Texto de Agostinho Neto-Sobre Cultura Nacional
Texto de Agostinho Neto-Sobre Cultura Nacional
Texto de Agostinho Neto-Sobre Cultura Nacional
NACIONAL"
ANGOLA TEM UMA CARACTERSTICA CULTURAL PROPRIA, RESULTANTE
DA SUA HISTRIA
Discurso proferido pelo camarada presidente Agostinho Neto, no acto de posse dos novos
membros da unio dos escritores angolanos.
08/01/1979
Camaradas e caros colegas, termina assim hoje, mais um processo na vida da Unio dos
Escritores Angolanos: o acto em que ns empossamos, depois de uma eleio regular novos
corpos gerentes.
Um perodo de actividades para todos os escritores vai iniciar-se aps a tomada de posse
dos corpos gerentes eleitos no dia 29 de Dezembro de 1978 e espero que em Maro de 1981
possamos fazer um balano muito positivo deste perodo que se espera de prospeco e de
produo.
A direco da nossa Unio, tem-se esforado por dinamizar a produo literria, num
perodo em que se confundem ainda no contedo, um futuro angolano, africano e universal
da literatura com a necessidade poltica de nacionalismo; ou o da realizao poltica do
escritor com a prpria poltica.
Deste modo, a tarefa para os novos corpos gerentes, que no tero simplesmente o sentido
de encargos administrativos, mas tambm de anlise e de crtica, no ser muito fcil e
creio que o debate ser em breve aberto, para a apreciao ao nosso trabalho, dentro do
contexto verdadeiro da Nao Angolana, ou melhor: do Povo Angolano.
Por isso e em nome da mesa da Assembleia Geral, me apraz dirigir parabns ao executivo
eleito para a gerncia actual, que ter tarefas grandiosas no sentido da dinamizao da
cultura angolana e desejar-lhes um bom trabalho.
Penso que necessrio falar de cultura antes de literatura. E vamos aproveitar esta
excelente ocasio, para examinar alguns aspectos essenciais sobre a nossa cultura.
A cultura evolui com as condies materiais e a cada etapa, corresponde uma forma de
expresso e de concretizao dos actos culturais. A cultura resulta da situao material e do
estado do seu desenvolvimento social.
No contexto angolano, a expresso cultural resulta seno de cpia, e por enquanto pelo
menos do resultado de uma aculturao secular, pretendendo reflectir a evoluo' material
do povo, que de independente se tornou submisso e completamente dependente para voltar
a ser independente em novas condies.
H que recorrer de novo nossa realidade, sem chauvinismos, e sem renunciarmos nossa
vocao universalista.
O chauvinismo cultural to prejudicial como o foi, logo a seguir Revoluo de Outubro. o
conceito de cultura proletria que Lenine tanto combateu, insistindo na ideia de o pas
sovitico ter forosamente de fruir, e aproveitar-se para a elaborao de uma nova cultura
socialista, voltada para as massas, do patrimnio cultural herdado, ou mais tarde, do
conceito de realismo socialista.
A cultura do povo angolano, hoje constituda por pedaos que vo das reas urbanas
assimiladas as reas rurais apenas levemente tocadas pela assimilao cultural europeia.
E porque as capitais como a nossa, agigantadas pela burocracia exercem um efeito mgico
sobre a maior parte do Pas, existe a tendncia para a imitao, claramente visvel no
aspecto cultural. Da uma responsabilidade muito especial da Unio dos Escritores
Angolanos.
Eu creio que dentro em breve, o escritor, o artista, sero apenas escritor e artistas, para se
poderem dedicar aos problemas que afloro neste fim de Assembleia de posse.
Mas , no meu entender, necessrio aprofundar as questes que derivam da cultura das
vrias naes angolanas, hoje fundidas numa, dos efeitos da aculturao dado o contacto
com cultura portuguesa e a necessidade de nos pormos de acordo sobre o aproveitamento
dos agentes populares da cultura e fazermos em Angola uma s corrente compreensiva da
mesma.
Seria bom mas se no for possvel, no choremos por isso que o prximo Congresso do
Partido pudesse j contar com as opinies da Unio dos Escritores sobre esta matria.
Quanto a outros agentes da cultura, coma os artistas plsticos e mesmo, nas nossas
condies actuais, os rg9s de difuso de notcias junto das massas populares, penso ser
normal que a nossa Unio assuma a responsabilidade de orientao a dar aos criadores e
difusores de ideias, funo que os organismos do Partido apenas podem definir atravs de
textos, e que o organismo estatal poder dinamizar, fazendo de si prprio o veculo dos
resultados a obter dos organismos pensantes.
necessrio, o mais alargado possvel debate de Ideias, o mais amplo possvel movimento
de Investigao, dinamizao e apresentao pblica de todas 88 formas culturais
existentes no Pas, sem qualquer preconceito de carcter artstico ou lingustico.
Sugiro aos Caros Camaradas e Colegas, que sejam aproveitadas ao mximo as condies
para que os escritores trabalhem e produzam e observem cada canto do espao geogrfico
nacional, vivendo a vida do Povo. As condies materiais sero sempre criadas na medida
do possvel, at que possamos fazer do escritor, do artista, um profissional puro da cultura
ligada realidade sociopoltico.
Por outro lado, espero que as condies criadas possam ajudar a formao de uma
literatura angolana abraando as circunstncias polticas e principalmente a prpria vida do
Povo.
Desejo ainda enderear a todos os empossados as minhas sinceras felicitaes.
A Luta Continua!
A Vitria Certa!