos de hidrocfalo,
significante alteraes na maturao dendrtica, nos neurnios corticais, distrbios no
desenvolvimento de neurotransmissores e na sinaptognese que podem afetar o
desenvolvimento organizacional do crtex cerebral. Estas alteraes podem ser
Fig. 18. Recm-nascido da figura 5.14 aos 3 meses. US no plano sagital em (A)
do ventrculo direto e em (B) ventrculo esquerdo medindo, respectivamente 5.mm
e 11.3 mm. Em (C) US no plano coronal e sagital aos 5 meses (ventrculos direito e
esquerdo medindo, respectivamente 5,5mm e 13mm)
Fig.19. Recm-nascido da figura 5.14 aos 5 meses (47 semanas psconcepo).Ressonncia magntica mostrando reduo volumtrica do hemisfrio
cerebral esquerdo, especialmente dos gnglios basais e da substncia branca com
conseqente dilatao compensatria do ventrculo esquerdo (setas em C),
afilamento do corpo caloso (seta) em (A), degenerao walleriana (seta) em (B).Em
resumo: hemiatrofia cerebral esquerda, leucomalcia periventricular esquerda
degenerao walleriana esquerda, comprometimento das fibras de associao,
com atrofia do corpo caloso
-Quanto s desabilidades cognitiva e motora
Vasileiadis et al estudaram os efeitos da hemorragia intraventricular no complicada
(sem envolvimento parenquimatoso e sem hidrocfalo ps-hemorrgico) no volume
cortical, utilizando-se da ressonncia magntica, sendo evidenciada uma reduo de
16% na substncia cinzenta cortical a termo. Os autores atribuem este achado perda
das clulas precursoras astrocticas causada pela hemorragia intraventricular e pela
destruio da matriz germinativa. A matriz germinativa representa o remanescente da
zona germinativa. Entre 10-24 semanas de gestao, esta regio celular a fonte de
precursores neuronais. Aps 24 semanas de gestao, a migrao neuronal se completou,
mas a matriz germinativa prov precursores gliais que se tornaro oligodendrcitos e
astrcitos. Neste estgio tardio da gliognese, os astrcitos migram s camadas
superiores corticais e so cruciais para a sobrevivncia neuronal e o desenvolvimento
normal do crtex cerebral. Estes achados so consistentes com as publicaes na
literatura a respeito dos possveis efeitos da perda astroctica no desenvolvimento
cortical.
Nos ltimos anos o desenvolvimento do crebro tem recebido uma grande ateno,
principalmente em duas reas. A primeira se refere s clulas troncos cerebrais
encontradas no tubo neural e na zona ventricular do crtex cerebral e os mecanismos
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