A Escola de Marburgo Aduilson
A Escola de Marburgo Aduilson
A Escola de Marburgo Aduilson
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apoio na metafsica (p. 190).
O incio do terceiro momento marcado por crises (moral e intelectual), mas em seguida
determinado pela crise cientfica, quando Cassirer se depara com os problemas levantados pela
teoria da relatividade de Einstein e procura, num trabalho que submetera ao grande fsico, conciliar
o idealismo kantiano e os novos princpios cientficos (p. 190).
As crises cientficas (moral e intelectual), colocam a Escola de Marburgo em vias de
perder a sua unidade. De um lado, Natorp critica suas teses sobre o platonismo (seguindo alm
da idia de mtodo e encaminhando-se na direo de uma filosofia do Ser e do Logos); de outro
lado, Cassirer envereda pelo caminho de um humanismo cada vez mais decidido que inspira
fundamentalmente sua 'Filosofia das Formas Simblicas'". Mas, aps o desaparecimento de Cohen
e a renncia de Natorp, a Escola de Marburgo encontrar sua apoteose e seu destino nas
conversaes de Davos de 1929, quando Heidegger e Cassirer, ao interpretarem Kant, opuseram
duas vises do mundo no sentido forte do termo. O momento chave da crise envolve a ascenso de
Hitler ao posto de chanceler (1933), quando Heidegger e Cassirer seguem caminhos distintos:
Heidegger prestou juramento ao novo regime, Cassirer escolheu o exlio (p. 190-191).
Cohen recorre segunda edio da Crtica da razo pura, de Kant, para desenvolver sua
distino de a priori (metafsico e transcendental): o a priori metafsico mostra que um
conceito no dado pela experincia e ao desregramento da representao, mas este deve
encontrar seu sentido 'real' indicando-se como 'mtodo' e princpio de construo da experincia,
ento, do a priori metafsico chega-se ao a priori transcendental. E chega a conceber que o a
priori no deve ficar merc da metafsica, pois este quem determina a possibilidade metdica
do saber, devendo haver, ento, uma integrao progressiva do conhecimento. Pois, a
experincia deve ser conduzida desde a sua realidade ingnua at a sua possibilidade, porque no
h nenhuma necessidade que domine o pensamento. O que Philonenko entende como a
dificuldade do neokantismo na Escola de Marburgo que, assim como a noo do a priori funda
a autonomia da filosofia, tambm o conceito da objetividade tende a fazer dela a serva das
cincias, conduzindo-a ao positivismo. Mas este o marco da Escola de Marburgo, no qual se
evidenciam seu humanismo bem como seu positivismo (p. 193-195).
Enfatize-se, entretanto, que os desenvolvimentos cientficos e especulativos da Escola de
Marburgo, bem como os desenvolvimentos morais e estticos kantianos, esto totalmente
fundamentados na interpretao do kantismo. Em verdade, a separao de Cohen para com Kant
diz respeito filosofia transcendental, pois, para ele, seu ponto de partida no a intuio pura,
mas o pensamento puro. Ento, o que no pode ser um problema para o pensamento no pode ser
um problema do ser. Conclui-se, portanto, que o pensamento do conhecimento s pode ser
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descrito quando nivelado aos problemas do conhecimento cientfico (p. 198-200).
Ao atentarmos para o pensamento de Natorp, constatamos que este ultrapassa o quadro do
mtodo fixado por Cohen. Sua filosofia est incumbida de dar lugar vida criadora na ao tica
bem como na produo esttica, na prxis e na poiesis. Acrescente-se a isso, o fato de Natorp
superar os conceitos de Cohen ao substituir a correlao da objetividade e da subjetividade pela
duplicidade do ser e do sentido (Sein Sinn), ao que isso implica no ser tornando possvel o
sentido, o qual nico a lhe conferir sua verdade. Natorp defende que em Kant a subjetividade
surge com a objetividade, numa estrita relao recproca com esta, isto , necessariamente a partir
de um fundamento que no deveria ser chamado nem objetivo nem subjetivo, mas que se situa alm
(ou aqum) da diferena (p. 201-202).
O que define a unio das idias de Cassirer com as de Natorp que um orienta-se para uma
filosofia do homem na Filosofia das Formas Simblicas e o outro numa filosofia do 'Logos';
defendendo Cassirer que a crtica da razo deve se tornar crtica da cultura. Portanto,
deveremos considerar as diferentes produes da cultura espritual, a lngua, o conhecimento
cientfico, o mito, a religio, que, uma vez reconhecidas todas as suas diferenas, tornam-se os
membros de um nico conjunto problemtico e no, nica e exclusivamente, ao 'factum' das
cincias. A conseqncia disso que, enquanto Natorp se orientava para o problema da relao
do ser e do sentido, Cassirer dirige-se para o da experincia e do sentido, pois este pretende evitar
que sua correlao se perca num empirismo desprovido de unidade. Existe tambm uma outra
virada na Escola de Marburgo que quando Cassirer introduz o conceito hegeliano de 'mediao',
a partir do qual afirma que no na pura imediatidade 'passiva', mas em seu 'ato' que o esprito se
descobre a si prprio concomitantemente com a realidade. (p. 202, 203, 205). O que enaltece a
filosofia das formas simblicas na Escola de Marburgo o movimento do simbolismo, a
autopenetrao do pensamento, captado em sua histria, assim como a revelao das camadas que
fundam o saber, que as assume, a qual, na concepo resumida de Cassirer, est mais para uma
fenomenologia do conhecimento do que para uma metafsica (p. 207).
Tanto a evoluo das cincias quanto as crises polticas e morais ajudaram a precipitar
o desmembramento da Escola de Marburgo, mas preciso entender que enquanto essa situao se
mantivesse, podia-se falar de equilbrio e no de confuso. Porm, o que transformou seu
equilbrio em confuso foi sua ruptura; em virtude disso, no devemos afirmar que esse
desmembramento implique num juzo negativo sobre a obra da Escola de Marburgo, pois a
filosofia moderna inteira se depara com ele. Este o histrico vivenciado pela Escola de
Marburgo, mas que influencia nosso percurso filosfico. (p. 208-209).