Alice Crítica
Alice Crítica
Alice Crítica
coelho que a transporta para um lugar fantástico povoado por criaturas peculiares e
estranhas , revelando uma lógica do absurdo característica dos sonhos. Esta está repleta
de alusões satíricas dirigidas à sociedade da época, de paródias a poemas populares
infantis ingleses ensinados no século XIX e também de referências linguísticas e
matemáticas frequentemente através de enigmas que contribuíram para a sua
popularidade. É assim uma obra de difícil interpretação pois contém dois livros num só
texto: um para crianças e outro para adultos, pois a obra permite múltiplas
interpretações.
Basta que reflictamos um pouco sobre a obra, e nos centremos nos vários diálogos que
Alice vai protagonizando com outros personagens ao longo da obra, para que várias
questões e interpretações nos surjam….
Não seria o País das Maravilhas, para onde Alice foi transportada no seu sonho,
uma metaforização do nosso mundo? Um mundo marcado pelas incertezas e pela falta
de razão. É interessante notar que a sociedade no País das Maravilhas, tal como a
nossa, também é dividida em classes. Há animais e outros seres que representam o
proletariado e a classe média , como o Coelho Branco e o Dodô, por exemplo. No
cortejo real, as cartas de espadas são os jardineiros ou servidores; as de paus, os
soldados; as cartas de ouros são a nobreza; e as de copas, os príncipes, filhos do Rei e
da Rainha. Porem, só as cartas numéricas. As figurativas, como se supõe, são os reis,
rainhas e valetes, dentre eles o Rei e a Rainha de Copas, regentes do País.
A Rainha de Copas poderá eventualmente ser uma alegoria do próprio poder
opressivo e arbitrário do Estado monárquico.
Outra interpretação possível seria pensar no País das Maravilhas como o
universo particular e peculiar da criança em desenvolvimento, que se vê a entrar na
conturbada adolescência. As súbitas diminuições e aumentos do tamanho de Alice
representam a instabilidade emocional própria do recém adolescente, além da
dificuldade deste se situar no novo estágio psicobiológico. São perceptíveis os
problemas psicológicos de identidade e questionamentos existenciais pelos quais Alice
passa, tentando apreender e assimilar o novo mundo que se lhe desvela. Afinal, a
entrada na adolescência vem acompanhada da percepção de coisas meio que
imperceptíveis ou desinteressantes para a infância, além de uma visão mais racional e
madura acerca da confusa e aparentemente incoerente realidade. Há também vários
momentos na jornada de Alice em que ela questiona-se e questiona os outros sobre
vários pontos, somando-se a um certo pensamento de caráter subversivo.
O Coelho Branco provavelmente simboliza alguma idéia ou crença, ou um suporte
emocional, ao qual o adolescente procura firmar-se para adaptar-se à nova realidade, e
que busca desesperadamente. Ou pode ser a representação do próprio tempo, que
sempre nos escapa, contrariando os desejos de condicioná-lo às nossas necessidades. O
Gato de Cheshire representa talvez a razão num mundo aparentemente ilógico e
entremeado por loucura e irracionalidade, a razão que se nos apresenta durante lapsos
mentais e depois se esvai. Todavia, a seguinte assertiva do próprio Gato direcionada a
Alice: “(...) todo mundo é meio louco por aqui. Eu sou. Você também é”, nos deixa um
enigma – e o Gato de Cheshire é um personagem enigmático. Esse dito não só seria a
afirmação de que todos, sem exceção, somos meio loucos, porém também de que a
própria e pretensa razão, como a concebemos, abarca irracionalidade e incoerência. A
Razão, a Verdade, são inapreensíveis e intangíveis em sua totalidade (?).
Narrado em terceira pessoa, o sonho de Alice nos remete a célebre frase de Machado
de Assis: “eu prefiro cair das nuvens do que do terceiro andar”, para que então nunca
deixemos de sonhar, apesar dos tombos serem muitos por toda a nossa vida,
precisamos ler muitas vezes este livro, nas diversas fases e nas inúmeras dificuldades
pelas quais passamos, dando a cada um a oportunidade de recomeço a cada queda.
Em cada idade os tombos, os sonhos, os desejos, os anseios se diferem. Somos
sempre diferentes a cada minuto que passa. Isso Alice nos ensina com categoria.
Quando caiu na toca dos coelhos (metaforizando um imenso tombo e depois dele a luz
no fim do túneo) Alice experimentou todas as sensações possíveis. Todos os sentidos
se aguçaram para que ela pudesse aproveitar todos os momentos. A partir de então
começa a história mais interessante que já se ouviu e que nos permite ver por
metáforas e sensações os desejos da criança que vive em cada um de nós. Falando
com os bichos e trazendo a cada um um ensinamento através da magia da vida.
Buscando na essência das coisas e da natureza tudo de que precisamos. Como a vida
pode ser diferente se soubermos adaptar às circunstâncias e enfrentar as dificuldades
com carinho, ternura, sem medo, com independência e sobretudo com fé e confiança
para que tudo tenha um bom final.
Então vamos lá. Deixemos de “lero lero” para iniciar a história que nos interessa por
hora. Alice estava dorminhocando no colo de sua irmã quando ouvia uma história
muito chata e por isso fixou o olhar num canteiro de margaridas e começou a sonhar
um sonho maravilhoso que a levou a um país que nunca tinha estado antes. Lá tudo
era tão diferente e intenso. Na queda na toca dos coelhos (que havia visto no jardim)
já foi uma maravilha, apesar do susto do tombo ela foi aos poucos chegando num
lugar encantado, onde todos os bichos podiam falar. Mas, não pense que tudo foi
assim tão fácil. Alice bebeu e comeu coisas que a faziam aumentar e diminuir de
tamanho. Até que ela percebeu que o seu desejo ajustava a necessidade de
realização conforme ela queria. Conheceu vários bichos como: o coelho apressado, o
rato. Só que antes disso chorou tanto por se sentir só e de saudades do sua gatinha
Diná que formou um LAGO DE LÁGRIMAS, que é a parte mais poética dessa história
de menininhas levadas. E assim ela conheceu um rato que tornou-se seu amigo, pois
o coelho era muito esperto e não parava em lugar nenhum. Numa reunião original na
tentativa de secar para não adoecer apareceram outros animais como: o pato, o
papagaio, o ganso e uma pequenina águia, sem se esquecer do rato que já era amigo
de Alice. Brincaram e divertiram tanto com as palavras que a história do rato acabou
num belo poema. De repente aparece o coelho veloz e começa a dar ordens para
Alice. Pediu com urgência as luvas e um leque. E Alice obedeceu de medo. E assim
continua a história de bichos e uma menina. Chegaram outros animaizinhos como o
pobre periquito, a tartaruga falsa, o bicho cabeludo que lhe deu bons conselhos e era
nesse momento tão pequena que precisava ficar na ponta dos pés para alcançar
umcogumelo e conversar com o bicho cabeludo. Esse que teve muita importância para
que ela compreendesse que não estava trocada, que a todos os momentos somos
diferentes e nos transformamos de alguma maneira. E por mais difícil que seja a
situação podemos sempre nos acostumar, inclusive a ter somente dez centímetros.
Teve também a história do porquinho que Alice pensou que era um bebê. O gato
careteiro. Ela não conhecia essa raça de gatos que fazem caretas. Ih!!! O chapeleiro,
lebre telhuda, o rato do campo, o pequeno morcego, todos eles apareceram num chá
de doidos varridos. Para finalizar, o episódio QUEM FURTOU OS BOLOS? Houve um
júri para descobrir quem tinha roubado os bolos do REI E A RAINHA DE COPAS. Alice
e o Grifo chegaram. Todos os bichos eram suspeitos do furto. Quando o Valete de
Copas estava sendo acusado pelos jurados com provas provadas, pois trocava o B
pelo P num papel encontrado com a letra do Valete, quando dizia Pichocarra ao invés
de Bichocarra. A Rainha ordenou a execução antes da sentença e Alice interviu
achando aquilo tudo um absurdo todos se voltaram contra ela e foi uma verdadeira
chuva de cartas em cima dela que a fez acordar. E assim acabou o sonho de Alice.
Na obra “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll, é possível mudar o corpo de tamanho, encontrar gatos
e lagartas falantes, bem como escutar histórias sem pés nem cabeça. São prodígios de um mundo subterrâneo
que nos seduz e espanta ao mesmo tempo.
Alice é uma criança entediada com o mundo que a rodeia. O livro “Alice no País das Maravilhas” começa, aliás,
com esta personagem sentada à beira-rio “sem ter nada que fazer” e, por isso mesmo, “farta” da sua própria
vida. Quando irrompe à sua frente um coelho branco, vestido com um colete e munido de um relógio de bolso,
a menina sente-se mediatamente seduzida a segui-lo. Obsessivo com o tempo, o Coelho Branco corre em
direcção à sua toca — uma cavidade que representa a porta de entrada para um universo irreal — e, por
impulso, Alice vai atrás dele. À sua espera está um mundo que, apesar de maravilhoso, não traduz a perfeição
de um conto de fadas.
O matemático britânico Charles Lutwidge Dodgson (1832-1898) escreveu “Alice no País das Maravilhas”
motivado por uma viagem de barco, no Verão de 1862, com as três irmãs Liddell. Uma delas era Alice (1852-
1934), uma figura central na vida de Dodgson, que lhe terá sugerido a escrita de tão maravilhosa narrativa.
Assim nasce a história infantil de língua inglesa mais conhecida no mundo. Uma obra publicada em 1865, sob o
pseudónimo de Lewis Carroll, que há sucessivas décadas intriga leitores pequenos e adultos. Seis anos depois,
veio a lume a sequela “Alice no País dos Espelhos”.
Afinal, o que tem Alice de tão especial? Seria difícil responder nesta página. Numerosos estudos já foram
publicados, pertencentes aos mais diferentes domínios — da matemáticaà psicanálise, passando pela semiótica
e a teoria literária. Há, contudo, uma constatação quase incontornável: Carroll concebeu uma história não só
eficaz no âmbito daquilo que se espera de uma narrativa infantil, mas também uma obra capaz de se desdobrar
em subtilezas da língua, da essência humana, das reacções subconscientes, das organizações da sociedade,
bem como em questionamentos da moral vigente, das ortodoxias veladas e da própria existência do indivíduo.
Este conjunto primoroso de reflexões está enredado na trama do texto, sem lhe retirar frescor ou lhe
acrescentar fardos.
Carroll, por vezes, faz da página que seguramos um espelho, obrigando o leitor a um confronto consigo mesmo
e com o desejo de um mundo paralelo, uma secção alternativa da existência que porventura nos abrigasse no
subterrâneo. “Quem és tu?, disse a Lagarta. Estas palavras não eram lá muito encorajadoras para começar
uma conversa. Alice respondeu timidamente: Eu... Senhor, eu agora neste momento nem sei. Sei, pelo menos,
o que eu era, quando me levantei esta manhã, mas acho que devo ter mudado várias vezes desde essa altura”,
responde Alice à Lagarta, num excerto com óbvias referências à dinâmica da psicologia humana.
Em síntese, a aventura de Alice condensa uma vontade humana de romper com o pré-estabelecido. Após entrar
na toca do coelho, a menina cai num poço muito fundo e vai parar num lugar com regras próprias e destituídas
de sentido face ao mundo real. Alice deparase com figuras oníricas como uma Rainha de Copas sanguinária, um
gato Cheshire que é uma cabeça sem corpo, um Humpty Dumpty, uma lacrimosa Tartaruga Fingida e um
chapeleiro maluco. “É que, como estão a ver, tantas coisas fora do normal tinham já acontecido que Alice
começava a pensar que poucas eram, na verdade, impossíveis”, escreve Carroll.
Para viver neste espaço recheado de pessoas e situações “nonsense”, Alice está constantemente a reformular
conceitos e comportamentos. Sente-se atordoada pela forma como desordenaram o seu mundo prévio, mas ao
mesmo tempo tocada pelo assombro próprio do caos. Como resposta ao desconhecido que se lhe apresenta,
Alice literalmente aumenta e diminui de tamanho: depois de beber uma poção especial, “não tem agora mais
do que 25 centímetros de altura, e a sua cara resplandecia de felicidade ao pensar que atingiria o tamanho
ideal para passar pela portinha de entrada para aquele jardim tão lindo”.
O prodígio torna-se desconforto quando a personagem percebe que, mesmo no aparente caos, existe uma
ordem intrínseca. Quando a Rainha de Copas se sente contrariada, por exemplo, ordena que aniquilem os
indivíduos inoportunos. Apesar da menina saber que se trata de uma ordem corriqueira na vida de vossa
majestade, um desejo de evasão domina-a. “Alice principiava-se a sentir-se pouco à vontade; é certo que não
tinha tido nenhum briga com a rainha, mas sabia que isso podia acontecer de um momento para o outro. (...)
Estava ela à procura de uma maneira de escapar, e magicando se conseguiria ir dali para fora sem que a
vissem”, escreve Carroll, sugerindo talvez a vontade que há em todos nós de transbordar os limites do
desconhecido, mas, ao mesmo tempo, nos manter protegidos do incerto.
Depois de uma curta-metragem realizada em 1903, a história de “Alice no País das Maravilhas” conheceu uma
adaptação de relevo três décadas depois, com a actriz Charlotte Henry na pele da protagonista. Em 1951, o
filme animado da Walt Disney tornou-se na sua versão mais célebre, sendo nomeado para o Leão de Ouro do
Festival de Veneza e para o Óscar de Melhor Banda sonora. Hoje, é talvez a obra mais representativa do
universo mágico de Lewis Carroll.
Em 1999, um luxuoso telefilme regressou ao “País das Maravilhas”, contando no elenco com alguns actores
famosos como Whoopi Goldberg, Christopher Lloyd e Ben Kingsley.