UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA

SETOR DE CINCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE HISTORIA

HENRIQUE SCHLUMBERGER VITCHMICHEN

WILLIAM VINICIUS VASCO

A EDUCAO ANTES DA REPBLICA

PONTA GROSSA
2015

HENRIQUE SCHLUMBERGER VITCHMICHEN

WILLIAM VINICIUS VASCO

A EDUCAO ANTES DA REPBLICA

TRABALHO APRESENTADO NO CURSO DE

LICENCIATURA EM HISTORIA

PROFESSOR: REGIS
CLEMENTE DA COSTA

PONTA GROSSA
2015

1 Os Jesutas e a nossa educao

A educao no Brasil tem inicio com a chegada dos jesutas chefiados pelo Padre
Manoel de Nobrega em 1549. Antes disso, nas populaes indgenas a educao no chegara
a se escolarizar. A participao direta da criana nas diferentes atividades tribais era quase
suficiente para a formao necessria quando atingisse a idade adulta Os padres que tinham
como misso principal a catequese dos povos indgenas e o arrebanhamento de almas,
dedicaram-se tambm a educao dos filhos das elites locais que chegaram no processo de
colonizao desta terra.
A primeira instituio educacional na Amrica portuguesa foi o colgio jesutico
fundado na Bahia em 1549, outras edificaes com o mesmo proposito foram levantadas ao
longo do litoral acompanhando a expanso dos missionrios, como o caso de So Paulo em
1554 e do Rio de Janeiro em 1560, as aes dos Jesutas contriburam para a fundao e
desenvolvimento dessas localidades enquanto cidades que recm despontaram.
Os funcionrios da coroa e demais habitantes que por algum motivo tivessem
enriquecido, estando longe da instruo da metrpole, financiavam a criao e a manuteno
desses colgios para garantir a educao de seus filhos.
Sobre um principio pedaggico das virtudes e letras, as instituies de ensino da
ordem jesutica tiveram o monoplio educacional por cerca de 210 anos, sob um conjunto de
regras educacionais norteadoras das praticas de ensino jesuticas denominado Regio
Studiorum, os colgios fomentavam o estudo das artes da potica e da retrica, contedos
aplicados predominantemente em latim com grande incentivo da leitura de textos sacros.
A instruo indgena se dava por meio da lngua nativa que foi aprendida pelos
padres, eles tambm buscavam um ensino catequtico pautado na inculturao, se apropriando
de e costumes e musicas dos nativos para transmitir os valores do evangelho. O Padre
Antnio Vieira certa vez disse que os ndios so como uma folha de papel em branco, ou seja,
adeptos ao aprendizado.

1.1 Perspectivas da educao Jesutica, educadores ou destruidores de Cultura?

O socilogo Gilberto Freyre em sua obra Casa-Grande e Senzala diz que difcil
reconhecer que os padres tenham agido com herosmo e lealdade aos seus ideais, Freyre

considera os Jesutas agentes europeus de desintegrao de valores nativos e afirma que sua
influencia foi deletria.
Em contra partida o tambm socilogo brasileiro Fernando Azevedo considera os
jesutas responsveis pela mais importante fase da histria da educao no Brasil. Em seu
livro A formao da Cultura Brasileira, Azevedo diz: A vinda dos padres jesutas em 1549
no marca s o inicio da historia da educao no Brasil, mas inaugura a primeira fase, a mais
longa e certamente a mais importante pelo vulto da obra realizada e, sobretudo pelas
consequncias que dela resultaram para nossa cultura e civilizao.

2 As reformas Pombalinas
O Marques de Pombal na qualidade de secretario do Estado e do Reino de D. Jos
I, sob forte inspirao do Iluminismo adota uma serie de medidas de reestruturao da poltica
portuguesa, entre elas as educacionais, havendo assim a mudana de uma mentalidade mais
religiosa para ideias pautadas nas luzes da razo, tirando assim a teologia do centro do
ensino.
As aes reformistas de Pombal no Imprio portugus ocasionaram mudanas
inclusive em nossa educao colonial. Em 3 de setembro de 1759 foi determinada a expulso
dos jesutas de Portugal e de seus domnios ultramarinos por meio de decreto.
A grande novidade nessas mudanas a instituio das cincias modernas como
possibilidade de estudos, como a matemtica e as filosofias moral e natural, o ensino passa a
priorizar os contedos que tenham certa utilidade e aplicao. Essas reformas foram em sua
grande parte idealizadas na Universidade de Coimbra, principal polo de formao das elites
politicas e intelectuais da Amrica portuguesa.
Ao expulsar os jesutas o governo torna a educao publica e laica, criando assim
o primeiro sistema de ensino governamental do Ocidente, a substituio dos jesutas no ensino
foi lenta e difcil, esse novo modelo de educao laica demorou a se concretizar.
Em 1772 foi criado um sistema de aulas regias, onde o professor pago pela coroa
dava aulas de determinadas disciplinas em suas casas ou em salas especificas, fazendo assim
com que o aluno se desloque para ter cada aula com seu respectivo professor. Porem a coroa
encontra grande dificuldade em encontrar professores para os colonos e muito mais ainda para
os indgenas devido s dificuldades lingusticas.

Mesmo diante da transio de modelos educacionais o nmero de estudantes da

colnia que ingressaram na universidade de Coimbra aumenta. Com a morte de D. Jos I
em 1777 o Marqus de Pombal afastado do cargo por divergncias com D. Maria I
sucessora ao trono.
Era escassa a difuso da cultura. O ensino primrio era pouco difundido por
mestres privados ou religiosos e o ensino de humanidades estava confiado aos professores
rgios, nomeados esparsamente para as cidades e vilas, mas sem nenhum sistema orgnico.
Alguns seminrios e escolas conventuais supriram o vcuo da extino dos colgios
jesuticos.
O curso superior de maior importncia era o criado no convento de Santo Antnio
do Rio de Janeiro, por ordem do rei, onde se divulgavam as letras clssicas, histria, filosofia
e teologia.

3 As elites universitrias
No ano de 1800 surgiu em Olinda, por iniciativa do Bispo Jos Joaquim da Cunha
de Azevedo Coutinho, um moderno seminrio onde, a par dos estudos religiosos, divulgaramse as cincias exatas e naturais. Foi importante fonte de cultura onde se ilustraram religiosos e
leigos de toda uma gerao.
Os que dispunham de fortuna, ou que obtinham bolsas de estudo, procuravam as
universidades europeias. Em Portugal, Coimbra chegou a receber mais de 3 mil brasileiros. O
Concelho Ultramarino era contrario difuso da cultura superior fora da Metrpole,
considerando vantajosa a formao uniforme da elite portuguesa.

4 A corte no Brasil

Em 1808, a famlia real portuguesa transferiu-se para o Brasil, para fugir do ataque
francs. A presena da corte portuguesa no Brasil, com todo o seu aparato, propiciou o
desencadeamento de transformaes na Colnia. Neste processo, foram abertos os portos
brasileiros ao comrcio exterior acabando com o monoplio portugus. Para suprir as
carncias oriundas do longo perodo colonial foram criadas vrias instituies de ensino

superior, com a finalidade estritamente utilitria, de carter profissional, visando formar os

quadros exigidos por essa nova situao. Assim, foram criados diversos cursos de nvel
superior: na Academia Real da Marinha (1808), Academia Real Militar (1810), Academia
Mdico-cirrgica da Bahia (1808) e Academia Mdico-cirrgica do Rio de Janeiro (1809).
Aps trs sculos de domnio poltico e explorao econmica do Brasil por parte de
Portugal, que manteve durante todo o perodo colonial uma posio parasitria em relao
produo brasileira, com o novo contexto da economia mundial, de expanso do capitalismo,
que impunha uma nova postura dos pases em relao produo e a comercializao, j no
era possvel suportar domnio de Portugal, que onerava os produtos brasileiros na disputa por
mercados e onerava a aquisio de mercadorias estrangeiras necessrias para o consumo
interno no Brasil.

5 Educao no Imprio Brasileiro

A Independncia brasileira foi conquistada em 1822, com base em acordos polticos de

interesse das elites regionais, compostas da camada senhorial brasileira, que entrava em
sintonia com o capitalismo europeu.
A Constituio outorgada em 1824, que durou todo o perodo imperial, destacava, com
respeito educao: A instruo primria gratuita para todos os cidados. Para dar
conta de gerar uma lei especifica para a instruo nacional, a Legislatura de 1826 promoveu
muitos debates sobre a educao popular, considerada premente pelos parlamentares.
Assim, em 15 de outubro de 1827, a Assembleia Legislativa aprovou a primeira lei
sobre a instruo pblica nacional do Imprio do Brasil, estabelecendo que em todas as
cidades, vilas e lugares populosos haver escolas de primeiras letras que forem necessrias
A mesma lei estabelecia o seguinte: os presidentes de provncia definiam os ordenados
dos professores; as escolas deviam ser de ensino mtuo; os professores que no tivessem
formao para ensinar deveriam providenciar a necessria preparao em curto prazo e s
prprias custas; determinava os contedos das disciplinas; devem ser ensinados os princpios
da moral crist e de doutrina da religio catlica e apostlica romana; deve ser dada

preferncia aos temas, no ensino de leitura, sobre a Constituio do Imprio e Histria do

Brasil.
Os relatrios do Ministro do Imprio Lino Coutinho de 1831 a 1836 denunciaram os
parcos resultados da implantao da Lei de 1827, mostrando o mau estado do ensino
elementar no pas. Argumentava que, apesar dos esforos e gastos do Estado no
estabelecimento e ampliao do ensino elementar, a responsabilidade pela precariedade do
ensino elementar era das municipalidades pela ineficiente administrao e fiscalizao, bem
como culpava os professores por desleixo e os alunos por vadiagem.
O Ato Adicional de 6 de agosto de 1834 instituiu as Assembleias Legislativas
provinciais com o poder de elaborar o seu prprio regimento, e, desde que estivesse em
harmonia com as imposies gerais do Estado, caber-lhe-ia legislar sobre a diviso civil,
judiciria e eclesistica local; legislar sobre a instruo pblica, repassando ao poder local o
direito de criar estabelecimentos prprios, alm de regulamentar e promover a educao
primria e secundria.
Graas descentralizao da educao atravs do Ato Adicional, em 1835 surgiu a
primeira Escola Normal do pas, em Niteri. Em seguida outras Escolas Normais foram
criadas visando melhorias no preparo do docente. Em 1836 foi criada a da Bahia, em 1845
a do Cear e, em 1846, a de So Paulo.
Em 1837, na cidade do Rio de Janeiro foi criado o Colgio Pedro II, onde funcionava
o Seminrio de So Joaquim. O Colgio Pedro II fornecia o diploma de bacharel, ttulo
necessrio na poca para cursar o nvel superior. Foram tambm criados nessa poca colgios
religiosos e alguns cursos de magistrio em nvel secundrio, exclusivamente masculinos. O
colgio de Pedro II era frequentado pela aristocracia, onde era oferecido o melhor ensino, a
melhor cultura, com o objetivo de formar as elites dirigentes. Por este motivo, era considerada
uma escola modelo para as demais no pas.
O Perodo Imperial serviu como difuso dos cursos de Direito (predominante no
ensino superior brasileiro), passagem obrigatria para os filhos da classe nobre que buscavam
um ttulo para reafirmar sua posio social. Das faculdades de direito saam os novos polticos
o que explica a despreocupao da classe dirigente com os problemas econmicos sociais. No
perodo de 1855 a 1864 as escolas de Direito receberam 8036 estudantes, as de Medicina
2682 e os cursos farmacuticos 533.

Na tentativa de resolver a situao de ensino, especialmente da escola pblicas, vrias

reformas aconteceram entre 1870 a 1880, que indicam uma intensificao dos cuidados do
governo com a educao primria, porm pouco efeito teve em termos prticos. Modificaes
somente ocorrem a partir de 1885, atravs do Plano Geral de Reforma que deu ateno
especial aos aspectos da fiscalizao de ensino, com a diviso da Provncia em distritos
escolares e a criao de um Conselho Diretor e de um Conselho de Instruo nos Municpios.
Em 1879, a reforma de Lencio de Carvalho instituiu a liberdade de ensino, o que
possibilitou o surgimento de colgios protestantes e positivistas.
Entre os vrios planos e reformas apresentadas durante o Imprio, destaca-se o Projeto
Rodolfo Dantas, em 1882, que tratou da falta de cooperao dos poderes gerais e tambm da
falta de mobilismo do Estado com respeito educao popular.
No final do Imprio, o quadro geral do ensino era de poucas Instituies Escolares,
com apenas alguns liceus provncias nas capitais, colgios privados bem instalados nas
principais cidades, cursos normais em quantidade insatisfatrias para as necessidades do pas.
Com o golpe republicano em 15 de novembro de 1889 o Imperador D. Pedro II foi
deposto e parte para o exilio com sua famlia, e assim consolidada pela nova Constituio
formando um regime presidencialista e representativo, nos moldes do sistema norteamericanos, a opo do Estado brasileiro foi pelo sistema federativo.

BIBLIOGRAFIA
RIBEIRO, Maria Lusa Santos, Histria da educao brasileira: a organizao escolar, So
Paulo, Cortez & Moraes, 1978.
BRASIL. Constituio (1824) Constituio Poltica do Imprio do Brazil. Rio de Janeiro,
1824.
WEREBE, Maria Jos Garcia. 30 Anos Depois - Grandezas e Misrias do Ensino no Brasil.
So Paulo, tica, 1994.

FREYRE, Gilberto. Casa-Grande & Senzala. Editora Record, Rio de Janeiro, 1998

AZEVEDO, Azevedo de. A Cultura Brasileira. 5. Ed., revista e ampliada. So Paulo.

Melhoramento, Editora da USP, 1971.
RODRIGUES, Francisco. Histria da Companhia de Jesus na Assistncia de Portugal. Tomo
I, volume 1. Porto: Apostolado da Imprensa, 1931.
CARVALHO, Laerte Ramos de. As Reformas Pombalinas da Instruo Pblica. So Paulo:
Saraiva: Ed. Universidade de So Paulo, 1978.
COSTA, Emlia Viotti da .Da Monarquia Repblica: Momentos Decisivos.Livraria Editora
Cincias Humanas. Segunda Edio.So Paulo, 1979.