Seleção de Poesia Beat (Beatnik)
Seleção de Poesia Beat (Beatnik)
Seleção de Poesia Beat (Beatnik)
Beat
Allen Ginsberg
Saudao a Fernando Pessoa
De cada vez que leio Pessoa penso
que me sa melhor do que ele fazendo a mesma coisa
de maneira mais extravagante - ele s vem de Portugal
eu sou da Amrica o maior pas do mundo
agora mesmo no final do sculo XX e se Portugal
teve um grande imprio no sculo 15 no interessa
agora encolhido a um canto da Pennsula Ibrica
enquanto Nova Iorque por exemplo, vejam Nova Iorque
e se a cidade do Mxico maior N.I. mais rica pensem no Empire State
Building at h pouco o maior arranha-cus do mundo seja como for eu gozei 61 anos do sculo XX
Pessoa desceu a rua do Ouro s at 1936
Ele apossou-se de Whitman por isso eu apossei-me de Pessoa no
interessa o que digam porque ele est morto e no se importaria
Como que me sa melhor que Pessoa?
Conhecido em 4 Continentes tenho 25 livros em ingls e ele s 3
em grande parte portugus, mas a culpa no dele Os EUA so um pas maior
uns meros 2 trilies condenados a passarem-se
o trabalho sujo de Reagan uma aberrao do Sculo Americano
no representando a nossa Nao que Whitman cantou em modo pico
embora preocupado com as "Democratic Vistas"
Como budista ficou pouco ufano da minha superioridade sobre Pessoa
Eu sou humilde Pessoa fazia uma diferena louca,
embora aparentemente paneleiro - igual a Scrates,
considerem Michelangelo Da Vinci Shakespeare
o inestimvel camarada Walt
Na verdade tambm fui suspeito na juventude uma mera bagatela
A prpria Cincia destri camadas de ozono nesta era anti-Estalinistas
envenenam a terra inteira com comunismo anti-radioactivo
Talvez eu tivesse fingido um pouco
raramente em verso, s parar proteger a reputao de outros
Francamente demasiado Cndido quanto minha me com boas intenes
Pessoa falou da me? Ela interessante,
poderosa para dar luz sxtuplos
Alberto Caeiro lvaro de Campos Ricardo Reis Bernardo Soares & Alexander
Search ao mesmo tempo
que Fernando Pessoa o prprio um sexofrnico clssico
1
Porque eu me assusto
Porque ergo a minha
voz e canto
ao meu eu amado
Porque vos amo sim
meu querido,
meu outro, minha
noiva viva
meu amigo, amo antigo
de suaves olhos
Porque perteno ao
Poder da vida & no
posso fazer nada
seno ceder
sensao de ser um
Perdido
Correndo ainda atrs da
excitao gozo
delicioso do
corao abdmen quadris
& coxas
Sem recusar meus
38a. 65kg de cabea
tronco & membros
Nem nenhumazinha de minhas
unhas Whitmanacas
Nem banir meus cabelos
pro inferno eterno,
Porque sob este manto mecnico
Confesso meu desejo inconfessvel.
Nova York, 1963
WHY IS GOD LOVE, JACK?
Because I lay my
head on pillows,
Because I weep in the
tombed studio
Because my heart
sinks below my navel
because I have an
old airy belly
filled with soft
sighing, and
remembered breast
sobs or
3
Michael McClure
GUIA NO RODAMOINHO
EU SOU UMA GUIA NO RODAMOINHO.
Sou a raposa da razo.
Tenho sido reverente verdade e traio.
Eu sou uma estrela na clara luz da lua.
Sou o que tropea.
Eu sou o cavalo da noite
correndo beira do voo.
Voc no vai me beijar,
no vai me abraar?
Por favor,
diga meu nome.
Eu sou a mo de Abril
com meus dedos feitos de fama.
Venha me beije na dobra.
Abenoe
minha
mente
boa noite.
Doce velha chama.
Doce velha chama.
Abenoe minha mente boa noite.
venha me beije na dobra.
Com meus dedos feitos de fama,
eu sou a mo de Abril.
Diga meu nome.
Por favor,
no vai me abraar?
Voc no vai me beijar?
Correndo beira do vo.
eu sou o cavalo da noite.
Sou o que tropea.
Eu sou uma estrela na clara luz do dia.
Tenho sido reverente verdade e traio.
Sou a raposa da razo.
Eu sou uma guia no rodamoinho.
O mistrio da caa
o mistrio da caa que me intriga,
Que nos impele como lemingues, mas cautelosos
Em busca de uma cintilante nuvem quadrada cheiro de limo verbena
Ou aprender as regras do jogo que a lontra marinha
Pratica nas ondas.
So essas coisas mnimas e o segredo por trs delas
Que enchem o corao.
O padro, o esprito, o demnio gneo
Que as une
E empurra sua liberdade nossos sentidos.
Aroma de arbusto, uma nuvem, a ao dos animais
A elevao, a exuberncia, quando o mistrio se revela.
So essas coisas mnimas
Que, trazidas viso, se tornam um inferno.
The mystery of the hunt
Its the mystery of the hunt that intrigues me,
That drives us like lemmings, but cautiously
The search for a bright square cloud the scent of lemon verbena
Or the rules for the game sea otters
Play in the surf.
It is these small things and the secret behind them
That fill the heart.
The pattern, the spirit, the fiery demon
That link them together
And pull their freedom into our senses,
The smell of a schrub, a cloud, the action of animals
The rising, the exuberance, when the mystery is unveiled.
It is these small things
That when brought into vision become an inferno.
Michael McClure
em Azougue especial poesia beat (Azougue Editorial)
Fonte da traduo: http://pordiaumpoema.blogspot.com.br//11/michael-mcclure.h
Jack Kerouac
ELE TEU AMIGO, DEIXE-O SONHAR...
Ele teu amigo, deixe-o sonhar;
Ele no teu irmo, no teu pai,
Ele no So Miguel, um cara.
Ele casado, trabalhador, vai dormir
No outro extremo do mundo,
Vai e pensa na grande noite europia.
Explicando ele, pra ti, do meu jeito, no do teu
Criana, Co Oua: ir encontrar a tua alma,
Ir sentir o cheiro do vento, vai longe.
A vida uma vergonha. Feche o livro, vamos l,
No escreva mais nas paredes, na lua,
O co, no mar, no fundo nevado.
V encontrar Deus noite, e as nuvens tambm.
Quando vai parar este grande crculo no crnio
de Neal; h homens, coisas, pra fazer l fora.
Enormes catacumbas de Atividade
No deserto da frica no corao,
Os anjos negros, as mulheres na cama
com seus belos braos abertos pra voc
em sua juventude, implorando alguma
Ternura na mesma mortalha.
As grandes nuvens de novos continentes,
Os ps cansados em climas misteriosos,
No desa para o outro lado em vo.
Jack Kerouac
Jack Kerouac
6. Refro
Este pensamento est parado.
Segredo do luar de Buda:
a Virtude Antiga de estocar
pensamento feliz e confortveis
reflexes Este, que a moderna
sociedade rotula como "Vadiar,"
disponibilizados para as pessoas agora
aparentemente apenas por lixo.
O eu depende da existncia de outro
o eu, e por isso no nico Eu Universal
existe nenhum eu, nenhum outro eu,
h inmeros eus, no
O Eu Universal e sem ideias
10
Jack Kerouac
em Mexico City Blues
Traduo de Jacqueline Arruda
...
11
7. Refro
Aquele Que Livre de Concepes Arbitrrias
do Ser ou No Ser
O gnio do Elefante
O Destruidor de Domadores de Elefantes
por Morte
O Destruidor de Elefantes por Morte
O Destruidor da Morte
O Destruidor e Exterminador
da Morte
Exterminador do Ser e No-Ser
Tathagata
A Essncia do Mestre
O tero
O Manifestador
O Homem fez a Essncia
A essncia fez o homem
O Criador da Luz
O Destruidor da Luz
7th Chorus
He Who is Free From Arbitrary Conceptions
of Being or Non-Being
The Genius of the Elephant
The Destroyer of Elephant-Trainers
by Death
The Destroyer of Elephants by Death
The Destroyer of Death
The Destroyer and Exterminator
of Death
Exterminator of Being and Non-Being
Tathagata
The Essence Master
The Womb
The Manifestor
Mans Made Essence
Essences Made Man
The Maker of Light
The Destroyer of Light
Jack Kerouac
em Mexico City Blues
Traduo de Jacqueline Arruda
12
64 REFRO
O anoitecer na Califrnia como o Mxico
As janelas com laranjas douradas
Toldos em retalhos esfarrapados
Como vestidos do antigo Perdido
Grande Peruano Princesas
Sob a forma de Putas de Preto
Desfilando pela calada
Exibindo brincos, doce perfume
Saudoso Weazel Warret
comerciantes
cansados de vender
do lado de fora de suas lojas parados no
limiar do anoitecer
antes de identificar detetives
eles no conseguem entender
nas nuvens de lata
e ferro zombando
marshmellows flutuando
acima das cabeas
Jack Kerouac
Traduo de Leonardo Morais
Fonte da traduo: http://www.mallarmargens.com//um-trovao-e-alguns-refroes-d
coro 113
Levantou e se vestiu
e saiu & se ajeitou na vida
Ento morreu e foi soterrado
na cova
HomemTudo j perfeito
13
Chorus 241
E que doce histria essa
Que a gente ouve Charlie Parker
Contar
Nos discos ou nas sessions
Ou nas canjas oficiais nos clubes
Picos no brao, segurando o estojo
Charmoso ele soprava sua
Lata
Perfeita
Sei l, no faz diferena
Charlie Parker, me perdoa
Me perdoa por no conseguir seu olhar
Por no ter falado jamais
14
15
Vises da Amrica
"Est passando por mim como um selvagem Prairie Fire",
Eu falo com Neal & Carolyn no vago de trem
enquanto ele corre atravs da noite do Arizona
Ns passamos por Yuma (Arizona) e vimos
todos os sinais de casamentos em drive in, o
Parsons Park (Califrnia) luzes de
tribunais de divrcio um pouco sombrios em uma rua,uma
rua americana, mais ampla do que qualquer outra
que eu tenha visto, entre 60 metros ou 48,
com tratores parados em fileiras
diagonais Senhor, estvamos em Yuma Arizona
e tnhamos Mesquite (Texas) ainda para cruzar
antes o cu ficasse acinzentado Eu segurava bem alto uma
garrafa de Moscatel(vinho), comprada em uma estalagem
sarnenta, & tomei outro gole
"Passando pela minha barriga como um prairie
fire", Eu disse, sentindo as ondas
chegarem como uma cachoeira caindo em minha
barriga, & nadar & propagar & trazer calor
a todo o meu interior, at que aquela felicidade
chegou e eu disse isso e to
sria e articulada na noite,
Carolyn, sentada entre N & eu,
disse, "Srio? me deixe tentar".
Jack Kerouac
// 1952
...
16
William Burroughs
EU TRABALHO PARA O BURACO NEGRO
Eu trabalho para o buraco negro
Onde nenhuma lei vlida.
Trabalhando para o buraco
Eu fao uma mula parir
Sou espio no convidado
Alma errante sem dado
Irrompo aqui
Irrompo ali
No tenho meta humana
Sou singular
No tenho eu humano
Nem humano paga meus impostos
Ou liberta meu eu
Sou fechadura sem chave
Uma singularidade
Eu trabalho para o buraco negro
Onde nenhuma lei vlida.
William S. Burroughs
em O livro invisvel de William Burroughs (Sol Negro Editora)
Traduo de Floriano Martins
Sobre o livro: O livro invisvel de William Burroughs uma colagem de textos do escritor
norte-americano e de Floriano Martins, montado como um dilogo teatral entre quatro
verses do autor de Almoo Nu. Os dois poemas acima, em traduo de Martins, so
extrados da obra.
Fonte da traduo: http://furiasdeorfeu.blogspot.com.br///William%20Burroughs
NO PECADO
Quando voc escutar to doce sncope
E a msica lamentar-se suavemente
No pecado arrancar sua pele
E danar ao redor de seus ossos
17
Gary Snyder
RRRML
A morte em si,
(Reator de Resfriamento Rpido por Metal Lquido)
gargalha, de p, chamando.
Dente de esmalte-plutnio.
Superclios zumbindo.
Cimitarra de talho fino.
Kl dana sobre a rola dura e morta.
Alumnio de latas, plstico de colheres,
compensado em folhas, PVC de canos, vinil de capas de assentos,
no queimam bem, e nem sequer apodrecem,
vertem-se sobre ns.
roupas e mantos
do Kl-yga
fim dos dias.
18
LMFBR
Death himself,
(Liquid Metal Fast Breeder Reactor)
stans grinning, beckoning.
Plutonium tooth-glow.
Eyebrows buzzing.
Strip-mining scythe.
Kl dances on the dead stiff cock.
Aluminium beer cans, plastic spoons,
plywood veneer, PVC pipe, vinyl seat covers,
dont exactly burn, dont quite rot,
flood over us,
robes and garbs
of the Kl-yga
end of days.
Gary Snyder
Traduo de Fabio Malavoglia
Fonte da traduo e do original: http://culturafm.cmais.com.br/radiometr//gary-snyderrrrml
19
...
20
Gregory Corso
Humanidade
Que simples profundidades
Que profundas simplicidades
Assentar-se entre as rvores
e respirar com elas
num murmrio bacana e na brisa
E como posso confiar neles
que poluem o cu
com parasos
e a terra com infernos
Bem, raa humana,
eu sou parte de voc
e assim meu filho
mas nenhum de ns
vai acreditar
nessa grande mentira infeliz
Humanity
What simple profundities
What profound simplicities
To sit down among the trees
and breathe with them
in murmur brool and breeze
And how can I trust them
who pollute the sky
with heavens
the below with hells
Well, humankind,
Im part of you
and so my son
but neither of us
will believe
your big sad lie
21
Gregory Corso
em Antologia Potica (Editora Nephelibata)
Traduo de Mrcio Simes
Fonte da traduo: http://furiasdeorfeu.blogspot.com.br//gregory-corso-poemas
HINO DO MAR
Minha me odeia meu mar
meu mar devo afirmar.
Eu a avisei contra isso
era o mnimo a ser dito.
22
23
COMO NO MORRER
Quando estou entre pessoas
e sinto que vou morrer
me desculpo
dizendo Preciso ir!
Ir aonde? querem saber
Eu no respondo
apenas caio fora
para longe deles
porque de alguma maneira
sentem que h algo errado
e nunca sabem o que fazer
e lhes assusta essa coisa repentina
Como maante
sentar
com as pessoas perguntando:
Voc est bem?
Precisa de algo?
Quer deitar?
Vs deuses! gente!
quem quer morrer no meio de gente?!
Especialmente quando no podem fazer porra nenhuma
Para o cinema para o cinema
para onde corro
quando sinto que vou morrer
At agora funcionou
Gregory Corso
24
Philip Lamantia
EU ESTOU CHEGANDO
Eu a estou seguindo rumo lua vacilante
ponte beira-mar
aos vales de incndios beatficos
s flores mortas no espelho do amor
aos homens devorando os minutos selvagens de um relgio
s mos brincando nos bolsos celestiais
e quele quarto escuro ao lado do castelo
de vozes juvenis cantando para a lua.
Quando nascer o sol ela viver em um cu
coberto de sangue de pardais
e envolto em tnicas da perdida decadncia.
Mas eu estou indo para a lua
e ela estar l em uma noite musical
em uma noite de gargalhadas flamejantes
queimando como uma estrada do meu crebro
derramando seu brao para dentro do lago lunar.
Philip Lamantia
se forem silenciadas
e sobrevivermos aos altares de sacrifcio
do deus automvel e das vulvas de ao
vertendo loucura molecular
por vrias camadas de p satnico
se a Mquina completa da multido algemada
no for dissolvida, voltando Terra
de onde seus elementos foram roubados
deveremos evocar
a Grande Onda Ocenica
Neter das guas
e o Rei Atlante e seus espritos-serpentes
tambm conhecidos como
Orco
Dagon & Draco
para que mandem ondas de mars calamitosas
de mil ps de altura, se preciso
para enterrar todas as cidades monstruosas de metal
e suas bilhes, bilionrias rodas de morte qumica!
Oh, William Blake!
tu podes inspecionar, se te aprazes,
esta lio da Varredura Geral de Aqurio
que o maravilhoso esprito de purificao terrena do Oceano
ir deter tais pesos e rapinagens
seu sangue metlico e pele muito fina
para nos ensinar a cano terrena de harmonias taostas!
Philip Lamantia
26
Carl Solomon
Resmungo confuso e gutural de um homem que leu demais
Kafca,
Strindberg,
Jack London,
Gogol,
Mike Gold,
Edward Everett Hale,
Heywood Broun,
Westbrook Pegler,
Jacques Vach,
Henri Miler,
Stalin,
Mao Ts-Tung,
Hitler,
Mussolini,
William Buckley,
Lawrence Ferlinghetti,
Estes e muitos outros
E o que eu ganhei em termos de sabedoria universal?
Nada.
A literatura no tem mais a oferecer do que os rostos sem expresso que a
gente encontra no metr... bvio que s um meio de matar o tempo, um
assunto para conversa. Estou entregando o jogo?
Mas no se pode dizer isso de qualquer coisa... o beisebol, tantas bolas
rebatidas? Onde est o que eu procuro? E eu estou procurando alguma coisa?
Digamos: eu leio para manter minhas mos ocupadas... para no me
masturbar.
Sou possudo pela linguagem e no tenho nada a dizer.
Porque no colecionar selos, piadas sujas ou trocadilhos?
Beber interminveis xcaras de caf ou entrar em um concurso de comedores
de tortas quase a mesma coisa.
Eu estou um pouco desapontado com Ferlinghetti. O verdadeiro Dada deveria
ter atravessado a Rssia no lombo de um cavalo.
Carl Solomon
em De repente, acidentes (L&PM Editores, 1985)
Traduo de Jos Thomaz Brum
Fonte da traduo: http://larvaspoesia.blogspot.com.br//resmungo-confuso-e-gu
27
Lawrence Ferlinghetti
O OLHO DO POETA OBSCENO VENDO...
O olho do poeta obsceno vendo
v a superfcie do mundo redondo
com seus telhados bbados
e pssaros de pau nos varais
e suas fmeas e machos feitos de barro
com pernas em fogo e peitos em boto
em camas rolantes
e suas rvores de mistrios
e seus parques de domingos no parque e
esttuas sem fala
e seus Estados Unidos
com suas cidades fantasmas e Ilhas Ellis vazias
e sua paisagem surrealista de
pradarias estpidas
supermercados subrbios
cemitrios com calefao
e catedrais que protestam
um mundo prova de beijo um mundo de
tampas de privada e txis
caubis de butique e virgens de Las Vegas
ndios sem terra e madames loucas por cinema
senadores anti-romanos e conformistas
[ conformados
e todos os outros fragmentos desbotados
do sonho imigrante real demais
e disperso
entre esse pessoal que toma banho de sol
Lawrence Ferlinghetti
em Vida sem fim - as minhas melhores poesias (editora brasiliense, 1984)
Traduo de Paulo Leminski
Fonte da traduo: http://www.culturapara.art.br//lawrencef/ferlinghetti.html
28
Roupa ntima
Ontem perdi meu sono
pensando sobre roupa ntima
Alguma vez parou para pensar sobre ela
no abstrato?
Se voc cavar mais fundo
pode ficar chocado
A roupa ntima um problema
para todos
Todos usam
roupa ntima
de um tipo u outro
O Papa usa (eu suponho)
O Governador da Louisiana usa
Eu vi ele na TV
Ele devia estar usando roupa ntima
apertada
do jeito que se retorcia
A roupa ntima pode te deixar no aperto
Voc j viu os anncios
roupa ntima para homens e mulheres
to parecida embora to diferente
A das mulheres, para no deixar cair
A das homens, para no deixar subir
A roupa ntima uma coisa
que homens e mulheres tm em comum
A roupa ntima tudo o que nos separa
Voc j viu os desenhos em trs cores
e crculos na virilha
para indicar a costura super forte
e o triplo stretch
que promete plena liberdade de ao?
No se decepcione
Tudo se baseia no sistema bi- partidrio
que no deixa muita liberdade de expresso
do jeito que as coisas so
Amrica na sua roupa ntima
luta ao longo da noite
A roupa ntima controla tudo no final
As vestimentas de base, por exemplo
So na verdade formas fascistas
do governo clandestino
para fazer acreditar em qualquer coisa
que no seja a verdade
te dizendo o que pode o que no pode
29
30
Diane di Prima
Rant
Voc no pode escrever uma nica linha s/ uma cosmologia
uma cosmogonia
posta, diante de todos os olhos
no h nenhuma parte de si prprio que voc possa separar
dizendo, isto memria, isto sensao
este o trabalho que me importa, isto como
sobrevivo
todo, um todo, sempre foi um todo
voc no faz ser assim
voc um apndice do trabalho, o trabalho deriva do,
pende do cu que criou
todo homem / toda mulher traz dentro um firmamento
& as estrelas nele no so as estrelas no cu
s/ imaginao no h memria
s/ imaginao no h sensao
s/ imaginao no h vontade, desejo
a histria uma arma viva na sua mo
& voc a imaginou, desse modo que voc
descobre por si prprio
a histria o sonho daquilo que pode ser,
a relao entre as coisas em um continuum
de imaginao
o que voc descobre por si prprio o que voc seleciona
de um mar infinito de possibilidade
ningum pode habitar seu mundo
porm ele no solitrio,
a base da imaginao o destemor
o discurso o videoteipe do filme de um jogo de sombras
mas as marionetes esto em suas mos
seus tabuleiros em um xadrez multidimensional
que adivinhao
& estratgia
a guerra que importa a guerra contra a imaginao
todas outras guerras esto subsumidas nela.
a fome derradeira a inanio
da imaginao
com certeza a morte, mas os no-mortos
buscam habitar o mundo de outra pessoa
a claustrofobia derradeira o silogismo
a claustrofobia derradeira tudo se encaixa
nada se encaixa & nada substitui
nenhuma outra coisa
31
33
RQUIEM
eu acredito
que voc no vai
achar o caixo
assim to bom
34
Baby-O.
Eles te amarraram
to apertado
eu ouo
a frio
e os vermes e as outras coisas
esto a por motivos prprios
eu acredito
que voc vai querer
virar de lado
seu cabelo
no dever
ficar onde est
para sempre
e as suas mos
no vo querer
ficar cruzadas
assim
eu acredito
que seus lbios
no gostaro disso
por eles mesmos
Diane Di Prima
Traduo de Andr Caramuru Aubert
Fonte da traduo: http://rascunho.gazetadopovo.com.br/diane-di-prima-2/
35
Robert Creeley
MAR
Sempre
para dormir,
a gua voltando.
*
As rochas direita,
pensando.
*
Garoto e cachorro
seguindo
pela beira.
*
De volta, a
primeira onda que vi.
*
Um velho na
beira dgua, calas
marrons enroladas nas pernas,
pernas brancas, e cabelos.
*
Leve desmaio
nuvens comeam
a vaguear por sobre
o sol, imperceptivelmente.
*
Galho preso
na areia, sapatos,
agasalho, cigarros.
*
Sem uma casa mais
para onde ir.
*
Mas aquela linha,
de cu e mar,
alguma coisa a mais.
*
Adis, gua
at um outro dia.
Traduo de Andr Caramuru Aubert
Fonte da traduo: http://rascunho.gazetadopovo.com.br/robert-creeley/
36
A Conspirao
Envie-me seus poemas,
enviarei os meus.
As coisas tendem a despertar
at entre uma mensagem, a esmo
Deixe-nos subitamente
proclamar a primavera. E rir
dos outros.
Todos os outros.
Tambm mandarei um retrato meu
Se voc me enviar o seu.
The Conspiracy
You send me your poems,
I'll send you mine.
Things tend to awaken
even through random communication
Let us suddenly
proclaim spring. And jeer
at the others,
all the others.
I will send a picture too
if you will send me one of you.
Robert Creeley
37
Charles Bukowski
Dinosauria, Ns
Nascidos como isso
Adentro isso
Enquanto as caras de giz sorriem
Enquanto a Sr Morte ri
Enquanto os elevadores quebram
Enquanto cenrios polticos dissolvem
Enquanto o empacotador do supermercado ganha um diploma universitrio
Enquanto peixes oleosos cospem fora suas presas oleosas
Enquanto o sol mascarado
Ns somos
Nascidos como isso
Adentro isso
Adentro essas guerras cuidadosamente loucas
Adentro a viso de janelas de fbricas quebradas de vazio
Adentro bares onde as pessoas no mais conversam umas com as outras
Adentro trocas de soco que acabam como tiroteios e esfaqueamentos
Nascidos adentro isso
Adentro hospitais que so to caros que mais barato morrer
Adentro advogados que cobram tanto que mais barato declarar culpa
Adentro um pas onde as cadeias esto cheias e os hospcios fechados
Adentro um lugar onde as massas promovem idiotas a heris ricos
Nascidos adentro isso
Andando e vivendo atravs disso
Morrendo por causa disso
Emudecidos por causa disso
Castrados
Depravados
Deserdados
Por causa disso
Enganados por isso
Usados por isso
Emputecidos por isso
Tornados loucos e doentes por isso
Tornados violentos
Tornados desumanos
Por isso
O corao enegrecido
Os dedos se estendem para a garganta
A arma
A faca
A bomba
Os dedos se estendem em direo a um deus irresponsivo
Os dedos se estendem para a garrafa
38
A plula
A plvora
Ns somos nascidos adentro essa lamentvel mortalidade
Ns somos nascidos adentro um governo h 60 anos em dvida
Que logo ser incapaz de pagar at mesmo os juros dessa dvida
E os bancos iro queimar
Dinheiro ser intil
Haver assassinato livre e impune nas ruas
Sero armas e quadrilhas nmades
Terra ser intil
Comida ser um rendimento decrescente
Fora nuclear ser tomada pela multido
Exploses iro continuamente sacudir a Terra
Homens-robs radioativos iro espreitar uns aos outros
Os ricos e os escolhidos iro assistir de plataformas espaciais
O Inferno de Dante se far parecer com um parque de diverses infantil
O Sol no ser visto e ser sempre noite
rvores iro morrer
Toda a vegetao ir morrer
Homens radioativos comero a carne de homens radioativos
O mar ser envenenado
Os lagos e rios iro sumir
Chuva ser o novo ouro
Os corpos em apodrecimento de homens e animais iro feder no vento escuro
Os ltimos poucos sobreviventes sero tomados por novas e terrveis doenas
E as plataformas espaciais sero destrudas pelo desgaste
O esgotamento dos suprimentos
O efeito natural do decaimento geral
E haver o mais bonito silncio jamais ouvido
Nascido fora disso.
O Sol ainda escondido
aguarda o prximo captulo.
Charles Bukowski
39
Charles Bukowski
Traduo de Alice Dias
40
seleo by LdeM
42