Tratado Da Razão Crítica
Tratado Da Razão Crítica
Tratado Da Razão Crítica
m~fllrflllmlrl~~r
A COLEAO RECL
ATUAIS DA U
000503
1. MARTIN HEIDEGGER I
2. A. L. MACHADO NETO I
3. JEAN-PAUL SARTR:E:. J. ORGEL, ROGER GURAUDY. JEAN HYPPOLITE e JEAN PIERRE VIGIER I Marxismo e E:ri3tencia.U$7nO
(Controvrsias sobre a dialtlca)
4. C. R. BOXER I Relaes Racia$ no Imprio Colonial portugus
5. MARTIN HEIDEGGER I Sobre o Humanismo
6. JEAN VIET I Mtodos EstruturaZi$tas na.s Cincias Sociais
7. CLAUDE Ll1:VI-STRAUSS I AntrOpOlogia Estrutural
8. JEAN-PAUL SARTRE I ColoniaZismo e Neocolonialismo
9. MAURICE GODELIER I RacionaZidade e IrracionaZiiade
na Economl4
10. MAURICE MERLEAU-PONTY I Humanismo e Terror
11. MICHEL FOUCAULT I Doena Mental e PsiCOlogia
i2. GASTON BACHELARD I O Novo Esprito Cientlllco
13. HERBERT :M:ARCUSE I Materialismo H$t6rico e Existncia
14. ABRAHAM MOLES
Teoria da In/ormao e Percepo Esttica
15. JOS1!: GUILHERME MERQUIOR I Arte e Sociedade em Marcuse,
Adorno e Benjamin
16. EMIL STAIGER I Conceitos Fundamentllis da Potica
17. HANNS-ALBERT STEGER I As Universidaeles no Desenvolvimento
Social da Amrica
18.
Latina
19.
20.
21.
22.
23.
24.
25.
26.
27.
28.
29.
30.
31.
32.
33.
34.
35.
36.
37.
38.
39.
contem'IXJrdneol
/ Anctlise de Sistemas.
Tecnocracia
e Democracia
45.
46.
Dois
Este volume
c oor d en
EMMANUEL
e VAMIREH
HANS ALBERT
TRATADO
DA
RAZO
CRTICA
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Rio de Janeiro
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46
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Traduo de
IDALINA AZEVEDO DA SILVA,f'"
ERIKA GUDDE
MARIA Jos
P.
MONTEIRO
Capa de
ANTNIO DIAS
Dedicado a
KARLPOPPER
Direitos ,reservados
EDIES TEMPO BRASILEIRO
Rua Gago Coutinho, 61 (Laranjeiras)
Te!.: 225-8173
....RIO.DE.]ANEIRO
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LTDA.
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BRASIL
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SUMARIO
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Prefcio
Prefcio
segunda
edio
11
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I
Introduo:
RACIONALIDADE
E ENGAJAMENTO
14
22
22
24
24
33
Captulo
47
47
5.
6.
'"
Captulo
lI!:
CONHECIMENTO
E DECISAO
,lJ
9.
10.
11.
12.
54
58
63
76
Captulo
IV: ESPRITO
E SOCIEDADE
da ideologia
104
13.
O problema
14.
Ideologia
e metodologia;
crtica
da ideologia
em perspectiva
15.
16.
o problema
criticista
104
e a
da justificao
110
cientfico
da crtica
114
119
PREFACIO
Captulo
17.
11
V; F E SABER
teologia
18.
A desmitizao
19.
O problema
20.
Teo?ogta moderna,
Captulo
131
como empreendimento
da existncia
hennenutico
de Deus e a teologia
doutrina
moderna
..
e sociedade
eclesistica
21.
O problema
do sentido
22-:-
Pensamento
da teolog'ia
hennenutico;
Pensamento
analtico:
a fiLosofia
do sentido
na perspectiva
23.
na tradio
do historicismo
a filosofia
como
como
Captulo
161
161
164
anlise
da lin172
177
RACIONAL
192
O culto
mental
,26.
A esperana
utpica
27.
O recurso
culatria
145
criticista
25.
28.
O problema
134
139
continuao
guagel1L
24.
131
da revelao:
teologia
da catstro te:
ao interesse;
A idia da discusso
experi1nental
poltica
escatologia
aritmtica
racionaIs
e poHtica
poltica
poltica
192
195
e poltica
poltica e poltica
:
~.. ;
dialtica
sacra-
cal' ..
197
e poltica
.
205
Alguns mal-entendidos
que surgiram em discusses nos ltimos
tempos levaram-me
a realizar o plano, h muito elaborado, de escrever este livro, bem antes do que tencionava
em princpio. Esses
mal-entendidos
se referem ao racionalismo crtico, iniciado por Karl
Popper atravs dos seus trabalhos filosficos, um criticismo novo que
converge com uma srie de esforos que partem de outros representantes da filosofia e de determinados
mbitos do pensamento
cientifico, e ao qual muitos autores mais jovens se sentem ligados. Identificou-se esta concepo filosfica, sobretudo no campo da lngua
s.Jem. com um positivismo, cuja caracterizao,
por vezes, no est
de acordo cem as modernas concepes dos filsofos que pertenceram ao "Circulo de Viena", e, certamente,
nem com o racionalismo
crtico, o qual voltou-se claramente contra as teses essenciais do positivismo. Isto deve ser acentuado
ainda mais quando os prprios
crticos dessa concepo acham-se, em parte, ligados ao positivismo
hermenutico, que j h muito tempo enraizou-se no pensamento alemo, ou seja uma corrente que, at certo ponto, pode ser acusada
das limitaes do uso da razo, atribudas
ao criticismo, pois a racionaUdade crtica que dominava no pensamento
do Iluminismo abriu
caminho, sob a influncia de modos de pensamentos
procedentes das
repercusses do idealismo alemo depois de Rant, para uma razo pcrceptora de carter quase teolgico, a qual no pe criticamente
em
dvida a realidade dada, mas sim contenta-se
com uma reproduo
interpretativa,
e no teme por isso ir ao encontro das exigncias de
um pensamento
notoriamente
irracional
e cheio de insuficincias,
e
dedicado dissimulao, tal como se tem desenvolvido, por exemplo,
na moderna teologia protestante.
J que eu mesmo, h mais de 15 anos, dei algum crdito a
pensamentos
e em seguida simpatizei, por algum tempo, com
mas concepps do neopositivismo
e do empirismo
quais o impulso crtico do pensamento
do Iluminismo
se
com maior intel1"idade do que nas formas hermenuticas
11I
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und Wirtschattsordnung.
Grundlagenprobleme einer rationalen Ordnungspo litik, in "Gestaltungsprobleme der Weltwirtschaft. Festschrift
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,
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sal', encontro-me em situao favorvel no s para avaliar a corrente de onde provm os argumentos apresentados contra o racionalismo crtico, como tambm para avaliar a corrente qual esses
argumentos se dirigem .
Neste livro recorri, em parte, a trabalhos anteriores, sobretudo
aos seguintes Die Idee der kritischen Vernuntt. Zur Problematik der
rationalen Bergrndung und des Dogmatismus, in "Club Voltaire I",
editado por Gerhard Szczesny, Mnchen 1963; Theorie und praxis .
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PREFACIO
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EDIO
10
d:
SEGUNDA
blema da compreenso e - relacionado a isso - do separatismo metodolgico das cincias do esprito, e ainda, o problema muito censurado da interveno entre teoria e praxis, que nos apresentado
continuadamente pelos representantes da escola de Frankfurt, alis
sem que nestes se revelem solues razoavelmente claras. Parece-me,
ento, que a superao de limites para o aumento de possibilidades
de uma crtica construtiva um dos pontos essenciais de um criticismo que pretende superar o modelo clssico de racionalidade e as
tendncias, a ele ligadas, de separao ntida entre as reas de problemas, da imunizao de solues de problemas e sua defesa contra
a crtica relevante - sobretudo quando se tem a possibilidade de
classific-Ia como vinda "de fora".
Existem declaraes crticas feitas a este livro, das quais se pode
concluir que se confunde discusses com concepes, que sob quaisquer pontos de vista so consideradas como to importantes, a tal
ponto que a sua no -considerao vista como um erro imperdovel. Deste modo alguns leitores sentem .. evidentemente, a falta de
uma explicao da crtica da razo de Kant e determinadas correntes filosficas que dela partiram, e outros sentem falta de uma discusso sobre as vrias verses do marxismo. Pessoas um tanto precipitadas parecem at ter-se permitido a concluso de que eu no me
ocupei de Kant, e, devido a isso, descuidei-me dos seus problemas e
solues. Concluses deste tipo no so melhores por surgirem no
contexto de uma anlise qual no se pode atribuir somente uma
total incompreenso em relao problemtica tratada. Frente a
certos tipos de polmica no se pode confiar no leitor normal, o qual
no atormentado por motivos que so prprios para embaar seu
horizonte notico.
Em relao a isso eu pretendo apenas, mais uma vez, chamar a
ateno para o fato de que o racionalismo crtico no pode somente
ser caracterizado, em nenhum sentido relevante, como uma forma
de positivismo - cf. sobre isso minha discusso com a escola de
Frankfurt, in: AdornoIAlbertIDahrendortIHabermas/PilotlPopper.
Der
Positivismusstreit in der deutsche Soziologie, Neuwied/Berlin 1969 _,
mas que ele resultou, principalmente, de uma discusso sobre Kant e
determinadas formas de kantianismo, bem como de uma crtica de'
diferentes verses do positivismo. Para reconhecer este fato, basta
consultar os trabalhos de Karl R. Popper sobre o assunto. Mas no
levando isso em considerao, acredito poder exigir dos meus leitores,
conquanto tenham conhecimento profundo da filosofia de Kant, que
tirem certas concluses (no as mais difceis) por si meSmos. Pois este
12
INTRODUAO
RACIONALIDADE
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ri
~.
E ENGAJAMENTO
btliu, no pouco, para que nos descuidssemos da evoluo da moderna teoria do conhecimento, e que os princpios alemes neste sentido, que existiram por volta de 1920e no incio de 1930,foram esquecidos. O retorno a Hegel, que aps a Segunda Guerra Mundial se apresentou em parte como superao de Heidegger, pode talvez representar uma facllldade para o dilogo com o Leste (Europa e principalmente Alemanha Oriental), mas em todo caso ele no apropriado para sanar esta omisso e nos levar adiante. E a considerao que
se d a Wittgenstein somente porque suas obras pstumas e os trabalhos dos seus discpulos, em Oxford e em outras partes, parecem
mostrar uma forma de pensar que se assemelha ao hermenutico,
aqui estabelecido, nos leva antes a confirmar aquilo que deveramos
pr em dvida, do que a uma auto-reflexo que nos possibilite, finalmente, colocar em questo, na medida em que evita a argument,o racional, a reivindicao de profundidade ligada a qualquer
pensamento formulado em um jargo suficientemente obscuro, ou o
mais esotrico possvel - seja o jargo da autenticidade, o da coisificao ou o da alienao.
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no dialtica _ da concepo
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Um racionalismo crtico desse tipo no pode limitar a racionalidade somente esfera da cincia; tampouco ao mbito tcnicoeconmico, cuja utilidade costuma-se normalmente reconhecer; nem
tampouco pode consentir em parar diante de quaisquer fronteiras:
nem diante das fronteiras de disciplinas cientficas, nem das de
quaisquer reas sociais, que parecem estar imunizadas atravs de
hbito ou tradio, ou atravs de proteo consciente contra a citica
racional. Contra todas essas tendncias neutro-analticas, conservador-hermenuticas, dogmtico-apologticas e utpico-escatolgicas,
que podem ser encontradas hoje no pensamento filosfico e no teolgico, e, freqentem ente, tambm no pensamento cientfico, esse racionalismo crtico defende um modelo crtico de racionalidade que,
num sentido bem especfico, pode ser denominado de dialtco; no
entanto, no no sentido daqueles filsofos que se encontram sob a
influnca do pensamento hegeliano, e que costumam incessantemen_
mente assegurar-nos que nas suas reflexes (ta prpria coisa" se movimenta, enquanto outras pessoas teriam meras opinies a expor. Sob
ns perspectivas apresentadas eu empreendi a tentativa de indicar uma
relao entre a problemtica geral do conhecimento (caps. I e il),
o problema da moral (cap. Iil), a problemtica da ideologia (cap.
IV), os problemas que a teOlogia moderna nos apresenta (cap. V): a
problemtica do sentido acentuada pela hermenutica e pela analtica (cap. VI), e finalmente os problemas da poltica (cap. Vil), para
os quais resultam determinadas conseqncia a partir da viso criticista. De modo algum verdade, como afirmam, no mbito da lngua alem, os crticos dessa concepo filosfica, que ela estaria submetida a limitaes que lhe tornam impossvel o tratamento racionalde determinados problemas.
20
Quem argumenta dessa forma ter muito mais que mostrar quais
as alternativas possveis a partir da sua posio frente ao principio
aqui sugerido. Tambm para o criticismo esto estreitamente relacionadas a crtica do conhecimento e a da ideologia, a critica moral, a da
religio e a crtica social. No exame que se segue ser mostrado de
que maneira isso ocorre,
1 C. MORA, Jos Ferrater. Die drei Philosophien, in "Der Monat". 105, 1957.
2 Cf. TOPITSCH, Ernst. Soziologe der Existencialismus,
"Merkur" VII, 1953
p. 501.
o PROBLEMA
1.
DA FUNDAMENTAO
o princpio
da fundamentao
o,
a soluo
deste problema. suficiente
pressupe,
Caso esta idia metodolgica seja realizvel no campo do conhecimento ou em algum dos seus ramos, ento pode-se 'realmente saber,
no' respectivo campo, se a busca da verdade teve sucesso, e se se chegou a adquirir verdadeiras convices. E o que no se harmoniza
com elas - ou seja, com a respectiva concepo verdadeira _ o que
no compatvel COm estas ser, em conseqncia, no somente no
fundamentado,
Como tambm falso. Com isto parece estar concludo
o processo de conhecimento
para este campo. Os problemas esto
solucionados; suas solues deixam-se apreender, transmitir
e aplicar, sem que precisem novamente ser colocadas em questo. Disso parece resultar um outro princpio metodolgico do pensamento
racional, ou seja, a exigncia de aspirar quela verdadeira 'concepo
teoria certa para o respectivo ramo, e da a de recusar todas as alternativas possveis, pois para a verdade s pode haver evidentemente
falsas alternativas.
Em geral um pensamento em alternativas
parece
ser incompatvel com a idia da verdade. O postulado da fUndamentao suficiente est, aparentemente
ligado a um outro princpio:
o postulado do monismo terico. A verdadeira teoria para o campo do
pensamento em questo, ou para a parte da realidade a ser analisada tem que ser adquirida e suficientemente
fundamentada,
de maneira que se possa estar certo da sua verdade. A teoria clssica do
conhecimento
parece ter-se inspirado nesta concepo do pensamento raconal,. mas no somente ela, pois no se pOde absolutamente
falar que nesse nterim este fundamentalismo
tenha sido ultrapassado em todos os mbitos do pensamento.
Ele ainda est sUbjacente
hoje em muitas concepes metodolgicas na filOSOfia, nas cincias
e na praxis social, sem que isto seja dito claramente. Essas concepes se diferem freqentemente
em algumas particularidades,
sobretudo em sua resposta pergunta sobre o aspecto que tem uma
fundamentao
suficiente em particular, enquanto concordam na sua
origem, ou selja, na exigncia de uma tal fundamentao,
um fundamento do conhecimento e do agir.
2.
O princpio
chhausen
da fundamentao
suficiente
24
te na fundamentao
de concepes de toda espcie. O problema das
concluses lgicas pode ser visto, porm, como o tema central da lgica formal4. Ela nos informa sobre como se apresenta
um argumento dedutivo vlido, e o que ele desempenha.
Neste ponto recomenda-se algumas consideraes
a respeito.
Um argumento dedutivo vlido - uma deduo lgica - uma
seqncia de enunciados,
de premissa e concluses, entre os quals
existem determinadas
relaes lgicas, isto : uma concluso deduzvel das premissas em questo com a ajuda de regras lgicas. No
caso, "premissas" e "concluso" devem ser compreendidas
como conceitos relativos de deduo; elas se referem funo lgica dos enuncidos correspondentes
num determinado contexto de concluses, e no
ac enunciado "em si". Para os nossos objetivos - isto , no contexto
da nossa problemtica
da fundamentao
- so interessantes
algumas relaes simples, que so conhecidas na lgica formal:
1. Atravs da deduo lgica nunca se pode obter um contedo'.
O espao do enunciado em questo torna-se, no sentido da deduo,
respectivamente
maior ou permanece igual; seu contedo de informao torna-se ento menor ou permanece igual. De um conjunto de
enunciados s se pode tirar, atravs de processo dedutivo, a informao que j est contida nele. Um tal procedimento serve para "expremer" uma srie de enunciados, e no para produzir novas informaes. Isto significa, entre outras coisas, que enunciados de contedo
no podem ser deduzidos de enunciados analticos. Mas, ao contrrio,
de enunciados de contedo podem ser deduzidos enunciados
analticos, pois eles so dedutveis de quaisquer enunciados.
Que um enunciado possa ser logicamente deduzido de enunciados
informativos,
no diz nada sobre o seu prprio contedo. Por outro
lado, quaisquer enunciados podem ser deduzidos de enunciados contraditrioo".
2. Um argumento dedutivo vlido nada diz sobre a verdade dos
seus componentes,
e isto quer dizer exatamente:
em um tal argumento 'todos os componentes podem ser falsos, as premissas tambm
podem ser todas ou em parte falsas, e as concluses verdadeiras ou
falsas; apenas um caso no pode ocorrer: que premissas totalmen~
te verdadeiras
dem origem a concluses falsas. Caso todas as
missas sejam verdadeiras,
cr"to as concluses respectivas
eco.
respondentes
tambm o sero. Ou seja, um argumento
dedutivo
lido garante apenas: a) transferncia do valor positivo de
- da verdade - do conjunto de premissas para a concluso, e, conseqentemente, tambm: b) a 7'etrotransferncia do valor negativo
de verdade - da falsidade - da concluso para o conjunto de premissas.
. 3. Um argumento dedutivo sem valor proporciona uma concluso falsa, para o qual nenhuma garantia dada. Nenhuma combinao de valores de verdade positivos e negativos por isso impossvel aqui, para os componentes do argumento. E com isso terminam
as nossas observaes no campo da lgica.
Voltemos, ento, ao problema da fundamentao. Que papel pode desempenhar aqui a deduo lgica ? De acordo com o principio
acima enunciado, pOdemos partir do fato de que a finalidade ~o
procedimento da fundamentao deve constituir-se, em cada caso,
em assegurar a verdade das concepes em questo e, dessa forma,
a dos enunciados com os quais elas se formulam. A verdade _ o valor positivo da. verdade - , todavia, transmissvel atravs da deduo lgica. Procura-se a fundamentao de uma convico _ ..ou a
fundamentao de um conjunto de enunciados, ou seja, um sistema
de enunciados - atravs do remetimento a fundamentos seguros..,dessa forma indubitveis - atravs de meios lgicos, ou seja, com
a ajUda de dedues lgicas, e de tal maneira que todos os componentes do referido conjunto de enunciados resultem dessa base mediante concluses lgicas.
E'
mente como carentes de fundamentao, e o qual, por ser logicamente falho, conduz do mesmo modo a nenhuma base segura, e finalmente,
3. uma interrupo do procedimento em um determinado ponto,
o qual, ainda que parea realizvel'em:princpio, nos envolveria numa
suspenso arbitrria do princpio da fundamentao suficiente.
J que tanto um regresso infinito como tambm um crculo lgico
parecem ser evidentemente inaceitveis, existe a tendncia a aceitar
a terceira possibilidade, a interrupo do procedimento, porque uma
outra alternativa considerada como impossvel? Costuma-se, em
relao a enunciados nos quais se est disposto a interromper o proces.so da fundamentao, falar de auto-~vidncia, de autofundamentao, de fundamentao no conhecimento imediato - na intuio,
na vivncia ou experincia - ou descrever de outra maneira que se
est disposto a interromper o regresso da fundamentao num determinado ponto, e conseqentemente suspender o postulado da fundamentao neste,ponto, o qual ento denominado de ponto arquimdico do conhecimento. O processo completamente anlogo suspenso do princpio de causalidade atravs da introduo de uma
causa sui. Porm se uma convico ou enunciado que no pode ser
fundamentado por si s, mas que atua na fundamentao de todos
os outros, e que colocado como seguro, embora em princpio se possa
pr em dvida tudo - e at ele mesmo - ento esta seria urna afirmao, cuja verdade certa e por isso no carece de fundamentao,
ou seja, um dogma; ento a nossa terceira possibilidade se resume
naquilo que no se deveria esperar na soluo do problema da fundamentao: a fundamentao mediante o recurso a um dogma. A
procura do ponto arquimdico do conhecimento parece ter que terminar em dogmatisn:lO, pois em algum ponto teria que ser suspenso
o postulado da fundamentao da metodologia clssica8 Como se v
claramente, nem mesmo a retomada de quaisquer instncias extralingusticas ajudaria de algum modo neste context09. No se levandO
em conta os problemas especiais que podem surgir em relao a tais
instncias, ainda h sempre, em relao a elas, a possibilidade de se
indagr por uma fundamentao. Qualquer tese de autofundamentao de ltimas instncias desta espcie, como tambm as teses
correspondentes para determinados enunciados, tem que ser considerada como um disfarce para a resoluo de anular o princpio neste
cas. Parece, portanto, que tal resoluo seria indispensvel, de modo
que o dogmatismo a ela ligado ganha a aparnCia de um mal necesSri.o ou de inocuidade:
remover esse vu, mas "na medida em que a verdade nua se encontre descoberta diante dos nossos olhos, ns temos o poder de v-Ia, de
disting-Ia da falsidade e saber que ela a verdade". A esta teoria
do conhecimento, que tambm encontrada nos pensadores da antigidade clssica, estava ligada, como demonstra Karl Popper, uma
teoria ideolgica do erro, ou sej a, a concepo de que o erro carece
de explicao, enquanto que o conhecimento da verdade se entende
por si mesmo, e que as causas do erro devem ser procuradas no mbito da vontade, do interesse e do preconceito. A m vontade estorva,
de !.:ertomodo, o processo puro do conhecimento: a contemplao da
verdade. O interesse e o preconceito falseam o resultado, "intervm"
e prejudicam a revelao.
Aqui, pode-se falar, com certa razo, de uma pseudomorfose
da metodologia do pensamento crtico, do seu deseWTolvimento numa
roupagem determinada por maneira de pensar teolgica tradicional,
o que torna bem compreensvel o modelo do problema da fundamentao, acima esboado, pois quando o pensamento racional pode ser
llgado s ltimas realidade que lhes so transmitidas atravs de revelaes de qualquer espcie, ento parece que o recurso a fundamentos seguros foi bem sucedido, de acordo com o postulado da fundamentao suficiente acima mencionado, sem que em todo ele a
arbitrariedade humana esteja em jogo. Em con!.1ecimentos com carter de revelao, a parte da realidade correspondentE' surge de maneira imediata e evidente no campo visual do cop.hecedor, o qual deve ser imaginado como um receptor obediente, de maneira que no
se possa levantar nenhuma dvida. Alm disso, ele tem que aceitar
no somente o contedo, mas tambm o carter de revelao destes
conhecimentos; tem. que identific-los como revelaes. Mas no mo.
mento em que aparecem dvidas neste aspecto, movimenta-se a discusso em torno dos critrios adequados, e o recurso fundamentao interrompido parece, em princpio, ter possibilidade de continuao. A iluso do ponto arquimdico desapareceu.
O que diferencia as vrias verses do modelo de revelao , sobretudo, a jonte do conhecimento, que nelas, em cada caso, se distingue dessa maneira mas tambm o modo pelo qual o acesso a esta fonte
regulamentado. Sobretudo neste ltimo ponto aparece o carter soCiolgicoda teoria do conhecimento correspondente e, tambm, o fato
de que estas teorias de maneira alguma possuem a pureza filosfica e
a liberdade de todas as 'relaes empricas que os filsofos so inclinados a lhes outorgar. Uma revelao singular e sobrenatural,
toricamente ligada a um determinado crculo de pessoas, que
acessvel aos demais, e, conseqentemente, tambm s geraes posteriores, atravs de uma tradio parcIalmente fixada por meio da
escrita - um modelo de transmisso da verdade, difundido no pensamento teolgico das grandes religies - pode ser configurado de
modo completamente diverso, como sabemos, dentro de qualquer sentido social. A rigor deve ser fundamentada de uma vez por todas,
atravs deste modelo, uma verdade inaltervel e uma, nica vez revelada, da qual toda e qualquer crtica possa ser afastada, Mas atravs desta fixao no so de modo algum excludas todas as modificaes. O problema em si muito mais transferido para a identifi_
cao e interpretao desta revelao, isto , o que importa comprovar qual das afirmaes transmitidas na respectiva tradio possui
carter cannico, e qual delas deve ser vista como plena de revelao, e o carter como elas devem ser interpretadas para que este aparea puro e genunou Em lugar de uma anlise de questes objetivas
sem compromissos, surge nos pontos decisivos a exegese, a interpretao de textos que de alguma maneira foram previamente dados. Esta
interpretao , num determinado sentido, seletiva, e, , alm disso,
construtiva e por isso pode, em princpio, conduzir a concepes completamente diversas, sem que se estivesse sempre disposto a aceitlas12. Deste modo, problemas objetivos de caracteres diversos podem
ser autoritariamente solucionados pelas pessoas convocadas a isso,
atravs da configurao hermenutica, de modo que se projetam estas
solues, na medida do possvel, contra dvidas e objees.
Em relao a isso, surge constantemente a questo institucional
na sociedade correspondente: que pessoas estaro legitimadas a fornecer interpretaes normativas, obrigatrias. Assim um grupo relativamente fechado e hierarquicamente estruturado, uma burocracia
de peritos em religio ou em viso de mundo, consegue edificar um
monoplio da interpretao, de modo que ligao a determinada..,
convices originrias da revelao13 une-se a exigncia de obedincia aos mantenedores de posies sociais determinadas, que esto
legitimados para a interpretao da revelao, e que dispem da..,
mais variadas sanes para a imposio de suas exigncias (e conseqentemente tambm para a propagao de suas prprias idias de
crena), desde a imposio de castigos extraterrenos at os meios ,da
violncia fsica. Como um apogeu de desenvolvimento social e espiritual desta espcie pode-se considerar a apresentao de determinadas personalidades oficiais que possuem uma exigncia de infalibilidade para certas interpretaes por elas apresentadas e a fixao
dogmtica desta exigncia, e este um processo que evidencia de ma30
intelectuaZismo e empirismo
Dantes, ou seja, substitui-Ias pela autoridade dos sentidos ou do intelecto. Ambas as verses da teoria clssica do conhecimento tm em
comum a noo de um acesso imediato verdade - atravs de inteleco evidente da razo ou de observao cuidadosa. Algumas verdades so "dadas" ao conhecimento, e por isso devem ser aceitas.
A esta concepo est, evidentemente, ligada uma viso das fontes
de conhecimento como um critrio de validade, de modo que resulta
uma soluo simultnea do problema da origem e da validade. A
procedncia da razo ou da percepo vista como decisiva para a legitimao do conhecimento. Ela parece dot-Io de garantia de verdade e, com isso, conferir-lhe a segurana almejada, pois deve ser
possvel retornar a qualquer fundamento seguro, a qualquer fundamento inabalvel, para que se possa comprovar o todo. Na origem do
conhecimento, verdade e certeza esto relacionados, e a certeza
transmitida juntamente com a verdade para todos os outros conhecimentos, atravs do procedimento dedutivo escolhido. Com isso, como
se v, est' solucionado o trilema de Mnchhausen, anteriormente esboado, no sentido da terceira alternativa: suspenso do processo de
fundamentao em um determinado ponto, atravs do recurso a
convices que trazem o selo da verdade e que, por isso, so dignas
de crdito, a convices que so intocveis pois esto legitimadas
pelas novas autoridades. Em face desta situao, ou seja, do possvel
recurso a dados evidentes, que so revelados ao conhecedor atravs
da razo ou da percepo dos sentidos, o erro pode referir-se somente
a uma interveno ativa e ser tornado compreensvel por isso.
Descartes e Bacon no so os nicos representantes da teoria clssica do conhecimento que devem ser levados em considerao para
um exame critico. Tanto averso intelectualista quanto a emprica
continuaram a ser desenvolvidas, e neste desenvolvimento revelaramse as diversas dificuldades destas posies, e ento essas dificuldades
conduziram a tentativas de correo. Poder-se-ia, por exemplo, considerar o convencionalismo de Pierre Duhem e outros tericos da cincia como uma verso moderna do intelectualismo, e o positivismo
de Ernest Mach e dos membros do CrCulo de Viena como uma moderna verso do empirismo. Certamente no pode ser posto em dvida o fato de que tanto as teorias dos primeiros quanto as dos mais
tardios representantes da teoria clssica do conhecimento tenham
trazido algum progresso, e impossvel apreciar suficientemente esse
progresso de uma maneira breve. Mas pode-se discutir, com base no
esboo, anteriormente apresentado, das posies de Bacon e Descartes, Os problemas especiais que surgem necessriamente nas teorias
36
conhecimento deste tipo, ou seja, naquelas que no querem saificar o principio da fundamentao suficiente e que, por isso, se
efugiam num modelo de revelao, para tornar compreensivel a cereza das ltimas realidades dadas, que devem constituir o fundamento
o conhecimento.
A verso intelectualista da teoria clssica do conhecimento suervaloriza a especulao, o que se mostra, sobretudo, no fato de que
.ia procura sempre deslig-Ia consideravelmente do controle da exerincia. Ela quer chegar certeza atravs da pura inteleco raional, mas a provenincia da razo no pode ser tomada como garantia de verdade. Alguns juizos adquiridas atravs da intuio apreentaram-se, no decorrer da evoluo cientfica, como falsos, embora
les, anteriormente, se houvessem apresentado como evidentes. Isso
possivel em afirmaes tericas, pelo fato de que se consegue deuzir delas enunciados ou conseqncias contraditrias que, na ocaio da sua reviso, baseada no procedimento emprico, se mostram
insustentveis. Em um caso assim, a certeza intuitiva se apresenta
homo algo sem valor. Porm, se este foi o caso, ento recomendvel
desistir dela como critrio, pois esta situao pode repetir-se a qualquer momento. Do ponto de vista psicolgico, parece existir um relacionamento estreito entre a intuio e o hbito. Juizos intuitivos
trazem o selo da certeza sobretudo porque costumam corresponder aos
nossos hbitos de pensament029, os quais, como sabemos, no so de
modo algum sacrossantos. De qualquer modo no devemos consider-Ias desta forma, pois eles muitas vezes opem-se a novidades
tericas proveitosas, de forma que as hipteses que proporcionam o
desenvolvimento da cincia tm frequentemente um carter contraintuitivo30 Basta recordar aqui as dificuldades que existem na histria das cincias modernas para a aceitao de teorias revolucionrias, que Obrigaram a uma reviso de hbitos de pensamento profundamente arraigados. Um dos ltimos exemplos a teoria da relatividade de Einstein. Caso se queira resguardar as prprias convices
contra riscos desta espcie isto perfeitamente possvel, mas ocorre,
na maioria das vezes, com prejuzo do seu contedo e de sua fora
esclareced()ra, isto , com conseqncias que nem todos esto dispostos a aceitar. Intuitivamente nos inclinamos, na maioria das vezes, a conservar os nossos velhos preconceitos, muito mais do que a
aceitar inovaes de qualquer espcie. No necesrio premiar teorico,
cientificamente um comportament031
O processo derivativo preferido pelo intelectualismo clssico, a
-deduo, relativamente a-problemtico, mas sabemos que ela s
37
ento um carter sinttico, o que conduz, porm, a um problema insolvel, se se exige uma fundamentao indutiva para cada enunciado sinttic035. Chegamos, assim, questo da fundamentao do princpio de induo, ao trUema de Mnchhausen anteriormente apresentado, de modo que resulta, como nica pOSSibilidade praticvel, a
interrupo do procedimento em um determinado ponto. Mas isto
envolve um aprimorisma inconcilivel com as concepes empiristas, e
por certo que indiferentemente se se retoma um procedimento indutivo ou dedutivo para a fundamentao do princpio. O fato de
no ser possvel fundamentar teorias com base em observao, sem
o princpio da deduo, encontra' sua explicao no fato de que elas
vo sempre mais alm das observaes apresentadas ou existentes,
dado que excluem determinadas situaes possveis para todos os
campos espao-temporais36,
e de tal modo que delas provm frases
condicionais irreais, Tais teorias transcendem, respectivamente, as
experincias imediatas e seus correlatos lingsticos. Justamente por
isso, podem explicar fatos passveis de observao e, ainda, conduzir
previso de fatos at ento desconhecidos. Ademais, a formao
bem sucedida de teorias tem freqentemente at um carter contraindutivo, ou seja; conduz a enunciados tericos que colocam em
dvida as observaes feitas at ent037, que as explicam como enganos ou mostram como interpretaes falsas sua formulao.
Com isso, atingimos assim a chamada base factual da induo,
cuja pretensa segurana deve comprovar sua adequao como base
da fundamentao de teorias. A procedncia da percepo dos sentidos no oferece nenhuma garantia de verdade, e isto resulta do
fato de que as concepes apoiadas em percepes sempre se revelaram como falsas. Alm do mais podem ser constatadas contradies
em enunciados de observao de uma mesma pessoa38 fato conhecido que observadores diferentes podem Chegar a resultados diversos.
Alm disso, pode ser constatado que as percepes costumam estar
altamente impregnadas e orientadas pela teoria39 Isto significa, entre outras coisas, que sob a influncia de teorias dominantes se podem
formar disposies e hbitos de observao que favorecem a obteno
de resultados de observao de acordo com a teoria, uma possibilidaae
qual ainda voltaremos4o Para isso no de modo algum necessrio
que os referidos elementos tericos tenham o carter de dominantes
da conscincia41 Justamente aquele que, no sentido do indutivismo
clssico, almeja elaborar uma base de observao, liberta de teorias,
para a posterior formao de uma teoria resultante de um proceder
indutivo, far de preferncia observaes que comprovam seus pre ..
39
NOTAS AO CAPTULO I
1 Ci. sobre isso DESCARTES, Ren. "Meditationen
Philosophie"
... e eu vou insistir at que consiga algo certo ou, pelo menos,
se no houver outra forma, que eu reconhea como certo o fato
de que no existe nada de certo. Se Arquimedes exige nada
mais que um ponto esttico e firme para movimentar toda a
terra do seu lugar, ento eu posso esperar muito se encontrar
apenas um mnimo que seja seguro e inabalvel.
Esta' aspirao certeza, a um fundamento seguro, se mostra claramente em outros filsofos; cf. por exemplo FlCHTE, Johann Gottlieb.
"Grusdlage der gesamten Wissenschattslehre"
(1794), ed. Meiner, Ham~
burgo, 1956. p. 11 e s, ou os trabalhos de Hugo Dingler.
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(1641):
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P. 193 s.
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40
41
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in:.....::F";",(~j;,!iijt~~~-
CARNAP,
p.Cf.184,
teoremasRudolf.
52.7 e "The
52.8. Logical Syntax of Language". London, 1937,
42
Isto foi visto por Blaise Pascal muito claramente; cf. seu ensaio: "Vom
Geiste der Geometrie" (1658), Darmstadt, 1948, no qual o "verdadeiro
mtodo" do exerccio da demonstrao, que consiste em "definir todos os
conceitos e demonstrar todas as afirmaes" conduzido ad absurdum,
porque ele envolveria um regresso infinito: cf. a obra citada, p. 19S:-Em
relao a essa problemtica cf. tambm BARTLEY II!, Warren. "The
Retrat to Commitment". New York, 1962,sobretudo os captulos IV e V.
KnOWledge.London,
1963.
11 Sobre o
princpio
o jesuita
vinismo;
12
Sobre as prticas de interpretao habituais no mbito cristo, cf. sobretudo a anlise crtica de Walter Kaufmann, no seu livro que at agora
foi to pouco considerado pelos telogos: "Religion und Philosophie" (1958).
Mnchen, 195, c. 5 a 10. Ver tambm o ivro de BARTLEY, citado na
nota 8.
15. Cf. o meu trabalho Ethik und Meta-Ethik. Das Dilemma der analytschen
Moralphilosophie. In "Archiv fr Philosophie 11", 1961.
16 Cf. TREVER-ROPER, H.R. "Religion, the Relormatiorn and Social
Change",no
volume do mesmo nome, London/Melbolirne/Toronto 1967,
onde sobretudo a tese de Weber-Tawney sobre a relao entre calvinismo
e capitalismo submetida a critrios, assim como seu trabalho "The Religious Origins 01 the Englightenment",
no mesmo volume, onde corrigida a tese influncia positiva do calvinismo sobre a cincia e a filosofia,
e, finalmente, a meticulosa anlise das bruxarias, fortemente desenvolvida no tempo da Reforma e Contra-Reforma in: "The European Witchcraze of the Sixteenth and Seventeenth Centuries" no mesmo volume.
17 Especialmente no mbito luterano, a liberdade de conscincia conservouse em fronteiras muito estreitas; ela estava ligada, no sentido poltico,
a um pensamento extraordinariamente rico em conseqncias, orientado
para a autoridade superior. Cf. KUPISCH, Karl. Protestantismus und
Zeitverstndnis.
Politische Aspekte
deutsche und i11;temationale Politik",
der Reformation.ln
"Bltter
fr
43
18
1967.
31
22
1948. p. 83.
(1637).
1962.
Mai~
Cf. ROD, Wolfang. "Descartes. Die innere Genesis des cartesischen Systems". Mnchen/Basel, 1964, onde destacada a significao do problema
24
25
26
27
1962.
(1620),
Darmstadt,
28 Df. POPPER, Karl R, anteriormente citado, p. 53. Esta teoria do conhecimento fundamentalmente, de acordo com a sua concepo, uma doutrina religiosa, na qual a autoridade divina a fonte de todo saber.
29
Englewood Cliffs,
44
1962.
s,
por
94
32 Cf. o pargrafo 2.
33 Cf. FEIGL, Herbert. "Validation and vindication", anteriormente citado,
p. 672 s., bem como LAKATOS, Imre. Injinite Regress and Founations
of Mathematics. In "The AristoteZian Society" (Supplementary Volum
XXXVI). London, 1962, onde, p. 168, analisado o papel da intuio
lgica no pensamento da fundamentao.
34 Cf. HUME, David. "A Treatise on Human Nature (1738)". London, 1911.
Vol. I, Livro I, Parte rIr, Seco IV: 01 the Inference from to Impression
to the Idea, p. 89 S.
35
Isto foi mostrado por Karl R Popper no capo I da sua "Logik der Fors(1934), p. 3 s., onde, para este problema, foi apontado o dilema
entre regresso infinito e apriorismo.
chung"
36
citada,
C.
e e
e anexo 10,
p. 374 S.
Mind LXXV
Die Zielsetzung
der Erfahrung8Wissenschaft.
Ttibringen,
p.
1964.
s, FEYERABEND, Paul.
editado por
s, e AGASSI, Joseph. "Sen79
CUffs,
1965.
p.
152
n.o 207. p. 10 S.
em FEYERAEn,Utaten. ln
"Problem der Wissnschajtstheorie
(Festschrift lilr Viktor Kroft)". Editado por Ernst Topitsch, 1960. p. 55, e a anlise desses experimentos.
39 Sabemos hoje atravs da pesquisa psicolgica que a percepo dependente dO contexto, e que ao contexto pertencem tambm fatores cognitivos, que costumam ser denominados de "atitudes" (set) , "expectativas"
(expectancy), "hipteses" e assim por diante; cf. por exemplo DEMBER,
William N. "The Psicology of Perception".
New York/Chicago/San
Francisco/Toronto, 1960. p. 271 s. A conhecida hiptese de Whorf sobre a influncia do limite lingstico pode, como constata Dember, ser
vista como um caso especial da tese mais geral sobre a relao entre a
atitude (set) e a percepo; cf. a obra anteriormente citada, p. 290 s.
Para uma anlise da significao gnoseolgica de tais fatos cf. BOHNEN,
Alfred. "Zur Kritik des modernen Empirismus. Beobachtungssprache,
Beobachtungstatsachen
und Theorien".
RevoZution". Chicago,
1962.
45
41
42
Na mesma poca em que se formou a moderna cincia natural, desenvolveu-seuma demonologia sistemtica, qual dificilmente se pode J;legar
uma fundamentao indutiva, e que foi ento aceita, de fato, como verdadeira cincia; cf. TREVER-ROPER,H.R. "The European Witch-craze
of the Sixteenth and Seventeenth Centuries", na obra anteriormente citada, onde ele mostra.alm de outras coisas, como esta "teoria" atuou
na elaborao do material de comprovao que a sustenta, de maneira
que uma refutao efetivo dificlmente aparece; cf. tambm FEYERABEND, Paul K. "Knowledge without Foundations". Oberlin/Ohio, 1961.
p; 20 s.
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A IDIA DA CRTICA
5.
Superao do dogmatismo:
o princpio
da verificao
crtica
A metOdologia clssica, como se apresenta na teoria do conhecimento do racionalismo clssico - nas suas variantes intelectualista e
empirista - era, na verdade, com j vimos, uma metodologia orientada segundo uma verso metodolgica do principio da razo suficiente, segundo a idia de que cada concepo, cada convico, cada
crena tm que ser justificada atravs do recurso a bases positivas
e seguras, a um fundamento inabalvel. Se se quisesse evitar um regresso infinito ou um crculo no restaria nada alm do recurso a
dados ltimos e indubitveis, de qualquer espcie, cuja certeza poderia, na melhor das hipteses, tornar-se plausvel mediante a referncia ao seu carter de revelao. O processo de fundamentao teria que conter uma concluso dogmtica. Disso resulta imediatamente a dificuldade de que, a partir justamente do postulado metdico bsico da teoria clssica, se d o direito de pr em dvida o j
alcanado ponto arquimdico e, com isso, a base de todo o procedimental. A referncia ao carter de revelao de determinados jUzos
no tem nenhuma importncia nesse aspecto, pois afinal o reconhecedor tem que decidir se est disposto a reConhecer certos juzos de.,.
terminados e conjecturais como revelaes. Um tal reconhecimento
sempre uma apreciao, - indiferentemente se se tratam de revelaes divinas ou sobrenaturais, ou revelaes naturais, obtidas atravs da razo ou dos sentidos - um julgamento que classifica os juzos que se referem a ele num contexto mais amplo, e portanto anula
a sua funo como ltimo pressuposto. Dentro de uma metodologia
que se apia no postulado da fundamentao , com se pode ver,
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CAPTULO Ir
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mana ao COnhecimento da realidade e; conseqentemente, da' verdade. A aceitao de um determinado mtodo, inclusive do mtodo
da verificao crttca, envolve uma deciso moral17, pois ela significa
R aceitao de uma praxis metdica muito importante
para a vida
social, de uma praxis que de grande relevncia no somente para
a formao, proposio, elaborao e verificao de teorias, mas tambm para a sua utilizao e, conseqentemente, para o conhecimento.
O modelo de racionalidade do criticismo o projeto de um modo de
vida, de uma praxis social e, por isso, tem significao tica e, mais
que tudo, poltica. No , de modo algum, um exagero, mas to somente o registro de uma relao simples e de fcil entendimento,
quando se aponta que o princpio da verificao crtica estabelece,
entre outras, uma ligao entre lgica e poltica.
Se voltamos acima citada diferena entre contextos de descobrimento e de fundamentao, podemos constatar que ela s til,
no mbito da nossa concepo, enquanto pode ser compatvel, tanto
com uma rejeio do naturalismo metodolgico, quanto com uma
superao do formalismo metodolgico, a ela associado. A metodologia da cincia tem que fornecer pontos de vista crticos para a avaliao da praxis cientfica e, como isso, dirigir a praxis de uma crtica
que promova o progresso do conhecimento humano, na medida em
que possibilita a eviso de concepes errneas. Ela formula a moral do pensamento e do trabalho cientfico, sem necessitar, indispensavelmente, de proposies normativas.
7.
O pensamento dialtico:
a busca de contradie.s
J tnhamos visto que a orientao, na idia clssica da fundamentao, termina numa preferncia por estratgias conservadoras
no processo de conhecimento, e isso significa: o prmio a um comportamento adequado, que tende a proteger velhos erros contra uma
crtica relevante e contra inovaes e, por meio disso, a sua conservao. Com isso impedido o progresso do conhecimento, que se impe
de modo contra-intuitivo e de modo contra-indutivo, contra verdades bem fundamentadas, segundo a concepo atual. Uma metodologia crtica pode partir do fato de que o progresso do conhecimento
exige, respectivamente, a superao dos velhos e j arraigados hbitos
de percepo e de pensamento, que em conformdade com um princpio social e pSquico de inrcia tm a tendncia geral de resistir a cada
uma dessas mudanas e, na verdade, quanto mais forte for a resis"58
do se quer chegar verdade, no neceSsrio o recurso a fundamentos ltimos e seguros, mas a busca de instncias relevantes que sejam incomiPatveis, ou seja, a busca de contradies.
r'
Quando se quer determinar o papel da lgica num tal procedimento, poder-se- dizer que ela aqui no considerada como instrumento da fundamentao positiva, mas como rgo da crtica21
De acordo com isto, esta metodologia no est orientada, como a
clssica, segundo o postulado da fundamentao suficiente, mas muito
mais segundo uma verso metodolgica do postulado da contradio
excluda, o qual talvez possa ser formulado da seguinte maneira: procura sempre contradies relevantes, para expor convices, at ento vlidas, ao risco do fracasso a fim de que tenham a chance de
por-se prova e super-Ia. Esta busca no recomendada pelo fato
de que as contradies sejam desejveis por si mesmas e tenham que
ser mantidas, ou porque deste modo se poderia satisfazer melhor o carter contraditrio da realidade, mas sim, justamente, porque no princpio da ausncia de contradio tem-se a possibilidade
de rever as prprias convices22.Esse princpio , portanto, utilizado
aqui de modo um tanto indireto, no que diz respeito ao mtodo, isto ,
no de uma maneira que Signifique que se d simplesmente por satisfeito com todo sistema livre de contradio, o que seria uma questo relativamente simples e cmoda, mas de tal forma que se procurem contradies para provocar uma maior evoluo do pensamento. A exigncia de reviso resulta do fato de no se poder eliminar o princpiO da ausncia de contradio sem a conseqncia, extremamente desagradvel, de que ento quaisquer enunciados se tornam possveis23.
Caso se utilize este princpio na forma indicad.a, resulta da,
ento, um mtodo que pode ser, com certa razo, denominado de
"dialtico", e em verdade num sentido claro e inequvoco, que corresponde a uma antiga tradio filosfica24. As confuses que foram
provocadas atravs das escapadas filosficas do idealismo alemo,
com a utilizao do termo "dialtica"25, pOderiam ser um motivo para
que se evitasse este vocbulo, mas uma renncia a seu uso desnecessria, enquanto no surge nenhuma confuso de sentido. J a
dialtica pr-socrtica, mais exatamente a da escola eletica,
operava com a propOSio de "hipteses" e com o, assim chamado,
mtodo indireto de comprovao, que tinha como meta deduzir con.tradies com a finalidade de concluir sobre a falsidade de determinados enunciados26, mtodo que encontrou eco sobretudo no pensamento matemtico. A idia de usar metodicamente o contexto lgico,
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ideal para a construo de uma cincia, s foram providos da reivinclicao de uma verdade indubitvel muito mais tarde, e conseqentemente dogmatizados, at que a descoberta da geometria noeuclidiana retirou-Ihes esse status. Apesar deste abalo nos conhecimentos, at ento tiaos como vlidos, o ideal de axiomatizao con~
tinuou ligado, na maioria das vezes, idia da fundamentao. Acre.,
ditava-se poder esperar maior certeza de um "aprofundamento dos
fundamentos dos campos isolados do saber"29, com a ajuda do mtodo axiomtico. Pelo menos no mbito mais estreito da matemtica
e da meta-matemtica, o ideal de certeza permaneceu, na maioria das
vezes, incontestvel. Somente agora o 'falibilismo inicial parece se
estender tambm a este campo do saber .. depois que falharam todos
os programas de fundamenta03o. Tambm a matemtica no parece ser nenhuma ilha de segurana no meio do mar dos nossos conhecimento, que so por demais falveis. !"ortanto, ns temos todo
motivo para repensar o papel do pensamento axiomtico e o significado do ideal axiomtico na construo de todos os campos do saber.
Sempre que por trs do ideal da construo axiomtica de toda
cincia, ou sej a, de sua construo como um clculo, onde todas as
relaes de dependncia lgica so transparentes e controlveis, se
encontre a concepo fundamentalista de que atravs da sua realizao evitam-se, de uma vez por todas, contradies, diversidades de
opinio e controvrsias, e tambm a idia de que todas as decises
no mbito do conhecimento, ou at alm disso, pOdem ser substitudas, de certo modo, por clculos, idia que evidentemente se destacou
no pensamento filosfico - por exemplo, em Leibniz31 e seus seguidores - deparamo-nos com uma utopia epistemolgica que, de fato e
contra a inteno dos seus defensores, pode ser considerada como a
expresso conseqente de um modelo esttico de racionalidade, de
um modelo que, nos seus aspectos essenciais, no compatvel com
o ideal do mtodo crtico e - no sentido expresso acima _ dialtico.
Alis, no mbito deste mtodo so possveis axiomatizaes como
elementos Provisrios do andamento do processo do conhecimento
cientfico, pois o indispensvel princpio da ausncia de contradio
de modo algum rejeitado, e sim, de um certo modo, aproveitado
metodicamente. Aqui se trata, como ns vimos, no de uma dialticaque deve superar a lgica, mas de utna dialtica que utiliza a
lgica de maneira proveitosa para a evoluo do conhecimento, sem
com isso partir da suposio de que sentido, capacidade de verdade
e possibilidade de deciso esto sempre juntos, e de que uma deciso
Construo e crtica:
pluralismo
terico
Para a anlise das conseqncias do racionalismo crtico no mbito da teoria da cincia, pode-se partir do fato de que se aspira,
no pensamento cientfico ao conhecimento das condies do mundo
real e, conseqentemente, a teorias que possuam grande fora de
elucidao e que penetrem profundamente na estrutura da realidade32; teorias que, podemos supor, se aproximem, o mais possvel, da
verdade, embora nunca possamos alcanar a certeza nesse sentido.
J da resulta que fundamentalmente no vem ao caso a origem de
tais teorias, mas sim a sua capacidade de desempenho e a possibilidade ,de verific-Ias. Isto significa, entre outras coisas, que a provenincia de concepes metafsicas no mbito da teoria da cincia
do criticismo no deve ser concebida como uma mcula, j que
tais concepes - pense-se somente nas dos pr-socrticos33 _ se
comprovaram em parte como extraordinariamente fecundas do ponto
de vista cientfico. A cincia no evolui nem pela deduo de verdades seguras a partir de intuies evidentes e com a ajuda de procedimento dedutivos, nem atravs da inferncia de tais conhecimentos
a partir de percepes evidentes e com a utilizao de processos indutivos, mas sim, muito mais, pela especulao e pela argumentao
racional, por construo e crtica e, em ambos Os aspectos, as concepes metafsicas podem ganhar significao: atravs do fornecimento de idias contra-indutivas e contra-intuitivas, para quebrar
os nossos hbitos de pensar e perceber, e para esboar possibilidades
alternativas de' explicao dos contextos reais, a partir das quais
possvel uma elucidao crtica das convices at ento vlidas34
Em oposio a uma metafsica construtiva e crtica, uma metafsica
dogmtica, que s foi desenvolvida para conservar o atual estado do
pensamento cientfico, ou que se isola completamente do pensamento cientfico, a fim de poder conservar intocada uma viso de
mundo imune contra possveis resultados de pesquisas de qualquer
espcie, no presta nenhum servio cincia nem ao conhecmento.
Depois que as teses da falta de sentido do positivsmo se mostraram
questionveis, convm pr em relevo a relao entre cincia e meta'fsica, e o significado efetivo da especulao filosfica para o conhecimento. No importa aqui o avaliar totalmente em si e para si as
concepes metafsicas apenas, mas verificar as diferenas relevantes
62
63
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ntre elas para que se tenha a possibilidade de aproveitar o seu potencial especulativo e crtico para a evoluo do conhecimento.
Se importante desenvolver amplas teorias de grande fora de
elucidao, ento j resulta da um possvel proveito da especulao
metafsica,ou seja, mediante o fato de que nela sempre surgem teorias amplas para a interpretao da realidade, mesmo que seja em
forma de esboo, as quais, em certas circunstncias, podem tornarse interessantes para a elaborao cientfica da teoria. Talvez elas
no sejam imediatamente aplicveis e, com isso, tambm no sejam verificveis, mas elas contm, no obstante, aspectos elucidativos e, conseqentemente, programas de pesquisa para a cincia, os
quais podem conduzir a teorias substanciosas e verificveis35. Para
isso necessrio no conceber idias metafsicas como juzos intuitivos vlidos, em princpio, - talvez porque eles no sejam refutveis por meio de fatos - mas sim, esforar-se para desenvolv-Ias
em teorias refutveis, que possam concorrer com as atuais teorias
da cincia, pois o fato de que tais concepes paream, nesse sentido, estar fora de concorrncia, deve ser visto luz do princpio da
verificao crtica e, sem dvida, como uma carncia que vale a
pena ser eliminada. Por outro lado, resulta tambm disso a esterilidade de todas as tentativas de inibir o aperfeioamento de tais
concepes - talvez porque elas no correspondam s teorias at
ento estabeleci das - na fase embrionria do seu desenvolvimento.
A circunstncia de que concepes metafsicas no podem falhar
de maneira imediata em relao aos fatos, no motivo suficiente
, para no lev-Ias a srio, j que elas podem ser incompatveis com
teorias cientficas, pois a sua recusa a limine significaria som:ente
que se deixaria de aproveitar o potencial crtico contido nelas, declarando dessa forma a atual fase do conhecimento como sacrossanta.
Com isso chegamos um elemento importante da metodologia da
verificao crtica, ou seja, ao pluralismo terico. Se, como resultou
da anlise crtica do postulado da fundamentao, jamais se pode
ter a certeza de que uma determinada teoria verdadeira, mesmo
quando ela parece resolver os problemas que lhe so propostos, ento vale a pena sempre buscar alternativas, ou seja, outras teorias
que provavelmente seriam melhores por possuir maior fora elucidativa, por evitar determinados erros ou, por superar quaisquer dificuldades que no podem ser dominadas pelas teorias surgidas at
ento. De modo geral, toda teoria possui um ponto fraco, cpmo demonstra a histria das cincias36. Elas no dominam, em geral, com64
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produes da fora imaginativa em construes simblicas e as expe.rimenta em contextos de pensamento e tambm em experincias reais,
isto , mediante intervenes ativas, a fim de que se possa julgar o seu
desempenho e, conseqentemente, os resultados comparveis. O conhecimento se movimenta, portanto, entre a construo e a crtica;
uma parte da praxis humana, na qual decises tm que ser permanentemente tomadas. A teoria do conhecimento e, por conseguinte, a
teoria da cincia, uma teoria dessa praxis que lhe fornece os pontos de vista metdicos e, com isso, ao mesmo tempo, pontos de vista
crticos para o julgamento dos seus resultados e mtodos, oferecendo pontos de apoio para decises racionais. Se o conhecimento , contudo, urDiaparte da praxis humana, ento no vale a pena diferenciar razo terica e prtica, e construir uma oposio entre conhecimento e deciso, como parece ser correto, quando se parte de uma
teoria do conhecimento que o concebe como manifestao da razo,
dos sentidos, ou seja, como o resultado de uma viso. Na teoria do
conhecimento e na teoria da cincia, enquanto ela possui um cartermetodolgico, trata-se da tentativa de fomentar a racionalidade
das decises e, com sso, a da praxis humana num determinado campo da vida social, na medida em que ela possibilita crtica relevante
nesse campo. Com isso est traada uma concepo da racionalidade que, como se mostrar, deveria ter conseqncias para todos
os campos da vida socia1.
NOTAS AO CAPTULO II
1
Cf.
Commitmente",
5
6
Cf. DINGLER, Hugo. "Das System. Dos philosophisch-rationale Grundproblem und die exakte Methode der Philosophie". Mnchen, 1930. p. 16 .s
Sobre a tentativa de construir a geometria a partir do "ponto de vista
da fabricao", cf. DINGLER, Hugo. "Die Grund7.agen der Geometrie".
Stuttgart, 1932.
7 Cf. DINGLER, Hugo. Die Grundlagen der Physik. 2."' ed. Berlim e Leip. zig, 1923, p. 133 s.
70
anterior-
"Archiv
15
16
17
fr
Philosophie",
11/1-2,
~961.
basis of science,
an of racionalism";
no 23.0 captulo deSSe livro, encontra-se' ainda
uma anlise dos aspectos sociais do mtodo cientfico. Tambm Dingler
admite, como j foi dito, uma base tica da cincia, cf. seu livro
p. 32.
anteriormente citado, "Philosophie der Logik und Arithmetik",
18
19
lIil
wd
"..
m"1
,iI
::1 Cf. POPPER, Karl. Science: Conjectures an Refutations. lu "Conjectures an Refutations". p. 33 s. e p. 64, anteriormente citado.
22
lil
lil
23 Cf. sobre isso o pargrafo 2 acima. A ausncia de contradio em si apenas uma exigncia lgica mnima para o conhecimento. Da porque, uma
pura teoria de coerncia da verdade insuficiente. A exigncia da
liberdade de contradio s se torna metodicamente interessante, quando se acolhe nela a busca ativa de idias e observaes relevantes, mas
inconciliveis com os conhecimentos atuais.
24 Cf. HAT:M;ANN,Eduard V. Die Dialetik vor Hegel. p. 1 s. O criticismo
de Popper no outra coisa seno o desenvolvimento desse antigo mtodo dialtico - sob a crtica do seu desvirtuamento das
idias de Hegel - onde se mostra o fato de que este mtodo , ao
mesmo tempo, tambm o da cincia natural; cf. sobre isso a sua indicao anterior, em seu livro "LogiJc der Forschung", auto citado, p. 27,
bem como sua anlise em Die Zielsetzung der Erfahrungswissenscha,jt
(1957), in "Theorie und Realitt", Tbingen, 1964. p. 73, s; cf. tambm
FEYERABEND, Paul K. Problems of Empiricism. In "Beyon the Edge
of Certainty",
anteriormente citado, e AGASSI, Joseph. Science in
Flux. Footnotes to Popper. ln "Boston Studies in the Philosophy of
Science". V. lU, ed. por Robert S. Cohen e Marx W. Wartofsky, Dor-
72
I~----
25
Sobre essa problemtica, cf. tambm POPPER, KarI. Towards a Rational Theory of Tradition (1949). In "Conjectures and Refutations". p .120
s, bem como meu ensaio Tradition und Kritik. In "Club Voltaire 11",
Mnchen, 1965. p. 156 s, cf. tambm MEDAWAR, P. B. Traditions
The Evidence of Biology. In "The Uniqueness of the Individual". London, 1957. p. 134 s.
lil
Sobre isso cf. POPPER, Kar1. Op. cit., n. 17, c. 23, e do mesmo autor
"On the Sources of KnOWledge an Ignorance";
cf. tambm PEIRCE.
Charles Sanders. Einige Konsequenzen aus vier Unvermogen. In "Charles
S. Peirce, Schriffen I. Zur Entstehung des Prgmatismus". Ed. por KarlOtto Apel, Frankfurt, 1967. p. 184 s.
29
30
31
Cf. por exemplo sua exposio sobre a scientia generalis por ele planejada, em associao com uma characteristica reais, em um escrito inconcluso, .no. qual se encontra a seguinte passagem " ... cal' cette mme
criture seroit une espece d' Algebre gnrale et donneroit moyen e
misonner en calculant, e sorte qu'au lieu e disputeI', 07V pourroit
dire: comptons .. ", in "Die philosophischen Schriften von Gottfried
Wilhelm Leibniz", V. 7, ed. por C. J. Gerhardt, Hldesheim, 1961.'p. 26:
32
of Scientific
anteriormente
33
Knowledge.
citado, p. 136
m. NIETZSCHE, Friedrich.
aer Griechen".
Darmstadt,
ln
"Conjecures
S.
"Die
Philosophie
an Refutations",
34
35
and Relutations",
10
41
Cf. a impressionante
74
anterior-
zum Mythos",
conhecimento
poca do seu
parece supor
CAPTULO lI!
CONHECIMENTO E DECISAO
9.
O problema
da fundamentao
de juzos
ticos
Com isso alcanamos, na nossa anlise do problema do conhecimento, a problemtica geral do valor, que se apresenta primeiramente, nessa perspectiva, como o prOblema da relao entre conhecimento e deciso. Este problema parece ter surgido relativamente
tarde, na forma pela qual ele tem que ser tratado hoje. Pode-se supor
que ele no foi colocado assim em pocas anteriores, devido ao fato
de que o natural platonismo de valor da orientao do mundo em
geral, cuida de transpor o problema da deciso para o plano do
conhecimento, atravs da fuso lingstica de valores e realidade 1,
e, alis, de maneira to imperceptvel que o carter duvidoso dessa
operao no se faz notar. Na maioria das vezes no se faz sequer
uma diferenciao mais acentuada entre conhecimento de valor e
conhecimento ftico, sobretudo enquanto uma interpretao sociomrfica do mundo transmita, despreocupadamente, categorias normativas a todo o cosmo, A interpretao cognitiva de juizos de valor
bvia e incontestada, de modo que uma correspondente diferenciao no mbito do conhecimento quase no vem ao caso. Os valores tm, neste estgio, o mesmo carter de realidade que os fatos;
seu conhecimento pode ser compreendido do mesmo modo que as
relaes fticas, de acordo com o modelo da revelao, como uma
compreenso passiva e livre de abitrariedade dos aspectos existentes do cosmo. Atravs dessa consolidao dos valores numa realidade
interpretada sociomorficamente, a sua dogmatizao assegurada
da maneira mais natural, Isto pode ser ainda hoje reconhecido nos
resduos dessa concepo de mundo que temos diante de ns no
pensamento do direito natural.
76
Alm disso, o dualismo entre ser e dever-ser trs consigo dificuldades, na medida em que pode concorrer para que surja um abismo entre conhecimento e deciso, entre anlise objetiva e valorao.
Isto ainda no se apresenta como muita clareza, enquanto interpretaes cognitivas e enunciados normativos dominarem o campo,
enquanto se postular a existncia de juzos especficos que servem
de base para a formulao de julgamentos de valor e normas. As
correntes filosficas que procedem dessa maneira so obrigadas, ao
mesmo tempo e ad hoc, a admitir a existncia de essencialidades
correspondentes 3, que no costumam ter qualquer funo para a
explicao do acontecimento. Alm disso, surge para elas a dificuldade de que dos anunciados de valor elucidados cognitivamente, que
tm pois um carter descritivo, no resultam em nenhuma conseqncia normativa para o procedimento, isto , no so enunciados
nos quais estejam contidas diretrizes para uma atitude ou ao.4
Isto significa que um tal sistema s poderia ser aplicado norma tivamente com o auxlio de um sofisma naturalista, ou seja, com a
introduo de um princpio normativo explcito para a aplicao
prtica, o qual, alis, no poderia ser cognitivamente interpretado,
de forma que aqui surge, de novo, o problema da interpretao e
da fundamentao.
11m cognitivismo moral-filosfico, que no postula novos juzos
e novas essencialidades, mas que empreende a tentativa de reduzir
enunciados ticos a enunciados cognitivos do tipo comum, evita,
alis, a abitrariedade do procedimento ad hoc acima citado, mas
no o problema do sofisma naturalista. Alm disso, a autonomia da
tica desapareceria novamente numa tal concepo, o que alis no
seria julgado desvantadoso para aqueles que aspiram a uma tica
cientfica, sobretudo quando so da opinio de que os problemas da
moral s poderiam ser, neste caso, racionalmente solucionados. A
dificuldaq.e estaria no fato de que uma cincia moral dessa espcie
poderia, na verdade, ser til na descrio e explicao de fatos interessantes, a partir de pontos de vista ticos, mas teria que transferir
a fundamentao de diretrizes morais para outras instncias, as quais
teriam ento que assumir a causa tica. Os resuUados da pesquisa
soc~olgica e pSicolgica podem ser efetivamente relevantes para
a noluo de problemas morais, todavi :'leria difcil comprovar que
este resultados oferecem tais solues para estes problemas. Quem
defende uma metologia da fundamentao suficIente na filosofia
moral, no pode se dar por satisfeito com esta forma de cognitivismo.
78
fundamental
de' todas
10.
83
. ,)jJ evidente
que a soluo deste prOblema depende da colocao
de objetivos para o trabalho cientfico e da natureza dos seus meios',
Alm disso, os defensores de uma cincia social valorativa recorrem
aO artifcio da apresentao de uma tal cincia como necessria e
inevitvel, e na verdade pelo simples motivo de que uma neutralizao da linguagem scio-cientfica no possvel, e que, portanto,
os meios para uma cincia social, no sentido de Max Weber, no estariam disposio15 Esta tese s pode ser praticamente plausvel
para aqueles que esto dispostos a ignorar mais que a metade da
moderna literatura scio-cientfica. Ela favorece o platonismo natural de valor do pensamento cotidiano, mas no leva em considerao o fato de que, no decorrer da evoluo das cincias, uma disciplina aps a outra - a comear pelas disciplinas fsicas e matemticas - passou do mbito da considerao valorativa para a
anlise isenta de valor. Em vista deste fato, pode-se considerar a
tese de Leo Strauss como uma tentativa de jusificao de um status
quo que em parte j estava superado, alis uma tentativa que se
serve de meios essencialistas.
No que diz respeito ao estabelecimento da meta do trabalho cientfico, surge a pergunta se se quer dar por satisfeito com o conhecimento da. realidade, de suas estruturas e relaes, ou se se recorre a outras metas mais elevadas, para a cincia. Para a tarefa
do conhecimento suficiente uma cincia para a qual o postulado
da ausncia de valorao de MaxWeber no constitui qualquer obst.culo. Este resultado independente da natureza do respectivo campo de objetos de uma cincia; portanto aplicvel tambm a outras
partes das chamadas cincias do esprito. Isto no se baseia em
um descuramento da grande Significao de normas, juzos de valor
e decises para todos os tipos de atividade humana, inclusive para o
conhecimento, e conseqentemente para o mbito da prpria cincia - e todavia, tambm, de sua Significao dentro do campo de
objetos de determinadas cincias que tratam da atividade humana
-, mas na considerao expressa desses fatos. O que importa ter
presente, claramente que, com freqnCia e justamente sob determinados pontos de vista de valor, fatos e relaes que parecem extremamente relevantes - os fatos do campo scio-cultural, sobretudo os da moral, do direito e da poltica - devem ser submetidos
a uma anlise objetiva de carter cognitivo, para que possa ser
alcanada a aspirada soluo racional dos respectivos problemas
prticos.
85
at
de
que
que
modelo clssico
da racionalidade
e a discusso do valor
90
NOTAS AO CAPTULO'
vices de valor que tnhamos at ento. A aplicao crtica dos mencionados princpios de ligao um meio de des-cobrir tais incom-
patibilidades33
98
lIr
'1 Cf. sobre isso as investigaes de Ernest Topitsche em seu artigo Vom
Ursprung und Ende der Metaphysik. Eine Studie zur Weltanschauungskritik, Wien 1958, in "Sozialphilosophie zwischen IdeoZogie und Wissenschaft", anteriormente citado; cf. os trabalhos de Hans Kelsen em seu
volume "Aufsatze zur Ideoligiekritik",
ed. por Ernst Topitsch, Neuwiedl
Berlin 1964; cf. a crtica ao paralelismo cognitivo-tico por Hans Reichenbach em seu livro "Der Aufstieg der wissenschajtlichen Philosophie".
Berlin/Grunewald,
"Thought
and Change",
Sobre isso cf. POPPER, Karl. "The Open Society and its Enemies", anteriormente citado, capo 5: Nature amcl Convention.
de valor so apreendidos atravs dos atos quase-cognitivos de sentir, preferir, preterir; cf. sobre isso a crtica de Viktor Kraft em seu livro "Die
Gruncllagen einer wissenschaiftlichen Wertlehre", 2.a ed. Wien 1951. Tambem as qualidades "no-naturais" de G. E. Moore pertencem a este contexto; cf. seu livro "Principia Ethica" (1903), Cambridge 1960, bem como
a critica em W. K. Frankena, The Naturalistic Fallacy, Mincl 48, 1939, in
"Readings in EthicaZ Theory", ed. por Wllfrid Sellars e John Hospers,
New York, 1952, p. 103.
4
Sobre essa problemtica cf. minha publicao Ethik uncl Meta-EthiTc, anteriormente citada.
presentante
7
,8
do existencialismo.
pertence .s raias tambm policamente escrupulosas da tradio filosfica alem; cf. sobre isso a obra anteriormente citada de Ernst Topitsch, Die sozialphilosophie Hegels ais Heislehre und Herrschaftsideologie, bem como Ralph Dahrendorf, Die eutsche Idee der Wahrheit, em seu
livro "Gesellschaft und D.emoOkratie in Deutschland", :Mnchen, 1965,
1). 175 s.
9
10
11
"Theoria",
12
cher und sozial politicher Erkenntnis (1940), Der Sinn der "Wertfreiheit"
der soziologischen und konomischen Wissenschften (1917/18), Wissenschft als Beruf" (1919), in "Gesarmmelte Aufstze zur Wissenschaftslehre
von Max Weber", 2.a ed. Tilbingen, 1951. Sobre a anlise e a crtica a objees contra o princpio weberiano cf. minha publicao Theorie und
Praxis. Max Weber und das Problem der Wertfreiheit
und Riationalitat,
in "Die Philosophie und die Wissenschaften. Simon Moser zum 65. Geburtstag", ed. por Ernst Oldmeyer, Meisenheim, 1967, p. 246 S.
13
15
16
100
19
Sobre isso cf. a crtica de Leslek Kolakowski ao ideal de um perfeito cdigo de costumes, in Ethik ohne Koex, em seu livro "Traktat
ber die Sterblichkeit der Vernujt". Mnchen, 1967, p. 102 S.
Sobre a crtica dessa corrente, cf. minha publicao Ethik und MetaEthik; cf. tambm LENK, Rans. Der "ordinary language approach"
und die Neutralittsthese der Meta-Ethik, in "Das Problem er Sprache",
ed. por Hans-Georg Gadamer, Mnchen, 1967, p. 183 s.
20
lfl
21
22
Sobre isso ci. suas publicaes "Die 'Objextivitt' sozial'wissenschafilichouns sozialpolitischer ErJeenntnis", anteriormente citado, p. 149 s., e "D.er
Sinn der "Wertfreiheit"
der soziologischen und konomischen Wissenschaften", anteriormente citado, p. 496 S.
Weber, Bax, op. cit, p. 149.
Assim diz Eduard Baumgarten
23
ziologie
Weltgeschichtliche
Winckelmann, 2.& ed. Stuttgart,
25 Sobre isso cf. a sua publicao "Wissenschaft ais Beru!", ant. citada,
onde a deciso pela racionalidade, contida no trabolho cientfico, analisada, e sobretudo destacada a tenso. em relao ao pensamento
teolgico, o qual, segundo Weber, torna sempre obrigatrio "o desempenho de virtuose do "sacrifcio do intelecto" cf. a obra anteriormente
citada, p. 595; cf. tambm, as consideraes de Karl Lwith em sua publicao Die Entzauberung der Welt durch Wissenschaft, in "Clube Voltaire lI",
Lakatos.
Neste contexto interessante considerar as observaes de Max Weber
sobre a maneira na qual ele imaginou a identificao do respectivo
"ltimo axioma de valor" de indivduos. O seu isolamento , segundo a
sua concepo, uma operao que parte da avaliao isolada e da anlise do sentido, e vai mais adiante at posies sempre mais primariamente valorativas. Ela no opera com os meios de uma disciplina emp[rica e no produz nenhum conhecimento ftico. Ela "vale" do mesmo
modo que a lgica "Der Sinn er "Wertfreiheit"
der soziol. u. kon.
Wissenschaften", ant. citado, p. 496). No seu parecer sobre a discusso
do julgamento de valor na Oomisso da Sociedade para Poltica Social
do ano de 1913 (cf. Max Weber, "Werk un Person", documentos escolhidos e comentados por Eduard Baumgarten, Tbingen, 1964, p. 102).
Weber fala .ainda de um procedimento puramente lgico, o qual valeria
"em virtude da validade da lgica". Essa estranha reviso do texto,
101
28
quase no modificado no restante, depoLs de quatro anos, deve ser atribuda ao fato de' que Weber reconheceu 'nesse nterim que a lgica no
coloca disposio do procedimento desejado. Deveria portanto trotar-se
de uma operao indutiva, mas para Lsso tambm no existe nenhum
cnone quase-lgico. Alm disso, surge ento a questo de quando o
regresso da fundamentao por ele vLsto pode ser rompido, portanto,
quando um pressuposto pode ser considerado como "ltimo". Com isso
voltamos ao nos:so problema antigo, o da impossibilidade bsica de limitar o regresso da fundamentao.
Na minha crtica a esse ponto da concepo de Weber eu concordo,
pelo que vejo, com Eduard Baumgarten e W. G. Runciman; cf. sobre
Lsso Eduard Baumgarten, "Soziologie-Weltgeschichtliche
Analysen-politik", ant. citado, p. XXXV, e do mesmo autor, Max Weber, Werlc und
,Person, ant. citado, p. 652 s.; cf. ainda RUNCIMAN, W. G. "Social Seience and Political Theory". Cambridge, 1963, p. 156 s.
31
32
,33
102
103
CAPTULO IV
ESPRITO E SOCIEDADE
13. O problema da ideOlogia em perspectiva criticista
A origem da problemtica da ideologia poderia ser remetida
compreenso de que o problema do conhecimento tem uma dimenso
social que se faz notar em diferentes concepes. Esse fato, ao qual
sr imprimia, no faz muito tempo, o conceito de "relao entre ser
e pensamento" deu motivo, sobretudo sob a influncia marxista, para
a fuso de questes sociolgicas e epistemolgicas, de tal modo que,
sob pontos de vista lgicos, se levantou a objeo de que no se teria
conseguido manter suficientemente separados problemas da gnese
e da validade de conhecimento. Esta objeo feita, sobretudo, por
pensadores prximos tradio positivista, portanto a uma concepo para a qual importante proteger a cincia contra as influncias ideolgicas de qualquer espcie. Na perspectiva do positivismo existe uma relao estreita entre o problema da ausncia de
valorao e a problemtica da ideologia, enquanto para o limite entre
ideologia e cincia parece no se poder determinar sem a referncia
aos juizos de valor. A crtica da ideologia originada dessa tradio,
que argumenta sobretudo epistemologicamente e destaca o carter
de ideologia de um sistema de enunciados como uma mcula no conhecimento, cuida de tornar a questo do surgimento de juzos de
valor, mlais ou menos escondidos em tais sistemas, o ponto principal
da anlisel.
Esse ponto de partida no parece ser, na verdade, adequado
finalidade, enquanto os modelos exemplares de ideologias religiosas
ou seculares, dos quais costuma partir, na maioria das vezes, um
exame deste complexo de problemas (por exemplo, o pensamento
catlico ou comunista) caracterizam-se pelo fato de que neles se
104
apresentam juizos de valor mais ou menos mascarados como componentes de uma cincia, e para eles reivindicado valor do conhecimento. Esta praxis contradiz evidentemente o principio da iseno de valor e proporciona, com isso, uma importante indicao para
a soluo do problema do limite, quando se reconhece este princpio
para a formulao de resultados cientificos. A fuso de componentes
cognitivos e normativos nos sistemas de enunciados, que em sua totalidade reivindicam reconhecimento, parece ser uma maneira bem
sucedida de influenciar atitudes e comportamentos, e de legitimar
ordens institucionais, e, por isso, de estabiliz-Ias, de modo que da
parece ter-se acesso tambm questo da eficcia das ideologias.
A significao ftica de tais sistemas de enunciado deve ser vista
sob esta perspectiva, sobretudo quando provocam a impresso de
que se estaria lidando com conhecimentos objetivos e irrefutveis,
e. por isso, contribuem para a dogmatizao de determinados juzos
de valor e normas, nos grupos sociais para os quais eles so decisiyos.
, pois, compreensvel, que Theodor Geiger, na sua tentativa de
determinar o limite entre ideologia e cincia, trate o juzo de valor
como um caso paradigmtico do enunciado ideolgico, e isso Significa
que ele encara juzos dessa natureza, de uma maneira geral, como
enunciados cognitivamente mascarados, sem contedo cognitiv02
Seus enunciados paratericos, que possuem o mesmo carter, sem
contudo serem necessariamente remis.sveis a valoraes, so pensados como expanso desta categoria, til para fins de crtica de ideologia, isto , para poder caracterizar como ideolgicos determinados
enunciados no-avaliveis, os quais pertencem aos componentes tpiCOSde construes ideolgicas de enunciados; mas a sua determinao imprecisa e torna, por isso, duvidosa a soluo do problema
do limite proposta por Geiger. Ademais objees bsicas podem ser
feitas contra um tratamento da problemtica da ideologia, no qual
o problema do limite esteja em primeiro plano e, alm disso, onde
este problema seja solucionado prinCipalmente sobre o fundamento
de uma anlise lgica de categorias de enunciados. Em princpio,
sua prpria colocao do problema se refere claramente ao problema
da ilegitimidade, ou seja, o seu objetivo delimitar enunciados e
sistemas cognitivamente ilegtimos, nos quais tais enunciados esto
contidos, de autnticos enunciados de conhecimento. Seu conceito
de ideologia deve ser um conceito crtico-gnoseolgico. O limite por
ele sugerido corresponde aproximadamente delimitao positvista
entre cincia e metafisica, s que, em lugar da tese positivista da
105
i-
,li:
14.
Ideologia e metodologia:
da ideologia
Antes de nos voltarmos para os aspectos sociolgicos da problemtica de ideologia, abordemos a relao altamente interessante, existente entre ideologia e cincia, a qual se apresenta quando se consi~
deram as estratgias
tpicas que desempenha
uma funo em ambos os campos. Entre o problema da ideologia e o problema do m.:
todo das cincias parecem existir relaes que tornam bastante compreensvel que, em tentativas de delimitao do tipo acima analisado,
se chegue muito facilmente a um beco sem sada.
Ns vimos que Theodor Geiger argumenta
de uma maneira que
o leva a uma situao paradoxal:
a situao do crtico da ideologia
que' fundamenta
a sua crtica numa tese que se torna vtima dessa
crtica. O problema da delimitao, que Geiger quer solucionar, , de
facto, parte de uma colocao tipicamente
ideolgica: trata-se
do
problema da justificao. Para o carter geral desta colocao no
importa absolutamente
se ela aparece como questo sobre a legitimidade de conhecimentos,
ou como o problema da justificao
de
ordens sociais e estruturas de dominao. Este problema , contudo,
idntico ao problema da fundamentao, tal como costuma ser colocado no mbito da metodologia clssica. Nesta metodologia trata-se
de uma concepo que de modo algum pode ser limitada ao campo
das cincias ou ao do conhecimento,
mas que, muito mais, para
ser concebida em carter geral, de modo que se possa aplic-Ia em
todos os campos sociais como por exemplo em relao ao direito,
vida econmica, a questes de moral e de poltica em suma: em
qualquer parte onde venha a ser considerada a legltimao de enunciados, sistemas, formas de comportamento,
instituies e ordens.
Destas consideraes resulta uma conseqncia grave para a problemtica crtico-gnoseolgica
da ideologia: quem aceita a,metodologia .clssica, que parte do princpio da fundamentao
suficiente,
no tem nenhuma possibilidade de diferenciar de 'maneira conve~
niente ideologia de conhecimento, pois esta metodologia s' permite,
como soluo praticvel do problema da validade, tal como resultou
110
problema da ideologia, possam tornar-se, em determinadas. circunstncias, eficazes na crtca de ideologia. Tambm no vem ao caso
separar a crtica da ideologia da crtica do conhecimento, da mora~
qo direito e da religio e de outros campos do pensamento crtico.
Tais delimitaes so desinteressantes no nosso contexto. A critica
ao modelo clssico de racionalidade , ao mesmo tempo, relevante
para todos esses campos.
No que diz respeito questo sobre a iseno de valor na cincia,
deve-se dizer que ela no de modo algum interessante do ponto
de vista da crtica da ideologia. Em princpio, uma cincia isenta de
valorao, no sentido de Max Weber, contribui altamente para a crtica da ideologia. As explicaes e anlises de situaes, acontecimentos e contextos de atuao que a cincia hoje em dia examina,
podem ser trazidos conscincia social e utilizados criticamente
contra os preconceitos vigentes. De resto, a crtica da ideologia pode
se orientar, do mesmo modo que a da cincia, segundo os pontos de
vista de valor contidos no modelo crtico de racionalidade e, alm
disso, segundo outros pontos de vista que, por exemlplo, podem
provir de uma filosofia moral e do direito, como possvel no mbito
do criticismo. A constatao de que a crtica da ideologia tambm
, com isso, dependente do atual estado do conhecimento, um
fato que no deve nos preocupar. Uma instncia infalvel, que garantisse uma perfeita purificao da conscincia de todos os equvocos, vcios e debilidades socialmente atuantes , sob a concepo
crtica, impossvel de ser encontrada. Devemos renunciar a tais instncias, sem que precisemos nos resignar.
Uma vez que a. crtica da ideologia tem que reagir eficazmente aos
processos da dogmatizao que surgem continuamente, devido aoprincpio social sempre atuante, da inrcia, e uma vez que tem que lutar
contra concepes psquicas profundamente enraizadas, e fortemente consolidadas na sociedade, no poderia dar-se por satisfeita com
os recursos da linguagem que esto sua disposio, no mbito das
cincias e do pensamento filosfico. Justamente no interesse de uma
ampla e profunda atuao dessa crtica necessrio recorrer queles
meios que a literatura e a arte oferecem, meios que antigamente j.
foram de fato utilizados nesse sentido. At no campo da cincia j se
recorreu s exposies em forma de dilogo, quando se qUis descrever
novas idias, de grande significao frente a convices socialmente
predominantes, de tal modo que elas pudessem se desenvolver melhor14.
Querer colocar o teatro a servio da crtica da ideologia15 pode parecer
perverso a muitos, ou, pelo menos, uma alienao da sua finalidade,
113
A relao entre
ser e pensamento
como prOblema
cientfico
117
Ao aspecto social do dogmatismo pertencem, sobretudo, as medidas institucionais que so produzidas, no mbito de suas possibilidades, por grupos com sistemas dogmticos de convico, a fim de
imunizar seus membros contra a influncia de concepes divergentes
e contra idias e informaes perigosas, Tambm no sentido social,
pois, a dogmatizao tem uma funo de proteo. A finalidade
im.plantao de dogmas no tanto a soluo dos problemas do conhecimento ou da moral, mas a rejeido de solues inadequadas, ou
seja, solues consideradas perigosas pelas autoridades cOJ.1respondentes, e a difamao das alternativas. Ela se dirige contra a livre considerao de tais solues alternativas, e deve servir para a fixao
das solues de problemas, aceitas por essas autoridades e, ao mesmo
tempo, para a segurana existencial das instituies ligadas aos respectivos sistemas de f, atravs da excluso dos que tm outras crenas, isto , de indivduos que no querem se submeter s autoridades
em questo. A crena na adequao de determinadas solues de prol:>lemas elevada, por isso, categoria de dever juridicamente assegurado27. Em sistemas institucionais desta espcie, o modelo da racionalizao dogmtica - o outro caso-limite acima mencionado p elevado condio de praxis oficial. Por ocasio da anlise da problemtica do conhecimento, j tnhamos apontado que aqui se mostra
bastante claramente a relao inseparvel entre a teoria do conhecimento e a teoria da sociedade.
,
~;
~.
I
I
I
I
I
li
I1
lil
t,
mas de f3o. evidente que um tal carisma, que por vezes foi tornado hereditrio, se compatibiliza bastante bem com o modelo de
revelao do conhecimento, que interpreta o processo do conhecimento como uma recepo passiva de quaisquer inspiraes provenientes de fontes seguras e, portanto, providas de garantia de verdade, para as quais os ocupantes de determinadas funes so considerados especialmente privilegiados.
Em sistemas sociais com uma estrutura como esta, entra-se em
conflito, como j foi mencionado, com correntes indesejadas, das
quais se procura um afastamento atravs de dogmas, para a formao das ortodoxias oficiais, que eleva categoria de dever a recusa
a solues alternativas para os problemas. Neles, as inovaes s
podem aparecer (caso elas no imponham dogmas tradicionais
por trs da mscara da interpretao) sob a forma de heresia ou
apostasia31. Todavia onde a obedincia cega e a f incondicional
so elevadas a supremas virtudes, natural que se aspire a
afastar, com todos os meios disponveis, as heresias e as aposta.'lias. Em relao igreja catlica aponta-se freqentemente, no que
diz respeito a isso, a benevolncia que nela domina e que, na verdade, contrasta com as antigas perseguies sang'rentas, das quais a histria da igrej est repleta. Mas esta benevolncia tambm, em
geral, uma conseqncia do diminuto poder de que dispe o catolicism032nas modernas sociedades industriais. Tambm no caso da diminuio dos seus meios de poder, um sistema que, segundo a .sua
teoria oficial do conhecimento, est dirigido para avaliar negativamente e combater concepes divergentes e alternativas, atravs do
seu enquadramento em categorias como a da heresia e deste modo
pretende elimin-Ias, tem que ter conseqncias sociais e polticas que
no se situam exatamente na linha da abertura e da tolerncia33. Co~
mo observa com razo Kolakowski, "a revelao , de acordo com a
sua tarefa, um livro didtico para o inquisidor"34, e a inquisio, de
uma forma ou de outra, um fenmeno normal em sistemas sociais
desta espcie35. Ela tem, de certo modo, uma base epistemolgica, da
mesma forma como, em geral, os procedimentos jurdicos costumam
estar relacionados com concepe.s de carter epistemolgicQ36.
Os sistemas de f institucionalizados, que funcionam desta manei~
ra, so fundados, como sabemos hoje, na explorao do medo humano, um medo que, em parte, causado pelos mtodos do prprio sistema. A praxis dgmtico-mgica do sacramento no mbito cristo,
e os rituais correspondentes em outlros meios culturais, sodificil':'
mente explicveis sem esse arraigamento emocional37. Em perodOS
l.
Os resultados existentes da pesquisa terica e emprica com referncia ao problema da -relao entre ser e pensamento trouxeram
alguns conhecimentos sobre as condies de dogmatizao e fanatismo, que podem ser aproveitados para o fomento da razo crtica e de
uma praxis crtico-racional na vida social, pois explicar um fenmeno social significa, como sabemos pela metodologia do pensamento terico, mostrar como ele, em princpio, pode ser evitado. Sabemos hoje que as caractersticas estruturais dos sistemas de f que
se manifestam nas prticas educativas utilizadas para o seu apoio,
nos procedimentos de doutrinao unidos a eles, nas espcies de sano e nas direes dessas sanes - por exemplo, no prmio firmeza na manuteno de idias de f, isto , a obedincia f, ditadas
de cima -, as quais so preferidas para a prpria segurana, tm efeitos psqUicos e sociais que so consideravelmente independentes do
contedo especfico desses sistemas que cunham o comportamento
dos membros da respectiva configurao social em relao soluo
de problemas, de uma maneira extremamente significativa sob pontos de vista intelectuais e ticos. Ns podemos no momento ver mail'
claramente condies e conseqnCias de convices e atitudes dogmticas do que antigamente. E por isso bastante possvel que nos
aproximemos da soluo do problema social-tecnolgico, de como
diferentes campos da vida social, desde a educao at a poltica, podem ser organizados de tal forma que, por um lado, a fantasia criadora dos indivduos participantes venham a atuar da maneira mais
ativa e construtiva possvel, e, por outro lado, possa se desenvolver
livremente uma crtica racional o mais efetiva possvel, til soluo realista de problemas41 Todavia, a soluo desse prOblema social-tecnolgico no , de modo algum, suficiente para refor~ar a
~ociedade nesse sentido, pois nos sistemas institucionais urdidos com
convices de f e de estrutura dogmtico-autoritria, existem interesses fortes e dotados de meios polticos de poder, dirigidos para a
conservao dessas convices e das atitudes a elas ligadas. A teologia poltica de todas as correntes, pela qual grande parte do mundo dominada, e pela qual at os prprios intelectuais se entusiasmam (intelectuais cuja liberdade de argumentao depende de que
possam viver num clima liberal), cuida para que os modelos de pensamento da racionalizao dogmtica, apesar das conseqncias historicamente fatais que deles resultam, continuem a gozar de alto prestgio. A tradio do pensamento crtico que se originou na antigida123
de grega e que, por muito tempo, produziu l ricos f,rutos, .foi pelo
menos encoberta e absorvida por outras tradies (se no desapareceu nas guerras de poder da poca helenstica). Ela ressuscitou novamente, sobretudo no pensamento cientfico e nas correntes liberais
da cultura moderna a ele ligadas. Ela se consolidou em muitos campos sociais dessa cultura e ganhou a simpatia de muitos membros da
sociedade moderna, at daqueles que de alguma maneira tm Suas
razes nas teologias politicas dessa poca. A critica da ideologia pOde
contribuir para que o ideal de racional1dade crtica ganhe terreno
em todos os campos, caso ela empregue todos os mtodos que so compatveis com esse ideal.
NOTAS AO CAPTULO IV
Cf. especialmente GEIGER, 'Theodor. "Ideologie und Wahrheit. Etne 80ziologische Kritik
des Denkens"., Stuttgart/wien,
1953, assim como a
aplicao tradio econmica: MYRDAL, Gunnar. "Das politische
Element
in
der
nationalkonomische
Doktrinbildung"
ldeologie
124
und Entscheidungslogik".
125
11
12
Uma vez que o programa do positivismo se mostrou irrealizvel, a ntida delimitao entre filosofia e cincia, com base na classificao de
todos os enunciados .cognitivos em lgico-analiticos (ou seja, contraditrios), e ftico-empricos, perdeu o seu fundamento. Mesmo se fosse
possvel qualificar como analticos os problemticos prinCpios sobre a
incompatibilidade de cores, em uma classificao revista - cf. DELIUS,
Harald. "Untersuchungem zur ProblematJc der sogenannten syntetischen
Stze apriori", Gttingen, 1963 - restariam ainda determinados princpios com fatores quantificadores mesclados - "all-and-some-statements"
- cl. WATKINS, J. W. N. Between Analytic and Empirical, in "Philosophy", Vol. LXVII, 1957, e, do mesmo autor, Conlirmable and Inlluential
Metaphisics, Mind, Vol. LXVII, 1958- que no devem ser tratados assim.
Sobre a critica de uma filosofia "pura", no sentido da tradio analtica,
cf. POPPER,' Karl. The Nature 01 PhilOsophical Probems and their
Roots in Science (952), in "Coniectures and Relutation>s", anteriormente citado ..
No que diz respeito a isso, pode-se certamente concordar com a critica
de Lbbe, cf. LttBBE, Hermann. Der Streit um Worte. Sprache und
PoitJc, "Bochumer Universittreden", Caderno 3, Bocum, 1967; cf. tambm O meu artigo Politische Okonomie und rationale Politik, in "Theo~
retische und institutionelle
Grondlagen der Wirtschaltspolitik",
ed. por
Hans Besters, Berlin, 1967, p. 61.
Com razo Bertrand Russel chama a ateno para o fato de que hoje
em dia as escolas so, freqentemente, utilizadas para "transmitir", ao
mesmo tempo, "conhecimentos e fomentar supersties", e que a difuso
do conhecimento de progressos cientficos no idntica mentalidade
cientfica, pela qual ele luta. Contrariamente a Williams James, ele
defende a tese critica: "O que se faz necessrio no a vontade de
crer, mas a vontade de descobrir ... ", cf. Berthand Russel, Freies Denken
und ollizielle Propaganda, .em seu livro "Skepsis", Frankfurt/Bonn, 1964.
14 Pense-se na apresentao das concepes de Galileu, em forma de uma
discusso entre trs pessoas: Salviati, Sagredo e Simplicio, em seus
13
"Discorsi
em 1638.
15
e Dimostrazioni
Matematiche
intorno
1965, p. 131: "Nem ao menos ensinar deveria ser exigido dele ... Menos
que tudo o mais, os divertimentos necessitam de uma defesa". Mas o
mesmo autor advoga, como se sabe, a causa de um teatro crtico (obra
anteriormente citada, p. 139) j mas tambm a critica no precisa prejudicar o divertimento.
126
"portanto, o criticismo inclui conscientemente nas Suas reflexesospro.'blemas pragmticos mencionados por Lbbe no seu citado estudo (Nota
).2) r e FEYERABEND, "Theater
als 1deologiekritJc'~. p.408 s.
Aqui deve-se pensar especialmente em KarlManheimeemseu
esforo
. ,....,..para40xa,lmenteIl6 compreensvel pelo seu abandonO.da ..histria da'
cincia. natral e damtemtic
- em estabelecer uma sociologia do
saber, que se entendia como uma teoria do conhecimento das cincias
do esprito separada, e, no sentido do estilo de pensamento das cincias
do esprito, que recusa interpretaes nomolgicas, enquanto correspondentes ao paradigma de pensamento das cincias naturais; sobre isso
cf. o seu livro "Ideologie und Utopie", Frankfurt, 1952 (3 ed).
Cf. sobre isso SHERIF, Muzafer e SHERIF, Carolyn. "An Outlin oi
Socil PSycology". Ed. rev., New York, 1956; SHERIF, Muzafer e HOV"
LAND, CarlI. Social Judgeme11Jt.New Haven/London, 1961;SHERIF, Carolin e Muzafer e NEBERGALL, Roer. "Attitue and Attitude Change".
Philadelphie/London, 1965; cf. tambm o panorama geral sobre a atual
pesquisa em IRLE, Martin. Entstehung und Anderung von sOzialen
!27
:li Cf. sobre isso HOFFER, Eric. "The True Believer", New York, 1958.
27 Cf. sobre isso KLEIN, Joseph. "Gundlegung und Grenzen des kanonishen
Rechts". Tbingen, 1947, onde analisado o entrelaamento juridica-
30 Cf. a anlise de Blanshard, no seu livro citado na nota 28. Uma leitura
do livro de Hitler "Mein Kampj" mostra que ta~bm o fascismo opera
em reivindicaes de infalibilidade e, em verdade com consciente utilizao teolgica de pensamento, e neste. livro deixa-se reconhecer uma
considervel influncia d pensamento catlico, cf. "Mein Kamp/", ed.
270 at 274, Mnchen, 1937, p. 507: "Os partidos polticos so afeioados
a compromissos; as vises de mundo no o so. Os partidos polfticos
contam com adversrios; as vises de mundo proclamam a sua "infalibilidade", uma caracterizao que s correta em relao a determinadas vises de mundo. A quem Hitler queria conferir infalibilidade
aparece, na verdade, um pouco mais claramente nas memrias do antigo
"lder da juventude do Reich", Baldur v. Schirach; cf. SCHlRACH. "Ich
glaubte an Hitler", Stern n. 27, abril de .1967, p. 44:
Hitler apareceu janela e olhou para a Nunciatura Papal,
do outro lado da rua. Ele disse: "Eu no nego ao santo Padre,
em Roma, que ele seja infalvel em questes de crena. E a
mim ningum pode negar que eu entenda de poltica mais que
qualquer outro no mundo. Por isso eu proclamo, para mim
e o meu sucessor, o direito infalibilidade polftica".
128
O modelo catlico devia atra-Io bastante pela sua estrutura autoritria; cf. tambm "Mein Kampj", p. 512, onde a Significao' da fixao em dogmas valorizada. A afinidade estrutural existente entre
o pensamento catlico e o fascista foi corretamente compreendida por
aquelas autoridades eclesisticas e telogos da moral, que viram em
Hitler, em 1933, um aliado contra o liberalismo e o racionalismo; cf. sobre
isso o conhecido estudo de BOECKENFOERDE, Ernst WOlfgang. "Der
deutsche Katholizismus im Jahre 1933". Hochland, 1961, p. 215, e ainda
a passagem correspondente do livro de DESCHNER, Karlheinz . Mit
Gott unel den Faschisten. Der Vatican im Bunde mit Mussolini, Franco,
Hitler anel Pavelic", Stuttgart, 1965, p. 124 s, interessante
blema da relao entre catolicismo e fascismo ....
para o pro-
Die Entstehungsgeschichte
unserer Welterkenntnis
stuttgart/Zfuich/Salzburg,
p. 492 s.) para o fato de que no processo d~
inquiSlo catlica contra Galileu utilizou-se os mesmos processos que,
trezentos anos mais tarde, na Unlo Sovitica, a policia do Estado utilizou nos processos l ocorridos. A OGPU at copiou claramente os mtodos de inquisio da Igreja. Em relao crtica de Koestler a Galileo
neste livro, cf. as observaes anti-criticas de Benjamin Nelson no seu
artigo The early modem revolution in science and philosophy. In "Boston
Studies 111", p. 17 s.
"36Cf. sobre'isso
"lnquiry",
39
CAPTULO V
onde entram em questo os ensinamentos que ele retirou dos procedimentos catlicos.
41 Sobre a problemtica de uma sociedade "aberta", e, conseqentemente,
altamente acessvel crtica, cf, Karlp Popper. "The Cpen Societll. and
its Enemies", anteriormente citado, bem como William Warren Bartley,
"The Retreat to Commitment", Rnteriormente citado, p. 140.
F E SABER
A teologia e a idia da dupla verdade
130
. -A:
------------~~-----~~~~--
__
,- __m'--' __ ,-""w,
__m'
__'
conseqncias
desagradveis.
Ele est completamente
a servio da
razo hermenutica,
e esta, em compensao, uma criada da apologtica
e, em verdade,
de uma apologtica autenticamente
teolgica,
que
habilidosa
em paradoxos.
de especial interesse
notar como Bultmann
se comporta em
:relao a tentativas mais antigas de desmitizao18. Tambm a teologia liberal do sculo XIX e incios do sculo XX fez esforos nesse
sentido, mas seus procedimentos segundo Bultmann, no foram adequados, porque "com a eliminao da mitologia o prprio krygma
foi eliminado". Enquanto, naquela poca, se eliminou criticamente
a
mitologia do Novo Testamento, seria o caso de, agora, aps o revs
sofrido atravs do surgimento da neo-ortodoxia
protestante, interpre_
t-la de maneira crtica, ou seja, no trat-Ia de modo que o krygma
"se reduza a determinadas
idias fundamentais
de religio e de moral", e COm isso seja de facto "eliminado como krygma", como aconteceu no pensamento
teolgico liberal. V-se que a volta hermenutica da teologia - um aparecimento paralelo ao movimento filosfico
que, depois da Primeira Guerra Mundial, e sobretudo graas a Martin
Heidegger (o apoio filosfico de Bultmahn)
se apoderou do esprito
alemo, e contribuiu consideravelmente
para o obscurecimento
do
pensamento
crtico-racional
- conduziu a uma reduo da crtica
para salvar o ncleo Jcryumtico das convices da f crist, portanto, considerando-se
isso luz de uma metodologia da verificao
crtica, a um retrocesso frente condio do pensamento
teolgico
representado
por Alb.ert Schweitzer. Um motivo para. esse retorno
encontra-se possivelmente no fato de que se tenha visto para onde
conduz uma evoluo na antiga direo:
ao atesmo declarado
P.
aberto.
A inconseqncia
da desmitizao de Bultmann mostra-se,
sobretudo, no tratamento
do problema da cosmologia. Sua apresentao da mitologia do Novo Testamento19 torna claro o seu carter
cosmolgico, e, ao' mesmo tempo, antiquado. Trata-se, evidentemente,
de uma imagem do mundo que no digna de crdito para o homem
moderno, a no ser que ele no medite sobre a sua compatibilidade
com o saber restante. Pode-se, assim como ele diz, aceitar essa imagem de mundo s como um todo ou repudi-Ia2o, e ele, como telogo
moderno, pleiteia
naturalmente
sua condenao.
Caso devesse a
"anunciao
do Novo Testamento
conservar a Sua validade", ento no haveria "outro caminho seno desmitiz-la".
Aparece. ento
uma. volta peculiar, que inicia o afastamento
de Bultmann do pen'136
ao 'faz-Io, tem em vista a salvao do homem. Certament ele gostaria de conciliar esta parte da sua imagem do mundo com a moderna, e isso sucede por meio da interpretao existencialista do
krygma. Desta maneira, parece possvel trazer componentes de uma
cosmologia antiga para o mbito cosmolgico moderno. Naturalmente,
seria possvel tambm interpretar a SUa linguagem, em parte, COmo
metafrica, o que s vezes parece ser o caso, porm uma interpretao
conseqente, puramente tica, las passagens em questo _ sobre o
fazer divirto etc -, como seria o caso no sentido da teologia liberal,
sempre recusada por ele prprio.
O estilo hermenutico do seu pensamento parece t-Ia levado a
acreditar na possibilidade de interpretaes existenciais _ no sentid.o
heideggeriano - as quais no possuem quaisquer implicaes existenciais - no sentido da lgica -, portanto, no tm quaisquer conseqncias cosmolgicas, contudo diferenciam-se vantajosamente das
meras interpretaes ticas da teologia liberal. Se ele de fato tem
essa f, ento pode-se atribuir isso, com alguma razo, atuao
corruptora de determinadas correntes filosficas sobre o pensamento,
como tambm ao fato de que telogos modernos, como se pode comprovar, costumam discutir apenas raramente com correntesfilos,:,
ficas que lhes so incmodas. A desmitizao no , em todo caso,
nada mais do que um processo hermenutico de imunizao para r
parte da doutrina crist que os telogos modernos querem salvar de
Qualquer modo em face da crtica atual. Com isso, eles no vem que
a estratgia que usam - a interrupo da crtica num ponto de':'
cisivo, isto , o ponto que eles mesmos consideram importante --'
pode ser basicamente aplicado em qualquer ponto onde se queira24;
Com um pouco de boa vontade poder-se-ia, desta maneira, salvar
tambm Os anjos e o demnio, os milagres, a ressurreio _ no sen:tido da palavra - e tambm a ascenso, s que tais tentativas de
salvao no mais poderiam hoje ser tornadas Jacilmente plausveis
fi todas. as pessoas. Eles tambm no vem. que uma aspirao conseqente verdade inconcilivel com esta estratgia. Quem realmente est interessado na verdade, agir de modo a expor, mais
acentuadamente, avaliao crtica as concepes que considera altamente importantes, e no somente aquelas que estaria facilmente
disposto a sacrificar., o sublime dogma tismo dos telogos protes~
tantes. 'no mais suportvel, no pelo fato de teimarem em impol
seus .dogmas, mas pOr quererem faz-lo Par caminhos .hermenutico3.
138
O tratamento dispensado por Bultmann ao kry.g.ma e a sua mterpretao da salvao" tambm so temas que, na discusso em
torno da sua tentativa de desmitizao, surgem sempre como ponto
central. Para alguns dos seus crticos sua desmitizao vai longe
demais nesse sentid025, outros,contudo, querem ir alm e fazer COm
que desmitizao siga uma desJcerygmatizao26 Toda essa discusso torna claro o que qualquer leitor atencioso de Bultmann deve
notar imediatamente: a fronteira da desmitizao colocada nele
de maneira totalmente arbitrria, e em verdade a partirtle um aspecto dogmtico, isto : conservar como tal o que ele considera, como
ncleo da doutrinaerist
- o krljgma. Mas no se pode compreender, sob o ponto de vista da aspirao verdade, de uma maneira
geral comum ente aceita pela cincia, at que ponto se deveria, aqui.
decidir-se por ~m sacrificium
intellectus27,
por um abandono 'do
mtodo crtico, e s porque nos foram transmitidos elementos de f
em nossa tradio, os quais seriam desprezados, embora possam fazer
parte de ns. Quem est disposto a sacrificar as regras do jogo na
cincia, porque isso no compatvel com as suas convices preferidas, este se desliga espontaneamente desse empreendimento, mesmo
l'e estiver instituciortalmente ligado ele.
. O fato de que a nlise cientfica da doutrina crist, coino tambin de outras con'Vices de f, pode conduzir a uma crtica radical
do seu contedo mtico, deveria ser, uma evidncia. Porm, o mesmo
vlido para
a reivindicao de no se interromper esta desmiti.
zao num ponto que ela parea confortvel por qualquer motivo
Se a desmitizao "p.o puder ser sistematicamente realizada", "sem
eliminar toda a mitologia e, em conseqncia, todo o krygma cris....
to"28, ento tem-se que avanar at a eliminao do krygma,. ,at
que faz as diversas anunciaesaparece,...
uma "deskerygmatizao",
rem como produtos histricos, sem que seja necessrio construir para
isso uma explicao ad h.oc,que envolve intervenes divinas.. No
perIIlltil11;9s,n9rInaIIn~nte,taisexplicaes
ad hoc.quando se trata
da .anitse de desenvolvimentos religiosos em mbitos culturais que
nos s'o menos familiares.
19. O
prOblema
da existncia
,;
.
'
~i'
~
'
, li
I,
~I
11:
~
j
I
I
I
li
cientfico, conceitual-objetivo, tanto em relao ao ser em sua. totalidade, quanto realidade de existncil:l."39,noo que conduz
afirmao de que para o reconhecimento conceitual Deus se revela,
por excelncia, como um mistrio, ento se conseguiu uma tese que,
evidentemente, s tem a finalidade de servir como limite para as
outras como sempre acontece no pensamento teolgico. Os defensores
de uma tal tese podem, ento, continuar a falar livremente de Deus,
pois ele, evidentemente, est acima do reconhecimento comercial,
porm a essa idia eles no podem ligar quaisquer enunciados com
um minimo de contedo. Parece perfeitamente compatvel que, do
mesmo modo, se possa falar tambm de outras entdades mitolgicas .
Qualquer pessoa descomprometida pode reconhecer que aqui nada Se
faz alm de consegUir para si uma posio epistemolgica privilegiada, atravs de um truque semntico, posio esta que ningum
poder contestar facilmente, a no ser que se descubra esse comportament040
20.
eclesistica e sociedade
~:
~
.
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~
'
l
lil
li
l.rI:
~i
II
II
!'
at agora, na sua aspirao de tornar os seus membros imunes contra influncias abaladoras da f; porm, nos tempos modernos, j
surgem indcios de debilidade. As igrejas protestantes, ao contrrio,
parecem entrar em dificuldades, devido falta de uma doutrina autoritria, cujas conseqncias dificilmente podem ser observadas. Os
telogos notoriamente conservadores, aos quais mais importa a f
do que a crtica relevante, tm menos problemas face a essas dificuldades do que os seus COlegas fascinados pelas parCialidades da
desmitizao, que se consideram menos dogmticos porque esto dispostos a alargar um pouco mais as fronteiras da crtica. Todavia a
distino entre os conservadores e os desmitizadores, no aspecto metdico, consiste essencialmente apenas no fato de que os primeiros
declaram-se abertamente como partidrios do seu mtodo apologticO-dogmtic057, enquanto que os ltimos procuram revestir hermeneuticamente tais tendncias, Aos conservadores, importa-Ihes, mais
a conservao da identidade da tradio crist, a preservao do modo
como ela est consolidada na praxis de muitas comunidades, do que
.a sua adaptao ao moderno, sobretudo porque pensam reconhecer,
no totalmente sem razo, que de outra forma a substncia de f
desta tradio poderia perder-se.
Quem se reconhece como comprometido com a tradio do !luminismoe do pensamento crtico pode esperar com calma a evoluo
desta controvrsia. Mas poder manifestar maior compreenso para
com determinadas exteriorizaes de telogos conservadores, que representam o ponto de vista da alma simples, do que para com as modernas schleiermacherices de alguns dos seus opositores58. Tambm
lhe dar o que pensar a maneira como esses, por vezes, sabem recusr ab limine questes simples e sensatas59. Em face dos comentl'ios que costumam seguir tais perguntas, pode-se entender que defensores da corrente conservadora acreditam poder equiparar a penetrao da teOlogia moderna nas comunidades a uma perturbao
c1.essacomunidade6o, "porque por parte da teologia moderna no
resulta nenhum esclarecimento bblico verdadeiro". Independentemente do que se entenda por um "esclarecimento bblico", poderse-ia de qualquer modo afirmar que, com efeito, se trata muito mais
de obscureciment061.
claro que os telogos do campo da desmitizao tambm se
preocupam com uma maneira de transmitir suas concepes s comunidades, sem deparar com incompreenses por parte delas. Com
isso aparece, em determinadas partes, o objetivo dogmtico sob o
invlucro crtico. Toma-se conhecimento de que a teologia crtica
148
._.
_.
__
."
'
__
"-"'.
As Faculdades de teologia, apesar das tenses internas que pacem ter com suas igrejas (isto aparece em tais empenhos) no qUE
refere a questes teolgicas - mas no necessariamente em quess de histria da igreja etc. -, so nada mais do que resduo~
titucionais do pensamento apologtico e dogmtico no mbito da
quisa e do ensinamento cientific067. Pela sua existncia nas Unisidades elas despertam a impresso de que a teologia, como tal, ,
princpio, uma cincia como as outras, embora um maior ou mecompromisso com a igreja freqentem ente proba a seus mem'S a aplicao conseqente do mtodo crtico quelas questes que
tidas como especialmente importantes. Nesse aspecto elas so,
parte, seminrios da elaborao, aperfeioamento' e apoio "citfico" de ideologias, e seus mtodos e produtos podem ser caloamente recomendados como objeto de uma anlise, queles que
interessam pela metodologia e pela crtica da ideOlogia - dois
culos de problemjas que, como sabemos, esto estreitamente relanados - a fim de que veja como possvel dogmatizar, de maeira variada, as concepes que se consideram importantes.
NOTAS AO CAPTULO V
Concepes semelhs,ntes tornaram-se eficazes tambm, por exemplo, na
crise do pensamento teolgico, produzida pela reforma; sobre isso cf.
Popkin., ant. citado.
2 Sobre a importncia de um tal procedimento, cf. o capo I; cf. tambm
o estudo de popper, Was ist Dilektik?;
3 Cf. sobre isso o capo lI; cf. tambm WHITE, Morton G. Original Sinn,
Natural Law anel POlitics, in "Religion, Politics, anel the Higher Learing,
Cambridge, 1959. p. 111 s, onde a funo da chamada dialtica dis-,
cutida nesse sentido.
Neste ponto deve-se lembrar o exame 'de Rokeach, que caracteriza esta
estratgia de isolamento como tpica para o pensamento de linhas par~idrias; sobre isso cf. o capo anterior.
5 Pierre Duhem, em seu artigo Physique de Croyant (905), defendia Uma
tese de autonomia para a fsica que deve isol-Ia da metaf1sica, e' conseqentemente das crenas religiosas, de ump. maneira to fundamental,
de forma que todas as Objees que partem dessa cincia contra a
cre~a catlica, do qual Duhem partidrio, podem ser eliminadas.
Isto alcanado atravs do fato de que a fisica concebida como uma
construo artificial que serve para certos fins, enquanto que a metaflsica oferece verdadeiras explicaes, que atingiriam a realidade objetiva. A cincia concebida claramente de um modo positivo para criar
campo para a f. - Esta estratgia j pode ser encontrada no prefcio
de Osiander gre.nde obra de Coprnico, "De revolutionibus orbium
coelestium", mas ela no corresponde s concepes do ltimo; cf. sobre
isso BLUMENBERG, Hans. "Die kopernikanische Wende", Frankfurt, 1956.
p. 92 s.; ela est tambm contida nas recomendaes que o cardeal Bellarmino fez a Foscarini e Galileu, cf. Sua obra anteriormente citada,
p. 131 s.; sobre a anlise crtica, cf. POPPER, KarI Three views concerning human .knowedge, in "Conjectures and refutations", anteriormente citado, p. 97 s., e NELSON, Benjamin. The early moelem revolution in Science and Philosophy, in "Boston Studies lll", anteriormente
citado, onde a funo de defesa de tais interpretaes instrumentalistas da cincia, em parte ainda hoje em moda, tornada clara. Curiosamente encontra-se nos hegelianos, freqentemente, a mesma estra
trgia em relao cincia natural; cf. CROCE, Benedetto. "Logik ais
Wissenschaft vom reinen Begrift", Tbingen, 1930. p. 216 s., ou os trabalhos dos defensorf~s alemes da dialtica, os quais alis querem criar
espao para uma outra crena seno a catlica.
4
e introduzido por Heinrich Fries, Darmstadt, 1957. p. 33. Toda a conferncia um modelo exemplar para uma filosofia dogmaticamente inspirada da limitao de competncia, a qual a teologia tenta resguardar
de toda objeo importante.
Bons exemplos para o tipo de Objees contra o argumentar racional,
que teve origem numa orientao assim, podem ser encontrados num
livro que muito interessante em relao a esse assunto: GOLLWITZER,
Whilhelm e WEISCHEDEL, Wilhelm. "Dervken unel Glauben", 2.a ed.
Stuttgart/Berlin/Kln/Mainz,
1965, no qual Gollwitzer, entre outras coisas, difama uma tal argumentao como "aplicao do poder de coao
espiritual", p. 201 s., enquanto que ele mesmo, mais tarde, argumenta
ael hominem que s pode ser caracterizada como uma estratgia de intimidao bastante censurvel (p. 206). Um mtodo construido ad hoc, que
deve assegurar a todos os crentes uma posio privilegiada, de modo que
ele no precise nunca colocar-se numa posio crtica, portanto um
mtodo que envolve o contrrio da busca despretensiosa da verdade,
descrito aqui de uma maneira to de.corativa pelo parceiro teolgico
da discusso, que se tem a impresso de que ele provm do ncleo da
tica crist do amor. Para uma crtica a tais estratgias, como elas
so caractersticas para o pensamento teolgico, cf. KAUFMANN, Walter. "Religion unel Philosophie", ant. citado, bem como, do mesmo autor,
"Der Glaube eines Ketzers".
Entre outros, cf. RAHNER, Karl. Ubel' die Moglichkeit des Glaubens
heute, quinto volume dos "Schrijjen zur Theologie".
Esta perfeita estratgia de imunizao, que, como veremos, favorece
muito pensamento' da atual hermenutica filosfica, e utilizada,
entre outros, por Karl Rahner, cf. obra anteriormente citada, p. 63.
Cf. SCHWElTZER, Albert. "Geschichte eler Leben-Jesu - Forschung",
6.a ed. Tbingen, 1951 p. XVIII.
Cf. A apresentao de SCHWEITZER, Albert. Em seu livro "Das Messianitaets - und"Leiden'Sgeheimnis", 3.a ed. Tbingen, 1956.
J o prprio A1bert Schweitzer extraiu disso conseqncias. positivas,
as quais, como diz Walter Kaufmann, com razo, se aproximam muito
do antigo credo quia absurdum, quando ele declara como crist sua tica
de renovao social, irrecon.cilivel com a tica interina de Jesus; cf.
KAUFMANN, Wa1ter .. "Der Glaube eines Ketzers", ant. citado, Capo VII;
Jesus bei Paulus, Luther
und Schweitzer.
Para uma a~llse desse retorno, cf. William Warren Bartley, "The Retreat to Commitment!',
anteriormente citado, bem como os livros de
Kaufmann j mencionados.
Cf. HOCHGREBE, Friedrich. Die Beeleutung desProblems, 1n "Krygma
Ein theologisches Gesprch", editado por Hans Werner
Bartsch, Hamburg- Vo!ksdorf, 1951. p. 10 S.
und Mithos.
18
21
22
23
Cf. BULMANN, ant. cit, p. 21: Aqui "o telogo e o pregador devem a si,
comunidade, e queles que eles querem conquistar para a comunidade,
absoluta clareza e limpeza". Eles no poderiam deixar "os ouvintes na
ignorncia do que eles teriam que tomar por verdadeiro, e o que no ... "
Cf. BULTMANN, ant. cit, p. 22.
m. a anlise, contida no capo lU, da funo critica do conhecimento
para a tica.
ar. BULTMANN, an,t. citado, parte B, p. 31 s.
riormente citado, p. 77 S., especialmente a p. 87, onde colocada a questo, se em Bultmannn "a teologia encoberta pela antropologia". Schniewind est disposto a admitir que no se pode entrar em conflito com
a imagem cientifica de mundo, quando se leva a srio a f crist
(p. 112), e ele concorda (pois isso no lhe traz nenhuma dificuldade)
que a cristolagia est ligada demonologia (p. 113), portanto um
componente da antiga cosmologia, a qual alis ele no cr que possa
simplemente ser declarada caduca. J que este telogo quase no se
preocupou com problemas metolgicos, que poderiam surgir em relao
com a superstio aberta, ele est disposto a fazer concesses que deveriam ser penosas para Bultmann, mais inclinado acomoda,o. Mas
do que ele Bultmann precisa mesmo por em funcionamento o to falado escndalo, como ncora de salvao gnoseolgica. Um outro exemplo Helmut Thielicke, que na sua publicao "Die Frage der Enimytholgisierung des Neuen Testaments", anteriormente citado, p. 159.
eleva a ressureio, sem .meias palavras, a factum brutum (p. 172), e f!lila
que a desmitizao encontra um limite desejado por Deus, "alm do
qual no mais permitido continuar indagando" (p. 174). Este limite
seria "o segredo do Deus-homem". Thieicke acha que o mito indispensvel, fala da inadequao do pensamento cientfico frente aos seus
contedos (p. 171), e oferece seu prprio mtodo para uma adaptao
154
26
Kari.
In
"Krygma
ullid Mythos
lI"
p. 104. KtJMMEL, W. G. Aut. citado, p. 157, e PRENTER, Regin. Anteriormente citado, p. 82.
Assim diz Fritz BW'i, que, do ponto de vista filosfico, se apia, no
em Heidegger, mas em Jasper; cf. a sua publicao Entmythologisieru.ng
oder Entkerygmatisierung,
in "Krygma und Mythos lI", p. 85 s. Buri
diz, com razo. que se deve ver na invocao de Bultmann "ao ato salvador de Deus em Cristo como possibilitador da autocompreenso crist", um "retorno mitologia~', mediante o qual ele "entra em conflito
com os seus prprios pressupostos" (p. 91). Com a sua tentativa de interpretao existencial da histria de Cristo ele chega a uma segunda
grande dificuldade,em
verdade a de que, "para ele, ento, o krygma
da ao salvadora de Deus ameaa se dissolver em uma autocompreenso
meramente humana". Uma terceira dificuldade mostra-se nele no que
diz respeito revelao entre pesquisa histrica e anunciao da palavra, e a reina uma obscuridade declarada, a qual no se salva pelo fato
de ele referir-se ao carter de "escndalo" do Evangelho, ou porque eie
se convena da sua "incomprobabilidade", e at faa dele um acontecimento escatolgico da salvao, no eliminado, mas elevado a princpio. S se pode concordar com essas Objees crticas quando - na
medida em que se conhece o pensament teolgico - .se coloca tambm a questo sobre em que ponto esse telogo conseguir dispensar
o mtodo crtico. Ver mais adiante .
27 O "namoro" com o escndalo, o paradoxo e a antinomia como algo positivo, o que se encontra em telogos das mais diversas correntes, mostra,
na maioria das vezes, onde eles escorregam com o seu pensamento. A
palavra "mistrio" tem, nas tentativas teolgicas de imunizao, uma
funo semelhante, cf. o elucidativo trabalho de Kari Rahner sobre esta
palavra, em Uber die lIfaglichkeit des Glaubens heute, in "Schriften zur
Theologie V", anteriormente citado, um trabalho que, por causa da ligao que nele aparece entre "special ple,ading" e metafsica, em vez de
uma discusso genuna, pode espantar quem no est acostumado com
o pensamento teolgico, mas que no representa uma exceo, nem na
obra deste telogo nem na de outros. Sobre o sacrijicium intellectus cf.
COHEN, Morris, R. The Dark Side of Religion (1933), i:nJ"Religion frem
Tolstoy to Camus", New York/Evanston, 1964 p. 286. Neste tra.balho e em
outros capitulos desse volume encontra-Se um vasto material para o julgamento critico de esforos teolgicos.
28 Assim diz Regin Prenter em sua publicao "MythQs und Evarvgelium, in
"Krygma und Mytros 11", aut. citado; p. 80. Por sinal ele extrai dai
conseqncias bem estranhas, porque ele quer de qualquer forma salvar
imagem crist de Deus e "manter guarda" mitologia (!) diante dessa
imagem de Deus (p. 82 s,). Ele chegou portanto concluso de que a mitologia tem que ser fortalecida (p. 84).
29 Quando se fala aqui de "teologia moderna", no penso naturalmente
. na teologia do catolicismo, que protege suas teses de uma maneira
30
Para uma anlise critica, cf., alm da. literatura j citada, Norwood
Russel Hanson, What 1 Don't Believe, in "BostOT/! Studies llI", p.467;
cf. tambm a discusso Theology and Falsification, de Antony Flew,
Richard M. Hare e Basil Mltchel, ln Religion from Tolstoy to Camu1V8".
.ant. citado, p. 470, bem como Robert Feigl, Modernisierte Theologie und
wissenschaftliche Weltanschauung, in "Club Voltaire lI", Mnchen, 1965.
36 Cf.,por exemplo, as respostas de Hans Conzelmann em sua conversa
com Werner Harenberg, publicada em seu livro "Jesus und die Kirche",
Stuttgart/Berlin, 1966. p. 184 s.
37 Cf. a Seguinte passagem da publicao de. BURl, Fritz. "Wie .knnen
wir heute noqh verantwortlich von c:;.ott reen?", T:bingen,196'!.Pt~;
"Deus a expresso mitolgica para a incondicionalidade do
ser responsel. Sem a fala mitolgica da voz, que nos chama
ao dever, no chegamos clareza sobre a essncia da incondiclonalidade do ser responsvel. Natralmente .ela fala a noss
lngua, nasce no nosso corao, dirige-se a ns partindo d
nosso ambiente - e no somente a voz do nosso corao, d
meu prximo, da mnha situao. Na Objetividade do nosso mun
do interior e exterior no h incondicionalidade, mas soment
uma relatividade demonstrvel, que ns somente no esquecEl
mos em beneficio da justa realizao do nosso ser pessoal e
35
156
;8
Eschatologie",
6..8 ed. Mnchen, 1966, bem como o volume "Dislcussion ber die Theologie
der Hottnung", ed. por Wolf-Dieter Marsch, Mnchen, 1967.
Cf, MOLTMANN, ant. cito p. 58 S.
Moltmann acentua, por exemplo, que o cristianismo "se levanta e cal
com a realidade da ressurreio de Jesus dos mortos" (obra anterior-157
45
46
47
4R
58
Assim, por exemplo, quando Walter Knneth explica que h "enunciados centrais", com os quais a mensagem se sustenta ou cai - e a se
pensa em enunciados sobre a "realidade de salvao do Cristo crucificado
158
160
CAPTULO VI
SENTIDO E REALIDADE
Pensamento hermenutico:
teologia
a filosofia
como continuao
da
trado tentativas que busquem l'econstituir a lgica desse procedimento, denominado e descrito nas formas mais variadas como te"
vivncia, re-absoro, empatia, penetrao, interpretao, ete, de tal
forma que se pudesse verificar em que medida ele pode ser considerado como alternativa ao explicar. Em face dessa situao, os crticos dessa reivindicao de autonomia encontraram como sada a
possibilidade de abrigar esse procedimento na heurstica, da qual raramente se costuma banir algo, sobretudo quando se trata de um
mtodo sobre cujo funcionamento reina considervel incerteza. Alis,
os metodlogos das cincias do esprito nunca se contentaram Com
isso, reconhecendo que, dessa forma, essas cincias abandonariam de
jacto suas reivindicaes, particularmente
a reivindicao, que, em
verdade, contrariou as conseqncias do darwinismo para a moderna
viso de mundo: a idia, enraizada no pensamento scio-csmico, de
uma posio peculiar do homem na natureza, idia significante sobretudo do ponto de vista teolgico e digna do maior respeito epistemolgico.
O problema de uma metodologia autnoma das cincias do esprito foi intensamente debatido, desde o fim do sculo passado, e d
princpio do atual no mbito dessas cincias, mas, como era de se
esperar, levando em considerao a concepo filosfica ento vi':'
gente. A obra de Martin Heidegger Sein un Zeit representa um ponto
marcante para esse debate, no porque nela se encontre uma explicao desse mtodo, uma lgica do entender, nem tampouco porque nela se possa descobrir uma base terica para isso, mas, muito
mais, por uma outra razo: essa obra quer oferecer um conheci"
mento transcendental com a ajuda de uma anlise hermenutica no
sentido mais profundo, uma "analtica da existencialidade da exis":
tncia"l1, na qual a "historicidade do Dasein" ontologicament
elaborada Como "a condio ntica da possibilidade da histria" e,
com isso, ao mesmo tempo, desnudando as razes da "metodologia daS
cincias histricas do esprito", que poderia, ela mesma, ser tambm
chamada de "hermenutica", porm apenas "dedutivamente"'~9t
mais interessantes que sejam as investigaes heidegerianas, sob v..;
rios aspectos, convm ainda assim observar, do ponto de vista metodolgico, que elas representam um exemplo-padro do essencialismo
questionvel e da orientao conceitual que se manteve, durante
um perodo muito longo, como reminiscncia do estilo de pensamento
anterior a Galileu, nas cincias do esprto, fato essa para o qual
impulso do pensamento fenomenolgco, que Heidegger levou conscientemente 'at as ltimas conseqncias, deve ter contribudo con~
166
ideravelmente. Esse livro oferece, em sua essncia, anlises pura..lente conceituais, nas quais se constri e se ilustra um instrumenrio descritivo, que pode servir para dramatizar certos aspectos da
ida e da vivncia humana, cuja importncia ontolgica continua,
orm, em aberto, a no ser que se conceda a priori uma importncia
todo e qualquer conjunto de conceitos descritivamente aplicveis.
pesar da terminologia preferida por Heidegger, e constru da por ele
ara os seus .propsitos, suas anlises mantm-se dentro do mbito
o pensamento cotidiano, elas contm, portanto, descries de femenos cotidianos e conhecidos, com a ajuda dessa terminologia
va. Por meio dela, produz-se uma determinada tica que a muitos
de parecer plausvel, porm o seu valor cognitivo dificilmente
ode ser avaliado enquanto no se puder demonstrar quais os pro,lemas que, com a sua ajuda, podem encontrar uma soluo melhor.
A renncia construo que encontramos em Heidegger, a acenao da razo "perceptora" e do fenmeno com o "que asssim em-si
prio-se mostra"12, so a expresso de uma forma hermenutica
aquele modelo de revelao do conhecimento, que j submetemos
tica em suas verses clssicas. Enquanto, porm, essas verses clscas queriam, ao memo tempo, oferecer uma interpretao do mdo cientfico, nessa nova verso estiliza-se muito mais o penmento cotidiano pr-cientfico, apresentado como forma superior
como a nica forma adequada do pensamento para a rea das
ncias do esprito. i A diviso ontolgica do mundo em duas partes,
e j encontramos em variantes anteriores d concepo hermeutica, j se manifesta em Heidegger no fato de que considera nesrio designar OS."caracteres de ser do Dasein como "existenciais"
os de entes, que no se referem ao Dasein, como "categorias"13,
modo que, terminologicamente, Ij se fecharam as portas a uma
denao do conhecimento do homem dentro do conhecimento da
tureza. O que, no entanto, almejado dentro da rea humana, deitada de tal modo, representa de jacto - no obstante todas as
'vindicaes de Heidegger, que vo mais alm - no muito mais,
que a salvao do pensamento qualitativo aristotlico para essa
ea, pensamento esse que em muitos campos foi reprimido e eliinado pelo modelo praticado desde Galileu. Um eventual xito dessa
tativa no levaria adiante as cincias do esprito, antes as con-'
,lidaria no que ainda hoje continuam sendo: uma reserva d pen..;
mento aristotlico. O fato de que as cincias sociais remontem sem..;
re a Heidegger, para se protegerem contra uma penetrao dos mjdos modernos, no significa um abuso dessa filosofia; isto j est
includo nas suas conseqncias. algo que corresponde SUa tendncia fundamental, ou seja, ao fato de que ela se presta legitimao de tais tentativas de defesa e delimitao14.
Entender, em sua perspectiva, torna-se um "existencial fundamental", um "modo fundamental do ser do ente", de maneira que o
modo peculiar do entender, do qual se tratou at agora na discusso
metodolgica, isto , o modo de conhecimento ou o mtodo assim
denominado, deve ser "interpretado", da mesma forma como o explicar" "como derivado existencial do entender primrio que constitui
o Sein do Da em geral"15. Considerando os trechos de Heidegger sobre o carter de projeto do entender originrio, pode-se relacionar
a eles um sentido que conduz proximidade da temtica de aparato
conceitual e perspectiva do mundo, tratada h muito nas corrente
analticas da filosofia16. Porm, a sua m\3.neira de abordar estas questes no adequada para trazer mais clareza sobre elas. Ela antes
contribui para o obscurecimento do ncleo de interesse desses problemas, fazendo-o submergir num jargo esotrico que envolve as
afirmaes triviais numa atmosfera de segredo, apresentado-as coma
revelaes profundas17 Alm do mais, com a formao desse conceito
de entender, que em ltima anlise visa a possibilidade de desvendar
a realidade com a ajuda de interpretaes lingsticas, cria-se engenhosamente, do ponto de vista terminolgico, um precedente em
favor de uma hermenutica universal, segundo a qual o conhecimento
das cincias naturais pode parecer dedutivo e superficial, porm isso
um truque, que numa anlise mais exata no pode surtir nenhum
efeito em favor de uma determinada deciso do problema de mtodo
acima mencionado; isso porque, em primeiro lugar, o entender possui,
como modo peculiar de conhecimento do qual ai se trata, um carter
derivativo, assim como o explicar (segundo o prprio Heidegger), e,
e'm segundo lugar, as teorias explicativas no sentido fundamental
terminologicamente fixado por Heidegger so, ex definitione, de natureza hermenutica, da mesma forma que os resultados de um mode
de conhecimento compreensvel no sentido derivado. Considerando
bem a investigao de Heidegger, seja qual for o proveito que se
possa tirar dela, continua sendo irrelevante para o tratamento e a
soluo dos problemas de mtodo.
Quando se examina a concepo hermenutica de Gadamer, no
que ela contribuiu ,para essa problemtica - uma concepo considerada irrelevante por muitos representantes das cincias do esprito
-,convm
no esquecer que ele tambm acentuou a universidade
do ponto de vista hermenutico, orientando-se, para isso, em Hei168
degger; mas, no entanto, se ope expressamente ao conceito de mtodo da cincia moderna, preferindo uma compreenso do seu empreendimento a partir da tradio do conceito de formao, e que,
sem qualquer discusso com as concepes em questo, rejeita a teoria
instrumentalista do signo, a qual, em vista do fato de fenmenos
lingsticos serem de importncia bsica para sua concepo, deveria
aparecer pelo menos como alternativa18. Em suas investigaes, manifestam-se nitidamente as conseqncias de uma hermenutica que
no pode mais tornar-se consciente da questionabilidade de seu
ponto de partida, pelo simples fato de que se recusa considerar seriamente concepes rivais. Isto talvez se deva ao fato de que o
desenvolvimento poltico dos ltimos trinta anos eliminou consideravelmente a ocorrncia com outras correntes filosficas, no mbito
da lngua alem19, de forma que aqui pde se fortalecer a concepo
errnea de que, atravs de Heidegger, qualquer pensamento filosfico
tivesse sido ultrapassado, e no haveria mais necessidade de preocupar-se com essas questes2IJ.
Seja como for, uma conseqncia desse pensamento , entre outras, o seu antinaturalismo e a conseqente desqualificao do mtodo das cincias naturais, o qual, alm disso, apresentado numa
forma que corresponde, em sua essncia, ao mito de Bacon, ou seja,
forma do indutivismo. Segundo declarao expressa de Gadamer,
no seu propsito retomar a velha controvrsia de mtodo entre
as cincias naturais e as cincias do esprit021. Sua inteno "procurarar a experincia de verdade que ultrapassa a rea de controle
da metdica cientfica, em toda parte ela se encontra, inquirindo-a
sobre a sua prpria legitimidade". Essa legitimao da reivindicao
de verdade de modos de conhecimento situados "fora da cincia" deve
ser atingida "atravs do aprofundamento do fenmeno do entender".
A tese, um tanto precipitada, de que com o mtodo da cincia moderna nada se poderia conseguir no campo visado por Gadamer,
porque so outras as metas do conhecimento em questo, no provada, como seria de se esperar, por meio de uma discusso correspondente, e nem sequer tornada plausvel. Despertar-se at a impresso de que alguns problemas de mtodo seriam secundrios ou
at irrelevantes, em face do fato de que o sujeito que entende "est
includo num acontecer da verdade". No entender, o conhecedor pa~
rece, segundo essa concepo, estar entregue a um "acontecimento
do ser", no qual se lhe revela a verdade sem que ele possa contribuir
para isso com algo essencial, atravs da sua prpria
por meio de procedimento metdico.
pensamento analtico:
a filosofia
III
~
ri
!it,.,
l"_~
174
avaliao crtica nela praticado44. Quem quiser preservar essa tradio no pode reconhecer a tendncia aceitao obediente do herdado, a qual cultivada pelo pensamento hermenutico; tampouco
pode aceitar a tese de neutralidade dos analticos, que no contraria
somente uma teoria crtica do conhecimento, mas, tambm, uma filosofia moral crtica45.
2<1.
Na tradio analtica e hermenutica da filosofia desenvolveram-se, como vimos, concepes que almejam uma soluo da problemtica do sentido, no apenas sob aspectos antinaturalistas - isto
, defendem um separatismo metodolgico ontologicameJ;lte fundamentado numa separao do mundo humano em relao natureza -, mas, tambm, alm disso, mostram-se anti-racionalistas, na
medida em que querem excluir uma crtica das unidades de sentido
a serem captadas pela compreenso. Contra essas concepes preciso objetar, tendo como base uma filosofia que parte do princpio
da crtica, que, quando elas querem aceitar e compreender as relaes de sentido e as regras mximas e critrios que lhes servem de
base como dados, defendem uma soluo resignatria dessa problentica. Alis, elas esto dispostas a uma possvel explicao e uma
possvel crtica e, atravs disso, a impedir a evoluo do conhecimento e, portanto, retardar o desenvolvimento da vida scio-cultural. Na
medida em que se trata da penetrao terica da realidade sciocultural, de sua interpretao nomolgica, esta renncia se apia no
fato de que a investigao de sua estrutura, atravs da revelao
das les de regularidade correspondentes, considerada desinteressante ou at impossvel, uma concluso que se baseia unicamente
em anlises intuitivas e conceitmiis de carter bastante problemtico. No que se refere ao exame crtico desta parte a realidade,. a
renncia est enraizada na tendncia de tratar os critrios verdadeiramente desenvolvidos e transmitidos para a avaliao def:;t~qs
socio-culturais como realidades dadas, as quais devem apenas ser
descritas, compreendidas e aceitas, uma tendncia que surge do mes
mo modo que a mencionada atitude terica de uma concepo "P07
sitivista"46. Em vez de construo e crtica encontramos aqui o> Past
sivismo de uma razo perceptora, a qual na realidade noaspir:;t a
uma forma de conhecimento mais elevada ou mais
contenta-se com o que parece ser dado, isto , com a
realidade dada. O entendimento dessa realidade dada
A partir desta metodologia pode-se, sem dvida, sugerir aos representantes do pensamento hermenutico a concepo de uma teoria nomolgica do tipo habitual para a explicao do comportamento
com sentido - e, com isso, tambm para a explicao das atividaoes
humanas interpretativas, da qual pode resultar uma tecnologia do
entender, como 'alternativa sua prpria concepo destes proble182
de BuItmann se orientam na analtica existencial do Dasein de Heideggr.. Aqui abre-se tambm a possibilidade de uma hermenu~ica
poltica, que num contraste expresso em relao crtica iluminista
da ideologia, apia a teologia poltica de seja qual for a forma como
ela se apresenta. A razo perceptora dos hermenuticos transforma-se
facilmente no pensamento de justificao dos idelogos polticos, que
podem se servir das revelaes de sentido dos intrpretes do acontecer do ser para iluminar os seus propsitos como sentido objetivo
da histria. Na perspectiva do criticismo, para qual as tradies so
consideradas "trampolins", mas no como instncias de legitimao,
uma tal filosofia histrica com inteno prtica, de base hermenutica, no nada mais seno uma continuao da teologia, com outros meios57.
NOTAS AO CAPTULO VI
Cf. sobre isso a anlise critica de KEMPSKIS, Jrgen V. Die Welt als
Versuche zur Philosophie der GeText, in "Brechungen. Kritischen
genwart", Hamburg, 1964 p. 285 s, onde mostrada principalmente a
Esta controvrsia determinou, na maioria das vezes, a discusso de mtodos na psicologia, na sociologia e na economia nacional, e toca, tambm, mais ou menos fortemente na historiografia e comea agora _
via lingistica - a estender-se filologia; ao contrrio, quase no se
nota a sua presena na jurisprudncia e na teologia, cincias dogmticoexagticas por excelncia.
Croce, que na sua obra "Logik aIs Wissenschajt vom reinen Begrijt",
ant. cit., s6 concede cincia natural um valor simplesmente prtico,
mas nenhum valor verdadeiro de conhecimento. Cf. sobre isso LOWITH,
Karl. "Weltgeschichte und Heilsgeschehen", stuttgart, 1953. p. 109 s.
9 cr. Droysen, ant. cit, p. 26:
Entender o ato mais humano do ser humano, e todo agir
verdadeiramente humano repousa na compreenso, procura compreenso, encontra compreenso. compreender o vnculo mais
intimo entre o homem e a base de todo o ser moral.
10
3 Sobre isso cf. principalmente o importante livro de GADAMER, HansGeorg. "Wahrheit und Methode", 2." ed. Tbingen, 1965, Parte IH. P. 395
s, p. 450 s, bem como a crtica de Skempkis citada na nota 1.
4 A capitulao desse pensamento diante da teologia pode ser nitidamente
reconhecida em Gadamer; sobre isso cf. a obra citada na nota 3, p. 492,
onde se trata de questes exegticas e dogmticas, perante as quais o
"leigo" no poderia tomar nenhuma posio - uma mudana estranha,
tendo em vista uma tradio filosfica na qual a crtica de teologia
e de religio tiveram um papel essencial.
5 Sobre isso cf. DROYSEN, Johann Gustav. "Historik",
1960. p. 328 e tambm p. 22.
6
7 Cf. sobre isso CARNAP, Rudolf. "Der logische Aufbau der Welt, .Berlin/Schlachtensee, 1928, onde se aspira a um sistema de constituio de
conceitos com base na percepo dos sentidos, um princpio que alis
Carnap logo abandonou; cf., por outro lado, HEIDEGGER, Martin.
"Sein und Zeit" (1927). A analogia naturalmente no perfeita. Enquanto Carnap, em um pensamento conscientemente construtivo, quer
alcanar uma configurao do mundo a partir da realidade dada, Heidegger quer que sua empresa seja compreendida mediante a negao
de toda construo como interpretao, uma auto-interpretao que
envolve um equivoco considervel.
8
11
12
13
Entender, como ele disse antes, assim como n6s entendemos aquele
que fala conosco (p. 25), e somente o homem compreende totalmente' o
homem p. 23).
Droysen j se refere a tais fatos, ci. DROYSEN, obra anteriormente
citada. p. 27, 202 s: so, como veremos, basicamente os mesmos fatos
que hoje, sob a influncia da filosofia tardia de Ludwig Wittgenstein,
so novamente acentuados e elevados a ltimas instncias.
Cf. sobre isso HEIDEGGER, Martin. "Sein tLnd Zeit", anteriormente
citado. p. 37 s.
Cf. Heidegger, obra citada na nota anterior, p. 16, p. 50, p. 33 s.
Cf. Heidegger,obra
citada, p. 44.
14
187
186
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"
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19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
32
188
Philosophy
and a Study in
~8 Cf. sobre isso GELLNER, Ernest. The crisis in the humanities and the
tream of Philosophy, in "Crisis in the Humanities", ed. por J. H. Plumb,
Harmondsworth, 1964, p. 64 S.
39 Cf. WINCH, Peter. "The Ideu, of a SOcial Science and its Relation to
Philosophy", London, 1958.
40 Cf. WINCH, ant. cit, P. 56 S.
41 Cf. WINCH, ant. cit, p. 121.
42 Cf. WINCH, ant.~cit, p.. 94.
43 Cf. WINCH, ant. cit, p. 132 e 133.
44 Of. sobre isso POPPER, Karl. Science, Conjectures and Refutations, in
"Conjectures and Refutations", e outros trabalhos seus; cf. tambm o
meu artigo Tradition und Kritik, in "Club Volbaire lI", ed. por Gerhard
Szczesny, Mnchen, 1955.
45
46
of Linguistic
49
56
50
57
erkenntnisanthropologische
Funktion der Kommunikationsgemeinschaft
und die Grundlagen der Hermeneuti/c, proferida n? semana universit-
51
52
53
190
CAPTULO VII
o
25.
PROBLEMA
DE UMA POLTICA
RACIONAL
Aqueles que lem as pesquisas lingstico-analticas ou as existencial-analticas dos filsofos modernos, de um modo geral no
podero supor que talvez exista uma relao entre concepes filo
sficas e concepes polticas, que no seja somente de natureza
psicolgica. O fato de que o marxismo procura expor abertamente
uma tal relao, torna-o ainda mais suspeito para Os representantes
de um pensamento "puramente" filosfico - e para o analtico puro,
em suas duas formas. Contudo, uma tal relao quase sempre pode
ser encontrada1, s que, quanto mais "pura" a filosofia, mais degenera em um exerccio esotrico para especialistas acadmicos; e
mais essa relao se desvanece e passa para um segundo plano
convertendo-se em um pudendum. A crtica da ideologia, na medida
em que contribuiu para que todas as relaes desse tipo aparecessem como suspeitas, certamente apoiou um purismo filosfico que
vai contra as intenes a ela ligadas, intenes essas que a princpio
estavam' dirigidas para a destruio da antiga teologia poltica e
seus derivados e substitutos, at a utpica filosofia histrica.
Esta teologia poltica, cujas conseqncias ainda hoje podem ser
sentidas em muitos campos, desenvolveu-se no contexto de uma concepo de mundo que procurava compreender a totalidade do cosm08
como um contexto de sentido, e por isso tinha que interpret-Io pOI
analogia com os fatos conhecidos na esfera humano-social, isto ,
segundo uma cosmologia sociomrNca2, em cujo mbito o problema
da justificao das ordens sociais e das decises polticas poderia
ser solucionado, atravs do recurso a revelaes de uma autoridade
divina. Foras divinas de qualquer espcie, um grande nmero de
192
--,'
mento oriental a ela ligada5 Nos mbitos sociais nos quais esse pen~
samento ainda ativo, encontramos sempre a aspirao de recorrer
interpretao de verdades, pretensamente reveladas, para a -garan.
tia das ordens e de medidas estabelecidas, o que significa sustentar
a poltica na autoridade de textos teologicamente sancionados, cuja
origem atribuda cooperao de foras divinas, uma praxis que
diametralmente oposta ao modo de pensar cientfico desenvolvido
no seio dos antigos gregos e dos modernos ocidentais6.
Naturalmente uma sociedade que dependesse de tais processos de
legitimao requereria, em cada caso, uma mediao entre o mbito
humano e o divino, um elo em forma de uma hierarquia de mediapores, a qual monopolizaria a interpretao da revelao. Aos titulares, ou seja, aos que preenchessem essas funes mediadoras, seriam
atribudas, freqentemente, qualidades divinas ou quase divinas, a
tal ponto que o limite entre os dois mbitos da sociedade desapa.
receria7. O domnio de tais hierarquias de mediadores pode ser consolidado e, portanto, legitimado, teologicamente, de uma maneira
aparentemente natural, na rbita de uma tal concepo sociomrfica
de mundo. Em virtude das funes de interpretao atribudas s
hierarquias, sempre se lhes pode construir uma fico de representao, segundo a qual elas podem aparecer como representantes de
foras divinas, conquanto no pertenam imediatamente ao mbito
divinQ. Com base em sua funo de mediao e interpretao pode
ser construda, de maneira relativamente fcil, uma teoria da funo
vicria dos dominantes, segundo a qual se lhes pode atribuir infa.
lJ.bilidade de um certo alcance. Atravs dessa teoria a ordem social
efetiva, juntamente comas condies de domnio, distingue-se normativamente e interpretada na esfera da cosmologia sociomrfica.
A sociedade introduzida em um cosmos, no qual so incorporadas
diretrizes, garantias e sanes significativas para a sua estabilidade
e o seu funcionamento, atravs do uso de interpretaes correspondentes. A autoridade das foras csmico-religiosas dominantes brilha,
de certo modo, sobre toda a ordem social8, esclarece o domnio estabelecido nesta ltima, e com isso a torna completamente imune contra possveis crticas por parte dos que so dominados. Este um
modelo tpico de interpretao do fato social nas sociedades altamente desenvolvidas do perodo pr-industrial, um modelo que pa.
rece se prestar excelentemente justificao das ordens dadas.
194
26.
A esperana da catstrofe:
~ml
~m~
~~~
t~jl
Enquanto a teologia poltica da antiga qosmometafsica procurava efetuar a justificao dos fatos polticos relevantes para os seus
pontos de vista, de um modo quase dedutivo, atravs da derivao
de manifestaes reveladas por uma autoridade divina, o recurso ao
interesse introduziu no contexto da legitimao um elemento quase
indutivo, at o ponto em que se estava empenhado em remeter a
vontade do povo, que visa ao bem comum, aos interesses dos membros
da sociedade; ou, em todo caso, em estabelecer com estes uma relao
plausvel. Este esforo conduziu a uma fuso singular, entre uma
fico comunista e outra ndutivista, que caracterstica desta ideologia, tanto para a sua variante poltica quanto para a econmica19,
Por um lado, finge-se uma vontade comum dirigida ao bem comum,
pelo qual se rege, sob determinadas condies institucionais _ a
saber, sob as condies de um sistema de governo parlamentarista,
isto , sob as condies de uma ordem mercantil-econmica _, o
acontecer social efetivo; por outro lado, feita a tentativa de reconduzir, dessa forma, este interesse geral e bem comum aos interesses individuais da sociedade, enquanto se constri um contexto
quase lgico de imputabilidade, que se lga ao interesse da totalidade.
A vontade de configurao que est em questo se constitui de uma
fuso da vontade individual de todos os participantes dessa vontade,
e de sua formao mediante eleio ou compra. Os mecanismos institucionais da democracia e do mercado garantem a formao de
uma vontade comum uniforme, que tanto expressa os verdadeiros
interesses de todos os participantes, como tambm est dirigida
verdade que lhes comum: o bem comum, o mais alto bem-estar da
198
202
206
~j
...
teresses, cujo funcionamento s traz para os seUs membros proble'mas tcnicos, e alm disso problemas de eficincia econmica, como
a idia no pensamento do bem-estar econmico29 A escassez, acentuada na anlise econmica, no um fato restrito a um mbito economicamente limitado, mas um fato social geral, que envolve no
somente a incompatibilidade real intra-subj etiva, mas tambm a incompatibilidade intersubjetiva de muitas necessidades e interesses.
Da resulta a necessidade de decises sociais que cuidem de harmonizar as necessidades com as possibilidades de satisfao, e resulta tambm a necessidade de instncias e mecanismos sociais, que tornem
estas decises realizveis e eficazes. Seria difcil precisar a medida
mnima de soberania e de desempenho social do poder que resulta
desses fatos, visto que uma questo da fantasia social-tecnolgica
inventar e executar arranjos institucionais, que reduzam ao mnimo
esta medida necessria, e subjugar essas instncias ao controle mximo por parte dos demais membros da sociedade30 As teorias sociais que apresentam uma moderna sociedade industrial como uma
sociedade totalmente livre de dominao, devem ser consideradas
provisoriamente como utpicas, enquanto elas no demonstrarem a
viabilidade institucional de uma tal situao.
Numa sociedade no existe, portanto, nem uma vontade uniforme que poderia ser traduzida em fatos, nem um saber seguro que
poderia dar uma garantia de que, atravs disso, pudesse ser realizado algo como um bem comum, portanto uma situao que envolve
a mais completa satisfao de todos, independentemente da dificuldade de construir uma medida que permita uma avaliao correspondente dos resultados e decises sociais. Justamente por isso
no pode haver nenhuma ordem social ideal, que garanta uma transformao dos desejos individuais num resultado aceitvel para todos',
e portanto legtimo, neste sentido. Na idia de uma ordem assim, tambm est contido um elemento utpico. Concepes d mundo, das
quais resultam solues polticas de problemas desse tipo, contm
uma avaliao errnea das pOSSibilidades humanas de saber e de
formao da vontade, uma imagem falsa do comportamento humano perante a soluo de problemas, o que tambm pode ser reconhecido nas correspondentes concepes epistemolgicas.
Se no podem existir ordens ideais desta espcie, a poltica
tambm no pode ter a tarefa de realiz-Ias. Mas quem quiser destinar filosofia social a incumbncia de construir a priori uma tal
ordem social, e com isso legitimr estruturas sociais reais e decises
polticas, transforma-a, com isso, numa organizao dogmtico-apo204
dialtica poltica
e pOltica
blemas, caso se leve em considerao que podem ser construdos princpios crticos de ligao, do tipo citado anteriormente, para a crtica a normas e a concepes de valor32. Deste modo tambm pode se!
feita uma crtica a instituies, para a qual se pode recorrer a conhecimentos cientficos. Quem defende o mtodo crtico na teoria de
conhecimento, porque de opinio que se pode aprender a partir de
erros, e por conseguinte expe suas concepes crtica e as confronta com possveis alternativas, fazendo com que surjam, desse
confronto, as suas fraquezas, este no vai preferir nenhum outro
mtodo para a soluo de problemas polticos. Mas como tais alternativas so muitas vezes melhor apresentadas por aqueles que realmente as defendem, parece proveitoso realizar discusses com os representantes de concepes desse tipo, e conseqentemente ter em
perspectiva, alm do pluralismo terico, um pluralismo social e poltico. Caso se queira possibilitar uma tal situao, ento ter-se-
que defender a liberdade de pensamento e tudo aquilo que torna
liberdade efetiva, conseqentemente tambm a liberdade de intercmbio intelectual, ou seja, de ir contra os obstculos como a censura e contra o controle espiritual, em geral exercido por autoridades que podem aplicar meios de fora, com a finalidade de evitar a
propagao das concepes que lhes so desagradveis. Assim, portanto, encontram-se intimamente relacionados a apirao verdade,
o mtodo crtico e a liberdade poltica. O mtodo crtico tem que ser
institucionalmente apoiado - tambm para a sua atuao no mbito
cientfico - e O seu funcionamento tem que ser possibilitado atravs
das medidas institucionais da sociedade. Justamente por esse motivo
a filosofia social do criticismo no pode ser politicamente neutra.
Da metodologia da verificao crtica resulta, alm do mais, uma
determinada opinio a respeito da problemtica das utopias. Uma vez
que as falhas das solues polticas rotineiras se mostram melhor
luz de alternativas, tambm se pode recorrer a concepes que parecem utpicas para criticar tais concepes, j que estas utopias costumam indicar, pelo menos em linhas gerais, outras possveis solues. Como j foi mencionado na anlise do problema do conheciment033, pode-se atribuir utopia um papel anlogo, em relao ao
pensamento poltico, tanto quanto metafsica para o conhecimento
clentfico. Tambm ela formula algo impossvel, segundo as concepes, predominantes, o que, porm, pode ser comprovado como possvel, aps mudanas no conhecimento cientfico ou nas situaes sociais. Alm disso, nas utopias se expressam, no raramente, desejos
que no so realizados sob as condies sociais existentes, e possi206
das, como j vimos, como limitaes que devem ser impostas fantasia prtica, e conseqentemente
tambm fantasia poltica, para
a soluo de problemas. O saber nomolgico tambm se deixa transformar aqui em reflexes tcnicas, de modo que possam ser solucionadas questes da compatibilidade
real das metas em discuss036 . .AB
cincias nomolgicas tm, portanto, num sentido prtico, tambm a
funo de mostrar limites de viabilidade37 em relao praxs - e,
com isso, limitaes de possibilidades polticas -, uma funo que
geralmente a torna mal vista para os defensores de concepes utpicas38, visto que estes tm, naturalmente,
certo medo de levar em
conta os custos sociais das transformaes
radicais por eles previstas39 Portanto,
enquanto as utopias podem fornecer pontos de vista
criticos para a apreciao de condies sociais existentes, as cincias
reais nomolgicas possibilitam submeter condies utpicas a uma
crtica realista, e com isso expor a uma anlise anti-crtica
a crtica
total que estas concepes costumam colocar em cena. A bUSca de
contradies relevantes, que na metodologia da verificao crtica tomou o lugar da busca de bases segurs,s, no se detm naturalmente
ante projetos utpicos de pensadores de catstrofes.
No se pode dizer que no pensamento
radical de utopistas polticos as alternativas
no tm nenhuma importncia.
Eles conhecem
alternativas,
mas estas so surpreendentemente
semelhantes s dos
pensadores polticos extremamente
conservadores.
que ambas as
espcies de pensamento poltico tendem a um radicalismo alternativo,
alternativas
abstratas:
por um lado, o
para o qual s interessam
sistema completamente
modificado, cuja realizao exigiria uma revoluo total de todas as condies, uma vez abstrado o problema
da viabilidade. A avaliao dessas duas alternativas
feita, pelos
radicais e pelos conservadores, de uma maneira totalmente
diversa.
Uns s vem as falhas do sistema existente e defendem a revoluo
radical, uma vez que eles fazem pouco caso do problema da viabilidade e esto acostumados
a no dar ateno aos custos. Os outros
vem o carter utpico da alternativa
radical e por isso preferem
dar-se por satisfeitos com o sistema existente. Por conseguinte uns
so induzidos crtica total, por seu radicalismo alternativo, e os
outros ao total reconhecimento
da atual situao pelo mesmo modo
de pensar. Nisso, alis, no deve ser esquecido que o radicalismo alternativo poltico tambm encontrado
em pensadores que praticam a crtica total do sistema vigente, e aspiram a uma mudana
radical, sem que possam ser acusados de uma prefernCia pelas idias
utpicas de uma esquerda radical40
208
Sob o ponto de vista crtico no se pode, portanto, difamar o pensamento utpico radical, porque ele se volta criticamente
contra o
estabelecido, pois em cada sociedade pode ser facilmente admitida a
existncia de fatos dignos de crtica. O argumento
essencial -contra
esse modo de pensar que ele no-crtico perante o problema da
viabilidade, porque ele parte do pressuposto
implcito de que todas
as coisas boas tm que estar unidas, e conseqentemente
tm que ser
viveis juntas. Ele no v que ideais, quando politicamente
considerados, devem ser transformados
em alternativas
concretas. A no
bastam construes no vcuo social. Mas ento surge a questo social-tecnolgica:
como podem ser realizados projetos desse tipo, sob
as condies existentes? Ou ainda: como se deve intervir no acontecer social existente para que se chegue mais perto de uma tal realizao? A resposta a tais perguntas exige, sem dvida, alguma fantasia, mas muito mais a fantasia produtiva e construtiva
do inventor
do que a fantasia sem qualquer restrio do sonhador e do ilusionista.
Por outro lado tambm no se trata, do ponto de vista crtico,
de reprovar, no pensamento
conservador, que ele se apoie em tradies e queira conservar as solues sociais e polticas de problemas,
pois a idia de que possamos subsistir sem tradies um preconceito radical, no qual no mais necessrio que nos detenhamos. O
que se pode objetar contra o pensamento
conservador , quando muito, que nele a criticabilidade
das tradies subestimada,
e por isso
ele considera freqentemente
as solues tradicionais
como sacrossantas. Tambm aqui o argumento o mesmo: que se seja crdulo, e
conseqentemente
no crtico - neste caso diante do estabelecido -,
onde existem possibilidades
de crticas e, conseqentemente
tambm
de correes. Mas para isso necessrio que se procure idias e pontos de vista crticos para a superao das solues herdadas.
Quem quiser evitar o radicalismo alternativo
acima caracterizado.
e tornar frutferos os mtodos do .pensamento
cientfico, para a soluo de problemas polticos, ter que partir do princpio de que a
sociedade no uma fabia rasa que pode ser dotada, por via poli ...
tica, de modelos preferenciais,
e sim, que cada ao poltica envolve
uma interveno
em situaes
sociais mais ou menos solidamen:.
t.e estruturadas,
e que por isso se faz bem em levar em conta o
institucionaZ, pelo qual essas situaes esto moldadas, nopol'
aqui se tratasse de fatos sociais inalterveis, mas porque niSso s.e
contram, em todo caso, limitaes para pOSSveis
uma poltica realista tem que considerar. A anlise
que precede uma deciso poltica tem que levar
estas respostas de um modo que corresponda ao ideal de racionaUdade crtica, portanto de uma forma eventualmente comprovveI, ento deve ser preferido este tipo de resposta42
O exame de concepes at ento estabelecidas da problemtica
poltica nos levou a desaprovar o pensamento de justificao da teologia poltica e da ideologia democrtica, e, de certo modo, a distingir como mtodo do pensamento poltico o pensamento em alternativas, cultivado na tradio econmica do conhecimento das cincias sociais, que pode ser considerado como um modelo til para o
procedimento racional em relao soluo de problemas, como mtodo de anlise de situaes por construo de propostas alternativas de soluo, elaboradas social-tecnologicamente, e como um mtodo, no qual a critica social teoricamente fundamentada representa
um papel importante, em conexo com a tecnologia social teoricamente sustentada. Este mtodo no acentua a fixao e legitimao
ele solues tradicionais, mas sim a descoberta de novas solues e
.seu confronto critico com aquelas, s quais nos acostumamos - e
por isso tomamos por evidentes com a maior facilidade. Se passarmos
agora transmisso deste mtodo para a praxis da vida social, ento
teremos que levar em considerao sobretudo dois aspectos: primeiramente o fato de que a passagem da anlise de alternativas
para a realizao confere poltica o carter de uma experimentao
racional social, onde no deve passar desapercebido que aqui, como
sempre, em experincias, incerteza e risco so de suma importncia,
mas que neste caso esta Significao dramatizada, devido ao alcance social das decises em questo; e em segundo lugar o fato de que
a prpria anlise de alternativas inerente praxis social, e de certa maneira pod assumir a forma de uma discusso racional entre
defensores de diferentes concepes. Com isso, O princpio metdico
da verificao crtica, que tem aqui, como no mbito da cincia, uma
dimenso social, adquire um significado poltico, na medida em que
sob essas concepes divergentes se encontram diferentes foras polticas, cujo interesse est dirigido para a elucidao dos diversos
aspectos das solues de prOblemas alternativamente propostas, a
til' dos pontos de vista valorizativos que nelas dominam, acentua
as vantagens e desvantagens que lhes parecem relevantes, conto
nesses pontos de vista. A representao real de concepes in
tveis no campo social de foras cuida para que aqui surja
mo uma dialtica do real, sem que esta expresso tenhaq'U.,
a suspeita de que aqui, como freqentem ente acontece, e,
confundida a contradio lgica com a contradi.o
C. o pargrafo
12: Dogmatizao
como praxis
social e o problema da
crtica.
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~;1
IL'I
pl':>:'i
.~
2 Sobre isso cf. KELSEN, Hans, Gott un Staat, in "Aufsatze zur k'
giekritik", ed. por Ernest Topitsch, NeuwiedjBerlin, 1964, bem co
tros trabalhos no mesmo volume: SCHMJITT, CarI. Polit'sche Tl
(1922), TOPITSCH, Ernest. Kosmos un: Herrschaft, Ursprnge
Zitischen Theologie", Wort un Wahrheit (1955); cf. tambm, dO
mo autor, VOm Ursrprung un Ender der Methaphysik, ant. cito
3
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Uber die Jrrtmer unserer Zeit (1852) e Uber Mittelalter tmd Parla'
tarismus (1852), in "Kulturpolitik",
Basel, 1945, onde a corrente
lJJ
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~I
~j2.14
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~--
~l
2'1.vischen ldeologie
und 'Wissenschaft".
Sobre a crtica desta idia de uma praxis radical, cf. POPPER, KarI.
"Das EZen des Historismus", Tbingen, 1965, parte lII.
Ci. a interessante anlise crtica da ideologia e da praxis bolchevista,
feita por RUSSEL, Bertrand. Em 1920, in "The Practice and Theory of
Bolsrev8m", 2.a ed. London, 1949; cf. tambm a anlise da relao entre
utopia e violncia no artigo de POPPER, KarI. Utopia and Violence, ln
"Conjectures and Refutations",
ant. cito
Cf. a introduo do meu livro "MarlctsozioZogie u7lJdEntscheiungslogik",
anteriormente citado, p. 14 oS.
18 Com o tpico "vox popuZi, vox de" foi estabelecida por vezes at uma
relao inequvoca entre os dois, de tal forma que hoje j se pode falaI
de uma teOlogia poltica democrtica.
19 Cf. sobre isso meu ensaio Rationalitat
und Wirtschftsordnung
(1963),
ento como captulo IV in "Marktsozologie und EntscheidungsZogiik", <t1;J.F,
cit., bem como "Ckonomische Ideologie und poZitische theorie", Gott'
1954, p. 116 s; Josef Schumpeter, em sua obra "KapitaZismus,.S
20
21
Pode-se encarar o desenvolvimento da economia neoclssica _ sobretudo tambm no seu ramo polftico, da chamada economia do bem-estaI
- como a tentativa de uma efetivao de programa de Bentham, do
programa de uma reduo de todos os processos sociais a uma aspirao, dos indivduos que nelas participam e quer por ela so atingidos,
por satisfao de necessidade; cf. a minha publicao "Zur Theorie der
p. 140 15; sobre o radicalismo filosfico de Jeremy
Konsumnachfrage",
Bentham cf. HAIili:VY,Elie. "The Growth of Philosophical Ra.dicalism",
London, 1928. O termo aritmtica poltica , como se sabe, mais antigo,
e j est h muito tempo fora de uso. Mas ele uma boa designao
para este desenvolvimento no pensamento scio-cientfico.
23
Isto , em princpio, levado em considerao na concepo desenvolvida por Buchanan e Tullock, na qual fica clara a transio do problema econmico de eficincia para o prOblema da constituio poltica, cf. BUCHANAN, James;e TULLOCK, Gordon. "The Calculus of Consent", Ann Arbor, 1962. Sobre isso, e sobre a idia da funo de bemestar social, cf. minha publicao citada na nota anterior, Politische ... ,
p. 71 s. Mas esta concepo tem por base, em tima anlise, uma fico
social de vcuo,e, em verdade, em relao situao na qual ocorre
a escolha fundamental de uma constituio, cf. a obra anteriormente
citada, p. 254 15, 272 s.
Kenneth Arrow postula, para a funo de bem-estar social por ele exigida, determinadas condies de adequao, que lhe pa.recem intUitivamente plausveis, mas que j se mostraram questionveis, um fato no
qual torna-se clara a questionabilidade geral do postulado da fundamentao suficiente para este campo.
28
20
Como no posso tratar aqui destas dificuldades isoladamente, cf. a minha contribuio para a publicao festiva de Popper, Social Science
and Moral Philosophy, e meu en;;aio Politische Okonomie und rationale
Polit'k, in "Theoretische Grundlagen der WirtschaftspOlitik",
ed. por
22
27
35
36
p. 37, p.
39 Por sua vez Max Weber, que tinha um sentido muito apurado
aspectos morais da racionalidade, chamou a ateno sobre
que ensinar reconhecimento de fatos incmodos pertence ao
tarefas importantes; cf. WEBER, Wissenschaft als Beruf, in
ten Aufsaetzen Zl~r Wissenschaftslehre", ant. cit, p.
40 Neste ponto dev.e-se pen<lar em Carl Sc11mltt, cuja crtica radical dec
mocracia parlamentar e cuja opo pelo estado autoritrio .se fundamenta num radicalismo de alternativas que, segundo a sua estrutura,
idntico aO pensamento ela esquerda radical e se iguala a ele inclusive na nfase antiliberal, mas se diferencia no que diz respeito
tendncia poltica. Cf. tambm a interessante anlise de FlJALKOWSKlS,
Jrgen. ln "Die Wendung zum Fhrerstaat", KolnjOpladen, 1958.
41 Cf. a minha introduo Probleme der Theoriebildzmg, in "Theorie
und
Realitat", obra citada.
42 No suprfluo chamar a ateno para a significao elo componente
social-tecnolgico do peOiSamento poltico, pois existe nas cincias sociais
uma forte tendncia. a subestima:' justamente esse componente; cf. o
meu artigo Ra.tionalitt und Wirtschaftsordnung,
onde criticamente
abordada a tentativa de solucionar o problema poltico sem reflexes
social-tecnolgicas. Por outro lado, tambm no pensamento marxista este
componente parece estar pouco desenvolvido. Nos dois casos isto est
ligado a concepes meto dolgicas extremamente problemticas.
~
.:
43 As circunstncias de que concepes logicamente inconciliveis no podem ser verdadeiras ao mesmo tempo, no exclui que elas possam ser
"acreditadas" ou "aceitas", sobretudo quando se trata de diferentes pessoas ou grupos sociais. Entre a representao de vises logicamente inconciliveis e oposies efetivas e conflitos na sociedade podem existir,
porm, relaes reais: concepe:, que esto em contradio so representadas socialmente por pessoas ou grupos que se encontram em oposio. Caso se queira, pode-se transcrever estes simples fatos na .afir.rrio de que deste modo a dialtica ideal torna-se uma dialtica social
real, mr.s com isso se ganha muito pouco, pelo menos nada semelhante
a uma ontologia dialtica.
44 Cf. STEVENTSON C11arles. "Ethics and Language", New Haven, 1944.
p. 188 5; CARLSSON, Gosta. Betrachtungen Zttm Funktionalismus, in
"Logik der Sozialwissenschaften", obra. citada, p. 247, e ainda o meu
artigo Politische konomie ... , obra citada, p. 64.
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