Texto 1 - Cmdi - Comunicação Mediada Por Dispositivo Indutor Elemento Novo Nos Processos Educativos PDF
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INTRODUO
Quem de ns no tem histrias para contar sobre a dificuldade, h cerca de vinte anos,
de se comunicar com a famlia, trabalho ou namorados? A comunicao mvel permitida
pelos celulares atualmente chega a apagar das mentes as peripcias que se fazia para tentar
falar com algum em caso de necessidade ou ausncia de comunicao quando se estava em
trnsito.
Desde a descoberta, por Graham Bell, em 1875, do telefone que usava fios metlicos,
at a telefonia mvel que reutiliza frequncias de ondas de rdio disponveis, foram 115 anos,
uma vez que foi no Rio de Janeiro, em 1990, que o celular foi usado pela primeira vez no
Brasil.
Apesar de a comunicao mvel ser conhecida desde o comeo do sculo XX, ela s foi
desenvolvida em 1947 pelo Laboratrio Bell, dos EUA, mas, somente no final da dcada de
70 e incio da de 80, o Japo e a Sucia ativam seus servios com tecnologia prpria (78 e
81 respectivamente). E em 1983 a companhia americana AT&T criou tecnologia especfica,
implantada pela primeira vez em Chicago. A telefonia celular eclodiu, portanto, na dcada
de 80; quase todos os pases, desde ento, a esto adotando. Com a incrvel expanso do
mercado, j se partiu para a segunda gerao, com a telefonia celular digital, onde o sinal de
voz digitalizado (MAFFEI, sem data, p. 3).
Maffei (s/d) expe tambm sobre a histria do celular no Brasil. Observa ela:
No Brasil, no incio da dcada de 70, foi implantado em Braslia um servio anterior
tecnologia celular, contando com apenas 150 terminais. E, em 1984, deu-se incio anlise
de sistemas de tecnologia celular, sendo definido o padro americano, analgico AMPS,
como modelo a ser introduzido (foi implantado, tambm, em todos os outros pases do
continente americano e em alguns pases da sia e Austrlia). A primeira cidade a usar o
servio foi o Rio de Janeiro, em 1990, seguido por Braslia. Em So Paulo, considerado o
ltimo dos grandes mercados do mundo, o servio mvel celular foi inaugurado em 6 de
agosto de 1993 numa rea de concesso que envolveu 620 municpios, sendo 64 em sua
regio metropolitana e 556 no Interior. A partir de 31 de janeiro de 1998, o servio celular
passou a ser operado pela Telesp Celular S.A., na Banda A (MAFFEI, sem data, p.3).
vlido
na
comunicao
que
acontece
nos
processos
educativos,
presentes nos livros didticos. Alm disso, o conhecimento entendido como imutvel e
definitivo.
Transformar essas relaes difceis em oportunidades pedaggicas o desafio dos
educadores. Ser mediador nas relaes que os estudantes estabelecem com as informaes
disponveis na virtualidade via dispositivos eletrnicos algo ainda novo para os professores.
Enquanto o saber escolar continua sendo o saber durvel, que se mantm atravs dos tempos,
como mediar relaes com saberes fludos, efmeros, lquidos? Vale refletir sobre isso.
MEDIAO NA COMUNICAO T conectado!
Mediar significa estabelecer conexes, por meio de algum intermedirio. Tal como o
conceito de relao, a mediao categoria da dialtica. O conceito de relao implica
interdependncia entre os polos da relao. Ou seja, s se me quando se tem filho, s se
professor quando se tem aluno. A existncia de um ou outro interdependente.
A categoria mediao, como toda categoria da dialtica, dinmica, est em constante
modificao. Mediao indica que nada isolado, mas ocorre de maneira contextual,
interrelacional, histrica, o que lhe confere complexidade na anlise.
No campo da comunicao, o conceito de mediao tomou vulto a partir dos estudos
da recepo. Barbero (1995), importante terico da rea, salienta que a recepo de
mensagens no apenas uma etapa do processo de comunicao, mas possui diferentes
tempos. Entende a recepo como um lugar novo (p.40), no qual se d sentido ao processo de
comunicao. Esse lugar a cultura. Para ele, no h comunicao em abstrato, pois ela est
inscrita e mediada pela cultura (BARBERO apud OROZCO, 1997). E a cultura a principal
de todas as mediaes. Ela manifesta-se em prticas concretas relativas aos sujeitos que se
comunicam e aos cotidianos deles (que de onde emana a produo de sentidos) e as prticas
relativas s tecnologias de informao, no no seu aspecto instrumental, e sim na perspectiva
de que so elementos que provocam mudanas perceptveis na realidade (p. 115-116).
Nessa mesma compreenso de Barbero; Orozco Gmez (1997) destaca que toda
relao entre os elementos da comunicao mediada, ou seja, no se faz de forma direta. Por
isso importante ver os contextos nos quais se do as relaes e no apenas as relaes em si
mesmas. Escreve ele:
Nada est conectado directamente com nada, sino que hay uma serie de mediaciones que
incidem y conformam la interaccin entre uno y outro de los componentes (p. 114).
Orozco Gmez (1997) observa que as diferentes tecnologias, com suas diferentes
linguagens e estratgias de comunicao exercem mediao na recepo das mensagens,
influenciando no processo de percepo e interao com a informao (p.117). Ele destaca
que, no nvel emprico, essas mediaes so mltiplas, variadas, de diferentes fontes, e nos
ajudam a entender mais as relaes dos sujeitos com os meios de comunicao.
Analisar a mediao nos processos de ensinar e aprender implica entend-la na
perspectiva de Barbero e Orozco Gmez. No processo pedaggico a mediao dupla. Ou
seja, no processo de relao dos alunos com os contedos h a mediao do professor e a do
dispositivo a que o estudante tem acesso, na sua relao com as informaes disponveis. Em
se tratando da virtualidade, o universo de informaes imenso, quase infinito, e
complexifica mais a mediao docente.
Da se falar em dupla mediao no processo de aprender, a mediao do professor e a
mediao do dispositivo conectado virtualidade. Assim, aos professores cabem tarefas mais
complexas do que a transmisso de saberes. Compete-lhes fazer mediaes neste espao de
relaes entre o estudante, o conhecimento e os meios divulgadores do saber, ou que
possibilitam acesso s diferentes informaes.
A imagem a seguir busca sintetizar o processo de mediao vivido pelo professor
nessa poca na qual as fontes de informao, de saberes, de conhecimentos, esto disponveis
alm da escola e dos livros didticos. O esquema tenta mostrar que esse processo no linear
e nem tem um comeo e um fim. A sua expresso por meio de uma espiral, formada numa
grande rede, intenciona justamente mostrar a sua dinmica multilinear, mltipla, com
diferentes junes, ns, nos quais a relao se estabelece entre os personagens envolvidos no
processo educativo os alunos e os professores como ainda relaes com os dispositivos
as mdias armazenadoras das informaes e conhecimentos.
A relao dos estudantes com o conhecimento escolar ocorre mediada pelo professor e
pelas mdias, por algum dispositivo. Da a dupla mediao no processo de aprender. Nesse
processo, pela amplitude que a mediao dos dispositivos miditicos possuem, pode ocorrer
de tambm os professores se atualizarem junto aos alunos, vindo os envolvidos no processo a
se denominarem de aprendentes e/ou ensinantes.
CONHECIMENTO
ESTUDANTE
O
MC
MD
(2007) observa que nenhum fenmeno miditico pode ser compreendido se for abordado
apenas na perspectiva unidimensional de um dos aspectos apontados por Pierce, que so as
operaes tcnico-tecnlogicas, as semio-lingusticas e as socioantropolgicas.
Klein (2007) assevera que:
O dispositivo miditico se compe de um conjunto de operaes (tcnico-tecnolgicas,
semio-lingusticas e socioantropolgicas), que constituem uma rede entre diferentes
elementos, ou uma meada num conjunto multilinear. Os processos miditicos s podem ser
bem compreendidos em sua complexidade se estudados na perspectiva das diferentes
relaes que se estabelecem entre as diversas dimenses em jogo. Nenhum fenmeno
miditico pode ser bem compreendido se somente for abordado na perspectiva
unidimensional, ou seja, olhando apenas para os aspectos e as operaes tcnicotecnolgicas, ou unicamente a dimenso scioantropolgica. Tambm no podero ser bem
compreendidos os discursos miditicos, se forem estudados somente na perspectiva da
linguagem (p. 4).
o que produz induo, no sentido de manter uma relao constante entre dois ou mais
fenmenos. Assim, um indutor algo que vetor, que conduz, que orienta.
Desse modo, conforme Pellanda (2003), a liberao dos fios, que servem de cordes
umbilicais dos usurios com os computadores, e a unio do computador com a banda larga
esto possibilitando uma nova maneira de comunicao, induzida por mdias novas, a nova
mdia, novos dispositivos que, mesmo mltiplos, convergem numa mistura digital online
(PELLANDA, 2003, p. 2), que inclui a Internet. Na nova mdia, esto em simbiose os
computadores, as telecomunicaes, os meios tradicionais de comunicao, como o rdio, a
TV, o vdeo, as imagens fixas e em movimento, os textos, etc. Completa Pellanda (2003):
Alm disto, a forma de interagirmos com o contedo no somente texto e fotos, j
podemos contar com udio, vdeo e grficos animados convergindo linguagens em uma
nova grande mdia. Isso possvel graas s tecnologias de conexo a rede sem fio (p. 5).
Estes aparelhos esto cada vez mais presentes em forma de celulares, computadores de
mo, computadores para carros, pequenos laptops e computadores portteis em forma de
pranchetas com reconhecimento de escrita (Tablet PC). Todos este aparatos tecnolgicos
usam tecnologias como o WI-FI 1, GPRS1 ou Bluetooth1 que permitem que se conectem
na Internet ou uns com os outros sem fio (PELLANDA, 2003, p.8).
Tem sido cada dia mais comum vermos crianas portando celulares. Estes telefones
mveis vo junto com eles s escolas. Se for proibido, como tem sido, seu uso durante o
perodo das aulas, liberado no intervalo do lanche e ao final das aulas. Isso j basta para ser
considerado como um dispositivo que j chegou s escolas. Se a escola tem proibido seu uso
porque j est presente nela, incomoda os professores, dificulta o andamento das aulas,
porque os estudantes burlam as regras e o usam independentemente das proibies.
Estes dados nos autorizam a inferir que as escolas so espaos hbridos? Poderia,
ento, a escola ser um espao hbrido? Pelo conceito de Souza e Silva sim. Diz ela:
Um espao hbrido, ento, um espao conceitual criado pela fuso das bordas entre
espaos fsicos e digitais, devido ao uso de tecnologias mveis com interfaces sociais.
Entretanto, um espao hbrido NO construdo por tecnologia. , sim, criado pela
conexo da mobilidade e comunicao, e materializado por redes sociais desenvolvidas
simultaneamente em espaos fsicos e digitais (2006, p. 32).
Torna-se inadivel, em nosso tempo, radicalizar a discusso terica dessa questo, primeiro
passo para historiciz-la e coloc-la no patamar de importncia que merece, bem como para
nortear iniciativas visando lev-la prtica. A anlise retrospectiva revelou que a
organizao do trabalho didtico vigente nos estabelecimentos educacionais de nosso
tempo foi fundada por Comenius no sculo XVII, sob a inspirao da organizao
manufatureira do trabalho. No mbito do trabalho didtico, arraigado s suas origens,
continuam a ser utilizados os mesmos instrumentos preconizados pelo autor de Didctica
Magna, em especial o manual didtico, que domina e d a tnica atividade de ensino
(grifos do autor, p. 230-1).
Alves afirma tambm que a materialidade escolar impe aos educadores uma prtica
que reproduz a superada forma comeniana de organizao do trabalho didtico (p. 233).
Prope assim a construo de uma nova didtica, que incorpore as condies contemporneas
da humanidade.
Alves menciona, e concordo com ele, que o desafio de mudar radicalmente a relao
professor-aluno, subtraindo do professor a simples reproduo e transmisso dos contedos
do livro didtico, leva valorizao das funes docentes de planejamento, direo do
processo didtico e avaliao das atividades dos estudantes.
Os novos materiais que ainda so subterrneos escola e sala de aula, como a
Internet, espao pleno de informaes, que acessada por meio do computador, de um
celular, Iphone, ou de um outro dispositivo tecnolgico mltiplo que se organiza em mltiplas
linguagens (a escrita, a oral, a da imagem fixa e em movimento, na msica, nos sons os mais
variados), so acessados pelos jovens e eles gostam muito disso independentemente das
orientaes docentes.
Os jovens que esto nas escolas hoje, tanto na educao bsica como na superior,
vivenciam essa situao h tempos e essa familiaridade com as tecnologias alterou sua
sociabilidade, afetividade e forma de aprender. A partir dessas anlises podemos dizer que tais
dispositivos, meios de acesso a contedos, alteram estes contedos e tornam-se mediao no
processo de aprender.
Depois desta reflexo, possvel entender que h uma possibilidade de a escola se
tornar um espao hbrido, na concepo anteriormente exposta. No entanto, ela ainda no
esse espao. Muita coisa h para ser mudada. Necessrio se faz discutir e atuar sobre a
materialidade dos seus instrumentos, a organizao do trabalho pedaggico, a concepo de
conhecimento, as metodologias de ensino, a formao de professores. Com certeza, intervir
nisso tudo muito mais difcil e trabalhoso do que adquirir dispositivos miditicos.
REFERNCIAS
ALVES, Gilberto Luiz. A produo da escola pblica contempornea. 3. ed. rev. Campinas,
SP: Autores Associados, 2005.
BARBERO, Jess Martn. Amrica Latina e os anos recentes: o estudo da recepo em
comunicao social. In: SOUZA, Mauro Wilton de. Sujeito, o lado oculto do receptor. So
Paulo: Brasiliense, 1995.
dVILA, Cristina. Mediao cognitiva e mediao didtica: do desejo seduo do
aprender. Salvador: UFBA, 2001. (tese cap.2).
KLEIN, Otavio Jos. A gnese do conceito de dispositivo e sua utilizao nos estudos
miditicos. Estudos em Comunicao n 1, 215-231 Abril de 2007. Disponvel em:
H de se discutir tambm a diferena entre informao e conhecimento. Enquanto a informao o dado sem
anlise, o conhecimento a informao teorizada, analisada, compartilhada.
ii
SMS so as iniciais de Short Message Service, um servio de transmisso de mensagens curtas de/para
telefones mveis, fax e endereos IP. Cada mensagem no pode conter mais que 160 caracteres e no admitem
imagens. popularmente conhecida como torpedo. Uma vez enviada, a mensagem recebida por um centro
SMSC (Short Message Service Center), que, ento, a retransmite ao dispositivo mvel de destino. Se o destino
estiver fora da rea ou desligado a mensagem armazenada at que possa ser enviada. Disponvel em:
(http://www.babooforum.com.br/forum/index.php?/topic/131986-glossario-de-termos-de-celular/). Acesso em
05.04.2011.
iii
GSM - Global System for Mobile communications. o mais popular padro para redes de telefonia celular no
mundo, com mais de 82% do mercado em 212 pases, atendendo 2 bilhes de pessoas. No Brasil usado por
todas as principais operadoras de telefonia celular: TIM, Vivo, Claro, Oi e Brasil Telecom. Disponvel em:
(http://tecnologia.uol.com.br/ultnot/2007/12/13/ult4213u231.jhtm). Acesso em 05.04.2011.